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NESTA EDIÇÃO
6
Ano 4, No 4, 2015.
Foco na Pessoa, Mobilizando Discípulos Para
o Cumprimento da Missão.
“Torrentes de luz”: a história do primeiro
periódico adventista do sétimo dia
Editor
Pr. Silvano Barbosa
Design Gráfico
Tortorelli M.
Capa Fichário
Jo Card
Capa
L. Shat, Mark Edwards, Biker3, Monkey Business, Georgemuresan, Brian Jackson, Brian
Jackson, Shoenberg3, B-C-designs ©Fotolia
Revisão
Walquiria Cagnoni Ferreira
Impressão e acabamento
Casa Publicadora Brasileira
Colaboradores
Emilio Abdala, Gerson Rodrigues,
João Cláudio Chaguri, Luiz Nunes,
Silvano Barbosa, Thomas Shepherd
14
22
30
36
Moldando a mensagem ao modo
islâmico de pensar
Um ministério aprovado
Razões bíblicas para o treinamento
Treinando para plantar igrejas
FIQUE POR DENTRO
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os
artigos da
Foco na Pessoa.
acesse: www.foconapessoa.org.br
©Jasminko Ibrakovic | Fotolia
Tiragem
3.150 exemplares
A revista Foco na Pessoa é uma publicação
do Instituto de Mobilização da Associação
Paulista Central em parceria com:
União Central Brasileira, União Norte
Brasileira, União Sudeste Brasileira,
União Sul Brasileira, União Centro-Oeste
Brasileira, União Nordeste Brasileira,
União Leste Brasileira, SALT UNASP,
SALT IAENE, Rede Novo Tempo, Associação Paulista Sul, Associação Paulista Leste, Associação Rio de Janeiro, Associação
Mineira Sul, Associação Mineira Leste,
Associação Mineira Norte, Associação
Sul Espírito-santense, Associação Norte
Paranaense, Associação Sul Paranaense,
Associação Central Paranaense, Associação Sul Rio-grandense, Missão Ocidental
Sul Riograndense, Associação Bahia,
Associação Bahia Sul, Associação Mineira
Central, Missão Bahia Sudoeste, Missão
Sergipe Alagoas, Associação Pernambucana, Associação Pernambucana Central,
Associação Costa Norte, Missão Alagoas,
Missão Nordeste, Associação Planalto
Central, Associação Mato-grossense,
Associação Brasil Central, Associação
Sul-mato-grossense, Missão Tocantins,
Associação Central Amazonas, Associação
Sul do Pará, Associação Sul de Rondônia,
Associação Amazônia Ocidental, Associação Amazonas Roraima, União Noroeste,
Associação Central Sul-Riograndense,
Associação Catarinense, Associação
Sul-Riograndense, Associação Espirito
Santense, Associação Mineira Central,
Associação Paulista do Vale e Associação
Paulista Sudeste.
FOCO NA PESSOA 3
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APRESENTAÇÃO
THOMAS SHEPHERD, Ph.D.
Diretor do Ph.D. e Th.D. no Seminário da Andrews University
NOSSA MISSÃO ESPECIAL
C
omo pastores e líderes da Igreja Adventista do Sétimo Dia, temos o grande
privilégio de pregar o evangelho eterno ao mundo inteiro. Com esse grande
privilégio vem a responsabilidade de
pregar de acordo com os altos princípios de ética ensinados por Jesus e pelos apóstolos. Um dos lugares nas Escrituras que contém
uma visão desse tipo de pregação é 1 Pedro 5:2-4:
Apascentai o rebanho de Deus, que está entre
vós, não por força, mas espontaneamente segundo
a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas
de boa vontade; nem como dominadores sobre os
que vos foram confiados, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando se manifestar o sumo
Pastor, recebereis a imarcescível coroa da glória.
Falando aos anciãos das igrejas da Ásia Menor,
Pedro explica a maneira em que devem realizar o
ministério cristão. Ele começa com uma metáfora
pastoral e explica o que isso significa por três pares
de antíteses. Ele conclui com a grande promessa
para o pastor fiel.
Por que Pedro usou a metáfora pastoral para
explicar o ministério cristão? Provavelmente porque quando Jesus restaurou-o para o ministério, o
Senhor usou uma metáfora, “pastoreia as minhas
ovelhas” (João 21:16). Por isso, foi natural para Pedro usar a mesma metáfora.
Pedro explica o que significa ser um pastor
fiel. Na primeira antítese, ele diz que o pastor
não deve aceitar o chamado ministerial por cau-
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sa de pressão humana. Às vezes, pessoas estão
no ministério forçadas por uma razão ou outra, e
não baseadas no chamado de Deus. Isso resulta
em uma pessoa infeliz que não sente o peso da
responsabilidade para com o rebanho de Deus e,
por isso, faz o trabalho ministerial sem força, sem
visão. Ao contrário, Pedro diz que o ministério
pastoral deve ser aceito simplesmente como resposta ao chamado de Deus. Consequentemente, o
pastor terá o senso de que está trabalhando para
Deus, e não para homens. Ele ouve a voz de Deus
e não do homem.
Na segunda antítese, Pedro continua explicando o que acontece se alguém está no ministério
de maneira forçada. Como não sente o chamado
de Deus e provavelmente se ressente da pressão
humana que o colocou no ministério em primeiro lugar, essa pessoa facilmente aceita a ideia de
ganhar poder ou compensação financeira para recompensar seus desafios. Em lugar disso, Pedro
explica que a pessoa que sente o chamado de Deus
não trabalha por dinheiro, mas para o grande privilégio de andar com Jesus, ajudando “de boa vontade” os mais pobres.
Na última antítese, Pedro mostra que o ministério não deve estar focalizado no poder pessoal, mas
no apoio às outras pessoas. O pastor não deve tentar
ser um mestre, mas um mentor e guia para outros.
Por fim, Pedro explica o destino do pastor fiel.
Quando Jesus voltar, dará “a imarcescível coroa de
glória” a cada pessoa, cada pastor, que O serviu fielmente. A revista sobre missão que você está lendo
tem esse objetivo: ajudar pastores e líderes dedicados a Jesus Cristo a receberem essa coroa do serviço fiel. Que este seja o resultado, é a minha oração.
EDITORIAL
SILVANO BARBOSA
@silvanopastor
O MAIS ALTO OFÍCIO
O
mais alto ofício no qual alguém pode
ser investido é o ministério pastoral.
Qualquer pessoa que refletir seriamente na origem e na natureza do
trabalho ministerial provavelmente
concordará com essa afirmação, pois
o ministério não é uma vocação para ser escolhida entre outras, mas um chamado sobrenatural
do Senhor.1 Nada mais nobre poderia ser falado
sobre um pastor do que as palavras do Senhor a
Jeremias: “Antes de formá-lo no ventre eu o escolhi; antes de você nascer, eu o separei e o designei
profeta às nações” (Jeremias 1:5). Por isso, liderar uma congregação, transmitindo mensagens de
salvação, instrução, advertência, repreensão, vindas de Deus e em nome dEle, não podem ser considerados assuntos de menor importância.
A igreja precisa de pastores. O pastor é a chave para todo o trabalho que a igreja procura fazer.
Consequentemente, ele é de suprema importância
pois é na igreja local que tudo acontece: pessoas
são conduzidas a Cristo, batizadas, admitidas no rol
de membros, crescem no processo do discipulado,
praticam a mordomia, desenvolvem os seus dons,
envolvem-se na missão da igreja e preparam-se
para a volta de Jesus.
Ao mesmo tempo, o pastor precisa da igreja.
A igreja local é o lugar onde o pastor desenvolve
a sua vocação. Somente ela oferece as condições
ideais para o crescimento “em tudo naquele que
é o cabeça, Cristo”, Efésios 4:15. Infelizmente, por
vezes paramos de pensar na igreja como um lugar
para desenvolvermos a vocação ministerial e passamos a vê-la como uma oportunidade para avançarmos na carreira.
Eu realmente acredito que a maioria absoluta
dos pastores são homens sinceros, consagrados e
bem-intencionados, que dedicaram a vida a Deus e
estão fazendo o melhor para agradar ao Senhor e
ao Seu povo. Contudo, “a boa intenção do carpinteiro não lhe garante um corte perfeito”.2 Da mesma
forma, a boa intenção do pastor não se estende de
maneira automática à sua vocação. É preciso que o
pastor entenda qual é o trabalho a ser feito, o que
se espera dele e com o que ele se comprometeu ao
aceitar a vocação ministerial, para que então possa
realizar o trabalho do Senhor com excelência.
O objetivo desta edição comemorativa é oferecer ferramentas que poderão ajudar o pastor no
desempenho de um ministério aprovado pelo Senhor. O artigo de capa apresenta de maneira resumida sugestões de como o pastor deve lidar com
cinco áreas fundamentais do ministério pastoral.
Luiz Nunes apresenta razões bíblicas para o treinamento da igreja. Emílio Abdala explica em detalhes a metodologia que ele tem utilizado há vários
anos para plantar igrejas em grandes centros urbanos, e há muito mais. Leia com interesse. Por
que não dar um pouco de atenção a algo que lhe
poderá ser tão útil? Que Deus te abençoe.
1 HAWKINS, O. S. The Pastors Guide. Nashville, TN: Thomas Nelson, 2012, p. 5.
2 PETERSON, Eugene. A vocação Espiritual do Pastor: Redescobrindo o Chamado Ministerial. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2005, p. 8.
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“TORRENTES DE LUZ”:
A HISTÓRIA DO PRIMEIRO PERIÓDICO ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA
©Ecco| Fotolia
Por Gerson Rodrigues
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HISTÓRIA DA MISSÃO
D
esde os primórdios do movimento adventista moderno na América do Norte, as publicações
têm sido uma das principais ferramentas para a disseminação da mensagem. Esse método
era de grande valia, pois a obra publicada chegava a lugares onde nem sempre havia um
pregador disponível. Além do mais, com a mensagem impressa, o leitor tinha tempo para ler
os artigos quantas vezes fossem necessárias, comparar os argumentos apresentados com as
Escrituras e tomar uma decisão consciente a favor da verdade.
Numa sociedade que vivia sob o fermento de um grande despertar religioso, as publicações eram um
importante meio usado pelos movimentos religiosos do século XIX na América do Norte1. Conforme apontado por George Knight, “os adventistas sabatistas (que se denominaram adventistas do sétimo dia em
1860) encontram suas raízes em movimentos religiosos nos quais publicações periódicas tinham um papel
dominante”2. Tanto os crentes da Conexão Cristã
(denominação de onde vieram José Bates e Tiago
White), quanto o movimento milerita utilizavam as
publicações para a disseminação de suas crenças.3
O Grande Desapontamento de outubro de 1844 deixou o movimento milerita desencorajado e confuso. Alguns rejeitaram o cronograma profético, tão claramente exposto na Bíblia para o período das 2300 tardes e
manhãs. Dentre esses, alguns retornaram às suas antigas denominações, enquanto outros iniciaram novas
denominações. Contudo, essas não cresceram como
esperado pelo fato de que não tinham base profética,
eram apenas mais uma denominação entre tantas. Outros passaram a acreditar que Jesus tinha vindo no dia
22 de outubro de 1844, mas em forma espiritual. Devido à impossibilidade de manter sua doutrina biblicamente, esse grupo se afundou em fanatismo religioso
e distanciamento da pura verdade bíblica.4
No entanto, alguns tomaram tempo para procurar entender o que realmente tinha ocorrido como
cumprimento da profecia de Daniel 8:14. Pessoas
em diversos lugares no nordeste dos Estados Unidos começaram a descobrir que havia algumas doutrinas bíblicas pregadas pelos apóstolos que simplesmente tinham sido obscurecidas e esquecidas
pelos cristãos durante séculos. Reconhecendo que a
Bíblia é a única regra de fé e prática, eles iniciaram
um extenso e intenso estudo das Escrituras. Esse
estudo aplicado e perseverante levou-os a entende-
rem doutrinas como o ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial; a obediência à Lei de Deus
(a qual inclui a santificação do sétimo dia, o sábado)
como um fruto da salvação em Jesus; o estado inconsciente do ser humano na morte; o dom profético como uma característica da igreja remanescente
(isso ficou evidenciado no ministério de Ellen White)
e a pregação das três mensagens angélicas como o
último apelo de Deus para a humanidade.5
Por volta de 1848, esse grupo, que ficou conhecido inicialmente como os “adventistas sabatistas”
estava em acordo nessas doutrinas distintivas.
Elas eram os “pilares” da sua identidade, que os
distinguiam dos outros mileritas e de outras denominações cristãs em geral. Os adventistas sabatistas, portanto, determinaram-se a proclamar essa
mensagem. Isso era um dever.
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Entretanto, esse grupo de pioneiros não residia na mesma cidade
ou estado, e nem tinha muitos recursos financeiros. Mas, reconhecendo a necessidade de pregar a mensagem, começaram a ter encontros periódicos em diferentes localidades. Também começaram timidamente, de acordo com os recursos disponíveis, a publicar artigos6,
folhetos7, panfletos8 e pequenos livros9. Esse material era produzido
em pequena escala (cerca de 250 cópias por panfleto). As publicações
eram importantes na mente destes pioneiros. Os temas poderiam ser
estudados com mais propriedade através do material impresso. Tanto
José Bates, em Massachusetts, quanto o jovem John Andrews, no Maine, foram influenciados a aceitar o sábado através da leitura de um artigo e um panfleto escrito por Thomas Preble, em 1845.10 Logo, Bates
começou a publicar sobre o sábado. A mensagem bíblica apresentada
em um desses livretos influenciou o casal White a abraçar a doutrina.11
Reconhecendo a necessidade de divulgar as verdades bíblicas, os
adventistas sabatistas dialogavam sobre qual era a melhor e mais eficiente maneira de propagar a verdade bíblica. Sem uma definição, eles
decidiram orar e pedir a orientação de Deus sobre o assunto.12 Aos
olhos humanos, o futuro não parecia muito promissor, pois eles eram
“poucos em número, destituídos de
fortuna, sem sabedoria ou honras
mundanas”. Porém, este movimento se fortalecia, pois eles tinham
uma fé inabalável “em Deus”, que
os fazia “fortes e bem-sucedidos”.13
Numa reunião efetuada em
Dorchester, Massachusetts, em novembro de 1848, Ellen White teve
uma visão muito significativa no
que se refere ao “dever dos irmãos
de publicar a luz que resplandecia
em nosso [adventistas sabatistas]
caminho”.14
“eu me senti sobrecarregado
com o dever de escrever e publicar a verdade presente para o
rebanho disperso; mas até agora o caminho não esteve aberto
para eu começar o trabalho”17.
No entanto, enquanto Tiago se
via impossibilitado de trabalhar
no periódico, a oposição contra a
mensagem do sábado “ia se firmando com mais força, e a batalha crescendo”18.
Em abril de 1849, a família
de Albert Belden convidou Tiago
e Ellen para residirem em sua
casa, em Rocky Hill, Connecticut,
e foi durante este período que
Tiago publicou os primeiros quatro números do The Present Truth
(A Verdade Presente). Mas, isso
não aconteceu de maneira simples. Ellen White descreve esses
momentos da seguinte forma:
Depois da visão, ela disse ao seu esposo, Tiago White:
Tenho uma mensagem para você. Você deve começar
a publicar um pequeno jornal e enviá-lo ao povo.
Que seja pequeno a princípio, mas, quando as pessoas
o lerem, mandarão recursos para imprimi-lo, e será um
sucesso desde o início. A partir desse pequeno
começo, foi-me mostrado ser como torrentes
de luz que circundam o mundo.15
A mensagem era clara, a ordem era uma resposta às suas orações, mas os desafios eram enormes. A profecia de que este empreendimento humilde iluminaria o mundo era “impressionante para ser
apresentada a um punhado de pioneiros dominados pela pobreza”16.
A falta de recursos, saúde e tempo fez com que o plano de escrever um periódico regular fosse adiado. “Por meses”, escreveu Tiago,
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No verão de 1849, meu
esposo ficou profundamente
convencido de que havia chegado o tempo de ele escrever
e publicar a verdade presente.
Decidindo-se a fazer isso,
sentiu-se bastante animado e
abençoado. Porém, de novo
iria ficar em dúvida
e perplexidade,
pois estava
sem dinheiro.19
Quando eles mudaram para a casa da família Belden, Ellen estava grávida de seis meses de seu
segundo filho, que viria a nascer no mesmo mês da publicação do jornal, em julho de 1849.
