educação
Transcrição
educação
Fundo Soberano de Angola Educação Education 61 Futuro Risonho — Eliza, Madalena e Glória, de 15, 17 e 15 anos, terminaram as aulas na Escola Missionária Feminina Santa Madalena. As mais novas querem ser gestoras e empresárias da construção civil, e Madalena atriz. Smiling Future — Eliza, 15, Madalena, 17, and Glória, 15, have finished classes at the Saint Magdalena Feminine Missionary School. The younger two hope to be civil engineers and managers, while Madalena focuses on acting. 2 Estilo Judicial — Pedro, 17 anos, veste-se sempre à altura do futuro que ambiciona: ser jurista. Na escola Dom Bosco Luanda, passa os intervalos ou a conversar ou a ler, pois Português é a disciplina preferida. Legal Outfit — Pedro, 17, likes to dress smartly, planning for his future. He attends the Dom Bosco School in Luanda and intends to be an attorney. He never wastes a moment, even in his break he studies his favourite subject, Portuguese. 3 Pedalar para Aprender — A vida de Desedero, de 15 anos, mudou desde que tem bicicleta e luvas de ciclista para ir de Chindenda à Escola Missionária de Luculo Zenze. Em vez de uma hora a caminhar, já só demora 15 minutos a pedalar. Riding to Learn — The life of 15 year old Desedero was transformed by his bicycle and cycling gloves. He attends the Luculo Zense Missionary School in Chindende but it took him an hour to walk there, now it takes him 15 minutes. 4 Determinação tranquila — Georgina diz que quer ser professora, enquanto aprecia o silêncio da sala de aula, na Escola Missionária de Luculo Zenze, no intervalo de almoço. A jovem de 17 anos vive a uma hora a pé, em Santa Marta Zeze. Quiet Determination — Georgina, 17, appreciates the tranquillity of the classroom in the Luculo Zenze Missionary School. She lives an hour away on foot, in Santa Marta Zeze, but her determination to be a teacher is worth her daily walk. 5 Aluna Precoce — Natércia começou há poucos dias a aprender as primeiras letras na escola Dom Bosco Luanda. Só tem 5 anos e não é fácil adaptar-se à grande secretária. Como os números são mais fáceis, prefere a Matemática. Early Learner — A few days ago, Natércia started learning her first letters at Dom Bosco School in Luanda. At only 5 years old, Natércia thinks numbers are easier, which is why the girl from Sambizanga prefers mathematics. 6 Vestir a tradição — Tafiona e Coleta, duas amigas de 13 anos, exibem orgulhosamente os seus vestidos típicos de Cabinda. Frequentam a 7.ª classe da Escola Barão Puna, onde todas as quartas-feiras vestem os mais belos trajes tradicionais. Dressing in Tradition — Tafiona and Coleta proudly exhibit their traditional Cabinda dresses. The 13 year old friends both attend the 7th grade in the Barão Puna School and every Wednesday wear their beautiful traditional clothing. 7 Cuidando do Futuro — António vive no Bairro da Cassoleca, tem 13 anos e anda na 6.ª classe. No intervalo da Escola das Mangueiras, no Namibe, sonha com o futuro: quer ser enfermeiro para poder ajudar as pessoas. Nursing the Future — António enjoys recess at the Mangueiras School in Namibe. In sixth grade and 13 years old, the the young angolan from Bairro da Cassoleca wants to be a nurse, so he can help people to improve their lives. 8 Leis da Natureza — Esperança, 16 anos, caminha uma hora todos os dias desde o Bairro das Mangueiras até à escola homónima, onde frequenta a 8.ª classe e sonha em ser advogada. À sombra da árvore encontra o lugar aprazível para estudar. Laws of Nature — Every day, 16 year old Esperança walks for an hour from Bairro das Mangueiras to the Mangueiras School. She plans to be a lawyer and the cool shadow from the tree gives her the perfect place to think and study. 9 Editorial Índice Angola today stands before a unique opportunity to improve living conditions for all of us. Nonetheless, as with other emerging economies, a commitment to lasting solutions that relieve the current dependence on the commerce of non-renewable raw materials is essential. Here, and on the path towards development, investment in our national frameworks and institutions assumes a vital role. Several studies by international institutions, such as “Diversified Development: Making the Most of Mineral Resources in Eurasia” from the World Bank, indicate that economies rich in natural resources have benefited from the rising prices experienced since 2000. But in order for these nations to continue to benefit from current revenues in the future, they must rapidly become more efficient. There is no evidence to show that diversification of production and national exports is enough to ensure a country’s development. Therefore, the focus of governance needs to achieve a balance between the returns derived from non-renewable raw materials and those from human capital and national institutions. We in Angola cannot escape this challenge. Currently, 47% of GDP originates from crude oil, i.e. the industrial sector, which represents 70% of state revenue but employs just 10% of the national workforce. Most employment is still accounted for by the agricultural sector in subsistence farming. The immediate reading of this situation is that the value added to raw materials in the country by its human and institutional capital must rise in order to consolidate the sustainability of national growth. In fact, it is worth noting that workforce training is the key factor in this regard. On the subject, however, it is relevant to remember that since achieving peace the country has taken important steps that have allowed Angolans to face the future with greater optimism. We need only recall the sharp reduction in illiteracy during the last decade, from 65% to about 30%, or that the student population has risen by 120.5% to more than 5.6 million, accompanied by a marked increase in the number of teachers. We can also add projects such as Educational Reform, which, through the promotion of education, falls within the broad programme of combating poverty, social and gender inequalities and improving access to healthcare, and has already resulted in a fall in poverty from 68% to some 36%. The role of the Angola Sovereign Fund is to continuously reinvest current revenues from non-renewable resources for the benefit of present and future generations. This process depends on improved workforce training and the strengthening of our institutions. For that reason, we have chosen this topic of vital importance to celebrate the first edition of this publication – Education. José Filomeno dos Santos Presidente do Conselho de Administração, Fundo Soberano de Angola José Filomeno dos Santos Chairman of the Board of Directors, Fundo Soberano de Angola 10 16 Educação para Todos: Angola aposta num sistema de ensino geral e de qualidade Education for All: Angola takes up the challenge to build an education system for all Dom Bosco: educar em família Dom Bosco: keeping it in the family 46 Breves 30 Estudar no Deserto 34 Irmã Elisa e a Casa da Alegria 38 Uma Aldeia Africana em Sumbe 40 Quando Eu Crescer, Quero Ser... 58 O Meu Futuro 12 20 Produced by We Communications Hoje, Angola depara-se com uma oportunidade única de melhorar as condições de vida de todos Nós. Mas à semelhança de outras economias emergentes, a aposta em soluções sustentadas, que contrariem a atual dependência da comercialização de matérias-primas não-renováveis, é indispensável. Aqui, o caminho do desenvolvimento, o investimento nos quadros e nas instituições nacionais assume uma posição determinante. Vários estudos de instituições internacionais, como o intitulado “Desenvolvimento Diversificado: Aproveitando ao Máximo os Recursos Minerais da Eurásia”, elaborado recentemente pelo Banco Mundial, indicam que, a partir de 2000, as economias ricas em recursos naturais beneficiaram do aumento dos seus preços. Mas para que estas nações continuem a beneficiar das atuais receitas no futuro, é necessário que se tornem mais eficientes. Não existem sinais de evidência de que a diversificação da produção e da exportação nacional sejam suficientes para o desenvolvimento de um país. Assim, o foco da governação precisa de incidir no equilíbrio entre os rendimentos das matérias-primas não-renováveis e o dos capitais humanos e instituições nacionais. Nós, em Angola, não escapamos a este desafio. Atualmente, 47% do PIB provém do petróleo bruto, ou seja, do setor industrial, que representa 70% das receitas do Estado, mas só emprega 10% da força de trabalho nacional. A maioria do emprego ainda é reclamada pelo setor agrícola, para fins de auto-subsistência. A leitura imediata desta conjuntura é que o valor agregado às matérias-primas no País por Nós, os capitais humanos e institucionais, precisa de se elevar para consolidar a sustentabilidade futura do crescimento nacional. Com efeito, vale a pensa salientar que a formação de quadros é aqui o fator nevrálgico. Neste domínio, interessa, no entanto, recordar que o País marcou passos importantes desde o alcance da paz que têm permitido aos angolanos encarar o futuro com mais otimismo. Basta lembrar a redução substantiva do analfabetismo de 65% para cerca de 30% na última década, ou o aumento de 120,5% da população estudantil, para mais de 5,6 milhões de alunos acompanhados pelo crescimento significativo do número de professores. A estes resultados juntam-se ainda os de projetos como a Reforma Educativa que, através da promoção da educação, se insere no amplo programa de combate à pobreza, às desigualdades sociais, de género e de acesso à saúde, tendo a pobreza recuado de 68% para 36%. O papel do Fundo Soberano de Angola passa pelo reinvestimento contínuo das receitas atuais de recursos não-renováveis para o benefício das gerações atuais e vindouras. Este processo depende da capacidade e consciencialização elevada dos nossos quadros e das nossas instituições. Por isso, elegemos este tema de relevância vital para a primeira edição desta publicação, a Educação. 