Viabilidade Econômico-Financeiro da Infra-estrutura
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Viabilidade Econômico-Financeiro da Infra-estrutura
LIMA FILHO, Djalma; SOUZA, Celso de; RIBEIRO, Kárem Cristina de Sousa; ROGERS, Pablo. Viabilidade Econômico-Financeiro da Infra-estrutura de Armazenamento de Soja em Uberlândia-MG. In: V CONGRESSO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO RURAL (ABAR), 2005, Campinas. 2005. Viabilidade Econômico-Financeiro da Infra-estrutura de Armazenamento de Soja em Uberlândia-MG Resumo Através de análises elaboradas no setor produtivo de soja na região de Uberlândia-MG, observa-se que a deficiência de armazenamento aponta para uma oportunidade de investimento nessa infra-estrutura, o que conseqüentemente afetaram todos produtores da região em termos de otimização dos ganhos, seja pela elevação nos preços, pela redução nos custos ou disposição da produção num momento mais favorável. Esse trabalho tem por objetivo apresentar um projeto de viabilidade econômico-financeira para investimentos em infra-estrutura de armazenamento de soja na região de Uberlândia-MG evidenciando o retorno para um investidor individual assim como, os ganhos indiretos obtidos para todos os produtores de soja da região. Em termos metodológicos fez-se uma pesquisa do tipo descritiva concluindo que o investimento em infra-estrutura de armazenamento nessa região é viável financeiramente (proporciona um retorno maior que a média do setor) a partir de um dado volume de movimentação de soja. Porém as altas taxas de juros praticadas atualmente, conjuntamente com os ineficazes subsídios governamentais dificultam a tomada de decisão por parte dos investidores, uma vez que os ganhos obtidos no setor financeiro (custo de oportunidade) são maiores e menos arriscados do que o empreendimento considerado. Palavras-chave: Análise de investimentos, Agribusiness, Armazenamento de Soja. Abstract Through analyses elaborated in the productive sector of soybeans in the area of UberlândiaMG, it is observed that the storage deficiency point at an investment opportunity in that infrastructure, what consequently affected all producers of the area in terms of optimization of the earnings, either for the increase in the prices or for the reduction in the costs or availability of the production in a more favorable moment. This paper has as objective to present a project of economical-financial feasibility for investments in infrastructure of soybeans storage in the area of Uberlândia-MG evidencing the return for an individual investor as well as, the indirect earnings obtained for all the regional producers of soy. In methodological terms it was made a descriptive research concluding that the investment in storage infrastructure in that area is viable financially (it provides a larger return than the sector average) above a determined production volume. However, the high interest rates practiced currently, jointly with the ineffective government subsidies make it difficult for the investors to take a decision, since the earnings obtained in the financial market (opportunity cost) are most of time larger and less risky than the considered undertaking. Key-Words: Analysis of investments, Agribusiness, Storage of Soy 1. Introdução A cadeia produtiva da soja, como todo segmento voltado para a produção de commodities, permite pouca flexibilidade de atuação objetivando melhorar a sua margem e a sua rentabilidade. Uma vez que o preço das commodities torna-se padronizado no mercado, os agentes participantes desses setores para aumentarem a sua rentabilidade devem optar essencialmente pela redução de custos. Estas limitações podem ser uma oportunidade interessante, carecendo estudos mais aprofundado das variáveis envolvidas neste processo. LIMA FILHO, Djalma; SOUZA, Celso de; RIBEIRO, Kárem Cristina de Sousa; ROGERS, Pablo. Viabilidade Econômico-Financeiro da Infra-estrutura de Armazenamento de Soja em Uberlândia-MG. In: V CONGRESSO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO RURAL (ABAR), 2005, Campinas. 