Slavs and Tatars 79. 89. 09.
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Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) 79. 89. 09. Eslavos e Tártaros, letreiro, Eastside Projects, 2011 Slavs and Tatars Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Somente a Solidariedade e a Paciência Garantirão Nossa Vitória 79. 89. 09. volta o olhar para três datas chave: 1979, 1989 e 2009 para melhor entender o mundo em que vivemos. Coincidindo com as celebrações do vigésimo aniversário da queda do Comunismo na Europa Oriental, a crise financeira de 2009 marcou outra mudança significativa, tanto no campo das idéias quanto do bolso, esperase. Embora seja difícil interpretar o presente ou o passado recente, a história não hesita em colocar a crise financeira do início do século XXI no mesmo patamar que a queda do Comunismo no final do século XX. E talvez nós pudéssemos entender melhor a gravidade do acontecimento anterior, o colapso do comunismo em 1989, se os EUA tivessem sido divididos em, digamos, cinquenta repúblicas, assim como a União Soviética se desmanchou em várias nações independentes. 1979 pode parecer menos evidente para alguns: no entanto, a Revolução Iraniana daquele ano serviu como presságio de muitas das maiores (e menores) questões geopolíticas com que o mundo se depara hoje. Considerado por grupos de especialistas em política nos EUA e na Europa como o segundo mais importante evento do século XX, depois da Revolução Russa de 1917, a Revolução Iraniana de 1979 serviu de estopim para a maior narrativa geopolítica do final do século XX e começo do século XXI: o islamismo revolucionário. Da mesma maneira que os acontecimentos de 1917 definiram o mundo pelos 70 e poucos anos subsequentes, a chegada de uma teocracia Islâmica, pela primeira vez em mais de um milênio, através de uma revolução, talvez uma das últimas verdadeiramente popular e modernista do século XX, definiu os 30 anos subsequentes a ela. Os debates quanto à compatibilidade do islamismo com a modernidade, a viabilidade de uma forma política do islamismo e mesmo conceitos como o martírio chamaram a atenção do mundo nãomuçulmano pela primeira vez em 1979, e têm, para o bem ou para o mal, ocupado as ondas aéreas desde então. Marguerite Duras (esquerda), Ruhollah Khomeini (direita) Enquanto isso em Neauphle-le-Château … Depois de mais de uma década de exílio na Turquia e no Iraque, Khomeini passou algum tempo no NeauphleleChâteau, um subúrbio bem arborizado fora de Paris, onde de acordo com lenda urbana ele muitas vezes encontrava Marguerite Duras no supermercado local. Lá eles discutiam que tipo de Mohammad Reza Pahlavi, o Shah do Irã com a Imperatriz Farah (esquerda), uma estátua do Shah derrubada em 1979 (direita) Pavão de pau pequeno Talvez nada cristalize melhor a velocidade com que o Shah caiu do que a celebração dos 2.500 anos da monarquia iraniana, conhecida como o Trono do Pavão em 1971. Sem poupar extravagância, uma cidade de tendas arcondicionada foi erigida no sítio de Persépolis, a capital cerimonial do Império Aquemênida, perto de Shiraz no sul do Irã. Maxim’s de Paris ficou em cargo da alimentação — que incluía pavão assado recheado com foie gras — Limoges forneceu o aparelho de jantar e Lanvin, os uniformes para a casa imperial. 250 limusines 2 Mercedes Benz vermelhas transportavam centenas de presidentes, primeiros ministros e realeza, no que se mostrou como a música do cisne, o último grito mortal, da dinastia Pahlavi. Em um período de oito anos, o Shah estaria fugindo do país, Khomeini retornaria de seu exílio em NeauphleleChâteau, a crise dos reféns no Irã levaria o governo Carter ao fim e a primeira teocracia muçulmana em mais de mil anos passaria a existir. massa comprar. Há algo estranhamente comovente em Duras, a protofeminista, protocomunista, lado a lado com Khomeini, um homem considerado por muitos, algo como um antifeminista e anticomunista exemplar. Carter sendo jogado aos tubarões (esquerda), retorno triunfante de Khomeini a Teerã (direita) Fora / Dentro A derrota do presidente Carter por Ronald Reagan com grande margem eleitoral foi em grande parte causada pelos 444 dias da crise dos reféns no Irã. A inabilidade de Carter em resolver a crise fez com que ele se mostrasse um líder fraco. Talvez o mais estranho de tudo tenha sido o momento escolhido para a liberação dos reféns – uma hora depois do discurso de posse de Ronald Reagan como presidente, no dia 20 de Janeiro de 1981. A “coroação” de Khomeini poderia ser deduzida muito antes de sua consolidação no poder, nos primeiros tempos da Revolução Iraniana. Seu retorno, abordo de um Boeing da Air France – sem contar o fato de que o próprio piloto o escoltou das escadas à pista – tinha significativo poder simbólico, dando ao final uma legitimidade dourada ao homem que havia sido publicamente condenado pela monarquia, cujo filho havia sido assassinado pela polícia secreta do Shah, e que havia estado exilado por mais de quinze anos. 3 Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) 79.89.09. Slavs and Tatars (Eslavos e Tártaros) Uma demonstração anti-Irã em Washington DC, 1979 Reféns americanos de olhos vendados, do lado de fora da embaixada, 1979 444 Dias: Crise dos reféns americanos Quando estudantes universitários iranianos invadiram a Embaixada americana e tomaram cinquenta e dois americanos como reféns por exatamente 444 dias, essa foi a primeira vez em que uma força desigual e nãocomunista havia desafiado os EUA e os EUA se encolheram. Uma amizade se tornava então uma amarga rivalidade melodramática, com todos os ingredientes de um filme de Hollywood – na realidade, Oliver Stone tentou muitas vezes fazer um filme sobre o assunto e Peter Brooks explorava a idéia de uma ópera inspirada no episódio – este acontecimento definiu o tom das relações entre esses dois países durante os trinta anos subsequentes. Sou borracha, você é cola… A raiva teve papel importante na relação entre os dois países. Muitas pessoas caracterizam a relação entre EUA e Irã como a de um casal de idosos, que dormem em camas diferentes, mas parecem não conseguir reunir forças suficientes para tomar uma decisão final de se divorciar ou de viver juntos em paz. Ted Koppel, âncora do Nightline, de 1979 a 2005 Pequenos passos em direção ao ciclo de notícias vinte e quarto horas Foi a partir da crise dos reféns americanos de 1979–81 que o programa Nightline da ABC, um pioneiro audacioso do noticiário noturno no cenário da televisão americana, foi lançado. Com a intenção de competir com o The Tonight Show Starring Johnny Carson, da NBC, o Nightline foi inicialmente chamado A Crise do Irã América Tomada como Refém: Dia XXX. O que era para ser um evento único, uma “interrupção” especial no noticiário noturno, 4 acabou durando por todo o período da crise dos reféns. Durante um período tão prolongado, claro, nada que merecesse nota acontecia, mas isso assustadoramente serviu como presságio do ciclo de notícias vinte e quatro horas que se estabeleceria nos anos de 1990, com o julgamento de O. J. Simpson. A programação continua até hoje, mas sem a relevância e o impacto de que desfrutava sob o comando de Ted Koppel. Posto Shell, Houston, Texas O posto de gasolina como um Salão Geopolítico Estranhamente, o lugar onde um americano de origem iraniana tem maior chance de ouvir que volte ao lugar de onde veio é um posto de gasolina. Talvez os caipiras tenham mesmo um melhor entendimento de geopolítica e do papel que as matérias brutas, tais como o petróleo, tem nas relações