educação

Transcrição

educação
Fundo Soberano de Angola
Educação
Education
61
Futuro Risonho — Eliza, Madalena e Glória, de 15, 17 e 15 anos, terminaram as aulas na Escola Missionária
Feminina Santa Madalena. As mais novas querem ser gestoras e empresárias da construção civil, e Madalena atriz.
Smiling Future — Eliza, 15, Madalena, 17, and Glória, 15, have finished classes at the Saint Magdalena Feminine
Missionary School. The younger two hope to be civil engineers and managers, while Madalena focuses on acting.
2
Estilo Judicial — Pedro, 17 anos, veste-se sempre à altura do futuro que ambiciona: ser jurista. Na escola
Dom Bosco Luanda, passa os intervalos ou a conversar ou a ler, pois Português é a disciplina preferida.
Legal Outfit — Pedro, 17, likes to dress smartly, planning for his future. He attends the Dom Bosco School in Luanda
and intends to be an attorney. He never wastes a moment, even in his break he studies his favourite subject, Portuguese.
3
Pedalar para Aprender — A vida de Desedero, de 15 anos, mudou desde que tem bicicleta e luvas de ciclista para ir
de Chindenda à Escola Missionária de Luculo Zenze. Em vez de uma hora a caminhar, já só demora 15 minutos a pedalar.
Riding to Learn — The life of 15 year old Desedero was transformed by his bicycle and cycling gloves. He attends the
Luculo Zense Missionary School in Chindende but it took him an hour to walk there, now it takes him 15 minutes.
4
Determinação tranquila — Georgina diz que quer ser professora, enquanto aprecia o silêncio da sala de aula, na
Escola Missionária de Luculo Zenze, no intervalo de almoço. A jovem de 17 anos vive a uma hora a pé, em Santa Marta Zeze.
Quiet Determination — Georgina, 17, appreciates the tranquillity of the classroom in the Luculo Zenze Missionary
School. She lives an hour away on foot, in Santa Marta Zeze, but her determination to be a teacher is worth her daily walk.
5
Aluna Precoce — Natércia começou há poucos dias a aprender as primeiras letras na escola Dom Bosco Luanda.
Só tem 5 anos e não é fácil adaptar-se à grande secretária. Como os números são mais fáceis, prefere a Matemática.
Early Learner — A few days ago, Natércia started learning her first letters at Dom Bosco School in Luanda. At only
5 years old, Natércia thinks numbers are easier, which is why the girl from Sambizanga prefers mathematics.
6
Vestir a tradição — Tafiona e Coleta, duas amigas de 13 anos, exibem orgulhosamente os seus vestidos típicos de
Cabinda. Frequentam a 7.ª classe da Escola Barão Puna, onde todas as quartas-feiras vestem os mais belos trajes tradicionais.
Dressing in Tradition — Tafiona and Coleta proudly exhibit their traditional Cabinda dresses. The 13 year old
friends both attend the 7th grade in the Barão Puna School and every Wednesday wear their beautiful traditional clothing.
7
Cuidando do Futuro — António vive no Bairro da Cassoleca, tem 13 anos e anda na 6.ª classe. No intervalo
da Escola das Mangueiras, no Namibe, sonha com o futuro: quer ser enfermeiro para poder ajudar as pessoas.
Nursing the Future — António enjoys recess at the Mangueiras School in Namibe. In sixth grade and 13 years old,
the the young angolan from Bairro da Cassoleca wants to be a nurse, so he can help people to improve their lives.
8
Leis da Natureza — Esperança, 16 anos, caminha uma hora todos os dias desde o Bairro das Mangueiras até à escola
homónima, onde frequenta a 8.ª classe e sonha em ser advogada. À sombra da árvore encontra o lugar aprazível para estudar.
Laws of Nature — Every day, 16 year old Esperança walks for an hour from Bairro das Mangueiras to the Mangueiras
School. She plans to be a lawyer and the cool shadow from the tree gives her the perfect place to think and study.
9
Editorial
Índice
Angola today stands before a unique opportunity to improve
living conditions for all of us. Nonetheless, as with other
emerging economies, a commitment to lasting solutions that
relieve the current dependence on the commerce of non-renewable raw materials is essential. Here, and on the path towards development, investment in our national frameworks
and institutions assumes a vital role.
Several studies by international institutions, such as “Diversified Development: Making the Most of Mineral Resources
in Eurasia” from the World Bank, indicate that economies
rich in natural resources have benefited from the rising prices experienced since 2000. But in order for these nations to
continue to benefit from current revenues in the future, they
must rapidly become more efficient. There is no evidence to
show that diversification of production and national exports
is enough to ensure a country’s development. Therefore, the
focus of governance needs to achieve a balance between the
returns derived from non-renewable raw materials and those
from human capital and national institutions.
We in Angola cannot escape this challenge. Currently, 47%
of GDP originates from crude oil, i.e. the industrial sector,
which represents 70% of state revenue but employs just 10%
of the national workforce. Most employment is still accounted for by the agricultural sector in subsistence farming. The
immediate reading of this situation is that the value added to
raw materials in the country by its human and institutional
capital must rise in order to consolidate the sustainability of
national growth.
In fact, it is worth noting that workforce training is the key
factor in this regard. On the subject, however, it is relevant to
remember that since achieving peace the country has taken
important steps that have allowed Angolans to face the future
with greater optimism. We need only recall the sharp reduction in illiteracy during the last decade, from 65% to about
30%, or that the student population has risen by 120.5% to
more than 5.6 million, accompanied by a marked increase
in the number of teachers. We can also add projects such as
Educational Reform, which, through the promotion of education, falls within the broad programme of combating poverty, social and gender inequalities and improving access to
healthcare, and has already resulted in a fall in poverty from
68% to some 36%.
The role of the Angola Sovereign Fund is to continuously
reinvest current revenues from non-renewable resources for
the benefit of present and future generations. This process depends on improved workforce training and the strengthening
of our institutions. For that reason, we have chosen this topic
of vital importance to celebrate the first edition of this publication – Education.
José Filomeno dos Santos
Presidente do Conselho de Administração, Fundo Soberano de Angola
José Filomeno dos Santos
Chairman of the Board of Directors, Fundo Soberano de Angola
10
16
Educação para Todos: Angola aposta num sistema de ensino geral e de qualidade
Education for All: Angola takes up the challenge to build an education system for all
Dom Bosco: educar em família
Dom Bosco: keeping it in the family
46
Breves
30 Estudar no Deserto
34 Irmã Elisa e a Casa da Alegria
38 Uma Aldeia Africana em Sumbe
40 Quando Eu Crescer, Quero Ser...
58 O Meu Futuro
12
20
Produced by We Communications
Hoje, Angola depara-se com uma oportunidade única de melhorar as condições de vida de todos Nós. Mas à semelhança
de outras economias emergentes, a aposta em soluções sustentadas, que contrariem a atual dependência da comercialização
de matérias-primas não-renováveis, é indispensável. Aqui, o
caminho do desenvolvimento, o investimento nos quadros e
nas instituições nacionais assume uma posição determinante.
Vários estudos de instituições internacionais, como o intitulado “Desenvolvimento Diversificado: Aproveitando ao Máximo os Recursos Minerais da Eurásia”, elaborado recentemente
pelo Banco Mundial, indicam que, a partir de 2000, as economias ricas em recursos naturais beneficiaram do aumento dos
seus preços. Mas para que estas nações continuem a beneficiar
das atuais receitas no futuro, é necessário que se tornem mais
eficientes. Não existem sinais de evidência de que a diversificação da produção e da exportação nacional sejam suficientes
para o desenvolvimento de um país. Assim, o foco da governação precisa de incidir no equilíbrio entre os rendimentos das
matérias-primas não-renováveis e o dos capitais humanos e
instituições nacionais.
Nós, em Angola, não escapamos a este desafio. Atualmente, 47% do PIB provém do petróleo bruto, ou seja, do setor
industrial, que representa 70% das receitas do Estado, mas só
emprega 10% da força de trabalho nacional. A maioria do
emprego ainda é reclamada pelo setor agrícola, para fins de
auto-subsistência. A leitura imediata desta conjuntura é que o
valor agregado às matérias-primas no País por Nós, os capitais humanos e institucionais, precisa de se elevar para consolidar a sustentabilidade futura do crescimento nacional.
Com efeito, vale a pensa salientar que a formação de quadros é aqui o fator nevrálgico. Neste domínio, interessa, no
entanto, recordar que o País marcou passos importantes desde
o alcance da paz que têm permitido aos angolanos encarar o
futuro com mais otimismo. Basta lembrar a redução substantiva do analfabetismo de 65% para cerca de 30% na última década, ou o aumento de 120,5% da população estudantil, para
mais de 5,6 milhões de alunos acompanhados pelo crescimento significativo do número de professores. A estes resultados
juntam-se ainda os de projetos como a Reforma Educativa
que, através da promoção da educação, se insere no amplo
programa de combate à pobreza, às desigualdades sociais, de
género e de acesso à saúde, tendo a pobreza recuado de 68%
para 36%. O papel do Fundo Soberano de Angola passa pelo
reinvestimento contínuo das receitas atuais de recursos não-renováveis para o benefício das gerações atuais e vindouras.
Este processo depende da capacidade e consciencialização elevada dos nossos quadros e das nossas instituições. Por isso,
elegemos este tema de relevância vital para a primeira edição
desta publicação, a Educação.
12
Painel de Especialistas: trunfo de Angola
Experts Painel: Angola’s greatest asset
News
30 Learning in the Desert
34 Sister Elisa and the House of Joy
An African Village in Sumbe
What I Want to Be...
58 My Future
38
40 11
Breves
Aprender com
o meu amigo
Pl aying the
Learning Game
O projeto One-Laptop-Per-Child
é um sucesso comprovado
The One-Laptop-Per-Child project has
proved to be a great success
Em 2011, as escolas Dom Bosco foram selecionadas pela
African Innovation Foundation para acolher a iniciativa de
Nicholas Negroponte, One-Laptop-Per-Child Project, em Angola. Como a avaliação tem sido muito positiva, em 2014
o financiamento do projeto foi assumido pelo Fundo Soberano de Angola (FSDEA), estando assegurada a compra de
mais 1400 portáteis e o lançamento da iniciativa em Calulu
(Kwanza-Sul).
Os primeiros 100 Kamba Dyami (KD) começaram por ser
distribuídos em duas escolas – Sambizanga e Cazenga – e, nesses dias, não há aluno que fique doente ou faça piada às aulas.