2005. Uma das variáveis que podem afetar drasticamente a rentabilidade da cadeia produtiva de soja diz respeito aos custos de armazenagem e logísticos. Nesse sentido, esse artigo pretende definir como a construção de uma infra-estrutura própria de armazenamento de soja pode afetar o resultado econômico-financeiro dos produtores de soja da região de UberlândiaMG. Alicerçado nesse objetivo geral, analisar-se-á também os seguintes objetivos específicos: o contexto da cadeia produtiva Agroindustrial da soja do município dentro do segmento nacional de agribusiness; o perfil médio dos produtores de soja da região; o comportamento médio dos preços de soja na bolsa de Chicago; o modelo ideal de uma infra-estrutura própria de armazenamento, quantificando os investimentos necessários; e os indicadores financeiros que podem ser utilizados na definição da viabilidade da execução do investimento. O trabalho justifica-se, unicamente pelo setor do agribusiness, o qual representa 34% do PIB, 37% dos empregos e 46% das exportações (REVISTA DINHEIRO RURAL, 2004), sendo a soja a principal commodity brasileira exportada. O Brasil possui 70% de área cultivável, sendo apenas 10% efetivamente aproveitada, enquanto a média de outros países é de 22%. Estes dados levam a conclusão de que boas estratégias referentes ao setor agroindustrial são de suma importância para o crescimento econômico do país, bem como uma oportunidade para os produtores obterem maiores lucros. Na próxima concentrar-se-á esforços nos aspectos referentes ao agribusiness, destacando a soja no cenário nacional. A terceira seção fará uma descrição do processo de armazenamento e comercialização da soja, especificando o município de Uberlândia-MG dentro deste contexto. Na quarta seção fará a analise da viabilidade econômico-financeira de uma infra-estrutura de armazenamento de soja na região de Uberlândia-MG, analisando os seus para os produtores dessa commodity no município. A última seção ficará a título das considerações finais. 2. Agribusiness Segundo Batalha (1997), o agribusiness pode ser entendido como “o conjunto de relações que se estabelece entre os atores do Sistema Agroindustrial”. Essa área compreende de insumos, equipamentos e defensivos, que representam a divisão “antes da porteira”, os conceitos de produtividade, serviços, parcerias e produção agrícola que são os “dentro da porteira”, e finalmente os aspectos das agroindústrias e canais de distribuição os “depois da porteira”. O Brasil possui, sem qualquer dúvida, uma vocação natural para o agribusiness, fato comprovável pelo saldo da Balança Comercial do segmento no ano de 2004, aproximadamente US$ 32 bilhões. No contexto global, o agribusiness “já é o maior negócio do Brasil. Gera 34% do PIB, 37% dos empregos e 46% das exportações” (REVISTA DINHEIRO RURAL, 2004). O Brasil possui ainda 90 milhões de hectares não aproveitados, que passarão a ser utilizados em uma cadência de 2 milhões de hectares a cada ano. Isto caracteriza o grande potencial do país como fator de equilíbrio entre a demanda crescente de alimentos no contexto mundial e a sua produção em quantidades e padrões necessários para atendimento dessas necessidades. De uma forma mais simples, pode-se entender o agribusiness conforme a divisão efetuada por Batalha (1997), em três macrosegmentos: − Produção de matéria-prima: reúne as firmas que fornecem as matérias-primas iniciais para que outras empresas avancem no processo de produção do produto final (agricultura, pecuária, pesca, piscicultura etc); LIMA FILHO, Djalma; SOUZA, Celso de; RIBEIRO, Kárem Cristina de Sousa; ROGERS, Pablo. Viabilidade Econômico-Financeiro da Infra-estrutura de Armazenamento de Soja em Uberlândia-MG. In: V CONGRESSO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO RURAL (ABAR), 2005, Campinas. 2005. − Industrialização: representa as empresas responsáveis pela transformação das matérias-primas em produtos finais destinados ao consumidor, este pode ser uma unidade familiar ou outra agroindústria; e − Comercialização: representa as empresas que estão em contato com o cliente final da cadeia de produção e que viabilizam o consumo e o comércio dos produtos finais (supermercados, mercearias, restaurantes, cantinas etc). Podem ser incluídas neste macrosegmento as empresas responsáveis somente pela logística de distribuição. 2.1. Complexos Agroindustriais e Cadeias de Produção Um complexo agroindustrial tem sempre como partida uma matéria prima de base. Pode-se citar como exemplo: complexo agroindustrial da cana de açúcar, ou complexo agroindustrial da soja etc. Em ambos os exemplos ficam evidentes que a arquitetura de um complexo é ditada pela ramificação da matéria prima principal entre os diferentes processos industriais, comerciais e financeiros que ela pode sofrer até se transformar em diferentes produtos finais. Assim, a formação de um complexo agroindustrial exige a participação de um conjunto de diversas cadeias de produção, cada uma delas associada a um produto ou família de produtos. Contrariamente