Situação epidemiológica da esquistossomose mansônica

Transcrição

Situação epidemiológica da esquistossomose mansônica
Situação
epidemiológica
da
esquistossomose
mansônica em uma microrregião do estado da Bahia,
Brasil
La situación epidemiológica de la esquistosomiasis masónica en una microrregión del estado de
Bahía, Brasil
Epidemiological situation of schistosomiasis mansoni in a micro-region of the state of Bahia, Brazil
*Enfermeiro. Especialista em Saúde Pública com ênfase em saúde da família pela Faculdade Madre Thaís
Pesquisador colaborador do Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida/CNPq/UESB
**Farmacêutica e Bioquímica. Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pela Universidade
Estadual de Santa Cruz. Docente do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual
de Santa Cruz. Pesquisadora colaboradora do Grupo de Pesquisa Farmacogenômica
e Epidemiologia Molecular CNPq/UESC
***Enfermeiro. Especialista em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
****Enfermeiro. Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem e Saúde – PPGES/UESB
Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia – FAPESB
Pesquisador colaborador do Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida/CNPq/UESB
*****Educador Físico. Mestre em Enfermagem e Saúde pelo PPGES/UESB
Pesquisador colaborador do Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida/CNPq/UESB
Tilson Nunes Mota*
[email protected]
Ana Paula Melo Mariano**
[email protected]
Adilson Ribeiro Santos***
[email protected]
Jules Ramon Brito Teixeira****
[email protected]
Ramon Missias Moreira*****
[email protected]
(Brasil)
Resumo
O objetivo deste estudo foi descrever a situação epidemiológica da Esquistossomose mansônica na microrregião de
Jequié com o uso de dados do Sistema de Informação do Programa de Controle da Esquistossomose (SISPCE). Os dados foram
agregados para o cálculo de indicadores epidemiológicos de cobertura do programa e de intensidade de infecção para os
municípios endêmicos da microrregião de Jequié, Bahia, Brasil, entre 2001 e 2009. Os resultados demonstram que a
microrregião de Jequié apresentou 25.040 casos de esquistossomose, sendo o ano de 2006 o de maior prevalência (10,3%).
Houve registro de atividades de controle de esquistossomose em 45,4% dos municípios da área em estudo. Quanto ao número
de exames realizado no período, atendeu apenas 9,98% da população residente na área estudada. Portanto, pode-se
considerar o SISPCE como um avanço no monitoramento e vigilância da esquistossomose, necessitando de ações sistemáticas
pelos municípios, através do fluxo contínuo de dados capaz de orientar os gestores na elaboração de politicas públicas.
Descritores: Esquistossomose Mansoni. Sistemas de informação. Doenças endêmicas.Vigilância epidemiológica. Políticas
públicas.
Abstract
The objective of this study was to describe the epidemiological situation of Schistosomiasis mansoni in the micro-region
of Jequié using data from Information System in the Brazilian Schistosomiasis Control Program (SISPCE). The data were
aggregated for calculating epidemiological indicators of program coverage and of intensity of infection in endemic the cities of
the region of Jequié, Bahia, Brazil, between 2001 and 2009. The data were aggregated for calculating epidemiological indicators
of program coverage and of intensity of infection in endemic the cities of the region of Jequie, Bahia, Brazil, between 2001 and
2009. The results demonstrate that micro-region of Jequié presented 25.040 cases of schistosomiasis, the year 2006 being the
most prevalent (10,3%). There were records of schistosomiasis control activities in 45,4% of the cities in the study area.
Concerning the number of tests realized in the period, attended only 9,98% of the resident population in the studied area.
Therefore, can be considered the SISPCE as an advance in the monitoring and surveillance of schistosomiasis, requiring
systematic actions by the cities through continuous flow of data able to guide managers in the development of public policies.
Keywords: Schistosomiasis mansoni. Information systems. Endemic diseases. Epidemiological surveillance. Public
policies.
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 177, Febrero de 2013. http://www.efdeportes.com/
1
1/1
Introdução
A esquistossomose mansônica vem se estabelecendo como um importante problema de
saúde pública, afetando cerca de duzentos milhões de pessoas em várias regiões do mundo
(CARDIM et al., 2008). No território brasileiro, a doença é considerada endêmica, com
aproximadamente seis milhões de indivíduos infectados distribuídos em 19 unidades federadas
(BRASIL, 2006). Dentre as regiões do país, o Nordeste é a que apresenta a maior prevalência
dessa enfermidade e o Estado da Bahia é a segunda maior área endêmica, com média de 165,8
internações/ano e 40,2 óbitos/ano, notificados em 65% (271) dos seus municípios (BRASIL,
2006).
Historicamente o padrão de transmissão da esquistossomose mansônica circunscrevia-se a
ambientes rurais do Nordeste do país, porém, a partir da década de 1980, observou-se uma
mudança substancial no seu perfil ecoepidemiológico, com o aparecimento de casos autóctones
em zonas periurbanas de grandes cidades (GARGIONI et al., 2008).
