(T(fert) 3 a

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(T(fert) 3 a
East Timor Agriculture Network and Virtual Library
Rede agrícola e biblioteca virtual de Timor Leste
Documento:TA094
Em defesa da experimentação orizícola realizada em Timor
Resposta a uma inconcebível atitude da Administração do
território
Author: Mayer Gonçalves
Date: 1976
Published by: MISSÃO DE ESTUDOS AGRONÓMICOS DO ULTRAMAR
Summary
In defense of rice breeding and research in Timor. In reply to a
unexplainable attitude of the territorial adminstration
The brigades had been carrying out variety and fertilizer
trials (T(fert) 3 and T(fert)6, among others) since 1970 in the
valleys of the Lacló, Laleia, Seixal and Laivai rivers.
Nevertheless they received communications from the
central government stating that their results were “mere
speculations”. The present document is the reply by M. Mayer, the
head agronomist in Timor where he defends the experiments and
says that it is the only way to increase the local productivity of rice.
He states that an increase in rice productivity is the only way of
feeding the populations and improving their diet. Some of the
highlights of his response are:
- Even without fertilization, the IR8 variety was, in general,
the one with greatest productivity, producing 60 to 123% more than
the local Java variety.
- The application of only urea or only super phosphate 42%
results in an average production increase of 31-56% and 84-98%.
Nevertheless, the joint application of the two fertilizers (200kg of
urea and 250kg of super phosphate 42% per hectare) brings even
greater productivity increases: around 2.1 to 5.9 times greater
production than that obtained without fertilization.
- The time between sowing and maturity of the crop varies
between 119-125 days for IR8 and 122-133 days for IR5.
- Under normal conditions, a second annual crop is
perfectly possible, although it is expected that the productivities be
slightly lower that those of the first crop and that the production
cycle increase around 2-3 weeks.
- The local Java variety, besides its lower productivity
relative to IR5 and IR8, is also photoperiodic, and cannot be used
for a second annual crop.
Resumo
Os brigadas tinham estado a realizar ensaios de variedade e
de fertilizantes (T(fert)3 e T(fert)6), entre outros) desde 1970 nos
vales das ribeiras Lacló, Laleia, Seixal e Laivai.
No entanto eles receberam comunicações do governo
central dizendo que os seus resultados eram “só especulação” (não
eram verdade). O presente documento é a resposta do M. Mayer, o
agrónomo chefe em Timor, onde defende os ensaios e diz que é a
única maneira de aumentar a produtividade do arroz. Afirma que o
aumento da produtividade de arroz é a única maneira de alimentar
as populações e melhorar a sua dieta. Alguns pontos importantes da
sua resposta são:
- Na ausência de adubação, a variedade IR8 foi, em
geral, a que maiores produções fornece, superiores 60 a 123%
ás da variedade local Java.
- A aplicação de só ureia ou de só super fosfato 42%
resulta em média em aumentos de 31-56% e 84-98% de
produção. No entanto a aplicação conjunta (juntos) dos dois
adubos (200Kg de ureia e 250Kg de super fosfato 42% por
hectare) traz aumentos maiores de produção: cerca de 2,1 a 5,9
vezes superior à obtida sem fertilização.
- O tempo que demora entre a sementeira e a maturação,
varia entre 119-125 dias para o IR8 e 122-133 para o IR5.
-
Em condições normais, uma segunda cultura
anual é perfeitamente realizável, embora sejam de esperar
produções um pouco inferiores ás da primeira e um aumento da
duração do período de cultura, cerca de 2/3 semanas.
A variedade local Java, para além das suas inferiores
produções relativamente ao IR5 e IR8, tem “ fotoperiodismo”,
e não serve para a realização de uma segunda cultura anual.
Rezumu
Defeza ba ezperimentasaun kultura hare realizada ihaTimór
Resposta ida la aseitavel husi Administrasaun iha territóriu
ne’e.