12 Painel de Especialistas: trunfo de Angola Experts Painel: Angola’s greatest asset News 30 Learning in the Desert 34 Sister Elisa and the House of Joy An African Village in Sumbe What I Want to Be... 58 My Future 38 40 11 Breves Aprender com o meu amigo Pl aying the Learning Game O projeto One-Laptop-Per-Child é um sucesso comprovado The One-Laptop-Per-Child project has proved to be a great success Em 2011, as escolas Dom Bosco foram selecionadas pela African Innovation Foundation para acolher a iniciativa de Nicholas Negroponte, One-Laptop-Per-Child Project, em Angola. Como a avaliação tem sido muito positiva, em 2014 o financiamento do projeto foi assumido pelo Fundo Soberano de Angola (FSDEA), estando assegurada a compra de mais 1400 portáteis e o lançamento da iniciativa em Calulu (Kwanza-Sul). Os primeiros 100 Kamba Dyami (KD) começaram por ser distribuídos em duas escolas – Sambizanga e Cazenga – e, nesses dias, não há aluno que fique doente ou faça piada às aulas. Kamba Dyami é o “meu amigo”, em Kimbundu, uma das lín- In 2011, the African Innovation Foundation (AIF) selected the Dom Bosco schools as the recipients of the One-Laptop-PerChild (OLPC) initiative, launched by Nicholas Negroponte, in Angola. In 2014, the project got financed by the Sovereign Fund of Angola and with this backing 1,400 more handhelds were purchased and enabling the initiative to launch in Calulu (South Kwanza). The programme began by putting the first 100 Kamba Dyami into two schools, one in Sambizanga, the other in Cazenga. And on these days, no student takes the day off sick or plays hookey. Kamba Dyami means “my friend” in Kimbundu, one of Angola’s official languages. It is also the name of the 12 guas nacionais angolanas, e é também o pequeno portátil verde através do qual centenas de crianças desfavorecidas têm o primeiro contacto com as novas tecnologias. “O Kamba Dyami deixa os alunos muito motivados”, relata Andreia Baltazar, coordenadora pedagógica do Projeto Kamba Dyami (PKD), no complexo escolar Dom Bosco, Luanda. Rapidamente aprendem a abrir, a ligar, a desligar e a utilizar algumas das funcionalidades e das atividades propostas por este portátil concebido para ser acessível a todas as idades. Aliás, o maior desafio para os professores é acompanhar o ritmo dos seus alunos. Com jogos e atividades interativas, os alunos utilizam o KD para consolidar o que aprenderam em Português e Matemática e também nas restantes disciplinas. O KD funciona em open source e sem fios, facilitando o acompanhamento de colegas e professores. Segundo a coordenadora, a adaptação e a “contextualização dos conteúdos foram o maior problema”, embora, no início, a falta de preparação dos professores tenha obrigado à contratação de técnicos oriundos do Brasil e do Uruguai, onde já havia experiência neste tipo de projeto. Atualmente, o estabelecimento de parcerias internacionais é equacionado como solução para o futuro, designadamente na formação de programadores do sistema Linux para a criação das diversas atividades do Kamba Dyami. Mas os docentes angolanos já descobriram como contornar alguns dos obstáculos: “Encontrámos um software livre que permite criar conteúdos e vamos começar a utilizá-lo”, anuncia Andreia Baltazar, acrescentando que também já conseguiram escrever o primeiro manual do KD em português. Mas o plano é expandir, servindo o sucesso do PKD nas escolas-piloto como incentivo para massificar a iniciativa a nível nacional. 1.636 alunos já estudam com um Kamba Dyami students already study with a Kamba Dyami 800 portáteis Kamba Dyami distribuídos em dois anos handheld Kamba Dyami have been distributed in two years 43 professores participam no Projeto Kamba Dyami teachers participated in the Project Kamba Dyami 1.400 portáteis estão assegurados pelo Fundo Soberano de Angola handhelds are insured by the Sovereign Fund of Angola 4 províncias para replicação do PKD: Bengo, Kwanza Norte, Kwanza-Sul e Benguela provinces are eligible for the PKD initiative: Bengo, North Kwanza, South Kwanza and Benguela small, green handheld computer that has given hundreds of underprivileged children in Angola their very first contact with technology. “The Kamba Dyami makes the students very motivated,” says Andreia Baltazar, education coordinator of Project Kamba Dyami (PKD) at the Dom Bosco schools. They are quick to get to grips with the device – learning how to open it, turn it on and off and, most importantly, use its many activities. The challenge for the instructors, however, is to keep up with student progress. “The students end up overtaking the teacher,” she explains. “The KD uses a language designed for children so they end up teaching themselves.” With games and interactive activities, the students use the KD firstly to learn Portuguese and mathematics before slowly including their other subjects. The KD is also wireless and easier for the children to use whether on their own or working together. The most challenging part of deploying the technology was adapting it to suit the needs of Angolan schools. There was also the problem of a lack of qualified teachers. Experts from Brazil and Uruguay were brought in and, with help from Linux administrators with Python programming experience, suitable software was created for the Angolan Kamba Dyami activities. However, the Angolan teachers managed to solve some of the problems themselves: “We found free software that allowed us to create the content we need, then use it immediately,” explained Andreia Baltazar. Even better, the teachers have already succeeded in writing the first KD manual in Portuguese. Using the success of PKD in these schools, the plan now is to expand the project and attract media attention at the national level. O FSDEA lança Escola Hoteleira FSDEA launching Hotel School A indústria hoteleira africana está pronta para uma dinâmica de crescimento. O FSDEA reconhece o papel que pode desempenhar, como motor, na criação de receitas, no setor de serviços angolano. Todavia, para competir globalmente precisamos de uma força de trabalho muito qualificada e eficiente, de modo a ter serviços nos padrões internacionais. Assim, o Fundo está a lançar uma escola hoteleira que permita aos jovens angolanos obter conhecimentos desta indústria. A escola desempenhará um papel crucial como catalisador na criação de oportunidades de emprego e empreendedorismo, além de apoiar a melhoria do setor de serviços nacionais nos próximos anos. The African hotel industry is poised for buoyant growth. The FSDEA also recognizes the role it can play as a key driver for revenue generation in the service sector of our country. However, to compete on the global arena we need a fully qualified and highly efficient workforce to deliver services at the international standards. Therefore, the Fund is launching a hospitality school to equip Angola’s youth with industry level hospitality know-how. The school will play a crucial role as a catalyst in creation of employment and entrepreneurship opportunities, in addition to supporting the improvement of the domestic service sector in the coming years. 13 Breves O investimento angolano em gestão do conhecimento O MERCADO ESCOLA Como componente do seu programa social, o FSDEA tem por objetivo promover uma iniciativa educacional chave no campo de gestão de investimentos. Apesar de anos de crescimento económico positivo, a escassez de competências continua a ser um desafio nas áreas de gestão de investimentos e de empreendedorismo de negócios, fundamentais para atingir o crescimento diversificado e necessário na economia angolana. A fim de apoiar o reforço das capacidades nacionais nestes campos, bem como o fortalecimento económico de Angola, o FSDEA vai assegurar uma Bolsa de Serviços Financeiros que dará a 50 jovens licenciados talentosos a oportunidade de enveredarem por uma pós-graduação exclusiva na gestão de investimentos numa universidade reconhecida internacionalmente. Onde crianças e comerciantes aprendem juntos a ler Situado na cidade de Namibe, o Mercado 5 de abril alberga um projeto inovador integrado no Programa de Alfabetização e Aceleração Escolar (PAAE) destinado a combater a taxa de analfabetismo entre jovens e adultos. Graças aos esforços financeiro conjuntos do Governo, ONG e entidades privadas, tem decrescido desde a independência, sobretudo desde a introdução do método cubano em 2009: de 75% em 1975, passou para 33% em 2011. Dados do último trimestre de 2013 revelam estarem já matriculados sete milhões e 408 mil alunos. “Não quero ter um bilhete onde vem não sabe assinar”, explica Joaquina M´Bimbi (imagem à direita), fotografada na sala de aulas, uma ilha de sossego e concentração. Casada, 48 anos e mãe de sete filhos, Joaquina M’Bimbi vendedora de carvão mas, nas horas mortas, partilha as aulas do módulo 1 (o equivalente às 1.ª e 2.ª classes) com crianças de 12 anos, ou menos, porque não tem tempo para frequentar as turmas dos adultos. “É uma dificuldade”, explica João Paulo, o diretor da escola e membro da Organização da Mulher Angolana (OMA), a instituição que incentivou a administração municipal a construir estas salas de alfabetização. “Já temos 540 alunos divididos entre os três módulos. As turmas são formadas segundo três faixas etárias – dos 12 aos 15 anos, dos 16 aos 18 anos e dos 20 em diante – mas durante as inscrições alguns pais mentem e só depois é que vemos que as crianças têm 10, 11 anos”. E remata: “Mas a taxa de sucesso é muito positiva: 80% de aprovações.” 14 Building Angola‘s Investment Management know-how the marketSCHOoL Where children and traders learn together how to read Located in the city of Namibe, the marketplace 5 de Abril houses an innovative project – the Programme for Illiteracy and Scholastic Acceleration and it has been designed to combat the illiteracy rate of young people and adults. In 1995, 75 per cent of people were illiterate. Now, thanks to the financial and other efforts of the government, NGO’s and private entities, illiteracy has decreased especially in comparison with the time of the country’s independence. In 2009, the introduction of the Cuban literacy method pushed this figure down even further and, by 2011, illiteracy had dropped to 33 per cent and by 2013 seven million 408 thousand students had graduated from the programme. One such student is Joaquina M’Bimbi, 48 (right page). A married mother-of-seven, she works selling coal but also takes module one (the equivalent to first and second grade classes) with children aged 12 years and younger because she does not have time to attend the adult courses. “I don’t want an ID card that says ‘doesn’t know how to sign’,” she said sitting in the classroom, an island of silence and concentration. “This is one of our difficulties,” explains João Paulo, the school’s headmaster and a member of the Organisation of Angolan Women (OAW), the institution that backed the building of these literacy classrooms. “We have 540 students divided among the three modules.” The classes are formed according to three age groups – 12 to 15 year olds, 16 to 18, and 20 and older. “However – he admits – many vendors do prefer the younger student schedules and during registration some parents lie and only afterward do we find out that the children are 10 or 11 years old.” Finally, João Paulo concludes: “Our success rate is very positive: 80 per cent of our students were approved.” As part of its social charter program, the FSDEA aims to introduce a key educational initiative within the investment management field. Despite years of positive economic growth, skills shortage remains a challenge in the investment management and entrepreneurial fields of business, which are key to attain the diversified growth needed in the Angolan economy. In order to support domestic capacity building within these fields, as well as the economic empowerment of Angola, the FSDEA is launching a Financial Services Scholarship that will provide 50 talented young graduates with the opportunity to undertake an exclusive post-graduate degree in investment management at a world leading university. 