de reais. - Revista Vox Objetiva

Transcrição

de reais. - Revista Vox Objetiva
Zeca Camargo
À beira do abismo
Caindo pelas tabelas
O segredo do
show da vida
Recessão amedronta
lideres mundiais
Em má fase, clubes mineiros
de olho nos números
Outubro/2011
Edição 28 | Ano III
R$ 9,90
Nem tudo
é dinheiro
O Brasil dobrou os investimentos em
educação. Mas os alunos continuam
sem aprender. A má gestão dos
recursos impede que o país vire a
página do ensino público sem qualidade.
Vox Objetiva | 1
2 | Vox Objetiva
Inspire-se no maior salão
de negócios da moda do Brasil.
INOVAÇÃO
CONCEITO
CULTURA
PRODUTOS
NOVOS NEGÓCIOS
Outono-Inverno 2012
26 A 29 DE OUTUBRO EXPOMINAS BH
WWW.MINASTRENDPREVIEW.COM
Vox Objetiva | 3
ONDE AS BOMBAS NÃO EXPLODEM
CARLOS VIANA - EDITOR CHEFE | [email protected]
Este editorial foi escrito durante uma viagem de trem entre as capitais Paris e Londres.
A qualidade dos serviços e a pontualidade que
marcam um dos mais tradicionais meios de
transporte da Europa contrastam com nossas
indefinições diante dos vários desafios que temos para construir um país melhor para nossas futuras gerações.
Ainda que estejamos diante de nações e
culturas diagonalmente opostas, uma reflexão
sobre a capacidade de realização e superação
de desafios entre elas merece uma boa reflexão. Podemos, quem sabe, entender o quanto
é possível avançar quando levarmos em consideração nossas vantagens naturais. E o leitor
já sabe, desde o banco das escolas, que essas
perspectivas favoráveis aos brasileiros nunca
foram poucas.
Então, voltemos aos vagões rápidos e confortáveis da Euroservice. O projeto de se vencer a distancia entre a organizada e encantadora ilha sob a regência da Corte Britânica e
a alegre e envolvente cidade dos parisienses,
utilizando um túnel escavado sob o Canal da
Mancha, vem de longa data. Foi consumado
a custa de bilhões de libras e euros e se tornou realidade por conta da determinação e o
planejamento de dois povos que num passado
remoto foram até inimigos mortais.
Por conta da concorrência com os norte
americanos, que se tornou desigual nas décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial,
os europeus tiveram de reorganizar as economias domésticas para, em seguida, recuperarem parte do terreno perdidos em vista das
bombas e das impressionantes 25 milhões de
vidas que tombaram nos combates ou foram
atingidas pelos bombardeios entre os dois lados. Não será difícil ao leitor de Vox Objetiva
acessar facilmente fotos da Segunda Guerra
Mundial para entender claramente qual a amplitude da destruição que tomou conta do Velho Continente.
Mas nem mesmo a guerra, o morticínio e
a completa falência do sistema de produção
industrial impediram que as principais nações
envolvidas no conflito deixassem de prospe-
4 | Vox Objetiva
rar. A Alemanha, que protagonizou o início
das batalhas sangrentas, foi a que mais sofreu
as consequências por conta das decisões de
Hitler. Hoje, o país ostenta a posição de terceira maior economia do mundo. Por sua vez, a
França contou com a sorte de não ter sua principal cidade destruída pela aviação germânica.
No entanto, teve a economia seriamente prejudicada pelos anos de ocupação. Em 2011, os
franceses também estão entre os mais desenvolvidos e influentes do mundo.
E o que dizer dos britânicos chefiados por
Winston Churchill? Como os ex-inimigos alemães, os anglo-saxões tiveram cidades inteiras
arrasadas, entre elas, a capital Londres. Mesmo assim, estão entre os mais ricos dos dias
atuais e a economia está entre as mais sólidas
do planeta.
Essa experiência histórica de superação
tem semelhanças muito importantes, indiferentemente das línguas e das fronteiras. Podemos citar algumas sem nos delongar muito. Os
três povos têm características idênticas quando analisadas as leis que punem severamente
aqueles que agem em desacordo com o interesse público.
As políticas de incentivo à pesquisa tecnológica, à produção e geração de empregos e o
controle dos gastos públicos estão sempre em
primeiro plano. Uma terceira, e fundamental,
é a preocupação com a educação em todos os
níveis. Os germanos investem quase três vezes
mais que o Brasil na formação dos estudantes.
A Inglaterra segue o mesmo caminho e a França
não fica atrás de nenhum dos vizinhos.
Quando colocados em testes comparativos
aos colegas de outros países que nunca passaram por guerras no passado, entre eles, os
nossos, os estrangeiros superam, em muito, as
notas médias.
Naturalmente, um dos primeiros questionamentos na comparação com o gasto brasileiro é a de que os europeus têm muito mais
recursos para a aplicação que o “pobre” Brasil.
Ledo engano.
A matéria de Capa desta edição mostra que
apesar do aumento expressivo nos gastos com a
editorial
educação brasileira, nossos números ainda continuam ruins. Os alunos das escolas públicas
de nosso país custam tanto quanto os colegas
de outras nações mais desenvolvidas. Nem por
isso competem em igual passo nos resultados.
A reportagem de Lucas Alvarenga mostra
que o orçamento para ensinar e preparar os
novos brasileiros mais que dobrou nos últimos
quinze anos e praticamente não avançamos.
Mas o que nos falta então? Aqui está a diferença em relação aos países citados. Para cada
R$ 10,00 gastos em educação no Brasil, pelo
menos R$ 4,00 são desviados para gastos que
podem incluir desde a corrupção na compra
de merenda escolar, o pagamento de inativos
ou, principalmente, uma grande quantidade
de servidores administrativos que não têm ligações diretas com as salas de aula.
O vício do cabide de emprego público persiste historicamente até em nossos centros de
excelência, como as Universidades Federais,
onde o custo por aluno equivale aos da Suíça,
por exemplo.
Ao contrário dos 128% de aumento nos
gastos com a educação, os professores brasileiros continuam mal pagos, vivendo com salários baixos muitas vezes comparáveis aos de
países africanos ou menos desenvolvidos.
O resultado de todo esse sistema mal organizado e falho pode ser sentido na dificuldade das empresas em conseguir mão de obra
qualificada para ocupar cargos em áreas que
requerem melhor formação de conhecimento.
Os dados do Ministério do Trabalho mostram
que somente na região metropolitana de Belo
Horizonte, milhares de postos de trabalho não
encontraram candidatos com capacidade para
o preenchimento.
Na outra ponta, outros milhões de trabalhadores gostariam de deixar as profissões
atuais em busca de novas oportunidades, mas
não podem realizar o projeto por conta da má
formação escolar na base do ensino. Basta lembrar que, segundo os dados do IBGE, seis em
cada dez brasileiros não possuem a capacidade completa de ler e entender o que esta sendo
lido por conta do pouco tempo de estudo.
Portanto, a equação brasileira para melhorar o sistema público de ensino não se resolve
apenas com mais dinheiro jogado sem controle
em um sistema ineficiente e corrupto.
E preciso uma reorganização urgente dos
mecanismos de controle de gastos na área e
políticas de incentivo ao resultado, como a de
melhores salários diante de melhores notas,
por exemplo. Não se trata aqui de se criar uma
“educação mercenária”, mas de mostrar aos
estudantes que quanto mais tempo em sala de
aula e mais dedicação aos estudos, mais possibilidades de uma vida melhor e de mais progresso para o país.
Também é preciso repetir, incessantemente, o discurso de melhores salários para
os professores, mas também o de propor aos
mestres compromissos com os resultados e
com o constante aprimoramento das formas
de ensinar. Precisamos acabar com a tradição
de que, quando selecionados por concursos,
logo em poucos anos guardam-se em uma gaveta o compromisso com a carreira e o crescimento profissional e pessoal. A estabilidade
que garante mais independência no trabalho é
também a que permite a preguiça e a falta de
compromissos.
Não podemos, no entanto, tomar decisões
como o vizinho Chile, que praticamente privatizou o sistema educacional nos anos 1980 e hoje
se vê obrigado a retroceder porque tornou difícil
aos mais pobres o acesso à formação superior.
Precisamos aprender com os países destruídos pela guerra que souberam utilizar bem os
recursos que restaram e definiram claramente
o que desejavam para o futuro dos filhos. Reduziram o tamanho do Estado, sem perderem
o controle da justiça social que permite aos
mais humildes quebrar as barreiras da pobreza imposta às gerações anteriores.
Precisamos educar o Brasil, não somente
em relação às nossas crianças, mas, principalmente, na cobrança de mais compromissos por
parte de nossos homens públicos. Educar é antes de tudo uma tarefa coletiva. Não apenas
de governos. Passa pelas escolhas de projetos
eleitorais que priorizem a educação, mas também pelo compromisso que devemos ter em
repassar aos nossos filhos o desejo de vencer e
tomar decisões que garantam um amanhã melhor para todos.
Em países “educados”, as bombas não destroem a capacidade de superação dos povos.
Vox Objetiva | 5
sumário
12 entrevista
Fantástico: um bate-papo com
Zeca Camargo
16 política
Maior representatividade nas Câmaras
Municipais custa caro aos cofres públicos
18 política
PSD, o partido que não é de direita, não é
de esquerda e nem de centro
20 economia
“Corram para as montanhas!”: o pior da
crise econômica global pode estar por vir
27 capa
Apesar dos investimentos, má gestão de
recursos mantêm a educação brasileira em
baixa
33 meio ambiente
sxc.hu
Incêndios em parques revelam fragilidade
de equipamentos e da proteção de áreas
verdes em Minas
6 | Vox Objetiva
IMAGINE CIDADES
INTEIRAS ILUMINADAS
PELO SOPRO DO VENTO.
A energia dos mineiros pode fazer esse sonho acontecer.
RENOVÁVEL É MELHOR.
Todos os dias, usamos a nossa imaginação para encontrar soluções de energia
para o futuro. Hoje, já geramos energia eólica em três parques no Ceará.
Em parceria com o Governo de Minas, editamos o Atlas Eólico que
identificou um potencial de geração três vezes maior que a hidrelétrica de
Itaipu, com o aproveitamento dos ventos do Estado. No novo Mineirão,
a Cemig e o Governo de Minas estão instalando uma usina solar, projeto
pioneiro em toda a América Latina. A Cemig ainda participa do projeto de
desenvolvimento de um carro elétrico em parceria com a Fiat e a Itaipu.
12 anos no Índice Dow Jones
de Sustentabilidade.
www.cemig.com.br
Vox Objetiva | 7
8 | Vox Objetiva
36 cavalos
expediente
Pônei: um valioso pequeno notável
40 comportamento
Adoção de animais, uma alternativa viável
para quem quer um “amor” sem cobranças
44 ciência
Os tratamentos para algumas das doenças
mais temíveis do mundo, os cânceres
51 carros
O usurpador: sai o Vectra, entra o belíssimo
Chevrolet Cruze
52 esporte
A lógica das previsões no futebol
59 cinema
Tropa de Elite 2 tenta pisar no tapete vermelho
e, enfim, colocar a mão no “careca” dourado
64 música
Eric Clapton: astro mundial do blues dá o ar
da graça em turnê no Brasil
Revista Vox Objetiva é uma publicação
mensal da Vox Domini Comunicação Ltda.,
com escritório na rua Tupis, 204, sl 218, Centro
Belo Horizonte, MG, CEP: 30.190-060.
“... O povo que conhece o seu Deus se
tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)
EDITOR E JORNALISTA RESPONSÁVEL
Carlos Viana
DIAGRAMAÇÃO E ARTE
Rodrigo Denúbila
CAPA
Rodrigo Denúbila
REPORTAGEM
André Martins
Fernanda Carvalho
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Tiragem: 20 mil exemplares
Os textos publicados nesta edição da Vox Objetiva, em
forma de reportagens, são de responsabilidade direta
dos editores. Os textos publicados em forma de colunas,
produzidos por colunistas convidados, expressam
o pensamento individual e são de responsabilidade
dos autores. Todos os direitos reservados. Os textos
publicados na revista Vox Objetiva só poderão ser
reproduzidos com autorização dos editores.
Vox Objetiva | 9
em foco
VOX VENCE PRÊMIO INTERNACIONAL
Fernanda Carvalho
Os repórteres André Martins e Lucas Alvarenga foram os vencedores do troféu José Hamilton Ribeiro de Jornalismo pelo Especial Justiça, publicado na edição 26 da Vox Objetiva.
O conteúdo compreende duas reportagens
que apresentam um panorama sobre a falta de
condições de trabalho do Judiciário e da Polícia Civil no estado. O Especial ainda conta com
fotos de Luiza Villarroel.
A premiação foi entregue no teatro do Sesc
de São José do Rio Preto.
Em sua primeira edição, o prêmio recebeu
267 trabalhos. Ao todo, 15 estados brasileiros
participaram do concurso, que contou ainda
com matérias de Portugal, Moçambique, Angola, Guiné Bissau e Cabo Verde.
A iniciativa carrega o nome do “príncipe do
jornalismo brasileiro”, José Hamilton Ribeiro,
que cobriu a guerra do Vietnã pela extinta Realidade e, hoje, é repórter do Globo Rural.
Organizaram o concurso o Sindicato dos Jornalistas rio-pretense, a Secretaria Municipal de
Cultura e a Prefeitura Municipal de São José do
Rio Preto. O Sesc, a Fenaj e a Federação dos Jornalistas de Língua Portuguesa (Fjlp) apoiaram
o prêmio.
SEMANA DA MODA MINEIRA
10 | Vox Objetiva
Luiza Villarroel
De 26 a 29 de outubro, Belo Horizonte
está reservada para o melhor da moda
mineira. A segunda edição do Minas
Trend Preview 2011 apresentará agora as
tendências para o inverno 2012. O tema
da temporada é “Inspiração”, um conceito
que de tão abstrato, certamente desafiou
os estilistas na confecção das peças.
O calendário já foi divulgado, confira:
Quarta-feira (26)
Às 19h - Maria Garcia / Claudia Arbex /
Apartamento 03
Às 21h - Última Hora / Rogério Lima /
Marcelo Quadros
Quinta-feira (27)
Às 19h - Chicletes com Guaraná / Áurea
Prates / Vitor Zerbinato
Às 21h - Uma / Camaleoa / Alessa
Sexta-feira (28)
Às 19h - Patogê / Fernando Pires /
Samuel Cirnansck
Às 21h - Talentos do Brasil / Chouchou
Na próxima edição, a Vox traz o encarte
especial Minas Trend Preview com o que
de melhor rolou nos quatro dias de evento
Wilson Dias/ ABr
COTADOS PARA CAIR
Após a queda de cinco ministros em menos de um ano, a
presidente Dilma pretende realizar a primeira reforma ministerial
em janeiro de 2012. Dentre os cotados para cair está a ministra da
Cultura, Ana de Hollanda.
Sem filiação partidária, Ana foi uma indicação do PT. No entanto,
a acusação de ela ter recebido do governo diárias em fins de semana
de folga no Rio, cidade onde tem imóvel, parece ter abalado a
ministra. Além disso, Dilma estaria insatisfeita com a postura elitista
do programa Livro Popular.
Junto à Hollanda, estão na lista de possíveis substituídos: Carlos
Lupi (PDT), do Trabalho; Mário Negromonte (PP), de Cidades; e
Orlando Silva (PC do B), dos Esportes. Por enquanto, o único que
deve sair é Fernando Haddad, provável candidato à prefeitura de
São Paulo.
Estudo da Fecomércio Minas indica crescimento das compras
realizadas com cartão de crédito e recuo das aquisições feitas com
cheque. Os dados do Balanço do Crédito do Comércio Logista de
setembro concluiu que enquanto a expansão dos pagamentos no
cartão saltou de 4 %, em julho, para 7%, em agosto, o uso do cheque
caiu de 18% para 16%, no mesmo período avaliado. Essa lógica de
queda vigora desde o primeiro trimestre do ano.
Hoje, a grande maioria das aquisições parceladas, cerca de 70%
delas, é realizada com cartões de crédito. O estudo identificou ainda
que 76% das operações foram divididas em três a seis parcelas.
O índice de cheques sem fundo se manteve, pelo terceiro mês
consecutivo, em 2%. Diante da temerária inadimplência, apenas
44% dos estabelecimentos comerciais em Belo Horizonte trabalham
com cheque.
sxc.hu
O CHEQUE EM XEQUE
Divulgação
UM PRECINHO NADA CAMARADA
Ele já caminha para os 70 anos, mas nada
parece ofuscar o brilhantismo e a disposição do
incansável Chico Buarque, dono de sólidos 45
anos de carreira, tendo lançado mais de 40 álbuns.
Cinco anos após a última turnê, o cantor
volta a se apresentar. Dessa vez, escolheu a
capital mineira para lançar o seu novo CD,
Chico, que resgata a vasta carreira artística e já
vendeu mais de 80 mil cópias. Para a elaboração
do CD, mais de 400 músicas de belas letras
e estilos foram analisadas. A seleção inclui
apenas 10 canções.
A série de apresentações estreia no Grande
Teatro do Palácio das Artes, de 5 a 8 de
novembro. O valor dos ingressos varia de R$
290 (inteira) e R$ 145 (meia) a R$ 240 (inteira)
e R$ 120 (meia). Os bilhetes já se esgotam no
Palácio, menos na internet. Esta será apenas a
6ª turnê de Chico nos últimos 36 anos.
Vox Objetiva | 11
entrevista
“É FANTÁSTICO”
Próxima de completar duas mil edições, atração dominical da Globo se renova de A a Z sem abandonar
o diálogo com o telespectador e a fórmula que a mantém no ar desde 1973
Fernanda Carvalho
Lucas Alvarenga
m 38 anos, lá se foram casais,
reportagens e quadros a perder
na memória. O que não muda é
o aparente hábito de milhares de
famílias brasileiras, que todos os
domingos à noite, ligam-se no
“show da vida”. Em frente à TV,
telespectadores consomem notícias
que pautam as rodas de conversa
durante toda semana. Por isso, o
“tchau” de Patrícia Poeta ao final
de cada Fantástico é convite, não
despedida. Possibilidade de levar
informação e gerar debate. Algo que
move Zeca Camargo, companheiro
de trabalho da apresentadora e
editor-chefe da revista eletrônica
mais famosa do país.
Administrador de empresas
e publicitário por formação, Zeca
se enveredou pela cultura pop por
meio do jornalismo. De editor
do caderno Ilustrada, da Folha de
S. Paulo, à condição de um dos
idealizadores da linguagem jovem da
MTV, o apresentador do Fantástico
sequer imaginou se “encontrar”
na revista eletrônica. Mas nem por
isso se intimidou com o desafio de
comunicar para públicos diversos.
Com a ousadia de quem deu a
Fantástica volta ao mundo ou entrou
na Medida Certa, Zeca fez da atração
global sua imagem.
Por isso, assim como o exprofessor de dança e mineiro de
Uberaba, o Fantástico trabalha
sob diferentes ritmos. Algo típico
de produções jornalísticas que
carregam a tarefa de ir além do
noticiário comum. Com informação e
entretenimento, a quase quarentona
revista eletrônica se mantém firme
no bailado pela audiência e segue
como referência de si mesma. Pelo
12 | Vox Objetiva
menos para Zeca Camargo, que
rápido nas palavras, discorre sobre
sua relação com a atração global em
entrevista à Vox Objetiva, realizada
no Palácio das Artes.
VOX: Zeca, antes de assumir o
Fantástico você já acompanhava o
programa?
Zeca Camargo: Desde a
estreia, em agosto de 1973. Eu
tinha dez anos e, claro, aquela
coisa diferente, aquela referência
nacional estava nascendo ali e eu
assistia àquilo. E, obviamente,
não podia, jamais, imaginar que
passaria a trabalhar naquele
programa, que dirá apresentá-lo.
E aí, claro, quando eu me tornei
jornalista, passei
a acompanhar o
Fantástico de outra
maneira.
Menos
como espectador
e
mais
como
aprendiz,
vendo
ali o que era pauta
no
programa,
como era feito
aquele jornalismo.
Depois enveredei
por um tempo
em que deixei de
acompanhar
o
Fantástico por estar
muito concentrado
em
outro
tipo
de
jornalismo,
mais jovem, que
eu achava bem
diferente do que
eu estava fazendo
até então. Só voltei
a
acompanhar,
a
assistir
ao
Divulgação
E
programa em meados dos
anos 1990, quando eu já estava
próximo de trabalhar lá. Estou no
Fantástico desde 1996.
Desse universo pop, o que você
levou para o Fantástico?
Olha, muita coisa, porque o
Fantástico é justamente muito
elástico
nesse
sentido.
Um
programa que é também para o
público jovem, para o qual estava
acostumado a falar. Então, quando
cheguei lá, eu pensei: “Poxa, será
que vou ter espaço aqui? Será que a
minha linguagem vai ter espaço?”.
A boa surpresa foi que sim. O
Fantástico não só queria falar com
esse público, como gostaria que eu
você está preparado para ela de
uma maneira legal. Você viu as
coisas da semana e um monte
de matéria de comportamento
que tem a ver com a sua família,
com a sua vida. O que a gente
tem como um credo, assim, é que
todas as matérias têm que ter uma
consequência na vida das pessoas.
O exemplo mais fácil de dar, o
mais recente, é o Medida Certa,
Reprodução
criasse uma linguagem capaz de
atingir o restante da família. Como
a gente brinca, o Fantástico não é
só para o garoto, para o menino de
16 anos. É para a mãe dele, para a
irmã mais nova, para o tio solteiro,
para a avó dele, para todo mundo,
todas essas faixas, a família
inteira. É possível você construir
uma linguagem diferente, uma
linguagem nova, e, aliás, é por isso
que o Fantástico tem
38 anos e continua um
programa presente,
ativo e presciente.
Você acha que, ao
longo desse tempo,
ele passou a ser
um programa com
um pouco mais de
entretenimento que
jornalismo?
Não,
muito
pelo contrário. Ele
começou
meio
a
meio. O que a gente
procura até hoje é um
pé no entretenimento
e o outro no jornalismo. Você
tinha grandes números musicais
no Fantástico nos anos 1970. A
gente fez uma pesquisa musical
quando o programa completou
30 anos. O Fantástico lançou
coisas como o próprio Casseta &
Planeta, que começou como um
quadro do programa. Você tinha a
dramaturgia com A vida como ela é,
coisas que existem até hoje. Talvez
em função até da própria maneira
como o jornalismo é visto hoje
na TV, ele acaba predominando
mais no Fantástico, mas a gente
faz questão, sim, de ter um pé no
entretenimento.
O programa é exibido no
domingo, um dia atípico para a
maioria das pessoas. Você acha
que isso é determinante para que
o Fantástico tenha matérias mais
leves?
Olha, a ideia é essa um pouco.
Que o Fantástico deixe de ser,
como já deixou de ser, aquele
lembrete de que a semana está
acabando. O programa é o
lembrete que vai começar, que
É possível você
construir uma
linguagem diferente,
uma linguagem
nova, e, aliás, é
por isso que o
Fantástico tem 38
anos e continua um
programa presente,
ativo e presciente.
Zeca Camargo
que foi um quadro de sucesso
em que eu participei. Foi muito
legal. Em três meses, eu reduzi o
peso, transformei a minha vida
em um estilo mais saudável. Mas,
inevitavelmente, você não faz isso
para si. Você faz para o público ter
consciência e tentar mudar uma
daquelas atitudes. Acho que isso
funcionou. Se não houver uma
consequência na vida das pessoas,
não faz sentido fazer o Fantástico.
Então a sua participação no
quadro, de certa forma, ajuda a
intensificar a mensagem?
A gente queria fazer uma coisa que
mobilizasse as pessoas, mas o próprio
diretor entendeu que isso teria maior
probabilidade de ficar interessante
se a gente colocasse as imagens dos
repórteres, do apresentador para
fazer isso. E foi o resultado que a
gente teve.
Zeca, as atrações
concorrentes.
Você
costuma acompanhar
posteriormente, por
meio de gravações?
Elas não são uma
referência. A referência
para o Fantástico é o
próprio
Fantástico.
Na imprensa a gente
ouve que o Fantástico
está
procurando
novas ideias e quer
falar com tal público.
O Fantástico sempre
falou com todos os
públicos e sempre foi
um programa que mudou muito. Eu
acho muita graça quando escuto que
o Fantástico está reunido para novas
metas, novos formatos. Eu vejo muito
como telespectador, mas, nesses 15
anos que eu estou lá, nunca fiz um
mesmo programa duas vezes. Tem
um monte de quadros, um monte
de formatos, ele está constantemente
mudando. Eu acho que essa é uma
obsessão muito mais da imprensa,
do que interna, do Fantástico, em
achar que a gente vai se orientar
pelo que está sendo feito em outras
emissoras. Pelo contrário, se a gente
sair do eixo, acho que o público vai
estranhar. E a gente não quer isso.
Então quanto mais você permanecer
fiel ao DNA do programa, mais
ainda ele será reconhecido como
essa referência do assunto da família,
da pauta nacional.
Como se dá essa participação
do público no programa?