Hosikedas 1970 besik mota Laclo, Laleia, Sexal, no Laivai,
tékniku sira husi brigada realiza ensaiu ba variedade no adubu
T(fert)3) no T(fert)6).
Husi ida-ne’e sira simu komunikasaun husi governu sentrál
katak rezultadu sira husi ensaiu ne’ebé sira halo tiha laloos. Iha
dokumentu ne’e Sr M. Mayer nu’udar xefe agrónomu iha Timór
nia defende ninia rezultadu ne’e no hateten katak ensaiu ne’e
hanesan únika maneira ne’ebé halo atu aumenta produtividade
hare. Nia afirma tan katak aumenta produtividade hare hanesan
únika maneira atu alimentar populasaun no hadi’a sira-nia dieta.
Pontu sira importante balun iha nia resposta mak hanesan:
−
Iha auzénsia husi adubasaun, variedade IR8 hanesan
vareidade ne’ebé fornese produsaun boot liu, superiór 60 to’o
123 % husi vareidade lokál java nian. Halo aplikasaun ba ureia
de’it ka superfo sfatu iha 42 %/ha, fó rezultadu média bele
aumenta 31-56 % no 84-89 % iha
produsaun. Ne’e duni
aplikasaun hamutuk ba adubu rua (200kg ba ureia no 250kg ba
superfosfatu iha 42 %/ha, fó rezultadu produsaun ne’ebé boot:
kurakuran 2,1% no boot liu 5,9 vezes husi rezultadu ne’ebé
hetan.
−
Tempu ne’ebé demora entre kuda primeiru no maturasaun,
varia entre loron119-125 ba IR8 no 122-133 ba IR5.
−
Iha kondisaun normál, segundu kultura tinan nian ne’e
perfeitamente realizavel, maski nia produsaun menus uitoan husi
tinan dahuluk no durasaun
períodu kultura, kurakuran 2/3
semana.
Ba variedade lokál java nian, alende nia produsaun menus husi
variedade IR5 no IR8, no mós iha ‘’Fotoperiodizmu’’ la serve
sai nu’udar segundu kulturál anuál.
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MISSÃO DO ESTUDOS AGRONÓMICOS DO ULTRAMAR
LISBOA – PORTUGAL
MISSÃO DE ESTUDOS AGRONÓMICOS DO ULTRAMAR
(Junta de Investigações Científicas do Ultramar)
EM DEFEESA DA EXPERIMENTAÇÃO ORIZÍCOLA REALIZADA EM TIMOR
Resposta a uma inconcebível atitude da
Administração do território
Mayer Gonçalves
Lisboa, Março de 1976
M. Mayer Gonçalves
EM DEFESA DA EXPERIMENTAÇÃO ORIZÍCOLA EM TIMOR
Resposta a uma inconcebível atitude da
Administração do território.
Documentos integrados
INFORMAÇÃO INTERNA: — A experimentação orizícola em Timor, face ao que se refere no
anexo ao ofício confidencial nº 289 de 17.10.74 da Brigada d
aTuela província. 8 P
INFORMAÇÃO INTERNA: — A experimentação orizícola em Timor e as considerações da
sua Administração. Ponto final no assunto: 5 p.
MISSÃO DO ESTUDOS AGRONÓMICOS DO ULTRAMAR
LISBOA – PORTUGAL
INFORMAÇÃO INTERNA Nº 163
ASSUNTO: A experimentação orizícola em Timor, face ao que se refere no anexo ao oficio
confidencial nº 289 de 17.10.74 da Brigada daquela província.
Para
: Agrónomo Chefe da Missão
De
: Mário Mayer Gonçalves.
No passado dia 23, o signatário tomou conhecimento do ofício em epígrafe e
respectivo anexo. Neste, um pequeno relatório entregue ao Ministro da Coordenação
Interterritorial quando da sua estadia em Timor, refere-se, relativamente ás actividades da
Brigada no sector Orizícola, que esta realiza experimentação e ensaios dirigidos e
analisados em Lisboa e que em Timor "esta actividade é considerada como pura
especulação, científica e sem utilidade práticas (O sublinhado é nosso).
