inseticidas sistêmicos, aplicados via tronco, no controle da

Transcrição

inseticidas sistêmicos, aplicados via tronco, no controle da
ENTOMOLOGIA
INSETICIDAS SISTÊMICOS,
APLICADOS VIA TRONCO,
NO CONTROLE DA CIGARRINHA
ONCOMETOPIA EM CITROS
PEDRO TAKAO YAMAMOTO (1); SÉRGIO RUFFO ROBERTO (1);
WOLNEY DALLA PRIA JÚNIOR (1); MARCOS ROGÉRIO FELIPPE (1);
ÉDER PAULO DE FREITAS (1); ANTONIO CESAR CAETANO (1) e ANDRÉ LUIZ SANCHES (1)
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi estudar o efeito de inseticidas sistêmicos aplicados no tronco da planta cítrica, no
controle da cigarrinha Oncometopia facialis (Signoret)
(Hemiptera: Cicadellidae). Foram realizados três experimentos em pomar de laranjeira ‘Natal’ de três anos de idade,
localizado em Araraquara (SP), sendo o primeiro instalado
em 26 de novembro de 1996; o segundo, em 9 de dezembro
de 1996 e, o terceiro, em 4 de março de 1997. Para determinação da eficiência dos inseticidas imidaclopride, nas formulações AL, SL e GrDA, monocrotofós, dimetoato e
vamidotion, utilizou-se o método de confinamento de
cigarrinhas em ramos das plantas tratadas. O inseticida
imidaclopride, nas formulações AL e SL, foi mais eficiente
no controle da cigarrinha, ocasionando 100% de mortalidade entre 9 e 20 dias após a aplicação. No primeiro experimento, a eficiência de imidaclopride GrDA, monocrotofós
e dimetoato foi baixa, indicando que as doses recomenda(1)
Centro de Pesquisas Citrícolas - Fundecitrus, 14807-040 Araraquara (SP).
ARTIGO CIENTÍFICO
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PEDRO TAKAO YAMAMOTO et al.
das para plantas de três anos devem ser aumentadas. No segundo e no terceiro experimento, houve influência negativa
da chuva na eficácia dos inseticidas aplicados no tronco da
planta, principalmente para vamidotion, dimetoato e
monocrotofós.
Termos de indexação: Oncometopia facialis (Signoret)
(Hemiptera: Cicadellidae), clorose variegada dos citros,
Xylella fastidiosa, inseto vetor, controle químico.
SUMMARY
EFFECT OF INSECTICIDES APPLIED ON CITRUS
TRUNK TO CONTROL THE ONCOMETOPIA
SHARPSHOOTER
The purpose of this research was to study the effect
of systemic insecticides, applied on citrus trunk, to control
the sharpshooter Oncometopia facialis (Signoret). Three
experiments were carried out with 3-year-old citrus ‘Natal’
sweet orange orchards located in Araraquara, State of São
Paulo, Brazil. The first experiment was initiated in
November 26 1996, the second one in December 9 1996,
and the third one in March 4 1997. The mortality rate was
estimated by caging the cicadellids in treated branches. The
insecticide imidacloprid, AL and SL formulation, was
efficient to control O. facialis, with 100% of mortality
between 9 and 20 days after application. In the first
experiment, the efficiency of imidacloprid, WP formulation,
monocrotophos, and dimetoato were low. This indicated that
doses must be increased based on tree age. In the second
and third experiments, there was a negative influence of the
rain on the efficiency of insecticides applied on the trunks,
mainly for vamidothion, dimetoato, and monocrotophos.
Index terms: citrus variegated chlorosis, Xylella fastidiosa,
sharpshooter, vector, chemical control, cicadellidae.
LARANJA, Cordeirópolis, v.22, n.1, p. 49-63, 2001
EFEITO DE INSETICIDAS SISTÊMICOS, APLICADOS...
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1. INTRODUÇÃO
Entre os fatores que causam perdas de produtividade, aumento dos
custos de produção e diminuição da competitividade do setor citrícola,
as doenças e pragas assumem grande importância. Na atualidade, a clorose
variegada dos citros (CVC) é uma das principais moléstias da cultura dos
citros, tanto pela sua distribuição como pelos danos e prejuízos que provoca (AMARO et al., 1997).
A doença é causada pela bactéria Xylella fastidiosa Wells, que coloniza e obstrui os vasos do xilema das plantas (LEE et al., 1993). Em
conseqüência, os sintomas ocorrem nas folhas, principalmente nas mais
velhas, caracterizados pela clorose internerval com manchas marrons na
face oposta. Com a evolução da doença e a colonização de maior número
de vasos do xilema, ocorre a produção de frutos de tamanho reduzido,
acentuada queda de folhas e aparecimento de ramos secos nos ponteiros
das plantas (LEE et al., 1993; ROSSETTI et al., 1997).
