2012 SIVIERO, Franciele Regina Galdino
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2012 SIVIERO, Franciele Regina Galdino
FRANCIELE REGINA GALDINO SIVIERO AS INFLUÊNCIAS DOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO NO TRATAMENTO DO TABAGISMO Campo Grande- MS 2012 FRANCIELE REGINA GALDINO SIVIERO AS INFLUÊNCIAS DOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO NO TRATAMENTO DO TABAGISMO Monografia apresentada a Escola de Saúde Nasser" Pública "Dr. Jorge (ESP/SES/MS), David como requisito para elaboração do trabalho de conclusão de Pós-Graduação em Saúde Mental e Atendimento Psicossocial com a orientação da Professora Mestre Ana FIávia Wies Serpa. Campo Grande- MS 2012 FOLHA DE APROVAÇÃO A monografia intitulada AS INFLUÊNCIAS DOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO NO TRATAMENTO DO TABAGISMO, apresentada por FRANCIELE REGINA GALDINO SIVIERO, como exigência para obtenção do grau de Pós Graduado em Saúde Mental e Atenção Psicossocial, à banca examinadora, na Escola de Saúde Pública "Dr. Jorge David Nasser", em convênio com a Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRüZ, em Campo Grande - MS obteve conceito . BANCA EXAMINADORA Campo Grande, NOTA/CONCEITO de de 2012. Dedico este trabalho a todas as pessoas do grupo de tabagismo, que me permitiram acompanhar suas lutas, dividindo as angústias desse difícil momento separação do cigarro. Agradecimentos Agradece primeiramente a Deus, por seu amor incondicional e por sua proteção continua. Aos gestores da Secretaria de Saúde de Pedro Gomes-MS que autorizaram minha participação no curso de pós-graduação, compreendendo minhas ausências mensais. Aos meus pacientes sempre compreensíveis com minhas ausências necessárias durante o curso. Aos meus pais, pelo amor e dedicação nesses vinte oito anos, vivendo comigo os meus sonhos e muitas vezes não me deixando desistir. Aos meus colegas, do curso pela generosidade em compartilhar vivências e conhecimentos que fizeram multiplicar meu amor e admiração pela saúde mental. A minha queria orientadora Ana FIávia Weis Serpa, que muito gentilmente contribuiu imensamente para realização deste trabalho, Ana muito obrigada! Meus sinceros agradecimentos! Resumo A presente pesquisa foi desenvolvida com dez participantes dependentes de nicotina que estavam cadastrados no programa de combate ao tabagismo na unidade básica de saúde de Pedro Gomes-MS. O objetivo desde estudo foi verificar e avaliar a presença de transtornos psiquiátricos de ansiedade e depressão no processo de cessação do tabagismo. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, com questionamentos sobre o padrão de consumo de cigarros e a presença de sintomas de transtornos de ansiedade e depressão. Para verificar o grau de dependência a nicotina foi utilizado o teste de Fagerstrom e as Escalas Beck de ansiedade e depressão para verificar a existência de sintomas dos transtornos. Os dados obtidos nas entrevistas foram analisados qualitativamente e verificou-se que todos os participantes haviam feito tentativas para deixar de fumar mal sucedidas, apesar e conhecerem as conseqüências negativas do hábito de fumar para saúde, s participantes relatam o fracasso das tentativas à falta de motivação ® y""®® participantes relatavam estados emocionais tais como nervosismo, ansiedade e humor deprimido como obstáculos para se manter sem fumar. Todos participan es apresentaram alterações emocionais durante a participação no Programa e Combate ao Tabagismo. Os transtornos psiquiátricos como ansiedade e depressão, muitas vezes, por não serem identificados ou serem negligenciados pelos proprios dependentes de nicotina interferem no sucesso das tentativas de deixar de fumar. Esses aspectos emocionais são maximizados no decorrer da evolução do processo de parar de fumar. Palavras Chaves: Tratamento de Tabagismo, Ansiedade e Depressão. Abstract This research was developed with ten participants, smokers who were registered to participate in the program to combat smoking In basio health unit of Pedro GomesMs. Goal since study was to verify and assess the presence of psychiatric disorders of anxiety and depression In the process of smoking cessation. Seml-structured interviews were carried out, with questions about the pattern of consumption of cigarettes and the presence of symptoms related to anxiety disorders and depression related to nicotine consumptIon.To verify the degree of nicotine dependency test was used and the Beck Scales fargestron of anxiety and depression to check for the presence of symptoms and degree of Intensity expressed. The data obtained were analyzed qualitatively and verified that ali participants in the majority were female and oniy one member was male, ali had made attempts to quit smoking badiy. Keywords: treatment of smoking, anxiety and depression. Lista de Abreviações Anvisa- Agência Nacional de Saúde CID- Código Internacional de Doenças DSM- Manual Diagnósticos e Estatísticos de Transtornos Mentais. ESF- Estratégia Saúde da Família GP- Grande Prêmio INCA- Instituto Nacional de Câncer OMS- Organização Mundial de Saúde PACS- Programa Agente Comunitário de Saúde PL- Projeto de Lei PNCT- Programa Nacional de Controle do Tabagismo PSF- Programa Saúde da Família SUS- Sistema Único de Saúde TCC- Terapia Cognitivo-Comportamental Sumário Introdução 1. Erro! indicador não definido. Um Breve Relato sobre a Reforma Psiquiátrica Brasileira Erro! Indicador não definido. 1.1 Atenção Básica em Saúde ; Estratégia Saúde Família 15 1.2 Saúde Mental na Atenção Básica 17 2. Tabagismo 21 2.1 História do Tabaco 21 2.2 Controle do Tabagismo no Brasil Erro! Indicador não definido. 2.3 A Dependência a Nicotina 28 2.4 O Programa de Nacional de Combate ao Tabagismo Erro! Indicador não definido. 3. Tabagismo e comorbidades psiquiátricas 34 3.1. Considerações sobre os Transtornos de Ansiedade Erro! Indicador não definido. 3.2. Considerações sobre Transtorno Depressivo 4, Objetivos 39 41 4.1. Objetivo Geral Erro! Indicador não definido. 4.2. Objetivos Específicos Erro! Indicador não definido. 5. Método Erro! Indicador não definido. 5.1 Local Erro! Indicador não definido. 5.2 Participantes Erro! Indicador não definido. 5.3 Instrumentos 5.4 Procedimentos 45 Erro! Indicador não definido. 5.4.1 Procedimentos de coleta Erro! Indicador não definido. 5.4.2 Procedimento de Análise Erro! Indicador não definido. 6. Resultados e Discussão 50 Considerações Finais 56 Referênias Erro! Indicador não definido. Apêndece Apêndice A Entrevista Semi- estruturada 62 63 Apêndice B Teste de Fergestron 64 Apêndice O Escala Beck de Ansiedade 65 Apêndice C Escala Beck de Depressão 67 Introdução O tabagismo é considerado atualmente pela Organização Mundial de Saúde como uma pandemia e fator de risco para cerca de cinqüenta doenças, sendo a maior causa isolada evitável de mortes precoces em todo mundo. Também considera a nicotina uma droga psicoativa que causa dependência. A nicotina age no sistema nervoso central como a cocaína, com uma diferença; chega em torno de 9 segundos ao cérebro. Por isso, o tabagismo é classificado como doença estando inserido no Código Internacional de Doenças (CID-10) no grupo de transtornos mentais e de comportamento devido ao uso de substância psicoativa (GIGLIOTTI et al,1999). Podendo considerar o tabagismo como uma doença crônica transmissível através da propaganda e publicidade, as estatísticas demonstram que uma grande parcela da população mundial enfrenta problemas de dependência a nicotina, tornando-se assim o tabagismo um problema de saúde pública.(BRASIL, 2001). É importante ressaltar que os estudos alertando sobre os prejuízos ocasionados pelo hábito de fumar são relativamente recentes, sendo que os primeiros estudos tiveram notoriedade no Brasil na década de 60. Antes disso, nada era alertado sobre as conseqüências a saúde que o ato de fumar acarreta. A preocupação sobre as conseqüências do tabagismo ganhou notoriedade Juntamente com o desenvolvimento da saúde pública no país (TEIXEIRA; JAQUES,2011). Atualmente mediante os esforços do Ministério da Saúde em conscientizar a população dos malefícios e impactos na saúde que o hábito de fumar resulta, prevalece constantes queixas por parte da população tabagista pautando dificuldades existentes em abandonar o uso da nicotina, dentre elas estão presentes como causadores de obstáculos os sintomas de ansiedade e depressão. Sendo assim se faz necessário aprimorar os estudos que relacionam esses transtornos mentais como comorbidades para dependência a nicotina. Entendendo melhor a dinâmica ansiedade/ depressão e dependência a nicotina poderemos auxiliar de maneira mais efetiva aos indivíduos que desejam deixar a condição de tabagistas, reestabelecendo uma boa saúde física e mental. 11 o interesse por esse tema iniciou junto com minha atuação profissional, quando recém- formada fui trabalhar como psicóloga em uma unidade básica de saúde e logo fui apresentada ao programa de combate ao tabagismo que ali estava sendo implantado. Durante alguns meses acompanhando a luta de pessoas tentando parar de fumar, observei muitas vezes a existência de comorbidades psiquiátricas como Transtornos de Ansiedade e Depressão como mantenedoras do hábito de fumar. Essas comorbidades eram muitas vezes desconhecidas pelos sujeitos, ora por falta de diagnósticos ora por não querer aceitar o estado de alteração emocional, na tentativa de renegar a "doença". Este trabalho busca esclarecer a necessidade de se diagnosticar a existência de comorbidades psiquiátricas em paciente que estão no processo de parar de fumar. Além disso, pretende avaliar a presença de comorbidades psiquiátricas junto à dependência a nicótica e as conseqüências dos fatores emocionais no processo de cessação do consumo de tabago, principalmente na forma de cigarros. 12 1.Um Breve Relato sobre a Reforma Psiquiátrica Brasileira. Durante a segunda metade da década de 70, o cenário poUtico nacional se tornou um solo fértil para as manifestações sociais, como a luta pela redemocratização do pais, e o processo de questionamento da forma estrutural de como o governo administrava e financiava os gastos públicos em saúde (YASUI, 2010). De acordo com Yasul (2010) foi dentro desde contexto de manifestações sociais contra o estado autoritário, que se Iniciou o movimento da Reforma Sanitária em prol da transformação das condições de saúde da população. "A Reforma Sanitária se colocava, assim, fundamentalmente como um processo político, entendido como possibilidade emancipatória na construção da polis, da esfera pública, dos bens comuns"(YASUI, 2010, p.30). Para Tenório (2002), dentro desta atmosfera de movimento social, redemocratização, reforma sanitária e com o surgimento de denúncias de violência, maus tratos e abandono que eram submetidos os pacientes psiquiátricos, e concomitantemente Influenciado pela experiência Italiana de cuidado a saúde mental, pautada na desinstituclonallzação, teve Inicio o processo de reforma psiquiátrica brasileira. É lembrado por Yasul (2010) que neste amplo processo de reforma psiquiátrica, houve a participação ativa dos trabalhadores de saúde, que se mobilizaram no cotidiano de suas práticas Institucionais, trilhando as mudanças da saúde mental. A Reforma Psiquiátrica de acordo o Ministério da saúde (BRASIL, 2005)é um amplo processo político e social, formado por vários segmentos, transcendendo todas as esferas dos governos. Iniciou-se assim uma mudança no paradigma saúde - doença com ênfase na doença, sob Influências dos novos conceitos da Saúde Pública, pautando o resgate do "doente mental" para o convívio em sociedade e no resgaste da cidadania. Observa-se historicamente que o movimento da reforma psiquiátrica ganhou grande Impulso a partir da década de 80. Em 1987 foi realizado o II Congresso Nacional do MTSM em Bauru, SP, com o lema "Por uma sociedade sem 13 manicômios", neste mesmo ano foi realizada a I Conferência Nacional de Saúde Mental no Rio de Janeiro (BRASIL, 2005). É importante lembrar que com a constituição de 1988, é criado o SUS. Em 1989, da entrada o Projeto de Lei do Deputado Paulo Delgado (PT/MG) que vem com intuito de regulamentar os direitos das pessoas com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país (BRASIL, 2005). Em 1989, outro acontecimento histórico marcou a trajetória da luta antimanicomial, a atmosfera política do município de Santos propiciou a interdição realizada pela prefeitura da Casa de Saúde Anchieta, um hospital psiquiátrico privado, popularmente conhecido como hospício que contava com mais de 500 internos. Possibilitada pelo processo de municipalização do sistema de saúde, a intervenção deu início ao fechamento do hospício a partir da ação "desmontagem do manicômio" e um processo exemplar de ressocialização dos pacientes psiquiátricos, com a implantação de uma rede de atenção a saúde mental(AMARANTE, 1995). Em 1990, o Brasil torna-se signatário da Declaração de Caracas a qual propõe a reestruturação da assistência psiquiátrica, e, em 2001, é aprovada a Lei Federal 10.216 que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais. Redireciona-se o modelo assistencial em saúde mental que resultou na realização da II Conferência Nacional de Saúde Mental, onde passam a entrar em vigor no Brasil as primeiras normas federais regulamentando a implantação de serviços de atenção diária, fundadas na experiência dos primeiros CAPS(BRASIL, 2004). A partir de então, norteada por essa legislação organiza-se a Política de Saúde Mental, viabilizando os anseios