ao exposto, uma cadeia de produção agroindustrial é sempre definida a partir de um determinado produto final. Após esta identificação, encadear-se-á, de jusante a montante, as várias operações técnicas, comerciais e logísticas necessárias a sua produção. A soja destaca-se de outras oleaginosas por ser a mais barata fonte de proteína, razão pela qual alguns preferem chamá-la de semente proteaginosa ao invés de oleaginosa, pois seu processamento resulta em 77% de farelo de alto teor protéico (o principal derivado), utilizado intensamente na produção de ração animal, e aproximadamente, 19% de óleo vegetal comestível. O Brasil é hoje o segundo maior produtor mundial de soja, porém muito próximo da liderança em produtividade média, a Figura 1 ilustra este fato. No contexto brasileiro, o país convive, atualmente, com altas taxas de ociosidade produtiva nas indústrias de processamento de soja, em torno de 20% da capacidade instalada (equivalente a 33 milhões de toneladas/ano). No segmento “dentro da porteira” houve a extinção do ICMS nas exportações do complexo de soja a partir de 1999, através da Lei Kandir, talvez tenha sido a mudança mais significativa dos últimos tempos. Paradoxalmente, a nova legislação está promovendo a deterioração da competitividade da indústria brasileira, advindo como conseqüência imediata à exportação do incremento da safra como matéria prima. Isto está servindo para suprir as necessidades de indústrias de outros países, principalmente da Comunidade Econômica Européia, que responde por 54% das vendas de soja do Brasil, e da China, com 27%. O Gráfico 1 mostra as exportações do país no período de 1999 a 2005 (estimativa). LIMA FILHO, Djalma; SOUZA, Celso de; RIBEIRO, Kárem Cristina de Sousa; ROGERS, Pablo. Viabilidade Econômico-Financeiro da Infra-estrutura de Armazenamento de Soja em Uberlândia-MG. In: V CONGRESSO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO RURAL (ABAR), 2005, Campinas. 2005. Figura 1 - A soja no contexto mundial Fonte: Jornal Valor Econômico – 12/10/04 Exportação de soja (ton) 19.890 2003 8.917 99 0 5.000 10.000 11.517 2000 15.000 15.676 2001 15.970 2002 19.248 2004 22.300 2005(est.) 20.000 25.000 Gráfico 1 – Exportação de soja de 1999 a 2005 (estimativa) Fonte: Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais – ABIOVE (2005) LIMA FILHO, Djalma; SOUZA, Celso de; RIBEIRO, Kárem Cristina de Sousa; ROGERS, Pablo. Viabilidade Econômico-Financeiro da Infra-estrutura de Armazenamento de Soja em Uberlândia-MG. In: V CONGRESSO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO RURAL (ABAR), 2005, Campinas. 2005. De forma geral, pode-se afirmar através da Figura 1, que o país tem todas as condições técnicas de despontar como o líder mundial na produção desta oleaginosa. Entretanto, existem ainda fortes ofensores a esta condição de liderança, representados pela deficiência na infraestrutura logística de grãos e pelo déficit em armazenagem nas propriedades rurais, estimado em 35 milhões de toneladas, para uma capacidade atual próxima de 100 milhões de toneladas. No Brasil, entre os anos de 2000 a 2003, a produção de grãos cresceu 50%, enquanto que a capacidade de armazenagem cresceu apenas 5,7%. Estes fatores fazem com que a rentabilidade do produtor de soja seja depreciada comparativamente com outros países, fato que pode ser constatado na Figura 2. Portanto, existem ações emergências que devem ser tomadas, tanto pelo Governo Federal quanto pelos próprios produtores, relacionadas à infra-estrutura logística e ao armazenamento, com o intuito de se evitar o que já vem sendo chamado pelo Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Sr. Roberto Rodrigues, de “pororoca logística”, ou seja, uma produção recorde no campo sem a adequada condição de exportação e utilização inteligente nas indústrias nacionais. Estas ações, além de evitar o colapso logístico, poderão indubitavelmente garantir a melhoria de rentabilidade aos produtores rurais. Figura 2 – Comparação de custos logísticos entre alguns países Fonte: Associação Brasileira de Agribusiness – ABAG (2004) 3. O Armazenamento e a Comercialização da Soja O armazenamento da soja na região de Uberlândia-MG possui hoje em torno de 150 propriedades rurais voltadas ao plantio da soja, em uma área total de aproximadamente 51.000 hectares. A produtividade média do município é de 2.800 kg/há, resultando em um total de aproximadamente 142.000 toneladas (ton) de soja produzidas. A produção do município é comercializada basicamente nas seguintes modalidades: a) Soja verde: O produto é