Apresentação - Associação Betel de Evangelismo e Missões

Transcrição

Apresentação - Associação Betel de Evangelismo e Missões
1
Revista Betel
Apresentação
E
u, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos
o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de
linguagem, ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. I Coríntios 2:1-2. O Evangelho de Deus é uma Pessoa.
Não é um ensino, não é uma doutrina, não é uma técnica,
não é uma fórmula. É uma Pessoa, o Filho de Deus, Jesus Cristo. Foi esta a decisão que o apóstolo Paulo tomou,
de pregar unicamente a Jesus Cristo, e este crucificado. O
único Evangelho, verdadeiramente Boa-Nova, é o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo para a cura de todas as
nações.
Assim sendo, somos gratos a Deus por mais esta edição,
e desejamos que na Sua infinita misericórdia e graça nos
propicie todos os recursos para que Cristo seja tudo em
todos. Que todos os leitores façam suas colheitas no maravilhoso campo das insondáveis riquezas de Cristo! Amém.
Os Editores
2
Revista Betel
“Cristo é tudo em todos” • Ano 8 • Nº 3 • Outono 2013
Sumário
Apresentação, 1
Estudo Bíblico
A Base do Perdão Divino, 3
Abel Emerich
O Pecado Antes do Pecado, 7
Glenio Fonseca Paranaguá
O Ministério da Palavra de Deus, 12
Humberto X. Rodrigues
O Que é Novo Nascimento?, 17
Sinval T. da Silva
Riqueza da Graça
Negando-se e Seguindo a Cristo, 21
D. M. Loyd Jones
O Folheto Retorna, 25
De Vern Fronk
Legado
Os Mártires e a Teologia da Prosperidade, 28
John Foxe
A Morte é o Portão da Vida, 33
I. Lilias Trotter
Dedicação a Deus, 36
Evan H. Hopkins
Uma Linha Escura na Face de Deus, 39
William MacCallun Clow
Associação Betel, 47
Revista Betel
Estudo Bíblico
A Base do
Perdão Divino
3
Abel Emerich
Mas longe esteja de mim gloriarme, senão na cruz de nosso
Senhor Jesus Cristo, pela qual
o mundo está crucificado para
mim, e eu, para o mundo.
Gálatas 6:14
D
e certa feita alguém
afirmou não acreditar
que Deus (Elohim),
sendo essencialmente
amoroso, seria capaz de deixar o ser
humano descambar para o inferno à
agonizar na eternidade, por conta de
haver vivido breves anos, aqui terra,
não importando que tipo de vida tivesse levado.
Com efeito, ainda que dita afirmação seja, aparentemente sábia,
cremos que poderia alcançar algum
êxito, se considerada apenas sob a
luz da lógica humana, não, porém,
na ótica divina; lembrando que a Bíblia informa não apenas que Deus é
amoroso, mas que Deus é amor (I
João 4:8b).
De Deus (Elohim), a Santa Palavra também dá conta de que se trata de um ser essencialmente santo e
dotado de três atributos exclusivos,
quais sejam: onisciência, onipresença
e onipotência.
Esse prefixo “oni” expressa a idéia
de plenitude, ou ainda nos leva ao
juízo de dimensão inimaginável à
4
Estudo Bíblico
mente humana. Segundo os estudiosos de nossa língua portuguesa, dita
alocução se trata de um morfema, ou
seja, uma das partes componentes da
palavra e seria gramaticalmente um
advérbio de intensidade, expressando, tudo ou todo; logo, nesse caso, o
morfema “oni”, justaposto a cada um
dos atributos divinos, nos dá, desde
logo, uma visão de como é Deus, a
saber: a única pessoa que sabe e conhece todas as coisas, por conta da
sua onisciência; está presente em
todos os lugares, haja vista, a sua
onipresença; e ainda, possuidora de
toda autoridade e poder, nos céus,
na terra e embaixo da terra, posto a
sua onipotência, não olvidando ser
Ele (Elohim) o criador dos céus e da
terra. Gênesis 1:1.
O Salmista, escrevendo o salmo
de número 139, expressa, de maneira poética, esses preciosos atributos
divinos, veja: Senhor, tu me sondas e
me conheces. Sabes quando me assento
e quando me levanto; de longe, penetras
os meus pensamentos. Esquadrinhas o
meu andar e o meu deitar e conheces
todos os meus caminhos. Ainda a palavra me não chegou à língua, e tu, Senhor, já a conheces toda. Tu me cercas
por trás e por diante e sobre mim pões
a mão. Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; é sobremodo elevado, não posso atingir. Para onde me
ausentarei do teu Espírito? Para onde
Revista Betel
fugirei da tua face? Se subo aos céus,
lá estás; se faço a minha cama no mais
profundo abismo, lá estás também; se
tomo as asas da alvorada e me detenho
nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra
me susterá. Se eu digo: as trevas, com
efeito, me encobrirão, e a luz ao redor
de mim se fará noite, até as próprias
trevas e a luz são a mesma coisa. Salmos 139: 1-12.
Ficamos pasmos, no entanto, ao
pensar, como esse Deus tão grandioso e todo poderoso, e que pode todas
as coisas, não pode encontrar uma
forma diferente para salvar o homem
do seu pecado, senão que, desde a
antiguidade, prometeu que seu filho,
seu filho unigênito, viria ao mundo
para, após se identificar conosco na
carne, trilhar, como ovelha muda, as
sendas do Calvário, onde, por fim,
morreu agonizando, pendurado nos
engastes daquela maldita cruz.
Isso foi manifestação de poder ou
paranóia em uma loucura?
O apóstolo dos gentios (apóstolo
Paulo), escrevendo a sua primeira
carta à igreja de Corinto, dá o diagnóstico da questão suscitada: Certamente, a palavra da cruz é loucura
para os que se perdem, mas para nós,
que somos salvos, poder de Deus. Pois
está escrito: Destruirei a sabedoria dos
sábios e aniquilarei a inteligência dos
Revista Betel
Estudo Bíblico
instruídos. Onde está o sábio? Onde, o
escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca
a sabedoria do mundo? Visto como,
na sabedoria de Deus, o mundo não
o conheceu por sua própria sabedoria,
aprouve a Deus salvar os que crêem
pela loucura da pregação. Porque tanto
os judeus pedem sinais, como os gregos
buscam sabedoria; mas nós pregamos
a Cristo crucificado, escândalo para os
judeus, loucura para os gentios; mas
para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo,
poder e sabedoria de Deus. Porque a
loucura de Deus é mais sábia do que os
homens; e a fraqueza de Deus é mais
forte que os homens. I Coríntios 1:1825.
Por conseguinte temos a resposta:
loucura sim, mas para os que se perdem; mas, para nós, manifestação do
poder e da sabedoria de Deus.
É que Deus nunca tratou o pecado com suavidade, posto que para
Deus, pecado, sempre foi doença que
acomete o coração; daí a solução divina: Dar-vos-ei coração novo e porei
dentro de vós espírito novo; tirarei de
vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Ezequiel 36:26.
Salomão, escrevendo seus provérbios assim dilucida a questão: Sobre
tudo o que se deve guardar, guarda o
teu coração, porque dele procedem às
fontes da vida. Provérbios 4:23.
5
É que a comunhão do homem
com o Deus, deve se dar no espírito,
cuja sede é o coração. Note: Porém
judeu é aquele que o é interiormente,
e circuncisão, a que é do coração, no
espírito, não segundo a letra, e cujo
louvor não procede dos homens, mas de
Deus. Romanos 2:29.
Jesus lembra dessa realidade, e
deu o seguinte esclarecimento, que
fora registrado por João, em seu
Evangelho: Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura
para seus adoradores. Deus é Espírito;
e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. JOÃO
04:24.
Volvendo-nos para o Calvário,
vemos em Cristo Jesus, o mais brutalizado dos crucificados, porque Ele
tomou sobre si todas as mazelas humanas, advindas da natureza do pecado, e para isso nos recebeu em seu
corpo santo, onde o nosso pecado
recebeu a justa retribuição, a saber, a
morte: Certamente, ele tomou sobre si
as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos
por aflito, ferido de Deus e oprimido.
Mas ele foi traspassado pelas nossas
transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz
estava sobre ele, e pelas suas pisaduras
fomos sarados. Isaías 53:4,5.
6
Estudo Bíblico
No mais das vezes, nosso entendimento sobre o perdão, não alcança
o que está dito nas santas escrituras,
em que tomamos o amor de Deus,
como a base de seu perdão. Não, ainda que o amor seja a motivação de
tudo, a Bíblia deixa claro que o amor,
foi a mola propulsora que fez com
que Deus enviasse seu filho ao mundo: Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito,
para que todo o que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna. João 3:16.
No entanto, a base do perdão
divino sempre foi a cruz. É que em
Deus, não há perdão sem justiça e
por amar-nos de tal maneira, Deus
fez Justiça em seu Filho, imolando-O naquela cruz, onde Cristo Jesus
agonizou e por fim morreu, pondo
um fim em nossa natureza do pecado. Isto, porque quando Ele morreu,
Revista Betel
nós estávamos nEle. João 12:32.
Aí está a nossa justificação: porquanto quem morreu está justificado
do pecado. Ora, se já morremos com
Cristo, cremos que também com Ele
viveremos, sabedores de que, havendo
Cristo ressuscitado dentre os mortos, já
não morre; a morte já não tem domínio
sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de
uma vez para sempre morreu para o
pecado; mas, quanto a viver, vive para
Deus. Romanos 6:7-10.
Amados, seja a cruz de Nosso
Senhor Jesus Cristo, o nosso mote
diário; aliás, o mesmo baluarte onde
vicejava a alegria do querido apóstolo Paulo: Mas longe esteja de mim
gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo
está crucificado para mim, e eu, para o
mundo. Gálatas 6:7.
A santidade pareceu-me ter uma natureza cheia de doçura, ser agradável, serena e tranquila.
Ela aparentava trazer uma inexprimível pureza, claridade, mansidão e arrebatamento à alma;
tornando-a como um campo ou jardim de Deus, com toda sorte de flores fragrantes, agradáveis
à vista, deleitosas; gozando da calma doce e dos raios vivificantes e suaves do sol. A alma de um
verdadeiro cristão parecia comparável a uma delicada e branca flor, como aqueles que brotam na
primavera, simples e humildes, presas ao solo, abrindo-se para receber os raios amenos da glória
do sol; rejubilando-se serena e cheia de amor entre as duas flores ao seu redor, todas de igual
modo se entreabrindo para beber da luz do sol.
-- Jonathan Edwards
“Cristo precisa ser exaltado e elevado bem alto em nossos corações, para que a nossa carne
ingovernável e seus caprichosos anseios sejam sujeitados.”
-- Robert Chapman
Revista Betel
Estudo Bíblico
O Pecado
Antes do Pecado
7
Glenio Fonseca Paranaguá
Perfeito eras nos teus
caminhos, desde o dia em
que foste criado até que se
achou iniqüidade em ti.
Ezequiel 28:15.
T
udo o que Deus criou
era perfeito. Elohim é
o nome do Criador que
jamais será uma criatura. Este nome é o plural da Divindade. A Bíblia aponta para um Deus
triúno ou o ser coletivo do Divino.
Deus é único, mas não é solitário,
além de ser eternamente solidário.
A Trindade é o plural das vontades
e o testemunho de uma unidade governamental. Há um só Deus manifesto em três pessoas vivendo um só
propósito. O Deus trino, se bem que
triúno, nunca foi criado. Se ele fosse
criado não seria Criador e sim criatura. A causa que tem causa nunca será
uma causa não causada. Ora, se não
houver a causa que cause tudo sem
que tenha uma causa que lhe tenha
causado, então não haverá o Criador,
pois tudo será criatura, já que toda
causa tem a sua causa. Elohim é a
causa sem causa e o Criador de tudo.
Sendo ele perfeito como Criador só
poderia criar uma criatura perfeita,
como criatura. Mas a criatura perfeita, dotada de vontade própria, po-
8
Estudo Bíblico
deria querer ser como o Criador. Ela
nunca poderá ser o Criador, pois ela
é de fato uma criatura, embora possa
desejar ser como o Criador.
O Criador será sempre o Criador,
uma vez que, por necessidade ontológica, isto é, do ser enquanto ser, neste
caso, o ser Criador não poderá ter
causa, e ainda, por imperativo lógico,
é uma causa sem causa causando todas as causas, pois se tivesse alguma
causa seria uma criatura causada e
não o Criador causador.
Por outro lado, a criatura sempre
será criatura, já que é uma causa causada e não a causa causadora. Contudo, a criatura em sua presunção
conta com a chance de se apresentar na pretensão de equivalência ao
Criador. Mesmo sendo uma criatura,
ela tem a faculdade de ambicionar
ser como o Criador.
Antes da concepção do átomo
houve a criação sem retoque do
mundo imaterial. A realidade espiritual precede a realidade física. Os seres angélicos foram criados primeiro
do que a matéria. Deus evidenciou
uma ordem de tronos antes de criar
a ordem dos elétrons, prótons e nêutrons. A existência incorpórea vem
antes da mecânica quântica.
