cem rosas - Varal do brasil

Transcrição

cem rosas - Varal do brasil
®
Literário, sem frescuras!
ISSN 16641664-5243
ESPECIAL
CEM ROSAS PARA
VOCÊ, MULHER!
Março de 2011
1
2
®
LITERÁRIO, SEM FRESCURAS!
GENEBRA, MARÇO DE 2011
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ESPECIAL
CEM ROSAS PARA VOCÊ,
MULHER!
3
1.
FA TIMA VENUTTI
2.
FA BIO RAMOS
3.
VO FIA
4.
WALDO LUIS VIANA
5.
TINO PORTES
6.
JOSE WALDIR DE OLIVEIRA
7.
VALQUIRIA GESQUI MALAGOLI
8.
RAQUEL GESQUI MALAGOLI
9.
TAIS SIGRIST
10. FLAVIA FLOR
11. ANGELA TOGEIRO
12. MARIA DE FA TIMA BARRETO MICHELS
13. VALDECK ALMEIDA DE JESUS
14. MARILU F. QUEIROZ
15. GILBERTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA
16. LILIAN MAIAL
17. FLA VIO MACHADO
18. JOYCE CAVALCANTE
19. MARIA EMILIA GENOVESI
20. ROZELENE FURTADO DE LIMA
21. GERALDO TROMBIN
22. RITA ELISA SEDA
23. BETH ROZEN
24. CHAJA FREIDA FINKELSTAIN
25. DE BORA NOVAES DE CASTRO
4
26.TETE' CRISPIM
27. RAIMUNDOCA' NDIDOTEIXEIRA
28. MARIAALICEROVALHODESOUZA
29. MARIACRISTINAPIRESSILVARAMOS
30. DINAPAVESI
31. IVANELAURETEPEROTTI
32. ZE LIAGUARDIANO
33. DU LCIOULYSSE AJR.
34. RENATAIACOVINO
35. ANTO' NIOVENDRAMININETO
36. LUCYNAKAMURA
37. DALVAAGNELYNCH
38. ANABELSAMPAIO
39. JANIASOUZA
40. FA TIMADIO GENES
41. ROSALIEGALLO
42. VIVIVIANA
43. FLAUZINEIDEDEMOURAMACHADO
44. VARENKADEFA TIMAARAU JO
45. MA RCIOJOSE RODRIGUES
46. NORA LIADEMELLOCASTRO
47. CIROJOSE TAVARES
48. ANNABACK
49. ELIANAWISSMANN
50. OSWALDOANTO' NIOBEGIATO
5
51. FA BIO RENATO VILLELA
52. CLA UDIA GONÇALVES
53. PAULA BARROZO
54. SILMARA OLIVEIRA
55. RITA DE OLIVEIRA MEDEIROS
56. IGOR MEDEIROS DE OLIVEIRA
57. TEREZA RODEL
58. MARIA PERPE TUA FREIRE BRASILEIRO
59. CLARICE VILLAC
60. CE LIA LABANCA
61. JACI SANTANA
62. ALESSANDRA NEVES
63. WALNE LIA CORRE' A PEDERNEIRAS
64. ANA MARIAH
65. MARIUZA HELENA
66. SANDRA HELENA QUEIRO Z SILVA
67. AMARILIS PAZINI
68. DE BORA VILLELA PETRIN
69. GLO RIA SALLES
70. ALMA LUSITANA
71. LUIZ EDUARDO GUNTHER
72. PATRICIA LARA
73. ROSELIS BATISTAR
74. VICE' NCIA JAGUARIBE
75. ISABEL CRISTINA SILVA VARGAS
6
76. VICTOR MANOEL G. VILENA
77. CARLOS DAMIA* O
78. VALE RIA NOGUEIRA EIK
79. MARILIA FLOO' R KOSBY
80. LARIEL FROTA
81. JU VIRGINIANA
82. MARCELO DE OLIVEIRA SOUZA
83. CAMILA MOSSI DE QUADROS
84. HUGO PONTES
85. ZULEIDE DE JESUS CORAL
86. FA BIO SIQUEIRA DO AMARAL
87. HELENA WALDEREZ SCANFERLA
88. HENRIETTE EFFENBERGER
89. IGNEZ FREITAS
90. JOAREZ DE OLIVEIRA PRETO
91. JOSE SOLHA
92. LEDA MONTANARI
93. LO LA PRATA
94. LYRSS CABRAL BUOSO
95. MARINA VALENTE
96. MIGUEL GARCIA ALVES
97. MYRTHES NEUSALI SPINA DE MORAES
98. NORBERTO DE MORAES ALVES
99. VOLPONE DE SOUZA
100. WADAD NAIEF KATTAR
7
EXPEDIENTE
Revista Literária VARAL DO BRASIL ®
Especial Cem Rosas Para Você, Mulher! Genebra - CH
Copyright Vários Autores
O Varal do Brasil é promovido, organizado
e divulgado pelo site:
www.coracional.com
Mulher com rosa
Site do VARAL: www.varaldobrasil.com
Gustavo Rocha
Textos: Vários Autores
FALANDO DA MULHER...
Ilustrações: Vários Autores
Revisão parcial de cada autor
Revisão geral VARAL DO BRASIL
Composição e diagramação:
Jacqueline Aisenman
A distribuição ecológica, por e-mail,
é gratuita.
Se você deseja par7cipar do VARAL DO
BRASIL NO. 9, envie seus textos até 15 de
abril para: [email protected]
Mulher não é fácil de descrever. Não o sexo feminino em si. Mas basta um chamado para se
falar dela e elas chegam, mansas, bravas, cheias de histórias, de fatos, de sonhos. Chegam
contando a vida que levaram, a que queriam ter,
aquela que sabem que nunca terão e mesmo a
que acaba de acontecer.
Mulher é um caso. Está pintada, desenhada,
escrita. Ninguém está longe dela. Há com certeza uma ao seu lado, seja em casa ou no trabalho. Há uma dentro de você.
Mulher já foi cantada inúmeras vezes em letras
de músicas, em assovios pela rua, em declarações inflamadas. Mulher é música, letra de música, sinfonia.
Mulher cria, dá cria, inova, se renova, desova,
estorva. Mulher não para. Mulher é o próprio
movimento. Um vento que bate e nunca deixa
coisa alguma no lugar.
Mulheres fortes, mulheres fantásticas, são estas
que você vai ler aqui e todas as que vai encontrar pelas ruas, por sua existência. Mulheres
aqui também saudadas por homens que conhecem o seu valor.
Mulher com cabeça de rosas
1935 Salvador Dali
E é a elas que desejamos não somente um excelente dia, mas um excelente ano, uma vida de
excelência!
A Equipe do Varal
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DIA SEGUINTE
Por Fáma Venu
A madrugada chegara ao fim e ela não *nha conseguido dormir. Impulsivamente abriu as cor*nas da janela da sala e seu rosto rastreou a luz do sol. Foi quando abriu a janela de seu mundo que tomou a decisão: hoje vou apagar o passado.
Sem pautas discu*das olhou pro computador, ligou-o e começou a procurar aqueles arquivos que somente ela decifrava suas nomeações. Um amargo breve desceu pela garganta. Selecionou o primeiro arquivo,
pensou, relutou. Por fim, apertou DEL. Entrou num transe de fúria incon*da e foi apagando um a um sarcas*camente. Havia um riso estranho permeando o canto dos lábios. Quando terminou puxou diretamente o fio da tomada, recostou-se na cadeira e percebeu: não tem mais volta.
A lingerie vermelha veio à sua mente, comprada especialmente para aquela noite. Ainda pingava água de
sabão no varal da lavação quando a arrancou num único golpe e foi para o quarto juntando às demais que
se escondiam na gaveta. No trajeto, o chão tatuado de gotas de *nta vermelha. Buscou a tesoura na lata
de costura, sentou no chão em posição de meditação e foi, uma a uma, picotando as calcinhas, sou*ens e
tudo que remetesse àquele passado. Queria poder rasgar sua vida em dois tempos e permi*r a existência
somente de um. Mais amargo desceu pela garganta. Engoliu em seco todas as suas dores. Sua mente fervia em ódio, desprezo e men*ras.
Foi quando avistou, dentro do guarda-roupa, sua caixa de segredos, ao fundo, sob a sombra das roupas
penduradas nos cabides. Es*cou-se para frente para alcançá-la e levou-a até a cama. Os lençóis, ainda
revirados daquele pesadelo. Ajoelhou ali mesmo os seus pecados e como que em câmera lenta foi abrindo, sorvendo suas lembranças, seus segredinhos, presentes, fotos, bilhetes, tudo que queria transformar
em nada. Um a um foi re*rando os objetos da caixa e pousando sobre a cama. Sabia que era a úl*ma vez
que veria essa cena. Travou os dentes. Não permi*u que seus olhos marejassem. Veio mais uma respiração pesada, sôfrega, profunda. Olhou tudo como a um sacriFcio e rapidamente devolveu, um a um, para
o interior da caixa. Aproveitou o espaço interno, recolhendo as lingeries picadas e soltando-as, encobrindo os becos, trincheiras, caminhos e tudo o que conseguia remeter àquela imagem. Fechou.
Agarrou a caixa junto ao peito e quase, por um segundo, pensou em se arrepender do que ia fazer. E veio
outro amargo, desta vez, rasgando com mais vontade a garganta. Sen*u o odor fé*do de sua vergonha
corroer as paredes da laringe e desaparecer no vácuo de seu estômago vazio. Sen*a-se o próprio nada.
Não pensou. Percorreu a casa até a porta da lavação. Passou pela cozinha, esbarrou no fogão, roubou a
caixa de fósforos.
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Abriu a porta do armário onde sabia o que pegar. Perdeu-se ali no tempo do desespero e acordou às
voltas com o laranja das chamas. Coisas começaram a crepitar, as faíscas aumentavam e ela foi refazendo uma pauta inexistente de sua vida em sua mente. Sua cabeça fervia lembranças e lançava jatos de
vergonha alimentando as chamas.
Correu de volta ao quarto e num saco de lixo jogou perfumes, jóias, livros, algumas peças de roupa,
mais fotografias e poemas inacabados. Por onde seus olhos percorriam e ela encontrasse algo que a
fizesse lembrar, jogava dentro do saco. Quase exausta, num choro seco, voltou à fogueira no quintal e
despejou os objetos recolhidos. O saco de lixo debruçou devagar sobre a chama, por úl*mo, e enrugouse antes de derreter. Era exatamente como a imagem daquele saco que ela se sen*a.
O tempo das chamas foi diminuindo e ela permaneceu de plantão, observando, confirmando que não
haveria mais volta e nada mais restaria. Cansada, foi se despindo, jogando cada peça de roupa no chão
pelo caminho até o banheiro. Nua, ligou o chuveiro no frio e mergulhou primeiro a cabeça, depois ombros, membros, enfim. Desligou sua mente no gélido da água e desejou lavar sua alma de algum resquício de passado. Agachou-se no box e ali permaneceu, sem pressa. Quando terminou, passados quase 25 minutos, ela se secou, ves*u o roupão e foi conferir as horas: 10h40min. Sábado de janeiro amargo. Registrou isso num Post it e colou na porta da geladeira.
Nunca mais amou. Negou sua história. Entregou sua alma aos livros, tornou-se escritora.
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O PODER DE UMA MULHER
Por Vó Fia
Túlio era casado com Natércia e se julgava muito feliz, porque ela era uma mulher culta,
elegante e calma, mas era uma pessoa tristonha, de pouco assunto e sem brilho; não que fosse feia, porque era linda, mas era como uma açucena, bonita , mas sem perfume e convivendo
com toda aquela falta de graça e de alegria, ele se tornou apagado também, sem vida e calado.
Por muitos anos viveram naquela monotonia, tiveram dois filhos, que eram apagadinhos
também como seus pais, mas a vida seguia seu curso, até que Natércia adoeceu e o que no
principio parecia pouca coisa, se transformou em uma enfermidade grave e depois de sofrer por
alguns anos, ela morreu e a vida do agora viúvo continuou nos mesmos moldes de sempre.
Dois anos se passaram e o desenxabido e solitário viúvo se aposentou e voltou para
sua cidade de Verdes Campos no interior; para se distrair ele fazia caminhadas todas as manhãs em volta da praça da igreja e se encontrava diariamente com a Matilde Araújo, uma vistosa e alegre senhora também viúva, mas que nada tinha de apagada e era bem animada.
Começaram com apenas um cortês bom dia e devagar começaram a trocar algumas palavras e conversa vai e conversa vem, em pouco tempo a recente amizade evoluiu para um tímido namoro, mas Matilde não era nada tímida e convenceu o enrustido namorado a acompanhála a um pequeno clube, aonde ela ia sempre para dançar, mas ele não sabia nada de danças.
Ir ele ia, mas ficava assentado enquanto a alegre senhora se esbaldava na pista de danças, até que ela resolveu que ele precisava aprender a dançar e teimosa como era conseguiu
começar a ensinar a arte de Terpsicore ao sombrio namorado e se surpreendeu com o resultado de suas aulas, porque em pouco tempo Túlio era um ótimo e entusiasmado dançarino.
Dançavam em casa e devagar ele foi perdendo a timidez e passaram a dançar nos bailes
do clube, mas o melhor foi que incentivado por Matilde ele passou a tomar parte nas conversas
e foi mudando o comportamento até se tornar um alegre, prosa e simpático cidadão, nem parecia o mesmo homem calado e triste; bonito ele não era, se tornou agradável.
Túlio e Matilde se casaram e formaram um casal festeiro e descontraído, eram convidados
pra todos os eventos de Verdes Campos e a comunidade aplaudia encantada suas lindas exibições de dança e o melhor foi a mudança de comportamento de seus filhos, que de tristinhos
passaram a bonitos e alegres rapazes, disputados pelas mais belas jovens da cidade, tudo isso
foi o resultado da influencia de uma alegre mulher.
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ALDEBARÃ E SIRIUS
“Do céu azul na profundeza escura,
Brilhava a estrela como um fruto louro.”
CASTRO ALVES
Por Waldo Luís Viana
Nesta noite, apresentei entre seus dedos duas estrelas brilhantes, vistas do firmamento através de minha janela humilde e elas exibiam, entre os outros luzeiros de um céu urbano estranhamente marchetado, um brilho de há nove mil anos.
Ele chegava às nossas retinas admiradas, num breve momento de ilusão e nós dois estávamos ali, impertinentes e sozinhos, diante da beleza distante. Você, que me visita em algumas noites, sempre alegre, à procura de um pouco de companhia depois de um dia estafante:
filhos, rotinas e medidas domésticas de curto e médio alcance, entre profundas tragadas de angústia com o-que-será-de-mim da própria vida. Eu, vivendo o açoite de depressões continuadas, machucado por problemas comezinhos de acertos de contas e má comida de supermercado, com saudade da filha distante, tão perto, a sonhar com uma fictícia e inatingível mulher
amada (uma estrela?) que me tiraram, a fórceps, pelo destino.
Que vida pequena nós temos diante de nossas duas nobres estrelas companheiras! Elas dãonos de ombros em silêncio majestoso, indiferentes às partidas de dinheiro, glória, prestígio e
competição que são jogadas neste inframundo e que comandam, por querer, nossas vidas, às
vezes subordinadas a vilanias e maldades que não podemos controlar...
Indiferentes a tudo, elas estão lá, não cobram impostos nem propinas para tremeluzir. E
nós, calmamente, as ignoramos, pensando nos mínimos instantes que nos cercam e nem ultrapassam o fio imaginário do horizonte do mar. Cá estamos nós, solitários a olhar para cima,
quando cá embaixo temos um governo a nos oprimir, fome, miséria, violência e desesperança a
nos circundar e uma família - a boa e honesta família – para conseguir disfarçar. Você quer o
pouco que der de mim e eu tenho até um bocadinho de você, mas a vida é só isso, meigas estrelas?
Os meus inarredáveis objetivos de literato, as minhas angústias medidas e quase convincentes,
o cigarro que fura as suas vísceras, a psicanálise que lhe faz chorar e conhecer, os filhos que
vão indo embora a cada dia, como flechas aleatórias atiradas ao vento, e eu, de repente, tenho
tudo a lhe dizer e nem sei mais como fazê-lo, eu que me presumia proprietário de tantas e tão
domáveis palavras...
Eu quero uma mulher para amar, poxa. Será que é você? Será que tenho, finalmente, que
ter a coragem necessária de entregar minha ditadora liberdade a seu coração e fazer o quê do
meu ego infantil-trancafiado? Pô-lo à disposição de seus filhos tão bonitos quanto inconsequentes, esmagados pela revolta com a vida que lhes cria na mente as mesmas perguntas que não
sei responder? E seu ex-marido, trancafiado fisicamente, assustado e humilhado, que não passa de um menino, quem sou eu para julgá-lo, eu que não estou conseguindo enfrentar as cadeias de meu mundo interno, pavoroso. O que me fez chegar a esse ponto, meu Deus! Fazer 46
anos e detestar o dinheiro, que é hoje o mestre satânico do mundo? O que farei da minha vida,
se continuar assim?
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Hoje estive com meu pai e conversamos coisas profundas. Ele me ouviu em cheio, com um
entusiasmo juvenil que já não tenho. Ele quer morrer com as armas na mão, como um guerreiro que sempre foi e eu fujo, como um infante infame da guerra de mim mesmo, que só será
vencida se eu mesmo quiser.
Não tenho a menor dúvida de que há um destino, governado por Deus, e que meus cabelos estão contados. Pensava que havia descoberto minha missão, mas entrei em crise. Fiquei
feio, sublunar... E achei que todos me abandonariam, por não me entender. Você, porém, ficou, crendo em mim, mesmo sem compreender minhas sandices, minhas demoras, meus pesares imaginários de terrores noturnos. Você esteve perto e, a despeito de todos os seus silêncios, dos quais não perguntei a origem, permaneceu a meu lado, desafiando as perguntas óbvias que vêm a mente dos menos ferozes de meus conhecidos descrentes.
É seu futuro? É ele, esse artista meio louco e fracassado, meio aventureiro e desconcertante que cruzou sua vida errante e de poucos sentidos? Não valeria a pena ele ser despedido
entre duas tragadas?
No entanto, o mistério de Aldebarã e Sirius, entre seus dedos, continuava irremovível,
com a luz ilusória de nove mil anos. E nós dois, constituídos da mesma massa das duas estrelas, encurvados pelo sofrimento brutal de nossas consciências, fizemos perguntas completamente irrelevantes para elas: se o mês vai caber em nossos orçamentos, para quantos vigaristas teremos de sorrir nos dias seguintes e se nossos filhos alcançarão a felicidade que nossas
incompetências não produziram.
Não sei o porquê, mas pensei nessas esferas brilhantes na madrugada de luzeiros mornos, descobrindo que elas são um pedacinho de nós, tentando afirmar suas identidades diante
de um mundo ilusório e esmagador, que não poupa armadilhas para nos ver separados, embora não saiba que são vãos tais esforços: ele não percebe que nossas luzes, malgrado venham de uma reencarnação distante, talvez sobrevivam em verdade por serem incessantes, tal
como o brilho de Aldebarã e Sirius...
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Acróstico
Por Tino Portes
M usa da criação...
U ma deusa, isto sim!
L ouvo a mulher;
H omens todos – ao chão!!!
E la sabe o que quer:
R epitam comigo: isto sim!