Dentre os fatores que contribuíram para a expansão da esquistossomose estão às condições
de infraestrutura das populações migrantes, que ao se fixarem nas localidades urbanas,
continuam com o comportamento semelhante ao das pessoas que permaneceram na zona
rural. Somado a esse fator estão a hipertrofia dos núcleos urbanos, o uso indevido dos recursos
hídricos, a ampla distribuição dos hospedeiros intermediários, a longevidade da doença, a
descontinuidade das ações do programa oficial de controle e a carência em atividades de
educação sanitária (BARBOSA et al., 1996; MARTINS Jr.; BARRETO, 2003; RIBEIRO et al.,
2004).
O padrão de distribuição da doença indica que a dinâmica de transmissão do agente
etiológico, o Schistosoma mansoni, depende da inter-relação entre o meio ambiente, as pessoas
e suas condições sociais. A forma não planejada da ocupação humana no espaço urbano
associada à vulnerabilidade social como o desemprego, baixos níveis de escolaridade, exclusão
e pobreza, e às condições inadequadas de saneamento e moradia vem causando grandes
impactos na expansão da esquistossomose no país (LOUREIRO, 1989; BARBOSA et al., 2001;
CARDIM, 2010).
A grande abrangência e endemicidade da esquistossomose no Brasil e, principalmente, a
intensa transmissão na região nordeste é uma situação importante. No período de 1999 a 2002,
não ocorreram ações integradas para o controle da doença em alguns estados do nordeste,
sendo que tal aspecto continua deficiente nos dias atuais (FARIAS et al, 2007).
2
A dificuldade no controle da esquistossomose mansônica pelos serviços de saúde ocorre
devido a multiplicidade de fatores envolvidos na sua transmissão. As ações de controle deste
agravo, no Brasil, vêm sendo adotadas de maneira sistemática e abrangente desde 1976. Ao
longo das três últimas décadas os programas de controle da esquistossomose (PCE) passaram
por diversas fases nas quais foram feitas tentativas de medicalização maciça dos portadores,
conjugadas com outras ações preventivas consideradas importantes.
O conhecimento sobre o comportamento da endemia permite a identificação de problemas
individuais e coletivos no quadro sanitário de uma população, propiciando elementos para
análise da situação encontrada, subsidiando a busca de possíveis alternativas de controle,
essenciais ao processo de tomada de decisão.
Este estudo teve como objetivo descrever a situação epidemiológica da esquistossomose
mansônica na microrregião de Jequié, Estado da Bahia, no período de 2001 a 2009.
Método
O presente estudo caracteriza-se como epidemiológico de cunho quantitativo e exploratório.
A amostra estudada compreende a microrregião de Jequié, que incluem os seguintes
municípios: Aiquara, Apuarema, Barra do Rocha, Boa Nova, Brejões, Cravolândia, Dario Meira,
Ibirataia, Ipiaú, Irajuba, Iramaia, Itagi, Itagibá, Itamarati, Itaquara, Itiruçu, Jaguaquara,
Jequié, Jitaúna, Lafaiete Coutinho, Lajedo do Tabocal, Manoel Vitorino, Maracás, Planaltino e
Santa Inês. Esta microrregião abrange uma população total de 517.25 habitantes (BAHIA,
2012).
Segundo o Plano Diretor de Regionalização do Estado da Bahia, o município de Jequié
apresenta a maior população sendo, considerado a referência para microrregião e sede da 13ª
Diretoria Regional de Saúde (BAHIA, 2012).
Como estratégia de obtenção dos dados sobre a esquistossomose na microrregião de Jequié,
no período 2001 a 2009, fez-se necessário o levantamento de dados do Sistema de Informação
do Programa de Controle da Esquistossomose (SIS-PCE) que está disponível na página de
Internet
do
Departamento
de
Informação
e
Informática
do
SUS
(DATASUS:
http://www.datasus.gov.br).
Os dados obtidos na base de dados do SISPCE correspondem às seguintes variáveis:
população trabalhada, população examinada, população positiva, recusa e ausência. A
alimentação do SISPCE é gerada pelas atividades de vigilância e controle da esquistossomose
executadas pelos municípios, consolidados pela Gerência Estadual do Programa de Controle e
3
Vigilância da Esquistossomose na Bahia. Em virtude do processo de informatização, que teve
inicio no ano de 1995, os dados são considerados como parciais.
Para a análise dos dados, foi utilizada a estatística descritiva, através do cálculo dos
seguintes indicadores: proporção de população trabalhada que foi obtida através do número de
pessoas que receberam o recipiente para realização do exame coproparasitológico em relação à
população total do município; proporção da população examinada através da relação entre o
número de pessoas examinadas e a população total do município e o cálculo da prevalência.
Os indicadores são apresentados por meio de tabelas elaboradas com o auxílio do software
Microsoft Office Excel versão 2010.
Resultados e discussão
Na microrregião de Jequié, no ano de 2001, houve registro de atividades de controle da
esquistossomose mansônica em 45,4% dos municípios. No período estudado, houve uma
redução da população trabalhada de 56.769 em 2001 para 30.168 em 2009, esta redução
coincidente com o momento da descentralização das ações de controle da endemia para o nível
municipal (Tabela 1).