Na hierarquia da organização
espiritual foi criado um Querubim
guardião dos arranjos celestiais, um
ente luminoso cheio de sabedoria e
Revista Betel
formosura. Entretanto, este ser denominado de Lúcifer, movido por
sua ambição pessoal e não satisfeito
em ser criatura, tenta escalar o trono
do Criador e assentar-se como Deus.
Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao
céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades
do Norte; subirei acima das mais altas
nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.
Isaías 14:13-14. Sua ideia é subir, ascender, exaltar-se.
Este personagem angélico lindo e pleno de predicados foi criado
perfeito como criatura, mas ele não
era o Criador. Como já vimos e por
exigência ôntica, isto é, do ser em si
mesmo, só o Criador não tem causa.
Mas Lúcifer não aceita a sua condição de criatura e quer ser o Criador.
Além do que este assunto é também difícil de entender. Como um
ser perfeito, vivendo num ambiente
perfeito em companhia de seres perfeitos poderia ficar insatisfeito em
ser o que era? Parece que o problema encontra-se na vontade. Ele ficou
inconformado por ser uma criatura
e quis ser o Criador. Ele foi criado
como um Querubim de alto nível,
mas quer ser o Criador Supremo e a
causa de todas as causas.
Uma criatura perfeita querendo
ser a perfeição do Criador triúno faz
aparecer em si mesma a iniquida-
Revista Betel
Estudo Bíblico
de, ou seja, o inconformismo de ser
o que é querendo ser o que nunca
será de fato, a ponto de se insurgir
e comandar uma rebelião que arrastou um terço dos anjos. A sua cauda
arrastava a terça parte das estrelas do
céu, as quais ele lançou para a terra; e
o dragão se deteve em frente da mulher
que estava para dar à luz, a fim de lhe
devorar o filho quando nascesse. Apocalipse 12:4.
Antes de haver o ato de rebeldia,
Lúcifer fez nascer e cultivou uma
atitude arrogante de insatisfação ingênita, isto é, gerada por ele próprio
e em si mesmo, que desencadeou a
obstinação hostil de uma criatura
inconformada e incontida. Esta pose
atrevida pode ser designada como o
princípio da iniquidade e a madre
enrustida do pecado. Antes do seu
ato de oposição houve um anseio de
auto-coroação e independência do
Criador.
A Bíblia é categórica quando afirma que o pecado surgiu em razão de
uma tentação e que esta nasce dos
desejos incontroláveis do ser tentado: Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou
tentado por Deus; porque Deus não
pode ser tentado pelo mal e ele mesmo
a ninguém tenta. Ao contrário, cada
um é tentado pela sua própria cobiça,
quando esta o atrai e seduz. Então, a
cobiça, depois de haver concebido, dá à
luz o pecado; e o pecado, uma vez con-
9
sumado, gera a morte. Tiago 1:13-15.
Ora, se Deus não pode tentar a
ninguém e por isso não poderá ser
um tentador, e se não havia ninguém
para tentar naquela ocasião, logo a
tentação deste Querubim foi auto-induzida pela sua condição de criatura volitiva que desejava ser o Criador. Na multiplicação do teu comércio,
se encheu o teu interior de violência, e
pecaste; pelo que te lançarei, profanado,
fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim da guarda, em meio ao
brilho das pedras. Ezequiel 28:16.
Não aceitando ser quem era
como criatura, Lúcifer se propõe a
ser quem por essência nunca poderá ser. Essa sua inclinação soberba o
transformou em Satanás, a raiz da
tentação e o tentador por natureza.
A iniquidade financiou a corretagem
do negócio e a selvageria interna desencadeou a transgressão. O pecado
é um ato de atrevimento pirracento
proveniente de uma atitude de inconformidade arrogante.
A inveja da criatura que deseja
ser o Criador acabou por convertê-la
num ser maligno e astuto. Lúcifer era
muito inteligente, mas pouco sábio.
A inveja é a negação da providência
divina e a afirmação da calamidade.
A. W. Tozer dizia: “na Bíblia, há referências aos ardis e à astúcia de Satanás. Mas, quando ele arriscou-se a
destronar o Todo-Poderoso, tornou-
10
Estudo Bíblico
-se culpado de um ato de juízo tão terrível quanto imbecil”. A loucura pela
grandeza e a inveja por não ser o único são as causas da queda luciferiana.
Só Deus é o único, mas a sua singularidade não é uma só pessoa. A
grandeza e beleza da Trindade é a
sua unidade na pluralidade. Ter uma
única vontade numa coletividade é
muito maior do que ser singular sob
o perfil da individualidade.
A essência do pecado é a exaltação
do invejoso. Assim, nos termos de
Deus, o desejo de ser independente
de Deus é a matéria prima do pecado. Aquele que ambiciona o trono da
Divindade cai do mais alto pedestal
que alguém poderia subir. A inveja
do invejoso é o veneno que o intoxica
lentamente até à sua ruína. A altura,
a grandeza e a glória são as plataformas mais perigosas para o desfile de
uma criatura ambiciosa. Nenhum
dos seres criados conseguiu passar
por estas vias sem o risco do orgulho particular e o tombo vertiginoso
do pecado. Por que olhais com inveja,
ó montes elevados, o monte que Deus
escolheu para sua habitação? O SENHOR habitará nele para sempre.
Salmos 68:16.
A inveja do anjo iluminado causou um desarranjo na ordem angelical e uma hecatombe cósmica. O
plano da vida invisível agora estava
poluído pelos desejos arrogantes de
Revista Betel
comparação, competição, complicação, condenação e conspiração.
Elevou-se o teu coração por causa da
tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor. Pela
multidão das tuas iniquidades, pela
injustiça do teu comércio, profanaste os
teus santuários. Ezequiel 28:17a, 18a.
A atitude de insatisfação promoveu o ato de inobediência que vazou
numa anarquia egoísta e universalmente interesseira. A oposição torna-se um fato na criatura volitiva. Se
não sou o Criador, agora eu tenho o
direito de não me conformar em não
sê-lo, pois há um selo de rebelião instaurada no Cosmo. O Criador não
criou a rebelião do pecado, mas criou
um ser que não sendo o Criador quis
ser igual a ele sem poder ser, já que
era uma criatura. E querendo ser o
Criador sem poder ser a causa não
causada, acabou sendo a causa maligna de todas as causas que causam o
mal no seio das outras criaturas que
podem querer ser algo que não são.
Foi assim que o pecado entrou na
raça humana. Deus criou Adão como
homem e lhe deu uma vontade capaz
de decidir. Uma criatura só será livre e responsável se puder deliberar
aceitando sua condição de criatura,
ou não se conformando com esta categoria.
Toda decisão exige alternativa. Se
não houver opção não haverá liber-
Revista Betel
Estudo Bíblico
dade e se não houver deliberação não
existirá inocente nem culpado. Se
não tenho escolha não tenho livre-arbítrio. Se me falta a capacidade de
arbítrio, falta-me a competência para
escolher e se estiver ausente a possibilidade de optar, então não serei livre nem responsável.
O Criador deu a Adão a condição
de ser homem e a liberdade de aceitar esta característica humana ou não
se afeiçoar à sua humanidade. Com
estas qualidades, o Criador apresentou o cardápio para estabelecer a
preferência. E o Senhor Deus lhe deu
esta ordem: De toda árvore do jardim
comerás livremente, mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.. Gênesis
2:16-17
Diante da alternativa a decisão
pode ser tomada. A diferença entre
o pecado de Lúcifer e o pecado de
Adão é que o primeiro foi sem tentação externa, mas inerente ao próprio
ser inconformado com o que era,
enquanto o segundo foi consumado
pela tentação do tentador que despertou no gênero humano o desejo
de ser como Deus. Assim o pecado
de Lúcifer é uma aversão ínsita e
endógena, isto é, incitada e gerada
pelo ser da própria criatura, mas o
de Adão foi por sedução exterior.
Todavia os resultados são sempre
11
os mesmos, morte ou separação de
Deus. O diferencial neste caso é que
para a raça humana há recurso através da encarnação do Verbo divino.
O Deus-Homem pode desfazer na
cruz o que Satanás incorporado na
serpente fez no Jardim. O pecado no
plano espiritual não tem acordo. O
inferno foi preparado para o Diabo
e os seus anjos. O pecado no terreno
da carne tem o seu Cordeiro expiatório. No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo! João 1:29.
O pecado antes do pecado é a
inveja, o orgulho e a arrogância de
ser o que não é, e, ao mesmo tempo,
agir por conta própria como se fosse
Deus. O pecado depois do pecado é
a tentação teomaníaca que nos leva
a presunção da independência de
Deus, tentando-nos como se fôssemos deuses. O pecado anterior não
tem Salvador nem salvação. O pecado posterior tem a manifestação do
Deus que se fez Homem para libertar o homem que aposta ser como
deus, assumindo o controle de sua
existência. Graças ao Pai pela encarnação do Filho e pela revelação
do Espírito Santo na vida dos seus
filhos, que foram salvos da condenação do pecado, estão sendo salvos
do poder do pecado e serão salvos da
presença do pecado. Aleluia.
12
Estudo Bíblico
O Ministério da
Palavra de Deus
Revista Betel
Humberto X. Rodrigues
Antes, rejeitamos as coisas
que por vergonha se ocultam,
não andando com astúcia nem
falsificando a palavra de Deus;
e assim nos recomendamos à
consciência de todo o homem,
na presença de Deus, pela
manifestação da verdade.
2 Coríntios 4:2.
D
eus, em sua infinita
bondade, nos concedeu
vida por meio da nossa
morte e ressurreição no
corpo do nosso Senhor Jesus Cristo,
fato este confirmado a nós pela palavra viva. É a ação da graça e da misericórdia de Deus a favor do indigno e
que nada merece. Ele bondosamente
nos deu vida, Ele nos perdoou por
meio da morte de Seu Filho e nos
concedeu Sua própria vida. Nascemos na família de Deus, temos Sua
vida em nós e somos Seus filhos.
Todos esses fatos são evidências
de um milagre operado em nós pelo
“dedo de Deus” - o novo nascimento.
Antes de sermos regenerados, estávamos mortos em nossas transgressões,
mas agora, estamos vivos para Deus.
Antes éramos inimigos de Deus,
agora amigos. Antes estávamos condenados, agora absolvidos. Antes estávamos sob o peso da culpa, agora
com a uma consciência limpa. Antes
não tínhamos vida, agora Cristo é a
nossa vida. Antes separados, agora
temos um relacionamento com Deus.
Revista Betel
Estudo Bíblico
Mas, infelizmente muitos dos filhos de Deus pensam que a experiência do novo nascimento é o fim em
si mesmo. Por isso, muitos podem
estar perguntando: - E, agora? Se já
recebi a nova vida, o que mais devo
esperar, além de morrer e ir para o
céu? O apóstolo Pedro responde:
Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, segundo a sua
grande misericórdia, nos gerou de novo
para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.
I Pedro 1:3.
Conforme o que acabamos de ler,
a regeneração tem uma finalidade:
“nos gerar para uma viva esperança”.
Isto significa que temos um alvo;
que fomos regenerados com um
propósito definido por Deus. Este
propósito é nos fazer semelhantes ao
Seu Filho. Quando somos salvos, o
Espírito Santo, por meio da palavra
de Deus, revela ao nosso espírito outrora morto, o que Cristo fez. A partir deste momento o Espírito Santo
vem habitar em nosso espírito, com
o propósito de revelar progressivamente em nós, a pessoa de Cristo,
num processo continuamente renovador: Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a
glória do Senhor, somos transformados
de glória em glória na mesma imagem,
como pelo Espírito do Senhor. 2 Coríntios 3:18
13
Porém, quando olhamos para o
cenário atual, notamos que muitos
filhos de Deus parecem desconhecer o propósito para o qual foram
chamados. Isto porque, dias e anos
passam e eles continuam os mesmos.
Por que isto acontece? A palavra de
Deus nos garante que aqueles cujos
espíritos foram vivificados são predestinados “para serem conformes à
imagem de seu filho”: Porquanto aos
que de antemão conheceu, também os
predestinou para serem conformes à
imagem de seu Filho, a fim de que ele
seja o primogênito entre muitos irmãos.
Romanos 8:29 - indicando um movimento renovador assim que a vida
lhes é concedida. Assim, pensamos
ser legítimo perguntar: O estado em
que esses filhos de Deus se encontram não seria um fato que aponta
para a crise da igreja?
Devemos admitir a nossa crise e,
a “crise da Igreja é a crise da palavra
de Deus”. O mundo está pressionando a Igreja a fazer concessões,
a se render aos seus “valores”. Ironicamente, este é o “papel” do mundo.
Mas, quando olhamos para a Igreja
vemos divisões, ensinos errôneos
e uma enorme confusão na qual, o
legalismo e o humanismo vivem de
mãos dadas a certos comportamentos inadequados.
