Press Kit - Amadora BD

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Press Kit - Amadora BD
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Contacto de imprensa:
Helena César
[email protected]
[email protected]
919042257 - 214369055
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4
Nota de abertura
5
Presenças confirmadas
6
Plantas Fórum Luís de Camões
7
Informações gerais
8
Projeto arquitetónico do Amadora BD, Memória descritiva
Fórum Luís de Camões
10Exposições
10
Exposição Central - A Criança na BD
27
Quim e Manecas 1915-1918
28
Os Quadrinhos da Fundação Casa Grande
29
Jim del Monaco: O Cemitério dos Elefantes
29
O Pugilista de Reinhard Kleist
Exposições de Álbuns Premiados PNBD 2014
30
Melhor Álbum Português - Zona de Desconforto
31
Melhor Desenho para Álbum Português - Pedro Massano, A Batalha 14 de Agosto de 1385
32
Melhor Argumento para Álbum Português - André Oliveira - Hawk
33
Melhor Álbum de Tiras Humorísticas - Álvaro - No Presépio
34
Melhor Álbum de Ilustração Infantil - Lôá Perdida no Paraíso - Vera Tavares
35
Melhor Álbum de Autor Estrangeiro - Tony Sandoval - As Serpentes de Água
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Ano Editorial Português 2014/2015
44
Nomeados Prémios Nacionais de BD 2015
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Concursos de BD e Cartoon 2015 e Concurso Municipal Infantil de Banda Desenhada e Ilustração
48
O 30.º Aniversário da Tertúlia de BD de Lisboa
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Projeto Escolhe Viver - Não Pises o Risco
Amadora BD Júnior
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Cinema de Animação
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Apresentações e Lançamentos
58
Festa da Caricatura
58
Desfile Cosplay
58
Editores e Livreiros
O Festival pela Cidade
Bedeteca da Amadora - Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos
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Putain de Guerre! - A Guerra das Trincheiras - Jacques Tardi
59
Quim e Manecas vão à Guerra - Stuart Carvalhais
Galeria Municipal Artur Bual (Casa Aprígio Gomes)
60
Amadora Cartoon
60
OXI e o Cartoon Grego
Recreios da Amadora
62
Putain de Guerre! - Jacques Tardi e Dominique Grange
62
Cerimónia de Entrega dos Prémios Nacionais de Banda Desenhada
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Índice
O Festival na Grande Lisboa
LISBOA
Biblioteca Camões
63
Ponto das Artes (LxFactory)
63
El Cuadernista: notas de um quotidiano entre Lisboa e Madrid - Richard Câmara
Lisbon Calling - vários autores
Musicbox
64
Lawrence Klein
ALMADA
Casa da Cerca
64
65
Viagem Desenhada - Ricardo Cabral
Ficha Técnica
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Nota de Abertura
Pela Presidente da Câmara da Amadora, Carla Tavares
A longevidade do Amadora BD – Festival Internacional de Banda Desenhada é, certamente, a melhor forma de explicar o sucesso desta iniciativa que tanto orgulho traz ao nosso concelho e enaltece o panorama
cultural da nossa cidade.
A afirmação da Amadora como a cidade da BD em Portugal tem sido pautada por um percurso notável,
não somente pelo crescente reconhecimento nacional e internacional do festival, mas também por pequenos passos que, juntos, têm aproximado a nona arte dos amadorenses e atraído a atenção de cada
vez mais visitantes. A inauguração da Bedeteca há cerca de um ano e a recente multiplicação de Pinturas
Murais em diversos locais do concelho são disso exemplos. Consequentemente, o êxito deste projeto tem
permitido a sua expansão além-fronteiras, com a dinamização de exposições e outros eventos em diversos locais da Área da Grande Lisboa.
Todos os anos, por esta altura, a Amadora vive dias de maior agitação e acolhe prestigiados artistas nacionais e estrangeiros que nos trazem novos conceitos e diferentes visões sobre uma paixão comum: a
Banda Desenhada.
A 26.ª edição do Amadora BD pretende ser uma homenagem ao centenário das personagens infantis
Quim e Manecas, do português Stuart Carvalhais, e o tema escolhido é “A Criança na BD”.
Inevitavelmente, a Exposição Central leva-nos a refletir sobre a Criança de uma forma mais abrangente,
mostrando como a sua representação tem evoluído ao longo dos tempos e como a sua imagem tem vindo
a ser usada, nas últimas décadas e até aos dias de hoje, para veicular mensagens distintas.
Entre as diversas exposições existentes, merecem destaque, além de Quim e Manecas 1915-1918, os álbuns
premiados nos Prémios Nacionais de Banda Desenhada 2014, a mostra do Ano Editorial Português, e,
como não poderia deixar de ser, as exposições dos novos talentos descobertos no Concurso Nacional de
Banda Desenhada, este ano relativo ao tema “Uma nova aventura de Quim e Manecas”, o Concurso Nacional de Cartoon e o Concurso Municipal de BD e Ilustração, este último sob o mote “Os Direitos da Criança”.
Apesar de todas as atenções se voltarem para o Fórum Luís de Camões, a crescente magnitude e pluralidade deste certame têm-no feito espalhar-se por diversos locais da Amadora, sendo a Bedeteca um local
de passagem obrigatório. É lá que estão concentradas as exposições “Putain de Guerre! A Guerra das
Trincheiras”, de Jacques Tardi e “Quim e Manecas vão à Guerra”, de Stuart de Carvalhais, que nos trazem
histórias com perspetivas antagónicas sobre a Primeira Grande Guerra, no âmbito da evocação do seu
centenário.
Ainda sobre a Grande Guerra, os Recreios da Amadora acolhem um espetáculo evocativo deste conflito,
da autoria de Tardi e de Dominique Grange, no qual os fãs deste artista francês terão oportunidade de
confirmar a sua versatilidade e assistir a um espetáculo único.
A Galeria Municipal Artur Bual – Casa Aprígio Gomes acolhe a exposição “OXI e o Cartoon Grego”, além
de uma das mostras mais acarinhadas pelo público - o Amadora Cartoon – este ano sob o mote Traços de
Fantasia e Irreverência, homenageia o asturiano Fernando Ruibal Piai e o português Rui Duarte.
O convite à submersão no mundo das histórias aos quadradinhos está feito. A par da entrega dos Prémios
Nacionais de Banda Desenhada, do Amadora BD Júnior, do Cinema de Animação, às habituais visitas
guiadas e ateliês, este festival conta ainda com a novidade do Cosplay, sem deixar esquecer a cada vez
mais aclamada Festa da Caricatura.
Os ingredientes estão combinados para repetir a receita de sucesso. A cidade da Amadora está preparada
para acolher os visitantes e com eles celebrar a ascensão da Nona Arte em Portugal.
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20 a 25 de outubro
Mathieu Sapin (França) O autor de “Le Château” vem à Amadora, no âmbito de um álbum policial que irá
publicar, cuja ação se passa nesta cidade.
21 a 27 de outubro
Lawrence Klein (EUA), fundador do MoCCa - Museum of Comic and Cartoon Art (Nova Iorque) vem ao
Amadora BD por ocasião da exposição Lisbon Calling, no Ponto das Artes - Lx Factory - para a qual desafiou diversos autores portugueses a criarem universos hídridos onde se fundem as culturas portuguesa
e americana.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Presenças confirmadas
24 e 25 de outubro
Yannis Ioaunnou (Grécia). Amadora Cartoon/OXI e o Cartoon Grego.
24 e 25 de outubro
Jacques Tardi, Dominique Grange (França) Putain de Guerre! nos Recreios da Amadora, Putain de Guerre!
- A Guerra das Trincheiras, na Bedeteca da Amadora. O autor está nomeado para os Prémios Nacionais de
Banda Desenhada 2015 com Foi assim a Guerra das Trincheiras, editada pela Levoir/Público.
31 de outubro e 1 de novembro
Fernando Ruibal Piai (Galiza) Amadora Cartoon.
Henrique Magalhães (Brasil) Lançamento Teu nome, Maria! Teu apelido, Lisboa (Polvo).
André Diniz (Brasil) Lançamento Que Deus te abandone (Polvo).
Horácio Altuna (Argentina) Exposição central A Criança na BD.
7 e 8 Novembro
Reinhard Kleist (Alemanha) tem uma exposição no Festival dedicada ao álbum “O Pugilista” (Polvo) que
é agora lançado em Portugal. O autor vai ainda fazer uma sessão de live drawing durante um dj set com
temas de Nick Cave e Johnny Cash, no Musicbox.
Felipe Alves (16 anos) e Tainara Meneses (15 anos) Exposição da Fundação da Casa Grande (Brasil). A
Fundação é, literalmente, administrada por crianças e jovens: estas desenvolvem competências extraescolares artísticas, arqueológicas, comunicacionais, de gestão e empresariais, sem nunca esquecerem que
são crianças e sempre, sempre, com a brincadeira como prioridade.
Marcello Quintanilha (Brasil) Lançamento de Talco de Vidro (Polvo).
Lindomar Sousa, Olímpio de Sousa, Tché Gourgel e João Mascarenhas a propósito o debate “Os 40 anos
da BD angolana”, no âmbito dos 40 anos de independência de Angola.
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PLANTAS
FÓRUM LUÍS DE
CAMÕES
Recreios da Amadora
Exposições
Visitas Guiadas
Amadora BD Júnior
Apresentações e Lançamentos
Cinema de Animação
Outras Actividades
Editores e Livreiros
Estação Ferroviária do Cais do Sodré
Junta de Freguesia de Benfica
Junta de Freguesia de Agualva
Mira-Sintra
Musicbox
Casa da Cerca (Almada)
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Plantas Fórum Luís de Camões
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Zona de Desconforto
Saída
Emergência
O Caderno
Entre Marg
A Criança na BD
Exposição Central
Reinard Kl
Autógrafos
Auditório
Feira
do Livro
Pedro Massano
Os Quadrinhos
da Fundação
Casa Grande
Quim & Manecas
1915-1918
NTAS
UM LUÍS DE
ÕES
Programação Nuclear
WC
Programação Satélite
Fórum Luís de Camões
(Núcleo Central de Programação)
Exposições
Visitas Guiadas
Amadora BD Júnior
Apresentações e Lançamentos
Cinema de Animação
Outras Actividades
Editores e Livreiros
Bedeteca
Casa Aprígio Gomes
Recreios da Amadora
Ano
Editorial
Português
Álvaro
O Festival pela Cidade:
Amadora
Espaço Infantil
André Oliv
Recepção
Entrada /Saída Piso 0
Entrada Bilheteira
DORA BD
GRAMA 2015
Grande Lisboa
Elevador
Entrada /Saída
Piso -1
Biblioteca Camões
Concurso Infantil
Ponto das Artes (LxFactory)
Estação Ferroviária do Cais do Sodré
Junta
Freguesia de Benfica
Verade
Tavares
Junta de Freguesia de Agualva
Jim del Monaco:
Mira-Sintra
O Cemitério dos Elefantes
de Luís Louro e António
Musicbox
Simões
Casa
da Cerca (Almada)
Piso O
Tony Sand
Piso -1
Zona de Desconforto
Saída
Emergência
O Caderno de Viagens
Entre Margens
ança na BD
sição Central
Reinard Kleist
Autógrafos
Auditório
Feira
do Livro
Pedro Massano
Loja
Amadora BD
Concursos
Os Quadrinhos
da Fundação
Casa Grande
& Manecas
1918
André Oliveira
Espaço Infantil
Recepção
Entrada /Saída Piso 0
Entrada Bilheteira
WC
Ano
Editorial
Português
Álvaro
Concurso Infantil
Elevador
Entrada /Saída
Piso -1
Vera Tavares
Tony Sandoval
Jim del Monaco:
O Cemitério dos Elefantes
de Luís Louro e António
Simões
Piso O
6
Loja
Amadora BD
Concursos
Piso -1
Morada
Fórum Luís de Camões
Rua Luís Vaz de Camões, Brandoa
2650-197 Amadora
Horário
De 23 de outubro a 8 de novembro
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Informações gerais
Inauguração: 23 de outubro, às 21h30
Sextas e sábados: das 10h00 às 23h00
Domingo a quinta: das 10h às 20h00
Bilhetes
Grátis até aos 12 anos
Geral: 3,00€
Estudantes, reformados e pensionistas: 2€
www.amadorabd.com
As exposições que fazem parte da programação paralela do Amadora BD são gratuitas: Bedeteca da
Amadora, Galeria Municipal Artur Bual (Casa Aprígio Gomes), Biblioteca Camões, Ponto das Artes (Lx
Factory) e Casa da Cerca.
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Projeto de arquitetura
Amadora BD 2015
Memória descritiva
Vírgula i - arquitetos
Numa edição que tem como tema e exposição central “A Criança na BD”, pretende-se que,
para além da abordagem da criança como personagem de BD, o próprio espaço aposte na
visão fantasiosa dos mais pequenos sobre o mundo e a sua capacidade de projetar no quotidiano diferentes imaginários de fantasia e aventura.
O tema é entendido e apropriado no projeto de arquitetura através da visão fantasiosa da
criança sobre o mundo e a sua capacidade para projetar no quotidiano diferentes imaginários
de fantasia e aventura. Neste contexto e tomando como referente histórias como as de Calvin &
Hobbes, onde um simples caixote de cartão se “transforma” ora em máquina do tempo, ora em
transmutador, ora em nave espacial, ora em duplicador, etc., também no projeto se recorre ao
cartão como material simples e de baixo custo, para gerar diferentes momentos, convertendo
elementos de edições anteriores em novas peças de mobiliário, em novos suportes expositivos,
em elementos de separação e conformação espacial ou, por si só, em elemento construtivo, em
suporte de conteúdos e em material de revestimento.
Ao mesmo tempo, referências como as feiras populares, os jardins e os seus coretos, os quiosques, as arenas e os campos de jogos – espaços de diversão e de evasão – inspiram espaços
nos quais também a realidade é substituída por uma lógica de fantasia e de diversão, alternativa ao quotidiano.
Neste sentido, no piso 0, correspondente ao pavilhão polidesportivo, o projeto desenvolvese em três zonas distintas: uma primeira zona que acolhe os visitantes, onde se encontram a
receção e a bilheteira; uma segunda zona dedicada à exposição central e que funciona na perimetria do pavilhão e uma terceira zona, constituída por um amplo espaço central dominado
por uma estrutura dedicado aos autógrafos.
Esta estrutura, inspirada num carrossel e situada no centro deste terceiro núcleo, domina e
caracteriza a praça dos autores, sendo em torno deste espaço que se distribuem os espaços
comerciais. Estes, ao criar o limite da praça central, criam a fronteira com a área expositiva,
configurando a necessária separação e independência programática.
A materialização desta parede procura, à semelhança do que acontece no universo infantil,
converter os tubos de cartão numa outra entidade que, neste caso, configura um muro de
caráter arquitetónico – o elemento-fronteira que separa a realidade exterior da interior. Ao
transpor este elemento, o visitante depara-se com o primeiro espaço que o orienta para o início do percurso da exposição central, permitindo também o acesso direto à praça comercial
central. Optando pela via do percurso expositivo, o visitante é conduzido através de um túnel,
cuja cobertura tipo pérgula é também materializada com recurso a tubos de cartão, e de uma
sequência de espaços com configurações e dimensões variadas, que oferecem uma leitura
linear da exposição.
O final deste percurso é marcado por um segundo túnel, semelhante ao primeiro, ao qual se
sucedem dois espaços expositivos, já fora da temática da exposição central. No final deste percurso o visitante é conduzido à praça comercial e desta, de novo para a saída e para o ponto
de partida do percurso.
O festival continua depois no piso -1, para o qual o visitante é conduzido ao sair do pavilhão polidesportivo. Já no exterior, os elementos de iluminação e de sinalética orientam para a escada
de acesso ao piso inferior configurando também a zona que anuncia o festival, pela presença
de dois volumes iluminados e por cabos com lâmpadas de cor, que conferem um espírito festivo ao espaço.
No piso -1 organiza-se um percurso que circula em redor de dois elementos centrais: o auditório e o espaço arena que alberga a exposição do ano editorial. No perímetro exterior deste
conjunto e adossadas às paredes perimetrais do espaço, localizam-se os diversos espaços expositivos, as zonas de atelier infantil e de workshops, e diferentes suportes expositivos.
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É logo no momento de entrada que o visitante é confrontado com o auditório – delimitado
por uma parede de caixas de cartão que o autonomizam em relação ao espaço envolvente.
Este espaço, de forte dinâmica e importância programática, é aqui colocada em conjunto com
No segundo núcleo do piso – o do espaço arena – é criado um espaço retangular, pavimentado
com relva artificial, rodeado por estruturas com diversas alturas que dão suporte à exposição
do ano editorial, proporcionando momentos de sentar e ler que, ao mesmo tempo, encerram
uma zona de estar onde se podem realizar diversas atividades.
Em torno deste espaço são criadas quatro salas expositivas, todas elas delimitadas por quatro
paredes e com possibilidade de maior independência programática, assim como o espaço
infantil, a zona dedicada aos workshops e outros tipos de suporte expositivo destinados a
concursos.
Tal como no piso superior, o visitante é convidado a percorrer o piso de forma continua, apesar
da existência de momentos e espaços distintos e da existência de percursos alternativos, zonas
mais focadas na dinâmica entre a criança e o espaço e zonas de estar e de descanso, sempre
pontuadas pela presença de livros.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
a zona da receção e da loja Amadora BD, marcando também o início do percurso expositivo.
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Exposição Central
Comissariado: João Paulo de Paiva Boléo, com sugestões de Pedro Moura
Texto: João Paulo de Paiva Boléo (o autor escreve segundo a antiga ortografia)
Cenografia: GNBT
A Criança na BD
1) Tropelias infantis – inocência e perversidade
2) Heróis / Aventura
3) A infância em grupo – “Turmas” / Família / Escola
4) Peanuts / Mafalda / Calvin
5) O fim e a revisitação da infância
A Criança na Banda Desenhada
A BD e a criança
Quando se fazem listagens, levantamentos de obras em qualquer actividade da criação artística em sentido amplo, é hoje habitual sublinhar que tanto ou mais do que a importância de
que se revestem as escolhas (que permitem sempre a muitos interessados alargar horizontes
e fazer estimulantes descobertas), elas são no fundo o reflexo de uma época, de uma visão
concreta e delimitada num espaço e num tempo. Mais sintoma do que cânone.
Quando se aborda o vastíssimo tema da Criança na banda desenhada (BD), não está em causa
uma escolha meramente pessoal – embora o gosto e alguma subjectividade estejam inevitavelmente presentes – mas a preocupação de abarcar de uma maneira tanto quanto possível
expressiva e representativa esse universo, conjugando um conjunto de critérios que se consideram os adequados para o objectivo em causa (uma exposição no Festival Internacional de
Banda Desenhada da Amadora, partindo da celebração do centenário de Quim e Manecas
para uma panorâmica e uma reflexão mais vastas) e tendo presentes naturais limitações de
acesso aos materiais ou outras que condicionam naturalmente o resultado final.
Situamo-nos, desde logo e apenas, no universo da Banda Desenhada, sem esquecer que apesar das suas evidentes especificidades e originalidades, por vezes de grande qualidade, se insere numa tradição muito mais ampla da imagem da Criança nas artes plásticas e na literatura.
Daí que – esclareça-se desde já – salvo situações subjacentes não se consideraram as bandas
desenhadas que adaptam directamente obras literárias ou personagens que se imortalizaram
na literatura e passaram para outros suportes, do cinema à BD. Só isso daria outra exposição, e
seria interessante analisar a diversidade de adaptações e transposições. Como se exclui igualmente a ligação cada vez maior entre cinema e BD e as muitas passagens daquele para esta,
e vice-versa.
Procurou-se, assim, evocar as linhas mestras da forma como a Criança se tornou uma das presenças essenciais da e na BD, em núcleos que reúnem (com a artificialismo que sempre implica
de algum modo) as abordagens dominantes, mas tendo como um dos critérios delimitadores
fundamentais a realidade portuguesa, num duplo sentido. Desde logo, dar uma panorâmica
tão representativa quanto possível do mundo infantil (ou infanto-juvenil) e familiar na visão
dos nossos autores de BD, e desde cedo. Mas, por outro lado, destacar as séries, os heróis,
que marcaram o imaginário dos leitores portugueses, que nalguns casos passaram mesmo a
fazer parte das referências culturais de uma ou várias gerações, passaram a ser, na expressão
consagrada por João Bénard da Costa, muito lá de casa.
Mais do que uma leitura aprofundada, detalhada caso a caso, pretende-se, pois, a partir de uma
exemplificação ampla mas também simbólica – e onde haverá inevitavelmente falhas e alguns
sentirão seguramente a ausência daquele herói, daqueles miúdos ou miúdas que os marcaram
indelevelmente – tentar perceber e apreender como é que afinal a BD (os seus autores, desenhadores, argumentistas, editores) “pegaram” nas crianças. E depois, como é que elas “marcaram” os leitores, de todas as idades em muitos casos.
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E também neste aspecto, se quisermos tirar ilações sociológicas, se calhar a maior parte do
A BD e a descoberta do mundo. A descoberta do mundo na BD. Ao pensarmos na relação
entre a BD e as crianças estamos a pensar na forma como ela nos apresenta as crianças na sua
relação com o mundo, estamos a pensar quais obras de BD são para crianças, ou estamos a
pensar na nosso própria descoberta do mundo (também) através da BD, do que ela nos ensinou, dos horizontes que nos abriu?
Está por (com)provar – que saibamos – se é fundamental ter lido BD em criança para verdadeiramente a compreender, fazer funcionar a imaginação que preenche o espaço branco entre as
imagens, ter a capacidade de entender todos os seus códigos e ser capaz de apreender toda a
sua riqueza, humor, subtileza. Provavelmente é.
Porventura ainda mais difícil será definir o que é BD para crianças, não só pela pluralidade de
leituras que muitas obras permitem, mas também pelos diferentes níveis de maturidade das
próprias crianças.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
universo infanto-juvenil presente dirá mais sobre literatura e gosto (ambos em sentido amplo)
do que propriamente sobre a condição da Criança no século XX, por exemplo, sem deixarem
de transparecer, naturalmente, muitos elementos. E se calhar nem sempre nas obras mais famosas.
Recorde-se, aliás, que apesar do muito caminho percorrido pela BD, ainda paira em termos gerais e está presente em muitos espíritos a ideia de que é uma coisa para crianças. Convém, pois,
sublinhar desde já que quando se olha para o universo da BD com atenção e sem preconceitos,
rapidamente se percebe que não é bem, em muitos casos, e não é, em muitos mais ainda, nada
assim. Mesmo em relação a algumas séries protagonizadas por crianças.
Mais fácil, aparentemente, seria definir, ou delimitar a criança, em termos etários pelo menos.
A lição anglo-saxónica, ou se preferirmos a puberdade, pode dar uma ajuda fundamental, e
nesse sentido seremos crianças, como regra e como base de trabalho, até aos 12 anos, antes
dos teen-agers.
Não é essa, no entanto, a perspectiva da Convenção sobre os Direitos da Criança da Unicef, de
1989, segundo a qual «criança é todo o ser humano menor de 18 anos», critério compreensível
para a protecção de crianças e jovens perante tantas violências, tragédias e atrocidades, mas
que não é de todo operacional neste contexto, sob pena, por um lado, de ser BD para crianças
quase toda a BD, e, por outro lado, de ser BD com crianças uma boa parte da BD, subsumindo
na criança o adolescente, o jovem, com todas as diferenças inerentes.
Curiosamente e em sentido oposto, num livro recente da Fundação Francisco Manuel dos Santos sobre Adolescentes, a pediatra Maria do Céu Machado começa por falar dos «adolescentes
dos 10 aos 14 anos», e recorda que a «Organização Mundial de Saúde define a adolescência
como o período da vida dos 10 aos 20 anos e a juventude dos 15 aos 24 anos de idade» (p. 16).
Mas já muito mais difícil, de novo, será definir a criança na História, será determinar quando,
em que sociedades, é que a criança foi tratada e encarada como tal, e não como um adulto
em ponto pequeno, um aprendiz para o mundo do trabalho e da produção desde tão pequeno
quanto possível.
Colocando-nos na perspectiva do senso comum (e de leigo…) poderia dizer-se que uma das
mais interessantes não-controvérsias da sociologia e dos estudos sobre a vida quotidiana diz
respeito à “invenção” moderna da criança.
É da “cultura geral” e pacífico (?) que a criança apenas se terá historicamente autonomizado e
sido encarada como tal na (con)sequência das dinâmicas sociais da Revolução Industrial e da
Revolução Francesa e das reflexões inerentes de filósofos que marcaram e influenciaram essas
transformações e o tempo futuro (o nosso).
Antes disso, e desde a mais longínqua Antiguidade, a criança não era mais do que um adulto
em ponto pequeno, passando das “saias da mãe” para o mundo do trabalho.
E se pensarmos nos direitos das crianças (acompanhando outros movimentos e outras declarações no mesmo sentido), então só em pleno século XX é que verdadeiramente se poderia
começar a falar em crianças. E é incontroverso o desenvolvimentos exponencial do papel da
criança na(s) nossa (s) sociedade(s), incluindo a esmagadora componente comercial e de consumo.
E no entanto…
Não é aqui nem o tempo nem o lugar (nem a pessoa…) para tratar aprofundadamente e demonstrar que talvez não seja bem assim. Desde que há arte que há a presença da criança na
arte, e há muitos exemplos (desde logo funerários e memorialistas) e objectos (desde logo
brinquedos) que mostram uma especificidade na maneira de encarar, de perpetuar esses seres
que indiciam não só uma consciência natural mas uma ternura pelas crianças como tal, com a
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
sua originalidade, fragilidade e imaginário próprios. Em plena Idade Média, aliás, nas palavras
de Frei Bento Domingues (Público, 4/10/2015), S. Francisco de Assis «colocou a criança no
coração da cultura europeia, ao recriar o Natal».
Mas isso, como se costuma dizer, é outra história.
A Criança na BD
Não se trata, pois, aqui, compreensivelmente, de nenhum tratado sobre a Criança na História e
na Arte, mas pretende-se, mais modesta mas impressivamente, evocar exemplos significativos
e simbólicos da criança nas imagens e da imagem da criança numa vertente que virá a ter um
papel determinante, a banda desenhada. E, entre muitas nuances, em dois vectores essenciais.
Como reflexo do universo infantil, no tempo da sua criação, mas também como instrumentos
de reflexão sobre o mundo e a sua descoberta. Crianças/crianças, até certo ponto, mas também crianças/símbolos, crianças/filósofos. Numa interligação nem sempre fácil de desconstruir, pois muitas criações da BD, muitas personagens de tenra idade são simultaneamente
abstracções e miúdos ou miúdas concretos, como que reais.
Acompanhando o desenvolvimento editorial geral, seria apenas no século XIX que surgiriam as
publicações (também) dedicadas às crianças, as revistas “especializadas”, as preocupações de
formação e educação, sem esquecer a vertente lúdica.
À medida que a imprensa se foi desenvolvimento e aperfeiçoando, quer em publicações periódicas quer mesmo (já) em livro, foram também surgindo, de forma mais elaborada, extensa e
convincente, histórias em imagens, sendo hoje pacífico atribuir a paternidade da BD moderna,
as origens da BD como a entendemos e encaramos, ao suíço Rodolphe Töpffer, sem ir a narrativas em imagens mais remotas ou mesmo aos primeiros séculos da imprensa depois da criação
dos caracteres móveis.
E a partir de meados do séc. XIX, entre muitas outras predominantemente para adultos ou –
aspecto relevante – para todas as idades, vão surgindo na Europa muitas BDs com e para crianças, com destaque, talvez, para países como a França, em geral com um tom mais edificante,
e a Alemanha, com um leque significativo de grandes artistas e um humor muitas vezes mais
carregado e mesmo cruel.
E quando nos cingimos às crianças na BD, que é o universo aqui especialmente evocado, a
pluralidade de abordagens, de registos, de características, de psicologias, etc., descobrimos
não só uma diversidade surpreendente, mas uma pulverização das características etárias, formas muito diferentes de evocar e retratar o universo infantil, mas também de o utilizar como
parábola, como símbolo, como enquadramento, como descoberta, como aprendizagem, como
socialização.
As crianças começam por ser, na BD ou através dela, um espaço de liberdade e imaginação.
De Max und Moritz à Aventura
Poderia dizer-se, muito resumidamente, que há duas tendências que se cruzam em relação às
primeiras presenças das crianças na BD moderna (nos termos propostos), sem esquecer, aliás,
que a BD, associada à caricatura e à sátira, ao “comentário” político, vai começar por ser sobretudo para adultos.
As crianças traquinas, ou mesmo mais do que isso, que fazem tropelias e patifarias, rebeldes,
que fazem trinta por uma linha, e as crianças bem comportadas, exemplares, que surgem como
representantes de histórias edificantes, personagens que corporizam uma visão educativa em
geral em fundo confessional de forte influência cristã e católica, mas também podendo ser em
contexto republicano.
Esse lado educativo e pedagógico está em geral associado a certo tipo de publicações destinadas aos mais novos e aos educadores, mas está longe de constituir as referências que mais
impacto tiveram e que mais marcaram gerações e depois a memória dos estudiosos – que tem
sempre escolhas e esquecimentos por vezes injustos e injustificados, mas que em geral conserva e destaque efectivamente o mais marcante.
