Catálogo completo Full catalog catálogo

Transcrição

Catálogo completo Full catalog catálogo
2014
3rd Ecofalante Environmental Film Festival
2014
3rd Ecofalante Environmental Film Festival
A
Eaton é uma empresa de gerenciamento de energia, que fornece soluções para seus clientes gerenciarem
de forma mais eficiente as energias elétrica,
hidráulica e mecânica.
Eaton is a power management
company that provides its
customer solutions for a more
efficient management of electrical,
hydraulic and mechanical energies.
Em 2013, por meio da sua política de responsabilidade social, a Eaton ajudou a viabilizar 27 projetos de cultura, esporte e saúde que possibilitam
à população o acesso a conceitos de sustentabilidade, ética e educação, incentivando a inclusão
e a diversidade e criando produtos que minimizam o impacto ambiental.
In 2013 through its social
responsibility policy, Eaton has
helped to make feasible 27 culture,
sports and health projects that
enable people to access the
concepts of sustainability, ethics
and education, encouraging
diversity and inclusion and
A empresa conta com aproximadamente creating products that minimize
102.000 funcionários e fornece seus produtos environmental impact.
para clientes em mais de 175 países.
The company has approximately
102,000 employees and provides
Eaton Brasil
products to customers in more
than 175 countries.
Eaton Brasil
apresentação
introduction
A Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental
chega à sua terceira edição se consolidando
como espaço para exibição de produções audiovisuais de grande qualidade e sua vocação para
promover o debate sobre questões presentes em
nosso dia a dia. Realizadores, cientistas, ativistas,
gestores públicos, enfim, discorrem sobre estas
questões a partir de filmes de diferentes nacionalidades, a maioria deles inéditos no Brasil.
O objetivo principal da Mostra, criada em
2012, é trazer ao público filmes que somem
qualidade cinematográfica e análise de questões
ambientais, bem como facilitar o acesso às discussões propostas pelas produções audiovisuais
que são, independentemente da nacionalidade
dos filmes, presentes em todo o mundo em diferentes escalas e tons locais.
Esta 3a edição traz duas novidades importantes. Pela primeira vez vamos premiar o melhor
filme latino americano da programação, buscando incentivar a produção, o intercâmbio e o
debate entre realizadores dessa região. Foram
recebidas inscrições de quase todos os países
da América Latina e um júri composto por três
renomados profissionais do setor ambiental e
audiovisual selecionará o melhor dentre um universo de 13 filmes que foram selecionados para
a Mostra. O público poderá também escolher o
melhor filme.
Outro ponto importante é a realização de um
circuito universitário com a exibição de filmes
em instituições de ensino superior, cujo objetivo é levar informação aos futuros tomadores
The Ecofalante Environmental Film
Festival reaches its third edition
consolidating itself as an exhibition
space for audiovisual products of great
quality and for its commitment to
promote debate on issues present in
our everyday life. Producers, scientists,
activists, public management, finally,
discuss these issues raised in movies
of different nationalities, most of them
unheard in Brazil.
The main objective of the Film Festival,
created in 2012, is to bring to the public
movies that add cinematic quality and
analysis of environmental issues, also
facilitating the access to discussions
offered by the audiovisual productions
that are, regardless of the movies
nationality, present all over the world at
different scales and locations tones.
This 3rd edition brings two important
novelties. For the first time it will be
rewarded the best Latin American movie
of the exhibition, seeking to encourage
the production, the exchanging and
debate among filmmakers of this region.
There has been enrollment of almost
every country in Latin America and
a jury consisting of three recognized
professionals in the environmental and
audiovisual sector will select the best
among a universe of 13 movies which
were selected for the exhibition. The
public can also choose the best movie.
Another important point is the
implementation of a college circuit with
exhibition of movies in higher education
institutions, whose goal is to bring
information to future decision makers,
thus contributing to foster the debate,
improvement and even to audiovisual
production in universities offering
courses in the area. Universidade de
São Paulo - USP (São Paulo Univercity),
Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo - PUC (Catholic University),
Cásper Líbero, Universidade São Judas
de decisão, contribuindo ainda para fomentar
o debate, a formação de público e até mesmo
a produção audiovisual nas universidades que
oferecem cursos na área. Participam do Circuito
Universidade de São Paulo (USP), Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC),
Cásper Líbero, Universidade São Judas Tadeu
(USJT) e Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Sessões especiais para escolas acontecem no
Museu da Imagem e do Som – MIS, buscando
levar o debate também para estudantes de diversos colégios e estimular a formação de público.
A realização da 3a Mostra Ecofalante de
Cinema Ambiental é possível graças ao Programa
de Apoio à Cultura – ProAC – do Governo do
Estado de São Paulo, através do qual patrocinam
o projeto Eaton e White Martins. O evento conta
com apoio do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA), Programa
de Pós-Gradução em Ciência Ambiental da
USP (Procam), Instituto de Estudos Avançados
da USP, Pró-Reitoria de Cultura e Extensão
Universitária da USP, Centro Universitário
Maria Antônia, Cinusp, Secretaria Municipal
de Cultura, Centro Cultural São Paulo, Galeria
Olido, Centro de Estudos em Sustentabilidade
da Fundação Getúlio Vargas, Rede Nossa São
Paulo, Instituto Pólis, Instituto Pepsico, Matilha
Cultural, Le Monde Diplomatique Brasil, Revista
Piauí, Envolverde, Rádio Eldorado, Rádio
Estadão e Catraca Livre.
Tadeu - USJT (Saint Jude University)
and Universidade Presbiteriana
Mackenzie (Mackenzie Presbyterian
University) participate in the
contest. Special sessions for
schools also happen at Image and
Sound Museum - MIS, in order to
bring the debate for students of
several colleges and to stimulate
the public development.
The 3rd Ecofalante Environmental
Film Festival is made possible
thanks to the Cultural Support
Program - ProAC of São Paulo,
which allows the sponsorship
of Eaton and Praxair. The event
has also the support of Programa
das Nações Unidas para o Meio
Ambiente - PNUMA (The United
Nations Environment Program),
Programa de Pós-Gradução
em Ciência Ambiental da USP Procam (The Post graduation
program in Environmental Science
of USP), Instituto de Estudos
Avançados da USP - Procam
(Institute for Advanced Studies
of USP), Dean of Culture and
University Extension of USP,
Centro Universitárrio Maria
Antonia - CINUSP (University
Center Maria Antonia, Secretaria
Municipal de Cultura (Municipal
Culture Secretariat), Centro
Cultural São Paulo (São
Paulo Cultural Center, Olido
Gallery, Centro de Estudos em
Sustentabilidade da Fundação
Getúlio Vargas (Center for
Sustainability Studies of Getulio
Vargas Foundation), Rede Nossa
São Paulo, Polis Institute, Pepsico
Institute, Matilha Cultural, Le
Monde Diplomatique Brazil,
Revista Piauí (Piauí Magazine),
Envolverde, Eldorado Radio, Radio
Estadão and Catraca Livre .
a mostra
the festival
E
m sua terceira
edição, a Mostra
Ecofalante de Cinema Ambiental consolida a proposta curatorial que propõe um
recorte aliando qualidade técnica e artística das
obras e a discussão dos mais urgentes temas
socioambientais.
Assim, em 2014 estão presentes na programação produções recentes que se destacaram
não só em importantes vitrines do segmento como os festivais CinemAmbiente (Turim), DC
Environmental (Washington, DC), Planet in
Focus (Toronto) e FIFE (Paris), entre outros – ou
nos mais renomados eventos dedicados à não-ficção (IDFA Amsterdã, FID Marseille, Hot Docs
Toronto, DOK Leipzig etc), mas também em
eventos do porte dos festivais de Cannes, Berlim,
Veneza, Toronto, Roterdã, Locarno e Sundance.
Fruto de um abrangente processo de pesquisa
e visionamento realizado ao longo de meses,
foram considerados pelo comitê de seleção e
curadoria um total aproximado de 1.200 títulos.
Cidades, energia, economia, campo e povos
e lugares - estes, os cinco eixos temáticos que
In its third edition, the Ecofalante
Environmental Film Festival
consolidates the curatorial
proposal, which proposes a
clipping combining technical and
artistic quality of the works and
discussion of the most pressing
environmental issues.
Thus, in 2014 the programming
presents the recent productions
that have excelled not only in
important showcases of the
market – as well as the festivals
CinemAmbiente (Turin), DC
Environmental (Washington, DC),
Planet on Focus (Toronto) and FIFE
(Paris), among others - or the most
recognized events dedicated to
nonfiction (IDFA Amsterdam, FID
Marseille, Hot Docs Toronto, DOK
Leipzig, etc), but also in events in
the size of Cannes, Berlin, Venice,
Toronto, Rotterdam, Locarno and
Sundance Festivals.
Resulting from an extensive
process of research and viewing
carried out for months, it was
considered by the selection and
curator committee around 1,200
titles in total.
Cities, energy, economy, country
and people and places - these are
the five thematic axis that organize
the contemporary movies. Around
them, there are discussions with
experts, a hallmark of Ecofalante
Environmental Film Festival.
Novelty in the programming there
is a competition dedicated to the
Latin American cinematography, a
debut in this edition. Argentina,
Bolivia, Brazil, Chile, Ecuador,
Mexico, Peru and Uruguay are
represented, which demonstrates
the potential of this new section .
The honoree this year is the
Washington Novaes, a journalist
organizam os filmes contemporâneos. Em with over 50 years of experience
torno deles, são promovidos debates com espe- and interaction on indigenous
cialistas, uma das marcas da Mostra Ecofalante peoples and environmental issues,
de Cinema Ambiental.
internationally recognized. With
Novidade na programação, estreia nesta more than a dozen published books,
edição uma competição dedicada à cinema- Novaes has its audiovisual work
tografia latino americana. Estão representa- awarded at Movies and Television
dos Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador, festivals in New York and Seoul.
México, Peru e Uruguai, o que demonstra a He also received the International
potencialidade desta nova seção.
Award for Journalism Spanish King
O homenageado do ano é o jornalista and the UNESCO Prize for the
Washington Novaes, com mais de 50 anos Environment, besides deserving
de profissão e de atuação em temas de meio special room at the Venice Biennale.
ambiente e povos indígenas internacionalmente The historical retrospective is
reconhecida. Com mais de uma dezena de livros dedicated to Japanese filmmaker
publicados, Novaes tem sua obra audiovisual Kaneto Shindo (1912 - 2012).
premiada nos festivais de cinema e televisão Responsible for directing 49
de Nova York e Seul. Recebeu ainda o Prêmio films, including the powerful
Internacional de Jornalismo Rei de Espanha e and disconcerting masterpiece
o Prêmio Unesco de Meio Ambiente, além de “Children of Hiroshima” (1952) ,
merecer sala especial na Bienal de Veneza.
Shindo impressed generations of
A retrospectiva histórica é dedicada ao Brazilian moviegoers with “The
cineasta japonês Kaneto Shindo (1912-2012). Naked Island” (1960), which won
Responsável pela direção de 49 filmes, entre the country ‘s ranking for best
eles a obra-prima poderosa e desconcertante picture for consecutive months,
“Filhos de Hiroshima” (1952), Shindo mar- surprising the specialized criticism
cou gerações de cinéfilos brasileiros com “A for its revolutionary language. It will
Ilha Nua” (1960), que conquistou no país o also be shown “Dragon Felizardo
ranking de melhor filme por meses consecu- Nr. 5” (1959), “The Man” (1962),
tivos, surpreendendo a crítica especializada “The Mother” (1963) and “Onibaba
por sua linguagem revolucionária. Também - The Devil Woman” (1964), all in
são exibidos “Dragão Felizardo no 5” (1959), 35mm prints .
“O Homem” (1962), “A Mãe” (1963) e The programming is followed by a
“Onibaba – A Mulher Demônio” (1964), todos section celebrating World Water Day
em cópias 35mm.
(March 22) and special projections
Completa a programação uma sessão cele- for schools session - dedicated
brando o Dia Mundial da Água (22 de março) to the last 2 years of Elementary
e projeções especiais para escolas - voltadas School and also High School.
às últimas séries do Fundamental 2 e para o The Ecofalante Environmental
ensino médio.
Film Festival thus reaffirms its
A Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental commitment to contribute not
reafirma, assim, seu compromisso de contri- only to the dissemination of
buir não apenas para a difusão de importan- important films, but also for the
tes obras cinematográficas, mas também para enrichment of the discussions,
o enriquecimento das discussões, inevitáveis inevitable and unavoidable, about
e inadiáveis, sobre sustentabilidade e meio sustainability and the environment
ambiente no Brasil e no mundo.
in Brazil and worldwide.
índice
index
12
campo countryside
24
cidades cities
40
economia economy
52
energia energy
74
povos e lugares people and places
92
especial dia da água water day special program
94
competição latino-americana latin american competition
112
panorama histórico historical panorama
132
homenagem tribute
154
mostra escola/circuito universitário school/university showcase
156
programação program
índice
por filmes
index by films
98 74 Metros
Quadrados
74 Square Meters
151 Amazonas, A
Pátria da Água
Amazonas, Water
Nation
99 Amazônia
Desconhecida
Unknown Amazon
100 Apocalipse de Verão
Summer Apocalypse
46 Blackfish - Fúria
Animal
Blackfish
101 Chapada do Apodi,
Morte e Vida
Apodi’s Plateau,
Death and Life
84 Costa da Morte
Coast of Death
85 A Criação Como
a Vimos
The Creation As
We Saw It
30 De Para
From To
86 Defensores
do Ártico
Arctic Defenders
153 Desafio do Lixo
Trash Challenge
66 Desconectado
Powerless
102 Deserto Verde
Green Desert
The Naked Island
127 Dragão Felizardo
no 5
Lucky Dragon n 5
o
31 Ecumenópolis: A
Cidade Sem Limites
Ecumenopolis: City
Without Limits
32 A Escala Humana
The Human Scale
47 Febre do Ouro
Gold Fever
48 Figurões
Big Men
126 Filhos de Hiroshima
Children of Hiroshima
88 Floresta dos
Espíritos Dançarinos
Forest of the
Dancing Spirits
33 Fora de Quadro
Out of Frame
68 Fukushima: Um
Registro de
Coisas Vivas
Fukushima: A Record
of Living Things
34 Guerra de Areia
Sand Wars
89 Homem Máquina
Machine Man
17 O Homem Vaca
The Moo Men
128 A Ilha Nua
69 Jornada ao Local
Mais Seguro
da Terra
Journey to the Safest
Place on Earth
35 Lamento de Yumen
Lament of Yumen
18 Lamento dos
Camponeses
Farmer’s Blues
19 A Lenda de Iya
The Tale of Iya
103 Linear
Linear
130 A Mãe
Mother
93 Marca d’Água
Watermark
70 Metamorphosen
Metamorphosen
49 Montanhas
Enevoadas
Cloudy Mountains
104 Nahuas, 20
Anos Depois
Nahuas, 20
Years Later
105 Não Há Lugar
Distante
No Place is Far Away
36 Nature House Inc.
Nature House Inc.
129 O Homem
Human
131 Onibaba A Mulher
Demônio
Onibaba
106 Paal
Child
108 Pacha
Pacha
93 Paulicéia
Canta, TY-ETÊ
Pauliceia Sings:
TY-ETÊ
50 Planeta RE:pense
Planet RE:think
71 Promessa de
Pandora
Pandora’s Promise
20 A Quinta Estação
The Fifth Season
72 A Revolução do Lítio
The Lithium
Revolution
90 Um Rio Muda
de Curso
A River Changes
Course
109 As Ruas da
Minha Cidade
The Street of My City
110 Seca
Drought
37 Sempre Fui um
Sonhador
I have Always
Been a Dreamer
38 A Sídrome de
Veneza
The Venice Syndrome
21 Sinfonia do Solo
Symphony of the Soil
22 Somos Todos
Cobaias?
All of Us Guinea
Pigs Now?
51 Os Sub-humanos
Redemption
Impossible
73 Terra da Esperança
The Land of Hope
39 Tóquio Waka
Tokio Waka
155 Trashed - Para Onde
Vai o Nosso Lixo
Trashed - No Place
for Waste
111 O Último Mercador
de Gelo
The Last Ice Merchant
91 Vila no Fim
do Mundo
Village at the End
of the World
23 Vozes da Transição
Voices of Transition
152 Xingu - A Terra
Mágica
Xingu – Magical Land
152 Xingu - A Terra
Ameaçada
Xingu – Threatened
Land
Dois séculos movimentados
Denis Russo Burgierman
campo
countryside
Two busy centuries
Denis Russo Burgierman
There’s one thing no one can
deny : the century that is over was
a busy one. Some might say they
have been the 100 most productive
years in the history of man on earth.
Others will assert the opposite: that
was the most destructive period of
all times. And there is truth in both
statements.
If we come back 100 years into
the past until 1914, we would find
in a suburb on north of Detroit a
factory called Ford, putting to work
for the first time an invention of the
last year: the assembly line. Across
from the Atlantic, in a German town
on the edge of the Rhine called
Ludwigshafen , another factory,
called Basf, began to produce
ammonia industrially.
These two inventions of 1913,
that started to be reproduced in
Uma coisa ninguém há de negar:
este que passou foi um século movimentado. Haverá quem diga que
foram os 100 anos mais produtivos da História do Homem sobre a
Terra. Outros afirmarão o contrário:
que foi o período mais destrutivo de
todos os tempos. E há verdade nas
duas afirmações.
Se voltássemos 100 anos rumo ao passado,
até 1914, encontraríamos num subúrbio ao
norte de Detroit uma fábrica chamada Ford,
pondo para funcionar pela primeira vez uma
invenção do final do ano anterior: a linha de
montagem. Do outro lado do Atlântico, numa
cidadezinha alemã à beira do Rio Reno chamada Ludwigshafen, outra fábrica, essa chamada Basf, começava a produzir amônia
industrialmente.
Essas duas invenções de 1913, reproduzidas
em massa a partir de 1914, colocariam o mundo
na era da escala. O processo desenvolvido pela
Ford aumentaria descomunalmente a capacidade produtiva da humanidade. O fertilizante
desenvolvido por Carl Bosch na Basf serviria de
base para o fenômeno que décadas depois ficaria conhecido como Revolução Verde – a industrialização da produção agrícola.
Ninguém nega a importância dessas duas
descobertas. Graças a elas, a população humana
saltou de pouco menos de 2 bilhões de pessoas
em 1914 para mais de 7 bilhões hoje – um
aumento tão mastodôntico que é até difícil de
conceber. Nunca antes a humanidade viveu
tanto, soube tanto, produziu tanto, consumiu
tanto, acumulou tanto.
Mas esse ganho impressionante de escala
teve consequências, e a seleção de filmes da 3a
Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental traz
campo
countryside
13
No movimentado século
que passou, a humanidade
investiu todas as suas fichas
em escala. O resultado foi um
desequilíbrio que levou a um
colapso da complexidade.
um monte de exemplos disso – uns mais poéticos, uns mais políticos, uns fictícios, outros
dolorosamente reais. Basicamente todos os
grande ciclos complexos sobre os quais nossa
existência se apoia foram rompidos: o da água,
o dos nutrientes, o do clima. A perplexidade
pela quebra desses ciclos é o tema da surreal ficção belga A Quinta Estação (The Fifth Season),
na qual a primavera simplesmente deixa de
chegar quando o inverno termina. As sementes não germinam, as abelhas desaparecem, as
vacas não dão leite – tornando a humanidade
inviável.
Segundo a ciência da complexidade, tudo
aquilo que é complexo tem necessariamente
duas características: escala e complexidade. Só
que tem uma pegadinha aí. Quando se investe
em escala, a complexidade é afetada, e vice-versa. Há um trade-off entre as duas coisas. No
movimentado século que passou, a humanidade investiu todas as suas fichas em escala. O
resultado foi um desequilíbrio que levou a um
colapso da complexidade.
Passamos décadas comemorando aumentos de produtividade de 200%, 500%, 1.000%.
Diante desses ganhos enormes, as perdas
A Quinta Estação The Fifth Season
mass from 1914, would put the
world in the era of scale. The
process developed by Ford would
increase in extraordinary ways the
productivity of the mankind. The
fertilizer developed by Carl Bosch
at BASF would serve as the basis
for the phenomenon that decades
later would be known as the Green
Revolution - the industrialization of
agricultural production.
No one denies the importance
of these two discoveries. Thanks
to them, the human population
jumped from just under 2 billion
people in 1914 to over 7 billion
today – such a mammoth increase
which is even difficult to conceive.
Never before has mankind lived so
long, learned so much, produced
so much, consumed so much,
accumulated so much.
But this impressive gain of scale
had consequences and the selection
of films for the 3rd Ecofalante
Environmental Film Festival brings
a lot of examples of this: some of
them more poetic, others more
political, some of them fictional
and others painfully real. Basically
every large complex cycles in which
our existence relies over have been
broken: the water, the nutrients, the
climate. The perplexity of breaking
these cycles is the subject of the
surreal Belgian Fiction Fifth Season,
in which the spring simply ceases
to arrive when the winter ends. The
seeds do not germinate, the bees
disappear, the cows do not produce
milk – making the mankind
unfeasible.
According to the science of
complexity, all that is complex has
necessarily two characteristics :
scale and complexity. But there is a
prank there. When investing in scale,
microscópicas de complexidade pareciam irrelevantes. Mas elas foram se acumulando por
100 anos e hoje basta olhar ao redor para perceber o tamanho do problema. Enchentes, câncer,
poluição, guerras, furacões, loucura, desmoronamentos, enfartes, obesidade, desnutrição,
doenças degenerativas, engarrafamentos, perda
de sentido de tudo.
Dos filmes da mostra, o belo Sinfonia do Solo
(Simphony of the Soil) fala explicitamente disso.
O documentário pacientemente revela a incrível
complexidade do solo terrestre, segundo o filme
“a interface entre a geologia e a biologia”, já que
é a forma como os minérios da Terra transformam-se nos nutrientes que tornam possível que
haja vida no planeta. E contrapõe essa riqueza
incrivelmente multifacetada à monotonia da
produção agrícola industrial, que há meio século
converte complexidade em escala. Outro olhar
sobre a mesma questão é o do filme Lamento
dos Camponeses (Farmer’s Blues), um retrato de
uma espécie em extinção na Europa: o pequeno
fazendeiro, substituído no mundo da escala por
uma economia industrial, financeira.
Se o século que está se fechando em 2014 foi
o da escala, aquele que vem em seguida precisa
ser o da complexidade, para que nossos sistemas
voltem ao equilíbrio. Por sorte, a tecnologia fundamental para que isso seja possível já existe: a
conexão em rede entre todos os habitantes da
Terra. Escala se produz em hierarquias, como
aquelas que vigoravam na Ford e na Basf. Mas
complexidade só surge quando há uma grande
quantidade de indivíduos ligados em rede, algo
que só agora é possível. Se os protagonistas do
século que passou foram grandes chefes da
indústria como Henry Ford e Carl Bosch, comandantes de hierarquias, os protagonistas do século
In the busy century that has finished,
mankind has invested all the chips in
scale. The result was an imbalance
that led to a collapse of complexity.
complexity is affected and vice versa.
There is a trade-off between these
two things. In the busy century that
has finished, mankind has invested
all the chips in scale. The result was
an imbalance that led to a collapse
of complexity.
We spent decades celebrating
productivity increases of 200%,
500%, 1,000%. Given these huge
gains, microscopic losses of
complexity seemed irrelevant. But
they have been accumulating for
100 years and today just looking
around it is possible to realize
the size of the problem. Floods,
cancer, pollution, wars, hurricanes,
madness, landslides, strokes,
obesity, malnutrition, degenerative
diseases, congestion, loss of sense
in everything.
Regarding the Environmental
Film Festival, the beautiful movie –
Symphony of the Soil – talks clearly
about it. The documentary patiently
reveals the incredible complexity
of the Earth’s soil, according to
the movie “the interface between
geology and biology” since that’s
how the minerals of the earth
become the nutrients that makes
life on the planet possible. And this
incredibly multifaceted richness
contrasts to the monotony of
industrial agricultural production,
which for half a century converts
complexity into scale . Another
look at the same issue is the
movie Farmer’s Blues, a portrait of
an endangered species in Europe
: the small farmer, replaced in
worldwide scale by industrial and
financial economy.
If the century that is closing in
2014 was focused in scale, the next
one is supposed to be in complexity,
so that our systems can go back
campo
countryside
15
It is not a great invention of
scale that will save us – it will
be millions of small complex
inventions that will redeem the
diversity lost in the world.
que se apresenta serão milhares de indivíduos
autônomos, nós de rede, encontrando soluções
locais para problemas locais.
Se queremos voltar a viver num mundo em
equilíbrio, o próximo século terá que ser pelo
menos tão movimentado quanto o que passou
– talvez mais. Não é uma grande invenção de
escala que vai nos salvar – serão milhões de
pequenas invenções complexas que resgatarão a diversidade perdida no mundo. A Mostra
Ecofalante deste ano não tem a solução para
todos os nossos problemas, mas traz algumas
dezenas de pequenas histórias redentoras, espalhadas por seus filmes. Nossa esperança está no
acúmulo de mais e mais dessas histórias.
Denis Russo Burgierman tem 40 anos e é
diretor de redação da revista Superinteressante. Autor
de livros como Piratas no Fim do Mundo, sobre a caça a
baleias na Antárica, e O Fim da Guerra, sobre o futuro
das políticas de drogas, foi curador do TEDxAmazônia e
do TEDxSão Paulo. Escreve sobre sistemas complexos e
mantém o blog Mundo Novo. Movimenta-se entre uma
tarefa e outra de bicicleta.
Não é uma grande invenção de
escala que vai nos salvar – serão
milhões de pequenas invenções
complexas que resgatarão a
diversidade perdida no mundo.
into balance. Luckily, the fundamental
technology to make this possible
already exists : the networking among
all the inhabitants of the earth. Scale
is produced in hierarchies , such
as those that prevailed at Ford and
BASF. But complexity arises only
when there are a lot of individuals
connected in a network, something
that is only possible now. If the
protagonists of the past century
were great leaders of industry like
Henry Ford and Carl Bosch, masters
of hierarchies, the protagonists of
the century now are thousands of
autonomous individuals, network
nodes, finding local solutions to
local problems.
If we want to come back to live in
a balanced world, the next century
will have to be at least as busy as
now - maybe more. It is not a great
invention of scale that will save
us – it will be millions of small
complex inventions that will redeem
the diversity lost in the world. The
Ecofalante Film Festival this year
does not have the solution for all
our problems, but brings dozens
of small redemptive stories spread
over their films. Our hope is in the
accumulation of more and more
stories like these
O Homem
Vaca
The Moo Men
Reino Unido, 2013, 98’
DIREÇÃO DIRECTOR
Andy Heathcote,
Heike Bachelier
PRODUÇÃO PRODUCER
Andy Heathcote,
Heike Bachelier
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Andy Heathcote
EDIÇÃO EDITOR
O leiteiro Stephen Hook decide ignorar os
supermercados e vender diretamente a seus
clientes seu leite orgânico. Ele espera, permanecendo pequeno, conseguir manter o
ótimo relacionamento que possui com suas
55 vacas, em especial com Ida, a rainha de
seu rebanho. O resultado é uma história surpreendentemente engraçada e emotiva sobre
os incríveis laços entre fazendeiro, animal e
campo em uma Inglaterra que vem desaparecendo rapidamente.
Heike Bachelier
Dairy farmer Stephen Hook decides to turn
his back on the cost cutting supermarkets
and instead sell his milk raw and direct. He
hopes that by staying small he can keep the
great relationship he has with his 55 cows,
especially with Ida, the queen of his herd. The
result is a surprisingly funny, heart warming
tearjerker about the incredible bonds between
farmer, animal and countryside in a fast
disappearing England.
Denis Russo Burgierman is 40 years
old and is the Managing Editor for Superinteressante Magazine. Author of several
books such as Piratas no Fim do Mundo “
(Pirates in the End of the World) about the
whales hunting in Antárica, and “O Fim da
Guerra” (The End of War) about the future
of drug policy. He was curator of TEDx
Amazon and TEDx São Paulo.
He writes about complex systems and
maintains the New World blog. He moves
between one task and another by bike.
campo
countryside
17
Lamento dos
Camponeses
A Lenda de Iya
Luxemburgo, 2011, 71’
Um túnel a ser construído em Iya, última
região intocada do Japão, ameaça o funcionamento natural da vida na região. Um homem
DIREÇÃO DIRECTOR idoso e sua neta, Haruna, encontram um
Tetsuichiro Tsuta jovem de Tóquio, o avô começa a adoecer e
PRODUÇÃO PRODUCER sua pacífica vida de contos de fadas parece
Tetsuichiro Tsuta estar chegando ao fim.
The Tale of Iya
Japão, 2013, 169’
Farmer’s Blues
Nos últimos 150 anos a produção agrícola luxemburguesa tornou-se irreconhecível, com uma queda na taxa DIREÇÃO DIRECTOR
de emprego de mais de 60%. Com este declínio como Julie Schroell
pano de fundo, Julie Schroell parte em busca dos últi- PRODUÇÃO PRODUCER
mos agricultores restantes no país, ao mesmo tempo Viviane Thill
em que explora os efeitos da industrialização, a política FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
de subsídios da UE e a ascensão da agricultura orgânica. Laurent Van Eijs
EDIÇÃO EDITOR
In the last 150 years luxembourgish agricultural production Anne Schroeder,
has changed beyond recognition, with a fall in employment Isabel Bento dos Reis
of over 60%. With this decline as a backdrop, Julie Schroell
set out to track down the last remaining farmers in the
country, and explores the affects of industrialisation, the
EU’s subsidy policy and the rise of organic farming.
ROTEIRO WRITER
Tetsuichiro Tsuta A tunnel to be built in Iya, Japan’s last
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
untouched region, threatens to disrupt
Yutaka Aoki the natural order. An elderly man and his
EDIÇÃO EDITOR
granddaughter Haruna meet a young man from
Tetsuichiro Tsuta Tokyo, Grandpa starts loosing his health, and
ELENCO CAST
their peaceful, fairytale-like life starts coming to
Rina Takeda, Min Tanaka an end.
e Shima Ohnishi
campo
countryside
19
Sinfonia
do Solo
A Quinta
Estação
Symphony of the Soil
The Fifth Season
EUA, 2012, 104’
França/ Holanda/ Bélgica,
2012, 93’
Uma misteriosa calamidade ataca: a primavera não chega. O ciclo da natureza está
quebrado. Alice e Thomas, dois adolescentes que vivem em uma vila belga no coração
da floresta de Ardennes, lutam para dar sentido ao mundo que está desmoronando ao
seu redor.
O filme analisa nossa relação com o solo, seu uso e
abuso na agricultura, desmatamento e desenvolvimento,
Deborah Koons Garcia e as últimas pesquisas científicas sobre o papel fundaPRODUÇÃO PRODUCER mental do solo na melhoria das questões ambientais
Deborah Koons Garcia mais desafiadoras de nosso tempo. Ao compreender as
ROTEIRO WRITER relações elaboradas e mútuas entre o solo, água, atmosDeborah Koons Garcia fera, plantas e animais, passamos a apreciar a natureza
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER complexa e dinâmica deste recurso precioso.
DIREÇÃO DIRECTOR
DIREÇÃO DIRECTOR
Peter Brosens e Jessica Woodworth
PRODUÇÃO PRODUCER
Peter Brosens, Jessica Woodworth,
Diana Elbaum, Sébastien Delloye,
Joop van Wijk, JB Macrander e
Philippe Avril
A mysterious calamity strikes: spring refuses ROTEIRO WRITER
to come. The cycle of nature is capsized. Alice Peter Brosens e Jessica Woodworth
and Thomas, two teenagers living in a Belgian FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
village deep in the Ardennes forest, struggle Hans Bruch Jr.
to make sense of the world that is collapsing EDIÇÃO EDITOR
around them. Jessica Woodworth
ELENCO CAST
Aurélia Poirier, Django Schrevens,
Sam Louwyck e Gill Vancompernolle
John Chater
EDIÇÃO EDITOR
The film examines our human relationship with soil, the
Vivien Hillgrove use and misuse of soil in agriculture, deforestation and
development, and the latest scientific research on soil’s key
role in ameliorating the most challenging environmental
issues of our time. By understanding the elaborate
relationships and mutuality between soil, water, the
atmosphere, plants and animals, we come to appreciate the
complex and dynamic nature of this precious resource.
A Lenda de Iya The Tale of Iya
campo
countryside
21
Vozes da
Transição
Somos Todos
Cobaias?
Voices of Transition
All of Us Guinea Pigs Now?
França, 2011, 66’
França, 2012, 118’
Como é possível que os transgênicos agrícolas estejam nos campos e nos pratos
quando eles foram testados por apenas DIREÇÃO DIRECTOR
três meses em ratos? Como é possível que Jean-Paul Jaud
a energia nuclear ainda seja a energia do PRODUÇÃO PRODUCER
futuro quando já vivenciamos Chernobyl e Béatrice Jaud e
Fukushima? Serão as conclusões devastado- Lucile Moura
ras? ROTEIRO WRITER
Jean-Paul Jaud
How is it possible that agricultural GMOs are FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
in the fields and in the plates when they were Cyril Thépenier
tested for only three months on rats? How is it EDIÇÃO EDITOR
possible that nuclear energy is still the energy Vincent Delorme
of the future when men have lived Chernobyl
and Fukushima? Would the conclusions be
devastating?
Como iremos manter nossa alimentação no futuro? Quais são as alternativas
DIREÇÃO DIRECTOR à agricultura industrial? Como podemos
Nils Aguilar fazer uma transição para um sistema ecoPRODUÇÃO PRODUCER nômico verdadeiramente resistente?
Nils Aguilar Vozes da Transição discute tais questões
ROTEIRO WRITER e apresenta respostas inspiradoras.
