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aauma.pt
EDIÇÃO FÉRIAS 2009
Ano IV Edição XXXV
03EDITORIAL
Nesta
Edição
Muda de Ice Tea
À conversa com ... 04
Paquete de Oliveira
Oficina de Texto ... 08
C.C.O.
Preparamos a entrada de um novo ano lectivo. Mais do que um simples
e corriqueiro arranque de aulas, ele será marcado por importantes mudanças na organização da UMa. Além da alteração dos antigos Sectores,
a extinção dos antigos Departamentos e a mudança de instalações da
Unidade de Assuntos Académicos, a nossa Instituição enfrenta profundas alterações que visam, acima de tudo, conferir rigor, transparência e
qualidade em todos os serviços prestados pela Academia.
Ensino Superior ... 11
Nós, Espanhóis?
Destaque ... 14
Gala do Desporto AAUMa
Apesar destas modificações serem orquestradas pela Reitoria e por alguns órgãos da Universidade, a sua correcta aplicação dependerá de todos nós. Enquanto estudantes, temos um papel fundamental na avaliação destas alterações e, para aferirmos os seus vários aspectos, devemos
conhecer os seus instrumentos de aplicação. Desde o novo Regulamento
de Avaliação, passando pela nova orgânica dos Centros de Competência,
até ao Gabinete de Apoio ao Estudante e aos Colégios da Sociedade do
Conhecimento.
Actualidade ... 16
Ser Canhoto
Nacional ... 18
Scooby-Dooby-Doo
Saber os nossos direitos e deveres é obrigação de todos nós, não só na
vida universitária, mas como postura enquanto cidadãos conscientes. Na
tua Associação encontras um local de informação. Seja pela Internet ou
presencialmente, podes contar com a nossa ajuda. Cabe a ti fazer parte
desta mudança.
Quando Os Grandes
Eram Pequenos ... 20
Reitor
Especial ... 22
(H)À Diferença
Saudações académicas,
Luís Eduardo Nicolau
Actualidade ... 26
Dia Internacional da
Juventude
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Duarte Pestana
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Gratuita
www.aauma.pt
04À CONVERSA COM
05
José Manuel
Paquete dE
Oliveira
Q
uando, pela primeira vez, me falaram na
criação de uma universidade na Madeira
confesso que reagi com algumas reticências. Formulei, então, uma interrogação,
diria agora, puramente economicista: fundar e
manter uma universidade neste espaço e com
uma população delimitada não comportará encargos que, no presente e no futuro, vão assumir
grandes somas, quiçá incomportáveis pela ordem
orçamental? Não será mais defensável – pensava
eu, dadas as circunstâncias naturais e configuradoras de um território confinado territorialmente
e isolado na sua ultra-periferia, criar um fundo de
bolsas que potencie aos alunos candidatos ao ensino universitário adquirir essa formação superior
nas diversas universitárias do país e do estrangeiro?
Passado que foi o tempo desta dúvida, não só em
calendário, mas, sobretudo, pela efectiva criação da UMa – Universidade da Madeira - e pelo
desempenho que esta unidade universitária vem
desenvolvendo, devo reconhecer que não tinha
fundamento a minha pergunta. Hoje, pela análise dos argumentos que vou procurar desenvolver
neste artigo, vejo que me enganei redondamente
e que a existência de uma universidade nesta região tem não só sentido, como se torna uma indispensabilidade.
Através de um artigo de Marcelino de Castro,
«Sant’Anna Dionísio e a Defesa do Ensino Universitário na Madeira», publicado na «ISLENA»,
(Janeiro – Junho, 2009, pp.75-97), uma revista
que muito prestigia a cultura madeirense, tomei
conhecimento que a ideia e o desejo de criar na
Região uma universidade eram muito mais antigos e tinham defensores
de mérito no campo intelectual. A conferência de Sant’Anna Dionísio,
proferida na Casa da Madeira, em Lisboa, em 1960, sob o título «Uma
Possível Experiência de Ensino Universitário na Ilha da Madeira» e que no
citado artigo de Marcelino de Castro recebe adequado aprofundamento,
fundamenta de modo claro e convincente a pertinência da criação de
uma universidade na Madeira. Verifico através das fontes citadas que o
corpo de professores do Liceu Nacional de Jaime Moniz acalentava muito a ideia de realizar esse projecto. Igualmente constato que, enquanto
tardava a concretização dessa ideia, os cursos promovidos na Madeira
por universidades continentais serviram não só para acalentar a ideia,
como fomentaram condições para essa realidade.
Mas é o Despacho conjunto da Secretaria de Estado do Ensino Superior
e da Secretaria Regional da Educação, emanado em 1983, e que cria uma
comissão «com vista ao estudo da viabilidade de criação e funcionamento» que abre caminho decisivo para a fundação da UMa. O Governo
central consolida essa decisão pelo Decreto-Lei n.º 319-A/88, de 13 de
Setembro de 1988 e a partir do ano lectivo de 1989/ 90, a Universidade
da Madeira germina para a realidade que é hoje.
Confesso que sempre estive à distância deste projecto. Condições específicas que têm a ver com o meu trajecto de vida, embora nunca tivesse
renunciado à naturalidade de uma terra que muito «amo», segui ao largo
de uma quilometragem superior àquela que separa o Arquipélago do
Continente o crescer da UMa, uma unidade universitária que, hoje, com
esta aproximação pela eleição para o Conselho Geral me surpreende
de modo muito positivo. Tive uma anterior aproximação aquando do
mandato anterior do actual Reitor, o professor José Manuel Nunes Castanheira e embebi-me mais declaradamente no projecto da UMa quando li o «desenho estratégico» da Universidade da Madeira, quando li o
documento «O Desafio de Decidir o Próprio Futuro», escrito pelos professores Nunes Castanheira e Maria Alexandra Freitas Branco, então reitor e vice-reitor. Percebi que a realidade desta universidade madeirense
era um projecto a tomar grande consistência e que os desígnios que lhe
haviam delineado a Comissão Instaladora, e expressos no documento,
«Estratégia e Programação», a perfilar um modelo de universidade fora
do modelo convencional das universidades, ganhava consistência.
Hoje vejo na UMa, uma universidade efectivamente não convencional,
moderna, virada para o futuro e para o mundo, consciente da especificidade inerente a existir numa Ilha. Tem uma pluralidade de cursos empreendidos com certo arrojo para o envolvimento geográfico e social
que a cerca. Atraiu um conjunto de professores internacionais notável.
Está a ligar-se a redes internacionais importantes, actualmente um indicador valorativo das unidades universitárias. A criação do «Madeira
Interactive Tecchnologies Institute», (Madeira – ITI) é um exemplo concreto dessa indispensável internacionalização. Tem um corpo decente,
alunos, e funcionários que vestem a «camisola».