E com nuances e talentos artísticos variados, são as crianças “diabretes”, em geral aos pares e
com maiores ou menores enquadramentos familiares e de grupo, que vão dominar a presença
desta faixa etária na BD.
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Como é natural, pelo seu apelo e pelas características de personalidade, de imaginação, e de
criação de um universo coerente, as crianças “más” são mais propensas à criação de séries, a
Neste confronto entre meninos “bem” e “mal” comportados, em termos de criatividade, de
continuidade e de construção de um universo coerente e mais rico, portanto, os “maus” ganham claramente aos “bons”.
Sublinhe-se no entanto que, se há exemplos perversos e muito cruéis (no fundo, são sempre
adultos os autores…), muitas vezes o que predomina é um ambiente louco e indisciplinado,
mais propenso à “defesa e ilustração” de uma liberdade anárquica ou anarquista do que à maldade, não faltando cumplicidades entre adultos e crianças.
E neste aspecto e contexto é incontornável começar pelo começo. Pelo impacto, qualidade,
perenidade e influência, podemos dizer que as crianças irrompem estrondosamente (pela truculência das tropelias e pela violência do castigo) na BD com Max und Moritz do artista alemão
Wilhelm Busch, surgidos no terceiro quartel do séc. XIX.
História forte e edificante entre todas, dá o tom. Os miúdos fazem coisas terríveis, que provocam o nosso riso mas também o nosso desconforto e mesmo repúdio, e acabam castigados de
um forma que espantaria se hoje (num tempo em que as imagens são muito mais desbragadamente violentas) “heróis” populares da BD (e do cinema, televisão, computador, etc.) tivessem
um final, ou melhor dizendo um castigo, semelhante.
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uma continuidade de histórias.
Esse modelo, com variações naturais num século e meio de História tão complexa e frenética,
manteve-se sempre como uma das grandes matrizes, e é porventura a que melhor representa e simboliza a criança na BD. Embora, naturalmente, a presença infantil se complexifique e
diversifique com o desenvolvimento da BD, essa faceta rebelde e provocadora manter-se-á.
A partir do séc. XX, porém, de um universo mais “infantil” de tropelias e histórias curtas, vai
emergir (com uma postura mais positiva) a criança/herói num contexto de aventura e de maior
continuidade narrativa, seja com mais elementos de maravilhoso, seja em contexto de acção
mais “clássica”, em que as nuances etárias, quer entre heróis quer no percurso do(s) próprio(s)
herói(s), serão significativas, constituindo seguramente o ponto mais delicado e polémico em
relação às opções (e exclusões) tomadas.
Estes foram os dois principais pontos de partida: as crianças “destruidoras” começando em
Max und Moritz, e as crianças heróis de aventuras. Depois, entre família e escola e grupo, pedagogia e poesia, acção e reflexão, descoberta do mundo ou já memória da infância perdida,
o universo diversificar-se-á, acompanhando tendências e desenvolvimentos.
1 – Tropelias infantis – inocência e perversidade
Tendo sempre presente que quando se resumem linhas mestras e tendências principais há
nuances, excepções, aspectos menos conhecidos que não podem ser contemplados, poderíamos dizer, simplificadamente, que, no sentido já referido, a BD começa por desabrochar na
Europa, vai ter um desenvolvimento decisivo e avançado nos EUA, no virar do século XIX para
o XX, que, por sua vez, vai contribuir para a expansão e aperfeiçoamento de novo da BD europeia, sem prejuízo de algumas continuidades mais convencionais.
E é por isso que – pelo menos simbolicamente e como observou o especialista belga Charles
Dierick perante as páginas inicias de 1915 – se pode afirmar que o missing link desse efeito de
“torna viagem” que vai potenciar uma aceleração e modernização da BD na Europa é o Quim
e Manecas de Stuart Carvalhais.
Não é certamente por acaso que a banda desenhada norte-americana acabou por ficar conhecida por comics. Até à década de 1920 e especialmente de 1930 era o humor que dominava,
em especial nos jornais de grande formato cuja expansão e concorrência contribuíram decisivamente para o verdadeiro eclodir e consolidação da BD na cultura e na arte (muitos ainda
preferem dizer apenas cultura de massas), nos hábitos de leitura e no imaginário de gerações.
E entre uma plétora de séries de grande qualidade e originalidade, muitas delas graficamente espectaculares, o que os suplementos dominicais proporcionavam, também surgiram BDs
protagonizadas por crianças, ou principalmente por crianças, sem esquecer aquelas em que as
crianças também estão presentes como companheiras de “heróis” adultos ou integradas em
grupos de várias idades.
Desse vasto universo, evoquemos algumas das que se destacaram pelo pioneirismo, qualidade
e originalidade e pela longevidade e influência.
É famosa – embora não se deva empolar a sua importância pioneira – a página do Yellow Kid
de 25/10/1896 pelo uso do “balão”, mas é no ano seguinte que a BD vai dar um salto qualitativo
e ter um dos seus marcos mais relevante com o surgimento de uma série com crianças como
principais protagonistas, embora não só: The Katzenjammer Kids. O seu criador, Rudolph Di-
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rks, nasceu na Alemanha, vindo depois a fixar-se nos EUA quando os pais emigraram. E este
facto é particularmente relevante como um dos exemplos mais importantes (e até simbólicos)
de um vasto movimento que, como noutras áreas (desde logo o cinema), contribuiu para enriquecer a cultura americana não só no campo da criação mas também no da fruição, no dos
consumidores que traziam consigo a cultura europeia, alemã e outras. E não por acaso, esta
série, a primeira que simultaneamente é uma verdadeira BD na sua linguagem e teve continuidade na sua publicação regular (viria a ser, no conjunto da sua história, a mais duradoura de
sempre), teria como referência e “ponto de partida” a fundadora BD alemã Max und Moritz. E
daria o tom, num ambiente “louco” em que um conjunto de cinco personagens principais, mas
sobretudo The Captain and the Kids, entrecruzando-se com as mais surpreendentes figuras e
mesmo animais, vão viver as mais variadas peripécias que não deixam de ter um leque variado
de leituras, da crítica social ao puro humor, passando pela pedagogia do crime e castigo, etc.
Este segundo nome da série resultaria de um famoso conflito jurídico pela salvaguarda de direitos devido à “transferência “ de Dirks de um para outro dos principais grupos editoriais, originando duas séries paralelas, a segunda (com o nome inicial) por Harold Knerr, já nascido nos
EUA mas também não por acaso filho de um emigrante alemão chamado Calvin, que animaria
com raro talento até à sua morte.
E sempre a acompanhar o que se vai passando pelo mundo, Portugal teve desde cedo a sua
versão made in Portugal dos Katzenjammer Kids, pela mão de um dos autores europeus mais
inovadores e precursores, Rocha Vieira, com As proezas de Necas e Tonecas no jornal de
grande formato O Século.
Mais tarde estes miúdos (e adultos!) endiabrados passariam por diversas publicações portuguesas, com destaque para O Mosquito, e nos 1970 na revista Carlitos, que se dividia entre esta
série e os Peanuts, etc.
Daqueles mesmos anos fundadores, outro artista importante é Richard Felton Outcault, desde
logo por causa de Yellow Kid, que embora fosse em geral uma cena de página inteira que não
era bem BD, teve de facto algumas páginas importantes, nas quais se inscreve a célebre cena
com um gramofone e o uso… de balões. Mas a sua série talvez mais popular seria Buster Brown,
com o contraste de já não serem miúdos de rua (Hogan’s Alley) mas ser um menino com ar
bem comportado, num ambiente mais “burguês”, mas no fundo não lhe faltando imaginação
para as maldades não isentas de perversidade.
Enquanto estas e outras séries se desenvolviam e divertiam semanalmente (e depois também diariamente) os leitores norte-americanos de todas as idades, e já tinham surgido obras-primas absolutas como Little Nemo (como veremos) ou Krazy Kat, a Europa já percorrera um longo caminho,
em que ainda predominava a BD para adultos, na linha dos grandes mestres ingleses da caricatura
do século XVIII, embora já se verificasse aqui e ali, como vimos, mais edificante ou mais anarquizante, a presença infantil. Mas as séries que se iam afirmando e tornando populares ainda eram em
geral protagonizadas por adultos, como os Pieds Nickelés, embora fossem surgindo figuras (mais)
juvenis, como a encantadora e provinciana Bécassine. Vastíssima viria ser a produção inglesa de
personagens, duplas ou em grupos mais vastos, em geral adultas mas também com significativas
presenças infantis, envolvidos nas mais loucas peripécias, que viram a ter assinalável presença em
Portugal, sendo talvez os mais famosos os baptizados Serafim e Malacueco.
Também a Itália teria uma escola original e marcante em torno da pioneira revista Corriere dei Piccoli, desde 1908, publicando muitas BDs americanas em que os balões eram substituídos por textos e versos em baixo. De entre os seus colaboradores um lugar especial merece Antonio Rubino,
com histórias de uma assinalável modernidade e riqueza gráfica, destacando-se pelo seu arrojo e
originalidade Quadratino, cuja cabeça quadrada vai tomando outras formas geométricas.
E é neste contexto que Portugal vai revelar uma modernidade e uma qualidade que, sincronicamente, raramente voltou a ter no futuro em termos globais, apesar de algumas figuras relevantes e originais que a nossa BD foi tendo ao longo do tempo até aos dias de hoje.
Em contexto adulto, ainda no século XIX bastaria Rafael Bordalo Pinheiro para o documentar,
mas é com Stuart Carvalhais e (com Acácio de Paiva) o seu Quim e Manecas, como há muito
se vem sublinhado, que a BD portuguesa e europeia chega à modernidade e a modernidade
chega à BD portuguesa e europeia.
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Tendo presente a lição americana (que era necessariamente conhecida), e muito antes da maturidade que a BD europeia só atingiria nos anos 1930, surge esta BD com uma qualidade gráfica, uma leveza e desenvoltura, uma modernidade de ritmo, de humor, e até na utilização de
balões que na Europa, de forma consistente, nunca se vira nem veria por uma década ainda. O
missing link. Era como se, vinda do outro lado do Atlântico, a BD tivesse desembarcado aqui,
passado o testemunho a Stuart Carvalhais, só depois começando o seu périplo europeu. É,
pois, em 21 de Janeiro de 1915, que - para recordar o primeiro título - surgem “Quim, Manecas
e o seu cão Piloto”, na tradição das tropelias infantis, ainda ao sabor do improviso.
É a arte e o talento de Stuart que dão cimento a toda esta criação. De um começo ingénuo, inspirado nas partidas de crianças que são uma das matrizes fundadoras da BD, incluindo a muito
provável influência do Yellow Kid no bibe de Manecas, a série vai evoluir rapidamente para uma
assinalável maturidade, rara ou mesmo única na Europa do seu tempo.
O traço fácil e expressivo, a construção da sequência e da prancha como um todo, a modernidade de ritmo, a qualidade, leveza e agilidade gráfica, a beleza e o domínio dos recursos
específicos da BD, a harmonia estética e cromática de muitas páginas, um humor que transparece não só do texto e dos diálogos mas das próprias personagens, das situações, da acção, a
ternura das figuras principais, tudo isso e muito mais fazem de Quim e Manecas, com ou sem
balões, uma das grandes e mais significativas obras da Arte portuguesa do início do nosso
modernismo e mesmo do século XX. Já é tempo, pois, de a banda desenhada deixar de ser
apenas, quando muito, um parágrafo ou uma nota de pé de página nas biografias dos artistas
ou nas Histórias gerais da Arte Portuguesa.
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Muito esquematicamente, podemos estabelecer quatro grandes tipos de histórias (de maior
ou menor dimensão): partidas ingénuas, aventuras “policiais” ou de espionagem, episódios
de cariz político, social ou cultural e participação na Grande Guerra. Claro que por vezes as
coisas se interligam, e há características “transversais”, a principal das quais é a componente
de inventor de Manecas, que é o “herói” principal, exercida sobretudo ao serviço dos Aliados,
contra os “boches”.
Concluído o primeiro ciclo uma semana depois do Armistício, a série só reaparecerá com regularidade nos anos 1930, com excepção de uma passagem pela nova Rússia, incluindo um
encontro com Lenine, logo em 1919, em duas páginas do jornal Os Sports.
Mas o Quim e o Manecas não deixarão de estar presentes na BD, na edição, no merchandising.
Retomados e homenageados por vários artistas, merece especial destaque a sua presença
como “guest stars” no ABC, pela mão de Cottinelli Telmo, integrados na primeira versão do
“Pirilau” que vendia balões. E depois de aparições breves, vão ter presença mais longa em três
publicações apenas: Sempre Fixe (1930-31 e - Manecas e João Manuel - 1939-40), Diário de
Lisboa (1931-39) e Pajem do Cavaleiro Andante (1952-53), o último ciclo.
Para além de Quim e Manecas, Stuart vai participar de forma marcante nas três publicações
da “família” ABC. No próprio magazine, no mais efémero e excelente ABC a Rir, para onde desenhará algumas das suas melhores BDs para adultos, e no ABC-zinho, como se sabe. Passará
por outras revistas marcantes e deixará páginas infantis delicosas no Tic-Tac.
Os Anos 1910 e 20 portugueses podem realmente ser considerados um período áureo da BD
portuguesa. Isso poderá soar estranho porque a memória dos velhos apreciadores de BD e
(con)sequente “tradição oral” recua apenas até à BD de aventuras e as revistas que ficaram míticas, emergindo como “primeiros” grandes autores de BD portugueses artistas como Eduardo
Teixeira Coelho ou Fernando Bento.
Mas efectivamente há todo um movimento, associado ao modernismo mas não só, que vai
ser particularmente inovador quer a nível português quer mesmo europeu, conjugando vários
aspectos (embora a Europa disso saiba pouco e nalguns casos, atrevo-me a dizer, nem queira
saber). A efectiva qualidade artística, a modernidade de linguagem, a precocidade, o conhecimento e adaptação engenhosa da “lição” norte-americana, temáticas inovadoras, caminhos
inexplorados, etc.
Considerando apenas alguns dos mais relevantes que dedicaram também especial atenção às
crianças, tem-se considerado Cottinelli Telmo o segundo moderno da BD portuguesa, com um
traço ainda mais modernista e geometrizante do que o de Stuart, textos igualmente delirantes
e cheios de private-jokes, com destaque para o Pirilau que vendia balões…, inicialmente na revista-magazine ABC desde 1920, ele que viria ser o fundador a grande mestre das publicações
infanto-juvenis, com a criação da revista ABC-zinho, onde congregaria e incentivaria talentos
como o de Cardoso Lopes, Emmérico Nunes, Rocha Vieira, etc., e especialmente Carlos Botelho, que sobretudo na 2.ª série de formato grande e mais colorida irá construir uma obra que é
objectivamente das maiores de toda a BD europeia dessa década, histórias infantis e escolares
como as de Zé Carequinha, aventuras policias e de suspense, histórias mais poéticas como as
de Sanchinho Papa-Figos, tudo culminando na grande aventura, invulgar para a época pelas
peripécias e pela geografia, Zuncha artista de circo, um Tintin avant la lettre, como se tem
sublinhado, em que a mão de arquitecto está presente em breves apontamentos.
Cottinelli teve ainda o mérito e o pioneirismo de convidar desenhadoras como Ofélia Marques,
presente com belas páginas, sendo na 1.ª série do ABC-zinho que surge, numa tira vertical,
a primeira assinatura feminina da nossa BD, Amélia Pae da Vida, pequenos exemplos de um
intervenção feminina artística e literária deveras significativa nessas anos, e que teria uma continuidade apreciável nas publicações femininas da Mocidade Portuguesa.
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Na mesma altura, numa revistinha modesta, suplemento do Diário de Notícias, o Notícias Miudinho, outro grande artista português, notável animalista, Vasco Lopes de Mendonça, animava
delicadas e poéticas histórias com Nicolau e Nicolina ou o elefante Li-Li-Fan, em ambientes
escolares ou outros de tropelias.
E é também em meados da década que outro jornal de referência, O Século, criará um suplemento destinado a longuíssima vida, Pim Pam Pum!, podendo orgulhar-se de ter nascido antes
do 28 de Maio e acabado depois do 25 de Abril. As personagens infantis que lhe dão o nome,
ou cujo nome as inspirou, animadas pelos directores artístico (Eduardo Malta) e literário (Augusto de Santa-Rita), em histórias ingénuas, vão mesmo ter um curiosíssimo episódio em que
no dia 3 de Junho de 1926 são condecoradas por António Maria da Silva, primeiro-ministro que
entretanto fora deposto logo a seguir ao 28 de Maio… e também a secção Barraca de Fantoches, além dos responsáveis, reuniu nomes como, ainda uma vez, o de Cardoso Lopes, com
desenhos simples mas histórias bem apanhadas e versos muito divertidos e memorizáveis que
viriam a fazer parte de uma autêntica tradição oral da famílias.
10 anos depois de Quim e Manecas, em termos narrativos desde logo mas também na imaginação e na poesia, e sem esquecer autores e séries populares desde o século XIX, a BD na Europa (e em especial na França) iria ter como que um novo nascimento com a série Zig et Puce
de Alain Saint-Ogan. Lá iremos. E na sequência desse modelo de algum modo fundador, mas
também conhecendo a mais avançada BD norte-americana (e provavelmente não conhecendo
a BD portuguesa…), um jovem que assinava Hergé deu um passo decisivo com a criação de
Tintin. E pouco depois daria vida às peripécias de dois miúdos de Bruxelas, Quick et Flupke,
que, não esquecendo a já longa tradição existente nos dois lados do Atlântico, renovariam a
BD com tropelias de crianças. A caracterização detalhada do bairro onde se movimentavam, a
clareza narrativa focando-se no essencial, a vitalidade e vivacidade dos miúdos e das personagens envolventes, um toque poético, sem esquecer alguns reflexos da realidade político-social
envolvente deram à BD uma assinalável dimensão de humanidade e proximidade, para lá das
peripécias mais ou menos humorísticas.
Série, aliás, relevante em Portugal, desde a sua estreia na revista Diabrete (chamados Trovão e
Relâmpago) logo em 1941, até à boa edição em 12 álbuns, agora apelidados Quim e Filipe, da
Editorial Verbo.
Este universo tornou-se inesgotável com o tempo, desenvolvendo-se em contextos de grupos
com maior ou menor enquadramento familiar, como veremos.
Recordemos ainda aqui, tão só, Dennis the Menace, uma série centrada num miúdo que foi
uma referência durante anos não só nos Estados Unidos mas em muitos países incluindo Portugal, em que a personagem, com o nome de Pimentinha, ficou conhecida graças a revistas
brasileiras que (como muitas outras) tiveram circulação entre nós. É um dos expoentes máximos da BD centrada no mundo infantil, e um dos miúdos mais verosímeis, sendo mesmo uma
criança em que nem sempre é fácil distinguir se as “patifarias” são mais a consequência da
sua ingenuidade e energia do que de verdadeira “maldade”, tudo servido por um traço muito
atraente, delicado e eficaz.
Regressando a Portugal, algumas escolas de humor marcariam a nossa BD, em torno de publicações relevantes. Foi o caso de o papagaio, onde na primeira fase em especial, seria marcado
pelo traço modernista e pela bonomia poética de artistas como josé de lemos, tom (tomaz de
mello) ou arcindo madeira.
Curioso é o caso do pintor Júlio Resende. Nesta revista animou figuras bastante populares
como Fagundes Arrepiado, que no fundo é uma criança grande, tendo particular sucesso a
Volta ao mundo numa banheira, com um traço simples. Porém, n’O Primeiro de Janeiro, animaria, com outra qualidade estética, uma notável série, Matulinho e Matulão (ou vice-versa),
que além de modernista se revela particularmente moderna, pois transmite uma concepção da
educação que antecipa o nosso tempo, com um avô paciente e terno perante um neto não só
mimado mas também mimento.
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Também entre nós haveria uma escola de humor que dedicaria alguma atenção às crianças,
cujas referências maiores talvez sejam Fernandes Silva e Artur Correia, incluindo a participação
em publicações como o Camarada, de Marcelo de Morais a Carlos e Eugénio Roque, etc., com
aventuras que se poderiam chamar, simplificando, de uma escola franco-belga à portuguesa.
Artur Correia, que viria a ter a obra mais vasta em várias fases, recordamo-lo simbolicamente
numas joiazinhas que são as aventuras de Tufão no Pajem do Cavaleiro Andante e D. João e
Cebolinha neste último. Carlos Roque, por seu lado, além da excelente aventura O Cruzeiro do
caranguejo, recolhida em livro, animaria na revista da Mocidade um miúdo típico da tradição
das tropelias no fundo feitas com bonomia, o Malaquias, que viria muito anos mais tarde a
ressurgir no suplemento da TV Guia Júnior, num daqueles revivalismos que não foram raros na
imprensa portuguesa. Sublinhe-se, no entanto, que a obra de Artur Correia é vastíssima, tam-
Num universo tão vasto e diversificado que aqui se aflora, é arriscado avançar com análises
gerais, mas talvez se possa concluir que, apesar de alguns contextos mais realistas que reflectem aspectos da sociedade, famílias, ambientes, vestuário, etc., estamos mais perante uma
idealização da infância, não no sentido modelar, mas como que uma recriação ampliada das
brincadeiras e partidas das crianças, como que uma projecção dos adultos (umas vezes mais
nostálgica, outras com uma componente perversa) do que gostariam que as crianças fizessem
ou pudessem fazer, mas que no fundo entram num mundo de fantasia e loucura. No fundo, mas
já num tom a que há uns anos atrás se poderia chamar pós-moderno, pois quer esteticamente
quer pelo conteúdo, já se está numa revisitação entre o crítico e o nostálgico, não será um
pouco isso que se passa com a crueldade do Jeune Albert de Chaland?
E apesar de haver com frequência vários níveis de leitura, muitas podem mesmo encarar-se
como BDs para crianças, pela ingenuidade, pela irrealismo e imaginação, por uma certa corrente cúmplice que acaba por envolver criadores e leitores na mesma alegria.
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bém tendo animado séries infantis na Fagulha e muitas outras publicações.
Por tudo isto, escolhemos para fechar este capítulo uma série protagonizada... por um adulto,
Little King, de O. Soglow, entre nós popularizado como O Reizinho pelo Primeiro de Janeiro.
Com um ambiente único e profundamente original, numa monarquia imaginária entre o conto
de fadas e a aproximação ao cidadão, poucas séries representam tão bem o espírito infantil, a
pureza, a ingenuidade, a generosidade, a inspiração poética como este Little King.
2 – Heróis / Aventura
Na arte como na vida em geral não há compartimentos estanques, e na BD seguramente que
também não. E se o humor não está ausente de muita BD de aventuras em geral, ele está mais
presente e é mais característico de algumas escolas da BD europeia. As tropelias dos miúdos,
para resumir as coisas com esta simples palavra, não surgem apenas nas BDs em que essas
peripécias são o cerne, podendo surgir episodicamente em histórias de maior fôlego em que
o essencial já não são essas brincadeiras, mas a aventura, a acção, a descoberta do mundo, a
coragem perante situações adversas, a camaradagem, etc.
A criança (ou jovem na fronteira da adolescência) no papel de herói, de protagonista, vai ser
uma vertente importante na BD, fundindo os universos das crianças e dos adultos. Ou com
um enquadramento familiar mais ou menos explícito, ou criando equipas em que participam
crianças e mais velhos, ou duplas (muito frequente) em que pode haver ligeiras diferenças de
idade, etc.
E como os génios não se programam, a primeira BD relevante com narrativas longas que se
podem considerar de aventuras funde logo tudo, é e permanecerá para sempre como uma das
maiores obras-primas de sempre da BD: Little Nemo de Winsor McCay, desde –sublinhe-se –
1905, já lá vão 110 anos.
Não há palavras que possam expressar o espanto que constitui a descoberta e fruição de Little
Nemo, e já não lemos e vemos a série nas espectaculares páginas dominicais, mas em reedições reduzidas, de maior ou menos qualidade.
É um mundo a ser criado (como um Griffith no cinema), e é já o pleno domínio das técnicas
da BD, e é o equilíbrio entre sequência e página inteira, e é o episódio curto com “queda” final
(em sentido também literal, como se sabe) mas integrado em sequências aventurosas de maior
dimensão, etc. E esta criança simpática e ternurenta, com os seus exóticos amigos, vai fundir
o maravilhoso infantil, a realidade e o sonho, parábolas de maior incidência social ou mesmo
filosófica com aventuras em estado puro, e tudo visto e vivido pelos olhos de uma criança, a
começar pela lógica dos sonhos (… in Slumberland) e os medos e maravilhamentos inerentes
(In the Land of Wonderful Dreams foi o novo nome da série a partir de 1911), tudo com uma
qualidade gráfica e estética incomparável.
As crianças como protagonistas preponderantes vão desenvolver-se significativamente. Um
dos casos mais deslumbrantes pela originalidade, conjugação de relações humanas e ambientes oníricos e sobretudo pela estonteante beleza das pranchas, momento raro de um grande
pintor, são os Kin-der-Kids de Lionel Feininger, experiência de algum modo única embora
integrando-se num movimento bastante vasto. Tê-la-á conhecido Júlio Resende?
É sabido que a BD europeia, por seu lado, vai conciliar com particular felicidade a aventura
e o humor. E se é compreensível considerar essa ”fusão” particularmente característica da
BD dita franco-belga (entre tantos, basta lembrar os exemplos cimeiros de Tintin e Astérix),
outras escolas não ficaram atrás, como a produção espanhola dos Anos 1930 e 40, em que, a
par de uma relevante e original escola realista, teria uma escola de humor e aventura notável.
Alguns dos exemplos cimeiros viriam a ser bastante populares em Portugal graças aos Álbuns
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d’O Mosquito. Se um universo de pendor infantil está presente, não se trata de histórias protagonizadas predominantemente por crianças, mas além de uma criança fazer parte de um trio
de heróis (Mick Mock Muck), elas estão de algum modo presentes na figura surgida do tinteiro
nas notáveis aventuras de Ponto Negro Cavaleiro Andante, e embora os insectos não sejam
necessariamente crianças, a Guerra no País dos Insectos, outra admirável BD espanhola, pode
ser vista como as crianças a “brincar” às guerras.
Mas nem só de aventura humorística vive a BD espanhola. E se na origem, e depois numa ou
outra cena, o humor está presente, é em histórias mais tensas e adultas que se vê envolvido o
que terá sido o herói espanhol mais popular em Portugal, Cuto, de Jesus Blasco, um daqueles
miúdos cuja idade se situa na transição da infância para a adolescência, e que vai crescendo
um pouco ao longo da série. Em contexto policial, ou geo-político ou num western famoso,
Cuto vive aventuras de algum modo anacrónicas em relação à sua idade.
A popularidade em Portugal, para lá dos fãs e das memórias, teve duas concretizações objectivas. José Manuel Soares cria Zeca na revista Mundo de Aventuras, assumidamente inspirado
em Cuto. Mais tarde, em 1971, Roussado Pinto criará o nostálgico Jornal do Cuto (e edições
anexas), que publicará não só algumas das mais famosas aventuras do jovem herói, mas histórias inéditas, além de páginas curtas humorísticas.
Era também a época em que Jayme Cortez, que se viria a fixar no Brasil, animava n’O Mosquito
séries, ou mais fantásticas ou de cariz policial, protagonizadas por miúdos com as tais “idades
de fronteira”.
Também outros irmãos Blasco, quer Adriano quer Alejandro, animaram BDs de aventuras com
crianças, quer n’O Mosquito quer no Diabrete, bem como outros artistas, de Puigmiquel a Carlos Roca, mas por muito referenciais que sejam nem só destas míticas revistas se faz a presente
evocação.
Muito populares em Espanha foram também Roberto Alcázar y Pedrín de E. V. Pastor e J. B.
Puerto desde 1940, em revistas de formato “à italiana” que marcaram um época, mas neste
caso nãi tiveram o mesmo impacto entre nós.
É também um tempo em que - a exemplo do que viria a acontecer com o Major Alvega - os
jovens portugueses (que neste caso já não tiveram a “liderança” de Quim e Manecas) “participariam” retroactiva e metaforicamente na luta contra os nazis através de uma movimentada
e emocionante série italiana - Sciuscia - que chegava até nós em livrinhos de uma tira por via
brasileira, Xuxá.
Um processo etário equiparável verifica-se também na série protagonizada por Alix, que tem,
aliás, um companheiro um pouco mais novo. Estamos, no seu melhor que é bastante, perante
uma das mais conseguidas e bem construídas BDs históricas, com um consistente sopro clássico. O jovem galo-romano, que se vai ver em complexas aventuras que percorrem o Mediterrâneo greco-romano e mesmo mais além até à China, vai também simbolizar o amadurecimento
e crescimento, em que as crianças, figuras centrais mas enquadradas por adultos, se irão autonomizando e desempenhando papeis cada vez mais responsáveis.
Num mundo exótico, não só por se situar em geral na Ásia, mas pela ligação à natureza, pelo
papel de alguns animais selvagens e pela magia que envolve toda a série, Corentin é um caso
ainda mais nítido da criança que se vê envolvida numa história “entre” Dickens e Grimm, mais
vítima dos acontecimentos do que protagonista, e que evoluirá para um jovem muito mais
maduro, acompanhando também, aliás, a inquietação artística e os caminhos estéticos percorridos pelo seu autor, Paul Cuvelier. Marcará os leiotes portugueses do Titã ao Caveliro Andante.