Kamba Dyami é o “meu amigo”, em Kimbundu, uma das lín-
In 2011, the African Innovation Foundation (AIF) selected the
Dom Bosco schools as the recipients of the One-Laptop-PerChild (OLPC) initiative, launched by Nicholas Negroponte,
in Angola. In 2014, the project got financed by the Sovereign
Fund of Angola and with this backing 1,400 more handhelds
were purchased and enabling the initiative to launch in Calulu
(South Kwanza).
The programme began by putting the first 100 Kamba Dyami into two schools, one in Sambizanga, the other in Cazenga. And on these days, no student takes the day off sick or
plays hookey. Kamba Dyami means “my friend” in Kimbundu, one of Angola’s official languages. It is also the name of the
12
guas nacionais angolanas, e é também o pequeno
portátil verde através do qual centenas de crianças desfavorecidas têm o primeiro contacto com
as novas tecnologias.
“O Kamba Dyami deixa os alunos muito motivados”, relata Andreia Baltazar, coordenadora
pedagógica do Projeto Kamba Dyami (PKD), no
complexo escolar Dom Bosco, Luanda.
Rapidamente aprendem a abrir, a ligar, a desligar e a utilizar algumas das funcionalidades e
das atividades propostas por este portátil concebido para ser acessível a todas as idades. Aliás, o
maior desafio para os professores é acompanhar
o ritmo dos seus alunos. Com jogos e atividades
interativas, os alunos utilizam o KD para consolidar o que aprenderam em Português e Matemática e também nas restantes disciplinas. O KD
funciona em open source e sem fios, facilitando o
acompanhamento de colegas e professores.
Segundo a coordenadora, a adaptação e a
“contextualização dos conteúdos foram o maior
problema”, embora, no início, a falta de preparação dos professores tenha obrigado à contratação de técnicos oriundos do Brasil e do Uruguai,
onde já havia experiência neste tipo de projeto.
Atualmente, o estabelecimento de parcerias internacionais é equacionado como solução para o
futuro, designadamente na formação de programadores do sistema Linux para a criação das diversas atividades do Kamba Dyami. Mas os docentes angolanos já descobriram como contornar
alguns dos obstáculos: “Encontrámos um software livre que permite criar conteúdos e vamos
começar a utilizá-lo”, anuncia Andreia Baltazar,
acrescentando que também já conseguiram escrever o primeiro manual do KD em português.
Mas o plano é expandir, servindo o sucesso
do PKD nas escolas-piloto como incentivo para
massificar a iniciativa a nível nacional.
1.636
alunos já estudam com
um Kamba Dyami
students already study
with a Kamba Dyami
800
portáteis Kamba Dyami
distribuídos em dois anos
handheld Kamba Dyami
have been distributed in
two years
43
professores participam
no Projeto Kamba Dyami
teachers participated in
the Project Kamba Dyami
1.400
portáteis estão
assegurados pelo Fundo
Soberano de Angola
handhelds are insured
by the Sovereign
Fund of Angola
4
províncias para replicação do PKD: Bengo,
Kwanza Norte, Kwanza-Sul e Benguela
provinces are eligible for
the PKD initiative: Bengo,
North Kwanza, South
Kwanza and Benguela
small, green handheld computer that has given
hundreds of underprivileged children in Angola
their very first contact with technology.
“The Kamba Dyami makes the students very
motivated,” says Andreia Baltazar, education coordinator of Project Kamba Dyami (PKD) at the
Dom Bosco schools.
They are quick to get to grips with the device
– learning how to open it, turn it on and off and,
most importantly, use its many activities. The
challenge for the instructors, however, is to keep
up with student progress. “The students end up
overtaking the teacher,” she explains. “The KD
uses a language designed for children so they end
up teaching themselves.”
With games and interactive activities, the
students use the KD firstly to learn Portuguese
and mathematics before slowly including their
other subjects. The KD is also wireless and easier
for the children to use whether on their own or
working together. The most challenging part of
deploying the technology was adapting it to suit
the needs of Angolan schools. There was also the
problem of a lack of qualified teachers. Experts
from Brazil and Uruguay were brought in and,
with help from Linux administrators with Python programming experience, suitable software
was created for the Angolan Kamba Dyami activities. However, the Angolan teachers managed
to solve some of the problems themselves: “We
found free software that allowed us to create the
content we need, then use it immediately,” explained Andreia Baltazar. Even better, the teachers have already succeeded in writing the first KD
manual in Portuguese.
Using the success of PKD in these schools, the
plan now is to expand the project and attract media attention at the national level.
O FSDEA lança Escola Hoteleira
FSDEA launching Hotel School
A indústria hoteleira africana está pronta para uma dinâmica
de crescimento. O FSDEA reconhece o papel que pode desempenhar, como motor, na criação de receitas, no setor de serviços
angolano. Todavia, para competir globalmente precisamos de
uma força de trabalho muito qualificada e eficiente, de modo a
ter serviços nos padrões internacionais. Assim, o Fundo está a
lançar uma escola hoteleira que permita aos jovens angolanos
obter conhecimentos desta indústria. A escola desempenhará
um papel crucial como catalisador na criação de oportunidades de emprego e empreendedorismo, além de apoiar a melhoria do setor de serviços nacionais nos próximos anos.
The African hotel industry is poised for buoyant growth. The
FSDEA also recognizes the role it can play as a key driver for
revenue generation in the service sector of our country. However, to compete on the global arena we need a fully qualified and highly efficient workforce to deliver services at the
international standards. Therefore, the Fund is launching a
hospitality school to equip Angola’s youth with industry level
hospitality know-how. The school will play a crucial role as a
catalyst in creation of employment and entrepreneurship opportunities, in addition to supporting the improvement of the
domestic service sector in the coming years.
13
Breves
O investimento
angolano em
gestão do
conhecimento
O MERCADO
ESCOLA
Como componente do seu programa social, o FSDEA tem por objetivo
promover uma iniciativa educacional
chave no campo de gestão de investimentos. Apesar de anos de crescimento económico positivo, a escassez de
competências continua a ser um desafio nas áreas de gestão de investimentos e de empreendedorismo de
negócios, fundamentais para atingir
o crescimento diversificado e necessário na economia angolana. A fim de
apoiar o reforço das capacidades nacionais nestes campos, bem como o
fortalecimento económico de Angola, o FSDEA vai assegurar uma Bolsa
de Serviços Financeiros que dará a 50
jovens licenciados talentosos a oportunidade de enveredarem por uma
pós-graduação exclusiva na gestão de
investimentos numa universidade reconhecida internacionalmente.
Onde crianças e comerciantes
aprendem juntos a ler
Situado na cidade de Namibe, o Mercado 5 de abril alberga um projeto inovador integrado no Programa de Alfabetização e Aceleração Escolar (PAAE)
destinado a combater a taxa de analfabetismo entre jovens e adultos. Graças
aos esforços financeiro conjuntos do
Governo, ONG e entidades privadas,
tem decrescido desde a independência,
sobretudo desde a introdução do método cubano em 2009: de 75% em 1975,
passou para 33% em 2011. Dados do
último trimestre de 2013 revelam estarem já matriculados sete milhões e 408
mil alunos.
“Não quero ter um bilhete onde vem
não sabe assinar”, explica Joaquina
M´Bimbi (imagem à direita), fotografada na sala de aulas, uma ilha de sossego
e concentração. Casada, 48 anos e mãe
de sete filhos, Joaquina M’Bimbi vendedora de carvão mas, nas horas mortas,
partilha as aulas do módulo 1 (o equivalente às 1.ª e 2.ª classes) com crianças
de 12 anos, ou menos, porque não tem
tempo para frequentar as turmas dos
adultos. “É uma dificuldade”, explica
João Paulo, o diretor da escola e membro da Organização da Mulher Angolana (OMA), a instituição que incentivou
a administração municipal a construir
estas salas de alfabetização. “Já temos
540 alunos divididos entre os três módulos. As turmas são formadas segundo
três faixas etárias – dos 12 aos 15 anos,
dos 16 aos 18 anos e dos 20 em diante
– mas durante as inscrições alguns pais
mentem e só depois é que vemos que as
crianças têm 10, 11 anos”. E remata:
“Mas a taxa de sucesso é muito positiva:
80% de aprovações.”
14
Building Angola‘s
Investment Management
know-how
the marketSCHOoL
Where children and traders
learn together how to read
Located in the city of Namibe, the marketplace 5 de Abril houses an innovative
project – the Programme for Illiteracy
and Scholastic Acceleration and it has
been designed to combat the illiteracy
rate of young people and adults. In
1995, 75 per cent of people were illiterate. Now, thanks to the financial and
other efforts of the government, NGO’s
and private entities, illiteracy has decreased especially in comparison with
the time of the country’s independence.
In 2009, the introduction of the Cuban literacy method pushed this figure
down even further and, by 2011, illiteracy had dropped to 33 per cent and
by 2013 seven million 408 thousand
students had graduated from the programme. One such student is Joaquina
M’Bimbi, 48 (right page). A married
mother-of-seven, she works selling coal
but also takes module one (the equivalent to first and second grade classes)
with children aged 12 years and younger
because she does not have time to attend
the adult courses. “I don’t want an ID
card that says ‘doesn’t know how to
sign’,” she said sitting in the classroom,
an island of silence and concentration.
“This is one of our difficulties,” explains João Paulo, the school’s headmaster and a member of the Organisation of
Angolan Women (OAW), the institution
that backed the building of these literacy
classrooms. “We have 540 students divided among the three modules.” The
classes are formed according to three
age groups – 12 to 15 year olds, 16 to
18, and 20 and older. “However – he
admits – many vendors do prefer the
younger student schedules and during
registration some parents lie and only
afterward do we find out that the children are 10 or 11 years old.”
Finally, João Paulo concludes: “Our
success rate is very positive: 80 per cent
of our students were approved.”
As part of its social charter program,
the FSDEA aims to introduce a key
educational initiative within the investment management field. Despite
years of positive economic growth,
skills shortage remains a challenge in
the investment management and
entrepreneurial fields of business,
which are key to attain the diversified
growth needed in the Angolan economy. In order to support domestic capacity building within these fields, as
well as the economic empowerment
of Angola, the FSDEA is launching a Financial Services Scholarship
that will provide 50 talented young
graduates with the opportunity to
undertake an exclusive post-graduate
degree in investment management at
a world leading university.
15
“Os nossos jovens são a
base do nosso futuro.”
“Our youth will be the
foundation for our future.”
