boletimde notícias - Núcleo Psicanalítico de Aracaju
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boletimde notícias - Núcleo Psicanalítico de Aracaju
NÚCLEO PSICANALÍTICO DE ARACAJU - NPA PATROCINADO PELA SOCIEDADE PSICANALÍTICA DO RECIFE - SPR FILIADO À FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE PSICANÁLISE - FEBRAPSI INTERNATIONAL PSYCHOANALYTICAL ASSOCIATION - IPA (FUNDADA SIGMUND FREUD 1910) BOLETIM DE NOTÍCIAS POR EM Av. Anísio Azevedo, 675/1103 - 49020-240 - Aracaju/SE/Brasil - Telefax: (79) 3246-5729 - www.npsaju.org.br - [email protected] Ano 09 - Número 21 - agosto de 2010 PATROCÍNIO: Real Classic Hotel 09 a 11 de Setembro de 2010 2 Carta do Presidente Abrimos esta nova edição do nosso Boletim de Notícias lembrando a grande satisfação que tivemos pela realização, em parceria entre o NPA e o Istituto Psicoanalitico di Formazione e Ricerca “Armando Ferrari”, de mais um Congresso Internacional sobre o Corpo em Psicanálise, desta vez em Roma, Itália. Grande honra também para mim, enquanto Presidente do NPA, por ter realizado a abertura do evento, a convite da Presidente do Instituto italiano, Dra. Fausta Romano, e juntamente com a representante da embaixada brasileira. O Congresso, ocorrido nos dias 21, 22 e 23 de maio passado, teve como titulo “Dos Fenômenos de Conversão à Função Organizadora da Corporeidade”, com a participação dos colegas Márcia Câmara (RJ), Ana Vanucchi (SP), Y. Soussumi (SP), Thereza França (SP), Claudio Rossi (SP), Stela Santana (SE), Angélica Hermínia (SE), Zalda Goulart (SE), Vanda Pimenta (SE), Adalberto Goulart (SE), Liliane Abensour (Paris), Paolo Carignani (Londres), Richard Carvalho (Londres), L. Angelucci (Roma), Nicoletta Bonanome (Roma), Pietro Bria (Roma), Rosa Bruni (Roma), Paolo Bucci (Roma), Ana Cantisani (Perugia), Emanuela Carrera (Roma), Fiorella Cerami (Roma), Antonio Ciocca (Roma), Alessandra Ginzburg (Roma), Isabella Ghigi (Roma), Anna La Mesa (Roma), Ângelo Macchia (Roma), Paolo Marmo (Roma), Chiara Mastroianni (Roma), Giovanni Milani (Roma), Maria Nacci (Brindisi), Jacopo Olivotto (Firenzi), Claudio Paluzzi (Roma), Alberto Panza (Roma), Daniela Radano (Roma), Fausta Romano (Roma), Carmine Saccu (Roma), Margherita Lobb (Roma), Vittoria Sarno (Roma) e S. Trapani (Firenzi), como nos relata em detalhes a Dra. Stela Santana no interior desta edição. O próximo Congresso sobre o Corpo em Psicanálise será realizado em 2012, em São Paulo. Nesta Carta é necessário ainda alongar-me um pouco mais para falar dos 100 anos de nossa IPA. A International Psychoanalytical Association foi fundada por Sigmund Freud em 1910, para congregar e supervisionar as diversas Sociedades e Institutos de Psicanálise que começavam a se espalhar pelo mundo, preocupado com os destinos da jovem ciência por ele iniciada. Desde então, vários nomes importantes assumiram a presidência, como Carl Jung, Karl Abraham, Sandor Firenczi, Ernest Jones, Max Eitingon, Heinz Hartmann, Leo Rangell, Serge Lebovici, Robert Wallerstein, Joseph Sandler, Horacio Etchegoyen, Otto Kernberg, Daniel Widlocher, Claudio Eizirik (o primeiro brasileiro a assumir a presidência da IPA), dentre tantos outros. Atualmente a Internacional é presidida por Charles Hanly, de Toronto, Canadá. Hoje a IPA está presente com suas Sociedades e Institutos de Formação Psicanalítica nos vários países da Europa, América do Norte, América Latina, Ásia e Oceania, com dezenas de milhares de membros espalhados pelo mundo, contribuindo de maneira vigorosa para transformar o pensamento e a cultura dos séculos XX e XXI. Como única