Edição 49 - Superpedido Tecmedd

Transcrição

Edição 49 - Superpedido Tecmedd
A UNIÃO FAZ A FORÇA
Autores do best-seller Casamento blindado, Renato e Cristiane Cardoso relembram em
entrevista exclusiva os detalhes de suas histórias de sucesso - em casa e no trabalho
Editorial
Editorial
Editorial
Números promissores
Facilitar o acesso aos livros no Brasil é um desafio
antigo, e que, com o passar do tempo, torna-se
cada vez mais urgente. A mais nova iniciativa
para compensar esse atraso histórico saiu do
papel no começo de 2014: o vale-cultura. Alguns
meses depois do lançamento, o Governo Federal
divulga os primeiros resultados do programa – e os
números parecem auspiciosos, especialmente para
as livrarias.
Cerca de 715 mil trabalhadores foram cadastrados
nos três primeiros meses para receber os vales
mensais e cumulativos de R$ 50 para consumo
de bens culturais – a título de comparação, o
vale-alimentação teve uma adesão de 760 mil
trabalhadores.
Por uma demora na emissão dos cartões magnéticos
pré-pagos, porém, apenas 215.600 trabalhadores
efetivamente receberam a tarjeta. Assim, o consumo
total do vale-cultura foi de R$ 13,7 milhões. E nada
menos do que 88% desse total – R$ 12,1 milhões –
foi destinado à compra de livros, jornais, revistas e
itens de papelaria. Ou seja: as livrarias estão sendo
um destino preferencial para esse já considerável
montante de recursos – e que tende a crescer ainda
mais ao longo dos meses.
Assim, caro leitor-livreiro, se seu estabelecimento
ainda não está cadastrado para receber o valecultura, não perca mais tempo. Entre na página
do programa (www.cultura.gov.br/valecultura) e
saiba o que é preciso fazer para se credenciar. A
expectativa do Ministério da Cultura é a de que
o benefício chegue aos bolsos de 42 milhões de
trabalhadores brasileiros. Não dá para ficar fora
dessa, certo?
Celso de Campos Jr.
Editor
Ligue para a
Superpedido
São Paulo
11 3505-9788
pág. 4
Cartas
Cumprimento a Superpedido pela entrevista com a
Ana Paula Padrão. Apenas uma profissional respeitada
e uma pessoa bem-resolvida como ela poderia se abrir
tanto como ela fez em seu livro, e que vocês retrataram
tão bem nas páginas na revista. Parabéns a todos.
Janaína Nunes
São Paulo-SP
Inspiradora a história da menina Isadora Faber, do
livro Diário de Classe. Todos nós deveríamos seguir
seu exemplo e fazer algo a respeito das coisas erradas
que presenciamos no dia-a-dia. Está ao nosso alcance,
é só querer.
Giovanni A. dos Santos
São Paulo-SP
A equipe da revista quer ouvi-lo, leitor-livreiro!
Sugestões, críticas e idéias podem ser enviadas ao
e-mail [email protected], ou remetidas
para o endereço da redação. Mãos à obra!
Índice
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50
Editorial e Cartas
Zoom
Entrevista
Moda
Capa
Fotografia
Quadrinhos
Papo de escritor
Artigo
Ficções livrescas
Gastronomia
Perfil
Humor
Finanças
Top 100 Editoras
Top 20 Livros
Revista Superpedido
Edição de Jul/Ago. de 2014
Ano X - Nº49
Essa revista é uma publicação da
Superpedido Comercial S/A
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11.510 - Km 32,5 - Área B - Setor K3 Jardim
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dos livros desta revista. São sugeridos pela
editora e podem ser alterados sem prévio aviso.
Superpedido Comercial S/A.
Todos os direitos reservados.
Edição Celso de Campos Jr.
Produção e projeto gráfico Nathália Furlan
Nesta edição colaboraram Isabela Freitas, J.A. Dias Lopes, Lia Rizzo, Priscilla Warner,
Reinaldo Domingos e Reinaldo Polito
Ilustrações Estúdio Canarinho
pág. 5
Zoom
Zoom
Picture-Alliance / DPA / Divulgação
Zoom
Inspiração para um recomeço
Dica de leitura para o novo treinador da Seleção Brasileira
– e para todos aqueles que ainda enxergam o futebol
como o jogo bonito: Béla Guttmann, uma lenda do futebol
no século XX, de Detlev Claussen, lançamento da Estação
Liberdade. A biografia do revolucionário treinador
húngaro (1900-1981) pode ser considerada uma história
mundial do futebol em uma só pessoa. Mestre na
capacidade de enxergar as variantes técnicas, táticas e
físicas do esporte, o inovador Guttmann extraiu o melhor
de craques como Zizinho, Eusébio e Puskás, trabalhando
no Honvéd, no Milan, no Peñarol, no Benfica e no São
Paulo, clube em que ganhou o Campeonato Paulista
em 1957. Muitos acreditam que sua presença no Brasil
teria influenciado a preparação da Seleção Brasileira que
venceu a primeira Copa do Mundo, em 1958, na Suécia.
Uma excelente inspiração para um recomeço.
A volta de Hercule Poirot
Stephen King de cara nova
Agatha Christie morreu em 1976 – mas Hercule
Poirot, o famoso detetive criado pela dama do crime,
ainda vive. Trinta e nove anos depois de protagonizar
um romance pela última vez, Poirot voltará às livrarias
em 8 de setembro, em Os crimes do monograma,
obra escrita pela também britânica Sophie Hannah,
escolhida pelos descendentes de Agatha para trazer
de volta à cena o famoso bigodinho. No Brasil, a
obra sairá pela Nova Fronteira – e os capítulos para
tradução chegaram à moda antiga, pelo correio, a
fim de evitar vazamentos ou surpresas indesejáveis.
A editora colocará no mercado ainda dois boxes com
clássicos de Agatha. Já a Globo Livros lançará novas
traduções de obras de Agatha, entre elas Os cinco
porquinhos e E não sobrou nenhum.
Não, leitores-livreiros, o mestre do terror não fez
plástica. São apenas seus livros, aqui no Brasil, que
seguem ganhando novas edições na Suma de Letras –
selo da editora Objetiva que é a casa da obra do mestre
do terror. Mais de 30 livros já foram relançados, com
novas capas; agora, chegou a vez do tão esperado It –
A coisa, um dos maiores sucessos de Stephen King.
Lançado originalmente em 1986, o livro ganha também
uma nova tradução em português. Por sinal, rumores
dão conta também que a Warner Bros realizará uma
nova adaptação ao cinema de It – a primeira, realizada
em 1990, é um cult nos dias de hoje. Antes disso, porém,
os fãs poderão desfrutar de outros clássicos de King por
aqui – a Suma de Letras promete, ainda para este ano, o
lançamento de A dança da morte. Quem viver, verá.
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Entrevista
Entrevista
Entrevista
Acerto de
contas
Neste bate-papo exclusivo, o escritor Paulo Cesar de Araújo
comenta o lançamento de sua nova obra, O réu e o rei –
minha história com Roberto Carlos, em detalhes, publicada pela Companhia das Letras.
O réu e o rei é um acerto de contas com Roberto
Carlos? Ou com você mesmo?
Com ambos, mas antes de tudo O réu e o rei narra uma
história incomum: a de um fã que escreveu a biografia
do ídolo, mas o artista a rejeitou e pediu a proibição
da obra e a prisão do autor. Se não tivesse acontecido
comigo, eu, como historiador, gostaria de narrar esta
história. Mas não é um livro para brigar. É um livro
para esclarecer, lançar luz ao debate. Vivemos em um
estado democrático de direito, com uma constituição
que garante a liberdade de expressão. No entanto, biografias são proibidas no país. Como é possível isto?
Meu livro ficará como testemunho de um tempo em
que biógrafos foram cerceados no Brasil. O réu e o rei
mostra como isso aconteceu: os detalhes, os meandros
e as artimanhas de um violento processo contra um livro e um autor.
Pode nos contar um pouco dos bastidores da confecção de O Réu e o rei? Quando surgiu a ideia, e quando o livro começou a ser efetivamente escrito?
A ideia deste livro surgiu pouco tempo depois da proibição de Roberto Carlos em detalhes. Toda vez que eu
participava de algum debate ou palestra, após relatar
os bastidores do processo, alguém da platéia sempre
me perguntava se eu não pensava em escrever um livro sobre o caso. Portanto, a ideia partiu do público
e comecei a escrever este livro na estrada, entre uma
bienal e outra, em hotéis, fazendo ali as primeiras anotações. Depois mergulhei na pesquisa sobre a repercussão do caso e outros fatos relacionados a Roberto
Carlos. Foram, portanto, cerca de seis anos pesquisando e escrevendo até a publicação agora, em 2014. E só
quis publicar o livro quando tivesse respondido todas
as questões que considerava relevantes sobre o tema.
Quando o livro estava quase pronto, no fim do ano passado, surgiu a polêmica com o Procure Saber, aquela
acusação de Chico Buarque contra mim, e tive que incluir também este episódio no último capítulo.
Quais as precauções que você adotou para evitar
que a obra não sofresse nova ação judicial? E como
foi a busca por uma editora que topasse publicá-lo,
correndo o risco de novo processo?
Quando procurei Luiz Schwarcz a minha primeira proposta era fazer um livro sobre MPB. Mas como já disse,
nas palestras o publico continuava me pedindo para
contar os bastidores do processo. Aí decidi sugerir ao
Luiz o tema de O réu e o rei. Ele me deixou animado,
achou que seria um livro necessário e aceitou publicálo mesmo sabendo dos riscos para a editora. O livro foi
feito com todo o cuidado, sem nenhuma pressa. Todas
as informações foram cuidadosamente checadas. O livro tem cerca de 700 notas, indicando todas as fontes,
com exceção dos fatos que testemunhei. Houve também uma assessoria jurídica para não deixar nenhuma
brecha e, além disso, optamos por não divulgar o livro
antes do lançamento. Neste caso foi uma precaução a
mais e necessária devido ao contexto, ao tema e ao personagem do livro.
O advogado de Roberto Carlos, quando anunciou
que o artista não faria nenhuma tentativa de tirar
de circulação o livro O Réu e o rei, lembrou em nota
que “Roberto Carlos em detalhes não foi censurado ou apreendido, mas saiu do mercado em face de
um acordo judicial, irrevogável e definitivo, assinado espontaneamente pelo autor do livro, o editor e a
Editora”. Oito anos depois, ter assinado esse acordo
é algo que ainda atormenta você? Ou naquele momento não havia outra opção?
Aquele foi talvez o pior momento da minha vida e isto
está narrado em detalhes no capítulo 9 de O réu e o rei.
Aliás, este foi o primeiro capítulo que escrevi. Quis começar com as lembranças mais dolorosas, quando vi
um trabalho de quinze anos de pesquisa ser destruído
numa reunião de cinco horas. Mas nada do que aconteceu me atormenta mais. Naquele encontro no fórum eu
tentei sim, uma solução alternativa. Afinal, aquilo era
uma audiência de conciliação. Propus fazer uma revisão do livro, tirando alguns trechos que Roberto Carlos
reclamava no processo. Eu sabia que isto representava
menos de 1% do conteúdo da obra. Propus também
ceder os direitos autorais para que a obra continuasse circulando livremente. Porém, Roberto Carlos não
aceitou porque quis proibir todos os capítulos, todas
as páginas, todas as frases, tudo. Os representantes da
editora não reforçaram minha proposta nem defenderam meu livro e sem o apoio deles ficou difícil tomar
uma decisão mais radical, pois no contrato de edição
estava escrito que eu seria “o único responsável pelas
reclamações formuladas por terceiros em relação ao
conteúdo da obra, assim como pelos danos e prejuízos
que possa, comprovadamente sofrer a editora”.
