A NOIVA DE CRISTO Renovando Nossa Paixão Pela Igreja Charles

Transcrição

A NOIVA DE CRISTO Renovando Nossa Paixão Pela Igreja Charles
A NOIVA DE CRISTO
Renovando Nossa Paixão Pela Igreja
Charles R. Swindoll
Editora Vida
Dedicados à Excelência
A Missão da Editora Vida é prover literatura adequada para alcançar
pessoas necessitadas de Jesus Cristo, e ajudá-las a crescer em sua fé.
ISBN 0-8297-2048-0 Categoria: Vida Cristã Este livro foi publicado
em inglês com o título The Bride por Zondervan Publishing House © 1995
por Zondervan Publishing House © 1996 por Editora Vida Traduzido por
Wanda de Assumpção Todos os direitos reservados na língua portuguesa por
Editora Vida, Av. da Liberdade, 902 -- São Paulo, SP 01502-001 Telefone:
(011) 278-5388 Fax: (011) 278-1798
Digitalizado e Revisado por GILMAR AMARO BARBOSA; E-mail:
[email protected]
As citações bíblicas foram extraídas da Edição Contemporânea da
Tradução de João Ferreira de Almeida, publicada pela Editora Vida.
Impresso nos Estados Unidos da América
Capa: Andréa Lyra e Gregory Peck
Dedicatória
Este livro é dedicado a KENNETH P. MEBERG, PH.D. cuja estreita
amizade, sábios conselhos e ideias perspicazes, há muitos anos atrás,
quando eu estava começando a pastorear a Primeira Igreja Evangélica Livre
de Fullerton, comprovaram ser inestimáveis quando crescemos e nos
multiplicamos.
Enquanto aquela congregação colhe os dividendos de seu investimento
de tempo e energia, agradeço a Deus por tudo o que recordo do meu amigo.
Conteúdo
Apresentação 7
Introdução 9
Um
Nosso Propósito 15
Dois
Nossos Objetivos 39
Três
Um Interesse Genuíno pelos Outros 53
Quatro
Um Estilo Contagiante 73
Cinco A Diferença entre a Mentalidade Metropolitana e a Comunitária
95
Seis
O Que Muda e o Que Não Muda 125
Sete
Ministrando nos Últimos Dias 147
Oito
“Permanecendo Prontos Até a Hora de Largar"
Nove
O Valor da Integridade 189
Dez
Restaurando o Respeito pelo Ministério 219
Conclusão 243
Notas Bibliográficas 247
APRESENTAÇÃO
Nós, que constituímos o corpo de Cristo do século vinte, estamos
vivendo alguns dos anos (se não os anos) mais significativos da história
do cristianismo. Este livro nos dá uma boa visão da Noiva de Cristo e nos
ajuda a compreender o que a igreja deveria ser.
Por dois mil anos a igreja tem sido uma força poderosa para
mudança, um dínamo espiritual que nada conseguiu deter. Congregações
vitais que estendem as mãos às suas comunidades e indivíduos dedicados
cujas vidas demonstram o amor de Deus têm revirado sociedades de cabeça
para baixo no decorrer dos séculos. Mas a igreja no final do século vinte
parece ter-se esquecido de que é a Noiva de Cristo e do potencial que tem
quando fica ao lado de seu Noivo Todo-poderoso.
Chuck Swindoll oferece ideias para revitalizar a igreja nesta
última década do século vinte. Com vivacidade e humor, ele mostra o que
podemos realizai" individual e coletivamente para fazer a saúde da igreja
retornar ao vibrante modelo do primeiro século.
Swindoll é incisivo quando trata de assuntos difíceis como a
integridade pessoal, a capacidade de mudar sem transigir e a restauração
do respeito pelo ministério. Contudo, ao mesmo tempo, Chuck nos encoraja
a demonstrar um interesse genuíno pelos outros, uma fé contagiante e uma
visão que transforma estranhos em amigos, e inimigos em crentes. Ele
oferece um programa de mudanças que pode ser o catalisador da liberação
do poder de Deus em nossas vidas, nossas congregações e nosso mundo.
Cristo ainda escolhe Sua Noiva para representá-lo, mesmo após vinte
séculos por vezes maculados. Swindoll sabe disso. E com mais de 30 anos
de experiência pastoral, ele oferece sabedoria bíblica, senso de humor, e
uma estratégia prática para o desenvolvimento de um ministério pessoal
relevante e de uma igreja que pode abalar o mundo.
Charles R. Swindoll serve agora como presidente do Seminário
Teológico de Dallas, ajudando a preparar uma nova geração de homens e
mulheres para o ministério. E também presidente de Insight For Living
(Razão para Viver), um ministério radiofônico que é transmitido
diariamente ao mundo todo (no Brasil pela Rádio Transmundial). O coração
de Chuck está no pastorado, tendo servido à Primeira Igreja Evangélica
Livre em Fullerton, Califórnia, por quase vinte e três anos.
Os Editores
INTRODUÇÃO
Sou o primeiro a vê-la quando aparece ao fundo da igreja. E ela faz
com que as cabeças se voltem instantaneamente a cada fileira que passa.
É assim que acontece com a noiva. Ela permanece escondida de amigos
e parentes na igreja até soarem os clarins da Marcha Nupcial de Wagner.
Então, ela surge aos olhos de todos aqueles que estão de frente para a
congregação. Fileira a fileira, as pessoas se voltam para a ala central.
Elas arquejam, exclamam, riem, resplandecem, se regozijam.
A noiva mexe com todos nós. Ela é o centro da cerimônia nupcial e
irradia toda esperança e sonho naquele dia. Talvez seja por isso que Deus
tenha escolhido o símbolo da Noiva para representar a igreja. Cristo
queria que sua igreja fizesse com que as cabeças se voltassem, que
virasse o mundo de cabeça para baixo, e chamasse atenção sobre si mesma
como o local de esperança e fé num mundo permeado pelo cinismo.
Jesus falava sempre sobre núpcias (Mateus 22:1-14; Mateus 25:1-13;
Lucas 12:35-36; Lucas 14:7-11; João 2:1-11). No Antigo Testamento Deus se
referia ao povo de Israel como sua Noiva. (Oséias 2:19-20). Mais tarde
Jesus contou muitas histórias sobre banquetes nupciais, pais de noivos,
lugares em banquetes, e provisões milagrosas, e assim projetou na tela
bíblica os quadros de um casamento, sendo ele próprio o Noivo. Então, os
escritores do Novo Testamento designaram a igreja como a Noiva. E nas
últimas páginas da Bíblia ocorrem as maiores núpcias de todos os tempos,
com todos reunidos e todos se regozijando. Jesus Cristo, o Cordeiro de
Deus, e sua Noiva, a igreja, encerrarão nosso calendário com uma
celebração nupcial que fará as festividades do reveillon na Times Square
de Nova Iorque parecer um churrasquinho caseiro em Alpena, Michigan.
(Minhas desculpas a Alpena).
Após passar quase trinta anos no pastorado, cheguei a uma conclusão
surpreendente. Nós, a igreja, quase esquecemos o que somos - a Noiva de
Cristo. Isso significa que quase nos esquecemos das coisas poderosas que
podemos fazer enquanto estamos ao lado do nosso Noivo onipotente. Nas
páginas que se seguem desejo chamar-nos de volta ao nosso papel. Como
igreja, vagueamos movidos por sentimentos de fraqueza, desorientação e
falta de destino. Está na hora de nos lembrarmos novamente.
Nós, que constituímos o corpo de Cristo do século vinte estamos
vivendo alguns dos anos (se não os anos) mais significativos da história
do cristianismo. As oportunidades no cenário internacional estão-se
expandindo e são emocionantes. O privilégio de evangelizar os perdidos e
difundir a mensagem de esperança e encorajamento aos pecadores tem um
potencial maior do que nunca. Ninguém pode negar que a volta de nosso
Senhor nunca esteve tão próxima. Em muitos lugares ao redor do mundo o
cristianismo está crescendo.
Contudo, estranhamente, muitos na igreja de Cristo parecem ter
perdido a perspectiva. Valores de longa data estão sendo solapados.
Escaramuças sem importância e briguinhas internas dentro de nossas
próprias fileiras estão drenando demais a nossa energia. Em vez de
cumprir o mandato claramente definido que Deus nos deu, um grande número
de cristãos fixou o olhar em questões menores e egoístas. A gratificação
instantânea está substituindo depressa os alvos eternos. O plano de ação
que Deus estabeleceu para a igreja está sendo eclipsado por uma variedade
de atividades inventadas pelo homem que vão de espúrias a escandalosas.
Se os apóstolos, que estabeleceram os primeiros mapas para nos
guiar através dos mares incertos dos séculos, e se os reformadores, que
construíram muitas das embarcações nas quais deveríamos navegar,
voltassem após uma soneca prolongada e vissem o apuro no qual nos
encontramos, creio que seus queixos cairiam e eles nos fitariam
incrédulos. Alguns certamente perguntariam se teríamos perdido o mapa ou
perdido de vista o destino e escolhido mergulhar e nadar em outras
direções.
