Evangelho segundo S. Mateus 4,1-11

Transcrição

Evangelho segundo S. Mateus 4,1-11
Evangelho segundo S. Mateus 4,1-11: cf.par.Mc 1,12-13, Lc 4,1-13
Então, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo. Jejuou durante
quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-lhe:
«Se Tu és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães.» Respondeu-lhe
Jesus: «Está escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de
Deus.» Então, o diabo conduziu o à cidade santa e, colocando o sobre o pináculo do templo,
disse-lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois está escrito: Dará a teu
respeito ordens aos seus anjos; eles suster-te-ão nas suas mãos para que os teus pés não se
firam nalguma pedra.» Disse-lhe Jesus: «Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu
Deus!» Em seguida, o diabo conduziu-o a um monte muito alto e, mostrando-lhe todos os
reinos do mundo com a sua glória, disse-lhe: «Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.»
Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, pois está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a
Ele prestarás culto.» Então, o diabo deixou-o e chegaram os anjos e serviram-no.
Santo Isaac o Sírio (sec. VII), monge em Ninive, perto de Mossul no actual Iraque
Discursos ascéticos, 1ª série, nº 85
“Então o demónio deixou-o”
Tal como os olhos sãos desejam a luz, assim o jejum efectuado com discernimento suscita o
desejo da oração. Quando um homem começa a jejuar, deseja comunicar com Deus nos
pensamentos do seu espírito. Com efeito, o corpo que jejua não suporta dormir toda a noite no
seu leito. Quando o jejum sela a boca do homem, este medita em estado de contrição, o seu
coração reza, o seu rosto está sério, os maus pensamentos deixam-no; é inimigo das cobiças e
das conversas vãs. Nunca se viu um homem jejuar com discernimento e ser assaltado por
maus desejos. O jejum feito com discernimento é uma grande casa que protege muito bem…
Porque o jejum é a ordem que foi dada desde o início à nossa natureza, para não comer o fruto
da árvore (Gn 2,17), e é daí que vem aquilo que nos engana… Foi também por aí que o
Salvador começou, quando se revelou ao mundo no Jordão. Com efeito, depois do baptismo,
o Espírito levou-o ao deserto, onde jejuou quarenta dias e quarenta noites.
Todos os que partem para o seguir fazem doravante o mesmo: é sobre este fundamento que
põem o início do seu combate, porque tal arma foi forjada por Deus… E quando agora o
diabo vê essa arma na mão de um homem, este adversário e tirano tem medo. Ele pensa
imediatamente na derrota que o Salvador lhe infligiu no deserto, recorda-se e a sua força é
quebrada. Consome-se assim que vê a arma que nos deu aquele que nos conduz ao combate.
Que arma pode ser mais poderosa e reanimar tanto o coração na sua luta contra os espíritos do
mal?
„Não só de pão o homem viverá“ – Mt 4,4
Honra, glória, poder e louvor /a Jesus, nosso Deus e Senhor.
1. É Ele o Pão que se vai repartir: /O Pão da Palavra que vamos ouvir.
2. O homem não pode viver só de pão / mas vive quem guarda a Palavra de Deus.
Pe. José Weber - Cantemos ….. n° 451
Evangelho segundo S. Mateus 4,12-23. – cf.par. Mc 1,14-15, Lc 4,14-15 - Mt 4,18-22:
cf.par.Mc 1,1-20, Lc 5,1-11
Tendo ouvido dizer que João fora preso, Jesus retirou-se para a Galileia. Depois,
abandonando Nazaré, foi habitar em Cafarnaúm, cidade situada à beira-mar, na região de
Zabulão e Neftali, para que se cumprisse o que o profeta Isaías anunciara: Terra de Zabulão e
Neftali, caminho do mar, região de além do Jordão, Galileia dos gentios. O povo que jazia nas
trevas viu uma grande luz; e aos que jaziam na sombria região da morte surgiu uma luz. A
partir desse momento, Jesus começou a pregar, dizendo: «Convertei-vos, porque está próximo
o Reino do Céu.» Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos: Simão,
chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.