Nils Aguilar
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
How can we feed ourselves in the future?
Jérôme Polidor What alternatives are there to industrial
EDIÇÃO EDITOR
agriculture? How can we make the transition
Nicolas Servide e Nils to a relocalised, truly resilient economic system?
Aguilar Voices of Transition poses these questions –
and presents inspirational answers.
campo
countryside
23
Cidades e territórios vivos
Ariel Kogan e Mauricio Broinizi Pereira
cidades
O mundo está se urbanizando rapidamente. Atualmente 50% da população mundial vive em áreas urbanas;
em 2050, serão 80%. No caso da
América Latina, 80% da população
já vive em cidades, e a estimativa
para 2050 é que esse número chegue a 89%.1
Tal transformação demográfica altera profundamente a maneira como o mundo é governado. As cidades, com o seu entorno rural,
estão se transformando nas principais unidades de gestão do território e da sociedade.
As realidades locais são diversas e dinâmicas. No entanto, além das particularidades,
muitas cidades apresentam situações semeCities and living areas
lhantes de injustiça social, déficit democrático, perda de patrimônio histórico e cultural,
Ariel Kogan and Mauricio
degradação ambiental e práticas de desenvolPereira Broinizi
vimento insustentáveis.
Para Joi Ito, diretor do Media Lab do MIT
(Instituto de Tecnologia de Massachusetts), a
The world is rapidly urbanizing.
chave da inovação na busca pelo desenvolviCurrently 50% of the world
mento urbano sustentável é entender e trapopulation lives in urban areas;
balhar junto com a natureza, no lugar de
in 2050, it will be 80%. In Latin
tentar controlá-la, e permitir e reforçar a inoAmerica, 80% of the population
now lives in cities, and the estimate vação na base nos processos de governança e
planejamento.
for 2050 is that this number will
O filme A Escala Humana (The Human
reach 89%1.
This demographic transformation Scale) apresenta o contexto de urbanização acelerada e desordenada em algumas das maiores
profoundly changes the way the
cidades do mundo, em diferentes continentes,
world is ruled. The cities, with its
rural surroundings, are becoming e a importante tarefa do aclamado arquiteto e
urbanista dinamarquês Jan Gehl e sua equipe
the main units of territorial and
por recuperar o espaço público nas cidades para
society management.
cities
1 Estado de las Ciudades de América Latina y el Caribe 2012
cidades
cities
25
os pedestres e ciclistas, em detrimento dos veículos motorizados. Com isso, busca-se construir outro modelo de desenvolvimento urbano,
com o foco nas pessoas, na escala humana e no
ambiente propício para melhorar a qualidade
de vida nas cidades. Em Nova York, por exemplo, estão transformando algumas ruas emblemáticas como a Broadway e a Times Square
em espaços de contemplação, voltados para a
convivência entre as pessoas.
O filme A Síndrome de Veneza (The Venice
Syndrome) retrata as dificuldades que enfrenta
um dos centros culturais e históricos da Itália
e do mundo, acolhendo milhares de turistas de
todas as nacionalidades diariamente. São mais
de 20 milhões de visitantes em Veneza anualmente, o que gera impactos significativos no
cotidiano da cidade e de seus moradores.
Busca-se construir outro modelo
de desenvolvimento urbano,
com o foco nas pessoas, na
escala humana e no ambiente
propício para melhorar a
qualidade de vida nas cidades.
Local realities are diverse and
dynamic . However, beyond the
particularities, many cities have
similar situations of social injustice,
democratic deficit, loss of historical
and cultural heritage, environmental
degradation and unsustainable
development practices.
For Joi Ito, director of the Media
Lab at MIT (Massachusetts
Institute of Technology), the key
innovation in the search for a
sustainable urban development
is to understand and work with
nature, instead of trying to
control it, and to enable and
enhance innovation on the basis
of the processes of governance
and planning.
The film A Escala Humana (The
Human Scale) shows the context of
rapid and unplanned urbanization
in some of the largest cities in the
world, on different continents, and
the important task of the acclaimed
Danish architect and urban
planner Jan Gehl and his team to
regain public space in cities for
pedestrians and cyclists instead
of motorized vehicles. Thus, we
seek to build another model of
urban development, with the focus
on people, on human scale and
on the environment to enable
improvement for quality of life in
cities. In New York, for example, it
has been turning some emblematic
streets such as Broadway and
Times Square in spaces of
contemplation, focused on the
relationships among people.
The film A Síndrome de Veneza
(The Venice Syndrome) portrays
the difficulties facing one of the
cultural and historical centers of
Italy and the world, welcoming
thousands of tourists of all
A Escala Humana The Human Scale
Numa viagem por duas cidades com contextos socioculturais muito diferentes – Dubai, nos
Emirados Árabes Unidos, e Detroit, nos Estados
Unidos – o filme Sempre fui um Sonhador (I Have
Always Been a Dreamer) mostra como o planejamento norteado unicamente pelo crescimento
econômico tem moldado a paisagem física e
impactado as comunidades locais.
O filme Ecumenopolis: Cidade sem Limites
(Ecumenopolis: City Without Limits) também
retrata esta dinâmica de crescimento sem
limites e sem um planejamento participativo
e inclusivo na mística cidade de Istambul, na
Turquia. A obra busca mostrar o custo social e
ambiental desse modelo de desenvolvimento
predatório. Semelhante à situação em algumas
cidades brasileiras em ano de Copa, a área de
Ayazma, afastada e carente de serviços públicos e de infraestrutura urbana, tornou-se uma
área valorizada após a construção do Estádio
Olímpico de Istambul, sofrendo um intenso
processo de especulação imobiliária.
Atualmente as cidades parecem buracos
negros de recursos naturais. Grandes quantidades de matérias primas são extraídas de diferentes ecossistemas para serem processadas e
consumidas principalmente nos centros urbanos. O filme Guerra de Areia (Sand Wars) mostra as cadeias produtivas e os impactos sociais
e ambientais vinculados a um dos recursos
mais explorados hoje em dia, a areia. Cada casa,
prédio, ponte, shopping, aeroporto, celular,
nationalities daily. More than
20 million of visitors annually in
Venice, which generates significant
impacts on the life of the city and
its residents.
In a trip through two cities
with very different socio cultural
contexts – Dubai, in United Arab
Emirates, and Detroit in the United
States – the movie Sempre fui um
sonhador (I Have Always Been a
Dreamer) shows how a planning
guided solely by economic growth
has shaped the physical landscape
and impacted local communities.
The film Ecumenopolis: Cidade
sem Limites (Ecumenopolis: City
Without Limits) also portrays this
dynamic growth without limits
and with no participatory and
inclusive planning in the mystical
city of Istanbul in Turkey. The work
aims at showing the social and
environmental cost of predatory
development model. Similar to the
situation in some Brazilian cities
in a Cup year, the area of Ayazma,
extinguished and in need of public
services and urban infrastructure,
has become a prized area after the
building of the Olympic Stadium
in Istanbul, suffering an intense
process of land speculation.
Currently the cities seem black
holes of natural resources.
Large amounts of raw materials
are extracted from different
ecosystems to be processed and
consumed mainly in urban centers.
The movie Guerra de Areia (Sand
Wars) shows the supply chains
and the social and environmental
impacts linked to one of the most
exploited resources today, the
sand. Every house, building, bridge,
mall, airport, phone, computer
and many other products uses
cidades
cities
27
computador e muitos outros produtos utilizam
areia como matéria prima em algum dos seus
componentes. Mas a areia é um recurso infinito? Existe areia suficiente para esta demanda
desmedida? Quais são as consequências socioambientais da mineração de areia? Qual é a
responsabilidade das cidades em relação à
sobrevivência e sustentação dos ecossistemas?
Não há como dissociar a qualidade de vida
nas cidades do verde, da biodiversidade urbana.
Como diz o arquiteto australiano Paul Downton,
“uma autêntica cidade ecológica deve não só
estar em sintonia com a natureza, mas deve
regenerar e restaurar os ecossistemas naturais
de forma permanente”. O filme Tóquio Waka
(Tokio Waka) representa poeticamente esta
relação entre a natureza e a agitada e cinzenta
vida moderna. Com a sensibilidade característica do cinema japonês, o filme retrata o cotidiano dos milhares de corvos que vivem em
Tóquio e se adaptam aos 13 milhões de habitantes da cidade. Ou são os habitantes que se adaptam aos corvos?
O curta Fora de Quadro (Out of Frame), de
Yorgos Zois, rodado na Grécia, filma centenas de outdoors sem publicidade alguma. A
We seek to build another model
of urban development, with
the focus on people, on human
scale and on the environment
to enable improvement for
quality of life in cities.
sand as raw material in some of its
components. But is the sand an
infinite resource? Is there enough
sand for this outrage demand?
What are the environmental
consequences of sand mining?
What is the responsibility of cities
in relation to the survival and
sustainability of ecosystems ?
There is no way to separate the
quality of life from green cities,
from urban biodiversity. As the
Australian architect Paul Downton
says “a real ecological city should
not only be in tune with nature,
but should regenerate and restore
natural ecosystems permanently”
The film Tóquio Waka (Tokio
Waka) poetically represents this
relationship between nature and
stirred and gray modern life. With
the characteristic sensitivity of
Japanese cinema, the film portrays
the daily lives of thousands of
crows living in Tokyo and adapting
to the 13 million inhabitants of
the city. Or are the people that fit
to the crows?
The short Fora de Quadro (Out
of Frame), of Yorgos Zois, shot
in Greece, films hundreds of
outdoors without any advertising.
The message is just the empty
outdoors. Images that depict
not only the social and financial
collapse, but at the same time, in
the words of the director, our own
inner world.
Ecumenopolis: Cidade sem Limites Ecumenopolis: City Without Limits
mensagem é justamente os outdoors vazios.
Imagens que retratam não apenas o colapso
social e financeiro mas, ao mesmo tempo,
segundo palavras do diretor, o nosso próprio
mundo interior.
O grande desafio das cidades é superar sua
aura reducionista de locus do consumismo (cujo
corolário tem sido lixo, poluição, congestionamentos crescentes etc) e melhorar a qualidade
de vida dos seus cidadãos, diminuindo as desigualdades e incluindo-os nos processos decisórios e de planejamento, cuidando e valorizando
seu patrimônio cultural, além de restaurar e
regenerar os ecossistemas de forma permanente.
The great challenge for cities
is to overcome its aura of
reductionist locus of consumerism
(the corollary has been garbage,
pollution, growing traffic jam, etc)
and improve the quality of life of
its citizens , reducing inequalities
and including them in decision
making and planning, caring and
valuing their cultural heritage,
besides restoring and regenerating
ecosystems permanently.
Ariel Kogan and Mauricio
Ariel Kogan e Mauricio Broinizi Pereira Broinizi Pereira are part in the netintegram a Rede Nossa São Paulo, movimento criado
em 2007 com o desafio de mobilizar diversos segmentos
da sociedade para, em parceria com instituições públicas
e privadas, construir e se comprometer com uma agenda e
um conjunto de metas, articular e promover ações, visando
a uma cidade de São Paulo justa e sustentável.
work Nossa São Paulo, a movement created in 2007 with the challenge to mobilize
different segments of society in partnership
with public and private institutions, build
and engage with an agenda and a set
of goals, articulate and promote actions
aimed at a fair and sustainable São Paulo.
cidades
cities
29
De Para
Ecumenópolis:
A Cidade Sem
Limites
From To
Croácia, 2012, 10’
Instituições públicas, salas de espera, transporte público. São lugares com nomes
diferentes, mas com características semelhantes. Neles ficamos para ir a outros DIREÇÃO DIRECTOR
lugares. São lugares “entre”, locais de tem- Miranda Herceg
poralidade e exclusão que comunicam-se PRODUÇÃO PRODUCER
com todos da mesma forma, convencional- Ankica Juric Tilic
mente, sem interesse por indivíduos. ROTEIRO WRITER
Miranda Herceg
Public institutions, waiting rooms, public FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
transportation are places of different names, Stanko Herceg
but of the same character. In them one stays EDIÇÃO EDITOR
in order to be somewhere else. These are places Vladimir Gojun
“in between”, the places of temporality and
exclusiveness which communicate to everyone in
the same way, conventionally, without interest
for individuals.
DIREÇÃO DIRECTOR
Ecumenopolis:
City Without Limits
Imre Azem Turquia/ Alemanha, 2011, 93’
PRODUÇÃO PRODUCER
Gaye Günay O filme conta a história de Istambul e outras
ROTEIRO WRITER
megacidades em um caminho neoliberal em
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
ria de uma família migrante da demolição de
Imre Azem direção à destruição. Ele acompanha a históImre Azem seu bairro à sua luta contínua pelo direito à
EDIÇÃO EDITOR
moradia.
Eray lhan e Arzu Volkan
The film tells the story of Istanbul
and other Mega-Cities on a neo-liberal course
to destruction. It follows the story of a migrant
family on their on-going struggle
for housing rights.
cidades
cities
31
A Escala
Humana
Fora de Quadro
Out of Frame
Grécia, 2012, 10’
The Human Scale
Dinamarca, 2012, 83’
50% da população mundial vive em áreas
urbanas. Até 2050 esse número chegará
a 80%. Viver em uma megacidade é tanto
encantador quanto problemático. Hoje
enfrentamos escassez de petróleo, mudanças climáticas, solidão e diversos problemas
de saúde devido ao nosso estilo de vida. Mas
por que? O arquiteto e professor dinamarquês Jan Gehl estudou o comportamento
humano em cidades ao longo de 40 anos.
Ele documentou como cidades modernas
repelem a interação humana e argumenta
que podemos construir cidades de uma
forma que leve em consideração necessidades humanas de inclusão e intimidade.
DIREÇÃO DIRECTOR
Andreas M. Dalsgaard
PRODUÇÃO PRODUCER
Signe Byrge Sørensen
ROTEIRO WRITER
Andreas M. Dalsgaard
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Heikki Färm, Adam Philp,
Manuel Claro,
René Strandbygard e
Casper Høyberg
Na Grécia, a propaganda em outdoors foi recentemente
proibida. Como resultado, existem centenas de outdoors
vazios que não mostram nenhuma mensagem. Mas as
DIREÇÃO DIRECTOR molduras vazias são agora a mensagem. E nós estamos
Yorgos Zois fora de quadro.
PRODUÇÃO PRODUCER
Yorgos Zois e In Greece the advertisement in exterior billboards has been
Maria Drandaki recently forbidden. As a result there are hundreds of blank
ROTEIRO WRITER
billboards that don’t show any messages. But the empty
Marisha Triantafyllidou frames are now the message. And we are out of frame.
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Yannis Kanakis
EDIÇÃO EDITOR
Yannis Chalkiadakis
EDIÇÃO EDITOR
Søren B. Ebbe e Nicolas
Servide Staffolani
50 % of the world’s population lives in urban
areas. By 2050 this will increase to 80%.
Life in a mega city is both enchanting and
problematic. Today we face peak oil, climate
change, loneliness and severe health issues
due to our way of life. But why? The Danish
architect and professor Jan Gehl has studied
human behavior in cities through 40 years.
He has documented how modern cities repel
human interaction, and argues that we can
build cities in a way, which takes human needs
for inclusion and intimacy into account.
cidades
cities
33
Guerra
de Areia
Lamento
de Yumen
França/Canadá, 2013, 74’
China, 2012, 27’
Sand Wars
Depois da água, a areia é o recurso natural mais consumido no planeta. Como consequência, as limitadas
reservas de areia estão ameaçadas. Uma “guerra de
areia”, iniciada por um boom da construção civil, cresce
em todo o lugar e ¾ das praias do planeta estão diminuindo e destinadas a desaparecer, vitimas da erosão e
– por mais incrível que pareça – do contrabando.
After water, sand is the most consumed natural resource
on the planet. Consequently, the limited reserves of sand
are threatened. A “sand war”, initiated by explosions of
buildings, grow all over the place and ¾ of the beaches on
the planet are shrinking and destined to disappear, victims
of erosion and - incredible as it may seem - smuggling.
Lament of Yumen
DIREÇÃO DIRECTOR
Denis Delestrac
PRODUÇÃO PRODUCER
Guillaume Rappeneau,
Laurent Mini, Karim Samai e
Nathalie Barton
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Marc Martinez Sarrado e
Alam Raja Vergès
EDIÇÃO EDITOR
Michèle Hollander,
Seamus Haley e Ibon Olaskoaga
DIREÇÃO DIRECTOR
Huaqing Jin
PRODUÇÃO PRODUCER
Huaqing Jin
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Lu Jian
EDIÇÃO EDITOR
Shi Xinjie
A cidade de Yumen, onde o primeiro campo de petróleo da China foi encontrado, já foi uma cidade de glórias
e sonhos. Meio século depois, seus recursos petrolíferos estão esgotados. As bases do governo e do petróleo
mudaram-se e mais de 90 mil residentes migraram,
deixando uma cidade praticamente deserta. O documentário explora os crescentes problemas sociais que
surgem com as grandes reformas chinesas, focando na
luta desesperada pela vida das classes menos privilegiadas.
Yumen City, where China’s first oil field was found, was once
the city of glories and dreams. Half a century passing by,
its oil resources are depleted. The government and oil bases
moved out and over 90,000 residents migrated, leaving it
a nearly empty city. The documentary explores the social
problems emerging along with China’s dramatic reforms by
focusing on the underclass’ hopeless struggle for living.
cidades
cities
35
Nature House Inc.
Sempre Fui
Um Sonhador
Nature House Inc.
Reino Unido, 2013, 6’
Um curta metragem que foca na proliferação de casas
de passarinho, construídas para atrair a Andorinha Azul
– “O Pássaro Mais Procurado da América”. A extraordinária abundância dessas casas construídas pelo homem DIREÇÃO DIRECTOR
reflete um desejo de viver mais próximo à natureza, em Nick Jordan
um cenário suburbano de uma pequena cidade. PRODUÇÃO PRODUCER
Nick Jordan
A short film which centres upon the proliferation of bird FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
houses, erected to attract the Purple Martin - ‘America’s Nick Jordan
Most Wanted Bird’. The extraordinary abundance of man- EDIÇÃO EDITOR
made habitats reflects a desire to live in close proximity to Nick Jordan
nature, in a suburban, small town setting.
I Have Always
Been a Dreamer
EUA, 2012, 78’
DIREÇÃO DIRECTOR
Sabine Gruffat Um filme-ensaio sobre globalização e ecologia urbana,
PRODUÇÃO PRODUCER
utilizando os exemplos de duas cidades em estágios de
Sabine Gruffat desenvolvimento contrastantes: Dubai, Emirados Árabes
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Unidos e Detroit, EUA. No contexto de uma economia
Sabine Gruffat em ascensão e queda, o filme questiona as ideologias
coletivas que moldam a paisagem física e impactam as
comunidades locais.
An essay film about globalization and urban ecology
using the examples of two cities in contrasting states of
development: Dubai, UAE and Detroit, U.S.A. Within the
context of a boom and bust economy, the film questions the
collective ideologies that shape the physical landscape and
impact local communities.
cidades
cities
37
A Síndrome
de Veneza
Tóquio Waka
Tokyo Waka
Japão/ EUA, 2012, 63’
The Venice Syndrome
Alemanha, 2012, 80’
Veneza vive sob a enorme pressão do turismo de massa – DIREÇÃO DIRECTOR
e vive disso. A cidade deixou de existir como uma estrutura Andreas Pichler
urbana, foi abandonada por seus habitantes e está caindo PRODUÇÃO PRODUCER
em decadência física, social e moral. O filme é um retrato Thomas Tielsch
de uma cidade magnífica no processo de autodestruição. ROTEIRO WRITER
Andreas Pichler
Venice lives under the enormous pressure of mass tourism FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
- and lives from it. The city has ceased to exist as an urban Attila Boa
structure, has been deserted by its inhabitants and is EDIÇÃO EDITOR
descending into physical, social and moral decay. The film is a Florian Miosge
portrait of a magnificent city in the process of destroying itself.
DIREÇÃO DIRECTOR
John Haptas e Kristine
Samuelson
PRODUÇÃO PRODUCER
John Haptas e Kristine
Samuelson
Tokyo Waka é tanto um retrato lírico cuidadosamente construído de Tóquio e seus
habitantes quanto uma representação da surpreendentemente rica vida dos corvos. É um
encapsulamento evocativo da Tóquio pós-bolha, quando as pessoas pegas no fluxo das
mudanças buscam seus portos seguros precários perante um futuro incerto.
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
John Haptas e Kristine Tokyo Waka is as much a carefully etched,
Samuelson lyrical portrait of Tokyo and its denizens as it is
EDIÇÃO EDITOR
a full-fledged rendering of the surprisingly rich
John Haptas e Kristine life of crows. It’s an evocative encapsulation of
Samuelson post-bubble Tokyo, when people caught in the
flux of change seek their own precarious perches
in an uncertain future.
cidades
cities
39
Entre os limites físicos
do planeta e os limites
morais dos mercados
Inaiê Takaes Santos
economia
economy
Between the physical limits
of the planet and the moral
limts of the markets
Os filmes do eixo temático Economia
da 3a Mostra Ecofalante de Cinema
Ambiental trazem à tona questões
que, embora não sejam novidade
para os que trabalham ou possuem
algum interesse em recursos naturais, direitos humanos e proteção
animal, ficam adormecidas no pensamento da maior parte das pessoas.
Tratam das relações de dominação
que o homem é capaz de manter com
a natureza, seres de outras espécies
ou, ainda, seres da mesma espécie,
despertando reflexões sobre o sentido do nosso convívio social e as
consequências do modo de produção
e consumo na sociedade moderna.
Inaiê Takaes Santos
Febre do Ouro (Gold Fever), Figurões (Big Men)
e Montanhas Enevoadas (Cloudy Mountains)
The Economics theme movies at
retratam os conflitos subjacentes à explorathe 3rd Ecofalante Environmental
ção de recursos naturais, chamando atenção
Film Festival bring up issues that,
não só à dimensão geopolítica, pois tratameven though not new to those
-se de cadeias produtivas inseridas no comérwho work or have an interest in
cio internacional, mas também às dimensões
natural resources, human and
sociais locais, dado que as atividades de exploanimal protection rights, become
ração e o potencial de ganho econômico com
dormant in the thoughts of most
elas trazem perturbações ao convívio daquepeople. They concern the relations les que habitam a região explorada. Blackfish
of domination that man is able to – Fúria Animal (Blackfish) e Os Sub-Humanos
maintain with nature, with other
(Redemption Impossible), por sua vez, tocam em
or even the same species, awaking questões delicadas relacionadas à dominação
reflections about the meaning of
dos animais pelo homem. Em Blackfish, partiour social life and the consequences cularmente, a despeito de toda a infraestrutura
of the production and consumption criada para que essa dominação seja mantida,
way in modern society.
revelam-se áreas não governadas pelo homem.
economia
economy
41
Revela-se que as fronteiras entre o mundo dos Febre do Ouro (Gold Fever),
humanos e o dos animais precisa ser revista.
Figurões (Big Men) and
A partir disso, é interessante notar como Montanhas Enevoadas (Cloudy
evolui a relação do Homem com os animais Mountains) depict the underlying
e a natureza ao longo de seu ciclo de vida. Ao exploitation of natural resources
ocuparem as páginas de livros, as fábulas e conflicts, drawing attention not
as cantigas, os animais ensinam-nos a ser only to the geopolitical dimension
mais humanos em nosso imaginário infantil. as it deals with international trade
Quando crescemos, esse mundo em que os ani- supply chains, but also to local
mais pensam, falam e sentem dá lugar a rela- social dimensions considering
ções mercadológicas, posto que o Homem é o that the exploration activities and
centro do universo e todos os recursos plane- the potential for economic gain
tários devem ser utilizados para satisfazer suas bring with them disruption to
necessidades e desejos.
the society of those who inhabit
Que os impactos ambientais das atividades the explored region. Blackfish
econômicas têm sido historicamente negligen- - Fúria Animal (Blackfish) and
ciados não é novidade. Embora a humanidade Os Sub-Humanos (Redemption
seja altamente dependente de recursos naturais Impossible), on the other hand
para promover o bem-estar social e o desenvol- approach sensitive issues related
vimento econômico, o que observamos com fre- to the domination of animals
quência na sociedade são ações despreocupadas by the humans. In Blackfish,
com as origens e a destinação de tudo que se con- particularly, in spite of allthe
some e produz. A intensificação da divisão do infrastructure created for the
trabalho contribui para essa situação tirando das dominance maintenance, there
pessoas a capacidade de enxergar os processos are revealed areas which are
como um todo, segregando e criando “bolhas”. not ruled by man. It shows out
that the boundaries between the
human world and the animal
needs to be reviewed.
From this point of view, it is
interesting to note how the
relationship between man and
animals and nature throughout
its life cycle evolves. By occupying
the pages of books, tales and
songs, the animals teach us to
be more human in our childhood
Nas fábulas e nas cantigas, os
imagination. When we grow
animais ensinam-nos a ser mais up, this world in which animals
humanos em nosso imaginário think, talk and feel is replaced by
market relations, since the man is
infantil. Quando crescemos,
the center of the universe and all
esse mundo em que os animais planetary resources should be used
to meet their needs and desires.
pensam, falam e sentem dá
It is not any new that
lugar a relações mercadológicas. environmental impacts of
economic activities have
historically been neglected. While
humanity is highly dependent
on natural resources in order
to promote social welfare and
economic development, what
we observe in society are often
unconcerned actions about
the origins and destination of
everything that is consumed and
produced. The intensification of
the labor division contributes
Febre do Ouro Gold Fever to this situation by taking from
people the ability to see the
process as a whole, segregating
and creating “bubbles” . When
it comes to incorporating
environmental issues in economic
theory, most economists
will be ready to answer that
we need to work around the
problem of negative externalities,
incorporating to the decisions
of the agents the social cost of
economic interference in the cycles
Blackfish – Fúria Animal Blackfish of nature. In this case, there is
“only” the problem of pricing the
environmental goods and services.
However, the shortage is an
economic problem per excellence,
so, since all relevant variables
are set, the Homo economicus,
endowed with perfect rationality, is
able to maximize its usefulness.
Quando se trata de incorporar o tema Although the pricing and market
ambiental na teoria econômica, a maioria dos creation are extremely valid
economistas estará pronta para responder que approaches to drive economic
é preciso contornar o problema das externali- decisions in market economies,
dades negativas, incorporando às decisões dos the possibility of buying and selling
agentes o custo social da interferência da eco- of various rights that were created
nomia nos ciclos da natureza. Nesse caso, tem- with the evolution of capitalism
-se “apenas” um problema de precificação de does not let us to avoid nuisance
bens e serviços ambientais. Ora, a escassez é on the real motivations of the
um problema econômico por excelência, por- agents to change their behaviors.
tanto, desde que todas as variáveis relevantes In this sense, the philosopher
estejam definidas, o Homo economicus, dotado Michael Sandel argues that, during
de racionalidade perfeita, é capaz de maximizar the last three decades, market
economies have been replaced by
sua utilidade.
economia
economy
43
On tales and songs, the animals teach us to be more human in
our childhood imagination.
When we grow up, this world in which animals think,
talk and feel is replaced by market relations.
Montanhas Enevoadas Cloudy Mountains
Embora a precificação e a criação de mercados sejam abordagens extremamente válidas
para direcionar as decisões econômicas nas economias de mercado, a possibilidade de compra e
venda dos mais diversos direitos que foram criados com a evolução do capitalismo não deixa
de gerar incômodo quanto às reais motivações
dos agentes para mudar seus comportamentos.
Nesse sentido, o filósofo Michael Sandel afirma
que, durante as últimas três décadas, economias
de mercado deram lugar a sociedades de mercado.
Sem que percebêssemos, as transações mercadológicas tomaram conta de todas as dimensões
da vida social. Quando tudo está à venda, os preços tomam o lugar dos valores. O problema, na
visão de Sandel, é que os mercados não são moralmente neutros e degeneram valores cívicos que
deveriam ser praticados espontaneamente1.
Observando o ritmo das mudanças e o comportamento das pessoas na cidade em que moro,
penso nas palavras do cientista James Lovelock:
market societies. Without realizing
it , the marketing transactions have
taken into account all dimensions
of social life. When everything is
for sale, the prices overcome the
place of values. The problem, in
the view of Sandel, is that markets
are not morally neutral and
degenerate civic values that should
be practiced spontaneously .
Observing the pace of change
and the behavior of people in the
city I live in, I think of the words of
the scientist James Lovelock: “our
moral progress has not followed
our technological progress” .
Indeed, it is difficult to argue that
just the technology will be able
to balance the environmental
problem associated with growth.
Possibly, sustainability will depend
“nosso progresso moral não acompanhou nosso
progresso tecnológico”2. De fato, é difícil afirmar
que a tecnologia por si só será capaz de equacionar
o problema ambiental associado ao crescimento.
Possivelmente, a sustentabilidade dependerá
mais da transformação da natureza de consumo
do que de inovações no modo de produção.
A crise financeira que se arrasta pelos últimos anos não representa desafio maior do que
a crise ambiental resultante da cultura do desperdício e do consumismo. Planeta Re:pense
(Planet Re:think) mostra o senso de urgência
com a qual a nossa geração precisa atuar para
promover uma profunda mudança de valores na sociedade moderna. Faz-se necessário
repensar qual é o real sentido da vida econômica: o crescimento por si só não deve ser um
fim em si mesmo.
more on changing the nature of
consumption than innovations in
productive way.
The financial crisis that has
dragged on for the past year is
not greater challenge than the
environmental crisis resulting
from the culture of waste and
consumerism. Planet Re:Pense
(Planet Re:Think ) shows the
sense of urgency with which our
generation must act to promote
a profound change of values in
modern society. It is necessary to
rethink what is the real meaning
of economic life: just the growth
should not be an end in itself.
Inaiê Takaes Santos is a graduate
Inaiê Takaes Santos é economista graduada economist of the University of São Paulo,
pela Universidade de São Paulo, com mestrado na
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Atualmente sou Pesquisadora do GVces (Centro de
Estudos em Sustentabilidade da EAESP-FGV).
with a Masters in the Federal University
of Rio de Janeiro (UFRJ) . Currently, a
Researcher at GVces (Center for Sustainability Studies of EAESP - FGV) .
1 SANDEL, Michael. O que o dinheiro não compra: os limites
morais do mercado. Ed. Civilização Brasileira. 2012.
2 Entrevista concedida a Jeff Goodel (Revista Rolling Stone).
Disponível em: http://bbcnews.com.br/noticia/135121-aquecimento-global-e-inevitavel-e-6-bi-morrerao-diz-cientista.html.
economia
economy
45
Febre do Ouro
Blackfish –
Fúria Animal
Gold Fever
EUA, 2013, 83’
Blackfish
EUA, 2013, 82’
A história de Tilikum, a principal baleia orca do parque
temático SeaWorld, em Orlando, Estados Unidos, responsável pela morte de três pessoas. Imagens fortes
e entrevistas emocionantes compõem este documentário, que explora o comportamento da espécie, o
tratamento cruel no cativeiro, além de recuperar as
trajetórias e mortes dos treinadores, pilares de uma
indústria multibilionária. O filme convida o espectador
a repensar a nossa relação com a natureza e explicita
o quão pouco os humanos estão dispostos a aprender
com esses mamíferos.
DIREÇÃO DIRECTOR
Gabriela Cowperthwaite
PRODUÇÃO PRODUCER
Manny Oteyza
ROTEIRO WRITER
Gabriela Cowperthwaite e
Eli Despres
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Christopher Towey e
Jonathan Ingalls
EDIÇÃO EDITOR
The story of Tilikum, a performing killer whale that
Eli Despres
killed several people while in captivity. The film compiles
shocking footage and emotional interviews to explore the
creature’s extraordinary nature, the species’ cruel treatment
in captivity, the lives and losses of the trainers and the
pressures brought to bear by the mulit-billion dollar sea-park
industry. This emotionally wrenching, tautly structured story
challenges us to consider our relationship to nature and
reveals how little we humans have learned from these highly
intelligent and enormously sentient fellow mammals.
Febre do Ouro testemunha a chegada da
Goldcorp Inc em uma aldeia remota da
Guatemala. Presos na mira de um frenesi
DIREÇÃO DIRECTOR mundial pelo ouro, Diodora, Crisanta e GreAndrew Sherburne, goria resistem à ameaça às suas terras
JT Haines e Tommy Haines ancestrais diante de graves conseqüências.
PRODUÇÃO PRODUCER
Andrew Sherburne, Gold Fever witnesses the arrival of Goldcorp Inc
JT Haines e Tommy Haines to a remote Guatemalan village. Caught in the
ROTEIRO WRITER
crosshairs of a global frenzy for gold, Diodora,
Andrew Sherburne, Crisanta and Gregoria resist the threat to their
JT Haines e Tommy Haines ancestral lands in the face of grave consequences.
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Marcos Perez e Peter Majerle
EDIÇÃO EDITOR
Andrew Sherburne,
JT Haines e Tommy Haines
economia
economy
47
Montanhas
Enevoadas
Figurões
Big Men
EUA, 2013, 99’
Em Gana, uma pequena empresa norte-americana de
energia luta para garantir sua descoberta de petróleo,
enquanto um novo governo chega ao poder. Na Nigéria, onde o petróleo já foi descoberto, as ramificações
da indústria petrolífera cobraram seu preço do povo. À
medida que a empresa norte-americana cai sob o escrutínio do novo governo de Gana e do Departamento de
Justiça dos EUA, os contratos para exploração do campo
de petróleo vão desaparecendo. Os empregos se perdem, jogos de poder entram em cena e, enquanto isso,
o povo de Gana espera para colher seus benefícios. Com
um acesso sem precedentes e um olhar inabalável, Figurões leva-nos fundo na indústria africana de petróleo em
Gana e Nigéria, oferecendo um panorama sobre a ambição, a ganância e a corrupção que ameaçam agravar a
maldição dos recursos naturais da África e deixar mais
de seus cidadãos para trás.