instituição em Sergipe com seus membros filiados à IPA, o Núcleo Psicanalítico de Aracaju, patrocinado pela Sociedade Psicanalítica do Recife e filiado a Federação Brasileira de Psicanálise (FEBRAPSI), neste ano em que se comemora os 100 anos de fundação de nossa Associação Internacional, estará realizando uma Jornada científica bastante especial, articulando interfaces com outras disciplinas do saber, como a medicina, as neurociências, a educação, a sociologia e a antropologia, a música, a literatura, o folclore e, claro, a própria clínica, nossa razão maior. Contando com o fundamental apoio da FEBRAPSI receberemos colegas de Porto Alegre, São Paulo, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Natal, Recife, Aracaju, além de conceituados profissionais das várias outras áreas participantes. E você, interessado na ciência e na cultura do nosso tempo, é nosso convidado especial e já pode fazer sua inscrição na sede do NPA. Então boa leitura, um grande abraço e até lá! Adalberto Goulart Presidente do NPA 3 O SER HUMANO Petruska Menezes* Naquele momento sublime, diante do suor e do esforço, depois de nove meses, nasce um pequeno ser tão magnífico e indefeso. A mãe, sorrindo e chorando, beija seu pequeno herdeiro e sucessor que se acalma e se aconchega em seu colo. Nasce assim, mais um ser humano que irá crescer, caminhar, trabalhar. Irá viver, rir, chorar, amar, fazer amigos, namorar, casar (talvez) e construir seu futuro e seu mundo. Nosso mundo. Mas o que é Ser Humano? Ser Humano é trazer vários mundos consigo. O que nos faz humanos é tudo aquilo que pensamos, sentimos, criamos, construímos, aprendemos e trazemos de conhecimentos, hábitos e costumes atuais e os de nossos antepassados. Desde que nascemos até o último dia de nossas vidas, tudo o que fazemos, nos faz humanos. Como diriam nossos professores da infância: “Humano é tudo aquilo, na natureza, que sofre a interferência do homem”. Assim, posso dizer que toda expressão artística, enquanto produção, é humana, bem ou mal aceita pelos críticos. A pintura, a escultura, a literatura, a música, enfim todas as artes são expressões daquilo que alguém vivenciou, sentiu e reproduziu através da sua forma de ver e expressarse, pois a arte expressa o seu criador. Como diz Wolfgang Amadeus Mozart: “Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor.” A partir daquilo que vai sendo criado e construído, o tempo faz-se presente e gera uma linha histórica que traz em sua trajetória a possibilidade de olhar, apreender e recriar. Ninguém nasce sem um contexto. Desde pequenos, nossos pais, nossos professores e todos que encontramos, em algum momento de nossa existência, nos constroem através do olhar, daquilo que são e transmitem. Olhamos para o que nos cerca, refletimos a respeito, selecionamos o que nos parece necessário e, apreendendo, passamos a olhar para dentro, reconstruindo o nosso mundo a partir daquilo que vivenciamos ao nosso redor. Juntamos a isso nossos sentimentos ou sensações, coisas que nascem conosco e, dessas informações internas e externas, construímo-nos e ao nosso mundo. Nosso mundo, porque cada um tem seu mundo, formado por dados que vêm de fora, da realidade, da natureza, do meio onde vivemos, acrescido dos dados que criamos por nossas fantasias, emoções, sensações e sentimentos. Um homem se constrói, ao mesmo tempo, interna e externamente. Aí, vivenciado e vivenciando essas construções que nunca terminam, passamos a reproduzir essa mistura daquilo que somos, de volta para o meio em que estamos. E damos a continuidade da cultura através dos nossos