ROTA uRuGuAI

Transcrição

ROTA uRuGuAI
rota uruguai
Nos bares
e nas ruas
de Colônia
do Sacramento,
o clima é de
sossego total
Por que a pressa?
Em vez de fazer o tradicional bate-volta entre Buenos Aires e Colônia do Sacramento,
vale a pena reservar alguns dias para flanar pelas ruas, desfrutar o tempo e descobrir
os segredos da pequena cidade colonial uruguaia e de sua vizinha Carmelo
POR ricardo calil fotos anna fischer
82 REVISTA GOL
REVISTA GOL 83
rota uruguai
Colônia do Sacramento ficou conhecida entre turistas
brasileiros como “a Paraty do Uruguai”. Já sua vizinha Carmelo, a 80 quilômetros daqui, começa a ganhar fama como
“uma Toscana em miniatura”, definição dada pelo jornal
norte-americano The New York Times.
Epítetos como esses podem ser traiçoeiros. Por um lado,
servem para orientar os viajantes. Sim, Colônia do Sacramento
é, como sua “prima” brasileira, uma encantadora vila colonial à
beira d’água, fundada por portugueses e declarada Patrimônio
Histórico da Humanidade pela Unesco. E, assim como a famosa
região italiana, Carmelo tem vinícolas de grande qualidade,
além de locais charmosos para consumir os produtos locais.
Por outro lado, na rapidez do paralelo, epítetos podem passar por cima de características fundamentais de um lugar. E,
no caso do Uruguai, o essencial não é o espaço, e sim o tempo. Eleito “país do ano” pela revista The Economist em 2013,
no embalo da filosofia da simplicidade defendida pelo então
presidente José Mujica, este é um lugar ideal para desacelerar. “Visitantes do mundo inteiro – brasileiros, americanos,
europeus – já me falaram: ‘Colônia me lembra o lugar onde
passei a minha infância’”, conta o fotógrafo gaúcho Eduardo
Alvares Boszko, 40 anos, radicado na cidade há sete, proprietário da Pousadita de la Plaza e da loja de fotos e memorabilia de mesmo nome. “Quando um japonês me falou a mesma
coisa, eu pensei: ‘Não é possível!’. Foi aí que eu entendi que
Colônia não lembra o lugar da infância, e sim o tempo da
infância. O Uruguai é o Santo Graal da tranquilidade.”
Para a maioria dos brasileiros, Colônia é um apêndice
de uma viagem a Buenos Aires. De Puerto Madero, pega-se o Buquebus e, 1 hora de rio da Prata depois, chega-se ao
destino. Em uma tarde, pode-se percorrer o pequeno centro,
subir no farol, observar os carros antigos nas ruas de paralelepípedo, visitar alguns dos muitos e austeros museus (o
Português, o Espanhol, o dos Azulejos), almoçar e conhecer
os resquícios da colonização portuguesa – presentes em
algumas casas remanescentes do século 17 e no calçamento
pé de moleque com canaleta central de poucas ruas, como
a famosa Calle de los Suspiros. Com um dos guias locais,
Voos para buenos aires (eze) — GOL
ORIGEM saídachegada
Brasília (BSB)
11h11
15h00
Rio de Janeiro (GIG) 10h12
13h25
Natal (NAT)
05h35
23h55
Florianópolis (FLN) 13h12
15h20
Salvador (SSA)
01h20
05h50
São Paulo (GRU)
08h20
10h50
Fortaleza (FOR)
23h45
05h20
Acesse voegol.com.br para mais opções de voos ou consulte seu
agente de viagens. Voos sujeitos a alteração sem aviso prévio.
84 REVISTA GOL
pode-se ainda aprender a história da cidade, que, a partir de
1680 e ao longo dos cem anos seguintes, trocou sete vezes
de mãos entre portugueses e espanhóis – obcecados em
dominar o escoadouro do ouro e da prata latino-americanos.
Dá para aprender também que, entre as casas mais antigas,
as brancas eram espanholas, e as vermelhas, portuguesas,
porque tingidas com sangue animal para segurar a cal; e que
a primeira coisa que os escravos faziam ao chegar, após atravessar o Atlântico, era suspirar de alívio, batizando assim a
rua mais antiga da cidade (que depois viria a ser o local dos
prostíbulos, inspirando outros tipos de suspiros).
