Obra de Ary Barroso é resgatada em caixa com 20

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Obra de Ary Barroso é resgatada em caixa com 20
ESTADO DE MINAS ●
TERÇA-FEI RA , 22 DE OUTU B RO DE 2013 ● E D ITO R : João Paulo Cunha ● E D ITO R A - A S S I STE NTE : Ângela Faria ● E - M A I L : [email protected] ● TE L E F O N E : (31) 3263-5126
EM
A MESTRA
DO GESTO
★
Às vésperas de
completar 100 anos,
Tomie Ohtake ganha
mostra especial em
Belo Horizonte.
PÁGINA 8
DENISE ANDRADE/DIVULGAÇÃO
Obra de Ary Barroso é resgatada em caixa com 20 discos, que reúnem os primeiros
registros de 361 músicas do compositor mineiro, com direito a raridades e inéditos
ARQUIVO O CRUZEIRO/EM/D.A PRESS - 10/1/53
Brasil
brasileiro
D
a primeira composição (o samba Vou à Penha, na
voz de Mário Reis) à última (o fox Amor fatal, registrado pela pianista Janete Alonso, depois que o colecionador Brasílio de Carvalho descobriu metade da
partitura, no início dos anos 2000), os primeiros registros de cada obra gravada de Ary Barroso serão
reunidos em caixa de 20 CDs. São 316 dos 321 fonogramas originais do compositor, já que cinco não foram localizados.
A iniciativa é do pesquisador paulista Omar Jubran, de 60 anos, que depois de organizar e remasterizar a discografia do compositor mineiro negociou
o lançamento de Ary Barroso – Brasil brasileiro com
o Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo.
No mês que vem, quando Ary completaria 110 anos,
o box vai chegar a privilegiados consumidores e colecionadores, já que a tiragem inicial do projeto será
de apenas mil cópias. Outras mil estão sendo negociadas entre a família de Ary, editoras e gravadoras.
Originalmente aprovado pela Lei Rouanet para
captação de R$ 1 milhão, o projeto abraçado pelo
MIS e Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo
não conseguiu captar o total de recursos, resultando
na redução da tiragem prevista, de 2 mil cópias.
Além de comercializar o box, a preço ainda indefinido, o MIS irá distribuí-lo a instituições culturais. Conforme acordo fechado entre as partes envolvidas, a
Novodisc, que está produzindo a caixa, poderá fazer
quantas edições quiser, desde que citado o apoio do
MIS e da Secretaria de Cultura de São Paulo.
André Sturm, diretor-executivo do MIS-SP, diz ter
ficado sabendo do projeto de Omar Jubram por uma
coluna do jornalista Ruy Castro. “Achei incrível que
um trabalho desta magnitude estivesse parado por
falta de recursos para para editá-lo”, recorda Sturm,
que ofereceu as condições para a primeira edição da
caixa, com mil unidades. “O MIS é exatamente o resgate da memória. Ary Barroso é um dos maiores
compositores brasileiros, cuja presença é obrigatória
em qualquer lista”, justifica o diretor do museu, salientando que as matrizes dos CDs vão ficar com a
Novodisc, caso surjam interessados em patrocinar
novas edições do box.
Em 2004, o selo Revivendo já havia reunido parte da obra gravada (138 faixas) do músico mineiro
em duas caixas, cada qual com três CDs, batizados
Ary Barroso – Nossa homenagem – 100 anos. Proprietário da Editora Aquarela do Brasil, que detém
os direitos de 200 das 450 músicas do compositor,
o dentista Márcio Barroso, que é neto de Ary, diz
que decidiu-se por administrar a obra do avô depois que a mãe, Mariúza Barroso, desistiu de fazer
isso, com o avanço da idade.
AILTON MAGIOLI
“Achava que minha mãe tratava tudo em relação ao vovô de forma muito amadora”, afirma Márcio, salientando que os novos compositores, em sua
maioria, são donos das próprias obras. Resultado:
ele resolveu montar a editora, que, além das músicas, administra imagens e contratos. “Estamos também com ações judici ais para reaver as músicas
que o vovô assinou com outras editoras para, como
os atuais compositores, ter todo o catálogo dele de
volta à família”, acrescenta Márcio Barroso.
Tão genial quanto genioso, o autor de clássicos
como Aquarela do Brasil, No Rancho Fundo, Risque, Na baixa do sapateiro, É luxo só e Para machucar meu coração, que continuam despertando o interesse de novos artistas, terá ainda um trecho de seu famoso programa Calouros em desfile,
da Rádio Nacional, apresentado no último CD da
caixa. “É apenas um trechinho, para que as novas
gerações saibam quem foi Ary”, adverte Omar Jubran, lamentando o fato de muitos jovens, hoje,
não conhecerem o compositor.