Igualmente Pom et Teddy, série passada inicialmente no meio do circo e centrada num rapaz
e numa rapariga (Teddy e Maggy, sendo Pom um burrinho que perderá importância), que têm
um “gigante” como amigo, protector e de algum modo também “herói”, crescem um pouco à
medida que a série evolui, figuras muito populares entre nós graças em especial à revista Cavaleiro Andante, em que se chamam Toni e Mimi. François Craenhals, o seu autor, tem uma obra
diversificada em que dedica particular atenção à infância e adolescência. Já o fizera, aliás, em
duas sentidas histórias dos efémeros Rémy et Ghislaine. Isso não o impede, porém, de situar
algumas aventuras em contexto geo-político mais complexo, merecendo destaque a sua simpatia pela causa curda num dos melhores episódios, Le léopard des Neiges.
Mais rápido é o crescimento de Chevalier Ardent, o seu herói medieval que acabará por ser a
sua principal criação, passando rapidamente de jovenzinho a adolescente potente.
Será também co-autor de uma série mais infantil nos destinatários, Les 4 As, em que um grupo
de quatro amigos têm aventuras “urbanas” em que uma mais evidente linha clara está ao serviço de histórias algo estereotipadas.
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Igualmente um grupo de amigos mas com outro espírito e outro fôlego é uma série de referên-
Dentro do espírito inquieto e inovador da BD belga, merece referência pela originalidade a
série Blondin et Cirage (Loirinho e Escarumba na nossa revista Zorro) do mestre Jijé, realizada
com várias intermitências. Com um título que hoje seria politicamente incorrecto, sublinhe-se
que os dois miúdos se movimentam com curiosa autonomia e se completam, sendo até o negro
aquele que no fundo resolve as situações em que se vêem envolvidos.
Pela mesma época um rapaz e uma rapariga, neste caso irmãos, acompanhados por um chimpanzé, Jo, Zette et Jocko (João, Joana e o macaco Simão na Verbo), vão ser a “resposta” de
Hergé aos “pedidos” para criar uma série em que as crianças fossem enquadradas num meio
familiar. Verdade seja dita que se o pai tem alguma importância, os miúdos não deixarão de
revelar um “espírito” e uma geografia “à Tintin”, chegando a penetrar no fundo do mar. Inolvidável o “retrato” de um milionário obcecado pela velocidade no início de Le testament de M.
Pump.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
cia, La Patrouille des Castors, passada no meio escutista. Além das peripécias e obstáculos
com que se confrantam, transmite com sensibilidade algumas inquietações dos jovens num
contexto de formação do carácter e de valores humanos.
Um lugar à parte, na outra escola belga – ou seja, flamenga – tem a série Bob et Bobette (em
flamengo Suske en Wiske) de Willy Vandersteen, que, conciliando um ambiente de algum
modo familiar com um perfeita universo de aventura, é realmente uma das grandes referências
pela integração profunda na cultura belga, pela pontes para a História e a Arte, pela truculência e vivacidade das personagens e das personalidades, com destaque, além do miúdo e da
miúda, para o amigo adulto Mr. Lambique, pelas situações inesperadas, pelo fantástico (viajam no tempo) e a coroar tudo isso – a que acresce ser uma série com centenas de histórias
– um humor delirante e muito contagiante nos seus melhores momentos, que são muitos. Uma
análise aprofundada transcende esta exposição, mas não pode deixar de ser evocado que há
um período mítico constituído pelas aventuras publicadas na revista Tintin (belga). E é desse
lote, na sua primeira versão, que uma das melhores histórias se tornou mítica em Portugal, no
Diabrete: O fantasma espanhol. Estes heróis desopilantes passariam pelo Mundo de Aventuras
numa história mais curta passada no Antigo Egipto, e algumas das aventuras do tal lote sairiam
entre nós na Nau Catrineta, suplemento do Diário de Notícias. Mais recentemente houve algumas edições portuguesas a partir da tradicional colecção vermelha. Mas para quem conheceu,
leu, revisitou, ficará para sempre como um dos momentos mágicos da BD estrangeira publicada em Portugal O fantasma espanhol, a luta contra o Duque de Alba tendo como Guarda-Fatos
de passagem um célebre quadro de Peter Brueghel o Velho.
Esta excelente revista, que teve a marca estética de Fernando Bento para lá da sua vasta obra,
abriu também as suas páginas às aventuras hípicas de um rapazito, Rusty Riley/Pedrito, que
permaneceria como outra das séries memoráveis da revista, não só peoo argmento em si, mas
pelo grande qualidade e elegância do desenho em “tracejado” do norte-americano Frank Godwin.
Mas recuemos um pouco no tempo. Com a sua veia precursora, Rocha Vieira, n’O Século – Edição da Noite, voltava a inovar criando a primeira tira portuguesa, em aventuras mais realistas
umas, mas oníricas outras, com um traço que não é extraordinário mas tem o mérito da inovação e arrojo gráfico, e peripécias com uma curiosa veia poética ou, pelo contrário, temáticas
surpreendentes, a mais impressionante das quais tem como tema… o aborto. Estávamos em
1921. Cottinelli, aliás, não deixará de os censurar no Pirilau, por contraponto com os muito mais
simpáticos Quim e Manecas. As aventuras d’ O Pirilau que vendia balões, embora com um
grafismo mais modernista, continuam à sua maneira a experiência do primeiro Quim e Manecas, aprofundam o jogo texto/imagem, em que a verve irónica aponta para que a destinatária,
como tenho sublinhado, seja a família, pois as peripécias podem ter uma apreciação infantil
mas o texto só pode verdadeiramente apreciado e compreendido, não suas referências, inferências e private-jokes, pelos adultos.
O mesmo Rocha Vieira seria também um precursor a nível mundial com histórias em delicado
traço realista, como O filho do Rajá e outras, na série pequena do ABC-zinho.
Nos Estado Unidos, por seu lado, de um produção vastíssima com variados graus de sucesso
e longevidade, surgiria em 1924 a que viria ser uma das mais famosas personagens femininas,
Little Orphan Annie, de Harold Gray, em que com mua construção relativamente repetitiva vai
viver uma multiplicidade situações, dramas, riscos, perigos apelando ao suspense e à emoção
e por onde passam algumas constantes sociais e idiossincrasias da sociedade norte-amterican
Mas é em meados dessa década que vai surgir uma das grandes matrizes da BD europeia, pela
(desde logo) linha clara, pela desenvoltura narrativa, pela beleza poética, pela geografia – Zig
et Puce de Alain Saint-Ogan, acompanhados do pinguim Alfred.
Tendo como referência explícita já não Saint-Ogan, mas o seu mais genial discípulo, Hergé, um
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
jovem português – Sérgio Luiz – irá criar n’O Papagaio outra das verdadeiras e originais preciosidades da BD portuguesa, o Boneco Rebelde. Parte, de facto, de Tintin, mas no seu conjunto
as aventuras deste Boneco têm uma magia, um tom, um tipo de humor, um jogo entre autor e
personagem, uma lucidez, a par de uma linha clara bem compreendida, que lhe dão um encanto único, enriquecido por momentos de nostalgia que parecem prefigurar o destino trágico do
seu autor (e do irmão, colaborador nas figuras femininas).
As aventuras familiares, num contexto português bastante pitoresco e divertido, teriam uma
das suas concretizações mais populares e conseguidas com a A triste vida da alegre famíla
Pipocas, de Ernesto Silva no vistoso Senhor Doutor, enquanto mais tarde o delicado ilustrador
Méco animaria n’O Papagaio As aventuras da Família Patelhicas.
Fernando Bento, grande autor português da aventura e da adaptação literária, foi também um
inspirado autor de BD para e com crianças, como vimos. E igualmente no campo da aventura,
em especial no Diabrete, animou séries plenas de acção e imaginação, como As aventuras do
Tio Baeta ou Bèquinhas, Beiçudo e Barbaças.
A tradição portuguesa, aliás, de aventuras e histórias com maior ou menor desenvolvimento
para e com crianças manter-se-ia até à actualidade com mérito, originalidade e momentos
felizes, desde a já referida escola do Camarada (O cruzeiro do Caranguejo de Carlos Roque,
Piratas nos mares do sul de Ricardo Neto, etc.) até à vasta produção de Zé Abrantes em que é
justo destacar (com Diferr) Dakar o Minossauro ou Pedro Morais que com a sua delicada linha
clara que criou para a Visão Júnior, com Luís Almeida Martins, Júnior, Joana e Gão, uma “equipa” simpática em luminoso contexto “exótico”, vivendo aventuras curtas.
Um lugar especial merece o projecto Fungagá da Bicharada, na sequência do programa televisivo, em ambiente animalista. Embora se tenha optado pela não inclusão de tradicional
bibliografia, dadas as características meramente evocativas do percurso, pela originalidade
e riqueza de colaboradores de um projecto assumidamente infantil, abrimos uma excepção
para dar a palavra (http://www.interdinamica.pt/comics/pt/x1yv5w.htm, consultado em Outubro 2015) a Jorge Magalhães: «Dirigida por Júlio Isidro, o popular e versátil apresentador da
televisão, esta revista assinala o fim de uma época de ouro da b.d. infantil portuguesa. Herdeira
de uma tradição ilustre — que remonta aos anos 30 com o ‘Papagaio’ e prosseguiu, depois,
com o ‘Diabrete’ (nos seus primeiros números e na fase final), o ‘Camarada’ (2ª série), o ‘João
Ratão’, o ‘Rato Mickey’, o ‘Pumby’ e o ‘Pisca-Pisca’ — enfeitava-se com a mesma garradice dos
seus antecessores, aliando a beleza das ilustrações à singeleza das histórias e dos textos, feitos
realmente a pensar nas crianças, sem que isso significasse menos apuro formal e literário. O 1.º
número saiu em Outubro de 1976, na senda do grande êxito obtido pelo programa com o mesmo nome que Júlio Isidro animou durante algum tempo na televisão. Talvez por isso a tiragem
inicial atingiu a cifra de 50 000 exemplares, um recorde absoluto na área do jornalismo infantil,
que a carreira do ‘Fungagá’, nos meses seguintes, não viria a confirmar. E, no entanto, Júlio
Isidro soube rodear--se de um excelente naipe de colaboradores, alguns já com o estatuto de
veteranos, como José Garcês, Artur Correia, Ricardo Neto, Vitor Mesquita e Fernando Correia; a estes, juntaram-se alguns artistas mais novos, mas nem por isso menos talentosos, que
no ‘Fungagá’ deixaram a prova de que a b.d. infantil portuguesa continuava a produzir viçosos
rebentos: Zê Manel, Álvaro Patrício (Pat), Manuela Bacelar e Fernando Relvas (que fez aqui a
sua estreia), Zê Paulo, Catherine Labey, Vitor Milheirão, Pedro Massano, Nuno Arnorim, Raul
Vaza, Artur Henriques, Carlos Alberto Pinto, Duarte e outros ainda».
Regressando a uma visão internacional geral, também a Inglaterra, com escolas dinâmicas,
originais e produtivas muito próprias, se revelou criativa e nalguns aspectos precursora, desde
séries de humor bastante loucas à aventura, em que autores como Reg Parrot ou Walter Botth
e séries que ficariam tão míticas como Rob the Rover/Pelo mundo fora, Flecha de ouro, O voo
da águia, etc., em revistas como O Mosquito ou Tic Tac – e que têm sido objecto de veneração,
reedição e estudo por especialistas portugeses - protagonizaram heróis jovens na fronteira da
adolescência, em aventuras emocionantes por vezes com sequências e enquadramentos particularmente arrojados e inovadores.
Quanto ao importante universo dos super-heróis, embora seja um mundo que se pode considerar adolescente em muitos aspectos, as crianças não têm predominado. A primazia pode,
assim, ser dada ao japonês Astro Boy, do fundamental autor Osamu Tezuka. Criado para substituir um menino morto, vai conjugar essa dimensão mais “humana” com as diversas aventuras
de combate aos criminosos, em ambiente de ficção-científica.
Bem diferente é o ambiente do pequeno super-herói belga, Benoît Brisefer, de Peyo, cuja
acção decorre num daqueles meios simpáticos e ternurentos de que a BD franco-belga tem o
segredo, que resolve as coisas quase que mais pela vontade e generodidade do que pelos seus
efectivos super-poderes, em especial a força – desde que não se constipe.
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Por tudo isto, optámos por concluir este capítulo destacando – a contraciclo de modas e destes tempos bem preocupantes – uma série muito especial (e bastante amada em Portugal),
pelo seu encanto, beleza, poesia e optimismo – Yakari, o jovem índio sioux. Sabe-se que o seu
autor/argumentista (os desenhos são de Job), o suíço Derib, é também o criador de outra série
muito apreciada, Buddy Longway, em que a infância desempenha um papel fundamental porque se vê a caminhada de um casal e depois de uma família, o nascimento dos filhos, etc. e só
não se sente mais próxima de nós (embora os sentimentos lá estejam) porque é um western.
Yakari também o é à sua maneira , mas é sobretudo a infância idealizada no amor e compreensão dos animais, com medos e perigos mas estimulando o melhor dos seres humanos.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Vasto é, pois, o mundo das aventuras infantis e juvenis, e são as BD em que a fronteira etária e
respectiva delimitação é mais difícil. Mas generalizando também, poderia dizer-se que – com
mais ou menos picaresco e pitoresco – preside na maioria dos casos, com mais ou menos realismo, um esprit Tintin. Mais bem construídos com personalidades com a subtileza das crianças
e jovens ou mais adultos “em ponto pequeno, é a generosidade e a coragem que imperam na
acção, embora perpassem frequentemente fantasia e humor, e não faltem as eternas peripécias matriciais.
3 – A infância em grupo – “Turmas” / Família / Escola
Se as compartimentações têm sempre algo de artificial, este capítulo demonstra-o exemplarmente, pois não só algumas séries do capítulo inicial estariam bem aqui, mas também o ambiente e dinâmica de algumas séries de aventura aqui se poderiam situar, bastando recordar
os Katzenjammer Kids ou Bob et Bobette – o que são, afinal, senão “famílias”? Este será o
capítulo, talvez, em que as crianças serão mais crianças. É a evocação em que os autores mais
projectarão como que um misto de memória e idealização dos códigos e rituais de infância, a
vida de rua e de grupo, as amizades (e conflitos normalmente passageiros), em geral num ambiente clara ou subtilmente resguardado pelo contexto familiar. E a descoberta da sexualidade.
E a interligação entre o universo familiar e de bairro e a escola.
Sem esquecer, mais uma vez, Quim e Manecas, que se vêem por vezes envolvidos em ambientes mais familiares, comecemos então pela BD portuguesa, que desde cedo, como temos
visto, prestou especial atenção à criança, como lufada de ar fresco, como brincadeira, como
pedagogia, como evasão, como alargamento de horizontes e descoberta do mundo… Crianças personagens e crianças destinatárias, com a ajuda da família, pela ironia dos textos, pelos
versos ritmados e cativantes que convidam também ao gosto pela leitura e aos saudáveis
exercícios de memória, entre outras actividades e iniciativas (como as construções de armar)
que faziam parte de todo um “programa” subjacente à filosofia de cada revista, e cuja, matriz,
como sabemos, foi o ABC-zinho.
E nesta plétora de publicações infanto-juvenis que vão despontar desde meados dos anos
1920, com mais ou menos regularidade, “heróis” ou figuras efémeras, a Criança e a sua entourage vão estar presentes de forma significativa durante várias décadas. Será desde logo o
caso de Pim Pam Pum!, suplemento d’O Século já evocado na sua fase inicial, e que vai registar
ciclos ligados a alguns dos mais relevantes autores de BD, como TioTónio (A. Cardoso Lopes),
Arcindo Madeira ou Fernando Bento, que animará, nomeadamente, uma Volta ao mundo pelos
miúdos que dão o título à revistinha.
De muitas evocações de que a preparação desta exposição também é feita, cruzam-se memórias de um tempo em que os “patinhas” eram sinónimo de BD de leitura preguiçosa e sem grande qualidade, até à irrupção do desenhador que primeiro era referido anonimamente como “o
dos Patos”, que se distinguia pela qualidade, até se conhecer que se tratava de Carl Barks, hoje
um dos nomes mas prestigiados da história da BD. E também houve um tempo em que serem
séries só com tios e sobrinhos, sem pais e filhos, representava censura e recalcamento. Hoje
concentramo-nos mais na qualidade e imaginação, na geografia, nas diversas componentes
de um mundo imaginário que não deixa de ser a socidade capitalista. Se as figuras de referência são adultos, como Donald ou o Tio Patinhas (Scrooge McDuck, nome inspirado, como
se sabe, no célebre Conto de Natal de Dickens), os sobrinhos de Donald, Huguinho, Zezinho e
Luizinho na versão brasileira consagrada entre nós (Huey, Dewey, Louie) trazem uma frescura
e dinâmica que constitui uma mais valia, pois tanto são “heróis” e participantes activos como
crianças com as suas tropelias e brincadeiras. E - de memória ainda - sintetizemos esse vasto
universo com uma história ideologicamente simbólica, em que os miúdos são os juízes de um
“concurso” destinado a determinar se vale mais o dinheiro (Tio Patinhas), o talento (Donald)
ou a sorte (Gastão/Gladstone Gander). E chegados ao fim, o “júri” não consegue tomar uma
decisão, a não ser a de que são agora os sobrinhos que têm de se disputar para ver qual das
“virtudes” vale mais...
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
No que diz respeito à dinâmica de grupo infantil, às “turmas”, uma das mais influentes veio a
ser Little Lulu, conhecida entre nós (mais uma vez por via brasileira) por Luluzinha, que tem a
característica invulgar de ter sido criada por uma mulher, Marge. Começando por ser um panel,
ainda nos Anos 1930, vai ser a sua substituição de Henry - uma tira também popular em Portugal de um miúdo com histórias sem ou com poucas palavras, Pinduca, que muda de syndicate
- nos Anos 1940 que vai contibuir para a dinâmica da série, potenciada pelas revistas animadas
por John Stanley. É a idade em que as meninas gostam de andar com meninas e os meninos
com meninos (encabeçados por Bolinha/”Tubbs”), com os seus famosos clubes exclusivistas,
vivendo a série muito desses amigáveis “confrontos”, para lá da forte personalidade de Luluzinha e da natural diversidade de peripécias e aventuras em que se vêem envolvidos.
É no contexto da vasta produção americana publicada em revistas brasileiras, entre as quais
Luluzinha, que Maurício de Sousa irá criar várias personagens, nomeadamente Cebolinha, onde
surgirá nos Anos 1960 uma menina que virá a ter um sucesso estrondoso, Mônica, que virá
a congregrar na sua “turma” a maior parte desse universo infantil feito também de disputas
entre miúdos e miúdas, de confrontos com uma personalidade bastante determinada,seja em
contexto escolar, de rua ou familiar. É uma visão da infância simpática, viva, imaginativa, sem
deixar de ser convencional, também inspirada na experiência pessoal do autor e dos seus muitos filhos.
A série brasileira de maior projecção também tem tido bastante divulgação entre nós, nas
próprias publicações e seus derivados, incluindo o cinema, como vai acontecendo com a maior
parte das BDs de sucesso.
Com algumas afinidades mas um espírito diferente, talvez com uma maior exigência reflexiva, é
a criação de Ziraldo, nos Anos 1980, Menino Maluquinho. Começando por ser personagem de
literatura infantil, merece aqui referência porque sendo Ziraldo (que, como alguém disse com
um humor bem brasileiro, «já nasceu com pseudônimo»), além de cartoonista, um grande autor de BD, e sendo a criação do Menino muito ilustrada, as duas dimensões de algum modo se
completaram. Ziraldo, aliás, artista prolífico e polémico, é o criador de uma das mais notáveis
séries brasileiras, por onde perpassa este espírito infantil de uma “turma” muito espcial, inspirada no folclore brasileiro, Pererê, que nos Anos 1960 também teve eco entre nós.
Muito diferente é o espírito, a composição, a estética de uma das mais emblemáticas “turmas”
da BD franco-belga, La Ribambelle de Roba. Muito heteróclito e invulgar, o grupo inclui dois
rapazes e uma rapariga, mas também dois miúdos japoneses especialistas em artes marciais
e um negrinho trompetista. Começando por um ambiente familiar de disputa por um terrain
vague num contexto urbano de que só a BD belga tem o segredo, irão depois viver aventuras
mais arrojadas. Roba é um dos melhores desenhadores da escola da revista Spirou, mas apesar
do interesse e originalidade desta série, que também teve edição em Portugal em livro e revista, viria a dedicar-se a uma das séries infantis mais emblemáticas de toda a BD franco-belga,
Boule et Bill.
O simpático miúdo e o seu cão cocker são símbolos e projecção do sonho de uma criança feliz com
o seu inseperável companheiro das competentes orelhas compridas. Num ambiente familiar e num
contexto urbano acolhedor, Bill é um miúdo querido e imaginativo que tem ideias que nem sempre
correm bem e prega partidas relativamente inocentes, de que uma das principais vítimas é o próprio pai, num ambiente doce, ternurento e divertido, cheio de uma bonomia muito característica
de uma certa BD belga, e o que mais impressiona é a frescura com que a série, iniciada em finais
dos Anos 1950, se foi prolongando no tempo. Estamos longe, muito longe, de Max und Moritz...
Com algumas similitudes estéticas e de contexto urbano mas já diferentes no espírito são
algumas séries mais recentes protagonizadas por grupos de rapazes (e raparigas!) em torno
de uma personagem central, em que, de uma forma mais inocente nos casos e já não tanto
noutros, já se vão colocar as questões das relações entre os dois sexos, paixonetas, projectos
de namoro, descoberta da sexualidade, voyeurismo, em ambientes familiares e escolares, nem
sempre os miúdos primando como bons alunos.
É o caso de Cédric, de Raul Cauvin (famoso por Les tuniques bleus) com desenhos de Laudec,
um aluno com problemas cujas peripécias giram em torno das maiores ou menores dificuldades de se “declarar” a certas colegas, caso, a certa altura, de uma recém-chegada miúda
chinesa.
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Le Petit Spirou, de Tome e Janry, que também animaram diversas aventuras de Spirou et
Fantasio, começou por ser uma jeunesse do herói, mas depois passou a um universo próprio
em que uma visão mais moderna e crítica simultaneamente se integra e subverte uma certa
tradição da BD belga entre o familiar e o escolar. Agora não só a componente de descoberta da
sexualidade é mais acentuada, como há toda uma desmistificação do ambiente educativo e parental, religioso, etc., das suas contradições e hipocrisias, uma série que se pretende divertida
e bem disposta nos seus gags, mas que desde finais dos Anos 1980 subvete de algum modo a
Sucesso ainda maior, com um desenho mais caricatural e contorcido, é Titeuf, do suíço Zep,
que também tem edições portuguesas, com uma variedade de gags entre amigos, com professores, etc., mas em que directa ou indirectamente o tema da descoberta sexualidade é
dominante.
Em contraponto deste universo juvenil mais agressivo, embora não deixem de se verificar muitas ingenuidades que também fazem parte da atracção pela série, estamos “noutro mundo” igualmente de sucesso, perante uma série como Les Triplets, de Nicole Lambert, que tem sido
publicada em Madame Figaro, uma revista francesa feminina, e que nos transmite um ambiente
doméstico muito mais infantil e aconchegado em torno dos trigémeos.
Embora muito diferente, esta perspectiva de uma infância com atrevimentos e imprevistos mas
muito mais suave e doce, o que o desenho reforça, faz-nos recuar muitas décadas e pensar
numa das melhores BDs portuguesas de cariz familiar, das mais naturais e conseguidas, Laçarote e Pantalonas, criados na revista Lusitas, da Mocidade Portuguesa Feminina, e depois na
Fagulha que lhe sucedeu, por Bixa (Maria Antónia Cabral), em geral a partir de histórias de Mitza (Maria Teresa Andrade Santos). Todo este contexto pode não convocar à partida a atenção,
mas vista sem preconceitos e com um olhar pelo menos tão inocente como o das autoras, descobriremos uma das melhores BDs portuguesas, que bem merecia uma reedição. Ao contrário
do que se possa pensar (e que está patente noutras secções e noutras páginas destas revistas,
como a BD sobre as férias “modelares” na Fagulha), não estamos perante propaganda piedosa
ou a transmissão de um mundo católico-conservador, embora as práticas religiosas também
estejam presentes, mas é um retrato vivo e um autêntico programa educativo da rapariguinha
e o seu irmão mais pequeno para a descoberta responsável do mundo, dos outros, da natureza,
dos animais. É um dos melhores retratos das famílias da classe média, abrindo horizontes às
crianças e fazendo-as participar na dinâmica familiar na cidade ou no campo, lição que está
na origem da maior parte das peripécias em que elas tomam por sua conta e risco iniciativas...
excessivas, num ambiente em que a bonomia se sobrepõe à autoridade discreta. Em paraleo,
animaram também uma série animalista com um espirto parecido mas em que as tropelias e o
lado lúdico e humorístico são mais evidentes.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
tradição clássica em que se insere. Claro que o espírito iconoclasta da escola da revista Spirou
já vem de longe, mas há uma actualização de temas que acompanha os sinais dos tempos.
Curiosamente, uma série recente que está a ser desenvolvida na blogosfera mas que chegou
às livrarias, As crianças são muito infantis, de Filipa da Rocha Marques e Fernando Caeiro,
lembrou-me subtilmente Laçarote e Pantalonas (mesmo que os autores porventura não conheçam), onde também há viagens de família de carro (aqui é a cena permanente), e em que,
com um esquema simples e eficaz, uma família, e em especial os mais pequenos, se interrogam
e “filosofam” sobre a vida de forma ora engraçada ora desconcertante, num ambiente de simpática cumplicidade familiar.
Porém, pensamos que - com um olhar atento - muitos concordarão que a joiazinha da BD familiar se encontra nas páginas do Pajem do Cavaleiro Andante pela delicada e inconfundível
mão de Fernando Bento. Entre o “diário” autobiográfico e a recriação enternecida da infância,
as peripécias familaires, em que se expõe o próprio Fernando Bento, em torno da filha Anita
e depois de Filipm, desde preciosos auto-retratos (como aquele em que se “protege” com a
armadura do Cavaleiro Andante), até ao atelier posto em pantanas pelos miúdos, as tropelias
inocentes mas devastadoras, a ideia encantadora da anjo da guarda ele próprio vítima de
partidas, as idas à praia, etc., é um mundo real e quotidiano e ao mesmo tempo a evocação
idealizada e poética do mundo infantil reflexo, no fundo, de um profundo amor pelas crianças.
4 – Peanuts / Mafalda / Calvin
É um trio incontornável. Numa perspectiva portuguesa (que é a desta exposição) pode mesmo
dizer-se que é o trio incontornável. Em termos de impacto nos leitores, poderíamos resumir
que os Peanuts foram sobretudo uma descoberta adulta, a Mafalda infantil e o Calvin para
toda a família. Mas claro que todos são transversais, e embora haja muitas mais séries com
crianças cheias de interesse, talento e poesia, nenhuma entrou no nosso imaginário, e ainda
por cima nas várias idades, nos vários estádios da vida de cada um (dos que ligam a estas
coisas, claro) como a Mafalda e o Calvin. Os Peantus, apesar da popularidade mais infantil
do Snoopy, têm um estatuto um pouco diferente. E se os Peanuts são a tira “fundadora” (e de
longe a mais duradoura) desta vertente da BD, mais adulta e filosófica, e se a Mafalda (que os
geniais cartoons de Quino de algum modo prolongaram no imaginário) concilia melhor a postura de jovem revolucionária com a psicologia infantil, Calvin é a síntese de todas as sínteses,
talvez a mais rica e densa e viva personagem da história da BD, sobretudo se pensarmos que,
apesar de algumas pessoas com quem interage, no fundo é ele, só ele e o seu mundo, a sua
imaginação e o seu imaginário (Hobbes incluído).
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Podendo estar influenciado pela experiência pessoal e familiar, diria que a primeira década
dos Peanuts (a partir de 1950, fizeram agora 65 anos) não teve especiais ecos no nosso País. O
mesmo não se pode dizer da década de 60, que além do mais coincide com um dos períodos
mais brilhantes da série. Começaram a surgir e a circular diversos livros de bolso que reuniam
algumas tiras, como que criando o ambiente para a sua publicação em Portugal, o que aconteceria no simbólico ano de 1968 pela mão do Diário de Lisboa. Depois - e mesmo sem falar
nos desenhas animados - seriam muitas, em livros, revistas e jornais, as presenças entre nós,
concluindo na edição integral em curso, em caixas cronológicas com 2 livros cada.