15 “Os nossos jovens são a base do nosso futuro.” “Our youth will be the foundation for our future.” Expedição de Aprendizagem Learning Expedition Angola de norte a sul: em busca da nova geração de estudantes Angola, from North to South, searching for the new generation of students Educação para todos Education for all Nos últimos anos, o Estado desenvolveu o programa Educação Para Todos, que promove o acesso à instrução desde o ingresso à pré-primária, passando pelo ensino primário universal, de qualidade e em igualdade de género, até à alfabetização de jovens e de adultos. A cooperação com privados, ONG e outros países tem sido importante. E, em 2009, a introdução do método cubano de alfabetização em quatro províncias, obteve resultados animadores: em apenas quatro anos, o analfabetismo desceu de 65% para 33%. O sistema de ensino possui agora três níveis elementares: o ensino primário, com oito anos no total, dos quais quatro são obrigatórios, o ensino secundário, com quatro anos e o ensino normal para formação de professores ou ensino técnico destinado ao mercado laboral, conforme o lecionado no Instituto Nacional de Petróleos, no Sumbe. A soma destes graus é complementada pelo ensino pré-universitário e superior, disponíveis em 37 núcleos distribuídos a nível nacional. A carência de professores primários e de escolas é o maior problema numa província onde existem, em média, 154 alunos para um docente, algumas escolas são ao ar livre e outras chegam a ter cinco turnos de aulas por dia. O Projeto de Apoio ao Ensino Primário tem sido fundamental na distribuição de material e formação de professores. Angola is looking towards a more inventive and modern future due to the country’s extensive literacy programme that encourages education from an early age. With such a vast population of young people – mostly children, teenagers and the so called “young adults” – education is a key issue. Known as Education For All, this new implemented education system is now housed in 37 centres across the country and is a multi-levelled organisation, taking pupils through from infancy to degree level. As well as championing gender equality, it also encourages adult education, even elderly people. The cooperation of private companies, nongovernment organisations (NGOs) and other countries has been very important. In 2009, the introduction of the literacy Cuban method was tested in four provinces, with exciting results: over a period of four years, illiteracy decreased from 65 per cent to 33 per cent. The Primary Education Support Project has proven essential in both distributing materials and the training of teachers, yet there is still some work to be done. A shortage of primary teachers means the average number of students is often as many as 154 for each instructor, while lessons regularly have to be held outdoors as there are no classroom facilities. VISÃO VERTICAL DO SISTEMA DE ENSINO Vertical Vision of the Education System Ensino Superior Duração de 5/6 anos 2 níveis de formação Higher EducationDuration of 5/6 years 2 levels of training Ensino Médio Duração de 4 anos 2 ramos fundamentais: – Técnico (mercado laboral) – Normal (professores do Ensino de Bases) Tertiary level 4 years duration 2 fundamental areas: – Technical (labour market) – Normal (teachers for general education) Pré-Universitário 6 semestres letivos Pre-University 6 Semesters Ensino Geral de Base Composto por 8 classes Estruturado em 3 níveis: – Nível 1* (4 classes) – Nível 2 e nível 3 (2 classes cada) * Obrigatório 18 General Education Consisting of 8 classes Structured in 3 Levels: – Level 1* (4 classes) – Level 2 & 3 (2 classes each) * Compulsory Cabinda República Democrática do Congo Luanda Sumbe República de Angola Zâmbia Namibe Namíbia Escola Santa Madalena ............................................................ Dom Bosco ................................................................................... Instituto Nacional de Petróleos ................................................ Escola Soba Inácio Messeca .................................................... p. 34 p. 20 p. 38 p. 30 Ao longo de três semanas percorremos algumas das principais províncias do país – de Cabinda ao Kwanza-Sul, passando pelo Namibe e por Luanda – para descobrirmos que todos os angolanos (crianças, jovens, adultos) não só querem como gostam de estudar. Santa Madalena School ............................................................ Dom Bosco ................................................................................... National Institute of Petroleum ................................................ Soba Ignatius Messeca School ................................................. p. 34 p. 20 p. 38 p. 30 During three weeks, we travelled through some of the most important provinces of the country – from Cabinda to Kwanza-Sul, passing along Namibe and Luanda – just to find out that the Angolan people (children, teenagers, adults) not only want but also like to study. 19 E duc a r e m família Mais do que uma escola, a Dom Bosco é uma vasta comunidade educativa onde todos contribuem para o progresso pessoal e profissional dos alunos K e e pi ng i t i n t h e Fa m i ly More than a school, Dom Bosco is a vast educational community where everyone helps and its students’ progress in every aspect of their lives, like one big, happy family José da Silva Domingues Bandos de crianças, de todas as idades, brincam descontraídas no pátio ou correm alegremente pelos corredores, enquanto jovens e adolescentes prosseguem em direção às salas de aulas, de livros debaixo do braço e batas imaculadas. Fazem parte dos dez mil alunos que diariamente frequentam a escola Dom Bosco, dirigida pelos Irmãos Salesianos de Angola e situada em pleno bairro Lixeira, no distrito urbano de Sambizanga, um dos musseques mais carenciados de Luanda em termos de infraestruturas básicas. Com mais de sessenta obras assistenciais – creches, escolas, internatos, centros médicos – espalhadas por dez províncias – de Luanda a Benguela passando por Cabinda e pelo Bengo – os salesianos chegaram ao país ainda durante a guerra civil, em 1981, a pedido dos bispos de Angola que lhes cederam algumas das paróquias mais problemáticas. Atualmente, dedicam-se sobretudo à educação da juventude mais desfavorecida, não só ao nível do ensino regular como dos centros de alfabetização e de formação profissional (já criaram 11 centros, frequentados por cerca de cinco mil jovens), embora a paróquia do bairro Lixeira, dirigida pelo padre Santiago Christophersen, um uruguaio de 46 anos, seja Groups of children play in the courtyard, others dash, laughing, through the corridors. Older children and adolescents hurry from class to class, carrying books under their arms and dressed in immaculate gowns. The care taken with their dress, the rapt concentration on their faces as they listen to their teachers shows their pride in attending this school. For them, studying is a pleasure, not a chore. They are part of the 10,000 students taught daily at the Dom Bosco School, in Bairro Lixeira in Sambizanga County. It is a remarkable place and has helped many thousands of children. Run by the Salesian Brothers of Angola, a Roman Catholic mission, it’s objective is to help the young people of Angola and to educate them out of illiteracy and poverty. The Salesians arrived in the country during the civil war in 1981 at the request of Angolan bishops. They immediately began working in some of the most problematic parishes in the country and, now over 30 years later, they have established more than 60 charities throughout ten provinces, from Luanda to Benguela, Cabinda to Bengo. These include nurseries, schools, boarding schools and medical centres. Estudo em grupo durante a tarde. Group studying during the afternoon. 22 Violante Mateus Over the years, the Salesians have created 11 centres in responsável por 14 comunidades salesianas que atuam em diversas áreas desde a saúde (gerem quatro centros que prestam Angola, which are attended by nearly 5 million young peocerca de dez mil consultas mensais) a uma rede de acolhimen- ple. The lessons do not only focus on formal education. In the Bairro Lixeira parish, directed by Father Santiago Christoto de crianças e adolescentes de risco, que vivem na rua. “Temos também serviços pré-escolares para crianças dos 3 phersen, a 46 year old Uruguayan, there are 14 Salesian comaos 5 anos e ainda 14 centros muito rudimentares dedicados à munities, covering many areas of life. Among the most imporalfabetização e à escolarização primária (490 alunos em 2013), tant of these are the four health centres. Between them, these e que ajudam a combater o analfabetismo de todas as crianças provide nearly ten thousand monthly consultations for young que ficam de fora do sistema escolar”, explica com um sorriso people. There is also a vast support network to help children o padre Santiago, alheio à alegre algazarra dos alunos. A vi- and adolescents who are at risk and living on the street. “We have pre-school services for children between three ver em Angola há vinte e dois anos, Santiago Christophersen é também o diretor da escola-mãe Dom Bosco da paróquia and five years old and 14 rudimentary centres dedicated to literacy and primary school (caterde São da Nazaré, uma das duas ing for 490 students in 2013). Our escolas que os salesianos criaram intention is to help combat illiteraem Luanda. A afluência dos alucy in children outside of the school nos é tão elevada que as aulas são system,” Father Santiago explains dadas em três turnos – manhã, with a smile, as the students clamtarde e noite – levando a que a esour cheerfully around him. cola se encontre aberta das 7h30 Having lived in Angola for 22 às 22h30. Mesmo assim, diz que years, Santiago Christophersen não consegue atender a todos os is also the director of the parent pedidos de inscrições que lhe cheschool Dom Bosco of the San José gam. “É verdade que temos feito de Nazaré parish, one of the two um bom trabalho, sobretudo num that the Salesians have created in bairro fragilizado como este, mas Luanda. Running the school with ainda há muito por fazer”, refere. so many students wanting to atAqui, apesar do ritmo intenso, tend is a considerable challenge o padre Santiago tem sempre a too. To accommodate them all porta aberta para acudir aos alulessons are given in three shifts nos que o procuram com proble– morning, afternoon and night mas pessoais ou familiares e só sai – with the school staying open da escola por volta da meia-noite. from 7.30 a.m. until 10.30 p.m. Afirma que a maior riqueza de Even so, there is still a great deal Angola é “a sua população, ainda muito jovem mas de espírito posi“A população é muito jovem mas of work to do. “We have done a good job,” he says, “especially in tivo, apesar da maioria viver com o tem um espírito positivo.” a fragile neighbourhood like this, mínimo indispensável”, e defende but it is not sufficient.” que a família e a educação devem “The population is very young Despite the frantic hustle and ser a base para o desenvolvimento but of positive spirit.” bustle, Father Santiago is always sustentável do país. Explica que o available to talk to students who Governo tem feito vários esforços nesse sentido mas que faltam mais e melhores infraestruturas come to him with personal or family problems. He rarely escolares (salas de aula, livros, material complementar diver- leaves the school before midnight, claiming that the biggest so, etc.) para poderem melhorar a qualidade do ensino, pois treasure in Angola is “its population, still very young but of mesmo o material que é distribuído gratuitamente pelo Estado positive spirit, despite the majority living on the bare minimum”. He defends the belief that family and education should não chega para todos. A direção salesiana aposta também na formação contínua be the base for the sustainable development of the country. He explains that the Government has made an effort to asdos seus professores e no incentivo aos encarregados de educasist but more is still needed. Most importantly, a better school ção para participarem