Saiba + - Irmãos Menonitas
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Saiba + - Irmãos Menonitas
Menno Simons Nascimento Morte 1496 1561 Witmarsum (65 anos) Saiba + até Irmãos Menonitas OBJETIVOS: O objetivo de Deus é a vida e a vida de Deus o objetivo. “Porque ninguém pode colocar outro fundamento além do que está posto, o qual é Jesus Cristo!” (1Cor 3:11) Irmãos Menonitas SAIBA + IRMÃOS MENONITAS Estudo para: Conhecimento e crescimento. 1 Sumário 1. Parâmetros: ...........................................................................3 2. MENNO SIMONS.................................................................3 3. Thomas Müntzer .................................................................10 4. Menno Simons: em vários pontos da doutrina .................12 5. anabatistas ...........................................................................51 6. pietismo ................................................................................55 7. Mennonitas ou Menonitas ..................................................58 8. Menonita Brasil a partir de: 1930 .....................................65 9. Peter Pauls, a nobre missão de educar ..............................83 10. Faculdade Fidelis.................................................................84 11. Escola Willy Janz ................................................................86 12. Colégio Erasto Gaertner .....................................................87 13. AMB – Associação Menonita Beneficente ........................88 14. Acampamento Bethel ..........................................................90 15. Colônia Witmarsum ............................................................91 16. + de 50 anos – Igreja Irmãos Menonitas de Witmarsum 93 17. A Cooperativa Witmarsum ................................................94 18. COBIM .................................................................................96 19. Missões: ................................................................................98 20. Menonitas além do Brasil .................................................102 21. Rembrandt .........................................................................102 22. Irmãos Menonitas Norte Americanos .............................104 23. Menonita Publishing Company .......................................106 24. Universidade Canadense Menonita .................................107 25. ICOMB ...............................................................................109 26. International Community of Mennonite Brethren ........109 27. MB Mission ........................................................................110 28. Conclusão:..........................................................................111 29. In English – Summarized Texts: .....................................113 SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 2 Parâmetros: Efésios 4:13 “Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo,” MENNO SIMONS RESUMO: Witmarsum, 1496 — 23 ou 31 de Janeiro de 1561 em Wüstenfelde em Bad Oldesloe. (*) Frísia: É uma província ao norte dos Países Baixos. Os Países Baixos são frequentemente referidos como Holanda SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 3 VIDA: Menno Simons, um sacerdote católico do povoado de Witmarsum, no norte da Holanda, aderiu ao movimento anabatista, defendendo uma postura pacifista. Em 1536 ele já tinha cortado todos os laços com a igreja Católica Romana e passou a ser perseguido. Em 1542, o imperador romano Carlos V prometeu 100 florins como recompensa pela captura de Menno. Ainda assim, ele conseguiu formar algumas congregações compostas de anabatistas, e não demorou muito para eles serem chamados de Menonitas. Com o as traduções e impressões de Bíblias nas línguas comuns da Europa do século 16, estimulou-se de novo o interesse no estudo da Bíblia que resultariam na Reforma e no Anabatismo. Alguns criam que uma pessoa tem de tomar uma decisão consciente antes de ser batizada para se tornar membro da congregação cristã, o que resultou no Anabatismo. Pregadores que aceitavam essa crença começaram a viajar pelas cidades e aldeias batizando os adultos. DEPOIS DE 1527 O anabatismo foi duramente perseguido na Suíça. Com o passar do tempo, os que não se integraram na Igreja Reformada, buscaram refúgio em áreas com maior tolerância religiosa, o que diminuiu muito o número de congregações anabatistas na Suíça. Alguns soberanos europeus acabaram aceitando de bom grado a vinda desses imigrantes religiosos para povoar seus países escassamente habitados. Os territórios de maior atração para os anabatistas foram o Palatinado, a Alsácia e a Morávia. Foi essa migração que possibilitou a sobrevivência do anabatismo e sua difusão para outras regiões da Europa, como os Países Baixos. Lá, desde o século XIV, havia uma forte tendência para uma reforma da Igreja. Diversos movimentos de reavivamento, como os sacramentários, a Devotio Moderna e os Irmãos da Vida Comum, prepararam o caminho para os refugiados anabatistas. Na Holanda, os anabatistas encontraram um líder religioso capaz de uni-los, o ex-padre católico Menno Simons. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 4 Relatos sobre a fundação da Igreja Menonita e impacto na vida de Menno Simons: No primeiro ano do sacerdócio de Menno, em 1525, o mesmo ano em que Conrad Grebel e sua irmandade fundavam a Igreja Menonita em Zurique (Suíça), uma séria dúvida começou a perturbar a vida frívola e despreocupada da sua cerimoniosa religião. Mas enquanto Menno lutava vigorosamente a boa batalha da verdade contra o erro dos Münsteritas, se introduzia cada vez mais profundamente num sério conflito interno. Ele havia se preocupado em resgatar as almas piedosas que discordavam da Igreja Católica, de envolver-se nas heresias dos Münsteritas, e unicamente lhes proporcionava algo melhor, não apareceria diante deles como um simples defensor e apoiador da Igreja Católica? E quando, seus amigos católicos usavam o seu nome e os seus argumentos para combater aos Münsteritas, não estava permitindo comparecer como aliado da manutenção do império das trevas na dita Igreja? Quanto mais êxito tinha em esmagar aos Münsteritas, tanto mais intolerável para a sua consciência se tornava a situação. O clímax do conflito se produziu quando sobreveio a tragédia da Velha Abadia próxima de Bolsward, onde cerca de três mil almas extraviadas perderam a vida, entre eles seu próprio irmão carnal. O grupo era um dos citados anteriormente, que estavam impregnados do veneno revolucionário dos Münsteritas e haviam decidido erigir a sua própria cidade em refúgio e começar a campanha para o estabelecimento do reino de Deus em Friesland. Em março de 1535, uma grande companhia de 3.000 pessoas havia se apoderado de um velho monastério (Oude Kloster) nos subúrbios da cidade de Bolsward, encerrando-se nele. Não puderam suportar por muito tempo o assédio das forças governamentais e depois que 1.300 haviam perecido, o resto foi capturado e executado em 7 de abril. O exemplo destas “pobres ovelhas extraviadas” como as chama Menno, dando seu sangue e a sua vida pela sua fé, apesar de ser uma fé falsa, produziu uma extraordinária impressão na alma de Menno Simons. “Se tivesse tido a valentia de chegar ao fim, renunciando a doutrina e práticas católicas, e constituindo-se no pastor dessas ovelhas errantes, talvez teria conseguido salvá-las por adverti-las da aproximação da tragédia. Sentia que o sangue deles caia sobre a sua consciência, queimando-o e fazendo-o ver o seu opróbio.” “O sangue dessa gente, dizia, tornou-se para mim uma carga tão pesada que não podia suportá-la nem encontrar descanso para minha alma”. Era verdade que SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 5 havia falado contra algumas das abominações do sistema papal, mas, no entanto não havia feito uma ruptura definitiva com todo o sistema. A tragédia da Velha Abadia colocou a Menno na encruzilhada; agora observava claramente o seu dever. Como servo de Deus não podia escapar da responsabilidade de guiar as ovelhas errantes, e como alguém que professava obediência e a crença em Deus, não devia vacilar mais e deveria tomar a cruz da perseguição e do sofrimento, qualquer que fosse o custo. Não podia continuar indo contra a sua consciência e convicções. E foi neste estado de ânimo que Menno se voltou à Deus com gemidos e lágrimas, clamando por graça e perdão, clamando por um coração puro e valentia para pregar o Seu santo nome e Palavra com toda a verdade. No relato da sua conversão Menno descreve a mudança de seu coração com as seguintes palavras: “Meu coração tremia dentro de mim. Rogava a Deus com lágrimas e gemidos que concedesse a mim, pobre e atribulado pecador, o dom da Sua graça, e que criasse um coração limpo dentro de mim pelos méritos do precioso sangue de Cristo, que perdoasse a minha vida ímpia e egoísta e me investisse de sabedoria, sinceridade e valor para pregar o Seu glorioso e bendito nome e a Sua santa Palavra sem adulterações e que manifestasse a Sua verdade e a Sua Glória”. A mudança foi tão profunda, radical e completa, e deu-lhe um sentido tal de sua divina missão, que foi capacitado pela graça de Deus para chegar a ser um líder inspirado, um formidável e forte torreão para o seu amargurado e perseguido povo, por mais de vinte e cinco anos. A LIDERANÇA DE MENNO SIMONS E AS COLÔNIAS ISOLADAS Menno, por seu estudo metódico da Bíblia, estava profundamente convencido da visão anabatista acerca dos sacramentos(*), em especial do batismo infantil. Essas convicções foram mantidas em silêncio e só foram reveladas após o desmantelamento do reino anabatista de Münster (*). Depois disso, ele decidiu se pronunciar publicamente a favor do anabatismo e liderá-lo. Sua liderança entre os anabatistas holandeses num momento crucial de sua história acabou por fazer com que os anabatistas adotassem a denominação de menonitas, para fugir da conexão existente entre o termo anabatista e o episódio de Münster, e também para fazer uma homenagem ao líder holandês. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 6 O novo líder conseguiu organizar os menonitas e mantê-los unidos com base exclusiva em sua lealdade para com Cristo e de seu amor de uns para com os outros. Essa vida de discipulado os separaria do mundo. Essa separação do mundo era aconselhada através do estabelecimento de colônias isoladas, autossuficientes, com pouco contato com o mundo exterior. Tal isolamento passou a ser mais e mais necessário em razão da perseguição sistemática que os menonitas sofriam. Regiões inóspitas e pouco povoadas foram sendo procuradas e colônias menonitas foram sendo estabelecidas, muitas vezes com o beneplácito dos soberanos dessas regiões, desejosos de povoar seus territórios com camponeses ativos, para aumentar a riqueza de seus domínios. Várias localidades da Europa acolheram refugiados menonitas, concedendo-lhes liberdade de religião, isenção de prestação de juramentos e de servir nos exércitos do rei. Regiões do centro e do leste da Europa, Prússia, Polônia e Rússia foram sendo ocupadas num período de quase trezentos anos, entre 1549 e 1763 (PENNER, 1995, p. 71). (*) sacramento: (sacramentum, em latim) // origem e significados amplos // Resumindo: uma concordância, um juramento, uma aliança sem dúvidas, uma manifestação consciente pública com testemunhas. No texto referindo-se ao batismo nas águas. Münster (*) Cidade: Atualmente é uma cidade no estado federal de Renânia do Norte-Vestfália, Alemanha. Derivado: O nome Münster é derivado da palavra monasterium (mosteiro em latim), em referência ao mosteiro fundado no ano 793 (d.C.). Pessoa: Alguns textos indicam o não o contato mas o conhecimento de Menno Simons com uma pessoa. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 7 O Texto de Menno Simons sobre Münster: “TO THE READER, Beloted Reader, we are falsely accused, by our opponents, of following the teachings of Munster, concerning the king, the sword, rebellion, retaliation, polygamy and other abominations. But my kind readers, know ye that I, never in my life, accepted any of the foregoing doctrines; but on the contrary, I have opposed them for more than seventeen years, and to the best of my abilities, have warned all mankind against this abominable error. I have also, through the word of God, led some on the right way. Never in my life have I seen Munster, nor have I been in the communion of that sect. I also hope, through God's grace, neither to eat nor drink with such (if such there are), as the scripture teaches me; unless they confess their error with all their heart, bring forth fruits meet for repentance, and follow the Gospel in the right manner.” MENNO SIMON. REFERÊNCIA: Princeton Theological Seminary Library TRADUÇÃO AO PORTUGUÊS: “PARA O LEITOR, Amado Leitor, somos falsamente acusados pelos nossos adversários, de seguir os ensinamentos de Munster, a respeito do rei, a espada, a rebelião, a retaliação, a poligamia e outras abominações. Mas meus caros leitores, não sabeis vós que eu, nunca na minha vida, aceitei qualquer uma das doutrinas anteriores, mas, pelo contrário, eu tenho me oposto a eles por mais de 17 anos, e com o melhor de minhas habilidades, alerto toda a humanidade contra este erro abominável. Eu também, por meio da palavra de Deus, encaminhei alguns no caminho certo. Nunca na minha vida vi Munster, nada tenho na comunhão daquela seita. Espero também que, pela graça de Deus, nem para comer nem beber com tal (se existem tais), como a Escritura me ensina, se não confessares seu erro com todo o seu coração, com produziras frutos dignos de arrependimento, e seguir o Evangelho da maneira correta.” MENNO SIMON. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 8 Sebastian Münster (1489 - 1552) foi um matemático e geógrafo alemão Münster lecionava na Universidade de Heidelberg (Alemanha), e na Universidade da Basiléia (Suíça). Era muito conhecido por ser o autor do livro Cosmografia Universal (1544), onde aparece a primeira descrição geográfica do mundo feita por um alemão. Em 1540, publicou a edição do livro de Ptolomeu, em latim, "Geografia, com ilustrações". + provável: Thomas Müntzer Nascimento: 1490 (523 anos) Stolberg, Alta Saxônia Morte: 27 de maio de 1525 (35 anos) Mühlhausen, Turíngia Nacionalidade: Alemão Ocupação: Teólogo Foi um dos primeiros teólogos alemães da era da Reforma, ele se tornou um líder rebelde durante a Guerra dos Camponeses. Müntzer virou-se contra Lutero com vários escritos contra Lutero, e apoiou os anabatistas. Na Batalha de Frankenhausen, Müntzer e seus seguidores foram derrotados. Ele foi capturado, torturado e decapitado. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 9 Thomas Müntzer Thomas Müntzer era um teólogo e jamais deixou de sê-lo, mesmo quando enveredou pela arriscada trilha da política revolucionária. Embora seja geralmente apresentado como um anabatista e líder dos camponeses rebeldes, a verdade é que Müntzer jamais demonstrou grande interesse pela questão do quando e como batizar (pedra angular do anabatismo) e sua participação efetiva na Guerra dos camponeses deu-se apenas no fim de sua vida, quando comandou o grupo de campônios massacrado em Frankenhausen. Malgrado sua retórica inflamada e revolucionária estabelecer muitos pontos de contato com a doutrina anabatista e as reivindicações sociais dos camponeses, Muntzer seguiu seu próprio caminho, pautado por interpretações apocalípticas da Bíblia, onde se via como um profeta empenhado em construir o Reino de Deus na Terra. Mas ao associar o advento desse Reino a uma radical reforma social, que eliminaria distinções e privilégios, ele se indispôs com as nobrezas católica e luterana - que disputavam o poder de definir os rumos da cristandade ocidental -, comprando uma briga que não podia ganhar. Quatro diferentes Thomas Müntzers sobreviveram na História: Para os protestantes ortodoxos, ele teria sido um típico anabatista que não fez outra coisa senão proclamar suas doutrinas de sectarismo radical. Para os anabatistas de Zurique, mesmo com ressalvas, ele era veraz e fiel mensageiro do Evangelho. Para os historiadores católicos romanos, Müntzer simplesmente operou dentro das inevitáveis consequências do individualismo protestante. Para os historiadores marxistas, ele pontificou como o grande ideólogo da Guerra dos Camponeses, o primeiro político cosmopolita. BIOGRAFIA: Thomas Müntzer nasceu na pequena vila de Stolberg, nas montanhas de Harz. Educou-se em Leipzig e Frankfurt an der Oder, obtendo o mestrado e completando o Bacculareus biblicus. Dominava o grego, o hebraico e o latim. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 10 Foi ordenado padre em 1513, tornando-se prepósito-confessor no convento feminino de Beuditz onde, com a segurança e a disponibilidade de tempo proporcionados por sua posição, passou mais de um ano estudando os livros de Flávio Josefo, a História Eclesiástica de Eusebius, Santo Agostinho, os Atos dos conselhos gerais, e os Atos dos concílios de Constance e de Basiléia. Em 1517, entrou em contato com a discussão que se acendia em torno do professor da Universidade de Wittenberg, Martinho Lutero. Até 1520, Müntzer trocou, por diversas vezes, o local de suas atividades, sendo que, nesse período, entre 1517 a 1520, tornou-se adepto da causa de Lutero, a quem conheceu, provavelmente, em 1519. Assim como Lutero, Müntzer passava, nessa época, por profundas dúvidas. Mas enquanto Lutero queria entender Deus, cheio de sentimentos de culpa e pavor, Müntzer desesperava-se por não possuir a Deus e o seu poder, martirizando-se com a questão se a doutrina de Cristo era, realmente, procedente de Deus. À semelhança de Lutero, Müntzer voltou-se para os místicos alemães, começando a ler as obras de Eckhart, Suso e Tauler. Na leitura desses livros, ele encontrou a afirmação de que Deus primeiro lança a todos os seus amigos na noite do desespero (assim como ele, Müntzer), antes de permitir que o seu sol brilhe sobre eles. Encontrou, ainda, a afirmação de que o eterno Deus se revela aos seus no mais profundo da alma, sem meios exteriores. Ou seja, que o homem pode sentir Deus e ter certeza absoluta Dele, e que, para isso, é preciso abandonar tudo o que não é Deus. Müntzer experimentara a "noite", mas faltava-lhe sentir Deus. Em 1520, com a recomendação de Lutero, foi indicado como pregador do evangelho na igreja de Santa Maria, em Zwickau, substituindo, temporariamente, o pastor Johannes Sylvius Egranus. REFERÊNCIAS: 1. R. Schenk, “Thomas Müntzer” in Marianlexikon, Eos St. Ottilien, Regensburg, 1992, :535 2. Bloch, Ernst. Thomas Müntzer - Teólogo da revolução. Rio de Janeiro: Biblioteca Tempo universitário, 1973, pp. 1-7. 3. Althaus, Paul. Luther und das Deutschtum. Leipzig 1917. 4. Gritsch, Eric. Reformer without a Church: Thomas Müntzer, Philadelphia, 1967 SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 11 5. Rexroth, Kenneth. Communalism: From Its Origins to the Twentieth Century. Seabury, 1974. 6. Bacharel em Bíblia, título que qualificava seu portador a ensinar a Bíblia. 7. Friesen, Abraham e Goertz, Hans-Jürgen. Thomas Müntzer. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1978, pg 16-30 8. Desde 1516, Lutero animava seus alunos e adeptos a que lessem as obras de Tauler e de outros místicos alemães. 9. Núcleo combatente dos Hussitas. Tinham por principal reduto a cidade de Tabor. 10. O Manifesto de Praga sobreviveu em quatro versões diferentes, escritas em Latim e em Alemão. Menno Simons: em vários pontos da doutrina Comentário: O que até agora indica, Menno Simons não estava buscando títulos, vivia em uma época de conflitos, guerras, escassez. Levando em consideração a enorme distância que era imposta entre nobreza, realeza e plebe. A própria complexidade degenerativa humana: Onde nasceu, o que aprendeu ou aprende, qual a tradição de sua própria família, as tradições da cidade, as tradições do seu estado, ou até mesmo do seu país. Perplexo com tantas barreiras precisou articular estratégias e definir as prioridades. Enfrentava a mediocridade e a enorme soberba da ganância dos poucos dominantes, que conscientemente preferiam manter muitos na pobreza, ignorância e escravidão. “Disse mais: Ora, não se ire o Senhor, que ainda só mais esta vez falo: Se porventura se acharem ali dez? E disse: Não a destruirei por amor dos dez. E retirou-se o SENHOR, quando acabou de falar a Abraão; e Abraão tornouse ao seu lugar.” Gênesis 18:32-33 SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 12 Traduzindo e facilitando os textos nos idiomas em que o povo era alfabetizado, quem sabe utilizando-os para alfabetizar. Dialogando de forma clara na língua nativa. MENNO SIMONS: ALGUNS DE SEUS TÓPICOS: A mudança foi tão profunda, radical e completa, e deu-lhe um sentido tal de sua divina missão, que foi capacitado pela graça de Deus para chegar a ser um líder inspirado, um formidável e forte torreão para o seu amargurado e perseguido povo, por mais de vinte e cinco anos. 1. A Autoridade das Escrituras 2. A Trindade de Deus 3. Cristo, Sua Divindade e Humanidade 4. A Encarnação 5. O Espírito Santo 6. O Pecado 7. A Expiação 8. Arrependimento 9. Fé 10. Justificação pela Fé 11. Regeneração - A nova vida 12. A Santidade da Vida 13. A Igreja 14. Separação do Mundo 15. Fraternidade Verdadeira 16. As Ordenanças 17. Batismo 18. A importância do Batismo SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 13 19. Batismo na infância 20. Salvação das crianças 21. O Erro da Regeneração Batismal 22. A Ceia do Senhor. (Santa Ceia). 23. Disciplina 24. Arrependimento no caso de Pecado Secreto 25. Chamada Missionária da Igreja 26. Não-resistência 27. O juramento dos juramentos 28. A pena de morte 29. Não conformidade com o Mundo 30. Liberdade de Consciência 31. Predestinação 32. Aperfeiçoamento 33. Novas Revelações 34. Educação superior 35. Ante Ocultamento 36. Atitude para com outras Denominações 37. Exemplos de consagração ao serviço do Senhor. 38. Trabalhando sob Dificuldades 39. Perseguição 40. Uma oração de Menno Simons 1. A Autoridade das Escrituras: Querido leitor: admoesto e aconselho-te que procures a Deus com todo o teu coração e não serás enganado, não dependa dos homens nem de suas doutrinas, não importa o quão antigas, santas e excelentes que sejam consideradas, pois os teólogos se contradizem entre si, tanto nos tempos passados como nos atuais. Baseie-se em Cristo unicamente e em Sua Palavra, no ensino seguro e prática de seus santos apóstolos e na graça de Deus, preservando-te de toda falsa doutrina e do poder do diabo e ande diante de Deus confiante e piedosamente. Esta santa Igreja Cristã tem somente uma doutrina: a Palavra de Deus pura, sem mistura e sem adulteração, o Evangelho da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Todo ensino e SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 14 mandamento que não concorde com a doutrina de Cristo, sejam eles ensinos e opiniões de doutores, mandamentos de papas, concílios ecumênicos ou o que for, não são mais do que ensinos e mandamentos de homens (Mateus 19:5) doutrinas diabólicas (1ª Timóteo 4:1) e portanto, malditas (Gálatas 1:8). Não ensinamos nem escrevemos, senão a Palavra pura e divina e os mandamentos perfeitos de Cristo Jesus e seus apóstolos. Visto que Gellius apela a Tertuliano, Cipriano, Orígenes e Agostinho, a minha resposta é, primeiro: se estes escritores podem apoiar o seu ensino com a Palavra de Deus e seus mandamentos, estou disposto a admiti-los. Do contrário é doutrina de homens, e maldita de acordo com as Escrituras. (Gálatas 1:8). Falamos a verdade e não mentimos. Se qualquer um, sob a abóbada celeste, pode demonstrar com as Sagradas Escrituras que Jesus, o Filho do Deus Altíssimo, a sabedoria e verdade eternas ao qual unicamente reconhecemos como o legislador e mestre do Novo Testamento, tenha ordenado uma só palavra a este respeito (Batismo Infantil), ou que seus santos apóstolos ou ensinaram ou praticaram, não será necessário recorrer a tortura nem a força para convencer-nos. Mostra-nos somente a Palavra de Deus a respeito e tudo terminará. Considero necessário e conveniente aconselhar aos meus bem amados leitores que não aceitem a minha doutrina como o Evangelho de Jesus Cristo até que tenham investigado por si mesmos e comprovado que concordam com o Espírito e Palavra do Senhor, assim a sua fé não estará fundamentada em mim ou em nenhum outro mestre ou escritor, mas unicamente em Jesus. 2. A Trindade de Deus: Cremos e confessamos com as Sagradas Escrituras que há um só eterno Deus, criador do céu e da terra, do mar e de tudo o que contém; um Deus a quem o céu e céu dos céus não podem conter, cujo trono é o céu e a terra o escabelo de Seus pés. Deus de deuses e Senhor de senhores, que é sobre tudo, poderoso, santo, terrível, digno de louvor e admiração; fogo consumidor; cujo reino, poder, domínio, majestade e glória são eternos e durarão para sempre ... E visto que é um Espírito tão grande, temível e invisível, também é inexplicável, inconcebível, indescritível. Neste único, eterno, onipotente, inefável, invisível, inexprimível e indescritível Deus cremos, e confessamos com as Sagradas Escrituras ser o eterno, incompreensível Pai com o seu eterno incompreensível Filho e com o seu eterno SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 15 incompreensível Espírito Santo. Confessamos que o Pai é verdadeiro Pai, o Filho verdadeiro Filho e o Espírito Santo verdadeiro Espírito Santo, não carnal e compreensível mas espiritual e incompreensível, pois Cristo disse: Deus é Espírito. (II:183). João disse: “Três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um.” Leia também Mateus 28:19; Marcos 1:8; Lucas 3:8; João 14:16;15:26; 1ªCoríntios 12:11. E ainda que são três, são um em divindade, vontade, poder e operação, e não podem ser separados um do outro, como sol, luz e calor; pois um não existe sem o outro. Queridos irmãos, declaro que antes prefiro morrer do que crer ou ensinar aos meus irmãos uma simples palavra concernente ao Pai, ao Filho ou ao Espírito Santo em desacordo com o expresso testemunho da Palavra de Deus, que tem sido tão claramente dado pela boca dos profetas, evangelistas e apóstolos. 