A bactéria causadora da CVC pode ser transmitida mediante borbulhas contaminadas (JACOMINO et al., 1993) ou insetos vetores das
famílias Cicadellidae, subfamília Cicadellinae, os quais se alimentam nos
vasos do xilema das plantas (LOPES, 1996; GRAVENA et al., 1997).
Entre as diversas espécies de cigarrinhas que afluem em citros, comprovou-se que Dilobopterus costalimai Young, Acrogonia sp., Oncometopia
facialis (Signoret) (LOPES et al., 1996; ROBERTO et al., 1996),
Bucephalogonia xanthophis (Berg), Plesiommata corniculata Young
(KRÜGNER et al., 1998), Acrogonia virescens (Metcalf), Ferrariana
trivittata (Signoret), Homalodisca ignorata Melichar, Macugonalia
leucomelas (Walker), Parathona gratiosa (Blanchard) e Sonesimia grossa (Signoret) (DESCOBERTOS, 1999) são vetores de X. fastidiosa. Em
função disso, o manejo da CVC baseia-se no plantio de mudas isentas da
doença, produzidas em viveiros protegidos, na poda de ramos doentes,
na eliminação de plantas severamente infectadas e no controle químico
dos vetores (GRAVENA, 1998; LOPES, 1999).
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PEDRO TAKAO YAMAMOTO et al.
Apesar de ser uma medida pouco usual no manejo de doenças causadas por X. fastidiosa, o controle químico tem sido usado com aparente
sucesso para reduzir a disseminação da CVC, possivelmente pela baixa
eficiência das cigarrinhas na transmissão de X. fastidiosa em citros
(KRÜGNER et al., 1998; LOPES, 1999). Contudo, é uma estratégia que
deve ser utilizada com prudência, pois pode provocar efeitos colaterais
indesejáveis, como desequilíbrio biológico e surtos de pragas secundárias. A utilização de inseticidas sistêmicos, aplicados via tronco, vem
sendo estudada e mostra-se uma opção eficiente de controle de pragas
(YAMAMOTO et al., 2000). BUITENDAG e NAUDÉ (1992) citam como
importantes vantagens do método a compatibilidade com o controle biológico e maior período de controle para as pragas sugadoras, tais como
tripes, psilídeos, pulgões, cigarrinhas, cochonilhas e ácaros, em vista do
efeito sistêmico da aplicação.
O conhecimento da ação inicial de inseticidas sistêmicos é de grande
importância para estabelecimento de estratégias de uso desses produtos,
de modo a proporcionar uma rápida proteção e por um período mais prolongado e, com isso, impedir a transmissão da bactéria X. fastidiosa para
plantas cítricas. Com o objetivo de avaliar o efeito gradativo de inseticidas sistêmicos, aplicados no tronco, no controle da cigarrinha O. facialis
em citros, foi realizado o presente trabalho.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram realizados na Fazenda Niagara, no município de Araraquara (SP), em laranjeira ‘Natal’, Citrus sinensis (L.) Osbeck,
enxertada sobre limoeiro ‘Cravo’, Citrus limonia Osbeck, com três anos
de idade e plantada no espaçamento de 7 x 4 m.
Os tratamentos e doses empregados nos experimentos encontramse listados na Tabela 1. No primeiro experimento, os inseticidas foram
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EFEITO DE INSETICIDAS SISTÊMICOS, APLICADOS...
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aplicados em 26 de novembro de 1996; no segundo, em 9 de dezembro de
1996 e, no terceiro, em 4 de março de 1997. Este foi realizado nas mesmas plantas utilizadas no segundo; contudo, 85 dias após, quando não
existia mais resíduo dos inseticidas, o imidaclopride, nas formulações
AL e SL, foi aplicado com auxílio de pincel, em torno do tronco da planta, aproximadamente 10 cm abaixo dos ramos primários. Os demais inseticidas o foram com auxílio de pulverizador costal, sendo os produtos
diluídos em água e aplicados dirigidos ao tronco e ramos primários das
plantas. Gastou-se uma quantidade de calda de 0,2 L por planta, quantidade suficiente para o molhamento do tronco e ramos primários até o
ponto de escorrimento.
