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ELETRORETINOGRAFIA
A eletroretinografia (ERG) é a avaliação gravação da atividade eletrofisiológica na retina em
resposta a estimulação da luz e dentre as indicações para a realização deste exame nos animais,
podemos citar:
1. Avaliação pré-operatória da função retineana antes da cirurgia de catarata. Infelizmente,
muitos cães com catarata podem possuir ser portadores de degeneração progressiva da retina
(atrofia). Nos casos aonde temos uma lente muito opaca tornando a fundoscopia inviável, o
exame de ERG é muito importante para avaliarmos o potencial de visão deste paciente. Devese salientar que mesmo nos casos aonde temos uma retina doente, a cirurgia de
facoemulsificação está indicada com o intuito de preservação do globo ocular e para prevenirse o desconforto e dor causado por oftalmopatias graves induzidas pela catarata, como a uveíte
e o glaucoma. É importante notar que mesmo na presença da catarata (ou de uma opacidade na
córnea), a luz atinge a retina para causar uma resposta e permitir sua avaliação através da ERG.
Esta também é a razão pela qual o reflexo pupilar fotomotor pode ser incitado em pacientes
com catarata. Se o fundo do olho contra-lateral puder ser avaliado oftalmoscopicamente, um
teste do ERG para detecção de atrofias de retina hereditárias é desnecessário, pois tal
oftalmopatia é bilateral.
2. Diagnóstico das doenças retineanas em que nenhuma anormalidade oftalmoscópica é
evidente. Estas incluem estágios iniciais de degeneração retineana progressiva, como
hemeralopia (diminuição ou perda da visão diurna) em Malamutes do Alasca e da degeneração
retineana súbita adquirida (SARD). Em todas estas doenças existem anormalidades na ERG,
mesmo que o fundo do olho pareça normal na fundoscopia.
3. Diferencial entre causas retineanas e pós retineanas de cegueira. Por exemplo, os casos de
SARD e de neurite ótica podem similarmente apresentar-se com perda aguda da visão, uma
aparência da retineana normal e com midríase fixa. Um ERG pode ser usado para o diferencial,
pois nos casos de SARD (que é uma doença retineana) teremos um traçado anormal, enquanto
que na afecção do nervo ótico o exame será normal por tratar-se de uma doença pós-retineana.
4. Diagnóstico precoce de atrofias hereditárias de fotoreceptores. Em algumas raças do cão, a
ERG pode detectar alterações retineanas bem antes que os sinais oftalmoscópicos ou alterações
de comportamento sejam observados. Por exemplo, no Poodle Standard, no Cão d'água
Português e no cocker Spaniel americano e inglês, as alterações no ERG podem ser notadas
anos antes do aparecimento de sinais clínicos. Este diagnostico precoce é de suma importância
para criadores que desejam pesquisar a presença de doenças retineanas hereditárias em suas
matrizes.
A realização do exame de ERG
Embora a ERG seja um procedimento não invasivo, os pacientes devem ser anestesiados para
reduzir interferências elétricas e artefatos de movimento. A luz para estimulação é colocada
perto do olho, e as respostas aos flashes de luz são gravadas usando 3 eletrodos. O eletrodo
ativo (da gravação) é acoplado geralmente a uma lente de contato colocada na córnea. Dois
outros eletrodos são colocados na pele para reduzir a interferência elétrica.
Baseado na indicação clínica para a ERG, dois protocolos de gravação são utilizados nos
animais. O primeiro é o rápido, protocolo “sim-não”, usado para demonstrar a função
retineana. Este é realizado para descartar-se a presença de SARD ou no pré-operatório da
facoemulsificação para cirurgia de catarata. Este é um teste breve, que grava a resposta a 2 ou
3 flashes de luz. Para a detecção precoce ou para a avaliação de doenças hereditárias dos
fotorreceptores, um protocolo mais exaustivo é necessário. Este protocolo envolve um teste
amplo dos cones e bastonetes, baseado em suas características fisiológicas diferentes. Algumas
das propriedades do fotorreceptor que são avaliadas ao longo deste teste detalhado incluem:
• Resposta à luz fraca (visão escotópica), que é uma característica da função dos bastonetes e
a resposta aos flashes de luz forte (visão fotópica), que indica a função dos cones.
• Estimulação da cor: os cones são mais responsivos à luz vermelha, enquanto os bastonetes
são mais responsivos a estimulação da luz verde ou azul.