olhares, recriandoa e apresentando-a para os novos seres humanos que irão nascer. “A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial liberta- ção.” Fernando Pessoa. A história, a antropologia, o misticismo, as lendas, os mitos, as ciências humanas e biológicas encarregam-se, através de alguma forma de transmissão - a educação - de conduzir todo o conhecimento – popular ou científico – através dos tempos e das pessoas. Observam o todo, que é muito mais que a soma das partes, e reapresenta para a continuação da dinâmica do SER em busca de sua superação. Estudar essa exorável criatura, é estudar tudo o que é nosso, por nós produzido e, o que é expresso pelo corpo, pelo pensamento. Estudar Psicanálise, como as demais ciências, é olhar para a beleza da vida que se apresenta pelas infinitas recriações humanas e que nunca perderão a característica humana, porque é intrínseco ao homem. Assim, falar de ciências é falar das múltiplas faces do ser humano. Todas as ciências, todas as atividades, todas as criações que vêm do homem são humanas e, portanto, nos levam ao mesmo lugar a que saímos: o homem. Olhar nosso mundo, todas as formas de pesquisa e aquisição de conhecimento: a antropologia, a história, a literatura, as artes plásticas, a música, a medicina, a psicologia, a sociologia, a educação, a religião, a psicanálise, dentre tantas outras áreas, são interfaces de um mesmo conhecimento, de um mesmo objeto: o SER HUMANO. Tudo está ligado, tudo começa e termina em seu criador. Tudo nasce da busca por saber “quem eu sou” e, buscando descobrir-se, o homem também descobre o mundo. Pois toda a busca é somente uma, “quem eu sou”. *Candidata pela SPR/NPA. 4 ENTREVISTA DR. LEONARDO FRANCISCHELLI por Vanda Maria de Carvalho Pimenta (Candidata da Sociedade Psicanalítica do Recife e Diretora Científica do Núcleo Psicanalítico de Aracaju) Neste Boletim de Notícias trazemos como entrevistado o Dr. Leonardo Francischelli, presidente da Federação Brasileira de Psicanálise (FEBRAPSI), instituição integradora das Sociedades Brasileiras de Psicanálise filiadas à International Psychoanalytical Association (IPA), fundada por Freud em 1910, portanto comemorando 100 anos de existência. VP - Quais os principais centros produtores de conhecimentos psicanalíticos atualmente no Brasil e no mundo? FRANCISCHELLI – A psicanálise ainda continua crescendo nos centros tradicionais da Europa como França e Inglaterra. No entanto, Itália, Espanha e outros despontam com produções interessantes. Estados Unidos seria outro local com bom nível de trabalhos analíticos. Em nossa América, desponta a Argentina. No Brasil, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre são os lugares tradicionais de produção de textos psicanalíticos. Mas contamos com produções em Recife, Ribeirão Preto e Brasília, além de Pelotas, Campo Grande e dos Grupos de Estudos de Belo Horizonte e Fortaleza. VP - Quais universidades são parceiras da FEBRAPSI na difusão do conhecimento? FRANCISCHELLI – Aqui em Porto Alegre existe uma parceria entre a SBPdePA e a Universidade Ritter dos Reis. Ignoro se existem outras parcerias. Existem, sim, outras modalidades de colaboração como atividades conjuntas, etc. Parceria só a da SBPdePA. Isso até onde vai o meu conhecimento. Vanda Pimenta – Gostaríamos de agradecer antecipadamente sua disponibilidade em nos propor um mergulho no conhecimento da psicanálise através de suas instituições. FRANCISCHELLI – Espero e desejo que seja um mergulho interessante, visto que o conhecimento da psicanálise, ainda que não o tenha, poderia ser comparado ao