Tecnologia da Informação nos Processos de Coordenação em

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Tecnologia da Informação nos Processos de Coordenação em
Tecnologia da Informação nos Processos de Coordenação em Cadeias
de Suprimentos
Bruno de Almeida Vilela (UFMG) - [email protected]
Camila de Souza Alves (UFMG) – [email protected]
Rui Fernando Correia Ferreira (UFMG) - [email protected]
Kenyth Alves de Freitas (UFMG) - [email protected]
Wesley Canedo de Souza Junior (UFMG) – [email protected]
Resumo: Reconhecendo que a cadeia de suprimentos pode se utilizar da tecnologia da
informação para melhorar seus processos surge o questionamento: a adoção de tecnologias
da informação aliada à gestão orientada por processos influencia a qualidade do
relacionamento e os modos de coordenação das cadeias de suprimento? Tem-se como
objetivo apresentar uma revisão da literatura existente sobre o assunto. Ao longo do artigo
são então apresentados conceitos referentes coordenação em cadeia de suprimentos, modos
de coordenação, qualidade de relacionamento, recursos de sistemas de informação e a visão
da gestão baseada em processos e Business Process Management (BPM). Ao final do
levantamento teórico é possível supor que os Recursos de Sistemas de Informação tem
correlação com a Gestão de Processos, sendo antecedentes dos Modos de Coordenação e da
qualidade do relacionamento.
Palavras-chave: Tecnologia da informação; Coordenação; Cadeias de Suprimentos.
1. Introdução
O contexto de gestão da cadeia de suprimentos reconheceu a importância de investir em
inovação na área de tecnologia da informação (BOWERSOX; DAUGHERTY, 1995). A troca
de informações mais precisas na cadeia de suprimentos pode ser a chave para a integração das
empresas que a compõem. Sistemas de informação, nesse contexto, propiciam informações
constantemente atualizadas, maior precisão em níveis de estoque, captação de mudanças na
demanda e portanto níveis mais apropriados de estoques através da cadeia de suprimentos
(PATTERSON; GRIMM; CORSI, 2003).
Tecnologias da informação inovadoras tem capacidade de impactar em estrutura
organizacional, estratégia da firma, troca de informações, procedimentos operacionais,
relacionamentos entre compradores e fornecedores e barganha de poder. Além disso, podem
aumentar a produtividade da organização, flexibilidade e competitividade, e estimular o
desenvolvimento de redes interorganizacionais. Sistemas de informação aparecem como tão
infiltrados nas organizações que tem sido considerados como requisitos para se participar do
mundo de negócios na competição dos mercados atuais (PATTERSON; GRIMM; CORSI,
2003).
1
A partir do momento em que as firmas passam a perceber as vantagens advindas de
operações em cadeias de suprimentos mais eficientes e efetivas, gestores passam a incorporar
a estratégia de cadeia de suprimentos na estratégia da organização o que leva a maior adoção
de tecnologia e integração eletrônica. A tecnologia da informação é, portanto, suporte às
firmas para criar vantagem estratégica por meio da possibilidade da conexão do planejamento
estratégico centralizado com operações cotidianas também centralizadas, no contexto das
cadeias de suprimentos (BOWERSOX; DAUGHERTY, 1995).
Entendendo ser a tecnologia da informação uma base importante para estratégias das
cadeias de suprimentos surge a pergunta: a adoção de tecnologias da informação aliada à
gestão orientada por processos influencia a qualidade do relacionamento e os modos de
coordenação das cadeias de suprimento? Como objetivo o artigo pretende apresentar uma
revisão da literatura existente sobre o assunto.
Ainda que existam estudos relacionados à área de sistemas de informação em cadeias
de suprimentos, pouco ainda está estabelecido “sobre seu impacto em práticas colaborativas
complexas, incluindo tomada de decisão conjunta de alinhamento de incentivos”
(WIENGARTEN et al, 2012 p. 26). Identifica-se então a necessidade de melhor explorar a
influência da tecnologia da informação dentro das relações em cadeias de suprimentos.