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TRIBUTO AS ETERNAS SANTAS
Por José Waldir de Oliveira
La vai uma incandescente oblação, homenagem memorável as encantadoras e diabólicas mulheres
que povoam as terras as eras insertas entre a luz do palpável e do delirante imaginário universal. E se
assim não se fizesse seria outra coisa menor, outro deslumbre lisérgico que não a mulher. Diz um
bom e sábio amigo meu, nominado por ora de Dom Isaac, que não é o Newton, que toda mulher é
santa, vez que põe de junto todo homem de joelhos ao impostergável inconsciente, delirante e eterno retorno uterino. Que ritual magnífico, inarredável ao profundo e indizível regresso uterino que no
mais das vezes se faz as pressas, para que a prece imantada se manifeste de logo ante a qualquer
subterfugio ou razão diversa e alheia à fricção e ao tato entre as bordas, lábios, paredes constri*vas
em bodas de esperma e eterno gozo ao fundo da escuridão. Como se diz por aí: não importa que a
mula manque, o fundamental e o que eu quero é rosetear. Ah mulheres, donas do mundo por enquanto, que somente a par*r de uma costela fizeram-se a Demeter criadora, o grande colo da fer*lidade materializadora da vida, que de igual modo, às vezes em sorriso largo, ao balançar a cabeleira
sobre a nuca, rompe a caixa de pandora e incendeia o mundo. E lá vai ela toda bela com seu passo
de cisne, de gazela, perturbando a ordem da representação que a premissa logica aguardava. É o encantamento da linda, da gostosa, da bonitona, da grande pomba de asas, penas e pernas flamejantes
trazendo coriscos e raios de tempestades em pleno céu ma*nal de sol escaldante. Mulheres, que fenômeno climá*co indescriOvel, em voo de morcego que não aparece em radar. É a grande surpresa
previsível, é o inesperado que se aguarda com grande sede é a certeza de que a senhora, ga*nha e
“madame” retorne aos meus braços, às lambidas, mordidas e apertos e somente assim reconheço a
maravilhosa condição humana ao reverberar do baixo ventre, vez que também as outras essências
divinas tem lugar em ritual diverso e nem por isso ficaremos menos ou mais angelicais, menos ou
mais descaídos aos olhos do sopro eterno e onipresente, que se traduz em essência e persona da
grande fêmea. Peço vênia e compreendo, mas afasto qualquer compleição diversa dessa esposada
em jubilo a todas as mulheres. E digo ainda que toda maledicência imposta as mulheres é alvitre decorrente das reduzidas sobre codificações aristotélicas que ainda permeiam o imaginário da contemporaneidade, subme*da à ilação de uma equação amparada tão somente entre o significado e o significante, fato que lamentavelmente revela a primazia da primariedade e da incompreensão, feito
cara de medo e pânico do mundo masculino ante as maravilhosas e fantás*cas constelações curvilíneas das donas divas que rela*vizam a configuração pujante da energia manifesta no mundo dos
sen*dos, impondo o debruçar do espaço sobre si mesmo deixando o planeta mais belo e não necessariamente mais correto, não importa, sois soberba, sois sóis, estrelas e cordão no labirinto do macho. Contrapondo-se a Lupicínio, “...Pobres moços, ah se soubessem o que eu sei...” sempre amavam sempre....sempre andavam atrás pela frente, por baixo e por riba e ladinho e a distancia desses
ditos rabos de saia, mesmo que ainda usem calça jeans.. Salve todas as mulheres, sois
sempre santas, mesmo que me mandes embora, me troques por outra ou por outro...
16
Seminua Releitura giz pastel seco por
Valquíria Gesqui Malagoli
Femina
Por Valquíria Gesqui Malagoli
O que irá na sensacional
alma insolente, a feminina?
Qual a razão da irracional
força que tudo em volta anima?
Cicatrizes mil, nem zil versos
jamais poderão traduzir...
Entanto, vemos dela o anverso,
pois, chora, chora, mas de rir!
17
A mediadora Releitura Grafite por
Raquel Gesqui Malagol
18
Jeans Grafite por Taís Sigrist
19
Mulher Coragem
Por Flávia Flor
Dotada de imensa força interior
Enfrenta o dia-a-dia com furor
Jamais deixa-se abater pela dor
É guiada pela força incondicional do amor!
Cuida e ensina sua cria
À defender-se dos perigos da vida
Leoa voraz
Luta, luta, até não poder mais...
Guerreira nata
De arma sensata
O amor em equilíbrio
A palavra por um fio
Torna a vida prazerosa
Rega-a com perfume de rosa
Distribui sorrisos em buquê
Colhidos em seu jardim de ser
20
MULHER ORQUÍDEA
Por Angela Togeiro
O físico parece frágil.
Mas tem uma reserva inesgotável,
que a torna forte,
capaz de suportar a lida
fora de casa
dentro de casa;
capaz de suportar a dor do parto,
o prazer de se reproduzir.
A alma parece ter essência
suave e irrequieta.
Mas tem uma força misteriosa,
capaz de consolar,
quando apenas precisa de consolo;
capaz de seguir adiante,
quando tudo começa a recuar.
Faz simbiose com o Cosmos, por isso
é forte o físico frágil,
é vigorosa a alma suave e irrequieta.
Mas precisa de um porto seguro,
de um amor sincero para despertá-la
e fazê-la florescer. Torná-la plena.
Mulher... Orquídea... Mulheres!
21
Com elas ao telefone
(*)
Por Maria de Fátima Barreto Michels
é que nem carnaval
fantasia e confete alegria geral
se falo com Bete
se falo com Su é coisa de dentro
sempre é encontro
pode ser arte
às vezes questões, ou soluções
com Lu é do mundo
é tim tim por tim tim
no fundo
é a mulher que sabe de tudo
que sabe rezar e pede
por mim.
quando é com a filhota
é onde me perco
ela é paixão
do jeito que fale, sempre derrete
este meu coração
(*) Para minhas irmãs, mãe e filha.
22
Máscara
Por Valdeck Almeida de Jesus
Vejo as mulheres que passam por mim
Tantas pinturas, belezas artificiais
Azuis, vermelhos, pretos e carmins
A ferir-lhes a verdade dos traços faciais.
Cores sintéticas que deturpam o singelo
Que mascaram a pura beleza feminina
Profanam o amor, profanam o erotismo
Que tanto atrai a fauna masculina.
Enfeiam a pureza do universo
Apagam o brilho de mil estrelas
E eu fico apavorado, confesso.
Espantam o calor do amor a dois
Atiram o sublime a famintos leões
Adiando todo o desejo pra depois.
Lowrider-Arte
23
Aquarelade
Marilu F Queiroz
Instantes...
Por Marilu F Queiroz
Cada instante, um instante...
Sinais do tempo que não se apagam.
Do que já se foi, o que é passado...
Das alegrias sem fim que sonhei.
Cada instante, um instante...
Da satisfação desmedida...
Do registro de memórias
retidas, contidas na razão.
Cada instante, um instante...
De paixões comedidas, sentidas...
Medo de expor, dar vazão...
ao que se quer, sem querer.
Se cada instante é um instante...
O que seria de nossa percepção.
Do que foi, sem volta, fantasias...
Dos doces sonhos e perdidas emoções.
24
A LAVADEIRA
Por Gilberto Nogueira de Oliveria
Uma pobre lavadeira
Anda quilômetros sem parar,
É viúva e tem filhos,
E sua historia é muito triste.
Seu marido, há cinco anos
Morreu num tiroteio
Para salvar a sua honra.
(Isso mesmo. Pobre também tem honra)
Levou um tiro na cabeça
E outro no peito,
Foi fatal,
E nem teve tempo
Para pensar na família.
Sua mulher, muito mulher
Tomou a frente de tudo.
E começou a batalhar
Para criar os filhos,
E até hoje ela vive de lavar.
Às vezes pensa em João
E segue em frente,
Deslizando no suor da vida,
E vence...
25
SER MULHER
Por Lílian Maial
Nasci mulher, é fato
Gameta indiscutível,
Cometa irremediável,
Soneto jamais escrito.
Cresci menina, concordo,
De pernas cruzadas,
Cabelos alinhados,
Pelos depilados.
Vivi madura, é certo.
Aprendi a traçar os olhos,
A disfarçar as lágrimas,
A não borrar a maquiagem.
Sonhei criança, feliz.
Escrevi meus passos,
Acreditei nos planos,
Colhi meus frutos.
Distribuí amor,
Superei o tempo.
Amei demais, está em mim.
Mulher sem amor não existe.
Atraí desejos, por capricho,
Ou não, por pura paixão.
Caminhei e caí, me ergui.
E não pretendo mudar.
Arregacei as mangas tantas vezes,
Que já nem sei desenrolar.
Mas...quer saber?
É uma delícia ser mulher!
Não troco por nada, por ninguém.
Volto assim mil vezes, se puder.
E quando o véu da noite,
De inveja e despeito me levar,
Que o amor que distribuí,
Os frutos que plantei, venham, enfim,
me regar.
Provoquei emoções, faz parte.
Ensinei meus truques,
Repiquei batuques,
Batalhei com arte.
Briguei na vida, gritei.
Enfoquei os problemas,
Resolvi os teoremas,
Me entreguei a poemas.
Quebrei espelhos, de raiva.
Escondi a dor,
26
diainternacionaldasmulheres
Por Flávio Machado
paraondevã oasmeninas?
astroserrantes
estrelaseternas
encantadasdonzelas
beatas
empresá rias
donasdecasa
donasdavida
senhorasdosventos
tomando-nosnocolo
amamentando
alimentando
amando
sofrendo
parindo
salvando
libertando
nadaimpedirá quesonhem
esobretudotransformaravida
paraondevã oasmeninas?
27
PARA TE FALAR DOS MEUS SEIOS
Por Joyce Cavalcante
Parceiro,
Eu te contaria toda a história dos meus seios, te falaria deles com menos embaraço, se por acaso *vesse tua mão enganchada na minha complementando minha coragem. (Não ache que é tão fácil ou
tão indolor falar assim.)
Derrama com calma um olhar guloso pelo meu decote adentro, mas por favor, não me olhe depois
como se pudesse ler meus pensamentos.
Gostaria também muito, nem que fosse por um pequeno segundo, de poder perceber minha imagem
refle*da na tua íris como se eu fizesse parte de *. Ao mesmo tempo, ver tua imagem entrando pelos
meus olhos, ou seja, eu em * e tu em mim, numa alucinante projeção infinita.
(Deixa eu falar, nem que pareça tola. Deixa eu falar em paz de minhas vontades e expecta*vas sem a
mínima disciplina. Sem censura largar minha cabeça à toa. Serão os seios o elemento básico de minha
anatomia que me torna feminina e nos diferencia?)
Toque-me. Sinta como pulsa rápido meu coração.
Por cima do meu coração estão duas construções de minha geografia que brotaram com a única intenção de te provocar, principalmente quando uso certa blusa preta sustentada apenas por um cadarço. Daí, faço uso de tua imaginação e penso, que se puxas o laço, tudo vai ficar à mostra. E eu serei
nada mais do que uma posta de mulher à tua disposição. (Vai ver que neles está nosso traço de união.
Um traço atávico, pois não foi de algum seio que re*rarmos nossa primeira alimentação?)
Vá além da fantasia e me desfrute. Você me quer e eu te preciso.
Se você aqui não concordar, te demonstrarei em detalhes meu propósito, Me despojarei de qualquer
roupa, coisa como jogar fora a embalagem que envolve a prenda para libertar a alegria de quem a recebe. É importante livrarVse de todas as prisões seculares que limitam. Aposentarei o an*go espar*lho ou o não tão an*go su*ã, engrenagens que me apertam as carnes e me fazem tensa. C Eu não estou conseguindo sozinha desatar tantas presilhas, peço que me ajudes. E desde que me ajudes, estarei quase nua. (Contra nós, são obstáculos essas peças que tentam nos separar na hora do abraço.)
Veja meus seios descobertos, desprotegidos, inteiramente à mercê de tua maldade ou de tua benevolência. É tudo teu.
28
Será então um momento perfeito aquele em que tu que me desabotoavas ainda há pouco, sentado
na beirada da cama me rodeares a cintura, encaixando teu rosto de perfil, exatamente no hiato
que existe entre, acolá. Num acanhado gesto, meio encabulada, dissimulando, vou me movimentar
fingindo descompromisso, de forma a encostar tua boca em um dos meus mamilos. (Entretanto,
minha intenção é te amamentar. Te sentir dependente, transformado em menino.)
Me suga, amor, enquanto solto um gemido baixinho. Modela com teus lábios meu prazer. Pode
mordiscar. Não com muita força.
Seios são iguais as frutas de casca transparente e frágil. Quem com eles quiser brincar tem de ter
muito refinamento e exa*dão. Mesmo quando o desejo se confundir com a impaciência, é preciso
cuidado. Certo dia lhes fizeste uns carinhos mais enérgicos, eu me lembro. Fiquei com os olhos
cheios de água. Não era dengo nem exagero, não. É que eu fico sempre vulnerável quando esta
vindo minha menstruação. (Componente essencial da metaFsica dos seios.)
Vamos deitar. Uma vez deitados, esconde teu nariz neles, quase te provocando um asfixiamento,
ou um afogamento, já que pra * eles se parecem com o mar.
Além de ser o mar, eles podem ser duas luas bêbadas e desorganizadas que oscilam quando faço
movimentos tentando me enroscar em * só para ganhar a sensação gostosa de teu peito cabeludo
se roçando no meu. Gostas de te diver*r com essas luas par*cularmente aos domingos pela manhã, quando acordamos. E eu nada mais quero das manhãs de domingo que eu *ver na vida a não
ser tal ondulado, tal preguiça, tal contato. (Área na qual teu talento jamais será esquecido. Até no
tempo em que eu não es*ver mais con*go.)
Estou pron*nha para amar, porém não tenho pressa. Deixa primeiro eu terminar de falar: quero
propor um jogo diferente que retrate nossa imagem, nossa semelhança.
Foi por isso e por tanto que essa mulherzinha se permi*u inventar um jogo novo para te dar de presente. Não tenha receio, é um jogo bonito. No amor, todo ludismo é permi*do. Vem cá. Deixa-me
segurar teu sexo como se quisesse guardá-lo no peito. Devolvo a * todas as folias que fizeste em
mim. Esfregue-me, portanto. Do atrito de nossas peles, quem sabe eu consiga colher a intensidade
do teu brilho num instante e o produto espalhar pelo meu pescoço, face, barriga, axila, por várias
partes do meu todo.
No amasso demorado do fim, teu esperma secando vai se encarregar de nos unir suavemente, nos
deixar misturados. Que loucura que é ficar assim: ser dois. (Porque em princípio a gente é solidão;
junto fazemos a exceção.).
29
Mulheres:Vamos em frente?
Por Maria Emília Genovesi
Reflexão sobre o feminino, coisa de quem escreve!
Mas nessa aqui queria retratar um pouco das maravilhosas mulheres que somos!
Um pouco de cada vez, pois neste momento de ascensão, que as mulheres conquistaram, a
muito que se pensar.
Conquistamos sim espaços jamais sonhados. Lutamos em busca de nossos direitos, ainda
que um pouco pra lá ou pra cá. Ainda escutamos que há muita violência contra as mulheres
mundo afora!
Falar da natureza feminina é um desafio. Mulheres são mutantes!
Assimilam as emoções com uma rapidez tão grande, que as palavras não conseguem acompanhar!
Acredito que vamos além de nossos sonhados espaços!
O universo feminino é um grande livro para se desvendar, criar e somar.
Ainda que sensíveis, fortes ou choronas, vamos em frente!
Ou ainda que olhando nossos cabelos que não estão assim tão bonitos, ou a gordurinha que
insiste em ficar ali, ou deprimidas por causa dos nossos desejos não realizados, vamos em
frente!
Com filhos ou não enfrentamos o dia a dia, como guerreiras de um exercito de obrigações a
realizar!
Tudo haverá tempo! Mesmo fazendo a maquiagem no carro, procurando os óculos que cada
hora está num lugar, ou as chaves que sumiram dentro da bolsa mais uma vez!
Ou quando esquecemos em que lugar deixamos nosso carro no estacionamento do supermercado.
Vamos em frente!
No silencio, ou na dor, estamos lá, símbolos da batalha.
Ser mulher, ser o futuro!
Um futuro incerto diante dos desafios do dia a dia. Hoje, depois de rasgarmos o sutiã, é hora
de levantarmos a bandeira da paz, do amor, da verdade.
Agora é um novo tempo! Mulheres transparentes, vencedoras da ética.
Vamos em frente!
30
MULHER
Por Rozelene Furtado de Lima
Deus te fez mulher
Deu a ti o dom da vida
Pôs em ti luz e cor
Delineou a tua silhueta
Na forma do amor
Tu mulher, és responsável
Pelos seres que nascem
Embala o berço mulher menina.
Mulher estrela guia, não estás sozinha.
Atrás de ti uma multidão caminha
São teus filhos tuas raízes
Ramos de todos os matizes
Teus deveres não negues
Ó mulher não entregues
Nem leiloes para quem quiser
O papel que é só teu
Ser somente mulher!
São teus filhos, teus frutos
Dóceis ou brutos
São teus filhos teus encantos
Por eles derramas teu pranto
Culpam a ti pelas dores também
Pelos erros e escorregadelas
Pelas piegas e mazelas
São teus filhos teus bens
Por eles rezas e imploras
Por eles pedes e dizes amem!
Mulher que canta
Mulher que encanta
Mulher que dança
Mulher que faz aliança
Namorada, esposa, mãe, filha
Ó mulher desperta, acorda!
O mundo é teu, tu és a rainha
O milagre em ti transborda
Toma posse da tua parte divina.
Coragem mulher, tu és heroína
Salva teus filhos pequeninos
Amamenta teus rebentos meninos
Com eles brinca, educa, ensina
31
ELAS POR ELAS
Por Geraldo Tronbin
Sheilas, Tanias, Pierinas ou Mirelas;
Brancas, Negras, Vermelhas, Amarelas;
Cheinhas, esbeltas, esguias, magricelas;
Na direção, no mouse ou nas panelas;
De salto alto, sandálias ou chinelas;
Tricotando, escrevendo, pintando a vida em aquarelas;
Adormecidas ou despertas como sentinelas;
Pagando caro ou simplesmente bagatelas;
Maçãs, morangos, cenouras, berinjelas;
Atentas a documentários, filmes ou novelas;
Cuidando de maridos, namorados, filhos ou mesmo delas;
São sempre insinuantes, apaixonantes e singelas;
Supermulheres, superprotetoras, superbelas.
Apesar das preocupações, não dão a mínima a chorumelas,
Nem deixam nada pelas tabelas,
Até quando os homens pisam feio no calo delas.
Se de verdade os amam, perdoam as piores mazelas,
Expondo inclusive suas almas pelas janelas.
E, num romântico jantar à luz de velas,
Regado com vinho, olhares, beijos e abraços nas paralelas,
Reconsideram tudo, ficando muito bem, ficando elas por elas.
Exemplos de perseverança, força e amor, só mesmo vindo delas.
32
A CRIANÇA E DEUS
Por Rita Elisa Seda
Uma criança pronta para nascer perguntou a Deus:
- Dizem-me que estarei sendo enviado à Terra amanhã… Como eu vou viver lá, sendo assim pequeno e indefeso?