In Ghana, a small American energy company fights to hold
onto its discovery of oil just as a new government comes into
power. In Nigeria, where oil has already been discovered, the
ramifications of the oil industry have taken their toll on the
people. As the American company falls under the scrutiny
of the new Ghanaian government and the U.S. Justice
Department, the contracts for the oil field languish. Jobs are
lost, power plays are made and all the while, the Ghanaian
people wait to reap the benefits. With unprecedented access
and an unflinching eye, Big Men takes us deep into the
African oil industry in Ghana and Nigeria, delivering an
exposé on the ambition, greed and corruption that threaten
to exacerbate Africa’s resource curse and leave more of its
citizens behind.
Cloudy Mountains
China, 2012, 85’
DIREÇÃO DIRECTOR
Rachel Boynton
PRODUÇÃO PRODUCER
Rachel Boynton
ROTEIRO WRITER
Rachel Boynton
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Jonathan Furmanski
EDIÇÃO EDITOR
Seth Bomse
DIREÇÃO DIRECTOR
Zhu Yu
PRODUÇÃO PRODUCER
Han Lei
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Liu Zhifeng e Zhu Yu
EDIÇÃO EDITOR
Zhu Yu e Han Lei
O lado sul das montanhas de Lop Nur, no
oeste da China, é rico em amianto. Os trabalhadores criam poeira enquanto exploram o
minério. De longe, parece uma máquina de
fazer nuvem, soprando nuvens no ar. Apesar
das pessoas que trabalham nesse ambiente
tão severo viverem uma vida dura e isolada,
elas não perderam sua alegria de viver. No
entanto, não sabem ou se preocupam com as
consequências que esse ambiente pode ter.
The southern foot of the mountains in Lop
Nur in western China is rich in asbestos.
The workers create dust while exploiting
the asbestos. From far away, it looks like a
cloud-making machine, puffing clouds into
the air. Though people working in such a
harsh environment live a hard and isolated
life, they have have not lost their joy of living.
However, they don’t know or care about what
consequences the environment can have.
economia
economy
49
Os SubHumanos
Planeta RE:pense
Planet RE:think
Dinamarca, 2012, 85’
Redemption Impossible
Como medimos nossas riquezas invendáveis? E como
colocamos um verdadeiro preço em nossas conquistas?
Planeta RE:pense apresenta uma intrínseca e convincente
relação entre a destruição ambiental e a crise financeira DIREÇÃO DIRECTOR
global, ilustrada na falácia fundamental do modelo do Eskil Hardt
PIB, através do qual medimos riquezas nacionais. PRODUÇÃO PRODUCER
Eskil Hardt
How do we measure our unsellable wealth? And FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
how do we put a true price on our gains? Planet Esben Hardt
RE:think presents a compelling, inherent link between EDIÇÃO EDITOR
environmental destruction and the global financial crisis, Adrian Beard
illustrated in the fundamental fallacy of the GDP model
in which we measure national wealth.
Alemanha, 2013, 90’
DIREÇÃO DIRECTOR
Claus Strigel e
Christian Rost
PRODUÇÃO PRODUCER
Claus Strigel
ROTEIRO WRITER
Christian Rost
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Em um safari hermeticamente fechado na Áustria,
os desafios morais de nossa civilização colidem sob uma lupa: culpa, responsabilidade,
redenção. Quarenta chimpanzés sobreviveram a
experimentos com o vírus HIV “servindo à humanidade.” Traumatizados, altamente agressivos
e mentalmente isolados. Hoje, quatro cuidadoras administram um projeto de reabilitação único,
onde as vítimas reaprendem a se tornar macacos.
Waldemar Hauschild
EDIÇÃO EDITOR
In a hermetically sealed off safari park in Austria
Julia Furch our civilization’s moral challenges collide under a
magnifying glass: guilt, responsibility, redemption.
Forty chimpanzees survived HIV experiments “serving
mankind”. Traumatized, highly aggressive and
mentally isolated. Today four caretakers manage a
unique rehabilitation project, where the victims learn
how to become monkeys.
economia
economy
51
A energia que nos divide
Sérgio Abranches
energia
energy
A energia está no centro dos esforços para conter a mudança climática.
A geração de eletricidade e os transportes são, de longe, a maior fonte de
emissões de gases estufa. A transição
de uma economia baseada em energia de fontes fósseis para uma economia com energia renovável é decisiva
para a redução das emissões e tentar
evitar mudança climática catastrófica.
A mudança climática já dividiu muito as opiniões. Mas o consenso científico hoje é avassalador. Não existe uma só organização científica
de peso, uma única academia de ciências, que
The energy that divides us
não afirme que a mudança climática é um fato
real e presente e que sua aceleração é causada
Sergio Abranches
pela ação humana. Os que se contrapõem a
esse consenso são poucos e já não há entre eles
cientistas especializados em clima, com qualifiEnergy is at the center of efforts
cação e pesquisa de peso.
to curb climate change. Electricity
Energia divide muito mais. O uso de energeneration and transport is by far
gia nuclear opõe de forma radicalmente polarithe largest source of greenhouse
zada aqueles que defendem a energia renovável
gas emissions . The transition
e que não emita gases estufa. A energia nuclear
from an economy based on fossil
não emite gases estufa. Mas não é limpa. Gera
energy sources to an economy
uma quantidade apreciável, embora em declíwith renewable energy is crucial
nio, de resíduo radiativo. Seus defensores vêm
to reducing emissions and try to
nela a única saída rápida para a mudança de
avoid catastrophic climate change. padrão energético. Seus críticos argumenClimate change has already
tam que resolve-se um problema que ameaça
divided a lot the opinions, but
a humanidade e agrava-se outro que também
the scientific consensus today
ameaça a humanidade. Confesso que tenho
is overwhelming . There is not a
sentimentos contraditórios sobre energia
single one scientific organization
nuclear. Fui convidado tempos atrás para falar
of importance or a mere academy em um congresso de técnicos e cientistas sobre
of sciences that does not affirm
o tema. Resolvi estudar as evidências e os arguthat climate change is a real
mentos. É inegável que é a única fonte domiand present fact and that its
nada que tem escala para substituir o carvão e
energia
energy
53
Não existe uma só organização
científica de peso, uma única
academia de ciências, que
não afirme que a mudança
climática é um fato real e
presente e que sua aceleração
é causada pela ação humana.
acceleration is caused by human
action. Those who oppose to this
consensus are few and there is
no longer among them important
climate scientists with skills and
background on research.
Energy divides much more. The
use of nuclear energy causes so
radically polarized oppositions to
those who are in favor renewable
energy and which does not emit
greenhouse gases. Nuclear power
does not emit greenhouse gases.
But it is not clean. It generates a
considerable amount, although
declining , of radioactive waste.
His defenders have it the only
quick exit for changing energy
pattern. His critics argue that
resolves a problem that threatens
humanity and worsens others that
also threatens humanity. I confess
I have mixed feelings about nuclear
energy. Time ago I was invited to
speak at a conference of scientists
and technicians on the topic. I
decided to study the evidence and
arguments. It is undeniable that
it is the only dominated source
that has scale to replace coal
and oil for electricity generation
quickly. It is true that does not
emit . I was convinced that new
technologies generate less waste
and waste of less radioactive
intensity. Still, this residue
o óleo rapidamente na geração de eletricidade.
É verdade que não emite. Fiquei convencido
de que as novas tecnologias geram menos resíduo e resíduo de menor intensidade radiativa.
Ainda assim, esse resíduo precisa de manejo e
armazenagem seguros por algumas centenas
de anos. Além disso, a maior parte do resíduo
hoje produzido ainda vem de usinas com tecnologias mais velhas, que geram mais lixo nuclear
e mais radiativo, cujo risco de contaminação letal
perdura por muitos séculos. A pergunta que fiz
no congresso e que não tem resposta adequada
foi: quem garante que haverá governança estável
de qualidade capaz de assegurar a integridade
dos recipientes e dos locais de armazenagem por
pelo menos 300 anos? Meu treino em ciência
política me diz que não há como dar essa garantia, mesmo nas democracias mais maduras e
avançadas do mundo.
O filme documentário também divide opiniões desde os seus primórdios. Há correntes
opostas sobre a ética e a técnica do documentário. Uns defendem a máxima objetividade
possível. Outros dizem que a objetividade é
impossível e o cineasta deve interpretar a realidade para sua audiência. Segundo eles, mesmo
o documentário é um filme autoral. Esse debate
já foi mais aceso. No começo do moderno documentário, seguidores do cinema verdade, de
Jean Rouch, preconizado por Dziga Vertov,
ensinavam que se deveria combinar a improvisação ao uso direto da câmera para desvendar a
verdade por trás da realidade aparente. Outros
diziam que o documentário deveria partir de Fukushima: Um Registro de Coisas Vivas
um roteiro e que os entrevistados e retratados Fukushima: A Record of Living Things
There is not a single one
scientific organization of
importance or a mere academy
of sciences that does not
affirm that climate change
is a real and present fact
deveriam ser dirigidos para garantir a qualidade
do resultado. Joris Ivens, um dos pais do documentário moderno, comentando seu excepcional filme sobre a guerra civil espanhola de 1936,
cuja estratégia geral diz ter sido contribuição
direta do escritor e jornalista Ernst Hemingway,
dá uma resposta simples a essa questão. Ele diz
que havia imaginado filmar seguindo um argumento escrito previamente. Mas foi impossível
fazê-lo em campo. Como entrevistar pessoas
em meio àquela matança toda? O único jeito
era filmar o que estavam vendo. Ele conta como
foram filmando cenas da guerra, pessoas, moribundos, cadáveres, e diz: “Você é capaz de pensar muito claramente porque você está em uma
guerra popular na qual você tem um lado. Não
há hesitação.” Mas defendia a edição cuidadosa
das imagens depois. Ele compara o documentário ao filme noticiário. “O filme noticiário
nos conta onde-quando-o quê; o filme documentário nos conta por que e as relações entre
os eventos”, diz. Para ele, o documentário não
conseguiria realizar seus objetivos sem alguma
intervenção artística.
management and insurance needs
storage for a few hundred years.
Furthermore , most of the waste
produced today still comes from
plants with older technologies
that generate more and more
radioactive nuclear waste, where
the risk of lethal infection persists
for many centuries. The question
I asked in Congress and has no
proper answer was : who can
assure that there will be a stable
governance to provide a quality
control that ensures the integrity
of the containers and storage sites
for at least 300 years? My training
in political science tells me there
is no way to guarantee that, even
in the most mature and advanced
democracies in the world.
The documentary film also
divided opinions since its
inception. There are opposing
opinions on the ethics and
techniques of the documentary.
Some are for the greatest possible
objectivity. Others say that
objectivity is impossible and the
filmmaker should interpret the
reality for its audience. According
to them, even the documentary is
a copyrighted movie. This debate
has already been more heated .
At the beginning of the modern
documentary, followers of cinema
Vérité. created by Jean Rouch and
envisioned by Dziga Vertov, taught
that improvisation should be
combined to the direct use of the
camera in order to find out the
truth behind the apparent reality.
Others said that the documentary
should come from a script and that
the respondents and portrayed
should be directed to ensure the
quality of the result. Joris Ivens,
one of the fathers of modern
energia
energy
55
Lembrei-me dessa A escassez de energia afeta
velha leitura das refle- principalmente os mais pobres
xões de Joris Ivens
sobre sua prática com e sem poder do mundo. Neste
documentários, vendo caso, energia escassa e de
os filmes sobre o tema
energia da 3a Mostra má qualidade causa conflito
Ecofalante de Cinema entre os que a provêm e os
Ambiental. O autor de
nenhum deles parece que não a recebem, entre os
ter dúvidas sobre de que têm e os que não têm.
que lado está. Alguns
são muito explícitos, como a defesa da ener- documentary, commenting on
gia nuclear em Promessa de Pandora (Pandora’s his exceptional film about the
Promise), de Robert Stone, ou a denúncia dos Spanish Civil War in 1936, in which
efeitos da radiação do acidente da usina nuclear the general strategy is said to
de Fukushima, em, Fukushima: Um Registro have been a direct contribution
das Coisas Vivas (Fukushima: A Record of Living of the writer and journalist Ernst
Things), de Masanori Iwasaki, da explosão quase Hemingway, gives a simple answer
desconhecida da usina nuclear Mayak ao sul dos to this question. He says he had
Urais, em Metamorphosen (Metamorphosen), imagined shooting following a
de Sebastian Mez, ou do acidente que desloca previously written argument. But
e separa uma família, em Terra da Esperança it was impossible to do it on the
(The Land of Hope), de Sion Sono. Outros são field. How to interview people in
mais sutis, como Jornada ao Local mais Seguro the midst of all that killing? The
da Terra (A Journey to the Safest Place on Earth), only way was to film what they
de Edgar Hagen, sobre os riscos de armazena- were seeing. He tells how the war,
people, dying ones and corpses
mento do resíduo das usinas.
Em sintonia fina com os dilemas de nosso were filmed, and says: “You are
tempo, os filmes da mostra refletem a ameaça able to think very clearly because
da mudança climática; o confronto em torno you’re in a popular war in which
da energia nuclear; a falta de energia que aflige you are defending a side. There is
grande parte dos mais pobres do mundo; a pro- no hesitation”. But he advocated
messa do lítio. Dos sete documentários selecio- for a careful edition on the images
nados para a mostra, cinco são sobre energia afterwards. He compares the
documentary to the news. “The
nuclear. Falarei deles ao final.
Desconectado (Powerless), de Fahal Mustafa news film tells us where-whene Deepti Kakkar, mostra o outro lado do pro- what; and the documentary film
blema energético: sua falta. A escassez de ener- tells us why and the relationship
gia afeta principalmente os mais pobres e sem between the events” he said . For
poder do mundo. Neste caso, energia escassa e him, the documentary could not
de má qualidade causa conflito entre os que a accomplish their goals without
provêm e os que não a recebem, entre os que some artistic intervention .
têm e os que não têm. O cenário é Kanpur, na I remembered reading that old
Índia. A história, que muitas vezes chega a pare- Joris Ivens reflections about his
cer ficção, gira em torno dos “gatos” (katyya) e o practice with documentaries ,
protagonista central é Loha Singh, um “mestre” watching movies on the theme
dessas ligações clandestinas, (katiyabaaz). A
câmera mostra todo o tempo a intrincada e precária teia de fios saindo das linhas principais
para ligá-las ilegalmente a casas sem energia.
Os diretores usam muito o recurso da câmera
direta para capturar as contradições sociais e
políticas que correm pelo cotidiano da população e da vida pessoal de Loha. A fotografia
explora com precisão o “claro-escuro”, contrastando os momentos em que há luz e os apagões
frequentes. As imagens em baixa luminosidade
são particularmente interessantes do ponto de
vista da estética do filme. Os autores não adotam uma marcada posição entre os dois lados
da disputa, a companhia elétrica e o mestre das
ligações ilegais, mas não escondem sua maior
identificação com Loha.
A Revolução do Lítio (The Lithium Revolution),
de Andreas Pichler, volta-se para outra questão
Desconectado Powerless
of energy on the 3rd Ecofalante
Environmental Film Festival The
author of all of them seems to
have no doubts about which side
they are supposed to be. Some
of them are very explicit, such
as the defense of nuclear power
in Pandora ‘s Promise of Robert
Stone, or the denunciation of
the effects of radiation on the
Fukushima nuclear power plant
accident in Fukushima: A Record
of Living Things, from Masanori
Iwasaki, the almost unknown
explosion of the Mayak nuclear
plant located in south of the Urals,
in Metamorphosen, of Sebastian
Mez, or the accident that displaces
and separates a family in The Land
of Hope, of Sion Sono. Others are
more subtle, such as A Journey to
the Safest Place on Earth, of Edgar
Hagen, on the risks of storing
waste originated from nuclear
power plants.
Fine-tuned to the dilemmas of
our time, the films in the Exhibition
shows a reflection on the threat of
climate change; the confrontation
around nuclear energy; the lack
of energy that afflicts much of the
world’s poorest ones, the lithium
promise. Five of the seven films
selected for the festival are about
nuclear energy. I will talk about
them in the end.
Powerless of Fahal Mustafa and
Deepti Kakkar, shows the other
side of the energy problem : its
lack. The power shortage affects
specially the poor and powerless
people in the world. In this case,
energy lack and of poor quality
causes conflict between those
who should provide it and those
who do not receive it, between
who has and who has not. The
energia
energy
57
setting is Kanpur, India. The story,
which sometimes looks like a fiction,
is developed around the “cats”
(katyya) and the central protagonist
is Loha Singh , a “master” of these
illegal connections (katiyabaaz).
The camera shows all the time the
intricate and fragile web of wires
coming out of the main lines to
connect them illegally to the houses
without power. The directors use
the resource of putting the camera
very close to capture the social and
political contradictions that goes
through daily life of the population
and Loha’s personal life. The
photograph explores precisely the
“light and darkness “ contrasting the
times when there is light and the
frequent blackouts. The low-light
images are particularly interesting
from the standpoint of aesthetics of
crucial. A armazenagem barata, eficiente e em the film. The authors did not adopt
escala suficiente de energia. A única alternativa a marked position between the two
em processo avançado de desenvolvimento é a sides of the dispute, the electric
bateria de lítio-íon. Mas ela ainda não atende company and the master of illegal
plenamente a esses requisitos. Armazenagem connections, but do not hide their
adequada permitiria que a energia das fontes greater identification with Loha.
solar e eólica ganhasse escala e pudesse subs- The Lithium Revolution, of Andreas
tituir tanto os combustíveis fósseis, quanto a Pichler, turns to another crucial
nuclear. Ela é a chave, também, para a e-mobi- issue. The cheap storage in efficient
lidade, baseada em veículos elétricos com auto- and sufficient energy scale. The only
nomia comparável aos veículos com motores alternative in advanced development
a combustão. O filme, algumas vezes, resvala process is the lithium- ion batteries.
para a pressão sobre o governo da Bolívia para But it does not fully meet these
abrir seus enormes campos de lítio no deserto requirements yet. Proper storage
de sal de Uyuní à exploração internacional. Do would allow energy from solar and
ponto de vista da estrutura narrativa, apro- wind sources gain scale and could
xima-se de Promessa de Pandora (Pandoras’s replace both fossil fuels such as
Promise), entrevistando personagens do mundo nuclear power. This is also the
do lítio que tratam de suas promessas, limita- key to e-mobility based on electric
ções atuais e futuro.
vehicles with comparable autonomy
Promessa de Pandora (Pandora’s Promise), as vehicles with combustion
uma produção muito bem cuidada, adota engines. The film sometimes
com toda a transparência a promoção da ener- slips into pressure on the Bolivian
gia nuclear. Centra-se em depoimentos clara- government to open its huge fields
mente estruturados, diante de uma câmera of lithium in the salt desert of Uyuni
A Revolução do Lítio The Lithium Revolution
geralmente parada. Mas a edição é dinâmica, a
fotografia limpa, as locações bem escolhidas. O
documentário visita algumas áreas icônicas do
dilema nuclear, como Chernobyl e Fukushima,
palcos dos piores acidentes nucleares da história. Seus protagonistas principais são figuras
de prestígio da indústria nuclear e do ambientalismo. Conheço bem a trajetória de três deles.
Todos autores importantes no tema ambiental
e da mudança climática. Stewart Brand foi um
pioneiro do lado verde da contracultura, com
a publicação do “The Whole Earth Catalog”,
nos anos 1960 nos EUA. Mais recentemente,
criou a The Long Now Foundation, dedicada a
estimular visões de longo prazo e à disseminação de ideias inovadoras que ajudem a humanidade a enfrentar seus principais desafios. É
mestre em adotar posições polêmicas. Mark
Lynas é autor de dois livros sobre a ameaça
real da mudança climática: “High Tide: the
truth about our climate crisis” e “Six Degrees:
our future in a hotter planet”. Sua conversão recente à energia nuclear e aos transgênicos foi recebida como um escândalo entre os
to international exploitation. On
the point of view of narrative
structure, it looks like Pandora ‘s
Promise, interviewing personalities
of the world of lithium which
and approach to their promises,
current limitations and future.
Pandora ‘s Promise, a very
careful production, adopts fully
transparent promotion of nuclear
energy. Focus on clearly structured
interviews, usually on a still camera,
but with a dynamic edition, clean
photography and well-chosen
locations . The documentary visits
some iconic areas of the nuclear
dilemma, like Chernobyl and
Fukushima, stages of the worst
nuclear accidents in history. Its
main protagonists are people
of prestige from the nuclear
industry and environmentalism.
I know the trajectory of three of
them, all important authors in
the environmental theme and
climate change. Stewart Brand
was a pioneer of counterculture
green, with the publication
of “The Whole Earth Catalog”
in the 1960s in the USA. Most
recently, he created the The Long
Now Foundation, dedicated to
stimulate long-term visions and
to disseminate innovative ideas
that help humanity to face its
The power shortage affects specially the poor and
powerless people in the world. In this case, energy lack
and of poor quality causes conflict between those who
should provide it and those who do not receive it
energia
energy
59
ambientalistas europeus. Michael Shellenberg major challenges. He is master in
sempre militou em causas socioambientais. adopting controversial positions.
Em 2004, provocou intensa reação no meio Mark Lynas is the author of two
ambientalista, ao circular, com Ted Nordhaus, books about the real threat of
artigo muito polêmico, com o título provoca- climate change : “High Tide : the
dor de “The death of environmentalism” (“A truth about our climate crisis” and
morte do ambientalismo”). Eles expandiram “Six Degrees : our future in a hotter
o argumento de que o ambientalismo preci- planet”. His recent conversion to
sava mudar seu foco e sua narrativa para vol- nuclear power and transgenics
tar a ter vitórias no livro “Break Through: from was received as a scandal among
the death of environmentalism to the poli- European environmentalists.
tics of possibility”. Os dois mantêm o The Michael Shellenberg always
Breakthrough Institute, de orientação mode- campaigned on environmental
radamente conservadora, que defende políti- causes. In 2004 he provoked
cas públicas para energia e mudança climática, intense reaction in environmental
entre outras áreas. São fortes defensores de circles by spreading with Ted
energias renováveis e eficiência energética.
Nordhaus a very controversial
Os melhores argumentos do filme são aque- article with the provocative title
les a favor da energia nuclear no quadro de acele- “The death of environmentalism”.
rado crescimento do risco associado à mudança They expanded the argument
climática. O filme me impressiona menos that environmentalism needed to
quando minimiza os efeitos de acidentes nucle- change its focus and its narrative
ares e os riscos associados aos resíduos radiati- to get back victories on the book
vos. Ao tratar das posições contrárias à energia “Break Through: from the death of
nuclear, não entrevista nenhum autor do mesmo environmentalism to the politics
porte de seus protagonistas. Prefere mostrar a of possibility”. The Breakthrough
posição mais impressionista de militantes san- Institute is conducted by them,
guíneos. Mas, como disse, Promessa de Pandora with moderately conservative
guidance, to advocate public
policies to energy and climate
change, among other areas. They
are strong advocates of renewable
energy and energy efficiency.
The best arguments of the film
are those in favor of nuclear energy
in the context of rapid growth to
the risk associated with climate
change. The film impresses me
less when it minimizes the effects
Promessa de Pandora (Pandora’s of nuclear accidents and the risks
associated with radioactive waste.
Promise) é transparente no
When dealing with positions
seu propósito de promover
against nuclear power, it does not
interview any author of the same
a energia nuclear. Não faz
size of its protagonists and prefer
questão de tratar com o
to show the more impressionistic
position
of some bloodthirsty
mesmo peso o outro lado.
militants. But as I said, Pandora‘s
Promise is transparent in its
Pandora‘s Promise is transparent in purpose to promote nuclear energy.
its purpose to promote nuclear energy. It does not deal with the question
of even weight the other side. It’s a
It does not deal with the question good movie, with good arguments,
of even weight the other side. which will provoke talk. But did
not change me.
Fukushima : A Record of Living
Things is a cautionary counterpoint
to the inevitable optimism from
Pandora ‘s Promise. Almost a
“road movie” it documents the
search of a scientist for living
creatures in the affected areas of
Fukushima’s disaster still sealed
to the previous inhabitants. It
wants to record the effects that
radiation
caused in animals.
(Pandora’s Promise) é transparente no seu proPerhaps
the
clearest evidence
pósito de promover a energia nuclear. Não faz
shown
by
the
film is the low
questão de tratar com o mesmo peso o outro
occurrence
of
many species and
lado. É um bom filme, com bons argumentos,
the
radiation
present
in the fish
que vai dar o que falar. Mas não me converteu.
entrails.
But
while
searching
for
Fukushima: Um Registro das Coisas Vivas
living
creatures,
it
finds
so
many
(Fukushima: A Record of Living Things) é um
contraponto acautelador do otimismo inevitável marks of the tragedy and gives us
de Promessa de Pandora (Pandora’s Promise). a dimension less emotional, not
Quase um “road movie”, documenta a busca de hot as in the time of the events,
um cientista por criaturas vivas nas áreas afeta- on the extent of the destruction
das pelo desastre de Fukushima, ainda vedadas and social drama, not just from
aos antigos habitantes. Quer registrar os efei- the tsunami but also from the
tos que a radiação causou nos animais. Talvez a explosions of the Fukushima
evidência mais clara mostrada pelo filme seja a reactors. The camera gives the real
baixa ocorrência de muitas espécies e a radiação - human and physical - extension of
presente nas entranhas de peixes. Mas ao sair the tragedy that is still unfolding
em busca das criaturas vivas, encontra as mui- around Fukushima. It finds very
tas marcas da tragédia e nos dá uma dimensão interesting human characters living
menos emocional, menos no calor da hora, da in the area. Fukushima: A Record
extensão que foi a destruição e o drama social, of Living Things has the DNA of
não apenas do tsunami, mas também das explo- the most classic documentaries
sões dos reatores de Fukushima. A câmera dá a . A less clean aesthetic with the
extensão real, humana e física da tragédia que direct camera recording every step
ainda se desenrola no entorno de Fukushima. of this journey through the ghost
Encontra personagens humanos muito inte- streets and interviews with local
ressantes vivendo na área. Fukushima: Um characters and experts.
Registro das Coisas Vivas (Fukushima: A Record Seeing the two films drove me to
of Living Things) tem o DNA dos documentários a serious doubt . The first recorded
energia
energy
61
Promessa de Pandora Pandora’s Promise
negligible levels of radioactivity in
the sites visited in Fukushima .
The second recorded levels above
the tolerable for humans . Who is
right ? Maybe this is not a question
to be taken to documentaries, but
a matter for science to resolve
empirically with systematic
methodology .
The Land of Hope is not a
documentary. In a certain extent
it complements Fukushima : A
Record of Living Things with drama
and poetry. It is a fiction about
the disruptive impact of a nuclear
accident on two neighbor families
in rural Japan, after an earthquake
followed by a tsunami. It takes
place in the fictional province of
Nagashima (Hiroshima + Nagasaki
or Nagasaki + Fukushima?). The
main focus is on the Ono family.
Aesthetically, Sion Sono uses in a
very skillful way the documentary
narrative style, with the clear
objective of seeking maximum
realism for more than two-thirds
of its long duration. However,
the film contains numerous
symbolic allusions, deeply rooted
in Japanese culture. At the end ,
photography and narrative adopts
a poetic and almost dreamlike,
heavily dramatic tone, ending the
story with sensitivity and emotion.
mais clássicos. Uma estética menos limpa, com
a câmera direta registrando cada passo dessa
jornada pelas ruas fantasmas e entrevistas com
personagens locais e especialistas.
Ao ver os dois filmes em sequência, ficou-me uma séria dúvida. O primeiro, registra
níveis desprezíveis de radiatividade nos sítios
que visita em Fukushima. O segundo, registra
níveis acima do tolerável para os seres humanos. Quem tem razão? Talvez essa não seja
uma pergunta a ser feita aos documentários,
mas uma questão para a ciência resolver empiricamente, com metodologia sistemática.
Terra da Esperança (The Land of Hope) não é
um documentário. Em certo sentido, complementa, com dramaturgia e poesia, Fukushima:
Um Registro das Coisas Vivas (Fukushima: A
Record of Living Things). É uma ficção sobre o
impacto disruptivo de um acidente nuclear em
duas famílias vizinhas no Japão rural, após um
terremoto seguido de um tsunami. Ele se passa
na fictícia província de Nagashima (Nagasaki +
Hiroshima ou Nagasaki + Fukushima?). O foco
principal é na família Ono. Esteticamente, Sion
Sono recorre, de maneira muito hábil, à forma
narrativa do documentário, com o claro objetivo de buscar o máximo de realismo, por mais
de dois terços de sua longa duração. Contudo,
o filme contém numerosas alusões simbólicas, profundamente enraizadas na cultura japonesa. Ao final, a fotografia e a narrativa adotam
um tom poético e quase onírico, fortemente
dramático, fechando uma estória contada com
sensibilidade e emoção. Fukushima é lembrada repetidamente, como para “colar” o real Terra da Esperança The Land of Hope
ao ficcional. A referência ao acidente real também projeta para o futuro e as futuras gerações
o risco e as conseqüências da energia nuclear.
O acidente de Nagashima se daria depois de
Fukushima. O centro da narrativa é o velho
chefe da família Ono, que vive uma terna relação
com sua mulher dominada pela demência senil.
Os dois atores têm desempenho marcante, de
grande sensibilidade. Toda a preocupação dele
e o olhar convergente da estória é com o futuro,
representado primeiro pelos personagens mais
jovens e, em última instância, pelo neto ainda
por nascer.
A Jornada ao Local mais Seguro da Terra
(Journey to the Safest Place on Earth), de Edgar
Hagen, é uma proposta. Hagen, um documentarista conhecido por seu estilo de filme-reportagem, adota a estratégia de perguntar
exaustivamente sobre a existência real de um
local completamente seguro para servir de
depósito para os resíduos nucleares gerados
em todo o mundo. O documentário tem um
personagem central, a quem se dirige a maioria das perguntas de Hagen. Ele é Charles
McCombie, que tem liderado essa busca por
um local seguro para o lixo nuclear por 35 anos.
Como o próprio Hagen diz, neste filme ele
embarca “numa jornada que examina o complexo processo de busca pelo local mais seguro
Jornada ao Local mais Seguro da Terra
A Journey to the Safest Place on Earth
Fukushima is reminded repeatedly,
like if is “to paste” the real to
the fictional. The reference to the
actual accident also designs for
the future and future generations
the risk and consequences of
nuclear energy. The accident
Nagashima accident seems to
happen after Fukushima . The
center of the narrative is the old
head of the Ono family, who lives
a tender relationship with his wife
dominated by senile dementia.
The two actors have outstanding
performance and high sensitivity.
All his concern and the converging
story is looking to the future,
represented first by the younger
characters and, ultimately, by the
unborn grandson.
The Journey to the Safest Place
on Earth, of Edgar Hagen is a
proposal. Hagen, a documentary
filmmaker known for his style of
film-report, adopts the strategy
of asking hardly about the actual
existence of a completely safe
place to be used as the location
for the nuclear waste generated
worldwide. The documentary
has a central character, to whom
it is addressed most Hagen´s
questions. He is Charles
McCombie, who has led the search
for a safe place for nuclear waste
site along 35 years. As Hagen
says, this film he embarks “on
a journey that examines the
complex process of searching
for the safest place on earth”.
He describes his documentary
as “focused on the people who
have to solve that problem for us,
portraying his efforts, concerns,
battles, hopes and failures. The
central protagonist, Charles
McCombie, never lost faith even
energia
energy
63
for a moment. The film collects
numerous testimonials and the
simple and sincere, but no less
shrewd questions that Hagen does.
tells a no ending story. It travels
around the world from the Yucca
Mountain to the Gobi Desert, to
Sweden and to Australia. The search
O governo soviético usou
is exhaustive and can not find that
safe place. Halfway there, exposes
como cobaias as populações
the marketing strategies of the
dos lugarejos às margens
nuclear industry and the conflicts
that this incessant demand leads. In
do rio Tetcha, cujas águas
his narration, in first person, Hagen
continuam radiativas, para
stresses his doubts. He made
personal discoveries while filming.
estudar o efeito de explosões
“In the midst of this struggle [to film
nucleares em pessoas.
the radioactive waste] there was
an idea growing inside me that
da terra”. Ele descreve seu documentário como we will only find the safest place
“focalizado nas pessoas que têm como objetivo if we become able to challenge
resolver esse problema para nós, retratando collectively the extreme pressure of
seus esforços, preocupações, batalhas, esperan- economic constraints, and do not
ças e fracassos. O protagonista central, Charles blindly believe in everything you are
McCombie, nunca perdeu a fé um momento told and do not accept statements
sequer”. O filme recolhe numerosos depoimen- of fact as absolute truths”.
tos e as perguntas simples, sinceras e nem por The astonishment caused by
isso menos argutas de Hagen, vão contando Metamorphosen begins in the first
uma história sem fim. Dá a volta ao mundo de image with the beautiful black-andYucca Mountain ao deserto de Gobi, à Suécia e white, often showing scenes almost
à Austrália. A busca é exaustiva e não encontra frame by frame, such as in a photo
esse lugar seguro. No meio do caminho, expõe exhibition . From all of them, this
as estratégias de marketing da indústria nuclear movie is the one with the most
e os conflitos que essa procura incessante pro- sophisticated aesthetic. The terror
voca. Na sua narração, em primeira pessoa, continues , as it reveals the extent
Hagen sublinha suas dúvidas. Ele fez descober- of the accident at the Mayak nuclear
tas pessoais enquanto filmava . “No meio dessa plant, the first to produce fissile
luta [para filmar os resíduos radiativos] formou- material for Russian bombs, in the
-se em mim a ideia de que só encontraremos southern Urals, in Soviet territory, in
o local mais seguro se conseguir coletivamente 1957, and the unacceptable fact that
desafiar a extrema pressão das limitações eco- the true story was hidden by the
nômicas, não acreditar cegamente em tudo que Soviet State over the decades. The
nos é dito e não aceitar as afirmações de fato film has an unexpected beauty telling
a desolating situation more than 50
como verdades absolutas.”