O que fazer diante desta situação
de distorção e anormalidade? Esta
14
Estudo Bíblico
pergunta nos leva inevitavelmente
a outro questionamento. O que é
evangelho? Qual é a boa-nova? Qual
a natureza do evangelho? A natureza
do evangelho é trazer à luz a vida e a
incorruptibilidade - o que Cristo realizou quando esteve aqui entre os homens. E, o que Cristo fez lá na cruz
do calvário foi destruir o poder da
morte e trazer à luz a vida e a imortalidade. E que é manifesta agora pela
aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte, e trouxe à luz
a vida e a incorrupção pelo evangelho.
2 Timóteo 1:10.
Quando as coisas começam a ficar
difíceis, quando a Igreja está fora de
ordem, o que é preciso fazer? Como
resistir às correntezas internas e externas? Sem nenhuma dúvida precisamos retornar à Fonte. Precisamos
retornar ao fundamento. O apóstolo
Paulo orientou o seu filho na fé, Timóteo, dizendo: E que desde a tua
meninice sabes as sagradas Escrituras,
que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. 2
Timóteo 2:15.
A solução está no retorna à Palavra de Deus. Toda esterilidade, pobreza e corrupção que encontramos
nas igrejas se devem ao elemento humano, mais precisamente às lideranças. Os Líderes são “inadequados”
porque são pessoas que não foram
quebradas pela cruz. Líderes que se
Revista Betel
levantam e falam de acordo com a
sua própria mente. O que dizem é de
nenhum valor.
Que Deus possa encontrar aqueles que são quebrantados e humilhados pela operação da cruz para que
a Sua Palavra flua por meio deles.
Deus está continuamente buscando
aqueles a quem Ele possa usar e revelar o Seu propósito. E, o seu propósito é manifestar a glória de Seu
Filho, mostrar a suprema riqueza da
Sua graça, em bondade para conosco,
em Cristo Jesus.
A superficialidade e a pobreza
são marcantes no ministério dos
dias atuais. A causa está no fato de
muitos terem deixado de lado a cruz.
Eles deram um jeito de escapar da
cruz ou até falam da cruz com um
sotaque humano. Uma espécie de
fuga da cruz, uma fuga do Calvário.
“Se você puder ajudar outros com a
sua compaixão ou compreensão, é
um traidor de Jesus Cristo. Você tem
que se manter num relacionamento
correto com Deus e dar-se aos outros
à maneira de Deus, não à maneira
humana, que ignora Deus. A ênfase
hoje em dia é religiosidade benévola.”
Oswald Chambers.
A cruz é o fundamento do ministério. Deus trata com o homem estando ele “em Cristo”, mas este mesmo homem precisa ser trabalhado,
lavrado interiormente pelo Espírito
Revista Betel
Estudo Bíblico
Santo, pelo princípio contínuo da
cruz. A vida que flui pelo contínuo
morrer: Trazendo sempre por toda a
parte a mortificação do Senhor Jesus no
nosso corpo, para que a vida de Jesus se
manifeste também nos nossos corpos. 2
Coríntios 4:10. Todo aquele que experimentou a morte e a ressurreição
em Cristo, passa a ser uma testemunha viva neste mundo.
Conhecer a Cristo é a chave do
ministério. Se, somos chamados
para proclamar a Palavra de Deus,
precisamos da revelação da Pessoa
de Cristo. Tal revelação incendiará o
nosso coração por Ele e, conseqüentemente, pelas almas perdidas. Mas,
quando aprouve a Deus, que desde o
ventre de minha mãe me separou, e me
chamou pela sua graça, Revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre
os gentios, não consultei a carne nem
o sangue. Gálatas 1:15-16. Fomos
chamados para pregar o Evangelho a boa nova de salvação - e não para
argumentar sobre o Evangelho.
A mensagem deve girar em torno
da Pessoa de Cristo, a Palavra Encarnada, o Logos que Se fez Carne.
Um dia a Palavra se tornou carne,
e quando isso aconteceu, Cristo se
manifestou entre o Povo. Pouco importa a nossa experiência em falar
do Senhor. Somos apenas uma voz.
Ainda que essa voz possa ser suave
ou eloqüente, ela se tornará viva so-
15
mente quando receber conteúdo. Se
o Logos não estiver nessa voz, ela ficará vazia, como o metal que soa ou
como o sino que retine.
Sim! Todos os que foram salvos
são verdadeiras testemunhas, vos
sois as minhas testemunhas, disse Jesus, mas nem todos foram chamados
para ir. E, aqueles que foram chamados para uma missão específica precisam saber que antes do Ide, tem o
Vinde. E Jesus, andando junto ao mar
da Galiléia, viu a dois irmãos, Simão,
chamado Pedro, e André, os quais lançavam as redes ao mar, porque eram
pescadores; E disse-lhes: Vinde após
mim, e eu vos farei pescadores de homens... Passando adiante, viu outros
dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu
e João, seu irmão, que estava no barco
em companhia de seu pai consertando as redes; e chamou-os. ... Portanto
ide, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os
a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos
séculos. Mateus 4:18-21; 28:19-20.
Aqueles que foram chamados
para Ir precisam saber que não é só
pregar e ensinar sobre Cristo, mas
que tenham a revelação do próprio
Cristo. A vocação pode ser resumida
nestas palavras: Temos, porém, este
tesouro em vasos de barro, para que a
16
Estudo Bíblico
excelência do poder seja de Deus e não
de nós. 2 Coríntios 4:7. Podemos interpretar este texto desta maneira:
Somos frágeis vasos de barro, e se
há alguma realização, se há alguma
persistência, se há alguma eficiência,
deve ser creditada ao poder, à excedente grandeza do poder, que é de
Deus e não de nós mesmos. Isto é
Cristo em Seu vaso de barro, no poder da vida ressurreta.
Nas Escrituras vemos a supremacia do Senhor, Aquele que está
Revista Betel
assentado sobre o trono. Em outras
palavras, é a soberania absoluta de
Jesus Cristo como Cabeça da Sua
Igreja. Deus O ressuscitou dentre os
mortos e fê-Lo “sentar à Sua direita
nos lugares celestiais, acima de todo
principado, e potestade, e poder, e
domínio para ser o Cabeça sobre todas as coisas”. Somos participantes
de um reino que não pode ser abalado por nada neste mundo. “As portas
do inferno não prevalecerão contra
ele”.
Um fato impressionante sobre Austin-Sparks
Hosea Hu, um irmão americano, é biógrafo de T. Austin-Sparks. Ele esteve no Brasil certa vez
e deu uma conferência sobre a vida de TAS, como era carinhosamente chamado por seus amigos.
Eu ouvi parte de uma das mensagens. Desta, um fato me impressionou demais. Eu o reproduzo
de memória aqui. O cerne da história é exatamente o que escrevo, e deixo de fora minúcias das
quais não recordo a fim de não cometer enganos.
Nos Estados Unidos, determinado pastor, insatisfeito com sua vida espiritual, ouviu
uma conferência com TAS. Sua primeira pergunta foi: “Que tradução da Bíblia ele usa,
já que na minha eu nunca vi essas coisas que ele menciona?” O que aquele homem
ouviu revolucionou sua vida. Ele, então, passou também a ensinar o que recebera.
Ele era pastor de uma congregação de classe alta. Seus ouvintes começaram a ficar descontentes
com sua palavra, pois não era mais do tipo “palavra edificante”. Então, por meio de uma
conspiração contra ele, foi demitido, acusado de insanidade mental.
Desempregado, ele começou a passar necessidades. Algum tempo depois, conseguiu um
emprego de vendedor, mas pouco conseguia ganhar com seu trabalho. Mas permanecia fiel ao
que ganhara do Senhor.
Por causa de sua fraqueza, teve um sério problema em um dos pulmões, que tinha de ser
extirpado. Foi internado, e o médico era um de seus antigos pastoreados. A cirurgia foi realizada,
mas, não se sabe porque razão, o pulmão são é que foi extirpado. Assim, tendo um único pulmão,
e este comprometido pela doença, este irmão morreu cerca de dois meses depois.
O que havia no ensino de TAS que mudara tanto esse homem, a ponto de morrer por
fidelidade ao que vira? TAS sempre enfatizou ao máximo a centralidade de Cristo e da cruz na
experiência cristã. Tudo o mais se deriva disso. Tudo o que TAS ensinava era para levar seus
ouvintes e leitores de volta para o próprio Cristo e para Sua cruz. Nada mais importa.
Revista Betel
Estudo Bíblico
O Que é Novo
Nascimento?
17
Sinval T. da Silva
O que é nascido da carne,
é carne; o que é nascido
do espírito é espírito. Não
te admires de eu te dizer:
Importa-vos nascer de novo.
João 3:6-7.
N
ovo nascimento é a
doutrina central das
Escrituras, a qual o
Senhor Jesus deu a
devida prioridade. Significa criar de
novo, nova criação, nascer do alto,
nascer do Espírito. É um acontecimento admirável, surpreendente,
maravilhoso, que só Deus pode fazer
na vida do pecador.
O Novo Nascimento é um milagre realizado em nós, no sentido
de mudar a nossa natureza interior,
pelo qual o Espírito Santo transmite
a vida de Cristo à alma, produzindo
os frutos pacíficos da justiça. Elimina
o amor e o domínio do pecado e desperta em nosso íntimo um intenso
desejo pela santificação.
Novo nascimento é um milagre
realizado por Deus, no sentido de
mudar a natureza interior do ser humano. Milagre é um acontecimento
espantoso que não pode ser explicado pelas leis da natureza. Assim
como uma cobra não se transforma
18
Estudo Bíblico
em vara, um lobo em ovelha, nem
um tigre em elefante, a não ser por
meio de uma ocorrência miraculosa
realizada por Deus, também o homem não nasce de novo, a não ser
por um acontecimento sobrenatural
realizado pelo poder Deus.
A regeneração é uma ocorrência
de natureza milagrosa, em que a vida
de Cristo é introduzida na alma do
pecador, pela ação do Espírito Santo,
produzindo nele os frutos da justiça
e da santidade. Novo nascimento é
estar em Cristo – II Coríntios 5:17.
A Escritura diz que Cristo nos deu
vida, estando nós mortos em delitos e
pecados. Efésios 2:1.
A vida de Cristo no ser humano
é o maior milagre que se pode ver.
Maior, porque dura para sempre. A
cura duma enfermidade grave em
alguém, de forma milagrosa, só dura
enquanto a pessoa vive uma vez morta, o milagre desaparece. Mas, isso jamais pode acontecer com o milagre
da regeneração; pois, quem nasce de
novo viverá eternamente. Jesus disse:
Eu lhes dou a vida eterna, jamais perecerão eternamente... João 10:28.
O missionário perguntou ao rapaz
se ele era cristão. O moço respondeu:
“Estou tentando ser.” O missionário
balançou a cabeça em sinal de compaixão, e disse: “Pobre rapaz, por
mais que alguém tente nunca será
transformado em um cristão”. So-
Revista Betel
mente a ação poderosa e soberana da
graça, pode fazer do pecador um filho de Deus e co-herdeiro com Cristo – Romanos 8:17. Somente Deus
pode regenerar o pecador – João
1:13.
Novo nascimento segundo afirmou Paulo, é o despir-se do velho
homem e o revestir-se do novo, que
se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que
o criou – Colossenses 3:9-10. Novo
nascimento é mudança de filiação. O
pecador passa da condição de filho
da ira – Efésios 2:3, para a condição
de filho de Deus – Gálatas 4:6.
O vínculo de filiação na família
humana, só pode ser por meio do
nascimento natural. E o vínculo de
filiação na família de Deus, ocorre
por meio do nascimento do Espírito: Mas a todos quantos o receberam,
deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de Deus, a saber: os que crêem no seu
nome. Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da
vontade do homem, mas de Deus. João
1:12-13. Assim dizia Stephen Charnock: “A adoção dá-nos o privilégio
de filhos, a regeneração a natureza de
filhos.” Agora, preste atenção! Não
existe salvação sem conversão – Mateus 18:3. Não existe conversão sem
novo nascimento – João 3:3. Não
existe novo nascimento sem morte
de cruz – Romanos 6:3. Não brin-
Revista Betel
Estudo Bíblico
que com este assunto. Peça a Deus
o seu novo nascimento agora mesmo. Amanhã pode ser tarde demais.
O Senhor Deus adverte a todos, no
sentido de darem a devida importância à mensagem do novo nascimento
segundo as Escrituras. Assim dizia
John Trapp: “Esta verdade precisa
ser proclamada, não importa como
seja recebida”.
O Que Não é Novo Nascimento?
Perguntou-lhe Nicodemos: Como
pode um homem nascer, sendo velho?
Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? João 3:4.
Novo nascimento não é a repetição
do nascimento natural, conforme
pensou Nicodemos. Novo nascimento não é formalismo religioso,
nem vida religiosa exemplar, como
muitos afirmam. Existem bons religiosos que ainda não foram libertos
da sua velha natureza, e precisam
nascer de novo: Eles vêm a ti como o
povo costuma vir, e se assentam diante
de ti como meu povo, e ouvem as tuas
palavras, mas não as põe por obra; pois,
com a boca confessam muito amor, mas
o coração só ambiciona lucro. Ezequiel
33:31.