Tabela 1. Tratamentos e doses empregados nos experimentos de controle
químico da cigarrinha Oncometopia facialis em citros
Tratamentos
Doses (g IA/planta)
Ingrediente
ativo (IA)
Concentração de
IA e Formulação
Experimento 1
Experimento 2
Experimento 3
Imidaclopride
Imidaclopride
Imidaclopride
Imidaclopride
Imidaclopride
Imidaclopride
Vamidotion
Dimetoato
Monocrotofós
Monocrotofós
Testemunha
100 AL
100 AL
200 SL
200 SL
700 GrDA
700 GrDA
300 CE
400 CE
400 CE
400 CE
–
0,25
0,50
*
*
0,25
0,50
0,48
0,64
0,32
0,64
–
*
*
0,5
1,0
*
*
1,5
2,0
1,0
2,0
–
*
*
0,5
1,0
*
*
1,5
2,0
1,0
2,0
–
* Não foram testados no experimento.
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PEDRO TAKAO YAMAMOTO et al.
Empregou-se o delineamento inteiramente casualizado, com três
repetições, sendo cada parcela constituída de uma planta. As plantas escolhidas apresentaram diâmetro de tronco e tamanho de copa semelhantes.
Para determinação da eficiência dos inseticidas, utilizou-se o método de confinamento de cigarrinhas em ramos das plantas tratadas
(ROBERTO e YAMAMOTO, 1998). Para confinamento, empregaram-se gaiolas confeccionadas com tule, que cobriam somente um único ramo
da planta, sem causar a morte das cigarrinhas. Em cada parcela foram
confinadas dez cigarrinhas adultas da espécie O. facialis, que foram capturadas em pomar de citros. Para determinação do efeito gradativo dos
inseticidas sistêmicos, aplicados via tronco, confinaram-se as cigarrinhas
no dia seguinte às aplicações dos inseticidas, sendo as avaliações realizadas a cada dois a sete dias até a mortalidade total das cigarrinhas nos
primeiros tratamentos.
Calculou-se sua mortalidade utilizando-se a fórmula de ABBOTT
(1925) e, posteriormente, o progresso da mortalidade mediante regressões.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
No primeiro experimento, o inseticida com efeito inicial mais rápido foi imidaclopride na formulação AL e na dose de 0,5 g ingrediente
ativo (IA)/planta. Pelas curvas de regressão para a mortalidade de O.
facialis, constatou-se que, por volta do 10.o dia após a aplicação,
imidaclopride, na dose de 0,5 g IA/planta alcançou 100% de mortalidade, enquanto, para a dose de 0,25 g IA/planta, essa eficiência foi alcançada
somente no 17.o dia (Figura 1). A formulação GrDA de imidaclopride
apresentou baixa eficiência no controle do cicadelídeo: na dose de 0,35 g
IA/planta a eficiência máxima foi de, aproximadamente, 40% e, na de
0,18 g IA/planta, a eficácia foi inferior a 20%. Monocrotofós, nas doses
de 0,32 e 0,64 g IA/planta, também foi pouco eficiente no controle do
vetor de X. fastidiosa, com eficiência máxima em torno de 40 e 20%
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Mortalidade (%)
0
20
40
60
80
100
0
20
40
60
80
0
0
5
10
20
Dias após a aplicação
10
2
15
R = 0.5168
2
20
y = -0.0618x + 1.3319x + 10.027
Imidacloprid GrDA (0,35 g IA/planta)
Imidacloprid GrDA (0,18 g IA/planta)
15
Imidacloprid 100 AL (0,25 g IA/planta)
Imidacloprid 100 AL (0,50 g IA/planta)
R = 0.9701
Dias após a aplicação
R = 0.9937
2
2
2
y = -0.3191x + 10.551x + 11.388
y = -0.1648x + 5.4898x - 3.2552
2
5
R = 0.962
2
2
0
20
40
60
80
100
0
20
40
60
80
100
0
0
2
2
5
10
2
20
15
20
R = 0.9946
2
y = 0.1653x - 1.8992x + 4.527
Dias após a aplicação
R = 0.9236
2
y = -0.187x + 6.02x - 10.554
15
Vamidotion (0,48 g IA/planta)
Dimetoato (0,64 g IA/planta)
Dias após a aplicação
10
Monocrotofós (0,32 g IA/planta)
Monocrotofós (0,64 g IA/planta)
5
R = 0.9523
2
y = -0.0432x + 3.0154x + 2.8956
R = 0.8801
2
2
y = -0.348x + 8.6292x + 28.606
Figura 1. Mortalidade (%) de Oncometopia facialis em laranjeira ‘Natal’ tratada com inseticidas sistêmicos
via tronco. Araraquara, 1996 (Experimento 1).
