de reais. - Revista Vox Objetiva
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Zeca Camargo À beira do abismo Caindo pelas tabelas O segredo do show da vida Recessão amedronta lideres mundiais Em má fase, clubes mineiros de olho nos números Outubro/2011 Edição 28 | Ano III R$ 9,90 Nem tudo é dinheiro O Brasil dobrou os investimentos em educação. Mas os alunos continuam sem aprender. A má gestão dos recursos impede que o país vire a página do ensino público sem qualidade. Vox Objetiva | 1 2 | Vox Objetiva Inspire-se no maior salão de negócios da moda do Brasil. INOVAÇÃO CONCEITO CULTURA PRODUTOS NOVOS NEGÓCIOS Outono-Inverno 2012 26 A 29 DE OUTUBRO EXPOMINAS BH WWW.MINASTRENDPREVIEW.COM Vox Objetiva | 3 ONDE AS BOMBAS NÃO EXPLODEM CARLOS VIANA - EDITOR CHEFE | [email protected] Este editorial foi escrito durante uma viagem de trem entre as capitais Paris e Londres. A qualidade dos serviços e a pontualidade que marcam um dos mais tradicionais meios de transporte da Europa contrastam com nossas indefinições diante dos vários desafios que temos para construir um país melhor para nossas futuras gerações. Ainda que estejamos diante de nações e culturas diagonalmente opostas, uma reflexão sobre a capacidade de realização e superação de desafios entre elas merece uma boa reflexão. Podemos, quem sabe, entender o quanto é possível avançar quando levarmos em consideração nossas vantagens naturais. E o leitor já sabe, desde o banco das escolas, que essas perspectivas favoráveis aos brasileiros nunca foram poucas. Então, voltemos aos vagões rápidos e confortáveis da Euroservice. O projeto de se vencer a distancia entre a organizada e encantadora ilha sob a regência da Corte Britânica e a alegre e envolvente cidade dos parisienses, utilizando um túnel escavado sob o Canal da Mancha, vem de longa data. Foi consumado a custa de bilhões de libras e euros e se tornou realidade por conta da determinação e o planejamento de dois povos que num passado remoto foram até inimigos mortais. Por conta da concorrência com os norte americanos, que se tornou desigual nas décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial, os europeus tiveram de reorganizar as economias domésticas para, em seguida, recuperarem parte do terreno perdidos em vista das bombas e das impressionantes 25 milhões de vidas que tombaram nos combates ou foram atingidas pelos bombardeios entre os dois lados. Não será difícil ao leitor de Vox Objetiva acessar facilmente fotos da Segunda Guerra Mundial para entender claramente qual a amplitude da destruição que tomou conta do Velho Continente. Mas nem mesmo a guerra, o morticínio e a completa falência do sistema de produção industrial impediram que as principais nações envolvidas no conflito deixassem de prospe- 4 | Vox Objetiva rar. A Alemanha, que protagonizou o início das batalhas sangrentas, foi a que mais sofreu as consequências por conta das decisões de Hitler. Hoje, o país ostenta a posição de terceira maior economia do mundo. Por sua vez, a França contou com a sorte de não ter sua principal cidade destruída pela aviação germânica. No entanto, teve a economia seriamente prejudicada pelos anos de ocupação. Em 2011, os franceses também estão entre os mais desenvolvidos e influentes do mundo. E o que dizer dos britânicos chefiados por Winston Churchill? Como os ex-inimigos alemães, os anglo-saxões tiveram cidades inteiras arrasadas, entre elas, a capital Londres. Mesmo assim, estão entre os mais ricos dos dias atuais e a economia está entre as mais sólidas do planeta. Essa experiência histórica de superação tem semelhanças muito importantes, indiferentemente das línguas e das fronteiras. Podemos citar algumas sem nos delongar muito. Os três povos têm características idênticas quando analisadas as leis que punem severamente aqueles que agem em desacordo com o interesse público. As políticas de incentivo à pesquisa tecnológica, à produção e geração de empregos e o controle dos gastos públicos estão sempre em primeiro plano. Uma terceira, e fundamental, é a preocupação com a educação em todos os níveis. Os germanos investem quase três vezes mais que o Brasil na formação dos estudantes. A Inglaterra segue o mesmo caminho e a França não fica atrás de nenhum dos vizinhos. Quando colocados em testes comparativos aos colegas de outros países que nunca passaram por guerras no passado, entre eles, os nossos, os estrangeiros superam, em muito, as notas médias. Naturalmente, um dos primeiros questionamentos na comparação com o gasto brasileiro é a de que os europeus têm muito mais recursos para a aplicação que o “pobre” Brasil. Ledo engano. A matéria de Capa desta edição mostra que apesar do aumento expressivo nos gastos com a editorial educação brasileira, nossos números ainda continuam ruins. Os alunos das escolas públicas de nosso país custam tanto quanto os colegas de outras nações mais desenvolvidas. Nem por isso competem em igual passo nos resultados. A reportagem de Lucas Alvarenga mostra que o orçamento para ensinar e preparar os novos brasileiros mais que dobrou nos últimos quinze anos e praticamente não avançamos. Mas o que nos falta então? Aqui está a diferença em relação aos países citados. Para cada R$ 10,00 gastos em educação no Brasil, pelo menos R$ 4,00 são desviados para gastos que podem incluir desde a corrupção na compra de merenda escolar, o pagamento de inativos ou, principalmente, uma grande quantidade de servidores administrativos que não têm ligações diretas com as salas de aula. O vício do cabide de emprego público persiste historicamente até em nossos centros de excelência, como as Universidades Federais, onde o custo por aluno equivale aos da Suíça, por exemplo. Ao contrário dos 128% de aumento nos gastos com a educação, os professores brasileiros continuam mal pagos, vivendo com salários baixos muitas vezes comparáveis aos de países africanos ou menos desenvolvidos. O resultado de todo esse sistema mal organizado e falho pode ser sentido na dificuldade das empresas em conseguir mão de obra qualificada para ocupar cargos em áreas que requerem melhor formação de conhecimento. Os dados do Ministério do Trabalho mostram que somente na região metropolitana de Belo Horizonte, milhares de postos de trabalho não encontraram candidatos com capacidade para o preenchimento. Na outra ponta, outros milhões de trabalhadores gostariam de deixar as profissões atuais em busca de novas oportunidades, mas não podem realizar o projeto por conta da má formação escolar na base do ensino. Basta lembrar que, segundo os dados do IBGE, seis em cada dez brasileiros não possuem a capacidade completa de ler e entender o que esta sendo lido por conta do pouco tempo de estudo. Portanto, a equação brasileira para melhorar o sistema público de ensino não se resolve apenas com mais dinheiro jogado sem controle em um sistema ineficiente e corrupto. E preciso uma reorganização urgente dos mecanismos de controle de gastos na área e políticas de incentivo ao resultado, como a de melhores salários diante de melhores notas, por exemplo. Não se trata aqui de se criar uma “educação mercenária”, mas de mostrar aos estudantes que quanto mais tempo em sala de aula e mais dedicação aos estudos, mais possibilidades de uma vida melhor e de mais progresso para o país. Também é preciso repetir, incessantemente, o discurso de melhores salários para os professores, mas também o de propor aos mestres compromissos com os resultados e com o constante aprimoramento das formas de ensinar. Precisamos acabar com a tradição de que, quando selecionados por concursos, logo em poucos anos guardam-se em uma gaveta o compromisso com a carreira e o crescimento profissional e pessoal. A estabilidade que garante mais independência no trabalho é também a que permite a preguiça e a falta de compromissos. Não podemos, no entanto, tomar decisões como o vizinho Chile, que praticamente privatizou o sistema educacional nos anos 1980 e hoje se vê obrigado a retroceder porque tornou difícil aos mais pobres o acesso à formação superior. Precisamos aprender com os países destruídos pela guerra que souberam utilizar bem os recursos que restaram e definiram claramente o que desejavam para o futuro dos filhos. Reduziram o tamanho do Estado, sem perderem o controle da justiça social que permite aos mais humildes quebrar as barreiras da pobreza imposta às gerações anteriores. Precisamos educar o Brasil, não somente em relação às nossas crianças, mas, principalmente, na cobrança de mais compromissos por parte de nossos homens públicos. Educar é antes de tudo uma tarefa coletiva. Não apenas de governos. Passa pelas escolhas de projetos eleitorais que priorizem a educação, mas também pelo compromisso que devemos ter em repassar aos nossos filhos o desejo de vencer e tomar decisões que garantam um amanhã melhor para todos. Em países “educados”, as bombas não destroem a capacidade de superação dos povos. Vox Objetiva | 5 sumário 12 entrevista Fantástico: um bate-papo com Zeca Camargo 16 política Maior representatividade nas Câmaras Municipais custa caro aos cofres públicos 18 política PSD, o partido que não é de direita, não é de esquerda e nem de centro 20 economia “Corram para as montanhas!”: o pior da crise econômica global pode estar por vir 27 capa Apesar dos investimentos, má gestão de recursos mantêm a educação brasileira em baixa 33 meio ambiente sxc.hu Incêndios em parques revelam fragilidade de equipamentos e da proteção de áreas verdes em Minas 6 | Vox Objetiva IMAGINE CIDADES INTEIRAS ILUMINADAS PELO SOPRO DO VENTO. A energia dos mineiros pode fazer esse sonho acontecer. RENOVÁVEL É MELHOR. Todos os dias, usamos a nossa imaginação para encontrar soluções de energia para o futuro. Hoje, já geramos energia eólica em três parques no Ceará. Em parceria com o Governo de Minas, editamos o Atlas Eólico que identificou um potencial de geração três vezes maior que a hidrelétrica de Itaipu, com o aproveitamento dos ventos do Estado. No novo Mineirão, a Cemig e o Governo de Minas estão instalando uma usina solar, projeto pioneiro em toda a América Latina. A Cemig ainda participa do projeto de desenvolvimento de um carro elétrico em parceria com a Fiat e a Itaipu. 12 anos no Índice Dow Jones de Sustentabilidade. www.cemig.com.br Vox Objetiva | 7 8 | Vox Objetiva 36 cavalos expediente Pônei: um valioso pequeno notável 40 comportamento Adoção de animais, uma alternativa viável para quem quer um “amor” sem cobranças 44 ciência Os tratamentos para algumas das doenças mais temíveis do mundo, os cânceres 51 carros O usurpador: sai o Vectra, entra o belíssimo Chevrolet Cruze 52 esporte A lógica das previsões no futebol 59 cinema Tropa de Elite 2 tenta pisar no tapete vermelho e, enfim, colocar a mão no “careca” dourado 64 música Eric Clapton: astro mundial do blues dá o ar da graça em turnê no Brasil Revista Vox Objetiva é uma publicação mensal da Vox Domini Comunicação Ltda., com escritório na rua Tupis, 204, sl 218, Centro Belo Horizonte, MG, CEP: 30.190-060. “... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32) EDITOR E JORNALISTA RESPONSÁVEL Carlos Viana DIAGRAMAÇÃO E ARTE Rodrigo Denúbila CAPA Rodrigo Denúbila REPORTAGEM André Martins Fernanda Carvalho Lucas Alvarenga DIRETORA COMERCIAL Solange Viana ATENDIMENTO, ANÚNCIOS [email protected] (31) 2514-0990 SUGESTÕES, CRÍTICAS E RECLAMAÇÕES [email protected] (31) 2514-0990 www.voxobjetiva.com.br Tiragem: 20 mil exemplares Os textos publicados nesta edição da Vox Objetiva, em forma de reportagens, são de responsabilidade direta dos editores. Os textos publicados em forma de colunas, produzidos por colunistas convidados, expressam o pensamento individual e são de responsabilidade dos autores. Todos os direitos reservados. Os textos publicados na revista Vox Objetiva só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores. Vox Objetiva | 9 em foco VOX VENCE PRÊMIO INTERNACIONAL Fernanda Carvalho Os repórteres André Martins e Lucas Alvarenga foram os vencedores do troféu José Hamilton Ribeiro de Jornalismo pelo Especial Justiça, publicado na edição 26 da Vox Objetiva. O conteúdo compreende duas reportagens que apresentam um panorama sobre a falta de condições de trabalho do Judiciário e da Polícia Civil no estado. O Especial ainda conta com fotos de Luiza Villarroel. A premiação foi entregue no teatro do Sesc de São José do Rio Preto. Em sua primeira edição, o prêmio recebeu 267 trabalhos. Ao todo, 15 estados brasileiros participaram do concurso, que contou ainda com matérias de Portugal, Moçambique, Angola, Guiné Bissau e Cabo Verde. A iniciativa carrega o nome do “príncipe do jornalismo brasileiro”, José Hamilton Ribeiro, que cobriu a guerra do Vietnã pela extinta Realidade e, hoje, é repórter do Globo Rural. Organizaram o concurso o Sindicato dos Jornalistas rio-pretense, a Secretaria Municipal de Cultura e a Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto. O Sesc, a Fenaj e a Federação dos Jornalistas de Língua Portuguesa (Fjlp) apoiaram o prêmio. SEMANA DA MODA MINEIRA 10 | Vox Objetiva Luiza Villarroel De 26 a 29 de outubro, Belo Horizonte está reservada para o melhor da moda mineira. A segunda edição do Minas Trend Preview 2011 apresentará agora as tendências para o inverno 2012. O tema da temporada é “Inspiração”, um conceito que de tão abstrato, certamente desafiou os estilistas na confecção das peças. O calendário já foi divulgado, confira: Quarta-feira (26) Às 19h - Maria Garcia / Claudia Arbex / Apartamento 03 Às 21h - Última Hora / Rogério Lima / Marcelo Quadros Quinta-feira (27) Às 19h - Chicletes com Guaraná / Áurea Prates / Vitor Zerbinato Às 21h - Uma / Camaleoa / Alessa Sexta-feira (28) Às 19h - Patogê / Fernando Pires / Samuel Cirnansck Às 21h - Talentos do Brasil / Chouchou Na próxima edição, a Vox traz o encarte especial Minas Trend Preview com o que de melhor rolou nos quatro dias de evento Wilson Dias/ ABr COTADOS PARA CAIR Após a queda de cinco ministros em menos de um ano, a presidente Dilma pretende realizar a primeira reforma ministerial em janeiro de 2012. Dentre os cotados para cair está a ministra da Cultura, Ana de Hollanda. Sem filiação partidária, Ana foi uma indicação do PT. No entanto, a acusação de ela ter recebido do governo diárias em fins de semana de folga no Rio, cidade onde tem imóvel, parece ter abalado a ministra. Além disso, Dilma estaria insatisfeita com a postura elitista do programa Livro Popular. Junto à Hollanda, estão na lista de possíveis substituídos: Carlos Lupi (PDT), do Trabalho; Mário Negromonte (PP), de Cidades; e Orlando Silva (PC do B), dos Esportes. Por enquanto, o único que deve sair é Fernando Haddad, provável candidato à prefeitura de São Paulo. Estudo da Fecomércio Minas indica crescimento das compras realizadas com cartão de crédito e recuo das aquisições feitas com cheque. Os dados do Balanço do Crédito do Comércio Logista de setembro concluiu que enquanto a expansão dos pagamentos no cartão saltou de 4 %, em julho, para 7%, em agosto, o uso do cheque caiu de 18% para 16%, no mesmo período avaliado. Essa lógica de queda vigora desde o primeiro trimestre do ano. Hoje, a grande maioria das aquisições parceladas, cerca de 70% delas, é realizada com cartões de crédito. O estudo identificou ainda que 76% das operações foram divididas em três a seis parcelas. O índice de cheques sem fundo se manteve, pelo terceiro mês consecutivo, em 2%. Diante da temerária inadimplência, apenas 44% dos estabelecimentos comerciais em Belo Horizonte trabalham com cheque. sxc.hu O CHEQUE EM XEQUE Divulgação UM PRECINHO NADA CAMARADA Ele já caminha para os 70 anos, mas nada parece ofuscar o brilhantismo e a disposição do incansável Chico Buarque, dono de sólidos 45 anos de carreira, tendo lançado mais de 40 álbuns. Cinco anos após a última turnê, o cantor volta a se apresentar. Dessa vez, escolheu a capital mineira para lançar o seu novo CD, Chico, que resgata a vasta carreira artística e já vendeu mais de 80 mil cópias. Para a elaboração do CD, mais de 400 músicas de belas letras e estilos foram analisadas. A seleção inclui apenas 10 canções. A série de apresentações estreia no Grande Teatro do Palácio das Artes, de 5 a 8 de novembro. O valor dos ingressos varia de R$ 290 (inteira) e R$ 145 (meia) a R$ 240 (inteira) e R$ 120 (meia). Os bilhetes já se esgotam no Palácio, menos na internet. Esta será apenas a 6ª turnê de Chico nos últimos 36 anos. Vox Objetiva | 11 entrevista “É FANTÁSTICO” Próxima de completar duas mil edições, atração dominical da Globo se renova de A a Z sem abandonar o diálogo com o telespectador e a fórmula que a mantém no ar desde 1973 Fernanda Carvalho Lucas Alvarenga m 38 anos, lá se foram casais, reportagens e quadros a perder na memória. O que não muda é o aparente hábito de milhares de famílias brasileiras, que todos os domingos à noite, ligam-se no “show da vida”. Em frente à TV, telespectadores consomem notícias que pautam as rodas de conversa durante toda semana. Por isso, o “tchau” de Patrícia Poeta ao final de cada Fantástico é convite, não despedida. Possibilidade de levar informação e gerar debate. Algo que move Zeca Camargo, companheiro de trabalho da apresentadora e editor-chefe da revista eletrônica mais famosa do país. Administrador de empresas e publicitário por formação, Zeca se enveredou pela cultura pop por meio do jornalismo. De editor do caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo, à condição de um dos idealizadores da linguagem jovem da MTV, o apresentador do Fantástico sequer imaginou se “encontrar” na revista eletrônica. Mas nem por isso se intimidou com o desafio de comunicar para públicos diversos. Com a ousadia de quem deu a Fantástica volta ao mundo ou entrou na Medida Certa, Zeca fez da atração global sua imagem. Por isso, assim como o exprofessor de dança e mineiro de Uberaba, o Fantástico trabalha sob diferentes ritmos. Algo típico de produções jornalísticas que carregam a tarefa de ir além do noticiário comum. Com informação e entretenimento, a quase quarentona revista eletrônica se mantém firme no bailado pela audiência e segue como referência de si mesma. Pelo 12 | Vox Objetiva menos para Zeca Camargo, que rápido nas palavras, discorre sobre sua relação com a atração global em entrevista à Vox Objetiva, realizada no Palácio das Artes. VOX: Zeca, antes de assumir o Fantástico você já acompanhava o programa? Zeca Camargo: Desde a estreia, em agosto de 1973. Eu tinha dez anos e, claro, aquela coisa diferente, aquela referência nacional estava nascendo ali e eu assistia àquilo. E, obviamente, não podia, jamais, imaginar que passaria a trabalhar naquele programa, que dirá apresentá-lo. E aí, claro, quando eu me tornei jornalista, passei a acompanhar o Fantástico de outra maneira. Menos como espectador e mais como aprendiz, vendo ali o que era pauta no programa, como era feito aquele jornalismo. Depois enveredei por um tempo em que deixei de acompanhar o Fantástico por estar muito concentrado em outro tipo de jornalismo, mais jovem, que eu achava bem diferente do que eu estava fazendo até então. Só voltei a acompanhar, a assistir ao Divulgação E programa em meados dos anos 1990, quando eu já estava próximo de trabalhar lá. Estou no Fantástico desde 1996. Desse universo pop, o que você levou para o Fantástico? Olha, muita coisa, porque o Fantástico é justamente muito elástico nesse sentido. Um programa que é também para o público jovem, para o qual estava acostumado a falar. Então, quando cheguei lá, eu pensei: “Poxa, será que vou ter espaço aqui? Será que a minha linguagem vai ter espaço?”. A boa surpresa foi que sim. O Fantástico não só queria falar com esse público, como gostaria que eu você está preparado para ela de uma maneira legal. Você viu as coisas da semana e um monte de matéria de comportamento que tem a ver com a sua família, com a sua vida. O que a gente tem como um credo, assim, é que todas as matérias têm que ter uma consequência na vida das pessoas. O exemplo mais fácil de dar, o mais recente, é o Medida Certa, Reprodução criasse uma linguagem capaz de atingir o restante da família. Como a gente brinca, o Fantástico não é só para o garoto, para o menino de 16 anos. É para a mãe dele, para a irmã mais nova, para o tio solteiro, para a avó dele, para todo mundo, todas essas faixas, a família inteira. É possível você construir uma linguagem diferente, uma linguagem nova, e, aliás, é por isso que o Fantástico tem 38 anos e continua um programa presente, ativo e presciente. Você acha que, ao longo desse tempo, ele passou a ser um programa com um pouco mais de entretenimento que jornalismo? Não, muito pelo contrário. Ele começou meio a meio. O que a gente procura até hoje é um pé no entretenimento e o outro no jornalismo. Você tinha grandes números musicais no Fantástico nos anos 1970. A gente fez uma pesquisa musical quando o programa completou 30 anos. O Fantástico lançou coisas como o próprio Casseta & Planeta, que começou como um quadro do programa. Você tinha a dramaturgia com A vida como ela é, coisas que existem até hoje. Talvez em função até da própria maneira como o jornalismo é visto hoje na TV, ele acaba predominando mais no Fantástico, mas a gente faz questão, sim, de ter um pé no entretenimento. O programa é exibido no domingo, um dia atípico para a maioria das pessoas. Você acha que isso é determinante para que o Fantástico tenha matérias mais leves? Olha, a ideia é essa um pouco. Que o Fantástico deixe de ser, como já deixou de ser, aquele lembrete de que a semana está acabando. O programa é o lembrete que vai começar, que É possível você construir uma linguagem diferente, uma linguagem nova, e, aliás, é por isso que o Fantástico tem 38 anos e continua um programa presente, ativo e presciente. Zeca Camargo que foi um quadro de sucesso em que eu participei. Foi muito legal. Em três meses, eu reduzi o peso, transformei a minha vida em um estilo mais saudável. Mas, inevitavelmente, você não faz isso para si. Você faz para o público ter consciência e tentar mudar uma daquelas atitudes. Acho que isso funcionou. Se não houver uma consequência na vida das pessoas, não faz sentido fazer o Fantástico. Então a sua participação no quadro, de certa forma, ajuda a intensificar a mensagem? A gente queria fazer uma coisa que mobilizasse as pessoas, mas o próprio diretor entendeu que isso teria maior probabilidade de ficar interessante se a gente colocasse as imagens dos repórteres, do apresentador para fazer isso. E foi o resultado que a gente teve. Zeca, as atrações concorrentes. Você costuma acompanhar posteriormente, por meio de gravações? Elas não são uma referência. A referência para o Fantástico é o próprio Fantástico. Na imprensa a gente ouve que o Fantástico está procurando novas ideias e quer falar com tal público. O Fantástico sempre falou com todos os públicos e sempre foi um programa que mudou muito. Eu acho muita graça quando escuto que o Fantástico está reunido para novas metas, novos formatos. Eu vejo muito como telespectador, mas, nesses 15 anos que eu estou lá, nunca fiz um mesmo programa duas vezes. Tem um monte de quadros, um monte de formatos, ele está constantemente mudando. Eu acho que essa é uma obsessão muito mais da imprensa, do que interna, do Fantástico, em achar que a gente vai se orientar pelo que está sendo feito em outras emissoras. Pelo contrário, se a gente sair do eixo, acho que o público vai estranhar. E a gente não quer isso. Então quanto mais você permanecer fiel ao DNA do programa, mais ainda ele será reconhecido como essa referência do assunto da família, da pauta nacional. Como se dá essa participação do público no programa? É muito interativo. O Fantástico foi, literalmente, o primeiro programa a usar a interatividade no seu conteúdo, a chamar o público para participar, para Vox Objetiva | 13 Daniela Paoliello para mim e dizem que já emagreceram tantos quilos, perguntam se ainda estou de dieta. É super legal. Eu nunca fiz algo que tivesse tanto impacto. Mas como desafio jornalístico e de televisão mesmo, A Fantástica volta ao mundo foi a coisa mais desafiadora, mais interessante, porque eu tive que ser produtor, editor, eu não sabia qual seria o roteiro que iríamos seguir. A equipe era muito