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GÊNERO E RACIONALIDADE CAMPONESA REPRESENTADO NA UNIDADE DE
OBSERVAÇÃO PEDAGÓGICA.
GENDER AND LANDSMAN RATIONALITY REPRESENTED IN A PEDAGOGIC
OBSERVATION UNIT.
Grupo 1. Fundamentos teórico-metodológicos da abordagem sistêmica aplicada à
agricultura.
Artêmio Soares Marques,¹, Marta Elaine Bastos Oyarzabal2, Antonio Marcos Vignolo 3, Marcos
Antonio Verardi Fialho4 , Sarita D’Ávila dos Santos 5 .
1 [email protected], Cooperativa de Trabalho em Serviços Técnicos (COPTEC), ,
[email protected], Cooperativa de Trabalho em Serviços Técnicos (COPTEC);
3 [email protected] , Termo de Cooperação INCRA/UFSM, 4 [email protected],
UFSM; [email protected], COCEARGS.
Resumo
O Programa de Assistência Técnica e Social (ATES) no Estado do Rio Grande do Sul
RS desde o ano de 2012 passou a contar com a utilização da ferramenta de Unidade de
Observação Pedagógica (UOP), importante instrumento de análise de gestão econômica e
organizativa de unidades de produção agropecuárias nos assentamentos de Reforma Agrária.
Este trabalho além apresentar a ferramenta da UOP, busca fazer a análise das unidades aplicadas
nos assentamentos da Região Metropolitana de Porto Alegre RS, com a tipologia no sistema
leite e horta, a partir da participação da mulher agricultora camponesa na organização da
racionalidade da produção e gestão econômica da unidade de produção, tendo em vista a
representatividade considerável e fundamental da participação do gênero nessas atividades.
Pelotas - RS, 06 a 08 de julho de 2016
SBSP - Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção
Palavras-chave: Reforma Agrária, assentamento, gênero, UOP.
Abstract
The Social and Technical Assistance Program (ATES) in the Rio Grande do Sul RS
State, since 2012 has counted with the use of a Pedagogic Observation Unit tool (UOP), an
important economic and organizational management analytical tool for agricultural production
units in the Agrarian Reform settlements. This work beyond presenting the UOP tool, seeks to
make the analysis of the Porto Alegre-RS Metropolitans units applied in the settlements, with
the milk and garden system typology, from the lands woman participation in the rationality of
production and economic management of the production unit organizing, in view of the
considerable and fundamental representation of gender participation in these activities.
Keywords: agrarian reform, settlement, gender, UOP.
Introdução
A Rede de Unidades de Observação Pedagógica (RUOP) é um instrumento de trabalho
operacionalizado pelo Programa de Assessoria Técnica e Social (ATES) do Rio Grande do Sul.
A RUOP tem por objetivo aprimorar a leitura da realidade em que vivem e atuam as
famílias agricultoras assentadas, os técnicos de ATES e as organizações vinculadas ao
Programa de ATES. Também, trás para discussão a necessidade da reflexão sobre os
condicionantes, limites e potencialidades dos principais sistemas de produção adotados pelos
assentados; gerar referências técnicas e econômicas sobre os principais sistemas produtivos
desenvolvidos nos assentamentos; consolidar uma rede local e estadual de unidades que sirvam
como referência pedagógica para a atuação das equipes técnicas com as famílias assentadas.
Para acompanhamento da Unidade de Observação Pedagógica (UOP) são realizadas
visitas bimestrais em cada família envolvida, sendo coletadas informações sobre o andamento
e funcionamento da unidade de produção agropecuária (UPA) no período de um ano. Após este
período de acompanhamento é feito estudo da gestão da unidade através de planilhas de cálculo
em Excel e elaborado um plano de intervenção. Para este plano está previsto um recurso no
valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) por UOP para, a partir dos limitantes ou das
potencialidades da unidade acompanhada realizar ações de melhorias no manejo do sistema ou
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possibilitar ações de formação que contribuam no desenvolvimento da unidade. Com a
continuidade do acompanhamento da UPA, é possível monitorar as transformações nas
unidades de produção decorrentes do processo de intervenção planejado.
