a introdução às ciências naturais e o ensino de física e matemática
Transcrição
a introdução às ciências naturais e o ensino de física e matemática
A “INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS NATURAIS” E O ENSINO DE FÍSICA E MATEMÁTICA PARA AS ENGENHARIAS Mordka Szajnberg 1 e Abraham Zakon2 O ensino de segundo grau da Física tende a despertar medo e pânico, intensificados nas faculdades. A base de Matemática e Física adquirida nos colégios tem sido insuficiente para que os alunos enfrentem os cursos de Engenharia, sendo agravada pela influência do sistema de questões de múltipla escolha adotado nos concursos vestibulares. Os 30 anos de sistema de créditos e requisitos produziram evasões e retenções escolares, cujos dados estatísticos específicos são dispersos. Uma disciplina de “Introdução às Ciências Naturais” seguida de três disciplinas semestrais de Física Clássica e duas de Física Moderna são delineadas, deixando-se os trabalhos experimentais para cada instituição ou curso planejar dentro de suas possibilidades. O ensino no ciclo básico é mais importante do que o profissional em termos de interdisciplinariedade e multidisciplinariedade. A presente proposta visa estruturar e consolidar conceitos para os alunos, motivá- los e evitar evasões e repetições escolares. Palavras-chave: Ciências naturais, física, matemática, engenharia, ensino de graduação. THE ENGINEERING UNDERGRADUATE TEACHING OF “INTRODUCTION TO NATURAL SCIENCES”, PHYSICS AND MATHEMATICS Physics learning at high schools tends to create fear and panic, intensified in the graduate courses. Mathematics and Physics basis acquired before admission is unsatisfactory to Engineering students, and are corroded by the influence of multiple choice questions of brazilian universities entrance examinations. The statistical data about evasions and retaining of undergraduate students after 30 years experience on graduation credits system adopted are dipersed. An “Introduction to Natural Sciences” discipline is proposed, followed by three semesters of Classical Physics and two of Modern Physics, taking in consideration that experimental classes and works shoul be planned by each institution according their needs and possibilities. Considering the approaches of inderdisciplinarity and multidisciplinarity, the teaching at basic stage is more important than at professional stage. The introductory discipline proposition intends to give to students structured and consolidated concepts, motivation, and to avoid evasion and undergraduate extended times. Keywords: Natural sciences, physics, mathematics, engineering, undergraduate teaching 1 - Prof. Aposentado Instituto de Física e Faculdade de Engenharia, Universidade do Est ado do Rio de Janeiro Tel.: 2568-2914 E-mail: [email protected] 2 - Prof. Adjunto Departamento de Processos Inorgânicos, Escola de Química, Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro Ilha da Cidade Universitária, 21949-900 Tel.: 21-2562-7643 – Fax: 21-2590-3192 Email: [email protected] 1 AS FUNÇÕES DOS CIENTISTAS E DOS ENGENHEIROS . A função do cientista é conhecer, enquanto que a do engenheiro é fazer. Assim ocorre na área da Física. O físico adiciona dados e informações ao conhecimento verificado e sistematizado do mundo físico; e o engenheiro torna útil esse conhecimento na solução de problemas práticos, que envolvem o projeto e construção de artefatos, equipamentos, instrumentos, instalações e também a concepção de sistemas e processos, via de regra, envolvendo os elementos anteriores de modo a serem operados de forma econômica. O ensino da Física para físicos e engenheiros nem sempre é coincidente e tal diferença gera algumas dificuldades de comunicação e de emprego dos recursos teóricos nas questões práticas. Por vezes, em alguns cursos de Engenharia são os físicos que ministram as aulas de Física, e em outras ocasiões, ou instituições, são os engenheiros que se encarregam desta nobre tarefa. Situação similar ocorre, por exemplo, na área da Matemática no caso do ensino de Métodos Numéricos para a Engenharia (Química) e mesmo em Computação. A EXPANSÃO DAS CIÊNCIAS NATURAIS E ENGENHARIAS Durante o recente Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia – COBENGE.2001, ocorrido em Porto Alegre, Zakon, Szajnberg e Nascimento consideraram a Engenharia como uma ou o conjunto de especialidades resultantes da conjunção da Física, Matemática, Geologia, Química e Biologia, hoje reconfigurada como uma atividade humana criadora de metodologias, engenhos e tecnologias, presente ou latente em qualquer área do conhecimento. O desenvolvimento da Física, a mais fundamental das Ciências Naturais, impulsionou a expansão das demais. A Física Clássica (lecionada em dois anos) sustentou os ramos consagrados da Engenharia (Civil, Mecânica, Elétrica, Química, Metalúrgica e Minas), porém, o elenco de habilitações na área da Engenharia cresce sem parar. A Física Moderna catalisou a geração de novos materiais, especialidades e habilitações avançadas, p. ex., Engenharia e Arquitetura Molecular. A Física Moderna também forneceu meios para identificar fenômenos e substâncias, por exemplo, nas Ciências Aeroespaciais e Geociências, que possibilitaram compreender, monitorar e preservar o meio ambiente em qualquer planeta. A Biologia, as Geociências e as Ciências da Gestão emergiram como novas matérias fundamentais para formar todos os engenheiros, e, particularmente os que optaram pela recém criada Engenharia Ambiental. Concluiu- se que é necessário redimensionar o ensino da Física para todos os Cursos de Engenharia, expandindo-se a duração dos seus ciclos básicos de graduação de dois para três anos. Sugeriu-se a adoção do ensino da Física Clássica em dois anos e da Física Moderna