Os Peanuts são uma daquelas séries sobre as quais já tudo foi dito e no entanto há sempre
algo de pessoal a dizer, tal a sua riqueza e densidade. Durante 50 anos Charles Schulz animou
sozinho e espalhou por jornais de todo o mundo as peripécias de um grupo de miúdos que têm
o dom de ser filósofos, “monstros” como alguém lhes chamou, mas ao mesmo tempo serem
crianças com os seus medos, angústias, encantos, perplexidades. Com um traço depurado de
uma espantosa expressividade e eficácia, tem a magia de fundir vários planos narrativos, várias
“lógicas”, num todo coerente que flui com a naturalidade do génio. E por isso para nós é tão
natural a irmã de Charlie Brown na escola a discordar da professora como ver um cão a falar
em cima duma casota, esse inigualável Snoopy que também tem dado o nome à série e que é
uma das “chaves” para a aproximação das crianças a um universo que no fundo é demasiado
complexo para a sua compreensão, mas que encerra uma ternura desarmente que pode tocar
a todos. Dum vasto leque de personagens que seria excessivo evocar, sabemos que “tudo”
gira em torno de Charlie Brown, do seu cão Snoopy, da sua irmã mais nova Sally, da impagável
amiga Lucy e o maravilhoso irmão mais novo Linus, além do pianista admirador de Beethoven
Schroeder. A partir deste “núcleo duro”, em 50 anos de tiras e páginas dominicais, perpassa
uma das mais interessantes reflexões modernas sobre a humanidade, os seus anseios e medos,
os seus sonhos e cumplicidades, egoismos e generosidades. Tendo subjacente uma sociedade
urbana desenvolvida, um universo afinal tão rarefeito mostra a irredutível especificidade e fragilidade da condição humana. Mas também o seu optimismo e capacidade de se reinventar, e
que a imaginação é um dos caminhos da transcendência.
Mafalda, vinda de um mundo bem diverso, pela pena de um dos maiores cartoonistas de sempre, o argentino Quino, mostra-nos como o talento pode transfigurar uma matriz e construir
um universo próximo nalguns aspectos mas no fundo bem diferente na dinâmica entre as
crianças, na definição sócio-cultural, nas reflexões e anseios.
Desde a sua chegada a Portugal pela mão dos livrinhos da Dom Quixote, com sucessivas edições
até às várias Mafalda toda - pois só viveu 10 anos - Mafalda não mais deixou de fazer parte do
imaginário de milhares de portuguesas e portugueses (como agora se diz, mas sublinhando assim
a importância das leitoras em relação a uma arte tradicionalmente de leitura mais masculina) de
todas as idades, abrangendo nesse sentido (supomos) um leque mais amplo do que o dos Peanuts,
convidando a uma “identificação” mais directa, pois Quino revela igualmente uma grande sabedoria e sugestiva mestria na fusão articulada de vários planos e preocupações. A partir de um
também pequeno núcleo duro - Mafalda “a contestária”, Manelito o (filho do) merceeiro, Filipinho o
sonhador, Susanita a “burguesa”, depois Gui o irmão mais novo... - Quino conjuga peripécias familiares que fazem as memoráveis delícias dos leitores mais jovens com “confrontos” mais politizados
e as inesquecíveis reflexões de Mafalde sobre o estado do mundo, as suas desarmantes interrrogações que Quino prolongará e desenvolverá nos seus cartoons, com uma actualidade intemporal
entre a incompreensão ingénua e infantil e a denúncia acutilante e certeira.
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Calvin (& Hobbes) o último a chegar e que também só “viverá” uma década, neste caso trazido para Portugal pelo jornal Público e pelas edições da Gradiva, mas igualmente com mais
presenças, pode-se considerar a síntese “perfeita” de toda esta tradição de crianças que têm
a magia de ser símbolos e ser reais. E nesse aspecto, poder-se-ia dizer que há como que uma
evolução entre as três séries. Os mais abstractizantes, sem deixarem de ter personalides e actuações cheias de vida próprias da infância, são naturalmente os Peanuts. Na Mafalda - e é um
dos segredos da ternura que concita - os miúdos, embora tipificados e portadores simbólicos
de sonhos, idiossincrasias e rebeldias, revelam ao mesmo tempo uma psicologia infantil credível e cheia de vida. Calvin é o mais vivo das três séries. Apesar dos pais, da professora, da “amiga” Susie, do brutamontes e outros, e apesar, claro, do essencial e genial tigre Hobbes, Calvin,
num certo sentido, está só, a série é só ele, é como se Bill Watterson tivesse uma varinha com
o condão de nos abrir a mente de uma criança, de nos mostrar a dinâmica de funcionamento, de raciocínio, de motivação, de acção de um miúdo de 6 anos. E por isso quantos de nós
(todos nós, desde que leitores de Calvin?) tivemos e temos filhos, netos, sobrinhos, amigos,
conhecidos desta idade que «são Calvin»? Nesse sentido, talvez seja a criança mais criança da
história da BD, e mais uma vez a genialidade do autor revela-se, como é normal, pela densidade
de planos concentrados no miúdo, que é uma personagem de romance, com a complexidade
da sua personalidade, com a sua transbordante imaginação que Hobbes torna patente, mas é
também uma tira sociológica, reflexão e denúncia das taras, contradições e desequilíbrios de
5 – O fim e a revisitação da infância
Com qualidade artística e nuances diversas, umas mais profundas e intensas do que outras, e a
maior parte dando sempre sinais sobre o seu tempo, por vezes críticos, a generalidade das BDs
com crianças privilegiam uma componente lúdica, de humor e aventura, mais do que de reflexão sobre a condição da criança, de uma abordagem mais realista, dos problemas humanos em
que as crianças se vêem envolvidas, em geral vítimas das tragédias provocadas pelos adultos.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
uma sociedade, da sua cultura, e não deixa de ser um miúdo “de carne e osso”, desesperante
mas em relação ao qual não podemos deixar de ter uma desarmante (ou desarmada?) ternura.
E não é necessário sublinhar a excepcional qualidade do desenho, que rapidamente atingiu a
maturidade e se torna deslumbrante nas páginas a cores. Só quem não conhece uma criança
que tenha a paixão dos dinossauros e/ou dos outros animais poderá não ficar deslumbrado
com esses seres a irromperem das páginas da série, mas sobretudo com a dádiva de Watterson
ao ilustrar o que vai na sua cabeça, ao mostrar-nos e demonstrar-nos que nós estamos a ver o
miúdo e o seu entusiasmo, mas ele - tantas vezes - não nos está a ver a nós, está no seu mundo.
Se não estivéssemos - e justamente - sob o signo do centenário de Quim e Manecas, ninguém,
na nossa opinião, simbolizaria melhor a Criança na BD do que Calvin.
Ao optar por privilegiar séries protagonizadas por crianças, heróis - crianças, em detrimento
de BDs em que a criança surge episodicamente ou em parte da narrativa mas com um conteúdo humano mais intenso, temos consciência de que ficam mundos, realidades, denúncias,
memórias por explorar. Também este é um tema em aberto.
Recordemos, exemplarmente, tão só três dos melhores exemplos da BD contemporânea que
têm na infância uma componente parcelar da abordagem efectuada mas um registo decisivo
do que foi - tanto quanto é possível reconstituir - o olhar da infância sobre a história pessoal e
a História envolvente.
O diário do meu pai do japonês Jiro Taniguchi, de 1995 e integrado na recente e excelente colecção Novela Gráfica da Levoir/Público, entretece memórias de infância com uma introspecção que é uma redescoberta do pai e de si próprio, num esquema de aparente autobiografia
mas que é uma obra de ficção de admirável sensibilidade e delicadeza (incluindo estética e
narrativa), com uma belíssima evocação em que, por um lado, procura ver à distância como
foi a sua infância e o seu relacionamento, mas, por outro, é o seu olhar de criança que ajuda a
reconstituir os dramas da família que o marcaram para sempre.
Interessantíssimo (e hoje famosíssimo) foi também o olhar da iraniana Marjane Satrapi, no
início desde milénio, sobre as transformações do seu país com a revolução islâmica, proporcionando-nos acompanhar, em Persépolis, através do seu trajecto pessoal e da sua família, as
profundas transformações que ainda hoje marcam o Irão e o mundo. Os dois primeiros álbuns
(de primeira edição em quatro) centram-se nos acontecimentos que terão profundos reflexos
na sua vida e dos seus, com um olhar infantil irónico e divertido mas também dramático e angustiante, através de um grafismo simples mas com a iconografia do essencial, as mudanças
no vestuário, o simbolismo da História da Pérsia, os terrores infantis, as mudanças radicais na
escola. E o seu amadurecimento não vai ser apenas consequência da idade.
Com um grafismo muito próprio pelas suas raízes, como que uma dinâmica “linha frágil” que
não parece alheia aos Mangá originários de Hokusai, o chinês Li Kunwu (com P. Ôtié), no primeiro dos 3 volumes de Une vie chinoise, evoca por sua vez, também através da infância, os
primeiros anos da China comunista de Mao. E a infância é uma condição onde se projectam
as orientações e os “saltos” da sociedade chinesa mas é também o olhar angustiado e crítico
sobre os custos e os sofrimentos provocados por essas orientações.
Outra e traumatizante dimensão tem o conjunto de BDs sobre o destino e o enquadramento
institucional dos órfãos da Guerra Civil espanhola conhecido por Paracuellos, de Carlos Giménez, um dos mais crueis e perturbantes frescos em BD sobre a condição da infância “roubada”,
sofrida, reprimida, apesar de irromper sempre a energia, a ingenuidade, a crueldade também,
a força da vida. Mas no fundo e sobretudo, através dos medos, resignações, ilusões, castigos,
repressões, sonhos e desencantos dos miúdos, é todo um sistema assistencial, é toda uma sociedade (franquista) que é implacavelmente retratada.
Bem diferente é o tempo das crianças africanas que o belga Stassen convoca para nos dar
frescos pungentes dos terríveis dramas vividos pelas suas sociedades e que tanto os marcam,
seja no Bar du vieux français, seja especialmente em Deogratias (guerra do Rwanda), seja, a
seguir, em Les enfants. Com os seus lindíssimos tons pastel, o seu jogo de luzes e sombras e
uma estética profundametne enraizada na realidade africana, seja no Norte, seja nos Grande
Lagos, os olhos assustados e expressivos das crianças não impedem esperança e humanidade,
embora o tom seja pessimista e a denúncia contundente.
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
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Mas se os adultos continuam ser mais “senhores da guerra” do que da paz, as crianças deixadas
à sua sorte darão razão ao pessimismo civilizacional de Lord of the flies de William Golding?
Numa original variação do tema, Christan Godard dá-nos em Au Royaume d’Astap, primeira
aventura de Norbert et Kari, uma fervilhante e bem humorada visão mais optimista, com uma
ponta de nostalgia.
Mais densa e perturbante, num brilhante preto e branco, é El último recreo, umas das grandes
obras dos argentinos Altuna e Trillo, num mundo pós-bomba («resplandor») em que só sobrevivem as crianças antes da puberdade. Violência e ternura, medos e esperanças, coragem e
cobardia, parábola da natureza humana perante adversidades e escolhas que formam o carácter, conclui apesar de tudo com uma nota optimista.
Com a sua sensibilidade estética e narrativa, bem diferente é o tom de Piero, o livro de Baudoin
inspirado no seu irmão e na sua infância, em que alegrias e dores, descobertas e entusiasmos são
vividos com particular delicadeza e nostalgia doce – como alguém disse, um hino à fraternidade.
E como conclusão, pela nossa parte, outra obra de Godard sintetiza e simboliza o título desta
capítulo - Il s’appelait Jérôme, da série Martin Milan, um “conto” que marcou os leitores do
Tintin belga no início de 1972. Em apenas 8 páginas, o autor diz-nos de forma sóbria e pungente
o não dito da amizade, a responsabilidade pelos outros, as dores do crescimento, numa comovida e nostálgica revisitação da infância.
Design gráfico: Widegris Design
A génese da BD portuguesa
Saída da transbordante imaginação de Stuart Carvalhais, Quim e Manecas é uma obra ímpar
e percursora no panorama editorial da banda desenhada portuguesa e europeia. Esta longa
série de pranchas semanais (mais de 500!) teve início em 1915 nas páginas do Século Cómico
– que, ano e meio depois passou a integrar a Ilustração Portuguesa – e estendeu-se até 1953,
com alguns hiatos no período pós Grande Guerra.
A partir das aventuras e traquinices das personagens dos dois irmãos/amigos, Stuart traçou
um fiel, expressivo e mordaz retrato sociopolítico da época. Os primeiros tempos agitados da
República Portuguesa, a Grande Guerra e a participação portuguesa neste conflito, os mistérios policiais, a crítica de costumes da sociedade lisboeta, foram temas recorrentes das suas
pranchas, notavelmente ilustrados através do seu inconfundível traço experimentalista – ou
não fosse ele um dos grandes activistas do modernismo português.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Quim e Manecas 1915-1918
A série As Aventuras de Quim e Manecas é uma banda desenhada “incomparável na Europa
da época e a série portuguesa mais famosa de sempre”, segundo João Paulo de Paiva Boléo,
comissário da exposição central do Amadora BD 2015 e responsável pela compilação, introdução e análise desta obra de Stuart de Carvalhais, Quim e Manecas: 1915-1918 (Tinta da China,
2010). Aqui, realça “o ritmo, a verve, a leveza e a agilidade gráfica, a beleza e o domínio dos
recursos específicos da BD” e destaca “o traço fácil e expressivo, a construção da sequência e
da prancha como um todo, a modernidade de ritmo, a qualidade leveza e a agilidade gráfica, a
beleza e o domínio dos recursos específicos da BD, a harmonia estética e cromática de muitas
páginas, um humor que transparece não só do texto e dos diálogos, mas das próprias personagens, das situações, da ação, a ternura das figuras principais, tudo isso e muito mais fazem de
Quim e Manecas, com ou sem balões” - Stuart é o primeiro autor europeu a utilizar os balões
de BD - “uma das grandes e mais significativas obras de arte portuguesa do início do nosso
modernismo e mesmo do século XX”. “É na génese “estrita” da banda desenhada europeia, em
conexão com as influências norte-americanas, que emerge a criação incomparável de Stuart
de Carvalhais. Mas é também, e muito, no contexto de um trajeto artístico pessoal, e da realidade sociopolítica e cultural, que surgem estes dois garotos que vão percorrer meio século e
tornar-se numa das obras cimeiras da banda desenhada portuguesa”.
Publicadas pela primeira vez n’O Século Cómico, os irmãos Quim e Manecas surgem numa
altura especialmente fervilhante e preenchida em termos históricos: o fim da Monarquia e o
nascimento da Primeira República, onde se assistiu a um evidente aparecimento de publicações satíricas, em que a BD (para adultos) desempenha um papel importante em complemento
da caricatura e do cartoon. Segundo Boléo, “a série Quim e Manecas pode ser considerada a
grande banda desenhada republicana, tanto pela durabilidade, como por estar enquadrada
neste período da história portuguesa. É o Portugal político, social, cultural que está presente,”
nos anos coincidentes com a Primeira Guerra Mundial, acontecimento que tem uma presença
central nestas aventuras.
“Quim, cabelo escorrido, com as suas calças remendadas, suspensórios e chapéu de côco,
mais espigadote, tem primazia no título, mas embora muito presente e importante, será um
ativo companheiro mas não a figura principal. Manecas, mais novo, com aparência de bebé
que no início não terá sido alheia ao Yellow Kid, com o seu bibe às bolinhas ou manchinhas,
rapidamente assumirá o protagonismo, revelando com o tempo uma (matur)idade muito para
lá da idade aparente (...).” Estas duas crianças vivem em Lisboa e protagonizam, essencialmente, quatro tipos de histórias, segundo a análise de João Paulo Paiva Boléo: “partidas ingénuas,
aventuras “policiais” ou de espionagem, episódios de cariz político, social ou cultural e participação da Grande Guerra” e onde, fazem de tudo um pouco, desde “chauffeur a negociante,
tanto de castanhas como de quadros, de actor a alfaiate ou caixeiro de chapelaria, de pintor a
ministro”.
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Os Quadrinhos da
Fundação Casa Grande
Parceria: Fundação Casa Grande
A exposição apresenta a instituição brasileira através de histórias em quadrinhos (HQs = BDs)
de dois dos seus membros – Filipe Silva (16 anos) e Tainara Meneses (15 anos).
A Fundação é, literalmente, administrada por crianças e jovens: estas desenvolvem competências extraescolares artísticas, arqueológicas, comunicacionais, de gestão e empresariais, sem
nunca esquecerem que são crianças e sempre, sempre, com a brincadeira como prioridade.
Aprender brincando.
A Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri é uma ONG cultural e filantrópica fundada em 1992, em Nova Olinda, no Cariri do Ceará. Cruza a cultura local com o mundo artístico
global. Combate o isolamento e a desertificação sertanejas do nordeste brasileiro através da
educação e formação de crianças e jovens, na área da gestão cultural, do turismo sustentável e
da qualificação das populações, em particular das mais carenciadas, dando aos pais condições
de autoemprego que lhes permita manter os filhos na escola e quebrando assim um ciclo de
pobreza geracional. Tem os seguintes programas transversais: Memória, Comunicação, Artes
e Turismo.
Na exposição misturam-se os quadrinhos desta dupla de jovens autores com uma alusão ao próprio edifício do Memorial do Homem Kariri, hoje Museu, outrora a primeira casa de Nova Olinda.
www.fundacaocasagrande.org.br
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de Luís Louro e António Simões
Edição comemorativa do 30.º aniversário 1985-2015
A série Jim del Monaco, surgiu na secção Tablóide do Sábado Popular, parte do desaparecido
Diário Popular, a 12 de Outubro de 1985. Pouco tempo depois, surgiria já na revista O Mosquito,
tornando-se um dos raros casos de herói de sucesso das últimas décadas, na BD portuguesa.
Esta é uma edição especial, com histórias inéditas, recheada de extras e de participações inesperadas, realizada para comemorar o 30.º aniversário desta genial série portuguesa, da autoria
de Luís Louro e António Simões.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Jim del Monaco:
O Cemitério dos Elefantes
Jim del Monaco regressa envolvido em novas aventuras, enfrentando zombies excitados, sendo perseguido por amazonas a precisar de dieta, descobrindo a última morada dos elefantes e
interferindo com o programa espacial soviético.
O Pugilista + retrospetiva
de Reinhard Kleist
Projeto e execução de cenografia: Cláudia Gaudêncio, Rui Mecha
Parceria: Goethe Institut
“Um retrato poderoso do pugilista profissional Harry Haft”
Polónia, 1941. Harry Haft, com dezasseis anos de idade, é enviado para Auschwitz. Forçado a
lutar contra outros reclusos, para diversão dos oficiais das SS, Haft mostra extraordinária força
e coragem e determinação para sobreviver. À medida que o Exército Soviético avança em abril
de 1945, ele faz uma ousada fuga da marcha da morte. Após a guerra, tendo escapado aos
Nazis, Haft faz de novo bom uso da sua força, iniciando uma carreira de lutador profissional
nos E.U.A.. Em The Boxer, Reinhard Kleist revela um outro lado do forte Harry Haft: um homem
que luta para fugir às lembranças da noiva que deixou para trás na Polónia. Este é um poderoso
romance gráfico sobre o amor e a vontade de sobreviver. A biografia de Hertzko Hafts foi publicada nos Estados Unidos pela Syracuse Press e na Alemanha por Die Werkstatt. Foi contada
pelo seu filho Alan Scott Haft, a partir de entrevistas realizadas em 2002. A banda desenhada
foi publicada em 2011 pelo jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung em 111 tiras. O livro foi lançado
na Alemanha em 2012 e foi traduzido em italiano, inglês, búlgaro, português, francês, checo,
sérvio, espanhol e macedónio.
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Exposições de Álbuns Premiados
nos Prémios Nacionais de BD 2014
Melhor Álbum Português
ZONA DE DESCONFORTO
ed. Chili com Carne
Daniel Lopes, Júlia Tovar, Ondina Pires, Francisco Sousa Lobo, Tiago Baptista, Christina
Casnelie, José Smith Vargas, Amanda Baeza, André Coelho, David Campos
Execução de cenografia: Amália Buisson, Catarina Pé-Curto, Francisco Campos
Zona de Desconforto: um livro com uma geração lá dentro
Texto: Amanda Ribeiro (a autora escreve segundo a antiga ortografia)
O que fazemos, nós que ficamos cá, quando eles partem? Multiplicamo-nos em jantares de despedida
e comités de aceno em aeroportos. Enviamos encomendas carregadas de nostalgia kitsch e dedicamos horas extra ao Skype. Programamos festas de recepção, ajudamos em burocracias alheias, vivemos as outras vidas, as deles, pelas redes sociais. Ou então inventamos um livro para retratar a crescente mobilidade de uma geração em trânsito, aquela que nas folhas dos jornais cabe nos números
de uma nova vaga de emigração, mas que para nós, que ficamos cá, tem nome, passado e um futuro,
agora noutro mundo qualquer.
A história de Zona de Desconforto, eleito pela Amadora BD o melhor álbum de BD portuguesa de
2014, começa assim. E o seu lançamento deve ser observado à luz do contexto social e económico
em que se insere, até porque é dele consequente. Reza a história que, “frustrado e impotente em testemunhar a emigração” (forçada nuns casos, temporária noutros) de amigos e conhecidos, Marcos
Farrajota, homem-chave da editora e associação sem fins lucrativos Chili Com Carne (CCC), decidiu
responder a quem apelava politicamente à saída dos jovens da mediática zona de conforto. Para isso,
desenhou uma antologia com relatos de autores de banda desenhada que foram estudar ou trabalhar
para fora de Portugal. Ofereceu-lhes toda a liberdade da página em branco, ditando uma única regra:
o registo teria de ser autobiográfico. (...)
Assim encontramos André Coelho, autor avesso à autobiografia, a debater-se com as típicas questões
nacionalistas catalãs durante o período de Erasmus em Barcelona, enquanto Amanda Baeza conta a
história da sua (in)adaptação ao País Basco à luz do mesmo intercâmbio académico, fazendo-se valer
de uma simbólica estrutura gráfica. Vemos Christina Casnellie, autêntica globetrotter, a trocar a vida
de designer freelancer no Porto por um estágio na Holanda (que se transformou num trabalho de três
anos e numa pós-graduação em holandeses) e, depois, a preparar-se para a paragem seguinte, Berlim.
Vamos até à Guiné-Bissau, onde David Campos fez voluntariado entre 2006 e 2007 (está tudo muito
bem contado em Kassumai, de 2013, cujos originais podem ser vistos na exposição da CCC no 26.º
Amadora BD), e acompanhamo-lo numa viagem-denúncia a Cap Skirring, no Senegal.
Continuamos a folhear e, graças à expressividade visual de José Smith Vargas, voltamos ao Verão
de 2007 e imaginamo-nos, com ele, na atafulhada cozinha da casa de tapas Manolo, entre Pedro,
as zarzuelas e os turistas espanhóis enganados. Viramos a página e estamos na capital inglesa com
Ondina Pires e Francisco Sousa Lobo. Ela, então a trabalhar na área do ensino e do apoio social a
deficientes, combina fotografias e desenho, piadas e críticas para dar um pequeníssimo vislumbre do
contraste entre a Londres-para-turista-ver e a Londres-para-alguém-viver. Ele, numa batalha contra o
mundo, debatendo-se com o doutoramento, o ensino, a arte e uma depressão. Um relato de grande
primor gráfico que pode ser desconfortavelmente íntimo, em particular para quem não conhecer a sua
origem: o romance gráfico The Dying Draughtsman / O Desenhador Defunto, publicado pela Chili Com
Carne em 2013 (também em destaque na mostra da editora no Amadora BD).
Mais uma página e chegamos a Berlim, onde está Tiago Baptista durante uma residência artística. Com
um profundo e relevante argumento, altamente simbólico e oportuno nos dias que correm, o autor
reflecte sobre fronteiras, emigração e refugiados, partindo da Palestina e terminando no Holocausto.
Vira-se a folha e, num estilo completamente oposto, vemos um casal a calcorrear uma cidade encavalitada. Estão nus, como forasteiros em terra estranha, quando toda a população está vestida. Estamos
em Buenos Aires com Júlia Tovar que nos convida a testemunhar, com algum humor, a sua maternidade como emigrante. Por fim, Daniel Lopes e o seu olhar certeiro de antropólogo, mostra-nos, com
grandes planos gráficos, ricos visual e narrativamente, um outro Brasil, país de um irónico “futuro”. (...)
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Pedro Massano
A BATALHA - 14 DE AGOSTO DE 1385
ed. Gradiva
Projeto e execução de cenografia: David Rosado
Texto: Pedro Mota
A carreira de Pedro Massano (nascido a 15 de Agosto de 1948, em Lisboa) na banda desenhada
é marcada pela versatilidade. Ao longo dos últimos 44 anos, Massano surge como autor, crítico, divulgador, dirigente do Clube Português de Banda Desenhada e até editor de BD e, mesmo
enquanto autor, para além de ser argumentista, desenhador, um notável legendador (veja-se a
expressividade das letras nas suas tiras humorísticas, por exemplo) e colorista, apresenta uma
grande diversidade de estilos gráficos e narrativos, assinando com diferentes nomes.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Melhor Desenho para Álbum Português
No álbum A Batalha – 14 de Agosto de 1385, publicado pela Gradiva, Pedro Massano retrata um
dia decisivo para Portugal na história do país, em que o exército comandado pelo rei D. Juan de
Castela foi derrotado no campo que viria mais tarde a chamar-se de S. Jorge, por uma força muito
inferior de portugueses. No domínio militar, foi um passo de inovação tática. No domínio diplomático, permitiu a aliança entre Portugal e a Inglaterra. No aspeto político, resolveu a disputa que
dividia o Reino de Portugal e o Reino de Castela e Leão, permitindo a afirmação de Portugal como
Reino Independente, abrindo caminho para a era dos Descobrimentos.
O álbum partiu de uma encomenda. Pedro Massano foi contactado por um responsável da Fundação Batalha de Aljubarrota, pretendendo-se concretizar um livro de banda desenhada que pudesse integrar o conjunto de documentos que o CIBA – Centro de Interpretação da Batalha de
Aljubarrota tem vindo a proporcionar.
Para a construção do guião, Pedro Massano socorreu-se de diversas fontes de que fez aquilo que
designa por uma “leitura fria”, com destaque (nas transcrições dos originais) para Fernão Lopes
(cujo estilo e método cheios de preocupações de expressão narrativa obrigam a um grande trabalho de interpretação), para Froissart (que também é precioso para a interpretação dos textos de
Fernão Lopes) e para fontes espanholas, como a carta de D. Juan (rei de Castela) aos murcianos
ou os escritos do cronista de D. Juan, Pêro Lopes Ayala. A preocupação de se cingir aos factos históricos verificáveis por fontes documentais existentes (a tal “leuitura fria”) passa para o resultado
final, mantendo-se, em A Batalha, a preocupação de objetividade na representação de cada um
dos lados em confronto.
A história foi decomposta em 86 pranchas, em que as pranchas inicial e final são pranchas singulares, e todas as restantes são pranchas duplas, em que o autor procura deliberada e frequentemente o efeito de, com o livro aberto, alguns desenhos passarem de uma página para a outra, e, sobretudo, tem espaço para corajosas opções de composição e planificação, e para eficazes mudanças
de planos, já que Pedro Massano é igualmente forte nos planos descritivos e nos planos narrativos.
A escrita do texto demorou cerca de dois meses, seguindo-se o desenho a lápis (durante pouco
mais de um ano), de modo a que o conjunto pudesse ser aprovado pelo Professor Doutor Mário
Barroca, diretor científico das edições da Fundação Batalha de Aljubarrota. A arte final demorou
cerca de quatro anos, de modo a garantir a qualidade do resultado, uma qualidade que resulta
também de um criterioso trabalho na legendagem e na aplicação da cor (em tons suaves, que não
perturbam a legibilidade do desenho).
A enorme atenção ao detalhe e a perspetiva do dia da batalha permitem a Pedro Massano retirar
o maior efeito dramático das emoções humanas (na sua individualidade e no relacionamento entre
personagens) e dos acontecimentos, e revelar os heróis do dia (e, afinal, do álbum), o Condestável
Nuno Álvares Pereira e D. João, Mestre de Avis.
Sendo a banda desenhada uma linguagem de participação, não há dúvida de que o autor consegue levar o leitor a “viver” o dia 14 de Agosto de 1385 no campo da batalha de Aljubarrota.
Muito bem recebido pela crítica e distinguido com o Prémio Nacional de Banda Desenhada para o
Melhor Desenho para Álbum Português, o álbum apenas levantou questões quanto aos textos de
enquadramento (que podem até ser objeto de revisão numa futura edição), com algumas vozes a
fazerem notar a utilidade de um mapa que situasse os exércitos e respetivas ações (Pedro Cleto)
ou de um texto de enquadramento complementar às notas (Ramalho Santos). Relativamente às
notas, vários leitores fizeram notar a alternativa de as apresentar no final da banda desenhada (o
género de solução utilizada, por exemplo, em From Hell, de Alan Moore e Eddie Campbell), de
modo a que não se sobrepusessem ao ritmo da leitura da banda desenhada.
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Melhor Argumento para Álbum Português
André Oliveira
HAWK
ed. Kingpin Books
André Oliveira (arg), Osvaldo Medina (des), Inês Falcão Ferreira (cor)
Projeto e execução de cenografia: Nídia Pereira, Susana Vicente
Texto: Sofia Mota
(...) A premissa para estas páginas foi um contratempo real que se passou com um amigo que,
como o Vicente, se viu forçado a passar um fim-de-semana com um falcão que lhe irrompeu
pela casa adentro.
Porém, à parte deste rastilho de inspiração, as personagens da história expõem algo de profundamente pessoal, familiar e autobiográfico. Experiências não somente contadas, mas sentidas ou vividas, na primeira pessoa. Mas provavelmente não é preciso viver com o André
para perceber isso. Tal como em quase tudo o que escreve, ele aborda aqui algumas das suas
próprias inquietações e consumições, vivendo-as através das suas personagens, e assim procurando um sentido para elas.