2. Coordenação em cadeias de suprimentos
A gestão da cadeia de suprimentos foi definida pelo Global Supply Chain Forum
como a “integração dos processos chave de negócios desde o usuário final através de
fornecedores que oferecem produtos, serviços e informações que adicionam valor para os
consumidores e outros stakeholders” (LAMBERT; COOPER; PAGH, 1998, p.1). Com a
implementação da gestão da cadeia de suprimentos, o foco de gestores em uma visão
individualista no relacionamento entre provedores logísticos, fornecedores e consumidores é
substituído por relacionamentos cooperativos de mais longo prazo, vendo fornecedores e
consumidores como aliados em vez de adversários. O objetivo no caso é “ maximizar
competitividade e lucratividade para a companhia, assim como para toda a cadeia de
suprimentos incluindo o usuário final” (LAMBERT; COOPER; PAGH, 1998, p.4)
O maior desafio na cadeia de suprimentos é gerenciar membros muito diferentes, mas
dependentes entre si dentro dessas cadeias (ARSHINDER; DESHMUH, 2009). Para que a
cadeia de suprimentos seja eficiente, é esperado que todos os membros dessa cadeia ajam
coerentemente para que seja alcançada coordenação. O controle centralizado da cadeia de
suprimentos assegura a coordenação do canal, mas pode não ser realista pelas características
individuais de cada agente da cadeia. Com controle descentralizado, os membros otimizam
decisões locais sem considerar o impacto geral de suas decisões para os outros agentes da
cadeia e o desempenho como um todo (WHANG, 1995).
A coordenação entre firmas independentes, como fornecedores de matérias primas,
fabricantes, distribuidores, operadores logísticos terceirizados e varejo, é a chave para se obter
a flexibilidade necessária para progressivamente permitir que processos logísticos sejam
melhorados para resposta a condições de mercado dinâmicas. Em casos de baixa coordenação
entre os membros da cadeia de suprimentos, pode haver problemas na ordem do desempenho
operacional dessa cadeia (SIMATUPANG; WRIGHT; SRIDHARAN, 2002). Algumas das
2
consequências negativas de baixa coordenação a serem citadas podem ser: maiores custos de
armazenagem, tempos mais altos de entregas, custos mais altos de transportes, maiores níveis
de perdas e danos e diminuição do nível de serviço ao consumidor (LEE et al, 1997).
No contexto de cadeias de suprimentos coordenação pode ser visto como o ato de
combinar de forma apropriada (relacionar, harmonizar, ajustar, alinhar) um número de objetos
(ações, objetivos, decisões, informações, conhecimentos, recursos monetários) para que uma
meta comum seja atingida (SIMATUPANG; WRIGHT; SRIDHARAN,2002).
Os elementos da coordenação são: interdependência - medidas são tomadas por um
sistema e afetam as ações e resultados de outro sistema (MCCANN; FERRY, 1979);
coerência: é necessário que haja uma orquestração da cadeia de suprimentos em que deve
haver uma agenda comum entre os agentes da cadeia de suprimentos de modo a definir metas
que realizem a agregação de valor para o consumidor final (CHRISTOPHER, 2007);
mutualidade: valores subjacentes de responsabilidades entre parceiros com grande ênfase na
sustentação do relacionamento de modo a se alcançar metas de modo efetivo. A literatura de
contrato social reconheceu que qualquer relação entre parceiros de negócios deve contribuir
para um clima de mutualidade (CAMPBELL, 1997).
3. Modos de coordenação
3.1 Sincronização logística e de atividades
A sincronização logística diz respeito a reconhecer e planejar iniciativas de melhoria
que significativamente contribuem para a criação de valor na aquisição, consumo e disposição
de produtos nos mercados em constante mudança. A integração das atividades é definida
exatamente até qual extensão os parceiros da cadeia de suprimentos estão engajados em
planejamento e previsões feitas de forma colaborativa (GHOBAKHLOO; TANG, 2014).
É necessário entender a demanda do consumidor e alinhar a gestão de estoques,
instalações e transporte entre parceiros de modo a tornar realidade grandes aprimoramentos na
resposta dos requisitos dos consumidores, menores custos de estoques, maior disponibilidade
de produtos, obsolescência e variações mínimas dentro de qualquer evento inesperado como
erros de previsão e atrasos que possam interferir no desempenho da cadeia (SIMATUPANG;
WRIGHT; SRIDHARAN,2002).
Além da integração de atividades é necessário haver integração de sistemas entre as
firmas, que é definida como a extensão em que a comunicação na cadeia de suprimentos está
pronta para dar suporte para a integração das atividades da cadeia. A integração de sistemas
não se manifesta como condição suficiente, mas é condição fundamental para uma integração
de atividades da cadeia de suprimentos (KIM; CAVUSGIL, 2009).
