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aauma.pt EDIÇÃO FÉRIAS 2009 Ano IV Edição XXXV 03EDITORIAL Nesta Edição Muda de Ice Tea À conversa com ... 04 Paquete de Oliveira Oficina de Texto ... 08 C.C.O. Preparamos a entrada de um novo ano lectivo. Mais do que um simples e corriqueiro arranque de aulas, ele será marcado por importantes mudanças na organização da UMa. Além da alteração dos antigos Sectores, a extinção dos antigos Departamentos e a mudança de instalações da Unidade de Assuntos Académicos, a nossa Instituição enfrenta profundas alterações que visam, acima de tudo, conferir rigor, transparência e qualidade em todos os serviços prestados pela Academia. Ensino Superior ... 11 Nós, Espanhóis? Destaque ... 14 Gala do Desporto AAUMa Apesar destas modificações serem orquestradas pela Reitoria e por alguns órgãos da Universidade, a sua correcta aplicação dependerá de todos nós. Enquanto estudantes, temos um papel fundamental na avaliação destas alterações e, para aferirmos os seus vários aspectos, devemos conhecer os seus instrumentos de aplicação. Desde o novo Regulamento de Avaliação, passando pela nova orgânica dos Centros de Competência, até ao Gabinete de Apoio ao Estudante e aos Colégios da Sociedade do Conhecimento. Actualidade ... 16 Ser Canhoto Nacional ... 18 Scooby-Dooby-Doo Saber os nossos direitos e deveres é obrigação de todos nós, não só na vida universitária, mas como postura enquanto cidadãos conscientes. Na tua Associação encontras um local de informação. Seja pela Internet ou presencialmente, podes contar com a nossa ajuda. Cabe a ti fazer parte desta mudança. Quando Os Grandes Eram Pequenos ... 20 Reitor Especial ... 22 (H)À Diferença Saudações académicas, Luís Eduardo Nicolau Actualidade ... 26 Dia Internacional da Juventude [email protected] FICHA TÉCNICA Direcção Executiva: Direcção de Redacção: Propriedade: Edição: Publicidade: Revisão: Andreia Nascimento - [email protected] Carlos Diogo Pereira - [email protected] Associação Académica da UMa Dep. de Comunicação da AAUMa - [email protected] Dep. de Marketing da AAUMa - [email protected] Associação Académica da UMa PATROCINADORES OFICIAIS Design: Montagem Capa: Impressão: Tiragem Inicial: Distribuição: Versão on-line: APOIOS Duarte Pestana - [email protected] Duarte Pestana 1.000 exemplares Gratuita www.aauma.pt 04À CONVERSA COM 05 José Manuel Paquete dE Oliveira Q uando, pela primeira vez, me falaram na criação de uma universidade na Madeira confesso que reagi com algumas reticências. Formulei, então, uma interrogação, diria agora, puramente economicista: fundar e manter uma universidade neste espaço e com uma população delimitada não comportará encargos que, no presente e no futuro, vão assumir grandes somas, quiçá incomportáveis pela ordem orçamental? Não será mais defensável – pensava eu, dadas as circunstâncias naturais e configuradoras de um território confinado territorialmente e isolado na sua ultra-periferia, criar um fundo de bolsas que potencie aos alunos candidatos ao ensino universitário adquirir essa formação superior nas diversas universitárias do país e do estrangeiro? Passado que foi o tempo desta dúvida, não só em calendário, mas, sobretudo, pela efectiva criação da UMa – Universidade da Madeira - e pelo desempenho que esta unidade universitária vem desenvolvendo, devo reconhecer que não tinha fundamento a minha pergunta. Hoje, pela análise dos argumentos que vou procurar desenvolver neste artigo, vejo que me enganei redondamente e que a existência de uma universidade nesta região tem não só sentido, como se torna uma indispensabilidade. Através de um artigo de Marcelino de Castro, «Sant’Anna Dionísio e a Defesa do Ensino Universitário na Madeira», publicado na «ISLENA», (Janeiro – Junho, 2009, pp.75-97), uma revista que muito prestigia a cultura madeirense, tomei conhecimento que a ideia e o desejo de criar na Região uma universidade eram muito mais antigos e tinham defensores de mérito no campo intelectual. A conferência de Sant’Anna Dionísio, proferida na Casa da Madeira, em Lisboa, em 1960, sob o título «Uma Possível Experiência de Ensino Universitário na Ilha da Madeira» e que no citado artigo de Marcelino de Castro recebe adequado aprofundamento, fundamenta de modo claro e convincente a pertinência da criação de uma universidade na Madeira. Verifico através das fontes citadas que o corpo de professores do Liceu Nacional de Jaime Moniz acalentava muito a ideia de realizar esse projecto. Igualmente constato que, enquanto tardava a concretização dessa ideia, os cursos promovidos na Madeira por universidades continentais serviram não só para acalentar a ideia, como fomentaram condições para essa realidade. Mas é o Despacho conjunto da Secretaria de Estado do Ensino Superior e da Secretaria Regional da Educação, emanado em 1983, e que cria uma comissão «com vista ao estudo da viabilidade de criação e funcionamento» que abre caminho decisivo para a fundação da UMa. O Governo central consolida essa decisão pelo Decreto-Lei n.º 319-A/88, de 13 de Setembro de 1988 e a partir do ano lectivo de 1989/ 90, a Universidade da Madeira germina para a realidade que é hoje. Confesso que sempre estive à distância deste projecto. Condições específicas que têm a ver com o meu trajecto de vida, embora nunca tivesse renunciado à naturalidade de uma terra que muito «amo», segui ao largo de uma quilometragem superior àquela que separa o Arquipélago do Continente o crescer da UMa, uma unidade universitária que, hoje, com esta aproximação pela eleição para o Conselho Geral me surpreende de modo muito positivo. Tive uma anterior aproximação aquando do mandato anterior do actual Reitor, o professor José Manuel Nunes Castanheira e embebi-me mais declaradamente no projecto da UMa quando li o «desenho estratégico» da Universidade da Madeira, quando li o documento «O Desafio de Decidir o Próprio Futuro», escrito pelos professores Nunes Castanheira e Maria Alexandra Freitas Branco, então reitor e vice-reitor. Percebi que a realidade desta universidade madeirense era um projecto a tomar grande consistência e que os desígnios que lhe haviam delineado a Comissão Instaladora, e expressos no documento, «Estratégia e Programação», a perfilar um modelo de universidade fora do modelo convencional das universidades, ganhava consistência. Hoje vejo na UMa, uma universidade efectivamente não convencional, moderna, virada para o futuro e para o mundo, consciente da especificidade inerente a existir numa Ilha. Tem uma pluralidade