sabor de uma fruta apaixonante. VP - Como presidente, quais são as metas da FEBRAPSI para difundir a psicanálise no Brasil, neste ano em que comemoramos os 100 anos da IPA? FRANCISCHELLI – Cem anos da IPA representam uma conquista de todos os psicanalistas. No percurso desses 100 anos muita água rolou sob a ponte. Fraturas, deserções, divisões, grupos secretos e renúncias. É uma história com suor e lágrimas. Hoje contamos com uma IPA democrática, forte e atuante em todas as regiões do mundo. A FEBRAPSI sempre pensa e trabalha para difundir a psicanálise no Brasil. Uma psicanálise de qualidade, com a marca da IPA. No aniversário da nossa Associação Internacional estamos promovendo eventos, em homenagem à aniversariante, em todas as nossas Federadas, Grupos de Estudos e Núcleos, distribuídos pelo Brasil. Queremos também, além das merecidas homenagens, apresentar em cada comunidade onde atuamos, a qualidade do profissional formado dentro dos padrões exigidos pela IPA. VP - Qual a posição da FEBRAPSI sobre a regulamentação da profissão de psicanalista? FRANCISCHELLI – A FEBRAPSI, há muitos anos, se debate com a regulamentação da profissão. Sempre temos encontrado muitas dificuldades, uma delas intrínseca ao próprio “ofício” de analista, na medida em que não apresenta um currículo acadêmico como medicina ou psicologia, por exemplo. Por outro lado, a psicanálise apresenta, hoje, desenvolvimentos importantes fora do espaço IPA, o que também acarreta, em si mesmo, obstáculos. Trabalhamos, durante muito tempo, com a ideia de “regulamentação” e “regulação”. Pensamentos ainda vigentes. Participamos, com outras instituições formadoras de analistas, de uma entidade chamada “Articulação”, onde seguimos debatendo qual a melhor maneira de resolvermos esse problema. VP - Como podemos ver a psicanálise no contexto sócio-cultural atual? FRANCISCHELLI – Creio, de forma contundente, que o mundo atual, o contexto sócio-cultural, não poderá prescindir da psicanálise. A solidão da nossa era tecnológica, os vínculos líquidos como sugere Bauman, estão aí para testemunhar a importância da psicanálise no trabalho da subjetividade. VP - Poderia nos contar sua experiência desde o dia em que decidiu ser psicanalista até assumir a presidência da FEBRAPSI? Como foi sua escolha? Teve dúvidas? Que caminhos trilhou? FRANCISCHELLI – As dúvidas surgiram, sim. Mas foi ainda durante o curso de medicina. Naquele momento a hesitação foi muito grande. O vínculo com um professor, o mestre Barufa, assegurou minha permanência na medicina, com a decisão de fazer psiquia- 5 tria, que logo se transformou no desejo de ser psicanalista. Após a formatura, me candidatei em duas residências de psiquiatria, em Porto Alegre. Fui aprovado em uma e reprovado na outra. Contudo, como já vinha olhando para Buenos Aires, tomei a decisão da mudança. Lá fiz psiquiatria e depois a formação na APA (Asociación Psicoanalítica Argentina), onde sou membro titular e permaneço ligado até hoje, como membro no exterior. Permaneci na Argentina 13 anos. Regressei, já com a família, para Porto Alegre, em 1986. Participei como membro fundador da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre, onde fui Presidente e Diretor do Instituto. Antes de ocupar a presidência da FEBRAPSI, pertenci ao Conselho Diretor da mesma, na gestão do Dr. Pedro Gomes, como diretor do Departamento de Publicações e Divulgação. Esse foi o caminho para chegarmos a presidente da nossa FEBRAPSI. psicanálise, por si só, não pode pensar nosso tempo, precisa da sociologia, da antropologia, das neurociências e assim