Expedição de Aprendizagem
Learning Expedition
Angola de norte a sul: em busca da nova geração de estudantes
Angola, from North to South, searching for the new generation of students
Educação para todos
Education for all
Nos últimos anos, o Estado desenvolveu o programa Educação Para Todos, que promove o acesso à instrução desde o ingresso à pré-primária, passando pelo ensino primário universal, de qualidade e em igualdade de género, até à alfabetização
de jovens e de adultos. A cooperação com privados, ONG e
outros países tem sido importante. E, em 2009, a introdução
do método cubano de alfabetização em quatro províncias, obteve resultados animadores: em apenas quatro anos, o analfabetismo desceu de 65% para 33%.
O sistema de ensino possui agora três níveis elementares:
o ensino primário, com oito anos no total, dos quais quatro
são obrigatórios, o ensino secundário, com quatro anos e o
ensino normal para formação de professores ou ensino técnico
destinado ao mercado laboral, conforme o lecionado no Instituto Nacional de Petróleos, no Sumbe. A soma destes graus
é complementada pelo ensino pré-universitário e superior, disponíveis em 37 núcleos distribuídos a nível nacional.
A carência de professores primários e de escolas é o maior
problema numa província onde existem, em média, 154 alunos para um docente, algumas escolas são ao ar livre e outras
chegam a ter cinco turnos de aulas por dia. O Projeto de Apoio
ao Ensino Primário tem sido fundamental na distribuição de
material e formação de professores.
Angola is looking towards a more inventive and modern future due to the country’s extensive literacy programme that
encourages education from an early age.
With such a vast population of young people – mostly children, teenagers and the so called “young adults” – education
is a key issue. Known as Education For All, this new implemented education system is now housed in 37 centres across
the country and is a multi-levelled organisation, taking pupils
through from infancy to degree level. As well as championing gender equality, it also encourages adult education, even
elderly people. The cooperation of private companies, nongovernment organisations (NGOs) and other countries has
been very important. In 2009, the introduction of the literacy
Cuban method was tested in four provinces, with exciting results: over a period of four years, illiteracy decreased from 65
per cent to 33 per cent.
The Primary Education Support Project has proven essential in both distributing materials and the training of teachers,
yet there is still some work to be done. A shortage of primary
teachers means the average number of students is often as
many as 154 for each instructor, while lessons regularly have
to be held outdoors as there are no classroom facilities.
VISÃO VERTICAL DO SISTEMA DE ENSINO
Vertical Vision of the Education System
Ensino Superior
Duração de 5/6 anos
2 níveis de formação
Higher EducationDuration of 5/6 years
2 levels of training
Ensino Médio
Duração de 4 anos
2 ramos fundamentais:
– Técnico (mercado laboral)
– Normal (professores do Ensino de Bases)
Tertiary level
4 years duration
2 fundamental areas:
– Technical (labour market)
– Normal (teachers for general education)
Pré-Universitário
6 semestres letivos
Pre-University
6 Semesters
Ensino Geral de Base Composto por 8 classes
Estruturado em 3 níveis:
– Nível 1* (4 classes)
– Nível 2 e nível 3 (2 classes cada)
* Obrigatório
18
General Education
Consisting of 8 classes
Structured in 3 Levels:
– Level 1* (4 classes)
– Level 2 & 3 (2 classes each)
* Compulsory
Cabinda
República Democrática
do Congo
Luanda
Sumbe
República de Angola
Zâmbia
Namibe
Namíbia
Escola Santa Madalena ............................................................
Dom Bosco ...................................................................................
Instituto Nacional de Petróleos ................................................
Escola Soba Inácio Messeca ....................................................
p. 34
p. 20
p. 38
p. 30
Ao longo de três semanas percorremos algumas das principais províncias do país – de Cabinda ao Kwanza-Sul,
passando pelo Namibe e por Luanda – para descobrirmos
que todos os angolanos (crianças, jovens, adultos) não só
querem como gostam de estudar.
Santa Madalena School ............................................................
Dom Bosco ...................................................................................
National Institute of Petroleum ................................................
Soba Ignatius Messeca School .................................................
p. 34
p. 20
p. 38
p. 30
During three weeks, we travelled through some of the
most important provinces of the country – from Cabinda
to Kwanza-Sul, passing along Namibe and Luanda – just
to find out that the Angolan people (children, teenagers,
adults) not only want but also like to study.
19
E duc a r e m
família
Mais do que uma escola, a Dom Bosco é uma vasta comunidade
educativa onde todos contribuem para o progresso pessoal e
profissional dos alunos
K e e pi ng i t i n t h e Fa m i ly
More than a school, Dom Bosco is a vast educational
community where everyone helps and its students’ progress
in every aspect of their lives, like one big, happy family
José da Silva Domingues
Bandos de crianças, de todas as idades, brincam descontraídas
no pátio ou correm alegremente pelos corredores, enquanto
jovens e adolescentes prosseguem em direção às salas de aulas,
de livros debaixo do braço e batas imaculadas. Fazem parte
dos dez mil alunos que diariamente frequentam a escola Dom
Bosco, dirigida pelos Irmãos Salesianos de Angola e situada
em pleno bairro Lixeira, no distrito urbano de Sambizanga,
um dos musseques mais carenciados de Luanda em termos
de infraestruturas básicas. Com mais de sessenta obras assistenciais – creches, escolas, internatos, centros médicos – espalhadas por dez províncias – de Luanda a Benguela passando
por Cabinda e pelo Bengo – os salesianos chegaram ao país
ainda durante a guerra civil, em 1981, a pedido dos bispos de
Angola que lhes cederam algumas das paróquias mais problemáticas. Atualmente, dedicam-se sobretudo à educação da juventude mais desfavorecida, não só ao nível do ensino regular
como dos centros de alfabetização e de formação profissional
(já criaram 11 centros, frequentados por cerca de cinco mil
jovens), embora a paróquia do bairro Lixeira, dirigida pelo
padre Santiago Christophersen, um uruguaio de 46 anos, seja
Groups of children play in the courtyard, others dash, laughing, through the corridors. Older children and adolescents
hurry from class to class, carrying books under their arms and
dressed in immaculate gowns. The care taken with their dress,
the rapt concentration on their faces as they listen to their
teachers shows their pride in attending this school. For them,
studying is a pleasure, not a chore.
They are part of the 10,000 students taught daily at the
Dom Bosco School, in Bairro Lixeira in Sambizanga County.
It is a remarkable place and has helped many thousands of
children. Run by the Salesian Brothers of Angola, a Roman
Catholic mission, it’s objective is to help the young people of
Angola and to educate them out of illiteracy and poverty.
The Salesians arrived in the country during the civil war
in 1981 at the request of Angolan bishops. They immediately
began working in some of the most problematic parishes in
the country and, now over 30 years later, they have established
more than 60 charities throughout ten provinces, from Luanda to Benguela, Cabinda to Bengo. These include nurseries,
schools, boarding schools and medical centres.
Estudo em grupo durante a tarde. Group studying during the afternoon.
22
Violante Mateus
Over the years, the Salesians have created 11 centres in
responsável por 14 comunidades salesianas que atuam em diversas áreas desde a saúde (gerem quatro centros que prestam Angola, which are attended by nearly 5 million young peocerca de dez mil consultas mensais) a uma rede de acolhimen- ple. The lessons do not only focus on formal education. In
the Bairro Lixeira parish, directed by Father Santiago Christoto de crianças e adolescentes de risco, que vivem na rua.
“Temos também serviços pré-escolares para crianças dos 3 phersen, a 46 year old Uruguayan, there are 14 Salesian comaos 5 anos e ainda 14 centros muito rudimentares dedicados à munities, covering many areas of life. Among the most imporalfabetização e à escolarização primária (490 alunos em 2013), tant of these are the four health centres. Between them, these
e que ajudam a combater o analfabetismo de todas as crianças provide nearly ten thousand monthly consultations for young
que ficam de fora do sistema escolar”, explica com um sorriso people. There is also a vast support network to help children
o padre Santiago, alheio à alegre algazarra dos alunos. A vi- and adolescents who are at risk and living on the street.
“We have pre-school services for children between three
ver em Angola há vinte e dois anos, Santiago Christophersen
é também o diretor da escola-mãe Dom Bosco da paróquia and five years old and 14 rudimentary centres dedicated to
literacy and primary school (caterde São da Nazaré, uma das duas
ing for 490 students in 2013). Our
escolas que os salesianos criaram
intention is to help combat illiteraem Luanda. A afluência dos alucy in children outside of the school
nos é tão elevada que as aulas são
system,” Father Santiago explains
dadas em três turnos – manhã,
with a smile, as the students clamtarde e noite – levando a que a esour cheerfully around him.
cola se encontre aberta das 7h30
Having lived in Angola for 22
às 22h30. Mesmo assim, diz que
years, Santiago Christophersen
não consegue atender a todos os
is also the director of the parent
pedidos de inscrições que lhe cheschool Dom Bosco of the San José
gam. “É verdade que temos feito
de Nazaré parish, one of the two
um bom trabalho, sobretudo num
that the Salesians have created in
bairro fragilizado como este, mas
Luanda. Running the school with
ainda há muito por fazer”, refere.
so many students wanting to atAqui, apesar do ritmo intenso,
tend is a considerable challenge
o padre Santiago tem sempre a
too. To accommodate them all
porta aberta para acudir aos alulessons are given in three shifts
nos que o procuram com proble– morning, afternoon and night
mas pessoais ou familiares e só sai
– with the school staying open
da escola por volta da meia-noite.
from 7.30 a.m. until 10.30 p.m.
Afirma que a maior riqueza de
Even so, there is still a great deal
Angola é “a sua população, ainda
muito jovem mas de espírito posi“A população é muito jovem mas of work to do. “We have done a
good job,” he says, “especially in
tivo, apesar da maioria viver com o
tem
um
espírito
positivo.”
a fragile neighbourhood like this,
mínimo indispensável”, e defende
but it is not sufficient.”
que a família e a educação devem
“The population is very young
Despite the frantic hustle and
ser a base para o desenvolvimento
but of positive spirit.”
bustle, Father Santiago is always
sustentável do país. Explica que o
available to talk to students who
Governo tem feito vários esforços
nesse sentido mas que faltam mais e melhores infraestruturas come to him with personal or family problems. He rarely
escolares (salas de aula, livros, material complementar diver- leaves the school before midnight, claiming that the biggest
so, etc.) para poderem melhorar a qualidade do ensino, pois treasure in Angola is “its population, still very young but of
mesmo o material que é distribuído gratuitamente pelo Estado positive spirit, despite the majority living on the bare minimum”. He defends the belief that family and education should
não chega para todos.