de cursos empreendidos com certo arrojo para o envolvimento geográfico e social que a cerca. Atraiu um conjunto de professores internacionais notável. Está a ligar-se a redes internacionais importantes, actualmente um indicador valorativo das unidades universitárias. A criação do «Madeira Interactive Tecchnologies Institute», (Madeira – ITI) é um exemplo concreto dessa indispensável internacionalização. Tem um corpo decente, alunos, e funcionários que vestem a «camisola». Obviamente, esta impressão que me leva a apreciar muito positivamente a realidade Universidade da Madeira, não concorre para ignorar os problemas da UMa. O actual panorama universitário português, - talvez fosse correcto dizer de muitos países – é muito complexo. A mundividência a que nos trouxeram os últimos tempos e acontecimentos dos finais do século XX e o dealbar deste XXI coloca a Universidade num contexto muito diverso daquele que a marcou durante muitos anos. Na sua missão, no seu envolvimento social, nas suas responsabilidades para com os povos e os países. As universidades hoje ou são «motores» do crescimento desenvolvimentista das populações e dos países e regiões a que pertencem ou são «entraves». Por outro lado, num mundo timbrado por um economicismo derivado de um combinado duplo, a acumulação de riqueza versus a escassez de meios para outros, tem sido considerado os investimentos financeiros nas «casas do conhecimento e do saber». Cada vez mais convidadas pelos Estados a viver dos seus próprios recursos atrofiam-se em situações difíceis não só para sobreviver como para se desenvolverem. A UMa não foge a essas circunstâncias, agravadas pelo círculo de um território bem delimitado pelo espaço e contingente populacional. Por isso é que julgo: a UMa para consolidar o seu trajecto e navegar no seu futuro precisa de «um casamento indissociável». Precisa de ser «querida», estimada, privilegiada, auxiliada, defendida, pela população do Arquipélago e pelas forças vivas desta região, desde o Governo às instituições intelectuais, mediáticas, sociais, financeiras, que têm o orgulho de querer afirmar no Mundo duas pequenas Ilhas que foram porto obrigatório da navegação por esses mares imensos do globo terrestre. e E R V I L O P TEM IASAÚDE07 PREVENÇÃO Tempo livre é aquele tempo que ocupamos simplesmente por prazer, quando não estamos ocupados com a nossa actividade profissional. É o tempo em que podemos desenvolver um leque diversificado de actividades que não constitui, para o indivíduo, uma obrigação, mas um prazer. É um conjunto de actividades de enriquecimento pessoal e educativo que contribui para a Prevenção. J ean Dumazedier definiu o tempo livre como aquela parcela de tempo liberta do trabalho produtivo, salientando que é basicamente um tempo “social”, propício à criação de novas relações sociais e de novos valores. Pode dizer-se, também, que o tempo livre é a procura do indivíduo da sua satisfação pessoal para além da actividade laboral. É a procura do prazer e do bem-estar, através de ocupações como, por exemplo, tocar um instrumento musical, dançar, jogar, conviver e divertir-se. Com estas actividades, que poderão ser de âmbito formal ou informal, o indivíduo poderá integrar um grupo social, melhorar a saúde, melhorar a sua formação, competir e divertir-se através do lúdico. Todo o indivíduo procura ocupar o seu tempo livre com actividades que vão ao encontro aos seus interesses pessoais, sejam estas desportivas, culturais, lúdicas ou associativas, estando presente como participante ou como espectador, do modo que lhe der mais prazer. Com a chegada do Verão e das férias por gozar, temos mais tempo livre, temos muitos espaços que disponibilizam um leque diversificado de actividades. Por outro lado, a criação, na comunidade, de novos equipamentos e infra-estruturas destinados à cultura, à prática do desporto e ao lazer, faz com que hoje tenhamos instituições recreativas, culturais e desportivas com presença na nossa comunidade, que apresentam um grande número de opções para a ocupação do tempo livre. Independentemente dos interesses, as actividades propostas vão ao encontro das necessidades de cada indivíduo e, actualmente, não são necessários elevados recur- sos financeiros, pois encontramos actividades ao alcance de todos. Estas instituições têm exibido um progresso em termos quantitativos e qualitativos na acessibilidade às actividades e no serviço prestado aos participantes. A utilização do jogo no tempo livre tem vindo a revelar-se de grande importância, pois contribui para o desenvolvimento do comportamento, atitude, conhecimento e capacidades de socialização do indivíduo. No seu conjunto, as acções das mais diversas instituições, que trabalham para garantir às crianças e aos jovens a ocupação do seu tempo livre, contribuem para um crescimento saudável, para o seu desenvolvimento educativo, para aumentar a qualidade da sua qualificação pessoal, para o desenvolvimento das suas competências pessoais e sociais, para o melhoramento da dinâmica de relações no todo da dimensão social e interpessoal do indivíduo ajudando-o na construção da sua personalidade. Todo o trabalho desenvolvido em actividades de tempo livre é um grande contributo para a Prevenção, pois estes vão ao encontro ao que esta pretende atingir. Porquanto prevenir é melhorar a formação integral da pessoa desenvolvendo competências, melhorando a sua relação social e a aquisição de valores que lhe permitam fazer escolhas saudáveis. Páginas de internet: tempos livres. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult.2009-07-09]. Disponível em www.infopedia.pt/$tempos-livres NazaréFreitas – Animadora Educativa e Sociocultural INSTITUTO DE ADMINISTRAÇÃO DA SAÚDE E ASSUNTOS SOCIAIS, IP-RAM Serviço de Prevenção da Toxicodependência [email protected] 08OFICINA DE TEXTO 09 «A cidade estava vazia» As Minhas Aventuras na República Portuguesa Miguel Esteves Cardoso «A cidade estava vazia» As Minhas Aventuras na República Portuguesa Miguel Esteves Cardoso A cidade Abrir para encontrar A cidade estava vazia, assim como a alma dela. Não se via ninguém pelas amplas janelas da sala. Apenas se ouviam, por uma fresta, os uivos de um vento forte, que teimava em arrastar as folhas das árvores e em deixar as pessoas em casa, no calor do lar. Surpreendentemente, alguém bateu à porta de casa. Curiosa, a Matilde espreitou pela janela de onde contemplava a rua e não viu ninguém. Não ficou nada satisfeita, mas acabou por pôr a cabeça fora e ver o vulto do carteiro. Quando chegou lá abaixo, junto à porta da entrada, e a abriu, para seu grande espanto, já não o viu. Apenas encontrou, no chão, uma caixa embrulhada em papel brilhante, onde se lia o nome dela. Descolou o papel com cuidado; cortou o fio que o segurava e abriu de imediato a caixa. Dentro, vinha um pequeníssimo bilhete, que não estava assinado: “Quando é que te volto a ver?”