Sem recursos financeiros, “quase sem amigos”, sem casa nem “qualquer tipo de bens para fins
domésticos”, sendo “dependente de alguns amigos em circunstâncias bastante humildes para um
abrigo e para as necessidades da vida”,20 Tiago “desanimado, [...] desistiu e foi procurar um campo
de feno para trabalhar na colheita”.21
“Quando ele saiu de casa”, Ellen continua:
Senti um grande peso me afligindo, e desmaiei. Fizeram-se orações por mim, e Deus me abençoou,
tomando-me em visão. Vi que o Senhor havia abençoado e fortalecido meu esposo para trabalhar no
campo um ano antes. Vi que ele tinha empregado corretamente os recursos ganhos ali, e teria
cem vezes mais nesta vida e, se fosse fiel, uma recompensa preciosa no reino de Deus. Vi
que o Senhor não lhe daria agora forças para trabalhar no campo, pois Ele lhe destinava
outro trabalho e, caso se aventurasse a ir ao campo, seria enfraquecido pela doença,
pois o que devia fazer era escrever, escrever, escrever e andar pela fé.22
Sob circunstâncias “das mais desfavoráveis e
destituído de meios”23, porém, “sobrecarregado
com um senso de dever para entrar no campo em
defesa da verdade”, Tiago, imediatamente iniciou
a obra de escrever e publicar o periódico.24 Usando toda a sua biblioteca, “incluindo uma Bíblia de
bolso, uma concordância condensada de Cruden, e
um velho dicionário Walker”, Tiago sentou-se para
escrever “cada palavra” desse primeiro número.25
Quando se deparava com “alguma passagem difícil”, ele e Ellen se uniam “em oração a Deus, suplicando a compreensão do verdadeiro sentido de
Sua Palavra”.26
Com os artigos prontos para serem publicados,
mas sem dinheiro, Tiago teve que procurar, e conseguiu encontrar, um impressor que concordasse
em imprimir a prazo as cópias dos jornais.27 As responsabilidades de Tiago em escrever, corrigir, enviar um jornal e caminhar a distância de cerca de
treze quilômetros até a gráfica, “duas ou três vezes
cada semana”, tornou aquele verão o mais difícil
em termos de trabalho dentre todos os outros.28
O esforço, porém, foi abençoado e gratificante.
Finalmente, num dia de julho de 1849, Tiago “tomou
emprestado do irmão Belden o cavalo e o carro”, e
trouxe para casa 1000 exemplares do primeiro número do primeiro periódico regular dos adventistas
do sétimo dia. O jornal foi intitulado, baseado em 2
Pedro 1:12, de The Present Truth (A Verdade Presente). Ellen White descreve esse momento com
muita emoção:
As preciosas páginas impressas foram trazidas para casa e postas no chão, e então um
pequeno grupo de interessados se reuniu ali.
Ajoelhamos ao redor dos jornais e,
com coração humilde e muitas
lágrimas, suplicamos ao Senhor
que derramasse Sua bênção
sobre aqueles mensageiros
da verdade.29
Logo depois iniciaram o trabalho de dobrar, embrulhar, e endereçar os jornais. Tiago então “os pôs
numa sacola e, a pé, os levou ao correio de Middletown”30, e de lá enviou gratuitamente este primeiro
número para todos os que eles tinham “esperança
de que lessem”.31 Sendo que a América do Norte vivia sob uma forte influência do cristianismo,32 Tiago White não via a necessidade de escrever sobre
doutrinas comuns à comunidade cristã, mas, sim,
enfatizar a doutrina do sábado, como uma “verdade
presente” e “aplicável” aos que vivem “diante do
fim do tempo”.33
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Assim teve início oficialmente o ministério de publicações dos adventistas do sétimo dia.34 Eram dados os primeiros passos para solidificar um ministério mundial de pregação da mensagem através da página
impressa. Assim que o primeiro número foi enviado, alguns leitores começaram a enviar recursos e, em setembro de 1849, Tiago pôde quitar o
pagamento dos quatro primeiros números, no valor de $64,50 dólares.35
“Com muito prazer” Tiago olhava para trás e lembrava das vitórias
em meio aos desafios que ele e Ellen enfrentaram em 1849. “Desprovido de meios”, afirmou Tiago, “a nossa esperança de sucesso estava
em Deus, enquanto nós devíamos seguir adiante e trabalhar sobre o
plano de estrita economia”.36
A importância dessa inciativa vai além do que as palavras podem
traduzir. Em pouco tempo, as cartas começaram a chegar com as boas
novas de que muitos estavam conhecendo e aceitando a verdade das
três mensagens angélicas (Ap. 14). Definitivamente, a impressão e o
envio de literatura adventista sabatista, a partir de 1849, resultou no
crescimento numérico e saudável do movimento. Com cerca de 100
adventistas sabatistas em 1849,37 Tiago regozijava-se em poder afirmar em 1852, que “centenas tinham abraçado a verdade presente”. No
nordeste dos Estados Unidos, ele calculava perto de 1000 adventistas
guardadores do sábado, “várias centenas nos estados do oeste” americano e um “bom número” no Canadá.38
O trabalho de imprimir literatura continuou. Mesmo com as dificuldades, eles entenderam que essa era uma missão, e não apenas uma
aventura. Entre julho de 1849 e novembro de 1850, Tiago publicou onze
números de A Verdade Presente. Devido à instabilidade financeira e à
própria necessidade da família White visitar o povo adventista e pregar a
mensagem, Tiago e Ellen viviam uma vida um tanto quanto nômade, e “o
jornal, de vez em quando, era transferido de um lugar para outro”.39 Os
primeiros quatro números foram impressos em Middletown, Connecticut,
os outros seis em Oswego, New York, e o último em Paris, Maine.
Em 1850, Tiago lançou a Advent Review (Revista do Advento), uma
revista que ele usou para reeditar muitos dos artigos mileritas, tendo
como objetivo mostrar aos mileritas que assim como Deus tinha dirigido o movimento na pregação da primeira e segunda mensagens
angélicas, Ele também estava guiando um povo na propagação da terceira mensagem de Apocalipse 14. Em novembro de 1850, Tiago uniu
os dois primeiros periódicos e o intitulou de Second Advent Review,
and Sabbath Herald (Revista do Segundo Advento e Arauto do Sábado),
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que ficou conhecido por Review
and Herald, e anos depois foi intitulado de Adventist Review (Revista Adventista). Os primeiros
exemplares também foram publicados em diferentes cidades
(Paris, Maine, de 1850 a junho
de1851 e Saratoga Springs, New
York, de julho 1851 a março de
1852), até que os White se mudaram para Rochester, New York,
em abril de 1852, e finalmente
se estabeleceram em Battle Creek, Michigan, em novembro de
1855.40 A estabilidade adquirida
inicialmente em Rochester e a
compra da primeira impressora
em 1852, marcaram uma “nova
e importante época” para o adventismo sabatista.41 “A revista”,
escreveu Bill Knott, “rapidamente se tornou o elo entre os adventistas guardadores do sábado
espalhados ao longo do nordeste
dos Estados Unidos”.42
Atualmente, a Revista Adventista é publicada localmente em
vários países.43 Em 2005, a Igreja
Adventista começou a publicar a
Revista Adventist World, que rapidamente se tornou uma das
revistas religiosas de maior circulação no mundo cristão, com
1.500.000 cópias impressas por
mês, em 7 línguas e disponível
online em 12 línguas, distribuída
sem custo algum em mais de 140
países.44 A Igreja Adventista do
Sétimo Dia administra mais de 60
casas publicadoras ao redor do
mundo, publicando em 366 línguas e dialetos, e pregando em
mais de 900 deles, em mais de
200 países.45 Deus seja louvado
por este abençoado progresso.
Nitidamente, Deus cumpriu, e
continua dando evidências deste
cumprimento nos dias atuais da
promessa dada através da profecia apresentada a Ellen White em
1848, de que “a partir desse pequeno começo”, o ministério de publicações se tornaria “como torrentes
de luz que circundam o mundo”.46
A VERDADE PRESENTE.
PUBLICADO BIMENSALMENTE—POR TIAGO WHITE
Vol 1.
MIDDlEToWN, CoNN, JUlHo, 1849.
No. 1.
“O segredo do Senhor é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua aliança.”—Sl. xxv. 14.
“PORTANTO, eu não deixarei de exortar-vos sempre acerca destas coisas, ainda que as
saibais, e estejais confirmados na VERDADE
PRESENTE”. 2 Pd. i: 12
É através da verdade que as almas são santificadas e preparadas para entrar no reino eterno. A obediência à verdade nos matará para este
mundo, para que possamos ser vivificados, pela
fé em Jesus. “Santifica-os na tua verdade; a tua
palavra é a verdade”; João xvii: 17. Esta foi a
oração de Jesus. “Não tenho maior alegria do
que ouvir que meus filhos andam na verdade”,
3 João iv.
O erro escurece e aprisiona a mente, mas a
verdade traz consigo liberdade, e dá luz e vida.
A verdadeira caridade, ou AMOR, “regozija-se
com a verdade”; 1 Cor. xiii: 6. “Tua lei é a verdade.” Sl. cxix: 142.
Davi, descrevendo o dia da matança, quando a
peste andará em trevas, e resíduos de destruição
ao meio-dia, de modo que, “Mil cairão ao teu
lado e dez mil à tua mão direita”, diz—
“Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo
das suas asas estarás protegido. A sua VERDADE será o teu escudo e BROQUEL.” Sl. xci: 4.
A tempestade está vindo. Guerra, fome e peste
já estão no campo da matança. Agora é o tempo,
o único tempo de procurar um abrigo na verdade
do Deus vivo.
Na época de Pedro havia verdade presente, ou verdade aplicável àquele tempo. A Igreja
sempre teve uma verdade presente. A verdade
presente agora é o que mostra o dever presente e
a posição correta para nós, que estamos prestes
a testemunhar o tempo de angústia como nunca
houve. A verdade presente deve ser muitas vezes
repetida, mesmo para aqueles que estão estabelecidos na mesma. Isto era necessário no dia dos
apóstolos, e certamente não é menos importante
para nós, que estamos vivendo diante do fim do
tempo.
Por meses eu me senti sobrecarregado com o dever de escrever e publicar a
verdade presente para o rebanho disperso;
mas até agora o caminho não esteve aberto para eu começar o trabalho. Eu tremo ao
ouvir a palavra do Senhor, e a importância
deste tempo. O que é feito para espalhar a verdade deve ser feito rapidamente. Os quatro Anjos
estão mantendo as nações iradas sob controle,
mas apenas por alguns dias, até que os santos sejam selados; então as nações se apressarão, como
rugem as muitas águas. Então será tarde demais
para propagar às preciosas almas a presente salvação, verdades vivas da Bíblia Sagrada. O meu
espírito se compadece do remanescente disperso.
Que Deus os ajude a receber a verdade, e serem
estabelecidos na mesma. Que eles se apressem a
se abrigar debaixo da “proteção do Deus Todo-Poderoso”, é a minha oração.
O Sábado Semanal Instituído na
Criação, e não no Sinai.
“E no sétimo dia DEUS acabou seu trabalho
que ele tinha feito, e descansou no sétimo dia
de toda a obra que fizera. E abençoou DEUS o
sétimo dia, e o santificou: porque nele descansou
de toda a sua obra que DEUS criara e fizera.” Gn.
ii: 2,3.
Aqui, Deus instituiu o descanso semanal ou
sábado. Era o sétimo dia. Ele ABENÇOOU e
SANTIFICOU aquele dia da semana, e nenhum
outro; portanto, o sétimo dia, e nenhum outro dia
da semana, é santo, tempo santificado.
DEUS deu a razão pela qual ele abençoou e
santificou o sétimo dia. “Porque nele descansou
de toda a sua obra que DEUS criara e fizera.” Ele
descansou, e deu o exemplo para o homem. Ele
abençoou e separou o sétimo dia para o homem
descansar de seu trabalho, e seguir o exemplo do
seu Criador. O Senhor do sábado disse, Marcos
ii: 27, “O sábado foi feito para o homem.” Não
para o judeu apenas, mas para o HOMEM, em
seu sentido mais amplo; o que significa toda a
humanidade. A palavra homem neste texto tem
o mesmo significado nos textos a seguir. “O
homem, nascido da mulher, é de poucos dias e
cheio de inquietação”. Jó xiv: 1. “O homem se
deita e não se levanta, até que não haja mais os
céus”. Jó xiv: 12.
Ninguém vai dizer que o homem, aqui, significa
“Nota dos tradutores: Buscou-se manter o estilo do autor e a linguagem de sua época até o ponto em que isto não afetasse a compreensão do texto ao leitor
moderno. Em geral, conservou-se a pontuação do texto original, ainda que, em alguns casos, ela destoasse da norma. Além disso, algumas frases podem não
parecer absolutamente claras se tomadas isoladamente, porém poderão ser mais bem compreendidas se analisadas segundo o contexto em que estão inseridas.
Em comemoração a esta história de milagre, foi traduzido ao português o primeiro número de oito páginas do periódico The Present Truth.47 Tiago era um escritor
prolífico, de um raciocínio lógico e equilibrado. Seus artigos apresentados neste primeiro número têm resistido ao tempo e falam a nós com autoridade bíblica e poder
convincente, mesmo para os leitores do século XXI, aqueles que estão “vivendo diante do fim do tempo”.
“O meu espírito se compadece do remanescente disperso. Que Deus os ajude a
receber a verdade, e serem estabelecidos na mesma.” (J. White, Present Truth, p. 1;
Life Incidents, 292).
FOCO NA PESSOA 11
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1 HANDY, Robert T. The Protestant Quest for a Christian America, em American Church History: A Reader, ed. Henry Warner
Bowden e P. C. Kemeny, Nashville: Abingdon Press, 1998, p. 51; CROSS, Whitney R. The Burned-over District: The Social and
Intellectual History of Enthusiastic Religion in Western New York. 1800-1850, Ithaca, NY: Cornell University Press, 1950, pp.
103-109; PINHEIRO, Paulo Roberto. “Torrentes de Luz” Celebram 160 Anos, Revista Adventista, julho de 2009, pp. 12-13.
2 KNIGHT, George R. Historical Introduction, em Earliest Seventh-day Adventist Periodicals, Adventist Classic Library, Berrien
Springs, MI: Andrews University Press, 2005, p. vii.
3 Sobre a liderança de Joshua Himes, os mileritas chegaram a ter cerca de 40 periódicos por volta de 1843–1844. (TIMM, Alberto
R. O Santuário e as Três Mensagens Angélicas: Fatores Integrativos no Desenvolvimento das Doutrinas Adventistas. 2a
ed. rev. Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 1999, pp. 18-19). Num geral, estima-se que os mileritas
chegaram a produzir, entre jornais, livretos, panfletos, etc., cerca de 4 milhões de peças de literatura entre 1839-1844. (HATCH,
Nathan. The Democratization of American Christianity. New Haven: Yale University Press, 1991, p. 142.
4 KNIGHT, George R. Millennial Fever and the End of the World: A Study of the Millerite Adventism. Boise, ID: Pacific Press,
1993, pp. 245–293; Idem. William Miller and the Rise of Adventism. Nampa, ID: Pacific Press, 2010, pp. 209–250.
5 Cf. FROOM, LeRoy Edwin. The Prophetic Faith of Our Fathers: The Historical Development of Prophetic Interpretation.
Washington, DC: Review and Herald, 1954, vol. 4, pp. 1030–1048; SCHWARZ, Richard W. e GREENLEAF, Floyd. Portadores
de Luz: História da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, pp. 56–67.
6 E.g., J. White, “Letter from Bro. White”, Day-Star, 6 de setembro de 1845, pp. 17–18; idem, “Dear Bro. Jacobs”, Day-Star, 20
de setembro de 1845, pp. 24, 26; Ellen G. Harmon, “A Letter from Sister Harmon”, Day-Star, 24 de janeiro de 1846, pp. 31–32.
7 E.g., HARMON, Ellen G., To the Little Remnant Scattered Abroad. Portland, (ME: James White), 6 de abril de 1846 (re-impressão
de HARMON. Letter from Sister Harmon. Day-Star, 24 de janeiro de 1846, pp. 31-32; ibid., 14 de março de 1846, pp. 7-8);
Idem. Dear Bro. Bates, em A Vision. Fairhaven, MA: Joseph Bates, 7 de abril de 1847; Idem. To Those Who Are Receiving the
Seal of the Living God. 31 de janeiro de 1849.
8 WHITE, James; WHITE, Ellen G. e BATES, Joseph. A Word to the “Little Flock”. Gorham, ME: James White, 1847. Esta foi a
primeira publicação conjunta dos três líderes do movimento adventista sabatista, e a partir dessa data (maio 1847) eles passaram a ter uma presença mais visível, como um movimento que defendia e pregava doutrinas distintivas, estavam sólidos
numa mensagem com fundação teológica e prontos para evangelizar os outros mileritas.