A direção salesiana aposta também na formação contínua be the base for the sustainable development of the country.
He explains that the Government has made an effort to asdos seus professores e no incentivo aos encarregados de educasist but more is still needed. Most importantly, a better school
ção para participarem na comunidade educativa.
“Dom Bosco deixou-nos como herança o Sistema Preven- infrastructure is required – new classrooms, books and other
tivo, um método educativo baseado inteiramente na razão, na basic equipment – in order to improve the quality of educareligião e no amor, pois acreditamos que os educadores devem tion. What the state provides, although helpful, is still not
enough.
estar presentes fraternalmente no meio dos jovens”, remata.
Vista a partir do telhado da Dom Bosco. View from the top of Dom Bosco´s roof.
27
As boas-vindas aos alunos da tarde. Welcoming the afternoon shift students.
E basta observar a forma ordeira como os alunos se perfilam ou a concentração com que escutam os professores para
intuir o quão orgulhosos se sentem por frequentar esta escola
em que estudar não é uma obrigação mas sim um prazer.
“Sim, é necessário ganhar o coração do estudante para que
ele consiga aprender o que queremos ensinar. E onde não há
amor dificilmente poderá haver educação”, diz José da Silva
Domingues, professor de Matemática e acérrimo defensor
do espírito de entreajuda partilhados por toda a comunidade
educativa de Dom Bosco. Aos 36 anos, este professor angolano é um bom exemplo do ambiente solidário e empenhado
que se vive na escola Dom Bosco. Além das aulas de Matemática que lhe ocupam as tardes e onde tenta transmitir aos seus
alunos de que forma os conhecimentos científicos podem ser
aplicados à vida real, durante a manhã trabalha na direção da
obra salesiana e ainda aproveita os fins de tarde e a noite para
estudar: está a acabar o quarto ano do curso de Administração de Empresas e frequenta um curso de inglês duas vezes por
semana. Um quotidiano pesado? “Nem por isso”, responde
sem hesitar. “Sempre quis ser professor, desempenho todas estas minhas tarefas com muito gosto e, além do mais, a própria
arte de ensinar obriga-nos a saber sempre mais.”
28
“Dom Bosco left us an educational method based on reason, religion and love,” he says. “Because of this we believe
that teachers should be fraternally present among the young
people, in their groups and activities.” Which is why the teachers live and work alongside the pupils, many of them continuing with their own higher levels of study.
“For a student to be able to learn, it is necessary to win over
his heart,” says José da Silva Domingues, mathematics teacher
and staunch defender of the spirit of mutual help and sacrifice shared by Dom Bosco’s whole educational community. “If
there is not love, it is difficult to have education.”
The 36 year old Angolan teacher is a good example of the
supportive and committed environment that lives in the Dom
Bosco school. In addition to teaching a maths class every afternoon, he does Salesian missionary work in the mornings
and at night he studies. He is about to finish the fourth year
of business administration degree and attends an English class
two nights per week. A busy schedule?
“Not really,” he responds without hesitating. “I always
wanted to be a teacher, I do all my homework with joy and,
even better, the very art of teaching gives me the chance to
learn more every day.”
O Avô Professor
The “GRAND-teacher”
Professor há mais de quarenta anos, Israel Martinho acredita que as crianças têm de estudar com um objetivo: serem os futuros quadros superiores de Angola.
As a school teacher for over 40 years, Israel Martinho believes that children should study with one objective – to be
future leaders of Angola
Conte-nos como veio dar aulas para a Escola Dom Bosco.
How did you come to teach for the Dom Bosco School?
Nasci na província do Bié, trabalhei em várias comunas
mas por causa da situação política saí do Bié em 1988 e
fui para a cidade do Lubango. Veio a guerra e, em 1992,
fugi a pé para Luanda. Entrei para a Escola Dom Bosco em
1993, agora sou o coordenador das aulas de Matemática
e, depois de quarenta e dois anos como professor, estou à
beira da reforma.
I was born in the Bié province where I worked in several schools but because of the political situation I left Bié
and went to the city of Lubango. The war came and, in
1992, I fled on foot to Luanda. I began working at the
Dom Bosco School in 1993 and now I’m the coordinator
of mathematics classes at Dom Bosco. After 42 years of
teaching, I’m about to retire.
Como professor deu aulas antes e depois da independência e mesmo durante a guerra.
Quais foram as maiores dificuldades que
encontrou?
You taught before and after the independence, and also,
during the war. What were the difficulties
you encountered?
Quando um homem é desalojado fica
economicamente descomandado. Na minha terra natal eu tinha todas as condições e depois de trinta anos de trabalho
devia reformar-me, mas sou obrigado a
continuar a dar aulas. Quando estava no
Lubango, tentei construir uma casa mas
assim que comprei alguns sacos de cimento e umas chapas, veio a guerra e mais
uma vez perdi tudo. Fugimos a pé para
Luanda e não trouxemos nada, nada...
Tem três netos a viver em sua casa. Porquê?
A mãe deles, minha filha, faleceu em 2004, quando eram
todos quase bebés de colo. O pai é militar mas deficiente
físico porque ficou mutilado pela guerra. Então eu disse
à minha esposa: “Esses bebés ficam connosco para ver se
estudam!” O pai vive no Kuito e às vezes manda umas
mensagens e vem cá. Mas a responsabilidade é nossa que
somos os avós maternos. O Alfe já tem 13 anos, resolve as
tarefas todas da escola e na Matemática ajudo eu.
O que é que deseja a todas as crianças que andam a
estudar?
Todos os que tiverem um lugar na escola devem estudar
para compreender a matéria e não só para aprovar. Têm
que estudar com um objetivo. Muitas das nossas meninas
têm um bom rendimento no primeiro trimestre, mas no
segundo ou no terceiro ficam grávidas. Queremos formar
quadros para eles ocuparem os nossos lugares.
When a man is displaced, things become
very challenging on a financial level. When
I was in Bié province, I had everything I
needed – a home, an income. While I was in
Lubango, I tried to organize the construction of a house but just as I bought some cement and some sheeting, the war came and
I lost everything. We escaped to Luanda on
foot but we had nothing. After 30 years of
work, I have all these things again.
You have three grandchildren living in
your house. Why?
They are my daughter’s children but she passed away in
2004, when they were all babies. Their dad is in the military but he has a physical disability from being injured during the war. So, I said to my wife:, “These babies will stay
with us, and we will make sure they study!” Their dad lives
in Kuito but visits regularly. Alfe is already 13 years old,
does all his schoolwork and I help him with mathematics.
What do you wish for all the students who go to school?
We want them to be educated but we must have a lot of
patience because to be a teacher is also to be like a parent –
nurturing and guiding. My hope is that the students really
understand and engage with what we’re teaching them
rather than just learning enough to pass. If they study with
a goal, they are more likely to succeed. Many of our girls
show real promise during the first trimester, but in the second or third they get pregnant. We want to make leaders
who can keep the reform of our country moving forward.
29
30
O dia das crianças mucubais é duro e começa de madrugada. Depois das tarefas feitas, têm de caminhar
uma hora até à escola que não tem salas de aula. Só regressarão à aldeia ao fim da tarde.
Mucubai´s children hard day: starting at dawn, after finishing their tasks, they have to walk over an hour to
attend a school without classrooms. And they will not return to the village until late in the afternoon.
31
Estuda r no deserto
Le a rning in the Desert
Querem aprender mais e melhor, mesmo que a escola fique longe
They want to learn more and better, even though school is far away
32
O ritual é diário e cumprido escrupulosamente sob o olhar
atento do chefe de família e soba da localidade de Muevevango, situada algures no vasto território árido, quase desértico,
da província do Namibe, a quase duas horas da capital com o
mesmo nome (ex-Moçâmedes). Com o romper da madrugada, uma família de mucubais, a principal etnia da região, prepara os sete filhos ainda crianças para a escola. Docilmente,
cada um cumpre as tarefas que lhe são atribuídas: enquanto a
mãe ajuda as filhas a lavarem-se, os rapazes mais velhos vão
mugir as vacas para que possam misturar o leite fresco com
o funje e tomarem a primeira (e por vezes a única) refeição
do dia. Vestida “a roupa de estudar”, mochilas às costas, é
tempo de se fazerem à vida e caminharem cerca de uma hora
até chegarem à escola Soba Inácio Messeca (da comuna de
Kapangombe e município de Bibala), ainda antes das oito da
manhã, a hora a que as aulas começam. Seguem tranquilos e
satisfeitos, pois sabem que “aprender é o futuro” e que se estudarem podem ambicionar ser algo mais do que os seus pais
e avós, pastores por tradição e necessidade numa região onde
a seca é um flagelo constante que lhes leva muitas cabeças de
gado, a sua maior riqueza.
“Só aprendi depois dos 15 anos porque estava a pastar
cabritos. Mas eu quero mesmo que os meus filhos estudem!
São muito aplicados, por isso divido os rapazes: um estuda de
manhã, das 8 às 12 horas e depois vai pastar o gado; o outro
pasta de manhã, entra às 14 e sai às 18 horas”, explica, orgulhoso, o soba Ernesto Muambwayaleca que, além de resolver
os problemas da aldeia, faz questão de controlar as reuniões
do professor com os outros pais, a entrega do material escolar
ou a qualidade do ensino.
Daniel Albino Kandenga, o professor, chega de motorizada depois de quase duas horas de caminho, pois vive a mais
de cinquenta quilómetros de distância. Confirma que apesar
de todos os constrangimentos, os seus alunos mucubais são
“muito recetivos e respeitadores, fáceis de trabalhar” e que
a ampliação da escola inicial com uma única sala, o edifício
concluído em junho de 2012 com capacidade para mais seis
salas de aula e de 122 alunos, da iniciação à 6.ª classe, ainda não foi inaugurado pela administração provincial que, no
entanto, continua a garantir a entrega gratuita das merendas
escolares (feijão, fuba, leite). “As aulas são dadas à sombra da
árvore e quem não tem cadeira senta-se nas rochas. No verão
até vai, mas quando chove é obra e dificulta a aprendizagem”,
explica. O maior problema? “A seca. Antes, a escola tinha
muitos alunos mas agora que o rio secou, os pais vão embora
com o gado, à procura de mais mantimentos e levam os filhos.
Precisamos muito de água.”
The daily ritual begins at daybreak. Under the attentive gaze
of the head of the family and the chief of Muevevango, seven
children get ready to go to school. They are Mucubal, the
principle ethnicity of the region, and they live in Muevevango,
a vast arid territory, that is almost desert. It is in the province
of Namibe, nearly two hours from the capital.