na comunidade educativa. “Dom Bosco deixou-nos como herança o Sistema Preven- infrastructure is required – new classrooms, books and other tivo, um método educativo baseado inteiramente na razão, na basic equipment – in order to improve the quality of educareligião e no amor, pois acreditamos que os educadores devem tion. What the state provides, although helpful, is still not enough. estar presentes fraternalmente no meio dos jovens”, remata. Vista a partir do telhado da Dom Bosco. View from the top of Dom Bosco´s roof. 27 As boas-vindas aos alunos da tarde. Welcoming the afternoon shift students. E basta observar a forma ordeira como os alunos se perfilam ou a concentração com que escutam os professores para intuir o quão orgulhosos se sentem por frequentar esta escola em que estudar não é uma obrigação mas sim um prazer. “Sim, é necessário ganhar o coração do estudante para que ele consiga aprender o que queremos ensinar. E onde não há amor dificilmente poderá haver educação”, diz José da Silva Domingues, professor de Matemática e acérrimo defensor do espírito de entreajuda partilhados por toda a comunidade educativa de Dom Bosco. Aos 36 anos, este professor angolano é um bom exemplo do ambiente solidário e empenhado que se vive na escola Dom Bosco. Além das aulas de Matemática que lhe ocupam as tardes e onde tenta transmitir aos seus alunos de que forma os conhecimentos científicos podem ser aplicados à vida real, durante a manhã trabalha na direção da obra salesiana e ainda aproveita os fins de tarde e a noite para estudar: está a acabar o quarto ano do curso de Administração de Empresas e frequenta um curso de inglês duas vezes por semana. Um quotidiano pesado? “Nem por isso”, responde sem hesitar. “Sempre quis ser professor, desempenho todas estas minhas tarefas com muito gosto e, além do mais, a própria arte de ensinar obriga-nos a saber sempre mais.” 28 “Dom Bosco left us an educational method based on reason, religion and love,” he says. “Because of this we believe that teachers should be fraternally present among the young people, in their groups and activities.” Which is why the teachers live and work alongside the pupils, many of them continuing with their own higher levels of study. “For a student to be able to learn, it is necessary to win over his heart,” says José da Silva Domingues, mathematics teacher and staunch defender of the spirit of mutual help and sacrifice shared by Dom Bosco’s whole educational community. “If there is not love, it is difficult to have education.” The 36 year old Angolan teacher is a good example of the supportive and committed environment that lives in the Dom Bosco school. In addition to teaching a maths class every afternoon, he does Salesian missionary work in the mornings and at night he studies. He is about to finish the fourth year of business administration degree and attends an English class two nights per week. A busy schedule? “Not really,” he responds without hesitating. “I always wanted to be a teacher, I do all my homework with joy and, even better, the very art of teaching gives me the chance to learn more every day.” O Avô Professor The “GRAND-teacher” Professor há mais de quarenta anos, Israel Martinho acredita que as crianças têm de estudar com um objetivo: serem os futuros quadros superiores de Angola. As a school teacher for over 40 years, Israel Martinho believes that children should study with one objective – to be future leaders of Angola Conte-nos como veio dar aulas para a Escola Dom Bosco. How did you come to teach for the Dom Bosco School? Nasci na província do Bié, trabalhei em várias comunas mas por causa da situação política saí do Bié em 1988 e fui para a cidade do Lubango. Veio a guerra e, em 1992, fugi a pé para Luanda. Entrei para a Escola Dom Bosco em 1993, agora sou o coordenador das aulas de Matemática e, depois de quarenta e dois anos como professor, estou à beira da reforma. I was born in the Bié province where I worked in several schools but because of the political situation I left Bié and went to the city of Lubango. The war came and, in 1992, I fled on foot to Luanda. I began working at the Dom Bosco School in 1993 and now I’m the coordinator of mathematics classes at Dom Bosco. After 42 years of teaching, I’m about to retire. Como professor deu aulas antes e depois da independência e mesmo durante a guerra. Quais foram as maiores dificuldades que encontrou? You taught before and after the independence, and also, during the war. What were the difficulties you encountered? Quando um homem é desalojado fica economicamente descomandado. Na minha terra natal eu tinha todas as condições e depois de trinta anos de trabalho devia reformar-me, mas sou obrigado a continuar a dar aulas. Quando estava no Lubango, tentei construir uma casa mas assim que comprei alguns sacos de cimento e umas chapas, veio a guerra e mais uma vez perdi tudo. Fugimos a pé para Luanda e não trouxemos nada, nada... Tem três netos a viver em sua casa. Porquê? A mãe deles, minha filha, faleceu em 2004, quando eram todos quase bebés de colo. O pai é militar mas deficiente físico porque ficou mutilado pela guerra. Então eu disse à minha esposa: “Esses bebés ficam connosco para ver se estudam!” O pai vive no Kuito e às vezes manda umas mensagens e vem cá. Mas a responsabilidade é nossa que somos os avós maternos. O Alfe já tem 13 anos, resolve as tarefas todas da escola e na Matemática ajudo eu. O que é que deseja a todas as crianças que andam a estudar? Todos os que tiverem um lugar na escola devem estudar para compreender a matéria e não só para aprovar. Têm que estudar com um objetivo. Muitas das nossas meninas têm um bom rendimento no primeiro trimestre, mas no segundo ou no terceiro ficam grávidas. Queremos formar quadros para eles ocuparem os nossos lugares. When a man is displaced, things become very challenging on a financial level. When I was in Bié province, I had everything I needed – a home, an income. While I was in Lubango, I tried to organize the construction of a house but just as I bought some cement and some sheeting, the war came and I lost everything. We escaped to Luanda on foot but we had nothing. After 30 years of work, I have all these things again. You have three grandchildren living in your house. Why? They are my daughter’s children but she passed away in 2004, when they were all babies. Their dad is in the military but he has a physical disability from being injured during the war. So, I said to my wife:, “These babies will stay with us, and we will make sure they study!” Their dad lives in Kuito but visits regularly. Alfe is already 13 years old, does all his schoolwork and I help him with mathematics. What do you wish for all the students who go to school? We want them to be educated but we must have a lot of patience because to be a teacher is also to be like a parent – nurturing and guiding. My hope is that the students really understand and engage with what we’re teaching them rather than just learning enough to pass. If they study with a goal, they are more likely to succeed. Many of our girls show real promise during the first trimester, but in the second or third they get pregnant. We want to make leaders who can keep the reform of our country moving forward. 29 30 O dia das crianças mucubais é duro e começa de madrugada. Depois das tarefas feitas, têm de caminhar uma hora até à escola que não tem salas de aula. Só regressarão à aldeia ao fim da tarde. Mucubai´s children hard day: starting at dawn, after finishing their tasks, they have to walk over an hour to attend a school without classrooms. And they will not return to the village until late in the afternoon. 31 Estuda r no deserto Le a rning in the Desert Querem aprender mais e melhor, mesmo que a escola fique longe They want to learn more and better, even though school is far away 32 O ritual é diário e cumprido escrupulosamente sob o olhar atento do chefe de família e soba da localidade de Muevevango, situada algures no vasto território árido, quase desértico, da província do Namibe, a quase duas horas da capital com o mesmo nome (ex-Moçâmedes). Com o romper da madrugada, uma família de mucubais, a principal etnia da região, prepara os sete filhos ainda crianças para a escola. Docilmente, cada um cumpre as tarefas que lhe são atribuídas: enquanto a mãe ajuda as filhas a lavarem-se, os rapazes mais velhos vão mugir as vacas para que possam misturar o leite fresco com o funje e tomarem a primeira (e por vezes a única) refeição do dia. Vestida “a roupa de estudar”, mochilas às costas, é tempo de se fazerem à vida e caminharem cerca de uma hora até chegarem à escola Soba Inácio Messeca (da comuna de Kapangombe e município de Bibala), ainda antes das oito da manhã, a hora a que as aulas começam. Seguem tranquilos e satisfeitos, pois sabem que “aprender é o futuro” e que se estudarem podem ambicionar ser algo mais do que os seus pais e avós, pastores por tradição e necessidade numa região onde a seca é um flagelo constante que lhes leva muitas cabeças de gado, a sua maior riqueza. “Só aprendi depois dos 15 anos porque estava a pastar cabritos. Mas eu quero mesmo que os meus filhos estudem! São muito aplicados, por isso divido os rapazes: um estuda de manhã, das 8 às 12 horas e depois vai pastar o gado; o outro pasta de manhã, entra às 14 e sai às 18 horas”, explica, orgulhoso, o soba Ernesto Muambwayaleca que, além de resolver os problemas da aldeia, faz questão de controlar as reuniões do professor com os outros pais, a entrega do material escolar ou a qualidade do ensino. Daniel Albino Kandenga, o professor, chega de motorizada depois de quase duas horas de caminho, pois vive a mais de cinquenta quilómetros de distância. Confirma que apesar de todos os constrangimentos, os seus alunos mucubais são “muito recetivos e respeitadores, fáceis de trabalhar” e que a ampliação da escola inicial com uma única sala, o edifício concluído em junho de 2012 com capacidade para mais seis salas de aula e de 122 alunos, da iniciação à 6.