reduzida: eu e o repórter cinematográfico só. Acho que foi muito intenso, foram quatro meses e meio. Então, nesse sentido, eu diria que foi a coisa que mais me preencheu nesses 15 anos de Fantástico. Mediador do encontro de 25 anos do Sempre um Papo, Zeca Camargo colhe os frutos do “Medida Certa”, do Fantástico: saúde e a atenção dos brasileiros, que vêm nele um exemplo de transformação votar, dar a opinião. A gente, por anos, teve uma coisa que o público escolhia uma matéria de assunto que ele queria saber mais na semana seguinte. O retorno é muito grande. Veja depois do Medida Certa, a gente desenvolveu várias caminhadas, inclusive aqui em Belo Horizonte, onde levamos milhares de pessoas para as ruas. Durante o mês de julho, nós mobilizamos 54 mil pessoas. Então isso faz com que as pessoas se sintam parte do Fantástico. Eu acho que até pela dinâmica da TV hoje e do próprio programa, não tem sentido fazer uma atração em que o apresentador está ali como quem diz: “Olha, estou aqui e vou contar as notícias para vocês”. As pessoas querem participar da pauta, da confecção do programa, dar a opinião que elas têm, e fazer parte da atração. Acho que isso a gente conseguiu legal. para definir projetos para 2012. Então a gente já está pensando em novos quadros; novas séries; reportagens especiais; formatos; cenários novos; a gente tem o programa de número 2.000, que vai acontecer, se não me engano, em fevereiro. Então tudo isso estimula um ambiente muito criativo, onde se pensa não apenas a pauta da semana. Eu brinco que o Fantástico tem várias velocidades, ele tem a velocidade da semana, onde você produz as reportagens semanais, tem as matérias especiais, que são produzidas em dois ou três meses, e tem as grandes matérias, grandes reportagens que são feitas durante um ano e que você vai colocar no ar só depois disso. Essas são as referências que a gente usa. Essa é a criatividade da atração, que se desenvolve a partir da própria equipe. Você disse que o programa é referência para o próprio programa. Como o Fantástico faz para se remodelar? Ele mesmo, a própria equipe. Em setembro tivemos uma reunião Você falou dos quadros. A fantástica volta ao mundo seria o principal quadro seu? Olha, o Medida Certa tem uma coisa muito legal, que é o impacto alcançado. As pessoas chegam 14 | Vox Objetiva Pois é, são 15 anos. O que mudou no Zeca Camargo ao longo desse tempo? O maior presente que eu tenho é ter espaço para colocar minhas ideias. Sempre fui um cara muito criativo. O que eu tenho hoje, nesses 15 anos de Fantástico, é que eu, finalmente, cheguei num patamar que tenho uma enorme oportunidade de expor essa criatividade e bolar coisas diferentes. Setembro talvez tenha sido o mês do ano mais excitante justamente porque começamos a desenhar as coisas de 2012. Eu já mandei ali umas sete, oito ideias, provavelmente duas ou três vão emplacar. Enfim, é uma briga feia ali em relação às escolhas. Acho que eu era um cara que antes guardava a ideia pra mim e executava em um plano menor. Já hoje em dia eu tenho o privilégio de ter uma audiência tão luxuosa como é a do Fantástico: o Brasil inteiro acompanhando uma aposta, um projeto, uma aspiração minha. Acho que isso me dá uma satisfação muito maior, amplia demais a minha realização como profissional. mundo Divulgação/ Governo da Rússia MAIS UM MANDATO Vladimir Putin pode voltar à presidência russa. Ao menos, o passo inicial já foi dado. O partido governamental Rússia Unida (RU) anunciou oficialmente a candidatura dele, que atualmente ocupa o posto de primeiro-ministro do ex-país socialista. A informação confirmada por meio do site oficial da legenda também inclui um chamado para que a população apoie os candidatos do partido nas eleições parlamentares de 4 de dezembro. Encabeça a lista o atual presidente, Dmitri Medvedev, que modificou a constituição para que o próximo mandato seja de seis anos com direito à reeleição. As eleições presidenciais na Rússia estão marcadas para março de 2012. Ex-oficial da KGB, Putin governou o país entre 2000 e 2008, após suceder Boris Yeltsin. Marcello Casal Jr./ ABr ORDENS DA ONU Shamsnn O Brasil obedece a ONU e a partir de março de 2012 reduzirá em 13% o contingente militar em missão de paz no Haiti, deslocando 1.900 soldados a Porto Príncipe, capital daquele país. O corte segue a determinação do Conselho de Segurança da ONU, que deseja diminuir o efetivo de militares no Haiti. Hoje, o Brasil tem 2.188 militares no país, separados em dois batalhões de infantaria, uma companhia de engenharia do Exército e um grupamento da Marinha. A partir de 2012, o número autorizado de capacetes azuis cairá de 8.718 para 7.340, um contingente semelhante ao registrado antes do terremoto que arrasou o Haiti em janeiro de 2010. Apesar da redução, não há uma data definida para a retirada total das tropas. REVOLUÇÕES CARAS Um estudo publicado pela consultoria Geopolicity revela que a Primavera Árabe causou um prejuízo de US$ 55,8 bilhões para Síria, Líbia, Egito, Tunísia, Bahrein e Iêmen. A pesquisa ainda aponta que onde os protestos foram mais violentos, a conta foi maior, como na Líbia e na Síria. A guerra civil contra Muamar Kadafi custou US$ 7,67 bilhões, o que corresponde a 28% do PIB da Líbia. A arrecadação do governo caiu 84% e o prejuízo nas contas públicas soma US$ 6,5 bilhões, um rombo conjunto de 29% de tudo que é produzido no país. Na Síria, estimativas indicam que a repressão a Bashar Assad deixou ao menos 3 mil mortos e causou um prejuízo de US$ 6 bilhões à economia do país, o equivalente a 4,5% de seu PIB. O impacto nas contas públicas foi de US$ 21 bilhões. Vox Objetiva | 15 política REPRESENTATIVIDADE CARA Municípios brasileiros aproveitam emenda constitucional para ganhar novas vagas nas câmaras. Minas Gerais é o segundo estado brasileiro que mais aderiu à mudança Lucas Alvarenga B astaram os números do Censo 2010 serem divulgados para que municípios em todo o país afinassem o discurso pela representatividade. O aumento populacional de 21 milhões de habitantes na última década despertou a classe política para a possibilidade de que novos assentos pudessem surgir nas Câmaras Municipais. E, de fato, a emenda constitucional 58/2009, responsável por alterar a quantidade de vereadores para cada cidade, permitiu com que 7.716 novas cadeiras sejam oferecidas já nas eleições de 2012. Coincidência ou não, a disseminação de novas vozes pelas casas legislativas municipais se ajusta ao abono salarial para os vereadores de todo o país em 2013, em um efeito cascata provocado pelo reajuste de 62% a deputados e senadores em setembro passado. Por isso, o teto salarial de um vereador, que atualmente chega a R$ 9.288,27, poderá atingir a R$ 15.031,75, mediante a posse da nova legislatura municipal. Para se ter uma ideia dos gastos que se avizinham, em cidades com mais de 500 mil habitantes, é permitido que o salário dos vereadores corresponda em até 75% dos vencimentos de um deputado Para o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, o real Bastaram os números do Censo 2010 serem divulgados para no legislativo municipal só será conhecido a partir de junho do próximo ano, após as convenções partidárias e os prováveis aumentos de subsídios dos vereadores Renato Araujo/ Abr 16 | Vox Objetiva estadual. Número que ainda varia de acordo com o estado e o tamanho da população, consumindo entre 3,5% a 7% do orçamento local. Estimativas preliminares indicam que a mudança no quadro de vereadores deve custar ao país cerca de R$ 230 milhões ao ano, isso considerado o salário de R$ 2.246,87, equivalente a uma cidade de 10 mil habitantes. Preocupado com o orçamento e com a qualidade da vereança, o ex-senador Carlos Borges (PR-BA), relator do projeto que deu origem à emenda 58/2009, observa. “A resolução do TSE não reduziu as despesas nas Câmaras Municipais e ainda causou um grave problema em virtude da redução da qualidade da representação popular nestes locais”. Embora haja quem se preocupe com o crescimento de cadeiras no legislativo municipal, um estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) aponta que, ao menos, metade das cidades brasileiras deve optar pelo aumento de vereadores em 2012. Conforme dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), 2.153 registraram elevação populacional, e, por isso, poderiam atualizar seu quadro de representantes públicos. Destes mais de dois mil, o CNM ouviu dirigentes de 1.857 cidades para estruturar um mapa das vagas pelo Brasil. Por isso, o advogado gaúcho e também presidente da Confederação, Paulo Roberto Ziulkoski, considera a pesquisa “quase um censo”. Em coletiva promovida no início de outubro, o representante da CNM divulgou que 50,08% dos dirigentes consultados modificaram Faixas populacionais A discussão de autoridades municipais, da CNM e da Abracam sobre a elevação de vagas para vereadores tem a ver com os novos critérios de representatividade no país. O artigo 29 da Constituição dividia as cidades em apenas três faixas, de acordo com a quantidade de habitantes. Com a emenda 58/2009, 24 faixas populacionais surgiram. Com isso, cidades com população entre 300 mil a um milhão de habitantes poderão ter 31 representantes, dez a mais que hoje. Com a alteração na lei, resolveuse uma polêmica que desde 2004 vinha se arrastando. Na época, o TSE redistribuiu os municípios em 36 faixas e em 2.409 reduziu o número de vereadores, elevando em apenas 19 a quantidade de cadeiras ocupadas. Divulgação a lei orgânica e alteraram o número de vereadores para as eleições de 2012. Dentre os 49,9% restantes, 61,6% pretende alterar a quantidade de cadeiras na câmara de sua respectiva cidade. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a data limite para a mudança na lei orgânica é 30 de junho de 2012. Para Ziulkoski, a emenda constitucional não chega em um momento propício. “Os municípios têm necessidades mais urgentes como saúde e educação. Não precisava aumentar na proporção que aumentaram”, argumenta. Vereador por cinco mandatos em Coromandel, no Alto Paranaíba, Rogério Rodrigues da Silva ocupa, hoje, a presidência da Associação Brasileira das Câmaras Municipais (Abracam). Na função, o mineiro defende que os vereadores Brasil afora fixem o teto de assentos, direito garantido pela Constituição. “A medida aumenta a representatividade e fortalece a democracia, mas há outras variáveis a se considerar, como a receita e o tamanho do município”. Por isso, Rogério ressalta que algumas cidades não abrirão mais cadeiras nas casas legislativas por causa dos custos extras no orçamento. O Plenário Amynthas de Barros, palco das decisões políticas em Belo Horizonte, começará 2013 com o mesmo número de vereadores de 2008: 41 Com isso, é possível que em 2013 se tenha 59.764 representantes municipais eleitos, 16% a mais que em 2008 e o teto para 2013, conforme dados do IBGE. E quem lidera o índice de cidades que já mudaram a lei orgânica é o estado de São Paulo, seguido por Minas Gerais, com 124, embora com uma população muito inferior à paulista. Apesar disso, suas capitais e o Rio de Janeiro continuarão com a mesma quantidade de vereadores, sendo São Paulo com 55, a capital fluminense com 51 e Belo Horizonte com 41. As duas últimas permaneceram na mesma faixa populacional, e, por isso, não têm direito à mudança. Em Minas, das 236 cidades com direito a elevar a proporção de cadeiras nas câmaras, 124 já aderiram a emenda de 2009, de acordo com um levantamento da CNM. Já no quesito teto de vagas, os mineiros aparecem em segundo, atrás apenas do estado do Mato Grosso. A Confederação leva em conta apenas os locais que modificaram a lei orgânica, preenchendo o máximo possível de assentos. Até o momento, Minas terá 407 novos vereadores, o que corresponde há 99,6% do teto destas cidades. Entre os municípios matogrossenses que acompanham a emenda, 97,9% já preencheram as vagas possíveis. Não cabe julgamento Por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, o TSE não irá interferir na escolha da quantidade de representantes públicos municipais que cada cidade estabelecerá para as eleições de 2012. O ministro, que também é presidente do Tribunal, segue o relator do caso, seu colega de Supremo, Marco Aurélio Mello. Este garante que a nova regra é claríssima, não cabendo a Tribunal apreciar a matéria. Em visitas pelo Brasil, Lewandowski teria observado a apreensão de cidadãos preocupados com a mudança nas câmaras. “A população está inquieta e muitas vezes contrária a esse aumento. Mas o artigo 29, inciso 4, é explícito e não cabe ao TSE ingressar em detalhes maiores”, declarou o ministro à imprensa em Brasília. O Tribunal Superior Eleitoral tem até 5 de março de 2012 para regulamentar a nova redação do artigo. Vox Objetiva | 17 Antonio Cruz/ ABr comentário - política MAIS DO MESMO, OU DA LAMA À LAMA Paulo Filho Jornalista e consultor de Comunicação Social [email protected] N a semana que antecedeu o prazo delimitado para quem quer concorrer nas próximas eleições, em 2012, mais dois partidos políticos foram criados no país: Partido Pátria Livre (PPL) e o Partido Social Democrático (PSD), esse último organizado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab - e o que está causando as maiores reações e barulho, porque, descaradamente, a sua criação se configura como o mais puro oportunismo político-fisiológico. Com mais esses dois, chegamos à incrível marca de 29, frise-se bem, vinte e nove partidos políticos no cenário nacional. É a hora então de uma simples perguntinha: existem, no mundo, tantas variações “ideológicas” assim? É claro que não. Esse número 18 | Vox Objetiva absurdo de agremiações políticas é apenas mais um dos sintomas/ consequências do nosso, brasileiro, deteriorado “mundo da política”. E isso em um momento em que se discute, na sociedade e no Congresso Nacional, uma reforma que resgate um mínimo de credibilidade ao exercício da política no país. Entretanto, por força das circunstâncias, coube ao deputado Henrique Fontana (PT-RS) a condução dessa reforma — ele é o relator do projeto em construção na Câmara. Em vez de aproveitar mais essa oportunidade para fazer o país avançar, o partido que detém o poder hoje se preocupa em tirar, ainda mais, vantagens da situação: a proposta apresentada reflete claramente dois interesses — criar mecanismos que favoreçam a permanência do partido no poder (e o voto em lista é um exemplo bem acabado disso), e legitimar, com a instituição do financiamento público de campanhas, a estratégia de defesa traçada pelo PT no escândalo do mensalão, reforçando o discurso do caixa de campanha não contabilizado. Com relação a mudanças mais sérias, dentre elas a facilidade de criação de partidos políticos no país, a proliferação de legendas de aluguel continua incólume. Ainda embrionário, o prefeito Gilberto Kassab cantou a pedra: “o PSD não será um partido de esquerda, nem de direta e nem de centro”. Dito isso e colocados na balança os nomes dos seus filiados/ agregados, chega-se a duas conclusões primeiras: o partido foi criado com o DNA do fisiologismo e do oportunismo político (e o governo Dilma agradece) e, coloquem as barbas de molho aecistas, poderá servir de base para o lançamento de uma candidatura “quase” avulsa à presidência da República em 2014. Se o governador mineiro conseguir se impor dentro do PSDB — e ele está conseguindo, quem garante que o PIB paulista não se valerá do PSD para bancar uma outra candidatura? E, nesse aspecto, são bastante conhecidas as ligações entre o prefeito de São Paulo e o ex-governador paulista José Serra, cardeal tucano em franca decadência dentro do partido. Não é errado dizer que Gilberto Kassab é cria de Serra e, nesse momento, está se mostrando um hábil articulador político, coisa que até a bem pouco tempo atrás era impensável. Sobre isso, há quem diga que a coisa não é bem assim e que as cordas da marionete ainda estão nas mãos de Serra, o que causa calafrios em muita gente aqui nas alterosas. Impressiona, porém, o tamanho do PSD logo no seu nascedouro. Além do prefeito da maior e mais importante cidade do país e do vice-governador de São Paulo, maior Estado da Federação, o partido já amealhou, até o dia 6 de outubro, 53 deputados federais e, até o próximo dia 26, prazo concedido pelo TSE para finalizar suas filiações, pode chegar à casa dos 70 deputados federais, o que lhe garantirá a terceira maior bancada na Câmara, ficando atrás apenas do PMDB e do PT. Com essa bancada, o poder de “negociação” do novo partido será imenso, principalmente porque a maioria dos seus filiados vem de partidos de oposição (DEM, PPS e PSDB, à frente). Com tantos votos “novos” na roda, a caciquía de partidos como PR, PTB, PDT e alguns outros menores da base de Dilma devem estar sofrendo com alguns temores (ou mesmo tremores). O jogo da barganha no Congresso vai ter novos atores, e novos parâmetros, com certeza. Depois de legalmente criado, na primeira reunião de sua executiva, com ares programáticos, o PSD levantou uma bandeira já desfraldada por muitos e há muito tempo: uma nova Assembleia Nacional Constituinte, escolhida em 2014, para uma ampla revisão constitucional. Segundo Kassab, a Constituição Nacional carece de uma ampla e geral reforma, ao contrário de intervenções em temas separa- damente. A constituinte exclusiva, ainda conforme Kassab, teria mandato de dois anos. Se acontecerá não se sabe, mas que dá ares de seriedade ao novo partido e, principalmente, garante manchetes de jornais, isso garante. Neste mesmo encontro, o prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD não se furtou a esclarecer e definir com precisão o novo partido. Ele afirmou que a legenda “é plural e está aberta a alianças com qualquer um”. “O que norteará as nossas alianças são os nossos princípios e nossa conduta”. Ele disse também que o objetivo de qualquer partido é “sempre” chegar ao poder e que, para isso, “alianças são naturais e necessárias”. Se alguém tinha alguma dúvida, não é preciso dizer mais nada. Aqui em Minas o PSD nasce como a quarta bancada na Assembleia, mas com possibilidade de, até o dia 26 de outubro, chegar à terceira. Na data do registro formal no TSE foram sete os deputados estaduais filiados (federais foram, de imediato, quatro). Existe a previsão de que mais três deputados estaduais se vinculem à legenda, tornando-a maior do que a do PMDB e ficando atrás apenas do PSDB e PT na Assembleia mineira. Renato Araújo/ ABr Vox Objetiva | 19 ECONOMIA AGONIZANTE Não há para onde correr. A recessão é um mal que promete incomodar por muito tempo o Velho e o Novo Mundo Fernanda Carvalho 20 | Vox Objetiva economia N os dois lados do Oceano Atlântico, as maiores potências econômicas mundiais enfrentam crises capazes de deixar o planeta de cabeça para baixo. Estados Unidos e União Europeia enfrentam as consequências dos gastos excessivos, que representam mais que os respectivos PIB’s. No país americano, os excessos alcançaram o teto da dívida externa, que era de US$ 14,3 trilhões (R$ 22,3 tri), fazendo-a aumentar em, pelo menos, US$ 2,1 tri. Do outro lado do oceano, não há um limite para as dívidas, entretanto a União Europeia está diante do que pode representar o seu fim. Mais uma vez, o Tio Sam conseguiu chegar à ponta da ribanceira para outra recessão. Próximo de dar um calote no resto do mundo, o país retomou o que tantas vezes aconteceu na presidência de Ronald Reagan: aumentou o teto da dívida externa, mais uma vez. Hoje ele sofre as consequências de um gigante devedor, cada vez mais sem credibilidade, com elevados índices de desemprego e com um impasse político entre republicanos da Tea Party e democratas, o que pode custar toda a economia mundial. A inabalável União Europeia também enfrenta grandes dificuldades com as divergências de interesses entre as políticas dos países. Na Grécia, os gastos ultrapassaram o crescimento e geraram uma dívida impagável. Os bancos europeus, financiadores do país, podem nunca receber o dinheiro emprestado. Mas o problema não acontece somente no pequeno país balcânico. Outros, como Espanha, Itália e Portugal, também entraram para a “lista negra” da União Europeia. O grupo supranacional de 27 Estados-membros está ameaçado. Depois de muitas reuniões e discussões sobre o futuro da Grécia, medidas financeiras foram combinadas entre a capital grega e três órgãos: FMI, União Europeia e Banco Central Europeu. Do total de € 110 bilhões do pacote de resgate aprovado em 2010, o país recebe Como uma crise em um pequeno país como a Grécia pode afetar a economia global Bancos e governos de outros países da Europa compram títulos da dívida grega; A Grécia não paga o que deve e dá o calote; Esses bancos e governos passam a ter dificuldades de liquidez, ou seja, de transformar os títulos em dinheiro; A “doença” contagia outros bancos da Europa; Acontece um efeito dominó e o “vírus” se propaga pelo mundo; As autoridades europeias não desenvolvem uma boa solução para acabar com a “doença” e a situação piora; O resto do mundo passa a desconfiar da capacidade dessas autoridades em lidar com crises mais devastadoras; Começa uma corrida contra os títulos de países maiores, como da Itália e da Espanha; Países com economia enfraquecida geram mais países com economia enfraquecida; Um banco de outro continente que tiver títulos da dívida de um país europeu também sofrerá consequências. Dependendo do país em que o banco estiver, pode ter problema de liquidez, dando prejuízos aos contistas; No caso do Brasil, o cidadão que tiver conta no banco pode ter os juros aumentados; A “doença” contagia cada vez mais países e chega ao consumidor: você. Fontes: Patrícia Alvarenga, professora de economia do UNI-BH e Eduardo Zilberman, professor de economia da PUC-Rio mais € 8 bilhões, o correspondente a, aproximadamente, R$ 19 bi. Mas a nova medida não promete ajudar muito, já que a dívida grega deve chegar a 162% do PIB ainda nesse ano. Além disso, o país já assumiu que não cumprirá a meta fiscal nem para 2011, nem para 2012. Desde 11 de setembro de 2001, quando as Torres Gêmeas foram atingidas em um ataque terrorista, os Estados Unidos começaram uma corrida que também colaborou para o aumento do endividamento. A chamada Guerra contra o Terror, medidas constantes em prol da proteção contra o “mal”, rendeu um gasto aproximado de US$ 4 trilhões, apenas com intervenções no Afeganistão, Iraque e Paquistão. Os dados são do projeto Costs of War, em tradução livre “Custos da Guerra”, da Brown University, que calculou, além disso, a morte 225 mil civis. No período entre 2001 e 2005, a dívida externa aumentou 531,21%. Segundo informações da CIA (Central Intelligence Agency), nesse espaço de tempo a dívida norte-americana cresceu de 1,4 para 8,8 trilhões de dólares. A crise que, para muitos especialistas, começou com a Guerra do Vietnã, estourou em 2008 com a quebra do banco de investimentos com ação global Lehman Brothers. Na nomeada Crise do Subprime, instituições de crédito quebraram. Eles concediam empréstimos hipotecários de alto risco para o próprio lucro. As agências de classificação de risco as incluíam como AAA, denominação para baixo risco. Em consequência disso, seis milhões de pessoas foram Vox Objetiva | 21 economia Endividamento dos Estados Unidos: Os Estados Unidos viveram um período de crescimento acelerado depois da Segunda Guerra Mundial. Até meados da década de 1970, as instituições financeiras eram locais e reguladas pelo Governo. Mas no começo da década de 1980 o sistema financeiro explodiu. A sociedade se tornou mais desigual e a dominação econômica sobre o mundo começou a diminuir. A economia tornou-se mais globalizada e os lucros das instituições financeiras aumentavam. À medida que isso acontecia, elas se tornavam mais poderosas e influenciavam na regulamentação do sistema financeiro do país, feita pelo Governo. Fazia-se vista grossa para o aumento no número de lobistas com trânsito em Washington. Começou a época da desregulamentação. despejadas de suas casas, até o início de 2010, por não conseguirem pagar os financiamentos de risco. O desemprego e o empobrecimento das classes inferiores cresceram. A maior parte da população brasileira não deve ter percebido nem uma pequena fagulha do que