Quais marcas você acha que o embate judicial em
torno de seu livro Roberto Carlos em detalhes deixou no mercado editorial brasileiro – e na própria
história da liberdade de expressão no país?
Num primeiro momento o caso Roberto Carlos em detalhes deixou as editoras ainda mais receosas de publicar
biografias não autorizadas. A vigilância foi redobrada e vários projetos foram recusados ou adiados. Por
outro lado, este caso tão absurdo chamou a atenção
para a necessidade de mudanças na legislação, as tais
brechas da lei que favorecem casos assim. Foi quando, em 2008, o deputado Antônio Palocci apresentou
no Congresso um projeto de lei favorável a publicação
de biografias não-autorizadas no Brasil. Ou seja, de
“
O livro Roberto Carlos
em detalhes ficará como
testemunho de um tempo
em que biógrafos foram
cerceados no Brasil. O réu
e o rei mostra como isso
aconteceu: os detalhes, os
meandros e as artimanhas de
um violento processo contra
um livro e um autor.
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”
precedente perigosíssimo, o caso Roberto Carlos em
detalhes resultou em mobilização pela mudança da lei.
Logo depois o Sindicato Nacional dos Editores de Livros também se mobilizou para entrar no STF contra
a proibição de biografias. Com tudo isso Roberto Carlos
em detalhes acabaria se tornando uma espécie de símbolo dessa luta por maior liberdade de expressão no
Brasil.
E em relação a sua vida pessoal e profissional? Como
foi encarar, praticamente sozinho, as consequências desse ato arbitrário?
Foi ruim porque ao invés de me concentrar em outro
tema de pesquisa, no meu ofício de historiador, tive
que me reunir com advogados, ler autos de processo e
freqüentar sessões de tribunais. Além de todo desgaste emocional tive também prejuízo econômico, porque
Roberto Carlos em detalhes foi abatido em pleno vôo.
Meu livro estava na lista dos mais vendidos quando foi
proibido. Mas apesar de tudo nunca me senti derrotado. A biografia foi escrita, publicada, reconhecida pela
crítica e pelo público e até
hoje recebo mensagens
de leitores, alguns do exterior, que estão lendo a
obra pela internet.
Foi uma surpresa para
você ver que artistas
como Chico Buarque
se juntaram ao grupo
Procure Saber? E,
em sua opinião,
porque essa iniciativa
degringolou em tão
pouco tempo?
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Acho que isso foi uma surpresa para todo mundo. Ninguém podia imaginar que um dia artistas como Chico
Buarque ou Caetano Veloso iriam se aliar a uma causa
tão obscurantista. O que o Procure Saber fez foi abraçar a causa de Roberto Carlos: “A minha história é um
patrimônio meu, só eu posso escrever minha história”.
Se isto prevalecesse ninguém poderia mais escrever
sobre personagens da história do Brasil. Imagine se o
presidente Lula ou os herdeiros de Getúlio Vargas também reivindicassem que a história deles é patrimônio
exclusivo e que ninguém poderia escrever sobre eles
sem autorização? A proposta do Procure Saber degringolou porque teve o repúdio de todas as pessoas que
amam a leitura e não toleram mais ver livros proibidos
e apreendidos no Brasil. Era algo também incompatível
com a história desses artistas, daí a reação da sociedade contra a proposta deles.
Caso a lei das biografias seja aprovada, a biografia de Roberto Carlos pode voltar às livrarias? Ou o
acordo assinado em 2006 impediria isso?
O acordo foi firmado num determinado contexto, mas
com a mudança da lei, vivenciaremos outro, quando o
próprio Roberto Carlos já declarou ao Fantástico não
se opor mais às biografias não autorizadas. Portanto,
assim que a lei mudar, vou relatar tudo isso e reapresentar o livro, tentar adequá-lo à nova realidade jurídica do país. Caso contrário, Roberto Carlos em detalhes ficará como o último livro proibido no Brasil, uma
aberração de uma lei já superada.
Você nunca escondeu ser um fã de Roberto Carlos.
Depois de todo o imbróglio vivido, como definiria
hoje essa relação?
Sou historiador, pesquisador de música brasileira, e
Roberto Carlos é meu objeto de estudo. Não posso brigar nem ter mágoa do meu objeto de estudo. Foi ele
quem brigou comigo e me processou – e isso é problema dele. Eu apenas me defendo. Mas não acho que a
“
Foi Roberto Carlos
quem brigou comigo e
me processou – e isso é
problema dele. Eu apenas
me defendo. Mas não acho
que a música “As curvas da
estrada de Santos” ficou
feia porque ele me levou
aos tribunais.
”
música “As curvas da estrada de Santos” ficou feia porque Roberto Carlos me levou aos tribunais. Lamento
o que aconteceu, e lamento por mim e pelo próprio
artista. A esta altura da carreira não era para ele ter
este triste capítulo na sua história. Ressalte-se que eu
nunca me identifiquei com as ideias ou postura de Roberto Carlos. Ele é supersticioso e eu tenho zero de superstição; ele é católico, eu sou agnóstico; ele não gosta
de política, eu sempre participei dela; ele é Vasco, eu
sou Flamengo. Ou seja, minha relação com Roberto se
deu apenas através da música. No mais, sempre estivemos em campo opostos. Essa polêmica das biografias é
apenas mais um exemplo disso. Mas continuo ouvindo, pesquisando e analisando a obra de Roberto Carlos.
O meu arquivo RC está ativo e quando a biografia for
relançada, chegará com informações atualizadas.
E quais são seus próximos projetos, Paulo?
No próximo livro farei uma síntese geral da história da
moderna MPB a partir dos depoimentos de Tom Jobim, João Gilberto, Caetano, Tim Maia, Wilson Simonal e vários outros artistas. Ao longo de quinze anos
de pesquisa entrevistei cerca de 200 personagens da
música brasileira, cada um deles falando de sua obra
e de sua história de vida. Parte desse material utilizei
em meus primeiros livros, mas a maior parte continua
ainda inédito. Há muitas revelações nessas entrevistas.
Depois pretendo também fazer um livro sobre a história do futebol brasileiro, pois entrevistei jogadores de
todas as Copas do Mundo desde 1930, como Domingos
da Guia, Didi e Pelé. Por enquanto, são esses os dois
projetos que penso desenvolver futuramente.
pág. 11
Moda
Moda
Moda
O fenômeno
thássia
Depois de conquistar uma multidão de
fãs na internet, blogueira Thássia Naves
leva suas dicas de estilo para as livrarias
Thássia Naves era apenas uma jovem mineira cursando publicidade quando, em 2008, durante uma aula
sobre Mídias Alternativas e Redes Sociais, ouviu de
um professor a sugestão de criar um blog, meio de comunicação ainda relativamente novo, mas que tinha
muito potencial para crescer. Sempre ligada ao assunto moda, conselheira preferida das amigas para dicas
de estilo, ela chegou em casa naquela tarde e resolveu
experimentar. Nascia então o Blog da Thássia, que,
em cinco anos, se converteu de um simples hobby
para um grande negócio – e alçou a autora ao posto de
mais importante blogueira de moda brasileira.
O sucesso no mundo virtual encorajou uma outra
empreitada: Thássia reuniu em um livro as principais
dicas sobre os diversos assuntos de que trata em seu
blog. Lançado pela editora ArteEnsaio, o livro Look
por Thássia Naves traz em sete capítulos suas recomendações de estilo e escolhas de moda, sugestões de
dresscode para diferentes ocasiões, ideias de maquiagem e cabelo e também indicações de viagens, leitura
e personalidades nas quais se inspirar. Tudo, claro,
com foco no que há de mais em voga entre os “fashionistas” – e em uma edição caprichadíssima, em capa
dura, ricamente ilustrada com fotos e ilustrações.
O lançamento da obra mostra um pouco da força da
blogueira. Tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, em eventos realizados em lojas de duas das
marcas que a patrocinam, centenas de fãs se enfileiraram em busca de um exemplar autografado pela
moça. E é assim por onde ela passa: seu blog é um dos
mais acessados do país atualmente, com a audiência
crescendo entre todas as idades e classes sociais.
Vale lembrar que Thássia continua vivendo em Uberlândia, onde nasceu, e se destaca em um cenário bastante saturado e criticado, mesmo estando fora do
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eixo São Paulo/Rio de Janeiro. As razões para explicar
o fenômeno que se tornou são várias, mas de acordo
com a própria mineira, a principal delas é a sua dedicação. “Costumo explicar que o blog começou como
um hobby, mas hoje ele é minha principal ferramenta de trabalho. Levo minha vida de blogueira a sério,
pois tenho o compromisso de passar para as minhas
leitoras apenas o melhor.”
Quando criou o blog, sua audiência era restrita a
familiares e amigos. “Hoje, falo com mulheres do
Brasil inteiro e até de outros países”, conta. E o reconhecimento por seu trabalho não vem apenas dos
fãs. No ano passado, Thássia foi apontada pela edição espanhola da revista Glamour como uma das 25
personalidades femininas mais influentes da moda
internacional, em função de seus impressionantes
números de audiência: são cerca de cinco milhões de
pageviews/mês, mais de um milhão de seguidores no
Instagram e aproximadamente 360 mil fãs em sua
página no Facebook.
Nesse ranking, ficou atrás apenas de Costanza Pascolato, a veterana e ícone maior da moda brasileira,
que assina a contracapa de seu livro. Nas palavras de
Costanza, Thássia se diferencia das demais blogueiras
brasileiras “pela educação, a gentileza, o carisma de
sua juventude e uma mineirice meio caçula, em versão contemporânea e meio global”.
Já para Daniela Falcão, diretora de redação da Vogue
Brasil e autora da apresentação do livro, a blogueira
se destaca porque “trata a moda como um business,
mas faz isso de uma maneira acessível, natural e sem
esnobismos, o que explica o incrível sucesso do seu
blog e também sua impressionante performance nas
redes sociais.” A jornalista completa: “Thássia é um
espelho da recém-descoberta paixão brasileira por
moda. E por isso o que ela diz, pensa e veste encontra
tantos ecos por aí.”
Pés no chão
Difícil crer que uma jovem de 25 anos, que ostenta
um closet de 24 metros quadrados recheado das mais
caras grifes nacionais e internacionais, que brigam (e
pagam) por sua presença na primeira fila de alguns
dos mais importantes desfiles das semanas de moda,
consiga distanciamento para não se deslumbrar com a
fama que conquistou. Mas Thássia garante manter os
pés no chão e o perfeccionismo que a fez subir tantos
degraus: “Ao me lembrar de minha trajetória, concluo
que tudo aconteceu da melhor maneira possível por-
que sou perfeccionista e muito apaixonada pelo meu
ofício, além de acreditar que tudo que fazemos com
carinho sempre dá certo, no momento certo.”