Este livro, embora breve e talvez simplificado demais, é uma
tentativa sincera de minha parte de oferecer uma boa visão da Noiva e
ajudar na compreensão do que a igreja deve ser. Ao fazer isto, estou
deliberadamente evitando tratar de algumas preocupações sociais e
religiosas atuais que chamam a atenção do público e frequentemente vão
parar nas manchetes ou nos tribunais do país. Tampouco trato dos vários
estilos de governo das igrejas, sobre os quais já se escreveu
suficientemente durante a última década. As questões de que trato são
muito mais básicas e claramente definidas. Mas o melhor de tudo é que
minhas sugestões são viáveis. Tendo estado pastorado por quase três
décadas, tive ampla oportunidade de testá-las. Elas funcionam.
Este livro não é uma série de teorias idealistas e pouco práticas,
mas de princípios bíblicos essenciais e realistas. Mas não se iluda
pensando que eles são fáceis de atingir. Cada um requererá enormes
quantidades de discernimento e disciplina, o que não é popular numa
geração que tem preferido imitações rápidas em lugar do genuíno. Talvez
eu deva repetir que cada resposta que apresento, cada sugestão que
ofereço, é fundamentada na Bíblia, documento que é a única fonte
inerrante endossada por Deus.
Assim, se você estiver cansado de teorias que parecem piedosas, mas
às quais falta relevância, se você estiver pronto para digerir questões
chaves e os princípios escriturísticos sobre os quais elas se baseiam, se
você estiver farto dos sonhos passivos e metas indefinidas, se você
estiver pronto para se envolver no plano de ação de Deus... este livro é
para você. Compreenda, ele não atingirá seus objetivos para você, mas o
alertará sobre o que precisa ser feito. Ele é um som estridente durante a
noite, não um tapinha amigável no ombro. Pode não dar especificamente
todos os detalhes, mas pelo menos é suficiente para forçá-lo a sair da
condição de sonolência e passar à ação.
Nunca me interessou apenas dar às pessoas "algo sobre o que
pensar". Parece-me que já acumulamos poeira suficiente permanecendo
sentados, apenas discutindo nossas dificuldades. O que faz girar a minha
manivela é motivai' as pessoas com a verdade das Escrituras, e então vêlas engatar uma primeira. O recente anúncio de três palavras para os
tênis Nike diz isso da melhor maneira: E SÓ FAZER.
Meus agradecimentos sinceros aos membros da minha família e à
equipe e congregação da Primeira Igreja Evangélica Livre de Fullerton.
Estas duas facetas da minha vida têm-me feito sempre prestar contas e
ajudado a permanecer em contato com a realidade. Foi no laboratório
cotidiano desses dois mundos que consegui transformar a teoria em
realidade.
Urge que a igreja compreenda seu papel como Noiva de Cristo. Sem
ela, o Noivo não será visto -- enquanto não voltar. Mas acho que Deus tem
um plano melhor. E esse plano logo vai fazer algumas cabeças virarem.
Chuck Swindoll
Fullerton, Califórnia
"Regozijemo-nos, e exultemos, e demos-lhe a glória! Pois são
chegadas as bodas do Cordeiro, e já a sua noiva se aprontou. (Apocalipse
19:7)
“E [Deus] sujeitou todas as coisas debaixo dos seus pés, e sobre
todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a
plenitude daquele que enche tudo em todos." (Efésios 1:22-23)
"Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja."
(Efésios 5:32)
Capítulo UM
NOSSO PROPÓSITO
Ouvi dizer que Sócrates era considerado sábio não porque soubesse
todas as respostas certas, mas porque sabia fazer as perguntas certas.
Perguntas -- as perguntas certas -- podem ser penetrantes,
conduzindo a respostas reveladoras. Elas podem expor motivos ocultos bem
como capacitar-nos a enfrentar a verdade que não havíamos admitido nem
para nós mesmos.
The Book of Questions (O Livro das Perguntas), do Dr. Gregory
Stock, é um desses volumes que tenho dificuldade em largar. Ele inclui
quase 275 perguntas penetrantes que nos fazem sair de nossa casca. Você
se descobre incapaz de esconder ou evitar a inquietação. Quer alguns
exemplos?
. Se você estivesse para morrer esta noite sem a oportunidade de se
comunicar com quem quer que fosse, do que mais se arrependeria de não ter
dito a alguém? Por que ainda não lhe disse?
· Você descobre que seu maravilhoso filhinho de um ano, devido a uma
confusão feita no hospital, não é seu. Você iria querer trocar a criança
para tentar corrigir o engano?
· Se pudesse usar um despacho para ferir alguém, você o faria?
· Sua casa, com tudo que você possui, pega fogo. Após salvar seus
entes queridos e animaizinhos de estimação, você tem tempo para entrar lá
a salvo pela última vez e apanhar algum item. Qual seria?
. Ao estacionar tarde da noite, você raspa de leve a lateral de um
Porsche. Você está certo de que ninguém mais percebeu o acontecido. O
dano é pequeno e seria coberto pelo seguro. Você deixaria um bilhete?
Não faz muito tempo que li sobre um sujeito que fez exatamente isso
-- exceto que de fato havia mais gente observando. Diante dos olhares,
ele tirou um pedaço de papel e escreveu a seguinte mensagem:
Várias pessoas aqui perto pensam que estou deixando um bilhete que
inclui meu nome e endereço, mas não estou.
Ele dobrou cuidadosamente o papel, enfiou-o sob o limpador de párabrisa, sorriu para os que o observavam, depois saiu rapidamente dali. Que
finório!
Eis aqui mais algumas:
· Se descobrisse que um bom amigo seu estava com AIDS, você o
evitaria? E se fosse o seu irmão ou irmã?
- Se você fosse convidado para um jantar especial na casa de amigos
e encontrasse uma barata morta na salada, o que faria?
É engraçado como as perguntas nos forçam a encarar de frente a
questão. Achei interessante que as perguntas menos frequentes no livro de
Stock eram as que começavam com "por que". Contudo, estas são as mais
críticas. Elas não ficam circundando; vão direto ao cerne da questão.
Outro dia, tirei da estante um dos maiores livros de referência do
meu gabinete. Tem mais de trinta centímetros de altura, cerca de cinco
centímetros de espessura e é muito pesado. E a minha concordância bíblica
completa -- uma listagem alfabética de cada palavra que aparece na
Bíblia. Por curiosidade, procurei a seção do "p" e localizei o termo "Por
que". Para surpresa minha, encontrei quase cinco colunas de letra miúda
dedicadas apenas às perguntas com "Por que" encontradas na Bíblia.
Veja a seguir uma amostragem aleatória dessas perguntas.
Perguntou Deus a Caim:
"Por que te iraste?"
Os anjos perguntaram a Abraão: "Por que se riu Sara?"
Moisés perguntou-se: "Por que a sarça não se consome?"
Natã, ao confrontar Davi, perguntou: "Por que desprezaste a palavra
do Senhor?"
Jó perguntou a Deus: "Por que não morri ao nascer?"
As perguntas que começam com "Por que" parecem ter sido as
favoritas de Jesus. Foi ele quem perguntou:
"Por que andais ansiosos?"
“Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, mas não
percebes a trave que está no teu?"
"Por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?"
"Por que não credes em mim?"
Uma das últimas coisas que Jesus disse na cruz foi uma pergunta com
"Por que": "Por que me desamparaste?"
Os anjos receberam aqueles que foram ao túmulo vazio com a
pergunta: Por que buscais entre os mortos quem está vivo?"
O PROPÓSITO BÁSICO
Para chegar ao motivo fundamental pelo qual a igreja existe, você
tem de perguntar: "Por quê?"
Por que, de fato, foi a igreja trazida à existência? Por que o
prédio da igreja ocupa um determinado terreno? Por que erigimos paredes e
um teto sobre os prédios nos quais nos reunimos? Por que nos envolvemos
num ministério de música? Por que se pregam sermões? Por que apoiamos o
trabalho da igreja com nossos fundos? Por que enviamos missionários pelo
mundo afora?
Se eu ou você fizéssemos essas perguntas domingo que vem,
ouviríamos uma porção de respostas -- muitas delas boas -- mas duvido que
elas representassem o propósito básico.
Eis aqui algumas das razões que nos seriam dadas:
· Levar o evangelho aos perdidos.
· Ter a oportunidade de participar de cultos e instrução regulares.
· Dar esperança aos que sofrem.
· Ser um farol na comunidade.
· Equipar os santos para a obra do ministério.
· Afirmar e apoiar valores saudáveis (lar, pureza moral e ética, a
dignidade dos indivíduos, viver santo, casamentos saudáveis, integridade,
etc).
· Enviar o evangelho por todo o mundo através de empenho
missionário. ·
Buscar a juventude de hoje e desafiá-la a fazer de Cristo o centro
de sua vida, sua escolha de carreira e seus planos para o futuro.
. Orar.
. Edificar os santos.
.Consolar os entristecidos; encorajar os solitários; alimentar os
famintos; ministrar aos deficientes; e ajudai' os idosos, os que sofrem
abusos e os confusos.
. Estimular a ação e o envolvimento em questões sociais críticas. ·
Servir como modelo de autêntica retidão.
· Ensinar as Escrituras tendo em vista uma vida santa.
Cada uma dessas razões é válida, saudável e valiosa. A igreja
certamente precisa se dedicar a essas atividades. Mas nenhuma delas é
absolutamente básica. Nada nessa lista declara o propósito fundamental da
existência da igreja. Incrível, não é mesmo? Todos esses anos temos
estado envolvidos no trabalho da igreja, e poucos de nós sabemos por
quê... Estou falando do porquê mais radical.