. Havia também um monte de folhas com poemas. RubinaBaptista aluna de Comunicação, Cultura e Organizações Leu os poemas enigmáticos, um a um, saboreando-lhes as palavras. Resolveu analisá-los. Tinham algo em comum. O “amor” e o “tempo” recobriam as restantes palavras, repetindo a temática da saudade amorosa. Tentou descobrir quem é que lhos poderia ter enviado. Só lhe vinha à cabeça uma pessoa, o Luís, mas não fazia sentido. Ele tinha ido para Paris, há anos, alguns meses depois de a conhecer. Tentou lembrar-se de mais alguma coisa, de mais alguém… Só lhe vinham à memória os bons momentos passados com ele e a tristeza da ausência inexplicada. Recordava-se dos passeios pelos parques, das idas ao cinema, das caminhadas pela praia, das conversas no café do costume, sempre à mesma hora. Foi aí que se fez luz. Sorriu. Passou o resto do dia a pensar no que lhe haveria de dizer. Estava próxima a hora do tão esperado café. Quando ia a sair de casa, abriu a porta e, para sua grande surpresa, lá estava ele, mais lindo do que nunca. Olharam-se, por alguns segundos, sem saberem o que dizer. Emocionada, abraçou-o com cuidado e carinho. Não queria que ele voltasse a partir. Quando lhe perguntou: “Por que é que voltaste?”, ele respondeu: “Tive saudades tuas.”. Na rua do café do costume, não havia vivalma. A cidade estava vazia e parecia pertencer-lhes. Só eles contavam um para outro. A cidade estava vazia, mas eles não o sentiam. Tinham-se, finalmente, encontrado. Assemelhava-se a um sonho. A cidade estava vazia. Como era possível que uma grande metrópole como aquela estivesse assim? Parecia tão misteriosa, silenciosa, assustadora. Continuava a deambular pelas ruas para encontrar um mecânico. O carro avariara a alguns metros dali e precisava de voltar para casa, depois de uma noite de trabalho árduo, na fábrica de sapatos da periferia. Tudo estava, inesperadamente, deserto àquela hora. Todos os dias, pessoas apressadas enchiam os passeios das avenidas e das ruelas, andando de um lado para o outro, com barulhos ensurdecedores. A agitação e o “stress” dos transeuntes caracterizavam esta grande capital. Hoje, não havia ninguém. Ao virar da esquina, absorta, ia tropeçando num mendigo deitado no chão. “Cuidado! Não quero morrer hoje.”: gritou ele. Achou-o demasiado agitado. Perguntou-lhe o que se passava. Tinha havido um atentado! A cidade fora ameaçada por uma daquelas organizações terroristas que se haviam propagado. Proliferavam porque havia fanáticos que matavam pessoas inocentes, como se fosse uma banalidade, entrando num ciclo vicioso, difícil de travar. Era esse o mundo que tínhamos, onde vivíamos, que criávamos e que só nos trazia agonia. Medo, receio, nervosismo, terror... a população experimentava, então, uma mistura de sen- timentos que pairavam no ar, atingindo qualquer ser citadino. O pânico era vulgar naquelas bandas, tantas foram as ameaças que roubaram a vida a inúmeras pessoas. Madalena achou inacreditável que ninguém a tivesse alertado. Lembrou-se, então, que, desde que entrara no carro, ficará sem rede no telemóvel. Além disso, tinham-lhe roubado o autorádio, assim que o comprara. Ficou nervosa. Não sabia o que fazer, para onde ir, o que poderia esperar. Sem pensar, pôs-se a caminho de casa, esquecendo, por completo, o carro avariado. O sem-abrigo ergueu-se, imediatamente, e seguiu-a. Abandonado nas ruas da cidade imunda há meses, mal vestido, com barba comprida e idoso, era, claramente, inofensivo. Madalena, sentindo-o atrás de si, abrandou o passo para caminhar a seu lado. Não ficou apreensiva ou com qualquer tipo de receio. Explicou-lhe que voltava para casa, o melhor sítio para se abrigar e que, se ele quisesse, poderia ir com ela. Ainda era um pouco longe, mas, se fossem juntos, o caminho pareceria mais curto. Sentia que precisava de companhia, mesmo que fosse a de um homem sujo e mal cheiroso. No fundo, ela sabia que ele não tinha culpa do seu estado. Por detrás daquele ar preocupado, sobressaía a sua bondade. Chamava-se Joaquim e fora abandonado pelos filhos. Era muito educado. Tinha uma inteligência invulgar, ocultada pela sua figura. Com o passar do tempo, a conversa fluía. Era como se já se conhecessem desde sempre, como se tivessem uma amizade que fora interrompida pelo tempo e a tivessem, agora, recuperado. Apesar de estar a escurecer, ainda não era noite. Finalmente, chegaram a casa de Matilde, tendo caminhado com passo lento e sem ver ninguém. Quando abriu a porta, o pai veio ao seu encontro aflito, mas feliz por a ver. Acalmou-o e apresentou-lhe o companheiro de viagem. Cumprimentaramse os homens e Matilde pôs todos à vontade, dizendo que ia fazer um chá. Aquela havia de ser uma noite diferente. Joaquim sentiu-se bem. Foi acolhido como se fizesse parte da família. Tomou banho e fez a barba. Vestiu roupa limpa que cheirava a terra e mar. Jantou à mesa; fez companhia e viu televisão. Abençoou o atentado. Adormeceu, percebendo que a sua vida iria mudar. Amanhecia lentamente. O receio persistia, mas o mundo não podia parar. Algo mudara e a cidade já não estava vazia. IvoneCastroRamos aluna de Comunicação, Cultura e Organizações 10OFICINA DE TEXTO Nós, Espanhóis? Poema da Tor tura Um poema Tive que declamar. Verso a verso, Como Luís Vaz, Andei a estudar. O Cabo das Tormentas Deixei para trás. Por onde começar, Para o decorar Na métrica e na rima, Lá me encontrei. Um poeta E a esta cadeira Poder passar? Na nota mínima, Há mais de quatro séculos, Agosto foi marcado por Alcácer-Quibir que resultou no domínio espanhol. Fartos de se sentirem roubados e abandonados, os portugueses aclamaram, em 1640, D. João de Bragança como Rei de Portugal e expulsaram a Vice-Rainha espanhola Margarida de Sabóia. Com o Tratado de Lisboa de 1668, Espanha reconhece a soberania de Portugal, findando uma dura guerra ibérica. Hoje, lutaríamos pela independência? Ainda não sei. PauloRobinson aluno de Comunicação, Cultura e Organizações A ideia de uma Ibéria unificada não é actual. As três principais crises de independência levaram ao trono os Avis, os Habsburgo (ou Filipes) e os Bragança. Menos conhecido, contudo, é o facto do infante