9 E.g., BATES, Joseph. The Opening Heavens: or, A Connected View of the Testimony of the Prophets and Apostles, Concerning the Opening Heavens, Compared with Astronomical Observations, and of the Present and Future Location of the New
Jerusalem, the Paradise of God. New Bedford, (MA): Benjamin Lindsey, 1846; Idem, The Seventh Day Sabbath: A Perpetual
Sign from the Beginning to the Entering into the Gates of the Holy City According to the Commandment. New Bedford:
Benjamin Lindsey, 1846; Ibid., rev. e ampl. (1847); Idem, Second Advent Way Marks and High Heaps: or a Connected View
of the Fulfilment of Prophecy, by God’s Peculiar People, from the Year 1840-1847. New Bedford, (MA): Benjamin Lindsey,
1847; Idem. A Seal of the Living God. A Hundred Forty-Four Thousand, of the Servants of God Being Sealed, in 1849. New
Bedford, (MA): Benjamin Lindsey, 1849.
10 Thomas M. Preble publicou um artigo sobre o sábado no Hope of Israel, Portland, Maine, em 28 de fevereiro de 1845, e
logo depois publicou Tract, Showing That the Seventh Day Should Be Observed as the Sabbath, Instead of the First Day;
“According to the Commandment” (Nashua, NH: Murray & Kimball, 1845); Joseph Bates, The Seventh Day Sabbath (1846),
pp. 40–41; ibid., 2nd ed. (1847), p. 96; Schwarz e Greenleaf, Portadores de Luz, p. 57.
11 WHITE, James. Life Incidents in Connection with the Great Advent Movement, as Illustrated by the Three Angels of Revelation XIV. Battle Creek, MI: Steam Press, 1868, p. 269.
12 BATES, Joseph. A Seal of the Living God. 1849, p. 24.
13 WHITE, Ellen G. Testemunhos para a Igreja. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004, vol. 5, p. 534.
14 WHITE, Ellen G. Vida e Ensinos: A Trajetória de Uma Mulher de Visão. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014, p. 95.
15 WHITE, Ellen G. Vida e Ensinos. p. 95.
16 MAXWELL, C. Mervyn. História do Adventismo. Santo André: Casa Publicadora Brasileira, 1982, p. 101.
17 WHITE, James. Present Truth (Verdade Presente). p. 1.
18 WHITE, James. Life Incidents. p. 290.
19 WHITE, Ellen. Vida e Ensinos. p. 95.
20 SMITH, Uriah. Defense of Eld. James White and Wife: Vindication of Their Moral and Christian Character. Battle Creek,
MI: Steam Press, 1870, p. 2.
21 WHITE, Ellen. Vida e Ensinos. p. 95.
22 WHITE, Ellen. Vida e Ensinos. p. 95.
23 WHITE, James. A Brief Sketch of the Past, Review and Herald, 6 de maio de 1852, p. 5.
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24 WHITE, James. Life Incidents. p. 290.
25 James White, “Union Is Strength”, Review and Herald, 17 de junho de 1880, p. 393; cf. James White, “Present and Future,”
Review and Herald, 23 de setembro de 1880, p. 216.
26 WHITE, Ellen. Vida e Ensinos. p. 95.
27 SCHWARZ e GREENLEAF. Portadores de Luz. p. 72.
28 James White to Beloved Bro. and Sister Collins, Dorchester, MA, 8 de setembro de 1849, p. 1.
29 WHITE, Ellen G. Vida e Ensinos. p. 96.
30 Idem.
31 WHITE, James. The Cause, Review and Herald, 23 de julho de 1857, p. 93; WHITE, Ellen. Vida e Ensinos. p. 96.
32 RODRIGUES, Gerson. The United States in the First Half of the Nineteenth Century: The Religious Context for the Adventist
Movement, em The Book and the Student—Theological Education as Mission: A Festschrift Honoring José Carlos Ramos,
ed Wagner Kuhn. Berrien Springs, MI: Department of World Mission, Seventh-day Adventist Theological Seminary, Andrews
University, 2012, pp. 265–287.
33 WHITE, James. Present Truth (Verdade Presente). p. 1.
34 Seventh-day Adventist Encyclopedia (Hagerstown, MD: Review & Herald, 1996), s.v. “Review and Herald Publishing Association;” s.v. “Adventist Review”; William G. Johnsson, “Nossas Raízes e Missão”, Adventist World Website http://portuguese.
adventistworld.org/index.php?option=com_content&view=article&id=16 (acessado em 23 de setembro de 2015).
35 WHITE, James. The Paper, Present Truth. Dezembro de 1849, p. 47.
36 WHITE, James. Union Is Strength. Review and Herald, 17 de junho de 1880, p. 393.
37 WHITE, James. The Cause. Review and Herald, 23 de julho de 1857, p. 93.
38 WHITE, James. A Brief Sketch of the Past, Review and Herald, 6 de maio de 1852, p. 5.
39 WHITE, Ellen. Vida e Ensinos, p. 96.
40 Seventh-day Adventist Encyclopedia, s.v. “Adventist Review”; William C. White, “Sketches and Memories of James and
Ellen G. White, XIV—Beginnings in Rochester”, Review and Herald, 13 de junho de 1935, pp. 9-11; J. W[hite], “New Subscribers,” Review and Herald, 4 de dezembro de 1855, p. 80; Ron Graybill, “The Whites Come to Battle Creek: A Turning Point
in Adventist History”, Adventist Heritage 15, no. 2 (outono, 1992), pp. 25-29.
41 WHITE, James. Life Incidents, p. 293. Tiago fez um apelo para que eles adquirissem o próprio prelo, pois diminuiria o custo,
e além do mais era “desagradável e inconveniente” ter a literatura adventista sendo impressa, às vezes, até aos sábados,
por não guardadores do sábado (James White, “The Paper”, Review and Herald, 17 de fevereiro de 1852, p. 96; cf. [James
White], “The Review and Herald”, Review and Herald, March 2, 1852, 104).
42 KNOTT, Bill. E Houve Luz: Uma Visão, Uma Missão e a História desta Revista, Adventist World. Novembro 2008, p. 18;
KNIGHT, George R. Uma Igreja Mundial: Breve História dos Adventistas do Sétimo Dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Adventista, 2000, p. 56.
43 GUARDA, Márcio Dias. As Congêneres da Revista Adventista, Revista Adventista, janeiro de 2006, p. 15.
44 “Adventist Review/Adventist World”; Disponível em http://www.adventist.org/world-church/general-conference/departments/
(acessado em 16 de setembro de 2015).
45 Seventh-day Adventist Church. 2015 Annual Statistical Report. pp. 7, 79, 87.
46 WHITE, Ellen. Vida e Ensinos. p. 95.
47 Tradução feita por Adenilton Aguiar e Gerson Rodrigues, professores do SALT–IAENE.
GERSON RODRIGUES
O pastor Gerson Rodrigues é professor de História do Adventismo no SALT-IAENE, e
diretor do Centro de Pesquisas Ellen G. White em Cachoeira, BA. É bacharel em
Teologia e mestre em Divindade pela Andrews University. Foi pastor em New York.
De 2008 a 2010 foi professor das disciplinas Heranaça Adventisa e História da Igreja
Adventista no Seminário Teológico da Andrews University.
Atualmente, esta concluindo o Ph.D. em História do Adventismo na Andrews University. É casado com Irlacy Rodrigues, com quem tem três filhos, Michael, Daniel,
e Stephen.
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Moldando a
MENSAGEM
ao modo islâmico de pensar
Por João Cláudio Chaguri
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MISSÃO MUNDIAL
A
Declaração do Assunto
questão sobre como transmitimos a mensagem bíblica em meio às diferenças culturais de cosmovisão e socialização adquire relevância especial para os crentes. Nossa missão é estabelecer, pelo
poder de Deus, o Seu reino no coração das pessoas.
Isso resulta em parâmetros similares de confiança em Deus entres pessoas com diversificadas cosmovisões e diferentes modos de pensamento e expressão desses modelos de fé. Como John Kent,
missionário em Nova-Guiné, afirmou quando plantou uma igreja em uma tribo: “Percebi que eu tinha
quarenta cristãos do lado de fora e quarenta animistas do lado de dentro”. Ele teve uma jornada de luta
para colocar a teologia cristã no contexto, de forma que ela pudesse tornar verdadeiramente sua – uma
acurada internalização dos princípios da mensagem naquele tempo e lugar, resultando em uma demonstração prática dessa fé, em todas as situações.
No cenário do Islã, a necessidade é semelhante até para a colocação animista, mas o caminho é ligeiramente diferente. O cristianismo ocidental é considerado como totalmente rejeitado, inferior, imoral,
selvagem e um sistema fanático de fé. Podemos
questionar esse ponto de vista sobre a sua precisão
ou racionalidade, mas essa é a realidade no mundo
muçulmano com a qual temos que lidar. Portanto,
apenas para sermos ouvidos no mundo muçulmano, precisamos não apenas embalar a mensagem
em termos amigáveis, mas também fazer com que
ela transmita cuidadosamente a verdade à mente
islâmica. Se o muçulmano tiver que adotar a forma
ocidental de pensar para entender a mensagem,
ela será rejeitada logo de início.
Priorização das Crenças para o
Desenvolvimento dá Fé no Contexto
Dentro da herança cristã, a “verdade presente” é uma expressão familiar. Ela porta a noção de
que, em certos tempos da história terrestre, houve focos e ênfases especiais sobre certas verdades
extraídas do grande corpo universal da verdade,
quem foram de suprema importância.
Gostaria de lembrar que, para um muçulmano,
em certo tempo e lugar, há uma verdade presente.
Tentar forçar uma crença através da focalização de
outros pontos de que entendemos serem mais importantes é falhar na missão. Há muitas crenças que
defendemos, mas temos de nos ater primeiramente
àquela que cativará o coração do muçulmano.
Somente mais tarde ele será capaz de apreciar as
outras, e então todo o corpo de doutrinas. Se falhar-
mos em compreender isso, apenas erigiremos muros e criaremos alienação. Temos que compreender
qual é a necessidade do coração do muçulmano, ao
invés da necessidade do argumento da verdade.
A necessidade do argumento da verdade de Nicodemos era discutir a divindade de Cristo e Sua
messianidade. O que o seu coração necessitava era
compreender e experimentar um novo coração, o
que somente Deus pode fazer. A verdade presente
para Nicodemos naquele momento era a conversão de coração, e não a divindade de Cristo. Seu
caráter e missão viriam depois.
Essa realidade não somente requer conhecimento e sensibilidade espiritual para com o muçulmano, mas também uma compreensão da verdade essencial ao crescimento espiritual nesse
tempo versus o que é encorajante e aprimorador
nessa verdade essencial. Fui levado a essa linha
de pensamento em meu ministério após oito anos
trabalhando com os muçulmanos: “Segue-se então que nossa compreensão da verdade essencial
e o entendimento da necessidade interior do muçulmano nessa ocasião contribuem para o que é o
foco prioritário presente”.
Isso não altera o corpo maior de verdade. Porém, certos contextos, além de afetarem o que é
essencial na ocasião, podem também acrescentar
assuntos de fé que não são focalizados em nossa
declaração de crenças.
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Em nossa priorização, há certos princípios morais
e espirituais universais que precisam ter precedência. Jesus sumarizou o dever total do homem como
amor a Deus e amor ao semelhante (Mat. 22: 37–40).
Paulo destaca como um mandamento, o amor é o
cumprimento da lei (Rom. 13. 10). Não estamos nos
referindo a amar a todo mundo, uma mentalidade
do tipo “está tudo bem”. Há certos princípios específicos que devem ser exemplificados em nossas relações com os muçulmanos que demandam nosso
esforço com o intuito de nos envolvermos, enquanto
os desafiamos a uma fé mais profunda.
Além do respeito, tolerância e afirmação, temos
que dar prioridade ao tema da santidade. Santidade é
um dom de Deus na pessoa que experimenta a realidade de um coração novo e renova seu compromisso de
fé. Essa não é a ênfase degenerada do perfeccionismo.
O perfeccionismo enfatiza o comportamento; a
santidade focaliza a qualidade do homem interior –
uma totalidade para Deus. O muçulmano deve ser
desafiado à santidade, não por meio da forma e dos
rituais, mas mediante um novo coração dado por
Deus. Isso é feito mediante a aplicação de princípios
bíblicos expressos em linguagem islâmica, isto é,
em termos familiares a eles, o requer compreensão
e bom uso do Alcorão.
Devemos basear-nos nos conceitos islâmicos
de submissão a Deus e no taqwah (retidão interior
como dom divino). É importante guiar o muçulmano
primeiramente a essa nova experiência de coração.
Alcançamos um marco significativo quando um muçulmano nos disser: “Por favor, ore por mim para
que Deus me dê esse coração novo”. Um coração
obediente, aberto à Sua voz, disposto a escutar e que
indague: “O que devo fazer para me salvar?”, ou então, “Como posso estar seguro sobre minha posição
no dia do julgamento?” Inicialmente, isso confere
prioridade aos detalhes doutrinários. Tal postura é
fundamental a uma compreensão posterior de todas
as crenças.
Antes da aceitação de uma determinada série
de crenças abstratas, e até mesmo antes da adoção de uma nova prática religiosa, tem de ocorrer
a experiência de um coração novo. Os conjuntos de
crenças e práticas virá em seguida como resultado
desse novo coração, desse dom da santidade. As
doutrinas serão não um mero ritual, mas facilitadoras dessa experiência de fé mais profunda.
Outra prioridade em nosso trabalho espiritual
com os muçulmanos é a sensibilidade à sua capacidade de absorção espiritual à velocidade com que
podem incorporar a nova compreensão dos assun-
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tos espirituais. Fico maravilhado pela paciência de
Jesus com os discípulos. Até mesmo quando Ele
estava transmitindo as últimas e minuciosas instruções sobre Seu caminho para o lugar de Sua
ascensão eles não compreenderam. “Quando restabelecerás o reino a Israel?”, perguntaram. Foi
apenas quando pareciam abandonados aos seus
próprios esforços que o maior recurso lhes foi enviado – o Espírito Santo – O qual guiou a compreensão deles nas verdades vitais acerca da divindade
de Jesus e de Sua verdadeira missão. Essa paciência ao demovê-los de uma posição monoteística
restrita e distanciá-los de uma ordem política para
uma compreensão mais ampla é de grande valia ao
trabalharmos com os muçulmanos.
Um exemplo bastante instrutivo a respeito dessa
priorização e gradual sequenciamento de verdades
em nossa obra junto aos muçulmanos é o trato de
Jesus sobre a questão de Sua divindade. Ele não faz
essencialmente dela uma matéria de discussão, senão mais tarde em Seu ministério, quando da confrontação com os líderes religiosos no templo (João
10) e durante Seu julgamento. Depois de perguntar
aos Seus discípulos, “Quem dizeis que Eu Sou?”, e
esclarecer que a resposta de Pedro não procedia de
compreensão ou ensino humano, mas diretamente
da inspiração divina, ordenou “que a ninguém dissessem ser Ele o Cristo” (Mateus 16:15 e 20).
Eu jamais vi esse texto ser considerado como
didático nas classes de evangelismo público ou
pessoal, mas acredito que ele tem uma tremenda importância para nós, que trabalhamos com os
muçulmanos. Essa ordem e outras semelhantes
foram dadas aos discípulos que trabalhariam primeiramente em áreas judaicas ou àqueles que se
achavam em território judeu.
Quando em Samaria, onde o assunto da Sua divindade não era tão
explosivo como em áreas judias, Ele falou abertamente de Seu messianato – “Eu o Sou” (João 4:26). A divindade de Cristo não é um tema que
deve ser imposto ao muçulmano. Ele não deve se tornar um ponto de
controvérsia, uma pedra de tropeço. É nossa tarefa “empilhar evidências” sobre Sua divindade, mas sem referenciá-la diferentemente. Dessa forma, o Espírito Santo trará, no devido tempo, evidências à mente do
investigador e o conduzirá àquela experiência de descoberta: “Deve ser
Ele... Ele é meu Deus”. O exemplo de Cristo nos ensina a respeito disso,
bem como a afirmação de Paulo em I Cor. 12:3: “Ninguém pode dizer:
Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo”. Essa experiência tem-se
repetido seguidamente em nosso trabalho com os muçulmanos.
Algumas semanas após uma série de estudos sobre o Hanif (Remanescente), um dos muçulmanos batizados confessou: “Fiquei chocado
quando comecei a entender que você estava tentando falar-nos sobre
Jesus. Agora creio verdadeiramente que Ele é Deus”.
Quando um muçulmano chega a essa compreensão, ele vê Deus
em Jesus, não simplesmente o Filho de Deus, por causa da súbita
experiência de mudança, ou pelo menos, da implicação de que Deus
teve um Filho físico.