É muito interativo. O Fantástico
foi, literalmente, o primeiro
programa a usar a interatividade
no seu conteúdo, a chamar o
público para participar, para
Vox Objetiva | 13
Daniela Paoliello
para mim e dizem que
já emagreceram tantos
quilos, perguntam se
ainda estou de dieta. É
super legal. Eu nunca
fiz algo que tivesse tanto
impacto.
Mas
como
desafio
jornalístico
e
de televisão mesmo, A
Fantástica volta ao mundo foi
a coisa mais desafiadora,
mais interessante, porque
eu tive que ser produtor,
editor, eu não sabia qual
seria o roteiro que iríamos
seguir. A equipe era muito
reduzida: eu e o repórter
cinematográfico só. Acho
que foi muito intenso,
foram quatro meses e
meio. Então, nesse sentido,
eu diria que foi a coisa que
mais me preencheu nesses
15 anos de Fantástico.
Mediador do encontro de 25 anos
do Sempre um Papo, Zeca Camargo
colhe os frutos do “Medida Certa”,
do Fantástico: saúde e a atenção
dos brasileiros, que vêm nele um
exemplo de transformação
votar, dar a opinião. A gente, por
anos, teve uma coisa que o público
escolhia uma matéria de assunto
que ele queria saber mais na
semana seguinte. O retorno é muito
grande. Veja depois do Medida
Certa, a gente desenvolveu várias
caminhadas, inclusive aqui em Belo
Horizonte, onde levamos milhares
de pessoas para as ruas. Durante
o mês de julho, nós mobilizamos
54 mil pessoas. Então isso faz com
que as pessoas se sintam parte do
Fantástico. Eu acho que até pela
dinâmica da TV hoje e do próprio
programa, não tem sentido fazer
uma atração em que o apresentador
está ali como quem diz: “Olha,
estou aqui e vou contar as notícias
para vocês”. As pessoas querem
participar da pauta, da confecção
do programa, dar a opinião que elas
têm, e fazer parte da atração. Acho
que isso a gente conseguiu legal.
para definir projetos para 2012.
Então a gente já está pensando
em novos quadros; novas séries;
reportagens especiais; formatos;
cenários novos; a gente tem o
programa de número 2.000, que vai
acontecer, se não me engano, em
fevereiro. Então tudo isso estimula
um ambiente muito criativo, onde
se pensa não apenas a pauta da
semana. Eu brinco que o Fantástico
tem várias velocidades, ele tem a
velocidade da semana, onde você
produz as reportagens semanais,
tem as matérias especiais, que são
produzidas em dois ou três meses,
e tem as grandes matérias, grandes
reportagens que são feitas durante
um ano e que você vai colocar no
ar só depois disso. Essas são as
referências que a gente usa. Essa
é a criatividade da atração, que
se desenvolve a partir da própria
equipe.
Você disse que o programa
é referência para o próprio
programa. Como o Fantástico faz
para se remodelar?
Ele mesmo, a própria equipe.
Em setembro tivemos uma reunião
Você falou dos quadros. A
fantástica volta ao mundo seria o
principal quadro seu?
Olha, o Medida Certa tem uma
coisa muito legal, que é o impacto
alcançado. As pessoas chegam
14 | Vox Objetiva
Pois é, são 15 anos. O
que mudou no Zeca Camargo ao
longo desse tempo?
O maior presente que eu tenho
é ter espaço para colocar minhas
ideias. Sempre fui um cara muito
criativo. O que eu tenho hoje,
nesses 15 anos de Fantástico,
é que eu, finalmente, cheguei
num patamar que tenho uma
enorme oportunidade de expor
essa criatividade e bolar coisas
diferentes. Setembro talvez tenha
sido o mês do ano mais excitante
justamente porque começamos a
desenhar as coisas de 2012. Eu já
mandei ali umas sete, oito ideias,
provavelmente duas ou três vão
emplacar. Enfim, é uma briga
feia ali em relação às escolhas.
Acho que eu era um cara que
antes guardava a ideia pra mim e
executava em um plano menor. Já
hoje em dia eu tenho o privilégio
de ter uma audiência tão luxuosa
como é a do Fantástico: o Brasil
inteiro
acompanhando
uma
aposta, um projeto, uma aspiração
minha. Acho que isso me dá uma
satisfação muito maior, amplia
demais a minha realização como
profissional.
mundo
Divulgação/ Governo da Rússia
MAIS UM MANDATO
Vladimir Putin pode voltar à presidência russa.
Ao menos, o passo inicial já foi dado. O partido governamental Rússia Unida (RU) anunciou oficialmente a candidatura dele, que atualmente ocupa o
posto de primeiro-ministro do ex-país socialista.
A informação confirmada por meio do site oficial
da legenda também inclui um chamado para que a
população apoie os candidatos do partido nas eleições parlamentares de 4 de dezembro. Encabeça a
lista o atual presidente, Dmitri Medvedev, que modificou a constituição para que o próximo mandato
seja de seis anos com direito à reeleição.
As eleições presidenciais na Rússia estão marcadas para março de 2012. Ex-oficial da KGB, Putin governou o país entre 2000 e 2008, após suceder Boris
Yeltsin.
Marcello Casal Jr./ ABr
ORDENS DA ONU
Shamsnn
O Brasil obedece a ONU e a partir de março de 2012
reduzirá em 13% o contingente militar em missão de paz no
Haiti, deslocando 1.900 soldados a Porto Príncipe, capital
daquele país.
O corte segue a determinação do Conselho de Segurança
da ONU, que deseja diminuir o efetivo de militares no Haiti.
Hoje, o Brasil tem 2.188 militares no país, separados em
dois batalhões de infantaria, uma companhia de engenharia
do Exército e um grupamento da Marinha.
A partir de 2012, o número autorizado de capacetes
azuis cairá de 8.718 para 7.340, um contingente semelhante
ao registrado antes do terremoto que arrasou o Haiti em
janeiro de 2010.
Apesar da redução, não há uma data definida para a
retirada total das tropas.
REVOLUÇÕES CARAS
Um estudo publicado pela consultoria Geopolicity
revela que a Primavera Árabe causou um prejuízo de US$
55,8 bilhões para Síria, Líbia, Egito, Tunísia, Bahrein e Iêmen.
A pesquisa ainda aponta que onde os protestos foram mais
violentos, a conta foi maior, como na Líbia e na Síria.
A guerra civil contra Muamar Kadafi custou US$
7,67 bilhões, o que corresponde a 28% do PIB da Líbia. A
arrecadação do governo caiu 84% e o prejuízo nas contas
públicas soma US$ 6,5 bilhões, um rombo conjunto de 29%
de tudo que é produzido no país.
Na Síria, estimativas indicam que a repressão a Bashar
Assad deixou ao menos 3 mil mortos e causou um prejuízo
de US$ 6 bilhões à economia do país, o equivalente a 4,5% de
seu PIB. O impacto nas contas públicas foi de US$ 21 bilhões.
Vox Objetiva | 15
política
REPRESENTATIVIDADE CARA
Municípios brasileiros aproveitam emenda constitucional para ganhar novas vagas nas câmaras.
Minas Gerais é o segundo estado brasileiro que mais aderiu à mudança
Lucas Alvarenga
B
astaram os números do
Censo 2010 serem divulgados
para que municípios em todo o
país afinassem o discurso pela
representatividade. O aumento
populacional de 21 milhões de
habitantes na última década
despertou a classe política para
a possibilidade de que novos
assentos pudessem surgir nas
Câmaras Municipais. E, de
fato, a emenda constitucional
58/2009, responsável por alterar
a quantidade de vereadores
para cada cidade, permitiu com
que 7.716 novas cadeiras sejam
oferecidas já nas eleições de
2012. Coincidência ou não, a
disseminação de novas vozes
pelas casas legislativas municipais
se ajusta ao abono salarial para os
vereadores de todo o país em 2013,
em um efeito cascata provocado
pelo reajuste de 62% a deputados
e senadores em setembro passado.
Por isso, o teto salarial de um
vereador, que atualmente chega
a R$ 9.288,27, poderá atingir a R$
15.031,75, mediante a posse da
nova legislatura municipal. Para
se ter uma ideia dos gastos que se
avizinham, em cidades com mais
de 500 mil habitantes, é permitido
que o salário dos vereadores
corresponda em até 75% dos
vencimentos de um deputado
Para o presidente da
CNM, Paulo Ziulkoski,
o real Bastaram os
números do Censo 2010
serem divulgados para
no legislativo municipal
só será conhecido a
partir de junho do
próximo ano, após as
convenções partidárias
e os prováveis
aumentos de subsídios
dos vereadores
Renato Araujo/ Abr
16 | Vox Objetiva
estadual. Número que ainda varia
de acordo com o estado e o tamanho
da população, consumindo entre
3,5% a 7% do orçamento local.
Estimativas
preliminares
indicam que a mudança no quadro
de vereadores deve custar ao país
cerca de R$ 230 milhões ao ano,
isso considerado o salário de R$
2.246,87, equivalente a uma cidade
de 10 mil habitantes. Preocupado
com o orçamento e com a qualidade
da vereança, o ex-senador Carlos
Borges (PR-BA), relator do projeto
que deu origem à emenda 58/2009,
observa. “A resolução do TSE não
reduziu as despesas nas Câmaras
Municipais e ainda causou um grave
problema em virtude da redução
da qualidade da representação
popular nestes locais”.
Embora haja quem se preocupe
com o crescimento de cadeiras
no legislativo municipal, um
estudo da Confederação Nacional
dos Municípios (CNM) aponta
que, ao menos, metade das
cidades brasileiras deve optar
pelo aumento de vereadores
em
2012.
Conforme
dados
recentes do Instituto Brasileiro de
Geografia Estatística (IBGE), 2.153
registraram elevação populacional,
e, por isso, poderiam atualizar seu
quadro de representantes públicos.
Destes mais de dois mil, o CNM
ouviu dirigentes de 1.857 cidades
para estruturar um mapa das vagas
pelo Brasil. Por isso, o advogado
gaúcho e também presidente da
Confederação,
Paulo
Roberto
Ziulkoski, considera a pesquisa
“quase um censo”.
Em coletiva promovida no
início de outubro, o representante
da CNM divulgou que 50,08% dos
dirigentes consultados modificaram
Faixas populacionais
A discussão de autoridades
municipais, da CNM e da Abracam
sobre a elevação de vagas para
vereadores tem a ver com os novos
critérios de representatividade no
país. O artigo 29 da Constituição
dividia as cidades em apenas três
faixas, de acordo com a quantidade
de habitantes. Com a emenda
58/2009, 24 faixas populacionais
surgiram. Com isso, cidades com
população entre 300 mil a um
milhão de habitantes poderão ter 31
representantes, dez a mais que hoje.
Com a alteração na lei, resolveuse uma polêmica que desde 2004
vinha se arrastando. Na época, o
TSE redistribuiu os municípios
em 36 faixas e em 2.409 reduziu o
número de vereadores, elevando
em apenas 19 a quantidade de
cadeiras ocupadas.
Divulgação
a lei orgânica e alteraram o
número de vereadores para as
eleições de 2012. Dentre os 49,9%
restantes, 61,6% pretende alterar a
quantidade de cadeiras na câmara
de sua respectiva cidade. De acordo
com o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), a data limite para a mudança
na lei orgânica é 30 de junho de
2012. Para Ziulkoski, a emenda
constitucional não chega em um
momento propício. “Os municípios
têm necessidades mais urgentes
como saúde e educação. Não
precisava aumentar na proporção
que aumentaram”, argumenta.
Vereador por cinco mandatos
em
Coromandel,
no
Alto
Paranaíba, Rogério Rodrigues da
Silva ocupa, hoje, a presidência
da Associação Brasileira das
Câmaras Municipais (Abracam).
Na função, o mineiro defende que
os vereadores Brasil afora fixem o
teto de assentos, direito garantido
pela Constituição. “A medida
aumenta a representatividade e
fortalece a democracia, mas há
outras variáveis a se considerar,
como a receita e o tamanho do
município”. Por isso, Rogério
ressalta que algumas cidades não
abrirão mais cadeiras nas casas
legislativas por causa dos custos
extras no orçamento.
O Plenário Amynthas de Barros, palco
das decisões políticas em Belo Horizonte,
começará 2013 com o mesmo número de
vereadores de 2008: 41
Com isso, é possível que em
2013 se tenha 59.764 representantes
municipais eleitos, 16% a mais
que em 2008 e o teto para 2013,
conforme dados do IBGE. E quem
lidera o índice de cidades que já
mudaram a lei orgânica é o estado
de São Paulo, seguido por Minas
Gerais, com 124, embora com
uma população muito inferior à
paulista. Apesar disso, suas capitais
e o Rio de Janeiro continuarão
com a mesma quantidade de
vereadores, sendo São Paulo com
55, a capital fluminense com 51 e
Belo Horizonte com 41. As duas
últimas permaneceram na mesma
faixa populacional, e, por isso, não
têm direito à mudança.
Em Minas, das 236 cidades
com direito a elevar a proporção
de cadeiras nas câmaras, 124 já
aderiram a emenda de 2009, de
acordo com um levantamento
da CNM. Já no quesito teto de
vagas, os mineiros aparecem em
segundo, atrás apenas do estado
do Mato Grosso. A Confederação
leva em conta apenas os locais
que modificaram a lei orgânica,
preenchendo o máximo possível
de assentos. Até o momento, Minas
terá 407 novos vereadores, o que
corresponde há 99,6% do teto
destas cidades. Entre os municípios
matogrossenses que acompanham
a emenda, 97,9% já preencheram as
vagas possíveis.
Não cabe julgamento
Por decisão do ministro do
Supremo Tribunal Federal (STF),
Ricardo Lewandowski, o TSE
não irá interferir na escolha da
quantidade de representantes
públicos municipais que cada
cidade estabelecerá para as eleições
de 2012. O ministro, que também
é presidente do Tribunal, segue
o relator do caso, seu colega de
Supremo, Marco Aurélio Mello.
Este garante que a nova regra é
claríssima, não cabendo a Tribunal
apreciar a matéria.
Em
visitas
pelo
Brasil,
Lewandowski teria observado
a
apreensão
de
cidadãos
preocupados com a mudança
nas câmaras. “A população está
inquieta e muitas vezes contrária
a esse aumento. Mas o artigo 29,
inciso 4, é explícito e não cabe
ao TSE ingressar em detalhes
maiores”, declarou o ministro à
imprensa em Brasília. O Tribunal
Superior Eleitoral tem até 5 de
março de 2012 para regulamentar a
nova redação do artigo.
Vox Objetiva | 17
Antonio Cruz/ ABr
comentário - política
MAIS DO MESMO,
OU DA LAMA À LAMA
Paulo Filho
Jornalista e consultor de Comunicação Social
[email protected]
N
a semana que antecedeu o
prazo delimitado para quem
quer concorrer nas próximas eleições, em 2012, mais dois partidos
políticos foram criados no país:
Partido Pátria Livre (PPL) e o Partido Social Democrático (PSD), esse
último organizado pelo prefeito
de São Paulo, Gilberto Kassab - e o
que está causando as maiores reações e barulho, porque, descaradamente, a sua criação se configura
como o mais puro oportunismo
político-fisiológico. Com mais esses dois, chegamos à incrível marca de 29, frise-se bem, vinte e nove
partidos políticos no cenário nacional. É a hora então de uma simples
perguntinha: existem, no mundo,
tantas variações “ideológicas” assim? É claro que não. Esse número
18 | Vox Objetiva
absurdo de agremiações políticas
é apenas mais um dos sintomas/
consequências do nosso, brasileiro,
deteriorado “mundo da política”.
E isso em um momento em
que se discute, na sociedade e no
Congresso Nacional, uma reforma
que resgate um mínimo de credibilidade ao exercício da política
no país. Entretanto, por força das
circunstâncias, coube ao deputado Henrique Fontana (PT-RS) a
condução dessa reforma — ele é o
relator do projeto em construção
na Câmara. Em vez de aproveitar
mais essa oportunidade para fazer
o país avançar, o partido que detém o poder hoje se preocupa em
tirar, ainda mais, vantagens da situação: a proposta apresentada reflete claramente dois interesses —
criar mecanismos que favoreçam a
permanência do partido no poder
(e o voto em lista é um exemplo
bem acabado disso), e legitimar,
com a instituição do financiamento público de campanhas, a estratégia de defesa traçada pelo PT no
escândalo do mensalão, reforçando
o discurso do caixa de campanha
não contabilizado. Com relação a
mudanças mais sérias, dentre elas
a facilidade de criação de partidos
políticos no país, a proliferação de
legendas de aluguel continua incólume.
Ainda embrionário, o prefeito
Gilberto Kassab cantou a pedra:
“o PSD não será um partido de
esquerda, nem de direta e nem de
centro”. Dito isso e colocados na
balança os nomes dos seus filiados/
agregados, chega-se a duas conclusões primeiras: o partido foi criado
com o DNA do fisiologismo e do
oportunismo político (e o governo
Dilma agradece) e, coloquem as
barbas de molho aecistas, poderá
servir de base para o lançamento de
uma candidatura “quase” avulsa à
presidência da República em 2014.
Se o governador mineiro conseguir
se impor dentro do PSDB — e ele
está conseguindo, quem garante
que o PIB paulista não se valerá do
PSD para bancar uma outra candidatura? E, nesse aspecto, são bastante conhecidas as ligações entre o
prefeito de São Paulo e o ex-governador paulista José Serra, cardeal
tucano em franca decadência dentro do partido. Não é errado dizer
que Gilberto Kassab é cria de Serra
e, nesse momento, está se mostrando um hábil articulador político,
coisa que até a bem pouco tempo
atrás era impensável. Sobre isso, há
quem diga que a coisa não é bem
assim e que as cordas da marionete ainda estão nas mãos de Serra, o
que causa calafrios em muita gente
aqui nas alterosas.
Impressiona, porém, o tamanho
do PSD logo no seu nascedouro.
Além do prefeito da maior e mais
importante cidade do país e do vice-governador de São Paulo, maior
Estado da Federação, o partido já
amealhou, até o dia 6 de outubro,
53 deputados federais e, até o próximo dia 26, prazo concedido pelo
TSE para finalizar suas filiações,
pode chegar à casa dos 70 deputados federais, o que lhe garantirá a
terceira maior bancada na Câmara,
ficando atrás apenas do PMDB e do
PT. Com essa bancada, o poder de
“negociação” do novo partido será
imenso, principalmente porque a
maioria dos seus filiados vem de
partidos de oposição (DEM, PPS e
PSDB, à frente). Com tantos votos
“novos” na roda, a caciquía de partidos como PR, PTB, PDT e alguns
outros menores da base de Dilma
devem estar sofrendo com alguns
temores (ou mesmo tremores). O
jogo da barganha no Congresso vai
ter novos atores, e novos parâmetros, com certeza.
Depois de legalmente criado, na
primeira reunião de sua executiva,
com ares programáticos, o PSD levantou uma bandeira já desfraldada por muitos e há muito tempo:
uma nova Assembleia Nacional
Constituinte, escolhida em 2014,
para uma ampla revisão constitucional. Segundo Kassab, a Constituição Nacional carece de uma
ampla e geral reforma, ao contrário
de intervenções em temas separa-
damente. A constituinte exclusiva,
ainda conforme Kassab, teria mandato de dois anos. Se acontecerá
não se sabe, mas que dá ares de
seriedade ao novo partido e, principalmente, garante manchetes de
jornais, isso garante. Neste mesmo
encontro, o prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD
não se furtou a esclarecer e definir
com precisão o novo partido. Ele
afirmou que a legenda “é plural e
está aberta a alianças com qualquer
um”. “O que norteará as nossas
alianças são os nossos princípios e
nossa conduta”. Ele disse também
que o objetivo de qualquer partido
é “sempre” chegar ao poder e que,
para isso, “alianças são naturais e
necessárias”. Se alguém tinha alguma dúvida, não é preciso dizer
mais nada.
Aqui em Minas o PSD nasce
como a quarta bancada na Assembleia, mas com possibilidade de,
até o dia 26 de outubro, chegar à
terceira. Na data do registro formal
no TSE foram sete os deputados estaduais filiados (federais foram, de
imediato, quatro). Existe a previsão
de que mais três deputados estaduais se vinculem à legenda, tornando-a maior do que a do PMDB e
ficando atrás apenas do PSDB e PT
na Assembleia mineira.
Renato Araújo/ ABr
Vox Objetiva | 19
ECONOMIA
AGONIZANTE
Não há para onde correr. A
recessão é um mal que promete
incomodar por muito tempo o
Velho e o Novo Mundo
Fernanda Carvalho
20 | Vox Objetiva
economia
N
os dois lados do Oceano
Atlântico, as maiores potências
econômicas
mundiais
enfrentam crises capazes de deixar o planeta de cabeça para
baixo. Estados Unidos e União
Europeia enfrentam as consequências dos gastos excessivos,
que representam mais que os respectivos PIB’s. No país americano, os excessos alcançaram o teto
da dívida externa, que era de US$
14,3 trilhões (R$ 22,3 tri), fazendo-a
aumentar em, pelo menos, US$ 2,1
tri. Do outro lado do oceano, não
há um limite para as dívidas, entretanto a União Europeia está diante
do que pode representar o seu fim.
Mais uma vez, o Tio Sam conseguiu chegar à ponta da ribanceira para outra recessão. Próximo de
dar um calote no resto do mundo,
o país retomou o que tantas vezes
aconteceu na presidência de Ronald
Reagan: aumentou o teto da dívida
externa, mais uma vez. Hoje ele sofre as consequências de um gigante
devedor, cada vez mais sem credibilidade, com elevados índices de desemprego e com um impasse político entre republicanos da Tea Party e
democratas, o que pode custar toda
a economia mundial.
A inabalável União Europeia
também enfrenta grandes dificuldades com as divergências de
interesses entre as políticas dos
países. Na Grécia, os gastos ultrapassaram o crescimento e geraram
uma dívida impagável. Os bancos
europeus, financiadores do país,
podem nunca receber o dinheiro
emprestado. Mas o problema não
acontece somente no pequeno país
balcânico. Outros, como Espanha,
Itália e Portugal, também entraram
para a “lista negra” da União Europeia. O grupo supranacional de 27
Estados-membros está ameaçado.
Depois de muitas reuniões e
discussões sobre o futuro da Grécia, medidas financeiras foram
combinadas entre a capital grega e
três órgãos: FMI, União Europeia e
Banco Central Europeu. Do total de
€ 110 bilhões do pacote de resgate
aprovado em 2010, o país recebe
Como uma crise em um pequeno país como
a Grécia pode afetar a economia global
Bancos e governos de outros países da Europa compram títulos da dívida grega;
A Grécia não paga o que deve e dá o calote;
Esses bancos e governos passam a ter dificuldades de liquidez, ou seja, de
transformar os títulos em dinheiro;
A “doença” contagia outros bancos da Europa;
Acontece um efeito dominó e o “vírus” se propaga pelo mundo;
As autoridades europeias não desenvolvem uma boa solução para acabar com
a “doença” e a situação piora;
O resto do mundo passa a desconfiar da capacidade
dessas autoridades em lidar com crises mais
devastadoras;
Começa uma corrida contra os títulos de países
maiores, como da Itália e da Espanha;
Países com economia enfraquecida geram
mais países com economia enfraquecida;
Um banco de outro continente que tiver
títulos da dívida de um país europeu
também sofrerá consequências.
Dependendo do país em que o banco
estiver, pode ter problema de liquidez,
dando prejuízos aos contistas;
No caso do Brasil, o cidadão que tiver
conta no banco pode ter os juros
aumentados;
A “doença” contagia cada vez mais
países e chega ao consumidor: você.
Fontes: Patrícia Alvarenga, professora de economia do UNI-BH
e Eduardo Zilberman, professor de economia da PUC-Rio
mais € 8 bilhões, o correspondente
a, aproximadamente, R$ 19 bi. Mas
a nova medida não promete ajudar
muito, já que a dívida grega deve
chegar a 162% do PIB ainda nesse
ano. Além disso, o país já assumiu
que não cumprirá a meta fiscal nem
para 2011, nem para 2012.
Desde 11 de setembro de 2001,
quando as Torres Gêmeas foram
atingidas em um ataque terrorista,
os Estados Unidos começaram uma
corrida que também colaborou para
o aumento do endividamento. A
chamada Guerra contra o Terror,
medidas constantes em prol da proteção contra o “mal”, rendeu um
gasto aproximado de US$ 4 trilhões,
apenas com intervenções no Afeganistão, Iraque e Paquistão. Os dados são do projeto Costs of War, em
tradução livre “Custos da Guerra”,
da Brown University, que calculou,
além disso, a morte 225 mil civis.
No período entre 2001 e 2005, a
dívida externa aumentou 531,21%.
Segundo informações da CIA
(Central Intelligence Agency), nesse espaço de tempo a dívida norte-americana cresceu de 1,4 para 8,8
trilhões de dólares.
A crise que, para muitos especialistas, começou com a Guerra do Vietnã, estourou em 2008 com a quebra
do banco de investimentos com ação
global Lehman Brothers. Na nomeada Crise do Subprime, instituições
de crédito quebraram. Eles concediam empréstimos hipotecários de
alto risco para o próprio lucro. As
agências de classificação de risco as
incluíam como AAA, denominação
para baixo risco. Em consequência
disso, seis milhões de pessoas foram
Vox Objetiva | 21
economia
Endividamento dos Estados Unidos:
Os Estados Unidos viveram um período de crescimento acelerado depois
da Segunda Guerra Mundial. Até meados da década de 1970, as instituições
financeiras eram locais e
reguladas pelo Governo.