Disse-lhes: «Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens.» E eles deixaram as
redes imediatamente e seguiram-no. Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago,
filho de Zebedeu, e seu irmão João, os quais, com seu pai, Zebedeu, consertavam as redes,
dentro do barco. Chamou-os, e eles, deixando no mesmo instante o barco e o pai, seguiramno. Depois, começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o
Evangelho do Reino e curando entre o povo todas as doenças e enfermidades.
Odes de Salomão (texto cristão hebraico do princípio do séc. II)
N° 15
«Sobre aqueles que habitavam no país das sombras e da morte, fez-se uma luz»
Tal como o sol é a alegria
dos que procuram a luz,
assim a minha alegria é o Senhor,
pois Ele é o meu sol.
Os seus raios reergueram-me,
a sua luz dissipou todas as trevas da minha fronte.
Graças a Ele foram-me dados estes olhos,
E pude ver a sua luz santa;
Foram-me dados ouvidos
e pude ouvir a sua verdade;
foi-me dado o pensamento da ciência
e por seu intermédio me alegrei.
Abandonei o caminho do erro,
fui junto d’Ele,
e d’Ele generosamente recebi a salvação.
Ele muito me deu, por sua benevolência,
e a sua beleza modelou-me.
Em seu nome, cobri-me de incorruptibilidade,
abandonei a corrupção por sua divina graça.
A mortalidade desapareceu defronte do meu rosto,
A morada dos mortos foi aniquilada pelas minhas palavras,
Ergueu-se uma vida imortal na terra do Senhor.
Ela foi revelada aos crentes
e sem reservas concedida
a todos os que a Ele se entregam.
Aleluia !
Filoxeno de Mabbourg (? – cerca 523), bispo na Síria
Homília 4, 77s
“Imediatamente, deixando as suas redes, seguiram-no”
Tal como o olho são e puro recebe o raio luminoso que lhe é enviado, assim o olho da fé, com
a pupila da simplicidade, reconhece a voz de Deus assim que o homem a escuta. A luz
imanente da sua palavra ergue-se nele, ele lança-se alegremente à sua frente e recebe-a, como
nos disse nosso Senhor no seu Evangelho: “As minhas ovelhas escutarão a minha voz e
seguir-me-ão” (Jo 10, 27).
Foi com esta pureza e esta simplicidade que os apóstolos seguiram a palavra de Cristo. O
mundo não os pôde impedir, nem os hábitos humanos os puderam reter, nem nenhum dos
bens que passam por ter algum valor no mundo os pôde estorvar. Estas almas tinham sentido
Deus e viviam na fé, e, em almas como estas, nada no mundo pode ser para elas mais
importante do que a palavra de Deus. Esta é fraca nas almas mortas; é porque a alma está
morta que, de forte, a Palavra se torna fraca e que o ensino de Deus, de válido, se torna sem
força nelas. Porque toda a actividade do homem se dirige para o sítio onde ele vive; aquele
que vive para o mundo põe ao serviço do mundo os seus pensamentos e os seus sentidos,
enquanto que aquele que vive para Deus gira, em todas as suas acções, em torno dos seus
poderosos mandamentos.
Todos os que têm sido chamados têm obedecido imediatamente à voz que os chamava logo
que o peso do amor das coisas terrenas deixou de estar nas suas almas. Porque os vínculos do
mundo são um peso para a inteligência e os pensamentos, e os que estão assim ligados e
obstruídos dificilmente percebem a voz de Deus que os chama. Mas os apóstolos e, antes
deles, os justos e os patriarcas não eram assim; eles obedeceram como vivos, e saíram
ligeiros, porque nada no mundo os estorvava com o seu peso. Nada pode atar e entravar a
alma que sente Deus; ela está aberta e pronta, de modo que a luz da voz divina a encontra em
estado de a receber cada vez que ela vem.