A possibilidade do reconhecimento, por parte de alguém, da plenitude do poder de Deus para salvar na frágil humanidade de Jesus, só
pode provir de uma intervenção miraculosa de Deus. Fé radical não é
um empreendimento, pois se assim fosse, bastaria querer e seria feito.
Antes, ela é um dom, e somos deixados a reagir a respeito, orar e vigiar.
(MANNING, p. 24).
Exemplos de Desenvolvimento de Fé Dentro do Contexto Muçulmano
À medida que prosseguimos no trabalho evangelístico dentro do
contexto muçulmano, surgem perguntas práticas: Quanto de teologia regional devemos permitir? Estamos em perigo de desenvolver
uma diversidade de teologias que resultarão em pluralismo teológico,
uma relativização do cristianismo, perdendo a unidade da fé cristã?
Enquanto penetramos em diversas culturas, especificamente o islã,
como traçamos nosso curso?
Pedras Fundamentais da Fé Sobre as quais Podemos Edificar a
Verdade Bíblica
Foi isso o que nos impulsionou a procurar pedras fundamentais
dentro da cultura muçulmana, seu sistema de crenças, valores básicos e conceitos sobre os quais construir a verdade bíblica. Elas foram
chamadas por alguns missiólogos de analogias remissórias, fenômenos culturais que têm sido preservados pelo propósito divino e que podem ser usados para ilustrar e tornar claras certas verdades bíblicas.
Em nosso trabalho com os muçulmanos, encontramos muitos deles.
O resgate do filho de Abraão por um “tremendo sacrifício” é um
exemplo (Surah 37.107). Outro exemplo mais específico seria a crença
existente entre alguns shiitas de que se você se desviar de sua crença
precisa de um “tuba ghusl”, um banho corporal para o restabelecimento de seu estado como crente. Isso ajuda na explicação do batismo. Também há um verso no Alcorão que fala da “coloração de Deus”
ou “sibghat Alá” (Surah 7.26).
A Palavra sibghat significa
“colorir” como “tingir tecidos”.
Ela também traz consigo a ideia
de “natureza inata”, como traduzido por KHATIB. Em outras palavras, essa “coloração” é a recriação de uma natureza piedosa no
homem, o coração novo de Ezequiel 36:26, que esteve perdida
por causa do pecado. O paralelo
para baptizo é útil em nossa discussão sobre o batismo.
Mas, além dessas analogias
remissórias, fomos um passo
além e utilizamos o que viemos
a denominar de “janela remissória”. A analogia remissória ajuda
na explanação de certas ideias ou
conceitos do sistema de crenças
bíblicas. Uma janela remissória,
porém, é muito mais que isso. É
uma abertura para o próprio coração da cultura. E, quando o evangelho resplandece através dela,
produz um poderoso impacto no
coração do muçulmano. Ela causa impacto nos principais motivadores espirituais dentro de uma
cultura e sistema de crenças.
O conceito “Hanif” parece prover tal janela. Ele ficou perdido
para muitos muçulmanos, porque
pareceu inacessível. Ser totalmente submisso e leal a Deus, seguir
integralmente a fé de Abraão, estava além do seu alcance. Assim, o
diabo lançou a destruição no mundo muçulmano através de crenças
populares, espiritismo, temor do
mal, busca por “barakah” ou benção provinda de objetos poderosos,
lugares ou pessoas, com o objetivo
de proteção contra essas forças.
Mas o conceito de ser Hanif de
Deus está presente no Alcorão,
em sua história pré-islâmica e no
tempo de Maomé.
A seguinte descrição, feita
por um erudito islâmico, parece
amoldar-se à compreensão cristã
dos verdadeiros crentes ocultos no
deserto para preservar a fé bíblica:
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Eles [os cristãos árabes] levaram seu cristianismo ao distante Oriente, à Pérsia e Índia, ao
Egito e Abissínia, ao norte, no Cáucaso; e em toda parte, ao redor do Mediterrâneo, seus antepassados implantaram colônias para comércio ou assentamento. Como vimos, o predomínio da
igreja de Roma, apoiado pelo império bizantino, havia marginalizado esses cristãos de formação
semítica. Quando foram classificados como hereges pela igreja de Roma, e perseguidos pelo
império bizantino ou seus títeres, eles buscaram refúgio no deserto [...] Os imigrantes judeus e
cristãos acharam amável acolhimento no ermo entre esses árabes que mantinham a tradição
mesopotâmio-abraãmica. Juntos, eles consolidaram essa tradição na península arábica, que
veio a ser conhecida como Hanifiyyah. Seus partidários, os hanif (s), resistiram a toda associação
de outros deuses com Deus, recusando-se a participar de rituais pagãos, e mantiveram uma vida
de pureza ética acima de qualquer censura. É do conhecimento comum que o hanif era um monoteísta estrito, que não prestava homenagens à religião tribal; que ele era de impecável caráter
ético e mantinha distância do cinismo e da lascívia moral de outros árabes. [...] Todo mundo sabia
de sua presença, uma vez que eles pertenciam a quase todas as tribos. (AL FARUQI, p. 61).
Parece-nos apropriado incluir esses fieis monoteístas do deserto da Arábia, conhecidos
como hanifs, em Apocalipse 12. Portanto, estamos usando essa janela, apelando à consciência espiritual do muçulmano, mas provendo-lhe os meios, a maneira e o poder para que ele
seja verdadeiramente um hanif.
Intimamente acoplado ao conceito do hanif, está o tema do taqwah (justiça interior). Uma vez
que esse é um tema proeminente no Alcorão, começamos com uma discussão sobre a justiça
proveniente do Alcorão, e então passamos para uma profunda compreensão bíblica da justiça
pela fé na graça de Deus e no sacrifício de Si mesmo em Cristo Jesus, para reconciliação, perdão
dos pecados, remoção da degradação e concessão da vida eterna.
Aquilo em que estamos envolvidos é um processo de reformatação da teologia no contexto,
em lugar de exportar um determinado conjunto de formulações e aplicá-las no muçulmano,
que está incompreensível a respeito do assunto. Isto é tornar a teologia relevante sem minar
a mensagem verdadeira, tornando-a familiar ao coração muçulmano. É importante que consideremos esses conceitos ao avaliarmos o que está ocorrendo com a missão cristã ao islã.
Devemos também nos lembrar que estamos envolvidos num processo contínuo, no qual há
constante crescimento e apuração, bem como aprendizado.
Descrevendo a Expiação no Contexto Muçulmano
Como resultado do pecado, todas as cosmovisões culturais se desenvolveram em torno de
três dinâmicas: (1) culpa e inocência (cultura cristãs ocidentais); (2) vergonha e honra (Oriente –
culturas de grupo, incluindo o islã e outras religiões orientais) e (3) medo e poder (povos animistas). É possível encontrarmos elementos de todas as três em qualquer cultura. Porém, a maioria
delas exibirá uma que predomina. A guia de orientação, no Ocidente, dentro do contexto do reino
espiritual, nos dá uma visão de que a culpa desempenha um papel importante.
Quando sentimos medo e ansiedade, isso frequentemente se deve ao senso de culpa ou à
sua aliada íntima, a incapacidade de não estar à altura do homem. Esta visão gira em torno da
transgressão da Lei ou do não alcance de um padrão, quer humano ou divino. Neste caso, usamos tal visão como base de explicação da natureza pecaminosa, de que somos inerentemente
pecadores e culpados.
Em suma, no Ocidente somos orientados pela culpa e desempenho. As declarações teológicas
no cristianismo, em sua grande maioria, refletem isso: “definição de pecado” e “pecado e culpa”.
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Por causa da ampla proeminência do povo islâmico (que inclui muitos elementos animistas),
o islã compartilha de duas dinâmicas: vergonha e
medo. Esses constituem dois motivadores espirituais poderosos.
Vergonha: O principal motivador de saber que
estará sozinho, envergonhado e nu diante de Deus
no Dia do Juízo.
Medo: Das forças do mal que compelem o indivíduo a buscar a baraka (benção) de vários modos,
para obter o poder de proteger-se das forças malignas e abrandar o temor. Desses dois, o mais penetrante e poderosamente dinâmico é a vergonha.
Em contraste com a culpa e a orientação pró-desempenho do Ocidente (que é muito individualista), o
islã é condicionado em relação à vergonha e ao existir,
isto é, estar sob a condição de corrupção ou vergonha
em relação ao grupo religioso.
Posteriormente, contraponho os dois: a culpa é
um sentimento e condição ocorrente quando alguém
transgrediu ou não observou uma lei divina ou humana.
Vergonha, em comparação, é um sentimento,
condição, que se origina da falha de um estado do
ser, seja perante Deus, seja diante dos semelhantes.
A vergonha, semelhantemente à culpa, pode resultar num sentimento ou condição subjetivos, mas
também numa condição objetiva de violação, alienação e morte. Parece possível então empregar o conceito de vergonha como usamos tradicionalmente o
conceito de culpa.
É interessante notar que o conceito de vergonha é
muito mais prevalecente nas Escrituras do que o de
culpa. A tradução inglesa de vergonha aparece noventa e nove vezes no Velho e no Novo Testamento,
enquanto culpa aparece duas e culpado vinte e seis.
Muitos desses versos contendo a palavra vergonha
a usam em referência ao resultado do pecado ou de
atos de injustiça.
Há vários vocábulos hebraicos para vergonha, alguns traduzidos como repreensão,
desgraça ou desonra. Um deles é bosheth,
que é descrito como vergonha, sentimento e
condição, bem como sua causa (Dicionário da
Bíblia, Strong). Ezequiel 16:51-52 provê um
exemplo do uso de vergonha como consequência do pecado:
Demais de Samaria não cometeu metade de teus pecados; e multiplicaste as
tuas abominações mais do que elas, e justificaste as tuas irmãs, com todas as abominações que fizeste. Tu, também, pois
que deste sentença favorável a tuas irmãs,
leva a tua vergonha; por causa de teus pecados, que fizeste mais abomináveis do
que elas, mais justas são elas do que tu;
confunde-te logo também, e sofre a tua
vergonha, porque justificaste a tuas irmãs.
Usar Termos Simples e Descritivos
Ao traduzirmos nossa compreensão da
expiação efetuada pela vida e morte de Jesus, e Seu ministério como o nosso Senhor,
usamos o paradigma vergonha e honra em
lugar do tradicional culpa e inocência.
Em nossa discussão dessa doutrina, evitamos também o uso de expressões vagas ou
complexas que requerem considerável explicação, deixando de lado a tentativa de traduzi-las para o pensamento islâmico, como por
exemplo expressões que incluem: propiciação,
expiação ou expiatório, em seu uso comum
de reconciliação, santificação e justificação. É
preferível usar termos de fácil compreensão
como: reconciliar, reunir, estar em ordem com
Deus, cobrir o pecado ou a vergonha, receber
de Deus um coração novo.
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A doutrina da natureza do homem é fundamental para a consideração do tema da salvação. A posição muçulmana está em contraste com a postura bíblica sobre esse ponto. KATEREGGA sintetiza
muito bem a posição muçulmana:
O islã não se identifica com a convicção cristã de
que o homem precisa ser resgatado. A crença cristã na morte sacrificial e redentora de Cristo não se
ajusta à visão islâmica de que o homem sempre foi
fundamentalmente bom, e que Deus ama e perdoa
aos que obedecem ao Seu querer. [...] O islã é um caminho de paz. A visão muçulmana que está em total
contraste com a experiência cristã, é a de que o homem experimenta paz através da total submissão a
Deus. Jesus Cristo, como muitos profetas antes dEle,
e Maomé, o grande profeta, eram ambos exemplos
da clemência de Deus para com a humanidade.
Obviamente, o emprego do medicamento só pode
fazer sentido se a doença for diagnosticada com precisão. Se o pecado for, em realidade, só um engano a
ser perdoado por um Deus misericordioso, sem consequência inerente, falar da necessidade de um sacrifício
para redimir o homem é como prescrever cirurgia para
que está com um resfriado comum. Porém, se o pecado
for um câncer mortal, então é imperiosa uma cirurgia.
O muçulmano geralmente concordaria com a
sentença do cristianismo que o antídoto para a culpa é o perdão (Mat. 6:12), que resulta numa consciência clara e paz mental, mas ficaria confundido
com a necessidade do pagamento de um preço,
uma morte substitutiva e a satisfação de justiça.
Para ele, essas parecem adições desnecessárias.
Como lidarmos com essa objeção?
Embora KATEREGGA tenha esclarecido a visão
oficial do islã, é interessante observar que o Alcorão, na realidade, descreve a natureza do homem
ou o resultado do pecado no homem em termos
muito semelhantes aos do ponto de vista bíblico
sobre a natureza pecaminosa.
Há algumas pessoas que dizem: Cremos em
Deus e no Juízo Final, mas elas não creem realmente. Prazerosamente enganariam a Deus e
aqueles que creem, mas enganam tão somente
a si mesmas, e não estão apercebidas disso! Em
seu coração existe uma moléstia; e Deus fez aumentar sua enfermidade. Dolorosa é a penalidade em que incorrem, porque eles são falsos para
si mesmos. (Surah 2.8-10).
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Utilizamos o texto acima para elevar o entendimento muçulmano sobre o pecado a um nível mais
sério. O pecado é uma doença grave que requer
tratamento intenso.
Deus concedeu auxílio através de fitra, (a natureza que Deus colocou no homem para que O adore), ilm (conhecimento) e orientação. Porém, Iblis
jurou trazer sob seu controle todos, menos alguns.
Só há uma maneira pela qual podemos evitar cair
sob seu domínio, que é permitir que Deus crie em
nós um novo coração (a essa altura usamos as referências bíblicas de Ezequiel 11:19-20; 36:26 e 27
e Jeremias 31:33-34).
Comparando Culpa e Vergonha.
O Exemplo de Abraão.
Há uma consequência adicional do pecado no
entendimento muçulmano em relação à vergonha
ou à desonra. Do mesmo modo que acontece na
explanação ocidental do ensino bíblico, o pecado,
ações ou pensamentos rebeldes, resultam numa
condição de culpa que produz a morte.
É igualmente forte na cultura de honra e vergonha do islã a noção de que pecado resulta numa
condição de vergonha (objetiva e subjetiva), que só
pode ser remediada pela morte ou remoção do objeto de vergonha.
Na cultura de honra e vergonha, a vergonha
grave ou desonra na família requer morte do causador da vergonha. A família não pode sobreviver
(manter sua posição de honra) na comunidade, a
menos que a honra seja restabelecida pela exclusão do culpado. O fato de as culturas de honra e
vergonha serem grupos culturais provê um contexto para essa realidade.
A história de Abraão sacrificando seu filho, quando considerada no contexto de honra e vergonha,
assume significado novo. Era comum um pai matar
o próprio filho, se o filho houvesse trazido grande
vergonha sobre a família. Porém, nesse caso, o filho
não tinha envergonhado a família de Abraão, mas
ele se submeteu ao pai. Se Abraão tivesse efetivado
o sacrifício de Isaque, teria trazido vergonha sobre
si por trucidar um filho honrado. Mas “porque ambos tinham se submetido à vontade de Deus” (Surah
37.103), um modo de escape foi provido.
A honra de ambos foi preservada pela provisão
divina de um cordeiro, para ser morto em lugar do
filho (Surah 37.107). Este cordeiro aponta para o
que Deus faria pelo homem. Ele simbolizava o meio
de escape da nossa condição vergonhosa, merecedora de morte. Por essa razão, é crucial para essa
discussão a descrição do que Deus faria pela vergonha do homem.
Conclusão
Este artigo abordou vários assuntos importantes relativos à comunicação da mensagem bíblica dentro do
contexto muçulmano, como: a necessidade de amoldar princípios doutrinários à compreensão muçulmana; a
necessidade de priorizar o que é importante para aquela pessoa, naquele momento e lugar, de acordo com sua
carência espiritual; piedade pessoal e espiritualidade em foco; a necessidade de respeitar a capacidade de absorção do muçulmano e a abordagem indireta acerca da compreensão sobre a divindade de Cristo, mediante a
cumulação de evidências, permitindo que o Espírito Santo imprima essa verdade no coração.
Também debatemos sobre a utilização de elementos da verdade dentro do contexto do islã, como pedras fundamentais sobre as quais erigir a verdade, enquanto rearranjamos as crenças bíblicas no contexto, fazendo assim
abrir janelas remissórias no coração do muçulmano.
O uso do paradigma vergonha e honra para descrever a expiação, em termos que transmitam a verdade do
evangelho mais precisamente do que a estrutura ocidental de culpa e inocência é outro meio que se tem mostrado eficaz. Além disso, temos a utilização do contexto vergonha para comunicar mais efetivamente a gravidade
do pecado e de nossa condição desvalida, com a sua consequente morte.