• Adaptação: Uma vez que as luzes da sala de exame são desligadas, um processo de
adaptação ao escuro começa. Com tempo, a sensibilidade dos bastonetes aumenta e isto é
expresso pelo aumento da amplitude do sinal gravado em resposta à luz fraca. Ao contrário,
quando ascendemos as luzes da sala ocorre uma adaptação ao claro, assim os bastonetes
saturam e não respondem a luz.
• Resposta à cintilação luminosa: a detecção de flashes claros depende da freqüência em que
o estimulo cintila. Bastonetes podem detectar a luz piscar em uma freqüência < 10 Hz,
enquanto os cones detectam 30 – 70 Hz (dependendo da espécie). Além destes limites, os
fotorreceptores não podem detectar os flashes individuais e suas respostas fundem-se (isto
explica porque nós vemos uma imagem contínua na nossa televisão, mesmo que esta imagem
seja em flashes).
Estes testes mais apurados da função retineana são usados para a detecção de várias afecções
dos fotorreceptores nas diferentes raças, incluindo a degeneração de cones em Malamutes do
Alasca, a degeneração progressiva de cones e bastonetes em Poodles e Cockers, a degeneração
de cones e bastonetes tipo I no Setter Irlandês, a tipo II em Collies, etc.
Os sinais gravados da ERG são analisados avaliando a amplitude e a latência (sincronismo) de
dois componentes principais: a onda “A” é a primeira deflexão negativa do sinal, e é indicativa
da resposta do fotorreceptor. É seguida por um pico grande, positivo, a onda “B”, que é gerada
na camada intermediária da retina (bipolar e células de Müller).
Foto 1: Aparelho de ERG (BPM 200) da VETWEB OFTALMOLOGIA
VETERINÁRIA. Arquivo pessoal Dr. João Alfredo Kleiner MV, MSc.
Foto 2: Eletroretinografia sendo realizada em um cão
Poodle Toy antes da cirurgia de Catarata com
Facoemulsificação seguida do implante de Lente
Intraocular Dobrável. Arquivo pessoal Dr. João
Alfredo Kleiner MV, MSc.
Foto 3: Exame normal de ERG. Notar ondas “A” e “B”
bem proeminentes. Dr. JAK.
Foto 4: Exame de ERG negativo em um olho
traumatizado apresentando hifema severo. Notar
ausência de ondas “A” e “B”. Dr. JAK.
É importante lembrar que a ERG tem diversas limitações. Primeiro e mais importante é que a
ERG é um teste da função retineana e não da visão. Consequentemente pode ser normal em
alguns casos de cegueira. Por exemplo, a ERG é normal nos casos de cataratas maduras,
mesmo que o paciente seja funcionalmente cego. É também normal nos casos de cegueira pósretineana, como nos casos de neurite ótica ou cegueira cortical (amauroses). Tais casos são
melhor avaliados gravando-se o potencial evocado visual (PEV), que representa a resposta
cortical aos flashes de luz; estes são gravados colocando os eletrodos ativos na cabeça e sobre
o córtex visual. Uma outra limitação da ERG é o fato que representa uma resposta retineana
global, sendo assim não pode ser usada para diagnosticar áreas focais de disfunção
(escotomas). Finalmente, como a ERG grava a resposta das células fotorreceptoras, ela é
normal no glaucoma, que é uma doença retineana de sua camada interna. Estas duas últimas
limitações podem ser superadas usando-se um equipamento especializado de ERG, a ERG
focal e a ERG de teste padrão, respectivamente. Entretanto, tal aparelho não está em utilização
rotineira na oftalmologia veterinária.
Sendo assim veterinário, se estas limitações forem levadas em consideração e se o teste for
realizado de acordo com o protocolo formal, a ERG pode ser uma ferramenta poderosa no
diagnóstico das doenças retineanas.
Trabalho traduzido pelo acadêmico André Eschholz durante o período de estágio
curricular obrigatório no Hospital Veterinário São Bernardo / Instituto de Oftalmologia
Veterinária de Curitiba (IOVC) em Agosto de 2007.
Referência:
World Small Animal Veterinary Association World Congress Proceedings, 2006
Ron Ofri, DVM, PhD, DECVO
Koret School of Veterinary Medicine, Hebrew University of Jerusalem
Rehovot, Israel