3.2 Integração do fluxo de materiais
Integrar o fluxo de materiais pode ser definido como o grau em que uma empresa focal
usa alguma otimização global entre os seus parceiros na cadeia de suprimentos para gerenciar
os estoques e o fluxo de produtos acabados ou não desde o ponto de origem (o fornecedor
inicial), até o último ponto (consumidor final), de modo que aponta para qualidade
aprimorada e custos reduzidos podem ser alcançados por possível integração fornecedores e
processos internos de seus consumidores (GHOBAKHLOO; TANG, 2014).
3
Os benefícios de integração do fluxo de materiais podem ser: prática de just in time
efetiva e gerenciamento melhorado dos fornecedores; redução de estoques de segurança,
tamanho de lote, além de aprimoramento na movimentação de materiais; construção de
competências ganhadoras de pedidos; aprimoramento da produtividade relativa a redução de
custos de produção, logística, armazenagem; melhoria do desempenho da cadeia de
suprimentos (GHOBAKHLOO; TANG, 2014).
3.3 Compartilhamento de informação
Segundo Simatupang Wright e Sridharan (2002) a assimetria de informações é algo
inerente das cadeias de suprimentos. A coordenação da coleta, processamento e disseminação
da informação entre os membros da cadeia de suprimentos deve ser acompanhada de preparo
dos membros um utilizar as informações disponíveis de modo a poder-se alcançar melhores
níveis de desempenho operacional e financeiro. Nesse contexto a tecnologia da informação
tem um papel importante em potencializar o compartilhamento de informações e desempenho
da cadeia de suprimentos por meio de ferramentas como internet, intranet, softwares
específicos e sistemas de apoio a decisões (GHOBAKHLOO; TANG, 2014).
O compartilhamento de informações é o primeiro e mais óbvio resultado da adoção de
tecnologia da informação em cadeias de suprimentos. O compartilhamento de informações
pode ser definido como a habilidade de uma firma de compartilhar conhecimento com os seus
parceiros de forma eficiente e efetiva. O processo de troca inclui todo tipo de informação:
operacionais, táticas e estratégicas. Indicadores de compartilhamento de informações segundo
Welker, Vaart e Donk (2008) podem ser números relativos a estoques e vendas, cronograma
de entregas e produção, planejamento e previsão de demanda.
3.4 Alinhamento de incentivos
Incentivos definem o quanto os decisores são recompensados ou punidos pelas
decisões tomadas. O conflito de interesses é provável de acontecer quando os incentivos
existentes direcionam as ações para ganhos pessoais, menos que ganhos globais (CLEMONS;
ROW, 1993). Esquemas tradicionais de incentivos são comumente baseados em custos
menores para as empresas individualmente não criando valor no sentido de serviços ao
consumidor, pois está focado na redução de custos em um estágio da cadeia de suprimentos.
Esta otimização local frequentemente sacrifica o lucro total (SIMATUPANG;
WRIGHT; SRIDHARAN,2002). Por exemplo, o fabricante recompensa o varejista baseado
no número de unidades pedidas durante determinado período, este toma vantagem desse
incentivo aumentando seu nível de estoque para fazer compras maiores com preço unitário
reduzido e então vende o produto pelo mesmo preço ao consumidor final ou revende para
outros varejistas, tirando vantagem dos descontos conseguidos (CLEMONS; ROW, 1993).
3.5 Aprendizado coletivo
A coordenação de aprendizado coletivo lida com como atacar o problema de coerência
na construção e difusão de conhecimento que passe das fronteiras da organização. Uma ênfase
especial deve ser dada na experiência prática de aprendizado conjunto para entender e criar
competências tácitas em implementar inciativas de melhorias em logística. O domínio de
competências tácitas envolve diálogo intenso, experimentação e discussão de dados,
4
informação e conhecimento para a construção de conhecimento coletivo (SENGE, 1990 apud
SIMATUPANG; WRIGHT; SRIDHARAN,2002).
A coordenação de conhecimento coletivo não só consiste na análise e síntese de
melhorias correntes, mas também inclui como garantir a entrada de colaboradores chave na
fase de implementação de tais melhorias. “O iniciador das soluções para se superar barreiras
deve ter habilidade para lidar com desentendimentos com outros colaboradores, ou a solução
pode ter resultados pouco eficientes ou até mesmo desastroso” (SMITH, 2000 apud
SIMATUPANG; WRIGHT; SRIDHARAN,2002, p. 298).