O espanto causado por Metamorphosen years later situation. When watching
(Metamorphosen) começa na primeira imagem, Metamorphosen , I ended convinced
com a belíssima fotografia em preto e branco, that the Soviet government used
as guinea pigs the populations
of the villages on the banks of
Tetcha river, whose waters are still
radioactive, to study the effects
of nuclear explosions on people
in a certain radius away from the
epicenter. The camera wanders
through the landscapes of the
region, the faces and the daily lives
of people and hardly need words to
tell the desolation, abandonment,
horror and expectation story. The
pace of the images , amazing in
their cinematic aesthetics, gives
us the exact dimension of the
slow agony of those people. The
narratives are impressive and
unpretentious. Metamorphosen
do not allow us to forget what has
been covered up for so long by
authoritarianism and censorship.
Sergio Abranches, Ph.D. , sociologist, political scientist, political analyst
and writer, and writes about Ecopolitics.
As a commentator of CBN radio maintains daily newsletter “Ecopolitics”. Author of “Copenhague: Antes e Depois”,
Brazilian Civilization, 2010 on the global
political climate, and O Pelo Negro do
Medo, romance, Record, 2012. He was
awarded with the Journalists Award &
Co. of HSBC Press and Sustainability. He
was also the Sustainability Personality of
the Year in 2011and received the Chico
Mendes Environmental Journalism Award
in 2013 (for radio program).
muitas vezes mostrando cenas quase quadro
a quadro, como uma exposição de fotos. De
todos, é o filme com estética mais sofisticada.
O espanto continua, à medida que vai revelando a extensão do acidente ocorrido na usina
nuclear de Mayak, a primeira a produzir material físsil para as bombas russas, ao sul dos
Urais, em território soviético, no ano de 1957,
e o inaceitável acobertamento da verdade pelo
estado soviético por décadas a fio. O filme é de
uma beleza inesperada, narrando uma situação
desoladora mais de 50 anos depois. Ao assistir
a Metamorphosen, terminei convencido de que
o governo soviético usou como cobaias as populações dos lugarejos às margens do rio Tetcha,
cujas águas continuam radiativas, para estudar o efeito de explosões nucleares em pessoas
em um determinado raio de distância do epicentro. A câmera passeia pelas paisagens da
região, pelos rostos e pelo cotidiano das pessoas e quase não precisa palavras para contar
essa história de desolação, abandono, horror e
expectativa. O ritmo das imagens, surpreendentes em sua estética cinematográfica, nos dá a
dimensão exata da lenta agonia daquelas pessoas. As narrativas são impressionantes e singelas. Metamorphosen não nos deixará esquecer
o que foi encoberto por tanto tempo pelo autoritarismo e pela censura.
Sérgio Abranches, PhD, sociólogo, cientista
político, analista político e escritor. Escreve sobre
Ecopolítica. É comentarista da rádio CBN, onde mantém
o boletim diário Ecopolítica. Autor de Copenhague:
Antes e Depois, Civilização Brasileira, 2010, sobre a
política global do clima; e de O Pelo Negro do Medo,
romance, Record, 2012. Prêmio Jornalistas&Cia HSBC
de Imprensa e Sustentabilidade: Personalidade do Ano
em Sustentabilidade 2011. Prêmio Chico Mendes de
Jornalismo Socioambiental 2013 (rádio).
The Soviet government used as guinea pigs the populations of
the villages on the banks of Tetcha river, whose waters are still
radioactive, to study the effects of nuclear explosions on people.
energia
energy
65
Desconectado
Powerless
Índia/EUA, 2013, 83’
Kanpur já foi uma das principais cidades industriais da
Índia, mas sua infraestrutura precária hoje obriga boa
parte da população a lidar constantemente com a falta
de eletricidade. Loha Singh é um eletricista que realiza ligações clandestinas nos bairros pobres, fazendo
funcionar pequenos negócios, fábricas e residências.
Paralelamente, Ritu Maheshwari é a nova diretora da
companhia de eletricidade local que tenta reprimir os
roubos de eletricidade. Esses dois personagens são antagonistas de uma situação que se desdobra pela cidade.
DIREÇÃO DIRECTOR
Deepti Kakkar
e Fahad Mustafa
PRODUÇÃO PRODUCER
Deepti Kakkar
e Fahad Mustafa
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Maria Trieb e
Kanpur was once one of the major industrial cities in India, Amith Surendran
but its poor infrastructure today requires much of the EDIÇÃO EDITOR
population to constantly deal with the lack of electricity. Maria Trieb, Namrata Rao
Loha Singh is an electrician who performs illegal connections e Fahad Mustafa
in poor neighborhoods, working for small businesses,
factories and homes. In parallel, Ritu Maheshwari is the new
director of the local electricity company that tries to repress
theft of electricity. These two characters are antagonists of a
situation that unfolds through the city.
Desconectado Powerless
energia
energy
67
Jornada ao
Local Mais
Seguro da Terra
Fukushima:
Um Registro de
Coisas Vivas
Fukushima:
A Record of Living Things
DIREÇÃO DIRECTOR
Japão, 2013, 76’ Masanori Iwasaki
ROTEIRO WRITER
O desastre nuclear de Fukushima após o grande terre- Masanori Iwasaki
moto do leste do Japão forçou as pessoas a evacuar a
área, mas o que aconteceu com os animais selvagens
que não tinham para onde ir? Substâncias radioativas
que se espalham por áreas restritas e não restritas estão
afetando não apenas os animais selvagens, como andorinhas, vacas, ratos do campo, toupeiras, javalis, porcos
selvagens e macacos japoneses, mas também animais
de fazenda e de estimação. Este filme documenta o que
está acontecendo nas áreas contaminadas pela radiação.
The Fukushima nuclear disaster after the Great East Japan
Earthquake forced people to evacuate but what happened
to the wild animals that had nowhere to go? Radioactive
substances that spread through the restricted and nonrestricted areas are affecting not just wild animals such
as swallows, cows, field mouse, moles, wild boar and pig
crossbreds and Japanese monkeys etc, but also farm animals
and pets. This film documents what is going on in the
radiation contaminated areas.
DIREÇÃO DIRECTOR
Journey to the
Safest Place on Earth
Edgar Hagen Suíça, 2013, 100’
PRODUÇÃO PRODUCER
Hercli Bundi Ao longo dos últimos 60 anos, mais de 350.000 tonelaROTEIRO WRITER
das de resíduos nucleares de alto nível foram acumuladas
Edgar Hagen em todo o mundo. Este material deve ser depositado por
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
milhares de anos em um lugar seguro, ou seja, onde não
Peter Indergand irá prejudicar os seres humanos ou o meio ambiente.
EDIÇÃO EDITOR
No entanto, tal depósito ainda precisa ser criado e a pro-
Paul-Michael Sedlacek e dução de resíduos nucleares continua inabalável. O
Edgar Hagen internacionalmente renomado físico nuclear suíço Charles
McCombie e alguns de seus mais importantes aliados fornecem ao diretor Edgar Hagen um panorama de sua luta
persistente para encontrar o lugar mais seguro da terra, a
fim de resolver esse grave dilema.
Over the last 60 years, more than 350,000 tons of highlevel nuclear waste has been amassed the world over.
This material must be deposited for thousands of years in
a safe place, i.e. one that will not harm humans or the
environment. However, such a repository has yet to be
created and the production of nuclear waste continues
unabated. Swiss-based nuclear physicist and internationally
renowned repository specialist Charles McCombie and some
of his most important allies provide director Edgar Hagen
with insight into their persistent struggle to find the safest
place on earth in order to resolve this grave dilemma.
energia
energy
69
Metamorphosen
Promessa
de Pandora
Metamorphosen
Alemanha, 2013, 84’
Estabelecidas na região Ural no sul da Rússia, o filme
conta a história de pessoas que moram em um dos lugares mais contaminados por radiação do planeta. Fato
desconhecido pelo público, a região foi irradiada repeti- DIREÇÃO DIRECTOR
damente por diferentes acidentes da instalação nuclear Sebastian Mez
Mayak, a primeira a produzir material físsil para armas PRODUÇÃO PRODUCER
nucleares da União Soviética, ainda hoje ativa. O filme Sebastian Mez
capta um perigo que não é perceptível ou visível, assim FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
como a força das pessoas que têm que lidar com ele. Sebastian Mez
EDIÇÃO EDITOR
Settled in the middle of nowhere in the south Ural region Katharina Fiedler
in Russia, the film is the story of people living in one of the
most radioactive contaminated spots on earth. Unknown
to a wide public this region was repeatedly irradiated by
different accidents of the nuclear facility Mayak, which was
the first plant for the production of fissile material for nuclear
weapons in the Soviet Union and which is still in operation.
The filmmakers attempt is to find a cinematic translation for
a danger that is not perceptible nor visual and to capture the
strength of people who has to cope with it.
Pandora’s Promise
EUA, 2013, 89’
DIREÇÃO DIRECTOR
Robert Stone
PRODUÇÃO PRODUCER
Robert Stone, Jim Swartz
e Susan Swartz
ROTEIRO WRITER
Robert Stone
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Robert Stone
EDIÇÃO EDITOR
Don Kelszy
Todos os ambientalistas e ativistas políticos de esquerda
se opõem à energia nuclear, certo? Errado. Nós todos
sabemos que os vazamentos nucleares em Chernobyl,
Three Mile Island e agora Fukushima sinalizam o potencial de um holocausto nuclear global, certo? Errado. E
se tudo o que sabíamos sobre a energia nuclear estivesse errado? E se a energia nuclear for a única fonte
de energia que tem a capacidade de parar as mudanças
climáticas? O ex-crítico da energia nuclear e documentarista Robert Stone examina algumas das crenças
generalizadas sobre os perigos da energia nuclear em
um esclarecedor e fascinante filme.
All environmentalists and left-leaning political activists
oppose nuclear energy, right? Wrong. We all know the
nuclear meltdowns in Chernobyl, Three Mile Island and now
Fukushima signal the potential of a global nuclear holocaust,
right? Wrong. What if everything we knew about nuclear
energy was wrong? What if nuclear power is the only energy
source that has the ability to stop climate change? Former
nuclear energy critic and documentarian Robert Stone
examines some of the widespread beliefs about the dangers
of nuclear energy in an illuminating and riveting film.
energia
energy
71
A Revolução
do Lítio
Terra da
Esperança
The Lithium Revolution
The Land of Hope
Alemanha/ Espanha, 2012, 52’
Em um momento de escassez global de
recursos e aumento dos preços de energia,
o lítio está no caminho para se tornar “o”
recurso natural do século 21. O lítio é a base
para um novo tipo de tecnologia de bateria
e, portanto, um pré-requisito para a propagação de mobilidade eletrônica. Será o lítio
uma resposta para a crise energética iminente e a chave para o futuro?
Japão, 2012, 133’
DIREÇÃO DIRECTOR
Andreas Pichler
e Julio Weiss
PRODUÇÃO PRODUCER
Georg Tschurtschenthaler
ROTEIRO WRITER
Andreas Pichler
e Julio Weiss
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
In a time of global resource shortage and Jakob Stark
increasing energy prices, it is lithium that is on EDIÇÃO EDITOR
the way to becoming „the“ natural resource Christian R. Timmann
of the 21st century. Lithium is the basis for
a new kind of battery technology and thus
a prerequisite for the spreading of electronic
mobility. Is lithium an answer to the imminent
energy crisis and key to the future?
DIREÇÃO DIRECTOR
Sion Sono
PRODUÇÃO PRODUCER
Yuji Sadai, Mizue Kunizane
e Yuko Shiomaki
ROTEIRO WRITER
Sion Sono
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Shigenori Miki
Em uma típica vila japonesa, Yoichi Ono vive com sua
esposa, Izumi e seus pais. A família Ono leva uma vida
simples, mas feliz, como produtores de leite vivendo
nessa pacata vila. Um dia, o pior terremoto da história
causa a explosão de uma usina nuclear próxima. Seus
vizinhos, que vivem dentro do alcance da usina de energia nuclear, são obrigados pelo governo a evacuar a área.
Mas a família Ono tem apenas metade de seu jardim
designado como dentro do alcance. Eles, então, tem que
tomar uma decisão difícil de refugiar-se ou não.
EDIÇÃO EDITOR
Junichi Ito In a typical Japanese village, Yoichi Ono lives with his wife,
ELENCO CAST
Izumi and his parents. The Ono family live a frugal, but happy
Isao Natsuyagi, Naoko life as dairy farmers living in the peaceful village. One day the
Otani e Jun Murakami worst earthquake in history strikes causing a nearby nuclear
power station to explode. Their neighbors, who live within
the range of the nuclear power station, are forcibly ordered to
evacuate by the government. But the Ono family have only half
of their garden designated as within range. They then have to
make a hard decision whether to take refuge or not. energia
energy
73
Povos, lugares e um
mundo em comum
Ana Beatriz Vianna Mendes
povos e
lugares
people and
places
Peoples, places and a
world in common
“O mundo é de quem não sente. A
condição essencial para se ser um
homem prático é a ausência de sensibilidade. A qualidade principal na
prática da vida é aquela qualidade
que conduz à ação, isto é, a vontade. Ora há duas coisas que estorvam a ação — a sensibilidade e o
pensamento analítico, que não é, afinal, mais que o pensamento com
sensibilidade. Toda a ação é, por
sua natureza, a projeção da personalidade sobre o mundo externo, e
como o mundo externo é em grande
e principal parte composto por entes
humanos, segue que essa projeção
da personalidade é essencialmente o
atravessarmo-nos no caminho alheio,
o estorvar, ferir e esmagar os outros,
conforme o nosso modo de agir.
Ana Beatriz Vianna Mendes
“The world belongs to those
who don’t feel. The essential
condition for being a practical man
is the absence of sensibility. The
chief requisite for the practical
expression of life is will, since this
leads to action. Two things can
thwart action – sensibility and
analytic thought, the latter of which
is just thought with sensibility. All
action is by nature the projection of
our personality on to the external
world, and since the external world
Para agir é, pois, preciso que nós não figuremos com facilidade as personalidades alheias,
as suas dores e alegrias. Quem simpatiza para.
O homem de ação considera o mundo externo
como composto exclusivamente de matéria
inerte — ou inerte em si mesma, como uma
pedra sobre que passa ou que afasta do caminho; ou inerte como um ente humano que, porque não lhe pôde resistir, tanto faz que fosse
homem como pedra, pois, como à pedra, ou
se afastou ou se passou por cima.” – Fernando
Pessoa. In: ‘O Livro do Desassossego’
A partir dos documentários selecionados para a sessão Povos e Lugares da Mostra
Ecofalante de 2014, outra não é nossa sensação senão a de reflexão e perplexidade diante
povos e lugares
people and places
75
Homens e mulheres que
com seus modos próprios de
conceber o mundo e de lidar
com o ambiente, nos mostram
como são ricas e plurais as
possibilidades de conferir
significado à vida e ao mundo.
da condição humana, do relacionamento dos
homens entre si e de seu relacionamento com
o Planeta Terra.
Nos vários lugares que passamos a conhecer por meio dos filmes, apreciamos algumas
das agruras e satisfações de homens e mulheres que, com seus modos próprios de conceber
o mundo e de lidar com o ambiente, nos mostram como são ricas e plurais as possibilidades
de conferir significado à vida e ao mundo.
Essa imensa diversidade de povos e seus
lugares, da qual temos aqui apenas uma
pequena mas rica amostra, muitas vezes refletida e reflexo da variedade espetacular das línguas existentes (só no Brasil, estimam-se
274 línguas indígenas faladas atualmente –
IBGE, 2010; e, no mundo, pelo menos 6.000
Vila no Fim do Mundo Village at the End of the World
is largely and firstly made up of
human beings, it follows that this
projection of personality is basically
a matter of crossing other people’s
path, of hindering, hurting or
overpowering them, depending on
the form our action takes. To act,
then, requires a certain incapacity
for imagining the personalities of
others, their joys and sufferings.
Sympathy leads to paralysis. The
man of action regards the external
world as composed exclusively of
inert matter – either intrinsically
inert, like a stone he walks on or
kicks out of his path, or inert like a
human being who couldn’t resist
him and thus might as well be a
stone as a man since, like a stone,
he was walked on or kicked out of
the way.” – Fernando Pessoa. In:
“O livro do Desassossego”(The
Book of Disquiet)
From selected documentaries for
the Peoples and Places Session
at Ecofalante Film Festival
2014, our sense is not more
than a reflection and perplexity
on the human condition, the
relationship among men and
their relationship with the Earth.
In several places we came to
know through the movies, we
enjoyed some of the travails
and satisfactions of men and
women who with their own ways
of conceiving the world and
dealing with the environment,
show us how rich and plural
are the ways of giving meaning
to life and to the world.
This vast diversity of peoples and
their places, of which we have
here only a small but rich sample,
often reflected and reflecting
the spectacular range of existing
languages (just in Brazil there are
Men and women who with their own ways of conceiving the
world and dealing with the environment, show us how rich and
plural are the ways of giving meaning to life and to the world.
– Summer Institute of Linguistics, Texas, 1995),
denota, em muitos casos, um saber profundo e
respeitoso em relação ao ambiente. Este saber,
no entanto, ao contrário do que às vezes pode
parecer, não está baseado necessariamente
numa condição de isolamento de povos e seus
lugares em relação a outros lugares e centros
de poder. São muitos os laços que ligam esses
povos e comunidades ao mundo.
Isso fica claro, por exemplo, no caso do
filme com o sugestivo título de Vila no Fim
do Mundo (Village at the End of the World). A
decisão do governo de fechamento da fábrica
de peixes na longínqua vila Inuit de Niaqornat,
na Groelândia, uma comunidade habitada por
apenas 59 pessoas, instaura um drama que diz
respeito à possibilidade da vila ter que ser abandonada pelos seus moradores em decorrência
da falta de trabalho.
Outro documentário que retrata os povos
Inuit, e este trazendo um recorte histórico mais
amplo e com um escopo político mais claro, é
Defensores do Ártico (Arctic Defenders). Ele trata
justamente da união e mobilização social dos
povos Inuit, de diversos lugares, para terem
reconhecidos os seus direitos de soberania
diante do Estado Canadense. Apenas unidos
eles poderiam conseguir tal façanha.
Outro caso que aparentemente denota uma
situação de isolamento, mas que em realidade
nos mostra justamente a conexão deste lugar
around 274 indigenous languages
spoken today - IBGE , 2010; and in
the world, at least 6,000 - Summer
Institute of Linguistics, Texas,
1995) indicates, in many cases, a
profound and respectful knowledge
towards the environment. This
knowledge, however, contrary to
what sometimes may seem, is not
necessarily based on a condition
of isolation of peoples and their
locations regarding other locations
and power centers. There are many
ties that bind these peoples and
communities to the world.
This is clear, for example, in the
case of the film with the suggestive
title of Vila no fim do mundo
(Village at the End of the World).
The government’s decision to close
the fish factory in remote Inuit
village of Niaqornat, in Greenland,
an inhabited community for only
59 people, introducing a drama
that concerns the possibility of the
village having to be abandoned by
its residents due to the lack of job.
Another documentary that
portrays the Inuit peoples, and this
was supposed to bring a historical
view and with a wider and clearer
political scope, is Defensores
do Ártico (Artic Defenders). It is
precisely the union and social
mobilization of the Inuit peoples,
from different places, in order to
have their rights of sovereignty
recognized by the Canadian State.
Only together they could achieve
such a feat.
povos e lugares
people and places
77
com o mundo, é Floresta dos espíritos dançantes (Forest of the Dancing Spirits). O documentário mostra uma comunidade de pigmeus do
Congo, com cosmologia, conhecimento sobre o
meio e dinâmicas sociais e espirituais próprias,
cujos sentimentos e crenças são apresentados
pela diretora [Linda Västrik] de modo dramático, num mundo povoado por espíritos, especialmente a partir da narrativa de um casal que
não consegue dar à luz uma criança viva. Mas,
sorrateiramente, ficamos sabendo de mudanças que ocorrem no contexto da aldeia e que
terão impacto incomensurável sobre a tribo.
Finalmente, em Um Rio Muda de Curso (A
River Changes Course), acompanhamos uma
família pescadora e agricultora do Camboja e
Defensores do Ártico Arctic Defenders
Um Rio Muda de Curso A River Changes Course
Another case that apparently
denotes a situation of isolation, but
in reality just shows the connection
of this place with the world, is
Floresta dos espíritos dançantes
(Forest of the Dancing Spirits).
The documentary shows a very
social and spiritual community
of pygmies in Congo with
cosmology, knowledge about the
environment and dynamics, whose
feelings and beliefs are presented
by the director (Linda Västrik)
dramatically, in a world populated
by spirits, especially from the
narrative of a couple who could
not give birth to a living child. But
surreptitiously we get to know the
changes that happen in the context
of the village and that will have
immeasurable impact on the tribe .
Finally, in Um Rio muda de lugar
(A River Changes Course), we
follow a fisherman and farmer
family from Cambodia and the
various networks of influence
that permeate the decisions and
options for staying or leaving
their places. Due to the lack of
land (which has been bought by
entrepreneurs), or the lack of
fish (whose scarcity is due to the
predatory activities of large fishing
companies) , or even by debt
(contracted for the maintenance
of agriculture), these people
move in search of work in the
closest cities and even in other
countries, confronting difficulties
and dilemmas about the strategies
for the family survival and place
remaining for them.
In these four documentaries
there are implicit relations of
knowledge and respect for the
environment that have been
threatened by the arrival of
Floresta dos Espíritos Dançarinos Forest of the Dancing Spirit
as várias redes de influência que permeiam as
decisões e suas opções por permanecerem ou
saírem de seus lugares. Seja pela falta de terra
(que tem sido comprada por empresários), seja
pela falta de peixe (cuja escassez é decorrente
da atuação predatória das grandes empresas de
pesca), ou seja ainda pelo endividamento (contraído em prol da manutenção da agricultura),
essas pessoas circulam em busca de trabalhos
na cidade mais próxima e mesmo em outros países, confrontando dificuldades e dilemas sobre
as estratégias de sobrevivência da família e de
permanência no lugar.
Nesses quatro documentários estão implícitas relações de conhecimento e de respeito
em relação ao ambiente que têm sido ameaçadas pela chegada de grandes empresas ou
large companies or so-called
‘development’, in contexts that, in
good measure, are related to the
phenomenon of globalization .
The dangers of entering an
unknown territory are extensively
narrated in conversations and
testimony of fishermen from
the Galicia neighborhood, in the
movie Costa da Morte (Coast of
Death). In a landscape already
marked by huge windmills wind
power, eucalyptus farms, quarrying
and fishing in large scale, with
harbors carrying goods of every
kinds, there are still maritime
processions, cavalcades, campsites
in the mountains, craft hunters
and fishermen. It is precisely these
fishermen the main narrators of
the various stories of shipwreck
that occurred over the years in the
dangerous coast of death, and they
are also catching a real fight with
the sea in order to ensure their
livelihoods .
Still on the theme of the struggle
for survival, perhaps the most
disturbing film is the short film
Homem Máquina (Machine
Man). What does it mean for
us, as humanity, to know that
we share the world today with
people as the ones portrayed
in different stunning and work
povos e lugares
people and places
79
do chamado ‘desenvolvimento’, em contextos
que, em boa medida, se relacionam ao fenômeno da globalização.
Os perigos de se adentrar num território desconhecido são extensivamente narrados nas conversas e depoimentos de pescadores da região da
Galícia, no filme Costa da Morte (Coast of Death).
Numa paisagem já marcada por enormes cataventos de energia eólica, por exploração de eucalipto, de pedreiras e de pesca de larga escala, com
portos transportando produtos de todos os tipos,
encontram-se ainda procissões marítimas, cavalgadas, campings nas montanhas, caçadores e
pescadores artesanais. São justamente estes pescadores os narradores principais das várias histórias de naufrágio que ocorreram ao longo dos
anos na perigosa Costa da Morte; e são eles também que travam uma verdadeira luta com o Mar
para garantir seus sustentos.
Ainda na temática da luta pela sobrevivência, talvez o filme mais inquietante seja o curta-metragem Homem Máquina (Machine Man). O
que significa para nós, enquanto humanidade,
saber que partilhamos o mundo, ainda hoje,
com pessoas como as retratadas nas diversas e
atordoantes situações de trabalho análogas à de
escravidão, na Índia contemporânea? Trata-se,
como os depoimentos dos personagens e o próprio título revelam, de uma desumanização desses homens e mulheres, submetidos a jornadas
de trabalho de mais de doze horas diárias. É
situations analogous to slavery
in contemporary India? It is, as
the statements of characters
and the very title reveals, a
dehumanization of these men
and women subjected to more
than twelve labor hours daily. It’s
like watching Tempos Modernos
(Modern Times), of Charles
Chaplin (1936), re-actualized and
transformed, he, the man himself,
in machine.
All of these situations made me
think, resuming the argument
from the beginning, in the
relations among men to each
other and to the Earth. In order
to foster reflection, as a sort
of broader contextualization
of the problem, it is worth
thinking whether the promises
of modernity to ensure peace,
prosperity and health to all
mankind, from reason and
science, have been met .
What many of these
documentaries show is not just
about trying to create mechanisms
to regulate the relations of men
among themselves, a task that
has been debated for a long time,
Costa da Morte Coast of Death
Homem Máquina Machine Man
como ver Tempos Modernos, de Charles Chaplin
(1936), reatualizado e, transformado, ele, o próprio homem, em máquina.
Todas essas situações me fizeram pensar,
retomando o argumento do início, nas relações
que os homens travam entre si e com o planeta Terra. Para avançar na reflexão, como uma
espécie de contextualização mais ampla do problema, vale pensar se as promessas da modernidade de garantir a paz, a prosperidade e a saúde
a toda humanidade, a partir da razão e da ciência, foram cumpridas.
O que muitos desses documentários mostram é que não se trata apenas de tentar criar
mecanismos que regulem as relações dos
homens entre si, tarefa há muito tempo debatida, embora a violência, o desrespeito e a desumanização ainda sejam práticas comuns. É
preciso também, de forma urgente, pensar num
pacto que regule a relação dos homens com o
planeta Terra, numa escala global (Serres, 1991;
Santos, 2007)1.
Ainda que tal debate esteja ocorrendo de
forma mais concreta desde pelo menos a
Conferência de Estocolmo, em 1972, os filmes demonstram os reflexos da voracidade de
alguns homens ou povos sobre outros povos,
bem como sobre o Planeta Terra. Tal voracidade é propiciada, em grande medida, pela
maior capacidade de ação sobre a Terra e também sobre os homens; sendo que os impactos
dessas ações raramente podem ser calculados.
although violence, disrespect and
dehumanization are still common
practice. We must also urgently
think about a pact that governs our
relationships with the planet Earth,
on a global scale (Serres, 1991;
Santos, 2007)1 .
Although the debate is taking
place in a more concrete form since
at least the Stockholm Conference
in 1972, the films demonstrate the
effects of the greed of a few men
or people on other peoples and on
Planet Earth. Such greed is fostered
largely by a higher capacity of
action on Earth and on men, and
the impacts of these actions can
seldom be calculated .
The already recognized
and valued knowledge and
indigenous people and traditional
communities around the world
- at least since the Convention
on Biological Diversity, signed
by 175 countries in 1992 - is only
one aspect of the matter. But
perhaps it is a crucial aspect.
Considering the increasingly broad
and widely recognized need for
a new covenant with the human
planet, perhap it is precisely these
varied traditional peoples who
povos e lugares
people and places
81
A pergunta passa a ser então
se é possível fazer um pacto
que seja includente em
relação aos vários mundos
existentes no Planeta Terra.
documentários A Criação Como a Vimos (The
Creation as WeSaw It), que aposta numa experiência sonora arrojada e descreve a cosmologia
de um povo do sul do Pacífico; e o já mencionado Floresta dos Espíritos Dançarinos (Forest
of The Dancing Spirits), o fato de estarmos no
mesmo planeta não garante que estejamos, de
fato, tratando sobre as mesmas coisas.
A pergunta passa a ser então se é possível
fazer um pacto que seja includente em relação
aos vários mundos existentes no Planeta Terra.
The question then becomes
whether it is possible to
make a pact to be fully
inclusive in relation to the
various worlds featured
on Planet Earth .
Ana Beatriz Vianna Mendes é antropóloga,
O já reconhecido e valorizado conhecimento
de povos e comunidades indígenas e tradicionais ao redor do mundo - desde pelo menos a
Convenção sobre a Diversidade Biológica, assinada por 175 países, em 1992 – é apenas um dos
aspectos da questão. Mas talvez seja um aspecto
crucial. Levando em consideração a necessidade
cada vez mais ampla e extensamente reconhecida de um novo pacto humano com o planeta,
talvez sejam precisamente esses variados povos
tradicionais os que estejam mais próximos de
uma resposta plausível para esta crise civilizatória que atravessamos. Entretanto, como
o demonstram de maneira mais evidente os
are closer to a plausible answer
to this civilization crisis we are
experiencing. However, as shown
more evidently the documentaries
A Criação Como a Vimos (The
Creation as We Saw It), which
focuses on bold sound experience
and describes the cosmology of
people of the South Pacific, and
the afore mentioned Floresta dos
Espíritos Dançantes (Forest of The
Dancing Spirits), the fact that we
are on the same planet does not
guarantee that we are indeed
dealing with the same things .
The question then becomes
whether it is possible to make a
pact to be fully inclusive in relation
to the various worlds featured on
Planet Earth .
Ana Beatriz Vianna Mendes is an
anthropologist, Professor of Anthropology
at the Federal University of Minas Gerais
and part of the Research Group on Environmental Issue (GESTA / UFMG) and
of the Research Group Town and Otherness : urban multicultural coexistence and
justice (UFMG/CES - Coimbra) .
A Criação Como a Vimos The Creation as WeSaw It
professora do Departamento de Antropologia da
Universidade Federal de Minas Gerais e participa do
Grupo de Pesquisa em Temáticas Ambientais (GESTA/
UFMG) e do Grupo de Pesquisa Cidade e Alteridade:
convivência multicultural e justiça urbana (UFMG/
CES-Coimbra).
Legislação comentada/pertinente
BRASIL, 2007. Decreto n° 6.040. Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.
BRASIL, 2005. Decreto n° 5.051, de 19 de abril de 2004, promulga a Convenção n°169 da
Organização Internacional do Trabalho.
BRASIL, 1998. Decreto n° 2.519, de 16 de março de 1998. Promulga a Convenção sobre
Diversidade Biológica.
Commented / relevant legislation
BRAZIL, 2007. Decree No. 6,040. Establishing the National Policy for the Sustainable
Development of Traditional Peoples and Communities .
BRAZIL, 2005. Decree No. 5,051, of April 19, 2004. Promulgating the Convention 169 of
the International Labor Organization.
BRAZIL, 1998. Decree No. 2,519, of March 16, 1998. Promulgates the Convention on
Biological Diversity.
povos e lugares
people and places
83
Costa da Morte
A Criação
Como a Vimos
Coast of Death
Espanha, 2013, 81’
Costa da Morte é uma região no noroeste da Galícia,
que foi considerada como o fim do mundo durante o
período romano. Seu nome dramático vem dos inúmeros naufrágios que aconteceram ao longo da história
nesta área feita de rochas, névoa e tempestades.
Atravessamos esta terra observando as pessoas que
a habitam, pescadores, coletores de mariscos, madeireiros... Testemunhamos artesãos tradicionais que
mantêm tanto uma relação íntima quanto uma batalha
antagônica com a vastidão do território. O vento, as
pedras, o mar, o fogo, são personagens deste filme, e
através deles nos aproximamos do mistério da paisagem, entendendo-a como um conjunto unificado com o
homem, sua história e lendas.
The Creation As We Saw It
Reino Unido, 2012, 14’
DIREÇÃO DIRECTOR
Lois Patiño
PRODUÇÃO PRODUCER
Felipe Lage Coro e Martin Pawley
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Lois Patiño
EDIÇÃO EDITOR
Lois Patiño
Três histórias míticas da República de Vanuatu, uma
ilha-nação localizada no Oceano Pacífico Sul, sobre a oriBen Rivers gem dos seres humanos, porque os porcos caminham
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER de quatro, e porque um vulcão fica onde ele se encontra.
DIREÇÃO DIRECTOR
Ben Rivers
EDIÇÃO EDITOR
Three mythical stories from the Republic of Vanuatu, an
Ben Rivers island nation located in the South Pacific Ocean, concerning
the origin of humans, why pigs walk on all fours, and why a
volcano sits where it does.
Costa da Morte is a region in the northwest of Galicia,
which was considered as the end of the world during the
Roman period. Its dramatic name comes from the numerous
shipwrecks that happened along history in this area made
of rocks, mist and storms. We cross this land observing the
people who inhabit it, fishermen, gatherers of shellfish,
loggers... We witness traditional craftsmen who maintain
both an intimate relationship and an antagonistic battle
with the vastness of this territory. The wind, the stones, the
sea, the fire, are characters in this film, and through them we
approach the mystery of the landscape, understanding it as a
unified ensemble with man, his history and legends.
povos e lugares
people and places
85
Defensores
do Ártico
Arctic Defenders
Canadá, 2013, 90’
Defensores do Ártico conta a notável história iniciada
em 1968 com um movimento radical Inuit que mudaria o cenário político para sempre. Ele levou à maior
reivindicação de terras da história da civilização ocidental, orquestrada pelos jovens visionários Inuit com
um sonho: a governança do seu território - a criação de
Nunavut. A história revela o lado obscuro da ameaça
do Canadá à soberania no norte e encontra esperança e
inspiração a partir da determinação Inuit que mudou as
regras do jogo.