1 - Sem considerar outros aspectos referidos no ofício e correspondente anexo, que julgamos
devem merecer uma ampla análise, entendemos elaborar a presente informação.
A nossa atitude filia-se nas seguintes razões:
- Embora não tivéssemos elaborado o protocolo do ensaio T (Fert.) 3 – de adubação x
variedades de arroz, que decorreu em 4 das principais regiões orizícolas da costa Norte e
terminou no corrente ano – a partir de Junho de 1971 passámos a ser o responsável pela
experimentação em curso, de acordo com as nossas funções no Grupo de Trabalho de
Fertilidade do solo;
- Somos o principal responsável do trabalho sobre o referido ensaio e seus resultados* que
será brevemente divulgado.
-Somos o responsável pelo protocolo do ensaio T(Fert) 6 que, de acordo com os
conhecimentos adquiridos através do T (Fert)3, constitui actualmente a principal
experimentação orizícola a decorrer; em Timor, e visa a possibilidade de maximizar a
produção e a melhoria da qualidade do produto.
2- Nestas actividades podemos, necessariamente, cometer erros, mas nunca praticaríamos o
erro de não responder à afirmação antes sublinhada; se tal fizéssemos, seria alijar responsabilidades aceitando, ao mesmo tempo, uma absoluta ignorância ou uma estúpida
mentira! e teríamos de perguntar a nós próprios porque continuámos no lugar ou funções
M. Mayer Gonçalves
que desempenhamos.
As actividades experimentais do Sector Orizícola, principalmente através dos
ensaios T (Fert)3, já concluído e T(Fert)6 este ano iniciado - os restantes trabalhos
pertencem ao fomento ou são o suporte necessário à experimentação - estão tão longe de
qualquer especulação cientifica, investigação teórica, estudo sem utilidade prática, ou
indagação intelectual alheia ás necessidades de Timor, como a realidade concreta dessa
experimentação está longe da afirmação sublinhada.
A verdade da experimentação orizícola - cuja primeira fase se iniciou pela introdução e
observação de variedades exóticas, em paralelo com a caracterização e purificação de formas
locais e se concluiu com o ensaio T(Fert)3 - que pode ser avaliada pelos resultados já obtidos e
que definem o seu êxito, reside precisamente no interesse que os mesmos tem para Timor e
na sua utilidade prática; assim pensa o signatário que, com 4 anos de Timor e um mínimo
de bom senso, tem algum empenho em transformar essa terra, com 600 000 habitantes
mal nutridos ou "matando" a fome através da "masca", pelo menos numa região mais rica em
arroz e mais pobre em ignorância.
Por isso, esse empenho prolonga-se nesta informação, que pretende conseguir que
algumas pessoas responsáveis de Timor sejam devidamente esclarecidas, quer queiram
quer não! Da Comunicação nº 84, brevemente publicada e divulgada extraímos, para
provar o que afirmamos, algumas das suas principais conclusões, relativas aos ensaios que
decorreram durante 3 anos nos vales das ribeiras Lacló, Laleia, Seixal e Laivai:
- Na ausência de adubação, a variedade IR8 foi, em geral, a que maiores produções
forneceram, superiores 60 a 123% ás da variedade local Java.
-Embora a aplicação isolada de ureia ou super fosfato 42% tenha conduzido, no conjunto
dos ensaios, a acréscimos médios de 31-565 e 84-98%, a junção dos dois adubos (200Kg de
ureia e 250Kg de super fosfato 42% por hectare) determinou ainda significativos aumentos
de produção; esta foi, nestas condições e para o conjunto das 9 variedades ensaiadas, 2,1 a
5,9 vezes superior à obtida sem fertilização.