comercializado antes da colheita, a um preço pré-definido entre produtor e indústria, com base nos indicadores da bolsa de Chicago. b) Pré-fixação: A soja é entregue ao comprador, a um valor previamente estipulado. c) A fixar: A soja é entregue ao comprador, porém, o valor será fixado em um momento futuro, a ser definido pelo produtor. d) Mercado spot: Nesta modalidade, a transação resolve-se em um único momento, ou seja, a operação de venda do produto, a entrega e o pagamento acabam-se em LIMA FILHO, Djalma; SOUZA, Celso de; RIBEIRO, Kárem Cristina de Sousa; ROGERS, Pablo. Viabilidade Econômico-Financeiro da Infra-estrutura de Armazenamento de Soja em Uberlândia-MG. In: V CONGRESSO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO RURAL (ABAR), 2005, Campinas. 2005. um único período de tempo. Neste modelo, não há qualquer compromisso futuro, uma vez encerrado a operação. Em todas estas modalidades existe um risco envolvido relacionado ao posicionamento futuro do commodities transacionados, seja pela perda efetiva dentro da cadeia produtiva ou pela perda da oportunidade de se realizar a operação de venda a valores mais elevados, em função de oscilações de mercado. Exemplificando o fato acima, pode-se citar um moinho que tem no trigo o seu principal insumo. Este moinho vende seu produto para uma indústria de massas, a qual, a fim de melhor aproveitar a sua capacidade produtiva, exige um contrato de fornecimento a um preço pré-definido. Para o moinho, este tipo de contrato também pode ser interessante, pois permite um melhor planejamento da produção e uma melhor negociação na compra de seus insumos, em função do ganho de escala. Porém, caso as compras de trigo sejam feitas apenas no mercado spot, esta indústria estará sujeita a um grande risco, caso o preço do trigo venha a se elevar, devido a uma quebra da safra. Neste caso, o moinho se defrontaria com uma condição totalmente adversa, em que a matéria prima principal estaria inflacionada e o produto final estaria com seu preço fixado em condições desvantajosas. Por esta razão, outros mecanismos de comercialização de commodities substituem ou complementam aqueles anteriormente citados, sendo descritos nas subseções seguintes. 3.1. Mercado de Futuros O mercado de futuros, ao contrário do mercado spot, tem como referência dois ou mais instantes no tempo, sendo as transações padronizadas e simplificadas. Os contratos de futuro especificam apenas o período para entrega, o lugar e a commodity transacionada.O preço é variável, definido de acordo com as transações realizadas em uma bolsa de mercadorias, das quais a principal é a Bolsa de Chicago (CBOT-Chicago Board of Trade). Eventualmente é definido um prêmio ou um desconto, conforme o nível de qualidade do produto transacionado. A quantidade transacionada é necessariamente um múltiplo inteiro de um lote padrão, definido como contrato. A outra modalidade de transação no mercado de futuros são as opções, também comercializadas em bolsa, e que representam um direito, mas não uma obrigação, de comprar ou vender determinados contratos de commodities, a um preço pré-estabelecido e dentro de um período limitado de tempo. Do ponto de vista social, o mercado de futuros ainda apresenta a função de fornecer informações sobre os preços de insumos importantes, que servem de base para a elaboração de decisões variadas. Por serem preços de domínio público e definidos nos maiores centros de comercialização, os preços ditados pelo mercado de futuros balizam contratos de longo prazo, como por exemplo, os contratos entre produtores de soja e as indústrias de processamento. 3.2. Operações de Hedging Hedging é uma palavra de origem inglesa que adquiriu um sentido específico no mundo dos negócios. Trata-se de uma estratégia de redução dos riscos característicos do mercado de commodities, utilizando-se do mercado de futuros para neutralizar a especulação implícita a um negócio qualquer. Essa operação normalmente resume-se à compra ou venda de um contrato de futuros de valor semelhante ao valor desse dado negócio, de tal modo que uma eventual perda decorrente de flutuações nos preços do mercado físico seja compensada por um ganho no mercado de futuros, originado pelas mesmas flutuações. Da mesma forma, um eventual ganho obtido no mercado físico pela majoração de preços resultará na LIMA FILHO, Djalma; SOUZA, Celso de; RIBEIRO, Kárem Cristina de Sousa; ROGERS, Pablo. Viabilidade Econômico-Financeiro da Infra-estrutura de Armazenamento de Soja em Uberlândia-MG. In: V CONGRESSO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO RURAL (ABAR), 2005, Campinas. 