A máquina e a coleção de Joseph Walser1

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A máquina e a coleção de Joseph Walser1
A máquina e a coleção de Joseph Walser1
Pedro Meneses
Universidade do Minho
Resumo
Ao contrário de Klaus Klump, Joseph Walser não participa na guerra. Não tinha vontade de o
fazer nem a isso fora obrigado. A máquina é a sua ligação privilegiada, toma-a como modelo de
eficiência, de cujo mundo fatalmente se verá arredado, após a perda de um dedo. Refugia-se do
real no imaginário da sua coleção de peças metálicas. É um colecionador de pequenas ruínas,
um corcunda melancólico à margem da História, na coleção encontrando a ordem de que o
mundo humano carece – fatalmente, poderia dizer Walser. É um ser que resiste a ser arrastado
pela voragem do futuro. Também joga aos dados com os amigos, uma forma mais de se
esquivar à vertigem ética, que curto-circuita o consolo da previsibilidade técnica.
Palavras-chaves: máquina; ética; coleção; melancolia; Joseph Walser
Abstract
Unlike Klaus Klump, Joseph Walser doesn’t take part in the war. He didn’t have the will to do it,
and he wasn’t forced to do it, either. The machine is his privileged connection, he takes it as a
model of efficiency, whose world he will fatally be away from after losing a finger. He takes
refuge in the imaginary world of his collection of metal pieces. He is a collector of small ruins,
a melancholic hunchback on the sidelines of history. In the collection he finds the order that
human world misses – Walser could say fatally. It is a human being who resists being dragged
by the maelstrom of the future. He also plays dice with his friends, a way of evading from the
ethical vertigo, which short-circuits the consolation of technical predictability.
Keywords: machine; ethics; collection; melancholy; Joseph Walser
Máquina
Veja esta fábrica: estamos perante o espanto sobrenatural. Tudo é tão estupidamente
previsível nestas máquinas que se torna surpreendente; é o grande espanto do século, a
grande surpresa: conseguimos fazer acontecer exactamente o que queremos que aconteça.
Tornámos redundante o futuro, e aqui reside o perigo. Se a felicidade individual depende
destes mecanismos e se torna também previsível, a existência será redundante e
desnecessária: não haverá expectativas, luta ou pressentimentos.
Fala-se em máquinas de guerra, mas nenhuma máquina é pacífica, Walser (TAVARES,
2011, p. 151).
A fábrica provoca um espanto análogo ao que os fenómenos sobrenaturais
1
Este ensaio é uma versão com bastantes alterações de um capítulo da minha tese de mestrado, intitulada
A natureza não reza. Sobre a tetralogia O Reino de Gonçalo M. Tavares.
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provocam. Podíamos, até, ler ‘sobrenatural’ somente como o que está além do natural –
a máquina, pois. A previsibilidade da máquina, devida ao engenho humano, surpreendenos sempre. Surpreendemo-nos com o previsível, ou, de outra forma, o entusiasmo com
a nossa destreza técnica é inesgotável: um encantamento narcísico contínuo. Numa
entrevista sobre Uma Viagem à Índia concedida a Carlos Vaz Marques (2010, p. 35.),
Gonçalo M. Tavares falava do tédio inerente a uma viagem à Índia de avião. As nossas
vidas são menos imprevisíveis graças à técnica. É no imprevisto em que convizinham e
se alimentam mutuamente o não-hermeneutizável e a alegria que se joga o sagrado. Para
o homem e para a mulher modernos, ou pós-modernos, ou hipermodernos, a alegria
infantil revive através da ligação à máquina. Fascina-nos portanto a previsibilidade de
que carecemos, não o incognoscível sobrenatural propriamente, mais ainda porque não
compreendemos como fomos nós – seres imprevisíveis – que a engendramos.
