Marcel Duchamp

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Marcel Duchamp
Marcel Duchamp
Fonte: http://www.infopedia.pt/$marcel-duchamp
Marcel Duchamp, artista francês, precursor das tendências minimalistas e
conceptualistas da segunda metade do século XX
Data de nascimento
28-07-1887
Local de nascimento
Blainville, França
Data de morte
02-10-1968
Artista francês, Marcel Duchamp nasceu em 1887, em Blainville-Crevon, próximo
de Rouen. Entre 1904 e 1905 estudou em Paris, na famosa Academia Julian. A
partir de 1905 executou inúmeros desenhos humorísticos que foram publicados em
jornais como Le Courier Français, Le Rire, entre outros. Neste período participou
com trabalhos próprios no Salão dos Humoristas e, desde 1908, passou a expor
regularmente no Salão de outono e no Salão dos Independentes. Para além dos
desenhos, Duchamp realizou também aguarelas e pinturas alinhando pelos
princípios estilísticos do movimento impressionista, como o testemunha a tela
"Église à Blainville", datada de 1902. Posteriormente enveredou na tendência pósimpressionista de Paul Cézanne, realizando em 1910 o quadro "Portrait de
l'Artiste". Neste mesmo ano, Marcel Duchamp experimentou uma linguagem mais
livre, de registo fauvista, pintando então o retrato do Doutor Dumonchel.
Em 1911 o artista juntou-se aos irmãos, o escultor Raymond Duchamp-Villon e o
pintor Jacques Villon, desenvolvendo a atividade artística em conjunto e, no ano
seguinte, os três associaram-se ao grupo da Secção de Ouro (Section d'Or).
Influenciado pelos princípios estéticos do Cubismo e do Futurismo Italiano,
Duchamp realizou uma série de pinturas de grande originalidade, de entre as quais
se tornou particulamente famosa o "Nu descendant l'escalier", obra que teve duas
versões, uma realizada em 1911 e outra no ano seguinte e que procura introduzir
na imagem uma noção de movimento, de acordo com os pressupostos futuristas.
Esta pintura, que foi apresentada publicamente na exposição Armory Show de Nova
Iorque, em 1913, teve um efeito duplo: se por um lado escandalizou fortemente o
público, por outro, foi um importante meio mediático que contribuiu para a
internacionalização
do
seu
autor.
Nesta altura, o pintor Francis Picabia, que Duchamp conhecera em 1912, exerceu
uma
forte
influência
na
sua
produção
artística.
Em meados da década de 10 o artista realizou uma série de objetos que designou
por "Ready-Made", peças escultóricas constituídas por objetos banais que eram
esvaziados de função prática e retirados dos seus contextos habituais. O mais
famoso destes "Ready-made", que Duchamp assinou com o pseudónimo R. Mutt, é
a escultura "Fonte", realizada em 1917. Formada por um urinol de porcelana, esta
obra protagonizou novo escândalo aquando da sua apresentação pública numa
exposição.
Instalado nos Estados Unidos, Marcel Duchamp iniciou neste ano a publicação da
revista The Blindman que se ligou a um movimento emergente na Europa, o
Dadaísmo. Uma das pinturas mais conhecidas desta fase do artista é o quadro
"L.H.O.O.Q.", de 1919, que apresentava uma reprodução da Mona Lisa (do pintor
renascentista
Leonardo
da
Vinci)
com
bigodes
e
barbicha.
Na década de 20, Duchamp criou um conjunto de peças que denominou "Rotatives"
e "Rotoreliefs", através das quais aborda o tema da máquina inútil. A partir de 1927
juntou-se ao movimento surrealista, realizando um vasto conjunto de trabalhos de
entre os quais se destacam as cenografias para as exposições deste movimento
realizadas em Paris em 1938 e em 1947. Enquanto membro desta corrente,
Duchamp foi ainda responsável pela organização da mostraFirst Papers of
Surrealism,
apresentada
em
Nova
Iorque
em
1942.
Entre 1936 a 1941 o artista produziu inúmeras caixas, denominadas "Boîte en
valise", onde reuniu reproduções de pequena dimensão das suas principais obras,
distribuindo-as pelos seus amigos e, em 1946, realizou a sua última obra, após o
que
se
dedicou
com
inteira
paixão
ao
jogo
de
xadrez.
