"COM BASILEIRO NÃO HÁ QUEM POSSA!"
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"COM BASILEIRO NÃO HÁ QUEM POSSA!"
"COM BASILEIRO NÃO HÁ QUEM POSSA!" Futebol e identidade nacional em José Lins do Rego, Mário Filho e Nelson Rodrigues. Fátima Martin Rodrigues Ferreira Antunes Editora Unesp, 2004-São Paulo, 301 páginas Vera Regina Toledo Camargo "De repente é aquela corrente pra frente, parece que todo o Brasil deu a mão. Todos ligados na mesma emoção, tudo é um só coração ". Volume 4 Número 4 Fevereiro 2006 ISSN 1677-7816 O brasileiro viveu a Copa do México e a conquista do título de campeão mundial de futebol pela televisão e, desta vez ao vivo, via satélite, acompanhando todas as jogadas com os olhos grudados na TV. Imediatamente e em todas as cidades brasileiras, um carnaval temporão inundou as ruas com bandeiras, buzinas, papel picado atirado pelas janelas, o povo explodiu de alegria. Era a festa do tri campeonato! Ao vencer a Copa do Mundo de 1970, o futebol brasileiro resgatou várias dívidas com a sociedade brasileira e sua torcida: a Taça Jules Rimet, símbolo de uma aspiração de afirmação nacional, estava sendo conquistada pelo Brasil. É esse cenário de explosão de alegria contagiante da torcida que motivou a autora Fátima Ferreira Antunes, socióloga, a investigar a relação do futebol com a identidade nacional. A partir da sua pesquisa de doutorado, que agora se torna livro, buscou entender a ação que o futebol desperta nas pessoas; a troca de experiências entre desconhecidos nas arquibancadas; o amor por uma mesma camisa, pela tradição e o ato de compartilhar os espaços públicos que contagia todos os evolvidos no jogo de futebol. O estudo das torcidas ligadas ao futebol sempre foi destaque no universo acadêmico, mas as relações com a identidade nacional, a brasilidade e a cultura do futebol, com suas interelações sociais sendo discutidas e investigadas no universo acadêmico, são as marcas principais da obra. Considerando que os meios de comunicação têm uma contribuição muito interessante nessas relações, uma vez que alimentam a fascinação-identidade, e que, também por serem veiculos de massa, atingem um grande número que pessoas, fascinando-as pelos sons, as lindas jogadas e as belas crônicas produzidas para as colunas dos jornais, o povo fica muito envolvido. Unindo a cultura do futebol e as crônicas publicadas nos jornais cariocas entre os anos de 1950 e 1970, a autora recupera as narrações de José Lins do Rego, Mário Filho e Nelson Rodrigues. Essa tríade teve uma relação muito estreita com o futebol: Lins do Rego, além de grande escritor e romancista, foi dirigente do Flamengo e membro de entidades esportivas e Mário Filho, dono do Jornal dos Sports, é o mais representativo desse cenário; suas contribuições são interessantes sobre o universo do futebol e do espetáculo de comunicação de massa, sua obra mais importante e referência para os estudos na área trata da visão sociológica no futebol: "O negro no futebol brasileiro", de 1947. Aí menciona-se a utilização da metodologia da história oral, feita de maneira intuitiva na época, porém correta e inovadora. Nelson Rodrigues, irmão de Mário, foi dramaturgo e cronista esportivo; enfatizava em suas crônicas e através da dramaturgia as relações da sociedade com o futebol e com a brasilidade. A partir das crônicas, a questão da brasilidade era compartilhada pelos três autores, Este gênero jornalístico ajudou a perpetuar no imaginário popular tanto a tragédia de 50, quanto à glória de 58 e o êxtase do tri em 70. Diante do exposto, convidamos o leitor a ouvir as vozes do passado, já que as crônicas ainda ecoam em nossos dias... !