Obviamente, esta impressão que me leva a apreciar muito positivamente a realidade Universidade da Madeira, não concorre para ignorar os
problemas da UMa. O actual panorama universitário português, - talvez
fosse correcto dizer de muitos países – é muito complexo. A mundividência a que nos trouxeram os últimos tempos e acontecimentos dos
finais do século XX e o dealbar deste XXI coloca a Universidade num
contexto muito diverso daquele que a marcou durante muitos anos. Na
sua missão, no seu envolvimento social, nas suas responsabilidades para
com os povos e os países. As universidades hoje ou são «motores» do
crescimento desenvolvimentista das populações e
dos países e regiões a que pertencem ou são «entraves». Por outro lado, num mundo timbrado por
um economicismo derivado de um combinado duplo, a acumulação de riqueza versus a escassez de
meios para outros, tem sido considerado os investimentos financeiros nas «casas do conhecimento
e do saber». Cada vez mais convidadas pelos Estados a viver dos seus próprios recursos atrofiam-se
em situações difíceis não só para sobreviver como
para se desenvolverem. A UMa não foge a essas
circunstâncias, agravadas pelo círculo de um território bem delimitado pelo espaço e contingente
populacional.
Por isso é que julgo: a UMa para consolidar o seu
trajecto e navegar no seu futuro precisa de «um
casamento indissociável». Precisa de ser «querida»,
estimada, privilegiada, auxiliada, defendida, pela
população do Arquipélago e pelas forças vivas
desta região, desde o Governo às instituições intelectuais, mediáticas, sociais, financeiras, que têm
o orgulho de querer afirmar no Mundo duas pequenas Ilhas que foram porto obrigatório da navegação por esses mares imensos do globo terrestre.
e
E
R
V
I
L
O
P
TEM
IASAÚDE07
PREVENÇÃO
Tempo livre é aquele tempo que ocupamos simplesmente por prazer, quando não estamos
ocupados com a nossa actividade profissional. É o tempo em que podemos desenvolver um leque
diversificado de actividades que não constitui, para o indivíduo, uma obrigação, mas um prazer. É
um conjunto de actividades de enriquecimento pessoal e educativo que contribui para a Prevenção.
J
ean Dumazedier definiu o tempo livre
como aquela parcela de tempo liberta do
trabalho produtivo, salientando que é basicamente um tempo “social”, propício à
criação de novas relações sociais e de novos valores.
Pode dizer-se, também, que o tempo livre é a procura do indivíduo da sua satisfação pessoal para
além da actividade laboral. É a procura do prazer
e do bem-estar, através de ocupações como, por
exemplo, tocar um instrumento musical, dançar,
jogar, conviver e divertir-se. Com estas actividades, que poderão ser de âmbito formal ou informal, o indivíduo poderá integrar um grupo social,
melhorar a saúde, melhorar a sua formação, competir e divertir-se através do lúdico.
Todo o indivíduo procura ocupar o seu tempo livre com actividades que vão ao encontro aos seus
interesses pessoais, sejam estas desportivas, culturais, lúdicas ou associativas, estando presente
como participante ou como espectador, do modo
que lhe der mais prazer.
Com a chegada do Verão e das férias por gozar, temos mais tempo livre, temos muitos espaços que
disponibilizam um leque diversificado de actividades.
Por outro lado, a criação, na comunidade, de novos
equipamentos e infra-estruturas destinados à cultura, à prática do desporto e ao lazer, faz com que
hoje tenhamos instituições recreativas, culturais e
desportivas com presença na nossa comunidade,
que apresentam um grande número de opções
para a ocupação do tempo livre. Independentemente dos interesses, as actividades propostas vão
ao encontro das necessidades de cada indivíduo e,
actualmente, não são necessários elevados recur-
sos financeiros, pois encontramos actividades ao alcance de todos.
Estas instituições têm exibido um progresso em termos quantitativos e qualitativos na acessibilidade às actividades e no serviço
prestado aos participantes.
A utilização do jogo no tempo livre tem vindo a revelar-se de grande importância, pois contribui para o desenvolvimento do comportamento, atitude, conhecimento e capacidades de socialização
do indivíduo.
No seu conjunto, as acções das
mais diversas instituições,
que trabalham para garantir às crianças e aos jovens
a ocupação do seu tempo
livre, contribuem para um
crescimento saudável, para o seu
desenvolvimento educativo, para aumentar a qualidade da sua qualificação pessoal, para o desenvolvimento das suas competências
pessoais e sociais, para o melhoramento da dinâmica de
relações no todo da dimensão social e interpessoal do
indivíduo ajudando-o na construção da sua personalidade.
Todo o trabalho desenvolvido
em actividades de tempo livre é
um grande contributo para a Prevenção, pois estes vão ao encontro ao que esta pretende atingir.
Porquanto prevenir é melhorar a
formação integral da pessoa desenvolvendo competências, melhorando a sua relação social e a aquisição de
valores que lhe permitam fazer escolhas
saudáveis.
Páginas de internet:
tempos livres. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora,
2003-2009. [Consult.2009-07-09].
Disponível em www.infopedia.pt/$tempos-livres
NazaréFreitas – Animadora Educativa e Sociocultural
INSTITUTO DE ADMINISTRAÇÃO DA SAÚDE E ASSUNTOS
SOCIAIS, IP-RAM
Serviço de Prevenção da Toxicodependência
[email protected]
08OFICINA DE TEXTO
09
«A cidade estava vazia»
As Minhas Aventuras na República Portuguesa
Miguel Esteves Cardoso
«A cidade estava vazia»
As Minhas Aventuras na República Portuguesa
Miguel Esteves Cardoso
A cidade
Abrir para encontrar
A cidade estava vazia, assim como a alma dela.
Não se via ninguém pelas amplas janelas da sala.
Apenas se ouviam, por uma fresta, os uivos de um
vento forte, que teimava em arrastar as folhas das
árvores e em deixar as pessoas em casa, no calor
do lar. Surpreendentemente, alguém bateu à porta de casa. Curiosa, a Matilde espreitou pela janela
de onde contemplava a rua e não viu ninguém.
Não ficou nada satisfeita, mas acabou por pôr a
cabeça fora e ver o vulto do carteiro. Quando chegou lá abaixo, junto à porta da entrada, e a abriu,
para seu grande espanto, já não o viu. Apenas encontrou, no chão, uma caixa embrulhada em papel brilhante, onde se lia o nome dela. Descolou
o papel com cuidado; cortou o fio que o segurava e abriu de imediato a caixa. Dentro, vinha um
pequeníssimo bilhete, que não estava assinado:
“Quando é que te volto a ver?”. Havia também um
monte de folhas com poemas.
RubinaBaptista
aluna de Comunicação, Cultura e Organizações
Leu os poemas enigmáticos, um a um, saboreando-lhes as palavras. Resolveu analisá-los. Tinham algo em comum. O “amor” e o “tempo” recobriam as restantes palavras, repetindo a temática da saudade amorosa.