Assim sendo, a unidade apresentada neste trabalho é da Agricultora Assentada CG
(Figura 01), beneficiária do projeto de Reforma Agrária no Assentamento Jânio Guedes da
Silveira, localizado no município de São Jerônimo. O sistema produtivo da unidade a ser
apresentada é leite e horta.
Figura 01 – Agricultora CG realizando croqui da Unidade de Produção. Fonte:
COPTEC, 2015.
Desde a operacionalização da UOP no Programa de ATES no Rio Grande do Sul,
percebeu-se que a informação da questão de gênero nessa ferramenta passava despercebida,
porém, parte dos resultados do trabalho e gestão de inúmeras unidades apresentadas tinha a
representatividade da mulher assentada e agricultora através da sua racionalidade e de sua força
de trabalho. Nesse sentido, esse artigo tem por objetivo mais do que apresentar os dados da
gestão econômica, tipologia leite e horta da UOP, também trazer para discussão e debate a
participação da questão de gênero nas UPAS, dos assentamentos de Reforma Agrária no RS.
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Nesse caso específico, a UOP pode ser considerada uma típica unidade camponesa, pois
a agricultora tem sua reprodução econômica e social extraída através de sua força de trabalho
empregada em sua UPA. A agricultora, basicamente trabalha sozinha e eventualmente contrata
diaristas para ajudar em algumas tarefas relacionadas à produção vegetal e animal do lote.
Ressalta-se que em inúmeros sistemas de produção de leite e horta nos assentamentos
da região metropolitana de Porto Alegre RS, tem a participação fundamental da mulher nessas
atividades produtivas.
A unidade possui uma área total de12ha, sendo destinados 0,5ha para horta e 7ha para
atividade leiteira. Além de 1,2ha de açudes, com produção de peixes, 0,5ha de mato nativo,
0,2ha de área de moradia e pomar e de 0,5ha de policultivo (Figura 02).
Nas áreas de horta e policultivo a agricultora produz uma diversidade de folhosas,
baraços, raízes e tubérculos, que são comercializados através de políticas públicas, como
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), modalidade Doação Simultânea e no Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Para estas atividades são adquiridos do comércio
mudas, sementes e adubação orgânica, sendo parte do adubo utilizado, proveniente da produção
animal do lote. Estas áreas são certificadas via Sistema Participativo de Garantia (SPG), através
do Organismo de Controle Social da Cooperativa Central dos Assentamentos do Rio Grande
do Sul (OCS – COCEARGS) que conta com o auxilio do escritório da certificação da COOTAP
e da assistência técnica (COPTEC) responsável pelas ações de formação e capacitação das
famílias assentadas.
Com relação à atividade leiteira são cultivados no lote 4ha de pastagem, sendo no verão
pastagem de milheto e no inverno pastagens de aveia e azevém, além das pastagens perenes de
hermatria e tifton. Também utiliza como complemento alimentar ração e sal mineral. Possui
resfriador a granel, sala de ordenha e esterqueira.
Figura 02 – Croqui da unidade de produção da Agricultora camponesa CG. Fonte:
COPTEC, 2015.
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A produção leiteira é comercializada através da COOTAP, para Cooperativa de
suinocultores de Encantado (COSUEL), leites Dália. A alimentação dos bovinos é com
pastagem cultivada no lote, sendo adquiridas externamente sementes e adubo e o preparo do
solo é feito através da patrulha agrícola da associação do assentamento. Também adquire do
comércio ração, sal mineral e medicamentos veterinários.
Parte da renda agrícola é oriunda da piscicultura, onde anualmente comercializa na feira
do peixe do município de São Jerônimo, durante a semana santa. Realiza compra anual de
alevinos e mensalmente de ração. Também comercializa o excedente da produção de suínos e
aves conforme fluxograma apresentado na Figura 03. Possui como renda externa uma pensão
do falecido marido
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Figura 03: Fluxograma da Unidade de produção. Fonte: COPTEC, 2015.
Descrição dos sistemas produtivos
Sistema horta e policultivo
O manejo realizado pela família na área de 1ha é agroecológico, tendo produzido em
0,5 ha de folhosas, 1.825 kg e no restante da área que é composta por raízes, baraços e
tubérculos, 2.244 kg (Figura 04 e 05).
