Boletim Informativo nº4

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Boletim Informativo nº4
Boletim
Informativo nº4
Displasia da anca
O que é?
Patologia hereditária poligénica, caracterizada pela instabilidade da articulação coxo-femoral com consequente
desgaste e erosão da superfície articular e desenvolvimento de artrite e dor (doença articular degenerativa).
É reconhecida como a doença ortopédica mais comum em cães (prevalência até 75% estimada pela Orthopedic
Foudation for Animals ), com maior incidência em raças grandes a gigantes como o Pastor Alemão, Labrador e Golden
Retriever, Rottweilers e Dogue Alemão e muito pouco frequente em cães Borzoi e Galgos (provavelmente por
apresentarem um maior ratio músculo/gordura corporal).
As raças Portuguesas mais afectadas são o Cão d´Água Português e o Serra da Estrela.
Apesar da se tratar de uma doença hereditária, factores externos como a nutrição e o exercício, podem influenciar a
sua expressão genética, alterando o grau, intensidade e precocidade da manifestação clínica da doença.
Maior Predisposição
Labrador
Cão d´Água
Português
Dogue Alemão
Golden Retriever
Galgo
Borzoi
Outras raças
Serra da
Estrela
Rottweiller
Pastor Alemão
Como diagnosticar?
Muitos estudos têm sido feitos para a descoberta dos genes implicados na displasia da anca, o que permitiria
determinar com certeza os animais susceptíveis para a doença e desenvolver programas de controlo e eliminação da
displasia na população canina. Para já o diagnostico passa pela avaliação dos sintomas clínicos , exame físico e dados
radiográficos.
1 - Sintomas Clínicos:
- Pacientes Juvenis (tipicamente entre os 5 e os 10 meses de idade)
Sintomas súbitos de dificuldade em levantar, correndo com membros posteriores juntos ou alterando o
comportamento durante o exercício, principalmente durante os saltos. Pode existir claudicação, normalmente
unilateral. Podem ser positivos ao sinal de Ortolani.
- Pacientes Geriátricos
Sintomas surgem de forma insidiosa, têm dificuldade em levantar-se e têm intolerância ao exercício. Apresentam um
andar rígido e atrofia muscular dos membros posteriores, são normalmente negativos ao sinal de Ortolani.
2 – Técnicas de diagnóstico
- Exame físico geral
Testes com manipulação da articulação para localização da dor:
Teste de abdução e rotação externa
Colocar mão no joelho (cranial) e induzir extensão do membro para trás, realizando ainda abdução e rotação externa.
Caso o animal apresente dor durante este teste, não é indicação especifica de displasia, mas sugere presença de
inflamação na região dorsal da cápsula articular
Teste de extensão
Colocar uma das mãos no joelho (cranial) e a outra no ísquio , realizando completa
extensão do membro caudalmente.
Caso o animal apresente dor ou diminuição na amplitude do movimento pode ser
sinal de displasia mas também de patologia lombossagrada.
Teste de subluxação
Colocar uma mão medialmente na região cranial e proximal do fémur e a outra mão sobre o ílio, de forma a puxar o
fémur lateralmente e o ílio medialmente. Sinal de dor indica alterações especificas ao nível da anca.
Teste de pressão dorsal
Animais afectados, normalmente quando sofrem pressão na região dorsal,
sentam-se sem oferecer resistência.
- Sinal de Ortolani
Realizar preferencialmente com o animal sedado ou anestesiado:
em decúbito dorsal:
Segurar o fémur esquerdo e direito pela articulação do joelho colocando-os de forma vertical. Realizar pressão para
baixo (direcção do acetábulo) e depois abduzir cada fémur, individualmente
Em caso de subluxação ouvir-se-á um “click” (ressalto) na articulação afectada
em decúbito lateral:
Colocar uma mão no joelho e outra junto ao grande trocânter do fémur. Com o membro paralelo à mesa, realizar
pressão no sentido do acetábulo e depois abdução do membro.
Em caso positivo ouvir-se-á o já referido “click”.
Em situações normais, como a anca não sofre subluxação, não surge o “click” (ressalto), contudo um Ortolani negativo
não garante a inexistência de displasia.
Pressão no sentido acetabular
Abdução do membro
Caso exista subluxação neste
momento reduz-se e ocorre o ressalto
- Método Pennhip
Este método, desenvolvido pela universidade da Pensilvânia nos EUA, baseia-se na avaliação da lassidão articular o
que permite avaliar precocemente a susceptibilidade do animal para desenvolver displasia da anca.
