Vida e morte: - Arquidiocese de Vitória

Transcrição

Vida e morte: - Arquidiocese de Vitória
vitória
Ano VIII
•
Nº 11
•
Novembro de 2013
Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
Vida e morte:
a dor pela perda de um filho
Atualidade
Privacidade, você tem?
Liturgia
A santificação das horas
Entrevista
Pe. Wladimir Porreca
vitória
Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
Ano VIII – Edição 11 – Novembro/2013
Publicação da Arquidiocese de Vitória
Pensar
Diálogos
o particular e o universal
Micronotícias
12
Entrevista
14
somos Liturgia
18
Espiritualidade
21
Cicloturismo e câncer no ar
Padre Wladimir Porreca
8
atualidade
Privacidade, você tem?
5
6
A santificação das horas
Irmã morte
Comunidade de comunidades 22
Cristo Rei do Universo
24
Caminhos da Bíblia
28
Aspas
Especial
30
31
Projeto
32
Prática do Saber
36
Reflexões
38
Arquivo e Memória
39
Ensinamentos
40
Cultura Capixaba
42
Designer
Albino Portella
Acontece
44
Impressão
Gráfica 4 Irmãos
(27) 3326-1555
Uma palavra que aquece e ilumina
Arte Sacra
O sacrário
As CEBs capixabas e o pensamento
pastoral do Papa Francisco
Casa Marista de semiliberdade
Publicidade para crianças e consumismo
O anúncio do anjo
A criação do Copav Creio na ressurreição dos mortos 34
Ideias
Um encanto vai se
desfazendo
Bispos Auxiliares
Dom Rubens Sevilha
Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias
Reportagem
Vida e morte, a dor pela perda de um filho
17
Arcebispo Metropolitano
Dom Luiz Mancilha Vilela
Sepulturas Transversais
Encerramento do ano da fé
Editora
Maria da Luz Fernandes / 3098-ES
Repórter
Letícia Bazet / 3032-ES
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Alessandro Gomes
Dauri Batisti
Gilliard Zuque
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Edebrande Cavalieri
Vander Silva
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editorial
A vida é cíclica
E
stamos para iniciar um novo ciclo litúrgico e logo
em seguida chega o novo ano. A vida é assim,
cíclica, mesmo quando parece novidade, o que
também não deixa de ser verdade, pois os ciclos nunca
se repetem de maneira idêntica.
Esta edição fala de vida e de morte, de individualidade
e coletividade, de organização eclesial e de política, de
Bíblia, de tradições... enfim, de vida com todas as suas
complexidades e nuances e, propõe um olhar diferente
para o dia contemplando nele a riqueza da vida de fé pela
santificação das horas.
Na vida litúrgica as horas do dia remetem-nos para a
história da salvação, para os momentos marcantes da vida
de Jesus: Santa Ceia, Crucificação, Morte, Ressurreição
e Pentecostes.
Se a história da salvação pode ser compreendida
nas horas de um dia é porque os ciclos da vida sempre
voltarão de forma nova, isto é, jamais serão vividos da
mesma forma. A memória da história da salvação em um
dia, também significa que os ciclos da vida acontecem de
maneira consecutiva ou simultânea e o mais importante é,
em cada hora, quando os acontecimentos surgem, acordar
para eles e santificar cada momento.
Maria da Luz Fernandes
Editora
pensar
Paula Mendes
Fotografias
diálogos
O Particular e o Universal
ou Pessoa e Comunidade
A
tualmente, a tendência das pessoas, de maneira geral, é a valorização do
indivíduo. Nesta preocupação com o particular corre-se o risco de chegar a
um fechamento perigoso para o desenvolvimento pessoal ao querer defender
sua individualidade do mundo exterior, mesmo que, em princípio, seja legítimo e
correto. O caramujo fecha-se sempre quando sua vida corre perigo.
Tenho ligeiramente a impressão de que aquela ideia de “global”, surgida na metade do século passado e acentuada no início do século XXI, vem sendo questionada
por outro fenômeno: a preservação do mundo particular e a da interioridade.
A proximidade das nações, a consciência da corresponsabilidade universal,
gerando a cultura da vizinhança, do cuidado para com as pessoas como também com
a natureza, ecologia universal, parece-me um grande avanço da humanidade e faz
surgir o contraponto da individualidade. O ser pessoal não admite ficar massificado
pela exterioridade, pelo mundo social. Provoca- se, com isso, ou uma luta em busca
da prioridade, um fenômeno sobre o outro ou uma respeitosa complementaridade de
um e outro em favor do todo pessoal e comunitário.
Acredito que estes dois polos, globalidade e individualidade, devam fazer parte
do avanço da humanidade exigindo o justo equilíbrio do ser humano como ser de relações. Ele é cuidador e construtor da harmonia universal onde a globalidade não deve
anular o indivíduo, o pessoal e, este, por sua vez, não venha a ignorar que sua vida,
sua existência, só terá sentido na abertura para o outro, o mundo global, o universal.
Ninguém gosta de se ver invadido em sua privacidade, contudo isto pode acontecer
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em vários níveis: um país cuja geografia humana comporta tribos, grupos
humanos diversos com vários dialetos
que desejam permanecer vivos, ser
reconhecidos, sujeitos de direitos e
amadurecer na convivência humana
neste mundo global, assim como os
países que foram criados artificialmente, constantemente experimentam
revoltas porque querem ser reconhecidos, defendem a individualidade da
tribo, da região, da cultura e valores.
Em defesa do individual surge,
de maneira muito forte, no mundo das
comunicações, o fenômeno internet.
O mundo da mídia começou expressando a forte tendência no resgate
do indivíduo, da individualidade,
do ser humano como tal. Por isso,
produziu um fechamento da pessoa,
do indivíduo.
Paralelamente surge, no entanto,
uma reação na dimensão comunitária
do ser humano, que, no mundo da
comunicação, manifesta-se claramente
pelas redes sociais.
Em suma, o ser humano não
aceita perder a sua individualidade,
mas deseja e faz questão da abertura
para o outro. A busca do comunitário, o sonho da “aldeia global” está
inerente à individualidade, por mais
paradoxal que pareça ser, pois sabe
e está consciente de que não será
feliz se optar pelo encasulamento
de si mesmo. Da mesma forma que
o comunitário, o global apela para o
individual e pessoal.
Diante desta dialética ou bipolarização, a Boa Notícia cristã tem
sua contribuição para o bom relacionamento humano, a globalidade,
a ecologia universal. A pessoa e a
Comunidade são dois polos essenciais
no anúncio e testemunho cristão. Já
no Antigo Testamento, as Sagradas
Escrituras deixam bem claro nos Dez
Mandamentos, a constituição do povo
de Deus, a determinação sagrada:
“amar o próximo como a si mesmo”.
O Novo testamento tem como ensinamento central o Amor. Basta lermos
os discursos de Jesus, os escritos de
João, as cartas de São Paulo, aliás,
todos os escritos do Novo Testamento!
O ser humano foi criado, remido por
amor, chamado para viver no amor e
destinado ao amor eterno.
Meu próximo é meu semelhante.
Daí surge o devido respeito ao qual
cada ser humano tem direito e, consequentemente, o dever com relação
a seu semelhante. A pessoa, como ser
de relação, para ser feliz deve amar a
si mesma e amar o seu semelhante.
Contudo, mesmo sabendo desta
obrigação ética e moral, notamos um
desconcerto geral na sociedade contemporânea. Nem sempre a família
tem sido escola de relações humanas
e cristãs. Reconhece- se a dimensão
pessoal de cada membro familiar, mas
desconhece-se o sentido comunitário da sua vocação para a unidade, a
vida em comunidade. A polarização
de um ou do outro faz surgir, então,
“A busca do
comunitário, o sonho
da “aldeia global”
está inerente à
individualidade.”
o ditador, o dono da comunidade,
a anulação do pessoal e particular.
O direito à privacidade desaparece,
torna-se propriedade de todos. Faz
surgir também o Estado dominador e
invasor do pessoal, do particular, como
se o social pudesse cumprir sua tarefa
ignorando o pessoal e individual.
Esta tensão entre estes dois polos é inevitável. Porém, é sumamente necessário que não se destruam
sobrepondo-se, produzindo ora o
individualismo empobrecedor, ora a
massificação destruidora da pessoa.
A complementação de ambos é o
caminho, como nos ensina São Paulo:
“suportando-vos uns aos outros com
amor” (Col. 3,13). Pessoa e Comunidade, ambas convivendo na mútua
complementação, sendo uma suporte
para a outra, de tal forma que a pessoa
faz soar o seu ser na comunidade e
se realiza enquanto ressonância das
pessoas: o “nós” como comunidade
lugar da plenitude do “eu” e do “ tu”!
A aldeia e o mundo global encontram
o seu lugar.
Dom Luiz Mancilha Vilela, sscc
Arcebispo
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Atualidade
N
ós damos cada vez mais preferência às empresas que nos
oferecem um atendimento personalizado. Por conta disso
enfrentávamos a famigerada mala direta, se lembra? Era
só fazer cadastro em uma loja que em questão de dias recebíamos
propagandas e mais propagandas de lojas que nunca frequentamos
e que não tínhamos ideia de como conseguiram o nosso endereço.
Com o avanço da internet isso foi piorando. Agora o nosso
endereço eletrônico é o principal alvo. Diariamente dezenas de propagandas invadem a nossa caixa postal em uma demanda bem maior
do que recebíamos em casa.
Em nome de um atendimento cada vez mais personalizado as
empresas extrapolam e invadem a nossa privacidade, principalmente
quando utilizamos os sites de buscas, como o Google, por exemplo.