Tentou descobrir quem é que lhos poderia ter enviado. Só lhe vinha à
cabeça uma pessoa, o Luís, mas não fazia sentido. Ele tinha ido para
Paris, há anos, alguns meses depois de a conhecer. Tentou lembrar-se
de mais alguma coisa, de mais alguém… Só lhe vinham à memória os
bons momentos passados com ele e a tristeza da ausência inexplicada.
Recordava-se dos passeios pelos parques, das idas ao cinema, das caminhadas pela praia, das conversas no café do costume, sempre à mesma
hora. Foi aí que se fez luz. Sorriu. Passou o resto do dia a pensar no que
lhe haveria de dizer.
Estava próxima a hora do tão esperado café. Quando ia a sair de casa,
abriu a porta e, para sua grande surpresa, lá estava ele, mais lindo do
que nunca. Olharam-se, por alguns segundos, sem saberem o que dizer.
Emocionada, abraçou-o com cuidado e carinho. Não queria que ele voltasse a partir. Quando lhe perguntou: “Por que é que voltaste?”, ele respondeu: “Tive saudades tuas.”. Na rua do café do costume, não havia vivalma. A cidade estava vazia e parecia pertencer-lhes. Só eles contavam
um para outro. A cidade estava vazia, mas eles não o sentiam. Tinham-se,
finalmente, encontrado.
Assemelhava-se a um sonho. A cidade estava vazia. Como era possível que uma grande metrópole
como aquela estivesse assim? Parecia tão misteriosa, silenciosa, assustadora. Continuava a deambular pelas ruas para encontrar um mecânico. O
carro avariara a alguns metros dali e precisava de
voltar para casa, depois de uma noite de trabalho
árduo, na fábrica de sapatos da periferia. Tudo estava, inesperadamente, deserto àquela hora. Todos os dias, pessoas apressadas enchiam os passeios das avenidas e das ruelas, andando de um
lado para o outro, com barulhos ensurdecedores.
A agitação e o “stress” dos transeuntes caracterizavam esta grande capital. Hoje, não havia ninguém.
Ao virar da esquina, absorta, ia tropeçando num
mendigo deitado no chão. “Cuidado! Não quero
morrer hoje.”: gritou ele. Achou-o demasiado agitado. Perguntou-lhe o que se passava. Tinha havido um atentado! A cidade fora ameaçada por uma
daquelas organizações terroristas que se haviam
propagado. Proliferavam porque havia fanáticos
que matavam pessoas inocentes, como se fosse
uma banalidade, entrando num ciclo vicioso, difícil de travar. Era esse o mundo que tínhamos,
onde vivíamos, que criávamos e que só nos trazia
agonia. Medo, receio, nervosismo, terror... a população experimentava, então, uma mistura de sen-
timentos que pairavam no ar, atingindo qualquer ser citadino. O pânico
era vulgar naquelas bandas, tantas foram as ameaças que roubaram a
vida a inúmeras pessoas. Madalena achou inacreditável que ninguém a
tivesse alertado. Lembrou-se, então, que, desde que entrara no carro,
ficará sem rede no telemóvel. Além disso, tinham-lhe roubado o autorádio, assim que o comprara. Ficou nervosa. Não sabia o que fazer, para
onde ir, o que poderia esperar. Sem pensar, pôs-se a caminho de casa,
esquecendo, por completo, o carro avariado. O sem-abrigo ergueu-se,
imediatamente, e seguiu-a. Abandonado nas ruas da cidade imunda há
meses, mal vestido, com barba comprida e idoso, era, claramente, inofensivo. Madalena, sentindo-o atrás de si, abrandou o passo para caminhar a seu lado.
Não ficou apreensiva ou com qualquer tipo de receio. Explicou-lhe que
voltava para casa, o melhor sítio para se abrigar e que, se ele quisesse,
poderia ir com ela. Ainda era um pouco longe, mas, se fossem juntos, o
caminho pareceria mais curto. Sentia que precisava de companhia, mesmo que fosse a de um homem sujo e mal cheiroso. No fundo, ela sabia
que ele não tinha culpa do seu estado. Por detrás daquele ar preocupado, sobressaía a sua bondade. Chamava-se Joaquim e fora abandonado
pelos filhos. Era muito educado. Tinha uma inteligência invulgar, ocultada pela sua figura. Com o passar do tempo, a conversa fluía. Era como se
já se conhecessem desde sempre, como se tivessem uma amizade que
fora interrompida pelo tempo e a tivessem, agora, recuperado. Apesar
de estar a escurecer, ainda não era noite. Finalmente, chegaram a casa de
Matilde, tendo caminhado com passo lento e sem ver ninguém. Quando
abriu a porta, o pai veio ao seu encontro aflito, mas feliz por a ver. Acalmou-o e apresentou-lhe o companheiro de viagem. Cumprimentaramse os homens e Matilde pôs todos à vontade, dizendo que ia fazer um
chá. Aquela havia de ser uma noite diferente. Joaquim sentiu-se bem.
Foi acolhido como se fizesse parte da família. Tomou banho e fez a barba.
Vestiu roupa limpa que cheirava a terra e mar. Jantou à mesa; fez companhia e viu televisão. Abençoou o atentado. Adormeceu, percebendo
que a sua vida iria mudar. Amanhecia lentamente. O receio persistia, mas
o mundo não podia parar. Algo mudara e a cidade já não estava vazia.
IvoneCastroRamos
aluna de Comunicação, Cultura e Organizações
10OFICINA DE TEXTO
Nós, Espanhóis?
Poema da Tor tura
Um poema
Tive que declamar.
Verso a verso,
Como Luís Vaz,
Andei a estudar.
O Cabo das Tormentas
Deixei para trás.
Por onde começar,
Para o decorar
Na métrica e na rima,
Lá me encontrei.
Um poeta
E a esta cadeira
Poder passar?
Na nota mínima,
Há mais de quatro séculos, Agosto foi marcado por Alcácer-Quibir que resultou no domínio
espanhol. Fartos de se sentirem roubados e abandonados, os portugueses aclamaram, em 1640,
D. João de Bragança como Rei de Portugal e expulsaram a Vice-Rainha espanhola Margarida de
Sabóia. Com o Tratado de Lisboa de 1668, Espanha reconhece a soberania de Portugal, findando
uma dura guerra ibérica. Hoje, lutaríamos pela independência?
Ainda não sei.
PauloRobinson
aluno de Comunicação, Cultura e Organizações
A
ideia de uma Ibéria unificada não é actual. As três principais
crises de independência levaram ao trono os Avis, os Habsburgo (ou Filipes) e os Bragança. Menos conhecido, contudo, é o
facto do infante Miguel da Paz, primogénito de D. Manuel I, ter
sido jurado herdeiro de Portugal, Castela e Aragão. Infelizmente, faleceu
com apenas dois anos.