Qual, então, é o propósito básico? Encontramos a razão claramente
afirmada na primeira carta aos coríntios, do Novo Testamento. Para muitos
de nós, ver esta verdade em sua simplicidade e ousadia será tão
refrescante e surpreendente quanto a primeira visão da noiva no dia do
casamento. Entretanto, quanto mais a compreendermos, mais cumpriremos
nosso propósito pessoalmente como cristãos e corporativamente como
igreja. O Espírito Santo moveu o grande apóstolo Paulo a escrever:
“Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa
qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10:31).
Nos mais simples dos termos, eis aí a resposta à pergunta sobre por
que existimos. O propósito básico da igreja é glorificai ao Senhor nosso
Deus. Que jamais nos esqueçamos disso novamente, embora o tenhamos feito
com frequência no passado.
Veja a amplitude do que Paulo diz: "QUER..." Quer estejamos
comendo, quer bebendo, quer sofrendo, quer ajudando, quer servindo, quer
lutando. As atividades são ilimitadas, mas o propósito permanece o mesmo.
Veja mais: "QUALQUER..." Novamente, o conceito é tão amplo quanto
quisermos fazê-lo. Seja o que você for pessoalmente -- homem ou mulher;
adulto, jovem ou criança; em qualquer país onde se encontre; em qualquer
circunstância -- o alvo é a glória maior de Deus. Despertemos para o
nosso propósito! Em outro brilhante relâmpago de sabedoria bíblica, o
apóstolo Paulo termina uma oração de graças a Deus dizendo: "A ele seja
glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o
sempre. Amém." (Efésios 3:21). A palavra "glória" continua a receber
destaque máximo nestas páginas que escrevo. Por bom motivo. Ela é o nosso
propósito final. Paulo está dizendo que a glória é dada a Deus por meio
da igreja e de Cristo. E esta é a combinação de Noiva e Noivo da qual
venho falando desde o início do livro.
Alguns capítulos antes, na mesma carta do primeiro século aos
coríntios, encontramos a pergunta penetrante:
“Ou não sabeis que o nosso corpo é o santuário do Espírito Santo,
que habita em vós, proveniente de Deus Não sois de vós mesmos” (1
Coríntios 6:19).
Você estava consciente disso;' O motivo de Paulo fazer essa
pergunta é declarado na afirmação seguinte:
“Fostes comprados por bom preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso
corpo” (1 Coríntios 6:20).
Aí
mesmo em
dele. No
descanso
faça com
a Deus.
está de novo. Deus está interessado em que o glorifiquemos, até
nosso corpo. Na maneira como o tratamos. No que colocamos dentro
que lhe permitimos dizer. Em aonde vamos com ele. Em quanto
damos a ele. Em quão apto o mantemos. Seja o que for que você
seu corpo, certifique-se de que sua existência física dê glória
O capítulo quinze da carta anterior, aos romanos, inclui um par de
versículos que se harmonizam muito bem com o que estamos aprendendo:
“Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo
sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, para que,
concordes e a uma voz, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo” (versículos 5-6).
A Bíblia está repleta de declarações como esta. Nosso único
propósito, a razão básica para a nossa existência, é dar glória máxima ao
nosso Deus. As Escrituras virtualmente palpitam com o mandado:
"Glorificai a Deus!" De alguma forma, passamos dormindo pelos avisos
repetidos. Em nossos dias de egos frágeis e um estilo de religião criado
pelas agências de publicidade, é fácil perder o caminho e imaginar que a
meta da igreja é crescer, construir imponentes edifícios e duplicar a
frequência a cada três anos, mais ou menos. A igreja que cresce torna-se
invejada pelas que não o fazem.
Outro propósito popular é impressionar, parecer bem... ou pregar
ótimos sermões, prover boa música e assim por diante. Entenda que não há
nada de errado com qualquer dessas coisas, contanto que sejam feitas pelo
motivo certo e mantidas em perspectiva. Mas quero deixar claro: Elas não
são básicas.
Para tornar isto tudo extremamente prático, precisamos perguntar
com regularidade: Por que estou fazendo isto? Por que eu disse que sim?
Por que concordei com aquilo? Por que estou ensinando? Por que canto no
coro? Por que estou tão envolvido neste grupo de adultos? Por que planejo
em meu orçamento dar esta quantia? Por quê? Por quê? POR QUE? Quando
essas perguntas são feitas, é preciso que haja uma única resposta: Para
glorificar a Deus.
Enquanto estamos neste assunto, consideremos outra passagem:
Tessalonicenses 1:11-12.
“Pelo que também rogamos sempre por vós, para que o nosso Deus vos
faça dignos da sua vocação, e cumpra todo o desejo da sua bondade, e a
obra da fé com poder. Rogamos para que o nome de nosso Senhor Jesus seja
em vós glorificado, e vós nele, segundo a graça de nosso Deus e do Senhor
Jesus Cristo”.
Interessante a resposta, não é mesmo? A medida que a pessoa
glorifica ao Senhor Deus, será glorificada nele. Note que isto é
contagiante. Quando você glorifica a Deus, esse ato tem um impacto
saudável sobre os outros. Eles verão seu exemplo e desejarão também
glorificá-lo. Nosso Senhor Jesus ensinou:
“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as
vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mateus
5:16).
Se sua vida é um exemplo de glorificação a Deus, os outros
não verão as suas boas obras e não glorificarão a você, pois saberão que
tudo o que você faz é para a glória de Deus. Não consigo explicar como as
pessoas podem saber isso. Apenas sei que podem. E impressionante como o
orgulho pode sair pelos poros do corpo e ficar à mostra, levando os
outros a glorificar a pessoa. Mas quando a glória é dada a Deus e a ação
é feita exclusivamente para glorificá-lo, de algum modo as pessoas
conseguem saber -- e direcionam sua gratidão e louvor para Deus. E uma
reação em cadeia que conduz a uma linda expressão de adoração espontânea.
Tudo isto pode parecer tão surpreendente que você talvez se
incline a considerá-lo um novo conceito. Contudo, ele é tão antigo quanto
as Escrituras.
Ora, então é novidade na história da igreja? Não, é tão antigo
quando o Breve Catecismo de Westminster, elaborado em 1647. Lembra-se da
primeira pergunta que os presbiterianos escoceses deveriam fazer aos
jovens alunos que aprendiam teologia aos pés de seus mestres?
Pergunta: Qual é o fim principal do homem?
Resposta: O fim principal do homem é glorificar a Deus e alegrá-lo
para sempre.
UMA ANÁLISE DA RESPOSTA
Analisemos esta declaração. Posso escrever páginas e páginas
sobre glória, mas devido ao fato de o termo parecer abstrato, um tanto
oblíquo, talvez não compreendamos o que significa. Sabemos em geral o que
ele significa, mas precisamos ser muito específicos se esperamos servir
como modelos de glória.
Quando estudo as Escrituras, descubro que o termo glória é
usado de três maneiras principais. Antes de tudo, glória refere-se à luz,
a luz da presença de Deus, uma luz clara e brilhante vinda do céu. Essa
expressão da glória de Deus aparece em Êxodo 40:34, onde lemos: "... a
glória do Senhor encheu o tabernáculo."
Não consigo imaginar a sua aparência, mas deve ter sido uma
luz ofuscante. Por sua presença, os hebreus sabiam que Deus estava
presente. Deus apareceu também diante deles durante a peregrinação pelo
deserto na forma de uma nuvem durante o dia, e como uma sólida coluna de
fogo de noite. Mas quando a construção do tabernáculo terminou e a
presença de Deus passou a habitar o Santo dos Santos, ela veio na forma
de uma luz brilhante, causticante, chamada de "shekinah" de Deus. Tão
tremenda era a luz que adentrá-la de forma imprópria significava morte
repentina.
Continuando nossa busca através das Escrituras, descobrimos
um segundo e igualmente significativo uso de glória. Em 1 Coríntios,
capítulo 15, encontramos a existência de uma glória que se refere à
representação singular ou aparência distinta, usada com relação aos
corpos celestiais.
“Nem toda carne é a mesma: uma é a carne dos homens, e outra
a dos animais, outra a das aves e outra a dos peixes. E há corpos
celestes e corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes e outra a
dos terrestres. Uma é a glória do sol, e outra a glória da lua, e outra a
glória das estrelas; uma estrela difere em glória de outra estrela”
(15:39-41).
Que fascinante! Existe algo acerca dos espaços estelares que
representa um tipo particular de glória. Essas estrelas e sóis e planetas
têm uma aparência que revela uma glória distinta e tremenda. Mas quando
se trata dos alvos de nossas vidas ou do propósito da igreja, não estamos
falando de uma luz brilhante nem de uma representação distinta da glória
em corpos terrestres ou celestiais.
Quando se refere ao propósito final da igreja, essa glória
significa engrandecer, elevar, irradiar fulgor ou esplendor sobre Alguém.
Portanto, o que significa para a igreja ou para cada cristão
individual glorificar a Deus? Significa engrandecer, exaltar ou elevar o
Senhor nosso Deus ao mesmo tempo em que nos humilhamos, e acatar a sua
sabedoria, a sua autoridade.
Isso foi lindamente ilustrado por João Batista, que disse
certa vez: "E necessário que ele cresça, e que eu diminua" (João 3:30).