3. Cristo, Sua Divindade e Humanidade: Cremos e confessamos que Jesus Cristo é o primeiro e Unigênito Filho de Deus, o verbo eterno e incompreensível, pelo qual todas as coisas foram criadas; o primogênito de toda criatura. (Colossenses 1:15). Que se fez homem real em Maria, a virgem imaculada, pelo Espírito e poder do Pai Eterno e Todo-poderoso, além da compreensão e conhecimento dos homens; enviado e dado a nós por pura misericórdia e graça de Deus; imagem manifesta do Deus invisível e resplendor da Sua glória. (Hebreus 1:3). E o incompreensível, inexprimível, espiritual, eterno e divino Ser, que é divinamente e incompreensivelmente Unigênito do Pai, anterior a toda criatura, cremos e confessamos que é Cristo Jesus o primeiro e Unigênito Filho de Deus, as primícias de toda criatura, a sabedoria eterna, o poder de Deus, a luz eterna, verdade e vida, o verbo eterno. Irmãos amados, entendam-me bem; tenho falado de sabedoria eterna, poder eterno. Porque assim como cremos e confessamos que o Pai é desde a eternidade e será por toda a eternidade, e que além disso é o Primeiro e o Último, também cremos e confessamos que a Sua sabedoria, Seu poder, Sua luz, Sua verdade, Sua vida, Seu verbo Cristo Jesus, tem sido desde a eternidade com o Pai e no Pai, visto que Ele é o Alfa e o Ômega. Do contrário, teríamos que confessar que este unigênito, incompreensível Ser verdadeiramente divino, Cristo Jesus, que os Pais da Igreja chamam de pessoa, pelo qual o Pai Eterno fez todas as coisas, teve SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 16 um princípio como toda criatura; ideia que todos os cristãos, consideram como blasfêmia, maldição terrível e abominação. Que possuía uma natureza humana real, tanto como divina, é demonstrado pelos fatos que evidenciam a realidade de sua natureza humana, sentindo-se faminto, sedento, fatigado, suspirava, sofria canseira, sofrimento e morte. Considerai, fiéis irmãos, apegue-se ao incompreensível nascimento de Cristo, Sua glória divina e numerosos, preciosos e claros testemunhos dos santos profetas, evangelistas e apóstolos, todos os quais com clareza e poder irrefutáveis testemunharam e indicaram a verdadeira e incompreensível divindade de nosso Senhor Jesus Cristo. Cremos e confessamos que Cristo Jesus com seu Pai Celestial são o verdadeiro Deus, pelo claro testemunho dos santos profetas, evangelistas e apóstolos. Afirmo que no que se refere a este incompreensível e sublime assunto, não tenho tido a nenhum sábio por conselheiro, mas que me baseio na Palavra do meu Deus, que me ensina claramente ... Apesar de que se humilhou a si próprio, por amor a nós, deixando de lado os seus divinos privilégios, direitos e majestade, continuou sendo Deus e o Verbo de Deus. Cristo é verdadeiro Deus e homem, homem e Deus. Reconheço ambas naturezas em Cristo, a divina e a humana. 4. A Encarnação: O Verbo se fez carne. Observe fiel leitor; assim como eu não compreendo ao Todo-poderoso, Único e Eterno Deus na sua natureza divina, no domínio da sua glória, na criação e preservação das suas criaturas, na recompensa do bem e do mal, e em muitas das suas obras, no entanto creio nele como tal e por esta razão: porque as Escrituras o ensinam; da mesma forma não posso compreender como, nem de que modo o Verbo Eterno se fez carne ou homem em Maria. No entanto devo crer que foi assim porque as Escrituras o ensinam. Visto que sabemos claramente que o Espírito Santo não nos revelou este mistério (o da Encarnação) nas Sagradas Escrituras de nenhuma forma, nem pelos profetas, nem pelos apóstolos, nem pelo próprio Filho, e já que está claro que não pode ser sondado pela razão... E por sua vez sabemos que pela história e encontramos em nossos dias que muitos entendidos ficaram perdidos nas trevas impenetráveis, aconselho a todas as almas piedosas que queiram andar diante de Deus com a consciência limpa, não especular a respeito deste inefável e indecifrável mistério da Divindade Eterna, nem SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 17 chegar a conclusões, assegurar, ensinar ou ir além do que o Espírito Santo nos tem ensinado e revelado na Sua santa Palavra. E portanto, declaro que não tenho a intenção de argumentar sobre este ponto inexplicável, mas que quero seguir a Palavra de meu Deus que é completamente clara a respeito. 5. O Espírito Santo: Havendo concretizado e confessado a nossa fé e doutrina da divindade de Cristo, trataremos agora com a ajuda de Deus, de expor em poucas palavras a nossa fé e doutrina do Espírito Santo. Os temerosos de Deus julgarão. Cremos que o Espírito Santo é um Espírito Santo Pessoal, real ou verdadeiro, no sentido divino, assim como o Pai é verdadeiro Pai e o Filho verdadeiro Filho; cujo Espírito Santo é (em sua natureza) incompreensível, indescritível e inexprimível, como testemunhamos a respeito do Pai e do Filho. É divino em Seus atributos, procede do Pai por meio do Filho, ainda que sempre permaneça com Deus e em Deus, e que nunca está separado em Sua natureza do Pai e do Filho. A razão pela qual confessamos que é uma pessoa real e verdadeira é porque as Escrituras assim o ensinam. Ele nos guia a toda verdade, Ele nos justifica; nos limpa, santifica, pacifica, consola, reprova, anima e assegura. Ele dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. SIM, irmãos, pelas Escrituras tão explícitas, testemunhos e referências e muitos outros textos que seria demorado enumerar, mas que devem ser procurados e lidos nas Sagradas Escrituras, cremos que o Espírito Santo é o verdadeiro Espírito de Deus, que nos completa com os Seus dons celestiais e divinos, nos livra do pecado, nos anima, pacifica, consagra, satisfaz os nossos corações e mentes, e nos torna Santos em Cristo. 6. O Pecado: Assim como Adão e Eva foram contaminados e envenenados pela serpente infernal e se tornaram pecadores por natureza e ficaram sujeitos a eterna perdição, se Deus, por meio de Jesus Cristo não os tivesse recebido novamente na graça (depois que fizeram sua a promessa de Gênesis 3:15) como afirmava mais acima, todos nós, seus descendentes, somos por natureza pecadores de nascimento, envenenados pela serpente, inclinados ao mal e por nossas própria natureza inerente SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 18 somos filhos do inferno. Não podemos salvar-nos dele (falamos dos que, chegados a idade do discernimento, cometem pecado) a menos que nós, por uma fé real e não fingida aceitemos a Cristo Jesus, o único e eterno meio de graça; e assim com os olhos da mente olhemos para a serpente de bronze, que fora levantada por Deus nosso Pai celestial como sinal de salvação para nós, pecadores miseráveis e contaminados. Porque fora dele e sem ele, não há salvação possível para as nossas almas, nem expiação, nem paz, mas somente desgraça, ira e morte por toda a eternidade. Aonde quer que estes dois, a saber, o pecado original (a mãe) e o pecado atual (os frutos) tenham evidência e poder, não haverá perdão e nem promessa de vida, mas que estarão sujeitos a ira e morte, salvo no caso de arrependimento, como ensinam as Escrituras. Para que o pecado original perca o seu poder sobre nós e para que os pecados atuais sejam perdoados, temos que crer na Palavra do Senhor, nascer de novo pela fé e com a força deste novo nascimento por meio do verdadeiro arrependimento, resistir ao pecado inato, morrer para com os pecados atuais e estar espiritualmente alerta. Não conhecia a minha verdadeira condição até que me foi revelada por Teu Espírito. Eu acreditava que era cristão, mas quando me examinei cuidadosamente, comprovei que era completamente mundano, carnal e sem a Tua Palavra; então aprendi a conhecer, assim como Paulo, a minha cegueira, nudez, imundice, natureza depravada, e que nada de bom residia na minha carne. 7. A Expiação: Creio, que este bem pode ser chamado de Evangelho da alegria e boas novas para todas as almas convictas e aflitas, que por meio da lei chegaram ao conhecimento de seu pecado e sabem que estão em perigo da morte eterna; que tremem diante da justa ira e juízo de Deus, já que o Todo-poderoso e Eterno Deus e Pai amou de tal maneira a nós, pobres, desagregáveis pecadores, que tanto havíamos nos afastado dele e que de acordo com o seu justo juízo estávamos destinados a morte eterna, que mandou ao mundo o seu Todo-poderoso e Eterno Verbo, seu único, eterno e amado Filho, o esplendor de sua Glória, em forma de simples mortal, semelhante a Adão antes da caída, como prova e meio de sua graça, o qual, mediante a Sua perfeita justiça, obediência voluntária e morte inocente nos levou do domínio de Satanás para o reino da Sua divina graça e eterna paz. Por toda a eternidade não se encontrará outro remédio para os nossos pecados, nem no céu SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 19 e nem na terra; nem nas obras, méritos e ordenanças (nem ainda nas que são observadas de acordo com as Escrituras na lei) nem perseguição, nem tribulação, nem o sangue inocente dos santos, nem anjos, nem homens, nenhum outro meio, mas unicamente o imaculado sangue do Cordeiro, o qual, pela graça, misericórdia e amor, foi derramado uma vez para remissão dos nossos pecados. Todos eles procuram algum remédio para os seus pecados, mas não reconhecem a Cristo, o único remédio verdadeiro; imaginaram e inventaram tantos, que não podemos contálos nem descrever a todos eles: tais como as indulgências romanistas, água benta, jejuns, confissões, missas, peregrinações, batismo infantil, pão e vinho, etc. Querido leitor; falamos à você a verdade em Cristo: pode acreditar, fazer, esperar e procurar aonde e o que quiser, estamos certos que por toda a eternidade não encontrará outro remédio para os teus pecados que sejam válidos diante de Deus, a não ser este que acabamos de mostrar-lhe, o qual é Cristo Jesus, a menos que toda a Escritura seja errônea e falsa. Portanto, aqueles que procuram outro meio de salvação, não importa quão santo que possa parecer, fora do único meio providenciado pelo próprio Deus, negam a morte do Senhor, que padeceu por nós, e seu inocente sangue que foi derramado por nós. Não há outro remédio para o pecado, senão o sangue precioso de Cristo; nem obras, nem méritos, nem batismo, nem ceia (ainda que sabemos que os verdadeiros cristãos praticam estas cerimônias em cumprimento da Divina Palavra) de outro modo, o que conseguimos mediante os méritos de Cristo é atribuído aos elementos e criaturas. As ordenanças cristãs são sinais de obediência, por meio da qual se exercita a nossa fé. Entendemos que o novo nascimento se produz por meio da Palavra de Deus. (Romanos 10:14; 1ªCoríntios 4:15; Tiago 1:18; 1ªPedro 1:23). 8. Arrependimento: Eis aqui, amado leitor, o arrependimento que ensinamos, a saber: morrer quanto a antiga vida pecaminosa e não viver mais de acordo com as concupiscências da carne, mas fazer o que Davi fez. Quando foi reprovado pelo profeta por causa de seu pecado, chorou amargamente, clamou a Deus, se afastou do pecado e não voltou a cometê-lo nunca mais. Pedro pecou gravemente somente uma vez. Mateus, depois da sua chamada não voltou para a sua antiga vida. Zaqueu e a mulher pecadora não voltaram a tornar-se culpáveis das obras impuras das trevas. Zaqueu fez a restituição SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 20 do que havia defraudado e enganado e deu aos pobres e desamparados, a metade dos seus bens. A mulher chorou amargamente e lavou os pés do Senhor com as suas lágrimas, o ungiu com unguento precioso e se assentou humildemente a seus pés para escutar a sua bendita palavra. Estes são os verdadeiros frutos do arrependimento que é aceitável ao Senhor. Este arrependimento ensinamos e não outro, a saber: que ninguém pode gloriar-se da graça de Deus e do perdão de seus pecados e dos méritos de Cristo, enquanto que os verdadeiros frutos do arrependimento não se produzirem em sua vida. Não é suficiente que digamos que somos filhos de Abraão, quer dizer, que levamos o nome de Cristãos, mas que devemos fazer as obras de Abraão (João 8:39). Temos que andar como todo verdadeiro filho de Deus, que é guiado e ordenado pela Palavra de Deus, como disse João: “Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em trevas, mentimos, e não praticamos a verdade. Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado”. (1ªJoão 1:6-7). Mas se quiser se arrepender e se confessar sinceramente, e receber a verdadeira absolvição de Deus, aproxime-se dele com o coração confiante, penitente, contrito, com a alma dolorida e amargurada; esqueça o pecado, faça o que é justo e reto ao teu próximo, ame, ajude, sirva, reprove e conforte como deve. E se pecou contra ele, ou se alguma vez o tenha prejudicado de alguma forma, confessa-o e dê a ele satisfação. Porque esta é a verdadeira confissão auricular e penitência ensinada na Palavra de Deus. 9. Fé: A verdadeira fé que tem valor diante de Deus é um poder vivo e salvador, que por meio da pregação da santa palavra é conferida por Deus ao coração, mudando-o, transformando-o e regenerando-o. Destroem toda maldade, vaidade, ambição pecaminosa e egoísmo, nos tornando como crianças para com a malícia, etc. Esta é a fé que as Escrituras nos ensinam, e não uma vã, morta e infrutífera ilusão, como o mundo imagina. Sim, querido leitor, a verdadeira fé cristã, como as Escrituras a requerem, é tão viva, ativa e forte em todos aqueles que por meio da graça de Deus a obtiveram, que não vacilam em abandonar pai, mãe, esposa, filhos, fortuna e posses pelo testemunho e Palavra do Senhor. Estão dispostos a suportar todo tipo SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 21 de escárnios, desgraças, privações e prisões, e finalmente a que seus frágeis corpos sejam queimados na fogueira como vemos que frequentemente ocorre com piedosos filhos de Deus e fiéis seguidores de Cristo, especialmente nestes nossos Países Baixos. É certo que a fé realiza tudo plenamente, sendo que Deus não pode faltar com as suas promessas, mas que as cumpre, pois Ele é a verdade e não pode mentir, como está escrito, por isso é que a fé torna aos crentes generosos, otimistas e alegres no Espírito, ainda que estejam confinados em prisões e cadeias ou sofram a morte por água, fogo ou espada. Porque a fé coloca em seus corações a segurança que Deus não faltará com as suas promessas, mas que as cumprirá no seu devido tempo. Creem em Cristo, no qual a promessa tem sido confirmada, reconhecem por intermédio dele, a sua graça, palavra e vontade, apesar de terem vivido em tempos passados tão impiamente e de acordo com a carne. Não, leitor amado, não cremos que a fé tenha valor por si mesma, de nenhuma maneira, mas que o beneplácito de Deus uniu a sua promessa com a verdadeira e genuína fé por meio da palavra. A fé salva não por seus próprios méritos, mas pela promessa que traz consigo. Observe que a verdadeira fé Cristã por meio da graça, é a única fonte da qual fluem não somente uma vida nova, mas obediência para com as cerimônias evangélicas tais como o batismo e a Ceia do Senhor; não como uma imposição da lei, pois o cetro da opressão está destruído, mas pelo espírito submisso e voluntário do amor, o qual, a semelhança da natureza de Cristo está disposto e ansioso para toda boa obra em obediência quanto a santa e divina Palavra. 10. Justificação pela Fé: Aqueles que confiam em suas obras ou cerimônias para obter a salvação, negam a graça e méritos de Cristo. Porque se a reconciliação consistisse em obras e ritos, a graça seria desnecessária e os méritos e virtude do sangue de Cristo, seriam vãos. Oh, não! É graça e será graça por toda a eternidade o que o misericordioso Pai fez mediante o Seu amado Filho e Espírito Santo, por nós, pobres pecadores. O fato de que fugimos das obras pecaminosas e desejamos amoldar-nos dentro da nossa imperfeição a sua Palavra e mandamentos, se deve a que Ele tem ensinado, e requer isto de nós. Porque qualquer um que não andar de acordo com a sua SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 22 doutrina, mostra pelas suas obras que não crê nele e não o conhece, e que não está na comunhão dos santos. (João 15:7;1ª João 3:10; 5:10; 2ªJoão cap.6). Ensinamos enfaticamente que não poderemos ser salvos nem agradar a Deus por obras externas, não importa quão grandes e boas pareçam, pois em todo caso estão sujeitas a imperfeição e debilidade e considerando a corrupção da carne não poderemos, por seu intermédio, conseguir a justificação requerida nos mandamentos. Manifestemos, portanto, somente a Jesus Cristo que é a nossa única e eterna justificação, reconciliação e propiciação com o Pai, e não confiemos nas nossas próprias obras. Leitor meu, escrevo a verdade em Cristo e não minto. Observe leitor amado, que não cremos nem ensinamos a salvação pelas nossas obras e méritos, como os nossos antagonistas nos acusam sem nenhum fundamento, mas somente por graça, por meio de Cristo Jesus como já foi dito. 11. Regeneração - A nova vida: O novo nascimento não consiste certamente em água nem em palavras, mas é o poder vivificante e celestial de Deus em nossos corações que provém dele, e mediante a pregação da palavra divina, se a aceitamos por fé, comove, penetra, renova e transforma o nosso coração, de tal maneira que somos trasladados da infidelidade para a fé, da injustiça para a justiça, do mal para o bem, da carnalidade para a espiritualidade, do terreno para o celestial, da natureza pecaminosa de Adão para a natureza santa de Jesus. Todos aqueles que aceitam por fé esta graça de Cristo, que é pregada pelo Evangelho, e se apropriam dela de todo o coração, são novamente nascidos de Deus pelo poder do Espírito Santo. Seus corações e mentes são transformados e renovados; são transferidos de Adão para Cristo. Andam em nova vida como filhos obedientes na graça que lhes é oferecida. São renovados, tenho falado; se tornam pobres em espírito, mansos, misericordiosos, compassivos, pacifistas, pacientes, famintos e sedentos, prosseguindo com bastante empenho por meio de boas obras atrás da vida eterna; porque creem, são nascidos de Deus, estão em Cristo e Cristo neles; participam de seu Espírito e natureza e portanto, vivem pelo poder de Cristo que está neles, de acordo com a Palavra do Senhor. Isto é o que significa, de acordo com as Escrituras, crer, ser cristão, estar em Cristo e Cristo em nós. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 23 Deus não procura palavras nem aparências, mas poder e obras. Crê que é suficiente conhecer a Cristo de acordo com a carne? Ou somente dizer que pela justiça, estão prontos para sofrer pela verdade? Crê nele, que sois batizados e Cristãos e que sois comprados pelo sangue e morte de Cristo? Ah, não! Eu tenho falado e repito; terão que ser nascidos de Deus, e a vossa vida mudada e convertida de tal maneira, que sereis novos homens em Cristo, que Cristo esteja em vós e vós nele, ou nunca podereis ser cristãos, pois “Se alguém está em Cristo, nova criatura é.” Mas primeiramente, se querem ser salvos, a vossa vida terrena, carnal e ímpia, deve mudar. Porque as Escrituras, com todas as suas admoestações, ameaças, reprovações, milagres, exemplos, cerimônias e ordenanças, não ensinam outra coisa a não ser arrependimento e nova vida. E se não se arrepender, não haverá nada no céu e nem na terra que possa ajudá-los, pois sem o verdadeiro arrependimento, toda consolação é vã. Temos que nascer do alto, ser mudados e renovados em nosso coração, e assim ser trasladados da injusta e pecaminosa natureza de Adão para a justa e santa de Cristo, ou não poderemos ser auxiliados por toda a eternidade por nenhum meio, seja divino ou humano. A regeneração da qual escrevemos, e da que surgem vidas piedosas e contritas, possuidoras da promessa, se efetua somente pela pregação da Palavra do Senhor se for ensinada corretamente e recebida no coração por meio da fé e do Espírito Santo. 12. A Santidade da Vida: A verdadeira fé evangélica é de uma natureza tal que não pode permanecer inativa ou vã; sempre manifesta o seu poder. Assim como, devido a sua natureza o fogo não produz senão chamas e calor, o sol calor e luz, a água humidade e a boa árvore, bons frutos de acordo com as suas propriedades naturais, assim também a verdadeira fé evangélica produz frutos evangélicos em concordância com a sua verdadeira, boa e pura natureza evangélica. Os verdadeiros crentes mostram em suas vidas e ações que creem, são nascidos de Deus e guiados espiritualmente. Levam uma vida humilde e piedosa diante dos homens, são batizados de acordo com os mandamentos do Senhor, como prova e testemunho de que seus pecados tem sido apagados pela morte de Cristo e que SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 24 desejam andar com Ele numa nova vida; compartilham o pão da paz com os seus amados irmãos, como prova e testemunho de que são um com Cristo e com sua Igreja e que não tem e nem conhecem outro meio de graça e de remissão de pecados, nem no céu, nem sobre a terra, senão no corpo inocente e no sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, os quais somente uma vez, por seu Espírito Eterno e em obediência ao Pai, ofereceu e verteu sobre a cruz por nós, pobres pecadores. Os verdadeiros cristãos vivem em todo amor e misericórdia, ajudam ao seu próximo, etc. Enfim, ordenam as suas vidas, dentro da sua imperfeição, de acordo com as palavras, mandamentos, ordenanças, espírito, regras, exemplo e medida de Cristo, como as Escrituras ensinam, pois estão em Cristo e Cristo neles. E portanto, não continuam com a antiga vida pecaminosa herdada do Adão terreno (com exceção da própria debilidade humana) mas na nova vida de justiça que é pela fé, proveniente do segundo Adão Celestial, Cristo; como disse Paulo: “Vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim”. (Gálatas 2:20). E Cristo disse que aqueles que o amam, guardarão os seus mandamentos. (João 14:15). Além disso, ensinamos o verdadeiro amor e temor de Deus, o verdadeiro amor ao próximo, a servir e ajudar ao necessitado e a não ofender a ninguém; a crucificar a carne e os seus desejos e concupiscências; a despojar o coração, boca e o corpo inteiro de todo pensamento impuro, palavras e ações inconvenientes, com a espada da Palavra divina. Considere agora se não é esta a vontade de Deus, a verdadeira doutrina de Jesus Cristo, o uso correto de suas ordenanças e a verdadeira vida, a qual é de Deus, ainda que se oponham a ela insistentemente todas as portas do inferno. Por outro lado, os pensamentos daqueles que são cristãos de verdade, são puros, castos, suas palavras são verazes e temperadas com sal; para eles o sim é sim e o não é não, e suas ações estão inspiradas no temor de Deus. Seus corações são celestiais e renovados, sua alma pacífica e alegre; procuram a justiça com todo empenho. Enfim, tem por meio do Espírito e Palavra de Deus, uma segurança tal de sua fé, que podem por meio dela afrontar a sangrentos e cruéis tiranos com todas as suas torturas, prisões, exílios, despojos de propriedades, armadilhas, fogueiras, carrascos e tormentos; e com verdadeiro zelo divino, com puro e inocente coração, com um simples sim e não, estão dispostos a morrer. A glória de Cristo, a doçura da sua Palavra, a salvação de suas almas, são mais preciosas para eles do que todas as outras coisas abaixo do céu. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 25 13. A Igreja: Os verdadeiros mensageiros do Evangelho, que são um com Cristo em espírito, amor e vida, ensinam o que lhes tem sido confiado por Ele; a saber, o arrependimento e o pacífico Evangelho da graça que Ele próprio recebeu do Pai e pregava no mundo. Todos quantos o ouvem, creem, aceitam e cumprem como é devido, tornam-se parte da Igreja de Cristo, a verdadeira e fiel Igreja Cristã, o corpo e a noiva do Senhor, a arca de Deus, etc. Eles são os eleitos para proclamar o poder daquele que os chamou das trevas para a sua luz admirável. A Igreja de Cristo é composta dos eleitos de Deus, seus santos e amados, que lavaram suas roupas no sangue do Cordeiro, que são nascidos de Deus e guiados pelo Espírito de Cristo, que estão em Cristo e Cristo neles, que ouvem e creem na sua Palavra, vivem, dentro da sua fraqueza, de acordo com seus mandamentos e com paciência e mansidão seguem as suas pisadas; que odeiam o mal e amam o bem, que procuram ardentemente apossar-se de Cristo como Cristo apossou-se deles. Porque todos os que estão em Cristo são novas criaturas, carne de sua carne, osso de seus ossos e membros de seu corpo. As verdadeiras características pelas quais pode ser reconhecida a Igreja de Cristo são: 1. Doutrina pura e sem adulterações. 2. Prática das ordenanças de acordo com as Santas Escrituras. 3. Obediência a Palavra. 4. Sincero amor fraternal. 5. Aberta confissão de Deus e Cristo. 6. Suporta perseguição e ódio por causa da Palavra do Senhor. Algumas das outras parábolas, como a da rede na qual caem peixes bons e maus; a das virgens prudentes e insensatas e suas lâmpadas; a das bodas do filho do rei e seus hóspedes e a época com trigo e joio, apesar de que o Senhor mencionou sobre elas na Igreja, não significa que se deva aceitá-las em seu seio, nem manter em comunhão com ela aos transgressores; nesse caso Cristo e Paulo difeririam em doutrina, pois Paulo disse que os tais devem ser disciplinados e separados (1ªCoríntios 15:11). Mas isso era necessário porque muitos se misturavam com os cristãos adotando aparências de tais e colocando-se no mesmo nível a respeito da SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 26 Palavra e seus sacramentos, quando na realidade somente eram hipócritas e simuladores diante de Deus; estes são os semelhantes aos peixes rejeitados que serão lançados fora da rede pelos anjos no Dia do Senhor; as virgens insensatas que não tem azeite em suas lâmpadas; ao hóspede sem o traje de boda e ao joio. Eles simulam temer a Deus e seguir a Cristo, recebem o batismo e a Ceia do Senhor, tem todas as boas aparências, mas não tem fé, arrependimento, verdadeiro temor e amor de Deus, Espírito, poder, frutos e nem obras. 14. Separação do Mundo: O inteiro Evangelho ensina que a Igreja de Cristo era e tem que ser um povo separado do mundo em doutrina, vida e culto. Assim foi no Antigo Testamento. (2ªCoríntios 6:17; Tito 2:14; 1ªPedro 2:9-10;1ªCoríntios 5:17; Êxodo 19:12). Visto que a Igreja sempre foi e deve ser um povo separado, como se falou, e sendo evidente como o sol luminoso, que por vários séculos não se tem observado nenhuma diferença entre a Igreja e o mundo, mas que todos tem estado confundidos no batismo, Ceia do Senhor, vida e culto, sem nenhuma diferença, numa forma abertamente disputada com os princípios das Sagradas Escrituras; portanto nós nos sentimos compelidos pelo Espírito e pela Palavra de Deus, a adoração de Cristo e ao serviço e melhoramento de nosso próximo, por motivos elevados, como já foi dito, para conseguir, não para nós, mas para o Senhor, uma congregação ou Igreja piedosa, penitente ... não pela força das armas ou por compulsão, (como é habitual nas seitas populares) uma Igreja separada do mundo como ensinam as Escrituras. Os ministros (das igrejas do Estado) deveriam pregar honestamente a palavra do arrependimento sincero, no poder do Espírito. Todos aqueles que o aceitam de coração e se arrependem, devem em seguida participar dos sacramentos de Cristo de acordo com as ordenanças. E aqueles que não creem e deliberadamente os menosprezarem, devem, com a autorização da Palavra divina, ser separados da comunhão da sua Igreja, sem respeitar a pessoa, seja ela rica ou pobre. Deste modo poderá reunir-se uma Igreja para Cristo e praticar-se as ordenanças do Senhor corretamente de acordo com as Escrituras. 