DIREÇÃO DIRECTOR
John Walker
PRODUÇÃO PRODUCER
Alethea Arnaquq-Baril,
Charles Konowal, e John
Walker
ROTEIRO WRITER
John Walker
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Charles Konowal, e John
Arctic Defenders tells the remarkable story that began Walker
in 1968 with a radical Inuit movement in Canada, that EDIÇÃO EDITOR
would change the political landscape forever. It led to the Jeff Warren
largest land claim in western civilization, orchestrated by
young visionary Inuit with a dream - the governance of their
territory - the creation of Nunavut. The story reveals the
dark side of Canada’s attempt at sovereignty in the north
and finds hope and inspiration from determined Inuit who
changed the rules of the game.
povos e lugares
people and places
87
Floresta dos
Espíritos
Dançarinos
Homem
Máquina
Machine Man
Espanha, 2011, 15’
Forest of the Dancing Spirits
Canadá / Suécia, 2013, 104’
Akaya, Kengole, Dibota e seus amigos e família são
caçadores-coletores (e também grandes contadores
de histórias), que nos guiam através do seu mundo na
floresta tropical da bacia do Congo. Eles explicam suas
origens, mitos e o sentido bastante espiritual que dão à
vida. O filme acompanha a singular vida comunitária do
grupo ao longo de muitos anos. Nós testemunhamos
a prática de sua espiritualidade nas situações mais difíceis. Sua religião é lúdica e muito criativa para lidar com
as questões profundamente sérias da vida e da morte, e
pode ser a mais antiga religião praticada hoje.
Akaya, Kengole, Dibota and their friends and family are
hunters-gatherers (and also great story-tellers) who guide
us through their world in Congo Basin rainflorest. They
explain their origins, myths, and the very spiritual meaning
of life. The film follows their unique community life as it
unfolds over many years. We experience the practice of their
spirituality in the most difficult situations. Their religion is
playful and highly creative in dealing with deeply serious
matters of life and death, and may be the oldest human
religion practiced on earth today.
DIREÇÃO DIRECTOR
Linda Västrik
PRODUÇÃO PRODUCER
Linda Västrik e Mila
Aung-Thwin
ROTEIRO WRITER
Linda Västrik
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Linda Västrik
EDIÇÃO EDITOR
Fredrik Alneng
DIREÇÃO DIRECTOR
Roser Corella
e Alfonso Moral
PRODUÇÃO PRODUCER
Roser Corella
e Alfonso Moral
Uma reflexão sobre a modernidade e o
desenvolvimento global. Homens como
máquinas. O uso da força física humana para
realizar trabalhos no século XXI. O filme se
passa na capital de Bangladesh, Daca, onde
uma massa de milhões de pessoas tornou-se
a força motriz por trás da cidade.
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Alfonso Moral A reflection on modernity and global
EDIÇÃO EDITOR
development. Men as machines. The use of
Roser Corella human physical force to perform work in the
XXI Century. The film takes place in the capital
of Bangladesh, Dhaka, where a mass
of millions of people become the
driving force behind the city.
povos e lugares
people and places
89
Vila no Fim
do Mundo
Um Rio
Muda de Curso
Village at the
End of the World
A River Changes Course
Camboja/ EUA, 2012, 83’
Reino Unido, 2013, 76’
Duas vezes por ano no Camboja, o rio Tonle Sap muda
de curso, enquanto o rio da vida flui em um ciclo perpétuo de morte e renascimento e de criação e destruição.
Trabalhando em um estilo íntimo, Kalyanee Mam passou
dois anos em sua terra natal acompanhando três jovens
cambojanos lutando para superar os efeitos esmagadores do desmatamento, sobrepesca e da dívida opressiva.
DIREÇÃO DIRECTOR
Kalyanee Mam
PRODUÇÃO PRODUCER
DIREÇÃO DIRECTOR
Sarah Gavron Niaqornat, no Noroeste da Groenlândia, tem uma populae David Katznelson ção de 59 pessoas. Se a população cair abaixo de 50, a vila
perde seus subsídios dinamarqueses e corre o risco de ter
Kalyanee Mam
e Ratanak Leng
Al Morrow e Helle Faber todos os seus habitantes transferidos para a cidade mais
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Kalyanee Mam
EDIÇÃO EDITOR
Twice a year in Cambodia, the Tonle Sap River changes Chris Brown
course, while the river of life flows in a perpetual cycle of
death and rebirth and of creation and destruction. Working
in an intimate, verite style, Kalyanee Mam, spent two years
in her native homeland following three young Cambodians
struggling to overcome the crushing effects of deforestation,
overfishing, and overwhelming debt.
PRODUÇÃO PRODUCER
próxima. Sabemos que existem pressões latentes em um
David Katznelson lugar como este - o gelo está derretendo, o governo não
EDIÇÃO EDITOR
quer mais subsidiar o navio de abastecimento que traz o
Jerry Rothwell, alimento que não pode ser caçado, e as pessoas estão parRussell Crockett tindo devido à falta de trabalho. O filme reflete os dilemas
e Hugh Williams da maioria das pequenas comunidades de todo o mundo,
retratando um dos lugares mais remotos da Terra.
Niaqornat in North West Greenland has a population of
59, if the population falls below 50 then the village loses its
Danish subsidies and there is a danger of the entire village
being relocated to the nearest town. We know that there are
very real pressures on a place like this – the ice is melting,
the government no longer wants to subsidise the supply
ship that brings the food that can’t be hunted locally, and
people are leaving due to the lack of work. Ultimately it’s a
film that reflects the dilemmas of most small communities
all over the world, this one just happens to be in one of the
remotest spots on earth.
povos e lugares
people and places
91
Marca d’Água
Watermark
Canadá, 2013, 90’
especial
dia da água
water day special program
DIREÇÃO DIRECTOR
Jennifer Baichwal e
Edward Burtynsky
PRODUÇÃO PRODUCER
Nicholas de Pencier
ROTEIRO WRITER
Jennifer Baichwal
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Todo ser vivo necessita de água. Nós, humanos, interagimos com ela em uma miríade de formas, várias vezes ao
dia. Mas com que frequência consideramos a complexidade dessa interação? E, exceto quando confrontado
por sua escassez, quando meditamos sobre sua onipresença na criação, manutenção e enriquecimento da vida?
Marca d’Água reúne diversas histórias de todo o mundo
sobre nossa relação com a água: como somos atraídos
a ela, o que podemos aprender com ela, como a utilizamos e as consequências dessa utilização.
Nicholas de Pencier
EDIÇÃO EDITOR
Every living thing requires water. We humans interact with
Roland Schlimme it in a myriad of ways, numerous times a day. But how
often do we consider the complexity of that interaction?
And, unless confronted by scarcity, when do we meditate
on its ubiquity in creating, sustaining and enriching life?
Watermark brings together diverse stories from around
the globe about our relationship with water: how we are
drawn to it, what we learn from it, how we use it and the
consequences of that use.
Paulicéia Canta,
TY-ETÊ!
Paulicéia Sings, TY-ETÊ!
DIREÇÃO DIRECTOR
Céu D’Ellia
Tendo como palco o principal rio da cidade de
São Paulo, o Rio Tietê, vemos como a arte pode
despertar a vida.
PRODUÇÃO PRODUCER
Céu D’Ellia With Tietê, the main river in the city of São Paulo,
ROTEIRO WRITER
as a stage, we witness how art can awaken life.
Roney Freitas
Marca d’Água Watermark
especial dia da água
water day special
93
competição
latinoamericana
latin american
competition
In its third edition, the Ecofalante
Environmental Film Festival will reward
the best Latin American movie.
More than one hundred productions
were received, from almost all Latin
American countries, and 13 among
these were selected and will be
on display during the festival.
There are movies from Mexico,
Argentina, Uruguay, Peru, Bolivia, Ecuador
and Brazil. A jury of three experts in the
audiovisual and environmental sector
will select the best production, which will
be awarded at the end of the festival.
The Competitive festival aims at
encouraging Latin American production,
promoting integration and exchange
among the filmmakers and becoming a
space for these encounters to happen.
Em sua terceira edição, a Mostra
Ecofalante de Cinema Ambiental vai
premiar o melhor filme latino-americano. Foram recebidas mais de 100
produções, vindas de quase todos os
países da América Latina. Deste total,
13 foram selecionadas e estarão em
exibição durante a Mostra.
Há filmes do México, da Argentina, do Uruguai,
do Peru, da Bolívia, do Equador e do Brasil. Um
júri formado por três especialistas do setor audiovisual e ambiental selecionará a melhor produção,
que será premiada ao final da Mostra.
A Mostra Competitiva objetiva incentivar a
produção latino-americana, promover a integração e o intercâmbio entre os realizadores, tornando-se espaço para este encontro.
competição latino-americana
latin american competition
95
Júri
Evaldo Mocarzel
Evaldo Mocarzel tem
54 anos e nasceu no dia 9
de fevereiro de 1960 em
Niterói, no Estado do Rio
de Janeiro. Formou-se
em Cinema e Jornalismo
na Universidade Federal
Fluminense, no Rio, em
1982. Foi editor de cultura do jornal O Estado
de S. Paulo durante oito anos. Realizou os
seguintes filmes: “Retratos no Parque” (1999);
“À Margem da Imagem” (curta 2002 e longa
2003); “Mensageiras da Luz - Parteiras da
Amazônia” (curta e longa 2004); “Primeiros
Passos” (2005); “Do Luto à Luta” (2005); “À
Margem do Concreto” (2006); “Jardim Ângela”
(2007); “O Cinema dos Meus Olhos” (2007);
“Brigada Pára-quedista” (2007), “Sentidos à Flor
da Pele” (2008), “À Margem do Lixo” (2008),
“BR-3 (a peça) e “BR-3 (o documentário)”
(2009), “Quebradeiras” (2009), “Cinema de
Guerrilha” (2010), “São Paulo Companhia de
Dança” (2010), “Cuba Libre” (2011), “A Última
Palavra é a Penúltima” e “Hysteria” (2012),
e “Antártica” e “Dizer e Não Pedir Segredo”
(2013). Como dramaturgo, escreveu as seguintes peças:”É o Bicho - A Ordem Natural das
Coisas” (infantil com direção de Rosi Campos e
Cláudia Borioni em 2003), “RG” (encenada por
José Renato em 2004), “A Caçada” (ainda inédita), “Tragicomédia de um Homem Misógino”
(encenada por André Guerreiro Lopes em
2009), “Kastelo” (livre adaptação da obra de
Kafka, com encenação do Teatro da Vertigem
em 2010), “A Conquista da Peste” (também
ainda inédita), “Satyricon” (livre adaptação da
obra de Petrônio com encenação do grupo Os
Satyros) e “Fome de Notícia” (que foi encenada
em 2013 no Centro Cultural São Paulo com
direção de Maurício Perussi).
Evaldo Mocarzel
Evaldo Mocarzel is 54 years old and was born
on February 9, 1960 in Niterói, Rio de Janeiro.
He graduated in Film and Journalism at the
Fluminense Federal University in Rio in 1982.
He was the Culture editor on the newspaper O
Estado de São Paulo for eight years.
He has made the following films: Retratos
no Parque, 1999 (Portraits in the Park); À
Margem da Imagem, short in 2002 and
feature in 2003 (Aside of the Picture);
Mensageiros da Luz - Parteiras da Amazônia,
short and feature in 2004 (Messengers
of Light - Amazon Midwives); Primeiros
Passos, 2005 (First Steps); Do Luto à Luta,
2005 (From Grief to Fight); À Margem do
Concreto, 2006 (Aside the Concrete); Jardim
Angela, 2007; O Cinema dos Meus Olhos,
2007 (The Cinema of My Eyes); Brigada
Páraquedista, 2007 (Paratrooper Brigade);
Sentidos à Flor da Pele, 2008 (Senses on
the Edge); À Margem do Lixo, 2008 (Aside
the Trash); BR-3, 2009 (the play and the
documentary); Quebradeiras, 2009; Cinema
de Guerrilha (Guerrilla Cinema, 2010); São
Paulo Companhia de Dança, 2010 (São Paulo
Dance Company); Cuba Libre, 2011; A Última
Palavra é a Penúltima (The Last Word is
the Penultimate One)” and Hysteria, 2012,
Antarctica and Dizer e não Pedir Segredo (Say
and Do not Ask for Secrecy) in 2013.
As a playwright wrote the following plays:
Ė o Bicho - A Ordem Natural das Coisas (It’s
the Bug - The Natural Order of Things, a kids
play directed by Rosi Campos and Claudia
Borioni in 2003); RG (ID, directed by José
Renato in 2004); A Caçada (The Hunt, still
unpublished); Tragicomédia de um Homem
Misógeno (Tragicomedy of a Misogynist
Man, directed by André Guerreiro Lopes in
2009); Kastelo (free adaptation of Kafka’s
work, staged in the Vertigo Theatre in 2010),
A Conquista da Peste (The Pest Conquest,
also still unpublished); Satyricon (free
adaptation of the play from Petronius staged
Paulina Chamorro
Paulina Chamorro é
jornalista, chilena, formada no Brasil. Com
experiência no tema
meio ambiente há mais
de 15 anos, trabalhou
como pauteira, produtora, repórter e apresentadora na Radio Eldorado AM e FM, foi
assessora de comunicação da Reserva da
Biosfera da Mata Atlântica (programa MaB/
UNESCO) e coordenadora de comunicação
da Rede Brasileira de Reservas da Biosfera.
Foi correspondente no Brasil para questões
ambientais do programa de rádio Ventana
al Mundo, produzido em espanhol pela
Teleproductions Internacional (sediada em
Washington-EUA) e distribuído para mais de
90 emissoras da América Latina e Caribe. Foi
editora, produtora e repórter do projeto Mar
Sem Fim, que por dois anos veiculou na TV
Cultura e TVE-RJ 90 capítulos sobre a costa
brasileira, mostrando a viagem da equipe do
Oiapoque ao Chuí. Hoje é editora de meio
ambiente e apresentadora de programas
nas Rádios Eldorado e Estadão, emissoras do
Grupo Estado. É diretora da empresa Andina
Comunicação, onde desenvolve conteúdos
em plataformas variadas.
Fabio Luiz Vasconcelos
Formado em ciências biológicas, com
especialização em gestão ambiental pela
Universidade de São Paulo, mestrando pela
Universidade Estadual de Campinas, com
estudos nas áreas de tecnologia da informação, comunicação e educação ambiental.
Atua há 15 anos na área socioambiental e atualmente coordena o programa de Educação
para a Sustentabilidade do Sesc SP.
by the Satyros Group) and Fome de Notícias
(Hungry for News, which was staged in 2013
at the Centro Cultural São Paulo directed by
Maurice Perussi).
Paulina Chamorro
Paulina Chamorro is a Chilean journalist,
graduated in Brazil . With experience in the environmental theme for over 15 years, Chamorro worked as an assignment editor, producer,
reporter and presenter at Radio Eldorado AM
and FM, was also a communication advisor
for the Atlantic Forest Biosphere (MAB Programme / UNESCO ) and the communications coordinator for the Brazilian Network of
Biosphere Reserves. She was a correspondent
in Brazil for environmental issues on the radio
program “Ventana al Mundo”, produced in
Spanish by the Teleproductions International
(based in Washington, USA) and distributed
to over 90 broadcasters in Latin America and
the Caribbean. She was editor, producer and
reporter for the Endless Sea project, which ran
for two years on TV Cultura and TVE RJ - 90
chapters on the Brazilian coast, showing the
journey of the team from Oiapoque to Chuí.
Nowadays Chamorro is the environmental editor and presenter at radio programs on the Radio Eldorado and Radio Estadão, broadcasters
of the Estado Grupo. She is a director of Andina Communicação, which develops content
for various platforms.
Fabio Luiz Vasconcelos
Fabio Luiz Vasconcelos
graduated in biological
sciences with specialization in environmental
management at the University of Sao Paulo, has a
master’s degree from the
Campinas State University and has also taken
courses in information technology, communication and environmental education. He has
been working for 15 years in the environmental area and currently coordinates the Education for Sustainability Program at SESC SP.
competição latino-americana
latin american competition
97
74 Metros
Quadrados
Amazônia
Desconhecida
74 Square Meters /
74 Metros Cuadrados
Unknown Amazon
Brasil, 2013, 71’
Chile/EUA, 2013, 67’
Iselsa e Cathy decidem participar de um projeto concebido por líderes em arquitetura social, que lhes dará
sua casa própria e os integrará em um bairro de classe
média. A câmera observa ao longo de sete anos: os
recursos escassos, um bairro que os rejeita, problemas
na construção, e os desastres que as chuvas trazem. A
maior dificuldade será superar a divisão da comunidade.
DIREÇÃO DIRECTOR
Paola Castillo
e Tiziana Panizza
PRODUÇÃO PRODUCER
Tiziana Panizza
e Soledad Silva
ROTEIRO WRITER
Paola Castillo
e Tiziana Panizza
Iselsa and Cathy decided to take part in a project designed FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
by leaders in social architecture, which will grant them their Eduardo Cruz-Coke
own home, and will integrate them into a middle class e Pablo Valdés
neighborhood. The camera observed over 7 years: the scarce EDIÇÃO EDITOR
resources, a neighborhood that rejects them, problems in the Andrea Chignoli
construction, and the disasters the rains bring. The hardest
thing will be to overcome the community’s division.
DIREÇÃO DIRECTOR
A Amazônia é um dos lugares mais famosos do mundo
Daniel Augusto e e, curiosamente, um dos menos conhecidos. Em meio
Eduardo Rajabally a tanta desinformação, o documentário se propõe uma
PRODUÇÃO PRODUCER
difícil missão: buscar as inúmeras verdades existentes,
Fernando Dias, derrubando mitos e levando ao público um retrato mais
Maurício Souza Dias, fiel da maior floresta tropical do planeta.
Caio Gullane e Fabiano Gullane
ROTEIRO WRITER
The Amazon is one of the most famous places in the world
Daniel Augusto, Luiz Bolognesi and, curiously, one of the least known. The documentary
e Eduardo Rajabally has a difficult mission: to search for the existent truths,
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
understanding some myths and bringing to the public
Dado Carlín, Mauro Martins, a more solid portrait of the biggest tropical forest in the
Rodrigo Menck, Maurício Tibiriçá planet.
e Carlos Jay Yamashita
EDIÇÃO EDITOR
Daniel Augusto,
Alessandra Iglesias,
Paulo Mattos, Veri Ravizza e
Renata Terra
competição latino-americana
latin american competition
99
Apocalipse
de Verão
Chapada do Apodi,
Morte e Vida
Summer Apocalypse
Apodi’s Plateau, Death and Life
Brasil, 2013, 15’
Brasil, 2013, 27’
Rio de Janeiro, 45° C, praias lotadas: Apocalipse de
verão! Daniel, 8 anos, está de férias na praia. Lá ele expe- DIREÇÃO DIRECTOR
rimenta diversos mundos e se diverte entre a fantasia e Carolina Durão
a realidade. Um dia, o mar está cheio de algas tóxicas. A PRODUÇÃO PRODUCER
praia está imprópria! Será o fim do verão? Daniela Santos e Eduardo Ades
ROTEIRO WRITER
Rio de Janeiro, 113 Fahrenheit, packed beaches: summer Carolina Durão
apocalypse! Daniel, 8 y-o, is on vacations. There he FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
experiences several worlds and plays between fantasy Ivo Lopes Araújo
and reality. One day, the sea gets impregnated with toxic EDIÇÃO EDITOR
seaweed rendering the beach inappropriate. Will that be the Karen Black
end of summer? ELENCO CAST
Pedro Perpétuo e Malu Rocha
DIREÇÃO DIRECTOR
Tiago Carvalho
ROTEIRO WRITER
Arthur Frazão e
Tiago Carvalho
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Paulo Castiglioni
EDIÇÃO EDITOR
A Chapada do Apodi fica na divisa entre Ceará e Rio
Grande do Norte. Em 1989, o Departamento Nacional
de Obras Contra as Secas (DNOCS) implementou um
projeto de irrigação no lado cearense. A área foi ocupada
por grandes empresas de fruticultura, desarticulando
a produção de milhares de pequenos agricultores. Em
2013, um projeto semelhante está prestes a chegar ao
lado potiguar da chapada, ameaçando 6 mil agricultores
familiares.
Arthur Frazão
The Apodi’s Plateau is on the border between Ceará and
Rio Grande do Norte. In 1989, the National Department
of Works Against Drought (DNOCS) implemented an
irrigation project in the Ceará’s side. The area was occupied
by large fruitculture companies, dismantling the production of
thousands of small farmers’. In 2013, a similar project is about
to come to Natal’s side of the plateau, threatening 6000
farmers families.
competição latino-americana
latin american competition
101
Linear
Deserto Verde
Linear
Green Desert / Desierto Verde
Brasil, 2013, 6’
Argentina, 2013, 84’
O uso de produtos químicos na produção agrícola tem
mais de um século. Diferentes pesticidas têm sido
utilizados, sempre escondendo os efeitos prejudiciais
à saúde. Mas o enorme avanço das fronteiras agrícolas
levaram o uso dessas substâncias a uma situação de DIREÇÃO DIRECTOR
abuso, intervindo na produção de milhões e milhões de Ulises de la Orden
hectares: alimento que chega à nossa mesa, juntamente PRODUÇÃO PRODUCER
com o veneno. Existem maneiras de se criar riqueza, Ulises de la Orden
produzir alimentos e exportar para o mundo sem nos ROTEIRO WRITER
intoxicar: não vamos engolir o contrário. Mariano Starosta
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
The use of chemicals in agricultural production has more Alejandro Reynoso
than a century. Different pesticides have been used, EDIÇÃO EDITOR
always hiding the harmful health effects. But the huge Germán Cantore
advancement of agricultural frontiers have led the use of
these substances to a situation of abuse, intervening in the
production of millions and millions of hectares: food that
reaches our table, along with the poison. There are ways to
create wealth, produce food and export to the world without
intoxicated: let’s not accept the contrary.
A linha é um ponto que saiu caminhando.
A line is a dot that went for a walk.
DIREÇÃO DIRECTOR
Amir Admoni
PRODUÇÃO PRODUCER
Amir Admoni
ROTEIRO WRITER
Amir Admoni e Fabito
Rychter
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Newton Leitão
EDIÇÃO EDITOR
Amir Admoni
competição latino-americana
latin american competition
103
Não Há Lugar
Distante
Nahuas,
20 Anos Depois
No Place is Far Away /
No Hay Lugar Lejano
Nahuas, 20 Years Later /
Nahuas, 20 Años Después
Mexico, 2012, 82’
Peru/Espanha, 2012, 26’
Até 1984, o povo Nahua viveu dentro da selva amazônica, evitando qualquer contato com a civilização
(ocidental). A chegada da Shell e o desenvolvimento do
projeto de extração de gás em Camisea trouxe conseqüências graves para os seus habitantes e sua cultura.
Until 1984, the Nahua people lived inside the
Amazonian jungle, avoiding any contact with (western)
civilization. The arrival of Shell and the further
development of the gas extraction project in Camisea,
has brought grievous consequences to its inhabitants
and their culture.
DIREÇÃO DIRECTOR
Marc Gavaldà,
Eduard Alter e
Jordi Salvadó
PRODUÇÃO PRODUCER
Eduard Alter
ROTEIRO WRITER
Marc Gavaldà, Eduard Alter
e Jordi Salvadó
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Jordi Salvadó
EDIÇÃO EDITOR
Jordi Salvadó
DIREÇÃO DIRECTOR
Michelle Ibaven Julian, um menino indígena de 8 anos, testemunha
PRODUÇÃO PRODUCER
Enedina Molina Mendoza
ROTEIRO WRITER
Michelle Ibaven e
Sergio Blanco
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Michelle Ibaven
EDIÇÃO EDITOR
a construção de uma estranha atração turística na
longínqua Serra Tarahumara, onde sua tribo vive há
séculos. Para Nazareno e outros membros anciãos da
comunidade, estas obras apenas confirmam a ameaça
que sua pequena vila, localizada no ponto mais remoto
da serra, sofre há décadas de ser removida do local - vila
ignorada pelo governo, cujas crianças crescem para
abandoná-la e os velhos morrem para dali não sair.
Viviana García Besné
Julian, an 8 year-old Rarámuri boy, starts to glimpse the
construction of strange tourist attractions in the Sierra
Tarahumara mountain range. For Nazareno and other
community elders, these events confirm the threat of
displacement that, for decades, has been hanging over their
town - the most remote one, where, ignored by government
officials, children grow up to leave and the elders die to stay.
competição latino-americana
latin american competition
105
Paal
Child / Paal
Mexico/Canadá/Suíça, 2012, 21’
Memo é um garoto maia cujo maior sonho é
contar as histórias de seu povo. Sob sua ótica
e fantasia, exploramos o dia a dia e a cultura
de sua cidade e a natureza exuberante da DIREÇÃO DIRECTOR
floresta de Yucatán, no sul do México. Christoph Müller e
Victor Vargas Villafuerte
Memo is a Mayan child, whose biggest dream is PRODUÇÃO PRODUCER
to tell the stories of his people. Through his own Christoph Müller e
vision and fantasy, we explore the everyday life and Victor Vargas Villafuerte
culture of his town, and the exuberant nature of ROTEIRO WRITER
Yucatan’s jungle in the south of Mexico. Christoph Müller e
Victor Vargas Villafuerte
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Victor Vargas Villafuerte
EDIÇÃO EDITOR
Christoph Müller
Paal Child/Paal
competição latino-americana
latin american competition
107
Pacha
As Ruas da
Minha Cidade
Pacha / Pacha
Bolívia/México, 2012, 88’
Tito, um engraxate, dorme nas ruas de La Paz. Adormecido debaixo de um sombrero ele sonha com um
outro mundo, até que é acordado abruptamente pelo
pesadelo de seu presente - e a descoberta do roubo da
caixa de engraxate que ele precisa para sobreviver. Em DIREÇÃO DIRECTOR
todos os lugares ao seu redor uma batalha constante Héctor Ferreiro
está sendo travada contra as condições sociais mise- PRODUÇÃO PRODUCER
ravelmente pobres. Quando a população indígena luta Juan E. García e Victoria Guerrero
por seus direitos, a polícia responde com gás lacrimo- ROTEIRO WRITER
gêneo e balas de borracha. Héctor Ferreiro
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Tito, a shoeshine boy, sleeps on the streets of La Paz. Juan Pablo Uriostes
Slumbering underneath a Zapata hat he dreams EDIÇÃO EDITOR
of another world until he is rudely awakened by his Héctor Ferreiro
nightmarish present – and the discovery of the theft of ELENCO CAST
the shoeshine box he needs to survive. Everywhere around Límber Calle e Erika Andia
him a constant battle is being waged against miserably
impoverished social conditions. When the indigenous
population makes a stand for their rights the police
answer with tear gas and sharpshooting.
The Streets of My City /
Las Calles De Mi Ciudad
Uruguai, 2012, 6’
DIREÇÃO DIRECTOR
Lucía Nieto Salazar Ela acorda, anda pela floresta; chega a uma
PRODUÇÃO PRODUCER
cidade vazia, onde apenas o vento passa
ROTEIRO WRITER
outra cidade, esta habitada, mas ela está
Lucía Nieto Salazar por suas ruas. Mais tarde, ela passa por
Lucía Nieto Salazar perdida. Perdeu-se de si mesma. Ela medita
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
e se questiona, ela desaparece e reaparece.
Lucía Nieto Salazar Finalmente ela volta para a floresta, onde ela
EDIÇÃO EDITOR
se sente em paz.
Lucía Nieto Salazar
She wakes up, walks through the woods; arrives
to an empty city, where only the wind goes
through its streets. She later walks by another
city, this one is habited but she is lost. Lost of
herself. She meditates and asks herself, she
disappears and reappears. Finally she comes
back to the woods where she feels in peace.
competição latino-americana
latin american competition
109
Seca
O Último
Mercador de Gelo
Drought / Cuates de Australia
Mexico, 2011, 90’
Os habitantes de “Cuates de Austrália” enfrentam a
morte a cada ano, evitando a seca que os ameaça.
Enquanto a comunidade é forçada a um êxodo, o Ejido é
abandonado e, pouco a pouco, os animais do deserto se DIREÇÃO DIRECTOR
apoderam do lugar. Em seu exílio, homens e mulheres, Everardo González
jovens e velhos esperam as primeiras gotas de chuva, a PRODUÇÃO PRODUCER
fim de retornar. Martha Orozco
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Desert cowboys “Cuates de Australia” face death every year, Everardo González
avoiding the drought that threatens the ranch. While the EDIÇÃO EDITOR
community is forced into an exodus, the Ejido is abandoned Felipe Gomez e
and eventually the desert animals take over the place. In Clementina Mantellini
their exile, men and women, young and old wait for the first
drops of rain in order to return.
The Last Ice Merchant /
El Último Hielero
Equador, 2012, 14’
DIREÇÃO DIRECTOR
Sandy Patch Por mais de 50 anos Baltazar Ushca extraiu o gelo glacial
PRODUÇÃO PRODUCER
do Monte Chimborazo, no Equador. Seus irmãos, ambos
Jeremy Yaches comerciantes de gelo, há muito se aposentaram da
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
montanha. O Último Mercador de Gelo é uma história de
Sandy Patch mudança cultural e como três irmãos se adaptaram a ela.
EDIÇÃO EDITOR
Josh Banville For over 50 years Baltazar Ushca has harvested the glacial
ice of Ecuador’s Mount Chimborazo. His brothers, both
raised as ice merchants, have long since retired from the
mountain. The Last Ice Merchant is a story of cultural
change and how three brothers have adapted to it.
competição latino-americana
latin american competition
111
panorama
histórico
historical
panorama
Kaneto Shindo
em seis filmes
Por Sérgio Alpendre
Kaneto Shindo in six films
By Sergio Alpendre
Filhos de Hiroshima
Children of Hiroshima/Gembaku no Ko
Among the Japanese directors
called by Audie Bock as “postwar
humanistic” - a group formed,
according to the historian, by
directors Akira Kurosawa, Keisuke
Kinoshita, Masaki Kobayashi
and Kon Ichikawa –, the unjustly
overlooked Kaneto Shindo (I
include him on the list myself) is
the one which best represents the
bridge between classical cinema
and the Japanese Nouvelle Vague
Dos diretores japoneses chamados por Audie Bock de “humanistas
do pós-guerra”, grupo a que pertencem, segundo a historiadora, Akira
Kurosawa, Keisuke Kinoshita, Kon
Ichikawa e Masaki Kobayashi, o injustamente esquecido Kaneto Shindo
(que coloco na lista por conta própria)
é o que melhor representa a ponte
entre o cinema clássico e a Nouvelle
Vague japonesa (Nuberu Bagu).
Isto porque seu cinema comporta uma série
de experimentações que antecipam as dos jovens
diretores do final dos anos 1950, notadamente
Nagisa Oshima e Shohei Imamura. Ao mesmo
tempo, conserva marcas do estilo dos mestres do
chamado cinema clássico japonês. Seus primeiros filmes deixam evidentes tanto a filiação aos
clássicos quanto a antecipação da Nuberu Bagu.
Os mais famosos, Filhos de Hiroshima (1952), A
Ilha Nua (1960), Onibaba – A Mulher Demônio
(1964), Instinto (1966 – não tão conhecido
panorama histórico
historical panorama
113
quanto os demais por uma tremenda injustiça) (Nuberu Bagu). This is so because
e O Gato Preto (1968), antecipam (no caso do his body of work contemplates
primeiro) ou refletem (no caso dos demais) as a great deal of experimentation
principais preocupações estéticas e temáticas do that anticipates similar attempts
cinema japonês nos anos 1960. Não à toa Shindo by the young directors of the late
escreveu roteiros para Yasuzo Masumura, Seijun 1950s - notably Nagisa Oshima
Suzuki e outros diretores mais ou menos ligados and Shohei Imamura. At the same
à Nuberu Bagu. E também não é por acaso que a time, it keeps the style hallmarks
produtora independente que criou com o diretor of the masters of the so-called
Kozaburo Yoshimura em 1950 (e que possibili- Classical Japanese Cinema. His
tou que ele estreasse na direção no ano seguinte) first films show evident affiliation
chamava-se Sociedade do Cinema Moderno.
both to classical film and the
Donald Richie chama atenção para a reação anticipation of the Nuberu Bagu.
padrão aos filmes de Shindo durante quase toda His most famous titles, Children
sua carreira, começando pelo primeiro filme, of Hiroshima (1952), The Naked
A História de uma Esposa Amada (1951)1: “elo- Island (1960), Onibaba (1964),
giado por sua crítica social e amaldiçoado pelo Instinct (1966 – not as well known
as the others by a tremendous
injustice) and The Black Cat (1968)
anticipate (in the first case) or
reflect (in all the others) the major
aesthetic and thematic concerns
of Japanese cinema in the 1960s.
It’s no wonder Shindo wrote
screenplays for Yasuzo Masumura,
Seijun Suzuki and other directors
more or less linked to the Nuberu
Bagu. And it is also not by chance
that the independent production
company created by him alongside
director Kozaburo Yoshimura
Além de ser o primeiro
in 1950 (and which enabled him
to make his directing debut the
filme a abordar o tema no
following year) was called Modern
Japão, Filhos de Hiroshima
Film Society.