Each morning before they leave, every child does the chore
assigned to them. While their mother helps her daughters to
wash themselves, the older boys milk the cow, so they can
use the fresh milk to mix with the corn meal that forms their
first, and sometimes only, meal of the day. Dressed in their
smart study clothes, their rucksacks on their backs, they set
out for the hour’s walk that will take them to the Soba Ignatius
Messeca school in Kapangombe and Bibala county.
Although it is a long way, and it is not yet eight in the morning, the children are eager. They know that an education will
help change their futures, giving them opportunities their parents and grandparents could only have dreamt about.
Herdsmen by tradition and necessity in a region where
drought is a constant threat, livestock is the greatest treasure any family can own. Yet, it is a hard life. Soba Ernesto
Muambwayaleca, a village chief, is determined his sons will
achieve more.
“I learned only after I was 15 years old because I was grazing little goats,” he says. “But I want my kids to study. They
are very diligent, this is why I divide the boys: one studies in
the morning, from eight until 12 and then goes to graze; while
the other stays and grazes in the morning, then goes to school
at two and leaves at six o’ clock.” Daniel Albino Kandenga,
the teacher, explains that despite all the disadvantages his Mucubal students face each day, they are “very receptive and respectful”. They work hard and want to learn. Since the new
school building was finished in June 2012, things are a little
easier, particularly with the introduction of free school lunches.
However, there are still challenges. Originally, housing only
one classroom, there are now six, with 122 students, ranging
from kindergarten to sixth grade but things are still crowded.
“The lessons are given in the shade of the tree and whoever
does not have a chair sits on the rocks,” explains Kadenga.
“In the summer it is OK, but when it rains, it makes learning difficult.” It is the lack of rain, though, that is the biggest
problem. “The drought is always an issue,” he says. “Before
it, the school had many students but now the river is dry, the
parents have had to go away with the cattle in search of more
provisions and they take their children. We really need water,
it makes our school run.”
„Os alunos mucubais são muito
recetivos e respeitadores.“
“The Mucubal pupils are very
receptive and respectful.”
33
Escola Missionária Feminina Santa Madalena-Cabinda
A C a s a da
A legria
The House of Joy
A obra do Orfanato Betânia contada pela irmã Elisa de Jesus
The work of Betânia Orphanage told by Sister Elisa de Jesus
Decidi abraçar esta obra quando percebi que havia uma grande necessidade de colaborar no amparo e na proteção de todas
estas crianças órfãs ou abandonadas pelos pais. Cheguei em
1994, em 1995 iniciei a minha formação religiosa e em 1999
consagrei-me.
O Orfanato Betânia foi fundado pelo padre Carlos Maria
Capita Mbambi a 19 de julho de 1992, com catorze meninas
e, em dezembro de 1993, acolhemos o primeiro bebé, cuja
mãe faleceu após o parto. Esta criança cresceu e, graças a
Deus, já ingressou no seminário. Desde estão já passaram por
aqui várias crianças que terminaram a sua formação académica nesta instituição, continuaram noutras faculdades e estão já
34
I arrived at the Betânia Orphanage in 1994 after I realised
how much help was needed to support and protect the many
abandoned children in Angola. It was time, I felt, to do something to make a difference. I began my religious training in
1995 and, four years later, I was ordained.
The Betânia Orphanage was founded by Father Carlos Maria Capita Mbambi on 14 July 1992 with fourteen girls. In December 1993, we welcomed our first baby. The mother sadly
passed away after giving birth but this child grew up here and,
to our delight, has now joined the seminary. Since then, many
more children have lived and studied with us, moving on to
other universities or to become working professionals.
Irmã Elisa de Jesus
Órfãs ou abandonadas, nem por isso deixam de ser alegres.
Despite being orphans or abandoned, they are still joyful.
inseridas no mercado de trabalho para se realizarem enquanto
profissionais.
Muitas das nossas meninas são trazidas pelos próprios familiares ou por conhecidos que as encontram desamparadas e
a viver na rua em péssimas condições. Temos vários filhos de
doentes mentais, por exemplo, de que pouco ou nada sabemos. Há dez anos, houve um senhor que achou uma menina
nos arredores do aeroporto, levou-a imediatamente ao hospital. Depois da sua recuperação, foi trazida para este orfanato.
E, em dezembro, foi a polícia que nos entregou algumas crianças cujas mães foram condenadas a penas de prisão.
É certo que nem sempre temos lugares disponíveis, mas não
é por isso que vamos deixar de acolher estes casos extremos...
Têm de dormir duas crianças numa cama... às vezes até três!
Temos muitos pedidos mas também não temos espaço para
todos, pois já estamos muito apertadas (só na comunidade da
Nazaré, onde temos um maior número de crianças, acolhemos
65, entre as quais quatro rapazinhos). Cada camarata tem vários beliches e distribuímos as meninas conforme as idades
mas cada uma faz a sua cama e arruma tudo o que for preciso. Todas têm um cargo para desempenhar e as mais velhas
ajudam as mais novas.
36
Our girls arrive here by many different paths, some are
brought by their relatives, others by acquaintances who have
found them helpless or living on the street in miserable conditions. We have several children with mental illnesses. Unfortunately, we know little about them but we love and care for
them all the same.
We don’t always have room but we would never turn away
an extreme case. Sometimes, to fit them in, two children have
to sleep in one bed, occasionally even three. Each ward has
several bunks and we organise the girls based on their age.
They are responsible for making their bed and keeping their
part of the room tidy. They all have a role to play and the older
students help the younger ones.
Whenever possible, we try to find families to adopt the children but that process is complicated and so we also look for
families who will take in the children during the holidays. It’s
important for them to get to know other places, meet new
people and relax a bit – they should not live the entire year in
a boarding school.
Two years after the orphanage opened, Father Carlos Maria
Capita Mbambi decided the girls needed an education. It was
during the teachers’ strike at the Ministry of Education and he
“Às meninas acolhidas na nossa comunidade damos tudo o que estiver ao nosso
alcance: proteção, educação, um lar.”
“To the girls in our community, we
give everything in our power: protection,
education and a home.”
Sempre que possível, tentamos encontrar famílias que as
queiram adotar mas o processo é complicado e difícil. Também precisamos de famílias que acolham as crianças durante
as férias para que possam conhecer outros lugares, outras pessoas e relaxarem um bocadinho ...Não podem (não devem)
viver o ano inteiro em regime de internato!
A Escola Missionária Feminina Santa Madalena foi fundada em 1994, pois sentimos a necessidade de criar uma instituição que completasse a formação e a educação das nossas
crianças. Durante a greve dos professores do Ministério da
Educação, o reverendo Padre, depois de ter convidado Estêvão Ngimbi, um experiente professor que aceitou participar
e dirigir este projeto durante vários anos, improvisou salas
de aula nos corredores e nas varandas da nossa primeira casa
(Betânia) e até debaixo das árvores nos quintais dos nossos
vizinhos. E como houve uma grande aderência das pessoas de
boa vontade para nos ajudarem neste projeto, surgiu a Escola
Santa Madalena, que tem vindo sempre a crescer: em 2004
construiu-se o grande edifício mesmo ao lado do orfanato
onde estudam não só as nossas crianças, que estão isentas do
pagamento de propinas, como também outras meninas cujos
pais carecem de meios financeiros. É uma escola comparticipada e gerida em parceria com o Ministério da Educação.
Às meninas acolhidas e inseridas na nossa comunidade damos tudo o que estiver ao nosso alcance: proteção, educação,
condições para crescerem bem e felizes, com um objetivo na
vida. Graças à Divina Providência temos contado sempre com
a generosidade das pessoas, pois vivemos quer de donativos,
quer do pouco trabalho que vamos fazendo com as nossas
mãos, como a agricultura e lavores.
Uma das nossas maiores dificuldades é a saúde e já fomos
obrigadas a recorrer aos países vizinhos como o Congo Brazaville ou a República Democrática do Congo, para tratarmos
dos casos mais críticos. Infelizmente, a nossa instituição carece
de um centro médico.
Neste momento, a nossa maior necessidade é arranjarmos
um espaço maior e com melhores infraestruturas para albergarmos estas crianças porque o que temos já não é favorável.
As meninas carecem de uma sala para os estudos, para lazer
e para jogos.
A comunidade conta hoje com 25 religiosas, jovens que se
ofereceram para servir a Deus através desta instituição e todas
levamos a mesma vida simples e regrada.
O meu apelo? Quem puder que nos envie livros para completar a nossa biblioteca que está muito pobrezinha, quase vazia. As nossas crianças agradecem.
invited Estêvão Ngimbi, an experienced professor. He agreed
to help and the Santa Madalena Girl’s Missionary School was
founded in 1994. At first, we improvised classrooms in corridors and on the balconies of Bethany house, some were even
beneath trees in neighbouring backyards. With good will and
support from the surrounding community, the Santa Madalena
School slowly emerged from these simple beginnings and has
continued growing ever since. In 2004, we were able to build
a separate school beside the orphanage. It offers free tuition
not only to our children but also to other girls whose parents
lack the financial means to pay for schooling. It is subsidised
and managed in a partnership with the Ministry of Education.
To the girls in our community, we give everything in our
power: protection, education and a home to grow up well and
happy, with an objective in life. Thanks to Divine Providence,
we have always been able to work. We rely on the generosity
of people as we live off donations and the little we produce
with our hands, like agriculture and needlework.
We have many requests for places but we already are very
crowded. Really, at the moment, our biggest need is to find a
larger building. In the Nazareth community alone, we have
65 children, our largest number, four of whom are boys. Although our building has sheltered us for many years, it is old
and we have outgrown it. We need more modern facilities and
a place for the girls to study as well as somewhere for them to
relax and play games.
Today, we have 25 sisters in our community. We all live the
same simple, obedient life.
And if I had one plea? It would be to ask that whoever is
able to, please send us books for our very poor, almost empty,
library. Our children and our community will always be grateful and delighted by your generosity.
As crianças dormem em camaratas com vários beliches.
Children sleep in wards and each of then has several bunks.
37
Um a a ldeia a frica na
A n A frica n Vill age
Para trabalhar nos petróleos, tem que se estudar no INP
To work in the oil industry, you must study at NIP
Todos os africanos conhecem o ditado que diz “É preciso uma
aldeia para educar uma criança”. A escola Instituto Nacional
de Petróleos (INP), nos arredores da cidade do Sumbe, ilustra
perfeitamente este provérbio africano: o campus é um local
silencioso, organizado e absolutamente sincronizado com as
necessidades dos atuais 646 alunos.