Marcel Duchamp morreu em Neuilly-sur-Seine, em 1968. A sua obra, bastante
original foi influenciada pelos principais movimentos estéticos de inícios do século,
constituindo igualmente inspiração para inúmeras correntes, tais como o dadaísmo
e o surrealismo. Desafiando continuamente todas as ideias tradicionais de arte
assim como os seus limites, a sua obra demonstra e proclama a importância da
ideia sobre o processo de execução, o que a torna precursora das tendências
minimalistas e conceptualistas da segunda metade do século XX.
Como referenciar este artigo:
Marcel Duchamp. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. [Consult. 2011-03-12].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$marcel-duchamp>.
ready made
O ready made nomeia a principal estratégia de fazer artístico do
artista Marcel Duchamp. Essa estratégia refere-se ao uso de objetos
industrializados no âmbito da arte, desprezando noções comuns à
arte histórica como estilo ou manufatura do objeto de arte, e
referindo sua produção primariamente à idéia.
Se se considera que a característica essencial do Dadaísmo é a
atitude antiarte, Duchamp será o dadaísta por excelência. De fato,
por volta de 1915, quando abandona a pintura, assume uma atitude
de rompimento com o conceito de arte histórica, que caracteriza
como "retiniana", expressão que remete, por um lado, à imediatez da
imagem, e, por outro, ao modelo de visão exteriorizado que
caracteriza a filosofia de Descartes, modelo que persiste ao longo dos
séculos XV, XVI e mesmo até o XIX com a invenção da Fotografia.
De fato, é a partir da década de 1960, com os chamados
neodadaistas (como Rauschemberg) e os artistas conceituais
(como Joseph Kosuth) que Duchamp e sua obra seriam resgatados do
limite do movimento dada para tornar-se uma influência sobre toda a
arte contemporânea, rivalizando assim com Picasso no papel de
maior artista do século XX.
O ready-made é uma manifestação ainda mais radical da intenção
de Marcel Duchamp de romper com a artesania da operação artística,
uma vez que se trata de apropriar-se de algo que já está feito:
escolhe produtos industriais, realizados com finalidade prática e não
artística (urinol de louça, pá, roda de bicicleta), e os eleva à categoria
de obra de arte.
O ready-made se caracteriza por uma operação de sentido que faz
retornar o literário ao problema da arte, contrariando a ênfase
modernista na forma do objeto artístico. O conceito de alegoria
retorna na forma de uma operação que a materializa concretamente.
E ao adotar tal operação de sentido, Duchamp termina por implicar
mais que a obra de arte; é necessário tratar de toda a constelação
estética que envolve a obra e da conjuntura de sentido que a produz,
mas também a que a sustenta e sanciona.
É o caso de "Fonte", de 1917. Apresentada no Salão da Sociedade
Novaiorquina de artistas independentes, constitui-se a partir de um
urinol invertido. A operação que o caracteriza é o deslocamento de
uma situação não artística para o contexto de arte. Tal operação é
marcada por sua apresentação como escultura e assinatura. À
inversão física do objeto corresponde a inversão de seu sentido, que
se espelha no corpo do espectador. Do mesmo modo, "Portagarrafas" (1914, readymade) e "Roda de bicicleta" (1913, readymade
assistido) tiram partido de um deslocamento e manipulação do objeto
para tornar o sentido de sua aparição crítico.
Ao longo de seu trabalho, Duchamp termina por qualificar a produção
de ready mades. A expressão se refere primariamente aos objetos
que não sofreram transformação formal. Na qualidade de objetos,
assim, de algum modo transformados, temos os Ready mades
ajudados, retificados, corrigidos e recíprocos, segundo o modo pelo
qual sua forma sofre interferência por parte do artista.