Donald Richie draws attention to
ainda antecipa em três
the standard reaction to Shindo’s
anos o tom histórico e
films for almost his entire career,
beginning with his first film, Story
incisivo de Noite e Neblina,
of a Beloved Wife (1951)1: “praised
de Alain Resnais.
for its social criticism and cursed
1 Richie escreveu essa afirmação em 1971, sem saber como seria a continuação da carreira
do diretor, que duraria até 2010, com o filme Postcard.
Richie wrote this statement in 1971, without knowing how the director’s career, which
lasted until 2010’s Postcard, would turn out.
sentimentalismo em quase igual medida” (em
Japanese Cinema – Film style and national character, p.167). Isso acontece por causa da filiação de
Shindo ao melodrama de Mizoguchi, sobretudo
por ter sido seu assistente na juventude e por ter
escrito (com Yoshikata Yoda, parceiro constante
de Mizoguchi) Chama do Meu Amor (1949), um
dos melodramas mais fortes do cinema japonês.
Mas se Mizoguchi procurava esconder os rompantes de emoção de suas mulheres afastando
a câmera ou colocando um objeto entre a lente
e os rostos cheios de lágrimas, Shindo não é tão
cauteloso. Suas críticas ou seus exercícios de
gênero querem também sensibilizar o espectador pelo drama humano, sem necessidade de
atenuar a maneira como vemos sofrimentos e
traumas. Junta-se a isso o tradicional preconceito
em relação ao melodrama, sobretudo nos politizados anos 1960, e temos então a reação padrão
descrita por Richie. O autor acrescenta ainda
que somente em Filhos de Hiroshima Shindo
encontraria um “assunto amplo o suficiente
para conter o sentimentalismo excessivo”, e só
com Esgoto (1954) “sua crítica ao Japão contemporâneo torna-se sutil o bastante para ser eficaz”.
Trabalhando geralmente com uma equipe de
fiéis seguidores – a atriz e esposa Nobuko Otowa,
os atores Kei Sato e Taiji Tonoyama (entre
outros), o compositor Hikaru Hayashi, o diretor
de fotografia Kiyomi Kuroda – Shindo tornou-se
indubitavelmente um dos diretores mais consistentes e mal vistos do cinema japonês (à exceção
de Filhos de Hiroshima e A Ilha Nua, seus únicos
filmes que escapam a um gueto de cinefilia).
Filhos de Hiroshima Children of Hiroshima
for its sentimentality in almost
equal measure” (in Japanese
Cinema - Film style and national
character, p.167). This happens
because of Shindo’s affiliation
with Mizoguchi’s melodrama,
a result especially of being his
assistant in youth and of writing
(with Yoshikata Yoda, Mizoguchi’s
frequent partner) Flame of My Love
(1949), one of the most powerful
melodramas in Japanese cinema.
But if Mizoguchi tried to hide his
women’s bursts of emotion by
moving the camera away or by
placing an object between the lens
and the tearful faces, Shindo is
not as cautious. His criticisms and
his genre exercises also want to
sensitize the viewer through human
drama, so there’s no need to
soften the way we see suffering and
trauma. Add to this the traditional
prejudice against the melodrama,
especially in the politicized 60s,
and we have the standard reaction
described by Richie. The author
also adds that only in Children of
Hiroshima does Shindo find “a
subject broad enough to hold
excessive sentimentality”, and
that only with Sewage (1954) “his
critique of contemporary Japan
becomes subtle enough to be
effective”. Usually working with a
team of loyal followers - actress
and wife Nobuko Otowa, actors
Kei Sato and Taiji Tonoyama
(among others), composer Hikaru
Hayashi, director of photography
Kiyomi Kuroda - Shindo has
become undoubtedly one of the
most consistent and frowned
upon directors in Japanese cinema
(except for Children of Hiroshima
and The Naked Island, his only films
to escape the cinephilia ghetto).
panorama histórico
historical panorama
115
A bomba
Filhos de Hiroshima, terceiro longa de Shindo,
alterna ficção e documentário para mostrar o
horror da bomba em Hiroshima. Além de ser
o primeiro filme a abordar o tema no Japão,
ainda antecipa em três anos o tom histórico e
incisivo de Noite e Neblina, de Alain Resnais. A
professora Takako Ishikawa (Nobuko Otowa)
decide, após quatro anos de ausência, visitar o
lugar onde nasceu, e encontra sua Hiroshima
ainda devastada pela bomba, apesar de algumas
reconstruções em curso. Ao visitar os lugares
por onde passava, lembra-se do fatídico 6 de
agosto de 1945. Mas a encenação da tragédia
se alterna entre o tom documental e o onírico:
bebês e mulheres de seios à mostra se fundem
a terra, homens são vaporizados, testemunhas
observam a explosão catatônicos.
O filme foi considerado um melodrama
barato por aqueles que o encomendaram.
Queriam uma obra política, antiamericana, não
um filme sensível e tocante, sem deixar, ainda
assim, de ser antiamericano. A despeito desse
desajuste, os momentos de antologia são muitos, a começar pela encenação da explosão mencionada acima. O primeiro encontro de Takako,
por exemplo, é com um antigo funcionário de
seu pai, agora cego e mendigo. A reação desse
velho amigo é tipicamente nipônica. Ele se
envergonha de não ter mais o status social de
outrora. A conversa entre eles à beira do rio é
Besides being the first film to tackle
the subject in Japan, Children of
Hiroshima also anticipates by three
years the historical and incisive tone
of Alain Resnais’s Night and Fog.
The bomb
Children of Hiroshima, Shindo’s
third feature, alternates fiction
and documentary to portray the
horror of the Hiroshima bombing.
Besides being the first film to
tackle the subject in Japan, it also
anticipates by three years the
historical and incisive tone of Alain
Resnais’s Night and Fog. Teacher
Takako Ishikawa (Nobuko Otowa)
decides, after four years of absence,
to visit the place where she was
born, and finds her Hiroshima still
devastated by the bomb, despite
some ongoing reconstructions.
While visiting the places where she
used to pass by, she remembers
the fateful August 6, 1945. But the
staging of the tragedy alternates
between documentary and a
dreamlike tone: babies and exposed
women’s breasts fuse with the
earth, men are vaporized, catatonic
witnesses observe the explosion.
The film was considered a
cheap melodrama by those who
comissioned it. They expected a
political and anti-American piece,
not a sensitive and touching, yet
still unamerican, movie. Despite
this mismatch, anthological
moments abund, starting with
the enactment of the explosion
mentioned above. Takako’s first
encounter, for example, is with a
former employee of her father, now
a blind beggar. This old friend’s
reaction is typically Nipponese.
He is ashamed of not having his
previous social status anymore.
Their riverside conversation is
one of those moments that prove
the excellence of a director. Born
in Hiroshima, like his partner
Yoshimura, Shindo works here
with a material that is very close
A Ilha Nua The Naked Island
um desses momentos que comprovam a excelência de um diretor. Nascido, como seu sócio
Yoshimura, em Hiroshima, Shindo trabalha
aqui com um material que lhe é muito próximo.
Como herdeiro de Mizoguchi, não teria como
abandonar totalmente o melodrama.
Tadao Sato lembra, em seu livro Currents in
Japanese Cinema, que Shindo introduziu pela
primeira vez a questão da responsabilidade
do Japão no abandono das vítimas da bomba.
Essa situação é reiterada em uma série de
cenas, notadamente aquela em que o avô aceita
deixar que o menino Taro se vá com a professora por não ver um possível futuro para ele em
Hiroshima. O final é um esplendor: voltando
com Taro para a ilha onde escolheu viver após
o desastre da bomba, Takako observa sua terra
natal do barco. As montanhas que a cercam, o
céu coberto de radiação, a natureza ultrajada
pelo homem e pelo poder. A partir de Filhos
de Hiroshima, a associação de Kaneto Shindo
com a natureza e os problemas ambientais
seria marcante em uma série de filmes, numa
alternância (e muitas vezes acumulação) com o
tema da mulher sofredora que ele herdou do
mestre Mizoguchi.
Shindo faria ainda outro filme sobre a bomba
atômica (subtema que voltaria, mais ou menos
sutilmente, em momentos de vários outros filmes). Dragão Felizardo No5 (1959) não fala diretamente das tragédias de Hiroshima e Nagasaki,
mas alerta para o perigo nuclear. O filme mostra
to him. As Mizoguchi’s inheritor,
there would be no way for him to
abandon melodrama entirely.
In his book Currents in Japanese
Cinema, Tadao Sato recalls that
Shindo was the one who first
introduced the issue of Japan’s
liability for abandoning of the
victims of the bombing. This
situation is repeated in a series
of scenes, notably one where the
grandfather agrees to let the boy
Taro go with the teacher on account
of not seeing a possible future for
him in Hiroshima. The finale is a
splendor: returning with Taro to
the island where she chose to live
after the nuclear disaster, Takako
observes her homeland from the
boat. The mountains that surround
it, the sky overcast with radiation,
nature outraged by man and power.
From Children of Hiroshima on, the
Kaneto Shindo’s connection with
nature and environmental issues
would be remarkable in a number
of films, alternating (and often
accumulating) with the suffering
woman theme he inherited from
the master Mizoguchi.
Shindo come to make another
film about the atomic bomb (a
subtheme that would return, more
or less subtly, in several moments
in other films). Lucky Dragon
No. 5 (1959) does not speak
directly about the Hiroshima and
Nagasaki tragedies, but warns
against nuclear danger. The film
portrays a group of fishermen that
are contaminated by radiation
at the Bikini Atoll, where many
nuclear tests were conducted in
the 1950s. The real fishermen’s
episode happened in 1954, and
raised a series of examinations
by specialists in contamination
panorama histórico
historical panorama
117
um grupo de pescadores que se contaminam
com a radiação no atol de Bikini, onde foram
realizados diversos testes nucleares na década
de 1950. O episódio real dos pescadores aconteceu em 1954, e suscitou uma série de exames
de especialistas em contaminação por radiação e
alguns protestos da imprensa nipônica. O filme
se veste assim com o tom de denúncia ecológica. A natureza mais uma vez é ultrajada pelo
militarismo, e a família japonesa é novamente
vítima de uma demonstração da força militar
americana. Tudo isso é mostrado de forma predominantemente documental, abrindo-se ao
melodrama apenas nos minutos finais.
Documentário e fábula
No ano seguinte, Shindo faria aquele que
se tornaria seu trabalho mais conhecido e celebrado: A Ilha Nua (1960). Construído sem
diálogos, mesclando música melodiosa com
silêncios brutais, o filme flagra, também de
Dragão Felizardo No5 mostra
um grupo de pescadores que
se contaminam com a radiação
no atol de Bikini, onde foram
realizados diversos testes
nucleares na década de 1950.
by radiation, as well as some
protests by the Japanese media.
The film dresses itself in a tone of
ecological complaint. Nature is
once again outraged by militarism,
and the Japanese family is once
again a victim of a demonstration
of American military force.
All of this is predominantly shown
in documentary form, which
opens up to melodrama only in
the final minutes.
Documentary and fable
In the following year, Shindo
would make that which would
become his most famous and
celebrated work: The Naked Island
(1960). Built with no dialogues,
mixing melodious music with
brutal silence, the film captures,
also in documentary fashion, a
family of farmers who live on a
small island in the Setonaikai
archipelago. Man and woman
work hard, bringing water from
a neighboring island to their
plantation, while the two children
enjoy the natural wonders of
the region. In a few moments,
we realize that the absence of
speech makes no sense. That’s
because Shindo pursues here, in
parallel, a fable tone in contrast
with the documentary approach.
The relationship between the
husband (Taiji Tonoyama) and his
wife (Nobuko Otowa) is mostly
ceremonial, and culminates with
an emotional outburst from
the woman after the death of
one of their sons. At that point,
the husband looks at her with
compassion and understanding,
painfully observing her destructive
actions of plucking pieces of the
plantation and throwing them
roughly to the ground (at the
maneira documental, uma família de fazendeiros que mora numa pequena ilha no arquipélago de Setonaikai. Homem e mulher
trabalham duro, levando água de uma ilha vizinha a suas plantações, enquanto as duas crianças se deliciam com as maravilhas naturais da
região. Em alguns momentos, percebe-se que
não há sentido algum na ausência de falas.
Isso porque Shindo persegue aqui, paralelamente, um tom de fábula, em contraponto ao
tom documental. A relação entre marido (Taiji
Tonoyama) e esposa (Nobuko Otowa) é quase
sempre protocolar, e culmina com a explosão
emocional da mulher após a morte de um de
seus filhos. Nesse momento, o marido a olha
com piedade e compreensão, observando condoído os gestos destrutivos dela, que arranca
pedaços da plantação e joga-os com força no
solo (no início do filme o marido tinha sido bastante rude na repreensão a um pequeno descuido da parte dela). Essa explosão emocional
da mulher rompe o silêncio (e o tom fabular) de
forma marcante, antes de um retorno ao cotidiano. O trabalho na lavoura os torna prisioneiros, limitados à rotina de pequenos fazendeiros.
Aqui não se trata da natureza ultrajada. Antes, é
da natureza que oprime, e cobra um alto valor
pelo seu uso. Com A Ilha Nua, Shindo passa
a ser respeitado também como diretor, não só
como roteirista.
Novamente o mar, pessoas isoladas com a
natureza, a necessidade de sobreviver em situações penosas (e Nobuko Otowa mostrando toda
sua versatilidade) são elementos de um filme
pouco conhecido, mas de nobre envergadura.
O Homem (1962) mostra quatro tripulantes de
Lucky Dragon No5 portrays a group of
fishermen that are contaminated by
radiation at the Bikini Atoll, where many
nuclear tests were conducted in the 1950’s.
beginning of the film, her husband
is quite rude in reprehending
her for being a little careless in
her gestures). This emotional
outburst from the woman
remarkably interrupts the silence
(and the fable-like tone) in a most
remarkable way, before returning
then to everyday life. Work in the
harvest makes them prisoners,
limited to a small farmers’ routine.
Outraged nature is not what it
is about. It is rather nature’s
oppression, which charges a
high price. With The Naked Island,
Shindo becomes respected as a
director, not only as a writer.
Once again the sea, people
isolated in nature, the need for
survival in difficult situations
(and Nobuko Otowa in all her
versatility) are elements of a
little-known movie, but one of
noble wingspan. Human (1962)
shows the four-person crew of a
small boat that goes adrift after
a violent storm. In this situation,
the terribly human dimension
of their personalities is revealed.
Characters here are not confined
to a small island, nor subjected
to radiation. They are truly adrift,
without food and without knowing
what awaits them. They become
selfish, competitive, desperate.
They reach unimaginable
extremes (as in Buñuel’s The
Exterminating Angel, which
curiously came out the same
year). Shindo is less interested
in the possibility of overcoming
than in the ability a person has to
become a savage. The title refers
to captain Kamegoro, played by
Taiji Tonoyama. He is the only
character to end the film with
immaculate dignity.
panorama histórico
historical panorama
119
um pequeno barco que fica à deriva após uma The soundtrack contrasts
violenta tempestade. Com a situação, revelam a urban jazz with the boat’s
dimensão terrivelmente humana de suas perso- movement. This differs it from
nalidades. Os personagens aqui não estão con- the one used in The Naked Island.
finados numa pequena ilha, nem submetidos à In the 1960 film, the melody
radiação. Estão verdadeiramente à deriva, sem reflects nature, its seasons
mantimentos e sem saber o que lhes espera. and its tender complacency. In
Tornam-se egoístas, competitivos, desespera- Human, nature harms, as if in
dos. Chegam a extremos inimagináveis (como revenge for being mistreated. The
em O Anjo Exterminador, de Buñuel, que curio- soundtrack therefore is noisier,
samente é do mesmo ano). Shindo está menos with experimental raptures and
interessado na possibilidade de superação do minimalist excerpts. But it is so
que na capacidade que uma pessoa tem de se even before the first storm, as if
tornar selvagem. O homem do título é o capi- it intends to already demonstrate
tão Kamegoro, vivido por Taiji Tonoyama. É o the depths of human nature. The
único personagem que termina sem a digni- cinematography allows both the
dade maculada.
burst of light in overexposure,
A trilha sonora contrapõe um jazz urbano as well as the predominance of
com os movimentos do barco. Nisso ela é dife- shadows which move according
rente daquela usada em A Ilha Nua. No filme de to the swing of the boat. The film
1960, a melodia espelha a natureza, suas esta- is even more distressing than The
ções e sua terna complacência. Em O Homem, a Naked Island, but at the same time
natureza agride, como que a vingar-se dos maus it is more palatable, less radical in
tratos sofridos. A trilha, por isso, é mais ruidosa, its aesthetic proposal. The music
com arroubos experimentais e trechos minima- is its most dissonant factor, one
listas. Mas é assim antes mesmo da primeira that brings to the comical into the
tempestade, como se quisesse demonstrar já as tragic, or terror into the prosaic.
profundezas da natureza humana. A fotografia
permite tanto o estouro da luz quanto o predomí- New change of course
nio das sombras, que se movem de acordo com Mother and Onibaba, the films
o balançar do barco. O filme é até
mais aflitivo que A Ilha Nua, mas Shindo está menos
ao mesmo tempo é mais palatável,
interessado na possibilidade
menos radical em sua proposta estética. A música é mesmo seu fator de superação do que na
mais dissonante, aquele que leva
capacidade que uma pessoa
para o cômico dentro do trágico, ou
tem de se tornar selvagem.
para o terror dentro do prosaico.
Shindo is less interested in the possibility
of overcoming than in the ability a
person has to become a savage.
Nova mudança de curso
A Mãe e Onibaba – A Mulher Demônio, os
filmes que se seguiram a O Homem, sinalizam
uma mudança na concepção dramatúrgica de
Kaneto Shindo. A crítica social continua existindo, no subsolo, dando espaço ao que realmente passa a predominar em seus filmes:
o erotismo. Essa tendência chega ao auge
com Instinto, que mostra a impotência de um
homem de meia idade (consequência de contaminação por radiação – novamente: a bomba) e
os traumas psicológicos decorrentes dessa deficiência. É com um drama sobre uma criança
doente, contudo, que Shindo realiza a transição
entre suas raízes melodramáticas para o erotismo representado como força motriz do Japão
moderno (lembrando que foi durante os anos
1960 que se deu a popularização do Pinku Eiga,
gênero erótico de muito sucesso por lá).
Da imensidão da natureza em A Ilha Nua e O
Homem para o drama entre quatro paredes de A
Mãe parece que temos outro diretor. O erotismo
ainda é discreto se comparado ao de Onibaba, o
filme seguinte. Mas sentimos sua pulsação sobretudo no suor que escorre pelo rosto e pelo corpo
de Nobuko Otowa, obrigada a deitar-se com um
homem que não ama, mas que lhe dá o sustento
necessário para ao menos uma vida simples; ou
na luxúria de seu irmão, que percorre prostíbulos em busca de sexo livre de amarras. O longa
começa com a protagonista (Otowa) observando
algo por trás de uma janela. O contracampo nos
mostra um casal, com o homem deitado na cama
e a mulher o beijando de forma muito sensual.
A mãe é enquadrada com reflexos de nuvem
emoldurando seu rosto. Ela tem o ar melancólico, as nuvens reforçam o estado sonhador, distante dos problemas cotidianos. A mulher que
beijava o marido percebe sua presença e fecha
that followed Human, signaled a
change in Kaneto Shindo’s concept
of dramaturgy. Social criticism is
still present, in the underground,
granting space to what really
begins to dominate his films:
eroticism. This trend reaches its
peak with Instinct, which presents
a middle-aged man’s impotence
(as a result of contamination by
radiation – again: the bomb) and
the psychological trauma resulting
from this deficiency. It is with a
drama about a sick child, however,
that Shindo makes the transition
between his melodramatic roots and
eroticism depicted as a driving force
in modern Japan (mind you that it
was during the 1960s that Pinku
Eiga, an erotic genre very successful
in the country, became popular).
From the immensity of nature in
The Naked Island and in Human
to the drama-within-four-walls
in Mother, it appears we have
another director. Eroticism is
still discrete when compared to
Onibaba, his next film, but we feel
its pulse especially in the sweat
that drips down Nobuko Otowa’s
face and body, forced to lie down
with a man she doesn’t love
but who gives her the necessary
maintenance to live a simple
life; or in the lust of her brother,
who wanders around brothels
in a search of non-committed
sex. The feature begins with its
protagonist (Otowa) watching
something from behind a window.
The reverse shot shows us a
couple, the man lying in bed and
the woman kissing him in a very
sensual way. The mother’s face is
framed with cloud reflections. She
has a melancholic demeanor, the
clouds reinforce her dreamy state,
panorama histórico
historical panorama
121
distant from everyday problems.
The woman kissing her husband
realizes her presence and shuts
the drapes, preparing the room for
something we were not invited to
witness. Soon after, a nurse calls
the mother, which turns her eyes
to the hospital corridor. Cut to the
boy, who turns his face
a cortina, preparando Em A Mãe e Onibaba
towards his mother.
o quarto para algo que
Back again to the
não fomos convidados – A Mulher Demônio a nurse, who calls her
a testemunhar. Logo crítica social continua
insistently. There’s no
em seguida, uma
need for much more
enfermeira chama a existindo, no subsolo,
than that to indicate
mãe, que volta seu dando espaço ao que
that Kaneto Shindo is
olhar para o corredor
great at two things at
do hospital. Corta para realmente passa a
least:
o garoto, que vira o predominar em seus
a) presenting
rosto em direção à mãe.
characters and
Volta novamente para a filmes: o erotismo.
situations (a mother
enfermeira, que insiste
taking her son to
no chamado. Não é preciso muito mais que isso the hospital); b) establishing a
para mostrar que Kaneto Shindo é grande em relationship between people and
pelo menos duas coisas: a) na apresentação de space (the clouds that frame the
personagens e situações (mãe levando o filho ao daytime reverie, the corridor that
hospital); b) no estabelecimento de uma relação translates the cold reality).
entre as pessoas e o espaço (as nuvens que emol- Otowa’s face, before wild and
duram o devaneio diurno, o corredor que traduz frantic in Human, here shows
a fria realidade).
its opposite side. A sweet and
O rosto de Otowa, antes selvagem e des- suffering woman. Not a Mizoguchivairada em O Homem, aqui mostra seu lado like victim of male brutality, but in
oposto. Uma mulher meiga e sofredora. Não ao Shindo’s own fashion, suffering for
modo Mizoguchi, vítima da brutalidade mas- her son’s fatal illness. A mention,
culina, mas ao modo Shindo, sofredora pela in the final half of the film, to
doença fatal do filho. Uma menção, na metade the Hiroshima bomb leads us to
final do filme, à bomba de Hiroshima, nos leva think of the child as a victim of
a pensar na criança como mais uma vítima da radiation, of the outraged nature.
radiação, da natureza ultrajada. Nada disso é None of this is put directly. In
colocado de modo direto. No cinema de Shindo, Shindo’s cinema, the viewer is
o espectador é convidado a completar as lacu- invited to complete the gaps in
nas de informação. O filme alterna brilhante- information. The film brilliantly
mente momentos de profunda tristeza com alternates moments of deep
momentos mais leves e bem-humorados. Por sadness with lighter and more
esse motivo, A Mãe pode ser considerado uma humorous moments. For this
versão mais carnal e trágica de Mamãe (1952), reason, Mother can be considered
clássico de Mikio Naruse.
a more carnal and tragic version of
Chegamos então a 1964, quando dois filmes
de horror, dirigidos por dois dos “humanistas
do pós-guerra”, arrebatam o ocidente. Kwaidan,
de Masaki Kobayashi, é mais ambicioso, com
suas quatro histórias de fantasmas em cores.
Onibaba – A Mulher Demônio, de Kaneto
Shindo, retoma o jidaigeki (filmes históricos),
ambiência preferida de seu mestre Mizoguchi,
e acrescenta uma dose de horror e muito erotismo2. Na história, uma mãe cujo nome não
nos é revelado (Otowa, envelhecida e ameaçadora) aguarda com a nora, igualmente sem
nome (Jitsuko Yoshimura, atriz principal de
Todos Porcos, de Shohei Imamura), a chegada
de Kichi, seu filho que está na guerra (e a certa
altura é tido como morto). Juntas, elas matam
samurais para vender seus ornamentos e, assim,
ter o que comer (os samurais, informa-nos
Tadao Sato, geralmente são retratados como
pessoas de mau caráter nos filmes de Kaneto
Shindo). Hashi, um velho amigo de Kichi, reaparece como um anjo caído e se coloca entre
the homonymous Mother (1952), a
Mikio Naruse classic.
We now arrive at 1964, when two
horror films, directed by two of
the “postwar humanists”, sweep
the western world away. Ghost
Stories, by Masaki Kobayashi, is
more ambitious, with its four ghost
stories in color. Kaneto Shindo’s
Onibaba recuperates jidaigeki
(historical films), his master
Mizoguchi’s favorite medium, and
adds a dose of horror and a lot of
eroticism2. In the story, a mother
whose name is not revealed
(Otowa, aged and menacing) waits
alongside her daughter-in-law, also
unnamed (Jitsuko Yoshimura, the
leading lady in Shohei Imamura’s
Pigs and Battleships), for the arrival
of Kichi, her son who is at war (and
who is considered dead from a
certain point on). Together they kill
samurais to sell their ornaments
and thus have something to
eat (the samurais, Tadao Sato
informs us, are usually portrayed
as bad people in Kaneto Shindo’s
movies). Hashi, an old friend
of Kichi’s, reappears as a fallen
angel standing between the two
women. Employing a strong erotic
element that the filmmaker would
explore more frequently in his
upcoming films, and again making
an excellent initial presentation of
characters and situations, Onibaba
could very well be called Clamor do
2 Em O Gato Preto, realizado em 1968, Shindo novamente faz um filme de horror com
ambientação histórica, e uma clara ligação com Contos da Lua Vaga, de Mizoguchi. No
filme, uma situação se repete. Um filho está na guerra, sua mãe e sua esposa o esperam.
Aqui, ele volta e as encontra como fantasmas. Em Onibaba, o filho não retorna.
In O Gato Preto (The Black Cat), from 1968, Shindo makes again a horror film in an
historical ambience, and with a clear connection with Contos da Lua Vaga (Tales of Moonlight), from Mizoguchi. In this movie there is a repeated situation: a son is in the war and
his mother and wife are waiting for him. Here he cams back and mett them as ghosts. In
Onibaba, the son does not return.
panorama histórico
historical panorama
123
O Homem The Man
as duas mulheres. Com um forte erotismo, elemento que o cineasta iria explorar com maior
frequência nos próximos filmes, e de novo uma
excelente apresentação inicial de personagens e
situações, Onibaba poderia muito bem se chamar Clamor do Sexo, remetendo ao título brasileiro para Splendor in the Grass, filme de Elia
Kazan. Em dado momento, mãe e nora matam
um cachorro para saciar a fome. Enquanto
saboreiam a carne, Hashi, sedento por sexo,
uiva do lado de fora da cabana como um cão no
cio. Desejo carnal, instinto animal, pendor para
o sexo. É dessa maneira que Onibaba, mais do
que com Kwaidan, se relaciona perfeitamente
com outro filme de 1964: Desejo Assassino, de
Shohei Imamura. Nesta obra-prima do cinema
moderno, uma mulher desprezada pelo marido
recebe a visita de um ladrão, que, não satisfeito
em levar algumas peças de valor, a estupra. O
ladrão retorna, e eles acabam desenvolvendo
uma relação conturbada e movida a sexo. Em
Onibaba, o vento, a lua, o matagal que cerca a
cabana, o calor, o suor, tudo parece convidar
ao sexo. A natureza não está mais ultrajada.
Onibaba – A Mulher Demônio Onibaba
Sexo (Clamor for Sex), referring to
the Brazilian title for Elia Kazan’s
Splendor in the Grass. At a certain
point, mother and daughter-in-law
kill a dog to satisfy their hunger.
While savoring the flesh, a sexthirsty Hashi howls outside the
shack like a dog in heat. Carnal
desire, animal instinct, inclination
towards sex. This is how Onibaba,
more than Ghost Stories, fits
perfectly with another 1964 film:
Shohei Imamura’s Intentions of
Murder. In this modern cinema
masterpiece, a woman scorned by
her husband is visited by a thief,
who, unsatisfied by taking a few
valuable items, rapes her. The thief
returns and they end up developing
a troubled and sex-driven
relationship. In Onibaba, the wind,
the moon, the bushes around
the shack, the heat, the sweat,
everything seems like an invitation
In Mother and Onibaba, social criticism is still
present, in the underground, granting space to what
really begins to dominate his films: eroticism.
Pelo contrário, ela obriga as pessoas a se aproximarem ou se repelirem sendo mais instintivas. Para Kaneto Shindo, assim como para
Imamura, o homem é, antes de tudo, um animal, um ser que responde aos impulsos e caprichos da natureza.
for sex. Nature is not outraged
anymore. On the contrary, it forces
people together or apart by being
more instinctive. For Kaneto
Shindo, as well as for Imamura,
man is an animal above all, a being
who responds to nature’s impulses
and urges.
Sérgio Alpendre é crítico de cinema, professor,
pesquisador e jornalista, bem como mestre em Meios e
Processos Audiovisuais pela ECA-USP. É colaborador
da Folha de São Paulo desde 2008, e coordena o Núcleo
de História e Crítica da Escola Inspiratorium. Participa
como oficineiro do programa Pontos MIS, e edita a
revista Interlúdio e o blog Chip Hazard. Foi curador das
mostras Retrospectiva do Cinema Brasileiro e Tarkovski
e seus Herdeiros, editando também os catálogos de
tais eventos. Participa de comitês de seleção e júris em
festivais de cinema, além de ministrar cursos de história
do cinema e oficinas de crítica por todo o Brasil.
Sérgio Alpendre is a film critic,
teacher, researcher and journalist, as well
as a master in Media and Audiovisual
Processes at ECA - USP. He has been a
contributor for newspaper Folha de São
Paulo since 2008, and coordinates the
History and Film Criticism Department
at the Inspiratorium free school. He gives
workshops at the Pontos MIS program,
and is the editor of Interlúdio Magazine
and the Chip Hazard blog. He was a curator for Retrospectiva do Cinema Paulista (a retrospective dedicated to films
made in São Paulo) and of the Tarkovsky
and his Heirs festival, also working as a
catalogue editor for both events. Alpendre
takes part in selection committees and
juries in film festivals, in addition to
teaching film history and giving criticism
workshops throughout Brazil.
panorama histórico
historical panorama
125
Filhos de
Hiroshima
Children of Hiroshima/
Gembaku no Ko
Japão, 1952, 100’
DIREÇÃO DIRECTION
Kaneto Shindo
PRODUÇÃO PRODUCTION
Kôzaburô Yoshimura
ROTEIRO WRITER
Hiroshima pós-guerra: Já se passaram quatro anos des- Kaneto Shindo
de a última vez que ela visitou sua cidade natal. Takako FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
enfrenta os efeitos da bomba atômica quando viaja ao Takeo Itô
redor da cidade para visitar velhos amigos. EDIÇÃO EDITOR
Zenju Imaizumi
Post war Hiroshima: It’s been four years since the last time ELENCO CAST
she visited her hometown. Takako faces the after effects of the Nobuko Otowa, Osamu
A-bomb when she travels around the city to call on old friends. Takizawa e Miwa Saito
DIREÇÃO DIRECTION
Kaneto Shindo
PRODUÇÃO PRODUCTION
Dragão
Felizardo Nº5
Lucky Dragon No 5 /
Daigo Fukuryu Maru
Toshio Itoya,
Setsuo Noto e Japão, 1959, 110’
Tengo Yamada
ROTEIRO WRITER
Em 1954, logo após os testes nucleares dos
Kaneto Shindo e EUA no Atol de Bikini, a tripulação de
Yasutarô Yagi um navio pesqueiro sofre com a
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
contaminação radioativa.
Eikichi Uematsu
ELENCO CAST
In 1954, in the aftermath of US nuclear tests
Jukichi Uno e on Bikini Atoll, a crew of tuna fisherman
Nobuko Otowa suffers from radioactive contamination.
panorama histórico
historical panorama
127
A Ilha Nua
The Naked Island/
Hadaka no Shima
DIREÇÃO DIRECTION
Kaneto Shindo
PRODUÇÃO PRODUCTION
DIREÇÃO DIRECTION
Japão, 1960, 95’ Kaneto Shindo
PRODUÇÃO PRODUCTION
O filme lida com a vida insuportavelmente difícil de uma Eisaku Matsuura e
família de quatro pessoas, os únicos habitantes de uma Kaneto Shindo
pequena ilha japonesa no arquipélago Setonaikai. Várias ROTEIRO WRITER
vezes por dia eles remam até a ilha vizinha para buscar Kaneto Shindo
água para os seus campos miseráveis. FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
O Homem
Human / Ningen
Japão, 1962, 117’
Setsuo Noto
ROTEIRO WRITER
O barco Netuno fica à deriva após uma violenta tem-
Kaneto Shindo pestade. O desespero dos quatro tripulantes aumenta
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
quando a comida e a água terminam.
Kiyomi Kuroda
ELENCO CAST
The Kaijin Maru ship is left adrift after losing all means of
Taiji Tonoyama, Nobuko Otowa, navigation in a storm. The four people on the ship become
Kei Satô e Kei Yamamoto increasingly desperate as food and water run out.
Kiyomi Kuroda
The film deals with the intolerably hard life of a family of EDIÇÃO EDITOR
four, the only inhabitants of a very small Japanese island Toshio Enoki
in the Setonaikai archipelago. Several times a day they ELENCO CAST
row over to the neighboring island to fetch water for their Nobuko Otowa e
miserable fields. Taiji Tonoyama
panorama histórico
historical panorama
129
A Mãe
Mother / Haha
Onibaba
A Mulher Demônio
DIREÇÃO DIRECTION
Japão, 1963, 100’ Kaneto Shindo
Onibaba / Onibaba
PRODUÇÃO PRODUCTION
Tamiko é mãe solteira. Seu filho está ficando cego. O
diagnóstico é tumor cerebral. Não há dinheiro para a
cirurgia. Ela pede auxílio à mãe, Yoshie. A ajuda financeira
é negada, mas Yoshie arranja um casamento para Tamiko,
a fim de que o novo marido pague pela urgente cirurgia.