Os jovens chegam “perdidos, sem os pais e os amigos”,
conta o professor de Inglês, a disciplina com maior carga
horária. Têm 14 ou 15 anos e a 9ª classe, e
enfrentam três anos de trabalho intenso para
concluir um curso técnico. Durante esse período, concentram-se nos estudos e vivem no
INP, onde existem dormitórios e outros equipamentos de apoio: cantina, lavandaria, clínica médica, ginásio, piscina... “Os alunos só
têm que se preocupar em estudar”, garante o
professor, que tal como os outros 70 colegas,
também vive no campus.
Embora esta “aldeia africana” preste formação de topo em instalações exemplares,
não é uma escola privada. Muito pelo contrário, é financiada pelo Governo e os pais
pagam apenas uma comparticipação para o
alojamento, a alimentação e os uniformes dos filhos. Não faltam candidatos, mas as provas de admissão garantem que “só
entram os melhores”.
O INP oferece ainda cursos de formação profissional patrocinados por empresas para alunos com mais de 18 anos e
com a 12.ª classe, sendo costume as maiores multinacionais
do sector recrutarem aqui os seus quadros. É o caso de Nisingui Tanda, ex – aluno, que terminou a 12.ª classe há dez
anos e hoje, com 28 anos, é diretor de Operações Offshore na
FMC Technologies, uma empresa norte-americana de equipamentos para a indústria do petróleo e do gás. Nisingue destaca
“o ambiente cultivado no internato do INP e a interação com
colegas de diferentes origens e nacionalidades” que o ajudaram a viver e compreender a vida num ambiente multicultural.
O INP formou dez por cento dos profissionais da indústria
petrolífera em Angola, tendo protocolos com a Argélia, a África do Sul, a França, o Canadá e os Estados Unidos.
38
Every African knows the saying “It takes a village to raise a
child” and the National Institute of Petroleum (NIP) school,
on the outskirts of Sumbe, illustrates this perfectly. The campus is a self-contained location, run to give the 646 students
the best possible environment in which to study and achieve
their goals.
This modern “African village” has top facilities and academics, but it is not a private school. It is financed by the Government with parents paying a small contribution. There are always plenty of hopeful
candidates and a rigorous admissions test
ensures the standard remains high.
The young people often arrive “lost, without parents and without friends,” says the
English teacher – the subject that has the
heaviest workload of the courses. They are
14 or 15 years old and they live at NIP, where
facilities include a medical clinic, a gymnasium and a pool, making it easy for them to
completely immerse themselves in their studies. However, they still face three years of intense education.
“There are never any concerns about
whether or not the students are studying,” laughs the teacher,
who, like the other 70 instructors, also lives on campus.
Employers in the oil industry regularly recruit from NIP,
as happened to one former student: Nisingui Tanda, 28. He
finished studying at NIP 10 years ago and is now the director
of Offshore Operations in the company FMC Technologies,
a North American equipment business in the petroleum and
gas industry.
Nisingui says: “The environment cultivated in the NIP
boarding school, including the interaction with peers of different origins and nationalities, is what has helped me to survive
and understand a life in a multi-cultural world.”
NIP also runs courses for students over 18 years old, which
are often sponsored by different companies and it has educated up to 10 per cent of oil industry professionals in Angola,
with many of them having affiliations with Algeria, South Africa, France, Canada and the USA.
Quando eu
crescer,
quero ser...
What I want to be...
Sonham em ser professores, gestores, médicos ou advogados e não importa se a
escola fica longe ou não tem salas de aula.
A nova geração angolana embora viva nas
cidades ou em aldeias remotas, quer e gosta de estudar, pois sabe que só assim poderá ajudar a construir o futuro de Angola.
They all dream to become teachers, managers, doctors or lawyers and do not care
how far away is the school or if classes
have walls. The new Angolan generation, despite living in the cities or in remote villages, wants and likes to study, because they know it’s the best way to build
Angola´s future.
Balipioca Domingos
Professor Teacher
40
41
42
Madalena Zeferino
Médica Doctor
Fernando Pio
Professor Teacher
Olívia Nelson
Enfermeira Nurse
Hedianeth Florentina
Advogada Lawyer
Maquionel Ferreira
Empresário de Moda Fashion Manager
43
Angelina João
Modelo Model
44
Ludmila da Silva
Médica Doctor
Ginga João
Futebolista Football Player
Miquilina Catonhalo
Professora Teacher
Ruben Manuel
Médico Doctor
45
É uma manhã primaveril no coração de Zurique. Na estreita
rua calcetada, ergue-se, entre elegantes lojas e cafés alternativos,
uma casa construída em 1256 com a fachada em vidro. No
topo dos degraus de pedra, passando por um grande hall, uma
espaçosa sala transmite a sensação de Velho Mundo e reflexão
intelectual. Grande parte da arquitetura original mantém-se,
notando-se o que fora uma loja de antiguidades. Este elegante
pano de fundo serve de cenário ao evento do dia: mesa-redonda
sobre a educação em Angola. O tópico não é do Velho Mundo:
o setor da educação e a sua rápida reconstrução, baseada
nos fundamentos da paz duradoura e na crescente economia,
no país e no seu povo. Os participantes, especialistas em
educação em África, reúnem-se pela primeira vez no que será
uma série de encontros, contribuindo com as suas experiências
para o Fundo Soberano de Angola e discutindo políticas que
visem a realização de investimentos neste setor. O objetivo é a
inovadora troca de ideias, opiniões, culturas e experiências.
It is a crisp spring morning in the heart of Zurich’s old town.
In a tiny cobbled street a glass-fronted house built in 1256 nestles
amidst elegant shops and independent cafés. Up a few stone steps
and through a grand entrance hall is a spacious chamber whose timeworn wooden tables and chairs give off a feeling of Old
World and intellectual reflection. Much of the original architecture
remains and it is no surprise that these were once the premises
of an antique store. This elegant backdrop sets the scene for the
day’s event: the round table on education in Angola. The topic is
anything but Old World – with Angola’s education sector fast rebuilding on the foundations of lasting peace and a flourishing economy, the country and its people have everything to play for in the
future. The participants – Africa education specialists – have come
together for the first in a series of expert meetings to discuss and
contribute their experiences from the African continent to Angola’s
Sovereign Wealth Fund as it creates policies with a view to making investments in the education sector. This is a meeting of minds,
thoughts, cultures and experiences of world-class innovation.
O trunfo
de Angola
JOSÉ FILOMENO DOS SANTOS juntou-se ao Fundo Soberano
de Angola (FSDEA) em 2012, ocupando desde Junho de 2013, a
sua presidência. O Sr. dos Santos exerceu funções nas áreas de
comércio, transportes, seguros e finanças. Possui um mestrado em
informação e finanças.
JOSÉ FILOMENO DOS SANTOS joined the Fundo Soberano de
Angola (FSDEA) in 2012 and, since June 2013, has served as chairman. Mr dos Santos worked across various industries including
trading, transport, insurance and finance. He has a master’s degree
in information and finance.
Angola’s Greatest Asset
Daniela Magalhães, angolana, juntou-se ao FSDEA em 2012.
Trabalhou nas indústrias de petróleo e gás, e instituições como United Nations Development Programme (UNPO) e Greater London
Assembly UK (GLA). É licenciada em Estudos de Negócios e mestre
em Artes em Estudos Diplomáticos.
Daniela Magalhães is Angolan and joined the Fundo Soberano
de Angola (FSDEA) in 2012. She has worked in the oil and gas
industry, the United Nations Development Programme (UNPO) and
the Greater London Assembly UK (GLA). She has a degree in business studies and a master of arts in diplomatic studies.
Com mais de 200 milhões de pessoas com idades inferiores a
24 anos em África, o Fundo Soberano de Angola avança
With over 200 million people aged under 24 in Africa, Angola’s
Sovereign Wealth Fund steps up
josé filomeno dos santos: “O nosso papel aqui hoje é tentar compreender mais
sobre o que podemos esperar do futuro e qual a melhor forma de preparar o nosso
país para o que se avizinha. Estamos a falar da gestão dos recursos financeiros de
Angola. Mas, mais importante do que isso, é, claro, o povo angolano. Nesse contexto, acredito que parte do papel fundamental do Fundo Soberano de Angola é
investir nos nossos recursos de forma a beneficiar o nosso povo no futuro.”
ahlin jean-marie byll-cataria: “A África é o continente do futuro. Existem
200 milhões de jovens com menos de 24 anos e, em 2040-2043, estimamos que
existirão 800 milhões. Antigamente, a população jovem africana era tida como
um problema, no entanto, agora é uma mais-valia. Se todos estes jovens forem
formados, adquirindo os conhecimentos necessários, isto iria representar uma força
laboral mais importante que a dos chineses e indianos juntos. Precisamos de uma
massa crítica constituída por pessoas com uma excelente educação e formação.”
bryan chidubem mezue: “Precisamos de pensar na juventude, não como um problema, mas como um recurso que pode guiar a novas ideias e inovações. Acredito
que nos próximos 50 anos ou menos, teremos uma escolha binária – ou fazemos
josé filomeno dos santos: “Our role here today is to try to understand more
about what we can expect in the future and how best to prepare our country for
what is to come. We are talking about managing the financial resources of Angola.
But, even more important than that is, of course, the people of our country. So in
this context, I believe that part of the Angola Sovereign Wealth Fund’s role is to
invest our resources in a way that benefits our people for the future.”
ahlin jean-marie byll-cataria: “Africa is the continent of the future. There are
200 million young people under 24 and by 2040-43, we estimate there will be 800
million. Previously, the demography of African youth was seen as a problem, now,
it is an asset. If all these young people are trained to have a skill this will represent
a more important labour force than Chinese and Indians put together. We need a
critical mass of well-educated, well-trained people.”
bryan chidubem mezue: “We need to think about the youth, not as a problem,
but as a resource that can lead to new innovations and ideas. I believe that in the
next 50 years or less we have a binary choice – either we make use of this resource,
which is youth in Africa, or it will flip around and bounce. It will be a dividend or
48
Walter Erdelen foi Professor de Ecologia e Biogeografia na
Universidade de Würzburg, Alemanha. Em 2001 tornou-se assistente do director-geral no departamento de Ciências Naturais da
UNESCO. Possui várias licenciaturas, inclusive em Biogeografia.
