ModeloEletromagnetico
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Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica - PPGEE Centro de Pesquisas e Desenvolvimento em Engenharia Elétrica - CPDEE MODELO ELETROMAGNÉTICO PARA DESCONTAMINAÇÃO DE ONDAS DE CORRENTE DE DESCARGAS ATMOSFÉRICAS: APLICAÇÃO ÀS MEDIÇÕES DA ESTAÇÃO DO MORRO DO CACHIMBO por MARCO AURÉLIO DE OLIVEIRA SCHROEDER Texto da Tese de Doutorado submetido à Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção de título de Doutor em Engenharia Elétrica Área de concentração: Automática Linha de Pesquisa: Sistemas de Energia Elétrica Orientador: Prof. Silvério Visacro Filho BELO HORIZONTE 05 DE MARÇO DE 2001 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 1.1 - A RELEVÂNCIA DO TEMA EM INVESTIGAÇÃO O crescente desenvolvimento tecnológico e o aumento da demanda de energia elétrica têm exigido maior nível de confiabilidade no fornecimento de energia elétrica, com menor número de interrupções de serviço. De um modo geral, as descargas atmosféricas constituem a principal causa de desligamentos não programados dos sistemas de energia elétrica. Dados da CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais) revelam que aproximadamente 70% das interrupções no fornecimento de energia ocorridas no Estado de Minas Gerais são devidas às descargas atmosféricas que atingem diretamente os sistemas elétricos ou que, ao incidirem em suas proximidades, os solicitam através de induções de elevadas tensões. Este quadro justifica as investigações das descargas atmosféricas e das técnicas de proteção dos sistemas elétricos contra seus efeitos nefastos. No caso específico do Estado de Minas Gerais as condições são, ainda, mais severas, o que amplia as motivações para desenvolvimento dessas investigações. O estado apresenta características naturais peculiares de relevo e clima, que fazem que a densidade de descargas atmosféricas (número de descargas por km2 por ano) para a terra local seja elevada. Ademais, o solo do estado apresenta valores de resistividade bastante elevados (valor médio em torno de 2.400 Ω.m), alcançando em certas regiões valores superiores a 10.000 Ω.m. De um modo geral, as práticas de proteção contra as descargas atmosféricas requerem, para um desempenho satisfatório, uma boa qualidade do aterramento elétrico. É muito difícil alcançar esta qualidade em condições de resistividade do solo tão desfavoráveis. Para alcançar um estágio avançado, tais investigações devem contemplar, além da Capítulo 1 - Introdução 2 pesquisa do fenômeno, um equacionamento consistente da interação da descarga e sistemas elétricos e eletrônicos solicitados, expresso através do acoplamento eletromagnético entre os mesmos. A partir daí, várias realizações técnicas importantes de interesse aplicado podem ser implementadas, tais como: cálculo de sobretensões, associadas a descargas, em diversos pontos de linhas de transmissão e distribuição; determinação da distribuição de correntes e potenciais ao longo de condutores de descida, eletrodos de aterramento e solo circunvizinho, em sistema de proteção e torres de telecomunicações; avaliação de desempenho de sistemas frente a descargas e desenvolvimento de práticas adequadas de proteção contra as mesmas, etc. Com estes comentários iniciais, denota-se a relevância do tema em investigação: a descarga atmosférica e sua interação com os sistemas de energia. Pretende-se gerar uma contribuição que subsidie o desenvolvimento de práticas adequadas de proteção contra os efeitos danosos das descargas nos sistemas elétricos, capazes de proporcionar melhoria na qualidade da energia elétrica. 1.2 - OBJETIVO BÁSICO DO TRABALHO A implementação das realizações citadas requer o entendimento do acoplamento eletromagnético das descargas atmosféricas com os sistemas de energia. Para tal, é imprescindível o conhecimento adequado das ondas típicas das correntes de descargas da região geográfica de interesse. Com o intuito de caracterizar estas ondas, associam-se às mesmas determinados parâmetros, tais como, valor de pico, tempo de frente, taxa de crescimento, tempo de meia onda, carga, energia, etc. Dada a natureza aleatória do fenômeno, para a caracterização da forma de onda e parâmetros associados, necessita-se de um grande número de medições, que permita a elaboração dos dados em termos estatísticos. Assim, pode ser obtida uma curva média para a forma de onda de corrente, bem como uma função distribuição de probabilidade (probabilidade cumulativa) para os diversos parâmetros. Podem, também, ser determinados coeficientes de correlação e ser realizadas análises de regressão para os mesmos parâmetros. A medição das ondas de corrente pode ser feita de forma direta ou indireta. A medição indireta (estimação indireta) é feita a partir do registro do campo eletromagnético, Capítulo 1 - Introdução 3 associado à descarga atmosférica, ao assumir determinadas relações teóricas ou empíricas entre os campos medidos e a corrente de descarga, inclusive com a utilização dos Sistemas de Localização de Tempestades (SLT). Por outro lado, a medição direta é feita por meio de torres providas de dispositivos de medição (designadas “torres instrumentadas”) ou através do recurso a técnicas de indução para promover a conexão da descarga com o solo. Estas técnicas usam foguetes lançados em direção às nuvens de tempestade (“triggered lightning”). A maior parte do conhecimento (massa de dados) sobre as formas de onda de corrente advém de medições diretas em estações com torres fixas. Um problema que tem merecido a atenção de muitos pesquisadores refere-se à influência que o sistema de medição direta exerce sobre a forma de onda da corrente que incide no topo da torre. Em função das descontinuidades de impedância existentes entre os diversos elementos (canal de descarga, torre e aterramento), a onda medida não corresponde à onda “original” incidente no topo da torre, devido a sua “contaminação” pelas reflexões nos pontos de descontinuidade. Por conseguinte, é de fundamental importância proceder a estudos que possibilitem recuperar o sinal original de corrente. Esta tarefa, usualmente designada “descontaminação” da onda, requer a disponibilidade de modelos apurados para os três principais componentes presentes no percurso da corrente de descarga: canal de descarga, torre e aterramento e que, também, contemplem de forma apurada o acoplamento eletromagnético entre tais componentes. O objetivo fundamental deste trabalho consiste no desenvolvimento de uma metodologia para caracterização de parâmetros típicos das descargas atmosféricas no ambiente de Minas Gerais, bem como na verificação da existência de relações entre os mesmos, a partir dos dados obtidos na Estação do Morro do Cachimbo. Para alcançar tal objetivo as atividades correspondentes foram organizadas basicamente nos seguintes tópicos: • Atualização e processamento dos registros da Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo para caracterização estatística dos parâmetros característicos das ondas de corrente registradas no local. • Desenvolvimento de um modelo eletromagnético elaborado capaz de contemplar a interação eletromagnética entre os componentes do sistema de medição, para fins de definição dos procedimentos para recuperação da forma e da amplitude das ondas de Capítulo 1 - Introdução 4 corrente incidentes na torre. 1.3 - ORGANIZAÇÃO DO TEXTO Este trabalho está organizado em nove capítulos, incluindo este capítulo introdutório, e quatro apêndices. Os apêndices são necessários para não sobrecarregar o texto principal, devido ao número muito grande de resultados e grande quantidade de equações. No capítulo 2, após a presente introdução, apresenta-se uma rápida descrição do fenômeno físico relacionado à descarga atmosférica, objetivamente no interesse deste trabalho. No capítulo 3 apresenta-se uma evolução histórica da pesquisa de descargas atmosféricas em Minas Gerais iniciada no princípio da década de 70, com ênfase para a Estação de Pesquisas do Morro do Cachimbo. São descritas as instalações desta Estação, juntamente com seus principais equipamentos, sua localização, etc. No capítulo 4 são apresentados os registros atualizados das ondas de corrente medidas na Estação do Morro do Cachimbo até 1998, juntamente com os resultados dos estudos estatísticos relativos aos parâmetros característicos destas ondas. Concomitantemente, apresenta-se uma breve revisão dos principais aspectos referentes às medições de ondas de corrente de descargas atmosféricas realizadas em San Salvatore (Suíça), por se constituir na base de dados mais conhecida e mais amplamente utilizada em diversos estudos relativos à interação entre descarga e sistemas elétricos/eletrônicos. No capítulo 5 introduz-se a questão da “contaminação” de ondas de corrente de descargas atmosféricas em sistemas de medição direta. Procede-se a uma sucinta revisão do estado da arte no tema, onde se denota que os modelos utilizados na literatura para representação dos componentes não são fisicamente adequados (principalmente da torre e do aterramento). Alguns resultados preliminares de simulação são apresentados, sendo desenvolvida análise de sensibilidade quanto à influência da impedância do aterramento, da torre e do canal de descarga no sinal de corrente medido. Capítulo 1 - Introdução 5 No capítulo 6 são descritos os aspectos fundamentais do modelo eletromagnético para determinação da distribuição de correntes e potenciais em sistemas incluindo canal, estruturas metálicas e aterramento, quando do fluxo de corrente de descarga. O modelo computa o acoplamento eletromagnético entre elementos situados num mesmo meio, desprezando o acoplamento entre elementos imersos em meios diferentes. No capítulo 7, apresenta-se talvez a maior realização deste trabalho. Trata-se do desenvolvimento de uma formulação para quantificar o acoplamento eletromagnético entre elementos condutores imersos no mesmo meio, considerando-se solo real (condutividade finita) e, também, entre elementos posicionados em meios diferentes. Isto possibilita o cálculo do referido acoplamento entre canal de descarga, torre e aterramento em condições mais apuradas que aquelas indicadas na literatura. No capítulo 8 são apresentados os resultados, com respectivas análises, oriundos da aplicação do modelo, apresentados nos capítulos 6 e 7, na avaliação dos efeitos de “contaminação” de sinais de corrente medidos na Estação do Morro do Cachimbo. No capítulo 9 são apresentadas as conclusões deste trabalho preliminar e as respectivas propostas para trabalhos futuros. CAPÍTULO 2 TIPOS DE DESCARGA ATMOSFÉRICA E PROPOSTA DE NOMENCLATURA 2.1 - INTRODUÇÃO O objetivo deste capítulo é descrever, em linhas bastante gerais, os tipos de descargas atmosféricas quanto à polaridade e à direção de propagação do canal precursor de descarga (“leader”), dando ênfase à descarga que mais interessa em termos práticos: a descarga nuvem-solo. É apresentada, também, uma padronização das diversas terminologias utilizadas para definir os principais elementos que compõem o fenômeno descarga atmosférica no texto do trabalho. Os detalhes físicos com relação à formação das nuvens de tempestade, eletrificação destas nuvens, início e posterior propagação das descargas, incidência direta no solo ou nas estruturas, a transferência de grandes quantidades de cargas entre a nuvem e a terra por ocasião do fechamento do canal de descarga, os diversos componentes das mesmas, etc. não serão descritos, uma vez que são exaustivamente discutidos na literatura técnica especializada UMAN.1982, internacional, UMAN.1984, [LEWIS.1950, UMAN.1986, GOLDE.1977a, KRIDER.1994] e nacional GOLDE.1977b, [PINTO.1996, VISACRO.2001b]. 2.2 - FONTE DAS DESCARGAS ATMOSFÉRICAS NUVEMSOLO As descargas atmosféricas nuvem-solo têm como fonte, de um modo geral, as nuvens de tempestade, denominadas cúmulos-nimbos. Estas nuvens são eletrificadas por Capítulo 2 – Tipos de Descarga Atmosférica e Proposta de Nomenclatura 7 meio de processos físicos ainda não completamente entendidos. Existem algumas teorias que tentam explicar tal fenômeno, não sendo, ainda, conclusivas [LEWIS.1950]. Porém, a despeito da falta de entendimento desses processos, foi possível, através de medições de campos elétricos no nível do solo e com a utilização de balões, estabelecer a estrutura elétrica típica de uma nuvem de tempestade: em sua base há uma camada com predominância de cargas negativas (apresentando, eventualmente, alguns bolsões reduzidos de carga positiva). Na região superior há somente cargas positivas distribuídas de forma mais extensa, conforme ilustra a Figura 2.1. Figura 2.1 – Estrutura elétrica de uma nuvem de tempestade típica – adaptada de [UMAN.1984]. 2.3 - TIPOS DAS DESCARGAS ATMOSFÉRICAS NUVEMSOLO É usual atribuir às descargas atmosféricas nuvem-solo uma classificação em quatro diferentes tipos, segundo sua polaridade e direção de propagação do canal precursor de descarga. Capítulo 2 – Tipos de Descarga Atmosférica e Proposta de Nomenclatura 8 Atribui-se à polaridade da descarga a mesma polaridade das cargas da região da nuvem conectada ao solo pelo canal de descarga. A grande maioria das descargas são de polaridade negativa. Entretanto, ocorre em número reduzido uma parcela de descargas que se originam das cargas positivas nas nuvens, sobretudo quando o centro de carga positiva é deslocado para próximo da base por fortes correntes de ar (ou, também, quando a descarga se inicia de pontos da nuvem onde a predominância é de carga positiva), tendo-se, assim, descargas atmosféricas positivas, a despeito das nuvens de tempestade típicas apresentarem sua base carregada negativamente. Com relação à direção de propagação, o canal precursor de descarga, na maior parte das vezes, inicia um movimento descendente a partir da nuvem para a superfície da terra, atingindo o solo ou uma estrutura qualquer. Isto ocorre em função do intenso campo elétrico, oriundo das cargas na base da nuvem, que supera a rigidez dielétrica do ar circunvizinho, provocando a ionização do mesmo. A partir daí este canal progride aos passos até atingir uma certa distância crítica do solo ou da estrutura de tal maneira que, em função da elevada indução de cargas nestes, há o surgimento de um canal ascendente em direção ao canal precursor descendente. Ocorrendo a conexão entre estes canais, a descarga atmosférica é denominada “descarga descendente”, constituindo-se na grande maioria das descargas nuvem-solo. Caso contrário, a descarga é dita “incompleta”. Por outro lado, devido a um forte processo de indução de cargas nos locais situados na superfície da terra abaixo das nuvens de tempestade, o campo elétrico associado pode assumir valores tais que ao superar a rigidez dielétrica do ar, provoca o início de um movimento ascendente do canal precursor de descarga que evolui para eventual conexão com um canal descendente, próximo à nuvem. Nesse caso, tem-se a descarga atmosférica ascendente. Este tipo de descarga é comum principalmente em estruturas muito altas ou situadas em montanhas elevadas. As descargas atmosféricas descendentes negativas constituem a grande maioria das ocorrências. Capítulo 2 – Tipos de Descarga Atmosférica e Proposta de Nomenclatura 9 2.4 - NOMENCLATURA ADOTADA A grande maioria dos textos referentes às descargas atmosféricas são escritos em língua estrangeira, principalmente o inglês. A tradução destas obras para o português tem ocasionado significativa confusão na literatura nacional em relação aos termos técnicos empregados. Tendo em vista a riqueza da Língua Portuguesa e o quadro descrito no parágrafo anterior, resolveu-se, no presente texto, proceder a uma proposta de nomenclatura dos termos técnicos de maior emprego na literatura técnica aplicada. Esta terminologia, indicada na Tabela 2.1, será utilizada ao longo deste trabalho. Tabela 2.1 – Nomenclatura adotada. Em Português Descarga Atmosférica ou Raio Em Inglês Lightning Relâmpago Trovão Thunder Descarga atmosférica Flash Descarga elétrica Electric discharge Canal precursor de descarga Stepped leader Definição Conceito mais amplo correspondente ao fenômeno integral envolvido no fechamento do canal de descarga e na(s) descarga(s) subseqüente(s). Inclui as manifestações elétricas, visuais e sonoras. Efeito luminoso perceptível visualmente em função da corrente de retorno no canal de descarga. Fenômeno sonoro relacionado à descarga atmosférica. É causado pelo brusco deslocamento de ar que se inicia nas proximidades do canal de descarga, decorrente do aquecimento deste. Referência à descarga atmosférica no sentido mais objetivo do conjunto de correntes (ou descargas) de retorno (“return stroke”) envolvidas após o fechamento do canal. Assim, esta pode ser constituída de uma ou mais descargas (“strokes”) pelo canal. Fluxo de cargas a partir de um objeto carregado eletricamente, que pode corresponder a processo disruptivo em meio isolante ou descarregamento através de meio condutor. Embora seja de emprego comum na mídia para designar as descargas atmosféricas, o mesmo não é considerado um termo adequado para designar o fenômeno por não conferir qualquer caráter de especificidade ao significado da descarga. Corresponde ao canal ionizado que evolui por passos, da ordem de 50m, correspondentes a descargas elétricas (rupturas) sucessivas no ar. A evolução do canal pode fechar um percurso ionizado entre nuvem e solo (no caso de descargas nuvem-solo), que é seguido pelo fluxo da corrente de descarga pelo canal formado. Pode ter seu percurso predominantemente ascendente ou descendente, recebendo respectivamente a designação de canal ascendente ou descendente. Capítulo 2 – Tipos de Descarga Atmosférica e Proposta de Nomenclatura 10 Num sentido genérico refere-se a um canal ionizado configurado por disrupção do ar próximo ao solo, que evolui por passos (descargas consecutivas) ascendentemente a partir de estruturas aterradas ou do próprio solo. Canal ascendente Upward leader Canal de descarga Discharge Channel Corrente de retorno Return Current Descarga de retorno Stroke Primeira descarga de retorno First Stroke Primeiro “stroke” de um “flash”. Descarga(s) de retorno subseqüente(s) Evento correspondente ao “reacendimento” do canal de descarga Subsequent Stroke(s) Conjunto de descargas de retorno subseqüentes à primeira descarga de retorno de um "flash", ou uma destas descargas de retorno. Corresponde ao deslocamento de cargas negativas da nuvem para o canal remanescente de uma descarga de retorno anterior, que configura uma corrente de valor reduzido (algumas centenas de Àmperes). Tal corrente é responsável pelo recarregamento de uma extensão do canal de descarga, enquanto este se esvaece, e que pode ser eventualmente capaz de “reacendê-lo” e habilitá-lo a uma descarga de retorno posterior que se fecha num ponto do solo próximo ao da descarga anterior. Distância crítica entre canal descendente e ascendente, a partir da qual ocorre o fechamento do percurso entre os mesmos, através do salto de um arco final. Ponto em que ocorre o encontro entre os canais descendente e ascendente. Distância crítica entre o canal descendente e a estrutura terrestre a partir da qual se dá o surgimento do canal ascendente. Quando alcança tal distância o canal descendente é capaz de induzir no solo o surgimento do canal ascendente. Distância entre o canal descendente e a estrutura terrestre a partir da qual ocorrerá o fechamento do percurso entre o canal descendente e o canal ascendente que se originou na estrutura terrestre. Quando a distância do canal descendente à estrutura alcança o valor do raio de atração, tem-se a expectativa de que haja o fechamento deste para um dos canais ascendentes anteriormente induzidos a partir da estrutura aterrada. Dart leader Distância de salto final Ponto de Conexão Distância de indução do canal ascendente Raio de atração Attachment point Striking distance Attractive radius Percurso ionizado que conecta a nuvem ao solo, configurado a partir da conexão dos canais ascendente e descendente e pelo qual flui a corrente de retorno da descarga. No caso da descarga nuvem-solo, o percurso tem a ordem de alguns quilômetros. Corrente que flui pelo percurso ionizado correspondente ao canal de descarga, após o fechamento do mesmo. Evento associado ao fluxo da corrente de retorno correspondente a uma descarga elétrica pelo canal de descarga. Uma descarga atmosférica (“flash”) pode incluir várias descargas de retorno (“strokes”) ou uma única descarga de retorno. CAPÍTULO 3 A ESTAÇÃO DE PESQUISAS DE DESCARGAS ATMOSFÉRICAS DO MORRO DO CACHIMBO 3.1 – INTRODUÇÃO O objetivo deste capítulo é descrever os principais recursos de medição existentes na Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo. Antes, porém, faz-se um breve resumo das atividades de pesquisa de descargas atmosféricas, no Estado de Minas Gerais, desenvolvidas pela CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais) desde o ano de 1971. O Estado de Minas Gerais naturalmente possui um solo com resistividade elevada, com um valor médio de 2.400 Ω.m (atingindo em alguns lugares valores superiores a 10.000 Ω.m), aliado a condições ambientais peculiares, traduzidas num elevado nível ceráunico. Tais condições têm revelado ao longo do tempo um elevado grau de adversidade quanto ao desempenho dos sistemas de energia elétrica, bem como de equipamentos, frente aos surtos de tensão/corrente provenientes de descargas atmosféricas que atingem diretamente ou indiretamente estes sistemas. Em função disso, as descargas atmosféricas constituem os principais elementos de solicitação do sistema de energia elétrica no Estado. Dados da CEMIG revelam que 70% dos desligamentos de energia elétrica decorrem de descargas atmosféricas. Tendo em vista as condições adversas descritas acima, no início da década de 70, a CEMIG principiou um programa de pesquisa que objetivava um intenso estudo da atividade elétrica da atmosfera do Estado de Minas Gerais. Este programa de pesquisa ainda continua em andamento. Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 12 Em seguida, faz-se um pequeno histórico das principais atividades relacionadas ao referido programa de pesquisa: • em 1971 iniciou-se o levantamento dos níveis ceráunicos (dias de trovoada) de todo o Estado de Minas Gerais, com 580 postos de observação espalhados pelo Estado. Com o objetivo de se obter uma melhor precisão no estabelecimento deste parâmetro nas fronteiras de Minas Gerais com os estados vizinhos, foram também instalados 120 postos de observação situados nestes estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás e Distrito Federal). Assim, foram construídos mapas com as curvas isoceráunicas de todo o Estado e também dos estados vizinhos. Em 1995 este estudo foi interrompido, uma vez que a quantidade de informação obtida no período (25 anos de observação) foi considerada suficiente. Os valores observados variam de 20 a 140 dias de trovoada por ano e o valor médio total (de todo o período) é de 70 dias de trovoada por ano [CARVALHO.1992, CARVALHO.1995, TRIGINELLI.1995, CHERCHIGLIA.1998]. A título de ilustração, a Tabela 3.1 apresenta os níveis ceráunicos determinados em outros países: Tabela 3.1 – Níveis ceráunicos em diversos países. Local Nível Ceráunico (dias Local de trovoada por ano) • Nível Ceráunico (dias de trovoada por ano) África do Sul 5 a 100 Finlândia 8 a 22 Alemanha 15 a 35 França 20 a 30 Austrália 5 a 107 Itália 11 a 60 em 1974 foram instalados elos magnéticos na base das torres de três linhas de transmissão de 138kV (vinte e cinco torres em cada linha), situadas em regiões de condições orográficas diferentes, com o propósito de estudar a distribuição das intensidades de correntes de descargas atmosféricas entre os componentes da linha. Posteriormente (em 1987), este projeto foi aperfeiçoado com a instalação de elos magnéticos no topo das torres, bem como nos cabos pára-raios [CEMIG.1983, CEMIG.1993, CHERCHIGLIA.1993, TRIGINELLI.1994]. A Tabela 3.2 resume as 256 descargas diretas, registradas pelos elos, que atingiram estas linhas até o presente momento. Estas descargas foram consideradas como descendentes, sendo que apenas uma foi de polaridade positiva. Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 13 Tabela 3.2 – Resumo das 256 descargas diretas nas linhas de transmissão sob estudo. Linha de Transmissão Descarga no topo da Descarga no cabo Total de 138kV torre pára-raios Jaguara – Passos 7 47 54 41 98 139 8 55 63 56 200 256 Santos Dumont – Juiz de Fora Poços de Caldas – Pouso Alegre Total Um resultado importante deste trabalho refere-se à determinação do valor mediano da corrente que percorre a torre em direção ao solo: 22 kA [CEMIG.1983, CEMIG.1993]. Este valor mediano se refere apenas às descargas atmosféricas incidentes diretamente no topo da torre. Evidentemente, tem-se a expectativa de um valor mediano da corrente de descarga incidente superior aos 22 kA medidos na base da torre. Estimativas apresentadas nos trabalhos referidos sugerem um valor mediano de corrente das descargas correspondentes superior a 40 kA (em torno de 46kA). Tais estimativas foram baseadas em medições dos picos de corrente nos elos magnéticos, instalados nos cabos pára-raios, no topo e na base da torre, associados a descargas atmosféricas incidentes diretamente no topo da torre. • em 1984 foram instalados 43 contadores de descargas (rede RSA - 10, tipo CIGRÉ – 10 kHz), distribuídos em todo o Estado, com o objetivo de se determinar as densidades de descargas atmosféricas para o solo (a rede alcançou um total de 100 contadores do mesmo tipo). Assim, foram construídos mapas com as curvas de isodensidades para todo o Estado. Verificou-se que os valores para as densidades de descargas variam de 1 a 10 descargas/km2/ano e o valor médio corresponde a 5 descargas/km2/ano [CARVALHO.1992, CARVALHO.1995, TRIGINELLI.1995, CHERCHIGLIA.1998]. A título de comparação, a Tabela 3.3 apresenta os níveis ceráunicos estabelecidos em outros países. Com as massas de dados referentes aos valores do nível ceráunico (Td) e da densidade de descargas para o solo (Ng), puderam ser estabelecidas correlações entre estes dois parâmetros de modo a obter uma relação matemática entre ambos. A Tabela 3.4 ilustra esta relação, assim como relações determinadas em outros países [CARVALHO.1992, Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 14 CARVALHO.1995, TRIGINELLI.1995]. Apresenta-se, também, uma comparação dos valores obtidos de Ng quando se utiliza o valor médio total de Td (70 dias de trovoada por ano) obtido em Minas Gerais (observa-se uma grande dispersão entre os valores de Ng). Tabela 3.3 – Densidades de descargas para o solo em diversos países. Local Local Densidade de Densidade de descargas para o solo descargas para o solo 2 (descargas/km2/ano) (descargas/km /ano) Minas Gerais 1 a 10 Austrália 0,2 a 4 África do Sul 1 a 12 México 1a9 Alemanha 1 a 5,5 Itália 1a4 Tabela 3.4 – Relações entre Td e Ng para diversos países. Local Relação entre Ng e Td Ng* (Td = 70) Minas Gerais Ng = 0,028Td1,2 4,6 Ng = 0,044Td1,24 8,4 Ng = 0,026Td1,33 7,3 Ng = 0,024Td1,12 2,8 África do Sul Ng = 0,04Td1,25 8,0 Itália Ng = 0,00625Td1,55 4,4 Região Plana México Região Costeira Região Montanhosa * Valores obtidos para Ng através da expressão indicada, quando se considera Td = 70. • em novembro de 1985 foi concluída a construção da primeira estação de medição de descargas atmosféricas diretas da América Latina, denominada Estação de Pesquisas do Morro do Cachimbo. Este capítulo objetiva fundamentalmente a descrição de todo o aparato operacional desta estação. Esta tarefa de descrição é reservada à seção 3.2. • em 1988 foi instalado o primeiro Sistema de Localização de Descargas Atmosféricas, ou Sistema de Localização de Tempestades, da América Latina (LPATS – Lightning Positioning and Tracking System) em sua configuração preliminar com quatro estações detectoras, situadas nas cidades de Três Marias, Ipatinga, Lavras e Volta Grande. Estas estações distam cerca de 300 km, possuindo uma estação central (analisador central, interface de telecomunicações, sistema de armazenamento remoto de dados, etc.) e Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 15 cinco terminais de vídeo remotos (usuários finais). No ano de 1995 foram instaladas outras duas estações detectoras, nas cidades de Capitão Enéas e Emborcação. Esta ampliação teve como finalidade o aumento da região de abrangência: elevação da eficiência de detecção e a redução dos erros de localização do sistema. Para cada descarga atmosférica registrada, obtém-se sua localização (latitude e longitude), horário de incidência (horas, minutos, segundos e milisegundos), polaridade e amplitude (estimada) da sua corrente. O Sistema de Localização de Tempestades constitui-se numa importante ferramenta operativa, possibilitando maior confiabilidade nas manobras operativas, previsões meteorológicas, melhoria do desempenho dos sistemas de energia elétrica (transmissão e distribuição) frente às descargas atmosféricas, melhor assistência a consumidores industriais, determinação das densidades de descargas para o solo (servindo, assim, como base de comparação com os dados obtidos pelos contadores de descargas) etc. Verificou-se a ocorrência de aproximadamente 2 milhões de descargas atmosféricas por ano [CARVALHO.1992, CARVALHO.1995, TRIGINELLI.1995, CHERCHIGLIA.1998]. Recentemente, através de um projeto cooperativo entre a CEMIG e a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), foi constituído um centro especializado de investigação de descargas atmosféricas, o LRC (Núcleo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Descargas Atmosféricas) cujos objetivos almejam, dentre diversos tópicos, desenvolver conhecimento científico relativo ao tema descargas atmosféricas, e definir práticas e procedimentos para proteção contra este fenômeno. Neste sentido, foram eleitos dois projetos prioritários: • a caracterização das solicitações associadas às descargas atmosféricas típicas do Estado de Minas Gerais, a partir das medições realizadas na Estação do Morro do Cachimbo ; • desenvolvimento de uma ferramenta para avaliação do desempenho das linhas de transmissão do Estado de Minas Gerais frente a descargas atmosféricas. Neste contexto, foram definidas investigações em ambos os temas na forma de desenvolvimento de duas teses de doutorado, sendo o primeiro tema objeto do presente trabalho. O segundo tema é desenvolvido em [SOARES.2001a]. Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 16 Vale salientar ainda que, como parte deste projeto cooperativo, a operação e manutenção da Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo, a partir de tal projeto, é de responsabilidade do LRC. 3.2 – ESTAÇÃO CACHIMBO DE PESQUISAS DO MORRO DO 3.2.1 – INTRODUÇÃO Em 1985 a CEMIG concluiu, num projeto pioneiro, a primeira Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas da América Latina. O projeto da estação foi desenvolvido com a participação do NEERI (National Electrical Engineering Research Institute) da África do Sul [CEMIG.1985, NEERI.1985, GELDENHUYS.1985]. Tal estação situa-se a 15 km ao sul de Belo Horizonte na Serra do Morro do Cachimbo a 1.430 m de altitude (43058’ W, 20000’ S), sendo comumente denominada Estação do Morro do Cachimbo. A estação possui um mastro (torre) com uma altura de 60m, que é responsável pela captação das descargas atmosféricas que eventualmente ocorram em suas proximidades. Na base do mastro existem os equipamentos responsáveis pelo registro das formas de onda. Vale salientar que a estação situa-se exatamente no topo do Morro do Cachimbo, estando, assim, a uma altura superior a 200 m dos pontos altos dos terrenos circunvizinhos. O local da estação, bem como a altura do mastro, foram escolhidos de tal forma a propiciar uma altura efetiva que resultasse em uma incidência de 5 a 8 descargas por ano. A Figura 3.1 exibe uma visão geral da estação. Todo o projeto relativo à estação foi denominado "Projeto Cachimbo" e é dedicado ao levantamento da distribuição das intensidades das descargas atmosféricas no local, da sua forma de onda, das taxas de crescimento e dos demais parâmetros associados. Nesta estação são realizados, também, registros fotográficos e de vídeo, com os objetivos de reconstituir o trajeto tridimensional das descargas que eventualmente atingem a torre de medição (assim como o cálculo de distância crítica de incidência) e de auxiliar no reconhecimento do tipo de descarga (ascendente ou descendente) e descargas de retorno subseqüentes. Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 17 Figura 3.1 – Estação do Morro do Cachimbo com sua torre de 60 m de altura. Nos tópicos que se seguem, são descritos os diversos componentes da Estação do Morro do Cachimbo. 3.2.2 – ESQUEMA GERAL DA ESTAÇÃO As Figuras 3.2 e 3.3 ilustram os principais componentes da estação, em seguida descritos. Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo Estação Remota 2 Sala de TV ±500m Serviços Câmera Fotográfica Torre Linha de Transmissão Aérea ( monofásica ) Transformador Abaixador 13,8KV/127V ( Instalado em poste de madeira ) 127 V 13,8 kV Estação Remota 1 ( Subestação de Barreiro ) Abrigo Principal Cabo de Sinal Contador de Descargas ± 2000m Sala de TV 115 V Medidor de Campo Elétrico ( “Field Mill” ) Câmera Fotográfica Figura 3.2 – Vista de cima da Estação do Morro do Cachimbo. Torre 0,5 Ω “Gap” (10kv ) Transdutor mais sensível Transdutor menos sensível 25V/kA 5V/kA Sala de Equipamentos Ambiente Blindado Estação Remota 1 Sensor de Luz Estação Remota 2 Sistema de Aquisição de Dados Vídeo Blindagem TV Controle Unidade de Disparo Controle da Câmera Registrador de Eventos Contador de Descargas Sensor de Luz Vídeo TV Controle Transformador Regulador Detector de Tempestade Controlador da Estação Inversor 220V Medidor de Campo Elétrico Sistema de Bateria 48V DC Figura 3.3 – Arranjo geral da Estação do Morro do Cachimbo. 18 Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 19 3.2.3 - CONTADOR DE DESCARGAS ATMOSFÉRICAS COM FAIXA MÚLTIPLA A operação deste equipamento é de vital importância para toda a estação. É um contador de descargas atmosféricas do tipo CIGRÉ – 10 kHz, que diferencia descargas nuvem-solo das descargas entre nuvens ou intra-nuvens, registrando somente as nuvemsolo. Além disso, opera em múltiplas faixas, uma vez que detecta descargas que ocorrem dentro de raios (faixas) de 20, 10 e 5 km. À medida que as descargas de uma nuvem de tempestade se aproximam da estação, dentro de uma destas três faixas, ele envia um sinal à sala de equipamentos, acionando-a e preparando-a para o registro de uma onda de corrente de descarga eventualmente incidente sobre a torre. A cada uma destas três faixas corresponde uma determinado modo de operação na sala de equipamento: modo lento (20 km), modo alerta (10 km) e modo acelerado (5 km). O sinal é enviado diretamente ao sistema de instrumentação, que por sua vez controla o funcionamento do sistema de aquisição de dados, do medidor de campo elétrico e das estações remotas 1 e 2 (registros fotográficos e de vídeo). 3.2.4 – MEDIDOR DE CAMPO ELÉTRICO (“FIELD MILL”) Este equipamento registra os níveis de campos elétricos ao nível do solo associados com as cargas das nuvens de tempestade que eventualmente estejam acima da estação. A intensidade de campo elétrico é traduzida pela tensão induzida nos terminais de um capacitor de capacitância variável. O medidor de campo é acionado pelo sistema de instrumentação (que é acionado pelo contador de descarga) e retorna a este um sinal com a variação temporal do campo elétrico, que é registrado num equipamento próprio pertencente ao sistema de instrumentação. Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 20 3.2.5 –MASTRO CAPTOR (TORRE) O mastro captor constitui-se basicamente numa torre de 60m de altura. É sustentada por cabos (estais) isolantes (nylon terylene), de tal forma que a corrente de descarga flua estritamente pela estrutura metálica da torre. De acordo com a localização da estação (altitude, nível ceráunico) e a altura da torre, tinha-se a expectativa de que aproximadamente 5 a 8 descargas atmosféricas fossem interceptadas pela torre por ano, admitindo-se um raio de atração médio de 350m [CEMIG.1985]. A medição da onda de corrente é processada na base da torre. Existem dois transdutores de corrente que exercem esta função: um mais sensível (25 V/kA) em série com um resistor de 0,5 Ω e um menos sensível (5 V/kA), conforme ilustram as Figuras 3.3 e 3.4. Em paralelo com a associação série do transdutor mais sensível com o resistor, existe um “gap” de 0,5 mm. Em série com esta associação paralela, encontra-se o transdutor menos sensível, conforme ilustram as Figuras 3.3 e 3.4. Os sinais de corrente registrados por estes transdutores são enviados diretamente ao sistema de aquisição de dados na sala de equipamentos, após uma prévia atenuação. Para correntes com intensidades de valor de pico inferiores a 20 kA toda a corrente percorre o transdutor mais sensível, que faz a melhor medição do sinal. Para correntes mais intensas (superiores a 20 kA), a tensão resultante no resistor em paralelo com o “gap” promove o rompimento do meio (tensão de ruptura igual a 10 kV), curto-circuitando este transdutor. A corrente total flui pelo transdutor menos sensível que, neste caso, faz a melhor leitura do sinal. Acima do sistema de medição (aproximadamente 50 cm) são instalados diversos elos magnéticos que registram a densidade de fluxo magnético. Posteriormente, estes elos são processados em equipamento próprio para verificação do valor de pico de corrente que os magnetizam e para comparação com o valor registrado pelos osciloscópios. Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 21 Figura 3.4 – Circuito de medição da onda de corrente: dois transdutores (5 e 25 V/kA), um resistor de 0,5 Ω e um gap de 0,5 mm. 3.2.6 – ABRIGO PRINCIPAL Consiste de duas salas: uma para alojar um conjunto de baterias (3x3 m) e outra onde estão instalados equipamentos de medição, controle, energia etc. (4x3 m). Estas salas são totalmente blindadas, para evitar interferência eletromagnética externa que poderia afetar o funcionamento dos equipamentos de medição e controle (principalmente em função da onda de corrente que flui pela torre). O abrigo é energizado por uma linha de transmissão monofásica (13,8 kV – 60 Hz), proveniente da Subestação do Barreiro (a mais próxima do local), que alimenta um transformador abaixador (13,8 kV/127 V), localizado em um poste de madeira, conforma mostra a Figura 3.2. A alimentação de 127 V é levada diretamente a um transformador isolador situado na parte de fora do abrigo, proporcionando, assim, proteção do mesmo contra eventuais surtos de tensão/corrente. Em seguida, a energia é direcionada a um retificador que alimenta um conjunto de baterias (48 V) e deste a um inversor (220 V–60 Hz) Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 22 que supre o conjunto de equipamentos da sala ao lado. O objetivo do conjunto de baterias é proporcionar constante suprimento de energia aos equipamentos de medição, uma vez que pode ocorrer a situação de falha de fornecimento de alimentação por parte da linha de transmissão monofásica. A sala de equipamentos contém quatro componentes principais (Figura 3.3): • sistema de instrumentação (controle) geral; • sistema de aquisição de dados; • sistema de alimentação com diversos componentes, tais como, unidades de distribuição, inversor, transformadores regulador e isolador; • unidade de proteção contra surtos. Todos os instrumentos desta sala são aterrados numa única barra de terra central, evitando desta maneira diferenças de potencial que poderiam prejudicar tais equipamentos. Os sistemas de instrumentação geral, bem como o de aquisição de dados, possuem blindagem eletromagnética própria, conforme ilustra a Figura 3.3. O sistema de aquisição de dados recebe os sinais de corrente dos transdutores situados na base da torre. A Figura 3.5 ilustra os equipamentos envolvidos na transferência dos sinais. Cada sinal é atenuado antes de ser enviado ao osciloscópio. Figura 3.5 – Diagrama esquemático do circuito de medição da onda de corrente. O sistema compreende dois registradores de formas de onda (osciloscópios) e um computador para capturar, registrar e analisar as formas de onda de corrente associadas às descargas que são registradas na estação. A Figura 3.6 mostra um diagrama de blocos que Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 23 resume todo este sistema. As ondas de corrente são registradas com um intervalo de amostragem mínimo igual a 50 ns. Figura 3.6 – Diagrama de blocos do sistema de aquisição de dados. Ao receber um sinal proveniente do contador de descarga, o sistema de instrumentação geral, controla e aciona o funcionamento das estações remotas 1 e 2, do sistema de aquisição de dados e do medidor de campo (“field mill”). Este sistema possui um medidor gráfico, onde todo o estado operacional da estação é registrado, tal como, variação temporal do campo elétrico, dados sobre o funcionamento do sistema de aquisição e das estações remotas. 3.2.7 – ESTAÇÕES REMOTAS 1 E 2 Estas estações, controladas pelo sistema de instrumentação da sala de equipamentos do abrigo principal, são responsáveis pelos registros fotográficos e de vídeo das descargas atmosféricas que atingem a torre de medição. Estão posicionadas de tal forma que o ângulo visual entre elas é de 900, conforme ilustra a Figura 3.2. Desta maneira, Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 24 torna-se possível, através dos registros fotográficos, reconstruir o caminho tridimensional do canal precursor de descarga de uma determinada descarga atmosférica. Os registros de vídeo possibilitam, também, proceder estudos fundamentais quanto à determinação da distância crítica de incidência, além da determinação do tipo da descarga (ascendente ou descendente). A estação remota 1 situa-se na Subestação de Barreiro, a 1,5 km da Estação do Morro do Cachimbo, enquanto a estação remota 2 situa-se a apenas 500 m desta, na própria Serra do Morro do Cachimbo, conforme mostra a Figura 3.2. Vale salientar, que as estações remotas 1 e 2 possuem sensores ópticos, como ilustrado na Figura 3.3. Desta forma podem operar em modo automático, de tal forma que em uma eventual falha do sistema de instrumentação, as mesmas podem operar em função da intensa luminosidade associada ao canal de descarga. 3.2.8 – ATERRAMENTO O sistema de aterramento da Estação do Morro do Cachimbo é ilustrado pela Figura 3.7. O arranjo escolhido para o aterramento tem dois objetivos principais: • minimização das diferenças de potencial no interior da sala de equipamentos e entre o abrigo principal, torre e o transformador abaixador instalado no poste; • minimização da elevação de potencial na superfície do solo. Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 25 Figura 3.7 – Sistema de aterramento da estação. O sistema de aterramento esquematizado na Figura 3.7 é composto dos seguintes eletrodos: • anéis de aterramento, envolvendo o abrigo principal e a torre. São condutores de cobre de 10 mm de diâmetro e enterrados a uma profundidade de 500 mm e estão dispostos a aproximadamente 1 m da periferia da estrutura (abrigo e torre); • eletrodos radiais nas quinas dos anéis. São condutores de cobre de 10 mm de diâmetro, enterrados a uma profundidade de 500 mm e com uma extensão de 15 m; • eletrodos de hastes verticais enterradas no solo nas extremidades dos eletrodos radiais, com uma extensão de 1,5 ou 3 m; • condutores de interconexão dos anéis de aterramento. Também são condutores de Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 26 cobre, 10mm de diâmetro e enterrados a uma profundidade de 500mm; • dois condutores das quinas do abrigo principal ao transformador abaixador e outros dois radiais para formarem os eletrodos de aterramento deste transformador. Finalmente, vale frisar a interconexão de baixa impedância entre a barra de terra central da sala de equipamentos e a base da torre, que é constituída por uma chapa condutora de cobre de dimensões 400 mm x 0,5 mm. Os cabos de sinal, bem como os de alimentação passam por cima desta chapa, entrando no abrigo principal em um ponto único. 3.3 – APERFEIÇOAMENTOS DA ESTAÇÃO DO MORRO DO CACHIMBO Como pôde ser verificado na seção 3.2, a Estação do Morro do Cachimbo está preparada para processar a medição da parcela impulsiva relativa à onda de corrente de descarga atmosférica. No entanto, existe uma componente da forma de onda de corrente, denominada componente de corrente contínua, que não é detectada pela estação. O adequado conhecimento de tal componente é de fundamental importância, uma vez que permite, por exemplo, uma maior caracterização física do fenômeno. Ademais, diversos são os interesses práticos no estudo da mesma. Um deles tem merecido grande destaque nos últimos anos: o efeito das descargas atmosféricas nos cabos OPGW (“Optical Ground Wire”). A tecnologia de cabos OPGW evoluiu muito nos últimos anos, resultando na disseminação de tais cabos nas linhas de transmissão de diversos países, incluindo o Brasil. Devido à grande extensão das linhas brasileiras, esses cabos OPGW passam usualmente por regiões de alto índice de densidade de descargas atmosféricas, o que os deixa expostos à freqüente incidência de correntes de descargas. Embora as linhas de transmissão com cabos pára-raios normais sofram o mesmo tipo de exposição, as características construtivas dos cabos OPGW impõem-lhes maiores danos, quando da incidência de descargas atmosféricas, em relação aos cabos de aço convencionais. Ademais, a função de comunicação destes cabos lhes atribui um requisito de muito maior confiabilidade. No Brasil, desde a adoção de cabos OPGW, com tecnologia aperfeiçoada (o que Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 27 usualmente implica menor raio de condutor) tem sido observado um número muito significativo de estragos nestes condutores nas linhas, ocasionados por descargas atmosféricas. A natureza destes estragos varia consideravelmente, desde a ruptura dos tentos externos, comprometendo a sustentação mecânica dos mesmos, até danos mais extensos, atingindo a fibra ótica e, assim, podendo comprometer a transmissão de dados. A Figura 3.8 ilustra um cabo OPGW danificado em função da incidência de descarga atmosférica. Figura 3.8 – Cabo OPGW danificado por incidência de descarga atmosférica. No passado, os danos nos cabos OPGW eram atribuídos aos elevados valores de pico da forma impulsiva da onda de corrente da descarga atmosférica. Atualmente, admitese que tais danos estejam, também, associados à existência da componente contínua da onda de corrente. Esta componente, apesar de possuir valores relativamente reduzidos (em torno de 100 A a 600 A), possui uma longa duração (quando comparada com a componente impulsiva), da ordem de 0,5 segundo [WIESINGER.1996, MELO.2000]. As normas internacionais tentam estabelecer ensaios representativos deste tipo de solicitação, capazes de assegurar a suportabilidade dos cabos, quando solicitados por corrente de descarga. No Brasil, uma comissão da ABNT está propondo um projeto de norma com este objetivo. Entretanto, tanto no contexto nacional quanto internacional, faltam dados reais que comprovem a representatividade dos testes propostos. Sobretudo, faltam medições da componente contínua da corrente de descarga. Além de escassos, os dados disponíveis foram coletados na Europa, onde sabidamente, as características das correntes de Capítulo 3 - A Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo 28 descarga são diferentes daquelas do ambiente sul-americano. Isto evidencia a necessidade de caracterização da componente contínua da corrente de descarga nas condições ambientais de nosso território. No Brasil, a única instalação para medição da corrente natural de descarga é a “Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo”. No entanto, conforme comentado acima, até o presente momento, tal estação está preparada para medir somente a componente impulsiva da onda de corrente. O quadro descrito, com a freqüente ocorrência de danos na rede brasileira de cabos OPGW instalada, motivou a investigação das características da componente de corrente contínua, através do aprimoramento dos recursos de medição da “Estação do Morro do Cachimbo”, para capacitá-la ao registro desta componente da corrente de descarga atmosférica. Assim, está em fase de desenvolvimento um projeto que objetiva proceder uma série de aperfeiçoamentos na instrumentação incluindo a instalação de novos e modernos dispositivos para registro da forma de onda (amplitude e duração) da componente de corrente contínua. A nova arquitetura de medição possibilitará a obtenção de informações de ambas as componentes da corrente de descarga, a impulsiva de curta duração e a contínua de longa duração, sem prejuízo da operação da instrumentação de medição já existente em Cachimbo, que se mostrou bastante robusta ao longo dos últimos 15 anos de existência da estação. O conhecimento adquirido a partir desta medição é fundamental na perspectiva de projeto dos cabos OPGW e de definição dos ensaios de suportabilidade dos mesmos. Ademais, a sua análise pode sugerir práticas para manutenção dos cabos e, eventualmente, a adoção de medidas de proteção. Concomitantemente, irá auxiliar numa maior caracterização física do fenômeno. CAPÍTULO 4 AVALIAÇÃO ESTATÍSTICA DOS PARÂMETROS DAS ONDAS DE CORRENTE MEDIDAS NA ESTAÇÃO DO CACHIMBO 4.1 - INTRODUÇÃO O objetivo deste capítulo constitui-se na atualização dos registros relacionados com as ondas de corrente de descargas atmosféricas, medidas na Estação do Morro do Cachimbo, bem como a caracterização estatística dos principais parâmetros associados às mesmas, incluindo a sua forma. Duas diferentes abordagens devem ser contempladas na consideração dos efeitos nefastos das descargas atmosféricas em sistemas de energia elétrica, bem como na avaliação do desempenho destes frente àquelas: • os efeitos originados por descargas indiretas (descargas incidentes nas proximidades do sistema); • os efeitos originados por descargas diretas, que atingem os componentes do sistema. As descargas indiretas interagem com o sistema através do acoplamento eletromagnético entre o canal de descarga e os componentes do mesmo, gerando sobretensões induzidas que podem levar à ruptura do isolamento destes componentes. Este tipo de efeito, a despeito de sua menor intensidade, é muito importante para os sistemas de baixa e média tensão. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 30 A corrente injetada no sistema pelas descargas diretas pode gerar danos em componentes do mesmo junto ao ponto de incidência. Pode, também, ocasionar sobretensão e levar à ruptura de isolamento do sistema, quando a onda de corrente trafega por este. Este efeito é menos freqüente, porém é muito mais severo e é muito comum no caso de linhas de transmissão de alta tensão. Para avaliação da suportabilidade de equipamentos e componentes do sistema frente a estes tipos de solicitações, é necessário conhecer as formas de onda de corrente características de descargas atmosféricas, assim como os parâmetros relacionados às mesmas, tais como: valor de pico da corrente (IP), taxas de crescimento (di/dt), tempo de subida, tempo de meia onda, etc. Para suprir a necessidade de caracterização desses parâmetros, estações de medição de descargas foram construídas em diversas partes do mundo. As primeiras medições de corrente de descarga direta de que se tem notícia foram realizadas no Monte San Salvatore na Suíça, por K. Berger [BERGER.1967]. Referindo-se a tais medições, em 1975, K. Berger, R. B. Anderson e H. Kröninger apresentaram um resumo geral dos parâmetros característicos da forma impulsiva da onda de corrente de descarga e suas distribuições estatísticas [BERGER.1975]. Posteriormente, foram obtidos dados em outras partes do mundo: África do Sul [ERIKSSON.1978, ERIKSSON.1979], Canadá [JANISCHEWSKYJ.1996, JANISCHEWSKYJ.1997], Itália [GARBAGNATI.1981], Alemanha [BEIERL.1992, ZUNDL.1996, FUCHS.1998a, FUCHS.1998b], Checoslováquia [POPOLANSKÝ.1972, POPOLANSKÝ.1990], na própria Suíça [MONTANDON.1994], Japão [NAKAHORI.1982, YOKOYAMA.1983, NARITA.2000] e Brasil [CHERCHIGLIA.1998, SCHROEDER.1999a, 1999b, SCHROEDER.2001a]. O valor de pico das ondas de corrente é considerado o parâmetro mais importante destas ondas. Esse parâmetro foi também obtido em pesquisas alternativas através do uso de elos magnéticos instalados em cabos pára-raios e torres de linhas de transmissão, em torres de igrejas, chaminés, etc. [POPOLANSKÝ.1972, ANDERSON.1980, CEMIG.1983, TRIGINELLI.1994]. Tradicionalmente, os parâmetros típicos de corrente de descarga de emprego generalizado em estudos de desempenho e proteção de sistemas são aqueles determinados por R. B. Anderson e outros a partir das medições de K. Berger [ANDERSON.1980]. Isto motiva, no presente trabalho, a comparação dos parâmetros calculados das formas de onda de corrente medidas na Estação de Cachimbo com aqueles de K. Berger. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 31 Alguns parâmetros da corrente de descarga e, também, a densidade de descarga para o solo podem ser determinados com o auxílio de Sistemas de Localização de Tempestades. Neste caso, as características das formas de onda de corrente são obtidas indiretamente através da medição do campo eletromagnético irradiado pela corrente de descarga, por meio de antenas adequadamente posicionadas [DIENDORFER.1998, CUMMINS.1998, PINTO.1999a, PINTO.1999b, ISHII.2000]. Não é objeto deste trabalho analisar medições indiretas de ondas de corrente. Outro tipo de medição é realizado através das designadas “descargas atmosféricas induzidas por foguetes” (“rocket triggered lightning”), cuja abordagem está, também, fora do escopo deste trabalho [UMAN.1989, FISHER.1994, RAKOV.1998a, RAKOV.1999, RAKOV.2000c]. 4.2 - PARÂMETROS CARACTERÍSTICOS DAS ONDAS DE CORRENTE Em 1975, K. Berger, R. B. Anderson e H. Kröninger apresentaram uma seleção de parâmetros para caracterização da descarga atmosférica [BERGER.1975]: a) Para as descargas de retorno: • Pico de corrente – maior valor de pico de corrente da descarga de retorno. • Duração da frente – intervalo de tempo entre o ponto de 2kA (o menor valor de corrente para que seja considerado como representativo de uma descarga) sobre a frente da onda de corrente da descarga de retorno e o primeiro pico. • Duração da descarga de retorno – intervalo de tempo entre o ponto de 2kA sobre a frente da onda e o ponto sobre a cauda onde a amplitude de corrente corresponde a 50% de seu valor de pico. • Máxima taxa de crescimento – maior valor de di/dt sobre a frente da onda de uma descarga de retorno. • Carga impulsiva – carga elétrica transferida pela forma de onda impulsiva da corrente da descarga de retorno. • Carga da descarga de retorno – carga total da descarga de retorno, ou seja, a carga impulsiva mais qualquer carga transportada pelas componentes de corrente contínua. • Energia da descarga de retorno – energia que seria dissipada pela corrente da descarga de retorno fluindo num resistor de 1Ω. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 32 b) Para a descarga atmosférica: • Pico de corrente – maior valor de pico dentre todas as descargas de retorno. • Duração da descarga – tempo durante o qual existe fluxo de corrente ou, no caso de uma descarga atmosférica múltipla, o tempo até a finalização da última descarga de retorno. • Intervalos de tempo sem corrente – intervalos de tempo entre descargas de retorno de uma descarga atmosférica durante os quais não há fluxo de corrente. • Carga da descarga – carga total transferida por todas as descargas de retorno que constituem a descarga atmosférica. O interesse na avaliação da forma de onda da corrente de descarga, sobretudo no tempo de frente e derivada máxima de corrente, para fins de aplicação em engenharia de proteção, determinou a introdução de parâmetros adicionais por R. B. Anderson e A. J. Eriksson [ANDERSON.1980, CIGRÉ.1991]. Estes são apresentados na Figura 4.1, que corresponde a uma forma de onda de corrente real medida na Estação do Morro do Cachimbo [SCHROEDER.1999a, SCHROEDER.2001a, VISACRO.1999]. T10 T30 TAN 10 T(µs) I 10 I 30 S10 S30 I 90 I100 I (kA) Pico 1 TANG Pico 2 Figura 4.1 - Onda de corrente registrada no Morro do Cachimbo correspondente à primeira corrente de retorno de uma descarga atmosférica negativa descendente – definição dos principais parâmetros associados. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo • 33 ΙP ⇒ valor de pico da onda de corrente. • De um modo geral, as ondas de corrente relativas às primeiras descargas de retorno apresentam dois diferentes picos de corrente, sendo o segundo (ΙP2) usualmente maior que o primeiro (ΙP1). Já as descargas de retorno subseqüentes apresentam geralmente um único pico. • • Os parâmetros T10, T30, S10, S30 e TANG são definidos em termos de ΙP1. • O parâmetro T50 é definido em função de ΙP2; T10 ⇒ intervalo de tempo entre as amplitudes de 10% e 90% (em relação a ΙP1) da corrente na frente da onda; • Td10 ⇒ tempo de frente equivalente (Td10 = T10/0,8); • T30 ⇒ intervalo de tempo entre as amplitudes de 30% e 90% (em relação a ΙP1) da corrente na frente da onda; • Td30 ⇒ tempo de frente equivalente (Td30 = T30/0,6); • TAN10 ⇒ taxa de crescimento da corrente correspondente à tangente, na frente da onda, na amplitude de 10%; • S10 ⇒ taxa de crescimento média da corrente entre as amplitudes de 10% e 90% (em relação a ΙP1) na frente da onda; • S30 ⇒ taxa de crescimento média da corrente entre as amplitudes de 30% e 90% (em relação a ΙP1) na frente da onda; • TANG (ou Sm) ⇒ máxima taxa de crescimento da corrente na frente da onda; • T50 ⇒ intervalo de tempo entre o ponto definido pelo valor de corrente 2kA na frente da onda e o ponto na cauda relativo ao valor de 50% do pico de corrente; • Carga ⇒ corresponde à integração da onda de corrente; • Energia por unidade de impedância ⇒ corresponde à energia que seria dissipada pela onda de corrente fluindo por um resistor de 1 Ω, ou seja: ∫ [ i (t) ] 2 dt . Assim, corresponde a uma definição de energia por unidade de impedância, A2s ou J / Ω. Neste trabalho, ao analisar as ondas de corrente, na maior parte dos parâmetros relativos à frente de onda, o valor de 90% do primeiro pico (ΙP1) foi admitido como referência para observar a padronização adotada por R. B. Anderson. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 4.3 - ATUALIZAÇÃO CACHIMBO DOS REGISTROS MEDIDOS 34 EM Em 1999 foi realizada uma atualização de todos os registros medidos em Cachimbo, concentrando-se, principalmente, nas descargas descendentes negativas [SCHROEDER.1999a, SCHROEDER.1999b]. Nesta seção são apresentados os dados correspondentes e os mesmos são comparados com registros de outras estações de medição. A Tabela 4.1 apresenta um resumo de tais dados, correspondentes a 79 descargas atmosféricas registradas. Tabela 4.1 - Resumo das 79 descargas atmosféricas registradas na Estação do Cachimbo. Número total de descargas atmosféricas registradas 79 Número médio de descargas por ano 7 Incidência de descargas negativas (descendentes/ascendentes) 64 (81%) Incidência de descargas positivas (descendentes/ascendentes) 13 (16,5%) Descargas com polaridade desconhecida 2 (2,5%) Descargas descendentes observadas confirmadas (positiva/negativa) – (*) 33 (41,8%) Incidência de descargas negativas descendentes – (*) 31 (39,2%) Incidência de descargas positivas descendentes – (*) 2 (2,5%) (*)Descarga descendente confirmada através dos registros de vídeo. O número médio de descargas atmosféricas registradas por ano (7) está dentro do esperado, uma vez que, conforme comentado no Capítulo 3, o valor estimado deveria estar entre 5 e 8 descargas por ano. A grande maioria de descargas atmosféricas registradas é negativa, correspondendo a 81% do total. Como existem duas de polaridade desconhecia (2,5% do total), a percentagem de polaridade positiva é de 16,5% do total. Das descargas descendentes confirmadas (33), apenas 2 são positivas, o que eqüivale a 6,1% do total das descendentes confirmadas. Logo, 31 são negativas, ou seja, 93,9% das descendentes confirmadas. Estes resultados são razoavelmente similares aos publicados por R. B. Anderson e A. J. Eriksson em 1980, tendo como base medições em San Salvatore (Suíça), Rodésia, Checoslováquia, Austrália e África do Sul, para descargas descendentes: 88,6 % do total de descendentes são negativas e 11,4% são positivas [ANDERSON.1980]. Como já frisado anteriormente, tendo em vista aplicações práticas de engenharia, as descargas atmosféricas descendentes negativas despertam maior interesse, por serem as que incidem mais freqüentemente nos sistemas de energia elétrica (linhas de transmissão e Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 35 distribuição, edificações, subestações, etc.). Apresenta-se na Tabela 4.2 dados mais detalhados sobre as 31 descargas descendentes negativas registradas em Cachimbo. Tabela 4.2 - Resumo das 31 descargas descendentes negativas registradas em Cachimbo. Incidência de descargas atmosféricas com 1 única descarga de retorno 15 (48,4%) Incidência de descargas atmosféricas com múltiplas descargas de retorno 16 (51,6%) Número médio de descargas de retorno por descarga atmosférica 5,8 Tempo médio entre descargas de retorno 64ms Duração média da descarga atmosférica 198,2ms Valor mediano de ΙP1 das primeiras descargas de retorno 42,5kA Valor médio de ΙP1 das primeiras descargas de retorno 43,1kA Valor mediano de ΙP2 das primeiras descargas de retorno 48,4kA Valor médio de ΙP2 das primeiras descargas de retorno 48,7kA Valor mediano do pico de corrente das descargas de retorno subseqüentes 16,5kA Valor médio do pico de corrente das descargas de retorno subseqüentes 18,4kA Verifica-se que das 31 descargas descendentes negativas registradas em Cachimbo, 15 (48,4%) possuem apenas uma descarga de retorno e 16 (51,6%) apresentam descargas de retorno subseqüentes (descargas atmosféricas múltiplas). Estes valores estão bastante próximos das estatísticas mundiais. De 45% a 55% das descargas descendentes negativas apresentam uma única descarga de retorno, segundo as medições na Suíça, África do Sul, Rodésia e Flórida (EUA) [ANDERSON.1980, CIGRÉ.1991]. No entanto, o número médio de descarga de retorno por descarga atmosférica em Cachimbo (5,8) é superior à média mundial, que é de 3,1 [ANDERSON.1980, CIGRÉ.1991]. Da mesma forma, o tempo médio entre descargas de retorno em Cachimbo (64ms) é superior à média mundial, que é de 35ms [ANDERSON.1980, CIGRÉ.1991]. A duração média da descarga atmosférica negativa em Cachimbo, incluindo descargas com uma única descarga de retorno, é de 198,2ms. Este parâmetro é bastante variável, assumindo valores medianos de 13ms, na Suíça, 67ms na Rodésia e 200ms na África do Sul, por exemplo [ANDERSON.1980]. Os valores médio e mediano dos picos de corrente são analisados e comparados com outras medições na próxima seção. Vale frisar a proximidade entre os valores medianos do pico Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 36 de corrente levantados das medições na Estação de Cachimbo e do estudo com elos magnéticos em linhas de transmissão (descrito no Capítulo 3, item 3.1): aproximadamente 48kA e 46kA, respectivamente. 4.4 – PICO DE CORRENTE: PROBABILIDADE CUMULATIVA DISTRIBUIÇÃO DE 4.4.1 – RESUMO HISTÓRICO Em 1972, F. Popolanský apresentou um estudo em que enumerava uma série de erros nas curvas de distribuições de probabilidade cumulativa do pico de corrente medido de descargas atmosféricas existentes até então. As medições, em sua maior parte, eram processadas em torres e cabos pára-raios de linhas de transmissão através de elos magnéticos [POPOLANSKÝ.1972]. Segundo F. Popolanský, algumas influências externas comprometiam a qualidade dos resultados. Este era o caso da eventual desmagnetização dos elos magnéticos devido a corrente de curtocircuito e, também, a descargas atmosféricas de polaridade oposta (que podiam ser originárias de descargas nas torres e meios de vão próximos), ou da eventual saturação dos elos magnéticos e, mesmo, do processo de determinação do pico de corrente da descarga por meio das componentes parciais medidas nos cabos pára-raios e nas torres, cuja ocorrência não era simultânea. Os valores medianos dos picos de corrente obtidos de tais medições, com os erros citados acima, encontravam-se na faixa de 15kA a 20KA, com uma probabilidade de 1,5% de exceder 100kA. Segundo F. Popolanský, os erros percentuais associados podiam ser muito elevados (em alguns casos superiores a 100%). Assim sendo, as curvas de distribuição de probabilidade de picos de corrente existentes não eram confiáveis. Ademais, a estatística incluía descargas atmosféricas ascendentes e descendentes por não existir critério de diferenciação entre as mesmas. A partir do trabalho de K. Berger em 1967, onde tal diferenciação ficou evidente, o Grupo de Trabalho da CIGRÉ 33-01 (CIGRÉ WG 33-01) recomendou a elaboração de uma nova curva (geral) de distribuição de probabilidade cumulativa dos picos de corrente. Em seu novo trabalho, F. Popolanský excluiu as ascendentes de K. Berger e procurou eliminar as ascendentes relativas às medições com elo magnético em objetos muito elevados. Para o levantamento desta Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 37 distribuição foi considerado o maior valor de pico de corrente da descarga atmosférica. Adotou-se como limite inferior de pico de corrente o valor de 2kA. Foram utilizadas descargas descendentes negativas e positivas. A nova base de dados processada era composta pelas seguintes medições realizadas em diversas partes do mundo onde, à exceção da primeira, todas foram obtidas através de elos magnéticos [POPOLANSKÝ.1972]: i) 192 medições realizadas no Monte San Salvatore, por K. Berger, no período de 1955 a 1970 [BERGER.1975]. ii) 208 medições em chaminés na Checoslováquia, no período de 1963 a 1970. iii) 122 medições em chaminés na Polônia, no período de 1957 a 1968. iv) 28 medições em chaminés na Suécia, no período de 1950 a 1958. v) 03 medições em chaminés na Noruega, no período de 1957 a 1958. vi) 08 medições em chaminés na Grã-Bretanha, no período de 1948 a 1954. vii) 19 medições em linhas aéreas na Austrália, no período de 1960 a 1964. viii) 44 medições em linhas aéreas nos Estados Unidos, no ano de 1956. ix) 29 medições em chaminés e torres de igrejas na Alemanha, no período de 1926 a 1930. Em seu estudo, F. Popolanský afirma que, diferentemente de outros registros, as medições realizadas no Monte San Salvatore, na Checoslováquia e na Polônia não eram mascaradas pelos erros citados anteriormente. No entanto, erros de natureza diversa destes últimos estão presentes nos dados de medições realizadas em estações como a do Monte San Salvatore. Este assunto é tratado no próximo Capítulo deste trabalho. Com a base de dados descrita acima, F. Popolanský construiu uma curva de distribuição de probabilidade cumulativa dos picos de corrente medidos em diversas partes do mundo. No entanto, não foi utilizada toda a base de dados, que era composta de 653 medições. Os dados medidos na Alemanha, 29 medições, foram excluídos por limitações nos elos magnéticos usados para tais medições. Assim, o tamanho da amostra ficou reduzido para 624 medições. A curva obtida gera um valor mediano de corrente de 28kA (probabilidade de 50% de ser excedida) e valores de 70kA, 100kA e 200kA com as probabilidades de 10%, 4% e 0,7% de serem excedidas, respectivamente. F. Popolanský verificou que, dentre diversas funções testadas, a função distribuição de Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 38 probabilidade log-normal é a que melhor se ajustava à curva de distribuição de probabilidade cumulativa construída com base nas medições dos picos de corrente e cujos resultados foram descritos acima. A função distribuição de probabilidade log-normal gera um valor mediano de pico de corrente de 25kA, com um desvio padrão logaritmo de 0,39. É importante citar que, segundo F. Popolanský, as diferenças entre a curva cumulativa obtida experimentalmente e sua aproximação pela distribuição log-normal são significativas se testes estatísticos usuais forem utilizados. No entanto, como comentado acima, a log-normal apresentou a melhor aproximação dentre uma série de funções testadas. Em decorrência do estudo realizado por F. Popolanský, na maior parte das publicações referentes ao tema, a função distribuição de probabilidade log-normal é adotada para representar não somente a distribuição de probabilidade cumulativa dos picos de corrente medidos, mas, também, a distribuição de todos os parâmetros característicos das formas de ondas impulsivas de corrente de descargas atmosféricas. A equação matemática que descreve a função distribuição de probabilidade log-normal para um determinado parâmetro X (que é uma variável aleatória) da onda de corrente é dada por: P [ X ≤ x ] = FX ( x ) = 1 2π σ ln x X ∫ 0 1 1 ln x − ln x 2 exp ( − ( ) ) dx x 2 σ ln x (1) Na equação acima, FX(x) corresponde à probabilidade da variável aleatória X assumir um valor menor ou igual a um valor específico x, ln x corresponde ao valor médio do logaritmo neperiano da variável aleatória e σ ln x ao desvio padrão logarítmico (base e – ln). Portanto, a distribuição de probabilidade da variável aleatória, que, no caso corresponde ao valor de pico da onda de corrente, é totalmente caracterizada por dois parâmetros: ln x e σ ln x . Como descrito acima, a base de dados utilizada por F. Popolanský compreende 192 medições de picos de corrente de descargas descendentes negativas e positivas realizadas na Estação do Monte de San Salvatore, Suíça. No entanto, em 1978, K. Berger apresentou um estudo no qual todas as descargas positivas medidas nesta estação foram classificadas como ascendentes [BERGER.1978] (corresponde a uma nova classificação em relação ao trabalho anterior, pois as mesmas tinham sido consideradas descendentes). No mesmo ano, A. J. Eriksson Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 39 denota a importância de se estabelecer diferenciação entre as descargas ascendentes e descendentes na determinação da distribuição dos valores de picos de corrente medidos em estruturas de alturas elevadas [ERIKSSON.1978]. Em função de tais fatos, no encontro do Grupo de Trabalho 33.01 (Descargas Atmosféricas) da CIGRÉ, em 1978, ficou decidido que uma nova curva de distribuição de probabilidade cumulativa de picos de corrente, associados somente a descargas descendentes negativas confirmadas ou medições de correntes negativas em estruturas de alturas inferiores a 60m, deveria ser construída [ANDERSON.1980]. O limite de altura das estruturas em questão é oriundo de um estudo realizado por A. J. Eriksson, onde concluiu que a incidência de descargas atmosféricas ascendentes em estruturas de altura inferior a 60m é bem abaixo de 10% [ERIKSSON.1978]. O levantamento da nova curva de distribuição foi realizado por F. Popolanský e A. J. Eriksson. A base de dados foi similar àquela utilizada anteriormente por F. Popolanský, com descargas descendentes negativas somente, conforme descrito acima, e por dados medidos por A. J. Eriksson na África do Sul: 18 medições da Austrália, 123 da Checoslováquia, 3 da Polônia, 11 da África do Sul, 14 da Suécia, 125 da Suíça e 44 dos Estados Unidos [ANDERSON.1980]. Em todas as medições o menor valor de pico de corrente considerado foi de 3kA. Os resultados deste levantamento, juntamente com a análise anterior feita por F. Popolanský [POPOLANSKÝ.1972], estão ilustrados na Tabela 4.3. Tabela 4.3 – Comparação dos picos de corrente (medidos e calculados pela aproximação log-normal) dos dados originalmente analisados por F. Popolanský (descargas descendentes negativas e positivas) e aqueles analisados por F. Popolanský e A. J. Eriksson (com somente descargas descendentes negativas) – adaptada de [ANDERSON.1980]. Valor mediano Fonte Aproximação pela log-normal Número de (extraído dos Probabilidade de valores dados medidos) exceder 100kA Desvio padrão Valor logaritmo mediano Popolanský/Eriksson 338 34kA 2,5% 30kA 0,32 624 28kA 3,5% 25kA 0,39 Distribuição Original [POPOLANSKÝ.1972] Vale frisar que, segundo [ANDERSON.1980], o ajuste da curva de probabilidade cumulativa resultante, dos picos de corrente medidos, pela função distribuição de probabilidade log-normal, embora tenha sido o melhor de inúmeras funções testadas, não foi estatisticamente significativo, concordando com a conclusão obtida por F. Popolanský em [POPOLANSKÝ.1972]. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 40 Consequentemente, R. B. Anderson e A. J. Eriksson sugeriram a aproximação da curva de distribuição obtida experimentalmente por duas retas, com interceptação no valor de 20kA, que propiciam a melhor aproximação ao longo dos dados de pico de correntes medidas. Assim como a aproximação log-normal, esta aproximação por duas retas não é necessariamente estatisticamente válida. No entanto, segundo afirmado na referência, ela oferece uma aproximação de utilização mais prática ao longo de toda a distribuição oriunda dos picos de corrente medidas. Os valores de corrente, e suas respectivas probabilidades de serem excedidas, da base de dados analisada por F. Popolanský e A. J. Eriksson (somente descargas descendentes negativas), associados às duas retas em causa são definidos na Tabela 4.4. Tabela 4.4 – Valores de corrente e de probabilidade cumulativa destes que definem a aproximação por duas retas – extraída de [ANDERSON.1980]. Região de picos de corrente < 20kA Região de picos de corrente > 20kA Pico de Corrente (kA) % de ser excedido Pico de Corrente (kA) % de ser excedido 4 98 20 80 20 80 90 5 R. B. Anderson e A. J. Eriksson concluem o estudo da distribuição dos picos de corrente de descargas descendentes negativas propondo um valor mediano de 34kA e a aproximação pelas duas retas discutida acima. Fazem, também, uma análise da possível influência da altura da estrutura nos valores medianos dos picos de corrente de descargas descendentes negativas, em função de duas diferentes vertentes de pensamento na época: a aplicação de conceitos eletrogeométricos gerava a expectativa de aumento nas correntes medianas das curvas de distribuições de probabilidade com o crescimento da altura das estruturas atingidas; por outro lado, os dados coletados por F. Popolanský e A. J. Eriksson indicavam a diminuição no valor mediano das correntes quando medidas em estruturas de maior altura. Tomando como referência apenas dados de correntes medianas de descargas descendentes negativas, coletadas de medições diretas em estruturas altas, foram feitas comparações com a distribuição proposta (valor mediano de 34kA). A Tabela 4.5 resume a comparação em causa. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 41 Tabela 4.5 – Análise da influência da altura da estrutura no valor mediano do pico de corrente de descargas descendentes negativas – adaptada de [ANDERSON.1980]. As alturas efetivas são baseadas em incidências observadas de descargas descendentes e ascendentes realizadas por Eriksson [ERIKSSON.1978]. Parâmetro Distribuição proposta Eriksson [ERIKSSON.1978] Berger [BERGER.1975] Altura da estrutura (m) 60 60 60 Altura da montanha (m) - 80 650 Altura efetiva (m) 60 160 350 Corrente mediana (kA) 34 41 32 De acordo com os dados apresentados na Tabela 4.5, e tendo em vista a ausência de dados contraditórios medidos diretamente, R. B. Anderson e A. J. Eriksson concluem que não existe dependência do valor de corrente mediana, de descargas descendentes negativas, em relação ao crescimento da altura da estrutura. Portanto, sugerem que a distribuição proposta seja utilizada em problemas práticos de engenharia independentemente da altura da estrutura. Destacam, como pode ser evidenciado pelo valor de 41kA medido por Eriksson [ERIKSSON.1978], que a intensidade de corrente mediana pode variar com alguns fatores, como a localização geográfica ou a severidade da tempestade. Em seguida são apresentados resultados de medições de picos de corrente, realizadas por K. Berger em 1978, de descargas ascendentes positivas. Como discutido anteriormente, em 1975 K. Berger e outros classificaram as descargas positivas como descendentes e em 1978 K. Berger apresentou uma base de dados estendida, que compreendia os resultados de descargas positivas de 1975, classificadas como ascendentes. Consequentemente, não existe fonte de dados disponíveis sobre parâmetros de corrente de descargas descendentes positivas medidas em San Salvatore. É inevitável, por conseguinte, proceder ao seguinte questionamento: os dados relativos a descargas positivas, constituídos de 26 formas de onda de corrente, classificadas em 1975 como descendentes e em 1978 como ascendentes, oriundas de medições em San Salvatore são confiáveis? Em função do atual estágio de conhecimento parece que a resposta para tal indagação é negativa. V. A. Rakov apresentou um estudo em 2000 relativo a uma revisão sobre descargas atmosféricas positivas e bipolares [RAKOV.2000b]. Neste estudo, baseado em trabalhos anteriores, o autor afirma que a base de dados de K. Berger constituída de 26 descargas positivas é uma mistura de dois tipos de descargas atmosféricas distintas: • Descargas de retorno provenientes do encontro de um canal precursor de descarga descendente, carregado positivamente, com um canal de conexão ascendente, carregado Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 42 negativamente. Este encontro, geralmente, ocorre a algumas dezenas de metros acima da extremidade da torre. Neste caso trata-se de uma descarga atmosférica descendente positiva. O processo físico deste tipo de descarga é semelhante ao envolvido nas descargas descendentes negativas e, assim, as formas de ondas de corrente são similares (frente côncava). • Descargas de retorno provenientes do encontro de um canal precursor de descarga ascendente do topo da torre, muito longo e negativamente carregado, com um canal carregado positivamente no interior da nuvem. Trata-se de uma descarga atmosférica ascendente positiva. O processo físico é totalmente diferente da descarga anterior e, por conseguinte, também as formas de onda de corrente são totalmente diferentes. V. A. Rakov conclui que ainda hoje não existe uma distribuição confiável de picos de corrente de descargas atmosféricas positivas. A Tabela 4.6 apresenta um resumo dos valores medianos dos picos de corrente apresentados por K. Berger em 1978. Tabela 4.6 – Dados apresentados por K. Berger em 1978 [BERGER.1978] – adaptado de [ANDERSON.1980]. Negativas Descargas Parâmetro – Primeiras descargas de Descargas de retorno aproximação pela log- retorno ascendentes subseqüentes ascendentes Valor mediano (kA) 0,25 10 36 Desvio padrão logaritmo 0,56 0,31 0,41 ascendentes positivas normal Parece estranho que distribuições que apresentam um valor mediano de pico de corrente de 0,25kA, como mostrado na Tabela 4.6, possam ser consideradas como representativas de descargas atmosféricas, pois adota-se como padrão, para ser classificada como uma descarga atmosférica, ondas de corrente que possuem valores de pico maiores que 2kA. Talvez este valor (0,25kA) corresponda aos picos de correntes impulsivas que normalmente aparecem sobrepostas à componente de corrente contínua em descargas ascendentes. O resumo histórico descrito nesta seção concentrou-se apenas na descrição dos diversos trabalhos realizados para a medição dos picos de corrente de descargas atmosféricas. No Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 43 entanto, para estudos mais aprimorados é necessário o conhecimento de outros importantes parâmetros: tempo de frente, tempo de cauda, taxa de crescimento e outros. Evidentemente, muitos destes trabalhos também mediram as ondas de corrente, bem como todos parâmetros associados. Como já citado anteriormente, as medições mais amplamente utilizadas são aquelas de K. Berger, servindo de base no guia de procedimentos para a estimação de desempenho de linhas de transmissão frente a descargas atmosféricas [CIGRÉ.1991]. Na próxima seção procedese a uma comparação dos parâmetros em questão com os oriundos das medições realizadas nos últimos 15 anos na Estação do Morro do Cachimbo. 4.4.2 – ANÁLISE DAS MEDIÇÕES REALIZADAS NA ESTAÇÃO DO MORRO DO CACHIMBO – COMPARAÇÃO COM AQUELAS REALIZADAS POR K. BERGER No trabalho de 1980, citado anteriormente, R. B. Anderson e A. J. Eriksson apresentaram um estudo bastante completo em que consideram os seguintes parâmetros: • Parâmetros de incidência de descargas atmosféricas. Analisam dados, obtidos em diversas partes do mundo, correspondentes a níveis ceráunicos (Td) e a densidades de descargas para o solo (Ng). Avaliam as relações entre estes e a influência da altura da estrutura atingida sobre tais parâmetros, dentre outros aspectos. • Parâmetros característicos das formas de onda de corrente, para as primeiras descargas de retorno e para as subseqüentes. Esta parte do estudo é dividida em dois tópicos. No primeiro, já apresentado na seção anterior, os valores de pico oriundos das medições realizadas por Berger, Eriksson e aqueles reunidos por Popolanský foram considerados. A análise foi processada para descargas descendentes negativas e ascendentes positivas. No segundo tópico, foram analisados os parâmetros associados à frente da onda de corrente de descargas descendentes negativas correspondentes apenas aos dados de medições realizadas por K. Berger. Apesar da maioria das descargas atmosféricas medidas em San Salvatore ter sido do tipo ascendente, foram utilizadas somente as descendentes negativas, consideradas mais representativas de descargas naturais. A maior ocorrência de descargas ascendentes foi atribuída à influência da presença da torre em local elevado. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 44 É importante frisar que nos estudos que caracterizam estatisticamente as formas de ondas de corrente de descargas atmosféricas com múltiplas descargas de retorno, bem como de seus parâmetros associados, é costume dividir a análise em duas amostras: uma relativa às primeiras descargas de retorno e outra às descargas de retorno subseqüentes. Isto é devido ao fato de que tais amostras de descargas apresentam características bastante distintas (formas de onda e parâmetros associados), o que justifica o estudo em separado das mesmas. No entanto, para descargas atmosféricas diferentes a primeira descarga de retorno de cada uma delas apresenta características bastante similares (o mesmo pode ser dito para as subseqüentes). Em conseqüência, tanto as primeiras descargas quanto as subseqüentes, de diferentes descargas atmosféricas, representam populações de ondas de corrente homogêneas. Portanto, é de se esperar que estas duas populações homogêneas sigam alguma distribuição de probabilidade [BERGER.1975, PORTELA.1977, PORTELA.1983a]. Os resultados resumidos por K. Berger em 1975, apesar de se constituírem na primeira análise compreensiva das características impulsivas das formas de ondas de corrente de descargas atmosféricas, foram calculados manualmente. Os dados utilizados neste trabalho são oriundos de cálculos computacionais dos dados de K. Berger que foram previamente digitalizados por H. Kröninger [KRÖNINGER.1974]. As diferenças em alguns parâmetros, principalmente aqueles relativos a taxa de crescimento (di/dt) e tempo de subida, apresentados em [BERGER.1975] e [ANDERSON.1980] são significativas. Estes parâmetros são mostradas na Tabela 4.7. O teste de Lillefors foi aplicado nas distribuições dos diversos parâmetros. Este teste visa determinar se os logaritmos neperianos dos parâmetros apresentam uma distribuição normal, assumindo um determinado nível de significância. Com um valor de 5% para o nível em questão, a maior parte dos parâmetros pode ter sua distribuição cumulativa aproximada pela log-normal. Na Tabela 4.7 a coluna denominada “teste” traduz tal situação: “sim” significa que a distribuição do parâmetro em causa pode ser aproximada pela log-normal num nível de significância de 5%. Ao contrário, “não” significa que tal aproximação não é válida. Verifica-se que a maior parte dos parâmetros teve uma resposta afirmativa. Embora os parâmetros T50, Carga e Energia por unidade de impedância não sejam característicos da frente de onda, resolveu-se representá-los na Tabela 4.7, para que se tenha um resumo geral dos parâmetros medidos em San Salvatore. Para estes parâmetros não há diferença entre o cálculo manual de K. Berger e o computacional de R. B. Anderson e A. J Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 45 Tabela 4.7 – Parâmetros de ondas de corrente de descargas atmosféricas medidas por K. Berger e processadas por H. Kröninger, R. B. Anderson e A. J. Eriksson – adaptada de [ANDERSON.1980]. Aproximação pela log-normal Tamanho Parâmetro da amostra Média Probabilidades cumulativas σ ln Teste 95% 50% 5% Primeiras descargas de retorno T10 (µs) 80 4,5 0,25 não 1,8 4,5 11,3 T30 (µs) 80 2,3 0,24 sim 0,9 2,3 5,8 75 2,6 0,4 não 0,6 2,6 11,8 S10 (kA/µs) 75 5,0 0,28 sim 1,7 5,0 14,1 S30 (kA/µs) 73 7,2 0,27 sim 2,6 7,2 20,0 9,1 24,3 65,0 75 24,3 0,26 sim [5,5] [12] [32] ΙP1 (kA) 75 27,7 0,20 sim 12,9 27,7 59,5 ΙP2 (kA) 80 31,1 0,21 não 14,1 31,1 68,5 T50 (µs) 90 - - - 30 75 200 Carga (C) 90 (93) - - - 1,1 (1,1) 4,5 (5,2) 20 (24) 91 - - - 6,0x103 5,5x104 5,5x105 Tan10 (kA/µs) TanG (kA/µs) Energia & (A2s) Descargas de retorno subseqüentes T10 (µs) 114 0,6 0,4 não 0,1 0,6 2,8 T30 (µs) 114 0,4 0,44 não 0,1 0,4 1,8 108 18,9 0,61 sim 1,9 18,9 187,4 S10 (kA/µs) 114 15,4 0,41 sim 3,3 15,4 72,0 S30 (kA/µs) 114 20,1 0,42 sim 4,1 20,1 98,5 9,9 39,9 161,5 113 39,9 0,37 sim [12] * [40] * [120] * ΙP1 (kA) 114 11,8 0,23 sim 4,9 11,8 28,6 ΙP2 (kA) 114 12,3 0,23 sim 5,2 12,3 29,2 T50 (µs) 115 - - - 6,5 32 140 Carga (C) 117 (122) - - - 0,2 (0,22) 0,95 (1,4) 4 (11) 88 - - - 5,5x102 6,0x103 5,2x104 Tan10 (kA/µs) TanG (kA/µs) Energia& (A2s) [*] valores calculados manualmente por K. Berger em 1975 e (#) corresponde à carga total (parte impulsiva mais corrente contínua). Energia& - Energia por unidade de impedância. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 46 Eriksson. Os valores referentes ao parâmetro “Carga” que estão entre parênteses, para as primeiras descargas de retorno e subseqüentes, correspondem à carga total: parte impulsiva mais parte de corrente contínua. Na mesma tabela, os valores de máxima inclinação (TanG) que aparecem entre colchetes, tanto para as primeiras descargas de retorno quanto para as subseqüentes, correspondem aos valores calculados manualmente por K. Berger. Verifica-se uma diferença significativa em relação aos outros valores (de até 300%), não só para os valores extremos (5% e 95%), como também para os medianos (50%), exceto para o valor mediano das descargas de retorno subseqüentes. Esta diferença é atribuída à dificuldade envolvida no cálculo manual de tais parâmetros. A mesma situação, exibida na Tabela 4.8, ocorre (porém com menos intensidade) quando são comparados os parâmetros representativos dos tempos de frente da onda de corrente impulsiva. Novamente tais diferenças são explicadas pela dificuldade de cálculo manual. Tabela 4.8 – Comparação dos tempos de frente equivalentes oriundos de [BERGER.1975] e [ANDERSON.1980] – adaptada de [ANDERSON.1980]. Tempo de frente equivalente (Tf) Primeiras descargas de retorno Avaliação de K. Berger T10 / 0,8 T30 / 0,6 Descargas de retorno subseqüentes Avaliação de K. Berger T10 / 0,8 T30 / 0,6 95% Probabilidade cumulativa 50% 5% 1,8 µs 2,2 µs 1,5 µs 5,5 µs 5,6 µs 5,6 µs 18 µs 14 µs 10 µs 0,2 µs 0,2 µs 0,1 µs 1,1 µs 0,8 µs 0,6 µs 4,5 µs 3,5 µs 3,0 µs Após esta breve revisão dos principais parâmetros associados às formas de onda de corrente de descargas atmosféricas medidas em San Salvatore, passa-se em seguida a caracterizar os mesmos parâmetros para as ondas de corrente medidas na Estação do Morro do Cachimbo, na mesma linha de apresentação e de raciocínio, objetivando facilitar comparações. Em 1999 foi realizado um estudo de caracterização estatística preliminar acerca dos principais parâmetros associados às formas de onda de corrente medidas em Cachimbo [SCHROEDER.1999a, SCHROEDER.1999b]. No entanto, um estudo mais criterioso, onde alguns testes de hipóteses fossem aplicados, com um determinado nível de significância, por exemplo, fez-se necessário. Em seguida os principais resultados de tal estudo são apresentados, [SCHROEDER.2001a]. A Tabela 4.9 resume tais parâmetros. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 47 Tabela 4.9 – Parâmetros de ondas de corrente de descargas atmosféricas medidas na Estação do Morro do Cachimbo. Tamanho Parâmetro da amostra Aproximação pela log-normal Média Probabilidades cumulativas σ ln Teste 95% 50% 5% Primeiras descargas de retorno T10 (µs) 31 5,6 {5,9} 0,36 Sim 3,1 5,6 {5,5} 9,9 T30 (µs) 31 2,9 {3,2} 0,44 Sim 1,4 2,9 {2,6} 5,9 31 3,8 {4,4} 0,55 Não 1,6 3,8 {3,9} 9,4 S10 (kA/µs) 31 5,8 {6,1} 0,32 Sim 3,5 5,8 {5,6} 9,6 S30 (kA/µs) 31 8,4 {8,7} 0,30 Sim 5,1 8,4 {9,1} 13,7 31 19,4 {20,2} 0,29 Sim 11,9 19,4 {18,9} 31,4 ΙP1 (kA) 31 40,4 {43,1} 0,37 Sim 22,2 40,4 {42,5} 73,3 ΙP2 (kA) 31 45,3 {48,7} 0,39 Sim 24,0 45,3 {48,4} 85,2 T50 (µs) 31 53,5 {62,8} 0,62 Sim 19,7 53,5 {59,5} 145,2 Carga (C) 31 5,2 {5,7} 0,50 Sim 2,3 5,2 {5,4} 11,6 0,88 Sim 25.803 Tan10 (kA/µs) TanG (kA/µs) Energia & 31 (A2s) 107073 107.073 444.317 {96.084} {154.377} Descargas de retorno subseqüentes T10 (µs) 59 0,7 {0,9} 0,74 Sim 0,2 0,7 {0,8} 2,3 T30 (µs) 59 0,4 {0,5} 0,70 Não 0,12 0,4 {0,4} 1,2 1,00 Não 2,7 Tan10 (kA/µs) 59 14,5 {21,97} 14,5 75,3 {18,5} S10 (kA/µs) 59 18,8 {23,6} 0,74 Sim 5,6 18,7 {20,5} 62,7 S30 (kA/µs) 59 24,7 {30,4} 0,68 Sim 8,1 24,7 {24,7} 75,0 0,66 Sim TanG (kA/µs) 59 29,9 10,1 {36,5} 29,9 88,6 {30,5} ΙP1 (kA) 59 16,3 {18,4} 0,51 Sim 7,0 16,3 {16,5} 37,7 ΙP2 (kA) 59 16,3 {18,4} 0,51 Sim 7,0 16,3 {16,5} 37,7 T50 (µs) 59 16,4 {30,2} 1,23 Sim 2,2 16,4 {22,9} 122,3 Carga (C) 59 0,99 {1,6} 1,15 Não 0,15 0,99 {1,2} 6,6 1,54 Sim 509 Energia (A2s) & 59 6335 {15.541} 6.335 {7.174} { * } representa os resultados oriundos de cálculos realizados diretamente na amostra (cálculos amostrais). Energia& - Energia por unidade de impedância. 78.883 Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 48 Para os cálculos das grandezas estatísticas descritas na Tabela 4.9 e testes de hipóteses, que são apresentados posteriormente, foi utilizado o pacote computacional MINITAB versão 12 [MINITAB.1998]. A base de dados oriunda da Estação do Morro do Cachimbo (N = 31 e 59, Tabela 4.9, para as primeiras descargas de retorno e subseqüentes, respectivamente) é menor que a da Estação de San Salvatore (N = 75 – 80 e 108 –114, Tabela 4.7, para as primeiras descargas de retorno e subseqüentes, respectivamente). Entretanto, a despeito de tal diferença, os tamanhos das amostras (31 e 59) de Cachimbo são suficientes para realizar estimativas de algumas estatísticas de interesse, como aquelas descritas na Tabela 4.9, sendo consideradas amostras grandes, pois possuem tamanho maior que 30 (N > 30) [TRIOLA.1999, MONTGOMERY.1999]. Os valores médios e medianos dos parâmetros que aparecem entre chaves na Tabela 4.9 são oriundos de cálculos diretos nas amostras, ou seja, correspondem aos cálculos amostrais. O parâmetro “Energia por unidade de impedância”, tanto para as primeiras descargas de retorno quanto para as subseqüentes, apresenta valores de média e mediana bastante distintos. Este fato é decorrente da grande diferença dos valores mínimo e máximo da respectiva amostra. Logo, a amplitude (diferença entre os valores máximo e mínimo) da amostra é elevada. Por exemplo, considere a seguinte amostra: {500, 500, 600, 800, 1000 e 50.000}. A média é 8.900 e a mediana é 700. A média é fortemente influenciada pelo valor atípico 50.000, o que não ocorre com a mediana. Este exemplo traduz, em linhas gerais, o que ocorre com a amostra do parâmetro “Energia por unidade de impedância”. As distribuições de todos os parâmetros foram testadas quanto à normalidade. Para tal, foi necessário inicialmente construir novas amostras constituídas dos logaritmos neperianos de cada parâmetro. As amostras, para as primeiras descargas de retorno e subseqüentes, em questão foram denominadas: ln(T10), ln(T30), ln(Tan10), ln(S10), ln(S30), ln(TanG), ln(ΙP1), ln(ΙP2), ln(T50), ln(Carga) e ln(Energia por unidade de impedância). O próximo passo foi a realização de um teste de hipóteses para cada uma das amostras com o objetivo de verificar se as mesmas seguem, ou não, uma distribuição normal, assumindo um determinado nível de significância (5% é o valor mais comumente utilizado, correspondendo a um nível de confiança de 95%). Na Tabela 4.9 os resultados da aplicação deste teste aparecem na coluna denominada “teste’: “sim” significa que a amostra constituída dos logaritmos neperianos do parâmetro em questão segue uma distribuição normal com um nível de confiança de 95% e, assim, a distribuição da amostra correspondente aos valores reais do parâmetro pode ser aproximada pela log-normal no nível de Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 49 confiança em causa; “não” significa a negação de tais aproximações. Vale frisar que outras distribuições foram testadas, como por exemplo a normal e a exponencial. No entanto, a log-normal foi a que apresentou o melhor ajuste. Com base nos resultados apresentados na Tabela 4.9, juntamente com a aproximação log-normal, algumas conclusões interessantes, similares às apresentadas em [ANDERSON.1980], acerca das características das formas de onda de corrente impulsivas, medidas na Estação de Cachimbo, podem ser esboçadas: i) Os valores de S10 e S30 são menores que os de TanG, tanto para as primeiras descargas de retorno quanto para as subseqüentes. ii) As distribuições dos parâmetros S10 e S30 para as primeiras descargas de retorno apresentam um grau de dispersão (diferenças dos valores extremos, 5% e 95%, em relação ao valor mediano, 50%) relativamente reduzido, conforme pode ser verificado na Tabela 4.9 ou na Figura 4.2. Isto possibilita uma representação relativamente simples da frente de onda. No caso das subseqüentes, a dispersão em questão é bem mais elevada, o que impossibilita uma representação mais simples (vide Tabela 4.9 e Figura 4.3). iii) Tanto para as primeiras descargas de retorno quanto para as subseqüentes os tempos de frente associados a T30 são menores que os associados a T10 (vide Tabela 4.9 e Figura 4.4). Este fato confirma a forma geralmente côncava das ondas de corrente medidas, não só em Cachimbo como em diversas partes do mundo. Como exibido na Tabela 4.9, a distribuição do parâmetro T30, para as descargas subseqüentes, não pode ser aproximada pela log-normal no nível de significância de 5%. No entanto, a título de comparação, sua distribuição é ilustrada na Figura 4.4. iv) As diferenças significativas nos valores de Tan10, Tabela 4.9 e Figura 4.5, para as primeiras descargas de retorno e para as subseqüentes, evidenciam a diferença nas ondas de corrente de tais componentes da descarga atmosférica. Como exibido na Tabela 4.9, a distribuição do parâmetro Tan10, tanto para as primeiras descargas de retorno quanto para as subseqüentes, não pode ser aproximada pela log-normal no nível de significância de 5%. Contudo, somente a título de comparação, sua distribuição é ilustrada na Figura 4.5. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo v) 50 Verifica-se que os parâmetros que traduzem a taxa de variação da corrente com o tempo (di/dt), S10, S30, Tan10 e TanG, para as descargas de retorno subseqüentes são muito mais elevados do que os correspondentes para as primeiras descargas de retorno (Tabela 4.9 e Figuras 4.2, 4.3, 4.5 e 4.6). Portanto, em estudos onde tais parâmetros determinem maior severidade em termos de solicitação, é aconselhável, dentro de um ponto de vista conservativo, utilizar as distribuições relativas às descargas de retorno subseqüentes. No entanto, quanto aos picos de corrente, as primeiras descargas de retorno apresentam valores muito mais elevados do que as subseqüentes (vide Tabela 4.9). Assim, em estudos de proteção de edificações com pára-raios tipo haste de Franklin, por exemplo, é aconselhável utilizar as distribuições relativas às primeiras descargas de retorno. Observase, adicionalmente, que tais descargas na maior parte das vezes apresentam dois picos, enquanto as subseqüentes apresentam somente um único pico de corrente. As Figuras 4.9 e 4.10 ilustram as distribuições dos picos de corrente em causa. vi) Comparando as Figuras 4.7 e 4.8 , verifica-se que as distribuições dos parâmetros em questão (Tan10, S10, S30 e TanG) são muito mais próximas para as descargas de retorno subseqüentes do que para as primeiras. Assim, percebe-se que a frente da onda de corrente da primeira descarga de retorno apresenta concavidade muito mais acentuada do que aquela da onda de corrente subseqüente. % 99 1 95 90 2 80 70 60 50 40 30 20 10 5 1 1 10 kA / µs Figura 4.2 – Distribuições cumulativas medidas e aproximadas pela log-normal dos parâmetros S10 (curva 1, à esquerda) e S30 (curva 2, à direita) correspondentes às primeiras descargas de retorno. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 51 % 99 1 95 2 90 80 70 60 50 40 30 20 10 5 1 1 10 100 kA / µs Figura 4.3 – Distribuições cumulativas medidas e aproximadas pela log-normal dos parâmetros S10 (à esquerda) e S30 (à direita) correspondentes às descargas de retorno subseqüentes. % 99 1 2 95 90 80 70 60 50 40 30 20 10 5 3 1 0.1 1.0 4 10.0 µs Figura 4.4 – Distribuições cumulativas medidas e aproximadas pela log-normal dos parâmetros tempos de frente associados à T10 e T30 correspondentes às primeiras descargas de retorno (curvas 3 e 4, respectivamente) e subseqüentes (curvas 1 e 2, respectivamente). Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 52 % 99 1 2 95 90 80 70 60 50 40 30 20 10 5 1 1 10 Tan10 (kA / µs) 100 Figura 4.5 – Distribuições cumulativas medidas e aproximadas pela log-normal do parâmetro Tan10 para as primeiras descargas de retorno (curva 1, à esquerda) e para as subseqüentes (curva 2, à direita). % 99 1 2 95 90 80 70 60 50 40 30 20 10 5 1 10 100 TanG (kA / µs) Figura 4.6 – Distribuições cumulativas medidas e aproximadas pela log-normal do parâmetro TanG para as primeiras descargas de retorno (curva 1, de inclinação maior) e para as subseqüentes (curva 2, de inclinação menor). Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 53 % 99 95 90 80 70 60 50 40 30 20 10 5 1 2 3 4 1 1 kA / µs 10 Figura 4.7 – Distribuições cumulativas medidas e aproximadas pela log-normal dos parâmetros Tan10, S10, S30 e TanG (curvas 1, 2, 3 e 4, respectivamente) correspondentes às primeiras descargas de retorno. % 99 95 90 80 70 60 50 40 30 20 10 5 1 1 1 2 3 4 10 100 kA / µs Figura 4.8 – Distribuições cumulativas medidas e aproximadas pela log-normal dos parâmetros Tan10, S10, S30 e TanG (curvas 1, 2, 3 e 4, respectivamente) correspondentes às descargas de retorno subseqüentes. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 54 % 99 1 95 2 90 80 70 60 50 40 30 20 10 5 1 10 kA 100 Figura 4.9 – Distribuições cumulativas medidas e aproximadas pela log-normal dos parâmetros ΙP1 e ΙP2 para as primeiras descargas de retorno (curvas 1 e 2, respectivamente). % 99 95 90 80 70 60 50 40 30 20 10 5 1 10 100 IP (kA) Figura 4.10 – Distribuições cumulativas medidas e aproximadas pela log-normal do parâmetro ΙP para as descargas de retorno subseqüentes. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 55 Ao comparar as medições oriundas da Estação do Morro do Cachimbo com aquelas da Estação de San Salvatore, nas Tabelas 4.7 e 4.9, respectivamente, as seguintes conclusões podem ser extraídas, com base nos valores medianos: i) Para as primeiras descargas de retorno, verifica-se que os valores dos parâmetros associados aos tempos de frente (T10 e T30) são maiores para as medições de Cachimbo. No entanto, as taxas de crescimento Tan10, S10 e S30 resultantes das medições em San Salvatore são menos intensas quando comparadas com as de Cachimbo. Esta aparente contradição se desfaz ao se analisar os valores de pico das correntes, que são maiores em Cachimbo. Porém, o máximo valor de di/dt na frente da onda (TanG) é superior no caso de San Salvatore, evidenciando altas taxas de crescimento próximo ao primeiro pico de corrente nas ondas medidas por K. Berger. ii) Para as descargas de retorno subseqüentes, os valores dos parâmetros associados aos tempos de frente (T10 e T30) são similares em ambas as medições. Tan10 é superior no caso de San Salvatore e S10 e S30 são superiores no caso de Cachimbo. Porém, o valor relativo a TanG é superior no caso de San Salvatore, evidenciando, também, altas taxas de crescimento próximo ao pico de corrente. Contudo, os valores de pico de corrente medidos em Cachimbo são mais intensos. Para que as observações acima sejam conclusivas é necessário que novas medições sejam processadas na Estação do Morro do Cachimbo. Porém, como já afirmado anteriormente, acredita-se que a base de dados existente seja suficiente para traçar certas tendências estatísticas, como aquelas resumidas na Tabela 4.9 e nas Figuras 4.2 a 4.10. Como comentado na parte introdutória deste capítulo, os dados mais amplamente utilizados em estudos práticos de proteção e desempenho de sistemas de energia elétrica frente a descargas atmosféricas, mesmo em regiões tropicais, são aqueles advindos das medições de K. Berger em San Salvatore. Ora, tal situação não parece desejável, haja visto que as condições ambientais (relevo, clima, intensidade de tempestades, etc.) na Suíça, país onde foram realizadas tais medições, é muito diferente das condições ambientais, por exemplo, do Brasil. Alguns estudos recentes indicam variações das características das descargas atmosféricas com a latitude [ORVILLE.1990, PINTO.1999a, PINTO.1999b]. Tais variações parecem estar presentes em medições anteriores de picos de corrente, realizadas em diversas partes do mundo, que são descritas abaixo com o valor mediano do pico de corrente e respectiva Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 56 latitude local, [CEMIG.1983, CEMIG.1993]: • CEMIG (Brasil) ⇒ 46 kA com elo magnético e 48 kA na Estação de Morro do Cachimbo; latitude 210. • ERIKSSON (África do Sul) ⇒ 41 kA em estação de medição similar à de Cachimbo, com uma torre (mastro captor) de 60m de altura e situada numa altitude de 80m em relação aos terrenos circunvizinhos; latitude 220. • ANDERSON (Rodésia – atual Zimbábue) ⇒ 40 kA com elo magnético. • BERGER (Suíça) ⇒ 31 kA na Estação de San Salvatore, com duas torres de aproximadamente 70m e situada 650m acima do Lago Lugano (275m acima do nível do mar); latitude 420. • LEWIS (Estados Unidos) ⇒ 26 kA com elos magnéticos; latitude 500. • SZPOR (Polônia – Silésia) ⇒ 30 kA com elos magnéticos; latitude 400. • POPOLANSKÝ ⇒ 28 kA oriundo de medições em diversos países (descrição na seção 4.4, subseção 4.4.1). • POPOLANSKÝ / ERIKSSON ⇒ 34 kA oriundo de medições em diversos países (descrição na seção 4.4, subseção 4.4.1). Os resultados descritos acima indicam uma significativa diferença no valor de pico de corrente medido com a latitude da localidade onde a medição é realizada. Ademais, apontam que para latitudes menores o pico de corrente medido é maior. Tal situação levanta dúvidas quanto à representatividade das medições realizadas em San Salvatore no caso de aplicação em estudos realizados no Brasil. A despeito das condições orográficas bastante distintas, as medições com elos magnéticos, em Minas Gerais, indicaram valores medianos do pico de corrente muito similares àqueles da Estação do Morro do Cachimbo. Sugere-se, neste trabalho, que os estudos relativos à proteção e desempenho de sistemas de energia frente a descargas atmosféricas no Brasil utilizem os parâmetros das ondas de correntes de descargas atmosféricas medidas na Estação de Cachimbo, que encontram-se resumidos na Tabela 4.9 e nas Figuras 4.2 a 4.10. Adicionalmente, com relação aos parâmetros associados à frente da onda de corrente impulsiva das primeiras e subseqüentes descargas de retorno, tendo em vista aplicações práticas Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 57 de engenharia, e, portanto, assumindo um postura conservadora, julga-se aconselhável utilizar T30, S30 e TanG. 4.4.3 - COEFICIENTES PARÂMETROS Em [SCHROEDER.1999a, DE CORRELAÇÃO SCHROEDER.1999b] procedeu-se ENTRE aos cálculos OS dos coeficientes de correlação entre os diversos parâmetros associados às formas de onda de corrente de descargas atmosféricas medidas em Cachimbo. No entanto, como será discutido adiante, valores de coeficientes de correlação sem um teste de hipótese para verificar se os mesmos são estatisticamente significativos não traduzem informação confiável. Consequentemente, são apresentados nesta seção os cálculos de tais coeficientes e os resultados dos respectivos testes. O coeficiente de correlação amostral entre duas variáveis aleatórias (X e Y) é definido por [PAPOULIS.1991, TRIOLA.1999, MONTGOMERY.1999]: n ∑ ( x i − x ) ( y i − y) r = i =1 (2) (n − 1) S x S y Na equação acima tem-se: x e y correspondem às médias amostrais das variáveis aleatórias X e Y, respectivamente, Sx e Sy aos seus desvios padrão e “n” ao número de dados correspondentes às variáveis aleatórias X e Y. A equação (2) quantifica o grau de relacionamento linear de uma determinada variável aleatória com outra, neste caso, de um determinado parâmetro, característico da onda de corrente, com outro. Seu cálculo, juntamente com as distribuições dos parâmetros em questão, permite a dedução de distribuições condicionais entre os mesmos e, por conseguinte, da relação entre eles. Tais distribuições podem auxiliar nos estudos de desempenho de sistemas frente a descargas atmosféricas [CIGRÉ.1991]. As Tabelas 4.10 e 4.11 exibem as matrizes (simétricas) dos coeficientes de correlação entre os diversos parâmetros relativos às primeiras descargas de retorno e às descargas de retorno subseqüentes. Vale lembrar que são consideradas apenas as descargas negativas descendentes. Tabela 4.10 - Coeficientes de correlação entre os diversos parâmetros relativos às primeiras descargas de Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 58 retorno – somente descargas negativas descendentes. ΙP1 ΙP2 TANG TAN10 S10 S30 T10 T30 T50 (kA) (kA) (kA/µs) (kA/µs) (kA/µs) (kA/µs) (µs) (µs) (µs) Carga Energia& ΙP1 1,0 ΙP2 0,944 1,0 TANG 0,160 0,127 1,0 TAN10 0,102 0,067 0,409 1,0 S10 0,290 0,306 0,178 0,405 1,0 S30 0,104 0,145 0,134 0,034 0,817 1,0 T10 0,736 0,651 0,071 - 0.021 - 0,365 - 0,488 1,0 Td10 0,734 0,650 0,068 - 0.021 - 0,367 - 0,490 1,0 T30 0,711 0,612 0,140 0,225 - 0,217 - 0,501 0,939 1,0 Td30 0,709 0,611 0,140 0,224 - 0,218 - 0,503 0,939 1,0 T50 0,304 0,228 - 0,242 - 0,075 - 0,095 - 0,214 0,264 0,184 1,0 0,760 0,713 - 0,098 0,081 0,429 0,327 0,443 0,405 0,246 1,0 0,905 0,877 0,060 0,008 0,222 0,104 0,635 0,558 0,522 0,759 Carga Energia & (A2s) (C) 1,0 Energia& - Energia por unidade de impedância. Tabela 4.11 - Coeficientes de correlação entre os diversos parâmetros relativos às descargas de retorno subseqüentes – somente descargas negativas descendentes. ΙP TANG TAN10 S10 S30 T10 T30 T50 (kA) (kA/µs) (kA/µs) (kA/µs) (kA/µs) (µs) (µs) (µs) Carga Energia& (C) ΙP 1,0 TANG 0,383 1,0 TAN10 0,066 0,484 1,0 S10 0,239 0,747 0,838 1,0 S30 0,309 0,904 0,478 0,822 1,0 T10 0,212 - 0,365 - 0.533 - 0,574 - 0,443 1,0 Td10 0,209 - 0,364 - 0.530 - 0,569 - 0,444 1,0 T30 0,300 - 0,531 - 0,459 - 0,577 - 0,605 0,878 1,0 Td30 0,309 - 0,532 - 0,450 - 0,566 - 0,594 0,878 0,999 T50 0,273 0,398 - 0,174 0,141 0,355 -0,115 -0,179 0,786 0,415 - 0,162 0,145 0,352 0,304 0,296 0,532 1,0 0,772 0,544 - 0,138 0,223 0,468 0,123 0,110 0,627 0,903 Carga Energia & & Energia - Energia por unidade de impedância. (A2s) 1,0 1,0 Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 59 Uma vez calculado os coeficientes de correlação linear entre os parâmetros é necessário verificar se os mesmos são estatisticamente significativos. Isto foi verificado e, nas duas tabelas acima, os valores de coeficiente de correlação em negrito estão abaixo do valor crítico no nível de significância de 5% (valor α). Isto quer dizer que não há evidência suficiente para concluir pela existência de uma correlação linear, ou seja, os parâmetros em causa correspondem a variáveis aleatórias não correlacionadas. Caso contrário, pode-se concluir que há correlação linear. Tendo concluído pela existência de um relacionamento linear entre duas variáveis aleatórias (dois parâmetros cujo coeficiente de correlação entre ambos não está em negrito nas duas tabelas anteriores), interessa, em seguida, determinar qual é a função matemática que traduz tal relacionamento linear, de modo que possa ser possível predizer o valor de um parâmetro a partir do conhecimento do outro. Isto é discutido na próxima subseção. Antes, porém, algumas comparações em relação aos dados correspondentes às medições em San Salvatores são elaboradas: i) Como pode ser observado na Tabela 4.3 os parâmetros T10 e T30 que caracterizam a frente de onda, com coeficiente de correlação significativo, apresentam maiores correlação com ΙP1 do que com ΙP2. Situação semelhante ocorre com os dados de San Salvatore. Em função deste fato, sugere-se, em [ANDERSON.1980], que ΙP2 pode ser determinado por processos secundários, como por exemplo, pelas cargas que se deslocam dos ramos laterais num tempo posterior às cargas do canal principal. No entanto, isto parece estar mais atrelado às definições dos parâmetros da frente de onda, que são em função de ΙP1, do que a processos físicos. ii) Em contraste com os resultados de San Salvatore, o coeficiente de correlação do parâmetro TanG com ΙP1 (primeiras descargas de retorno) no caso de Cachimbo é estatisticamente insignificante, ou seja, tais parâmetros são não correlacionados. Contudo, para as descargas de retorno subseqüentes, o coeficiente de correlação entre TanG e ΙP é estatisticamente significativo (r = 0,383, que ainda é estatisticamente significativo no nível de significância de 1%) – o mesmo ocorre no caso de San Salvatore. iii) Alguns parâmetros tais como, Carga e Energia por unidade de impedância, tanto para as primeiras quanto para as subseqüentes descargas de retorno, são relacionados em função de suas próprias definições e, portanto, coeficiente de correlação estatisticamente Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 60 significativo entre os mesmos é esperado. iv) Não existe correlação entre os parâmetros associados ao tempo de frente (T10, Td10, T30 e Td30) e a inclinação máxima (TANG) para as primeiras descargas de retorno. Este fato decorre da concavidade relativamente acentuada (crescimento relativamente lento) da correspondente onda de corrente. Como T10, Td10, T30 e Td30 são dominados por este crescimento lento, que é quase independente da parte mais íngreme, associada à TANG, tais parâmetros são não correlacionados. Situação oposta ocorre com relação às descargas de retorno subseqüentes, onde os parâmetros T10, Td10, T30 e Td30 e TANG são correlacionados. Neste caso a concavidade da onda de corrente é menos acentuada, acarretando um crescimento relativamente rápido, associado à parte mais íngreme da frente de onda. v) Os coeficientes de correlação entre os picos de corrente das primeiras descargas de retorno e das subseqüentes (entre ΙP1 e ΙP e ΙP2 e ΙP) estão abaixo do valor crítico no nível de significância de 5% e, assim, estes parâmetros não são correlacionados. O mesmo acontece no caso das medições de San Salvatore [ANDERSON.1980]. 4.4.4 - REGRESSÃO LINEAR SIMPLES Conforme mostrado na Tabela 4.9, diversos parâmetros podem ter sua distribuição de probabilidade cumulativa aproximada pela função distribuição de probabilidade log-normal, no nível de significância de 5%. Portanto, pode ser aplicada a distribuição log-normal bivariável, com os coeficientes de correlação estatisticamente significativos no nível de 5% (Tabelas 4.10 e 4.11), de maneira a produzir relações da seguinte forma [BERGER.1975, ANDERSON.1980]: ln y = ln a + b ln x ∴ y =A xb (3) Na equação acima, x corresponde à variável aleatória independente (preditora) e y à variável aleatória dependente; ln(a) é denominado intercepto y e b o coeficiente angular. Assumese, portanto, regressão linear dos logaritmos das variáveis aleatórias. No encontro do Grupo de Trabalho 33.01 (Descargas Atmosféricas) da CIGRÉ, em 1978, decidiu-se adotar o parâmetro “pico de corrente” como a variável aleatória preditora. Esta escolha Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 61 é razoável, uma vez que o pico de corrente corresponde ao parâmetro que mais amplamente foi medido em diversas partes do mundo. Assim, é aquele cuja base de dados é a maior existente. Adicionalmente, é considerado como o parâmetro característico mais importante da forma de onda de corrente de descargas atmosféricas. Portanto, nos estudos de regressão apresentados neste trabalho considera-se sempre o pico de corrente como a variável aleatória preditora. Como dito anteriormente, o estudo em causa auxilia a predição de uma variável aleatória dependente quando é conhecido um determinado valor específico da variável aleatória independente (preditora), ou seja, é possível fazer predições com a utilização das equações de regressão [TRIOLA.1999]. Exemplificando, considere-se que seja estabelecida uma relação matemática, através da análise de regressão, entre ΙP1 e T30, a partir dos dados de medição de Cachimbo. Dispondo-se da estimativa da intensidade de ΙP1 em outros locais do Estado de Minas Gerais (obtida, por exemplo, do Sistema de Localização de Tempestades), é possível predizer o T30 para utilização em estudos de avaliação de desempenho de sistemas de transmissão e, principalmente, sistemas de distribuição, frente a descargas atmosféricas nestes locais. As predições devem ser feitas desde que os valores disponíveis não sejam ultrapassados. Entretanto, a equação de regressão somente deve ser utilizada no caso do coeficiente de correlação linear, entre as duas variáveis aleatórias relacionadas por tal equação, ser estatisticamente significativo, no nível de significância previamente estabelecido (5%). Do contrário, a equação de regressão não deve ser utilizada para a atividade de predição. Nesta situação, a melhor estimativa da variável aleatória dependente é seu valor médio [PAPOULIS.1991, TRIOLA.1999, MONTGOMERY.1999]. Consequentemente, tendo em vista as observações do parágrafo anterior, foram levantados diagramas de dispersão, com a respectiva reta que melhor se ajusta aos dados amostrais (equação de regressão), de todos os parâmetros que possuem coeficiente de correlação estatisticamente significativo (vide Tabelas 4.10 e 4.11) com o pico de corrente (variável aleatória preditora), tanto para as primeiras quanto para as subseqüentes descargas de retorno. No entanto, apresenta-se em seguida apenas dois resultados: análise de regressão, com os intervalos de confiança e predição de 95%, entre ΙP1 e T30 para as primeiras descargas de retorno e entre ΙP e TanG para as subseqüentes, nas Figuras 4.11 e 4.12, respectivamente, em escala logarítmica. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 62 Com base nas Figuras 4.11 e 4.12 pode-se determinar as equações de regressão referentes às curvas de ajuste apresentadas: T30 = 0,12 I P10,87 (4) TanG = 6,20 I P 0,56 (5) As equações de regressão acima, equações (4) e (5), como já exaustivamente comentado, podem ser úteis na predição do valor de um determinado parâmetro, quando se conhece o valor do pico de corrente. No entanto, algumas precauções devem ser tomadas quanto às suas aplicações, tendo-se em vista a grande dispersão observada nas Figuras 4.11 e 4.12. Verifica-se que o intervalo de predição é relativamente grande. Um fator que contribui para isto é a dimensão da amostra de dados de Cachimbo que é relativamente reduzida, quando comparada com aquela de San Salvatore. 10 8.00 3 T30 (µs) 6.00 2 1 4.00 3 3.00 2.00 1.50 1.00 1 0.80 20 30 40 50 60 70 80 ΙP1 (kA) Figura 4.11 – Diagrama de dispersão, com a curva de ajuste (curva 2 contínua), de T30 em função de ΙP1 para as primeiras descargas de retorno. Apresenta-se também os intervalos de confiança (curvas 3 pontilhadas) e de predição (curvas 1 – traço e ponto) de 95%, superior e inferior. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 63 200 150 100 80 1 TanG (kA/µs) 60 2 40 30 3 20 15 10 8.0 3 6.0 1 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10 15 20 30 40 ΙP (kA) Figura 4.12 – Diagrama de dispersão, com a curva de ajuste (curva 2 contínua), de TanG em função de ΙP para as descargas de retorno subseqüentes. Apresenta-se também os intervalos de confiança (curvas 3 pontilhadas) e de predição (curvas 1 - traço e ponto) de 95%, superior e inferior. 4.5 – ANÁLISE DAS FORMAS DE ONDA DE CORRENTE DE DESCARGAS ATMOSFÉRICAS MEDIDAS EM CACHIMBO As formas de onda de corrente das primeiras descargas de retorno, como já descrito anteriormente, constituem-se numa população homogênea. Isto também é válido para as descargas de retorno subseqüentes. Adicionalmente, tais formas de onda apresentam correlação estatisticamente significativa entre parâmetros tais como, pico de corrente, carga e tempo de frente, conforme evidenciado nas Tabelas 4.10 e 4.11. Em conseqüência, torna-se interessante e de muita utilidade prática construir formas de onda médias e medianas que sejam representativas destas correntes de descargas de retorno. Nesta seção o levantamento de tais formas de ondas é apresentado. Em 1998 foi concluído um estudo, relativo a uma Tese de Doutorado, no qual foi levantada uma curva média de ondas de corrente medidas na Estação de Cachimbo [LACERDA.1998]. Naquele trabalho apenas as primeiras descargas de retorno foram analisadas. Adicionalmente, os dados utilizados correspondem a medições realizadas de 1985 a 1994. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 64 Decidiu-se proceder ao levantamento de curvas médias e medianas atualizadas, não abordadas no estudo descrito no parágrafo acima, através da utilização de medições realizadas a partir de 1994. Para efeitos de comparação com as respectivas curvas oriundas de medições em San Salvatore é necessário alinhar todas as ondas de corrente em relação a valores de referência de tempo e corrente e também normalizar os respectivos valores instantâneos de corrente em relação a uma base comum de corrente. O procedimento de alinhamento é de fundamental importância, uma vez que os valores médio e mediano de corrente devem ser calculados num determinado tempo que corresponda ao mesmo estágio físico do processo de descarga atmosférica representado pelas formas de onda de corrente. Em 1975, K. Berger e outros utilizaram o valor de 50% do primeiro pico na frente de onda para o alinhamento das ondas de corrente. No entanto, o alinhamento que será adotado aqui é aquele sugerido pelo Grupo de Trabalho 33.01 da CIGRÉ, que é descrito a seguir [ANDERSON.1980, CIGRÉ.1991]. Este tipo de estudo, utilizando os dados oriundos de Cachimbo, ainda não foi desenvolvido. Logo, trata-se de um resultado original e de muito interesse, principalmente para caracterização de formas de onda média e mediana de correntes de descargas atmosféricas medidas em regiões tropicais. Para o alinhamento (tempo e corrente de referência) e normalização (base comum de corrente), mencionados acima, foi utilizado o método descrito pelo Grupo de Trabalho 33.01 da CIGRÉ. Esta escolha é adequada, uma vez que, em [ANDERSON.1980] apresentam-se curvas medianas, juntamente com curvas extremas (5% e 95%), levantadas de ondas de corrente medidas em San Salvatore. Neste método de processamento da forma de onda, todos os valores instantâneos de corrente são normalizados em relação ao primeiro pico de corrente (base comum de corrente) e as ondas são alinhadas de acordo com o valor de corrente igual a 90% do primeiro pico, sendo que o tempo neste alinhamento é igual a zero (valores de referência de tempo e corrente). A escolha do valor de 90% do primeiro pico é oportuna, pois alguns dos parâmetros que caracterizam a frente de onda (T10, S10, T30 e S30) são definidos em função deste valor de corrente. Este procedimento foi aplicado para cada uma das ondas de corrente medidas em Cachimbo, tanto para as primeiras descargas de retorno, quanto para as subseqüentes. Uma dificuldade adicional refere-se ao intervalo de digitalização das ondas de corrente registradas em Cachimbo. Como descrito no Capítulo 3, as ondas de corrente são registradas com um intervalo mínimo de amostragem igual a 50 ns (freqüência de 20 MHz). No entanto, estas ondas são armazenadas em disquetes formatados em padrão HP que não são lidos por um Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 65 computador do padrão IBM. Assim, é necessário digitalizá-las e armazená-las manualmente, portanto, com um intervalo de amostragem (neste caso denominado intervalo de digitalização) maior, para que possam ser lidas e processadas posteriormente por um computador do padrão IBM. Contudo, o intervalo de digitalização não é o mesmo para todas as ondas: 0,2 µs, 0,5 µs e 1 µs. Logo, antes da aplicação do método de alinhamento e normalização, descrito acima, foi necessário proceder a um processo de manipulação de todas as séries (ondas de corrente) que possibilitasse transformar os intervalos de digitalização num valor comum para todas as ondas de corrente. No caso das primeiras descargas de retorno, foi realizado um processo de dizimação de dados, de tal forma que este intervalo comum correspondesse ao maior intervalo de digitalização das ondas (1 µs). Assim, foram processadas 31 ondas de corrente para as primeiras descargas de retorno (Tabela 4.9 na coluna “tamanho da amostra”). Por outro lado, no caso das descargas de retorno subseqüentes foram utilizadas, para o levantamento das ondas de corrente média e mediana, apenas 35 formas de onda (total de 59, conforme mostrado na Tabela 4.9 na coluna “tamanho da amostra”), que correspondem às formas de onda com intervalo de digitalização de 0,2 µs. Este critério de escolha está associado ao fato de que as ondas de corrente associadas às descargas subseqüentes apresentam tempos de frente muito inferior aos das ondas de corrente das primeiras descargas de retorno, conforme ilustrado na Tabela 4.9. Evidentemente, da mesma maneira que em [ANDERSON.1980, CIGRÉ.1991], para o levantamento das curvas de corrente média e mediana, foram consideradas apenas descargas descendentes negativas. As Figuras 4.13 e 4.14 ilustram as bases de dados correspondentes às ondas de corrente para as primeiras e subseqüentes descargas de retorno, respectivamente, após a aplicação do método de alinhamento e normalização. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 0 -0.2 -0.4 -0.6 p.u. -0.8 -1 -1.2 -50 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 Tempo (µs) Figura 4.13 – Ondas de corrente medidas em Cachimbo – primeiras descargas de retorno. 0 -0.2 -0.4 p.u. -0.6 -0.8 -1 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 Tempo (µs) Figura 4.14 – Ondas de corrente medidas em Cachimbo – descargas de retorno subseqüentes. 66 Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 67 4.5.1 – ONDA MÉDIA DAS CORRENTES O valor médio de corrente instantâneo é dada pela seguinte expressão: Ik = 1 N ∑ I ik N i =1 (6) Na equação acima, I k corresponde ao valor médio no instante k, N ao número total de ondas para cada instante k (que pode variar em função dos diferentes tamanhos, em termos de comprimento temporal, das ondas de correntes medidas – vide Figuras 4.13 e 4.14) e I ik o valor de corrente da i-ésima curva de corrente no k-ésimo instante. As Figuras 4.15 e 4.16 ilustram, em escalas de tempo diferentes, a forma de onda de corrente média relativa às primeiras descargas de retorno, enquanto as Figuras 4.17 e 4.18, nas mesmas escalas de tempo anteriores, referem-se às subseqüentes. Ao computar a média de uma determinada amostra, é comum, também, calcular o desvio padrão que, caso a amostra seguisse uma distribuição Gaussiana (ou normal), quantificaria a dispersão em relação ao valor médio. No caso destas ondas de corrente, Figuras 4.13 e 4.14, o desvio padrão varia de ponto para ponto e depende da forma da curva e do alinhamento utilizado. A despeito disto, juntamente com a curva média, duas outras curvas são exibidas nas Figuras 4.15, 4.16, 4.17 e 4.18: a média somada ao desvio padrão (curva superior) e subtraída do mesmo (curva inferior). As Figuras 4.19 e 4.20 ilustram os desvios padrão oriundo das ondas de corrente das primeiras descargas de retorno e subseqüentes, respectivamente. É importante destacar que a curva média, por representar um comportamento que, em relação à ocorrência de picos de corrente, se dá em momentos diferentes, acaba por resultar num padrão diferente daquele observado para as medições individuais de corrente associada à primeira descarga de retorno. Estas medições apontam para a existência de um segundo pico de corrente com amplitude maior que o primeiro. Tal fato pode ser claramente observado ao comparar as formas de onda representadas nas Figuras 4.1 e 4.15. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 68 0 -0.2 Média + desvio padrão -0.4 Média -0.6 p.u. Média - desvio padrão -0.8 -1 -1.2 -50 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 Tempo (µs) Figura 4.15 – Onda de corrente média relativa às primeiras descargas de retorno de Cachimbo, juntamente com sua soma e subtração do desvio padrão. 0 Média + desvio padrão -0.2 Média -0.4 Média - desvio padrão -0.6 p.u. -0.8 -1 -1.2 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 Tempo (µs) Figura 4.16 – Onda de corrente média relativa às primeiras descargas de retorno de Cachimbo, juntamente com sua soma e subtração do desvio padrão numa escala diferente daquela da Figura 4.15. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 69 0 -0.2 -0.4 -0.6 p.u. Média + desvio padrão -0.8 Média -1 Média - desvio padrão -1.2 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 Tempo (µs) Figura 4.17 – Onda de corrente média relativa às descargas de retorno subseqüentes de Cachimbo, juntamente com sua soma e subtração do desvio padrão. 0 Média + desvio padrão Média -0.2 Média - desvio padrão -0.4 -0.6 p.u. -0.8 -1 -1.2 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 Tempo (µs) Figura 4.18 – Onda de corrente média relativa às descargas de retorno subseqüentes de Cachimbo, juntamente com sua soma e subtração do desvio padrão, numa escala diferente daquela da Figura 4.17. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 70 0.25 Desvio padrão 0.2 0.15 0.1 0.05 0 -200 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 Tempo (µs) Figura 4.19 – Desvio padrão relativo às primeiras descargas de retorno. 0.25 Desvio padrão 0.2 0.15 0.1 0.05 0 -200 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 Tempo (µs) Figura 4.20 – Desvio padrão relativo às descargas de retorno subseqüentes. Como pode ser observado pelas Figuras 4.15 e 4.17, as curvas médias apresentam diversas oscilações, principalmente na parte relativa à cauda destas ondas. Isto é em função da diferença no número total de ondas medidas em Cachimbo para cada instante “k”, que corresponde ao valor de “N” na equação (6). Justamente na cauda das ondas os valores de N diminuem consideravelmente. Assim, o cálculo da média não é suficiente para filtrar as oscilações existentes. Situação oposta ocorre na parte relativa à frente de onda, onde o valor de N é significativamente maior. Para se ter uma idéia desta situação, as Figuras 4.21 e 4.22 ilustram os valores de N ao longo do tempo, para as primeiras e subseqüentes descargas de retorno, respectivamente. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 71 30 25 20 N 15 10 5 0 -200 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 Tempo (µs) Figura 4.21 – Número total de ondas (N) em função do tempo para as primeiras descargas de retorno. 60 50 40 N 30 20 10 0 -200 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 Tempo (µs) Figura 4.22 – Número total de ondas (N) em função do tempo para as descargas de retorno subseqüentes. 4.5.2 – ONDA MEDIANA DAS CORRENTES Como pode ser observado, para cada instante tem-se amostras, representativas das ondas de corrente das primeiras descargas de retorno e subseqüentes, de comprimentos diferentes (expressos pelos valores de N, conforme ilustrado nas Figuras 4.21 e 4.22). Portanto, torna-se fácil, também, calcular valores medianos e limites de 5% e 95% instantâneos de tais amostras. Feito isto tem-se as curvas medianas com os respectivos limites. As Figuras 4.23 e 4.24 (escalas de tempo diferentes) ilustram tais curvas para as primeiras descargas de retorno, Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 72 enquanto as Figuras 4.25 e 4.26 (escalas de tempo diferentes) para as subseqüentes. Da mesma forma como no caso da curva média, a curva mediana também apresenta um padrão diferente daquele observado para as medições individuais de corrente associada à primeira descarga de retorno (segundo pico de corrente com amplitude maior que o primeiro) – vide Figuras 4.1 e 4.23. Oscilações similares àquelas que ocorriam nas curvas médias estão presentes, também, nas curvas medianas. Novamente, a explicação para tal fato é a diferença no número total de ondas medidas para cada instante “k” (valor de N - vide Figuras 4.21 e 4.22). 4.5.3 – COMPARAÇÃO DAS ONDAS DE CORRENTE MÉDIA E MEDIANA Para fins de comparação das formas de onda de correntes média e mediana, foram construídas as Figuras 4.27 e 4.28. Na primeira estão representadas as curvas média e mediana relativas às primeiras descargas de retorno; na segunda as relativas às subseqüentes. De acordo com as duas figuras, fica evidenciado que as curvas média e mediana são muito próximas, principalmente para as descargas subseqüentes. Quanto às primeiras descargas de retorno, à exceção de pequeno desvio da frente de onda, tais curvas são também muito próximas. A diferença na frente de onda, apesar de ser, em princípio, discreta, pode gerar valores dos parâmetros associados ao tempo de frente e, consequentemente, dos parâmetros que traduzem a taxa de variação da corrente no tempo (di/dt), razoavelmente distintos, sendo os valores mais críticos, menor tempo de subida e maior di/dt, oriundos da curva mediana. Os parâmetros de tempo que caracterizam a frente de onda de corrente (T10, Td10, T30 e Td30) para as primeiras descargas de retorno, calculados por meio da curva mediana, Figura 4.27, apresentam valores bastante próximos daqueles calculados com base nas ondas de corrente individuais medidas (Tabela 4.9). No entanto, no caso das descargas de retorno subseqüentes os valores medianos de tais parâmetros, oriundos da curva mediana (Figura 4.28) e das ondas individuais (Tabela 4.9), apresentam diferenças significativas. Uma possível explicação para tais diferenças refere-se à quantidade de ondas de corrente utilizadas para a obtenção dos resultados apresentados na Tabela 4.9 e na Figura 4.28: 59 e 35, respectivamente. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 73 0 -0.2 -0.4 5% -0.6 Mediana – 50% p.u. -0.8 95% -1 -1.2 -50 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 Tempo (µs) Figura 4.23 – Curva mediana e limites de 5% e 95% para as primeiras descargas de retorno. 0 5% -0.2 Mediana – 50% -0.4 95% -0.6 p.u. -0.8 -1 -1.2 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 Tempo (µs) Figura 4.24 – Curva mediana e limites de 5% e 95% para as primeiras descargas de retorno, numa escala de tempo diferente da Figura 4.23. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 0 -0.2 -0.4 -0.6 p.u. 5% -0.8 Mediana – 50% -1 95% -1.2 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 Tempo (µs) Figura 4.25 – Curva mediana e limites de 5% e 95% para as descargas de retorno subseqüentes. 0 -0.2 Mediana – 50% -0.4 95% 5% -0.6 p.u. -0.8 -1 -1.2 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 Tempo (µs) Figura 4.26 – Curva mediana e limites de 5% e 95% para as descargas de retorno subseqüentes, numa escala de tempo diferente da Figura 4.25. 74 Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 0 Mediana -0.2 Média -0.4 -0.6 p.u. -0.8 -1 -1.2 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 Tempo (µs) Figura 4.27 – Curvas média e mediana para as primeiras descargas de retorno. 0 Mediana Média -0.2 -0.4 -0.6 p.u. -0.8 -1 -1.2 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 Tempo (µs) Figura 4.28 – Curvas média e mediana para as descargas de retorno subseqüentes. 75 Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 76 4.5.4 – COMPARAÇÃO DA ONDA DE CORRENTE MEDIANA DE CACHIMBO COM AQUELAS ORIUNDAS DE MEDIÇÕES EM SAN SALVATORE E NO JAPÃO Em 1980, R. B. Anderson e A. J. Eriksson levantaram as formas de onda de corrente mediana, com os limites de 5% e 95%, das primeiras e subseqüentes descargas de retorno das correntes medidas por K. Berger [ANDERSON.1980]. Em 2000, Tomomi Narita e outros apresentaram uma curva de corrente mediana relativa às primeiras descargas de retorno de descargas atmosféricas descendentes negativas, medidas em torres de linhas de transmissão no Japão [NARITA.2000]. A Figura 4.29 esboça uma comparação entre as curvas de corrente mediana, representativas das primeiras descargas de retorno, nas três medições em causa (Cachimbo, San Salvatore e Japão). Verifica-se que na parte relativa ao intervalo de tempo compreendido entre – 10 µs e zero µs (o que corresponde ao intervalo de corrente de zero p.u. a -0,9 p.u.), associada aproximadamente à frente de onda, as três curvas medianas são bastante similares. Entretanto, a partir do tempo zero µs a curva mediana oriunda das medições no Japão se afasta das de Cachimbo e de San Salvatore, que se mantêm muito próximas. Pode-se considerar, então, que em termos medianos as ondas de corrente medidas em San Salvatore são muito similares àquelas medidas em Cachimbo. As medições das ondas de corrente de descargas no Japão foram realizadas em torres de linhas de transmissão, o que pode se constituir na possível causa das diferenças mencionadas acima, com relação às curvas medianas de San Salvatore e de Cachimbo. A Figura 4.30 ilustra as curvas de corrente mediana, associadas às descargas de retorno subseqüentes, decorrentes das medições em Cachimbo e em San Salvatore. Percebe-se uma relativa similaridade na parte da frente de onda (na faixa de -10 µs a zero µs). Contudo, na parte seguinte (a partir de zero µs) não se verifica a mesma similaridade entre as curvas. 4.6 – CONCLUSÃO Neste capítulo foram apresentados os resultados de um estudo relativo à caracterização estatística das formas de onda de corrente, bem como os parâmetros associados às mesmas, de Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 0 77 Japão -0.2 San Salvatore -0.4 Cachimbo -0.6 p.u. -0.8 -1 -1.2 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 Tempo (µs) Figura 4.29 – Curvas de corrente mediana para as primeiras descargas de retorno medidas em Cachimbo, San Salvatore e no Japão. 0 San Salvatore -0.2 -0.4 Cachimbo -0.6 p.u. -0.8 -1 -1.2 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 Tempo (µs) Figura 4.30 – Curvas de corrente mediana para as descargas de retorno subseqüentes medidas em Cachimbo e em San Salvatore. Capítulo 4 – Avaliação Estatística dos Parâmetros das Ondas de Corrente Medidas na Estação do Cachimbo 78 descargas atmosféricas descendentes negativas medidas na Estação do Morro do Cachimbo. Concomitantemente, diversas comparações foram realizadas, tendo como base medições em outras Estações de Pesquisas de Descargas Atmosféricas, principalmente aquela de San Salvatore. Destacam-se as diferenças significativas entre os valores de pico de corrente das descargas medidas em Cachimbo e em San Salvatore, valores medianos de 48,4kA e 31,1kA, respectivamente. Por outro lado, deve-se evidenciar a similaridade entre as curvas média e mediana das ondas de corrente de descarga atmosférica medidas nas estações de San Salvatore e de Cachimbo. A despeito da amostra de Cachimbo ser relativamente pequena, quando comparada com aquela de San Salvatore, por exemplo, algumas tendências estatísticas foram levantadas. Tais estatísticas estão resumidas, principalmente, na Tabela 4.9. Evidentemente, este estudo tem que ser periodicamente atualizado, à medida que novas medições forem registradas. É importante ressaltar o caráter de originalidade do estudo em causa, uma vez que constitui-se numa primeira tentativa de caracterização estatística das medições realizadas em Cachimbo. Portanto, propõe-se o emprego dos resultados obtidos nas avaliações de proteção e desempenho de sistemas de energia elétrica no Brasil. CAPÍTULO 5 ANÁLISE PRELIMINAR DA INFLUÊNCIA DO SISTEMA DE MEDIÇÃO NAS ONDAS DE CORRENTE MEDIDAS 5.1 – INTRODUÇÃO Para a definição apropriada de práticas de proteção é fundamental o conhecimento dos parâmetros das ondas de corrente características de descargas atmosféricas. A maior parte destes parâmetros é obtida por medição direta de correntes de descargas atmosféricas, através da utilização de torres providas de dispositivos de medição (“torres instrumentadas”). Por outro lado, é bem conhecido que a presença do sistema que realiza a tarefa de medição da corrente pode influenciar significativamente a forma e a amplitude da onda registrada. Tal influência decorre, sobretudo, das reflexões nos pontos de descontinuidade da impedância de surto dos componentes do sistema de medição presentes no percurso da corrente de descarga, como a torre, o aterramento e o canal de descarga. Também, o acoplamento eletromagnético entre o canal de descarga e estes elementos pode influenciar na modificação do sinal medido e, em alguns casos, o posicionamento do equipamento de medição ao longo da torre. Neste capítulo são apresentados alguns estudos preliminares relativos à avaliação da influência que o sistema de medição exerce sobre os sinais de corrente de descargas atmosféricas medidos de forma direta [SCHROEDER.1999a, SCHROEDER.1999c, SCHROEDER.1999d]. Os resultados obtidos, admitindo-se determinadas simplificações para o problema físico correspondente, decorrem de análises associadas à recuperação das ondas “originais” de corrente e são aplicados aos dados das ondas de descargas Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 80 atmosféricas medidas na torre da Estação do Morro do Cachimbo (tarefa esta comumente denominada no meio científico por “descontaminação da onda”). O estudo realizado avaliou o efeito de alguns componentes sobre a onda registrada, tal como a presença da torre (mastro), posicionamento do equipamento de medição, impedância de aterramento e representação do canal de descarga. O assunto “descontaminação” tem merecido a atenção de alguns pesquisadores. De um modo geral, nos trabalhos existentes assumem-se algumas simplificações e calculam-se determinados coeficientes de reflexão de corrente para os pontos de descontinuidade no topo da torre (interface canal - torre) e em sua base (interface torre aterramento). Em seguida propõem formulação para a tarefa de descontaminação e ilustram a aplicação do procedimento denotando em figuras a influência das reflexões de onda nestes pontos de descontinuidade. Na próxima seção apresenta-se um resumo dos principais trabalhos que tratam do assunto em causa. Contudo, algumas questões essenciais para a realização da recuperação do sinal de corrente, em casos práticos, permanecem não resolvidas. Existe considerável incerteza com relação à representação do canal de descarga, bem como o acoplamento deste com a torre. Em 1998, V.A. Rakov e M.A. Uman apresentaram uma revisão bastante completa e geral dos principais modelos de canal de descarga atmosférica existentes [RAKOV.1998b]. Além disso, a literatura técnica propõe diferentes modelos para representação da torre, como por exemplo: [JORDAN.1934, ANDERSON.1959, WAGNER.1960, SARGENT.1969, CHISHOLM.1983, ALMEIDA.1995, CHISHOLM.1985, BARROS.1996, ISHII.1991, BABA.1999]. Em ISHII.1997, 2001, A. Soares YAMADA.1995, Jr. descreve sucintamente as principais características dos trabalhos relativos à modelagem de torres quando submetidas a descargas atmosféricas [SOARES.2001a]. Por outro lado, a formulação do problema por meio de coeficientes de reflexão faz com que a análise seja mais fácil e é uma prática efetiva para análise de sensibilidade. Medições diretas de ondas de corrente de descargas atmosféricas e determinação de seus parâmetros associados, são também processadas através de descargas induzidas por foguetes (“rocket triggered lightning”) - [UMAN.1989, FISHER.1994, RAKOV.1998a, RAKOV.1999, RAKOV.2000c]. Adicionalmente, o registro de parâmetros característicos das formas de onda de corrente pode, também, ser obtido indiretamente através da medição do campo eletromagnético gerado pela corrente de descarga atmosférica. Neste caso, Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 81 assumem-se relações empíricas ou teóricas entre campo e corrente e, assim, através do campo eletromagnético medido à distância estima-se qual a corrente necessária para gerar aquele campo [RAKOV.1992, RACHIDI.1993]. Este tipo de medição é denominado estimação indireta da corrente. No entanto, ambos os tipos de medição não serão discutidos neste trabalho por estarem fora do escopo do mesmo. 5.2 – DESCONTAMINAÇÃO DO SINAL DE CORRENTE MEDIDO: ESTADO DA ARTE Como destacado em [SCHROEDER.1999a, SCHROEDER.1999c, SCHROEDER.1999d, VISACRO.1999], para torres muito altas (centenas de metros), devido ao longo tempo de tráfego da onda, são destacáveis e facilmente reconhecíveis, na onda de corrente medida, as indicações relativas às reflexões nos pontos de descontinuidade de impedância (interfaces canal - torre e torre - aterramento). Este aspecto faz com que a identificação dos coeficientes de reflexão de corrente se torne uma tarefa relativamente fácil e, logo, também, a tarefa de “descontaminação” da onda, nesses casos. Diferentemente, para torres curtas, como aquelas da Estação do Morro do Cachimbo (60 m, como descrito no Capítulo 3), de San Salvatore (55 m – [BERGER.1967]), da Itália (40 m – [GARBAGNATI.1981]) e da África do Sul (60 m – [GELDENHUYS.1988]), os efeitos de “contaminação” são usualmente expressos por diferenças no valor de pico de corrente e por moderadas mudanças na frente da onda, de difícil percepção, tendo em vista o tempo extremamente curto de tráfego da onda de corrente no percurso da torre. Nas estações de pesquisas de San Salvatore, bem como na estação da Itália, a medição é processada no topo da torre. No caso de San Salvatore, o tempo de tráfego da onda, assumindo que a propagação se processa na velocidade da luz (300 m/µs), é em torno de 0,18 µs. Portanto, a onda de corrente deveria ter um tempo de frente menor que aproximadamente 0,36 µs (2 vezes o tempo de tráfego) para que o efeito de contaminação, oriundo da reflexão na base da torre, não interferisse em sua frente impulsiva. Nesta situação seria possível a determinação dos coeficientes de reflexão no topo e na base da torre. Contudo, uma onda de corrente de descarga atmosférica com o tempo de frente em questão, mesmo para as descargas de retorno subseqüentes que possuem tempos de frente muito menores que as primeiras, tem uma probabilidade muito pequena de ocorrer. No caso das estações de Cachimbo e da África do Sul as medições são realizadas na base da torre e, assim, o efeito de contaminação é imediato. Portanto, a determinação dos Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 82 coeficientes de reflexão de corrente é praticamente impossível. No caso de algumas estações de medição, como na Alemanha, Suíça, Rússia e Canadá, que possuem “torres instrumentadas” de algumas centenas de metros [BEIERL.1992, MONTANDON.1994, JANISCHEWSKYJ.1996, FUCHS.1998b, RAKOV.2000a], adicionalmente, são realizadas medições da onda de corrente (ou da derivada de corrente) de descarga em, no mínimo, duas posições: uma nas imediações do topo da torre e outra próxima à base. Assim, torna-se ainda mais fácil estimar os coeficientes de reflexão de corrente no topo da torre (interface canal de descarga - torre) e na base da mesma (interface torre - aterramento) e a tarefa de “descontaminação” da onda de corrente é então executada de forma relativamente fácil. Em seguida apresenta-se um resumo sobre os principais trabalhos envolvidos na área. Conforme descrito por V.A. Rakov em 2000, em Moscou, Rússia, existe uma estação de pesquisas de descargas atmosféricas que possui uma torre, denominada “Torre de Ostankino”, de 540 m de altura, onde são processadas medições em três pontos: 47 m, 272 m e 533 m acima do solo [RAKOV.2000a]. Dois pesquisadores russos, Gorin e Shkilev, em 1984, utilizaram medições de ondas de corrente próximas ao topo da torre (em 533 m de altura), com tempo de frente menor que o dobro do tempo de propagação (aproximadamente 3,6 µs), para estimar a impedância equivalente do canal de descarga atmosférica. Suas estimativas variaram de 600 Ω a 2,5 kΩ, para uma impedância característica assumida para a torre de 300 Ω e uma impedância de aterramento nula. No trabalho, não está muito claro como tais valores foram obtidos. Em 1992, O. Beierl utilizando medições realizadas próximas ao topo da torre de telecomunicação situada na montanha de Hoher Peissenberg, em Munique, Alemanha, denominada “Torre de Peissenberg”, altura de 160m, estimou os coeficientes de reflexão de corrente na base e no topo da torre: aproximadamente 1 e -0,5, respectivamente [BEIERL.1992]. O valor de -0,5 (coeficiente de reflexão de corrente no topo da torre) implica em uma impedância equivalente do canal de descarga de 3 vezes, ou mais, a impedância característica da torre. Isto está razoavelmente consistente com os resultados alcançados por Gorin e Shkilev. As medições realizadas na “Torre de Peissenberg” correspondem à derivada da corrente. Logo, a onda de corrente é obtida por integração numérica. Para a determinação destes coeficientes de reflexão de corrente, em conjunto com Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 83 as medições realizadas no topo da torre, O. Beierl assumiu diversas simplificações para modelar os três componentes envolvidos no percurso da corrente de descarga atmosférica: canal, torre e aterramento. O sistema considerado, envolvendo tais componentes, é ilustrado na Figura 5.1. O canal de descarga foi representado por uma fonte de corrente ideal com uma impedância de surto constante (ZCANAL). A onda de corrente considerada (denominada “corrente injetada”), que representa a fonte em questão, é esboçada na Figura 5.2. Apresenta um crescimento linear (em forma de rampa) de 0 µs até um tempo tf µs (denominado “tempo de frente”), atingindo um pico de 1 p.u. no tempo de frente, que se mantém indefinidamente (em forma de degrau). Foram utilizadas ondas de corrente medidas com tempos de frente menores que duas vezes o tempo de tráfego na torre (160 m/300 m/µs ≈ 1,1 µs). O ponto de injeção de corrente (ou ponto de conexão, como apresentado na Figura 5.1) se dá diretamente no topo da torre. Logo, o canal de conexão ascendente é desprezado. A torre foi representada por uma linha de transmissão ideal (sem perdas e impedância de surto denominada ZTORRE) e o aterramento por uma resistência concentrada (designada ZATERRAMENTO). Adicionalmente, supõe-se que ZTORRE < ZCANAL e ZATERRAMENTO << ZTORRE. Devido à simplicidade do modelo adotado, os resultados de O. Beierl são facilmente reproduzidos com a utilização dos coeficientes de reflexão no topo e na base da torre (1 e -0,5, respectivamente) e com a aplicação, por exemplo, do EMTP1 [DOMMEL.1996]. No presente trabalho, foram realizadas simulações no EMTP com este objetivo e, também, com a finalidade de ilustrar a relação entre o tempo de frente da onda de corrente injetada no topo da torre, que representa a corrente de descarga, e o tempo de propagação na torre, considerando medições no topo e na base da mesma. As Figuras 5.3 e 5.4 ilustram tais simulações. Na primeira figura, estão representadas as correntes que seriam medidas no topo da torre para duas ondas de corrente injetadas com tempos de frente (tf) diferentes: 0,6 µs e 4 µs. A segunda figura esboça as correntes que seriam medidas na base da torre. As Figuras 5.3 e 5.4 indicam que as reflexões de corrente no topo e na base da torre são facilmente identificáveis, nas ondas de corrente medidas na base e no topo da mesma, quando o tempo de frente da onda de corrente (0,6 µs) é menor que o dobro do 1 O EMTP (“ElectroMagnetic Transients Program”) é um programa para cômputo de transitórios eletromagnéticos no Domínio do Tempo. É o mais amplamente utilizado e tem um sua maior aplicação em Sistemas de Potência. Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 84 Ponto de conexão ZTORRE Topo da torre i(t) Altura – H Tempo de propagação - τ ZCANAL Base da torre ZATERRAMENTO i ( t ) corresponde à corrente injetada - representa a onda de corrente associada à descarga atmosférica. Figura 5.1 – Representação esquemática dos elementos envolvidos no percurso da corrente de descarga atmosférica (canal, torre e aterramento) considerada por [BEIERL.1992]. i ( t ) – p.u. 1 t ( µs ) tf Figura 5.2 – Corrente injetada – representa a onda de corrente associada à descarga atmosférica. tempo de propagação (1,1 µs). Tais reflexões são tanto mais evidentes quanto maior for a altura da torre. Por outro lado, quando o tempo de frente da onda de corrente é maior que 1,1 µs (4 µs no caso) tais reflexões são de difícil percepção. Adicionalmente, percebe-se, também, que as correntes medidas na base da torre apresentam valor do primeiro pico maior que o correspondente pico da onda de corrente medida no topo e, portanto, maior inclinação, (taxa de subida de corrente - di/dt) na frente de onda. A Figura 5.5 ilustra tal Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 85 Corrente (p.u.) Corrente medida no topo da torre para uma corrente injetada com tempo de frente de 4 µs. Corrente medida no topo da torre para uma corrente injetada com tempo de frente de 0,6 µs. ( x 10 ) Tempo (µs) Figura 5.3 – Ondas de corrente que seriam medidas no topo da “Torre de Peissenberg” assumindo o modelo apresentado em [BEIERL.1992] - correntes injetadas no topo da torre: 0,6 µs e 4 µs (tf). Corrente (p.u.) Corrente medida na base da torre para uma corrente injetada com tempo de frente de 4 µs. Corrente medida na base da torre para uma corrente injetada com tempo de frente de 0,6 µs. (x 10 ) Tempo (µs) - Figura 5.4 – Ondas de corrente que seriam medidas na base da “Torre de Peissenberg” assumindo o modelo apresentado em [BEIERL.1992] - correntes injetadas no topo da torre: 0,6 µs e 4 µs (tf). Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 86 observação. Conclui-se que as análises estatísticas oriundas de parâmetros característicos de ondas de corrente medidas no topo e na base de “torres instrumentadas” podem gerar resultados bastante diferentes. Evidentemente, esta conclusão é baseada numa representação bastante simplificada para os modelos assumidos para o canal de descarga, torre e aterramento. Ademais, a representação da onda de corrente injetada no topo da torre, ilustrada na Figura 5.2, não corresponde às formas de onda de corrente típicas de descargas atmosféricas medidas. No entanto, a despeito de tais simplificações, as simulações realizadas servem como uma análise de sensibilidade incipiente do comportamento transitório estabelecido na torre quando da incidência de descarga e, assim, da influência do posicionamento do sistema de medição no sinal de corrente medido. Corrente (p.u.) Corrente medida no topo da torre para uma corrente injetada com tempo de frente de 0,6 µs. Corrente medida na base da torre para uma corrente injetada com tempo de frente de 0,6 µs. (x 10 ) Tempo (µs) Figura 5.5 – Ondas de corrente que seriam medidas na base e no topo da “Torre de Peissenberg”, assumindo o modelo apresentado em [BEIERL.1992] - corrente injetada no topo da torre: 0,6 µs (tf). Para exemplificar as ondas de corrente que seriam medidas, considerando os mesmos modelos assumidos para a construção das Figuras 5.3, 5.4 e 5.5, no topo e na base de uma torre de altura de 60 m, relativamente reduzida, como aquela da Estação do Morro do Cachimbo, novas simulações foram realizadas. Os resultados são apresentados nas Figuras 5.6, 5.7 e 5.8. Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 87 Corrente (p.u.) Corrente apresentada na Figura 5.3. Corrente medida no topo da torre (60 m) para uma corrente injetada com tempo de frente de 4 µs. Corrente medida no topo da torre (60 m) para uma corrente injetada com tempo de frente de 0,6 µs. (x 10 ) Tempo (µs) Figura 5.6 – Ondas de corrente que seriam medidas no topo das torres de Peissenberg (160 m) e de Cachimbo (60 m) assumindo o modelo apresentado em [BEIERL.1992] - correntes injetadas no topo da torre: 0,6 µs e 4 µs (tf). Corrente (p.u.) Corrente apresentada na Figura 5.4. Corrente medida na base da torre (60 m) para uma corrente injetada com tempo de frente de 4 µs. Corrente medida na base da torre (60 m) para uma corrente injetada com tempo de frente de 0,6 µs. (x 10 ) Tempo (µs) Figura 5.7 – Ondas de corrente que seriam medidas na base das torres de Peissenberg (160 m) e de Cachimbo (60 m) assumindo o modelo apresentado em [BEIERL.1992] - correntes injetadas no topo da torre: 0,6 µs e 4 µs (tf). Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 88 Com base nas Figuras 5.6 e 5.7, verifica-se que para torres de altura relativamente reduzida (60 m), independentemente do tempo de frente da onda de corrente injetada, as reflexões nas ondas de corrente (medidas na base e no topo da torre) são de percepção mais difícil que as reflexões nas respectivas ondas de corrente medidas em torres de altura mais elevada. No entanto, é tanto mais difícil quanto maior for a relação entre os tempos de frente da onda de corrente injetada e de trânsito na torre. A Figura 5.8 ilustra as diferenças nas formas de onda de corrente que seriam medidas no topo e na base da torre de 60 m de altura. Novamente, observam-se diferenças nos valores de pico e nas taxas de crescimento de corrente. Corrente (p.u.) Corrente medida no topo da torre (60 m) para uma corrente injetada com tempo de frente de 0,6 µs. Corrente medida na base da torre (60 m) para uma corrente injetada com tempo de frente de 0,6 µs. (x 10 ) Tempo (µs) Figura 5.8 – Ondas de corrente que seriam medidas na base e no topo da torre de Cachimbo (60 m), assumindo o modelo apresentado em [BEIERL.1992] - corrente injetada no topo da torre: 0,6 µs (tf). Em 1994, E. Montandon e B. Beyeler apresentaram formas de onda de derivada de corrente relativas a duas descargas atmosféricas, medidas na torre de 248 m de altura da Estação de St. Chrischona, próximo de Basel, Suíça. As medições são realizadas nos níveis de 248 m e 175 m acima do solo [MONTANDON.1994]. A análise de tais medições revela que os intervalos de tempo entre picos da derivada de corrente são de 1,66 µs e 1,16 µs para registros nas alturas de 248 m e 175 m, respectivamente. Tais intervalos mostram que a velocidade de propagação da onda eletromagnética é próxima à da luz (300 m/µs). Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 89 Em 1996, Janischewskyj e outros, baseados em 5 medições de ondas de corrente realizadas numa altitude de 474 m em relação ao solo, em uma torre de 553 m de altura, em Toronto, Canadá, denominada “Torre Nacional Canadense”, juntamente com modelagem da torre, inferiram coeficientes de reflexão de corrente médios na base e no topo da torre: 0,4 e -0,37, respectivamente [JANISCHEWSKYJ.1996]. O coeficiente de reflexão na base variou de 0,34 a 0,43, enquanto o coeficiente de reflexão no topo de -0,27 a -0,49. É importante frisar que os valores de tais coeficientes foram estimados assumindo que a “Torre Nacional Canadense” pode ser modelada como uma linha de transmissão uniforme sem perdas. Ademais, o sistema que representa o canal de descarga, torre e aterramento é similar ao utilizado por O. Beierl em 1992 (vide Figura 5.1). Assume-se, assim, que o ponto de conexão se dá no topo da torre, ou seja, o canal de conexão ascendente é desprezado. A corrente injetada é representa por uma curva triangular, definida por um tempo de frente (tf) e um tempo de cauda. No mesmo ano, R. Rusan e outros modelaram esta torre por seções (de 1 a 3) de linhas de transmissão sem perdas, onde cada seção é constituída por diferentes parâmetros. Parece que a inclusão de tais seções, que gera reflexões ao longo da torre devido às descontinuidades representadas pelas seções em questão, alteram os coeficientes de reflexão de corrente estimados no topo e na base da torre [RUSAN.1996, RAKOV.2000a]. Em 1998, S. Guerrieri e outros apresentaram um estudo em que analisam a influência de objetos elevados (“torres instrumentadas”) sobre as ondas de corrente medidas diretamente e indiretamente (estimadas por medições de campos eletromagnéticos em locais distantes da torre em questão). Este estudo corresponde a uma extensão de um anterior, realizado em 1994 [GUERRIERI.1994 e 1998]. O objeto elevado é modelado por uma linha de transmissão uniforme sem perdas. A corrente de descarga atmosférica é representada pela soma de duas funções de Heidler (pico de 12kA) e considera-se que a descarga atinge diretamente o topo do objeto em questão (ponto de injeção de corrente no topo da torre). Logo, o canal de conexão ascendente é novamente desprezado. O sistema utilizado também é similar ao adotado por O. Beierl, como ilustrado na Figura 5.1. Em seguida, assumem-se diferentes valores de coeficientes de reflexão de corrente na base e no topo do objeto, estimados em diferentes estações de medição. Uma das estimativas escolhidas corresponde àquela oriunda do trabalho realizado por O. Beierl em 1992. Com esta modelagem, os autores propõem um método de “descontaminação do sinal de corrente medido” baseado em teoria de ondas viajantes (similar a transitórios em linhas de transmissão). Adicionalmente, fazem uma análise de sensibilidade com relação a duas Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 90 alturas para o objeto elevado: 55 m (característica da torre da estação de San Salvatore) e 248 m (característica da torre da estação de St. Chrischona), similar à realizada acima (Figuras 5.3 a 5.8). Em função da simplicidade do modelo adotado, tais resultados podem ser reproduzidos com a utilização do EMTP, por exemplo. Finalmente, apresentam o efeito da presença do objeto elevado no campo elétrico radiado, considerando um modelo mais complexo para o canal de descarga atmosférica e assumindo que o campo eletromagnético propaga num solo condutor perfeito. Como comentado acima, este último estudo refere-se a medição indireta da onda de corrente, que não é objeto deste trabalho. Em 2000, Shostak e outros apresentaram um estudo relativo à determinação da influência da “Torre Nacional Canadense” e do canal de descarga atmosférica nos campos eletromagnéticos gerados por correntes de descargas atmosféricas incidentes na torre em causa [SHOSTAK.2000]. A torre foi modelada como uma linha de transmissão ideal de única seção e a corrente de descarga atmosférica por uma dupla exponencial, com um valor de pico de aproximadamente 15 kA. Os coeficientes de reflexão de corrente no topo e na base da torre foram aqueles inferidos em trabalhos anteriores na mesma torre [JANISCHEWSKYJ.1996, RUSAN.1996]. O modelo para representação do canal de descarga atmosférica foi mais elaborado. Neste, diversos aspectos interessantes foram considerados: (1) a presença do canal de conexão ascendente com comprimento de 90 m, determinado através de um sistema de vídeo de alta velocidade; (2) após o encontro dos canais ascendente e descendente, a existência de duas frentes de descarga de retorno (pulsos de corrente) em movimento vertical e de sentidos opostos, uma ascendente em direção à nuvem, com velocidade variando de 15% a 30% da velocidade da luz, e outra descendente em direção à torre, com velocidade de 30% da velocidade da luz (a parcela deste último que é transmitida para a torre possui velocidade igual à da luz); (3) o pulso de corrente ascendente sofre atenuação com uma constante de espaço2 de 2.000 m e o descendente com uma constante de espaço de 3000 m ao longo do canal, assim como todos os outros pulsos oriundos de reflexões na interface canal - torre; (4) reflexões de corrente no interior do canal da descarga de retorno continuamente crescente e (5) os pulsos de corrente no interior do canal devido a reflexões na interface canal – torre e no interior do próprio canal possuem velocidade igual à da luz. Com este modelo os campos eletromagnéticos são calculados no nível do solo e a uma distância de 2 km da torre, onde existe a medição de campo. Para a propagação do campo considera-se o solo 2 Uma constante de espaço de “x” metros significa que nesta distância a onda tem sua amplitude reduzida para aproximadamente 36% de seu valor inicial (e-1 ≈ 0,36). Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 91 perfeitamente condutor. Os resultados obtidos com a aplicação deste modelo, tanto para o cálculo do campo elétrico quanto para o do magnético, indicam boa similaridade com os campos medidos. Vale frisar que o modelo foi desenvolvido com este objetivo. Modelos anteriores não conseguiram reproduzir alguns detalhes importantes das formas de onda do campo eletromagnético medido. Tendo em vista a sucinta revisão dos principais trabalhos que tratam da influência do canal de descarga, torre e aterramento no sinal de corrente medido e, consequentemente, do campo eletromagnético, algumas conclusões, bem como uma visão crítica, podem ser esboçadas: • Todos os trabalhos representam a torre como uma linha de transmissão sem perdas. Logo, a propagação do campo eletromagnético guiado pela mesma é ditada pelo modo TEM (Transverso Eletromagnético). Ora, esta representação não é fisicamente consistente, haja visto o posicionamento vertical da torre em relação ao solo. • O aterramento é modelado como um elemento concentrado (geralmente uma resistência). Tal representação também não parece satisfatória. Ademais, como visto acima, todos os estudos existentes são realizados no domínio do tempo, o que impossibilita a consideração da variação dos parâmetros do solo (resistividade e permissividade) com a freqüência, de fundamental importância. • Em nenhum trabalho considera-se o acoplamento eletromagnético entre os elementos, canal, torre e aterramento. Este efeito pode ser importante na determinação do sinal de corrente a ser medido. De um modo geral, estes elementos são modelados separadamente e, portanto, sem nenhum tipo de acoplamento. Apesar do trabalho de V. Shostak apresentar um modelo bastante elaborado do canal de descarga, principalmente com a importante consideração do canal de conexão ascendente, desprezado na maioria dos estudos anteriores, o acoplamento do mesmo com a torre não é considerado. Como pode ser observado, todos os estudos realizados nos trabalhos encontrados na literatura pesquisada partem da suposição de que, em torres verticais, há um mecanismo físico de ondas praticamente análogo ao associado à propagação de ondas eletromagnéticas em linhas de transmissão. Esta suposição tem que ter sua validade e Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 92 aplicabilidade verificada, tanto em termos teóricos quanto em práticos. Para tal, apresentase, em seguida, uma rápida descrição (simplificada) dos mecanismos físicos (termos teóricos) envolvidos na concepção de ondas eletromagnéticas viajantes em linhas de transmissão. Em teoria de linhas utilizam-se ondas de tensão e corrente para caracterizar as ondas eletromagnéticas que propagam ao longo das mesmas. Ambas as ondas são função da coordenada longitudinal da linha e do tempo. A onda de tensão associada à onda eletromagnética corresponde a uma tensão transversal, sendo medida entre os condutores da linha e o solo, conforme um percurso perpendicular à direção da linha de transmissão. A energia elétrica (no espaço por unidade de comprimento) é proporcional ao quadrado desta tensão transversal. Com isso, há um significado razoavelmente robusto à aplicabilidade de uma capacitância por unidade de comprimento. A onda de corrente que caracteriza a onda eletromagnética corresponde a uma corrente longitudinal dos condutores da linha de transmissão (pressupõe-se que o retorno de corrente se processe por outros condutores ou pelo solo). A energia magnética (no espaço por unidade de comprimento) é proporcional ao quadrado desta corrente longitudinal, dando um significado razoavelmente robusto à aplicabilidade de uma indutância por unidade de comprimento. Ademais, supõe-se, como indicado por J. R. Carson em 1926 [CARSON.1926], que as variações de tensão transversal e de corrente longitudinal são lentas, ou seja, se processam de forma que possam ser consideradas uniformes num determinado trecho longo da linha de transmissão, comparado com as dimensões transversais da região do espaço paralela à linha. Consequentemente, estas grandezas (tensão e corrente) e o campo eletromagnético associado, apesar de dependerem de um efeito integral ao longo da linha, podem ser expressos numa seção transversal da linha de transmissão. Paralelamente, no caso de variações senoidais (ou para um determinado espectro de freqüências), pressupõem-se que o valor de um quarto do comprimento de onda (λ / 4) é muito longo, quando comparado com as dimensões transversais da região do espaço paralela à linha de transmissão. Tendo em vista o simplificado resumo relativo à concepção de ondas eletromagnéticas viajantes em linhas, apresentado no parágrafo anterior, verifica-se que tal concepção não é aplicável ao estudo do comportamento de torres verticais. Portanto, os resultados apresentados nesta seção, decorrentes da utilização dos modelos existentes na literatura, têm sua validade física comprometida. Com esta preocupação em mente, foram desenvolvidas formulações essencialmente menos incorretas. Tais formulações são Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 93 apresentadas no Capítulo 6 e, principalmente, no Capítulo 7. Os resultados decorrentes (termos práticos) são apresentados no Capítulo 8, onde percebe-se a inadequação dos modelos existentes na literatura pesquisada. No entanto, por ora, uma análise de sensibilidade preliminar é processada, nas seções seguintes, com relação à influência do sistema de medição existente na Estação do Morro do Cachimbo sobre o sinal de corrente medido. Tal análise é norteada pelos trabalhos que foram descritos nesta seção sobre o estudo do estado da arte. Contudo, a representação do sistema de aterramento é processada de forma mais consistente, quando comparada com as encontradas na literatura. Apesar do escopo deste trabalho estar associado à medição direta de corrente de descarga atmosférica, alguns comentários críticos com relação aos modelos existentes na literatura para cômputo do campo eletromagnético associado à corrente de descarga (o que permite a medição indireta desta corrente) merecem destaque. O solo sempre é modelado como perfeitamente condutor. Tal representação pode ser uma boa aproximação para solos de baixa resistividade (portanto, alta condutividade) e para campo eletromagnético calculado em distâncias razoavelmente próximas do local de ocorrência da descarga atmosférica, onde os efeitos de propagação sejam desprezíveis. No entanto, para grandes distâncias e solos de maiores resistividades, o erro ao se considerar o solo como condutor perfeito pode ser elevado. 5.3 – REALIZAÇÕES PRELIMINARES COM RELAÇÃO À DESCONTAMINAÇÃO 5.3.1 - INTRODUÇÃO Conforme descrito no Capítulo 3, as instalações da Estação do Morro do Cachimbo incluem uma torre com 60 m de altura (mastro de captação de descarga) e os equipamentos de medição são instalados na torre, justamente ao nível do solo. As primeiras avaliações realizadas neste trabalho com relação à “contaminação” das ondas medidas resultaram nas curvas da Figura 5.9. Observa-se como esta corrente é modificada pelas reflexões da onda. Para gerar os resultados apresentados nesta figura Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 94 foram adotadas as seguintes estilizações, bastante simplificadas: • A torre foi modelada como uma linha de transmissão sem perdas e com impedância de surto constante, 150 Ω e 250 Ω [CIGRÉ.1991]. • A velocidade de propagação da onda eletromagnética na torre se processa à velocidade da luz (300 m/µs). • A corrente que incide no topo da torre é modelada por uma fonte de corrente ideal [CIGRÉ.1991], representada por uma curva triangular com tempo de frente de 1,2 µs e tempo de cauda de 50 µs (1,2/50 µs), com pico de 1 p.u. Portanto, considera-se, que a impedância do canal de descarga é infinita. • O aterramento é representado por uma impedância constante de 30 Ω. i(t) - x 10 (p.u.) Corrente no ponto de medição (ZTORRE = 150Ω) Corrente no ponto de medição (ZTORRE = 250Ω) Corrente injetada no topo da torre ( x 10) Tempo (µs) Figura 5.9 - Ondas de corrente - no topo da torre e no ponto de medição (base da torre). Algumas observações imediatas, simples, mas significativas podem ser extraídas, com base nas curvas apresentadas na Figura 5.9: • Percebe-se uma moderada influência da impedância de surto considerada para a torre Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 95 na medição da corrente de descarga atmosférica. Isto sugeriu a necessidade de investigação de modelagens mais elaboradas para a torre (como exemplo, a colocação de variação da impedância de surto por trechos); • Significativa modificação nos valores de pico (sobrelevações da ordem de 20%) e inclinação inicial da onda de corrente. Isto ocorre, principalmente, em função da grande diferença nos valores das impedâncias de surto da torre e do aterramento. Este quadro denotou a importância do efeito em análise e sugeriu a necessidade de se empregar modelos apurados para os componentes do sistema de medição para se alcançar resultados confiáveis relativos à “contaminação” da onda de corrente medida. Os aspectos essenciais com relação à modelagem preliminar dos diversos elementos de interesse são considerados nos itens seguintes. Vale ressaltar que a modelagem apresentada em seguida é bastante simplificada, semelhante àquela existente na maioria dos trabalhos existentes, como pode ser verificada no item 5.2. No entanto, o objetivo deste capítulo é proceder a uma análise de sensibilidade preliminar acerca do efeito de “contaminação” em causa. 5.3.2 – MODELAGEM DO SISTEMA DE MEDIÇÃO 5.3.2.1 - O SISTEMA DE ATERRAMENTO A Figura 5.10 ilustra a configuração e as dimensões dos eletrodos de aterramento da Estação do Morro do Cachimbo, os quais estão enterrados a uma profundidade de 0,5 m. Com o objetivo de determinar um modelo representativo para o sistema de aterramento, foi empregado sistematicamente um elaborado modelo computacional para a faixa usual de variação dos valores de resistividade do solo no local (8, 4, 2 e 1 kΩ.m), [VISACRO.1990, VISACRO.1992a, VISACRO.1992b, VISACRO.1993, VISACRO.1996, VISACRO.1997a, VISACRO.1997b, VISACRO.1998a, VISACRO.1998b, VISACRO.2000, SOARES.1997]. Vale salientar que, na aplicação do modelo, assume-se determinada Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 96 variação dos parâmetros característicos do solo (permissividade, ε, e resistividade, ρ) no espectro de freqüência do fenômeno solicitante [VISACRO.1992a]. Tal consideração é de fundamental importância, pois para o fenômeno em causa a mesma é significativa [PORTELA.1998, PORTELA.2000]. Em cada caso, a injeção de 3 diferentes ondas de corrente (dupla exponencial: 1,2/50 µs, 7/60 µs e 10/60 µs) com a mesma amplitude (valor de pico igual a 1 kA) foi simulada. As Figuras 5.11, 5.12 e 5.13 ilustram as ondas de tensão resultantes para a ondas de corrente 1,2/50 µs, 7/60 µs e 10/60 µs, respectivamente. 30 m 24 m 30 m 30 m 30 m 30 m 500 m Mast Torre Lab. 3m 8m 7m 15 m 30 m 30 m Camera 2 Registro fotográfico shelter e de íd 30 m Figura 5.10 – Configuração dos eletrodos de aterramento. 60 Tensão (kV) Onda de corrente injetada 1 kA - 1,2/50µs 8000 Ω.m 50 40 30 4000 Ω.m 20 2000 Ω.m 10 1000 Ω.m 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Tempo (us) Figura 5.11 – Ondas de tensão resultantes no sistema de aterramento para a onda de corrente 1,2/50 µs – resistividades de 8, 4, 2 e 1 kΩ.m. Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 97 60 8000 Ω.m Tensão (kV) 50 Onda de corrente injetada (1 kA - 7/60 µs) 40 30 4000 Ω.m 20 2000 Ω.m 10 1000 Ω.m 0 0 20 40 60 80 100 120 Tempo (µs) Figura 5.12 – Ondas de tensão resultantes no sistema de aterramento para a onda de corrente 7/60 µs – resistividades de 8, 4, 2 e 1 kΩ.m. 70 60 Onda de corrente injetada (1 kA - 10/60µs) 8000 Ω.m Tensão (kV) 50 40 30 4000 Ω.m 20 2000 Ω.m 10 1000 Ω.m 0 0 20 40 60 80 100 120 Tempo (us) Figura 5.13 – Ondas de tensão resultantes no sistema de aterramento para a onda de corrente 10/60 µs – resistividades de 8, 4, 2 e 1 kΩ.m. Neste trabalho, considerou-se que a impedância impulsiva de aterramento (relação entre os valores de pico das ondas de tensão e corrente: ZP = VP / IP) constitui um modelo representativo para o aterramento, tendo em vista o tipo de ocorrência em causa [VISACRO.1998a, SOARES.1998]. As simulações mostraram que as diferenças nos Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 98 resultados de ZP, para os 3 tipos de ondas de corrente, não foram significativas. Como pode ser visto na Tabela 5.1, a impedância impulsiva de aterramento permanece praticamente constante para os 3 casos. Os efeitos de ionização do solo, que provocam uma diminuição na impedância de aterramento, foram desconsiderados, tendo em vista a grande dimensão do aterramento da Estação do Morro do Cachimbo. Tais efeitos são mais acentuados quanto mais concentrado for o aterramento, uma vez que a densidade de corrente linear é mais elevada [VISACRO.1992a, VISACRO.1992b, VISACRO.1995, VISACRO.1998c]. Tabela 5.1 - Valor da impedância impulsiva de aterramento para diferentes resistividades do solo e tipos de ondas de corrente. Resistividade do solo Parâmetros das ondas – tempo de frente e cauda (µs) 1,2/50 7/60 10/60 ZP (Ω) ZP (Ω) ZP (Ω) 1000 10,4 7,4 7,5 2000 14,9 14,9 15,3 4000 27,1 29,8 30,6 8000 53,2 58,7 60,4 (Ω.m) 5.3.2.2 - A TORRE No estágio inicial do presente trabalho, expresso numa publicação específica relativa ao exame de qualificação [SCHROEDER.1999a], pensava-se em desenvolver uma formulação, baseada em teoria de campo, para computar o comportamento eletromagnético da torre através da avaliação das ondas de tensão e corrente ao longo de sua extensão. Com a consideração da relação entre ambas as ondas seria possível determinar um modelo, o qual aproximaria a torre como uma seqüência de diferentes impedâncias de surto, uma vez que, à medida que estas ondas se aproximam da base da torre experimentam um efeito capacitivo cada vez mais acentuado, enquanto o efeito indutivo permanece praticamente constante ao longo da torre (Figura 5.14). Na época, com o estágio da investigação, considerando os primeiros resultados, parecia uma suposição preliminar razoável aproximar o modelo da torre por uma impedância de surto de 480 Ω (ZT) [SCHROEDER.1999a, SCHROEDER.1999c, SCHROEDER.1999d, VISACRO.1999]. Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 99 Posteriormente, verificou-se que este modelo não é o mais apropriado para o estudo em causa. A Figura 5.14 ilustra uma representação esquemática para a torre, onde pode ser verificado que o modo de propagação TEM para o campo eletromagnético não é o mais adequado. No entanto, como frisado anteriormente, esta seção objetiva fazer uma revisão das realizações neste campo e, assim, a representação da torre por uma impedância de onda de 480 Ω é mantida [SCHROEDER.1999a]. 5.3.2.3 - O CANAL DE DESCARGA A modelagem deste componente parece ser a tarefa mais difícil. Diferentes aproximações são encontradas na literatura [RAKOV.1998b, SHOSTAK.2000] e, até a ocasião do exame de qualificação, este assunto não tinha sido suficientemente investigado. Ademais, a modelagem do canal de descarga está além do escopo deste trabalho. Portanto, somente para fins de análise, foi decidido aproximar o canal de descarga por 3 diferentes valores de impedância de surto, como um múltiplo da impedância de surto assumida para a torre (2xZT, 3xZT e 10xZT, ou seja, 960 Ω, 1440 Ω e 4800 Ω, respectivamente), conforme grande parte dos trabalhos existentes [BEIERL.1992, GUERRIERI.1994, GUERRIERI.1998, JANISCHEWSKYJ.1996, RUSAN.1996]. Assim, os coeficientes de reflexão de corrente no topo da torre são -0,33, -0,5 e -0,82, respectivamente. Adicionalmente, o canal de conexão ascendente foi desprezado. Desta forma, a onda de corrente representativa da descarga atmosférica foi injetada no topo da torre. 5.3.3 – RESULTADOS PRELIMINARES 5.3.3.1 - INTRODUÇÃO Como já comentado no item 5.2, para torres muito altas, devido ao longo tempo de tráfego da onda, são destacáveis as indicações na onda medida relativas às reflexões nos pontos de descontinuidade de impedância. Este aspecto faz com que a identificação dos coeficientes de reflexão se torne uma tarefa relativamente fácil e, por conseguinte, também, a tarefa de “descontaminação” da onda. Diferentemente, para torres curtas, como aquela da Estação do Morro do Cachimbo, os efeitos de contaminação são usualmente expressos por Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 100 diferenças no valor de pico da onda e por moderadas mudanças na frente da onda, de difícil percepção [SCHROEDER.1999a, SCHROEDER.1999b, SCHROEDER.1999d, VISACRO.1999]. Por este motivo é difícil estimar coeficientes de reflexão de corrente através das ondas de corrente medidas em Cachimbo. Em princípio, é possível realizar a tarefa de descontaminação por meio de modelos que representem o canal, torre e aterramento. Foi utilizado o programa EMTP para simular a onda de corrente que seria medida na base da torre quando uma “onda limpa” fosse injetada em seu topo, pois como foi descrito no Capítulo 3, a medição em Cachimbo é processada na base da torre. As suposições e modelagens adotadas foram aquelas referidas na subseção anterior desta seção (5.3.2). Calcula-se, também, a onda que seria medida no topo para efeitos de comparação com aquela medida na base [SCHROEDER.1999a]. O sistema utilizado para as simulações no EMTP é ilustrado na Figura 5.15, que representa esquematicamente o sistema de medição da Estação do Morro do Cachimbo (similar àquele esboçado na Figura 5.1). As ondas de corrente associadas à descarga atmosférica, como mencionado anteriormente, são representadas por duplas exponenciais (1,2/50 µs, 7/60 µs e 10/60 µs, com pico de 1 p.u.). Cada uma destas ondas representa a onda de corrente “original”, ou, em outras palavras, a onda de corrente descontaminada. Como o ponto de injeção de corrente é diretamente no topo da torre, esta onda de corrente é aquela que inicialmente desce pela torre em direção ao aterramento. Caso o sistema de medição não influenciasse o sinal de corrente medido, ou seja, caso houvesse continuidade de impedância nas interfaces canal - torre e torre - aterramento, esta corrente seria medida na base da torre (ou no topo). No entanto, como é descrito em seguida, a mesma sofre os efeitos de contaminação tanto para medição na base quanto no topo da torre. 5.3.3.2 - RESULTADOS E ANÁLISES Diversos resultados de simulação no EMTP, tendo em vista os modelos discutidos acima, foram apresentados em [SCHROEDER.1999a, SCHROEDER.1999c, SCHROEDER.1999d, VISACRO.1999]. Nem todos serão repetidos. Apenas alguns mais Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 101 R L R L C C R C C L C C R C L C Figura 5.14 – Representação esquemática da torre. Canal de descarga Ponto de conexão i (t) – representada por uma dupla exponencial Torre Ponto de medição Sistema de aterramento Figura 5.15 – Representação esquemática dos elementos que compõem o sistema de medição existente na Estação do Morro do Cachimbo. Ponto de injeção de corrente no topo da torre. Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 102 ilustrativos são exibidos a seguir, com as respectivas conclusões principais enumeradas abaixo: • De um modo geral, as simulações denotaram uma significativa contaminação do sinal medido. O valor de pico excede em aproximadamente 20% o valor daquele da onda original (injetada no topo da torre). Por outro lado, os parâmetros de tempo da frente de onda não parecem ser afetados significativamente para ondas lentas (7/60 µs e 10/60 µs). O efeito de contaminação, como era de se esperar, é mais pronunciado para ondas mais rápidas, 1,2/50 µs (menores tempos de frente e, portanto, maiores taxas de subida da corrente – di/dt), uma vez que, o tempo de frente é mais próximo do tempo de propagação na torre, quando comparado com os tempos de frente de ondas mais lentas. • O efeito de contaminação está presente tanto para medição na base da torre quanto no topo da mesma. Este efeito é tanto mais acentuado na base da torre, quando comparado com aquele no topo, quanto menor for a relação entre o tempo de frente da onda de corrente injetada e o tempo de propagação na torre (tf/tp), este último uma constante para a torre em questão,. Ademais, é tanto mais intenso quanto menor a impedância do canal em relação à torre. Para este caso, tanto o valor de pico quanto a taxa de subida da onda são maiores para a medição na base da torre. Entretanto, para torres de altura relativamente reduzida, como é o caso da torre de Cachimbo (60 m), o tempo de propagação também é reduzido, em torno de 0,2 µs. Assim, tendo em vista que os tempos de frente das ondas de corrente medidas são maiores que este tempo de propagação, os efeitos de contaminação, tanto na base quanto no topo da torre, são praticamente os mesmos. • Como afirmado acima, quanto menor for a razão entre as impedâncias do canal e da torre (ZCANAL/ZTORRE), maior é o efeito de contaminação, sendo tanto maior quanto menor o tempo de frente da onda de corrente injetada. Vale frisar que a relação existente entre a razão ZCANAL/ZTORRE e o efeito de contaminação é fortemente dependente da definição da onda original (ou descontaminada) de corrente. Como apresentado na subseção anterior (5.3.3.1), tal onda corresponde àquela que inicialmente desce pela torre em direção ao aterramento, uma vez que o ponto de injeção de corrente é diretamente no topo da torre. Caso não existisse descontinuidade de impedância entre a torre e o aterramento, a onda descontaminada seria aquela medida no topo ou na base da torre. Por outro lado, se a onda original fosse definida pela fonte de corrente (dupla Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 103 exponencial de 1 p.u. de pico), como i(t) na Figura 5.1, quanto maior a razão entre as impedâncias do canal e da torre, maior seria o efeito de contaminação [SCHROEDER.1999a, SCHROEDER.1999c]. Portanto, ao se analisar a relação de causa e efeito entre a razão ZCANAL/ZTORRE e a contaminação de corrente (tanto para medições no topo quanto na base da torre) é de fundamental importância conhecer o critério estabelecido para a definição da onda original de corrente. Julga-se que o critério mais fisicamente consistente é aquele estabelecido na subseção 5.3.3.1, no caso em que se considera injeção de corrente diretamente no topo da torre. Em outras palavras, quando o ponto de conexão é no topo da torre, ou seja, o canal de conexão ascendente é desconsiderado. • A influência da variação dos valores da impedância de aterramento nos efeitos de contaminação, dentro de sua faixa usual, é relativamente moderada para ambas as ondas (lenta: 7/60 µs e 10/60 µs e rápida: 1,2/50 µs). Isto é explicado pela grande diferença entre os valores das impedâncias de surto da torre e do aterramento (ZP < 0.13 ZT). • Para ondas rápidas surgem oscilações nas ondas de corrente que seriam medidas na base e no topo da torre (sendo mais evidente para medições na base), as quais estão associadas a valores mais pronunciados das relações entre as impedância do canal de descarga e da torre. • Uma importante verificação é a sensibilidade do efeito de contaminação com relação à forma de onda utilizada para representar a corrente da descarga atmosférica. Efeitos diversos são encontrados quando se considera dupla exponencial, rampa mais degrau (ilustrada na Figura 5.2), curva triangular, curva tipo côncava, etc. Este fato sugere uma atenção cuidadosa quanto a representação da onda de corrente. O quadro global sugere que a principal razão para o aumento no valor de pico da onda de corrente medida está associada à significativa diferença entre os valores de impedância de surto da torre e impedância impulsiva do aterramento. A Figura 5.16 corrobora tal afirmação. Uma onda de corrente, representada por uma dupla exponencial de 7/60 µs, com valor de pico igual a 1 kA (ou 1 p.u.), é injetada no topo da torre. Adicionalmente, considera-se que a torre possui uma impedância de surto igual à do aterramento (ZT = 58,7 Ω, ou seja, um casamento de impedância entre torre e aterramento) Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 104 e três relações entre a impedância do canal e da torre (2, 3 e 10). Como pode ser observado, as ondas de corrente que seriam medidas na base da torre correspondem exatamente à onda de corrente injetada no topo da mesma, independentemente da impedância do canal. Este resultado, a despeito de sua evidência e simplicidade, ilustra um fato importante quanto à impedância de aterramento da torre. Para melhorar o desempenho de linhas de transmissão frente a descargas atmosféricas, uma prática normalmente adotada é a redução da impedância do aterramento da torre da linha, pois, desta forma, a parcela de reflexão de tensão negativa que retorna para o topo da torre será tanto maior (em módulo) quanto menor for a impedância do aterramento em relação à da torre. Isto faz com que a tensão no topo da torre diminua e, consequentemente, a tensão na cadeia de isoladores, o que diminui a possibilidade de arco elétrico na mesma (o que pode levar ao desligamento da linha de transmissão), [SOARES.2001a]. Por outro lado, quando o objetivo é amenizar os efeitos de contaminação do sinal de corrente medido, em estações de medição como Cachimbo, é interessante que a impedância do aterramento seja bastante próxima da impedância de surto da torre, independentemente do valor ser alto ou reduzido. Entretanto, infelizmente, tendo em vista as práticas de proteção dos diversos equipamentos instalados em estações de medição, é interessante que existe um sistema de aterramento eficiente (baixa impedância). 5.3.4 – PROCEDIMENTO PARA A RECUPERAÇÃO DO SINAL ORIGINAL DE CORRENTE Para ilustrar o procedimento necessário para recuperação da onda original de corrente (descontaminação), a partir de uma onda registrada, decidiu-se realizar um caso exemplo. Aplicou-se a uma onda real medida em Cachimbo (onda da Figura 5.17), uma correção idêntica àquela que seria necessária para recuperar (“descontaminar”) uma onda de 10/60 µs, dos efeitos ocasionados pelo sistema de medição, nas condições assumidas neste trabalho (ZP = 60,4 Ω, conforme ilustrado na Tabela 5.1 e ZC = 1440 Ω). A Figura 5.18 mostra tal efeito para a onda 10/60 µs, de acordo com simulações realizadas no EMTP. A Figura 5.19 mostra a onda medida na base da torre de Cachimbo (real), como também aquela recuperada (ou descontaminada). Ficam evidentes as diferenças, sobretudo, aquela Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 105 1.2 1 Corrente (kA) 0.8 Relação entre a impedância do canal e da torre (Zc / Zt) - Zp = 58,7Ω Zc / Zt = 10 Zc / Zt = 3 Zc / Zt = 2 0.6 0.4 0.2 Onda de corrente injetada 1kA - 7/60µs 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Tempo (µs) Figura 5.16 – Resultados simulados para a onda de corrente medida na base da torre (onda de corrente: 7/60 µs, ZP = 58,7 Ω - valor variável para ZC – ZT = 58,7 Ω). referente aos valores de pico. É oportuno relembrar que os modelos adotados (para representar, principalmente, o canal e a torre) são muito simples. É importante frisar que, conforme definido na subseção 5.3.3.1, a onda de corrente recuperada, correspondente à onda original, ilustrada na Figura 5.19 (onda de corrente que incide no topo da torre) é aquela que seria medida no topo da torre, assim como em sua base, caso não existisse descontinuidade de impedância entre a torre e o aterramento. Assim sendo, o processo de descontaminação de corrente não inclui a alteração da corrente injetada a partir do canal de descarga atmosférica para condições diferentes das de medida. Isto implica que não é razoável supor que este tipo de contaminação no sinal de corrente medido incidiria apenas nas torres com medição na base, como por exemplo, na Estação de Cachimbo ou da África do Sul. Logo, tanto os dados destas duas estações quanto aqueles de San Salvatore (ou a da Itália, por exemplo) estariam sujeitas a contaminação, embora eventualmente de forma diferente. Não há, portanto, sentido em estabelecer comparações antes que procedimentos idênticos de descontaminação sejam aplicados para as medições objeto de comparação. Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 106 5.4 – AVALIAÇÃO PRELIMINAR DA INFLUÊNCIA DO CANAL DE CONEXÃO ASCENDENTE NOS EFEITOS DE CONTAMINAÇÃO Procede-se nesta seção à uma análise de sensibilidade relativa à influência do canal de conexão ascendente nos efeitos de contaminação das ondas de corrente medidas na base da torre da Estação do Morro do Cachimbo (assim como no topo da torre). Para tal, considera-se um canal de conexão ascendente vertical de 300 m de comprimento. Assim, o ponto de injeção de corrente (ou ponto de conexão) corresponde àquele situado 300 m acima do topo da torre. A torre e o aterramento são modelados da mesma forma como apresentado na seção anterior (5.3). O canal de conexão ascendente é modelado de forma similar à torre, uma linha de transmissão sem perdas com impedância de surto constante e múltipla da impedância de surto da torre (2, 3 e 10 vezes, como descrito na seção 5.3). Adicionalmente, considera-se que a velocidade de propagação da onda de corrente no canal se processa à velocidade da luz (300 m/µs). A Figura 5.20 ilustra o sistema sob estudo. Como o ponto de injeção de corrente é na extremidade superior do canal de conexão ascendente, 300 m acima do topo da torre, conforme ilustrado na Figura 5.20, a onda de corrente original (ou descontaminada) corresponde àquela que inicialmente fluiria pelo canal, em direção à torre e ao sistema de aterramento, sem sofrer os efeitos de contaminação oriundos das descontinuidades nas interfaces canal – torre e torre – aterramento. Isto seria possível caso as impedâncias destes três elementos fossem iguais. No entanto, tal situação não é possível e a onda de corrente medida (tanto na base quanto no topo da torre) sempre sofrerá estes efeitos de contaminação. Da mesma forma que na seção 5.3, as ondas originais correspondem às duplas exponenciais 1,2/50 µs, 7/60 µs e 10/60 µs (com pico de 1 p.u.). A despeito da simplicidade do modelo adotado para o canal, diversos resultados interessantes, decorrentes de inúmeras simulações no EMTP, podem ser esboçados. As primeiras análises foram apresentadas em [SCHROEDER.2000]. As principais conclusões são descritas a seguir: • As simulações indicaram um significativo efeito de contaminação do sinal de corrente medido. O valor de pico de corrente excede em aproximadamente 80 % do pico da onda original (1 p.u.). Adicionalmente, o efeito de contaminação é mais intenso para ondas de Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 107 corrente mais rápidas (menores tempo de frente). Verifica-se que este efeito de contaminação é muito mais pronunciado quando comparado com aquele oriundo da consideração do ponto de injeção de corrente diretamente no topo da torre. Pode-se concluir, portanto, que a não consideração do canal de conexão ascendente subestima os efeitos de contaminação. • Independentemente do posicionamento do equipamento de medição (no topo ou na base da torre), o efeito de contaminação está presente nos sinais de corrente medidos. Contudo, de forma semelhante ao caso de injeção no topo da torre, é mais pronunciado para medição na base para menores valores da relação tf/tp (tp constante). Ademais, é tanto mais intenso quanto maior a impedância do canal em relação à torre. Isto faz com que o valor de pico, assim como a taxa de subida da onda, sejam maiores para a medição na base da torre. Entretanto, de maneira similar ao que ocorre no caso da injeção de corrente no topo da torre, para torres com alturas similares à de Cachimbo, os efeitos de contaminação são aproximadamente os mesmos, tanto para medição na base quanto no topo da torre. • Como descrito na conclusão acima, quanto maior for a razão entre as impedâncias do canal e da torre (ZCANAL/ZTORRE), maior é o efeito de contaminação (sendo tanto maior quanto menor o tempo de frente da onda de corrente injetada). Percebe-se que a relação entre ZCANAL/ZTORRE e o efeito de contaminação é o oposto desta mesma relação quando se considera o ponto de injeção de corrente diretamente no topo da torre (conforme a definição de onda original apresentada na subseção 5.3.3.1 da seção anterior,5.3). • De maneira similar ao que acontece quando da injeção de corrente diretamente no topo da torre, a influência da variação dos valores de impedância impulsiva de aterramento (ZP), dentro de sua faixa usual (conforme ilustrado na Tabela 5.1), é moderada nos efeitos de contaminação. Outra similaridade refere-se ao fato de que para ondas de corrente rápidas (tempo de frente reduzido) há o aparecimento de oscilações nos sinais de corrente medidos, principalmente para medição na base da torre. A situação geral sugere que o principal motivo para o aumento no pico de corrente do sinal de corrente medido (na base e no topo da torre) refere-se às diferenças entre os valores de impedância de surto do canal, da torre e impedância impulsiva do aterramento. Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 108 Como já afirmado anteriormente, no caso destas impedâncias serem iguais não haveria contaminação no sinal medido. Tal situação é diferente quando se considera a injeção de corrente diretamente no topo da torre. Como visto na subseção 5.3.3.2 (seção 5.3 anterior), na Figura 5.15, quando as impedâncias da torre e do aterramento são iguais, independentemente das relações entre as impedâncias de surto do canal e da torre, não há efeito de contaminação. Tendo em vista as conclusões descritas acima, verifica-se a importância da consideração ou não da presença do canal de conexão ascendente, além da definição apropriada da onda original de corrente (ou onda descontaminada), na análise dos efeitos de contaminação e, posteriormente, nos desenvolvimentos de procedimentos que culminem em práticas adequadas de recuperação (ou descontaminação) do sinal de corrente original. 0 1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 -10 Corrente (kA) -20 -30 -40 -50 -60 -70 -80 Tempo(µs) Figura 5.17 - Onda de corrente de descarga registrada no Morro do Cachimbo (primeira descarga de retorno de um conjunto de 3 descargas de retorno subseqüentes, negativa e descendente). Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 109 0 1 11 21 31 41 51 61 71 81 Onda de corrente injetada no topo da torre (1kA - 10/60µs simulada no EMTP) -0.2 Corrente (kA) -0.4 -0.6 -0.8 -1 Onda de corrente medida em Cachimbo (simulada no EMTP) -1.2 -1.4 Tempo (µs) Figura 5.18 - Ondas de corrente que incide no topo da torre (10/60 µs) e quando é registrada na base da mesma (resultados de simulação no EMTP). 0 0 -10 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Onda de corrente que incide no topo da torre (real) Corrente (kA) -20 -30 -40 -50 -60 -70 Onda de corrente medida em Cachimbo (real) -80 Tempo (µs) Figura 5.19 - Resultado de recuperação da onda de corrente original - onda de corrente específica medida em Cachimbo e onda de corrente descontaminada (que incidiria no topo da torre). Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 110 Canal de descarga Ponto de conexão i (t) – representada por uma dupla exponencial Canal de conexão ascendente (300 m) Torre Ponto de medição Sistema de aterramento Figura 5.20 – Representação esquemática dos elementos que compõem o sistema de medição existente em Cachimbo. Ponto de injeção de corrente 300 m acima do topo da torre. 5.5 - CONCLUSÕES Os resultados preliminares deste capítulo, a despeito das simplificações adotadas (principalmente para as representações da torre e do canal de descarga atmosférica), denotam alguns aspectos importantes com relação aos efeitos de contaminação sobre as ondas de corrente medidas, os quais são de interesse prático. Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 111 Em uma primeira aproximação, dependendo do tempo de frente da onda, é possível estimar o excesso no valor de pico medido. Este excesso é em torno de 20% ou mais quando se considera a injeção de corrente diretamente no topo da torre. Por outro lado, quando se supõe um canal de conexão ascendente de 300 m de comprimento o excesso em questão é significativamente mais elevado, em torno de 80 %. Esta diferença sugere a necessidade de uma avaliação com relação à consideração ou não da presença de um canal de conexão ascendente ao se proceder à quantificação dos efeitos de contaminação e, consequentemente, à descontaminação (ou recuperação) do sinal de corrente original. O modelo adotado para representar o comportamento do aterramento parece ser satisfatório. De qualquer maneira, a ampla variação da impedância de aterramento, segundo a condição de umidade, pode sugerir a necessidade de monitorar a resistividade do solo na Estação do Morro do Cachimbo, com o objetivo de associar um valor de impedância para cada nova descarga atmosférica que atinja a torre e tenha sua onda de corrente registrada. Igualmente, justifica-se uma verificação experimental do comportamento da resistividade e permissividade do solo local com a freqüência, para aplicação no modelo. Como pode ser verificado, o efeito de “contaminação” é muito sensível aos modelos adotados para a torre e o canal. No entanto, a grande maioria dos trabalhos que abordam o assunto apresentam modelos extremamente simples, principalmente para a torre. Nestes, a mesma é representada por uma linha de transmissão (sem perdas). Desta forma, o modo de propagação do campo eletromagnético é do tipo TEM, que se constitui numa representação fisicamente pobre para os campos guiados e radiados pela torre. Ademais, não considera-se acoplamento eletromagnético entre canal, torre e aterramento, uma vez que tais elementos são modelados separadamente. Tal acoplamento pode ser influenciado, inclusive, pelo posicionamento do canal em relação à torre. Adicionalmente, o solo é considerado como perfeitamente condutor quando objetiva-se calcular os campos gerados pela onda de corrente da descarga atmosférica em questão. Assim, o campo elétrico é sempre ortogonal ao mesmo. No entanto, à medida que a condutividade do solo diminui, com um correspondente aumento da resistividade, o campo elétrico passa a ter uma componente horizontal cada vez mais forte. A desconsideração de tal fato pode gerar erros elevados. Conclui-se, assim, que há uma carência na literatura técnica com relação à descontaminação do sinal de corrente medido, pela falta de uma modelagem fisicamente consistente, capaz de computar o acoplamento eletromagnético entre canal, torre e Capítulo 5 – Análise Preliminar da Influência do Sistema de Medição nas Ondas de Corrente Medidas 112 aterramento na presença de um solo real, incluindo a variação de seus parâmetros com a freqüência. Este quadro motivou o investimento no desenvolvimento de uma modelagem de tal natureza, baseada em teoria de campo, com aplicação na análise dos efeitos de contaminação. Como será visto nos Capítulos 6 e 7, tal modelagem é capaz de computar o acoplamento eletromagnético entre canal, torre e aterramento, levando em consideração o efeito de um solo real, com características específicas e variáveis na freqüência. O canal de descarga é considerado, neste estudo, de forma simplificada por falta de dados na literatura que permitam sua melhor caracterização. No futuro, com a aplicação da modelagem desenvolvida neste trabalho, e, assim, com a conseqüente “descontaminação” das ondas de corrente medidas na Estação do Morro do Cachimbo, pretende-se reavaliar todo o estudo estatístico relativo a tais medições (apresentado no Capítulo 4). CAPÍTULO 6 FUNDAMENTOS DE UM MODELO PARA CÁLCULO DE TENSÕES E CORRENTES EM ESTRUTURAS ATINGIDAS POR DESCARGAS ATMOSFÉRICAS 6.1 - INTRODUÇÃO Conforme apresentado no Capítulo 5, os modelos disponíveis na literatura para a representação da torre e do aterramento, na tarefa de descontaminação de ondas de corrente medidas em estações com “torres instrumentadas”, são muito simples, usualmente baseados em propagação do campo eletromagnético no modo TEM. Consequentemente, com o conhecimento dos coeficientes de reflexão de corrente no topo e na base da torre a descontaminação da corrente torna-se uma atividade relativamente fácil. Portanto, a torre é modelada por uma impedância de surto (como uma linha de transmissão sem perdas) e o aterramento por um elemento concentrado (geralmente por uma resistência ou por uma impedância impulsiva). Isto motiva o desenvolvimento de um modelo, baseado nas Equações de Maxwell, para computar o acoplamento eletromagnético entre os três elementos envolvidos no percurso da onda de corrente de descarga atmosférica: canal, torre e aterramento. Numa primeira aproximação, tendo em vista proceder a uma análise de sensibilidade, resolveu-se adotar um modelo para o cálculo do acoplamento em questão entre elementos condutores situados no mesmo meio, desprezando-se o acoplamento entre elementos situados em meios diferentes. Os desenvolvimentos para a inclusão no modelo Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 114 Descargas Atmosféricas do último acoplamento são descritos no próximo capítulo. Os fundamentos desta aproximação a tornam muito mais elaborada que as abordagens apresentadas na seção 5.2 do Capítulo 5. Adicionalmente, são contemplados importantes aspectos oriundos de verificações experimentais, o que confere ao modelo uma ampla generalidade de aplicação e consistência física dos resultados gerados. 6.2 – BASES DO MODELO A essência do modelo em questão corresponde à tese de doutorado desenvolvida por S. Visacro F. em 1992, [VISACRO.1992a]. O referido autor apresentou um modelo no domínio da freqüência, baseado em teoria de campo e em resultados experimentais, para cômputo do comportamento eletromagnético de configurações genéricas (em três dimensões) de eletrodos de aterramento quando submetidos a solicitações de espectro de freqüências bastante amplo, como por exemplo, descargas atmosféricas. O modelo é utilizado, principalmente, para o estudo do comportamento eletromagnético de sistemas de aterramento constituídos de condutores cilíndricos, que corresponde às aplicações práticas de interesse. A aplicação do modelo pode ser estendida para inclusão de condutores aéreos com geometria genérica. Uma descrição do trabalho em causa é apresentada a seguir. O procedimento inicial é dividir o sistema a ser estudado, constituído de condutores cilíndricos, em diversos segmentos ou troços condutores de comprimentos adequados. O número total de troços condutores é denominado “N”. O comprimento de cada troço condutor é muito maior que seu respectivo raio, o que possibilita a aproximação por filamentos de corrente situados no eixo do troço condutor em questão. Em cada troço condutor considera-se a existência de duas fontes de corrente: • Uma fonte de corrente transversal que se dispersa para o solo. A corrente se propaga para fora do troço condutor em direção ao infinito (ou terra remoto), correspondendo à densidade linear de corrente transversal, denominada ΙT / L, onde L é o comprimento do troço condutor em questão. • E uma fonte de corrente longitudinal que propaga ao longo do troço condutor, correspondendo à corrente longitudinal média no mesmo, ΙL. A Figura 6.1 ilustra estas Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 115 Descargas Atmosféricas duas fontes de corrente. A densidade linear de corrente transversal ΙT / L, assim como a corrente longitudinal média ΙL, são mantidas constantes ao longo de um segmento. No entanto, evidentemente, podem variar de um troço para outro. Como o modelo trabalha no domínio da freqüência, considera-se variação harmônica no tempo para as correntes em questão. ΙT / L IL Figura 6.1 – Fontes de corrente em cada troço condutor. A fonte de corrente transversal (ΙT / L), devido ao fato de possuir natureza divergente, não apresenta efeito magnético [VISACRO.1992a]. No entanto, apresenta efeito elétrico traduzido pelo campo elétrico de natureza divergente associado a esta fonte. Este campo gera elevação de potencial em relação ao infinito em pontos genéricos do meio onde tal fonte se encontra imersa, inclusive nos demais troços condutores. Por outro lado, a fonte de corrente longitudinal (ΙL), devido ao fato de possuir natureza solenoidal, apresenta efeito eletromagnético, que se traduz pela força eletromotriz induzida (queda de tensão) em outros troços condutores. Pode-se definir, então, impedâncias que traduzem o acoplamento eletromagnético entre os diversos troços condutores. Basicamente, são dois tipos de acoplamento existentes entre cada par de troços condutores: • Acoplamento transversal - traduzido pela impedância transversal entre 2 troços condutores, sendo um deles denominado “troço emissor de corrente” (j) e outro “troço receptor” (i). Esta impedância (ZTij) é definida como a relação entre a elevação de potencial médio em relação ao infinito no troço condutor receptor (Vij), gerada pela densidade de corrente linear transversal do troço emissor (ΙTj / Lj), e a corrente transversal deste último, ΙTj. ZTij traduz o acoplamento elétrico (capacitivo e condutivo) mútuo entre os troços condutores. • Acoplamento longitudinal – traduzido pela impedância longitudinal (ZLij) entre os troços emissor (j) e receptor (i). É definida como a relação entre a força eletromotriz induzida no Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 116 Descargas Atmosféricas troço receptor (∆Vij), gerada pela corrente longitudinal média no troço emissor (ΙLj), e esta corrente longitudinal do troço emissor, ΙLj. ZLij traduz o acoplamento magnético (indutivo) mútuo entre os troços condutores. Detalhes adicionais podem ser encontrados em [VISACRO.1990, VISACRO.1992a, VISACRO.1992b, VISACRO.1993, VISACRO.1998a]. É importante salientar que os acoplamentos em questão são computados no domínio da freqüência. A seguir apresentam-se as expressões que possibilitam calcular as grandezas eletromagnéticas citadas acima. A impedância transversal é calculada com o auxílio do potencial escalar elétrico (V), gerado num determinado ponto pela densidade de corrente linear transversal (ΙTj / Lj) que deixa o troço emissor, dado pela seguinte expressão: V= 1 4 π [ σ (ω) + j ω ε (ω) ] ∫ Lj I Tj e − K r dl j Lj r (6.1) Assim, a elevação de potencial médio em relação ao infinito no troço condutor receptor (Vij), gerada pela densidade linear de corrente transversal que deixa o troço emissor (ΙTj), é a seguinte: Vij = Vij = 1 Li ∫ V dli ∴ Li I Tj 4 π [ σ (ω) + j ω ε (ω) ] L j L i ∫ ∫ Li Lj e− K r dl j dl i r (6.2) Finalmente, pode-se determinar a impedância transversal entre os troços i (receptor) e j (emissor): Z Tij = Vij I Tj ∴ 1 e− K r Z Tij = dlj dl i 4 π [ σ (ω) + j ω ε (ω) ] L j L i ∫ ∫ r Li Lj (6.3) Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 117 Descargas Atmosféricas A impedância longitudinal é calculada com o auxílio do potencial vetor magnético r ( A ), gerado num determinado ponto pela corrente longitudinal média (ΙLj) ao longo do troço emissor, dado pela seguinte expressão: r µ A= 4π A r µ A= 4π ∫∫∫ Vol. expressão geral ∫ I Lj Lj que e− K r r d lj r define o (6.4) potencial vetor é a seguinte: r r e− K r J dv , onde J é densidade de corrente longitudinal do troço emissor e r dv corresponde ao elemento diferencial de volume. No entanto, como os troços condutores são aproximados por correntes filamentares, esta expressão pode ser representada na forma simplificada da equação (6.4). Logo, a força eletromotriz induzida (queda de tensão, ∆Vij) no troço receptor, devida à corrente longitudinal média (ΙLj) ao longo do troço emissor, é a seguinte: ∫ ∆Vij = − j ω r r A • d li ∴ Li ω µ I Lj ∆Vij = − j 4π ∫ ∫ Li Lj r e− K r r d l j • d li r (6.5) Consequentemente, a impedância longitudinal entre os troços emissor e receptor é a seguinte: Z Lij = Z Lij = − j ωµ 4π ∫ ∫ Li Lj ∆Vij I Lj ∴ r e− K r r d l j • d li r (6.6) Nas equações de (6.1) a (6.6) aparecem algumas grandezas ainda não definidas, tais como: • r r d li e d l j correspondem aos vetores diferenciais de comprimentos dos troços receptor (i) e emissor (j), respectivamente. Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 118 Descargas Atmosféricas • dl i e dl j correspondem aos elementos diferenciais de comprimentos dos troços receptor (i) e emissor (j), respectivamente. • Li e Lj correspondem aos comprimentos dos troços receptor (i) e emissor (j), respectivamente. • ω = 2 π f corresponde à freqüência angular do sinal de corrente em questão, sendo f a freqüência do mesmo. • µ, ε(ω) e σ(ω) correspondem à permeabilidade magnética, a permissividade elétrica e a condutividade elétrica, respectivamente, do meio material onde um determinado troço condutor está imerso. Como será visto posteriormente, ε e σ podem variar com a freqüência. • K= j ω µ [σ (ω) + j ω ε (ω) ] = α (ω) + j β (ω) corresponde à constante de propagação do meio em questão, sendo α (ω) a constante de atenuação (Np/m) e β (ω) a constante de defasamento (rad/m), variáveis com a freqüência. • r corresponde à distância entre cada elemento diferencial (dl) dos troços emissor e receptor. • e − K r = e − α (ω) e − j β (ω) traduz a propagação da onda eletromagnética no meio em causa. A parcela real, e − α (ω) , é responsável pela atenuação da onda e a parcela imaginária, e − j β (ω) , pelo defasamento da mesma. O efeito de propagação é de fundamental importância no caso de solicitações com amplo espectro de freqüência, como é o caso de descargas atmosféricas. Considera-se tanto a propagação da onda eletromagnética que propaga no meio quanto aquela que é guiada pelos eletrodos de aterramento [VISACRO.1992a]. A aplicação das equações (6.3) e (6.6) a cada par de troços condutores que compõem o sistema a ser estudado permite a construção das matrizes que traduzem os acoplamentos, próprios e mútuos, transversal e longitudinal, Z T e Z L , respectivamente. Com relação aos acoplamentos próprios (i = j) transversal e longitudinal alguns rápidos comentários são necessários: • Acoplamento transversal próprio – faz-se i = j (ZTjj, na diagonal principal da matriz de impedância transversal) na equação (6.3), onde j corresponde ao troço condutor Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 119 Descargas Atmosféricas filamentar situado no eixo do cilindro condutor relativo a este troço e i ao troço receptor situado a uma distância do troço emissor igual ao raio do cilindro em questão [VISACRO.1992a, 1992b]. • Acoplamento longitudinal mútuo – faz-se i = j (ZLjj, na diagonal principal da matriz de impedância longitudinal) na equação (6.6), onde j corresponde ao troço condutor filamentar situado no eixo do cilindro condutor relativo a este troço e i ao troço receptor situado a uma distância do troço emissor igual ao raio do cilindro em questão. Adicionalmente, soma-se a esta parcela a impedância interna (Zint) associado ao fluxo magnético interno ao condutor cilíndrico, com a consideração do efeito pelicular (variação na distribuição da densidade de corrente na seção transversal de um condutor em função da freqüência do sinal de corrente aplicado) [VISACRO.1992a, 1992b]. Com a construção das matrizes Z T e Z L dois sistemas matriciais de equações independentes podem ser montados: um relaciona a elevação de potencial médio em relação ao infinito em cada troço condutor com as respectivas corrente transversais, através da matriz Z T , e o outro relaciona a queda de tensão em cada troço com as correntes longitudinais médias correspondentes, através da matriz Z L . As equações (6.7) e (6.8) ilustram estes dois sistemas: V = ZT IT (6.7) ∆V = Z L I L (6.8) Nas duas equações acima, V corresponde ao vetor elevação de potencial médio em relação ao infinito em cada troço condutor do sistema em questão, ∆V à queda de tensão em cada um, I T ao vetor de corrente transversal de cada troço e I L ao vetor de corrente longitudinal; as matrizes Z T e Z L foram definidas acima. A dimensão dos vetores V , ∆V , I T e I L é 1 X N e das matrizes Z T e Z L é N X N, onde N é o número total de troços condutores. Como afirmado acima os dois sistemas matriciais são expressos pelas equações (6.7) e (6.8) independentes. Contudo, o sistema físico a ser estudado é único e, portanto, não é independente. Logo, tais equações têm que ser acopladas para que possam Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 120 Descargas Atmosféricas expressar relações dependentes e, assim, representar de forma consistente a resposta do sistema a solicitações diversas. O acoplamento entre os dois sistemas matriciais é realizado por meio de alguns passos, que são descritos a seguir. O primeiro passo corresponde à inversão das matrizes Z T e Z L e, assim, as −1 −1 e YL = Z L equações (6.7) e (6.8) assumem as seguintes formas, onde YT = Z T correspondem às matrizes de admitâncias transversal e longitudinal, respectivamente: I T = YT V (6.9) I L = YL ∆V (6.10) O segundo passo corresponde a dois tipos de relacionamentos: i) O primeiro corresponde à relação entre o potencial médio de cada troço condutor (em relação ao infinito), dado pelos elementos do vetor V (Vm), e os potenciais dos dois nós extremos do troço correspondente (VK e Vl). Esta relação impõe que o potencial médio é a média aritmética dos potenciais dos nós [VISACRO.1992a]: Vm = ii) Vk + Vl . 2 O segundo corresponde à relação entre a queda de tensão em cada troço condutor, dada pelos elementos do vetor ∆V (∆V), e os potenciais dos respectivos nós (VK e Vl). Esta relação impõe que a queda de tensão é expressa pela diferença entre os potenciais dos nós extremos de cada troço [VISACRO.1992a]: ∆V = Vk − Vl . A Figura 6.2 ilustra estas duas relações. Vm Vk Vl ∆V = Vk - Vl Vk Vl Vm = (Vk + Vl) / 2 Figura 6.2 – Relações entre queda de tensão (∆V) e elevação de potencial médio (Vm) em cada troço condutor com os potenciais dos nós extremos do troço em questão (Vk e Vl). Com a aplicação das duas relações descritas acima para cada troço condutor, as equações (6.9) e (6.10) são transformadas para as seguintes equações: Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 121 Descargas Atmosféricas I T = YTM VN (6.11) I L = YLM VN (6.12) Nas duas equações acima VN corresponde ao vetor de tensões nodais, ou seja, cada elemento do mesmo expressa a tensão em cada nó de conexão entre dois ou mais troços condutores. Este vetor tem dimensão 1 X p, onde p corresponde ao número total de nós. Observa-se que com a transformação das equações (6.9) e (6.10) para as equações (6.11) e (6.12), respectivamente, as matrizes YT e YL foram substituídas pelas matrizes YTM e YLM (denominadas matrizes de admitâncias transversal e longitudinal transformadas, respectivamente), ambas de dimensão N X p. A substituição em causa é fruto da transformação dos vetores V e ∆V num único vetor de tensões nodais, VN [VISACRO.1992a e 1992b]. O terceiro e último passo corresponde a construções de relações entre as correntes transversal e longitudinal, através da aplicação da Lei de Kirchoff de correntes, que estabelece que o somatório das correntes que deixam (ou que entram) em um determinado nó é nulo. Assim, para cada nó são estabelecidas relações entre ΙT e ΙL ligadas ao nó em questão. Com a aplicação de tais relações às equações (6.11) e (6.12) estabelece-se um sistema matricial do tipo A x = b , onde o vetor x corresponde ao vetor de tensões nodais VN [VISACRO.1992a, 1992b]. Vale frisar que a corrente transversal de cada troço condutor é dividida igualmente entre os nós extremos do troço em questão. Quando pretende-se analisar a resposta de um determinado sistema frente a um surto qualquer (evidentemente, a principal aplicação de interesse corresponde a um surto característico de uma onda de corrente de descarga atmosférica) faz-se a injeção da onda de corrente representativa num determinado nó do sistema em causa (é também possível a injeção em diversos nós). O vetor b traduz justamente esta questão, onde apenas o nó (ou os nós) que receber (em) injeção de corrente externa terão a corrente diferente de zero [VISACRO.1992a, 1992b]. Como o modelo é no domínio da freqüência, este vetor terá o número 1 na linha correspondente ao nó que receber a corrente de injeção externa [VISACRO.1992a, 1992b]. Como pode ser verificado o sistema matricial A x = b permite a determinação Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 122 Descargas Atmosféricas das tensões em cada nó extremo de cada troço condutor do sistema físico que se pretende analisar. Este sistema assume a forma final expressa na equação (6.13): A x = b∴ a 11 a 12 a 21 a 22 . . . . . . a p1 a p 2 a 13 a 23 . a 14 a 24 . . . . . a p3 a p4 ... a 1p VN1 1 ... a 2p VN 2 0 . . . . = . . . . . . . . ... a pp VNp 0 (6.13) No sistema acima, tem-se as seguintes grandezas: • A é a matriz resultante do relacionamento das correntes transversal e longitudinal para cada nó de conexão entre dois ou mais troços condutores, de dimensão p X p. • x é o vetor de tensões nodais, VN , de dimensão p X 1. • b é o vetor correspondente à injeção de correntes externas em apenas 1 nó (o primeiro), de dimensão p X 1. • p corresponde ao número total de nós Com a determinação do vetor VN é possível computar as correntes transversal e longitudinal (vetores I T e I L , respectivamente), a elevação de potencial médio em relação ao infinito e a queda de tensão em cada troço condutor (vetores V e ∆V , respectivamente), com a utilização das equações (6.11), (6.12), (6.7) e (6.8), respectivamente. Desta maneira o comportamento eletromagnético do sistema frente à solicitação em questão é devidamente computado. Conforme já enfatizado, o modelo em causa é realizado no domínio da freqüência. Assim, uma vez que for definido o sinal de corrente, a ser injetado em algum nó do sistema e que representará a solicitação que submeterá o sistema físico a ser estudado, traduzido fisicamente no domínio do tempo, é necessário aplicar a Transformada de Fourier para o levantamento do espectro de freqüência do sinal em questão. Computa-se, então, a resposta do sistema para cada freqüência deste espectro (que corresponde o conjunto de freqüências de interesse), obtendo desta forma a resposta na freqüência (função de transferência) do mesmo. Em seguida multiplica-se, no domínio da freqüência, a onda Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 123 Descargas Atmosféricas injetada por esta resposta, obtendo-se desta forma a resposta do sistema à onda de corrente injetada no domínio da freqüência. Finalmente, utilizando-se da Transformada Inversa de Fourier é possível determinar a resposta do sistema frente à onda de corrente injetada no domínio do tempo. O principal critério de escolha para o desenvolvimento do modelo no domínio da freqüência corresponde à significativa variação das características eletromagnéticas do solo, nomeadamente a condutividade (ou a resistividade) e a permissividade relativa (ou constante dielétrica), com a freqüência, oriunda dos processos de condução e polarização do solo. No modelo, é possível contemplar variações na freqüência dos parâmetros do solo. Em 1987 S. Visacro e C.M. Portela apresentaram um trabalho decorrente de uma série de resultados experimentais que possibilitaram o levantamento de relações matemáticas empíricas, aproximadas, que traduzem a variação da resistividade (ρ = 1 / σ) e da permissividade relativa (εr) de determinadas categorias do solo com a freqüência [VISACRO.1987], ilustradas na Figura 6.3. Figura 6.3 - Dependência dos parâmetros do solo com a freqüência – extraído de [VISACRO.1987]. Como decorrência imediata da variação citada acima, o modelo contempla também a composição de corrente no solo, constituída pelas duas parcelas de corrente existentes: a corrente de condução e a de deslocamento. A consideração de ambas é de fundamental importância, uma vez que dependendo da faixa de freqüência considerada e da resistividade do solo a relação entre tais correntes pode alcançar o valor unitário [VISACRO.1992a, 1992b, 1993, 1998a]. Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 124 Descargas Atmosféricas O modelo pode, ainda, ser utilizado para cômputo de efeitos não lineares no solo (ionização do meio associada a campos elétricos intensos) dentro de certa ordem de aproximação. Este tipo de aplicação é descrito numa publicação específica, onde se traduz a redução da impedância de aterramento através de um aumento equivalente no raio do eletrodo de aterramento [VISACRO.1994, VISACRO.1995, CIGRÉ.2000]. O efeito de ionização é mais pronunciado para aterramentos concentrados e em solos de baixa condutividade [VISACRO.1992a]. Diversos são os resultados que podem ser obtidos com a aplicação deste modelo, tendo em vista os problemas práticos a serem resolvidos. Inúmeros trabalhos foram publicados, nacionalmente e internacionalmente, de cunhos científicos e/ou aplicados, para as mais diversas situações práticas: [VISACRO.1990, 1992a, 1992b, 1993, 1996, 1997a, 1997b, 1998a, 1998b, SOARES.1996, 1997, 1998]. Como já mencionado, o modelo em questão foi desenvolvido para o cômputo do comportamento eletromagnético de aterramento (de configurações genéricas em três dimensões) quando submetido a solicitações com os mais diversos espectros de freqüência, como por exemplo as solicitações oriundas de descargas atmosféricas. Devido a consistência física deste modelo, em função de ser baseado nas equações de campo eletromagnético, torna-se atraente e tentador estendê-lo para a consideração da presença de elementos de corrente em outros meios, como por exemplo o ar, cujo interesse é bastante diversificado, uma vez que possibilita o estudo de edificações, linhas de distribuição e de transmissão, etc. quando submetidas a solicitações oriundas, por exemplo, de descargas atmosféricas. Esta tarefa é reservada para a próxima seção. 6.3 ACOPLAMENTO ELETROMAGNÉTICO CONSIDERANDO ELEMENTOS CONDUTORES AÉREOS E ENTERRADOS 6.3.1 – INTRODUÇÃO Conforme comentado na parte introdutória deste capítulo, o cerne do mesmo é apresentar o modelo inicialmente desenvolvido para cômputo do acoplamento Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 125 Descargas Atmosféricas eletromagnético entre elementos condutores imersos no mesmo meio. Para as aplicações de interesse, os meios em questão são dois: o ar e o solo. Adicionalmente, o objetivo primordial de aplicação é na descontaminação do sinal de corrente em estações de medição providas de “torres instrumentadas”. Portanto, os elementos condutores referem-se ao canal de descarga atmosférica, torre e aterramento. Contudo, como será visto ao longo deste capítulo (e, principalmente, no Capítulo 7) o modelo em causa é bastante completo e geral, permitindo aplicações das mais diversificadas. Portanto, apresenta-se a formulação que permite quantificar a interação eletromagnética (acoplamentos transversal e longitudinal) entre elementos condutores que representam o canal de descarga atmosférica e a torre, com a consideração da presença do solo, uma vez que o meio em questão (ar) não é infinito, mas semi infinito. Concomitantemente, apresenta-se a forma pela qual tal interação se processa para elementos condutores representativos dos eletrodos de aterramento, com a consideração da presença física do meio ar logo acima. Para se ter em conta a presença do segundo meio será utilizado o tradicional método de imagens [STRATON.1941, PLONSEY.1961, HARRINGTON.1961, DEMAREST.1998]. Por ora, o acoplamento eletromagnético entre elementos condutores situados em meios diferentes (um no ar e outro no solo) é desprezado. Esta laboriosa tarefa é postergada para o Capítulo 7, onde apresenta-se um modelo completo para o cômputo do acoplamento em questão para elementos de corrente situados no mesmo meio e em meios diferentes (meios genéricos de características eletromagnéticas representadas pela permeabilidade magnética, permissividade e condutividade elétricas). 6.3.2 – FONTE DE CORRENTE NO AR Esta subseção apresenta o acoplamento eletromagnético (transversal e longitudinal) entre elementos condutores imersos no ar, com a consideração de que o solo situado abaixo é perfeitamente condutor (σ → ∞; ρ → 0). Assim, a componente do campo elétrico tangencial à interface de separação entre os meios ar e solo deve ser nula. Como afirmado acima a presença do solo será levada em consideração com o auxílio do método de imagens. Portanto, para os dois tipos de acoplamento, as imagens em questão serão posicionadas de forma a satisfazer a condição de campo elétrico tangencial nulo na Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 126 Descargas Atmosféricas interface de separação. A Figura 6.4 ilustra a configuração geométrica de dois troços condutores imersos no ar, onde o troço condutor j corresponde ao emissor e o troço i ao receptor (de comprimento Li), acima de um solo perfeitamente condutor. O troço emissor, de comprimento Lj, equivale a uma fonte de campo eletromagnético com dois tipos de corrente: uma transversal (ΙTj) e uma longitudinal (ΙLj). A configuração geométrica destes troços condutores é genérica (em três dimensões) e a distância entre os mesmos é r. O ar pode ser adequadamente representado pelas seguintes características eletromagnéticas: permeabilidade magnética (µ = 1 x µ0 = 4π x 10-7 H/m), permissividade elétrica (ε = 1,0006 x ε0 = 8,85531 x 10-12 F/m) e condutividade elétrica (σ = 0, resistividade ρ → ∞). Assim, a constante de propagação no ar é expressa por: K = j ω µ 0 ε 0 . A interface de separação entre o meio ar e o meio solo corresponde ao plano xy. z S eg m en to em isso r d e co rrente ( j ) de co m p rim ento L j – co rrente to tal d e caráter d ivergente I T j (d istrib uição d e co rrente linear I T j / L j) e co rrente lo ngitud inal m éd ia I L j ILj IT j / L j S eg m en to recep to r d e co rrente ( i ) – co m p rim e nto Li r A r (µ 0 , ε0 , σ = 0) y S o lo (µ , ε , σ → ∞ ) x Figura 6.4 – Troços emissor e receptor imersos no ar. Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 127 Descargas Atmosféricas 6.3.2.1 - ACOPLAMENTO TRANSVERSAL A Figura 6.5 ilustra a configuração equivalente, com a imagem de corrente transversal, para o cômputo da impedância transversal entre os troços condutores emissor (j) e receptor (i) imersos no ar. Evidentemente, nesta configuração apenas o ar está presente, uma vez que a fonte imagem de corrente transversal representa a presença do solo e, assim, os troços condutores envolvidos estão imersos no meio ar infinito em todas as direções. Portanto, a interface de separação (plano xy) é fictícia na configuração equivalente. A fonte imagem é representada por um troço condutor semelhante ao troço emissor (que corresponde à fonte real) e localizado simetricamente em relação a este último, tendo como plano de simetria a interface fictícia. Na figura em causa representa-se as coordenadas do ponto médio (F) do troço emissor e do ponto médio do troço imagem (F’). A intensidade de densidade linear de corrente transversal da fonte imagem é a mesma da fonte real, contudo, de sinal contrário. Isto garante a condição a ser satisfeita para o campo elétrico tangencial à interface de separação. z T ro ço em isso r (j) IT j / L j F = ( xf , yf , zf ) r T ro ço recep to r (i) r’ A r (µ 0 , ε0 , σ = 0) A r (µ 0 , ε0 , σ = 0) y x T ro ço im agem (j’) F’ = ( xf , yf , - zf ) - IT j / L j Figura 6.5 – Configuração equivalente para cômputo da impedância transversal. De acordo com o sistema equivalente representado na Figura 6.5 pode-se determinar a impedância transversal entre os troços i e j, levando-se em conta a presença do solo perfeitamente condutor: Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 128 Descargas Atmosféricas 1 e− K r e − K r' Z Tij = dlj dl i − ∫ ∫ dl' j dl i ∫ ∫ 4 π [ jω ε0 ] L j Li r r' Li L' j Li Lj (6.14) Na equação acima Lj, Li e L’j, correspondem aos comprimentos dos troços emissor (j), receptor(i) e imagem (j’), respectivamente e dlj dli e dl’j aos elementos diferenciais de comprimento dos mesmos, respectivamente. Evidentemente, tem-se que L’j = Lj. 6.3.2.2 - ACOPLAMENTO LONGITUDINAL A Figura 6.6 ilustra a configuração equivalente, com a imagem de corrente longitudinal, para o cômputo da impedância longitudinal entre os troços condutores emissor (j) e receptor (i) imersos no ar. Novamente, apenas o ar está presente, pois a fonte imagem de corrente longitudinal representa a presença do solo (meio ar infinito em todas as direções). Logo, a interface de separação (plano xy) é mais uma vez fictícia. A fonte imagem é representada pelo mesmo troço condutor no caso do acoplamento transversal (pontos médios F e F’ dos troços emissor e imagem). A intensidade de corrente longitudinal da fonte imagem é a mesma da fonte real. Contudo, o sentido e direção da corrente da fonte imagem deve ser aquela representado na Figura 6.6, para garantir a condição de campo elétrico tangencial nulo na interface de separação. z T ro ç o e m is so r (j) IL F = ( xf , yf , zf ) j r T ro ç o re c e p to r (i) r’ x A r (µ 0 , ε0 , σ = 0) A r (µ 0 , ε0 , σ = 0) T ro ç o im a g e m (j’) IL j F ’ = ( xf , yf , - zf ) Figura 6.6 – Configuração equivalente para cômputo da impedância longitudinal. y Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 129 Descargas Atmosféricas Consequentemente, de acordo com o sistema equivalente representado na Figura 6.6 a impedância longitudinal entre os troços i e j, levando-se em conta a presença do solo perfeitamente condutor, é a seguinte: r r ω µ0 e− K r r e − K r' r Z Lij = − j d l j • d li + ∫ ∫ d l ' j • d li 4π ∫ ∫ r r' Li L' j Li Lj (6.15) r Na equação (6.15) L' j e d l ' j correspondem ao comprimento e ao elemento r diferencial de comprimento do troço imagem (j’), respectivamente; L j e d l j ao comprimento r e ao elemento diferencial de comprimento do troço emissor (j), respectivamente, e L i e d li ao comprimento e ao elemento diferencial de comprimento do troço receptor (i), r r respectivamente. Evidentemente, tem-se que L’j = Lj, mas d l ' j ≠ d l j . 6.3.3 – FONTE DE CORRENTE NO SOLO Descreve-se nesta subseção o acoplamento eletromagnético (transversal e longitudinal) entre elementos condutores imersos no solo. Considera-se que o solo possui uma condutividade muito maior que a do ar situado acima, que constitui-se em uma consideração fisicamente razoável, uma vez que o ar apresenta condutividade nula (σ → 0; ρ → ∞). Portanto, a componente do campo elétrico normal à interface de separação entre os meios ar e solo deve ser nula. A presença do ar será levada em consideração com o auxílio do método de imagens, conforme já destacado anteriormente. Logo, para os dois tipos de acoplamento, as imagens em questão serão posicionadas de forma a satisfazer a condição de campo elétrico normal nulo na interface de separação. Verifica-se que neste caso o solo não é mais considerado como perfeitamente condutor. A Figura 6.7 exibe a configuração geométrica de dois troços condutores imersos no solo, situados abaixo do ar. As nomenclaturas utilizadas para classificar os troços emissor e receptor são mantidas. Da mesma forma, o troço emissor, de comprimento Lj, equivale a uma fonte de campo eletromagnético com dois tipos de corrente: uma transversal (ΙTj) e uma longitudinal (ΙLj). Mais uma vez, a configuração geométrica destes troços é genérica (em três Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 130 Descargas Atmosféricas dimensões) e a distância entre os mesmos é r. O solo pode ser adequadamente representado pelas seguintes características eletromagnéticas: permeabilidade magnética (µ = 1 x µ0 = 4π x 10-7 H/m), permissividade elétrica (ε) e condutividade elétrica (σ, resistividade ρ = 1 / σ), sendo as duas últimas variáveis com a freqüência. Portanto, a constante de propagação no solo é expressa por: K = j ω µ [ σ (ω) + j ω ε (ω) ] . A interface de separação entre o meio ar e o meio solo continua correspondendo ao plano xy. z Ar (µ 0 , ε0 , σ = 0) y Solo (µ , ε , σ) Troço emissor (j) ILj x ITj / Lj r Troço receptor (i) Figura 6.7 – Troços emissor e receptor imersos no solo. 6.3.3.1 - ACOPLAMENTO TRANSVERSAL A Figura 6.8 ilustra a configuração equivalente, com a imagem de corrente transversal, para o cômputo da impedância transversal entre os troços condutores emissor (j) e receptor (i) imersos no solo. Nesta configuração apenas o solo está presente, pois a fonte imagem de corrente transversal representa a presença do ar. Assim, os troços estão imersos num meio solo de dimensões infinitas em todas as direções. Portanto, a interface de separação (plano xy) é fictícia nesta configuração equivalente. A fonte imagem é representada por um troço condutor semelhante ao troço emissor (que corresponde à fonte real) e localizado simetricamente em relação a este último, tendo como plano de simetria a interface fictícia. Nesta figura representa-se as coordenadas do ponto médio (F) do troço emissor e do ponto médio do troço imagem (F’). A intensidade de densidade linear de corrente transversal da fonte imagem é a mesma da fonte real, inclusive com relação ao sinal. Isto garante a condição a ser satisfeita para o campo elétrico normal à interface de Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 131 Descargas Atmosféricas separação. z Troço imagem (j’) ITj / Lj F ’ (xf , yf , zf) Solo (µ , ε , σ) y r’ Solo (µ , ε , σ) F (xf , yf , - zf) ITj / Lj x r Troço emissor (j) Troço receptor (i) Figura 6.8 – Configuração equivalente para cômputo da impedância transversal. Portanto, a impedância transversal entre os troços i e j, levando-se em conta a presença do ar, será expressa pela seguinte expressão (vide configuração equivalente na Figura 6.8): Z Tij = 1 e− K r e − K r' dlj dl dl ' dl + ∫ ∫ i j i ∫ ∫ 4 π [ σ (ω) + j ω ε (ω) ] L j L i r r' Li L' j Li Lj (6.16) Na equação acima Lj, Li e L’j, correspondem aos comprimentos dos troços emissor (j), receptor(i) e imagem (j’), respectivamente e dlj dli e dl’j aos elementos diferenciais de comprimento dos mesmos, respectivamente; L’j = Lj. 6.3.3.2 - ACOPLAMENTO LONGITUDINAL Na Figura 6.9 representa-se a configuração equivalente, com a imagem de corrente longitudinal, para o cômputo da impedância longitudinal entre os troços condutores emissor (j) e receptor (i) imersos no solo. Como a fonte imagem de corrente longitudinal representa a presença do ar, apenas o solo está presente (meio infinito em todas as direções). A interface de separação (plano xy) é mais uma vez fictícia. A fonte imagem é representada pelo mesmo troço condutor no caso do acoplamento transversal (pontos médios F e F’ dos troços Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 132 Descargas Atmosféricas emissor e imagem). A intensidade de corrente longitudinal da fonte imagem é a mesma da fonte real. Contudo, o sentido e direção da corrente da fonte imagem deve ser aquela representado na Figura 6.9, para garantir a condição de campo elétrico normal nulo na interface de separação. z Troço imagem (j’) F ’ (xf , yf , zf) ILj Solo (µ , ε , σ) y r’ Solo (µ , ε , σ) ILj F (xf , yf , - zf) x r Troço receptor (i) Troço emissor (j) Figura 6.9 – Configuração equivalente para cômputo da impedância longitudinal. De acordo com o sistema equivalente representado na Figura 6.9 a impedância longitudinal entre os troços i e j, levando-se em conta a presença do ar, é a seguinte: r r ωµ e− K r r e − K r' r Z Lij = − j d l j • d li + ∫ ∫ d l ' j • d li 4π ∫ ∫ r r' Li L' j Li Lj r r (6.17) r Na equação (6.17) L' j e d l ' j , L j e d l j e L i e d li correspondem ao comprimento e ao vetor diferencial de comprimento dos troços imagem (j’), emissor (j), e receptor (i), r r respectivamente (L’j = Lj e d l ' j ≠ d l j ). 6.3.4 – ESQUEMA DE SOLUÇÃO FINAL Ao aplicar as equações (6.14) e (6.15), no caso dos troços condutores emissor e receptor imersos no ar, ou (6.16) e (6.17), para os troços imersos no solo, para cada par de troços j e i as matrizes que computam os acoplamentos transversal e longitudinal, próprios e Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 133 Descargas Atmosféricas mútuos, são devidamente construídas para o sistema de troços condutores em questão. A partir deste ponto o esquema de solução é aquele descrito na seção 6.2, onde é possível determinar, após a especificação do sinal solicitante, a resposta desejada do sistema no domínio da freqüência ou do tempo. 6.3.5 – ASPECTOS COMPUTACIONAIS Logicamente, foi necessário a implementação de um código computacional para que os diversos cálculos e análises pudessem ser realizados adequadamente. A versão computacional original foi traduzida para a linguagem Visual Basic. Dentre as principais motivações para a escolha de tal linguagem estão a facilidade da entrada e saída de dados (o que permite uma interação bastante agradável com o usuário), a fácil implementação proporcionada pela mesma e o fato da linguagem ser compilada, o que diminui consideravelmente o tempo de processamento do programa [SOARES.2001a]. Alguns importantes aspectos do programa merecem ser destacados: • A segmentação dos condutores, que compõem o sistema a ser estudado, em troços condutores, e a respectiva numeração dos nós extremos de cada troço, é realizado de forma automatizada. É necessário na entrada de dados somente o número total de troços condutores, as coordenadas (x , y, z) do ponto inicial de cada um, seus comprimentos nos eixos x, y e z, o número de divisões e o raio de cada troço. Vale salientar que o programa aceita a entrada de configurações genéricas em três dimensões, independentemente das complexidades eventualmente existentes: torres de linhas de transmissão e de telecomunicação, condutores de proteção (hastes e cabos de descida) de edificações, cabos fase, pára-raios, etc. • Pode ser considerado a variação dos parâmetros σ e ε do solo com a freqüência, através de equações providas ao programa. • As integrais duplas que aparecem nas equações (6.14), (6.15), (6.16) e (6.17) são solucionadas de forma numérica. Um estudo bastante extenso foi realizado para otimização na determinação do passo de integração adequado, com o objetivo de ganhar tempo de simulação. Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 134 Descargas Atmosféricas • A determinação do comprimento ótimo dos troços condutores no ar e no solo corresponde a um fator de extrema importância na execução do programa. Esta tarefa foi processada de forma bastante criteriosa. Para a faixa de freqüência de interesse (aquela representativa de descargas atmosféricas) e para sistemas de extensão não muito grande, como no caso de análise de descontaminação de sinais de corrente medidos em estações com “torres instrumentadas ou cálculos de sobretensões, oriundas de descargas, em pequenos trechos de linhas de transmissão ou distribuição, um comprimento de troços condutores imersos no ar de 5 m é suficiente, enquanto para aqueles imersos no solo o valor de 1 m é satisfatório. No entanto, para sistemas maiores, como o caso de representação de três ou mais vãos de linhas de transmissão (com os cabos pára-raios e fase, torres e aterramento) um valor menor que 5 m torna-se necessário para os troços condutores no ar, como por exemplo, 2 a 3 m (no solo o valor de 1 m continua sendo satisfatório). • Adota-se no programa a série de Fourier para a transformação dos domínios do tempo para o da freqüência [SOARES.2001a]. • No programa, é possível promover o casamento de impedâncias entre condutores, que pode ser importante, por exemplo, no caso de simulação de linhas de comprimento muito grande, onde os efeitos de reflexões são indesejados [SOARES.2001a]. 6.3.6 – APLICAÇÕES DO MODELO Devido à generalidade e consistência física do modelo que acaba de ser descrito, uma vez que o mesmo foi desenvolvido com base nas Equações de Maxwell e norteado por verificações práticas de comportamento de solos típicos, a gama de aplicações do mesmo é bastante diversificada. Dentre elas, algumas são destacadas em função do envolvimento com os nocivos efeitos de descargas atmosféricas: • Cálculo de sobretensões em diversos pontos de linhas de transmissão e de distribuição, atingidas de forma direta (incidência direta) ou indireta (incidência indireta), o que possibilita avaliar o desempenho de tais linhas frente às descargas atmosféricas. Este último tipo de incidência corresponde ao cálculo de tensões induzidas nas respectivas Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 135 Descargas Atmosféricas linhas. • Avaliação do comportamento de condutores de edificações, torres de telecomunicação, etc., através do cálculo da distribuição de correntes pelos condutores de descida, do perfil de potencial ao longo dos eletrodos de aterramento e no solo circunvizinho. • Análise da influência de estruturas aterradas (como por exemplo “torres instrumentadas” em estações de medição de ondas de corrente de descargas atmosféricas) no campo eletromagnético, associado às ondas de corrente que percorrem as mesmas, medidos em pontos distantes de tais estruturas. Neste caso trata-se de medições indiretas (estimativas indiretas) das ondas de corrente, uma vez que as mesmas são estimadas a partir das medições de campo, assumindo relações teóricas ou empíricas entre corrente e campo. Assim, com a aplicação deste modelo, em 2000 A. Soares Jr. e outros apresentaram um trabalho em que procedem a avaliações prospectivas acerca da interação eletromagnética entre torres e cabos (fase e pára-raios) de linhas de transmissão e entre eletrodos de aterramento para estudos de desempenho frente a descargas atmosféricas. Tais avaliações consistiram no cálculo de sobretensões em diversos pontos da linha de transmissão em causa e sua sensibilidade com relação ao ponto de incidência da descarga, a configuração do aterramento e com a forma de onda da corrente, com a variação do tempo de frente, utilizada para a representação da descarga em questão [SOARES.2000]. No mesmo ano, Visacro e outros aplicaram o modelo para o cálculo da distribuição de corrente em condutores de descida de diversas configurações de sistemas de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) de edifícios, com diferentes configurações de aterramento. Concomitantemente, a elevação de potencial nos pontos do aterramento que correspondem às injeções de corrente da descarga atmosférica foi quantificada [VISACRO.2000]. Em sua tese de doutorado A. Soares Jr. aplica este modelo para cálculo de sobretensões, oriundas de incidência direta de descargas atmosféricas, em diversos pontos de linhas de transmissão, considerando diferentes configurações de torres e aterramento, com a presença dos cabos fase e pára-raios. Adicionalmente, procede-se a uma análise de sensibilidade nos valores de sobretensões em relação aos pontos de incidência de descarga (no topo da torre e no vão da linha de transmissão) e à função matemática utilizada para Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 136 Descargas Atmosféricas representar a onda de corrente da descarga atmosférica [SOARES.2001a]. Os primeiros resultados da aplicação do modelo no cálculo de tensões induzidas por descargas atmosféricas em linhas de distribuição e de transmissão estão começando a ser publicados [SILVEIRA.2001, VISACRO.2001a]. No entanto, a principal aplicação do modelo que se pretende discutir neste trabalho refere-se aos efeitos de “contaminação” dos sinais de corrente registrados em estações de medição de ondas de corrente de descargas atmosféricas através de torres devidamente instrumentadas, com ênfase na Estação do Morro do Cachimbo, com posterior desenvolvimento de práticas adequadas para a “descontaminação” destes sinais. A próxima seção trata exclusivamente deste tipo de aplicação. 