daqueles que constituíram a Reforma Psiquiátrica brasileira, e lutaram para garantir que o cuidado em saúde mental não fosse realizado e oferecido restritamente em hospitais psiquiátricos e manicômios, oferecendo cuidado ao paciente com transtorno mental em serviços substitutivos, superando assim a lógica das internações de longas permanências(BRASIL, 2004) 14 1.1 Atenção Básica em Saúde: Estratégia Saúde da Família Apenas a partir da promulgação da Constituição Federai em 1988, é que foram definidas como diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) a universalização, a equidade, a integralidade, a descentralização, a hierarquização e o Controle Social. Ao ser desenvolvido sobre esses princípios, o processo de construção do SUS busca estreitar as barreiras existentes entre os direitos sociais garantidos pela constituição nacional e as ações e serviços públicos de saúde à população brasileira (BRASIL, 2004). Para atingir todo território nacional a expansão e a qualificação da atenção básica foram organizadas pela estratégia Saúde da Família, sendo parte do conjunto de prioridades políticas apresentadas pelo Ministério da Saúde e aprovadas pelo Conselho Nacional de Saúde. Esta nova concepção para cuidado em saúde supera a antiga proposição exclusivamente centrado na doença, desenvolvendo-se por meio de trabalho em equipes, dirigidos às populações de territórios delimitados, pelos quais assumem responsabilidade. A Estratégia Saúde da Família nos últimos anos marcou uma evolução grandiosa na política do SUS. Atendendo ao comprometimento da integralidade da atenção à saúde, a Estratégia Saúde da família (ESF), foi criada na década de 90 a partir de uma reunião ocorrida nos dias 27 e 28 de dezembro de 1993. Desde então vem investindo na prevenção de doenças e na promoção da saúde da população, alcançando resultados importantes para a saúde coletiva (BRASIL,2005). Atualmente, a ESF é a estratégia de reorganização da atenção primária e não prevê um tempo para finalizar esta reorganização. No Brasil a origem do programa Estratégia Saúde da Família remonta a criação do Programa Agente Comunitários de Saúde (PACS)em 1991, como parte do processo de reforma do setor da saúde, fortalecido a partir da Constituição Brasileira de 1988, que estabelece o direito à saúde enquanto uma condição de cidadania, demandando, portanto, que se ampliasse a acessibilidade ao sistema de saúde e se incrementassem as ações de prevenção, promoção e tratamento em saúde oferecidos pelo sistema em recente implantação, o SUS. Em 1994, o Ministério da Saúde lançou o PSF como política nacional de atenção básica, com caráter organizativo e substitutivo ao modelo tradicional de 15 assistência primária baseada em unidades de atendimento nos moldes da assistência ambulatória! individualizada, conforme agendamento de consultas com especialistas ou prontos atendimentos(BRASIL, 2001). A Estratégia Saúde da Família possui, portanto, muitos e complexos desafios a serem superados para consolidar sua efetividade na realização de uma mudança significativa no modelo assistência!. No âmbito da reorganização dos serviços de saúde, a estratégia saúde da família vai ao encontro dos debates e análises referentes ao processo de mudança do paradigma, que orienta o modelo de atenção à saúde vigente e que vem sendo enfrentado, desde a década de 1970, pelo conjunto de atores e sujeitos sociais comprometidos com um novo modelo que valorize as ações de promoção e proteção da saúde, prevenção das doenças e atenção integral às pessoas(BRASIL, 2001). Estes pressupostos, tidos como capazes de produzir um impacto positivo na orientação do novo modelo e na superação do anterior têm como desafio a superação da supervalorização das práticas da medicina curativa, especializada e hospitalar, que induz ao excesso de procedimentos tecnológicos e medicamentosos e à fragmentação do cuidado. Trata-se de temas de destaque nos debates promovidos pelo movimento da reforma sanitária brasileira, que almeja o compromisso coletivo envolvendo diferentes atores sociais(gestores e trabalhadores da saúde, usuários e representantes dos poderes executivo e legislativo) com um "novo modo de fazer saúde"(BRASIL, 2004). Percebendo a expansão da Estratégia Saúde da Família que se consolidou como estratégia prioritária para a reorganização da Atenção Básica no Brasil, o governo emitiu a Portaria N° 648, de 28 de Março de 2006, onde fica estabelecido que: A ESF é a estratégia prioritária do Ministério da Saúde para organizar e Atenção Básica que tem como um dos seus fundamentos, possibilitar o acesso universal e contínuo a serviços de saúde de qualidade, reafirmando os princípios básicos do SUS: universalização, descentralização, integralidade e participação da comunidade, mediante o cadastramento e a vinculação dos usuários. (BRASIL. 2006). 16 Como conseqüência de um processo de humanização do Sistema Único de Saúde, o programa tem como ponto positivo à valorização dos aspectos que influenciam positiva ou negativamente a saúde das pessoas em seus contextos de vida. A Estratégia Saúde da Família nos mostra que há hipótese de adesão e motivação das forças sociais e políticas em busca de um mesmo objetivo. Isto torna possível a organização e incorporação das ações de saúde em território definido. O programa tem como objetivo propiciar o enfrentamento e a resolução de problemas identificados, pela articulação de saberes e práticas com vários graus de complexidade tecnológica, unindo diferentes áreas do conhecimento e aprimorando habilidades e mudanças de atitudes dos profissionais envolvidos (PEDROSA; TELES, 2001). A área que cada Equipe de Atenção Básica vai intervir é sempre composta pelas famílias, amigos e sua relação com a comunidade e com o meio ambiente. O cotidiano dessas equipes vem demonstrando que os problemas de saúde mental fazem parte de sua realidade. Cada equipe da Estratégia Saúde da Família (médico, enfermeiro, auxiliar de enfermagem, agente comunitário de saúde)esta encarregado da cobertura de ate 1.000 familiares, ou cerca de 3.400 pessoas de um município ou bairro (BRASIL, 2005). 1.2 Saúde Mental na Atenção Básica O SUS é resultado de um enorme movimento e mobilização social, vivida durante o processo histórico de retomada do processo democrático brasileiro, que culminou com o fim da ditadura militar no final da década de 80. Desde então tem sido gradativamente implantado assegurando a população o acesso à assistência à saúde com qualidade (BRASIL, 2003). Pautado os princípios norteadores da universalidade, equidade, integralidade, hierarquização, descentralização a controle social e mesmo com todas as dificuldades e problemáticas este modelo de assistência à saúde tem sido aplicado 17 no território nacional, comprovando que é possível oferecer uma assistência pública de qualidade (BRASIL, 2003). A Atenção Básica tem a Estratégia Saúde da Família como a porta de entrada mais importante do Sistema Único de Saúde, sendo o elo das unidades de assistência à saúde e a comunidade (BREDA; AUGUSTO,2001). Para Bezerra (1997), o SUS tem como proposta central proporcionar aos usuários do serviço respostas e alternativas as necessidades de saúde da população, fundamentada pela política de atenção territorizada e comprometido com a demanda existente em sua área de abrangência. É salientado por Bezerra (2000) que uma política de saúde progressista, comprometida com o atendimento de exigências de saúde de uma população deveria procurar tornar mais acessíveis as várias camadas desta sociedade, principalmente aos marginalizados socialmente, o maior número de procedimento, técnicas para assegurar a manutenção ou recuperação da saúde. Com este contexto histórico e político de redemocratização, criação de um sistema igualitário de saúde universal e tendo o movimento da reforma psiquiátrica como estimulador, criou se uma atmosfera que propiciou o surgimento de experiências inovadoras e muito bem sucedidas nascidas da articulação entre a saúde mental e a atenção básica (SILVEIRA; VIEIRA, 2009). Silveira e Viera (2009) salienta que para a organização da rede de atenção psicossocial recomendam o destaque da oferta de tratamento oferecido na atenção primária e que se execute organização de ações em saúde mental na rede de atenção primária, contexto comunitário, pautado no atendimento matricial. De acordo com Silveira e Viera (2009) a importância da formulação de políticas para atenção básica que englobem o cuidado em saúde mental esta amplamente justificada no direito do usuário encontrar em sua unidade de saúde de referencia uma estratégia de acolhimento articulada com os demais dispositivos assistenciais presentes na rede de atenção à saúde. O relatório final da IV Conferência de Saúde Mental destaca que o cuidado em saúde mental deve ser oferecido na atenção básica através de parcerias Intersetoriais, ou seja, as pessoas com algum transtorno psiquiátrico e usuários de álcool e outras drogas, sendo esses cidadãos em sofrimento que interferem diretamente na qualidade de vida das comunidades devem ser assistidos também 18 pelas equipes de Estratégias Saúde da Família do seu território de referência (BRASIL, 2011). Para Bezerra (2000, p.146), "É possível compreender a ampliação da rede ambulatorial em saúde mental como uma resposta adequada que o sistema de saúde dá ao inevitável aumento das necessidades de saúde da população." Sendo assim, as equipes de atenção básica precisam possuir profissionais qualificados e sensibilizados com as questões de cuidado em saúde mental. Pois o olhar diferenciado desses profissionais sobre os cuidados em saúde mental, baseado na política de saúde permitira a efetivação de novas formas de cuidado e intervenção frente ao usuário em sofrimento psíquico que buscam o atendimento na atenção básica. Um elemento importante para o desenvolvimento da assistência a saúde mental na atenção básica está diretamente ligado ao desenvolvimento de ações preventivas em saúde, sendo este o eixo principal da atenção básica para melhorar a qualidade de vida da população (BRASIL, 2001). Ter o domicílio como espaço terapêutico e a assistência humanizada como instrumento que facilita a criação de vínculos e aproximação dos profissionais com o cotidiano das famílias, vez com que o ESF se tornar a melhor e certeira estratégia para atender o paciente na área de Saúde Mental, visto que o atendimento está dentro no convívio social do paciente(SOUZA etal., 2007). As equipes da Atenção Básica, pela proximidade que possuem com a comunidade de seu território, se apresentam como um recurso estratégico para o enfrentamento de grandes problemas de saúde publica como agravos ligados ao uso abusivo de álcool, drogas e diversas outras formas de sofrimento psíquico. (BRASIL, 2003). Neste contexto, o SUS e a assistência e o cuidado em saúde mental na integralização no cotidiano da atenção básica encontram-se em pleno desenvolvimento e expansão, se consolidando com o passar do tempo notamos isso ao observar e avaliar os avanços conquistados aos longos dos anos dentro da história da luta pela modificação do modelo de assistência e cuidado em saúde mental juntamente com o SUS após sua implementação (BRASIL, 2003). Contudo torna de relevância inegável a necessidade de se incluir a saúde mental como área estratégica da atenção primária, integrando as ações de saúde 19 mental em todos os níveis de atenção, baseado na lógica da intersetorialidade por meio do matriciamento das ações para promoção da saúde mental e prevenção de agravos(BRASIL, 2003). Desenvolver ações que possibilitam a promoção da saúde mental e ações na área de álcool e outras drogas na atenção básica vai de encontro com a atual política considerando a lógica da reforma psiquiátrica, pautada nas diferentes formas de intervenção para atender a demanda de saúde mental(BRASIL, 2003). Para a efetivação da saúde mental na atenção básica, o relatório final da IV Conferência de Saúde Mental atenta para a necessidade de se inserir estratégias de saúde em todos os programas e grupos já existentes nas unidades básicas de saúde, incentivar a implantação e implementação de grupos terapêuticos, desenvolver ações que possibilitam a promoção à saúde mental e ações na área de álcool e drogas(BRASIL, 2001). Um dos serviços oferecidos no cuidado à saúde mental na rede de atenção básica é o tratamento do tabagismo. O tabagismo apesar de ser socialmente aceito e legalizado não se exclui do rol das psicodependências que além de trazer agravos em saúde para quem consome, prejudica também a qualidade de vida das pessoas próximas.(BRASIL,2001). 20 2. O Tabagismo 2.1 História do Tabaco Conforme levantamento histórico do Ministério da Saúde (BRASIL,2001) a planta de tabaco tem sua origem nativa na América. É de tempos remotos o seu consumo pelos índios que a usavam em cerimônias religiosas nas quais seus caciques, pajés e sacerdotes aspiravam ao fumo para entrarem em transe. Este era um costume em todo o território das Américas, mesmo sem a existentência de comunicação entre as inúmeras e diferentes tribos. Após a descoberta da América por seus desbravadores, o tabaco se espalhou pelo Europa, inicialmente foi lhe atribuída propriedades curativas, por acreditar-se que era uma erva dotada de propriedades medicinais, capaz de promover a cura de diversas doenças como a bronquite crônica, asma, doenças do fígado, dos intestinos, reumatismo e outras, assim o consumo do tabaco, nas mais variadas formas e embora com controvérsias sobre seu poder de cura progressivamente foi ganhando destaque. E cinqüenta anos depois de sua chegada em território europeu já era usado em cachimbos, por nobres, plebeus, marinheiro e militares (ROSEMBERG, 1987). Para os nobres foram criadas as tabacarias em que homens e mulheres se reuniam para fumarem longos cachimbos. Assim a cultura de se consumir tabaco pelo meio do uso de cachimbo foi se difundindo rapidamente, popularizando para todo o mundo civilizado(ROSEMBERG. 