Que modelo
maravilhoso foi João! Ele foi apenas a voz, mas
exaltou o Senhor Jesus como o Verbo. João disse que era uma lâmpada; mas,
para ele, Jesus era a Luz. João era apenas um homem, Jesus era o Messias.
João de boa vontade perdeu sua congregação para o Senhor. Todos os seus
congregados seguiram a Jesus... e João desejou que isso acontecesse. De
fato, quando os sacerdotes e os levitas lhe perguntaram sobre sua
identidade, o diálogo que se seguiu foi esclarecedor:
“João respondeu... EU SOU A VOZ DO QUE CLAMA NO DESERTO:
ENDIREITAI O CAMINHO DO SENHOR. Ora, alguns dos fariseus que tinham sido
enviados perguntaram-lhe: Então por que batizas, se não és o Cristo, nem
Elias, nem o profeta ? João respondeu: Eu batizo com água, mas no meio de
vós está alguém que não conheceis. Este é aquele que vem após mim, do
qual eu não sou digno de desataras correias das sandálias" (João 1:2327).
Nem uma só vez João Batista buscou a glória que pertencia
apenas ao Messias. Em suas próprias palavras, ele se considerava indigno
de até mesmo desatar as correias das sandálias do Messias. Tudo isso me
leva a crer em algo que nunca ouvi ninguém ensinar, embora esteja
entretecido por toda a Escritura: Não posso ao mesmo tempo aceitar glória
e dar glória a Deus. Não posso ao mesmo tempo esperar e desfrutar a
glória, se determinar naquele instante dar a Deus a glória. Glorificar a
Deus significa estar ocupado e comprometido com seus caminhos, em vez de
preocupado com e determinado a seguir meu próprio caminho. E estar tão
entusiasmado com Deus, tão dedicado a Ele, tão comprometido com Ele que
não podemos ter o suficiente dele!
Isaías 55 é um capítulo maravilhoso da Bíblia. Não é dirigido
a pessoas que se satisfazem com um golinho, uma provinha de Deus. É um
convite àqueles que têm sede dele... que estão prontos a sorver tudo o
que Deus tem. E por isso que o profeta começa com "O VOS" (Ouçam todos!
Prestem muita atenção!)
“Ó VÓS, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que
não tendes dinheiro, vinde, comprai, e comei” (versículo 1)
Entenda que esta não é uma água literal. Tampouco o dinheiro
é literal. Esta é uma bela poesia hebraica, portanto você deve entender
tudo isso de forma simbólica. Leia-a com o coração de um poeta.
“Vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por
que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o produto do vosso
trabalho naquilo que não pode satisfazer”?
(Eis aí outra pergunta do tipo "por que" digna de ser
investigada.)
Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alma se
deleite com a gordura.
Agora leia cuidadosamente os próximos quatro versículos:
“Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto
está peno. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus
pensamentos. Converta-se ao Senho7; que se compadecerá dele, e torne para
o nosso Deus, pois grandioso é em perdoar. Pois os meus pensamentos não
são os vossos pensamentos...” (versículos 6-9).
É possível conduzir uma "operação eclesiástica" que atraia o
público, reúna uma multidão e faça com que as pessoas continuem vindo?
Pode acreditar que sim! Podemos usar todas as coisas sofisticadas que
funcionam no sistema do mundo e obter os mesmos resultados - elas trarão
gente até de debaixo das pedras! Se você não acredita nisso, é porque não
tem visto alguns dos programas religiosos da TV que seguem esse estilo a
maioria deles com uma enorme plateia de telespectadores. A próxima vez
que assistir a um desses, pergunte-se deliberadamente: "Quem está
recebendo a glória nesse ministério?" Sabe, se exercermos o ministério à
nossa moda, não será para a glória de Deus, porque (como acabamos de ler)
nossos caminhos não são os seus caminhos. Seus caminhos são tão mais
elevados e mais puros e mais estranhamente invisíveis que, quando
finalmente resolvermos conduzir uma igreja pelo caminho de Deus, o mundo
literalmente se deterá e prestará atenção. O contraste repentino e a
singularidade o estarrecerá. A tremenda glória de Deus será toda a
atração necessária para criar um interesse nas coisas espirituais.
Davi, no Salmo 145, escreveu isso de forma um pouco
diferente. Tente imaginar uma congregação comprometida com esse tipo de
adoração -- no qual exaltar o Senhor vivo é literalmente seu maior
deleite.
“Eu te exaltarei, ó Deus, rei meu; Bendirei o teu nome pelos
séculos dos séculos. Cada dia te bendirei, E louvarei o teu nome pelos
séculos dos séculos. Grande é o Senhor, e mui digno de louvor; A sua
grandeza é insondável. Uma geração louvará as tuas obras a outra geração;
Anunciarão as tuas proezas. Falarão do glorioso esplendor da tua
majestade, E meditarei nas tuas obras maravilhosas. Falarão da força dos
teus feitos tremendos, E proclamarei a tua grandeza . Publicarão
abundantemente a memória da tua grande bondade, E cantarão a tua retidão”
(versículos 1-7).
São essas as palavras de um homem que verdadeiramente
entendia o que significava dar glória a Deus. Pena que nem todos os
ministros de Deus sejam cortados por esse mesmo molde!
As coisas não iam tão bem para Davi no Salmo 86. Parecia que
o fundo do barco de sua vida havia caído. Neste salmo, ele está nas
profundezas, olhando para cima. E o mesmo homem dirigindo-se ao mesmo
Deus, mas a aflição e as dificuldades subiram a bordo. Contudo, este
cântico é escrito com o mesmo espírito de louvor. As circunstâncias não
mudaram o seu estilo.
“Inclina, ó Senhor, os teus ouvidos, e ouve-me, Pois sou
pobre e necessitado. Guarda a minha alma, pois sou fiel a ti. Tu és o meu
Deus; salva o teu servo, que em ti confia. Tem misericórdia de mim, ó
Senhor, Pois a ti clamo o dia todo. Alegra a alma do teu servo, Pois a
ti, Senhor, elevo a minha alma. Tu, ó Senhor, és bom e pronto a perdoar,
E abundante em amor Para com todos os que te invocam. Dá ouvidos, ó
Senhor, à minha oração; Atende á voz das minhas súplicas. No dia da minha
angústia clamarei a ti, Pois me responderás. Entre os deuses não há
semelhante a ti, ó Senhor; Não há obras como as tuas. Todas as nações que
fizeste Virão e se prostrarão Perante a tua face, ó Senhor; Glorificarão
o teu nome. Pois tu és grande e operas maravilhas; Só tu és Deus (Salmo
86:1-10).
Amo a coerência desse homem. Quer em dias de deleite (Salmo
145), quer em dias de aflição (Salmo 86), a glória foi para o Senhor, seu
Deus. Você não aprecia aquelas palavras finais: "Só tu és Deus"?
COMO TUDO ISSO SE APLICA?
Permita-me passar o restante deste primeiro capítulo
analisando a importância de se glorificar a Deus numa base pessoal. Tudo
isso pode-se aplicar à igreja em geral, mas será mais fácil apreender
esse Nosso Propósito 29 conceito se estudarmos sua importância em nossa
vida cristã individual. Quando finalmente vemos e abraçamos o propósito
da nossa existência, passamos a perceber que glorificar a Deus se aplica
a cada detalhe da vida. Comecemos com os "quandos" da vida.
Quando estou inseguro, glorifico a Deus buscando a sua
vontade e depois esperando por sua orientação. Quando preciso tomar uma
decisão, apoio-me em sua Palavra para obter orientação e em seu Espírito
para obter força. Alguns exemplos? Pode escolher: selecionar um emprego,
encontrar um lugar para morar, determinar que carro dirigir, focalizar um
alvo para atingir. Decido cada uma dessas coisas somente para a glória de
Deus. Que tal esta? Quando a aflição e o sofrimento me sobrevêm. Ou,
quando busco uma formação acadêmica - tudo para a glória dele, não para a
minha. O mesmo se aplica à escola que frequento, os cursos que faço, o
diploma que busco, a carreira que enfim abraçarei. Quando surge algum
assunto que requer minha resposta, sua glória deve estar em minha atitude
e entremeando minha resposta. Quando estou pensando e planejando. Quando
ganho ou perco. Quando preciso desistir de um sonho ou percebo que é
melhor me afastar sem lutar por meus direitos, rendo-me voluntariamente.
Por quê? De novo, a mesma resposta - para a glória de Deus. A
seguir, apliquemos isto aos "ems" da vida. Em minha vida pública ou
negócios particulares, busco a sua glória. Em relacionamentos que me
agradam ou desafiam, são todos para a sua glória. Em meu lar, em meu
trabalho, em minha escola, em viagens, bem como em ficar sozinho ao
ocupar um lugar pequeno e monótono. Em minha pesquisa, meus estudos, meus
trabalhos acadêmicos, meu preparo para os exames, em prestar os exames,
receber uma nota e praticar uma profissão - tudo para a sua glória. Em
fama e fortuna, aplauso e apreciação públicos, bem como naqueles dias
quando tudo se desvanece, tudo é, repito, para a sua glória.