ª classe, ainda não foi inaugurado pela administração provincial que, no entanto, continua a garantir a entrega gratuita das merendas escolares (feijão, fuba, leite). “As aulas são dadas à sombra da árvore e quem não tem cadeira senta-se nas rochas. No verão até vai, mas quando chove é obra e dificulta a aprendizagem”, explica. O maior problema? “A seca. Antes, a escola tinha muitos alunos mas agora que o rio secou, os pais vão embora com o gado, à procura de mais mantimentos e levam os filhos. Precisamos muito de água.” The daily ritual begins at daybreak. Under the attentive gaze of the head of the family and the chief of Muevevango, seven children get ready to go to school. They are Mucubal, the principle ethnicity of the region, and they live in Muevevango, a vast arid territory, that is almost desert. It is in the province of Namibe, nearly two hours from the capital. Each morning before they leave, every child does the chore assigned to them. While their mother helps her daughters to wash themselves, the older boys milk the cow, so they can use the fresh milk to mix with the corn meal that forms their first, and sometimes only, meal of the day. Dressed in their smart study clothes, their rucksacks on their backs, they set out for the hour’s walk that will take them to the Soba Ignatius Messeca school in Kapangombe and Bibala county. Although it is a long way, and it is not yet eight in the morning, the children are eager. They know that an education will help change their futures, giving them opportunities their parents and grandparents could only have dreamt about. Herdsmen by tradition and necessity in a region where drought is a constant threat, livestock is the greatest treasure any family can own. Yet, it is a hard life. Soba Ernesto Muambwayaleca, a village chief, is determined his sons will achieve more. “I learned only after I was 15 years old because I was grazing little goats,” he says. “But I want my kids to study. They are very diligent, this is why I divide the boys: one studies in the morning, from eight until 12 and then goes to graze; while the other stays and grazes in the morning, then goes to school at two and leaves at six o’ clock.” Daniel Albino Kandenga, the teacher, explains that despite all the disadvantages his Mucubal students face each day, they are “very receptive and respectful”. They work hard and want to learn. Since the new school building was finished in June 2012, things are a little easier, particularly with the introduction of free school lunches. However, there are still challenges. Originally, housing only one classroom, there are now six, with 122 students, ranging from kindergarten to sixth grade but things are still crowded. “The lessons are given in the shade of the tree and whoever does not have a chair sits on the rocks,” explains Kadenga. “In the summer it is OK, but when it rains, it makes learning difficult.” It is the lack of rain, though, that is the biggest problem. “The drought is always an issue,” he says. “Before it, the school had many students but now the river is dry, the parents have had to go away with the cattle in search of more provisions and they take their children. We really need water, it makes our school run.” „Os alunos mucubais são muito recetivos e respeitadores.“ “The Mucubal pupils are very receptive and respectful.” 33 Escola Missionária Feminina Santa Madalena-Cabinda A C a s a da A legria The House of Joy A obra do Orfanato Betânia contada pela irmã Elisa de Jesus The work of Betânia Orphanage told by Sister Elisa de Jesus Decidi abraçar esta obra quando percebi que havia uma grande necessidade de colaborar no amparo e na proteção de todas estas crianças órfãs ou abandonadas pelos pais. Cheguei em 1994, em 1995 iniciei a minha formação religiosa e em 1999 consagrei-me. O Orfanato Betânia foi fundado pelo padre Carlos Maria Capita Mbambi a 19 de julho de 1992, com catorze meninas e, em dezembro de 1993, acolhemos o primeiro bebé, cuja mãe faleceu após o parto. Esta criança cresceu e, graças a Deus, já ingressou no seminário. Desde estão já passaram por aqui várias crianças que terminaram a sua formação académica nesta instituição, continuaram noutras faculdades e estão já 34 I arrived at the Betânia Orphanage in 1994 after I realised how much help was needed to support and protect the many abandoned children in Angola. It was time, I felt, to do something to make a difference. I began my religious training in 1995 and, four years later, I was ordained. The Betânia Orphanage was founded by Father Carlos Maria Capita Mbambi on 14 July 1992 with fourteen girls. In December 1993, we welcomed our first baby. The mother sadly passed away after giving birth but this child grew up here and, to our delight, has now joined the seminary. Since then, many more children have lived and studied with us, moving on to other universities or to become working professionals. Irmã Elisa de Jesus Órfãs ou abandonadas, nem por isso deixam de ser alegres. Despite being orphans or abandoned, they are still joyful. inseridas no mercado de trabalho para se realizarem enquanto profissionais. Muitas das nossas meninas são trazidas pelos próprios familiares ou por conhecidos que as encontram desamparadas e a viver na rua em péssimas condições. Temos vários filhos de doentes mentais, por exemplo, de que pouco ou nada sabemos. Há dez anos, houve um senhor que achou uma menina nos arredores do aeroporto, levou-a imediatamente ao hospital. Depois da sua recuperação, foi trazida para este orfanato. E, em dezembro, foi a polícia que nos entregou algumas crianças cujas mães foram condenadas a penas de prisão. É certo que nem sempre temos lugares disponíveis, mas não é por isso que vamos deixar de acolher estes casos extremos... Têm de dormir duas crianças numa cama... às vezes até três! Temos muitos pedidos mas também não temos espaço para todos, pois já estamos muito apertadas (só na comunidade da Nazaré, onde temos um maior número de crianças, acolhemos 65, entre as quais quatro rapazinhos). Cada camarata tem vários beliches e distribuímos as meninas conforme as idades mas cada uma faz a sua cama e arruma tudo o que for preciso. Todas têm um cargo para desempenhar e as mais velhas ajudam as mais novas. 36 Our girls arrive here by many different paths, some are brought by their relatives, others by acquaintances who have found them helpless or living on the street in miserable conditions. We have several children with mental illnesses. Unfortunately, we know little about them but we love and care for them all the same. We don’t always have room but we would never turn away an extreme case. Sometimes, to fit them in, two children have to sleep in one bed, occasionally even three. Each ward has several bunks and we organise the girls based on their age. They are responsible for making their bed and keeping their part of the room tidy. They all have a role to play and the older students help the younger ones. Whenever possible, we try to find families to adopt the children but that process is complicated and so we also look for families who will take in the children during the holidays. It’s important for them to get to know other places, meet new people and relax a bit – they should not live the entire year in a boarding school. Two years after the orphanage opened, Father Carlos Maria Capita Mbambi decided the girls needed an education. It was during the teachers’ strike at the Ministry of Education and he “Às meninas acolhidas na nossa comunidade damos tudo o que estiver ao nosso alcance: proteção, educação, um lar.” “To the girls in our community, we give everything in our power: protection, education and a home.” Sempre que possível, tentamos encontrar famílias que as queiram adotar mas o processo é complicado e difícil. Também precisamos de famílias que acolham as crianças durante as férias para que possam conhecer outros lugares, outras pessoas e relaxarem um bocadinho ...Não podem (não devem) viver o ano inteiro em regime de internato! A Escola Missionária Feminina Santa Madalena foi fundada em 1994, pois sentimos a necessidade de criar uma instituição que completasse a formação e a educação das nossas crianças. Durante a greve dos professores do Ministério da Educação, o reverendo Padre, depois de ter convidado Estêvão Ngimbi, um experiente professor que aceitou participar e dirigir este projeto durante vários anos, improvisou salas de aula nos corredores e nas varandas da nossa primeira casa (Betânia) e até debaixo das árvores nos quintais dos nossos vizinhos. E como houve uma grande aderência das pessoas de boa vontade para nos ajudarem neste projeto, surgiu a Escola Santa Madalena, que tem vindo sempre a crescer: em 2004 construiu-se o grande edifício mesmo ao lado do orfanato onde estudam não só as nossas crianças, que estão isentas do pagamento de propinas, como também outras meninas cujos pais carecem de meios financeiros. É uma escola comparticipada e gerida em parceria com o Ministério da Educação. Às meninas acolhidas e inseridas na nossa comunidade damos tudo o que estiver ao nosso alcance: proteção, educação, condições para crescerem bem e felizes, com um objetivo na vida. Graças à Divina Providência temos contado sempre com a generosidade das pessoas, pois vivemos quer de donativos, quer do pouco trabalho que vamos fazendo com as nossas mãos, como a agricultura e lavores. Uma das nossas maiores dificuldades é a saúde e já fomos obrigadas a recorrer aos países vizinhos como o Congo Brazaville ou a República Democrática do Congo, para tratarmos dos casos mais críticos. Infelizmente, a nossa instituição carece de um centro médico. Neste momento, a nossa maior necessidade é arranjarmos um espaço maior e com melhores infraestruturas para albergarmos estas crianças porque o que temos já não é favorável. As meninas carecem de uma sala para os estudos, para lazer e para jogos. A comunidade conta hoje com 25 religiosas, jovens que se ofereceram para servir a Deus através desta instituição e todas levamos a mesma vida simples e regrada. O meu apelo? Quem puder que nos envie livros para completar a nossa biblioteca que está muito pobrezinha, quase vazia. As nossas crianças agradecem. invited Estêvão Ngimbi, an experienced professor. He agreed to help and the Santa Madalena Girl’s Missionary School was founded in 1994. At first, we improvised classrooms in corridors and on the balconies of Bethany house, some were even beneath trees in neighbouring backyards. With good will and support from the surrounding community, the Santa Madalena School slowly emerged from these simple beginnings and has continued growing ever since. In 2004, we were able to build a separate school beside the orphanage. It offers free tuition not only to our children but also to other girls whose parents lack the financial means to pay for schooling. It is subsidised and managed in a partnership with the Ministry of Education. To the girls in our community, we give everything in our power: protection, education and a home to grow up well and happy, with an objective in life. Thanks to Divine Providence, we have always been able to work. We rely on the generosity of people as we live off donations and the little we produce with our hands, like agriculture and needlework. We have many requests for places but we already are very crowded. Really, at the moment, our biggest need is to find a larger building. In the Nazareth community alone, we have 65 children, our largest number, four of whom are boys. Although our building has sheltered us for many years, it is old and we have outgrown it. We need more modern facilities and a place for the girls to study as well as somewhere for them to relax and play games. Today, we have 25 sisters in our community. We all live the same simple, obedient life. And if I had one plea? It would be to ask that whoever is able to, please send us books for our very poor, almost empty, library. Our children and our community will always be grateful and delighted by your generosity. As crianças dormem em camaratas com vários beliches. Children sleep in wards and each of then has several bunks. 