1987). O cigarro de tabaco surgiu nos meados do século XIX na Espanha, porém muito antes já era consumido enrolado em papel denominado "papelete . No ano de 1860 o cigarro já havia chego à França e Estados Unidos, então deu início a industrialização em grandes escalas, por meio de máquinas que produziam milhões de cigarros por dia(ROSEMBERG,1987). Por ser mais econômico e prático que os cachimbos e charutos o cigarro logo popularizou seu consumo, alterando imediatamente o contexto da economia e política dos países, tornando-se rapidamente uma grandiosa fonte de renda para os cofres públicos(ROSEMBERG, 1987). 21 Com o contexto sociocultural da Primeira Guerra Mundial, o cigarro teve sua expansão mundial, sendo utilizado prioritariamente por homens. A difusão do cigarro entre as mulheres só acorreu após a Segunda Guerra Mundial. (ROSEMBERG, 1987) Observa-se então que já no final do século XIX e predominantemente na primeira metade do século XX, a explosão do uso do tabaco estabeleceu a consolidação Industrial do cigarro, aquecendo a economia na época graças a uma campanha agressiva de marketing, principal fator para estabelecer o comportamento de fumar como uma representação social positiva, relacionando o consumo do tabaco a um ideal de autoimagem(ROSEMBERG,2005). De acordo com Gigliotti, Carneiro e Ferreira (2001) o tabagismo passou a ser um comportamento socialmente aceito durante muitas décadas, sendo que o ato de fumar foi facilmente associado a charme, riqueza, poder e afirmação da virilidade em homens. Nota-se assim que ao longo do tempo, o comportamento de fumar foi se tornando familiar e o cigarro tornou o objeto de desejo de milhares de pessoas. Tendo um alto parâmetro de consumo o tabaco passou a ser a droga mais comumente disseminada no mundo atual e que em geral causa as mais graves conseqüências para a saúde pública levando o tabagismo ser considerado pela Organização Mundial Saúde a principsl causa de morte evitável em todo o mundo. Nessas doenças estão relacionadas, entre outras, o câncer de boca, faringe e laringe, câncer de esôfago, câncer de pulmão, câncer de pâncreas, câncer de bexiga, cardiopatia isquêmica, hipertensão arterial, degeneração miocárdica, doença cardiopulmonar, aneurisma da aorta, doença vascular periférica, aterosclerose, bronquite crônica e enfisemas, tuberculose pulmonar, asma, pneumonia, úlcera péptica e outras doenças respiratórias(BRASIL, 2002). Em virtude de tantos agravos desencadeados pelo uso de cigarro e os estudos sobre as dependências físicas e psicológicas que ele acarreta o tabagismo passou a ser amplamente reconhecido como uma doença resultante da dependência de nicotina e provoca alterações físicas, emocionais e comportamentais na pessoa que fuma. Assim, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças, o tabagismo foi catalogado como "uma desordem mental 22 e de comportamento, decorrente da síndrome de abstinência à nicotina" (CID10 F.17.2) sendo considerado um problema de saúde mental. 2.2 Controle do Tabagismo no Brasil O Cigarro é um produto legai, mais letal, mundialmente consumido e responsável por vários problemas de saúde tanto para o fumante ativo quanto ao passivo, trazendo assim conseqüências sobre a saúde da população. Para Teixeira e Jaques (2011), dentro desta lógica dos problemas de saúde tais como adoecimentos, mortes e sofrimento, a dependência do tabaco tornou-se uma preocupação para os médicos pneumologistas e de outros representantes sociais preocupados com a qualidade de vida da população. Assim se teve iniciou a política de saúde antitabagista brasileira. A primeira publicação a respeito dos malefícios do consumo de tabaco foi dada no ano 1964, elaborada pela Comissão de Consultiva sobre o fumo e saúde dos Estados Unidos da América. Impulsionados pelas pesquisas internacionais, divulgadas na década de 60 que alertavam a comunidade médica sobre os maléficos resultantes do hábito de fumar as primeiras iniciativas antitabagistas brasileiras(GIKOVATE, 2008). Neste contexto, em 1964, o deputado Eurico de Oliveira, encaminhou o primeiro Projeto de Lei (PL) ao Congresso Nacional, na qual propunha a proibição da propaganda de produtos derivados de tabaco nos meios de comunicação, PL está que não foi aprovada (TEIXEIRA: JAQUES, 2011). Já no ano de 1965, o deputado Pedro Mourão encaminhou também um Projeto de Lei (PL) ao Congresso Nacional, sugerindo a impressão de advertências sobre os riscos à saúde do hábito de fumar nos maços de cigarro e um segundo PL que visava proibir a venda de cigerros aos menores de 18 anos. Ao final da década de 60, mais outros cinco Projetos de leis relacionados ao consumo de tabaco foram enviados ao Congresso Nacional e todos foram arquivados (TEIXEIRA ; JAQUES, 2011). 23 Na década de 70, o alto consumo de cigarros, teve como conseqüência o aumento da produção nacional. Em uma época em que o pais estava sob o regime ditatorial de caráter liberal que buscava estimular a indústria nacional, o Brasil era também um dos maiores exportadores mundial de tabaco. Segundo Teixeira e Jaques (2011), neste plano de fundo, na década de 70 o Congresso Nacional foi invadido por projetos de leis relacionados ao controle do consumo de produtos derivados do tabaco, ao todo foram 79 Projetos de Leis. Destes, 35 previam a regulação da propaganda de cigarros e brindes oferecidos pelas empresas do setor, 11 solicitando a proibição da venda dos produtos a menores de 18 anos e a regulamentação do seu consumo em locais públicos, 6 exigiam controle sanitário sobre os produtos produzidos no país, 3 solicitavam a inserção de propagandas divulgando os malefícios dos produtos a saúde, 4 sugeriam aumento das taxas sobre os produtos derivados de tabaco a serem destinados a saúde pública , 2 propunham a inserção no currículo escolar do tema Tabagismo e seus males para saúde e por fim um Projeto sugeria a criação do Dia Nacional de Combate ao tabagismo, vale ressaltar que nenhum desses projetos de leis foi aprovados(TEIXEIRA ; JAQUES,2011) Mesmo assim o consumo de cigarros crescia no país e a indústria investia em propagandas nas quais era sugerido que o hábito de fumar estava ligado ao sucesso, charme, elegância, virilidade e bem estar. Paradoxalmente as investidas pioneiras de se criar legislações para o controle do consumo do Tabaco, o Brasil era um dos maiores exportadores de tabaco. E foi apenas após a mudança politica do país com o fim da ditadura militar e o início do processo de redemocratização do país que culminou com fortalecimento do movimento da Reforma Sanitária que resultou na criação do Sistema Único de Saúde, que o novo cenário politico nacional promoveu modificações em relação ao consumo do tabaco no país. Na publicação do Ministério da Saúde (BRASIL, 2001) sobre a Abordagem e tratamento de fumantes são relatados, no fim da década de oitenta, dados alarmantes referente às doenças relacionadas ao consumo de tabacos e sua propagação na sociedade. Neste contexto, passou-se a compreender o tabagismo como um sério problema de saúde pública. O Ministério da Saúde, por intermédio do Instituto Nacional de Câncer (INCA), desenvolveu uma série de medidas de 24 prevenção e combate a prática tabagista por meio do Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT). Em 1980, o então deputado ítalo Conti encaminha ao Congresso a PL na qual proponha que no dia 29 de agosto fosse comemorado o dia nacional de combate ao fumo, vindo ter aprovação no ano de 1986 e posteriormente sancionada como Lei federal de n° 7.488/86, sendo a primeira legislação em âmbito federal de regulamentação ao tabagismo no Brasil(TEIXEIRA; JAQUES,2011). Já em 1985, o Ministério da Saúde cria o Grupo Assessor para o Controle do Tabagismo, composto por médicos, juristas, parlamentares e representantes de diversas instâncias sociais preocupadas com a questão do controle do tabagismo. O GACT funcionou até o fim da década de 80 e foi responsável por várias campanhas e simpósios com a temática do combate ao tabagismo. Em 1988, ocorre um marco decisivo na saúde pública nacional, com mudanças que transformam radicalmente a saúde brasileira com a criação do Sistema Único de Saúde. Este novo modelo, tinha por característica pensar a saúde como um direito de cidadania e dever do estado. Assim começaram a se efetivar ações no poder público em relação ao controle do tabagismo (TEIXEIRA; JAQUES, 2011). As novas publicações internacionais apresentaram dados alarmantes sobre a necessidade de ambientes livres da poluição do cigarro e esclarecimentos sobre o efeito nocivo da fumaça tanto aos fumantes ativos quanto os passivos. Motivados por esses novos dados, foram publicadas portarias que impediam o consumo de cigarros no interior dos prédios do Ministério da Saúde, a Portaria n° 428/GM, que serviu de inspiração para a então Portaria Interministerial n° 3.257 de 1988, a qual trazia medidas restritivas ao fumo nos locais de trabalho e ofertava as empresas que destacavam a campanha o certificado de honra ao mérito (TEIXEIRA; JAQUES, 2011). O artigo 220 da nova Constituição deu legalidade em esfera federal ao ato de impor restrições nas propagandas de cigarros, bebidas e medicações e de incluir advertências sobre os malefícios de seu uso quando necessário. Neste mesmo ano o Ministério da Saúde elaborou a Portaria n° 490, que obrigava as campanhas publicitárias de cigarros estamparem a advertência "O Ministério da Saúde Adverte: Fumar é Prejudicial à Saúde"(TEIXEIRA ; JAQUES,2011). 25 Foi no ano de 1996, que esta portaria foi transformada em lei de n° 9.294/96. Em 1999 uma medida provisória de n® 1.814 permitiu ao Ministério da Saúde definir novas advertências para tornar as frases preventivas mais diretas e enfáticas. No que diz respeito ao campo Institucional, após a Reforma Sanitária a competência do Ministério da Saúde em relação ás ações ao controle do tabaco foram transferidas ao Instituto Nacional de Combate ao Câncer (INCA) que passou a abrigar o Programa Nacional de Combate ao Tabagismo(TEIXEIRA ; JAQUES,2011). De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2001), o PNCT foi construído com apoio de alianças e parcerias e envolvendo dois grandes grupos de ações: a primeira voltada para prevenção da iniciação ao tabagismo, tendo como público alvo, crianças e adolescentes: o segundo envolvendo ações para estimular os fumantes a deixarem de fumar. Em 1996, foi publicado o livro "Ajudando seu paciente a Deixar de Fumar", para auxiliar os profissionais da área da saúde, a ver o tabagismo como uma doença crônica que denota necessidade de atenção como os demais tipos de doenças. Em agosto de 2000, foi realizado o I Encontro de Consenso Sobre Abordagem e Tratamento do Fumante, como partes das ações do PNCT. Neste encontro foram elaborados os documentos "Bases Teóricas para as Recomendações dos Métodos na Cessação de Fumar e Orientações Básicas para Abordagem do Fumante na Prática Clinica", que objetiva transmitir aos profissionais de saúde as bases teóricas para se trabalhar com ações de combate ao tabagismo (BRASIL, 2002). O PNCT nasceu com amplos objetivos focados nas questões relacionadas ao combate ao tabagismo. Entre suas ambições estavam reduzir o número de fumantes e por conseqüência a diminuição da mortalidade relacionada ao consumo do tabaco e derivados, buscava também diminuir a inicialização do hábito de fumar por jovens e pretendia induzir a cessação do fumo ao maior número de pessoas amortizando assim a poluição causada pela fumaça do cigarro nos ambientes. Para tanto articulou campanhas, congressos e lançou as campanhas de 31 de maio Dia Mundial de Combate ao Fumo, criado em 1986 e instituído no ano seguinte pela Organização Mundial de Saúde. O PNCT também articulou ações educativas, estimulou a criação dos ambientes livres de cigarro nos locais de trabalho, escolas e unidades de saúde e patrocinou o Programa de Cessação de fumar, que para atingir 26 todo território fez uso do mesmo modelo do SUS, baseada na descentralização das ações(TEIXEIRA; JAQUES, 2011). Essas ações citadas foram as principais atividades do PNCT, levando o INCA a ocupar lugar de destaque e de referência no processo de regularização do tabagismo no Brasil, com a elaboração de materiais técnicos que serviram de base para a criação das políticas no âmbito legislativo (TEIXEIRA; JAQUES,2011). A lei n° 10.167, de dezembro de 2000 orientava que as propagandas de produtos de derivados de tabaco estavam restritas apenas para a parte interna dos estabelecimentos de venda. Não podendo também ser vinculadas propagandas nas formas de mídias existentes e não as fazer relacionadas a atividades esportivas e também não podendo conter a participação de crianças e adolescentes e vetava a distribuição de brindes pela indústria tabagista. Esta mesma lei, restringiu o comércio em ambientes escolares e de serviços de saúde e também vetou o consumo nos transportes coletivos e públicos(TEIXEIRA; JAQUES, 2011). Foi em março de 2001, que entrou em vigor uma resolução da Agência Nacional de Saúde (ANVISA), estabelecendo os níveis máximos das substâncias (alcatrão, nicotina e monóxido de carbono) que são usadas nos cigarros produzidos no Brasil, também proibiu o uso de expressões que levassem o consumidor acreditarem na diminuição da adição dessas substâncias, como os termos light, baixos teores e suaves(TEIXEIRA; JAQUES,2011). Em maio do mesmo ano, outra norma da Anvisa também entra em vigor, a qual regulamentava o uso de imagens ilustrativas para complementar as advertências já existentes nas embalagens dos cigarros e juntamente passou a disponibilizar o número do Disque Pare de Fumar, um serviço de orientação do Ministério da Saúde para quem deseja parar de fumar(TEIXEIRA; JAQUES,2011). O ano de 2003 foi fixado pela lei n° 10.167 para inicio da proibição do patrocínio de atividades culturais e esportivas internacionais pelas companhias de tabaco. No entanto, a data de vigor desta proibição foi alterada para 2005, como uma manobra em prol dos interesses econômicos relacionados com o GP Brasil de Fórmula 1, realizado em 2003 patrocinado por uma notória marca de cigarros e transmitido pela mídia internacional(TEIXEIRA; JAQUES,2011). Atualmente, o Brasil ocupa lugar de destaque mundial com ações legislativas que controlam o consumo de derivados de tabaco e os maiores desafios no setor de 27 saúde é fazer com que a busca de uma vida mais saudável seja incorporada no cotidiano de todos. Promoção à saúde é procurar aumentar os fatores de proteção e reduzir os riscos que certos estilos de vida como o tabagismo impõem (TEIXEIRA; JAQUES,2011). É relatado por Cavalcante (2005) que recentemente a Política Nacional de Promoção Saúde (PNPS) definiu como prioridade ações educativas e de implementação de ambientes públicos livres de tabaco. Através dessa iniciativa o Ministério da Saúde intensificou as ações do Programa Nacional de Controle do Tabagismo, sendo uma das suas principais meta em parceria com as Secretarias Municipais de Saúde, a implantação do PNCT nas Unidades Básicas de Saúde do país. 2.3A Dependência de Nicotina Cerca de 30% da população brasileira adulta é viciada em nicotina. Além de prejudicar o orçamento doméstico, o consumo de tabaco leva ao surgimento de vários males e, consequentemente, à diminuição da expectativa de vida da população. A nicotina é uma substância química capaz de nos fazer encher o pulmão de fumaça, botando a nossa própria vida em risco, conscientemente (BRASIL, 2001). Estima-se que mais de 200 mil pessoas no Brasil morram por ano devido a complicações de saúde derivada do consumo de tabaco e derivados, mesmo sendo conhecidos desde a década de 60 os riscos de saúde relacionados ao cigarro. Atualmente as evidências são inúmeras e não deixam dúvidas com relação ao uso do fumo e a uma maior mortalidade(BRASIL, 2001). Por muitos anos foi discutido se o uso do tabaco era ou não uma dependência química, grande parte dos profissionais de saúde e principalmente a indústria do fumo relutou em aceitar a classificação da nicotina como droga causadora de dependência. Hoje sabemos que a dependência do tabaco é um processo complexo e determinado por processos biológicos, comportamentais, psicológicos e socioculturais. E apesar da fumaça produzida pelo cigarro conter mais de quatro mil 28 substâncias, sendo sessenta delas cancerígenas o indivíduo dependente busca especificamente apenas uma, a nicotina (GIGLIOTT! et ai,1999). Em 1992, a OMS passou a considerar a dependência de nicotina como um problema de saúde mental. Segundo os especialistas, a dependência de alguma substância que causa alteração no funcionamento do Sistema Nervoso Central é também considerada um transtorno psiquiátrico. A medicina enxerga claramente que o tabagismo é uma doença mental e o vício está classificado dessa forma na listagem mundial de doenças(GIGLIOTTI et al,1999). É alertado por Gigliotti et al (1999) o fato da dependência a nicotina ser a menos estuda em relação à dependência de álcool e outras drogas, mesmo tendo sido apontada pela OMS como um problema de saúde pública notório e maior causa de morbidade e mortalidade. O pioneiro nos estudos da nicotina, Rosemberg (1987), esclarece seu impacto no organismo. Adverte que a nicotina é uma das substâncias químicas derivada dos alcalóides encontrada nas folhas de tabaco e de maneira condensada nos cigarros e a responsável pela dependência tendo seus principais efeitos no sistema nervoso e circulatório. Por ser uma substância tóxica, nem todos a toleram no início. Muitas pessoas ao primeiro contato sentem palpitações, náuseas e tonturas, no entanto vão adquirindo tolerância com o passar do tempo. É esclarecido por Figlie, Bordin e Laranjeira (2004) que o mecanismo da droga encontrada nos cigarros é extremamente rápido, pois a substância química principal, a nicotina atinge o cérebro nove segundos após a fumaça ser ingerida. E ao ser identificado pelos neurônios, o cérebro é estimulado a liberar hormônios psicoativos, que por sua vez altera o funcionamento harmonioso do organismo. Por atingir o cérebro tão rápido, está comprovado cientificamente que a dependência a nicotina se desenvolve mais rapidamente que o álcool e certas outras drogas. A ação da nicotina no sistema parassimpático © simpático em doses pequenas é excitante e em maiores são depressoras (FIGLIE, BORDIN; LARANJEIRA, 2004). Segundo Figlie, Bordin e Laranjeira (2004), a ação aguda da nicotina no sistema nervoso central envolve vários neurotransmissores, sendo eles; liberação de dopamina gerando euforia, a de noradrenalina que resulta melhora da atenção, 29 náuseas e palpitações, liberação da serotonina que procede a ansiedade e da acetilcolina que acarreta melhoria da memória. Os efeitos da nicotina que favorecem a dependência estão diretamente relacionados ao pequeno aumento do estado de alerta, melhora da atenção, concentração e memória, por isso fumar cigarro de tabaco produz um efeito estimulante rápido. As sensações de relaxamento e calma descritas por alguns tabagistas são relacionadas à inibição dos sintomas desagradáveis da ausência da nicotina no organismo e também podemos mencionar a diminuição do apetite (FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA. 2004). Estudos recentes relatados por Gigliotti et al (1999) mostraram que quando retirada a nicotina dos cigarros, os fumantes param de fumar. Desta forma mudou a maneira de ver a dependência do cigarro, passou de um vício psicológico para uma dependência física que deve ser tratada como uma doença clínica, pois o que mais reforça o consumo de cigarro é a busca pela nicotina. Os tabagistas que decidem parar o consumo do cigarro são prontamente acometidos pelos sintomas característicos da Síndrome de Abstinência, causada pela carência da nicotina no organismo. Os sintomas começam a manifestar nos indivíduos quando são reduzidos ao menos cinqüenta por cento do consumo usual de cigarros e quanto mais elevado for o padrão de consumo maior é a gravidade da Síndrome de Abstinência que pode persistir por meses(GIGLIOTTI et al,1999). A síndrome de Abstinência é mediada pelo neurotransmissor noradrenalina e tem seu início oito horas após o último cigarro e atinge seu auge no terceiro dia em tabagistas que interrompem o consumo por inteiro (GIGLIOTTI et al,1999). A dependência á nicotina é o principal fator mantenedor do hábito de fumar, porém existem outros fatores que surgem no organismo na ausência da nicotina e influenciam para o individuo que está tentando parar o consumo persista na ingestão de tabaco. Alguns desses fatores psicológicos são^ humor disfórico ou deprimido, insônia e sonolência diurna, irritabilidade, frustração e raiva, ansiedade, dificuldades de manter a atenção, inquietação e "fissura" (FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA, 2004). Os fatores biológicos são descritos como freqüência cardíaca diminuída, pressão arterial diminuída, aumento do apetite, ganho de peso alteração na coordenação motora e tremores. Outro fator que influencia o consumo do cigarro são 30 os estímulos ambientais, que sao independentes da necessidade fisiológica. Isso explica o fato de pessoas que pararam de fumar a muito tempo, voltem a ter um forte desejo de fumar (FIGLIE; BORDIN; LARANJEIRA, 2004). 2.4 O Programa de Nacional de Combate ao Tabagismo. Atualmente o tabagismo é classificado internacionalmente no grupo dos transtornos mentais e de comportamentos decorrentes do uso de substância psicoativas. por ser conhecido como uma dependência química que expõe as pessoas a várias substâncias tóxicas e por conseqüência os tabagistas sâo as principais vitimas de doenças letais evitáveis, sendo então este um dos principais problemas de saúde pública. De acordo com Cavalcante (2005), mediante tal situação o Ministério da Saúde, por meio do Instituto Necional de Câncer (INCA), no ano de 1989 cria o Programa Nacional de Controle do Tabagismo objetivando a prevenção do inicio do consumo por crianças e jovens e investindo no tratamento para o abandono do fumo entre os já dependentes. Como resultados dos esforços mais recentes nessa temática, foi realizado no ano de 2000 o I Encontro de Consenso sobre Abordagens e Tratamento do Fumante, onde várias coordenações de ações de combate ao tabagismo se reuniram junto à sociedade cientifica para criar novas parcerias e debater os mais modernos métodos para parar de fumar a fim de oferecer a população um serviço eficaz e de qualidade(BRASIL, 2001). Embasado pelas discussões deste evento, foram elaborados os documentos Bases Teóricas para as Recomendações dos Métodos na Cessação de Fumar e Orientações Básicas para Abordagem do Fumante na Prática Clinica, com o objetivo de transmitir aos profissionais de saúde as bases teóricas para se trabalhar com ações de combate ao tabagismo (BRASIL, 2002). Um dos maiores desafios atuais no setor de saúde no Brasil é fazer com que a busca de uma vida mais saudável seja incorporada no cotidiano de todos. 31 Promoção à saúde é procurar aumentar os fatores de proteção e reduzir os riscos que certos estilos de vida como o tabagismo impõem. É relatado por Cavalcante (2005) que recentemente à Política Nacional de Promoção a Saúde (PNPS) definiu como prioridade ações educativas e de implementação de ambientes públicos livres de tabaco. Mediantes as ações o Ministério da Saúde intensificou as atividades do Programa Nacional de Controle do Tabagismo; sendo uma das suas metas principais a parceria com as Secretarias Municipais de Saúde a implantação do PNCT nas Unidades Básicas de Saúde do país. De acordo com pesquisas realizadas pelo PNCT, uma das prováveis causas das baixas porcentagens de fumantes que conseguem parar de fumar é o fato das informações atuais sobre como aconselhar, orientar e apoiar os indivíduos no processo de parada do hábito de fumar serem relativamente recentes. Consequentemente essas novas abordagens de orientação para a cessação do tabagismo ainda não são conhecidas pela maioria dos profissionais de saúde. No entanto o aumento da procura por apoio para parar de fumar nas unidades de saúde tem estimulado os profissionais a se apropriarem destes novos conhecimentos para atenderem tal demanda (BRASIL. 2001) Neste contexto, o Ministério da Saúde por meio do INCA e do PNCT e em parcerias com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, vem unindo esforços e realizando parcerias para o treinamento dos profissionais para que possam oferecer nas rotinas de serviços abordagens para cessação do tabagismo. Para atingir tal objetivo a meta principal do PNCT é implantar em todas as unidades básicas de saúde do país o Programa de Controle ao Tabagismo, tornando essas unidades um ambiente favorável e de apoio à cessação de fumar. Para tanto foi necessário à implementação de uma política de restrição ao consumo de tabaco e seus derivados em unidades de saúde(BRASIL, 2001). Juntamente a essas ações foi desenvolvido o Programa Ajudando seu Paciente a deixar de Fumar, pois já se sabia que apenas incentivar o abandono do tabagismo não era o bastante. Fazia-se necessário um acompanhamento sistemático dessas pessoas pelos profissionais de saúde para que eles fossem acompanhados e preparados durante todo esse processo de parar de fumar, com 32 estratégias e materiais didáticos que permitiam aumentar a eficácia das tentativas de parar de fumar. A primeira publicação foi realizada no ano de 1996, o manual técnico Ajudando seu Paciente a Parar de fumar e a partir de então, deu início ao processo de sensibilização dos profissionais da área da saúde pública para verem o tabagismo como uma doença crônica (BRASIL, 2001). Neste processo, o INCA proporcionou treinamentos para os profissionais das Secretarias Estaduais de Saúde para serem multiplicadores da estratégia de controle do tabagismo em seus estados por meio de treinamentos oferecidos as equipes das secretarias municipais, nesse processo de descentralização até o ano de 2001 já haviam sido treinados mais de cinco mil profissionais de saúde (BRASIL, 2001). Através desses treinamentos , buscou-se amplamente divulgar entre os profissionais de saúde a abordagem cognitiva-comportamental envolvida no método "Pergunte, Aconselhe, Prepare e Acompanhe" e a estimular a sua inclusão nas rotinas das unidades básicas de saúde. Também se discutiu a necessidade dos profissionais de saúde de conhecer e identificar as mudanças comportamentais envolvidas no processo de parar de fumar, a necessidade de estarem instruídos sobre como lidar com as expectativas dos dependentes em nicotina em relação às medicações usadas como apoio no processo de parar de fumar, pois devido à eficácia tem despertado além do interesse idéias fantasiosas de que são uma fórmula mágica para se parar de fumar. De acordo com o INCA, o PNCT pretende desta forma, em médio prazo, contar com um contingente suficiente de profissionais na rede pública de saúde capaz de realizar a abordagem cognitivo-comportamental visando motivar e preparar os fumantes para a cessação do hábito de fumar, por meio do atendimento em grupo ou individual e preparados para usar de forma consciente e adequada o apoio farmacológico (BRASIL, 2001). 