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Quem navega na internet
sabe que hoje em dia é praticamente impossível não acessar uns
dos produtos ligados ao Google:
Gmail, Google Chrome, YouTube, Google Maps, entre muitos
outros que são inseridos nesta
mega empresa constantemente. Através de nossos acessos,
o Google mapeia nossas preferências e utiliza destas informações para nos oferecer o tal
atendimento personalizado. Por
exemplo, se você recentemente
acessou o sistema de buscas para
saber o resultado de uma partida
de futebol do seu time favorito,
em breve estará visualizando nos
serviços da empresa anúncios de
materiais esportivos e camisas de
sua equipe preferida. Coincidência? É o resultado do mapeamento
dos seus acessos na internet e isto
vale também para quem utiliza
a web ou alguns aplicativos nos
aparelhos celulares.
É normal as pessoas se perguntarem se esta falta de privacidade da nossa vida online também
pode ser utilizada de maneira
negativa. Aí temos duas respostas
e você pode optar por qual acreditar: segundo o grupo Google,
ela utiliza sim estas informações
para fins comerciais e isto está
explícito no contrato que assinamos e que, geralmente, não lemos
quando fazemos algum cadastro,
seja no Facebook, Google Mais,
Gmail, entre outros. Por outro
lado, na imprensa internacional
foi noticiada nos últimos meses
a espionagem estrangeira no alto
escalão do governo e empresas
estratégicas brasileiras, tendo
como instrumentos principais
deste crime os e-mails utilizados
por estas pessoas.
Você pode se tranquilizar
com a constatação de que não
é um empresário estratégico da
economia mundial, nem membro
do alto escalão do governo federal, mas saiba que quando você
seleciona o ícone de concordo
com os termos e compromissos
da política de privacidade de um
site, você cede suas informações
postadas para uso deles. Por conta disso, governos
de várias partes do globo debatem as melhores estratégias para
combater a falta de privacidade
na internet e está em tramitação
na Câmara Federal brasileira uma
proposta sobre o tema. O texto
faz menção à privacidade, identificação dos usuários, retenção de
dados, a função social da rede e
responsabilidade civil de usuários
e provedores.
Recentemente, o ministro do
Planejamento, Paulo Bernardo,
disse que o governo brasileiro
está preocupado em decorrência
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Atualidade
das denúncias sobre a existência
de um programa que permite aos
serviços de segurança dos Estados
Unidos monitorar telefonemas e
e-mails.
Ele afirmou que há uma série
de aspectos que devem ser esclarecidos, mas defendeu a liberdade
na internet e o direito de seus
usuários à privacidade.
Seguem algumas dicas
de especialistas:
wevite divulgar em redes sociais informações que possam
comprometê-lo futuramente. Números de telefone,
endereços que deixem claro onde você mora e estuda
ou a exata localização para onde você está indo podem
transformá-lo na isca perfeita para assaltantes;
wse você compartilha um computador com outras pessoas
e não quer que elas vejam parte do conteúdo guardado,
a melhor maneira de se proteger é criar senhas para as
suas pastas confidenciais. Como medida complementar,
crie uma conta de usuário para cada uma das pessoas que
utiliza o PC;
wevite deixar arquivos com códigos bancários, senhas de
sites ou número de documentos em pastas de fácil acesso
ou sem nenhuma proteção. Tome cuidado também com as
senhas utilizadas durante a navegação.
(fonte: Site Tecmundo)
O que já é sabido é o fato de
que nos dias de hoje a tecnologia
caminha em passos muito mais
largos e rápidos do que a burocracia para criação e fiscalização
de leis referentes a crimes cibernéticos e, quando uma estratégia
é montada, o resultado já surge
obsoleto perante as novas opções
tecnológicas.
Segundo especialistas em
informática, enquanto uma definição eficaz não surge, cabe a
cada usuário da web adotar medidas preventivas para proteger
ao máximo possível a própria
privacidade.
Serviços que nos oferecem
produtos que tenham a ver com
o nosso perfil agradam muito
quando acertam o alvo, mas quando não acertam podem se tornar
incômodos. A linha que divide
as duas situações é frágil e o que
deve prevalecer é a nossa privacidade. Por enquanto, a melhor
maneira de evitar este tipo de
chateação é o nosso bom senso.
Escolha bem onde vai dar seus
próximos cliques na internet.
Vander Silva
Jornalista
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revista vitória
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www.aves.org.br
www.facebook.com/arquivix
twiter.com/arquivix
vitória
Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
ss
o para transformar
seus projetos em realidade.
Nós estamos a postos
para contribuir.
U e eu temp
Editoração eletrônica
[email protected]
(27) 3319-9062
(27) 3229-0299
micronotícias
Baixa produtividade
O Espírito Santo está na lista
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que apontou a baixa
produtividade dos magistrados e a alta taxa de congestionamento de processos de
10, dos 27 tribunais estaduais.
Cicloturismo na Itália
Um grupo de 100 brasileiros escolheu um cenário
inspirador, pegou a bicicleta e passou uma semana conhecendo o norte da
Itália. Além deles, 30 italianos e um
pequeno grupo de outros países também participaram do passeio. Estradas
rodeadas de vegetação, castelos medievais e uma vista para o belo Mar
Adriático fizeram parte do roteiro do
grupo, como parte do 1º Encontro
Internacional de Cicloturismo Brasil-Itália. Os percursos variavam de 45km
a 65km por dia e o encontro reuniu
pessoas de diferentes idades. No percurso, os “bike hotéis” se destacaram
com a oferta de produtos e serviços
exclusivos para ciclistas, como estacionamento de bicicletas, mesa com
água e frutas, bomba para encher
pneu, lavagem de roupa de um dia
para o outro, entre outras facilidades.
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O relatório, divulgado anualmente pelo
CNJ desde 2009, visa possibilitar maior
conhecimento do Judiciário e medidas
de integração, redução das desigualdades
regionais e melhor prestação do serviço à
sociedade.
O Índice de Produtividade Comparada
considera a força de trabalho do tribunal, as despesas totais, a litigiosidade e
número de processos resolvidos. A partir
dos dados, se estabelece a eficiência do
TJ, considerando a estrutura que ele tem
e comparando com a atuação dos outros
tribunais de acordo com o porte de cada
um.
Escravidão no Brasil
Câncer pelo ar
Especialistas da Agência Internacional
de Pesquisas sobre o Câncer avaliou a
poluição do ar exterior como cancerígena.
Apesar da possibilidade de variação considerável na composição da contaminação do ar e dos níveis de exposição,
a agência destacou que suas conclusões se aplicam a todas
as regiões do mundo. Os dados mais recentes mostram
que, em 2010, mais de 223 mil pessoas morreram de
câncer de pulmão relacionado à poluição do ar.
A classificação abrange mais de cem agentes cancerígenos conhecidos, como o amianto, o plutônio, a poeira
de sílica, a radiação ultravioleta e o cigarro. A classificação
já abrangia também muitas substâncias, habitualmente
encontradas no ar poluído, como a fumaça dos motores
a diesel, solventes, metais e poeiras. Mas esta é a primeira
vez que os especialistas classificam o próprio ar poluído
dos ambientes externos como uma causa do câncer.
O primeiro Índice de Escravidão Global apontou
que no Brasil, quase 200
mil pessoas ainda vivem
em situações análogas
à escravidão. A atividade
concentra-se, sobretudo, nas indústrias madeireiras, carvoeiras,
de mineração, de construção civil
e nas lavouras de cana, algodão e
soja. A exploração sexual, sobretudo o turismo sexual infantil no
nordeste, também são campos
sensíveis, segundo o relatório, que
cita ainda a exploração da mão de
obra de imigrantes bolivianos em
oficinas de costura.
Apesar do quadro apontado,
as ações do Governo Brasileiro
são consideradas exemplares pela
ONG que coordenou o levantamento.
Adesivo contra mosquitos
Ao ser grudado na roupa, um pequeno adesivo
promete proteger o corpo contra mosquitos
durante 48h. Por meio de uma tecnologia específica, o material
consegue bloquear a habilidade que os mosquitos têm de ‘rastrear’
os humanos por meio do dióxido de carbono.
O produto, chamado The Kite, foi fabricado para qualquer parte
do planeta e, de acordo com a empresa que o desenvolveu, ele pode
substituir os sprays e outros produtos que atuam, justamente, no
combate aos mosquitos.
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entrevista
“a família precisa
ser família”
Padre Wladimir Porreca, assessor da CNBB para a família, esteve no
Espírito Santo e conversou com a Revista Vitória. Para ele o segredo
é a família ser família.
vitória - O que fez do senhor
o assessor da CNBB para a Família?
Wladimir - Primeiro eu amo muito
a família. Sou um filho de oito,
uma família italiana, a minha casa
é uma casa de festa. Desde padre
novo comecei a estudar as questões da família, porque atendia
casais e queria ter recursos, não
apenas religiosos, mas recursos
científicos-humanos para poder
ajudar a família. Quando uma
família é família, o ser humano
é feliz, realizado e satisfeito, mas
quando não tem família, ele fica
a vida inteira procurando, nas
coisas e nas pessoas, a realização, e não vai achar. Eu sempre
digo assim: se não tem a bênção
do pai e da mãe, a gente não vai
para a vida.
vitória - Como a Comissão
orienta as Dioceses?
Wladimir - Em princípio é dar
assessoria e suporte, pedindo que
haja uma conscientização sobre
a beleza da família. Depois o
trabalho com pequenos grupos.
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Nós estamos percebendo que
esse anúncio não é para grandes
massas, esse anúncio é coisa íntima, de grupos que se relacionam,
conversam, trocam experiências.
No terceiro momento há também
uma preocupação social, por isso
nós estamos agora incentivando
muito, e aqui em Vitória, se Deus
quiser vai sair logo, a Associação
de Famílias, esse reconhecimento
jurídico de pessoas que amam e
que defendem a família. E quando eu falo defender, lembre da
palavra promover, não defender
no sentido de gritar por aí, mas
de promover a família, porque
se nós não tivermos esse amparo
jurídico, também perdemos caminho, perdemos terreno. Eu falo
da família querida por Deus. A
família composta de um homem,
de uma mulher, e de filhos. A família que nós acreditamos como
natural, e de fato é. A família
realmente, que Deus deseja, e
que é o lugar de realização plena
para o ser humano, é uma família
composta de homem, mulher e
filhos.
vitória - Andando pelo Brasil,
existe alguma história de família que o marcou mais?