Como em outros casos, está implícito o típico propósito dadaísta de
chocar o espectador (o artista, o crítico, o amador de arte), choque
que caracteriza a atitude das vanguardas (que necessitam desse
choque para reformular o conceito de arte) e persiste frequentemente
na arte contemporânea. Mas o ready-made também evidencia sua
constituição em uma neutralidade estética, a partir da qual a
operação de sentido é proposta : o ready made inicia numa
"indiferença visual" : "...a idéia sempre vinha primeiro, e não o
exemplo visual", o que é, "...uma forma de recusar a possibilidade de
definir a arte." (em Entrevista com Pierre Cabanne)
Uma arte calcada no conceito, que se desenvolve a partir do
'encontro' (rendez-vous), ou seja, do achado fortuito, da blague que
dota o objeto de sentido de modo desinteressado, e que, assim, fará
com que a obra exista para qualquer sujeito do mesmo modo; em
relação àaesthesis, a sensação, o ready made se oferece como fato
estético no qual podemos incluir e elaborar nossas experiências, mas
que independe da categoria gosto.
Não por acaso, Duchamp afirmaria mais tarde que "será arte tudo o
que eu disser que é arte" - ou seja, todo acervo artístico que nos foi
legado pelo passado só é considerado arte porque alguém assim o
disse e nós nos habituamos a admiti-lo. Donde se conclui que La
Gioconda, de Da Vinci, ou O Enterro do Conde de Orgaz, de El Greco,
não seriam mais arte do que um urinol ou uma pá de lixo: todos
dependem de uma reconstituição atual de seu sentido (como
funcionamento da obra), e somente nesse funcionamento, do qual faz
parte o sujeito, é que a obra se justifica como arte. Isto é, além de
nos indicar que a arte precede e prescinde a maestria formal, o
readymade nos faz ver que o objeto deixa de ser arte no momento
em que deixa de propor, para si mesmo, novas interpretações — no
momento em que deixa de fazer um novo sentido.
Na literatura, notadamente na poesia, o ready-made também foi
praticado. Um exemplo concreto são diversos poemas do livro "Poesia
Pau-Brasil", do poeta brasileiro Oswald de Andrade, publicado em
1925, que simplesmente colocava textos prontos na página,
conhecidos, como trechos da carta de Pero Vaz de Caminha,
causando o mesmo estranhamento das obras de Duchamp.
A Fonte
"Fonte" ou "Urinol" do artista plástico francês Duchamp (1917)
Marcel Duchamp. Roda de bicicleta. 1913. Ready-made, madeira e metal,
altura 126 cm.
"Nu Descendo a Escada" (1912). Marcel Duchamp.
Marcel Duchamp. L.H.O.O.Q. 1919. Ready-made, retificado 20x 13cm.
Dadaísmo
Movimento literário e artístico que surgiu em 1916, em Zurique e em
Nova Iorque, como reação contra a guerra, e que pretendia abolir a
literatura e a arte tradicionais, preconizando a máxima liberdade na
relação do pensamento com a expressão literária ou artística, pelo
que, neste aspe(c)to, foi o antecessor do surrealismo
(Do fr. dadaïsme, «id.»)
No segundo número, que surgiu em Dezembro de 1919, a revista
berlinense "Der Dada" colocava aos seus leitores a questão «O que é
Dada?» e ao mesmo tempo sugeria uma série de respostas possíveis
e impossíveis, desde "uma arte" a "um seguro contra incêndios". E o
questionário acabava com outra pergunta: «Ou será que não é nada,
por
outras
palavras,
tudo?».
Este texto, retirado de Dadaísmo da autoria de Dietmar Elger,
publicado pela Taschen, coloca-nos perante a dúvida essencial
relacionada com este movimento vanguardista do início do século XX:
Há um limite para a arte? Pode a criação artística ser encarada como
um pássaro azarado que tenha nascido dentro de uma gaiola e
imagine serem as grades limite e possibilidade extrema da sua
liberdade?
Dietmar
Elger
prossegue:
O dadaísmo não era exclusivamente um movimento artístico,
literário, musical, político ou filosófico. Na realidade era todos eles e
ao mesmo tempo o oposto: anti-artístico, provocativamente literário,
divertidamente musical, radicalmente político mas anti-parlamentar
e,
por
vezes,
simplesmente
infantil.
O dadaísmo foi um movimento de ruptura e desalinho. Contra uma
Europa a rebentar pelas costuras numa guerra declarada entre
Estados-nação hostis, industrializados e armados até aos dentes,
envolvidos na guerra mais sangrenta de que, até aí, havia memória.