em mais um ano. DEPOIMENTOS PRECEDENTES No ítem “A grade curricular” de seu artigo “Ensino e aprendizagem – real/virtual e mudança/permanência” Angotti (1999) revelou: “Precisamente há dez anos, em estudos preparatórios de doutorado, elaborei uma pesquisa do tipo "survey". junto a departamentos de Física de IES do pais, centrada no ensino das disciplinas básicas nos cursos de engenharia: seu caráter, traços marcantes de disciplinas teóricas e experimentais, conteúdos mais privilegiados e mais descartáveis... obtendo um índice surpreendentemente bom de respostas, cujos resultados mostraram claramente a prioridade do conhecimento clássico em detrimento do moderno e contemporâneo em Física. Ainda: a distribuição dos conhecimentos clássicos priorizavam nitidamente a grandeza "massa-energia concentrada" ex plicitamente em Mecânica e Termodinâmica, implicitamente na Eletricidade (junto à carga) em prejuízo das ondas - energia distribuída, palidamente presente no capítulo genérico de ondulatória – mecânica e eletromagnetismo e específico da óptica. ...Decorridos dez anos, ao 2 observar a distribuição destas disciplinas de Física Geral nas grades balizadas pelos textos didáticos mais adotados, os mesmos da minha geração nos anos 70, com mudança mais de aparência do que essência, posso afirmar sem refazer a investigação que os dados daquele "survey" são bastante atuais. Posso também afirmar, baseado nos livros texto de áreas afins como a Matemática e química, que pouco mudou desde 1970”. Prata (1999) no item " Ensino da Engenharia" no texto " Comentários sobre a atuação do engenheiro professor" comenta que "o ensino sistematizado da Engenharia tem cerca de duzentos anos, e durante a maior parte deste período, esta tem sido ensinada com grande enfoque na técnica. Recentemente os engenheiros professores tem percebido que a tecnologia muda e torna-se obsoleta com grande rapidez; e a Engenharia tem passado então a ser ensinada com grande enfoque nos aspectos fenomenológicos. É preciso que se diga, no entanto, que mesmo sendo esse enfoque aceito pela maioria dos engenheiros professores, ainda, em algumas disciplinas, existem docentes que equivocadamente priorizam a técnica em detrimento do fundamento". Os mesmos comentários podem ser aplicados aos currículos dos cursos de graduação. Bermudez (1999) no ítem "O ensino tecnológico como componente do desenvolvimento tecnológico, pág. 68" apresenta (dentre várias outras) as seguintes reflexões: 1a- “As universidades têm entabulado uma louca corrida atrás da tecnologia, procurando tornar seus cursos mais atuais. A solução mais comum tem sido a de aumentar os currículos para incluir tecnologias mais recentes. Isso tem contribuído para a geração de currículos com excesso de horas de aula. Complementar os currículos existentes (deste modo) não resolverá o problema. ...A política de educação tecnológica deve levar a formação de profissionais capazes de gerar mudanças tecnológicas e não apenas para acompanhalas. ...O estudo tecnológico têm uma característica necessariamente seriada. O embasamento matemático requer a maturação de certos conceitos para aquisição de novos conhecimentos. ...A interação entre os sistemas de ensino superior e fundamental (1o e 2o graus) é praticamente inexistente na área tecnológica”. Em seguida, o mesmo autor, na pág. 70, apresenta argumentos para nossa defesa da ampliação do ensino básico da Física (e da Matemática...) para 3 anos: “A sociedade não vê uma formação sólida em ciências básicas, física e matemática, como uma necessidade para evolução tecnológica. A população não associa essa formação básica aos produtos da evolução tecnológica que usa nos seus afazeres diários. Mesmo estudantes universitários que escolheram cursos de natureza tecnológica não percebem a importância de uma formação básica sólida em ciências físicas e matemáticas para uma carreira tecnológica. Daí a grande necessidade de motivação dos estudantes durante o ciclo básico dos cursos de engenharia". Na pág. 73, Bermudez (1999) acrescenta: “a Universidade deve desenvolver no profissional a capacidade de autoaprendizado. Isso só pode ser conseguido dando-se ênfase ao ensino das conceitos básicos, e não das tecnologias de ponta. O conhecimento aprofundado dos conceitos básicos possibilitará ao futuro engenheiro a atuação em áreas tecnológicas que nem sequer existiam durante sua formação universitária . As tecnologias de ponta devem ser estudadas, mas apresentadas como aplicações dos princípios básicos e não como a finalidade do aprendizado. E ainda na pág. 75: "No curto prazo, devemos estabelecer um programa de interação com o ensino fundamental, visando uma maior capacitação para o raciocínio lógico, uma maior informação sobre as carreiras tecnológicas e a avaliação das técnicas pedagógicas empregadas nas primeiras séries. O papel dos conceitos fundamentais nas evoluções tecnológicas deve ser enfatizado. O sistema de avaliação deve ser reformado para que exija do estudante o exercício do raciocínio crítico". Aquele autor conclui que "a formação dos novos engenheiros será decisiva no processo de competição tecnológica internacional". O depoimento de Bermudez (1999) encontra ressonância na experiência profissional de um dos autores da presente contribuição, pois durante sua atuação na 3 industria eletrônica, treinando estagiários de Engenharia. ele observou nitidamente que os alunos com maiores conhecimentos de Física e Matemática - adquiridos nos ciclos básicos das respectivas universidades - adaptaram-se com facilidade a aos processos da resolução de problemas surgidos nos projetos tecnológicos da empresa. Seu desempenho era superior aos daqueles que somente viam o ciclo básico como uma etapa às vezes até desagradável, mas