A Força 14, embrião da Força Aérea e das Linhas Aéreas Palestinas

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A Força 14, embrião da Força Aérea e das Linhas Aéreas Palestinas
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A Força 14, embrião da Força Aérea e das Linhas Aéreas
Palestinas
Author : Marli Barros Dias - Colaboradora Voluntária Sênior
Categories : Sem categoria
Date : 2 de julho de 2015
A Palestina, desde há muitos anos, tem feito tentativas para colocar em prática os elementos
fundamentais que compõem um Estado. A criação de muitas dessas infraestruturas correspondeu ao
sonho de seus líderes, dentre os quais se destaca Yasser Arafat. A Força 14 foi, na verdade, um
objetivo estratégico delineado por Arafat, que constituiu o embrião da futura Força Aérea
Palestina, fundada no seio do Fatah durante 1968 e 1969. Dois anos mais tarde, a Força 14 foi
agregada à Brigada Yarmouk, grupo irregular fundado por militantes do Fatah, após o conflito
entre as forças palestinas, que tencionavam derrubar o Rei Hussein, e o Exército da Jordânia[1].
Tempos depois, a futura Força Aérea Palestina foi transformada numa unidade independente, a já
referida Força 14.
A Força 14 era constituída por pessoal de combate, tripulações de helicópteros e pilotos de
transporte. Por muito tempo foi mantida em sigilo, pelo que as informações sobre ela eram
praticamente inexistentes. A partir do vazamento de alguns relatórios, tornou-se possível conhecer
mais detalhes sobre esta Força Aérea que, segundo informações, formou um dos braços armados
da Organização para a Libertação da Palestina (OLP)[2]. De acordo com um relatório de 1985, o
coronel piloto aviador palestino Husayn ’Uwaydah rompeu o silêncio sobre a Força 14 tendo
afirmado que, quando criou esta Força Aérea, a OLP tinha a intenção de treinar pilotos suicidas
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para missões
estratégicas contra Israel. Porém, em inícios de 1970, conforme afirmou o Coronel,
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ocorreu uma mudança de rumo e os objetivos passaram a concentrar-se na criação de uma Força
Aérea Palestina para operar em coordenação com as Forças Aéreas dos países árabes e, assim,
ampliar o braço aéreo da OLP[3].
Inicialmente, o plano de alargamento dessa força da OLP teve dificuldades para a implantação, pois
os oficiais do Exército da OLP não estavam dispostos a investir num outro braço armado. Mas,
com o tempo, eles mudaram de opinião e a ideia foi bem sucedida, tendo estabelecido laços com as
Forças Aéreas e companhias aéreas de vários países, principalmente com as do Terceiro Mundo[4].
Contudo, o papel principal da Força 14 foi mais político do que militar e as suas atividades foram
essencialmente o transporte de pessoas e de cargas, não havendo nenhum envolvimento em qualquer
ação contra Israel. Alguns pilotos da Força 14passaram por treinamentos na URSS, Marrocos,
Argélia e Líbia[5].
Contrariando as expectativas, o apoio da URSS e a formação dos pilotos em territórios estrangeiros
não foram suficientes para a formação de uma Força Aérea Palestina. Porém, no decorrer dos anos,
alguns acontecimentos confirmaram a presença aérea palestina fora do território nacional. Em 1982,
um piloto palestino despenhou-se num Mig-21, no Iêmen[6]. Outro dos indícios de desenvolvimento
de uma Força Aérea foi a compra, em 1984, de um DC-8 para transporte[7], fato que, de certo
modo, revela uma mudança estratégica e de objetivos por parte das lideranças palestinas.
Após o fracasso dos Acordos de Oslo (1993), a Polícia Aérea [em inglês: Aviation Police] sucedeu
à Força 14. A unidade foi alocada com três helicópteros russos MI-17, que foram destruídos por
Israel durante a Segunda Intifada, ou Intifada de al-Aqsa[8]. Os aviões e helicópteros utilizados
pela Força 14 incluíam as seguintes aeronaves: Aermachi SF 260, Bell 206, Mi-17,Boeing Ch-47
Chinook, Fokker F-27, McDonnell Douglas DC-8, Mig-21 e Mig-23[9]. Na sequência, a Força 14
perdeu definitivamente o caráter militar e passou a ser designada como Linhas Aéreas Palestinas,
sendo propriedade da Autoridade Nacional Palestina, com a fundação ocorrida em 1o de janeiro de
1995. A companhia iniciou as operações em 1997[10].
O Aeroporto Internacional Yasser Arafat, também conhecido como Aeroporto Internacional de
Gaza, foi inaugurado em 1998, na cidade de Raffah, em Gaza, e significou, para os palestinos, um
dos símbolos do futuro Estado. Mas ele não teve vida longa, pois Israel se sentiu ameaçado e pediu
o encerramento daquela infraestrutura por motivos de segurança[11], após o fim das negociações de
paz lideradas pelos EUA, em 2000[12].