Novo nascimento não é rito batismal. A água do batismo não regenera
o pecador. O novo homem segundo
Deus, procedente da verdade, referido em Efésios 4:24, é aquele que está
em Cristo, conforme diz a Escritura:
19
Ou, porventura, ignorais que todos os
que fomos batizados em Cristo Jesus,
fomos batizados na sua morte? Romanos 6:3. Este é o batismo que nos dá
o revestimento de Cristo: Porque todos quantos fostes batizados em Cristo,
de Cristo vos revestistes. Gálatas 3:27.
Novo nascimento não é mudança
de denominação. Não é sair de uma
igreja ir para outra, como é costume
de alguns. Assim como ir à garagem
não faz da pessoa um automóvel, ir à
igreja não faz do pecador um regenerado: Nem todo o que me diz: Senhor,
Senhor! Entrará no reino dos céus,
mas aquele que faz a vontade de meu
Pai que está nos céus. Muitos, naquele
dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor!
Porventura não temos nós profetizado
em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não
fizemos muitos milagres? Então lhes direi explicitamente: Nunca vos conheci.
Apartai-vos de mim, os que praticais a
iniquidade. Mateus 7:21-23.
Novo nascimento não é educação
religiosa, não é curso teológico, nem
pós-graduação em teologia. Por detrás de muitos púlpitos existem teólogos que precisam ser regenerados.
Assim diziam os antigos puritanos:
“Qual púlpito, tais bancos; qual pastor, qual rebanho.”
Novo nascimento não é escapar
com vida de um acidente trágico,
como o povo costuma dizer. O moto-
20
Estudo Bíblico
rista perdeu o controle do automóvel
em alta velocidade ao passar por um
viaduto. O carro desgovernado saiu
da pista, voou por cima das árvores
e caiu no gramado do outro lado da
rua. O motorista não sofreu um só
aranhão. O repórter comentando o
acidente disse: “Aquele rapaz nasceu
de novo!” O nascer de novo segundo
o repórter, foi o fato do motorista ter
escapado com vida daquele acidente
de grandes proporções.
A criança caiu do nono andar
do edifício onde mora. Ela subiu
na janela para ver a mãe que havia
descido, quando despencou de uma
altura de trinta metros, caindo sobre um monte de ramos que tinham
sido cortados do jardim, quebrando
apenas um braço. A mãe da criança
comentando o acidente, disse: “Meu
filho nasceu duas vezes.” Ela referia o
nascimento natural do filho e o fato
dele ter escapado com vida daquele
acidente.
Novo nascimento não é reencarnação. Quem afirma que João Batista
foi a reencarnação de Elias, está en-
Revista Betel
ganado, porque Elias nunca desencarnou; ele foi levado vivo para o céu
num carro de fogo: Indo eles andando
e falando, eis que um carro de fogo, com
cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho. II Reis 2:11. Novo nascimento
não é conduta religiosa exemplar.
Por mais dotado e refinado que seja
o religioso, existe no seu interior uma
natureza ímpia que precisa ser tratada em Cristo, na cruz. Além do mais,
o homem sem a experiência real de
regeneração é completamente cego
às verdades espirituais do Evangelho.
Todos aqueles que são dotados de
boas atitudes e bons costumes, também precisam ser regenerados: Não
te admires de eu te dizer: Importa-vos
nascer de novo. João 3:7.
Novo nascimento não é filosofia
de vida. Não é um código moral. Os
códigos morais são importantes, mas
não conferem vida a ninguém. Desde
Hamurabe até os legisladores contemporâneos, as leis têm falhado. Os
homens fazem as leis, mas não conseguem cumpri-las.
“Muitos pastores me criticam por ter tomado o Evangelho tão a sério. Mas será que realmente
pensam que no Dia do Julgamento, Cristo vai castigar-me, dizendo,” Leonard, você me levou
muito a sério’?”
-- Leonard Havenhill
Revista Betel
Riqueza
da
Graça
Negando-se e
Seguindo a Cristo
21
D. M. Loyd Jones
Ouviste que foi dito: Olho por
olho e dente por dente.
Mateus 5:38
O
uviste o que foi dito: Olho
por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo
que não resistais ao mau;
mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; E, ao
que quiser pleitear contigo e tirar-te a
túnica, larga-lhe também a capa; E, se
qualquer te obrigar a caminhar uma
milha, vai com ele duas. Dá quem te
pedir, e não te desvies daquele que qui-
ser que lhe emprestes. Mateus 5:3842. Ninguém pode por em prática
o que o nosso Senhor aqui ilustrou,
a menos que já tenha rompido definitivamente consigo mesmo, no tocante ao direito que tem sobre sua
própria pessoa, no tocante ao direito
de determinar o que fará, e, sobretudo, no tocante ao dever que tem de
romper com aquilo que comumente
chamamos de “direitos pessoais”. Em
22
Riqueza
outras palavras, sob hipótese nenhuma devemos fixar a atenção sobre
nós mesmos. Conforme já averiguamos, a maior dificuldade nesta vida
é, em última análise, esse constante
interesse quanto ao próprio “eu”. E
o que o nosso Senhor está inculcando aqui é que nossa tendência deve
ser inteiramente eliminada em nós.
Precisamos desvencilhar-nos desse
pendor de estarmos sempre atentos a qualquer ataque ou insulto,
ou seja, estarmos sempre numa atitude defensiva. Era isso que o nosso
Senhor tinha em mente. Todas as
propensões desta ordem precisam
desaparecer; e isso, como é natural,
significa que temos de deixar de lado
a sensibilidade quanto ao próprio
“eu”, essa condição inteira segunda a
qual o nosso próprio “eu” está à flor
da pele, postado em um tão precário
equilíbrio que a mais leve perturbação é capaz de desequilibrá-lo. Sim,
é necessário que a nossa atitude cesse inteiramente. A condição acerca
da qual nosso Senhor falava aqui
reveste-se de natureza tal que torna
o crente em alguém que simplesmente não pode ser atingido. Talvez essa
seja a maneira mais radical que exista
para expressar essa declaração de Jesus. Vemos o que Paulo disse sobre
si mesmo, em 1 Coríntios 4:3, onde
escreveu: Todavia, a mim mui pouco
se me dá de ser julgado por vós, ou por
da
Graça
Revista Betel
tribunal humano; nem eu tão pouco
julgo a mim mesmo. Paulo entregara
toda a questão do seu julgamento aos
cuidados de Deus, e, dessa maneira,
entrara em estado e condição em que
não podia ser atingido. Esse é o ideal
que deveríamos ter por alvo – essa
indiferença para com o próprio “eu” e
seus interesses.
Certa declaração feita pelo famoso George Muller, a respeito de
si mesmo, parece ilustrar mui claramente esse ponto. Ele escreveu:
“Houve um dia em que morri, morri
totalmente, morri para George Muller e suas opiniões, preferências e
gostos e vontade; morri para o mundo, sua aprovação e censura; morri
para a aprovação ou condenação
da parte dos meus próprios irmãos
e amigos. E, desde então, tenho-me esforçado tão somente para ser
aprovado diante de Deus.” Essa é
uma assertiva sobre a qual deveríamos ponderar profundamente. Não
posso imaginar sumário mais perfeito e adequado do ensaio do Senhor
Jesus, neste parágrafo, do que essas
palavras de George Muller. Muller
foi capacitado a morrer para o mundo, para sua aprovação ou censura,
foi capacitado a morrer até mesmo
para a aprovação ou censura de seus
amigos e mais íntimos companheiros. E também deveríamos observar
a ordem de prioridades que Muller
Revista Betel
Riqueza
usou em sua declaração. Em primeiro lugar, ele falou sobre a aprovação
ou censura do mundo; em seguida,
sobre a aprovação ou censura de seus
íntimos amigos. Não obstante, ele
declarou haver obtido sucesso em
ambos esses aspectos, e o segredo
disso, no dizer do Muller, era que ele
havia morrido para si mesmo, para o
próprio George Muller. Não há que
duvidar que em suas palavras encontramos uma bem definida sequencia
de valores. O aspecto mais remoto
é o mundo; e então figuram os seus
amigos e colegas. Contudo, a questão
mais dificultosa de todas é o homem
morrer para si mesmo, para sua própria aprovação ou censura de si mesmo. Certos grandes artistas encaram
com desdém as opiniões do mundo. Por acaso o mundo não aprova
a obra deles? “Pois tanto pior para o
mundo”, dizem os grandes artistas.
“Os homens são tão ignorantes que
nada entendem”. Podemos tornar-nos imunes as opiniões das massas
populares e das turbamultas, imunes
às opiniões do mundo. Entretanto,
ainda precisamos levar em conta
a aprovação ou a censura daqueles
que estão mais próximos de nós, os
quais nos são queridos, daqueles que
estão intimamente conosco. A opinião desse último é mais altamente
valorizada por nós, pelo que também mostramo-nos mais sensíveis
da
Graça
23
para com essa opinião. No entanto,
o cristão deve atingir aquele estágio
segundo o qual consegue ultrapassar
até mesmo essa barreira, segundo o
qual percebe que não se pode deixar
controlar por essas questões. Finalmente, o cristão poderá chegar ao último e final estágio, o qual concerne
àquilo que um homem pensa sobre
si mesmo – sua própria avaliação,
sua própria aprovação ou julgamento de si mesmo. Pode-se notar, em
muitas biografias, que muitos homens conseguiram libertar-se dessa
sensibilidade para com o mundo
e para com os seus entes queridos,
embora tivesses descoberto que isso
envolva uma tremenda batalha, um
conflito quase impossível de ser sustentado, em que o indivíduo esforça-se por preocupar-se consigo mesmo
e com o juízo que ele faz de si. Mas,
enquanto estivermos preocupados
com este último estágio, na realidade não estaremos livres do perigo
de sermos influenciados por aqueles
outros dois aspectos anteriores, que
são bem mais fáceis. Por conseguinte, a chave para o completo êxito, de
conformidade com George Muller,
é que precisamos morrer para nós
mesmos. George Muller havia morrido para si mesmo, para as suas opiniões, para as suas preferências, para
seus gostos e aversões, para sua própria vontade, enfim. A sua preocupa-
24
Riqueza
ção exclusiva, o seu grande ideal, era
ser aprovado por Deus.
Ora, esse é justamente o ensino de
nosso Senhor nesta passagem, onde
Ele mostra que o cristão deve atingir
um estado e uma condição tais que
também possa falar a exemplo do
que fez George Muller.
O ponto que se segue, como é
óbvio, é que somente quem é regenerado pode agir desta maneira. É
em relação a isso que encontramos
o aspecto doutrinário deste parágrafo. Ninguém pode alcançar esse
nível espiritual, a não ser que seja um
crente. Temos aí a própria antítese,
o oposto do que sucede no caso do
homem natural. É difícil imaginar-se
qualquer coisa mais afastada daquilo
que o mundo geralmente descreve
como um cavalheiro. Em consonância com o mundo, um cavalheiro é alguém que se empenha pela sua honra e pelo seu bom nome, chegando a
entrar em luta pelos mesmos. Embora um cavalheiro não mais costume
desafiar para um duelo àquele que o
insultou, no momento em que é insultado, visto estar proibido de tal reação pela lei. Isso é o que ele faria, se
pudesse. Essa é a ideia do mundo sobre um cavalheiro e sobre sua honra
pessoal; e, nessa atitude, sempre está
em foco a autodefesa. Isso aplica-se
não somente ao individuo propria-
da
Graça
Revista Betel
mente dito, mas também à pátria e
a tudo quanto pertence a esse individuo. É indubitável que não incorremos um erro ao dizer que o mundo
despreza o homem que não defende
esses valores, pois o mundo admira
o tipo agressivo de pessoa, aquela
pessoa que se impõe aos outros e que
está sempre pronta para defender a si
mesma e àquilo que denomina de sua
honra. Portanto, afirmamos claramente, sem pedir desculpas a quem
quer que seja, que ninguém pode colocar esse ensinamento de Jesus em
prática se não for um crente autêntico. Um homem precisar ser nascido de novo e ser uma nova criatura,
antes que possa viver como tal. ...logo
já não sou eu quem vive, mas Cristo
vive em mim. Gálatas 2:20. Essa é a
doutrina do renascimento espiritual. Em outras palavras, é como se o
Senhor houvesse afirmado: “Vocês
precisam viver dessa maneira, mas
não poderão fazê-lo enquanto não
tiverem recebido o Espírito Santo e
enquanto não houver em vocês uma
nova vida. Vocês precisam tornar-se
pessoas completamente diferentes;
vocês precisam ser totalmente transformados; vocês precisam tornar-se
um novo ser”.
Extraído do livro Estudos no Sermão do Monte, D. M. Lloyd-Jones,
Ed. Fiel.
Revista Betel
Riqueza
da
Graça
O Folheto Retorna
25
De Vern Fronk
Os que com lágrimas semeiam
com júbilo seifarão.