15. Fraternidade Verdadeira: SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 27 Somos acusados e se afirmar que temos as nossas propriedades em comum. Replicamos que tal acusação é falsa e sem nenhum fundamento. Não ensinamos nem praticamos a comunidade de bens. Mas ensinamos e sustentamos com a autoridade da Palavra de Deus, que todos os verdadeiros crentes são membros de um mesmo corpo, estão batizados por um Espírito num corpo. (1ªCoríntios 10:3) e tem um Senhor e um Deus. (Efésios 4:5-6). Visto que desta forma são um, é pois razoável e cristão que se amem uns aos outros sinceramente e que um membro se preocupe pelo bem estar do outro, pois tanto a natureza como as Escrituras o ensinam assim. As Escrituras exigem caridade e amor, e esta é a característica pela qual se reconhece ao verdadeiro cristão, como disse Jesus: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos (quer dizer cristãos), se vos amardes uns aos outros”. (João 13:35). Leitor amado, nunca se observou uma pessoa sensata que vista e cuide de uma parte de seu corpo e deixe o resto sem cuidados e desnudo. Não. É lógico distribuir cuidados a todos os membros. O mesmo deve ocorrer com os que formam a Igreja ou o corpo do Senhor. Todos aqueles que são nascidos de Deus, são feitos partícipes de seu Espírito e chamados a um corpo de amor, de acordo com as Escrituras, e dispostos por causa desse amor, a servir a seus semelhantes, não somente com dinheiro e bens, mas também conforme ao exemplo de seu Senhor e Cabeça, Jesus Cristo, a maneira evangélica, quer dizer, com a sua vida e com o seu sangue. Praticam a caridade e o amor em todo o possível; não toleram que haja mendigos entre eles; distribuem o necessário entre os santos, recebem ao miserável, hospedam ao estrangeiro, consolam ao afligido, dão assistência ao necessitado, vestem ao desnudo, alimentam ao faminto, não menosprezam ao pobre e não descuidam de seus membros necessitados - sua própria carne -. (Isaías 58:7-8). Repito: Este é o amor, caridade e comunidade que ensinamos e praticamos e que por dezessete anos temos ensinado e praticado de tal forma que, apesar de termos sido muitas vezes despojados de nossas propriedades e de ser ainda vítimas de roubos, ainda que muitos pais e mães piedosos e tementes a Deus tem sido levados para a morte por meio do fogo, água ou espada e ainda que nós mesmos não temos domicílio seguro ou morada, como é conhecido, e apesar das circunstâncias difíceis, em nenhum caso, graças sejam dadas a Deus por isto, nenhum irmão ou algum de seus filhos que nos foram confiados foram vistos com a necessidade de mendigar. Eles se jactam de seguir a Palavra de Deus e de ser a verdadeira Igreja Cristã, e não compreendem que tem perdido por completo as características do Cristianismo SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 28 verdadeiro; pois ainda que possuam de tudo em abundância e que muitos de seus membros vivam na suntuosidade e na voluptuosidade, em gastos supérfluos, vestindo-se com seda e veludo, ouro e prata e todo tipo de pompa e vaidade; que mobíliam as suas casas com todo tipo de custosos ornamentos e tem seus cofres repletos, no entanto, permitem que na sua congregação andem mendigando muitos dos membros pobres e afligidos, apesar de ser crentes semelhantes a eles e de ter recebido o mesmo batismo e participar do mesmo pão com eles; permitem que alguns sofram a mais cruel miséria, fome e necessidade e que muitos idosos, enfermos, mutilados, cegos, se vejam obrigados a mendigar o pão na porta de seus próprios irmãos mais afortunados. 16. As Ordenanças: Os regenerados na verdade e guiados espiritualmente concordam em tudo com as palavras e ordenanças do Senhor; não porque esperam conseguir com isto a propiciação de seus pecados e a vida eterna; de maneira alguma. Para isto dependem exclusivamente do sangue e dos méritos de Cristo - confiando na promessa que o Pai misericordioso deu a todos os crentes- cujo sangue é e será, por toda a eternidade, repito, o único meio possível de reconciliação, e não as obras, batismo e a Santa Ceia como já foi dito. O arrependimento deve anteceder as ordenanças e não o inverso. Visto que as ordenanças do Novo Testamento são em si mesmas completamente impotentes, vãs e inúteis, se aquilo que significam, em especial a nova vida, não está em evidência, como tenho dito ao tratar do batismo. Em poucas palavras; em tudo o que se refere a Igreja Cristã, meu único argumento e sincera convicção é que diante de Deus nem o batismo, Santa Ceia, e nenhuma outra cerimônia externa vale, se for realizada sem o Espírito de Deus e sem a nova criatura; mas que, como claramente ensinou Paulo, diante de Deus somente tem valor a fé, espírito e regeneração. (Gálatas 5:6). Todos os que pela graça de Deus tem recebido isto do alto, podem ser batizados de acordo como mandamento do Senhor e participar da Santa Ceia. Desta forma, com ardente desejo acatam todas as ordenanças e doutrinas de Cristo e nunca se opõem a santa vontade e testemunho de Deus. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 29 As cerimônias sem realidade não tem nenhum mérito diante de Deus. Porque Ele não é um Deus que se agrada com aparências externas, cerimônias, símbolos, pão, vinho, água e serviço nominal, mas em espírito, poder, obras e verdade. Porém ainda o príncipe das trevas, a serpente antiga, o diabo, se transforma em anjo de luz; aparentemente nada se torna para ele difícil nem incômodo; sempre que puder apoderar-se da cidadela do nosso coração e expulsar a natureza de Cristo, seu espírito e poder, então já terá conseguido o prêmio pelos seus esforços. Na realidade, se um homem fosse batizado por Pedro ou pelo próprio Paulo e recebesse o pão da Santa Ceia das próprias mãos do Senhor, e nunca mais participasse da idolatria dos sacerdotes, mas se retivesse uma só das obras do diabo, a saber, ódio, inveja, rancor, sede de vingança, ou ganância, orgulho, desonestidade ou qualquer outro vício, poderia afirmar-se com as Escrituras que o seu espírito é mau e sua vida hipócrita. 17. Batismo: Não somos regenerados por termos sido batizados ... ... mas somos batizados porque temos sido regenerados pela fé e pela palavra de Deus, (1ªPedro 1:23). A regeneração não é o resultado do batismo, mas o batismo é a consequência da regeneração. Isto não pode ser discutido pelo homem e nem desaprovado pelas Escrituras. As Escrituras não reconhecem senão um remédio, o qual é o Cristo com seus méritos, morte e sangue. Portanto, aquele que procura a remissão de seus pecados no batismo, despreza o sangue de Cristo e faz da água, o seu ídolo. Por isto, que cada um tenha cuidado para não atribuir a honra e glória devidos a Cristo, as cerimônias externas e aos elementos visíveis. O crente obtêm a remissão de seus pecados não por meio do batismo, nem no batismo, mas da seguinte forma: quando de todo coração crê no precioso Evangelho de Jesus Cristo que lhe foi pregado e ensinado, a saber, as boas novas da graça, remissão de pecados, paz, favor, misericórdia e vida eterna por meio de Cristo, nosso Senhor, experimenta uma mudança de mente; renuncia a si mesmo, se arrepende de sua velha vida pecaminosa, e com toda diligência presta atenção a Palavra do Senhor, que lhe tem demostrado um amor tão grande e cumpre com tudo aquilo que se ensina e ordena em seu santo Evangelho. A sua confiança repousa firmemente SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 30 sobre a palavra da graça que lhe promete a remissão de seus pecados pelo precioso sangue e os méritos de nosso Senhor Jesus Cristo. Em seguida, então, recebe o santo batismo como sinal de obediência que procede da fé, como testemunho diante de Deus e de sua Igreja de que firmemente crê na remissão de pecados por Jesus Cristo, como lhe foi pregado e ensinado pela Palavra de Deus. Este é o menor dos mandamentos dados por Ele. Muito maior é o mandamento de amar aos inimigos, fazer bem aos que nos odeiam, orar em espírito e verdade por aqueles que nos perseguem, submeter a carne a Palavra de Deus, pisotear todo orgulho, cobiça, impureza, ódio, inveja e intemperança; ajudar ao próximo com ouro, prata, lar, posses, trabalho e ações, com vida e morte; além de ser libertados de todo desejo mal, palavras inconvenientes e más obras; amar a Deus e a sua justiça, vontade e mandamentos com todo o coração e levar a cruz do Senhor Jesus Cristo com alegria. Pode o mandamento do batismo ser comparado com qualquer um destes? Volto a repetir que é o menor dos mandamentos que nos foram dados, pois não mais do que um pequeno rito externo, consistente na aplicação de um pouco de água. Todo aquele que obteve o mais importante, a saber a obra interior, não dirá: “De que me pode servir a água?” Senão que estará disposto, com coração obediente e agradecido a ouvir e cumprir com a Palavra de Deus. Mas enquanto não tiver obtido a obra interior, bem poderá exclamar: “De que me pode servir a água?” 18. A importância do Batismo: Todos aqueles que pela graça de Cristo tem sido transferidos de Adão para Cristo, feitos participes da natureza divina, e batizados por Deus com Espírito e fogo do amor celestial, não contenderão ironicamente com Cristo dizendo: “De que me pode servir a água.” Mas que dirão como o temeroso Saulo: “Senhor, que queres que eu faça?” e como os penitentes dos dias de Pentecostes: “Homens irmãos, o que faremos?” Renunciarão a sua própria opinião voluntariamente e obedecerão a Palavra de Deus, pois são guiados por seu santo Espírito, e por meio da fé, cumprem alegremente com todas as coisas ordenadas pelo Senhor. Mas enquanto as suas almas não forem renovadas e não tiverem a mente de Cristo (Filipenses 2:5), não são lavados no homem interior com a água clara da fonte viva de Deus, (Hebreus 10:22), bem pode dizer: “De que nos pode servir a água?”. Pois todo o oceano não os limpará enquanto estiverem inclinados ao mundanismo e para a carnalidade. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 31 19. Batismo na infância: Por enquanto não encontramos na Bíblia uma só palavra pela qual Cristo ordenara o batismo de crianças, ou que seus apóstolos o ensinaram ou praticaram. Afirmamos e confessamos que o batismo infantil não é, senão, uma invenção humana, opinião dos homens, perversão dos ensinos de Cristo. Batizar antes do requerido para o batismo, a saber, a fé, é como se quisesse colocar a carroça na frente do cavalo, semear antes de arar, construir antes de ter os materiais, ou fechar a carta antes de tê-la escrito. Eles apelam para Orígenes e Agostinho como último recurso, e dizem que estes asseguravam ter recebido a doutrina do batismo infantil dos apóstolos. A isto replicamos e perguntamos se Orígenes e Agostinho provam isto com as Escrituras; se for assim, gostaríamos de saber. Do contrário, devemos ouvir e crer em Cristo e em seus apóstolos e não em Agostinho e Orígenes. Além disso, se os que batizam crianças afirmam que este batismo não é proibido e que portanto, é correto, sustento que não estão expressamente proibidos nas Escrituras: a bênção, como eles chamam, de água benta, velas, palmas, cálice e vestimentas, a celebração de missas e outras cerimônias; apesar disso, afirmamos e sustentamos que tudo isso é mal, primeiramente porque o povo põem a sua fé nessas coisas, e em segundo lugar porque é realizado sem o mandamento de Deus, pois nada disto tem sido instituído por Ele, e não se deve observar nenhum mandamento que não esteja contido ou implicado na sua Santa Palavra, em letra ou espírito. Amados: visto que as ordenanças de Cristo são imutáveis e que somente elas são aceitas por Deus, e visto que Ele ordenou que o Evangelho deve ser primeiramente pregado e em seguida batizados aqueles que creem, ocorre que os que batizam e são batizados sem que se tenha sido ensinado o Evangelho e sem fé, batizam e são batizados na sua própria opinião, sem a doutrina e mandamentos de Cristo Jesus, e portanto, é uma cerimônia ímpia, inútil e vã. Pela mesma razão, Israel poderia ter circuncidado as mulheres, pois não estava expressamente proibido, poderiam tê-lo feito sem o mandamento de Deus, porque Ele havia ordenado que fossem circuncidados os varões. O mesmo é neste caso. Se batizamos as crianças inconscientes porque não está expressamente proibido pelas Escrituras, assim como não o está circuncidar as mulheres, o fazemos sem a ordenança de Cristo, porque Ele mandou que fossem batizados aqueles que ouviam e acreditavam em seu santo Evangelho. (Mateus 28:19; Marcos 16:16; Atos 2:38; 9:18; 10:48; 16:33). SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 32 Eu sei que Lutero ensinou que a fé está presente nas crianças exatamente como num crente que dorme. A isto respondo, primeiro, que ainda no caso de que existisse tal fé nas crianças inconscientes (coisa que não é mais do que um sofisma humano) seria, não obstante, impróprio batizá-las enquanto não puderem confessála verbalmente e não mostrem os frutos requeridos. Porque os santos apóstolos não batizaram nenhum crente enquanto dormia, como temos provado nos escritos interiores. Em terceiro lugar replicamos que nas Escrituras temos registrados quatro casos de famílias que foram batizadas, a saber: a de Cornélio, a do carcereiro, a de Lídia e Estéfanas (Atos 10:48; 16:15,33; 1ªCoríntios 1:16), e as Escrituras claramente provam que em três destas famílias, todos eram crentes, a saber, a de Cornélio (Atos 10:2,44-47); a do carcereiro (Atos 16:34) e a de Estéfanas (1ªCoríntios 16:15); Mas no que se refere a família de Lídia, o leitor deve saber que, apesar de que a Bíblia nada diz a respeito, não é usual nas Escrituras nem é costume no mundo, chamar a família pelo nome da mulher enquanto viver o marido. Visto que Lucas designa a família pelo nome da mulher, e não pelo do homem, a razão nos diz que Lídia devia ser nessa época, viúva ou solteira, e a respeito de opinar se em seu lar havia ou não crianças, deixamos isto para o livre juízo dos leitores pios e tementes a Deus. 20. Salvação das crianças: Apesar das crianças não receberem o batismo, não pense que por isso estão perdidas. Oh não! São salvas, porque tem a promessa do próprio Senhor, que delas é o reino de Deus. Não por meio de algum elemento, cerimônia, nem rito exterior, mas somente pela graça de Jesus Cristo. E é sabido que cremos sinceramente que a graça se estende até elas, e que além disso, são aceitas diante de Deus, puras e santas, herdeiras de Deus e da vida eterna. Com base nesta crença, todos os cristãos devem estar seguros e regozijar-se ante a certeza de que suas crianças são salvas. Se morrerem antes de chegar a idade do entendimento e de poder ouvir e crer, estarão sob a promessa de Deus e serão salvas, e isto não por outros meios, mas pela preciosa promessa da graça dada pelo Senhor Jesus. (Lucas 18:16). Mas se, tendo chegado a idade da compreensão, ouvem e creem, devem ser batizadas. Se não aceitam ou não creem na palavra uma vez que chegaram nesta época da vida, sejam ou não batizadas, estarão perdidas, como Cristo mesmo ensinou. (Marcos 16:16). SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 33 Visto que, se sob a Antiga Dispensação as crianças eram recebidas no pacto de Deus mediante a circuncisão, e os da Nova Dispensação por meio do batismo como ele (Gellius) afirma, daí se desprende irrefutavelmente que as crianças que morreram antes do oitavo dia e aquelas que não foram circuncidadas no deserto (Josué 5:5) assim como todas as mulheres, não pertenciam a Igreja ou congregação Israelita e portanto não tinham parte na graça, pacto ou promessa. O mesmo deveria aplicar-se as crianças que morrem antes de terem sido batizadas. Oh abominação espantosa! 21. O Erro da Regeneração Batismal: Ensinar e crer que a regeneração se obtém por meio do batismo, meus irmãos, é tremenda idolatria e blasfêmia contra o sangue de Cristo. Porque não há nada no céu nem na terra que apague nossos pecados, sejam eles simples propensão ao mal ou transgressões, mas somente o sangue de Cristo, como falamos anteriormente (1ªPedro 1:19; 1ªJoão 1:7; Colossenses 1:20). Se atribuímos ao batismo a remissão de pecados, e não ao sangue de Cristo, fazemos do batismo um bezerro de ouro e o colocamos no lugar de Cristo. Porque se podemos ser lavados ou limpos pelo batismo, então Cristo e seus méritos ficariam desprezados, exceto se confessamos que há dois meios para a remissão de pecados, a saber o batismo e o sangue de Cristo. Mas isto não é assim, nem o será por toda a eternidade; porque o imaculado e precioso sangue de Nosso Senhor Jesus, deve ser e é digno de ter esta glória, como os profetas e apóstolos tão claramente profetizaram e testemunharam por meio das Escrituras. 22. A Ceia do Senhor. (Santa Ceia): Do mesmo modo cremos e confessamos que a Ceia do Senhor é um símbolo sagrado, instituído pelo próprio Senhor, com pão e vinho, e encomendado aos seus em memória dele, ensinado e administrado também de acordo ao instituído pelo Senhor, pelos Apóstolos entre os irmãos. Ensinamos, praticamos e desejamos que a Ceia que o próprio Senhor instituiu e administrou, seja observada pela Igreja que esteja visivelmente livre de manchas ou infâmia, que dizer, sem transgressões ou pecados conhecidos; pois ela somente julga aquilo do qual tem conhecimento; mas o pecado oculto, que não é visível, Deus é SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 34 quem deve julgá-lo, porque somente Ele conhece os corações e os pensamentos. A Ceia do Senhor deve ser observada no seu duplo significado, a saber, pão e vinho comemorando a morte do Senhor, e como renovação e evidência de amor fraternal. Ensinamos, procuramos e exigimos que a Ceia do Senhor seja observada como Jesus a instituiu e observou, ou seja por uma Igreja livre exteriormente de ofensa e de vergonha, alheia a toda transgressão e pecado visível, porque a igreja julga o que é visível. Mas no caso de pecado oculto, que não se manifesta abertamente para a Igreja como a traição de Judas, Deus é quem deve julgar e sentenciar, pois somente Ele e não a Igreja, discerne o coração e as entranhas. 23. Disciplina: É evidente que uma congregação ou Igreja não pode continuar na sã doutrina e vida piedosa e imaculada sem a prática apropriada da disciplina. Como uma cidade sem muros e portas, ou um campo sem cercado, ou uma casa sem paredes, assim é a Igreja sem a verdadeira excomunhão ou anátema apostólicos. Porque ficaria exposta a todos os espíritos enganadores, ímpios, escarnecedores, soberbos e desdenhosos, a todos os idólatras e transgressores insolentes, assim como a todos os libertinos e adúlteros, como ocorre nas grandes seitas do mundo que se chamam a si mesmas, ainda que impropriamente, igrejas de Cristo. No meu entender, é uma característica primordial, uma honra e um meio de prosperidade para a verdadeira Igreja, ensinar com discrição cristã a verdadeira excomunhão apostólica e observá-la cuidadosamente, com amor vigilante, conforme os ensinos das Sagradas Escrituras. Porque enquanto os pastores e mestres (na primitiva Igreja Cristã) ensinaram cuidadosamente e exigiram vidas pias, administraram o batismo e a Santa Ceia somente aos piedosos, e praticaram corretamente a disciplina de acordo com as Escrituras, constituíram a Igreja e congregação do Senhor. Portanto, tenha cuidado; se ver o teu irmão pecar, não passe junto a ele como alguém a quem não tem interesse pela sua alma, pois se a queda não é de morte, ajude-o em seguida a levantar-se com amáveis conselhos e amor fraternal, como alguém que procura ardentemente a sua salvação, antes de começar a comer, beber, dormir ou fazer qualquer outra coisa, não seja que o teu pobre irmão errante se afunde no pecado e pereça. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 35 24. Arrependimento no caso de Pecado Secreto: Poderia acontecer em qualquer ocasião que alguém pecasse contra o seu Deus secretamente, em qualquer das abominações carnais, das quais Ele com o Seu grande poder nos preserve a todos, e que o Espírito e a graça de Cristo, que é o único que pode despertar um arrependimento sincero, tocasse de novo em seu coração e lhe concedesse um arrependimento genuíno; sobre isto nada temos que julgar, pois é um assunto entre ele e Deus. Por isso é evidente que não procuramos a nossa justiça e salvação e a remissão de nossos pecados, satisfação, reconciliação e vida eterna por disciplina ou mediante a excomunhão, mas unicamente pela justiça, intercessão, méritos, morte e sangue de Cristo, e visto que os dois motivos para os que a excomunhão é permitida nas Escrituras não estão neste caso, porque, primeiramente o seu pecado é em particular e portanto não ofende a outros, e em segundo lugar ele está contrito e humilhado de coração, portanto não há necessidade de envergonhá-lo a fim de que possa chegar ao arrependimento, pois não há mandamento de Cristo nem ordem divina que autorizem a considerá-lo com mais severidade, nem excluí-lo, nem desprezá-lo diante da Igreja. 25. Chamada Missionária da Igreja: Procuramos e desejamos ardentemente e mesmo com as custas de nosso sangue e vida, que o santo Evangelho de Jesus Cristo e seus apóstolos, que é a única doutrina verdadeira que persistirá até que Cristo reapareça nas nuvens, possa ser ensinado e pregado por todo o mundo, como o Senhor Jesus comissionou aos seus discípulos nas últimas palavras que lhes dirigiu estando na terra. (Mateus 28:19; Marcos 16:15). Procuro e desejo de todo coração (Ele bem sabe) que o glorioso nome, a divina vontade e o louvor de nosso Senhor Jesus sejam conhecidos por todo o mundo. A este fim pregamos em qualquer oportunidade que aparecer, de dia ou de noite, nas casas ou nos campos, nos bosques e nos desertos, nestas terras ou no exterior, na prisão e na escravidão, na água, fogo e patíbulo, sobre o cadafalso ou no torno, diante de senhores e príncipes, oralmente e por escrito, arriscando posses e vida, como estamos fazendo todos estes anos sem cessar. Perseguimos e desejamos unicamente poder mostrar ao mundo inteiro (que está na perversidade) a senda SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 36 verdadeira, e que muitas almas possam, pela Palavra de Deus, mediante a sua ajuda e poder, ser resgatadas do domínio de Satanás e conduzidas a Cristo. Não luto por outra coisa a não ser para que o Deus do céu e da terra, por meio de seu bendito Filho Jesus tenha a glória por meio da sua bendita Palavra; que todos os homens neste tempo aceitável de graça, sejam levantados do profundo sono de pecado em que se encontram afundados. Desejamos de todo coração ver realizar-se a salvação de toda a humanidade, e isto não somente dando os nossos bens e trabalho, mas também (entenda o seu significado evangélico) nossa vida e sangue. Esta é a minha única alegria e o desejo de meu coração; poder estender as fronteiras do reino de Deus, fazer conhecer a verdade, reprovar o pecado, ensinar a justiça, alimentar as almas famintas com a Palavra do Senhor, guiar a ovelha extraviada pela senda reta e ganhar muitas almas para o Senhor mediante o seu Espírito, poder e graça. 26. Não-resistência: Os regenerados não vão para a guerra nem lutam. São os filhos da paz, que transformaram as suas espadas em foices e as suas lanças em enxadões, e não amam a guerra. Dão a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Sua espada é a palavra do Espírito que manejam com boa consciência, guiados pelo Espírito Santo. Visto que seremos conformados a imagem de Cristo (Romanos 8:29), como poderemos então lutar com nossos inimigos fazendo uso da espada? O apóstolo Pedro disse: “Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o injuriavam, não njuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente”. (1ªPedro 2:21-23; Mateus 16:24). E isto concorda com as palavras de João que ensinava: “Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou” (1ªJoão 2:6) e o próprio Cristo disse: “Se alguém quiser vir após mim, neguese a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me”. (Marcos 8:34; Lucas 9:23). Também “Minhas ovelhas ouvem a minha voz...e elas me seguem”. (João 10:27). Amado leitor, se este pobre e ignorante mundo aceitasse com coração honesto esta doutrina odiada e desprezada, que não é nossa, mas de Cristo, transformaria então as suas espadas mortíferas em foices e as suas lanças em enxadões, SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 37 derrubariam portas e muros, destituiriam aos seus executores e carrascos. Porque todos os que aceitam esta doutrina com a sua autoridade, não terão, pela graça de Deus dificuldades com ninguém sobre a terra, nem mesmo com seus piores inimigos, e muito menos lhes ofenderão nem prejudicarão de nenhuma forma, porque são filhos do Altíssimo que amam de todo o coração o que é bom, odeiam o mal e são inimigos dele. Ah homem! Homem! Observe os seres irracionais e aprenda sabedoria. Os leões que rugem, os ursos temíveis, os lobos vorazes, todos vivem em paz entre eles cada um com a sua espécie. Mas vós, pobres, incapazes, criados a imagem de Deus e chamados de seres racionais, que nascem sem dentes, sem garras, nem chifres, com uma natureza fraca, sem uma linguagem articulada, sem força, incapazes até para andar ou para erguer-se, dependendo exclusivamente do cuidado maternal para ensinar-lhes que devem ser homens de paz e não de luta. Foi ordenado a Pedro que guardasse a espada na bainha. Todos os cristãos estão obrigados a amar a seus inimigos, fazer bem aos que lhes prejudicam, e orar por aqueles que os ultrajam ou perseguem; a dar a capa se alguém quiser pleitear a sua túnica, e quando lhe ferirem uma face, oferecer a outra. Diga-me pois, leitor amado, como poderá um cristão de acordo com as Escrituras tomar vingança, rebelar-se, fazer a guerra, matar, assassinar, torturar, saquear, assaltar e incendiar cidades e conquistar países? (Mateus 26:52; João 18:10; Mateus 5:12,39-40). Estou ciente que os tiranos que chamam a si próprios de cristãos, tentam justificar as suas horríveis guerras e o derramamento de sangue e fazer dele uma boa obra remetendo-nos a Moisés, Josué, etc. Mas não pensam que Moisés e seus sucessores, com suas espadas de aço serviram para a sua época, e que o Senhor Jesus tem nos dado agora um novo mandamento e cingiu os nossos lombos com outra espada. Eles não consideram que estão manejando a espada da guerra e que a usam contrariando toda a Escritura, contra os seus próprios irmãos, a saber, contra aqueles que professam a mesma fé, e receberam o mesmo batismo, participando do mesmo pão com eles e são, portanto, membros do mesmo corpo. Repito, a nossa fortaleza é Cristo, a nossa defesa é a paciência, a nossa espada é a Palavra de Deus e a nossa vitória é a fé firme e não fingida em Cristo Jesus. Deixemos as espadas e as lanças de aço para aqueles que, oh dor! consideram o sangue humano e o de um porco no mesmo nível. Aquele que é avisado, julgue o que quero dizer. Capitães, cavaleiros, soldados e outros homens sanguinários pelo estilo, oferecem a venda corpo e alma por dinheiro, e juram com a mão levantada, destruir SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 38 cidades e países, prender e matar cidadãos e habitantes, despojando-os de seus bens mesmo que nunca lhes tenham ofendido e nem provocado. Oh! Quão abominável, maldita e perversa ocupação! E ainda se diz que eles são os que protegem a nação e o povo e os que ajudam a administrar a justiça! 27. O juramento dos juramentos: Jesus disse: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos ao Senhor. Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés” (Mateus 5:33-35). E você, Micron, diz que unicamente o juramento leviano e falso deve ser proibido, como se Moisés tivesse permitido tais juramentos a Israel e por isso Cristo, sob o Novo Testamento os teria proibido. Se temos a mesma liberdade que os Israelitas sobre este assunto, como você assegura ... diga-me então, por que não disse o Senhor: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, e eu vos digo: Obedecei a este mandamento. Mas Ele disse: Moisés vos permitiu jurar honestamente; porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis”. O juramento é requerido unicamente com o propósito de obter uma declaração e um testemunho sincero. A verdade não poderá ser dita se não houver um juramento? Falam sempre a verdade todos os que estão sob juramento? Admitirá que a primeira pergunta deve ser respondida com uma afirmação e a segunda negativamente. É pois o juramento em si mesmo, a verdade do testemunho, ou depende este de que se jure? Por quê, então as autoridades não exigem que a verdade seja expressada por si e não como Deus ordena, em vez de fazê-lo por meio do juramento, que é proibido por Deus, já que podem castigar aquele que seja achado falso em sua afirmação ou negação da mesma forma que ao perjúrio? O fato de que o sim é sim e o não é não para os verdadeiros cristãos, fica plenamente provado nestes Países Baixos pelos que tem sido tão cruelmente perseguidos com prisões, confiscos e torturas, com fogo, fogueira e espada, quando com uma só palavra poderiam ter escapado de tudo isto se quisessem ter quebrantado o seu sim e o seu não. Mas desde que nasceram para a verdade, andam na verdade e testemunham para a verdade até a morte, como se vê frequentemente em Flandes, Brabante, Holanda, Frieslândia Oeste... SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 39 28. A pena de morte: Se um criminoso se arrependesse sinceramente diante de Deus e fosse nascido do alto, seria então um santo, um filho de Deus, partícipe da graça e membro espiritual do corpo do Senhor, limpo pelo seu sangue precioso e ungido pelo Espírito Santo. Conceituo portanto, ser estranho e inoportuno, (considerando a misericórdia, compaixão e amável disposição, espírito e exemplo de Cristo, o manso Cordeiro, cujo exemplo Ele ordenou aos seus que seguissem), que algum destes réus seja pendurado na forca, executado no torno, queimado na fogueira ou torturado de qualquer forma por outro cristão, com o qual é em Cristo Jesus de um coração e uma alma. Além disso, se permanece inconvertido e se lhe tira a vida, não se fará outra coisa que encurtar-lhe desapiedadamente o tempo para o seu arrependimento, que, no caso de se lhe conservar a vida, poderia chegar a obter; é entregar cruelmente ao Diabo a sua alma, que foi comprada com tão precioso tesouro, sem ter em conta ao Filho do Homem que disse: “Aprendei de mim” (Mateus 11:29), “Porque eu vos dei o exemplo” (João 13:15), “Siga-me” (Mateus 16:24), “Não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las”. (Mateus 18:11; Lucas 19:10 e 9:56). A história secular mostra que os Espartanos apesar de ter sido pagãos, não condenavam a morte aos seus criminosos, mas que os aprisionavam e os faziam trabalhar. 29. Não conformidade com o Mundo: Estaria muito mais de acordo com os ensinos evangélicos dele (Gellius) se destacasse diante de pessoas tão vaidosas e enaltecidas, a humildade de Cristo; que aprendessem a negar a si mesmos e a considerar a sua origem e destino; que abandonem a sua excessiva pompa e vaidade, sua presunção e impiedade, temam a Deus de coração, andem em seus caminhos e com verdadeira humildade de coração ajudem ao seu próximo com as suas riquezas. Este não é um reino onde alguém se adorna a si mesmo com ouro, prata, pérolas, seda, púrpura e custosos enfeites, como faz o mundo vaidoso e orgulhoso, e vossos dirigentes, dando liberdade para que faça outro tanto, com a desculpa de que é inofensivo se o coração está isento dele. Dessa maneira Satanás pretende dissimular SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 40 a sua arrogância e mostrar que a cobiça de seus olhos é pura e boa. Mas este é um reino de humildade no qual não é o ornamento exterior do corpo, mas o adorno do espírito o que se busca e procura com grande zelo e diligência, com coração contrito e humilhado. E tudo o que fizer, faça no nome e no temor do Senhor Jesus e não vos adorneis com ouro, prata, pérolas, nem cabelos trançados, nem com trajes custosos e vistosos, mas vistam-se da maneira que convém a homens e mulheres piedosos. 30. Liberdade de Consciência: Diga-me, leitor amado, se já leu em toda a tua vida nas Escrituras apostólicas ou ouviu que Cristo ou os apóstolos recorreram ao poder dos magistrados contra os que não queriam escutar a sua doutrina ou obedecer os seus ensinos. Sim, meu leitor, tenho a certeza de que onde quer que reine o regime de aplicar o anátema pela espada, não existe o verdadeiro conhecimento, Espírito, palavra e Igreja de Cristo. A fé é um dom de Deus, portanto não se pode impô-la a ninguém por meio de autoridades terrenas ou pela força. Tem que ser obtida unicamente mediante a pura doutrina da Santa Palavra e com a oração humilde e fervorosa, como um dom da graça do Espírito Santo. Além disso, não é a vontade do dono da casa que o joio seja arrancado antes que chegue o dia da colheita, como a parábola das Escrituras ensinam e demonstram com grande clareza. Se os nossos perseguidores são cristãos como pretendem, e acatam a Palavra de Deus, por que então não guardam e praticam a palavra e mandamentos de Cristo? Por quê arrancam o joio antes do tempo? Como não temem extirpar o bom trigo em vez do joio? Por que tentam realizar o trabalho dos anjos, que no seu devido tempo atarão o joio em feixes e o lançarão nas chamas do fogo eterno? Digo além disso que se os governantes verdadeiramente conhecessem a Cristo e seu reino, creio que escolheriam a morte antes que usar o seu poder terreno e espada para dirimir assuntos espirituais que não estão submetidos a autoridade dos homens, mas exclusivamente a de Deus Todopoderoso. Mas eles (os magistrados) são instruídos pelos seus teólogos para que arrastem, prendam, torturem e deem a morte aos que não seguem as suas doutrinas, como infelizmente é comum ver em muitas cidades e países. Governantes e juízes amados, se aceitardes de todo o coração as citadas Escrituras e com toda atenção meditardes nelas, observareis que a vossa função não SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 41 é exclusivamente vossa, mas que é o serviço e função de Deus, e que corresponde a vós, humilhar-se diante da sua majestade, respeitar o seu grande e adorável nome, e desempenhar equitativa e honestamente as vossas funções. Além disso, não deveria tão inescrupulosamente com vosso poder terreno e temporário tentar intervir no que pertence a jurisdição e reino de Cristo, o Príncipe de todos os príncipes; não deveria julgar nem castigar com o vosso aço o que é reservado somente ao juízo do Altíssimo, a saber a fé e o que é concernente a ela, como também Lutero e outros sustentaram no princípio de sua obra, mas depois de ter conseguido uma posição exaltada, o esqueceram. Digam amados, aonde as Sagradas Escrituras ensinam que no reino e Igreja de Cristo, a consciência e a fé, que dependem unicamente da autoridade de Deus, devem ser regulados e regidos pela violência, tirania e espada das magistraturas? Em que caso Cristo e seus apóstolos o fizeram, aconselharam ou ordenaram? Porque Cristo somente disse: “Acautelai-vos dos falsos profetas” e Paulo ordena que devemos esquivar-nos do herege depois de uma ou duas exortações. João disse que não devemos saudar nem receber em nossa casa aos transgressores, que não são portadores da doutrina de Cristo. Mas ele não disse: Abaixo com os hereges, acusaios as autoridades, prendei-os, retirai-os das cidades e países, atirai-os no fogo e na água, como os Romanistas tem feito por muitos anos, e como ainda se encontra espalhado entre vós que pretendem ser dedicados a Palavra de Deus. Por outra lado, os príncipes altaneiros, carnais, mundanos, idólatras e tiranos, que não creem em Deus (falo dos maus príncipes)publicam seus mandatos, decretos e leis como autoridades, não obstante, opõem-se muitos deles a Deus e a sua bendita Palavra, como se o Pai Todo-poderoso, o Criador de todas as coisas, que tem o céu e a terra em suas mãos e que governa tudo com a palavra de seu poder, lhes tivesse ordenado legislar, reger, e de acordo com seu próprio critério prescrever ordenanças, não somente no reinado temporário deste mundo perecível, mas também no retiro celestial de Nosso Senhor Jesus Cristo. Oh, não, amados, não! esta não é a vontade de Deus, mas que é abominação diante de seus olhos que um pobre mortal usurpe para si a sua autoridade. Creio, queridos irmãos, que demonstrei claramente que as desculpas dos tiranos, com as quais pretendem provar que as suas matanças tirânicas são justas e retas, somente é paganismo em princípio. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 42 31. Predestinação: Zwinglio ensinou que a vontade de Deus movia o ladrão a roubar e ao criminoso a matar, e que seu castigo seria também executado pela vontade de Deus, coisa que, no meu conceito é uma abominação superior a todas as abominações. O que eu devo dizer, amado Senhor? Deverei dizer que Tu tens ordenado ao perverso delinquir como alguns tem dito? Longe esteja de mim tal coisa. Eu sei, oh Senhor, que Tu és bom e nada de mal pode achar-se em Ti. Nós somos a obra da Tua mão, criados em Cristo Jesus para boas obras e para que andemos nelas. Deixou a vida e a morte para a nossa escolha. Tu não quer a morte do pecador, mas que se arrependa e viva. Tu és a luz eterna e portanto odeia toda a treva. Tu não quer que ninguém pereça, mas que todos se arrependam, venham ao conhecimento da Tua verdade e sejam salvos. Oh querido Senhor, blasfemaram tão gravemente do Teu grande e inefável amor, da Tua misericórdia e majestade, que fizeram de Ti, o Deus de toda graça e Criador de todas as coisas, um verdadeiro demônio, afirmando que Tu é a causa de todo mal, TU, que é chamado de o Pai das luzes. Evidentemente nada mal pode ser proveniente do bom, nem luz das trevas, nem vida da morte; no entanto, seus teimosos corações e mentes carnais são atribuídos a Tua vontade, de modo que podem continuar no caminho largo e ter uma desculpa para os seus pecados! 32. Aperfeiçoamento: Não acredite, leitor amado que falamos isto para jactarmos de ser perfeitos e imaculados. De maneira alguma. Não acreditamos e nem ensinamos que somos salvos por próprios méritos ou obras, como falsamente afirmam os nossos acusadores, mas por meio da graça de Cristo, como foi dito anteriormente. Porque ensinamos pela boca do Senhor que aquele que quer entrar na vida eterna, deve guardar os mandamentos. (Mateus 19:17; Marcos 10:19; João 15: 10); que em Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão valem, mas sim, guardar os mandamentos de Deus (1ªCoríntios 7:19); que este é o amor de Deus, que guardemos os seus mandamentos; e seus mandamentos não são pesados, (1ªJoão 5:3); por esta razão somos chamados pelos pregadores de assaltantes do céu e santarrões, e falam que pretendemos salvar-nos por nossas boas obras, apesar que sempre confessamos e confessaremos pela eternidade, por Deus, que não seremos SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 43 salvos senão unicamente pelos méritos, intercessão, morte e sangue de Cristo e não por outros meios no céu, nem sobre a terra, como plenamente temos demonstrado antes. Desta forma estas pessoas perversas trocaram o excelente pelo péssimo. Não compreendem que a Escritura condena claramente aos dissolutos, soberbos, menosprezadores e transgressores da palavra de Deus, e que provam claramente com seus atos, que são alheios a graça salvadora de Deus, que não creem em Jesus e que, de acordo com as Escrituras, estão em condenação, ira e morte. (João 3:36). Mas aqueles que dizem que somos hipócritas, e mentem dizendo que garantimos estar sem pecado, é porque ensinamos com as Escrituras uma vida que mostra os frutos de arrependimento; testemunhamos com Paulo que os devassos, adúlteros, bêbados, avarentos, mentirosos, iníquos, não herdarão o reino de Deus (1ªCoríntios 6:10; Gálatas 5:21; Efésios 5:5) que os inclinados para a carnalidade, morrerão (Romanos 8:13) e afirmamos com João que aquele que peca (entenda-se de propósito ou de maneira impudica) é do diabo. (1ªJoão 3:8) e portanto, sentimos um profundo terror por tais coisas. Por isso, muitas vezes afirmamos com Moisés de palavra e por escrito e sustentemos sempre, que ninguém é inocente diante de Deus em razão da sua natureza inata (Gênesis 6:5, 8:21) e com Isaías, que todos somos como a sujeira. (Isaías 64:6), etc. 33. Novas Revelações: Por outra lado, não tenho visões ou revelações angelicais, nem as busco nem desejo, a fim de não ser enganado por elas. Porque a Palavra de Deus é suficiente para mim. Se não sigo o seu testemunho, então tudo está perdido. E ainda que tivesse tais revelações, que não é o caso, não poderiam desviar-me da Palavra e do Espírito de Cristo, ou do contrário, seriam unicamente alucinações, sedução e engano diabólicos. 34. Educação superior: Leitor, não me interprete mal. Nunca na minha vida desprezei a instrução e o conhecimento de idiomas, mas que desde a minha juventude os tenho honrado e amado. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 44 Ainda que nunca os tenha adquirido, no entanto (graças a Deus) não estou tão privado de sentido como para desprezar ou ridicularizar o conhecimento dos idiomas pelos quais chegou até nós a divina palavra da graça. Desejaria de todo coração que eu e todos os piedosos possuíssemos tais conhecimentos, e que todos, com verdadeira humildade os usássemos corretamente para o louvor de nosso Deus e no serviço de nosso próximo, no puro temor de Deus. 35. Ante Ocultamento: Da mesma forma que desde o princípio de nosso ministério temos estado dispostos e ansiosos de dar uma explicação da nossa fé a quantos a pedirem de boafé, seja governantes ou cidadãos, instruídos ou não, ricos ou pobres, homem ou mulher. Ainda hoje estamos dispostos a fazê-lo na medida do possível, visto que não nos envergonhamos do glorioso Evangelho de Cristo. Se alguém deseja ouvir algo de nós, estamos dispostos a ensinar-lhe; se alguém deseja conhecer nossos princípios, é o desejo do nosso coração, se não bastaram os nossos escritos, explicar-lhes claramente. Porque faremos o maior empenho para que a verdade seja trazida a luz. Mas não permitimos de maneira alguma que o extermínio sanguinário do Anticristo seja tentado, pois isso é coisa do diabo, e incompatível com um cristão. 36. Atitude para com outras Denominações: Leitor meu, entenda-me bem. Não discutimos a respeito de que Deus tenha ou não os seus eleitos entre as Igrejas anteriormente citadas (as igrejas perseguidoras do Estado) mas que o deixamos livre agora e para sempre ao reto juízo de Deus... ...mas o assunto em questão é com que espírito, doutrina, sacramentos, ordenanças e vida, Cristo ordenou formar para Si uma Igreja permanente e mantê-la em seus caminhos. 37. Exemplos de consagração ao serviço do Senhor: Sim, querido leitor, a verdadeira fé Cristã como as Escrituras a requerem, é tão viva, ativa e poderosa para todos aqueles que mediante a graça do Senhor a receberam em seu coração, que não hesitam em deixar pai e mãe, mulher e filhos, SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 45 dinheiro e posses pela palavra e testemunho do Senhor; estão dispostos a sofrer escárnio e desprezos, privações e perigos, e finalmente a que seus miseráveis e fracos corpos, tão resistentes ao sofrimento, sejam queimados na fogueira, como tem sido observado especialmente nestes Países Baixos, para exemplo de muitos e fiel testemunho de Jesus. Quantos, ai! Que conheci em tempos passados, e conheço a maior parte deles agora, homens e mulheres, rapazes e donzelas, (queira Deus que cresçam para a sua glória e para a salvação do mundo, de muitos milhares e milhares) que desde o mais profundo das suas almas procuram a Cristo e a sua palavra, levam (dentro de sua imperfeição) uma vida piedosa e irrepreensível diante de Deus e dos homens; são sinceros e puros de doutrina, irrepreensíveis, como foi dito, em suas vidas, cheios do temor e amor de Deus, atenciosos para todos, misericordiosos, compassivos, humildes, sóbrios, castos, não rebeldes e sediciosos, mas tranquilos e pacíficos, obedientes ao governo, em tudo o que não seja contrário a Deus; apesar disso, por anos não tem dormido em suas próprias camas, nem ainda hoje podem fazê-lo. Porque são tão odiados pelo mundo que são perseguidos sem misericórdia, são traídos, capturados, exilados e despojados de suas propriedades e vida como criminosos, assassinos ou malfeitores. E tudo isto pela única razão de temer a Deus verdadeiramente, não concordar em participar da abominável vida carnal nem da maldita e vergonhosa idolatria deste mundo cego. Visto que se provou com atos e em verdade que nossos fiéis irmãos e irmãs em Cristo, os amados companheiros em tribulação e no reino e paciência de nosso Senhor Jesus Cristo (Apocalipse 1:9) temem ao Senhor seu Deus tão sinceramente, que antes de pronunciar uma palavra falsa deliberada ou voluntariamente (negando que foram batizados) ou operar hipocritamente de forma contrária a Palavra de Deus (opondo-se aparentemente a suas próprias convicções diante da igreja dominante a fim de evitar a perseguição), dariam o seu bom nome, reputação, assim como o seu dinheiro, posses, corpos e tudo o humanamente desejável, como despojo aos sanguinários; portanto, deixaremos livre ao juízo de Vossas Excelências e Honorabilidades, determinar se estas pessoas são tão perniciosas e más como, infelizmente são chamadas por muitos, e geralmente conceituadas. Não considero que a minha vida seja melhor do que a que os amados homens de Deus, viveram. Não posso ser privado de nada, exceto deste perecível corpo mortal que algum dia há de morrer e retornar ao pó (mesmo que vivesse até a idade de Matusalém). Nem um cabelo cairá da minha cabeça sem a vontade de meu Pai celestial. Se perder a vida por amor de Cristo e seu testemunho, e por causa do meu SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 46 sincero amor pelo meu próximo (em cuja salvação estou empenhado) tenho a certeza que conseguirei a vida eterna. Portanto, não posso guardar a verdade para mim mesmo, mas devo dar testemunho dela e ensiná-la sem hipocrisia e em verdadeiro temor de Deus, aos meus amados senhores. 38. Trabalhando sob Dificuldades: Aquele que me comprou com o sangue do seu amor, e me chamou sem ser digno para o seu serviço, me conhece e sabe que não busco posses terrenas nem vida fácil, mas somente a glória de Deus, minha salvação e a de muitas almas. Porque tanto eu como a minha fraca esposa e filhos temos suportado por volta de dezoito anos de ansiedade extrema, opressão, aflição, falta de um lar, perseguição, risco de vida e grande perigo em todo momento. Ah! Enquanto os ministros da igreja oficial repousam em leitos macios e cômodas almofadadas, nós geralmente devemos ocultar-nos nos mais afastados esconderijos. Enquanto eles se entregavam indecorosamente aos banquetes de casamento e batismos, distraídos com flauta, tambor e alaúde, nós permanecíamos na expectativa de quando os cães ladravam, pois o guarda estava na porta. Enquanto eles são saudados como doutores, pregadores e mestres por todo o mundo, nós temos que ouvir eles nos chamarem de anabatistas, pregadores ocultos, sedutores e hereges, e ser saudados em nome do diabo. Enfim, enquanto eles são largamente recompensados por seus serviços com grandes entradas e tranquilidade, a nossa recompensa e porção deve ser o fogo, a espada e a morte. Considere fiel leitor, no meio de quanta ansiedade, pobreza, opressão e perigo de morte desempenhei eu, um homem despojado, o serviço do meu Senhor até hoje, e espero, por meio da sua graça, continuar nele para a sua glória enquanto permanecer neste tabernáculo terrestre. O que eu e meus fiéis colaboradores temos procurado ou poderíamos ter perseguido nesta jornada árdua e perigosa, é evidente por nossas obras e frutos para todas as pessoas de boa vontade. Em efeito, se chegou neste extremo (que Deus mude as coisas) que onde quatro ou cinco, dez ou vinte, se tem reunido no nome do Senhor, para falar da Palavra de Deus e para fazer a sua obra, no meio dos quais está Cristo, que temem a Deus com todo o seu coração e levam uma vida piedosa, irrepreensível diante do mundo, se são surpreendidos numa reunião, ou se há uma acusação contra eles, devem ser entregues para ser queimados na fogueira, ou afundados na água. Mas aqueles que se reúnem em nome SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 47 de Babel ... em lugares públicos de má fama e nas malditas tabernas de bêbados; que vivem em franca ignominia e trabalham impiamente contra a Palavra de Deus, os tais vivem em plena liberdade e paz. Enfim, leitor amado, que se o misericordioso Senhor no seu grande amor, não tivesse amenizado os corações de alguns governantes e magistrados e os tivesse deixado proceder de acordo com as instigações e pregações sanguinárias de seus teólogos, não teria sobrevivido nem uma pessoa piedosa. Mas mesmo sendo escassos, podem encontrar-se alguns que, deixando de ouvir as palavras e escritos de todos os teólogos, toleram aos exilados e por um tempo lhes mostram misericórdia; pelos quais louvaremos ao Deus altíssimo para sempre e por sua vez retribuiremos a nossa gratidão a tão bondosos e discretos governantes, com todo amor. Quando era do mundo, falava e me comportava como o mundo e o mundo não me odiava. Naquilo que servi ao mundo, o mundo me recompensou. Todos falavam bem de mim, o mesmo que fizeram os seus pais com os falsos profetas. Mas agora que amo não o mundo mas aos que estão no mundo com amor divino, procuro com todo o meu coração a sua salvação e bênção, lhe admoesto, instruo e repreendo com a Tua Santa Palavra e lhe mostro a Cristo Jesus crucificado, o mundo se converteu para mim numa pesada cruz e num fel de amarguras. Tão grande é o seu ódio que não somente eu, mas todos aqueles que me mostraram amor, misericórdia e piedade em alguns lugares, devem enfrentar prisões e morte. Oh, Senhor bendito! Sou considerado por eles menos digno de clemência do que um ladrão e assassino declarados. 39. Perseguição: Quantos piedosos filhos de Deus, pelo testemunho de Deus e por razões de consciência, tem sido despojados de seus lares e posses e confiscadas suas propriedades para encher os insaciáveis cofres do Imperador; quantos tem sido traídos, lançados fora de cidades e países, atados à estaca e torturados, enviando os pobres órfãos desnudos pelas ruas. Alguns deles são pendurados, outros torturados com crueldade desumana e depois enforcados. Alguns assados e queimados vivos. Alguns tem sido mortos pela espada e entregues aos abutres para serem devorados; outros foram lançados aos peixes; os lares de alguns destruídos, outros atirados em lamaçais e a outros se lhes cortaram SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 48 os pés; tenho visto a um destes últimos e tenho conversado com ele. Outros vagam daqui para lá na miséria, sem lar, em aflição, por montanhas e desertos, em grutas e covas da terra como disse Paulo. Devem fugir de uma cidade para outra, de um país para outro, com sua esposa e filhos. São odiados, ultrajados, caluniados, e denegridos por todos os homens; denunciados pelos teólogos e magistrados; tem sido privados de seu alimento, atirados fora no cruel inverno e apontados com o dedo do escárnio. Qualquer um que colaborava na perseguição dos pobres e oprimidos cristãos, pensava que fazia um serviço à Deus, como disse Jesus. (João 16:2). Se um ladrão é levado ao patíbulo, um criminoso esquartejado no torno, ou qualquer outro malfeitor castigado com uma pena de morte inusitada, todo o mundo pergunta o que ele fez. A sentença não é dita enquanto os juízes não entenderem plenamente a causa e conhecerem a verdade no que se refere ao delito. Mas toda vez que um inocente e contrito cristão ao qual o Senhor na sua graça resgatou do caminho da perversidade e do pecado, e guiado pelos caminhos de paz, é acusado pelos sacerdotes e pregadores, e conduzidos diante dos tribunais, não o consideram digno de investigar detidamente que razões e Escrituras o impelem para não mais escutar a sacerdotes e pregadores ... Não desejam saber por que corrigiu a sua vida e recebeu o batismo de Cristo, ou qual pode ser o motivo pelo qual está disposto a sofrer e morrer pela sua fé. A única pergunta que lhe é feita é se foi batizado. Se a resposta for afirmativa, a sentença já está dada e tem que morrer. Visto que é evidente que todo o mundo está tão hostilmente predisposto contra nós, mesmo que injustamente, ao extremo de não querer nem nos ver nem nos ouvir, e que muitas inocentes ovelhas do Senhor, mais do que um piedoso que sem ser mestre é levado para a degola aqui e ali, executado e assassinado sem clemência pela espada, fogo e água; e que a nós, míseros mestres, em nenhuma parte se nos concede muito mais do que uma pocilga para viver em liberdade, com o conhecimento e aprovação das autoridades, mas por meio de editos públicos somos julgados antes de sermos presos e condenados antes de sermos persuadido; sendo que tais condições não prevaleceram, que eu saiba, nos tempos dos apóstolos em nenhuma parte. Rogo a todos os meus leitores pelo amor de Deus, que considerem no temor do Senhor quão grande injustiça cometem conosco Gellius e seus seguidores com suas perversas e cruéis palavras, a saber: pregadores noturnos, pregação clandestina, etc. quando não podemos proceder de outra maneira como é bem conhecido. . . Estamos dispostos em qualquer momento a prestar contas da nossa fé SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 49 diante de qualquer um e a defender a verdade onde quer que se possa fazê-lo de boa-fé, sem ardis ou tentativas contra nossas vidas. Por muitos anos temos proclamado a doutrina da Palavra divina nas comarcas alemãs com poder e clareza cada vez maiores, de modo que era palpável e evidente que se tratava da obra e dedo de Deus. Porque os orgulhosos tornam-se humildes, os avaros tornam-se generosos, os beberrões tornam-se sóbrios, os impuros tornamse honestos, etc. Porque a Palavra de Deus é aceita por eles com tanta firmeza que não hesitam em abandonar pai e mãe, esposo, mulher, filhos e posses por causa dela, e voluntariamente sofrer a morte. Porque muitos são queimados na fogueira, muitos afogados, muitos executados com a espada, muitos, encarcerados, exilados e seus bens confiscados. No entanto, nada é válido diante dos inflexíveis perseguidores. Basta dizer, quando tem sido degolado um pobre inocente, um do rebanho do Senhor, que “é Anabatista” para que seja o suficiente. Não se verifica que provas ou base bíblica tem, de que natureza são a sua vida e a sua conduta, se ofendeu a alguém, ou não. Ninguém medita ou considera que tem que ser uma obra e poder especiais... para causar a um homem tanto sofrimento, vergonha e infâmia inacreditáveis, grande perseguição, miséria e até a morte, como podeis ver. Ainda que infelizmente aqui devemos ser perseguidos, oprimidos, golpeados, saqueados, queimados, afogados, pelo Infernal Faraó e seus cruéis e desapiedados servos, no entanto, logo chegará o dia da nossa libertação, em que nos serão enxugadas todas as lágrimas e seremos adornados com vestimentas brancas da justiça, junto ao Cordeiro, e com Abraão, Isaque e Jacó nos sentaremos no reino de Deus e possuiremos a deliciosa e prazerosa terra do gozo eterno e imperecível. Louvai ao Senhor e levantai a cabeça, vós os que sofreis por amor a Jesus; está próximo o dia em que ouvireis: “Vinde, benditos” e vos regozijareis com Ele para sempre. 