Refugiados em Zurique, na imparcial Suiça, entrincheirados no mítico
Cabaret Voltaire, os pioneiros do dadaísmo quiseram inventar uma
forma de expressão artística que se distanciasse da carnificina e da
ambição desmedida da sociedade industrial e capitalista que
conduzira
a
velha
Europa
à
beira
do
precipício.
Era necessário inventar um outro modo de ser humano na conjuntura
civilizacional do dealbar do século XX e foi esse o trabalho do
movimento
Dada.
Com
pleno
sucesso,
como
veremos.
PRIMEIRO
Hugo
MANIFESTO
DADÁ
Ball
Dadá é uma nova tendência da arte. Percebe-se que o é porque, sendo até
agora desconhecido, amanhã toda a Zurique vai falar dele. Dadá vem do
dicionário. É bestialmente simples. Em francês quer dizer "cavalo de pau" .
Em alemão: "Não me chateies, faz favor, adeus, até à próxima!" Em
romeno: "Certamente, claro, tem toda a razão, assim é. Sim, senhor,
realmente.
Já
tratamos
disso."
E
assim
por
diante.
Uma palavra internacional. Apenas uma palavra e uma palavra como
movimento. É simplesmente bestial. Ao fazer dela uma tendência da arte, é
claro que vamos arranjar complicações. Psicologia Dadá, literatura Dadá,
burguesia Dadá e vós, excelentíssimo poeta, que sempre poetastes com
palavras, mas nunca a palavra propriamente dita. Guerra mundial Dadá
que nunca mais acaba, revolução Dadá que nunca mais começa. Dadá,
vós, amigos e Também poetas, queridíssimos Evangelistas. Dadá Tzara,
Dadá Huelsenbeck, Dadá m'Dadá, Dadá mhm'Dadá, Dadá Hue, Dadá
Tza.
Como conquistar a eterna bemaventurança? Dizendo Dadá. Como ser
célebre? Dizendo Dadá. Com nobre gesto e maneiras finas. Até à loucura,
até perder a consciência. Como desfazer-nos de tudo o que é enguia e diaa-dia, de tudo o que é simpático e linfático, de tudo o que é moralizado,
animalizado, enfeitado? Dizendo Dadá. Dadá é a alma-do-mundo, Dadá é
o Coiso, Dadá é o melhor sabão-de-leite-de-lírio do mundo. Dadá Senhor
Rubiner, Dadá Senhor Korrodi, Dadá Senhor Anastasius Lilienstein.
Quer dizer, em alemão: a hospitalidade da Suíça é incomparável, e em
estética
tudo
depende
da
norma.
Leio versos que não pretendem menos que isto: dispensar a linguagem.
Dadá Johann Fuchsgang Goethe. Dadá Stendhal. Dadá Buda, Dalai Lama,
Dadá m'Dadá, Dadá m'Dadá, Dadá mhm'Dadá. Tudo depende da ligação
e de esta ser um pouco interrompida. Não quero nenhuma palavra que
tenha sido descoberta por outrem. Todas as palavras foram descobertas
pelos outros. Quero a minha própria asneira, e vogais e consoantes também
que lhe correspondam. Se uma vibração mede sete centímetros, quero
palavras que meçam precisamente sete centímetros. As palavras do senhor
Silva
só
medem
dois
centímetros
e
meio.
Assim podemos ver perfeitamente como surge a linguagem articulada. Pura
e simplesmente deixo cair os sons. Surgem palavras, ombros de palavras;
pernas, braços, mãos de palavras. Au, oi, u. Não devemos deixar surgir
muitas palavras. Um verso é a oportunidade de dispensarmos palavras e
linguagem. Essa maldita linguagem à qual se cola a porcaria como à mão
do traficante que as moedas gastaram. A palavra, quero-a quando acaba e
quando
começa.
Cada coisa tem a sua palavra; pois a palavra própria transformou-se em
coisa. Porque é que a árvore não há-de chamar-se plupluch e pluplubach
depois da chuva? E porque é que raio há-de chamar-se seja o que for?
Havemos de pendurar a boca nisso? A palavra, a palavra, a dor
precisamente aí, a palavra, meus senhores, é uma questão pública de
suprema
importância.
Zurique, 14 de Julho de 1916
Fonte: http://www.dadart.com/index.html

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