Neste caso, através do desenho do Osvaldo Medina e cor da Inês Falcão Ferreira, leva-nos a
acompanhar este Vicente, com todas as suas fobias paralisantes e ansiedade crónica. Explora
a dor da perda e a solidão, as aflições da mudança. Põe-nos a pensar em como”o que faz a vida
importante são pessoas e momentos que se vão perder para sempre.”. No fundo, uma história
bem disposta.
Com o selo da Kingpin Books, e edição de Mário Freitas, Hawk tem um significado especial
porque foi a primeira obra de maior fôlego a ser lançada em nome próprio.
Até lá, ao longo de anos de dedicação, assisti de perto a um crescendo de pequenos marcos
e conquistas na sua busca pela oportunidade de poder contar histórias. Que assumem várias
formas e feitios mas são sempre, sempre uma parte de quem ele é.
Obviamente, não sou uma académica de BD, mas nem tão pouco me atrevo a considerar-me
uma fã. É que, ao acompanhar o André a encontros do “meio”, já fui involuntariamente vista
como tal e, ao que parece, isso significa ser abalroada por ininterrupta e, para mim, absolutamente incompreensível verborreia bedéfila. São sacríficios que se fazem por amor. Dizem.
Este meio da banda-desenhada apaixonou-o desde cedo mas o percurso como argumentista
começou a ganhar forma no último ano da faculdade, quando se viu com apenas duas disciplinas para fazer e, portanto, muito tempo livre; resultado da brilhante ideia de ter chumbado a
uma única cadeira em todo o curso... que foi só a cadeira nuclear do 1º ano.
Dedicou-se então a escrever as suas primeiras amostras de argumento, enquanto dirigia o núcleo de banda desenhada da faculdade.
Julgo que mais ou menos por essa altura começaram também as nossas incursões pelo país,
fazendo várias centenas de quilómetros para ver, a um canto mal iluminado, numa exposição
deserta de uma qualquer cidade do interior, duas pranchas de argumento seu. Quiçá um primeiro e terceiro lugar num concurso com três participações.
A verdade é que que estas viagens serviam mais como pretexto para passarmos uns fins-desemana diferentes, só os dois, conhecer novos recantos do país mas, ainda assim, fico satisfeita
por poder testemunhar a evolução até aos dias de hoje. Os eventos tornaram-se um pouco
mais concorridos, algumas exposições foram já em nome próprio e, em vez de participar em
concursos, começou a fazer livros. (...)
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NO PRESÉPIO...
Álvaro
ed. Insónia
José Pinto Carneiro (arg), Álvaro (des)
Execução de cenografia: David Rosado, segundo ideia original de Álvaro
Texto: Pedro Mota
(...) A ideia central de No Presépio… é a crítica aos valores familiares, centrada na referência da
mais célebre forma de representação desses valores: o presépio. E quanto mais se afasta da
referência preconizada pela Igreja, e quanto mais se aproxima do absurdo e da desconstrução
total, rumando ao humor mais delirante (sem qualquer preocupação de elementar respeito
pelo que seja) mais perto fica também duma certa realidade familiar. É uma sátira impiedosa
num estilo de registo humorístico com pouca tradição na banda desenhada portuguesa.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Melhor Álbum de Tiras Humorísticas
Efetivamente, no que respeita ao peso do humor na banda desenhada nacional, este continua
a ser muito feito de antologias de gags ou de tiras, que o tornam uma espécie de “segunda
liga” da BD portuguesa. Há, como em tudo, honrosas exceções, no trabalho de autores que têm
procurado fazer livros de BD de humor, como José Carlos Fernandes, Artur Correia e António
Gomes de Almeida... ou Álvaro. (...)
Na BD, Álvaro trabalha exclusivamente o domínio da banda desenhada humorística, em que
a linguagem da BD serve sobretudo para garantir maior profundidade no tratamento do gag.
Mas da linguagem irmã do cartoon, que igualmente domina, Álvaro traz a eficácia do ritmo
e (ligada a essa eficácia) a economia da representação. As personagens criadas por Álvaro
estão reduzidas a mínimos de individualização e expressividade, e, como tal, aparecem completamente finalizadas, prontas para superar qualquer teste de repetição resultante do caráter sequencial da BD. São, também por isso, verdadeiramente credíveis, como se existissem
efetivamente num canto qualquer do imaginário (onde não é mesmo aconselhável ir sem ser
acompanhado), de tal modo que o autor se limita a ir buscá-las para as apresentar ao leitor.
Isto acontece também em No Presépio…, onde o estilo de Álvaro valoriza e credibiliza a extraordinária galeria de personagens, exemplarmente captada por Pedro Moura num texto publicado no seu blogue LerBD: “Esta Maria, vaidosa, concupiscente, algo brejeira, este José,
irascível, frustrado e dado aos prazeres simples da vida, este burro, algo anarca, desconsolado
e indómito, esta vaca, pouco dócil mas ao mesmo tempo indiferente às grandes comoções que
a rodeiam, e este menino Jesus, cuja única função parece ser, à la Sammy Sneeze (de McCay),
interromper a acção com o seu tonitruante choro ou outros atropelos típicos de recém-nascido, compõem uma família nada digna de ocupar os átrios das igrejas”.
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Melhor Álbum de Ilustração Infantil
LÔÁ PERDIDA NO PARAÍSO
ed. Tinta da China
Dulce Maria Cardoso (arg), Vera Tavares (des)
Projeto de cenografia: Teresa Cardoso
Execução de cenografia: João Nogueira, Teresa Cardoso
Texto: Vera Tavares
“Começo sempre no texto, na leitura do texto, tanto para desenhar uma capa como para ilustrar um livro. Mas é claro que os textos convocam ideias e imagens que já lá estavam antes de
os lermos. Há sempre qualquer coisa antes.
Estes textos impressionaram-me muito à primeira leitura. O primeiro, Lôá e a Véspera do Primeiro Dia, causou-me essa espécie de assombro mágico que faz ter vontade de fazer coisas:
outros objetos, outra imagens, outros textos, o que for e sabe-se lá para quê. No segundo, Lôá
Perdida no Paraíso, comoveu-me a menina-deus que se perde ela própria no paraíso que criou,
mas que no entanto se deixa salvar pela sua criatura. E daí em diante tudo terá sido diferente.
Daí em diante tudo terá sido mais difícil, menos belo muitas vezes, mas também, e por isso,
outras vezes mais belo. E assim nos consolamos.
Comecei pelos textos mas não os li novamente durante algum tempo. Quando comecei a ilustrar o primeiro livro, Lôá e a Véspera do Primeiro Dia, não o reli todo, mas apenas o início. A
primeira coisa em que me concentrei foi mesmo em imaginar a menina-deus, que nas primeiras
versões do texto aparecia descrita como loira e de olho claro, para além da fragilidade aparente. Quase ao mesmo tempo tive de imaginar a cama em que ela se deitava. E quase ao mesmo
tempo as páginas do livro em que as imagens apareceriam ao lado das palavras para contarem
uma história.
Menina-deus de pijama presa num quarto-torre, isto faz lembrar histórias muito antigas contadas e recontadas muitas vezes através de imagens que ecoam as iluminuras medievais. Também eu me socorri deste imaginário, nas formas arquitetónicas que desenham as páginas dos
livros antigos, no desenho das letras que dão vós a uma parede, na figura esguia e bidimensional de Lôá...
Os livros iluminados pareceram-me um bom ponto de partida para começar a imaginar estes
outros livros.
Não me inspirei em nenhum livro particular. Parti de uma ideia geral e depois fui à procura
de imagens que me servissem: desenhos de arcos e colunas, padrões e panejamentos, donzelas recostadas... Fiz vários desenhos que ao início eram mais complexos e pormenorizados
e depois tudo foi passando por um processo de simplificação. As letras que dão voz a Sossô
também começaram por ser mais góticas, depois foram-se arredondando para se encaixarem
melhor no resto do desenho.
Alguma coisa a iluminura medieval tem em comum com o abstracionismo geométrico, nem
que seja apenas a bidimensionalidade, que é a mesma que a da página do livro que se desenha.
Há nesta história uma esfera que rola e desliza em linhas retas num movimento tão imperturbável quanto inexplicável. Uma esfera enorme ou apenas um berlinde, um brinquedo de Lôá?
A procura das formas mais geométricas e elementares é um caminho que não sei se parte
da minha vontade se da minha incapacidade de pensar em outras formas. Há uma espécie
de desejo de harmonia que me leva a ir depurando até que não reste senão o estritamente
necessário. Há uma certa austeridade nisso, por muito que custe admiti-lo... O que acontece é
que, se não for assim, as coisas que desenho me parecem toscas. E começo sempre com muito
mais do que aquilo com que acabo. Será esta tendência para a austeridade um contrassenso
quando se quer ilustrar o ato de criação? Não sei. O mundo é muito diverso, confuso e cheio de
coisas. Procurar os seus padrões e as suas harmonias é uma forma de nos habituarmos a ele.”
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Tony Sandoval
AS SERPENTES DE ÁGUA
ed. Kingpin Books
Tony Sandoval (arg+des+cor)
Projeto e execução de cenografia: Catarina Graça, Inês Ramos, Rute Reis, Vasco Catarino
Texto: Mário Freitas
A obra de Tony Sandoval é marcada pelas mitologias, pelos cheiros, pelos sabores das vilas e
costumes do México da sua infância. Origens que se cruzam com a Europa cosmopolita que o
acolheu, com o Gótico e o Doom Metal que o inspiram e que ritmam a sua arte. A ingenuidade
onírica dos desenhos de Sandoval e a suavidade da sua palete contrastam profundamente com
o horror, o grotesco e o absurdo aparente das suas histórias. Porque o artista, tal como as suas
personagens, clama incessantemente pelas bizarrias que procuram, em vão, esconder-se para
além do limiar da imaginação.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Melhor Álbum de Autor Estrangeiro
Nascido há 42 anos na pequena cidade de Obregón, cedo o autor percebeu ser dotado de uma
criatividade invulgar que o arrastava para construções narrativas bizarras que pululavam na
sua cabeça. Parte para a Europa em meados da década passada e, influenciado pelas lendas e
culto dos mortos tão comuns no seu país, por óbvios pastiches lovecraftianos e pelos acordes
pesados da música que o inspira, inicia em Barcelona a sua colaboração com editoras espanholas, lançando as primeiras edições de El Cadáver y El Sofá e Nocturno, onde a sua obsessão
pela morte e pela libertação do espírito criativo se tornam desde logo marcantes. (...)
Em 2014, As Serpentes de Água marca a estreia da edição em português do autor (então a
viver em Berlim) e o seu regresso a Portugal, por ocasião do lançamento do livro no Festival
Internacional de BD de Beja. Mais do que qualquer outra das suas obras, As Serpentes de Água
sintetiza as temáticas recorrentes das obras de Sandoval. O Rei belo de uma das faccões do
domínio da imaginação é aprisionado pelos seu opositores e transformado num polvo negro
que esperará uma eternidade pela salvação; pela recuperação da verdadeira forma; pelo reacender da centelha da criatividade. Presentes em boa parte dos livros de Sandoval e símbolo
comercial da colecção Calamari que o próprio dirige na Paquet, os cefalópedes assumem-se
aqui, em definitivo, como Reis no gatilho crativo do mexicano. As Serpentes de Água é um
clássico “coming of age”, um livro sobre o amadurecimento e libertação sexual, um grito libertador contra as grilhetas que o mundano e as pessoas comuns impõe aos espíritos livres. Mila
é uma menina especial capaz de ver Agnès, aparentemente morta há 11 anos, mas que estará
afinal prisioneira na dimensão alternativa da imaginação em que tanto da narrativa clássica
de Sandoval se desenrola. Esta dimensão onírica, lar de anjos e demónios e palco de guerras
milenares entre o Céu e a Terra, mais não é que o espaço privilegiado de cada personagem no
seu combate pela individualidade, pela fuga à banalidade que tanto da realidade e dos seus
protagonistas encerram. (...)
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Ano Editorial 2014-2015
12 meses de transformações,
indecisões e confirmações
Comissariado e autoria do texto: Luís Salvado e Sara Figueiredo Costa (os autores escrevem
segundo a antiga ortografia)
Design Gráfico: Widegris Design
O regresso em massa da BD às bancas de jornais, o sucesso continuado das colecções e a
aposta contínua na banda desenhada portuguesa por parte das pequenas e médias editoras
são algumas das tendências que, vindas já de trás, se confirmaram e consolidaram no último
ano editorial, compreendido, para efeitos desde texto e da respectiva exposição no Amadora
BD, do período entre Setembro de 2014 e Agosto de 2015. Foram doze meses de publicação
intensa de BD, com mais de 200 títulos nos escaparates, entre álbuns, revistas e fanzines, para
todo o tipo de público e das mais variadas proveniências geográficas, a provar que, apesar dos
muitos lamentos da crise, talvez nunca se tenha editado tanta e tão diversa BD em Portugal
como agora.
O regresso das revistas
Um dos desenvolvimentos mais radicais e inesperados no consumo recente de BD em Portugal, que se cristalizou com toda a nitidez em 2015 mas que vinha emergindo de forma cada vez
mais visível nos últimos anos, é o do regresso em grande volume da BD editada nas bancas
de jornais ou estabelecimentos especializados em venda de periódicos, por oposição aos dois
modos dominantes de consumo da BD nas últimas duas décadas em Portugal: a publicada em
formato de livro (ou álbum) e vendida nas livrarias, e a de importação do estrangeiro adquirida nas lojas da especialidade. Assim, em 2015, quer em formato de revista periódica, quer
no formato das colecções de livros publicados em parceria com os jornais, a BD publicada e
adquirida nas bancas parece ter assumido a dianteira no consumo da BD em Portugal.
Mesmo que os números de vendas quase nunca sejam divulgadas de forma oficial, o volume
cada vez mais avassalador de edições e a variedade cada vez maior de títulos à disposição
asseguram que hoje as bancas de jornais voltaram a ser o espaço de eleição em termos de BD
para quem compra e para quem vende.
Em Portugal, os periódicos vendidos em banca, em jornal ou revista, foram durante décadas o
local primordial de edição e consumo de BD, à imagem do que sucedia internacionalmente. A
sátira de contornos sociais e políticos e as histórias para a infância dominaram a BD que se publicava no século XIX e inicios do século XX, sempre nos jornais, a que se sucederia, a partir dos
anos 20, o domínio das revistas de BD para jovens, que abarcariam completamente o mercado
editorial português de quadradinhos até aos anos 60 e parcialmente até aos anos 80. A grande
invasão da BD publicada em álbum (portanto em formato de livro) deu-se a partir dos anos 60
e os dois modos de publicação foram convivendo ao longo das décadas, sem esquecer a BD
publicada em jornal, em cada vez menor número, e as revistas brasileiras que começaram a
chegar aos nossos escaparates nos anos 40. A meados da década de 80, o formato primordial
de publicação de BD em Portugal transita em definitivo para os álbuns, com as revistas a terem
cada vez maior dificuldade em subsistir, mas a fruição de BD, pelo menos pelas camadas mais
jovens, está esmagadoramente nas revistas brasileiras distribuídas nas bancas, nomeadamente
nas dos universos Disney, Maurício de Sousa, Marvel ou DC. A meados dos anos 90, os álbuns
de BD de origem europeia continuam a dominar a publicação de BD em Portugal, mas a irregularidade cada vez maior das importações brasileiras leva a que muitos leitores transitem
os seus hábitos de leitura diretamente para as lojas especializadas em importação de BD norte-americana que vão emergindo entre nós. As revistas foram tendo aparições cada vez mais
raras e curtas e a crise nos jornais levou a uma redução cada vez maior da BD nas suas páginas.
Assim, na primeira década do século XXI, os leitores de BD em Portugal pareciam dividir-se
essencialmente entre os que compravam álbuns nas livrarias e os que adquiriam BD importada
nas lojas especializadas. A meio da segunda década, este movimento mudou.
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Por um lado, as importações brasileiras, de forma inicialmente tímida, foram regressando aos
escaparates, por outro, os editores portugueses decidiram apostar a valer no chamado formatinho, e esse esforço, pela primeira vez, parece ter dado frutos. Assim, de Terras de Vera
Mais importante ainda é, naturalmente, a edição nacional de BD nesse chamado formatinho,
que finalmente vingou em pleno a partir de 2012, quando a editora Goody avançou com a publicação de revistas Disney, numa aposta que tudo indica ter sido coroada de sucesso. Com
uma média habitual de 320 páginas mas com títulos que sobem acima das 500 (como é o caso
da Disney Big), as edições impressionam não só pelo volume mas também pelo facto de creditarem sempre os autores das histórias (algo que não sucedia nas encarnações das décadas
anteriores), praticamente sempre de origem italiana. Assim, títulos como Disney Comix (que já
passou os 150 números), Hiper Disney ou Disney Especial (esta sempre subordinada a um tema
genérico), encontram-se em abundantes números não só nos quiosques mas também, numa
operação muito bem concretizada, nos escaparates perto das caixas de pagamento dos supermercados. No capítulo das revistas, a Goody dá ainda cartas, por via da Disney, com Carros, a
partir das personagens da dupla de filmes da Pixar, e Cartoon Network, com séries criadas no
canal norte-americano homónimo, como Adventure Time; e marcou presença importante com
dois títulos entretanto cancelados: Real Life, de origem italiana e para um público feminino
adolescente, e que durou quatro números, e Os Simpsons, partir da popularíssima série televisiva de Matt Groening, que terminou no nº 13.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Cruz chegam mensalmente dezenas de revistas, quase sempre da Panini (que incluem não só
títulos muitos recentes dos super-heróis da Marvel e da DC Comics, como também uma grande
variedade de títulos do estúdio de Maurício de Sousa) mas também da Mythos, com títulos da
italiana Bonelli, nomeadamente com o herói do Oeste Tex, que gerou uma tal popularidade em
Portugal que entretanto se criou um clube de fãs nacional muito activo em sua homenagem, e
já com uma publicação própria.
Mas a presença de revistas no escaparates não se ficou por aqui: a Zero a Oito, especializada
em publicações infantis, apostou em títulos como Phineas e Ferb ou Disney Junior, povoadas
por figuras do universo mais televisivo do estúdio do Rato Mickey, como Jake e os Piratas da
Terra do Nunca ou a Princesa Sofia, ou a revista das Winx, um sucesso que, iniciado em Setembro de 2005, acaba de completar uma década de publicação mensal. Por seu turno, a Panini
está a ter sucesso com os títulos Club Penguin e Invizimals, que, uma e outra, já lançaram mais
de 20 números.
A aposta no público infantil
Toda esta enorme quantidade de revistas de publicação portuguesa (mais a importação mensal de cerca de duas dezenas de títulos dos estúdios de Maurício de Sousa) tem um publico-alvo em comum: as crianças. E essa é também uma das tendências mais evidentes mas menos
discutidas do actual consumo de BD em Portugal: depois de duas décadas em que eram os
adolescentes e os adultos o público alvo primordial ou quase total da edição de BD em Portugal, as crianças voltaram a ocupar um papel de relevo.
Efectivamente, se até aos anos 90, as secções infanto-juvenis das livrarias eram essencialmente dominadas por livros de BD, na primeira década do século XXI, o domínio transitou de forma
massiva para os romances em prosa destinados a targets etários muito bem definidos (impulsionado pelo sucesso esmagador de séries como a do aprendiz de feiticeiro Harry Potter) sem
esquecer os livros de ilustração infantil, com edições de notória qualidade.
Porém, se a BD praticamente se desvaneceu desse sector das livrarias, a edição de quadradinhos voltou a apontar a mira às crianças por via das bancas de jornais, com títulos para targets
bem definidos, desde o pré-escolar (Club Penguin, Invizimals, Disney Junior) até às meninas
(Winx) e às adolescentes (Real Life), com as revistas Disney da Goody a dirigirem-se a todas as
faixas e a abarcarem ainda algum publico adulto, que geralmente as lera na infância. É uma tendência de importância fundamental na actualidade da BD nacional porque a formação de leitores de quadradinhos nas camadas infanto-juvenis, que parecia ter desaparecido nas décadas
de 90 e 2000, regressou em força com as revistas coloridas que animam as bancas de jornais.
Ainda assim, os livros de BD destinados essencialmente às crianças também ocuparam o seu
espaço. Por um lado, com a aposta da Kingpin Books na dupla nacional Aida Teixeira e Carlos
Rocha, que em 2013 assinou o álbum de histórias curtas Vamos Aprender, e que em 2014, e na
companhia de Rá Taniças, lançou o livro de ambiente fantástico O Espirro do Dragão. Por outro, com o oitavo volume da série As Aventuras de Zé Leitão e Maria Cavalinho, de Pedro Leitão,
entitulado A Famosa Escola Cor-de-Rosa, naquele que é já um caso de sucesso invulgar na BD
portuguesa, editado pela Gailivro. Finalmente, com a recuperação, no final de 2014, da série
dinamarquesa do ursinho Rasmus Klump, entre nós conhecido como Petzi, assinada pelo casal
Carla e Vilhelm Hansen, que já conta com seis volumes nas livrarias, e que fora editada entre
nós nos anos 70 e 80 pela Verbo, e cuja boa memória faz crer que muitos leitores adultos também se encontrem entre os desta nova coleção com a qual se estreou a editora Ponto de Fuga.
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Tudo isto sem esquecer, claro, que há livros em que as fronteiras entre adultos e crianças se
esbatem. Um caso exemplar é o do Menino Quadradinho, do brasileiro Ziraldo, um clássico editado pela Booksmile sobre o poder do imaginário da BD nas crianças e nos adultos; outro é da
argentina Mafalda, de Quino, cuja edição integral voltou ao convívio dos leitores portugueses,
desta vez pela Verbo, e que, criada como sátira política e social para leitores adultos, sempre
teve uma especial ressonância entre as crianças.
A confiança nas colecções
Outra tendência surpreendente no actual panorama da edição de BD é a dos álbuns lançados
em colecção, por um lado com jornais, a que já atrás se aludiu, por outro nas livrarias mas em
sucessão regular e prolongada de capítulos, neste último caso a conquistar a confiança dos
leitores de que as histórias não serão deixadas a meio, algo que noutros tempos minou de sobremaneira as tentativas de edição de sagas de BD mais longas entre nós.
A tendência mais marcante do actual lançamento de BD em Portugal, e a que opera uma reviravolta mais inesperada com os modos de edição antecedentes, é a das colecções de livros
editados semanalmente com um jornal. E o que era inicialmente uma opção considerada arriscada e pouco utilizada, ameaça tornar-se no principal método de edição de livros de BD em
Portugal, e em colecções de qualidade média cada vez mais alta. Num ano em que chegaram
directamente às livrarias cerca de 80 álbuns de BD, um número elevadíssimo para um país em
permanente queixa de falta de leitores para qualquer tipo de literatura, as colecções somaram
mais de 50 títulos, praticamente todos eles editados em parceria com o jornal Público, ficando
a noção de que só não se publicou mais para não haver notória sobreposição de colecções nos
mesmos períodos. Assim, só nos últimos 12 meses, chegaram aos escaparates 12 volumes da
colecção Ric Hochet, 11 volumes da colecção XIII (composta por álbuns duplos), 12 volumes da
colecção Novela Gráfica, 10 volumes da colecção Batman 75 Anos, a segunda parcela dos 20
volumes da colecção Universo Marvel e a quase totalidade dos 15 volumes da colecção Poderosos Heróis Marvel. As duas primeiras foram lançadas pela Asa, as seguintes pela Levoir, todas
elas no jornal Público excepto a de Batman, que surgiu em parceria com o jornal Sol.
Como se chegou a este avassalador ritmo de publicação? As primeiras sementes parecem estar no ano de 2003, com duas tentativas muito distintas mas igualmente bem sucedidas: por
um lado, no início do ano, a colecção integral dos álbuns de Tintin no jornal Público (incluindo
o fundador e então inédito em português Tintin no País dos Sovietes) pela Verbo; por outro,
arrancando já no último trimestre, a colecção de 25 volumes Clássicos da Banda Desenhada
no Correio da Manhã, pela Devir, com cada livro dedicado a histórias diversas de um herói, que
tanto podia ser Mickey ou Corto Maltese, como Homem-Aranha, Blueberry ou Conan. Neste
último caso, o responsável era José de Freitas, que continua até hoje como o principal proponente entre nós deste tipo de edição, estando por trás de todas as colecções de super-heróis
Marvel ou DC nos jornais e ainda da prestigiada colecção Novela Gráfica.
Essa primeira experiência correu bem e outras lhe sucederam, com diversas variações e cada
vez mais intensidade de publicação, sempre assente na maior divulgação, na maior amplitude
de distribuição e na menor percentagem de vendas associada à venda com o jornal por oposição à da edição directamente para livraria (de que algumas destas colecções podem beneficiar
assim que termine o seu percurso pelas bancas). Hoje, há essencialmente dois modelos principais: o da editora Asa e o da editora Levoir. A Asa tem construído colecções a partir do seu
catálogo de títulos franco-belgas, com edições integrais ou parciais de títulos muito populares
como XIII, Michel Vaillant, Thorgal, Blueberry, Alix, Lucky Luke, Gaston Lagaffe, Blake e Mortimer (nas novas edições de luxo), Astérix, Spirou, Blueberry ou as edições a preto e branco de
Corto Maltese, tendo apostado ainda em duas colecções compostas por volumes individuais
de séries de referência, com Os Incontornáveis da Banda Desenhada e Clássicos da Revista
Tintin.
Já a Levoir tem apostado em grande medida na BD de super-heróis da Marvel e da DC Comics, mas alargou a sua ambição para os clássicos da BD destinados a um público adulto, com
a ambiciosa colecção Novela Gráfica. Se na Asa, não parece haver um estratega por trás das
colecções, na Levoir o grande impulsionador é José de Freitas, que esteve nas origens do formato com as duas colecções Clássicos da Banda Desenhada (à primeira, de 2003, sucedeu-se
outra em 2005 com o acrescento no título de Série Ouro), ambas para a Devir e com o Correio
da Manhã. Já com o Público sucederam-se várias colecções de super-heróis da Marvel e da
DC, em edições de capa grossa e com praticamente todos os principais títulos e autores das
últimas décadas das duas editoras, e com textos de contextualização.
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Foi precisamente aqui que se deu o grande acontecimento de 2015 no que diz respeito ao
lançamento de BD em Portugal: a colecção Novela Gráfica, uma aposta ganha da Levoir com
o Público, com 12 títulos de diferentes países e em diferentes formatos (quebrando assim a
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
uniformidade de todas as anteriores colecções em benefício da fidelidade à obra original), praticamente todos eles clássicos absolutos da BD mundial, a maioria deles inéditos em Portugal.
Passando por cima da polémica utilização do termo novela gráfica - tradução livre da anglosaxónica graphic-novel, um formato que fará mais sentido no contexto da publicação norte
-americana que da europeia, onde o formato livro domina o mercado de BD há mais de meio
século… -, o que surpreendeu foi a variedade da escolha, a coragem das opções, o inedistismo
dos autores e, talvez mais que tudo, o preço reduzido, em redor dos nove euros, por livros que,
nas suas versões internacionais custam pelo menos o dobro. Assim, abrindo com Um Contrato
com Deus, do norte-americano Will Eisner, considerado o título fundador do formato nos EUA,
a colecção edita finalmente em português autores fundamentais mas praticamente inéditos
entre nós, como Robert Crumb ou Edmond Baudoin, reencontra consagrados como Jacques
Tardi, Cosey, Jiro Taniguchi ou a dupla Moebius e Jodorowsky, passa por obras-primas absolutas da Nona Arte como Sharaz-De, do italiano Sergio Toppi, ou a integral de Mort Cinder, dos
argentinos Alberto Breccia e Héctor Gérman Oesterheld, e não esquece revelações, como o
brasileiro Danilo Beyruth, com Bando de Dois.
Se há colecção que comprova que é neste formato que pode estar o futuro próximo da publicação de BD em Portugal, ela é, sem dúvida, a colecção Novela Gráfica.
Refira-se que, em modelo um pouco diferente mas no passado muito recente, entre 2013 e
2014, a Planeta DeAgostini também apostou na venda directa em banca com a colecção Comics Star Wars, mas prescindindo da parceria com um jornal. Mesmo assim conseguiu chegar
ao fim de uma série com nada menos que 70 volumes, um verdadeiro recorde nesse formato
em Portugal.
Essa confiança que os leitores hoje em dia voltaram a ter de que as séries que começam a
coleccionar têm sequência está a traduzir-se também nas vendas directamente nas livrarias,
em que, das cerca de oito dezenas de álbuns lançados nos últimos 12 meses, pouco menos de
metade fazem parte de colecções de lançamento regular, já pondo de parte os representantes
de séries de publicação mais espaçada como Blake e Mortimer ou Blacksad.
Assim, além dos já referidos seis volumes de Petzi, o grande destaque vai para a série de ficção pós-apocalíptica The Walking Dead, criada por Robert Kirkman e que beneficia da enorme
popularidade da série televisiva que a adapta, que já vai no 12º volume publicado entre nós
pela Devir. Além da Planeta, que segue já no quarto volume da adaptação em BD da literária A
Guerra dos Tronos, o último ano foi marcado pela aposta em força de uma nova editora, a GFloy (uma vez mais pela mão de José de Freitas), em três dos mais recentes e elogiados novos
êxitos da BD independente norte-americana, com os primeiros volumes das séries Saga, de
Brian K. Vaughan e Fiona Staples, Fatale, de Ed Brubaker e Sean Phillips, e Tony Chu (Chew), de
John Layman e Robert Guillory. O que indica que a confiança dos leitores na continuidade das
séries em livro e a confiança das editoras na fidelidade dos leitores aos mesmo títulos parece
estar mais alta que nunca.