Miguel da Paz, primogénito de D. Manuel I, ter sido jurado herdeiro de Portugal, Castela e Aragão. Infelizmente, faleceu com apenas dois anos. José Saramago e Cristiano Ronaldo são exemplos conhecidos de portugueses a viver em Espanha. Estes constituem, no entanto, uma ínfima parte da comunidade lusa naquele que é o país de onde não vem bom vento, nem bom casamento. Assim que o vi, soube que havia de o chamar Esperança. Era um cão lindo, grande, possante, cujo olhar doce me apaixonou desde o primeiro instante. Saí do carro ainda incrédula e fui-me aproximando. O Esperança foi começando a abanar a cauda e, cada vez mais rapidamente a cada passo meu. Num ápice arrebita as suas orelhas já cansadas de tão pouco trato, tenta saltar e correr para mim, como se estivesse ficando feliz, como se fosse novamente um cachorro na plenitude da sua jovialidade. SPAD A realidade, no entanto, mostrou-se apenas como um ensaio frustrado porque a corda que o amarrava a um autocarro velho, sujo e pronto para ser “abatido”, não o permitia, não lhe dava essa liberdade. A amargura apossou-se de mim e foi-me consumindo até ao momento em que lhe sussurrei: “Cheguei ao pé de ti, Esperança”. E o seu corpo magro irradiava alegria e a água, que lhe levava numa tigela improvisada, foi bebida com tal vontade e o seu olhar esperançoso dizia-me: “Esquecem-se que também temos fome e sede. Esquecem-se que também temos medo. Esquecem-se que também somos sensíveis à dor. Esquecem-se que também precisamos de companhia. Esquecem-se que também podemos adoecer. Esquecem-se, esquecem-nos e abandonam-nos.” Espanha é dos países com maior fluxo de emigração portuguesa. Segundo a OCDE, só entre 2004 e 2005, o número de portugueses a atravessar a fronteira subiu 50%, totalizando os 12 000. Existe um guia de acesso ao Ensino Superior Espanhol disponível aos estudantes do Ensino Secundário nacional e várias universidades espanholas apostam nesse mercado, em especial para cursos da área da saúde e tecnologias, compensando as barreiras impostas pelo sistema português. A verdadeira riqueza espanhola traduz-se num maior nível de vida dos espanhóis face aos portugueses. Recebe-se mais e paga-se relativamente menos pelos produtos essenciais. O desemprego é, proporcionalmente à população activa, maior em Portugal do que em Espanha. A justificação é apresentada, por vários analistas, como tendo a base na falta de formação da população portuguesa. Há poucos portugueses com formação superior, levando à carência de técnicos especializados em determinadas áreas específicas e, ao enveredar por áreas já saturadas, cada indivíduo contribui, também, para o aumento do desemprego. Por isso, hoje, vamos falar de abandono. Vamos falar de abandono. F Abanudi ona Vamos todos tentar mudar consciências, incutir responsabilização e mostrar afecto por aqueles, todos os animais, que nos contagiam com a sua alegria plena. do ENSINO SUPERIOR 11 Ajude-nos a ajudá-los. Vamos todos dizer não ao abandono. CláudiaPaixão Médica Veterinária da SPAD-Funchal CarlosDiogoPereira Do outro lado da fronteira também há problemas, no entanto, os incentivos para a aposta na formação e na criação do próprio emprego são melhor empregues e de forma mais útil e duradoura. No que toca ao investimento empresarial, antes da crise económica mundial falada actualmente, mais de um milhar de empresas de capital espanhol operava no nosso país, metade delas maioritariamente financiada por Espanha e servindo em diversos sectores. Na factura final, cerca de 10% do PIB português dependia destes investimentos para os quais trabalhavam próximo de 100 mil portugueses. No verso da medalha, cerca de 400 empresas com capital maioritário português estavam registadas em Espanha e possuíam um volume de negócios de 7,2 mil milhões de euros por ano garantindo, 12 mil postos de trabalho, na sua totalidade. Embora Portugal possa ser apetecível em alguns sectores, os espanhóis têm menos razões para se unirem aos portugueses do que estes aos primeiros. Ser espanhol não é má ideia aos olhos de muitos. Para que tal aconteça, por enquanto, é preciso emigrar. PARQUE NATURAL DA MADEIRA 13 CENTRO de INFORMAÇÃO PARQUE NATURAL MADEIRA – CISPNM do SERVIÇO do da O Centro de Informação do Serviço do Parque Natural da Madeira (CISPNM) está situado em São Gonçalo, mais propriamente no Núcleo de Dragoeiros das Neves, tendo entrado em funcionamento em 1996. A área do Centro foi adquirida pelo Governo Regional de modo a assegurar a perenidade de uns notáveis dragoeiros e salvaguardar, para o futuro, este valioso património natural. Não existem registos sobre a origem exacta destes exemplares, mas é possível que se tenham desenvolvido a partir de viveiros ali existentes em tempos idos. De qualquer maneira, é inegável o seu valor científico e paisagístico, constituindo um marco monumental naquele troço de paisagem. O Dragoeiro (Dracaena draco) é uma árvore de crescimento lento, perene, que pode atingir até cerca de 20m, com a copa em forma de umbela. Ocorre naturalmente na Macaronésia e foi, outrora, abundante no Porto Santo, estando presentemente extinto. Na Madeira é raríssimo em estado natural e é muito usado para fins ornamentais. No passado foi muito explorado pela sua seiva avermelhada, o “sangue-de-drago”, que era usada na medicina caseira, em tinturaria e como verniz, muito cotado na Europa para o acabamento de violinos. Em volta destes Dragoeiros foi criado um jardim com vegetação de litoral, que também conta com algumas espécies de Laurissilva e com plantas de altitude, indígenas e endémicas, contando actualmente com cerca de 40 espécies. Este jardim pode ser observado, visitado e desfrutado através de um pequeno circuito pedestre, estando aberto à população em geral. O edifício do Centro resultou da recuperação de um pequeno imóvel degradado existente no local, com o objectivo de funcionar como um CISPNM Caminho da Portada, Sítio das Neves, São Gonçalo 9060 – 245 Funchal Telefone: 291 795155 / 291 794258 Fax: 291 708308 [email protected] www.pnm.pt local de informação ambiental e de dinamização de actividades relacionadas com a conservação da natureza em geral, junto das comunidades escolares e outras instituições. É a partir deste Centro que são realizadas as actividades de educação ambiental do SPNM, ao longo de todo o ano, por técnicos do serviço. Estas actividades constam do Programa de Educação Ambiental do Centro, que se encontra subdividido em quatro principais públicos-alvo (Pré-Escolar; 1.º, 2.º e 3.