entre os EUA e o Irã? 5 Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) ‘Barbara Ann’ dos Beach Boys, imagem promocional (esquerda) e single (direita) Barbara Ann Após a Revolução Iraniana, muitos imigrantes iranianos se refugiaram nos EUA. A relativa juventude do país e o ambiente para negócios convinham aos iranianos que são extraordinariamente mercantis. No entanto, muitos americanos de origem iraniana não conseguiam encaixar suas crenças próamericanas com o que para eles era uma música classicamente americana para se sentir bem da mais genuína das bandas americanas, The Beach Boys. Eles confundiram ‘Barbara Ann’ com … Mural de Shahid Beheshti no centro de Teerã, 1928–1981 Shahid Beheshti A raiva, é claro, também está presente do lado iraniano. Na praça Hafteh Tir, no centro de Teerã, onde as manifestações após a realização das eleições presidenciais de 2009 que foram contestadas aconteceram, um mural celebrava Shahid Beheshti, um líder revolucionário morto em um atentado a bomba em 1981. Abaixo do seu retrato, em Farsi: America as mah asahbani bash va az een asabaniyat bemeer! América fique com raiva de nós e morra por causa dessa raiva! “Bomb Irã” de Vince Vance e os Valiants, imagem promocional (esquerda) e single (direita) Bomb Iran … ‘Bomb Irã’, uma paródia composta durante a crise dos reféns por Vince Vance e os Valiants que casualmente também foram os criadores da faixa ‘Yackity Yak, Bomb Iraq’ de 2003, produzida às vésperas da invasão americana de 2003. Ao invés de: Fui dançar em busca de romance Vi Barbara Ann e decidi fazer uma investida Barbara Ann Bar bar bar bar Barbara Ann Seguia assim: Fui a uma mesquita, Vou jogar umas pedras Conte ao Ayatollah, ‘Vou te meter numa caixa!’ Bombardear o Irã. Bomb, bomb, bomb, Bombardear o Irã 6 E: Nosso país tem um sentimento Acertar o telhado pra valer, Bombardear o Irã Bomb, bomb, bomb, Bombardear o Irã Ou: O velho tio Sam está esquentando Momento de transformar o Irã em um estacionamento Bombardear o Irã Bomb, bomb, bomb, Bombardear o Irã Multidão se reúne para ouvir o discurso de Khomeini Fitas caseiras do Islamismo Modernista Durante os quatorze anos de exílio de Khomeini, seus sermões e discursos foram contrabandeados para o Irã via fitas cassetes de áudio e distribuídas por todo o país. O equivalente iraniano dos samizdat, as cópias caseiras de literatura dissidente, furtivamente distribuídas por toda a União Soviética, as fitas de Khomeini tiveram papel significativo tanto na mobilização das massas quanto para dar energia a classe média desiludida durante os anos de 1970. 7 Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Dervixe Qaderi do Kurdistão O Metafísico versus o Material A Revolução Iraniana é a primeira e única revolução da era moderna a avançar uma agenda metafísica. As revoluções estão fadadas a falhar: como qualquer um que esteja remotamente familiarizado com as Revoluções Francesa ou Russa pode atestar. Uma coisa é cumprir certas promessas – não importa o quão elevadas, seja um governo do proletariado, a abolição da monarquia, etc. – e outra bem diferente quando o que é prometido – salvação, redenção e similares – são inteiramente independentes do mundo material. Isso levanta a questão: É um golpe de gênio ou bobagem bombástica definir o sucesso de tal maneira que não se possa medilo nessa vida? Qaderi Dervish do Kurdistão Um adepto do Shah (acima), um adepto de Khomeini (abaixo) e slogans do movimento próVerde — Onde está meu voto? Vida longa a Moussavi! E Morte ao regime que engana o seu povo – em cédulas contemporâneas (inserções) Dinheiro: 1979/2009 O dinheiro tem muitas vezes sido usado como uma plataforma para a desobediência civil. Adeptos do Shah mostravam a moeda iraniana com o seu retrato para demonstrar seu apoio, enquanto adeptos da oposição de Khomeini substituíam o retrato do Shah pelo de Khomeini. Hoje, a moeda continua sendo usada como meio de protesto. Cédulas normalmente encontradas no Irã, como as 8 de 20.000 rial ou 2.000 toman e 50.000 rial ou 5.000 toman, o equivalente às notas de dois e cinco dólares americanos, respectivamente, são muitas vezes encontradas com slogans do protesto presidencial de 2009 escritas: ‘Onde está meu voto?’, ‘ Vida longa a Moussavi’, ‘Morte ao regime que engana o seu povo’. Teocracia = Estado de Deus = Misticismo República = Estado do Homem = Materialismo A agitação recente no Irã, seguindo as eleições presidenciais de 2009, na verdade, pode ser atribuída às próprias origens e nome do país. O nome em si – a República Islâmica do Irã – são duas filosofias de governo divergentes e praticamente mutuamente excludentes: o estado de Deus encontrado em uma teocracia e o estado do homem encontrado na república. Somente depois que o trauma da guerra Irã – Iraque terminou e o país voltou a ter uma sensação de normalidade é que essa tensão veio à tona, inicialmente com o governo reformista do presidente Khatami. Hoje, a clivagem continua a crescer e deslegitima a República Islâmica. Os reformistas (Moussavi, Rafsanjani) querem levar o país em direção a um modelo republicano onde exista uma mínima noção de prestação de contas ao eleitorado, enquanto os linhas duras (presidente Mahmoud Ahmadinejad, Supremo Líder Ayatollah Khamenei) fortificaram sua crença em uma teocracia purista que não necessita da participação ou prestação de contas pública. 9 Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Entre 79. 89. 09., edição 47 de 100, 2009 Escolha de não escolher Eslavos e Tártaros criou Entre 79.89.09. para ativamente escolher não escolher, seja entre Ocidente e Oriente, o político e o pessoal, ou o analítico e o afetivo. Cada edição apresenta diferentes formas de auto exclusão para o dervixe. Este diz: UM DERVIXE CERTA VEZ DISSE: ENTRE A ALIENA ÇÃO OCIDENTAL E A SUBMISSÃO ORIENTAL, VOU TIRAR: UMA SONECA Alguns outros incluem: UM CIGARRO, UMA COCA, UMA BOLSA DA HERMES, etc. Imam Ali pintado em reservatório de água, próximo a ChakChak, Irã Os Anti-modernistas não são Anti-modernos Em seu livro Les Antimodernes (2005), Antoine Compagnon descreve os verdadeiros modernistas não como utópicos que olham apenas para frente (e.g. Vladimir Mayakovsky, F. T. Marinetti), mas como “antimodernistas”, aqueles visionários um tanto conflitantes, profundamente afetados pela passagem da era prémoderna. Como Sartre disse a respeito de Baudelaire, aqueles que vão adiante, mas com um olho no espelho retrovisor. Walter Benjamin usa uma analogia parecida no seu Anjo da História, lançado para frente, de costas para o futuro, mas voltado para o passado, assim como a língua malgaxe que, ao contrário da concepção positivista de tempo das línguas Ocidentais, usa palavras como “atrás” para descrever o futuro e “em frente” para transmitir a ideia de passado. A Revolução Iraniana de 1979 foi uma revolução antimodernista em todos os sentidos. Mulher em cerimônia Ashura, Avenida Shariati, Teerã, 2009 Entre 79. 89. 09., edição 47 de 100, 2009 Dinheiro-moeda-registros, Estilo Moharram Enquanto parece ser um consenso no Ocidente que a Revolução Iraniana foi uma revolução reacionária, podese olhar para ela por trás, como foi, ou de cabeça para baixo. 0 Restabelecer uma teocracia Islâmica no final do século XX, uma forma de governo que não existia há mais de mil anos, poderia, em si, ser considerado um ato radical. Continuidade da Revolução... até o Fim da Pilhagem Imperialismo Anti-Imperialista Muito similar à Revolução Russa, a Revolução Iraniana de 1979 foi uma ideologia revolucionária libertadora, que posteriormente foi exportada para além de suas fronteiras. É uma dinâmica bastante interessante: forças e influências estrangeiras são expulsas antes da própria ideologia tomar os ares dessas mesmas forças estrangeiras. Nesse caso, vários elementos da Revolução Iraniana posteriormente se espalharam por todo o mundo Muçulmano. Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Síria, Líbano, Afeganistão, Curdistão, Iraque, Palestina, (em sentido horário do topo esquerdo para a direita) Com a mão em muitos quibes Como resultado desse imperialismo antiimperialista, trinta anos depois da Revolução Iraniana, podemos ver vários princípios sendo exauridos, forçados, debatidos e namorados por todo o Oriente Médio. De fato, uma das razões pelas quais existem tantos defensores de uma grande negociação entre os EUA e o Irã, no coração do acordo de Nixon com a China nos anos de 1970, é que o Irã tem papel significativo nos assuntos de pelo menos seis de seus vizinhos: na Síria apóia o regime Assad e o Hamas; no Líbano, a criação e apoio financeiro ao Hezbollah; no Afeganistão, apoiou a Aliança do Norte e tem sido inimigo de longa data do Taliban. Também financia vários membros do governo Karzai; na questão curda, um quarto da população curda vive dentro das fronteiras do Irã; no Iraque, de sessenta a setenta por cento da população é xiita e fortemente influenciada pelo Irã; e finalmente, na Palestina, o Irã tem recebido crescente reconhecimento pela postura linhadura contra Israel e seu apoio financeiro ao Hamas e ao Hezbollah. Imã Abolfazl (esquerda), Imã Hossein (direita) Monocelhas Muçulmanos? Bom Uma exportação um pouco menos bem sucedida, no entanto, é a monocelha. No Irã, o triunvirato de sobrancelhas, cílios e olhos é um traço definitivo de beleza. Os retratos dos imãs xiitas — Hossein e Abolfazl — têm como característica sobrancelhas fortes e salientes como um sinal de virilidade e coragem. Até hoje, no Irã, uma monocelha pode ajudar a obter favores com o sexo oposto ... Os doze imãs do Xiismo Twlever, com Ali ao centro, Hossein à esquerda e Abolfazl à direita. O décimo segundo imã, ou imã oculto, está a estrema esquerda, com seu rosto apagado Martírio Por exemplo, uma “exportação” bem sucedida foi o papel do martírio, um pilar fundamental da identidade Xiita, em contraste com a maioria muçulmana de identidade sunita. A noção de injustiça histórica ou vitimização subjacente ao martírio continua tendo papel significativo na fé xiita e na origem da separação dos sunitas. Todos os anos, durante o mês sagrado de Moharram, os xiitas lamentam a decapitação do Imã Hossein, um dos doze imãs, pelas mãos do califa omíada sunita Yazid na batalha de Kerbala (680 AD). Durante a guerra Irã–Iraque, o Irã conseguiu definir a guerra como mais uma luta contra a tirania, uma representação moderna da Batalha de Kerbala, e mandou milhares de jovens, algumas vezes adolescentes, para defender a pátria mãe contra os invasores (o Iraque de Saddam, mas também seus contra os invasores (o Iraque de Saddam, mas também seus apoiadores no Ocidente). Apesar da inimizade contemporânea entre sunitas e xiitas, o papel do martírio foi recentemente apropriado pelos sunitas, particularmente os Wahhabis, como justificativa para vários ataques suicidas pelo mundo. Há uma escola do pensamento, primeiramente desenvolvida pelo eminente iraniologista do século XX Henry Corbin, que vê o xiismo, com a sua proeminente ênfase na angeologia e tradição dos pensadores NeoPlatônicos, como algo um tanto similar ao catolicismo. Ele mesmo um teosofista, Corbin remete o papel único dos anjos, teoria da iluminação e o neoplatonismo de volta ao Suhrevardi, o místico xiita e fundador da escola de iluminação ishrâq do século XI. Similarmente ao Irã, o martírio também é muitas vezes invocado na identidade histórica da Polônia: como o histórico de independência perpetuamente recebida e perdida assim como em acontecimentos específicos tais como o massacre Katyn. Ex Governador de Massachussettes e candidato presidencial Democrata Michael Dukakis, 1988 Monocelha Gentio? Mau … enquanto que no Ocidente, como qualquer um que tenha passado algum tempo com monocelha na escola pode atestar, não se ganha pontos com as garotas ... ou garotos, tampouco. Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Mundo Iraniano, wikipedia Um Mundo Iraniano A ideia de um Irã renascente não é um fenômeno isolado ou meramente contemporâneo. A influência linguística, religiosa e cultural iraniana ou persa tem tido significativo papel por mais de um milênio e se expande por várias das repúblicas da ex União Soviética: O povo do Tajiquistão fala uma forma moderna do persa ou farsi; aproximadamente vinte por cento da população do Uzbequistão são Tajiquis; metade do povo do Afeganistão fala Dari, um dialeto afegão persa; o Azerbaijão é o único outro país esmagadoramente xiita no mundo, além do Irã, com o qual ele divide várias figuras culturais e históricas. Durante o século XIX, os persas perderam grande parte do Cáucaso para o Império Russo em sucessivas guerras e várias figuras importantes da história azerbaijana — Nizami e Akhundov — escreveram em Farsi. Se muitos desses países olham para a Rússia em termos econômicos ou políticos, culturalmente e/ou religiosamente, é para o Irã que eles se orientam. Parque das Esculturas Frieze, 2010 Monocelha — Hot Para o Parque das Esculturas Frieze em 2010, Eslávos e Tártaros exibiu Um Manifesto Monocelha, com o herói épico persa Roustam, do Shahnameh de Ferdowsi, marcado com um sinal HOT! de um lado e... Parque das Esculturas Frieze, 2010 O templo sagrado de Hazrat Imamzadeh Hossein, Qazvin, Irã Monocelha — Not Beto, da Vila Sésamo, marcado com o sinal NOT! do outro lado. A monocelha é um epifinômeno através do qual podemos desmistificar o senso comum em torno do conflito entre Ocidente e Oriente. Se no Ocidente, a monocelha tem sido associada ao comportamento delinquente (Inglaterra ) ou lobisomens (França), no Oriente Médio e no Cáucaso, a monocelha é sinal de virilidade e sofisticação. Ou seja, se nas porções sul da Eurásia, a monocelha é hot, nos EUA e Europa, claramente ela é not. Chanfrada, Ostentação Brutal Imagine caminhar pelos palácios do Shah ou templos xiitas, onde todo o interior é composto de mosaicos de espelhos, cada quadrado com aproximadamente dois centímetros, sem deixar nenhuma parte da parede visível, seria perdoável pensar que estamos dentro de uma butique Swarovski de 4000 D.C. ou um cenário de um remake de Kubrick. Esses mosaicos de espelho representam mais uma exportação interessante, mesmo que menos notada, da Revolução Iraniana. Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Resista em Resistir a Deus, mosaico de espelhos, Slavs and Tatars, 2009 Resista em Resistir a Deus Em 2009, Slavs and Tatars criou uma peça que, quando vista frontalmente, parecia mais um padrão decorativo de espelho ... mas de um certo ângulo, um texto aparecia, um tanto quanto misticamente: Resista em Resistir a Deus. Palácio Golestan, Teerã; padrões geométricos; Templo de Zeinab, Damascus; padrões geométricos (em sentido horário do topo esquerdo para a direita Chanfrada, Ostentação Brutal Os padrões geométricos, nos quais os mosaicos de espelho são baseados, chegaram com as invasões árabes do Irã que introduziram o Islamismo no século VII. Madeira ou cerâmica eram o meio escolhido pelos árabes. Os persas, sempre dispostos a se diferenciar de seus vizinhos árabes, usaram espelhos como uma opção chanfrada e brutal. Slavs and Tatars está particularmente interessado no potencial revolucionário de algumas artes. No caso do Irã, o mosaico de espelhos é o melhor exemplo da complexidade por trás do tipo específico de imperialismo antiimperial da República Islâmica. Hoje, ela exporta essa arte como a materialização estética de sua própria ideologia às mesquitas e templos xiitas e por toda a região como o Templo Zeynab em Damascus. O espelho como uma ferramenta, usado por Golhamhossein Shadizarnagh Espelho, espelho, na parede... chão, teto, em todo lugar O verdadeiro meio de mise en abyme, os mosaicos de espelho requerem o uso de um espelho para a própria execução do projeto. Navab Safavi, líder revolucionário 1924–1955 e o Lenin de Gerasimov (inserção) 1917 versus 1979 É necessário um tanto de acrobacia intelectual, ou mesmo ansiedade emocional para buscar inspiração ou influência na sua antítese. Por exemplo, a Revolução Iraniana importou integralmente muito de sua linguagem visual da Revolução Russa, embora o resultado tenha sido um regime teocrático que contrasta totalmente com o ateísmo da Revolução Russa. Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Klutsis (esquerda), propaganda antiShah (direita) Khamenei e Khomeini representados em murais em Teerã (esquerda), Stalin e Lenin, com o texto: O espírito do grande Lenin e seu estandarte vitorioso hoje nos inspiram na Grande Guerra Patriótica (direita) Amai o vosso Predecessor Odiai o vosso Sucessor Reminiscência de Stalin que gostava de ser ilustrado com Lenin, da mesma forma, Seyed Ali Khamenei, o atual Líder Supremo do Irã, muitas vezes é ilustrado ao lado de seu predecessor, o atualmente falecido Ayatollah Ruhollah Khomeini, o pai da Revolução Iraniana. Tanto para Khamenei quanto para Stalin, o gesto ajuda a reforçar uma chegada ao poder questionável e assim sua legitimidade como herdeiros de uma legacia revolucionária dos respectivos fundadores revolucionários, Khomeini e Lenin. As Crianças Imaculadas de Klutsis É reconfortante, depois de tudo, ver que os tomadores de decisão da teocracia têm a mente aberta o suficiente para ser inspirados pela sua antítese, a esquerda ateísta da Rússia. O sentimento antiEUA tem sido uma chamada unificadora da República Islâmica desde o primeiro dia. Não compartilhada pelo povo iraniano em si, o jingle fácil do antiamericanismo é tocado periodicamente até hoje em qualquer momento oportuno. O caso do Irã mostra que o velho ditado é verdadeiro: o inimigo (URSS) do seu inimigo (EUA) é seu amigo. Montazeri e Khomeini 1987 (esquerda), Khamenei e Khomeini hoje (direita) O quê deve ser feito? de Shariati, Chernyshevsky e Lenin Montazeri, o Trotsky do Irã? Ambos os cenários — na URSS e no Irã — envolviam um embate polêmico pelo poder com um terceiro que foi marginalizado pouco antes da sucessão de poder. Se no caso da URSS esse terceiro era Trotsky, no caso da República Islâmica do Irã, é o reformador moderado Ayatollah Montazeri cuja morte em dezembro de 2009, enquanto estava sob regime de prisão domiciliar, que deu início a um novo ciclo de protestos contra o regime. As intrigas da exclusão de Montazeri são dignas de um romance sobre a Guerra Fria, embora tenha consideravelmente menos violência do que a história de Trotsky possa ter tido. Considerado por muito tempo como o sucessor de Khomeini, Montazeri foi colocado em regime de prisão domiciliar por mais de vinte anos depois de um protesto contra a execução sumária de milhares de prisioneiros políticos e de questionar a necessidade de um ‘velayatfaqih’ ou Supremo Líder. Como se as semelhanças entre os dois países não fossem estranhas o suficiente, não é uma incrível coincidência que tanto Stalin quanto Khamenei tenham um braço paralisado, o esquerdo no caso de Stalin e o direito de Khamenei? O filósofo: Ali Shariati Quando Khomeini retornou ao Irã, muito do esforço de base para a revolução já havia sido feito: ele deixou o país como um clérigo religioso, idolatrado apenas pelas classes religiosas e retornou como um herói nacional. Talvez ninguém tenha sido mais instrumental nessa transformação do que Ali Shariati que ajudou a tornar o Islamismo mais palatável à florescente classe média do Irã e provocou um renascimento da combinação entre Xiismo e o pensamento anticolonial liberacionista, entre jovens iranianos com educação. Considerado como o filósofo iraniano mais importante do século XX, Shariati estudou com Sartre e Louis Massignon em Paris nos anos de 1960, traduziu Franz Fanon em persa, e foi, até a sua morte sob circunstancias misteriosas em Londres em 1977, o líder da oposição contra o Shah. O quê deve ser feito de Shariati toma seu título tanto do romance seminal revolucionário russo do fim do século XIX de Chernyshevsky quanto do texto de Lenin, Что Делать (Chto Delat/ O quê deve ser feito). Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Westoxification (ou Occidentosis): n. sensação de estar contaminado, manchado, ou corrompido pelo Ocidente Qarbzahdegi Termo primeiramente criado no livro homônimo de Jalal AleAhmad, Qarbzahdegi referese à perda da identidade cultural iraniana através da adoção e imitação de modelos Ocidentais e critérios de educação, arte e cultura Ocidentais. Peter o Grande (esquerda) forçou os Boyars (direita) a cortar suas barbas em um esforço de “ocidentalizar” o país Ali Shariati restaurou o conceito com a sua crítica e oposição à transformação do Irã em um mercado passivo para os produtos ocidentais e em uma peça da geopolítica ocidental. Barbas? Banidas De acordo com uma teoria política popular, as sementes de uma revolução são remendadas quando um dado líder não mais se assemelha ao seu povo. Então, de acordo com essa lógica, a Revolução Russa não começou em 1917, nem com as tentativas abortadas de 1905, mas no começo do século Mahmoud Ahmadinejad, Ali Larijani, MirHossein Mousavi (da esquerda para a direita) Veja, Ma: Sem Gravata! Ali Shariati ajudou a aproximar esquerdistas e nacionalistas do Islamismo e, crucialmente, deu a Khomeini e aos islâmicos espaço no qual operar e finalmente para marginalizar seus oponentes, os mesmos esquerdistas e nacionalistas. A proibição da gravata no Irã oferece um raro insight ao pluralismo das principais facções da Revolução Iraniana no momento em que aconteceu. A Revolução foi primeira e principalmente uma luta nacional, contra a monarquia e contra o que era percebido como a perda da soberania cultural e mesmo nacional. Uma mistura díspar 20 de marxistas, nacionalistas e islamistas mobilizou o povo iraniano contra Shah, mas uma vez que seu regime caiu, os islamistas, liderados por Khomeini, rapidamente preencheram o vácuo de poder e marginalizaram os outros grupos, incluindo o infame Mojaheddin, que no início tinha oferecido seu próprio coquetel de marxismo e islamismo. A proibição da gravata é uma pequena área da política em que a esquerda e a direita se encontravam e concordavam: para a esquerda, a gravata era um símbolo do capitalismo e para a direita, da decadência ocidental. Reza Shah baniu o uso de véus em 1936 Véus? Vedado Similarmente, em 1936, em um esforço para emular Ataturk, Reza Shah, o pai de Reza Pahlavi, o Shah deposto, baniu o uso de véus em público. XVIII quando Peter o Grande voltou de sua viagem à Europa e decidiu cobrar um imposto sobre a nobreza russa, os Boyars, se eles não cortassem suas indecorosas barbas definitivamente “Orientais” para parecer mais com a nobreza européia ocidental. Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Uma mulher chama a atenção do exército do Shah antes da revolução enquanto mulheres com seus véus se afastam de um homem, pósrevolução. Pré-Revolução / Pós-Revolução Mural na Hemmat Highway, Teerã Realismo Social: Mártires Um jornalista britânico vivendo em Teerã comentou na época que exigir que mulheres iranianas saíssem de suas casas sem seus véus era equivalente a exigir que mulheres britânicas saíssem de casa de topless. Nenhum outro caso pode evidenciar isso melhor do que o de Mazi Mostaffi, de vinte e um anos, que tentou completar o fatwa contra Salman Rushdie, em uma missão conjunta com o Hezbollah libanês, mas morreu de diarréia a caminho. Parece que mesmo mal sucedidos, mártires incontinentes conseguem seus quinze metros de fama. Cavalo, Kermanshah (esquerda), As Uvas de Wrath, Qazvin (direita) Os Indecisos Um grande impulso na colheita bolchevique Realismo Social: Proletariado Enquanto a URSS celebrou o proletariado por via de um retrato genérico, de um trabalhador anônimo, a República Islâmica do Irã, um produto de sua era, opta pelo pathos através de um retrato excessivo de mártires individuais. George Bernard Shaw disse uma vez que a única maneira de 22 alguém sem talento ou beleza se tornar famoso era o martírio. Infelizmente, parece que a guerra IrãIraque e os programas de reality tv fizeram sua parte para baixar ainda mais os requisitos. A julgar pela arte pública, o Irã parece mais a Disneylândia ou um campo nem tão pequeno de minigolfe. A arte pública e esculturas estão entre as expressões de identidade que mais mostram o seu país. Por isso, enquanto a União Soviética adotou o realismo social, com esculturas monumentais em homenagem ao herói proletário, a República Islâmica do Irã negocia com o realismo mágico. Nenhuma estátua de clérigos religiosos do passado é encontrada, nem mesmo imagens mais simples tais como ícones de figuras literárias. A esquerda secular joga lama nos clérigos da história que em algum dado momento acabaram todos colaborando com as forças coloniais, enquanto a direita religiosa acusa os tipos Ferdowsi e Omar Khayyam de equívoco religioso. Por isso, um mundo de fantasia idílica de veados, pombas, cavalos, leões e uvas é encontrado em seu lugar. Nada é tão politicamente seguro quanto plantas ou animais, pois não possuem ideologia. Esta é realmente uma terceira via que faria até Blair e Clinton se retraírem. 23 Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) la ilaha illa allah = existe apenas um deus, Allah. Imagem iraniana inspirada pelo uso das massas no logo da Solidarnoś! Solidarnosc Iraniana A situação atual no Irã, depois das eleições presidenciais contestadas de 2009, deixou muitas pessoas pensando sobre os paralelos com a Polônia dos anos de 1980. Para citar apenas um exemplo: as marchas silenciosas em Teerã onde 100 mil pessoas marcharam através da cidade em silêncio foram tiradas de uma das páginas do livro de história da Polônia e da luta da Solidarnoś!"#ontra o comunismo. Muitos líderes dos protestos iranianos estão se espelhando na Polônia e no período da Solidarnoś!"-0"busca de inspiração para trazer mudanças graduais e pacíficas, de dentro do sistema. O regime do Irã provavelmente não cairá da noite para o dia, mas como o regime comunista que caiu na Polônia, em um período de cinco a dez anos. A capa do Tygodnik Solidarnosc, 2 de Junho de 1989 ‘Parem de Chorar e Comecem a Trabalhar…’ O texto de Marek postado no site do Teerã Bureau oferece um olhar ácido e divertido sobre como a Polônia vê os acontecimentos contemporâneos no Irã. PZPR (Partido Polonês dos Trabalhadores Unidos)? NÃO, OBRIGADO Solidarnosc O nome completo do movimento Solidariedade era Niezależny Samorządny Związek Zawodowy ‘Solidarnoś!$" ou o Sindicato Independente e Autogovernado %&'()*+,)-*+*-$."/"0ovimento que ajudou a levar o comunismo na Polônia e em todo o Bloco Oriental a sua 24 Estou escrevendo da Polônia. Nós dividimos as mesmas experiências do passado com nosso estúpido e sangrento regime comunista. Felizmente, agora somos livres. Tenho o Irã no coração, porque já estive lá duas vezes e tenho muitos amigos próximos nesse país maravilhoso. queda começou como um sindicato no estaleiro Gdańsk em 1980 e foi liderado por Lech W+1ęsa. As greves da Solidariedade nunca exigiam o fim do comunismo em si, mas sim melhoramentos relativamente táticos, mas concretos: nas condições de vida, carga horária, alimentação, etc. Adoro eles, mas devo dizer uma coisa. Notei que o espírito iraniano é emotivo demais. Quando um dia o povo venceu a luta com os basijis nas ruas, eles começaram a pensar que a liberdade estava logo ali na próxima esquina. Agora, essas mesmas pessoas estão chorando após uma derrota. Isso me deixa com raiva. Lutar pela liberdade é sempre um caminho longo. É impossível alcançala apenas nas ruas, em sete meses. Vocês devem ter uma estratégia de alguns anos e um líder esperto e ativo como Lech Wa1ęsa. Parem de chorar e comecem a trabalhar, façam panfletos, imprensa clandestina, convençam os trabalhadores e o povo das cidades pequenas etc., de que há centenas de métodos. Sei que é um trabalho duro, mas minha experiência na Polônia me diz – não há outra maneira. Vocês precisam merecer a liberdade. Adoro o Irã e tenho certeza de que vocês serão livres rapidamente, talvez em cinco anos. Mas primeiro parem de reclamar. Marek / 15 de fevereiro de 2010 2:49 AM Tehranbureau.com 25 Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Bandeira da Solidariedade no topo de Hala Arena, Poznań 1989: Mais meticuloso do que punk A Polônia talvez não seja o lugar mais ‘sexy’ ou violento, mas sua abordagem metódica, aborrecida e sistemática ao comunismo se mostrou muito mais efetiva do que as alternativas ‘sexy’ e violentas de seus vizinhos. Através de greves e desobediência civil, a Polônia se desenquadrou com sucesso do regime comunista que contava com todo o apoio militar da URSS. Bucareste, Varsóvia, Berlim, Bucareste, 1989 (sentido horário do topo esquerdo para a direita) Terceira peregrinação do Papa João Paulo II à Polônia e o Papa com Lech Wa!ęsa e Primeiro Ministro Tadeusz Mazowiecki (inserção) João Paulo II 1989/Radical Chic Em 2009, houve celebração do aniversário de vinte anos dos eventos de 1989 por toda a Europa. Quando pensamos na queda do comunismo na Europa Oriental, imagens icônicas de violência ou drama muitas vezes nos vêm à memória, tais como as massas no Muro de Berlim ou estátuas de Lenin 26 sendo destruídas ou a ex-#234'"*-"5-+26-7#2."Apesar da necessidade de imagens ícones ou “sexy” por parte do público e da mídia, muitas vezes é na sombra e não sob os holofotes que a verdadeira mudança acontece. Outro fator ‘nãosexy’, muitas vezes ignorado, mas muito importante no sucesso da Solidarnoś!"foi o papel da Igreja (não exatamente à rigor nos círculos intelectuais do Ocidente). Nomeado Papa em 1978, João Paulo II, preparou imediatamente os poloneses para uma longa mudança pacífica do sistema, de dentro. Durante todas as negociações com o governo nos anos de 1980, a Igreja Católica atuou como um intermediário ou juiz neutro e confiável entre o governo comunista e o movimento Solidarnoś!. 27 Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Correspondência Improvável Em uma carta aberta ao Papa, Khomeini respondeu às preocupações de João Paulo II quanto à relação entre Irã e os Estados Unidos que se deteriorava após a crise dos reféns. 