Bibliografia
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JOÃO CLAUDIO CHAGURI
João Cláudio Chaguri é doutorando em Teologia pelo Reformed Theologic Seminary
Instituto Presbiteriano Mackenzie.
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Por Silvano Barbosa
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FERRAMENTAS PARA A MOBILIZACÃO
O
trabalho do pastor envolve uma variedade tão ampla de atividades e funções que dificilmente
poderia ser apresentado aqui de maneira completa e definitiva. Certamente, ele é um líder,
promotor, administrador e terapeuta. Mas o seu trabalho vai além. Ao ministrar a Palavra,
ungido pelo Espírito, ele gera fé, leva ao arrependimento, conduz ao perdão e implanta no
homem a natureza divina (II Cor. 5:7; Atos 2:37-38; Rom. 10:8 e I Pedro 1:23). Através de um
programa contínuo de visitação, ele leva cada ovelha a perceber que nada lhe agrada mais do
que aquilo que lhes é proveitoso, e nada lhe preocupa mais do que aquilo que lhes fere. Quando ministra
os ritos da igreja, ele fortalece os pilares fundamentais que são indispensáveis ao bem-estar espiritual
da igreja.
O pastor é o instrumento usado por Deus para
conduzir cada discípulo no processo de crescimento espiritual que irá habilitá-lo a exercer as prerrogativas de sal da terra e luz do mundo onde estiver. Ele está sempre buscando criar mais formas
de participação a fim de ajudar cada discípulo a se
misturar com as pessoas, granjear-lhes a confiança, ministrar-lhes às necessidades e então ordenar-lhes: segue-me.1
Contudo, antes de qualquer outra coisa, o pressuposto para a realização deste trabalho é que este
é sempre realizado em um local. Todo o trabalho
pastoral acontece em um lugar. Todas as igrejas
são locais. O ministério de Jesus foi exercido num
local, num ponto remoto da Palestina. Toda a Bíblia está baseada na geografia: Sinai, Belém, Jerusalém são locais reais, e aqueles que visitaram
as terras bíblicas sabem que os locais onde Moisés
morreu e Jesus viveu não são mais atrativos do que
o seu distrito pastoral.
Todo o trabalho pastoral acontece em um local
e a pior coisa que você poderia fazer é desprezar
esse lugar. Pode ser uma pequena igreja sem água
e energia, entre pés de milho e café, há 600 km da
sede da associação e há 130 km da sede do distrito.
Pode ser um grande prédio cheio de bancos vazios
e salas por terminar, ou ainda uma igreja cheia de
gente descompromissada. Há um trabalho a ser
feito e o Senhor Deus o considerou fiel, separou-o
para o Seu ministério e o designou para fazer a Sua
obra na vida das pessoas que vivem nesse lugar. É
nesse local que você desenvolve a sua vocação ministerial e a sua espiritualidade, e de fato, a pior
coisa que você poderia fazer é desprezar esse local.
Muito antes de chegar no seu local de trabalho,
o Espírito Santo já estava agindo ali. Se você observar bem, vai ver as pegadas da ação de Deus lá.
Você deve se adequar ao que já está acontecendo,
estudar as características, entender o clima, saber
que tipo de plantações crescem melhor lá, respeitar as peculiaridades e, então, agir com poder e
amor, submetendo a igreja a Cristo e ordenando-a
segundo a instrução de Deus.
Ao mesmo tempo, a “boa vontade do carpinteiro não lhe garante um corte perfeito”2. Da mesma forma, a boa intenção do pastor não se traduz
automaticamente em um ministério eficaz. Realmente acredito que a maioria dos pastores são
homens consagrados, bem-intencionados, que
dedicaram a vida a Deus e querem fazer o melhor. Mas a boa intenção não se estende de maneira automática à sua vocação. É preciso que o
pastor entenda qual é o trabalho a ser feito, o que
se espera dele e com o que ele se comprometeu
ao aceitar a vocação ministerial, para que então
possa realizar o trabalho.
Portando, gostaria de apresentar resumidamente cinco áreas fundamentais do trabalho pastoral.
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CUIDAR DO REBANHO
“Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós,
tendo cuidado dele [...] E, quando aparecer o Sumo
Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória”
1 Pedro 5:2-4.
Esse conselho e promessa foram feitos especificamente àqueles separados para cuidar do rebanho do
Senhor. A palavra usada por Pedro para se referir a
Jesus como Supremo Pastor é poimenos, que significa
pastorear ou cuidar do rebanho, sugerindo que, talvez, a
principal responsabilidade do pastor seja cuidar do rebanho.3 Jesus não é descrito como Supremo Pregador,
Supremo Promotor, Supremo Administrador ou Supremo Líder, mas como Supremo Pastor. Quando o rebanho
percebe que o pastor realmente lhe ama, ouvirá o que
ele diz, dará o que ele pede e simplesmente o seguirá.
Geralmente olhamos para o nosso rebanho de maneira geral, como um todo. Contudo, Richard Baxter
sugere que há alguns grupos de pessoas que precisam
individualmente da nossa atenção:
1. Os não-convertidos – “A miséria dos perdidos é
tão grande que clama pelo máximo da nossa compaixão”. Amigos, há tantas coisas clamando pela nossa
atenção, há uma variedade muito grande de responsabilidades que não podem ser adiadas, mas seja o que for
que façamos ou deixemos de fazer, não nos esqueçamos
dos que ainda estão lá fora. O trabalho de ajudar essas
pessoas no processo de conversão talvez seja a parte
mais vital do nosso ministério. Ela deve ter a prioridade
da nossa atenção e dos nossos esforços.
Eu sempre tive comigo um pequeno caderno onde
colocava os nomes dos interessados de cada igreja. Em
minhas visitas pastorais, perguntava: “Todos já foram
batizados aqui?” Quando cumprimentava visitantes ao
final dos cultos e nas visitas aos pequenos grupos, eu
perguntava: “Posso orar por você?” Além disso, frequentemente os irmãos se aproximavam e me falavam
desse ou daquele interessado. Eu perguntava qual o
nome e endereço deles, assim, meu caderno de oração
sempre estava repleto de nomes. Aqueles que começavam a receber estudos bíblicos, passavam a frequentar
um pequeno grupo, continuavam vindo a igreja e demonstravam que estavam aumentavam o nível de interesse e compromisso, eu passava a orar diariamente
em favor deles e garantia que continuassem recebendo
assistência. Nas minhas visitas pastorais à tarde e à
noite, dividia o meu tempo entre os membros da igreja e essas pessoas ainda não-convertidas. Eu as visitava uma ou duas vezes durante o período de estudos
bíblicos e fazia uma visita final, quando apelava para
o batismo.
2. Os novos na fé – A falta de um atendimento adequado às necessidades desse grupo tem feito com que
muitos recém-conversos já nasçam mornos e permaneçam assim por toda a vida, ou pior, abandonem a fé.
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Precisamos ajudá-los a se desenvolverem no processo
de discipulado: treinando os que deram estudos bíblicos
a continuarem acompanhando essas pessoas durante o
processo de desenvolvimento na fé e criando programas
de treinamento específicos para eles, engajando-os na
missão da igreja.
3. Os espiritualmente fracos – Estes são mais facilmente seduzidos pela tentação, têm menos forças para
ficarem firmes quando tentados, conhecem menos a si
mesmos e se enganam quanto a sua real condição. Essa
é a condição típica de muitos dos nossos irmãos. Ajudá-los a crescer é uma tarefa difícil. O problema de ser espiritualmente fraco é que isso os expõe a muitos perigos.
4. Os que têm impedimentos morais – Estes são
aqueles vulneráveis a tentações específicas que os impedem de se desenvolverem. Podemos ajudá-los conversando sobre o assunto, mostrando as consequências
terríveis dos seus pecados e, principalmente, mostrando
o remédio. O fato é que quanto mais os amarmos, mais
lhes mostraremos a nossa tristeza pelo pecado deles.
5. Os desconsolados – Entender as necessidades
dos enfermos, enlutados, viúvas, excluídos, idosos, em
processo de divórcio é indispensável para que possamos
consolá-los.
6. Os maduros – Precisamos ajudá-los no aperfeiçoamento das suas capacidades. Para aumentar o envolvimento deste grupo, precisamos criar mais formas de participação. Isso será visto por eles como uma recompensa.
7. Os líderes – Eles também precisam de nutrição e
estímulo espirituais. Precisam perceber que estamos
interessados na salvação deles. Corremos o risco de
falharmos no atendimento a este grupo por lidarmos
com eles apenas no nível funcional. Delegamos tarefas, entregamos materiais, cobramos resultados, mas
podemos acabar esquecendo de sermos pastores deles
também.
Contudo, há outro aspecto relacionado ao cuidado do
rebanho que eu gostaria de mencionar. Como pastores,
não somos meramente profissionais que prestamos um
serviço ou cumprimos uma tarefa e vamos para casa.
Para cuidar do rebanho é preciso se envolver. É preciso se aproximar dele e deixar que se aproxime de nós.
É preciso desenvolver um relacionamento pessoal. É
preciso se tornar alguém de casa, um “insider”. Talvez
seja por isso que um membro da igreja em Singapura
me disse que eu estaria pronto para ser eficaz no trabalho entre eles quando eu estivesse cozinhando a comida deles, do jeito que eles gostam. Ao refletir sobre as
palavras desse ancião, entendi melhor a encarnação de
Jesus e concluí que nada menos do que isso é exigido do
pastor para que ele seja eficaz em sua obra.
Portanto, vamos nos aproximar das pessoas, vamos
permitir que elas se aproximem de nós, vamos nos tornar
alguém de casa para que possamos cuidar dos diferentes
grupos de pessoas que compõem o nosso rebanho.
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O MINISTÉRIO DA PALAVRA
Quando usada pelo Espírito, a
pregação da Palavra gera fé, traz
arrependimento, conduz ao perdão e implanta no homem a natureza divina (At. 2:37-38; Rom.
10:8 e I Ped. 1:23).5 Por isso, precisamos ter em mente que esse
aspecto essencial do ministério,
a pregação pública da Palavra de
Deus, requer uma habilidade, um
viver e um zelo que estão além
das possibilidades de qualquer
um de nós. Colocar-se em frente
a uma congregação e transmitir uma mensagem de salvação,
instrução, advertência ou repreensão, vinda de Deus e em nome
dEle não podem ser considerados
assuntos de menor importância.
Por isso, o estudo deve ser
uma prioridade. Se ousamos nos
aventurar a fazer um trabalho tão
elevado como esse, será que deveríamos poupar esforços no preparo para realizá-lo? Habilidade
e carisma seriam suficientes?6
Ellen White afirma que:
Os homens que se colocam
agora diante do povo como representantes de Cristo geralmente têm mais habilidade
do que preparo. É essencial
que tenham um alvo elevado.
Eles poderiam fazer dez vezes
mais se cuidassem em serem
gigantes intelectuais.7
Portanto, o desejo natural de
aprender, a busca pela verdade e
a consciência da nossa incapacidade devem nos motivar a uma
vida de estudos. Tudo o que você
precisa é um tempo, um lugar e
disciplina para incorporar esse
tempo e lugar à sua rotina diária.
Além disso, o ministério da
Palavra é um dos meios mais eficazes de estabelecer a autoridade
pastoral tão necessária para dire-
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cionar os rumos da igreja, corrigir
as distorções e influenciar positivamente. É enquanto está sendo
cuidado e nutrido que o rebanho
assimila quem é o seu pastor. Por
outro lado, um ministério da Palavra deficiente levará o pastor a
perder respeito e credibilidade.
OS RITOS DA IGREJA
Os rituais estão presentes em
todas as sociedades humanas.
Eles expressam aquilo que palavras não conseguem transmitir.
Paul Hiebert afirma que os ritos
não são acerca das coisas triviais
da vida, mas das imensidões.8 Os
rituais podem ser divididos em
três grupos principais: transformação, intensificação e crise.
Os ritos de transformação
criam uma nova ordem e marcam
a transição entre diferentes estágios ou status na vida de uma
pessoa. São como corredores
numa casa, por onde as pessoas
precisam passar para ir de um
ambiente para o outro. O casamento e o batismo são exemplos
de ritos de transformação.
Os ritos de intensificação reafirmam publicamente a ordem
social e religiosa existente. São
como uma faxina. À medida que
vivemos em nossas casas, elas
simplesmente vão ficando sujas.
Periodicamente, a família para
e faz uma limpeza. Os ritos de
intensificação funcionam como
uma faxina social e religiosa,
restaurando o significado em um
mundo caótico. O sábado é um
rito de intensificação semanal, a
Santa Ceia é um rito de intensificação trimestral, e o Natal é um
rito de intensificação anual.
Os ritos de crise são realizados quando perigo ou crise ameaçam a ordem social. Considerando que não há nenhuma estrutura
para ser renovada, a estrutura
em si precisa ser criada em meio
à desordem. Esses tipos de ritos
têm um efeito poderoso na comunidade. Eles são realizados
como uma expressão da necessidade de proteção quando uma
destruição massiva se espalha
na comunidade, como em caso
de fome, seca, inundação ou com
o propósito de recriação, como
fazemos a cada celebração de
Ano Novo.
Na Bíblia, Deus estabelece
rituais para que sejam a representação visível dos Seus atos
salvíficos na história. Ele mesmo
instituiu esses três tipos de rituais a fim de prover uma ampla
variedade de ocasiões nas quais
o Seu povo pudesse se encontrar
com Ele e reafirmar a lealdade
deles a Ele. Veja abaixo alguns
exemplos de rituais estabelecidos por Deus:
1. O casamento
(Gên. 1:26-28; 2:24)
2. O sábado
(Gên. 2:1-3; Êx. 20:8-11)
3. A circuncisão
(Gên. 17:10-13)
4. As festas de Israel
(Êx. 13:6, 34:22 e Deut. 16:13)
5. O ritual do santuário
(Lev. 16)
6. Os funerais
(Deut. 21:23)
7. A dedicação de crianças
(Luc. 2:22)
8. O batismo
(Mat. 3:3-15)
9. A Santa Ceia
(Mc. 14:23-25)
10. A Ordenação
(Atos 6:3-6, 13:2-3)
Atualmente, continuamos a realizar todos estes ritos,
com exceção de três: a circuncisão, as festas de Israel
e o ritual do santuário. Contudo, gostaria de enfatizar a
importância de dois deles: o batismo e a Santa Ceia.
Ellen White afirma que “as ordenanças do batismo e da Santa Ceia são dois pilares indispensáveis
ao bem-estar espiritual da igreja”9. Ela vai além ao
afirmar que “é nesta ocasião que Cristo encontra o
Seu povo e o energiza com a sua presença. Todos
os que fixam a fé nele são grandemente abençoados. Os que negligenciam estas reuniões sofrem
grande perda”10 Esta declaração deixa claro que as
ordenanças não são fontes de graça, mas meios de
graça, pois através delas Deus provê uma oportunidade para que o Seu povo se encontre com Ele
e seja abençoado. Portanto, jamais deveriam ser
realizadas na base do “vai assim mesmo”.
Além de todos os demais benefícios, quando realizados com excelência, os ritos da igreja reforçam a função do pastor como legítimo representante de Deus.
Consequentemente, também reforçam a autoridade
pastoral, tão necessária ao exercício do ministério.
1 ODESPERTAR
INTERESSE
UMA ESTRUTURA MISSIONÁRIA
Talvez a coisa mais importante a ser falada sobre
o estabelecimento de uma estrutura missionária é
que uma coisa é o que você faz para nutrir a igreja e
outra coisa é o que você faz para evangelizar.
Não existem automatismos na igreja. Nada
acontece de maneira simplesmente automática.
O seu trabalho fiel ao cuidar do rebanho, pregar
bons sermões, realizar os ritos da igreja, embora
facilitem grandemente o estabelecimento de uma
estrutura missionária, não se traduzem automaticamente em batismos. O fato de dar os três passos
anteriores não significa que a igreja automaticamente vai se organizar e sair para trabalhar.
A igreja precisa ser conduzida em seu processo
de crescimento e é necessário que ações específicas sejam tomadas nessa direção. O estabelecimento de uma estrutura missionária depende da
execução simultânea de duas ações: despertar interessados e conduzi-los a Cristo.
Veja abaixo alguns métodos que a igreja tem tradicionalmente utilizado para alcançar estes objetivos:
2 ACONDUZIR
CRISTO
✓ TV Novo Tempo
✓ Duplas Missionárias
✓ Feiras de Saúde
✓ Pequenos Grupos
✓ Mega-domingos
✓ Classes Bíblicas
✓ Livro Missionário
✓ Evangelismo
✓ Programas na Igreja
✓ Diferentes Ministérios
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O pressuposto para que haja conversões é ter interessados. Precisamos mobilizar a igreja para a realização de ações específicas para despertar interessados. Ao mesmo tempo, o pressuposto para que haja
batismos é ter pessoas dando estudos bíblicos. Não
importa o que estejamos fazendo na igreja, se alguém
não estiver com a Bíblia aberta instruindo pessoas no
caminho da salvação, dificilmente haverá batismos.