Salmos 126:5
M
uitos dos ricos aristocratas da classe
dominante na Inglaterra do século XIX
ficaram conhecidos por sua vida de
prazeres fúteis. Nessa época alguns
cristãos com o encargo de intercessão decidiram esforçar-se em alcançar essa classe considerada superior.
É pouco provável que tais
pessoas aceitassem um convite para
participar de uma reunião evangelística juntamente com membros de
classes inferiores. Assim sendo, os
intercessores acharam uma solução
– enviar folhetos evangelísticos pelo
correio.
Em uma manhã, assentado à elegante escrivaninha de sua elegante
propriedade, um distinto cavalheiro
começou a abrir sua correspondência. Dentre as muitas cartas encontrou um envelope branco apenas com
o endereço do destinatário. George
rasgou o envelope com curiosidade e
tirou dali um pequeno folheto.
Lendo as primeiras linhas do folheto de forma superficial, identifi-
26
Riqueza
cou-o imediatamente como de “teor
religioso persuasivo”. “ Que ousadia
enviar-lhe tal coisa! Sugerir que ele
não iria para o céu? Será que sabiam
com quem estavam falando? Ele estava muito bem, obrigado!”
De repente, a careta de George transformou-se em um sorriso
malicioso. Ele e seu amigo Edward
tinham o costume de pregar peças
um no outro. Essa ideia era perfeita. Pegou outro envelope, escreveu
com letras bem simples o endereço
do amigo. “Sim!” divertia-se ele, esse
trote pegaria o Edward. Prosseguiu
com o plano, enviando o folheto.
Alguns dias depois, em outra propriedade a apenas algumas milhas de
distancia, Edward abriu o envelope
e só leu as primeiras linhas. Sua reação foi exatamente a antecipada pelo
amigo. Estava para jogar o folheto no
fogo quando num ímpeto recuou.
Esse era o momento marcado por
Deus. Já que alguém teve o trabalho de enviar o folheto, o mínimo
que poderia fazer era lê-lo. Assim,
enquanto lia, uma luz parecia resplandecer expondo sua própria pecaminosidade e, ao mesmo tempo, o
grande amor de Deus ao enviar Seu
Filho para morrer em seu lugar. Ele
não ouvia sobre isso desde menino.
(Os que plantaram o folheto estavam
regando-o).
Antes do pôr do sol, naquele mes-
da
Graça
Revista Betel
mo dia, Edward assumiu um relacionamento pessoal com o Senhor e
confiou nele como Salvador.
Seu impulso imediato foi compartilhar a novidade. Para tanto, pegou
outro envelope e endereçou-o ao velho amigo George. Ele orou pedindo
a Deus que abençoasse o folheto novamente.
Imagine o espanto de George! Que coisa irritante. Achou que
Edward queimaria o folheto, no entanto, lá estava ele novamente. Fitando a pequena mensagem por um
momento, lentamente começou a lê-la. Naquele mesmo dia, ele também
se convenceu da necessidade do Salvador e confiou na obra consumada
de Cristo.
Algum tempo depois ao se encontrarem, os dois juntaram as peças da história do folheto que foi o
instrumento usado para que ambos
fossem salvos. Não apenas deram
boas risadas pela obra providencial
de Deus, como também iniciaram
um trabalho para levar a outros as
Boas Novas.
De onde vem o sucesso deste
folheto? Podemos aqui observar o
encargo e a intercessão de alguns
cristãos ao enviar folhetos. Eles não
estavam apenas jogando a semente
(folhetos), mas também regando com
diligencia (orando) para que essas sementes pudessem cair em solo fértil.
Revista Betel
Riqueza
Há atualmente uma grande ênfase no exterior em semear e esperar
para a colheita. Sempre me regozijo por isto! Desejaria, contudo, que
houvesse o mesmo encargo no ato de
regar a semente plantada. Deus de
fato prometeu: Os que com lágrimas
semeiam com júbilo ceifarão. Quem
sai andando, enquanto semeia, voltará
com júbilo trazendo os seus feixes. Salmos 126:5,6
“Senhor meu, ouço-te perguntar
qual foi a última vez que chorei por
alguma semente que plantei. Reco-
da
Graça
27
nheço que regar é muito mais meramente do que o ato de orar! Dizes:
Espera em mim com lágrimas até
que eu realize o desejo pelo qual tu
tens orado. Sim, Senhor, não posso
produzir lágrimas, mas posso pedir
que tu me concedas a tua própria
paixão pelas almas perdidas. Ajuda-me a lembrar de alguém que precise
deste livro – alguém a quem possa
enviá-lo e regar sua vida com muita
oração”.
Extraído do livro: A Janela Mais
Ampla de Deus, Ed. Tesouro Aberto.
Seca-se a erva, e murcha a flor, porque o Espírito do Senhor sopra sobre ela; certamente o povo é
erva. Isaías 40:7
O que!? O Espírito, um destruidor!? Eu pensei que ele fosse a fonte da vida. Eu teria esperado
que fosse escrito: “seca-se a erva, porque o Espírito do Senhor NÃO soprou sobre ela”. Aqui,
pela primeira vez, é dito que o sopro do Espírito dá, não a vida, mas a morte. Sim, mas não é
a morte o prelúdio da vida? O que semeias não nasce se primeiro não morrer. 1 Coríntios 15:36.
Eu costumava achar estranho que entre os deuses dos hindus houvesse um, adorado como “o
Destruidor”; não é o Espírito aqui adorado como o destruidor – o que seca a erva? E não é certo
que a erva se secará? Não é a erva o próprio símbolo do desbotamento, o próprio princípio da
morte? Dizer que a erva secará não é equivalente a dizer que a morte morrerá? O florescer da
carne está matando a palavra do Senhor dentro em mim; para que essa palavra permaneça para
sempre, o florescer da carne deve murchar. Qual poder o fará murchar? Qual, senão o Espírito
divino? Poderá o sopro que deu vida às águas, fazer outra coisa senão destruir o adversário da sua
própria dádiva? Não soprará ele sobre a carne que impede a vida imortal? Não soprará ele sobre
a erva que enterra a palavra do Senhor?
Ó Tu, Destruidor divino, Tu crucificador do pecado, Tu, abolidor da morte, nós te adoramos.
Espírito do Calvário, Espírito do Cristo redimido, sopre sobre o nosso desbotamento para que ele
morra. Seque tudo em meu coração que secaria a Tua palavra. Seque o seu orgulho, o seu egoísmo,
sua vaidade. Seque a sua malícia, seu ódio, sua inveja, sua crueldade. Seque sua preferência pelo
visível e temporal, seu estimar da escória acima do outro. Seque as suas esperanças de ser feliz
através do amor próprio, sua expectativa de evitar a miséria através de esquecimento dos outros.
Seque a botelha que impede a visão mais ampla, que me impossibilita de ver as desgraças de
Nínive. Quando Tu soprares sobre a erva, a mortalidade será tragada pela vida. Quando a flor da
carne murchar, a Tua palavra permanecerá para sempre.
-- George Matheson, extraído da revista A maturidade.
28
Legado
Revista Betel
Os Mártires e a Teologia
da Prosperidade
John Foxe
Vi, debaixo do altar, as almas
daqueles que tinham sido mortos por
causa da palavra de Deus e por causa
do testemunhobque sustentavam.
Apocalipse 6:9
O
impiedoso
Galério
com o seu grande
prefeito Asclepíades
invadiu a cidade de
Antioquia no intuito de, pela força
das armas, fazer todos os cristãos
renunciar radicalmente à sua pura
religião. Naquele dia os cristãos
encontravam-se reunidos, e um certo Romano foi correndo anunciar-lhes que os lobos estavam por perto
querendo devorar o rebanho cristão.
— Mas não tenham medo — disse
ele — nem deixem que esse iminente perigo os perturbe, meus irmãos.
— Aconteceu então que, pela grande
graça de Deus atuando em Romano,
velhos e matronas, pais e mães, mancebos e donzelas, mostraram todos
a mesma vontade e decisão, estando
mais do que dispostos a derramar o
próprio sangue em defesa da fé que
Revista Betel
Legado
professavam.
Chegou ao prefeito a notícia de
que um pelotão de soldados armados não conseguiu arrancar o báculo da fé das mãos da congregação de
cristãos, e tudo porque Romano os
instigou com tal veemência que eles
não hesitaram em oferecer a própria
garganta, desejando morrer gloriosamente pelo nome de Cristo. — Encontrem o rebelde — disse o prefeito
— tragam-no à minha presença para
que ele responda por toda a seita.
— Ele foi apreendido e, amarrado
como uma ovelha conduzida ao matadouro, foi apresentado ao imperador, que, fixando-o com semblante
irado, disse: — Como! És tu o autor
da revolta? És tu a causa de tantos
perderem a própria vida? Juro pelos
deuses que tu hás de pagar caro por
isso. Primeiro, na tua carne sofrerás
as dores para as quais animaste o coração dos teus colegas.
Respondeu Romano: — A tua
sentença, ó prefeito, eu a recebo com
alegria. Não me recuso a ser sacrificado pelos meus irmãos, por mais cruéis que sejam os meios que tu possas
inventar. No que se refere ao fato de
que os teus soldados foram repelidos
pela congregação cristã, isso apenas
aconteceu porque era inadmissível
que idólatras e adoradores de demônios entrassem na casa de Deus e poluíssem o lugar da verdadeira oração.
29
Então Asclepíades, absolutamente furioso com essa intrépida
resposta, ordenou que Albano fosse
amarrado com os braços preso ao
corpo e depois eviscerado. Os próprios carrascos, que tinham um coração mais piedoso que o do prefeito,
intercederam: — Não pode ser, senhor. Este homem é de uma família
nobre. É ilegal submeter um nobre a
morte tão ignóbil. — Respondeu o
prefeito: — Que seja então flagelado
com açoites com pontas de chumbo. — Em vez de lágrimas, suspiros
e gemidos, ouviu-se a voz de Albano cantando salmos durante todo
o tempo da flagelação, pedindo aos
algozes que não o poupassem pela
sua nobreza. — Não é o sangue dos
meus progenitores — dizia ele —
mas sim a profissão de fé cristã que
me faz nobre. — As salutares palavras do mártir eram como óleo para
o fogo da fúria do prefeito. Quanto
mais o mártir falava, mais enlouquecido ele ficava, a ponto de ordenar
que as ilhargas do mártir fossem perfuradas a faca até aparecer o branco
dos ossos.
Quando Romano pela segunda
vez pregou o Deus vivente, o Senhor
Jesus Cristo, Seu Filho bem-amado,
e a vida eterna por meio da fé no Seu
sangue, Asclepíades ordenou aos carrascos que lhe esmurrassem a boca
até que seus dentes fossem arranca-
30
Legado
dos e sua pronúncia acabasse também afetada. A ordem foi cumprida:
ele foi esmurrado, suas sobrancelhas
foram rasgadas a unha e suas faces
perfuradas a faca; a pele da barba
foi pouco a pouco arrancada; finalmente, seu belo rosto estava todo
deformado. Disse o dócil mártir: —
Eu lhe agradeço, ó prefeito, por ter
aberto em mim muitas bocas, com
as quais posso pregar a Cristo, meu
Senhor e Salvador. Veja cada ferida
que eu tenho é uma boca louvando e
cantando a Deus.
O prefeito, assombrado com essa
singular constância, ordenou que
suspendessem as torturas. Ameaçou
o nobre mártir com o fogo cruel, insultou-o e blasfemou a Deus dizendo: — O teu Cristo crucificado não
é mais que um Deus de ontem. Os
deuses dos gentios são de extrema
antigüidade.
Nesse ponto Romano, aproveitando a ocasião, fez um longo discurso sobre a eternidade de Cristo,
sua natureza humana, e sobre a sua
morte e expiação pela humanidade.
Em seguida, disse ele: — Dê-me, ó
prefeito, uma criança de apenas sete
anos, idade isenta de malícia de outros vícios com os quais a idade mais
madura geralmente está infectada, e
o senhor ouvirá o que ela tem a dizer.
— Seu pedido foi aceito.
Dentre a multidão chamou-se um
Revista Betel
menininho que foi colocado diante
do mártir. — Dize-me, filhinho —
disse ele — se tu achas que há razão
para que adoremos a um só Cristo,
e em Cristo a um só Pai, ou então
para que adoremos a muitos deuses.
Ao que o menininho respondeu: —
Certamente Aquele que os homens
afirmam ser Deus (seja o que for),
deve ser um só; e o que lhe é próprio
é único. Porque Cristo é único, Cristo é necessariamente o verdadeiro
Deus, pois nós crianças não podemos acreditar que existam muitos
deuses.
A essa altura o prefeito, tomado
de puro espanto, disse: — Tu, jovem vilão e traidor, onde e de quem
aprendeste essa lição?
— De minha mãe — disse a
criança. — Com seu leite suguei a lição de que devo crer em Cristo. Chamou-se a mãe, e ela de bom grado se
apresentou. O prefeito ordenou que
a criança fosse pendurada e açoitada.