Mas no começo da década
de 1980 o sistema financeiro explodiu. A sociedade
se tornou mais desigual e
a dominação econômica
sobre o mundo começou a
diminuir.
A economia tornou-se mais globalizada e os
lucros das instituições financeiras aumentavam. À
medida que isso acontecia,
elas se tornavam mais poderosas e influenciavam na
regulamentação do sistema financeiro do país, feita
pelo Governo. Fazia-se vista grossa para o aumento
no número de lobistas com
trânsito em Washington.
Começou a época da desregulamentação.
despejadas de suas casas, até o início
de 2010, por não conseguirem pagar
os financiamentos de risco. O desemprego e o empobrecimento das
classes inferiores cresceram.
A maior parte da população
brasileira não deve ter percebido
nem uma pequena fagulha do que
aconteceu. Mas nos Estados Unidos e para os investidores do resto
do planeta, esse foi o início do que
agora pode representar a recessão
do país. “Você nunca viu nada
como isso antes. E vai ficar ainda
pior. Recessão significa um ciclo
vicioso e estamos diante de uma”,
foi o que afirmou o co-fundador do
Economic Cicle Research Institute,
Lakshman Achuthan, em entrevista ao canal de negócios CNBC.
22 | Vox Objetiva
Enquanto países como
a China abriam seus mercados, as empresas americanas
terceirizavam
serviços no exterior para
economizar dinheiro. A
política fiscal modificava,
favorecendo a 1% da população americana: os ricos. As faculdades tinham
altíssimo custo ou baixa
qualidade e pouco investimento quando públicas. A
população desfavorecida
pelo reajuste pôde fazer
apenas duas coisas: trabalhar mais horas diárias ou
deixar de pagar as contas.
As pessoas começavam
a financiar carros, saúde,
educação para os filhos e
casa. Entre 1980 e 2007, a
população dos 90% inferiores empobreceu.
De acordo com o sociólogo e escritor de diversos livros, dentre eles
O Fim do Império Americano? Os Estados Unidos depois da crise, Jan Nederveen, a causa subjacente é que
a desregulamentação foi longe demais. “A imagem agora é irregular.
O custo do império não para de aumentar e sua capacidade de influenciar os negócios está encolhendo.
Política e economicamente, o papel
dos Estados Unidos já diminuiu de
forma enorme nos últimos anos e
a tendência é continuar”, articulou
Nederveen à Vox Objetiva.
Se um país reduz o desenvolvimento, outras nações sofrerão
consequências dessa alteração. É
o que diz a teoria dos jogos, criada
por John Nash em 1950. Ela explica
No começo da década
de 1990, a desregulamentação servia de mãe para
o monopólio e fusões de
grandes empresas financeiras, com cada vez mais
poder de influenciar o
poder público americano.
Nos anos 2000, o sistema
financeiro já estava consolidado, mais poderoso do
que nunca, cada vez mais
desregulamentado, sem
rigor de leis do Governo.
A indústria financeira
americana atraia investidores do mundo inteiro.
A irresponsabilidade e
a corrupção fazem parte
desse sistema em escala
industrial. Os economistas e reguladores são, na
verdade, desreguladores.
Ações e produtos financeiros são criados sem legislação própria.
que comportamentos individuais
modificam o coletivo, o que significa que ações de um país vão influenciar nas decisões de outros.
“No caso de estratégia de países,
que é o centro das atenções da teoria dos jogos, ela ajuda na tomada
de decisões. A análise de influência
de determinações do governo no
comportamento dos indivíduos é
cada vez mais importante”, explica
a professora de economia do Centro Universitário de Belo Horizonte, Patrícia Alvarenga.
De acordo com a docente, em
um mundo cada vez mais globalizado, com interação dos mercados,
a teoria dos jogos se torna mais relevante e complexa, já que a estratégia de um país influencia na to-
entenda como tudo começou
No final da década
passada estourou a crise
do Subprime, resultado
de excesso de empréstimos a quem não podia
pagar. Tudo para alimentar o sistema financeiro, à
procura de lucro. Executivos de várias empresas
vendiam, especulavam
sobre produtos financeiros e logo depois os mesmos executivos derrubavam o produto.
Fonte: documentário de Charles
Ferguson – “Trabalho interno – A
verdade sobre a crise”
Barack Obama, atual presidente, prometia
maior regulação do sistema financeiro e total
controle dos homens de
Wall Street. Mas cargos
importantes, que ele
mesmo escolheu, continuam com os mesmos
desreguladores que estavam presentes nos governos anteriores, desde
Ronald Reagan. São eles
economistas renomados
que formam nas principais universidades americanas. Muitos deles
acadêmicos que educam
novos economistas com
o mesmo pensamento.
mada de decisões de outros e vice-versa. A economia não é um jogo
de soma zero. Se um país está com
problemas, outros serão atingidos.
Isso explica o porquê de crises aparentemente pequenas e distantes
influenciarem e modificarem toda
a engenharia da economia global.
“Se o capitalismo é incapaz de satisfazer as reivindicações que surgem infalivelmente dos males que
ele mesmo engendrou, então que
morra!”, Leon Trotsky
Desde o dia 17 de setembro uma
onda de protestos invadiu os Estados Unidos. O que começou com o
Ocupe Wall Street já foi para outras
cidades do país, como Washington
e São Francisco. Os protestos, como
As reformas financeiras prometidas não
foram cumpridas. E, em
algumas áreas críticas,
incluindo agências de
classificação de risco,
lobby e remunerações,
nada de significativo ainda foi proposto. Em 2009,
o desemprego atingiu
seu nível mais alto em 17
anos e o banco Goldman
Sachs pagou mais de US$
16 bilhões aos seus executivos. Em 2010, os bônus foram ainda maiores.
Trotsky já havia dito, são contra o
capitalismo e o aparelho financeiro. “Como sistema econômico, ele,
cada vez mais, produz um tipo de
economia ao contrário de sua pretensão, uma economia estatal colossal. Basta ver as dívidas públicas
que estão gerando no mundo inteiro. São intervenções gigantescas
do Estado para salvar os bancos e
todo um sistema que não tem como
existir espontaneamente”, avalia o
marxista Theotonio dos Santos.
O economista afirma que o Estado busca salvar o sistema e os
bancos tirando da população. É a
causa da revolta. “As pessoas estão revoltadas com essa política
constante de diminuição dos gastos públicos em atenção a elas e
Várias pessoas passaram a viver em cidades
de cabanas, colocadas no
chão, sem qualquer proteção. Enquanto isso, os
executivos de Wall Street
ficam cada vez mais ricos
e consomem dinheiro do
Governo com prostituição
e drogas. Eles gastam milhões para lutar contra a
reforma fiscal no país. O
endividamento norte-americano surgiu das enormes
desregulamentações dos
maiores economistas e
executivos da América.
Os altos cargos continuam sendo ocupados pelos
principais culpados pelo
endividamento do país e
pelo empobrecimento de
milhões de pessoas, não
somente nos Estados Unidos, mas também na Europa e em vários outros
países do mundo.
aumento em transferência de recursos para o setor financeiro para
salvar instituições decadentes”,
afirma Theotonio.
Wall Street, maior representação do sistema financeiro global,
é palco de gigantesca desregulamentação norte-americana. Alertas
para a crise financeira de 2008 foram anunciadas por vários pesquisadores, mas os executivos e economistas dos altos cargos fingiram
não ter ouvido. O setor financeiro
gastou mais de US$ 5 bilhões em
lobby e contribuições a campanhas,
apenas até 2008. Depois da crise do
Subprime, passaram a gastar ainda
mais tentando reter uma reforma
fiscal que travaria seus gigantescos
lucros mensais.
Vox Objetiva | 23
economia
Esse é, para muitos estudiosos,
um claro processo de decadência
do sistema. Mas alguns economistas não dão as mesmas dimensões.
Para Márcio Salvato, crises no capitalismo sempre existiram porque
há um problema de “jogos de informação”. “O sistema se auto-penaliza com esses jogos, muitos perdem e ele se recupera”. De acordo
com Carlos Pinkusfeld, atualmente
os Estados Unidos não enfrentam
uma crise financeira, o problema
emergencial foi resolvido em 2008.
“O que ocorre nos EUA é um alto
desemprego e baixo crescimento
em razão do fraco desempenho
dos seus componentes de demanda agregada, aí incluindo o gasto
público”.
A crise do desemprego e as condições subumanas a que vive uma
parte da população global é, na
opinião de Theotonio, motivo para
uma grande modificação. “Precisa
de uma visão teórica, conceitual,
doutrinária, capaz de captar todas
essas mudanças do ponto de vista
de transformação global para a humanidade. As sociedades têm que
estabelecer metas de desenvolvimento geral para atender às necessidades da maioria da população.
Até chegarmos lá vamos ter que
passar por várias tentativas”.
Os BRICs
Dia 21 de setembro de 2011. A
presidente do Brasil, Dilma Rousseff, se tornou a primeira voz feminina a abrir a reunião da Assembleia-Geral da ONU, em Nova
Iorque, Estados Unidos. “Essa
crise é séria demais para que seja
administrada apenas por uns poucos países. Seus governos e bancos
centrais continuam com a responsabilidade maior na condução do
processo. Mas, como todos os países sofrem as consequências da
crise, todos têm o direito de participar das soluções. Não é por falta
de recursos financeiros que os líderes dos países desenvolvidos não
encontraram solução para a crise.
É, permitam-me dizer, por falta de
recursos políticos e, algumas vezes,
24 | Vox Objetiva
por clareza de ideias”, declarou.
O Brasil faz parte da sigla BRICs,
que integra Rússia, Índia, China, e,
atualmente, África do Sul. O grupo
é a nova aposta de muitos pesquisadores. O acrônimo foi criado pelo
economista Jim O’Neill, chefe de
pesquisa em economia global do
Goldman Sachs.
Um estudo realizado pelo National Intelligence Council, centro
americano de questões estratégicas
ligado às agências de inteligência,
prevê uma modificação completa
no sistema político-econômico internacional para as próximas décadas. “Projeções de crescimento para
o Brasil, Rússia, Índia e China indicam que eles irão, coletivamente,
equivaler às originais amostras do
PIB global do G7, em 2040-2050”.
A previsão é que esses quatro
países tenham cada vez mais voz
e espaço político no cenário internacional. Mas se tornarem potênUm estudo do National Intelligence
Council prevê que os países do “velho” BRIC
irão, juntos, equivaler às originais amostras
do PIB global do G7 entre 2040 e 2050
cias ou, até mesmo, substituírem
a representatividade dos Estados
Unidos e União Europeia é uma
ilusão, de acordo com muitos estudiosos. Para o diplomata de carreira e professor de Economia Política
do Centro Universitário de Brasília,
Paulo Roberto de Almeida, claramente não há a possibilidade desses
países se tornarem o novo centro
global. “Eles são pólos de crescimento mundial ainda, locomotivas
regionais. Centro global significa
inovação, em primeiro lugar. A China não vai ser um pólo econômico
mundial. É uma economia da imitação e não da inovação. Para pegar
o lugar dos EUA teria que rebolar
e rebolar muito”, pondera Almeida.
Os BRICs endossaram a ajuda
política sugerida pela presidente
durante o discurso. Reuniram para
levantar possibilidades de ajuda
econômica aos países europeus
em crise. Almeida considera que
a dívida... O Brasil está justamente
fazendo o que a Grécia fez e o que
não deveria fazer”.
De acordo com dados do Tesouro Nacional no dia 10 de outubro de
2011, a expectativa é de que o PIB
cresça 3,5% nesse ano e atinja ganho
de 4,5% em 2014. Mas a dívida externa brasileira ainda está em altos patamares. O Banco Central divulgou
o débito total: US$ 304,2 bilhões.
as nações pequenas poderiam ser
ajudadas com o dinheiro do FMI,
mas as grandes, como Espanha e
Itália, fica mais complicado. “É necessário medir o risco. O Brasil, por
exemplo, não tem condições de ficar enfiando muito dinheiro”.
Ao contrário do que tem sido demonstrado, o Brasil não tem muitos
antecedentes que sirvam de espelho
para os países em crise. Na verdade,
a nação não tem absolutamente nenhum exemplo a dar, de acordo com
Almeida. “O conselho que poderia
oferecer nessas condições é parar
de gastar e fazer reforma. Vale para
o Brasil também. Não só não tem a
ensinar, como deveria aprender sobre o que não fazer. Se o país não
fizer o dever de casa, com os gastos
que crescem sempre acima do PIB,
o nosso caminho é semelhante ao
grego”, alumia e completa: “Previdência generosa, gastos públicos,
superávit primário que não cobre
Roberto Stuckert FilhoPR
O futuro da economia global
“Descentralização” parece ser a
palavra do momento para a economia. De acordo com Paulo Roberto
de Almeida, porém, o termo não
passa de “bobagem acadêmica”.
Para ele, o mundo vai se tornar
mais equilibrado e provavelmente se torne mais multipolar. “Os
Estados Unidos, possivelmente,
crescerão menos. Mas não sei se
o equilíbrio é positivo. Quando o
mundo foi muito equilibrado houve muitas guerras. Você tem uma
grande potência que todo mundo
teme, nem a China ousa desafiar.
Se os Estados Unidos declinarem
muito, pode ser que o país asiático
se torne muito arrogante”, explica.
De acordo com Jan Nederveen,
são dois os possíveis caminhos. A
primeira possibilidade é a multipolaridade, “que agora existe e é
muito desigual. Instituições internacionais como o FMI continuam
a ser lideradas pelo Ocidente”. Em
segundo lugar, a não polaridade,
nenhum centro de maior poder.
O professor de economia da PUC-Rio, Eduardo Zilberman, esclarece
que passaremos por alguns anos de
baixo crescimento global. “O tempo
necessário para sanear a economia,
especialmente os bancos, até que ela
recupere a capacidade de gerar intermediação financeira, um dos motores do crescimento econômico”.
Outra linha de pensamento
analisa que a economia caminha
para uma forma socialista, mas
diferentemente do que era pensado antes, com um regime fechado.
“Nós caminhamos para uma forma
na qual as relações entre os países
serão cada vez mais decididas por
acordos estatais, com participação
do governo, dependendo do grau
democrático de cada Estado. As
decisões estarão ligadas fortemente às necessidades da população”,
antecipa Theotonio.
A crise não pode alavancar nenhuma economia. Para Almeida,
nenhuma crise pode favorecer ninguém. Todos os países prosperam
quando há uma desestabilização
econômica global. “Não vejo como
a gente possa se beneficiar da miséria alheia”, considera. Mas de acordo com Pinkusfeld, o Brasil não
deve ter dificuldade em financiar
seu déficit em transações correntes
se os EUA e a Europa mantiverem
o baixo crescimento. “Assim está
afastada, caso algo mais grave não
ocorra, de crise cambial e o Brasil
pode continuar a crescer nas taxas
razoáveis recentes”, explica.
Muitos especialistas acreditam
que o máximo que países como os
BRICs conseguem é chegar a serem chamados de superpotências
pobres, com alguma representação
econômica internacional. Almeida
acredita que certamente o Brasil
pode atingir o bem-estar social,
mas para ser considerada uma superpotência, teria que ser dinâmico, progressista e aberto. “Quando
os outros países quiserem ser imitados pelos bons valores e princípios, eles serão superpotências”.
Por muitos anos o sistema financeiro estadunidense e europeu
funcionou como um espelho para o
resto do mundo: as economias que
todos almejavam e admiravam.
Enquanto isso, os emergentes lutaram, e ainda lutam, para diminuir
suas disparidades sociais e econômicas. Mas a verdade começou a
aparecer diante da crise.
Nos países desenvolvidos, as
diferenças se agravam a cada dia.
As redes de corrupção também
existem nas inatingíveis e exemplares nações. Os ricos ficam cada
vez mais ricos e os pobres, cada vez
mais pobres. E a tendência é só piorar. Até porque a população continua nas mãos dos mesmos homens
que geraram a crise.
Vox Objetiva | 25
economia
51, UMA BOA IDEIA
Existem propagandas e slogans
“que pegam”. Grudam como aquela música que tentamos esquecer e
não conseguimos. Você, certamente, já deve ter escutado isso. Da
mesma forma que já ouviu: “Bombril, 1001 utilidades”, “Nescau,
energia que dá gosto”, “Skol desce
redondo”, “Nike, just do it”. Ainda
existem aquelas regionais. Eu, que
sou gaúcho, poderia citar duas que
exemplificam bem o orgulho que
temos da nossa terra. O primeiro
é do Banco do Estado: “Banrisul,
melhor porque é nosso”, uma clara alusão à não privatização do
mesmo. O segundo exemplo é de
uma marca de cerveja chamada
Polar: “Polar é NO Export”, numa
referência ao fato desta ser vendida apenas em território gaúcho.
Enfim, muitos são os exemplos.
Afinal, publicitários e marqueteiros estudam anos para tentar nos
convencer de que um determinado
produto é diferenciado e que você
necessita desse produto. E não é
que eles conseguem!
Na maioria das situações,
quando comparamos um produto, realizamos uma análise relativa de preços. No entanto, algumas vezes promovemos certas
abstrações. Eu, particularmente,
sou fã de algumas marcas, posso citar sem compromisso umas
duas aqui: a maionese Hellmanns
e a margarina Qualy. Veja bem
que não estou fazendo propaganda, afinal gosto é uma coisa muito
pessoal. Cada um tem o seu. Para
mim, com maionese e margarina
26 | Vox Objetiva
não há muito o que discutir nem o
que analisar. Parece que, de certa
forma, deixamos de lado aquilo que
o pensamento científico do século
XX convencionou chamar de Homus
Economicus, que nada mais é do que
o racional econômico por trás das
decisões de consumo.
Obviamente que seguindo essa
linha de raciocínio, você pensará
que sou fã da famosa “Caninha 51,
uma boa ideia”. Na verdade não
gosto de cachaça. Prefiro vodka.
Mas, como disse, gosto é algo muito
pessoal. No entanto, você não acha
o slogan muito bom? Acho genial,
pois qualquer exemplo que envolva
o número 51 é passível de se tornar
um convite a apreciação do destilado. Essa campanha criada em 1978,
foi pensada para o rádio e, até hoje,
é conhecida.
E por que o número 51? Não tenho noção, mas uma boa ideia relacionada ao número 51 é começar a
investir com a bolsa nos 51 mil pontos! E, nessa semana, o Ibovespa iniciou nos 51.243 pontos. Parece que
os investidores se deram conta de
tal fato e foram às compras. Como
resultado, tivemos uma semana de
ganhos na bolsa brasileira. Basicamente, o que deu o tom foi um
plano desenhado por França e Alemanha, que visa resolver a crise de
dívida da zona do euro e restaurar o
combalido setor bancário do bloco.
A chanceler alemã, Angela Merkel,
disse que ela e o presidente francês,
Nicolas Sarkozy, “estão determinados a fazer o necessário para garantir a recapitalização dos bancos
William Castro
Analista da XP Investimentos
[email protected]
europeus.” A possibilidade de um
fim para a crise europeia rendeu
boas compras aos investidores.
Bom e agora? É interessante investir nos 55.030 pontos? A
meu ver sim!
Digo isso sem deixar de lado
o Homus Economicus. Muito pelo
contrário. Analisando friamente os
dados e as perspectivas econômicas de países semelhantes ao Brasil,
como Índia, China, México e Chile,
digo e afirmo que é, sim, uma boa
ideia. Lembra da análise relativa,
quando comparamos produtos?
Pois é, quando estabelecemos
uma comparação entre o valor de
uma companhia com o lucro que
esta obtém em um ano, chegamos
a um indicador muito utilizado
no mercado: a razão entre preço
e lucro (P/L). O racional por trás
disso é comprar empresas que
possuam a menor razão, pois estas supostamente seriam a melhor
relação entre o preço e o lucro que
a empresa consegue auferir. Realizando essa comparação vemos
que, atualmente, a bolsa indiana
negocia a um múltiplo de 15x, a
chinesa de 13x, a mexicana de 18x
e a chilena de 16x.
Enquanto isso, nossa bolsa
negocia a apenas 8,5x, contando ainda com as perspectivas de
crescimento de nossa economia,
mesmo num cenário de desaceleração global.
Enfim, deixando a caninha de
lado, acredito que essa seja uma
boa ideia, seja nos 51, ou mesmo
nos 55 mil pontos.
educação
PASSANDO A LIMPO
Apesar do aumento de 128% no orçamento da Educação nos últimos 15 anos, Brasil continua a
acumular baixos índices escolares. Dentre os problemas, destaque para a corrupção.
Lucas Alvarenga
Valter Campanato/ ABr
O
alerta veio do lugar de onde se
espera resoluções para os graves problemas sociais brasileiros.
Em uma das Assembleias Legislativas, a do Rio Grande do Norte,
uma potiguar de 1,57 m de altura
roubou a cena em maio passado
ao chamar a atenção para a causa
educacional, se tornando notícia
em todo o país. A ex-professora de
português, Amanda Gurgel, de 28
anos, afastou-se das salas de aula
deprimida após constatar que alguns alunos sequer sabiam escrever a palavra bola no sexto ano. A
participação da educadora no pro-
grama político do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado
(PSTU) levantou, porém, dúvidas
de alguns parlamentares, quanto à
sinceridade do discurso.
Apesar da polêmica envolvendo a legenda radical de esquerda,
as queixas sobre os salários e a falta de apoio à educação em nosso
país continuam a ser questionados
não só por professores, militantes
políticos ou não, mas também por
alunos, pais e especialistas. Entretanto, o que explica circunstâncias
como esta se, entre 2005 e 2009, o
Brasil ampliou em 72% o investi-
mento público por aluno no ensino básico? Pesquisadores brasileiros apresentam leituras diferentes
para o mesmo tema e garantem:
os fatos, observados isoladamente,
não explicam a educação no país.
Tanto, que a Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil dá
mostras de que a educação está
entre suas prioridades. Afinal, o
número de pessoas que não havia
completado o ensino médio no país
caiu de 63% em 2007 para 59% em
2010. Além disso, o país registrou,
no mesmo período, a maior elevaVox Objetiva | 27
Divulgação
Para o especialista
em financiamento
da educação, Nelson
Cardoso Amaral, o
investimento brasileiro
por aluno em idade
educacional está
muito aquém daquele
aplicado em países
desenvolvidos
ção na quantia de recursos destinados por aluno da educação infantil
e do ensino médio, 121%. Sinais de
evolução que esbarram, porém, em
outros números nada animadores.
No exame internacional Pisa de
2006, o Brasil ficou em 54º lugar entre os 57 países avaliados em matemática e em 49º entre 56 países na
avaliação sobre capacidade de leitura. Já no Enem 2010, o panorama foi
ainda mais desolador. Entre as instituições de ensino que tiveram desempenho inferior à média nacional
na prova objetiva (511,21 pontos),
96% eram públicas. Ao todo, 63%
das escolas participantes ficaram
abaixo da média, segundo o Ministério da Educação (MEC). E na
ponta da tabela, apenas uma escola
28 | Vox Objetiva
pública entre as 20
melhores do país.
Mesmo com R$
63,71 bilhões reservados este ano,
as personagens da
educação vêm protagonizando cenas
de
reivindicação
pelo cumprimento
do piso salarial, instituído na administração Lula, além
de histórias como
de Silvana dos
Santos, mãe que,
durante a greve
dos professores em
Minas Gerais, viu
que a transferência
de sua filha não foi
a melhor das escolhas. A jovem ficou
sem aulas na nova
escola pública e a
mãe, consternada.
A fim de colaborar
para a resolução destes problemas
e em favor de uma melhor relação
custo-benefício para o ensino, especialistas em educação verificam
o quão eficientes são os gastos
com o setor e mostram que o valor investido por aluno ainda está
aquém dos padrões internacionais.
A meta é dez
Doutor em Educação pela Unimep-SP, Nelson Cardoso Amaral
não dispensa os números. Categórico, o especialista em financiamento educacional compara realidades
distintas para sustentar a bandeira
em favor de 10% da riqueza nacional para educação até 2020. “Em
2008, o Brasil teve um PIB, corrigido pelo poder de compra, de US$
2 trilhões, enquanto a Alemanha
chegou a US$ 3 trilhões. O governo
brasileiro aplicou 4,7% do PIB em
educação, já o alemão, 4,6%. A população em idade educacional brasileira foi de 84 milhões e a germânica de 18 milhões. Se efetivarmos
as contas de quanto Brasil e Alemanha gastaram por pessoa em idade
educacional, concluímos que aqui
se aplica US$ 959 e lá US$ 7.187.
Uma grande diferença”, esmiúça.
Amaral, também professor de
pós-graduação da Universidade
Federal de Goiás (UFG) e assessor
da reitoria, não é o único a pensar
desta forma. O pesquisador compartilha tal argumentação com
membros de movimentos sociais e
estudantis e até mesmo com a cúpula do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Para estes, a intenção do MEC de se destinar 7% do PIB à educação até 2020
é insuficiente, apesar de a média de
investimento nos países da OCDE
se aproximar de 6%. A razão para a
atual deficiência estaria em fatores
como a parcela de pessoas em idade educacional, que compreende a
faixa etária de 0 a 24 anos, frente à
riqueza brasileira.