37 Um a a ldeia a frica na A n A frica n Vill age Para trabalhar nos petróleos, tem que se estudar no INP To work in the oil industry, you must study at NIP Todos os africanos conhecem o ditado que diz “É preciso uma aldeia para educar uma criança”. A escola Instituto Nacional de Petróleos (INP), nos arredores da cidade do Sumbe, ilustra perfeitamente este provérbio africano: o campus é um local silencioso, organizado e absolutamente sincronizado com as necessidades dos atuais 646 alunos. Os jovens chegam “perdidos, sem os pais e os amigos”, conta o professor de Inglês, a disciplina com maior carga horária. Têm 14 ou 15 anos e a 9ª classe, e enfrentam três anos de trabalho intenso para concluir um curso técnico. Durante esse período, concentram-se nos estudos e vivem no INP, onde existem dormitórios e outros equipamentos de apoio: cantina, lavandaria, clínica médica, ginásio, piscina... “Os alunos só têm que se preocupar em estudar”, garante o professor, que tal como os outros 70 colegas, também vive no campus. Embora esta “aldeia africana” preste formação de topo em instalações exemplares, não é uma escola privada. Muito pelo contrário, é financiada pelo Governo e os pais pagam apenas uma comparticipação para o alojamento, a alimentação e os uniformes dos filhos. Não faltam candidatos, mas as provas de admissão garantem que “só entram os melhores”. O INP oferece ainda cursos de formação profissional patrocinados por empresas para alunos com mais de 18 anos e com a 12.ª classe, sendo costume as maiores multinacionais do sector recrutarem aqui os seus quadros. É o caso de Nisingui Tanda, ex – aluno, que terminou a 12.ª classe há dez anos e hoje, com 28 anos, é diretor de Operações Offshore na FMC Technologies, uma empresa norte-americana de equipamentos para a indústria do petróleo e do gás. Nisingue destaca “o ambiente cultivado no internato do INP e a interação com colegas de diferentes origens e nacionalidades” que o ajudaram a viver e compreender a vida num ambiente multicultural. O INP formou dez por cento dos profissionais da indústria petrolífera em Angola, tendo protocolos com a Argélia, a África do Sul, a França, o Canadá e os Estados Unidos. 38 Every African knows the saying “It takes a village to raise a child” and the National Institute of Petroleum (NIP) school, on the outskirts of Sumbe, illustrates this perfectly. The campus is a self-contained location, run to give the 646 students the best possible environment in which to study and achieve their goals. This modern “African village” has top facilities and academics, but it is not a private school. It is financed by the Government with parents paying a small contribution. There are always plenty of hopeful candidates and a rigorous admissions test ensures the standard remains high. The young people often arrive “lost, without parents and without friends,” says the English teacher – the subject that has the heaviest workload of the courses. They are 14 or 15 years old and they live at NIP, where facilities include a medical clinic, a gymnasium and a pool, making it easy for them to completely immerse themselves in their studies. However, they still face three years of intense education. “There are never any concerns about whether or not the students are studying,” laughs the teacher, who, like the other 70 instructors, also lives on campus. Employers in the oil industry regularly recruit from NIP, as happened to one former student: Nisingui Tanda, 28. He finished studying at NIP 10 years ago and is now the director of Offshore Operations in the company FMC Technologies, a North American equipment business in the petroleum and gas industry. Nisingui says: “The environment cultivated in the NIP boarding school, including the interaction with peers of different origins and nationalities, is what has helped me to survive and understand a life in a multi-cultural world.” NIP also runs courses for students over 18 years old, which are often sponsored by different companies and it has educated up to 10 per cent of oil industry professionals in Angola, with many of them having affiliations with Algeria, South Africa, France, Canada and the USA. Quando eu crescer, quero ser... What I want to be... Sonham em ser professores, gestores, médicos ou advogados e não importa se a escola fica longe ou não tem salas de aula. A nova geração angolana embora viva nas cidades ou em aldeias remotas, quer e gosta de estudar, pois sabe que só assim poderá ajudar a construir o futuro de Angola. They all dream to become teachers, managers, doctors or lawyers and do not care how far away is the school or if classes have walls. The new Angolan generation, despite living in the cities or in remote villages, wants and likes to study, because they know it’s the best way to build Angola´s future. Balipioca Domingos Professor Teacher 40 41 42 Madalena Zeferino Médica Doctor Fernando Pio Professor Teacher Olívia Nelson Enfermeira Nurse Hedianeth Florentina Advogada Lawyer Maquionel Ferreira Empresário de Moda Fashion Manager 43 Angelina João Modelo Model 44 Ludmila da Silva Médica Doctor Ginga João Futebolista Football Player Miquilina Catonhalo Professora Teacher Ruben Manuel Médico Doctor 45 É uma manhã primaveril no coração de Zurique. Na estreita rua calcetada, ergue-se, entre elegantes lojas e cafés alternativos, uma casa construída em 1256 com a fachada em vidro. No topo dos degraus de pedra, passando por um grande hall, uma espaçosa sala transmite a sensação de Velho Mundo e reflexão intelectual. Grande parte da arquitetura original mantém-se, notando-se o que fora uma loja de antiguidades. Este elegante pano de fundo serve de cenário ao evento do dia: mesa-redonda sobre a educação em Angola. O tópico não é do Velho Mundo: o setor da educação e a sua rápida reconstrução, baseada nos fundamentos da paz duradoura e na crescente economia, no país e no seu povo. Os participantes, especialistas em educação em África, reúnem-se pela primeira vez no que será uma série de encontros, contribuindo com as suas experiências para o Fundo Soberano de Angola e discutindo políticas que visem a realização de investimentos neste setor. O objetivo é a inovadora troca de ideias, opiniões, culturas e experiências. It is a crisp spring morning in the heart of Zurich’s old town. In a tiny cobbled street a glass-fronted house built in 1256 nestles amidst elegant shops and independent cafés. Up a few stone steps and through a grand entrance hall is a spacious chamber whose timeworn wooden tables and chairs give off a feeling of Old World and intellectual reflection. Much of the original architecture remains and it is no surprise that these were once the premises of an antique store. This elegant backdrop sets the scene for the day’s event: the round table on education in Angola. The topic is anything but Old World – with Angola’s education sector fast rebuilding on the foundations of lasting peace and a flourishing economy, the country and its people have everything to play for in the future. The participants – Africa education specialists – have come together for the first in a series of expert meetings to discuss and contribute their experiences from the African continent to Angola’s Sovereign Wealth Fund as it creates policies with a view to making investments in the education sector. This is a meeting of minds, thoughts, cultures and experiences of world-class innovation. O trunfo de Angola JOSÉ FILOMENO DOS SANTOS juntou-se ao Fundo Soberano de Angola (FSDEA) em 2012, ocupando desde Junho de 2013, a sua presidência. O Sr. dos Santos exerceu funções nas áreas de comércio, transportes, seguros e finanças. Possui um mestrado em informação e finanças. JOSÉ FILOMENO DOS SANTOS joined the Fundo Soberano de Angola (FSDEA) in 2012 and, since June 2013, has served as chairman. Mr dos Santos worked across various industries including trading, transport, insurance and finance. He has a master’s degree in information and finance. Angola’s Greatest Asset Daniela Magalhães, angolana, juntou-se ao FSDEA em 2012. Trabalhou nas indústrias de petróleo e gás, e instituições como United Nations Development Programme (UNPO) e Greater London Assembly UK (GLA). É licenciada em Estudos de Negócios e mestre em Artes em Estudos Diplomáticos. Daniela Magalhães is Angolan and joined the Fundo Soberano de Angola (FSDEA) in 2012. She has worked in the oil and gas industry, the United Nations Development Programme (UNPO) and the Greater London Assembly UK (GLA). She has a degree in business studies and a master of arts in diplomatic studies. Com mais de 200 milhões de pessoas com idades inferiores a 24 anos em África, o Fundo Soberano de Angola avança With over 200 million people aged under 24 in Africa, Angola’s Sovereign Wealth Fund steps up josé filomeno dos santos: “O nosso papel aqui hoje é tentar compreender mais sobre o que podemos esperar do futuro e qual a melhor forma de preparar o nosso país para o que se avizinha. Estamos a falar da gestão dos recursos financeiros de Angola. Mas, mais importante do que isso, é, claro, o povo angolano. Nesse contexto, acredito que parte do papel fundamental do Fundo Soberano de Angola é investir nos nossos recursos de forma a beneficiar o nosso povo no futuro.” ahlin jean-marie byll-cataria: “A África é o continente do futuro. Existem 200 milhões de jovens com menos de 24 anos e, em 2040-2043, estimamos que existirão 800 milhões. Antigamente, a população jovem africana era tida como um problema, no entanto, agora é uma mais-valia. Se todos estes jovens forem formados, adquirindo os conhecimentos necessários, isto iria representar uma força laboral mais importante que a dos chineses e indianos juntos. Precisamos de uma massa crítica constituída por pessoas com uma excelente educação e formação.” bryan chidubem mezue: “Precisamos de pensar na juventude, não como um problema, mas como um recurso que pode guiar a novas ideias e inovações. Acredito que nos próximos 50 anos ou menos, teremos uma escolha binária – ou fazemos josé filomeno dos santos: “Our role here today is to try to understand more about what we can expect in the future and how best to prepare our country for what is to come. We are talking about managing the financial resources of Angola. But, even more important than that is, of course, the people of our country. So in this context, I believe that part of the Angola Sovereign Wealth Fund’s role is to invest our resources in a way that benefits our people for the future.” ahlin jean-marie byll-cataria: “Africa is the continent of the future. There are 200 million young people under 24 and by 2040-43, we estimate there will be 800 million. Previously, the demography of African youth was seen as a problem, now, it is an asset. If all these young people are trained to have a skill this will represent a more important labour force than Chinese and Indians put together. We need a critical mass of well-educated, well-trained people.” bryan chidubem mezue: “We need to think about the youth, not as a problem, but as a resource that can lead to new innovations and ideas. I believe that in the next 50 years or less we have a binary choice – either we make use of this resource, which is youth in Africa, or it will flip around and bounce. It will be a dividend or 48 Walter Erdelen foi Professor de Ecologia e Biogeografia na Universidade de Würzburg, Alemanha. Em 2001 tornou-se assistente do director-geral no departamento de Ciências Naturais da UNESCO. Possui várias licenciaturas, inclusive em Biogeografia. Walter Erdelen was professor of Ecology and Biogeography at University of Würzburg, Germany. In 2001, he became assistant director-general for Natural Sciences at UNESCO and has numerous degrees including habilitation in biogeography. Bryan Chidubem Mezue nasceu no sudeste da Nigéria. É co-fundador da West Africa Vocational Education (WAVE) e membro do Forum for Growth and Innovation (comissão de peritos Harvard Business School), obtendo as suas licenciaturas em Warwick University, Tsinghua University e Harvard Business School. Bryan Chidubem Mezue was born in Southeast Nigeria and is co-founder of West Africa Vocational Education (WAVE). He is a member of the Forum for Growth and Innovation – a Harvard Business School think-tank and has received degrees from Warwick University, Tsinghua University and Harvard Business School. Ahlin Jean-Marie Byll-Cataria é o ex-secretário executivo da Association for the Development of Education in Africa (ADEA) e membro do Governing Board of the United Nations Educational, Scientific and Cultural Organisation (UNESCO) e Institute for Lifelong Learning (UIL). Ahlin Jean-Marie Byll-Cataria is the former executive secretary of the Association for the Development of Education in Africa (ADEA) and a member of the Governing Board of the United Nations Educational, Scientific and Cultural Organisation (UNESCO) Institute for Lifelong Learning (UIL). O debate foi moderado por Elodie de Warlincourt, diretora do African Innovation Foundation (AIF). The discussion was moderated by the director of African Innovation Foundation (AIF), Elodie de Warlincourt. Jean-Claude Bastos de Morais, suíço-angolano, é empreendedor e investidor. Em 2010 fundou a African Innovation Foundation, contribuindo para o desenvolvimento e crescimento em África. Possui um mestrado em Gestão. Jean-Claude Bastos de Morais, of Swiss and Angolan nationality is an entrepreneur and investor. In 2010, he founded the African Innovation Foundation, to create African-led development through new talent and ideas. He holds a masters degree in management. 