- A variedade IR8 foi quase sempre a melhor, seguida de perto pelo IR5, e as suas produções
máximas variaram de 4,3 a 5,5t/ha ou de 32,1 a 43,9Kg/ha/dia de arroz em casca, que traduzem
uma elevada resposta à adubação: cerca de 17Kg de grão por Kg de (N+P2 05) aplicado e para as
quantidades de adubos antes referidas,
(*) - GONÇALVES, M.M.; CARDOSO, A.P.S,; SIONG, N.S. 6 MIN, M.S.- Melhoramento da cultura do arroz em
Timor. Introdução e selecção de variedades e primeiros ensaios de adubação. Comunicações, Mis são Est. Agro.
Ultramar, Lisboa, nº 8 4 , 1 9 7 4 , pp. 5 2.
MISSÃO DO ESTUDOS AGRONÓMICOS DO ULTRAMAR
LISBOA – PORTUGAL
- Os períodos de cultura, da sementeira à maturação, variaram entre 119/125 dias para o
IR8 e 122/133 para o IR5.
- Em condições normais, uma segunda cultura anual é perfeitamente realizável, embora
sejam de esperar produções um pouco inferiores ás da primeira e naturais acréscimos dos
período de cultura, cerca de 2/3 semanas.
-De acordo com os resultados experimentais, a maior adubação utilizada e já referida, traduz
um indiscutível interesse económico. Considerados os preços de custo totais dessa adubação
nas 4 regiões e os respectivos preços de compra do arroz ao produtor, na altura dos ensaios,
os maiores lucros líquidos obtidos com as variedades IR5 e IR8 e relativos ao hectare,
foram: cerca de 4 600$00 em Lacló, 5 800$00 em Laleia ,8 400$00 Em Seixal e 3
000$00 em Laivai; ainda em Laleia, o conjunto das duas culturas anuais traduz-se em
11 700$00.
- A variedade local Java, para além das suas inferiores produções relativamente ao IR5 e
IR8, revelou-se ainda altamente sensível à foto-periodismo, não servindo pois para a
realização de uma segunda cultura anual.
- Considera-se bastante provável obter ainda mais elevadas produções, com as variedades
I R 5 e IR8, principalmente através de maiores níveis de adubação azotada e de um mais
reduzido compasso de plantação.
3 . 1 - Sem considerarmos a última conclusão referida que, embora resultante dos
resultados obtidos e assente em bases tecnicamente válidas, só pode ser confirmada no
futuro -caso o T (Fert) 6 continue (?) – quem poderá encontrar nas restantes conclusões
pura especulação científica ou falta de utilidade prática para Timor?
Mas, se mesmo assim, alguém entender que deve continuar a "chamar noite ao dia"
– embora tal facto defina uma atitude mental que é desnecessário classificar - julgamos de
indagar quais serão então os caminhos a seguir pela experimentação, para se conseguir
aumentar a produtividade da orizicultura. L estamos ao dispor de quem quer que seja para
os discutir, mas, antes, aconselhamos pelo menos a leitura atenta da Comunicação n2 8 4 ,
mal ela chegue a Timor e do protocolo do ensaio T (Fert) 6, existente na Brigada.
3 . 2 - Como julgarão possível, os responsáveis pelas afirmações que se traduzem na frase
sublinhada, conseguir que a produção de arroz comercializada, em 1979 – é desconhecido
o auto consumo e portanto a produção total – atinja as 3 5 000t, que se estimam como
necessárias ao consumo de Timor*?
É verdade que a introdução e fomento da cultura do I R 8 , praticada desde 1967
pela Brigada de Timor da MEAU – o que é bom recordar a quem esquece ou dar a
M. Mayer Gonçalves
conhecer a quem não sabe – apesar de todos os condicionalismos, deve ter sido o principal
factor responsável para que se passasse de um valor médio de 10 650t de produção
comercializada, em 1965/66,para 1 8 632t em 1 9 7 0 / 7 1 . * , * * Quem o reconhece são os
Serviços de Planeamento** e, julgamos que acertadamente, pois será difícil de considerar
que a área de cultura tenha aumentado tanto (se houve sequer algum aumento) que
justifique a diferença de produções verificada.