São Romano, o Melodista (?-c. 569), compositor de hinos
2º Hino para a Epifania, § 15-18
«Trouxeram-lhe todos os que sofriam [...], que padeciam doenças e tormentos»
Ergamos todos os olhos para o Senhor que está nos céus, e digamos, como o profeta: «Fez a
Sua aparição na terra, onde permaneceu entre os homens» (Bar 3, 38). Esse mesmo que aos
profetas Se mostrou sob aparências várias, Esse que surgiu a Ezequiel na aparência de um
homem num trono de fogo (Ez 1, 26) e que Daniel viu como Filho do Homem e Ancião, idoso
e jovem ao mesmo tempo (Dn 7, 9.13), proclamando-O como um só Senhor, Esse é Aquele
que apareceu e que tudo iluminou.
Ele fez dissipar a noite sinistra; graças a Ele, é sempre dia. Resplandeceu no mundo a luz sem
ocaso, Jesus, nosso Salvador. O país de Zabulão vive na abundância e imita o paraíso, pois
todos podem «saciar-se» no seu «rio de delícias» (Sl 35, 9), e faz desaguar nele uma corrente
de água sempre viva [...]. Na Galileia contemplamos «a fonte da vida» (v. 10), Aquele que
apareceu e que tudo iluminou.
Também eu Te verei, Jesus, a iluminar o meu espírito e a dizer aos meus pensamentos: «Se
alguém tem sede, venha a Mim e beba!» (Jo 7, 37). Refresca este coração humilhado que a
minha vida errante fez quebrar. Ela consumiu-o, na fome e na sede; não fome de alimentos,
não sede de beber, mas de ouvir as palavras do Senhor (Am 8, 11) [...]. Por isso o meu
coração geme baixinho, esperando o Teu juízo, o que vem de Ti, que apareceste e que tudo
iluminaste [...]
Dá-me um sinal claro, purifica os meus erros escondidos, pois as feridas minam-me [...] A
Teus joelhos me rojo, Salvador, como a hemorroísa. Também eu toco na fímbria da Tua
túnica e digo: «Se ao menos tocar nas Suas vestes, ficarei curado.» (Mc 5, 28). Não faças vã a
minha fé, Tu, que és médico das almas [...]. Encontrar-Te-ei, para minha salvação, a Ti, que
apareceste e que tudo iluminaste.
„E eles deixaram as redes para segui-lo“ – Mt 4,20
[Sai da tua terra e vai / onde te mostrarei.:]
1. Abraão, é uma loucura se tu partes: / abandonas a tua casa / o que esperas encontrar? /
A estrada é sempre a mesma / mas a gente diferente te é inimiga: / onde esperas tu
chegar? / O que tu deixas já bem conheces, / mas o teu Deus o que te dá? / Um povo
grande, a terra / e a promessa: Palavra de Javé.
2. A rede está na praia abandonada / pois aqueles pescadores / já seguiram a Jesus. / E
enquanto caminhavam pensativos / no silêncio uma pergunta / nasce em cada coração:
/ O que deixaste tu tem conheces / mas teu Senhor o que te dá? / O cêntuplo e a mais /
a eternidade: Palavra de Jesus.
3. Partir não é tudo, certamente / há quem parte e nada dá: / busca sua liberade; partir,
mas com a fé no teu Senhor / com o amor aberto a todos / leva ao mundo a Salvação. /
O que deixaste tu bem conheces / o que tu levas é muito mais: / „Pregai entre os povos
/ o Evangelho“ – Palavra de Jesus.
Sai da tua terra e vai / onde te mostrarei. / Sai da tua terra e vai: / contigo estarei. –
Pe. José Weber - Cantemos ….. n° 835
Eles, deixando imediataente as redes, o seguiram“ – Mt 4,20.22
1. Há um barco esquecido na praia / já não leva ninguém a pescar. / É o barco de André e
de Pedro / que partiram pra não mais voltar. / Quantas vezes partiram seguros /
enfrentando os perigos do mar! / Era chuva, era noite, era escuro / mas os dois
precisavam pescar.
De repente aparece Jesus / pouco a pouco se acende uma luz. / É preciso pescar diferente
/ que o povo já sente que o tempo chegou. / E partiram, sem mesmo pensar / nos perigos
de profetizar. / Há uma barco esquecido na praia, [:um barco esquecido na praia:].