E Deus disse:
- Entre muitos anjos, eu escolhi um especial para você. Estará lhe esperando e tomará conta de
você.
Criança:
- Mas diga-me: aqui no Céu eu não faço nada a não ser cantar e sorrir, o que é suficiente para
que eu seja feliz. Serei feliz lá?
Deus:
- Seu anjo cantará e sorrirá para você… A cada dia, a cada instante, você sentirá o amor do seu
anjo e será feliz.
Criança:
- Como poderei entender quando falarem comigo, se eu não conheço a língua que as pessoas falam?
Deus:
- Com muita paciência e carinho, seu anjo lhe ensinará a falar.
Criança:
- E o que farei quando eu quiser Te falar?
Deus:
- Seu anjo juntará suas mãos e lhe ensinará a rezar.
Criança:
- Eu ouvi que na Terra há homens maus. Quem me protegerá?
Deus:
- Seu anjo lhe defenderá mesmo que signifique arriscar sua própria vida.
Criança:
- Mas eu serei sempre triste porque eu não Te verei mais.
Deus:
- Seu anjo sempre lhe falará sobre Mim, lhe ensinará a maneira de vir a Mim, e Eu estarei sempre dentro de você.
Nesse momento havia muita paz no Céu, mas as vozes da Terra já podiam ser ouvidas. A criança,
apressada, pediu suavemente:
- Oh Deus, se eu estiver a ponto de ir agora, diga-me por favor, o nome do meu anjo.
E Deus respondeu :
- Você chamará seu anjo de … MÃE!
33
21 ETAPAS DE UM PROCESSO DE
8- Depois, não esquece de por aquele pijaminha
bem cafona na malinha dele,
SEPARAÇÃO.
como também material espor*vo
DA DOR DE COTOVELO À
tão indispensável a ele.
SENSAÇÃO DE LIBERDADE.
Resolve lhe dar a metade de cada roupa,
Por BETI ROZEN
rasgando pedacinho pr pedacinho.
Após isto tudo, decide dizer
FIM
1- Ficar sozinha por opção
ADEUS
pode ser fácil
E não olha mais para trás.
Mas por rejeição
é bem mais diFcil.
2- Ele diz que não a quer mais
9- Vai se conformando em viver sozinha;
nem como amante
mesmo sabendo que em muitas situações
Muito menos como companheira.
precisa-se de um parceiro,
como jogar tênis, dançar, andar de gangorra.
3- Seu amor próprio começa ir de mal a pior.
Começa a sofrer.
10- Por outro lado, imbui-se de coragem
4- Vai bara*nando
e começa a perceber suas qualidades,
desajustando
jogando bola ao cesto, fazendo mágicas
desequilibrando.
e, até mesmo, consegue se equilibrar
Sente-se imprestável.
no arame como ar*sta de circo.
5- Com um certo esforço,
consegue sorrir um pouquinho.
Disfarçando o seu rancor,
ajuda até na arrumação das malas dele.
6- Com uma certa mágoa, vai logo engomando
as roupas ín*mas dele, depois de lavá-las,
deixando as cuequinhas
bem durinhas.
7- Quanto às meias,
guarda uma de cada par,
por puras razões sen*mentais.
34
12- Joga tudo o que não precisa fora:
com sua camisola de flanela, ela vai para a cama sozinha,
Suas meias, su*ã, roupas ín*mas, todas bem
sexy.
sem nem mesmo escovar os dentes.
Dormindo sozinha, se sente muito deprimida.
13- E a economia que faz nas compras de supermercado
19- Tenta se acostumar, mas observa que o tempo
nem se fala! Pois não possui mais ape*te,
esta é uma grande vantagem nos dias de hoje.
Chega a conclusão de que é mais econômico
se viver sozinha
não passa facilmente quando joga cartas
(“paciência”) sozinha.
20- Mesmo assim, tenta se convencer que o tempo é o melhor
do que a dois.
remédio, e vai contando os dias que passam
na folhinha.
14- Um belo dia ele vem buscar suas coisas,
vem todo delicado, se desculpando.
Com o tempo, vê que todo problema tem solução.
Ela concorda com tudo, mas diz a ele
que não viu de jeito nenhum o retrato da mãe
dele,
a sua coleção de revistas, sua camisa favorita.
E disfarça, olhando para o lixo, para ele não
notar.
21- Devagarinho, vai percebendo que o que ela
chamava de solidão
começa a se transformar em algo que se chama
LIBERDADE
15- Telefona para os amigos dele,
desabafa tudo o que não teve coragem
durante os úl*mos anos.
INÍCIO
Fala uns bons desaforos.
16- Assim, começa a exercer sua independência:
Queima tudo, como cartões de aniversário,
cartas de amor...
17- Com coragem, se pesa, e descobre que a cada
dia
aproxima-se mais do zero na balança.
Afinal de contas, não queria ser magrinha?
18- Como que uma aposentada, sem graça, nada
sexy, maltratada,
35
Nessaestrada?!ContinuarnaantigaseriaratiLicara
DUAS MENINAS
Mesmice,mashojeseriaamesmae
antigamenina...Fezbem?
Por chajafreidafinkelsztain
Ocustofoialto,talveznã opossua
cacifeparatal
Elassã oduas...emfasesdistintas...
Emomentosdiferentes
Comosmesmosvalores,osmesmoscensores...
Investimentoemesmoquequeira...
já nã opodeseramesma
Experimentououtrosgostoseoutrossabores...ousouegostou
NessemundodeD”s...
Davariâ ncia,quelheautenticouo
passaportecomlivre
Tentandoviverdamelhormaneira...fazendodetudo
Paradriblararotina,combatendo-a
detodasasmaneiras
Possı́veiseimaginá rias...
Trâ nsitoporcaminhossemLins;
despertou-asimplesmente
Paraavidaquepassouacolorir
comnovostonsesons
Vestiu-seaoutramenina...comose
Lizesseametamorfose
Rotinaé convenienteporque
Organiza,mas...
Destró iaalmadequemnelaentra...
Pelasimplespassagemetransformaçã o,umuniversode
Saindodesselabirinto...umameninaperdeuemparte
Sentimentosforamabaladosneste
seupequenoser,mas
Suaidentidadeparaincorporaroutra;
Paraaefetivavirada,comcerteza,
dogmasnã oseromperã o
Tirouumamá scarasimplesmente
Porqueambasserã oparasempre...
apenasmeninas!
Outrocouderoupaporquehouve
mudança
Detempo?
Quemdera!!!!!!!!
Dirı́amosqueaofazerseutrajeto
devidamenteplanejado
Eladecidiu-sepormudarocaminho...tomouumatrilha
Queaconduziuparaoutroslugares...apreciou-os...
E,lá sefoiela,corajosaenfrentando
todososobstá culos
Queà suafrenteencontrava.
Aaventuraagradou-apelo
Simplesespı́ritododesaLiotomou
gostoeprosseguiu
Hojeelapensa,quemsabeteriasidomelhor,senã oestivesse
36
BENEDICITE
Por Débora Novaes de Castro
Bendito seja o mestre, o magnífico jade
que reparte o tesouro: os saberes, floradas...
benditos: a floresta, o peixe, a caridade,
as cachoeiras, o ninho, o azul e as passaradas.
Benditos sejam: em brilho, o sol, em majestade
a pôr-se atrás do monte em régias alvoradas;
as aves, a semente, o fio da água que invade
o verdejante vale e o recorta em aguadas.
E benditos: a pedra, o monte que insepulto,
o abismo, a rosa, o dia, a soluçante estrela,
a concha do oceano, o fragor da batalha...
Benditos: céus, a terra, os seres, nobre culto,
trabalho, o vento, a lua, um gosto só de vê-la,
e Deus que loura o trigo e as almas agasalha!
37
Mulher
Por Tetê Crispim
Se sentir mulher
É caminhar entre canteiros de lírios
Enamorada da lua,
Iluminada pelo sol
Mesmo em veste nua, desnudada
Pelas sombras das curvas mostradas
Possuída de tamanha magia
Meio que irreal
Embora pudesse voar
E sentir a leveza do ser
Pelo prazer de ser mulher
Assim resplandecer em suavidade
Sem poupar sensualidade,
Ao mesmo tempo um ar de ingenuidade
Um jeitinho de menina/mulher
E num instante ser forte, poderosa
Estrela... ela, aquela,
Menina, mulher, Mãe
Maria, Tereza ou Helena
Rosas, violetas ou açucenas
Não importa se for branca, negra ou morena,
Todas naturalmente possuem beleza angelical,
Que as fazem na vida roubar a cena real.
38
Negritude
Por Raimundo Cândido Teixeira
A pele lustrosa exibe
toda negritude garbosa
de felina talhada em ébano
manando pubescência
eroticamente ebânea
da milenar cepa negra.
Potranca nigérrima
negrejando pra mim,
excitando a chama
na terna penumbra,
aclarando a escuridão
cegamente negrófila
no deleite negrumoso,
arrebatado da raça crioula,
untada no mel da negrura.
39
Falou-me de prazer, de poder, de amar.
Normandie
Eros e Lilith, são seus pais
Por Maria Alice Rovalho de Souza
De quem herdou sua estranha beleza, sábio
poder.
Vive só, além da parentada mítica
Ela fica tempos sem bater,
Da humanidade crítica
e quando chega,
Mesmo assim é exemplar,
entra como quem mora aqui.
Ao perturbar, ao liberar, ao conspirar,
Me faz tirar o avental
trazendo à tona o que era subliminar.
Passar o baton
Ela sozinha é um par, um cento, um milhar
Me olha do espelho, me chama de amor.
Ao me olhar, os olhos piscam mais cor .
Normandie.
Seu jeito é doce, sensual
Quando chega me empresta seu brilho
Cheira a capim, a luar
Seu xale, seu charme,
Gosta de velas, das flores da noite,
Seu trilho, seu faro, seu cheiro
Histórias de amantes
Femina, fêmea...feminina
De amores perdidos, distantes
Eu sempre me rio,
De sonhos errantes
me lanço no fluxo das águas do cio
Recuerdos de nunca esquecer.
Me danço no canto do quente assobio
Me toco nas harpas do prazer sem fim
Ao vê-la recordo quem fui, quem sou e quero
ser
Brindamos o dar receber,
a entrega, o acolher
Mistura vontade e verdade
mais o antes, que o depois
Nela tudo é excentricidade
pois o que precede, antecipa,
precipita o desejo, poderes da criação
A conheci em menina, eu
Ela sempre foi mulher.
Deu-me a mão para o equilíbrio do primeiro
salto
Encorajou-me no primeiro beijo
Escolheu meu primeiro brinco
E ensinou-me a brincar
Limpou-me o sangue da primeira vez
Fugiu comigo do antigo lar
(segue)
Abriu-me a porta do sexo sem nexo
40
Normandie
acalma minha Vênus aflita
e tão só por isso tem o meu apreço,
sem preço está minha alegria
Normandie
me põe pra dormir,
alvos lençóis, sempre virgens
o quarto cheira a jasmim
sua presença tinge a madrugada
com o melhor de mim.
Pela manhã já se foi, já partiu,
não é solar, sem adeus.
Deixa-me um riso nos lábios
uma flor nos cabelos
um novo poema
um terno beijo
um bilhete escrito no espelho:
“ Voltarei sempre, Normandie”.
41
VIDA MINHA, TEU NOME É ESPERANÇA...
Tornei-me menos pedinte,
Mais atuante,
Por Maria Cris*na Pires Silva Ramos
E muito mais poderosa...
Por falar em o*mismo...
EU APRENDI A VENCER !
Foi durante a minha existência,
Que adquiri um enorme poder de luta !
Lutei para vir ao mundo - fórceps,
Lutei para sobreviver - aos 3 anos de idade,
Lutei para conseguir andar - aos 5 anos de idade,
E, por fim, depois de muitas outras lutas,
Lutei, aos 52 anos, contra um câncer,
Era a maturidade diante da adversidade!
Jamais perdi as esperanças,
Afinal, depois de tantas lutas...
Não seria um "cancerzinho de mama"
Que teria o poder de me derrubar !
Conversei demasiadamente com DEUS,
Mas, eu somente pedia !!!!!!!!!!!
E a minha parte ? O que eu estava fazendo ?
Busquei forças na Fé, na Família, no Mundo,
Armei-me de coragem e fui à luta,
Não parei de pedir mas...
Resolvi, também, fazer a minha "parte" :
- Parte do coração,
- Parte da Família,
- Parte da Fé,
A segurança que hoje esbanjo !
E no meio disso tudo,
Carimbei o "meu passaporte de vida"
Com a palavra "FELICIDADE",
42
h\p://www.mariahobbs.com/
O Primeiro Olhar
Por Dina Pavesi
Quando os nossos olhares se cruzaram
Céu e Terra se estremeceram
Nossas almas se reconheceram
O templo do AMOR sagrado estava de volta
Para o infinito prazer dos amantes apaixonados
Corpos suados, bocas sugando e alimentando
Do divino amor amado
Beijos molhados de volúpia e devoção
Como num sonho eternizado
Respirando o perfume predileto
Almas gêmeas se reencontrando
Num momento mágico eletrizado
Dos afagos, carinhos e deleites
Dos eternos namorados
Quero morrer agora
Com as imagens desfilando
Todas as fotografias do nosso amor fecundo
Pois tudo o que aconteceu foi lindo e puro
A mais bela estória de AMOR vivida
Num tempo longínquo em nossas eternas mentes
Agora de corpos separados
Em busca do sonho tão sonhado
43
Angola 2010 - Foto de
Dina Pavesi, Paris
44
MARIAS DO AMOR
sem direito nem peito
de sobreviver.
Por Ivane Laurete Perotti
Maria benzida
Desce o morro estropiado
Pelas dores da vida
com andar de dama rica
Pecado mortal.
sacode o vestido surrado
das ancas muito convicta.
Balança o seio,
Pariu no silêncio
Baixa o decote,
eu filho,
Esquece a vida
seu moço,
Suja e pobre do barracão.
Não cria Maria!
É pó!
Não é Maria
Agonia,
De Antônios e Joãos,
É medo,
apenas a moça coberta de ilusão.
É dor.
Bendita ilusão que encoraja
esquecidos,
marcados,
sofridos,
assustados pares da dominação.
Ah!
Maria sem dono nem trono
princesa em trapos,
farrapos,
amiga de homens e ratos
Flagelo sem elo
monstros e gatos
Maria não via,
cavaleiros em seu colchão.
não ria!
a pia...
Maria sem memória
sem luxo nem glória
carrega a história
de um povo abortado,
(segue)
encolhido e acuado
45
Terror.
as outras Marias
mergulhadas em dor.
Caídas,
É isso Maria,
feridas,
Você não queria!
rotas,
menino,
mortas!
menina,
Anjos tombados
a calçada fria,
Na via do horror.
a cama vazia,
Você não queria perder seu amor!
Para Maria!
Cessa a folia
Cadeira de rodas,
engole a alegria
Tubos e sondas
veja morrer.
Janelas cerradas...
Filhos e netos
Maria não saia!
já foram embora
Levante a saia,
perderam a festa que você não fez!
Corra e não caia
É matar,
É morrer!
Um tiro na testa
Pagou o bilhete
Sem troca,
No morro e no bairro
Sem volta,
Maria não saia
Na porta,
Não viva,
no morro,
Não caia
na escola,
Não veja o temor.
Lá fora...
Na rua é o povo
Volta Maria
Acuado de novo...
Prepara o barraco
Não cria,
Que a noite chegou!
Maria!
Perdidos,
assustados,
Mais um e mais outro
feridos,
Estendido
acuados,
Arrastado
retornam cansados,
Parado
Esquecem a dor...
Queimado,
(segue)
Medo,
46
ou mais otimistas
a sorte...
esperam amor!
A guerra cessou.
Volta Maria,
A dor ainda é sua!
Na lápide branca
Baixa o decote
busca
a pele tão nua
Maria!
tão fria
A flor,
tão crua
a criança
nas veias da rua
O sol acordou!
mataram a flor.
Olhem...
Chora Maria,
Marias!
O sino tocou!
Filhas e crias,
Longos repiques
mães na agonia
Gemidos cansados,
O sol retornou!
O povo gritou.
Mais alto,
Mais forte
Cantem os versos
A morte
sem cortes
A sorte,
sem mortes
A bala parou.
sem medo da sorte
sem medo da dor.
Cantem Marias!
Volta Maria,
outra vez mais.
Lava a história!
Limpa a memória!
Com honra e glória
de quem suplantou
o medo
a morte
o filho
47
Lavradeira
Por Zélia Guardiano
Olhou fixamente
As próprias mãos:
Viu que
Não foram feitas
Para ostentar
Anéis
Ornatos que
[ Muitas vezes
Cruéis ]
Se transformam
Em algemas
[ Escravizam a mulher ]
Viu mãos largas
Ásperas
Pesadas
Mãos apropriadas
Para empunhar
Enxada
[ Ferramenta
Que
Muitas vezes
Se transforma
Em arma
A combater
A fome:
Sagrada
Guerra ]
Viu tudo isso
A mulher
E foi lavrar
A terra
48
Referida a você
Por Dúlcio Ulysséa Jr.
Só há de se saber
O verdadeiro significado
Da palavra Mulher
Quando também descobrirmos
O propósito e o significado do Amor
Há poucas pessoas tal como você é
Que realmente ostentam
O peso e o valor
Do substan*vo Mulher
Como realmente deve ser posto
Em qualquer fala ou oração.
49
50
PARA AS MULHERES
Por Antonio Vendramini Neto
De onde vieram as mulheres? Certamente de um mundo que não conseguimos enxergar
e não sabemos ao certo onde fica.
Vieram nos presenteando com sua formação, nos acolhendo, amando e também com o
dom supremo de gerar novas criaturas.
Com imensa ternura, criam os filhos e as filhas, que serão os personagens do amanhã,
dedicando-lhes todos os ensinamentos básicos, muitas vezes sofrendo caladas no seio
da família, se preocupando com todos os detalhes, principalmente na preservação dos
aspectos morais.
Muitas vezes além de todas essas responsabilidade, chegou mais uma, que é de buscar
sozinha, ou em certas circunstâncias, ajudar o marido na labuta do sustento da casa, tendo uma dupla jornada, não se cansando, porque o amor que tem pelas pessoas é
sempre inconfundível.
E assim, cultuamos às mulheres de nossas vidas, vindas desse mundo que não sabemos ao certo, pois se soubéssemos, certamente nos transportaríamos para lá, para
aprender a falar mais das coisas do amor, que as vezes nos esquecemos, atribulados
pelo burburinho de nossos afazeres, também na luta pela subsistência.
Ainda essas mulheres, que apesar de tudo o que fazem, nos recebem carinhosamente
no findar do dia, dando-nos boas vindas quando chegamos, recebendo-nos com amizade e carinho, ofertando amparo para às nossas reclamações, nos dando conforto e
amor.
E no seu dia marcado no calendário, temos que agracia-las com um carinho ou uma
flor, louva-las ainda mais, que nos outros dias, reverenciando-as, para que oferte sempre o amor esperado para às nossas famílias.
Parabéns mulheres, pela coragem e a sensibilidade que lhes é característica, na produção carinhosa de palavras de amor e de apoio que sempre necessitamos.
E aqui, no meu canto de construção de palavras, junto-me com todos os homens desse
mundo homenageando-as, botando também a mão na alavanca, para torná-las fortes,
movendo e conduzindo nossas almas e destinos.