º Ciclo, Secundário e Menos Jovens), e contemplam, entre outras, palestras, ateliês e visitas às Reservas Naturais e demais Áreas Protegidas geridas pelo Serviço do Parque Natural da Madeira. Todas as actividades a realizar carecem de marcação prévia, pelo que para mais informações devem ser os utilizados os contactos abaixo mencionados. 14 DESTAQUE Gala do Desporto AAUMa No passado dia 11 de Julho, no espaço Molhe, realizou-se a Gala do Desporto, à qual se seguiu a festa de encerramento do ano académico. Na presença de várias personalidades convidadas, os atletas da AAUMa foram homenageados pelas prestações honrosas que tiveram em torneios internos da AAUMa, nos Campeonatos Nacionais Universitários e em competições regionais. 15 16 ACTUALIDADE Ser Canhotodo as Avessas 17 n u M m U Por estranho que pareça, no dia 13 de Agosto celebra-se o Dia Internacional do Canhoto. Um canhoto é um indivíduo que usa, predominantemente, os membros esquerdos para realizar as mais simples tarefas diárias como, por exemplo, escrever ou manusear objectos. Isto deve-se ao facto de ter um maior grau de domínio do lado direito do cérebro. As estatísticas comprovam que cerca de 10% da população mundial é canhota. F oi a instituição Lefthand International que, em 1976, escolheu o dia 13 de Agosto, uma sexta-feira, pretendendo lembrar e salientar as superstições antigas e os obstáculos suportados pelos canhotos, diariamente. Os endereços a ela associados na Internet têm como objectivo a fabricação de objectos para os canhotos, informar e alertar para a necessidade de mudança, adequação e inserção dos canhotos numa sociedade mais justa. O canhotismo foi, outrora, associado à ausência de habilidade, ao desleixo e às crenças e superstições populares que acreditavam ser sinónimo de ligações ou influências satânicas. Noutros idiomas, ser canhoto significa ser sinistro, ir na direcção errada, ter má indole, ser uma pessoa desonesta, um desastre, ser pateta, anormal, enfermo, mau presságio, maldito, funesto, palerma e tolo. “Cruzes-canhoto” e “acordar com o pé esquerdo” são expressões portuguesas que desprezam, por vezes indirectamente ou sem intenção, o canhotismo. O livro sagrado dos judeus, o Talmude, revela que o Diabo é canhoto, baptizando os seus profetas com a mão esquerda. Já os membros direitos são previligiados. Ser destro significa estar direito, certo, ser hábil, ágil, astuto, possuir destreza nos membros do lado direito do corpo. Um indivíduo pode também ser ambidestro, tendo a capacidade de utilizar ambas as mãos. A ambidestria desde a nascença é muito rara mas pode, contudo, ser aprendida. A ambidestria é habitual nas pessoas que na infância foram forçadas a utilizar a direita e que originalmente eram canhotas. 90% da população mundial é destra e apenas 10% é canhota e ambidestra. Devido à discriminação, a percentagem de canhotos, no século XX, era de apenas 3% a nível mundial. Há superstições curiosas em todas as culturas referentes ao uso do lado esquerdo do corpo. Ter comichão na palma da mão esquerda significa a perda de dinheiro. Na Escócia, entrar em casa com o pé esquerdo atrai demónios e a má sorte para o lar. No Irão utilizar a mão esquerda é considerado uma atitude de desonra, deste modo um ladrão era condenado à amputação da mão direita. Na Índia e nos países islâmicos as pessoas estão impedidas de comer com a mão esquerda. A Bíblica Cristã afirma que Deus fez o Mundo com a mão direita e a Inquisição queimava vivas as mulheres canhotas por serem consideradas bruxas e feiticeiras. A discriminação do indivíduo canhoto deflagrou-se não só pelo campo religioso, mas também pelo ensino. Muitos são os testemunhos de castigos severos e maus tratos aplicados a crianças por escreverem com a mão esquerda. Atava-se-lhes o braço esquerdo atrás das costas, obrigando-as a usar a mão direita, satisfazendo as exigências e pressões sociais. É por esta razão, que são poucos os exemplos de canhotismo nas gerações mais antigas. O canhotismo é apenas uma especificidade de um indivíduo que não deve ser corrigida, impingido o uso dos membros do lado direito do corpo ou vice-versa. A tendência natural de um indivíduo não deve ser contrariada. Ser canhoto nunca foi fácil, não só pelos métodos de ensino de outrora, mas também pela inadaptabilidade dos objectos desenhados para destros. Temos como exemplo, tesouras, abre-latas, relógios de pulso, veículos e tantos outros objectos que dificultam, ou tornam quase impossível, a concretização de certas tarefas. A predominância do uso da mão esquerda para a realização de diversas acções, não constitui um defeito ou imperfeição, muito pelo contrário. São várias as personalidades canhotas na História. Marilyn Monroe, Ludwig van Beethoven, Joana d’Arc, Henry Ford, Leonardo da Vinci, Bach, Paul McCartney, Mozart, Goeth, Greta Garbo, Nietzsche, Machado de Assis, Napoleão Bonaparte, Pablo Picasso, Isaac Newton, Luís XVI, provaram que o sucesso não depende de ser ou não canhoto, mas sim dos feitos e obras de cada um. Permanece, ainda, a ideia de que os canhotos são menos inteligentes. Mas as dificuldades dos canhotos devem-se ao facto de estes serem obrigados a adaptarem-se a um meio com recursos materiais para destros. Um estudo feito pela Universidade Nacional Australiana, divulgado pela revista especializada Neuropsychology, comprovou que o cérebro canhoto pensa mais rápido do que o destro, dado os canhotos trabalharem ambos os hemisférios do cérebro com mais destreza e agilidade. Indica-se, assim, que as transferências de informações entre os hemisférios cerebrais são mais rápidas nos canhotos. Há pais que obrigam os filhos a escreverem com a mão direita. Este comportamento pode conduzir a problemas sérios, tanto física como psicologicamente. Na aprendizagem, a escrita tornase-á mais lenta e ilegível, surgindo problemas de expressão e leitura. A postura física, na tentativa de adequar a mão direita ao espírito de canhoto, torna-se cansativa, podendo originar deformações na coluna vertebral. Psicologicamente, poderá afectar a auto-estima de uma criança, aumentando a insegurança. Interferir com a maior habilidade em utilizar um dos membros, é entrar em contradição e em confronto com a organização do cérebro. Outro estudo, desta vez pela Universidade de Oxford e publicado na revista Molecular Psychiatry, divulga que os canhotos são duas vezes mais favoráveis a sobrer de distúrbios do sistema imunológico, doenças psicóticas, esquizofrenia e desiquilíbrios no funcionamento cerebral, visto deterem um hemisfério