Wladimir - Em cada lugar encontro casos e histórias que me
sensibilizam muito. Porém, entre
tantos casos e histórias que vejo
pelo Brasil afora, sensibilizo-me
com as famílias que têm filhos deficientes. Quando eu vejo aquela
mãe e aquele pai com uma criança
especial, eu vejo os verdadeiros
anunciadores do Evangelho, da
gratuidade, da reciprocidade e
da confiança. É claro que esses
valores eu também encontro em
muitas famílias, mas na minha
experiência pessoal, o que me
sensibiliza muito é a família onde
tem uma criança portadora de
uma deficiência mental ou física.
É outra dinâmica na família, é
outra sensibilidade, é outra humanização, é outra coesão, é muito
interessante.
vitória - Trabalhando na
CNBB o senhor consegue manter contato com as famílias?
Wladimir - Eu sou padre do povo!
Eu saí do povo e estou louco para
voltar para o povo! Em 2015 é
hora de voltar para a minha Dio-
cese, São João da Boa Vista em São
Paulo. Agora, eu quase não paro na
CNBB. Cada hora estou em um lugar
desse país. E se eu não saísse, eu não
conseguiria sobreviver como padre. Eu
preciso estar em contato com o povo.
A energia da minha vida de padre está
no meu povo.
vitória - O que o senhor sente que
falta nas famílias atualmente?
Wladimir - Ser família. O Estado não
dá recurso para ela ser família. O Estado dá recurso para grávida, para o
menor infrator, mas não dá recurso
para a família. Quanto mais forte a
família fica, mais independente do
Estado ela é, porque ela se autogere.
É interessante isso, a família passa por
diversas transformações, e no meio de
todas elas, ela se ressignifica. Então
o que falta é a família ser família. E
não é só o Estado não, eu vejo também
“O importante
não é você
atingir o
ideal ou ficar
no real, o
importante
é você
transitar entre
essas duas
realidades
a Igreja. Por exemplo, a educação dos
filhos, nós queremos levar os filhos
para a catequese. Quem tem que dar
catequese é o pai e a mãe. ‘Ah, mas eles
não sabem!’, então vamos ensinar pai e
mãe a dar catequese. Vamos favorecer
que pai e mãe sejam educados na fé, para
poderem educar o filho. Isso é devolver
à família o lugar dela. E além do Estado
e da Igreja, tem também a sociedade,
onde impera hoje o individualismo e o
relativismo. E dentro dessas duas ditaduras, a família está ficando escrava do
trabalho. Falta ser família, ter tempo de
estar junto. O Papa Francisco tem falado
muito nisso, o tempo do encontro.
vitória - Como a Pastoral Familiar
pode ir contra essas ditaduras?
Wladimir - O individualismo é quando
só importa o que eu gosto, o que eu
quero, o que eu sinto. A Pastoral Familiar faz grupos pequenos, vamos estar
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entrevista
O segredo para atingir o ideal de
uma família, que se relaciona bem,
onde todos são felizes, onde é
possível acontecer, é não perder
o Menino Jesus. Aí está a Igreja
doméstica”
juntos, vamos ter flexibilidade,
vamos escutar o outro, o outro
também tem muito a colaborar
com você, a experiência do outro traz crescimento, não é só
você que está vivo, você não é
uma ilha, você precisa de um
outro para ser gente, só o outro o
faz ser você mesmo. Então entra
todo o esquema da comunidade,
das pequenas comunidades. E
depois, no segundo momento,
é preciso entender que existem
verdades únicas. Não existe uma
construção de verdade. Quando
eu falo relativismo é quando cada
um começa a criar a sua própria
verdade, isso para mim é verdade e para você não é verdade.
E quando o ser humano entra
nesse relativismo de verdade, ele
perde o fundamento, e às vezes
as grandes perguntas existenciais
acabam se diluindo, e aí ele não
sabe nem quem ele é, onde ele
está pisando, o que está fazendo.
E não tem como viver sem as
verdades, porque, por exemplo, a
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verdade da justiça é a verdade em
si; a verdade da solidariedade é
uma verdade em si, não é o que eu
quero ou que eu deixo de querer.
As verdades biológicas, eu não
posso falar simplesmente que
vou parar de respirar, agora eu
não vou ao banheiro. Às vezes a
gente grita por liberdade, mas não
se sabe que somos condicionados,
o ser humano é limitado.
vitória - Como a Pastoral Fa-
miliar está lidando hoje com as
novas configurações familiares?
Wladimir - A nossa postura é que
existem sempre muitas formas de
família, mas o modelo de família
é único: Jesus, Maria e José, é a
família nuclear. As outras são formas que buscam esse ideal, e nós
não podemos perder esse ideal.
Às vezes vamos aos extremismos
de apontar o que não é família ou
dizer que tudo é família. Mas, o
nosso ideal, qual é? Jesus, Maria
e José. E não é o ideal cristão, é o
ideal natural, vem antes, e todas
as pessoas procuram esse ideal.
O importante não é você atingir
o ideal ou ficar no real, o importante é você transitar entre essas
duas realidades, aquilo que você
gostaria e aquilo que é possível,
aquilo que eu tenho como meta
e aquilo que eu estou vivendo.
Muitas vezes a gente pensa na
família como uma homeostase,
como se família não tivesse problema. Quer mais complexidade
que a família de Nazaré? Mas
qual foi o segredo dela? Qual a
sacralidade da família de Nazaré?
Não perder o Menino Jesus. A
sacralidade da família de Nazaré
é o Menino Jesus. Então, nos
altos e baixos da vida que todos
nós temos, o segredo para atingir
o ideal de uma família, que se
relaciona bem, onde todos são
felizes, onde é possível acontecer,
é não perder o Menino Jesus. Aí
está a Igreja doméstica.
vitória - O que o senhor fala
para as famílias do Espírito
Santo?
Wladimir - Primeiro, que eu gostei muito de enxergar aqui um
povo religioso, isso para mim
é fundamental. E eu vi isso nas
várias manifestações, não só no
caminho da Igreja. Esse aspecto
religioso fundamenta o aspecto
humano e faz de um povo, um
povo mais aberto, mais sensível,
mais realizado. Depois repetir as
palavras de Dom Maurício Grotto
de Camargo no XX Congresso do
Encontro de Casais com Cristo:
ECC não tenha medo da Pastoral
Familiar, Pastoral Familiar, não
tenha medo do ECC, ECC e Pastoral Familiar, não tenham medo
das equipes de Nossa Senhora,
Equipe de Nossa Senhora, não
tenha medo da Pastoral Familiar
e do ECC. Nós somos do mesmo
batismo, do mesmo propósito,
nós amamos e acreditamos na
família, vamos estar juntos para
promovê-la.
arte sacra
“Ninguém come essa
carne sem antes a adorar
[...] pecaríamos se não a
adorássemos”.
(Santo Agostinho)
O
http://sergioceron.com.br/tecnica-categoria/mosaico/
tabernáculo como lugar
da presença do Senhor
vivo, surge no segundo
milênio da cristandade, ao se falar
da presença permanente de Cristo
pela transubstanciação do pão e
do vinho. Essa consciência já
estava presente na Idade Antiga,
onde a eucaristia era venerada
e conservada para os doentes.
Abre-se, agora, uma nova dimen-
ARTISTA SÉRGIO CERON
Mosaico pavimental, Tabernáculo, Paróquia
Sagrados Corações, Londrina, 2008
são da realidade cristã: a Eucaristia torna-se objeto de contemplação, oração e adoração, pessoal e
comunitária. “Fora da celebração
do memorial do Senhor, a Santa
Eucaristia é objeto de culto como
sacramento permanente”, diz o
Dicionário de Liturgia.
A reforma litúrgica do
Concílio Vaticano II reafirma
essa verdade e o Missal Romano recomenda que “de acordo
com a estrutura de cada igreja
e os legítimos costumes locais,
o Santíssimo Sacramento seja
conservado num tabernáculo,
colocado em lugar de honra na
igreja, suficientemente amplo,
visível, devidamente decorado
e que favoreça a oração.
Normalmente, o sacrário
deve ser único, inamovível, feito
de material sólido e inviolável,
não transparente, fechado de
modo que se evite ao máximo o
perigo de profanação”.
Ainda segundo o Missal, no
altar em que se celebra a Missa não é conveniente que haja
sacrário. A presença de Cristo
na assembleia, no sacerdote, na
Palavra, prepara o fiel para rece-
Fone: http://www.archdaily.com/37723/saintjohns-abbey-vjaa/0808021_vja_stj_160/
O LUGAR DA RESERVA EUCARÍSTICA
(o tabernáculo ou sacrário)
ber Cristo na Eucaristia. Assim,
é preferível que o sacrário se
localize numa capela apropriada
para adoração e oração dos fiéis,
ligada com a igreja e visível, ou
ainda, no presbitério, fora do
altar da celebração, na forma e
lugar mais adequados, caso não
seja possível a capela.
Ao reservar um espaço para
o sacrário, a Igreja proporciona
aos fiéis condições para maior
recolhimento e percepção do
mistério que envolve a presença real de Cristo Eucarístico. O
material e a localização do sacrário na igreja devem convidar
o fiel a chegar mais perto deste
mistério.
Raquel Tonini, membro da Comissão de
Arte Sacra da Arquidiocese de Vitória
e Grupo de Reflexão do Setor Espaço
Celebrativo da Comissão Litúrgica da CNBB
Novembro/2013
revista vitória
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somos liturgia
ORAI SEM CESSAR
A
inda encontramos alguns padres ou leigos
que dizem: está na hora
de rezar o breviário. Mas, muitos
podem desconhecer esta terminologia que se refere à Liturgia
das Horas. Esta é a oração pública e comunitária oficial da
Igreja Católica. Através dela,
cada fiel é chamado a parar
em meio ao agito do cotidiano
e dedicar um momento de oração, recordando a obra que Deus
realizou em favor de seu povo
ou, em uma simples e profunda
expressão, santificar o seu dia.