aconteceu. Mas nos Estados Unidos e para os investidores do resto do planeta, esse foi o início do que agora pode representar a recessão do país. “Você nunca viu nada como isso antes. E vai ficar ainda pior. Recessão significa um ciclo vicioso e estamos diante de uma”, foi o que afirmou o co-fundador do Economic Cicle Research Institute, Lakshman Achuthan, em entrevista ao canal de negócios CNBC. 22 | Vox Objetiva Enquanto países como a China abriam seus mercados, as empresas americanas terceirizavam serviços no exterior para economizar dinheiro. A política fiscal modificava, favorecendo a 1% da população americana: os ricos. As faculdades tinham altíssimo custo ou baixa qualidade e pouco investimento quando públicas. A população desfavorecida pelo reajuste pôde fazer apenas duas coisas: trabalhar mais horas diárias ou deixar de pagar as contas. As pessoas começavam a financiar carros, saúde, educação para os filhos e casa. Entre 1980 e 2007, a população dos 90% inferiores empobreceu. De acordo com o sociólogo e escritor de diversos livros, dentre eles O Fim do Império Americano? Os Estados Unidos depois da crise, Jan Nederveen, a causa subjacente é que a desregulamentação foi longe demais. “A imagem agora é irregular. O custo do império não para de aumentar e sua capacidade de influenciar os negócios está encolhendo. Política e economicamente, o papel dos Estados Unidos já diminuiu de forma enorme nos últimos anos e a tendência é continuar”, articulou Nederveen à Vox Objetiva. Se um país reduz o desenvolvimento, outras nações sofrerão consequências dessa alteração. É o que diz a teoria dos jogos, criada por John Nash em 1950. Ela explica No começo da década de 1990, a desregulamentação servia de mãe para o monopólio e fusões de grandes empresas financeiras, com cada vez mais poder de influenciar o poder público americano. Nos anos 2000, o sistema financeiro já estava consolidado, mais poderoso do que nunca, cada vez mais desregulamentado, sem rigor de leis do Governo. A indústria financeira americana atraia investidores do mundo inteiro. A irresponsabilidade e a corrupção fazem parte desse sistema em escala industrial. Os economistas e reguladores são, na verdade, desreguladores. Ações e produtos financeiros são criados sem legislação própria. que comportamentos individuais modificam o coletivo, o que significa que ações de um país vão influenciar nas decisões de outros. “No caso de estratégia de países, que é o centro das atenções da teoria dos jogos, ela ajuda na tomada de decisões. A análise de influência de determinações do governo no comportamento dos indivíduos é cada vez mais importante”, explica a professora de economia do Centro Universitário de Belo Horizonte, Patrícia Alvarenga. De acordo com a docente, em um mundo cada vez mais globalizado, com interação dos mercados, a teoria dos jogos se torna mais relevante e complexa, já que a estratégia de um país influencia na to- entenda como tudo começou No final da década passada estourou a crise do Subprime, resultado de excesso de empréstimos a quem não podia pagar. Tudo para alimentar o sistema financeiro, à procura de lucro. Executivos de várias empresas vendiam, especulavam sobre produtos financeiros e logo depois os mesmos executivos derrubavam o produto. Fonte: documentário de Charles Ferguson – “Trabalho interno – A verdade sobre a crise” Barack Obama, atual presidente, prometia maior regulação do sistema financeiro e total controle dos homens de Wall Street. Mas cargos importantes, que ele mesmo escolheu, continuam com os mesmos desreguladores que estavam presentes nos governos anteriores, desde Ronald Reagan. São eles economistas renomados que formam nas principais universidades americanas. Muitos deles acadêmicos que educam novos economistas com o mesmo pensamento. mada de decisões de outros e vice-versa. A economia não é um jogo de soma zero. Se um país está com problemas, outros serão atingidos. Isso explica o porquê de crises aparentemente pequenas e distantes influenciarem e modificarem toda a engenharia da economia global. “Se o capitalismo é incapaz de satisfazer as reivindicações que surgem infalivelmente dos males que ele mesmo engendrou, então que morra!”, Leon Trotsky Desde o dia 17 de setembro uma onda de protestos invadiu os Estados Unidos. O que começou com o Ocupe Wall Street já foi para outras cidades do país, como Washington e São Francisco. Os protestos, como As reformas financeiras prometidas não foram cumpridas. E, em algumas áreas críticas, incluindo agências de classificação de risco, lobby e remunerações, nada de significativo ainda foi proposto. Em 2009, o desemprego atingiu seu nível mais alto em 17 anos e o banco Goldman Sachs pagou mais de US$ 16 bilhões aos seus executivos. Em 2010, os bônus foram ainda maiores. Trotsky já havia dito, são contra o capitalismo e o aparelho financeiro. “Como sistema econômico, ele, cada vez mais, produz um tipo de economia ao contrário de sua pretensão, uma economia estatal colossal. Basta ver as dívidas públicas que estão gerando no mundo inteiro. São intervenções gigantescas do Estado para salvar os bancos e todo um sistema que não tem como existir espontaneamente”, avalia o marxista Theotonio dos Santos. O economista afirma que o Estado busca salvar o sistema e os bancos tirando da população. É a causa da revolta. “As pessoas estão revoltadas com essa política constante de diminuição dos gastos públicos em atenção a elas e Várias pessoas passaram a viver em cidades de cabanas, colocadas no chão, sem qualquer proteção. Enquanto isso, os executivos de Wall Street ficam cada vez mais ricos e consomem dinheiro do Governo com prostituição e drogas. Eles gastam milhões para lutar contra a reforma fiscal no país. O endividamento norte-americano surgiu das enormes desregulamentações dos maiores economistas e executivos da América. Os altos cargos continuam sendo ocupados pelos principais culpados pelo endividamento do país e pelo empobrecimento de milhões de pessoas, não somente nos Estados Unidos, mas também na Europa e em vários outros países do mundo. aumento em transferência de recursos para o setor financeiro para salvar instituições decadentes”, afirma Theotonio. Wall Street, maior representação do sistema financeiro global, é palco de gigantesca desregulamentação norte-americana. Alertas para a crise financeira de 2008 foram anunciadas por vários pesquisadores, mas os executivos e economistas dos altos cargos fingiram não ter ouvido. O setor financeiro gastou mais de US$ 5 bilhões em lobby e contribuições a campanhas, apenas até 2008. Depois da crise do Subprime, passaram a gastar ainda mais tentando reter uma reforma fiscal que travaria seus gigantescos lucros mensais. Vox Objetiva | 23 economia Esse é, para muitos estudiosos, um claro processo de decadência do sistema. Mas alguns economistas não dão as mesmas dimensões. Para Márcio Salvato, crises no capitalismo sempre existiram porque há um problema de “jogos de informação”. “O sistema se auto-penaliza com esses jogos, muitos perdem e ele se recupera”. De acordo com Carlos Pinkusfeld, atualmente os Estados Unidos não enfrentam uma crise financeira, o problema emergencial foi resolvido em 2008. “O que ocorre nos EUA é um alto desemprego e baixo crescimento em razão do fraco desempenho dos seus componentes de demanda agregada, aí incluindo o gasto público”. A crise do desemprego e as condições subumanas a que vive uma parte da população global é, na opinião de Theotonio, motivo para uma grande modificação. “Precisa de uma visão teórica, conceitual, doutrinária, capaz de captar todas essas mudanças do ponto de vista de transformação global para a humanidade. As sociedades têm que estabelecer metas de desenvolvimento geral para atender às necessidades da maioria da população. Até chegarmos lá vamos ter que passar por várias tentativas”. Os BRICs Dia 21 de setembro de 2011. A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, se tornou a primeira voz feminina a abrir a reunião da Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque, Estados Unidos. “Essa crise é séria demais para que seja administrada apenas por uns poucos países. Seus governos e bancos centrais continuam com a responsabilidade maior na condução do processo. Mas, como todos os países sofrem as consequências da crise, todos têm o direito de participar das soluções. Não é por falta de recursos financeiros que os líderes dos países desenvolvidos não encontraram solução para a crise. É, permitam-me dizer, por falta de recursos políticos e, algumas vezes, 24 | Vox Objetiva por clareza de ideias”, declarou. O Brasil faz parte da sigla BRICs, que integra Rússia, Índia, China, e, atualmente, África do Sul. O grupo é a nova aposta de muitos pesquisadores. O acrônimo foi criado pelo economista Jim O’Neill, chefe de pesquisa em economia global do Goldman Sachs. Um estudo realizado pelo National Intelligence Council, centro americano de questões estratégicas ligado às agências de inteligência, prevê uma modificação completa no sistema político-econômico internacional para as próximas décadas. “Projeções de crescimento para o Brasil, Rússia, Índia e China indicam que eles irão, coletivamente, equivaler às originais amostras do PIB global do G7, em 2040-2050”. A previsão é que esses quatro países tenham cada vez mais voz e espaço político no cenário internacional. Mas se tornarem potênUm estudo do National Intelligence Council prevê que os países do “velho” BRIC irão, juntos, equivaler às originais amostras do PIB global do G7 entre 2040 e 2050 cias ou, até mesmo, substituírem a representatividade dos Estados Unidos e União Europeia é uma ilusão, de acordo com muitos estudiosos. Para o diplomata de carreira e professor de Economia Política do Centro Universitário de Brasília, Paulo Roberto de Almeida, claramente não há a possibilidade desses países se tornarem o novo centro global. “Eles são pólos de crescimento mundial ainda, locomotivas regionais. Centro global significa inovação, em primeiro lugar. A China não vai ser um pólo econômico mundial. É uma economia da imitação e não da inovação. Para pegar o lugar dos EUA teria que rebolar e rebolar muito”, pondera Almeida. Os BRICs endossaram a ajuda política sugerida pela presidente durante o discurso. Reuniram para levantar possibilidades de ajuda econômica aos países europeus em crise. Almeida considera que a dívida... O Brasil está justamente fazendo o que a Grécia fez e o que não deveria fazer”. De acordo com dados do Tesouro Nacional no dia 10 de outubro de 2011, a expectativa é de que o PIB cresça 3,5% nesse ano e atinja ganho de 4,5% em 2014. Mas a dívida externa brasileira ainda está em altos patamares. O Banco Central divulgou o débito total: US$ 304,2 bilhões. as nações pequenas poderiam ser ajudadas com o dinheiro do FMI, mas as grandes, como Espanha e Itália, fica mais complicado. “É necessário medir o risco. O Brasil, por exemplo, não tem condições de ficar enfiando muito dinheiro”. Ao contrário do que tem sido demonstrado, o Brasil não tem muitos antecedentes que sirvam de espelho para os países em crise. Na verdade, a nação não tem absolutamente nenhum exemplo a dar, de acordo com Almeida. “O conselho que poderia oferecer nessas condições é parar de gastar e fazer reforma. Vale para o Brasil também. Não só não tem a ensinar, como deveria aprender sobre o que não fazer. Se o país não fizer o dever de casa, com os gastos que crescem sempre acima do PIB, o nosso caminho é semelhante ao grego”, alumia e completa: “Previdência generosa, gastos públicos, superávit primário que não cobre Roberto Stuckert FilhoPR O futuro da economia global “Descentralização” parece ser a palavra do momento para a economia. De acordo com Paulo Roberto de Almeida, porém, o termo não passa de “bobagem acadêmica”. Para ele, o mundo vai se tornar mais equilibrado e provavelmente se torne mais multipolar. “Os Estados Unidos, possivelmente, crescerão menos. Mas não sei se o equilíbrio é positivo. Quando o mundo foi muito equilibrado houve muitas guerras. Você tem uma grande potência que todo mundo teme, nem a China ousa desafiar. Se os Estados Unidos declinarem muito, pode ser que o país asiático se torne muito arrogante”, explica. De acordo com Jan Nederveen, são dois os possíveis caminhos. A primeira possibilidade é a multipolaridade, “que agora existe e é muito desigual. Instituições internacionais como o FMI continuam a ser lideradas pelo Ocidente”. Em segundo lugar, a não polaridade, nenhum centro de maior poder. O professor de economia da PUC-Rio, Eduardo Zilberman, esclarece que passaremos por alguns anos de baixo crescimento global. “O tempo necessário para sanear a economia, especialmente os bancos, até que ela recupere a capacidade de gerar intermediação financeira, um dos motores do crescimento econômico”. Outra linha de pensamento analisa que a economia caminha para uma forma socialista, mas diferentemente do que era pensado antes, com um regime fechado. “Nós caminhamos para uma forma na qual as relações entre os países serão cada vez mais decididas por acordos estatais, com participação do governo, dependendo do grau democrático de cada Estado. As decisões estarão ligadas fortemente às necessidades da população”, antecipa Theotonio. A crise não pode alavancar nenhuma economia. Para Almeida, nenhuma crise pode favorecer ninguém. Todos os países prosperam quando há uma desestabilização econômica global. “Não vejo como a gente possa se beneficiar da miséria alheia”, considera. Mas de acordo com Pinkusfeld, o Brasil não deve ter dificuldade em financiar seu déficit em transações correntes se os EUA e a Europa mantiverem o baixo crescimento. “Assim está afastada, caso algo mais grave não ocorra, de crise cambial e o Brasil pode continuar a crescer nas taxas razoáveis recentes”, explica. Muitos especialistas acreditam que o máximo que países como os BRICs conseguem é chegar a serem chamados de superpotências pobres, com alguma representação econômica internacional. Almeida acredita que certamente o Brasil pode atingir o bem-estar social, mas para ser considerada uma superpotência, teria que ser dinâmico, progressista e aberto. “Quando os outros países quiserem ser imitados pelos bons valores e princípios, eles serão superpotências”. Por muitos anos o sistema financeiro estadunidense e europeu funcionou como um espelho para o resto do mundo: as economias que todos almejavam e admiravam. Enquanto isso, os emergentes lutaram, e ainda lutam, para diminuir suas disparidades sociais e econômicas. Mas a verdade começou a aparecer diante da crise. Nos países desenvolvidos, as diferenças se agravam a cada dia. As redes de corrupção também existem nas inatingíveis e exemplares nações. Os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres. E a tendência é só piorar. Até porque a população continua nas mãos dos mesmos homens que geraram a crise. Vox Objetiva | 25 economia 51, UMA BOA IDEIA Existem propagandas e slogans “que pegam”. Grudam como aquela música que tentamos esquecer e não conseguimos. Você, certamente, já deve ter escutado isso. Da mesma forma que já ouviu: “Bombril, 1001 utilidades”, “Nescau, energia que dá gosto”, “Skol desce redondo”, “Nike, just do it”. Ainda existem aquelas regionais. Eu, que sou gaúcho, poderia citar duas que exemplificam bem o orgulho que temos da nossa terra. O primeiro é do Banco do Estado: “Banrisul, melhor porque é nosso”, uma clara alusão à não privatização do mesmo. O segundo exemplo é de uma marca de cerveja chamada Polar: “Polar é NO Export”, numa referência ao fato desta ser vendida apenas em território gaúcho. Enfim, muitos são os exemplos. Afinal, publicitários e marqueteiros estudam anos para tentar nos convencer de que um determinado produto é diferenciado e que você necessita desse produto. E não é que eles conseguem! Na maioria das situações, quando comparamos um produto, realizamos uma análise relativa de preços. No entanto, algumas vezes promovemos certas abstrações. Eu, particularmente, sou fã de algumas marcas, posso citar sem compromisso umas duas aqui: a maionese Hellmanns e a margarina Qualy. Veja bem que não estou fazendo propaganda, afinal gosto é uma coisa muito pessoal. Cada um tem o seu. Para mim, com maionese e margarina 26 | Vox Objetiva não há muito o que discutir nem o que analisar. Parece que, de certa forma, deixamos de lado aquilo que o pensamento científico do século XX convencionou chamar de Homus Economicus, que nada mais é do que o racional econômico por trás das decisões de consumo. Obviamente que seguindo essa linha de raciocínio, você pensará que sou fã da famosa “Caninha 51, uma boa ideia”. Na verdade não gosto de cachaça. Prefiro vodka. Mas, como disse, gosto é algo muito pessoal. No entanto, você não acha o slogan muito bom? Acho genial, pois qualquer exemplo que envolva o número 51 é passível de se tornar um convite a apreciação do destilado. Essa campanha criada em 1978, foi pensada para o rádio e, até hoje, é conhecida. E por que o número 51? Não tenho noção, mas uma boa ideia relacionada ao número 51 é começar a investir com a bolsa nos 51 mil pontos! E, nessa semana, o Ibovespa iniciou nos 51.243 pontos. Parece que os investidores se deram conta de tal fato e foram às compras. Como resultado, tivemos uma semana de ganhos na bolsa brasileira. Basicamente, o que deu o tom foi um plano desenhado por França e Alemanha, que visa resolver a crise de dívida da zona do euro e restaurar o combalido setor bancário do bloco. A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que ela e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, “estão determinados a fazer o necessário para garantir a recapitalização dos bancos William Castro Analista da XP Investimentos [email protected] europeus.” A possibilidade de um fim para a crise europeia rendeu boas compras aos investidores. Bom e agora? É interessante investir nos 55.030 pontos? A meu ver sim! Digo isso sem deixar de lado o Homus Economicus. Muito pelo contrário. Analisando friamente os dados e as perspectivas econômicas de países semelhantes ao Brasil, como Índia, China, México e Chile, digo e afirmo que é, sim, uma boa ideia. Lembra da análise relativa, quando comparamos produtos? Pois é, quando estabelecemos uma comparação entre o valor de uma companhia com o lucro que esta obtém em um ano, chegamos a um indicador muito utilizado no mercado: a razão entre preço e lucro (P/L). O racional por trás disso é comprar empresas que possuam a menor razão, pois estas supostamente seriam a melhor relação entre o preço e o lucro que a empresa consegue auferir. Realizando essa comparação vemos que, atualmente, a bolsa indiana negocia a um múltiplo de 15x, a chinesa de 13x, a mexicana de 18x e a chilena de 16x. Enquanto isso, nossa bolsa negocia a apenas 8,5x, contando ainda com as perspectivas de crescimento de nossa economia, mesmo num cenário de desaceleração global. Enfim, deixando a caninha de lado, acredito que essa seja uma boa ideia, seja nos 51, ou mesmo nos 55 mil pontos. educação PASSANDO A LIMPO Apesar do aumento de 128% no orçamento da Educação nos últimos 15 anos, Brasil continua a acumular baixos índices escolares. Dentre os problemas, destaque para a corrupção. Lucas Alvarenga Valter Campanato/ ABr O alerta veio do lugar de onde se espera resoluções para os graves problemas sociais brasileiros. Em uma das Assembleias Legislativas, a do Rio Grande do Norte, uma potiguar de 1,57 m de altura roubou a cena em maio passado ao chamar a atenção para a causa educacional, se tornando notícia em todo o país. A ex-professora de português, Amanda Gurgel, de 28 anos, afastou-se das salas de aula deprimida após constatar que alguns alunos sequer sabiam escrever a palavra bola no sexto ano. A participação da educadora no pro- grama político do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) levantou, porém, dúvidas de alguns parlamentares, quanto à sinceridade do discurso. Apesar da polêmica envolvendo a legenda radical de esquerda, as queixas sobre os salários e a falta de apoio à educação em nosso país continuam a ser questionados não só por professores, militantes políticos ou não, mas também por alunos, pais e especialistas. Entretanto, o que explica circunstâncias como esta se, entre 2005 e 2009, o Brasil ampliou em 72% o investi- mento público por aluno no ensino básico? Pesquisadores brasileiros apresentam leituras diferentes para o mesmo tema e garantem: os fatos, observados isoladamente, não explicam a educação no país. Tanto, que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil dá mostras de que a educação está entre suas prioridades. Afinal, o número de pessoas que não havia completado o ensino médio no país caiu de 63% em 2007 para 59% em 2010. Além disso, o país registrou, no mesmo período, a maior elevaVox Objetiva | 27 Divulgação Para o especialista em financiamento da educação, Nelson Cardoso Amaral, o investimento brasileiro por aluno em idade educacional está muito aquém daquele aplicado em países desenvolvidos ção na quantia de recursos destinados por aluno da educação infantil e do ensino médio, 121%. Sinais de evolução que esbarram, porém, em outros números nada animadores. No exame internacional Pisa de 2006, o Brasil ficou em 54º lugar entre os 57 países avaliados em matemática e em 49º entre 56 países na avaliação sobre capacidade de leitura. Já no Enem 2010, o panorama foi ainda mais desolador. Entre as instituições de ensino que tiveram desempenho inferior à média nacional na prova objetiva (511,21 pontos), 96% eram públicas. Ao todo, 63% das escolas participantes ficaram abaixo da média, segundo o Ministério da Educação (MEC). E na ponta da tabela, apenas uma escola 28 | Vox Objetiva pública entre as 20 melhores do país. Mesmo com R$ 63,71 bilhões reservados este ano, as personagens da educação vêm protagonizando cenas de reivindicação pelo cumprimento do piso salarial, instituído na administração Lula, além de histórias como de Silvana dos Santos, mãe que, durante a greve dos professores em Minas Gerais, viu que a transferência de sua filha não foi a melhor das escolhas. A jovem ficou sem aulas na nova escola pública e a mãe, consternada. A fim de colaborar para a resolução destes problemas e em favor de uma melhor relação custo-benefício para o ensino, especialistas em educação verificam o quão eficientes são os gastos com o setor e mostram que o valor investido por aluno ainda está aquém dos padrões internacionais. A meta é dez Doutor em Educação pela Unimep-SP, Nelson Cardoso Amaral não dispensa os números. Categórico, o especialista em financiamento educacional compara realidades distintas para sustentar a bandeira em favor de 10% da riqueza nacional para educação até 2020. “Em 2008, o Brasil teve um PIB, corrigido pelo poder de compra, de US$ 2 trilhões, enquanto a Alemanha chegou a US$ 3 trilhões. O governo brasileiro aplicou 4,7% do PIB em educação, já o alemão, 4,6%. A população em idade educacional brasileira foi de 84 milhões e a germânica de 18 milhões. Se efetivarmos as contas de quanto Brasil e Alemanha gastaram por pessoa em idade educacional, concluímos que aqui se aplica US$ 959 e lá US$ 7.187. Uma grande diferença”, esmiúça. Amaral, também professor de pós-graduação da Universidade Federal de Goiás (UFG) e assessor da reitoria, não é o único a pensar desta forma. O pesquisador compartilha tal argumentação com membros de movimentos sociais e estudantis e até mesmo com a cúpula do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Para estes, a intenção do MEC de se destinar 7% do PIB à educação até 2020 é insuficiente, apesar de a média de investimento nos países da OCDE se aproximar de 6%. A razão para a atual deficiência estaria em fatores como a parcela de pessoas em idade educacional, que compreende a faixa etária de 0 a 24 anos, frente à riqueza brasileira. “O controle populacional já está ocorrendo por conta das próprias famílias que reduziram o número de filhos. Projeções do IBGE nos mostram que até 2050 a quantidade de crianças e jovens em idade educacional estará reduzida em valores próximos a 40%. É uma queda que trará acoplada também uma elevação da quantidade de idosos. É claro que, dessa