“
A brasileira foi apontada pela
edição espanhola da revista
Glamour como uma das 25
personalidades femininas
mais influentes da moda
internacional, em função de
seus impressionantes números
de audiência: são cerca de
cinco milhões de pageviews/
mês e mais de um milhão de
seguidores no Instagram
”
A blogueira, que conta com a participação da mãe e
da irmã na equipe de cinco pessoas que a ajuda a gerenciar o blog, afirma estar o tempo todo atenta aos
mínimos detalhes. “Faço questão de estar à frente de
tudo e não delego a tarefa de postar conteúdo a ninguém: pesquiso, produzo meus looks, participo da escolha das locações para os ensaios fotográficos, edito
as fotos que vão ao ar, escrevo os textos. Gosto realmente de me envolver em todas as etapas do Blog da
Thássia. Afinal, ele leva meu nome.”
A rotina não para por aí e inclui aparições em eventos
nacionais e internacionais, o que demanda viagens constantes. No tempo entre uma coisa e outra, está sempre
checando as novidades do mundo fashion, lendo os livros
do segmento ou acompanhando a produção de lookbooks
das marcas que gosta. Também considera parte de seu
trabalho testar novidades da indústria de beleza e tudo
que for tendência.
Para Thassia, a publicação
de seu livro é a consolidação de todo este trabalho.
“É, sem dúvidas, um dos
projetos mais importantes
da minha vida.” E aqui até
admite-se um pouquinho de
deslumbramento: “Para falar bem a verdade, não caibo
em mim de tanto orgulho de
ter chegado até aqui.”
Capa
Capa
Edu Moraes
Capa
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Casamento
sem crise
Ensinamentos de Renato e Cristiane Cardoso sobre vida conjugal conquistam o
público e fazem seus livros ultrapassarem a marca de dois milhões de cópias vendidas
Em novembro de 2011, estreava na TV Record o programa The Love School – A Escola do Amor, com conselhos
para ajudar homens e mulheres a alcançar ou manter
um relacionamento feliz. Até então pouco conhecidos
do grande público, seus carismáticos apresentadores,
Renato e Cristiane Cardoso, rapidamente ganharam a
simpatia dos telespectadores e se tornaram verdadeiros
gurus matrimoniais.
E, ainda que nem todos soubessem, eles tinham vasta experiência para isso. Casados desde 1991, Renato e
Cristiane – que é filha de Edir Macedo, bispo da Igreja
Universal do Reino de Deus – viveram por 21 anos em
três países diferentes, realizando trabalhos evangelizadores e envolvendo-se especialmente em acompanhamento
e aconselhamento de casais, tema sobre o qual criaram
cursos e palestras. Quando voltaram ao Brasil, em setembro de 2011, criaram uma atração sobre o tema, exibida
inicialmente na IURD TV – mas a repercussão foi tanta
que logo o programa passou para a Record.
Em seguida, unindo os talentos de Renato, educador familiar e matrimonial certificado pelo National Marriage
Centers de Nova York, e Cristiane, que já havia escrito
os livros A mulher V e Melhor do que comprar sapatos, o
casal decidiu colocar no papel sua experiência e seus ensinamentos – e assim, em 2012, nasceu Casamento blindado – o seu casamento à prova de divórcio. O sucesso
foi absoluto: a obra está há 100 semanas nas listas dos
livros mais vendidos do país, com quase dois milhões de
cópias, e foi traduzida também para o inglês.
No ano passado, Renato e Cristiane lançaram outro
best-seller: 120 minutos para blindar seu casamento, obra
com orientações rápidas e práticas para manter uma relação livre de perigos. Na entrevista a seguir, Renato e
Cristiane contam os bastidores dessa história de sucesso. Atenção aos professores!
Renato Cardoso
Quando (e como) primeiro surgiu a ideia de vocês falarem
sobre relacionamentos?
A partir da reviravolta em nosso casamento em 2003, que
contamos no livro Casamento blindado, nasceu o desejo
de compartilhar as nossas experiências e aprendizados.
A ignorância nos fez sofrer no amor. Agora que sabíamos
melhor, não podíamos guardar isso conosco. Desde então
nossos esforços foram se intensificando ao passo que recebíamos feedback positivo das pessoas que ajudávamos.
Como foram os primeiros passos nessa área? Precisaram
fazer alguma preparação para conduzir palestras, cursos e
programas de TV?
Quando fomos trabalhar em Houston, Texas, no final
de 2007, ficamos espantados com os altos índices de divórcio lá. Era comum encontrar pessoas que já haviam
casado duas ou três vezes, sem contar as que já haviam
passado dos cinco casamentos. Deparamos com situações bizarras, tristes mesmo. Essas pessoas vinham até
nós para aconselhamento, mas eram tantas, e os erros
tão absurdos, que decidimos fazer algo a respeito. Daí
desenvolvemos um curso e convidamos casais para participarem. Aproximadamente 20 casais assistiram o primeiro curso e o resultado foi muito positivo. Daí fomos
desenvolvendo mais o material, eu fiz um curso de aconselhamento matrimonial e a coisa foi crescendo daí.
Em que momento, e por que, vocês decidiram também colocar suas ideias sobre o assunto em livros? De que forma
os livros podem completar as histórias que vocês trazem na
televisão?
O Curso Casamento Blindado tem sete aulas de uma
hora e meia cada. É intensivo e muito prático. Porém,
nem todos podem chegar aos locais onde damos o curso,
apesar de ser a melhor ajuda que oferecemos. Por isso
veio a ideia dos livros, para facilitar o acesso das pessoas
pág. 16
Cristiane Cardoso
Edu Moraes
Como você desenvolveu o gosto pela escrita? É uma herança
de sua mãe, Ester, também escritora?
Eu sempre gostei de escrever, mas eu nunca imaginei
que um dia seria uma escritora. Na minha família, inclusive, eu era quem escrevia cartas e mantinha diários.
Nossa família passou por várias situações difíceis, e
como eu era a filha mais velha, tinha que ser a mais forte, por isso, o diário... Achei uma maneira de desabafar
sem deixar de ser forte para minha irmãzinha.
ao que ensinamos. O bom da leitura é que a pessoa pode
fazê-la no tempo dela, voltar e reler, comentar com o
parceiro e aquilo serve como uma base muito boa para
fazer a reeducação amorosa. Eu diria que não é o livro
que completa o que apresentamos na TV, mas sim o que
dá a base para o que as pessoas assistem nos programas.
Tanto Casamento blindado quanto 120 minutos para
blindar seu casamento tiveram excelente repercussão. Foi,
de certa forma, uma surpresa para vocês testemunhar o poder do alcance dos livros em um país como o Brasil, onde o
índice de leitura é relativamente baixo?
Sim e não. De certa forma nós já esperávamos uma boa
receptividade porque já tínhamos testado o material em
nossos cursos, sempre com boa repercussão. Mas não fizemos projeções de vendas. Não imaginávamos que em
dois anos chegaríamos a dois milhões de cópias só do
Casamento blindado. A leitura tem melhorado no Brasil,
e isso é muito positivo.
O segmento evangélico muitas vezes sofre com uma série de
preconceitos quando se fala em penetrar na chamada grande mídia. Porque você acredita que seus ensinamentos sobre
vida conjugal encontraram tanto sucesso – ultrapassando,
inclusive, essa barreira da religião?
Casamento é algo universal, que transcende religiões,
raças e culturas. Todo mundo nasce com a carência de
ser amado e o desejo de amar. O problema é que nós não
nascemos sabendo como fazer isso funcionar na prática. Por isso, quando falamos sobre a prática da vida a
dois, estamos falando com todo mundo. Todos querem
aprender como resolver esse quebra-cabeça.
Antes de aparecer como escritora, você experimentou o sucesso como apresentadora. Esse era um de seus planos ou
aconteceu por acaso? Como foi para você estar pela primeira
vez diante do público geral de uma TV aberta?
Na verdade eu já tinha escrito dois livros antes de apresentar um programa e gostava de poder ajudar as pessoas de uma forma mais invisível, mas tive que aprender a
me adaptar com a TV. Não foi nada fácil, não conseguia
me enxergar como apresentadora já que sempre fui muito tímida até então. A minha primeira vez na TV aberta
foi extremamente difícil, não era eu ali. Por fora eu parecia estar super calma mas por dentro, só Deus sabe...
Seu primeiro livro foi Melhor do que comprar sapatos – que
ganhou uma nova versão recentemente. O que a levou a publicar suas ideias? E quais os complementos dessa nova versão?
Esse livro foi compilado de artigos semanais que eu escrevia para a Folha Universal, e como eu sempre optei
por escrever experiências próprias, estes logo ficaram
tão populares que se tornaram um livro. As pessoas cortavam a página da minha coluna e faziam coleção, então
quando o livro saiu, não demorou em virar um best-seller pela Unipro. Na época, eu trabalhava em Londres e
escrevia em inglês, para depois traduzirem para o português – então isso acabava tirando um pouco da originalidade. Já nessa última versão, a linguagem está mais
atualizada e mais eu.
Como surgiu o conceito da Mulher V? E como foram os bastidores da produção desse livro que alcançou as listas de bestsellers e teve excelente repercussão na imprensa?
Depois que lancei o primeiro livro, meu pai sempre me
motivou a escrever mais. Em uma de nossas conversas,
ele me pediu para escrever sobre os desafios da mulher
de hoje. A ideia era ensiná-la a resgatar padrões que foram perdidos com o tempo, cuja falta tem afetado o seu
valor próprio. Eu, que já tinha um blog nessa época, comecei a escrever sobre a Mulher Virtuosa de Provérbios
31, e os posts começaram a ser tão acessados que reconheci que realmente precisava ir mais profundo no assunto. Foi assim que nasceu o livro A mulher V. À medida
que eu ia escrevendo o livro, Deus ia falando comigo,
pág. 17
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foi uma experiência incrível para mim – muitas vezes
até me emocionei... parece que amadureci uns 10 anos
durante a escrita!
Como foi o processo de escrever o primeiro livro com o Renato, Casamento blindado? Dividiram as tarefas, fizeram a
quatro mãos, enfim, podem relembrar como foi a produção
dessa obra?
Foi muito gostoso escrever o livro Casamento blindado
e desenvolver na escrita o curso que já apresentávamos
por alguns anos. Tiramos duas semanas de “férias” de
tudo. Fomos para um lugar bem afastado e ficamos ali
escrevendo de manhã, de tarde e de noite. Eu optei
mais por escrever pensando nas mulheres casadas, que
como eu, passavam por certas dificuldades com suas
emoções. Por isso, foquei mais em certos assuntos es-
Sobre necessidades básicas
Um trecho de Casamento blindado (Thomas Nelson Brasil)
Somos programados por nossa natureza humana a ter
certas necessidades supridas. E não há necessidades mais
básicas do que comer, beber, vestir e ter moradia. Tire isso
do ser humano e seu comportamento se torna como o
de um animal. Isso pode ser observado quando grandes
desastres naturais afetam uma cidade. De repente, as pessoas se veem sem alimentação, água, abrigo e segurança.
Se não houver uma intervenção rápida dos serviços de
emergência, entram em desespero e adotam um comportamento até agressivo pela sobrevivência. A procura
pelo que comer e beber e por onde morar faz com que as
pessoas ajam como se voltassem à época das cavernas.
Quando suas necessidades básicas são afetadas, afloram
as reações mais primitivas.
Minutos antes de o desastre acontecer, a maioria estava preocupada com inutilidades, como se a barra da calça está curta demais, se a melhor cor para a parede do quarto é bege
ou branco, se vai fazer um upgrade do celular etc. Depois
que o horror acontece, ninguém se importa mais com isso.