necessária, para obter o diploma no final do curso. Como orientador de alunos do Convênio UERJ–TELERJ (1993-94) em atividades do projeto de fim do curso de Engenharia Eletrônica, notou também que os alunos com boa base de Física, Matemática e Informática apresentaram desempenho exemplar na aprendizagem e no entendimento de tecnologias novas ainda não estudadas na época no curso da universidade – como por exemplo, estações digitais telefônicas. O Eng. Mecânico e Diretor-Presidente Executivo da WEG, Décio da Silva (1999), em seu texto "O engenheiro que as empresas querem hoje" declarou na pág. 81: "Comparativamente aos engenheiros da década de 90, os da década de 80 tinham uma formação mais sólida nas ciências básicas de sua profissão: Física e Matemática. Eram mais hábeis em resolver problemas, tinham uma visão mais sistêmica da realidade e melhor raciocínio lógico. Por outro lado, eram menos hábeis no uso de ferramentas computacionais e raramente dominavam um segundo idioma. De maneira oposta, a prática profissional dos engenheiros da década de 90 privilegia o uso do computador, com o qual a facilidade e a rapidez de simulações do tipo "tentativa e erro" reduzem a análise crítica baseada em princípios físicos sobre um determinado problema. Por outro lado, estão mais aptos à dinâmica da vida atual, usam a informática e os meios de comunicação de forma mais produtiva e, se ainda não chegam às empresas dominando um segundo idioma - naturalmente o inglês -, pelo menos estão sensibilizados quanto à necessidade de fazê-lo”. Cabe uma pergunta: será que a habilidade adquirida atualmente pelos futuros engenheiros na área de informática permite ao um enfraquecimento da qualidade do ensino cientifico básico? Sobre o fato dos engenheiros dos anos 80 que raramente dominavam um segundo idioma, sabe-se que a língua inglesa há muito tempo se tornou o idioma universal da tecnologia mundial, e é lastimável que o ensino universitário não a inclua em seus currículos... Na pág. 86, Silva (1999) sustenta: “Há que se considerar que o conhecimento tecnológico específico de cada área é sustentado por um sólido embasamento físico e matemático e este continuará a ser o núcleo central do preparo intelectual dos profissionais de Engenharia, os quais agora trabalham em um ambiente complexo, mutável com grande rapidez, no qual suas realizações são às vezes limitadas mais por considerações sociais do que pela capacidade técnica. O que os cursos de Engenharia podem fazer: em primeiro lugar - fornecer sólida base conceitual. A prática virá com o exercício da profissão. A instituição deve fornecer conhecimento, não treinamento (que é responsabilidade da empresa e do próprio engenheiro).” OS VESTIBULARES CONDICIONAM O ENSINO DE SEGUNDO GRAU O ensino de Física no segundo grau constitui um pré-requisito para seu ensino posterior nas faculdades e institutos de ensino de ciências exatas (em disciplinas e cursos de física, química, matemática e todas as engenharias) das universidades. Sabe-se que esse ensino é falho na maioria de colégios estaduais, federais e particulares (exceto em alguns colégios públicos e particulares). A causa principal desta situação foi e em parte continua sendo a forma das provas adotadas em concursos vestibulares: de múltipla escolha. O argumento de defesas dos organizadores dos vestibulares é expresso da seguinte forma: num universo de dezenas de milhares (talvez centenas de milhares) de candidatos: é a forma mais prática e menos trabalhosa de se realizar um vestibular. As provas de múltipla escolha dos vestibulares condicionaram o ensino do segundo grau, e também os "livros-texto" 4 adotados pelos colégios para as ciências exatas. Basta examinar qualquer livro de Física do 2o grau. Um dos autores vivenciou uma experiência desagradável quando lecionou Física durante um semestre no primeiro e terceiro ano num colégio carioca, tentando ministrar problemas discursivos e adotar livros-texto diferentes. Resultaram discussões sérias com a Diretoria do Colé gio, os pais dos alunos, e os próprios alunos. Todos exigiam que se devia somente treinar os alunos pelo método de “adivinhar” múltiplas escolhas. Ou seja, ao invés de ensinar a Física, o principal objetivo é preparar os alunos para passar no vestibular. Essa experiência possibilitou entender ou vislumbrar que todo estudo conduzido no ensino secundáro depende principalmente da metodologia do vestibular. Entendemos que o tipo de avaliação por múltipla escolha não pode ser totalmente abandonado. O universo dos vestibulandos é muito grande e não tem como abandonar a múltipla escolha na primeira triagem. Entretanto, para múltipla escolha devem ser incluídas somente questões conceituais (de qualquer Ciência Natural). A segunda fase deve der constituída somente de provas com problemas discursivos e numéricos (como ocorreu no vestibular do CICE em 1966 no Rio de Janeiro). Esta será a fase principal do concurso e como tal influenciará o ensino do segundo grau. O concurso vestibular constitui a bússola orientadora da qualidade do ensino do segundo grau e, por isso, a metodologia adotada na elaboração de suas questões tem uma importância fundamental para as habilidades intelectuais que serão adquiridas pelos alunos. A qualidade do ensino do segundo grau no Brasil só poderá melhorar se houver um refinamento da metodologia de avaliação das provas dos exames vestibulares. O MEDO DA FÍSICA E MATEMÁTICA Não é função da faculdade corrigir falhas do ensino secundário, entretanto, esta afirmação fica só nas palavras. A triste verdade é que somos obrigados a corrigir certas distorções do ensino do segundo grau, o que nós, professores universitários, queiramos ou não, estamos fazendo, em menor ou maior escala. A Física adquire no ensino