2. Há um barco esquecido na praia / já não leva ninguém a pescar. / É o barco de João e
Tiago / que partiram pra não mais voltar. / Quantas vezes em tempos sombrios /
enfrentado os perigos do mar / barco e rede voltavam vazios / mas os dois precisam
pescar.
3. Quantos barcos deixados na praia / entre eles o meu deve estar. / Era o barco dos
sonhos que eu tinha / mas eu nunca deixei de sonhar. / Quantas vezes enfrentei o
perigo / no meu barco de sonho a singrar / Jesus Cristo remava comigo: / eu no leme,
Jesus a remar …
De repente me envolve uma luz / e eu entrego o meu leme a Jesus / É preciso pescar
diferente / que o povo já sente que o temp chegou. / E partimos pra onde Ele quis. /
Tenho cruzes, mas vivo feliz. / Há um barco esquecido na praia, [:um barco esquecido
na praia:].
Cantemos ….. n° 936
Eles, deixando imediatamente as redes, o seguiram“ – Mt 4,20.22
1. Tu Te abeiraste da praia / não buscaste nem sábios, nem ricos / somente queres que eu
Te siga.
Senhor, Tu me olhaste nos olhos / a sorrir, pronunciaste meu nome. / Lá na praia, eu
larguei o meu barco, junto a Ti, buscarei outro mar.
2. Tu sabes bem que em meu barco / eu não tenho nem ouro nem espada / somente redes
e o meu trabalho.
3. Tu, minhas mãos solicitas / meu cansaço que a outros descanse / amor que almeja
seguir amando.
4. Tu, pescador de outros lagos / ânsia eterna de almas que esperam / bondoso amigo que
assim me chamas.
Cantemos ….. n° 946
Lansperge le Chartreux (1489-1539), religioso e teólogo
Sermão 5; Opera Omnia
«O povo que habitava nas trevas viu elevar-se uma grande luz» (Is 9,1)
Meus irmãos, ninguém ignora que todos nós nascemos nas trevas e que nelas vivemos
outrora. Mas façamos por não continuar nelas, agora que o sol de
justiça nasceu para nós. (Ml 3,20)...
Cristo veio «iluminar aqueles que jazem nas trevas e nas sombras da morte, para guiar os seus
passos no caminho da paz» (Lc 1,79). De que trevas falamos? Tudo aquilo que está na nossa
inteligência, na nossa vontade ou na nossa memória e que não é Deus ou não provém de Deus,
melhor dizendo, tudo aquilo que em nós não é para glória de Deus e causa separação entre
Deus e a alma, é trevas... É que Cristo, tendo em Si a luz, trouxe-a até nós para que
pudéssemos ver os nossos pecados e odiar as nossas trevas. Na verdade a pobreza que Ele
escolheu quando não encontrou lugar na hospedaria é para nós a luz pela qual podemos
conhecer, a partir de então, a felicidade dos pobres em espírito a quem pertence o Reino dos
céus (Mt 5,3).
O amor de que Cristo deu testemunho consagrando-se à nossa instrução e expondo-se a
suportar por nós as vicissitudes, o exílio, a perseguição, as chagas e a morte na cruz, o amor
que finalmente o fez orar pelos seus carrascos é, para nós, a luz graças à qual podemos
aprender a amar, também nós, os nossos inimigos.
Papa Bento XVI
Audiência geral de 14/06/06
Santo André, apóstolo do mundo grego
A primeira característica que impressiona vivamente em André, o irmão de Simão Pedro, é o
seu nome; ele não é hebraico, como se poderia esperar, mas grego, sinal não insignificante de
uma certa abertura cultural da sua família… Pouco antes da Paixão tinham vindo Gregos à
cidade santa de Jerusalém… para adorarem o Deus de Israel na festa da Páscoa. André e
Filipe, os dois apóstolos com nomes gregos, serviam de intérpretes e de mediadores junto de
Jesus a este pequeno grupo… Jesus disse aos dois discípulos, e por seu intermédio ao mundo
grego: “Chegou a hora de ser glorificado o Filho do Homem. Em verdade, em verdade vos
digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito
fruto” (Jo 12, 23-24). Que significam estas palavras neste contexto? Jesus quis dizer: sim, o
encontro entre mim e os gregos terá lugar, mas não como uma conversa simples e breve entre
mim e outras pessoas, impelidas sobretudo pela curiosidade. Com a minha morte, comparável
à queda na terra de um grão de trigo, virá a hora da minha glorificação. Da minha morte na
cruz virá a grande fecundidade. O “grão de trigo morto”, símbolo de mim próprio crucificado,
tornar-se-á, na ressurreição, pão da vida para o mundo; será luz para os povos e culturas…
Por outras palavras, Jesus profetisa a Igreja Grega, a Igreja dos pagãos, a Igreja do mundo
como fruto da sua Páscoa.