Precisamos ter as duas estruturas funcionando juntas. Se você tem muitos interessados, mas
ninguém conduzindo à decisão, o resultado é muito trabalho e pouco batismo, pois não há ninguém
trabalhando para conduzir pessoas no processo do
discipulado. Se você tem pessoas para conduzir
à decisão, mas não tem interessados na igreja, a
estrutura vai ruir, pois os irmãos missionários da
igreja precisam de interessados para continuarem
motivados e trabalhando.
Ao mesmo tempo, existe um abismo entre entender esse princípio e vê-lo funcionando na sua
igreja. Essa lacuna é preenchida com duas coisas:
muita oração e muito trabalho. Além disso, alguém
pode se perguntar qual dos métodos apresentados
acima são os mais eficazes para despertar interessados e conduzi-los à decisão. Antes de responder
essa pergunta, quero contar uma história.
Uma criança da zona rural observa ao pai trabalhando no campo, plantando melancia. Ela pergunta:
“Pai, aqui dá melancia?” O pai responde: “Sim, filho,
dá”. Meses depois, o pai de família está plantando
feijão. A criança mais uma vez pergunta: “Pai, aqui
dá feijão?” O pai responde: “Sim, filho, dá”. No ano
seguinte, o pai está plantando abóbora. Intrigada, a
criança pergunta: “Pai, aqui também dá abóbora?” O
pai parou, olhou com atenção para o filho e respondeu: “Meu filho, plantando, regando e adubando, dá”.
Você entendeu! Não existe apenas um método
que pode ser usado com sucesso. O melhor método a ser aplicado para iniciar o estabelecimento de
uma estrutura missionária na sua igreja é aquele
com o qual você mais se identifica. É isso que vai te
dar o brilho no olho e a paixão tão necessários para
o processo de promoção e mobilização da igreja.
Nos últimos cem anos, de uma maneira ou outra,
todos estes métodos foram aplicados com sucesso
em diferentes partes do Brasil. Ao mesmo tempo,
tem ficado cada vez mais evidente que os Pequenos
Grupos são a metodologia mais rica, aquela através
da qual mais objetivos podem ser alcançados e, portando, vai exigir um pouco mais de esforço da sua
parte para vê-la funcionando na igreja. Além disso,
quanto maior for a variedade de métodos sendo
aplicados, maiores serão as oportunidades de engajamento. Contudo, qualquer que seja o método
utilizado, plantando, regando e adubando, dá!
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É importante lembrar que, o fato de implantar uma estrutura missionária em sua igreja, não
significa que ela continuará funcionando automaticamente. Como qualquer instrumento em funcionamento, é necessário um programa periódico
de manutenção para que ela continue operando
em suas melhores condições. Duas ações são indispensáveis. Primeiro, uma reunião periódica de
acompanhamento, avaliação, planejamento e motivação. Em minha experiência pessoal, posso dizer
que uma periodicidade menor do que mensal (semanal ou quinzenal) não favorece a continuidade,
considerando as muitas atividades paralelas realizadas tanto pelos pastores como pelos membros.
Segundo, é necessário realizar festivais missionários. Eles funcionam como os fios de alta tensão da
igreja e proporcionam uma recompensa ao árduo
trabalho realizado pelos irmãos.
Finalmente, lembre-se de que a igreja não funciona em condições ideais. Ao implantar a estrutura missionária, é mais importante ter uma percepção clara do ideal do que ser motivado. Faça um
trabalho organizado, sistemático e consistente e, a
despeito da condição atual da sua igreja, continue
caminhando sempre na direção desse ideal.
RITMO DE TRABALHO
Acredito que apenas pensar na execução de todas as atividades pastorais descritas até este ponto seria suficiente para deixar um profissional de
qualquer outra área um tanto desorientado! A conclusão óbvia é que é simplesmente impossível realizar todas as atividades e funções pastorais sem
um bom ritmo de trabalho.
Amigos, não podemos evitar aquilo que nos
custará maior sacrifício. Não podemos servir a
Deus de maneira barata. Tenho observado que
raramente Deus abençoa o trabalho de um homem se o seu coração não está comprometido
com o êxito daquilo que ele está disposto a realizar. Por isso, amigos, coração no trabalho e
ritmo de trabalho. Só um detalhe: a organização
poupa tempo!
Às vezes, me sinto frustrado ao perceber que
não existe nenhuma outra alternativa ao trabalho, e
muito trabalho. Me pergunto quando vou ter algum
alívio e vou poder viver de maneira mais tranquila,
mas não há qualquer indicação de que irei receber
esta resposta em algum tempo próximo! Contudo,
o que posso afirmar com segurança é que o nosso
trabalho não é em vão, e que haverá uma recompensa. “Suporte comigo os sofrimentos, como bom
soldado de Cristo Jesus. O lavrador que trabalha
arduamente deve ser o primeiro a participar dos
frutos da colheita”, II Tim. 2:3 e 6.
CONCLUSÃO
Um ministério aprovado: Como se define? Em que se resume? Como realizá-lo com excelência?
Não tive a pretensão de apresentar aqui respostas definitivas para estas questões, mas
gostaria de chamar atenção para o fato de que as respostas nos levam à essência do ministério
pastoral, àquilo que é a nossa vocação essencial.
Ao cuidar do rebanho do Senhor, ministrar a Palavra no poder do Espírito, realizar as ordenanças que são os pilares fundamentais do bem-estar espiritual da igreja e estabelecer uma estrutura missionária que irá comunicar a mensagem divina para o tempo em que vivemos, o pastor direciona os seus esforços para a execução das atividades que justificam o seu chamado ministerial.
Como não poderia ser diferente, alcançar um desempenho eficaz em meio a realização de
tantas tarefas não é uma coisa simples, e exige um forte ritmo de trabalho, mas o Senhor prometeu que haverá uma recompensa. Enquanto isso, vamos colocar o coração no trabalho do
Senhor, lembrando sempre das palavras do apóstolo Paulo: “Porque eu sei em quem tenho cri-
do, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia”, 2 Tim. 1:12.
1. WHITE, Ellen. A Ciência do Bom Viver. p.143.
2. PETERSON, Eugene. A Vocação Espiritual do Pastor: Redescobrindo o Chamado Ministerial. São Paulo, SP: Mundo Cristão, 2005.
3. FOWLER, John. Adventist Pastoral Ministry. Nampa, ID: Pacific Press, 1990, p. 34.
4. BAXTER, Richard. The Reformed Pastor. London: Banner of Truth, 1974, pp. 62-75.
5. PETERSON, Eugene. A Vocação Espiritual do Pastor: Redescobrindo o Chamado Ministerial. São Paulo, SP: Mundo Cristão,
2005, p. 66.
6. BAXTER, Richard. The Reformed Pastor. London: Banner of Truth, 1974, p. 23
7. WHITE, Ellen. Testemunhos Para Ministros. p. 194.
8. HIEBERT, Paul. Understanding Folk Religions. Grand Rapids, MI: Baker Academics, 1999, pp. 283-323.
9. WHITE, Ellen. Evangelismo. p. 273.
10. WHITE, Ellen. O Desejado de Todas as Nações. p. 656.
SILVANO BARBOSA
O pastor Silvano Barbosa é o editor da revista Foco na Pessoa. Graduou-se em Teologia
no IAENE em 1998 e concluiu o mestrado em Teologia Pastoral no UNASP, em 2010.
Atualmente, está cursando PhD em Missão e Ministério na Andrews University. Foi
pastor distrital por cinco anos nas associações Paulista Leste e Mineira Sul. Também
atuou no sul de Minas como Secretário Ministerial e departamental de Publicações
por três anos. Em seguida, serviu por quatro anos como departamental de Ministério Pessoal e Escola Sabatina nas associações Norte Paranaense e Paulista Central. É casado com a enfermeira Lea Sampaio, com quem tem dois filhos, Davi e Liz.
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RAZÕES BÍBLICAS PARA O
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TREINAMENTO
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PRINCÍPIOS DE MOBILIZAÇÃO
N
estes últimos trinta anos, a Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil despertou para a necessidade de mobilização missionária dos seus membros. Dúvida, temeridade e desconfiança
marcaram a experiência de muitos pastores, que se acharam ameaçados com a mudança.
A nova postura administrativa da igreja local foi levada aos pastores de forma mais metodológica e promocional do que teológica. Por isso, achamos que uma mudança de enfoque, com
uma abordagem bíblica seria mais conveniente, e ainda teria uma grande vantagem sobre o
método anterior, porque toda mudança de atitude, estando baseada na Bíblia, possui um caráter permanente, ainda que missiológica. Há assim necessidade de o pastor entender as razões escriturísticas de sua
função como mobilizador da igreja. Esta nova abordagem não significa que será desprezado o método an-
terior. O que se deseja é dar um fundamento bíblico,
que só fortalecerá essa nova visão missionária.
O que pretendemos, primeiramente através da
análise bíblica, é esclarecer qual é o papel do pastor em todo esse processo. Em seguida, pretendemos fortalecer os conceitos estabelecidos através
da literatura especializada, dando mais informação
e ajuda prática. Desta forma, auxiliaremos o pastor
a realizar sua tarefa. Por fim, serão dados alguns
textos representativos de Ellen G. White para comprovar e fundamentar os conceitos apresentados.
Assim, estabeleceremos o papel do pastor na mobilização da igreja local, com seus benefícios mútuos.
O Fundamento Bíblico
A análise bíblica é o primeiro fundamento deste
artigo. Sobre os conceitos aqui apresentados, situaremos a função do pastor como o líder da mobilização evangelística na igreja local. O que se pretende é dar uma motivação mais permanente no
desempenho da missão ao pastor e aos membros.
A transmissão da genuinidade do evangelho é o
seu conceito mais básico e importante.
Contexto e Propósito
Entre as epístolas atribuídas a Paulo, possivelmente, sete foram escritas quando o apóstolo estava preso em Roma, são elas: Filipenses, Efésios,
Colossenses, Filemon, 1 e 2 Timóteo e Tito.1 Os co-
mentaristas conservadores favorecem a opinião de
que Paulo, após Atos 28:31, depois de sua primeira
prisão, teria tido um ministério adicional, de possivelmente dois anos, quando poderia ter escrito as
epístolas pastorais.2
No caso específico de 2 Timóteo, Paulo é descrito
como um prisioneiro que está bem próximo do martírio (2 Tm 1:8, 12; cf. 4:6, 7). Acrescente-se que, provavelmente, o lugar deste martírio é a cidade de Roma,
onde ele seria morto.3 Por isso, é quase um comum
acordo que essa carta foi escrita após seu segundo
aprisionamento, entre os anos de 64 d.C. e 68 d.C.4
Em função das evidências internas de 2 Timóteo, essas são, possivelmente, as últimas recomendações do apóstolo aos seus amigos de ministério antes de sua morte. Por isto mesmo, revelam
as prioridades de Paulo com a igreja e seus ministros, que seriam os líderes da comunidade cristã.
É uma carta escrita por um pastor a outro pastor,
dando seus conselhos finais.
Paulo se vê como estando investido de autoridade divina ao afirmar que era “apóstolo de Cristo Jesus, pela vontade de Deus” (2 Tm 1:1). Por isso se
acha no direito e no dever de advertir Timóteo. Este
é tratado como mais novo, ou jovem (2 Tm 2:27), e
mesmo como seu filho, “Timóteo, o verdadeiro filho
na fé” (I Tm 1:2). Paulo, portanto, se vê no direito
de exercer autoridade sobre Timóteo por ser apóstolo, mais idoso e o evangelista que comunicou a
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Análise de 2 Timóteo 2:2
“E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também
idôneos para instruir a outros.” 2 Tm 2:2.
A ênfase é posta sobre a necessidade de ouvir e transmitir com exatidão o conteúdo da mensagem: “o que de minha
parte ouviste [...] isso mesmo transmite” (2 Tm 2:2). Primeiramente, em um ponto do tempo do passado, ouviste, “ekousas”. Neste caso, ouvir não e só uma referência à capacidade
auditiva. Ouvir, aqui, é também a maneira de corresponder à
comunicação da palavra. É a forma como a divina revelação
é apropriada. Ouvir é a aceitação da graça e o chamado ao
arrependimento.5 No Novo Testamento, ouvir recebe uma ênfase quase superior do que meramente ver (Mr 4:24; Mt 11:4;
13:16; Lc 2:20 e At 2:33). Neste caso, ouvir é apropriar-se do
conteúdo. A fé está ligada à obediência. Ouvir é apossar-se
da mensagem pela fé com a prontidão de obedecer (Rm 1:5
e 16:16).6 O verbo paratithemi aparece 19 vezes no Novo Testamento e seu sentido literal é depositar alimento diante de
alguma pessoa.7 Tem ainda, basicamente, um sentido comercial de depósito, ou seja, trata-se de um ensinamento especial, que é o depósito da fé que precisa ser transmitido. Paulo
coloca sobre Timóteo a responsabilidade de comunicar com
exatidão a mensagem recebida.
Esse cuidado do apóstolo deve-se ao fato de ele saber
quais as consequências de ensinar uma mensagem distorcida: “Nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que
antes promovem discussões do que o serviço a Deus, na fé”
(1 Tm 1:4). Dois prejuízos são consequentes quando a integridade do evangelho é profanada: contendas que causam desunião (2 Tm 2:14) e declínio no serviço que conduz a igreja à
imobilização missionária.
Por outro lado, Timóteo devia exercer seu discernimento na escolha de homens que se tornariam os ensinadores da igreja. Duas qualidades são esperadas
nesses homens: fidelidade e idoneidade. Pistis nas epístolas
pastorais estão no contexto da oposição ao fanatismo judaico
e ao gnosticismo, por isso mesmo é traduzida por fidelidade.
Nesse particular, indica homens que não foram influenciados
pelas falsas doutrinas, e como tais, são retratados como “homens fiéis”.8
O termo ikanos aparece 40 vezes no Novo Testamento, das
quais 7 acontecem nas epístolas de Paulo. O termo é usado por Paulo em I Coríntios 15:9, que se vê indigno, quando
se compara com Deus. Achava-se sem qualificações para o
exercício do seu ministério. Em 2 Coríntios 2:16, o apósto-
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Timóteo a mensagem. Ele adverte Timóteo quanto a íntegra
transmissão da doutrina cristã. Em acréscimo, Paulo fala da
importância de repudiar as heresias judaicas e gregas. Exorta
contra o mal-uso da lei (1 Tm 1:7), contra a prática de rigoroso ascetismo na alimentação, no casamento (1 Tm 4:3) e no
beber (1 Tm 5:23). O apóstolo ainda adverte sobre o perigo da
heresia gnóstica das emanações. Para estes, o Deus Criador
é um demiurgo, que se ocupou com a criação material (1 Tm
2:5 e 4:4).
lo admite sua incapacidade enquanto
confessa que Deus é sua capacitação
pessoal.9
Paulo reconhece que a sua idoneidade, bem como a de seus irmãos (Cl
1:12), é uma dádiva concedida por Deus
através de sua graça. “Pela graça de
Deus sou o que sou” (I Co 15:10), “dando graças a Deus que nos fez idôneos”
(Cl 1:12). Os homens, a quem Timóteo
deveria transmitir o evangelho, eram
aqueles cuja fidelidade e idoneidade
eram o fruto de sua relação de fé com
Deus. Estes deveriam ser os treinadores/educadores da próxima linha de
testemunhas.
Ensinar ou treinar era a
tarefa prioritária de Timóteo, e os homens idôneos teriam a mesma responsabilidade: didazai. A função do líder
religioso é instruir a comunidade para
servir. Neste caso, ensinar não é apenas passar informação em nível intelectual. É desenvolver os dons espirituais do discípulo para que também este
possa utilizá-los no âmbito do serviço.
Aprender não ocorre apenas quando se
armazena conhecimento, mas quando
este se transforma em serviço à comunidade.10 Quando o ministro idôneo
transmite o evangelho genuíno voltado
para o serviço da comunidade de crentes e à comunidade local, ele cumpre
seu ministério. Nisto se fundamenta a mobilização missionária da igreja
(CI 1:28 e 2:16).