Walter Erdelen was professor of Ecology and Biogeography
at University of Würzburg, Germany. In 2001, he became assistant
director-general for Natural Sciences at UNESCO and has numerous degrees including habilitation in biogeography.
Bryan Chidubem Mezue nasceu no sudeste da Nigéria. É co-fundador da West Africa Vocational Education (WAVE) e membro
do Forum for Growth and Innovation (comissão de peritos Harvard
Business School), obtendo as suas licenciaturas em Warwick University, Tsinghua University e Harvard Business School.
Bryan Chidubem Mezue was born in Southeast Nigeria and
is co-founder of West Africa Vocational Education (WAVE). He is
a member of the Forum for Growth and Innovation – a Harvard
Business School think-tank and has received degrees from Warwick
University, Tsinghua University and Harvard Business School. Ahlin Jean-Marie Byll-Cataria é o ex-secretário executivo
da Association for the Development of Education in Africa (ADEA)
e membro do Governing Board of the United Nations Educational, Scientific and Cultural Organisation (UNESCO) e Institute for
Lifelong Learning (UIL).
Ahlin Jean-Marie Byll-Cataria is the former executive secretary of the Association for the Development of Education in Africa
(ADEA) and a member of the Governing Board of the United Nations Educational, Scientific and Cultural Organisation (UNESCO)
Institute for Lifelong Learning (UIL).
O debate foi moderado
por Elodie de Warlincourt,
diretora do African
Innovation Foundation (AIF).
The discussion was moderated
by the director of African
Innovation Foundation (AIF),
Elodie de Warlincourt.
Jean-Claude Bastos de Morais, suíço-angolano, é empreendedor e investidor. Em 2010 fundou a African Innovation Foundation, contribuindo para o desenvolvimento e crescimento em África.
Possui um mestrado em Gestão.
Jean-Claude Bastos de Morais, of Swiss and Angolan nationality is an entrepreneur and investor. In 2010, he founded the African
Innovation Foundation, to create African-led development through
new talent and ideas. He holds a masters degree in management. 49
uso deste recurso, a juventude africana, ou ela virar-se-á contra nós. Será um dividendo ou uma bomba-relógio. Cabe-nos observar como este recurso poderá ser
aproveitado da melhor forma possível para alcançar algo positivo.”
daniela magalhães: “Há uma grande necessidade de diversificar as nossas habilidades de forma a se encaixarem no atual padrão de desenvolvimento angolano.
Precisamos de cursos ou competências profissionais que possam ajudar os angolanos a desenvolver Angola para não dependermos tanto dos técnicos vindos de
outros países. Vejo muitos expatriados em Angola que terminaram os seus estudos
e têm apenas alguns anos de experiência. Podemos transferir esses conhecimentos
para o povo angolano e sustentar o nosso próprio desenvolvimento.”
walter erdelen: “Existe um sistema educacional em Angola, existem diretrizes
nacionais orientadoras. Portanto, não podemos fazer o que nos apetece. Precisamos
de identificar o que já existe e encontrar rapidamente iniciativas que vão ao encontro das prioridades do país.”
dos santos: “Temos atravessado a industrialização. Agora estamos num período
de partilha de informação. Precisamos de compreender o futuro do mundo e como
nos podemos adaptar a ele. Não será tendo as pessoas oito horas presas por dia
num escritório – estaremos remotamente muito mais unidos do que isso. É importante preparar os jovens, dando-lhes as ferramentas necessárias para a liderança.
Se não, teremos eventualmente o reverso da moeda – levar-nos-á a uma população
insatisfeita que nos conduzirá à instabilidade.”
byll-cataria: “Se, por exemplo, pensarmos que Angola tem um enorme potencial para a agricultura, então temos de olhar para as oportunidades de desenvolvimento nas áreas rurais. Se eu for um jovem agricultor e acreditar que posso ganhar
tanto dinheiro quanto um funcionário público, então porque é que eu hei de querer
ir viver para Luanda? É preciso favorecer o acesso à educação e à formação adequada nas áreas rurais, dando aos jovens oportunidades nas suas cidades de origem.”
jean-claude bastos de morais: “Como podemos oferecer alguma coisa aos jovens com menos de 14 anos que constituem, em Angola, 42% da população? Precisamos de soluções rápidas que terão um impacto imediato em, pelo menos, 10%
desses 42%. Isso terá um efeito tipo bola de neve.”
mezue: “Um fator importante passa por encontrar as motivações dos alunos. Talvez sejam ‘vou à escola porque os meus pais querem que eu vá, ou porque quero
ser médico, ou porque quero estar com os meus amigos e jogar futebol’. Se entendermos as motivações, podemos criar mais razões para os atrairmos a irem e a
permanecerem na escola.”
bastos: “O objetivo do governo é alcançar grandes números. Temos de criar testes
ou questionários – porque não criar um sistema de pesquisa onde podemos reunir
dados sobre as motivações e desejos dos adolescentes em Angola? Com essa base,
irão surgir ideias sobre o que a juventude angolana precisa e gostaria de fazer. Depois pode-se partir para a criação de um sistema de aprendizagem rápido, que não
afete o sistema educacional do estado, será apenas um extra.”
erdelen: “A curiosidade é a base de qualquer ciência. Isto também terá de ser integrado no processo. Podemos tentar obter um sistema de feedback nos adolescentes
de 14 anos, que se alimentará do governo e depois há uma revolução. Este modelo
é muito robusto, não pode falhar.”
bastos: “Este é o tipo de plano que precisamos de pôr em prática. Eu faria numa
pequena escala, porém muito focada. Em Angola, é fácil fazer isso pois existem
talvez três cidades onde vivem 70% da população. Não é complicado encontrar os
jovens. A questão é quem deve receber os dados e como é que eles devem ser adquiridos. É sobre haver dados inteligentes. Se tivermos isto, podemos aprender como
50
“É importante
preparar os jovens
e dar-lhes as
ferramentas certas
para liderar.”
“It is important to
prepare young
people, to give
them the right tools
to cope.”
Em cima: Eladie de Warlincourt,
Walter Erdelen e Bryan Chidubem
Mezue. Em baixo: Jean-Claude
Bastos de Morais.
Right page: Eladie de Warlincourt,
Walter Erdelen and Bryan
Chidubem Mezue. Below:
Jean-Claude Bastos de Morais.
a time bomb. It is up to us to look at how this resource can be best harnessed to
achieve something positive.”
daniela magalhães: “There is a great need to diversify our skills to fit with Angola’s current stage of development. We need professional courses or vocational
skills that could help Angolans develop Angola so that we don’t depend so much
on skills coming from outside the country. I see lots of expatriates in Angola, who
finished school and did a couple of years training. We could transfer those skills to
Angolans to sustain our own development.”
walter erdelen: “An education system already exists in Angola, there are national guiding documents. So we cannot do what we want. We need to identify
what is already there and find fast-track initiatives that would match the priorities
of the country.”
dos santos: “We have been through industrialisation. Now we are in period of
information sharing. We need to understand the future´s world and how to adapt to
it. It will not be about humans being locked up for eight hours a day in an office –
we are going to be much more remotely connected. It is important to prepare young
people, to give them the right tools to cope. If not, you get the flip side of the coin
where you will have a lot of dissatisfied people and this tends to lead to instability.”
byll-cataria: “If, for example, you think Angola has a huge potential in agriculture, then we need to look at developing opportunities in rural areas. If I am a
young farmer and I believe I can make as much money as a civil servant, then why
should I want to go and live in Luanda? You need to favour access to education
and proper training in rural areas that will give young people opportunities in their
home towns.”
jean-claude bastos de morais: “How can we have something for the young
people who are 14 and below? In Angola that’s about 42 percent of the population.
We need a quick solution that has an immediate impact on 10 percent of that 42
percent. That will have a snowball effect.”
mezue: “One thing is to find out the motivations of the students. It might be, I’m
going to school because my parents want me to go, or because I want to be a doctor, or I want to hang out with my friends and play football. If you understand their
motivations, you can create more reasons for them to go to and stay in school.”
bastos: “The Government’s aim is to get big numbers. We need to create a test
51
“O conhecimento
tradicional também
pode desempenhar
um papel fundamental na educação.”
“Traditional knowledge can also play
a fundamental role
in education.”
comunicar melhor com este grupo e suscitar a sua curiosidade.”
erdelen: “Este é um enorme exercício comunitário. Poderia estabelecer um sistema de intercâmbio com o grupo etário em questão. O seu sucesso dependeria de um
design inteligente para ter uma ideia do verdadeiro panorama. Se não, os resultados
podem ser inúteis para extrapolação. Se olhar para a geografia do próprio país, esta
também pode fornecer muitas respostas. O país é o povo, o meio ambiente, os seus
vizinhos, os limites naturais, como os rios. Precisamos de olhar para estes fatores e
identificar o sistema para discussão. O que acontece em Angola, acontece na região
SADC, em África e no mundo. O conhecimento tradicional é um património imaterial que precisa também de ser preservado. Pode ser difícil ou mesmo impossível
de recuperar. Em alguns casos pode mesmo estar em perigo extremo de extinção.”
byll-cataria: “Também devemos ter em consideração que a educação moderna leva à rutura entre as escolas e as sociedades. No Burkina Faso, por exemplo,
usam a língua materna para estabelecer uma forte ligação entre a aprendizagem da
criança na escola e o que ela faz em casa. As famílias podem enriquecer a educação
da criança e vice-versa. Isto significa que o conhecimento tradicional pode também
desempenhar um papel fundamental na educação. Eu saí de casa quando tinha 19
anos. Até hoje, o meu comportamento para com os que me rodeiam é condicionado por um provérbio que ouvia quando era criança: ‘Podes tomar partido de um
facto, não de uma pessoa.’ Este é um provérbio africano como tantos outros. Até
que ponto é que estamos a usar o nosso sistema de ensino hoje para inculcar valores
nas nossas crianças?”
dos santos: “A língua de ensino nas escolas e universidades angolanas é sempre o
português e isso é muito importante visto que é a língua de comunicação comum em
todo o país. Mas na tradição africana, pelo menos no contexto angolano, grande
parte da cultura, valores e histórias são transmitidas através do ambiente familiar.
Essa tem sido a forma de transmitir as tradições e a cultura, através das famílias.”
magalhães: “A tradição oral é muito forte em Angola, assim como em toda a
África. Ajuda a construir unidade, cultura enraizada, crenças e costumes. Também,
através de textos simples, provérbios, adivinhas e canções, as crianças aprendem a
compartilhar a ética, obediência, generosidade e hospitalidade. Eu acho que essa
transmissão surge naturalmente. A escola serve para a educação formal de aprender
matemática ou ciências.”