5 de maio de 1980 Em nome de Deus, Clemente e Misericordioso Vossa Excelência Papa João Paulo II, Anatole Lunacharsky Construindo Deus Houve diversas tentativas de incorporar a religião ao comunismo, a mais interessante delas é Construindo Deus de Anatole Lunacharsky (1875–1933). Uma proposta de acomodar sentimentos religiosos ao ponto de vista do comunismo, Criando Deus de Lunacharsky criou uma nova nova religião, compatível com a ciência e não baseada nas crenças supernaturais. Lenin ficou enfurecido com essa ideia e considerou a posição de Lunacharsky extremamente prejudicial, e que supostamente transformava o Marxismo em um reformismo liberal suave. Recebi sua carta que expressava preocupação quanto às tensas relações entre o Irã Islâmico e os Estados Unidos. Expresso minha gratidão pela sua boa vontade e gostaria de informálo de que nosso nobre e combatente povo considera o rompimento das relações um bom presságio; eles fizeram uma comemoração alegre e iluminada na ocasião. Agradeço vossa Excelência por rezar a Deus, Todo Poderoso, em nome de nossa nação combatente. No entanto, peço a vossa Excelência que não se preocupe com a erupção das novas e empobrecidas relações e grandes perigos mencionados naquela carta, já que a nação Muçulmana do Irã receberá bem qualquer situação que possa surgir por causa do rompimento de vínculos e não tem medo dos perigos mais graves advertidos naquela carta. O verdadeiro perigo para a nossa nação está no dia em que relações (internacionais) similares àquelas que são preferidas pelo regime traidor anterior forem restabelecidas, coisa que se Deus quiser, não acontecerá. Considerando a influência espiritual de vossa Excelência entre os crentes cristãos, peço a vossa Excelência que avise ao governo dos EUA das conseqüências de sua opressão, crueldade, saques, e que aconselhe o Sr. Carter, que está fadado à derrota, que trate as nações que desejam independência absoluta das potências globais com base em princípios humanitários. Ele deve ser aconselhado a observar as diretrizes de Jesus Cristo e a não expor a si mesmo e a Administração dos EUA à difamação. Rezo a Deus, Todo Poderoso, que garanta prosperidade aos oprimidos no mundo todo e ruptura das mãos dos opressores. Ruhollah Mousavi Khomeini O ultimo parágrafo — onde Khomeini lembra o Papa de que se Carter fosse um verdadeiro cristão, suas ações seriam completamente diferentes — transmite a confiança inabalável de Khomeini na sua posição e seu tom de desprezo pelos EUA. Uma das imagens ícone do movimento Solidarność: trabalhadores em greve no estaleiro Gdańsk 300.000 pessoas participaram das famosas marchas brancas depois do atentado ao Papa João Paulo II em maio de 1981 Deixe que as Estrelas fiquem no Céu, Foices, nos Campos e Martelos, nas Fábricas Stalin disse uma vez que tentar comunizar os poloneses era como tentar encilhar uma vaca. Diferente do status na maior parte dos regimes comunistas, a Igreja permaneceu ativa 28 durante toda a era comunista polonesa: sem nunca ser banida, a Igreja era tolerada pelo governo, como parte da realpolitik. Somente Solidariedade e Paciência “Os eslavos sempre tiveram uma abordagem diferente do tempo, abordagem que é mais em longo prazo do que se vê no Ocidente. Esse foi o caso específico durante o comunismo. Os eslavos não perdem tempo. No dicionário eslavo de sinônimos, não há um símbolo do dólar em duração. Tempo não é dinheiro porque sempre houve muito do primeiro, mas nunca muito do segundo. Por meio século, os dois nem mesmo ocuparam a mesma latitude e longitude” – do manifesto Eslavos e Tártaros, primeiramente publicado em 032c, 2008 No entanto, agora há muito dinheiro em certos países Eslavos, o tempo continua um tanto resistente ao capitalismo liberal atrasado. 29 Slavs and Tatars (Eslavos e Tártaros) 79.89.09. Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) A bandeira Polska Walcząca (es:uerda) e emblema Solidarnoś! Walczaca (direita) Polska Walczaca A história moderna da Polônia tem sido de independência constantemente recebida e depois perdida. As letras P e W de Polska Walcząca, ou Resistência Polonesa, um símbolo da resistência polonesa na Segunda Guerra, se tornaram em um golpe de clarividência uma âncora para as origens do movimento Solidarnoś!8"297":2+,-9;+"+9'7"0+)7";+rde. Quando a Solidarnoś!"foi proibida por lei marcial em 1981, Solidarnoś!"Walczaca, uma organização polonesa anticomunista clandestina e um dos grupos dissidentes da Solidarnoś!"0+)7"radicais, foi fundada. Solidarnoś!"Walczaca trocou o P por um S e restabeleceu a águia com a coroa como símbolo da Polônia précomunista. Praga, 1989 A igreja móvel na Polônia Confessionários Ambulantes Durante as greves de estaleiro, a igreja vinha até os protestantes para apoiálos em oração. 30 Levou 10 Anos, 10 Meses, 10 Semanas, 10 Dias … Por ter alcançado marcos constantes e concretos de maneira nãoviolenta, a Solidarnoś!"*+"Polônia forneceu um impulso contínuo crucial aos movimentos anticomunistas de toda a Europa Oriental. A URSS estava obviamente à beira da falência devido a vários fatores, incluindo a baixa nos preços do petróleo e a invasão do Afeg+9)7;4'":2-"#27;ava muito. A Polônia serviu como um espinho persistente ao seu lado, expondo suas fr+:2ezas durante a maior parte da década. Slavs and Tatars 79.89.09. >E7(+F'7"-"GH,;+,'7? Slavs and Tatars >E7(+F'7"-"GH,;+,'7? 79.89.09. Adam Michnik na primeira tiragem de Solidarnoś!"/ Gazeta Wyborcza. Lech W+1ęsa usando um boné adhoc da Solidarnoś!">)97-,34'? O Pensador: Adam Michnik Adam Michnik foi um dos líderes da oposição democrática ilegal na Polônia, conselheiro da Solidarnoś!"9'7"+9'7"*-" 1980. Hoje, Michnik é editor chefe da Gazeta Wyborcza, literalmente ‘jornal do voto’, que teve origem como o jornal clandestino da Solidarnoś!."=+zeta Wyborcza é agora o maior jornal diário na Polônia, e um dos mais saudáveis no atual clima de incerteza na mídia. Protestantes ateiam fogo no jornal comunista Trybuna Ludu durante uma manifestação nas escadarias da Igreja da Sagrada Cruz em Varsóvia em 1989. As instalações de impressão da Solidarnoś!"-0"=*+ń7<8"ABCD8">)97-,34'? Jovens poloneses lêem sobre as greves no Gazeta Wyborcza e um ativista prepar+"20"@+99-,">)97-,34'? Desobediência Civil ‘Poderia se contar com o absurdo do sistema vigente; o que era necessário nesse meio tempo era a recusa à mentira e a vontade de mostrar coragem cívica.’ — Leszek K'1+<owski , historiador e filósofo polonês 32 Corpo de Auto-Adminstração Seu Destino em Suas Mãos Como resultado da “recusa à mentira” dos poloneses, as primeiras eleições semilivres nos países do Bloco Oriental desde a Segunda Guerra Mundial aconteceram sem recurso à violência. 33 Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Poster ícone da Solidarnoś!"I+ra levar o voto às ruas em 4 de junho de 1989. Wasz Prezydent Nasz Premier ‘Wasz Prezydent, Nasz Premier Minister’ (literalmente “Seu Presidente, nosso Primeiro Ministro”) foi um dizer f+0'7'":2-"#+I;2,'2"'"-7IO,);'"*'"#'0I,'0-;)0-9;'"-9;,-" a Solidarnoś!"-"'",egime. A Solidarnoś!"N)#'2"#'0"0+)7"*-" nov-9;+"I',"#-9;'"*+7"#+*-)ras, mas aceitou que o Presidente Jaruzelski mantiv-77-"7-2"#+,J'"#'0'"I,-7)*-9;-" 7-"+"'I'7)34'"I2*-77-"-7#'(L-,"'"S,)0-),'"Q)9)7;,o. """""T27#+,"I',"U27;)3+"+@7;ra;+"-",-;P,)#+"'2",-7Ionsabilidade deI')7"*'"+#ontecido muitas vezes resulta em recriminações intermináveis. Os líderes da Solidarnoś!"-7;aF+0"*)7I'7;'7" Poster ícone da Solidarnoś!"I+ra levar o voto às ruas em 4 de junho de 1989. 