Tradições muito antigas vêem em André… o apóstolo dos Gregos nos anos que se seguiram
ao Pentecostes; elas nos fazem sentir que, no resto da vida, ele foi anunciador e intérprete de
Jesus pelo mundo grego. Pedro, seu irmão, saiu de Jerusalém passando por Antioquia,
chegando a Roma, para aí exercer a sua missão universal; André foi, pelo contrário, o
apóstolo do mundo grego. Eles aparecem assim, na vida e na morte, como verdadeiros irmãos
– uma fraternidade que se exprime simbolicamente na semelhança especial entre os centros de
Roma e de Constantinopla, Igrejas verdadeiramente irmãs.
Evangelho segundo S. Mateus 4,12-17.23-25.
Tendo ouvido dizer que João fora preso, Jesus retirou-se para a Galileia. Depois,
abandonando Nazaré, foi habitar em Cafarnaúm, cidade situada à beira-mar, na região de
Zabulão e Neftali, para que se cumprisse o que o profeta Isaías anunciara: Terra de Zabulão e
Neftali, caminho do mar, região de além do Jordão, Galileia dos gentios. O povo que jazia nas
trevas viu uma grande luz; e aos que jaziam na sombria região da morte surgiu uma luz. A
partir desse momento, Jesus começou a pregar, dizendo: «Convertei-vos, porque está próximo
o Reino do Céu.» Depois, começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas,
proclamando o Evangelho do Reino e curando entre o povo todas as doenças e enfermidades.
A sua fama estendeu-se por toda a Síria e trouxeram-lhe todos os que sofriam de qualquer
mal, os que padeciam doenças e tormentos, os possessos, os epilépticos e os paralíticos; e Ele
curou-os. E seguiram-no grandes multidões, vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da
Judeia e de além do Jordão.
S. Romano, o Melódio (? – cerca de 560), compositor de hinos
Hinos para a Epifania
”Os que habitavam no país da sombra e da morte viram uma grande luz”
Tu te manifestaste hoje ao universo e a tua luz, Senhor, nos apareceu. Por isso, nós te
cantamos: “Tu vieste, Tu te manifestaste, Tu, a luz inacessível!...”
Na Galileia das nações, na terra de Zabulão, na terra de Neftali, tal com diz o profeta, Cristo, a
grande luz, resplandeceu (Is 8,23; 9,1). Para aqueles que andavam nas trevas brilhou uma
grande claridade, que brotou de Belém: o Senhor, nascido de Maria, o Sol da justiça, envia os
seus raios para o universo inteiro (Ml 3,20). Venhamos todos nós, os filhos de Adão, que
estamos nús, revistamo-nos dele para nos aquecermos. Foi para vestir os que estão nús, para
iluminar os que estão nas trevas, que te manifestaste, Tu, a luz inacessível.
Deus não desprezou aquele que, no paraíso, foi despojado das suas vestes por astúcia e perdeu
a túnica tecida pelas mãos de Deus. Volta a ele e chama o desobediente com a sua voz santa:
“Adão, onde estás? (Gn 3,9). Deixa de te esconderes de mim. Por muito nu, por muito pobre
que estejas, quero ver-te.
Não tenhas medo, Eu fiz-me semelhante a ti. Desejavas tornar-te deus e não conseguiste.