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Pã e,Lilhosenetos...
PorLucyNakamura
Maria Madalena chegava aos seus 60 anos de idade, morando com suas três filhas solteironas,
além de ter sempre por perto os dois filhos casados, que escaparam da vida de solteiro após muita
persistência. Maria Madalena era um misto daquela mulher submissa de sua época (similar à mãe do
Caso do Ves*do, de Drummond), com a mulher de transição do séc. XXI, uma pãe, mistura de pai e
mãe.
Trauma*zada pelo fato de ter sido abandonada pelo marido há mais de duas décadas, Maria
Madalena fazia questão de expressar a sua repugnância pelo sexo oposto. E fazia questão de repe*r, todo santo dia, todas as dificuldades que enfrentara para criar os cinco filhos, sozinha e com dignidade, exacerbando a velada chantagem emocional sobre sua prole, como um meio de manter total
controle sobre a família.
Sendo filha de imigrantes e tendo recebido uma educação rígida e quase xenófoba, Maria Madalena se recusava a ser recep*va com as amizades dos filhos: coisa de escola deveria ser resolvida
na escola, coisa do trabalho deveria ser resolvida no trabalho, e ninguém deveria trazer esses assuntos para dentro de casa, a casa era sagrada, só da família. Dessa maneira, os filhos nunca conseguiam manter os laços de amizade com ninguém. Maria Madalena se sen*a a própria deusa do des*no de todos. Será?...
A primeira filha, Mariana, dotada de uma inteligência fora do comum, sempre se destacava na
escola. Mesmo quando precisou trabalhar durante o dia e estudar à noite para ajudar a mãe a sustentar a casa, Mariana con*nuou se destacando. Mas Maria Madalena nunca comparecia aos eventos que homenageavam Mariana, ao contrário, logo tratou de se mostrar indiferente, como um iceberg. Mariana terminou o curso universitário, passou num concurso público e, a par*r daí, passou a
ser o principal pilar da casa, com a responsabilidade de acatar a todas as vontades de sua mãe, pois,
sensível, era incapaz de impor suas próprias ideias para afrontar a mãe. Quando surgiu o primeiro
amor de sua vida, viu-se obrigada a abrir mão dele, pois ao saber do fato, Maria Madalena imediatamente adoeceu e só se restabeleceu quando a filha desis*u daquela ideia descabida. A vida de Mariana não via as cores da primavera, seu co*diano era só trabalhar e voltar pra casa, o seu único orgulho era saber que todos os seus irmãos precisavam de seu apoio.
A segunda filha Aninha foi a que mais sofreu com a ausência do pai. Por isso, apegou-se à mãe
de forma incondicional. Era feliz com todas as regras impostas por Maria Madalena. E sen*mentalmente, nunca deu trabalho à mãe, pois não se interessava por ninguém, *nha poucas amizades, não
saía para se distrair, estudava e trabalhava, e se ocupava com todos os afazeres da casa nos momentos de descanso. Tamanha pureza era o retrato de um ser quase assexuado.
A terceira filha ficou revoltada com o abandono do pai. De uma beleza escultural, Anita era intempes*va e imprevisível. Aos quinze anos decidiu ir morar na capital sozinha, para trabalhar e estudar. De nada adiantou a mãe cair doente com a noOcia, repe*ndo sem parar: você quer matar sua
mãe de desgosto? Etc... Mas recebeu o apoio afe*vo e financeiro de Mariana. Na capital, Anita conheceu Giusepe e nem se deu ao trabalho de levá-lo para a família conhecer, porque já sabia que sua
mãe lhe veria inúmeros defeitos. Talvez por estar longe da família, casou-se e conseguiu ser dona de
sua própria vida. Linda, decidida, perfeccionista, dona de si, escreveu os capítulos de sua própria história sem saber que era pra*camente o clone da mãe, que antes de ser aquela mulher amargurada,
havia sido lindíssima, autossuficiente, até arrogante, cobiçada pelos melhores par*dos de sua época,
escolheu o homem errado, afrontou seus pais, se deu muito mal... até ser a Maria Madalena que iniciou esse conto.
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A mesma sorte de Anita teve o irmão caçula, Edmundo,
que sendo meigo e carinhoso, não despertou a ira da matriarca,
ao contrário, presenteou a todos com sua prole numerosa. Em
pleno séc. XXI, ter uma sequência de filhos, ou como diziam an*gamente, ter uma escadinha de filhos, era de uma coragem
indescriOvel. Na hipérbole popular, ele não podia olhar para a
esposa que ela já anunciava: engravidei! Por uma ironia do des*no, a cunhada de Edmundo gastou horrores em tratamento
médico de fer*lização durante uma década, mas não conseguiu
ter filhos.
A mais calada e observadora de todos os filhos era Lucíola. Ninguém nunca sabia o que estava
pensando, mas sua aparência plácida jamais despertou qualquer conflito. Gostava de cantarolar a música do grupo Titãs: “Família, família, janta junto todo dia, nunca perde essa mania...” Recebeu uma
boa formação, graças ao apoio de Mariana. Suas inquietações eram guardadas para si mesma: não se
conformava com as a*tudes da mãe, mas também não a afrontava. Fingia que não se importava por
não poder aprofundar suas amizades, mas não abria mão delas. O primeiro amor de sua vida aconteceu naturalmente, com um homem bonito, rico e culto que se apaixonou por ela, apesar de ser casado e muito mais velho que ela. O romance secreto só chegou ao fim quando ele se divorciou e disse
que queria conhecer a família de Lucíola, que, sem saber como agir, rompeu com seu amor, deixandoo arrasado.
Ao longo dos anos, Lucíola tentou namorar como manda a tradição, mas todos foram afugentados pela rabugice de Maria Madalena, e a tá*ca era sempre a mesma: ninguém voltava à casa de Lucíola após duas visitas, pois a interferência da sogra no relacionamento do casal era de tal dimensão,
que nada dava certo. Naquela garo*nha plácida da adolescência, foi nascendo uma outra Lucíola, ou
como ela própria ironizava, um furacão por forças externas: seu nome atraía o bem da luz, mas também o lado negro do nome Lúcifer era o que dizia o dicionário onomás*co. E ela ainda complementava rindo: sem contar que meu signo ocidental é leão e o oriental é cão. Precisa dizer mais alguma coisa? E muito seriamente ainda acrescentava que, na família, uma roubou toda a inteligência e o fogo
de Prometeu, enquanto a outra roubou toda a beleza grega – então o que sobrou? Nada. Ah, sim, ela
ainda *nha uma mãe possessiva ao extremo, para completar o quadro.
Um dia, Lucíola resolveu conversar francamente com suas irmãs, pois achava um absurdo que
elas se contentassem com aquela vida tão sem graça, sem amores, sem amizades, sem novidades... A
princípio, Aninha ficou horrorizada ao saber que Lucíola não era mais virgem. Apesar de tudo, não a
julgou mal. Lucíola fez questão de falar sobre o tempo, que é indelével, não perdoa, ele passa e não
volta mais. Agora que todos já estavam bem encaminhados, por que não ser um pouquinho mais ousados e felizes?
Depois daquela conversa franca algumas coisas progrediram: Mariana não se casou, mas teve
um lindo filho com o seu primeiro amor, e de tanto plantar o bem, recebeu o bem de volta com juros
e correção monetária; Anita con*nuou a ser o braço direito da mãe, entretanto, sem aceitar os estardalhaços extremos, ganhou muitas amizades sinceras, e por fim, ainda conquistou um amor que contrariava todos os perfis possíveis e imagináveis naquela situação.
E Lucíola teve outros namorados, sem que a mãe soubesse, pois esse era o melhor caminho para
cada um ter o seu próprio espaço. O mais interessante de tudo, foi o imenso amor que Maria Madalena passou a sen*r pelos netos. A par*r dali, todos os conflitos da casa aconteciam em função dos netos.
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AS TRÊS FACES DA LUA
Por Dalva Agne Lynch
A Lua tem três faces, mas permanece uma só.
Como ela, toda mulher é uma deusa, tendo três faces
Interligadas, entrelaçadas - permanecendo uma só.
Na imensidão incompreensível que há fora do tempo
No interior insondável que é seu ser feminino
- Insondável, incompreensível, incomensurável Neste seu ser, ela é a Lua: criança, mãe e mulher.
A Lua Crescente é a criança que sempre será
Aquela que brinca e troça, faz ironia e se esquece
Ri e chora sem sentido, contradiz-se, entesa, cresce...
A Lua Cheia é a mãe e amante, a que ampara e conforta
Cuidando tudo o que germina, cresce, floresce.
A Lua Minguante é a anciã, a mulher sábia e ponderada
A que busca o conhecimento nos astros, nas estações
E nos segredos dos corações dos homens
E toma todas as coisas com cautela.
Depois dela, é a Não-Lua. A ira, a morte, a escuridão.
A Lua Nova, que desaparece, que fere e mata.
Esta é aquela Não-Face que a Lua esconde
A que fere até ao homem que ama
E depois se esquece, se arrepende
E retorna a ser criança outra vez.
Porque a Lua tem três faces, mas permanece uma só.
Assim como a Lua, eu sou mulher, tenho três faces.
Meu ser Lua Crescente ri, brinca contigo e faz troça
Te entesa, te irrita e depois chora, buscando teu carinho
E compreensão. A que te levanta olhos expectantes
Confiantes no teu ser muro e espada, poder e força.
Meu ser Lua Cheia é aquela que te ama e recebe confiante
Meu corpo amado e amante, criando e destilando a vida
Que do meu corpo jorra, fruto do teu amor.
Sou Lua Minguante, e minha mente busca as estrelas.
Falo de conhecimento, discuto filosofia com os sábios
Folheio alfarrábios e textos herméticos, ocultos, esquecidos.
Aconselho, pondero, meço justiça, recebo e acalanto.
Mas há também em mim a Não-Lua - a escura dança
Em que escondo a ira, o veneno, a vingança.
Porque sou mulher, sou Lua - três faces em uma só.
Três modos de perceber a vida, insondáveis, inexplicáveis
Meus três modos incomensuráveis de te amar.
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Que guardei como sinal do seu pecado.
Feitiço de Mulher
Toda nudez foi revelada
Por Anabel Sampaio
Quando se entregou ao meu agrado.
Mulher
Tão minha...
Vulnerável e bela
Tão linda
Inevitável não querer
Fez-se minha rainha.
Passar em frente a sua janela.
A amante perfeita
Parecia satisfeita.
Para ver seus seios desnudos
O seu olhar que não me cobiça.
Expostos em seus decotes profundos
Nunca vi tanta injustiça!
Fico todo arrepiado
Para o meu desatino
Ao ver os seus predicados.
Você foi tirada do meu destino
Como faço para que sejas somente minha?
Hoje lamento pela noite mal dormida
Oh Deus! Que jogo de sedução!
Na despedida sem seu afago
Se não me queres porque atiça
Trago no peito a saudade doída
Fogo ao meu coração?
Porém, ficou vago.
Feitiço de mulher
Que filho você carrega no ventre?
Que mordisca seus lábios
Se não me entregou a alma de frente
Que rebola do meu lado
Eu fiquei crente
Só para me dar prazer?
Que tudo seria para sempre.
O seu perfume de jasmim
Lady by window Kenneth Kelsoe
Para sempre permaneceu em mim
Quando braços ávidos pelos meus abraços
Entregaram-se aos meus afagos.
É a tez que meu toque ainda procura
A vez que me levou a loucura
De uma noite roubada
Talvez por uma boa cantada.
Da camisa suja de batom borrado
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BEM AVENTURADAS
(Homenagem ao Dia da Mulher, 08/03/09, em Buenos
Aires – Argentina)
Por Jania Souza
Bem aventurado o ventre que povoa a terra!
Bem aventurada guerreira indomável
que com sangue e suor
transforma a face da terra.
Bem aventuradas essas mulheres
incansáveis que curam
com lágrimas com beijos com sonhos de santo e desejos
as chagas da terra cravadas em espinhos cruéis.
Bravas mulheres parideiras, companheiras
sempre amantes de seus homens
de seus filhos, de seus pais, de seu mundo
no abraço ao mar do seu oceano
profundo silente de todo seu pranto
em busca do bem maior
luz esperança na vela que sempre é nosso mundo.
Mulheres do dia a dia
seu nome jamais será desistência
persiste no amor embora durma na guerra
rega flores na cama da violência
busca paz na enxada cravada no sulco da terra
seu sol é chuva de amor nos caminhos de pedra.
Bem aventuradas são essas mulheres
conscientes ou inconscientes do seu papel
pétalas de rosas a perfumar passos inseguros
na incansável jornada de descobrir o finito
desse infinito que é nosso mundo.
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Dia de Faxina
Por Fátima Diógenes
Cheia de raiva, ela trocou os móveis dos lugares que foram estabelecidos pela lei do
marido...Com força, sacudiu a poeira dos tapetes e das cortinas... Tirou toda a sujeira acumulada debaixo da cama... Trocou os lençóis e as toalhas do banheiro... Lavou todas as roupas à
mão, dispensando a máquina de lavar... Enxugou as louças e limpou a cozinha...Tentava organizar o próprio desespero.
Olhou para a casa limpa e a mobília arrumada em novos espaços... As lágrimas começaram a descer pelo seu rosto cansado, até tornarem-se convulsivo choro... Dominada pela
exaustão, ela adormeceu...A noite já tinha chegado, quando ela acordou... Com o corpo completamente moído pelas dores da alma e da faxina furiosa, ela se levantou.
Logo mais, chegaria o seu homem, trazendo o mesmo beijo sem calor, reclamando das
mesmas coisas, com o jornal para ler após o jantar, sentado confortavelmente na poltrona da
sala... E ela, como em todas as noites, lavaria a louça, limparia a cozinha e sentaria no sofá para assistir TV - no volume mínimo, para não o incomodar... Assim, mantinha a ilusão de estar
a seu lado...E depois, ele iria para a cama sem ela, lhe desejando uma boa noite com a frieza
de sempre.
As dores do corpo lhe traziam mais lembranças da sua rotina: o café da manhã tomado
em silêncio, os lábios frios simulando um beijo de despedida, o almoço solitário na mesinha
da cozinha, os esquecimentos das datas significativas, as reclamações por coisas banais...Pequenos atos e fatos cotidianos, que agora se tornaram importantes e grandes, depois
de tantos anos de casamento.
A casa estava organizada e seu coração continuava confuso e triste... No seu tempo de
recolhimento, que ele não percebeu, ela foi costurando os retalhos de sua vida...Recolheu lembranças da feliz infância, na casa grande do sertão; da adolescência cheia de festas, na cidade
do interior; e da juventude, já estudando na capital...Depois, veio a vida profissional, juntamente com o casamento, os filhos, a compra do apartamento, da casa de veraneio, a aposentadoria e, no final de tudo, a solidão...
E agora, olha à sua volta e se pergunta: Por que?...Por que manteve seu casamento por
tantas décadas?... Por que não percebeu o que fez consigo mesma?
Porque quis garantir a união da família (hoje, os filhos
raramente os visitam, pois estão ocupados com as próprias vidas)... Também não podia decepcionar seu pai – que já morreu
há mais de dez anos... E porque queria manter o padrão financeiro, o status de mulher casada e continuar participando do
círculo de amizade (chatíssimo!...) do marido.
Percebe que os porquês lhe dão as justificativas para suas
escolhas, mas não revelam o sentido dos seus
atos...Experimenta perguntar-se para que...Para que continuar
neste casamento?... De que lhe servem as indelicadezas, a economia de carinhos, o sexo cada vez mais esporádico e frio, a solidão a dois?...
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?... Para que se aposentou?... Qual o sentido atual da sua vida?...Sente que esqueceu de atualizar seus
objetivos, seus sentimentos e seus sonhos... Esqueceuse de si mesma.
Procura o espelho grande, que tem no quarto de
vestir e vê uma mulher grisalha e amarga, com rugas
deixadas mais pelo sofrimento, do que pela idade... E a
pergunta martela em sua cabeça: E agora, para que?
Os filhos se foram, o pai morreu, chegou sua
aposentadoria, o apartamento está quitado, assim como a casa de praia (aonde vão raramente, depois que
os filhos cresceram), o marido se retirou do casamento
e ela nem percebeu.
Aproxima-se mais da própria imagem... Toca
seu rosto e continua na aventura de mergulhar em si
mesma... Aos poucos, reencontra o brilho escondido
no próprio olhar e os sentimentos que outrora habitavam seu coração...Finalmente, encontrou a resposta
que procurava nos últimos tempos...Com a calma e a
determinação, que sempre lhe foram próprias, começa
a agir.
Sabe exatamente o quer fazer. Separa as roupas
que realmente gosta, recolhe pequenas lembranças,
cartas, bilhetes e algumas fotos dos filhos e de caros
amigos. Onde eles estarão?... Fará novas amizades,
ainda que reencontre as antigas.
Silenciosamente e, sem pressa, atravessa a grande sala de estar, carregando a pequena mala... Colocou
nela tudo o que necessitará de agora em diante, inclusive sua máquina fotográfica e suas lindas echarpes...
Estavam todas tão esquecidas...Na bolsa, leva seus documentos e o seu próprio cartão eletrônico, além de
endereços e telefones antigos.
Seu coração está pleno de alegria e paz e nenhuma expectativa...Não deixa carta de despedida para o
marido – ele nunca teve paciência para escutá-la... Dará notícias para os filhos, sem dizer para onde foi.
Fecha a porta sem fazer barulho e sai... Agora
terá toda sua vida para si mesma... Não olhará para
trás...A noite está linda, perfeita para namorar, pensa,
surpresa com a própria ousadia... Sente-se jovem, alegre, serena e caminha sem pressa...A hora para ser feliz
acabara de chegar...O que lamenta mesmo, o que mais
sente falta neste momento, é daquela sua velha mochila, companheira de tantas aventuras... Combinaria perfeitamente com sua vida.
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Woman with white flowers Schery Markee Sullivan
tua mão de mulher corajosa.
À minha mãe
Hoje, sem ti fisicamente a meu lado,
Por Rosalie Gallo
te busco novamente:
criança composta de saudade,
Recebeste-me em teu ventre
apesar dos riscos
e me acolheste nos braços
decomposta em lágrimas de saudade,
recomposta em figura similar de matriarca.
Te busco
qual jardineira cuidadosa
e te chamo
a tocar o novo broto da planta.
esperando que me ouças,
Tantas outras vezes
onde estiveres,
repetiste o gesto de carinho
e me socorras
e a atenção desdobrada de vigílias
de novo,
te deixou mais bela,
sempre,
tez refulgente
e me consoles.
e olhar tranquilo
de quem ajudou a viver.
Kolonji
Saí de casa cedo:
nove meses foram poucos
para que eu gozasse em teu corpo
a delícia do aconchego,
e o prazer da companhia.
Da dor de tua ausência
muitas vezes mais sofrida que em outras,
Mais tarde, desligada de ti,
hoje, querida mãe,
me lembro em prantos logo consolados
te abraço pelos cem anos que faria.
e em teus braços pude ouvir a voz de Deus
Tu, porém, não tens idade.
penetrando meus ouvidos
És eterna
em canções de ninar
no teu amor,
jamais esquecidas.
nas marcas que deixaste em mim,
Cresci, minha mãe,
nas palavras com que me moldaste meu caráter,
mas te buscava sempre
na dedicação em todas as coisas de tua vida
porque sempre me fazia falta
e que somente hoje,
teu colo de mulher simples,
tanto tempo depois de tua morte,
teu sorriso de mulher forte,
sou capaz de reconhecer como tua obra.