6.4 – APLICAÇÃO DO MODELO NA CONTAMINAÇÃO DAS CORRENTES MEDIDAS NA ESTAÇÃO DO MORRO DO CACHIMBO Conforme comentado no final da seção anterior, esta seção discute a aplicação do modelo na análise dos efeitos de contaminação nos sinais de corrente medidos na Estação do Morro do Cachimbo. A contaminação em causa é oriunda, como anteriormente afirmado, das diferenças intrínsecas dos três elementos envolvidos no percurso da onda de corrente: canal de descarga atmosférica, torre e aterramento. No Capítulo 5 foram apresentados os principais trabalhos existentes de modelagem destes três elementos para a tarefa de avaliação do efeito de contaminação em causa, com posterior descrição de possíveis métodos para a tarefa de descontaminação do sinal de corrente [BEIERL.1992, MONTANDON.1994, GUERRIERI.1994, JANISCHEWSKYJ.1996, FUCHS.1998b, GUERRIERI.1998, SCHROEDER.1999a, SCHROEDER.1999c, SCHROEDER.1999d, VISACRO.1999, RAKOV.2000a, SHOSTAK.2000]. No final da seção 5.2, no Capítulo 5, foram enumeradas críticas consistentes acerca de tais trabalhos. Como pode ser facilmente observado ao longo da apresentação do modelo desenvolvido neste trabalho, seção 6.3, o acoplamento eletromagnético entre troços condutores imersos em meios diferentes (um no ar e outro no solo) é desprezado. Neste Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 137 Descargas Atmosféricas caso, ZTij = ZLij = 0. A despeito de tal simplificação, o modelo em questão é fisicamente mais elaborado que os demais modelos existentes na literatura (citados no parágrafo acima), principalmente para a representação do campo eletromagnético associado às correntes na torre e no aterramento. Neste caso o modo de propagação do campo eletromagnético não é o modo TEM (como é considerado em outros trabalhos, onde a torre é representada por uma impedância característica, ou de surto - vide seção 5.2, Capítulo 5). Consequentemente, o comportamento eletromagnético da torre e dos eletrodos de aterramento é devidamente computado, com a consideração da variação de σ e ε do solo com a freqüência, a composição de corrente no mesmo, a interação eletromagnética entre os troços condutores (acoplamentos transversal e longitudinal), os efeitos de propagação do campo associado, etc. Com relação à representação do canal de descarga atmosférica, o trabalho desenvolvido por V. Shostak e outros é bastante interessante, uma vez que apresenta aspectos inovadores, como a presença do canal de conexão ascendente, os dois pulsos de corrente oriundos da conexão entre este e o canal descendente e a reflexão no interior do próprio canal [SHOSTAK.2000]. No entanto, as representações utilizadas para a torre e o aterramento não são adequadas. Adicionalmente, não é computado a interação eletromagnética entre o canal e a torre. No modelo desenvolvido no trabalho aqui apresentado é possível computar o acoplamento eletromagnético entre o canal de descarga atmosférica e a torre (pois ambos, evidentemente, situam-se no mesmo meio), à medida que o canal seja representado por troços condutores. Esta questão será posteriormente discutida com mais detalhes. Conclui-se, portanto, que o modelo proposto neste trabalho, descrito na seção 6.3, apresenta características inovadoras e originais, suprindo desta maneira parte da carência existente na literatura. Em 2000 M. A. O. Schroeder e outros apresentaram os primeiros resultados relativos à aplicação do modelo para avaliar os efeitos de contaminação nas ondas de corrente de descargas atmosféricas medidas na Estação do Morro do Cachimbo [SCHROEDER.2000]. Contudo, tais resultados e suas respectivas análises não serão apresentados neste capítulo. Tal atividade é adiada para o Capítulo 8 (“Resultados e Análises”). Neste capítulo, além dos resultados em questão, serão apresentados também Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 138 Descargas Atmosféricas resultados decorrentes da aplicação do modelo completo (a ser apresentado no Capítulo 7), possibilitando dessa forma comparações e análise de sensibilidade da utilização dos dois modelos na análise dos efeitos de contaminação e nas práticas para a tarefa de descontaminação. No entanto, um breve resumo do que foi realizado em [SCHROEDER.2000] é apresentado a seguir: • Discussão de uma questão fundamental com relação à contaminação de ondas de corrente medidas: “Qual deveria ser considerada a onda de corrente original (ou seja, não contaminada pelos efeitos de reflexão) ?”. No Capítulo 8 esta questão é retomada. • Avaliações preliminares acerca dos efeitos de contaminação, utilizando o EMTP para a simulação do comportamento do canal, torre e aterramento. Foi considerado o modo de propagação TEM para o campo eletromagnético. Concomitantemente, as diferenças entre os efeitos de contaminação em torres altas e baixas foram avaliadas, ilustrando o fato, exaustivamente discutido no Capítulo 5, de que a influência das reflexões de corrente, no topo e na base da torre, no sinal de corrente medido são muito mais evidentes para as torres altas. • Discussão da influência do canal de conexão ascendente nos efeitos de contaminação em relação à ausência do mesmo (incidência da descarga no topo da torre). Deve ser citado que a representação deste canal foi processada de forma relativamente simples, consistindo de um cilindro condutor de raio diferente dos cilindros condutores representativos da torre. Verificou-se que o efeito de contaminação é mais acentuado com a presença do canal ascendente do que com sua ausência. • Aplicação do modelo, seção 6.3, na avaliação dos efeitos de contaminação nas ondas de corrente medidas na Estação do Morro do Cachimbo. Novamente, avaliou-se a influência do canal de conexão ascendente, obtendo-se conclusão similar à descrita no item anterior. Concomitantemente, foram obtidos resultados de contaminação oriundos de simulações que consideram o modo de propagação TEM, com a aplicação do EMTP. Estes resultados foram diferentes daqueles gerados pela aplicação do modelo descrito na seção 6.3. Como considera-se que este modelo é fisicamente mais consistente para o estudo em causa, concluiu-se que o modo de propagação TEM não é adequado para Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 139 Descargas Atmosféricas representar a resposta eletromagnética do sistema sob estudo. Vale frisar que quando o modelo é usado, mas os acoplamentos mútuos são desprezados (assim, somente as impedâncias próprias são consideradas) os resultados são similares àqueles decorrentes da aplicação do EMTP. Este fato reforça a conclusão de que a aproximação TEM apresenta limitações para o cômputo do distúrbio nas ondas de corrente devido às diversas reflexões envolvidas no percurso canal, torre e aterramento. 6.5 – CONSIDERAÇÕES QUANTO À DISTRIBUIÇÃO DE POTENCIAIS NA ESTRUTURA Após a descrição das bases do modelo (originalmente desenvolvido para o cômputo do comportamento eletromagnético de sistemas de aterramento, de configuração genérica, frente a solicitações transitórias), sua extensão para a inclusão de condutores aéreos e as diversas aplicações do mesmo, é oportuno explicitar o significado da atribuição de potenciais aos diversos pontos da estrutura aterrada que se pretende estudar. Para tal, considere uma estrutura genérica estilizada (que pode representar uma torre de medição, de telecomunicação, uma edificação, etc.) aterrada, conforme ilustra a Figura 6.10, atingida por uma descarga atmosférica. O fluxo de corrente dos condutores, que compõem o sistema sob consideração, para o solo resulta num campo elétrico de natureza divergente (associado à corrente transversal) e estabelece potenciais, em relação ao infinito, no solo circunvizinho. Como os condutores nas condições transitórias não se constituem em uma eqüipotencial, é identificável um ponto dos eletrodos em contato com o menor potencial existente na vizinhança. Este mesmo potencial é atribuído ao troço do eletrodo em contato com o ponto. Integrando o campo elétrico associado à corrente longitudinal ao longo do eletrodo até qualquer ponto da estrutura (por meio da detecção da queda de tensão causada por esta corrente e todas as demais correntes longitudinais existentes nos outros eletrodos, para se ter em conta o acoplamento mútuo) e somando-se esta queda ao potencial do ponto no início da integração, obtém-se o potencial referido ao infinito para qualquer ponto da estrutura, no solo ou no ar. Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 140 Descargas Atmosféricas i(t) z x Aterramento H L2 Ar y Solo P Aterramento L1 L1 y Figura 6.10 – Estrutura genérica aterrada. 6.6 – CONCLUSÕES Neste capítulo foram apresentadas as características e potencialidades físicas do modelo, desenvolvido com base nas Equações de Maxwell, que permite determinar o acoplamento eletromagnético (transversal e longitudinal), próprio e mútuo, entre elementos condutores situados no mesmo meio. Como afirmado ao longo do capítulo, para as aplicações que interessam dois são os meios: o ar, onde são computados os acoplamentos canal - canal, torre - torre e canal - torre, e o solo, onde os acoplamentos são determinados para os eletrodos de aterramento. Inicialmente, as bases do modelo em questão foram detalhadamente apresentadas na seção 6.2, que correspondem à tese de doutorado apresentado por S. Visacro F. em 1992 [VISACRO.1992a]. Em seguida, na seção 6.3, o modelo mencionado no parágrafo acima foi descrito, com a apresentação da formulação para o cálculo das matrizes de impedâncias transversal e longitudinal, dos diversos aspectos computacionais envolvidos e das diversas situações práticas, que envolvem interação entre sistemas de energia elétrica e descargas atmosféricas, às quais podem ser devidamente elucidadas com a aplicação desta modelagem [VISACRO.2000, SOARES.2000 e SOARES.2001b]. Capítulo 6 - Fundamentos de um Modelo para Cálculo de Tensões e Correntes em Estruturas Atingidas por 141 Descargas Atmosféricas Na seção 6.4 apresentou-se a descrição da primeira aplicação do modelo na avaliação dos efeitos de contaminação das ondas de corrente de descargas atmosféricas medidas na Estação do Morro do Cachimbo [SCHROEDER.2000]. Os resultados de tal estudo e correspondentes análises físicas serão apresentadas no Capítulo 8. Contudo, dois pontos principais podem ser previamente destacados: (a) a despeito do fato de representar o canal de conexão ascendente por um cilindro condutor (que corresponde a uma representação relativamente simples), a inclusão do mesmo realça os efeitos de contaminação nos sinais de corrente medidos, quando comparada com a situação de desconsiderá-lo e (b) a importante conclusão de que aproximação do modo de propagação TEM para representar o campo eletromagnético ao longo da torre e do aterramento é fisicamente inconsistente para o estudo em questão. Portanto, tal aproximação não é mais considerada neste trabalho. Apesar da consistência da modelagem apresentada neste capítulo e sua superioridade em relação a outros modelos existentes (Capítulo 5), a sua aplicação mais apurada requer a inclusão de uma representação elaborada da presença do solo real e conseqüente consideração do acoplamento entre elementos condutores imersos no mesmo meio e em meios diferentes. Este quadro motivou o desenvolvimento de toda uma formulação para cômputo desses efeitos (Capítulo 7), conferindo um caráter de maior generalidade e exatidão ao modelo. CAPÍTULO 7 ACOPLAMENTO ELETROMAGNÉTICO ENTRE ELEMENTOS CONDUTORES IMERSOS NO MESMO MEIO E EM MEIOS DIFERENTES 7.1 – INTRODUÇÃO O objetivo deste capítulo é descrever o modelo completo que possibilita a avaliação do acoplamento eletromagnético total, transversal e longitudinal, próprio e mútuo, entre elementos condutores imersos num mesmo meio ou em meios diferentes. No Capítulo 6 foi apresentada a primeira versão do modelo para o cômputo do acoplamento entre elementos condutores colocados no solo. Foi, também, apresentada a extensão do modelo para elementos colocados no ar. Para os elementos posicionados no solo, o mesmo era considerado um meio semi-infinito. Para os elementos posicionados no ar, o solo era admitido como um condutor perfeito. Posteriormente, numa simplificação, ignorou-se o acoplamento entre elementos posicionados em meios diferentes (solo e ar). A consistência física do modelo motivou um investimento para o desenvolvimento de uma formulação capaz de computar de forma apurada a presença física do solo, compreendendo a interação eletromagnética entre elementos condutores situados no mesmo meio ou em meios diferentes. A formulação considera a presença de dois meios semi-infinitos quaisquer, de características eletromagnéticas (permeabilidade magnética, permissividade elétrica e condutividade ou resistividade elétrica) distintas. A despeito de sua generalidade, interessa Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 143 Diferentes aplicar o modelo especificamente para a consideração de dois meios, o ar e o solo, e para a interação entre canal de descarga atmosférica, torre e eletrodos de aterramento. A base do modelo continua sendo aquela apresentada na seção 6.2 do Capítulo 6. Porém, antes que este modelo seja devidamente apresentado, faz-se, em seguida, uma breve descrição dos trabalhos encontrados na literatura que tratam do assunto sob debate, no todo ou em parte. 7.2 – ESTADO DA ARTE NO TEMA ACOPLAMENTO ELETROMAGNÉTICO ENTRE CONDUTORES COLOCADOS NO AR E SOLO Poucos trabalhos foram encontrados, na literatura pesquisada, que tratam do tema relativo ao cômputo do acoplamento eletromagnético entre elementos condutores imersos em meios de características eletromagnéticas diferentes, numa perspectiva de aplicação objetiva neste trabalho. Procede-se, em seguida, a uma sucinta descrição daqueles considerados de maior destaque. Parece que o primeiro pesquisador a tratar do assunto foi A. Sommerfeld em 1909, ao analisar o efeito de solos de condutividade finita sobre a radiação de um dipolo oscilante. Em seu estudo A. Sommerfeld considerou a existência de um dipolo vertical (eixo z) localizado na superfície de um solo plano (plano xy) e de condutividade finita. A região correspondente aos pontos z < 0 é o solo e aquela correspondente ao pontos z > 0 é o ar. Ao aplicar as Equações de Maxwell e fazer com que o campo eletromagnético satisfaça as condições de interface, A. Sommerfeld determinou equações integrais para a representação dos potenciais vetores de Hertz para os dois meios (ar e solo), uma vez que utilizou tal potencial para a formulação do campo eletromagnético. Estas equações envolvem integrais bastante complexas, o que dificulta bastante os cálculos envolvidos [STRATON.1941]. O próprio A. Sommerfeld reconheceu que sua solução poderia ser interpretada fisicamente como um conjunto de ondas eletromagnéticas planas incidentes, refletidas e refratadas na superfície do solo em vários ângulos de incidência. Tendo esta interpretação em vista, Weyl, em 1919, apresentou os resultados de seu estudo no qual formulou equações equivalentes às equações integrais de A. Sommerfeld, que envolvem também Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 144 Diferentes integrais complexas, sendo então denominadas equações de Sommerfeld-Weyl. Posteriormente, diversos trabalhos foram desenvolvidos com o objetivo de encontrar expressões matemáticas aproximadas para as equações integrais em causa [STRATON.1941]. Em 1926 J. R. Carson apresentou um trabalho em que avalia o efeito do solo na propagação de ondas em cabos condutores aéreos. Para tal formulou equações integrais, de difícil solução, que correspondem à contribuição do solo na impedância longitudinal, própria e mútua, dos cabos em questão [CARSON.1926]. A formulação de J. R. Carson avalia o acoplamento entre elementos condutores situados no mesmo meio, o ar. Em 1966 A. Baños Jr. apresentou um trabalho bastante extenso em que estuda a radiação de um dipolo localizado em um meio semi-infinito considerando a presença de um outro meio também semi-infinito, sendo tais meios de características genéricas (µ, ε e σ). Parece que neste trabalho o autor considera apenas o acoplamento longitudinal, uma vez que o dipolo é considerado isolado do meio no qual está situado [BAÑOS.1966]. Em 1981 Deri e outros apresentaram uma formulação, equivalente à de J. R. Carson, para o cômputo do efeito do solo na impedância longitudinal de cabos aéreos. Esta formulação gera resultados similares aos de J. R. Carson, com a vantagem de corresponder a expressões analiticamente simples. Para tal os autores apresentaram o conceito de plano complexo de retorno pelo solo, que corresponde ao plano utilizado para o posicionamento da fonte de corrente imagem que traduz o efeito do solo na impedância longitudinal. Este plano é situado a uma distância complexa abaixo da superfície do solo, sendo tal distância função da freqüência do sinal de corrente e da condutividade do solo [DERI.1981]. Esta formulação também não considera acoplamento entre elementos condutores situados em meios diferentes. Os trabalhos de J. R. Carson e Deri e outros avaliam o efeito do solo sobre a impedância longitudinal de cabos aéreos. No entanto, não tratam deste efeito sobre a impedância transversal. Os trabalhos de L. M. Wedepohl e A. E. Efthymiadis, em 1978, e de P. Pettersson, em 1994, apresentaram formulações para avaliação do efeito de solos reais (condutividades finitas) nas impedâncias longitudinal e transversal de condutores aéreos [WEDEPOHL.1978a, WEDEPOHL.1978b, PETTERSSON.1994]. O trabalho de P. Pettersson permite, ainda, a avaliação em causa para condutores imersos no ar, na Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 145 Diferentes superfície do solo e no interior deste último. Contudo, ambos os trabalhos não tratam do acoplamento entre condutores em meios diferentes. É importante ressaltar que os trabalhos de J. R. Carson, L. M. Wedepohl e A. E. Efthymiadis, Deri e outros e P. Pettersson objetivaram avaliar o efeito de solos de condutividade finita sobre as impedâncias, longitudinal e/ou transversal, de cabos aéreos com retorno pelo solo. O tipo de aplicação em vista corresponde a sistemas de geometria definida, como por exemplo, linhas de transmissão e distribuição, não interessando, portanto, acoplamento entre condutores situados em meios diferentes. No entanto, considerando o interesse envolvido no presente trabalho, é de fundamental importância o cômputo do acoplamento eletromagnético entre elementos condutores imersos em meios diferentes, incluindo o solo. Recentemente (em junho de 2000) foi publicado um trabalho dedicado ao tema [ANDOLFATO.2000]. Neste interessante trabalho os autores apresentam um modelo, no domínio da freqüência, para formular expressões que possibilitam avaliar os acoplamentos transversal e longitudinal, próprio e mútuo, entre elementos condutores imersos no mesmo meio (no ar ou no solo) e em meios diferentes (um no ar e outro no solo). As principais características deste trabalho são descritas abaixo: • Para o cálculo do acoplamento transversal (capacitivo e condutivo) utiliza-se o Método de Imagens, para considerar as diferenças nas características eletromagnéticas do ar e do solo. Parece que o acoplamento entre elementos condutores posicionados em meios diferentes é desprezado. • Para o cálculo do acoplamento longitudinal (indutivo) é introduzido o “Método de Deslocamento de Imagens Complexas”, que interpreta as integrais de Sommerfeld em termos de imagens complexas. Como o cálculo das integrais de Sommerfeld é trabalhoso e sempre necessita-se de pesados procedimentos numéricos, foram consideradas algumas hipóteses, admitidas pelos autores como apropriadas, com o objetivo de que tais integrais pudessem ser aproximadas por meio de séries infinitas, truncadas de acordo com certos critérios. Cada termo da série corresponde a uma fonte de corrente imagem (complexa), onde a intensidade e localização da mesma é definida por coeficientes complexos, que somente podem ser computados por uma rotina numérica específica após a definição do número máximo de imagens a serem utilizadas. Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 146 Diferentes No entanto, na descrição do trabalho, não fica claro quais são os critérios utilizados para se determinar o número máximo de termos das séries infinitas (que corresponde ao número máximo de imagens). • Não fica claro como é realizado o cômputo do acoplamento eletromagnético entre elementos condutores situados em meios diferentes. • Na aplicação do modelo, a faixa de freqüência é limitada a no máximo 1 MHz e a de resistividade do solo varia de 10 Ω.m a aproximadamente 7.000 Ω.m. Estas faixas decorrem de algumas hipóteses e simplificações assumidas para o cômputo das integrais de Sommerfeld: (a) estes integrais não foram aplicadas para o cálculo do acoplamento capacitivo e condutivo, (b) a condutividade do solo é considerada muito maior que a do ar e (c) a constante de propagação do solo é mantida suficientemente pequena. As faixas de freqüência e de resistividade são abrangentes, cobrindo aplicações usuais em sistemas de energia, incluindo o espectro de freqüência de descargas atmosféricas e resistividades típicas do solo. • Destaca-se a importância de se considerar a variação da permissividade e resistividade do solo com a freqüência. Entretanto, não detalha como esta variação é computada na formulação. • O fenômeno de ionização do solo é desconsiderado, por se tratar de um efeito não linear. O trabalho de R. Andolfato e outros apesar de interessante e consistente deixa alguns pontos não elucidados. Ademais, parece que para elementos condutores imersos em meios diferentes apenas o acoplamento longitudinal é considerado. Tendo em vista o estado da arte no tema em questão, resolveu-se investir no desenvolvimento de um modelo capaz de gerar uma formulação consistente para quantificar a interação eletromagnética entre elementos condutores imersos no mesmo meio ou em meios diferentes. As formulações resultantes da modelagem em causa são descritas na próxima seção. Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 147 Diferentes 7.3 – CÔMPUTO DO ACOPLAMENTO ELETROMAGNÉTICO ENTRE ELEMENTOS CONDUTORES IMERSOS NO MESMO MEIO E EM MEIOS DIFERENTES 7.3.1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS O modelo é desenvolvido no domínio da freqüência, sendo as idéias básicas aquelas descritas na seção 6.2 (Capítulo 6). Após a formulação das impedâncias que traduzem o acoplamento eletromagnético entre cada par de elementos condutores, as matrizes correspondentes a estas impedâncias são construídas. A impedância transversal está associada com o valor médio da densidade linear de corrente transversal que deixa o troço condutor e a longitudinal com a corrente longitudinal média ao longo do mesmo. Considera-se que os elementos condutores sob estudo estão imersos em dois meios (1 e 2) semi-infinitos, homogêneos, isotrópicos e lineares, de características eletromagnéticas genéricas e distintas (permeabilidade magnética, permissividade e condutividade elétricas): µ1, ε1, σ1 e µ2, ε2, σ2, respectivamente, separados por uma interface plana (correspondente ao plano xy), denominada “plano de interface de separação”. O eixo z é normal a este plano. A região de z > 0 corresponde ao meio 1, enquanto aquela de z < 0 ao meio 2. No meio 1 encontram-se imersos dois segmentos de corrente: um troço condutor emissor (j), de comprimento Lj, com uma distribuição de corrente linear e divergente igual a ΙTj / Lj e uma corrente longitudinal média ΙLj e um troço receptor (i), de comprimento Li. No meio 2 situa-se um único troço receptor (k), de comprimento Lk. O ponto F (coordenadas xf, yf e zf) corresponde ao ponto médio do troço emissor, enquanto os pontos P1 (coordenadas x1, y1 e z1) e P2 (coordenadas x2, y2 e z2) aos pontos médios genéricos dos troços receptores nos meios 1 e 2, respectivamente. A Figura 7.1 ilustra o sistema físico sob consideração. O modelo é desenvolvido com a consideração das ondas eletromagnéticas originadas das duas fontes de corrente (transversal e longitudinal, de naturezas distintas) existentes no troço emissor (j). Tais ondas, ao propagarem em todas as direções, incidem na interface de separação dos meios 1 e 2, num ponto I (coordenadas xi, yi e zi = 0) genérico sobre o plano de interface de separação. Dada a descontinuidade do meio material, uma parte da energia associada às ondas incidentes reflete (campo eletromagnético refletido) e retorna para o meio onde a fonte encontra-se imersa e outra parte é transmitida (ou Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 148 Diferentes refratada, campo eletromagnético transmitido) para o outro meio. Os ângulos αi, αr e αt correspondem, respectivamente, aos ângulos de incidência, reflexão e transmissão, sendo determinados pela normal à interface e pela linha de propagação dos campos eletromagnéticos incidente, refletido e transmitido, respectivamente, conforme ilustrado na Figura 7.1. Como será visto mais adiante, quando pelos menos um dos dois meios possui perdas (condutividade finita) o ângulo de transmissão assume um valor complexo. Neste caso, a interpretação geométrica para este ângulo perde a validade. Ao aplicar as Equações de Maxwell ao problema em questão e fazer com que o campo eletromagnético satisfaça as condições de interface, é possível calcular coeficientes de reflexão e de transmissão, para, posteriormente, determinar os campos eletromagnéticos totais em pontos genéricos dos dois meios. O campo eletromagnético total num ponto P1 genérico do meio 1 é constituído por duas componentes: uma devido à “iluminação” direta da fonte (campo eletromagnético direto) e outra devido à parcela refletida na interface de separação (campo eletromagnético refletido). Em um ponto P2 genérico do meio 2 o campo eletromagnético total é constituído por apenas uma componente, aquela associada à parcela que é transmitida na interface de separação (campo eletromagnético transmitido) – vide Figura 7.1. Com a determinação dos campos em ambos os meios é possível computar o acoplamento eletromagnético (transversal e longitudinal, próprio e mútuo) entre os diversos troços condutores, situados no mesmo meio ou em meios diferentes, que se constitui no objetivo principal da modelagem. A aproximação seguida é semelhante àquela do modelo apresentado na seção 6.3 (Capítulo 6): inicialmente determina-se a impedância transversal e, em seguida, a longitudinal. Posteriormente, a solução final é obtida com base no que foi descrito nas seções 6.2 e 6.3. Como o volume de deduções matemáticas é por demais exagerado, nas próximas seções apenas os resultados diretos são apresentados. Os detalhes encontram-se em relatórios internos do LRC [SCHROEDER.2001b, SCHROEDER.2001c]. Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 149 Diferentes z T ro ç o e m is so r d e c o rre n te ( j ) – c o m p rim e n to L j – c o rre n te to ta l d e c ará te r d iv e rg e n te - I T j - d istrib u iç ã o d e c o rre n te lin e a r I T j / L j – e lo n g itu d in a l I L j F = (x f , y f , z f ) ILj T ro ç o re c ep to r d e c o rre n te ( i ) – co m p rim e n to L i ITj / L j C a m p o e le tro m a g n é tic o d ire to P 1 = (x 1 , y 1 , z 1 ) ri αi αr C a m p o e le tro m a g n é tic o in c id e n te C a m p o e le tro m a g n é tic o re fle tid o M e io 1 (µ 1 , ε 1 , σ 1) y M e io 2 (µ 2 , ε 2 , σ 2) I = (x i , y i , z i ) = (x i , y i , 0 ) x C a m p o e le tro m a g n é tic o tra n s m itid o αt P 2 = (x 2 , y 2 , z 2 ) T ro ç o re c ep to r d e c o rre n te ( k ) – c o m p rim e n to L k Figura 7.1 – Configuração do sistema físico real, com o segmento emissor de corrente (j) e os segmentos receptores de corrente i e k nos meios 1 e 2, respectivamente. 7.3.2 – ACOPLAMENTO TRANSVERSAL (ZT) Objetiva-se calcular as expressões das impedâncias transversais entre o troço emissor “j” e os troços receptores “i” e “k”, denominadas ZTij e ZTkj, respectivamente. ZTij é definida como a relação entre a elevação de potencial médio, em relação ao infinito, gerada por ΙTj, no troço i (Vij), e a própria corrente ΙTj. ZTkj corresponde à relação entre a elevação de potencial médio, em relação ao infinito, gerada por ΙTj, no troço k (Vkj), e a corrente ΙTj. A Figura 7.2 ilustra o sistema físico para o cálculo do acoplamento transversal. Para que as impedâncias em questão sejam devidamente computadas é necessário inicialmente determinar as expressões dos campos associados à fonte Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 150 Diferentes transversal nos pontos genéricos P1 e P2. Devido ao caráter divergente do campo, o efeito r r magnético gerado é desprezível. Portanto, os campos vetoriais J e E (densidade superficial de corrente e campo elétrico, respectivamente) e o escalar V (elevação de potencial em relação ao infinito) correspondem às grandezas eletromagnéticas associadas a tal fonte – vide Figura 7.2. z T ro ç o e m isso r ( j ) F = (x f , y f , z f ) Jd âr , E d âr ITj / L j T ro ç o re c ep to r ( i ) P 1 = (x 1 , y 1 , z 1 ) ri J r â rr , E r â rr αi αr J i â ri , E i â ri M e io 1 (µ , ε 1 , σ 1) 1 y M e io 2 (µ 2 , ε 2 , σ 2) I = (x i , y i , z i ) = (x i , y i , 0 ) x J t â rt , E t â rt αt P 2 = (x 2 , y 2 , z 2 ) T ro ç o re c ep to r ( k ) Figura 7.2 – Configuração do sistema físico para o cálculo do acoplamento transversal. Inicialmente os campos e, consequentemente, as impedâncias transversais, serão determinados considerando a fonte pontual de corrente divergente ΙTj situada no ponto F, estabelecendo desta maneira expressões pontuais. Posteriormente, as expressões das impedâncias transversais são estendidas para o caso de troços condutores (emissor e receptor). r r Os campos totais no ponto P1 ( J1 , E1 ), e o escalar V1, são formados por duas Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 151 Diferentes r r parcelas: a parcela direta ( J d , E d ), e o escalar Vd, correspondente à iluminação direta da r r fonte e a parcela refletida ( J r , E r ), e o escalar Vr, correspondente aos campos refletidos no r r ponto I. Os campos incidentes ( J i , E i ) formam um ângulo αi com a normal à interface, r r enquanto os refletidos ( J r , E r ) um ângulo αr - vide Figura 7.2. Assim sendo, tem-se: r r J1 = J d + r r E1 = E d + r Jr r Er (7.1) (7.2) V1 = Vd + Vr r (7.3) r Os campos totais no ponto P2 ( J 2 , E 2 ) , e o escalar V2,, são formados somente pela parcela transmitida, que corresponde aos campos transmitidos para o meio 2. Os r r campos transmitidos ( J t , E t ) formam um ângulo αt com a normal à interface, conforme ilustrado na Figura 7.2. Logo, tem-se: r r J2 = Jt r r E2 = Et (7.4) (7.5) V2 = Vt (7.6) Para a determinação das parcelas refletida e transmitida é necessário analisar o r r comportamento dos campos vetoriais J e E no plano de interface de separação dos dois meios. Esta análise consiste no equacionamento das condições de fronteira (ou de interface) dos referidos campos. Tais condições determinam que as componentes normais do vetor r J (Jn) e as componentes tangenciais do vetor r E (Etan) não sofrem descontinuidade na interface de separação dos dois meios [STRATON.1941]. Os campos refletidos e transmitidos podem ser expressos em termos dos incidentes através de coeficientes de reflexão (Γr) e de transmissão (Γt). Ao proceder o equacionamento em questão são determinados os seguintes coeficientes [SCHROEDER.2001b]: Γr = ( σ1 + j ω ε1 ) − ( σ 2 + j ω ε 2 ) ( σ1 + j ω ε1 ) + ( σ 2 + j ω ε 2 ) (7.7) Γt = 2 ( σ2 + j ω ε2 ) ( σ1 + j ω ε1 ) + (σ 2 + j ω ε 2 ) (7.8) Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 152 Diferentes As equações (7.7) e (7.8) ilustram que os coeficientes de reflexão e transmissão são de natureza complexa. Nas equações (7.7) e (7.8) as grandezas eletromagnéticas envolvidas já foram devidamente estabelecidas. Na determinação dos coeficientes de reflexão e de transmissão, expressos pelas equações em causa, assumiu-se que, devido ao fato de se tratar de acoplamento transversal, os ângulos de incidência, de reflexão e de transmissão são iguais [PORTELA.1983b, ANDOLFATO.2000]: α r = αi (7.9) α t = αi (7.10) Com o cálculo dos coeficientes de reflexão e transmissão, juntamente com os r r r r campos incidentes J i , E i no ponto I, torna-se possível a determinação dos campos J , E refletidos e transmitidos neste ponto, conforme detalhado em [SCHROEDER.2001b]: r r J i = J i â ri ∴ r Ji = I Tj 2 4 π ri e − K 1 ri â ri (7.11) r r J r = J r â rr ∴ r r J r = Γr J i â rr ∴ r J r = Γr I Tj 4 π ri2 e − K 1 ri â rr (7.12) r r J t = J t â rt ∴ r r J t = Γt J i â rt ∴ r J t = Γt r Ei = I Tj 4 π ri2 e − K 1 ri I Tj 2 4 π ( σ1 + j ω ε1 ) ri â rt e − K 1 ri â ri (7.13) (7.14) Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 153 Diferentes r E r = Γr r E t = Γt I Tj 4 π ( σ1 + j ω ε1 ) ri2 I Tj 4 π ( σ 2 + j ω ε 2 ) ri2 e − K 1 ri â rr e − K 1 ri (7.15) (7.16) â rt Todas as grandezas envolvidas nas equações (7.11) a (7.16) (características dos meios, vetores unitários, distâncias, ângulos, etc.) estão definidas na Figura 7.2. K1 corresponde à constante de propagação do meio 1 (já definida no Capítulo 6). r r Com as expressões dos campos J , E refletidos e transmitidos no ponto de r r r r interface, pode-se determinar os campos totais nos meios 1 ( J1 , E1 e V1 ) e 2 ( J 2 , E 2 e V2 ) e, assim, as impedâncias transversais entre o troço emissor (j) e os troços receptores (i e k), representados na Figura 7.2. r r 7.3.2.1 – CAMPOS TOTAIS J 1 , E 1 e V 1 NO MEIO 1 E IMPEDÂNCIA TRANSVERSAL ZTij r r Através de uma minuciosa análise das expressões dos campos refletidos J r e E r , equações (7.12) e (7.15), percebe-se que, ao invés de considerar o sistema físico real, é possível idealizar um sistema com uma configuração equivalente constituído pela fonte de corrente real (ΙTj, pontual) e por uma fonte de corrente imagem (Ι’Tj, pontual), ambas imersas em um meio ilimitado em todas as direções e com as mesmas características eletromagnéticas do meio 1 (µ1, ε1, e σ1). A fonte de corrente imagem quantifica os campos refletidos e deve ser adequadamente posicionada e possuir uma intensidade particular, de tal forma que os campos gerados na configuração equivalente sejam os mesmos do sistema físico real. A figura 7.3 ilustra o sistema equivalente em questão, onde representa-se apenas o “plano de incidência” (definido como o plano formado pela normal à interface e a linha de propagação dos campos), uma vez que as grandezas de interesse repousam sobre tal plano. Os detalhes encontram-se em [SCHROEDER.2001b]. Na Figura 7.3 está determinado o posicionamento da fonte de corrente imagem (troço imagem j’), que é simétrica em relação à fonte de corrente real (troço emissor j), tendo Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 154 Diferentes como plano de simetria o plano de interface, que nesta configuração equivalente corresponde a um plano imaginário, uma vez que o meio é único (meio 1). Como comentado acima, considera-se inicialmente fontes pontuais (real e imagem em F e F’, respectivamente). Troço emissor ( j ) Normal à interface F = (xf , yf , zf ) r Jr ârr , Er ârr P1 = ( x1 , y1 , z1 ) ITj / Lj J d âr , E d âr ri Troço receptor ( i ) αr αi Meio 1(µ1 , ε1 , σ1) Plano de Interface imaginário (plano xy) I = (xi , yi , 0 ) r’ Meio 1(µ 1 , ε1 , σ1) αi F’ = (xf’ , yf’ , -zf ) I’Tj / Lj’ Troço imagem ( j’ ) Figura 7.3 – Sistema equivalente para cômputo do campo total no meio 1. Na figura acima, as seguintes grandezas geométricas são definidas: • r ≡ F P1 = ( x1 − x f ) 2 + ( y1 − y f ) 2 + (z1 − z f ) 2 • r' = r i + rr ≡ FI + IP1 ≡ F' P1 = • cos α i = ( x1 − x f ' ) 2 + ( y1 − y f ' ) 2 + (z1 − z f ' ) 2 z1 + z f z = f r' ri Entretanto, a intensidade da corrente imagem não está determinada. Para tal, é r r necessário calcular o campo J ou E no ponto de interface (I) gerado por esta corrente imagem. Tais campos assumem as seguintes formas: r Jr = I'Tj 4 π r 2i e − K1r i â rr (7.17) Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 155 Diferentes r Er = I'Tj 4 π ( σ1 + j ω ε1 ) r 2i e − K1r i â rr (7.18) A intensidade de Ι’Tj deve ser tal que as equações (7.12) e (7.17), assim como as (7.15) e (7.18), sejam exatamente as mesmas. Assim, verifica-se facilmente que: I' Tj = Γr I Tj (7.19) Verifica-se que a corrente da fonte imagem é complexa, sendo assim denominada “imagem complexa equivalente”. Por este motivo o modelo aqui apresentado, que quantifica a interação eletromagnética entre troços condutores situados no mesmo meio, é denominado “modelo de imagens complexas equivalentes”. Com a completa caracterização da imagem complexa (posicionamento e intensidade) a determinação dos campos vetoriais totais e do escalar V1 no meio 1 e da impedância transversal é imediata. Das equações (7.1), (7.2) e (7.3) tem-se as seguintes r r expressões para J1 , E1 e V1 : Γr I Tj − K r ' 1 e − K 1 r â r + e â rr 2 2 4πr 4 π r' (7.20) Γr I Tj e − K 1 r â r + e − K 1 r ' â rr 2 2 4 π ( σ1 + j ω ε1 ) r 4 π ( σ1 + j ω ε1 ) r ' (7.21) e − K1 r e − K 1 r' + Γr 4 π ( σ1 + j ω ε1 ) r r ' (7.22) r J1 = r E1 = I Tj I Tj V1 = I Tj Todas as grandezas geométricas envolvidas nas equações (7.20), (7.21) e (7.22) estão definidas na Figura 7.3. V1 corresponde à elevação de potencial em relação ao infinito no ponto P1 gerada pela fonte real ΙTj (Figura 7.2), que eqüivale à elevação oriunda das correntes pontuais divergentes ΙTj e Ι’Tj do sistema equivalente (Figura 7.3). Assim, a impedância transversal (ZT1) entre a fonte real e o ponto de observação P1, considerando a presença do meio 2 logo abaixo (Figura 7.2) expresso através da imagem complexa, é dada pela seguinte expressão: Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 156 Diferentes Z T1 = V1 ∴ I Tj e − K1 r e − K1 r' 1 Z T1 = + Γr 4 π ( σ1 + j ω ε1 ) r r ' (7.23) Interessa, contudo, determinar a equação matemática que define a impedância transversal entre o troço emissor (j) e receptor (i), ZTij, Figuras 7.2 e 7.3. Em primeiro lugar determina-se Vij e, em seguida, ZTij: Vi j = I Tj 4 π ( σ1 + j ω ε1 ) L i L j e − K1 r e − K1 r' d l d l d l d l + Γ j i j' i ∫ ∫ r r' ∫ ∫ r Li Lj' Li Lj (7.24) Assim, a impedância transversal entre o troço emissor (j) e o receptor (i), é dada por: Z Tij = Z Tij = 1 4 π ( σ1 + j ω ε1 ) L i L j Vi j I Tj ∴ e − K1 r e − K1 r' d l j d l i + ∫ ∫ Γr d l j' d l i ∫ ∫ r r' Li Lj' Li Lj Γr complexo é dado por: Γr = (7.25) ( σ1 + j ω ε1 ) − ( σ 2 + j ω ε 2 ) - equação (7.7). ( σ1 + j ω ε1 ) + ( σ 2 + j ω ε 2 ) Nas equações (7.24) e (7.25) Lj, Li e Lj’, correspondem aos comprimentos dos troços emissor (j), receptor (i) e imagem (j’), respectivamente e dlj dli e dlj’ aos elementos diferenciais de comprimento dos mesmos, respectivamente. Evidentemente, tem-se que Lj’ = Lj. A equação (7.25) traduz o acoplamento transversal entre dois elementos condutores (um emissor, outro receptor) imersos no meio 1 genérico (µ1, ε1, σ1), com a consideração da presença do meio 2 (também genérico - µ2, ε2, σ2). Para o cálculo da impedância transversal própria basta fazer i = j na equação (7.25) e proceder de maneira similar à descrita no Capítulo 6 (seção 6.2). Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 157 Diferentes r r J 2 , E 2 e V2 7.3.2.2 – CAMPOS TOTAIS IMPEDÂNCIA TRANSVERSAL ZTkj NO MEIO 2 E Raciocínio similar ao apresentado no item anterior é aplicado para o cálculo dos campos totais no meio 2 e da impedância transversal ZTkj. Através de uma verificação pormenorizada das equações (7.13) e (7.16), que correspondem às equações dos campos r r transmitidos J t , E t , novamente pode ser idealizado um sistema equivalente para o cômputo dos campos totais no meio 2 e, consequentemente da impedância transversal entre o troço emissor (j) e o receptor (k), (representados na Figura 7.2). A configuração resultante no sistema equivalente é ilustrada na Figura 7.4. Neste sistema equivalente está representada a fonte de corrente denominada “equivalente” (troço emissor equivalente j”). A fonte de corrente equivalente quantifica os campos transmitidos e deve ser adequadamente posicionada e possuir uma determinada intensidade, de tal sorte que os campos gerados na configuração equivalente sejam os mesmos do sistema físico real. Sua posição é determinada pelo ponto F, o mesmo ponto que define a posição da fonte real (troço emissor j). A fonte de corrente real não existe neste sistema equivalente. r r De acordo com a Figura 7.4, os campos J 2 , E 2 , e o escalar V2, podem ser considerados como os campos criados pela fonte equivalente pontual de corrente divergente (Ι”Tj) localizada num ponto F, imersa num único meio, infinito em todas as direções, de características eletromagnéticas similares às do meio 2 (µ2, ε2 e σ2). Evidentemente, o posicionamento da fonte equivalente (Ι”Tj) está associado ao ângulo αi, que tem relação com ri (distância entre os pontos F e I).Vale frisar que os valores de ri e αi, de um modo geral, são diferentes dos valores no caso do fenômeno de reflexão e, assim, o ponto de incidência também é diferente. Por este motivo, na Figura 7.4, representase este ponto por I’ e não por I, como na Figura 7.3. Da mesma maneira como foi feito para o cálculo dos campos no meio 1, considerase, inicialmente, a fonte de corrente equivalente divergente pontual em F. Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 158 Diferentes Na Figura 7.4 estão estabelecidas as seguintes relações: • r" = r i + rt ≡ FI ' + I' P2 ≡ F P2 = • cos α i = ( x 2 − x f ) 2 + ( y 2 − y f ) 2 + (z 2 − z f ) 2 zf z + z2 = f ri r" Troço emissor equivalente ( j” ) I”Tj / Lj” Normal à interface F = (xf , yf , zf ) αi ri αi Meio 2 (µ 2 , ε2 , σ2) I’ = ( x’i , y’i , 0 ) r” = ri + rt Plano de Interface imaginário (plano xy) αt rt Meio 2 (µ 2 , ε2 , σ2) P2 = ( x2 , y2 , z2) Troço receptor ( k ) Jtârt , Et ârt Figura 7.4 – Sistema equivalente para cômputo do campo total no meio 2. Resta determinar a intensidade da corrente equivalente. Para tal, é necessário r r calcular o campo J ou E no ponto de interface (I’) gerado pela mesma: r I"Tj − K2ri Jt = e â rt 2 4πri r Et = I"Tj 4 π ( σ 2 + j ω ε 2 ) r 2i e − K2 ri (7.26) â rt (7.27) Nas equações (7.26) e (7.27), assim como nas demais equações deste capítulo, K2 corresponde à constante de propagação do meio 2 (já definida no Capítulo 6). Para que as equações (7.13) e (7.26), assim como as (7.16) e (7.27), sejam exatamente as mesmas é necessário que Ι”Tj seja expressa pela seguinte equação: Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 159 Diferentes I"Tj = Γt I Tj e ( − K 1 + K 2 ) ri (7.28) De acordo com a equação (7.28) percebe-se que a fonte de corrente equivalente é complexa, sendo assim denominada “corrente equivalente complexa”. Por este motivo o modelo para cômputo do acoplamento eletromagnético entre troços imersos em meios diferentes é denominado “modelo de correntes complexas equivalentes”. Uma vez que esta está devidamente definida (posicionamento e intensidade) o cálculo dos campos vetoriais totais e do escalar V2 no meio 2 e a impedância transversal (ZTkj) procede naturalmente. Das equações (7.4), (7.5) e (7.6) tem-se: r J2 = r E2 = V2 = Γt I Tj e ( − K 1 + K 2 ) ri 4 π ( r" ) e − K 2 r" â rt 2 Γt I Tj e ( − K 1 + K 2 ) ri 4 π ( σ 2 + j ω ε 2 ) (r" ) 2 e − K 2 r" â rt Γt I Tj e ( − K 1 + K 2 ) ri e − K 2 r" 4 π ( σ 2 + j ω ε 2 ) r" (7.29) (7.30) (7.31) As variáveis geométricas que aparecem nas equações (7.29), (7.30) e (7.31) estão definidas na Figura 7.4. V2 representa a elevação de potencial em relação ao infinito no ponto P2 gerada pela fonte real ΙTj (Figura 7.2), que eqüivale à elevação associada a corrente pontual divergente Ι”Tj do sistema equivalente (Figura 7.4). Logo, a impedância transversal (ZT2) entre a fonte real e o ponto de observação P2, com a consideração da presença do meio 1, Figura 7.2, expressa pela corrente equivalente complexa, é dada pela seguinte expressão: ZT2 = V2 ∴ I Tj Γt I Tj e ( − K 1 + K 2 ) ri e − K 2 r" ZT2 = 4 π ( σ 2 + j ω ε 2 ) r" (7.32) Entretanto, interessa calcular a impedância transversal entre o troço emissor (j) e receptor (k), ZTkj (Figura 7.2), que corresponde à impedância transversal entre o troço emissor equivalente e o receptor k (Figura 7.4). Inicialmente determina-se Vkj e em seguida, Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 160 Diferentes ZTkj: Γ ∫ ∫ t Lk Lj" I Tj Vk j = 4 π ( σ2 + j ω ε2 ) Lk L j e ( − K1 + K 2 ) ri e − K 2 r" d l j" d l k r" (7.33) Assim, a impedância transversal entre o troço emissor (j) e o receptor (k), é dada por: Z Tkj = 1 Z Tk j = 4 π ( σ2 + j ω ε2 ) Lk L j Vk j I Tj Γ ∫ ∫ t Lk Lj " O complexo Γt é dado por: Γt = ∴ e ( − K1 + K 2 ) ri e − K 2 r" d l j" d l k r" (7.34) 2 ( σ2 + j ω ε2 ) - equação (7.8). ( σ1 + j ω ε1 ) + (σ 2 + j ω ε 2 ) Nas equações (7.33) e (7.34) Lj” e Lk correspondem aos comprimentos dos troços emissor equivalente (j”) e receptor (k), respectivamente, e dlj” dlk aos elementos diferenciais de comprimento dos mesmos, respectivamente. Adicionalmente, tem-se que Lj” = Lj. A equação (7.34) traduz o acoplamento transversal entre dois elementos condutores, um emissor (no meio 1, genérico - µ1, ε1, σ1) e outro receptor (no meio 2, genérico - µ2, ε2, σ2). O desenvolvimento que acaba de ser apresentado, para o cômputo do acoplamento transversal, considerou a fonte de corrente no meio 1 (troço emissor j). Entretanto, no caso da fonte situada no meio 2 as deduções são similares e as expressões resultantes decorrem de forma natural. Um aspecto muito importante com relação ao acoplamento transversal refere-se ao fato de que a formulação apresentada satisfaz o teorema da reciprocidade [STRATON.1941]. Assim, o campo elétrico e, consequentemente a elevação de potencial em relação ao infinito, são os mesmos quando pontos de fonte de corrente e observação de campo, imersos no mesmo meio ou em meios diferentes, são permutados. Isto faz com que a matriz de impedância transversal, oriunda da aplicação das equações (7.25) e (7.34), seja Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 161 Diferentes simétrica. 7.3.3 – ACOPLAMENTO LONGITUDINAL (ZL) A configuração de um troço condutor emissor (j) é, geralmente, em três dimensões, conforme ilustrado na Figura 7.1. Em termos de facilidade de dedução matemática, foram desenvolvidas formulações para o cálculo do acoplamento longitudinal considerando separadamente três troços emissores (nos eixos x, y e z), ao invés de considerar um único troço em três dimensões. Nesta seção apresentam-se as formulações em questão para um troço emissor (j) no eixo z (sem componentes em x ou y). Em [SCHROEDER.2001b] encontram-se as formulações para troços nos eixos x ou y. No caso do troço condutor possuir componentes nas três dimensões, o acoplamento longitudinal total será a superposição dos acoplamentos gerados por cada componente dos eixos x, y e z. Inicialmente, considera-se um dipolo infinitesimal de corrente longitudinal (ΙLj), orientada segundo o eixo z. Em seguida, são calculados o campo eletromagnético gerado pelo dipolo (com a presença dos dois meios) e o acoplamento longitudinal deste com troços receptores “i” e “k” situados nos meios 1 e 2, respectivamente. Finalmente, calcula-se o acoplamento em questão com a consideração do comprimento real do troço emissor (j) no eixo z (Lj). Observa-se que no caso do acoplamento transversal utilizou-se aproximações similares: inicialmente corrente transversal pontual e, em seguida, densidade linear de corrente transversal. Os detalhes das deduções são encontrados em [SCHROEDER.2001b]. A Figura 7.5 ilustra a situação descrita no parágrafo anterior. O dipolo infinitesimal em questão (comprimento ∆L) é denominado dipolo emissor (j). Os meios 1 e 2, os pontos médios F, P1 e P2, o ponto de incidência I, o plano de interface, a normal à interface e os ângulos αi, αr e αt são similares aos utilizados no estudo do acoplamento transversal. Contudo, um novo ângulo (θ) tem que ser definido para o estudo do acoplamento longitudinal: aquele formado pelo dipolo e a reta que une o ponto médio do dipolo (F) e um ponto de observação (que pode ser inclusive o ponto I). r, ri, rr e rt correspondem às distâncias entre os pontos F e P1, F e I, I e P1 e I e P2, respectivamente. Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 162 Diferentes z F = (x f , y f , z f ) N o rm a l à in te rfa c e D ip o lo e m isso r ( j ) ∆L θ F ILj θi T ro ç o rec ep to r (i) r P 1 = (x 1 , y 1 , z 1 ) rr ri αi αr M eio 1 (µ 1 , ε 1 , σ 1) In te rfa c e d e se p a ra ç ã o (p la n o x y) I = (x i , y i , z i ) = (x i , y i , 0 ) x M eio 2 (µ 2 y , ε 2 , σ 2) rt αt T ro ç o rec ep to r (k ) P 2 = (x 2 , y 2 , z 2 ) Figura 7.5 – Configuração do sistema físico para o cálculo do acoplamento longitudinal. Como comentado anteriormente, objetiva-se calcular as impedâncias longitudinais entre o dipolo emissor (j) e os troços receptores (i) e (k), denominadas ZL1 e ZL2, respectivamente. ZL1 corresponde à relação entre a tensão induzida no troço i (∆V1 - oriunda de ΙLj) e ΙLj, enquanto ZL2 à relação entre a tensão induzida no troço k (∆V2 - oriunda de ΙLj) e ΙLj. Posteriormente, determinam-se ZLij e ZLkj, para um troço emissor (j) ao invés do dipolo emissor (j). Para o cálculo de tais impedâncias é necessário, inicialmente, proceder à r r determinação dos campos vetoriais E e H (campos elétrico e magnético, respectivamente) e do escalar ∆V (força eletromotriz induzida ou queda de tensão) em pontos genéricos dos meios 1 e 2 (P1 e P2, respectivamente – Figura 7.5). O campo eletromagnético gerado pelo dipolo representado na Figura 7.5, caso o Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 163 Diferentes mesmo estivesse imerso num meio de características eletromagnéticas semelhantes às do meio 1 e infinito em todas as direções, num ponto genérico deste meio, é dado pelas seguintes equações: r H = H φ â φ ∴ r I Lj ∆ L 1 K H = sen θ − − e − K r â φ 4π r r2 (7.35) r E = E r â r + E θ â θ ∴ 1 1 I Lj ∆L r I Lj ∆ L 1 1 K − K r E= 2 ηcos θ − â θ − e−Kr â r + η senθ − − − e 4π 4π r K r 3 r 2 K r 3 r 2 (7.36) Conforme descrito no Capítulo 6, a queda de tensão está associada com a parcela r r não conservativa do campo elétrico ( E = − j ω A ). Para a determinação desta parcela assume-se os seguintes desenvolvimentos: i) Inicialmente, formulações são elaboradas considerando-se os termos em 1/r de Eθ e de Hφ, conforme as equações (7.36) e (7.35), respectivamente, levando-se em conta a existência dos meios 1 e 2, como ilustrado na Figura 7.5. ii) Em seguida, são considerados os termos em 1/r2 de Eθ e de Hφ, com base nas mesmas equações. iii) Determina-se o campo magnético total (que possui termos em 1/r e 1/r2) das formulações descritas nos dois itens acima. Por meio deste calcula-se o campo elétrico de natureza não conservativa (solenoidal), que possui termos em 1/r apenas. iv) As outras parcelas do campo elétrico (que variam com 1/r2 e 1/r3) não são consideradas, uma vez que estão associadas com a parcela conservativa do campo elétrico. Este parcela causa elevação de potencial em relação ao infinito. Como as estruturas que interessam analisar neste trabalho encontram-se aterradas, assumese que esta elevação de potencial é desprezível com aquela gerada pela corrente transversal (acoplamento transversal, descrito na subseção anterior). Os desenvolvimentos analíticos que são exibidos a seguir referem-se aos termos em 1/r dos campos elétrico e magnético. Para os termos em 1/r2, os cálculos são similares e os passos intermediários não serão descritos. Os detalhes encontram-se em Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 164 Diferentes [SCHROEDER.2001b]. r r Os campos totais no ponto genérico P1 do meio 1 ( H1 , E1 ), e o escalar ∆V1, são r r formados por duas parcelas. A primeira delas, denominada “parcela direta” ( H d , E d ), e o escalar ∆Vd, corresponde aos campos oriundos da “iluminação direta” da fonte. A segunda, r r denominada “parcela refletida” ( H r , E r ), e o escalar ∆Vr, corresponde a uma fração do campo incidente no plano de interface, que é refletida para o meio 1, devido à mudança de meio. Assim, no ponto P1 tem-se: r r r H1 = H d + H r r r r E1 = E d + E r (7.37) (7.38) ∆V1 = ∆Vd + ∆Vr (7.39) r r Os campos totais no ponto genérico P2 do meio 2 ( H 2 , E 2 ), e o escalar ∆V2, são formados por uma única parcela, denominada “parcela transmitida”, que corresponde a uma fração do campo incidente no plano de interface, ponto I, que é transmitida (ou refratada) para o meio 2, devido, evidentemente, à mudança de meio. Assim, no ponto P2, tem-se: r r H2 = Ht (7.40) r r E2 = Et (7.41) ∆V2 = ∆Vt (7.42) Na determinação das parcelas refletida e transmitida é necessário analisar o r r comportamento dos campos vetoriais H e E no plano de interface de separação dos dois meios. Para tal é necessário equacionar as condições de fronteira (ou de interface) dos referidos campos. Tais condições determinam que as componentes tangenciais dos vetores r r H (Htan) e E (Etan) não sofrem descontinuidade na interface de separação dos dois meios [STRATON.1941]. Os campos refletidos e transmitidos podem ser expressos em termos dos incidentes através de coeficientes de reflexão e de transmissão. Portanto, analisa-se a seguir as expressões de tais campos nesta interface, [SCHROEDER.2001b]. Os coeficientes de reflexão e de transmissão para a configuração física representada na Figura 7.5 (considerando apenas os termos em 1/r de Eθ e de Hφ, conforme Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 165 Diferentes descrito acima) são os seguintes: Γr = η 2 cos α t − η1 cos α i η 2 cos α t + η1 cos α i (7.43) 2 η 2 cos α i η 2 cos α t + η1 cos α i (7.44) Γt = Abaixo apresenta-se as expressões que definem as grandezas envolvidas nas equações (7.41) e (7.42): K1 sen α i . K2 • αt é determinado pela Lei de Snell da refração (ou transmissão) – sen α t = • K1 = j ω µ1 ( σ1 + j ω ε1 ) = α1 + j β1 - constante de propagação do meio 1. • K2 = j ω µ 2 ( σ 2 + j ω ε 2 ) = α 2 + j β 2 - constante de propagação do meio 2. • η1 = j ω µ1 - impedância intrínseca do meio 1. σ1 + j ω ε1 • η2 = jωµ 2 - impedância intrínseca do meio 2. σ2 + jωε2 Com as equações (7.43) e (7.44) pode-se passar à fase de determinação do campo eletromagnético total nos meios 1 e 2, bem como as quedas de tensão correspondentes. r r Antes, porém, é necessário determinar os campos incidentes ( E i e H i ), refletidos r r r r ( E r e H r ) e transmitidos ( E t e H t ) no ponto de interface (I - vide Figura 7.5): r E i = E θ i ( − â θ i ) ∴ r I Lj ∆L K Ei = η1 sen θ i 1 e − K 1 ri ( − â θ i ) 4π ri (7.45) r I Lj ∆L K Hi = sen θ i 1 e − K 1 ri ( − â φ i ) ri 4π (7.46) r E r = Γr E θ i (â θ r ) ∴ Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 166 Diferentes r I Lj ∆ L K E r = Γr η1 sen θ i 1 e − K1 r (â θ r ) ri 4π (7.47) r I Lj ∆ L K H r = Γr sen θ i 1 e − K1 ri (â φ r ) ri 4π (7.48) r E t = Γt E θ i ( − â θ t ) ∴ r I Lj ∆ L K E t = Γt η1 sen θ i 1 e − K1 r ( − â θ t ) ri 4π (7.49) r I Lj ∆ L K sen θ i 1 e − K1 ri ( − â φ t ) H t = Γt ri 4π (7.50) Nas equações de (7.45) a (7.50) âθi, âθr e âθt correspondem aos vetores unitários que definem as direções dos vetores campo elétrico incidente, refletido e transmitido, respectivamente, no ponto I (Figura 7.5) e âφi, âφr e âφt aos unitários que definem as direções dos campos magnéticos incidente, refletido e transmitido, respectivamente, no mesmo ponto [SCHROEDER.2001b]. r r 7.3.3.1 – CAMPOS TOTAIS H 1 , E 1 e ∆ V 1 NO MEIO 1 E IMPEDÂNCIA LONGITUDINAL ZLij De acordo com as expressões do campo eletromagnético refletido na interface de separação dos 2 meios (ponto I), equações (7.47) e (7.48), pode-se verificar que, da mesma forma que no caso do acoplamento transversal, ao invés de se trabalhar com o sistema físico real, é possível idealizar um sistema equivalente constituído pelo dipolo emissor (j) e um dipolo imagem, corrente complexa Ι’Lj, ambos imersos em um meio ilimitado em todas as direções e com as mesmas características eletromagnéticas do meio 1 (µ1, ε1 e σ1). Este dipolo imagem, que determina os campos refletidos, deve ser adequadamente posicionado e deve ter uma corrente de intensidade adequada de forma a constituir os mesmos campos gerados no sistema físico real. Adicionalmente, verifica-se que o posicionamento adequado é aquele simétrico ao dipolo emissor (j) que representa a fonte real. O dipolo imagem é semelhante ao emissor. É orientado segundo a direção do eixo z, tem comprimento ∆L e sua posição é caracterizada pelo ponto F’ de coordenadas xf, yf e - zf. No entanto, o sentido Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 167 Diferentes de sua corrente (Ι’Lj) é contrário ao sentido da corrente na fonte real, ou seja, + âz. A figura 7.6 ilustra o sistema equivalente. θ ILj F = ( xf , yf , zf ) Normal à interface Troço receptor (i) r θi P1 = (x1, y1, z1) Dipolo emissor ri αi αr rr Meio 1(µ1 , ε1 , σ1) I = ( xI , yI , zI ) Plano de Interface imaginário (plano xy) ri Dipolo imagem θr Meio 1(µ 1 , ε1 , σ1) I’Lj Figura 7.6 – Sistema equivalente para cômputo do campo eletromagnético total no meio 1. Na figura 7.6 tem-se as seguintes grandezas geométricas: • z z + z1 cos α i = f = f ri ri + rr • θi = 180 − α i e θ r = α i • cos θ i = cos (180 − α i ) = − cos α i • sen θ i = sen (180 − α i ) = sen α i • cos θ r = cos α i • sen θ r = sen α i • r = FP1 = • ( x1 − x f ) 2 + ( y1 − y f ) 2 + (z1 − z f ) 2 r ' = F' P1 = FI + IP1 = ri + rr = ( x1 − x f ' ) 2 + ( y1 − y f ' ) 2 + (z1 − z f ' ) 2 Para a determinação da intensidade de Ι’Lj é necessário computar o campo eletromagnético gerado no ponto I pela mesma (sistema equivalente, Figura 7.6): Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 168 Diferentes r I' Lj ∆ L K E = η1 sen θ r 1 e − K 1 ri (â θ r ) 4π ri (7.51) r I' Lj ∆ L K H = sen θ r 1 e − K 1 ri ( â φ r ) 4π ri (7.52) Assim, as equações (7.47) e (7.51), ou (7.48) e (7.52), devem corresponder ao mesmo resultado; fazendo para o campo elétrico, tem-se: r r Er = E ∴ Γr I Lj ∆ L 4π I' Lj ∆ L 4π η1 sen θ i η1 sen θ r K 1 − K1 r e (â θ r ) = ri K1 − K 1 ri e (â θ r ) ∴ ri I' Lj = Γr I Lj (7.53) A corrente da fonte imagem é complexa, conforme equação (7.53). Assim é denominada “imagem complexa equivalente”. Por este motivo o modelo que quantifica a interação eletromagnética entre troços condutores situados no mesmo meio é denominado “modelo de imagens complexas equivalentes”. Aplicando Ι’Lj nas equações (7.37) e (7.38), tem-se: r r r E1 = E d + E r ∴ Γr I Lj ∆ L r I Lj ∆ L K K E1 = η1 sen θ 1 e − K1 r ( − â θ ) + η1 sen θ r 1 e − K1 r ' ( â θ r ) 4π r 4π r' (7.54) r r r H1 = H d + H r ∴ Γr I Lj ∆ L r I Lj ∆ L K K sen θ 1 e − K1 r ( − â φ ) + sen θ r 1 e − K1 r ' ( â φ r ) H1 = 4π r 4π r' (7.55) Utilizando-se o mesmo raciocínio de cálculo para os termos em 1/r2 de Eθ e de Hφ, equações (7.35) e (7.36), obtém-se os seguintes campos elétrico e magnético no ponto P1 (vide Figuras 7.5 e 7.6): Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 169 Diferentes Γr I Lj ∆ L r I Lj ∆ L 1 − K1 r 1 e ( − â θ ) + e − K1 r ' ( â θ r ) E '1 = η1 sen θ η1 sen θ r 2 2 4π 4 π r (r ' ) (7.56) Γr I Lj ∆ L r I Lj ∆ L 1 − K1 r 1 sen θ e ( − â φ ) + sen θ r e − K1 r ' ( â φ r ) H'1 = 2 2 4π 4 π r (r ' ) (7.57) O campo magnético total (termos em 1/r e em 1/r2) será aquele dado pela soma dos campos magnéticos parciais definidos pelas equações (7.55) e (7.57). O campo elétrico de natureza não conservativa (termo apenas em 1/r) associado a este campo magnético é o seguinte: r µ1 I Lj ∆ L E NC 1 = − j ω 4π r µ1 Γr I Lj ∆ L 1 − K r ' 1 − K1 r e ( − â z ) + (− j ω) e 1 ( â z ) (7.58) r 4π r' r Como E NC 1 = − j ω A , o potencial vetor pode ser prontamente calculado, para, em seguida, proceder-se à determinação da força eletromotriz induzida (∆V1, queda de tensão). Assim sendo, o potencial vetor no ponto P1 é dado pela seguinte expressão: r µ1 I Lj ∆ L e − K 1 r µ1 Γr I Lj ∆ L e − K 1 r ' ' A1 = ( − â z ) + ( + â z ) ∴ 4 π r 4π r' r µ1 I Lj ∆ L e − K 1 r e − K 1 r' A1 = + Γr â z − 4π r r ' (7.59) Logo, tem-se para ∆V1: ∆V 1 = − j ω r r A d li ∴ • 1 ∫ Li ∆ V1 = − j r e− K1 r e − K 1 r' â d li − + Γ • r z ∫ r r' Li ω µ 1 I Lj ∆ L 4 π (7.60) r Na equação acima, d li corresponde ao elemento vetorial de comprimento infinitesimal do troço receptor (i). A impedância longitudinal ZL1, definida como a relação entre a queda de tensão no troço receptor (i), gerada pela corrente ΙLj do dipolo fonte, e a própria corrente ΙLj será dada por: Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 170 Diferentes Z L1 = ω µ1 ∆ L Z L1 = − j 4π ∆ V1 ∴ I Lj e− K1 r e − K 1 r' ∫ − r + Γr r ' Li r â z • d li (7.61) No entanto, interessa determinar a impedância longitudinal entre o troço emissor (j) no eixo z, que na prática não é infinitesimal, e o troço receptor (i). Inicialmente determina-se ∆Vij e em seguida ZLij: ∆Vij = − j ω µ1 I Lj 4π r r e − K1 r e − K1 r' ( − â z ) • d li + ∫ ∫ Γr â z • d li ∫ ∫ r r' Li Lj Li Lj' (7.62) Finalmente, tem-se ZLij: Z Lij = ω µ1 Z Lij = − j 4π ∆ Vij ∴ I Lj r r e− K1 r e − K 1 r' ( − â z ) • d li + ∫ ∫ Γr â z • d li ∫ ∫ r r' Li Lj Li Lj' O coeficiente de reflexão (Γr, complexo) é dado por Γr = (7.63) η 2 cos α t − η1 cos α i , η 2 cos α t + η1 cos α i conforme equação (7.41). Nas equações (7.62) e (7.63) Li, Lj e Lj’ correspondem aos comprimentos dos troços receptor (i), emissor (j) e imagem (j’), como ilustrado na Figura 7.6. A equação (7.63) expressa a impedância longitudinal entre dois elementos condutores, emissor (j) e receptor (i), imersos no meio 1, com a consideração da presença do meio 2. Tal impedância é computada com o auxílio do sistema equivalente (Figura 7.6), sendo, portanto, determinada pela contribuição da fonte real (ΙLj do troço emissor) e pela fonte imagem (Ι’Lj do troço imagem). Para o cálculo da impedância longitudinal própria faz-se i = j na equação (7.63) e procede-se de maneira similar à descrita no Capítulo 6 (seção 6.2). Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 171 Diferentes r r 7.3.3.2 – CAMPOS TOTAIS H 2 , E IMPEDÂNCIA LONGITUDINAL ZLkj 2 e ∆V2 NO MEIO 2 E De acordo com as expressões do campo eletromagnético transmitido na interface de separação dos 2 meios (ponto I), equações (7.49) e (7.50), num raciocínio similar ao do caso do acoplamento transversal, pode-se verificar que, ao invés de se trabalhar com o sistema físico real, é possível idealizar um sistema equivalente constituído por um dipolo (denominado “equivalente”) com uma corrente equivalente complexa (Ι”Lj), que determina o campo transmitido, imersa em um meio ilimitado em todas as direções e com as mesmas características eletromagnéticas do meio 2 (µ2, ε2 e σ2). Este dipolo equivalente, de comprimento ∆L, deve ser adequadamente posicionado e sua corrente Ι”Lj deve ter uma intensidade adequada de forma a gerar os mesmos campos transmitidos para o meio 2 como os no sistema físico real. Verifica-se que o posicionamento adequado é aquele acima da interface de separação entre os meios 1 e 2, diferente do dipolo emissor (j), tendo como ponto médio o ponto H, de coordenadas xh, yh e zh. Adicionalmente, a corrente equivalente deve ser orientada segundo a direção do eixo z e no mesmo sentido da corrente do dipolo emissor ou seja, - âz. A figura 7.7 ilustra o sistema equivalente. Percebe-se que o posicionamento do dipolo equivalente é dependente do ângulo Ψ, que tem relação com o ângulo de incidência αi. Na subseção 7.3.4 apresenta-se a definição deste ângulo. Dipolo equivalente I”Lj θt H = (xh , yh , zh ) ILj θi Normal à interface ri F = (xf , yf , zf ) Dipolo emissor ri Ψ αi Meio 2 (µ 2 , ε2 , σ2 ) I’ = ( x’i , y’i , 0 ) Plano de Interface imaginário (plano xy) r” = ri + rt Ψ Meio 2 (µ 2 , ε2 , σ2 ) rt Troço receptor (k) P2 = (x2 , y2 , z2 ) Figura 7.7 – Sistema equivalente para cômputo do campo eletromagnético total no meio 2. Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 172 Diferentes Na figura acima tem-se as seguintes grandezas geométricas: • cos θ i = cos (180 − α i ) = − cos α i • sen θ i = sen (180 − α i ) = sen α i • cos θ t = cos (180 − ψ) = − cos ψ • sen θ t = sen (180 − ψ ) = sen ψ • cos α i = zf ri • cos ψ = z2 rt • ri = FI' = HI' = = • ( x I' − x f ) 2 + ( y I' − y f ) 2 + (z I' − z f ) 2 = ( x I' − x h ) 2 + ( y I' − y h ) 2 + (z I' − z h ) 2 r" = HP2 = HI' + I' P2 = ri + rt = ( x 2 − x h ) 2 + ( y 2 − y h ) 2 + (z 2 − z h ) 2 Vale frisar que no sistema físico equivalente a fonte real (que corresponde ao dipolo emissor) não existe. Contudo, ela é mantida nesta figura com o objetivo de ilustrar o posicionamento do dipolo equivalente, uma vez que o mesmo será função de ri e de αi, que são amarrados ao dipolo emissor (vide Figura 7.7). No fenômeno de transmissão o ângulo de incidência não é necessariamente o mesmo que na reflexão. Por este motivo o ponto de incidência não será o mesmo da reflexão e é representado agora por I’ e não por I (como no caso da reflexão). r r Assim, de acordo com o sistema equivalente, os campos H 2 , E 2 (considerando apenas os termos em 1/r, de forma similar ao cálculo do campo eletromagnético total no meio 1) são gerados pela corrente equivalente longitudinal (Ι”Lj) do dipolo infinitesimal equivalente, conforme ilustrado na Figura 7.7. Entretanto, é necessário calcular a intensidade deste corrente equivalente. O campo eletromagnético gerado no ponto I’ por Ι”Lj é dado pela seguinte expressão: r I " Lj ∆ L K 2 ef − K 2 ef ri E = e ( − â θ t ) η 2 sen θ t 4 π ri (7.64) Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 173 Diferentes r I " Lj ∆ L K 2 ef − K 2 ef ri H = sen θ t e ( − â φ t ) 4 π ri (7.65) K2ef representa a constante de propagação efetiva do meio 2 (K2 é a constante de propagação intrínseca deste meio) – vide subseção 7.3.4, [SCHROEDER.2001b]. r A intensidade de Ι”Lj é determinada através da consideração de que o campo E (ou o r campo H ) transmitido no ponto I’ da configuração física real (Figura 7.5), gerado por ΙLj r deve ser igual ao campo E no mesmo ponto I’, mas na configuração física equivalente (Figura 7.7), gerado por Ι”Lj. Portanto, tem-se: r r Et = E ∴ Γt I Lj ∆ L 4π I "Lj ∆ L 4π I " Lj = Γ t I Lj η1 sen θ i η 2 sen θ t K 1 − K1 r e ( − â θ t ) = ri K 2ef − K 2 ef ri e ( − â θ t ) ∴ ri η1 sen θ i K 1 η 2 sen θ t K 2 ef e ( − K 1 + K 2 ef ) ri (7.66) De acordo com a equação (7.66) verifica-se que a fonte de corrente equivalente é complexa, sendo assim denominada “corrente equivalente complexa”. Logo, o modelo para cômputo do acoplamento eletromagnético entre troços imersos em meios diferentes é denominado “modelo de correntes complexas equivalentes”. Como afirmado anteriormente, αi e Ψ estão intimamente amarrados um ao outro. Portanto, uma vez que forem devidamente determinados, [SCHROEDER.2001b], ri, θi, θt e K2ef serão conhecidos e, assim, Ι”Lj. Na subseção 7.3.4 tais cálculos são devidamente descritos. Vale antecipar que a trajetória de propagação da energia eletromagnética é essencialmente a mesma quando os pontos de fonte de campo e de observação do mesmo são permutados. Este importante fato está associado ao teorema da reciprocidade. Com a definição completa da fonte equivalente (posicionamento e intensidade) pode-se, então, determinar o campo eletromagnético total no meio 2, num ponto genérico P2 e a força eletromotriz induzida. Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 174 Diferentes O campo eletromagnético total no meio 2 é dado pelas seguintes expressões (vide Figura 7.7): r r E2 = Et ∴ r I "Lj ∆ L E2 = η 2 sen θ t 4π K 2ef e − K 2 ef r" ( − â θ t ) r" (7.67) r r H2 = Ht ∴ K 2ef r I "Lj ∆ L H2 = sen θ t 4π r" e − K 2 ef r" ( − â θ t ) (7.68) Neste ponto, aplica-se um raciocínio similar ao apresentado na subseção anterior. Desenvolvem-se as formulações para os termos em 1/r2 de Eθ e Hφ, que são semelhantes às apresentadas acima. Posteriormente, determina-se o campo elétrico não conservativo, o potencial vetor associado, a queda de tensão e finalmente a impedância longitudinal. Os detalhes são descritos em [SCHROEDER.2001b]. O campo elétrico não conservativo e o potencial vetor assumem as seguintes formas (no ponto P2 – vide Figura 7.7): µ 2 I"Lj ∆ L 1 − K r" r E NC 2 = − j ω e 2 ef ( − â z ) 4π r" r µ 2 I"Lj ∆ L A2 = 4π e − K 2 ef r" Γt ( − â z ) r" (7.69) (7.70) Portanto, ∆V2 assumirá a seguinte forma: ∆V2 = − j ω r r ∫ A 2 • d lk ∴ Lk ω µ2 ∆ L ∆ V2 = − j 4π r ∫ Lk r e − K 2 ef r" I"Lj ( − â z ) • d l k r" (7.71) Na equação acima, d lk corresponde ao elemento vetorial de comprimento Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 175 Diferentes infinitesimal do segmento receptor (k), de comprimento Lk, cujo ponto médio é P2. Assim sendo, a impedância longitudinal ZL2, definida como a relação entre a queda de tensão neste segmento, gerada pela corrente ΙLj do dipolo emissor, e a própria corrente ΙLj será dada por: Z L2 = ∆ V2 I Lj (7.72) No entanto, interessa determinar a impedância longitudinal entre o troço emissor (j) no eixo z, que na prática não é infinitesimal, e o troço receptor (i). Inicialmente determina-se ∆Vkj e em seguida ZLkj: ∆ Vkj = − j ω µ2 4π ∫ ∫ Lk Lj" I"Lj r e − K 2 ef r" ( − â z ) • d l k r" Os complexos Γt e Ι”Lj são expressos por: Γt = (7.44) e I " Lj = Γt I Lj η1 sen θ i K 1 e ( − K1 + K 2 ef ) ri η 2 sen θ t K 2ef 2 η 2 cos α i η 2 cos α t + η1 cos α i (7.73) - equação - equação (7.66). Finalmente, tem-se ZLkj: Z Lkj = ∆ Vkj (7.74) I Lj Na equação (7.73) Lk e Lj” correspondem aos comprimentos dos troços receptor (k) e emissor equivalente (j), como esboçado na Figura 7.7. A equação (7.74) expressa a impedância longitudinal entre dois elementos condutores, emissor (j) e receptor (k), imersos nos meios 1 e 2, respectivamente. Esta impedância é determinada com o auxílio do sistema equivalente, representado na Figura 7.7, cuja fonte de corrente corresponde à corrente equivalente complexa Ι”Lj. A formulação apresentada para o cômputo do acoplamento longitudinal, considerou a fonte de corrente no meio 1 (troço emissor j). Contudo, caso a fonte esteja situada no meio 2 as deduções são essencialmente similares (com pequenas correções facilmente perceptíveis) e, assim, não serão apresentadas neste trabalho. Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 176 Diferentes É importante destacar que a formulação apresentada para o acoplamento longitudinal satisfaz o teorema da reciprocidade [STRATON.1941]. Logo, o campo eletromagnético é o mesmo quando pontos de fonte de corrente e observação de campo são trocados, independentemente onde tais pontos estão situados (no mesmo meio ou em meios diferentes). Assim, a matriz de impedância longitudinal, obtida por meio da aplicação das equações (7.63) e (7.74), é simétrica. 7.3.4 – ÂNGULOS DE TRANSMISSÃO COMPLEXO (αt) E REAL (Ψ) A equação que traduz matematicamente a Lei de Snell da refração (ou da transmissão) apresenta a seguinte forma: sen α t = K1 sen α i K2 (7.75) As grandezas envolvidas na equação (7.75) já foram definidas nas seções anteriores. Contudo isto é feito novamente: • αi ⇒ ângulo de incidência (grandeza real). • αt ⇒ ângulo de transmissão. • K1 = j ω µ1 ( σ1 + j ω ε1 ) = α1 + j β1 ⇒ constante de propagação do meio 1 - α1 e β1 são, respectivamente, as constantes de atenuação e de defasamento intrínsecas deste meio. • K 2 = j ω µ 2 ( σ 2 + j ω ε 2 ) = α 2 + j β 2 ⇒ constante de propagação do meio 2 - α2 e β2 são, respectivamente, as constantes de atenuação e de defasamento intrínsecas deste meio. Como pode ser facilmente verificado, desde que pelo menos um dos dois meios apresente condutividade diferente de zero, a equação (7.75) gera um ângulo de transmissão complexo (αt). Um ângulo de transmissão complexo não é fisicamente realizável e, portanto, torna-se necessário determinar um ângulo que corresponda ao verdadeiro ângulo de transmissão, que será denominado Ψ [STRATON.1941, HARRINGTON.1961, ADLER.1965, Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 177 Diferentes HOLMES.1978, RADCLIFF.1982, BALANIS.1989]. Para tal desenvolve-se a expressão do termo e − K2 r , que traduz a propagação do campo no meio 2, tanto para o caso de acoplamento transversal quanto para o longitudinal; r corresponde a uma distância entre os pontos genéricos de interface (ponto I), no plano de separação dos meios 1 e 2, e P2. Isto é ilustrado na Figura 7.8. Os detalhes de tal desenvolvimento encontram-se em [SCHROEDER.2001b]. N o rm a l à in te r fa c e (p la n o x y ) z F = ( x f , y f , z f) P 1 = (x 1 , y 1 , z 1) αr αi M e io 1 ( µ 1 , ε 1 , σ 1) y M e io 2 ( µ 2 , ε 2 , σ 2) I = ( x i , y i , z i) = ( x i , y i , 0 ) r x P 2 = (x 2 , y 2 , z 2) Ψ é o â n g u lo d e tr a n s m i s s ã o r e a l , um a vez que α t é c o m p le x o . Figura 7.8 – Ilustração da propagação da onda eletromagnética no meio 2. − O resultado do desenvolvimento da expressão e K2 r é o seguinte: e − K2 r = e { [ − τ α1 senαi − z m (α2 cos a − β2 sen a) ] + j [− τ β1 sen αi − z m (α2 sen a + β2 cos a) ] } Na equação (7.76) as seguintes variáveis estão presentes: • τ traduz deslocamento no plano xy e z o deslocamento no eixo z. (7.76) Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 178 Diferentes • 2 1 − 1 − 2 α e q β e q sen α i a = tan 2 1 − sen 2 α i ( α e2 q − β e2 q ) • m= • αe q = [1 − sen 2 α i ( α e2 q − β e2 q ) ] 2 + [ 2 α e q β e q sen 2 α i ] 2 α1 α 2 + β1 β 2 α 22 + β 22 e βe q = α 2 β1 − α1 β 2 α 22 + β 22 Alguns aspectos físicos, decorrentes do fato de αt ser complexo, merecem ser destacados com relação à equação (7.76): • Os termos e [ − τ α 1 sen α i − z m (α 2 cos a − β 2 sen a ) ] e e j [ − τ β1 sen α i − z m (α 2 sen a + β 2 cos a ) ] representam, respectivamente, a atenuação e o defasamento da onda eletromagnética no meio 2. • As constantes de atenuação e de fase do meio 2 não correspondem mais às constantes de atenuação e de fase intrínsecas deste meio (α2 e β2, respectivamente) e passam a ser denominadas “constantes de atenuação e de fase efetivas do meio” (α2ef e β2ef), sendo expressas, respectivamente, pelas seguintes expressões: • α 2ef = [ α1 sen α i ]2 + [ m ( α 2 cos a − β 2 sen a ) ] 2 (7.77) β 2ef = [ β1 sen α i ] 2 + [ m ( α 2 sen a + β 2 cos a ) ] 2 (7.78) Os ângulos, em relação a normal à interface de separação dos dois meios, que definem as direções de atenuação (ξ) e de defasamento (ψ), respectivamente, são diferentes e definidos pelas seguintes expressões: • α1 sen α i ξ = tan −1 [ m (α 2 cos a − β 2 sen a ) ] (7.79) β1 sen α i ψ = tan −1 [ m (α 2 sen a + β 2 cos a ) ] (7.80) As direções de atenuação e de defasamento são definidas, respectivamente, pelos seguintes vetores unitários: n̂ ξ e n̂ ψ . Assim, os planos de amplitude e de fase constantes são perpendiculares, respectivamente, aos vetores n̂ ξ e n̂ ψ . Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 179 Diferentes • A onda trafega ao longo da direção definida pelo vetor unitário n̂ ψ , que corresponde à direção caracterizada pelo ângulo de defasamento (ψ) em relação a normal à interface dos dois meios. A Figura 7.9 ilustra os aspectos físicos mencionados acima. Duas importantes conclusões podem ser extraídas: • A onda que propaga no meio 2 corresponde a uma “Onda Não-Uniforme”, uma vez que as direções de atenuação e de defasamento são diferentes, diferentemente de uma Onda Uniforme, onde tais direções são idênticas. Esta é a principal conseqüência do ângulo de transmissão complexo oriundo da Lei de Snell da Refração. Consequentemente, os planos de amplitude e de fase constantes deixam de ser paralelos, como no caso de ondas uniformes, e passam a ter um ângulo entre si, que será denominado ζ, onde: ζ = ψ − ξ . • O verdadeiro ângulo de transmissão (ou refração) corresponde ao ângulo ψ, que define a direção de propagação da onda eletromagnética no meio 2, segundo a equação (7.80). Assim, tal direção corresponde àquela dada pelo vetor unitário n̂ ψ , que caracteriza a direção de defasamento da onda neste meio. No sistema equivalente representado na Figura 7.7 os aspectos físicos citados acima têm que ser levados em consideração. Logo, a constante de propagação no meio 2 não corresponde à constante de propagação K2 e passa a ser aquela denominada constante de propagação efetiva do meio 2 (K2ef), expressa pela seguinte equação: K 2ef = α 2ef cos ( ψ − ξ ) + j β 2ef (7.81) Com relação à equação que define o verdadeiro ângulo de transmissão (Ψ), equação (7.80), uma última e fundamental questão tem que ser discutida e equacionada. Como se pode perceber, Ψ depende do ângulo de incidência (αi) e dos parâmetros eletromagnéticos dos dois meios (µ1 e µ2, ε1 e ε2, σ1 e σ2), expressos através das variáveis αeq e βeq. Uma vez que as características eletromagnéticas dos meios em questão são conhecidas, com ou sem variação com a freqüência, αeq e βeq são unicamente determinados (para cada freqüência). No entanto, αi (e, assim, Ψ), dependerá dos pontos de fonte (F) e de observação (P2), onde Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 180 Diferentes se deseja calcular os campos vetoriais e os escalares e, também, do ponto de incidência (I na interface de separação dos dois meios). Contudo, o ponto de incidência não é conhecido a priori, independentemente do prévio conhecimento das coordenadas dos pontos F e P2. Em outras palavras, existem diversos αi’s (e, assim, diversos pontos de incidência) associados ao ponto F, mas somente um valor satisfaz as coordenadas do ponto P2. Em conseqüência, foi desenvolvida uma rotina numérica, recursiva, baseada, evidentemente, na equação (7.80), que determina qual o valor de αi que produz um valor adequado de Ψ de tal forma que as coordenadas do ponto P2 sejam satisfeitas. Vale frisar que esta rotina é aplicada para cada par de troços condutores (um receptor e outro emissor) imersos em meios diferentes considerando o ponto médio de tais troços. Como pode ser verificado, o ângulo de transmissão real é aplicado somente no cômputo do acoplamento longitudinal [SCHROEDER.2001b]. z N o r m a l à in te r fa c e F P1 τ - P la n o d e I n te r fa c e d e s e p a r a ç ã o e n tr e o s m e io s 1 e 2 ( p la n o x y ) M e io 1 ( µ 1 , ε 1 , σ 1) P la n o s d e a m p litu d e c o n s ta n te I τ P la n o s d e fa s e c o n s ta n te ξ Ψ nξ M e io 2 (µ 2 , ε 2 , σ 2) P2 nΨ Figura 7.9 – Representação esquemática da propagação da onda não uniforme no meio 2 – observase que as direções de atenuação e de defasamento são diferentes. Como comentário final, vale mencionar que com a determinação de αi e, em seguida, Ψ e, também, ξ, torna-se possível calcular ri, rt, as coordenadas dos pontos H e I’ e os ângulos θi e θt (Figura 7.7). Consequentemente, calcula-se K2ef, Ι”Lj e ZLkj expressos pelas equações (7.81), (7.66) e (7.74), respectivamente. Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 181 Diferentes A formulação aplicada para a determinação dos ângulos αi e Ψ satisfazem o teorema da reciprocidade. Assim sendo, verifica-se que a trajetória de propagação da energia eletromagnética é exatamente a mesma quando o ponto de observação de campo e o de fonte são permutados, mesmo quando situados em meios diferentes. As formulações que foram apresentadas nas últimas três subseções são válidas para meios genéricos. Contudo, particularmente para as aplicações que interessam o meio 1 corresponde ao ar e o meio 2 ao solo. 7.3.5 – ESQUEMA DE SOLUÇÃO FINAL O esquema de solução final é similar ao apresentado no Capítulo 6 (subseção 6.3.4). Ao calcular as impedâncias transversal e longitudinal para cada par de troços condutores (um emissor e outro receptor) imersos no mesmo meio ou em meios diferentes, através das equações (7.25), (7.34), (7.63) e (7.74), respectivamente, as matrizes que computam os acoplamentos em causa, próprios e mútuos, são compostas para o sistema de troços condutores em questão. A partir deste ponto, o esquema de solução é aquele descrito na seção 6.2, onde é possível determinar, após a especificação do sinal solicitante, a resposta desejada do sistema no domínio da freqüência ou do tempo. 7.3.6 – ASPECTOS COMPUTACIONAIS Os aspectos computacionais são essencialmente similares aos descritos no Capítulo 6 (subseção 6.3.5). Contudo, alguns importantes aspectos, não envolvidos no cálculo dos acoplamentos transversal e longitudinal descritos no Capítulo 6 (subseções 6.3.2 e 6.3.3), merecem ser destacados: • As respostas do modelo com a inclusão da formulação apresentada nas subseções 7.3.2, 7.3.3 e 7.3.4 são muito sensíveis em relação ao comprimento especificado para os troços condutores. Isto não ocorre quando se utiliza a formulação apresentada nas subseções 6.3.2 e 6.3.3 do Capítulo 6. A sensibilidade em questão é discutida no Capítulo 8. Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 182 Diferentes • As matrizes que computam os acoplamentos transversal e longitudinal, como no caso das respectivas matrizes apresentadas no Capítulo 6, são simétricas (satisfazem o teorema da reciprocidade). No entanto, o tempo computacional envolvido, quando se considera a formulação mais geral apresentada neste capítulo, é maior que aquele oriundo da aplicação da formulação descrita no Capítulo 6 (subseções 6.3.2 e 6.3.3), pois agora considera-se o acoplamento entre elementos condutores imersos em meios distintos. • Foi realizada uma extensa análise de sensibilidade para avaliação da influência do posicionamento relativo da fonte emissora de campo e do ponto receptor do efeito (ponto de observação do campo) para fins de comparação dos resultados de impedâncias transversal / longitudinal, elevação de potencial em relação ao infinito, queda de tensão, campo eletromagnético, etc. oriundos da aplicação do modelo com a formulação de acoplamento descrita no Capítulo 6 e a formulação elaborada no presente capítulo [SCHROEDER.2001c]. 7.3.7 – APLICAÇÕES DO MODELO As aplicações do modelo com a inclusão desta nova formulação de cômputo dos acoplamento transversal e longitudinal, de uma forma geral, são as mesmas que foram apresentadas na seção 6.3.6 do Capítulo 6, com as vantagens de se considerar tais acoplamentos para meios genéricos, tal como a presença de um solo real (condutividade finita) e o cálculo de acoplamento para elementos condutores situados em meios diferentes. Adicionalmente, há a possibilidade de estender esta formulação, de uma forma bastante natural, para o caso de solos com diferentes camadas (estratificação do solo). Uma outra aplicação interessante corresponde à verificação da relação entre a corrente da descarga atmosférica e o campo eletromagnético gerado. Grande parte da literatura considera, nesse caso, o solo como condutor perfeito, o que não corresponde a uma boa aproximação quando se consideram grandes distâncias entre o ponto de incidência de descarga e o ponto de observação do correspondente campo, uma vez os efeitos de propagação são pronunciados. Capítulo 7 - Acoplamento Eletromagético entre Elementos Condutores Imersos no mesmo Meio e em Meios 183 Diferentes 7.4 – APLICAÇÃO DO MODELO NO ESTUDO DOS EFEITOS DE CONTAMINAÇÃO DOS SINAIS DE CORRENTE NA ESTAÇÃO DO MORRO DO CACHIMBO No Capítulo 6 (seção 6.4) foi apresentado um resumo dos primeiros resultados da aplicação do modelo, com o acoplamento desenvolvido naquele capítulo, nos estudos de contaminação do sistema de medição sobre as correntes medidas na Estação de Cachimbo. Os mesmos cálculos são reprocessados com a inclusão da nova formulação de acoplamento, para realização de análise de sensibilidade e os resultados correspondentes são apresentados no Capítulo 8 (“Resultados e Análises) e em [SCHROEDER.2001d]. 7.5 – CONCLUSÕES Neste capítulo foi apresentada uma nova formulação, considerada a maior contribuição deste trabalho, desenvolvida diretamente a partir das Equações de Maxwell, que permite computar os acoplamentos transversal e longitudinal entre elementos imersos no mesmo meio ou em meios distintos, onde tais meios são tratados de forma genérica. Isto permite a consideração, inclusive, de solos reais (com condutividades finitas), uma vez que para as aplicações de interesse os dois meios em questão são o ar e o solo. A inclusão desta formulação no modelo já elaborado confere ao mesmo um caráter de maior generalidade e exatidão nos resultados oriundos de sua aplicação, pois possibilita computar de forma mais consistente a interação eletromagnética entre canal de descarga, torre e aterramento. CAPÍTULO 8 RESULTADOS E ANÁLISES 8.1 – INTRODUÇÃO O objetivo deste capítulo é apresentar diversos resultados de simulação, juntamente com as respectivas análises e interpretações, oriundos da aplicação do modelo eletromagnético desenvolvido neste trabalho (Capítulos 6 e 7) em estações fixas com torres providas de instrumentos de medição (“torres instrumentadas”). Contudo, ênfase é dada ao sistema de medição (torre e aterramento, com ou sem a presença do canal) da Estação de Pesquisas de Descargas Atmosféricas do Morro do Cachimbo. Tais simulações permitem a compreensão do efeito relativo à “contaminação” das ondas de corrente medidas nesta estação e, em seguida, o desenvolvimento de práticas que possibilitam a “descontaminação” de tais ondas (ou recuperação do sinal de corrente “original”). A aplicação do modelo é processada com a utilização das duas formulações para o cômputo do acoplamento eletromagnético: aquela apresentada na seção 6.3 do Capítulo 6, que será designada “imagens ideais” e aquela desenvolvida nas seções 7.3.3 e 7.3.4 do Capítulo 7, denominada “imagens complexas equivalentes”. Em alguns casos é utilizado o EMTP com a finalidade de demonstrar a inadequação da aproximação do modo de propagação TEM para o campo eletromagnético gerado pela distribuição de corrente do sistema em questão. Ao longo deste capítulo, dois importantes aspectos são discutidos. O primeiro refere-se à avaliação de qual corrente deve ser considerada como a corrente “descontaminada”, ou seja, aquela que não é afetada pela presença da estrutura a ser atingida, que será denominada “onda de corrente original”. O outro refere-se ao modelo adotado para a representação da injeção da onda de corrente de descarga: diretamente na estrutura (ou solo) ou com a presença do canal de conexão ascendente e as decorrentes diferenças nos efeitos de contaminação. Capítulo 8 – Resultados e Análises 185 8.2 – CONSIDERAÇÕES BÁSICAS: “ONDA DE CORRENTE ORIGINAL” Ao se considerar o estudo relativo à descontaminação das ondas de corrente de descarga atmosférica medidas diretamente (ou até mesmo indiretamente) depara-se com uma questão fundamental: “Qual deveria ser considerada a onda de corrente “original” ? Como um princípio básico, esta onda original teria que corresponder àquela que fluiria ao longo do canal de descarga e torre sem sofrer a influência das contaminações decorrentes das diversas reflexões existentes no percurso da mesma. Com o objetivo de calcular tal onda original, alguns autores propõem um modelo para a injeção de corrente de descarga que corresponde à injeção desta diretamente no topo da torre [BEIERL.1992, GUERRIERI.1994, GUERRIERI.1998, RAKOV.2000a]. Contudo, como é sabido, o ponto de conexão ocorre normalmente a algumas centenas de metros acima da torre. Assim, para uma representação mais precisa, o modelo de injeção deveria contemplar a injeção de corrente no canal de descarga justamente no ponto de conexão (consideração do canal de conexão ascendente). Como é mostrado neste capítulo, a adoção das duas injeções de corrente gera resultados totalmente diferentes. Quando uma descarga atmosférica atinge uma estrutura, a corrente é sempre submetida a efeitos de contaminação, uma vez que as descontinuidades sempre existirão (canal de descarga – estrutura e estrutura – aterramento). A característica da estrutura é que determina o perfil de contaminação. Parece razoável assumir que a corrente medida em estações fixas com “torre instrumentada” e, portanto, contaminada, é representativa para estudos de desempenho de linhas de transmissão frente às descargas atmosféricas, devido a similaridade entre as estruturas atingidas. 8.3 – ASPECTOS BÁSICOS QUANTO AOS EFEITOS DE CONTAMINAÇÃO Nesta seção diversos aspectos básicos com relação aos efeitos de contaminação são devidamente discutidos e elucidados. Para tal considera-se um sistema de condutores com geometria relativamente simples, porém representativo para o estudo em causa: a torre 186 Capítulo 8 – Resultados e Análises é representada por um único condutor de 60 m de altura e 1 cm de raio e o aterramento é constituído por dois condutores em forma de cruz, onde cada um tem 20 m de comprimento e raio de 1 cm. A Figura 8.1 ilustra o sistema em questão. i(t) z x Aterramento 60m Ponto de medição Ar y Solo y 1m Aterramento 20m Figura 8.1 – Configuração básica - torre e aterramento. Como nesta seção objetiva-se analisar aspectos básicos de contaminação, a forma de onda que representa a corrente de descarga corresponde a uma curva triangular com tempo de frente igual a 1,2 µs e de cauda igual a 50 µs, com um pico de 1pu. Posteriormente, considera-se ondas de corrente reais medidas na Estação de Cachimbo. Com o sistema acima definido, diversas simulações foram realizadas. Inicialmente, considera-se que a onda de corrente é injetada no topo da torre (com e sem a presença do canal) e analisa-se a corrente que seria medida na base da mesma, para diferentes resistividades do solo e considerando as duas formulações de acoplamento: imagens ideais e complexas equivalentes. Em seguida, procede-se à mesma análise, porém com a presença do canal (injeção de corrente no topo do canal de conexão ascendente). 8.3.1 – CONTAMINAÇÃO DO SINAL DE CORRENTE SEM A PRESENÇA DO CANAL DE DESCARGA De início, é oportuno salientar que a expressão “sem a presença do canal de Capítulo 8 – Resultados e Análises 187 descarga” significa aqui que, além do ponto de injeção de corrente ser diretamente no topo da torre, o canal de descarga é representado por uma fonte de corrente ideal (impedância infinita). A Figura 8.2 ilustra as correntes que seriam medidas na base da torre (Figura 8.1), quando da injeção da onda de corrente (curva triangular) diretamente no topo da mesma, decorrentes da aplicação do modelo “imagens ideais”. Considera-se uma faixa bastante ampla de valores típicos de resistividade do solo: 100, 500, 1000, 5.000 e 10.000 Ω.m. Por outro lado, a Figura 8.3 exibe os mesmos resultados com a aplicação do modelo “imagens complexas equivalentes”. Estas duas figuras ilustram com bastante clareza o efeito de contaminação sobre as ondas de corrente na base da torre, pois estas são diferentes da onda que é injetada no topo da torre, independentemente da resistividade do solo. Adicionalmente, verifica-se um efeito de contaminação variável com a resistividade do solo. Os valores de pico da corrente sofrem uma sobrelevação na faixa de aproximadamente 10 a 23%. Ademais, a contaminação é tanto menos intensa quanto maior o valor da resistividade do solo. Este tipo de comportamento pode ser atribuído ao fato de que quanto maior a resistividade do solo, mais próximo será seu valor de impedância em relação à impedância da torre (a torre geralmente possui impedância maior que a do aterramento). Assim, menor será a reflexão de corrente na interface torre - aterramento. Para fins de comparação dos resultados oriundos da aplicação do modelo “imagens ideais” com a do “imagens complexas equivalentes” procedeu-se à construção da Figura 8.4, que ilustra a onda de corrente injetada e aquelas na base para as resistividades de 100, 5.000 e 10.000 Ω.m. Verifica-se que, independentemente do valor de resistividade, os resultados decorrentes dos dois tipos de acoplamento (imagens ideais versus complexas equivalentes) são essencialmente os mesmos. Para a resistividade de 100 Ω.m praticamente não existe diferença, enquanto para 5.000 Ω.m e 10.000 Ω.m observam-se diferenças maiores que para 100 Ω.m, porém reduzidas. Pode-se, então, para o sistema em causa, considerar apenas os resultados gerados pelo modelo de imagens ideais, que, pelo fato de não computar acoplamento entre elementos condutores posicionados em meios distintos, apresenta tempos de simulação bastante reduzidos quando comparados com os tempos envolvidos na aplicação do modelo de imagens complexas equivalentes. Acredita-se que para sistemas relativamente pequenos, onde os efeitos de propagação não são muito 188 Capítulo 8 – Resultados e Análises pronunciados, é razoável assumir a igualdade entre as respostas do modelo com imagens ideais e complexas equivalentes. Outro fator que contribui para os maiores tempos de simulação com imagens complexas equivalentes refere-se à maior sensibilidade com relação aos comprimentos dos troços condutores. Enquanto no caso de imagens ideais um comprimento de 5 m para troços no ar gera bons resultados, para imagens complexas equivalentes este comprimento tem que ser de 1 m (2 m produzem resultados de qualidade não satisfatória). Para troços no solo o comprimento de 1 m é o suficiente tanto para imagens ideais quanto complexas equivalentes. 1.4 ρ = 100 Ω.m ρ = 500 Ω.m ρ = 1.000 Ω.m 1.2 Corrente (pu) 1 0.8 ρ = 10.000 Ω.m ρ = 5.000 Ω.m 0.6 ρ = 2.500 Ω.m 0.4 Corrente injetada 0.2 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.2 – Correntes na base da torre para seis valores de resistividade do solo – “imagens ideais”. No Capítulo 5 diversas simulações foram realizadas com a utilização do EMTP para modelar o sistema de medição (canal, torre e aterramento) e, assim, proceder análises com relação aos efeitos de contaminação. No Capítulo 6 e, também no 5, foram feitas críticas quanto à utilização do EMTP, quando da consideração do modo de propagação TEM para o campo eletromagnético, para este tipo de estudo. 189 Capítulo 8 – Resultados e Análises 1.4 ρ = 100 Ω.m ρ = 500 Ω.m ρ = 1.000 Ω.m 1.2 Corrente (pu) 1 0.8 ρ = 10.000 Ω.m 0.6 ρ = 5.000 Ω.m ρ = 2.500 Ω.m 0.4 Corrente injetada 0.2 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.3 – Correntes na base da torre para seis valores de resistividade do solo – “imagens complexas equivalentes”. 1.4 ρ = 100 Ω.m ρ = 5.000 Ω.m 1.2 Corrente (pu) 1 0.8 ρ = 10.000 Ω.m 0.6 0.4 Corrente injetada 0.2 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.4 – Correntes na base da torre para seis valores de resistividade do solo – “imagens ideais” versus “imagens complexas equivalentes”. Capítulo 8 – Resultados e Análises 190 Com o objetivo de realçar tais críticas, quatro simulações foram processadas com o EMTP e os resultados foram comparados com aqueles provenientes da aplicação do modelo com imagens ideais: • EMTP 01 ⇒ impedância da torre (ZT) = 480 Ω (vide Capítulo 5) e impedância impulsiva do aterramento (ZP) = 0 Ω (para satisfazer o coeficiente de reflexão de corrente unitário na base da torre [BEIERL.1992, GUERRIERI.1998, RAKOV.2000a]). • EMTP 02 ⇒ ZT = 150 Ω (vide Capítulo 5) e ZP = 0 Ω. • EMTP 03 ⇒ ZT = 480 Ω e ZP = 30 Ω (vide Tabela 5.1 no Capítulo 5). • EMTP 04 ⇒ ZT = 150 Ω e ZP = 30 Ω (vide Capítulo 5). • Corrente injetada corresponde a uma curva triangular 1,2/50 µs com um pico de 1 pu. A Figura 8.5 ilustra as comparações em questão. Pode ser verificado que as ondas de corrente na base da torre oriundas das simulações EMTP 03 e EMTP 04 são bastante similares às correntes geradas pela aplicação do modelo para as resistividades do solo de 100 Ω.m e 5.000 Ω.m, respectivamente. Neste caso, o fato destes resultados terem sido semelhantes não traduzem informação física, uma vez que as simulações no EMTP foram realizadas com o intuito de que as similaridades em causa realmente ocorressem. Por exemplo, a impedância impulsiva que representa o aterramento nas simulações no EMTP teve que ser mantida em 30 Ω para que os resultados fossem os mesmos da aplicação do modelo, tanto para a resistividade de 100 Ω.m, quanto para a de 5.000 Ω.m (enquanto a impedância da torre foi alterada de 480 Ω para 150 Ω, respectivamente), o que é fisicamente inconsistente, pois a impedância impulsiva de um mesmo aterramento é bastante diferente para estes dois valores de resistividade. Por outro lado, quando a impedância impulsiva do aterramento é nula (EMTP 01 e EMTP 02) os resultados gerados pelo EMTP, a despeito do valor de impedância adotado para a torre (150 ou 480 Ω), são bastante distintos daqueles do modelo com imagens ideais. Os resultados discutidos no último parágrafo indicam a dificuldade de aplicação do EMTP para o estudo de contaminação de sinais de corrente medidos em estações fixas, uma vez que usualmente os modelos empregados pelo programa assumem um modo TEM de propagação do campo eletromagnético. Ademais, percebe-se que para simulações com o EMTP é necessário o conhecimento prévio de valores de impedância da torre e do aterramento para que os resultados possam ser gerados. A definição desses valores é um ponto crítico e influencia muito os resultados. Ao contrário, o modelo desenvolvido neste 191 Capítulo 8 – Resultados e Análises trabalho não precisa deste tipo de informação, pois é capaz de representar de forma direta a configuração física do sistema que se pretende estudar. 1.4 EMTP 01 / 02 1.2 Corrente (pu) 1 0.8 0.6 ρ = 5.000 Ω.m ρ = 100 Ω.m 0.4 EMTP 03 EMTP 04 0.2 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.5 – Correntes na base da torre – EMTP versus “imagens ideais”. Procede-se, em seguida, às mesmas análises realizadas nesta subseção, porém com a presença do canal de descarga atmosférica. 8.3.2 – CONTAMINAÇÃO DO SINAL DE CORRENTE COM A PRESENÇA DO CANAL DE DESCARGA Vale explicitar o significado da expressão “com a presença do canal de descarga”. Neste trabalho, caso o ponto de injeção de corrente seja admitido diretamente no topo da torre, o canal de conexão ascendente está sendo desconsiderado. Por outro lado, quando o ponto de injeção é no topo do canal de descarga, considera-se a existência de um canal de conexão ascendente com determinado comprimento. A presença de um canal de descarga atmosférica no topo da torre (sistema ilustrado na Figura 8.1) é considerada através da adição de um condutor de raio 10 cm [UMAN.1984] e comprimento de 300 m. Este, como comentado no parágrafo acima, Capítulo 8 – Resultados e Análises 192 representa o canal de conexão ascendente, que possui comprimentos de algumas centenas de metros. A onda de corrente que representa a descarga atmosférica (curva triangular) é injetada no topo do canal. É sabido que, após o encontro do canal precursor de descarga (descendente) com o de conexão (ascendente), dois pulsos de corrente começam a propagar do ponto de conexão: um positivo para cima e outro negativo para baixo, no caso de descarga atmosférica descendente negativa. Estes dois pulsos correspondem ao movimento das cargas no canal após o encontro dos canais descendente e ascendente. Apesar do modelo permitir a representação dos dois pulsos em causa, a consideração da onda de corrente injetada no topo do canal, como descrito no parágrafo anterior, desconsidera o pulso de corrente que sobe. Devido ao comprimento de 300 m do canal, tal desconsideração é fisicamente razoável, uma vez que o acoplamento eletromagnético deste pulso com a torre e o aterramento é desprezível. Para comprimentos menores, o acoplamento do pulso em causa com a estrutura pode se tornar importante, a ponto de influenciar no efeito de contaminação. Entretanto, esta análise é deixada para trabalhos futuros. Considera-se que a onda de corrente trafega no canal com a velocidade da luz (300 m/µs). São considerados três condições geométricas da interação do canal com a estrutura: vertical, horizontal e um ângulo de 450 com a torre. Com relação à velocidade de propagação no canal de descarga alguns comentários adicionais merecem destaque. Sabe-se que tal velocidade é da ordem de 33,33 % a 50% da velocidade de propagação das radiações eletromagnéticas no vácuo (velocidade da luz 300 m/µs), ou seja, aproximadamente de 100 m/µs a 150 m/µs. Esta redução em relação à velocidade da luz decorre de alguns fatores. Um deles corresponde ao envelope de corona que é constituído, ao redor do canal propriamente dito, na ocorrência da descarga atmosférica. Este corona influencia nos parâmetros transversais do canal (efeitos capacitivo e condutivo). Outro fator está associado às perdas no canal, que correspondem ao efeito resistivo no centro condutor da corrente de descarga. O efeito indutivo desta corrente na redução da velocidade é geralmente desprezível. Os dois últimos correspondem aos parâmetros longitudinais do canal. Embora o modelo seja capaz de computar adequadamente a velocidade de propagação no canal de descarga, objetiva-se neste trabalho proceder a uma análise prospectiva da influência do canal no efeito de contaminação. Por conseguinte, mantém-se tal velocidade igual à das radiações Capítulo 8 – Resultados e Análises 193 eletromagnéticas no vácuo. Evidentemente, a consideração do valor real desta velocidade influencia no acoplamento do canal com o aterramento e, principalmente, com a torre. Consequentemente, influencia também no efeito de contaminação do sinal de corrente. Contudo, uma análise quantitativa desta influência é postergada para trabalhos futuros. Outra característica do canal de descarga atmosférica que foi desconsiderada, e que influencia no efeito de contaminação, refere-se à tortuosidade do mesmo. O modelo também é capaz de incorporar tal característica. Entretanto, esta atividade não é objeto deste trabalho. Usualmente o acoplamento eletromagnético entre o canal e a torre é desprezado. No estudo realizado nesta subseção pretende-se avaliar a importância relativa desse acoplamento, incluindo ainda o acoplamento com o aterramento. Adicionalmente, procedese a uma análise dos modelos de injeção de corrente no topo da torre utilizados em diversos trabalhos. A despeito da relativa simplicidade do modelo adotado para o canal, diversos resultados interessantes foram obtidos. As Figuras 8.6, 8.7 e 8.8 ilustram as correntes resultantes no topo e na base da torre com a consideração de canais vertical, 450 com a torre e horizontal, respectivamente, com a aplicação do modelo com imagens ideais. O solo considerado possui uma resistividade de 5.000 Ω.m. Para uma melhor análise de sensibilidade, em todas as figuras estão representadas as correntes injetada no topo do canal e aquela que resultaria na base da torre caso a injeção fosse no topo da mesma e sem a consideração do canal de descarga (conforme definição apresentada na subseção 8.3.1). Verifica-se que o ângulo de incidência não influencia significativamente a contaminação das ondas de corrente. Como pode ser observado, independentemente da interação do canal com a torre (vertical, horizontal e 450), os efeitos de contaminação são muito mais severos que aqueles quando se considera a ausência do canal (aproximadamente 50% contra 18%, respectivamente). Adicionalmente, a frente das ondas de corrente, principalmente na base da torre, são mais suaves com a presença do canal. 