Agora, porque o quis, fiz-me carne. Avança pois, reconhece-me e diz: Tu vieste, Tu te
manifestaste, Tu, a luz inacessível”... Canta, canta, Adão; adora aquele que vem a ti. Quando
tu te afastavas, Ele se manifestou a ti para se fazer ver, tocar, acolher. Aquele que temeste
quando foste enganado pelo demónio, por ti fez-se semelhante a ti. Desceu à terra para te
levar aos céus; tornou-se mortal para que te tornes Deus e recuperes a tua primitiva beleza.
Querendo abrir-te as portas do Eden, habitou em Nazaré. Por tudo isso, ó homem, canta e
louva com os teus cânticos aquele que se manifestou e iluminou o universo.
Evangelho segundo S. Mateus 4,18-22.
Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e
seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: «Vinde
comigo e Eu farei de vós pescadores de homens.» E eles deixaram as redes imediatamente e
seguiram-no. Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu
irmão João, os quais, com seu pai, Zebedeu, consertavam as redes, dentro do barco. Chamouos, e eles, deixando no mesmo instante o barco e o pai, seguiram-no.
Orígenes (c. 185-253), sacerdote e teólogo
Contra Celso, I, 62
A palavra dos apóstolos Simão e Judas ressoou por toda a terra
Se Jesus tivesse escolhido para ministros dos seus ensinamentos homens sábios segundo a
opinião pública, capazes de compreender e de exprimir ideias caras à multidão, poderiam tê-lo
acusado de pregar segundo o método dos filósofos de escola, e o carácter divino da sua
doutrina não se teria mostrado com toda a sua evidência. A sua doutrina e a sua pregação
teriam consistido “em sabedoria de palavras” (1 Cor 1, 17) […]; e a nossa fé, semelhante
àquela com que se adere às doutrinas dos filósofos deste mundo, assentaria na sabedoria dos
homens e não no poder de Deus (cf. 1 Cor 2, 5). Mas, quando vemos pescadores e publicanos
sem instrução terem a ousadia de discutir com os judeus a fé em Jesus Cristo, de a pregar ao
resto do mundo, e de conseguir lá chegar, não podemos deixar de procurar a origem deste
poder de persuasão. Como não podemos deixar de confessar que Jesus cumpriu a sua palavra
– “Vinde após Mim e Eu farei de vós pescadores de homens” (Mt 4, 19) – nos seus apóstolos
por meio de um poder divino.
Também Paulo manifesta este poder quando escreve: “A minha palavra e a minha pregação
não consistiram em discursos persuasivos da sabedoria humana, mas na manifestação do
Espírito e do poder divino” (1 Cor 2, 4) […]. O mesmo haviam já dito os profetas, quando
anunciavam antecipadamente a pregação do Evangelho: “O Senhor dá a palavra e os
anunciadores da Boa Nova são uma multidão”, a fim de que “rápida corra a sua palavra” (Sl
67, 12; 147, 4). E, de fato, vemos que “a voz” dos apóstolos de Jesus ressoa “por toda a terra,
até aos confins do universo a sua palavra” (Sl 18, 5; Rom 10, 18). Eis por que motivo aqueles
que escutam a palavra de Deus poderosamente enunciada se enchem, eles mesmos, de poder;
e manifestam-no pela sua conduta e pela sua luta em prol da verdade até à morte.
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja
II Sermão para a festa de Santo André
O martírio de Santo André, Apóstolo
“Ó Cruz, tão longamente desejada, agora oferecida às aspirações da minha alma! A ti venho,
pleno de júbilo e segurança. Recebe-me com alegria, a mim, discípulo daquele que esteve
suspenso dos teus braços…” Assim falava [diz a tradição] Santo André, vendo ao longe a cruz
erguida para o seu suplício. De onde vinha a este homem tão espantosa alegria e exultação?
De onde vinha tanta constância a ser tão frágil? Onde ia este homem buscar alma tão
espiritual, caridade tão fervorosa, vontade tão forte? Não pensemos que ia buscar tão grande
coragem a si mesmo; tratava-se do dom perfeito proveniente do Pai das luzes (Jc 1, 17), do
único que faz maravilhas. Era o Espírito Santo que vinha em auxílio da sua fraqueza,
difundindo-lhe no coração uma caridade forte como a morte, e mesmo mais forte do que a
morte (Ct 8, 6).