Pode ser realizado logo a partir dos 4 meses de idade, com os animais sedados ou anestesiados e apresenta uma
fiabilidade de 88% na determinação de ancas normais (ID < 0,4 ) e de 57% quando se diagnosticam animais com
displasia (ID >0,4).
São realizadas 3 radiografias: uma em projecção ventrodorsal com membros em extensão, (método convencional) e as
outras duas, utilizando equipamento especifico, em compressão (membros empurrados lateralmente contra os
posicionadores, de forma a favorecer a congruência articular) e em distracção (utilizando um equipamento distractor,
os membros são pressionados medialmente, que irá provocar rotação lateral da cabeça do fémur).
Radiografia em compressão:
Radiografia em distracção:
A projecção em distracção permite-nos calcular o índice de distracção (ID) de forma a quantificar o deslocamento
lateral da cabeça do fémur. Os valores variam entre 0 e 1 em que 0 representa a congruência articular perfeita e 1 uma
luxação total. Pacientes com ID < 0,3 têm baixa probabilidade de desenvolver doença articular degenerativa enquanto
pacientes com ID >0,7 desenvolverão com grande probabilidade essa doença.
Distância entre o centro da cabeça
ID =
do fémur ao centro do acetábulo
Raio da cabeça do Fémur
Este método permite assim avaliar precocemente a lassidão articular e a
probabilidade de desenvolvimento de doença articular contudo a sua
realização requer aparelhos apropriados e a sua avaliação deverá ser feita pela própria Universidade da
Pensilvânia que recebe as radiografias e emite relatório especifico.
Como Prevenir?
A reprodução selectiva é crucial para reduzir a incidência da doença, contudo a prevenção passa também pela
adequação dos factores extrínsecos, que comprovadamente interferem na altura de aparecimento e com a gravidade
dos sintomas da displasia.
Recomenda-se aos animais predispostos uma dieta controlada de forma a evitar o excesso de peso e a realização de
exercício físico mínimo apenas para manutenção, especialmente evitando saltos. Está recomendada natação (causa
mínimo stress articular) de forma a permitir um desenvolvimento muscular óptimo e acumulação de uma
percentagem mínima de gordura.
A administração de condroprotectores apresenta também benefícios claros, diminuindo a frequência e gravidade da
condição mantendo ou melhorando a qualidade de vida durante mais anos.
Estudos demonstram que a administração de glicosaminoglicanos enquanto jovens (entre as 6 semanas e os 8 meses)
reduziu os sinais de displasia da anca e melhorou a sua conformação.
Grupo Placebo
Grupo Medicado
A média da incidência dos sinais radiológicos
de artrose é praticamente o dobro no grupo
Placebo (46%) vs grupo tratado (26%)
Num estudo, cães com predisposição para a displasia
foram divididos em 2 grupos: grupo placebo e grupo
medicado.
Ao grupo medicado foi administrada uma dose de
500mg Sulfato de Condroitina (entre as 6 semanas e
os 5 meses de idade) e depois uma dose de 1000mg
Sulfato Condroitina (entre os 5 e os 8 meses de idade)
A incidência de displasia da anca grau D e E
nos cães tratados com condroprotector
foi menos de metade (13%) do grupo placebo (27%)
30%
25%
20%
Placebo
15%
10%
Medicado
Placebo
13%
27%
5%
Medicado
0%
Esquerda
Direita
Incidência de Displasia
A condroproteção preventiva diminui em 50% a incidência da displasia da anca moderada a severa
Posologia Preventiva com Omnicondro
Omnicondro está recomendado durante o período de crescimento (principalmente entre os 6 e os 18 meses) nos
animais predispostos à displasia da anca. A dose preventiva é metade da dose utilizada em situações de tratamento.
Omnicondro 10 = 20 kg peso
Omnicondro 20 = 40 kg peso
Bibliografia:
- Ginja, M.M.D; Pena, M.P.Lorens, Ferreira, A.J.A., Diagnóstico, controlo e prevenção da displasia da anca no cão, Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias ,2005
- Marti S.(2001). Estudio del comportamineto preventivo del Condroítin sulfato sobre la displasia de cadera en perros Lavrador Retriver y Golden Retriver durante el periodo de crecimiento
- PennHIP, University of Pennsylvania School of Veterinary Medicine, Informação disponível online: research.vet.upenn.edu/pennhip
- Ribeiro, Ana Margarida, Avaliação Morfométrica dos Músculos da Coxa de canídeos displásicos em regime pré e pós cirúrgico, 2009