194 Capítulo 8 – Resultados e Análises Os resultados indicam a importância de se considerar o acoplamento eletromagnético entre o canal e a torre, que é usualmente desprezado nos trabalhos que tratam do RUSAN.1996, assunto [BEIERL.1992, FUCHS.1998b, GUERRIERI.1994, GUERRIERI.1998, JANISCHEWSKYJ.1996, RAKOV.2000a, SHOSTAK.2000]. Ilustram, também, que o modelo de injeção de corrente no topo da torre, normalmente utilizado na literatura, subestima os efeitos de contaminação, não sendo, assim, adequados para este tipo de estudo [GUERRIERI.1994, GUERRIERI.1998, RAKOV.2000a]. As Figuras 8.9 e 8.10 ilustram as correntes no topo e na base da torre, respectivamente, para as três interações do canal com a torre. Verifica-se que as diferenças são muito reduzidas. Como foi discutido no parágrafo anterior, a consideração deste acoplamento influencia de forma decisiva nas ondas de corrente no topo e na base da torre com relação à desconsideração da presença do canal. Este é um outro resultado que contraria alguns estudos que afirmam que os registros de corrente, realizados em torres com instrumentos de medição posicionados próximos ao topo da mesma, praticamente não sofrem efeitos de contaminação [RAKOV.2000a]. Vale salientar que os resultados gerados com a consideração do modelo com imagens ideais ou complexas equivalentes são muito similares. Diversas simulações foram realizadas no EMTP com a consideração da presença do canal. Para tal, foi necessário assumir diversas relações entre as impedâncias do canal e da torre e valores de impedância do aterramento, de tal forma a satisfazer os coeficientes de reflexão de corrente no topo e na base da torre publicados na literatura [BEIERL.1992, GUERRIERI.1998, RAKOV.2000a]. As simulações em questão são resumidas abaixo: • EMTP 1 ⇒ relação entre a impedância do canal e da torre (ZC / ZT) = 10 e impedância impulsiva do aterramento (ZP) = 0 Ω. • EMTP 2 ⇒ ZC / ZT = 6 e ZP = 0 Ω. • EMTP 3 ⇒ ZC / ZT = 3 e ZP = 0 Ω. • EMTP 4 ⇒ ZC / ZT = 3 e ZP = 30 Ω. • EMTP 5 ⇒ ZC / ZT = 1 e ZP = 0 Ω. • Corrente injetada no topo do canal: uma curva triangular 1,2/50 µs com um pico de 1 pu. Capítulo 8 – Resultados e Análises 195 As Figuras 8.11 e 8.12 ilustram as comparações das correntes na base e no topo da torre, respectivamente, geradas pelas simulações com o EMTP e com o modelo (com imagens ideais). Percebe-se que, quando se considera a presença do canal (ponto de injeção de corrente no topo do canal), não é possível fazer com que os resultados gerados pelo EMTP se aproximem daqueles gerados pelo modelo. Adicionalmente, os resultados do EMTP sobrestimam os efeitos de contaminação, tanto para correntes medidas na base quanto no topo da torre. Os valores de pico de corrente gerados pelo modelo apresentam uma sobrelevação de aproximadamente 50% (tanto na base quanto no topo da torre), enquanto os gerados pelo EMTP variam de 100 a 150% na base e em torno de 100% no topo. As ondas de corrente oriundas da aplicação do modelo são mais suaves na frente de onda quando comparadas com as do EMTP. As diferenças citadas no parágrafo anterior são atribuídas à importante consideração do acoplamento eletromagnético entre o canal de descarga e a torre, devidamente computado pelo modelo. As simulações realizadas nesta seção, com a aplicação do modelo com imagens ideais e complexas equivalentes ao sistema representado na Figura 8.1, possibilitaram proceder a uma análise de sensibilidade de diversos parâmetros (tais como a resistividade do solo, a ausência ou a presença do canal), sobre os efeitos de contaminação nas ondas de corrente que seriam medidas no topo ou na base da torre do sistema em questão. Adicionalmente, serviram também, para mostrar que a consideração do modo TEM (por meio de simulações realizadas com o EMTP) não é adequado para este tipo de estudo. O próximo passo é estender a aplicação do modelo para a configuração do sistema de medição real (torre e aterramento) da Estação do Morro do Cachimbo. Isto é feito na próxima seção. Outras análises de sensibilidade seriam interessantes, como a variação da representação matemática da onda de corrente que representa a corrente da descarga de retorno (tais como dupla exponencial, côncava, etc.) e a variação da velocidade desta onda de corrente (de acordo com a literatura tal velocidade é abaixo da velocidade da luz – em torno de 30%). No entanto, como já destacado, isto é reservado para atividades futuras. 196 Capítulo 8 – Resultados e Análises 1.8 Canal vertical de 300m 1.6 1.4 Corrente (pu) 1.2 1 0.8 0.6 Corrente na base (com canal) Corrente na base (sem canal) 0.4 0.2 Corrente no topo (com canal) Corrente injetada 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.6 – Correntes no topo e na base da torre com e sem a presença de um canal vertical de 300 m de comprimento. 1.8 1.6 Canal de 300m - 45 graus com o condutor vertical 1.4 Corrente (pu) 1.2 1 0.8 0.6 Corrente na base (sem canal) 0.4 0.2 Corrente injetada Corrente na base (com canal) Corrente no topo (com canal) 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.7 – Correntes no topo e na base da torre com e sem a presença de um canal de 300 m de comprimento e que faz um ângulo de 450 com a torre. 197 Capítulo 8 – Resultados e Análises 1.8 Canal horizontal de 300m 1.6 1.4 Corrente (pu) 1.2 1 0.8 0.6 Corrente na base (com canal) Corrente na base (sem canal) 0.4 0.2 Corrente no topo (com canal) Corrente injetada 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.8 – Correntes no topo e na base da torre com e sem a presença de um canal horizontal de 300 m de comprimento. 1.8 Correntes no topo 1.6 1.4 Canal vertical Corrente (pu) 1.2 Canal 45 graus Canal horizontal 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.9 – Correntes no topo da torre com a presença dos canais vertical, horizontal e 450 com a torre. 198 Capítulo 8 – Resultados e Análises 1.8 Correntes na base 1.6 1.4 Canal vertical Corrente (pu) 1.2 Canal 45 graus 1 0.8 Canal horizontal 0.6 0.4 0.2 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.10 – Correntes na base da torre com a presença dos canais vertical, horizontal e 450 com a torre. 3 Correntes na base 2.5 EMTP1 EMTP2 EMTP3 Corrente (pu) 2 EMTP4 EMTP5 1.5 Correntes na base (sem canal) 1 Corrente injetada Canal vertical Canal 45 graus 0.5 Canal horizontal 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.11 – Comparação das correntes na base da torre geradas pelo EMTP e pelo modelo com imagens ideais, considerando a presença do canal de descarga. 199 Capítulo 8 – Resultados e Análises 2.5 Correntes no topo Corrente (pu) 2 EMTP1 EMTP2 EMTP3 EMTP4 EMTP5 1.5 Corrente injetada 1 Canal vertical 0.5 Canal 45 graus Canal horizontal 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.12 – Comparação das correntes no topo da torre geradas pelo EMTP e pelo modelo com imagens ideais, considerando a presença do canal de descarga. 8.4 – ANÁLISE DOS EFEITOS DE CONTAMINAÇÃO NA ESTAÇÃO DO MORRO DO CACHIMBO 8.4.1 – INTRODUÇÃO Nesta seção avalia-se a influência que o sistema de medição da Estação do Cachimbo exerce sobre os sinais de corrente medidos na mesma. Inicialmente, através da aplicação do modelo com imagens ideais e complexas equivalentes, procede-se às mesmas análises de sensibilidade realizadas na seção anterior (o EMTP não é mais utilizado). Assim, considera-se a mesma onda de corrente injetada (curva triangular 1,2/50 µs – 1 pu de pico) e a consideração da presença ou ausência do canal, que é representado novamente por um condutor de 300 m de comprimento, com 10 cm de raio, sendo a velocidade da onda de corrente da descarga de retorno igual à da luz 200 Capítulo 8 – Resultados e Análises no vácuo (300 m/µs). Quanto ao valor de resistividade do solo, considera-se o valor típico da região onde encontra-se instalada a Estação de Cachimbo: 5.000 Ω.m [CEMIG.1985]. Em seguida, na próxima seção, apresenta-se um desenvolvimento para a descontaminação de ondas de corrente reais medidas em Cachimbo. 8.4.2 – CONFIGURAÇÕES GEOMÉTRICAS DA TORRE E DO ATERRAMENTO DA ESTAÇÃO DO CACHIMBO As configurações geométricas da torre e do aterramento da Estação do Morro do Cachimbo são bastante complexas. A despeito de tal complexidade representou-se de forma bem fiel tais configurações. O aterramento completo da estação é ilustrado na Figura 8.13. Devido ao fato deste ser bastante complexo, acarretando pesados processamentos computacionais e, consequentemente, requerendo tempos de simulação relativamente elevados, procedeu-se a diversas simplificações desta configuração com o objetivo de determinar uma mais simples e que gerasse resultados similares aos provenientes da consideração do aterramento completo. A configuração resultante de tais simplificações é aquela representada na Figura 8.14, que exibe tal configuração quando vista de dois ângulos diferentes. Ao longo desta subseção diversos resultados são mostrados para as duas configurações. A torre de 60 m de altura é composta de duas seções em forma de pirâmide, no topo e na base, e por três seções em forma de paralelepípedo de base triangular posicionados entre as duas pirâmides. A Figura 8.15 ilustra estas seções. 8.4.3 – RESULTADOS INICIAIS Apresentam-se nesta subseção resultados oriundos da aplicação do modelo com imagens ideais e complexas equivalentes, com as considerações (onda de corrente, resistividade, etc.) descritas na parte introdutória desta seção (subseção 8.4.1). Capítulo 8 – Resultados e Análises 201 Figura 8.13 – Aterramento completo da Estação do Morro do Cachimbo. Figura 8.14 – Aterramento simplificado da Estação do Morro do Cachimbo visto de dois ângulos. Capítulo 8 – Resultados e Análises 202 Figura 8.15 – Seções que compõem a torre da Estação do Morro do Cachimbo. 8.4.3.1 – CONTAMINAÇÃO DO SINAL DE CORRENTE SEM A PRESENÇA DO CANAL DE DESCARGA A Figura 8.16 ilustra as ondas de corrente injetada no topo da torre de Cachimbo (Figura 8.15) e aquelas que seriam medidas na base da mesma, com a aplicação do modelo com imagens ideais e complexas equivalentes. Considera-se o aterramento completo, vide Figura 8.13, com o solo de resistividade de 5.000 Ω.m. Verifica-se que as ondas de corrente resultantes são muito próximas, o que possibilita considerar apenas o modelo com imagens ideais (é mais simplificado e requer menores tempos de simulação). Parece que esta similaridade nos resultados é decorrente do sistema de medição ser relativamente pequeno, apesar de sua complexidade, fazendo com que o fenômeno de propagação não seja muito pronunciado. A Figura 8.17 ilustra a comparação das ondas na base da torre considerando o aterramento completo e reduzido, para a aplicação do modelo com imagens complexas equivalentes, enquanto a Figura 8.18 exibe os mesmos resultados, porém com imagens ideais. Percebe-se que, a despeito das diferenças nas configurações dos aterramentos (Figuras 8.13 e 8.14), os resultados são bastante próximos. 203 Capítulo 8 – Resultados e Análises 1.4 1.2 Corrente (pu) 1 0.8 Modelo com imagens ideais ( MII ) 0.6 Modelo com imagens complexas equivalentes ( MICE ) 0.4 0.2 Corrente injetada 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.16 – Correntes injetada e na base da torre de Cachimbo considerando modelo com imagens ideais (MII) e complexas equivalentes (MICE) – aterramento completo (resistividade do solo = 5.000 Ω.m). Conclui-se deste estudo que, em termos práticos, pode-se considerar o modelo com imagens ideais, ao invés do modelo com imagens complexas equivalentes mais complicado, pois as Figuras 8.17 e 8.18 apresentam resultados bastante semelhantes. Ademais, o aterramento da Estação do Morro do Cachimbo pode ser simplificado para uma configuração como aquela representada na Figura 8.14, em vez de se considerar a configuração completa (vide Figura 8.13). Assim, novas simulações foram realizadas considerando o modelo com imagens ideais e o aterramento simplificado. A Figura 8.19 ilustra os resultados gerados, considerando três valores de resistividade: 100, 5.000 e 10.000 Ω.m, que exibem a diminuição dos efeitos de contaminação com o aumento da resistividade do solo. 204 Capítulo 8 – Resultados e Análises 1.4 1.2 Corrente (pu) 1 0.8 MICE - aterramento reduzido 0.6 MICE - aterramento completo 0.4 0.2 Corrente injetada 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.17 – Correntes injetada e na base da torre de Cachimbo considerando modelo com imagens complexas equivalentes (MICE), para aterramento completo e reduzido (resistividade do solo = 5.000 Ω.m). 1.4 1.2 Corrente (pu) 1 0.8 MII - aterramento reduzido 0.6 MII - aterramento completo 0.4 0.2 Corrente injetada 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.18 – Correntes injetada e na base da torre de Cachimbo considerando modelo com imagens ideais (MII), para aterramento completo e reduzido (resistividade do solo = 5.000 Ω.m). 205 Capítulo 8 – Resultados e Análises 1.4 1.2 Corrente (pu) 1 0.8 ρ = 10000 Ω.m 0.6 ρ = 5000 Ω.m ρ = 100 Ω.m 0.4 0.2 Corrente injetada 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.19 – Correntes injetada e na base da torre de Cachimbo considerando modelo com imagens ideais (MII), para aterramento reduzido (resistividades do solo = 100, 5.000 e 10.000 Ω.m). 8.4.3.2 – CONTAMINAÇÃO DO SINAL DE CORRENTE COM A PRESENÇA DO CANAL DE DESCARGA Considera-se agora a presença de um canal vertical de 300 m de comprimento, com as características descritas na subseção 8.4.1, no topo da torre de Cachimbo. A configuração utilizada para o aterramento é aquela representada na Figura 8.14, tendo em vista os resultados da subseção anterior. A Figura 8.20 exibe as ondas de corrente que seriam medidas na base e no topo da torre no caso de uma injeção de corrente (curva triangular) na extremidade superior do canal, com a consideração do modelo de imagens ideais e complexas equivalentes. Adicionalmente, são apresentadas também as correntes na base quando o canal não está presente (injeção de corrente direta no topo da torre). Os resultados apresentados na Figura 8.20 corroboram as diversas conclusões apresentadas na subseção 8.3.2, como por exemplo, a similaridade nas ondas de corrente 206 Capítulo 8 – Resultados e Análises 2 1.8 Corrente base ( MICE ) Corrente base ( MII ) 1.6 Corrente topo ( MICE ) Corrente (pu) 1.4 Corrente topo ( MII ) 1.2 1 Corrente injetada 0.8 0.6 Corrente base ( MICE ) (sem canal) 0.4 Corrente base ( MII ) (sem canal) 0.2 0 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 Tempo (s) Figura 8.20 – Correntes injetada e na base da torre de Cachimbo considerando modelo com imagens ideais (MII) e complexas equivalentes (MICE), com e sem canal (resistividade do solo = 5.000 Ω.m). (na base e no topo da torre) geradas pelo modelo com imagens ideais e complexas equivalentes, a importância do acoplamento eletromagnético entre o canal de descarga e a torre e a contaminação das ondas de corrente independentemente do posicionamento do equipamento de medição (na base ou no topo da torre). Os efeitos de contaminação expressam sobrelevações nos valores de pico de corrente de 65% e 15% com a presença e ausência do canal, respectivamente. Como mencionado anteriormente, a última conclusão citada no parágrafo anterior contraria alguns trabalhos que tratam do assunto. Por exemplo, V. A. Rakov descreve o trabalho realizado por B. G. Melander, em 1984, que consiste na avaliação da influência da presença das torres “instrumentadas” das estações fixas de medição na Suíça, Itália e África do Sul nos sinais de corrente registrados. A conclusão de tal trabalho é que as ondas de corrente medidas no topo das torres (na Suíça e na Itália) não são afetadas pela presença da torre, enquanto as medidas na base (na África do Sul) apresentam sobrelevação nos valores de pico da ordem de 60% [RAKOV.2000a]. Adicionalmente, Rakov afirma que os sinais de corrente medidos no topo de torres com alturas de até 70 m praticamente não sofrem contaminação em seus valores de pico. Capítulo 8 – Resultados e Análises 207 Os efeitos de contaminação do sistema de medição sobre os sinais de corrente medidos em torres “instrumentadas” foram exaustivamente analisados. O próximo passo é desenvolver uma prática que promova a recuperação do sinal original de corrente (descontaminação da onda de corrente). Tal prática é apresentada na próxima seção. 8.5 – DESCONTAMINAÇÃO DE SINAL DE CORRENTE MEDIDO NA ESTAÇÃO DO MORRO DO CACHIMBO Para a descontaminação dos sinais de corrente, medidos na base da torre “instrumentada” da Estação do Morro do Cachimbo, foi desenvolvida uma técnica capaz de computar a corrente de descarga “original” a partir da onda medida. Esta técnica, incorporada ao modelo computacional (com imagens ideais e complexas equivalentes), é denominada “recuperação do sinal original de corrente”. No caso da ausência do canal, como a injeção de corrente se dá no topo da torre, a onda original corresponde àquela no topo da mesma. Por outro lado, quando se considera a presença do canal e com a injeção no topo do canal de descarga, a onda original corresponde àquela no topo do mesmo. Tal técnica foi aplicada a todas as simulações realizadas nas seções 8.3 e 8.4, com a presença do canal (com a injeção de corrente no topo do canal) e com a injeção de corrente diretamente no topo da torre. Todos os resultados geraram a mesma onda de corrente original: a curva triangular 1,2 / 50 µs, com 1 pu de pico, o que garante a consistência da técnica de recuperação do sinal original de corrente. O próximo passo foi aplicar a técnica em questão a uma corrente real medida em Cachimbo. A Figura 8.21 ilustra esta corrente, que possui um valor de pico de aproximadamente -31 kA, associada a uma descarga atmosférica descendente negativa. Esta onda de corrente corresponde àquela relativa a uma descarga de retorno subseqüente. A Figura 8.22 ilustra a corrente medida (contaminada) e as correntes descontaminadas, com a consideração da injeção de corrente no topo da torre (sem a presença do canal), oriundas da aplicação do modelo com imagens ideais e complexas equivalentes. Considerou-se a configuração de aterramento simplificado da Estação do Cachimbo, ilustrada na Figura 8.14, cujo solo apresenta uma resistividade média de 5.000 Ω.m. Verifica-se que o efeito de contaminação no valor de pico é relativamente reduzido, da 208 Capítulo 8 – Resultados e Análises ordem de aproximadamente 3,5 %, uma vez que a onda de corrente descontaminada apresenta valor de pico em torno de -30 kA. Para solos de resistividades menores os efeitos de contaminação são mais acentuados. Tempo (µs) 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 0 -5 Corrente (kA) -10 Corrente real medida em Cachimbo -15 -20 -25 -30 -35 Figura 8.21 – Corrente real medida na Estação do Morro do Cachimbo. Tempo (s) 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 0 -5 Corrente (kA) -10 Corrente real medida em Cachimbo -15 1 -20 2 -25 -30 1 - Corrente descontaminada ( MII ) 2 - Corrente descontaminada ( MICE ) -35 Figura 8.22 – Correntes real e descontaminadas por meio da aplicação do modelo com imagens ideais (MII) e complexas equivalentes (MICE) na Estação do Morro do Cachimbo sem a presença de canal de descarga. 209 Capítulo 8 – Resultados e Análises A Figura 8.23 ilustra a mesma corrente medida (-31 kA de pico) e as correntes descontaminadas (recuperadas ou originais), obtidas por meio do modelo com imagens ideais e complexas equivalentes, com a consideração de um canal vertical de 300 m de comprimento e 10 cm de raio. Novamente, os resultados oriundos do modelo com imagens ideais e complexas equivalentes são similares. Entretanto, o efeito de contaminação no valor de pico é significativo, sendo da ordem de aproximadamente 63%, pois a corrente descontaminada possui valor de pico em torno de -19 kA (12 kA / 19kA). Nesta figura, devido ao tempo de tráfego da onda de corrente entre o topo do canal e a base da torre (por volta de 1,2 µs), a visualização das ondas de corrente não está adequada. Para melhorar tal visualização, o tempo de tráfego foi desconsiderado e as curvas resultantes são ilustradas na Figura 8.24. Os resultados obtidos no processo de descontaminação de ondas de corrente reforçam a necessidade de reavaliação das estatísticas relativas às medições em estações fixas com torres providas de instrumentos de medição, tanto em sua base quanto em seu topo. Tempo (s) 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 0 -5 Corrente (kA) -10 1 -15 2 -20 Corrente real medida em Cachimbo -25 1 - Corrente descontaminada ( MII ) -30 2 - Corrente descontaminada ( MICE ) -35 Figura 8.23 – Correntes real e descontaminadas por meio da aplicação do modelo com imagens ideais (MII) e complexas equivalentes (MICE) na Estação do Morro do Cachimbo considerando a presença do canal de descarga. 210 Capítulo 8 – Resultados e Análises Tempo (s) 0 0.0000005 0.000001 0.0000015 0.000002 0.0000025 0.000003 0 -5 Corrente (kA) -10 1 -15 2 -20 -25 Corrente real medida em Cachimbo -30 -35 Figura 8.24 – Idem à Figura 8.23, porém desconsiderando o tempo de propagação entre a corrente medida (contaminada) e as correntes descontaminadas (recuperadas ou originais). 8.6 – CONCLUSÕES Neste capítulo foram apresentadas as análises relativas aos efeitos de contaminação em estações fixas de medição com torres “instrumentadas” por meio da aplicação do modelo com imagens complexas equivalentes e ideais, apresentados nos Capítulos 6 e 7. Inicialmente, considerou-se uma configuração simples para a realização de diversas análises de sensibilidade. Em seguida, concentrou-se no sistema de medição da Estação do Morro do Cachimbo. Diversas conclusões foram extraídas ao longo deste estudo, tais como: a inconsistência do modo de propagação TEM para este tipo de estudo, a importância do acoplamento eletromagnético entre o canal de descarga e a torre, o efeito de contaminação subestimado quando se considera a injeção de corrente no topo da torre, etc. Posteriormente, desenvolveu-se uma técnica capaz de determinar o sinal original de corrente por meio das correntes medidas na base da torre da Estação de Cachimbo. Os resultados denotaram a moderada contaminação no pico de corrente quando não se considera a presença do canal (em torno de 3,5%). Por outro lado, ao se considerar a Capítulo 8 – Resultados e Análises 211 presença do canal esta contaminação é significativa, aproximadamente 63%. No Capítulo 5, foi verificada uma contaminação de aproximadamente 25% no caso de injeção de corrente diretamente no topo da torre e 80% quando da consideração de um canal de conexão ascendente de 300 m de comprimento (injeção de corrente no topo deste canal). Este resultado decorreu da aplicação de uma metodologia que considera o modo de propagação TEM para o campo eletromagnético na torre. Considera-se, contudo, que os resultados apresentados neste oitavo capítulo são mais precisos, uma vez que decorrem de simulações baseadas em um modelo mais realístico. Para finalizar, é interessante uma rápida discussão acerca da confiança nos resultados de descontaminação apresentados no atual capítulo. As representações da torre, do aterramento e dos respectivos acoplamentos envolvidos, que constituem o principal enfoque e, consequentemente, a maior contribuição desta tese, são consideradas satisfatórias e mais apuradas que as encontradas na literatura pesquisada. Entretanto, a representação do canal de descarga foi realizada de maneira simplificada, principalmente com relação à consideração da velocidade de propagação da onda de corrente no mesmo (admitida igual à das radiações eletromagnéticas no vácuo), às desconsiderações do pulso de corrente ascendente que surge a partir do ponto de conexão e da tortuosidade do canal e ao comprimento de 300 m para o canal de conexão ascendente, conforme discutido na seção 8.3, subseção 8.3.2. Consequentemente, os resultados de simulação apresentados são específicos para estas características consideradas para a representação do canal. Logo, um importante trabalho futuro refere-se à inclusão no modelo de características mais realísticas para o canal de descarga. CAPÍTULO 9 CONCLUSÕES E PROPOSTAS DE CONTINUIDADE 9.1 - INTRODUÇÃO As diversas atividades desenvolvidas no trabalho relativo a esta Tese de Doutorado compreenderam basicamente duas realizações principais. A primeira consistiu na atualização dos registros de descargas atmosféricas medidos na Estação do Morro do Cachimbo, com o posterior tratamento estatístico para caracterização das ondas de corrente e de seus principais parâmetros associados. A atualização compreendeu a organização das principais características dos registros de descargas, como o número total, média de ocorrência por ano, incidência de descargas negativas, positivas, etc. O estudo estatístico envolveu a verificação do ajuste da função distribuição de probabilidade log-normal às distribuições cumulativas dos parâmetros, cálculo dos coeficientes de correlação e análises de regressão entre tais parâmetros e levantamento das curvas média e mediana das ondas de corrente das primeiras descargas de retorno e subseqüentes. Durante esta etapa foi dada ênfase às descargas descendentes negativas. Os resultados decorrentes deste estudo foram comparados com medições realizadas em outros países, principalmente com aquelas de San Salvatore (Suíça). A segunda realização consistiu num conjunto de desenvolvimentos que almejavam implementar ferramentas e metodologias para descontaminação das ondas de corrente medidas. Tais desenvolvimentos incluíram a formulação de modelagem para cômputo do efeito do solo nos acoplamentos eletromagnéticos entre os elementos envolvidos no fluxo da corrente de descarga para o solo através de torres providas de instrumentos de medição Capítulo 9 – Conclusões e Propostas de Continuidade 213 (“torres instrumentadas”). Contemplaram, também, avaliações com análise de sensibilidade envolvendo os parâmetros de sistemas de medição em torres instrumentadas e os efeitos de contaminação do sinal de corrente e proposição de uma metodologia para descontaminação do sinal de corrente. 9.2 – RESULTADOS ALCANÇADOS As avaliações estatísticas realizadas ao longo do Capítulo 4 evidenciaram alguns aspectos interessantes: 1. A grande maioria das 79 descargas atmosféricas que atingiram a torre de Cachimbo são de polaridade negativa (64 descargas negativas, correspondendo a 81% do total e sendo 2 descargas de polaridade desconhecida). 2. 33 descargas foram confirmadas, através de registros de vídeo, como sendo descendentes, sendo 31 de polaridade negativa e apenas 2 positivas. 3. Como as descargas descendentes negativas são as que mais comumente atingem os sistemas elétricos, atenção especial foi reservada a elas: 3.a - Do total destas descargas (31) 15 apresentam apenas 1 descarga de retorno (48,4%). 3.b - Portanto, 16 (51,6%) apresentam múltiplas descargas de retorno, com as seguintes características, verificadas diretamente dos dados amostrais: • número médio de descargas de retorno por descarga atmosférica = 5,8. • tempo médio entre descargas de retorno = 64 ms. • duração média das descargas atmosféricas = 198,2 ms. • valores médio e mediano do primeiro pico de corrente relativo às primeiras descargas de retorno = 43,1 e 42,5 kA, respectivamente. • valores médio e mediano do maior pico de corrente relativo às primeiras descargas de retorno = 48,7 e 48,4 kA, respectivamente. • valores médio e mediano do pico de corrente relativo às descargas de retorno subseqüentes = 18,4 e 16,5 kA, respectivamente. Capítulo 9 – Conclusões e Propostas de Continuidade 214 4. Verificou-se que, dentre algumas funções testadas, como por exemplo a normal e a exponencial, a função distribuição de probabilidade log-normal é a que melhor se aproxima da probabilidade cumulativa dos diversos parâmetros característicos das ondas de corrente. Foram realizados testes estatísticos, assumindo um nível de significância de 5%, com o objetivo de verificar se os logaritmos neperianos dos parâmetros seguem a distribuição normal. Para as primeiras descargas de retorno apenas o parâmetro Tan10 foi reprovado, enquanto para as subseqüentes os parâmetros reprovados foram T30, Tan10 e Carga. Em seguida, com base nas distribuições cumulativas dos parâmetros, diversas características das ondas de corrente foram evidenciadas. 5. Os coeficientes de correlação entre os parâmetros foram levantados e avaliados quanto ao fato de serem ou não estatisticamente significativos, assumindo um nível de confiança de 95% (nível de significância de 5%). Posteriormente, foram construídos diagramas de dispersão juntamente com a curva de ajuste aos dados, considerando sempre o valor de pico da corrente como a variável preditora (análise de regressão linear), juntamente com os intervalos de confiança e de predição. Com as decorrentes relações matemáticas estabelecidas entre os parâmetros, em função do pico de corrente, pode-se predizer o valor de um determinado parâmetro através da medição do valor de pico em um outro lugar que não seja a Estação de Cachimbo (por meio do Sistema de Localização de Tempestade, por exemplo). No entanto, deve-se tomar algumas precauções quanto ao uso destas relações, tendo em vista a grande dispersão observada para todas as relações. Contudo, para uma primeira aproximação este cálculo pode ser útil. 6. Foram levantadas as curvas de corrente média e mediana para as primeiras descargas de retorno e para as descargas de retorno subseqüentes. Tais curvas foram bastante similares. Os resultados do estudo estatístico foram comparados com os dados disponíveis na literatura internacional, sobretudo com aqueles oriundos das medições de Berger na Estação de San Salvatore. Entretanto, três pontos merecem ser destacados. O primeiro refere-se à significativa diferença nos valores de pico das correntes medidas em Cachimbo e em San Salvatore. O valor mediano do maior pico de corrente medido em Cachimbo vale Capítulo 9 – Conclusões e Propostas de Continuidade 215 48,4 kA, enquanto em San Salvatore vale 31,1 kA. O segundo corresponde à significativa similaridade entre as curvas média e mediana das ondas de corrente de descargas medidas nestas duas estações, principalmente com relação às primeiras descargas de retorno. Adicionalmente, verificou-se também tal similaridade com a curva mediana de corrente, das primeiras descargas de retorno, levantada de medições em torres de transmissão no Japão. O terceiro corresponde à maior multiplicidade média das descargas negativas descendentes medidas em Cachimbo em relação à média mundial: 5,8 e 3,1, respectivamente. Os resultados descritos no parágrafo acima, principalmente com relação ao primeiro e terceiro, juntamente com os apresentados ao longo do Capítulo 4, evidenciam a necessidade de caracterização de descargas atmosféricas por região. Como comentado, os parâmetros associados às ondas de corrente de descarga oriundos das medições realizadas em San Salvatore e em Cachimbo são diferentes. Supõe-se que este fato decorre, principalmente, das diferentes características dos locais onde tais medições foram processadas, como por exemplo, a altitude, a altura das nuvens e, principalmente, a latitude. É sabido, evidentemente, que o Estado de Minas Gerais, possui uma orografia bem diversificada. A despeito deste fato, o valor mediano de corrente estimado pela CEMIG a partir de medições com elos magnéticos em três linhas de transmissão (nas torres e nos cabos pára-raios), situadas em locais de orografia diversificada, é da mesma ordem de grandeza do valor mediano verificado na Estação de Cachimbo, 46kA e 48,7kA respectivamente. Portanto, tendo em vista a discussão acima, sugere-se que o estudo estatístico apresentado no Capítulo 4 subsidie estudos de proteção e desempenho de estruturas (torres de telecomunicação e edificações de um modo geral) e sistemas de energia elétrica frente às descargas atmosféricas em Minas Gerais, assim como no Brasil. Com relação à questão de contaminação dos sinais de corrente medidos em estações fixas com torres instrumentadas, no Capítulo 5 foi apresentada uma análise preliminar dos efeitos envolvidos. A revisão do estado da arte no tema indicou a carência de uma modelagem física consistente, capaz de computar o acoplamento eletromagnético entre canal, torre e aterramento. Os trabalhos existentes consideram o modo de propagação TEM para o campo eletromagnético guiado pela torre, aproximação que não se mostrou adequada para o estudo em causa. Seguindo esta abordagem, diversas simulações foram realizadas com a utilização do EMTP e, a despeito da simplicidade das simulações, as Capítulo 9 – Conclusões e Propostas de Continuidade 216 análises já puderam mostrar que o efeito de contaminação é bastante sensível aos modelos adotados para representação do canal, torre e aterramento. Os resultados oriundos deste estudo preliminar denotaram um efeito de contaminação num sinal de corrente específico medido na Estação de Cachimbo, quando se considera a injeção de corrente diretamente no topo da torre, de aproximadamente 25 %. Esta contaminação é computada pela sobrelevação no valor de pico da onda de corrente que deveria ser medida (59 kA), ou descontaminada, em relação ao pico da que efetivamente é medida (74 kA ), ou seja, 15 kA / 59kA. É oportuno enfatizar novamente, que este resultado é baseado num modelo que desconsidera o acoplamento eletromagnético entre os elementos envolvidos no percurso da corrente de descarga (canal, torre e aterramento) e que os mesmos foram representados de uma forma simplificada. Ademais, a tarefa de descontaminação foi aplicada a uma onda de corrente específica medida em Cachimbo. Portanto, tratou-se de um estudo preliminar que visou apenas aplicar a metodologia de análise de contaminação e posterior descontaminação existente na literatura pesquisada. Por outro lado, quando se considera a existência de um canal de conexão ascendente (300 m de comprimento), com o ponto de injeção de corrente no topo do mesmo (representado de forma muito simplificada), a contaminação em causa é significativamente mais elevada, em torno de 80 %. Dando seqüência à abordagem da contaminação, no Capítulo 6 foi apresentada a formulação de um modelo capaz de calcular as tensões e correntes em diversos pontos de estruturas atingidas por descargas atmosféricas, dentro de certas aproximações mais realistas que as adotadas quando se considera o modo de propagação TEM. Nesse modelo calcula-se o acoplamento eletromagnético entre elementos condutores situados no solo e no ar e despreza-se o acoplamento dos elementos posicionados em meios diferentes. Para cômputo do acoplamento entre elementos aéreos, considera-se o solo como condutor perfeito. No caso dos elementos posicionados no solo, considera-se o mesmo como um meio semi-infinito. Adicionalmente, foram descritas diversas aplicações desta modelagem, evidenciando suas potencialidades e consistência física. No Capítulo 7, que se considera a maior contribuição deste trabalho, é apresentada a síntese dos desenvolvimentos e os resultados de uma formulação elaborada para o cômputo do acoplamento eletromagnético entre elementos condutores imersos num mesmo meio e em meios diferentes genéricos. A formulação é aplicada ao caso particular ar - solo, com consideração das características reais do solo. Tal formulação é integrada ao modelo já referido, configurando uma ferramenta poderosa para cálculo de distribuição das ondas de Capítulo 9 – Conclusões e Propostas de Continuidade 217 corrente e tensão e campos eletromagnéticos em sistemas genéricos atingidos por descargas ou submetidos aos efeitos de indução em decorrência destas. No Capítulo 8, o modelo é processado e diversas simulações são realizadas para análise dos efeitos de contaminação na Estação do Morro do Cachimbo. Ademais, foi incorporada ao modelo uma técnica capaz de recuperar a onda original de corrente a partir daquela medida (descontaminação do sinal de corrente). As principais conclusões são resumidas abaixo: 1. Definitivamente o modo de propagação TEM mostrou-se pouco consistente para este tipo de estudo. Assim, a utilização do EMTP na análise da contaminação e posterior descontaminação dos sinais de corrente deve ser vista com reservas. 2. Os resultados preliminares, aplicados a um sistema de configuração geométrica estilizada, ilustraram que os efeitos de contaminação sobre as medições de corrente realizadas na base da torre são muito mais intensos quando se considera a presença de um canal de descarga atmosférica (representando o canal de conexão ascendente) em relação à hipótese de se considerar o ponto de conexão direto na torre (canal de descarga representado por uma fonte de corrente ideal, com uma impedância finita ou infinita). A contaminação resulta numa sobrelevação no valor de pico (em relação ao sinal original de corrente) de aproximadamente de 50 a 65% com canal contra 3 a 20% sem canal (ponto de conexão direto na torre). Isto evidencia a importância da consideração do acoplamento eletromagnético entre canal e torre, que usualmente é desprezado nos trabalhos que tratam do assunto. Denota, também, que o modelo de injeção de corrente no topo da torre, normalmente indicado na literatura, subestima os efeitos de contaminação. A presença do canal, com a injeção de corrente no topo do mesmo, sem o acoplamento com a torre, já é suficiente para gerar resultados de contaminação diferentes daqueles quando a injeção de corrente é direta no topo da torre. 3. Estes resultados preliminares também mostraram que, considerando a presença do canal, os efeitos de contaminação seriam praticamente os mesmos tanto para medição na base, quanto para medição no topo da torre, sobretudo em termos de valor de pico. Esta verificação contraria diversos trabalhos existentes na literatura, que afirmam que medições de corrente de descarga realizadas no topo de torres instrumentadas de Capítulo 9 – Conclusões e Propostas de Continuidade 218 alturas até 70m não sofrem influência da presença da torre, ou seja, das reflexões nas interfaces canal–torre e torre–aterramento. Talvez as afirmativas derivem de análises que só tenham sido efetivadas considerando-se a injeção de corrente diretamente no topo da torre e sem a consideração do canal (impedância infinita para o canal de descarga). 4. Finalmente, procedeu-se à descontaminação de uma onda de corrente real medida em Cachimbo, ou seja, foi determinada qual onda de corrente deveria ser injetada no topo da torre (na ausência do canal) ou no topo do canal (na presença do mesmo) de tal forma a gerar na base da torre esta corrente medida. Este processo é denominado “recuperação do sinal de corrente original” ou simplesmente “descontaminação”. Ao descontaminar esta onda real medida, na presença do canal, o valor de pico resultante foi aproximadamente 61% do medido (31 kA medido contra 19 kA após descontaminação), o que indica uma contaminação, expressa pela sobrelevação no valor de pico da corrente descontaminada, em torno de 63 % (12 kA / 19kA), que corresponde a um fator de 1,58 (19 kA/ 12kA). Por outro lado, quando a injeção de corrente se dá diretamente no topo da torre, o efeito de contaminação é apenas por volta de 3,5 % (31 kA medido contra 30 kA após a recuperação do sinal original). É importante frisar que a corrente descontaminada (ou original) corresponde àquela que fluiria pelo canal sem sofrer a influência da presença do sistema de medição. Esta ao atingir uma estrutura qualquer irá sofrer diversas contaminações determinadas pelas características da estrutura em questão. Portanto, tendo-se a onda descontaminada e conhecendo-se a geometria da estrutura, o modelo é capaz de determinar o perfil da onda de corrente resultante. Vale salientar que os resultados de descontaminação descritos acima foram obtidos considerando uma onda de corrente específica medida na Estação do Morro do Cachimbo. Este processo de descontaminação deve ser aplicado individualmente em todos os sinais de corrente medidos nesta estação. Ademais, foram assumidas algumas simplificações na representação do canal de descarga atmosférica. Tais simplificações incluem a consideração da velocidade de propagação da onda de corrente no canal igual à velocidade de propagação das radiações eletromagnéticas no vácuo (300 m/µs), as desconsiderações do pulso de corrente ascendente que surge no ponto de conexão e da tortuosidade do canal, o valor de apenas um ângulo de incidência do canal com a torre da Estação de Cachimbo (900 – canal vertical) e a suposição de apenas um valor de comprimento para o canal de conexão ascendente (300 m). Estes parâmetros associados ao canal de descarga apresentam natureza aleatória. Portanto, para que Capítulo 9 – Conclusões e Propostas de Continuidade 219 uma análise conclusiva seja realizada e consequentemente resultados quantitativos mais realísticos sejam alcançados, é necessário proceder a uma representação mais real do canal de descarga. Esta tarefa é postergada para trabalhos futuros. 5. Os resultados oriundos da aplicação do modelo com a utilização do acoplamento eletromagnético descrito no Capítulo 6 (modelo com imagens ideais) foram bastante similares aos decorrentes da aplicação do modelo com o acoplamento completo detalhado no Capítulo 7 (modelo com imagens complexas equivalentes). Este fato é associado às dimensões relativamente reduzidas do sistema analisado, o que faz com que os efeitos de propagação não sejam elevados. Os efeitos de contaminação sugerem a necessidade de reavaliação dos estudos estatísticos baseados em medições de ondas de corrente realizadas em estações fixas com torres “instrumentadas”. Conclui-se, então, que a tarefa de descontaminação é muito importante, pois possibilita conhecer a onda de corrente original (descontaminada) e, assim, proceder a uma reavaliação estatística dos parâmetros característicos das formas de onda de corrente e, posteriormente, uma comparação com os parâmetros associadas aos sinais de corrente contaminados. 9.3 – PROPOSTAS DE CONTINUIDADE Os diversos desenvolvimentos realizados neste trabalho proporcionaram a abertura para inúmeras atividades posteriores. Com relação à parte de caracterização estatística as seguintes atividades futuras são vislumbradas: 1. Verificação da aproximação das distribuições de probabilidade cumulativas dos diversos parâmetros por meio de outras funções distribuição de probabilidade, como a de Weibull, Cauchy e outras. 2. Análise de distribuições estatísticas em função de dois ou mais parâmetros (variáveis aleatórias). Capítulo 9 – Conclusões e Propostas de Continuidade 220 3. Estudos de regressão linear (simples e/ou múltipla) mais aprofundados, com análise de resíduos e determinação de intervalos de predição e de confiança. 4. Caracterização estatística dos outros tipos de descargas atmosféricas registradas na Estação do Morro do Cachimbo: descendentes positivas e ascendentes positivas e negativas. 5. Comparação dos resultados estatísticos obtidos neste trabalho com aqueles provenientes de medições em outros países, como por exemplo, Itália, África do Sul, Japão, Alemanha, Canadá e Estados Unidos. 6. Avaliação detalhada da aplicabilidade dos parâmetros levantados nas práticas de projeto e proteção dos sistemas de energia elétrica na região de Minas Gerais, no que concerne às definições relativas à solicitação descarga atmosférica. Julga-se que o resultado mais importante deste trabalho consistiu nos desenvolvimentos que permitiram a inclusão no modelo computacional da presença do solo real que, assim, fica habilitado ao cálculo muito elaborado de campos, tensões, correntes, etc. gerados a partir de corrente de retorno da descarga atmosférica. Assim, o modelo pode agora ser empregado para uma série de avaliações complementares. As simulações realizadas neste trabalho concentraram na análise da interação de um canal vertical com a torre. É interessante a avaliação do efeito do ângulo de incidência na contaminação. O canal de descarga atmosférica foi representado de uma forma relativamente simples, sendo constituído por um condutor de 300 m de comprimento e 10 cm de raio. Assim, como uma atividade futura sugere-se a modelagem mais elaborada do canal. O modelo é capaz de contemplar a inclusão de abordagens mais elaboradas, como a consideração de perdas, variação da velocidade de propagação da corrente, efeito corona no canal, a propagação dos dois pulsos de corrente a partir do ponto de conexão ou a consideração da conexão diretamente na estrutura a ser atingida, variação do ângulo de incidência do canal com a torre, densidade linear de carga no canal, etc. Estes parâmetros que caracterizam o canal de descarga atmosférica são de natureza aleatória e, portanto, devem ser caracterizados no âmbito da estatística. Este tipo de avaliação está em fase de Capítulo 9 – Conclusões e Propostas de Continuidade 221 execução. Com uma representação mais apurada do canal de descarga pode-se aplicar o modelo para descontaminação de todos os sinais de corrente medidos em Cachimbo e proceder, assim, a uma avaliação estatística destas correntes descontaminadas e comparar as estatísticas anteriores oriundas das correntes contaminadas. Outra atividade futura refere-se à verificação experimental do comportamento da resistividade e permissividade do solo local, onde a Estação do Morro do Cachimbo encontra-se situada, com a freqüência, para aplicação no modelo. A formulação apresentada nesta tese concentrou-se em fontes (no solo ou no ar) que geram ondas primárias uniformes (ângulo de incidência real). Interessa incorporar nos desenvolvimentos analíticos, também numa etapa posterior, a consideração de ondas primárias não uniformes. Neste caso, o ângulo de incidência deixa de ser real e passa a ter uma natureza complexa (ângulo de incidência não uniforme). Devido à generalidade e consistência física do modelo eletromagnético descrito neste trabalho, várias aplicações de interesse prático podem ser realizadas: 1. Análise do campo eletromagnético irradiado gerado pela corrente de descarga atmosférica, com a consideração do modelo de imagens ideais e complexas equivalentes, e posterior determinação dos parâmetros de corrente (medição indireta). As análises de sensibilidade desenvolvidas indicam que a aplicação das duas formulações de acoplamento eletromagnético apresentadas neste trabalho (imagens ideais X imagens complexas equivalentes) geram resultados bastante diferentes, tendo em vista os pronunciados efeitos de propagação. 2. Análise de tensões induzidas por descargas atmosféricas. 3. Aplicação de um modo geral em estudos de desempenho, proteção de sistemas de energia frente às descargas atmosféricas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [CARSON.1926] Carson, J.R., “Wave Propagation in Overhead Wires, with Ground Return”, The Bell System Technical Journal, vol. 5, pp. 539-554, 1926. 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