secundário e no vestibular os contornos de uma "ciência mágica", ou de uma "matéria que mais reprova", ou que representa "notas mais baixas no vestibular". É o chamado “patinho feio” das ciências exatas, é a síndrome do medo que os alunos possuem da matéria Física. Este medo às vezes se transforma em ódio, criando uma barreira mental contra a Física. Este problema uma vez iniciado no Segundo Grau é plenamente confirmado nos exames vestibulares. As notas das provas de Física, quando comparadas com as das outras matérias são de longe as mais baixas, sendo que o fenômeno se propaga para o ciclo básico das universidades. Verifica-se em diversos depoimentos, inclusive em anais de eventos, que o índice de reprovação em Física no ciclo básico é muito elevado. Às vezes, as reprovações numa disciplina de Física provocam evasão em massa de cursos de Engenharia. Qualquer docente de Física ou de Engenharia pode constatar que os alunos dos cursos de Engenharia recebem ensinamentos com conteúdos e qualidade diferenciados daqueles oferecidos aos do curso de bacharelado de Física. As causas são bem conhecidas, apesar de pouco discutidas. Mas as razões apresentadas são sempre as mesmas: “um físico deve conhecer a Física de um modo mais profundo, e a matéria da Física ensinada para os futuros engenheiros deve ser simplificada”. E ainda: “os livros-texto para os alunos de Engenharia não podem ser os mesmos que os ministrados para alunos dos cursos de Física e assim por diante”. Quanto ao exposto, Einstein manifestou-se assim: “A vulgarização da ciência é de grande importância se proceder de uma boa fonte. Ao procurar-se simplificar as coisas não se deve deformá-las. A vulgarização tem de ser fiel ao pensamento inicial. A ciência não pode, é evidente, significar o mesmo para toda a gente”. Portanto, o ensino da Física para não- físicos pode ser simplificado em alguns aspectos, mas não pode perder a qualidade da outra. 5 Como já foi dito, o medo da Física continua sendo propagado no ciclo básico do ensino superior (de qualquer curso onde tal matéria seja obrigatória). Os alunos “futuros engenheiros“ tem medo das matérias de Física. Os estagiários de Engenharia têm dificuldades da resolver problemas práticos de Física que durante suas atividades industriais ou pré-profissionais. A vivência de um dos autores na empresa Microlab S.A. em atividades de Engenharia de Projeto, permitiu- lhe ser convocado para resolver problemas banais na qualidade de “físico”, que normalmente um engenheiro ou mesmo um estagiário do ciclo profissional deveria saber resolver. Entretanto, essa ocorrência não pode ser generalizada (embora seja um indicador aleatório das dificuldades que os alunos sentem). Outro fato marcante ocorreu na UERJ: dois professores ministraram a matéria “Eletricidade e Magnetismo” para duas turmas de Engenharia (cerca de 50 alunos em cada turma). Um dos professores resolveu ministrar o curso no mesmo nível dirigido para os alunos do bacharelado de Física. O que aconteceu? No final do curso, ele ficou lecionando para 12 alunos, pois os outros migraram para a outra turma que acumulou 88 alunos. O que se percebeu é que para um universo grande e variado de alunos de Engenharia tal constatação se repete, sendo, infelizmente, verdadeira. RELAÇÕES ENTRE O ENSINO SUPERIOR DE MATEMÁTICA E FÍSICA A Matemática Superior envolve-se com todo o ensino superior das ciências exatas, pois é a linguagem universal das ciências, e constitui a sua ferramenta principal. A Matemática em si é o modo mais fácil de representar modelos físicos, e o exemplo mais notável foi o de Newton que inventou o Cálc ulo Diferencial e Integral para desenvolver suas pesquisas. A Física é ensinada, geralmente, em paralelo com a Matemática Superior (Cálculo Diferencial e Integral I). A matéria "Cálculo I" talvez seja a campeã em reprovações no primeiro ano do ciclo básico nas faculdades de ciências exatas (rivaliza com a Física I) . A culpa dessa ocorrência é geralmente atribuída ao "ensino deficiente que os alunos receberam no segundo grau" (como veremos esta afirmação é somente parcialmente verdadeira). Analisando-se a metodologia do ensino das disciplinas de "Cálculo I", chegamos a conclusão que é muito formal e abstrata. Faltam exemplos práticos da Física, principalmente da Cinemática. Falta até a própria razão da invenção do “Cálculo”. As Matemáticas são freqüentemente lecionadas por docentes que acham que o formalismo abstrato em nível elevado é indispensável para a compreensão do Cálculo Superior. Não queremos negar em absoluto esta concepção, mas achamos que certos conceitos abstratos poderiam ser dados nos cursos de matemática dos semestres seguintes, pois alunos amadurecidos favoreceriam essa abordagem. As outras matérias de Matemática ministradas no primeiro semestre como Geometria Analítica, Álgebra Linear e Cálculo Vetorial são geralmente bem absorvidas. Todas as Matemáticas devem servir como pré-requisitos obrigatórios para a matéria de Física I. Provavelmente, adotadas as sugestões apresentadas acima, poderá ocorrer nas universidades a extinção parcial do problema do “patinho feio”. A sugestão da criação e incorporação de uma disciplina "Introdução às Ciências Naturais" visa complementar os esforços para diminuir a evasão escolar e a retenção de alunos de cursos de Engenharia e outros, admitindo-se que uma parcela mínima sempre poderá empregar o primeiro período para "descobrir sua verdadeira vocação" e mudar de curso. O ENSINO ATUAL DE FÍSICA NAS ENGENHARIAS. Prata (pág. 177, 1999) observou que nos séculos XIX a XXI caracterizam-se por algumas especialidades da Engenharia, a saber: Século XIX - Engenharia das Máquinas Século XX - Engenharia Eletrônica Engenharia dos Materiais Século XXI - Engenharia da