17.04 O Dia – Alerta da voz

Transcrição

17.04 O Dia – Alerta da voz
O Dia
17/04/16
Cuidados de todos os dias para soltar a voz com segurança
Cigarro é a maior causa de problemas vocais. Em caso de
rouquidão por duas semanas, médico deve ser procurado
Pastilha importada, água especial, própolis, mel, nebulizador e aquecimentos
vocais. Os cuidados da atriz Stella Miranda, em cartaz com a peça ‘Mulheres à
Beira de um Ataque de Nervos’, são alguns dos modos de se prevenir de
problemas ligados à voz, que ameaçam tanto profissionais da oratória quanto
cidadãos comuns. De uma simples rouquidão ao câncer de laringe, o cigarro
aparece sempre como o principal vilão.
Stella observa uma mudança na preocupação geral com a voz. Quando fazia
parte da dupla Xicotinho e Salto Alto, no começo dos anos 1990, ela não ligava
tanto para eventuais problemas. “Acho que hoje é mais baseado em questões
técnicas”, comenta, sobre o fato de existirem mais médicos especializados do
que antigamente.
A atriz cultiva uma árdua rotina de precauções. Antes de entrar em cena, são
45 minutos de aquecimento vocal. Contudo, a maior companheira de Stella
nessa empreitada é uma pastilha. Importada da Alemanha, a vocalzone abre
os canais da laringe e é considerada, por ela, um “remédio mágico”. Tamanho
esmero com o instrumento de trabalho tem uma explicação simples: “Os atletas
têm o corpo. Nós, a voz.”
De seis em seis meses, o professor de canto Jailton Pereira de Almeida, 52
anos, precisa ir ao médico para conferir se está tudo bem com a voz. Há alguns
anos, intrigado com a tosse incessante, ele foi a um otorrinolaringologista. Fez
uma endoscopia e descobriu um princípio de câncer na laringe. Após retirar a
ameaça, passou a ficar mais atento a questões como o posicionamento da voz,
a temperatura da água e o controle de gritos, por exemplo. “Acabo ajudando os
alunos, dando dicas. Se eles seguem, não sei. Pelo menos eu tento”, brinca.
Especialistas apontam que quem corre o maior risco de ter lesões são mesmo
os “profissionais da voz”: cantores, professores, advogados, repórteres, etc.
Entretanto, existem outros tipos de lesões, as congênitas, que se dão a partir
de alguma má formação, logo no nascimento. Nesses casos, o tratamento deve
ser feito com um fonoaudiólogo, que vai tentar tirar a aspereza e melhorar a
qualidade da voz.
A fonoaudióloga Cristiane Magacho explica que existem mitos e verdades
quando o assunto é o carinho com a fala. Gargarejo com água morna e sal,
assim como o uso de sprays, são medidas controversas. Ela esclarece que
ambos ajudam a anestesiar a garganta e aliviar dores, mas não dizem muita
coisa quando a questão é a fala em si. Aos profissionais da voz, Cristiane
recomenda praticar aquecimentos vocais, evitar roupas apertadas – que
sufoquem o pescoço e o diafragma, por exemplo —, se hidratar de modo
indireto (água) e direto (nebulização) e, principalmente, não fumar cigarro.
Médico responsável pelo Setor de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do
Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), Pedro Ricardo Milet
explica que o cigarro é a maior causa de problemas vocais nas pessoas
comuns, aquelas que não trabalham diretamente com a voz. Nas cordas e na
laringe, a substância provoca uma série de alterações — reversíveis ou
irreversíveis. Quando a rouquidão permanecer por mais de duas semanas,
explica Milet, deve-se procurar um médico para checar se há uma lesão
estrutural.
Método de restauração é testado
O médico Pedro Ricardo Milet testa um método restaurativo de trabalho para
ajudar pacientes com câncer de laringe. Ao ter o órgão retirado por causa da
doença, a pessoa perde a capacidade de produzir fala pela boca. No hospital,
os médicos utilizam próteses, cedidas por uma empresa, e criam uma
passagem de ar para a boca. É um objeto de cerca de um centímetro de
comprimento, que deixa o fluxo de ar passar em uma só direção.
O paciente vai, a partir de então, ao fonoaudiólogo, com quem aprende a falar
novamente. O simples movimento de fala, que sem a prótese não resultaria em
voz, é o suficiente para abrir a válvula e fazer o ar passar para a faringe, onde
as vibrações se transformam em voz.
Segundo Milet, o procedimento é inovador porque permite suavizar a voz
artificial, de modo que ela fique mais parecida com a fala natural.