40. Uma oração de Menno Simons: Oh, Senhor! Estou certo que nem a vida nem a morte, nem anjos, nem principados, nem potestades, nem as coisas presentes, nem as coisas por vir, nem o alto, nem o baixo, nem nenhuma outra criatura nos separará do Teu amor que está em Cristo Jesus. Contudo, não me conheço a mim mesmo; toda a minha confiança está em Ti. Mesmo que tenha bebido um pouco do cálice até o fim. Porque quando se padecem SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 50 prisões e cadeias, e quando a morte por água, fogo e aço ameaçam e então o ouro é separado da madeira, a prata da palha, as pérolas da folharada. Portanto, não me abandones, benigno Senhor; porque sei que podem desarraigarse árvores de profundas raízes pela violência do furação, e as altas e firmes montanhas partir-se em dois pela força do cataclismo. Por acaso Jó e Jeremias, verdadeiros exemplos de integridade, não titubearam no Teu caminho pela fraqueza da carne? Rogo, bendito Senhor, conforme a Tua fidelidade e graça, sei que não permites que eu seja tentado mais do que sou capaz de suportar, para que a minha alma não seja envergonhada pela eternidade. Não rogo pelo meu corpo, eu sei que está sujeito a sofrimento e morte. Somente por isto Te rogo: não me abandones na hora da prova, mas providencies um meio de escape para a tentação. Livra-me de todas as minhas angústias porque em Ti coloco a minha confiança. (Meditação sobre o Salmo 25). Oh Senhor! Oh amado Senhor! Não permita que Teu pobre e pequeno rebanho seja completamente devorado pelo furioso dragão; conceda-nos por Tua graça e paciência que possamos impor a espada de Tua boca e deixar uma semente permanente que guarde os Teus mandamentos, preserve o Teu testemunho e louve para sempre o Teu grande e glorioso nome. Amém, querido Senhor, Amém. anabatistas SIGNIFICADO Anabaptistas ("re-baptizadores", do grego ανα (novamente) + βαπτιζω (baptizar); em alemão: Wiedertäufer) são cristãos sectários do Anabatismo, a chamada "ala radical" da Reforma Protestante. São assim chamados porque os convertidos eram baptizados em idade adulta, desconsiderando o baptismo da Igreja Católica Apostólica Romana. Assim, re-baptizavam todos os que já tivessem sido baptizados em criança, crendo que o verdadeiro baptismo só tem valor quando as pessoas se convertem conscientemente a Cristo. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 51 ORIGEM Os anabatistas fundaram então sua primeira igreja no dia 21 de janeiro de 1525, próxima a Zurique, na Suíça. Perseguidos na Suíça, o movimento espalhou pelo sul da Alemanha, Vale do Reno, Caríntia e Países-Baixos. Somente grupos pacifistas dos anabatistas sobreviveram, como os organizados por Menno Simons nos Países Baixos e hutteritas (Jacob Hutter) no Tirol, organizado por Jacob Hutter em um grupo comunal que ainda existe nos Estados Unidos. Os Amish nasceram dentre os Mennonitas e os Dunkers são frutos do encontro entre anabatismo e o pietismo(*). Simples esclarecimentos: Menno Simons Jacob Hutter Menonitas Hutteristas (*) pietismo • pg 54 DOUTRINA As doutrinas enfatizadas pelos anabaptistas, a exemplo dos Mennonitas, apontadas pelo teólogo John Howard Yoder são: A Bíblia, principalmente a ética do Novo Testamento, devem ser obedecidas como a vontade de Deus, embora não sistematizando sua teologia, mas aplicando-as no dia-a-dia. A interpretação da Bíblia é realizada nos cultos e reuniões da igreja. A Igreja é uma comunidade voluntária formada de pessoas renascidas. A Igreja não é subordinada a nenhuma autoridade humana, seja ela o Estado, ou hierarquia religiosa. Assim evitam participar das atividades governamentais, jurar lealdade à nação, participar de guerras. A Igreja não é uma instituição espiritual e invisível, mas uma coletividade humana e real, marcada pela separação do mundo e do pecado e uma posição afirmativa em seguir os mandamentos de Cristo. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 52 A Igreja celebra o Batismo adulto normalmente por infusão como símbolo de reconhecimento e obediência a Cristo, e a Santa Ceia em memória da missão de Jesus Cristo. A Igreja tem autoridade de disciplinar seus membros e até mesmo sua expulsão, a fim de manter a pureza do indivíduo e da igreja. Como pode ser notado, a teologia anabatista é maciçamente eclesiológica (*), baseada na vida comunitária e Igreja. Quanto a salvação, o Anabatismo crê no livre-arbítrio, o ser humano tem a capacidade de se arrepender de seus pecados e Deus regenera e ajuda-o a andar em uma vida de regeneração. O que é único na Teologia Anabatista, principalmente depois de Menno Simons, é a visão sobre a natureza de Cristo, crendo que Jesus Cristo foi concebido miraculosamente pelo Espírito Santo no ventre de Maria, mas não herdou nenhuma parte física dela. Maria, seria portanto um instrumento usado por Deus, para cumprir o seu plano, mas não Theotokos (Mãe de Deus). A essência do cristianismo consiste em uma adesão prática aos ensinamentos de Cristo. A ética do amor rege todas as relações humanas. Pacifismo: Cristianismo e violência são incompatíveis. (*) eclesiológica ou eclesiologia: (do grego ekklesia) É o ramo da teologia cristã que trata da doutrina da Igreja: seu papel na salvação. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 53 A CONFISSÃO DE SCHLEITHEIM Durante este período, o anabatismo na Suíça esteve fortemente ameaçado de desintegração, pois o círculo original de líderes estava disperso ou havia sido preso ou executado. Fazia-se urgente a unificação e consolidação dos principais pontos da doutrina anabatista, pois a dispersão de seus líderes, por um lado, e a formação de novos, por outro, tornava-se difícil. Com este objetivo, os principais líderes anabatistas remanescentes reuniram-se em assembleia em fevereiro de 1527 em Schleitheim, pequena aldeia situada entre Zurique e Schaffhausen, perto da fronteira entre a Suíça e a Alemanha. O documento elaborado passou a ser denominado de Confissão de Schleitheim (SIEMENS, 2010, p. 231-232). Bastante conciso, continha apenas sete artigos e seu objetivo principal era dar uniformidade ao movimento anabatista: Serão batizados apenas os que andarem na ressurreição, ou seja, os que mostrarem a vida transformada pelo amor de Deus. Os membros que retornarem para uma vida de pecado e se negarem a voltar a um discipulado fiel serão excluídos do corpo da Igreja. Os que desejarem participar da Ceia do Senhor devem se unir na fé e no batismo de crentes. Os cristãos devem viver uma vida santa, ou seja, à parte dos pecados da sociedade ao seu redor. A congregação será servida por pastores. Seus deveres consistem em pregar a Palavra de Deus, presidir às celebrações da Ceia do Senhor e ser supervisores, de modo geral, dos membros. Os discípulos cristãos devem, em toda e qualquer circunstância, assumir a atitude do Salvador sofredor. Nunca usarão a força ou a violência, nem participarão de guerra alguma. Em obediência estrita às doutrinas de Cristo, os membros nunca pronunciarão juramento de qualquer espécie, nem mesmo juramentos civis. Simplesmente deverão afirmar a verdade. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 54 A assembleia de Schleitheim teve uma dupla importância: primeiro, a reunião foi realizada com grande êxito, logrou congregar as mais diversas correntes dentro do anabatismo. Tanto conformistas como radicais tomaram parte das discussões na elaboração do texto final aprovado da confissão de fé. Isso deu um caráter bastante uniforme à doutrina anabatista, fazendo-a ser aceita como completa e abrangente pelas mais diversas tendências do movimento. pietismo É um movimento oriundo do Luteranismo que valoriza as experiências individuais do crente. Tal movimento surgiu no final do século XVII, como oposição à negligência da ortodoxia luterana para com a dimensão pessoal da religião, e teve seu auge entre 1650-1800. O Pietismo combinava o Luteranismo do tempo da Reforma, enfatizando a conversão pessoal, a santificação, a experiência religiosa, diminuição na ênfase aos credos e confissões, a necessidade de renunciar o mundo, a fraternidade universal dos crentes e uma abertura à expressão religiosa das emoções.2 O Pietismo influenciou o surgimento de movimentos religiosos independentes de inspiração protestante tais como o metodismo , o Movimento de Santidade, o evangelicalismo, pentecostalismo, o neo-pentecostalismo e grupos carismáticos, além de influenciar a teologia liberal. DOUTRINA O tema central do pietismo é a experiência do crente com Deus, sua condição de pecador e o caminho para sua salvação. Sublinhava-se a necessidade da conversão individual e do nascer de uma nova conduta no crente, desapegada do mundo material e firmada no apoio mútuo da comunidade reunida em culto ao redor do estudo da Bíblia. Ao enfatizar a dimensão experiencial e a prática da fé, os pietistas, por um lado, desenvolveram uma moralidade ascética por vezes áspera, especialmente no que tange à alimentação, vestimenta e lazer; por outro lado, enfatizaram um sentimento de responsabilidade para com o mundo, do qual desdobraram-se SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 55 atividades de missão e caridade. Além disso, dada a ênfase no contato direto da pessoa com Deus... PHILIP JACOB SPENER Rappoltsweiler, Alsácia, 13 de janeiro de 1635 Berlim, 5 de fevereiro de 1705 Foi um teólogo luterano alemão, considerado o pai do Pietismo protestante. Era um autodidata que cedo percebeu o fato da Reforma Protestante não estar completa. Em sua vida, entrou em contato com importantes teólogos e seus livros, tendo estes exercido influência direta em suas obras posteriores. Sendo luterano, evocou das obras de Martinho Lutero um pouco de sua ortodoxia, como a salvação e justificação concedidas pela graça de Deus, mediante a fé somente e todas as questões que foram essenciais à Reforma do século XVI. Achava o Cristianismo de sua época muito decadente, pois os pastores e membros de suas igrejas eram muito acomodados e frios com relação à vida espiritual. Também se considerava apto a continuar a Reforma de Lutero, passando a fazer pregações e reunindo os collegia pietatis (*), minúsculos grupos de pessoas que se propunham a estudar e debater a Bíblia. Em 1675 publicou o Pia desideria ou Desejos pios para a reforma da verdadeira Igreja evangélica, uma introdução a uma coletânea de sermões de Arndt, mas o ensaio ganhou vida própria. O título deu origem ao termo "Pietistas" e tornouse um manifesto para a renovação da Igreja. Nesta publicação fez seis propostas como o melhor meio de restaurar a vida da Igreja: 1. Sério e profundo estudo da Bíblia em reuniões privadas em ecclesiolae ecclesia ( "igrejas dentro da Igreja"); 2. O Cristianismo sendo o sacerdócio universal, os leigos devem partilhar no governo espiritual da Igreja; 3. O conhecimento do Cristianismo deve ser alcançado através da prática; SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 56 4. Ao invés de ataques aos incrédulos e heterodoxos, dar um tratamento simpático e gentil a eles; 5. Uma reorganização da formação teológica das universidades, dando maior destaque à vida devocional; 6. Um estilo diferente de pregação, ou seja, no lugar de retórica agradável, a implantação do cristianismo, no interior ou novo homem, que é a alma da fé, devendo trazer frutos para a vida. Este trabalho produziu uma grande impressão em toda a Alemanha e, embora um grande número de teólogos e pastores luteranos ortodoxos tenham sido profundamente ofendidos por Spener em seu livro, as suas reivindicações foram admitidas e muito bem justificadas. Consequentemente, um grande número de pastores imediatamente adotaram as propostas de Spener. Enquanto o pietismo tradicional permaneceu dentro das igrejas luteranas apesar de suas críticas, o pietismo radical distanciou-se das igrejas estabelecidas ainda mais. Doutrinariamente, muitas vezes os pietistas radicais refletem as influências de Jacob Boehme, mas eram separatistas formando suas próprias congregações. O pietismo radical criticou as noções luteranas de expiação, a autoridade das Escrituras, sacramentos e no ministério. O pietismo prático foi promovido pela nova universidade pietista de Halle (Saale). Em Halle o pastor August Hermann Francke fundou em 1695 orfanatos, asilos e gráficas, dando um caráter de ação social do pietismo. A Universidade de Halle tornou-se o centro de divulgação de pietismo a partir de 1698. A gráfica social de Francke distribui 80 mil Bíblias completas e 100 mil Novos Testamentos em apenas sete anos - um fato notável,já que antes na Alemanha, cerca de 80 anos (1534-1626) foram produzidas apenas 20.000 Bíblias. Outros movimentos acabaram por ser influenciado pelo pietismo e ganharam identidades denominacionais próprias, como o metodismo, as Igrejas Livres, os Dunkers e alguns ramos anabatistas, como a Igreja dos Irmãos Mennonitas. Spener tinha em mente o fato de que não adiantava ir à igreja e viver dançando, indo ao teatro e participando de jogos. Que aqueles que tinham abraçado a fé cristã, mas tinham esfriado, tinham que ser levados a um renascimento, do contrário estariam perdidos. Suas idéias também tiveram início ao ler obras do teólogo J. Arndt SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 57 e ao estudar com o professor Christian Danhauer na faculdade teológica de Estrasburgo. * Collegia pietatis é uma expressão latina que descreve os grupos religiosos paralelos à igreja reformada e/ou protestante européia alemã, destinados a promover a leitura, a comunhão e o debate sobre a Bíblia. Quem fomentou o início da formação destes grupos foi o teólogo alemão Philipp Jakob Spener, com o intuito de continuar a Reforma Protestante. Mennonitas ou Menonitas SURGIMENTO DENOMINAÇÃO MENONITAS: Sua liderança entre os anabatistas holandeses num momento crucial de sua história acabou por fazer com que os anabatistas adotassem a denominação de menonitas, para fugir da conexão existente entre o termo anabatista e o episódio de Münster (perseguição e morte por extremistas e contrários aos anabatistas). QUEM SÃO: Grupo de denominações cristãs que descende diretamente do movimento anabatista que surgiu na Europa no século XVI, na mesma época da Reforma. Tem o seu nome derivado do teólogo frísio Menno Simons (1496-1561), que através dos seus escritos articulou e formalizou os ensinos dos seus predescendentes anabatistas suíços. Segundo estimativas de 2009, há mais de 1,6 milhões de menonitas espalhados pelo mundo todo. Frísio = Frísia SAIBA + IRMÃOS MENONITAS É uma província. Ao norte dos Países Baixos - Holanda 58 HISTÓRIA: Em 1523 Ulrich Zwingli, um ex-padre católico, começou a reformar a igreja na cidade suíça de Zurique. Um grupo de seus discípulos, liderados por Conrad Grebel, Félix Manz e Georg Blaurock logo rejeitou Zwingli que usava a Câmara Municipal para fazer a reforma. O grupo começou a estudar a Bíblia, e não encontrou qualquer justificação para a "igreja do estado", mas acreditavam que os cristãos eram uma comunidade de crentes que livremente escolheram seguir a Cristo, e seu testemunho público de sua fé seria através do batismo adulto. Isto significava declarar inválido o batismo das crianças. Em 21 de janeiro de 1525, em Zollikon, um subúrbio de Zurique, o grupo decidiu batizar um ao outro. Batismo de adultos como uma parte essencial da sua fé, quase que imediatamente começou a chamar os "anabatistas", mas o grupo preferiu o nome de irmãos suíços. O movimento se espalhou rapidamente por toda a Europa, especialmente nos territórios do Império Alemão. A situação piorou para os anabatistas, quando em 1526, ordenou-se que cada subdivisão política do império deveria adotar a religião do governante. Se o líder fosse um católico, assim deviam ser seus súditos. Se o governante era luterano, seus súditos tinham que praticar a religião luterana, que conflitava diretamente com a concepção dos irmãos, que acreditavam em uma comunidade de crentes que escolhem livremente a sua fé sem a interferência da autoridade civil em matéria de fé. Em 1529, embora os principais defensores da Reforma divulgassem no seu famoso protesto (daí o nome "protestante"). Assim, foi promulgada a lei imperial de 23 de abril de 1529 ordenando "tirar a vida de todo rebatizado ou rebatizador, homem ou mulher, maior ou menor, e executar de acordo com a natureza do caso e da pessoa, por fogo, por espada ou por outros meios sempre que um homem seja encontrado." A repressão piorou após a rebelião dos anabatistas em Münster e extremistas, sob o pretexto de esmagar a revolta encenada por eles e suas idéias subversivas, multiplicado execuções Irmãos, embora eles sempre foram pacifistas e rejeitassem as ideias e práticas münsteristas (*). O testemunho pessoal e a perseguição religiosa levaram os anabatistas e a nova doutrina a diferentes países da Europa, surgindo inúmeras igrejas inicialmente na Suíça, Prússia (atual Alemanha), Áustria e Países Baixos. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 59 O principal ponto de discórdia entre os menonitas e seus perseguidores era o batismo infantil. Os menonitas acreditam que a igreja deve ser formada a partir de membros batizados voluntariamente. Isso não era tolerado pela maioria dos Estados, nem pela igreja católica nem pela igreja protestante oficial da época. Os menonitas tiveram durante a sua história diversos pontos de discórdia entre si o que sempre acabou levando a divisões e novas denominações entre eles, como por exemplo os Amish. Durante o século XVI os menonitas e outros anabatistas foram duramente perseguidos, torturados e martirizados. Por isso muitos deles emigraram para os Estados Unidos, onde ainda hoje vive a maior parte dos menonitas. Eles estão entre os primeiros alemães a imigrarem para os Estados Unidos. Outros se isolaram em colônias e povoamentos fechados dentro de Estados onde eram tolerados. Em 1788, a convite de Catarina, a Grande, imperatriz da Rússia, agricultores menonitas da Prússia (atualmente Alemanha e Polónia) emigraram para Chortitza (em 1789) e Molotschna (em 1804) no sul da Rússia (atualmente Ucrânia). Com o passar do tempo, por escassez de terra e outros motivos, surgiram muitas outras colonizações menonitas que lutaram pelo seu bem-estar espiritual, cultural e material em diversas regiões da Rússia Europeia e asiática. Através de intensa migração e também de evangelismo os menonitas se espalharam por todos os continentes do globo, sendo que a maior comunidade menonita se encontra atualmente na África. UMA CULTURA MENONITA SE DESENVOLVE: O isolamento possibilitou a criação de uma identidade menonita que ultrapassou as fronteiras da religião. Um dialeto próprio, o Mennoniten Platt, que carregava a herança da saga dos menonitas por várias regiões da Europa, com elementos de alemão, holandês, lituano e russo foi desenvolvido, ao lado da adoção do alemão standard como língua do culto e da vida pública na colônia. A necessidade de educação favoreceu a criação de um sistema escolar menonita. Também na área da SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 60 administração das colônias, os menonitas desenvolveram uma tradição de autogestão. A experiência com pecuária leiteira e com cultivo de cereais fez dos menonitas especialistas na produção de queijos e laticínios e conhecidos na Europa como grandes fazendeiros e colonizadores de pântanos. Em especial, durante a permanência dos menonitas na Rússia, a vida comunitária dos menonitas se desenvolveu ao máximo. Tanto em termos de quantidade de terras, como do número de habitantes. Nessa fase, houve a ascensão de um confronto entre duas linhas de concepção de vida religiosa. A partir de 1870, emerge um movimento de inspiração pietista que propõe uma renovação na vida religiosa das comunidades menonitas. É a emergência de uma fraternidade, a Igreja dos Irmãos Menonitas, de inspiração fundamentalista, que tenta resgatar uma prática religiosa mais pura e mais rigorosa na observância da prática religiosa. O movimento é de tal amplitude que provoca a cisão das comunidades menonitas e posteriormente a emigração de grandes grupos de menonitas renovados, da Rússia para o Canadá e outros países americanos. OS MENONITAS DIANTE DA REVOLUÇÃO RUSSA: Com a Primeira Guerra Mundial, aumentou o envolvimento dos menonitas com a sociedade russa. Seus hospitais e lazaretos atendiam a muitos que não eram menonitas. A prosperidade econômica das colônias, agora espalhadas por todo o Império Russo, aprofundava os contatos entre os menonitas e a sociedade russa. Grande número de russos era empregado em fazendas, fábricas e residências menonitas. Mas esse bom relacionamento não foi suficiente para transpor as diferenças sociais, culturais e econômicas existentes. Os menonitas muitas vezes se portavam de forma arrogante e superior, comportamento próprio de uma minoria em ascensão, o que causava péssima impressão nos russos, em especial nos mais nacionalistas. Essas atitudes, unidas à sua prosperidade geral, num país onde reinava a miséria e onde a maior parte do povo ainda não tinha acesso à propriedade da terra, levaram as colônias menonitas a terem sérias dificuldades com a eclosão da Revolução Russa de 1917. Eles eram suspeitos de colaborar com a Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial, porque eram considerados legalmente como uma minoria alemã dentro da Rússia e o alemão era sua língua principal, apesar de falaram russo. Por serem ricos SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 61 fazendeiros e comerciantes, fortemente ligados às atividades capitalistas, eram considerados inimigos da Revolução Bolchevique. Com a guerra civil entre os Exércitos Vermelho e Branco, suas propriedades foram invadidas e devastadas. Logo depois, vieram grupos de bandidos armados roubando tudo o que podiam, matando e queimando o que restava (MASKE, 1999, p. 55). Em 1923, grande número de menonitas russos iniciou um fluxo emigratório para o Canadá, auxiliado por um grupo que já havia se estabelecido nas províncias centrais canadenses em 1874. Os que optaram por permanecer iniciaram a difícil tarefa de reconstruir suas comunidades. Uma organização representativa foi estabelecida em Moscou para servir de negociadora entre o grupo e o governo revolucionário russo e defender os interesses dos que ficaram (DYCK, 1992, p. 172). Apesar de ter se implantado um regime socialista na Rússia, até 1928 não houve uma ação do governo revolucionário no sentido de confiscar a propriedade rural. Isso se devia à NEP (New Economic Policy), que não implantava ainda o confisco generalizado de todos os bens de produção. Era um tipo de socialismo de Estado que somente encampou as grandes fábricas, os bancos, a produção de energia, a mineração e as comunicações. O comércio, os pequenos empreendimentos industriais e todo o setor agrícola ficaram na mão da iniciativa privada. Inicialmente, com exceção da perseguição religiosa pelo Estado ateísta, as colônias foram menos atingidas. Mas com a ascensão de Stalin tudo mudou. O ano de 1928 marcou o fim das comunidades menonitas na Rússia. Marcou também o início da saída em massa de alemães da Rússia, entre eles os menonitas, para o Canadá, o Paraguai e o Brasil. A gota d´água, após todos os sobressaltos, foi o primeiro plano quinquenal de Stalin, que começou o confisco compulsório das terras agrícolas e sua coletivização. Com isso, a maior riqueza dos menonitas, a terra, foi definitivamente perdida na Rússia. Numa tentativa de fuga, cerca de 13 mil menonitas se amontoaram nos arredores de Moscou, para aguardar a permissão para deixar a União Soviética (MASKE, 1999, p. 56). Após difíceis negociações, o governo alemão, que havia tomado a frente nas negociações para defender os seus residentes na Rússia, conseguiu uma permissão para quase metade dos menonitas. Os que não estavam incluídos foram deportados para o interior do país. Os que conseguiram passar para a Alemanha aguardariam ainda algum tempo num campo de refugiados em Mölln, perto de Hamburgo. A Alemanha não queria SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 62 receber os refugiados em forma permanente e procurava países que estivessem dispostos a receber os menonitas e dar-lhes isenção de juramento e de serviço militar, dado seu pacifismo religioso. O Brasil se prontificou a recebê-los, mas não iria conceder nenhum privilégio, seja de cunho religioso, seja para que os menonitas tivessem alguma isenção fiscal ou do serviço militar. O Paraguai, muito interessado em povoar o Chaco, em disputa com a Bolívia, concordou com todas as reivindicações dos menonitas. O Canadá decidiu não receber ninguém daquele grupo. Em virtude disso, a maioria optou pelo Paraguai, onde se estabeleceu uma grande e ativa comunidade menonita. Um contingente de 1.300 menonitas optou por vir para o Brasil, apesar de não terem recebido nenhuma concessão em termos de observância religiosa, a não ser a completa liberdade de construir uma instituição eclesiástica independente e de exercer plenamente sua prática religiosa. TEOLOGIA: A teologia menonita enfatiza a primazia dos ensinamentos de Jesus como escritos no Novo Testamento. No ideal de uma comunidade religiosa baseada nos modelos do Novo Testamento no espiríto do Sermão da Montanha. As crenças básicas derivadas das tradições anabatistas são: Salvação pela fé em Jesus Cristo. A autoridade das Escrituras e do Espírito Santo. Batismo dos crentes entendido como: Batismo pelo Espírito Santo (mudança interna do coração), batismo pela água (demonstração pública de testemunho) Discipulado entendido como um sinal exterior de uma mudança interior. Disciplina na igreja, como descrito no Novo Testamento, particularmente de Jesus (por exemplo Mateus 18:15-18). Algumas igrejas menonitas praticam o banimento. A Ceia do Senhor entendida como um memorial ao invés de um sacramento ou ritual, de preferência comungado por crentes batizados dentro da unidade e disciplina da igreja. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 63 Os discípulos de Jesus Cristo não participam em guerras nem usam armas para atacar, ferir ou matar a seus inimigos. A IGREJA EVANGÉLICA IRMÃOS MENONITAS: Em meados do século XIX, o pastor evangélico Eduardo Wuest veio da Alemanha trabalhar entre seus conterrâneos que moravam no sul da Rússia, próximo à colônia menonita de Molotschna. Simultaneamente, este pastor passou a dirigir estudos bíblicos nas igrejas menonitas. Tanto o evangelho pregado pelo pastor Eduardo Wuest como a literatura religiosa ao pietismo de Wuettemberg, na Alemanha, movimento de avivamento com ênfase na regeneração e santificação, encontraram boa aceitação junto a muitos que, insatisfeitos com o estado das igrejas, almejavam uma vida renovada. O resultado foi um reavivamento espiritual na região, que resultou na Igreja Irmãos Menonitas, fundada em 6 de janeiro de 1860. Chamavam-se de irmãos porque os crentes ao Novo Testamento assim eram chamados (Fil. 4:1; l Pe 2:17). Através da imigração, a Igreja Irmãos Menonitas expandiu-se para as Américas do Norte e do Sul. Em cumprimento à grande comissão do Senhor Jesus: "ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura" (Marcos 16: 15), muitos missionários da América do Norte foram a outros países, especialmente da África e da Ásia, proclamar o evangelho da salvação. Assim, quando em 1930 um grupo de menonitas de origem alemã veio da Rússia ao Brasil, o trabalho de pregação do evangelho foi iniciado com auxílio dos irmãos da América do Norte. Segue: SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 64 Menonita Brasil a partir de: 1930 RESUMO: A imigração de alemães menonitas para o Brasil, notadamente para o Paraná e para Santa Catarina, revestiu-se de um caráter bastante especial, em comparação com outros grupos imigrantes. Originários da Reforma Protestante do século XVI, os menonitas se constituíram num grupo religioso bastante fechado e que rejeitava o contato com o mundo secularizado. Seus fundamentos religiosos se basearam no anabatismo, que rejeitava a ordem constituída, em nível religioso e também na relação do cristão com o Estado. Por esse motivo, os menonitas passaram a ser fortemente perseguidos, o que os fez buscar colonizar áreas despovoadas na Europa e nas Américas, em colônias fechadas, autogovernadas, onde tudo, inclusive atividades econômicas, hospitais e escolas, estava sob seu controle. Esse isolamento levou-os a criar uma identidade religiosa e étnica muito própria e característica, em que a língua alemã exercia um papel de coesão do grupo e que se fundamentava numa produção de memória histórica bastante ampla. Apesar de pacifistas, muitas vezes os menonitas foram vistos como elementos perigosos que precisavam ser integrados pelos governos dos países em que residiam. Disso resultaram imigrações forçadas, como foi o caso dos menonitas que chegaram ao Brasil a partir de 1930, vindos da Rússia soviética. Nesse estudo, será analisado também de que forma os menonitas tentaram implementar um projeto de colonização, primeiro em Santa Catarina e depois no Paraná, que possibilitasse sua sobrevivência econômica, mas também permitisse a manutenção da identidade religiosa e étnica do grupo, privilegiando a produção de fontes pelo grupo. INTRODUÇÃO: O objetivo do presente trabalho é apresentar os fundamentos da presença de comunidades menonitas no Brasil, desde 1930, ano de sua chegada, até 1945, final da Segunda Guerra Mundial e que marca uma nova fase na história das comunidades religiosas teuto-brasileiras. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 65 A OPÇÃO PELO BRASIL: Quase ao mesmo tempo em que o Paraguai se tornou uma possibilidade real para os refugiados menonitas, uma empresa colonizadora acabou interessando-se por eles: a Sociedade Colonizadora Hanseática (SCH), que nesse momento – 19291930 – colonizava largas faixas de terra no sul do Brasil. Essa empresa havia assinado um contrato com o governo de Santa Catarina para a colonização de terras no Alto Vale do Rio Itajaí, na região de Ibirama. Nessa localidade é que se pretendia alocar os menonitas. Os imigrantes menonitas chegados em 1930 não foram os primeiros menonitas no Brasil. Segundo Brepohl (1927, p. 10), os primeiros menonitas teriam chegado ao país em 1637, acompanhando Maurício de Nassau. O mesmo autor relata ainda que em 1870, quando da vinda de alemães do Volga para o Paraná, teria vindo um grupo de menonitas entre eles. Deixaram para trás uma vida inteira de lutas, parentes e amigos, muitos dos quais jamais voltariam a encontrar. Poderiam ter escolhido o Canadá como destino, mas Heinrich Martins, homem de confiança das organizações internacionais que promoviam a imigração e líder do grupo, na última hora optou pelo Brasil. O Monte Olivia chegou à Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, no dia 3 de fevereiro de 1930, depois de 19 dias de viagem, trazendo as primeiras 30 famílias menonitas – 179 pessoas. Outros dois navios, Baden-Baden e Madrid-Bremen, trouxeram mais colonos, fugitivos da região do Volga. Até 1932 chegariam ao Brasil 1.245 imigrantes menonitas, com a ajuda do governo alemão, da Cruz Vermelha Germânica e de menonitas holandeses. Do Rio de Janeiro para o porto de São Francisco do Sul, Santa Catarina, onde chegaram no dia 5 de fevereiro de 1930. De lá, para Itajaí – 9 horas de viagem no navio costeiro Max. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 66 Navio Madrid Bremen E de Itajaí até Blumenau, 8 horas de viagem num pequeno vapor fluvial. De Blumenau, 3 horas até a Estação Hansa, em Ibirama, que era chamada Hammônia. E da Estação, mais 60km a pé, em lombo de cavalo ou em carroças, entre montanhas, até a área de propriedade da Companhia Hanseática de Hamburgo, a oeste de Ibirama: o Vale do Rio Krauel, onde chegaram no dia 13 de fevereiro de 1930. O Krauel é um afluente do Rio Hercílio, que por sua vez é um braço do Rio Itajaí e que recebera este nome dos agrimensores da Companhia Hanseática, à época das primeiras imigrações de alemães ao país, anos antes, possivelmente numa referência ao embaixador alemão no Brasil. Tudo estava por fazer naquela terra desconhecida, muito diferente das planuras de trigo que plantavam no Volga. Por aqui eram as montanhas, muito calor, insetos, ameaças de ataques de índios remanescentes de antigas aldeias. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 67 Primeira experiência com plantação de arroz – David Nicket – Witmarsum - SC Foi com dificuldade que se habituaram ao feijão, arroz, mandioca e ao pão de milho em vez de trigo. Logo fundaram a Colônia Krauel, no Vale do Rio Krauel, com os núcleos Waldheim, Gnadental e Witmarsum, que era o centro de todo o estabelecimento; depois, com a chegada de mais menonitas, fundaram Auhagen na localidade que denominaram Stoltz Plateau. Os antigos colonizadores alemães chamavam de Nova África o núcleo colonial, porque muitos haviam lutado naquele continente antes de virem para o Brasil. Com a chegada dos menonitas e uma solicitação de Henrich Martins, mudou-se o nome do núcleo para Witmarsum, referência à terra natal de Menno Simons. A comunidade pouco falava ou entendia o português, pouco tinham contato com brasileiros. A maioria dos menonitas no Vale do Krauel era de agricultores, mas também vieram marceneiros, carpinteiros, alfaiates, sapateiros, enfermeiras e professores. A manutenção das famílias neste primeiro ano de imigração foi assegurada com a ajuda da Cruz Vermelha Germânica, no que se referia à agricultura; e da Holanda, por meio SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 68 da Hollaendisch Doopsgezind Bureau, na construção de escolas, serrarias e de uma cooperativa. No prédio onde hoje funciona a prefeitura de Witmarsum, funcionou o hospital, de 1936 a 1952. E logo que a produção de leite passou a fazer parte das atividades da colônia, a comunidade instalou no mesmo terreno da cooperativa uma desnatadeira e uma venda – o velho casarão ainda está em pé, recentemente foi restaurado e abriga uma casa de cultura da cidade. A educação para as crianças, no princípio, era ministrada na casa dos membros da comunidade, assim como os cultos e os ensaios do coral, até que em 26 de abril de 1931 fosse inaugurada a primeira escola de Witmarsum, no Ribeirão do Cambará. Aos domingos a escola dava lugar aos cultos. A primeira igreja foi construída em Waldheim, em 1932. Em 1934, a maior parte dos colonos menonitas de Auhagen e muitos das outras comunidades partiram para Curitiba, no Paraná, em busca de novas terras. David Koop transportando Leite para Curitiba PR - 1944 Os campos abertos de Curitiba permitiam o uso do arado e a criação de gado. Estabelecidos inicialmente nos bairros Pilarzinho, Bacacheri e Vila Guaíra, em SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 69 pequenas propriedades, com o dinheiro da venda de suas próprias terras adquiriram 100 alqueires na região dos bairros Boqueirão e Xaxim, na região Sul da cidade, formando um núcleo de pequenas chácaras. A atividade leiteira deste núcleo menonita em breve estaria suprindo mais da metade do leite consumido pela população da capital paranaense, e que mais tarde seria comercializado pela Cooperativa do Boqueirão, fundada pelo núcleo em 1945. Mais uma vez, religião, trabalho e educação faziam brotar o progresso na comunidade, ainda que recomeçando sua vida incansavelmente. Hoje a comunidade menonita de Curitiba mantém instituições de grande importância para a cidade. Entre elas: • O Núcleo Terapêutico Menno Simons atende aproximadamente 1.200 pessoas por mês. • A Casa José atende adolescentes carentes todos os dias e abriga rapazes, em regime de república, na Fazenda Rio Grande, cidade vizinha a Curitiba. • A AMAS, Associação Menonita de Assistência Social, atende mais de 900 crianças de Curitiba e cidades vizinhas - Lapa, Porto Amazonas e Palmeira -, em seis centros de educação infantil e um centro de apoio a pequenos agricultores, com alimentação, educação, lazer e principalmente para formar nas crianças um caráter cristão - presta apoio sociofamiliar e socioeducativo em meio aberto, é uma instituição filantrópica criada para promover o bem-estar social e espiritual nas comunidades e famílias carentes. • O Lar Betesda, uma clínica de repouso, apoio e recuperação para idosos, atua desde 1979. • A comunidade menonita mantém a Chácara Betel, o Esporte Clube Olímpico e o Danúbio, locais para esporte e lazer. • A Faculdade Fidelis, que surgiu da parceria entre os mantenedores do antigo ISBIM, Instituto e Seminário Bíblico Irmãos Menonitas, diversas denominações evangélicas - COBIM (Irmãos Menonitas), AIMB e AEM (Menonitas) e CIELB SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 70 (Evangélica Livre) - e a Fundação Educacional Menonita, para o credenciamento do Curso de Bacharel em Teologia pelo MEC. E a Fundação Educacional Menonita é a mantenedora do Colégio Erasto Gaertner, no bairro Boqueirão – a pequena escola destinada aos primeiros imigrantes do Krauel, que iniciou suas atividades em 1936 com 18 alunos, hoje é uma das mais respeitadas instituições de ensino de Curitiba, com cerca de 1.000 alunos e uma infraestrutura exemplar numa área de 20.000m2. No Krauel floresceu a fé que se espalha pelo Brasil e repousam nossos antepassados. Hoje são mais de 10.000 menonitas pelo país. Trabalho, religião e educação fazem brotar o progresso nas comunidades menonitas, seguindo o mesmo preceito que vem desde os tempos da Holanda, onde nasceu Menno Simons e onde começou nossa caminhada pelo mundo, plantando e colhendo a fé cristã: “Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 71 A ADAPTAÇÃO DOS MENONITAS AO BRASIL: A visão das montanhas da Serra do Mar, cobertas de vegetação tropical, deve ter sido aterrorizadora para os camponeses menonitas, habituados com o relevo plano da Rússia. Preocupações com a sobrevivência foram constantes entre os primeiros menonitas estabelecidos definitivamente no Brasil, pois tudo era novo para esses imigrantes. Apesar de informados sobre as condições naturais, novas comidas e novas doenças, o impacto do Novo Mundo foi aterrador. Ainda que o local onde os colonos foram assentados não fosse devoluto, já havia sido em parte colonizado por outros grupos de imigrantes alemães; os menonitas tiveram o ímpeto de voltar para a Europa ou seguir adiante para a Argentina. Os diretores da SCH reclamavam dos colonos, considerando-os indolentes e inadaptados para o trabalho, pois, na maioria, eram trabalhadores urbanos ou semiurbanos, que não estavam mais dispostos e nem acostumados com o penoso trabalho de derrubada da mata. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 72 Os colonos menonitas, por sua vez, diziam-se ludibriados pela SCH, que teria lhes oferecido benefícios que não estava disposta a dar. Muitos simplesmente abandonavam as colônias e dirigiam-se para cidades maiores como Blumenau, Joinville, Florianópolis, São Paulo e especialmente Curitiba, onde se dedicavam a ocupações urbanas para as quais estavam mais preparados e onde seriam mais bem remunerados. Já em 1932, há notícias de moças e rapazes menonitas que haviam se empregado como criados e serviçais em residências de famílias teuto-brasileiras em Curitiba. Também em 1936 foi fundado o primeiro colégio menonita de Curitiba, o Colégio Erasto Gaertner, no bairro do Boqueirão, para atender a demanda por educação apresentada pela pequena congregação menonita local. O Colégio atendia também a população local e já adotava o currículo oficial do Estado do Paraná, mas teve de ser temporariamente fechado em razão das leis de nacionalização do Estado Novo. Além das dificuldades com a adaptação na nova terra, antigos conflitos entre os menonitas passaram a atormentar os recém-chegados. Por volta de 1850, ainda na Rússia, ocorreu um grande cisma na Igreja Menonita. Esse fato ocorreu em decorrência da forte influência pietista que começava a promover um intenso reavivamento religioso entre os menonitas. Os partidários desse movimento conservador exigiam uma forma mais simples de organização comunitária, a comunidade de irmãos (Brüdergemeinde), da qual participavam os convertidos e que normalmente agregava os elementos mais pobres e desfavorecidos economicamente. Ao mesmo tempo, incentivavam o retorno ao estudo da Bíblia e o desligamento dos assuntos mundanos. Os que permaneceram na igreja antiga, a Kirchengemeinde (comunidade eclesiástica), eram, em geral, defensores de um posicionamento mais liberal nos costumes e mais aberto com outras comunidades cristãs. Também agregavam em geral os membros mais instruídos e prósperos da comunidade. Em Santa Catarina, a cisma e a rivalidade retornou com força e contribuiu para que muitas famílias decidissem abandonar a colônia e se dirigissem para Curitiba. Isso resultaria na dissolução do projeto de colonização menonita em Santa Catarina no início dos anos 1950. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 73 A CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE ECLESIAL MENONITA NO BRASIL: O PAPEL DA ESCOLA: A principal concentração de menonitas passou a ser o Paraná, onde os menonitas fundaram inicialmente duas colônias em Curitiba, nos bairros do Boqueirão e de Vila Guaíra. A partir dos anos 1950, fundaram uma nova colônia, Witmarsum, no município de Palmeira, a meio caminho de Curitiba e Ponta Grossa. Nos tempos atuais, pode-se considerar que Curitiba acabou por se desenvolver no principal centro do movimento anabatista-menonita no Brasil. Para consolidar a identidade menonita, foi necessário lançar mão de um importante instrumento, muito conhecido pelo grupo, para este fim: a instituição escolar. Tanto na Rússia, como nos outros países com forte presença menonita (Canadá, México, Estados Unidos, Brasil e Paraguai), a forma de organização do grupo era em colônias agrícolas fechadas com administração própria. Normalmente toda a comunidade menonita tinha instituições que possibilitavam a permanência da colônia: cooperativas, hospitais, asilos, igrejas e escolas. Em especial, a escola estava imbuída de um papel bastante importante em relação à construção da identidade coletiva do grupo menonita. As fontes históricas que nos levam a fazer a arqueologia da escola menonita no Brasil são o jornal Die Brücke, meio informativo fundado logo no primeiro ano no Brasil. Nesse periódico, poucos são os números que deixaram de incluir algum artigo ou notícia acerca da questão escolar. Da mesma forma, nas atas das reuniões realizadas pela diretoria da colônia menonita em Santa Catarina, poucas vezes não encontramos discussões e decisões relativas à escola. Segundo Klassen (1995, p. 319), ainda no primeiro ano de estada dos menonitas no Brasil (1930), teve lugar uma assembleia geral entre os membros da colônia em que se discutiram as circunstâncias de instalação, o mais breve possível, de uma escola para as crianças menonitas na localidade de Krauel. Ficara firmado que uma determinada área na região central da colônia seria destinada para a construção da escola, a qual todas as crianças poderiam frequentar. Logo após, começou o trabalho de limpeza e desmatamento do terreno, em regime de mutirão. O Die Brücke anuncia o fim dos trabalhos de desmatamento do terreno da escola em setembro de 1930. Na mesma edição, observou que o número de alunos estaria em torno de 90. Esse alto número de estudantes dificultaria o trabalho do professor. Seria melhor construir uma escola para duas classes e não só para uma, como havia sido anteriormente SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 74 planejado. Com isso, seria necessário contratar mais um professor. Fez-se necessária também a eleição de uma comissão educacional para estabelecer as diretrizes de funcionamento do sistema escolar. O rápido desenvolvimento da instituição escolar causava satisfação nos menonitas, tendo em vista as dificuldades de colonização, mas também satisfazia os visitantes, como o Die Brücke nos informa1. Segundo o editor, o prefeito de Blumenau e os cônsules alemães de Porto Alegre e Florianópolis se expressavam favoravelmente ao empreendimento. Sabemos também que os menonitas tiveram apoio externo para concretizar o projeto escolar. Segundo Klassen, a diretoria da colônia mantinha estreito contato com os menonitas da Holanda, de onde recebiam constantemente fundos para a obra escolar. O governo alemão também tinha interesse em fomentar a vida cultural nas colônias alemãs na América do Sul e manter o nível das escolas o mais alto possível. Para tal, a comissão educacional dispunha de recursos respeitáveis, que foram revertidos em bibliotecas, material didático, material para construção e salários para os professores. Bolsas de estudo também foram concedidas para mandar rapazes e moças ao seminário pedagógico de Blumenau. Em 1933, já existiam seis escolas de nível fundamental no núcleo colonial menonita em Santa Catarina, com 274 alunos. Da mesma forma, como já citado, em 1936 foi fundada em Curitiba a escola menonita do Boqueirão, hoje Colégio Erasto Gaertner, para os filhos dos menonitas que começavam a abandonar Santa Catarina em busca de melhores oportunidades econômicas. Em 1936, havia 20 alunos estudando nessa escola. O relato do professor David Enns é bastante esclarecedor sobre as primeiras experiências de lecionar em uma escola da zona colonial: Em 8 de janeiro de 1931 foi o primeiro dia de aula, o primeiro dia de trabalho com nossas crianças. Vieram 42 alunos, 22 eram iniciantes com idades variando de 7 a 11 anos. Os outros 20, maiores, vinham de 17 diferentes regiões da Rússia. Um verdadeiro caleidoscópio de educação e conhecimento (KLASSEN, 1995, p. 320). Com relação ao ponto de vista do cotidiano escolar, vale a pena conhecermos o depoimento de uma aluna, Elisabeth Toews: No tempo em que freqüentei a escola, tínhamos um professor chamado Kornelius Funk. Nós, crianças, gostávamos muito dele, apesar de ser muito rigoroso conosco. Mas ele tinha que nos levar com firmeza, pois do contrário, ele não daria conta da turma, que era muito numerosa. Infelizmente não me lembro mais quantos alunos éramos. Nossa principal matéria era a língua alemã, mas tínhamos também SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 75 uma cartilha brasileira. Todos os alunos tinham uma lousa de ardósia. Durante a aula o professor circulava entre os bancos e se ele pegasse alguém cochichando, o coitado levava umas varadas. É, ordem existia na escola. Pouco tempo depois recebemos outro professor. Seu nome era Peter Friesen. Nós gostávamos muito dele, pois brincava conosco durante o recreio (PAULS Jr., 1980, p. 6). Podemos observar nos depoimentos a caracterização geral da noção de escola, da clientela e das condições que os colonos tiveram que enfrentar para criar uma instituição escolar, considerada essencial para a manutenção da identidade e coesão do grupo. Percebemos que a origem dos alunos era bastante diversa. Oriundos de diferentes localidades da Rússia e de diferentes escolas, deveriam todos ser integrados, dentro do possível, em uma nova realidade escolar. Percebemos também que, apesar do rigor e muitas vezes violência, o que seguia o padrão da maioria das escolas daquele tempo, havia uma tentativa de interação de professores e alunos. De qualquer forma, a escola não parecia ser um castigo, mas um lugar bastante agradável. Com isto, haveria a possibilidade de tornar o ambiente escolar um lugar de acolhimento, que seria posteriormente relacionado com a identidade alemã e menonita. Percebemos também a grande valorização dada à língua alemã, mecanismo básico para a manutenção do arcabouço cultural menonita. De forma semelhante, percebemos nas fontes que a ideia de uma permanência definitiva no Brasil não agradava a muitos, pois o contato com a realidade brasileira foi, para alguns, decepcionante. Havia sempre a possibilidade de um retorno para a Alemanha ou uma nova migração para o Canadá. Ainda que o currículo da primeira escola menonita tivesse “uma cartilha brasileira”, não era demonstrado muito empenho no estudo da língua portuguesa, nem que houvesse uma séria tentativa de ensiná-la para as crianças, no intuito de facilitar sua integração na sociedade brasileira. Eram hóspedes e como tal gostariam de ficar. Possivelmente o turbilhão no qual os menonitas se viram envolvidos, por causa da situação política na Rússia e de sua virtual expulsão e da situação de apátridas para muitos deles, não os deixava refletir acerca desse tema. De qualquer forma, é surpreendente que tenham se agilizado para estabelecer sua própria escola, pois poderiam ter esperado a ação do governo estadual de Santa Catarina nesse sentido. Na verdade, isso se deve ao grande interesse e preocupação por parte dos menonitas em manter a escola particular, sob o controle da comunidade menonita, como veículo de preservação de sua identidade religiosa. Isso, no entanto, acabou SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 76 por responder também aos anseios de preservação da identidade étnica alemã, e não apenas da identidade religiosa. Essa devoção, como em breve veremos, não pôde deixar de ser observada pelas autoridades brasileiras, quando em 1938, suas escolas foram fechadas em razão das leis de nacionalização implementadas pelo governo Vargas. A diretoria da colônia menonita observou rapidamente qual a situação da escola no Brasil. Sabia que a promessa feita aos primeiros imigrantes ainda no século XIX – de que teriam escolas públicas gratuitas – não se cumprira. Os próprios colonos tiveram a tarefa de se organizar e providenciar a educação de seus filhos. Afinal, pensavam os colonos menonitas: ‘como o governo atrairia professores bem preparados e construiria escolas bem equipadas para os imigrantes, se nem sequer tinha competência para atender aos brasileiros natos?’. Já acostumados a manter eles mesmos suas próprias escolas na Europa, os menonitas nada esperaram de ajuda governamental. Prepararam-se então para oferecer a melhor educação possível para seus filhos, em escolas privadas, dentro de sua tradição ancestral. A QUESTÃO DO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: Ao mesmo tempo, era necessário que pelo menos os professores aprendessem a língua portuguesa o mais rápido possível, além de incluí-la no currículo escolar. A questão do aprendizado do português é uma constante nos primeiros tempos dos menonitas no Brasil. O jornal Die Brücke traz inúmeras referências à necessidade de aprender a língua nacional, pois isso era importante para facilitar e acelerar a integração no novo ambiente, no qual os menonitas passariam a viver. Devemos destacar que os exames de proficiência aos quais os professores eram submetidos pela Secretaria de Instrução Pública de Santa Catarina eram aguardados com ansiedade e as aprovações festejadas. O governo federal acabou por encaminhar ajuda nessa questão do aprendizado da língua portuguesa. Foi mandado um professor de português em tempo integral para a escola de Witmarsum para ajudar nos trabalhos de ensino da língua para todos os adultos interessados e para os professores em particular. O governo brasileiro, após a solicitação do diretor da colônia, encaminhou ainda outros profissionais para auxiliar nessa tarefa. Nesse período, a partir dos anos 1930, houve uma maior preocupação por parte de setores da elite de acelerar a integração das comunidades imigrantes, tendo em vista o início das tensões internacionais envolvendo Alemanha, SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 77 Itália e Japão, países com grandes contingentes entre os imigrantes que o Brasil recebera. O Die Brücke relata que a visita de inspetores de ensino vindos de Blumenau e Florianópolis era bastante frequente. A relação com estes era bastante amistosa, segundo o jornal. Os inspetores ficavam impressionados com a solidez, conforto e limpeza dos prédios. Mas economicamente as coisas não iam bem. Diferentemente de Blumenau ou Joinville no litoral, as colônias alemãs do médio e alto vale do Rio Itajaí não tiveram o sucesso esperado. Isso também se aplica aos menonitas. Grandes dificuldades de adaptação ao clima e às condições geográficas de Santa Catarina não demoraram a surgir. A agricultura nas serras catarinenses era indecifrável para os habitantes das estepes russas. É interessante notar que quanto mais as condições econômicas se deterioravam nas colônias, mais eles se apegavam à ideia de ampliar os serviços educacionais. A ESCOLA SECUNDÁRIA: Logo surgiu a necessidade de construir uma grande escola secundária para os adolescentes e jovens adultos, a Zentralschule, no modelo escolar que os menonitas tinham na Rússia. Depois de concluir a escola secundária, alguns poderiam frequentar uma universidade no Brasil mesmo ou na Alemanha. Havia demanda por agrônomos, engenheiros, médicos e professores nas colônias alemãs e os jovens precisavam ter essa oportunidade. Com o intuito de dar impulso a esse plano, já em 1931, foi convocada uma reunião para estabelecer as precondições para a construção da escola secundária. Cogitou-se buscar patrocínio com menonitas da Holanda e da Alemanha, que já haviam dado sinal de interesse na questão. Por fim, questões menores, como as regras de conduta dos futuros estudantes e rivalidades entre os colonos se tornaram decisivas e o projeto não foi adiante. Pior para os estudantes, pois quem quisesse completar o curso secundário teria de se dirigir a Blumenau e estudar no Colégio Santo Antônio, dirigido por franciscanos alemães ou para o Colégio Sinodal, dos luteranos, em São Leopoldo (MASKE, 1999, p. 122). Apenas em 1933 é que foi novamente levantada a questão da escola secundária e dessa vez, apesar dos contratempos, foi possível completá-la. Em 1935 a escola entrou em funcionamento com 35 alunos. Foi planejado um curso de quatro anos, segundo o currículo da escola alemã de Blumenau, previamente aprovado pela SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 78 Secretaria de Instrução Pública de Santa Catarina. Esse currículo abrangia os seguintes conteúdos: a) em alemão: língua alemã, religião, geografia, matemática, biologia, física, música, história mundial e história menonita; e b) em português: língua portuguesa, história do Brasil e geografia do Brasil. A ideia era atrair também alunos não menonitas, interessados em uma educação cristã de bom nível, principalmente entre os filhos de outros imigrantes alemães e de teuto-brasileiros residentes na região das colônias. Sabemos que a escola teve grande número de alunos de outras denominações, em virtude da falta de oferta de escolas na região, tanto públicas quanto privadas. Os menonitas temiam não poder manter financeiramente a escola, o que explica a abertura para não menonitas, o que historicamente era raro entre o grupo. A INFLUÊNCIA DO NACIONAL-SOCIALISMO: A partir de 1937, a escola secundária passou a sofrer influência das ideias dos nazistas no que se refere à educação. As colônias menonitas não estavam fechadas. Mantinham contato frequente com a Alemanha e com outros grupos menonitas pelo mundo, por meio de jornais, cartas, rádio e viagens. Alguns visitantes também começam a chegar, entre eles novos professores formados na Alemanha nacionalsocialista. Esses novos professores passaram a ter uma grande influência na escola secundária, que deveria ser reformulada segundo os padrões educacionais da Nova Alemanha de Hitler. As mudanças teriam como resultado o reconhecimento do diploma concedido pela escola secundária menonita e daria ao aluno a oportunidade de frequentar um curso superior em universidade alemã (KLASSEN, 1995, p. 324329). De qualquer forma, o ensino religioso seria preservado, mas outros conteúdos seriam integrados. O dever da escola seria formar o caráter do estudante, fortalecendo sua identidade nacional alemã e aderindo aos princípios do nacionalsocialismo. Havia uma grande preocupação entre os novos professores, profundamente imbuídos dos conceitos nazistas, de que o ideal “cristão-germânico” estaria em grande perigo no Brasil. Os