Da máquina não se diz apenas que provoca espanto. Este espanto aproxima
Joseph Walser da máquina, da qual passa a depender não só económica como
existencialmente. Diga-se que máquina pode ser no romance um sinónimo para a
eficiência que a melancolia irá comprometer. Num mundo dominado pela máquina, o
futuro é igual ao passado. Isto é, o espanto não é acompanhado pela crença na revolução
que a máquina trará, como algumas vanguardas acreditaram. 2 A máquina, porque
programada, torna redundante o futuro, tempo que passa a estar a mais (é uma repetição
do presente, que, por isso, é suficiente) e isso é perigoso (se o futuro já está visto, de
que serve estar vivo? E a imprevisibilidade ética continuará intacta?). A existência
previsível, racionalizada, passa a ser um ideal. O criador quer, já suspeitávamos, ser
como a criatura. As máquinas repetem movimentos, não têm dimensão ética, respondem
a uma programação. Uma época estruturada pela maquinaria encerra-se num tempo
constantemente repetido, num eterno presente, na qual até a luta (de classes?) cessa. A
máquina tem como função tornar o futuro um lugar previsível, eliminando as
expectativas e o medo. Neste contexto, o futuro torna-se uma repetição do mesmo,
embora com novos produtos, novas coisas, que dão a falsa ideia de progresso. Portanto,
2
Ao situar a arte do início do século XX no seu contexto histórico, Jean Clair (1999, p. 14.) escreve o
seguinte: “Si bien se admitía que el futurismo y la exaltación de la máquina habían acentuado, cuando no
preparado, el mito de la guerra «purificadora» y conferido un aval intelectual a la hegemonía del mundo
técnico, menos dispuesto se estaba a admitir que la figura del «Hombre nuevo», ampliamente difundida
de la extrema izquierda a la extrema derecha, era de esos lugares comunes que propagaba la ideología de
vanguardia.”
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a máquina não apenas desqualifica o passado, ultrapassado e por isso esquecido, como
subtrai a imprevisibilidade ao futuro, essa mesma que consideramos humana. Aquele
novo não é adorado por J. Walser, que usa sapatos velhos e gastos e veste o que está
ultrapassado. Como explica Lipovetsky (2011, p. 63.), foi a moda que desqualificou o
passado e colocou o presente no centro da mundividência moderna graças à valorização
do novo. A moda – como a guerra – destrói os valores, os hábitos, os objetos, os modos
de pensar e de sentir do passado, projeta-se para o futuro.3 Walser, por seu turno, alheiase do futuro, da guerra e da moda, é fiel aos velhos objetos, ao passado: um ser fora do
seu tempo.
A máquina produz tédio. Com a eliminação do inesperado, o ser desconhece o
devir. O tempo produzido pela máquina gera assim anomalias ontológicas. E assegura,
desde logo, uma certeza: o amanhã é igual a hoje, o que contrasta, de resto, com o devir
circular do mundo natural e, por inclusão, do mundo humano. A “felicidade individual”
dependeria da redundância do tempo natural – em que o que ocorresse na natureza nos
fosse previsível. Neste sentido, importa confrontar a visão prometeica de tecnologia, de
acordo com a qual o desenvolvimento técnico tem como fim a felicidade humana, não
se esgotando em si mesmo, perspetiva que contrasta com a visão fáustica da técnica, de
acordo com a qual a investigação científica tem como único e exclusivo fim o seu
indeterminado – infinito? – desenvolvimento. De acordo com o narrador, a felicidade
humana residiria em nada esperar, nem ipso facto temer. Isto é, a felicidade estaria, por
um lado, numa ataraxia em que mesmo a morte já fosse um horizonte fosco que não
causasse angústia e, por outro, num estoicismo fraco a partir do momento em que os
humanos já não tenham o futuro obnubilado pela incerteza. A “felicidade individual”
resultaria, em suma, da tranquilidade de não ter que lidar com o jogo ético – eis o
ensinamento da máquina.
Com a guerra, os humanos pretendem fazer avançar a História. A existência
presente pensa-se em função do tempo que virá. Com a guerra, importará mais o futuro
do que o presente ou o passado. Ou, nos termos anteriores, a guerra poderá garantir a
repetição de um presente novo. Muitos ideólogos creem que dos escombros da guerra
3
Desta forma se entenderá melhor por que razão um colecionador – Walter Benjamin – se preocupou
com o facto de a reprodutibilidade técnica extinguir a aura nos objetos e na arte (1992b, p. 17-25).
Objetos sem aura são objetos do passado. O olhar melancólico sobre a inapelável transitoriedade das
coisas reinvesti-las-á do valor cultual perdido na engrenagem do novo.
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irrompe a luz límpida do ideal, nem que para isso tenha o presente que ser arrasado.
Quem faz a guerra ignora os escombros, foi capturado por uma imagem idílica do futuro,
exerce, em consequência, uma força aceleradora sobre o tempo:
Como se a guerra fosse precisamente uma concentração excessiva de milagres. Um abuso
de acontecimentos num curto espaço de tempo, uma aceleração sobrenatural, um
atrevimento humano, e, mais que indelicadeza: uma rudeza exercida sobre o tempo
(TAVARES, 2011, p. 145).