“O controle populacional já está
ocorrendo por conta das próprias
famílias que reduziram o número
de filhos. Projeções do IBGE nos
mostram que até 2050 a quantidade de crianças e jovens em idade
educacional estará reduzida em
valores próximos a 40%. É uma
queda que trará acoplada também
uma elevação da quantidade de
idosos. É claro que, dessa forma, o
país poderá aplicar mais recursos
financeiros em educação, por aluno, mas não podemos nos esquecer
de que as políticas relacionadas à
terceira idade necessitarão também
de um maior orçamento”, contextualiza Amaral. Hoje, conforme
cálculos do educador e do IBGE,
42% da população brasileira se encontra em fase educacional, valor
que deve cair para 24% até 2050.
Embora contribua, o controle
populacional não é a única alternativa para elevar o investimento
por aluno e atingir a meta dos 10%.
Pensando nisso, o professor da UFV
propõe atitudes como estabelecer
contribuições dirigidas exclusivamente à educação, vincular ao menos 50% dos recursos do fundo social do pré-sal para o PNE e priorizar o setor educacional no processo
de expansão do país. Amaral ainda
endossa três sugestões do presidente do Ipea, Marcio Pochmann: o
estabelecimento de impostos sobre
grandes fortunas, a adequação dos
tributos diretos praticados no Brasil
e o combate ao desvio de recursos
pelos subsídios e isenções.
Se efetivarmos as
contas de quanto
Brasil e Alemanha
gastaram por
pessoa em idade
educacional,
concluímos que
aqui se aplica
US$ 959 e lá US$
7.187. Uma grande
diferença.
Nelson Cardoso Amaral,
Doutor em Educação e
professor pela UFG
fundamental de 1.488 escolas públicas com a auditoria dos gastos de
365 municípios realizada pela Controladoria Geral da União (CGU),
entre 2001 e 2004. A Prova Brasil,
instituída pelo MEC, mensura o desempenho de alunos do 5º ao 9º ano
de escolas públicas em matemática
e língua portuguesa em uma escala
de 0 a 500. Os economistas avaliaram que, em média, a diferença da
nota dos estudantes onde os recursos foram mal utilizados ou desviados para aqueles que aprenderam
em escolas bem geridas era de 15
pontos. Com isso, concluiu-se que
o valor do Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento da Educação
Básica (Fundeb) não se relaciona à
qualidade do ensino.
“É razoável esperar que municípios onde os pais são mais educados, a pressão sobre políticos seja
maior e, assim, menos corrupção
seja, de fato, observada. Além de
melhor controlar a corrupção, pais
educados podem ajudar mais no
aprendizado de seus filhos, e, portanto, a relação negativa entre corrupção e notas escolares talvez seja
causada pela presença (ou não) de
pais mais instruídos e não direta-
Morgue File
Gestão ineficiente
Nem todos os pesquisadores
pensam igual a Amaral. “A quantidade de dinheiro destinada à educação no Brasil não está ruim. É
claro que pode melhorar, mas isso
é uma necessidade geral. A valorização do setor, com maiores investimentos, é uma decisão legítima e
soberana. Vejamos, porém: os gastos nas redes estaduais e municipais
se aproximam dos parâmetros internacionais. O problema do ensino
no Brasil é, na verdade, de gestão de
recursos”, argumenta Samuel Pessôa, doutor em Economia pela USP
e chefe do Centro de Crescimento
Econômico do Instituto Brasileiro
de Economia (Ibre/FGV).
A fim de estudar os efeitos colaterais da má gerência e do desvio
de verbas destinadas à educação no
Brasil, pesquisadores desenvolveram um estudo pela PUC-Rio, junto
à Universidade de Berkeley (EUA) e
ao Banco Mundial. Assinado pelos
economistas Claudio Ferraz, Frederico Finan e Diana Bello Moreira,
“Corrupção, Má Gestão, e Desempenho Educacional: Evidências a
Partir da Fiscalização dos Municípios” surgiu como possibilidade
de se analisar as consequências de
desvios sobre a disposição de bens e
serviços públicos. “A educação é re-
conhecida de forma unânime como
importante para o desenvolvimento
de países e, dada a riqueza de dados
educacionais no Brasil, o setor nos
pareceu o candidato natural para
estudar os efeitos da corrupção”,
esclarece Diana, pós-doutoranda
em Economia na Universidade de
Harvard, nos Estados Unidos.
Os pesquisadores cruzaram o resultado conquistado na Prova Brasil
pelos alunos do 5º ano do ensino
A quantidade de carteiras já denuncia:
há muitos alunos nesta sala de aula.
Espaço ideal para dispersões e déficits
educacionais
Vox Objetiva | 29
mente pela corrupção”, observa a
pós-doutoranda. Além desta análise, o trio verificou que a corrupção
tem efeito significativo em medidas de desempenho escolar como a
evasão e a repetência.
Um recente estudo da Advocacia-Geral da União (AGU) deu nova
dimensão ao problema. Em virtude
dos grandes orçamentos, a saúde e
a educação são os maiores focos de
desvios no Brasil. O índice chega a
70% nas duas áreas. Em geral, os pontos de ilegalidade envolvem quantias
inferiores a R$ 100 mil, pois elas carecem de maior fiscalização. Situação
agravada pela falta de autonomia dos
conselhos municipais para apurar as
atuações das prefeituras.
Para a pós-doutoranda, a União
vem combatendo os desvios, embora ainda haja um longo caminho a
ser percorrido e muitos outros estudos a apontar as melhores alternativas para o combate à corrupção. “A
própria fiscalização de municípios
por meio de sorteios públicos, assim
como a obrigatoriedade de licitação
eletrônica, são exemplos de políticas que visam aumentar a transparência nos gastos, e, portanto, do
progresso feito até então”.
Raízes do problema
Por vezes criticados, os mecanismos de avaliação do ensino, válidos às pesquisas sobre o combate
à corrupção na área educacional,
avançaram bastante. O uso da Prova Brasil por Ferraz, Finan e Moreira endossa a argumentação de
Samuel Pessôa. Para o economista,
não só os exames, mas também o
acesso praticamente universal das
crianças ao primeiro nível da graduação revelam uma evolução do
ensino no Brasil.
O chefe do Ibre/FGV lembra,
entretanto, que os problemas da
educação são diferentes daqueles
30 | Vox Objetiva
Marcello Casal Jr/ ABr
Estantes cheias de livros, crianças atentas
à leitura, asseio e silêncio. Retrato ideal,
embora nada corriqueiro, da educação
básica, que durante anos sofreu com a
desigualdade de investimentos em relação
à ensino superior
relacionados aos transportes, resolvidos com uma simples alocação de
capital. Por isso, Pessôa pondera e
expõe que “a educação não tem lá
muitos parâmetros”, embora alguns
sejam gerais para a melhoria do ensino. Dentre eles, destaque para a
autonomia na gestão dos recursos,
a constante avaliação e fiscalização,
o investimento em português e em
matemática, além da valorização
dos profissionais. Conclusões baseadas, em parte, no estudo de Diana
e seus parceiros, que também avaliou a aplicação de verbas para a
merenda e a infraestrutura.
O economista da FGV vai além
ao sugerir que a educação pública
copie uma medida do Judiciário.
“Os concursos públicos sozinhos
não são capazes de avaliar uma
das principais competências de um
professor, o desempenho em sala
de aula. Por isso, o candidato deveria cumprir um estágio probatório
de três anos para ocupar a vaga”.
Nelson Cardoso Amaral sustenta o
pensamento de Pessôa ao recordar
que os educadores brasileiros foram formados em um contexto de
deficiências no ensino superior público e no magistrado, que acarretaram em lacunas no aprendizado.
Outra medida seria elevação da
carga horária ou do número de dias
letivos nas escolas, hoje 200. Para
Amaral, a ideia, defendida pelo ministro Haddad, infelizmente, esbarraria nas condições sócio-econômicas das famílias envolvidas. Por isso,
o professor da UFV defende outra
saída. “Falo em uma educação em
tempo integral nas escolas públicas e
privadas e não em dois turnos estanques, em que em um deles são cumpridas as atividades educacionais
SALTOS DA EDUCAÇÃO
Evolução do investimento público em educação em
relação ao PIB vs crescimento populacional:
o
Entre 2000 a 2005 – estável em 3,9 /o do PIB
o
o
Entre 2005 a 2010 – de 3,9 /o a 5 /o do PIB
Entre 2000 a 2010 – de 169 mi. para 191 mi. de
habitantes
o
28 /o de aumento do PIB
o
13 /o de crescimento populacional
Progresso
do
orçamento
do
MEC
incluindo FIES e salário (em bilhões):
e
do
FNDE,
Entre 1995 a 2000 – de 28,5 bi. para 28,8 bi.
Entre 2000 a 2005 – de 28,8 bi. para 30,5 bi.
Entre 2005 a 2010 – de 30,5 bi. para 65,2 bi.
o
128 /o de elevação
Investimento público no aluno do ensino básico em
previstas na legislação, em outro são
desenvolvidas atividades para ‘segurar’ a criança ou jovem na escola”,
alfineta e arremata. “As atividades
destes turnos devem se entrelaçar
por meio do projeto político-pedagógico da instituição”.
Tempo integral ou não, a exigência por capacitação cresce na medida em que a economia brasileira se
expande. Não é à toa que no país,
quem tem diploma de nível superior ganha 156% a mais do que
pessoas que alcançaram apenas o
ensino médio. Nos países associados à OCDE, a média é 50%. Convicto de que a educação é melhor
investimento público, como comprova o Ipea ao provar que a cada
real investido no ensino, tem-se um
retorno de R$ 1,85, Amaral projeta.
“Acredito que as diversas forças sociais que defendem uma melhoria
relação ao do ensino superior:
Em 2000: gastava-se 11,1 vezes mais como um aluno
do terceiro grau que do primeiro
Em 2009: gastava-se 5,2 vezes mais como um aluno
do ensino básico que do superior
o
113 /o a menos de diferença
Fontes: MEC, Inep, FGV e Subsecretaria de Planejamento.
do processo educacional, primeiro
como formação do ser humano e,
depois, como mão de obra para o
mercado, terão relativo sucesso. Até
porque, se temos um ser humano
mais bem formado, é certo que ele
também estará mais bem preparado
para o mercado de trabalho. Claramente, será uma pessoa que pensa
mais, reflete mais e cria mais”.
Vox Objetiva | 31
justiça
POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA
PÚBLICA: GRANDES DESAFIOS
Os problemas da segurança pública brasileira são reflexos de um
legado político autoritário. As bases
do sistema público de segurança
(ainda) estão assentadas numa estrutura social historicamente conivente com a violência privada, a
desigualdade social, econômica e
jurídica e os “déficits de cidadania”
de grande parte da população.
Como se não bastasse toda
uma ordem político-institucional e
cultural geradora da exclusão e do
afastamento de grandes parcelas
da população dos direitos de cidadania, o período ditatorial (1964
– 1985) acentuou o esfacelamento
de uma cultura democrática em
construção ao enfatizar o controle
do Estado em relação às chamadas “classes perigosas”. Em boa
medida, o conceito da “doutrina
de segurança nacional” criado durante a Ditadura Militar continuou
vigorando na estrutura de nossos
sistemas estaduais e federal de segurança. Até meados da década de
1990, o modelo e as ações de segurança pública se limitavam à contenção social, a partir do preceito
de que “lei e ordem” públicas derivariam no uso da força, das armas
e das ações policiais pela exclusiva
via da repressão. Em síntese, segurança como “coisa de polícia”.
O autoritarismo, característico
desse período, conjugou-se com
práticas clientelistas e patrimonialistas - que remontam da formação
social e política nacional – na con32 | Vox Objetiva
formação de um sistema público de
segurança claramente a serviço de
determinadas classes sociais, com o
aval da legalidade dada por parte do
Estado. Tal situação perdurou mesmo depois da promulgação da Constituição Federal de 1998.
Percebe-se que nas lacunas deixadas pelas políticas de proteção
e promoção da cidadania, coube
às corporações policiais não só a
intervenção, mas também a interpretação, com discricionariedade,
de sua função social e de como tal
deveria ser exercida.
Os impasses institucionais,
principalmente aqueles relativos às
alterações substantivas não efetuadas nas estruturas organizacionais
das agências responsáveis pela
execução das políticas de segurança (polícias, sistema prisional,
judiciário, etc.), emperraram a possibilidade de mudanças estruturais
– que seriam fundamentais para a
superação dos velhos paradigmas
que sustentam a política de segurança pública brasileira.
Sob o ponto de vista conceitual, só
muito recentemente tal política passou
a ser entendida como direito de cidadania (superando fase anterior que tratava a segurança exclusivamente como
política de controle social pelo Estado).
A principal modificação foi-se constituindo a partir da assunção do conceito de segurança cidadã, que privilegia
o papel da sociedade civil na relação
com a política de segurança pública,
velando pela observância das garantias
Robson Sávio Reis Souza
Filósofo especialista em Segurança Pública
(CRISP/UFMG) e professor da PUC Minas
[email protected]
fornecidas no âmbito do Estado de
Direito e a busca da implantação de
novos princípios e valores que fortaleçam a segurança democrática.
Dar novo conceito à segurança
significa considerar que o centro
da mesma é o cidadão. Entendida
como um bem público, a segurança cidadã refere-se a uma ordem
cidadã democrática e permite a
convivência segura e pacífica.
Não obstante essas mudanças
na concepção e nas tentativas de
implementação de novos paradigmas na política, as alterações nas
agências executoras da segurança
pública foram pontuais. As estruturas e a cultura repressiva dessas
agências do subsistema de segurança ainda rechaçam todo tipo de
reformas. Ou seja, apesar da mudança na política, houve pouca (ou
quase nenhuma) transformação
nas ações de segurança pública, na
ponta. Isso aponta para um delicado paradoxo: como as mudanças
nessas agências foram pontuais,
apesar das alterações substantivas
no âmbito da formulação e da implementação da política, os velhos
paradigmas sobre os quais foram
erigidas as bases do sistema de segurança ainda se refletem, com evidência, nos elevados indicadores
de criminalidade, nos desarranjos
do sistema de Justiça criminal, na
desconfiança nas instituições desse sistema e na sensação de medo
e insegurança que campeiam nas
nossas cidades.
meio ambiente
SALVE
A SERRA
Expedição mostra a vida e a destruição no Parque Estadual da Serra
do Rola Moça e no cartão-postal de Belo Horizonte, a Serra do Curral
O
s troncos cobertos por carvão,
a mata seca reduzida a cinzas
e os animais queimados vivos próximos ao Parque Serra do Curral, no
Mangabeiras, contrastam com a vegetação ainda verde e sinais de Mata
Atlântica e cerrado preservados.
Mas, até quando? Com os recentes
incêndios na região, fauna e flora
foram parcialmente arruinados, embora estes não sejam os únicos responsáveis por deteriorar a paisagem,
marcada por serras solapadas, ilhada por arranha-céus e possivelmente
cortada por novas vias de acesso.
Por isso, a Vox Objetiva seguiu o
professor universitário e vereador
belo-horizontino, Adriano Ventura
(PT), pelo segundo dia de expedição organizada pelo próprio. Esperado por todos os participantes
da caminhada, o prefeito Marcio
Lacerda (PSB) se desculpou, em
mensagem enviada ao vereador,
mas não seguiu pelas trilhas. Uma
oportunidade de, em três horas, conhecer melhor um dos patrimônios
mineiros, perdida em virtude de
outros compromissos. Nós, porém,
aproveitamos o convite e partimos
das antenas do Belvedere, na manhã do dia 29 de setembro até o
Parque das Mangabeiras a fim de
conferir de perto a situação da área.
Especulação imobiliária
Nos primeiros passos pela trilha
já se percebe o quanto os arranha-céus mudaram a paisagem típica
da Serra do Curral. Principalmente do lado de Nova Lima, vizinha
à Belo Horizonte, a construção civil intensifica o desmatamento, e,
consequentemente, torna a Região
Metropolitana ainda mais quente.
Uma tese do geógrafo Wellington
Lopes, da UFMG, comprova esta
sensação. No último século, a temperatura na capital mineira subiu
1,5 Cº e o ar se tornou quase 10%
mais seco. “O Barreiro é a região
mais fria da cidade. E o que está
acontecendo hoje no local? A família dos Álvaro Antônio, dona de
parte dos terrenos, briga há anos
na Justiça para conseguir a liberação e levantar prédios na região”,
expõe Ventura, consternado.
Alguns metros caminhados e
o legislador para. Adriano pede a
atenção dos envolvidos na expedição para o cenário ao redor da
trilha. Não é difícil perceber vigas,
tijolos, andares já esboçados ao
longo do trajeto que une as antenas
de TV e rádio no Belvedere até o
Parque das Mangabeiras. “Há toda
uma área de preservação que Nova
Lima está liberando para construção e enterrando a Serra. Mesmo
que Belo Horizonte queira preservar, eles liberam”, argumenta o
vereador, que complementa. “Há
uma construtora e uma mineradora negociando um terreno para levantar 15 edifícios na região. Infelizmente, a especulação imobiliária
prevalece. Não é a toa que apartamentos são vendidos aqui por mais
de R$ 1 milhão”.
Os ambientalistas sempre questionaram o fato de as construtoras
terem erguido prédios na área que
é patrimônio natural, paisagístico
e arqueológico. Em julho passado,
a Justiça até determinou que a Prefeitura de Belo Horizonte não aprovasse mais projetos para edificações
no Belvedere III. Em 2000, a área
foi considerada o maior canteiro de
Vox Objetiva | 33
Luiza Villarroel
Lucas Alvarenga
meio ambiente
obras do país, tal a velocidade das
construções. Porém, enquanto há
quem brigue por povoar ainda mais
o local, 100 caminhões sobem e descem da rua Alcides Pereira Lima,
via de acesso controlado às antenas
da Serra, carregando muita terra todos os dias, segundo moradores.
Conscientização é a saída
Embora solapem a Serra do
Curral, não são apenas a construção civil e as mineradoras a destruir a vegetação local. Os incêndios criminosos se tornaram rotina
na região. Tanto que o último em
que, supostamente, seis jovens teriam ateado fogo em uma das áreas
de preservação, consumiu mais de
2.500 metros quadrados de vegetação entre os dias 25 e 26 de setembro. A situação agravou desta vez
em virtude da escassez de chuvas
na capital mineira. Foram mais de
100 dias sem precipitações.
Luiza Villarroel
Falhas no combate
Aliás, de perto, falhas que vão
desde a prevenção até o combate do
fogo se tornam mais evidentes. Instalado em 2003 pela Vale, o projeto
de hidrantes, com 16 bases espalhadas ao longo de 1,5 quilômetro do
topo da Serra, falhou. Devido à ação
de vândalos, fios e bombas foram
furtados, restando apenas alguns
canos. Razão de reclamação por
parte da Fundação. Dos canhões,
apenas dois funcionam. O problema é que brigadistas precisam levar o equipamento de 20 quilos por
ntura
riano Ve
ador Ad
vere
Mandato
Mandato
Luiza Villarroel
vereador
Adriano
Ve
ntura
34 | Vox Objetiva
Com o tempo seco, a bióloga e
mestre em Ecologia pela UFMG,
Ludmila Brighenti, lembra. “Até
uma lata de alumínio pode dar início a um incêndio. A vegetação rasteira, os ventos e a baixa umidade
do ar colaboram neste quadro”.
Um efetivo de 25 brigadistas
da Fundação Municipal de Parques, junto ao Corpo de Bombeiros, tentou controlar as chamas,
que destruíram, principalmente, o
Parque Serra do Curral. Conforme
o presidente da Fundação Municipal de Parques, Luiz Gustavo
Fortini, embora haja uma campanha de conscientização com faixas
espalhadas pelo Parque das Mangabeiras, vândalos continuarão
atuando na área de preservação.
“A fiscalização percorre constantemente com o veículo da Fundação. Há, inclusive, um sistema
de câmara de vídeo. Mas, quando
a pessoa está mal intencionada,
não há o que fazer”. Ao chegar ao
Mangabeiras, porém, constatou-se poucas destas faixas apontadas por Fortini.
uma trilha de 100 metros de uma
base à outra. O resultado é que as
chamas se alastram com a demora.
De acordo com a Vale, a mineradora instalou o sistema em 2003
por deliberação própria. A ideia
era que o projeto pudesse auxiliar os Bombeiros a combater o
incêndio. Semanalmente, os dois
canhões restantes são acionados e
disparam água pelo terreno, a fim
evitar queimadas. A água é bombeada da Mina de Águas Claras,
situada no Parque Serra do Curral.
Conforme a assessoria da empresa,
dependendo da necessidade, os canhões têm de ser deslocados, fato
confirmado pelos Bombeiros. Fortini garantiu que a Vale já entrou
em contato com a Fundação para
estudar uma forma de reparar as
bases danificadas.
Carta da Serra
Para que os incêndios e a região não sejam esquecidos após o
controle das chamas, o vereador
Adriano Ventura (PT) encaminhará um ofício ao governador do
estado, ao prefeito da capital e ao
Ministério Público Estadual com
sugestões e relatos sobre o atual
estado da área que compreende o
Parque Estadual do Rola Moça e a
Serra do Curral. A intenção é discutir o assunto, há muito esquecido na Câmara Municipal.
“O objetivo é permitir com
que Belo Horizonte possa, com a
Copa do Mundo, atrair recursos
para o Parque Serra do Curral e
para outros próximos a ele, como
o da Serra do Rola Moça. As pessoas precisam ter a noção exata da
importância destas áreas, dos cuidados necessários,
do zelo. Por isso, a
carta. Coletivos
como o Movimento Pró-Lagoa
Seca já chamam
atenção para isso.
Nós, do legislativo, temos que fazer nossa parte”,
salienta Ventura.
Vox Objetiva | 35
cavalos
PEQUENO
As variáveis porte e lucratividade são inversamente proporcionais quando o assunto é
cavalo pônei; sem dúvidas,os pequenos podem representar grande lucro para criadores
André Martins
E
les são conhecidos basicamente pela baixa estatura. Para ser
considerado um pônei, o cavalo
não pode exceder 1,45m de altura das patas até a cernelha – ponto que liga o dorso ao pescoço do
animal. A tendência do chamado
mercado “pet” é de constante miniaturalização. É quase inacreditável. Por meio da manipulação
genética, já foram criados cavalinhos de assustadores e modestos
70 centímetros. Naturalmente não
têm serventia senão para a exibição em feiras e festivais.
“É uma curiosidade do homem
chegar a um limite. O estatuto da
Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Pônei estabelece apenas altura máxima”, explica o su36 | Vox Objetiva
perintendente de registro genealógico da ABCCPônei, Murilo Sérgio
Gomes Torres. A genética veterinária desafia a ciência, entretanto as
experiências nem sempre são bem
sucedidas. “A partir do momento
em que essa manipulação causa
problemas de má-formação, o animal não pega registro”, explica.
O pônei é um tipo de cavalo
que encanta crianças e adultos pelo
aspecto compacto e personalidade
dócil. Ele tem fama de “bonzinho”,
mas assim como em qualquer espécie animal, existem também cavalos arredios. Os criadores, por
razões óbvias, selecionam os de
temperamento mais flexível.
É grande a variedade de porte,
pelagem e de atividades que po-
André Martins
NOTÁVEL
dem ser realizadas por estes pequenos notáveis. Dentre os muitos
tipos de cavalo, a raça brasileira,
originária do cruzamento entre os
pôneis escandinavos – Shetland
– com os de descendência bretã –
Falabella –, vem ganhando destaque em todo o mundo. No Brasil,
os criadores estão espalhados nas
regiões sul, sudeste e nordeste, majoritariamente.
O sucesso da tropa nacional
pode ser explicado pelo fato dos
exemplares tupiniquins aliarem os
traços finos dos animais argentinos
e uruguaios à força dos exemplares
do norte da Europa, inicialmente
usados como força motriz nas minas de carvão no norte da Inglaterra. Os pôneis brasileiros não pos-
do calendário da instituição concessionária do Ministério da Agricultura. Brincadeiras como a prova
das botas ou cadeiras são feitas no
dorso dos animais e garantem a diversão dos visitantes.
O pônei é um
brinquedo vivo.
A gente só vai
parar de vender
quando parar de
nascer criança.
Fabrício Borges,
fazendeiro e empresário
Mercado
Fabrício Borges lembra com detalhes do dia em que o pai, criador
da raça manga larga marchador na
Bahia, o presenteou com um pônei,
em 1976. Na ocasião ele tinha apenas cinco anos de idade. Não fazia
ideia do que aquele pequeno animal que o acompanhou ao longo da
infância e juventude, morrendo aos
27 anos, desencadearia em sua vida.
Hoje Fabrício já tem mais trinta
anos de experiência como criador.
Em 2001, veio para Minas Gerais,
local estratégico para o “despacho”
de suas “mercadorias”. Instalou-se
com parte do plantel na cidade de
Confins, onde mantém um haras
que é referência na compra e venda
de pôneis. O fazendeiro e empresá-
André Martins
suem apenas uma bela aparência,
com crinas fartas, sedosas e pelagens exóticas. Donos de uma estrutura óssea e musculatura resistentes, são exímios “puchadores”, ideais para passeios de charrete. Um
animal de 1,10m (tamanho médios
dos brasileiros) carrega, com facilidade, um adulto e duas crianças.