cerebral direito mais activo do que o esquerdo, sendo essa a área específica das emoções e sentimentos. O canhotismo não é doença nem obra de demónios. Trata-se de mais uma das adaptações do ser humano, neste caso, ao nível neurológico. Os nossos avós benziam-se, por incompreensão, perante o uso do lado esquerdo do corpo. Mas antes deles muitos houve que, com a mão direita, conseguiram maravilhas. FernandaCastro Scobby-Dooby-Doo 18NACIONAL Os desenhos animados fazem parte da nossa vida. Ao contrário de nós, a maior parte das personagens de animação nunca cresce, tal como o Peter Pan, mantendo as nossas recordações e ajudando os nossos filhos, como o fizeram connosco. A representação gráfica teve início na préhistória, quando os povos primitivos registavam as cenas do seu quotidiano. Mais tarde e com diferentes civilizações, essas representações passaram a tomar outras formas de registo (como relevos esculpidos). O desenho, no entanto, continuou e chegou das mais diversas formas e em diferentes suportes aos nossos dias. Os irmãos Lumiére, no século XIX, baseando-se nos mecanismos das câmaras escuras e nas máquinas fotográficas de então, instituíram o registo animado através da captação sequencial do movimento. Os desenhos animados, como os conhecemos hoje em dia, surgiram no início do século XX, com o artista francês Emile Cohl. A sua primeira animação, Fantasmagorie, de carácter mudo, sem cor e com uma duração de aproximadamente 2 minutos, não era atractiva ao público infantil, sendo direccionada para adultos e tendo como propósito descrever situações caricatas da sociedade da época. Com a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos desenvolveram-se enormemente, dominando a indústria e o comércio mundial. Nesta altura, Hollywood, em Los Angeles, começou a crescer como indústria dos sonhos e, de lá, saíam dezenas de filmes mudos que, acompanhados ao piano ou orquestra, enchiam os teatros de todo o mundo. No fim dos loucos anos 20, o mundo do cinema liberta-se da era muda e, rapidamente, os talkies ou filmes sonoros, ganham fama. Novas estrelas emergiram, levando ao esquecimento muitas vedetas do cinema mudo, conforme foi retratado, já em 1952, no musical Serenata à Chuva. Com o cenário cinematográfico propício, a animação desenvolve-se e populariza-se por todas as faixas etárias na década de 30, marcada por uma profunda recessão económica e pelo começo da Segunda Grande Guerra. Embora Mickey tenha nascido em 1929, com a curta-metragem sonora Steamboat Willie, Walt Disney só se tornou um mito em 1937, ao lançar Branca de Neve e os Sete Anões, a primeira longa-metragem de animação à qual foi atribuído um Óscar de honra acompanhado de 7 pequenos Óscares. No pós-guerra, a animação sofreu uma recessão, sendo Walt Disney um dos empresários mais atingidos. A sua salvação surge em 1950, não com uma princesa tornada criada, mas com uma criada tornada princesa. Cinderella, um velho conto europeu, personificava o sentimento de um mundo farto dos horrores da guerra. O cinema português teve o seu auge na década de 40, mas as animações só começaram a difundir-se em grande escala após o regime salazarista. Poucas casas tinham televisor e a projecção de filmes em áreas comuns era rara em muitas povoações. Desta forma, optava-se por filmes destinados a várias faixas etárias. A animação portuguesa limitavase a reclames televisivos ou para indicar o recolher das crianças, sempre a preto e branco. A animação e o espaço infanto-juvenil só tiveram lugar definitivo a partir de 1974, sendo um dos seus maiores impulsionadores Vasco Granja. Começou por apresentar, no seu espaço televisivo Cinema de Animação, curtas-metragens oriundas da Europa de Leste, mas para sempre será recordado como o pai português da Pantera Cor-de-Rosa, personagem anglo-americana. A infância dos anos 70 e 80 foi, de certo modo, a mais beneficiada pela difusão dos desenhos animados em Portugal. Cores, efeitos fantásticos, sons que ficaram na memória, faziam muitas séries estrangeiras com versões portuguesas ou com sotaque brasileiro. Para sempre ficará a voz que dizia “versão brasileira: Herbert Richards”. Marco, Ana dos Cabelos Ruivos, Abelha Maia, Panda Tao Tao, Estrunfes, a pequena feiticeira Bia, o boi Bocas, os Flintstones, os Jetson, o Vitinho, os Caça-fantasmas, o He-Man e a She-Ra, o Ursinho Puff, os Ursinhos Carinhosos, os Pequenos Póneis, e muitos outros são os nomes que recordamos ainda hoje. Outras personagens emergiram de romances infantis, tais como Heide, Hucklberry Finn, Tom Sawyer, Willy Fog e Capitão Nemo, partilhando as atenções com a própria Rua Sésamo, que apenas, em parte, era em animação. Os anos 90 recordam o D’Artacão, mas essas crianças talvez desconheçam que, antes dele, houve um D’Artagnan em série de animação. Tratavase de uma série de animação japonesa, em que D’Artagnan tinha uma grande poupa, a sua amada chamava-se Constance (seguindo a obra original de Alexandre Dumas) e o galante Aramis era, na verdade, uma mulher. Os Cavaleiros do Zodíaco, Power Rangers, Dragon Ball e outros conotaram os anos 90 com a animação de acção, que se havia iniciado com os Transformers e as Tartarugas Ninja, ainda na década de 80. A aprendizagem natural das crianças leva-as à imitação das suas referências. Se o herói de uma criança é a Abelha Maia tal não causa grande transtorno aos pais, o mesmo pode não acontecer no caso de Son Goku, por exemplo. Já à entrada do século XXI, vários especialistas juntaram-se a pais de todo o mundo para acusar a violência e a fraca pedagogia nos desenhos animados actuais. Como resultado, através de canais televisivos infantis e de colecções especiais, muitas personagens mais antigas ressuscitaram. O novo século contrariou os velhos contos infantis e a animação por computador deu vida aos antiheróis, de que é melhor exemplo o ogre Shrek. As princesas passam a meninas fúteis, os príncipes mostram-se homens de nula virilidade e os monstros passam a ser “fixes” e vítimas de estereótipos medievais. Os desenhos animados são das recordações mais marcantes da nossa infância. Se ainda cantamos e dizemos as suas falas isso só prova que há, realmente, uma criança dentro de nós. “That’s all folks!” CarlosDiogoPereira 19 20 21 Quando os eir h n a t Cas l e u an Costa M é s da Jo a GRANDES Record ações O lhando para o passado e à medida que os anos vão passando, parece-me cada vez mais, que a memória mais antiga é de Namacunde, na fronteira de Angola com a Namíbia. Brincava no quintal, se bem me