Sim! A Liturgia das Horas cumpre, por excelência, a função de
nos lembrar que o dia e tudo o
18
revista vitória
Novembro/2013
que foi criado não são nossos,
mas pertencem ao Senhor.
O povo do Antigo Testamento rezava cada situação
vivida fazendo memória das
maravilhas que Deus operava
em seu favor de maneira laudativa, ou seja, como um grande
louvor. Dessa forma, é costume
hebraico rezar a cada três horas
para fazer memória do mistério
de Cristo e deixar que o dia seja
orientado por Ele. A experiência
de parar repetidas vezes durante
o dia para rezar não é exclusiva
do judaísmo ou do cristianismo.
Os muçulmanos também param
os seus afazeres, estejam onde
estiverem, e se voltam na direção
de Meca para elevarem as suas
preces.
Foi na recitação dos Salmos
que esta rica tradição foi cristalizada e até hoje eles constituem
a coluna vertebral e o coração
da Liturgia das Horas. Este conjunto de salmos recebe um nome
especial, o saltério, que designa
também o instrumento usado
para acompanhar o canto dos
salmos. Rezar ou cantar salmos
é algo muito significativo para
os cristãos, seja em momentos
de alegria, de aflição ou alguma
outra necessidade.
As horas do dia foram muito bem sistematizadas para que
desde o nascer até o pôr-do-sol o
nome do Senhor fosse louvado.
Hipólito de Roma, que viveu no
século III, faz uma bonita associação dos momentos de oração,
com os mistérios de Cristo. Assim, pela manhã, na oração que
recebe o nome de Laudes, fazemos memória da Ressurreição
do Senhor. No decorrer do dia,
acontecem três orações, chamadas de Hora Média, pois estão no
meio da oração da manhã e da
oração da tarde. Às nove horas,
chamada hora terça, recorda-se o Espírito Santo, por causa
de Pentecostes. Na hora sexta,
rezada ao meio dia, lembra-se a
crucificação de Jesus e às quinze
horas, chamada hora nona, ganha
realce a libertação operada pela
morte de Cristo. As vésperas
são o louvor da tarde que sobe
a Deus em forma de intercessão
e agradecimento pelo dia vivido,
enquanto que nos preparam para
enfrentar a noite iluminados pela
luz pascal. Antes de deitar, a última hora, chamada Completas,
nos acena para o dia que não
tem ocaso. Há uma outra hora,
comumente rezada pela madrugada nos mosteiros, ou em outra
hora oportuna, chamada Ofício
de Leituras, que além dos salmos
apresenta uma leitura dos Padres
da Igreja e mestres espirituais.
Os homens e mulheres de
hoje precisam redescobrir a
grandeza de se meditar durante
o dia, através da Liturgia das
Horas ou, popularmente, através do Ofício Divino das Comunidades. As famílias podem
eleger um momento durante o
dia e rezarem unidas. E falta de
tempo não pode ser desculpa
para quem quer rezar, pois a
tecnologia também favorece a
oração. É possível ter toda a
liturgia no celular, no tablet ou
no computador e leva-la para
qualquer lugar. O mais importante para nós é “orar sem cessar,
em tudo dar graças.” (cf. 1 Ts
5,17)
Marcus Tullius
Equipe Litúrgica da Arquidiocese
Novembro/2013
Igreja Santo Aloísio - Estados Unidos
revista vitória
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espiritualidade
“Para o ateu, cada dia que passa,
é um dia a menos de vida. Mas,
na fé, eu sei que cada dia vivido
é um dia a mais de vida.
IRMÃ MORTE
A
morte é um mistério e todos temos medo dela. Popularmente
costumamos dizer que “para
tudo há uma solução, menos para a
morte!”. De fato, humanamente falando, não encontramos explicação
ou solução para a tremenda e assustadora realidade da morte que é a
única certeza que temos na vida: um
dia vamos morrer.
Para nós que temos fé a morte tem
solução sim. Nós cremos que a existência humana é como uma história
escrita em três volumes ou um filme
em três partes. O primeiro volume é
antes do nosso nascimento. Ninguém
nasce por acaso. Todo ser humano foi
criado por Deus, foi por Ele planejado,
por Ele desejado e amado e nesse
mundo colocado. Primeira conclusão:
eu não sou um jogado ou abandonado
na vida. Eu tenho uma origem. Tenho
um Pai que é Deus.
O segundo volume da nossa existência começa no dia em que aparecemos nesse mundo. Deus aqui nos
colocou (não nos abandonou aqui!)
para uma missão e, fundamentalmente,
nossa missão consiste em sermos bons
e fazermos o bem sempre e para com
todos. Jesus é o nosso modelo e Mestre
de vida. Somos cristãos.
O terceiro volume da nossa existência começa com a morte. Para nós,
crentes, a morte é o começo da Vida e
não o final. A morte é a porta que se
abre para a outra vida. Assim sendo,
São Francisco podia chamar a morte
de irmã e São João da Cruz referia-se
à morte como “doce encontro”: O doce
abraço do filho que retorna à casa e
aos braços do Pai. A ressurreição de
Cristo é a garantia da Vida que venceu
a morte.
Sem a fé eu me sentiria uma pessoa sem origem e sem fim. Eu seria
um ser humano suspenso no ar... Para
o ateu, cada dia que passa, é um dia
a menos de vida. Mas, na fé, eu sei
que cada dia vivido é um dia a mais
de vida. O cristianismo transpira vida
por todos os poros da alma.
Quero partilhar uma poesia de
Ir. Marie Ange Robbe:
PARA MEU AMIGO
Quando eu morrer,
e você quiser dizer uma palavra
à minha vida que foi,
não ponha sobre a terra que me
cobre, a rosa,
bela demais.
Nem o jasmim,
por seu aroma indiscreto.
Não ponha a magnólia porque
é fidalga,
e fala melhor às vidas que foram
grandes.
Não ponha a violeta
que é a mais humilde e,
eu devera, mas não fui.
Não ponha nenhuma flor
de cor amarela,
a cor da luz,
porque andei entre as sombras,
amei a penumbra,
bebi todos os cinzas
e você não vai achar nenhuma flor
da cor neutra
que se apaga
para o outro brilhar.
Quando eu morrer,
Plante ali a hera.
Que se agarra e cresce,
Que vive e morre
Onde nasceu.
Fiel.
Dom Rubens Sevilha, ocd
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória
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comunidade de comunidades
Cristo Rei
ponto de chegada e
C
elebrada no último domingo do ano litúrgico,
a Festa de Cristo Rei, mais do que uma comemoração das comunidades que receberam
este nome, é uma data exaltada pela Igreja de todo
mundo. Ela é ponto de chegada de todo o mistério
celebrado durante o ano. Tudo o que celebramos, do
advento até o último domingo do tempo comum, é
caminho para este grande momento.
Encerrar o Ano Litúrgico com a Solenidade
de Cristo Rei é consagrar a Nosso Senhor o mundo
inteiro, toda a nossa história e toda nossa vida. Ele
é o fim para o qual se dirigem todas as coisas. “Eu
sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim de todas
as coisas” (Ap 1, 8).
As principais ideias sobre o reinado de Cristo
estão expressas na Encíclica Quas Primas escrita
pelo Papa Pio XI em 1925. No início do século XX,
o mundo, que ainda estava se recuperando da Primeira Guerra Mundial, foi varrido por uma onda de
secularismo e de ódio à Igreja, como nunca visto na
história do Ocidente. O fascismo na Itália, o nazismo
na Alemanha, o comunismo na Rússia, a revolução
maçônica no México, anti-clericalismos e governos
ditatoriais se insurgiam contra a Igreja.
É neste contexto que o papa Pio XI institui uma
festa litúrgica para celebrar uma verdade de nossa
fé: Jesus Cristo continua a reinar, soberano, sobre
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revista vitória
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do Universo:
partida de nossa fé
toda a história da humanidade e
assim deveria permanecer para
todo o sempre.
Em nossa Arquidiocese
18 comunidades, além de uma
paróquia, recebem o nome de
Cristo Rei e programaram diversas atividades para comemorar a
data, como novenas, celebrações
e shows populares.
A Paróquia Cristo Rei, localizada em Campo Verde, Cariacica, surgiu em 2009, após
desmembramento da Paróquia
São João Batista, de Cariacica-Sede. Desde a instauração, feita por Dom Mário Marquez, na
época nosso bispo auxiliar, tem
o padre Amarílio Luiz Corradi
como pároco. Segundo ele, como
não existia outra paróquia na Arquidiocese dedicada a Cristo Rei,
o conselho paroquial optou por
este nome. E agora todos os anos,
os paroquianos têm um motivo
a mais para celebrar a data: o
aniversário da paróquia.
ComunidadeS Cristo Rei
Área Benevente
Paróquia Nossa Senhora da Assunção, Anchieta (2)
Paróquia Nossa Senhora da Conceição, Alfredo Chaves (2)
Área Cariacica-Viana
Paróquia de São João Batista, Areinha (1)
Paróquia Virgem Maria, Nova Brasília (1)
Paróquia Nossa Senhora da Conceição, Baia-Nova (1)
Paróquia Nossa Senhora da Penha, Flexal (2)
Área Serra
Paróquia São Paulo Apóstolo, Serra Dourada (1)
Paróquia São José Operário, Carapina (1)
Paróquia São Benedito, São Marcos II (1)
Área Serrana
Paróquia do Divino Espírito Santo, Santa Leopoldina (1)
Paróquia de Santa Isabel, Santa Isabel (1)
Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, Pedra Azul (1)
Paróquia de Nossa Senhora Rainha da Paz, Santa Maria de Jetibá (1)
Área Vila Velha
Paróquia Nossa Senhora Aparecida, Rio Marinho (1)
Paróquia Nossa Senhora do Rosário, Divino Espírito Santo (1)
Paróquia de Santo Antônio de Sant’ana Galvão, Jockey de Itaparica (1)
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revista vitória
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Reportagem
Vida e morte,
a dor pela perda de um filho
A
o ouvir as mães que tiveram abortos espontâneos, aquela frase de Santo
Agostinho “ninguém ama o que não conhece”, parece sem sentido ou pelo
menos não ser aplicável a todas as situações. Ao mesmo tempo, o texto
do início do Livro de Jeremias “antes mesmo de te formar no ventre materno, eu
te conheci...” torna-se vida e de completa compreensão. Assim se sentem as mães
que foram surpreendidas com a interrupção de uma gravidez que desejavam sem
que nada pudessem fazer. Amor eterno que o tempo não consegue apagar.