Durante sete anos, a companhia esteve encerrada, em consequência do agravamento do conflito
israelo-palestino, só voltando a operar em 2012, com apenas dois aviões turbo-hélice, de 48 lugares,
em dois voos semanais[13]. Antes da cessação das operações, em 2005, a companhia atuou com
diversos tipos de aeronave: um Boeing 727-200, dois Bombardier Dash 8-300 e um Il-62. Foi
encomendado um avião CRJ-200, à Bombardier, mas este nunca chegou a ser entregue[14]. A frota
atual é composta por um Boeing 727-230, construído em 1978[15], e dois Fokker 50,
respectivamente com matrícula SU-YAH[16] e SU-YAI[17].
Em 2012, com o Aeroporto Internacional de Gaza destruído, as Linhas Aéreas Palestinas
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passaram
a operar baseadas no Aeroporto El Arish, no Egito, a 60 Km de Gaza[18]. Na época, o
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Presidente das Linhas Aéreas Palestinas, Zeyad Albada, fez a seguinte declaração: “A razão pela
qual a companhia está de volta é para reduzir o sofrimento do nosso povo em Gaza.No momento,
eles têm de viajar 400-500 quilômetros da fronteira para o aeroporto do Cairo de onde eles voam
para o resto do mundo. A outra razão foi para reativar os nossos funcionários palestinos, porque
estes são aviões que levantam a bandeira palestina, que é um símbolo de soberania para nós”[19].
Hoje, o Aeroporto Internacional de Gaza encontra-se em ruínas[20] e o sonho palestino parece
distante quando confrontado com a realidade. No mundo extremamente competitivo da aviação
comercial, as Linhas Aéreas Palestinas têm seu futuro imediato seriamente comprometido. Com
efeito, a ausência de um aeroporto internacional em território palestino, a frota escassa e obsoleta e a
limitação de rotas concessionadas em muito contribuirão, num período de tempo não distante, para o
desaparecimento desta companhia aérea criada pelos avatares da História recente do Oriente
Médio.
----------------------------------------------------------------------------------------Imagem “Boeing 727-230, da Palestinian Airlines (SU-YAK) (Fonte):
http://www.airliners.net/photo/Palestinian-Airlines/Boeing-727-230-Adv/1894158/L/
----------------------------------------------------------------------------------------Fontes Consultadas:
[1] Ver:
http://news.bbc.co.uk/onthisday/hi/dates/stories/september/17/newsid_4575000/4575159.stm
[2] Ver:
AAVV, Near East/South Asia Report – JPRS-NEA-85-145, Springfield, Foreign Broadcast Information
Office – Joint Publications Research Service, 09.12.1985, pág. 43.
[3] Ver:
AAVV, Near East/South Asia Report – JPRS-NEA-85-145, op. cit., págs. 43-44.
[4] Ver:
AAVV, Near East/South Asia Report – JPRS-NEA-85-145, op. cit. pág. 44.
[5] Ver:
AAVV, Near East/South Asia Report – JPRS-NEA-85-145, op. cit. pág. 43.
[6] Ver:
https://malaysiaflyingherald.wordpress.com/
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[7] Ver: http://www.jornal.ceiri.com.br
https://malaysiaflyingherald.wordpress.com/
[8] Ver:
http://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-3689276,00.html
[9] Ver:
https://malaysiaflyingherald.wordpress.com/
[10] Ver:
http://articles.latimes.com/keyword/palestinian-airlines
[11] Ver:
http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/4449461.stm
[12] Ver:
http://www.haaretz.com/news/diplomacy-defense/palestinian-airlines-back-in-the-airafter-7-years-1.432828
[13] Ver:
http://www.haaretz.com/news/diplomacy-defense/palestinian-airlines-back-in-the-airafter-7-years-1.432828
[14] Ver:
http://www.palestinianva.net/site/home/home-gallery/member-galleries/anna-papageorgiou/palestinianairlines-crj200-c-ghut-82
[15] Ver:
http://www.airport-data.com/aircraft/SU-YAK.html
[16] A aeronave com matrícula SU-YAH pertenceu sucessivamente à Austrian Air Services, às Linhas
Aéreas Palestinas (desde 1996), foi alugado àAir Memphis, em 2011, tendo regressado à companhia
proprietária em 2012. Em 1o de maio de 2014, a aeronave foi alugada à Niger Airlines. Ver:
http://www.airfleets.net/ficheapp/plane-f50-20123.htm
[17] A aeronave com matrícula SU-YAI realizou seu primeiro voo em 20 de dezembro de 1988. Ela
integrou, sucessivamente, a frota da Austrian Air Services (desde 1989), da Palestinian Airlines (a
partir de 1996), tendo sido alugado à Air Memphis (2011). Regressou ao serviço da Palestinian Airlines
em 1o de junho de 2012, tendo sido alugado à Niger Airlines em 1o de maio de 2014. Ver:
http://www.airfleets.net/ficheapp/plane-f50-20123.htm
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[18] Ver:http://www.jornal.ceiri.com.br
http://www.thenational.ae/news/world/middle-east/palestinian-airlines-takes-off-after-being-grounded-forseven-years
[19] Ver:
http://english.cntv.cn/program/newsupdate/20120528/107047.shtml
[20] Ver:
http://america.aljazeera.com/watch/shows/america-tonight/articles/2014/7/25/dashed-dreamshowgazasshortlivedairportnevertookoff.html
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