O passado – cuja sinédoque são os “sapatos velhos e gastos” usados por Walser –
é imoral ao lado desta força. A impreparação física em que os sapatos velhos deixam
Walser, também. Falamos, pois, de uma moral fundada na força e no domínio, que
concebe o futuro como lugar ideal. Walser não participa nessa guerra, anda, como o
anjo da história, de costas para o futuro, enquanto transporta os sapatos velhos de um
tempo desqualificado. Não ter participado na guerra pode ser entendido como
previdente ou cobarde.4 Walser realiza duas atividades na cidade: trabalha com uma
máquina e coleciona minúsculos objetos metálicos, uma atividade que apenas perante si
mesmo faz sentido. Isso: realizar algo que para si mesmo faça sentido, algo eticamente
motivado. Ou, noutra perspetiva, curva-se para recolher as ruínas, o lastro, da História.
Para além disso, ainda se compraz a jogar aos dados com amigos.
“Fala-se em máquinas de guerra, mas nenhuma máquina é pacífica, Walser”
(TAVARES, 2011, p. 151). O narrador destaca a redundância da expressão “máquina de
guerra”, que se explica não só porque o desenvolvimento técnico é impulsionado por
guerras, como porque a máquina é radicalmente outro, constituindo uma ameaça ao
mundo humano, substituindo-o em várias funções. Não é necessário evocar o
desenvolvimento de “ciberinteligências” (MARTINS, 2011, p. 105), de conhecimento
gerado por máquinas que no limite superará as capacidades cognitivas humanas,
convertendo a criação em criador, alcançando o ser humano o estatuto de Deus, criador
de criadores. Basta que se considere que o mundo simbólico sempre funcionou como o
mundo da máquina (KITTLER, 1997, p. 141): codificando o real em fórmulas, em
injunções. Klober Muller, o encarregado da fábrica onde Walser trabalha, que formula a
4
Considera Peter Sloterdijk, aludindo à investigação antropológica, que “a fuga é mais antiga que o
ataque” (SLOTERDIJK, 2011, p. 282.). Entendida a cobardia de maneira neutra, isto é, sem lentes morais,
teremos que concluir que “fugir é mais avisado do que resistir” (SLOTERDIJK, 2011, p. 282.).
Complexificando esta questão, Sloterdijk demonstrará neste ensaio como a possibilidade de atacar à
distância – através do desenvolvimento militar – converte com mais facilidade do que no passado um
cobarde num herói.
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frase citada no início do parágrafo, parece negar a visão prometeica da técnica, a qual
defende uma vocação humanista para o desenvolvimento técnico (MARTINS, 2011, p.
116).5 A criação da máquina é impulsionada, na mundividência do romance, pelo desejo
de domínio. O desenvolvimento técnico encontra, assim, em si mesmo justificação, é
um desafio cognitivo permanente que o homem coloca a si mesmo, é expressão pura de
desejo – eis a definição de cultura fáustica de Oswald Spengler (1993, p. 49). Por fim,
Walser está dependente economicamente da máquina e, como veremos, encontra-se
exposto à morte, pois a máquina é como o soberano que a todo o momento pode
aniquilar Walser.
Coleção
Walser resguarda-se da guerra e do mundo através da coleção. O estar ligado
com a máquina ficou comprometido depois de uma desatenção, que o fez perder um
dedo, o indicador da mão direita. Esta tragédia abalou a sua relação com o mundo,
impedindo-o de continuar a ser um homem eficaz, um funcionário exato e obediente,
expulsando-o do mundo das máquinas. O vazio deixado por esta amputação é índice da
sua falha como sujeito, deficiência motora que Klaus Klump não conheceu, apesar de
ter participado na guerra. Tal como na guerra um inimigo o poderia matar a qualquer
momento, também defronte da máquina, que lhe garantia o emprego, a probabilidade de
morrer ou de ser amputado é considerável: “Uma falha na máquina que o salvava
monotonamente, poderia de um momento para o outro acabar-lhe com a vida ou com o
modo de o seu corpo contactar com a vida” (TAVARES, 2011, p. 156). Isto é,
trabalhando em frente a uma máquina, Walser estaria tão exposto à morte como se
tivesse decidido participar como soldado na guerra. Trabalhar com a máquina é,
portanto, uma guerra. Walser, depois do acidente, conhecerá um período de destituição
subjetiva, de abalo das coordenadas simbólicas.6 No final da segunda parte do romance,
5
A erosão desta crença escatológica num mundo melhor graças ao desenvolvimento técnico acentua-se
na nossa era pós-ideológica, regista também Hermínio Martins (2011, p. 116).