Adiantemo-nos mais um passo para incluir todos os "ses" da
vida. Se alguém que eu amo fica ou parte, Deus recebe a glória. Se uma
causa que apoio arrebata os corações de outros ou cai envolta em chamas,
Deus recebe a glória. Se os planos que faço são bem sucedidos ou
fracassam, ou precisam ser alterados, focalizo em que Deus seja
glorificado, independente do que acontece. Se a igreja na qual estou
envolvido cresce ou deixa de crescer, Deus recebe a glória. Se, como
pastor, isso significa que tenho de partir para dar lugar à pessoa certa,
Deus recebe a glória. Se isso significa que fico, a despeito das
desvantagens, Deus recebe a glória.
Meu tema permanente na vida? "A Deus seja dada glória pelas
coisas que Ele fez."
COMO É QUE ISSO OCORRE?
Você sabia que acabaríamos chegando a essa pergunta, não
sabia? Como fazemos tudo isso acontecer?
Obviamente, você não pode cumprir seu propósito simplesmente
lendo este capítulo vez após vez. Isso não ajudará, nem de longe. Se
entendo corretamente o que você está pensando, seu interesse está em
personalizar esta verdade de maneira tão eficaz que termine sua vida como
Jesus, que disse no final da dele: "Eu te glorifiquei na terra" (João
17:4a). Ele resumiu toda a sua vida nessas cinco palavras maravilhosas. A
pergunta é: como podemos fazer o mesmo?
Embora correndo o risco de simplificar demais as coisas,
gostaria de dar três sugestões para ajudar a fazer com que isso aconteça.
Acredite, elas são tanto realistas quanto viáveis. Como ocorre o ato de
glorificar a Deus ?
Primeiro: Cultivando o hábito de incluir o Senhor Deus em cada
segmento de sua vida.
Esse tem de ser um pensamento consciente e constante. E assim
que os hábitos são formados. Talvez ajude escrever esta pergunta
penetrante em diversos cartões-ficha: DEUS ESTA RECEBENDO A GLORIA?
Coloque um cartão no quebra-luz do seu carro, outro sob o vidro que
recobre sua escrivaninha, um terceiro no espelho do seu banheiro, e outro
na frente da pia onde os pratos são lavados ou sobre o fogão, onde as
refeições são preparadas. Deus está recebendo a glória? Estou dando
glória a Deus por este momento?
Aprecio as palavras de Richard Bube:
“O homem não pode servir a si mesmo e a Deus. A corrupção da
natureza humana produz uma vontade própria que volta o homem contra Deus
e glorifica a capacidade humana no lugar da graça de Deus. Orgulho e
egoísmo são as características da natureza humana que exige ter todas as
coisas feitas a seu modo. O primeiro passo para servirmos a Deus da
maneira como Ele gostaria que o fizéssemos, portanto, requer que
constantemente abandonemos as exigências do eu e entreguemos nossos
desejos ao Senhor”.
Lembro-me, quase como se tivesse sido na semana passada, do dia
em que acordei para o fato de que meu cristianismo não se limitava aos
domingos. Era um estilo de vida contínuo. O domingo apenas deveria ser um
dos sete dias de cada semana que tinha impacto sobre mim. E possível que
você ainda tenha de dar um passo definitivo na direção de glorificar a
Deus em seu trabalho ou no relacionamento com seu colega de dormitório na
faculdade ou seu cônjuge em casa. Insisto com você para abrir a porta de
cada armário, cada cômodo de sua vida, e permitir que a glória de Deus
entre. Como isso ocorre?
Segundo: Recusando-se a esperar ou aceitar qualquer glória que
pertença a Deus.
Leia isso de novo, desta vez mais lentamente, mais
profundamente. E bom lembrar que a carne (sua natureza carnal) é muito
criativa e egoísta. Pense nela como uma enorme esponja, pronta e disposta
a absorver toda a glória. Ela sabe enganar muito bem, agindo como se
fosse humilde, enquanto o tempo todo ama os afagos. Ela os espera. E
ambiciosa. E cheia de energia. Procura oportunidades de agarrar a glória
que somente a Deus pertence. A carne não é seletiva. Não se importa de
receber a glória por coisas que parecem espirituais, ou atos religiosos.
Quem sabe quantos sermões já foram pregados na carne? Eu certamente já
preguei alguns, devo confessar. Ademais, escondendo meus motivos,
consigo, por meio da habilidade com o público, manipular a congregação
para fazer uma porção de coisas que quero ver feitas. E posso passar por
cima disso tão
eficazmente que as pessoas pensarão que o estão
fazendo da maneira de Deus, para o propósito de Deus, quando na realidade
estão fazendo a minha vontade, e eu recebo a glória. Posso de fato tomar
a glória que só Deus merece.
Estou sugerindo uma maneira melhor na qual já não esperemos ou
aceitemos qualquer parte da glória que pertence a Deus. A glória de Deus
é só dele, por isso asseguremo-nos de que Ele receba toda ela daqui por
diante! De novo, como isso ocorre?
Terceiro: Mantendo com Deus um relacionamento prioritário mais
importante do que qualquer outro na terra.
Você pode ser mais chegado a um filho seu do que a Deus. Pode
passar mais tempo com sua esposa ou marido do que jamais passou com Deus.
Pode preocupar-se mais com a segurança e felicidade futuras e bem-estar
final de sua família do que com a vontade de Deus para sua vida pessoal.
Não há nada de errado com amar sua família ou planejar o futuro dela, mas
se você tem o desejo sincero de glorificar a Deus, então preciso lembrálo de que Ele espera ter um relacionamento prioritário. O mesmo poderia
ser dito de qualquer outro relacionamento terrestre que se tornou forte a
ponto de competir com seu relacionamento com Deus. Se entendo
corretamente os ensinamentos de Jesus referentes ao relacionamento com o
Deus vivo, devo saber que ele é tão importante que nada pode interpor-se
ou vir adiante dele. Nada.
Negar o próprio eu é uma tarefa difícil. De forma idealista,
aprendemos isso em casa. Algum tempo atrás terminei de ler a biografia
clássica do famoso general confederado, Robert E. Lee, escrita por
Douglas Southall Freeman. O livro é intitulado simplesmente Lee. Quase no
final do livro, aparece este eloquente parágrafo:
Da humildade e da submissão nasceu um espírito de abnegação
que o preparou para as provações da guerra e, ainda mais, para a sombria
penúria, o equivalente espiritual do autocontrole social que a mãe lhe
havia inculcado na meninice, e que cresceu em poder por toda a sua vida.
Uma jovem mãe lhe trouxe seu bebê para ser abençoado. Ele tomou o infante
em seus braços e fitou-o, depois fitando-a, disse lentamente: "Ensine-lhe
que ele precisa negar a si mesmo."
Estamos de volta ao credo de João Batista: "E necessário que
ele cresça, e que eu diminua." E preciso que seja para a glória dele, não
a minha. Em vez de ir correndo à frente para conseguir as coisas a meu
modo, ele precisa ser o primeiro. Eu preciso diminuir, ele precisa ser
elevado. Para a sua glória, preciso ocupar qualquer posição para a qual
ele me designar. Sou o servo, ele é o Senhor. Esta não é uma mensagem
popular, mas certamente precisa ser transmitida em todas as direções.
Quer-me parecer que ajudaria se eu concluísse este primeiro
capítulo com um plano de ação tríplice para fazer com que tudo isto
aconteça.
Primeiro, para ajudá-lo a cultivar o hábito de incluir o Senhor
Deus em todos os segmentos de sua vida, encontre-se com Ele
frequentemente e a sós.
Confesso francamente que é fácil escorregai" nesta área. Vivemos
numa época ocupada. Nosso mundo vai em ritmo acelerado. Não pensamos
naturalmente em passar tempo com Deus a sós e com frequência; em geral,
temos alguma outra coisa desviando nosso tempo e atenção. Não obstante,
ainda estou sugerindo a solidão. Pode não ser por duas horas de uma só
vez. Poucos de nós temos esse tempo disponível numa semana, para não
dizer todos os dias. Talvez você tenha apenas quinze minutos disponíveis,
e esses momentos talvez tenham de ocorrer enquanto você está no carro.
Para ser bem franco, você talvez tenha de se conformar com o banheiro.
Seja onde for, encontre algum lugar onde você possa trancar-se para se
encontrar a sós com Deus. Talvez tenha de levantar-se um pouco mais cedo.
Ou quando a vida se acalma e a poeira assenta no fim do dia, talvez você
descubra que tarde da noite é a melhor hora. Desligue a televisão e o
rádio, e então, em absoluto silêncio, converse com Deus sobre este hábito
de inclui-lo em cada segmento do seu mundo. Especifique os compartimentos
de sua vida que você deseja que Deus invada quando estiver a sós com Ele.
Para que a segunda sugestão possa funcionar, isto é, a de
recusar-se a esperar ou aceitar qualquer parte da glória, admita
abertamente sua luta com o orgulho.
Se você se reúne com um grupo a quem tenha de prestar contas,
confesse sua tendência de buscar a glória. E bom contar a eles. Conte à
sua família. (Eles são bons em lembrar-lhe quando o orgulho ressurge: "Aí
está ele de novo, papai.") Portanto, admita-o francamente. Ninguém jamais
tratou plenamente a questão do orgulho enquanto não admitiu primeiro:
"Tenho um problema nesta área."
Para cumprir a terceira sugestão, a de manter um relacionamento
prioritário com Deus, filtre tudo através da mesma pergunta: Isto trará
glória a Deus ou a mim? Repasse mentalmente essa pergunta com
regularidade.