alemães e descendentes deixavam-se assimilar rapidamente. Como exemplo disso, citavam o “baixo nível moral” dos teutobrasileiros, dados ao alcoolismo e sua “frágil estrutura física”, sinal de um retrocesso em seu desenvolvimento. Casamentos com não alemães iriam levar à perda da SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 79 identidade do grupo. Vermes, malária, doenças venéreas e perda de dentes eram também sinais disso (KLASSEN, 1995, p. 329). Os professores nazistas tinham a intenção de transformar a escola secundária em um internato, aproveitando seu grande poder de influência entre os colonos. Com a reforma e seu reconhecimento pelos governos alemão e brasileiro, o acesso a universidades alemãs e brasileiras ficaria facilitado para os estudantes menonitas. Essa parece ser a razão da grande aceitação por parte da comunidade menonita, que se preocupava em ver ampliado o leque de possibilidades de sobrevivência para seus filhos. Havia um grande interesse de receber também estudantes menonitas do Paraguai. Mas percebemos também em alguns líderes uma grande preocupação com a forte presença de nazistas, em especial nas colônias de Santa Catarina. A PERDA DA ESCOLA MENONITA TRADICIONAL: A busca de adequação do sistema escolar menonita no Brasil ao sistema oficial alemão não passou despercebida pelo governo brasileiro. A partir de 1938, as escolas menonitas começaram a se tornar alvo da repressão do Estado Novo contra instituições de ensino particulares de origem estrangeira e regidas por estrangeiros. Durante todo o ano de 1938 foram decretadas leis pelo interventor Nereu Ramos, buscando coagir as escolas a se adaptar a esses novos tempos. As escolas menonitas tiveram grande dificuldade em se adaptar. Segundo o último número do Die Brücke, houve uma reunião da assembleia de colonos para decidir qual seria a atitude mais sensata. O redator do jornal expressou sua opinião dizendo que parecia ser uma situação fatal e não via outra saída senão o fechamento das escolas. De fato, conforme Monteiro (1979, p. 107), todas elas foram fechadas pelo fato de não cumprirem a legislação, principalmente em relação ao currículo em língua alemã, e de os diretores serem todos estrangeiros. Em seu lugar, foram estabelecidas escolas estaduais. Estas, em geral, foram instaladas nos antigos prédios das escolas menonitas e adotaram definitivamente o currículo escolar oficial do Estado de Santa Catarina. Para exemplificar a situação resultante, é interessante notarmos o depoimento de uma aluna, citado em Pauls Jr. (1980, p. 9-10): A questão da escola se tornou um problema para nossos pais. Nossa escola foi assumida pelo governo estadual e nossos professores alemães foram demitidos e SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 80 substituídos por apenas um único professor brasileiro. Nada teríamos contra ele, se fosse um professor bem instruído e comprometido com nosso progresso. Teríamos então uma boa educação em língua portuguesa, avançaríamos em nossos estudos e teríamos uma integração mais rápida na nova pátria. Mas neste país não são enviados bons professores para o interior. O nosso novo professor, imaginem, não tinha sequer concluído o curso primário! Nosso professor João Barbosa não sabia nem a tabuada, que dirá o restante! Nós os alunos mais velhos, que ainda havíamos estudado com os professores alemães, sabíamos matemática melhor do que ele. Até os pequenos, que só tinham estudado durante um ano com os professores antigos sabiam mais do que ele. Em questões de disciplina, ele também ficava a desejar. Os meninos maiores resolviam rapidamente as questões e ficavam indisciplinados, brincando e conversando. O professor se irritava e os deixava trancados após as aulas. Quando voltava para soltá-los, eles já tinham fugido pelas janelas ou pelo telhado e sumido pelos morros. Mas tínhamos gincanas, festas e balões, o que era muito divertido. Após a Segunda Guerra Mundial, a política de nacionalização de Vargas foi, em parte, revogada. No entanto, as escolas menonitas de Santa Catarina não mais retornaram para seus antigos proprietários. Os menonitas, quase todos, já haviam abandonado as colônias de Santa Catarina e se dividido em dois grupos. Um grupo, menor, foi para uma nova colônia (Colônia Nova), perto de Bagé, no Rio Grande do Sul. Outro, maior, foi para Curitiba, onde se dedicou a diversas atividades, mas principalmente à pecuária leiteira. Posteriormente, foi comprada uma fazenda no Município de Palmeira, onde foi instalada uma nova colônia, que foi chamada de Witmarsum, como a primeira em Santa Catarina. A razão da saída de Santa Catarina foi principalmente o insatisfatório desenvolvimento econômico que as colônias menonitas lá atingiram. Este pouco desenvolvimento foi ocasionado pela falta de infraestrutura, pela terra inapropriada, pela falta de capital para maiores investimentos e pela dificuldade de adaptação dos menonitas ao cenário geográfico de Santa Catarina. Também as rivalidades entre os diferentes grupos religiosos, liberais e conservadores, entre os menonitas tiveram um papel importante na dissolução das colônias. Quanto à questão escolar, das escolas que haviam sido fechadas pelo governo brasileiro, apenas a Escola do Boqueirão, em Curitiba, fundada pelos reemigrastes de Santa Catarina, retornou às mãos dos fundadores, logo depois da Segunda Guerra Mundial. No entanto, o antigo currículo não mais retornou, por força de lei. A escola SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 81 adotou o currículo da Secretaria de Educação do Estado do Paraná, no qual a língua alemã figurava como língua estrangeira. Em Colônia Nova e em Colônia Witmarsum foram fundadas escolas particulares, depois estadualizadas, seguindo os currículos propostos pelos seus respectivos estados. IMPORTÂNCIA: À guisa de conclusão, observamos como a escola foi um veículo de preservação da identidade religiosa e étnica entre os menonitas no Brasil. Percebemos que sem a escola, talvez seria mais difícil para os menonitas manter sua coesão enquanto grupo religioso independente e como instituição eclesial. De fato, sem a escola, os menonitas no Brasil passaram por um intenso processo de integração à sociedade brasileira. REFERÊNCIAS: BREPOHL, F. W. Die Wolgadeutschen um Brasilianischen Staate Paraná – Festschrift zum Fünfzig-Jahr-Jubiläum ihrer Einwanderung. Stuttgart, 1927. CONFISSÃO DE AUGSBURGO. Porto Alegre: Editora Concórdia & Sinodal, 1986. DYCK, C. J. Uma introdução à história Menonita. Campinas: Editora Cristã Unida, 1992. KLASSEN, P. P. Die Russlanddeutschen Mennoniten in Brasilien. Weierhof-Bolanden: Mennonitischen Geschichtsverein, 1995. MASKE, W. Bíblia e arado: os Menonitas e a construção de seu reino. Um estudo sobre a integração dos imigrantes Menonitas no Brasil. 1999. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1999. MONTEIRO, J. Nacionalização do Ensino em Santa Catarina (1930-1940). 1979. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1979. PAULS Jr., P. Mennoniten in Brasilien. Palmeira: Editora do Autor, 1980. PENNER, H. Weltweite Bruderschaft: ein Mennonitisches Geschichtsbuch. Weierhof-Bolanden: Gerlach Verlag, 1995. SIEMENS, U. (Org.). Quem somos? 1930-2010: a saga Menonita. Curitiba: Editora Evangélica esperança, 2010. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 82 Peter Pauls, a nobre missão de educar Peter era o mais velho dos 11 filhos de Peter e Ana Pauls, menonitas russos que se estabeleceram em Ibirama, Santa Catarina, em 1930. Aos 15 anos os pais lhe disseram: “Não temos condições para mandar todos os filhos para a escola. Então vá você tirar um estudo e volte para ser professor dos seus irmãos”. A comunidade ajudou, sob o mesmo compromisso: voltar para ensinar os outros. Seis anos depois de estudar num seminário em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, Peter Pauls voltou e foi professor de todos os seus irmãos e de milhares de In memoriam outros jovens até se aposentar, em 1989. Ainda assim, não se pode dizer que parou de ensinar. Ao se formar, a família já havia se transferido para Witmarsum. Era 1959 e Peter tornou-se o primeiro professor nomeado pelo Estado na colônia, pois era o primeiro de nacionalidade brasileira. Lecionava em barracões de gado transformados em salas de aula, onde os alunos chegavam a pé, de bicicleta, de charrete, a cavalo, muitas vezes percorrendo dez, quinze quilômetros, pisando no barro, cruzando rios sem pontes. Mas chegavam. O próprio Peter fazia sacrifícios. Formou-se em letras germânicas pela então Universidade Católica do Paraná, em Curitiba, viajando para as aulas quando podia, recuperando em casa, nos finais de semana, as lições perdidas. De lá para cá Peter Pauls combinou atividades pedagógicas, intelectuais e de serviço social. Em 1960 criou o ginásio e, em 1975, o segundo grau em Witmarsum. Lecionava várias matérias, auxiliado por professores de Curitiba, Ponta Grossa e Palmeira. Esteve 14 vezes na Alemanha, sempre a convite e para estudos, e SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 83 pesquisou, estudou e proferiu palestras nos Estados Unidos e no Canadá. Em 1977 lançou o primeiro livro, em alemão, com a história de Witmarsum. Seguiram-se mais cinco, abordando sobretudo a trajetória dos menonitas (sobre o qual tornou-se autoridade), além de artigos e reportagens sobre temas brasileiros para jornais da Alemanha, Canadá e Brasil. É o intelectual de Witmarsum. A Associação Menonita Beneficente (AMB) nasceu em 1988 para, nas palavras de Peter, “ajudar a si próprias”, além de difundir o evangelho. “Senti que Deus me chamou para essa missão”, diz. A associação promove amplo trabalho social, que envolve o apadrinhamento de crianças, famílias e alunos, distribuição de roupas e refeições, mutirões para construção de casas, orientação para produção agropecuária, criação de clubes de mães, curso bíblico por correspondência, entre outras iniciativas com o objetivo de incluir os mais necessitados de várias localidades do Estado nos benefícios do desenvolvimento. Faculdade Fidelis FUNDAÇÃO EDUCACIONAL MENONITA SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 84 QUEM SOMOS: A Faculdade Fidelis é uma instituição de ensino que está trabalhando na preparação de pessoas para fazer diferença no reino de Deus há mais de 40 anos. A Faculdade Fidelis surgiu da visão dos mantenedores do antigo ISBIM - Instituto e Seminário Bíblico Irmãos Menonitas, do credenciamento do Curso de Bacharel em Teologia pelo MEC. Para isso formou-se uma parceria entre diversas denominações evangélicas: COBIM (Irmãos Menonitas), AIMB e AEM (Menonitas) e CIELB (Evangélica Livre) e a Fundação Educacional Menonita (mantenedora do Colégio Erasto Gaertner), visando uma potencialização dos recursos humanos e financeiros dessas instituições. Os ex-alunos do ISBIM, agora Faculdade Fidelis atuam em diversos estados e países contribuindo para a expansão do Reino de Deus em diversos segmentos da sociedade. A Faculdade Fidelis tem prazer em ajudar aqueles que têm a convicção de que devem aprimorar os conhecimentos bíblicos para ingressar no ministério de tempo integral, bem como aqueles que, mesmo tendo outra profissão, querem servir a Deus com maior eficiência. Se você quer se aprofundar na Bíblia para conhecer melhor a Deus, a Faculdade Fidelis quer lhe ajudar no processo. MISSÃO E VISÃO: A missão da Faculdade Fidelis é formar profissionais com valores éticos e princípios cristãos através de ensino de qualidade com preparo para a vida profissional, social e familiar. Tendo como Visão ser uma faculdade de excelência que transmite conhecimento, capacidade analítica, valores éticos, sociais, ambientais e cristãos, que serão relevantes na nossa sociedade. Com uma gestão que busca crescimento e melhoria continua em métodos, qualificação, tecnologia, pesquisa, preservando a solidez financeira com uma equipe de profissionais de excelência. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 85 Escola Willy Janz QUEM SOMOS Em 22 de agosto de 1992 o Conselho Diretor do ISBIM (Instituto e Seminário Bíblico Irmãos Menonitas), decidiu implantar uma escola que atenderia alunos do Maternal a 4ª série. A nova escola deveria englobar a Pré-Escola DO-RE-MI já existente e seria denominada: Escola Willy Janz - Ensino Pré-Escolar e de 1º Grau (atualmente Educação Infantil e Ensino Fundamental). Em 1996, devido à insistência de grande parte dos pais de nossos alunos, decidimos implantar turmas de 5ª a 8ª série a partir de 1998, de forma gradativa. Em 1998 iniciamos com a 5ª série, e em 2000 completamos o Ensino Fundamental com a 8ª série. • Willy Janz é o nome de um educador emérito da Comunidade Menonita do Brasil falecido em acidente automobilístico em 1986. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 86 Colégio Erasto Gaertner E Faculdade Fidelis – mesmo local. HISTÓRIA Tradição é muito importante O EG é a primeira escola da Região Sul da cidade de Curitiba. Fundada por imigrantes alemães, em 1936, para oferecer educação de qualidade e dar orientação religiosa a seus filhos — uma tradição que vem das origens menonitas na Holanda, há mais de 500 anos, o que os tornou conhecidos em toda a Europa. Educação infantil ao ensino médio. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 87 AMB – Associação Menonita Beneficente SOBRE A AMB A AMB – Associação Menonita Beneficente foi fundada no dia 19 de Agosto de 1988 para diminuir a necessidades materiais e espirituais da população carente do interior do Paraná. A AMB é uma entidade religiosa, ela é sustentada por doações e orações de seus amigos, mas isto sem fins lucrativos. Todos os obreiros e sócios são cristãos. A AMB é uma associação reconhecida pelo Governo, registrada no CNAS com o número 44.006.002.015/96-71. De acordo com Mateus 28:19, a AMB está realizando o seu dever colocado por Cristo, e isto através da evangelização de pessoas, com a distribuição do livreto 'O Mensageiro', diversas literaturas, realização de congressos, cultos, estudos bíblicos, aconselhamentos, cursos bíblicos por correspondência e outros mais. Nós escapamos dos ataques mortais de Stalin só para ter uma vida feliz na América do Sul? – Agora vão vocês, que escaparam da espada, e sirvam ao vosso Deus... Assim está escrito na Bíblia. Isto nós queremos fazer: Encher o Brasil com o evangelho e ajudar aos pobres, aos desamparados e às viúvas nas suas dificuldades; esta é a nossa Missão. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 88 Em todos os projetos de desenvolvimento, a divulgação do evangelho é o “motor” para a restauração econômica e social de pessoas nos lugares esquecidos do Brasil. O MENSAGEIRO Deus tem feito proezas através dos 29 anos que passaram de O Mensageiro. Muitas pessoas se converteram a Jesus Cristo e tiveram a vida transformada através da leitura deste pequeno livrinho, mas de grande conteúdo. Cartas ao Mensageiro O ano todo nós recebemos cartas, a respeito do “O Mensageiro”, como ele atua e modifica a vida dos leitores. Ele é um Guia para o céu. Aqui alguns testemunhos: A forte mão de Deus nos segura. Nós não precisamos nos desesperar. Nós seguramos firmemente na fé e na esperança. Se hoje choramos, amanhã venceremos. Aleluia! Na cidade Sucre, na Bolívia, moram estudantes brasileiros. Eles transmitem um programa de rádio na língua portuguesa. Muitas vezes os testemunhos do Mensageiro são lidos neste programa. Da África e de cidades brasileiras recebemos um bom respaldo a respeito do Mensageiro. Ele transforma jovens e idosos. Os pedidos de O Mensageiro vão de Janeiro até Dezembro. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 89 Acampamento Bethel QUEM SOMOS Há muitos anos (por volta de 1960) surgiu a necessidade de termos um local para retiros e a vontade de possuir um acampamento próprio motivou as igrejas Irmãos Menonitas a formarem um comitê para conseguir uma área apropriada. Liderado pelo Sr. Willy Janz este comitê visitou cerca de 15 locais antes de optar pelo que hoje é o Acampamento Bethel. A área era antes uma chácara particular e como seu dono tinha falecido, foi vendida. Muitas melhorias foram feitas com o apoio de voluntários. O primeiro casal que administrou o Bethel foi Willy e Maria Gorz. Outros casais, como Erwin e Ilse Lenz e Ingo e Irmgard Neumann, os sucederam. Atualmente os administradores são Jair e Sônia Bergmann. Durante todas estas décadas, muitos membros das Igrejas Irmãos Menonitas atuaram no Conselho Diretor do Bethel. Alguns dos presidentes do Conselho foram: Arno Seifert, Manfred Unruh, Henrique Wiens e Rony Wilmar Duck. (Atual presidente). INSTALAÇÕES • Dormitório (200 lugares) • Refeitório (200 lugares) • Cantina • Salão de Reuniões (200 lugares) • Novo Salão de Reuniões - Em construção SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 90 • Bosque • Canchas • Campo de Futebol • Pista de Bocha • Trenzinho • Playground • Piscina • Churrasqueiras • Lago • Natureza Área Total = 100.000 m² Colônia Witmarsum Situada no município de Palmeira no Estado do Paraná a Colônia Witmarsum foi formada em julho de 1951 por menonitas que reimigraram da cidade de Witmarsum do Estado de Santa Catarina. Os menonitas da Colônia Witmarsum pertencem ao grupo dos menonitas alemães-russos, que tem sua origem na Frísia, no norte da atual Holanda e Alemanha. Através da Prússia eles imigraram para Rússia no século XVIII, de onde fugiram em 1929, quando o comunismo se instalou naquele país. Em 1930 vieram ao Brasil onde, após uma tempo em Santa Catarina, fundaram em 1951 a Colônia Witmarsum no Paraná. Graças a um financiamento conseguido junto aos menonitas da América do Norte, foi possível comprar em 7 de junho de 1951 a Fazenda Cancela. Ocupa uma área de aproximadamente 7800 hectares e possui aproximadamente 1500 habitantes. Compreende cinco núcleos de povoamento, denominados aldeias e numerados de 1 a 5 e, dispostos em torno de um centro administrativo comercial e social situado na sede da antiga Fazenda Cancela (atual museu Casa Fazenda Cancela). Sua base econômica reside na agropecuária, desenvolvida sobretudo no setor da pecuária leiteira. Também há criação de frangos e porcos para o abate e plantações de soja e milho. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 91 Casa Fazenda Cancela - Museu histórico de Witmarsum Igreja Menonita de Witmarsum, Mantendo também cultos em língua alemã. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 92 + de 50 anos – Igreja Irmãos Menonitas de Witmarsum Igreja – vista da cooperativa. + de 50 anos de Fé, Sacrifício e Trabalho Conjunto. Igreja Witmarsum Sendo um daqueles que pertencem à geração mais nova, sempre me pareceu óbvio que a nossa igreja (o templo) estivesse no morro próximo da Cooperativa. De todos os lados ela podia ser vista com a sua torre alta e suas paredes grossas. É como se ela simplesmente pertencesse a essa paisagem. Imagino que quase todos os que têm menos de 50 anos de idade, sentem o mesmo. Aqueles que são mais velhos e, acompanharam o desenvolvimento desde o seu início, sabem que não foi bem assim. Estes certamente podem dar testemunho de que três palavras caracterizaram a atitude dos pioneiros. FÉ, SACRIFÍCIO e TRABALHO CONJUNTO. O falecido irmão David Schartner escreveu a muitos anos atrás sobre o que eles vivenciaram: “Foi um grande empreendimento! O terreno era duro e pedregoso. Nivelar o terreno foi um árduo trabalho, mas hoje a construção está firme e sem rachaduras. O trabalho foi quase todo feito pelos irmãos da igreja. No domingo durante o culto se fazia um chamado dizendo quantos obreiros seriam necessários para cada dia daquela semana. E sempre haviam voluntários dispostos e suficientes. Quando a igreja estava terminada, havia tanta alegria e vontade de seguir trabalhando, que decidiram construir o salão ao lado. Tivemos muitos dias lindos de trabalho em conjunto.” SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 93 Na Bíblia encontramos a impressionante história da construção de um muro em volta de Jerusalém, em apenas 52 dias (Neemias 6:15). Como conseguiram isso? Apesar das ameaças dos vizinhos, poucos recursos e trabalho pesado, conseguiram tal feito, que os inimigos tiveram que reconhecer que fora um “milagre de Deus” (v.16). Quando lemos o livro de Neemias temos a percepção de que não existem tantos milagres sobrenaturais, o que vemos é um povo que tem fé, está disposto ao sacrifício e trabalha unido. Estas atitudes, são hoje também a base sobre a qual o nosso bom Deus edifica o seu Reino. Se uma dessas qualidades faltar, não veremos o “milagre de Deus”, por isso queremos hoje provar as nossas atitudes, agradecer a Deus pelo exemplo dos nossos irmãos mais velhos e trabalhar unidos com fé e muita disposição. A Cooperativa Witmarsum A Cooperativa Witmarsum está situada à BR 277 no Km 146 no Município de Palmeira, na Região Sul do Paraná, distante 70 km de Curitiba, capital do Estado do Paraná. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 94 Construída por pessoas que vieram da Europa, Menonitas que pertencem ao grupo de alemães russos que tiveram origem na Frísia, no norte da Holanda e Alemanha. “Menonitas” – assim chamados por seu líder espiritual, Menno Simons, um holandês que viveu entre 1492 – 1559, num lugar chamado Witmarsum. São descendentes de imigrantes que chegaram à Rússia, através da Prússia, de onde fugiram do comunismo e descobriram o Brasil por volta de 1930 em Santa Catarina. Após uma longa temporada neste local saíram para algo melhor e conseguiram comprar a Fazenda Cancela de 7.800 ha, que pertencia ao Sr. Roberto Glaser, dando início a formação da Colônia Witmarsum em julho de 1951, dividida em lotes rurais de 50 ha em média, destinada a cada colono. Fundada em 28 de outubro de 1952, a Cooperativa Mista Agropecuária Witmarsum Ltda, sucessora da Sociedade Anônima, que funcionava em Ibirama, no estado de Santa Catarina, organizou a migração dos colonos alemães daquela região para a Colônia de Witmarsum no estado do Paraná. O objetivo da então fundada Colônia, era coordenar a vida social e econômica de todos os imigrantes. Hoje a Cooperativa atua na região de Palmeira, Ponta Grossa, Porto Amazonas e Balsa Nova, no Paraná. A Cooperativa conta atualmente com aproximadamente 310 sócios, que tiram seu sustento basicamente da agropecuária ou seja, produção de leite, frangos de corte, milho, soja, trigo, etc. A Cooperativa tem como atividades industriais a fábrica de rações e fábrica de queijos finos e mantém toda estrutura para recepção e armazenagem de grãos produzidos pelos associados, bem como presta toda assistência técnica veterinária e agronômica, fornece todos insumos necessários para produção e atua na comercialização da produção de seus associados. A Cooperativa é proprietária da Escola, Hospital, Museu que hoje são administrados pela Associação de Moradores. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 95 COBIM Convenção Brasileira das Igrejas Evangélicas Irmãos Menonitas. “Nenhum outro fundamento além de Jesus Cristo.” 1 Corintios 3:11 AMÉRICA DO SUL Em 25 de novembro de 1929 devido a este contexto, partiram aproximadamente 1300 pessoas via Rússia e nos próximos anos até 1934 outras 200 pessoas chegavam via China. Todas estas famílias fixaram residência no município de Ibiramã, Santa Catarina – lugar chamado de Alto Rio Kraul. Durante os próximos 20 anos que se seguiram transformam o vale do Rio Kraul numa linda zona colonial, com igrejas, escolas, serrarias, indústrias de óleos vegetais, um hospital e uma Sociedade Cooperativa. Devido à baixa rentabilidade dos trabalho quase com exclusividade braçais, fizeram com que os agrupamentos menores e maiores se deslocassem para cidades com Curitiba, São Paulo, Bagé e outras mais. NO MUNDO Em 1993, os Irmãos Menonitas se encontravam em mais de 25 países na América do Sul, do Norte, África, Ásia e Europa. A membresia mundial era por volta de 180.000 membros. BRASIL Somos mais de 6.000 membros distribuídos em 40 igrejas afiliadas à Convenção Brasileira das Igrejas Evangélicas Irmãos Menonitas – COBIM. Temos 1 Seminário Teológico com cursos básicos para formação de obreiros e pastores. Estamos em 5 estados brasileiros do Centro para o Sul do país. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 96 DOUTRINA • Cremos na Bíblia como única autoridade de fé e conduta • Cremos em Jesus Cristo como o único mediador entre Deus e os Homens • Cremos nas necessidade da conversão e batismo voluntário • Cremos na vida baseada nos ensinamentos de Cristo – discípulo • Cremos na missão salvadora de Cristo – o evangelho da salvação • Cremos na volta iminente de Cristo para buscar o Seu povo VISÃO Ser uma instituição de serviços em todo território brasileiro, servindo com excelência às Igrejas como agência facilitadora do cumprimento da missão integral da igreja, a qual foi comissionada por Deus por intermédio de Jesus Cristo. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 97 MISSÃO Incentivar o crescimento das igrejas, preservar e fortalecer a comunhão mútua e a unidade doutrinária, direcionar suas estratégias, promover a identidade denominacional e a qualidade de ensino teológico, cristão e secular, estimular e dar suporte para implementação de projetos missionários de responsabilidade social e discipulado. Missões: RELATO CONVERSÃO MENNO SIMONS: No relato da sua conversão, Menno descreve a mudança de seu coração com as seguintes palavras: “Meu coração tremia dentro de mim. Rogava a Deus com lágrimas e gemidos que concedesse a mim, pobre e atribulado pecador, o dom da Sua graça, e que criasse um coração limpo dentro de mim pelos méritos do precioso sangue de Cristo, que perdoasse a minha vida ímpia e egoísta e me investisse de sabedoria, sinceridade e valor para pregar o Seu glorioso e bendito nome e a Sua santa Palavra sem adulterações e que manifestasse a Sua verdade e a Sua Glória”. A mudança foi tão profunda, radical e completa, e deu-lhe um sentido tal de sua divina missão, que foi capacitado pela graça de Deus para chegar a ser um líder inspirado, um formidável e forte torreão para o seu amargurado e perseguido povo, por mais de vinte e cinco anos. MISSÕES, ORDENANÇA DE JESUS: Mateus 4:16-19 16. O povo, que estava assentado em trevas, Viu uma grande luz; E, aos que estavam assentados na região e sombra da morte, A luz raiou. 17. Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. 18. E Jesus, andando junto ao mar da Galiléia, viu a dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, os quais lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores; 19. E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 98 Mateus 28:18-20 18. E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. 19. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; 20. Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém. SABEDORIA HISTÓRICA: A estrutura organizacional da Igreja Menonita tem mudado com os anos com as necessidades das congregações e suas missões. Em 1720 não havia outras organizações menonitas na América do Norte do que as poucas dúzias de congregações. Em 1829 as conferências distritais antigas, tais como Francônia, Lancaster, Washington-Franklin e possivelmente Ontário, haviam surgido e foram logo seguidas por Virgínia e Ohio. Entre 1875 e 1895 foram organizadas três juntas: de Publicação, 1875; de Missões, 1882 e de Educação, 1895. Estas, por seu lado, tornaram-se a Junta de Publicação Menonita em 1908, a Junta Menonita de Missões e Caridade em 1906 e a Junta de Educação também em 1906. Em sua forma inicial, portanto, estas três juntas precederam a Conferência Geral Menonita. Conforme a igreja crescia em sua identidade e sentido de missões, estas formas novamente pareciam inadequadas. Havia necessidade de maior liberdade por parte das congregações para executar seu trabalho, mas, ao mesmo tempo, uma crescente necessidade de conferências, juntas e comitês que poderiam ajudar as congregações a cumprirem sua missão. A antiga Conferência Geral, à qual nem todas as conferências distritais haviam se unido, necessitava de flexibilidade e abertura para seu crescimento nos anos 1970 e posteriores. Consequentemente a Conferência Geral Menonita sucedida pela Assembléia Geral em 1971 e com ela um novo compromisso de cumprir a vontade de Deus na igreja e no mundo. CONSCIÊNCIA: Os Irmãos Menonitas tem uma forte consciência histórica. Eles estão profundamente cientes de que seus antepassados sofreram e morreram pela fé e SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 99 fugiram de um país para o outro em busca de liberdade. Muitas orações públicas fazem fervorosas menções e agradecimentos pelo fato de que, neste país, podem adorar a Deus de acordo com os mandamentos de suas consciências e sem temor de serem machucados, molestados ou até mesmo mortos. Também tem um forte senso de missão. Creem nas doutrinas bíblicas, como foram entendidas historicamente, querem levar o povo de todas as nações e culturas a esta mesma fé cristã pacifista. Antes de 1940 três missões estrangeiras foram estabelecidas, um antes de 1900 e uma em cada um dos vinte anos seguintes. No entanto desde 1940 o trabalho é feito em aproximadamente 40 países. Os relatos afirmam que nenhuma causa apela mais a doações dos menonitas que as missões, conscientes da mesma flexibilidade com as necessidades atuais, todas porém afirmam a união e a estrutura para que as missões sejam racionais e cumpram com o mesmo propósito de liberdade e dignidade com Jesus. A influência da renovação dentro da igreja, proporcionou não só um desprendimento dos restos do legalismo. Ser um membro da igreja significa cada vez mais não somente o discipulado e o trabalho duro, senão também uma simples e franca comunhão com os irmãos desfrutando das alegrias no Senhor. ATIVIDADES MISSIONÁRIA: De 1930 a 1950, os menonitas desenvolveram poucas atividades missionárias; a situação econômica, geográfica e o desconhecimento da língua portuguesa eram barreiras na área evangelística-missionária. Era o período histórico pela luta da própria sobrevivência. Não esquecendo do quanto foram ajudados nestes períodos iniciais no Brasil. Foi apenas na década de 1950-1960 que estas igrejas sentiram o seu chamado para retornarem às missões. Para atender as pessoas doentes, os menonitas criaram hospitais e clínicas desde o Rio Grande do Sul até os grandes rios da Amazônia, servindo ao bem-estar social, promovendo uma campanha pela saúde e dando assistência especial aos desamparados e crentes da região de cada comunidade. Muitas campanhas foram feitas nas igrejas, angariando fundos para atender aos pobres com roupas, medicamentos, escolas e orientação doméstica e agrícola. Sempre visando o atendimento integral do homem, os menonitas pregam o evangelho do amor, da caridade e da salvação em Jesus Cristo, conforme acima Mateus 28:18-20. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 100 VALE DO KRAUEL E BLUMENAU: Historicamente as igrejas Irmãos Menonitas se destacaram por sua ênfase missionária. Já durante os primeiros anos em Santa Catarina no Vale do Krauel, apesar das dificuldades típicas do começo da colonização, houve um sentimento de responsabilidade pelos vizinho que não sabiam de uma salvação pessoal. Os jovens menonitas que procuravam trabalho em Blumenau esporadicamente, desenvolveram aos poucos um trabalho sistemático e evangelístico que também resultou na fundação de uma Igreja, tamanha importância de Blumenau, estes jovens mantiveram seus corações na multiplicação do Amor de Jesus, renovados pela importância de missões. Com a dissolução da colônia no Vale do Krauel e o surgimento de vários estabelecimentos novos, a atenção missionária foi atraída pelas famílias brasileiras que viviam na redondeza e, muitas vezes, estavam empregados nas leiteiras menonitas. As poucas pessoas que dominavam a língua nacional, normalmente jovens e estudantes, iniciaram trabalhos evangelísticos que se desenvolveram até o surgimento de pequenas igrejas. Praticamente todas as igrejas étnicas formaram ou ajudaram a formar em torno de si igrejas novas. Na fundação da Associação estava presente um forte sentimento de dívidas para com a população de língua alemã em Santa Catarina, em 1963. A obra cresceu e hoje existem igrejas formadas em Witmarsum, Ribeirão Pinheiro, Jaraguá do Sul, Joinville e Rio Bonito. Trabalhos evangelísticos estão sendo realizados ainda em Timbó, Presidente Getúlio, Angelina, Florianópolis e em Santa Maria. Nos primeiros anos de Convenção, os 277 membros em 1966 aumentaram para 679 em 1971, atentos as oportunidades e necessidades desta nação, a liderança traçou planos para acelerar o crescimento. Durante os anos de 1972 a 1976 houve uma equipe de evangelismo concentrada. Iniciando e ampliando trabalhos no RS, SC, MS, MT, SP, as quais até os dias de hoje, permanecem ativam desenvolvendo os seus devidos trabalhos nas comunidades onde estão inseridas. Exemplos, a irmã Ana Schroeder foi a pioneira em missões pregando a palavra e trabalhando para estabelecer igrejas novas. Foi enviada pela Igreja Menonita do Boqueirão ao Estado de São Paulo, mas tarde trabalhou em Curitiba. Henrique e Hedi Loewen, da Igreja Vila Guaíra trabalharam em Vila Lindóia, estabelecendo a Igreja Menonita naquele bairro. Outro exemplo a Igreja de Palmeira se formou com resultados das pregações de Peter Pauls Junior. Os Batismos foram verdadeiras festas, sempre com apoio, estrutura e união de outros pastores, missionários e membros. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 101 Quantos lembram, participaram e participam destes momentos... ...momentos de esforços, de doação e de vitórias. Hoje, MISSÃO é parte integral: COBIM (Convenção Brasileira das Igrejas Evangélicas Irmãos Menonitas.) Incentivar o crescimento das igrejas, preservar e fortalecer a comunhão mútua e a unidade doutrinária, direcionar suas estratégias, promover a identidade denominacional e a qualidade de ensino teológico, cristão e secular, estimular e dar suporte para implementação de projetos missionários de responsabilidade social e discipulado. Menonitas além do Brasil Rembrandt Rembrandt sofreu muito. Já idoso, perdeu o único filho de sua Saskia que sobreviveu à infância: Tito morre quando o pai já estava com 62 anos. As tragédias pessoais e a dureza de sua condição econômica marcam muito profundamente esse grande homem. Pintura: O Pregador Menonita Anslo e sua mulher (1641) SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 102 Mas ele nunca deixou de ser admirado em vida. Sua reputação como artista sempre se manteve alta. Quando a guilda dos pintores recusa seu nome, ele se une a um galerista para continuar pintando e vendendo. Basta dizer que quando Cosimo III de Medici foi a Amsterdam, fez questão de ir visitar Rembrandt. Artista extraordinário, foi também um excelente professor e formou vários e importantes pintores flamengos. Em seus quadros ele mostrava um alto conhecimento da iconografia clássica. Uma cena bíblica feita por ele vinha sempre carregada de tudo que ele leu ou aprendeu sobre o assunto. Viveu em um bairro judeu de Amsterdam, onde fez grandes amigos e com eles passava horas a discutir e a debater a Bíblia. Por sua empatia pela condição humana, Rembrandt foi chamado um dos grandes profetas da civilização. O quadro acima mostra Cornelis Claesz Anslo e sua mulher, Geertgen Jans. Mercador de tecidos, ele era pregador da Igreja Menonita, muito respeitado entre os fiéis desse ramo dos Anabatistas. Na antessala da Igreja Menonita de Amsterdam, às margens do Singel, ainda se lê: SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 103 Ó Rembrandt, desenhe a voz de Cornelis. A parte visível desse homem é o de menos: a invisível só é conhecida através da audição; para ver quem é Anslo é preciso ouvi-lo. Seu olhar demonstra sua fé e zelo; no entanto se um pincel pudesse fazer sua voz ser ouvida, o coração de todos se converteria a uma vida virtuosa. Não podemos ouvir a voz do pregador, mas seu zelo e a devoção de sua mulher estão intactos na tela de Rembrandt. Gemäldegalerie, Berlim Irmãos Menonitas Norte Americanos Irmãos Menonitas na Convenção América do Norte 1930 No início, os Irmãos Menonitas na América do Norte lutavam com a transição da cultura orientada a partir do idioma alemão para Inglês, respeitando os principais mandamentos, os Irmãos Menonitas queriam fazer a diferença para Deus em seu contexto. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 104 "Ensine-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado ..." Por causa de seu compromisso com a autoridade da Palavra de Deus, Irmãos Menonitas não via a conversão como um fim em si mesmo, mas como a porta de entrada para uma vida de discipulado. "O que Jesus faria?" Foi a questão de formação para Irmãos Menonitas antes de se tornarem culturalmente populares na América do Norte. O avivamento espiritual em 1860, que acendeu o movimento Irmãos Menonitas começou com o estudo das Escrituras, assim como a Reforma e o surgimento dos anabatistas antes desse tempo. Ensino bíblico sólido no lar, na igreja e na escola sempre foi importante para os Irmãos Menonitas. Através das décadas, essa convicção se expressou na formação de noites familiares, escola dominical, programas no meio da semana, escola bíblica de férias, programas de acampamento, retiros de jovens, escolas de ensino médio patrocinada pela Igreja, conferências de estudo, escolas bíblicas, conferências bíblicas, várias faculdades e um seminário. ESCOLAS MISSÕES Os irmãos menonitas estabeleceram escolas para equipar a geração mais jovem a se levantar contra "mundanidade", para preservar a visão cristã do mundo e prepará-los para servir a igreja e sua missão. Hoje, as instituições de ensino superior apoiados por Irmãos Menonitas norte-americanos continuam a ser um recurso de treinamento primário para os jovens da denominação. Mas na busca de tanto sobrevivência econômica e de maior impacto espiritual, eles têm se posicionado para oferecer uma perspectiva Irmãos Menonita de moldar e equipar jovens a partir de uma ampla gama de tradições cristãs, bem como para motivar e crescer na vida Cristã. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 105 Sobre a questão de tratar necessidades físicas, os Irmãos Menonitas ajudaram a criar e apoiar inúmeros projetos de compaixão, para si, para os vizinhos na comunidade e para completos estranhos em sua região e em todo o mundo. Eles se juntaram com outras denominações menonitas como apoiantes ávidos e participantes em organizações como o Serviço de Desastres Menonita em casa e no Comitê Central Menonita em todo o mundo para oferecer ajuda e esperança "em nome de Cristo". Menonita Publishing Company Menonita Publishing Company, Elkhart, Indiana, a sucessora da empresa de John F. Funk e o irmão, foi fundado em 1875 e completou sua vida fretado de 50 anos, embora ele vendeu suas publicações periódicas (Herald of Truth e Mennonitische Rundschau) em 1908 para o Conselho de publicação menonita que tinha acabado de criar Menonita Publishing House como a agência de publicações da Igreja Menonita (MC). Menonita Publishing Company era uma sociedade por ações, cujo estoque foi amplamente realizada na seção leste da Pensilvânia da Igreja Menonita. Em grande parte devido a uma falha de banco e um incêndio que foi forçado a falência em 1903 com pesadas perdas para os acionistas. Seu presidente ao longo SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 106 de sua história e gerente de negócios até cerca de 1900, era John F. Funk (18351930), um líder de destaque na Igreja Menonita (MC). Menonita Publishing Company fez um excelente serviço em seu livro e publicações periódicas, tanto em Inglês e Alemão, servindo não só os menonitas e menonitas Amish, mas também um grande bloco dos imigrantes menonitas russos, particularmente em Manitoba. Para este último grupo que publicou o Mennonitische Rundschau e hinários, catecismos e confissões de fé Universidade Canadense Menonita UCM (Universidade Canadense Menonitas) confere graus para 80 alunos, a sua maior turma de formandos. Você enfrenta um mundo diferente do que graduados de um ano atrás, disse o Dr. Nettie Wiebe na turma de 2009 UCM. Dr. Nettie Wiebe, um agricultor orgânico, ativista ambiental, co-fundador da Via Campesina, um movimento internacional de camponeses e professor de Igreja e Sociedade na Universidade de St. Andrew, em Saskatchewan. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 107 "Suas perspectivas são visivelmente diferente do que eles fizeram uma turma atrás", disse aos 80 alunos, a maior classe formada da UCM, em um ginásio lotado com a família e amigos. A economia está falhando, os trabalhadores estão perdendo seus empregos, o fosso entre ricos e pobres está aumentando, e as mudanças climáticas está tratando com duro golpe as populações mais vulneráveis do planeta, Wiebe avisa. "Isso vai exigir mudanças sociais, políticas, culturais e econômicas radicais. Fundamental para estancar a destruição e injustiças entre nós", disse ele. "Mas eu quero persuadi-los de que o dom mais importante que você pode nutrir é a esperança no trabalho que você vai fazer .... A esperança não é fantasia ou ilusão. Mas não esqueça que a verdadeira esperança está fundamentada na fé e mantida viva pelo amor e ação ". Naimodu (um dos formando). "Eu estava inspirado não apenas para ser um ministro na igreja, mas por estar envolvido com a transformação física. África luta contra a pobreza. Precisamos de desenvolvimento holístico, bem como o desenvolvimento espiritual ", disse Naimodu. Em julho Naimodu retorna ao Quênia, onde ele estará dirigindo um projeto que prevê as necessidades e educação de 210 crianças quenianas em uma comunidade onde 98 por cento da população é analfabeta. O projeto é uma parceria entre Olepolos Igreja da Comunidade Menonita e Compassion International. Enquanto isso, Nicole Enns Fehr vai prosseguir estudos de mestrado no prestigiado Instituto Kroc de Estudos Internacionais de Paz da Universidade de Notre Dame, em Indiana. Enns Fehr disse que seus quatro anos em Estudos enraizou-a em uma teologia da paz, que será um ativo valioso para os seus estudos em andamento. Sandra Dueck disse que o grau de Bacharel em Musicoterapia ela ganhou na UCM lhe ensinou sobre a aplicação de fé à sua vocação. Dueck vai fazer um estágio de seis meses no Baycrest Hospital em Toronto após sua formatura. Seu trabalho vai envolver a utilização de música para reduzir o estresse em pacientes idosos. A música pode ser usado para ajudar os pacientes a sair de seu isolamento, ela disse. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 108 ICOMB International Community of Mennonite Brethren UMA INTRODUÇÃO A Comunidade Internacional de Irmãos Menonitas (ICOMB) é um dos melhores exemplos de nossos irmãos menonitas. ICOMB é o veículo através do qual as conferências da Igreja Irmãos Menonitas do mundo expressam sua parceria na missão e ministério. Foi lançado oficialmente em 1990, durante a Assembléia da Conferência Mundial Menonita em Winnipeg, Manitoba. Atualmente 19 conferências de membros em 16 países. 16 Países Membros: AFRICA • Replúbica Democratica do Congo Angola ASIA • India Japão EUROPE • Alemanha Austria Portugal AMERICA CENTRAL • Mexico Panama AMERICA DO SUL • Peru Colombia Brasil Uruguai Paraguai AMERICA DO NORTE • Canada Estados Unidos SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 109 MB Mission SOBRE MB MISSION Há lugares escuros deste mundo, onde até mesmo um pouco de luz faz uma diferença enorme. A luz fica mais brilhante quando os professores, engenheiros, pastores e empresários estão trazendo coletivamente transformação de uma comunidade. Descubra como MB Missão está brilhando para fazer a diferença para Jesus. Voltando a 1860, quando os irmãos menonitas foram concebidos como um movimento missionário. Mesmo antes dos primeiros missionários foram já enviados para a Índia, a missão estava no DNA desse avivamento. Hoje, A MB missão continua a brilhar intensamente para Jesus em todo o mundo. Até à data, MB Missão enviou mais de 2.400 pessoas como missionários residentes. Milhares mais têm servido em missões de curta duração e em parceria com outras organizações missionárias. Deus abençoou muito essa obediência em missão. E o trabalho continua. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 110 Amanhã é como hoje. Seguimos Jesus e esperamos que vidas sejam transformadas. Nossa oração é que a luz de Jesus irá brilhar mais forte a cada dia, até que toda a terra esteja cheia da sua glória. Conclusão: Menno Simons, um sacerdote católico do povoado de Witmarsum, no norte da Holanda, aderiu ao movimento anabatista, defendendo uma postura pacifista. Em 1536 ele já tinha cortado todos os laços com a igreja Católica Romana e passou a ser perseguido. Diversos movimentos de reavivamento, como os sacramentários, a Devotio Moderna e os Irmãos da Vida Comum, prepararam o caminho para os refugiados anabatistas. Na Holanda, os anabatistas encontraram um líder religioso capaz de uni-los, o ex-padre católico Menno Simons. O novo líder conseguiu organizar os menonitas e mantê-los unidos com base exclusiva em sua lealdade para com Cristo e de seu amor de uns para com os outros. Essa vida de discipulado os separaria do mundo. Essa separação do mundo era aconselhada através do estabelecimento de colônias isoladas, autossuficientes, com pouco contato com o mundo exterior. Tal isolamento passou a ser mais e mais necessário em razão da perseguição sistemática que os menonitas sofriam. Os menonitas tiveram durante a sua história diversos pontos de discórdia entre si o que sempre acabou levando a divisões e novas denominações entre eles, como por exemplo os Amish. Tanto o evangelho pregado pelo pastor Eduardo Wuest como a literatura religiosa ao pietismo de Wuettemberg, na Alemanha, movimento de avivamento com ênfase na regeneração e santificação, encontraram boa aceitação junto a muitos que, insatisfeitos com o estado das igrejas, almejavam uma vida renovada. O resultado foi um reavivamento espiritual na região, que resultou na Igreja Irmãos Menonitas, fundada em 6 de janeiro de 1860. Chamavam-se de irmãos porque os crentes ao Novo Testamento assim eram chamados (Fil. 4:1; l Pe 2:17). Com todas as perseguições, passando pela primeira e segunda Guerra Mundial, a Igreja Evangélica Irmãos Menonitas mantém como parâmetro: SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 111 DOUTRINA: • Cremos na Bíblia como única autoridade de fé e conduta • Cremos em Jesus Cristo como o único mediador entre Deus e os Homens • Cremos nas necessidade da conversão e batismo voluntário • Cremos na vida baseada nos ensinamentos de Cristo – discípulo • Cremos na missão salvadora de Cristo – o evangelho da salvação • Cremos na volta iminente de Cristo para buscar o Seu povo VISÃO: Ser uma instituição de serviços em todo território brasileiro, servindo com excelência às Igrejas como agência facilitadora do cumprimento da missão integral da igreja, a qual foi comissionada por Deus por intermédio de Jesus Cristo. MISSÃO: Incentivar o crescimento das igrejas, preservar e fortalecer a comunhão mútua e a unidade doutrinária, direcionar suas estratégias, promover a identidade denominacional e a qualidade de ensino teológico, cristão e secular, estimular e dar suporte para implementação de projetos missionários de responsabilidade social e discipulado. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 112 In English – Summarized Texts: INTRODUCTION: in full Menno Simons , Simons also spelled Simons. born 1496, Witmarsum, Friesland [Netherlands] died January 31, 1561, near Lübeck, Holstein [Germany] Dutch priest, an early leader of the peaceful wing of Dutch Anabaptism (Anabaptist), whose followers formed the Mennonite church. LIFE: Little is known about Menno's early life. He was born into a Dutch peasant family, and his father's name was Simon. At an early age he was enrolled in a monastic school, possibly at the Franciscan monastery in Bolsward, to prepare for the priesthood. In March 1524, at the age of 28, he was ordained at Utrecht and assigned to the parish at Pingjum, near the place of his birth. Seven years later he became the village priest in his home parish at Witmarsum. Though Menno was to become a leading advocate of ethical Christianity, his initial concern was doctrinal. During his first year as a priest, he questioned the real presence of Christ in the bread and wine of the Eucharist. His concerns may have developed because of the antisacramental tendencies prevalent in the Netherlands at that time, tendencies that developed from the humanism of Erasmus (Erasmus, Desiderius) and the ethical concerns of the Brethren of the Common Life (Common Life, Brethren of the). These doubts led Menno to read both the Bible and the writings of Martin Luther (Luther, Martin). At first he read the Bible with real fear, for he knew this step had driven Luther and the Swiss Reformer Huldrych Zwingli (Zwingli, Huldrych) out of the Roman Catholic (Roman Catholicism) church, but he soon agreed with them that biblical authority ought to be primary in the life of the believer and in the church. By 1528 he was known as an Evangelical preacher, though he continued as parish priest. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 113 From doubts about the Eucharist, Menno moved gradually to questions about infant Baptism and the meaning of church membership. His study of the New Testament led him to the firm conviction that only persons of mature faith, who acknowledged Jesus as Lord and had counted the cost of following him, could be eligible for membership in the church. Only such persons could be baptized as a seal (sign of guarantee) of the covenant and a witness to all the world. The grace of Christ was sufficient for children until they reached the age of accountability and made a conscious choice either for or against him. The experience of conversion came to be central to all of Menno's life and theology. Meanwhile, the revolutionary wing of early Dutch Anabaptism continued its agitation. Members of that wing, under the leadership of the millenarian John of Leiden, had taken control of the town of Münster and were under siege from the bishop and local nobles. On April 7, 1535, the Olde Klooster near Bolsward, which had been occupied by the Anabaptists as a staging area for aid to Münster, fell before the onslaught of the state militia. Among those killed were members of Menno's congregation and Peter Simons, who may have been his brother. This prompted him to preach openly against the errors of the revolutionaries. In doing so, he articulated with increasing clarity what he believed to be the true nature of a believers' church: (church) pure doctrine, scriptural use of sacraments, ethical obedience, love of neighbour, a clear and open witness to the faith, and a willingness to suffer. The fall of Münster on July 25, 1535, increased pressure within him to help those whom he considered to be misguided spirits. This bold and outspoken ministry soon jeopardized his safety, and in January 1536 he went into hiding after a spiritual struggle of 11 years. IN DESCRIBING HIS DECISION, HE WROTE, Pondering these things my conscience tormented me so that I could no longer endure it.…If I through bodily fear do not lay bare the foundation of the truth, nor use all my powers to direct the wandering flock who would gladly do their duty if they knew it, to the true pastures of Christ—oh, how shall their shed blood, shed in the midst of transgression, rise against me at the judgment of the Almighty and pronounce sentence against my poor, miserable soul! SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 114 Menno spent a year in hiding, finding a sense of direction for his future work. During this time he wrote Van de geestlijke verrijsenisse (“The Spiritual Resurrection”), De nieuwe creatuere (“The New Birth”), and Christelycke leringhen op den 25. Psalm (“Meditation on the Twenty-fifth Psalm”). Late in 1536 or early in 1537, he received believer's baptism, was called to leadership by the peaceful Anabaptist group founded in 1534 by Obbe Philips, and was ordained by Obbe. He also married. From this time on his life was in constant danger as a heretic. In 1542 the Holy Roman emperor Charles V himself issued an edict against him, promising 100 guilders reward for his arrest. One of the first Anabaptist believers to be executed for sheltering Menno was Tyaard Renicx of Leeuwarden, in 1539. From 1543 to 1544 Menno worked in East Friesland, where in January 1544 he had a major interview or debate with the Polish Reformer Jan Laski, or Johannes à Lasco (b. 1499, Warsaw, Poland—d. 1560). The next two years, 1544–46, were spent in the Rhineland, after which Menno traveled from his new home base in Holstein, near Oldesloe, northeast of Hamburg, until his death in 1561. Here he found time for extensive writing and established a printing press to circulate Anabaptist works. His travels took him not only back to the Netherlands but also to Danzig (now Gdańsk, Poland). INFLUENCE: Menno was not the founder of the Mennonite Church nor the most articulate spokesman of early Anabaptist theology. His greatness lay rather in the leadership he gave to northern Anabaptism during its formative first generation, a leadership maintained through his calm, biblically oriented approach and through his writings, which consolidated the insights of the movement. Though these writings often seem tedious and excessively polemical, they delineated the Anabaptist faith he defended against both Catholic and Protestant attacks on the one hand and distortions by zealots from within the movement on the other. During the last years of his life he was troubled particularly by some of his own brethren, who pressed for great rigour in the application of the ban (expulsion from the church) and other measures of discipline. More than 40 of his writings are extant. SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 115 ADDITIONAL READING: J.A. Brandsma, Menno Simons Van Witmarsum (1960), a biography containing a careful evaluation of stories and legends about Menno Simons; C.J. Dyck (ed.), A Legacy of Faith: The Heritage of Menno Simons (1962), a discussion of Dutch Anabaptism with three chapters devoted to Menno Simons; I.B. Horst, A Bibliography of Menno Simons, ca. 1496–1561 (1962), the definitive bibliography of his writings; C. Krahn, “Menno Simons,” in Mennonite Encyclopedia, vol. 3 (1957), a major interpretive article by one of the foremost scholars of Dutch Anabaptism; F.H. Littell, A Tribute to Menno Simons (1961), a discussion of the significance of the theology of Menno Simons; H.W. Meihuizen, Menno Simons (1961), a biography giving particular attention to the place of Menno Simons in the life and culture of his time; Menno Simons, Opera Omnia Theologica (1681; The Complete Writings of Menno Simons, ed. by J.C. Wenger, 1956), the definitive English-language edition; K. Vos, Menno Simons, 1496–1561 (1914), the standard work (in Dutch). SAIBA + IRMÃOS MENONITAS 116