6
Perante uma situação-limite, a linguagem e outras convenções tornam-se dispensáveis. Evocamos um
episódio de A lição de alemão, romance de Siegfried Lenz convocado no Atlas do corpo e da imaginação
(TAVARES, 2013, p. 98-99): “No romance A lição de alemão, há um momento fulcral, em que uma
mulher recebe o marido vindo da guerra, deficiente, sem pernas. Com a ajuda de dois homens, a mulher
põe o marido na carroça. Este ‘deixara tudo entregue à mulher e estava de acordo com tudo o que ela
aceitasse ou recusasse’. Os dois homens ficam depois a observar o casal que ia na carroça à frente, sem
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trai Margha com a voluptuosa Clairie, mulher que simboliza o excesso do gozo. Nem
este reencontro com um ostensivo substituto do corpo da mãe o reabilita como sujeito –
está-lhe vedada a jouissance por causa do dedo perdido. Como este momento de
anticlímax, o coito que Margha interrompeu por não se conseguir abstrair da mão direita
de Walser, destoa da normalidade afetiva de toda a cidade após a guerra, dessa
normalidade que avança sempre, inclusivamente sobre os escombros da História. Nem
todos recuperam os velhos gestos de antes da guerra. Já enquanto ela decorria, a
salvação possível de Walser residia na sua melancolia de colecionador. Se Klaus Klump,
Lenz Buchmann e Theodor Busbeck, personagens fortes de outros romances de O Reino,
encaram as coisas segundo uma atitude científica, prospetiva, manipuladora, produtiva,
J. Walser, por seu turno, encara-as segundo uma atitude estética, contemplativa,
nostálgica. É, neste sentido, um protagonista fraco, que falhou enquanto ser eficiente.
Leia-se o que Walter Benjamin (2007, p. 60) escreveu sobre a sua coleção de
livros: “For what else is this collection but a disorder to which habit has accommodated
itself to such an extent that it can appear as order?” Reconheçam-se as semelhanças com
o que nos diz o narrador sobre a coleção de Walser: “Aquele mundo que, visto de fora,
poderia parecer ilógico e estranho, estava profundamente ordenado; era uma 2.ª ordem,
que só ele percebia” (TAVARES, 2011, p. 88). A coleção tem uma aparência caótica,
todavia possui uma ordem: a coleção de peças metálicas configura-se como espaço
imaginário e define-se como vestígio da passagem do sujeito pelo mundo, formando
uma sua autorrepresentação. A coleção é a ordem possível, é a manifestação de um
desejo de ordem. Se o mundo humano estava em convulsão, se, para Walser,
independentemente da guerra, da invasão do país por outro povo, a guerra é a única
forma de ser do mundo, então a ordem terá que ser procurada noutro lugar. Na máquina,
exata; na coleção, que consola do desassossego do mundo. Mas também no jogo de
dados, durante o qual o que podia acontecer conhecia um limite:
Exigia-se, naquelas horas, um outro tipo de decisões, que não as que habitualmente os
dias pediam a cada homem. Evaporava-se a tensão que resulta da existência de um
número de possibilidades infinitas; ali, naquela mesa, cada um dos dados limitava os
caminhos.
E o que dava prazer a Joseph Walser era precisamente a sensação de que ali, finalmente,
trocar uma palavra: ‘Ainda não, não dizem uma palavra um ao outro’. ‘Porquê?’, pergunta um. Porque
vêem ‘o suficiente’, responde o outro. Vêem o suficiente, para quê falar? Como se a brutal modificação
do corpo constituísse um insubstituível discurso”.
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havia limites. Nada era desconhecido, não havia o algo mais que perturba, o algo mais
não visível. (TAVARES, 2011, p. 162).
Esse “algo mais” reporta-se não apenas à imprevisibilidade daquilo que acontece,
como à angústia que precede todas as decisões éticas. O jogo de dados consola porque
não requer que o jogador faça escolhas, aquelas que a vida demanda permanentemente.
Uma vez mais fica patente o desejo de ser como a máquina, exata, obediente a um
mecanismo.7
Susan Sontag (1992, p. 11) apodou Walter Benjamin de “apático, indeciso e
lento”, adjetivos que se ajustam outrossim a J. Walser. O próprio Benjamin considerava
que seriam estes os atributos das pessoas saturnianas. Walser tende, como o
melancólico Walter Benjamin apresentado por Sontag (1992, p. 17), “a projetar para
fora de si o seu torpor interno”, é alguém que experimenta a imutabilidade do infortúnio
como “algo maciço, quase como uma coisa”. Os objetos são, aos olhos do melancólico,
reificações do torpor, projeções de uma perda mais difícil de superar porque
omnipresente. A paixão concentra-se em algo estático: os objetos mobilizam o fervor do
colecionador, como aponta Maria Filomena Molder (1999, p. 42). 8 A relação do
melancólico Walser com o mundo ocorre através das coisas – peças metálicas, máquina,
dados – e não através das pessoas. Walser será, consecutivamente, sensível a um mundo
demasiado aberto. Todo o pedaço de mundo que colhe e guarda é sentido como pedaço
de um mundo que está a passar, que já passou no momento em que entra na sua coleção.