Praza a Deus que também nós, hoje, tenhamos parte nesse Espírito! Porque se o esforço da
conversão é para nós penoso, se nos aborrece velar, é unicamente devido à nossa ind igência
espiritual. Se o Espírito Santo estivesse presente em nós, viria certamente em auxílio da nossa
fraqueza. Faria por nós o mesmo que fez por Santo André diante da cruz e da morte: retirando
ao labor da conversão o seu carácter penoso, torná-lo-ia desejável, e mesmo delicioso. […]
Irmãos, procuremos este Espírito, empenhemos todos os nossos cuidados em obtê-lo, ou em
possuí-lo de forma mais plena se já o temos. Porque “se alguém não tem o espírito de Cristo,
não lhe pertence” (Rom 8, 9) […] Devemos, pois, tomar a nossa cruz com Santo André, ou
antes, com Aquele que ele seguiu, o Senhor, o nosso Salvador. A causa da sua alegria foi ter
morrido, não apenas com Ele, mas como Ele; assim intimamente unido à sua morte, reinaria
com Ele. […] Porque a nossa salvação está nesta cruz.
Basílio de Selêucia (? - cerca de 468), bispo
Sermão em honra de Santo André
O primeiro discípulo do Senhor
André foi o primeiro a reconhecer o Senhor como seu mestre... O seu olhar percebeu a vinda
do Senhor e deixou os ensinamentos de João Baptista para entrar na escola de Cristo... João
Baptista tinha dito: "Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1,29). Eis
aquele que liberta da morte; eis aquele que destrói o pecado. Eu sou enviado, não como o
esposo, mas como quem o acompanha (Jo 3,29). Vim como servo e não como mestre.
Levado por estas palavras, André deixa o seu antigo mestre e corre para quem ele
anunciava..., levando consigo João, o evangelista. Ambos deixam a lâmpada (Jo 5,35) e
caminham para o Sol... Tendo reconhecido o profeta de quem Moisés dissera: "É a ele que
escutareis" (Dt 18,15), André conduz até ele o seu irmão Pedro. Mostra a Pedro o seu tesouro:
"Encontrámos o Messias (Jo 1,41), aquele que desejávamos; vem agora saborear a sua
presença". Ainda antes de ser apóstolo, conduz a Cristo o irmão... Foi o seu primeiro
milagre.
S. João Crisóstomo (cerca de 345-407), bispo de Antioquia e depois de Constantinopla,
doutor da Igreja
Homilia sobre o Evangelho de João
Primeiro a ser chamado, primeiro a testemunhar
"Como é doce e agradável viverem os irmãos na unidade" (Sl 132,1). André, depois de ter
ficado com Jesus (Jo 1,39) e de ter aprendido muito, não guardou esse tesouro só para si:
apressa-se a correr para junto de seu irmão Simão-Pedro para o fazer participar dos bens que
ele próprio recebeu. Ouve o que ele diz ao irmão: "Encontrámos o Messias, quer dizer, o
Cristo" (Jo, 1,41). Estás a ver o fruto do que acabava de aprender em tão pouco tempo? Isso
demonstra ao mmesmo tempo a autoridade do Mestre que ensinou os discípulos e, desde o
início, o seu zelo para o conhecerem.
A pressa de André, o seu zelo em espalhar logo de seguida esta tão boa nova, supõe uma alma
que anseava por ver o cumprimento de tantas profecias respeitantes a Cristo. Partilhar assim
estas riquezas espirituais foi mostrar uma amizade verdadeiramente fraterna, uma afeição
profunda e um temperamento cheio de sinceridade... "Nós o encontrámos, ao Messias, diz ele,
não um messias qualquer, mas o Messias que esperávamos."
Pregador do Papa: Cristo também redimiu o sofrimento e a morte
Comentário do Pe. Cantalamessa sobre a liturgia do próximo domingo
ROMA, sexta-feira, 25 de janeiro de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe.