2005. correspondente perda no mercado de futuros. Portanto, o benefício desta operação restringe-se apenas à redução de riscos, e não promove o incremento do lucro esperado. Evidentemente, o risco de flutuação dos preços de commodities sempre existirá, contundo, ele não necessita ser arcado pelas empresas industriais ou traders que desejam fugir do risco. Através do mecanismo de hedging há uma transferência desse risco para os especuladores das Bolsas de Mercadorias, os quais ao buscarem o risco como uma fonte de lucro, uma vez que não detêm o controle do mercado físico, geram liquidez para os hedgers. Este especulador, por sua vez, como aplica simultaneamente em diversas operações, tem o seu risco diluído e acaba por apropriar-se do chamado “prêmio de risco”, inerente a este tipo de operação. Há duas espécies de hedging: o hedging short (curto), também chamado de hedging de venda, e o hedging long (longo), ou hedging de compra. No primeiro caso, o produtor ou proprietário de uma commodity protege-se de possíveis flutuações no preço de venda de seu produto. É o caso, por exemplo, de um produtor de soja da região de Uberlândia-MG que pretende vender sua soja em junho e vende contratos de futuros em março, através dos quais ele compromete-se a entregar a soja em junho a um preço fixo. No segundo caso, um potencial comprador de uma commodity faz um hedging para assegurar seu preço de compra. É o caso de uma esmagadora de soja que necessita da matéria prima para agosto e compra contratos de futuros em abril que garantam tal recebimento a um preço fixo nas proximidades de agosto. A operação de hedging não elimina totalmente os riscos inerentes à oscilação de preços, mas limita significativamente este risco à diferença entre o preço no mercado físico e o preço no mercado de futuros. Como existe uma alta correlação entre estes dois valores, estas flutuações são muitos menos voláteis e mais previsíveis, desta forma, minimiza o risco de variações de preços para os operadores do mercado de commodities e maximiza as oportunidades de estabilização dos lucros operacionais. 3.3. A Situação Atual dos Maiores Produtores de Soja de Uberlândia-MG O município de Uberlândia-MG, segundo estimativas do IBGE (2005), produziu no ano-safra 2003/2004 um total de 142.000 ton de soja. A partir deste número, estabeleceu-se como objetivo uma análise das condições de produção e armazenamento de soja dos produtores que totalizam ao menos 80% do total produzido no município, pois entende que desta forma tem-se uma amostra representativa da condição média dos produtores da região, sendo possível, a partir desta premissa, a proposição de uma solução em termos de logística de campo que atenda a grande maioria destas propriedades. Foram identificados no trabalho em torno de 150 produtores de soja do município, os quais são responsáveis pela produção média de 112.000 ton anuais de soja, em uma área plantada de 43.000 há. Portanto, o levantamento feito representa 78,8% da soja produzida em 84% da área total plantada com soja. Dentro deste contexto, observou-se que apenas uma das propriedades avaliadas contava efetivamente com uma infra-estrutura adequada de armazenamento de soja, para uma capacidade total de 7.500 ton. 4. A Infra-Estrutura de Armazenamento de Soja: o Caso de Uberlândia-MG 4.1. Descritivo Básico de Melhoria Considerando os dados apresentados anteriormente, fica explícita a oportunidade que se apresenta aos produtores rurais do município de Uberlândia-MG a partir da possibilidade de concretização de investimentos em armazenamento de grãos, especificamente para atender LIMA FILHO, Djalma; SOUZA, Celso de; RIBEIRO, Kárem Cristina de Sousa; ROGERS, Pablo. Viabilidade Econômico-Financeiro da Infra-estrutura de Armazenamento de Soja em Uberlândia-MG. In: V CONGRESSO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO RURAL (ABAR), 2005, Campinas. 