49 uso deste recurso, a juventude africana, ou ela virar-se-á contra nós. Será um dividendo ou uma bomba-relógio. Cabe-nos observar como este recurso poderá ser aproveitado da melhor forma possível para alcançar algo positivo.” daniela magalhães: “Há uma grande necessidade de diversificar as nossas habilidades de forma a se encaixarem no atual padrão de desenvolvimento angolano. Precisamos de cursos ou competências profissionais que possam ajudar os angolanos a desenvolver Angola para não dependermos tanto dos técnicos vindos de outros países. Vejo muitos expatriados em Angola que terminaram os seus estudos e têm apenas alguns anos de experiência. Podemos transferir esses conhecimentos para o povo angolano e sustentar o nosso próprio desenvolvimento.” walter erdelen: “Existe um sistema educacional em Angola, existem diretrizes nacionais orientadoras. Portanto, não podemos fazer o que nos apetece. Precisamos de identificar o que já existe e encontrar rapidamente iniciativas que vão ao encontro das prioridades do país.” dos santos: “Temos atravessado a industrialização. Agora estamos num período de partilha de informação. Precisamos de compreender o futuro do mundo e como nos podemos adaptar a ele. Não será tendo as pessoas oito horas presas por dia num escritório – estaremos remotamente muito mais unidos do que isso. É importante preparar os jovens, dando-lhes as ferramentas necessárias para a liderança. Se não, teremos eventualmente o reverso da moeda – levar-nos-á a uma população insatisfeita que nos conduzirá à instabilidade.” byll-cataria: “Se, por exemplo, pensarmos que Angola tem um enorme potencial para a agricultura, então temos de olhar para as oportunidades de desenvolvimento nas áreas rurais. Se eu for um jovem agricultor e acreditar que posso ganhar tanto dinheiro quanto um funcionário público, então porque é que eu hei de querer ir viver para Luanda? É preciso favorecer o acesso à educação e à formação adequada nas áreas rurais, dando aos jovens oportunidades nas suas cidades de origem.” jean-claude bastos de morais: “Como podemos oferecer alguma coisa aos jovens com menos de 14 anos que constituem, em Angola, 42% da população? Precisamos de soluções rápidas que terão um impacto imediato em, pelo menos, 10% desses 42%. Isso terá um efeito tipo bola de neve.” mezue: “Um fator importante passa por encontrar as motivações dos alunos. Talvez sejam ‘vou à escola porque os meus pais querem que eu vá, ou porque quero ser médico, ou porque quero estar com os meus amigos e jogar futebol’. Se entendermos as motivações, podemos criar mais razões para os atrairmos a irem e a permanecerem na escola.” bastos: “O objetivo do governo é alcançar grandes números. Temos de criar testes ou questionários – porque não criar um sistema de pesquisa onde podemos reunir dados sobre as motivações e desejos dos adolescentes em Angola? Com essa base, irão surgir ideias sobre o que a juventude angolana precisa e gostaria de fazer. Depois pode-se partir para a criação de um sistema de aprendizagem rápido, que não afete o sistema educacional do estado, será apenas um extra.” erdelen: “A curiosidade é a base de qualquer ciência. Isto também terá de ser integrado no processo. Podemos tentar obter um sistema de feedback nos adolescentes de 14 anos, que se alimentará do governo e depois há uma revolução. Este modelo é muito robusto, não pode falhar.” bastos: “Este é o tipo de plano que precisamos de pôr em prática. Eu faria numa pequena escala, porém muito focada. Em Angola, é fácil fazer isso pois existem talvez três cidades onde vivem 70% da população. Não é complicado encontrar os jovens. A questão é quem deve receber os dados e como é que eles devem ser adquiridos. É sobre haver dados inteligentes. Se tivermos isto, podemos aprender como 50 “É importante preparar os jovens e dar-lhes as ferramentas certas para liderar.” “It is important to prepare young people, to give them the right tools to cope.” Em cima: Eladie de Warlincourt, Walter Erdelen e Bryan Chidubem Mezue. Em baixo: Jean-Claude Bastos de Morais. Right page: Eladie de Warlincourt, Walter Erdelen and Bryan Chidubem Mezue. Below: Jean-Claude Bastos de Morais. a time bomb. It is up to us to look at how this resource can be best harnessed to achieve something positive.” daniela magalhães: “There is a great need to diversify our skills to fit with Angola’s current stage of development. We need professional courses or vocational skills that could help Angolans develop Angola so that we don’t depend so much on skills coming from outside the country. I see lots of expatriates in Angola, who finished school and did a couple of years training. We could transfer those skills to Angolans to sustain our own development.” walter erdelen: “An education system already exists in Angola, there are national guiding documents. So we cannot do what we want. We need to identify what is already there and find fast-track initiatives that would match the priorities of the country.” dos santos: “We have been through industrialisation. Now we are in period of information sharing. We need to understand the future´s world and how to adapt to it. It will not be about humans being locked up for eight hours a day in an office – we are going to be much more remotely connected. It is important to prepare young people, to give them the right tools to cope. If not, you get the flip side of the coin where you will have a lot of dissatisfied people and this tends to lead to instability.” byll-cataria: “If, for example, you think Angola has a huge potential in agriculture, then we need to look at developing opportunities in rural areas. If I am a young farmer and I believe I can make as much money as a civil servant, then why should I want to go and live in Luanda? You need to favour access to education and proper training in rural areas that will give young people opportunities in their home towns.” jean-claude bastos de morais: “How can we have something for the young people who are 14 and below? In Angola that’s about 42 percent of the population. We need a quick solution that has an immediate impact on 10 percent of that 42 percent. That will have a snowball effect.” mezue: “One thing is to find out the motivations of the students. It might be, I’m going to school because my parents want me to go, or because I want to be a doctor, or I want to hang out with my friends and play football. If you understand their motivations, you can create more reasons for them to go to and stay in school.” bastos: “The Government’s aim is to get big numbers. We need to create a test 51 “O conhecimento tradicional também pode desempenhar um papel fundamental na educação.” “Traditional knowledge can also play a fundamental role in education.” comunicar melhor com este grupo e suscitar a sua curiosidade.” erdelen: “Este é um enorme exercício comunitário. Poderia estabelecer um sistema de intercâmbio com o grupo etário em questão. O seu sucesso dependeria de um design inteligente para ter uma ideia do verdadeiro panorama. Se não, os resultados podem ser inúteis para extrapolação. Se olhar para a geografia do próprio país, esta também pode fornecer muitas respostas. O país é o povo, o meio ambiente, os seus vizinhos, os limites naturais, como os rios. Precisamos de olhar para estes fatores e identificar o sistema para discussão. O que acontece em Angola, acontece na região SADC, em África e no mundo. O conhecimento tradicional é um património imaterial que precisa também de ser preservado. Pode ser difícil ou mesmo impossível de recuperar. Em alguns casos pode mesmo estar em perigo extremo de extinção.” byll-cataria: “Também devemos ter em consideração que a educação moderna leva à rutura entre as escolas e as sociedades. No Burkina Faso, por exemplo, usam a língua materna para estabelecer uma forte ligação entre a aprendizagem da criança na escola e o que ela faz em casa. As famílias podem enriquecer a educação da criança e vice-versa. Isto significa que o conhecimento tradicional pode também desempenhar um papel fundamental na educação. Eu saí de casa quando tinha 19 anos. Até hoje, o meu comportamento para com os que me rodeiam é condicionado por um provérbio que ouvia quando era criança: ‘Podes tomar partido de um facto, não de uma pessoa.’ Este é um provérbio africano como tantos outros. Até que ponto é que estamos a usar o nosso sistema de ensino hoje para inculcar valores nas nossas crianças?” dos santos: “A língua de ensino nas escolas e universidades angolanas é sempre o português e isso é muito importante visto que é a língua de comunicação comum em todo o país. Mas na tradição africana, pelo menos no contexto angolano, grande parte da cultura, valores e histórias são transmitidas através do ambiente familiar. Essa tem sido a forma de transmitir as tradições e a cultura, através das famílias.” magalhães: “A tradição oral é muito forte em Angola, assim como em toda a África. Ajuda a construir unidade, cultura enraizada, crenças e costumes. Também, através de textos simples, provérbios, adivinhas e canções, as crianças aprendem a compartilhar a ética, obediência, generosidade e hospitalidade. Eu acho que essa transmissão surge naturalmente. A escola serve para a educação formal de aprender matemática ou ciências.” 