Tabela 1. Indicadores utilizados pelo PCE, na microrregião de Jequié, Bahia, Brasil, 2001-2009
Quanto ao numero de exames realizados, houve grande variação durante o período de 2001
a 2009, decrescendo 64% no ano de 2002 em relação ao ano de 2009 com posterior redução
(Tabela 1).
Ainda assim, alcançou somente 9,98% da população residente na área em estudo. No ano
de 2001, o número de indivíduos com tratamentos pendentes por ausência foi de 262 sendo o
maior valor no período (Tabela 1). O número de pessoas não tratadas por ausência foi elevado
nesse ano, podendo refletir deficiências do planejamento das ações na fase de medicação,
como por exemplo, na busca do paciente em horários incompatíveis com a sua rotina, ou
dificuldade de seu acesso aos serviços de atenção básica (GARGIONI et al., 2008). Tal indicador
4
tem importância na programação das ações de controle e vigilância da esquistossomose e pode
oferecer indícios de falhas no modelo de tratamento adotado (RIBEIRO et al., 2004).
Observa-se uma redução significativa na ausência ao tratamento alcançando 30 indivíduos
no ano de 2009, o que pode demonstrar um melhor planejamento e execução das ações no
fase do tratamento dos portadores do S. mansoni.
Os resultados mostram uma taxa de prevalência que varia de 2,9 a 10,2 no período.
Segundo Farias et al (2007), este percentual não é representativo da prevalência real, pois nem
sempre os mesmos municípios são trabalhados ano a ano, fator limitante para uma análise mais
precisa de situação da doença.
A partir do ano de 2007, foi observado as menores taxas de prevalência do período
estudado, esse indicador corrobora com as ações desenvolvidas no Brasil, desde 2005, no
âmbito do Ministério da Saúde com o Plano de Desenvolvimento e Pesquisa em Doenças
Negligenciadas.
Ao comparar os dez municípios com maior número absoluto de exames positivos com o
município de Jequié, município de maior prevalência para a doença, o maior percentual de
população trabalhada (Tabela 2) foi de 82%, em 2004, no município de Aiquara.
Tabela 2. Proporção da população trabalhada, Proporção da população examinada, Prevalência de casos
situação de Pendências ou Recusa de exames da microrregião de Jequié, Bahia, Brasil, 2001-2009
Após o município de Jequié, Santa Inês é o município com maior prevalência em todo o
período, e mostra o maior resultado no percentual de população trabalhada neste ano 25,5%.
São valores baixos se considerada a população total exposta ao risco de contrair a doença. O
município de Jequié apresentou em números absolutos a maior ausência ao tratamento da
doença de 133 em 2005.
5
Quando avaliado a proporção entre a população examinada em relação à população
trabalhada, o município de Jitaúna foi o único que apresentou trabalhos em todo o período
estudado. Apesar da variação desses percentuais, entre 0% e 87%, eles não são
esclarecedores para um efetivo monitoramento, uma vez que o SISPCE não disponibiliza o
nome ou código da localidade, como ocorre com outros sistemas de informação, a exemplo do
SIVEP Malária (Sistema de Informação e Vigilância Epidemiológica da Malária), que permite o
acesso das informações das localidades pelo nível central (RODRIGUES; ESCOBAR; SOUZASANTOS, 2008).
O registro de pendências por ausência é inquietador em 2004, sendo presente em 90% dos
municípios. O município de Jequié em 2001 apresentou 270 pessoas que se recusaram ao
tratamento.
É visível a queda de registros no período imediatamente após a descentralização das
atividades (ARAUJO, 2004), que aconteceu no segundo semestre de 2001, com aumento
gradual, que pode ser reflexo da retomada das ações pela esfera municipal, quiçá a influência
da integração dessas atividades com as da atenção básica.
Conclusão
De acordo com os resultados, ao se adotar o município como unidade de análise, não é
possível dimensionar a doença naquele território. De este modo identificar grupos que
apresentam elevado risco da infecção constitui uma tarefa de extrema relevância.
Espera-se que os achados do presente estudo possam ser utilizados para nortear a adoção
de condutas preventivas e redirecionar o planejamento das ações de saúde nos municípios.
Além disso, contribua para a reflexão das práticas e políticas relativas à esquistossomose na
microrregião de Jequié, visto que, para o controle efetivo dos casos, além das medidas
curativas, são necessárias ações de prevenção, como melhorias nas condições de vida das
coletividades, educação sanitária, vigilância dos vetores e fatores condicionantes para a sua
transmissão e expansão.
Referências
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
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6
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CARDIM, L. L. et al. Avaliação da Esquistossomose Mansônica mediante as
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Multivariadas
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FARIAS, L. M. M; et al. Análise preliminar do Sistema de Informação do
Programa
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Controle
da
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no
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de
1999
a
2003. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, p. 235-239, fev.,
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GARGIONI, C. et al. Utilização de método sorológico como ferramenta
diagnóstica para implementação da vigilância e controle da esquistossomose no
município de Holambra, São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v. 24, n. 2, p. 373-379, fev., 2008.