Obviamente, fazer a pergunta implica em uma resposta honesta de
sua parte. Agora tenho boas notícias e más notícias. Sabendo que a
maioria de nós preferiria saber as más notícias primeiro, aqui vai: Você
pode fingir isso! Pode, na realidade, agir por trás de uma máscara
invisível e disfarçar isso alegando dar glória a Deus! A maioria das
pessoas que conheço consegue lembrar-se de uma época em que fingiu assim.
Eu certamente consigo! Podemos parecer muito piedosos. Podemos soar muito
humildes.
Eugene Peterson escreve:
Anne contou a história de um senhor de meia-idade de Baltimore
que passava pelas vidas das pessoas com impressionante pose e perícia em
assumir papéis e gratificar as expectativas. O enredo começa com Morgan
observando um programa de marionetes no gramado da frente de uma igreja
numa tarde de domingo. Alguns minutos depois que o programa havia
começado, um jovem sai de trás do palco das marionetes e pergunta: "Há
algum médico presente?" Após trinta ou quarenta segundos de silêncio da
plateia, Morgan se ergue, lenta e deliberadamente se aproxima do jovem e
pergunta: "Qual é o problema?" A esposa grávida do artista está em
trabalho de parto; o parto parece iminente. Morgan coloca o jovem casal
no banco de trás de sua perua e ruma para o Hospital Johns Hopkins. Na
metade do caminho, o marido exclama: "O nenê está saindo!" Morgan, calmo
e confiante, estaciona no meio-fio, envia o quase papai à esquina para
comprar um jornal de domingo como substituto para toalhas e lençóis, e
faz o parto. Em seguida ele os leva ao pronto-socorro do hospital, coloca
o bebê e a mãe cuidadosamente numa maca, e desaparece. Depois que as
coisas se acalmam, o casal pede para falar com o Dr. Morgan. Quer
agradecer-lhe. Ninguém tinha ouvido falar em nenhum Dr. Morgan. Os jovens
ficam intrigados e frustrados por não poderem expressar sua gratidão.
Alguns meses mais tarde, eles estão empurrando o bebê num carrinho e veem
Morgan caminhando no outro lado da rua. Correm a cumprimentá-lo,
mostrando-lhe o bebê saudável que ele trouxe ao mundo. Eles lhe contam
quanto o procuraram, e da incompetência burocrática do hospital em
localizá-lo. Num impulso inusitado de honestidade, ele admite não ser de
fato um médico. Na realidade, ele administra uma loja de ferragens, mas
eles precisavam de um médico e ser médico naquelas circunstâncias não era
tão difícil assim. E uma questão de imagem, disse-lhes ele; você discerne
o que as pessoas esperam e se encaixa nela. Você consegue fazer isso em
todas as profissões honradas. Morgan tem feito isso toda a sua vida,
personificando médicos, advogados, pastores e conselheiros na medida que
as situações se apresentam. Então ele confidencia: "Sabem, eu jamais
fingiria ser um encanador, ou personificaria um açougueiro pois eu seria
desmascarado em vinte segundos."
Pode crer, se Morgan consegue fazer um parto, você consegue
fingir dar glória a Deus. Imploro-lhe, não faça isso! Esse fingimento
voltará para atormentá-lo. Não sei de nada que nos faça sentir mais
vazios ou mais miseráveis do que fazer um papel não autêntico por trás de
uma máscara. Embora você consiga fingir, não o faça!
A boa notícia é que você pode conseguir. Deus não zomba de nós.
Ele jamais nos dá um alvo que não podemos alcançar em sua força. Quero
assegurar-lhe que você pode glorificar a Deus, deve glorificar a Deus.
Mas você precisa determinar bem no fundo do coração que vai fazê-lo à
maneira dele. E isso mesmo, à maneira dele.
Examinamos nosso propósito como igreja. E, num nível mais
pessoal, examinamos como esse propósito pode tornar-se realidade em cada
uma de nossas vidas. Deixe-me lembrar-lhe que, em qualquer dos casos,
podemos postar-nos ao lado do Cristo todo-poderoso como sua Noiva e
podemos realizar mudanças extensas em nós mesmos e em nosso mundo. Vamos
fazê-lo. E jamais nos esqueçamos que isso precisa ser feito na força de
Deus e
para a sua glória.
R E F L E X Õ E S
1. Tire um momento para escrever todas as suas atividades e
responsabilidades associadas ao ministério de sua igreja local. Agora,
tão honestamente quanto for capaz, entre você e o Senhor, faça a si mesmo
a pergunta "Por quê": Por que você está envolvido em cada um desses
trabalhos? Quais são as razões profundas? Se uma reflexão em oração
revelar motivos que não sejam para glória do seu Deus converse com Ele
sobre isso. Busque a purificação e a capacitação de Deus para
redirecionar seus olhos rumo ao propósito mais elevado de todos.
2. O que significa para você aceitar (ou solicitar!) glória que
por direito pertence ao Senhor Deus? Quais são algumas das maneiras sutis
em que você pode estar fazendo exatamente isso? Seja honesto consigo
mesmo.
3. Lembrando-se do modelo de João Batista, determine para as
duas próximas semanas diversas maneiras práticas em que você pode viver a
verdade que ele tinha como alvo em sua vida: "E necessário que ele
cresça, e que eu diminua" (João 3:30). Se tiver oportunidade, discuta
esta questão crítica com seu cônjuge ou com um amigo cristão. Discuta
algumas ideias, e depois peça que essa pessoa "cobre isso" umas duas
vezes para ver como você está progredindo em sua recente determinação de
dar a Deus mais glória.
Capítulo Dois
NOSSOS OBJETIVOS
O ministério é como o mercúrio... difícil de controlar. E se a
gente usá-lo da forma errada, pode fazer mal às pessoas. Escorregadio e
perigoso, o ministério precisa ostentar uma placa como as que aparecem
nessas lojas de porcelana cara. Certo Natal, eu procurava um presente
numa dessas lojas. O lugar era elegante. Belas peças de cristal,
primorosas estatuetas de vidro e uma vasta coleção de porcelana importada
eram lindamente exibidas em prateleiras de vidro recém-espanadas. Era uma
dessas lojas impecáveis nasquais você sente que deve prender a respiração
enquanto desliza de corredor em corredor. Seu maior temor é tirar o
delicado equilíbrio de um Lladro ou sem querer esbarrar-se com o canto de
uma prateleira que contém alguns modelos de porcelana Limoges.
Diversas plaquinhas por toda a loja proclamavam mensagens como
"Frágil!" "Favor Pedir Ajuda" e até mesmo "Não Toque". E havia placas bem
maiores que diziam: "FAVOR SEGURAR AS MÃOS DAS CRLANÇAS." A simpática
senhora que tomava conta do lugar estava nervosa como bruxa em igreja.
Ela parecia mais preocupada em proteger sua mercadoria do que em vendela. Toda criança que entrava, mesmo que firmemente segura pela mão da
mãe, recebia um olhar feio de Irene Irritável, desses de paralisar
qualquer pessoa. Perguntei-me o que ela fazia quando tínhamos um daqueles
nossos famosos terremotos de 5.6. Provavelmente entregava o espírito. Eu
mal podia esperar para cair fora dali.
É engraçado, mas a maioria das pessoas não pensa no ministério
como frágil ou potencialmente perigoso. Talvez seja por isso que tantos
ficam feridos por tipos descuidados que passam como furacão pela igreja,
ignorando as placas e desculpando-se por sua agressividade. As
consequências trágicas estão em toda a nossa volta. E uma vergonha que
algumas pessoas achem ter o direito de fazer o que bem entendem só porque
o manto da liderança religiosa foi colocado sobre elas.
Minha esperança em tratar destes assuntos é aumentar nossa
conscientização de como Deus planejou que a igreja funcionasse e o que
precisamos fazer para mantê-la no rumo certo. E verdade, as portas do
inferno não prevalecerão contra ela. Obviamente, a igreja está aqui para
ficar. Mas isso não significa que podemos fazer o que quisermos sem que
ocorra nenhum dano. Abra seus olhos e dê uma olhada ao redor. Visite
algumas dúzias de ministérios espalhados pelo país. Ouça o que está sendo
dito, promovido ou ensinado em lugares que se esqueceram de seu propósito
básico. Pergunto: E isso o que Deus tinha em mente quando seu Filho
deixou a terra e delegou o trabalho do ministério ao grupo de homens que
o seguia? O conceito atual de igreja é uma representação correta do que
glorifica o nome de Deus? Duvido.
DEZ DECLARAÇÕES SOBRE O MINISTÉRIO
Enquanto eu pesquisava para este livro, deparei-me com um ótimo
e prático volume escrito por dois pastores, Warren e David Wiersbe, pai e
filho, respectivamente. Eles lhe deram um título apropriado, Making Sense
of the Ministry (Captando o Sentido do Ministério). Naquelas páginas
encontram-se comentários perspicazes que todos os envolvidos no
ministério deveriam ler. Estou em dívida para com os Wiersbes pela lista
que se segue, que decorei. Cheguei até a sugerir que a congregação de
Fullerton fizesse o mesmo. Temos aqui dez declarações sobre o ministério
que são essenciais mas facilmente esquecidas; e quando o são, as coisas
desandam. Leia-as lenta e cuidadosamente. Pense nelas como placas que
avisam "Manuseie com Cuidado".