O que este corcunda coleciona são as ruínas de um mundo, suportando o peso, qual
7
Em Viagem ao fundo da noite de Céline (2010, p. 216), o encarregado de Ferdinand na Ford deixa-lhe
claro que executar movimentos com eficácia depende de não pensar e de inclusivamente não criar
imagens, não imaginar: “Não está cá para pensar, mas para executar os movimentos que lhe peçam que
faça! Não temos necessidade de imaginativos na nossa fábrica. Precisamos de chimpazés... Ainda um
conselho: não volte a falar-nos da sua inteligência! Há quem pense por si, meu amigo!” No limite, a
eficiência operária depende ainda do controlo do imaginário, da imersão absoluta no simbólico.
8
“O espanto da semelhança”, expressão de Maria Filomena Molder que constitui uma das epígrafes do
romance, decorre justamente da mobilização do impulso mimético para encontrar relações de identidade
entre todas as coisas. Uma das formas de ler o mundo consiste em atender às condições imanentes,
fenomenológicas ou históricas, à visibilidade das coisas, às ligações secretas que entre elas é possível
estabelecer. Benjamin acreditaria ser o impulso mimético determinante para consumar uma função
humana superior; Maria Filomena Molder (1999, p. 44) considera-o, por seu turno, essencial para a
aprendizagem em geral, aludindo às investigações de Konrad Lorenz para reforçar a sua argumentação.
Tudo decorre da suposição de uma indivisão originária que se procura restaurar: o colecionador é alguém
que tem olho para as semelhanças, o que aproxima a sua atividade da do artista (MOLDER, 1999, p. 46).
Reconhecer estas semelhanças causa espanto, razão para a epígrafe – “o espanto da semelhança”
(MOLDER, 1999, p. 51), espanto esse que alimenta uma paixão. Uma paixão, como todas, silenciosa –
“as pulsões são silenciosas”, disse Žižek, no documentário realizado por Sophie Fiennes (2006). Walser
participa na maioria dos diálogos mais como ouvinte – numa situação passiva – do que como falante.
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Atlas, não só de todos os disjecta membra que recolhe, da ruína e da sobranceria
histórica de que eles são vestígio, como das injunções de que é alvo constantemente.
Walser é um agrimensor do caos. O colecionador contempla o passado, para ele não
existe presente, tempo que já passou, como Benjamin (1992a, p. 94), num apontamento
sobre as imagens dos selos da sua coleção, nos revela: “Mas nelas a vida tem sempre o
cunho da decomposição, como sinal de que é composta do que já está morto. Os seus
retratos e grupos obscenos estão repletos de ossadas e inumeráveis vermes”. Walser
concebe a guerra – a aceleração contínua de que as peças metálicas também são vestígio
– como ruína. Vê na guerra – contempla-a, não intervém nela – o passado dela,
subtraindo-se desta forma à “tirania do futuro” (MARTINS, 2011, p. 189). 9 O
melancólico não acredita no futuro. Podemos, então, colocar em confronto duas
mundividências: a revolucionária e progressista, que esquece o presente e se alimenta
das imagens do futuro, representada v.g. por Ernst Jünger, que justificava o combate
como “experiência interior” e advento de um mundo novo, celebrando “a ‘obscura
magia’ de uma guerra criadora de todo um ‘desdobrar de energias técnicas’ que obriga a
uma ‘mobilização total’ guiada pelo espírito do ‘heroísmo’” (DIDI-HUBERMAN, 2013,
p. 168; destaques no original); e uma visão melancólica, refém do passado e das suas
ruínas, infantil (não por acaso as crianças são atraídas para sítios abandonados), errante
(o temperamento de flâneur, deambulando sem destino e aberto ao acaso, é típico do
colecionador moderno) e inútil (Walser não coleciona objetos com valor de uso).