Raniero Cantalamessa, OFM cap., pregador da Casa Pontifícia, sobre a Liturgia da Palavra do
próximo domingo, III do Tempo Comum.
***
III Domingo do Tempo Comum
Isaías 8, 23b-9,3; I Coríntios 1, 10-13.17; Mateus 4, 12-23
Curava toda enfermidade e toda doença no povo
A passagem do Evangelho do 3º domingo do Tempo Comum termina com as palavras: «Jesus
percorria toda a Galiléia, ensinando em suas sinagogas, proclamando a Boa Nova do Reino e
curando toda enfermidade e toda doença no povo». Cerca de um terço do Evangelho se ocupa
das curas feitas por Jesus durante o breve tempo de sua vida pública. É impossível eliminar
estes milagres ou dar-lhes uma explicação natural sem fragmentar todo o Evangelho e torná-lo
incompreensível.
Os milagres no Evangelho têm características inconfundíveis. Jamais aparecem para
surpreender ou para exaltar quem os realiza. Hoje alguns se deslumbram ao ouvir certos
personagens que dizem possuir poderes de levitação, de fazer aparecer ou desaparecer objetos
e coisas do estilo. Para quem serve este tipo de milagre, supondo que seja assim? A ninguém,
ou só a si mesmo, para ganhar adeptos e dinheiro.
Jesus realiza milagres por compaixão, porque ama os outros: faz milagres também para ajudálos a crer. Realizar curas para anunciar que Deus é o Deus da vida e que no final, junto à
morte, também a doença será vencida e «já não haverá luto nem pranto».
Jesus não é o único que cura, mas ordena a seus apóstolos que façam o mesmo: «Eu os envio
a anunciar o Reino de Deus e a curar os enfermos» (Lc 9, 2); «Pregai que o reino dos céus
está próximo. Curai os doentes» (Mt 10, 7 s). Encontramos sempre as duas coisas ao mesmo
tempo: pregai o Evangelho e curai os enfermos. O homem tem dois meios para tentar superar
suas enfermidades: a natureza e a graça. Natureza indica a inteligência, a ciência, a medicina,
a tecnologia; graça indica o recurso direto a Deus, através da fé, da oração e dos sacramentos.
Estes últimos são os meios que a Igreja tem à disposição para «curar os doentes».
O mal começa quando se busca uma terceira via: a da magia, a que se apóia em pretensos
poderes ocultos da pessoa que não se baseiam nem na ciência nem na fé. Neste caso, ou
estamos diante de charlatões – ou pior – diante da ação do inimigo de Deus. Não é difícil
distinguir quando se trata de um verdadeiro carisma de cura e ou de sua falsificação na magia.
No primeiro caso, a pessoa jamais atribui a poderes próprios os resultados obtidos, mas a
Deus; no segundo, as pessoas não fazem mais que exibir seus pretendidos «poderes
extraordinários». Quando por isso se lêem anúncios do tipo: mago tal de não sei quem «chega
onde outros fracassam», «resolve problemas de todo tipo», «poderes extraordinários
reconhecidos», «expulsa demônios, afasta o mal olhado», não podemos duvidar nem um
instante: são grandes enganos. Jesus dizia que os demônios são expulsos «com jejum e
oração», não esvaziando o bolso das pessoas!
Mas devemos fazer-nos outra pergunta: e quem não se cura? O que pensar? Que não tem fé,
que Deus não a ama? Se a persistência de uma doença fosse sinal de que uma pessoa carece
de fé ou do amor de Deus por ela, teríamos de concluir que os santos eram os mais pobres de
fé e os menos amados de Deus, porque há alguns que passaram toda a vida prostrados. Não; a
resposta é outra. O poder de Deus não se manifesta só de uma maneira – eliminando o mal,
curando fisicamente –, mas também dando a capacidade, e às vezes até a alegria de carregar a
própria cruz com Cristo e de completar o que falta aos seus padecimentos. Cristo redimiu
também o sofrimento e a morte; já não é sinal do pecado, participação na culpa de Adão, mas
instrumento de redenção.
[Tradução: Élison Santos. Revisão: Aline Banchieri]

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