A única preocupação é salvar a própria vida. O que as pessoas antes viam como “necessidade” é reduzido do mais alto
capricho para as coisas mais básicas, como água, pão e cobertor. Pessoas que nunca roubaram, agrediram ninguém
nem violaram leis são capazes de fazê-lo. É o instinto natural do ser humano. E qual a melhor maneira de conter esse
comportamento animalesco? Preenchendo novamente as
necessidades básicas dessas pessoas. Há outra coisa muito
importante que você tem que saber sobre isso:
Não se discute sobre as necessidades básicas de uma pessoa. A única coisa a fazer é preenchê-las.
Ninguém é culpado de ter fome. Ninguém é mau por querer dormir uma noite de sono. Ninguém pode ser acusado
pecíficos, sempre adicionando minhas próprias experiências. Trabalhar com o Renato é o que eu sonhei desde
que casamos! Sempre quis estar envolvida no trabalho
dele e por um bom tempo, ele não me incluiu (como
falamos no livro)... Então você pode imaginar a alegria
de hoje poder fazer o que fazemos juntos... Ele me faz
rir muito e nos divertimos fazendo um trabalho muito
sério, o que já é um diferencial da nossa marca. O trabalho se torna bem mais gostoso e de muito proveito!
Quais são os próximos projetos do casal? Há mais algum livro vindo por aí?
Temos vários projetos na manga... Estamos escrevendo
um livro para os solteiros, que temos certeza vai ajudar
mais alguns milhões de pessoas.
por querer um lugar para morar. Mau é quem pode suprir
as necessidades de alguém mas não o faz.
Agora, transporte esse fato para dentro do relacionamento. Homem e mulher também têm, por suas naturezas
masculina e feminina, necessidades básicas que precisam
ser preenchidas. Para que um casamento funcione, há
certas coisas mínimas que devem existir. Tudo bem, o marido pode não ser tão romântico quanto um personagem
de Robert Redford; a esposa pode não ser a mais perfeita
dama de um conto de fadas, mas ambos têm que oferecer
um ao outro pelo menos o essencial.
As necessidades básicas do homem e da mulher são de extrema importância. Se elas não são supridas, seu marido ou
sua esposa começará a agir irracionalmente. E não adiantará
ficar criticando ou perguntando “por que ele é assim?” ou
“por que ela age assim?” A melhor coisa que você pode fazer sobre as necessidades básicas de seu parceiro é supri-las.
Sobre necessidades não se discute. Quando se tem fome, a
única coisa útil de se fazer a respeito é comer.
Quando adota um animalzinho de estimação, a primeira
coisa que você faz, antes mesmo de leva-lo para casa, é
descobrir o que come, bebe,
gosta e não gosta. Você não
discute com quem lhe deu o
animal, nem tenta mandar o
bichinho depois que o leva
para casa. Se você quer um
animalzinho feliz, e é mais inteligente que ele, apenas preenche as necessidades dele,
por mais chatas que sejam.
Para você ter um marido ou
uma esposa feliz, descubra as
necessidades básicas dele ou
dela e supra-as – não discuta.
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Fotografia
Fotografia
Fotografia
Tesouro
revelado
A incrível história da babá norte-americana que deixou um dos
mais ricos acervos fotográficos dos últimos tempos
Por Lia RiZZo
Babá e fotógrafa compulsiva: isso é quase tudo o que
se poderia afirmar, categoricamente, sobre a norteamericana Vivian Maier. Mas como é possível conferir
em Vivian Maier: uma fotógrafa de rua, lançado no Brasil
pela editora Autêntica, a história é bem menos ordinária do que parece. O livro apresenta, em suas 136
páginas, parte de um dos acervos fotográficos mais espetaculares dos últimos tempos, com registros principalmente das cidades de Nova York e Chicago ao longo
das décadas de 1950 e 1960, descobertos – acidentalmente – apenas em 2007.
Foi o americano John Maloof, corretor de imóveis e
aspirante a historiador, quem arrematou por um lance
de 400 dólares em uma pequena casa de leilões o lote
de mais de 30 mil negativos e 1600 rolos de filmes até
então nunca revelados. Na época, Maloof buscava material para a elaboração de um livro sobre o bairro onde
vivia, em Chicago, para atrair maior interesse imobiliário à região. Ao chegar em casa e abrir o pacote, não encontrou as imagens em que estava interessado, então
guardou a caixa por mais um ano.
Quando finalmente resolveu resgatá-la, mesmo não
sendo especialista em fotografia, percebeu estupefato
a riqueza do que tinha em mãos. Eram fotos de gente e
de vida, capturadas de forma absolutamente sensível e
profissional. Ali, havia olhar em cada detalhe, atenção
para a luz, timing impecável e a capacidade de disparar
sem perder qualquer momento. E a única pista sobre
pág. 21
a autora dos flashes, que em meio ao seu espólio também deixou uma série de autorretratos, era seu nome
impresso em um envelope.
“Maier não apenas era totalmente desconhecida no
mundo da fotografia, como ninguém parecia sequer
saber que ela tirava fotos”, escreveu Geoff Dyer, romancista inglês que assina o prefácio do livro. De posse
do nome, mas sem encontrar qualquer referência em
redes sociais ou sites de busca como o Google, John
Maloof empreendeu dois esforços paralelos para saber mais sobre Vivian Maier. Primeiro criou um blog,
no qual, além de tonar públicas as primeiras fotos da
babá-fotógrafa, também debatia sobre o que fazer com
o acervo. Paralelamente, no mundo “off line”, passou a
buscar referências locais, até finalmente encontrar um
obituário no Chicago Tribune informando o falecimento de Vivian Dorothea Maier, “francesa de origem e
moradora de Chicago (...) uma segunda mãe para John,
Lane e Matthew”.
O vasto material já rendeu, além do livro de imagens
de rua, outro volume, apenas de autorretratos. As fotos
também viraram exposição na cidade e a história de Vivian pode ser conhecida em detalhes no documentário
“Finding Vivian Maier”, para o qual o próprio John Maloof realizou cerca de 90 entrevistas. Um dos mistérios
já esclarecidos: o espólio foi parar na mão de leiloeiros
após Maier se aposentar e deixar de pagar o guarda-móveis onde havia escondido seu tesouro particular.
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Quadrinhos
Quadrinhos
Quadrinhos
Para não
esquecer
A história da primeira bomba atômica
chega aos quadrinhos em obra tão
dramática quando esclarecedora
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Colocar em quadrinhos uma das passagens mais terríveis do século XX foi o complicado desafio encarado pelo norte-americano Jonathan Fetter-Vorm.
Mas quem confere as 154 páginas do livro Trinity,
lançado no Brasil pela Três Estrelas, percebe que o
desenhista cumpriu sua missão, trazendo a jovens e
adultos uma tão esclarecedora quanto dramática história das bombas atômicas – desde a descoberta da
radioatividade, no final do século XIX, até as explosões em Hiroshima e Nagasaki, em 1945, que deixaram mais de 200 mil pessoas mortas.
O título do livro faz referência ao nome do primeiro
teste de bomba atômica da história: em 16 de julho
de 1945, sob sigilo absoluto, cientistas a serviço do
exército dos Estados Unidos detonaram um artefato nuclear no deserto do Novo México. Com o sucesso do experimento Trinity, dois meses depois os
norte-americanos provocavam a catástrofe nuclear
no Japão – colocando fim à Segunda Guerra Mundial
e provocando um debate político, moral e ético que
ecoa até os dias de hoje.
Muito além da tragédia, porém, Fetter-Vorm mostra
ao leitor todos os passos dos avanços científicos e
tecnológicos que permitiram ao homem dominar os
núcleos atômicos – incluindo até mesmo, de forma
didática, quadros que mostram como funciona a reação em cadeia que provoca a explosão.
Hoje, governos de
todo o mundo comprometem-se,
ao
menos oficialmente e na teoria, em se
manter longe de experimentos nucleares que possam fazer
renascer esta que é
considerada a armas
mais letal de todos os
tempos. No excelente
livro de Jonathan Fetter-Vorm, vemos muito
bem o porquê.
Papo Papo
de escritor
de escritor
Papo de escritor
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Com os nervos
à flor da pele
Por ISABELA FREITAS
Desde pequena sou uma leitora voraz. Não havia nada
que não despertasse minha atenção. Livros para crianças, livros para adultos, livros sem faixa etária estabelecida. Ia de Harry Potter a Ramsés. De O diário da princesa
a As brumas de Avalon. Fui uma criança feliz, posso assim
dizer. Meu pai sempre foi alucinado por livros, e eu cresci em meio a eles. Ainda bem, imagine só, como seria
viver em uma realidade onde a imaginação não tem vez?
Sempre que a professora perguntava nos trabalhinhos
de escolha, “o que você mais gosta de fazer?”, eu respondia: “‘ler, brincar e conversar’”. E é assim até hoje. Toda
vez que entro na livraria sinto aquela compulsão maluca
e acabo saindo com dois ou três livros de lá. É que são
muitas histórias para se descobrir, muitos mundos para
conhecer, e muitos personagens que me farão sonhar.
Você me entende?
Em 2011 tomei a decisão de criar um blog para expor meus pensamentos. Não que eu me considerasse
uma escritora na época; isso ainda era um sonho. Eu
era apenas uma menina com muitos pensamentos que
precisavam ser expostos em algum lugar. Mesmo ainda
não sendo uma escritora, eu precisava exprimir meus
sentimentos em forma de palavras. E o que aconteceu
foi magnífico: de repente, milhares de pessoas começaram a se identificar com o que eu escrevia, e isso
me fazia querer ser cada vez melhor. Escrevia sobre
momentos da minha vida, e, em meio a tudo, tentava
enquadrar um pouco da vida de cada leitor. Ganhei a
confiança que não tinha antes. Se quando mais nova
morria de vergonha do que escrevia em meus diários,
agora eu queria gritar aos quatro cantos do mundo os
meus problemas.
Dediquei-me de corpo e alma ao que sempre fui apaixonada: escrever. E escrevi sem parar. O sonho de todo
escritor é ser lido. E ali, no meu espacinho na internet,
pude ser lida. E também fazer amigos distantes, me
sentir amada nos momentos tristes. Lembro-me que
sempre que algum leitor falava “Você deveria escrever
um livro!”, eu pensava: “É meu sonho”. Mas sabe aqueles sonhos que não temos certeza se irão acontecer?
Dar a volta ao mundo em um trailer, ajudar todos os
animais abandonados do mundo, escrever um livro.
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Para nós, perfeccionistas,
escrever é um processo árduo.
Achava perfeito aquilo que
escrevia em um dia, apenas
para apagar tudo no dia
seguinte. Escrevia, apagava,
escrevia, apagava.
Esses eram os meus. Mal sabia eu que a sorte iria sorrir pra mim e colocar um pouquinho de otimismo no
meu coração.
começar do zero, um novo livro. Isabela, a autora, resolveu escrever sobre Isabela, a personagem. Uma menina
que não sabe muito sobre relacionamentos, mas que dá
a cara a tapa. E durante meses ela foi meu alter ego e
melhor amiga.