59
Neste dia, mãe querida,
Neste dia de teu aniversário
abriga-me no teu colo
rogo seja possível que
e alisa meus cabelos já grisalhos,
completes em mim o que me falta,
enxuga minhas lágrimas
corrijas meus contínuos erros,
ou mistura-as às tuas
chames minha atenção desavisada,
mas voltemos, mãe amada,
costures uma nova fantasia,
ao regaço de antes,
cantes teus tangos
quando eu te fui confiada
e me mostres,
e me abrigaste,
infinita e bondosamente,
quando eu cheguei
me mostres o que de melhor soubeste ensinar:
e me acolheste,
quando tive fome
e me ofereceste teu seio.
que só o amor constrói,
apesar das dores.
Neste dia de teu aniversário,
te peço egoisticamente:
sejas o inverso de tudo.
Sejas para mim o presente de que necessito,
a paz que ainda procuro,
a alegria que se esconde,
a força de que preciso,
a luz que vem de Deus.
Dorothea-Lange-Corbis
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Por Vivi Viana
Mulher Apodiense,
Guerreira, trabalhadora, companheira, aguerrida,
Destemida, corajosa, amorosa, vencedora.
Nem a beleza do pôr-do-sol da chapada
Nem o luar da Lagoa,
Nem o alvorecer da Barragem de Santa Cruz
Ou o poema de pedras do lajedo de soledade
Superam sua beleza
És bela
E bela é tua infinita beleza.
NY Central Park Conservatory - Three Girls Fountain
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Moça à janela - Salvador Dali
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Enviada
Só
Para mim,
Por Flauzineide de Moura Machado
Para todos,
Nisso eu falo,
Creio,
Só.
Eu tentei fazer poesia incomum,
Não fluiu.
Quis descobrir meu estilo,
Não consegui.
Só sei falar de esperança,
De criança,
Do mar sorrindo para mim.
Eu falo de amor,
Da flor,
De jardins,
De estrelas brilhando para mim.
Eu falo de alegria,
De euforia,
Da lua,
Do meu amor fazendo rimas para mim.
Eu só falo de amizade
De liberdade,
De pássaros voando por mim.
Eu falo de emoção,
De coração,
Da saudade que alguém sente por mim.
Eu falo do passado,
Do bem amado,
Do futuro feliz que está por vir…
Eu falo de Deus,
Do seu amor,
De sua bênção
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Mulher,mulher, mulher
Por Varenka de Fá*ma Araújo
Que posto mais alto foi dado
Por quantas qualidades vista nelas
Nos fortes corações, na grande luta
Que mostram resignação
Ao serem mãe, filha e esposa.
Ainda abraçam as causas trabalhistas
Ainda buscam altos postos na polí*ca
Debatem e se fortalecem contra injus*ças medievais
Afeiçoadas as suas intuições e emoções
Permanecem juntas contra as inves*das
Altamente dói perder suas causas.
Em pra*cas diferentes
Agora pelos humildes caminhos
Agora defendem seus direitos
Agora com suas tarefas múl*plas
O desejo demudar o mundo
Oh! Mulheres amorosas!
Oh! Mulheres corajosas!
Oh! Mulheres valorosas!
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1974
Por Márcio José Rodrigues
1974 foi um ano que marcou nossas vidas.
No mês de março, como poetizava Tom Jobim, "as águas de março fechando o verão"não foram
bem "a promessa de vida em teu coração", mas o desencadeamento de uma catástrofe que abalou o sul
do estado de Santa Catarina.
Um vendaval dantesco acompanhado de chuvas torrenciais e pavorosamente duradouras, destruiu casas, cidades, famílias, lavouras e vidas preciosas de centenas de pessoas. Vivíamos dias e noites
de terror. Já passados tantos anos, pessoas traumatizadas, ainda hoje, têm pânico de chuva e trovoadas.
Milagrosamente, Laguna, nossa cidade à beira mar, cercada de enormes lagoas e pelo oceano, no
meio do foco, resistiu e foi menos atingida do desastre, embora o rio Tubarão, o maior causador dele,
desembocasse diretamente na principal lagoa da cidade. Na verdade, o mar avançou e alagou algumas
ruas e praças, invadiu muitas casas dos arrabaldes, descarregou sem conta, destroços de moradias, corpos de animais e de gente, árvores imensas arrancadas pelas raízes.
De um dia para outro passamos a receber milhares de desalojados das cidades vizinhas, a maioria chegada em pequenas embarcações, porque mesmo a estrada federal estava inundada e totalmente
impraticável. Todos os meios de comunicação caíram; telefone, rádio, jornais, restando apenas a incerteza da falta de notícias e previsões . Os radioamadores que tiveram um papel importantíssimo no resgate de pessoas e recebimento de mantimentos faziam a divulgação boca a boca das novidades. Tudo
que se ouvia era horror. A distribuição de energia estava suspensa sem previsão de retorno. Linhas inteiras, postes e torres tinham sido simplesmente arrastados pela força da torrente.
Quase não se compravam mais víveres em lugar nenhum. Era o temido desabastecimento.
Quando vimos que as coisas estavam caminhando para o pior, minha esposa e eu resolvemos sair
com uma velha Kombi para comprar algumas coisas úteis e socorrer amigos pobres. Conseguimos em
um mercadinho da periferia, uma lata de vinte litros de querosene para lamparinas, farinha de mandioca, macarrão, carne seca, biscoitos. Fizemos uma pequena ronda e repartimos nossas compras.
Quando chegamos em casa, por volta das quatro da tarde, não pudemos descer, pois nessa hora despencou um aguaceiro descomunal que impedia até a visão das imagens da rua.
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O ruído sobre o grande teto de lata do carro era ensurdecedor, como se estivesse chovendo pregos ou
pedras, mas era apenas chuva violenta como jamais se havia visto antes. Assustador demais como uma
visão do apocalipse.
Eu estava muito amedrontado e apertado o coração, quando ela deitou a cabeça em meu ombro a
chorar. Nesse momento o meu mundo interior começou a desmoronar, porque secretamente eu sempre
me apoiara na coragem dela. Dei-me conta do quanto eu, o homem, dependia da força daquela mulher
ainda tão jovem. Ela era na verdade, a pessoa forte da casa e estava ali chorando tomada pelo medo.
Eu não tinha outra saída senão a de reagir e encorajá-la com uma tentativa de demonstração de minha virilidade. Abracei-a com força, tentando aparentar segurança. Juntei umas palavras de encorajamento.
Ela, com um tipo de coragem que só as mulheres possuem, prontamente cresceu. Reagiu com a
energia que eu precisava para me salvar e assim, ganhei poder ao lado dela.
Sem esperar que o aguaceiro parasse, enfrentamos a tempestade e o curto trajeto entre o carro e a
porta de entrada deixou-nos completamente ensopados, o rosto, os braços e as mãos ardendo com as chicotadas da chuva.
Uma família veio hospedar-se em nossa casa, onde a gente arrastava as camas para fora do alcance
das goteiras copiosas.
Aquela noite foi a mais tenebrosa do vendaval. Casas desmoronaram, árvores derrubadas. Jamais
ouvi uma ventania rugir com tanta fúria.
Passamo-la em sobressalto, mas por estar ao lado dela eu tinha minha aflição sob controle.
Tínhamos a família reunida, um grupo de amigos acolhidos e os filhos no colo em torno de uma
mesa iluminada por um lampião a querosene.
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E-mail libertador
Por Norália de Mello Castro
Hoje está sendo um dia excepcional para mim. Acabei de assinar e enviar um e-mail a
favor de Iraniana Livre. As mulheres iranianas vão arrancar os véus de seus xadores e precisam do apoio internacional a favor desse gesto. Eu dei meu voto a favor delas.
Não poderia negar esse voto. Finalmente, participo de um movimento para desvendar
os xadores.
Os primeiros xadores que vi foram no Mercado em Teerã, na década de 70. Dezenas
de mulheres tinham todo o corpo coberto; com suas vestes negras e longas transitavam pelos
corredores e a maioria só mostrava os olhos. Elas andavam rapidamente, quase correndo.
Poucas tinham o rosto descoberto e riam alto, quando apareciam os seus dentes de ouro. Ao
passarem perto de um homem, cobriam o rosto. Gesticulavam muito.
Essas mulheres me chamaram a atenção. Quase ou nenhuma mulher eu vi transitando
pelas ruas da cidade. No aeroporto, no comércio, no hotel, no palácio do Xá e noutros lugares visitados, não vi mulheres. Éramos sempre atendidos por homens engravatados e de terno: elegantes e belos .
Essa visão panorâmica de homens e mulheres, além da curiosidade natural de
uma estrangeira, me angustiava. Não vi nenhuma mulher trabalhando na cidade; somente
homens.
Saí de Teerã com a alma em fogo: como realmente viviam ali as mulheres? No mercado, os seus xadores negros eram uniformes.
Se a visão dos xadores iranianos me angustiou, a realidade vivida pelas iranianas dizia muito mais: subservientes aos maridos, sem direito a voto (que conseguiram posteriormente), totalmente “presas” dentro de casa, tendo os filhos que os homens quisessem, sendo
donas de casa sem direito à fala, à realização individual; até para sair no portão precisavam –
e ainda precisam – da autorização do seu chefe/senhor.
Os xadores iranianos permaneceram em mim como símbolo de opressão feminina:
nada mais gritante. Haviam sido proibidos em l936, por Reza Shah, que vinha ocidentalizando o país, entretanto permaneciam evidentes naquelas mulheres, naquela época, pela força
de cultura e sentimentos religiosos arraigados.
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Aquela roupa negra visível me angusti- ainda é de opressão.
ava. Vinha de encontro com os xadores invisíveis, que nós ocidentais, carregávamos então.
Aqui, temos liberdade de expressão.
Um bem insubstituível, inestimável, que nos
Uma tarde, um amigo socialista chegou favorecerá ao equacionamento melhor do parepentinamente em minha casa. Estava eufóri- pel feminino na sociedade, sem xadores invico e falava aos berros:
síveis.
- Finalmente, o Xá do Irã caiu. O povo
Já os xadores visíveis das iranianas conse libertará do imperador tirano... Os aiatolás tinuam oprimindo direitos naturais de um ser
vão salvar aquele povo. O socialismo vencerá: humano. Os xadores visíveis não detêm seus
os xadores iranianos cairão.
direitos de cidadãs, sob um regime ditatorial
religioso fundamentalista.
E que engano!
A situação da mulher iraniana ficou
mais tensa, mais opressora: não poderiam
mesmo nem retirar o véu da face, no mercado.
Os novos dirigentes decretaram o uso permanente dos xadores. O novo regime, mais
opressor. Nenhum direito aos filhos é dado à
mulher: o homem iraniano tem total pátrio
poder. Houve um progresso desde então: permitem que a mulher estude, frequente a universidade e pode trabalhar fora de casa, com
o consentimento do marido. Algumas conseguem, mas se veem xadores negros em quantidade pelas ruas da cidade.
E, hoje, finalmente, algo concreto chega
até mim através de um e-mail – Iraniana Livre – que pede a minha assinatura. E eu assino a favor da retirada daquele xador negro.
Aquelas mulheres precisam de ajuda internacional para a retirada daquelas vestes tão
opressoras. Precisam da assinatura de todas
as mulheres que lutam pela dignidade da mulher-cidadã, em qualquer país. Uma revolução. No dia em que todas as mulheres retirarem seus xadores visíveis ou invisíveis, haverá uma comemoração e tanto.
Os xadores, além dos decretos obrigando a usá-los, fazem parte cultural daquele povo, desde o século XVIII. É também uma tradição. Mas, a realidade, ainda hoje, é que as
rosas de Shiraz, decantadas por Omar Kayan,
sobre a liberdade e o amor, estão longe daquelas mulheres. O prazer os homens podem
sentir e, para as esposas, além de cuidarem da
casa, o objetivo principal é a reprodução da
espécie.
Passadas décadas da mudança de regime, naquele país, a realidade para a mulher
68
E você, já retirou o seu xador?
Guenevere
Por Ciro José Tavares
“And when sir Lancelot was come to Amesbury within the nunnery
Queen Guenevere died but half an hour afore.” ⃰
Thomas Malory
The Morte Darthur
Aqui, minha rainha, no mosteiro de Windsor,
exilado porque banido da tua companhia,
arrependo-me. Concluída a penitência,
retorno à Camelot e não será um reencontro.
Tua censura tem doído e desabo diuturnamente.
Aqui, minha rainha, quando a noite chega,
renasce a esperança nos melancólicos ocasos.
Na silenciosa escuridão da cela onde reflito,
os ritmados cantos dos rouxinóis
quebram o silêncio de minhas orações
e aurora estende sobre mim inconsútil manto de saudade.
Dois poemas que pensei que seríamos um dia,
a presença de Arthur, teu rei, afastou nossas mãos.
Resta-me, Guenevere, na futura solidão dos dias,
respirar novamente o aroma das flores nos jardins,
vestir a armadura e viajar no meu cavalo branco.
E Lancelot, heroico cavaleiro da Távola - Redonda,
desaparecerá definitivo no seu tempo
submerso nas lágrimas dos beijos esquecidos.
⃰
Último poema do ciclo de Penélope.
“E quando sir Lancelot chegou ao interior do convento de
Amesbury, a rainha Guenevere morrera meia hora atrás.”
69
ROSTOSEVÉUS
Por Anna Back
Cobriu-se teu rosto de alvo véu
Para que casaste, sonhaste teus sonhos!
Um lar edificaste, os filhos criaste,
Junto ao amado que por * eleito foi.
Cobriu-se teu rosto de flores, de risos.
Teus filhos grandes se fizeram.
Tua aura se encheu de alegria
Por cada um, por todos, jun*nho de *.
Cobriu-se teu rosto de negro véu...
O encanto se quebrou.
O mundo a teus pés despencou.
Tuas lágrimas foram roubadas pelo céu.
Que te levou o amado, um filho, mais um...
Rasgada tua vida, rasgado teu véu!
Alma dilacerada, face em lágrimas.
Caída por terra, arrasada, só, desamparada.
Faltou o chão, o amor, a mão amiga...
Corpo arqueado, pela dor transpassado.
Hoje, te saúdo velha guerreira!
Cobriu-se teu rosto com o véu da fé.
Olhando ao redor, viu rostos carentes de *.
Esteio de vida, de muitas vidas!
Renovada, o pranto engoliste, segues o caminho, al*va.
Por tudo isso, eu te saúdo, minha mãe querida!
70
És Mulher!
Por Eliana Wissmann
És tu
a geradora de novos seres
És tu
a esperança de outra visão de mundo
És a mensageira
de novos tempos
És a buscadora
de novos enlaces
És a portadora
das tradições e costumes,
que se renovam
És tu
a melhor comunicação entre diferentes
És tu a mediadora
És tu a professora
És tu
a semeadora de paz
És tu
a bailarina, a maga
e a possibilidade
És tu
a mãe
És tu
a filha
És tu
o futuro
És o amor
explodindo em pétalas
multicoloridas e multifacetadas
És tu
que espalhas as cores, os sabores e as fragrâncias para todos os cantos...
Para ti, mulher,
rosas, uma, cem...
tu as mereces!!!
71
RETRIBUIÇÃO
Oswaldo Antônio Begiato
E porquê a mulher,
Flor iluminada, nascida
Do amor da nascente pura e da terra fecunda,
E do calor do fogo sagrado e do sopro divino,
É água e semente,
Luz e caminho,
Sempre serão de regozijo
Todos os dias da mulher.
Não pode o homem lhe roubar o amor
E lhe esconder,
Dos lábios, a plásca do sorriso
Sem que lhe caiba casgo algum.
É pois preciso beijar a mulher
Como se colhem flores na nascente,
Como se aça o fogo com sopros.
Tocar a mulher
Como se toca, com os olhos, estrelas.
Como se ra o pó de luz de orquídeas.
Amá-la como um pássaro
Atordoado dentro da tempestade.
Posto que a mulher,
Ao mesmo tempo é vulcão e brisa,
Correnteza e pó,
Leoa e beija-flor,
Fêmea e manjericão.
72
MulhereVida
Por Fabio Renato Villela
A Mulher faz a Vida:
a vida parida,
a vida servida,
a vida crescida,
a vida sen*da.
Chora a Mulher que fez a Vida,
a vida saída,
a vida repar*da,
a vida interrompida.
Sorri a Mulher que refaz a Vida,
a vida revivida,
a vida re-sen*da,
a vida colorida,
a vida atrevida.
Gargalha a Mulher que refez a Vida,
de novo querida,
de novo seduzida,
de novo amada,
de novo desejada.
Vive na Mulher, a própria Vida.
Para Lilian, a Vida.
73
mulher
Por Cláudia Gonçalves
anoitece
e na antessala
do amor
transborda
néctar frutal
rosa chá
alma desnuda
saindo
do prumo
tal fera
selvagem
bastam
os sentidos
e explode
a paixão
nas arenas
do corpo
caem folhas
de outono
e floresce
- mulher -
74
CemRosasparavocêMulher
PorPaulaBarrozo
Me orgulho de ser Mulher, mas Mulher com M maiúsculo, aquela mulher de an*gamente...
Vou aproveitar as comemorações do “Dia Internacional da Mulher” para fazer o meu desbafo !!!!
É, sou sim !!!!! Mulher a moda an*ga !!!!
Sou aquela Opica dona de casa, mãe de família, esposa dedicada .
Que cozinha, lava, passa, borda, faz lição com as crianças, vai ao supermercado, espera o marido cansado do trabalho com muito carinho para dar...
Mas no meio de tanta modernidade, transformações, somos empurradas para a evolução da Mulher !!!! Será ??? Será mesmo uma evolução ou não seria uma regressão !!!!
Que me desculpem as feministas... mas a mulher só perdeu !!!!!
Tínhamos um lugar privilegiado, superior, éramos protegidas, paparicadas, cortejadas !!!!
Éramos tratadas como Rainhas !!!! Abriam portas, acendiam nossos cigarros, nos davam os melhores
lugares, pagavam nossas contas !!! Tínhamos todo o *po de regalias e privilégios !!!!
E agora ??? Somos tratadas de igual para igual !!!! E só quando convém !!!!
Pois trabalhamos igual ou melhor que os homens e ganhamos menos!!!
Fora que temos duas jornadas de trabalho e privilégio algum...
E o salário, ohhhhhhhh....
E isso é bom ???
Não para mim !!!
Só para dizermos que somos independentes financeiramente ???
Grandes coisas !!!! Com isso os homens se acomodaram, pior, exigem que dividamos as contas com
eles !!!!
Não existe mais o Chef de Família !!!! Responsável por prover as necessidades financeiras da família e
sim duas pessoas para pagarem as contas !!!!
O que adianta sermos “independentes financeiramente” se na verdade seremos sempre dependentes pelo lado emocional !!!
Se eu *ver que dividir despesas com um homem, moro sozinha !!!!
Pelo menos pago minhas contas e não tenho que aguentar mal humores, exigências, bagunça, etc...
Com tudo isso, perdemos o respeito dos homens... Não nos tratam mais com diferenças... o sexo frágil, delicado e sensível, aos olhos deles, morreu !!! Somos agora iguais a eles, rivais querendo *rar o
lugar a eles atribuído por tradição !!!!