34 Adam Michnik, centro, em uma reunião da Solidarność Antes de Aprender a Correr Precisamos Aprender a Engatinhar 4 de Junho de 1989 A data no calendário foi de um momento decisivo. Primeiramente, no Irã, na noite anterior, Ayatollah Ruhollah Khomeini morreu, servindo de marco distinto, talvez um tanto deI,)0-9;e8"I+ra a Revolução Iraniana. O que havia começado como uma rev'(234'",-+(0-9;-"I'I2(+,"-0" 1978–79, havia resultado em um regime autocrático e 'I,-77ivo quando da morte de Khomeini. Na China, na a aF+93+,"-"94'"'(L+,"I+ra trás. O Primeiro Ministro Tadeusz Mazowiecki criou o termo ‘gruba kreska’ ou ‘a linha g,'77+$"#'0'"+"()9L+"I,ov-,@)+("9+"+,-)+8"I+ra conter o I';-9#)+("*-",evanches8"I,';egendo assim o Presidente Jaruzelski e outras autoridades com29)7;+7"*-"I-rseguição I',"I+rte do novo governo. Muitas facções mais radicais da 'I'7)34'"'I27-ramse à Solidarnoś!8"0-70'"7-9;+*'7"R" mesma mesa com autoridades comunistas, argumentando I',"20+"mudança total de regime ou nada. mesma data, um movimento estudantil foi brutalmente esmagado na Praça Tiananmen. Nessa encruzilhada da estrada, a Polônia tinha dois caminhos claros à sua frente. Ao invés de seJ2),"9+"*),-34'"*'"K,4"'2"*+"5L)9+8"'I;'2"I-(+" terceira, um caminho desconhecido, que gar+9;)+"I,'gresso e continuidade sobre o radicalismo. No Ocidente8"#'0I,'0-;)0-9;'"M"muitas vezes visto como uma fraqueza, mas no Oriente, é consider+*'"20"I'*-," construtivo vital e uma demonstração de força. Obviamente, '"I+I-("*+"NM8"9-77-"#+7'"+"#atólica, tev-"I+I-(")0I'rtante em conv-9#-,"+"I'I2(+34o, que havia sido brutalmente reI,)0)*+8"*'7"@-9-NO#)'7"*'"I-rdão também. """""/"I,PI,)'"Q)cL9)<"I+77'2"FH,)'7"+9'7"9+"I,)74'" (1968–69, 1981–84, 1985–86) devido a suas ações antigovernistas. Nas discussões de mesa redonda, ele sentouse frente a frente com os exatos generais (Jaruzelski e Kiszczak) que o haviam co9*-9+*'"R"I,)74o. Naquele momento ele disse: ‘Eu estaria mentindo se dissesse que não queria vingança. Qualquer um que tenha sofrido essa humilhação quer vingança em algum nível. Conheço todas as mentiras. V)"I-77'+7"7-,-0"0'rtas. Mas também sei que o revanchismo não tem fim.’ 35 Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Dziwny jest ten świat gdzie jeszcze wciąż miesci się!"#$%$!&'( i dziwne jest to że od tylu lat )&'owiekiem g(*+&#!)&'owiek Dziwny ten świat świat ludzkich spraw czasem aż wstyd przyzna, się a jednak często jest ze ktoś -'o"$.!&'/.!&(0#1(!2(3!1(3!45żem 6$)&!%7+&#!+50*$1!woli jest więcej i mocno wierzę w to że ten świat nie zginie dzięki nim nadsz$+'!17ż czas najwyższy czas nienawiś,!&4#-&)&/,!"!-50#$ Protestantes com um banner, Jaruzelski falando para a nação (inserção) Não há Liberdade Sem Solidariedade Embora a Perestroika estivesse a caminho, é importante que não se subestime as conquistas da Solidarnoś!"*-"(evar o governo comunista, que tinha a força da segurança do estado Slavs and Tatars e um arsenal militar extensivo ao seu dispor, abaixo pacificamente. Estranho é esse mundo Onde ainda há tanta maldade E é estranho que por tantos anos Os homens tenham tido tanto desprezo um pelo outro Estranho é esse mundo de assuntos humanos Às vezes se tem vergonha de admitir Mas acontece frequentemente que alguém Com uma palavra ruim mate como com uma faca 8(-!9:!.(#-!;$--5(-!)5.!05(-!#42$4<=$E eu acredito fortemente nisso que esse mundo >?5!-$!()(0(*:!gra<as a eles Já é tempo De destruirmos o ódio em nós mesmos Cz-71+V"X)-0-9, ‘Estranho é esse mundo’ O público levou seus stereo systems, como um precursor do telefone celular hoje onipresente em shows, para gravar a música. Festival Jarocin Se no Irã prérevolucionário as pessoas se juntavam para ouvir Khomeini ou Shariati, na Polônia, com certeza o ritmo era mais rápido com o rock ’n’ roll trazendo as massas. Organizado em 1980, o Festival Jarocin foi um dos primeiros festivais de música rock e punk no Bloco Oriental. Os fãs levavam aparelhos de som portáteis não para ouvir, mas para gravar a música ao vivo e poder reviver as músicas mais tarde em suas casas, com amigos e familiares. Talvez a melhor analogia às fitas de Khomeini, no entanto, seja o Kultura,m periódico publicado por imigrantes poloneses em Paris. 36 Contrabandeados para a Polônia como as fitas de Khomeini, no Irã, o ofereceu uma crítica literária indireta da situação política no país, com textos de Witold Gombrowicz e Cz-71aV"Q)1'7W8"muito similares aos filmes de diretores iranianos como Abbas Kiarostami, Mahmad Makhmalbaf ou Jafar Panahi. Cz-71aw Niemen, um cantor polonês que muitas vezes apresentou poesia com música pop, também era um defensor de olhar para dentro de si mesmo para mudar a realidade: 37 Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Uma tentativa oficial de diminuir o número de católicos no censo para refletir a Polônia de maneira mais precisa O emblema da República Islâmica do Irã, um ‘Allah’ estilizado (acima), o símbolo aquemênida do Zoroatrismo (abaixo) Apostasia: Polônia Hoje, entre algumas pessoas na Polônia, apostasia — a renúncia de sua religião — está ganhando popularidade como forma de desobediência civil contra o crescente papel da Igreja Católica. Desde o nascimento, muitas pessoas, até poloneses judeus, são automaticamente contadas como cristãs para o censo oficial. Algumas foram batizadas 38 Apostasia: Irã simplesmente por tradição ou por medo de não fazer parte. Uma nova geração está tentando definir a identidade polonesa fora da homogeneidade da segunda metade do século XX e mais próxima ao que era no começo do século XX: uma nação mais cosmopolita e diversificada. No Irã, a apostasia também está sendo usada como uma forma de desobediência civil. Com um longo histórico anterior a chegada do islamismo no século VII, muitos iranianos, tanto jovens quanto idosos, estão se voltando ao Zoroatrismo, a religião da Pérsia préislâmica. Sua doutrina principal se resume a uma máxima relativamente simples “bons pensamentos, boas palavras, boas ações” como uma forma de protesto contra o absolutismo do regime islâmico. Por ser a primeira religião monoteísta do mundo, várias doutrinas das três maiores fés abraâmicas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) encontram suas origens no Zoroatrismo. 39 Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Szlachta poloneses vestem longas túnicas em um esforço para parecer mais Orientais Sarmatismo As genealogias funcionam de maneira tal que têm uma taxa de sucesso tentacular: a investigação das duas datas chave — 1979 e 1989 — ao fim floresceu em forma de um estranho patrimônio histórico abrangendo quatro séculos, envolvendo dois países e suas singulares buscas por autodeterminação. Em mais um exemplo do progressivo potencial de mascarar a política, a nobreza polonesa do século XVII atribuía uma noção romântica às suas origens, ostentando longos casacos com bordas de pele, levando sempre consigo um sabre (chamado de karabela) e montados a cavalo. Sarmatismo — o estilo de vida, cultura e ideologia da szlachta (nobreza) polonesa – foi inspirada pela crença de que a nobreza polonesa descendia de uma tribo iraniana há muito perdida do Mar Negro. Uma mistura de nativismo, orientalismo e uma tentativa de se distinguir de sua contraparte Ocidental, o Sarmatismo influenciou valores, moda, cultura e a orientação política do Commonwealth, oferecendo um motivo romântico a um império relativamente esclarecido: onde casamentos interreligiosos (entre tártaros muçulmanos poloneses e católicos) eram permitidos e (tártaros poloneses) muçulmanos tinham representação no Sejm (Parlamento). Muçulmanos tártaros poloneses até hoje apresentam um modelo progressivo pouco conhecido de islamismo – com educação mista e salas de oração integradas – dentro das fronteiras da Europa. "#$%&'%()*+*',(-./&(0#12'3#)(4(5*%6*'#7(819(:1#+;&92,(<#2&#=>(?