Embora sejam ótimos para os
trabalhos de tração, os pôneis não
são os mais indicados para passeios cadenciados. O trote dele é
descompassado e causa desconforto. Em provas esportivas de galope,
baliza ou com tambores, contudo,
os cavalinhos são “tiro e queda”.
Agilidade é a característica que garante o show nas exposições promovidas pela ABCCPônei ao longo
O plantel de Fabrício Borges
varia de 80 a 100 animais. O
número nunca é certo, pois a todo
momento animais são negociados
Vox Objetiva | 37
cavalos
rio baiano negocia lotes de animais
para todas as regiões do Brasil.
Não seria exagero dizer que muito
do que tem hoje, foi “dado” pelos
pequenos companheiros.
Na relação custo/ benefício,
a criação de pôneis se apresenta
como uma das mais atrativas e rentáveis do mercado equestre. “No
local onde se cria um cavalo de
grande porte, cria-se três pôneis”,
explica Fabrício. Uma área de cinco metros quadrados é o suficiente para que o animal viva bem. A
economia do pônei não se restringe
apenas ao espaço ocupado por ele.
Todos os gastos com alimentação
são, obviamente, menores se comparado ao dispêndio com os cava-
los grandes. O pônei ingere, diariamente, 10% do peso corporal em
matéria seca.
A facilidade de manter o bichinho é tamanha que acaba gerando um grande problema. “Hoje as
pessoas têm comprado pôneis para
enfeitar jardins. Então quem acaba
criando o animal é um jardineiro
que não tem nenhuma instrução,
nunca ouviu falar de cavalo e que
não tem nenhum conhecimento
em relação ao temperamento do
animal. Virou um bicho de estimação”, explica Murilo.
Os valores envolvidos nas negociações de pôneis não são maiores que os associados aos cavalos
de grande porte, entretanto, Fa-
brício assegura que o percentual
de lucro é bem maior. Os preços
variam de acordo com o condicionamento físico do animal, o sexo
e características como a cor da pelagem. Um animal castrado, para
lazer, custa de R$ 1,5 mil a R$ 3
mil. Já os animais voltados para a
reprodução, que, necessariamente,
precisam ter uma linhagem, têm o
preço “inflacionado”. Garanhões
estão avaliados de R$ 20 mil a R$ 50
mil reais e as eguinhas saem a um
preço médio de R$ 15 mil. O custo
diferencial entre machos e fêmeas é
justificável. Enquanto as éguas dão
a luz a apenas um potrinho ao ano,
um reprodutor pode fertilizar até
100 éguas.
Cabeça de cavalo grande
38 | Vox Objetiva
cinco, oito anos e diz ‘Toma aqui, um cavalo para você
brincar’. Ninguém faz isso quando se trata de um bicho de grande porte, mas com o pônei o pessoal faz
isso. Entretanto, ele não sabe que é menorzinho. Ele é
cavalo igualzinho o outro”, alerta Murilo Sérgio.
Toda e qualquer atividade que envolva crianças e
os mini equinos deve ser supervisionada. “Há quem
diga que o pônei é um animal nervoso, assustado.
Mas não existe cavalo que não fique alterado na mão
de crianças, porque elas falam alto, correm muito,
gritam, puxam o rabo, dão tapa, fazem bagunça. Cavalo nenhum gosta disso”.
André Martins
Na Europa é regra. A iniciação de crianças na
equitação acontece por meio dos cavalos de pequeno
e médio porte. Parece sensato. Caso aconteça algum
acidente, o trajeto até o chão é menor assim como,
possivelmente, o dano gerado pela queda. Até completar 12 anos e estarem capacitados(as) para montar
animais maiores, os pequenos cavaleiros ou amazonas frequentam aulas orientadas.
Por causa de sua pequenez, muitas vezes o pônei
é visto como um animal que não oferece perigo. Um
equívoco. “Cavalo não é cachorro e nem gato. Não é
um animal que você entrega a uma criança de quatro,
meteorologia
O MAIOR DESERTO DO MUNDO
Quando se pergunta qual é o
maior deserto do mundo, a resposta quase sempre é a mesma:
o deserto do Saara. Com uma
área de 9.065.000 km2, esse vasto
deserto africano é a região mais
quente e desértica do mundo. As
chuvas podem acontecer muito
raramente na forma de temporais,
depois de longos anos de seca. A
variação de temperatura diária é
grande. Não raramente, enquanto
à noite os termômetros registram
-5ºC, a tarde os mesmos medidores indicam tórridos 50ºC.
Devido à circulação geral da
atmosfera, há cinturões de baixas
e altas pressões no globo. Na região equatorial o ar é ascendente,
formando um cinturão de baixa
pressão – é a região que mais chove na Terra. Na latitude de 30° o
ar é descendente, formando um
cinturão de alta pressão – os desertos estão sempre associados a esta
zona de alta pressão. Na região de
60° existe um novo cinturão de baixa pressão, é onde se localiza e se
formam as frentes frias. Na região
dos pólos, o ar é descendente, devido à alta pressão. Portanto, é de se
esperar poucas chuvas nas regiões
polares.
A Antártica ou Antártida está
localizada quase que inteiramente
dentro do círculo polar antártico.
A camada de gelo pode chegar a
3,7 km de espessura. O continente Antártico, possui área superior
a 14.000.000 km2. A radiação solar
que chega na superfície durante o
verão no Hemisfério Sul é quase
que totalmente refletida pela camada de gelo. O ar descendente
Prof. Dr. Ruibran dos Reis
Coordenador do Minas Tempo
[email protected]
dificulta a formação de nuvens,
assim a precipitação média varia
entre 20 e 70 mm/ano. Devido à
influência das correntes marítimas, as zonas costeiras apresentam temperaturas mais amenas,
com uma média anual de -10ºC.
A menor temperatura do mundo, -89,2 °C, foi documentada na
base russa de Vostok a aproximadamente 3.400 metros de altitude
no dia 21 de julho de 1983.
Para a meteorologia, regiões
desérticas são aquelas com baixo
volume de precipitação. Normalmente nós associamos a palavra
deserto com baixo índice de precipitação, mas principalmente
a locais com grande volume de
areia. Portanto, o maior deserto
do mundo não é o Saara, mas o
continente antártico.
Vox Objetiva | 39
comportamento
UM ATO DE NOBREZA
Quase trinta mil animais esperam por novos donos em Belo Horizonte. Conheça os ativistas que
levantam a bandeira da adoção e do amor que independe de condição e raça
André Martins
André Martins
40 | Vox Objetiva
O
olhar cambiava entre o canil e uma
grande gaiola. O impasse havia se
estabelecido na cabeça do pequeno Davi
Augusto. Entre um vira-lata pequeno e
um grande, o menino seguia um raciocínio lógico: “o maior já é um pouco mais
independente, se fico com ele, menor
será a minha responsabilidade”, maquinava. A mãe, Selma Lopes, tentava
dissuadir o filho e convencê-lo a levar
para a casa o filhote. Assim como tantos outros que esperam atrair o olhar de
potenciais donos, o cãozinho havia sido
abandonado na companhia dos irmãos
na noite daquela segunda-feira no portão principal da ONG Cão Viver.
Sob a promessa da mãe, que “daria
uma mãozinha” na criação do animal,
Davi concordou e, após ouvir os conselhos da veterinária, acolheu o presente
do sétimo e mais marcante aniversário
nos braços. “Que tal, Rex?”, sugeriu
prontamente como nome.
Foi por meio da internet que a avó de
Davi, Maria Auxiliadora Alves Valente,
chegou até a Cão Viver e pôde realizar
o sonho do neto. Hoje, diversas redes de
adoção estão espalhadas pela web tentando disseminar a ideia do acolhimento
daqueles que foram abandonados.
Além da possibilidade de procura
virtual e visita aos locais que desenvolvem trabalhos dessa natureza, a Prefeitura Municipal, em parceria com organizações não governamentais, promove
feiras itinerantes de mês a mês. São iniciativas de fôlego. A Adote um Amigo,
por exemplo, já promoveu o acolhimento de mais de 320 animais desde o início
dos trabalhos, em maio.
“A população e imprensa de Belo
Horizonte nos apóia muito. Sempre há
quem queira adotar, ajudar, se voluntariar. Existem situações em que uma
pessoa não leva o animal para casa, mas
contribui com ração ou medicamentos”,
explica Maria Antonieta Pereira, coor-
Amor exigente
A maioria dos cães para adoção
não tem raça definida e já não possuem traços de filhotes. Estes são
fatores fundamentais, que, via de
regra, inviabilizam a adoção. Qualquer semelhança com o comportamento humano não é coincidência.
Quanto mais velho o animal, menores são as chances dele ser amparado. “Na maioria das vezes, as
pessoas querem um animal novinho, bonito, porque elas são muito
inseguras e precisam que tudo delas
seja muito elogiado, para que se sintam amadas”, entende a voluntária.
Se por um lado muitos colocam
condições para adotar, os voluntários,
para os quais não há diferenças entre
raças de cachorros e gatos, também
seguem um código rigoroso antes de
confiar o bichinho ao novo dono.
“Para uma pessoa adotar um
animal ela tem que passar por um
protocolo, por uma entrevista e assinar um termo de responsabilidade.
Além disso, cobra-se uma vacina a
título de contribuição com o trabalho e também para analisar a questão sócio-econômica do indivíduo,
a fim de saber se ele tem condições
de manter esse animal”, esclarece
Franklin Oliveira, ativista ambiental.
Para a psicóloga Eliana Bueno, a
chamada guarda responsável, que
valoriza a importância do animal e
o respeito para com ele, é resultado
de um longo processo histórico e
social. “Antes não havia preocupações, a não ser por parte de uma minoria, com o bem estar e com a integridade física dos bichos. Hoje já há
um movimento nesse sentido, que
reconhece e enfatiza a necessidade
de preservarmos esses seres, punindo os abusos e crueldades cometidos contra os mesmos”, analisa.
Violência e abandono
A trajetória de Franklin Oliveira na defesa dos animais teve início há quase de 30 anos. Em 1982,
Para Franklin, o poder público
tem evoluído na forma de enxergar
os animais abandonados. Em especial os cachorros de rua. “Há cinco
anos ainda existia a famigerada câmara de gás no Centro de Controle
de Zoonoses. Os animais eram mortos pela inalação do monóxido de
carbono. Era uma morte muito sofrida. Por intervenção do Ministério
Depois de muito
pedir, Davi
Augusto ganhou
um presente há
muito esperado,
e que atende
pelo nome de
Rex
André Martins
denadora do projeto Ninho dos
Bichos, participante da feira.
As organizações de proteção
animal, que juntas se articulam para
a realização dos eventos, possuem
lógica de funcionamento similar.
Após a captura dos bichos, eles são
conduzidos às clínicas parceiras
onde recebem o tratamento veterinário que demandam. De lá, partem
para canis ou casas de voluntários
até estarem disponíveis para a exibição nas feiras onde tentam a sorte
de encontrar um novo lar.
ele presenciou a uma manifestação
de avicultores na Avenida Paraná,
onde refugos eram queimados vivos em protesto pelo baixo valor
do frango. A cena, de tão impactante, não sai da cabeça mesmo
tendo se passado tanto tempo. “Eu
era pequeno. Naquele dia não restou nada senão chorar”, relembra.
Lutar contra os maus tratos, o
abandono e o comércio de animais
acabou se tornando uma ideologia
de vida desde então. Aos 12 anos,
Franklin começou a atuar como
voluntário e aos 18 se tornou ainda
mais engajado e ativo, acionando
a Polícia e repassando denúncias
que chegavam a ele por meio de
cartas. Ele nunca fez exigências ou
pensou duas vezes antes de socorrer cavalos, gatos e, principalmente, cães em situação de risco.
Público ela foi destruída”, detalha.
Mas ao longo das três décadas
de militância, as tristezas são mais
numerosas que qualquer outra coisa. Em meio às histórias dos muitos cães que vão parar nas mãos
deste incansável ajudante de São
Francisco de Assis e que são disponibilizadas no blog mantido por ele
(franklineumassis.blogspot.com),
o caso de Lira comove de modo
particular. A cadela se recupera
bem da cirurgia de remoção do que
sobrou do globo ocular esquerdo,
atingido por uma pedrada.
Para Maria Antonieta, o ser
humano pode ser muito cruel na
relação com outras espécies. Os
animais que dão entrada nas clínicas parceiras do projeto Ninho
dos Bichos, quase sempre chegam
estressados, feridos, com vermes
Vox Objetiva | 41
e sarnas ou portando doenças. Geralmente a “solução” nada racional
dos donos diante dos problemas
físicos é a traumática expulsão do
bicho do ambiente domiciliar.
“O relacionamento entre o homem e os animais pode ser saudável
ou doentio, sendo que o ser humano tem uma parcela de responsabilidade muito maior em estabelecer
qual dos dois será determinante.
Quando se instituem relações inadequadas, os donos passam a tratar
o animal com crueldade, negligência e muitas vezes o abandonam”,
ressalta a psicóloga Eliana Bueno.
De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde, Belo
Horizonte possui uma população
de cães de rua estimada em 10% da
população canina domiciliada. Isso
corresponde a, cerca de 30 mil cães.
“Acredito que quando não se
deseja mais o animal, é preciso
encontrar outro dono para ele. Do
mesmo jeito que há pessoas que
têm coragem de colocar animais
doentes para fora de casa, há tam-
André Martins
Franklin Oliveira
dedica-se
inteiramente à
defesa animal,
uma história
iniciada há
quase três
décadas
bém quem tem coragem de acolher
um ser nestas condições. Eu mesma conheço várias pessoas que
adotaram animais debilitados por
O que a gente
está fazendo é
uma gota d’água
em um oceano.
É uma forma
de encontrar
uma saída para
os animais
abandonados em
Belo Horizonte
Maria Antonieta Pereira,
ativista ambiental
perceber a dificuldade que estes
enfrentariam para encontrar novos
donos”, aclara Maria Antonieta.
As trocas estabelecidas, especialmente com cachorros e gatos trau-
matizados, podem funcionar como
uma terapia natural, em que as duas
partes saem ganhando. “O animal é
uma fonte de distração poderosa,
o que, comprovadamente, tem um
efeito regulador sobre o humor.
Além disso, é um ser que depende
dos cuidados do ser humano, tornando-se uma companhia constante. Ele também facilita a expressão
de afeto e carinho, principalmente
naquelas pessoas que, por medo de
rejeição, críticas e abandono, inibem
sua expressão”, pontua a psicóloga.
Dedicação total
Na cobertura em que mora, Maria Antonieta abriga 11 cachorros e
15 gatos. “Meus vizinhos vão todos
para o céu, porque nunca reclamam
e entendem perfeitamente porque
tenho tantos bichos”, brinca. Não
raramente, encontra um animal ou
outro abandonado na porta de casa.
Para ela, as 24 horas do dia são
sempre insuficientes. Levanta 5h30
e só volta para cama na madrugada
do dia seguinte. Sempre há um animal a mais para se dedicar. “Muitas
coisas eu só faço à noite, porque não
sobra tempo”, elucida. Isso inclui,
por exemplo, conceder entrevistas.
Se a quantidade de seres vivos
que habitam a casa da professora
aposentada causa surpresa, é preciso ponderar que o número não chega perto dos 58 cães e 11 gatos que
entram e saem num ritmo frenético
da casa de Franklin. Ao colocar o
pé na rua, o “risco” do ativista voltar com mais um animal nos braços
cresce consideravelmente.
“A gente fica com o coração na
mão, né? Muitas vezes queremos
resgatar, pegar, mas há momentos
que não dá por não haver mais espaço em casa. Vou embora com o
coração partido. É algo bem costumeiro, repetitivo. E aí fico na torcida, pedindo para as forças do universo, para que os santos e os anjos
tomem conta do bichinho”.
Quer adotar?
www.adoteumamigo.org.br
franklineumassis.blogspot.com
42 | Vox Objetiva
psicologia
UM OLHAR SOBRE AS CRIANÇAS
Escrevo este artigo como um
grito, como um forte alerta aos
pais ou responsáveis pelas pessoas em grande desenvolvimento
psíquico e físico: as nossas crianças e pré-adolescentes. Elas são o
futuro da sociedade, e o que temos visto assusta muito.
Preciso dar este grito que sai da
minha alma, pois tenho atendido
em consultório crianças e pré-adolescentes sendo violentados em suas
próprias casas, sendo destruídos naquilo que temos de belo: nosso corpo, nosso templo, nossas emoções.
Trata-se de um assunto que
muitas pessoas sabem que acontece, mas preferem ignorar e “tampar o sol com a peneira”. Alguns
pensam assim: “É algo distante da
minha realidade, imundo, que não
devemos falar a respeito”. Não, minha gente! Vamos mudar o pensamento e o olhar sobre as crianças.
Segundo Piaget, as crianças passam por fases em seu desenvolvimento, são estes processos que permitem a construção da sua interação
com o mundo. Portanto necessitam
de respeito, amor e compreensão em
cada fase. Não se pode cobrar delas
algo além ou aquém, mediante sua
idade maturacional. Ou seja, um
adulto deve ter discernimento para
não invadir e/ou destruir sua construção natural.
Sabemos que os “criadores”
possuem o poder tanto para salvar uma vida, como também para
adoecê-la.
Devido ao fato da criança ser uma
pessoa em desenvolvimento, ela não
se encontra preparada psicológico e
fisicamente para receber qualquer estímulo sexual. Esta violência perversa
causa um profundo dano emocional
e gera até mesmo doenças mentais
crônicas e devastadoras.
Infelizmente, temos visto crescer
algo que muito se fala, mas pouco
se faz no Brasil. Crianças e pré-adolescentes sendo abusados por pais,
padrastos, vizinhos, professores, pessoas próximas. Não importa a classe
social. Isto acontece em todas e tem
repercutido nos consultórios como
uma avalanche de sintomas em crianças e também em adultos que resolveram tratar este foco de angústia
guardado, muitas vezes, como um
tabu por muitos anos.
Numa linha geral, uma criança
pequena, de cinco anos ou pouco
mais, mesmo quando conhece e gosta da pessoa que a abusa, sente se em
profundo conflito entre a lealdade
para com o agressor e a percepção de
que essas práticas são terrivelmente
más e desconfortáveis a ela.
É comum tais crianças terem os
conflitos internos intensificados e
experimentarem sensações que lhe
parecem anormais. São sentimentos ruins, provenientes do mundo
adulto. Sentimentos com os quais
elas não conseguem lidar como,
por exemplo, a solidão, a melancolia constante e o abandono.
Quando os abusos sexuais ocorrem na família, a criança pode ter
muito medo da cólera do parente
abusador. Medos intensos de vingança, retaliação, da vergonha dos
outros membros da família, ou, o
que é pior, o temor de a família se
desintegrar ao descobrir “aquilo
que ninguém pode saber”.
A criança vítima de abuso prolongado usualmente desenvolve uma
perda violenta do amor próprio, tem
a sensação de ser uma pessoa inadequada, usada e adquire uma representação anormal da sexualidade.
Podem se transformar em adultos
abusadores de outras crianças, também se inclinarem para a prostituição
ou desenvolverem outros sérios problemas emocionais quando adultos.
Comumente as crianças abusadas ficam aterrorizadas, confusas e
Maria Angélica Falci
Psicóloga clínica e especialista em
saúde mental
[email protected]
muito temerosas de contar sobre o
que ocorre e para piorar este quadro de horror, infelizmente, algumas mães fazem “vista grossa”
para não perderem a companhia
dos abusadores. Preferem negar
aquilo que acontece “debaixo do
seu nariz”, ou seja, perder a qualidade de vida emocional do seu
filho do que perder o companheiro, o que é uma realidade cruel e
absurda aos nossos olhos.
Como grave consequência, a
criança pode tornar-se muito introvertida, desenssiblizada, com forte
tendência à perda de confiança em
todos os adultos e de se sentir tão
mal nesta situação que passa a considerar o auto-extermínio como o
alvo da solução deste desconforto.
Principalmente quando existe a possibilidade da pessoa que abusa ameaçar de violência se a criança denunciar ou negar-se aos seus desejos.
Como alerta, podem ser percebidas mudanças bruscas no comportamento, alterações no apetite,
no sono, no humor, no rendimento
escolar, podendo ser um indício de
que alguma coisa esteja acontecendo, principalmente se a criança se
mostrar abatida, isolada e perturbada em sua exposição social ou
perto de uma pessoa específica.
Temos feito atendimentos, relatórios, reuniões, confirmações
de casos aos conselhos e muitas
vezes poucas resoluções são tomadas na parte jurídica, quase
sempre se trata de casos conhecidos de várias instâncias de que a
criança se encontra em risco, mas
nada acontece e ela fica ali naquele ambiente cruel, sendo devastada em seu íntimo, sentindo-se um
ser humano sem possibilidades.
Sociedade, vamos dar um grito juntos! Vamos lutar por nossas
crianças. Fiquem em ALERTA.
Ajudar uma criança é fazer muito!
Vox Objetiva | 43
everystockphoto.com
A HUMANIDADE
CONTRA O CÂNCER
A doença ataca com cada vez mais força, mas a ciência
corre atrás do prejuízo e promete não deixar barato
Fernanda Carvalho
44 | Vox Objetiva
ciência
A
cura para o câncer talvez seja
a maior de todas as buscas da
ciência. Várias pesquisas são divulgadas anualmente na tentativa
de, pelo menos, tratar de forma
mais ágil os pacientes. Cientistas
já fizeram todo tipo de estudo em
busca da cura ou da aceleração do
tratamento.
Até mesmo substâncias como o
ecstasy já foram testadas. Pesquisadores da Universidade de Birmingham, na Grã-Bretanha, potencializaram em 100 vezes a capacidade da droga de combater células
cancerosas. Estudos anteriores já
haviam comprovado a capacidade da substância, mas não nessa
magnitude. A pesquisa testou, em
laboratório, a reação celular do
linfoma de Burkitt - agressivo e de
rápido crescimento de células que
amadurecem na medula óssea - à
droga, e concluiu que as células
sanguíneas cancerosas poderiam
ser destruídas.
Cientistas dos Estados Unidos
e de Cingapura foram mais longe.
Analisaram formas de inserir anticorpos dentro das células do tumor. A terapia é chamada de alvo
molecular, porque atinge, especificamente, as células cancerosas. Já
foi comprovado que a quimioterapia não discrimina células sadias
de doentes. Por isso, os pacientes
perdem os cabelos quando submetidos ao tratamento. O estudo foi
coordenado pela pós-doutora Qi
Zeng, do Instituto de Biologia Molecular de Cingapura. O teste, realizado com camundongos, foi bem
sucedido. Mas a ideia é ir além da
aplicação terapêutica. O objetivo é
que ele funcione como base para a
elaboração de uma espécie de vacina preventiva contra o câncer.
Esta estimularia o organismo a se
defender da doença.
Enquanto estes anticorpos não
são desenvolvidos, a metástase –
disseminação da doença pelo corpo – continua sendo um dos piores
efeitos do câncer. Estima-se que a
proliferação das células doentes
seja responsável por 90% das mortes relacionadas à enfermidade. Pes-
quisa desenvolvida pelo Institute of
Cancer Research, em Londres, em
parceria com estudiosos da França,
descobriu a causa deste mal. Uma
proteína chamada JAK desencadeia contrações nos tumores, o que
permite que as células cancerígenas
sejam arremessadas por pequenos
orifícios e se espalhem pelo corpo.
O processo pode acontecer de duas
formas. A célula cancerosa força a
própria saída ou, em alguns casos,
o tumor induz a formação de uma
espécie de corredor que propicia a
passagem e disseminação das células no organismo. De acordo com os
pesquisadores, a descoberta é importante para que drogas que atinjam a proteína sejam produzidas
Cerca de 12
milhões de
pessoas são
diagnosticadas
doentes todos
os anos pelo
mundo. O número
equivale a,
aproximadamente,
cinco vezes a
população de Belo
Horizonte.
com o objetivo de impedir a disseminação de tumores.
Um levantamento realizado
por vários centros oncológicos,
inclusive o Hospitais das Clínicas
da UFMG e o Lifecenter, apontou
uma forma de otimizar o tratamento contra câncer de próstata.
No teste elaborado com mais de
900 homens, as substâncias Alpharadin e placebo foram associados à radioterapia. De acordo
com o coordenador da equipe em
Minas Gerais, o oncologista André Murad, os pacientes tratados
com a nova droga tiveram sobrevida de 14 meses, enquanto os
outros, medicados com placebo,
viveram 11,2 meses.
A teoria na prática
A busca é incessante, mas o sonho de descoberta da cura para o
câncer parece inatingível até mesmo para a tão evoluída e criativa
ciência moderna. Apesar de ela
avançar e apresentar novas formas de tratamento todos os anos,
no Brasil, poucas dessas pesquisas
se tornaram reais. De acordo com
André Murad, um longo tempo
se arrasta entre o projeto e a comercialização do resultado dos
estudos. Para que isso se efetive,
fazem-se necessários anos a fio de
trabalhos complexos e pesquisas
com milhares de pessoas. Além
disso, tem que haver um acompanhamento da população em teste,
para que se tenha comprovação
da positividade dos resultados.