Os condoídos espectadores desse ato
impiedoso não conseguiam controlar
as lágrimas. Apenas a mãe, exultante
e feliz, a tudo assistia com as faces
secas. Na verdade, ela repreendeu o
seu doce filhinho por implorar um
gole de água fria. Disse-lhe para ter
sede da taça da qual outrora beberam os infantes de Belém, deixando
de lado o leite e as papinhas de suas
mães. Ela o encorajou a lembrar-
Revista Betel
Legado
-se do pequeno Isaque que, vendo a
espada com a qual seria abatido e o
altar sobre o qual seria queimado em
sacrifício, de boa mente apresentou o
tenro pescoço ao golpe da espada do
seu pai. Enquanto era dado esse conselho, o sanguinário algoz arrancou o
couro do alto da cabeça do menino,
com cabelo e tudo. Gritou então a
mãe: — Aguenta, filhinho! Logo tu
verás Aquele que te enfeitará a cabeça nua com uma coroa de glória
eterna. — A mãe consola, a criança
sente-se consolada; a mãe anima, o
menininho sente-se animado e recebe os açoites com um sorriso no
rosto.
O prefeito, percebendo que a
criança era invencível e sentindo-se derrotado, mandou o abençoado
menininho para a fétida masmorra
e deu ordens para que as torturas
de Romano, principal autor destas
maldades, fossem repetidas e intensificadas.
Assim, Romano foi trazido outra vez para novos açoites, devendo
os castigos ser renovados e aplicados sobre as suas velhas feridas. O
tirano já não aguentava mais; era
necessário apressar a sentença de
morte. — É penoso para ti — disse
ele — continuar vivo por tanto tempo? Não tenhas dúvida de que uma
flamejante fogueira será em breve
preparada. Nela tu e aquele menino,
31
teu companheiro de rebelião, sereis
consumidos e transformados em
cinza. — Romano e o menininho
foram conduzidos para a execução.
Ao chegarem ao local escolhido, os
carrascos arrancaram o filho da sua
mãe, que o tomara nos braços. A
mãe, limitando-se a beijá-lo entregou
a criancinha. — Adeus! — disse ela
— Adeus, meu doce filhinho. Quando tiveres entrado no reino de Cristo,
lá no teu abençoado estado lembra-te da tua mãe. — E enquanto o carrasco aplicava a espada ao pescoço da
criancinha, ela cantou assim:
“Todo louvor do coração e da voz
Nós te rendemos Senhor.
Neste dia em que a morte deste santo
Recebes com muito amor.”
Tendo sido cortada a cabeça do
inocente, a mãe a envolveu em seu
vestido e a segurou no colo. Do lado
oposto, uma grande fogueira foi
acesa na qual Romano foi atirado.
No mesmo instante desabou uma
grande tempestade. Finalmente o
prefeito, sentindo-se confuso diante
da força e coragem do mártir, deu ordens rigorosas para que ele fosse reconduzido à prisão, onde deveria ser
estrangulado. Depois de ler uma história como esta, de mártires que desprezaram sua própria vida por amor
a Cristo, de uma mãe alegre ao ver
32
Legado
seu filho ser honrado com as marcas
de Cristo, você ainda consegue pregar o evangelho que você prega?
Você ainda consegue pregar um
evangelho de paz, felicidade e sucesso terrenos?
Você consegue afirmar que eles
não tiveram fé o suficiente para decretar dias melhores?
Você consegue viver esse mes-
Revista Betel
mo cristianismo que você diz viver?
A porta é estreita;
O caminho, apertado;
O chão, coberto de sangue;
Tire seus calçados;
o lugar que você pisa é santo.
Extraído de:
O Livro dos Mártires
Por amor de ti somos entregues à morte continuamente. Salmos 44:22
Davi não chegou ao trono até que, nas cavernas dos filisteus, onde ele foi perseguido como um
cão pelo enfurecido Saul, ele não tivesse morrido inumeráveis mortes. Os Salmos, tão adaptados
à aflição humana, não poderiam ter existido senão pela crucificação interior do coração do doce
cantor de Israel, proporcionadas pelas enraivecidas perseguições de Saul.
Jeremias morreu milhares de mortes enquanto chorava sobre o povo escolhido.
Jonas é lançado ao mar e tragado por “um grande peixe” – ainda assim não foi trazido para
fora completamente depurado de seu Eu.
Em época alguma o povo de Deus chegou ao ápice da realização espiritual, à glória da
inquebrantável comunhão com o Altíssimo, sem ter a “vida do eu”, “a vida da carne”, trazida ao
pó da morte.
-- F. J. Huegel
“Por todo o caminho meu Salvador me conduz;
Que tenho eu para pedir, além disso?
Posso duvidas de sua misericórdia,
Que, através da vida, tem sido meu guia?
Paz celestial, o mais divino conforto,
Aqui, pela fé, Nele habitar!
Pois sei que tudo que me suceder,
Jesus faz bem todas as coisas.”
-- Fanny Crosby
“Cristo precisa ser exaltado e elevado bem alto em nossos corações, para que a nossa carne
ingovernável e seus caprichosos anseios sejam sujeitados.”
-- Robert Chapman
Revista Betel
Legado
A Morte é o
Portão da Vida
33
I. Lilias Trotter
Insensatos! Oque semeia não
nasce, se primeiro não morrer.
1 Coríntios 15:36
H
ouve uma profunda
percepção nestas antigas palavras. Porque
o pensamento natural do homem a respeito da morte é
o de um triste fim, em degeneração
e decomposição. E ele está correto,
do seu ponto de vista, pois a morte,
como punição do pecado, é um fim.
Porém, é bastante diferente o
pensamento de Deus na redenção do
mundo. Ele toma a própria morte,
que entrou com a maldição, e a torna em caminho de glória. A morte se
torna um começo, em vez de um fim,
pois ela se torna o meio de liberação
de uma nova vida.
Assim sendo, a esperança que reside nessas lições de morte e vida em
forma de parábolas, tem significado
somente para aqueles que se voltam
em direção a Ele, para a redenção.
Para aqueles que não se voltaram, a
morte permanece inevitável, irrevogável, em toda a sua terrível sentença.
Para estes não há nenhum raio de luz
que venha através dela.
“A morte de cruz – a hora triun-
34
Legado
fante da morte – este foi o ponto
onde o portão de Deus se abriu. É
a este portão que nos achegamos
vez após vez, à medida que a nossa
vida se desenrola e é através dele que
passamos, ainda aqui na terra, para a
nossa jubilosa ressurreição, para uma
vida cada vez mais abundante, pois a
cada momento o morrer é ainda mais
profundo. A vida cristã é um processo de livramento de um mundo para
outro e a “morte”, como em verdade
tem sido dito, é o único caminho
para fora de qualquer mundo em que
estejamos”.
“A morte é o portão da vida”. É assim que ela é vista por nós? Temos
nós aprendido a descer uma vez e
outra ao amontoado das suas sombras, em tranquilidade e confiança,
sabendo que há sempre “uma melhor
ressurreição” além?
É nos estágios do crescimento
de uma planta, no seu
desabrochar, florescer, e na
produção de sementes, que essa
lição veio a mim; a lição da morte
em seu poder libertador. Ela
veio não como meras imagens
extravagantes, mas como uma das
muitas vozes com as quais Deus
fala, trazendo força e alegria do seu
Santo lugar.
Não podemos traçar o sinal da
Cruz na primeira insinuação da nova
aurora da primavera? Em muitos ca-
Revista Betel
sos, como no caso da castanheira, antes que uma única velha folha perca o
brilho, os brotos do ano seguinte podem ser vistos, no cume dos ramos
e dos galhos, formados à sua própria
semelhança; em outros, os brotos
das folhas parecem levar as suas marcas ao se romperem através da haste
vermelho cor de sangue. De volta aos
primeiros estágios da planta, o toque
carmesim deve ser encontrado nas
folhas com sementes, nos novos brotos e até mesmo nos brotos escondidos. Olhe para o fruto do carvalho,
por exemplo, quando ele quebra a
sua concha e veja como o broto da
árvore leva sua marca de nascença:
é o vermelho cor de sangue, através
do qual o aspecto do raio solar surge, saindo das trevas, e o sol nasce
saindo da noite. As próprias estrelas,
a ciência nos diz, reluzem com esta
mesma cor ao nascerem, no universo, das antigas estrelas que morrem
(Prof. Huggins).
Que seja também verdadeiro no
mundo da graça, assim como é na
natureza, que cada alma que entra na
verdadeira vida, leve no seu princípio
este selo carmesim; deve haver o “aspergir do Sangue de Jesus Cristo” individual. Que cada alma saia através
do Portão da Cruz.
E aqui está o indispensável. A
morte é o único caminho para fora
do mundo de condenação em que
Revista Betel
Legado
residimos. Encerrados neste mundo,
é vã qualquer batalha para sair dele
por esforço próprio; nada pode revogar o decreto: a alma que pecar, esta
morrerá. Ezequiel 18:4
A única escolha que resta é esta:
ou será a nossa própria morte sob a
antiga liderança de Adão, segundo
todo o significado que Deus dá a essa
palavra, ou será a morte de outro em
nosso lugar, sob a liderança de Cristo.
É quando chegamos ao
desespero, quando nos sentimos
35
imobilizados esperando a nossa
ruína, que a glória e a beleza
do caminho de escape divino,
amanhecem sobre nós, e nos
submetemos a Ele neste caminho.
Toda a resistência se quebra, à
medida que a fé se firma no fato:
Ele me amou e se entregou por mim.
Recebemos a expiação tão duramente ganha, e saímos para dentro da
vida, não somente perdoados, mas
purificados e justificados.
Extraído da revista À maturidade.
“Deus é amor, e aquele que tem aprendido a viver no Espírito de amor, tem aprendido a viver e
habitar em Deus”.
-- Andrew Murray
“Você não pode glorificar a Deus de uma forma melhor, do que tendo uma vida calma e
alegre. Se você está em dificuldades, não deixe ninguém ver que o problema toca seu espírito; ou
melhor, não deixe que ele aflija seu espírito. Descanse em Deus e mantenha-se em louvor a Ele”.
-- C. Spurgeon
“A alma tem de chegar ao ponto de descobrir que não existe nada em que ela possa se apoiar,
a não ser a profunda bondade de Deus”.
-- J.N. Darby
“Só de pensar em Ti, Jesus,
De doçura enche o meu coração;
Mas bem mais doce será ver a Tua face
E em Tua presença descansar!”
-- Bernard of Clairvaux
36
Legado
Dedicação a Deus
Revista Betel
Evan H. Hopkins
Rogo-vos, pois, irmãos, pela
misericórdia de Deus, que
apresenteis o vosso corpo
por sacrificio vivo, santo e
agradável a Deus.
Romanos 12:1
E
ntendemos que o crente
que aspira por santidade,
tenha sido levado diante
de Deus nesta integridade
de coração; que ele esteja pronto, mediante qualquer custo, a renunciar
tudo o que minimamente impede a
comunhão de sua alma com Deus.
Este estado de mente é essencial
para a verdadeira consagração. É vão
requerer a plenitude do Seu amor e
do Seu Espírito enquanto eu estiver
abrigando desejos ilícitos ou iniquidade em meu coração. Se eu no co-
ração contemplar a vaidade, o Senhor
não me teria ouvido (Sl 66:18). Não
haverá verdadeira Dedicação a Deus
enquanto estiver faltando sinceridade no coração; sem ela, o crente não
estará preparado para considerar o
tema da Dedicação a Deus.
Na Dedicação temos o ato de
apresentar o sacrifício, e o altar onde
o sacrifício é oferecido.
Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o
vosso corpo por sacrifício vivo, santo e
agradável a Deus, que é o vosso culto
Revista Betel
Legado
racional (Rm 12:1). Nesta palavra
“apresentar” traduzida como “oferecer” em Rm 6: 13-16-19 nós temos
o pleno significado de Dedicação.
Assim como a palavra “renúncia” expressa a ideia central de separação do
pecado, assim também nos “oferecer”
a Deus é a soma e substância do tema
que estamos agora considerando.
Deste modo, a palavra traduzida
como “apresentar” foi usada para descrever o ato de por o animal do altar
em brasas. Ela expressa o significado
de completa resignação à vontade de
Deus. Uma resignação que não hesita e que não retrocede mediante o
sofrimento, e que tampouco é perpassada por aflição autoimposta. A
vontade própria é submetida à Vontade de Deus.
Mas, quais são as características
deste sacrifício dedicado a Deus? Ele
tem que ser um sacrifício Vivo. Apresentar um animal morto como oferta
era uma abominação ao Senhor –
segundo a lei levítica. Deste modo,
agora, na Consagração, a oferta que
Deus requer não é uma alma “morta
em seus delitos e pecados”, mas uma
alma revificada pelo Santo Espírito, e que se tornou co-participante
da Vida de Deus através de Cristo
- “um sacrifício vivo”. Isto nós temos
que assumir plenamente. Estamos
nos dirigindo àqueles que encontraram Vida em Cristo, que creram
37
Nele para a justificação, àqueles que
viram a Sua suficiência.