por diante. Porém, não pode abrir mão de sua metapsicologia. VP – Como o senhor vê a psicanálise em interface com outros conhecimentos (educação, saúde, arte, cultura, neurociências, antropologia, música, literatura)? FRANCISCHELLI – Acredito que as interfaces são fundamentais, contudo precisamos preservar a ciência psicanalítica, sempre. A VP – Gostaria de nos dizer mais alguma coisa? FRANCISCHELLI – Sim. Gostaria de felicitar essa iniciativa, pois quanto mais nos comunicamos, melhores serão nossas idéias sobre a psicanálise em geral e a brasileira, em particular. Um forte abraço! VP – Quais as diretrizes que a IPA difunde para as suas sociedades na comemoração dos seus 100 anos? FRANCISCHELLI – As diretrizes são aquelas que falamos antes, ou seja, destacar nossos critérios para formarmos psicanalistas para a sociedade. E ela, a comunidade, precisa de alguma maneira tomar conhecimento desse processo, que implica uma longa análise pessoal, um amplo conhecimento da teoria, uma grande experiência clínica sob supervisão e uma longa convivência institucional. Agora, tudo isso depende de um trabalho da gente para chegarmos até a coletividade onde clinicamos. A FEBRAPSI está nisso. LITERATURA, ARTE E PSICANÁLISE Carlos de Almeida Vieira* ÉDIPO E O ENIGMA ARGUMENTO Quadrúpede na aurora, alto na vida/e com três pés errando em vão/ Território da tarde, é como via/ a eterna esfinge o inconstante irmão, O homem, e com a tarde um homem veio/ que decifrou aterrado no espelho Da monstruosa imagem, o reflexo/ de sua declinação e seu destino Somos Édipo e de eterno modo/ a longa e tripla besta somos, tudo/ O que seremos mais o que já fomos. Aniquilar-nos-ia ver a ingente/ forma de nosso ser; piedosamente/ Deus nos concede sucessão e olvido. O Casamento do Céu e do Inferno. ... Sem Contrários não há progressão. Atração e Repulsão. Razão e Energia, Amor e Ódio são necessários à existência Humana. ... Um pensamento enche a imensidão. Está sempre pronto a dizer o que pensas, e o mesquinho há de evitar-se. Tudo aquilo em que é possível acreditar é uma imagem da verdade. O Outro, o mesmo 4 Visões Memoráveis Jorge Luis Borges, Cia. das Letras, 2009, São Paulo. William Blake, Editora Antígona, novembro de 2006, LisboaPortugal. Nos fragmentos acima, de Jorge Luis Borges e de William Blake, dois poetas canônicos, ainda que nascidos em séculos diversos: Borges no fim do sec. XIX e Blake no Sec. XVII percebemse sua atualidade, inspiração e intuição poéticas apreendendo questões ligadas à nossa realidade psíquica. Borges fez de sua obra uma permanente busca dos mistérios do ser humano, através de seus “labirintos”, “pensamentos oníricos” e uma literatura fantástica, sempre envolvido com o Ser, a Si Mesmo e o Outro; William Blake, um dos poetas ingleses da Liberdade, um Visionário, em seu belo escrito O Casamento do Céu e do Inferno mostra a antinomia que marca sua obra, opondo-se à voz moralista e religiosa da Igreja e do Estado Inglês. Borges, relendo e intuindo poeticamente a tragédia grega e frisando a nossa destinação mítica, “somos Édipo e de um eterno modo a longa tripla e besta que somos, tudo o que seremos mais o que já fomos”. Blake, atualíssimo em sua concepção da realidade psíquica e sensorial, alertando o que Bion (Blake foi um dos seus poetas preferidos além de Milton, Keats, Coleridge, Wordsworth e Shelley) desenvolveu a partir de Freud e Klein: os pares de opostos, a dialética das posições esquizoparanóide e depressiva, a importância da teoria da incerteza e a concomitância das partes neuróticas e psicóticas da personalidade. “Sem