As mães falam dos filhos que não nasceram como se os tivessem conhecido e
dizem que a relação se estabelece de maneira natural assim que os primeiros sinais
se manifestam no corpo. Andressa, mãe de um menino de 5 anos, passou por dois
abortos espontâneos consecutivos e diz que o teste serve apenas para confirmar
o que ela sente e tem certeza. “O exame é só uma parte química que você precisa
para acreditar. Quem já teve um filho sabe qual é a diferença”.
Os médicos têm explicações científicas e lógicas para algumas situações, mas
nada conforta ou muda o sentimento de uma mãe que perde o filho que está gerando. As que ouvimos são unânimes ao afirmar que explicações técnicas, naquele
momento, não são necessárias, pois desde o primeiro sinal de gravidez a cabeça
muda e o amor toma conta.
A médica Ginecologista e Obstetra, Viviane Albuquerque, que nos auxiliou
nesta reportagem, confirma: “quando elas perguntam eu explico, mas quando a
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revista vitória
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mulher descobre que houve a perda não adianta ficar explicando
com coisas científicas o luto que
ela sente”.
Luto e a sensação de “ter
feito alguma coisa errada” que
provocou a interrupção da gravidez, é o que Lilian, Ana, Andressa e Beatriz sentem. Histórias
diferentes, perdas em etapas diferentes e o sentimento comum:
tristeza, frustração, sensação estranha.
Andressa e Beatriz tiveram
abortos espontâneos nos primeiros dois meses, o que clinicamente é chamado de aborto pre-
maturo. Lilian e Ana levaram a
gravidez mais adiante e perderam
os filhos já formados, ou seja,
abortos tardios (leia texto abaixo).
Aborto precoce é aquele que acontece até 12 semanas.
Geralmente é provocado por alguma falha ou da concepção
ou da genética ou alguma má formação incompatível com a
vida. Aborto tardio é aquele que ocorre depois de 12 semanas.
Nestes casos é porque algum problema com o corpo da mulher
faz com que ela não consiga segurar o feto.
Dra. Viviane Albuquerque
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revista vitória
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Reportagem
Todas falam dos filhos que
não conheceram ou conviveram
por pouco tempo na UTI, Unidade
de Terapia Intensiva do hospital,
como se tudo estivesse acontecendo agora. Porém, concordam
entre si e a doutora Viviane confirma, que a perda após três meses de gestação é mais dolorosa
“Acho que quanto mais tarde for,
mais traumático. No primeiro mês
é algo que ainda está se formando, mas quando o bebê já está
formadinho e vem o aborto eu
acho muito mais frustrante. A
mulher que aborta aos três meses ela vê um bebê inteiro. Deve
ser muito difícil”, diz Andressa.
Lilian que passou por 3 abortos
prematuros contou que quando
perdeu um filho com 7 meses de
gravidez, segurou-o no colo até o
momento do sepultamento quase
acreditando que, de repente, ele
voltasse a viver e disse: “é muito
difícil”.
Depois do primeiro aborto
ficam sentimentos de medo e culpa, sensações de incapacidade e
abandono, de enfraquecimento na
fé e até de ouvir dos outros: “de
novo, o que está acontecendo” ou
“falta de coragem para encarar-se
e encarar a sociedade e dizer: não
consegui”, expressou Lilian. Mas,
a vontade de ser mãe prevalece.
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“Os médicos
têm
explicações
científicas e
lógicas para
algumas
situações,
mas nada
conforta
ou muda o
sentimento
de uma
mãe que
perde o filho
que está
gerando.
Como diz a Dra. Viviane “uma
vez que apareceu o teste positivo a mulher já é mãe” e essa
experiência é única e faz com
que todas tentem de novo. Para
a doutora, “a mulher que sofreu
um aborto e engravida de novo,
geralmente esquece um pouco
a perda e concentra-se na nova
gestação”.
Para as mães, fica a sensação
de uma dor eterna. Para a médica,
a preocupação técnica de deixar
a mulher bem para que ela possa
ter saúde e estar preparada para
novas gestações. Para a Igreja
Católica, quando procurada por
essas mães, após a escuta, é necessário fazê-las entender que o
que aconteceu não é culpa delas
ou punição de Deus. Padre Genilson Dallapícola (pe. Nite), que
já acompanhou várias mulheres
que sofreram aborto espontâneo,
diz que a fé e a espiritualidade
são afetadas nestes momentos.
“A mãe que aborta coloca em
cheque a ação de Deus na vida
dela e se pergunta porque Deus
permitiu isso e entra numa crise
de fé”. Segundo o sacerdote é preciso saber escutar e tentar fazê-la
entender que não é culpa dela e
que isso acontece com muitas
mulheres, principalmente no início da gravidez. No atendimento
e aconselhamento espiritual o
padre afirma que o sofrimento
das mulheres é muito grande.
Não tem receita, mas o padre diz
que nestes casos e quando a fé é
abalada torna-se necessário “trabalhar a própria visão de Deus,
dizer para ela que Deus não pune
ninguém, Deus só faz o bem para
nós, Deus não é vingativo. Para
ajudar uma mulher nessas horas,
como diz pe. Nite “é preciso escutar, rezar, dar bênção e envolver
a família e a comunidade para
sustentar a mulher que fica muito
fragilizada”.
Para quem já passou por essa
situação ou conhece alguém que
passou, a Dra. Viviane faz alguns
esclarecimentos que podem minimizar a dor na hora em que a
mulher consegue distanciar-se
da situação “Gravidez é o ovo
nidado, quer dizer, ele não só
tem que ser fecundado. Uma vez
que houve fecundação o teste de
gravidez dá positivo porque o
hormônio já está presente, mas
muitas vezes essa célula concebida, não vai se implantar no
útero. Além dessa, existem outras
situações, como problema grave
na carga genética ou quando você
tem uma gestação anembrionária,
ou seja, você tem a concepção de
algum dos óvulos com a carga
genética vazia e um com carga
genética normal. Nesses casos
tem a fecundação, tem implantação do ovo, tem hormônio positivo e tem até a formação de uma
placenta, mas não tem o principal
que é o trofoblasto que forma o
indivíduo”.
Nos primeiros meses da gestação, a má formação da célula
é reconhecida pelo organismo
como algo a ser eliminado e o
próprio organismo a expulsa.
Isso é difícil de ser compreendido e explicado, mas, por ser um
momento de fragilidade para a
mulher, é necessário um empenho
conjunto. A própria mulher precisa ajudar-se e procurar ajuda.
A participação da família, dos
amigos, a explicação do médico
na hora certa e o acompanhamento espiritual podem contribuir
para que o sentimento de amor
por esse filho que não nasceu
ou não sobreviveu, por razões
naturais, seja conservado sem
que a mãe se culpe, porque como
disse Andressa “quem sabe a hora
é Deus”.
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Caminhos da Bíblia
Uma Palavra que
aquece e ilumina
C
ada um de nós, no arco da vida, já vivenciou ou vivenciará a
experiência dos discípulos de Emaús relatada no Evangelho
de Lucas 24,13-35. Seja no momento de solidão e abandono, seja na perda de alguém que se ama ou seja pelas dificuldades
próprias que as estradas da vida nos apresentam, em todas essas
situações, o coração esfria e sentimo-nos sós, nossos olhos se
obscurecem e, por vezes, perdemos o rumo, perdemos a direção.
A situação do texto dos discípulos de Emaús é conhecida. Jesus
tinha morrido e alguns de seus discípulos se dispersaram, voltaram ao próprio caminho, deixaram a comunidade. A intenção de
Lucas é a de ressaltar a presença do Ressuscitado nas estradas, no
caminho de seus discípulos, lá onde eles mais precisam dele, onde
há mais necessidade, onde tudo parece perder seu sentido, onde as
esperanças se dissipam.
A decepção e a tristeza, causadas pela morte do Senhor, faz
com que os discípulos deixem o seu grupo e abandonem a comunidade. Ambos se dirigem para a cidade chamada Emaús. Esta cidade
pode ser entendida como um “lugar simbólico”, isto é, Emaús é o
“lugar” para onde todo o discípulo vai quando perde as esperanças
e deixa a comunidade de fé.
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revista vitória
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Quanto mais se afastavam
de Jerusalém, mais os discípulos
se tornavam cegos, afastavam-se
da cidade da Paz, seus olhos se
obscureciam e o seu coração se
tornava frio e insensível, tornando-se incapazes de reconhecer o
Senhor, que se colocava a caminho com eles.
Diante do coração cheio de
lamentos e dúvidas dos discípulos, o primeiro contato do Ressuscitado vem da escuta atenta.
O Senhor escuta as suas palavras
e interrogações, os ouve profundamente e, somente depois disso,
os repreende e lhes explica as
Escrituras. Nos dois discípulos
a esperança morreu e eles não
são capazes de reconhecer aquele
que lhes dirige a palavra, aquele
que se torna próximo, aquele que
caminha com eles.