Para a produção citada à cima, também existe o custo da patrulha agrícola do
assentamento, utilizada para encanteirar, preparar o solo e adubar, mas isso corresponde uma
mínima parte do consumo intermediário da UPA nesse sistema. A agricultora utiliza o veículo
próprio uma vez na semana para transporte da produção até os locais de entrega, algumas
escolas e entidades beneficentes.
Figura 04 – Área de produção de hortaliças orgânicas e diversificadas. Fonte. COPTEC,
2015.
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Foto 05 – Canteiros de folhosas e ao fundo açude para uso geral, onde a agricultora
utiliza para irrigação com regadores. Fonte. COPTEC, 2015.
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Sistema Leite
O manejo utilizado pela agricultora neste sistema de produção é convencional, a
produção anual foi de 26.497 litros, tendo a agricultora dispendido de seu trabalho de setembro
de 2014 a setembro de 2015 um total de 2160 horas. Para autoconsumo da família e destinado
aos terneiros, a soma fica em 314 litros. Para este sistema de produção percebeu-se através da
análise que a agricultora destina um número considerável de horas diárias trabalhadas, em
média 6 horas.
O consumo intermediário deste sistema tem um percentual elevadíssimo girando em
torno de 45% da renda agrícola da atividade que ocorre através da entrada de insumos externos
ao lote, sendo principalmente com ração. A agricultora conta com uma sala de ordenha com
estrutura completa, uma área onde está o resfriador a granel e também possui esterqueira, onde
são depositados os dejetos animais que são posteriormente utilizados na unidade de produção
(Figura 06 e 07).
Figura 06 – Estrutura de sala de ordenha da UPA. Fonte: COPTEC, 2015.
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Figura 07 – Área de pastagem da UPA. Fonte: COPTEC, 2015.
Análise sobre a UOP
A partir das discussões e análises da UOP constatou-se que para as atividades de leite e
horta a agricultora tem um custo intermediário total de R$ 12.058,64 sendo que 93% deste valor
é referente a atividade leiteira do lote. O alto custo intermediário do sistema leite é proveniente
da utilização de insumos externos, principalmente ração, fazendo com que o valor agregado
líquido (VAL) e o valor agregado bruto (VAB) sejam baixos representando R$ 33.295,48 e R$
31.040,22 respectivamente.
A agricultora cultiva pastagens de verão e inverno no lote, aonde a lotação nesses
espaços chega a 2,5 animais por ha. Também existe a área de campo nativo e pastagem perene
que são utilizados pelos animais para alimentação. O principal problema levantado pela
agricultora é a baixa qualidade das pastagens que está intimamente ligado a falta de manejo.
Com estresse hídrico a planta não alcança o seu potencial máximo de desenvolvimento e
consequentemente não acumula massa verde suficiente para alimentação animal,
principalmente em períodos de estiagem como no verão. O resultado é o aumento no consumo
de ração (aumento do custo intermediário) para manter a produção de leite.
Percebeu-se também que a maior parte do trabalho realizado pela agricultora está
concentrado no sistema produtivo leite. Através de algumas simulações realizadas nas planilhas
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pode-se inferir que diminuindo o custo intermediário desse sistema, pode-se ter uma melhora
significativa na renda agrícola.
Nesse sentido, a agricultora para o ano de 2016 pretende adquirir uma moto-bomba que
servirá para irrigação nas áreas de pastagens e também para potencializar a produção nas áreas
de hortaliças, raízes, baraços e tubérculos. Em relação a produção vegetal como um todo, temse um baixo consumo intermediário, onde a cada R$l,00 investido pela agricultora, a mesma
acumula R$16,00 na renda agrícola deste sistema.
Através da aplicação da ferramenta da UOP na unidade produtiva da agricultora CG,
conseguiu-se visualizar como ocorre a organização do trabalho e gestão econômica das
tipologias leite e horta. Ressalta-se também, a organização da agricultora em relação às
anotações referentes a entradas e saídas, utilização de insumos e manejos utilizados nas
atividades, levando a uma boa análise da unidade, contribuindo na discussão com relação ao
trabalho e gestão, avaliando a viabilidade econômica dentro das linhas produtivas realizadas
pela agricultora no lote. Propiciou também a percepção de limitantes e potencialidades a serem
trabalhadas na unidade para um melhor resultado na gestão econômica dos sistemas produtivos,
sem aumento da mão de obra.
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