E voltamos a perguntar: - Como será possível conseguir as referidas 3 5 000t em
1979? Embora, ao ritmo "de Timor, seja difícil atingir nessa altura a meta programada, a
única resposta possível 4 dada pela Comunicação nº 8 4 que constitui, sem menosprezo
para outros trabalhos, um dos mais importantes levados a cabo pela MEAU, pela sua
validade técnico-económica e pela sua utilidade prática; mas, neste último aspecto, apenas
se……se desejar que Timor passe a ser uma terra de arroz! Para o afirmar, basta que não
se
seja
totalmente
ignorante
relativamente
à
experimentação
orizícola
e
aos
condicionalismos em que se processa, aos imperativos do desenvolvimento económico de
Timor e ás necessidades da sua população.
Mas, não será concerteza, designando a experimentação concluída, ou o trabalho que
a vai divulgar por especulação científica sem utilidade prática, que alguns responsáveis
conseguem fertilizar os arrozais de Timor, para que sejam obtidas as produções
necessárias.
3 . 3 - Ainda dentro deste capitulo, e para quem deseje encontrar nas despesas efectuadas
qualquer valor económico, julgamos útil, referir que, de acordo com os preços de compra
de arroz ao produtor, o acréscimo de valor relativo a um único ano,
1971,
(e face a 1966) é
de cerca de 16:) 00 contos; perante este quantitativo, entendemos de informar que as
despesas da Brigada de Timor – incluindo as comparticipações à MEAU – por conta das
dotações dos planos de fomento e que dizem respeito, Principalmente, ao fomento,
experimentação e investigação nas outras do café e do arroz, não ultrapassaram durante os
últimos 7 anos (1967 a 1973) 13 500 contos.
Haverá outro exemplo semelhante no sector primário da economia de Timor? talvez,
mas de forma mais reduzida, no campo do fomento cafeícola!
(*) - IV° Plano de Fomento.
1974-1979.
Relatório do anteprojecto provincial e programa de investimentos para o I° triénio
(1974-1976). Dili, Serv. Prov. Plan. Int. Económica, 1 9 7 2 , p p . 1 4 3 .
MISSÃO DO ESTUDOS AGRONÓMICOS DO ULTRAMAR
LISBOA – PORTUGAL
(**) - IV° Plano de Fomento. Relatório geral preparatório. Dili, Serv. Prov. Plan. Int. Económica, 1971, p p , 1 8 5 .
4 - A frase sublinhada resultou de uma reunião da Comissão Técnica de Planeamento e
Integração Económica e, naturalmente, das afirmações produzidas por alguns Chefes de
Serviços da província ou outros responsáveis, que dessa Comissão façam parte; considerase, necessariamente, que a chefia da Brigada traduziu perfeitamente as afirmações então
feitas, embora se desconheçam os fundamentos das mesmas.
Nestas condições, entendemos que deve ser solicitado à Brigada a obtenção e envio à
Missão de um extracto da acta da reunião, do qual conste as afirmações feitas sobre o
assunto e os respectivos autores.
Contudo, porque a não existência da acta pode acontecer, julgamos, nessa situação,
que a Brigada solicite urgentemente aos intervenientes na referida reunião, se a frase
sublinhada traduz ou não o que os mesmos pensam relativamente à experimentação
orizícola, justificando, se assim entenderem, as respostas que derem. Consideramos que tal
solicitação não constitui qualquer espécie de exagero, pois pede-se apenas a entidades
responsáveis que visam o progresso de Timor, que se identifiquem (ou não) com uma
afirmação que, no seu entender, encerra (ou não) a verdade sobre o carácter da
experimentação orizícola prosseguida e da sua utilidade para o desenvolvimento
económico da província.