José Saramago e Cristiano Ronaldo são exemplos conhecidos de portugueses a viver em Espanha. Estes constituem, no entanto, uma ínfima
parte da comunidade lusa naquele que é o país de onde não vem bom
vento, nem bom casamento.
Assim que o vi, soube que havia de o chamar Esperança. Era um cão
lindo, grande, possante, cujo olhar doce me apaixonou desde o primeiro instante. Saí do carro ainda incrédula e fui-me aproximando.
O Esperança foi começando a abanar a cauda e, cada vez mais rapidamente a cada passo meu. Num ápice arrebita as suas orelhas já
cansadas de tão pouco trato, tenta saltar e correr para mim, como
se estivesse ficando feliz, como se fosse novamente um cachorro
na plenitude da sua jovialidade.
SPAD
A realidade, no entanto, mostrou-se apenas como um ensaio frustrado porque a corda que o amarrava a um autocarro velho, sujo
e pronto para ser “abatido”, não o permitia, não lhe dava essa liberdade. A amargura apossou-se de mim e foi-me consumindo
até ao momento em que lhe sussurrei: “Cheguei ao pé de ti, Esperança”. E o seu corpo magro irradiava alegria e a água, que
lhe levava numa tigela improvisada, foi bebida com tal vontade
e o seu olhar esperançoso dizia-me: “Esquecem-se que também
temos fome e sede. Esquecem-se que também temos medo.
Esquecem-se que também somos sensíveis à dor. Esquecem-se
que também precisamos de companhia. Esquecem-se que também podemos adoecer. Esquecem-se, esquecem-nos e abandonam-nos.”
Espanha é dos países com maior fluxo de emigração portuguesa. Segundo a OCDE, só entre 2004 e 2005, o número de portugueses a atravessar a fronteira subiu 50%, totalizando os 12 000. Existe um guia de
acesso ao Ensino Superior Espanhol disponível aos estudantes do Ensino Secundário nacional e várias universidades espanholas apostam
nesse mercado, em especial para cursos da área da saúde e tecnologias,
compensando as barreiras impostas pelo sistema português.
A verdadeira riqueza espanhola traduz-se num maior nível de vida dos
espanhóis face aos portugueses. Recebe-se mais e paga-se relativamente menos pelos produtos essenciais. O desemprego é, proporcionalmente à população activa, maior em Portugal do que em Espanha.
A justificação é apresentada, por vários analistas, como tendo a base
na falta de formação da população portuguesa. Há poucos portugueses
com formação superior, levando à carência de técnicos especializados
em determinadas áreas específicas e, ao enveredar por áreas já saturadas, cada indivíduo contribui, também, para o aumento do desemprego.
Por isso, hoje, vamos falar de abandono. Vamos falar de abandono.
F
Abanudi
ona
Vamos todos tentar mudar consciências, incutir responsabilização e mostrar afecto por aqueles, todos os animais, que
nos contagiam com a sua alegria plena.
do
ENSINO SUPERIOR 11
Ajude-nos a ajudá-los. Vamos todos dizer não ao abandono.
CláudiaPaixão
Médica Veterinária da SPAD-Funchal
CarlosDiogoPereira
Do outro lado da fronteira também há problemas,
no entanto, os incentivos para a aposta na formação e na criação do próprio emprego são melhor
empregues e de forma mais útil e duradoura.
No que toca ao investimento empresarial, antes
da crise económica mundial falada actualmente,
mais de um milhar de empresas de capital espanhol operava no nosso país, metade delas maioritariamente financiada por Espanha e servindo em
diversos sectores. Na factura final, cerca de 10% do
PIB português dependia destes investimentos para
os quais trabalhavam próximo de 100 mil portugueses.
No verso da medalha, cerca de 400 empresas com
capital maioritário português estavam registadas
em Espanha e possuíam um volume de negócios
de 7,2 mil milhões de euros por ano garantindo, 12
mil postos de trabalho, na sua totalidade.
Embora Portugal possa ser apetecível em alguns
sectores, os espanhóis têm menos razões para se
unirem aos portugueses do que estes aos primeiros. Ser espanhol não é má ideia aos olhos de muitos. Para que tal aconteça, por enquanto, é preciso
emigrar.
PARQUE NATURAL DA MADEIRA 13
CENTRO de INFORMAÇÃO
PARQUE NATURAL
MADEIRA – CISPNM
do SERVIÇO do
da
O Centro de Informação do Serviço do Parque Natural da Madeira (CISPNM) está situado em São
Gonçalo, mais propriamente no Núcleo de Dragoeiros das Neves, tendo entrado em funcionamento
em 1996.
A
área do Centro foi adquirida pelo Governo Regional de modo
a assegurar a perenidade de uns notáveis dragoeiros e salvaguardar, para o futuro, este valioso património natural. Não
existem registos sobre a origem exacta destes exemplares, mas
é possível que se tenham desenvolvido a partir de viveiros ali existentes
em tempos idos. De qualquer maneira, é inegável o seu valor científico
e paisagístico, constituindo um marco monumental naquele troço de
paisagem.
O Dragoeiro (Dracaena draco) é uma árvore de crescimento lento, perene, que pode atingir até cerca de 20m, com a copa em forma de umbela.
Ocorre naturalmente na Macaronésia e foi, outrora, abundante no Porto
Santo, estando presentemente extinto. Na Madeira é raríssimo em estado natural e é muito usado para fins ornamentais. No passado foi muito explorado pela sua seiva avermelhada, o “sangue-de-drago”, que era
usada na medicina caseira, em tinturaria e como verniz, muito cotado
na Europa para o acabamento de violinos.
Em volta destes Dragoeiros foi criado um jardim com vegetação de litoral, que também conta com algumas espécies de Laurissilva e com
plantas de altitude, indígenas e endémicas, contando actualmente com
cerca de 40 espécies. Este jardim pode ser observado, visitado e desfrutado através de um pequeno circuito pedestre, estando aberto à população em geral.
O edifício do Centro resultou da recuperação de um pequeno imóvel
degradado existente no local, com o objectivo de funcionar como um
CISPNM
Caminho da Portada, Sítio das Neves, São Gonçalo
9060 – 245 Funchal
Telefone: 291 795155 / 291 794258 Fax: 291 708308
[email protected] www.pnm.pt
local de informação ambiental e de dinamização
de actividades relacionadas com a conservação da
natureza em geral, junto das comunidades escolares e outras instituições.
É a partir deste Centro que são realizadas as actividades de educação ambiental do SPNM, ao longo
de todo o ano, por técnicos do serviço. Estas actividades constam do Programa de Educação Ambiental do Centro, que se encontra subdividido em
quatro principais públicos-alvo (Pré-Escolar; 1.º, 2.º
e 3.º Ciclo, Secundário e Menos Jovens), e contemplam, entre outras, palestras, ateliês e visitas às Reservas Naturais e demais Áreas Protegidas geridas
pelo Serviço do Parque Natural da Madeira.