lembro, com terra, água e alguns pimentos a que os angolanos chamam gindungo. A memória é de uma dor terrível nos olhos, a que devo ter levado as mãos - a minha mãe não devia estar por perto! Não sei bem que idade teria, mas menos de quatro anos, pois o meu irmão ainda não tinha nascido. Terá sido em 1960? Tudo desses tempos é nebuloso, gigantesco e livre. As brincadeiras no Cuito Cuanavale, com o Jorge e a Helena, quando o tempo não contava e não havia movimento de automóveis na estrada, onde estávamos horas até à chegada brusca e vermelha da noite. O meu primeiro dia de escola na Caála, onde aprendi a jogar à bola, a andar de bicicleta e parti, pela segunda vez, a cabeça. A visita à missão protestante onde o Dr. Parsons me tirou as amígdalas e recomendou aos meus pais que comesse muitos gelados. Aconteceu no Lépi, onde o meu avô materno falecera em 1941. A passagem pelo Lubango, que me pareceu enorme, onde fiz a segunda classe e fiquei a saber que era desafinado - um sábado de manhã cantávamos o hino, uma professora aproximou-se, ouviu-me com atenção no meio daquelas vozes todas e, depois, levou o indicador direito à boca, no sinal tradicional de mandar calar. A passagem pelo Luau na fronteira com o Zaire, onde fiz a terceira classe. As visitas a Dilolo, do outro lado da fronteira, quando o cobre do Katanga passava de comboio a caminho do Lobito e do mar. Fronteira que se fechava logo de seguida: o meu primeiro contacto com a realpolitik. A vinda para a “metrópole” (Queluz), onde fiz a quarta classe, foi no paquete Príncipe Perfeito, com escala no Funchal. Chegámos cá num dia de temporal. A estranheza dos meus primeiros dois anos de Portugal e Europa. Tanta gente e coisa antiga. Tudo tão apertado e pequeno. O regresso a Luanda, outra vez no Príncipe Perfeito. Dessa vez desembarcámos no Funchal e uns amigos dos meus pais mostraram-nos a cidade. Luanda, onde atingi a adolescência e acabei o Liceu, no Salvador Correia. Era uma cidade grande e calorosa. Ideal para o trio que então formava com o Albuquerque e o Necas, os meus melhores amigos desses tempos. Da liberdade de então, retenho as farras dos sábados, a praia, os passeios à vela até ao Mussulo e a descoberta da música - os blues, de que ainda tanto gosto, e abertura Hébridas de Mendelssohn, que o meu pai trouxera de Windhoek e que me ligou para sempre à música clássica. S O N E U PEQ eram O regresso, aos 16 anos, a Menongue, onde uma vez, em pequeno, caí de triciclo por umas escadas abaixo. Umas escadas que então revi e que eram bem mais pequenas do que pensava. O 25 de Abril, de que soube numa aula de Física do meu 7.º ano, e o que significou para toda a minha geração que então se separou e que, na sua grande maioria, nunca mais voltei a ver. A minha primeira viagem de comboio a Montpellier, com o Necas, hoje professor na Beira Interior e padrinho da minha filha, no verão quente de 1975, no “especial emigrantes”, que andava a passo de caracol. A guardia civil (eram os tempos do Generalíssimo) que entrava para patrulhar e os protestos por termos de pagar o suplemento de velocidade para andarmos a 30 à hora. Desses tempos retenho a tolerância do meu pai e a constatação de que há, por esse mundo fora, muitas formas diferentes de viver, condicionadas pela tradição e pelo ambiente, que é necessário entender e aceitar, por muito estranhas que nos possam parecer. Mas retenho também a necessidade de compreendermos que o mundo evolui e que devemos estar preparados para as mudanças que ele nos vai impondo. E que pode ser inútil e perigoso resistir a essas mudanças, quando elas são inexoráveis. Foram tempos diferentes dos que hoje vivo. Mas acredito que desses tempos, e dos que vivi depois, retirei algumas das lições fundamentais que hoje norteiam a minha vida. Com elas e por causa delas, hoje poderia viver em qualquer lado, tantas foram as mudanças de terra e casa desses tempos. Nas conversas com os meus amigos, de Montpellier, de Braga, de Aberdeen, do Funchal e de outras paragens, sinto, por vezes, a nostalgia de não ter um canto de infância ao qual regressar. Mas, não sei se pelo clima, se pelas gentes, se pela forma de estar e viver, o Funchal tem algo disso. Talvez esse seja o principal motivo porque me sinto aqui tão bem. Talvez por isso aqui me tenha fixado, depois de trinta e cinco anos de andanças. 22ESPECIAL 22 Nesta edição de Agosto, a rubrica Especial publica um dos trabalhos da autoria de um estudante do 3.ºAno do primeiro ciclo de estudos em Enfermagem. Trata-se de uma reflexão crítica pessoal que provém da vivência proporcionada no âmbito da sua formação e com a qual muito se pode aprender. O princípio da convivência humana baseia-se no pressuposto que todos somos iguais. É com este aspecto, que convivemos todos os dias conversamos com os nossos amigos, familiares, colegas e outras pessoas. Mas quando alguém não age de acordo com os pressupostos estabelecidos pela sociedade é logo rotulado, marginalizado, estigmatizado, posto de parte. Mas será que pessoas que nascem diferentes não têm o direito de viver com as mesmas oportunidades de qualquer um de nós? A diferença é o que nos torna únicos, que nos identifica como aquela pessoa numa multidão, que nos torna enfermeiros, que nos torna bombeiros, que nos torna criativos, que nos torna sonhadores. Tudo o que nós temos hoje foi graças à diferença, à capacidade de alguém lutar contra a comodidade, à capacidade de alguém aceitar a sua diferença, e usá-la para criar, para se afirmar. Caminhamos no sentido de proporcionar as mesmas oportunidades a todos, mas parte da sociedade ainda diz, este é isto ou é aquilo, descriminando ou denegrindo quem ousa pensar e quem ousa questionar! Será que quem tem ideias “malucas” é um “maluco” ou apenas vê o mundo de uma outra forma? Muitos malucos do passado são grandes pensadores do presente, eis o exemplo de Galileu, que no passado era considerado um blasfemo, um maluco, hoje um dos grandes impulsionadores da astronomia, isto querendo mostrar que quem pensa de maneira diferente, quem é considerado “maluco” hoje, amanhã pode ser considerado um Génio. Mas até que ponto a sociedade está pronta para aceitar esta diferença, está pronta para enfrentar as grandes mudanças que se avizinham, está pronta para evoluir estruturalmente, mentalmente e emocionalmente, de forma a aceitar a diferença questionando sabiamente cada ideia, cada aspecto, mas não julgando nem marginalizando? Todos nós somos diferentes, únicos, e sem essa diferença não conseguiríamos viver, pois