O Mundo virou de pernas pro ar !!! E tudo por culpa do feminismo !!!!
Por que achar que ser Mulher é ser inferior ???
Eu já creio que Mulher é bem ao contrário, é um Ser Superior e bem mais evoluído do que o homem !!! Por isso temos cada um seu espaço bem definido no Mundo !!!
An*gamente a mulher exercia um importante e respeitável papel na sociedade : o de Mãe e Esposa.
E ao longo dos anos isso vem mudando.
75
A mulher conquistou o seu direito ao voto, que acho muito justo e não tem nada haver com feminismo, e seu direito a disputar uma vaga no mercado de trabalho.
Mas quais as consequências de toda essa independência ???
Bem, para começar, o mercado de trabalho tornou-se mais exigente e cada vez mais sele*vo.
O que antes era concorrido apenas por homens passou a ser disputado por mulheres também.
Consequentemente aumentou o grau de escolaridade exigido.
E enquanto essas mulheres estão batalhando um espaço, sofrendo descriminação para receber um
salário inferior ao dos homens, aonde estão seus filhos ???
Estão sozinhos ou sendo educados por outras pessoas : babás, avós, *as...
Essas crianças crescem sem terem os valores , princípios e educação que cabiam a mãe ensinar.
Sem essa base, tornam-se adolescentes problemá*cos, muitos até revoltados, adultos infratores, imaturos e despreparados.
Crianças e adultos esses que provavelmente estarão frequentando um consultório psiquiátrico quando não terão entrado para o mundo das drogas.
Tudo isso é consequência da “modernidade”, da “emancipação feminina”, tudo em nome dos
“direitos iguais” !!!!
Agora toda uma geração sobre as consequências !!!
Além de tudo a mulher tem uma tripla jornada de trabalho, pois tem seu emprego remunerado e ainda tem que cuidar da casa, dos filhos e do marido no final do dia.
Foi essa a vantagem ??? Foi isso que ganhamos ???
E mesmo assim não tem seu devido valor reconhecido e muitas vezes nem uma remuneração adequada !!!!
Nossas crianças precisam de nós !!! Do nosso Amor, nossa dedicação, nossa orientação e valores para
serem adultos saudáveis !!!
Só assim poderemos reduzir a violência, a intolerância, a marginalidade !!!
Se dermos lares equilibrados e sadios a nova geração estaremos construindo um Mundo Melhor !!!!
E esse papel de Suma Importância cabe a nós MULHERES !!!!
Con*nuem lutando... lutem sim pelos nossos direitos, mas direitos de Mulheres e não querendo compe*r com os homens !!!
Temos nosso lugar bem definido e importanOssimo na sociedade, não perdamos nossa essência !!!
Parabenizo todas as Mulheres por esse Dia tão Merecido !!!!
FELIZDIAINTERNACIONALDAMULHER!!!
76
Primeiro poema publicado por Machado de Assis aos 16 anos de idade.
Em 12 de janeiro de 1855.
ELA
Seus olhos que brilham tanto,
Que prendem tão doce encanto,
Que prendem um casto amor
Onde com rara beleza,
Se esmerou a natureza
Com meiguice e com primor
Suas faces purpurinas
De rubras cores divinas
De mago brilho e condão;
Meigas faces que harmonia
Inspira em doce poesia
Ao meu terno coração!
Sua boca meiga e breve,
Onde um sorriso de leve
Com doçura se desliza,
Ornando purpúrea cor,
Celestes lábios de amor
Que com neve se harmoniza.
Com sua boca mimosa
Solta voz harmoniosa
Que inspira ardente paixão,
Dos lábios de Querubim
Eu quisera ouvir um -simP’ra alívio do coração!
Vem, ó anjo de candura,
Fazer a dita, a ventura
De minh’alma, sem vigor;
Donzela, vem dar-lhe alento,
“Dá-lhe um suspiro de amor!”
ASSIS, Machado de, 1839 – 1908
Poema enviado Por Paula Barrozo
77
Foto by Samantha Verdan
A Magia da Mulher
A Magia da Mulher é Poderosa !
Vibrante! Maravilhosa !
Irradia por todos os cantos !
Pela rua ! Nas casas ! Nos palacetes !
Nos escritórios !
Escolas ! Casebres ! Não importa
Mulher é sempre magia !
Magia das artes ! Do amor ! Da liberdade !
Do perdão ! Do trabalho !
A magia da mulher embeleza o mundo com as
Cores do arco-íris !
É sol depois de uma tempestade de verão !
Mel que adoça o coração !
Pote de ouro !
Felicidade que alegra o lar e deixa a
Família em eterna união !
A magia da mulher é do bem. Da bondade.
Da solidariedade.
Ajuda as pessoas ! Aconselha !
Engrandece e fortalece a fé !
A magia da mulher é oração ! Anjo de luz !
Pedaço de diamante ! Ouro ! Prata ! Cobre !
Vegetação !
A natureza tem permanentemente a magia da mulher.
A magia da mulher preenche o caminho de amor
Com doação ! É sempre presença marcante !
Ventre que abriga a vida ! Seio que alimenta o Filho !
Eterna fonte de carinho ! Mas também de luta por um mundo melhor.
A mulher é eterna magia.
Eterna luz !
Antonio Marcos Pires
Rio de Janeiro/RJ - Brasil
Poema recebido de Paula Barrozo
78
A Importância da Mulher
Mulher Geradora da vida... guerreira, batalhadora.
Ao mesmo tempo terna, meiga, dócil, carinhosa e companheira.
Fonte de luz, incansável nos compromissos diários, muitas vezes trabalha fora e ainda cuida
da casa, dos filhos e do companheiro.
Sempre com um sorriso no rosto, uma palavra de conforto e um brilho especial no olhar.
Protegem a família, aconchegam os filhos nos braços, são mães, amantes, amigas e levam
no corpo o segredo e a magia do Universo.
A mulher está sempre presente no co*diano de todo homem mãe, avó, *a, irmã, amiga,
filha, professora ou companheira.
Enfeitam o lar com um perfume suave de rosas envolvendo de forma poderosa a mente, o
corpo e o coração do homem.
Mulher beneFcio da vida, que dá sen*do a existência, rega as plantas com amor, trabalha
com seriedade e ainda tem no coração muita bondade e uma imensa sinceridade.
Amam com a força do coração. E aquecem com o calor do sol !
Importantes na construção do mundo, fundamentais para a formação do mundo.
Mulher, eterno brilho que transforma o caminho de espinho em um oásis de paz !
Antonio Marcos Pires
Rio de Janeiro/RJ - Brasil
Poema recebido de Paula Barrozo
79
Curiosidades sobre as Rosas
A primeira rosa cresceu nos jardins asiá*cos há 5.000 anos. Na sua forma selvagem, a flor é
ainda mais an*ga. Fósseis dessas rosas datam de há 35 milhões de anos.
Os mistérios e a magia das rosas, a flor mais an*ga de que se tem noOcia inspiraram muitos
livros e inúmeras histórias; uma das mais lindas é a do poeta lírico Anacreon, que atribui o
seu nascimento a Vênus. Ele imaginou a deusa surpreendida por Júpiter enquanto se banhava. Vênus enrubesceu de tal maneira, que de sua face brotaram rosas.....
A rosa é uma flor tão especial que no sarcófago do Faraó Tutankhamon foram encontrados
vários buquês de rosas ainda intactos, depositados há mais de três mil anos pela rainha
Ankhsenamon, sua esposa.
por Paula Barrozo
www.paulabarrozo.com
80
Fragilidade.
Por Silmara Oliveira.
Se ser frágil é chorar com um filme de romance com um final
emocionante.
Se ser frágil é colocar o amor acima de qualquer sofrimento.
Se ser frágil é andar por um jardim e não deixar de colher a
flor mais bela para enfeitar os cabelos.
Se ser frágil é idealizar o príncipe encantado, mesmo que ele
não seja tão encantado assim.
Se ser frágil é ouvir uma música e perceber nela a sensibilidade do autor.
Se ser frágil é se encantar e acumular lágrimas nos olhos com
apenas uma sorriso de uma criança.
Se ser frágil é ser capaz de amar a família e cuidar pra que ela
permaneça unida.
Se ser frágil é ler um livro e chorar de emoção com meras
semelhanças da vida real.
Se ser frágil é gerar um filho e passar por cima de tudo e de todos para protegê-lo.
Se ser frágil é colocar num diário todas as emoções dos fatos
diários desde a ida ao trabalho à conquista mais sensacional.
Se ser frágil é admirar rosas mesmo sabendo que elas contém
espinhos.
Se ser frágil é demonstrar em gestos a delicadeza de um ato
de amor.
Se ser frágil é sentir medo de pequenas coisas e ser uma muralha intranspassável para grandes coisas.
Se ser frágil é amar...e amar... e amar....
Somos mulheres...
Frágeis em nossa imortalidade
E fortes diante da nossa fragilidade.
81
Soneto do Orfeu
São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar, que atua desvairado
Vem unir-se uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher
Uma mulher que é feita de música
Luar e sentimento, e que a vida
Não quer, de tão perfeita
Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento,
Tão cheia de pudor que vive nua.
Vinicius de Moraes
Poema enviado por Aparecida de Barros
82
FALANDOSOBREMULHERES
PorRitadeOliveiraMedeiros
Não sou poeta, como Martinho da Vila e Chico, mas também posso falar que tive mulheres muito
importantes na minha vida. De algumas tenho saudades que ainda desconheço, de outras, trago uma
saudade pesarosa, e outras tantas, eu admiro por sua obra e significado, por sua luta desigual e insana, por sua força e fragilidade.
Tenho saudades das minhas avós, que nunca pude conhecer. A materna, dizem, era pessoa muito
pobre e, tal como a minha mãe, deixou este mundo cedo demais. É só o que sei dela. A paterna, ao
saber da traição do marido, morreu de parto, jovem ainda. No desespero, meu avô deu a criança, um
menino, em adoção e nunca mais se soube dele.
Meu pai contava de suas lembranças, dela sentada no chão, ao lado de meu avô, aprendendo com
ele as artes da costura. Sempre que ouvia esta história, que ele não se cansava de repetir, imaginava
uma moça morena, cabelos compridos e levemente ondulados, muito meiga e carinhosa, suavemente
atenta ao que o marido lhe ensinava.
Mais tarde, bem mais tarde, vim a conviver com uma avó! A mãe de meu esposo. Ao ver o seu
desvelo com os netos (quatro meninas e um menino), seu carinho, a felicidade com que cuidava deles passei a acreditar que minhas avós deveriam ter sido assim também, pois toda avó é sempre um
pouco babona mesmo!A partir de então, passei a amá-las profundamente, a sentir-me neta, e pensar
que da mesma forma sou amada por elas, onde quer que estejam.
Parece uma sina, pois da minha mãe de barriga, pouco ou quase nada conheço. Sei que era daquelas
mães que os filhos vão dobrando, dobrando, até o ponto em que ela se encanzinava e ai era um salvese quem puder! Nas poucas fotos de família, vê-se uma garota muito bem sentada, delicada e séria.
Não se tem dela um sorriso sequer, somente uma ruga de preocupação, marcando a testa ainda tão
jovem. Dela tenho saudades estranhas. Dos carinhos que talvez tenha recebido e não recordo, das
lições que dela não recebi, sobre suas experiências de uma vida tão brevemente encerrada. Morreu
aos 40 anos, deixando-me ainda bebê.
As mulheres mais importantes foram minha madrasta e minhas 3 irmãs. Das irmãs recebi o exemplo de cantar em coral, de me enfeitar para o carnaval, do prazer da leitura, das conversas inteligentes e de dançar muito, sempre. Lembro-me que adorava vê-las sentadas na penteadeira, passando laquê, penteando-se, esperando o namorado às escondidas do meu pai. Delas, eu recebi também, o
exemplo de nunca me curvar à prepotência e à violência. De enfrentar a autoridade, da coragem de
“responder” a alguém injusto, mesmo sabendo que o resultado seria um castigo físico.
83
Minha madrasta me criou desde os 02 anos de idade. Desta mulher recebi o exemplo de força, coragem e inflexibilidade, mas nunca soube que ela havia sido dona de uma empresa, nunca contou dos seus
sonhos, desconfiava das tristezas, mas ela parecia tão forte, sempre tão brava, nunca se abria. Sempre
fiquei dividida em vê-la como minha mãe e madrasta, mas independente a isso, amava-a profundamente.
Falando sobre mulheres, digo que elas tiveram uma parte muito importante em minha formação como
ser humano. Logo, lembrei-me delas, as amigas que são uma parte tão importante na vida de uma mulher quanto a família o grande amor ou até mesmo, os filhos. Aprendi os trejeitos e os jeitos de ser mulher em casa. Mas a viver e sobreviver em sociedade, eu aprendi com as amigas com as quais convivi.
A primeira amiga da qual tenho lembrança era uma menina chamada Simone. De vez em quando alguém me levava para ver a obra da casa nova, nós passávamos em frente da sua janela e lá estava ela, a
Simone, sempre sorrindo para mim. Ela menina marcou minha infância, porque morreu queimada. Fiquei tão triste com isto, que passei a exigir que me chamassem por Simone.
Quando minha irmã Itaci casou-se, foi morar na Rua João Henrique, a Rua do Valo. Lá, conheci a Zuleida. Começamos uma parceria de brincadeiras, algumas das mais inusitadas possíveis. Falar da vida escolar ao lado dela daria um bom caldo. A Zu me impressionava pela intensidade de suas emoções, não sabia como consolar sua dores e me conformei apenas em ouvi-la, aproveitando quando estava disposta a
brincar.
Depois, aos 05 ou 06 anos conheci a Dilcinéia, a Neinha. Ela era uma criança calada, meu pai dizia que
se comovia com a tristeza dos olhos dela. Aprendemos muitas coisas, passei junto com ela muitas fases,
algumas boas, outras bem ruins. Como era bom passarmos as tardes brincando, “imaginando” brincadeiras, porque brinquedo quase não se tinha. Foi com ela que aprendia a andar de bicicleta. Com a Néia,
aprendi, mesmo sem saber, que uma amizade torna tudo o que é bom e belo, melhor ainda, e o que é triste, bem mais fácil de suportar.
Com a Regina aprendi a exercer a religiosidade que já possuía, sem a interferência dos padres, freiras,
catequistas, etc., embora sua presença estivesse subentendida entre nós, pois que nas nossas brincadeiras
de missa, o padre era simplesmente ela! E o fazia com autoridade máxima! Ela tentava brincar a sério,
mas eu simplesmente acabava com tudo de uma hora para outra, dizendo alguma palavra menos adequada e o “padre” libertava sua ira sobre minha pobre cabeça. Até hoje tenho medo que as ameaças tenham
dado resultado!
O período em que apenas brincávamos, seguiu-se ao começo da vida escolar. O meu espanto era grande,
porque, se na minha casa ninguém ligava se eu estudava ou não, na casa dela estudar era a regra. A mãe
dela emprestava os cadernos de alguma conhecida, que já estava um ano adiantada, e fazia a pobre criança estudar. Os horários dela sempre foram religiosos, ela passava a matéria a limpo, depois estudava,
e quando “eu” chegava, ela podia brincar mais do que estudar, pois comigo era assim. Eu só me aprofundava em matérias teóricas, tipo geografia, história, ciências. Coisas que estimulassem minhas viagens
espaciais, dentro do corpo humano, no passado e para o futuro, bem como, minha vocação para
“cientista”, que foi fulminada pela física e matemática, que eu nunca consegui acompanhar. O resto, era
só brincadeira, quando eu cansava das explicações e da maravilhosa boa vontade dela. Não fosse a Regina, creio que ainda estaria na oitava série.
Foi ao lado delas, Regina e Néia, que atravessei a infância, adolescência e juventude. Paralelamente a
vida escolar, nós adentramos na vida amorosa, foi o período das descobertas e o início de uma vida de
muitos encontros e desencontros amorosos. Vivemos tudo, maravilhadas, encantadas com as imensas
possibilidades que se descortinavam aos nossos olhos. Ao seu lado fiz minhas descobertas, com seus
conselhos tomei minhas decisões, enfim, partilhamos tudo, ou quase tudo, inclusive uma certa mania de
escrever poesias, que uma nova colega incentivou. Esta fase começou, lá pelos 14 anos quando nosso
querido colégio, o Ana Gondin, foi impedido de funcionar como ginásio, ou seja, 5ª a 8ª séries. Mudamo
-nos, Regina, Neia eu e todos os demais alunos, para o CEAL, na Cidade (o centro de Laguna). Começamos a conviver com outras pessoas espetaculares, como a Naime, que sempre ria das piadas depois que
todos já haviam parado, a Jacque, o reencontro com a Zuleida, enfim, um universo de novidades, que era
bem mais interessante do que as matérias da sétima série e lá fui eu de novo, me afundar na matemática.
84
A Nádia foi outra grande presença em minha vida e quando fomos estudar juntas na mesma sala, foi
uma maravilha para nós mas um desastre para nossos pais. Conheci a Nádia, quando participamos juntas como daminhas na Festa do Espírito Santo. Um corte de tecido rosa, que quase não deu para um
vestido, a sandália da minha mãe que não serviu e deixou o meu dedão de fora, um cadarço de tênis
preto e algumas chaves velhas, foram o arremedo de um colar, mas tudo era festa, porque a Nádia era a
animação em pessoa. Foi por intermédio dela que conheci “o alguém” que me daria um primeiro beijo.
De beijos a gente só ouvia e via nas novelas e eu imaginava que iria sentir-me no Sétimo Céu. Que decepção! Foi horrível o meu primeiro beijo e foi um desastre para minha autoestima aquele romance
proibido.
Ah! Esqueci de comentar que só podíamos namorar com 15 anos. Imagine se iríamos esperar tanto. Paqueramos e namoramos muito, às escondidas, nas barraquinhas, no cinema, enfim, estudar que era
bom, nada! Até que a família da dela proibiu-a de sair comigo e nossa fúria namoradeira teve um refresco afinal.
Como disse, quando conhecemos a Jacque ela já escrevia poesias. Diante do seu exemplo, foi muito
simples abandonarmos os questionários e passarmos a desenhar no papel os nossos sentimentos, dúvidas, sonhos e inúmeras decepções. De tempos em tempos eu conseguia rimar alguma coisa, mas no geral, foi só uma maravilhosa terapia e um grande sossego para os meus pais e familiares. Eis que passava minhas tardes e noites, escrevendo poesias, trancada no quarto, ouvindo músicas. Ao todo foram 14
cadernos de poesia, com nome de Memórias de uma Adolescente.
Findo o período escolar, começamos nossa vida profissional e outras amigas vieram, mas, ficou a
amizade e a recordação deste tempo maravilhoso que passei ao lado delas. Cumprido o pacto de batizar
os primeiros filhos uma da outra, Jacque hoje é, além de grande amiga, minha comadre. Graças à internet pude reatar as conversas com ela, Zuleida e Regina. Voltei, após longos e inexplicáveis anos, a conversar com minha querida amiga Neinha e Nádia, junto com sua irmã Nadine, conseguiu me tirar da
tristeza que sobreveio as perdas que havia sofrido em 2004. Sempre que vou a Laguna, revejo aquele
jardim e relembro de todas elas, inclusive das que não mencionei aqui, de sua amizade e grande importância, em cada uma das fases pelas quais passei, ou em todas ao mesmo tempo. Querendo falar tanto,
vejo que escrevi tão pouco, do tudo que estas belas mulheres representam e representaram na minha
vida. Elas mereceram e merecem, muito mais do que cem rosas.