Todas as actividades a realizar carecem de marcação prévia, pelo que para mais informações devem
ser os utilizados os contactos abaixo mencionados.
14 DESTAQUE
Gala do Desporto AAUMa
No passado dia 11 de Julho, no espaço Molhe, realizou-se a Gala do Desporto, à qual se seguiu
a festa de encerramento do ano académico. Na presença de várias personalidades convidadas,
os atletas da AAUMa foram homenageados pelas prestações honrosas que tiveram em torneios
internos da AAUMa, nos Campeonatos Nacionais Universitários e em competições regionais.
15
16 ACTUALIDADE
Ser Canhotodo as Avessas
17
n
u
M
m
U
Por estranho que pareça, no dia 13 de Agosto celebra-se o Dia Internacional do Canhoto. Um
canhoto é um indivíduo que usa, predominantemente, os membros esquerdos para realizar as mais
simples tarefas diárias como, por exemplo, escrever ou manusear objectos. Isto deve-se ao facto de
ter um maior grau de domínio do lado direito do cérebro. As estatísticas comprovam que cerca de
10% da população mundial é canhota.
F
oi a instituição Lefthand International
que, em 1976, escolheu o dia 13 de
Agosto, uma sexta-feira, pretendendo
lembrar e salientar as superstições antigas e os obstáculos suportados pelos canhotos,
diariamente. Os endereços a ela associados na
Internet têm como objectivo a fabricação de objectos para os canhotos,
informar e alertar para a necessidade de mudança, adequação e inserção dos canhotos numa sociedade
mais justa. O canhotismo foi, outrora,
associado à ausência de habilidade, ao
desleixo e às crenças e superstições populares que acreditavam ser sinónimo de
ligações ou influências satânicas. Noutros
idiomas, ser canhoto significa ser sinistro,
ir na direcção errada, ter má indole, ser uma
pessoa desonesta, um desastre, ser pateta,
anormal, enfermo, mau presságio, maldito,
funesto, palerma e tolo. “Cruzes-canhoto” e
“acordar com o pé esquerdo” são expressões
portuguesas que desprezam, por vezes indirectamente ou sem intenção, o canhotismo.
O livro sagrado dos judeus, o Talmude, revela
que o Diabo é canhoto, baptizando os seus
profetas com a mão esquerda. Já os membros
direitos são previligiados. Ser destro significa
estar direito, certo, ser hábil, ágil, astuto,
possuir destreza nos membros do lado
direito do corpo. Um indivíduo pode
também ser ambidestro, tendo a
capacidade de utilizar ambas
as mãos. A ambidestria desde a nascença é muito
rara mas pode, contudo, ser aprendida.
A ambidestria é habitual nas pessoas que na infância foram
forçadas a utilizar a direita e que originalmente eram canhotas. 90% da população mundial é destra e apenas 10% é canhota e ambidestra. Devido à discriminação, a percentagem
de canhotos, no século XX, era de apenas 3% a nível mundial.
Há superstições curiosas em todas as culturas referentes ao
uso do lado esquerdo do corpo. Ter comichão na palma da mão
esquerda significa a perda de dinheiro. Na Escócia, entrar em
casa com o pé esquerdo atrai demónios e a má sorte para o lar.
No Irão utilizar a mão esquerda é considerado uma atitude de
desonra, deste modo um ladrão era condenado à amputação
da mão direita. Na Índia e nos países islâmicos as pessoas estão impedidas de comer com a mão esquerda. A Bíblica Cristã
afirma que Deus fez o Mundo com a mão direita e a Inquisição
queimava vivas as mulheres canhotas por serem consideradas bruxas e feiticeiras. A discriminação do indivíduo canhoto
deflagrou-se não só pelo campo religioso, mas também pelo
ensino. Muitos são os testemunhos de castigos severos e maus
tratos aplicados a crianças por escreverem com a mão esquerda. Atava-se-lhes o braço esquerdo atrás das costas, obrigando-as a usar a mão direita, satisfazendo as exigências e pressões sociais. É por esta razão, que são poucos os exemplos de
canhotismo nas gerações mais antigas. O canhotismo é apenas
uma especificidade de um indivíduo que não deve ser corrigida, impingido o uso dos membros do lado direito do corpo ou
vice-versa. A tendência natural de um indivíduo não deve ser
contrariada. Ser canhoto nunca foi fácil, não só pelos métodos
de ensino de outrora, mas também pela inadaptabilidade dos
objectos desenhados para destros. Temos como exemplo, tesouras, abre-latas, relógios de pulso, veículos e tantos outros
objectos que dificultam, ou tornam quase impossível, a concretização de certas tarefas.
A predominância do uso da mão esquerda para a realização de
diversas acções, não constitui um defeito ou imperfeição, muito pelo contrário. São várias as personalidades canhotas na
História. Marilyn Monroe, Ludwig van Beethoven, Joana d’Arc,
Henry Ford, Leonardo da Vinci, Bach, Paul McCartney, Mozart,
Goeth, Greta Garbo, Nietzsche, Machado de Assis, Napoleão
Bonaparte, Pablo Picasso, Isaac Newton, Luís XVI, provaram
que o sucesso não depende de ser ou não canhoto, mas sim
dos feitos e obras de cada um.
Permanece, ainda, a ideia de que os canhotos
são menos inteligentes. Mas as dificuldades dos
canhotos devem-se ao facto de estes serem obrigados a adaptarem-se a um meio com recursos
materiais para destros. Um estudo feito pela Universidade Nacional Australiana, divulgado pela
revista especializada Neuropsychology, comprovou que o cérebro canhoto pensa mais rápido
do que o destro, dado os canhotos trabalharem
ambos os hemisférios do cérebro com mais destreza e agilidade. Indica-se, assim, que as transferências de informações entre os hemisférios
cerebrais são mais rápidas nos canhotos.
Há pais que obrigam os filhos a escreverem com
a mão direita. Este comportamento pode conduzir a problemas sérios, tanto física como psicologicamente. Na aprendizagem, a escrita tornase-á mais lenta e ilegível, surgindo problemas de
expressão e leitura. A postura física, na tentativa
de adequar a mão direita ao espírito de canhoto, torna-se cansativa, podendo originar deformações na coluna vertebral. Psicologicamente,
poderá afectar a auto-estima de uma criança,
aumentando a insegurança. Interferir com a
maior habilidade em utilizar um dos membros,
é entrar em contradição e em confronto com a
organização do cérebro. Outro estudo, desta vez
pela Universidade de Oxford e publicado na revista Molecular Psychiatry, divulga que os canhotos são duas vezes mais favoráveis a sobrer de
distúrbios do sistema imunológico, doenças psicóticas, esquizofrenia e desiquilíbrios no funcionamento cerebral, visto deterem um hemisfério
cerebral direito mais activo do que o esquerdo,
sendo essa a área específica das emoções e sentimentos.