Mortalidade (%)
y = -0.2512x + 6.8792x + 55.102
Mortalidade (%)
Mortalidade (%)
100
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respectivamente, até a última data de avaliação. ALMEIDA e PAPA
(1998) comprovaram que imidaclopride nas formulações AL e SL foi
eficiente no controle da cigarrinha Acrogonia terminalis Young em laranjeira de 3,5 anos de idade. BENVENGA et al. (1998) constataram
que, além de imidaclopride, nas formulações AL e SL, monocrotofós (6
g IA/planta) e dimetoato (2,5 g IA/planta) foram eficazes no controle de
cigarrinhas em plantas cítricas de dois anos de idade.
Neste experimento, vamidotion foi mais eficiente do que dimetoato,
com mortalidade máxima em torno de 80% (Figura 1). Apesar de também apresentar mortalidade crescente, a eficiência máxima obtida por
dimetoato foi ao redor de 40%. A baixa eficácia proporcionada pelos
inseticidas dimetoato, imidaclopride GrDA e monocrotofós, provavelmente seja decorrente da baixa dose empregada para a idade da planta
testada, que era de três anos.
No segundo experimento, imidaclopride 200 SL na dose de 1,0 g
IA/planta ocasionou 100% de mortalidade aos 15 dias após a aplicação,
enquanto na de 0,5 g IA/planta observou-se mortalidade máxima somente aos 21 dias da aplicação (Figura 2). Os inseticidas dimetoato,
vamidotion e monocrotofós (1,0 g IA/planta) apresentaram baixa eficiência no controle de O. facialis. Na dose de 2,0 g IA/planta, monocrotofós
foi eficiente no controle do cicadelídeo, proporcionando aproximadamente
90% de mortalidade aos 21 dias após a aplicação.
A baixa eficiência de dimetoato, vamidotion e monocrotofós (1,0
g IA/planta), mesmo com o aumento das doses em relação ao primeiro
experimento, foi decorrente da chuva (Figura 3). Choveu cerca de 3 mm
na área do experimento logo após o término da aplicação. A pouca influência da chuva nos tratamentos imidaclopride 200 SL e monocrotofós
(2,0 g IA/planta) provavelmente tenha sido devida à maior velocidade de
penetração de imidaclopride e à maior dose empregada de monocrotofós.
Neste segundo experimento, além de chover logo após a aplicação dos
inseticidas, ocorreu maior precipitação pluvial, com um total de 204,4
mm durante o período, em comparação a 74,4 mm do primeiro experimento (Figura 3). Do total de chuva durante o primeiro experimento,
95% ocorreu da metade para o final.
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100
57
2
y = -0.3906x + 14.141x - 24.097
Mortalidade (%)
2
R = 0.9756
80
2
y = -0.2636x + 11.593x - 28.165
2
R = 0.9487
60
40
20
Imidacloprid 200SL (0,5 g IA/planta)
Imidacloprid 200SL (1,0 g IA/planta)
0
0
5
10
15
20
25
20
25
Dias após a aplicação
Mortalidade (%)
100
Dimetoato (2,0 g IA/planta)
Vamidotion (1,5 g IA/planta)
80
60
2
y = -0.0081x + 2.1879x - 1.8152
40
2
R = 0.8558
20
0
0
5
10
15
Dias após a aplicação
Mortalidade (%)
100
Monocrotofós (1,0 g IA/planta)
Monocrotofós (2,0 g IA/planta)
80
2
y = -0.116x + 6.6011x - 0.7048
60
2
R = 0.9417
40
2
y = -0.2841x + 6.3028x - 10.48
20
2
R = 0.6986
0
0
5
10
15
20
25
Dias após a aplicação
Figura 2. Mortalidade (%) de Oncometopia facialis em laranjeira ‘Natal’
tratada com inseticidas sistêmicos via tronco. Araraquara, 1996
(Experimento 2).
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PEDRO TAKAO YAMAMOTO et al.
No terceiro experimento, realizado com as mesmas doses do segundo e nas mesmas plantas, contudo 85 dias após, constatou-se que
imidaclopride, nas doses testadas, apresentou 100% de eficiência entre o
15.o e o 17.o dia após a aplicação (Figura 4). Dimetoato (2,0 g IA/planta)
foi medianamente eficiente, com mortalidade máxima em torno de 70%,
enquanto os demais tratamentos foram pouco eficazes, com mortalidade
inferior a 50%. Apesar de esse experimento ter sido efetuado num período de baixa precipitação, com total de 10,4 mm, houve uma chuva de 7,0
mm após três horas do término da aplicação dos inseticidas, o que pode
ter influenciado a eficiência dos inseticidas aplicados via tronco na planta cítrica. A menor eficácia de monocrotofós, na dose de 2,0 g IA/planta,
provavelmente seja devida à época de aplicação, no final do período das
águas, e também à precipitação três horas após a aplicação.