Gostava de escrever durante a madrugada, tendo o silêncio como companhia para meus pensamentos. Quando precisava escrever durante o dia, colocava um fone
de ouvido e escutava Kina Grannis. Senti-me sozinha
ao terminar de escrever. Passei a imaginar a continuação do livro. Queria viver mais um pouquinho dentro
do livro que escrevi. Mas precisava voltar à vida real, e
nela eu era apenas uma garota de 23 anos publicando
seu primeiro livro e com os nervos à flor da pele. Não
adiantava fugir da realidade.
Era 4 de dezembro, faltando apenas quatro dias para o
meu aniversário. Como boa sagitariana, estava ansiosíssima. Não conseguia pensar em mais nada. Abri minha
caixa de e-mails, despretensiosa, e vi um e-mail com o
assunto “Editora Intrínseca - Projeto de Livro’”. De imediato não abri. Calma, explico. É que eu já havia recebido
muitos outros e-mails como esse, me convidando a escrever um livro. Neles diziam “Pague X e publique seu livro”.
As inseguranças voltaram com força: e se ninguém gostasse do que escrevi? E se meus leitores me abandonarem? Nunca me senti tão sozinha como no mês que antecedeu o lançamento do livro.
Deixei o e-mail de molho ali por algumas horas, e depois
a curiosidade falou mais alto. Abri. A seguinte mensagem
piscava: “Gostaríamos de conversar com você sobre o
projeto de um livro. Você tem interesse?”’ Meu estômago embrulhou todinho. Como algo tão bom podia estar
acontecendo na minha vida? Trocamos alguns e-mails e
marcamos uma reunião para a semana seguinte.
Foi como arrancar um esparadrapo aos poucos. Quando
recebi o primeiro elogio, meu coração esquentou. No segundo, o sorriso se abriu. No terceiro, quarto, quinto?
Tive vontade de chorar. E, quando vi mais de 200 pessoas no meu primeiro coquetel de lançamento, não soube
o que sentir. Eu só quero escrever mais. Para sempre. A
vida inteira.
Na reunião meu trabalho foi elogiado e ganhei uma chance para provar ser capaz de escrever um livro. Tive que
reunir meus melhores 20 textos e enviar para aprovação.
Foi difícil esperar tanto tempo pela resposta final. Fiquei
insegura pensando: “e se eles não gostassem de mim? E
se desistissem do meu livro?”. Foram 12 dias de espera, e
a resposta positiva finalmente chegou. Na época disse a
todos conhecidos e amigos: ainda não caiu a ficha. E hoje,
mesmo com o livro lançado, a ficha ainda não caiu.
O processo para escrever foi dificílimo. Escrever não é
simplesmente despejar seus pensamentos no papel – ou
na tela em branco de um editor de textos. Para nós, perfeccionistas, é um processo árduo. Achava perfeito aquilo que escrevia em um dia, apenas para apagar tudo no
dia seguinte. Escrevia, apagava, escrevia, apagava.
Inicialmente publicaríamos um livro de contos e crônicas, no mesmo estilo dos textos que escrevo no blog.
Com o livro quase pronto, resolvi jogar tudo pro alto e
O medo dominava e eu não sabia o que viria pela frente.
Queria mudar o livro todo, queria mudar cada palavra
ali escrita, queria pedir ao leitor que me perdoasse.
Isabela Freitas tem 23 anos e sempre foi
apaixonada por livros e pela escrita. Em 2011,
começou seu blog isabelafreitas.com.br, que
já soma mais de 60
milhões de visualizações. Estudante
de Direito, pretende
cursar Jornalismo
um dia. Mora com
os pais em Juiz de
Fora (MG), onde nasceu. Não se apega,
não, publicado pela
Intrínseca, é seu primeiro livro.
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Artigo
Artigo
Artigo
Do pânico à paz:
meu caminho na meditação
Por PRISCILLA WARNER
De acordo com o Instituto de Psiquiatria do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 12% da população brasileira sofre com
algum tipo de transtorno de ansiedade. Essa estatística
representa, na prática, cerca de 24 milhões de brasileiros
– que, silenciosamente ou não, travam batalhas diárias
com a síndrome do pânico, a fobia social, o transtorno obsessivo compulsivo, entre outros. A ansiedade está perto
de todos nós – e, para mostrar um exemplo de como encará-la, publicamos a seguir um artigo exclusivo da escritora norte-americana Priscilla Warner, autora de Respirar,
meditar, inspirar (Editora Valentina).
Doenças mentais eram algo que minha família conhecia
muito bem. Meu pai havia sido diagnosticado como um
maníaco depressivo, seu irmão entrou e saiu de sanatórios durante toda a vida, minha prima xará se tornou uma
sem-teto esquizofrênica.
Quando eu tinha quinze anos de idade, sofri meu primeiro – e terrível – ataque de pânico, enquanto trabalhava como garçonete em uma movimentada cafeteria.
Pensei que estivesse tendo um ataque cardíaco. Em um
minuto estava servindo as mesas, e então, de repente,
senti como se não pudesse respirar. Meu coração começou a acelerar, meus pulmões convulsionaram, eu sentia frio e calor, tremendo da cabeça aos pés, e minha
garganta começou a fechar.
Pensei que eu fosse uma aberração. A palavra “ataque
de pânico” não era usada naquela época. Era um termo
que as garotas da minha idade nem sequer haviam ouvido – assim como ansiedade.
Eu estava morrendo? Não tinha certeza. Eu estava ficando louca? Era possível.
Eu achava que doenças mentais eram contagiosas. Voltei correndo para casa e um médico da família foi chamado. Ele me diagnosticou como “um pouco nervosa” e
prescreveu Librium, o calmante mais receitado para as
donas-de-casa americanas com o dobro de minha idade
nos anos 1960.
Então quando o médico me disse que eram meus nervos
que haviam me feito sentir tão mal, eu pensei que meu
sistema nervoso central estava com defeito. Com muita
frequência, pelos próximos quarenta anos, sofri centenas
de ataques de pânico – na escola, no trabalho em diversas agências de publicidade, sozinha, em teatros lotados,
dentro de ônibus e metrôs e nas férias na praia.
pág. 31
Eu aprendi a esconder minha condição constrangedora
até de meus melhores amigos. Carregava um frasco de
vodca comigo – não para me embebedar, mas para acalmar a lancinante ansiedade que corria em minhas veias
quando eu sentia um ataque de pânico chegando. Um terapeuta me prescreveu medicamentos anti-ansiedade, e
eu os tomei regularmente durante todos esses anos, exceto quando eu estava grávida.
nova descoberta nos estudos sobre o cérebro humano.
Antes, pensava-se que cérebros mais velhos não podiam
ser reprogramados para funcionar de formas diferentes.
Mas pesquisas de agora mostravam que pessoas de qualquer idade podem mudar a forma com a qual seu cérebro
opera. Os cientistas estavam estudando os cérebros de
monges tibetanos como Yongey Mingyur Rinpoche para
determinar como a meditação ajudava a alcançar isso.
Por fora, eu estava funcionando bem, como uma profissional produtiva no mundo da publicidade, uma esposa
amorosa com um marido compreensivo, e como a mãe de
dois belos filhos. Meu pai morreu quando tinha sessenta anos, e meus ataques de pânico aumentaram. E eles se
tornaram ainda mais regulares depois dos atentados de
11 de setembro, em 2001 – meu marido trabalhava não
muito longe do World Trade Center. Eu vivia em uma cidade que parecia estar sitiada, e esse era um sentimento
que eu conhecia muito bem – sempre senti como se meu
corpo estivesse em estado de sítio.
Eu queria o cérebro de um monge, e tudo que vinha com
ele – como paz, tranquilidade e felicidade. Então decidi
escrever um livro sobre meus esforços para mudar e reprogramar meu cérebro instável. Escrevi um projeto e o
vendi ao editor que publicou nosso primeiro livro. Pesquisei diferentes professores de meditação e procurei, da
melhor forma possível, criar minha própria experiência
de cura holística.
A vida estava se tornando mais complicada. Conheci duas
mulheres que sofriam com as questões religiosas que foram colocadas na pauta da cultura norte-americana depois do 11 de setembro, e escrevemos um livro detalhando nossa intensa relação e nossas conversas honestas,
explorando as perspectivas do judaísmo, do cristianismo
e do islã. O livro se tornou um best-seller nos Estados
Unidos, e viajamos o país para dialogar com milhares de
pessoas em igrejas, sinagogas e mesquitas. Aparecemos
em diversos programas de rádio e televisão, e fizemos palestras em livrarias e salas de aula também.
Minha ansiedade voltou a aumentar durante as viagens pelo país, que eu confesso que não gostava de
fazer. Também precisava me apresentar publicamente
para estranhos, o que aumentava meu nível de estresse. Eu me achava meio uma fraude quando dizia para as
pessoas sobre meus desenvolvimentos nas áreas de espiritualidade e religião. Por dentro, eu me sentia psicologicamente muito menos forte. Estava em pedaços e
sozinha, com meus ataques de pânico me assombrando
por onde eu fosse. Não tinha ideia de que seis milhões
de americanos também estavam sofrendo de ataques
de pânico, de que 40 milhões estavam lutando contra
transtornos de ansiedade de diversos tipos.
Mas uma pessoa em particular, um jovem monge tibetano chamado Yongey Mingyur Rinpoche, chamou minha
atenção. Eu havia lido sobre ele em revistas. Ele havia
sofrido ataques de pânico quando criança e os curou por
meio de práticas de meditação. Neurocientistas estavam
usando o termo plasticidade cerebral para descrever uma
Eu me inscrevi em um retiro de cinco dias com Yongey
Mingyur Rinpoche. Ao lado de cem outros estudantes,
hospedados em um antigo monastério, aprendi como
meditar, e ele me aconselhou a olhar para mim como um
cavalo e um cavaleiro. “Seu corpo é o cavalo”, ele disse.
“Precisa de exercício, ioga, sono e nutrição correta. Seu
cérebro é o cavaleiro, e o que ele necessita é de meditação.”
Eu buscava uma forma de curar meu corpo exausto e
mente ansiosa. Queria reaproximá-los, pacificamente.
Então me comprometi a meditar todos os dias, e em poucas semanas comecei a ver resultados. Meu marido percebeu que minha impaciência havia desaparecido quase
por completo. Amigos me disseram que meu rosto parecia
mais relaxado, e eu mais calma. Eu não reagia a experiências frustrantes com aquela intempestividade de antes.
Estudei budismo com professores renomados. Um deles
“Seu corpo é o cavalo”, me
disse o monge Rinpoche.
“Precisa de exercício, ioga,
sono e nutrição correta.
Seu cérebro é o cavaleiro,
e o que ele necessita é de
meditação.”
me ensinou uma técnica chamada metta, ou meditação
do amor fraterno. Um neurocientista analisou meu cérebro enquanto eu começava com essa prática – e depois,
pág. 32
novamente, oito anos mais tarde. Ele confirmou o que eu
já sabia: os exames mostraram um aumento do fluxo sanguíneo para certas partes de meu cérebro, o que ilustrava
um poderoso efeito de treinamento. De acordo com esse
neurocientista, meditação é como musculação para o cérebro, e eu me sentia como uma halterofilista.
Passei a sentir uma felicidade que nunca poderia imaginar. Meus ataques de pânico diminuíram e se tornaram
cada vez mais espaçados. Fui diminuindo paulatinamente minha dose de medicamentos anti-ansiedade, até que
passei a tomá-la ocasionalmente. Minha vida, é bom que
se diga, não se tornou um conto de fadas perfeito. Meu
sofrimento e o sofrimento das pessoas que eu amava continuaram. Acontecimentos difíceis da vida apareceram.