Vida. 6 A Física é a ciência da matéria, energia, e das forças fundamentais da Natureza (Neutron, 2000). Atualmente a Física é ensinada em dois anos (quatro semestres) no ciclo básico. A Física Clássica é compactada em três semestres: Mecânica, Termodinâmica e Eletricidade-Magnetismo. Os assuntos da Acústica, Física dos Meios Contínuos, Óptica e Ondas são espremidos dentro desses três semestres. No quarto semestre é ensinada (parcialmente) a Física Moderna, onde o aluno deve aprender a Mecânica Quântica antiga (Semi-Clássica), noções sobre a Mecânica Quântica Moderna, Estrutura da Matéria, Física Nuclear, Óptica eletrônica, Fibras Ópticas, Cristalografia, Estado Sólido, Relatividade e Cosmologia, Física de Altas Energias e ainda tem “aulas de laboratório..” Reduz-se a matéria citada a noções, mas mesmo assim este ensino se constitui em uma tarefa humanamente impossível para docentes e alunos. Os conformados podem argumentar:- “um aluno de Engenharia aprende no ciclo básico a Mecânica de Newton com a Matemática do nível médio (desconhecimento do Cálculo Diferencial e Integral no primeiro semestre), a Eletricidade de Faraday, as leis de Ohm e de Kirchoff, as leis fundamentais da Termodinâmica Macroscópica, Óptica Geométrica, a propagação do som e assim por diante...” Enfim, lhe é ensinada a Física do Segundo Grau revestida com um pouco de Matemática Superior. A formação principal em Física é reservada para o ciclo profissional. Sem dúvida, é uma solução. Entretanto, essa linha de raciocino apresenta falhas. A principal função do ciclo básico é a de preparar o aluno para o profissional. Sem receber um conhecimento mais profundo da Física, o aluno não terá a preparação adequada para aprender a profissão, talvez nem saberá escolher uma especialidade ou manter-se no estudo da própria profissão. Surge então a pergunta: para que ensinar Física Moderna? Resposta: para compatiblizar várias ramos da Engenharia com os no vos materiais, tecnologias avançadas e para que se possa dotar as áreas de Eng. Química, Eng. Ambiental e Eng. Civil com elementos imprescindíveis para o trato dos resíduos sólidos perigosos radioativos. As lacunas deixadas no ensino do ciclo básico refletem-se negativamente no ciclo profissional e dificilmente podem ser compensadas durante este período. Os três anos seguintes, embora constituam um tempo relativamente longo, tornam-se insuficientes para formar engenheiros com domínio dos conhecimentos de Física e suas aplicações. Provavelmente, as notas baixas tiradas no “Provão” do MEC sejam resultantes do despreparo do ensino atual da matéria no ciclo básico. Einstein também dizia: "Não basta ensinar ao homem uma especialidade, porque se tornará, deste modo, uma máquina utilizável e não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto" . Assim, conclue-se preliminarmente que: o ciclo básico deveria ensinar os fundamentos e ciclo profissional deveria ministrar as características tecnológicas de cada especialidade, incorporando o sentimento e o senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido. Porém, existem áreas da Engenharia por exemplo, Eng. Química, Eng. Alimentos, Eng. Bioquímica, Eng. Biomédica, Eng. Saneamento, Eng. Ambiental, Eng. Minas, Eng. Metalúrgica, Eng. Cerâmica, Eng. Polímeros e Eng. Materiais - que não dependem apenas da Física, mas também das demais que compõem as Ciências Naturais: a Química, a Biologia e a Geologia. Todas as Ciências Naturais estão ligadas às origens da civilização e às noções e sentimentos de beleza e praticidade, e à necessidade de sobrevivência da espécie humana. Defendeuse no COBENGE.2001 a necessidade dos docentes pensarem mais o mundo ao seu redor para transmitir uma interdisciplinariedade e uma interatividade com outras áreas da nossa existência real. Isto vale, principalmente, para a Física. 7 PROPOSTA PARA O ENSINO DE FÍSICA NOS CURSOS DE ENGENHARIA A proposta apresentada no COBENGE. 2001 e aqui expostas com alguns detalhes, visa aumentar o ensino da Física no ciclo básico de dois para três anos (ou seis semestres). A meta visada é: cada curso planejará seus trabalhos experimentais. Os objetivos visam incorporar a interdisciplinariedade e multidisciplinariedade no ensino da Engenharia. Uma exposição sobre o conteúdo de cada disciplina semestral é apresentada a seguir: Tabela 1 - Proposta de ensino da física para engenharia COBENGE 2001 1o ano – Física Clássica VII EEE e ASIBEI 1O semestre: Introdução às Ciências Naturais 2O semestre: Mecânica Clássica 2o ano – Física Clássica 3o semestre: Termodinâmica e Meios Contínuos 4O semestre: Eletricidade, Magnetismo e Ondas 3o ano – Física Moderna 5O semestre:Base experimental da Física Quântica e Teoria da Relatividade Restrita 6O semestre: Elementos da Física Avançada 1o SEMESTRE: INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS NATURAIS: Os alunos não possuem, geralmente, condições de absorver os ensinamentos de uma Física Teórica. Isto acontece por que o Cálculo Diferencial e Integral ainda não foi lecionado. É importante apresentar o desenvolvimento histórico e filosófico das Ciências Naturais, desde mundo antigo até o verdadeiro nascimento da ciência experimental do Galileu, que desembocou na Física Clássica e na Física moderna. É imprescindível expor como a Física e a Matemática se entrelaçaram durante os séculos, e como estimularam os avanços das Ciências da Vida, das Geociências e do desenvolvimento de tecnologias moderna. É necessário expor o impacto das Teorias da Relatividade Restrita e Geral e da Mecânica Quântica, bem como as pontes que ligam a Física Clássica com a Física Moderna, na mudança de hábitos e costumes das civilizações e das espécies animais. Verificase que nas turmas de Química Industrial e Engenharia