Toshio Itoya,
Eisaku Matsuura,
Tamotsu Minato
e Setsuo Noto
ROTEIRO WRITER
Kaneto Shindo
Tamiko is a single mother. Her son Toshio is going blind. He FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
is diagnosed with a brain tumour. She does not have the Kiyomi Kuroda
money for surgery. She asks her mother Yoshie for money. ELENCO CAST
Yoshie refuses but arranges a marriage with another single Nobuko Otowa e
parent, so that the new groom pays for the urgent surgery. Haruko Sugimura
Japão, 1964, 100’
DIREÇÃO DIRECTION
Kaneto Shindo Século 14, Japão. Esperando o filho que está na guer-
PRODUÇÃO PRODUCTION
ra, uma mulher e sua nora sobrevivem em uma aldeia
Hisao Itoya, Tamotsu Minato através de tocaias que armam para alguns soldados,
e Setsuo Noto matando-os e vendendo seus pertences. Com a morte
ROTEIRO WRITER
do filho, a mãe põe em prática um plano diabólico para
Kaneto Shindo manter a companhia de sua nora.
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Kiyomi Kuroda In a 14th century Japan, waiting for the son who is at war,
EDIÇÃO EDITOR
a woman and her daughter-in-law survive in a village by
Toshio Enoki ambushing some soldiers, killing them and selling their
ELENCO CAST
belongings. With the death of her son, the mother puts
Nobuko Otowa e into practice a diabolical plan to keep the company of her
Jitsuko Yoshimura daughter-in-law.
panorama histórico
historical panorama
131
homenagem
foto: Marcelo Novaes
tribute
The wise of the tribe
O sábio da tribo
André Trigueiro
André Trigueiro
When Washington Novaes
abandoned the bad idea of being
a lawyer - nothing against the
profession, but it’s hard to imagine
him doing so well other jobs
than those related to the field of
communication - and ventured into
journalism, Brazil was ashamed of
its environmental exuberance (has
it changed?).
Development was synonymous
of smoke, and the Amazon needed
to be occupied and exploited with
no respite, the overcrowded cities
were increasing, and São Paulo
“could not stop” . It was a time
when no one studied journalism
in the Communication Universities
– they didn’t even existed – and
a remarkable generation
of journalists “born in the
newsrooms” lent a new identity to
the national press, less provincial
and more daring in seeking new
languages and task assignments.
“In those days, we used to find
Washington a little bit weird.
Quando Washington Novaes abandonou a péssima ideia de ser advogado – nada contra a profissão, mas é
difícil imaginá-lo realizando tão bem
outros ofícios que não aqueles relacionados à área da comunicação - e
se aventurou no jornalismo, o Brasil
tinha vergonha de sua exuberância
ambiental (será que isso mudou?).
Desenvolvimento era sinônimo de fumaça,
a Amazônia precisava ser ocupada e explorada
sem trégua, acelerava-se o crescimento desordenado das cidades, e São Paulo “não podia
parar”. Era uma época em que não se aprendia jornalismo em faculdades de comunicação
– elas sequer existiam – e uma notável geração
de jornalistas “criados nas redações” emprestava uma nova identidade à imprensa nacional,
menos provinciana e mais ousada na busca de
novas linguagens e pautas.
“Naqueles tempos a gente achava o
Washington meio esquisito. Quando a maioria de nós só pensava em driblar a censura e
denunciar as mazelas do regime militar, lá
vinha ele com aquelas pautas de meio ambiente.
homenagem
tribute
133
Quando a maioria de nós só
pensava em driblar a censura e
denunciar as mazelas do regime
militar, lá vinha ele com aquelas
pautas de meio ambiente.
When most of us thought only
in circumventing the censorship
and denounce the evils of the
military regime, there he was
with those assignments related
to environment. In the course of
time, we saw that Washington was
a pioneer, the first to notice these
problems”, said Zuenir Ventura,
another veteran of this golden
generation of journalism, in a
statement here rescued from the
memory during a debate in Goiás.
It was a time when there were no
licensing, ministry or departments
(nor state nor local ones) for
environment, no one spoke
about “environmentally friendly”
neither about “sustainable
development”. There was not
ISO 14,000, environmentally
Com o tempo, a gente viu que o Washington foi certified products, Green Party or
um pioneiro, ao perceber primeiro esses pro- Greenpeace. Environment was a
blemas”, disse certa vez Zuenir Ventura, outro matter of “hippies” or “alienated
veterano desta geração de ouro do jornalismo, people” - not to mention other
num depoimento resgatado aqui de memória far more offensive names, used
in order to disqualify anyone
durante um debate em Goiás.
Era uma época em que não havia licencia- who dared to give it a more
mento ambiental, ministério ou secretarias serious treatment. Washington
(estaduais ou municipais) de meio ambiente, belongs to the very select group
ninguém falava em “ecologicamente correto” of journalists who bravely
muito menos em “desenvolvimento sustentável”. paved the way toward a new
Não havia ISO 14.000, produtos certificados consciousness within newsrooms.
ambientalmente, Partido Verde ou Greenpeace. Wherever he has passed, he
Meio ambiente era assunto de “bicho grilo” ou “contaminated” co-workers with
“alienados” – para não mencionar outras denomi- this strange determination to
nações bem mais ofensivas, que tentavam des- denounce the evils of a predator
qualificar quem ousasse lhe dar um tratamento development model, short-termed
mais sério. Washington pertence ao seletíssimo and doomed to destroy the natural
grupo de jornalistas que pavimentou com cora- non-renewable resources that are
gem esse caminho na direção de uma nova cons- essential for human life and even to
the economy. Intelligence, credibility,
ciência dentro das redações.
Por onde passou, “contaminou” os colegas good sources and flawless text
de profissão com essa estranha determinação (direct, incisive, invariably packed
em denunciar as mazelas de um modelo de with striking data ) were precious to
desenvolvimento predador, de curto prazo e gradually open the deserved spaces
condenado ao fracasso por destruir os recursos he would conquer along this journey.
naturais não renováveis fundamentais à vida e
à própria economia. Inteligência, credibilidade,
boas fontes e um texto irretocável (direto, incisivo, recheado de dados invariavelmente contundentes) foram aliados preciosos para abrir,
aos poucos, os merecidos espaços que conquistaria ao longo dessa jornada.
Com passagem pelos mais importantes
veículos de comunicação do Brasil, exercendo as funções de repórter, editor, produtor,
comentarista, articulista, diretor e consultor,
Washington Novaes conquistou respeito e
admiração pela farta produção multimídia num
filão carente de especialistas. Desde 1997 seus
artigos no jornal O Estado de São Paulo vêm
inspirando o primeiro escalão da República,
parlamentares e ONGs, despertando o senso
de urgência onde havia desleixo e omissão. Não
por acaso, foi ele o escolhido para estruturar as
bases de discussão da Agenda 21 brasileira, um
imenso receituário de como alcançar a utopia
da sustentabilidade num país com o tamanho e
a complexidade do Brasil.
De terno e gravata cobrindo diferentes
Conferências da Organização das Nações
Unidas (ONU), nas diversas incursões pelo
tão castigado e querido Cerrado ou num furgão com uma numerosa equipe de TV num
When most of us thought only about
circumventing the censorship and
denouncing the evils of the military
regime, there he was with those
assignments related to environment.
Working on the most important
communication medias of Brazil,
where he worked as a reporter,
editor, producer, commentator,
writer, director and consultant,
Washington Novaes gained respect
and admiration for his abundant
multimedia production in an area
in need of experts. Since 1997
his articles in the newspaper O
Estado de Sao Paulo have been
inspiring the first echelon of the
Republic, parliamentary and NGOs,
awakening the sense of urgency
where there was negligence and
omission. Not coincidentally,
he was chosen to structure the
basis of Brazilian Agenda 21, an
immense prescription on how to
achieve the utopia of sustainability
in a country with the size and
complexity of Brazil.
Wearing suit and tie covering
different Conferences of the United
Nations (UN), in the various
incursions into his so punished
and beloved Cerrado or in a van
with a large TV staff on a tour
over various European countries
in order to monitor the disposal
of waste in the old continent Washington always practiced the
noblest of all possible occupations
within journalism: of being a
reporter. Being a witness to History,
being close to the events, feel
the “smell of the news” gives
unquestionable credibility to those
who has the task of registering
the most important events of our
time. But when it comes to the
environment, media professionals
are subject to certain risks. It was
Washington who denounced in
1996, in a meeting with journalists
in Sao Paulo, what is at stake
in this area of journalism: “I
homenagem
tribute
135
tour por vários países da Europa - para acompanhar a destinação final do lixo no velho continente - Washington sempre praticou a mais
nobre de todas as ocupações possíveis dentro
do jornalismo: a de repórter. Ser testemunha da
História, estar perto dos acontecimentos, sentir
o “cheiro da notícia” afere inquestionável credibilidade a quem tem a missão de registrar os
fatos mais importantes do nosso tempo. Mas
quando o assunto é meio ambiente, os profissionais de imprensa estão sujeitos a certos
riscos. Foi o próprio Washington quem denunciou em 1996, num encontro com jornalistas
em São Paulo, o que está em jogo nessa área do
jornalismo: “Acho que a questão ambiental é
ameaçadora para os jornalistas na medida em
que os jornalistas têm uma vida pessoal muito
pouco adequada em termos ambientais. O jornalista, em geral, bebe muito, fuma muito, leva
uma vida extremamente competitiva, apressada,
estressante, onde a disputa pelo poder está sempre muito presente dentro e fora do trabalho,
mora em cidades com problemas ambientais
gigantescos, todas essas coisas. Ele vai ter que
se perguntar um pouco sobre sua vida. Será
que é essa mesmo a vida que eu quero? Será
que é essa a vida que eu devo levar?”.
Será que Washington sabia exatamente o
“risco” que corria quando começou a registrar
em reportagens premiadas a realidade das
comunidades indígenas pelo Brasil? Foi no
think the environmental issue
is a threatening to journalists
considering that journalists have
a personal life very little suitable
considering environmental
aspects. Journalists usually drink
too much, smoke too much, takes
an extremely competitive, hurried
and stressed life, where the power
struggle is always present inside
and outside work; he lives in
cities with huge environmental
problems, all these things . He’ll
have to wonder a bit about his own
life. Is this the life I really want? Is
it the life I really should live?”
Did Washington know exactly
under what “risk” was he when
he began to record his rewarded
articles about the reality of
indigenous communities in
Brazil? It was in Xingu that
something different happened
to him. His immersion in five
different villages consumed two
months of travel, 70-hour in motor
boat or canoes, and 500 miles
on foot. The experience affected
him deeply. In a casual encounter
with Washington on a plane, the
anthropologist Darcy Ribeiro
noticed a strange look
in his friend’s eyes :
you already know
Washington Novaes gained respect and “Now
that it’s not possible
admiration for his abundant multimedia to pass unscathed
by the experience
production in an area in need of experts. of
seeing the world
through the Indians’
Washington Novaes conquistou
respeito e admiração pela farta
produção multimídia num
filão carente de especialistas.
eyes”. And predicted: “You’ll never
be the same person”
The “curse” of Darcy was
confirmed in the renewed
willfulness of this man, always
combative and willing, in favor of
a journalism committed to a better
and fairer world.
I owe Washington Novaes
important choices I have made in
my career. Especially to understand,
as a journalist, the real dimension
Xingu que algo diferente lhe aconteceu. Sua of environmental issues in modern
imersão em cinco diferentes aldeias consu- life and in my profession. It’s
miu dois meses de viagem, 70 horas de barco honestly a privilege to have him as
a motor ou canoas, 500 quilômetros a pé. A a reference, as a friend and, as the
experiência o marcou profundamente. Num Indians say, “the wise of the tribe.”
encontro casual com Washington num avião, Finally , here’s an important tip :
o antropólogo Darcy Ribeiro percebeu um do not call him as “environmental
brilho diferente no olhar do amigo: “Agora journalist”. More than once I saw
você já sabe que não se passa incólume pela him decline with elegance such
experiência de ver o mundo com os olhos dos presentation. Washington is simply
índios”. E vaticinou: “Você nunca mais vai ser a journalist those who masterfully
a mesma pessoa”.
knows “how to poke” gigantic
A “maldição” de Darcy se confirmou na obsti- economic and political interests
nação renovada desse homem, sempre aguerrido that enrich under conditions that
e disposto, em favor de um jornalismo compro- are not sustainable. It belongs
metido com um mundo melhor e mais justo.
to him the phrase that appears
Devo a Washington Novaes escolhas impor- again and again in articles wrathful
tantes que fiz na minha carreira. Especialmente with the governmental negligence
a de entender, como jornalista, a real dimensão towards environmental matters
dos assuntos ambientais na vida moderna e “The environmental issue should
homenagem
tribute
137
ENTREVISTA
Eu sempre tento esclarecer
que não sou ambientalista
no meu ofício. É sinceramente um privilégio
tê-lo como referência, amigo e, como diriam os
índios, “o sábio da tribo”.
Por último, aqui vai uma dica importante:
não o chamem de “jornalista ambiental”. Por
mais de uma vez eu o vi declinar, com elegância, esta apresentação. Washington é simplesmente jornalista, daqueles que sabem “cutucar”
com maestria os gigantescos interesses econômicos e políticos que se locupletam no que não
seja “sustentável”. É dele a frase que aparece
reiteradas vezes em artigos indignados com o
descaso dos governos para com os assuntos de
meio ambiente: “a questão ambiental deveria
ser o centro e o princípio de todas as políticas”.
Podemos ainda estar muito longe disso, mas é
nessa direção, como já defendia Washington
décadas atrás, que devemos caminhar.
André Trigueiro é jornalista com Pós-graduação
em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ onde hoje
leciona a disciplina Geopolítica Ambiental, professor e
criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ,
autor dos livros Mundo Sustentável 2 – Novos Rumos
para um Planeta em Crise (Ed.Globo, 2012); Mundo
Sustentável - Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta
em transformação (Ed.Globo, 2005) e Espiritismo e
Ecologia (Ed.FEB, 2009);
Coordenador editorial e um dos autores do livro Meio
Ambiente no século XXI (Ed.Sextante, 2003). Durante
16 anos foi âncora e repórter do Jornal das Dez da Globo
News. Desde abril de 2012, vem atuando como repórter
do Jornal Nacional e colunista do Jornal da Globo, onde
apresenta o quadro Sustentável, especialmente criado para
ele na Rede Globo. É editor-chefe do programa Cidades e
Soluções, da Globo News, comentarista da Rádio CBN e
colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro.
be the center and principle of all
policies”. We may be still far from
it, but it is in this direction, as
already advocated by Washington
decades ago, that we are supposed
to walk .
André Trigueiro is a journalist with
a postgraduate degree in Environmental
Management from COPPE / UFRJ where
today he teaches Environmental Geopolitics. He is a professor and developer of the
Environmental Journalism Course at PUC
/ RJ. Autor of “Sustainable World 2 - New
Directions for a Planet in Crisis” from Ed
Globo, 2012, “Sustainable World - Making
Space in Media for a Planet in transformation” from Ed.Globo, 2005 and “Spiritualism and Ecology” from Ed FEB 2009
He is editorial Coordinator and one of
authors of the book “Meio Ambiente
do Século XXI from Ed Sextante, 2003
(Environment in the XXI century). During
16 years he was anchor and reporter
for “Jornal das Dez” at Globo News.
Since April 2012, has been working as a
reporter for “Jornal Nacional” and as a
columnist for “Jornal da Globo”, where
he presents “Sustentável” (Sustainable)
a framework especially created for
him on Rede Globo. He is the general
editor of “Cidades e Soluções (Cities
and Solutions) of Globo News, commentator at CBN Radio and a voluntary
employee for Rio de Janeiro Station.
Numa tarde de janeiro, nos jardins da TV Cultura em São Paulo,
Washington
Novaes
concedeu
a entrevista abaixo às jornalistas Paulina Chamorro e Mônica C.
Ribeiro. Partindo de sua atuação
como documentarista e jornalista e
da experiência como Secretário de INTERVIEW
Meio Ambiente no Distrito Federal, I always try to clarify that I
Novaes aborda questões que o país am not environmentalist
não pode mais tratar em banho-maria: saneamento, resíduos sólidos, In the end of January, in the
mudanças climáticas, matriz energé- gardens of TV Cultura in São Paulo,
Washington Novaes granted the
tica, demarcação de terras indígenas. following interview to the journalists
Paulina Chamorro and Monica
Mônica C. Ribeiro (MR): Como surgiu o C. Ribeiro. Starting from his work
interesse em trabalhar as questões ambientais as a documentary filmmaker and
em documentários e no jornalismo?
journalist, and the experience
as Environment Secretary in the
Washington Novaes (WN): Eu sempre Federal District, Novaes addresses
tento esclarecer que não sou ambientalista. issues that the country can no
Eu sou jornalista há 57 anos, e se trato muito longer treat on the backburner :
dessas questões é porque não há como isolar o sanitation, solid waste, climate
meio ambiente do restante. O meio ambiente change, energy matrix, demarcation
está em tudo que a gente faz, na nossa vida toda. of indigenous lands.
Não pensar nas chamadas questões ambientais
significa deixar os problemas crescerem, e Monica C. Ribeiro (MR) : How
esses problemas são cada vez maiores.
have your interest in working
Eu fui para a televisão em 1973 - até então on environmental issues in
só tinha trabalhado em jornais e em revistas - documentaries and journalism
dirigir o jornalismo da TV Rio, e comecei a appeared?
tratar muito dessas questões. Em seguida fui
para a TV Globo ser chefe de redação do Globo Washington Novaes (WN): I
Repórter. Lembro que o primeiro programa que always try to clarify that I am not an
eu dirigi pessoalmente foi sobre uma grande environmentalist. I ‘m a journalist
inundação em Pernambuco, principalmente for 57 years, and deal with these
em Recife e nas vizinhanças, com mortes, des- issues very often because there is
moronamentos, essas coisas. E a partir daí tudo no way to isolate the environment
foi se acentuando. Fiz vários documentários, from the rest. The environment is
homenagem
tribute
139
um deles foi Amazonas, a Pátria da Água, que
era um roteiro do Thiago de Mello, o escritor.
Esse trabalho inclusive ganhou um prêmio no
Festival de Televisão em Nova York [Medalha
de prata no Festival de Cinema e TV de Nova
York (1982)]. Depois eu fui trabalhar como produtor independente e na TV Cultura.
MR: As séries sobre o Xingu talvez sejam
seus trabalhos mais conhecidos do grande
público. Que diferenças o senhor encontrou no
Xingu passadas duas décadas entre a primeira
e a segunda série?
WN: A primeira série – eu fiz as gravações
lá no Xingu em 1985, 1986 –, foi exibida na TV
Manchete. A segunda eu fiz em 2006/2007.
Há mudanças grandes porque há uma aproximação cada vez maior dos brancos, vamos
chamá-los assim, e dos índios. Em 1986 não
havia quase comunicação, não havia estradas
para chegar ao Xingu, só se chegava por rio ou
avião. Em 2006 já havia estradas de todas as
aldeias ligando à Canarana e às cidades ali do
Mato Grosso. Em 2006, os chefes mais velhos,
que eu conhecia desde a primeira vez em que
fui ao Xingu, me falaram que eu precisava
ajudá-los a acabar com o processo de educação
bilíngue, de ensinar português para os índios
nas escolas junto com a língua nativa. Diziam:
in everything we do, in our lifetime.
Do not think about the called
environmental issues means allow
the problems to increase, and
these problems are ever growing.
I went for television in 1973 until then I had only worked in
newspapers and magazines - to
direct the journalism at TV Rio,
and started to deal a lot with
these issues. Then I went to TV
Globo to be the managing editor
of Globo Reporter. I remember
the first program I personally
drove was about a great flood in
Pernambuco, especially in Recife
and neighborhoods, with deaths,
landslides and all this stuff. And
from there everything has been
more important to me. I made
several documentaries, one of
them is Amazonas, a Pátria da Água
(Amazon , the homeland of water)
which was a script from the writer
Thiago de Mello. This work even
won an award at the Television
Festival in New York (silver medal
in Film and TV Festival of New York
in 1982 ). Then I went to work as an
independent producer and also in
TV Cultura.
MR : The series on the Xingu are
perhaps your best known works
for the general public . What
differences did you find in the
Xingu after two decades between
the first and second series?
The Indian is self-sufficient, he knows
everything that is necessary to live.
WN: The first series - I did
the recordings there in Xingu
in 1985-1986 - was shown on
TV Manchete. The second I did
in 2006-2007. There are huge
changes because there is an
increasing approximation of the
whites, let’s call them this way, and
O índio é
autossuficiente,
sabe fazer tudo que
precisa para viver.
isso vai acabar com a nossa cultura, as crianças
aprendem a falar português e depois querem
viver como os brancos, querem ter as coisas que
o branco tem. Querem ter televisão, gravador,
óculos, tênis, querem todas essas coisas. Isso
é uma questão muito séria, à qual se presta
muito pouca atenção, se é que se presta atenção.
Uma visão que me foi acentuada pelo Pierre
Clastres no livro A Sociedade contra o Estado:
ele disse que nós sempre tentamos ver o índio
não pelo que ele tem, e sim pelo que ele não
tem. Um índio não tem roupa, não tem geladeira, não tem televisão, não tem máquina de
lavar, não tem gravador, enfim. E enquanto isso
nós nos esquecemos das coisas que o índio tem.
Um índio, na força da sua cultura, não delega
poder a ninguém. Nas sociedades indígenas
que mantêm sua cultura, o chefe é o representante e o que mais sabe daquela cultura, da tradição. É o grande mediador de conflitos, mas
não dá ordem para ninguém. O índio é autossuficiente, sabe fazer tudo que precisa para viver.
Então, são dois luxos enormes: você nascer e
morrer sem receber ordem de ninguém, e nascer e morrer sem nunca depender de ninguém.
Mas para isso acontecer tem também o terceiro
ponto: a informação é aberta. Ninguém se apropria da informação para transformar em poder
político e econômico.
of the the Indians. In 1986 there
was almost no communication,
there were no roads to get to
Xingu, that could only be reached
by river or air. In 2006 there were
roads connecting all the villages
there to Canarana and to Mato
Grosso cities. In 2006, the older
heads I knew from the first time
I went to Xingu told me that I
needed to help them ending the
process of bilingual education
- teaching Portuguese for Indians
in schools together with the native
language. They said “it will end
with our culture, the children learn
to speak Portuguese and then they
want to live like the whites, they
want to have the same things that
whites have . They want television,
recorder, sunglasses, shoes, all
these stuff. This is a very serious
issue to which it is paid very little
attention, if one pays attention.
A vision that I was marked by
Pierre Clastres in the book “The
Society Against the State”: he
said that we always try to see the
Indian not by what he has, but by
what he has not. An Indian has no
clothes, no refrigerator, no TV, no
washing machine, no recorder. And
meanwhile we forget the things
that the Indian has. An Indian, on
the strength of his culture, does
not delegate power to anyone. In
indigenous societies that maintain
their culture, the boss is the
representative and the one who
knows the most of that culture and
tradition. It is the great mediator of
conflicts, but does not give orders
to anyone. The Indian is selfsufficient, knows everything that
is necessary to live. So there are
two golden rules: you are born and
die without receiving orders from
homenagem
tribute
141
Um dia, subindo a escada para um avião em
Brasília, o Darcy Ribeiro vinha atrás de mim,
nós começamos a conversar e naquela época
estava sendo exibida a primeira série sobre o
Xingu. E ele então me disse, “eu estou vendo
a sua série, estou gostando muito e agora você
já sabe de uma coisa: você nunca mais vai ser a
mesma pessoa; ninguém passa pela experiência de ver o mundo pelos olhos do índio sem se
modificar profundamente.” E isso é verdade, eu
sou uma pessoa que se modificou muito.
MR: O senhor foi Secretário de Meio
Ambiente no Distrito Federal na década de
1990. Como é que essa experiência influencia
na sua a sua produção, a sua visão das questões
ambientais?
WN: Eu fui durante dois anos Secretário de
Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia. Foi uma
experiência muito rica e muito dolorosa. Rica
no sentido de que você aprende muito lidando
concretamente com a realidade e os conflitos
anyone, and live and die without
ever relying on anyone. But for
this to happen there is also a third
point : the information is open.
Nobody appropriates information
to transform into political and
economic power.
One day, climbing the ladder to
a plane in Brasilia, Darcy Ribeiro
was behind me and we started
talking. At that time the first series
on Xingu were being showed. And
then he told me “I’m watching
your show, I’m really enjoying it,
and now you know one thing: you
will never be the same person, no
one has the experience of seeing
the world through the eyes of the
Indians without changing deeply”
And this is true, I am a person who
has changed a lot.
MR: You were Environment
Secretary in the Federal District in
the 1990s. How did that experience
influence your production, from
the perspective of environmental
issues?
WN: I was Secretary of
Environment, Science and
Technology for two years. It was a
very rich and very painful experience.
Rich in the sense that you learn a lot
when specifically dealing with the
reality and inherent conflicts - every
question you will have to address
have a conflict, a disagreement,
oppositions, difficulties that you
have to solve . I also had to face
the question of conflicts within
the government. Every day I had a
clash with a secretary: a day with the
Construction Secretary, or with the
Transports Secretary, another day
with the Sanitation Secretary, and
so on.
que ela encerra – toda questão que você vai
tratar tem um conflito, tem uma divergência, oposições, dificuldades que você tem que
resolver. Tinha também a questão de enfrentar
os conflitos dentro do governo. A cada dia eu
tinha um choque com um secretário: um dia
com o Secretário de Obras, com o Secretário de
Transportes, outro dia era com o Secretário de
Saneamento e assim por diante.
Na área do lixo, que talvez seja a mais complicada de todas, eu recebi duas ameaças de morte
por causa dos programas que comecei a tentar
implantar. Até hoje os grandes problemas que
existiam na época continuam. Por exemplo, eu
queria começar enfrentando o problema do
lixão na via estrutural, que é dentro do Plano
Piloto – já havia na época mais de mil pessoas
morando lá e vivendo no lixo. E eu tentei uma
porção de soluções: tirá-las dali, fazer conjunto
habitacional, cooperativa de reciclagem, usina
de reciclagem. Não consegui fazer nada, hoje
o lixão está lá ainda, e há cinco mil pessoas
morando nele.
Além das ameaças de morte, um suplente de
senador um dia pediu uma audiência e entrou
dizendo: “eu vou direto ao assunto, me disseram que o senhor está abrindo uma licitação
para a coleta de lixo aqui no Plano Piloto.” Eu
disse: “sim, é verdade”. E ele: “Mas isso é um
absurdo”. “Por quê?”, eu perguntei. “Porque o
lixo no Distrito Federal é meu”, e ele batia no
peito. Eu disse: “como assim, é seu?”“Eu trabalhei nas campanhas, contribuí, então o lixo é
meu.” E saiu batendo a porta. Em tudo você vai
enfrentar beneficiários que vão se opor a essas
transformações. Não é por acaso que é tão difícil
fazer qualquer coisa.
In the garbage field, which is
perhaps the most complicated of
all of them, I received two death
threats because of programs that
started trying to deploy. The major
problems that existed at the time
exists today. For example, I wanted
to start facing the problem of a
landfill in the structural pathway,
which is within the Pilot Plan at that time there were over a
thousand people living there and
surviving in the trash. And I tried
a lot of solutions : take them
away, making housing, create a
recycling cooperative, a recycling
plant. I could not do anything, the
dumpsite is still there and there are
five thousand people living on it.
In addition to the death threats, an
alternate senator one day requested
a hearing and entered saying. “I’ll
cut to the chase, I was told you
are opening a tender for garbage
collection here in the Plano Piloto “
I said: “yes it’s true”. And he : “But
this is nonsense”. Why? , I asked”.
“Because the waste the Federal
District is mine” he said, beating
his chest. I said “How do you
say it is yours?”. “I worked in the
campaigns, I contributed to them,
so the trash is mine”, and slammed
the door. In every area you will face
beneficiaries who will oppose to
these changes. It is not by accident
that it is so hard to do anything .
homenagem
tribute
143
Paulina Chamorro (PC): Vamos falar
sobre grandes temas que pontuaram os primeiros anos do século XXI no Brasil, começando com a reformulação do Código Florestal.
Depois de dois anos de discussões e idas e vindas das propostas no Congresso, qual é a opinião do senhor sobre esse processo?
WN: Ainda na década de 1980 havia incentivos fiscais para desmatamento na Amazônia
– as pessoas deixavam de pagar imposto e
com esse dinheiro faziam o desmatamento.
Grandes bancos, grandes empresas fizeram
projetos enormes de desmatamento e de pecuária na Amazônia. Depois se evoluiu, os incentivos acabaram, graças principalmente ao José
Lutzenberger [Secretário Especial de Meio
Ambiente do Brasil entre 1990 e 1992], que foi
demitido do governo inclusive por causa da oposição ao desmatamento e aos grandes projetos
na Amazônia. A legislação evoluiu, foi criando
restrições, e de repente voltou a recuar, porque
há uma pressão muito grande da agricultura e
da pecuária no sentido de não haver limitações
para as suas atividades.
Vou dar um exemplo concreto. Você tem um
avanço enorme da produção de grãos e da pecuária no Cerrado brasileiro, e o desmatamento
Um suplente de senador
um dia entrou dizendo: “Me
disseram que o senhor está
abrindo uma licitação para a
coleta de lixo aqui no Plano
Piloto. Isso é um absurdo, o lixo
no Distrito Federal é meu”
Paulina Chamorro (PC) : Let’s
talk about big issues that impacted
the early years of the twenty-first
century in Brazil, starting with the
Forest Code re-writing. After two
years of discussions, comings
and goings of the proposals in
Congress, which is your opinion
about this process?
WN: Even in the 1980s there were
tax incentives for deforestation
in the Amazon - people failed
to pay tax and used this money
for deforestation. Big banks, big
companies have made massive
deforestation and ranching
projects in the Amazon. Then
it evolved and the incentives
ended, thanks mainly to José
Lutzenberger (Special Secretary
for the Environment of Brazil
between 1990 and 1992) who was
even dismissed from government
because of the opposition to
deforestation and to the large
projects in the Amazon. The
legislation evolved and restrictions
were created, and suddenly it
turned to retreat, because there is
a lot of pressure from agriculture
and livestock in order to avoid
restrictions or limitations to their
activities.
Let me give a concrete example.
You have a huge breakthrough in
grain production and livestock
in the Brazilian Cerrado (area of
open pasture) and deforestation
is increasing enormously. Today
more than 50% of the natural
vegetation of the Cerrado has
already been removed because of
these projects. About eight years
ago I interviewed Braulio Dias, who
was the Director of Biodiversity
of the Ministry of Environment,
vem avançando enormemente. Hoje mais de
50% da área de vegetação natural do Cerrado
já foi removida por causa desses projetos. Há
uns oito anos eu entrevistei o Bráulio Dias, que
era Diretor de Biodiversidade do Ministério
do Meio Ambiente, professor universitário, e
hoje é secretário geral do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente. E o Bráulio
naquela época começou a manifestar preocupação com a água no Cerrado. Eles tinham feito
uma estimativa e uma análise que mostravam
que o Cerrado tinha no subsolo água para o
fluxo de sete anos. No Cerrado nascem 14% das
águas brasileiras, que vão para a Bacia do São
Francisco, Bacia Amazônica e Bacia do Paraná.
Uns quatro anos depois voltei a entrevistar o
Bráulio sobre isso. O estoque de água já tinha
baixado para três anos, porque com a remoção
da vegetação há um processo de compactação
do solo, e a água não se infiltra. Hoje a reposição de água no subsolo do Cerrado é menor do
que a quantidade de água utilizada. O combate
ao Código Florestal e às regras é uma coisa que
se voltará contra os próprios produtores, porque eles dependem desse ambiente.
university professor , and is now
the General Secretary of The
United Nations Program for the
Environment. And Braulio, at that
time, began expressing concerns
about the water in the Cerrado.
They had made an estimate and an
analysis showing that the Cerrado
had underground water to flow
seven years. 14% of Brazilian waters
are born in the Cerrado and then go
to the São Francisco, the Amazon
and the Parana Basins. About four
years later I interviewed Bráulio
again about . The stock of water
had already decreased to three
years because with the removal
of vegetation there is a process of
soil compaction and so the water
does not infiltrate in it. Today,
the replacement of water in the
basement of Cerrado is smaller than
the amount of water used. The fight
against Forest Code and the rules is
one thing that will turn against the
producers themselves, because they
depend on this environment.
PC: Another great point for
economic and environmental
development of Brazil is the energy
matrix. After all, does the country
have an idea about they are doing
in relation to the energy?
An alternate senator one day entered my
room saying: “I was told you are opening
a tender for garbage collection here in
the Plano Piloto. This is nonsense, the
waste of the Federal District is mine.”
WN: I don’t think so. Above all
it is missing a view able to put
in it a turning point in Brazilian
politics. Brazil is a very privileged
country, in the mainland and
with sunshine during the whole
year to plant and to harvest.
We got here about 13% of all
surface water on the planet not
to mention the underground
aquifers. We have the possibility
of an energy matrix extremely
homenagem
tribute
145
O combate ao Código Florestal
e às regras é uma coisa que
se voltará contra os próprios
produtores, porque eles
dependem desse ambiente.
clean, renewable, unique in the
world . But in 2013 we had energy
auctions where the share of wind
energy was prohibited. Why?