“Quando uma pesquisa é publicada, nós ficamos muito felizes. Mas,
demora anos até ela poder ser utilizada no dia a dia. Por isso, ainda
não temos nenhuma dessas drogas no comércio”, salienta Murad.
No Brasil, também existem análises relevantes sobre o combate ao
câncer. O problema, porém, está
na chegada dos tratamentos até as
classes menos favorecidas. “Nós
pesquisamos, mas o SUS não tem
disponibilizado esses tratamentos
mais sofisticados porque são caros,
tanto os medicamentos como os
exames. A radioterapia, por exemplo, não está disponível”, revela o
médico. Na rede particular de saúde é diferente. Quando a droga é
aprovada, os convênios são obrigados a custear.
A doença em números
Definir o câncer pode parecer
irrisório, mas a verdade é que a
doença ficou um longo tempo sem
uma conceituação clara por parte
dos especialistas. Câncer é o nome
genérico dado a um conjunto de
mais de cem doenças. Em comum,
tais enfermidades têm o crescimento desordenado de células malignas que invadem tecidos e órgãos.
Da mesma forma que se alastram pelo corpo, os cânceres aumentam a incidência pelo mundo.
Vox Objetiva | 45
O lado B dos tratamentos contra câncer
Como já dizia a Psicologia da Gestalt desde o
princípio do século XX: o todo é mais do que a simples soma das partes. Para o holismo, essa mesma
teoria se aplica: as propriedades de um sistema,
quer se tratem de seres humanos ou outros organismos, não podem ser explicadas apenas pela
soma de seus componentes. Na explicação do câncer e em seu tratamento, essa mesma ideia se aplica, em todas as etapas.
De acordo com a terapeuta holística, Vilma de Oliveira, nós somos divididos em quatro corpos: o físico,
o mental, o astral e o respiratório, ou vital; e o câncer
é o maior desequilíbrio dessas quatro partes. Cada
uma dessas divisões, segundo a medicina chinesa,
é representada por quatro elementos: metal, água,
fogo e ar; e o que comanda esse movimento, o que
equilibra, é o elemento terra. “Então quando tem esse
desequilíbrio, você tende a cair no campo. As células
irregulares começam a destruir as demais”, explica.
Para a terapeuta holística, as principais causas
emocionais do câncer são a tristeza e a mágoa. “É lógico que vai ter um monte de fatores ambientais que
vão justificar o aparecimento da doença, como radiação e alimentação deficiente”, afirma. “Mas se não tiver a tristeza e a mágoa, o câncer não se desenvolve”.
Assim como na teoria Psicológica da Gestalt, o
tratamento holístico não trata da doença, mas sim
do indivíduo, do seu reequilíbrio como um todo.
O meio depende dos diferentes tipos de sintomas
que o paciente irá apresentar. “Meu tratamento é
completamente voltado para a pessoa, não só no
psicológico, como também no físico. Se não tiver
desestrutura física, a pessoa não chega a ter a do-
Cerca de 12 milhões de pessoas são
diagnosticadas doentes todos os
anos. O número equivale a, aproximadamente, cinco vezes a população de Belo Horizonte.
De acordo com dados divulgados pela ONG World Cancer Research Fund, os casos de câncer aumentaram 20% na última década.
Desses 12 milhões de casos anuais,
2,8 milhões estão relacionados a
hábitos de saúde (má alimentação
e falta de atividade física). Uma realidade que, segundo a ONG, deve
piorar dramaticamente nos próximos dez anos.
O oncologista André Murad detalha a razão para o aumento no nú46 | Vox Objetiva
ença”, afirma a terapeuta. “Esse tratamento é feito com homeopatia, em primeiro lugar, e também
com ortomolecular”.
O princípio fundamental que rege a homeopatia é a lei da similitude: semelhante cura semelhante. Dessa forma, uma vez conhecidos os
sinais e sintomas do paciente, torna-se possível
medicá-lo com algo pelo qual demonstre semelhança. Já o tratamento ortomolecular (orto=certo,
molecular=moléculas – acerto das moléculas) tem
o objetivo de restabelecer o equilíbrio químico do
organismo, através de substâncias e elementos naturais, sejam vitaminas, minerais ou aminoácidos.
“O diagnóstico, eu faço a partir da iridologia e
sempre procuro acompanhamento médico: acompanho os exames do paciente e mando análises
para os médicos. Nunca faço o tratamento sozinha”, explica a terapeuta. A iridologia é o estudo
da íris, parte do olho composta por padrões, cores
e características específicas, utilizada para medir
condições gerais da saúde de uma pessoa, como
doenças e alterações em determinados órgãos.
Para a ex-paciente oncológica, Rosa Helena
Caixeta, o mais importante durante o período de
tratamento é o calor humano. “Foi um período de
muita reflexão. Voltei mais para os valores espirituais, coisas que até então não valorizava tanto”,
comenta. Ela aconselha às pessoas que têm a doença, que cuidem da auto-estima e que aceitem a doença. “Pois nada acontece por acaso. É importante
encarar a realidade, não desesperar e fazer daquele
período um aprendizado”, reflete. “E evitar mágoas, depressão, stress e má alimentação”.
mero de casos. As chances de se adquirir algum tipo de câncer aumentam com a idade. Outro fator é que,
ao contrário do que acontecia antigamente, hoje existe a precisão nos
diagnósticos. A terceira explicação,
é, segundo Murad, a mais importante. Diz respeito precisamente aos hábitos de vida contemporâneos.
Má alimentação, muita comida
industrializada, carboidratos, carnes em conserva, proteína animal
em excesso, enlatados. As pessoas
estão ingerindo cada vez mais alimentos que podem provocar cânceres e, ao mesmo tempo, comem
em menor quantidade o que protege. De acordo com a Pesquisa de
Orçamentos Familiares 2008-2009
realizada pelo IBGE, mais de 90%
dos brasileiros comem poucas frutas, verduras e legumes. O INCA
também alertou para esta realidade: brasileiros estão ingerindo
menos de um terço dos alimentos
recomendados na prevenção de
câncer. Se a realidade fosse oposta,
19% dos casos das doenças poderiam ser evitados.
A população de obesos também
cresce. Para 2015, a projeção é que
haja um aumento de 75% nos casos
de obesidade no mundo, segundo
dados da Organização Mundial da
Saúde. A estimativa é de que 2,3
bilhões de pessoas terão excesso de
sxc.hu
peso, enquanto 700 milhões serão
obesas. De acordo com Murad, a
obesidade por si só já causa câncer.
A União Internacional de Controle
do Câncer estima que, nos países
ocidentais, 30% dos casos da doença estejam ligados ao sedentarismo
e ao excesso de peso, o segundo fator de risco mais incidente.
O avanço tecnológico também
colabora para a acomodação e sedentarismo. O número de carros
vendidos cresce anualmente. Além
disso, grande parte da frota agora é
vendida com vidros elétricos e direção hidráulica. Tudo para o maior
conforto. Dentro de casa, o mesmo
acontece. O portão e a televisão são
acionados por controle remoto. O
interruptor fica próximo à cama. O
elevador leva do primeiro andar ao
segundo em todos os novos edifícios, e até em algumas casas. Tudo
colabora para a lei do menor esforço
e para o aumento do sedentarismo.
A obesidade só fica atrás do cigarro. O número de
mortes devido ao uso
do tabaco chegou a 4,9
milhões, anualmente. Número que pode
chegar a 10 milhões
em 2030, segundo
dados do World Health Organization de
2003. A notícia boa é
que na maior capital
brasileira, São Paulo,
um levantamento promovido pelo Cratod
(Centro de Referência
em Álcool, Tabaco e
outras Drogas) divulgou que o número de
pessoas que fumam
dois ou mais maços
por dia teve queda de
31%, entre 2009 e 2010.
Uma
possibilidade
que deveria ser considerada por todos os
fumantes, já que, segundo o Dieese, uma
pessoa poderia economizar R$ 1.728 anualmente caso parasse de
fumar um maço diário
aumento correspondeu a quase o
dobro da modificação observada
em todo o século XX.
Entre as mulheres do sudeste
brasileiro, o câncer mais incidente
é o de mama, segundo dados do
INCA. O tipo também representa o
segundo mais frequente no mundo
e o mais comum entre as mulheres.
Todos os anos, aproximadamente,
22% dos novos casos de câncer em
mulheres são de mama. Os fatores
associados à doença é a vida reprodutiva da mulher: primeira menstruação precoce, primeira gestação
acima de 30 anos, anticoncepcionais orais, menopausa tardia e terapia de reposição hormonal. Mas
um estudo realizado em 2008 por
pesquisadores japoneses abriu a
possibilidade para um outro tipo
de causa. O estudo, realizado pela
Escola de Graduação de Medicina
Tohoko University, analisou 24 mil
mulheres com idades entre 40 e 79,
durante oito anos. Cento e quarenta e três foram diagnosticadas com câncer
de mama nesse período.
Todos os anos
A descoberta foi que
várias pesquisas são
desenvolvidas na tentativa
mulheres que dormiam
de desvendar os mistérios
seis ou menos horas por
que envolvem os cânceres
noite tinham 62% mais
chance de desenvolverem o câncer se comparadas às mulheres com
maior tempo de repouso.
Em homens, o tipo
de câncer mais comum
na maioria das regiões
do Brasil é o de pele. Na
região Sudeste, o risco
estimado é de 53 para
cada 100.000 pessoas. A
taxa mais alta é a do Sul
do país, onde o risco é de
85 para cada 100.000 pessoas. O câncer de pele
ainda é considerado o
mais costumeiro no Brasil, para os dois sexos. O
segundo tumor maligno
que mais atinge os homens brasileiros é o de
próstata, com 52 mil casos registrados somente
no ano passado.
com preço médio de R$ 4,80.
Um fator natural têm sido uma
das maiores ameaças aos países
mais próximos à linha do Equador.
No Brasil, o câncer mais frequente
é o de pele, correspondendo a cerca
de 25% de todos os tumores diagnosticados nos quatro pontos do
país. O maior agente causador do
problema é o sol.
O tão estudado aquecimento global aumenta ainda mais as
chances desse tipo de doença. De
acordo com um estudo realizado
pelo America’s Climate Choices,
nos últimos cem anos a temperatura da superfície do planeta aumentou, em média, 0,8 ºC, sendo
dois terços desse acréscimo correspondente apenas às últimas
três décadas. Parece pouco, mas os
oceanos já mostram os efeitos disso. Segundo pesquisas da Nasa, o
nível global do mar subiu cerca de
17 centímetros no século passado.
Mas, apenas na última década, o
Vox Objetiva | 47
vox tecnologia
MENOS DOIS CONCORRENTES
GTA III EM NOVOS FORMATOS
Divulgação
48 | Vox Objetiva
Reprodução
A Google anunciou em seu blog oficial o fim dos concorrentes do Facebook e do Twitter: a rede social Buzz e o
Jaiku, serviço de microblog.
Conforme o vice-presidente de produtos da Google,
Bradley Horowitz, a empresa irá focar no Google+ daqui
em diante.
Ainda de acordo com Bradley, é preciso agir com
honestidade sobre o passado e ter o foco no futuro. A
declaração se refere ao fato de o Buzz ter usado, inicialmente, os contatos listados na conta de e-mail de usuários para formar os amigos da nova rede social. O fato,
porém, incomodou muitos internautas que dispunham
do serviço.
Apesar de a Google ter desfeito rapidamente tal configuração, em março passado, a Comissão Federal do
Comércio dos EUA informou que a empresa concordou
com a determinação de uma denúncia de que usou “táticas enganosas e que violou seus próprios compromissos de privacidade quando lançou a sua rede social, o
Google Buzz, em 2010”.
Usuários do Buzz e do Jaiku, comprado pela Google
em 2007, terão a possibilidade de exportar seus dados.
O Grand Theft Auto III, popularmente conhecido
como GTA, completa 10 anos de lançamento nos
Estados Unidos no final de outubro. Para celebrar a
data, a produtora Rockstar anunciou o relançamento
do game de ação original de PlayStation 2 em versões
para as plataformas iOS e Android.
O jogo ainda não tem preço definido, por conta
do processador A5. Entre as plataformas da Apple,
apenas o iPhone 4S e o iPad 2 rodarão o game. Já no
Android, aparelhos como o Droid X2, o HTC Evo 2, o
LG Optimus 2X, o Motorola Atrix, o Samsung Galaxy
S2, o Acer Iconia, o Asus Eee Pad, o Motorola Xoom e o
Samsung Galaxy Tab 10.1 aceitarão o GTA.
Inovador para a época, o jogo apresentou um
mundo aberto, que colocava o jogador para realizar
missões no mundo do crime. Dentre elas estava pegar, ou roubar, qualquer carro e até criar o caos nas
ruas da cidade.
Um boneco do herói do I, Claude, também será
vendido. O preço está fixado em US$ 150. Ele virá
com uma roupa extra e armas presentes no jogo.
sxc.hu
UM BRASIL CONECTADO
Agora é oficial. Um acordo de US$ 8,5 bilhões selou a compra do Skype por parte da gigante Microsoft.
O fechamento do negócio veio exatamente sete meses
depois da criadora do Windows ter anunciado a aquisição, em São Francisco, nos Estados Unidos.
A multinacional criada por Bill Gates e Paul Allen
em 1975 contava com o serviço de conversas online em
voz e em vídeo para alcançar alguns dos mercados
mais aquecidos de tecnologia e mídia. Estes incluem
áreas de socialização via internet, celulares e vídeo digital.
Só no ano passado, cerca de 17 milhões de usuários do Skype conversaram aproximadamente durante
207 bilhões de minutos de chamadas de voz e vídeo
no ano passado, algo próximo a 400 mil anos de conversas via web.
A gigante do ramo da tecnologia também garantiu
que o serviço de chat irá operar como uma divisão dentro da empresa. O CEO do Skype, Tony Bates, está se
juntando à Microsoft para comandar a divisão. Ele terá
que se reportar ao presidente-executivo da adquirente, Steve Ballmer.
Reprodução
Um estudo realizado pelo Comitê Gestor da Internet, o CGI.br, aponta que até 2015, 80% dos lares brasileiros deverão dispor de acesso à rede mundial de
computadores.
Atualmente, apenas 27% dos lares estão conectados, de acordo com informações do Comitê. No Brasil,
o total de residências que tem computador é de 35%.
Projetos como o Programa Nacional de Banda Larga, a ascensão social já registrada na era Lula e a criação de novos planos de acesso capazes de incluir as
classes mais baixas poderão colaborar na massificação
das conexões.
A pesquisa também revela que, até 2014, é possível
que quase 100% da população brasileira com internet
navegue por alguma rede social, a exemplo do Facebook, Twitter, Orkut ou blogs. Hoje, 67% dos internautas
brasileiros usam sites de relacionamento.
Em apresentação no I Fórum da Internet no Brasil,
realizado em São Paulo, o conselheiro da empresa responsável pelo levantamento, Demi Getschko, ponderou que é necessário criar medidas que garantam às
empresas conhecer os hábitos de navegação de seus
usuários sem comprometer a liberdade de uso.
PARA FALAR ALTO NO MERCADO
Vox Objetiva | 49
aviação
MUDANÇAS DE REGRAS
ANAC X EMPRESAS AÉREAS
A partir de 2012, os passageiros de aviões comerciais poderão
avaliar melhor as condições de
cada empresa e serviços prestados pelas companhias aéreas no
Brasil. A Agência Nacional de
Aviação Civil (Anac) está criando, até novembro deste ano, uma
série de novas normas que melhoram a qualidade dos serviços oferecidos aos passageiros ou, pelo
menos, obriga as companhias
a fornecer mais informações na
hora de viajar. De acordo com o
diretor-presidente da Anac, Marcelo Guaranys, estas mudanças
estão em fase de implementação
ou mesmo de elaboração.
Veja a seguir alguns exemplos:
Mais controle sobre horários
de voos
Atualmente, o controle é mais
rígido apenas na primeira decolagem de um avião, que pode
fazer, no mesmo dia, diversas
partidas e chegadas em diferentes cidades. A nova regra deverá estender-se aos aeroportos de
Congonhas, Guarulhos, Brasília e
Confins, que operam com capacidade saturada em determinados
horários do dia. A intenção da
Anac é forçar as companhias aéreas a atender bem seus passageiros. Se isso não acontecer, a empresa poderá ser substituída após
novo leilão desse direito.
Novo índice de regularidade
e pontualidade
As companhias aéreas serão
obrigadas a cumprir à risca seus
horários previstos e informar a
regularidade dos voos na hora da
venda da passagem. Essa possibilidade é avaliada pela Anac e deve
ser implementada nos próximos
meses. Pontualidade, sobre os
50 | Vox Objetiva
atrasos, e a regularidade, sobre os
cancelamentos dos voos. A ideia é
que o passageiro tenha informações
sobre os serviços prestados e ele saiba que pode até aceitar pagar mais
caro por um voo que não atrasa.
Informação sobre tamanho de
poltronas na hora da compra
Para aumentar as informações
disponíveis sobre os voos, a Anac
deverá fornecer no momento da
compra das passagens os dados
sobre a distância entre as poltronas no avião escolhido para a
viagem (o chamado pitch). Hoje,
essa informação já é obrigatória
dentro dos aviões onde é oferecida em uma escala entre A e E, o
chamado selo Anac.
Check in compartilhado
por companhias
Já em uso experimental em alguns aeroportos, a Anac prepara
para os próximos dias a divulgação
de norma que instituirá o check in
compartilhado. Por ele, o passageiro que chega ao aeroporto poderá
usar qualquer balcão de check in, independentemente da companhia,
para registrar sua partida. Essa estratégia desafoga a infraestrutura
escassa dos aeroportos e também
torna mais fácil a entrada no mercado de novas companhias, uma
vez que elas não têm de bancar a
estrutura de check in para atender
poucos passageiros em horários
restritos apenas. Depois de baixada
a norma, as empresas deverão ter
prazo de 60 dias para se enquadrar
na previsão.
Mais acessibilidade e
melhor atendimento
Até novembro, será totalmente
implantada a Regulamentação do
Serviço de Atendimento ao Consu-
Alessandro M. Correia
Comandante de voo
[email protected]
midor de Transporte Aéreo (Reatar). Por essa norma, companhias
aéreas e demais prestadores de
serviços terão de atender requisitos mínimos mais rigorosos no
relacionamento com os passageiros. Um deles é ter nos aeroportos equipe e local específicos para
se ouvir críticas e reclamações.
Mais multas por falhas
No ano passado foram arrecadados R$ 17,4 milhões em
multas, enquanto que em 2007
foram apenas R$ 800. Antes as
multas eram mais frequentes
por motivos de qualidade de
serviços. Agora se concentram
mais em questões de segurança
e tecnicidade.
Novas concessões de
aeroportos em 2011
Até o fim do ano o Governo
quer fazer concessões para gestão e ampliação dos aeroportos
de Brasília, Guarulhos e Viracopos. Com isso, a agência espera
que esses três aeroportos se desenvolvam e atraiam empresas
para centralizar neles suas operações futuras.
Novas regras para perda
de bagagem
Até o fim do ano, a Anac também quer reformular as regras
para os casos de extravio de bagagem. Hoje, só depois de 30
dias do voo em que foi perdida a
bagagem é considerada, de fato,
extraviada, o que obriga as companhias a pagar ao dono um valor equivalente aos bens presentes da mala. Serão revistos, por
nova norma da Anac, tanto o prazo para se considerar o extravio
quando o tempo de restituição e
o prazo para indenização.
carros
TRADICIONAL E FUTURISTA
Moderno e arrojado. O Cruze sedan 2012 é o mais novo ladrão de cenas da Chevrolet.
O lançamento pretende substituir um nome de peso da montadora: o Vectra.
Os traços são típicos de um
Chevrolet, o design é moderno e
o conforto proporcionado é grande. Com linhas de esportividade
e luxo, o novo Cruze tem grandes probabilidades de se tornar
um sucesso.
A segurança impressiona. O
conjunto de airbags frontais e laterais dá tranquilidade até mesmo aos passageiros. Na versão
ULTZ, estão distribuídos pelo
veículo, sendo dois ao lado, dois
na frente e mais dois em um modelo semelhante a uma cortina,
que ocupa as colunas laterais.
O motor 1.8 Ecotec 6, projetado pela
Alemanha em parceria com o Brasil, é o
coração do veículo.
São 16 válvulas, 144
cavalos de potência e torque de 18,9
MKGF. A tecnologia
flex possibilita que
o motorista escolha
o combustível mais
barato. O câmbio
pode ser manual, com seis velocidades, ou automático, com um
software que monitora até mesmo
o uso dos freios. Esse sistema
permite que o carro mantenha a
velocidade sob a mesma marcha,
em uma decida, por exemplo.
A modernidade acompanha
o modelo em todos os aspectos.
Para abrir ou fechar o carro não é
necessário o uso de chave. Basta
aproximá-la do veículo dentro do
próprio paletó. Um botão aciona
a partida e desliga o motor. No
display, o GPS e navegador integrados são acompanhados por
mapas do Brasil e da Argentina,
com reconhecimento de postos
de gasolina quando o nível de
combustível baixar.
Reprudução
Fernanda Carvalho
Os
freios
são ABS, com
sistema EBD
e PBA de gerenciamento. Rodas de
17 polegadas
de
alumínio
e um sistema
que controla cada roda individualmente, evitando que elas girem
em falso. Os faróis frontais reguláveis são acompanhados por mais
um, específico, de neblina. Eles
são acesos automaticamente quando a luminosidades está baixa.
No interior, os bancos são de
couro, com descanso de braço,
porta-copos e entradas para equipamentos eletrônicos. O volante
é leve, com direção hidráulica e
piloto automático. No painel, o
bluetooth tem a possibilidade de
adição de agenda de contatos.
A meta da fábrica é vender três
mil veículos Cruze por mês, com
um preço que varia entre R$ 67.900
e R$ 78.900. Mas a concorrência
não está para brincadeira. Os japoneses Toyota Corolla e Honda
Civic podem ser incômodas pedras no sapato do novo “Vectra”,
que vai ficar lado a lado com o sul-coreano Hyundai Elantra.
Vox Objetiva | 51
esporte
ENTRE A INTUIÇÃO
E A PURA MATEMÁTICA
Em um ano crítico para o futebol mineiro, crescem as expectativas
pelas projeções em relação ao Campeonato Brasileiro. Entenda como
trabalham os homens que tentam desvendar o destino dos clubes
chargebrasil.com
André Martins
52 | Vox Objetiva
F
desses levantamentos que tanto atraem a atenção dos amantes do mundo
da bola nos finais de campeonato. Em 2011, para o infortúnio das Gerais,
a pontuação máxima pouco importa. O que todos mais querem descobrir
é o mínimo para acertar o pé e a cabeça dos jogadores na luta contra aquela que pode ser considerada o limbo das divisões do futebol brasileiro: a
temida série B.
A pura e “simples” matemática
Em 2005, o professor da UFMG, Gilcione Nonato Costa, fazia as contas.
O Atlético Mineiro, time do coração, estava em maus lençóis. Amigos do
departamento de matemática se juntaram a ele e, depois de muito divagar,
a expressão “tragédia anunciada” começou a fazer todo sentido. A pontuação mínima à qual chegaram para que os times ameaçados escapassem
da degola não foi alcançada pelo Galo. A confirmação da queda veio na
última rodada, com um inesquecível e sofrido empate com o Vasco da
Gama, em pleno Mineirão. Apesar da tristeza, algo de bom ficou daquele
tempo. O projeto vingou e hoje o site “Possibilidades no Futebol” desvenda a matemática nos campeonatos Mineiro, Paulista, Brasileiro, e também
na Fórmula 1.
A metodologia adotada é puramente matemática. Com o passar das
rodadas, os professores chegam aos perfis dos times se baseando na frequência de vitórias, derrotas e empates, dentro e fora de casa. Esse padrão
passa por constantes mutações tão logo os times entram em campo.
As dez últimas partidas de cada conjunto têm maior força, pois elas determinam a chamada “fase” – de ascensão ou queda – dos times. Quanto
mais vitórias um determinado grupo acumula nessa amostra, maiores são
as possibilidades de vitória no confronto seguinte. Se, por outro lado, as
derrotas sobressaem, as chances de queda crescem.
A título de exemplificação, analisemos o confronto direto entre Cruzeiro e Atlético, na 38ª e última rodada da competição, levando em consideração os números e índices de rendimento dos clubes computados até a 30ª
rodada do Campeonato Brasileiro de 2011.
Até o fechamento desta edição, o time celeste, mandante do jogo,
possuía probabilidade de vencer, em seus domínios, de 18,57%; 34,53%
de empatar; e 46,9% de sair derrotado. O carijó, em contrapartida, tinha
11,88% de chances de vencer como visitante; 17,27% de empatar; e 70,85%
de tropeçar fora de casa. Cruzando os resultados e fazendo uma média
simples, chega-se às seguintes possibilidades:
Probabilidades de...