forma, o país poderá aplicar mais recursos financeiros em educação, por aluno, mas não podemos nos esquecer de que as políticas relacionadas à terceira idade necessitarão também de um maior orçamento”, contextualiza Amaral. Hoje, conforme cálculos do educador e do IBGE, 42% da população brasileira se encontra em fase educacional, valor que deve cair para 24% até 2050. Embora contribua, o controle populacional não é a única alternativa para elevar o investimento por aluno e atingir a meta dos 10%. Pensando nisso, o professor da UFV propõe atitudes como estabelecer contribuições dirigidas exclusivamente à educação, vincular ao menos 50% dos recursos do fundo social do pré-sal para o PNE e priorizar o setor educacional no processo de expansão do país. Amaral ainda endossa três sugestões do presidente do Ipea, Marcio Pochmann: o estabelecimento de impostos sobre grandes fortunas, a adequação dos tributos diretos praticados no Brasil e o combate ao desvio de recursos pelos subsídios e isenções. Se efetivarmos as contas de quanto Brasil e Alemanha gastaram por pessoa em idade educacional, concluímos que aqui se aplica US$ 959 e lá US$ 7.187. Uma grande diferença. Nelson Cardoso Amaral, Doutor em Educação e professor pela UFG fundamental de 1.488 escolas públicas com a auditoria dos gastos de 365 municípios realizada pela Controladoria Geral da União (CGU), entre 2001 e 2004. A Prova Brasil, instituída pelo MEC, mensura o desempenho de alunos do 5º ao 9º ano de escolas públicas em matemática e língua portuguesa em uma escala de 0 a 500. Os economistas avaliaram que, em média, a diferença da nota dos estudantes onde os recursos foram mal utilizados ou desviados para aqueles que aprenderam em escolas bem geridas era de 15 pontos. Com isso, concluiu-se que o valor do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) não se relaciona à qualidade do ensino. “É razoável esperar que municípios onde os pais são mais educados, a pressão sobre políticos seja maior e, assim, menos corrupção seja, de fato, observada. Além de melhor controlar a corrupção, pais educados podem ajudar mais no aprendizado de seus filhos, e, portanto, a relação negativa entre corrupção e notas escolares talvez seja causada pela presença (ou não) de pais mais instruídos e não direta- Morgue File Gestão ineficiente Nem todos os pesquisadores pensam igual a Amaral. “A quantidade de dinheiro destinada à educação no Brasil não está ruim. É claro que pode melhorar, mas isso é uma necessidade geral. A valorização do setor, com maiores investimentos, é uma decisão legítima e soberana. Vejamos, porém: os gastos nas redes estaduais e municipais se aproximam dos parâmetros internacionais. O problema do ensino no Brasil é, na verdade, de gestão de recursos”, argumenta Samuel Pessôa, doutor em Economia pela USP e chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). A fim de estudar os efeitos colaterais da má gerência e do desvio de verbas destinadas à educação no Brasil, pesquisadores desenvolveram um estudo pela PUC-Rio, junto à Universidade de Berkeley (EUA) e ao Banco Mundial. Assinado pelos economistas Claudio Ferraz, Frederico Finan e Diana Bello Moreira, “Corrupção, Má Gestão, e Desempenho Educacional: Evidências a Partir da Fiscalização dos Municípios” surgiu como possibilidade de se analisar as consequências de desvios sobre a disposição de bens e serviços públicos. “A educação é re- conhecida de forma unânime como importante para o desenvolvimento de países e, dada a riqueza de dados educacionais no Brasil, o setor nos pareceu o candidato natural para estudar os efeitos da corrupção”, esclarece Diana, pós-doutoranda em Economia na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Os pesquisadores cruzaram o resultado conquistado na Prova Brasil pelos alunos do 5º ano do ensino A quantidade de carteiras já denuncia: há muitos alunos nesta sala de aula. Espaço ideal para dispersões e déficits educacionais Vox Objetiva | 29 mente pela corrupção”, observa a pós-doutoranda. Além desta análise, o trio verificou que a corrupção tem efeito significativo em medidas de desempenho escolar como a evasão e a repetência. Um recente estudo da Advocacia-Geral da União (AGU) deu nova dimensão ao problema. Em virtude dos grandes orçamentos, a saúde e a educação são os maiores focos de desvios no Brasil. O índice chega a 70% nas duas áreas. Em geral, os pontos de ilegalidade envolvem quantias inferiores a R$ 100 mil, pois elas carecem de maior fiscalização. Situação agravada pela falta de autonomia dos conselhos municipais para apurar as atuações das prefeituras. Para a pós-doutoranda, a União vem combatendo os desvios, embora ainda haja um longo caminho a ser percorrido e muitos outros estudos a apontar as melhores alternativas para o combate à corrupção. “A própria fiscalização de municípios por meio de sorteios públicos, assim como a obrigatoriedade de licitação eletrônica, são exemplos de políticas que visam aumentar a transparência nos gastos, e, portanto, do progresso feito até então”. Raízes do problema Por vezes criticados, os mecanismos de avaliação do ensino, válidos às pesquisas sobre o combate à corrupção na área educacional, avançaram bastante. O uso da Prova Brasil por Ferraz, Finan e Moreira endossa a argumentação de Samuel Pessôa. Para o economista, não só os exames, mas também o acesso praticamente universal das crianças ao primeiro nível da graduação revelam uma evolução do ensino no Brasil. O chefe do Ibre/FGV lembra, entretanto, que os problemas da educação são diferentes daqueles 30 | Vox Objetiva Marcello Casal Jr/ ABr Estantes cheias de livros, crianças atentas à leitura, asseio e silêncio. Retrato ideal, embora nada corriqueiro, da educação básica, que durante anos sofreu com a desigualdade de investimentos em relação à ensino superior relacionados aos transportes, resolvidos com uma simples alocação de capital. Por isso, Pessôa pondera e expõe que “a educação não tem lá muitos parâmetros”, embora alguns sejam gerais para a melhoria do ensino. Dentre eles, destaque para a autonomia na gestão dos recursos, a constante avaliação e fiscalização, o investimento em português e em matemática, além da valorização dos profissionais. Conclusões baseadas, em parte, no estudo de Diana e seus parceiros, que também avaliou a aplicação de verbas para a merenda e a infraestrutura. O economista da FGV vai além ao sugerir que a educação pública copie uma medida do Judiciário. “Os concursos públicos sozinhos não são capazes de avaliar uma das principais competências de um professor, o desempenho em sala de aula. Por isso, o candidato deveria cumprir um estágio probatório de três anos para ocupar a vaga”. Nelson Cardoso Amaral sustenta o pensamento de Pessôa ao recordar que os educadores brasileiros foram formados em um contexto de deficiências no ensino superior público e no magistrado, que acarretaram em lacunas no aprendizado. Outra medida seria elevação da carga horária ou do número de dias letivos nas escolas, hoje 200. Para Amaral, a ideia, defendida pelo ministro Haddad, infelizmente, esbarraria nas condições sócio-econômicas das famílias envolvidas. Por isso, o professor da UFV defende outra saída. “Falo em uma educação em tempo integral nas escolas públicas e privadas e não em dois turnos estanques, em que em um deles são cumpridas as atividades educacionais SALTOS DA EDUCAÇÃO Evolução do investimento público em educação em relação ao PIB vs crescimento populacional: o Entre 2000 a 2005 – estável em 3,9 /o do PIB o o Entre 2005 a 2010 – de 3,9 /o a 5 /o do PIB Entre 2000 a 2010 – de 169 mi. para 191 mi. de habitantes o 28 /o de aumento do PIB o 13 /o de crescimento populacional Progresso do orçamento do MEC incluindo FIES e salário (em bilhões): e do FNDE, Entre 1995 a 2000 – de 28,5 bi. para 28,8 bi. Entre 2000 a 2005 – de 28,8 bi. para 30,5 bi. Entre 2005 a 2010 – de 30,5 bi. para 65,2 bi. o 128 /o de elevação Investimento público no aluno do ensino básico em previstas na legislação, em outro são desenvolvidas atividades para ‘segurar’ a criança ou jovem na escola”, alfineta e arremata. “As atividades destes turnos devem se entrelaçar por meio do projeto político-pedagógico da instituição”. Tempo integral ou não, a exigência por capacitação cresce na medida em que a economia brasileira se expande. Não é à toa que no país, quem tem diploma de nível superior ganha 156% a mais do que pessoas que alcançaram apenas o ensino médio. Nos países associados à OCDE, a média é 50%. Convicto de que a educação é melhor investimento público, como comprova o Ipea ao provar que a cada real investido no ensino, tem-se um retorno de R$ 1,85, Amaral projeta. “Acredito que as diversas forças sociais que defendem uma melhoria relação ao do ensino superior: Em 2000: gastava-se 11,1 vezes mais como um aluno do terceiro grau que do primeiro Em 2009: gastava-se 5,2 vezes mais como um aluno do ensino básico que do superior o 113 /o a menos de diferença Fontes: MEC, Inep, FGV e Subsecretaria de Planejamento. do processo educacional, primeiro como formação do ser humano e, depois, como mão de obra para o mercado, terão relativo sucesso. Até porque, se temos um ser humano mais bem formado, é certo que ele também estará mais bem preparado para o mercado de trabalho. Claramente, será uma pessoa que pensa mais, reflete mais e cria mais”. Vox Objetiva | 31 justiça POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA: GRANDES DESAFIOS Os problemas da segurança pública brasileira são reflexos de um legado político autoritário. As bases do sistema público de segurança (ainda) estão assentadas numa estrutura social historicamente conivente com a violência privada, a desigualdade social, econômica e jurídica e os “déficits de cidadania” de grande parte da população. Como se não bastasse toda uma ordem político-institucional e cultural geradora da exclusão e do afastamento de grandes parcelas da população dos direitos de cidadania, o período ditatorial (1964 – 1985) acentuou o esfacelamento de uma cultura democrática em construção ao enfatizar o controle do Estado em relação às chamadas “classes perigosas”. Em boa medida, o conceito da “doutrina de segurança nacional” criado durante a Ditadura Militar continuou vigorando na estrutura de nossos sistemas estaduais e federal de segurança. Até meados da década de 1990, o modelo e as ações de segurança pública se limitavam à contenção social, a partir do preceito de que “lei e ordem” públicas derivariam no uso da força, das armas e das ações policiais pela exclusiva via da repressão. Em síntese, segurança como “coisa de polícia”. O autoritarismo, característico desse período, conjugou-se com práticas clientelistas e patrimonialistas - que remontam da formação social e política nacional – na con32 | Vox Objetiva formação de um sistema público de segurança claramente a serviço de determinadas classes sociais, com o aval da legalidade dada por parte do Estado. Tal situação perdurou mesmo depois da promulgação da Constituição Federal de 1998. Percebe-se que nas lacunas deixadas pelas políticas de proteção e promoção da cidadania, coube às corporações policiais não só a intervenção, mas também a interpretação, com discricionariedade, de sua função social e de como tal deveria ser exercida. Os impasses institucionais, principalmente aqueles relativos às alterações substantivas não efetuadas nas estruturas organizacionais das agências responsáveis pela execução das políticas de segurança (polícias, sistema prisional, judiciário, etc.), emperraram a possibilidade de mudanças estruturais – que seriam fundamentais para a superação dos velhos paradigmas que sustentam a política de segurança pública brasileira. Sob o ponto de vista conceitual, só muito recentemente tal política passou a ser entendida como direito de cidadania (superando fase anterior que tratava a segurança exclusivamente como política de controle social pelo Estado). A principal modificação foi-se constituindo a partir da assunção do conceito de segurança cidadã, que privilegia o papel da sociedade civil na relação com a política de segurança pública, velando pela observância das garantias Robson Sávio Reis Souza Filósofo especialista em Segurança Pública (CRISP/UFMG) e professor da PUC Minas [email protected] fornecidas no âmbito do Estado de Direito e a busca da implantação de novos princípios e valores que fortaleçam a segurança democrática. Dar novo conceito à segurança significa considerar que o centro da mesma é o cidadão. Entendida como um bem público, a segurança cidadã refere-se a uma ordem cidadã democrática e permite a convivência segura e pacífica. Não obstante essas mudanças na concepção e nas tentativas de implementação de novos paradigmas na política, as alterações nas agências executoras da segurança pública foram pontuais. As estruturas e a cultura repressiva dessas agências do subsistema de segurança ainda rechaçam todo tipo de reformas. Ou seja, apesar da mudança na política, houve pouca (ou quase nenhuma) transformação nas ações de segurança pública, na ponta. Isso aponta para um delicado paradoxo: como as mudanças nessas agências foram pontuais, apesar das alterações substantivas no âmbito da formulação e da implementação da política, os velhos paradigmas sobre os quais foram erigidas as bases do sistema de segurança ainda se refletem, com evidência, nos elevados indicadores de criminalidade, nos desarranjos do sistema de Justiça criminal, na desconfiança nas instituições desse sistema e na sensação de medo e insegurança que campeiam nas nossas cidades. meio ambiente SALVE A SERRA Expedição mostra a vida e a destruição no Parque Estadual da Serra do Rola Moça e no cartão-postal de Belo Horizonte, a Serra do Curral O s troncos cobertos por carvão, a mata seca reduzida a cinzas e os animais queimados vivos próximos ao Parque Serra do Curral, no Mangabeiras, contrastam com a vegetação ainda verde e sinais de Mata Atlântica e cerrado preservados. Mas, até quando? Com os recentes incêndios na região, fauna e flora foram parcialmente arruinados, embora estes não sejam os únicos responsáveis por deteriorar a paisagem, marcada por serras solapadas, ilhada por arranha-céus e possivelmente cortada por novas vias de acesso. Por isso, a Vox Objetiva seguiu o professor universitário e vereador belo-horizontino, Adriano Ventura (PT), pelo segundo dia de expedição organizada pelo próprio. Esperado por todos os participantes da caminhada, o prefeito Marcio Lacerda (PSB) se desculpou, em mensagem enviada ao vereador, mas não seguiu pelas trilhas. Uma oportunidade de, em três horas, conhecer melhor um dos patrimônios mineiros, perdida em virtude de outros compromissos. Nós, porém, aproveitamos o convite e partimos das antenas do Belvedere, na manhã do dia 29 de setembro até o Parque das Mangabeiras a fim de conferir de perto a situação da área. Especulação imobiliária Nos primeiros passos pela trilha já se percebe o quanto os arranha-céus mudaram a paisagem típica da Serra do Curral. Principalmente do lado de Nova Lima, vizinha à Belo Horizonte, a construção civil intensifica o desmatamento, e, consequentemente, torna a Região Metropolitana ainda mais quente. Uma tese do geógrafo Wellington Lopes, da UFMG, comprova esta sensação. No último século, a temperatura na capital mineira subiu 1,5 Cº e o ar se tornou quase 10% mais seco. “O Barreiro é a região mais fria da cidade. E o que está acontecendo hoje no local? A família dos Álvaro Antônio, dona de parte dos terrenos, briga há anos na Justiça para conseguir a liberação e levantar prédios na região”, expõe Ventura, consternado. Alguns metros caminhados e o legislador para. Adriano pede a atenção dos envolvidos na expedição para o cenário ao redor da trilha. Não é difícil perceber vigas, tijolos, andares já esboçados ao longo do trajeto que une as antenas de TV e rádio no Belvedere até o Parque das Mangabeiras. “Há toda uma área de preservação que Nova Lima está liberando para construção e enterrando a Serra. Mesmo que Belo Horizonte queira preservar, eles liberam”, argumenta o vereador, que complementa. “Há uma construtora e uma mineradora negociando um terreno para levantar 15 edifícios na região. Infelizmente, a especulação imobiliária prevalece. Não é a toa que apartamentos são vendidos aqui por mais de R$ 1 milhão”. Os ambientalistas sempre questionaram o fato de as construtoras terem erguido prédios na área que é patrimônio natural, paisagístico e arqueológico. Em julho passado, a Justiça até determinou que a Prefeitura de Belo Horizonte não aprovasse mais projetos para edificações no Belvedere III. Em 2000, a área foi considerada o maior canteiro de Vox Objetiva | 33 Luiza Villarroel Lucas Alvarenga meio ambiente obras do país, tal a velocidade das construções. Porém, enquanto há quem brigue por povoar ainda mais o local, 100 caminhões sobem e descem da rua Alcides Pereira Lima, via de acesso controlado às antenas da Serra, carregando muita terra todos os dias, segundo moradores. Conscientização é a saída Embora solapem a Serra do Curral, não são apenas a construção civil e as mineradoras a destruir a vegetação local. Os incêndios criminosos se tornaram rotina na região. Tanto que o último em que, supostamente, seis jovens teriam ateado fogo em uma das áreas de preservação, consumiu mais de 2.500 metros quadrados de vegetação entre os dias 25 e 26 de setembro. A situação agravou desta vez em virtude da escassez de chuvas na capital mineira. Foram mais de 100 dias sem precipitações. Luiza Villarroel Falhas no combate Aliás, de perto, falhas que vão desde a prevenção até o combate do fogo se tornam mais evidentes. Instalado em 2003 pela Vale, o projeto de hidrantes, com 16 bases espalhadas ao longo de 1,5 quilômetro do topo da Serra, falhou. Devido à ação de vândalos, fios e bombas foram furtados, restando apenas alguns canos. Razão de reclamação por parte da Fundação. Dos canhões, apenas dois funcionam. O problema é que brigadistas precisam levar o equipamento de 20 quilos por ntura riano Ve ador Ad vere Mandato Mandato Luiza Villarroel vereador Adriano Ve ntura 34 | Vox Objetiva Com o tempo seco, a bióloga e mestre em Ecologia pela UFMG, Ludmila Brighenti, lembra. “Até uma lata de alumínio pode dar início a um incêndio. A vegetação rasteira, os ventos e a baixa umidade do ar colaboram neste quadro”. Um efetivo de 25 brigadistas da Fundação Municipal de Parques, junto ao Corpo de Bombeiros, tentou controlar as chamas, que destruíram, principalmente, o Parque Serra do Curral. Conforme o presidente da Fundação Municipal de Parques, Luiz Gustavo Fortini, embora haja uma campanha de conscientização com faixas espalhadas pelo Parque das Mangabeiras, vândalos continuarão atuando na área de preservação. “A fiscalização percorre constantemente com o veículo da Fundação. Há, inclusive, um sistema de câmara de vídeo. Mas, quando a pessoa está mal intencionada, não há o que fazer”. Ao chegar ao Mangabeiras, porém, constatou-se poucas destas faixas apontadas por Fortini. uma trilha de 100 metros de uma base à outra. O resultado é que as chamas se alastram com a demora. De acordo com a Vale, a mineradora instalou o sistema em 2003 por deliberação própria. A ideia era que o projeto pudesse auxiliar os Bombeiros a combater o incêndio. Semanalmente, os dois canhões restantes são acionados e disparam água pelo terreno, a fim evitar queimadas. A água é bombeada da Mina de Águas Claras, situada no Parque Serra do Curral. Conforme a assessoria da empresa, dependendo da necessidade, os canhões têm de ser deslocados, fato confirmado pelos Bombeiros. Fortini garantiu que a Vale já entrou em contato com a Fundação para estudar uma forma de reparar as bases danificadas. Carta da Serra Para que os incêndios e a região não sejam esquecidos após o controle das chamas, o vereador Adriano Ventura (PT) encaminhará um ofício ao governador do estado, ao prefeito da capital e ao Ministério Público Estadual com sugestões e relatos sobre o atual estado da área que compreende o Parque Estadual do Rola Moça e a Serra do Curral. A intenção é discutir o assunto, há muito esquecido na Câmara Municipal. “O objetivo é permitir com que Belo Horizonte possa, com a Copa do Mundo, atrair recursos para o Parque Serra do Curral e para outros próximos a ele, como o da Serra do Rola Moça. As pessoas precisam ter a noção exata da importância destas áreas, dos cuidados necessários, do zelo. Por isso, a carta. Coletivos como o Movimento Pró-Lagoa Seca já chamam atenção para isso. Nós, do legislativo, temos que fazer nossa parte”, salienta Ventura. Vox Objetiva | 35 cavalos PEQUENO As variáveis porte e lucratividade são inversamente proporcionais quando o assunto é cavalo pônei; sem dúvidas,os pequenos podem representar grande lucro para criadores André Martins E les são conhecidos basicamente pela baixa estatura. Para ser considerado um pônei, o cavalo não pode exceder 1,45m de altura das patas até a cernelha – ponto que liga o dorso ao pescoço do animal. A tendência do chamado mercado “pet” é de constante miniaturalização. É quase inacreditável. Por meio da manipulação genética, já foram criados cavalinhos de assustadores e modestos 70 centímetros. Naturalmente não têm serventia senão para a exibição em feiras e festivais. “É uma curiosidade do homem chegar a um limite. O estatuto da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Pônei estabelece apenas altura máxima”, explica o su36 | Vox Objetiva perintendente de registro genealógico da ABCCPônei, Murilo Sérgio Gomes Torres. A genética veterinária desafia a ciência, entretanto as experiências nem sempre são bem sucedidas. “A partir do momento em que essa manipulação causa problemas de má-formação, o animal não pega registro”, explica. O pônei é um tipo de cavalo que encanta crianças e adultos pelo aspecto compacto e personalidade dócil. Ele tem fama de “bonzinho”, mas assim como em qualquer espécie animal, existem também cavalos arredios. Os criadores, por razões óbvias, selecionam os de temperamento mais flexível. É grande a variedade de porte, pelagem e de atividades que po- André Martins NOTÁVEL dem ser realizadas por estes pequenos notáveis. Dentre os muitos tipos de cavalo, a raça brasileira, originária do cruzamento entre os pôneis escandinavos – Shetland – com os de descendência bretã – Falabella –, vem ganhando destaque em todo o mundo. No Brasil, os criadores estão espalhados nas regiões sul, sudeste e nordeste, majoritariamente. O sucesso da tropa nacional pode ser explicado pelo fato dos exemplares tupiniquins aliarem os traços finos dos animais argentinos e uruguaios à força dos exemplares do norte da Europa, inicialmente usados como força motriz nas minas de carvão no norte da Inglaterra. Os pôneis brasileiros não pos- do calendário da instituição concessionária do Ministério da Agricultura. Brincadeiras como a prova das botas ou cadeiras são feitas no dorso dos animais e garantem a diversão dos visitantes. O pônei é um brinquedo vivo. A gente só vai parar de vender quando parar de nascer criança. Fabrício Borges, fazendeiro e empresário Mercado Fabrício Borges lembra com detalhes do dia em que o pai, criador da raça manga larga marchador na Bahia, o presenteou com um pônei, em 1976. Na ocasião ele tinha apenas cinco anos de idade. Não fazia ideia do que aquele pequeno animal que o acompanhou ao longo da infância e juventude, morrendo aos 27 anos, desencadearia em sua vida. Hoje Fabrício já tem mais trinta anos de experiência como criador. Em 2001, veio para Minas Gerais, local estratégico para o “despacho” de suas “mercadorias”. Instalou-se com parte do plantel na cidade de Confins, onde mantém um haras que é referência na compra e venda de pôneis. O fazendeiro e empresá- André Martins suem apenas uma bela aparência, com crinas fartas, sedosas e pelagens exóticas. Donos de uma estrutura óssea e musculatura resistentes, são exímios “puchadores”, ideais para passeios de charrete. Um animal de 1,10m (tamanho médios dos brasileiros) carrega, com facilidade, um adulto e duas crianças. Embora sejam ótimos para os trabalhos de tração, os pôneis não são os mais indicados para passeios cadenciados. O trote dele é descompassado e causa