Contrários não há progressão”, nos escreve Blake, mostrando que o crescimento e expansão do animal-humano residem em desenvolver a capacidade de pensar. A literatura, a poesia e as artes em geral são, sem sombra de dúvida, um oceano de pesquisa que nós analistas necessitamos para descobrir o que nossos mestres desenvolveram sobre o conhecimento da alma humana, numa linguagem científica. Texto adaptado do original, já publicado na coluna Literatura, Arte e Psicanálise do Boletim da Sociedade de Psicanálise de Brasília. *Membro Efetivo e Analista Didata da Sociedade de Psicanálise de Brasília, da SPR e do NPA. 6 CONGRESSO EM ROMA – RESSONÂNCIAS Drª Stela Santana* O Instituto Psicoanalitico de Formazione e Ricerca “Armando B. Ferrari” e o Núcleo Psicanalítico de Aracaju realizaram com sucesso, em Roma, no período de 21 a 23 de maio, mais um Encontro, desta feita com o tema: DAI FENOMENI DI CONVERSIONE ALLA FUNZIONE ORGANIZZATRICE DELLA CORPOREITÀ. Abertura do Congresso de Roma - Fausta Romano e Adalberto Goulart A recepção calorosa dos anfitriões, Fausta Romano e Paolo Bucci, o clima de cordialidade, permitiram a comunicação e a integração entre os presentes, apesar da diversidade de línguas. A metodologia utilizada possibilitou a ampla participação da platéia e uma rica troca de experiências: - Todos os participantes receberam com antecedência os trabalhos. - Em cada mesa, um dos convidados tecia comentários sobre os temas apresentados, abrindo a discussão sobre os mesmos com uma pergunta para cada relator. - Como se dá o “salto misterioso” do corpo à mente? - O “salto misterioso” da mente ao corpo pode espelhar-se em seu recíproco? - Ilusão, imaginação, alucinação, sonho, podem representar aquele território fronteiriço entre corporeidade e psiquicidade? - De que forma manifesta-se a dimensão corpórea em relação à psíquica na relação médico-paciente? - Considerando-se o indivíduo um conjunto inseparável de corporeidade e psiquicidade, como identificar uma área de encontro entre a medicina e a psicanálise? Para discutir essas questões o evento presidido pela Dra. Fausta Romano reuniu psicanalistas, psicólogos e médicos de várias especialidades e diversos países: Itália, Brasil, França, Inglaterra. Membros do Núcleo Psicanalítico de Aracaju e colegas médicos participaram como relatores e debatedores: • Dr. Adalberto Goulart (SPR/NPA) apresentou o trabalho: Poena – Considerações Sobre a Dor. • Dra. Stela Santana (SPR/NPA): Do Corpo à Mente - A Difícil Travessia de uma Adolescente. • Dra. Angélica Hermínia, médica homeopata: A Função Organizadora da Doença. • Dra. Zalda Goulart, médica acupunturista e anestesista: Acupuntura e Dor. Esteve presente ainda, participando das discussões, a colega Vanda Pimenta (SPR/NPA). Psicanalistas brasileiros de outros estados também apresentaram trabalhos: • Márcia Câmara (SPRJ): A Interação Corpo-mente na Psicanálise. Em Busca de Novos Pensares. • Ana Maria Vanucchi (SBPSP): De Volpinas e Gradiscaz. • Maria Thereza França (SBPSP): Resgatando Stella. A partir dos casos clínicos apresentados várias questões foram levantadas e discutidas. Na mesa de adolescência os relatos evidenciaram o acting comum nesta fase da vida. O acting pode ser considerado um fenômeno típico da adolescência? Seria o acting uma forma de comunicação, um pedido de co-divisão? Quais as conseqüências do ”fazer e o conhecer” sobre as próprias emoções e sobre a experiência em si? Como lidar com o acting no setting? Foram levantadas também muitas questões sobre o tema A Função Organizadora da Doença: Seria a doença uma