33 S.Tabagismo e Comorbidades Psiquiátricas. O Tabagismo é considerado um comportamento aprendido e que é reforçado pela ação da nicotina, o principal componente adictivo entre as várias substâncias encontradas no cigarro. A partir desde entendimento da neurobiologia do uso da dependência de nicotina, podemos considerar a presença de alguns Transtornos Mentais comuns encontrados entre os tabagistas(LEMOS; GIGLIOTTI, 2007). Para Lemos e Gigliotti (2007), alguns indivíduos são mais propensos à dependência a drogas, em geral são mais impulsivos e por isso controlam-se menos, facilitando o desenvolvimento das dependências químicas, como por exemplo, o tabagismo. Esses indivíduos com maior propensão em desenvolver psicodependências são comumente diagnosticados com transtomos de déficit de atenção, hiperatividade, transtornos de humor entre outros. Isso é justificado, pois indivíduos com algum transtorno mental são apontados a serem mais suscetíveis a adicção de drogas psicoativas, como por exemplo, a nicotina por ser uma substância que tem grande influência positiva sobre as condições de humor e da cognição, estabelecendo a instalação de comorbidades psiquiátricas nestes indivíduos. De acordo com a definição de Lemos e Gigliotti (2006), a comorbidade é a existência de duas condições mórbidas no mesmo individuo, não sendo relevante saber qual veio primeiro. Entendemos então, que se tivermos a associação da condição A com a B existentes no mesmo individuo, chamamos de comorbidade. Lemos e Gigliotti (2007) consideram que pelo ponto de vista temporal a associação entre o tabagismo e comorbidades podem vir acontecer de três maneiras: a)a comorbidade precede no tempo o início do tabagismo; b) o tabagismo precede os problemas psiquiátricos; c) ambos os transtornos ocorrem na mesma época na vida do indivíduo. De acordo com Rondina, Gorayeb e Botelho (2007) observa-se um interesse crescente nos estudos das co-morbidades entre o tabagismo e os transtornos mentais, a nicotina interfere no funcionamento dos neurotransmissores e desencadeia várias ações neuroendócrinas entre outros fatos que podem influenciar rio quadro psicopatológico e na resposta do paciente ao tratamento. 34 awoTiacâiiaAsmiAfe ©r» SérQío w^roucA É relatado por Zaieskl et al(2006) que alguns pacientes com determinados transtornos psiquiátricos usam a nicotina como uma medicação e por esse motivo lamentam mais de sua falta durante a abstinência, levando assim ao aparecimento da patologia de base, que estava sendo mascarada pela droga. É levantada por Munaretti e Terra (2008) a discussão sobre dependência de tabaco e suas comorbidades terem importância no contexto atual em que as políticas públicas de saúde estimulam e orientam a população a necessidade da cessação do tabagismo, e a existência de uma comorbidade ainda não diagnosticada pode dificultar e até mesmo desestimular o indivíduo a tentar parar de fumar. Alguns autores como Malbergier e Oliveira (2005) apontam que entre as comorbidades mais freqüentes entre a população destaque-se os Transtornos de Ansiedade e Depressão. Alguns autores como Lemos e Gigliotti (2007) alertam para o fato da dependência a nicotina também causar transtornos mentais. É o caso dos indivíduos que apresentam no período de abstinência um episódio depressivo mesmo que não tenha uma doença depressiva, sendo seu curso benigno e finalizando com a remissão do período de abstinência que dura cerca de seis semanas. Outro exemplo de como o tabagismo interfere na condição de saúde mental da população tabaco-dependente, são os indivíduos com transtornos de ansiedade generalizada que possuem o nível de ansiedade aumentado pelo consumo da nicotina, que por ser uma droga estimulante é muito mais ansiogênica que ansiolítica dependendo da quantidade inserida (ZALESKI et al., 2006). Para Calheiros, Oliveira e Andretta (2006) é notável que os indivíduos dependentes de tabaco que apresentam ansiedade podem estar fazendo uma tentativa de alívio dos sintomas desse transtorno psiquiátrico, isto é, buscando emenizar sua ansiedade através dos efeitos estimulantes da nicotina, visto que são qualitativamente semelhantes aos da cocaína e da anfetamina, com o aumento do estado de alerta, bem estar, sensação de aumento de concentração e de energia, modulação do humor e diminuição do apetite. Para Zaieski et al. (2006), em alguns indivíduos dependentes de nicotina a abstinência da substância evidencia transtornos mentais transitórios e em outros casos desmascara transtornos de base. Por tanto os sintomas da abstinência podem 35 ser classificados em dois tipos: sintomas temporários, que são típicos da síndrome de abstinência e vão diminuindo progressivamente junto com a desintoxicação do organismo, e sintomas compensatórios que são os sintomas do transtorno de base primária, anteriormente mascarada pelo uso da nicotina, aparecem logo quando é diminuído ou cessado o consumo da nicotina e ficam presentes mais tempo, sendo responsáveis por fazer com que os indivíduos acabem por voltar a fumar para amenizar o sofrimento. Além disso, Rondina, Botelho e Gorayeb (2002)salientam que pesquisas vêm sendo efetuadas em vários países, no sentido de investigar as diferenças individuais na responsividade à nicotina, como função de traços de ansiedade ou histórico de desordens de ansiedade. Parte-se do pressuposto que, se o indivíduo fuma com o objetivo de automedicar a ansiedade, ansiolíticos facilitariam o abandono do tabagismo e atenuariam os sintomas no período subsequente à cessação. Freqüentemente encontramos indivíduos dependentes de nicotina apresentando sintomas de transtorno depressivo e embora conscientes do risco que o hábito de fumar implica a saúde, em seus relatos descrevem o consumo do cigarro como uma fonte de prazer e satisfação. E esse é o fator principal que desmotiva esse grupo de indivíduos a seguir em frente na decisão de parar de fumar(LEMOS; GIGLIOTTI, 2006). Já a associação entre tabagismo e depressão é explicada através de diferentes ângulos de interpretação por diversos estudiosos. Eles sugerem que a diminuição de afetos ou sentimentos negativos é um processo reforçador e que, portanto, a redução nos afetos depressivos associados ao uso de tabaco seriam reforçadores para o indivíduo. Partindo do pressuposto que afetos negativos ocorrem mais freqüentemente e intensamente em indivíduos predispostos à depressão, tais indivíduos aprenderiam rapidamente que fumar alivia os sintomas. Além disso, os sintomas depressivos podem disparar o desejo de fumar, porque esses indivíduos teriam sido anteriormente aliviados pela nicotina (RONDINA; BOTELHO; GORAYEB,2002). É observado por Lemos e Gigliotti (2006) que nessa população as crises de abstinências também são mais severas que nos demais dependentes a nicotina, o que reforça ainda mais a sensação de alívio apresentada quando se utiliza da nicotina, reforçando assim o tabagismo. 36 Alguns autores, como Zaieski et ai (2006), afirmar que o tabagismo nesse grupo pode aumentar os efeitos colaterais das medicações, interferindo assim nos tratamentos farmacológicos, levando os especialistas a acreditarem que o tratamento do tabagismo nessa população é menos eficaz, mesmo com a combinação de abordagens farmacológicas e de terapias comportamentais. Recaídas de quadros psiquiátricos podem facilitar também lapsos no tratamento de cessação do hábito de fumar. Podemos entender que indivíduos com transtorno depressivo tem mais tendência a voltar a fumar quando novos episódios depressivos se estabelecem (LEMOS; GIGLIOTTI, 2006). De acordo com Rondina. Gorayeb e Botelho (2007) é comprovado que a probabilidade de abandono do tabagismo é reduzida em pacientes com transtornos de depressão. Sabe-se que fumantes com histórico de depressão correm mais risco de recaídas durante o período de abstinência, em comparação aos fumantes sem o mesmo histórico. Nos fumantes com histórico de transtorno depressivo, a cessação do tabagismo é fator de risco para a manutenção do quadro clínico ou o desenvolvimento de novo surto depressivo. Segundo Lemos e Gigliotti (2007), estudos recentes evidenciam que o tabagismo na adolescência parece ser um marcante fator de risco para o desenvolvimento de psicopatologias futuras, pois esta fase da via é o período de maior vulnerabilidade neural para os efeitos da nicotina sobre as funções sináptica e desenvolvimento cerebral. Diante disso. Castro et a 1(2008) afirma ser necessário o profissional de saúde estar atento as características psicológicas do paciente durante o tratamento da dependência. Antes do inicio do tratamento é fundamental avaliar se existem sintomas de quadro depressivo, de modo a se proporcionar um acompanhamento adequado ao paciente, o auxiliando a lidar com o transtorno concomitantemente ao processo de parar de fumar. Para alguns autores uma série de variáveis como fatores genéticos e psicossociais contribuem para a expressão do tabagismo e depressão. 37 3.1. Considerações sobre os Transtornos de Ansiedade A ansiedade é descrita como sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivado de antecipação de perigo, de algo desconhecido ou estranho. É um sentimento que todas as pessoas vivenciam em variadas intensidades, sendo definida como um conjunto de reações fisiológicas tais como taquicardia, sudorese, tremores entre outros que em geral são sentidos pelos indivíduos quando se deparam com situações de perigo potencial. Tais reações foram desenvolvidas durante processo evolutivo com objetivo de preservar as espécies, preparando os organismos para enfrentar os perigos da forma mais adequada, ou seja, lutando ou fugindo(RANGÉ,2007). No entanto, em situações nas quais não existe perigo real e a ameaça não é física, mais sim ao bem estar emocional de forma geral, reações de ansiedade manifestadas acabam sendo disfuncionais, visto que a maneira de lidar com essas ameaças não envolvem reações de luta e fuga e sim de habilidades sociais que podem ser atrapalhada pelos sintomas da ansiedade(RANGÉ,2007). Desta maneira, a presença da ansiedade pode ser prejudicial à vida dos indivíduos, quando manifestada em situações inapropriadas ou de forma disfuncional, como é o caso dos transtornos de ansiedade. Entre os quais se destaca o Transtorno de Ansiedade Generalizada que constitui um dos principais problemas de saúde dos brasileiros. O sofrimento e a incapacitação provocam altos custos e sobrecargas nos serviços de atenção primária de saúde. Esse transtorno tem bons prognósticos quando tratado adequadamente, com grandes chances de recuperação para os pacientes(NETO; ITO, 1998). Mesmo os transtornos de Ansiedade sendo considerados como transtornos psiquiátricos mais comuns na população, menos de 30%dos indivíduos que sofrem dessa patologia procuram tratamentos específicos. Os estudos indicam que uma entre quatro pessoas em algum momento da vida apresentaram quadro de transtorno de ansiedade de acordo com os critérios do DSM-IV (MUNARETTI; TERRA, 2007). 38 Ainda de acordo com o DSM-IV, os principais componentes sintomáticos dos quadros de Ansiedade Generalizada são as preocupações excessivas e incontroláveis acompanhadas por manifestações físicas relacionadas a tensões sendo necessário estarem presentes todos os dias por um período mínimo de seis meses(NETO; ITO 1998). Os Transtornos de Ansiedade Generalizada são comumente acompanhados de uma elevada taxa de comorbidade, geralmente são diagnosticados transtornos de humor juntamente com os Transtornos de Ansiedade. Em alguns casos, quando não há intervenção terapêutica adequada os transtornos de ansiedade podem evoluir para um quadro mais severo denominado Transtorno de Pânico (POSSENDORO,2007). Estudos atuais alertam para mais um tipo comum de comorbidade ligada ao transtorno de ansiedade, a dependência de nicotica aparece estreitamente relacionada a casos de tabagistas que procuram programas de tratamento para abandonar o hábito de fumar. Essa discussão tem grande relevância, pois se tornou evidente que o consumo de nicotina interfere de modo complexo no humor e a fase de abstinência altera temporariamente a cognição, ansiedade e humor (POSSENDORO.2007). 3.2. Considerações sobre Transtorno Depressivo Para Grevet e Cordioli (2005), o termo Depressão vem sendo usado para descrever alterações normais de humor diante de perdas, conflitos nas relações interpessoais ou outros problemas de natureza emocional. Sentimentos de tristeza ou infelicidade são comuns em situações de separações, insucessos, crises financeiras e fazem parte da experiência do cotidiano e caracteriza um estado normal, não patológico. No entanto quando tais sentimentos não desaparecem espontaneamente ou são desproporcionais aos eventos desencadeantes e o sofrimento emocional passa a comprometer a rotina diária e as relações interpessoais, provavelmente o indivíduo 39 está evidenciando a presença de um quadro de Transtorno Depressivo (GREVET; CORDIOLI. 