Because it already has prices to
compete with traditional sources,
including hydroelectric, and this
affects the interests of many
sectors. In the northeast we have
over 80 wind farms ready, but
there are no lines to connect
them to the main system, and it
is a government obligation on the
contracts signed with companies,
with the aggravating circumstance
that the government has to pay for
the energy that has not been used.
It is also not possible to continue
with this system of transmission
lines with two thousand, three
thousand, four thousand
kilometers. There are studies
PC: Outro grande ponto para o desenvol- that say we are losing 17 % of the
vimento econômico e ambiental do Brasil é a energy that goes through these
matriz energética. Afinal, o país tem ideia do transmission lines. Governmental
que está fazendo em relação à energia?
sectors say it is much less , around
7%, but even 7% is too much.
WN: Acho que não. Falta, principalmente,
uma visão que coloque isso como ponto deci- PC: Two draft laws approved in
sivo das políticas brasileiras. O Brasil é um país Brazil are of strong importance
muito privilegiado, de território continental, for the cities sustainability: the
com sol o ano todo para plantar, para colher. national policy on solid waste and
Temos aí uns 13% de toda água superficial do sanitation policy. Most Brazilian
planeta, fora os aquíferos subterrâneos. Nós cities have even submitted
temos a possibilidade de uma matriz energé- implementation proposals of
tica extremamente limpa e renovável, única no these two laws to the Country
mundo. Mas em 2013 tivemos leilões de ener- Government . What future do you
gia onde foi proibida a participação da energia see in this scenario?
eólica. Por quê? Porque ela já tem preço capaz
de competir com as fontes tradicionais, inclu- WN: Almost 50% of the waste
sive com a hidroelétrica, e isso atinge interesses in Brazil goes to landfills. The
de muitos setores. No nordeste já temos mais National Solid Waste Policy was
de 80 instalações eólicas prontas, mas não há made and the cities had up to
linhas para conectá-las à rede geral, e isso é August 2013 to present projects
uma obrigação do governo pelos contratos que and apply for federal funds. Less
assinou com as empresas, com o agravante de than 10% of cities have submitted
que o governo tem que pagar pela energia que their plans. Every city is required
The fight against the Forest Code and the
rules is something that will turn against
the producers themselves, because they
depend on this very environment.
não é usada. Também não é possível continuar
com esse sistema de linhas de transmissão de
dois mil, três mil, quatro mil quilômetros. Há
estudos que dizem que nós estamos perdendo
17% da energia que passa por estas linhas de
transmissão. Os setores governamentais dizem
que é muito menos, em torno de 7%. Mas
mesmo que fosse 7%, é muita coisa.
PC: Dois projetos de lei aprovados no Brasil
são de suma importância para a sustentabilidade das cidades: a política nacional de resíduos
sólidos e a política de saneamento. Grande
parte dos municípios brasileiros não apresentou nem propostas para a União para a implantação destas duas leis. Qual futuro o senhor
enxerga diante deste cenário?
WN: Quase 50% do lixo no Brasil vai para
lixões. Foi feita a Lei Nacional da Política de
Resíduos Sólidos e os municípios tinham até
agosto de 2013 para apresentar projetos e se
candidatar a recursos federais. Menos de 10%
dos municípios apresentaram planos. Todos os
municípios estão obrigados pela lei a apresentar
projetos para coleta seletiva e reciclagem. Hoje
você tem menos de 1% do lixo do Brasil indo
para usinas de reciclagem oficiais. É uma coisa
calamitosa, ainda mais que a tendência é uma
pressão muito forte para que o país caminhe
para a incineração de lixo para produzir energia,
e este é o pior dos caminhos. Primeiro, porque
é um desperdício, você está queimando recursos que poderia reutilizar, reaproveitar, reciclar.
Segundo, é um processo muito caro, porque se
você não separar o lixo orgânico do seco, terá
que usar temperaturas de mais de 900oC, e
isso custa caríssimo para não emitir dioxinas e
furanos, que são cancerígenos. E quem é que
by law to submit proposals for
selective collection and recycling.
Today you have less than 1% of
the waste going to Brazil ‘s official
recycling plants . It is a disastrous
thing, even more when there is
trend in the country for a very
strong pressure in order to produce
energy from garbage incineration,
and this is the worst way. First,
because it is a waste, you’re
burning resources that could be
reused and recycled. Second, it is
a very expensive process, because
if there is no separation between
the organic waste and dry waste, it
is necessary to use temperatures of
over 900°C, being very expensive
to avoid the production of no
dioxins and furans in the process
because they are carcinogenic. And
who separates garbage in Brazil?
Hardly anyone. Large contractors
that have decisive influence in
all Brazilian policies have set up
garbage incineration companies
and are pushing for the trash to be
incinerated.
In the area of sanitation, 40%
of the population does not have
their homes connected to sewers.
This means that these sewers are
not even gathered and go straight
to pollute Brazilian rivers. Even
the portion that is collected, only
18%, I believe, receive some form
of treatment. Not to mention that
we continue with an average 40%
of the water that comes out of the
homenagem
tribute
147
separa lixo no Brasil? Quase ninguém. Grandes
empreiteiras que têm influência decisiva em
todas as políticas brasileiras já montaram
empresas de incineração de lixo e estão pressionando para que o lixo seja incinerado.
Na área de saneamento, 40% da população
brasileira não tem suas casas ligadas a redes de
esgoto. Isso significa que estes esgotos não são
sequer coletados e vão direto poluir os rios brasileiros. Mesmo na parte que é coletada, só 18%,
eu creio, recebe alguma forma de tratamento.
Sem falar que nós continuamos com uma
perda média de 40% da água que sai das estações de tratamento e se perde no caminho antes
de chegar aos consumidores. Há alguns anos
fui a uma cidade do interior de São Paulo, onde
eu nasci [Vargem Grande do Sul], e o Prefeito
veio conversar comigo para ver se eu não podia
ajudá-lo a conseguir financiamento para um
novo reservatório de água, uma adutora e uma
estação de tratamento. Aí eu disse: “mas essa
rede de água é muito antiga, da minha infância,
e deve estar com muitos furos e vazamentos,
como acontece em quase todo o Brasil. Você
tem algum controle disso?”’ Ele respondeu:
“Nós temos tudo contabilizado, estamos perdendo 60% da água que sai da estação de tratamento”. “Mas perdendo 60% da água já tratada,
porque vocês não fazem um projeto para recuperação da rede?” Ele retrucou: “Porque não há
financiamento oficial para isso”. Bom, uns dois
No nordeste já temos mais
de 80 instalações eólicas
prontas, mas não há linhas
para conectá-las à rede geral
treatment plant lost on the way
before reaching the consumer .
A few years ago I went to a town
in the countryside of São Paulo,
where I was born (Vargem Grande
do Sul) and the Mayor came to
me to ask if I could help him get
financing for a new water reservoir,
a pipeline and a treatment plant .
Then I said, but this water network
is very old, from my childhood,
and maybe there are many holes
and leaks, as in most of Brazil. Do
you have some control of it? He
replied: “We have all accounted
for, we are losing 60% of the water
that leaves the treatment plant”.
But if you are losing 60% of the
water already treated, why do
not you do a project for network
recovery? He replied : “because
there is no government funding for
this”. Well, a couple years later I
came back and he came to me and
said he had gotten a grant from the
Ministry of Cities. And I know now
that in Recife there was a project
financed by a bank to take care of
the recovery network . But it is a
dire situation .
PC: In the book “Além da
Conquista” (Beyond Conquest)
by Scott Wallace - produced
from an expedition to Vale do
Javari along with the entourage
of Sidney Possuelo (President of
the National Indian Foundation
- FUNAI - in the 1990s and head
of the sector of isolated tribes
until 2006) - Possuelo sentences:
“our authorities are ashamed to
have such a great extension of our
forests is in the hands of naked
people using archery”. To where
do you think the indigenous issues
in Brazil are going to walk? And
In the northeast we have over 80 wind
farms ready, but there are no lines to
connect them to the main system
anos depois eu voltei e ele me procurou e disse
que tinha conseguido um financiamento do
Ministério das Cidades. E eu soube agora que
em Recife houve um primeiro projeto financiado por um banco para cuidar da recuperação
das redes. Mas é uma situação calamitosa.
PC: No livro Além da Conquista, de Scott
Wallace – produzido a partir de uma expedição
ao Vale do Javari junto com a comitiva de Sidney
Possuelo [presidente da Fundação Nacional do
Índio (Funai) na década de 1990 e chefe do
setor de tribos isoladas até 2006] –, Possuelo
sentencia: “Nossas autoridades têm vergonha
de que uma extensão tão grande de nossas florestas esteja nas mãos de gente pelada e com
arco e flecha”. Para onde o senhor acha que vai
caminhar a questão indígena no Brasil? E finalmente, como é que o Brasil vai se enquadrar no
futuro das mudanças climáticas?
WN: Essa questão de que índios são 1% da
população e têm 11% do território me faz sempre lembrar do Lévi-Strauss, que chegou a viver
entre os índios brasileiros, e que faz uma pergunta muito interessante: “Por que os índios
brasileiros – eles eram alguns milhões quando
os portugueses chegaram aqui – não massacraram todos os portugueses e continuaram
vivendo a vida deles? Pelo contrário, eles receberam os portugueses como fidalgos, fizeram
tudo para ajudá-los, e foram massacrados. Por
quê?” O Lévi-Strauss diz o seguinte: na visão de
mundo, na cosmogonia do índio, a chegada do
outro está sempre prevista. E o outro é o limite
da sua liberdade. Porque você tem que conviver,
a sua liberdade com a liberdade dele, e o índio
tentou fazer isso sempre. O índio aponta para as
finally, how is that Brazil will fit into
the future of climate change ?
WN: That Indians issues - 1%
of the population with 11% of
the territory - makes me always
remember the Levi-Strauss, who
came to live among the Brazilian
Indians and made very interesting
question : “why didn’t the Brazilian
Indians - they were a few million
when the Portuguese arrived here massacre all the Portuguese people
and continue to live their lives?
Quite on the contray, they received
the Portuguese as noblemen,
they did everything to help them
, and they were massacred.
Why?” Lévi-Strauss says the
following: in worldview, in the
Indian cosmogony, the arrival of
others is always expected. And the
homenagem
tribute
149
Hoje você tem menos de 1% do lixo do Brasil indo
para usinas de reciclagem oficiais. É uma coisa
calamitosa, ainda mais que a tendência é uma
pressão muito forte para que o país caminhe para
a incineração de lixo para produzir energia
utopias humanas – um ser autônomo que não
recebe ordens, um ser que não depende ninguém, um ser que não está condicionado. Mas
a nossa sociedade não quer ver o índio assim
exatamente porque quer as terras dele. Você tem
uma visão que é permeada por interesses econômicos quando, ao contrário, nós deveríamos
olhar cada vez mais para o índio e aprender com
ele, porque o mundo vai ter que mudar.
E respondendo à parte final, o Brasil já
enfrenta muitas dificuldades na área de mudanças do clima por causa do desmatamento, das
emissões de poluentes e de outros fatores. O
que os estudos científicos estão nos dizendo é
que se o mundo prosseguir no caminho que vai
hoje, nós teremos um aumento de pelo menos
três graus e meio na temperatura da Terra. Não
se consegue chegar a um acordo no âmbito da
Convenção do Clima para garantir a redução de
emissões e conter a temperatura. Para conter
em dois graus seria preciso reduzir em 80%
o consumo de combustíveis fósseis. E a gente
sempre esbarra em uma mesma questão, que
são as lógicas financeiras se sobrepondo às chamadas lógicas ambientais.
Today you have less than 1%
of the waste going to official
Brazilian recycling plants. It is a
disastrous thing, even more so on
account of a tendency to increase
pressure for the country to step
towards garbage incineration as
a means of producing energy.
other is the limit of your freedom.
Because you have to live together,
your freedom with the other’s
freedom, and the Indian tried to do
this forever. The Indian points to
human utopias - an autonomous
human being who does not take
orders, a human being that does
not depend on anyone, a human
being who is not conditioned. But
our society does not want to see
the Indian just because we want
his land. There is a vision that is
permeated by economic interests
when, instead of that, we should
look increasingly to the Indian and
learn from it, because the world
will have to change .
And responding to the final
part, Brazil is already facing many
difficulties in the area of climate
change due to deforestation,
emissions of pollutants and other
factors . What scientific studies are
telling us is that, if we continue in
the path we are today, we will have
an increase of at least three and
a half degrees in the temperature
of Earth. It hasn’t reached an
agreement within the UNFCCC to
ensure the emissions reduction
and the containment of the
temperature. In order to contain
two degrees we would need to
reduce by 80% the consumption of
fossil fuels . And we always bump
into the same issue, that are the
financial logics overlapping the so
called environmental logic .
Amazonas,
a Pátria da Água
Amazonas, Water Nation
Brasil, 1981, 51’
DIREÇÃO DIRECTOR
Washington Novaes Amazonas, a Pátria da Água, produzido e exibido pelo
PRODUÇÃO PRODUCER
Globo Repórter, foi baseado em um texto do poeta
Ezequiel Santos Thiago de Mello (que aparece na tela com algumas faROTEIRO WRITER
las). O documentário tem como tema central a compa-
Thiago de Mello e ração entre as vidas de uma criança nascida numa aldeia
Washington Novaes indígena, outra criança nascida e criada numa minúscula
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
vila no interior do Amazonas, e uma terceira criança,
Amâncio Luís Ronqui filha de mãe muito pobre, nascida num hospital público
EDIÇÃO EDITORS
de Manaus. A viagem da equipe, feita em barco, durou
Wilson Bruno, Mário algumas semanas, ao longo das quais puderam docuMurakami e mentar muito do que era a vida no interior da Amazônia
Valdir Barreto na época, suas belezas e seus dramas.
Amazonas, Water Nation, produced and broadcasted by
Globo Repórter, was based on an essay by poet Thiago
de Mello (who appears on-screen with a few lines). The
documentary has as a central theme a comparison between
the lives of a child born in an indigenous village, another
child born and raised in a tiny village in the countryside of
the Amazonas state, and a third child, daughter to a very
poor mother, born in a public hospital in Manaus. The
crew’s boat trip, which lasted a few weeks, allowed them to
document much of what life was like in the deep Amazon,
its beauties and its dramas.
homenagem
tribute
151
Desafio do Lixo
(Episódios 1 e 5)
Xingu – A Terra Mágica
(Episódio 1)
Trash Challenge (Episodes 1 and 5)
Xingu – Magical Land (Episode 1)
Brasil, 2001, 55’ e 53’
Brasil, 47 min, 1984
DIREÇÃO DIRECTOR
Xingu – A Terra
Ameaçada (Episódio 1)
Washington Novaes Com a incumbência de retratar o problema do lixo e
PRODUÇÃO PRODUCER
ROTEIRO WRITER
a equipe da TV Cultura viajaram mais de 70 mil quilô-
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Desafio do Lixo. Dois episódios foram escolhidos para
Washington Novaes metros pelas Américas e Europa para realizar a série
Xingu – Threatened Land (Episode 1)
Brasil, 49 min, 2007
Em 1984, Washington Novaes documentou cinco grupos indígenas
na região do Xingu. O resultado foi a série
Xingu – A Terra Mágica, exibida pela primeira vez em 1985 na TV
Manchete, com grande sucesso e várias premiações. Em 2006, 22
anos depois, Novaes retornou à região para documentar os mesmos
grupos – Waurá, Kuikuro, Yawalapiti, Metuktire e Panará. O resultado foi Xingu – A Terra Ameaçada. O conjunto dos documentários
registra o passado e o presente destes povos fascinantes que se
encontram hoje ameaçados.
mostrar as bem sucedidas experiências na busca de
Roberto Tibiriçá soluções para essa grave questão, Washington Novaes e
DIREÇÃO DIRECTOR
Washington Novaes
PRODUÇÃO PRODUCER
WN Produções e
Intervídeo
ROTEIRO WRITER
Cleumo Segond e compor este programa da Homenagem a Washington
Lula Araújo Novaes: o primeiro da série se debruça sobre os Estados
EDIÇÃO EDITOR
Unidos, com destaque para o esgotamento dos aterros
Sergio Antonio Pereira sanitários, a coleta seletiva, a reciclagem e o lixo nuclear;
já o quinto episódio é focado na experiência brasileira
com reciclagem de alumínio, metal, embalagens e baterias, bem como no destino dos afluentes rurais.
Washington Novaes
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Lula Araújo
EDIÇÃO EDITORS
João Paulo Carvalho e
In 1984, Washington Novaes documented five indigenous groups in the Aline Nóbrega
Xingu region. The result was Xingu – Magical Land, documentary series
screened for the first time in 1985 at the Manchete Network, achieving
great success and winning several awards. In 2006, 22 years later, Novaes
returned to the region to document the same groups - Waurá, Kuikuro,
Yawalapiti, Metuktire and Panará. The result was Xingu – Threatened
Land. The set of both series together captures the past and present of
these fascinating peoples who have their existence threatened nowadays.
Presented with task of portraying the trash issue and
showcasing successful experiences regarding this grave
matter, Washington Novaes and the Cultura Network team
travelled over 70 thousand kilometers across the Americas
and Europe to produce the Trash Challenge series. Two
episodes were chosen for this program: the first one of the
series is dedicated to the United States, highlighting above
all the exhaustion of landfills, selective collection, recycling
and nuclear waste; the fifth episode focuses on the brazilian
experience with aluminum, metal, packaging and battery
recycling, as well as the fate of rural effluents.
homenagem
tribute
153
mostra escola/
circuito universitário
school/university showcase
Trashed –
Para Onde Vai
o Nosso Lixoo?
Trashed – No Place for Waste
Reino Unido, 2012, 97 min
DIREÇÃO DIRECTOR
Candida Brady Trashed – Para Onde Vai o Nosso Lixo? olha para os risPRODUÇÃO PRODUCER
cos causados pelo lixo para a cadeia alimentar e o meio
Candida Brady ambiente através da poluição do nosso ar, terra e mar.
e Titus Ogilvy O filme revela fatos surpreendentes sobre os perigos
ROTEIRO WRITER
reais e imediatos para a nossa saúde. É uma conversa
FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER
Jeremy Irons e cientistas, políticos e pessoas comuns,
Candida Brady global, da Islândia à Indonésia, entre o astro de cinema
Sean Bobbitt BSC cuja saúde e meios de subsistência foram fundamentalEDIÇÃO EDITOR
mente afetados pela poluição de resíduos.
James Coward,
Kate Coggins Trashed - No Place for Waste looks at the risks to the food
e Jamie Trevill chain and the environment through pollution of our air,
land and sea by waste. The film reveals surprising truths
about very immediate and potent dangers to our health. It
is a global conversation from Iceland to Indonesia, between
the film star Jeremy Irons and scientists, politicians and
ordinary individuals whose health and livelihoods have been
fundamentally affected by waste pollution.
Trashed – Pra Onde Vai o Nosso Lixo? Trashed – No Place for Waste
mostra escola/circuito universitário
school show/university showcase
155
programação
Cine Livraria
Cultura
program
21.mar sexta-feira
25.mar terça-feira
15h30 Planeta Re:Pense
15h30 Os Sub-Humanos
TEMAS
campo countryside
L
(Dinamarca, 89’)
17h30 Montanhas Enevoadas
(China, 85’)
17h30 A Síndrome de Veneza
L
19h
Febre do Ouro** (EUA, 84’) 12
20h30 Debate Temática Economia
economia economy
22.mar sábado
energia energy
15h30 Fukushima: Um Registro de
povos e lugares people and places
17h30 Metamorphosen**
especial dia da água water day special program
19h
21h
* exibição em 35mm / 35m projectiom
** sessão com a presença do diretor / session attended by the film director
19h
26.mar quarta-feira
15h30 Lamento de Yumen (China, 27’)
Tóquio Waka** (Japão, 63’) L
17h30 Guerra de Areia
L
Debate Temática Energia
Promessa de Pandora
(França/ Canadá, 74’)
19h
L
23.mar domingo
L
20h30 Debate Temática Cidades
15h30 Vozes da Transição (França, 66’)
17h30 Lamento dos Camponeses**
19h
21h
L
L
Debate Temática Campo
Sinfonia do Solo (EUA, 104’)
27.março quinta-feira
15h30 Defensores do Ártico
L
(Canadá, 90’)
17h30 A Revolução do Lítio
L
(Alemanha/Espanha, 52’)
24.mar segunda-feira
19h
12
20h30 Cerimônia de Premiação
L
17h30 Costa da Morte (Espanha, 80’)
19h
Vila do Fim do Mundo**
(Reino Unido, 76’)
L
Blackfisk – Fúria Animal
(EUA, 82’)
15h30 Homem Máquina (Espanha, 15’)
Um Rio Muda de Curso
(Camboja, 83’)
L
De Para (Croácia, 10’)
A Escala Humana**
(Dinamarca, 83’)
(Luxemburgo, 71’)
16
(França/Holanda/Bélgica, 93’)
L
(Alemanha, 84’)
A Quinta Estação
20h30 Debate Mostra Competitiva
Coisas Vivas (Japão, 76’)
competição latino-americana latin american competition
L
(Alemanha, 80’)
cidades cities
(EUA , 89’)
L
(Alemanha, 90’)
L
L
20h30 Debate Temática Povos e Lugares
programação
programming
157
Reserva
Cultural
MIS
20.mar quinta-feira
24.mar segunda-feira
20h30 Blackfish – Fúria Animal
15h
(EUA, 82’)
12
17h15 Lamento dos Camponeses**
(Luxemburgo, 71’)
19h
A Revolução do Lítio
17h15 Desconectado (Índia/EUA, 83’)
19h
Metamorphosen**
10
20h30 Terra da Esperança (Japão, 133’)
L
22.mar sábado
15h
(França/Holanda/Bélgica, 93’)
17h15 Febre do Ouro** (EUA, 84’)
19h
Os Sub- Humanos
21h
16
12
L
Figurões (EUA, 99’)
12
23.mar domingo
15h
A Criação Como a Vimos
Floresta dos Espíritos Dançarinos
L
(Canadá/Suécia, 104’)
18h
Nahuas, 20 Anos Depois
Amazônia Desconhecida**
(Brasil, 70’)
21h
L
Chapada do Apodi, Morte
e Vida (Brasil, 27’)
Deserto Verde** (Argentina, 84’)
15h
17h15
19h
21h
Sinfonia do Solo (EUA, 104’) L
Vozes da Transição (França, 66’) L
Apocalipse de Verão (Brasil, 15’)
As Ruas da Minha Cidade (Uruguai, 6’)
Pacha** (Bolívia/México, 88’) L
O Último Mercador de Gelo
19h
(Dinamarca, 83’)
L
19h
L
Limites (Turquia/Alemanha, 93’)
De Para (Croácia, 10’)
A Escala Humana**
21h
20h30 Filhos de Hiroshima* (Japão, 97’) 14
25.mar terça-feira
21h
Xingu – A Terra Mágica / Xingu –
A Terra Ameaçada** (Brasil, 104’) L
Debate Homenagem –
Washington Novaes
26.mar quarta-feira
17h15 Ecumenópolis: A Cidades Sem
(Equador, 14’)
Seca (México, 90’)
L
Nature House Inc. (Reino Unido, 6’)
Fora de Quadro (Grécia, 10’)
Sempre Fui um Sonhador
(EUA, 78’)
(Japão, 115’) 10
18h
O Homem* (Japão, 117’) L
20h30 A Ilha Nua* (Japão, 94’) L
27.mar quinta-feira
15h
Dragão Felizardo Nº5*
23.mar domingo
Linear (Brasil, 7’)
74 Metros Quadrados**
(Chile/EUA, 67’)
L
L
L
(México, 82’)
L
19h
21h
Amazonas, a pátria da
água (Brasil, 52’) L
Desafio do Lixo (Brasil, 108’)
L
L
A Síndrome de Veneza
(Alemanha, 80’)
(Reino Unido, 14’)
L
25.mar terça-feira
A Quinta Estação
(Alemanha, 90’)
21h
L
(Alemanha, 84’)
Jornada ao Local Mais Seguro
da Terra (Suíça, 100’) L
17h15 O Homem Vaca (Reino Unido, 98’)
19h
Paal (México/Canadá/Suíça, 21’)
Não Há Lugar Distante**
(Peru/Espanha, 26’)
L
(Alemanha/Espanha, 52’)
22.mar sábado
15h
L
(França, 118’)
21.mar sexta-feira
16h
Somos Todos Cobaias?
26.mar quarta-feira
L
27.mar quinta-feira
19h
21h
A Mãe* (Japão, 100’) 14
Onibaba – A Mulher
Demônio* (Japão, 103’) 16
17h15 Defensores do Ártico
(Canadá, 90’)
19h
L
Vila do Fim do Mundo**
(Reino Unido, 76’)
L
20h30 A Lenda de Iya (Japão, 169’)
L
programação
programming
159
Centro Cultural
São Paulo
Cine
Olido
21.mar sexta-feira
21.mar sexta-feira
17h
20h
A Lenda de Iya (Japão, 169’)
Fukushima: Um Registro de
Coisas Vivas (Japão, 76’) L
27.mar quinta-feira
L
22.mar sábado
16h
18h
20h
14
Jornada ao Local Mais Seguro
da Terra (Suíça, 100’) L
Costa da Morte (Espanha, 81’) L
23.mar domingo
16h
18h
20h
Ecumenópolis: A Cidade Sem
Limites (Turquia/Alemanha, 93’) L
Nature House Inc. (Reino Unido, 6’)
Fora de Quadro (Grécia, 10’)
Sempre Fui um Sonhador
(EUA, 78’)
L
L
25.mar terça-feira
17h
20h
17h
L
20h
Filhos de Hiroshima* (Japão, 97’) 14
Dragão Felizardo Nº5* (Japão, 115’) 10
18h
15h
20h
17h
L
19h
L
A Criação Como a Vimos
Floresta dos Espíritos Dançarinos
L
20h
Apocalipse de Verão (Brasil, 15’)
As Ruas da Minha Cidade (Uruguai, 6’)
Pacha (Bolívia/México, 88’) L
26.mar quarta-feira
17h
19h
Desconectado (Índia/EUA, 83’) 10
Ecumenópolis: A Cidades Sem
Limites (Turquia/ Alemanha, 93’) L
27.mar quinta-feira
17h
Guerra de Areia
(França/Canadá, 74’)
19h
L
A Quinta Estação
(França/Holanda/Bélgica, 93’)
16
Nahuas, 20 Anos Depois
Amazônia Desconhecida
(Brasil, 70’)
17h
L
Desconectado (Índia/EUA, 83’)
L
L
(Peru/Espanha, 26’)
Figurões (EUA, 99’) 12
Promessa de Pandora
(EUA, 89’)
Paal (México/Canadá/Suíça, 21’)
Não Há Lugar Distante
23.mar domingo
15h
30.mar domingo
16h
18h
L
Lamento de Yumen (China, 27’)
Tóquio Waka (Japão, 63’) L
Nature House Inc. (Reino Unido, 6’)
Fora de Quadro (Grécia, 10’)
Sempre Fui um Sonhador
(EUA, 78’)
L
A Síndrome de Veneza
(México, 82’)
(Reino Unido, 14’)
L
Chapada do Apodi, Morte
e Vida (Brasil, 27’)
Deserto Verde (Argentina, 84’)
(Alemanha, 80’)
Montanhas Enevoadas
(China, 85’)
17h
19h
22.mar sábado
Guerra de Areia
(França/Canadá, 74’)
Linear (Brasil, 7’)
74 Metros Quadrados
(Chile/EUA, 67’)
29.mar sábado
16h
17h
19h
Onibaba – A Mulher
Demônio* (Japão, 103’) 16
A Mãe* (Japão, 100’) 14
(Canadá/Suécia, 104’)
Somos Todos Cobaias?
(França, 118’)
Terra da Esperança (Japão, 133’)
Lamento de Yumen (China, 27’)
Tóquio Waka** (Japão, 63’) L
28.mar sexta-feira
O Homem Vaca
(Reino Unido, 98’)
17h
20h
25.mar terça-feira
10
L
O Último Mercador de
Gelo (Equador, 14’)
Seca (México, 90’) L
26.mar quarta-feira
17h
20h
A Ilha Nua* (Japão, 94’) L
O Homem* (Japão, 117’) 14
programação
programming
161
Matilha
Cinusp
Maria Antônia Cultural
21.mar sexta-feira
20h
21.mar sexta-feira
Lamento dos Camponeses
18h
L
(Luxemburgo, 71’)
(França, 118’)
20h
22.mar sábado
18h
L
17h
20h
L
Metamorphosen (Alemanha, 84’)
Febre do Ouro (EUA, 84’) 12
Terra da Esperança
L
(Japão, 133’)
23.mar domingo
18h
20h
12
22.mar sábado
Homem Máquina (Espanha, 15’)
Um Rio Muda de Curso
(Camboja, 83’)
L
Blackfish – Fúria Animal
(EUA, 82)
De Para (Croácia, 10’)
A Escala Humana
(Dinamarca, 83’)
20h
Somos Todos Cobaias?
Amazonas, a pátria da
água (Brasil, 52’) L
23.mar domingo
L
20h
Xingu – A Terra Mágica / Xingu –
A Terra Ameaçada (Brasil, 104’) L
25.mar terça-feira
18h
20h
Jornada ao Local Mais Seguro
da Terra (Suíça, 100’) L
Desafio do Lixo (Brasil, 108’)
26.mar quarta-feira
18h
Os Sub-Humanos
(Alemanha, 90’)
20h
L
Promessa de Pandora
(EUA , 89’)
L
27.mar quinta-feira
20h
Planeta Re:Pense
(Dinamarca, 85’)
L
programação
programming
163
3a Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental 3rd Ecofalante Environmental Film Festival
20 a 27 de março de 2014
patrocínio . sponsorship
Eaton
White Martins
curadoria panorama histórico
historical panorama curatorship
Alex Andrade
apoio . support
PNUMA – Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente
GVces – Centro de Estudos
em Sustentabilidade da
Fundação Getúlio Vargas
Instituto Akatu
Rede Nossa São Paulo / Programa
Cidades Sustentáveis
Instituto Pólis
Le Monde Diplomatique Brasil
Instituto Envolverde
Revista Piauí
Catraca Livre
Rádio Eldorado FM
Rádio Estadão
Instituto de Estudos Avançados
da Universidade de São Paulo
Programa de Pós-Graduação
em Ciência Ambiental da
Universidade de São Paulo
Pró-Reitoria de Cultura e
Extensão Universitária da
Universidade de São Paulo
Centro Universitário Maria Antônia
Cinusp
Centro Cultural São Paulo
Galeria Olido
Matilha Cultural
Prefeitura de São Paulo
direção geral . director
Chico Guariba
produção executiva
executive producer
Daniela Guariba
coordenação de produção
production coordinator
Leonardo Mecchi
coordenação de comunicação
communication coordinator
Mônica C. Ribeiro
pesquisa de filmes
film’s research
Cândida Guariba
produção de filmes
film’s production
Cândida Guariba
internacional/international
Lara Lima e Alex Andrade
latino americana/latin american,
panorama histórico/historical panorama
homenagem/tribute
assistente de produção
production assistant
Amanda Miranda
Projeto realizado com o apoio
do Governo do Estado de São
Paulo, Secretaria da Cultura,
Programa de Ação Cultural 2013
assistente de comunicação
communication assistant
Olivia Steed
produção . production
Doc e Outras Coisas
receptivo . receptive
Henrique Valente da Costa
realização . realization
Ecofalante
monitoria . monitoring
Fabiana Amorim
curadoria . artistic director
Francisco César Filho
assessoria de imprensa . press
office
ATTi Comunicação e Ideias Eliz Ferreira e Valéria Blanco
comissão de seleção
selection committee
Alex Andrade, Beth Sá Freire,
Cândida Guariba, Chico
Guariba, Liciane Mamede,
Marcio Miranda, Pedro Roberto
Jacobi e Saulo França Rosa
still
Rodrigo Paiva
concepção visual,
projeto gráfico e site
visual and graphic design
and website
Amatraca Design Gráfico
aplicativo para iphone e android
iphone and android app
Ambientic
tradução de textos . translation
Luciana Quadros Canassa
vinheta . vignette
Estúdio Teremim
trilha sonora . soundtrack
PlayRK30
troféu . trophy
Design Possível & Projeto Tear
tradução e legendagem
eletrônica dos filmes
translation and electronic
subtitling of films
4estações
Video Trade
tradução simultânea dos debates
simultaneous translation
of debates
Tela Mágica Produções
ARK Intérpretes
agradecimentos . thanks
Alejandro Hormigo Vega, Ana Paula
Calvo, Bianca Alves Costa, Brian
Belovarac, Carlos Muñoz Vásquez,
Catalina Mac-Auliffe, CEDOC TV Globo, Célio Franceschet, Cleo
Araujo, David Kalischer, Fernando
Ferrari Duch, Fernando Tadeu,
Fundação Padre Anchieta, Gabrielle
Araújo, Gaya Machado, Helen Y.
Altimeyer, Intervídeo Digital, Isadora
Candian dos Santos, Ivo Pons, Jarbas
Vargas Nascimento, Jiro Shindo,
João Novaes, José Antônio Medeiros,
Laure Bacqué, Leticia Santinon,
Marcelo Novaes, Marcelo Ramalho,
Maria de Toledo Piza, Mariani Ohno,
Munir Younes Soares, Ninho Moraes,
Patricia Primon, Patrícia Rabello,
Paula Asprella, Paulina Chamorro,
Pedro Novaes, Rafael Carvalho,
Renato Nery, Ricardo Barreto,
Roberto D’Ugo Junior, Sérgio
Alpendre, Sergio Minehiro Kitayama,
Thiago André e Vera Diegoli.
apresentação
patrocínio
apoio
apoio institucional
CU LTUR A
realização
produção

Documentos relacionados