Mas eu comecei a viver sabendo que todos os momentos
passam. Os bons e os maus momentos não me afundam
ou determinam minha felicidade.
O que me mantém com os pés no chão agora é a percepção de que não estou sozinha em meu sofrimento, e de
que há várias maneiras para se curar, e tantas boas pessoas com vontade de ajudar a apagar o estigma da doença mental. Graças a essa ajuda e meu comprometimento
com a reprogramação de meu cérebro antes problemático,
agora sinto uma confiança na força de meu corpo e em
sua habilidade de prosperar.
Desenvolvi uma série de técnicas que funcionam para
mim – um kit interno de ferramentas que posso usar
quando preciso, esteja eu onde estiver. Eu medito diariamente. Tenho cuidado com minha dieta, evitando álcool,
açúcar e cafeína. Tento me exercitar regularmente. Penso
sempre nos princípios budistas que guiam os professores
que eu tanto respeito.
É ótimo saber que meu livro teve eco em tantos leitores.
Por décadas, eu pensava que eu era a única que sofria
tanto com a ansiedade. Agora eu escuto histórias de leitores de todo o mundo que também sentiam que ninguém
compreendia seu sofrimento. Eles encontraram esperança nos meus textos, e eu encontrei um propósito em contar minha história.
Escrevi o livro que gostaria de ter lido quando eu era uma
adolescente assustada. A primeira pessoa que me contatou depois que eu apareci na televisão, no dia que meu
livro foi publicado, foi uma adolescente que sofria de ansiedade terrível. Era como se meu ciclo se fechasse.
Os leitores sempre pedem meu conselho sobre como viver em paz enquanto o mundo em sua volta parece mais
ansioso do que nunca. A tecnologia trouxe muitas distra-
ções para nossa vida. Mas eu sempre digo que estamos no
ponto de escolha. Se seu trabalho é estressante, você pode
pegar cinco ou dez minutos a cada dia para fazer uma caminhada, ou fechar uma porta e meditar. Você ganhará
confiança em sua habilidade de construir um santuário
interno, onde você pode se afastar das pessoas e dos acontecimentos que os estressam e recarregar suas energias.
Você não precisa de incenso ou de um quarto decorado
para treinar técnicas que irão acalmar sua mente e proporcionar uma melhor perspectiva das coisas. O que você
precisa é simplesmente seguir sua respiração. A ideia é não
apenas afastar cada pensamento assustador para fora de
sua mente, mas entender que os pensamentos vêm e vão.
Há muitas meditações guiadas que você pode usar, em
CDs ou baixando pela internet, com as quais você pode
desenvolver sua própria prática de meditação. Tenho uma
página no meu website com links para as algumas delas.
A meditação perfeita não existe. Como em toda outra
experiência na vida, alguns períodos de meditação são
maravilhosos e curadores; outros são estressantes e não
muito satisfatórios. O mais importante é aprender que
você pode seguir sozinho, e não se julgar. Com o passar
do tempo, você desenvolverá uma confiança em sua habilidade de perceber seus pensamentos indo e vindo, mas
não os deixando ditar suas ações.
A ideia que tinha a respeito de mim mesma era a de que
eu era uma pessoa aterrorizada, cujo corpo e mente funcionavam muito mal. Agora sei que esse conceito era apenas isso – um conceito. Uma ideia à qual eu me agarrava
como uma forma de me identificar.
Agora, brinco com os amigos, sou um monge em uma minivan. Vivo com uma paz interna que nunca pensei que
poderia alcançar. Eu ando por aí com um sorriso. E finalmente, aos sessenta anos de idade, aprendi a respirar.
Priscilla Warner formou-se na
Universidade da Pensilvânia,
trabalhou muitos anos em
publicidade como diretora de
arte, em Boston e em Nova
York. Aprendeu a meditar e,
finalmente, pode dizer que
encontrou o caminho que a
levou do pânico à paz. Seu
livro Respirar, meditar, inspirar foi publicado no Brasil
pela Editora Valentina. Visite
PriscillaWarnerBooks.com
para mais informações sobre
sua vida e suas obras.
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FicçõesFicções
livrescas
livrescas
Ficções livrescas
Livro de cabeceira
Por REINALDO POLITO
Duas e meia da manhã. A madrugada estava tão quieta que dava para ouvir o barulho do silêncio, quebrado
apenas pelo tic-tac preguiçoso do relógio que ficava na
sala de jantar.
Gabriel já havia experimentado todos os lados da cama.
Deitou de bruços, virou do lado esquerdo, ajeitou-se
do lado direito e nada de dormir. Chegou até a pôr o
travesseiro do lado contrário da cama, tentando pegar
no sono com os pés voltados para a cabeceira. Acendeu
a luz do banheiro para quebrar um pouco a escuridão.
Ligou a televisão. Desligou. Foi até a cozinha tomar um
copo de leite quente. Sua avó sempre dizia que com a
barriga quentinha pegava logo no sono. Dessa vez a
teoria da nona não funcionou.
Por que será que não conseguia dormir? Levantara cedo, é verdade, mas não fora dormir tão tarde assim. Depois, cinco, seis horas de sono sempre
foram suficientes. Acordava aceso, pronto para o
trabalho. Se fosse para passear ou viajar levantava
mais pronto ainda.
Quando se deitou estava calmo. Não havia brigado com
Zulmira, sua namorada. Ao contrário, nos últimos dias o
relacionamento estava maravilhoso. Ela toda gentil, sempre dizendo que o amava muito. Até desconfiou. Zulmira
era carinhosa, mas não era muito de fazer declarações
amorosas. Ah, não podia ser. Perder o sono por causa das
declarações de amor da Zulmira era coisa de maluco. Era
sim, coisa de maluco.
pág. 35
Como não conseguia dormir e tinha bastante tempo
para pensar, recordou tudo o que aconteceu no dia anterior, desde o momento que saiu da cama. Nada anormal. A única novidade que chamara a atenção foram os
três telefonemas seguidos da Zulmira, todos sem motivo, apenas para dizer que estava apaixonada e com
muita saudade.
Não que Gabriel não tivesse gostado. Ficou feliz em se
sentir querido e amado pela namorada.
Chegado a recordações familiares dessa vez se lembrou do avô Antonio, sábio, inteligente, esperto que
nem ele só. Ele se vangloriava de nunca ter sido passado para trás, e não perdia chance de dar aulas ao
neto. Uma de suas favoritas era: quando a esmola é
muita o santo desconfia.
Se alguém cumprimentasse Seu Antonio com mais
sorriso que o de costume, ele logo resmungava: esse
tá querendo alguma coisa. E o pior da história é que
ele sempre acertava. Era acabar de resmungar que vinha o pedido de empréstimo de dinheiro ou do calhambeque, pelo qual tinha tanto xodó. Por isso, Gabriel aprendeu desde cedo a ser desconfiado. Zulmira
queria alguma coisa, ele sabia. Só não conseguia imaginar o que ela poderia pedir.
Bem, fosse por esse ou outro motivo o certo é que o
sono não vinha. Fez tudo de novo. Rolou para os mesmos lados da cama, acendeu e apagou as luzes, tomou
mais meio copo de leite e nada.
Foi para a reunião marcada para oito e meia com
uma olheira de fazer dó. Aí deu sono. Enquanto o
vice-presidente falava com aquela voz morna, monocórdia, Gabriel sentiu a cabeça pesando e os olhos
fechando. Seu amigo Carlos teve de acordá-lo duas
vezes com o cotovelo. Na terceira foi com um beliscão na perna: Se manca aí Gabriel, o cara já percebeu
que você está cochilando.
Ligou a televisão, pediu uma pizza, tomou uma taça
de vinho para dar mais sono ainda e mergulhou debaixo dos lençóis que ainda estavam desarrumados. Pôs
o braço direito entre as pernas e a mão esquerda na
cabeça, sua posição preferida para dormir.
Assim que se acomodou percebeu que seria mais uma
noite infernal. Começou tudo de novo. Virou, revirou,
levantou, acendeu, apagou, mais um gole de leite, agora
com um pouco de conhaque para apagar de vez, e nada.
Só podia ser influência da Zulmira. Naquele dia ligou mais quatro vezes, sempre para dizer que estava
apaixonada.
Como não encontrava jeito de pegar no sono, abriu o
livro que estava sobre a cabeceira. Já nem se lembrava mais da história, fazia uns dois meses que começara a ler, mas por um motivo ou por outro deixou o
livro de lado.
Leu a última página que estava marcada para recordar
e se lembrou depressa do enredo. Era a história de
uma moça que estava traindo o namorado com seu
melhor amigo.
Para disfarçar ou por algum tipo de remorso, ligava o
tempo todo para ele fazendo declarações de amor. Naquela parte da história o namorado já desconfiara de
que algo estranho estava se passando com a namorada.
Sua leitura foi interrompida pelo toque do telefone.
Era Zulmira. Sabia que era tarde, mas queria desejar
boa noite e dizer mais uma vez que o amava. Trocaram beijos pelo telefone. Gabriel ainda sem sono voltou à leitura. Era um momento muito interessante.
Nesse trecho a namorada ligava para o namorado.
Naquela hora precisava se certificar de que ele estava
mesmo em casa.
Terminada a reunião foi até a sala do vice-presidente
para contar uma mentira. Disse que a tia passara mal
à noite e precisou levá-la até o hospital. Foi trabalhar
direto, sem dormir. Por isso, estava com a cabeça pesada. O vice-presidente ouviu, não falou nada, como se
dissesse – na próxima não perdoo.
Não via a hora de encerrar o expediente, voltar para
casa e pegar uma cama. Queria tirar o atraso. Sentia
tanto sono que nem teve coragem de dirigir, pegou um
táxi e deixou o carro no estacionamento. Cochilou no
caminho até ser acordado pelo taxista.
Reinaldo Polito é Mestre em
Ciências da Comunicação,
professor, escritor e palestrante.
www.polito.com.br
Gastronomia
Gastronomia
pág. 36
Gastronomia
bonito e solteiro
No livro O país das bananas, publicado pela Companhia
Editora Nacional, o jornalista J.A. Dias Lopes revela
as origens de alguns dos principais pratos da culinária
brasileira, trazendo sempre uma receita ao final de cada
capítulo. Confira aqui a história do brigadeiro – e, ao final,
aproveite a receita para preparar essa delícia!
Quem encontrar uma receita de brigadeiro no caderno
de cozinha da avó, antigamente conhecido por negrinho,
observará que o docinho mais amado do Brasil levava
ingredientes de marcas determinadas: Leite Moça,
chocolate “dos padres” e manteiga. Isso aconteceu entre o
final da década de 20 e início da década de 30, quando ele
foi inventado, até a de 50. Além disso, as prescrições da
receita sugerem que o brigadeiro foi criado em São Paulo.