52
À esquerda: Ahlin Jean-Marie
Byll-Cataria. À direita:
Bryan Chidubem Mezue.
Left page: Ahlin Jean-Marie
Byll-Cataria. Below: Bryan
Chidubem Mezue.
balloon – why not create a poll system where we can collect data about the motivations and wishes of young people in Angola? Based on that, the ideas will probably
come from them about what the youth need and want to do. Then you can create
a fast learning programme which doesn’t affect the state’s education systems, it is
just an add on.”
erdelen: “Curiosity is the basis for any science. This has to be integrated into the
process too. You could get a grassroots feedback system from 14 year olds that
feeds back to the Government and then you have a revolution. This model is so
robust, it cannot fail.”
bastos: “These are the kind of plans we need to put into action. I would do it on a
very small scale, but keep it very focused. In Angola, you have a very easy situation
to do that because you have maybe three cities where 70 percent of the population
lives. It’s not hard to find the young people. The question is, who should get the
data and how should it be procured? It’s about having smart data. If you have this,
you can learn how best to communicate with this group and trigger their curiosity.”
erdelen: “This is a huge community exercise. You could establish an exchange
system with the age group you believe in. Its success depends on a clever design to
get an idea of the true picture. If not, the results may be useless for extrapolation.
If you look at the geography of the country itself, this may also provide many answers. The country is the people, the environment, its neighbours, natural boundaries like rivers. We need to look at these and identify a framework for discussion.
What happens in Angola happens in the SADC region, in Africa and in the world.
Traditional knowledge is an intangible heritage and one that also needs to be preserved. It can be very difficult and sometimes impossible to retrieve. In some cases it
is in extreme danger of becoming extinct.”
byll-cataria: “We must also consider how modern education takes into account
53
“Precisamos de pensar na juventude,
não como sendo um
problema, mas como
um recurso que nos
pode guiar a novas
ideias e inovações.”
“We need to think
about the youth, not
as a problem, but as
a resource that can
lead to new innovations and ideas.”
Daniela Magalhães e José Filomeno
dos Santos em brainstorming com
Bryan Chidubem Mezue.
Daniela Magalhães and José
Filomeno dos Santos brainstorming
with Bryan Chidubem Mezue.
54
55
Durante o debate, tomou-se
nota de todas as novas ideias.
During the debate, all new
ideas were written down.
mezue: “Então, a questão é, como preservar este conhecimento tradicional a um
nível institucional? Eu sou do grupo étnico Ibo da Nigéria. Se for aos Estados Unidos da América, pode ver a diáspora que as instituições e organizações têm ao
transferir estes valores dos adultos para as crianças, porque eles não possuem os tecidos sociais que nós temos na Nigéria. Desta forma, uma criança nascida nos EUA
poderia ainda reter alguma cultura Ibo. Eu pergunto-me se nós poderíamos pensar
numa forma objetiva de preservar essa informação. Toda a gente tem agora um
telefone – talvez as pessoas pudessem colocar essa informação numa página web,
de forma a conseguir uma narrativa mais consistente. Creio que nós hoje temos a
tecnologia necessária para contar essas histórias, passá-las aos mais novos.”
magalhães: “Uma coisa assim poderia ser muito inovadora para Angola. Tivemos 500 anos de colonização. Este seria um bom projeto – complicado, mas relatar
histórias através da tecnologia poderia ser uma forma de preservar a nossa cultura.”
bastos: “Se quiser fazê-lo de forma consistente para todos os 54 países africanos, penso que poderia ser um enorme desafio. Um projeto como esse tem de ser
adotado por cada um dos estados e depois pela União Africana, algo que deve ser
decidido para que o líder possa avançar.”
mezue: “Estou a pensar nos incentivos para a coleta de dados a nível tribal. Deve
pensar quem serão os representantes certos nas comunidades locais para fazer que
isto aconteça. Não podem ser membros do governo. Na Nigéria, existem mais de
200 línguas e muitas tribos, por isso, reunir este tipo de dados pode tornar-se um
pesadelo. A ideia é atribuir a responsabilidade a indivíduos, a crianças que não
tenham nada para fazer ou a desempregados. O final da história é o mesmo, mas a
forma de a conseguir é outra. É a criatividade de pernas para o ar.”
dos santos: “Esta sessão foi muito útil, voltando a nossa atenção para as experiências que outros países africanos enfrentaram ou enfrentam, desafios semelhantes aos
nossos. Em Angola, penso que tanto o Estado como o setor privado, têm ambos um
papel a desempenhar no desenvolvimento no sistema de educação. A nossa juventude é a base do nosso futuro. As ideias que partilhámos hoje ajudam-nos a clarificar
o papel estratégico do Fundo, para nós enquanto investidores, para sabermos onde
devemos focar as nossas políticas e investimentos no sistema educacional angolano.
Poderíamos falar até à meia-noite, havendo tanto ainda por dizer e aguardamos
pela próxima reunião brevemente, onde levaremos este assunto adiante.”
56
“Relatar histórias
através da tecnologia pode ser uma
forma de preservar
a nossa cultura.”
“Reporting stories
through technology
could be a way to
preserve our culture.”
the disruption between schools and societies. In Burkina Faso, for example, they use
the mother tongue at school to establish a strong link between what the child learns
at school and does at home. Families can enrich what the child is doing educationally and vice versa. This means traditional knowledge can also play a fundamental
role in education. I left home when I was 19 years old. But to this day, my behaviour
with those around me is conditioned by one proverb I heard as a child: ‘You take
sides for a fact not for a person’. This is an African proverb and there are many
others like it. To what extent are we using our education system today to inculcate
values in our children?”
dos santos: “The teaching language in Angolan schools and universities is always
Portuguese and this is important as it is the common language of communication
across the country. But in the African tradition, at least in the Angolan context, a
lot of culture, values and stories are transmitted through the family setting. That has
been the way of carrying traditions and culture through families.”
magalhães: “The oral tradition is very strong in Angola as it is in Africa. It helps
build unity, ingrained culture, beliefs and customs. Also, through simple texts, proverbs, riddles and songs children learn to share ethics, obedience, generosity and
hospitality. I think this transmission comes naturally. School is for formal education
to learn maths and science.”
mezue: “So, the question is, how do you preserve this traditional knowledge at an
institutional level? I’m from the Ibo ethnic group of Nigeria. If you go to the United
States you see the diaspora have institutions and organisations to transfer these
things from adults to kids because they don’t have the social fabric that they have
in Nigeria. So, a kid born in the States can still capture some of that Ibo culture. I
wonder if we could think of a very objective way to preserve this data. Everyone has
a phone now – maybe people could upload this information to a website so that you
can build a more consistent storytelling. I think we have the technology today to tell
those stories, to pass them on.”
magalhães: “Something like this could be very innovative for Angola. We had
500 years of colonisation. This would be a good project – a complicated one but
reporting stories through technology could be a way to preserve our culture.”
bastos: “If you want to do it consistently for all 54 African countries, I think it
could be very challenging. A project like that must be embraced by the individual
states and then at the African Union something must be decided that a leader can
bring forward.”
mezue: “I am thinking about incentives for those collecting data at the tribal level.
You have to think who are the correct representative in local communities to make
this happen. It can’t be the Government. In Nigeria, you have over 200 languages
and many tribes, so to collect this kind of data could be a nightmare. The idea is
to shift the responsibility to individuals, to kids who have nothing to do, or are
unemployed. The end story is still the same but the way to get it is different. It’s
bottom-up creativity.”
dos santos: “This session has been extremely useful as it brings to our attention
the experiences of other African countries that have faced or face similar challenges
to ours. In Angola, I think that the state and private sector both have a role to
play for the development of our education systems. Our youths will be the basis
of our future. The ideas that we have shared today help to clarify the Fund’s role
strategically for us as investors in terms of where we should focus our policies and
investments in Angola’s education sector. We could talk until midnight as there is so
much left to say and we look forward to meeting again soon to take this discussion
further.”
57
O Meu Futuro
Ta lento e boas ideias
Ta lent a nd Bright Ide a s
A mobília modular não precisa de pregos, combina com
qualquer decoração e é acessível a todos os africanos
Modular furniture needs no nails, fits in with
any home decor and is affordable to all Africans
Técnica, perícia e inspiração são a base de qualquer negócio
de sucesso, qualidades que não faltam a Nilcio Moreno, um
carpinteiro dos arredores de Luanda que se prepara para conquistar África com as suas mobílias inovadoras.
Aprendeu a técnica em São Tomé e Príncipe, aos 17 anos
e depois de abandonar a escola. “Foram uns portugueses que
me ensinaram tudo o que sei desta profissão”, conta. Além
disso, frequentou uma formação de carpinteiro e marceneiro durante nove meses. Hoje, aos 28 anos, possui apenas ferramentas e máquinas simples, mas graças à perícia consegue
“fazer qualquer coisa em madeira”.
A internet deu-lhe o que faltava: a inspiração. Ao ver uma
cama desmontável e que não precisava de pregos ou parafusos, Nílcio resolveu construir uma cópia. De imediato, os
amigos desejosos de ter uma igual, deram-lhe uma ideia revolucionária: produzir peças acessíveis, práticas e modernas que
qualquer angolano pudesse comprar.
Nílcio Moreno está já a desenvolver um sistema de prateleiras modulares, compatíveis com todas as casas e estilos. E
este primeiro projeto deu-lhe uma nova ideia mais ambiciosa:
“Um dia, posso aumentar o negócio e vender para outros países africanos”. Porque não?
58
Creativity, expertise and ambition are the basis for any successful business and carpenter, Nílcio Moreno, has these qualities in abundance. The 28 year old, who now lives in Luanda,
is preparing to take Africa by storm with his innovative furniture. After leaving school aged 17, he learned carpentry in Sao
Tome e Principe. “There were some Portuguese who taught
me everything about this profession”, he explains. Later on,
he attended a carpentry and woodworking school for nine
months.
One day, while browsing the Internet, he came across a
wooden bed that did not need nails or screws. It was also collapsible and stackable. Intrigued, Nílcio built a similar bed,
and when his friends saw it, they all wanted one. It gave him a
revolutionary idea – to produce accessible, practical and modern furniture that any Angolan could afford.
Today, Nílcio Moreno has developed a system of modular
shelving, compatible with all other houses and styles. However, he has not only ambition but also new ideas and so far,
no intention of stopping there.
“One day,” he said, “I will expand the business and sell to
other African countries.” What is more, there is no doubt he
will succeed.
60