3.6 Coordenação financeira
A coordenação financeira pode ser definida como a habilidade de uma firma de
coordenar atividades financeiras com os parceiros da cadeia de suprimentos. Essa
coordenação necessita facilitar o fluxo de recursos financeiros através da cadeia de
suprimentos, incluindo a cobrança de consumidores, pagamento de fornecedores e
pagamentos internos (GHOBAKHLOO; TANG, 2014).
Coordenação financeira bem desenvolvida pode reduzir custos de transação e
aprimorar eficiência operacional. Devido ao potencial de ser responsável por aumento de
receitas, satisfação de acionistas, e melhor relacionamento com consumidores. Pode ser
inferido que uma efetiva coordenação financeira e fluxo de recursos financeiros é
fundamental para melhor desempenho da cadeia de suprimentos (WU et al, 2006).
4. Qualidade de relacionamento
O construto qualidade de relacionamento foi amplamente estudado por diversas
perspectivas teóricas incluindo a teoria de custos de transação, teoria de troca social e a teoria
de dependência de recursos (FYNES, VOSS, BURCA, 2005). Segundo estes autores linhas de
pesquisa sobre o tema aparecem dentro de áreas diversas como marketintg business-tobusiness, gestão de canais de distribuição, marketing de relacionamento, gestão de operações,
gestão da cadeia de suprimentos, logística e gestão de compras. Vários modelos foram
desenvolvidos abordando dimensões diferentes para o construto qualidade de relacionamento,
mostrando pouca convergência em estudos teóricos e empíricos que o estudam.
Por exemplo, Gummesson (1987) identifica que alta qualidade relacional contribui
para a percepção do consumidor de qualidade e, portanto, aumenta as possibilidades do
estabelecimento de relacionamentos de longo prazo. Ravald e Grönroos (1996) indicam que a
qualidade do relacionamento pode ser decorrente por meio do aumento do benefício
individual ou pela diminuição do sacrifício feito. Crosby, Evans e Cowles (1990) definiram
que a qualidade do relacionamento se estrutura na medida em que o vendedor tem habilidade
de reduzir a incerteza no sentido de levar-se a um ambiente em que o comprador passa a
confiar na integridade do vendedor e o desempenho satisfatório do passado passa a contar no
crivo do comprador para desempenhos igualmente satisfatórios futuros no relacionamento.
O construto qualidade de relacionamento, nas diversas perspectivas em que é
estudado, é medido de formas diversas. Crosby, Evans e Cowles (1990) trabalham o construto
enquanto formado pelas dimensões confiança e satisfação. Mohr e Spekman (1994) avaliam
5
confiança dentro das dimensões: compromisso, coordenação, confiança, qualidade da
comunicação, participação e resolução de problemas conjuntos.
Wilson e Jatrania (1996) determinam que a qualidade do relacionamento no contexto
business-to-business é formada por: compatibilidade de objetivos, confiança, satisfação,
investimentos, laços estruturais, laços sociais e nível de investimento em relacionamentos
alternativos. Fynes, Voss e Burca (2004) fizeram um estudo empírico para testar a
multidimensionalidade do construto utilizando as dimensões: confiança, adaptação,
comunicação, compromisso, cooperação e interdependência.
Naudé e Butle (2000), fizeram uma pesquisa bibliográfica extensiva para identificar as
diferentes perspectivas estudadas sobre o construto e reuniram dentro da literatura pesquisada
as seguintes dimensões relacionadas a qualidade de relacionamento: confiança, satisfação,
compromisso, coordenação, comunicação, solução conjunta de problemas, laços, congruência
de objetivos, investimentos, poder e lucros. Na sequência do estudo, uma fase empírica de
indicação de quais atributos são mais importantes para executivos e conclusão é que a
qualidade do relacionamento é determinada por uma situação de por uma situação de
confiança, lucros, satisfação de necessidades e integração melhor do que atualmente.