Ou seja, em um dia dá para fazer tudo. O que significa
dizer que falta tempo para o programa mais importante de
Colônia: não fazer nada. A cidade oferece muitos motivos
para ficar um par de dias. Porque, em um par de horas, não dá
para se perder a sério pelas ruas; não dá para ver o sol morrer
lindamente no rio da Prata, nem para ver a cidade se iluminar
pelos lampiões à noite; não dá para saber que os bem-cuidados vira-latas locais são comunitários e alimentados por
moradores; não dá para roer os ossos do carré de cordeiro no
hotel Charco, ou lagartear na piscina de fundo infinito e vista
para o rio do Radisson Hotel & Cassino; não dá para matar
o calor com um refresco no café e loja de acessórios Boca de
Santo, do casal argentino Ana Cufré, 31, e Mauricio Baffa, 32,
que foi para Colônia para ter “una vida en slow motion”.
em um dia dá para
fazer tudo, mas
falta tempo para
o mais importante
em Colônia: não
fazer nada
Em sentido horário,
a partir da foto acima:
pôr do sol no rio da Prata;
o farol de Colônia; Eduardo
Boszko, brasileiro que
se mudou para a cidade
uruguaia há sete anos;
carré de cordeio servido
no hotel Charco; e a rua
Real e suas charmosas
mesinhas na calçada
REVISTA GOL 85
rota uruguai
Com pouco tempo, também não será possível descobrir,
jogando conversa fora com os locais, que Colônia é o atual
lar do “corsário do rio da Prata”, o argentino Ruben Collado, responsável pelo resgate dos tesouros de mais de uma
dezena de barcos afundados nas suas águas turbulentas.
As relíquias costumavam ficar expostas em um museu,
fechado recentemente. Ele conta que em breve fará seu
maior resgate: o navio inglês Lord Clive, que naufragou em
1763, a apenas 300 metros da costa e a 6 metros de profundidade, com 100 mil moedas de ouro. Seu ambicioso plano
é trazer a embarcação à tona e transformá-la em uma das
principais atrações da cidade. Ainda falta o patrocínio,
mas a permissão do governo uruguaio ele já tem.
Para quem não tem acesso a moedas de ouro, os tesouros
de Colônia são outros – e igualmente incalculáveis. No filme
argentino Dois irmãos (2009), um personagem solteiro de 64
anos se vê perdido depois da morte da mãe e do rompimento
com a irmã. Ele só recupera a vontade de viver ao se mudar
para Colônia e entrar em um grupo de teatro. Na vida real,
mais incrível que a ficção, o casal de franceses aposentados
Régine, 64, e Hubert Aguilar, 66, percorre as Américas há
quatro anos em um motor home que atravessou o Atlântico de
Ruta 21
Para quem preferir alugar um carro para ir de Colônia a Carmelo, há uma parada interessante no meio do caminho de 50
minutos pela bonita Ruta 21: Los Cerros de San Juan, a vinícola
mais antiga do Uruguai, criada em 1854. É uma pequena viagem
no tempo de armazéns, adegas, barris e garrafas centenárias – e
uma bela introdução ao espírito enogastronômico de Carmelo.
86 REVISTA GOL
Em sentido horário, a partir da foto acima: passeio
de caiaque em Carmelo; o
casal de franceses Régine e
Hubert Aguilar pela terceira vez em Colônia; Ruben
Collado, que resgata barcos
afundados na região; e a
enóloga Valeria Chiola em
ação na vinícola Narbona
agradecimentos
Radisson Colonia Del Sacramento Hotel& Casino
Carmelo Resort&Spa, A Hyatt Hotel
Vinícola Narbona
Ministério do Turismo do Uruguai
navio, da Bélgica ao Canadá (o relato da viagem, em francês,
está no blog de-la-canebiere-a-ushuaia.over-blog.com).
Adivinhe o lugar que eles mais visitaram? Colônia, três vezes.
Os motivos? Sossego, segurança e, claro, o encanto da cidade.
Sentados em cadeiras de praia, lendo embaixo de uma árvore,
a poucos metros do rio da Prata, eles encarnaram perfeitamente o espírito dolce far niente de Colônia.
Nadando contra a corrente da maioria dos brasileiros, o
casal Wania Teles, 28, e Christian Farkas, 27, de Santos, decidiu passar a noite em Colônia e aprovou. “Depois de bater
perna, deu para jantar com calma e ver shows pela cidade,
que fica linda à noite”, conta Wania. No dia seguinte, eles estavam descansados para a parte mais romântica da viagem:
pegar um ônibus até Carmelo e percorrer suas vinícolas de
bicicleta. “Nossa experiência será mais profunda do que a
das pessoas que fazem apenas o bate-volta”, diz Farkas.
EM CARMELO,
A DICA é pegar
a estrada com
rumo certo para
comer, beber
e relaxar
Como Colônia, Carmelo fica à beira do rio da Prata, é pequena e pacata. Mas a viagem muda um bocado. Aqui a ideia
não é flanar sem rumo pelas ruas do centro (nesse caso, acanhado), e sim pegar a estrada com rumo certo para comer,
beber, relaxar. Com menos tempo de turismo nas costas que
a vizinha mais conhecida, Carmelo tem opções variadas de
hospedagem. Há o famoso Hyatt (ex-Four Seasons), resort
com praia particular, bosque para cavalgar ou pedalar e 44
quartos amplos. E há alternativas menores e charmosas,
caso do Narbona Wine Lodge, com sete suítes em meio a
vinhedos e construções que estão de pé desde 1909.