1.O fundamento do ministério é o caráter.
2.A natureza do ministério é o serviço.
3.O motivo do ministério é o amor.
4.A medida do ministério é o sacrifício.
5.A autoridade do ministério é a submissão.
6.O propósito do ministério é a glória de Deus.
7.As ferramentas do ministério são a Palavra de Deus e a oração.
8.O privilegio do ministério é o crescimento.
9.O poder do ministério é o Espírito Santo.
10. O modelo do ministério é Jesus Cristo.
Raramente faço previsões, mas aqui vai uma que posso oferecer
sem hesitação. Se você decorar essa lista, revisá-la pelo menos uma vez
por mês pelo resto da vida, e aplicá-la com regularidade, terá pouca
dificuldade em manter-se no rumo certo. Você descobrirá que muitas das
coisas com as quais já se preocupou ou se envolveu demais (ás custas de
coisas essenciais que mereciam seu tempo e atenção) se desvanecerão
silenciosamente. Você sentirá também uma renovação da confiança em sua
vida ao voltar às coisas que importam no ministério. De fato, você pode
vir a surpreender-se com quanto é breve e simples o número de objetivos
principais que existem no ministério. Chega a ser excitante! Seu
entusiasmo retornará à medida que seu fardo ficar mais leve. Você poderá
até vibrar de novo. Tudo bem... a maioria de nós lucraria com um pouco de
vibração. Concordo com o falecido Bispo Handlcy Moule, que disse certa
vez: "Eu preferiria conter um fanático do que aquecer um defunto." 9
QUTRO OBJETIVOS IMPORTANTES COMO IGREJA
Correndo o risco de supersimplificar as coisas, sugiro que há
nada menos do que quatro objetivos importantes quando se trata do
ministério da igreja. Seja o que for que fizermos, deve estar dentro dos
parâmetros desses objetivos. Encontro-os entremeando as palavras do Dr.
Lucas registradas quase no final do segundo capítulo de Atos.
“Os que de bom grado receberam a sua palavra foram batizados, e
naquele dia agregaram-se quase três mil almas. E perseveravam na doutrina
dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma
havia temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos.
Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam suas
propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo a necessidade de cada
um. Perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em
casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus,
e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à
igreja aqueles que iam sendo salvos” (Atos 2:41-47).
Anos atrás, quando nossos filhos eram pequenos, assinamos uma
revista infantil mensal. Invariavelmente, assim que ela chegava,
sentávamos no chão de nossa casa e procurávamos a página que tinha um
quadro com dez a doze "desenhos ocultos" dentro de um desenho maior. As
crianças e eu passávamos quase uma hora localizando todos os desenhos
menores dentro da cena maior.
Quando leio este relato em Atos 2, encontro os quatro objetivos
principais da igreja dentro do quadro maior. Falando do quadro maior, é
útil entender que este é o primeiro momento da história da igreja de que
temos registro. Na realidade, é a passagem bíblica de referência, já que
o nascimento da igreja é estabelecido em Atos 2. O Espírito Santo desceu
sobre os que estavam no cenáculo (Atos 2:1-4), concedendo àqueles homens
anteriormente temerosos e tímidos grande audácia para declarar as
palavras de vida ao povo das ruas de Jerusalém (versículos 5-13). Depois
disso, Pedro levantou-se e pregou o evangelho num sermão que foi breve
mas poderoso (versículos 14-36), resultando na salvação de cerca de três
mil pessoas (versículos 37-41). Esse é o quadro maior que serve de fundo
às palavras que estamos examinando.
Ali estavam quase três mil novos crentes, sem prédio onde se
reunir, sem pastor, sem senso de direção, sem conhecimento da vida
cristã, sem constituição eclesiástica, sem conjunto de credos, sem
compreensão da presença ou do poder do Espírito Santo, com uma Bíblia
incompleta... eles não tinham nada! Contudo constituíram os membros
fundadores da igreja. A
partir deste corpo original de quase
três mil almas, a chama se espalhou por todo o mundo. E desta narrativa
original de suas atividades podemos compilar o primeiro (e portanto mais
puro) conjunto de objetivos. Há quatro deles.
Para manter tudo simples e fácil de lembrar, deixe-me sugerir
uma sigla, CACE.
C -- Culto
A -- Aprendizagem
C -- Comunhão
E --Expressão
Ao lermos o versículo 42, todos os quatro objetivos surgem. E
então, ao terminarmos o capítulo (versículos 43-47), cada um deles é
ilustrado. Esses objetivos principais ainda são relevantes, ainda
constituem o ministério da igreja. Ao buscarmos a glória de Deus, nosso
propósito básico, focalizamos o alvo quádruplo de culto, instrução,
comunhão e expressão.
"C" REPRESENTA CULTO
Examine mais de perto a passagem que acabamos de ler e observe
como o desenho escondido de culto aparece.
E perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir
do pão e nas orações (versículo 42).
Quando escreve que eles "perseveravam", Lucas usa um termo grego
que sugere uma fidelidade constante, sincera. A mesma palavra original
aparece em Atos 1:14 e 6:4, ambas as vezes referindo-se à oração. Quando
os primeiros santos se reuniam, intensidade e ardente devoção se
misturavam com apaixonada dedicação. Seu culto não era uma produção
desanimada aprendida de cor. Eles participavam. Eles "mandavam ver"!
O versículo 42 menciona que eles partiam o pão e oravam juntos.
O resultado imediato era que "em cada alma havia temor" (versículo 43).
Literalmente, o texto grego diz: "Um medo veio a estar em toda alma."
Havia uma tremenda consciência da presença santa de Deus. Um respeito
saudável e um temor de Deus permeavam tudo. Será que tudo era sombrio e
moroso? De forma alguma. Lemos nesse mesmo relato sobre sua "alegria" e
"singeleza" (ou simplicidade) de coração, e do louvor a Deus que resultou
em caírem eles "na graça de todo o povo" (versículo 47). A cena é de
júbilo espontâneo e reações incontidas de louvor.
Que gostoso! Que encantador! O Pai estava sendo exaltado. O
Filho estava sendo elevado. O Espírito trazia nova expressão de
liberdade. Há algo mais glorioso? Mais agradável?
O Senhor nosso Deus ainda busca a nossa adoração (João 4:23).
Ele ainda espera o louvor do seu povo... o maravilhoso culto dos seus
filhos. Ele ainda anela por habitar nossas casas de adoração. Mas, ai de
nós, o culto está se tornando depressa uma arte perdida, a jóia perdida
desta geração apressada e eficiente.
Em muitas (maioria?) igrejas há programas e atividades... mas
muito pouca adoração. Há cânticos, hinos e programas musicais... mas
muito pouca adoração. Há avisos, leituras e orações... mas muito pouca
adoração. Os cultos são regulares, mas monótonos e previsíveis. Os
eventos são conduzidos no horário, por pessoas bem intencionadas,
sustentados por gente que é fiel e dedicada... mas aquela ardente
expectativa e respeitoso deleite misturados com um senso misterioso de
temor ao Deus Todo-poderoso estão ausentes.
Antes de argumentar comigo, pare e pense. Sua igreja está
experimentando a verdadeira adoração? Você está frequentemente em
lágrimas ou à beira do êxtase... ou "tão absorvido em encanto, amor e
louvor" que se esquece momentaneamente de onde se encontra? Há realmente
uma liberdade em sua alma, uma avassaladora gratidão em seu espírito, uma
intensidade de oração que bloqueia tão completamente o não essencial que
você consegue concentrar-se sem a intromissão de quaisquer outros
pensamentos?
Pode acreditar, uma vez que você tenha provado a adoração, o
tipo de adoração que rouba o seu coração e concentra toda a sua atenção
no Senhor vivo, nada menos que isso satisfaz. Nada mais chega perto. Uma
vez que você tenha provado o verdadeiro culto, jamais vai querer brincar
de igreja novamente.
"A" REPRESENTA APRENDIZAGEM
Enquanto compilamos nossa lista de objetivos inspirados, não nos
atrevamos a omitir a coluna dorsal do corpo, a aprendizagem bíblica. O
relato de Atos 2 nos assegura que os cristãos primitivos "perseveravam na
doutrina dos apóstolos" (versículo 42). Vieram a ser conhecidos como "os
que criam" (versículo 44), o que sugere um corpo objetivo de verdades
mutuamente abraçadas. Segundo Atos 4:4, a igreja cresceu à medida que
"muitos... dos que ouviram a palavra, creram".
Mais tarde, quando os detalhes do cuidado ao rebanho de
Jerusalém se multiplicaram, os apóstolos continuaram a perseverar "na
oração e no ministério da palavra" (6:4). Nenhuma preocupação
corriqueira, nenhuma necessidade urgente, nenhuma prioridade, nem mesmo
as queixas no seio da assembleia diminuíram a ênfase sobre a instrução
bíblica. Nada fazia a liderança da igreja primitiva renunciar ao
ministério da Palavra.
As boas novas da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo eram
declaradas fielmente, tanto assim que novos convertidos eram
continuamente acrescentados à igreja. Mas havia mais do que a
apresentação do evangelho. Os cristãos também recebiam alimento sólido e
verdade mais profunda das Escrituras. Enquanto a igreja com todos aqueles
novos cristãos crescia, aumentava cada vez mais a necessidade de
instrução sólida da Palavra de Deus.