2005. a deficiência que se observa em relação à capacidade produtiva de soja. Tal empreendimento pode ser considerado como um novo negócio a ser conduzido paralelamente à atividade agrícola, permitindo, além do armazenamento da produção própria, a prestação de serviços para proprietários rurais localizados no entorno da área onde os silos de armazenamento estarão localizados. Três perspectivas de receita decorrem deste investimento, através dos ganhos auferidos, sendo elas: 1) Aproveitamento do melhor preço da soja fora do período de safra; Os preços da soja, da mesma forma que de outras commodities agrícolas, estão atrelados às variações ocorridas nas bolsas de mercadorias, das quais a principal é a Bolsa de Chicago. Historicamente, observa-se que os preços no mercado futuro, tomando-se como base os meses de outubro e novembro de cada ano, são mais atrativos ao produtor agrícola do que aqueles observados nos meses de março e abril, quando ocorre a grande concentração de colheita da soja. Este fato pode ser observado na Tabela 1, que retrata o histórico dos últimos cinco anos. Tabela 1 – Preço da soja entre os anos de 2000 a 2004 (US$/bushel) Ano Abril Maio Média Outubro Novembro Média 2000 536,39 523,11 529,75 472,45 482,18 477,32 2001 431,95 446,05 439,00 437,14 442,37 439,76 2002 466,31 503,61 484,96 544,52 572,09 558,30 2003 603,17 602,79 602,98 735,87 763,29 749,58 2004 988,88 935,06 961,97 526,96 532,26 529,61 Média Geral Safra 514,17 Fora de Safra 556,24 Fonte: Chicago Stock Exchange (2005) Para cálculo da média foi estornado o ano de 2004, por ter sido um momento totalmente atípico dentro desse negócio, devido principalmente a fatores climáticos, desvalorização do dólar, estoques mundiais e disseminação da ferrugem asiática nas lavouras de soja do Brasil. Dessa forma, o produtor que manteve sua produção estocada para comercialização ao final do ano teve um ganho médio de aproximadamente US$ 42 por bushel, ou ainda, fazendo-se a conversão, de US$ 15,43/ton de soja armazenada. 2) Prestação de serviços aos produtores agrícolas próximos; Como todo negócio relacionado a produtos de baixo valor agregado, a economia de escala é um fator de grande importância e relevância na rentabilidade. Assim, além de armazenar a capacidade própria de produção, o produtor que optar pela instalação de um armazém em sua propriedade poderá atuar também na prestação de serviços aos demais produtores localizados em áreas próximas. Através de pesquisas junto a empresas que prestam este tipo de serviço na região, estimou-se o valor desta operação em US$ 6,50/ton, valor que será aplicado sobre a capacidade adicional da unidade de armazenamento em questão em relação à produção média dos agricultores da região de Uberlândia-MG, que é de 1.120 ton/ano. Para tanto, considera-se a implantação de uma unidade com capacidade estática de 50.000 toneladas de soja, por ser uma unidade típica bastante utilizada no mercado e que apresenta condições para uma adequada diluição dos custos fixos. Assim, a prestação de serviços poderá ser considerada para um valor estimado de 48.000 toneladas de soja por ano, assumindo-se que o armazém LIMA FILHO, Djalma; SOUZA, Celso de; RIBEIRO, Kárem Cristina de Sousa; ROGERS, Pablo. Viabilidade Econômico-Financeiro da Infra-estrutura de Armazenamento de Soja em Uberlândia-MG. In: V CONGRESSO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO RURAL (ABAR), 2005, Campinas. 2005. terá apenas um giro a cada ano, sendo esta uma premissa conservadora, uma vez que em média os armazéns comerciais giram ao menos 1,5 vez a cada ano. 3) Redução do custo com fretes no período de safra; Historicamente observa-se que no período de safra, devido a uma maior demanda por caminhões para o escoamento da produção agrícola, ocorre um incremento nos preços de frete rodoviário, razão pela qual a construção de um armazém próprio pode significar uma redução dos custos produtivos da soja, pois o transporte à indústria ocorrerá em um momento em que já houve um declínio da demanda e, portanto, os fretes encontram-se em patamares inferiores se comparados ao momento da safra. Umas das grandes empresas regionais de transporte de cargas têm-se uma redução de R$ 4,00 por tonelada no custo do frete para os períodos de entressafra. 4.2. Necessidade de Investimentos Os investimentos para construção de uma unidade de recepção de soja com capacidade estática de 50.000 toneladas foram baseados em um projeto de concepção atualizado conforme a mais recente tecnologia e os mais modernos conceitos técnicos, orçados com empresas de ponta nesta área de negócios. Tabela 2 – Necessidade de Investimento Item Descrição Valor 01 Obras civis (armazém/escritórios/estruturas) 4.600.000 02 Equipamentos de limpeza, secagem e transporte 1.300.000 03 Balança/Tombador/classificador pneumático 450.000 04 Termometria e aeração 320.000 05 Instalações elétricas 800.000 06 Outros 200.000 Total em R$ 7.670.000 Total em US$ 2.830.000 Fonte: Elaboração própria 4.3. Custos operacionais Uma unidade de armazenamento com capacidade estática de 50.000 ton possui a matriz de custos padrão definida na Tabela 3. Tabela 3 – Custos Operacionais Custos Fixos Custos Variáveis Total (R$) Total (R$/tin) Valor (R$) 400.000 270.000 670.000 8,93 Fonte: Elaboração própria LIMA FILHO, Djalma; SOUZA, Celso de; RIBEIRO, Kárem Cristina de Sousa; ROGERS, Pablo. Viabilidade Econômico-Financeiro da Infra-estrutura de Armazenamento de Soja em Uberlândia-MG. In: V CONGRESSO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO RURAL (ABAR), 2005, Campinas. 