Os três verbos do texto em análise
estão no aoristo. Nestes três casos, o
aoristo tem um sentido de sumário,11
é ver a tarefa a ser feita como uma totalidade, sem estar preocupado com
os detalhes. Porém, o aspecto consumativo associa-se ao primeiro, dando
a ideia de conclusão diante da resistência ou dificuldade. É neste sentido que Timóteo deveria levar a efeito
seu ministério. Diante da oposição de
heresias judaicas e gregas, que estavam presentes na comunidade cristã,
Timóteo deveria ensinar o conteúdo
do evangelho, transmitindo-o fielmente sob a capacitação de Deus. Assim como a transmissão distorcida do
evangelho traz consequências negativas para a igreja, isto é, quebra a unidade e enfraquece a missão, da mes-
ma forma, quando o evangelho é transmitido em harmonia com
a sua genuinidade, estão presentes as consequências positivas:
preservação da pureza doutrinária e exercício da missão.
Análise de Efésios 4:10-14
Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de
todos os céus, para encher todas as coisas. E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a
edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, a perfeita varonilidade, a medida da estatura da plenitude de Cristo, para que
não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro
e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos
homens, pela astúcia com que induzem ao erro. Ef 4:10-14.
Em Efésios 4:10-14 apresentam-se os detalhes da mobilização missionária da igreja. Esta perícope parte do fato de que a
salvação realizada por Cristo na Terra e levada para o Céu é a
plenitude que preenche todas as coisas. Como fruto disso, Paulo
introduz os dons espirituais que se relacionam com a liderança
da igreja (apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres)
e os benefícios recebidos pela comunidade cristã. A finalidade do
exercício dos dons é edificar a igreja, o aperfeiçoamento dos santos. A finalidade da nutrição espiritual é o desempenho do serviço e a edificação da igreja. Isso redundará na unidade da igreja,
no conhecimento mais amplo de Jesus Cristo e na maturidade
cristã. Estes benefícios assim recebidos capacitam o cristão e a
igreja no desempenho de sua missão mesmo diante das heresias
e da oposição.
Assim, o fundamento da mobilização da igreja repousa na
transmissão genuína do evangelho. Só a igreja, espiritualmente
edificada, tem permanente motivação para o desempenho do seu
serviço. Cabe ao pastor ensinar e treinar homens, tendo em vista
seus dons espirituais, para que estes façam o mesmo com a igreja. Dessa forma, uma cadeia ininterrupta manterá vivos, diante
do povo, o evangelho e a missão.
O sentido da palavra diaconia mostra a amplitude e diversidade da tarefa. Basicamente significa “atender a mesa”, ou ainda
“a execução de qualquer tarefa com verdadeiro amor”. Tudo que
edifica a igreja é diaconia. Pode ser ainda um ministério recebido
de Deus, pelo qual se é responsável. É tanto um ofício público do
evangelista quanto uma atividade assistencial e missionária pessoal. Diaconia é “também o mais alto ofício do cristão”, pregar o
evangelho é a diaconia da palavra: oferecer a palavra como o pão
da salvação dos irmãos.12
Desta forma há, possivelmente, uma íntima ligação entre a
transmissão genuína do evangelho e o desempenho da missão.
Ao pastor cabe esta tarefa básica em que se fundamenta a permanente mobilização da igreja. Assim, a primeira tarefa do pastor é conhecer bem o evangelho, transmiti-lo a homens idôneos,
ensinando-os a treinar outros para a realização da missão. Com
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isto posto, pretende-se dizer que a transmissão do
evangelho a igreja é o passo mais importante e fundamental na mobilização dela para a missão. Não é
uma questão apenas de metodologia, mas trata-se
de um princípio missiológico. Aqui, contudo, está
posto um problema: Como devem se relacionar o
clero e o povo, e qual a sua relação com a missão?
Equipar e Treinar
No Novo Testamento não se faz diferença de
qualidade entre kleros e laos.13 Ambas as palavras
se referem a todos os cristãos que foram escolhidos por Deus. Nas cidades-estados de Roma e Grécia é que estes nomes foram usados diferencialmente. Kleros eram os magistrados e laos, o povo
comum.14 Essa diferenciação entra na Igreja Cristã
durante a Idade Média, já em função da estrutura
monárquica e hierárquica da Igreja Católica. Pedro,
contudo, usa o termo kleros, significando o povo,
ou o rebanho (I Pe 5:3).
Muitos pastores querem manter essa diferença,
pois temem que o aumento do poder do leigo significará um decréscimo do poder próprio.15
Contudo,
nenhum pastor poderá ser eficiente se desconhecer a importância de educar e treinar a sua igreja. O ponto de partida é não fazer diferenciação de
qualidade entre povo e ministro.
Uma visão homilética de 2 Timóteo 2:2 põe a ênfase na necessidade de recrutar para educar e treinar. Nesse processo, o aluno só aprende fazendo.
Entre as tarefas do pastor, essa é a mais importante, haja vista o tempo gasto por Cristo em treinar
os doze. Só haverá revitalização da igreja quando o
pastor assumir esse papel.
A palavra katartismos, traduzida por aperfeiçoamento, significa também completo ajustamento a
uma particular tarefa (Ef 4:11 a 16). O crente aperfeiçoado é aquele que tem sido ajustado ao trabalho. Por isso mesmo, nem pastores, nem membros
devem estar contentes em apenas adquirir conhe-
cimento e habilidades, mas é seu dever procurar
transmitir essas capacidades para a nova geração
de crentes. Dessa forma, o conhecimento e as habilidades são multiplicados. Em função do exposto, o
pastor de hoje deve cessar de ser apenas um realizador e tornar-se um treinador.16
Anderson declarou que “é loucura para o pastor
exortar seu povo a evangelizar, se ele próprio não
está pronto a fazê-lo por si mesmo [...] Ele é o modelo apropriado para seu povo quando ele mesmo
ativamente se engaja na obra do evangelismo”.17
O treinamento deve seguir alguns critérios, para
que se alcance o objetivo proposto para cada caso:
1. Equipar os membros num estilo de vida evangelístico;
2. Ensinar a natureza e conteúdo do evangelho;
3. Prover treinamento em situação real e prática;
4. Desenvolver habilidades adquiridas gradualmente;
5. Ensinar sobre a obra do Espírito Santo;
6. Analisar o grupo a ser evangelizado;
7. A função da igreja local e receber os novos
membros.18
Na literatura teológica é entendido de forma geral, pelo que foi exposto, que o papel do pastor, à
luz da Bíblia e dos conceitos de missão, é um treinador da igreja por exemplo e por palavra. Ellen G.
White deixou inúmeras instruções quanta a importância do trabalho de treinamento da igreja. Chegou mesmo a dizer que o pastor ajuda mais a igreja
planejando e ensinando a trabalhar do que pregando sermões.19 É preciso ensinar maneiras simples
e práticas de fazer o trabalho missionário. Não só
isso, mas colocar diante do povo uma atividade específica, provendo-lhe instrução e educação. Ela
diz ser este o maior e o melhor auxílio que o pastor
pode prestar à igreja, como nesta declaração:
O melhor auxílio que os ministros podem prestar aos membros de nossas
igrejas, não é pregar-lhes sermões, mas planejar trabalho para eles [...]. Ensine-se a todos a maneira de trabalhar. Especialmente aqueles que acabam de
abraçar a fé, devem ser educados de modo a se tornarem de Deus.20
Tanto na Bíblia como nos escritos de Ellen G. White, a responsabilidade do pastor na mobilização evangelística é a de educar e treinar a igreja. Este aspecto do ministério pastoral deve ocupar mais de seu tempo
e talentos.
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Conclusão
A vitalidade da igreja e o êxito do ministro dependem de como, do porquê e de quem transmite o evangelho e seus conselhos às gerações seguintes. É sintomático da importância desta tarefa o fato do apóstolo
Paulo ter feito destas recomendações as suas últimas palavras a Timóteo. Ele insiste que Timóteo seja exato
nessa transmissão. Comunicar a homens idôneos, capazes de ensinar e educar a outros exatamente aquilo
que ouviu do apóstolo era a responsabilidade dele. Este cuidado deve-se ao fato do apóstolo saber que existe uma relação da mensagem com o trabalho. Um evangelho distorcido causa divisão, enfraquecimento e
desinteresse no serviço. Logo, a tarefa de transmitir a genuinidade do evangelho tem que ver diretamente
com a eficiência no serviço.
É da responsabilidade dos que estão em posição de liderança, desde a igreja local, educar e instruir a
igreja. Planejar e prover trabalho, enquanto ensina, é tarefa prioritária do pastor local. Nesse processo, ele é o
exemplo do missionário, fazendo a obra de um evangelista. Essa tarefa, para ser desempenhada com eficiência e de forma permanente, deve ter suas razões fundamentadas nas Escrituras. Não se pode, evidentemente,
descuidar dos conselhos de Ellen G. White sobre a importância dessa tarefa e da literatura especializada. Essa
última fornece orientações úteis e práticas de como o pastor pode desempenhar sua função de educador e
treinador. O processo inclui escolher as pessoas certas, conforme seus dons, para a tarefa que se pretende
realizar, depois instruí-las cabalmente e treiná-las praticamente, ensinando a fazer e fazendo com elas.
É claro que o pastor sozinho não pode conduzir esse trabalho. Ele deveria formar treinadores em diversas áreas que o ajudem na tarefa de treinar a igreja. Portanto, o pastor precisa conhecer bem o evangelho e
a forma prática e adaptada para sua situação específica de fazer a obra do missionário.
1 Ernst F. Scott, “Philipians Introduction”, em: George Artur Buttrick, ed., The Interpreter’s Bible (New York: Abingdon Press, 1955), 11:3.
2 John N. D. Kelly, Epístolas pastorais, introdução e comentário, Série Cultura Bíblica [Novo Testamento] São Paulo: Edições
Vida Nova, 1991), 14.
3 Fred N. D. Kelly, “I, II Timothy and Tito”, em: George Artur Buttrick, The Interpreter’s Bible (New York: Abingdon Press, 1955), 11:368.
4 Russel Norman Champlin, O Novo Testamento Interpretado (Guaratinguetá, SP: A Voz da Bíblia, s.d.), 5:271.
5 William F. Amat, F. Wilbur Gingrich, “akouo”, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Early Christian Literature,
4th ed. (Chicago: The University of Chicago Press, 1960), 31.
6 Ibid., 220
7 Christian Maurer, “paratithemi” em: Gerhard Kittel, ed. The Theological Dictionary of the New Testament (Grand Rapids,
MI: Eerdmans, 1974), 8:163.
8 Otto Michel, “pistis”, em Colin Brown, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (São Paulo: Vida Nova, 1982), 2:228.
9 Karl H. Rengstorf, “ikanos”, em: Gerhard Kittel, The Theological Dictionary of the New Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1968), 3:294.
10 Rengstorf, 2:146.
11 Buist M. Fanning, Verbal Aspect in New Testament Greek (New York: Caledon Press, 1990), 393.
12 Gerhard Kittel, “diaconia”, em: Gerhard Kittel, ed. Theological Dictionary of the New Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1974), 2:88.
13 “Kleros” é uma porção do rebanho, vista apenas como quantidade, e não no aspecto da qualidade ou função. “Laos” traz
uma ideia de totalidade, é o povo, a nação, ver: William D. Mounce, The Analytical Lexicon to the Greek New Testament
(Grand Rapids, MI: Zondervan, 1993), 284, 298.
14 Benjamin D. Schoun, Helping Pastor Cope (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1982), 71.
15 Lloyd M. Perry, Norman Shawchuck, Revitalizing the 20th Century Church (Chicago: Moddy Press, 1986), 59.
16 J. Oswald Sanders, Spiritual Leadership (Chicago: Moody Press, 1989), 1880.
17 Robert C. Anderson, The Effective Pastor (Chicago: Moody Press, 1985), 162.
18 T. Moore, Roger S. Greenway, eds. Equipping The Church For Lifestyle Evangelism (Phillips burg, NJ: Presbyterian and
Reformer, 1987), 134-138.
19 Ellen G. White, Testemunhos Seletos (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1981), 382.
20 Ellen G. White, Serviço Cristão (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1981), 59.
LUIZ NUNES
Ao longo de mais de quatro décadas de ministério, o pastor Luiz Nunes serviu como
pastor distrital, evangelista, secretário ministerial e professor do SALT/IAENE
(por 19 anos). Desde a sua aposentadoria, em 2006, ele continua dando aulas no
seminário e fundando igrejas.
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TREINANDO
PARA PLANTAR IGREJAS
Por Emilio Abdala, DMin
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PRINCÍPIOS DE CRESCIMENTO
T
odos os anos, de setembro a novembro, cerca de setenta novas igrejas são plantadas na União
Central Brasileira por teologandos do UNASP. Em 2014, como resultado da sua formação ministerial, 1500 novos membros foram levados ao arrependimento e à fé em Cristo e se uniram a uma
igreja local como membros fiéis. Este artigo dá uma visão geral da capacitação ministerial usada
no UNASP e fornece um modelo de formação de quatro estágios para mostrar como seminários
teológicos podem ser integrados na missão por meio de um programa de plantio de igrejas.
A capacitação para a vocação religiosa é um processo educativo em que um professor-coach experiente busca inspirar e equipar um estudante num dado contexto do ministério com motivação, perspectiva e habilidades para efetuar mudanças no aluno como um ministro, à medida que ele faz o trabalho
do ministério. A educação teológica, como muitos
outros programas educativos, tem quatro aspectos
distintos: a sala de aula, com a instrução acadêmica; a biblioteca, com o estudo complementar; a
experiência de campo, com seus aspectos práticos
e a discussão informal e reflexão pessoal.1
Já em 1929, a Conferência Geral da IASD instituiu um plano de estágio para a formação ministerial básica.2 Isso estaria de acordo com o que Ellen White disse sobre jovens pastores se associar
com ministros experientes.3 O livro Handbook of
Seventh-day Adventist Ministerial and Theological
Education reitera a necessidade de um estágio.4
No UNASP, a abordagem escolhida para capacitar
os teologandos se desenvolve sob tutoria intensiva
com um coach. Coaching é um processo relacional no qual um mentor, que sabe como fazer algo
bem, transmite essas habilidades para um aluno
(mentoree) que queira aprendê-las.5 A ênfase está
na transmissão de competências e confiança na
utilização delas; motivação dos alunos, de modo
a extrair o melhor de cada um, geralmente desafiando-os para além do que pensavam ser capazes;
observando os alunos em ação, avaliando sua experiência, e dando feedback para aumentar a autoaprendizagem e desenvolvimento.6
Existem dois grandes períodos durante a formação teológica tradicional de um seminarista
quando a dimensão de campo dessa experiência
educacional é incorporada no currículo total do
estudante. Um período é o próprio ano letivo, enquanto o estudante está na faculdade, de fevereiro
a maio. Esse período é normalmente referido como
educação de campo simultânea.7 O outro período
ocorre de setembro a novembro, quando o aluno
está longe das rotinas normais da vida escolar, e
é orientado pelo professor-supervisor em algum
projeto de plantio de igrejas. Isto tem sido chamado
de colocação em bloco.8
A Colocação em Bloco envolve os teologandos
de terceiro ano em um ministério de tempo integral
intensivo dentro de um bloco específico de tempo,
fora da rotina normal do ano escolar. Isso ocorre
em grandes cidades, onde os alunos são divididos
em distritos e designados como evangelistas e
orientados pelo supervisor. Essa capacitação destina-se a formar os plantadores de igrejas de amanhã, aqueles que estarão ministrando confortável
e competentemente fora das estruturas da igreja
local.9 Pressupomos que os alunos podem encontrar-se em uma posição em que não haja trabalho
aberto a eles em um distrito existente. Assim, eles
vão ter que estar prontos para plantar uma nova
igreja em uma área-alvo específica.
As associações financiam a contratação de teologandos como plantadores de igrejas. O plano
também prevê que o estágio ministerial deve estar associado com obreiros bíblicos experientes
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contratados pelas associações para participar no
trabalho de plantio de igrejas. As igrejas locais são
responsáveis pela alimentação e hospedagem dos
estudantes dentro de uma distância razoável do
seu campo de trabalho. É indispensável proporcionar privacidade para os membros da equipe. Eles
terão de estudar, orar sozinhos e passar algum
tempo a sós a cada dia.
Seleção do campo
Os critérios utilizados para selecionar o local
levam em conta as seguintes características:
1. A definição de onde as pessoas estão em crise e/ou mudança de experiência, com prioridade para áreas não alcançadas, áreas urbanas e áreas receptivas.10 O melhor lugar para
plantar uma nova igreja é em uma cidade com
população de pelo menos 100.000 pessoas ou
nos subúrbios de uma grande cidade.
2. A definição de onde os recursos apropriados
estão disponíveis em termos de finanças da
administração local e das pessoas que valorizam e que estão abertas a trabalhar com os
candidatos ministeriais. Também é importante que os alunos sintam a dignidade, pressão
e expectativas que vêm com a remuneração.
A recompensa financeira é uma forma concreta de sinalizar aos estudantes a importância da tarefa que estão fazendo.