é necessário haver um homem e uma mulher para nascer outra geração, é necessário haver um mais inteligente e um mais forte, um para pensar e outro para fazer, um mais paciente, um mais intempestivo, um mais audacioso, um mais cauteloso, porque é aos pares que o mundo foi feito e é de diferenças que o mundo se torna perfeito. De que serve um professor sem alunos? A diferença ensina, temos é que estar dispostos a aprender! Aprendemos com a diferença mas depressa esquecemos da sua importância, depressa a vemos como algo a pôr de parte, porque a sociedade em que estamos, é uma sociedade virada para o sucesso da pessoa. Aquela pessoa é bem sucedida, quero ser como ele, quero ser igual a ela. Só que se esquecem que ela tornou-se assim por ser diferente, por pensar de forma diferente, e citando Edison “Se caminhas por onde os outros caminharam só chegas onde os outros chegaram”. Isto para dizer que a diferença não é algo mau, que deve ser banida, mas sim algo em que devemos investir as energias. E sendo uma profissão de pessoas para pessoas, os enfermeiros, devem ser os primeiros a aceitar a diferença e a ajudar os outros a compreendê-la e aceitá-la como parte integrante da vida. A diferença faz parte do dia-a-dia do enfermeiro quer a nível de equipa, quer a nível de prestação de cuidados, e este deve ser um promotor da aceitação da mesma. Mas o enfermeiro enquanto pessoa está inserido numa comunidade, comunidade essa que faz pressão para aceitar os que se enquadram, os que são iguais e descartar todos os que são diferentes. É neste contexto que o enfermeiro exerce a sua profissão e fica sujeito a essas pressões externas. Mas será que o enfermeiro não pode fazer a diferença ao promover a aceitação da mesma? Apesar de sermos todos iguais como espécie, somos únicos como pessoa e devemos expressar a nossa individualidade como um tesouro que acabamos de descobrir. FlávioCristianoGama 24CARTOON FOI DITO25 O que vais fazer nas férias? Susana Vieira, Educação Básica Ir à praia e dedicar-me à leitura. Isabel Freitas, Enfermagem Aproveitar os tempos livres, ir à praia, arraiais, sair com os amigos. Aproveitar! Luísa Abreu, Bioquímica Ir para à praia, relaxar e ler um bom livro. Aproveitar para descansar e ir à praia. Abel Martins, Bioquímica Espairecer, fazer praia, passear um bocadinho e estudar pois tenho uma época de exames especiais. Ruben Luís, Economia Muita praia, viajar e diversão ao máximo. Agostinho Pereira, Funcionário da UMa Hélder Rodrigues, Ed. Física e Desporto Descansar, passear e praia. Vou trabalhar para pagar as propinas. Sérgio Gomes, Ciências da Cultura Trabalhar e trabalhar, férias só no fim do ano (Dezembro). Andreina da Silva, Design Treinar os programas, tentar arranjar trabalho e tirar um curso de inglês. RafaelaBotta Maria da Luz, Gestão Catarina Mendonça, Design Tentar arranjar um trabalho e aperfeiçoar-me um pouco a nível dos programas do curso e ir à praia. Maurílio Barreto, Gestão Vadiar, sem dúvida. SaraRebolo 26ACTUALIDADE Dia Internacional e d u t n e da Juv O Dia Internacional da Juventude surgiu em 1998 em Portugal, onde decorria a Conferência Mundial de Ministros para a Juventude. Nesta Conferência foi apresentada uma proposta do Fórum Mundial da Juventude do Sistema das Nações Unidas, para proclamar o dia 12 de Agosto como o Dia Internacional da Juventude. U m jovem é entendido como um ser humano imaturo. Para o ser humano esta designação refere-se ao período entre a infância e a fase adulta, podendo ser aplicada a ambos os sexos e havendo variações no período de idade em que ocorre de cultura para cultura. bandas locais. Hoje em dia, grandes marcas associam-se a esse dia, de forma a apoiarem a realização desses eventos, sendo também uma maneira de criar um meio de publicidade. Este grupo de pessoas não tem sido contemplado com a atenção necessária pelos sectores sociais, principalmente os jovens com menos recursos financeiros e sociais, que enfrentam enormes barreiras, nomeadamente do acesso à educação formal e à informação em geral. Nesse dia, a ONU também lembrou que é preciso acabar com os estereótipos que vêem os jovens como delinquentes, usuários de drogas e violentos, sendo esta a razão pela qual foi definida esta efeméride. Os jovens constituem um dos mais importantes recursos humanos para o desenvolvimento e podem ser agentes essenciais de inovação e de mudanças sociais positivas. Neste dia é concedida uma oportunidade para os governos e várias entidades chamarem a atenção para questões da juventude em todo o mundo. Concertos, workshops, eventos culturais e reuniões entre autoridades e organizações juvenis têm lugar por todo o mundo. Em Portugal, são criadas actividades como Dança, Poesia, Gastronomia, Artesanato, Jogos Tradicionais, entre outros, pelo Instituto Português da Juventude como forma de assinalar este dia de uma forma especial, envolvendo jovens e associações juvenis. Para além dos programas e actividades que vão ao encontro das necessidades dos jovens, são realizados grandes festivais de música. São convidados vários artistas de renome, DJ’s e até O objectivo é criar um ambiente de convivência e muita animação entre os jovens. Numa outra vertente, são realizados programas no âmbito do ambiente, saúde e sociedade em geral, que surgem como uma forma de alertar os jovens para estas questões, proporcionando-lhes um futuro melhor. As várias iniciativas realizadas, ou que têm o seu ponto alto, a 12 de Agosto visam inserir a juventude na população activa e torná-la parte integrante e essencial da nossa sociedade. Jovens de todas as partes do mundo preparam-se para uma vida produtiva e útil, nas esferas do trabalho, da sociedade e da família. Para serem bem sucedidos necessitam de ter acesso à educação e aos cuidados de saúde e, por isso, cada vez mais os especialistas estão atentos aos seus problemas e à sua resolução. Em todo o mundo, as autoridades e entidades locais oferecem, neste dia, a entrada nos Museus e outros espaços lúdico-culturais a jovens até 25 anos. Em Lisboa e no Porto, os transportes públicos são gratuitos para que os jovens. A própria AssembleiaGeral das Nações Unidas recomenda a todos os Estados-membros que organizem ou apoiem a realização de actividades de carácter informativo, lúdico, social e/ou cultural, de forma a assinalar e divulgar este Dia. Vivemos numa sociedade determinada por relações sociais, historicamente construídas. Ser jovem é lutar para que o futuro determine o presente. Ser jovem é criar um mundo futuro. MaraRoque