5 - Com base no que temos referido entendemos – e não podemos deixar de considerar
que V. Ex a. Nos acompanha, como primeiro responsável da MEAU – que os autores das
afirmações que se traduzem na frase sublinhada, depois de identifica dos, devem ser em
seguida esclarecidos, pelo menos, através do envio da Comunicação nº 8 4 .
Para já consideramos que, além do envio desta informação à Brigada para
proceder como se acha conveniente, cópias da mesma devem ser remetidas ao Senhor
Encarregado do Governo de Timor e aos Serviços Provinciais de Planeamento e
Integração Económica, que lhe poderá dar a divulgação que considerar necessária; ao
Governo da Província deverá ser solicitada a correcção devida do pequeno relatório
entregue ao Senhor Ministro da Coordenação Interterritorial, se o Senhor Encarregado do
Governo não entender que deve ser a própria MEAU a fazê-lo.
6 - Ao terminar esta informação não podemos deixar de lastimar o tempo perdido com
um assunto, sobre o qual, pelo menos os dois serviços da província mais interessados já
se encontravam esclarecidos, na medida do possível.
Com efeito, os relatórios anuais da MEAU têm sido enviados – além de à Brigada e
Governo do Província – aos Serviços de Agricultura e Florestas e Serviços de
M. Mayer Gonçalves
Planeamento e Integração Económica: no de 1970, a páginas 46/52, referiam-se os
objectivos, delineamento e pormenores da experimentação então em curso, incluindo as
variedades ensaiadas e doses e combinações dos adubos utilizados; nos de 1971, a
páginas 47/55, 1972, a páginas 53/65 e 1973, a páginas 29/34 e que acaba de ser
enviado, referem-se os resultados das culturas efectuadas nesses anos nas quatro regiões
e a sua análise preliminar.
Ainda na continuidade de unia resposta aos Serviços de Agricultura – face à nota nº
8 3 5 / 7 2 de 2 9 . 6 . 7 2 desse organismo informámos, através da Brigada e pelo ofício nº 254
de 2 3 . 4 . 7 4 da MEAU, após a conclusão do ensaio T(Fert)3: resultados médios de produção
obtidos nas 4 regiões, doses e combinação de fertilizantes correspondentes, aspectos
comparativos das produções do Java, IP.5 e IR8, preço de custo total da maior adubação
utilizada e sua constituição, e outras indicações úteis. Este ofício foi levado ao conhecimento
do Senhor Governador, face ao interesse da informação para a província.
Mas, se ó necessário, para que Timor possa "produzir" arroz, esclarecer
exaustivamente várias entidades, o tempo, talvez, não tenha sido perdido
Sobre o que se refere nesta informação V. exa resolverá.
Lisboa, 31 de Outubro de 1 9 7 4
MISSÃO DO ESTUDOS AGRONÓMICOS DO ULTRAMAR
LISBOA – PORTUGAL
INFORMAÇÃO INTERNA Nº 28
ASSUNTO: A experimentação orizícola em Timor e as considerações da sua Administração. Ponto
final no assunto:
Para
: Agrónomo Chefe da Missão De: M. Mayer Gonçalves
1 - Como é do conhecimento de V. Exa., alguns chefes de serviços e/ou outros responsáveis da
Administração de Timor, afirmaram em Outubro de 1974 – em documento entregue ao
Ministro da Coordenação Interterritorial – que a experimentação orizicola, dirigida e analisada
em Lisboa pela MEAU, era considerada naquele território "como pura especulação cientifica e
sem utilidade prática". (o sublinhado é nosso).
Esta afirmação mereceu da nossa parte, como responsável pela FITOTECNIA, as
considerações que julgamos convenientes, na Inf. Int. Nº 163 de 4.11.74 – enviada a Timor pelo
oficio n9 8/Confidencial de 12.11.74 e no relatório anual de 1974.