3. Um ambiente em que o trabalho do supervisor é totalmente integrado com a estrutura
do campo local.11 Apenas um supervisor com
autoridade administrativa interna, que trabalha com os líderes locais, que já carregam
fardos pesados no âmbito do campo local,
pode facilitar a supervisão significativa.12
4. Um ambiente em que são fornecidas tarefas
significativas para os seminaristas. Os alunos
devem entender a atribuição da tarefa como
vital para o trabalho do campo local, através
do qual os serviços estão sendo prestados. A
definição deve proporcionar aos alunos papéis de tomada de decisões, em vez de dar
apenas pequenas incumbências.13 A menos
que os alunos tenham papéis importantes,
os supervisores não serão capazes de ver os
alunos sob as pressões do processo de tomada de decisão.
5. Um lugar localizado de 5 a 11 quilômetros da
“igreja-mãe” (100 a 200 membros) escolhida para apoiar a nova igreja. A proximidade
promove o crescimento e a “competição” não
é um problema para a nova igreja nem para
igreja-mãe.
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Desenvolvimento do modelo
O modelo escolhido para realizar o processo de coaching entre os teologandos de terceiro ano do UNASP segue as quatro fases de treinamento e as seis etapas de ensino de Cristo, tal como
apresentado por Bill Hull:14
1. Diga-lhes o que e o porquê;
2. Mostre-lhes como fazer e faça com eles;
3. Deixe-os fazer;
4. Implante-os.
As quatro fases de treinamento se concentram em dois fundamentos, nível e tempo de compromisso, enquanto o método de
ensino de seis etapas se foca na formação e no nível de responsabilidade.15 Esta abordagem tem por objetivo que todas as quatro
fases caiam em dois períodos principais durante a capacitação
formal: a simultânea e a colocação em bloco. Essas quatro fases de formação levam um ano para serem realizadas. O processo de ação e de reflexão acontece no contexto da sala de aula e
de campo.
Fase 1: Diga-lhes o que e o porquê
O objetivo dessa primeira fase é fornecer um modelo de educação cristã para a missão e evangelismo a ser reproduzido na
igreja local por futuros pastores. Como mencionado antes, no
terceiro ano de formação acadêmica dos teologandos, o estágio
supervisionado é dedicado a promover a experiência na pregação,
evangelismo público e plantio de igrejas. O currículo normal para
o primeiro semestre desse ano do programa do UNASP contém
um curso de Evangelismo e Crescimento de Igreja (12 unidades),
que inclui conceitos gerais em missão, discipulado e plantio de
igrejas. Durante os primeiros cinco meses desse respectivo ano,
a minha tarefa é construir a convicção sobre o processo e a filosofia certos para cumprir a missão. A fim de criar um ambiente
vencedor, eu fomento a preparação espiritual, maximizando o papel central do Espírito Santo na missão da igreja e enfatizando a
necessidade de cada aluno ser preenchido e guiado pelo Espírito.
Na fase introdutória, os estudantes falam sobre procedimentos de planejamento e são introduzidos na estratégia evangelística. Eles também coordenam pesquisas demográficas de suas
áreas-alvo nas pequenas cidades ao redor do campus da universidade. Em seguida, os membros de cada unidade ajudam no
desenvolvimento de um plano diretor para a sua área-alvo. Cada
membro de uma unidade concentra-se em dois ou três aspectos
importantes de cada fase, e o professor circula entre os grupos
para responder questões pertinentes e manter a discussão nas
linhas desejadas.
Na última sessão, cada unidade mostra esboços e relata os
principais aspectos da sua estratégia para essa fase. Os membros da classe oferecem críticas e sugestões a serem consideradas na finalização dos diversos planos diretores. No fim das
aulas, as unidades mostram os planos diretores concluídos e
estão prontas para a parte mais importante que acontece nas vizinhanças. Eles precisam de tempo para ter todas as instruções
firmemente estabelecidas sobre uma base sólida, assimilar, analisar e ensaiar, antes de serem enviados para a fase 2.
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Fase 2: Mostre-lhes como
fazer e faça com eles
É importante notar que a Fase 2
ocorre em paralelo com a faze 1 e
acontece no primeiro semestre do
terceiro ano letivo. Nesta fase, no
entanto, eles têm um ambiente controlado, onde podem experimentar
e praticar com o professor, a fim de
compreender plenamente as partes
entrelaçadas da estratégia global e
de dominar a dinâmica do evangelismo de persuasão e as ferramentas evangelísticas disponíveis.
As pequenas unidades que desenvolveram um plano diretor para
a sua área-alvo estão agora imersas em um ministério com uma
população determinada em um
lugar específico, perto do campus.
Durante esta fase de campo simultânea, os alunos são incentivados
por pressões de tempo, circunstâncias e de supervisão a integrarem experiências simultâneas da
sala de aula e do campo, a prestarem muita atenção na formação
espiritual e a estarem envolvidos
na motivação, demandas e oportunidades que o ministério oferece.
Essa capacitação prática oferece uma semana especial para o
professor/coach realizar uma reunião evangelística em que todos os
alunos possam assistir e tenham
a oportunidade de esclarecer as
instruções. Essa formação prática
é adicionada ao treinamento em
sala de aula. Nesse processo, os
alunos levam as ideias teológicas
para fora do seu ambiente de ministério supervisionado e trazem
de volta à sala de aula suas experiências de ministério para examinar o conteúdo teológico.
Essas equipes ministeriais têm
uma missão clara, para a qual
contribuíram, combinando suas
habilidades, dons e recursos para
se moverem na direção de um objetivo significativo.
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Fase 3: Deixe-os fazer
Como mencionado anteriormente, o modelo de colocação em blocos envolve os alunos em um ministério
intensivo, de tempo integral e fora da rotina do ano letivo. No entanto, antes que eles sejam designados a um
lugar específico para a missão na cidade supervisionada
(setembro a dezembro), eles precisam de tempo para
ter todas as instruções firmemente estabelecidas sobre uma base sólida e algum tempo de assimilação para
análise e ensaio antes de serem enviados para a fase 3.
Portanto, os teologandos se inscrevem para um curso
intensivo em agosto (2º semestre). O curso de Evangelismo Público concentra-se na elaboração de estratégias para evangelismo para expansão da igreja em áreas
designadas. Uma ênfase especial é colocada na compreensão da Grande Comissão, equilibrando o processo de
fazer discípulos com métodos eficazes de evangelismo,
bem como enfatizando o discipulado como o produto final do evangelismo e a importância da multiplicação dos
discípulos para a evangelização mundial.
Então, de setembro a dezembro do mesmo ano, eu
levo todos os setenta alunos para as principais cidades
do estado de São Paulo, onde eles têm uma experiência
de campo supervisionada em evangelismo e
plantio de igrejas. O processo utilizado para
plantio de igrejas é baseado em um modelo
de cinco estágios desenvolvido no UNASP e
modificado ao longo do tempo: preparação
do solo, semeadura, germinação, crescimento e reprodução.16
Desde o início, a logística do início dos
programas não é deixada ao acaso, mas há
uma combinação de alunos e locais de trabalho com o planejamento prévio. Tem sido
dito que o campo é selecionado de acordo
com critérios específicos. Meses antes do
início das reuniões evangelísticas, é realizada uma pesquisa a fim de descobrir a renda
média, as taxas de emprego, as grandes necessidades da cidade e os lugares onde as
pessoas estão em transição. Essas visitas e
pesquisas visam ajudar as equipes a coletar
informações sobre os serviços ou ministérios importantes que precisam ser realizados na comunidade. O professor também
reúne os líderes leigos locais, encontra os
pontos de pregação, localiza acomodações
adequadas para os alunos e elabora um
plano preliminar (com a ajuda de liderança local e
dos evangelistas das associações).
A próxima etapa está relacionada com a preparação das igrejas locais, para reforçar a sua motivação espiritual e senso de missão. Esta fase inclui
também o crescimento dos membros, descobrindo
e utilizando os dons espirituais de todos no estabelecimento de pequenos grupos.
Na fase de semeadura, os esforços para começar a nova igreja incluem uma mistura de ministério
de Pequenos Grupos e uma sequência de seminários relevantes na comunidade que incluam temas
de saúde e de vida em família. Esses ministérios
fazem com que os membros do núcleo base cheguem e comecem a fazer contatos na comunidade,
além de criar boa vontade e um bom nome para a
nova igreja que está sendo planejada. Os Pequenos
Grupos não só fornecem uma excelente maneira de
testar o nível de receptividade da área específica
antes de tentar plantar uma nova igreja, mas também proporcionam um bom follow-up depois do
fim das reuniões. Poucas pessoas que se juntam
a um grupo apostatam, portanto, o envolvimento
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na vida do grupo é essencial para
os novos crentes. Outras abordagens mais tradicionais podem
ser usadas durante
​​
esse período,
como estudos bíblicos pessoais.
Na fase de germinação, o método tradicional adventista de
colheita tem sido o evangelismo
público. Desse modo, a fim de
colher os interessados cultivados em uma nova igreja adventista, os teologandos elaboram
um plano de colheita. A classe
pré-batismal nessa fase de discipulado enfatiza os conceitos básicos de salvação e as doutrinas
essenciais do cristianismo. Essa
fase dá forma à descentralização
do ministério, o que dá satisfação e uma vida com propósito.
Por descentralização quero dizer
multiplicidade de esforços menores. Eu defendo a tese de que o
evangelista estagiário, que pode
entrar em uma nova área ou cidade onde não existam membros
e levantar uma nova igreja de 20 a
25 membros, está realizando um
esforço que é tão bem-sucedido
em sua esfera quanto o do evangelista de cidade que traz uma
centena em um esforço conjunto, onde há uma grande igreja.
Nesta abordagem, mais do que
um esforço é desenvolvido pela
mesma equipe, com cada teologando encarregado de sua própria série de reuniões. Diferentes campanhas são realizadas há
uma distância razoável de onde
eles estão hospedados juntos.
Eles seguem o mesmo programa com os mesmos temas para
suas pregações públicas. Isso dá
ao estagiário um forte senso de
realização. Eles têm a oportunidade de se testarem, de serem
produtivos e de demonstrarem
técnicas de liderança e de como
fazer discípulos.
Finalmente, a fase de crescimento inclui Pequenos Grupos,
ensino individual, seminários de
treinamento, participação em tarefas e papéis com acompanha-
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mento contínuo da assimilação
dos novos membros na igreja. É
fundamental nessa relação de
mestre e aluno ser o mais claro possível sobre os objetivos e
expectativas no início e ao longo
da missão. Os critérios de avaliação são as habilidades do aluno,
a personalidade e o desempenho, especialmente no trabalho
do ministério. Espera-se que os
alunos plantem uma nova igreja e
iniciem um processo de discipulado com os novos membros.
Fase 4: Fase de reprodução
No ano seguinte, a graduação
é um momento de celebração
quando um grupo bem treinado
de teologandos são distribuídos
e implantados para começar o
ministério, como pastores discipuladores em novos lugares. Eles
partem fisicamente, mas alguns
deles continuam a manter contato para receber mentoreamento
ocasional de seus professores.
O papel do professor/coach
A experiência de um mentor
professor/coach é um evento de
aprendizagem de mão dupla, em
que a experiência do aluno conta
tanto quanto o conhecimento do
professor. Às vezes é difícil descobrir quem está aprendendo
mais, o professor ou o aluno, porque é a avaliação do projeto missionário que revela as ideias que
ajudam a elaborar novas abordagens e metodologias.
McCarty afirma que mentorear exige um número infinito de
habilidades. O mentor tem todas
as habilidades de um evangelista, pastor congregacional, professor de teologia, conselheiro,
bem como habilidades específicas na metodologia de supervisão.17 A competência no ministério pastoral-evangelístico por um
profissional na ativa é extremamente importante. Além dessas
habilidades ministeriais, o professor também precisa ter uma
boa formação acadêmica, a fim
de ajudar os alunos entrarem em
contato com a base teórica com a
qual eles estão trabalhando e as
implicações missiológicas/teológicas do que eles estão fazendo.18
Os mentores precisam ter
habilidades relacionais que lhes
permitam lidar adequadamente
com os estudantes, pastores e
administradores da igreja local,
porque eles têm de criar uma atmosfera de confiança, que é um
ambiente indispensável para a
aprendizagem.19 Eles devem ter
habilidades em desenvolvimento
organizacional para criar um planejamento estratégico e a capacidade de realizá-lo plenamente.
Ao mesmo tempo, precisam de
certa experiência na liderança de
uma empresa de alto risco, que
exige atrair pessoas talentosas
e comprometidas e levantar o dinheiro necessário para a empresa funcionar.
Os mentores também devem
ter autoridade para tomar decisões sobre atribuições e finanças
na gestão do projeto de missão dos
alunos. O coach tem de ser capaz
de operar com um grau de autoridade legítima dentro do sistema.
Não pode haver um “supervisor
ausente”, pois o mentor representa a faculdade, a organização da
igreja e também os alunos.
Demasiadas vezes usamos os
alunos ao invés de treiná-los. O
papel mais importante de um coach/professor é ajudar os alunos
a alcançar identidade pessoal e
profissional para desenvolver as
disciplinas de programação, planejamento, finanças, experiências devocionais e de analisar o
seu ministério para ver como estão indo e se estão atendendo às
expectativas. Um supervisor não
é um indivíduo passivo que fica
parado e observa os alunos fazerem o que quiserem, mas também não deve ser tão inflexível
que exija que os alunos sempre
façam o que ele diz.
Conclusão
O adventismo do sétimo dia nasceu e cresceu como um movimento de plantio de igrejas. Em um movimento de multiplicação de igrejas, as estratégias de desenvolvimento de
liderança precisam utilizar métodos reproduzíveis que são integrados com o processo de
evangelização. O principal objetivo de um sistema de liderança desse tipo é a produção de
pastores de qualidade, plantadores de igrejas e missionários que possam multiplicar-se
através do processo de treinamento. O escritor vê a execução destas orientações como instrumentais no desenvolvimento de um modelo experimentado de práticas de supervisão que
irá estabelecer uma boa base para capacitar os alunos para o ministério apostólico em situações de pioneirismo. Começar e multiplicar novas igrejas através do desenvolvimento de
líderes reprodutores é a única maneira pela qual nós seremos capazes de obedecer plenamente ao mandamento de Jesus de fazer discípulos.
1 WILSON, J. Christy. Ministers in Training: A Review of Field Work Procedures in Theological Education. Princeton, NJ:
Princeton Theological Seminary, 1957, 3.
2 General Conference of Seventh-day Adventists. Minutes of Meetings of the General Conference Committee. 26 de abril a
13 de maio de 1929.
3 WHITE, Ellen. Obreiros Evangélicos. pp. 90-92.
4 International Board of Ministerial and Theological Education. Handbook of Seventh-day Adventist Ministerial and Theological
Education. Silver Spring, MD: General Conference of SDA, 2001, pp. 41 e 42.
5 STANLEY, Paul D. e CLINTON, J. Robert. Connecting: the mentoring relationship you need to succeed in life. Colorado
Springs, CO: NavPress, 1992, p. 79.
6 Idem, p.82.
7 HORNECKER, Ronald. “Choosing a Ministry Placement and Field Supervisor”, Experiencing Ministry Supervision: A Field-Based Approach, ed. William T. Pyle e Mary Alice Seals. Nashville, TN: Broadman and Holman Publishers, 1995, pp. 24 e 25.
8 Idem.
9 GIBBS, Eddie. ChurchNext: quantum changes in how we do ministry. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2000, p. 118.
10 HUNTER, George I. Theological Field Education. Boston: Boston Theological Institute, 1977, p. 8.
11 Este item é aplicável a campos que solicitam que alunos desenvolvam suas atividades evangelísticas em seu território.
12 FIELDING, Charles R. “Education for Ministry”, Theological Education, 3, 1966, p. 211.
13 MCCARTY, Doran. The Supervision of Ministry Students. Atlanta, GA: Home Mission Board, 1979, p. 62.
14 HULL, Bill. The Disciple Making Pastor. Old Tappan, NJ: Fleming H. Revell, 1988, p. 214.
15 Idem.
16 Os components desse modelo estão descritos em meu livro Manual de Plantio de Igrejas: estratégias para multiplicação,
CPB (2014).
17 McCarty, p. 29.
18 Idem.
19 Hunter, pp. 23-29.
EMILIO ABDALA
O Pastor Emílio Abdala é Doutor em Ministério pela Andrews University. Serviu como
professor do SALT/IAENE de 1995 a 2009, e coordenou o plantio de igrejas na União
Nordeste da IASD por vários anos. Atualmente é o evangelista da União Central
Brasileira, onde tem coordenado o plantio de milhares de igrejas, em parceria com
SALT-UNASP.
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