Notrechodoprogramaquecolaborouparasolidificar a fama de ranzinza do compositor, Omar mostra um candidato que imitava animais. Pelo programa Calouros em desfile Ary convocou poetas para
ofeceremaeleletrasparamusicar.“Nacaixateremos
quatrofaixascomessesparceiros-calouros,umadelas
chamada Cruel resistência. Uma dos parceiros que
atenderamochamadodeAryfoiCortierideOliveira”,
revelaopesquisador.Jubranresolveutambémincluir
na caixa um dos primeiros jingles comerciais feitos
no Brasil, de autoria do compositor, quando uma famosa cervejaria lançou o chope em garrafa
A música de Ary ganhou letra do publicitário Bastos Tigre e foi gravada por Orlando Silva, que, de acordo com o pesquisador, errou a letra na hora da gravação. “Assim como ocorreu com Francisco Alves,
que ao não entender o inzoneiro da letra de Aquarela do Brasil resolveu substituir a palavra por ‘risoneiro’ na hora do registro em estúdio”, acrescenta Omar
Jubran. O pesquisador promete revelar essa e outras
curiosidades no livreto que irá acompanhar a caixa
de CDs, no qual, sempre que possível, incluirá título,
gênero, tempo de duração, ano de gravação e ano de
lançamento,alémdepublicar,naíntegra,asletrasdas
composições. Como Ary Barroso também compôs
muito para o teatro de revista, Omar Jubran vai incluir algumas dessas criações.
PARCEIROS E INTÉRPRETES
Outra informação importante, que irá constar do
livreto de Ary Barroso – Brasil brasileiro será a infor-
mação do número de composições em que ele fez
música,letraouasduas,alémderevelarquemforam
seus principais parceiros. Os maiores intérpretes de
Ary, segundo o pesquisador, foram Francisco Alves,
Sílvio Caldas e Carmem Miranda. Já o parceiro mais
constante de Ary Barroso foi Luiz Peixoto.
Longe de querer avaliar a criação de Ary, Omar
Jubran acredita que o compositor revolucionou a
música popular brasileira, ao dar a ela um pouco
de alegria. Na opinião do pesquisador, Ary Barroso
não foi perfeito em toda sua obra. “Há marcha de
carnaval, por exemplo, em que ele prega a violência
contra a mulher, com versos como ‘dá nela, dá nela’, critica, ao lembrar da marchinha originalmente gravada por Francisco Alves, em 1930. Ele pondera, no entanto, que cada obra responde a seu tempo, lembrando inclusive a crítica por excesso de
ufanismo feita ao clássico Aquarela do Brasil.
Na opinião de Omar Jubran, são três os pilares
da MPB: Noel Rosa, a quem ele já dedicou uma
caixa de gravações originais; Ary Barroso, cujo
lançamento vai ocorrer agora; e Lamartine Babo,
cujo box ele já está preparando. “Sem ordem de
importância, cada um com a sua característica”,
faz questão de dizer o pesquisador. Omar, com o
advento da internet, não arriscaria dizer que o
conteúdo dessas caixas são raros. “O caso da
meia partitura encontrada é realmente uma raridade. Nem a biografia escrita por Sérgio Cabral
fala dela”, repara.
Ele, aliás, aponta outra falha em No tempo de
Ary Barroso, que Sérgio Cabral lançou em 1993.
“O Sérgio cita no livro que Ary visitou o México,
onde depois de assaltado teria desistido de gravar um disco. A informação não confere com a
realidade, já que Ary gravou um disco naquele
país”, garante o pesquisador paulista, lembrando
também que o bailarino espanhol Palitos, então
radicado na Argentina, veio ao Brasil, onde gravou Dona Alice, originalmente composta para o
teatro de revista.
NA INTERNET
OUÇA AS FAIXAS
Dona Alice, com Palitos e Orquestra Pan
American, de agosto de 1930; e Amor fatal,
com Janete Alonso ao piano, gravação
particular, abril de 2006
Ary Barroso compõe ao
piano. Artista deu
dimensão internacional à
música popular brasileira
e não teve preconceito
com nenhum gênero
TRÊS PERGUNTAS PARA...
MÁRCIO BARROSO,
PRODUTOR E NETO DE ARY BARROSO
1)
Como a família recebeu a notícia do lançamento de Ary
Barroso – Brasil brasileiro?
Tenho lutado por um bom
tempo para que esse lançamento se realize. A família
ficou muito feliz com o resgate dessas músicas para a
memória do país. O vovô
foi um ícone da sua época.
Não devemos deixar que o
Brasil esqueça esse compositor talentosíssimo, que é
de suma importância para
cultura do país e para que
novas gerações de compositores se mirem nele.
2)
Como você avalia a relação do brasileiro com a
obra de Ary?
Sentimospoucoreconhecimento dos brasileiros em
relaçãoaograndecompositor que foi, é e será Ary Barroso. Imagine você que no
campeonatodaBélgicaum
time campeão comemorou o campeonato com
Aquarela do Brasil. Com a
abertura da editora quero
resgatar a imagem desse
que foi uns dos maiores
compositores da música
popular brasileira, que levouonomedamúsicabrasileira para o mundo.
3)
Vocês têm algum projeto
para as comemorações
dos 110 anos de Ary?
Depois do centenário,
quando lançamos selo,
moeda e o site (www.arybarroso.com.br), além da
festa em Ubá, que reuniu
Orquestra da UFF, Marília
Pêra e Elza Soares, estamos pensando em exposições e um documentário sobre o meu avô.

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