Relembramos que o animal apresentado em sacrifício não devia ser
apenas vivo. A lei requeria que ele
não tivesse qualquer defeito. Se ele
fosse defeituoso, doente ou débil, não
podia ser apresentado ao Senhor. Ele
deveria estar vivo e saudável.
O que isto nos ensina? Seguramente isto aponta para o que é essencial para a verdadeira consagração.
Vida não é tudo o que Deus requer.
Todo crente é uma alma vivificada –
ele tem Vida em Cristo. Mas, todo
crente é uma alma saudável? A Vida
de Cristo está sendo manifestada
nele? Existe muito cristão enfermo,
cujo vigor espiritual foi destruído
como resultado da sua conformidade
com o mundo; carentes daquela integridade de coração, a qual, renuncia
o pecado em todas as suas formas.
No momento em que descartamos aquelas coisas que ofendem o
Espírito, a Nova Vida, manifestando
todo seu vigor, começa a preencher a
alma com saudável alegria, e então,
nos tornamos prontos para agradavelmente obedecer a exortação do
Apóstolo. O crente agora está pronto
– apresentado. Em Cristo e por Cristo, ele está judicialmente completo
diante de Deus. Mas, o Apóstolo está
exortando o crente a fazer em sua
vida aqui na terra, o que Cristo está
38
Legado
fazendo, agora, por ele no céu. Tem
que ser um ato pessoal e voluntário;
uma completa rendição de si mesmo
a Deus - em espírito, alma e corpo.
Mas como pode ser ele um sacrifício, santo e aceitável a Deus? Ele não
tem santidade em si mesmo! Ainda
que ele sinceramente renuncie todo
pecado, mesmo assim ele está cheio
de imperfeições – cheio de pecado.
Isto nos leva a considerar o Altar no
qual o crente é oferecido.
Quando pensamos de Cristo
como um sacrifício, então, o altar é
um tipo de Cruz na qual ele sofreu.
Mas, quando pensamos do crente
como uma oferta, o altar é Cristo.
Cristo, como oferta pelo pecado é o
nosso Substituto. Lá Ele está sozinho.
Mas, como oferta queimada, os Seus
membros são feitos semelhantes a Ele
- são feitos participantes Com Ele.
Então, sobre Cristo como altar, a
alma do crente é apresentada e, o altar é que santifica a oferta (Mt 23:19).
E o altar será santíssimo; tudo o que
o tocar será santo (Ex 29:37). É verdade que sob a lei, toda coisa assim
consagrada será santíssima ao Senhor
(Lv 27:28). Assim, o crente que apresenta a si mesmo como sacrifício vivo
a Deus é Santo e Aceitável Nele, em
razão dos méritos infinitos e das gloriosas perfeições do Divino Altar no
Revista Betel
qual ele é oferecido.
E o que é verdade quanto ao corpo como um todo, tem que ser verdade também em relação a cada membro deste corpo. O crente oferece
todos os seus membros a Deus como
instrumentos de justiça. Não somente
a si mesmo, mas cada um dos seus
membros. Oferecei-vos a Deus ... e
seus membros, a Deus, como instrumentos de justiça (Rm 6:13).
Todo instrumento, plenamente
separado do pecado, é agora dedicados a Deus. Os olhos, os ouvidos,
a boca, as mãos, os pés, são todos
postos no altar de Deus. Cristo nos
comprou e nos redimiu, por isso, não
somos mais de nós mesmos, mas Dele.
Ele agora mora Em nós pelo Seu
Espírito. Renda-se a Ele. Permita
que Ele, não somente esteja em você,
mas viva em você. Permita que Ele
olhe com os olhos Dele, fale com
Seus lábios, trabalhe com Suas mãos
e ande com Seus pés. Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do
Espírito Santo? (1Co 6:19).A necessidade desta renúncia de coração
de todo pecado conhecido, e a total
rendição ou dedicação a Deus, estão
entre os principais obstáculos à vida
de santidade em muitos daqueles
que acreditamos estarem preparados
para serem discípulos de Cristo.
Revista Betel
Legado
Uma Linha Escura
na Face de Deus
39
William MacCallun Clow
Que guarda a misericórdia
em mil gerações, que perdoa
a iniquidade, a transgressão
e o pecado, ainda que não
inocenta o culpado, e visita a
iniquidade dos pais nos filhos,
e nos filhos dos filhos até à
terceira e quarta geração.
Êxodos 34:7
C
ompaixão é a mais alta
qualidade moral que se
conhece. A história das
injustiças sofridas pelas
pessoas indefesas levam os homens
à mais elevada indignação moral.
Rumores da existência de fome em
qualquer lugar longínquo, levando-nos a pensar em rostos de homens
e mulheres esqueléticos e famintos
e no pranto de crianças desnutridas evocam a nossa benevolência. A
miséria do pobre nas ruas de nossas
grandes cidades, com a sua limitada
expectativa de vida, desperta a ternura no coração e a sensibilidade para
a questão social. O animal mudo,
sobrecarregado com um peso excessivo, sofrendo com os açoites do chicote, dissuade o mais ocupado dos
homens, constrangendo-o a reparar
o erro. O cristianismo tem em si um
aspecto favorito de Cristo. Isto é, a
compaixão de Jesus. (Mateus 14:14).
Esta piedade move-se como uma
onda em todos os nossos pensamentos. Ela influencia os homens
e mulheres na escolha de suas pro-
40
Legado
fissões. A cura do enfermo é o mais
reconhecido e o mais honrado de
todos os serviços. Compaixão é a
emoção dominante na literatura e
na arte. Os livros idílicos que levam
homens e mulheres às lágrimas são
vendidos aos milhares. A pintura
que apela à nossa ternura é visitada
por multidões. Em parte alguma a
influência desta prevalente têmpera
é mais evidente, nos seus mais amplos efeitos, do que na Teologia. “Ela
tem modificado os nossos conceitos
sobre Deus.” Os Homens, tal como
Moisés, quando ouvem o nome do
Senhor ser proclamado: Senhor,
Senhor Deus compassivo, clemente e
longânimo, e grande em misericórdia
e fidelidade; que guarda a misericórdia
em mil gerações, que perdoa a iniquidade a transgressão e o pecado, escutam
a mensagem com corações ansiosos e
com brilho nos olhos. Mas, quando
a voz continua, e diz: ainda que não
inocenta o culpado e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos
filhos, eles ficam assustados. Eles não
olham firmemente para este lado obsuro na face de Deus. Eles fixam seus
olhares para baixo, para a sua negligência dos dias passados, em que, na
estreiteza dos seus corações perceberam o caráter de Deus como se fosse
algo errôneo e imperfeito. Eles agora
se desviam do Deus de poder infinito e de pureza infinita, para declarar
Revista Betel
que Deus é somente piedade infinita.
Esta linha escura não pode ser
deixada de fora. É falso à razão e à
revelação, e é degradante ao caráter
de Deus apagar esta linha. Olhemos
para este fato nesta manhã. Primeiramente, podemos estar certos de
que é uma linha na face de Deus.
Em segundo lugar, entrando em seus
significados e, em terceiro, aprender
porque tantas mentes recusam ver a
sua verdade e se alegrarem com sua
beleza.
I
Então, para começar, considere a
prova desta linha escura; que não inocenta o culpado. Note-se, em princípio, como é claro o testemunho da
Escritura. No primeiro relato bíblico
no qual Deus tratou com o homem;
a história do Jardim, que prenuncia
todo o Seu amor e Graça, nós a vemos na face de Deus. Adão e Eva são
postos para fora do Éden e o anjo
com a espada flamejante guarda todas as vias que dão acesso à árvore
da vida. É a primeira declaração de
que Deus não irá, de modo algum,
inocentar o culpado. E novamente,
quando o dilúvio deixou a terra desolada, vemos a primeira visitação de
vingança à desesperada, impenitente
e deliberada corrupção. A história
nos é contada com uma notável sere-
Revista Betel
Legado
nidade. A cena que nos leva a refletir
sobre aquela irresistível e acelerada
avalanche arrebatando suas vítimas é
descrita em simples e poucas linhas.
É a ação de Deus que, por nenhum
meio, inocenta o culpado. Ou quando nos posicionamos onde Abraão
estava, no alto do monte olhando as
cidades na planície, e ouvindo o clamor delas e os seus pleitos a Deus,
vemos como ele subavaliou o fato
de que a face de Deus podia ser tão
determinada contra aqueles que
praticam o mal. Mas, a fumaça que
vai subindo de Sodoma e Gomorra,
obscurecendo o azul da manhã, essa
fumaça proclama esta linha escura a
Abraão.
Tomem-se os registros de julgamentos ao longo dos séculos: A
destruição dos corruptos cananitas,
os julgamentos severos dos juízes
semibárbaros, a escravidão e o exílio
do incrédulo Israel, sem falar das penalidades de Deus aplicadas a Esaú e
Saul e Davi - todas enfatizando esta
verdade inexorável; Aquela profecia
pronunciada por Jesus nos últimos
dias do Seu ministério, anunciando
a desgraça que cairia sobre a Cidade Santa que Ele amava, e sobre o
Templo que era a casa do Seu Pai;
Cristo na Cruz do Calvário foi o testemunho mais evidente da inescapável verdade de que, Deus por meio
algum inocenta o culpado, e visita a
41
iniquidade dos pais sobre os filhos.
As páginas da história registram
indelevelmente uma verdade sobre a
qual todos os historiadores seculares
estão certos: de que o castigo do julgamento não perdoa e não esquece
nada. Quando eles visitam as ruínas
dos Reinos do oriente que pereceram; quando contam a história do
declínio e queda dos orgulhosos impérios do ocidente - o esplendor da
Grécia, os restos da grande Roma,
os espólios da gloriosa França, eles
enfatizam a verdade de que não há
alívio para os que erram. Nas esferas
menores da vida esta verdade é também tanto evidente como também
apavorante. O médico que leva você
às partes internas de um hospital
pode permanecer em silêncio, mas
ele conhece as causas vergonhosas de
muitas das doenças que ele não tem
poder para curar. O magistrado pode
dizer a você do juízo que ele faz das
fontes de miséria e sofrimentos que
são lançadas diante dele como destroços em uma praia. Um professor
pode falar com discernimento sobre
a natureza do ultraje, da violação da
lei e da certeza da penalidade. O romancista e o moderno estudante que
examinam os desígnios de Deus e os
caminhos dos homens são mais enfáticos do que um professor cristão
quanto à terrível certeza da vingança.
Eles estão de tal maneira, dominados
42
Legado
por essa verdade natural, que ficam
cegos para outras que são leis de
Deus. Mas, passemos a uma situação
mais particular. O que significa aquela aguda e profunda dor que causa
humilhante impotência, que desafia
a mente e que provoca náuseas em
uma alma no caminho da santidade?
Pode ser impossível traçar um caminho às origens de toda impotência e
dor, mas, falando de modo mais claro, todo sofrimento é fruto de algum
pecado. A angústia, tal como um
anjo vingador, espreita a transgressão
com a sua sombra. O inocente neste
mundo, pelo fato da raça humana ser
uma unidade divina, frequentemente
sofre com a culpa. Muitas vezes um
duro golpe recai sobre aqueles que
não são responsáveis pelo erro. Violações da lei podem ser punidas até
mesmo por um erro. Os homens sobre os quais a Torre de Siloé desabou
não eram mais pecadores do que os
outros homens, mas o homem que
construiu a Torre com argamassa
inconsistente era o culpado. O homem que havia nascido cego, não cometeu pecado, nem tampouco seus
pais, mas em algum lugar, no curso
dos acontecimentos, uma lei foi quebrada. A criança que é introduzida
na vida em um corpo disforme, com
restrições mentais, obscurecida em
espírito, não cometeu nenhum pecado, mas a sua debilidade e sofrimen-
Revista Betel
to são provas terríveis de que Deus
não inocenta o culpado, e que visita a
iniquidade dos pais sobre os filhos e
sobre os filhos dos filhos.
Marcante no ensino de Jesus; Eu
não preciso incomodá-lo com referências ao ensino de Cristo aplicável
a esta vida. É difícil encontrar uma
parábola sem esta ênfase. Quando
Ele disse ao homem paralítico, não
peques mais, para que não te suceda
coisa pior, ele expressou a verdade em
uma frase inesquecível. Mas, os mais
convincentes e definitivos dizeres de
Jesus são aqueles que afirmam que
esta linha escura na face de Deus
continua nos dias vindouros. Ele expressa grave advertência a respeito
das trevas exteriores, do fogo eterno, da
porta fechada, do choro, do pranto e do
ranger de dentes. Você sabe como os
homens se afastam destas afirmações
decisivas; tiram conclusões precárias
de suas palavras e constroem esperanças tratando as Palavras de Cristo
de modo reticente.