2005). A Depressão é um problema de saúde comum que acomete cerca de 20% da população adulta, especialmente as mulheres, sendo responsável por um enorme impacto em termos sociais. Outro dado alarmante refere-se ao fato da depressão começar a deixar de ser exclusivamente da população idosa e feminina e começa a aparecer com grandes incidências na população jovem e no sexo masculino (WAINER; PERGHER; PICCOLOTO,2003). Ao mencionarmos a depressão, estamos fazendo referência mais especificamente à classificação de depressão maior. Essa categorização provém do Manual de Diagnósticos e Estatísticos de Transtornos Mentais DSM IV sendo importante delimitar devido ao fato da sintomatologia depressiva ser agregada a outros diversos quadros psicopatológicos sem, no entanto ser o foco central do distúrbio. Sendo importante ressaltar que entre os transtornos de humor o que tem maior prevalência em toda a população é a Depressão Maior (SCHESTATSKY, 2002). Segundo o DSM-IV, para o diagnóstico de transtorno depressivo maior, é necessária a presença de pelo menos um episódio de depressão maior que é definido pelos seguintes critérios: pelo menos cinco ou mais sintomas presentes no período de duas semanas (humor deprimido na maior parte do dia, diminuição do prazer nas atividades rotineiras, perda ou ganho significativo de peso, alterações do sono, alteração psicomotora, fadiga ou perda de energia, sentimentos de inutilidade, dificuldades de concentração, pensamentos mórbidos e ideação suicida), sendo que esses sintomas não devem ser explicados por processos de luto (WAINER; PERGHER; PICCOLOTO, 2003). O curso do Transtorno de Depressão Maior na maioria dos casos tende a ser crônico e recorrente provocando sofrimentos e prejuízos funcionais aos indivíduos acometidos por esse quadro psiquiátrico. É comparável ou superior à maioria das doenças clínicas, se tornando responsável por uma incapacitação social maior do que qualquer outro transtorno mental e do que a maioria das doenças médicas (SCHESTATSKY, 2002). De acordo com Schestatsky (2002) apesar do grande impacto social, a maioria dos episódios depressivos não é diagnosticada, portanto não são tratados, 40 ainda que um grande número de indivíduos deprimidos procurem regularmente os serviços primários de saúde devido a queixas físicas que por sua vez não são vistas como indícios de depressão. A falha em estabelecer o diagnóstico correto acarreta além da intensificação do sofrimento emocional dos indivíduos deprimidos a sua submissão a investigações clínicas e a tratamentos muitas vezes desnecessários com base nas freqüências de queixas somáticas gerando custos a saúde pública. Portanto, nos últimos anos. houve um crescente interesse na investigação dos aspectos psicológicos dos transtornos depressivos, um dos percursores desses estudos foi Aron T. Beck, pioneiro na compreensão moderna da depressão. Demonstrou com seus estudos que a depressão é caracterizada por padrões de pensamentos que de fato mantém o humor deprimido. Ele também observou que quando os indivíduos estão deprimidos passam a ter pensamentos negativos a respeito de si (autocrítica), do mundo (negativídade generalizada) e do futuro (desesperança)(GREENBERGER; PADESKY, 1999). Segundo Neto e Ito (1998), a depressão pode resultar da interação de quatro variáveis: eventos vitais negativos, problemas atuais, manejo de estratégias para solução de problemas e sintomatologia depressiva. Compreende-se que as experiências cotidianas as quais os indivíduos estão expostos podem resultar em conseqüências negativas que podem tomar as pessoas mais vulneráveis a episódios depressivos. E essas conseqüências negativas resultam em uma diminuição do reforço positivo ou aumento de estímulos aversivos é provável que o humor do indivíduo torna-se disfórico, ou seja, a pessoa passa a se sentir mais triste. Dentro desta perspectiva, para esses autores, tais sentimentos levam o indivíduo a ter uma percepção de um futuro sem esperança, deixando um efeito negativo potencial sobre a capacidade de o sujeito lidar com as situações até mesmo rotineiras. Essas reações disfóricas iniciais frente a uma situação estressante passam a influenciar a eficácia no desempenho de tarefas para a solução de problemas, buscar alternativas e tomar decisões. Ou seja, a depressão distorce, exagera e intensifica um processo presente em todos os indivíduos, a cognição, e, por sua vez, a cognição distorcida é um dos aspectos responsáveis pela manutenção da depressão, pois tais distorções servem para manter a visão negativa acerca de si mesmo, do mundo e do futuro (NETO; ITO, 1998) 41 Os pacientes com depressão tendem a notar e a observar os aspectos mais negativos de suas experiências com mais facilidade do que os aspectos positivos ou neutros e também estão mais propensas a interpretar suas vidas com uma tendência negativa enquanto pessoas não deprimidas interpretam os acontecimentos com tendência positiva (GREENBERGER;PADESKY, 1999). Os quadros depressivos podem ser causados por fatores externos (psicossociais) como conflitos, luto e estresse, chamadas de depressões exógenas ou reativas, porque o individuo está supostamente reagindo a uma determinada situação problema. No entanto, há casos em que as alterações internas (fisiológicas), sendo então manifestações de alterações neuroquímicas cerebrais em pessoas geneticamente predispostas, denominada neste caso de depressão endógena. Quando diagnosticados, estes casos possuem uma boa resposta ao tratamento farmacológico com antidepressivos(GREVET; CORDIOLI, 2005). Os autores Grevet e Cordioli (2005) ainda alertam para a possível ocorrência da combinação das duas variáveis de estados deprimidos; endógenas e exógenas nos mesmos indivíduos. Sendo importante em termos de tratamento fazer a distinção do diagnóstico, pois é provável que pessoas com depressões do tipo exógenas respondam melhor a psicoterapia que pacientes com depressão endógenas. Atualmente, já se sabe que o transtorno depressivo está freqüentemente associado a outros transtornos, tendo como comorbidades principais os transtornos de ansiedades e os aditivos (Transtornos de Dependências Químicas), e não é uma relação casual, pois eles refletem estruturas e processos cognitivos bem semelhantes. No caso da comorbidade aditiva ,as substâncias psicoativas são consumidas com os intuito de funcionar como um paliativo para o elevado nível de sofrimento emocional que esses indivíduos vivenciam (WAINER; PERGHER; PICCOLOTO,2003). Assim, ern situações de dificuldades, tais indivíduos fazem o uso de regras de cunho desadaptativos, que pautam fundamentalmente sobre a necessidade de consumo de substâncias para amortizar os sintomas, uma vez que respostas mais efetivas de enfrentamento são bastante limitadas, representando um fator de vulnerabilidade para perpetuação do transtorno depressivo e o desenvolvimento de dependência química (WAINER; PERGHER; PICCOLOTO, 2003). 42 4. Objetivos 4.1. Objetivo Geral Avaliar as influências dos Transtornos Mentais como Ansiedade e Depressão em pessoas que estão no processo de parar de fumar. 4.2. Objetivos Específicos Investigar a presença de Transtornos de Ansiedade e Depressão como comorbidades na dependência a nicotina. Observar quais fatores psicossociais os participantes do grupo relacionam ao desenvolvimento e manutenção da sua dependência à nicotina. 43 5. Método Foi realizado um estudo de natureza quali-quantitativa dado à peculiaridade da pesquisa em investigar as influências dos transtornos de ansiedade e depressão em um grupo de dependentes em nicotina em processo de cessação do consumo de cigarros através do Programa de Combate ao Tabagismo. Para Trivinos (1992), "toda pesquisa pode ser, ao mesmo tempo, quantitativa e qualitativa" (p.118). Ancorado nessa perspectiva, foram descritos os aspectos que justificassem essa característica. Segundo André (1995), o que diferencia a pesquisa qualitativa da quantitativa, é a forma da coleta dos dados, ou até mesmo a diferenciação do tipo de dado obtido. As pesquisas qualitativas "não costumam se servir de instrumentos de coleta de informações que utilizam valores numéricos ou que tomem apoio neles para proceder à análise e interpretação das informações recolhidas"(TRIVII^OS, 1992, p. 162). No estudo qualitativo o pesquisador coleta dados e informações por meio de descrições narrativas que podem ser obtidas através de entrevistas com os participantes.(MINAYO, 2004). Já no caso da pesquisa quantitativa, Trivinos (1999) determinam que não se "deve fazer Juízo de valor, mas deixar que os dados e a lógica levem à solução real, verdadeira" (p.20). A pesquisa foi desenvolvida nos meses de novembro de dezembro de 2011. 5.1 Local A pesquisa foi realizada na Unidade Básica de Saúde do município de Pedro Gomes-MS. O Programa de Combate ao Tabagismo é desenvolvido pela equipe multiprofissional desta unidade, estruturado pelo INCA e Ministério da Saúde tendo o 44 intuído de auxiliar fumantes no processo de cessação do consumo de tabaco e seus derivados. 5.2 Participantes O grupo acompanhado por esta pesquisa é composto por 10 pessoas escolhidas seguindo criteriosamente a ordem da lista de espera do Programa de Prevenção Tabagismo oferecidas pela Unidade Básica de Saúde. Os participantes receberam esclarecimentos quanto à pesquisa a ser realizada e sua participação e sobre a liberdade em consentir ou não em participar da pesquisa. Caso o participante não aceitasse participar seria realizado seu remanejamento para outro grupo do mesmo programa. A identidade dos participantes foi resguardada. 5.3 Instrumentos Foi utilizado um questionário semi-estruturado elaborado pela pesquisadora, com o intuito de se conhecer de maneira mais clara a relação do indivíduo com consumo do cigarro e avaliar a motivação para o processo de abandono do hábito de fumar. Também se empregou as Escalas Beck para avaliação de ansiedade e depressão, para verificar a presença e os níveis de tais transtornos nos participantes. Estas consistem de quatro escalas que mensuram sintomas de ansiedade, depressão, desesperança e ideação suicida (nesta pesquisa não se trabalhou com as escalas de desesperança e ideação suicida). Cabe destacar que o instrumento apresenta evidências de validade para a população adulta brasileira. O inventário de ansiedade Beck é composto por 21 itens, com alternativas de respostas variando de nada á um pouco, moderadamente e gravemente. A classificação recomendada para o nível de ansiedade é ansiedade mínima (0-7), ansiedade leve (8-15), ansiedade moderada (16-25)e ansiedade grave (26-63). 45 o inventário de depressão Beck é composto por 21 itens, cada qual com quatro categorias de respostas. A classificação da intensidade da depressão varia entre Depressão mínima (0-9), depressão leve (10-16), depressão moderada (17-29) e depressão severa (30-63). Neste primeiro momento também foi utilizado o Teste de Fagerstrom {Fagerstrõm Test for Nicotine Dependence), para avaliação do nível da dependência de nicotina entre fumantes. Este possui uma escala de seis itens e pontuação de O a 10. Os escores para dependência de nicotina permitem a sua classificação em cinco níveis: muito baixo (0-2 pontos); baixo (3-4 pontos); moderado (5 pontos); alto (6-7 pontos); e muito alto (8-10 pontos). Uma soma acima de 6 pontos indica que, provavelmente, o paciente terá um desconforto significativo (síndrome de abstinência) ao deixar de fumar. 5.4 Procedimentos O funcionamento do programa de controle do tabagismo é composto pelas seguintes etapas. As pessoas da comunidade são esclarecidas pelos seus agentes comunitários de saúde sobre os malefícios do hábito de fumar e orientadas a procurar a unidade básica de saúde para maiores esclarecimentos sobre o programa Os indivíduos dependentes de nicotina que manifestam o interesse em participar do programa tem o nome inserido em um cadastro de controle para organização dos grupos terapêuticos. Cada grupo é composto por dez participantes que passam pelo processo de entrevista psicológica, para se identificar o grau de motivação e as suas razoes de parar de fumar e pela avaliação clínica médica para verificar as atuais condições de saúde e a liberação para usar as terapias farmacológicas disponíveis. Após essas avaliações iniciais os participantes do grupo são orientados a participar de quatro encontros grupais. Estes encontros são estruturados na Abordagem da Psicologia Cognitivo-Comportamental para auxiliar os participantes a deixarem de fumar. O grupo terapêutico é coordenado por uma psicóloga e uma agente comunitária de saúde que participaram da formação técnica oferecida pela 46 Secretaria de Saúde do Estado para a implantação do Programa de Combate ao Tabagismo. Após o término dos quatro encontros os participantes passam a participar das sessões de manutenção, que acontecem quinzenalmente nos primeiros sessenta dias, depois mensalmente e por fim semestralmente, para estimular a motivação dos participantes em sustentar a decisão de se manterem sem consumir cigarros. 