Química, que incluem nos seus ciclos profissionais disciplinas de Microbiologia Industrial, Engenharia de Alimentos, Engenharia Bioquímica e diversas de Tecnologias Químicas Orgânicas e Inorgânicas, e mesmo algumas compósitas – suas disciplinas de Física I são meramente mecanicistas, faltando componentes “alquímicos” – históricos e conceituais – que permitam aos alunos integrar e diferenciar a Física com as demais Ciências Naturais, suas formas peculiares de investigação e seu tratamento científico. Por exemplo, uma pedra na Física (Mecanicista) é um sólido particulado, porém na Química e na Mineralogia possue significados e abordagens que necessitam de uma visão integradora da 8 Cristaloquímica e da sua Geogênese. Da mesma forma, um osso ou uma cana-deaçúcar são vistos na Física Mecanicista como sólidos particulados, ao passo que na Biologia ou nas Tecnologias Químicas suas aplicações podem ser variadas e a contemplação dessas abordagens no contexto de uma disciplina “Introdução às Ciências Naturais” no contexto de “sistemas biológicos” pode enriquecer a visão do mundo acadêmico que os aguarda nos semestres vindouros. Um aspecto complementar à proposta de tal disciplina, e também importante, é o de abordar os impactos sociais, institucionais, culturais, tecnológicos e políticos das sociedades científicas européias ao longo do segundo milênio, para reforçar a noção de contexto e pertinência dos estudos universitários. Assim, uma primeira proposta de ementa para a disciplina "Introdução às Ciências Naturais" seria: Ciência. O surgimento da Física e das Filosofias. O desenvolvimento do Método Científico. O advento da Revolução Industrial. O desenvolvimento da (Bio)Química e da Microbiologia Industrial. O desenvolvimento de reatores, usinas, materiais e armas nucleares O advento da Microscopia Eletrônica, da Análise Instrumental, da Ciência dos Materiais e das Engenharias Molecular e Genética Por conseqüência, um programa poderia incluir: Ciência - Conceitos, leis, princípios, modelos, teorias e empregos. Os cientistas, engenheiros, tecnólogos, técnicos e artesãos. A Física como elemento de ligação entre áreas científicas. Metodologia e objetivos da Fís ica e demais ramos científicos. A importância da Matemática na Física e nas demais ciências. O surgimento da Física e das Filosofias - A Alquimia e as formas rudimentares de Engenharia. A Física de Aristóteles até a Idade Média. O desenvolvimento do Método Científico Física de Galileu. Lei da gravitação de Newton. O Mecanicismo e as Sociedades Científicas. Teoria eletromagnética de Maxwell. Microscopia, Mineralogia e Biologia. Química. O advento da Revolução Industrial: Termodinâmica e Máquinas a Vapor. Máquinas e Veículos de Transporte Terrestres, Aéreos e Marítimos. Teoria de Relatividade de Einstein. Mecânica Quântica. Modelos quânticos de unificação (Modelo Padrão). O desenvolvimento da (Bio)Química e Microbiologia Industrial. O desenvolvimento de reatores, usinas, materiais e armas nucleares - Teoria de Relatividade Geral de Einstein e modelos cosmológicos. Problema principal da Física (de Einstein, não resolvido: Unificar todas as forças da natureza em uma só). O advento da Microscopia Eletrônica, da Análise Instrumental, da Ciência dos Materiais e das Engenharias Molecular e Genética. Fundamentos e Ramos da Física, Biologia, Geociências e Química. Conceitos e relações aplicadas em Biofísica, Geofísica, Bioquímica, Geoquímica, Geomedicina, Análise Instrumental, Meteorologia e Ecologia. SEMESTRES SEGUINTES As áreas da Física Clássica incluem: Mecânica, Acústica, Óptica, Termodinâmica e Eletromagnetismo. Propõe-se empregar três semestres seguintes para o ensino da Física Clássica e utilizar mais dois semestres para a Física Moderna. Entretanto, as matérias, ministradas em Física Clássica sempre devem conter o germe da Física Moderna. A seguir são descritas as matérias da Física em termos de conteúdo máximo, visando apenas prover uma base para a construção de disciplinas específicas para os diversos cursos de graduação da Engenharia: 2o semestre : Mecânica Clássica - Entes Fundamentais. Mecânica Newtoniana. Ondas Mecânicas. Gravitação. 3o sem.: Termodinâmica e Meios Contínuos - Mecânica das Fluidos. Transferência de Calor. Física Estatística Clássica. 4o sem.: Eletricidade, Magnetismo e Ondas - Eletrostática. Eletrodinâmica, Ondas. Óptica física e geométrica. 5o sem.: Base Experimental da Física Quântica e e Relatividade Restrita - Quantização da Energia. Raios x. Estrutura atômica. Teoria Ondulatória da Matéria. Relatividade Restrita. Física Estatística Quântica. 6o Sem.: Elementos Da Física Avançada - Mecânica Quântica. Estado Sólido. Física Nuclear. Física Das Altas Energias. Óptica Quântica. 9 OS PROGRAMAS DAS FÍSICAS Os respectivos programas para os semestres de Física do ciclo básico poderiam ser: 2o Semestre - Mecânica Clássica - Entes Fundamentais: Sistemas de referência. Transformações de Galileu. Espaço e tempo. Mecânica Newtoniana : Cinemática de uma partícula. Leis de Newton. Sistemas inerciais. Forças conservativas. Dinâmica de uma partícula. Sistemas acelerados. Trabalho e energia. Energia mecânica: potencial e cinética. Conservação da energia, momento linear e momento angular. Sistemas com muitas partículas. Centro de massa. Dinâmica de corpos rígidos. Velocidades relativas e acelerações. Colisões. Rotação. Ondas mecânicas: Movimento harmônico simples. Ondas transversais e longitudinais. Reflexão e transmissão. Ondas estacionárias. Velocidade de fase e velocidade do grupo. Fenômeno de ressonância. Acústica. Gravitação. 