Jesus interpreta as Escrituras e lhes recorda o sentido
profundo de tudo o que elas falam
sobre ele. Jesus “simulou” que ia
mais adiante e, neste momento,
os discípulos pedem: “Permanece
conosco, pois cai a tarde e o dia
já declina”. Este é o pedido de
cada discípulo em todo o tempo
e lugar. Eles reconhecem o Senhor ao partir o pão. Esse gesto,
repetido tantas vezes no caminho
do discipulado, se torna único e
capaz de fazê-los reconhecer o
Senhor junto deles. Ele se deixou
reconhecer e iluminou os olhos
daqueles que se sentiam abandonados e entristecidos.
Os discípulos reconhecem
o Senhor, que desaparece diante
deles: “Não nos ardia o nosso
coração quando ele nos falava
pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?”. Sobre
as brasas cobertas de cinzas de
seus corações vem o sopro do
Espírito que aquece e ilumina,
que dá nova vida e garante o vigor
para o caminho. Eles, imediatamente, retornam a Jerusalém,
deixam para trás o caminho que
os afastava da comunidade, que
os conduzia na direção de suas
próprias angústias e desilusões,
para voltarem à comunidade de
fé − lugar do testemunho e da
presença do Ressuscitado, que ilumina e aquece o coração daqueles
que caminham ao seu lado.
Pe. Andherson Franklin,
professor de Sagrada Escritura no IFTAV
e doutor em Sagrada Escritura
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revista vitória
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aspas
Se continuarmos guardando mágoas e
ressentimentos, as veias do nosso coração
ficarão todas fechadas. Não vai demorar para
o nosso coração estar todo fechado.
Monsenhor Jonas Abib
Sair do seu lugar, da maneira já ultrapassada
de se comunicar, para um jeito novo,
interpessoal, coletivo e dialógico é uma
verdadeira conversão, pois, vivemos novos
tempos no mundo da comunicação.
Dom Luiz Mancilha
Jovem, você não nasceu para
abrir as cortinas do mundo e
ficar apreciando o “espetáculo”
da vida. Não! Você pode e
deve ser muito mais que mero
espectador.
Francisco Galvão, seminarista paulino
Rezamos de verdade? Sem
uma relação constante
com Deus, é difícil ter
uma vida cristã autêntica e
coerente.
Papa Francisco no Twitter (@pontifex_pt)
30
revista vitória
Novembro/2013
especial
As ceb’s capixabas e o pensamento
pastoral do papa Francisco
N
ossa “Igreja capixaba”, tendo por base estrutural de sua
formação as pequenas comunidades, tem, de perto, correspondido
ao pensamento pastoral do nosso Papa
Francisco.
No Encontro com a Comissão de
Coordenação do CELAM no Rio de
Janeiro, durante a Jornada Mundial da
Juventude, o Papa Francisco destacou
aos bispos da América Latina e do
Caribe a necessidade da existência
dos Conselhos Diocesanos de Pastoral,
Conselhos Paroquiais e Conselhos
para Assuntos Econômicos, como
forma determinante para o bom andamento pastoral de nossas Igrejas,
e enalteceu os grupos bíblicos e a
comunidade eclesial de base como
forma de superação do clericalismo
e de um crescimento da responsabilidade laical. (Cf. PAPA FRANCISCO,
Encontro com a comissão de coordenação do CELAM, Rio de Janeiro, 28
de julho de 2013.)
Os Conselhos paroquiais e comunitários, os conselhos econômicos, a
paróquia organizada como uma rede de
comunidades, a existência dos círculos
bíblicos ou grupos de reflexão são uma
realidade antiga em nossas dioceses
capixabas. A fala do nosso Papa vem
ratificar aquilo que tem sido uma rea-
lidade de nossa prática pastoral e nos
incentivar a levar adiante esse projeto
de Igreja, sendo assim um incentivo
para os que acreditam e lutam por
esse projeto, um indicativo para aqueles que têm dúvida por onde a Igreja
deve pastoralmente caminhar e um
chamamento para aqueles que ainda
estão fora de nossas comunidades.
A comunidade eclesial de base,
com os matizes próprios do nosso
tempo, não deixa de ser, por excelência, o lugar da efetivação da Igreja
enquanto tal. Ela contém todos os
elementos necessários para a vivência
da fé cristã. Nela está a Palavra, estão
os Sacramentos, especificamente a
Eucaristia, nela está a fraternidade,
a partilha, está o ensinamento dos
Apóstolos e a oração. Enquanto uma
“pequena Igreja” é, pois casa da iniciação à vida cristã, lugar de animação
bíblica da vida e da pastoral, estando
em estado permanente de missão, a
serviço da vida plena para todos. (Cf.
CNBB, Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil,
2011-2015, nº 30 a 64).
A Comunidade Eclesial de base
tira o católico do anonimato e da massificação e o exercita para a comunhão
e a participação, proporcionando-lhe
o caminho do discipulado de Jesus
sendo, por excelência, a educadora na
vivência da fé cristã. Ela é facilitadora
da proximidade entre pessoas de diversas classes e gerações, conclamando
a todos a terem um só coração e uma
só alma. (Cf. Atos 4, 32)
Ela é geradora de discípulos missionários pelo sacramento do batismo
como também gestante dos mesmos,
pela catequese, tornando-se assim
como que o “ventre sagrado” da própria Igreja, onde os filhos de Deus são
gerados e gestados para a vivência da
fé cristã. Nisso ela se torna facilitadora
do exercício do sacerdócio batismal
dos leigos. Ao gestá-los como discípulos missionários, ela os prepara
para a ação evangelizadora dentro e
fora da comunidade. Dentro, enquanto
comunidades que são constituídas e
mantidas na fé e na vivência pelos
próprios leigos. Fora, enquanto os
prepara para a militância cristã na vida
familiar, social, política e em todos os
demais organismos comunitários da
sociedade.
A Comunidade Eclesial de Base,
mesmo em nova época e em novos
tempos, continua sendo “um jeito novo
de ser Igreja”.
Pe. João Batista Maroni,
diocese de Cachoeiro de Itapemirim,
professor de Teologia Pastoral no IFTAV
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revista vitória
31
Projeto
Casa Marista de
Semiliberdade
Projeto proporciona vida nova para adolescentes
em conflito com a lei.
P
ioneira no Espírito Santo,
a Casa Marista de Semiliberdade oportuniza aos
adolescentes em conflito com a
lei a construção de um novo projeto de vida, pautado na responsabilidade, dignidade e reintegra-
32
revista vitória
Novembro/2013
ção social. O projeto de medidas
socioeducativas é desenvolvido
desde 2008, por meio de uma
gestão compartilhada entre a
União Brasileira de Educação e
Ensino/Marista e o Governo do
Estado, por meio do Instituto de
Atendimento Socioeducativo do
Espírito Santo (Iases), sendo este
o responsável pela disponibilização dos recursos para manutenção
da execução da medida.
O atendimento para os 12
adolescentes é ininterrupto, sendo
o sábado e o domingo reservados para a convivência com as
famílias. O acompanhamento
dos adolescentes é feito por uma
equipe multidisciplinar formada
por educadores e técnicos como
psicólogos, assistentes sociais,
analista jurídico e pedagoga, os
quais também prestam assistência
aos familiares dos adolescentes.
A equipe também é responsável pela construção do Plano
Individual de Atendimento, que
identifica as potencialidades dos
adolescentes e estabelece as metas individuais, em conjunto com
o adolescente e sua família, para
serem alcançadas durante o período do cumprimento da medida.
Durante todo o dia, são desenvolvidas atividades internas e
externas, sendo elas pedagógicas,
de lazer, esporte e cultura, além
dos cursos profissionalizantes e
a escolarização. Por meio dos
princípios cristãos da filosofia
Marista, os adolescentes também
são levados a vivenciar a espiritualidade e a proximidade com a
Palavra de Deus.
A medida socioeducativa
de semiliberdade viabiliza oportunidades de mudanças para a
vida dos adolescentes, seja na
convivência em comunidade, na
profissionalização ou na reconstrução do vínculo familiar. Essa
afirmação se comprova a partir
da estatística de egressos da Casa
Marista, a qual apontou que entre
os 24 adolescentes liberados por
alvará, em progressão ou extinção
de medida, 19 foram inseridos e
hoje atuam profissionalmente em
grandes empresas do Estado. E
fica a certeza de que vidas podem
ser transformadas, com a união
de fatores como a oferta de oportunidades por parte das ONGs da
sociedade civil, do Governo do
Estado, a presença e responsabilidade familiar, e ainda a visão do
adolescente para a construção de
um novo projeto de vida, vislumbrando um futuro de vida digna
e igualitária.
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ideias
encanto
UM
vai se desfazendo
O
grande escritor argentino Jorge Luis Borges, numa conversa
com outro escritor da sua terra, Ernesto Sabato, disse que
acreditava que nenhum político pode ser totalmente sincero.
Este pensamento me vem à mente sempre que uma cena envolvendo
políticos ganha destaque, como é o caso agora do tal episódio Marina-Rede-Campos-PSB.
Claro, é necessário e urgente se colocar na busca de novos modos de
se fazer política neste país. É urgente e necessário que novas experiências
se deem e com a participação de muitos e novos atores numa grande rede.
E, ninguém melhor que Marina Silva tem se mostrado portador desse
discurso. Ela o faz muito bem. E mais, o que ela fala parece se aproximar
bem daquilo que, de um modo ou de outro, é o desejo de milhões de brasileiros: um desenvolvimento – digo ao meu jeito e resumidamente - que
inclua a todos e que não estabeleça a natureza como grande perdedora.
No entanto, vou acompanhando o desenrolar da cena com o pensamento de Jorge Luis Borges, nenhum político pode ser totalmente
sincero... A jornada da personagem central deste episódio – Marina
Silva - que vai da acreana ribeirinha, tutelada por bispo e freiras, até
a figura necessariamente performática de hoje, é de fato uma jornada
marcada pelo sucesso. No entanto, esse sucesso tem se dado também,
estranhamente, por uma facilidade muito grande, ao meu ver, de deixar
para trás experiências e patrimônios importantes. Apesar da simpatia
que seu discurso pode angariar, não consigo assimilar bem essa sua
facilidade em ir abandonando projetos em função das urgências quase
que messiânicas de assumir novos postos de ação e articulação de forças.