52 À esquerda: Ahlin Jean-Marie Byll-Cataria. À direita: Bryan Chidubem Mezue. Left page: Ahlin Jean-Marie Byll-Cataria. Below: Bryan Chidubem Mezue. balloon – why not create a poll system where we can collect data about the motivations and wishes of young people in Angola? Based on that, the ideas will probably come from them about what the youth need and want to do. Then you can create a fast learning programme which doesn’t affect the state’s education systems, it is just an add on.” erdelen: “Curiosity is the basis for any science. This has to be integrated into the process too. You could get a grassroots feedback system from 14 year olds that feeds back to the Government and then you have a revolution. This model is so robust, it cannot fail.” bastos: “These are the kind of plans we need to put into action. I would do it on a very small scale, but keep it very focused. In Angola, you have a very easy situation to do that because you have maybe three cities where 70 percent of the population lives. It’s not hard to find the young people. The question is, who should get the data and how should it be procured? It’s about having smart data. If you have this, you can learn how best to communicate with this group and trigger their curiosity.” erdelen: “This is a huge community exercise. You could establish an exchange system with the age group you believe in. Its success depends on a clever design to get an idea of the true picture. If not, the results may be useless for extrapolation. If you look at the geography of the country itself, this may also provide many answers. The country is the people, the environment, its neighbours, natural boundaries like rivers. We need to look at these and identify a framework for discussion. What happens in Angola happens in the SADC region, in Africa and in the world. Traditional knowledge is an intangible heritage and one that also needs to be preserved. It can be very difficult and sometimes impossible to retrieve. In some cases it is in extreme danger of becoming extinct.” byll-cataria: “We must also consider how modern education takes into account 53 “Precisamos de pensar na juventude, não como sendo um problema, mas como um recurso que nos pode guiar a novas ideias e inovações.” “We need to think about the youth, not as a problem, but as a resource that can lead to new innovations and ideas.” Daniela Magalhães e José Filomeno dos Santos em brainstorming com Bryan Chidubem Mezue. Daniela Magalhães and José Filomeno dos Santos brainstorming with Bryan Chidubem Mezue. 54 55 Durante o debate, tomou-se nota de todas as novas ideias. During the debate, all new ideas were written down. mezue: “Então, a questão é, como preservar este conhecimento tradicional a um nível institucional? Eu sou do grupo étnico Ibo da Nigéria. Se for aos Estados Unidos da América, pode ver a diáspora que as instituições e organizações têm ao transferir estes valores dos adultos para as crianças, porque eles não possuem os tecidos sociais que nós temos na Nigéria. Desta forma, uma criança nascida nos EUA poderia ainda reter alguma cultura Ibo. Eu pergunto-me se nós poderíamos pensar numa forma objetiva de preservar essa informação. Toda a gente tem agora um telefone – talvez as pessoas pudessem colocar essa informação numa página web, de forma a conseguir uma narrativa mais consistente. Creio que nós hoje temos a tecnologia necessária para contar essas histórias, passá-las aos mais novos.” magalhães: “Uma coisa assim poderia ser muito inovadora para Angola. Tivemos 500 anos de colonização. Este seria um bom projeto – complicado, mas relatar histórias através da tecnologia poderia ser uma forma de preservar a nossa cultura.” bastos: “Se quiser fazê-lo de forma consistente para todos os 54 países africanos, penso que poderia ser um enorme desafio. Um projeto como esse tem de ser adotado por cada um dos estados e depois pela União Africana, algo que deve ser decidido para que o líder possa avançar.” mezue: “Estou a pensar nos incentivos para a coleta de dados a nível tribal. Deve pensar quem serão os representantes certos nas comunidades locais para fazer que isto aconteça. Não podem ser membros do governo. Na Nigéria, existem mais de 200 línguas e muitas tribos, por isso, reunir este tipo de dados pode tornar-se um pesadelo. A ideia é atribuir a responsabilidade a indivíduos, a crianças que não tenham nada para fazer ou a desempregados. O final da história é o mesmo, mas a forma de a conseguir é outra. É a criatividade de pernas para o ar.” dos santos: “Esta sessão foi muito útil, voltando a nossa atenção para as experiências que outros países africanos enfrentaram ou enfrentam, desafios semelhantes aos nossos. Em Angola, penso que tanto o Estado como o setor privado, têm ambos um papel a desempenhar no desenvolvimento no sistema de educação. A nossa juventude é a base do nosso futuro. As ideias que partilhámos hoje ajudam-nos a clarificar o papel estratégico do Fundo, para nós enquanto investidores, para sabermos onde devemos focar as nossas políticas e investimentos no sistema educacional angolano. Poderíamos falar até à meia-noite, havendo tanto ainda por dizer e aguardamos pela próxima reunião brevemente, onde levaremos este assunto adiante.” 56 “Relatar histórias através da tecnologia pode ser uma forma de preservar a nossa cultura.” “Reporting stories through technology could be a way to preserve our culture.” the disruption between schools and societies. In Burkina Faso, for example, they use the mother tongue at school to establish a strong link between what the child learns at school and does at home. Families can enrich what the child is doing educationally and vice versa. This means traditional knowledge can also play a fundamental role in education. I left home when I was 19 years old. But to this day, my behaviour with those around me is conditioned by one proverb I heard as a child: ‘You take sides for a fact not for a person’. This is an African proverb and there are many others like it. To what extent are we using our education system today to inculcate values in our children?” dos santos: “The teaching language in Angolan schools and universities is always Portuguese and this is important as it is the common language of communication across the country. But in the African tradition, at least in the Angolan context, a lot of culture, values and stories are transmitted through the family setting. That has been the way of carrying traditions and culture through families.” magalhães: “The oral tradition is very strong in Angola as it is in Africa. It helps build unity, ingrained culture, beliefs and customs. Also, through simple texts, proverbs, riddles and songs children learn to share ethics, obedience, generosity and hospitality. I think this transmission comes naturally. School is for formal education to learn maths and science.” mezue: “So, the question is, how do you preserve this traditional knowledge at an institutional level? I’m from the Ibo ethnic group of Nigeria. If you go to the United States you see the diaspora have institutions and organisations to transfer these things from adults to kids because they don’t have the social fabric that they have in Nigeria. So, a kid born in the States can still capture some of that Ibo culture. I wonder if we could think of a very objective way to preserve this data. Everyone has a phone now – maybe people could upload this information to a website so that you can build a more consistent storytelling. I think we have the technology today to tell those stories, to pass them on.” magalhães: “Something like this could be very innovative for Angola. We had 500 years of colonisation. This would be a good project – a complicated one but reporting stories through technology could be a way to preserve our culture.” bastos: “If you want to do it consistently for all 54 African countries, I think it could be very challenging. A project like that must be embraced by the individual states and then at the African Union something must be decided that a leader can bring forward.” mezue: “I am thinking about incentives for those collecting data at the tribal level. You have to think who are the correct representative in local communities to make this happen. It can’t be the Government. In Nigeria, you have over 200 languages and many tribes, so to collect this kind of data could be a nightmare. The idea is to shift the responsibility to individuals, to kids who have nothing to do, or are unemployed. The end story is still the same but the way to get it is different. It’s bottom-up creativity.” dos santos: “This session has been extremely useful as it brings to our attention the experiences of other African countries that have faced or face similar challenges to ours. In Angola, I think that the state and private sector both have a role to play for the development of our education systems. Our youths will be the basis of our future. The ideas that we have shared today help to clarify the Fund’s role strategically for us as investors in terms of where we should focus our policies and investments in Angola’s education sector. We could talk until midnight as there is so much left to say and we look forward to meeting again soon to take this discussion further.” 57 O Meu Futuro Ta lento e boas ideias Ta lent a nd Bright Ide a s A mobília modular não precisa de pregos, combina com qualquer decoração e é acessível a todos os africanos Modular furniture needs no nails, fits in with any home decor and is affordable to all Africans Técnica, perícia e inspiração são a base de qualquer negócio de sucesso, qualidades que não faltam a Nilcio Moreno, um carpinteiro dos arredores de Luanda que se prepara para conquistar África com as suas mobílias inovadoras. Aprendeu a técnica em São Tomé e Príncipe, aos 17 anos e depois de abandonar a escola. “Foram uns portugueses que me ensinaram tudo o que sei desta profissão”, conta. Além disso, frequentou uma formação de carpinteiro e marceneiro durante nove meses. Hoje, aos 28 anos, possui apenas ferramentas e máquinas simples, mas graças à perícia consegue “fazer qualquer coisa em madeira”. A internet deu-lhe o que faltava: a inspiração. Ao ver uma cama desmontável e que não precisava de pregos ou parafusos, Nílcio resolveu construir uma cópia. De imediato, os amigos desejosos de ter uma igual, deram-lhe uma ideia revolucionária: produzir peças acessíveis, práticas e modernas que qualquer angolano pudesse comprar. Nílcio Moreno está já a desenvolver um sistema de prateleiras modulares, compatíveis com todas as casas e estilos. E este primeiro projeto deu-lhe uma nova ideia mais ambiciosa: “Um dia, posso aumentar o negócio e vender para outros países africanos”. Porque não? 58 Creativity, expertise and ambition are the basis for any successful business and carpenter, Nílcio Moreno, has these qualities in abundance. The 28 year old, who now lives in Luanda, is preparing to take Africa by storm with his innovative furniture. After leaving school aged 17, he learned carpentry in Sao Tome e Principe. “There were some Portuguese who taught me everything about this profession”, he explains. Later on, he attended a carpentry and woodworking school for nine months. One day, while browsing the Internet, he came across a wooden bed that did not need nails or screws. It was also collapsible and stackable. Intrigued, Nílcio built a similar bed, and when his friends saw it, they all wanted one. It gave him a revolutionary idea – to produce accessible, practical and modern furniture that any Angolan could afford. Today, Nílcio Moreno has developed a system of modular shelving, compatible with all other houses and styles. However, he has not only ambition but also new ideas and so far, no intention of stopping there. “One day,” he said, “I will expand the business and sell to other African countries.” What is more, there is no doubt he will succeed. 60