Edição de autores portugueses
A edição de livros de banda desenhada de autores portugueses continua a dever muito ao trabalho dedicado de pequenas e médias editoras. De certo modo, sempre assim foi, mesmo nos
primeiros anos deste século, quando a edição portuguesa de banda desenhada vivia os seus
anos de maior fartura no que ao volume de títulos editados diz respeito. Se é certo que editoras
de maior dimensão – e, portanto, com muito mais margem para arriscarem em títulos e autores com poucas garantias de um retorno financeiro compensador – não deixaram de avançar
alguns títulos, caso da Porto Editora, com a adaptação que João Amaral fez de A Viagem do
Elefante, de José Saramago, ou da Asa, com Pontas Soltas – Lisboa, de Ricardo Cabral, foi nas
editoras de menos dimensão que as coisas se tornaram interessantes relativamente à edição
de autores portugueses.
A Kingpin Books continua a desenvolver um trabalho coerente, equilibrado e notório. Editando
com regularidade autores que já podem considerar-se ‘da casa’, algo que não deve ser visto
como um reparo, mas antes como uma confirmação daquilo que sempre foi a constância na
construção de catálogos editoriais, na banda desenhada ou fora dela, a Kingpin Books foi responsável, no último ano, por vários livros individuais e colectivos de autores portugueses. Entre
eles, destaque-se Sepulturas dos Pais, de David Soares e André Coelho, ou Casulo, colecção de
histórias com argumento de André Oliveira e desenho de vários autores. E destaque-se igualmente a edição de Crumbs, uma antologia de histórias curtas em inglês, destinadas a mostrar
o que se vai fazendo por cá no mercado internacional. Os frutos que uma edição como esta,
apresentada no Thought Bubble – Leeds Comic Art Festival, podem não ser ainda notórios,
mas é inegável a importância de gestos como este na divulgação da banda desenhada portuguesa além-fronteiras.
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Chili Com Carne e El Pep, outras duas editoras por onde têm passado sobretudo autores portugueses, prosseguiram o seu trabalho com a edição de títulos que ajudaram a fazer deste último
um ano de ‘boa colheita’ editorial. A primeira editou autores como Nunsky (Erzsébel) ou Lucas
Almeida (O Hábito Faz o Monstro, inserido na colecção Mercantologia, que se dedica a recuperar em livro material que andava disperso por zines de difícil acesso), continuando a apostar da
edição de livros colectivos, como aconteceu com Malmö Kebab Party, narrando a viagem de
cinco autores portugueses (Afonso Ferreira, Amanda Baeza, Hetamoé, Rudolfo e Sofia Neto)
ao festival AltCom, na Suécia, ou com os volumes da colecção QCDA. A segunda prosseguiu o
seu trabalho editorial, sempre associado às actividades da livraria/galeria que tem em Lisboa,
publicando Pizzaman e Space, ambos de Afonso Ferreira.
A Polvo, cujo catálogo mais antigo tem uma forte presença de autores portugueses, manteve a
sua atenção à produção nacional, mesmo que tenha apostado de modo mais visível na edição
de autores brasileiros. Assim, de entre os livros que a Polvo deu à estampa no período em que
nos detemos, destaque-se os títulos Deixa-me Entrar, de Joana Afonso, e Volta – O segredo do
vale das sombras, de André Oliveira e André Caetano.
Numa escala mais reduzida no que à capacidade de alcance e distribuição diz respeito, destaque-se ainda a Ave Rara e a publicação de Gentleman, de André Oliveira e Ricardo Reis, ou os
volumes 3 e 4 de Living Will.
Fora de um trabalho mais consistente na edição de autores nacionais, não faltaram edições isoladas em termos de catálogo, como Zombie, de Marco Mendes, com chancela Mundo Fantasma
(dando continuidade à edição deste autor em anos anteriores), bem como edições de autor,
caso de Solomon, de Carlos Pedro.
Uma nota final para salientar a presença, cada vez mais notória, da língua inglesa em edições
portuguesas de autores portugueses. O facto não deveria despertar estranheza, já que o inglês
continua a manter o seu estatuto de língua franca, contaminando várias outras línguas com
palavras e expressões frequentes, como é sabido, mas sobretudo servindo de veículo comunicante entre mercados, espaços, projectos espalhados pelo mundo. A edição de autores como
André Oliveira, Carlos Pedro, Francisco Sousa Lobo ou o colectivo Clube do Inferno em inglês
é, por isso, um gesto natural de quem se expressa facilmente nesse idioma, e que igualmente o
utiliza como veículo óbvio para uma maior facilidade de circulação do seu trabalho.
A fechar o apartado dedicado aos autores portugueses, é de registar igualmente a edição de
duas antologias que fizeram o seu caminho em espaços internacionais (a juntar a Crumbs, da
Kingpin Books, anteriormente referido). Trata-se de Š!, uma antologia periódica editada pelo
colectivo Kuš!, de Riga, que dedicou um dos seus números à banda desenhada portuguesa,
entregando a edição a Marcos Farrajota, que seleccionou autores como João fazenda, Paulo
Monteiro, André Pereira, Joana Estrela, entre outros. A outra antologia intitula-se Quadradinhos e reuniu uma mostra de autores portugueses cujo trabalho se expôs no festival de banda
desenhada de Treviso, em Itália. Ambas as edições contaram com o apoio da Direcção Geral
do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas.
Autores estrangeiros
Depois de um período em que a grande editora a tomar conta da edição de catálogos estrangeiros foi a Asa, dedicada, sobretudo, ao filão franco-belga com algumas incursões noutras
áreas, os últimos anos têm assistido a um movimento paulatino de dispersão. Neste momento,
a Asa não edita tanto como no passado, e não parece haver um critério explícito nos títulos
que vão chegando ao mercado. Para além disso, outras editoras foram arriscando na edição
de banda desenhada, algumas já com provas dadas, como a Devir, outras estreando-se neste
sector da edição, como a Teorema.
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No último ano, foi difícil avaliar a tendência que vinha sendo notada, a de editoras generalistas
ou de outras áreas apostarem na banda desenhada, fugindo de títulos e séries mais conotadas
com nichos editoriais ou com personagens de grande sucesso em termos de público (super
-heróis, séries franco-belgas) e avançando com livros que facilmente despertam o interesse de
leitores que habitualmente não lêem banda desenhada. Por um lado, vimos a Planeta Tangerina, editora que tem trabalhado o livro ilustrado e o álbum, dirigindo-se preferencialmente a um
público infantil, editar Finalmente o Verão, de Jillian Tamaki e Mariko Tamaki, e a Teorema, editora generalista sem outra ligação à banda desenhada que não seja a antiga edição da obra de
Quino (numa altura em que a Teorema ainda era uma editora independente, já que depois da
integração desta na Leya, o autor decidiu terminar o seu vínculo contratual), publicar O Árabe
do Futuro. Ser Jovem no Médio Oriente (1978-1984), primeiro volume da obra de Riad Sattouf.
Por outro lado, a aposta que a Bertrand vinha fazendo na banda desenhada, com títulos como
Persépolis, de Marjane Satrapi, Maus, de Art Spiegelman, ou Fun Home, de Alison Bechdel, es-
Já a Devir, com provas dadas no capítulo da edição de autores estrangeiros há vários anos,
reforçou o seu catálogo com títulos de peso, todos eles passíveis de quebrarem o nicho da
banda desenhada, encontrando outros públicos, assim os livreiros os mostrem aos leitores. Habibi, de Craig Thompson, Pyongyang, de Gui Delisle, ou Parker: O Caçador, de Darwyn Cooke,
chegaram ao mercado no último ano, para além da continuidade de séries como Walking Dead,
já referidas neste texto.
Outros casos a merecerem destaque são a Arcádia, integrante do grupo Babel, que tem publicado séries e títulos individuais, e a G Floy, projecto que vem, paulatinamente, afirmando o seu
espaço na edição de banda desenhada. A primeira assegurou a publicação de O Estrangeiro,
de Jacques Ferrandez, a partir da obra homónima de Albert Camus, ou O Comboio dos Órfãos.
Ciclo I – Jim e Harvey, de Philippe Charlot e Xavier Fourquemin; a segunda publicou Saga, de
Brian K. Vaughan e Fionna Staples, e Tony Chu. Detective Canibal, de John Layman e Rob Gillory, ambos com dois volumes, entre outros.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
fumou-se no último ano, sem nenhum título a ser publicado.
Uma palavra para a edição de autores brasileiros, trabalho a que a Polvo se vem dedicando
nos últimos tempos, que colocou nas livrarias portuguesas títulos como Cachalote, de Daniel
Galera e Rafael Coutinho, Cumbe, de Marcelo D’Salete, ou Copacabana, de Lobo e Odyr.
O “caso japonês”
A mesma confiança que os leitores têm merecido por parte de algumas editoras, que persistem
na edição de séries completas, é confirmada pela aposta contínua da editora Devir na publicação de longas séries de banda desenhada japonesa, em livros de pequeno formato, a preto
e branco, com uma média de 200 páginas e, surpreendentemente, com o formato de leitura
a respeitar o nipónico, portanto inverso aos padrões ocidentais (ou seja, com orientação de
leitura da direita para a esquerda entre as vinhetas, e começando no que para nós costuma ser
a contracapa para terminar na capa). O que indica que também aqui se encontrou um nicho de
leitores fiel, algo que há muito iludia quem tentava apostar na BD do Sol Nascente.
A relação de Portugal com a BD japonesa sempre foi distante, e mesmo com as séries e filmes
de animação sempre foi mais errática do que noutros países da Europa. No pequeno ecrã, as
séries que por cá passaram nos anos 70 e 80 privilegiaram o drama e a aventura mas ficaram
quase sempre de fora dos temas de ficção científica que constituíam grande parte do apelo
internacional, com o fenómeno Dragon Ball nos anos 90 a alinhar um pouco mais o espectador
português com o de além-fronteiras. No cinema sempre foi o deserto, fora os mais recentes
filmes dos estúdios Ghibli, com o nosso país a passar ao largo de fitas tão influentes como Akira
ou Ghost in the Shell.
Mesmo assim, o fascínio pelo mangá foi crescendo de forma lenta mas sustentada, assente na
importação de algumas edições estrangeiras, com a internet a gerar um primeiro sentimento
de comunidade e partilha entre os fãs. Em 1996, a Texto Editora tentou a sua sorte com Ranma
½ e Striker, mas não vingou. Nos anos 90 e 2000, a Meribérica conseguiu terminar a publicação
integral de Akira, de Katsuhiro Otomo, em 19 volumes, mas ficou-se pelos três de Mother Sarah,
do mesmo autor. Em 2001, a Planeta DeAgostini estreou em Portugal a edição em formato de
leitura original nipónico com os 42 volumes de Dragon Ball, assentes no gigantesco sucesso da
série na televisão, e já editados directamente nos quisoques. Depois, em 2007, a MangaLine
publicou os primeiros volumes de May-HiME, Lupin III e Vampire Princess Miyu, e desvaneceuse rapidamente. Entre 2010 e 2012, a Asa apostou em força na BD japonesa, mantendo-se fiel
ao sentido de leitura: por um lado editou o clássico Astro Boy, de Osamu Tezuka (sem ir além
dos três volumes), mais sete volumes da série Yu-Gi-Ho! e 18 de Dragon Ball, por outro tentou
a sorte em BD em estilo manga por autores europeus, com colecções completas como as de
Dramacon, Princesa Pêssego ou Warcraft Legends. Depois, também travou por completo.
Quem hoje se mantém em força na edição de BD nipónica, com vários títulos lançados por ano,
é a Devir, que após um arranque em falso em 2004 com Dark Angel e Death Note, prossegue
agora em acelerado ritmo de publicação, estando já no 10º volume de Naruto, no 12º de Death
Note e no 5º de Blue Exorcist, tendo acabado de editar o primeiro volume de Assassination
Classroom, de Yusei Matsui, e os dois volumes de All You Need is Kill, de Takeshi Obata. A
noção de que há um lote de leitores fiéis centrados de BD nipónica parece ser tal que, neste
último caso, a promoção prescindiu até de referir que a história é a mesma que serviu de base
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
à super-produção de Hollywood com Tom Cruise, No Limite do Amanhã.
Ainda em Março de 2015, a sempre muito activa NCreatures, que já lançara em 2010 a Banzai,
a primeira revista portuguesa com autores a desenhar exclusivamente em estilo mangá, lançou
nos quiosques o nº0 de Jan Ken Pon, um jornal com a mesma linha editorial, de que transita
a história The Mighty Gang: Missão 06, de Joana Rosa Fernandes. Mais um exemplo de dedicação a um estilo que tem cada vez mais leitores em Portugal, cada vez mais presentes nos
eventos da especialidade, e cujo real impacto ainda está por medir.
Os fanzines resistem
Falar de fanzines em 2015 não é tão linear como seria nos anos 80 e 90 do século passado. A
ideia de uma publicação amadora, feita por editores dedicados à divulgação e à publicação
de banda desenhada, fotocopiada num centro de cópias ou no escritório de algum familiar,
já não retrata, nem sequer de modo aproximado, a realidade desta cena editorial nos dias
que correm. O termo fanzine adquiriu novas ambiguidades ao longo dos últimos anos e essas
ambiguidades notam-se quando queremos classificar uma publicação, criando-se equívocos
que valerá a pena repensar e discutir, nomeadamente no contexto do Amadora BD e dos seus
Prémios Nacionais de Banda Desenhada.
Com a democratização do acesso aos meios de produção editorial, as fotocópias não são o
único meio barato de produzir uma publicação – e, na maioria dos casos, já nem são o meio
preferencial. A impressão digital ou os serviços de print on demand tornaram mais acessível
esse processo, conferindo-lhe uma perfeição nos acabamentos próxima daquilo que esperaríamos de uma revista ou de um livro. Esta aproximação cria novos desafios na abordagem à
questão dos fanzines, bem como à da edição em geral, tanto mais que um dos elementos fortemente diferenciadores entre fanzines e outras publicações, para lá da produção dita artesanal
e da distribuição errática, era a aquisição de um ISBN ou ISSN. Ora, se tantas editoras, de banda desenhada e não só, passaram a editar os seus livros e outras publicações sem a presença
deste número de registo internacional, que sentido fará decretar que um fanzine se caracteriza
pela ausência deste registo?
Por outro lado, também os suportes digitais se têm revelado terreno fértil para a publicação
de banda desenhada, criando-se outros problemas de classificação. Uma publicação feita on
-line por um grupo de autores de banda desenhada, ou um grupo de estudiosos, entusiastas,
divulgadores, é um fanzine? Se um romance em suporte digital continua a ser um romance, e
portanto, um livro, dir-se-ia que um fanzine no mesmo suporte mantém igualmente a sua designação. Mas onde se traça a fronteira entre um fanzine digital e um site? Para ser um fanzine
tem de ser um PDF, reproduzindo o aspecto do papel no écrã, ou se há aplicações interactivas
às quais chamamos livros, não deveríamos usar a mesma regra quando se trata de fanzines?
As perguntas são ainda muitas, algo que se explica pela recente prática da edição em suporte
digital, já com alguma teorização associada, mas ainda com poucas respostas aceites consensualmente, mas sobretudo pelas rápidas mudanças que este meio proporciona. Será, talvez,
mais acertado manter a ideia de que fanzine é aquilo que o seu editor assumir como tal. Não
resolve as questões por resolver, mas pelo menos permite um grau mínimo de entendimento.É
com esta ideia ainda a precisar de discussão e soluções que se pode avançar para a constatação de que a edição de fanzines de banda desenhada foi, neste último ano, uma das vertentes
mais ricas da produção nacional. Foram mais de quatro dezenas de títulos publicados, pelo
menos entre aqueles cujo registo se pôde ir mantendo (já que, no âmbito desta tipologia de
publicações, é fácil perder o rasto de algumas). Do ponto de vista da materialidade, falamos de
objectos muito diferenciados, quer no formato, quer na produção. Dos fanzines fotocopiados,
cortados e alçados à mão, como É Fartar Vilanagem, de Alexandre Esgaio (com outras colaborações creditadas), aos impressos a cores, como War is Hoover, de Filipe Abranches (Imprensa
Canalha), passando pelos que apresentam capa a cores e miolo a preto e branco, mas igualmente lombada, encadernação brochada e um acabamento que não se diferencia do utilizado
por livros impressos em gráfica, caso de Oh, Zona, num número com edição luso-alemã.
Também os canais de distribuição destas edições são variados, havendo casos de fanzines
passados de mão em mão, como o de Alexandre Esgaio, lembrando o velho método de fazer
chegar as publicações aos leitores quando os editores de fanzines não imaginavam possível
ver os seus objectos em livrarias, e diferentes graus de eficácia numa distribuição mais generalizada, com alguns destes fanzines a serem distribuídos comercialmente (os que têm a
chancela da Chili Com Carne beneficiam da distribuição que esta editora contratou, surgindo
em livrarias e feiras do livro, como acontece com QCDI# 3000, uma parceria com o Clube do
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Paralelamente a estes canais mais tradicionais, chamemos-lhes assim, os editores de fanzines
têm sabido criar os seus próprios espaços de divulgação, venda e troca em feiras de edição
independente. Nestes espaços itinerantes, que vão sendo marcados à medida que os editores
se organizam e avançam para a sua concretização, encontra-se a pluralidade que caracteriza
a cena editorial dos fanzines, não apenas de banda desenhada, mas com uma forte presença
desta linguagem. Feira Morta, Feira das Almas, Necromancia Editorial (integrada no festival
de música Milhões de Festa) são alguns dos momentos que importa acompanhar para que
não se perca o rasto às dezenas de publicações que vão saindo das oficinas destes editores,
bem como os eventos mais institucionalizados onde a dita edição independente não deixa de
marcar presença, como o Festival Internacional de BD de Beja ou as Feiras do Livro de Lisboa
e Porto. E depois de um ano de intensa produção editorial, tudo indica que o próximo ano será
igualmente merecedor de uma atenção muito próxima neste capítulo da edição de banda desenhada em Portugal.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Inferno, ou Mesinha de Cabeceira #26) e outros a serem colocados em algumas livrarias pelos
seus editores (normalmente, nas chamadas livrarias independentes, que não seguem o modelo
das cadeias livreiras, dando aos seus livreiros a liberdade de escolherem as publicações que
fazem sentido no seu espaço).
Editar na rede
Contrariando os arautos de um futuro que traria écrãs em catadupa e cada vez menos espaço
para o papel impresso, a edição em meio digital não tem sido uma tendência crescente na
banda desenhada portuguesa. Contextualizando um pouco esta questão, importa referir dois
aspectos, contraditórios enquanto tendência, e por isso mesmo ilustrativos de um tempo em
que a linearidade dos modos de trabalho, também na edição, não é um dado adquirido. Primeiro, a edição generalista, e não especificamente de banda desenhada, em suporte digital tem
visto os seus números estagnar de um modo geral, ainda que alguns mercados emergentes
como a Índia ou a China tenham uma procura crescente de livros nestes suportes, sendo que,
por outro lado, há grandes mercados onde os valores das vendas destes livros foram mesmo
descrescentes no último ano. Segundo, a edição de banda desenhada, abrangendo aqui não
apenas a banda desenhada propriamente dita, mas igualmente os textos sobre ela, a ilustração
e os esboços, é uma área com potencial de desenvolvimento ainda por explorar, e mercados
mainstream como o americano ou o japonês têm sido bons exemplos disso. Por outro lado, a
facilidade com que se cria uma página, um blog ou uma aplicação tem permitido a muitos autores sem obra publicada mostrarem o seu trabalho, criando portfolios acessíveis em qualquer
lugar do mundo.
No panorama português, não se tem registado um número crescente de projectos de edição
digital de banda desenhada, pelo que poderia ser um contra-senso incluirmos um apartado
dedicado a esta área numa exposição dedicada ao ano editorial. Pareceu-nos, no entanto,
relevante essa inclusão, apesar da pouca expressão que o digital tem tido no nosso âmbito,
precisamente pelo potencial ainda inexplorado deste modo de editar, pelo facto de ser uma
abordagem com sinais de crescimento além-fronteiras e igualmente pelos exemplos, ainda que
poucos, que, no espaço português, se relacionam com o digital.
Assim, no período a que se reporta esta exposição, merece destaque a publicação de dois números da The Lisbon Studio WebMag (8 e 9), uma revista que apenas existe na internet, sendo
a sua leitura gratuita. Publicada pelos autores que trabalham no The Lisbon Studio, esta revista
inclui histórias curtas, esboços de trabalhos em curso e pequenos apontamentos, sendo uma
montra regular do trabalho que vai saindo deste estúdio partilhado.
Um outro tipo de edições, directamente relacionado com a internet e o meio digital, se mostrou este ano, passando dos écrãs para o papel impresso. Depois do sucesso comercial de A
Criada Malcriada, um livro lançado em 2013 a partir das tiras cómicas publicadas pelo seu autor
(ou autora, já que ninguém conhece a identidade da pessoa em causa) na internet, este ano viu
surgir A Minha Mãe Acha Que Fui Trocada à Nascença, de Sara a Dias, e As Crianças São Muito
Infantis, de Fernando Caeiro e Filipa de Rocha Marques. O primeiro nasceu de um Tumblr, o
segundo de uma página do Facebook, e ambos registaram vendas assinaláveis, algo que talvez
encontre explicação na mediatização criada em torno dos títulos e do chamado ‘fenómeno
viral’ vivido na internet.
No espaço dos blogs ou páginas de autores que vão publicando algum do seu trabalho, nomeadamente esboços, pranchas isoladas ou outros elementos do labor que têm entre mãos,
podemos assinalar a regularidade das actualizações em espaços de autores como Ricardo
Cabral, Joana Afonso ou Marco Mendes.
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Nomeados Prémios
Nacionais de BD 2015
Prémio Nacional de Banda Desenhada – Melhor Álbum Português
Deixa-me entrar, de Joana Afonso (Polvo)
Erzsébet, de Nunsky (Chili com Carne)
O Livro dos Dias, Diniz Conefrey (Pianola/Quarto de Jade)
Sepulturas dos Pais, André Coelho (des.) e David Soares (arg.) (Kingpin Books)
Volta - O Segredo do Vale das Sombras, de André Oliveira (arg.) e André Caetano (des.) (Polvo)
Zombie, de Marco Mendes (Turbina/Mundo Fantasma)
Prémio Nacional de Banda Desenhada – Melhor Argumento para Álbum Português
Álvaro, Balcão Trauma Vol. 2 (Insónia)
André Oliveira, Volta - O Segredo do Vale das Sombras (Polvo)
David Soares, Sepultura dos Pais (Kingpin Books)
Diniz Conefrey, O Livro dos Dias (Pianola/Quarto de Jade)
Marco Mendes, Zombie (Turbina/Mundo de Fantasma)
Nunsky, Erzsébet (Chili com Carne)
Prémio Nacional de Banda Desenhada – Melhor Desenho para Álbum Português
André Caetano, Volta - O Segredo do Vale das Sombras (Polvo)
André Coelho, Sepultura dos Pais (Kingpin Books)
Diniz Conefrey, O Livro dos Dias (Pianola/Quarto de Jade)
Marco Mendes, Zombie (Turbina/Mundo de Fantasma)
Nunsky, Erzsébet (Chili com Carne)
Ricardo Cabral, Pontas Soltas - Lisboa (Asa)
Prémio Nacional de Banda Desenhada – Melhor Álbum de Autor Português
em Língua Estrangeira
Crumbs, de Afonso Ferreira, Ana Matias, André Caetano, André Oliveira, André Pereira, Bernardo Majer, David Soares, Fernando Dordio, Francisco Sousa Lobo, Inês Galo, Joana Afonso,
Mário Freitas, Nuno Duarte, Osvaldo Medina, Pedro Cruz, Pedro Serpa, Ricardo Venâncio, Sérgio Marques, Zé Burnay (Kingpin Books)
Gentleman, de André Oliveira (arg.) e Ricardo Reis (des.) (Ave Rara)
I like your Art Much, de Francisco Sousa Lobo (Edição de Autor)
Living Will 3, de André Oliveira (arg.) e Joana Afonso (des.) (Ave Rara)
Space, de Afonso Ferreira (El Pep)
Prémio Nacional de Banda Desenhada – Melhor Álbum Estrangeiro de Autor Português
Figment, de Filipe Andrade (Marvel/Disney)
Loki - Agent of Asgard, de Jorge Coelho (Marvel)
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A Arte de Voar, de Altarriba (arg.) e Kim (des.) (Levoir/Público)
Cachalote, de Daniel Galera (arg.) e Rafael Coutinho (des.) (Polvo)
Finalmente o Verão, de Jillian Tamaki (des.) e Mariko Tamaki (arg.) (Planeta Tangerina)
Habibi, Craig Thompson (Devir)
Papá em África, de Anton Kannemeyer (MMMNNNRRRG)
O Árabe do Futuro, Riad Sattouf (Teorema)
Prémio Nacional de Banda Desenhada - Melhor Álbum de Tiras Humorísticas
As Crianças são Muito Infantis, de Fernando Caeiro (arg.) e Filipa
da Roda Marques (des.) (Bertrand Editora)
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Prémio Nacional de Banda Desenhada – Melhor Álbum de Autor Estrangeiro
Baby Blues 31 - Cama Supra, de Rick Kirkman (des.) e Jerry Scott (arg.) (Bizâncio)
Toda a Mafalda, de Quino (Verbo)
Psicopatos, de Miguel Montenegro (Arcádia)
Prémio Nacional de Banda Desenhada – Melhor Ilustração
de Livro Infantil (Autor Português)
António Jorge Gonçalves, Barriga da Baleia (Pato Lógico)
Bernardo P. Carvalho, Daqui Ninguém Passa! (Planeta Tangerina)
Bernardo P. Carvalho, Verdade?! (Pato Lógico)
João Fazenda, Dança (Pato Lógico)
Marta Monteiro, Amores de Família (Caminho)
Yara Kono, Com 3 Novelos (O Mundo Dá Muitas Voltas), (Planeta Tangerina)
Susana Matos, Onde Dormem os Reis? Uma Visita ao Panteão (Verbo)
Prémio Nacional de Banda Desenhada – Melhor Ilustração
de Livro Infantil (Autor Estrangeiro)
Amigos do Peito, de Violeta Lópiz (Bruaá)
As Aventuras de Pinóquio, de Roberto Innocenti (Kalandraka)
O Mundo ao Contrário, de Atak (Planeta Tangerina)
O que está Lá Fora, de Maurice Sendak (Kalandraka)
O Tempo do Gigante, de Manuel Marsol (Orfeu Negro)
Prémio Nacional de Banda Desenhada – Prémio Clássicos da 9.ª Arte
Foi Assim a Guerra das Trincheiras, de Tardi (Levoir/Público)
Marvels, de Kurt Busiek (arg.) e Alex Ross (des.) (Marvel/Levoir/Público)
Mort Cinder, de Oesterheld (arg.) e Breccia (des.) (Levoir/Público)
Na Cozinha da Noite, de Maurice Sendak (Kalandraka)
O Diário do Meu Pai, de Jiro Taniguchi (Levoir/Público)
O Livro do Mr. Natural, de Robert Crum (Levoir/Público)
Sharaz-De: Contos das Mil e Uma Noites, de Sergio Toppi (Levoir/Público)
Pyongyang - Uma Viagem à Coreia do Norte, de Guy Delisle (Devir)
Um Contrato com Deus, de Will Eisner (Levoir/Público)
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Prémio Nacional de Banda Desenhada – Fanzine
Carne e Osso, Coordenação de Marco Mendes e Sofia Neto (Edição de Autor)
É Fartar Vilanagem Nº 10, Coordenação de Alexandre Esgaio (Maria Macaréu)
Malmö Kebab Party, de Amanda Baeza, Hetamoé, Sofia Neto, Afonso Ferreira, Rudolfo (Chili
com Carne/Ruru Comix)
QCDI 3000 - Fear of a Capitalist Planet, de André Pereira, Astromanta, Hetamoé e Mao (Chili
com Carne)
ohZona, de Asja Wiegand, Caroline Ring, Christoph Mathieu, Fil, Miguel Santos, Gabriel Martins,
Lew Bridcoe, Rui Alex e Yi (Zwerchfell, Zona BD, Oh Magazin)
Terrea, de Ricardo Cabral (Edição de Autor)
O júri é constituído por Nelson Dona, diretor do Amadora BD, Pedro Massano, autor de BD,
Bruno Caetano, colecionador de BD, Luís Salvado e Sara Figueiredo Costa, jornalistas e comissários da exposição do Ano Editorial Português.
Concursos Nacionais de Banda
Desenhada e de Cartoon
Concurso Nacional de Banda Desenhada
Em busca de novos valores, incentivando a produção da Banda Desenhada e proporcionando
a sua apresentação pública, a Câmara Municipal da Amadora promove este concurso, dividido
em três escalões etários e destinado a maiores de 12 anos. Nesta edição de 2015 do Festival,
o tema do concurso é Uma nova aventura de Quim e Manecas, no ano do centenário da sua
criação por Stuart Carvalhais, marcando uma vanguarda europeia na nona arte.