3o Sem. - Sistemas, energia e propriedades das partículas - Termodinâmica: Sistemas, volumes de controle, propriedades e processos. Leis fundamentais. Sistemas abertos e fechados. Estados da matéria. Energia e entalpia. Fluidos puros, soluções e misturas. Gases ideais e reais. Sistema líquido- vapor. Principio de Carnot. Processos de compressão, expansão, refrigeração e liquefação. Escalas de Temperatura. Entropia. Mecânica dos Fluidos: Meios contínuos. Propriedades de fluidos. Hidrostática. Hidrodinâmica. Ondas de choque. Transferência de Calor e Massa: Condução, convecção e radiação térmica. Condensação e evaporação. Corpos negro e radiante. Física Estatística: Introdução a probabilidade. Variáveis aleatórias (randômicas). Densidades probabilísticas. Distribuição de Maxwell. Função de partição. Gás ideal de partículas idênticas. Estatística de Boltzman. Equilíbrio químico. 4o semestre - Eletricidade e magnetismo Eletrostática: Carga elétrica e lei de Coulomb. Estrutura elétrica da matéria. Campo elétrico. Lei de Gauss. Potencial elétrico. Condutores e dielétricos. Energia Eletrostática. Eletrodinâmica: Campos de uma carga em movimento. Campo magnético. Indução eletromagnética. Lei de Ohm. Corrente elétrica. Circuitos elétricos básicos. Lei de Ampére. Lei de Faraday para corrente alternada. Equações de Maxwell. Ondas: Ondas eletromagnéticas (no vácuo). Energia e momento linear de ondas eletromagnéticas. Espectro da radiação. Óptica física. Dispersão, reflexão e refração. Interferência e difração. Polarização. Óptica geométrica. 5o sem. - Física Moderna 1 (1900 a 1925) Base Experimental da Física Quântica e Relatividade Restrita - Quantização da Energia: Radiação do Corpo Negro e Lei de Planck. Efeito Fotoelétrico. Dualidade Ondas – Partículas (Fótons). Experiência FranckHerz . Espalhamento de Compton. Fótons. Raios-X: Previsões De Maxwell sobre a Existência. Descoberta de Roentgen. Teoria da Difração Cristalina de Von Laue. Lei de Bragg. Estrutura Atômica: Espectros Atômicos. Espalhamento De Rutherford. Átomo De Bohr. Teoria Ondulatória da Matéria: Difração de Elétrons. Ondas De Broglie. Dualidade Onda – Matéria (Elétrons). Experiência de Davisson-Germer. Relatividade Restrita: Relatividade da Velocidade da Luz. Experiência de Michelson-Morley. Postulados de Einstein. Transformações de Lorentz. Partículas com Massa Zero. Mecânica Relativista. Deslocamento Relativístico no Efeito Doppler. Relação Massa-Energia (Equação de Einstein). Física Estatística Quântica: Formulação Clássica: (Maxwell-Boltzman) e as formulações quânticas: (Bose-Einstein e Fermi-Dirac). Bósons e Férmions. 6o Sem. - Física Moderna 2 (Após 1925) Elementos da Física Avançada - Mecânica Quantica: Função de onda e a equação de Schrodinger. Aproximação probabilística. Principio de Incerteza de Heisenberg. Quantização do momento angular. Spin e experiência Stern-Gerlach. Princípio de Exclusão de Pauli. Soluções da equação de Schrödinger para uma partícula livre. Teoria energética do poço unidimensional. Oscilador harmônico. Efeito túnel através da barreira potencial. Efeito de degeneração. Aplicação da teoria quântica ao átomo de hidrogênio. Átomos com muitos elétrons e a tabela periódica. Formalismo geral da Mecânica quântica: estados, operadores, álgebra comutativa, autovalores, autovetores e 10 autoestados. Estado sólido: Estrutura de sólidos. Modelo de elétrons livres. Estrutura de bandas eletrônicas. Condutores. Isolantes. Semicondutores. Física nuclear: Estrutura nuclear. Forças nucleares e a energia de ligação. Estabilidade nuclear e decaimento radioativo. Radiação alfa, beta e gamma. Interação da radiação com a matéria. Reações nucleares. Fissão e Fusão. Física de altas energias (subnuclear, relativista): Equação de Dirac. Partículas fundamentais. Partículas e anti-Partículas. Leis de conservação. Classificação de partículas. Modelo padrão. Aceleradores de partículas. Óptica quântica: Fibras ópticas e suas aplicações. Sistemas Laser e suas aplicações. Uma ressalva: no contexto dos módulos incorporados aos semestres para o ensino de Física não foram apresentados os quesitos ou experiências de laboratórios, que são indispensáveis. Sem laboratórios a Física se torna uma matéria inexistente ou “morta” (assim como as demais Ciências Naturais e os segmentos tecnológicos químicos e afins). Entretanto, devido à conhecida insuficiência de recursos materiais para a realização de trabalhos laboratoriais nas universidades, deve-se deixar o seu planejamento ou elaboração para os respectivos Institutos de Física e Escolas de Engenharias. Os laboratórios devem estritamente acompanhar os textos dos cursos teóricos. ADEQUAÇÃO DA HETEROGENEIDADE NO ENSINO DA FÍSICA CONCLUSÕES: Os cursos de Física do ciclo básico, ministrados para cursos de Engenharia não podem ser e não devem ser uniformizados. No item acima foram aprestados currículos máximos. Entretanto, os diversos ramos da Engenharia requerem preparações diversas da matéria de Física, e por isso nem sempre necessitam de currículos plenos. Por exemplo, os engenheiros civis devem receber uma carga maior de mecânica do que os engenheiros elétricos (ou eletrônicos), assim como os engenheiros eletro-eletrônico devem receber uma carga maior de Mecânica Quântica e Física Estatística Quântica que os engenheiros civis. Cada Instituto de Física, em conjunto com os respectivos Departamentos de Engenharia deve preparar uma quantidade maior possível de cursos de Física diversos para ciclo básico. Os módulos serão retirados do conteúdo geral (conforme exposto acima), sendo que o critério adotado deve obedecer às necessidades de cada engenharia com um grau de sofisticação correspondente. Essa solução permite compatibilizar diversas capacidades de aprendizado oriundas das diferenças de ensino que ocorrem nos colégios e cursos vestibulares e evitar medos, repulsa e evasão dos cursos superiores com a conseqüente perda dos investimentos e recursos orçamentários envo lvidos (que para o Brasil são significativos). 