Ambas as mundividências se alheiam do presente e ambas se podem dizer
revolucionárias, não só por desvalorizarem a atividade útil como por reduzirem objetos
9
Hermínio Martins (2011, p. 189) contrapõe o “hodiocentrismo axiológico” característico da nossa era
autocentrada e preocupada exclusivamente com a felicidade, que conduz a um desequilíbrio ecológico,
colocando em risco a homo-estase, através da delapidação de combustíveis fósseis, de árvores para
fabrico de papel, de consumo exacerbado de CFC, cuja consequência mais preocupante é a destruição da
camada do ozono, contrapõe, dizíamos, este hodiocentrismo à “tirania do futuro” (MARTINS, 2011, p.
189). A intervenção excessiva do ser humano na natureza compromete o futuro da espécie, sendo o risco
a que estão sujeitas as gerações futuras um parêntese insuficiente para questionar a farra presente. Este
“hodiocentrismo” opõe-se à “tirania do futuro” e à “tirania do passado”: “Na luta contra o despotismo
comunista (e, aliás, já nas controvérsias internas do movimento revolucionário russo há mais de cem
anos), atacava-se a tirania do futuro, as crueldades impostas às gerações presentes em nome da
necessidade histórica, de um futuro de emancipação colectiva, tanto como a tirania do passado, o
«despotismo dos costumes» das sociedades conservadoras”. Cremos que homóloga tirania do futuro
ocorre com a guerra tal qual era entendida nos inícios do século XX: a fase crepuscular obrigatória antes
da aurora, do momento em que novos valores enformariam o homem novo. Consideramos que a guerra,
como o século XX a configurou, é escatologicamente orientada e subsume o presente a um futuro que se
deseja o paraíso na terra.
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ao estatuto de coisas.10
Colecionar permitiu a Walser resguardar-se dos horrores da guerra. Ele escolheu
o seu mundo, encolhendo-o, resistindo de frente aos ventos do progresso. O
colecionador moderno, como escreveu Honoré de Balzac (apud BENJAMIN, 2010, p.
131) em Le cousin Pons, é o urbano socialmente desvinculado, como o historiador
trapeiro, que vagueia pelas ruas e recolhe os destroços deixados pelo progresso:
“Andam pelas ruas como em sonhos, de bolsos vazios, olhar perdido, e perguntamo-nos
que espécie de parisienses são estes. São milionários. Coleccionadores, os homens mais
apaixonados do mundo.”
Encontrar as pequenas11 peças metálicas dependia de uma “atenção predadora,
de caça” (TAVARES, 2011, p. 221). Debrucemo-nos sobre o que Susan Sontag
escreveu sobre o colecionador Walter Benjamin:
A caça aos livros, tal como a caça sexual, aumenta a geografia do prazer, que é mais uma
razão para vagabundear pelo mundo. Ao coleccionar, Benjamin experimentava aquilo que
nele era astuto, triunfante, inteligente, abertamente apaixonado. “Os coleccionadores são
pessoas com instinto táctico, como os cortesãos” (SONTAG, 1992, p. 18-19; destaques
no original).
Maria Filomena Molder acrescenta que colecionar resulta da concentração e
resulta em contração. Quanto mais atento e concentrado estiver o caçador, tanto mais
provável se torna encontrar novas peças que enriqueçam a sua coleção, a qual contrai o
mundo de que, ipso facto, é amostra. E esta redução do mundo à amostra, esta
concentração, é sintoma da pouca espessura ontológica do mundo aos olhos do retraído
Walser. Prossegue Maria Filomena Molder (1999, p. 50):
10
A respeito deste assunto, escreveram Hannah Arendt (1991, p. 228; destaques no original) e Walter
Benjamin (pela filósofa citado): “Como o revolucionário, também o colecionador ‘sonha não só com um
mundo distante ou passado, mas ao mesmo tempo com um mundo melhor onde os homens continuam, é
certo, como no mundo de todos os dias, a não dispor daquilo que necessitam, mas onde as coisas se
libertam da servidão da utilidade’”.
11
Walter Benjamin também possuía um olhar microscópico e a sua vocação para a teoria pode estar com
ele relacionado. Gerschon Scholem, citado por Enrique Vila-Matas (1997, p. 12), terá mesmo escrito que
“eram as coisas mais pequenas as que mais o atraíam”. Walter Benjamin colecionava selos, fotografias,
bilhetes postais, brinquedos velhos e imitações de realidades de paisagens invernais miniaturizadas em
globos de vidro, entre outras coisas. Como nos conta Vila-Matas (1997, p. 13), inclusive a sua caligrafia
era microscópica e Walter Benjamin teria almejado escrever cem linhas numa única folha branca (um
projeto semelhante aos que Robert Walser cultivou). Nada melhor, para alguém sempre em viagem, do
que miniaturizar tudo para que tudo lhe coubesse na mala. Ainda sobre o pequeno, o colecionável, diz
Duchamp (apud VILA-MATAS, 1997, p. 13), a fazer fé no narrador: “O que está reduzido encontra-se de
certa forma livre de significado. A sua pequenez é, ao mesmo tempo, um todo e um fragmento. O amor
pelo pequeno é uma emoção infantil”. Infantil é o temperamento melancólico que procura um significado
no insignificante.