desconforto. Em provas esportivas de galope, baliza ou com tambores, contudo, os cavalinhos são “tiro e queda”. Agilidade é a característica que garante o show nas exposições promovidas pela ABCCPônei ao longo O plantel de Fabrício Borges varia de 80 a 100 animais. O número nunca é certo, pois a todo momento animais são negociados Vox Objetiva | 37 cavalos rio baiano negocia lotes de animais para todas as regiões do Brasil. Não seria exagero dizer que muito do que tem hoje, foi “dado” pelos pequenos companheiros. Na relação custo/ benefício, a criação de pôneis se apresenta como uma das mais atrativas e rentáveis do mercado equestre. “No local onde se cria um cavalo de grande porte, cria-se três pôneis”, explica Fabrício. Uma área de cinco metros quadrados é o suficiente para que o animal viva bem. A economia do pônei não se restringe apenas ao espaço ocupado por ele. Todos os gastos com alimentação são, obviamente, menores se comparado ao dispêndio com os cava- los grandes. O pônei ingere, diariamente, 10% do peso corporal em matéria seca. A facilidade de manter o bichinho é tamanha que acaba gerando um grande problema. “Hoje as pessoas têm comprado pôneis para enfeitar jardins. Então quem acaba criando o animal é um jardineiro que não tem nenhuma instrução, nunca ouviu falar de cavalo e que não tem nenhum conhecimento em relação ao temperamento do animal. Virou um bicho de estimação”, explica Murilo. Os valores envolvidos nas negociações de pôneis não são maiores que os associados aos cavalos de grande porte, entretanto, Fa- brício assegura que o percentual de lucro é bem maior. Os preços variam de acordo com o condicionamento físico do animal, o sexo e características como a cor da pelagem. Um animal castrado, para lazer, custa de R$ 1,5 mil a R$ 3 mil. Já os animais voltados para a reprodução, que, necessariamente, precisam ter uma linhagem, têm o preço “inflacionado”. Garanhões estão avaliados de R$ 20 mil a R$ 50 mil reais e as eguinhas saem a um preço médio de R$ 15 mil. O custo diferencial entre machos e fêmeas é justificável. Enquanto as éguas dão a luz a apenas um potrinho ao ano, um reprodutor pode fertilizar até 100 éguas. Cabeça de cavalo grande 38 | Vox Objetiva cinco, oito anos e diz ‘Toma aqui, um cavalo para você brincar’. Ninguém faz isso quando se trata de um bicho de grande porte, mas com o pônei o pessoal faz isso. Entretanto, ele não sabe que é menorzinho. Ele é cavalo igualzinho o outro”, alerta Murilo Sérgio. Toda e qualquer atividade que envolva crianças e os mini equinos deve ser supervisionada. “Há quem diga que o pônei é um animal nervoso, assustado. Mas não existe cavalo que não fique alterado na mão de crianças, porque elas falam alto, correm muito, gritam, puxam o rabo, dão tapa, fazem bagunça. Cavalo nenhum gosta disso”. André Martins Na Europa é regra. A iniciação de crianças na equitação acontece por meio dos cavalos de pequeno e médio porte. Parece sensato. Caso aconteça algum acidente, o trajeto até o chão é menor assim como, possivelmente, o dano gerado pela queda. Até completar 12 anos e estarem capacitados(as) para montar animais maiores, os pequenos cavaleiros ou amazonas frequentam aulas orientadas. Por causa de sua pequenez, muitas vezes o pônei é visto como um animal que não oferece perigo. Um equívoco. “Cavalo não é cachorro e nem gato. Não é um animal que você entrega a uma criança de quatro, meteorologia O MAIOR DESERTO DO MUNDO Quando se pergunta qual é o maior deserto do mundo, a resposta quase sempre é a mesma: o deserto do Saara. Com uma área de 9.065.000 km2, esse vasto deserto africano é a região mais quente e desértica do mundo. As chuvas podem acontecer muito raramente na forma de temporais, depois de longos anos de seca. A variação de temperatura diária é grande. Não raramente, enquanto à noite os termômetros registram -5ºC, a tarde os mesmos medidores indicam tórridos 50ºC. Devido à circulação geral da atmosfera, há cinturões de baixas e altas pressões no globo. Na região equatorial o ar é ascendente, formando um cinturão de baixa pressão – é a região que mais chove na Terra. Na latitude de 30° o ar é descendente, formando um cinturão de alta pressão – os desertos estão sempre associados a esta zona de alta pressão. Na região de 60° existe um novo cinturão de baixa pressão, é onde se localiza e se formam as frentes frias. Na região dos pólos, o ar é descendente, devido à alta pressão. Portanto, é de se esperar poucas chuvas nas regiões polares. A Antártica ou Antártida está localizada quase que inteiramente dentro do círculo polar antártico. A camada de gelo pode chegar a 3,7 km de espessura. O continente Antártico, possui área superior a 14.000.000 km2. A radiação solar que chega na superfície durante o verão no Hemisfério Sul é quase que totalmente refletida pela camada de gelo. O ar descendente Prof. Dr. Ruibran dos Reis Coordenador do Minas Tempo [email protected] dificulta a formação de nuvens, assim a precipitação média varia entre 20 e 70 mm/ano. Devido à influência das correntes marítimas, as zonas costeiras apresentam temperaturas mais amenas, com uma média anual de -10ºC. A menor temperatura do mundo, -89,2 °C, foi documentada na base russa de Vostok a aproximadamente 3.400 metros de altitude no dia 21 de julho de 1983. Para a meteorologia, regiões desérticas são aquelas com baixo volume de precipitação. Normalmente nós associamos a palavra deserto com baixo índice de precipitação, mas principalmente a locais com grande volume de areia. Portanto, o maior deserto do mundo não é o Saara, mas o continente antártico. Vox Objetiva | 39 comportamento UM ATO DE NOBREZA Quase trinta mil animais esperam por novos donos em Belo Horizonte. Conheça os ativistas que levantam a bandeira da adoção e do amor que independe de condição e raça André Martins André Martins 40 | Vox Objetiva O olhar cambiava entre o canil e uma grande gaiola. O impasse havia se estabelecido na cabeça do pequeno Davi Augusto. Entre um vira-lata pequeno e um grande, o menino seguia um raciocínio lógico: “o maior já é um pouco mais independente, se fico com ele, menor será a minha responsabilidade”, maquinava. A mãe, Selma Lopes, tentava dissuadir o filho e convencê-lo a levar para a casa o filhote. Assim como tantos outros que esperam atrair o olhar de potenciais donos, o cãozinho havia sido abandonado na companhia dos irmãos na noite daquela segunda-feira no portão principal da ONG Cão Viver. Sob a promessa da mãe, que “daria uma mãozinha” na criação do animal, Davi concordou e, após ouvir os conselhos da veterinária, acolheu o presente do sétimo e mais marcante aniversário nos braços. “Que tal, Rex?”, sugeriu prontamente como nome. Foi por meio da internet que a avó de Davi, Maria Auxiliadora Alves Valente, chegou até a Cão Viver e pôde realizar o sonho do neto. Hoje, diversas redes de adoção estão espalhadas pela web tentando disseminar a ideia do acolhimento daqueles que foram abandonados. Além da possibilidade de procura virtual e visita aos locais que desenvolvem trabalhos dessa natureza, a Prefeitura Municipal, em parceria com organizações não governamentais, promove feiras itinerantes de mês a mês. São iniciativas de fôlego. A Adote um Amigo, por exemplo, já promoveu o acolhimento de mais de 320 animais desde o início dos trabalhos, em maio. “A população e imprensa de Belo Horizonte nos apóia muito. Sempre há quem queira adotar, ajudar, se voluntariar. Existem situações em que uma pessoa não leva o animal para casa, mas contribui com ração ou medicamentos”, explica Maria Antonieta Pereira, coor- Amor exigente A maioria dos cães para adoção não tem raça definida e já não possuem traços de filhotes. Estes são fatores fundamentais, que, via de regra, inviabilizam a adoção. Qualquer semelhança com o comportamento humano não é coincidência. Quanto mais velho o animal, menores são as chances dele ser amparado. “Na maioria das vezes, as pessoas querem um animal novinho, bonito, porque elas são muito inseguras e precisam que tudo delas seja muito elogiado, para que se sintam amadas”, entende a voluntária. Se por um lado muitos colocam condições para adotar, os voluntários, para os quais não há diferenças entre raças de cachorros e gatos, também seguem um código rigoroso antes de confiar o bichinho ao novo dono. “Para uma pessoa adotar um animal ela tem que passar por um protocolo, por uma entrevista e assinar um termo de responsabilidade. Além disso, cobra-se uma vacina a título de contribuição com o trabalho e também para analisar a questão sócio-econômica do indivíduo, a fim de saber se ele tem condições de manter esse animal”, esclarece Franklin Oliveira, ativista ambiental. Para a psicóloga Eliana Bueno, a chamada guarda responsável, que valoriza a importância do animal e o respeito para com ele, é resultado de um longo processo histórico e social. “Antes não havia preocupações, a não ser por parte de uma minoria, com o bem estar e com a integridade física dos bichos. Hoje já há um movimento nesse sentido, que reconhece e enfatiza a necessidade de preservarmos esses seres, punindo os abusos e crueldades cometidos contra os mesmos”, analisa. Violência e abandono A trajetória de Franklin Oliveira na defesa dos animais teve início há quase de 30 anos. Em 1982, Para Franklin, o poder público tem evoluído na forma de enxergar os animais abandonados. Em especial os cachorros de rua. “Há cinco anos ainda existia a famigerada câmara de gás no Centro de Controle de Zoonoses. Os animais eram mortos pela inalação do monóxido de carbono. Era uma morte muito sofrida. Por intervenção do Ministério Depois de muito pedir, Davi Augusto ganhou um presente há muito esperado, e que atende pelo nome de Rex André Martins denadora do projeto Ninho dos Bichos, participante da feira. As organizações de proteção animal, que juntas se articulam para a realização dos eventos, possuem lógica de funcionamento similar. Após a captura dos bichos, eles são conduzidos às clínicas parceiras onde recebem o tratamento veterinário que demandam. De lá, partem para canis ou casas de voluntários até estarem disponíveis para a exibição nas feiras onde tentam a sorte de encontrar um novo lar. ele presenciou a uma manifestação de avicultores na Avenida Paraná, onde refugos eram queimados vivos em protesto pelo baixo valor do frango. A cena, de tão impactante, não sai da cabeça mesmo tendo se passado tanto tempo. “Eu era pequeno. Naquele dia não restou nada senão chorar”, relembra. Lutar contra os maus tratos, o abandono e o comércio de animais acabou se tornando uma ideologia de vida desde então. Aos 12 anos, Franklin começou a atuar como voluntário e aos 18 se tornou ainda mais engajado e ativo, acionando a Polícia e repassando denúncias que chegavam a ele por meio de cartas. Ele nunca fez exigências ou pensou duas vezes antes de socorrer cavalos, gatos e, principalmente, cães em situação de risco. Público ela foi destruída”, detalha. Mas ao longo das três décadas de militância, as tristezas são mais numerosas que qualquer outra coisa. Em meio às histórias dos muitos cães que vão parar nas mãos deste incansável ajudante de São Francisco de Assis e que são disponibilizadas no blog mantido por ele (franklineumassis.blogspot.com), o caso de Lira comove de modo particular. A cadela se recupera bem da cirurgia de remoção do que sobrou do globo ocular esquerdo, atingido por uma pedrada. Para Maria Antonieta, o ser humano pode ser muito cruel na relação com outras espécies. Os animais que dão entrada nas clínicas parceiras do projeto Ninho dos Bichos, quase sempre chegam estressados, feridos, com vermes Vox Objetiva | 41 e sarnas ou portando doenças. Geralmente a “solução” nada racional dos donos diante dos problemas físicos é a traumática expulsão do bicho do ambiente domiciliar. “O relacionamento entre o homem e os animais pode ser saudável ou doentio, sendo que o ser humano tem uma parcela de responsabilidade muito maior em estabelecer qual dos dois será determinante. Quando se instituem relações inadequadas, os donos passam a tratar o animal com crueldade, negligência e muitas vezes o abandonam”, ressalta a psicóloga Eliana Bueno. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde, Belo Horizonte possui uma população de cães de rua estimada em 10% da população canina domiciliada. Isso corresponde a, cerca de 30 mil cães. “Acredito que quando não se deseja mais o animal, é preciso encontrar outro dono para ele. Do mesmo jeito que há pessoas que têm coragem de colocar animais doentes para fora de casa, há tam- André Martins Franklin Oliveira dedica-se inteiramente à defesa animal, uma história iniciada há quase três décadas bém quem tem coragem de acolher um ser nestas condições. Eu mesma conheço várias pessoas que adotaram animais debilitados por O que a gente está fazendo é uma gota d’água em um oceano. É uma forma de encontrar uma saída para os animais abandonados em Belo Horizonte Maria Antonieta Pereira, ativista ambiental perceber a dificuldade que estes enfrentariam para encontrar novos donos”, aclara Maria Antonieta. As trocas estabelecidas, especialmente com cachorros e gatos trau- matizados, podem funcionar como uma terapia natural, em que as duas partes saem ganhando. “O animal é uma fonte de distração poderosa, o que, comprovadamente, tem um efeito regulador sobre o humor. Além disso, é um ser que depende dos cuidados do ser humano, tornando-se uma companhia constante. Ele também facilita a expressão de afeto e carinho, principalmente naquelas pessoas que, por medo de rejeição, críticas e abandono, inibem sua expressão”, pontua a psicóloga. Dedicação total Na cobertura em que mora, Maria Antonieta abriga 11 cachorros e 15 gatos. “Meus vizinhos vão todos para o céu, porque nunca reclamam e entendem perfeitamente porque tenho tantos bichos”, brinca. Não raramente, encontra um animal ou outro abandonado na porta de casa. Para ela, as 24 horas do dia são sempre insuficientes. Levanta 5h30 e só volta para cama na madrugada do dia seguinte. Sempre há um animal a mais para se dedicar. “Muitas coisas eu só faço à noite, porque não sobra tempo”, elucida. Isso inclui, por exemplo, conceder entrevistas. Se a quantidade de seres vivos que habitam a casa da professora aposentada causa surpresa, é preciso ponderar que o número não chega perto dos 58 cães e 11 gatos que entram e saem num ritmo frenético da casa de Franklin. Ao colocar o pé na rua, o “risco” do ativista voltar com mais um animal nos braços cresce consideravelmente. “A gente fica com o coração na mão, né? Muitas vezes queremos resgatar, pegar, mas há momentos que não dá por não haver mais espaço em casa. Vou embora com o coração partido. É algo bem costumeiro, repetitivo. E aí fico na torcida, pedindo para as forças do universo, para que os santos e os anjos tomem conta do bichinho”. Quer adotar? www.adoteumamigo.org.br franklineumassis.blogspot.com 42 | Vox Objetiva psicologia UM OLHAR SOBRE AS CRIANÇAS Escrevo este artigo como um grito, como um forte alerta aos pais ou responsáveis pelas pessoas em grande desenvolvimento psíquico e físico: as nossas crianças e pré-adolescentes. Elas são o futuro da sociedade, e o que temos visto assusta muito. Preciso dar este grito que sai da minha alma, pois tenho atendido em consultório crianças e pré-adolescentes sendo violentados em suas próprias casas, sendo destruídos naquilo que temos de belo: nosso corpo, nosso templo, nossas emoções. Trata-se de um assunto que muitas pessoas sabem que acontece, mas preferem ignorar e “tampar o sol com a peneira”. Alguns pensam assim: “É algo distante da minha realidade, imundo, que não devemos falar a respeito”. Não, minha gente! Vamos mudar o pensamento e o olhar sobre as crianças. Segundo Piaget, as crianças passam por fases em seu desenvolvimento, são estes processos que permitem a construção da sua interação com o mundo. Portanto necessitam de respeito, amor e compreensão em cada fase. Não se pode cobrar delas algo além ou aquém, mediante sua idade maturacional. Ou seja, um adulto deve ter discernimento para não invadir e/ou destruir sua construção natural. Sabemos que os “criadores” possuem o poder tanto para salvar uma vida, como também para adoecê-la. Devido ao fato da criança ser uma pessoa em desenvolvimento, ela não se encontra preparada psicológico e fisicamente para receber qualquer estímulo sexual. Esta violência perversa causa um profundo dano emocional e gera até mesmo doenças mentais crônicas e devastadoras. Infelizmente, temos visto crescer algo que muito se fala, mas pouco se faz no Brasil. Crianças e pré-adolescentes sendo abusados por pais, padrastos, vizinhos, professores, pessoas próximas. Não importa a classe social. Isto acontece em todas e tem repercutido nos consultórios como uma avalanche de sintomas em crianças e também em adultos que resolveram tratar este foco de angústia guardado, muitas vezes, como um tabu por muitos anos. Numa linha geral, uma criança pequena, de cinco anos ou pouco mais, mesmo quando conhece e gosta da pessoa que a abusa, sente se em profundo conflito entre a lealdade para com o agressor e a percepção de que essas práticas são terrivelmente más e desconfortáveis a ela. É comum tais crianças terem os conflitos internos intensificados e experimentarem sensações que lhe parecem anormais. São sentimentos ruins, provenientes do mundo adulto. Sentimentos com os quais elas não conseguem lidar como, por exemplo, a solidão, a melancolia constante e o abandono. Quando os abusos sexuais ocorrem na família, a criança pode ter muito medo da cólera do parente abusador. Medos intensos de vingança, retaliação, da vergonha dos outros membros da família, ou, o que é pior, o temor de a família se desintegrar ao descobrir “aquilo que ninguém pode saber”. A criança vítima de abuso prolongado usualmente desenvolve uma perda violenta do amor próprio, tem a sensação de ser uma pessoa inadequada, usada e adquire uma representação anormal da sexualidade. Podem se transformar em adultos abusadores de outras crianças, também se inclinarem para a prostituição ou desenvolverem outros sérios problemas emocionais quando adultos. Comumente as crianças abusadas ficam aterrorizadas, confusas e Maria Angélica Falci Psicóloga clínica e especialista em saúde mental [email protected] muito temerosas de contar sobre o que ocorre e para piorar este quadro de horror, infelizmente, algumas mães fazem “vista grossa” para não perderem a companhia dos abusadores. Preferem negar aquilo que acontece “debaixo do seu nariz”, ou seja, perder a qualidade de vida emocional do seu filho do que perder o companheiro, o que é uma realidade cruel e absurda aos nossos olhos. Como grave consequência, a criança pode tornar-se muito introvertida, desenssiblizada, com forte tendência à perda de confiança em todos os adultos e de se sentir tão mal nesta situação que passa a considerar o auto-extermínio como o alvo da solução deste desconforto. Principalmente quando existe a possibilidade da pessoa que abusa ameaçar de violência se a criança denunciar ou negar-se aos seus desejos. Como alerta, podem ser percebidas mudanças bruscas no comportamento, alterações no apetite, no sono, no humor, no rendimento escolar, podendo ser um indício de que alguma coisa esteja acontecendo, principalmente se a criança se mostrar abatida, isolada e perturbada em sua exposição social ou perto de uma pessoa específica. Temos feito atendimentos, relatórios, reuniões, confirmações de casos aos conselhos e muitas vezes poucas resoluções são tomadas na parte jurídica, quase sempre se trata de casos conhecidos de várias instâncias de que a criança se encontra em risco, mas nada acontece e ela fica ali naquele ambiente cruel, sendo devastada em seu íntimo, sentindo-se um ser humano sem possibilidades. Sociedade, vamos dar um grito juntos! Vamos lutar por nossas crianças. Fiquem em ALERTA. Ajudar uma criança é fazer muito! Vox Objetiva | 43 everystockphoto.com A HUMANIDADE CONTRA O CÂNCER A doença ataca com cada vez mais força, mas a ciência corre atrás do prejuízo e promete não deixar barato Fernanda Carvalho 44 | Vox Objetiva ciência A cura para o câncer talvez seja a maior de todas as buscas da ciência. Várias pesquisas são divulgadas anualmente na tentativa de, pelo menos, tratar de forma mais ágil os pacientes. Cientistas já fizeram todo tipo de estudo em busca da cura ou da aceleração do tratamento. Até mesmo substâncias como o ecstasy já foram testadas. Pesquisadores da Universidade de Birmingham, na Grã-Bretanha, potencializaram em 100 vezes a capacidade da droga de combater células cancerosas. Estudos anteriores já haviam comprovado a capacidade da substância, mas não nessa magnitude. A pesquisa testou, em laboratório, a reação celular do linfoma de Burkitt - agressivo e de rápido crescimento de células que amadurecem na medula óssea - à droga, e concluiu que as células sanguíneas cancerosas poderiam ser destruídas. Cientistas dos Estados Unidos e de Cingapura foram mais longe. Analisaram formas de inserir anticorpos dentro das células do tumor. A terapia é chamada de alvo molecular, porque atinge, especificamente, as células cancerosas. Já foi comprovado que a quimioterapia não discrimina células sadias de doentes. Por isso, os pacientes perdem os cabelos quando submetidos ao tratamento. O estudo foi coordenado pela pós-doutora Qi Zeng, do Instituto de Biologia Molecular de Cingapura. O teste, realizado com camundongos, foi bem sucedido. Mas a ideia é ir além da aplicação terapêutica. O objetivo é que ele funcione como base para a elaboração de uma espécie de vacina preventiva contra o câncer. Esta estimularia o organismo a se defender da doença. Enquanto estes anticorpos não são desenvolvidos, a metástase – disseminação da doença pelo corpo – continua sendo um dos piores efeitos do câncer. Estima-se que a proliferação das células doentes seja responsável por 90% das mortes relacionadas à enfermidade. Pes- quisa desenvolvida pelo Institute of Cancer Research, em Londres, em parceria com estudiosos da França, descobriu a causa deste mal. Uma proteína chamada JAK desencadeia contrações nos tumores, o que permite que as células cancerígenas sejam arremessadas por pequenos orifícios e se espalhem pelo corpo. O processo pode acontecer de duas formas. A célula cancerosa força a própria saída ou, em alguns casos, o tumor induz a formação de uma espécie de corredor que propicia a passagem e disseminação das células no organismo. De acordo com os pesquisadores, a descoberta é importante para que drogas que atinjam a proteína sejam produzidas Cerca de 12 milhões de pessoas são diagnosticadas doentes todos os anos pelo mundo. O número equivale a, aproximadamente, cinco vezes a população de Belo Horizonte. com o objetivo de impedir a disseminação de tumores. Um levantamento realizado por vários centros oncológicos, inclusive o Hospitais das Clínicas da UFMG e o Lifecenter, apontou uma forma de otimizar o tratamento contra câncer de próstata. No teste elaborado com mais de 900 homens, as substâncias Alpharadin e placebo foram associados à radioterapia. De acordo com o coordenador da equipe em Minas Gerais, o oncologista André Murad, os pacientes tratados com a nova droga tiveram sobrevida de 14 meses, enquanto os outros, medicados com placebo, viveram 11,2 meses. A teoria na prática A busca é incessante, mas o sonho de descoberta da cura para o câncer parece inatingível até mesmo para a tão evoluída e criativa ciência moderna. Apesar de ela avançar e apresentar novas formas de tratamento todos os anos, no Brasil, poucas dessas pesquisas se tornaram reais. De acordo com André Murad, um longo tempo se arrasta entre o projeto e a comercialização do resultado dos estudos. Para que isso se efetive, fazem-se necessários anos a fio de trabalhos complexos e pesquisas com milhares de pessoas. Além disso, tem que haver um acompanhamento da população em teste, para que se tenha comprovação da positividade dos resultados. “Quando uma pesquisa é publicada, nós ficamos muito felizes. Mas, demora anos até ela poder ser utilizada no dia a dia. Por isso, ainda não temos nenhuma dessas drogas no comércio”, salienta Murad. No Brasil, também existem análises relevantes sobre o combate