O canhotismo não é doença nem obra de demónios. Trata-se de mais uma das adaptações do
ser humano, neste caso, ao nível neurológico. Os
nossos avós benziam-se, por incompreensão, perante o uso do lado esquerdo do corpo. Mas antes deles muitos houve que, com a mão direita,
conseguiram maravilhas.
FernandaCastro
Scobby-Dooby-Doo
18NACIONAL
Os desenhos animados fazem parte da nossa vida. Ao contrário de nós, a maior parte das
personagens de animação nunca cresce, tal como o Peter Pan, mantendo as nossas recordações e
ajudando os nossos filhos, como o fizeram connosco.
A
representação gráfica teve início na préhistória, quando os povos primitivos
registavam as cenas do seu quotidiano.
Mais tarde e com diferentes civilizações,
essas representações passaram a tomar outras
formas de registo (como relevos esculpidos). O
desenho, no entanto, continuou e chegou das
mais diversas formas e em diferentes suportes aos
nossos dias.
Os irmãos Lumiére, no século XIX, baseando-se
nos mecanismos das câmaras escuras e nas máquinas fotográficas de então, instituíram o registo
animado através da captação sequencial do movimento.
Os desenhos animados, como os conhecemos
hoje em dia, surgiram no início do século XX, com
o artista francês Emile Cohl. A sua primeira animação, Fantasmagorie, de carácter mudo, sem cor e
com uma duração de aproximadamente 2 minutos, não era atractiva ao público infantil, sendo
direccionada para adultos e tendo como propósito descrever situações caricatas da sociedade da
época.
Com a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos desenvolveram-se
enormemente, dominando a indústria e o comércio mundial. Nesta altura, Hollywood, em Los Angeles, começou a crescer como indústria dos
sonhos e, de lá, saíam dezenas de filmes mudos que, acompanhados ao
piano ou orquestra, enchiam os teatros de todo o mundo.
No fim dos loucos anos 20, o mundo do cinema liberta-se da era muda e,
rapidamente, os talkies ou filmes sonoros, ganham fama. Novas estrelas
emergiram, levando ao esquecimento muitas vedetas do cinema mudo,
conforme foi retratado, já em 1952, no musical Serenata à Chuva.
Com o cenário cinematográfico propício, a animação desenvolve-se e
populariza-se por todas as faixas etárias na década de 30, marcada por
uma profunda recessão económica e pelo começo da Segunda Grande
Guerra.
Embora Mickey tenha nascido em 1929, com a curta-metragem sonora
Steamboat Willie, Walt Disney só se tornou um mito em 1937, ao lançar
Branca de Neve e os Sete Anões, a primeira longa-metragem de animação
à qual foi atribuído um Óscar de honra acompanhado de 7 pequenos
Óscares.
No pós-guerra, a animação sofreu uma recessão, sendo Walt Disney um
dos empresários mais atingidos. A sua salvação surge em 1950, não com
uma princesa tornada criada, mas com uma criada tornada princesa.
Cinderella, um velho conto europeu, personificava o sentimento de um
mundo farto dos horrores da guerra.
O cinema português teve o seu auge na década de 40, mas as animações só começaram a difundir-se em grande escala após o regime salazarista. Poucas casas tinham televisor e a projecção de filmes em áreas
comuns era rara em muitas povoações. Desta forma, optava-se por filmes destinados a várias faixas etárias. A animação portuguesa limitavase a reclames televisivos ou para indicar o recolher das crianças, sempre
a preto e branco.
A animação e o espaço infanto-juvenil só tiveram lugar definitivo a partir de 1974, sendo um dos seus maiores impulsionadores Vasco Granja.
Começou por apresentar, no seu espaço televisivo Cinema de Animação,
curtas-metragens oriundas da Europa de Leste, mas para sempre será
recordado como o pai português da Pantera Cor-de-Rosa, personagem
anglo-americana.
A infância dos anos 70 e 80 foi, de certo modo, a mais beneficiada pela
difusão dos desenhos animados em Portugal. Cores, efeitos fantásticos,
sons que ficaram na memória, faziam muitas séries estrangeiras com
versões portuguesas ou com sotaque brasileiro. Para sempre ficará a voz
que dizia “versão brasileira: Herbert Richards”.
Marco, Ana dos Cabelos Ruivos, Abelha Maia, Panda Tao Tao, Estrunfes,
a pequena feiticeira Bia, o boi Bocas, os Flintstones, os Jetson, o Vitinho,
os Caça-fantasmas, o He-Man e a She-Ra, o Ursinho Puff, os Ursinhos Carinhosos, os Pequenos Póneis, e muitos outros são os nomes que recordamos ainda hoje. Outras personagens emergiram de romances infantis, tais como Heide, Hucklberry Finn, Tom Sawyer, Willy Fog e Capitão
Nemo, partilhando as atenções com a própria Rua Sésamo, que apenas,
em parte, era em animação.
Os anos 90 recordam o D’Artacão, mas essas crianças talvez desconheçam que, antes dele, houve
um D’Artagnan em série de animação. Tratavase de uma série de animação japonesa, em que
D’Artagnan tinha uma grande poupa, a sua amada
chamava-se Constance (seguindo a obra original
de Alexandre Dumas) e o galante Aramis era, na
verdade, uma mulher.
Os Cavaleiros do Zodíaco, Power Rangers, Dragon
Ball e outros conotaram os anos 90 com a animação de acção, que se havia iniciado com os Transformers e as Tartarugas Ninja, ainda na década de
80. A aprendizagem natural das crianças leva-as à
imitação das suas referências. Se o herói de uma
criança é a Abelha Maia tal não causa grande
transtorno aos pais, o mesmo pode não acontecer
no caso de Son Goku, por exemplo. Já à entrada
do século XXI, vários especialistas juntaram-se a
pais de todo o mundo para acusar a violência e
a fraca pedagogia nos desenhos animados actuais. Como resultado, através de canais televisivos
infantis e de colecções especiais, muitas personagens mais antigas ressuscitaram.
O novo século contrariou os velhos contos infantis
e a animação por computador deu vida aos antiheróis, de que é melhor exemplo o ogre Shrek. As
princesas passam a meninas fúteis, os príncipes
mostram-se homens de nula virilidade e os monstros passam a ser “fixes” e vítimas de estereótipos
medievais.
Os desenhos animados são das recordações mais
marcantes da nossa infância. Se ainda cantamos
e dizemos as suas falas isso só prova que há, realmente, uma criança dentro de nós.
“That’s all folks!”
CarlosDiogoPereira
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lhando para o passado e à medida que os
anos vão passando, parece-me cada vez
mais, que a memória mais antiga é de Namacunde, na fronteira de Angola com a
Namíbia. Brincava no quintal, se bem me lembro,
com terra, água e alguns pimentos a que os angolanos chamam gindungo. A memória é de uma dor
terrível nos olhos, a que devo ter levado as mãos
- a minha mãe não devia estar por perto! Não sei
bem que idade teria, mas menos de quatro anos,
pois o meu irmão ainda não tinha nascido. Terá
sido em 1960?