E então um encanto vai se desfazendo.
Veja, a título de exemplo - já que não tenho a pretensão de fazer o
inventário de suas desistências - como a Marina deixa o rico patrimônio
espiritual de Fé e Vida que as Ceb’s propõem, e segue a partir de 1997
pela linha da espiritualidade cristã pentecostal evangélica e de matriz
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revista vitória
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americana. Não que isso não
possa acontecer, mas...
Marina fazia parte de uma
grande multidão de jovens dos
anos 80. Jovens – entre os quais
me incluo - que almejavam um
país que retomasse o caminho
da democracia e da justiça. Todos fomos partícipes do mesmo
sonho, seja nas comunidades
ribeirinhas da região amazônica ou nas periferias da Grande
Vitória. E a fé e a participação que a Igreja nos oferecia
através de suas comunidades
fortaleciam-nos com alegria
e entusiasmo. Não custa dizer que estou indelevelmente
marcado por aquela experiência espiritual e eclesial, assim
como muitos que viveram
aquele lindo período. Completamente impossível viver a
fé sem as referências que as comunidades me deram. Até me
é fácil – pela experiência nas
Ceb’s – dialogar com outras
tradições e experiências, mas
me despedir destas referências,
jamais. Ternamente ouvi por
um vídeo, certo dia, o relato
sobre como ela abandonou essa
vivência de fé. Decepcionei-me
com sua explicação.
Seja nas Ceb’s, nas uni-
versidades, nas fábricas – cada
um em seu lugar, com atos e
atitudes, seguíamos na direção das mudanças. Também
a fundação de um partido que
respondesse a esses anseios era
a busca de muitos, e não foi
coisa de um grupinho aqui e ali,
não foi coisa daqueles que se
tornaram prefeitos, deputados,
ou presidente, ou daqueles que
causaram decepção pela corrupção a que se submeteram.
Foi uma rede tecida em todos
os cantos do país, em cada comunidade, em cada bairro, em
cada grupo de base.
Aquele sim, me parece, foi
um novo jeito de fazer política.
Não se partiu de candidatos
bem cotados em pesquisa, mas
da organização popular. E isto
não vejo nas novas propostas,
nem de longe avisto. Não basta,
para se forjar um novo jeito de
fazer política, que os sonhos de
alguns ganhem algum espaço
na mídia. É preciso fazer como
então, fazer a coleta dos sonhos
de muitos nas comunidades e
bairros, nas escolas e empresas,
nos espaços virtuais e naqueles
que continuam bem ásperos,
duros e reais. Se uns poucos
sonharem sonhos grandes se
“Não basta, para se forjar
um novo jeito de fazer
política, que os sonhos
de alguns ganhem algum
espaço na mídia.
tornam sonháticos, é verdade.
Uma velha frase-lema de então
dizia: sonho que se sonha só é
apenas sonho. Sonho que se
sonha juntos é realidade que
começa.
Mas sem querer me alongar aqui na sequência das desistências da Marina vejo sua ida
para um outro partido com certo estranhamento. Passar tantas vezes de uma estrada para
outra pode muito facilmente se
conjugar com conveniência. E
termino com a continuação da
frase do Borges: Nenhum político pode ser totalmente sincero
porque ele está sempre procurando eleitores. Parafraseando
o grande argentino diríamos
que o principal objetivo do
político (velho) nunca é fazer
política de modo novo, mas
ganhar votos, infelizmente.
Mas, observemos.
Dauri Batisti
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prÁtica do saber
Publicidade
para crianças e consumismo
O
s debates da sociedade
em geral em torno da
ética na televisão por
muito tempo ficaram concentrados nos programas jornalísticos. Há alguns anos, porém, a
preocupação se ampliou para a
programação de entretenimento – principalmente novelas e
programas de auditório. Mas,
mais recentemente, os olhares
começaram a se voltar para a
publicidade, mais diretamente a publicidade direcionada a
crianças e adolescentes.
No caso do jornalismo, a
preocupação com a ética é (ou
deveria ser) quase que inerente
à atividade profissional, pois
está intimamente associada à
credibilidade e a um vínculo
de confiança historicamente
estabelecido entre a imprensa
e os leitores, mesmo assim, o
desrespeito aos direitos humanos
e a apologia à violência exibidos nos programas policialescos
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envergonham a profissão. Já no
caso dos programas de entretenimento, inicialmente acreditava-se que tudo era em nome da
alegria e do passatempo, mas
quando negros, homossexuais,
idosos, deficientes e índios, por
exemplo, começaram a ser expostos de forma discriminatória
e/ou ridicularizados diante de
milhares de pessoas via satélite,
uma parcela da sociedade preocupada com a defesa dos direitos
humanos passou a se manifestar.
Nos dois casos, são as estratégias comerciais das emissoras
de TV que falam mais alto, no
entanto, um alvo mais frágil e
lucrativo está sendo mirado com
mais intensidade: o público infantil, influenciado diretamente
pelas empresas de brinquedos e
alimentos por meio da televisão.
Público este que não deveria ser
de forma alguma alvo da publicidade comercial, pois está em
processo de formação de valores
mais importantes para suas vidas
do que o de se tornarem meros
consumidores.
Desde 2001 tramitam projetos na Câmara dos Deputados
e no Senado sobre a regulamentação da publicidade direcionada a crianças, mas as pressões
empresariais e o pouco comprometimento político têm colaborado para que nada aconteça de
fato. Enquanto isso, ao longo da
programação televisiva, mais e
mais estratégias persuasivas são
usadas.
O mais viável é que haja
uma regulamentação da atividade, assim como acontece em
vários países como Canadá, Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha, Suécia e muitos outros. Devem ser ouvidos constantemente
todos os lados da questão: pais,
educadores, crianças e adolescentes, fabricantes/anunciantes
de produtos, agências de publicidade, veículos de comunicação,
acadêmicos/especialistas, governo e organizações da sociedade
ligadas ao tema. O problema é
que anunciantes, agências e veículos sequer admitem o debate,
pois alegam que a iniciativa se
trata de “censura”.
Um dos pontos mais importantes em algumas regulamentações é o que se preocupa
com o “fatos amolação”, trata-se daquele efeito gerado pela
publicidade de levar a criança a
insistir muito com os pais para
que comprem um determinado
produto.
Outro exemplo anti-ético
grave é quanto ao uso de efeitos especiais para mostrar que
o produto – normalmente brinquedo – faz algo que na verdade só existe na ficção – até
uma certa idade as crianças não
conseguem distinguir entre ficção e realidade. E sobre esse
aspecto da realidade-ficção, é
muito preocupante também o
fato de uma apresentadora de
programa ou personagem fazer
um comercial ou um testemunhal
de um produto ou serviço, pois
a maioria das crianças não tem
claro que programa é uma coisa
e intervalo comercial é outra.
Para tratar desses temas, o
grupo de pesquisa e ação Observatório da Mídia – www.ufes.br/
observatoriodamidia -, da UFES,
formalizou uma parceria com o
Instituto Alana para a realização
de um amplo estudo inédito sobre a influência da publicidade
sobre as crianças. Desde 2011
estão sendo gravadas e analisadas programações de 15 canais
de TV, sobretudo em períodos
de Dia das Crianças, Natal e
Páscoa. Os dados preliminares
são alarmantes, mas a pesquisa
como um todo será concluída
no final de 2014.
Convido a todos a ficarem
atentos em tal fenômeno e discutirem com seus filhos sobre
a questão do consumismo, que
leva a problemas como a obesidade e a mudanças de comportamentos sociais, tão importantes
na formação dos valores de nossas famílias.
Edgard Rebouças
professor de ética na publicidade e
na televisão da Ufes e coordenador
do Observatório da Mídia: direitos
humanos, políticas e sistemas
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reflexões
O ANÚNCIO DOS ANJOS
Jesus veio ao mundo para
todos, sem excluir ninguém.
Mas sua missão de implantar
o reino de Deus supõe
inverter valores comuns na
sociedade.”
Q
ueremos iniciar este
artigo despertando a
corresponsabilidade de
todos para a obra evangelizadora,
de modo que as necessidades da
Igreja sejam assumidas solidariamente por todos.
Conforme vem sendo amplamente divulgado, a Campanha
para Evangelização/2013 terá início na Solenidade de Jesus Cristo
Rei do Universo, no dia 24 de
novembro, estendendo-se até o
3º Domingo do Advento.
A Campanha é importante
para a sustentabilidade da Evan-
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gelização, buscando atender também as estruturas eclesiais que
estão a serviço da missão.
Por isso, é necessário que
todos participem para que alcancemos os objetivos esperados e
possamos evangelizar melhor.
Se não evangelizarmos quem vai
evangelizar?
A CE possui o conhecido
slogan “Evangeli. Já”, que faz
referência à Palavra evangelizar.
O lema “Eu vos anuncio uma
grande alegria!”, conhecido como
“o anúncio dos anjos aos pastores
de Belém” (Lc 2,10).
Os primeiros a receber a Boa
Notícia (Evangelho) são os marginalizados, aqui representados
pelos pastores. Com efeito, na
sociedade da época, eles eram
desprezados, porque não tinham
possibilidade de cumprir todas as
exigências da lei. Essa escolha
soa estranha diante de algo tão
importante na história da salvação. Não seria mais lógico avisar
o sumo sacerdote, que dirigia a
vida religiosa de Israel? Não deviam sabê-lo primeiro as famílias
ricas e influentes de Belém, que
tinham empregados para avisar
os outros?
O anúncio se faz a pastores
que viviam nos campos, trabalhadores simples, sem poder nem
importância social. Eles são as
primeiras testemunhas e os primeiros que anunciam a chegada
do Salvador.
Jesus veio ao mundo para
todos, sem excluir ninguém. Mas
sua missão de implantar o reino
de Deus supõe inverter valores
comuns na sociedade.