5. Recursos de sistemas de informação
Melville, Kraemer e Gurbaxani (2004) operacionalizaram o termo recursos de
sistemas de informação (SI) como uma composição de capital físico (estrutura de sistemas de
informação), capital humano (conhecimento técnico e gerencial) e recursos de capital
organizacionais. Fink e Neumann (2009) abordam o construto de acordo com as abordagens:
orientada para questões técnicas, composta por elementos de natureza de tecnologias da
informação (TI) e humanas enquanto componentes dessa abordagem; orientada por processos
que ultrapassa as questões dos componentes relacionados à tecnologia e trata mais
diretamente dos processos e atividades que exploram o uso da TI.
Por outro lado, estudos que tratam da habilitação de competências físicas por meio da
TI trata de questões como integração de processos, coordenação da cadeia de suprimentos,
aprendizado em relacionamentos. Tal abordagem trata de atividades inter-funcionais ou
interorganizacionais. Esta abordagem enxerga a TI como uma arquitetura ou arranjo de
componentes técnicos, compartilhado através da cadeia de suprimentos. A lógica de tal
abordagem é a padronização de dados e sistemas utilizados em cadeias de suprimentos que
permitem maior coordenação das atividades entre os parceiros (WU; KIM; CAVUSGIL,
2006). O presente artigo trata dos recursos de sistemas de informação dentro de três níveis:
alinhamentos de sistemas de informação, qualidade dos sistemas de informação, atualização
dos sistemas de informação.
A ideia principal do alinhamento dos recursos de sistemas de informação é a
possibilidade de as firmas poderem desenvolver competências nos processos das cadeias de
suprimentos as quais não existiriam se elas atuassem individualmente no mercado. Essas
competências necessitam de integração e o alinhamento de sistemas de informação pode ser a
base para tal integração. Além disso tal alinhamento permite o compartilhamento de
informações que podem interferir na operacionalização de estratégias, aumentar a
coordenação entre os agentes da cadeia de suprimentos, permitir planejamento conjunto,
6
aumentar a responsividade da cadeia bem como a efetividade em atender mercados
(WU;KIM;CAVUSGIL, 2006).
A qualidade técnica dos sistemas de informação, segundo Wu, Kim e Cavusgil (2006),
é a medida mais utilizada para se investigar os recursos de sistemas de informação das firmas.
Os recursos técnicos de sistemas de informação e suas referidas qualidades estão relacionadas
a especificação, qualidade de hardware, software, bases de dados, aplicações e redes. O
desempenho e eficiência de hardware, sistemas operacionais, serviços de comunicação e
aplicação de softwares nos negócios são algumas medidas para avaliar a qualidade técnica dos
sistemas de informação (RAY; MUHANA; BARNEY, 2005).
A atualização dos sistemas de informação se refere a aplicação dos recursos mais
avançados existentes para o aprimoramento dos relacionamentos das cadeias de suprimentos.
É esperado que organizações aumentem sua eficiência em atividades e processos por meio de
sistemas de informação mais avançados que os competidores (KIM;CAVUSGIL,2009).
Sistemas de informação avançados podem contribuir com o desempenho das cadeias de
suprimentos em atividades como planejamento colaborativo, previsão de demanda, gestão de
estoques de modo a contribuir com descobrimento de padrões dos dados e acelerar a troca de
informações através da cadeia de suprimentos (GHOBAKHLOO; TANG, 2014). Podendo
ainda resultar em melhor coordenação e redução de custos de transação entre os parceiros,
aumentando a integração entre os mesmos (WU; KIM; CAVUSGIL, 2006).
Sistemas de informação avançados como sistemas de interpretação permitem
resultados na criação de novos conhecimentos por meio da possibilidade de que a informação
fornecida por parceiros na cadeia de suprimentos seja organizada, rearranjada, e processada
de modo mais efetivo (GHOBAKHLOO; TANG, 2014). Da mesma forma, sistemas de
informação mais avançados permitem que parceiros de negócios possam responder a
mudanças na demanda mais rapidamente (WU;KIM;CAVUSGIL, 2006). Os mesmos autores
sugerem que para se alcançar maior alinhamento dos sistemas de informação é necessário que
um nível mais avançado em termos de sistemas de informação seja implementado.
6. A visão da gestão baseada em processos e Business Process Management (BPM)
A adoção de tecnologia da informação aliada a gestão por processos, diferente da
visão da gestão por funções, pode ser um fator importante na determinação de desempenhos
superiores. O gerenciamento dos processos de negócio (Business Process Management –
BPM), foca a melhoria contínua e o atendimento das necessidades dos clientes, sendo uma
espécie de síntese entre a representação de processos e as tecnologias de colaboração (em
especial as tecnologias de informação) que promove superação dos obstáculos que impedem a
execução da estratégia organizacional. A ABPMP define BPM como:
Um enfoque disciplinado para identificar, desenhar, executar, documentar, medir,
monitorar, controlar e melhorar processos de negócio, automatizados ou não, para
alcançar resultados consistentes e alinhados com os objetivos estratégicos da
organização (ABPMP 2009, p.92).