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É, aliás, extremamente interessante a amplitude significativa das palavras alemãs
sammeln, sich sammeln e Sammlung, que se podem traduzir respectivamente por reunir,
recolher, colecionar; recolher-se consigo, concentrar-se; colecção, concentração,
recolhimento.
O colher, recolher, apanhar, incessantes das – minúsculas – peças converte
Walser num homem recolhido, sugado pelo espanto e pelo terror da sua paixão. No
minúsculo, Walser e Benjamin procuram o todo, o consolo da totalidade:
Tamanha perplexidade provocava uma necessidade imediata de segurança que apenas
encontrava quando fechado no escritório, em frente à sua colecção. Ali tudo finalmente
estava completo. Nada havia por explicar. Todas as peças metálicas se encontravam no
seu sítio correcto, nas prateleiras, ajustando-se, sem qualquer equívoco, ao registo
existente nos cadernos. Nada a mais ou a menos. E só com esta exactidão se sentia
apaziguado (TAVARES, 2011, p. 236-237).
A vida, rebarbativa, não se deixa explicar por uma fórmula.12 E todavia, fechado
no seu escritório, no qual mais ninguém entra, e perante a sua coleção, uma cartografia
improvável do mundo que habita, Walser alcança ver o tempo e até certo ponto prever
as ruínas que a guerra comportará. Abriga-se na coleção do lado mundano da vida, é
nela que encontra a ordem de que tudo o resto carece. Por isso cataloga as suas peças
com tanta minúcia, por forma a ilustrar “a indizibilidade da variedade” (ECO, 2009, p.
44) do mundo. Para além disso, esta coleção outorga-lhe a individualidade que a
submissão à máquina lhe subtrai. Como operário, Walser é um entre muitos, pertence a
uma massa; graças à coleção, ao fazer da coleção, Walser torna-se único – e porventura
uno.
É natural pois que para ela fuja: aqueles objetos consolam, são tudo, são mãe.
Jean Clair explicou cabalmente como o período entre as duas guerras na Europa se
caracterizou por uma melancolia galopante, originada pela ausência de uma forma
definida através da qual se pudesse compreender o mundo. A impotência resultante de
não se poder representar o mundo, nem ipso facto interpretá-lo, conduziu a um regresso
à ordem, reivindicada por, entre outros, Giorgio De Chirico (CLAIR, 1999, p. 107),
12
Este desejo de encontrar uma fórmula que tudo explicasse, de se abrigar no número, no exato, no
previsível, é partilhado por Theodor Busbeck, o investigador não fidedigno de Jerusalém, e por Michel
Djerzinski, uma personagem de As partículas elementares, romance de Michel Houellebecq sobre a
geração nascida após a Segunda Guerra Mundial e que engendrou os movimentos de emancipação dos
anos 1960. O universo do autor francês partilha algumas consanguinidades com o que O Reino cria. A
dado passo o narrador descreve Michel Djerzinski, um matemático misantropo: “O universo humano –
ele começava a dar-se conta do facto – era dececionante, cheio de angústia e amargura. As equações
matemáticas traziam-lhe alegrias serenas e vivas” (HOUELLEBECQ, 2013, p. 70).
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A máquina e a coleção de Joseph Walser
Mario Sironi, cujos quadros são habitados por personagens atrabiliárias com ruínas
romanas em fundo (CLAIR, 1999, p. 96.), e Albert Speer, que visou um regresso a uma
mãe imaginária, às formas arquitectónicas clássicas, como antídoto para a doença
civilizacional que ia dominando o Ocidente. De resto, Hitler reconheceu na Grécia
Antiga a matriz cultural da Alemanha, a cujos valores civilizacionais urgia regressar
para recuperar o sentido. Claro que a despossessão sentida com particular intensidade
naquela época não poderia ser resolvida por valores inapelavelmente desaparecidos.