ao câncer. O problema, porém, está na chegada dos tratamentos até as classes menos favorecidas. “Nós pesquisamos, mas o SUS não tem disponibilizado esses tratamentos mais sofisticados porque são caros, tanto os medicamentos como os exames. A radioterapia, por exemplo, não está disponível”, revela o médico. Na rede particular de saúde é diferente. Quando a droga é aprovada, os convênios são obrigados a custear. A doença em números Definir o câncer pode parecer irrisório, mas a verdade é que a doença ficou um longo tempo sem uma conceituação clara por parte dos especialistas. Câncer é o nome genérico dado a um conjunto de mais de cem doenças. Em comum, tais enfermidades têm o crescimento desordenado de células malignas que invadem tecidos e órgãos. Da mesma forma que se alastram pelo corpo, os cânceres aumentam a incidência pelo mundo. Vox Objetiva | 45 O lado B dos tratamentos contra câncer Como já dizia a Psicologia da Gestalt desde o princípio do século XX: o todo é mais do que a simples soma das partes. Para o holismo, essa mesma teoria se aplica: as propriedades de um sistema, quer se tratem de seres humanos ou outros organismos, não podem ser explicadas apenas pela soma de seus componentes. Na explicação do câncer e em seu tratamento, essa mesma ideia se aplica, em todas as etapas. De acordo com a terapeuta holística, Vilma de Oliveira, nós somos divididos em quatro corpos: o físico, o mental, o astral e o respiratório, ou vital; e o câncer é o maior desequilíbrio dessas quatro partes. Cada uma dessas divisões, segundo a medicina chinesa, é representada por quatro elementos: metal, água, fogo e ar; e o que comanda esse movimento, o que equilibra, é o elemento terra. “Então quando tem esse desequilíbrio, você tende a cair no campo. As células irregulares começam a destruir as demais”, explica. Para a terapeuta holística, as principais causas emocionais do câncer são a tristeza e a mágoa. “É lógico que vai ter um monte de fatores ambientais que vão justificar o aparecimento da doença, como radiação e alimentação deficiente”, afirma. “Mas se não tiver a tristeza e a mágoa, o câncer não se desenvolve”. Assim como na teoria Psicológica da Gestalt, o tratamento holístico não trata da doença, mas sim do indivíduo, do seu reequilíbrio como um todo. O meio depende dos diferentes tipos de sintomas que o paciente irá apresentar. “Meu tratamento é completamente voltado para a pessoa, não só no psicológico, como também no físico. Se não tiver desestrutura física, a pessoa não chega a ter a do- Cerca de 12 milhões de pessoas são diagnosticadas doentes todos os anos. O número equivale a, aproximadamente, cinco vezes a população de Belo Horizonte. De acordo com dados divulgados pela ONG World Cancer Research Fund, os casos de câncer aumentaram 20% na última década. Desses 12 milhões de casos anuais, 2,8 milhões estão relacionados a hábitos de saúde (má alimentação e falta de atividade física). Uma realidade que, segundo a ONG, deve piorar dramaticamente nos próximos dez anos. O oncologista André Murad detalha a razão para o aumento no nú46 | Vox Objetiva ença”, afirma a terapeuta. “Esse tratamento é feito com homeopatia, em primeiro lugar, e também com ortomolecular”. O princípio fundamental que rege a homeopatia é a lei da similitude: semelhante cura semelhante. Dessa forma, uma vez conhecidos os sinais e sintomas do paciente, torna-se possível medicá-lo com algo pelo qual demonstre semelhança. Já o tratamento ortomolecular (orto=certo, molecular=moléculas – acerto das moléculas) tem o objetivo de restabelecer o equilíbrio químico do organismo, através de substâncias e elementos naturais, sejam vitaminas, minerais ou aminoácidos. “O diagnóstico, eu faço a partir da iridologia e sempre procuro acompanhamento médico: acompanho os exames do paciente e mando análises para os médicos. Nunca faço o tratamento sozinha”, explica a terapeuta. A iridologia é o estudo da íris, parte do olho composta por padrões, cores e características específicas, utilizada para medir condições gerais da saúde de uma pessoa, como doenças e alterações em determinados órgãos. Para a ex-paciente oncológica, Rosa Helena Caixeta, o mais importante durante o período de tratamento é o calor humano. “Foi um período de muita reflexão. Voltei mais para os valores espirituais, coisas que até então não valorizava tanto”, comenta. Ela aconselha às pessoas que têm a doença, que cuidem da auto-estima e que aceitem a doença. “Pois nada acontece por acaso. É importante encarar a realidade, não desesperar e fazer daquele período um aprendizado”, reflete. “E evitar mágoas, depressão, stress e má alimentação”. mero de casos. As chances de se adquirir algum tipo de câncer aumentam com a idade. Outro fator é que, ao contrário do que acontecia antigamente, hoje existe a precisão nos diagnósticos. A terceira explicação, é, segundo Murad, a mais importante. Diz respeito precisamente aos hábitos de vida contemporâneos. Má alimentação, muita comida industrializada, carboidratos, carnes em conserva, proteína animal em excesso, enlatados. As pessoas estão ingerindo cada vez mais alimentos que podem provocar cânceres e, ao mesmo tempo, comem em menor quantidade o que protege. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 realizada pelo IBGE, mais de 90% dos brasileiros comem poucas frutas, verduras e legumes. O INCA também alertou para esta realidade: brasileiros estão ingerindo menos de um terço dos alimentos recomendados na prevenção de câncer. Se a realidade fosse oposta, 19% dos casos das doenças poderiam ser evitados. A população de obesos também cresce. Para 2015, a projeção é que haja um aumento de 75% nos casos de obesidade no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. A estimativa é de que 2,3 bilhões de pessoas terão excesso de sxc.hu peso, enquanto 700 milhões serão obesas. De acordo com Murad, a obesidade por si só já causa câncer. A União Internacional de Controle do Câncer estima que, nos países ocidentais, 30% dos casos da doença estejam ligados ao sedentarismo e ao excesso de peso, o segundo fator de risco mais incidente. O avanço tecnológico também colabora para a acomodação e sedentarismo. O número de carros vendidos cresce anualmente. Além disso, grande parte da frota agora é vendida com vidros elétricos e direção hidráulica. Tudo para o maior conforto. Dentro de casa, o mesmo acontece. O portão e a televisão são acionados por controle remoto. O interruptor fica próximo à cama. O elevador leva do primeiro andar ao segundo em todos os novos edifícios, e até em algumas casas. Tudo colabora para a lei do menor esforço e para o aumento do sedentarismo. A obesidade só fica atrás do cigarro. O número de mortes devido ao uso do tabaco chegou a 4,9 milhões, anualmente. Número que pode chegar a 10 milhões em 2030, segundo dados do World Health Organization de 2003. A notícia boa é que na maior capital brasileira, São Paulo, um levantamento promovido pelo Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas) divulgou que o número de pessoas que fumam dois ou mais maços por dia teve queda de 31%, entre 2009 e 2010. Uma possibilidade que deveria ser considerada por todos os fumantes, já que, segundo o Dieese, uma pessoa poderia economizar R$ 1.728 anualmente caso parasse de fumar um maço diário aumento correspondeu a quase o dobro da modificação observada em todo o século XX. Entre as mulheres do sudeste brasileiro, o câncer mais incidente é o de mama, segundo dados do INCA. O tipo também representa o segundo mais frequente no mundo e o mais comum entre as mulheres. Todos os anos, aproximadamente, 22% dos novos casos de câncer em mulheres são de mama. Os fatores associados à doença é a vida reprodutiva da mulher: primeira menstruação precoce, primeira gestação acima de 30 anos, anticoncepcionais orais, menopausa tardia e terapia de reposição hormonal. Mas um estudo realizado em 2008 por pesquisadores japoneses abriu a possibilidade para um outro tipo de causa. O estudo, realizado pela Escola de Graduação de Medicina Tohoko University, analisou 24 mil mulheres com idades entre 40 e 79, durante oito anos. Cento e quarenta e três foram diagnosticadas com câncer de mama nesse período. Todos os anos A descoberta foi que várias pesquisas são desenvolvidas na tentativa mulheres que dormiam de desvendar os mistérios seis ou menos horas por que envolvem os cânceres noite tinham 62% mais chance de desenvolverem o câncer se comparadas às mulheres com maior tempo de repouso. Em homens, o tipo de câncer mais comum na maioria das regiões do Brasil é o de pele. Na região Sudeste, o risco estimado é de 53 para cada 100.000 pessoas. A taxa mais alta é a do Sul do país, onde o risco é de 85 para cada 100.000 pessoas. O câncer de pele ainda é considerado o mais costumeiro no Brasil, para os dois sexos. O segundo tumor maligno que mais atinge os homens brasileiros é o de próstata, com 52 mil casos registrados somente no ano passado. com preço médio de R$ 4,80. Um fator natural têm sido uma das maiores ameaças aos países mais próximos à linha do Equador. No Brasil, o câncer mais frequente é o de pele, correspondendo a cerca de 25% de todos os tumores diagnosticados nos quatro pontos do país. O maior agente causador do problema é o sol. O tão estudado aquecimento global aumenta ainda mais as chances desse tipo de doença. De acordo com um estudo realizado pelo America’s Climate Choices, nos últimos cem anos a temperatura da superfície do planeta aumentou, em média, 0,8 ºC, sendo dois terços desse acréscimo correspondente apenas às últimas três décadas. Parece pouco, mas os oceanos já mostram os efeitos disso. Segundo pesquisas da Nasa, o nível global do mar subiu cerca de 17 centímetros no século passado. Mas, apenas na última década, o Vox Objetiva | 47 vox tecnologia MENOS DOIS CONCORRENTES GTA III EM NOVOS FORMATOS Divulgação 48 | Vox Objetiva Reprodução A Google anunciou em seu blog oficial o fim dos concorrentes do Facebook e do Twitter: a rede social Buzz e o Jaiku, serviço de microblog. Conforme o vice-presidente de produtos da Google, Bradley Horowitz, a empresa irá focar no Google+ daqui em diante. Ainda de acordo com Bradley, é preciso agir com honestidade sobre o passado e ter o foco no futuro. A declaração se refere ao fato de o Buzz ter usado, inicialmente, os contatos listados na conta de e-mail de usuários para formar os amigos da nova rede social. O fato, porém, incomodou muitos internautas que dispunham do serviço. Apesar de a Google ter desfeito rapidamente tal configuração, em março passado, a Comissão Federal do Comércio dos EUA informou que a empresa concordou com a determinação de uma denúncia de que usou “táticas enganosas e que violou seus próprios compromissos de privacidade quando lançou a sua rede social, o Google Buzz, em 2010”. Usuários do Buzz e do Jaiku, comprado pela Google em 2007, terão a possibilidade de exportar seus dados. O Grand Theft Auto III, popularmente conhecido como GTA, completa 10 anos de lançamento nos Estados Unidos no final de outubro. Para celebrar a data, a produtora Rockstar anunciou o relançamento do game de ação original de PlayStation 2 em versões para as plataformas iOS e Android. O jogo ainda não tem preço definido, por conta do processador A5. Entre as plataformas da Apple, apenas o iPhone 4S e o iPad 2 rodarão o game. Já no Android, aparelhos como o Droid X2, o HTC Evo 2, o LG Optimus 2X, o Motorola Atrix, o Samsung Galaxy S2, o Acer Iconia, o Asus Eee Pad, o Motorola Xoom e o Samsung Galaxy Tab 10.1 aceitarão o GTA. Inovador para a época, o jogo apresentou um mundo aberto, que colocava o jogador para realizar missões no mundo do crime. Dentre elas estava pegar, ou roubar, qualquer carro e até criar o caos nas ruas da cidade. Um boneco do herói do I, Claude, também será vendido. O preço está fixado em US$ 150. Ele virá com uma roupa extra e armas presentes no jogo. sxc.hu UM BRASIL CONECTADO Agora é oficial. Um acordo de US$ 8,5 bilhões selou a compra do Skype por parte da gigante Microsoft. O fechamento do negócio veio exatamente sete meses depois da criadora do Windows ter anunciado a aquisição, em São Francisco, nos Estados Unidos. A multinacional criada por Bill Gates e Paul Allen em 1975 contava com o serviço de conversas online em voz e em vídeo para alcançar alguns dos mercados mais aquecidos de tecnologia e mídia. Estes incluem áreas de socialização via internet, celulares e vídeo digital. Só no ano passado, cerca de 17 milhões de usuários do Skype conversaram aproximadamente durante 207 bilhões de minutos de chamadas de voz e vídeo no ano passado, algo próximo a 400 mil anos de conversas via web. A gigante do ramo da tecnologia também garantiu que o serviço de chat irá operar como uma divisão dentro da empresa. O CEO do Skype, Tony Bates, está se juntando à Microsoft para comandar a divisão. Ele terá que se reportar ao presidente-executivo da adquirente, Steve Ballmer. Reprodução Um estudo realizado pelo Comitê Gestor da Internet, o CGI.br, aponta que até 2015, 80% dos lares brasileiros deverão dispor de acesso à rede mundial de computadores. Atualmente, apenas 27% dos lares estão conectados, de acordo com informações do Comitê. No Brasil, o total de residências que tem computador é de 35%. Projetos como o Programa Nacional de Banda Larga, a ascensão social já registrada na era Lula e a criação de novos planos de acesso capazes de incluir as classes mais baixas poderão colaborar na massificação das conexões. A pesquisa também revela que, até 2014, é possível que quase 100% da população brasileira com internet navegue por alguma rede social, a exemplo do Facebook, Twitter, Orkut ou blogs. Hoje, 67% dos internautas brasileiros usam sites de relacionamento. Em apresentação no I Fórum da Internet no Brasil, realizado em São Paulo, o conselheiro da empresa responsável pelo levantamento, Demi Getschko, ponderou que é necessário criar medidas que garantam às empresas conhecer os hábitos de navegação de seus usuários sem comprometer a liberdade de uso. PARA FALAR ALTO NO MERCADO Vox Objetiva | 49 aviação MUDANÇAS DE REGRAS ANAC X EMPRESAS AÉREAS A partir de 2012, os passageiros de aviões comerciais poderão avaliar melhor as condições de cada empresa e serviços prestados pelas companhias aéreas no Brasil. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) está criando, até novembro deste ano, uma série de novas normas que melhoram a qualidade dos serviços oferecidos aos passageiros ou, pelo menos, obriga as companhias a fornecer mais informações na hora de viajar. De acordo com o diretor-presidente da Anac, Marcelo Guaranys, estas mudanças estão em fase de implementação ou mesmo de elaboração. Veja a seguir alguns exemplos: Mais controle sobre horários de voos Atualmente, o controle é mais rígido apenas na primeira decolagem de um avião, que pode fazer, no mesmo dia, diversas partidas e chegadas em diferentes cidades. A nova regra deverá estender-se aos aeroportos de Congonhas, Guarulhos, Brasília e Confins, que operam com capacidade saturada em determinados horários do dia. A intenção da Anac é forçar as companhias aéreas a atender bem seus passageiros. Se isso não acontecer, a empresa poderá ser substituída após novo leilão desse direito. Novo índice de regularidade e pontualidade As companhias aéreas serão obrigadas a cumprir à risca seus horários previstos e informar a regularidade dos voos na hora da venda da passagem. Essa possibilidade é avaliada pela Anac e deve ser implementada nos próximos meses. Pontualidade, sobre os 50 | Vox Objetiva atrasos, e a regularidade, sobre os cancelamentos dos voos. A ideia é que o passageiro tenha informações sobre os serviços prestados e ele saiba que pode até aceitar pagar mais caro por um voo que não atrasa. Informação sobre tamanho de poltronas na hora da compra Para aumentar as informações disponíveis sobre os voos, a Anac deverá fornecer no momento da compra das passagens os dados sobre a distância entre as poltronas no avião escolhido para a viagem (o chamado pitch). Hoje, essa informação já é obrigatória dentro dos aviões onde é oferecida em uma escala entre A e E, o chamado selo Anac. Check in compartilhado por companhias Já em uso experimental em alguns aeroportos, a Anac prepara para os próximos dias a divulgação de norma que instituirá o check in compartilhado. Por ele, o passageiro que chega ao aeroporto poderá usar qualquer balcão de check in, independentemente da companhia, para registrar sua partida. Essa estratégia desafoga a infraestrutura escassa dos aeroportos e também torna mais fácil a entrada no mercado de novas companhias, uma vez que elas não têm de bancar a estrutura de check in para atender poucos passageiros em horários restritos apenas. Depois de baixada a norma, as empresas deverão ter prazo de 60 dias para se enquadrar na previsão. Mais acessibilidade e melhor atendimento Até novembro, será totalmente implantada a Regulamentação do Serviço de Atendimento ao Consu- Alessandro M. Correia Comandante de voo [email protected] midor de Transporte Aéreo (Reatar). Por essa norma, companhias aéreas e demais prestadores de serviços terão de atender requisitos mínimos mais rigorosos no relacionamento com os passageiros. Um deles é ter nos aeroportos equipe e local específicos para se ouvir críticas e reclamações. Mais multas por falhas No ano passado foram arrecadados R$ 17,4 milhões em multas, enquanto que em 2007 foram apenas R$ 800. Antes as multas eram mais frequentes por motivos de qualidade de serviços. Agora se concentram mais em questões de segurança e tecnicidade. Novas concessões de aeroportos em 2011 Até o fim do ano o Governo quer fazer concessões para gestão e ampliação dos aeroportos de Brasília, Guarulhos e Viracopos. Com isso, a agência espera que esses três aeroportos se desenvolvam e atraiam empresas para centralizar neles suas operações futuras. Novas regras para perda de bagagem Até o fim do ano, a Anac também quer reformular as regras para os casos de extravio de bagagem. Hoje, só depois de 30 dias do voo em que foi perdida a bagagem é considerada, de fato, extraviada, o que obriga as companhias a pagar ao dono um valor equivalente aos bens presentes da mala. Serão revistos, por nova norma da Anac, tanto o prazo para se considerar o extravio quando o tempo de restituição e o prazo para indenização. carros TRADICIONAL E FUTURISTA Moderno e arrojado. O Cruze sedan 2012 é o mais novo ladrão de cenas da Chevrolet. O lançamento pretende substituir um nome de peso da montadora: o Vectra. Os traços são típicos de um Chevrolet, o design é moderno e o conforto proporcionado é grande. Com linhas de esportividade e luxo, o novo Cruze tem grandes probabilidades de se tornar um sucesso. A segurança impressiona. O conjunto de airbags frontais e laterais dá tranquilidade até mesmo aos passageiros. Na versão ULTZ, estão distribuídos pelo veículo, sendo dois ao lado, dois na frente e mais dois em um modelo semelhante a uma cortina, que ocupa as colunas laterais. O motor 1.8 Ecotec 6, projetado pela Alemanha em parceria com o Brasil, é o coração do veículo. São 16 válvulas, 144 cavalos de potência e torque de 18,9 MKGF. A tecnologia flex possibilita que o motorista escolha o combustível mais barato. O câmbio pode ser manual, com seis velocidades, ou automático, com um software que monitora até mesmo o uso dos freios. Esse sistema permite que o carro mantenha a velocidade sob a mesma marcha, em uma decida, por exemplo. A modernidade acompanha o modelo em todos os aspectos. Para abrir ou fechar o carro não é necessário o uso de chave. Basta aproximá-la do veículo dentro do próprio paletó. Um botão aciona a partida e desliga o motor. No display, o GPS e navegador integrados são acompanhados por mapas do Brasil e da Argentina, com reconhecimento de postos de gasolina quando o nível de combustível baixar. Reprudução Fernanda Carvalho Os freios são ABS, com sistema EBD e PBA de gerenciamento. Rodas de 17 polegadas de alumínio e um sistema que controla cada roda individualmente, evitando que elas girem em falso. Os faróis frontais reguláveis são acompanhados por mais um, específico, de neblina. Eles são acesos automaticamente quando a luminosidades está baixa. No interior, os bancos são de couro, com descanso de braço, porta-copos e entradas para equipamentos eletrônicos. O volante é leve, com direção hidráulica e piloto automático. No painel, o bluetooth tem a possibilidade de adição de agenda de contatos. A meta da fábrica é vender três mil veículos Cruze por mês, com um preço que varia entre R$ 67.900 e R$ 78.900. Mas a concorrência não está para brincadeira. Os japoneses Toyota Corolla e Honda Civic podem ser incômodas pedras no sapato do novo “Vectra”, que vai ficar lado a lado com o sul-coreano Hyundai Elantra. Vox Objetiva | 51 esporte ENTRE A INTUIÇÃO E A PURA MATEMÁTICA Em um ano crítico para o futebol mineiro, crescem as expectativas pelas projeções em relação ao Campeonato Brasileiro. Entenda como trabalham os homens que tentam desvendar o destino dos clubes chargebrasil.com André Martins 52 | Vox Objetiva F desses levantamentos que tanto atraem a atenção dos amantes do mundo da bola nos finais de campeonato. Em 2011, para o infortúnio das Gerais, a pontuação máxima pouco importa. O que todos mais querem descobrir é o mínimo para acertar o pé e a cabeça dos jogadores na luta contra aquela que pode ser considerada o limbo das divisões do futebol brasileiro: a temida série B. A pura e “simples” matemática Em 2005, o professor da UFMG, Gilcione Nonato Costa, fazia as contas. O Atlético Mineiro, time do coração, estava em maus lençóis. Amigos do departamento de matemática se juntaram a ele e, depois de muito divagar, a expressão “tragédia anunciada” começou a fazer todo sentido. A pontuação mínima à qual chegaram para que os times ameaçados escapassem da degola não foi alcançada pelo Galo. A confirmação da queda veio na última rodada, com um inesquecível e sofrido empate com o Vasco da Gama, em pleno Mineirão. Apesar da tristeza, algo de bom ficou daquele tempo. O projeto vingou e hoje o site “Possibilidades no Futebol” desvenda a matemática nos campeonatos Mineiro, Paulista, Brasileiro, e também na Fórmula 1. A metodologia adotada é puramente matemática. Com o passar das rodadas, os professores chegam aos perfis dos times se baseando na frequência de vitórias, derrotas e empates, dentro e fora de casa. Esse padrão passa por constantes mutações tão logo os times entram em campo. As dez últimas partidas de cada conjunto têm maior força, pois elas determinam a chamada “fase” – de ascensão ou queda – dos times. Quanto mais vitórias um determinado grupo acumula nessa amostra, maiores são as possibilidades de vitória no confronto seguinte. Se, por outro lado, as derrotas sobressaem, as chances de queda crescem. A título de exemplificação, analisemos o confronto direto entre Cruzeiro e Atlético, na 38ª e última rodada da competição, levando em consideração os números e índices de rendimento dos clubes computados até a 30ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2011. Até o fechamento desta edição, o time celeste, mandante do jogo, possuía probabilidade de vencer, em seus domínios, de 18,57%; 34,53% de empatar; e 46,9% de sair derrotado. O carijó, em contrapartida, tinha 11,88% de chances de vencer como visitante; 17,27% de empatar; e 70,85% de tropeçar fora de casa. Cruzando os resultados e fazendo uma média simples, chega-se às seguintes possibilidades: Probabilidades de... Cruzeiro (VM) 18,57% (EM) 34,53% (DM) 46,9% Atlético (DV) 70,85% (EV) 17,27% (VV) 11,88% 89,42% 51,80% 58,78% 2 2 2 + ÷ + (V) 44,71% V – vitória E – empate D – derrota VM – vitória como mandante EM – empate como mandante DM – derrota como mandante ÷ (E) 25,9% + ÷ (D) 29,39% DV – derrota como visitante EV – empate como visitante VV – vitória como visitante Vox Objetiva | 53 Fonte: http://www.mat.ufmg.br alta muito pouco para os torcedores conhecerem o desfecho do Brasileirão 2011. No tocante ao futebol mineiro, os analistas não divergem que falta o que faz os espetáculos e os campeões – um futebol vistoso ou apenas descente. Ninguém discorda também que Minas vive uma era de vacas magras. Não é preciso ouvir o apito final para concluir que o futebol mineiro passa pelo pior momento de sua história. Em maio, no início da competição, torcedores falavam em títulos, briga pelas vagas na Libertadores e, volta e meia, sentenciavam o time rival à série B. Ninguém poderia cogitar a hipótese de que as pragas fossem fortes demais e assolassem a casa dos três grandes de Minas. Hoje, América, Atlético e Cruzeiro protagonizam uma intensa e desesperadora luta contra o descenso. A essa altura do campeonato, se um deles escapar, mesmo sem beliscar aquela modesta e, inicialmente assegurada, vaga na Sulamericana, é preciso dar-se por satisfeito. Entre uma rodada e outra, os times alimentam uma lógica que envolve empates, eventuais vitórias e amargas derrotas. O futuro pode guardar surpresas, é verdade, mas a possibilidade do trio se encontrar em outra divisão, em 2012, só aumenta na medida em que a competição encaminha para o fim e os resultados não vêm. Em São Paulo, o futebol apresentado pelos mineiros já é motivo de piada. “Corre à boca pequena” que a Série B se tornará a Série BH. Quisera os torcedores afoitos e apreensivos poderem prever o futuro e dar um basta na aparentemente infindável angústia. No futebol, a única bola que define o destino dos times é a convencional. Na falta da conhecida e esotérica bola de cristal, muitos depositam as esperanças nas projeções feitas pelos matemáticos. É uma forma de “descansar” o espírito ou ir se aquecendo para encarar um outro ritmo. A Vox Objetiva foi atrás daqueles que tentam enxergar o futuro para saber como funciona a lógica André Martins Para Gilcione Nonato, integrante do projeto “Possibilidades no Futebol”, da UFMG, probabilidade não é prognóstico, mas sim diagnóstico O Cruzeiro tinha 44,71% de chances de derrotar o Atlético, enquanto o alvinegro possuía apenas 29,39% de surpreender o arquirrival. A probabilidade de empate era de 25,9%. Isso quer dizer que num universo de 100 simulações para um jogo nessas condições, o Cruzeiro sairia vitorioso em 44 delas. Certamente, às vésperas desta partida, esses números não serão os mesmos. Até lá, os clubes enfrentam outros sete adversários e o perfil de cada um tende a mudar. Realizando esse minucioso estudo de caso para cada jogo, os matemáticos, auxiliados por um software, definem possíveis vitoriosos e derrotados em cada confronto. A partir dos resultados, estrutura-se uma tabela essencialmente matemática. Ela serve para se projetar a quantidade de pontos necessária para um determinado objetivo dentro da competição: título, Libertadores, Sulamericana ou fuga do Z4. Para o professor Gilcione Nonato, não seria correto questionar índices de acerto em relação a levantamentos matemáticos, afinal, eles são apenas organizações lógicas do que cada time indica ou permite inferir em relação ao próprio futuro dentro do campeonato. “Probabilidade não é prognóstico, é diagnóstico”, entende. 