7
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LOUREIRO, S. A. A questão do social na epidemiologia e controle da
esquistossomose mansônica. Memória do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de
Janeiro, v. 84, n. 1, p. 124- 131, out. 1989. Suplemento. Mimeografado.

MARTINS JR., D. F.; BARRETO, M. L. Aspectos macroepidemiológicos da
esquistossomose mansônica: análise da relação da irrigação no perfil espacial
da endemia no Estado da Bahia, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v. 19, n. 2, p. 383-393, abr./jun. 2003.

RIBEIRO, P. J. et al. Programa educativo em esquistossomose: modelo de
abordagem metodológica. Revista Saúde Pública, São Paulo, v. 38, n. 3, p. 415421, 2004.

RODRIGUES, A. F; ESCOBAR, A. L; SOUZA-SANTOS, R. Análise espacial e
determinação de áreas para o controle da malária no Estado de Rondônia. Rev
Soc Bras Med Trop, Minas Gerais, v. 41, p. 55-64, 2008.
A prática docente no ensino
superior
sob
a ótica de formandos de
enfermagem
La práctica docente en la enseñanza superior bajo la
óptica de los estudiantes de enfermería
The teaching practice in higher education under the
optics of nursing graduate students
*Enfermeira, Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e
Saúde
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/PPGES/UESB. Jequié
(BA)
**Enfermeira, Professora Pós-doutorado, Graduação/Programa de Pós-Vanessa Cruz Santos*
Graduação em Enfermagem
Karla Ferraz dos Anjos*
e Saúde, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/PPGES/UESB.
Rita Narriman Silva de Oliveira
Jequié (BA)
***Enfermeiro, Professor Doutor, Graduação/Programa de Pós-Boery**
Graduação em Enfermagem
Eduardo Nagib Boery***
e Saúde. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/PPGES/UESB.
Ramon Missias Moreira ****
Jequié (BA)
****Educador Físico, Mestre em Enfermagem e Saúde peloJules Ramon Brito Teixeira*****
PPGES/UESB
[email protected]
Professor auxiliar do Departamento de Saúde da UESB
(Brasil)
*****Enfermeiro, Mestrando, Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem e Saúde
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/PPGES/UESB. Jequié
(BA)
Resumo
O estudo objetivou analisar a prática docente no ensino superior sob a ótica de formandos de
enfermagem. Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, realizado em uma Instituição de Ensino Superior,
com 26 formandos de enfermagem. Utilizou-se para coleta de dados questionário aberto, e suas respostas
analisadas a partir da técnica de Análise de Conteúdo. A pesquisa aconteceu após aprovação do Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, sob o protocolo nº 207/2009. Verificou-se
insatisfação por parte dos formandos quanto à prática docente em sua instituição de ensino, principalmente
quanto à articulação da metodologia utilizada e sua relação com a teoria e a prática. Considera-se necessário
que mudanças ocorram no processo de ensino-aprendizagem da instituição em estudo, na qual o processo
educacional ocorra de forma horizontal, trans e interdisciplinar e que o estudante seja protagonista ativo deste
processo.
Descritores: Enfermagem. Docentes. Prática profissional. Educação em enfermagem. Ensino superior.
Abstract
The study aimed to analyze the teaching practice in higher education under the optics of nursing
graduate students. A descriptive study with a qualitative approach, conducted in a Higher Education Institution,
8
with 26 nursing graduate students. Was used for data collection an open questionnaire and their answers
analyzed using the technique of Content Analysis. The research took place after approval of the Ethics
Committee in Research of the State University of Southwest Bahia, under protocol nº 207/2009. There was
verified dissatisfaction among graduates due to teaching practice at their school, especially as the articulation of
the methodology and its relation to theory and practice. It is considered necessary that changes may occur in
the teaching-learning of the institution in study, in which the educational process occurs in a horizontal form,
trans and interdisciplinary and that the student be an active protagonist of this active process.
Unitermos: Nursing. Teachers. Professional practice. Nursing education. Higher education.
EFDeportes.com,
Revista
Digital.
2013. http://www.efdeportes.com
Buenos
Aires,
Año
18,
Nº
183,
Agosto
de
1/1
Introdução
As dimensões da educação de ensino superior têm vários desafios a serem vencidos.
Diversas são as mudanças que acontecem constantemente nas propostas metodológicas de
ensino, com o intuito de formar indivíduos comprometidos profissionalmente e socialmente, isto
não se difere com os futuros profissionais de enfermagem que necessitam ser bem preparados
na academia. 1
A educação precisa ser capaz de desencadear uma visão holística do estudante, bem como
possibilitar a construção de redes de mudanças sociais, com a consequente ampliação da
consciência individual e coletiva. Por isso, um de seus méritos está na crescente tendência à
busca de métodos inovadores, que permita uma prática pedagógica crítica, ética, reflexiva e
transformadora, ultrapassando os limites do treinamento meramente tecnicista, para
efetivamente alcançar a formação do homem como um ser histórico, inscrito na dialética da
ação-reflexão-ação. 2
Neste sentido, reforça-se a relevância em contextualizar acerca de como se dá a prática
docente na educação superior do curso de enfermagem, a partir da percepção de formandos
deste curso que também são protagonistas do processo de ensino e que, futuramente, por
meio dessa educação serão formados profissionais que devem estar comprometidos a atuarem
de forma crítica, reflexiva e coletiva. Para isso, as metodologias utilizadas no processo de
ensino-aprendizagem devem ser inseridas de forma articulada com a teoria e a prática, de
forma que o aluno faça parte ativamente do processo.