Também o melancólico J. Walser manifesta esta necessidade de ordem, de exatidão,
para que fosse possível conter o pensamento entre limites precisos. Necessita de
coordenadas simbólicas precisas com que compreender o mundo, de responder à
inquietude, encontrando uma resposta possível na coleção. Walser – o Joseph e o senhor
Walser d’O Bairro, aliás – será um prisioneiro da sua ordem, incapaz portanto de correr
riscos. Um possível retrato de J. Walser foi feito por Wilhelm Heise, no seu
Autorretrato na oficina (o fim da primavera), de 1926: “[...] el pintor, personaje
saturnino, aparece perdido en una contemplación sin objeto mientras que a su alrededor
yacen las piezas sueltas de una máquina, un receptor de radio, y herramientas que han
perdido su valor como tales” (CLAIR, 1999, p. 101).
A respeito do impacto desta coleção na existência de Walser, propomos que se
encete um movimento contraintuitivo: não será a coleção a causa do fracasso de Walser,
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Pedro Meneses
mais do que um apaziguador e lúdico exercício sobre pequenos objetos? Será possível
conceber o colecionar de pequenas peças metálicas, esse apego passional, de acordo
com a lógica da sublimação – comparável ao colecionar de selos pelo pai, no Decálogo
X de Krzsystof Kieślowski (1989) – que eleva uma atividade trivial “à dignidade da
Coisa pela qual sacrificamos tudo” (ŽIŽEK, 2008, p. 51)? Esta é uma das inferências
que podemos fazer a partir do último Decálogo, episódio em que é abordada a falta de
vontade dos filhos em continuarem a obra do pai: uma coleção de selos. Depois da
morte do pai, que vivia tanto para a coleção que pouco contactou com os herdeiros, que
mal os conhecia, a coleção é vendida. Sem o seu criador, a coleção perde sentido,
converte-se num conjunto insignificante de objetos. A justificação da inércia de Walser
em relação ao que de errado acontece no seu casamento e a justificação do seu
alheamento geral, o qual abala a consistência dos elos interpessoais (sendo disto
sintoma as chamadas à realidade que os outros lhe fazem: “o senhor Walser está a
ouvir?”), tem a ver com o gozo (autossuficiente, num mundo protegido da insídia do
real) associado ao ato de colecionar peças metálicas, e que cresce em proporção com o
desenrolar da guerra, como o narrador o salienta:
Nem sempre acontecia por esta razão, mas diversas vezes a frase que lhe era dita
repetidamente (o senhor Walser está a ouvir?), surgia como consequência de a sua
atenção estar dirigida, já não para o diálogo ou para a experiência exterior concreta que
partilhava num determinado tempo com alguém, mas sim para uma qualquer peça
metálica e, por consequência, para os procedimentos que eram necessários para a obter. O
alheamento constante em relação às conversas, e a estranheza de alguns dos seus
comportamentos, tinha, definitivamente, a mesma origem. A sua colecção: inútil, absurda,
secreta, havia sido gradualmente colocada no ponto central da sua existência (TAVARES,
2011, p. 221).
No início do romance, o narrador já havia caracterizado esse alheamento: “O
rosto de Walser denotava um alheamento geral, constante. O mundo parecia desenrolarse interiormente” (TAVARES, 2011, p. 156). Um herói enclausurado na sua cabeça,
que se abriga do mundo na reificação desse mundo interior, a coleção, e que toma como
modelo comportamental a máquina – esse animal avesso à ética, à decisão – e que
deseja a subserviência, como aquela a que estavam sujeitos todos os jogadores que se
encontravam em casa de Fluzst, a que avulta quando se entende a vida de forma fatalista,
uma boa forma de os humanos se esquivarem a todo o jogo ético:
Era essa exatidão que o excitava, essa excitação bem definida por limites inalteráveis que,
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A máquina e a coleção de Joseph Walser
no entanto, guardava ainda um espaço para as suas decisões estranhas, que na verdade
não eram decisões. Ele, como todos os outros, aceitava o que os dados lhe davam.
Aceitava as decisões dos dados. A grande decisão que existia no jogo, naquele jogo, era
afinal essa decisão profunda e forte que é decidir que se aceita, decidir que se está pronto
para a submissão absoluta, para a não interferência no desenrolar dos acontecimentos
(TAVARES, 2011, p. 162).
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Pedro Meneses
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Minicurrículo
Pedro Menezes licenciou-se em Estudos Portugueses no ano de 2009 na Universidade
do Minho e, na mesma universidade, tornou-se mestre, em 2013, após defesa de tese
intitulada A natureza não reza. Sobre a tetralogia O Reino de Gonçalo M. Tavares.
Desenvolve, desde 2013, um projeto de doutoramento, financiado pela Fundação para a
Ciência e Tecnologia e pela POPH/FSE, intitulado Um valoroso lugar incerto. A
cartografia humana em Uma viagem à Índia de Gonçalo M. Tavares.
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