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RABISCO
Por Igor Medeiros de Oliveira
Ela vem caminhando
Ritmando os passos sobre seus sapatos importados
Desfilando beleza por um tapete vermelho
Ausente (e desnecessário)
Lágrimas escorrem pelo seu sorriso
Que já iluminou muitos corações partidos
Cabelos sedosos que já enfeitiçaram
Todos os públicos e gostos.
Atraindo presas com seu aroma que
Mistura cinzas, lágrimas, tabaco
E um leve traço de nectarina
O gosto amargo das derrotas
Distorce, levemente, suas perfeitas feições
Finalmente o tapete vermelho acaba
E não há nada no final
Faltando cinco passos para o final, ela para.
Nisso, surge um espelho
No qual ela se mira
Botando defeitos em cada um de seus suntuosos
(E humanos) detalhes.
E foi assim que a encontrei
Cheguei silenciosamente atrás dela
Acariciei seus cabelos sedosos
Encarei seu sorriso sem que ela me encantasse.
Fiz ela olhar para trás
E ver tudo que já tinha passado
E fiz ela ver tudo que tinha pela frente
Cinco passos.
86
SEMPREMULHER
PorRejaneMattosVilella
Umdiacriança.
Filha,neta,sobrinha,prima,irmã ,amiga,vizinha.
Depoismulher.
Namorada,esposa,mã e,funcionaria,chefe,donadecasa,empresá ria,tia,cunhada,avó .
Aı́voltouasermenina...
87
MULHER MARISQUEIRA
Por Tereza Rodel
Você sabe o que é uma Mulher Marisqueira?
Eu não sabia que existia esse termo. Mulher pescadora, mulher faxineira, mulher benzedeira, mulher rezadeira, essas já vi e ouvi falar, mas a marisqueira, nunca. E tive a grata oportunidade de conhecê-la e até acompanhá-la praticando a sua profissão.
Mulher marisqueira é aquela nativa de locais à beira-mar, que pega mariscos nas pedras, algumas por simples hobby e outras para sustento de sua família. Trabalho um tanto
perigoso, pois entre a pedra e o mar, tem o marisco. E como diz um ditado “eu estou igual
a marisco, levando surra do mar e grudado na pedra para não ser levado pela onda e nem
pelas gaivotas”.
Quando chega o mês de janeiro/fevereiro, a mulher marisqueira entra em ação. Vão
juntos, filhos, sobrinhos, irmãos, cada um com seu balde de 5 litros (aqueles de tinta, que
após o uso é aproveitado para outros fins). E ali ficam, naquele horário em que a maré desce, a tardinha e o mar mais calmo, começam a pescar o marisco. Trabalho fácil quando mar
está amigo, difícil quando ele está brabo. Ondas enormes quebrando sobre a cabeça da mulher marisqueira. E o vento, então, meio frio, pois anoitece e a temperatura cai um pouco
apesar de ser no forte verão. Muitas até sem os apetrechos certo para a pescaria (tênis velho, luvas de lã, faca pontuda para arrancar o bichinho da rocha) mas elas tentam e conseguem.
Após duas ou três horas, retornam, faceiras, isso mesmo, faceiras, pois conseguiram
encher o balde umas quatro vezes, o que pode dar dois ou três quilos de marisco, ganhando assim uns trocados.
Na companhia dessa mulher marisqueira, lado a lado, descobri um excelente remédio para aqueles momentos de tristezas, decepções, inutilidades (sim, tem momentos em
que nos sentimos assim). Lava-se o corpo e a alma, no mar. Espero poder retornar mais vezes, até acho que vou aprender a cozinhar mariscos. Dizem que é afrodisíaco.
Será que Afrodite comia marisco, no mar da Grécia? Será que era por isso que os
deuses eram apaixonados por ela? Mas assim como Afrodite, bela mulher, segundo a lenda, a Mulher marisqueira cumpre seu papel de fêmea. Buscando naquela imensidão azul,
as vezes verde, onde o céu parece que toca e fica tudo uma coisa só, o sustento para sua
cria, seu companheiro e até para fazer uma mariscada para a amiga estranha no ninho mas
que – como mulher – se entendem muito bem.
Sem diferença de cultura, de cor, de religião, costumes. Escrevo esta crônica em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, fazendo assim a minha homenagem a esta mulher que mora numa casa simples, num canto do mundo, mas da qual tenho muito orgulho
de ser amiga. Parabéns Mulher Marisqueira.
Parabéns a todas as mulheres valentes.
88
Mulher
Por Maria Perpétua Freire Brasileiro
Dizem que:
Falamos demais, brigamos demais, choramos demais, amamos demais
Somos múltiplas
Quando queremos ser únicas
Dizem que somos levianas
Quando queremos ser livres
Nos querem humildes
Quando queremos ser humanas
Nos fazem perder o equilíbrio
Quando não perdemos a esperança
Somos apenas reais.
89
Clarice Villac
o que quer uma mulher
Por Clarice Villac
respeito
carinho
justiça
possibilidades para desenvolver seus melhores talentos
sentir que cada dia valeu ser vivido
objetivos que estimulem sua vontade de viver
contemplar seus esforços desabrocharem
acrescentando valor à experiência na Terra
valorizando os mais puros ideais
simples como a flor.
90
LAVEMELA
Por Cé lia Labanca
Nua
Como convé m aos puros.
Alegre
Como convé m aos anjos
Feliz
Como convé m à s fê meas.
Lucien Coutaud
91
ATOS
Por Jaci Santana
Não serei aquela que, como vós,
Sofrestes na pele, a dor da ingratidão.
Não serei escudo, nem punhal,
Dos atos profanos que rondam as ruas da cidade.
Não serei juíza, ou defensora,
Dos que matam e bradam justiça e liberdade.
Não serei cúmplice do escárnio alheio.
Nem, carregarei nos ombros o peso da desonra,
Dos que traíram por vingança.
Não mancharei minhas mãos
Com o sangue dos ímpios.
Nem, serei vítima daqueles que me apontam,
E me julgam culpada.
Tampouco, dissimularei olhares,
Para fugir do assédio do povo que me apedreja.
Seguirei com honradez,
Até os últimos dos meus dias.
Andreas-Puhl
92
E ao chegar em casa saber tua presença mesmo que
NÃO ME CONTENTO COM
POUCO
Já deitado
Só quero um abraço
Um toque dizendo tua presença
Por Alessandra Neves
Dizendo teu carinho
Dizendo tua cumplicidade
Não quero que grite o seu amor
Só quero você na minha vida
Nem que escreva em palavras grandes
Mesmo que sua presença seja distante
Não quero grandes presentes
Em metros ou quilômetros
Nem flores, nem bombons, nem poesias
Mas nunca em amor.
Não quero e-mails diários
Só quero que ao olhar nos teus olhos
Tweets, scraps ou ainda, SMS
Saibamo-nos ali dentro
Não quero sua declaração num outdoor
Dentro de nossos corações.
Ou numa página de jornal.
Não quero grandes e notáveis manifestações
Não que eu me contente com pouco,
Públicas de carinho
Mas preciso de pouco pra me fazer feliz.
Não quero um pedido lindo e emocionante
De casamento num grande restaurante
Nem uma festa enorme pra
Todo mundo ver como somos feliz
Não quero que vá me buscar todos os
Dias no trabalho,
Na faculdade ou na academia
Não quero que seja corajoso me
Acompanhando durante as compras
Na verdade, nem espero mesmo
Que se lembre do nosso
Aniversário de namoro!
Só quero que em silêncio segure minha
mão
Só quero que me diga que tudo vai dar
certo
Só quero que me diga que te faço feliz
Só quero acordar ao teu lado todos os
dias
93
Poética
Por Walnélia Corrêa Pederneiras
Intransponível janela
Céu estrelado, imaginado...
Na estante, muitos livros
Astros de mil formas...
Deito luar de meu olhar
Letras salpicadas de ideias
Constelação no coração
Acompanho estrela cadente,
Cecilia, Cora, Lia ou Adélia?
Dorme boa noite em mim
Tem perfume de jasmim
Escrevo no livro azul
Não tem inicio, nem fim
94
Feitiço
Por Ana Mariah
Quero desvestir-me de esperas
e vazios no peito
que teimam
em remexer meu passado
sem constrangimento.
Desvencilhar-me do torpe,
de palavras jogadas
à queima roupa,
de quem me lança
na fogueira.
Se sou feiticeira
é o meu destino.
Não aceito condenações
ou estigmas.
Nasci para me livrar do medo
The Dark Keeper
95
MULHERES
Por Mariuza Helena
Muitas de nó s, belas de um e de outros
Um dia felizes, tristes em outros
Levamos no coraçã o o mundo dos outros!
Há em nó s a vida e com ela abençoamos
Estes que passam, estes que chegam
Reviram nossos cantos
Espalham nossos mantos e levam
Sempre de nó s um pedaço!
96
soulofautumn87
CAMINHOSDEPEDRA,ESTRADADEFERRO,ESTAÇÃOPARADA.
Por Sandra Helena Queiró z Silva
Muitos caminhos percorridos, outros corridos, tropeçando em pedras (diLiculdades)
E os driblava feito jogador.
Aprendi que deveria deixar por lá as pedras e passar pelo o lado nã o olhando para trá s,
Seguindo novamente o caminho por seguir.
Passei por uma estrada de ferro. Com seu trem a todo vapor, o maquinista em nove meses em
intervalos de trê s em trê s meses, passou tã o rá pido e levou trê s passageiros (irmã , avó , e
mã e),
Nã o escutei o apito, veio em surdina e nã o tive tempo de dar um adeus, já tinham partido.
A estaçã o parou, com as partidas, lá permanecı́amos nos trilhos trincados, coraçõ es partidos
com partidas tã o inesperadas e momentâ neas.
O maquinista esperou mais um tempinho, desta vez apitou fraco, mas eu escutei e depois de
oito meses, lá chegava o trem com seu maquinista para buscar mais um passageiro, meu pai.
Minha estaçã o alé m de parar por algum tempo, perdeu o referencial de tudo.
Mesmo assim, continuamos a seguir, permanecendo duas.
A estrada de ferro, por enquanto está desativada (até quando nã o consigo prever).
A estaçã o parada construiu um modelo de vida, que muitas vezes sem querer reLlete no que
escrevo. Porque, os Lios da carne, a força interior que tenho e como encaro a vida é tã o pequeno ao comparar com os caminhos de pedra, a estrada de ferro e a estaçã o parada.
97
AMARCOMOAPRIMEIRAVEZ
Por Amarilis Pazini
Quero a minha alegria de volta
Correr solta pelos campos
Esperar a lua nascer
E o dia amanhecer.
Ler as palavras suaves de amor
Deixadas no pedaço de papel
Largado no canto especial
Onde só eu sei encontrar.
Quero o olhar doce
ReLletindo o brilho
Da paixã o desperta
Do toque de mã os suaves.
Quero olhar as estrelas
E chorar de emoçã o
Esperando o momento
Ao som de uma apaixonante cançã o.
Quero viver de novo
A emoçã o de amar
Tremer o corpo todo
Na â nsia do encontro.
Eu quero amar
Como a primeira vez
Na descoberta inocente
Que ele dure eternamente.
98
Coração de mãe
Por Débora Villela Petrin
(A você minha mãe guerreira)
No manto debruado por linhas espessas,
Costurando sonhos e pesadelos
Nem o balanço de ondas revoltas,
Desprezam os retalhos
Que ainda,
Bordados na colcha larga e solta,
Possuem pregas grudadas em suas pontas
O pó esmaecido se desfaz do matelassê amarelado,
Sobrevivendo a cor da vida
Nos cantos estreitos a busca da solução,
Retrata a alma
Ensolarada,
Disposta a navegar em aventuras,
Solitárias ou não
Sem se preocupar,
Com o número de pessoas juntas na "nave",
As portas abertas mostram a sua forma
Exclusiva de ser,
Com atitudes sinceras, despojadas e cobertas
Pela maciez do sorriso espontâneo
Mora a mãe guerreira,
Esbravejando a sua língua pátria
De amor total.
99
Basta-me!
Por Gló ria Salles
Um jeito peculiar de me olhar do fı́sico alé m
Conjuga as ausê ncias em versos de esperança
ALirma que as promessas um dia feitas vê m
E o saldo, das duras batalhas, será bonança
Nã o acumula de mim, uma imagem distorcida
Sabe os redemoinhos que brutalmente me sopram
Tem o inicio do Lio, das amarras da minha vida
Sabe minhas rendiçõ es, e onde meus sonhos pousam
Conhece minha fome, faz de sua boca alimento
Como caravela em mar aberto meu corpo navega
Embala meu sono, no doce balanço do vento
Sua rota de navegaçã o faz provocar minha entrega
Cobre minha nudez, com sua poesia, rica e vasta
Enlaça-me, protege, cuida e ama, e isto me basta
Danny Hahlbohm
100
VemParaMim
Por Alma Lusitana
Vem, fazer comigo
Tudo que queres fazer,
Vem e traz contigo
Todo esse teu querer.
Vem, trazer o alento
Que preciso para viver,
Vem, nas asas do vento
Desnudar todo o meu ser.
Vem, por ti espero
Anseio contigo estar,
Em teus braços quero
Para sempre me embalar.
Vem, fazer amor
Ver, o sol nascer
Apaziguar a dor
Que sinto,
Por nã o te ter.
Vem dar-me esperança
Poder concretizar,
Sonhos que na infâ ncia
Me Lizeram acreditar,
Vir um dia, algué m amar.
Agora vem,
Sê o meu abrigo,
O meu bem,
O meu... paraı́so.
Óleo de Thomas Baker
101
FALAR
Por Luiz Eduardo Gunther
Havia a possibilidade
plena
de falar,
sem buscar
a palavra exata.
Mas só
no silê ncio
de um olhar,
podia
a palavra toda
brotar.
Stephen K Willi
102
Acordando os sonhos
Por Patrícia Lara
A rede de metáforas
onde me deitei, estreita,
não coube todas as imagens
que projetei.
O chumbo da lógica pesou
na imaginação de leves fios
e foi necessário renunciar.
Corajosa, me pus na abstração
dos sonhos e acordei
para nunca mais sonhar.
103
LIÇÃO TARDIA
Por Roselis Batistar
Que diabo de saudade é essa
Que me toma a promessa de liberdade
Que pede compressa a qualquer idade,
Como se a Flor do Lácio não me bastasse?
Que diabo de flecha é essa
Que simulou um cataclisma,
Que penetrou na cima da vontade
Que destronou a vaidade
Da deusa incólume da balança?
Que feroz seta se me cravou na testa
Insinuando um cheiro
De perfume sentimental?
Qual foi a Flor do Mal
De enxame rabugento
Que transformou em fermento
A causa mesma da alucinação?
Passa o tempo e não aprendes
Que o racional elixir insipido
Só funciona com robô metálico
E não com o cálido coração teu!
104
Ela
Por Vicência Jaguaribe
Ela apareceu de repente.
Eu não a esperava.
Tenho perdido o hábito
de olhar o calendário.
Apareceu esplêndida
Num céu sem nuvens.
Ela, só.
Quis alcançá-la enquanto dirigia.
Mas ela, indiferente, escondeu-se
Por trás de uma árvore.
Acelerei.
Mas um prédio
Substituiu a árvore.
E outro prédio mais apareceu.
E a sucessão de prédios
Foi mais rápida do que eu.
Quando, finalmente,
Ficamos frente a frente
E eu pude encará-la,
Tive que dobrar à esquerda.
Constrange-me dizê-lo:
- Perdi-a numa curva do caminho.
105
SIMPLESMENTE MULHER
Por Isabel C. S. Vargas
Desejo falar sobre a mulher, inspirada numa cena do cotidiano. Vi uma feirante, em cima de um caminhão, esforçando-se para soltar a lona de sua barraca, em
final de feira, sábado à tarde. Era de idade madura, traços orientais e delicados. Ao
vê-la logo me ocorreu como deveria ser extensa sua jornada. Acordar de madrugada,
adquirir os produtos no atacado, carregar, armar a barraca no local habitual, atender a clientela, certamente de forma atenciosa. Após o encerramento todo o trabalho
de novo até chegar a casa e descansar. Sem medo de errar, umas 10 horas consecutivas de trabalho.
Desde o massacre de Nova Iorque em 08 de março de 1857 data que depois foi
convencionada de se comemorar o Dia Internacional da Mulher até a presente data
muita mudanças e conquistas ocorreram.
É incontestável a presença marcante das mulheres em todos os segmentos
produtivos da sociedade quer como profissionais liberais ou como colaboradoras nas
mais diversas atividades, não só naquelas tidas como específicas pata mulheres,
pois estas já desbravaram caminhos, abriram oportunidades para todas as que as
seguiram.
A família e a sociedade mudaram com o trabalho da mulher, com sua ascensão profissional, o que inclui na bagagem uma dupla jornada e muitas vezes uma
boa dose de culpa por sair de casa e deixar os filhos entregue a familiares ou a terceiros.
Ao escrever, desta vez desejo fazê-lo para aquelas que ainda não conseguiram
se libertar de uma carga culturalmente muito pesada, que as massacra e mantém,
via de regra, na mesma situação daquelas que as geraram, sem ter havido modificação na escala social, pelo que ainda hoje não veem diante de si perspectivas de mudança.
Penso naquelas que ainda permanecem analfabetas e que por isto mesmo passam
ao largo da inclusão social, nas sem trabalho, naquelas que, mesmo tendo escolaridade que lhes permitiriam prover seu sustento, não o fazem, por falta de oportunidades nesta sociedade extremamente competitiva e excludente; naquelas que permanecem sob o jugo de pais ou maridos que não permitem que elas trabalhem por
preconceito, ignorância, discriminação ou simples insegurança.
106
Aplaudo nesta data, aquelas que trabalhando em atividades consideradas subalternas, sem maior grau de escolaridade também conseguem desempenhar múltiplos papéis, manter suas respectivas famílias, formar filhos em universidades,
sem terem as compensações que aquelas de postos mais altos têm, como oportunidades de lazer variadas, viagens de férias em praias, atividades culturais, pois os
parcos recursos que dispõem são para o sustento de filhos, pais idosos, marido enfermo além de outros familiares não enfermos, mas excluídos do segmento produtivo.
Este texto é para a senhora da feira, para a do cafezinho, da faxina, para a
cozinheira, para a que trabalha de gari, para a dona de casa e outras tantas, como
a comerciaria, a manicure, a florista, a ambulante, tão mulheres quanto às demais
e que levam uma vida aparentemente sem glamour, levantando às seis horas da
manhã fazendo um trabalho sempre igual.
A sociedade é uma engrenagem (que pode ser cruel) que necessita de todas as
peças para funcionar, portanto, todas investidas de valor.
Não seria justo esquecer daquelas que mesmo sob a vigência da Lei Maria da
Penha continuam a ser agredidas.
É importante que o círculo de exclusão seja rompido e que aquelas inseridas
naquele segmento da sociedade sem oportunidades, quer pelo fator econômico, social, cultural por questões relativas à etnia ao gênero, ao credo ou diversidade sexual consigam acesso a melhores condições não só de sobrevivência, mas de vida
digna que possam romper os paradigmas determinantes desta condição, de modo
que seus filhos não repitam este estigma e sejam portadores de novas esperanças e
de um novo futuro.