Cruzeiro
(VM)
18,57%
(EM)
34,53%
(DM)
46,9%
Atlético
(DV)
70,85%
(EV)
17,27%
(VV)
11,88%
89,42%
51,80%
58,78%
2
2
2
+
÷
+
(V)
44,71%
V – vitória
E – empate
D – derrota
VM – vitória como mandante
EM – empate como mandante
DM – derrota como mandante
÷
(E)
25,9%
+
÷
(D)
29,39%
DV – derrota como visitante
EV – empate como visitante
VV – vitória como visitante
Vox Objetiva | 53
Fonte: http://www.mat.ufmg.br
alta muito pouco para os torcedores conhecerem o desfecho do
Brasileirão 2011. No tocante ao futebol mineiro, os analistas não divergem que falta o que faz os espetáculos e os campeões – um futebol vistoso ou apenas descente. Ninguém
discorda também que Minas vive
uma era de vacas magras. Não é
preciso ouvir o apito final para concluir que o futebol mineiro passa
pelo pior momento de sua história.
Em maio, no início da competição, torcedores falavam em títulos,
briga pelas vagas na Libertadores e,
volta e meia, sentenciavam o time
rival à série B. Ninguém poderia
cogitar a hipótese de que as pragas
fossem fortes demais e assolassem
a casa dos três grandes de Minas.
Hoje, América, Atlético e Cruzeiro
protagonizam uma intensa e desesperadora luta contra o descenso.
A essa altura do campeonato,
se um deles escapar, mesmo sem
beliscar aquela modesta e, inicialmente assegurada, vaga na Sulamericana, é preciso dar-se por satisfeito. Entre uma rodada e outra,
os times alimentam uma lógica que
envolve empates, eventuais vitórias e amargas derrotas.
O futuro pode guardar surpresas, é verdade, mas a possibilidade
do trio se encontrar em outra divisão, em 2012, só aumenta na medida em que a competição encaminha para o fim e os resultados não
vêm. Em São Paulo, o futebol apresentado pelos mineiros já é motivo
de piada. “Corre à boca pequena”
que a Série B se tornará a Série BH.
Quisera os torcedores afoitos e
apreensivos poderem prever o futuro e dar um basta na aparentemente
infindável angústia. No futebol, a
única bola que define o destino dos
times é a convencional. Na falta da
conhecida e esotérica bola de cristal, muitos depositam as esperanças
nas projeções feitas pelos matemáticos. É uma forma de “descansar”
o espírito ou ir se aquecendo para
encarar um outro ritmo.
A Vox Objetiva foi atrás daqueles que tentam enxergar o futuro
para saber como funciona a lógica
André Martins
Para Gilcione Nonato,
integrante do projeto
“Possibilidades no Futebol”,
da UFMG, probabilidade
não é prognóstico, mas
sim diagnóstico
O Cruzeiro tinha 44,71% de
chances de derrotar o Atlético, enquanto o alvinegro possuía apenas
29,39% de surpreender o arquirrival. A probabilidade de empate era
de 25,9%. Isso quer dizer que num
universo de 100 simulações para
um jogo nessas condições, o Cruzeiro sairia vitorioso em 44 delas.
Certamente, às vésperas desta
partida, esses números não serão
os mesmos. Até lá, os clubes enfrentam outros sete adversários e o
perfil de cada um tende a mudar.
Realizando esse minucioso estudo de caso para cada jogo, os matemáticos, auxiliados por um software,
definem possíveis vitoriosos e derrotados em cada confronto. A partir
dos resultados, estrutura-se uma
tabela essencialmente matemática.
Ela serve para se projetar a quantidade de pontos necessária para
um determinado objetivo dentro
da competição: título, Libertadores,
Sulamericana ou fuga do Z4.
Para o professor Gilcione Nonato,
não seria correto questionar índices
de acerto em relação a levantamentos
matemáticos, afinal, eles são apenas
organizações lógicas do que cada
time indica ou permite inferir em
relação ao próprio futuro dentro do
campeonato. “Probabilidade não é
prognóstico, é diagnóstico”, entende.
54 | Vox Objetiva
Quando tudo pesa
O administrador esportivo Alexandre Siqueira faz uso de outro
método para tentar amenizar o
afobamento e a ansiedade dos torcedores. Ele só dá início à série de
deduções a partir do momento em
que os times começam a abrir certa vantagem uns sobre os outros. É
o mais coerente, uma vez que nas
primeiras rodadas de um torneio
de pontos corridos, um clube não
apresenta grandes variações em relação aos seus oponentes.
Além de contar com os cálculos
matemáticos, Siqueira “coloca na
balança” uma gama de “conceitos
abstratos, subjetivos, da medida do
ponderável e do imponderável”,
explica. No linguajar dos matemáticos, ele “modela” o número. A
performance ao longo da competição; o desempenho dentro e fora
de casa; o “momento” do conjunto
e dos adversários; e a análise dos
confrontos anteriores entre equipes
são determinantes para se estipular
possibilidades.
Para que o resultado, de fato,
aproxime-se ao máximo da realidade, Siqueira é obrigado a acompanhar o dia-a-dia dos clubes. Eleições, queda de treinadores, venda
de jogadores, conflitos extra-campo, tudo é analisado criteriosamen-
te e pode influenciar dentro das
quatro linhas. “O trinômio realidade, futuro e dedução só se cruzam
se as rodadas não desmentirem as
possibilidades”, explica. Coisa que
não é difícil de acontecer.
O improvável não é algo digno
de descarte. O caso mais alusivo
para essa certeza é o do Fluminense, em 2009. Da 10ª à 28ª rodada, o
time apresentou uma queda vertiginosa de rendimento por fatores
como venda de peças centrais e as
inconvenientes trocas de técnicos.
Restando apenas dez jogos para
o fim, a imprensa, pautada pelos
analistas esportivos e matemáticos,
decretava a derrocada do tricolor.
Naquele ano, muita gente “pagou
língua”. O Fluminense engatou e
não perdeu mais, escapando do rebaixamento por um pontinho.
“Isso acontece quando o time está
‘mágico’, quando tudo conspira a favor, inclusive fora de campo. Aquela
bola que você acha que vai para fora,
ela bate na trave e entra. Isso também
é determinante para que um clube
conquiste o título”, analisa.
Assim como grande parte dos
Para Alexandre Siqueira,
praticamente tudo o que
acontece dentro e fora de
campo reflete na tabela
André Martins
matemáticos, Alexandre foi surpreendido pelo feito do Fluminense.
Mesmo estando exposto às imprevisibilidades, ele arrisca e testa sua
capacidade de análise e percepção
dos momentos de cada um dos times no campeonato. “As deduções
são momentâneas. Se você conversar comigo daqui a duas semanas,
pode ser que passe a pensar de maneira diferente”, detalha.
Com 12 anos de experiência, o
administrador esportivo observa
semelhanças, algumas matemáticas e outras nem tanto, entre
edições do Campeonato Brasileiro. Os times com grandes sequências de triunfos ou cuja soma de
vitórias e empates é superior ao
de derrotas, são potenciais candidatos às vagas na Libertadores
e fortíssimos aspirantes ao título.
Para o rebaixamento, vale a relação inversa. “Isso acontece todo
ano”, confessa.
Na base do feeling
A voz é familiar. A cada fim de
rodada do Brasileirão, a Rádio Itatiaia empresta seus microfones, e
Sávio Baião conseguiu
credibilidade dentre os
veículos e torcedores pela
lucidez de suas análises, que
são muito mais intuitivas
que matemáticas
André Martins
os torcedores, os ouvidos, ao matemático Domingos Sávio Baião.
Há quase quinze anos ele apresenta as possibilidades dos times
mineiros a partir de hipotéticos
resultados futuros.
Baião é um dos precursores
desse tipo de levantamento no
Brasil. Tudo começou por volta
do ano de 1995. Como a paixão
pelo futebol era tão grande quanto
pela matemática, ele decidiu unir
as duas coisas. Estudar a situação dos times e avaliar chances a
partir dos últimos confrontos dos
conjuntos de Minas se tornou uma
espécie de hobby.
Baião faz uma espécie de modelagem simplificada. Ele, basicamente, analisa a situação atual de
um determinado time, sua sequência de jogos e recorre aos históricos
de confrontos. Não determina vencedores ou derrotados, mas deduz
o que pode ocorrer diante das possibilidades de um jogo qualquer.
“Não me importo com resultados.
O que eu faço é apontar o que pode
acontecer com cada um dos times
mineiros caso eles vençam, empatem ou percam um jogo, relacionando isso a outros hipotéticos resultados da rodada”, explica.
O bancário desenvolveu uma
tabela para o rádio que facilita o
trabalho. Com tantos anos de experiência, ele não faz muita força para enxergar o universo de
alternativas. O matemático fala
fácil e encara as participações no
rádio com grande responsabilidade. Baião conhece o perfil dos
torcedores dos clubes mineiros.
É preciso saber como se dirigir
a cada um deles. Ponderação e
sensatez ele demonstra também
em relação às estatísticas e às falas categóricas.
“Sempre nas últimas rodadas
eu me preparo muito para que eu
não fale que uma equipe está fora
do rebaixamento e alguém me prove, matematicamente, que ela tem
risco de ser rebaixada. Muitas vezes a pessoa que está do outro lado
recebe a informação para fazer
uma comparação com o entendimento dela”.
Embora adotem caminhos diferentes, os matemáticos mineiros
possuem uma semelhança. Torcem
para que a fase turbulenta vivida
por América, Atlético e Cruzeiro,
seja passageira e que essa história,
cujo fim está marcado para o dia 4
de dezembro, tenha o desfecho menos triste possível. Para o bem dos
times e do futebol de Minas.
Vox Objetiva | 55
vinhos
NÉCTAR
FORTIFICADO
N
56 | Vox Objetiva
de 40 anos de produção. No processo de maturação do madeira, mais
uma especificidade chama atenção.
Os barris em que amadurecem não
são completamente preenchidos
para que o vinho oxide levemente
e de maneira gradual, deixando-o
mais elegante.
Atualmente, 10% da produção desta bebida é destinada
a vinhos finos. Para estes,
utilizam-se quatro uvas
diferentes, que ajudam a
acentuar os estilos de madeira possíveis de serem
encontrados. A sercial e
verdelho são mais leves e
frescas, já a bual e a malmsey, ou malvasia, produzem um vinho bom para
ser servido com sobremesas fartas em chocolate. A
maior parte dos vinhos da
região é elaborada, porém,
com a tinta negra mole.
Peculiar, o madeira ainda registra histórias curiosas. É com um deles que a
independência dos Estados
Unidos foi brindada em 4 de
julho de 1776, e, que, provavelmente, Thomas Jefferson
comemorou sua vitória à presidência daquele país. Já na
obra Henrique IV, de Willian
Shakespeare, a personagem
Falstaff foi acusada de negociar sua alma em troca de uma
perna de frango e um cálice
de vinho madeira.
Por estas histórias e características é que vale a
pena saborear um. Por isso,
decante-o para evitar os sedimentos, e saúde!
Reprodução
em só do turismo vive o arquipélago da Ilha da Madeira.
Por lá, desde a dinastia de Avis,
responsável por tornar Portugal o
primeiro estado burguês do mundo, um vinho fortificado conquista
os paladares mais aguçados. Trata-se do madeira, bebida que leva o
nome da província portuguesa, geograficamente localizada na África.
O relevo acidentado, a proximidade do mar mediterrâneo e o
solo de origem vulcânica, junto aos
verões quentes e úmidos e invernos amenos, conferem às regiões
produtoras de vinho na Madeira
características particulares.
Além das particularidades das
vinícolas, outros detalhes compõem a produção desta bebida. Antes de sua fermentação completa,
acrescenta-se aguardente de uvas,
para que as leveduras não consumam os açúcares do vinho. Algo
fundamental para que ele adquira
um ponto de doçura. Na segunda
metade do século XVII, este vinho
compunha a lista de mercadorias
levadas nos navios mercantes em
direção de Portugal, e, com a temperatura, contraia aromas amendoados e de caramelo. Hoje, para
acentuar seus tons e cheiros, armazena-se os madeira no sótão de armazéns para reproduzir a situação
encontrada na era mercantil.
Aquecido, o madeira descansa
por um prazo mínimo de um ano.
Este tempo é necessário para que a
bebida se recupere do choque térmico. Depois disso, o vinho segue
para o amadurecimento. Nesta
fase, são necessários de 3 a 20 anos,
sendo que aqueles, considerados
de excelência, ultrapassam a marca
receita
TAJINE DE DOURADA
COM GENGIBRE
Receita de Antônio Abrahão Neto, chef da Casa de Abrahão Bistrô Árabe
INGREDIENTES
»» 2 colheres de sopa de azeite
»» 2 cebolas bem picadas
»» 4 dentes de alho picados
»» 50 g de gengibre bem picados
»» 2 talos de coentro bem picados
»» 2 gramas de cúrcuma
»» 1,2 kg de Dourada cortada em postas
»» 1 litro de caldo de peixe
»» 3 tomates grandes despelados e
cortados em gomos
»» 200 g de azeitona preta
Divulgação
»» 200 g de limão confitado
»» 3 talos de cebolinha cortados em
rodelas finas
MODO DE PREPARO DO CONSOME
Refogue a cebola e o alho no azeite, acrescente o
gengibre e a cúrcuma. Junte as postas de peixe e cubra
com o caldo de peixe. Adicione os tomates e cozinhe por
cerca de 10 minutos ou até ficar macio. Finalize o prato
com azeitonas pretas e fatias finas de limão confitado e
cebolinha. Sirva com arroz branco.
Observação
Divulgação
Tajine é uma panela de cerâmica, típica do Marrocos. Tem
uma tampa cônica que propicia um calor concentrado
para um cozimento lento de carnes vermelhas, peixes
e legumes. Se você não dispor de uma tajine, use uma
panela de barro, lembrando de cozinhar sempre com o
fogo lento. Bom apetite!
Vox Objetiva | 57
crônica
SOU MAIOR DE
IDADE: JÁ POSSO
AMAR!
Joanita Gontijo
Jornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com
[email protected]
O casamento era entre um publicitário e uma jornalista. Esperava um convite fora do padrão
e não foi surpresa receber um pequeno livro em papel couché com
fotos pra lá de modernas. Os noivos não se esquivaram apenas da
entediante cartolina branca em
que os pais, e não eles mesmos,
convidam para a cerimônia. O
casal fugiu da tradição propondo
um destino bem mais interessante para a relação do que a fatídica
sentença “até que a morte os separe”. Na primeira folha do convite estava escrito “Com o tempo,
hão de se tornar mais que marido
e mulher. Poderão, quem sabe,
se declararem maduros”.
Uau! Que ousadia! A promessa não passava nem perto
do enfadonho “ser fiel na riqueza e na pobreza, na saúde e
na doença, na alegria e na tristeza”. Eles estavam dispostos a
crescerem, se tornarem pessoas
melhores, aprenderem um com
o outro. Assumir o compromisso de ser tolerante sem esquecer
dos próprios limites, recuar, às
vezes, sem passar a vida andando pra trás, ser forte pra cuidar,
e também permitir a fragilidade
para receber apoio.
Como definir uma pessoa
madura? Responsável, disciplinada, ponderada, segura.
Há quem discorde de algumas
dessas características e inclua
58 | Vox Objetiva
outras. Mas, salvaguardado o
preciosismo do vocabulário,
acredito que não errei tanto assim. Quem já está crescidinho
também pode se dar ao luxo de
selecionar amigos e programas,
assumir preferências que contrariam o gosto geral, mudar de
emprego, de cidade, de rumo,
de vida! Será que temos sido assim nas nossas relações?
Com o convite na bolsa, segui
para uma festa de aniversário regada a cerveja gelada e vinis dos
anos 80. Ao som de Locomia (se
você não sabe do que se trata,
procure no Youtube e se permita dar boas gargalhadas), fiz o
que mais gosto: garimpar histórias alheias. Claro que, depois
de algumas horas, o álcool já
fazia efeito na maioria dos convidados e fui presenteada com
vários casos de afetos mal correspondidos e relações em crise
(algumas eternas, outras visivelmente passageiras).
Conversei com mamães de primeira viagem que não se conformavam com a “pouca prática” dos
maridos no cuidado com os bebês.
Também fiz sessão de terapia trocando experiências com uma amiga recém-separada e tentando entender por que nossos casamentos
haviam se tornado insustentáveis.
Na pista de dança, entre uma coreografia e outra, ouvi reclamações de “ficantes” que teimavam
em não assumir um compromisso
mais sério e colocar de vez o rótulo
de “namorado”.
Se você pensa que a festa foi
chata... esqueça! A vida real é
um pouco repetitiva, mas muito
divertida. A maioria dos conflitos amorosos me pareceu tão
infantil que, tenho certeza, esses
casais ainda vão rir muito do que
estão enfrentando hoje. São alimentados pelo medo, intolerância, pirraça, teimosia. E olha que
não havia ninguém por ali com
menos de 25 anos! A verdade é
que agimos como crianças. Damos tanta importância ao ciúme
quanto uma menina que briga
com a melhor amiga porque ela
decidiu se aproximar de uma
nova colega de classe. Cobramos perfeição mesmo sabendo
que nós mesmos já quebramos
alguns brinquedos sem intenção.
Culpamos o outro pelo fim de
um casamento como um garoto que chuta a canela do amigo
acreditando que ele é o responsável pela derrota no campeonato
escolar de queimada.
Me incluo nessa turma de
guris que merecem um puxão
de orelha pelo mau comportamento. Se o encontro parece merecer sua dedicação, vale a pena
assumir a maioridade emocional e prometer um ao outro ficarem juntos até que a vida os
mantenha felizes!
especial - tropa de elite
O
SERÁ
QUE
VAI?
Tropa de Elite – o inimigo agora
é outro. É o Brasil na corrida
por vaga no Oscar. Depois de
muitas escolhas questionáveis,
enfim, o Ministério da Cultura
acerta a pontaria
André Martins
ano de 2002 marcou a estreia
de José Padilha na direção de
cinema. A primeira obra assinada pelo carioca, o surpreendente Ônibus 174, narra a desastrosa
operação da polícia carioca num
sequestro a um coletivo no Jardim
Botânico. Padilha conta a história
de Sandro do Nascimento, responsabilizado pelos disparos que vitimaram a jovem professora Geísa
Firmo Gonçalves no início da noite
do dia 12 de junho de 2000.
Dois anos após o “assassinato”,
a indignação popular se arrefeceu,
mas a ferida continuava aberta e
era quase impossível não sucumbir
à demonização do “criminoso”. Padilha podia fazer igual, mas decidiu
contar a história por um viés diferente, evidenciando verdades que
se vinham se diluindo em um poço
de cólera e indignação. Com Ônibus 174, o diretor apresenta Geísa e
Sandro como crias e vítimas de uma
sociedade amedrontada e desigual.
As obras subsequentes, Tropa de
Elite e Garapa, mantiveram o tom denunciativo e documental. Enquanto
o primeiro, vencedor do Festival de
Berlim, em 2008, pinta o retrato da
violência urbana no Rio de Janeiro e
mostra a atuação do BOPE no combate ao tráfico de drogas, o segundo
torna pública a pobreza e a fome no
nordeste brasileiro.
O segundo drama de Padilha,
Tropa de Elite 2 – o inimigo agora é
outro, não é propriamente um documentário, embora flerte com o
gênero em muitos aspectos. Tropa
2 é ficção, mas, de alguma forma,
subverte as regras dela. Como num
jogo de idas e vindas, pode-se dizer
que a obra é um quadro muito bem
acabado da realidade.
Treze anos após os acontecimentos do primeiro longa, Nascimento (Wagner Moura) agora é o
Sub-secretário de Inteligência da
Secretaria Estadual de Segurança
Pública do Rio de Janeiro, posto
alcançado devido a uma operação
do BOPE numa rebelião a Bangu
I, onde o impulsivo André Matias
(André Ramiro) mata um dos principais criminosos do estado, desobedecendo as orientações de seu
superior. O soldado é expulso da
corporação, enquanto Nascimento
é ovacionado pela sociedade.
Infiltrado no sistema, ele tem a
oportunidade perfeita para desarticular o crime nos morros cariocas.
Entretanto, ao fazê-lo, Nascimento
abre espaço para a emergência de milícias, bem como de políticos oportunistas que se beneficiam com a queda
dos “algozes da sociedade”. O ódio
e o desejo de justiça do protagonista
explodem quando a situação, repentinamente, afeta sua vida pessoal.
Cultuado desde o primeiro filme, Nascimento tornou-se uma espécie de herói pátrio por incorporar
da maneira mais explosiva e enérgica, o cidadão justo e implacável
contra o crime e a corrupção. Wagner Moura está incrível, sendo favorecido pela maior humanização de
seu personagem, que, de maneira
desajeitada, tenta se aproximar do
filho Rafael (Pedro Van-Held).
A narrativa é sólida, com uma
assertiva relação temporal entre os
eventos passados e presentes. Além
disso, apresenta uma boa construção de personagens associadas a
uma temática tão familiar que fizeram do longa o maior sucesso de bilheteria do cinema nacional.
Em setembro, o Ministério da Cultura escolheu Tropa de Elite – o inimigo agora é outro como o representante
brasileiro na disputa por uma vaga na
categoria de melhor filme estrangeiro. Com raras exceções, a escolha foi
comemorada pela crítica e pelos cinéfilos. O filme de Padilha desbancou
produções como Assalto ao Banco Central, Bruna Surfistinha, Malu de Bicicleta
e VIPS. A lista dos cinco filmes que
disputarão o prêmio será anunciada
no dia 24 de janeiro. A 84ª cerimônia
de premiação do Oscar acontece no
dia 26 de fevereiro de 2012.
Vox Objetiva | 59
especial - tropa de elite
A OPINIÃO DOS CRÍTICOS
Leo Cunha
Crítico do site Filmes Polvo
Pablo Villaça
Crítico e editor do site Cinema em Cena
Entre os filmes brasileiros do ano passado, o meu
preferido é Ex-isto, mas ele não teria chance alguma
na Academia, por ser muito experimental, não linear, contemplativo. Sendo assim, eu concordo com
a escolha do Tropa de Elite 2 , o mais próximo do
que se espera de um concorrente ao Oscar de filme
estrangeiro. Eu acredito que ele tem uma postura
“ideológica” mais clara, menos ambígua do que o
Tropa 1 (do qual eu, pessoalmente, até gosto mais).
Essa “moral” mais clara pode ajudar o filme a ser
selecionado entre os 5 filmes estrangeiros. Por outro
lado, o primeiro filme foi mal recebido pela crítica
norte-americana, o que pode comprometer a sorte
deste segundo.
Tropa de Elite 2 é, sem dúvida, um dos melhores
filmes brasileiros lançados no último ano e, portanto,
sua escolha como pré-candidato ao Oscar 2012 é coerente. Dito isso, o primeiro filme foi ignorado pela
Academia, mesmo com vitórias importantes em festivais internacionais, é violento demais para o gosto
dos eleitores e trata-se de uma continuação (algo que
a premiação costuma não aprovar em suas categorias
principais). Assim, as chances do filme de José Padilha não são as maiores, embora, por sua qualidade
narrativa e técnica, mereça consideração. De todo
modo, é melhor escolher um ótimo filme com poucas
chances para nos representar do que repetir o que foi
feito nos últimos anos, selecionando trabalhos medíocres apenas porque teoricamente teriam mais chances (e, como vimos, não tinham).
Andrea Ormond
Colaboradora da revista Rolling Stone e
dona do blog Estranho Encontro
Embora eu ache a obsessão de “oscarizarmos” nosso cinema fruto de certos equívocos dos anos 1990
que infelizmente perduram até hoje, é correta a escolha de Tropa de Elite 2 para representar o país. Ambos
Tropa de Elite buscaram teses originais sobre a violência no Brasil e é notável que tenham alcançado um
êxito tremendo com essa ótica assertiva. Os filmes de
José Padilha representam marcos do cinema popular
nacional e, como são fadados para a polêmica, seria
curioso Tropa de Elite 2 se tornar o primeiro brasileiro
a abocanhar o prêmio. Outros filmes chegaram melhor “respaldados” pela crítica e naufragaram (vide
Central do Brasil). O fato é que Tropa de Elite 2 não piora nem melhora diante do Oscar. Ele se justifica pelos
próprios acertos e erros, pela empatia bárbara que
criou com o público.
Marcelo Hessel
Crítico do site Omelete
Acho uma escolha acertada porque o filme já tem
alguma estatura nos EUA, foi exibido em Sundance
e no Festival de Los Angeles, mas tem que ser vendido como um filme isolado. Se a Academia encanar
que é uma continuação (de um filme que lá ninguém
conhece) as chances diminuem muito. Do filme em si
eu gosto, acho mais articulado que o primeiro, embora a narração em off deixe tudo com cara de palestra
de sociologia.
60 | Vox Objetiva
Rodrigo Carreiro
Editor do site Cine Repórter
Acho que existem dois conjuntos de critérios bem
distintos pra usar na seleção. O primeiro é o mérito
artístico da obra (ou seja, se o filme tem qualidade e
representa bem a produção nacional do ano em questão); o segundo tenta, baseado nas escolhas anteriores dentro da categoria de filme estrangeiro, levantar
as chances reais de vitória dos nossos filmes, e selecionar aquele título que reúne as melhores condições.
Pessoalmente prefiro o primeiro conjunto de critérios: o filme mais interessante e bem realizado deve
ir à luta. Não se deve escolher nosso candidato por
causa do tema, da estética, do nome do diretor.