Para a melhoria da prática pedagógica na universidade, é preciso contribuir com situações
alternativas, levando os envolvidos a refletirem de forma critica sobre os avanços e retrocessos
na prática docente e a agir de maneira transformadora sobre a realidade, estabelecendo
condições de reorganização do conhecimento adquirido, oferecendo alternativas viáveis e
adaptadas às diferentes realidades, compreendendo dialeticamente o processo. 3
Entre os problemas educacionais enfrentados na atualidade estão as propostas pedagógicas
de ensino de Instituições de Ensino Superior (IES), enfatizando o curso de Enfermagem, que
precisa ser repensado. A prática docente, em determinadas instituições, não permite que os
estudantes participem da construção do seu próprio conhecimento, o que compromete sua
formação profissional.
A formação, desempenho e desenvolvimento profissional do professor torna-se objeto de
análise e estudo a partir do movimento de transformação do ensino superior no Brasil. Nesse
9
contexto, a formação do professor é apontada como um dos principais fatores que podem
contribuir para a melhoria da qualidade do ensino. 4
A formação inicial tem um papel amplamente importante na educação profissional, isto
porque além de subsidiar uma formação sólida, fundamentada e crítica, instrumentaliza o
professor para o desenvolvimento da proposta estabelecida a partir da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação, vez que esta facilita sua prática pedagógica para que utilize estratégias que
envolvam o estudante como sujeitos ativos, tornando o processo de aprendizagem significativo
para o estudante que poderá ter a possibilidade em realizar conexões entre os saberes. 5
Diante a contextualização, o estudo objetivou analisar a prática docente no ensino superior
sob a ótica de formandos de enfermagem.
Material e métodos
Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, realizado em uma Instituição de Ensino
Superior, pública, situada em um município no interior do Estado da Bahia. A Universidade,
local de estudo, conta com vários cursos da área da saúde, entre eles o de Enfermagem.
Foi considerada a participação de todos os formandos de enfermagem matriculados no
primeiro semestre de 2012, sendo a coleta realizada no mês de março. Os sujeitos pesquisados
totalizaram 26, do turno matutino. A coleta de dados aconteceu a partir do agendamento da
coordenação do curso e reunião com todos os formandos.
O instrumento utilizado para a coleta foi um questionário contendo 16 questões abertas,
sendo que para esta análise. Os critérios para inclusão foram: ter idade igual ou superior a 18
anos, ser estudante do último semestre de graduação do curso de enfermagem e está
matriculado regularmente.
Os resultados foram analisados por meio da Técnica de Análise de Conteúdo Temática
Categorial6, que são compostas de três fases a serem seguidas. Na fase de pré-análise houve
organização e leitura completa das respostas dos participantes da pesquisa, de forma a
sistematizar e registrar a frequência do surgimento das unidades de registro.
Na fase de exploração do material aconteceu leitura detalhada e exaustiva de cada resposta,
observando, desta maneira, o que surgia de mais relevante conforme o objetivo proposta em
cada categoria. Na última fase, a de tratamento dos resultados e interpretação, aconteceu
a organização e codificação do material, de maneira a serem significativos. Neste contexto,
produziram-se três categorias, que serão apresentadas na forma de tópicos.
Estudo realizado observando os aspectos éticos para pesquisas que envolvem seres
humanos, como consta na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. A coleta de dados
ocorreu após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia, campus de Jequié, Bahia, sob o protocolo nº 207/2009. Após os esclarecimentos dos
objetivos da pesquisa, cada formando assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Resultados e discussão
10
A análise das respostas dos formandos de enfermagem produziu conhecimento que foi
classificado em três categorias: a prática docente, o processo de ensino-aprendizagem e a
formação do docente. Estas retrataram a concepção dos participantes sobre a prática docente
no Ensino Superior no curso de enfermagem da Instituição em que estudam e o processo de
aprendizagem.
Prática docente
É relevante destacar que a maioria dos formandos está pouco satisfeita ou insatisfeitos com
a conduta de alguns professores em sala de aula, justificando suas respostas apontando
estratégias para melhorar a forma de avaliação adotada por seus professores.