Tudo desses tempos é nebuloso, gigantesco e livre.
As brincadeiras no Cuito Cuanavale, com o Jorge
e a Helena, quando o tempo não contava e não
havia movimento de automóveis na estrada, onde
estávamos horas até à chegada brusca e vermelha
da noite.
O meu primeiro dia de escola na Caála, onde
aprendi a jogar à bola, a andar de bicicleta e parti,
pela segunda vez, a cabeça.
A visita à missão protestante onde o Dr. Parsons
me tirou as amígdalas e recomendou aos meus
pais que comesse muitos gelados. Aconteceu no
Lépi, onde o meu avô materno falecera em 1941.
A passagem pelo Lubango, que me pareceu enorme, onde fiz a segunda
classe e fiquei a saber que era desafinado - um sábado de manhã cantávamos o hino, uma professora aproximou-se, ouviu-me com atenção no
meio daquelas vozes todas e, depois, levou o indicador direito à boca, no
sinal tradicional de mandar calar.
A passagem pelo Luau na fronteira com o Zaire, onde fiz a terceira classe.
As visitas a Dilolo, do outro lado da fronteira, quando o cobre do Katanga passava de comboio a caminho do Lobito e do mar. Fronteira que se
fechava logo de seguida: o meu primeiro contacto com a realpolitik.
A vinda para a “metrópole” (Queluz), onde fiz a quarta classe, foi no paquete Príncipe Perfeito, com escala no Funchal. Chegámos cá num dia
de temporal.
A estranheza dos meus primeiros dois anos de Portugal e Europa. Tanta
gente e coisa antiga. Tudo tão apertado e pequeno.
O regresso a Luanda, outra vez no Príncipe Perfeito. Dessa vez desembarcámos no Funchal e uns amigos dos meus pais mostraram-nos a cidade.
Luanda, onde atingi a adolescência e acabei o Liceu, no Salvador Correia.
Era uma cidade grande e calorosa. Ideal para o trio que então formava
com o Albuquerque e o Necas, os meus melhores amigos desses tempos.
Da liberdade de então, retenho as farras dos sábados, a praia, os passeios
à vela até ao Mussulo e a descoberta da música - os blues, de que ainda
tanto gosto, e abertura Hébridas de Mendelssohn, que o meu pai trouxera de Windhoek e que me ligou para sempre à música clássica.
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O regresso, aos 16 anos, a Menongue, onde uma vez, em pequeno, caí
de triciclo por umas escadas abaixo. Umas escadas que então revi e que
eram bem mais pequenas do que pensava.
O 25 de Abril, de que soube numa aula de Física do meu 7.º ano, e o que
significou para toda a minha geração que então se separou e que, na
sua grande maioria, nunca mais voltei a ver.
A minha primeira viagem de comboio a Montpellier, com o Necas, hoje
professor na Beira Interior e padrinho da minha filha, no verão quente de 1975, no “especial emigrantes”, que andava a passo de caracol. A
guardia civil (eram os tempos do Generalíssimo) que entrava para patrulhar e os protestos por termos de pagar o suplemento de velocidade
para andarmos a 30 à hora.
Desses tempos retenho a tolerância do meu pai e a
constatação de que há, por esse mundo fora, muitas
formas diferentes de viver, condicionadas pela tradição e pelo ambiente, que é necessário entender
e aceitar, por muito estranhas que nos possam parecer. Mas retenho também a necessidade de compreendermos que o mundo evolui e que devemos
estar preparados para as mudanças que ele nos vai
impondo. E que pode ser inútil e perigoso resistir a
essas mudanças, quando elas são inexoráveis.
Foram tempos diferentes dos que hoje vivo. Mas
acredito que desses tempos, e dos que vivi depois,
retirei algumas das lições fundamentais que hoje
norteiam a minha vida. Com elas e por causa delas,
hoje poderia viver em qualquer lado, tantas foram
as mudanças de terra e casa desses tempos.
Nas conversas com os meus amigos, de Montpellier, de Braga, de Aberdeen, do Funchal e de
outras paragens, sinto, por vezes, a nostalgia de
não ter um canto de infância ao qual regressar.
Mas, não sei se pelo clima, se pelas gentes, se pela
forma de estar e viver, o Funchal tem algo disso.
Talvez esse seja o principal motivo porque me sinto aqui tão bem. Talvez por isso aqui me tenha fixado, depois de trinta e cinco anos de andanças.
22ESPECIAL
22
Nesta edição de Agosto, a rubrica Especial publica um dos trabalhos da autoria de um estudante
do 3.ºAno do primeiro ciclo de estudos em Enfermagem. Trata-se de uma reflexão crítica pessoal
que provém da vivência proporcionada no âmbito da sua formação e com a qual muito se pode
aprender.
O princípio da convivência humana baseia-se no
pressuposto que todos somos iguais. É com este
aspecto, que convivemos todos os dias conversamos com os nossos amigos, familiares, colegas e
outras pessoas. Mas quando alguém não age de
acordo com os pressupostos estabelecidos pela
sociedade é logo rotulado, marginalizado, estigmatizado, posto de parte. Mas será que pessoas
que nascem diferentes não têm o direito de viver
com as mesmas oportunidades de qualquer um
de nós?
A diferença é o que nos torna únicos, que nos
identifica como aquela pessoa numa multidão,
que nos torna enfermeiros, que nos torna bombeiros, que nos torna criativos, que nos torna sonhadores. Tudo o que nós temos hoje foi graças
à diferença, à capacidade de alguém lutar contra
a comodidade, à capacidade de alguém aceitar a
sua diferença, e usá-la para criar, para se afirmar.
Caminhamos no sentido de proporcionar as mesmas oportunidades a todos, mas parte da sociedade ainda diz, este é isto ou é aquilo, descriminando ou denegrindo quem ousa pensar e quem
ousa questionar!
Será que quem tem ideias “malucas” é um “maluco” ou apenas vê o mundo de uma outra forma? Muitos malucos do passado são grandes pensadores do presente, eis o exemplo de Galileu, que no passado era considerado um blasfemo, um maluco, hoje um dos grandes impulsionadores
da astronomia, isto querendo mostrar que quem pensa de maneira diferente, quem é considerado “maluco” hoje, amanhã pode ser considerado
um Génio.
Mas até que ponto a sociedade está pronta para aceitar esta diferença,
está pronta para enfrentar as grandes mudanças que se avizinham, está
pronta para evoluir estruturalmente, mentalmente e emocionalmente,
de forma a aceitar a diferença questionando sabiamente cada ideia, cada
aspecto, mas não julgando nem marginalizando?