O primeiro ingrediente era o Leite Moça da Nestlé. Suas
latinhas começaram a chegar aqui a partir de 1980,
importadas da Suíça, sede da multinacional, com o
nome de Milkmaid, que ninguém conseguia pronunciar
direito. Em 1921, a Nestlé montou sua primeira fábrica
no país, na cidade paulista de Araras. Ali começou a
produzir o Leite Moça, adotando a designação criada
espontaneamente pelo povo. A indicação de “chocolate
dos padres” se referia a outro produto do Estado. Era
fabricado pela Gardano, fundada em São Paulo no
mesmo ano de 1921. Tratava-se de um chocolate em
pó de alta qualidade. Na embalagem, havia um detalhe
da tela do pintor toscano Alessandro Sani (1870-1950),
retratando dois sorridentes monges católicos. Por isso,
os consumidores batizaram o produto de “chocolate
dos padres”. Coincidentemente, a multinacional suíça
acabou comprando a Gardano em 1957. Mas os monges
permaneceram na embalagem do atual Chocolate em Pó
Solúvel Nestlé, com a pintura de Sani transformada em
desenho. Quanto à manteiga das receitas das vovós, não
havia indicação da marca.
No início, o hoje versátil Leite Moça tinha o mercado
concentrado em São Paulo e o consumo restrito. Misturado
com água, servia de substituto para o leite fresco, cujo
abastecimento se revelava irregular, especialmente no
inverno ou quando certas doenças atingiam as vacas.
Entretanto, poucos o usavam na cozinha, ou melhor, na
doçaria. O Brasil não havia descoberto verdadeiramente
o produto nem se transformado no maior mercado
mundial de leite condensado, como agora acontece.
Mas, paradoxalmente, foi naquela época que alguém teve
a idéia de misturar o Leite Moça com o chocolate em
pó – e a marca escolhida, como mostram as receitas das
vovós, foi a Gardano, a dos “padres”. Alguém duvida que a
pág. 37
pág. 38
invenção tenha ocorrido em São Paulo? Na falta de outra
designação, chamaram-no de negrinho, pela cor escura do
doce e do chocolate granulado que o envolve, lembrando
uma carapinha. Entre os gaúchos, até hoje continua a ter
o nome antigo.
O negrinho foi promovido a brigadeiro em 1945, quando
o militar e político brasileiro Eduardo Gomes (18961981) disputou com Eurico Gaspar Dutra a Presidência
da República, sendo derrotado nas urnas. Brigadeiro da
Aeronáutica, ele ajudou a escrever um capítulo marcante
da História do Brasil. Foi um dos líderes do tenentismo,
movimento político protagonizado por jovens das
Forças Armadas. No dia 5 de julho de 1922, um grupo
formado por 3 oficiais, 15 praças e um civil que aderiu no
trajeto saiu do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, e
enfrentou a tropa governamental fortemente armada. O
combate durou 30 minutos. Eduardo Gomes recebeu um
tiro de fuzil e caiu ferido.
Recuperado, fez carreira brilhante na Aeronáutica. Fundou
o Correio Aéreo Nacional e transformou-se em patrono
da Força Aérea Brasileira. Em 1950, voltou a disputar a
Presidência da República, perdendo novamente a eleição,
daquela vez para Getúlio Vargas. “Vote no Brigadeiro, que
é bonito e solteiro”, dizia seu slogan eleitoral, que aliás
não lhe rendeu os votos necessários. Em compensação,
fascinou as mulheres.
Dutra era homem feio e Getúlio, baixinho e barrigudo,
nunca foi padrão de beleza. Três versões explicam por
que Eduardo Gomes deu nome ao docinho.
A primeira diz que mulheres do Rio de Janeiro, engajadas
em sua campanha, faziam negrinhos, que vendiam com o
nome de brigadeiro, em benefício do fundo de campanha.
A outra afirma que a carioca Heloísa Nabuco, pertencente
a tradicional família carioca, quis homenagear Eduardo
Gomes batizando o docinho que inventara com a patente
militar do amigo e frequentador de sua casa.
A terceira versão, além
de grosseira, é a mais
duvidosa. Foi espalhada
por seus adversários
políticos. O tiro desferido
em Eduardo Gomes na
rebelião do Forte de
Copacabana teria atingido
os seus testículos. Ora, o
docinho que o evoca não
utiliza ovos. Portanto,
o nome brigadeiro teria
sentido cruel.
Brigadeiro de limão siciliano
Receita da pâtissiere Juliana Motter, de São Paulo.
Rende 30 unidades.
INGREDIENTES
Massa
- 2 colheres (sopa) de raspas de chocolate branco
- 1 lata de leite condensado
- 1 colher (sopa) de manteiga sem sal
- Raspas de 2 limões sicilianos
- Manteiga para untar
Cobertura
- 200 gramas de raspas de chocolate branco
PREPARO
Retire as raspas dos limões com um descascador de
frutas cítricas, sem usar a pele branca, que amarga.
Com um ralador manual, faça raspas de chocolate
branco – para a massa (2 colheres) e para a cobertura
dos brigadeiros (200 gramas).
Em uma panela, coloque o leite condensado, 2
colheres de raspas de chocolate branco, a manteiga
e leve ao fogo brando, mexendo sempre, até
desgrudar do fundo da panela (aproximadamente
10 minutos).
Apague o fogo, junte as raspas de limão e misture
bem para liberar o óleo essencial da casca (que é
o que vai aromatizar os brigadeiros). Transfira para
um recipiente de louça untado com manteiga.
Quando esfriar, unte as mãos com manteiga
e faça bolinhas de 3 centímetros de diâmetro.
Cubra os brigadeiros artisticamente, com raspas
de chocolate branco (200 gramas) que sobraram.
Sirva-os em forminhas de papel.
Dica: em época de calor, os brigadeiros se tornam
mais refrescantes quando gelados.
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Perfil
Perfil
Perfil
Gênio indomável
Autor de A lógica do Cisne Negro e Antifrágil, o ensaísta Nassim Nicholas Taleb
tornou-se um dos principais pensadores do mundo moderno
“Imploro a jornalistas e membros da mídia que
evitem escrever para mim; eles devem entrar em
contato com meus editores se for preciso. Também
não estou disponível para documentários, artigos de
jornal ou entrevistas além daquelas em lançamentos.
Eu escrevo apenas livros e trabalhos acadêmicos: não
quero ter uma vida pública ou vida intelectual pública
fora dos eventos obrigatórios de lançamento.”
Este aviso nada amigável está na página de contato
do site do escritor e ensaísta Nassim Nicholas Taleb
– e quem não conhece seu trabalho pode pensar
que este libanês radicado nos Estados Unidos é um
tremendo mal-humorado. Na verdade, a mensagem
pouco delicada faz parte do estilo do autor, tão
cáustico quanto genial. Taleb, de 53 anos, vem
sendo considerado um dos principais pensadores
do mundo moderno; na definição da revista GQ,
“a voz mais profética de todas, alguém que é capaz
de transformar a visão que temos da estrutura
do mundo apenas com a força, originalidade e
veracidade de suas ideias”.
Seus estudos discorrem, de acordo com suas
próprias palavras, sobre “o que fazer em um
mundo que não compreendemos”. Em 2006,
depois de duas décadas trabalhando em operações
financeiras, decidiu seguir na carreira acadêmica
(é hoje professor de Engenharia de Risco no
Instituto Politécnico da New York University) e
publicar seus escritos. Assim surgiram os bestsellers Iludidos pelo acaso e A lógica do Cisne Negro,
que tratam de temas como sorte, incerteza,
probabilidade e conhecimento.
Agora, chega às livrarias brasileiras o livro Antifrágil
(editora Best Business), cujo subtítulo resume o
fio condutor dessa obra: “Coisas que se beneficiam
com o caos” – aliás, não apenas que se beneficiam
Somente os autodidatas são livres
Um trecho de Antifrágil (Best Business)
Certa vez, perguntaram ao biólogo e intelectual
E.O. Wilson qual era o maior obstáculo para o
desenvolvimento das crianças; sua resposta foi a mãecoruja. Argumenta que se costuma reprimir a biofilia
natural das crianças, seu amor pelos seres vivos. Mas
o problema é mais amplo; as mães-corujas tentam
eliminar a tentativa e erro, a antifragilidade, da vida
dos filhos, afastá-los do ecológico e transformá-los
em nerds que funcionam sob mapas preexistentes
da realidade (compatíveis com a mãe-coruja). São
bons alunos, mas são nerds – ou seja, são como
computadores, exceto por serem mais lentos.
Além disso, ficaram totalmente inaptos para lidar
com a ambiguidade. Por eu ter sido uma criança
que passou por uma guerra civil, não acredito na
aprendizagem estruturada – na verdade, acredito
que o indivíduo pode ser um intelectual sem ser
nerd, desde que possua uma biblioteca particular em
vez de uma sala de aula, e passe o tempo como um
flanador sem rumo (porém racional), beneficiandose do que a aleatoriedade é capaz de lhe dar, dentro
e fora da biblioteca.
Desde que tenhamos o tipo adequado de rigor,
precisamos da aleatoriedade, da confusão, das
aventuras, da incerteza, da autodescoberta, de
episódios quase traumáticos, tudo isso que faz
a vida valer a pena, em comparação com a vida
estruturada, falsa e ineficaz de um diretor-executivo
do caos, mas precisam dele para sobreviver. São 658
páginas nas quais o leitor mergulha no universo das
surpreendentes ideias de Nassim Nicholas Taleb, em
um passeio guiado pela escrita espirituosa e irônica
do autor – que pode ser conferida a seguir, com um
trecho do livro.
Antes disso, para mais uma demonstração do estilo
do escritor, fiquemos com aquela que ele já escreveu
ser sua receita para um dia perfeito: 1) Sorria para
um estranho; 2) Surpreenda alguém dizendo algo
inesperadamente agradável; 3) Dê atenção genuína
a um idoso; 4) Convide alguém que não tem muitos
amigos para um café; 5) Humilhe publicamente
um economista ou crie profunda ansiedade em um
professor de Harvard. Que tal?
desimportante, com uma agenda predefinida e um
despertador. Até mesmo seu lazer é submetido a
um relógio: squash das 16 às 17 horas, já que sua
vida é espremida entre compromissos.
É como se a missão da modernidade fosse extrair
toda a variabilidade e a aleatoriedade da vida até a
última gota – com o resultado irônico de tornar o
mundo muito mais imprevisível, como se as deusas
do acaso quisessem ter a última palavra.
Somente os autodidatas são livres. E não apenas
em questões acadêmicas – quem desmercantiliza
desturistifica sua vida. Os esportes tentam embalar a
aleatoriedade em uma caixa, como aquelas que são
vendidas no corredor seis, ao lado das latas de atum
– uma forma de alienação.
Se quisermos entender quão insípidos são os
atuais argumentos modernos (e entender nossas
prioridades existenciais), basta considerar a
diferença entre os leões
selvagens e os criados
em cativeiro. Os leões
criados em cativeiro
vivem mais tempo; são
tecnicamente mais
substanciais e têm
estabilidade no emprego
garantida para o resto
da vida, se forem esses
os critérios nos quais
estejamos interessados...
pág. 42
Humor
Humor
Humor
Autoajuda...
...só que não
Grumpy Cat, o gato azedo que tem 6 milhões de fãs na internet,
chega às livrarias brasileiras destilando todo seu divertido mau humor
A fama na internet é algo passageiro, certo? Não para o
bichano mais mal-humorado do planeta.
Desde que surgiu na rede pela primeira vez, em setembro de 2012, com sua cara feia e suas mensagens
negativas, o Grumpy Cat, gato azedo na tradução em
português, é um fenômeno que não para de crescer.