Se estivesse na condição de professor aproveitaria todo o momento com o aluno para avaliálo constantemente. (Freire) Seria mais flexível em alguns pontos, sem deixar que a qualidade
do ensino fosse perdida. (Gil)
Prova não é o melhor tipo de avaliação. (Misukame) [...] a única modificação seria diminuir a
prova escrita e incorporar aulas estratégicas, alternativas de avaliação. (Alacoque)
[...] é preciso rever a forma de avaliação aqui bem como incorporar novas formas. (Teixeira)
Valorizaria mais as provas escritas, já que reconheço que algumas pessoas têm dificuldade em
expressar-se em grupo. (Gadotti) abriria um pouco mais para o campo da discussão em
sala/reflexão. (Vigotsky) Só procuraria diversificar as formas de avaliação. (Piaget)
[...] o docente não reconhece as limitações do aluno como parte do processo de
aprendizagem. (Aquino) Muitos professores acabam sendo injustos ao avaliar a habilidade
prática e teórica (Foucalt) percebo, não com todos, mas alguns professores rotulam o aluno.
(Boaventura)
A proposta de uma prática pedagógica inovadora é o início para o desconhecido e,
representa, diversas vezes, uma ameaça ao que já foi conquistada. O desconhecido abre,
porém, novas vertentes e possibilidades de transformação, mas, para isso, a participação
coletiva e democrática é indispensável na implantação de qualquer mudança, já que todos os
sujeitos estão interligados em uma rede. 2
As novas tecnológicas vêm sendo utilizadas de maneira expressiva na contemporaneidade e
estão inseridas em várias áreas, como na educacional. Estas representam ferramentas de apoio
que podem auxiliar em um melhor e mais facilitado aprendizado, entretanto, é necessário ter
cautela em seu uso, pois, apesar de serem bem vindos nas salas de aula, devem ser dominadas
pelo professor, isto porque o excesso de seu uso bem como a maneira de expor os conteúdos
podem dificultar a prática docente e o processo de ensino-aprendizagem.1
Inserir novas técnicas à prática docente é necessário, uma vez que as transformações
educacionais e o ser professor exigem novas propostas de aprendizagens que sejam suficientes
para satisfazer os desafios colocados à atual realidade entorno de uma educação diferenciada
que critica e transforma os sujeitos envolvidos no processo educativo. 7
11
A prática docente precisa ultrapassar o ato focado meramente em transmitir informações. O
professor necessita assumir o papel de mediador do processo ensino-aprendizagem de maneira
que os estudantes ampliem suas possibilidades humanas de conhecer, duvidar e interagir com o
mundo por meio de uma nova estratégia de educar. 4
Processo de ensino-aprendizagem
Em relação ao tipo de avaliação mais utilizada em sala de aula por seus professores, foi visto
que varia conforme o docente e a disciplina, embora sobressaíssem as provas escritas e
seminários. Referindo-se a avaliação expositiva, apenas um dos formandos informou que os
professores, anteriormente ao seminário, ministram a aula sobre a temática, para então, os
estudantes realizarem a apresentação e, quase que de forma unânime, informaram que o
conteúdo somente é abordado por seus professores no momento da apresentação, em que
também acontece a discussão entre alunos e professores do tema proposto.
Os professores quase sempre discutem sobre o tema apresentado [...] (Morin) A discussão é
realizada somente após a apresentação dos alunos. (Platão) Os professores deixam seguir a
apresentação. Algumas vezes discutem outras apenas avaliam. (Cury)
Depende do professor. Muitos dão uma grande contribuição após a apresentação dos
trabalhos, porém, sempre tem aqueles professores que utilizam os seminários para se livrar de
trabalho. (Foucalt)
O conhecimento do estudante é mensurado pelo professor por meio da avaliação, que passa
a ser, para o estudante, a única alternativa para a obtenção da aprovação da disciplina. A
avaliação pode tornar-se, então, um fator que interfere na aprendizagem, pois, em varias
situações, o aluno estudará apenas os conteúdos que serão cobrados, não se aprofundando em
outros assuntos. 8
Tratando-se das atividades avaliativas como a apresentação de seminários, destaca-se a
relevância do docente antes de solicitar os discentes alguma atividade deste tipo, ministrar aula
acerca do assunto proposto, favorecendo assim, melhorarias no entendimento dos envolvidos e
na qualidade da apresentação. A função do seminário não deve ser apenas avaliativa, mas
funcionar como forma de construção do conhecimento entre alunos e professores, sendo assim,
é imprescindível que no decorrer e posteriormente a sua apresentação ocorra a
problematização e discussão da temática abordada.
Os formandos, em sua maioria, acreditam que as propostas pedagógicas de ensino de sua
instituição precisam ser aprimoradas para facilitar o processo de ensino-aprendizagem, vez que
em alguns momentos os estudantes sentem dificuldades em aprender o conteúdo discutido em
sala de aula.
A busca por melhorias deve ser constante em qualquer instituição [...] (Cury) Mesmo com
novos métodos de ensino é preciso estar sempre buscando aprimorar a metodologia.