Os dados obtidos indicam que a aplicação dirigida ao tronco da
planta de inseticidas na formulação concentrado emulsionável (CE) e
grânulos dispersíveis em água (GrDA) apresenta menor eficiência em
relação à aplicação de inseticidas nas formulações AL ou SL.
YAMAMOTO et al. (2000) constataram que acetamiprid e imidaclopride,
ambos na formulação SL, apresentaram eficiência superior a acefato 970
Pellet, vamidotion 300 CE, monocrotofós 400 CE e acetamiprid PM no
controle de O. facialis em laranjeira com um ano e meio de idade.
A aplicação de inseticidas sistêmicos no tronco das plantas sofre
grande influência da chuva, com diminuição de sua eficiência e, possivelmente, do período de controle. A utilização de imidaclopride na formulação SL não é recomendada com tronco úmido e em dias de chuva,
pois ocorre cristalização do produto, que pode ser notada pela coloração
esbranquiçada do tronco da planta.
Imidaclopride foi o inseticida sistêmico com efeito inicial mais
rápido no controle de O. facialis; entretanto, sua máxima eficiência
foi atingida após o 10.o dia da aplicação. O grande questionamento
refere-se à capacidade de transmissão de X. fastidiosa pelas
cigarrinhas antes de sua morte, provocada pelo inseticida sistêmico.
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EFEITO DE INSETICIDAS SISTÊMICOS, APLICADOS...
Precipitação (mm)
40
59
Aplicação
A
30
20
10
0
26 27 28 29 30 1
2
3
4
5
6
7
8
9 10 11 12
Novembro/Dezembro de 1996
Precipitação (mm)
40
Aplicação
B
30
20
10
0
9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Dezembro de 1996
Precipitação (mm)
40
Aplicação
C
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
Março de 1997
Figura 3. Precipitação pluvial (mm) durante os períodos de experimento.
A: Experimento 1. B: Experimento 2. C: Experimento 3.
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60
PEDRO TAKAO YAMAMOTO et al.
100
2
y = -0.4374x + 15.814x - 38.79
Mortalidade (%)
2
R = 0.9623
80
2
y = -0.399x + 15.013x - 39.208
2
R = 0.9819
60
40
20
Imidacloprid 200SL (0,5 g IA/planta)
Imidacloprid 200SL (1,0 g IA/planta)
0
0
5
10
15
20
25
Dias após a aplicação
Mortalidade (%)
100
Dimetoato (2,0 g IA/planta)
Vamidotion (1,5 g IA/planta)
80
60
2
y = -0.3556x + 12.546x - 37.162
2
R = 0.9505
40
20
0
0
5
10
15
20
25
Dias após a aplicação
Mortalidade (%)
100
Monocrotofós (1,0 g IA/planta)
Monocrotofós (2,0 g IA/planta)
80
2
y = -0.1444x + 5.8935x - 17.829
60
2
R = 0.9735
40
20
2
y = 0.2403x - 3.865x + 16.521
2
R = 0.9235
0
0
5
10
15
20
25
Dias após a aplicação
Figura 4. Mortalidade (%) de Oncometopia facialis em laranjeira ‘Natal’
tratada com inseticidas sistêmicos via tronco. Araraquara, 1996
(Experimento 3).
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EFEITO DE INSETICIDAS SISTÊMICOS, APLICADOS...
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Estudos realizados por KRÜGNER et al. (1998) determinaram que as
cigarrinhas que transmitem a bactéria para citros apresentam baixa eficiência, que varia de 1% (O. facialis) a 17% (M. leucomelas), por razão
ainda não devidamente comprovada. Especula-se, porém, que possa estar relacionada a uma baixa eficiência de aquisição e/ou inoculação da
bactéria pelos vetores ou, alternativamente, a uma baixa sobrevivência
de infecções iniciais de X. fastidiosa em citros (LOPES, 1999). Em vista
desses diversos fatores, presume-se que o controle químico de cigarrinhas
seja eficiente para redução da transmissão e disseminação da bactéria
para plantas cítricas, mas estudos devem ser efetuados no sentido de comprovar a eficácia dessa estratégia no controle da CVC.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Citricultura, 1997. p.123-135.
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