oportunidade para reorganizar a própria configuração egóica? Qual o grau de autonomia da mente em relação ao corpo? Qual é o efetivo alcance do nosso livre arbítrio? O enfoque transdisciplinar do evento evidenciou, como afirmou Paolo Bucci, a relevância das vicissitudes que permeiam a clínica médica e a psicanalítica, tornando possível novos vértices de observação da relação corpomente. O encontro foi muito proveitoso! Mais que certezas, saímos com muitas dúvidas, o que abre o caminho para o conhecimento. Drª Stela Santana e Drª Angélica Hermínia *Membro Titular da Sociedade Psicanalítica do Recife (SPR), FEBRASPI, FEPAL, IPA. Membro Fundadora e Diretora Administrativa do Núcleo Psicanalítico de Aracaju. 7 Real Classic Hotel - 09 a 11 de Setembro de 2010 DIA 09/09/2010 DIA 11/09/2010 DIA 10/09/2010 Nossa saudade e imensa gratidão ao Dr. Paulo Roberto Sauberman 8 Eventos INFORMAÇÕES: (79) 3246-5729 EMAIL: [email protected] A Brasileira na Cultura Psicanálise e o Poder 25/08, 29/09, 27/10 e 24/11 SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANÁLISE DE PORTO ALEGRE Curso de Psicopatologia e Clínica Psicanalíticas 14/08, 18/09, 16/10, 13/11 e 04/12 GRUPO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS DE FORTALEZA VI Encontro Psicanalítico da Teoria dos Campos Meditações Clínicas: diálogos possíveis 06/08 a 08/08 SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANÁLISE DE SÃO PAULO Roberto Stolorow na SBPRJ 16/08 a 17/08 SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANÁLISE DO RIO DE JANEIRO O Psicanalista e sua Clínica 06/08 a 07/08 NÚCLEO PSICANALÍTICO DE MACEIÓ I Jornada sobre o Pensamento de Winnicott A clínica e a técnica - contribuições de Winnicott 13/08 a 14/08 SOCIEDADE PSICANALÍTICA DO RIO DE JANEIRO III Encontro das Seções Regionais A Psicanálise na Vida Cotidiana 13/08 a 14/08 SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANÁLISE DE SÃO PAULO Conversas com um psicanalista Normalidade e loucura - louco para ser normal 19/08 NÚCLEO PSICANALÍTICO DE CURITIBA Redescobrindo a Psicanálise 100 Anos de IPA 27/08 a 28/08 GRUPO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS DE MINAS GERAIS X Jornada de Psicanálise de Aracaju Encontros na Sala de Análise – Interfaces em Comemoração aos 100 anos da IPA 09 a 11 de setembro NÚCLEO PSICANALÍTICO DE ARACAJU Glen Gabbard em Ribeirão Preto 11/09 SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANÁLISE DE RIBEIRÃO PRETO XXVIII Congresso Latinoamericano de Psicanálise, em Bogotá Transferência, vínculo e alteridade 23/09 a 25/09 FEDERAÇÃO PSICANALÍTICA DA AMÉRICA LATINA A Clínica Atual: 100 Anos da Associação Psicanalítica Internacional 30/09 a 02/10 GRUPO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS DE FORTALEZA I Encontro - Psicanálise: Pensando com Bion - a clínica e a teoria 15/10 a 16/10 SOCIEDADE DE PSICANÁLISE DE BRASÍLIA XV Jornada de Psicanálise e XI Encontro de Psicanálise da Criança A Influência da Psicanálise na Vida Cotidiana: Cem Anos de História 21/10 a 23/10 SOCIEDADE PSICANALÍTICA DO RECIFE I Encontro Brasileiro de Estudos sobre a obra de Sigmund Freud Próxima(s) data(s): 26/11 a 27/11 SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANÁLISE DE PORTO ALEGRE CONSELHO DIRETOR DO NPA Presidente Diretora Administrativa Dr. Adalberto A. Goulart Drª Maria Stela Menezes Santana Diretora Financeira Diretora Científica Drª Márcia Barros de Oliveira Psic. Vanda Maria de Carvalho Pimenta Apoio: Coordenador de Formação Psicanalítica Dr. Carlos de Almeida Vieira
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