5.4.1 Procedimentos de coleta Primeiramente o projeto foi submetido ao Comitê de ética da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, após aprovação pelo Comitê foi enviado a Secretaria Municipal de saúde e ao Coordenador da Unidade de Saúde para solicitação de autorização para a realização da pesquisa na Unidade Básica de Saúde, explicando os objetivos deste estudo. Após as confirmações positivas do Comitê de Ética e da Secretaria Municipal de Saúde de Pedro Gomes,foram convidados dez sujeitos com os nomes na lista de espera para participar do Programa de Combate ao tabagismo a participar da pesquisa. As entrevistas e aplicações das escalas aconteceram no mês de novembro de 2011, na sala de atendimento psicológico. Durante a entrevista, inicialmente, era lido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi explicado com linguagem acessível ao participante o conteúdo do termo e esclarecido que a recusa em participar não acarretaria em nenhum tipo de penalidade. Após a aceitação do participante a entrevista tinha início. Nesta pesquisa, os participantes que se dispuseram a participar foram avaliados com o teste e as escalas antes do início da primeira sessão. Na quarta e última sessão do grupo foram reaplicadas as Escalas Beck para monitorar a variações dos níveis de ansiedade e depressão nos participantes, já que nessa etapa do programa era esperado que os participantes reduzissem, se não por completo, ao menos a metade do consumo de cigarros. As entrevistas foram gravadas em mídia digital com a autorização prévia dos participantes e posteriormente transcritas para melhor análise dos resultados. 47 5.4.2 Procedimento de Análise As respostas obtidas na entrevista foram analisadas de acordo com o método qualitativo de pesquisa e posteriormente foram submetidas à análise de conteúdo. É relatado por Minayo (2004), que o termo análise de conteúdo tem sido a expressão usada com mais freqüência para representar o tratamento dos dados em pesquisas qualitativas. Essa técnica busca descrever de modo qualitativo os conteúdos manifestados das comunicações para depois interpretá-las. A presente pesquisa trabalhou a análise dos conteúdos das falas dos participantes sobre suas considerações pessoais frente ao complexo processo que é parar de fumar. Os Pesquisadores que buscam a compreensão dos significados no contexto da fala, em geral, negam e criticam a análise de freqüência das falas e palavras como critério de objetividade e cientificidade e tentam ultrapassar o alcance meramente descritivo da mensagem, para atingir, mediante inferência, uma interpretação mais profunda (MINAYO. 2004, p.307) Mergulhar na análise das falas dos participantes possibilitou o aparecimento de indicadores que permitiram, em um movimento interpretativo/construtivo, compreender as determinações e os aspectos que produziram os sentidos que eles atribuem ao ato de fumar. A palavra é o modo mais puro e sensível de relação social. [...] Existe uma parte muito importante da comunicação ideológica que não pode ser vinculada a uma esfera ideológica particular: trata-se da comunicação da vida cotidiana. O material privilegiado de comunicação na vida cotidiana é a palavra(MINAYO, 2004, p. 109). Foi realizada a análise da transcrição das falas dos participantes, com objetivo de identificar os sentidos dos conteúdos presente nas falas dos participantes. As respostas mais freqüentes foram agrupadas em categorias para melhor identificação dos sentidos a serem trabalhados. Os resultados do Teste de Fergestron e das Escalas Beck de Ansiedade e Depressão foram agrupados de acordo com seus níveis de classificação e tratados de maneira quantitativa e transversal e submetidos a analise exploratória, por se tratar de dados mensuráveis que buscavam avaliar os níveis de dependência de 48 nicotina, ansiedade e depressão nos participantes. Especificamente os resultados das Escalas Beck foram essenciais para observar o aumento de sintomas de ansiedade e depressão nos participantes durante a evolução do Programa de Combate ao Tabagismo. 49 6. Resultados e Discussão Os resultados dessa pesquisa envolvem alguns aspectos psicossociais e a relação dos participantes com o cigarro no processo de parar de fumar. Inicialmente iremos discutir as questões abordadas no questionário e logo após, os dados encontrados na aplicação do teste e das escalas. Para organização, cada participante será identificado com a letra P acompanhada por um número. É interessante ressaltar que dos dez participantes apenas um é do gênero masculino, sendo então a maioria mulheres. O grupo está na faixa etária entre 28 a 56 anos de idade e todos ao menos uma vez já fizeram uma tentativa de parar de fumar, sem sucesso. Nenhuma das participantes do gênero feminino que passaram por período gestacional, deixaram de fumar mesmo estando grávidas, mesmo com as orientações médicas a respeito dos malefícios do cigarro para os bebês. Os participantes relatam o inicio da história tabagista ainda na adolescência, aprendendo a fumar acendendo os cigarros para os mais velhos ou como uma maneira de quebrar as regras impostas pelos adultos, uma forma de rebeldia. É relatado por Bordim, Figlie e Laranjeira (2004) que as evidências sugerem que fumar é um hábito que começa na adolescência, não pelos efeitos psicoativos da nicotina que inicialmente são desagradáveis, mas devido a uma série de fatores socioculturais como curiosidade, influência de amigos, busca de independência. No entanto à medida que a freqüência do uso se intensifica e torna-se diário esses fatores socioculturais passam a ser menos importante e a motivação para consumir cigarros passa ser uma necessidade orgânica, ou seja, a dependência da nicotina. "Comecei a fumar com uns 12 ou 13 anos, via meu padrinho flamando , achava bonito então pegava as bitucas de cigarros que ele deixava no chão pra fumar também. Foi assim que aprendi a fumar e nunca mais parei, nem nas minhas gravidezes eu parava de fumar". P9, 40 anos "Comecei com 12 anos, meu vô fumava muito sabe e me pedia pra acender os cigarros pra ele, ela aqueles de fumo de corda sabe. Assim que aprendi, e nunca mais consegui larga isso nem quando fiquei grávida, acho que aí que fumei mais". P4,45 anos. "Eu lembro que achava bonito ver gente fumando, elas ficavam com um ar de poder (risos), aos 12 anos na escola com amigos, vaidade 50 de moleque querer se aparecer porque só adulto podia, foi assim que começou meu vício, para me engrandecer pros amigo". P6, 53 anos Quando questionados pelos motivos que os levaram a fracassar nas tentativas anteriores a cessação do tabagismo quatro participantes relataram não suportar os estados emocionais de nervosismo e estresse. Alguns autores como Gigliotti, Carneiro e Ferreira (2001) alertam para o fato de que fumar é um comportamento incrivelmente reforçador devido ao efeito da nicotina no sistema nervoso central, por isso muitos dependentes de nicotina relatam consumir mais cigarros principalmente em situações de tensões emocionais. Por motivos ainda não bem compreendidos, essas situações podem desencadear a vontade de consumir cigarros quando o uso é interrompido. Estes dados também foram destacados pelos participantes desta pesquisa: "o meu maior problema é a tristeza, uma tristeza tão grande que me dá quando eu paro de fumar (pausa).Choro muito , uma sensação de angústia sabe , assim sem razão de ser. Não agüento isso , volto a fumar, foi assim todas a vezes que parei , tô até com medo dessa vez , de vir todo isso de novo" PS,56 anos "Foi nervosismo mesmo, sou muito nervosa. Nervosa demais na verdade, não consegui ficar sem fumar sabe, porque quando eu fico nervosa eu dano a fumar" P9,40 anos. "Nervosismo, estresse. O cigarro me acalma, se estou nervosa vou ali e dou uma fumada e pronto já me acalmo." P3, 39 anos. " acho que é nervosismo e o estresse, acho que ele( o cigarro) me relaxa". P2,30 anos. Um participante relaciona o insucesso em parar de fumar por vivenciar uma situação de luto. Os autores Rondina et al( 2007) alertam para o fato do consumo de nicotina ser utilizado como automedicação para sentimentos de tristeza ou humor negativo, pois níveis de depressão podem influenciar em uma relação de causalidade direta do consumo de tabaco, até mesmo em indivíduos em abstinência. "bem na época que eu consegui parar de fuma meu pai faleceu, fiquei muito triste, sentia muita falta do meu pai acabei ficando sem forças para resistir a vontade do cigarro, nessa voltei a fumar tudo de novo" P10, 51 anos 51 Os outros participantes não souberam explicar ou identificar os fatores que fizeram não conseguir ficar sem fumar, apenas relatam que ficaram alguns dias, até mesmo meses sem consumir o cigarro. Afirmaram serem acometidos por um impulso que os leva a recaírem no hábito. "foi uma bobeira, eu estava determinada. Fui numa festa, bebi como sempre fazia, mais dai quando senti o cheiro do cigarro não me agüentei , pedi um trago, depois disso acho que ativou meu vicio tudo de novo, nunca mais consegui nem tentar de novo" P1, 52anos. Esse relato reforça o que alguns autores como Bordim, Figlie e Laranjeira (2004) já afirmaram sobre a questão de se manter motivado e não fumar, mesmo algum tempo sem consumir a nicotina, pois as questões sociais influenciam na manutenção do hábito de fumar. E o fato de se ter tentativas mal sucedidas fazem os tabagistas desistirem de tentar deixar de fumar. Quando questionados sobre por que queriam tentar parar de fumar novamente, as dez respostas continham as mesmas razões, relacionadas aos prejuízos do consumo de nicotina ao organismo. Podemos avaliar isso como uma resposta aos anos de campanhas realizadas em mídia nacional esclarecendo o impacto do cigarro para a qualidade da saúde das pessoas, tantos os fumantes ativos quando aos passivos. Também nota-se o fato de fumar não ser mais um ato socialmente bem visto, tendo restrições para o consumo em determinadas localidades. "Quero parar de fumar porque não gosto do cheiro que fica na minha roupa, gosto de fumar sim mais não gosto do cheiro que fica (risos). Agora também fumar se tornou um Incômodo, se quero fumar tenho que sair dos lugares. Ir lá fora. P1, 52 anos. " Tive um câncer a 2 anos, todo munda fala que fumar da câncer , certeza que é por Isso que eu tive né. Eu fumo desde menina moça. Agora eu me curei, tá terminando a químio, por isso eu preciso parar com isso. Deus me livre ter essa coisa ruim de novo" P10, 51 anos. "Pela minha saúde principalmente né e pelas queixas da minha família, eu sou a única que fuma ai as pessoas ficam me criticando" P3, 30 anos. "o cigarro da me prejudicando, a saúde não tá tão boa mais (silêncio) tenho que me esforçar e largar isso." P9,40 anos. 52 Pelo fato de ser sempre relatado pelos participantes que geralmente fumam por estarem chateados, nervosos, ou com estados de humor negativos, foi questionado se já haviam feito o uso de medicações controladas como calmantes, antidepressivos e medicação para dormir. Sete participantes relataram o uso de mediação desde tipo em algum momento nos últimos dois anos, no entanto nunca procuraram atendimento psicoterápico para as queixas. " Já usei sim , ainda uso esses remédios não seu de falar os nomes, mais é por causa dessa minha agitação dos nervos" P6, 53 anos. "vixi. Já usei sim. Várias vezes, na verdade foram tantas que nem sei te falar direito" P10, 51 anos. Além das entrevistas realizadas, para melhor conhecer o padrão de consumo de cigarros e avaliar o grau de dependência de nicotina de cada participante, utilizou o Teste de Fagerstrom e para verificar o perfil emocional dos participantes foram aplica as Escalas Beck de Ansiedade e Depressão. Ao aplicar o Teste de Fagerstrom, usado para avaliar o nível de dependência a nicotina obteve os seguintes resultados: seis participantes classificados como dependência leve e quatro com dependência grave. É de conhecimento dos profissionais que trabalham no tratamento do tabagismo e de acordo com publicação do INCA (BRASIL, 2001), que quanto maior o nível de dependência da nicotina, mais complexo se torna o processo de cessação do tabagismo, pois o organismo reage prontamente mesmo as menores diminuições do consumo. A utilização do Teste de Fagerstrom se torna um instrumento útil para conhecer além do nível de dependência de nicotina o padrão de consumo do participante, para avaliar a necessidade da utilização de medicação de apoio e compreender melhor a maneira como se relaciona com o vício. Isso contribui para posteriormente desenvolver estratégias para auxiliar no processo de cessação do Consumo de cigarros. Ao realizar aplicação das Escalas Beck de Ansiedade e Depressão para avaliar a presença e os níveis de tais transtornos nos participantes antes do início das sessões obtivemos os seguintes resultados: Escala Depressão Escala Ansiedade 53 03 níveis mínimos 02 níveis mínimos 04 níveis leves 02 níveis leves 02 níveis moderados 04 níveis moderados 01 nível grave 02 níveis graves É importante ressaltar que 03 participantes apresentaram simultaneamente valores altos, considerados níveis graves nos escores das escalas, sendo 01 apenas para Escala de ansiedade e 02 para a escala de depressão. E apenas 03 participantes não apresentaram níveis considerados alarmantes para a presença de Ansiedade e 2 participantes para Depressão. Os demais foram classificados entre leves e moderados sendo 06 para ansiedade e 06 para depressão antes de se iniciar o tratamento. Lembrando que as escalas verificam os estados de humor e manifestações físicas da última semana do paciente. Após o encerramento da quarta e última sessão do grupo terapêutico verificou-se que apenas dois participantes já haviam parado de fumar. Os demais integrantes do grupo ainda mantinham-se consumindo cigarros, mesmo que em menor escala. Foram unanimes por parte dos participantes queixas acerca da presença dos sintomas característicos da síndrome de abstinência. Também foi relatado pelos participantes a insegurança em relação ao progresso do tratamento, sem os encontros semanais do grupo. Nessa ocasião foram reaplicadas as Escalas Beck, para verificar os níveis de ansiedade e depressão dos participantes. E obtemos os seguintes resultados: Escala Ansiedade Escala Depressão 0 níveis mininos 0 níveis mínimos 3 níveis leves 1 níveis leves 4 níveis moderados 5 níveis moderados 3 nível grave 4 níveis graves Podemos observar que houve mudanças significativas nos estados de humor e sintomas físicos apresentados pelos participantes, possivelmente ligado ao fato da diminuição do consumo de nicotina e ao esforço para manter essa redução. Dos dez 54 participantes, 07 passaram a apresentar níveis alarmantes para verificação de sintomas de ansiedade, podendo esses níveis ser considerados indicadores para a presença de patologia. Já os níveis de depressão classificados entre moderado e grave foram apresentados por 09 dos participantes. Esses resultados evidenciaram que a tentativa de parar de fumar traz o agravo dos sintomas dos transtornos de ansiedade e depressão. Os participantes com alteração moderadas e graves nos seus níveis de ansiedade e depressão foram convidados a participar de psicoterapia individual e encaminhados para avaliação médica. 