#@%A*1B#ść(:*+*',(C1%;D;,(E#BA1;2>(<=2;=(A;(F=@9=1*(;G(H291#!ę'*( I1;J%K#(A;(L*23=6%*M,(:#@NB%*>(%A;GO I2;B9%A#(3#1P1%#(A#(9#)#(;2Q=;1A#()*1*(*(A%1;%9*M Placa na entrada do Cemitério Dulab em Teerã onde mais de 2.000 poloneses estão enterrados (esquerda) e desenho do soldado Wojtek, o urso iraniano adotado pela 22ª Divisão de Transportes (Abastecimento de Artilharia) do 2º Exército Polonês (direita) Esfahan — Cidade de Crianças Polonesas Durante a II Guerra Mundial, em um dos muitos episódios esquecidos da guerra, mais de 200.000 poloneses de campos na Sibéria e no Cazaquistão se refugiaram e reabilitaram no Irã. A paisagem verdejante e a hospitalidade abundante do Irã pareciam de outro mundo para um povo que viveu os horrores do stalinismo. Tão díspar quanto essa herança 40 comum aos dois povos é a natureza de seus presentes: quando um iraniano que estava passando jogou comida embrulhada em toalhas para os refugiados poloneses exaustos, esses se encolheram e cobriram suas faces, tomandoa por pedras por engano. Amizade entre as Nações A contribuição de “Amizade entre as Nações: Showbiz Polonês Xiita, Slavs and Tatars para a décima Bienal Sharjah, comemora essa herança através de um projeto multiplataforma, ao mesmo tempo uma pesquisa de arquivo e afetiva e um trabalho original. Ao contrário do uso soviético rígido do termo, Amizade entre as Nações redime o gesto performático do presente, de um povo a outro, não apenas para o futuro, mas também vindo do passado. Decorrente de uma tradição pagã que celebrava a colheita anual, o ‘pajak’ (aranha) polonês é, como o mosaico de espelhos, uma arte para a qual Slavs and Tatars se voltou pelo seu potencial revolucionário, como um testemunho da diligência meticulosa e da natureza delicada do compromisso crucial com o precedente polonês da desobediência civil. Durante o outono, um ‘pajak’ era tradicionalmente confeccionado de acordo com o costume local — o uso de junco ou palha mais uma demonstração da natureza efêmera dessas construções — e era pendurado no teto para invocar bons rendimentos nas plantações. Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Slavs and Tatars 79.89.09. de Slavs and Tatars EP13 Esta publicação foi lançada como parte da instalação Eslavos e Tártaros na Eastside Projects, 25 de fevereiro – 16 de abril de 2011. É parte integrante de Again, A Time Machine, uma exposição itinerante comissionada por Book Works, Londres em pareceria com Eastside Projects, Birmingham; The Showroom, Londres; Motto, Berlim; Spike Island, Bristol e White Columns, Nova Iorque Publicado por Book Works e Eastside Projects Distribuído por Book Works Editado por Gavin Everall e Jane Rolo Design de James Langdon Impresso por Sharman and Company Ltd Copyright © Eslavos e Tártaros. Todos os direitos são reservados. Again, A Time Machine é financiada por Bolsas de Arte, Conselho de Arte da Inglaterra e a Fundação Henry Moore. A comissão de Eslavos e Tártaros é generosamente patrocinada pelo Instituto Cultural Polonês em Londres, a Fundação de Patrimônio do Irã e a Fundação Sharjah — Bienal Sharjah outubro de 2011. ISBN 978 1906012 35 9 Book Works 19 Holywell Row, Londres EC2A 4JB www.bookworks.org.uk Tel. +44 (0)207 247 2203 Eastside Projects 86 Heath Mill Lane, Birmingham B9 4AR www.eastsideprojects.org Tel. +44 (0)121 771 1778 A coroa é recolocada na águia como era a bandeira da Polônia précomunista A Águia Recebe sua Tradição de Volta A coroa é recolocada na águia e a PPL se torna a República da Polônia. “Minha obsessão tem sido a de que deveríamos fazer uma revolução que não pareça com a Francesa ou a Russa, mas mais com a Americana, no sentido de que seja por alguma 42 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) 79.89.09. é um projeto multiplataforma que reimagina uma solidariedade iraniana e polonesa, construída com partes iguais através de pesquisa de arquivo e trabalho original, incluindo uma contribuição para dois números consecutivos de 032c, uma edição impressa, Resista em Resistir a Deus, e uma palestra de mesmo nome apresentada na Galeria Triunfo de Moscou, Motto/Corner College de Zurique, Academia Rietveld de Amsterdam, como parte de uma palestra de abertura do Studium Generale, o MoMA da Varsóvia, a série de palestras Construtivas na Fundação Universidade Bruce High Quality em NY, nas Embaixadas Nórdicas de Berlim como parte do Correct Me If I’m Critical, Space Studios em Londres, e a Bienal Belleville em Paris. Este jornal é especialmente produzido para Again, A Time Machine no Eastside Projects, junto com Somente Solidar iedade e Paciência Garantirão nossa Vitória, um projeto de mural, e Dear 1979, Please Meet 1989, uma instalação de leitos de rios e um arquivo de livros iranianos e poloneses. Créditos fotográficos: Abbas/Magnum, Richard Avedon, Kaveh Golestan, Wojciech Kryński, Krzysztof Miller/ YJ-9#U+"=+W-;+8"&;+9)71+V"Q+,<'V7<)Z[+,;+"+9*"=+W-;+ Wyborcza. Book Works tentou rastrear todos os donos dos direitos, mas nem sempre foi possível. Pedimos desculpas por qualquer omissão e, caso notificada, ela será reparada em qualquer das edições futuras. Eslavos e Tártaros gostaria de agradecer: Jörg Koch (032c, Berlim), Anna Dyulgerova, Ruth Addison (Galeria Triunfo, Moscou), Beatrice Gross, Fundação Universidade Bruce High Quality, Adnan Yildiz, Embaixadas Nórdicas (Berlim), Aléxis Zavialoff (Motto, Zurique), Agnieszka Kurant, Gabriëlle Schleijpen (Academia Rietveld/DAI), Suzanne Cotter, da equipe da Bienal Sharjah, Sebastian Cichocki (Muzeum Sztuki Nowoczesnej, Warszawa), Danil Perushev e Askar Ramazanov (Theory and Practice, Moscou), Joanna Warsza (Fundação Laura Palmer), Ive Stevenheydens e Andrea Cinel (Argos, Bruxelas), Paul Pieroni (Space, Londres), Ryszard Antolak, Agata Jastrząbek, Padre Andrzej Kolodziejczyk (La Chapelle du Bas Belleville, Paris), Padre Marian Wojciechowski (Igreja Dominicana, Bruxelas), Joanna Lopat, Vincent de Jong, Hediyeh Tehrani, Seifollah Samadian, Patrycja Kwas (Gazeta Wyborcza), Robert Soltyk, Agata Araszkiewicz, Roxana Fazeli, Bahman Kiarostami, Sylwia Szymaniak, Rita e Marc Janssen, Amir Shariat, Maryam Alaghband, Fundação Patrimônio Irã, Bahman Moshar, Gohar Homayounpour, Mehdi Safavi, Maria Baibakova, Wim Waelput, Hamid Dabashi, Peter Chelkowski, Lynn Gumpert, Shiva Balaghi, Pablo Helguera e da equipe da Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul. Onde está meu voto? Vida longa a Moussavi! Morte ao regime que engana o seu povo coisa. Uma revolução por uma constituição, não por um paraíso. Uma revolução antiutópica. Porque utopias levam a guilhotina e a campos de concentração” – Adam Michnik em uma entrevista com Roger Cohen, The New York Times. 43 Slavs and Tatars 79.89.09. (Eslavos e Tártaros) Corpo de AutoAdministração (de Amizade entre as Nações: Showbiz Polonês Xiita), serigrafia, costura, 2011 Levou 30 Anos, 30 Meses, 30 Semanas, 30 Dias … Na virada do ano, no início de 2011, os acontecimentos em todo o Oriente Médio lembraram os mais endurecidos de 1989, os de coração mais mole e de fala mais macia, de 1848. Enquanto regimes autocráticos da Argélia a Bahrein tremem, os precedentes bem sucedidos da Tunísia e em particular o 44 Egito foram impossivelmente adotados pela mais estranha lista de candidatos (dos Estados Unidos da América à República Islâmica do Irã) numa demonstração de que o sucesso tem muitos pais (mesmo que em briga), mas o fracasso tem apenas um órfão.
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