(Goleman)
12
Ás vezes existe um grande número de aulas expositivas o que acaba ficando cansativo para
os discentes e prejudicando o processo de ensino-aprendizagem. (Piaget) Muitos conteúdos são
transmitidos de forma superficial, sem que aja o verdadeiro aprendizado. (Foucalt)
Em relação às dificuldades relatadas, uma postura preventiva poderá favorecer melhor o
desempenho e o êxito do estudante, não só na sua avaliação enquanto estudante, mas também
como futuro profissional. 8
No processo de ensino-aprendizagem da Enfermagem, percebe-se a necessidade de
mudanças na prática docente, isto porque o modelo ainda reproduzido por algumas instituições
de ensino não possibilita o estudante ser um cidadão ativo na construção da sociedade. Por
isso, o pensamento crítico precisa ser incentivado na prática e no ensino de Enfermagem como
condição primordial para a formação do profissional enfermeiro. 9
É indispensável que o professor universitário pense a partir do novo e não de condições
ultrapassadas, visando inserir no mercado, profissionais competentes, capazes de interagir e
usufruir das novas tecnologias. Para isso, é essencial repensar as condições do processo de
ensino-aprendizagem em que se produzem os novos profissionais. 3
Os estudantes descreveram o que consideram uma aula ideal para melhor desempenho da
prática docente e maior envolvimento dos alunos, isto com o objetivo de melhorar a qualidade
do processo de ensino-aprendizagem.
A aula ideal é aquela em que o professor consegue o objetivo e os alunos aprendem
trocando experiências. (Freire) [...] é aquela que exige raciocínio do aluno e que explore suas
habilidades e competências [...]. (Alacoque) [...] o professor expõem o assunto de forma
atrativa, e, permite ao aluno discutir em grupo assuntos pertinentes ao tema. (Foucalt)
É aquela em que se consegue associar a teoria com a prática. (Durkheim) [...] que possibilite
um processo ensino-aprendizagem eficaz para todos os envolvidos. (Aristóteles)
Uma aula na qual exista uma comunicação eficaz entre o aluno e professor [...]. (Aquino)
Quando há trocas de informações entre alunos e professores, havendo respeito entre ambos
[...] (Platão)
A aula ideal é uma aula dinâmica, expositiva, onde o professor domina o conteúdo e passa
de forma clara [...] (Morin) [...] em que um assunto é abordado teoricamente pelo professor e
aprofundado por discussões e trocas de conhecimento entre aluno-professores. (Sócrates)
Entre as alternativas para a prática docente referente a cursos de graduação em
Enfermagem e que estejam entrelaçadas às políticas públicas de saúde, entende-se que
repensar a prática profissional envolve mudanças, desde reformulações de projetos
pedagógicos, linhas pedagógicas e postura do docente, para estabelecer uma relação horizontal
e menos autoritária que possa oferecer possibilidades ao desenvolvimento do estudante. Logo,
não será possível formar um enfermeiro reflexivo, crítico e político, se a prática profissional
docente não seguir esses mesmos princípios. 9
Formação do docente
13
Constatou-se que maior percentual dos estudantes acredita que seus professores estão
preparados para associar de forma produtiva as metodologias e instrumentos utilizados em sala
de aula, no entanto, alguns expressam insatisfação com a prática docente.
Os professores demonstram-se muito capacitados, porém as modificações de metodologias
provêm [...]. (Nietzsche)
Alguns professores precisam melhorar a didática do ensino [...]. (Arendt) não transmitem de
forma clara o conteúdo, ficam presos a leitura dos slides o que dificultam a compreensão da
aula. (Gadotti). [...] acho que a educação permanente poderia ser uma alternativa viável.
(Arendt)
A grande maioria dos professores sim, mas existem alguns que, apesar do cargo ocupado,
não tem essa capacidade. (Durkheim) [...] não conseguem, a partir da metodologia utilizada
compartilhar o conhecimento de forma eficaz. (Aquino) [...] não dominam o assunto abordado,
e dessa forma o ensino é prejudicado. (Morin)
A formação do docente em enfermagem precisa ser consistente com base no domínio de
conhecimentos científicos e na atuação investigativa no processo de ensina-aprendizagem,
recriando situações de aprender por investigação do conhecimento de maneira coletiva com o
intuito de valorizar a avaliação diagnóstica dentro do universo cognitivo e cultural dos
estudantes como processos interativos. 4
A formação inicial e permanente é considerada relevante condição para que o educador
possa modificar sua prática pedagógica, para isso, a flexibilidade é o primeiro passo para a
transformação, vez que é essencial romper barreiras, conceitos, paradigmas; é preciso
transcender da postura tradicional, exercitando a aceitação de novas ideais; é preciso o
envolvimento e comprometimento com o processo, com o contexto.5
O processo de redirecionar a formação dos profissionais de Enfermagem precisa estar
voltado para as mudanças sociais. Por conseguinte, as propostas pedagógicas devem dialogar
com estas mudanças. É esperado que a formação esteja interligada à realidade vivenciada
pelos estudantes e seja capaz de incorporar os aspectos intrínsecos a sociedade globalizada do
século XXI. 4
Mesmo que algumas instituições de ensino realizem atividades de educação permanente dos
enfermeiros educadores, a capacitação docente ainda é considerada um desafio. Diria que está
em estado embrionário, necessitando de reconhecimento pela instituição de sua necessidade e
sua inserção no projeto pedagógico e prática educativa. 5
Foi visto que a insatisfação dos formandos de enfermagem está relacionada, principalmente,
à postura de alguns professores frente às metodologias de ensino adotadas na instituição.