1a - Uma disciplina de “Introdução às Ciências Naturais” foi proposta, seguida de três disciplinas semestrais de Física Clássica e duas de Física Moderna, cujos conteúdos também foram delineados. Deixou-se o planejamento dos trabalhos experimentais para cada instituição ou curso dentro de suas possib ilidades. 2a - O ciclo básico é o mais importante para criar e firmar uma base científica, tecnológica e holística – devidamente atualizada - para os futuros engenheiros. A proposta de ampliação atende a recomendações de vários outros autores e visa mesclar a interdisciplinariedade e a multidisciplinariedade nos cursos de Engenharia. 3a – O medo, a repulsa e o desinteresse pela Matemática e pela Física podem ser sobrepujados se houver uma iniciativa das faculdades em modificar a forma e o conteúdo das questões dos exames vestibulares e implementar a disciplina introdutória em tela. 4a - A Física Moderna é necessária para compatibilizar várias ramos da Engenharia com os novos materiais, sistemas e tecnologias avançadas e para que se possa dotar as áreas de Eng. Química, Eng. Ambiental e Eng. Civil com elementos imprescindíveis para abordar o tratamento e a destinação dos resíduos sólidos perigosos radioativos. 11 REFERÊNCIAS: www.neutron.anl.gov/hyper-physics/physics.html (23 de outubro de 2000) ZAKON., A.; SZAJNBERG, M. E , NASCIMENTO, J. L. – A expansão das ciências naturais e das engenhrias em 2001 - Anais do XXIX Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia, COBENGE.2001, Porto Alegre, RS, 2001. SZAJNBERG, M. E ZAKON., A. – A ampliação e a readequação do ensino da Física para a Engenharia do Terceiro Milênio - Anais do VII Encontro de Educação em Engenharia, Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora, Petrópolis, RJ, 07 a 13 de novembro de 2001. ANGOTTI, J. A. P. - Ensino e aprendizagem – real/virtual e mudança/permanência - pág. 144; PRATA, A. T. - Comentários sobre a atuação do engenheiro professor - pág. 170, ; BERMUDEZ, J.C.M. - A educação tecnológica precisa de uma política - pág. 68; SILVA, D. - "O engenheiro que as empresas querem hoje" pág. 77, in: LINSINGEN, I. v.; PEREIRA, L.T.V.; CABRAL, C.G.e BAZZO, W. A. - Formação do Engenheiro, Desafios da atuação docente, tendências curriculares e questões contemporâneas da educação tecnológica - Editora da UFSC, Florianópolis, SC, 1999. DADOS DOS AUTORES Abraham Zakon 1 - Engo Químico (1971) e M.Sc. (1980) pela EQUFRJ e Doutor em Eng. Química (1991) na EP -USP. 2 - Docente de graduação: Convênio Petrobrás-EQUFRJ (1975 a 1979), Engenharia Química (Depto Eng. Química (1977 a 1981) e Depto Processos Inorgânicos (desde 1982)) e Química Industrial (desde 1998) 3 – Docente do Curso de Pós-Graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos da EQ-UFRJ (desde 1993), e colaborador do Mestrado em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense (1995 a 1997). 4 – Engenheiro de Planejamento e Custos na Foster Wheeler Ltda (1972), e Chefe de Controle Químico na Abbott Laboratórios do Brasil Ltda. (1973). 5 - Coordenou a Biblioteca Setorial da EQ-UFRJ (1980 até 1983), Responsável pelo Laboratório do DPI-EQUFRJ, (1983 até 1984) e do Laboratório de Compostos Cerâmicos (desde 1993), Chefe Substituto do Depto de Processos Inorgânicos da EQ da UFRJ (1999). 6 - Representante da Escola de Química da UFRJ perante o Conselho Técnico-Consultivo da Escola Técnica Federal de Química - RJ (1982 a 1988). 7 - Consultor "Ad-hoc" da FAPERGS (1994), do PADCT-III da FINEP, CNPq e CAPES (1997 e 1998), da FAPEMIG (1999), da UERJ / SR2 / DEPESQ (2000). 8- Medalha Nilo Peçanha, concedida pelo MEC (1989) e Homenagem da Turma Leopoldo A. Miguez de Mello, de formandos de Engenharia Química da EQUFRJ (em 08 de agosto de 1992). 9 – Atualmente, escreve um livro sobre “As profissões da Química no Terceiro Milênio” referente à Reforma Curricular dos currículos de graduação da EQ -UFRJ. Mordka Szajnberg 1 -Bacharel em Física (1978) e Licenciado em Física (1993) pela UERJ. 2 - Pós-graduação em Física de Altas Energias - CBPF 1990-1992. Escola Internacional de Instrumentação de Física de Altas Energias - ICFCA-CBPF 1992. 3 - “Colaboração no projeto eletrônico do Detetor DZERO do Acelerador de partículas de Altas Energias FERMILAB - Experiência E740-D0”, Convênio CBPF/UERJ/FERMILAB. 4 - Estágio de pesquisa no FERMILAB, Ilinois USA bolsista CNPq - 1992 5 - Professor da UERJ (1979– 1995), Depto de Física Aplicada do Instituto de Física e Depto de Engenharia Eletrônica da Faculdade de Engenharia (regime estatutário) (1979 a 1995). 6 - Orientador do projeto de Engenharia Eletrônica: “Automatização dos Testes das Placas Terminais da Central Trópico-R.”- Convênio UERJ/TELERJ. 7 - Aposentado (na compulsória) em 20/04/95. 8 - Experiência Profissional de Engenharia: 8.1 - Analista de Projetos Sênior no Depto Eng. Eletrônica da MICROLAB S.A. 1974-1990. 8.2 - Consultor da área técnica –1990 - 1994 9 - Publicações e Patentes: 9.1 -Livro “Eletrônica Digital” Editora LTC 1988, 412 pag. 1a edição 1988 ( 3000 exempl.) Reimpressão em 1991 (2000 exemplares). 9.2 - “Kit de Eletrônica Digital -Uma proposta para ensino”. VII simpósio Nacional de Ensino de Física USP - São Paulo- 1987. 9.3 - “Repetidor de Freqüências de Voz - RFV” Patente Brasileira 8401869. 9.4 - “Teste de Interferências Eletromagnéticas em Equipamentos Eletrônicos” - 32 Reunião Anual da SBPC - 1980. 12
Documentos relacionados
a ampliação e a readequação do ensino da física para a
as aulas de Física, e em outras ocasiões, ou instituições, são os engenheiros que se encarregam desta nobre tarefa. 2. A EXPANSÃO DAS CIÊNCIAS NATURAIS E DAS ENGENHARIAS EM 2001 Durante o recente C...
Leia mais