107
Guerrilheira
Por Victor Manoel G. Villena
Guerrilheira de meus ardentes desejos,
do silêncio e do tempo...
Tua luta é minha paixão
Tua arte carinhosa cheia de ardores
é meu refúgio no tempo dos meus sonhos e apetites...
Guerrilheira da beleza,
Guerrilheira do fogo e da paixão,
com teus cantos vitoriosos,
a guerra você declara com amor,
que espera impassível
nas trincheiras do fogo,
para combater no campo de batalha
a insurgência do desamor,
e com sons de fanfarra de ardentes desejos,
você marcha ao campo de batalha
conquistando territórios de prazer
108
Enfeites de lábios poentes
Por Carlos Damião
Esboço de um pássaro
no ninho
ou um cogumelo
desabrochando fértil
no regaço do jardim.
Sentinela gulosa
quase geográfica
mas de sabor florido
e orvalhado
– morada provisória de
lua-estrela:
quarto-crescente.
Divertimento melódico
em frescor de semente e
silêncio de sangue
viajante da ventania
no desenho radioso da aurora.
Cenário de migrações e sombras
enfeites de lábios poentes
que soletram suspiros no ritual
insolente de tuas
bocas-línguas aladas.
Anahi Decanio
109
Rosas vermelhas
Por Valéria Nogueira Eik
A rosa vermelha e o sorriso cativante foram entregues ao final do dia.
Amélia, olhos baixos, fez um muxoxo de menina e tentou alongar a mágoa.
Encarou o riso inocente e esqueceu as palavras rudes da noite anterior.
A rosa era tão linda!
Duas rosas vermelhas foram entregues no início da noite por um sorriso suplicante.
Amélia exibia um pequeno corte na boca. Derramou soluços incontidos e mais
algumas lágrimas.
Olhou as rosas. Sorriu tristemente. Desculpou a ressaca matinal.
Três rosas vermelhas foram entregues, quando duas ou três estrelas salpicavam
o pedaço de céu que se condensava diante da janela.
Amélia, deitada na cama, invadida por todas as dores, relutava em perdoar.
O sorriso dele, quase paternal, delineava motivos e a absolvição das culpas.
Quatro rosas vermelhas foram entregues quando a madrugada cobria a cidade.
Amélia, amontoada no chão, ainda recolhia os cacos do próprio corpo.
O riso infantil implorava por perdão e afagos.
Cinco rosas vermelhas foram entregues, quatro ou cinco dias depois, por um par
de olhos desesperados.
Amélia, de malas prontas, queria ir, queria ficar.
As marcas arroxeadas e a pele costurada começavam a ganhar tons suaves.
E suaves ficaram as dúvidas.
Seis rosas vermelhas foram entregues por um sorriso impessoal.
Amélia, agasalhada por outras tantas flores e pelo brilho das velas, não pôde ver
nem perdoar.
110
Iansã
Por Marília Floôr Kosby
Sobre um mar que mais parece à noite uma lâmina
Num pequeno barco sem vela
Carrega com ela a morte
Pois Iansã
Que é vento
Nunca está
Nem aqui
Nem lá
E assim fica
Cada um no seu lugar
111
PARINDO
Por Lariel Frota
Vai menino que a vida te espera
Sonha, acredita, luta, prossegue
Não desanime diante de nada
Vai, quem tem fibra consegue
Vai, pois com a mesma força que te pari um dia
Hoje estou te jogando ao futuro
Corre, se cair levanta, se chorar não importa
Tens em mim a força do amor seguro!!!!!!
112
Ser Afetivo
Por Ju Virginiana
Ser afetivo é querer bem
Mas antes de tudo, desejar o bem
É disciplina exigir
Mas, sobretudo, apontar o porvir
É, sim, limites impor
Mas, principalmente, mostrar caminhos
É entender e respeitar
Saber ouvir, o diferente não negar
Jamais confrontar
Dar sem muito esperar
É Aprender e... Ensinar
É ajuda oferecer
E nunca ninguém desmerecer
É no outro se perceber
É não desistir
E continuar a sorrir
É amar o semelhante
É, acima de tudo, ser GENTE!
113
CORAÇÃO DE MÃE NÃO SE ENGANA!
Por Marcelo de Oliveira Souza
Quando sentimos algo, ou pressentimos alguma coisa que irá acontecer,
sempre antevemos uma catástrofe pessoal ou de maior porte.
Ao amadurecermos, encontramos muitos percalços na vida, mas muitos
problemas, nós saímos justamente por causa desses pressentimentos. Algo que nos fala nos intui para mudarmos de caminho, de vida, de opinião...
Neste sentido, as mães, sempre um passo à frente, elas pressentem, intuem...
Sempre quando algo poderá acontecer, elas têm uma opinião, um conselho previdente.
As mães sempre são rodeadas por espíritos de luz ou anjos-da-guarda,
que através delas sempre nos livra de problemas maiores.
Quem já não teve essa experiência, de desobedecer a nossa genitora ou de
tentar enganar, logo depois o problema vir dobrado?
Por isso, sempre escute: "Coração de Mãe não se engana" ela sempre sabe
o melhor para nós. Quando a enganamos, podem surgir muitos problemas futuros.
Laurie Justus
114
No princípio...
Por Camila Mossi de Quadros
Deus criou o homem e vendo que este era a sua imagem e semelhança, deu-lhe o jardim e a
mulher. Disse-lhe: "vá e nomeie!". O homem olhou a sua própria mão, abriu, virou, tocou seu rosto.
Fechou o punho e bateu no peito: "A-DÃO!"; O Pai fitava-o num misto de orgulho e expectativa.
Adão, olhando o jardim extasiado, abriu os braços e berrou: "É-DEN!", Deus sorriu enternecido. A mulher estava olhando inexpressivamente; o homem, então, aproximou-se, tocou seu seio e deixou escapar um "Hmmmmm!". O Criador, intrigado: "Hmmmm?". Adão triunfante, orgulhosíssimo do
próprio trabalho, imediatamente explicou: "Não, não! É-VA!". O Todo-Poderoso com uma expressão
desconfiada.
"Gato! Sapo! Mato! Coco! Rato! Vaca!" – disparou o homem, correndo, apontando e nomeando; enquanto Eva olhava ao longe, catatônica e Deus dividia-se entre descabelar-se e cogitar se o homem seria hiperativo ou se a mulher estaria quebrada. "Rio, gruta, pedra, mula, fruta!" – gritava Adão
alucinadamente, quando Eva falou baixinho "horizonte". Deus, em meio a gritaria, aproximou-se e perguntou: "O que foi que você disse, minha filha?". "Horizonte" – respondeu ela. Andou um pouco, pegou algo no chão, examinou e disse "diamante"; as feições divinas alternavam-se entre orgásticas e
chocadíssimas.
Convencido de seu papel no mundo continuava Adão freneticamente: "Vale, chão, ovo, sol,
lama, lua, flor!", enquanto Eva, quase que musicalmente, dizia: "Pássaro, abacaxi, caverna, estrela,
montanha, formiga, centopeia...".
Deus, num misto de orgulho e desespero,
pensava em quanto amava a mulher e em como precisava deter o homem antes que toda a criação fosse
nomeada com menos de três sílabas.
Deus, em toda a sua sabedoria, chamou então
a mulher, que apareceu logo após apontar para um
bichinho, sorrir e dizer: "Você tem cara de ornitorrinco.". Ornitorrinco foi golpe baixo, Deus ficou arrepiado e teve que tomar uma atitude. Estalou os
dedos e subitamente os seios de Eva triplicaram de
tamanho. Chamou Adão: "Meu filho, eu estava dando uns retoques na mulher e quero saber a sua opinião sobre esses novos seios que dei a ela.".
115
Adam-and-Eve-in-the-crea*on-MuseumMonica--Lam-2007
Adão olhou de relance, sem qualquer entusiasmo e respondeu: "Tanto faz, não tenho tempo a
perder com esses detalhes, ainda há muito o que se nomear e alguém aqui precisa trabalhar!".
Então Deus colheu um pouco de cevada e, misturando com água, soprou e disse: "Tome filho,
experimente a cerveja que fiz para você."; Adão mal havia engolido, soltou: "Adorei esse rum!". Deus,
desacreditando no que ouvia, falou: "Chama-se cerveja", no que prontamente o homem retrucou:
"Quem nomeia aqui sou eu, isto é rum!".
Deus, perplexo e chateado por desobediência tão prematura, disse à mulher que não sabia mais o que
fazer. Eva sorriu e cochichou alguma coisa no ouvido do Pai, que animou-lhe imediatamente. Distrair o
homem dando-lhe uma mangueira dentro das calças era uma idéia genial! Orgulhava-se da mulher que
fizera.
Chamou Adão e falou: "Estou tão orgulho do trabalho que fizeste que irei recompensá-lo!", e
estalando os dedos fez aparecer um pipi em Adão, que calou-se e foi brincar, ora acertando alvos ou
escrevendo com xixi, ora exibindo-se para Eva que ignorava-o completamente, enquanto falava com
maestria: "Gafanhoto, maritaca, crepúsculo, libélula...". Diz-se que, até nossos dias, os descendentes de
Adão estão por aí, entretidos com o pipi ao invés de falar. Essa deficiência masculina com a comunicação é uma das grandes crises no relacionamento entre os sexos.
Os homens são assim, monossilábicos, apegados ao significado básico das palavras e principalmente às palavras básicas. Não espere que ele lhe diga que você está extraordinária, borboletante, radiante, fascinante, fantástica, maravilhosa. Para ele tudo isto está incumbido em bonita. No máximo, em
linda. Se ele disser bela, apegue-se, ele provavelmente tem 20 pontos de QI acima da média masculina.
Se disser poderosa, desconfie, talvez vocês possam ser amigas. Se ele não disser nada, conforme-se,
você sempre vai saber quando ele gostou, e ele está na mesma da maioria dos homens do planeta, do
Brad Pitty, do Antonio Banderas, do Tom Cruise, do Vin Diesel. O último homem que educaram pra se
expressar, acabou no movimento “Cala a boca Galvão”. A escolha é sua.
116
117
CEMROSASPARAASMULHERES
Por Zuleide de Jesus Coral
Este ano, no dia internacional da mulher, eu quero homenagear as grandes heroı́nas que
já estã o em outro plano espiritual.
Mulheres que dispensam comentá rios, mais que deixaram um legado de honra, luta e dedicaçã o ao pró ximo. Eu estou falando de Madre Tereza de Calcutá , Irmã Dulce, Zilda Arnnes e muitas outras que viveram no anonimato, e partiram sem serem reconhecidas.
Leila Diniz que enfrentou o machismo e o preconceito com uma coragem de leoa.
Merecem rosas aquelas mulheres nordestinas, de rosto enrugado pelo sol escaldante que
assumem o lugar dos maridos quando estes partem para grandes Metró poles em busca
de sustento, deixando-as com seis, sete Lilhos, para cuidar sozinhas.
Para todas as enfermeiras, que lidam com a maté ria doente do ser humano, muitas vezes
nas condiçõ es precá rias dos hospitais.
També m para todas as mulheres Africanas e Indianas, que veem seus Lilhos catando lixo
para comerem. Para todas as escravas das burcas, dos patrõ es, dos maridos.
E fá cil dizer que a mulher é paciLicadora, generosa, amorosa, meiga, compreensiva,
destemida, e valente.
Difı́cil e dizer que a mulher ainda é torturada, humilhada, explorada, e estuprada.
Precisamos ainda gritar muito, para que as pró ximas datas do dia internacional da mulher seja comemoradas plenas de liberdade, igualdade e respeito para com este ser
Mulherquegeravida.
Hans Baldung-Grien
118
Grupo de trovadores
Minha cama já não tem
certo amor de uma mulher;
mesmo assim, feliz, vou bem,
conquistando onde puder...
Fábio Siqueira do Amaral
Livre da preocupação
com mulher, com filhos meus,
por destino a solidão,
de presente, deu-me Deus.
Preso às rédeas da emoção,
quando o amor na vida explode
sem qualquer explicação,
quem “mulher” definir pode?
A mulher – pura beleza –,
de tez alva, igual à lua,
no universo é a riqueza
da minha alma que flutua.
Negra pele encantadora
da mulher, cuja candura,
traz no olhar, de sedutora,
a promessa que perdura.
Venha urgente ao ocidente
ofertar mais alegria,
formosura do oriente:
mulher doce, calma, esguia.
Nas florestas andas nua,
mulher índia em prosa e verso,
liberdade igual a tua
tem o peixe, quando imerso...
Se ela veio “de colher”,
só pode ser abelhuda:
Deus nos livre da mulher
fofoqueira e linguaruda!
Da mulher, o encanto eu canto:
ser mamãe – divino ser –,
ouvi-la em santo acalanto,
serafins hão de querer.
119
Helena Walderez Scanferla
A mulher com filho ao colo
guarda-o a unhas e dentes.
Ele será seu consolo
entre crianças inocentes.
Henriette Effenberger
À mulher foi concedido
o dom da maternidade,
e no filho concebido,
recria a humanidade.
Ser mulher, não é destino,
nem ao menos vocação.
Ser mulher - Ser feminino:
ser parte da criação.
120
Ignez Freitas
A mulher ao ser criada
de uma costela de Adão
foi para ser bem amada
com carinho e devoção.
Mulher de dupla jornada
trabalha sem descansar;
às vezes nem é amada
mas sofre sem reclamar.
Joarez de Oliveira Preto
Ser mulher é ser carinho...
Sem amor, não há mulher
e se ela chora um pouquinho,
ganha tudo que quiser.
Tantas coisas pra falar
daquela mulher e santa,
que cantou pra me ninar
com a doce voz que acalanta.
Mulher empreendedora,
mulher que não desanima,
é mulher batalhadora.
Bem merece nossa estima!
121
José Solha
Ter um verdadeiro amor,
é isso que o homem quer;
e viver aprisionado
na magia da mulher.
Sem elas nós não vivemos,
com elas vivo em tormento.
São elas o que queremos,
sem elas eu não aguento...
Diz-se que em uma mulher
não se bate nem com flor.
Mate-a porém, se puder,
com muitos beijos de amor....
Leda Montanari
Flying by Jojobatanesi
Para a mulher, só um dia?
Àquela que traz no ventre,
sempre com tanta alegria,
dando ao futuro, a semente?
A mulher, a liberdade,
guiando carro, alcançou.
Isso é a mais pura verdade
e a vida recomeçou.
122
Oh, mulher, vê teu valor,
Lóla Prata
perceba que tu não podes
com a desculpa de temor,
agir como o rei Herodes.
Jesus chamava Maria
simplesmente de Mulher
e o amor que nisso havia
Insensatez de mulher
é tudo o que a gente quer!
é quando vai a rezar,
vestindo o que bem quiser
sem saber se comportar.
A mulher não quer ser gorda,
deixar de ser atraente.
Siga o conselho: não morda
Talvez venha em hora errada
calórico ingrediente!
o anúncio de gravidez,
Therezinha, doce amiga,
mas mulher encorajada
escritora, mãe, mulher,
a encara com honradez.
que a sua vida prossiga
nos rumos que Deus quiser!
Sem ter carisma materno,
Ó mulher, te armam trapaça,
ela, assustada, abortou
te corrompem como traça;
o seu hóspede interno,
que nem pedra na vidraça,
o filho a quem desprezou.
despedaçam tua graça.
Mulher sabe modelar
as atitudes de alguém;
constante, mas devagar,
conduz ao Mal e ao Bem.
Diz um filósofo esperto:
fortuna e mulher desgraçam,
tornam o destino, incerto,
daqueles com os quais se enlaçam.
123
Lyrss Cabral Buoso
Entre os sexos, igualdade
não existe, pensem bem.
O dom da maternidade
somente as mulheres têm.
Marina Valente
Ser mãe é ofício divino
do qual a mulher dá conta,
A mulher traduz ternura,
seja qual for o destino
doação, vida e amor;
com que o filho se defronta.
colabora com doçura
com a obra do Criador.
O Homem rende-se ao encanto
e à beleza da Mulher;
diz que é forte, mas no entanto,
sempre faz o que ela quer...
O poeta quando quer
compor poema ou canção,
pensa logo na Mulher
e já vem a inspiração.
Deve a Mulher se espelhar
na que foi Mãe de Jesus:
mais que rainha do lar,
anjo de amor, paz e luz!
Josefa Prieto conquista,
com sua garra e destreza,
para Bragança Paulista,
“prata” no tênis de mesa!
124
Myrthes Neusali Spina de Moraes
Fácil é a mulher dizer,
se ela está apaixonada,
mas depois vem a sofrer
quando se sente enganada!
A mulher apaixonada,
quando recebe uma flor,
Miguel Garcia Alves
fica logo deslumbrada,
achando que é amor.
Se o homem quer conquistar
Para quê grandes decotes?
a mulher, entrega flor,
Queres que os homens te vejam?
pois além de cativar,
Mulher, deixa de fricotes,
vai conseguir seu amor.
assim, os bons te cortejam.
A menina graciosa
ficará linda mulher
e chegará a ser famosa,
se algum talento tiver.
Olhos verdes cor do mar...
- Que mulher tão sedutora!
Traz consigo no olhar,
o quanto é encantadora.
Virgem Santa e poderosa,
mãe de DEUS o Salvador,
és a mulher mais bondosa
que só nos transmite amor!
125
Norberto de Moraes Alves
Quando Deus criou Adão
usou argila qualquer,
mas a grande inspiração
teve ao moldar a mulher.
A mulher é um ser sublime,
a fonte de inspiração,
sopro de luz que exprime
o auge da criação.
A solteirona faz drama
maldizendo o malmequer.
- O homem que a gente ama,
sempre ama outra mulher.
A solteirona sisuda
debruçada na janela
diz, vendo o velho e a boazuda:
- Que será que ele viu nela?
126
Volpone de Souza
Quando Deus fez a mulher,
de “presente” ao homem deu.
Acredite quem quiser:
o homem não mereceu!
A mais bela Criação,
obra prima sem igual.
Símbolo da Perfeição.
Uma Paixão Nacional!
Por sentir-se solitário,
pediu em meditação:
- “Tire-me desse Calvário!”
Atendido foi Adão.
É a mulher, coisa mais bela,
presente da Criação.
Criada de uma costela...
da costela de Adão!
Sem dúvida a mulher é
tudo que o homem pediu.
Pediu com tamanha fé
que de cansaço dormiu!
Qualquer que seja seu nome,
um nome, nome qualquer.
Um desejo instiga a fome
de um instinto de mulher!
O homem não abre mão
de três coisas no Brasil:
assistir a seleção,
carnaval e mulheril!
Tem a sensibilidade
e o instinto maternal.
Conserva em segredo a idade,
tem a alma jovial.
127
Wadad Naief Kattar
Quando a mulher fala e grita
tentando assim convencer,
é uma falha, ela acredita.
Basta chorar pra vencer.
Englobando a criação
do que Deus aqui deixou,
é a mulher confirmação
de quanto ele caprichou.
A mulher, ninguém entende,
porque é sempre misteriosa.
é a imagem que ela vende,
sabendo que é enganosa.
Se encontrar uma mulher
mostrando-se toda prosa,
vá como quem nada quer
e teste se é “caridosa”.
128
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COLABORARAM!
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DA MULHER!
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