Vencedores do 26.º Concurso Nacional de Banda Desenhada – “Uma nova aventura de Quim
e Manecas”:
Escalão A (dos 17 aos 30 anos)
1.º Prémio (1.000,00€): Quim e Manecas pensam na Vida, de Daniela Ferreira, de Faro (25 anos)
2.º Prémio (750,00€): Sem Título, de Pedro Mendes, da Amadora (29 anos)
3.º Prémio (600,00€): O Quim o Manecas e o Imbróglio, de Filipe Amado Simões, do Entroncamento (26 anos)
Menção honrosa: Sem Calo de Prelo, de Sérgio Sequeira, de Lisboa (29 anos)
Menção honrosa: O Quim, o Manecas e uma Aventura no Novo Século, de Inês Almeida, de
Lisboa (22 anos)
Escalão A+ (a partir dos 31 anos)
Prémio Único (1.000,00€): Uma Aventura de Quim e Manecas – Bilhete de Ida e Volta, de Marta
Henriques, de Lisboa (38 anos)
Menção honrosa: CESCER – Uma Nova Aventura de Quim e Manecas, de Ricardo Almeida, de
Carcavelos (32 anos)
Menção honrosa: Uma Nova Aventura de Quim e Manecas – O Rio Multicolor ou o Cigarro do
Poeta, de Hugo Maciel, de Viana do Castelo (36 anos)
Escalão B (dos 12 aos 16 anos)
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1.º Prémio (750,00€): Sem Título, de Rafael Antunes, da Amadora (15 anos)
3.º Prémio (500,00€): O Regresso do Quim e Manecas, de Nuno Salvada, de São Julião do Tojal
(16 anos)
Concurso Nacional de Cartoon
O tema deste concurso é Os Direitos da Criança, destina-se a maiores de 16 anos e é dividido
em dois escalões etários.
24.º Concurso de Cartoon – Escalão C (dos 16 aos 30 anos)
1.º Prémio (600,00€): Sem Título, de Bernardo Moreira, de Sintra (26 anos)
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
2.º Prémio (600,00€): O Quim e Manecas – Uma Nova Aventura, de Francisco Antunes, de
Lisboa (16 anos)
2.º Prémio (450,00€): Sem Título, de Ana Vaz de Carvalho, de Massamá (24 anos)
3.º Prémio (350,00€): Sem Título, de Lara Santos, de Odivelas (30 anos)
Menção honrosa: Sem Título, de Abel Domingos Rafael, de Palmela (28 anos)
Menção honrosa: Sem Título, de João Januário, de Sintra (22 anos)
Escalão C+ (a partir dos 31 anos)
Prémio Único (600,00€): Sem Título, de Luís Guerreiro (38 anos)
Menção honrosa: Sem Título, de Ricardo Almeida, de Carcavelos (32 anos)
O júri dos Concursos Nacionais de Banda Desenhada e Cartoon é constituído por Nelson Dona,
diretor do Amadora BD, João Alpuim Botelho, diretor do Museu Bordalo Pinheiro e crítico/
investigador de cartoon, Tiago Baptista, autor de BD, Filipe Pina, argumentista, Álvaro Santos,
autor de Cartoon, Marco Silva, vencedor melhor fanzine 2014 dos PNBD, Teresa Guilherme
Santos, professora, Rosa Maria Coutinho, membro da UNICEF (faz parte apenas da avaliação
do Concurso de Cartoon, dedicado aos Direitos da Criança).
Concurso Municipal de Banda
Desenhada e Ilustração
Este concurso é organizado pela Câmara Municipal da Amadora, envolvendo as Escolas do
Município do 1.o e 2.o ciclos do ensino básico público ou privado. Na 26a edição do Festival o
tema lançado é Os Direitos da Criança. Este concurso pretende sensibilizar para a importância
da banda desenhada como elemento pedagógico e veículo dinamizador dos hábitos de leitura, e estimular a criatividade e imaginação em áreas como a escrita de argumentos, desenho,
pintura e artes visuais, como partes integrantes da banda desenhada.
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
O 30.º aniversário da
Tertúlia de BD de Lisboa
Comissariado e texto: Bruno Caetano
Tertúlia: Pequena reunião de pessoas que, principalmente nos Séc. XVII e XVIII, se juntavam
para discorrer sobre qualquer matéria literária, para simples conversa amigável, ou para passatempo honesto.
Faz 30 anos que a Tertúlia BD de Lisboa junta, todas as primeiras terças-feiras do mês à volta
de uma mesa, aqueles que têm enorme carinho não só pela Banda Desenhada como também
pelo simples prazer de partilhar essa paixão com outros. Desde Junho de 1985 que gostos,
opiniões e interesses sobre a nona arte são trocados sobre mesas repletas de rabiscos feitos
por entre conversas, sorrisos e valentes garfadas.
Em 1992, após 8 anos de confraternização, surge a primeira publicação “Tertúlia BD Inforzine”
e nela, como se em forma de manifesto, Geraldes Lino, o fundador e organizador desta assembleia, escreve algo que explica a verdadeira natureza descontraída destas reuniões: “Nela participar não impõe qualquer tipo de exigência. Os Tertulianos não precisam pagar quota para
o serem, estão presentes se e quando lhes apetece, jantam se têm apetite, saem quando lhes
convém.”. Realmente um evento desprovido de pretensiosismos. Mais tarde esta publicação
cresce a nível de número de páginas, é adornada com belas contribuições dos mais variados
artistas e muda de nome para “Tertúlia BD Zine” com o qual ainda hoje se apresenta.
Mas não é só de festa que se fazem estas reuniões. Há um propósito mais profundo presente,
um sentimento de dever em promover não só a banda desenhada como forma de arte, como
também os que se dedicam a ela. Desenhadores, argumentistas, coloristas, editores, legendadores, estudiosos, críticos, jornalistas, entre outros, são mensalmente eleitos como “Convidados Especiais” de uma comemoração que visa celebrar todas as suas realizações e de alguma
forma dar ânimo e fôlego para que mais possam fazer pela nona arte.
Originalmente a Tertúlia BD de Lisboa tinha duas categorias de convidados. Por um lado estavam
presentes os “homenageados”, aqueles que durante as décadas anteriores a 1985, deixaram valiosos contributos para que a banda desenhada tivesse uma maior expressão em Portugal e se tornasse o que é hoje. Por outro lado os “Convidados Especiais”, jovens autores com uma qualidade
mais que aparente e que através deste destaque ganhariam assim um reconhecimento pela sua
curta mas muito válida contribuição. Passados 30 anos estas duas categorias tornaram-se uma só
e aqueles que outrora foram a esperança da banda desenhada são hoje quem dedicou uma vida à
sua divulgação e implementação na cultura popular moderna portuguesa.
Em Agosto de 2008 nasce mais uma forma de estimular a participação dos artistas presentes
durante o convívio. A “Comic Jam” seria então um hábito constante e fruto de divagações
muitas vezes actuais, alucinantes, surreais ou mesmo marotas. Nestes “Cadavre Exquis” tudo
vale e não existem tabus. Do sexo ao palavreado mais ordinário louva-se, mês após mês, a
liberdade, num género de barco à deriva que não faz a mínima ideia do seu destino final, que,
muito por culpa de se tratar de um grupo bastante dado à criatividade, acaba sempre por surpreender de alguma forma.
Durante estes 30 anos foram vários os sítios que acolheram a Tertúlia. “O Manel”, “Chico Carreira” e “A Gina” foram os três primeiros locais que por um motivo ou outro acabaram por não
conseguir albergar mais este convívio. Só muito recentemente é que a Tertúlia saiu do Parque
Mayer onde esteve presente durante 28 anos e, após a saída de Geraldes Lino como organizador em 2013, assentou desde Janeiro de 2014 na “Casa do Alentejo”. Álvaro, António Isidro,
Carlos Moreno e Ana Saúde (em substituição de Inês Ramos), assumem agora a responsabilidade de levar esta referência do universo bedéfilo português para a frente.
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Neste mundo onde tudo passa a correr é raro que algo dure por 30 anos, por 375 edições mensais.
As nossas vidas simplesmente tornam-se reféns de curtos acontecimentos passageiros que como
vinhetas de uma história, compõem uma obra maior. Mas mesmo por entre este turbilhão de agendas e informação excessiva, ainda há tempo para celebrar o gosto por algo tão belissimamente
simples como uma história acompanhada por desenhos. Procuro, na forma desta exposição, honrar não só todos os que passaram pela Tertúlia BD de Lisboa como o legado que ao longo de anos
criaram. Os que já nos deixaram jamais serão esquecidos, aos que ainda cá estão juntem-se a nós
para levantar um copo e aos que estão a começar têm aqui companheiros para as muitas viagens
que procuram traçar. Longa vida à Tertúlia BD de Lisboa, longa vida à banda desenhada.
Parceria: AbbVie
Exposição dos trabalhos do Concurso de BD Escolhe Viver é um projeto de iniciativa da AbbVie desenvolvido em parceria com a Câmara Municipal da Amadora. Tem como objetivo fomentar a literacia da saúde, através do envolvimento das escolas do concelho da Amadora em
sessões para a educação e discussão dos comportamentos de risco. Numa segunda fase desta
iniciativa, os participantes foram convidados a aplicar os conhecimentos adquiridos nas sessões, que contaram com a presença de Laurinda Alves e de Johnson Semedo. Sob o tema Tu
fazes a tua história, os jovens foram incentivados a criar e desenvolver uma banda desenhada
que entraria a concurso. Aqui são apresentados os trabalhos vencedores, distinguidos em três
categorias – 2.º ciclo, 3.º ciclo e secundário – e premiados monetariamente.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Projeto Escolhe Viver
- Não Pises o Risco
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Amadora BD Júnior
Numa edição que tem como tema e exposição central “A Criança na BD”, pretende-se que,
para além da abordagem da criança como personagem de BD, o próprio espaço aposte na visão fantasiosa dos mais pequenos sobre o mundo e a sua capacidade de projetar no quotidiano diferentes imaginários de fantasia e aventura. Ao mesmo tempo, são utilizadas referências
a feiras populares, carroceis, jardins, coretos ou quiosques. Para além disto, no projeto inclui
tuneis e “passagens secretas”, “escadas cegas”, um escorrega e um espaço feito propositadamente para as crianças onde se realizam os ateliês infantis.
Ateliê infantil (Piso -1)
24 OUT, 31 OUT, 7 NOV — 10h-18h – sessões contínuas
_POW, SPLASH, BOOM!!! Vamos desenhar o barulho?
Exercícios livres sobre a representação do som na BD
25 OUT, 1 NOV, 8 NOV — 15h-18h – sessões contínuas
_Era uma vez a tua História aos Quadradinhos
Exercícios livres sobre a criação de uma narrativa em BD
_Hora do Conto
25 OUT e 8 NOV — 11h30
Leitura animada da obra A Ovelhinha que veio para o jantar, de Steve Smallman (arg)
e Joelle Dreidmy (des)
Com Fernanda Santos, Biblioteca Municipal da Amadora (nome completo?)
1 NOV — 11h30
Leitura animada da obra Lôá Perdida no Paraiso, de Maria Dulce Cardoso (arg)
e Vera Tavares (des)
Com Fernanda Santos, Biblioteca Municipal da Amadora
Visitas Guiadas
Destinadas a escolas e grupos de crianças, o Amadora BD organiza dois tipos de visitas guiadas:
Crianças dos 1º e 2º Ciclos: Visita-Oficina, onde é feita uma pequena visita guiada a parte do
Amadora BD e são realizadas oficinas temáticas.
A partir do 3º Ciclo: Visita guiada às exposições do Festival com transmissão de conteúdos.
As visitas podem ser marcadas através do email [email protected].
Cinema de Animação (Piso -1)
Este ano, para o público mais jovem, a Casa da Animação propõe um conjunto de filmes feitos
maioritariamente com recurso ao desenho animado, demonstrando a diversidade de formas e
ritmos que esta técnica possibilita. Este programa demonstra a capacidade que o cinema de
animação tem de construir histórias e criar personagens sem constrangimentos do que é real.
Elefantes, zebras, pássaros, girinos... a chuva, ventos e sentimentos são alguns dos muitos e
surpreendentes ingredientes destas sessões.
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LA PETITE CASSEROLE D’ANATOLE |ANATOLE E A SUA PEQUENA CAÇAROLA
França, 2014, 5’47’’
Realização: Eric Montchaud
Produção: JPL Films
Técnica: Stop motion
O Anatole anda sempre com uma pequena caçarola presa atrás dele. Apareceu-lhe um dia e
ninguém sabe explicar porquê. Desde então, ela foi-se tornando um obstáculo que o impede
de ser como as outras crianças. Um dia, farto de tudo aquilo decide esconder-se. Mas, felizmente as coisas não são tão simples assim.
A MINHA MÃE É UM AVIÃO
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
PANORAMA INFANTIL
Rússia, 2013, 6’
Realização: Yulya Aronova
Produção: Studio Pchela
Técnica: Desenho animado
Há mães que são diferentes. A mãe do pequeno protagonista deste filme é um avião. Impossível não sentir um pouco de inveja de uma mãe assim.
VIAGEM NA CHUVA
Brasil, 12’
Realização: Wesley Rodrigues
Produção: Armoria
Técnica: Desenho animado
“As chuvas viajam léguas e léguas, até chegarem no lugar em que vão chover.”
Jesus Aquino Jayme
A chuva, tal como o circo, percorre um longo caminho até ao seu lugar de destino. Quando
ambos partem, ficam as memórias.
ZEBRA
Alemanha, 2013, 2’45’’
Realização: Julia Ocker
Técnica: Animação 2D
Um dia, uma zebra vai contra uma árvore.
A BICICLETA DO ELEFANTE
França, 2014, 08’42’’
Realização: Olesya Schukina
Produção: Folimage
Técnica: Recortes
Um elefante vive numa cidade, entre as pessoas, e trabalha como varredor. Um dia, ao olhar
para um grande anúncio, vê uma bicicleta que parece ideal para si. E, neste momento, toda sua
vida muda.
JOHNNY EXPRESS
Coreia do Sul, 5’
Realização: Kyungmin Woo
Técnica: Animação 3D
Vivem várias espécies de alienígenas no espaço. Johnny é um estafeta espacial que viaja entre
planetas para entregar encomendas. Johnny é preguiçoso e adormece muitas vezes na sua
nave espacial.
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
DOIS AMIGOS
França, 2014, 4’02
Realização: Natalia Chernysheva
Produção: Poudrière
Técnica: Desenho sobre papel
Dois amigos, uma lagarta e um girino, crescem em ambientes distintos mas tornando-se amigos.
VENTO
Alemanha, 2013, 4’
Realização: Robert Lobel
Técnica: Desenho/animação 2D
O dia a dia de uma comunidade que vive numa região ventosa, estando inevitavelmente sujeita
a esta particular condição atmosférica. Aqui, a presença do vento acabou por criar uma forma
de estar na vida.
O PRESENTE
Alemanha, 2014, 4’ 18
Realização: Jacob Frey
Produção: Anna Matacz – Filmakademie Baden-Württemberg/Ludwigsburg
Jake passa a maior parte do tempo a jogar jogos de vídeo em casa até que a sua mãe decide
oferecer-lhe um presente.
NA CASA DOS AFETOS (PANORAMA JUVENIL)
Público alvo: jovens entre os 10 e os 18 anos (2.º e 3.º ciclos; Secundário)
Uma seleção de filmes cuja tónica recai na esfera dos afetos: temas como o amor, a perda, a
procura de si, a amizade, o reencontro.
A CASA DOS PEQUENOS CUBOS
Japão, 2008, 10’
Realização: Kunio Katô
Música: Kenji Kondo
Técnica: Animação 2D e desenho
À medida que a sua cidade vai sendo inundada, um homem velho vê-se forçado a acrescentar
níveis na sua casa com tijolos/cubos de forma a manter-se à tona...!
PRISIONEIROS
Portugal, 2014, 7’
Realização: Margarida Madeira
Produção: Pickle Filmes
Técnica: Animação 2D e 3D, desenho sobre papel
Os muros. Ivo vive do lado de fora, mas gostava de estar dentro, com a mãe e o irmão. Sérgio
viveu do lado de dentro, mas tinha a irmã do lado de fora. Onde é a sua casa? De que lado está
a liberdade?
LEAVING HOME | SAIR DE CASA
Holanda, 2013, 6’38’’
Realização: Joost Lieuwma
Técnica: Desenho/animação 2D
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Quando o pai decide que o seu filho, Richard, tem idade suficiente para sair de casa, manda-o
explorar o mundo. Só que Richard está sempre a regressar e de cada vez que o faz é de forma
mais bizarra.
Coreia do Sul, 2011, 8’
Realização: Erich Oh
Técnica: Animação 3D
A exploração da transcendência. HEART (coração) expõe algumas questões recorrendo a metáforas abstratas e símbolos, ilustradas através do coração humano.
O CANTO DOS QUATRO CAMINHOS
Portugal, 2014, 11’55’’
Realização: Nuno Amorim
Música: Eduardo Raon
Produção: Animais AVPL
Técnica: Desenho sobre papel, pintura digital
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
HEART | CORAÇÃO
Há muito tempo, quando Tião era guarda de um campo de milho, perdera, por culpa sua, a
companhia de uma pega-rabuda por quem inadvertidamente se afeiçoara. Desde esse dia, em
que o silêncio envolveu o campo, Tião procura reaver o canto perdido daquela ave.
WE CAN’T LIVE WITHOUT A COSMOS | NÃO VIVEMOS SEM O COSMOS
Rússia, 2014, 15’20’’
Realização: Konstantin Bronzit
Técnica: Desenho sobre papel, animação 2D
Dois cosmonautas, dois amigos empenham-se no treino para tornar o sonho que têm em comum numa realidade. Mas, esta história não é apenas sobre o sonho.
CARTOON D’OR 2015
O CARTOON D’OR é o grande prémio atribuído pela Cartoon Media
mação europeia. A decisão é feita por um júri que seleciona 6 de um
lardoados (este ano de 31 filmes) em festivais de animação europeus.
cerimónia de entrega do Prémio (17 de Setembro 2015), é conhecido o
à melhor curta de aniconjunto de filmes gaNo Fórum Cartoon, na
grande vencedor.
LIFE IN A SINGLE | A VIDA NUM SINGLE
Job, Joris e Marieke,
Holanda, 2014, 2’15’’
Produção: Job, Joris e Marieke
Técnica: Animação 3D
Quando põe a tocar um misterioso single, Pia descobre que consegue viajar ao longo da sua vida.
THE BIGGER PICTURE | O QUE IMPORTA
Daisy Jacobs, Reino Unido, 2014, 7’ 30
Produção: Chris Hees, National Film and Television School
Técnica: Pintura em tamanho real, animação 3D e stop motion
“Queres pô-la num lar; diz-lhe; vá diz-lhe agora”, murmura um dos irmãos. Mas a mãe não vai
e as suas vidas encontram nova ordem. Um par de personagens bastante originais contam, de
forma fria e sombriamente divertida, como é cuidar de um parente idoso.
BROTHERS IN ARMS | COMPANHEIROS DE LUTA
Cav Bogelund, Dinamarca, 2014, 30’
Produção: Film Maker
Técnica: Animação 2D
É a história de Orn, um comandante de pelotão dinamarquês destacado no Afeganistão, e da
sua cooperação com Fareed, um capitão da polícia local.
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
PREMIER AUTOMNE | FOLHAS DE OUTONO
Carlos de Carvalho e Aude Danset, França, 2013, 10’30’’
Produção: Je Regarde; Melting Productions, In Efecto
Técnica: Animação 2D e 3D
Abel vive no inverno e Apolline no verão. Isolados nas suas “naturezas” nunca se encontram.
Nem devem encontrar-se. Mas quando Abel atravessa a fronteira e descobre Apolline dá-se um
deslumbramento.
MOI J’ATTENDS | EU ESPERO
Claire Sichez, França, 2013, 5’
Produção: Films d’Ici 2
Técnica: Desenho sobre acetato
Este é um conto simples e agridoce para todas as idades. A história da própria vida.
CODA
Alan Holly, Irlanda, 2014, 9’
Produção: and maps and plans
Técnica: Animação 2D
Uma alma perdida deambula, embriagada, pela cidade. Num parque a Morte encontra-a e
mostra-lhe muitas coisas.
SHORT CIRCUIT
Classificação etária: maiores 6 anos
Seleção proposta pela Agência da Curta Metragem, cruzando técnicas, temas e proveniências
que confirmam a riqueza do cinema de animação em formato curto.
CARGO CULT
França, 2013, 12’’
Realização: Bastien Dubois
Produção: Sacrebleu Productions
Técnica: Animação 2D–3D
Durante a guerra do Pacífico, na costa da Papua Nova Guiné, os papuas querem reivindicar os
presentes do deus Cargo desenvolvendo um novo rito.
OS OLHOS DO FAROL
Portugal–Holanda, 2010, 15’
Realização: Pedro Serrazina
Produção: Filmes da Praça, Filmógrafo, Unforgiven Filmes
Técnica: Personagens desenhadas sobre combinação de fundo real e texturas pintadas
Numa ilha rochosa e exposta aos elementos, um faroleiro vive isolado com a sua filha. Do alto
da sua torre o pai vela rigorosamente pelo horizonte e pela segurança dos barcos que passam.
Sem outra companhia, a rapariga desenvolve uma cumplicidade única com o mar, que lhe traz
brinquedos sob a forma de objetos que dão à praia. Ao ritmo das ondas, estes objetos desvendam acontecimentos antigos, memórias que as marés não conseguem apagar…
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Suíça, 2013, 7’
Realização: Anete Melece
Produção: Virage Film, Schweizer Radio und Fernsehen, Hochschule Luzern
Técnica: Animação 2D
Durante muitos anos, o quiosque foi a pequena casa de Olga, simplesmente porque a sua doce
e monótona vida a tornou maior que a saída. Para se distrair, lê revistas de viagens e sonha ir
para longe.
Um incidente absurdo torna-se no começo da sua nova jornada.
NO ROOM FOR GEROLD
Alemanha, 2006, 5’
Realização: Daniel Nocke
Produção: Studio Film Bilder
Técnica: Animação 3D
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
THE KIOSK
Após muitos anos a viver no seu apartamento, Gerold, o crocodilo, vai ser despejado. Será que
existe uma conspiração contra ele? A recém chegada Ellen terá alguma ligação? Uma coisa é
certa: os dias loucos são agora uma miragem.
VIAGEM A CABO VERDE
Portugal, 2010, 17’
Realização: José Miguel Ribeiro
Produção: Eva Yébenes, José Miguel Ribeiro, Nuno Beato, Filmes da Praça, Sardinha em Lata
Técnica: Desenho animado e pintura animada
História de uma viagem de 60 dias a andar em Cabo Verde. Sem telemóvel ou relógio, sem
programar nada antecipadamente e com o essencial às costas, o viajante descobre as montanhas, povoações, o mar, uma tartaruga, a música, as cabras, a bruma seca, os cabo-verdianos
e acima de tudo uma parte essencial de si mesmo.
PLUG & PLAY
Suíça, 2013, 6’
Realização: Michael Frei
Produção: Etter Studio
Técnica: Desenho animado
Criaturas antropoides, com tomadas em vez de cabeças, preparam-se para fazer estragos.
Em vez de se abandonarem aos ditames do dedo erguido, rapidamente se submetem a si mesmas.
Mas os dedos também “dedilham” por aí. Será amor?
FLAMINGO PRIDE
Alemanha, 2011, 6’
Realização: Tomer Eshed
Produção: Talking Animals
Técnica: Animação 3D
Frustrado por ser o único flamingo heterossexual num bando de gays, o nosso herói apaixonase por uma cegonha que por ali esvoaçava. Incapaz de a convencer das suas boas intenções,
isola-se e passa por uma crise de identidade.
Mas, um encontro pleno de intensidade inspira-o a realizar uma jogada de grande ousadia.
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
BEST OF ESTUGARDA 2015
Mostra dos filmes que formaram o palmarés da última edição do Festival Internacional de Animação de Estugarda, que decorreu em Maio de 2015.
ONE OF A KIND
Rok Predin, Reino Unido, 2014, 03’39’’
Uma viagem marcante e colorida que nos transporta através do tempo e nos devolve um olhar
sobre a vida e o universo.
MYTHOPOLIS
Alexandra Hetmerova, República Checa, 2013, 11’36’’
Figuras lendárias da mitologia grega vivem a sua vida e resolvem os seus problemas no presente. Medusa, por exemplo, é uma mãe solteira que deseja, apesar das inúmeras desilusões pelas
quais passou, ter encontrado o homem perfeito: Ciclope.
SULEIMA
Jalal Maghout, Síria, 2014, 15’04’’
Retrato de Suleima, uma entre milhares de mulheres que lutam contra a submissão e a injustiça
na Síria.
BLACK TAPE
Michelle e Uri Kranot, Dinamarca, 2014, 03’08’’
“Black Tape” explora o tema da dominação.
Enredados num tango, vítima e perpetrador dançam, ocupando fotogramas e espaços entre
pinceladas. Este filme é baseado em notícias e documentários, explorando as implicações da
vida sob ocupação. É a segunda parte de uma trilogia que começa com “White Tape”, de 2010.
DRIVING
Nathan Theis, E.U.A., 2014, 03’50’’
Um olhar satírico sobre as pessoas nos seus carros. Com explosões.
LE SENS DU TOUCHER
Jean-Charkes Mbotti Malolo, França, 2014, 14’ 40
Chloe e Louis são surdos e mudos. Estão secretamente apaixonados mas não querem admitir.
Os seus gestos substituem as palavras. Dançam e cada palavra é uma coreografia. Uma noite,
Louis decide convidá-la para jantar. Mas quando ela chega, ele percebe que ela trouxe dois
gatinhos perdidos. Louis prefere ignorar que é alérgico a gatos, mas torna-se difícil relaxar.
DAEWIT
David Jansen, Alemanha, 2015, 14’50’’
Uma criança-lobo, um gato e um anjo. O jovem Daewit é vítima de violência por parte do pai.
Ele é socorrido e foge da casa do pai. Encontra refúgio numa família de lobos. Ele cresce e
faz-se homem. Perdido, embarca numa infindável viagem, repleta de enigmas e privações. Ele
tenta descobrir a sua identidade. No final, volta ao início e encontra a paz no perdão.
LIGHT MOTIF
Frédéric Bonpapa, França, 2014, 04’15’’
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Este filme explora as possibilidades da sinergia entre imagem e música, uma composição semiabstrata, que orquestra luz, cor e formas geométricas, ao estilo cinemático de Oskar Fischinger. Baseado na tema de Steve Reich 18 Musicians: Section II.
Auditório (Piso -1)
24 OUT
15h30 - Apresentação de Jim del Monaco – O Cemitério dos Elefantes, de Louro & Simões.
Edições ASA.
16h00 - Lançamento do álbum Vil - A Tragédia de Diogo Alves, de André Oliveira e Xico Santos.
16h30 - Lançamento do álbum O Baile - Edição de Luxo, de Nuno Duarte e Joana Afonso.
17h00 – Apresentação da Oficina de BD – O Caderno de Viagens entre Margens com Nuno Saraiva, parceria com a A.C.A.S.O e Casa da Cerca.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Apresentações e lançamentos
25 OUT
15h00 às 17h00 – Apresentação do Plano Editorial da G. Floy.
17H00 – Lançamento do álbum Living Will 5; Apresentação de Gabriel Martins e presença dos
autores: André Oliveira e Joana Afonso.
17h30 – OXI no Cartoon Grego, conversa com Osvaldo de Sousa, Yan Yanimos, António e Ana
Margarida Carvalho.
31 OUT
15H00 - Lançamento do álbum Kong The King, de Osvaldo Medina.
15h20 - Lançamento do álbum Fósseis das Almas Belas, de Mário Freitas e Sérgio Marques.
15h40 - Lançamento do álbum O Poema Morre, de David Soares e Sónia Oliveira.
16H00 - Apresentação do livro Tormenta, de André Oliveira (arg) e João Sequeira (des), com
os autores e o editor, Rui Brito.
16H30 - Milagreiro, de André Oliveira (arg) e André Caetano, Filipe Andrade, Jorge Coelho,
Nuno Plati, Ricardo Cabral, Ricardo Drumond e Ricardo Tércio (des), com os autores e o editor,
Rui Brito.
17H00 - Lançamento do álbum Teu nome, Maria! Teu apelido, Lisboa!, de Henrique Magalhães,
com o autor e o editor, Rui Brito;
Que Deus Te abandone, de André Diniz (arg) e Tainan Rocha (des), com André Diniz e o editor,
Rui Brito.
1 NOV
15h00 – Lançamento de Umbrella Academy, de Gerard Way e Gabriel Bá, Devir.
15h30 – Lançamento de Agência de Viagens Flemming, de José Carlos Fernandes, Edições
Devir.
16h30 – Apresentação de Fernão Mendes Pinto e a sua Peregrinação – adaptada em banda
desenhada, de José Ruy, Âncora.
7 NOV
15h00 – Os 40 Anos da BD Angolana com a presença de João Mascarenhas, Lindomar Sousa,
Olímpio de Sousa e Tché Gourgel.
16h00 – Apresentação do livro Júnior, Joana e Gão, de Luís Almeida Martins (arg) e Pedro Morais (des), com os autores e o editor, Rui Brito.
16h30 – Apresentação do Livro O Pugilista, de Reinhard Kleist, com o autor e o editor, Rui Brito.
17h00 – Lançamento do álbum Solomon – Royal Edition, de Carlos Pedro.