Nesses dois anos de sucesso, o felino, para seu azar,
tornou-se um queridinho do público das redes sociais ao redor do planeta. Sua página no Facebook
contabiliza nada menos do que 6 milhões de fãs – o
dobro, por exemplo, do número de curtidas recebidas pela Xuxa.
Seu segredo? Azedume, muito azedume, como podemos ver no livro que chega ao Brasil pela editora BelasLetras: Grumpy Cat – um livro azedo.
Recheado de “dicas e atividades
para você ficar de mal com o
mundo”, os destaques da obra
são as imagens do famoso felino em suas poses enfadonhas,
com os indefectíveis lamentos
e resmungos: “Todo novo começo termina”; “Você só vive uma
vez – e já é demais”; “O problema
não sou eu – é você”.
pág. 45
No conteúdo também estão uma breve história do
Grumpy Cat (incluindo todos os sonhos que ele já arruinou) e bons motivos para odiar cachorros (e pessoas). O leitor também poderá praticar seu mau humor
em jogos criados especialmente para todos se sentirem frustrado.
Na vida real, o gato azedo, na verdade, é uma gatinha,
chamada Tardar Sauce (molho tártaro) – e, de acordo
com sua dona, a norte-americana Tabatha Bundesen,
trata-se de um bichano muito amigável e carinhoso, ao
contrário do que suas caretas podem indicar.
E, se ele ainda está por sorrir, o sucesso do mascote já
vem fazendo Tabatha gargalhar – há uma extensa lista
de produtos licenciados que trazem a marca do gato,
incluindo camisetas, bichinhos de pelúcia e até uma linha de cafés premium, batizada Grumpuccino – “terrivelmente boa”, de acordo com a propaganda.
No final de 2013, o animal tornou-se também felinopropaganda da marca de ração para gatos Purina, da
Nestlé, nos Estados Unidos, e, de acordo com boatos,
consta ainda que chegará a Hollywood neste ano. “Que
droga”, teria afirmado Grumpy Cat.
pág. 46
Finanças
Finanças
Finanças
Educação financeira:
um tema para toda a família
Por REINALDO DOMINGOS
Diante de um cenário de consumismo desenfreado, população endividada ou frustrada por não conseguir realizar seus sonhos, inserir a educação financeira na vida
de crianças e jovens tornou-se um dos principais desafios de pais e escolas. Os pais têm papel fundamental
no significado que os filhos atribuem ao dinheiro – e a
forma como as famílias lidam com seus recursos financeiros pode influenciar a maneira como a criança irá administrar seus bens no futuro.
Muitos pais que não receberam orientação dessa natureza, além de também precisarem de uma “reeducação”,
encontram dificuldade de transmitir esse tipo de conhecimento. Mas, agora, estão ganhando aliados na tarefa
de educar os filhos financeiramente. É cada vez maior
a preocupação do mercado em tornar a população apta
para tomar decisões de consumo de forma consciente e
responsável.
O mercado livreiro se destaca nesse contexto, com um
número cada vez maior de obras sobre o tema. Essas
servem tanto para os adultos se reeducarem sobre como
lidam com o dinheiro, como também para material de
apoio para a inserção das crianças no tema de forma
adequada.
Há também, voltado ao mercado livreiro, uma nova demanda que vem das escolas, que cada vez mais adotam o
tema, solicitando livros didáticos e paradidáticos sobre
o tema. Isso porque se cobra das escolas a formação de
alunos-cidadãos, autônomos, com visão crítica, capazes
de idealizar e realizar projetos individuais e coletivos,
assimilando, desde cedo, a importância do equilíbrio financeiro para o bem-estar individual e social.
Isso significa que esse tema não é um modismo, e sim
um novo desafio global, já que as economias têm sofrido rápidas mudanças e, em especial, em um país como
o Brasil, que, nos últimos anos, passou por uma reconfiguração da distribuição de suas classes sociais. Hoje,
o país tem uma importante parcela da população com
maior poder de compra, porém endividada.
Um dos caminhos para famílias e escolas educarem financeiramente seus filhos e alunos é se basearem nos
pilares da Metodologia DSOP de Educação Financeira
– Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar. Isso se traduz
em estimular as crianças e os jovens a identificarem
seus sonhos de curto, médio e longo prazos; ensinálos a investigar quanto custam os seus sonhos e, junto com os pais – que devem saber a equação entre seu
orçamento e gastos – calcular quanto seria necessário
reservar por semana, mês ou ano, seja da semanada
ou mesada ou do orçamento família, para que o sonho
possa ser realizado.
É uma característica dos jovens e das crianças serem
muito observadores e cedo começarem a perceber que
o dinheiro tem uma força. A percepção deste entendimento ocorre, normalmente, por volta dos três anos.
Frequentemente, eles veem os adultos entregarem dinheiro, cartões, cheques em vários locais em troca de
mercadorias. Ou seja, observam que troca-se dinheiro
por coisas que se quer ter. Ao mesmo tempo, crianças e
jovens estão expostos às mensagens publicitárias que
estimulam o desejo de ter. São duas forças importan-
tes que movimentam a sociedade e, portanto, precisam ser bem compreendidas.
O antídoto para os possíveis efeitos nocivos do estímulo ao
consumo é incentivar a leitura de obras de educação financeira e manter todos envolvidos nas decisões familiares
sobre os gastos, colocando os sonhos em primeiro lugar.
Temos de mostrar que nada é mágico – porém tudo é possível, desde que o dinheiro seja usado com foco e sabedoria.
Também é preciso mostrar às crianças e aos jovens que
acordos não significam negação, mas sim negociação.
Eles perceberão que é possível ter, mas nem sempre no
momento em que se quer. Essa prática também ajuda
a aliviar o sentimento de culpa de muitos pais, porque,
nesse exercício, eles também aprendem a se reeducar financeiramente e deixam de ver o dinheiro – ou o poder
de compra – como uma válvula de escape para suprir lacunas em outros aspectos da vida.
Reinaldo Domingos é educador financeiro, presidente do
Grupo DSOP e autor do best-seller Terapia Financeira e
do livro Papo Empreendedor (ambos pela Editora DSOP).
TOP 100 EDITORAS DISTRIBUÍDAS
pág. 48
Nesta página, listamos, por ordem alfabética, as 100 editoras que registraram, nos meses de maio e junho de 2014, o
maior volume de vendas e negócios com a Superpedido. Agradecemos a parceria de todos.
ALAÚDE
ARQUEIRO
ARTE ENSAIO
ARTMED
ÁTICA
AUTÊNTICA
BB EDITORA
BELAs-LETRAs
BLU EDITORA
BOITEMPO
BRINQUE BOOK
CAMBRIDGE UNIVERSITY PRESS
CASA DA PALAVRA
CENGAGE LEARNING
CIRANDA CULTURAL
CLIO
COMPANHIA DAS LETRAS
CORTEZ EDITORA
DCL
DVS
EDGARD BLUCHER
EDIOURO PASSATEMPO
EDIOURO PUBLICAÇÃO
EDIPRO
EDITORA DO BRASIL
ELSEVIER
FEB
FTD
FUNDAMENTO
GEN
GENTE
GERAÇÃO EDITORIAL
GIRASSOL NOVO
GLOBAL
GLOBO
GMT SEXTANTE
GRYPHUS
HQM
INTEGRARE EDITORA
INTRINSECA
IRMAOS VITALE
ITATIAIA
JOHN WILEY & SONS INC
JORGE ZAHAR
LAFONTE
LEYA
LUMEN EDITORIAL
M BOOKS
MADRAS
MANOLE
MARTIN CLARET
MARTINS
MATRIX
MCGRAW HILL COMPANIES
MELHORAMENTOS
MODERNA
MUNDO CRISTÃO
NACIONAL
NOBEL
NOVA FRONTEIRA
NOVO CONCEITO
NOVO SÉCULO
OBJETIVA
ORIGINAL
OXFORD UNIVERSITY PRESS
PANDORGA
PANINI
PAPALEGUAS
PAPIRUS - EDITORA
PAULUS
PEARSON EDUCATION
PERSPECTIVA
PETIT
PHORTE EDITORA
PLANETA DO BRASIL
POSITIVO
PUBLIBOOK
PUBLIFOLHA
PULP IDEIAS E CONTEUDO
RECORD
RIDEEL
ROCCO
RUBIO
SAIDA DE EMERGENCIA
SARAIVA
SCIPIONE
SENAC
SPRINGER VERLAG PUBLISHING
SUMMUS EDITORIAL
TAYLOR & FRANCIS BOOKS LTD
THOMAS NELSON
TODOLIVRO
TOPBOOKS
UNIVERSO DOS LIVROS
VALE DAS LETRAS
VALENTINA
VERGARA & RIBA EDITORAS SA
VIDA E CONSCIENCIA
VOZES EDITORA
WMF
Para conhecer a lista completa de editoras distribuídas,
ligue para a central de vendas ou acesse o portal.
pág. 49
TOP 20 LIVROS MAIS VENDIDOS
pág. 50
Confira na lista a seguir os livros mais vendidos na Superpedido nos meses de maio e junho de 2014. Para não
perder oportunidades, mantenha o estoque de sua livraria sempre abastecido com estas obras.
CULPA É DAS ESTRELAS, A ISBN: 9788580572261 R$ 29,90
CULPA É DAS ESTRELAS, A ISBN: 9788580575019
R$ 29,90
QUEM É VOCÊ, ALASCA?
ISBN: 9788578273422
R$ 29,90
ANSIEDADE
ISBN: 9788502218482
R$ 14,90
DEIXE A NEVE CAIR
ISBN: 9788579801754
R$ 29,50
CONVERGENTE - UMA
ESCOLHA VAI TE DEFINIR
ISBN: 9788579801860
R$ 39,50
DIVERGENTE - UMA ESCOLHA
PODE TE TRANSFORMAR
ISBN: 9788579801310
R$ 39,50
ESCOLHA, A
VOL. 3
ISBN: 9788565765374
R$ 29,90
15
MENINA QUE
ROUBAVA LIVROS, A
ISBN: 9788580574517
R$ 39,90
INSURGENTE - UMA
ESCOLHA PODE TE
DESTRUIR
ISBN: 9788579801556
R$ 39,50
20
19
PAIS INTELIGENTES
FORMAM SUCESSORES,
NÃO HERDEIROS
ISBN: 9788502224049
R$ 14,90
DIÁRIO DE UM BANANA
MARE DE AZAR VOL. 8
ISBN: 9788576836902
R$ 34,90
10
14
18
17
16
CIDADES DE PAPEL
ISBN: 9788580573749
R$ 29,90
PEQUENO PRÍNCIPE, O
48 ED.
ISBN: 8522005230
R$ 29,90
GUINNESS WORLD
RECORDS 2014
ISBN: 9788522014897
R$ 29,90
TEOREMA KATHERINE, O
ISBN: 9788580573152
R$ 29,90
9
13
12
11
5
LIVRO ILUSTRADO OFICIAL
DA COPA DO MUNDO DA
FIFA BRASIL 2014
ISBN: 9788583680154
R$ 24,90
DESTRUA ESTE DIÁRIO
ISBN: 9788580574166
R$ 24,90
8
7
6
4
3
2
1
CASAMENTO
BLINDADO
ISBN: 9788578600136
R$ 29,90
DIÁRIO DE UM BANANA
VOL. 1
ISBN: 9788576831303 R$ 34,90
pág. 51

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