2005. Para efeito do estudo de viabilidade, este valor será considerado como redutor das receitas anteriormente citadas. Observa-se que neste valor está considerado o reinvestimento necessário na manutenção da unidade em adequadas condições de operações, fato que permitiria utilizar o conceito da perpetuidade na análise econômico-financeira. Porém, para maior segurança e conservadorismo, este ganho adicional não será considerado na análise. 5.2. Cálculo dos Indicadores de Viabilidade O calculo de todos os indicadores relevantes para a análise econômica-financeira da infra-estrutura de armazenamento de soja estão calculados na Tabela 4. Tabela 4 – Análise de investimento – Unidade de Armazenamento de Soja Projeção de tempo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Premissas TMA Variação de Chicago (U$/ton) Câmbio (R$/US$) 11,73% Produção de soja 27.358 Número de giros 1,5 Taxa de oportunidade equivalente a aplicação em renda fixa real de 0,7% ao mês + 3% de risco 15,43 2,72 Receitas Venda anual de soja (ton) 0 27.358 27.358 27.358 27.358 27.358 27.358 27.358 27.358 27.358 Prestação de serviços (ton) 0 47.642 47.642 47.642 47.642 47.642 47.642 47.642 47.642 47.642 41,97 41,97 41,97 41,97 41,97 41,97 41,97 41,97 41,97 41,97 17,68 17,68 17,68 17,68 17,68 17,68 17,68 17,68 17,68 17,68 4,00 4,00 4,00 4,00 4,00 4,00 4,00 4,00 4,00 4,00 Preços Diferença auferida (R$/ton) Serviço de recepção (R$/ton) Diferença no frete (R$/ton) Custos Fixos 400.000 400.000 400.000 400.000 400.000 400.000 400.000 400.000 400.000 Variáveis 270.000 270.000 270.000 270.000 270.000 270.000 270.000 270.000 270.000 Totais 670.000 670.000 670.000 670.000 670.000 670.000 670.000 670.000 670.000 Análise Econômica (+) Receitas 0 2.099.940 2.099.940 2.099.940 2.099.940 2.099.940 2.099.940 2.099.940 2.099.940 2.099.940 Valor adicional da soja Serviços de armazenamento Redução de custos de fretes (-) Custos 0 1.148.194 1.148.194 1.148.194 1.148.194 1.148.194 1.148.194 1.148.194 1.148.194 1.148.194 0 842.315 842.315 842.315 842.315 842.315 842.315 842.315 842.315 842.315 0 109.431 109.431 109.431 109.431 109.431 109.431 109.431 109.431 109.431 0 (670.000) (670.000) (-) Investimentos (7.697.600) 0 (=) Geração Operacional (7.697.600) 1.429.940 de Cx VP da Ger.Oper.Caixa (7.697.600) 1.279.805 VP acumulado 0 (670.000) (670.000) (670.000) 0 0 0 1.429.940 1.429.940 1.429.940 1.429.940 1.145.433 1.025.170 917.534 821.198 (670.000) 0 1.429.940 734.978 (670.000) (670.000) (670.000) 0 0 1.429.940 1.429.940 1.429.940 657.809 588.744 (7.697.600) (6.417.795) (5.272.362) (4.247.192) (3.329.658) (2.508.460) (1.773.482) (1.115.673) (526.929) Detecção de Payback 0 526.929 0 10 VPL (R$) 0 TIR 11,73% PAYBACK DESCONTADO 10 Anos Fonte: Elaboração própria. LIMA FILHO, Djalma; SOUZA, Celso de; RIBEIRO, Kárem Cristina de Sousa; ROGERS, Pablo. Viabilidade Econômico-Financeiro da Infra-estrutura de Armazenamento de Soja em Uberlândia-MG. In: V CONGRESSO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO RURAL (ABAR), 2005, Campinas. 2005. 5. Conclusões Para viabilizar o contínuo crescimento econômico do país e a expectativa futura de do mesmo torna uma das grandes potências mundiais, transformando em realidade aquilo que há anos vem sendo previsto por estudiosos ao redor do mundo, faz-se necessário um adequado planejamento de investimentos em infra-estrutura. Isto é posto desde empreendimentos que garantam o fornecimento de energia elétrica, evitando “apagões” similares ao que teve-se que administrar no ano de 2001, até projetos de reflorestamento que garantam a disponibilidade de energia térmica de forma sustentada, sem a necessidade de devastação das matas nativas, passando sem dúvida pelo aporte de capital em projetos logísticos de transporte e armazenamento das safras, face à importância do segmento de agribusiness para a economia do Brasil. Este trabalho procurou demonstrar que há indubitavelmente uma necessidade premente de armazéns junto às regiões produtoras do país, conforme caracterizada no Município de Uberlândia-MG. Porém, conforme se conclui no estudo de viabilidade apresentado, este investimento apenas se torna viável com o atendimento de três aspectos básicos: 1) Associativismo entre produtores de soja, promovendo a movimentação necessária da atividade agrícola em um conjunto de propriedades, atingindo, assim, os valores mínimos de produção que permitam viabilizar a construção de uma unidade de armazenamento. Para o caso em questão, observou-se que nenhum dos produtores de Uberlândia-MG teria individualmente esta condição, caracterizando a necessidade do trabalho conjunto por parte dos produtores. 