54 | Vox Objetiva Quando tudo pesa O administrador esportivo Alexandre Siqueira faz uso de outro método para tentar amenizar o afobamento e a ansiedade dos torcedores. Ele só dá início à série de deduções a partir do momento em que os times começam a abrir certa vantagem uns sobre os outros. É o mais coerente, uma vez que nas primeiras rodadas de um torneio de pontos corridos, um clube não apresenta grandes variações em relação aos seus oponentes. Além de contar com os cálculos matemáticos, Siqueira “coloca na balança” uma gama de “conceitos abstratos, subjetivos, da medida do ponderável e do imponderável”, explica. No linguajar dos matemáticos, ele “modela” o número. A performance ao longo da competição; o desempenho dentro e fora de casa; o “momento” do conjunto e dos adversários; e a análise dos confrontos anteriores entre equipes são determinantes para se estipular possibilidades. Para que o resultado, de fato, aproxime-se ao máximo da realidade, Siqueira é obrigado a acompanhar o dia-a-dia dos clubes. Eleições, queda de treinadores, venda de jogadores, conflitos extra-campo, tudo é analisado criteriosamen- te e pode influenciar dentro das quatro linhas. “O trinômio realidade, futuro e dedução só se cruzam se as rodadas não desmentirem as possibilidades”, explica. Coisa que não é difícil de acontecer. O improvável não é algo digno de descarte. O caso mais alusivo para essa certeza é o do Fluminense, em 2009. Da 10ª à 28ª rodada, o time apresentou uma queda vertiginosa de rendimento por fatores como venda de peças centrais e as inconvenientes trocas de técnicos. Restando apenas dez jogos para o fim, a imprensa, pautada pelos analistas esportivos e matemáticos, decretava a derrocada do tricolor. Naquele ano, muita gente “pagou língua”. O Fluminense engatou e não perdeu mais, escapando do rebaixamento por um pontinho. “Isso acontece quando o time está ‘mágico’, quando tudo conspira a favor, inclusive fora de campo. Aquela bola que você acha que vai para fora, ela bate na trave e entra. Isso também é determinante para que um clube conquiste o título”, analisa. Assim como grande parte dos Para Alexandre Siqueira, praticamente tudo o que acontece dentro e fora de campo reflete na tabela André Martins matemáticos, Alexandre foi surpreendido pelo feito do Fluminense. Mesmo estando exposto às imprevisibilidades, ele arrisca e testa sua capacidade de análise e percepção dos momentos de cada um dos times no campeonato. “As deduções são momentâneas. Se você conversar comigo daqui a duas semanas, pode ser que passe a pensar de maneira diferente”, detalha. Com 12 anos de experiência, o administrador esportivo observa semelhanças, algumas matemáticas e outras nem tanto, entre edições do Campeonato Brasileiro. Os times com grandes sequências de triunfos ou cuja soma de vitórias e empates é superior ao de derrotas, são potenciais candidatos às vagas na Libertadores e fortíssimos aspirantes ao título. Para o rebaixamento, vale a relação inversa. “Isso acontece todo ano”, confessa. Na base do feeling A voz é familiar. A cada fim de rodada do Brasileirão, a Rádio Itatiaia empresta seus microfones, e Sávio Baião conseguiu credibilidade dentre os veículos e torcedores pela lucidez de suas análises, que são muito mais intuitivas que matemáticas André Martins os torcedores, os ouvidos, ao matemático Domingos Sávio Baião. Há quase quinze anos ele apresenta as possibilidades dos times mineiros a partir de hipotéticos resultados futuros. Baião é um dos precursores desse tipo de levantamento no Brasil. Tudo começou por volta do ano de 1995. Como a paixão pelo futebol era tão grande quanto pela matemática, ele decidiu unir as duas coisas. Estudar a situação dos times e avaliar chances a partir dos últimos confrontos dos conjuntos de Minas se tornou uma espécie de hobby. Baião faz uma espécie de modelagem simplificada. Ele, basicamente, analisa a situação atual de um determinado time, sua sequência de jogos e recorre aos históricos de confrontos. Não determina vencedores ou derrotados, mas deduz o que pode ocorrer diante das possibilidades de um jogo qualquer. “Não me importo com resultados. O que eu faço é apontar o que pode acontecer com cada um dos times mineiros caso eles vençam, empatem ou percam um jogo, relacionando isso a outros hipotéticos resultados da rodada”, explica. O bancário desenvolveu uma tabela para o rádio que facilita o trabalho. Com tantos anos de experiência, ele não faz muita força para enxergar o universo de alternativas. O matemático fala fácil e encara as participações no rádio com grande responsabilidade. Baião conhece o perfil dos torcedores dos clubes mineiros. É preciso saber como se dirigir a cada um deles. Ponderação e sensatez ele demonstra também em relação às estatísticas e às falas categóricas. “Sempre nas últimas rodadas eu me preparo muito para que eu não fale que uma equipe está fora do rebaixamento e alguém me prove, matematicamente, que ela tem risco de ser rebaixada. Muitas vezes a pessoa que está do outro lado recebe a informação para fazer uma comparação com o entendimento dela”. Embora adotem caminhos diferentes, os matemáticos mineiros possuem uma semelhança. Torcem para que a fase turbulenta vivida por América, Atlético e Cruzeiro, seja passageira e que essa história, cujo fim está marcado para o dia 4 de dezembro, tenha o desfecho menos triste possível. Para o bem dos times e do futebol de Minas. Vox Objetiva | 55 vinhos NÉCTAR FORTIFICADO N 56 | Vox Objetiva de 40 anos de produção. No processo de maturação do madeira, mais uma especificidade chama atenção. Os barris em que amadurecem não são completamente preenchidos para que o vinho oxide levemente e de maneira gradual, deixando-o mais elegante. Atualmente, 10% da produção desta bebida é destinada a vinhos finos. Para estes, utilizam-se quatro uvas diferentes, que ajudam a acentuar os estilos de madeira possíveis de serem encontrados. A sercial e verdelho são mais leves e frescas, já a bual e a malmsey, ou malvasia, produzem um vinho bom para ser servido com sobremesas fartas em chocolate. A maior parte dos vinhos da região é elaborada, porém, com a tinta negra mole. Peculiar, o madeira ainda registra histórias curiosas. É com um deles que a independência dos Estados Unidos foi brindada em 4 de julho de 1776, e, que, provavelmente, Thomas Jefferson comemorou sua vitória à presidência daquele país. Já na obra Henrique IV, de Willian Shakespeare, a personagem Falstaff foi acusada de negociar sua alma em troca de uma perna de frango e um cálice de vinho madeira. Por estas histórias e características é que vale a pena saborear um. Por isso, decante-o para evitar os sedimentos, e saúde! Reprodução em só do turismo vive o arquipélago da Ilha da Madeira. Por lá, desde a dinastia de Avis, responsável por tornar Portugal o primeiro estado burguês do mundo, um vinho fortificado conquista os paladares mais aguçados. Trata-se do madeira, bebida que leva o nome da província portuguesa, geograficamente localizada na África. O relevo acidentado, a proximidade do mar mediterrâneo e o solo de origem vulcânica, junto aos verões quentes e úmidos e invernos amenos, conferem às regiões produtoras de vinho na Madeira características particulares. Além das particularidades das vinícolas, outros detalhes compõem a produção desta bebida. Antes de sua fermentação completa, acrescenta-se aguardente de uvas, para que as leveduras não consumam os açúcares do vinho. Algo fundamental para que ele adquira um ponto de doçura. Na segunda metade do século XVII, este vinho compunha a lista de mercadorias levadas nos navios mercantes em direção de Portugal, e, com a temperatura, contraia aromas amendoados e de caramelo. Hoje, para acentuar seus tons e cheiros, armazena-se os madeira no sótão de armazéns para reproduzir a situação encontrada na era mercantil. Aquecido, o madeira descansa por um prazo mínimo de um ano. Este tempo é necessário para que a bebida se recupere do choque térmico. Depois disso, o vinho segue para o amadurecimento. Nesta fase, são necessários de 3 a 20 anos, sendo que aqueles, considerados de excelência, ultrapassam a marca receita TAJINE DE DOURADA COM GENGIBRE Receita de Antônio Abrahão Neto, chef da Casa de Abrahão Bistrô Árabe INGREDIENTES »» 2 colheres de sopa de azeite »» 2 cebolas bem picadas »» 4 dentes de alho picados »» 50 g de gengibre bem picados »» 2 talos de coentro bem picados »» 2 gramas de cúrcuma »» 1,2 kg de Dourada cortada em postas »» 1 litro de caldo de peixe »» 3 tomates grandes despelados e cortados em gomos »» 200 g de azeitona preta Divulgação »» 200 g de limão confitado »» 3 talos de cebolinha cortados em rodelas finas MODO DE PREPARO DO CONSOME Refogue a cebola e o alho no azeite, acrescente o gengibre e a cúrcuma. Junte as postas de peixe e cubra com o caldo de peixe. Adicione os tomates e cozinhe por cerca de 10 minutos ou até ficar macio. Finalize o prato com azeitonas pretas e fatias finas de limão confitado e cebolinha. Sirva com arroz branco. Observação Divulgação Tajine é uma panela de cerâmica, típica do Marrocos. Tem uma tampa cônica que propicia um calor concentrado para um cozimento lento de carnes vermelhas, peixes e legumes. Se você não dispor de uma tajine, use uma panela de barro, lembrando de cozinhar sempre com o fogo lento. Bom apetite! Vox Objetiva | 57 crônica SOU MAIOR DE IDADE: JÁ POSSO AMAR! Joanita Gontijo Jornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com [email protected] O casamento era entre um publicitário e uma jornalista. Esperava um convite fora do padrão e não foi surpresa receber um pequeno livro em papel couché com fotos pra lá de modernas. Os noivos não se esquivaram apenas da entediante cartolina branca em que os pais, e não eles mesmos, convidam para a cerimônia. O casal fugiu da tradição propondo um destino bem mais interessante para a relação do que a fatídica sentença “até que a morte os separe”. Na primeira folha do convite estava escrito “Com o tempo, hão de se tornar mais que marido e mulher. Poderão, quem sabe, se declararem maduros”. Uau! Que ousadia! A promessa não passava nem perto do enfadonho “ser fiel na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza”. Eles estavam dispostos a crescerem, se tornarem pessoas melhores, aprenderem um com o outro. Assumir o compromisso de ser tolerante sem esquecer dos próprios limites, recuar, às vezes, sem passar a vida andando pra trás, ser forte pra cuidar, e também permitir a fragilidade para receber apoio. Como definir uma pessoa madura? Responsável, disciplinada, ponderada, segura. Há quem discorde de algumas dessas características e inclua 58 | Vox Objetiva outras. Mas, salvaguardado o preciosismo do vocabulário, acredito que não errei tanto assim. Quem já está crescidinho também pode se dar ao luxo de selecionar amigos e programas, assumir preferências que contrariam o gosto geral, mudar de emprego, de cidade, de rumo, de vida! Será que temos sido assim nas nossas relações? Com o convite na bolsa, segui para uma festa de aniversário regada a cerveja gelada e vinis dos anos 80. Ao som de Locomia (se você não sabe do que se trata, procure no Youtube e se permita dar boas gargalhadas), fiz o que mais gosto: garimpar histórias alheias. Claro que, depois de algumas horas, o álcool já fazia efeito na maioria dos convidados e fui presenteada com vários casos de afetos mal correspondidos e relações em crise (algumas eternas, outras visivelmente passageiras). Conversei com mamães de primeira viagem que não se conformavam com a “pouca prática” dos maridos no cuidado com os bebês. Também fiz sessão de terapia trocando experiências com uma amiga recém-separada e tentando entender por que nossos casamentos haviam se tornado insustentáveis. Na pista de dança, entre uma coreografia e outra, ouvi reclamações de “ficantes” que teimavam em não assumir um compromisso mais sério e colocar de vez o rótulo de “namorado”. Se você pensa que a festa foi chata... esqueça! A vida real é um pouco repetitiva, mas muito divertida. A maioria dos conflitos amorosos me pareceu tão infantil que, tenho certeza, esses casais ainda vão rir muito do que estão enfrentando hoje. São alimentados pelo medo, intolerância, pirraça, teimosia. E olha que não havia ninguém por ali com menos de 25 anos! A verdade é que agimos como crianças. Damos tanta importância ao ciúme quanto uma menina que briga com a melhor amiga porque ela decidiu se aproximar de uma nova colega de classe. Cobramos perfeição mesmo sabendo que nós mesmos já quebramos alguns brinquedos sem intenção. Culpamos o outro pelo fim de um casamento como um garoto que chuta a canela do amigo acreditando que ele é o responsável pela derrota no campeonato escolar de queimada. Me incluo nessa turma de guris que merecem um puxão de orelha pelo mau comportamento. Se o encontro parece merecer sua dedicação, vale a pena assumir a maioridade emocional e prometer um ao outro ficarem juntos até que a vida os mantenha felizes! especial - tropa de elite O SERÁ QUE VAI? Tropa de Elite – o inimigo agora é outro. É o Brasil na corrida por vaga no Oscar. Depois de muitas escolhas questionáveis, enfim, o Ministério da Cultura acerta a pontaria André Martins ano de 2002 marcou a estreia de José Padilha na direção de cinema. A primeira obra assinada pelo carioca, o surpreendente Ônibus 174, narra a desastrosa operação da polícia carioca num sequestro a um coletivo no Jardim Botânico. Padilha conta a história de Sandro do Nascimento, responsabilizado pelos disparos que vitimaram a jovem professora Geísa Firmo Gonçalves no início da noite do dia 12 de junho de 2000. Dois anos após o “assassinato”, a indignação popular se arrefeceu, mas a ferida continuava aberta e era quase impossível não sucumbir à demonização do “criminoso”. Padilha podia fazer igual, mas decidiu contar a história por um viés diferente, evidenciando verdades que se vinham se diluindo em um poço de cólera e indignação. Com Ônibus 174, o diretor apresenta Geísa e Sandro como crias e vítimas de uma sociedade amedrontada e desigual. As obras subsequentes, Tropa de Elite e Garapa, mantiveram o tom denunciativo e documental. Enquanto o primeiro, vencedor do Festival de Berlim, em 2008, pinta o retrato da violência urbana no Rio de Janeiro e mostra a atuação do BOPE no combate ao tráfico de drogas, o segundo torna pública a pobreza e a fome no nordeste brasileiro. O segundo drama de Padilha, Tropa de Elite 2 – o inimigo agora é outro, não é propriamente um documentário, embora flerte com o gênero em muitos aspectos. Tropa 2 é ficção, mas, de alguma forma, subverte as regras dela. Como num jogo de idas e vindas, pode-se dizer que a obra é um quadro muito bem acabado da realidade. Treze anos após os acontecimentos do primeiro longa, Nascimento (Wagner Moura) agora é o Sub-secretário de Inteligência da Secretaria Estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro, posto alcançado devido a uma operação do BOPE numa rebelião a Bangu I, onde o impulsivo André Matias (André Ramiro) mata um dos principais criminosos do estado, desobedecendo as orientações de seu superior. O soldado é expulso da corporação, enquanto Nascimento é ovacionado pela sociedade. Infiltrado no sistema, ele tem a oportunidade perfeita para desarticular o crime nos morros cariocas. Entretanto, ao fazê-lo, Nascimento abre espaço para a emergência de milícias, bem como de políticos oportunistas que se beneficiam com a queda dos “algozes da sociedade”. O ódio e o desejo de justiça do protagonista explodem quando a situação, repentinamente, afeta sua vida pessoal. Cultuado desde o primeiro filme, Nascimento tornou-se uma espécie de herói pátrio por incorporar da maneira mais explosiva e enérgica, o cidadão justo e implacável contra o crime e a corrupção. Wagner Moura está incrível, sendo favorecido pela maior humanização de seu personagem, que, de maneira desajeitada, tenta se aproximar do filho Rafael (Pedro Van-Held). A narrativa é sólida, com uma assertiva relação temporal entre os eventos passados e presentes. Além disso, apresenta uma boa construção de personagens associadas a uma temática tão familiar que fizeram do longa o maior sucesso de bilheteria do cinema nacional. Em setembro, o Ministério da Cultura escolheu Tropa de Elite – o inimigo agora é outro como o representante brasileiro na disputa por uma vaga na categoria de melhor filme estrangeiro. Com raras exceções, a escolha foi comemorada pela crítica e pelos cinéfilos. O filme de Padilha desbancou produções como Assalto ao Banco Central, Bruna Surfistinha, Malu de Bicicleta e VIPS. A lista dos cinco filmes que disputarão o prêmio será anunciada no dia 24 de janeiro. A 84ª cerimônia de premiação do Oscar acontece no dia 26 de fevereiro de 2012. Vox Objetiva | 59 especial - tropa de elite A OPINIÃO DOS CRÍTICOS Leo Cunha Crítico do site Filmes Polvo Pablo Villaça Crítico e editor do site Cinema em Cena Entre os filmes brasileiros do ano passado, o meu preferido é Ex-isto, mas ele não teria chance alguma na Academia, por ser muito experimental, não linear, contemplativo. Sendo assim, eu concordo com a escolha do Tropa de Elite 2 , o mais próximo do que se espera de um concorrente ao Oscar de filme estrangeiro. Eu acredito que ele tem uma postura “ideológica” mais clara, menos ambígua do que o Tropa 1 (do qual eu, pessoalmente, até gosto mais). Essa “moral” mais clara pode ajudar o filme a ser selecionado entre os 5 filmes estrangeiros. Por outro lado, o primeiro filme foi mal recebido pela crítica norte-americana, o que pode comprometer a sorte deste segundo. Tropa de Elite 2 é, sem dúvida, um dos melhores filmes brasileiros lançados no último ano e, portanto, sua escolha como pré-candidato ao Oscar 2012 é coerente. Dito isso, o primeiro filme foi ignorado pela Academia, mesmo com vitórias importantes em festivais internacionais, é violento demais para o gosto dos eleitores e trata-se de uma continuação (algo que a premiação costuma não aprovar em suas categorias principais). Assim, as chances do filme de José Padilha não são as maiores, embora, por sua qualidade narrativa e técnica, mereça consideração. De todo modo, é melhor escolher um ótimo filme com poucas chances para nos representar do que repetir o que foi feito nos últimos anos, selecionando trabalhos medíocres apenas porque teoricamente teriam mais chances (e, como vimos, não tinham). Andrea Ormond Colaboradora da revista Rolling Stone e dona do blog Estranho Encontro Embora eu ache a obsessão de “oscarizarmos” nosso cinema fruto de certos equívocos dos anos 1990 que infelizmente perduram até hoje, é correta a escolha de Tropa de Elite 2 para representar o país. Ambos Tropa de Elite buscaram teses originais sobre a violência no Brasil e é notável que tenham alcançado um êxito tremendo com essa ótica assertiva. Os filmes de José Padilha representam marcos do cinema popular nacional e, como são fadados para a polêmica, seria curioso Tropa de Elite 2 se tornar o primeiro brasileiro a abocanhar o prêmio. Outros filmes chegaram melhor “respaldados” pela crítica e naufragaram (vide Central do Brasil). O fato é que Tropa de Elite 2 não piora nem melhora diante do Oscar. Ele se justifica pelos próprios acertos e erros, pela empatia bárbara que criou com o público. Marcelo Hessel Crítico do site Omelete Acho uma escolha acertada porque o filme já tem alguma estatura nos EUA, foi exibido em Sundance e no Festival de Los Angeles, mas tem que ser vendido como um filme isolado. Se a Academia encanar que é uma continuação (de um filme que lá ninguém conhece) as chances diminuem muito. Do filme em si eu gosto, acho mais articulado que o primeiro, embora a narração em off deixe tudo com cara de palestra de sociologia. 60 | Vox Objetiva Rodrigo Carreiro Editor do site Cine Repórter Acho que existem dois conjuntos de critérios bem distintos pra usar na seleção. O primeiro é o mérito artístico da obra (ou seja, se o filme tem qualidade e representa bem a produção nacional do ano em questão); o segundo tenta, baseado nas escolhas anteriores dentro da categoria de filme estrangeiro, levantar as chances reais de vitória dos nossos filmes, e selecionar aquele título que reúne as melhores condições. Pessoalmente prefiro o primeiro conjunto de critérios: o filme mais interessante e bem realizado deve ir à luta. Não se deve escolher nosso candidato por causa do tema, da estética, do nome do diretor. Acho que Tropa de Elite 2 é um filme interessante, que permite diversas leituras sobre nossa situação sócio-política e sobre nossa política de segurança, além de ser um filme bem realizado. Tenho lá minhas restrições - acho que a obra do José Padilha é excessivamente verborrágica (todos os filmes, não apenas esse), e construída sobre estruturas narrativas e escolhas estilísticas calcadas demais no filme americano de ação. Mas também não tenho dúvidas de que estamos falando de um filme competente, feito por gente que entende do riscado e com grande exposição internacional. Torço pelo filme. Não acredito que o Oscar seja entregue a uma sequência (isso é muito raro por lá), mas acredito que estamos bem representados, e isso é o mais importante. O BRASIL NO OSCAR CATEGORIA MELHOR FILME ESTRANGEIRO 1962 O pagador de promessas de Anselmo Duarte A primeira participação do Brasil no Oscar acontece 33 anos depois da criação da Academia, com O pagador de promessas, filme que ainda hoje é a única produção nacional a conquistar a Palma de Ouro no Festival de Cannes. A obra, protagonizada por Leonardo Villar e Glória Menezes, acompanha Zé do Burro, um homem humilde que, para agradecer a cura de um animal que muito estima, vende metade de sua propriedade e percorre 42 quilômetros até Salvador com uma cruz de madeira nas costas. Era uma penitência em agradecimento à graça concedida por Santa Bárbara. A extenuante saga ameaça tornar-se inconclusiva diante da resistência do padre local em permitir a entrada de Zé pelo fato deste ter feito a promessa em um terreiro de Candomblé. Esta é uma brilhante obra do cinema brasileiro. Um verdadeiro clássico atemporal que, há 50 anos, discutia a intolerância religiosa no Brasil. A França, com Sempre aos domingos, venceu na ocasião. 