A mente oriental procura no
Nirvana o refugio do medo intolerável em uma sucessão interminável
de vidas infelizes. Os pensadores
ocidentais têm procurado escapar
da poderosa mensagem de Cristo
formulando suposições inacreditáveis. Eles inventaram a doutrina do
purgatório; uma crença segundo a
qual, as chamas da dor e da triste-
Legado
Revista Betel
za podem aperfeiçoar os homens;
fato este que a disciplina e a Graça
de Deus falharam em fazê-lo aqui e
agora. Eles dizem que nas parábolas
de Cristo sobre julgamento, o fogo
inextinguível, o verme que nunca
morre, as trevas exteriores e o ranger
de dentes são somente figuras; que
são rudes representações usadas para
indicar verdades espirituais por meio
de imagens terrenas. Mas, esse tipo
de raciocínio é inútil. Elas são figuras, mas elas revelam significados.
Essas palavras declaram que a pena
espiritual é mais angustiante do que
qualquer dor material que possamos
conceber. Quanto mais transcendente for o poder de nossa imaginação,
mais severa poderá ser a mensagem
ao nosso coração. Qualquer um que
for honesto com o ensino de Jesus
verá que Ele estava afirmando que
Deus não pode, por nenhum meio,
inocentar o culpado. Não podemos
ter qualquer esperança de que Deus
será condescendente com o pecado.
II
Considere, em segundo lugar, os
significados desta linha escura na
face de Deus. Você já deve ter visto algum rosto humano no qual, à
primeira vista, havia traços severos e
desagradáveis. Porém, na medida em
que você tomou conhecimento dos
43
significados que estavam por trás daquelas linhas, elas deram àquele rosto uma força, uma distinção e charme. Essa linha escura faz com que
Deus seja maravilhosamente belo.
O seu primeiro significado é:
Sua justiça inflexível. Ela declara que
Deus não trata o erro com capricho
ou variações, não fazendo concessões
nem mesmo ao que lhe é mais caro.
Ela declara que Deus é inabalavelmente justo e imparcialmente justo
para com os homens. O desejo por
justiça é a mais profunda raiz do coração.
Você tem conhecimento do estado das pessoas que vivem governadas por tiranias? Qual é a primeira
necessidade daqueles que vivem
submetidos a esse tipo de governo
opressivo? O fraco é oprimido, o trabalhador defraudado, a viúva é despojada, a ovelha do homem pobre
lhe é confiscada para fartar a mesa
festiva do homem rico. A violência e
a extorsão ocupam as posições mais
elevadas. O assassino escapa ao julgamento. Os ricos corrompem a justiça. Em todos os lugares podem ser
vistas faces passivas e desesperadas
de homens que perderam o coração
e a esperança. O que eles querem?
Eles clamam por um juiz que julgue
com retidão; um juiz que não se deixa influenciar e que nenhum suborno possa seduzi-lo; um juiz que seja
44
Legado
inflexivelmente justo.
Você pode ouvir o eco do clamor do oprimido manifestado pelo
Salmista: alegrem-se os céus, e a terra exulte; ruja o mar e a sua plenitude. Folgue o campo e tudo o que nele
há; regozijem-se todas as árvores do
bosque, na presença do Senhor, porque vem, vem julgar a terra; julgará o
mundo com justiça e os povos, consoante a sua fidelidade. Salmos 96:11-13.
A verdadeira esperança da presença
Daquele que é inflexivelmente Justo
faz a natureza muda vocalizar a sua
alegria. Porquanto, as criaturas selvagens e mesmo a natureza muda
sofre, sob a injustiça tanto quanto o
homem.
Agora podemos olhar para aquela
linha escura e ver a sua beleza. Podemos ver que Justiça é o mais nobre
dos atributos em Deus; muito mais
do que uma generosidade. Podemos
ver que, mesmo a misericórdia não
é para ser exercida em prejuízo da
justiça. Porém, estejamos quietos,
tranquilos e reverentes porque Deus
é sobremaneira mais justo, e age segundo a sua perfeita justiça, e não
como o nosso coração indulgente ao
pecado poderia fazê-lo em sua débil
imparcialidade: Inocentar o culpado.
O seu segundo significado é: Sua
ira contra o pecado. As linhas de ira,
assim como as linhas de tristeza, não
se apresentam em curvas risonhas.
Revista Betel
A linha mais escura em um rosto
humano é aquela que vem carregada de cólera, aflição e tristeza. Não
é diferente com a face de Deus. Em
muitos rostos humanos podemos
ver marcas do amor ultrajado; são
marcas de ira inflamada e severa, por
isso, não podemos nos surpreender
com essa linha escura na face graciosa de Deus.
Você é um pai cujo filho caiu no
vício do alcoolismo? Você é uma
mãe que descobriu que a filha está
praticando secretamente e voluntariamente alguma transgressão? Talvez fosse mais satisfatório ver seus
filhos ainda em tenra idade numa
sepultura e sofrer solidão ao longo
da vida, do que ver a santidade deles
ultrajada pelos seus pecados. Quanto mais agradáveis são aquelas faces
que experimentaram tristezas diante
de sepulturas, do que aquelas que
tomaram conhecimento da vergonha
que provoca a flama da ira!
Sir Walter Scott representou essa
verdade em seu romance O coração de
mid-Lothian. Ele descreve as características graves e solenes de David Deans, como as de homens que falam
muito com Deus. Quando tomou
conhecimento dos fatos referentes
à sua filha, as linhas severas do seu
rosto evidenciaram muita angústia.
Ele manifesta esperanças de que ela
seja inocente do crime de que é acu-
Revista Betel
Legado
sada, mas quando as evidências aparecem de modo convincente, linhas
severas de ira santa são vistas na sua
face robusta. Homens que olhavam
para ele, ainda que com olhos desatentos, podiam entender o quanto a
ira pode ser sombria quando manifestada com tristeza e aflição. Para a
sua outra filha que temia falar com
ele em sua exasperada indignação,
ele diz: “Ela nos deixou porque não
era uma de nós; deixe que ela tome o
seu rumo. O Senhor se revela no Seu
próprio tempo. Ela é uma criança e
pode não suportar a solidão. Mas,
nunca mais pronuncie o seu nome
entre nós”. Nenhuma ira humana
contra o pecado, seja qual for a nobreza do coração que a sente, pode
se assemelhar à ira de Deus. Mas, ira
divina, no seu ponto mais elevado, se
assim podemos dizer, não pode por
qualquer meio inocentar o culpado.
O terceiro significado é: Seu desejo apaixonado por santidade. Aqui
temos o significado mais profundo.
Onde existe somente justiça e ira,
não há lugar para misericórdia e
cura, mas onde habita o apaixonado
desejo por santidade, há esperança
até mesmo para o pior dos homens.
O anjo com a espada flamejante não
é somente um anjo de vingança. Ele
é o anjo que sustenta as almas errantes e tentadas nos altos e austeros
caminhos, dos quais seus pés podem
45
se desviar. As águas do dilúvio não
somente pune o culpado. Elas purificam a terra para o povo de Deus.
Os Cananitas foram expulsos, não
somente por um ato de vingança às
suas sujas obscenidades. Deus queria um santuário ao Seu serviço. Esta
linha na face de Deus é mais escura
quando ela vê o pecado dos que são
Seus, em razão da sua paixão por
santidade. A expectativa exasperante diante da possibilidade de Seus
filhos caírem no pecado faz com que
apareça esse traço escuro na face de
Deus.
III
Agora, vamos aprender porque
muitos se recusam a ver a verdade e
a beleza dessa linha escura. A razão é
que uma das verdades predominantes do caráter de Deus é negligenciada – O que causa inquietação mais
profunda em Deus não é o sofrimento,
mas sim, o pecado. Sob o poder da dominante emoção da compaixão, nós
fixamos nossos olhos no sofrimento
de tal modo que, escapar e impedir
o sofrimento torna-se o principal
objetivo a ser realizado nesta vida
à favor do homem. Mas Deus não
trata sofrimento dessa maneira. Ele
não aflige voluntariamente e de bom
grado. Mas, se Deus desconsiderasse
o sofrimento, como os homens pen-
46
Legado
sam que Ele o faz, este mundo, com
os seus incessantes gemidos de dor e
sofrimento, seria incompreensível.
Quanto ao nosso pecado, Deus
faz muito mais do que apenas sentar
ao nosso lado e lamentar. Ele permite que o sofrimento continue, pois
ele faz com que a dor, a angústia e as
lágrimas sejam seus Ministros. Mas,
o pecado é um peso progressivo em
Seu coração, e o Seu rosto torna-se
cada vez mais escuro. Por isso, Ele
exerce toda sabedoria e todo amor
para remover a maldição do pecado
e destruir o seu poder. Se os homens
seguissem os caminhos do Senhor
em vez de estarem ocupados com os
pecados do mundo, os sofrimentos
deste mundo diminuiriam dramaticamente.
Existe um lugar, e apenas um lugar, onde há libertação de todas essas
coisas. Esse lugar chama-se Calvário.
Lá Deus viu o Seu filho enfermar até
a morte, mas não viu Nele nenhuma
palavra, nenhum gesto que denotasse
ira. Em lugar nenhum, a não ser na
Cruz, pode ser visto de modo mais
significativo e expressivo o fato de
que Deus, por nenhum meio, ino-
Revista Betel
centa o culpado. Em nenhum outro
lugar, a não ser no Calvário, pode ser
constatado de modo mais absoluto
o fato de que Deus visita a iniquidade dos pais nos filhos, porquanto
na Cruz Ele lançou os pecados dos
homens sobre o Filho do Homem.
Na Cruz nós vemos aquela linha
escura na face de Deus e entendemos
a Sua justiça, a Sua aflitiva ira e o
seu anseio apaixonado por santidade. Vemos o que o profeta, em uma
visão verdadeira, admiravelmente
descreveu: Na verdade, ele carregou nossas doenças, e nossas dores, ele
sofreu;contudo, nós o consideramos
culpado, castigado e afligido por Deus.
Mas ele foi ferido por nossas transgressões; esmagado por nossos pecados; a
disciplina que nos corrige recaiu sobre
ele, e por suas feridas somos sarados.
Isaías 53: 4-5.
Se não houvesse a linha escura na
face de Deus, não teria existido nenhuma Cruz. O que Jesus viu quando estava morrendo foi essa linha em
uma face amorosa, escurecida pela
ira ao pecado do homem.
Glasgow-Escócia (1908)- Traduzido por Dorival Zemunner.
“Como Deus se alegra com a alma que, rodeada de sofrimento e miséria, realiza na terra
aquilo que os anjos fazem no céu; a saber, ama, adora e louva a Deus!”
-- G. Tersteegen
47
Revista Betel
Associação Betel
A
Associação Betel é uma entidade juridicamente
organizada, sem quaisquer vínculos denominacionais ou fins lucrativos, mantida por recursos
advindos de colaboração espontânea de pessoas
que apóiam seus objetivos, cujo fim é viabilizar a pregação do
Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo.
Os objetivos da Associação Betel:
a) Apoiar missionários e pregadores (uma vez confirmados
em seus compromissos com a verdade do Novo Nascimento
pela nossa morte e ressurreição com Cristo) para a pregação
do Evangelho de Cristo;
b) Produzir e adquirir literatura e material evangelístico
para uso dos missionários e dos grupos por eles atendidos,
como: folhetos, livretos, estudos dirigidos, livros evangelísticos, Bíblias, fitas de áudio e afins;
c) Assistência Social, sempre vinculada ao Evangelismo,
pois “a fé sem obras é morta em si mesma”.
A Associação Betel é mantida por colaborações espontâneas de pessoas físicas ou jurídicas, que apóiam seus objetivos.
São basicamente pessoas regeneradas, contribuintes muitas vezes anônimos, mas que se fazem participantes da pregação, para que também outras pessoas, até mesmo por eles
desconhecidas, possam gozar da mesma graça e esperança.
São aqueles que compreendem com amor e dedicação as
Palavras do Senhor Jesus Cristo: “Indo por todo o mundo,
pregai o Evangelho a toda criatura”.
48
Revista Betel
CNPJ 72219207/0001-62
Produção:
Associação Betel
Diagramação e
fotos dos artigos
André Henrique Santos
Impressão
Idealiza Gráfica
REVISTA BETEL é uma publicação trimestral que visa a edificação dos cristãos. Contém artigos e estudos bíblicos centrados
na pessoa do Senhor Jesus Cristo. Esta publicação é sustentada
por doações voluntárias de irmãos em Cristo e distribuída aos
leitores gratuitamente.
Cartas ou e-mails podem ser enviadas ao redator da Revista
Betel:
ASSOCIAÇÃO BETEL DE
EVANGELISMO E MISSÕES
Rua Piauí, 211 - Sala 26/28
CEP 86010-420 - Londrina - Paraná
Fone (43) 3321-3488
www.assbetel.com.br
e-mail: [email protected]
Assinatura
Nome
Rua
ComplementoBairro
CEP
Cidade
Fone (res)
UF
Fone (com)
e-mail
Caro leitor, se você deseja contribuir com a divulgação desta revista, envie sua oferta
de amor para:
Associação Betel de Evangelismo e Missões
Bradesco / Agência 560-6 / Conta Corrente 89649-7
Banco do Brasil / Agência 3509-2 / Conta Corrente 4488-1