Acho que Tropa de Elite 2 é um filme interessante,
que permite diversas leituras sobre nossa situação
sócio-política e sobre nossa política de segurança,
além de ser um filme bem realizado. Tenho lá minhas
restrições - acho que a obra do José Padilha é excessivamente verborrágica (todos os filmes, não apenas
esse), e construída sobre estruturas narrativas e escolhas estilísticas calcadas demais no filme americano de ação. Mas também não tenho dúvidas de que
estamos falando de um filme competente, feito por
gente que entende do riscado e com grande exposição internacional.
Torço pelo filme. Não acredito que o Oscar seja
entregue a uma sequência (isso é muito raro por lá),
mas acredito que estamos bem representados, e isso
é o mais importante.
O BRASIL NO OSCAR
CATEGORIA MELHOR FILME ESTRANGEIRO
1962
O pagador de promessas
de Anselmo Duarte
A primeira participação do Brasil no Oscar acontece
33 anos depois da criação da Academia, com O pagador
de promessas, filme que ainda hoje é a única produção
nacional a conquistar a Palma de Ouro no Festival de
Cannes.
A obra, protagonizada por Leonardo Villar e Glória
Menezes, acompanha Zé do Burro, um homem humilde que, para agradecer a cura de um animal que muito
estima, vende metade de sua propriedade e percorre
42 quilômetros até Salvador com uma cruz de madeira nas costas. Era uma penitência em agradecimento à
graça concedida por Santa Bárbara.
A extenuante saga ameaça tornar-se inconclusiva
diante da resistência do padre local em permitir a entrada de Zé pelo fato deste ter feito a promessa em um
terreiro de Candomblé.
Esta é uma brilhante obra do cinema brasileiro. Um
verdadeiro clássico atemporal que, há 50 anos, discutia
a intolerância religiosa no Brasil. A França, com Sempre
aos domingos, venceu na ocasião.
1997
O que é isso, companheiro?
de Bruno Barreto
No ano seguinte, era a vez do outro Barreto, Bruno, representar o país no Oscar com O que é isso,
companheiro?. A história é baseada em fatos reais, se
passando na década de 1960, quando o Brasil sofre o
golpe militar e o Ato Institucional nº 5, o mais violento de todos, entra em vigor.
A obra acompanha a elaboração e execução do plano de jovens do grupo MR-8que abraçaram a luta
armada e lutaram pelo restabelecimento da democracia. A intenção era sequestrar o embaixador americano e, posteriormente, trocá-lo por prisioneiros
políticos que sofriam todo o tipo de violência nos
porões da ditadura.
O filme contou com a participação especialíssima do
vencedor do Oscar Alan Arkin, como o representante
da diplomacia americana. Fernanda Torres, Luiz Fernando Guimarães, Cláudia Abreu e Pedro Cardoso
compõem o elenco. Foi a terceira indicação e a terceira
derrota. Caráter, da Holanda, levou a melhor.
1996
O quatrilho
de Fábio Barreto
Se a espera pela primeira participação foi demasiadamente longa, o Brasil teve de esperar ainda mais para voltar a competir. Trinta e quatro anos depois do feito de O
pagador de promessas, O quatrilho, emplacava a segunda
indicação na categoria.
Aqui, o diretor narra a história de duas famílias de imigrantes italianos residentes em uma comunidade rural no
estado do Rio Grande do Sul, no ano de 1910. As famílias
decidem dividir uma mesma casa mantendo uma relação
de trabalho colaborativa.
Com o tempo, a mulher que encabeça uma das famílias
se apaixona pelo patriarca da outra casa, sendo correspondida por ele. Os amantes fogem na tentativa de construir uma nova vida. O casal que permanece na casa tenta
lidar com a desonra. Nesse meio tempo a amizade ganha
outros contornos.
No elenco: Patrícia Pillar, Glória Pires, Bruno Campos e
Alexandre Paternost. O filme saiu derrotado pelo holandês A excêntrica família de Antonia.
1999
Central do Brasil
de Walter Salles
Em 1999, o país chegava com força no Oscar. Central do Brasil era o nosso representante. Além da indicação na categoria de melhor filme estrangeiro,
o drama fez da dama do teatro e cinema nacional,
Fernanda Montenegro, a primeira e única intérprete
brasileira a conseguir uma nomeação na categoria de
melhor atriz.
Dora é uma mulher de meia idade que sobrevive
das cartas que escreve na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. A vida dela muda totalmente quando encontra o pequeno Josué, um garotinho
que perde a mãe em um trágico acidente de trânsito.
Do contato seco e rude contato inicial, ambos vão
tecendo uma amizade que mudará suas vidas por
completo.
O filme de Walter Salles tinha potencial, mas um
dos maiores clássicos do cinema contemporâneos
italiano, A vida é bela, se colocava no caminho. Montenegro também perdeu. A americana Gwyneth Paltrow venceu por Shakespeare apaixonado, uma conquista até hoje muito questionada.
Vox Objetiva | 61
vox cultural
estreias
No escurinho do
Atividade
paranormal 3
Contágio
Direção: Henry Joost e
Ariel Schulman
Gênero: Suspense
Distribuidor: Paramount
Estreia: 21 de outubro de
2011
Direção: Steven Soderbergh
Gênero: Suspense/ Drama
Distribuidor: Warner Bros
Estreia: 28 de outubro de
2011
Em 2009 o mundo se
surpreendeu com a lucratividade Atividade paranormal. O filme, realizado com pouquíssimos
recursos – nada mais que 11 mil dólares – arrecadou
milhões em todo o mundo. Parecia excessivamente experimental e, talvez por isso, a obra possuía um tom
quase documental. Parecia um relato verídico, logo
ainda mais assustador. Deu certo. Atividade paranormal
2 seguiu a mesma receita. Custou US$ 3 milhões, embolsou US$ 157 milhões.
A franquia, conhecida por explorar ao máximo
o terror psicológico, abriu mão, nos dois primeiros
filmes, de recursos técnicos para materializar os elementos paranormais que tanto perturbavam o jovem
casal Micah e Katie. Tudo ficava na base das imagens
chuviscadas, das sombras e do movimento sinistro de
objetos como portas e berços. Mas os truques baratos,
parecem perder território em Atividade paranormal 3,
em que o terror toma forma e sai da categoria de elementos puramente sugestivos.
O filme volta aos anos de 1980, para investigar as
motivações dos acontecimentos presentes. Os diretores reconstroem a infância da jovem e a relação com a
irmã. Os pais, dispostos a desvendar o mistério, espalham câmeras em todos os cantos da casa e por meio
das gravações percebem a presença de forças ocultas.
A comentada cena da brincadeira no banheiro escuro,
onde as meninas repetem duas palavras em frente ao
espelho, promete fazer muita gente perder algumas
noites de sono. É esperar para ver se, de fato, os diretores saíram da zona de conforto e fizeram algo que já
não tenhamos visto.
62 | Vox Objetiva
Gwyneth
Paltrow,
John Hawkes, Laurence
Fishburne,
Matt
Damon, Kate Winslet,
Marion Cotillard e Jude
Law. Eles têm algo
em comum. Todos são talentosos, premiados e já
possuem uma carreira sólida em Hollywood. Contágio
é outro elemento que os une. O filme, dirigido pelo
vencedor do Oscar Steven Soderbergh, tem um
elenco que causa inveja em qualquer realizador. Uma
verdadeira constelação reunida em um único produto
cinematográfico parece até sonho.
O roteiro da obra, entretanto, soa familiar demais,
aparenta fazer o tipo de filme catástrofe, a exemplo
de Ensaio sobre a cegueira, Filhos da esperança, A
estrada. Uma moléstia universal se espalha como
praga e desafia a ciência e a humanidade a ponto de
transformar a Terra em um ambiente apocalíptico,
mórbido e inanimado. Talvez justamente por fazer
alusão a obras não tão bem recepcionadas pela crítica
ou por puro e tolo preconceito com o gênero, pensavase que todos os brilhantes atores citados haviam se
metido em maus lençóis. Esperava-se uma bomba,
mas não foi isso que aconteceu. A recepção não foi a
que se esperava, mas o filme recebeu boas críticas na
estreia, no Festival de Veneza.
Contágio é um projeto visivelmente comercial,
ainda que tenha sido inicialmente cotado para o
Oscar, o filme parece perder força na medida em
que o final do ano se aproxima e as maiores apostas
chegam às salas de cinema. Por ora, o longa recebe
menções em categorias técnicas, e nada mais nos,
bancos de aposta.
cinema
A Pele que
habito
Direção: Pedro Almodóvar
Gênero: Ficção científica/
Suspense
Distribuidor: Paris Filmes
Estreia: 4 de novembro
de 2011
Pedro Almodóvar é,
sem sombra de dúvidas,
o grande nome do
cinema espanhol. As
obras lançadas pelo
diretor são cultuadas e geralmente muito aguardadas.
Todas, independente de gênero, possuem o DNA
dele. Partindo desse princípio, A pele em que habito não
aparenta ter nada de diferente. Ledo engano. Com o
novo filme, Almodóvar abandona a fotografia quente e
hispânica e os personagens cômicos, que volta e meia
figuram em suas obras.
Aqui o tom é outro. A pele em que habito, filme que
abriu o Festival do Rio deste ano, é, tal como um dos
personagens principais da obra, é um experimento,
aparentemente muito bem sucedido.
A história se desenrola no ano de 2012. Após perder
a esposa em um acidente de carro, quando o corpo se
reduz a cinzas, o famoso e competente cirurgião plástico Richard Legrand, vivido por Antônio Banderas,
parte em busca do tecido epitelial “perfeito”, que poderia ter salvado a vida da companheira.
O subtexto da obra mostra a incansável luta do homem pelo domínio da técnica; os absurdos avanços
científicos como tentativa, quase uma fixação humana,
por manipular o corpo e transcender os limites da vida
e da morte.
Assim como faz em Fale com ela, Tudo sobre minha
mãe, Má educação, Almodóvar parece ter construído
mais uma obra fantástica, precisa e emocionante.
Uma observação: olho em Bandeiras. Segundo
muito tem se falado, o espanhol não está menos que
extraordinário.
em
e
v
e
r
b
Potiche: esposa
troféu
Direção: François Ozon
Gênero: Comédia
Distribuidor: Imovision
Estreia: 17 de novembro de 2011
1977.
Suzanne
(Catherine Deneuve) é o modelo de
mulher tradicional,
reclusa à casa e as
tarefas domésticas.
O marido (Fabrice Luchini) é o gestor dos negócios da família da esposa, uma fábrica de guarda-chuvas. Esses personagens estereotipados acabam trocando os papéis quando, diante de uma
greve, a mulher constantemente censurada pelo
marido, assume frente nas negociações com o
operariado contando com o auxílio de um antigo
affair, um político esquerdista interpretado por
Gerard Depardieu.
A comédia assinada por François Ozon faz graça
com o lugar comum, mas não sucumbe a ele. Pelo
contrário, o subverte ao narrar a história de uma
mulher frágil que descobre que a vida estava para
além do que imaginava. Em tempos de revolução
sexual, Suzanne começa a perceber que o poder e o
amor eram ideais disponíveis.
Em Potiche as transformações sociais não são encabeçadas por mulheres fortes ou feministas coléricas. O diretor tem domínio absoluto da era em que
o filme se desenrola. Um tempo em que os homens
se mantinham alertas, sob a ameaça constante do
sexo oposto, um perigo sem precedentes.
O filme é cercado de expectativa. Também, pudera. Deneuve e Depardieu, talvez os maiores astros do cinema francês, juntos. Não podia mesmo
ser diferente.
Vox Objetiva | 63
Reprodução
música
COMPENETRADO E INATINGÍVEL
COMO UM DEUS
Depois de dez anos, Eric Clapton volta ao Brasil para confirmar a fama de mestre da guitarra
Fernanda Carvalho
D
eus veio ao Brasil! Pelo menos
para os fãs do maior rei da
guitarra: Eric Clapton. O ídolo esteve em turnê no país e se apresentou em Porto Alegre, Rio de Janeiro
e São Paulo. A afirmação relembra
o início da carreira do guitarrista,
cantor e compositor, quando jovens alucinados com a genialidade do mestre começaram a pichar
toda a Londres com a declaração:
“Clapton is God” (Clapton é Deus).
O guitarrista adentrou o palco do
último show, em São Paulo, como
se estivesse em casa. Com poucas
palavras, apenas alguns thank you
(obrigado) ao final das músicas,
ele honrou as pichações nos muros
londrinos na década de 1960. Tocou como um rei da guitarra, cantou como um original bluesman e se
manteve distante, profissional e inatingível como um deus, para 45 mil
64 | Vox Objetiva
pessoas, mais que a plateia de Porto
Alegre e Rio de Janeiro juntas.
A faixa etária do público presente variava entre 20 e 70 anos, tão
vasto e amplo como a carreira do
guitarrista. Com 66 anos, Eric Patrick Clapton tem quase a sua idade em número de discos lançados.
Começou a carreira muito cedo.
Com muita insistência, ganhou um
violão da avó aos 13 anos. O instrumento era maior do que conseguia
alcançar e ele não tinha a menor
ideia do que fazer. Depois de muita dificuldade, aprendeu e foi se
tornando, de forma autodidata, o
Clapton, deus, de hoje, o rei da guitarra que se apresentou no Brasil e
que deixará rastros na memória de
todos por um longo tempo.
Com uma sequência de poucas alterações na turnê pelo país,
Clapton abriu o show confirman-
do suas origens no blues. Key to
the highway, foi a primeira, das 16
músicas tocadas em 1 hora e 45
minutos de inesquecíveis performances. Em seguida, Tell the truth
e Hoochie coochie man. Old Love veio
logo em sequência, com solos que
a fizeram durar quase 13 minutos.
A música marcou os fãs com a participação do tantas vezes aplaudido Tim Carmon no sintetizador e
com os solos geniais de Clapton
executados com sua guitarra Fender Stratocaster azul.
Logo após, a enérgica Tearing
us apart fechou a primeira parte
do show e levou Clapton ao banco para o segundo momento, mais
calmo, mas não menos aveludado
nos solos. Segurando o instrumento de origem nas mãos, o violão, o
Deus da Guitarra introduziu com
Driftin’ Blues. Seguiu por Nobody
nows you when you’re down and out,
Lay down Sally e a canção da década
de 1930 When somebody thinks you’re
wonderful, única música do último
disco: Clapton.
O ponto alto da apresentação
se deu com a famosa Layla, música feita para Pattie Boyd, na época
mulher de George Harrison, melhor amigo de Clapton. A parceria
que durou anos e gerou músicas incríveis como While my guitar gently
weeps, ficou balançada com a paixão
do guitarrista pela mulher do ex-Beatle. O casal permaneceu junto por
um tempo e acabou se separando
devido ao vício crescente de Clapton pelas drogas e pelo álcool.
No Brasil, Layla foi tocada com
um arranjo mais lento, menos rock
e mais jazzístico, seguindo a versão
do disco Wynton Marsalis and Eric
Clapton play the blues interpretada
com sax e guitarra. A plateia não
demonstrou desapontamento pela
versão. Ao final, o mestre foi aplaudido de pé pelo público. Era o fim
da segunda etapa do show.
O “terceiro tempo” foi de maior
agitação. O público, que esteve comportado e quieto até então, balançou
um pouco mais ao início de Badge.
A música de estúdio foi uma das
parcerias entre os amigos Clapton
e Harrison para o álbum de despedida da banda power trio Cream, que
incluía o guitarrista, o baixista Jack
Bruce e o baterista Ginger Baker.
A doce e melosa Wonderful tonight foi uma graça aos que não
tiveram a chance de ver e ouvir de
perto Tears in heaven. A música feita para o filho do cantor, que teve
uma morte trágica ao cair da janela de um apartamento, não é mais
tocada em público desde 2004.
Ela se tornou popular e representa talvez a canção mais sensível e
comovente do cantor. Segundo o
próprio Clapton, a música o ajudou a superar a morte do garoto.
Depois de Before you accuse me
e Little queen of spades, do ídolo de
Clapton, Robert Johnson, o público
se agitou com Cocaine. Essa também ficou muito tempo sem ser
tocada em shows porque o músico, depois de “limpo”, tinha medo
de fazer apologia às drogas. Após
um tempo, o guitarrista resolveu
tirar a canção da gaveta e voltar a
interpretá-la com um tom diferente, “anti-drogas”.
Clapton passou um grande
período da vida se reunindo com
amigos para tocar e fazer uso de
todo tipo de entorpecente. O vício
provocou um hiato na carreira do
guitarrista e na vida amorosa. Depois de ser internado em uma clínica de reabilitação, ele voltou a se
dedicar à música. O problema causou sérias consequências na vida
do músico. Segundo o próprio canFernanda Carvalho
tor, ele não toca, não canta e não
faz nada como fazia antes.
Influenciado pelo que tinha vivido, Clapton resolveu apoiar a
criação do espaço de reabilitação
Crossroads e leiloar quase toda a sua
coleção de guitarras em benefício ao
centro. Também foi inclusa no leilão
a Blackie, o mais famoso de seus instrumentos, montado por ele mesmo,
com os melhores pedaços de várias
Stratocasters da marca Fender.
Depois dos fantásticos solos de
Cocaine e da mais brilhante atuação
do pianista Chris Staiton, o show
chegou ao fim com Crossroads, adaptada da original de Robert Johnson.
A última música resumiu toda a excelência da banda, que ainda contava com o baterista Steve Gadd, o baixista Willie Weeks e as backing vocals
Michelle John e Sharon White.
Para a surpresa dos fãs, Clapton não trouxe outra guitarra para
acompanhá-lo, até a última música.
Em Crossroads, o bluesman que abriu
o show, considerado o salvador do
gênero, Gary Clark Junior, dividiu
o palco com o cantor e completou
uma banda que deixou 45 mil pessoas fascinadas e perplexas por 1
hora e 45 minutos.
Eric Clapton levou a linguagem
do blues desenhada pela guitarra
para outros gêneros. Como compositor, ele é considerado mediano.
Mas como guitarrista, um revolucionário. Com fortes raízes no
gênero musical originário do Delta do Mississipi, o blues, o músico
também pisou fortemente no terreno do rock, do pop, folk, do country
e ainda trouxe a graça do jazz para
composições próprias e adaptações
de outros grandes artistas.
“Eu vi Deus de perto, agora já
posso morrer”. Foi o que alguns fãs
disseram na saída do espetáculo. O
mestre tocou quase o tempo todo
com os olhos fechados, sentindo
cada nota e acorde que saía da guitarra. Não apenas tocando, mas interpretando e se doando a cada uma
das 16 canções. Ele demonstrou que
“música” e “Eric Clapton” talvez
não sejam duas coisas, mas talvez
uma só. Afinal, “Clapton is God”!
Vox Objetiva | 65
piadas
Rir faz bem
Sorrir também
sxc
.hu
VALENTE
Morrendo de medo, o cara
senta na cadeira do dentista.
Para dar coragem, o doutor lhe
oferece um uísque. Ele toma dois e
pede o terceiro. Pergunta o doutor:
- E então? Agora já está valente?
O cara olha o dentista nos olhos, dá um
rugido e fala:
- Valente e muito! Quero ver
quem é homem o bastante pra
fazer eu abrir a boca!
sxc
.hu
Mário Brito
PINTOU
A SOLUÇÃO
O sujeito terminou de
pintar a casa e viu uma
mancha na parede. Pintou e
repintou um monte de vezes e
olha a mancha lá de novo. Ele
pensou, pensou e chegou a uma
incrível solução: PINTOU O
QUARTO DA COR DA
MANCHA!
ÍNDIA
E a linda indiazinha Tupi, na época
do descobrimento, confessava para a
amiga que estava apaixonada por um
português, um tal de Pero Vaz:
- Pois é, querida. Dia sim, dia não,
estou indo pra Caminha!
SÉRIO?
Os dois meninos jogavam vídeo
game e conversavam:
- Meu nome é Carlos, e o seu?
- Ricardo.
- Meu pai é contador, e o seu?
- Deputado.
- Sério?
- Que nada, ele é igual aos
outros...
66 | Vox Objetiva
TOLERÂNCIA ZERO
O cara vem correndo na chuva,
escorrega em uma poça d’água e leva
o maior tombo, quando o sujeito que o
socorre pergunta:
- Você caiu?
- Não! Tô treinando salto
ornamental para as Olimpíadas!
ASSANHADA!
O casal em lua de mel
chega ao hotel e preenche a
ficha na recepção. Muito gentil,
o gerente pergunta:
- Os senhores querem ser
despertados pela portaria?
Responde a noivinha agitada:
- Sim, sim. Pode nos acordar
à 1, às 3, às 5 e às 7, por
favor!
.hu
sxc
BIG
MENOS TEMPO NO TRÂNSITO,
MAIS TEMPO COM A FAMÍLIA.
REVITALIZAÇÃO DA SAVASSI
IMPLANTAÇÃO DO BRT
OBRA EM PARCERIA COM O GOVERNO FEDERAL
MAIS UMA ETAPA DA AMPLIAÇÃO DO BOULEVARD ARRUDAS
OBRA EM PARCERIA COM O GOVERNO FEDERAL
A Prefeitura está investindo em obras que vão melhorar o trânsito, deixar a cidade mais bonita e você
com mais tempo pra curtir a família. Depois de concluir o trecho entre o Centro e a avenida do Contorno,
a Prefeitura está começando mais uma etapa da ampliação do Boulevard Arrudas, agora da Contorno até
o Calafate. Também já foi iniciada a construção da Via 210, que vai ligar a Tereza Cristina à Via do Minério,
deixando o trânsito mais rápido da região do Barreiro até o Centro. Estão em andamento as obras de
revitalização da Savassi, que vão deixá-la mais moderna, segura e charmosa. E a grande novidade: a
implantação do BRT – um novo sistema de transporte coletivo com superônibus articulados, maiores,
mais confortáveis e mais rápidos –, que será complementar à expansão do metrô. A Prefeitura pede
desculpas pelos transtornos temporários, mas garante: o resultado vai valer a pena.
O METRÔ DE BH FINALMENTE VAI SAIR DO PAPEL.
Depois de muito trabalho e muitas reuniões em Brasília, os
recursos para o metrô de BH foram anunciados oficialmente
pelo Governo Federal.
São quase 2 bilhões de reais para a ampliação da linha 1
e a construção das linhas 2 e 3. A obra é uma parceria da
Prefeitura com os governos Estadual e Federal e contará
ainda com recursos da iniciativa privada.
A linha 1, do Vilarinho ao Eldorado, será modernizada e
ampliada. A linha 2 vai ligar o Barreiro ao Calafate. E a
linha 3 vai ligar a Savassi à Lagoinha. Ao todo, serão 850 mil
passageiros beneficiados por dia.
A Prefeitura, o Governo do Estado e o Governo Federal estão
trabalhando para agilizar os projetos e as licitações das obras.
www.pbh.gov.br
Vox Objetiva | 67
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pensionistas do INSS: prazo de 9 a 60 meses, juros de 2,15% a.m. a 2,34% a.m. e 29,84% a.a. a 31,99%a.a., CET máx. 2,61% a.m. e 36,82% a.a. Servidores
públicos: juros de 1,60% a.m. a 3,10% a.m. e 20,98% a.a. a 40,10%a.a., CET máx. 4,90% a.m. e 78,97% a.a. Cartão: taxa mínima: 3,36% a.m. e 48,67% a.a.
- taxa máxima 7,99% a.m. e 151,53% a.a. - CET máx: 8,61% a.m. e 154,91% a.a. Para empréstimo consignado Banco Schahin S.A.: para aposentados e
pensionistas do INSS: prazo de 6 a 60 meses, juros de 1,99% a.m. a 2,34% a.m. Servidores públicos: juros de 1,99% a.m. a 3,25% a.m. Para empréstimo
consignado GE CAPITAL S.A., em processo de alteração de razão social: para aposentados e pensionistas do INSS: prazo de 9 a 60 meses, juros de
2,15% a.m. a 2,34% a.m. e 29,84% a.a. a 31,99%a.a., CET máx. 2,61% a.m. e 36,82% a.a. Servidores públicos: juros de 1,60% a.m. a 3,10% a.m. e 20,98%
a.a. a 40,10%a.a., CET máx. 4,90% a.m. e 78,97% a.a. Consulte as taxas, prazos e demais condições para concessão do empréstimo/financiamento e cartão de
crédito em um Correspondente Autorizado BMG. Sobre as operações descritas, incidirá IOF. Condições sujeitas a alteração sem aviso prévio. UTILIZE O CRÉDITO
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0800 016 1991. SAC Deficientes Auditivos Banco BMG: 0800 979 7333. SAC Deficientes Auditivos Banco GE: 0800 707 0153. SAC Deficientes Auditivos Banco Schahin:
0800 604 3777. BACEN: 0800 979 2345. Ouvidoria Banco BMG: 0800 723 2044. Ouvidoria Banco GE: 0800 722 4345. Ouvidoria Banco Schahin: 0800 703 1996. 2O
título de capitalização é garantido pela Icatu Capitalização S/A, CNPJ 74.267.170/0001-73 / Processo SUSEP 15414.000329/2008-41. A aprovação do Título de
Capitalização pela SUSEP não implica, por parte da autarquia, em incentivo ou recomendação a sua aquisição, representando, exclusivamente, sua adequação às
normas em vigor. Prêmio bruto, antes do desconto de tributos incidentes. O número cedido para participação no sorteio é pessoal e intransferível, sendo válido para
participação no sorteio que acontece em 28/1/2012.
68 | Vox Objetiva
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