2) Eficiência de gestão da unidade de armazenamento, ampliando a produtividade traduzida pelo número de giros que se dá na capacidade instalada. Como exemplo, o valor do VPL passaria a R$ 2.380.000 no projeto considerado apenas aumentando-se o número de giros de 1,5 para 2,0. Algumas empresas que representam um benchmarking nacional para a operação de armazenamento já trabalham hoje com uma expectativa de ao menos 2,5 giros anuais. 3) Finalmente o mais importante aspecto a ser enfatizado: cabe ao Governo Federal um papel de destaque neste processo, na medida em que consiga viabilizar linhas de financiamento oficiais com taxas compatíveis à atividade logística, similares àquelas que já existem para o custeio agrícola. Para o projeto em questão, foi encontrada uma Taxa Mínima de Atratividade de 11,73%, portanto, superior à taxa oficial de financiamento agrícola hoje praticada, de 8,75%. Portanto, uma vez viabilizado o financiamento oficial, haveria inquestionavelmente um maior interesse por parte dos produtores em assumir a execução e a responsabilidade pelo crescimento da capacidade de armazenamento de grãos do país. O último aspecto salienta a necessidade do Governo produzir subsídios mais eficazes à produção agrícola enquanto permanecer as altas taxas de juros vigentes no mercado. Notou-se que o projeto de investimento em infra-estrutura econômica é viável economicamente e financeiramente ao comparar com a rentabilidade média auferida pelo setor de agronegócios porém, ao comparar com a rentabilidade e os riscos proporcionados pelas aplicações financeiras o investidor optará por esse último investimento o que por conseguinte, acarretará um círculo vicioso na carência de armazenamento de soja na região de Uberlândia-MG e em todo Brasil. O círculo vicioso pode ser assim resumido: há carência na infra-estrutura de armazenamento de soja pois, não há investimento nessa infra-estrutura, e não há investimento nessa infra-estrutura pois, existem opções de investimento comparativamente mais rentáveis e LIMA FILHO, Djalma; SOUZA, Celso de; RIBEIRO, Kárem Cristina de Sousa; ROGERS, Pablo. Viabilidade Econômico-Financeiro da Infra-estrutura de Armazenamento de Soja em Uberlândia-MG. In: V CONGRESSO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO RURAL (ABAR), 2005, Campinas. 2005. menos arriscadas. Torna-se assim necessário uma intervenção institucional (como por exemplo, através de subsídios) para que quebre esse ciclo vicioso e contribua com essa importante cadeia produtiva gerada de empregos e renda no Brasil. 6. Bibliografia ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. São Paulo: Editora Atlas. 2003, 609 p. ASSOCIAÇÃO Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE). Exportações do Complexo da Soja. Disponível em <http://www.abiove.com.br>. Acesso em 25 março 2005. ASSOCIAÇÃO Brasileira de Agribusiness. Dados e Mercados. São Paulo: ABAG, 2004. Disponível em: <http://www.abagbrasil.com.br> Acesso em Março de 2005. BATALHA, M.O. et al. Gestão Agroindustrial. São Paulo: Editora Atlas. 1997, 573 p. CATANIA, P. et al. Grains-Production, Processing, Marketing. Chicago: Chicago Board of Trade.1992, 174 p. CHICAGO Stock Exchange. Market Data. Disponível em: <http://www.cme.com> Acesso em: 25 de Março 2005. GITMAN, L. J. e JOEHNK, M. D. Princípios de investimentos. São Paulo: Pearson Addison Wesley, 2005. GITMAN, L. J. e MADURA, J. Administração Financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo: Pearson Education do Brasil. 2003, 676 p. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTÁTISTICA (IBGE). Dados da Produção Agropecuária. Brasilia: IBGE, 2004. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br> Acesso em Abril de 2005. JORNAL Valor Econômico. Folha Agronegócios: Produção de Soja. São Paulo, 12 out. 2004. LAPPONI, J.C. Projetos de Investimento-construção e avaliação do fluxo de caixa. São Paulo: Lapponi Treinamento e Editora Ltda. 2000, 376 p. REVISTA Dinheiro Rural. São Paulo, v. 01 n. 002, dez. 2004. 98 p. SANVICENTE, A. Z. Derivativos. São Paulo: Publifolha. 2003, 119 p.