2 - Quatro meses depois o Governo de Timor respondeu indirectamente as nossas considerações
através do ofício n9 280 de 8.3.75 ao Ministro da Coordenação Interterritorial – frizando:
a - Que o teor da referida Inf. Int. Não podia deixar de lhe merecer reparo, quanto à
forma como estava elaborada;
b - Que na mesma Inf. Int., eventualmente justificada e bem fundamentada, se toma uma
frase (porventura apressada) para se fazerem, em tom clamoroso, comentários que se
afiguram menos elegantes e correctos a decisões tomadas pelo Governo de Timor.
2.1 - O despacho de 7.5.75 do Ministro da Coordenação Interterritorial, mandou dar
conhecimento da resposta do Governo de Timor à Comissão de Gestão da JICU e a MEAU,
tendo em atenção as observações do referido Governo, transcritas nos pontos 2.a e 2.b.
3 - Julgávamos que o envio da Inf. Int. nº 163 ao Governo de Timor, bem como da Comunicação nº
84* que se lhe seguiu um mês depois, "arrumassem" o assunto; contudo, o que se transcreve nos
pontos 2.a e 2.b e a chamada de atenção do Ministro da Coordenação Interterritorial exigem designação,
como responsável pela experimentação orizícola e pelos documentos referidos, as necessárias
considerações, embora tardias, mas de que não abdicamos!
4 - Assim, quanto ao Governo de Timor:
4.1 - Tinha o Governo de Timor todo o direito de não gostar da forma, uma vez que lhe era
M. Mayer Gonçalves
impossível negar o conteúdo, alicerçado na realidade dos factos resultantes de trabalho técnico economicamente valido; fez -se experimentação, "chafurdando" nos arrozais das principais regiões
orizícolas da costa Norte, Lacló, Laleia, Seixal e Laivai, para produzir arroz e não afirmações
gratuitas!
4.2 - Ainda quanto à forma e apenas como exemplo, se, apôs anos de trabalho de muita gente –
calculem… Para Timor! - No difícil condicionalismo em que foi praticado, quem quer que seja, perante
os objectivos da experimentação e os concludentes resultados obtidos e já conhecidos, tem a veleidade
de produzir a afirmação sublinhada, apenas há possibilidade de identifica-1a com uma absoluta
ignorância ou uma estúpida mentira (?), como escrevemos na Inf. Int. nº 163. Haveria outra opção mais
correcta? Nós desconhecemos:
4.3 - Considera o Governo de Timor a Inf. Int. Referida, justificada e bem fundamentada… mas,
apenas eventualmente. Se este advérbio não esta a mais, há que concluir que a informação prestada não
foi convenientemente lida ou percebida – nem a Comunicação nº 84 – apesar do tempo que mediou
entre o envio desses documentos e a resposta do Governo de Timor.
Como técnico responsável e como era nosso dever, limitamo-nos a informar com
objectividade – fundamentados nos resultados obtidos em anos de trabalho e não em
especulações cientificas - e a criticar justificadamente o enorme erro praticado, face às
prováveis consequências do mesmo para o futuro e que este totalmente confirmou; em 1975,
apesar de ter havido possibilidade de efectuar um mínimo de experimentação, nada se fez.
4.4 - A afirmação sublinhada foi classificada pelo Governo de Ti mor como uma frase
"
porventura apressada". No mínimo, poderíamos considerar que o Governo de Timor foi
extremamente bondoso para os responsáveis que se encontrariam na origem da referida
afirmação; tal atitude será, talvez, natural, pois o primeiro responsável pela mesma, como agora
se esclarece, foi o próprio Governo de Timor.
Contudo, fosse ou não a afirmação apressada, quando o Governo de Timor responde, tal
classificação não estava totalmente correcta; com efeito, em Março de 1975, a frase ou
afirmação não era apenas apressada mas também definitiva, pois todas as actividades
experimentais no sector orizícola tinham sido suspensas.