55 Considerações Finais. O tabagismo se tornou um problema de saúde pública, devido às conseqüências que causa a saúde da população onerando os gastos em saúde pública com cuidados paliativos aos dependentes de nicotina. A decisão de parar de fumar é um importante passo para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos dependentes de nicotina, no entanto, alguns fatores precisam ser avaliados para que a tentativa seja bem sucedida. Os dependentes de nicotina vinculam o ato de fumar com sensações de relaxamento e prazer, usando muitas vezes a nicotina como uma medicação contra os sintomas de ansiedade e depressão experimentados por eles, confirmando dados de pesquisas de natureza biológicas Já existentes e podendo ser considerado um dos fatores para perpetuar o hábito de fumar visto que os indivíduos ignoram suas condições emocionais como constituinte da saúde mental. Apesar da ampla divulgação existente atualmente sobre a saúde mental através da rede de atenção básica de saúde, a sociedade ainda nota as questões de saúde mental como um tabu e apresenta resistência em procurar atendimento especializado, muitas vezes se mantendo prisioneiro de problemas de cunho emocionais. Quando isso ocorre na população dependente de nicotina ocasiona mais um aprisionamento o uso de nicotina para amortizar tais sintomas. Os transtornos psiquiátricos, como ansiedade e depressão, muitas vezes, por não serem identificados ou serem negligenciados pelos próprios dependentes de nicotina, interferem no sucesso das tentativas de deixar de fumar. Esses aspectos emocionais são maximizados no decorrer da evolução do processo de parar de fumar. Por estes fatos, o período de abstinência se torna também o período vulnerável para desistência do processo de parar de fumar, pois há o aumento dos sintomas dos transtornos devido à ausência de nicotina no organismo, o que dificulta mais o controle do fumo. Para o sucesso do trabalho de auxiliar as pessoas a abandonar o consumo de tabaco, se torna necessário que os profissionais de saúde se atentem à presença de quadros de ansiedade e depressão nos dependentes de nicotina e sejam 56 capacitados para trabalhá-los, pois uma abordagem adequada dos sintomas poderá melhorar o sucesso das tentativas dessas pessoas de parar de fumar. 57 BA MÚDÍ Referências AMARANTE, P. 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Porque deseja parar de fumar? 63 Apêndice B Teste de Fagerstrom Quanto tempo depois de acordar você fuma o primeiro cigarro? Após 60 minutos O pontos Entre 31 e 60 minutos 1 pontos Entre 6 e 30 minutos 2 pontos Nos primeiros 5 minutos 3 pontos Você encontra dificuldades em evitar de fumar em locais proibidos, como por exemplo: igreja, local de trabalho, cinemas, shoppings , ônibus etc? ( ) não O pontos ( )sim 1 pontos Qual o cigarro mais difícil de largar de fumar ? ( )qualquer um O pontos ( )o primeiro da manhã 1 pontos Quantos cigarros você fuma por dia? ( )Menos de 10 cigarros O pontos ( )entre 11 e 20 cigarros 1 pontos ( )entre 21 e 30 ciagrros 2 pontos ( )mais que 30 cigarros 3 pontos Você fuma mais freqüentemente nas primeiras horas do dia do que durante o resto do dia? ( )sim O pontos ( )não 1 pontos Você mesmo quando estando doente, aponto de ficar acamado ou de repouso na niaior parte do dia? ( )não o pontos ( )sim 1 pontos Pontuação.O a 4 - dependência leve; 5 a7 - dependência moderada e 8 a 10 dependência grave II Consenso Brasileiro de DPOC 2004{ modificado de Fagestrom K 1989. 64 Apêndice C ESCALA BECK DE ANSIEDADE Nome: Data: Abaixo está uma lista de sintomas comuns de ansiedade. Por favor, leia cuidadosamente cada item da lista. Indique o quanto você foi incomodado por cada sintoma durante a ÚLTIMA SEMANA, INCLUSIVE HOJE colocando um X no espaço correspondente da coluna próxima a cada sintoma. Não nada me incomodou muito Dormência ou formigamento Calores Pernas bambas Incapaz de relaxar Medo do pior acontecer Tonteira ou cabeça leve Coração batendo forte ou acelerado Inquietoía) Aterrorizado(a) Nervoso(a) 0 Sensação de sufocamento 1 Mãos tremendo 2 Trêmulo(a) 3 Medo 4 de perder Muito forte Moderadamente Fraco o controle Dificuldade de respirar 5 65 Foi muito desagradável Eu quase não consegui mas consegui agüentar agüentar Medo de morrer 6 Assustado(a) 7 Indigestão ou desconforto 8 no abdômen Desmaio 9 Face ruborizada 0 Suores (não 1 devido a calor) AVALIAÇÃO Pontuação média: Pacientes ansiosos: 25,76(DP = 11,42) Sujeitos normais: 15,88(DP = 11,81) 66 Apêndice D ESCALA BECK DE DEPRESSÃO Nome: Data: / / Terapeuta: Semana: Este questionário consiste de 21 grupos de afirmações. Depois de ler cuidadosamente cada grupo, faça um circulo em torno do número(O, 1,2 ou 3)da afirmação, em cada grupo, que melhor descreva a maneira como você se sentiu na ultima semana, incluindo hoie. Se várias afirmações num grupo parecerem se aplicar igualmente bem, circule cada uma. Tenha o cuidado de ler todas as afirmações em cada grupo antes de fazer sua escolha. 3 Eu me odeio 0 1 2 Não me sinto de qualquer modo pior do que os outros Sou critico em relação a mim devido a minhas fraquezas Culpo-me sempre por minhas falhas 3 Culpo-me por tudo de mal que acontece 0 Não tenho quaisquer de me matar 1 Tenho idéias de me matar, mas não as colocaria em prática Não me sinto triste Sinto-me triste Estou sempre triste e nüo consigo sair disso Estou tão triste ou infeliz que não consigo suportar Não estou especialmente desanimado em relação ao futuro Sinto-me desanimado quanto ao futuro 2 Gostaria de me matar 3 Eu me mataria se tivesse oportunidade 0 1 2 Não choro mais do que o habitual Choro mais agora do que costumava Agora,choro o tempo todo 3 Costumava ser capaz de chorar, mas agora não consigo mesmo que Acho que nada tenho a esperar i Acho que o futuro c sem esperança e tenho a impressão que as coisas não podem melhorar Não me sinto um fracasso queira Acho que iiacassei mais que uma pessoa comum Quando olho para trás, na minha vida,tudo o que posso ver é uma porção de fracassos 0 Não sou mais irritado agora do que já fiii 1 Fico aborrecido ou irritado mais facilmente do que costumava Acho que,como pessoa, sou um completo 2 Atualmente, sinto-me irritado o tempo todo fiacasso 3 Absolutamente não me irrito as coisas que costumavam me irritar Não perdi o interesse nas outras pessoas Interesso-me menos do que eostiunava nas pessoas Tenho tanto prazer em tudo como antes Não sinto mais prazer nas coisas como antes Não encontro prazer real em mais nada Perdi a maior parte do meu interesse nas outras pessoas Estou insatisfeito ou aborrecido com tudo Perdi todo o meu interesse nas pessoas Não me sinto especialmente culpado Sinto-me culpado na maior parte do tempo 2 Tomo decisões mais ou menos tão bem quanto sempre tomei Adio as minhas decisões mais do que costumava Tenho maior dificuldade em tomar decisões do que antes Sinto-me como se estivesse bem ruim e sem valor 3 Não consigo mais tomar decisões 0 Não sinto que minha aparência esteja pior do que costumava ser Preocupo-me por estar parecendo velho ou sem atrativos Sinto que há mudanças permanentes em minha aparência que me Sinto-me culpado às vezes Não acho que esteja sendo punido Acho que posso ser punido Creio que vou ser punido Acho que estou sendo punido 1 2 fazem parecer sem atrativos Considero-me feio Não me sinto decepeionado comigo mesmo Estou decepcionado comigo mesmo 0 Posso trabalhar mais ou menos tão bem como antes Estou enojado de mim 1 Preciso de um esforço extra para começar qualquer coisa 67 Apêndice D ESCALA BECK DE DEPRESSÃO Nome: Data: / / Terapeuta: Semana: Este questionário consiste de 21 grupos de afirmações. Depois de ler cuidadosamente cada grupo, faça um circulo em torno do número(0,1,2 ou 3)da afirmação, eni cada grupo, que melhor descreva a maneira como você se sentiu na última semana, incluindo hoie. Se várias afirmações num grupo parecerem se aplicar igualmente bem, circule cada uma. Tenha o cuidado de ler todas as afirmações em cada grupo antes de fazer sua escolha. 3 Eu me odeio 0 1 2 Não me sinto de qualquer modo pior do que os outros Sou critico em relação a mim devido a minhas fraquezas Não me sinto triste 0 1 Sinto-me triste 2 Estou sempre triste e não consigo sair disso 3 Estou tdo triste ou infeliz que não consigo suportar 0 Não estou especialmente desanimado em relação ao futuro 1 2 3 3 Culpo-me sempre por minhas falhas Culpo-me por tudo de mal que acontece 0 Não tenho quaisquer de me matar 1 Tenho idéias de me matar, mas não as colocaria em prática Smto-me desanimado quanto ao futuro 2 Gostaria de me matar Acho que nada tenho a esperar Acho qiie o futuro é sem esperança e tenho a 3 Eu me mataria se tivesse oportunidade 0 Não choro mais do que o habitual impressão que as coisas não podem melhorar Não me sinto um fracasso 1 Choro mais agora do que costumava 2 Agora, choro o tempo todo 3 Costumava ser capaz de chorar, mas agora não consigo mesmo que queira Acho que fracassei mais que uma pessoa comum Quando olho para trás, na minha vida, tudo o que posso ver é uma porção de fracassos 0 1 2 3 0 1 0 Não sou mais irritado agora do que já ftii 1 Fico aborrecido ou irritado mais facilmente do que costumava Acho que,como pessoa, sou um completo 2 Atualmente, sinto-me irritado o ternpo todo fracasso 3 Absolutamente não me irrito as coisas que costumavam me irritar Tenho tanto p^razcr em tudo como antes 0 Não perdi o interesse nas outras pessoas 1 Interesso-me menos do que costtunava nas pessoas 2 Perdi a maior parte do meu interesse nas outras pessoas 3 Perdi todo o meu interesse nas pessoas 0 1 Tomo decisões mais ou menos tão bem quanto sempre tomei Adio as minhas decisões mais do que costumava 2 Tenho maior dificuldade em tomar decisões do que antes 3 Não consigo mais tomar decisões 0 1 2 Não sinto que minha aparência esteja pior do que costumava ser Preocupo-me por estar parecendo velho ou sem atrativos Sinto que há mudanças permanentes em minha aparência que me Não sinto mais prazer nas coisas como antes ão encontro prazer real em mais nada ® ou insatisfeito ou aborrecido com tudo Não me sinto especialmente culpado 2 Smto-me culpado Smto-me culpado às na vezes maior parte do tempo 3 Sinto-me como se estivesse bem ruim e sem valor 0. Não acho que esteja sendo punido 1. Acho que posso ser punido 2- Creio que vou ser punido 3. Acho que estou sendo punido 0 Não me sinto decepcionado comigo mesmo 1 2 Estou decepcionado comigo mesmo Estou enojado de mim fazem parecer sem atrativos 3 Considero-me feio 0 Posso trabalhar mais ou menos tão bem como antes 1 Preciso de um esforço extra para começar qualquer coisa 67 2 Tenho de me esforçar muito até fazer qualquer coisa 3 Nüo consigo fazer nenhum trabalho 0 1 2 Durmo tão bem quanto de hábito Não durmo tão bem quanto costumava Acordo 1 -2 horas mais cedo do que de hábito e tenho dificuldade para voltar a doimir 3 Acordo várias horas mais cedo do que costumava e tenho dificuldade cm voltar a donnir 0 Não fico mais cansado do que de hábito 1 Fico cansado com mais facilidade do que costumava 2 Sinto-me cansado ao fazer quase qualquer coisa 3 Estou cansado demais paro fazer qualquer coisa 0 1 2 Meu apetite nüo está pior do que de hábito Meu apetite não está tão bom quanto costumava ser Meu apetite está muito pior agora 3 Nüo tenho mais nenhum apetite 0 Não perdi muito peso,se é que perdi algum, ultimamente 1 2 3 Perdi mais de 2,5 kg Perdi mais de 5,0 kg Perdi mais de 7,0 kg Estou deliberadamentc tentando perder peso, comendo menos: SIM( ) NÀO( ) 0 1 Nüo me preocupo mais do que o de hábito com minha saiíde Preocupo-me com problemas físicos como dores e aflições ou 2 Estou muito preocupado com problemas físicos e é difícil pensar em outra coisa que não isso 3 Estou tão preocupado com meus problemas físicos que não consigo perturbações no estômago ou prisão de ventre pensar em outra coisa 0 1 Não tenho notado qualquer mudança recente no meu interesse sexual Estou menos interessado em sexo do que costumava 2 Estou bem menos interessado em sexo atualmente 3 Perdi completamente o interesse por sexo AVALIAÇÃO Somar os valores de cada item assinalado e comparar com a tabela abaixo; TABELA PARA AVALIAÇÃO DO BDI Nível de Depressão Escore I - 10 Oscilações consideradas normais II - 16 Leve transtorno do humor 17-20* Limite para depressão clínica* 21-30 Depressão moderada 31-40 Depressão severa Acima de 40 Depressão extrema (*)acima deste nível já pode requerer atendimento com profissional 68