Hoje, o que Deus lhe fala
através do anúncio dos anjos
aos pastores de Belém? Unidos
a Cristo pela graça batismal, todos
nós somos convidados a participar da missão evangelizadora da
Igreja através do testemunho e
do compromisso com essa ação,
garantindo recursos materiais
para a realização do trabalho
evangelizador.
Sejamos conscientes da
nossa responsabilidade como
discípulos missionários do Senhor, sendo generosos na Coleta
Nacional para a Evangelização,
que será realizada dia 15 de dezembro.
Com o apóstolo Paulo, lhes
peço: “Que cada um dê conforme
tiver decidido em seu coração,
sem pesar nem constrangimento, pois Deus ama quem dá com
alegria”. (2 Cor 9, 7).
Seja um evangelizador!
Dom Joaquim Wladimir Lopes Dias
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória
ARQUIVO E MEMÓRIA
A CRIAÇÃO
DO COPAV
O
COPAV – Conselho Pastoral da Arquidiocese de Vitória é um conselho consultivo
criado em 1974, com o objetivo de assessorar o Arcebispo na condução dos trabalhos pastorais
e de buscar mais unidade na caminhada pastoral da
Arquidiocese. Consciência de grupo e corresponsabilidade com os rumos da Igreja de Vitória motivaram
a criação desse importante conselho.
O COPAV inicialmente era formado por representantes de várias pastorais existentes na Arquidiocese. Depois das criações das áreas pastorais e
de seus conselhos, o COPAV passou a ser formado
por delegados das Áreas Pastorais.
Primeira reunião do COPAV em
01 de março de 1973. Agachados
da esquerda para a direita: Padre
Antônio Rocha de Araújo (pe.
Toninho), Geraldo Lavagnolli. Paulo
Mattedi, Padre José Ayrola, Dante
Pola, Mario Gomes, S/ Ident., Pe.
Geraldo Lyrio Rocha, S/Ident. Em
pé da esquerda para a direita: Aracy
Cabral, Bárbara, Flávia Cinelli, S/
Identi., Irmão Michel Bergmann,
Dom João Batista da Motta e
Albuquerque, Irmã Elba Randow,
Angela Rezende, Irmã Terezinha
Toledo, Frei Ivo- Redentorista,
Marlene Cararo, Irmã Amine
Abrahão, Geraldo Sperandio, Pe.
José Geraldo, Netor Cinelli, S/
Identif., frei Lauro de Carvalho
Borges - Agostiniano, Dom Luis
Gonzaga Fernandes
Giovanna Valfré
Coordenação do Cedoc
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ensinamentos
Creio na Ressurreição dos
mortos e na
Vida Eterna!
N
este mês em que celebramos o Dia de Finados, data em torno da
qual surgiram costumes que,
muitas vezes, as pessoas repetem sem saber o significado,
é oportuno refletirmos sobre
essas questões a partir dos ensinamentos da Igreja, expressos
no Catecismo.
O Credo cristão, popularmente conhecido como Oração
do Creio, pelo qual professamos
nossa fé em Deus Pai, Filho e
Espírito Santo, e em sua ação
criadora, salvadora e santificadora, culmina na proclamação
da ressurreição dos mortos, no
fim dos tempos e na vida eterna.
Assim como Cristo ressuscitou verdadeiramente dos
mortos, e vive para sempre,
os justos viverão para sempre
com Cristo Ressuscitado e serão
ressuscitados por Ele no último
dia (Jo 6,39-40).
Já a partir do momento da
morte, cada pessoa passa pelo
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Juízo Particular, recebendo em
sua alma imortal a retribuição
eterna, seja por meio de uma
purificação (Purgatório), seja a
entrada imediata na felicidade
do Céu ou a condenação eterna. As pessoas que morrem na
graça e na amizade de Deus,
vivem para sempre com Cristo,
vendo-O como Ele é, face a
face (cf. 1Jo 3, 2; 1Cor 13, 12).
Neste contexto da fé cristã, entende-se a oração pelos
defuntos que normalmente as
pessoas fazem, de modo muito
particular, visitando os túmulos
no dia 2 de novembro, como a
contribuição dos vivos para com
os que morreram na graça e na
amizade de Deus, mas não estão completamente purificados
para entrar na alegria do Céu.
Isso não é um simples costume,
trata-se de doutrina fundamentada na Sagrada Escritura (2Mc
12, 38-45; 1Cor 3, 13-15; 1Pd 1,
7). É a intercessão pelas almas
que, no Purgatório, se prepa-
ram para a eternidade feliz. Um
verdadeiro gesto de caridade e
solidariedade para com nossos
irmãos falecidos. Trata-se da
comunhão dos santos, que não
é interrompida pela morte.
Em relação à ressurreição
definitiva dos mortos, a Igreja
ensina que todas as pessoas que
morreram ressuscitarão para
uma ressurreição de vida, se
praticaram o bem, ou para uma
ressurreição de julgamento, se
tiverem praticado o mal (cf. Jo
5, 29). Ela antecederá o Juízo
Final, no qual diante de Cristo,
será definitivamente revelada
a verdade sobre a relação de
cada pessoa com Deus. Ou seja,
está associada à manifestação
gloriosa final (Parusia) de Jesus
Cristo.
Quanto aos católicos que
aceitam a doutrina espírita como
filosofia de vida, a Igreja adverte: não existe reencarnação. Não
voltaremos mais a outras vidas
terrestres. “Os homens devem
morrer uma só vez” (Hb 9, 27).
A doutrina da reencarnação é
incompatível com a fé católica
(cf. CIC 1013).
Vitor Nunes Rosa
Professor de Filosofia na Faesa
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cultura CAPIXABA
Sepulturas transversais
A
s necrópoles construídas
por nossos irmãos luteranos, mais precisamente os pomeranos da região serrana capixaba, mostram que a
arte e cultura dos povos também
se manifestam nas sepulturas,
ornamentos e lápides presentes
nos cemitérios.
A primeira particularidade, que salta aos olhos, está na
tradição de construírem suas
sepulturas, sempre posicionadas
voltadas para o nascer do sol
(uma referência ao Pai celeste)
e uma demonstração de zelo
pela última morada. A morte é,
para os pomeranos, o descanso
junto ao Senhor.
Para valorizar essa compreensão podemos perceber as
sepulturas muito bem ornadas
com flores e epígrafes trazendo
versículos da bíblia gravados
em placas de madeira entalhadas, com uma riqueza de cores
e ornamentos que dificilmente
encontramos em outras culturas.
A sepultura para os irmãos
que interrompiam a própria vida,
através do suicídio, era também
registrada na posição dos túmulos. Segundo a tradição as sepulturas deveriam estar posicionadas
na transversal (e não para o nascer
do sol) simbolizando a escolha
do ente ali sepultado.
Hoje, essa prática de sepultamento não é mais apoiada pelos pastores locais. Isso porque
todos devem ser lembrados por
seus bons atos sobre a terra e
as famílias que perderam seus
entes queridos sofriam a perda e
também a constante lembrança
desses atos.
Diovani Favoretto
Historiadora
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revista vitória
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vitória
Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
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Rua Alberto de Oliveira Santos, 42 - Ed. Ames 19º
salas 1916 e 1920 - CEP 29010-901 - Vitória - ES
Telefone: (0xx27) 3198-0850
Assinatura anual: R$ 50,00
Periodicidade: mensal
acontece
Curso de formação
A Pastoral da Juventude (PJ) da Arquidiocese promove nos dias 9 e 10 de
novembro um curso de formação para
as lideranças paroquiais, com o tema
“Nos passos de Francisco somos Igreja
jovem”. O encontro visa estudar os ensinamentos do Papa Francisco, à luz do
que Francisco de Assis deixou de legado,
com o objetivo de subsidiar a formação
para as coordenações, refletindo em
ações para os grupos de jovens paroquiais. Durante o curso também serão
abordadas as atividades permanentes
da PJ, para fortalecer e unir o grupo.
Mais informações podem ser buscadas
junto às paróquias.
Lançamento do livro de Dom Silvestre
A trajetória de Dom Silvestre Scandian, arcebispo emérito
de Vitória, foi publicada no livro
“Serenidade em Meio a Altas Ondas”. A publicação reúne textos
do arcebispo e testemunhos sobre sua atuação e está à venda
no Santuário de Fátima, na Serra.
O lançamento aconteceu no dia
27 de outubro.
Casos
Especiais
No dia 9 de novembro
acontece curso de formação
para agentes da Pastoral Familiar sobre os casos especiais. O
encontro será de 8h às 12h, no
Colégio Agostiniano e conta
com o casal Ângela e Paulo Del
Rey como facilitadores.
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acontece
Festa de Cristo Rei
Durante os dias 14 a 24 de novembro, a
paróquia Cristo Rei, em Cariacica, celebra com
novena, missa, oração e festa o seu padroeiro.
Veja a programação:
14 a 22 de novembro
wNovena nas comunidades.
16 de novembro
wNoite de Louvor, na comunidade São Pedro.
24 de novembro
wMissa de encerramento, às 17h na comunidade São Pedro, com Dom Sevilha. Depois
shows e ação entre amigos.
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Assembleia do dízimo
No dia 24 de novembro acontece a Assembleia Anual do Dízimo, com a presença
do arcebispo Dom Luiz Mancilha. No encontro
acontece a apresentação das equipes do dízimo,
o relatório do ano de 2012, reflexão e propostas
para o ano de 2014, e ainda apresentação e
aprovação do calendário de atividades.
A Assembleia acontece de 7h15 às 12h30,
no Centro de Formação Dom João Batista, em
Ponta Formosa, e as inscrições podem ser feitas
até o dia 19 de novembro no Departamento de
Pastoral, pelo email mitra.secretariapastoral@
aves.org.br, ou telefone 3025-6288. Deve ser
enviada a relação com os nomes de quatro
delegados por paróquia.
(027) 2122-0444
www.argalit.com.br
fb.com/TintasArgalit

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