8 NOV
15h00 - Lançamento da H-ALT, revista digital de BD, SCI-FI, Fantasia e Realidade Alternativa
16h00 – Lançamento da Web Mag no 10 com os elementos do Lisbon Studio
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Outras Atividades
Festa da Caricatura
30 OUT — 17h-19h
Na Estação de Comboios do Rossio
Com a presença dos cartoonistas Rui Pimentel, Cesarina Silva, Ricardo Galvão e Pedro Ribeiro
Ferreira
31 OUT — 15h-17h
Na Galeria Municipal Artur Bual (Casa Aprígio Gomes)
Com a presença dos cartoonistas Rui Duarte, Rui Pimentel, Cesarina Silva, Ricardo Galvão e
Pedro Ribeiro Ferreira
1 NOV — 10h30-12h30
No Fórum Luís de Camões
Com a presença dos cartoonistas Rui Pimentel, Cesarina Silva e Pedro Ribeiro Ferreira
Desfile Cosplay
Auditório (Piso -1)
01 NOV — 16h00-19h00
Formado pela união das duas palavras inglesas “costume” e “play”, Cosplay é a designação
de uma atividade em que os participantes se vestem de personagens fictícias do universo da
banda desenhada e do cinema de animação. Com origemnos E.U.A. faz agora parte da cultura
pop japonesa, que dedica particular atenção às personagens de animação (anime) e banda
desenhada (mangá).
Editores e Livreiros
Piso 0
Durante o Amadora BD realiza-se uma feira do livro de banda desenhada e ilustração, onde
estão representadas diversas editoras que apresentam os seus livros e fazem os lançamentos
das mais recentes novidades.
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Babel
G. Floy
Chili com Carne
Kingpin Books
Devir
Leya
Dr. Kartoon
Levoir
JJ
Polvo
Para além do núcleo de programação central no Fórum Luís de Camões, existem outros espaços com programação de acesso gratuito (exceto o concerto nos Recreios da Amadora e festa
no Musicbox):
Putain de Guerre! - A Guerra das Trincheiras
Jacques Tardi
10 OUT a 8 NOV
Considerado um dos mais importantes autores de Banda Desenhada franceses e um dos mais
influentes do mundo, Jacques Tardi apresenta nesta exposição trabalhos de três álbuns do autor dedicados à Primeira Guerra Mundial: “Putain de Guerre”, “C’était la Guerra des Tranchées”
e “Chansons contre la Guerre”.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
O Festival pela Cidade
Segundo Carlos Pessoa, crítico e jornalista especializado em Banda Desenhada, “é perfeitamente possível imaginar as longas noites de Inverno do pequeno Tardi, nos anos difíceis da
reconstrução da Europa destruída pela II Guerra Mundial, a ouvir histórias contadas pela sua
avó. E também se pode calcular que muitos desses relatos não foram contos de fadas ou histórias tradicionais da rica oralidade europeia, mas episódios vividos por Paul Tardi, seu avô,
nas trincheiras da I Guerra Mundial. Esse avô corso que esteve em Verdun, foi ferido várias
vezes, chegou a ser gaseado e não dizia uma palavra... Tardi também terá ficado suspenso
das descrições do seu tio-avô, sobrevivente de guerra, mas com sequelas de um ferimento de
obus, explicando-lhe com detalhe como lhe puseram vermes no penso para eliminar os tecidos
gangrenados da ferida. E depois vieram as histórias do seu próprio pai, René Tardi, essas já
situadas no ambiente da II Guerra Mundial, onde conduziu um carro de assalto”.
As cartas e os diários, os testemunhos de soldados nas trincheiras, as fotografias, as imagens
dos uniformes, o armamento, são segundo Carlos Pessoa “outros tantos elementos que permitem a Tardi recuperar a “sua” atmosfera da guerra, enriquecida com a experiência de deslocação pessoal a muitos locais das batalhas. Tudo isto para tornar possível ao leitor impregnar-se
do ambiente quotidiano do soldado e apreender o tremendo sofrimento físico e emocional
dos combatentes. As histórias de Tardi são curtas narrativas de situações vividas por homens
deprimidos e roídos pelo medo nas trincheiras ou na terra de ninguém – a exceção é “Putain
de guerre!”, em que o autor privilegia uma perspetiva cronológica. Não há heróis, mas apenas
soldados que são vítimas de uma guerra absurda e sem o menor sentido. Graficamente, apresentam-se muitas vezes como meras silhuetas, simples reflexos, sem profundidade, de seres
que há muito perderam a condição de homens livres. Vivem esmagados pelo peso das mochilas e do armamento que transportam às costas, mas sobretudo pelo próprio conflito, que lhes
assenta sobre os ombros com todo o peso do mundo.
A denúncia dos horrores da guerra, a afirmação de um pacifismo radical e o desmascaramento
do papel “redentor” da religião no conflito, vão a par com um olhar sarcástico sobre a liturgia
e a simbólica patrióticas, com os seus monumentos evocativos ao soldado desconhecido, cerimónias comemorativas, medalhas, desfiles de antigos combatentes e outras evocações com
que foi construída uma certa memória colectiva do conflito”, conclui.
Quim e Manecas vão à Guerra
Stuart Carvalhais
10 OUT a 8 NOV
No caso de Stuart Carvalhais, falamos de um autor contemporâneo à Primeira Guerra Mundial.
A partir de 1915, Stuart Carvalhais iniciou a sua obra de referência: As Aventuras de Quim e
Manecas, inicialmente publicada n’O Século Cómico, passando, a partir de meados de 1916,
para a Ilustração Portuguesa. Um dos episódios desta longa série de pranchas sobre estas duas
crianças, tem como cenário a participação portuguesa na Grande Guerra. Em “Quim e Manecas
vão à Guerra”, Stuart centrou a ação na personagem do Manecas, enquadrando-o no esforço
militar aliado como espião, ou herói inventor das mais incríveis soluções ‘tecnológicas’ para
derrotar os ‘boches’. As suas aventuras irão fazê-lo prisioneiro, primeiro dos Aliados, depois
dos alemães. Mas foi a ele, Manecas, a quem se pediu para elaborar ‘as propostas de paz’ para
o conflito, naturalmente recusadas, para logo em seguida ter antecipado “com certeira lucidez
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
o ‘sonho alemão’ que surgirá com Hitler”. No que se pode considerar o último episódio, de que
Stuart não foi autor, mas Rocha Vieira, esclarece-se que Manecas “foi a Berlim exigir a abdicação do Kaiser, porque a ele ‘se deve o definitivo triunfo’.
Bedeteca da Amadora
Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos
Av. Conde Castro Guimarães, 6
2700-260 Amadora
Seg: 10h00 – 18h00
Ter a Sex: 10h00 – 19h00
Sábado: 10h00 – 18h00
Amadora Cartoon: Traços de fantasia
e irreverência
Exposição de homenagem aos cartoonistas Rui Duarte (Portugal) e Fernando Ruibal Piai (Astúrias/Espanha)
24 OUT a 8 NOV
Comissariado e texto: Osvaldo de Sousa
Neste ano em que o tema central do Amadora BD é a Criança, o Amadora Cartoon procurou homenagear artistas cujo trabalho reflete características tão intrínsecas a estas idades: a
fantasia e irreverência. Sob este mote, foram selecionados dois estilos diferentes da imagem
humorística, os quais nos dão uma panorâmica de como a irreverência visual pode fantasiar a
criatividade em ironia e simplicidade.
O homenageado internacional com o Prémio Carreira é o asturiano Fernando Ruibal Piai, que
tem navegado pela BD e pela ilustração infantil. Com um traço muito pessoal, o seu universo
gráfico está embutido de uma fantasia irónica que navega pelo imaginário cinematográfico,
musical e vivencial, e que não nos deixa indiferentes.
Nesta edição, o Amadora Cartoon homenageia também o português Rui Duarte, um artista
que se tem imposto a nível nacional e internacional pelo domínio técnico da arte do desenho,
da fantasia caricatural e pela irreverência do traço desconstruído. Face às pressões tão bem
conhecidas dos estrategas economicistas europeus que manipulam as vidas contemporâneas,
esta exposição revela o “Oxi” (Não) do povo grego que quis ser irredutível, crendo que a poção
mágica da democracia lhe daria voz ativa.
Há muito tempo que uma sociedade, como um todo, não gritava tão alto proclamando um Não
à manipulação, aos jogos económicos subterrâneos, à desumanização das políticas, ao império
das corrupções partidárias e à desgovernação dita democrática. Condições que criaram um
terreno fértil para o cartoonismo, essa arte jornalística que é uma introspeção de um sentir,
de uma vivência coletiva, criando uma interjeição meditativa que nos obriga a parar e pensar.
Foram convidados 15 artistas gregos para mostrar os seus contributos e para nos levarem a
sentir um pouco o pulsar de uma sociedade em efervescência democrática.
OXI e o Cartoon Grego
24 OUT a 8 NOV
Comissariado e texto: Osvaldo de Sousa
Cartoons de Billy, Dranis, Etc, Georgopalis, Ilias Makris, Kostas Grigoriadis, Mários Ioannidis, Michael Kountouris, Panagiotis Milas, Panos Maragos, Panos Zacharis, Petros Zervos, Soloup, Vassileios Papageorgiou, Yan Yanimos.
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Uma das primeiras palavras que, normalmente, a criança aprende a dizer é NÃO, essa interjeição
Todos os dias, o quotidiano dá-nos disso exemplo e, neste 2015, a um coro de “Nein”, “No”, “Non”…
dos estrategas economicistas que manipulam as vidas contemporâneas, por breves momentos
impôs-se um “OXI” (Não) uderziano de um povo que, utopicamente, quis ser irredutível, crendo
que a poção mágica da democracia lhe daria voz activa. Essa dos “Zés Povinho” serem os “Soberanos” só poderia nascer na mente de um humorista, o Mestre Raphael Bordallo Pinheiro- Todavia
esse “OXI” grego ficou como um marco, como uma breve memória de que talvez o “povo” possa
fazer ouvidos moucos às demagogias dos políticos e um dia acordar para expulsar os vendilhões
do templo do poder. Há muito tempo que uma sociedade, como um todo, um bloco, não gritava
tão alto o direito à democracia. Disse OXI/NÃO à manipulação, aos jogos subterrâneos economicistas, à desumanização das políticas, ao império das corrupções partidárias, à desgovernação
dita democrática.
Utopia, humor, democracia… é o terreno de germinação do cartoonismo, essa arte jornalística que é
uma introspecção de um sentir, de uma vivência colectiva. É uma reacção imediatista à notícia que é
célere na actualidade vivencial mas, ao mesmo tempo, uma suspensão filosófica no espaço/tempo em
que o pensamento humorístico desconstrói o momento para o reconstruir quanticamente em múltiplas leituras críticas, opinativas, irónicas, estéticas e filosóficas. O cartoonismo é pois uma reportagem,
sintética, como crónica filosófica, uma obra de arte gráfica e, sobretudo, uma interjeição meditativa
que nos obriga a parar e pensar no que se passa, no porquê daquela interpretação, na razão pela qual
o nosso cérebro sorri ou ri daquele “boneco”.
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
de autoridade e censura paterna, ao mesmo tempo expressão de personalidade do pirralho. Não
obstante a essa tentativa de afirmação, em breve o infante descobre que não querendo quebrar,
muitas das vezes tem de se dobrar.
A sociedade é um aglomerado de indivíduos e, se o cartoonismo é a visão de indivíduos, no final,
uma exposição de vários artista é uma imagem mais real e viva de uma sociedade, razão pela qual,
e para perenizar um pouco mais esse “Oxi”, convidámos os cartoonistas gregos a partilharem connosco os desenhos que criaram durante esses meses quentes, onde os alemães (Angela Merkel e
Wolfgang Schäuble) são naturalmente os reis (da europa) do papel e, assim sentirmos um pouco
do pulsar de uma sociedade em efervescência democrática.
Não nos interessa se no final venceu o maquiavelismo europeísta ou a democracia popular, porque
da história só queremos a força dessa aldeia de, momentaneamente, irredutíveis.
Quinze foram os artistas que responderam ao nosso apelo a quem agradecemos individualmente
assim como ao colectivo da Associação de Cartoonistas Gregos (na pessoa do seu Secretário Geral Dimitris Georgopalis) que nos apoiou nesta aventura.
Galeria Municipal Artur Bual (Casa Aprígio Gomes)
R. Luís de Camões, Venteira
2701-535 Amadora
Terça a domingo: 10h00 - 18h00
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Putain de Guerre!
24 OUT, 21h30
Espetáculo da autoria de Dominique Grange e Tardi evocativo da Primeira Guerra Mundial. Em
palco, Jacques Tardi declama os textos do seu álbum homónimo, Dominique Grange interpreta
canções da sua autoria, ambos acompanhados por cinco músicos da banda ACCORDZÉÂM e
ilustrações do álbum de Tardi.
As receitas revertem na totalidade para o Conselho Português para os Refugiados (CPR)
“1914 – 1918: 10 milhões de mortos, 19 milhões de feridos, 10 milhões de mutilados, 9 milhões de
órfãos, 1h30 duma rara intensidade. Dominique Grange e Tardi, com os seus músicos, impulsionam-nos para um passado tão doloroso e tão próximo: vidas desfeitas pela guerra, o horror
quotidiano, sofrimentos incalculáveis nas trincheiras. Os desenhos projetados numa grande
tela, os textos e as músicas convidam o público a mergulhar numa poderosa evocação ao “Der
des Ders” (a guerra que acabaria com todas as guerras), durante 1h30 de rara intensidade.”
Bilhetes:
Recreios da Amadora e Ticketline
10,00€ pré-venda
12,00€ no próprio dia
Bilheteiras: 3ª a 6ª: 10h-13h e 14h-19h.
Sáb, Dom, Feriados: 14h-19h.
Dias de espetáculo: 20h até 5 minutos antes do início.
Prémios Nacionais de Banda Desenhada
Cerimónia de entrega dos prémios de 2015 com atuação de Noiserv.
31 OUT, 19h00 (entrada por convite)
Recreios da Amadora
Av. Santos Mattos, 2, Venteira
2700-748 Amadora
21436 9055
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
© Nuno Saraiva
O Festival na Grande Lisboa
LISBOA
“El Cuadernista” Notas de um quotidiano
entre Lisboa e Madrid
Mostra dos cadernos de Richard Câmara dos últimos 10 anos de trabalhos, vivências e viagens,
entre Lisboa e Madrid. Na inauguração e no encerramento, todos os cadernos expostos estarão em vitrinas abertas, podendo ser manuseados pelos visitantes. Nos restantes dias, cada
caderno será aberto sucessivamente em páginas diferentes, de forma a que a mostra mude em
todos os dias de abertura ao público. Um destes cadernos, com desenhos originais feitos em
Madrid, foi selecionado pelo autor para sorteio, através de rifas que podem ser compradas pelo
valor simbólico de 2,00€. Na sexta-feira, 6 de novembro às 20h00, último dia da mostra, terá
lugar o sorteio na sala de exposições da Biblioteca.
10 OUT a 6 NOV
Biblioteca Camões
Largo do Calhariz, 17, 1º
1200-086 Lisboa
Segunda a Sábado das 10h30 às 18h00 (Fechado no dias 17, 19 e 31 de outubro e 7 e 9 de novembro)
Entrada gratuita.
Lisbon Calling
A exposição traduz o resultado do desafio de Lawrence Klein (fundador do MoCCA – Museum
of Comic and Cartoon Art de Nova Iorque) a autores de BD portugueses para criarem universos visuais híbridos onde se fundissem as culturas portuguesa e americana.
Wolverine a afiar as garras num amolador de tesouras; Charlie Brown e Snoopy na mercearia
do Evaristo, do Pátio das Cantigas; os Navegadores do Padrão dos Descobrimentos, substituídos pelos principais heróis e vilões dos comics americanos. Estas são algumas das respostas
dos artistas nacionais ao desafio do Embaixador americano, Robert Sherman, para criarem
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
imagens em que a cultura americana e a cultura portuguesa se fundissem, colocando personagens icónicas dos comics americanos, em cenários tipicamente portugueses.
Autores:
Joana Afonso, João Tércio, Nuno Duarte, Pepe del Rey, Pedro Ribeiro, Ricardo Cabral, Nuno
Saraiva, Nuno Rodrigues, Pedro Brito, Filipe Andrade, Marta Teives, Nuno Rodrigues, Pedro
Ribeiro Ferreira, Ricardo Venâncio, Osvaldo Medina, Penim Loureiro, Haga, Dileydi Florez.
Entrada Gratuita
25 OUT a 8NOV
Ponto das Artes - LxFactory
R. Rodrigues Faria, 103
1300 Lisboa
10h-19h
Live Drawing de Reinhard Kleist
DJ set com temas de Nick Cave e Johnny Cash
7 NOV, 00h30
Musicbox
Rua Nova do Carvalho
1200-292 Lisboa
ALMADA
Viagem Desenhada – Ricardo Cabral
Exposição restrospetiva de Ricardo Cabral em torno do tema de 2015 da Casa da Cerca – A
Viagem. Ricardo Cabral tem trabalhado o registo de viagem com um traço que tem evoluído
sem nunca perder a identidade, destacando-se a sua capacidade única de diluir as fronteiras
da ficção. À semelhança de um diário, assume a primeira pessoa na narrativa dos seus registos
e incorpora tanto características factuais como desabafos do mais quotidiano e expressões
emocionais.
Uma outra particularidade destes livros de viagem é a quase total ausência da auto-representação do autor, em que cada prancha é composta por um ponto de vista que reflete a sua
observação. Esta escolha resulta na ilusão narrativa que cria no leitor a possibilidade de ver o
mesmo que o narrador.
Assim, o trabalho de Ricardo Cabral define-se pela construção narrativa e imagética de um
espaço, onde os pequenos episódios e as descobertas inesperadas erguem um novo lugar, tão
único quanto inalcançável fora das suas páginas.
26 SET a 10 JAN
Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea
Rua da Cerca
2800-050 Almada
Terça a sábado: 10h00 – 18h00
Sábado e domingo: 13h00 – 18h00
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Câmara Municipal da Amadora
Presidente: Carla Tavares
Uma iniciativa do Pelouro da Cultura
Vereador: António Moreira
com intervenção dos Pelouros dos Vereadores: Cristina Ferreira, Eduardo Rosa, Gabriel Oliveira e
Rita Madeira
Adjunta do Vereador do Pelouro da Cultura: Graça Sabugueiro
Secretariado: Catarina Castanho
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Ficha Técnica
Departamento de Educação e Desenvolvimento Sociocultural (DEDS)
Diretor do DEDS: Luís Vargas
Chefe de Divisão de Intervenção Cultural: Vanda Santos
Secretariado: Conceição Figueiredo e Madalena Ferreira
Organização
Comissariado e Produção
CMA – DEDS – Amadora BD
Amadora BD 2015 – 26º Festival Internacional de Banda Desenhada
Diretor do Festival: Nelson Dona (CMA)
Comissão Executiva
Ana Isabel Cardoso – controlo financeiro e apoio à gestão
Ana Taipas – direção de arte e produção de exposições
Emanuel Ribeiro (CMA) – produção, logística e animação
Helena César – assessoria de imprensa
Lígia Macedo (CMA) – relações internacionais
Miguel Corte-Real – tradução
Paula Melâneo – edição
Rita Morgado – comunicação, relações públicas e serviço de públicos
Assistência de Produção
Ana Margarida Gouveia – assistência de relações internacionais
Bruno Gomes – assistência de produção (programação expositiva)
Bruno Lopes – coordenação de montagem (programação expositiva)
Bruno Calçado, João Raposo e Paulo Lopes – assistência de montagem
Júri dos Prémios Nacionais de Banda Desenhada
Nelson Dona, Luís Salvado, Sara Figueiredo Costa, Pedro Massano e Bruno Caetano
Tratamento de originais, legendagem e emolduramento
Cláudia Soares (coordenação), Catarina Pereira, Cristiana Fernandes, Inês Marques e Joana
Guilherme com Jorge P. Brito, Ldª – Amadora / Caldas da Rainha
Design gráfico dos materiais de comunicação
Widegris Produção Cultural: Luísa Baeta, Carlos Silva, Anabela Bravo, Ricardo Sousa Lopes.
Design: Paula Dona (direção de arte), Aprígio Morgado, Raquel Piteira, Rui Silva, Nuno Mendes, Hugo Franco.
Campanha e imagem com desenhos de Stuart Carvalhais.
Projeto de Arquitetura (Intervenção no Fórum Luís de Camões)
Vírgula i - arquitetos
Pedro Guedes, Leonor Macedo, JP Pereira e Teresa Aguiar.
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Fórum Luís de Camões
Exposições
A Criança na BD
Comissariado: João Paulo Paiva Boléo com sugestões de Pedro Moura
Cenografia: GBNT
Quim & Manecas 1915-1918
Design gráfico: Widegris Design
Os Quadrinhos da Fundação Casa Grande
Parceria: Fundação Casa Grande
Pedro Massano
A Batalha, 14 de Agosto de 1385, Ed. Gradiva
Prémio Melhor Desenho para Álbum Português – PNBD 2014
Projeto e execução de cenografia: David Rosado
Zona de Desconforto, Ed. Chili com Carne
Daniel Lopes, Júlia Tovar, Ondina Pires, Francisco Sousa Lobo, Tiago Baptista, Christina Casnelie,
José Smith Vargas, Amanda Baeza, André Coelho, David Campos
Prémio Melhor Álbum Português – PNBD 2014
Projeto de cenografia: Catarina Pé-Curto
Execução de cenografia: Amália Buisson, Catarina Pé-Curto, Francisco Campos
André Oliveira
Hawk, Ed. Kingpin Books, André Oliveira (arg.), Osvaldo Medina (des.), Inês Falcão Ferreira (cor)
Prémio Melhor Argumento para Álbum Português – PNBD 2014
Projeto e execução de cenografia: Nídia pereira, Susana Vicente
Álvaro
No Presépio... Ed. Insónia, José Pinto Carneiro (arg.), Álvaro (des.)
Prémio Melhor Álbum de Tiras Humorísticas – PNBD 2014
Execução de cenografia: David rosado, segundo ideia original de Álvaro
Vera Tavares
Lôá Perdida no Paraíso, Ed. Tinta-da-China, Dulce Maria Cardoso (texto), Vera Tavares (ilustração)
Prémio Melhor Álbum de Ilustração Infantil – PNBD 2014
Projeto de cenografia: Teresa cardoso
Execução de cenografia: João Nogueira, Teresa Cardoso
Tony Sandoval
As Serpentes de Água, Ed. Kingpin Books
Prémio Melhor Álbum de Autor Estrangeiro – PNBD 2014
Projeto e execução de cenografia: Catarina Graça, Inês Ramos, Rute Reis, Vasco Catarino
Jim del Monaco de Luís Louro e António Simões
O Pugilista de Reinhard Kleist
Projeto e execução de cenografia: Cláudia Gaudêncio, Rui Mecha
Parceria: Goethe Institut
Ano Editorial Português 2014-2015
Comissariado: Luís Salvado e Sara Figueiredo Costa
Design Gráfico: Widegris Design
30 anos da Tertúlia BD de Lisboa
Comissariado: Bruno Caetano
O Caderno de Viagens Entre Margens
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Projeto Escolhe Viver–Não Pises o Risco
Parceria: AbbVie
Concursos Nacionais de Banda Desenhada e Cartoon
Concurso Municipal Infantil de Banda Desenhada e Ilustração
Montagem de Infraestuturas
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Apresentação dos trabalhos realizados durante a Oficina de BD com Nuno Saraiva
Parceria: A.C.A.S.O. – Associação Cultural e Artística de uma Sociedade Original e Casa da
Cerca – Centro de Arte Contemporânea
Intervenção Cenográfica: A.C.A.S.O. e Nuno Saraiva
CMA/DOM – Departamento de Obras Municipais
Diretor: Norberto Monteiro
Chefe de Divisão: José Fonseca
Coordenação e Fiscalização da Obra: António Alves e João Pereira com a colaboração na
CMA de Alberto Mendes, Armindo Matias, Daniel Lourenço, Paula Rute
Serviço de Prevenção, Higiene e Segurança no Trabalho: Ursula Carrasco
Empreiteiro da obra:
Hexágono Versátil Lda.
Coordenação de Ismar Magalhães
Bedeteca – Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos
Ângela Rodrigues (coordenação) e Cândida Silva
Putain de Guerre! – A Guerra das Trincheiras
Projeto de cenografia: Carlos Farinha
Execução de cenografia: Carlos Farinha, Sofia Mota, Joana Farinha, Diogo Henrique Martins,
Ana Hipólito, Saif Daoud
Casa Aprígio Gomes – Galeria Municipal Artur Bual
Eduardo Nascimento (direção) e Sandrina Horta
Amadora Cartoon 2015
Fernando Ruibal Piai e Rui Duarte
Comissariado: Osvaldo de Sousa
OXI no Cartoon Grego
Cartoons de Billy, Dranis, Etc, Georgopalis, Ilias Makris, Kostas Grigoriadis, Mários Ioannidis,
Michael Kountouris, Panagiotis Milas, Panos Maragos, Panos Zacharis, Petros Zervos, Soloup,
Vassileios Papageorgiou, Yan Yanimos.
Comissariado: Osvaldo de Sousa
Apoio técnico de outros serviços da CMA
Gabinete de Imprensa e Relações Públicas
Gabinete de Projetos Especiais
Serviço de Polícia Municipal
Serviço de Prevenção, Higiene e Segurança no Trabalho
DF – Departamento Financeiro
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Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Divisão de Administração Financeira
Divisão de Aprovisionamento
DAG – Departamento de Administração Geral
Divisão de Gestão Administrativa e Contração
Divisão de Gestão de Bares e Refeitórios Municipais
DASU – Departamento de Ambiente e Serviços Urbanos
Divisão de Atividades Económicas
Divisão de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Divisão de Equipamentos Mecânicos
Divisão de Serviços Urbanos
DOM – Departamento de Obras Municipais
Divisão de Arruamentos, Iluminação Pública e Espaços Verdes
Divisão de Manutenção de Equipamentos
DMTIC – Departamento de Modernização e Tecnologia de Informação e Comunicação
Divisão de Sistemas e Tecnologias de Informação e Comunicação
Parcerias e Agradecimentos
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SIMAS de Oeiras e Amadora
Motor Village
Rádio Comercial
Associação Renovar a Mouraria – Lisboa
Casa da Cerca, Câmara Municipal de Almada
A.C.A.S.O. – Associação Cultural e Artística para uma Sociedade Original
Goethe-Institut
Ministério dos Negócios Estrangeiros, Governo de Portugal
Consulado Geral de Portugal em São Paulo
Embaixada de Portugal em Brasília
Embaixada de Portugal em Washington
Embaixada dos EUA em Lisboa
Caminito S.A.S.
Ohio State University - University Libraries - Billy Ireland Cartoon Library and Museum
Universal Uclick
Musicbox
Biblioteca Camões, Câmara Municipal de Lisboa
Projeto Escolhe Viver - AbbVie
Viarco
Hotel Açores Lisboa
SATA
Belmiro Ribeiro
Ponto das Artes
A.P. Alarmes Portugal
Parques de Sintra - Monte da Lua
Infraestruturas de Portugal
Comboios de Portugal
Vimeca
MOP
Câmara Municipal de Lisboa
Dolce Vita Tejo
Casterman
AMOC
Goody Consultoria S.A.
Polvo
Filipa Ponces
Conceição Diniz
Margarete Paterno
Carlos Gonçalves
Nelson Rodrigues
Nuno Faria
Maria Luísa Bazenga Diès
Fernanda Braga Bourlard
Nolwenn Lebret
Iris Münsch
Antoine Sirven
Paul Bessone
Edmond Baudoin
Horácio Altuna
Mathieu Sapin
Pierre Bailly
Luke Pearson
Marc Boutavant
Tony Sandoval
Reinhard Kleist
Daniel Lieske
Jen Lee
Joan Tibbetts
Waldo Tibbetts
Jacqueline Mouradian
Maurício de Sousa
Annick Leclair
Bernard Mahé
Geoffroy del Mármol
Jean-Marie Derscheid
Georges Simonian
André Querton
Rico Sequeira
Iván Giovannucci
Maria José Pereira
Jenny Robb
Susan Liberator
Marilyn Scott
Raegan Carmona
Lawrence Klein
Amadora BD 2015 — Dossier de Imprensa
Colecionadores e autores que emprestaram obras para as várias exposições:
Agradecemos ainda a todos os que participaram na concretização do Amadora BD 2015 –
26.º Festival Internacional de Banda Desenhada, bem como a todas as entidades que colaboraram nesta iniciativa e cujo nome não consta nesta lista.
Agradecemos em especial aos autores presentes no Festival, e às entidades e autores que,
não podendo estar presentes, permitiram a exposição de originais.
Parcerias
SIMAS
Motor Village
Rádio Comercial
Goethe-Institut
Câmara Municipal de Almada
Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea
A.C.A.S.O. – Associação Cultural e Artística de uma Sociedade Original
Embaixada dos E.U.A. em Portugal
Musicbox
Projeto Escolhe Viver (Abbvie)
Apoios à Produção
Hotel Açores Lisboa
Viarco
Belmiro Ribeiro
Ponto das Artes
SATA
AP Alarmes
Parques de Sintra, Monte da Lua
Apoios à Divulgação
Infraestruturas de Portugal
Transportes de Lisboa
Câmara Municipal de Lisboa
MOP
Vimeca
Dolce Vita Tejo
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