Para Smith e Fingar (2003), o Gerenciamento de Processo de Negócio (BPM) é uma
abordagem disciplinada para identificar, desenhar, executar, documentar, medir, monitorar, e
controlar processos de negócio automatizados e não automatizados, para alcançar resultados
7
pretendidos consistentes e alinhados com as metas estratégicas de uma organização. BPM
permite que uma organização alinhe seus processos de negócio a sua estratégia
organizacional, conduzindo a um desempenho eficiente através de melhorias das atividades
específicas de trabalho em um departamento, em toda a organização ou entre organizações.
A implementação eficaz do BPM gera resultados positivos, podendo ser destacado a
compatibilização dos fatores envolvidos nos processos (em especial pessoas, tecnologia e
insumos), maior responsividade às mudanças de mercado, melhor capacidade de
gerenciamento da cadeia de suprimentos, redução da variabilidade dos resultados dos
processos e aumento da capacidade de monitoramento do desempenho, dentre outras.
O maior benefício, e talvez o primeiro desafio, é o rompimento da estrutura funcional
vigente na organização. A canalização do esforço gerencial na busca da excelência funcional
impede a visão global da organização. Esse desafio deve ser enfrentado através da
estruturação dos processos organizacionais, apoiada na aplicação do BPO (Business Process
Orientation - Orientação para Processos de Negócios). O resultado final é a reorientação dos
modelos de negócio aos processos que entregam valor ao cliente, reduzindo os esforços
destinados às atividades que não agregam valor (HAMMER; STANTON, 1999;
MCCOMARK et al., 2003; CROXTON et al., 2001).
Os processos de negócio são responsáveis pelo funcionamento das organizações e
contribuem para seu sucesso ou fracasso (CHOPRA e MEINDL, 2003; CHISTOPHER,
2007). Resultados organizacionais são concretizados por processos de negócio, definidos
como sequência de atividades desenvolvidas a partir de inputs, a fim de concretizar um output
que entregue valor para o negócio (DAVENPORT, 1993; 2005; HAMMER, 2001). De acordo
com Porter (1989) essa seqüência de atividades pode se tornar fonte de vantagem
comparativa, quando executada de forma mais eficiente que o resto do mercado.
7. Considerações Finais
Para a gestão da cadeia de suprimentos é preciso que as empresas envolvidas troquem
informações entre si. Sendo então o investimento em tecnologia da informação que permita
esse câmbio reconhecido como uma necessidade para que os resultados sejam satisfatórios.
Além disso, com mercados cada vez mais competitivos o uso de novas ferramentas pode ser
uma forma de gerar vantagem perante os concorrentes.
A partir do entendimento de que a tecnologia da informação pode ser uma base
importante para estratégias das cadeias de suprimentos e tendo como norte a questão: a
adoção de tecnologias da informação aliada à gestão orientada por processos influencia a
qualidade do relacionamento e os modos de coordenação das cadeias de suprimento? Procedese uma revisão da literatura existente sobre o assunto.
Como identificou-se a necessidade de explorar a influência da tecnologia da
informação nas relações em cadeias de suprimentos e com base no levantamento teórico
realizado, supõe-se as relações entre os construtos, figura 1, podendo servir como ponto de
partida para o desenvolvimento de modelo para análise das relações. Considera-se que os
Recursos de Sistemas de Informação tem correlação com a Gestão de Processos, sendo
antecedentes dos Modos de Coordenação e da qualidade do relacionamento.
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FIGURA 1 – Resumo da relação entre os construtos. Fonte: elaborada pelos autores.
Entendendo-se que um levantamento teórico é um passo inicial, sugere-se para
trabalhos futuros a verificação da relação entre os construtos de maneira empírica, através de
estudos aplicados a cadeias de suprimentos. Desta forma poderia se verificar na prática se a
adoção de tecnologias da informação aliada à gestão orientada por processos influencia a
qualidade do relacionamento e os modos de coordenação das cadeias de suprimento.
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