1997 O que é isso, companheiro? de Bruno Barreto No ano seguinte, era a vez do outro Barreto, Bruno, representar o país no Oscar com O que é isso, companheiro?. A história é baseada em fatos reais, se passando na década de 1960, quando o Brasil sofre o golpe militar e o Ato Institucional nº 5, o mais violento de todos, entra em vigor. A obra acompanha a elaboração e execução do plano de jovens do grupo MR-8que abraçaram a luta armada e lutaram pelo restabelecimento da democracia. A intenção era sequestrar o embaixador americano e, posteriormente, trocá-lo por prisioneiros políticos que sofriam todo o tipo de violência nos porões da ditadura. O filme contou com a participação especialíssima do vencedor do Oscar Alan Arkin, como o representante da diplomacia americana. Fernanda Torres, Luiz Fernando Guimarães, Cláudia Abreu e Pedro Cardoso compõem o elenco. Foi a terceira indicação e a terceira derrota. Caráter, da Holanda, levou a melhor. 1996 O quatrilho de Fábio Barreto Se a espera pela primeira participação foi demasiadamente longa, o Brasil teve de esperar ainda mais para voltar a competir. Trinta e quatro anos depois do feito de O pagador de promessas, O quatrilho, emplacava a segunda indicação na categoria. Aqui, o diretor narra a história de duas famílias de imigrantes italianos residentes em uma comunidade rural no estado do Rio Grande do Sul, no ano de 1910. As famílias decidem dividir uma mesma casa mantendo uma relação de trabalho colaborativa. Com o tempo, a mulher que encabeça uma das famílias se apaixona pelo patriarca da outra casa, sendo correspondida por ele. Os amantes fogem na tentativa de construir uma nova vida. O casal que permanece na casa tenta lidar com a desonra. Nesse meio tempo a amizade ganha outros contornos. No elenco: Patrícia Pillar, Glória Pires, Bruno Campos e Alexandre Paternost. O filme saiu derrotado pelo holandês A excêntrica família de Antonia. 1999 Central do Brasil de Walter Salles Em 1999, o país chegava com força no Oscar. Central do Brasil era o nosso representante. Além da indicação na categoria de melhor filme estrangeiro, o drama fez da dama do teatro e cinema nacional, Fernanda Montenegro, a primeira e única intérprete brasileira a conseguir uma nomeação na categoria de melhor atriz. Dora é uma mulher de meia idade que sobrevive das cartas que escreve na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. A vida dela muda totalmente quando encontra o pequeno Josué, um garotinho que perde a mãe em um trágico acidente de trânsito. Do contato seco e rude contato inicial, ambos vão tecendo uma amizade que mudará suas vidas por completo. O filme de Walter Salles tinha potencial, mas um dos maiores clássicos do cinema contemporâneos italiano, A vida é bela, se colocava no caminho. Montenegro também perdeu. A americana Gwyneth Paltrow venceu por Shakespeare apaixonado, uma conquista até hoje muito questionada. Vox Objetiva | 61 vox cultural estreias No escurinho do Atividade paranormal 3 Contágio Direção: Henry Joost e Ariel Schulman Gênero: Suspense Distribuidor: Paramount Estreia: 21 de outubro de 2011 Direção: Steven Soderbergh Gênero: Suspense/ Drama Distribuidor: Warner Bros Estreia: 28 de outubro de 2011 Em 2009 o mundo se surpreendeu com a lucratividade Atividade paranormal. O filme, realizado com pouquíssimos recursos – nada mais que 11 mil dólares – arrecadou milhões em todo o mundo. Parecia excessivamente experimental e, talvez por isso, a obra possuía um tom quase documental. Parecia um relato verídico, logo ainda mais assustador. Deu certo. Atividade paranormal 2 seguiu a mesma receita. Custou US$ 3 milhões, embolsou US$ 157 milhões. A franquia, conhecida por explorar ao máximo o terror psicológico, abriu mão, nos dois primeiros filmes, de recursos técnicos para materializar os elementos paranormais que tanto perturbavam o jovem casal Micah e Katie. Tudo ficava na base das imagens chuviscadas, das sombras e do movimento sinistro de objetos como portas e berços. Mas os truques baratos, parecem perder território em Atividade paranormal 3, em que o terror toma forma e sai da categoria de elementos puramente sugestivos. O filme volta aos anos de 1980, para investigar as motivações dos acontecimentos presentes. Os diretores reconstroem a infância da jovem e a relação com a irmã. Os pais, dispostos a desvendar o mistério, espalham câmeras em todos os cantos da casa e por meio das gravações percebem a presença de forças ocultas. A comentada cena da brincadeira no banheiro escuro, onde as meninas repetem duas palavras em frente ao espelho, promete fazer muita gente perder algumas noites de sono. É esperar para ver se, de fato, os diretores saíram da zona de conforto e fizeram algo que já não tenhamos visto. 62 | Vox Objetiva Gwyneth Paltrow, John Hawkes, Laurence Fishburne, Matt Damon, Kate Winslet, Marion Cotillard e Jude Law. Eles têm algo em comum. Todos são talentosos, premiados e já possuem uma carreira sólida em Hollywood. Contágio é outro elemento que os une. O filme, dirigido pelo vencedor do Oscar Steven Soderbergh, tem um elenco que causa inveja em qualquer realizador. Uma verdadeira constelação reunida em um único produto cinematográfico parece até sonho. O roteiro da obra, entretanto, soa familiar demais, aparenta fazer o tipo de filme catástrofe, a exemplo de Ensaio sobre a cegueira, Filhos da esperança, A estrada. Uma moléstia universal se espalha como praga e desafia a ciência e a humanidade a ponto de transformar a Terra em um ambiente apocalíptico, mórbido e inanimado. Talvez justamente por fazer alusão a obras não tão bem recepcionadas pela crítica ou por puro e tolo preconceito com o gênero, pensavase que todos os brilhantes atores citados haviam se metido em maus lençóis. Esperava-se uma bomba, mas não foi isso que aconteceu. A recepção não foi a que se esperava, mas o filme recebeu boas críticas na estreia, no Festival de Veneza. Contágio é um projeto visivelmente comercial, ainda que tenha sido inicialmente cotado para o Oscar, o filme parece perder força na medida em que o final do ano se aproxima e as maiores apostas chegam às salas de cinema. Por ora, o longa recebe menções em categorias técnicas, e nada mais nos, bancos de aposta. cinema A Pele que habito Direção: Pedro Almodóvar Gênero: Ficção científica/ Suspense Distribuidor: Paris Filmes Estreia: 4 de novembro de 2011 Pedro Almodóvar é, sem sombra de dúvidas, o grande nome do cinema espanhol. As obras lançadas pelo diretor são cultuadas e geralmente muito aguardadas. Todas, independente de gênero, possuem o DNA dele. Partindo desse princípio, A pele em que habito não aparenta ter nada de diferente. Ledo engano. Com o novo filme, Almodóvar abandona a fotografia quente e hispânica e os personagens cômicos, que volta e meia figuram em suas obras. Aqui o tom é outro. A pele em que habito, filme que abriu o Festival do Rio deste ano, é, tal como um dos personagens principais da obra, é um experimento, aparentemente muito bem sucedido. A história se desenrola no ano de 2012. Após perder a esposa em um acidente de carro, quando o corpo se reduz a cinzas, o famoso e competente cirurgião plástico Richard Legrand, vivido por Antônio Banderas, parte em busca do tecido epitelial “perfeito”, que poderia ter salvado a vida da companheira. O subtexto da obra mostra a incansável luta do homem pelo domínio da técnica; os absurdos avanços científicos como tentativa, quase uma fixação humana, por manipular o corpo e transcender os limites da vida e da morte. Assim como faz em Fale com ela, Tudo sobre minha mãe, Má educação, Almodóvar parece ter construído mais uma obra fantástica, precisa e emocionante. Uma observação: olho em Bandeiras. Segundo muito tem se falado, o espanhol não está menos que extraordinário. em e v e r b Potiche: esposa troféu Direção: François Ozon Gênero: Comédia Distribuidor: Imovision Estreia: 17 de novembro de 2011 1977. Suzanne (Catherine Deneuve) é o modelo de mulher tradicional, reclusa à casa e as tarefas domésticas. O marido (Fabrice Luchini) é o gestor dos negócios da família da esposa, uma fábrica de guarda-chuvas. Esses personagens estereotipados acabam trocando os papéis quando, diante de uma greve, a mulher constantemente censurada pelo marido, assume frente nas negociações com o operariado contando com o auxílio de um antigo affair, um político esquerdista interpretado por Gerard Depardieu. A comédia assinada por François Ozon faz graça com o lugar comum, mas não sucumbe a ele. Pelo contrário, o subverte ao narrar a história de uma mulher frágil que descobre que a vida estava para além do que imaginava. Em tempos de revolução sexual, Suzanne começa a perceber que o poder e o amor eram ideais disponíveis. Em Potiche as transformações sociais não são encabeçadas por mulheres fortes ou feministas coléricas. O diretor tem domínio absoluto da era em que o filme se desenrola. Um tempo em que os homens se mantinham alertas, sob a ameaça constante do sexo oposto, um perigo sem precedentes. O filme é cercado de expectativa. Também, pudera. Deneuve e Depardieu, talvez os maiores astros do cinema francês, juntos. Não podia mesmo ser diferente. Vox Objetiva | 63 Reprodução música COMPENETRADO E INATINGÍVEL COMO UM DEUS Depois de dez anos, Eric Clapton volta ao Brasil para confirmar a fama de mestre da guitarra Fernanda Carvalho D eus veio ao Brasil! Pelo menos para os fãs do maior rei da guitarra: Eric Clapton. O ídolo esteve em turnê no país e se apresentou em Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. A afirmação relembra o início da carreira do guitarrista, cantor e compositor, quando jovens alucinados com a genialidade do mestre começaram a pichar toda a Londres com a declaração: “Clapton is God” (Clapton é Deus). O guitarrista adentrou o palco do último show, em São Paulo, como se estivesse em casa. Com poucas palavras, apenas alguns thank you (obrigado) ao final das músicas, ele honrou as pichações nos muros londrinos na década de 1960. Tocou como um rei da guitarra, cantou como um original bluesman e se manteve distante, profissional e inatingível como um deus, para 45 mil 64 | Vox Objetiva pessoas, mais que a plateia de Porto Alegre e Rio de Janeiro juntas. A faixa etária do público presente variava entre 20 e 70 anos, tão vasto e amplo como a carreira do guitarrista. Com 66 anos, Eric Patrick Clapton tem quase a sua idade em número de discos lançados. Começou a carreira muito cedo. Com muita insistência, ganhou um violão da avó aos 13 anos. O instrumento era maior do que conseguia alcançar e ele não tinha a menor ideia do que fazer. Depois de muita dificuldade, aprendeu e foi se tornando, de forma autodidata, o Clapton, deus, de hoje, o rei da guitarra que se apresentou no Brasil e que deixará rastros na memória de todos por um longo tempo. Com uma sequência de poucas alterações na turnê pelo país, Clapton abriu o show confirman- do suas origens no blues. Key to the highway, foi a primeira, das 16 músicas tocadas em 1 hora e 45 minutos de inesquecíveis performances. Em seguida, Tell the truth e Hoochie coochie man. Old Love veio logo em sequência, com solos que a fizeram durar quase 13 minutos. A música marcou os fãs com a participação do tantas vezes aplaudido Tim Carmon no sintetizador e com os solos geniais de Clapton executados com sua guitarra Fender Stratocaster azul. Logo após, a enérgica Tearing us apart fechou a primeira parte do show e levou Clapton ao banco para o segundo momento, mais calmo, mas não menos aveludado nos solos. Segurando o instrumento de origem nas mãos, o violão, o Deus da Guitarra introduziu com Driftin’ Blues. Seguiu por Nobody nows you when you’re down and out, Lay down Sally e a canção da década de 1930 When somebody thinks you’re wonderful, única música do último disco: Clapton. O ponto alto da apresentação se deu com a famosa Layla, música feita para Pattie Boyd, na época mulher de George Harrison, melhor amigo de Clapton. A parceria que durou anos e gerou músicas incríveis como While my guitar gently weeps, ficou balançada com a paixão do guitarrista pela mulher do ex-Beatle. O casal permaneceu junto por um tempo e acabou se separando devido ao vício crescente de Clapton pelas drogas e pelo álcool. No Brasil, Layla foi tocada com um arranjo mais lento, menos rock e mais jazzístico, seguindo a versão do disco Wynton Marsalis and Eric Clapton play the blues interpretada com sax e guitarra. A plateia não demonstrou desapontamento pela versão. Ao final, o mestre foi aplaudido de pé pelo público. Era o fim da segunda etapa do show. O “terceiro tempo” foi de maior agitação. O público, que esteve comportado e quieto até então, balançou um pouco mais ao início de Badge. A música de estúdio foi uma das parcerias entre os amigos Clapton e Harrison para o álbum de despedida da banda power trio Cream, que incluía o guitarrista, o baixista Jack Bruce e o baterista Ginger Baker. A doce e melosa Wonderful tonight foi uma graça aos que não tiveram a chance de ver e ouvir de perto Tears in heaven. A música feita para o filho do cantor, que teve uma morte trágica ao cair da janela de um apartamento, não é mais tocada em público desde 2004. Ela se tornou popular e representa talvez a canção mais sensível e comovente do cantor. Segundo o próprio Clapton, a música o ajudou a superar a morte do garoto. Depois de Before you accuse me e Little queen of spades, do ídolo de Clapton, Robert Johnson, o público se agitou com Cocaine. Essa também ficou muito tempo sem ser tocada em shows porque o músico, depois de “limpo”, tinha medo de fazer apologia às drogas. Após um tempo, o guitarrista resolveu tirar a canção da gaveta e voltar a interpretá-la com um tom diferente, “anti-drogas”. Clapton passou um grande período da vida se reunindo com amigos para tocar e fazer uso de todo tipo de entorpecente. O vício provocou um hiato na carreira do guitarrista e na vida amorosa. Depois de ser internado em uma clínica de reabilitação, ele voltou a se dedicar à música. O problema causou sérias consequências na vida do músico. Segundo o próprio canFernanda Carvalho tor, ele não toca, não canta e não faz nada como fazia antes. Influenciado pelo que tinha vivido, Clapton resolveu apoiar a criação do espaço de reabilitação Crossroads e leiloar quase toda a sua coleção de guitarras em benefício ao centro. Também foi inclusa no leilão a Blackie, o mais famoso de seus instrumentos, montado por ele mesmo, com os melhores pedaços de várias Stratocasters da marca Fender. Depois dos fantásticos solos de Cocaine e da mais brilhante atuação do pianista Chris Staiton, o show chegou ao fim com Crossroads, adaptada da original de Robert Johnson. A última música resumiu toda a excelência da banda, que ainda contava com o baterista Steve Gadd, o baixista Willie Weeks e as backing vocals Michelle John e Sharon White. Para a surpresa dos fãs, Clapton não trouxe outra guitarra para acompanhá-lo, até a última música. Em Crossroads, o bluesman que abriu o show, considerado o salvador do gênero, Gary Clark Junior, dividiu o palco com o cantor e completou uma banda que deixou 45 mil pessoas fascinadas e perplexas por 1 hora e 45 minutos. Eric Clapton levou a linguagem do blues desenhada pela guitarra para outros gêneros. Como compositor, ele é considerado mediano. Mas como guitarrista, um revolucionário. Com fortes raízes no gênero musical originário do Delta do Mississipi, o blues, o músico também pisou fortemente no terreno do rock, do pop, folk, do country e ainda trouxe a graça do jazz para composições próprias e adaptações de outros grandes artistas. “Eu vi Deus de perto, agora já posso morrer”. Foi o que alguns fãs disseram na saída do espetáculo. O mestre tocou quase o tempo todo com os olhos fechados, sentindo cada nota e acorde que saía da guitarra. Não apenas tocando, mas interpretando e se doando a cada uma das 16 canções. Ele demonstrou que “música” e “Eric Clapton” talvez não sejam duas coisas, mas talvez uma só. Afinal, “Clapton is God”! Vox Objetiva | 65 piadas Rir faz bem Sorrir também sxc .hu VALENTE Morrendo de medo, o cara senta na cadeira do dentista. Para dar coragem, o doutor lhe oferece um uísque. Ele toma dois e pede o terceiro. Pergunta o doutor: - E então? Agora já está valente? O cara olha o dentista nos olhos, dá um rugido e fala: - Valente e muito! Quero ver quem é homem o bastante pra fazer eu abrir a boca! sxc .hu Mário Brito PINTOU A SOLUÇÃO O sujeito terminou de pintar a casa e viu uma mancha na parede. Pintou e repintou um monte de vezes e olha a mancha lá de novo. Ele pensou, pensou e chegou a uma incrível solução: PINTOU O QUARTO DA COR DA MANCHA! ÍNDIA E a linda indiazinha Tupi, na época do descobrimento, confessava para a amiga que estava apaixonada por um português, um tal de Pero Vaz: - Pois é, querida. Dia sim, dia não, estou indo pra Caminha! SÉRIO? Os dois meninos jogavam vídeo game e conversavam: - Meu nome é Carlos, e o seu? - Ricardo. - Meu pai é contador, e o seu? - Deputado. - Sério? - Que nada, ele é igual aos outros... 66 | Vox Objetiva TOLERÂNCIA ZERO O cara vem correndo na chuva, escorrega em uma poça d’água e leva o maior tombo, quando o sujeito que o socorre pergunta: - Você caiu? - Não! Tô treinando salto ornamental para as Olimpíadas! ASSANHADA! O casal em lua de mel chega ao hotel e preenche a ficha na recepção. Muito gentil, o gerente pergunta: - Os senhores querem ser despertados pela portaria? Responde a noivinha agitada: - Sim, sim. Pode nos acordar à 1, às 3, às 5 e às 7, por favor! .hu sxc BIG MENOS TEMPO NO TRÂNSITO, MAIS TEMPO COM A FAMÍLIA. REVITALIZAÇÃO DA SAVASSI IMPLANTAÇÃO DO BRT OBRA EM PARCERIA COM O GOVERNO FEDERAL MAIS UMA ETAPA DA AMPLIAÇÃO DO BOULEVARD ARRUDAS OBRA EM PARCERIA COM O GOVERNO FEDERAL A Prefeitura está investindo em obras que vão melhorar o trânsito, deixar a cidade mais bonita e você com mais tempo pra curtir a família. Depois de concluir o trecho entre o Centro e a avenida do Contorno, a Prefeitura está começando mais uma etapa da ampliação do Boulevard Arrudas, agora da Contorno até o Calafate. Também já foi iniciada a construção da Via 210, que vai ligar a Tereza Cristina à Via do Minério, deixando o trânsito mais rápido da região do Barreiro até o Centro. Estão em andamento as obras de revitalização da Savassi, que vão deixá-la mais moderna, segura e charmosa. E a grande novidade: a implantação do BRT – um novo sistema de transporte coletivo com superônibus articulados, maiores, mais confortáveis e mais rápidos –, que será complementar à expansão do metrô. A Prefeitura pede desculpas pelos transtornos temporários, mas garante: o resultado vai valer a pena. O METRÔ DE BH FINALMENTE VAI SAIR DO PAPEL. Depois de muito trabalho e muitas reuniões em Brasília, os recursos para o metrô de BH foram anunciados oficialmente pelo Governo Federal. São quase 2 bilhões de reais para a ampliação da linha 1 e a construção das linhas 2 e 3. A obra é uma parceria da Prefeitura com os governos Estadual e Federal e contará ainda com recursos da iniciativa privada. A linha 1, do Vilarinho ao Eldorado, será modernizada e ampliada. A linha 2 vai ligar o Barreiro ao Calafate. E a linha 3 vai ligar a Savassi à Lagoinha. Ao todo, serão 850 mil passageiros beneficiados por dia. A Prefeitura, o Governo do Estado e o Governo Federal estão trabalhando para agilizar os projetos e as licitações das obras. www.pbh.gov.br Vox Objetiva | 67 CRÉDITO FÁCIL COM PRÊMIO MILIONÁRIO? SAIBA MAIS AQUI. Faça um Crédito Consignado, BMG Card ou BMG Master e concorra.1 Consulte condições e regulamento. Você pode ganhar 1 milhão de reais. 2 1 Campanha válida para aposentados e pensionistas do INSS, e servidores públicos que contratarem empréstimos de pecúnia e/ou cartões de crédito, ambos com amortização mensal em folha de pagamento, ofertados pelo Grupo BMG, assim considerados os Bancos BMG, GE CAPITAL S.A., em processo de alteração de razão social, e Schahin, contratados no período de 10/10/2011 a 31/12/2011. PROMOÇÃO VÁLIDA ATÉ 31/12/2011. Para concorrer, o cliente deverá contratar empréstimo consignado ou cartão de crédito consignado que se enquadre cumulativamente nas seguintes situações: empréstimo contratado no valor mínimo de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais) ou cartão de crédito, com ativação e gasto mínimo na primeira fatura de no mínimo R$ 50,00 (cinquenta reais); solicitar o empréstimo ou cartão de crédito através dos canais: Correspondentes Bancários Autorizados; internet; 0800 031 7430. Para mais informações e outras condições, consulte o regulamento da promoção disponível no site www.bancobmg.com.br. *Aprovação do crédito sujeita à margem consignável e às especificações contratuais e critérios das autarquias e órgãos públicos. Os empréstimos aqui descritos são ofertados pelo Bancos BMG S.A., GE Capital S/A, em processo de alteração de razão social, e Schahin S/A. Os cartões de crédito são produtos emitidos pelo Banco BMG S.A. Para empréstimo consignado BMG: a aposentados e pensionistas do INSS: prazo de 9 a 60 meses, juros de 2,15% a.m. a 2,34% a.m. e 29,84% a.a. a 31,99%a.a., CET máx. 2,61% a.m. e 36,82% a.a. Servidores públicos: juros de 1,60% a.m. a 3,10% a.m. e 20,98% a.a. a 40,10%a.a., CET máx. 4,90% a.m. e 78,97% a.a. Cartão: taxa mínima: 3,36% a.m. e 48,67% a.a. - taxa máxima 7,99% a.m. e 151,53% a.a. - CET máx: 8,61% a.m. e 154,91% a.a. Para empréstimo consignado Banco Schahin S.A.: para aposentados e pensionistas do INSS: prazo de 6 a 60 meses, juros de 1,99% a.m. a 2,34% a.m. Servidores públicos: juros de 1,99% a.m. a 3,25% a.m. Para empréstimo consignado GE CAPITAL S.A., em processo de alteração de razão social: para aposentados e pensionistas do INSS: prazo de 9 a 60 meses, juros de 2,15% a.m. a 2,34% a.m. e 29,84% a.a. a 31,99%a.a., CET máx. 2,61% a.m. e 36,82% a.a. Servidores públicos: juros de 1,60% a.m. a 3,10% a.m. e 20,98% a.a. a 40,10%a.a., CET máx. 4,90% a.m. e 78,97% a.a. Consulte as taxas, prazos e demais condições para concessão do empréstimo/financiamento e cartão de crédito em um Correspondente Autorizado BMG. Sobre as operações descritas, incidirá IOF. Condições sujeitas a alteração sem aviso prévio. UTILIZE O CRÉDITO DE FORMA CONSCIENTE E SOMENTE EM CASO DE NECESSIDADE. SAC Banco BMG: 0800 979 7050. SAC Banco GE 0800 707 0184. SAC Banco Schahin 0800 016 1991. SAC Deficientes Auditivos Banco BMG: 0800 979 7333. SAC Deficientes Auditivos Banco GE: 0800 707 0153. SAC Deficientes Auditivos Banco Schahin: 0800 604 3777. BACEN: 0800 979 2345. Ouvidoria Banco BMG: 0800 723 2044. Ouvidoria Banco GE: 0800 722 4345. Ouvidoria Banco Schahin: 0800 703 1996. 2O título de capitalização é garantido pela Icatu Capitalização S/A, CNPJ 74.267.170/0001-73 / Processo SUSEP 15414.000329/2008-41. A aprovação do Título de Capitalização pela SUSEP não implica, por parte da autarquia, em incentivo ou recomendação a sua aquisição, representando, exclusivamente, sua adequação às normas em vigor. Prêmio bruto, antes do desconto de tributos incidentes. O número cedido para participação no sorteio é pessoal e intransferível, sendo válido para participação no sorteio que acontece em 28/1/2012. 68 | Vox Objetiva Procure nossa rede de Correspondentes Autorizados, ou ligue 0800 031 7430 para mais informações.
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