Como em outras vinícolas da região, na Narbona é possível fazer programas variados em torno de vinho e da comida,
mesmo para quem não se hospeda aqui: degustação, almoço
ou jantar, piquenique ou bicicletada pelos vinhedos. Por mais
que eles plantem uma dezena de variedades (e ainda produzam
doce de leite, queijos, geleias, pães e azeite artesanais), a estrela
será sempre a Tannat, uma uva para os fortes. “É um orgulho
nacional, como o Malbec para os argentinos e o Carménère para
os chilenos”, conta Valeria Chiola, 28, enóloga local. Ela explica
que o vinho Tannat harmoniza com queijos e carnes robustos.
REVISTA GOL 87
rota uruguai
Além da Narbona, há uma dezena de vinícolas artesanais
na região que merecem a visita. Vale destacar a renomada
Irurtia, El Legado (em que você será recebido pelo dono,
Bernardo Mazurca), CampoTinto (a mais nova em Carmelo)
e, a poucos metros dali, Cordano (a mais antiga), tocada pela
mesma família de origem italiana há cinco gerações. Nesta
última, está o centenário Almacén de la Capilla. Ana Paula
Cordano, 37, explica que decidiu investir no turismo há poucos anos, com o crescimento do interesse pela região. Agora
oferece um único quarto em meio aos vinhedos.
Para quem quer variar dos vinhos, um bom refúgio é
Puerto Camacho, um píer dentro de um condomínio privado,
que pode ser visitado após identificação na guarita. Aqui,
caiaques de aluguel estão disponíveis para um passeio pelo
rio da Prata. Da varanda do rústico e elegante restaurante
Basta Pedro, pode-se comer pratos típicos como milanesas,
chivitos (clássico sanduíche local) e empanadas e ver mais
um espetacular pôr do sol. A essa altura, yo garantizo, você já
terá esquecido completamente de Paraty ou da Toscana.
De cima para baixo: Puerto
Camacho ao anoitecer;
Ana Paula Cordano no
centenário Almacén de la
Capilla; e a piscina do hotel
Hyatt, em Carmelo
AH LO Boutique Hostel Treinta
y Tres, 270, Carmelo. Tel.: (598)
4542-0757. ahlo.com.uy. Diárias
para casal, com café da manhã, a
partir de US$ 50.
Onde comer
Charco San Pedro, 116, Colônia
do Sacramento. Tel.: (598) 45345000. charcohotel.com.
Churana Misiones de los Tapes,
41, Colônia do Sacramento. Tel.:
(598) 4523-5403. churana.com.
boca de santo Paseo San Miguel
Puerta, 81, Colônia do Sacramento.
Tel.: (598) 9929-6022.
Onde ficar
Radisson Hotel & Casino
Washington Barbot, 283, Colônia
do Sacramento. Tel.: (598) 45230460. radisson.com/coloniauy.
Diárias para casal, com café da
manhã, a partir de US$ 125.
La Posadita de la Plaza
Misiones de los Tapes, 177, Colônia do Sacramento. Tel.: (598)
4523-0502. posaditadelaplaza.
88 REVISTA GOL
com. Diárias para casal, com café
da manhã, a partir de US$ 120.
Hyatt Resort & Spa Ruta 21, km
262, Carmelo. Tel.: (598) 4542-9000.
carmelo.hyatt.com. Diárias para casal,
com café da manhã, a partir de US$ 190.
Narbona Wine Lodge Ruta
21, km 268, Carmelo. Tel.: (598)
4540-4778. narbona.com.uy.
Diárias para casal, com café da
manhã, a partir de US$ 168.
Posada CampoTinto Camino
de los Peregrinos, s/n, Carmelo.
Tel.: (598) 4542-7744. posadacampotinto.com.
Basta Pedro Ruta 21, km 265,
Carmelo. Tel.: (598) 4542-9041.
bit.ly/bastapedro.
O que fazer
Farol Henriquez de la Peña, Colônia do Sacramento. Inaugurado em
1857, tem a melhor vista de Colônia.
25 pesos uruguaios.
De La Plaza Misiones de los
Tapes, 177, Colônia do Sacramento.
Tel.: (598) 4523-0502. Loja de fotografias, bricabraques e memorabilia.
Los Cerros de San Juan Ruta
21, km 213, a 30 km de Colônia do
Sacramento. Tel.: (598) 4570-7003.
Vinícola mais antiga da região.
loscerrosdesanjuan.com.uy.
Almacén de La Capilla Camino
vecinal de Colonia Estrella, entrada
na Ruta 21, km 257, Carmelo. Tel.:
(598) 099-544-255. Armazém
inaugurado em 1900, vende produtos locais, incluindo vinhos produzidos e oferecidos apenas aqui.
Puerto Camacho Ruta 21, km
265, Carmelo. Tel.: (598) 45429041. Passeios de bicicleta ou
caiaque. puertocarmelo.com.
Alugue um carro
Localiza Autopista TTE GRAL
Ricchieri, s/n, Ezeiza. TEL.: (54 11)
4897-4240. localiza.com.br.
Thrifty Car Rental Puerto
Franco, Colônia do Sacramento.
Tel.: (598) 522-1936. thrifty.com.uy

Documentos relacionados