Diante o contexto, os mesmos sugerem estratégias para aprimorar o processo de ensinoaprendizagem.
Investir em educação ou práticas baseadas em evidências. (Alacoque) Maior relação da
prática com a teoria [...]. (Gil)
14
Maior disponibilidade para realização de atividades extra, [...]. (Aristóteles) momentos de
discussão em sala e sugestões de temas por parte dos alunos. (Rousseau) [...] diversificação de
métodos, a inclusão de módulos tutoriais como um dos principais recursos. (Auad)
Buscar sempre formas diversas de ensino, não ficar preso às aulas expositivas e estimular a
busca de conhecimentos pelo aluno. (Morin)
Aulas menos expositivas, diminuição do uso de provas teóricas, deve-se utilizar outros
recursos como tutoriais, debates, seminários. (Goleman) Incorporar metodologias de ensino
coletivas como o “tutorial” que promove o conhecimento de uma forma participativa. (Teixeira)
Que fosse explorado com maior intensidade o método de ensino baseado em
problematização. (Durkheim) Discussão e crítica entre alunos, professores, comunidade,
trabalhadores da área. (Marx)
A formação profissional assume um papel inquestionável como forma de possibilitar a
aquisição de saberes e práticas imprescindíveis à atuação do docente. A capacidade e
competência que se espera do professor na contemporaneidade não acontece tão
simplesmente pelo seu exercício profissional em função de sua formação, seja ela inicial ou
continuada, mas que seja caracterizada a partir do processo de reflexão-ação-reflexão. 7
A interdisciplinaridade na prática docente implica em um novo tipo de educador, mais flexível
e mediador na produção de conhecimento, para que os estudantes se apropriem do
conhecimento a partir da ação-reflexão-ação. Portanto, o educador precisa superar a prática
individual e trabalhar no coletivo. Isso pressupõe planejamento e ação coletivos envolvendo
ajuste de ações e projetos que objetivam a interligação e construção dos saberes. 5
Nesta perspectiva, é indispensável o estabelecimento de programas de formação continuada
e permanente, voltados para a docência, que consideram a reflexão sobre a prática,
universidade como local de formação, coletivo e o saber experiencial. 4
Considerações finais
Diante a percepção dos formandos de enfermagem sobre a prática docente vivenciada na
IES em que estudam, notou-se que apesar de vários terem afirmado que alguns professores
encontram preparados para assumir a prática docente e inserir no processo de ensinoaprendizado novas propostas metodológicas, relacionando a teoria e a prática, ainda existe um
déficit neste processo que interfere negativamente na educação oferecida no curso de
enfermagem.
Sugere-se que a prática docente seja repensada, de forma que o ensino ocorra de forma
horizontal, trans e interdisciplinar, e que os estudantes sejam protagonistas ativos do processo
educacional, pois, desta forma, será possível formar profissionais de qualidade e
comprometidos com a profissão e o social. Portanto, a partir desta formação será possível
prevenir futuros entraves na educação, vez que o enfermeiro também poderá estar atuando em
sala de aula.
Referências
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perspectivas epistemológicas emergentes na formação de profissionais da
Enfermagem. Rev enferm UFPE on line [Internet]. 2011 set; 5(7):1759-67.
2. Mitre SM, Siqueira-Batista R, Mendonça JMG, Morais-Pinto NM, Meirelles CAB,
Pinto-Porto C et al. Metodologias ativas de ensino-aprendizagem na formação
profissional em saúde: debates atuais. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2008;
13 (Sup 2):2133:44.
3. Marchiori LLM, Melo JJ, Melo WJ. Avaliação docente em relação às novas
tecnologias para a didática e atenção no ensino superior. Avaliação (Campinas)
[Internet]. 2011; 16 (2):433-43.
4. Rodrigues MTP, Mendes Sobrinho JAC. Enfermeiro professor: um diálogo com a
formação pedagógica. Rev bras enferm [Internet]. 2007; 60(4):456-9.
5. Gubert E, Prado ML. Challenges in the pedagogical practice in nursing
professional education. Rev Eletr Enf [Internet]. 2011 abr/jun; 13(2): 285-95.
6. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2010.
7. Silva WR, Bertoni S. La formación de profesores de enseñanza superior en la
perspectiva productora de saberes y prácticas educativas. EFDeportes.com,
Revista
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jun;
15:
145.http://www.efdeportes.com/efd145/a-formacao-de-professores-do-ensinosuperior.htm
8. Oliveira KL, Santos AAA. Avaliação da aprendizagem na Universidade. Psicol Esc
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9. Rodrigues J, Zagonel IPS, Mantovani MF. Alternativas para a prática docente no
ensino superior de enfermagem. Esc. Anna Nery [Internet]. 2007, 11(2):313-7.
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