Todos nós somos diferentes, únicos, e sem essa diferença não conseguiríamos viver, pois é necessário haver um homem e uma mulher para
nascer outra geração, é necessário haver um mais inteligente e um mais
forte, um para pensar e outro para fazer, um mais paciente, um mais intempestivo, um mais audacioso, um mais cauteloso, porque é aos pares
que o mundo foi feito e é de diferenças que o mundo se torna perfeito.
De que serve um professor sem alunos? A diferença ensina, temos é que
estar dispostos a aprender!
Aprendemos com a diferença mas
depressa esquecemos da sua importância, depressa a vemos como
algo a pôr de parte, porque a sociedade em que estamos, é uma sociedade virada para o sucesso da pessoa.
Aquela pessoa é bem sucedida, quero
ser como ele, quero ser igual a ela. Só que
se esquecem que ela tornou-se assim por ser
diferente, por pensar de forma diferente, e citando
Edison “Se caminhas por onde os outros caminharam só
chegas onde os outros chegaram”.
Isto para dizer que a diferença não é algo mau, que deve ser
banida, mas sim algo em que devemos investir as energias.
E sendo uma profissão de pessoas para pessoas, os enfermeiros, devem ser os primeiros a aceitar a diferença e a
ajudar os outros a compreendê-la e aceitá-la como parte
integrante da vida.
A diferença faz parte do dia-a-dia do enfermeiro quer
a nível de equipa, quer a nível de prestação de cuidados, e este deve ser um promotor da aceitação da
mesma. Mas o enfermeiro enquanto pessoa está inserido numa comunidade, comunidade essa que
faz pressão para aceitar os que se enquadram,
os que são iguais e descartar todos os que
são diferentes. É neste contexto que o enfermeiro exerce a sua profissão e fica sujeito
a essas pressões externas. Mas será que
o enfermeiro não pode fazer a diferença
ao promover a aceitação da mesma?
Apesar de sermos todos iguais como
espécie, somos únicos como pessoa
e devemos expressar a nossa individualidade como um tesouro que
acabamos de descobrir.
FlávioCristianoGama
24CARTOON
FOI DITO25
O que vais fazer nas férias?
Susana Vieira,
Educação Básica
Ir à praia e dedicar-me à leitura.
Isabel Freitas,
Enfermagem
Aproveitar os tempos livres,
ir à praia, arraiais, sair com os
amigos. Aproveitar!
Luísa Abreu,
Bioquímica
Ir para à praia, relaxar e ler um
bom livro.
Aproveitar para descansar e ir à
praia.
Abel Martins,
Bioquímica
Espairecer, fazer praia, passear
um bocadinho e estudar pois
tenho uma época de exames
especiais.
Ruben Luís,
Economia
Muita praia, viajar e diversão ao
máximo.
Agostinho Pereira,
Funcionário da UMa
Hélder Rodrigues,
Ed. Física e Desporto
Descansar, passear e praia.
Vou trabalhar para pagar as
propinas.
Sérgio Gomes,
Ciências da Cultura
Trabalhar e trabalhar, férias só no
fim do ano (Dezembro).
Andreina da Silva,
Design
Treinar os programas, tentar
arranjar trabalho e tirar um curso
de inglês.
RafaelaBotta
Maria da Luz,
Gestão
Catarina Mendonça,
Design
Tentar arranjar um trabalho e
aperfeiçoar-me um pouco a
nível dos programas do curso e
ir à praia.
Maurílio Barreto,
Gestão
Vadiar, sem dúvida.
SaraRebolo
26ACTUALIDADE
Dia Internacional
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da Juv
O Dia Internacional da Juventude surgiu em 1998 em Portugal, onde decorria a Conferência
Mundial de Ministros para a Juventude. Nesta Conferência foi apresentada uma proposta do Fórum
Mundial da Juventude do Sistema das Nações Unidas, para proclamar o dia 12 de Agosto como o
Dia Internacional da Juventude.
U
m jovem é entendido como um ser humano imaturo. Para o ser humano esta designação refere-se ao período entre a infância e a fase adulta, podendo ser aplicada
a ambos os sexos e havendo variações no período
de idade em que ocorre de cultura para cultura.
bandas locais. Hoje em dia, grandes marcas associam-se a esse dia, de
forma a apoiarem a realização desses eventos, sendo também uma maneira de criar um meio de publicidade.
Este grupo de pessoas não tem sido
contemplado com
a atenção necessária pelos
sectores sociais, principalmente os jovens com menos recursos financeiros e sociais, que enfrentam
enormes barreiras, nomeadamente do acesso à
educação formal e à informação em geral.
Nesse dia, a ONU também lembrou que é preciso
acabar com os estereótipos que vêem os jovens
como delinquentes, usuários de drogas e violentos, sendo esta a razão pela qual foi definida esta
efeméride. Os jovens constituem um dos mais
importantes recursos humanos para o desenvolvimento e podem ser agentes essenciais de inovação e de mudanças sociais positivas. Neste dia
é concedida uma oportunidade para os governos
e várias entidades chamarem a atenção para questões da juventude em todo o mundo. Concertos,
workshops, eventos culturais e reuniões entre autoridades e organizações juvenis têm lugar por todo o
mundo.
Em Portugal, são criadas actividades como Dança, Poesia, Gastronomia, Artesanato, Jogos Tradicionais, entre outros, pelo Instituto Português da Juventude
como forma de assinalar este dia de uma forma
especial, envolvendo jovens e associações juvenis.
Para além dos programas e actividades que
vão ao encontro das necessidades dos jovens,
são realizados grandes festivais de música. São
convidados vários artistas de renome, DJ’s e até
O objectivo é criar um ambiente de convivência e muita
animação entre os jovens. Numa outra vertente, são realizados programas
no âmbito do
ambiente, saúde e sociedade em geral, que surgem
como uma forma de alertar os jovens para estas questões, proporcionando-lhes um futuro melhor.
As várias iniciativas realizadas, ou que têm o seu ponto alto, a 12 de Agosto visam inserir a juventude na
população activa e torná-la parte integrante e essencial da nossa sociedade.
Jovens de todas as partes do mundo preparam-se
para uma vida produtiva e útil, nas esferas do trabalho, da sociedade e da família. Para serem bem
sucedidos necessitam de ter acesso à educação e
aos cuidados de saúde e, por isso, cada vez mais os
especialistas estão atentos aos seus problemas e à
sua resolução.
Em todo o mundo, as autoridades e entidades locais oferecem, neste dia, a entrada nos Museus e outros espaços lúdico-culturais a jovens até 25 anos.
Em Lisboa e no Porto, os transportes públicos são
gratuitos para que os jovens. A própria AssembleiaGeral das Nações Unidas recomenda a todos os
Estados-membros que organizem ou apoiem a
realização de actividades de carácter informativo, lúdico, social e/ou cultural, de
forma a assinalar e divulgar este Dia.
Vivemos numa sociedade determinada por
relações sociais, historicamente construídas. Ser jovem é lutar para que o futuro
determine o presente. Ser jovem é criar um
mundo futuro.
MaraRoque