4.5 - Fazer comentários em tom clamoroso não pode ser um defeito de quem tinha
obrigação de "berrar" pela produção de arroz em Timor!
Fazer comentários que se afiguram menos elegantes e, no mínimo, a obrigação de
quem devia ser totalmente deselegante para uma afirmação inconcebível mente ignorante ou
mentirosa:
* - GONÇALVES, M. Mayer; A.P. Silva; SIONG, N. Sui e Min, M. Si
MISSÃO DO ESTUDOS AGRONÓMICOS DO ULTRAMAR
LISBOA – PORTUGAL
- Melhoramento da cultura do arroz em Timor. Introdução e selecção de variedades e primeiros ensaios de adubação.
Comunicações, Mis. Est. Agron. Ultramar, Lisboa, Nº 84, 1974, pp.52
Portanto, comentários menos correctos... na forma, é absolutamente natural, lógico e
normal que possam ter sido feitos! Mas, caluniador não fomos.
4.6 - Estávamos longe de supor que tivéssemos feito, em tom clamoroso, comentários
menos elegantes e correctos a decisões do Governo de Timor. Julgávamos que a frase
sublinhada, como foi claramente expresso na Inf. Int. Nº 163, consubstanciasse afirmações
produzidas por chefes de serviço e/ou outros responsáveis – numa reunião da Comissão Técnica de
Planeamento e Integração Económica – os quais nos propúnhamos esclarecer devidamente, através do
envio directo da Comunicação nº 84, como referimos.
Portanto, na altura, não supúnhamos considerar nem comentar também uma opinião do Governo
de Timor e, não podíamos sequer admitir que aquela traduzisse, afinal, uma decisão irrevogável do
mesmo. Esta decisão, toma da em Setembro de 1974 e mantida – contra toda a evidência apresentada
na Inf. Int. Nº 163 e na Comunicação nº 84 – suspendeu uma das poucas coisas validas que estava em
curso no sector agrícola, contra o interesse e as necessidades da população timorense.
Segundo nos parece explica-se assim claramente que, tendo-se solicitado na Inf. Int. Nº 163,
com urgência, a identidade de quem tinha assumido a responsabilidade da afirmação sublinhada – bem
como a justificação de tal atitude, se assim se entendesse – nunca se tenha recebido qualquer resposta:
5 - Quanto ao despacho do Sr. Ministro da Coordenação Interterritorial, entendemos de referir apenas
os seguintes aspectos:
5.1 - Embora mandado dar conhecimento das observações do Governo de Timor, referidas
em 2.a e 2.b, não tomou qualquer atitude sobre as mesmas; naturalmente, porque competiria a nós
consideram, como acabamos de fazer.
5.2 - Contudo, na medida em que o Sr. Ministro tinha perfeito conhecimento da Inf. Int. Nº 163 –
na altura e a pedido do seu Chefe de Gabinete, entregamos directamente uma cópia da mesma
estranhamos e lastimamos que, face aos factos apresentados na referida informação, no mínimo, não
tenha chamado a atenção do Governo de Timor para o erro praticado.
6 - O assunto desta Inf. Int. Foi logicamente ultrapassado pelos acontecimentos verificados em Timor,
embora, como técnico responsável, entendêssemos que não devíamos abdicar, nem a MEAU, da
resposta necessária.
Esta será concluída, dizendo-se que nos sentimos felizes e orgulhosos por termos
colaborado na experimentação orizícola, programada e realizada pela MEAU nos últimos anos; no seu
"
epitáfio" não serão inscrita uma ignorante ou mentirosa afirmação, mas os concludentes e úteis resultados
M. Mayer Gonçalves
obtidos para o povo timorense:
7 - Embora o assunto desta Inf. Int. Esteja ultrapassado, V. Exa resolverá sobre a necessidade
do seu envio Comissão de Gestão da JICU, que julgará do interesse em dar conhecimento da mesma à
Delegação do Governo de Timor em Lisboa.
Lisboa, 11 de Março de 1976