A mesma coisa certamente acontece hoje. Frequentemente,
ministros e igrejas perdem de vista a importância da instrução bíblica
sólida. Eles apresentam o evangelho, oferecem encorajamento, patrocinam
eventos, mantêm um calendário cheio de atividades, e ajudam os que
sofrem... nada errado com qualquer uma dessas coisas. Mas elas não devem
substituir a instrução do Livro. Ovelhas bem alimentadas têm maior
tendência de permanecer saudáveis. Ovelhas esfomeadas e abatidas são
presas fáceis para seitas, sem nem falar em sua incapacidade de
enfrentai' as numerosas batalhas das provações da vida.
Talvez você seja um ministro cujas responsabilidades incluem o
púlpito de uma igreja. Deixe-me enfatizar a importância de você dar alta
prioridade ao tempo que passa estudando, ao cultivo de sua habilidade
como expositor das Escrituras, e à declaração fiel e frequente da verdade
de Deus. A admoestação de Pedro: "apascentai o rebanho de Deus" (1 Pedro
5:2) precisa ser compreendida para incluir o lembrete de Paulo: "prega a
palavra... a tempo e fora de tempo" (2 Timóteo 4:2). Torne-se conhecido
como um mestre fiel da Bíblia, alguém que alimenta o rebanho com uma
dieta sólida e equilibrada de verdade bíblica.
Falar em ser diferente! Nestes dias de sermões superficiais,
devocionais açucarados e críticas carregadas de emoção, aos quais falta
substância bíblica, se você preparar e pregar mensagens interessantes que
sejam fundamentadas nas Escrituras, acabará ficando famoso na sua
comunidade. Mais importante do que isso, seu rebanho ficará mais bem
equipado para assistir e servir eficazmente na obra do ministério.
Preciso avisá-lo, entretanto: Uma vez que as ovelhas tenham sentido o
gosto da boa Palavra de Deus, vão querer mais e mais... portanto, esteja
pronto para um compromisso por toda a vida com um púlpito vigoroso.
Depois que nossos filhos experimentaram picanha, raramente quiseram carne
de segunda de novo.
Múltiplos benefícios florescem no solo deste tipo de ensino e
pregação bíblicos. Meia dúzia deles me vêm à mente. A instrução sólida e
constante da Palavra de Deus:
Dá estabilidade à nossa fé
Estabiliza-nos nas horas das provações
Capacita-nos a usar a Bíblia corretamente
Equipa-nos para detectar e confrontar o erro
Torna-nos confiantes em nosso caminhar
Acalma nossos temores e cancela nossas superstições.
Estou plenamente consciente de que um compromisso com a
instrução pode ser enfatizado em excesso, a ponto de a igreja se tornar
pouco mais do que uma classe de estudo bíblico. A maioria de nós já viu
exemplos disso, motivo pelo qual não devemos nos esquecer que este é um
dos quatro principais objetivos da igreja, não o único. A igreja deve ser
uma comunidade de aprendizagem ao lado de uma comunidade de adoração.
Deixar de fora a adoração e diminuir o alcance e compaixão necessários ao
equilíbrio, enquanto se focaliza o tempo todo apenas o aumento do
conhecimento da Palavra, é investir por um extremismo que Deus jamais
projetou para seu povo. Isso é instrução deteriorada... uma experiência
que sobe à cabeça e faz pouco mais do que exacerbar o orgulho e
transformar a congregação num clube exclusivista. Que nós não apenas
despertemos para os nossos objetivos como também nos conscientizemos do
risco de perder o equilíbrio.
Antes de deixar este objetivo, talvez fosse útil acrescentar
diversas maneiras de saber quando a instrução está caminhando para um
extremo doentio. Há três situações que merecem ser observadas.
Primeiro, quando o conhecimento permanecer teórico, cuidado. Ele
logo gerará indiferença ou arrogância.
Segundo, quando a pregação e o ensino não são equilibrados pelo
amor e pela graça, cuidado. A intolerância não está longe.
Terceiro, quando o ensino se torna um fim em si mesmo, cuidado.
Nesse ponto, a instrução bíblica está chegando perigosamente perto de ser
bibliolatria.
DOIS OUTROS OBJETIVOS COMPLETAM O QUADRO
Não tentarei desenvolver os dois outros objetivos enquanto não
chegarmos ao próximo capítulo. Como talvez se lembrem, eles são a
comunhão e a expressão, representando a dimensão horizontal do ministério
da igreja. Os dois primeiros (culto e instrução) são mais de natureza
vertical. Mas esses últimos dois objetivos nos tornam mais íntimos e mais
pessoais que os outros. Como veremos no capítulo 3, a comunhão revela que
a igreja é um rebanho desvelado. Mesmo na congregação mais primitiva,
encontramos esta qualidade.
“Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum.
Vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo a
necessidade de cada um (Atos 2:44-45). Era um o coração e a alma da
multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía
era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns. Os apóstolos
davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em
todos eles havia abundante graça. Não havia entre eles necessitado algum.
Pois todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o
preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E
repartia-se a cada um, segundo a sua necessidade” (Atos 4:32-35).
Verdadeira comunhão significa que nos importamos uns com os
outros, e portanto, cuidamos uns dos outros. E em nossa expressão, a
igreja revela que é um corpo que busca os outros. A expressão inclui o
evangelismo, uma visão missionária, buscar os necessitados fora do nosso
círculo, e prover esperança e ajuda para aqueles de dentro que precisam
de apoio especial. Em uma palavra, compaixão.
Pense nisso da seguinte forma: O evangelho é como uma canção.
Frequentemente damos às pessoas a letra e nos esquecemos de que elas são
mais atraídas pela melodia. A igreja reunida e cuidando de seus membros é
comunhão. A igreja dispersa e buscando outros de fora é expressão. Como
aprenderemos no próximo capítulo, ambas são vitais.
RAZÕES PELAS QUAIS ABRAÇAMOS ESTES OBJETIVOS
Dê mais uma olhada no último versículo no segundo capítulo de
Atos, onde lemos que os cristãos primitivos viviam
... louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos
os dias acrescentava o Senhor a igreja aqueles que iam sendo salvos
(versículo 47).
Que cena! Ali na antiga Jerusalém estava um grupo de crentes
cujo culto era espontâneo, cuja instrução era sólida, cuja comunhão era
genuína e cuja expressão era compassiva. Não admira que muita gente nova
fosse atraída! Não me surpreende que o Senhor aumentasse o seu número dia
após dia.
Quando abraçamos estes objetivos, diversos benefícios nos
sobrevêm. Tiramos nossos olhos de nós mesmos e os fixamos no Senhor.
Nossas diferenças triviais são minimizadas, o que aprofunda a unidade dos
relacionamentos. E tudo isto, quando mantido em equilíbrio, cria tal
magnetismo que a igreja se torna irresistível.
E então? Bem, então começamos a nos tornar o que a igreja foi
originalmente projetada para ser.
É tão fácil perder o rumo, não é? Tão fácil, por exemplo, a
igreja tornar-se pouco mais do que um museu, um grupo de prédios e peças
de mobiliário juntando poeira; muita coisa para se ver, mas sem dinamismo
e propósito. Ou, no outro extremo, é fácil a igreja tornar-se nada mais
do que uma série infindável de atividades com muito movimento e barulho,
mas muito pouca realização de significado eterno.
Quando a Grande Exposição das Obras da Indústria de Todas as
Nações foi inaugurada pela Rainha Vitória em 1851, as pessoas afluíram ao
parque Hyde para contemplar o que chamavam de "as maravilhas". O poder
mágico naquela época era o vapor... arados a vapor, órgão a vapor, até
mesmo um canhão a vapor.
Sabe o que ganhou o prêmio? Foi uma invenção movida a vapor que
tinha sete mil partes, todo tipo de polias e campainhas, assobios e
engrenagens... engrenagens que se engatavam em outras engrenagens, que
zumbiam em harmonia e giravam em perfeito sincronismo. Era uma coisa
linda de se ver. E - que interessante -não fazia nada.
Quando ouvi falar dela, confesso que tive um pensamento irônico:
Parece uma porção de igrejas. Todo tipo de coisa está acontecendo, mas
pouco está sendo realizado. Muito mais motivo para nos lembrarmos do
nosso propósito e executarmos os nossos objetivos.
R E F L E X Õ E S
1. Atos 2:42 fala de uma intensa devoção ao corpo de Cristo, ao
ensino, à comunhão e à oração. Isso era muito mais do que "hábito" ou
"expectativa cultural", era uma paixão santa! Como você caracterizaria
seus próprios sentimentos de devoção e dedicação à igreja local? Se
aquele senso de "fidelidade inabalável e sincera" estiver ausente, tire
algum tempo para pensar e orar sobre essa questão. O que será que diminui
a intensidade da nossa dedicação? O que poderia intensificá-la?
2. Sua igreja pode ou não estar experimentando o tipo de culto
impactante que descrevi neste capítulo. Quanto a isso, você pode não
estai* em posição de efetuar ou sugerir mudanças nos cultos da sua
igreja. De qualquer forma, pode mesmo assim assumir a responsabilidade
por seu culto pessoal a Deus. Tire tempo para anotar alguns elementos do
culto pessoal que precisam de certo "exercício" em sua vida. Por exemplo,
que me diz do lugar da música de adoração em seu coração e em seu lar?
Por que não fazer força para aprender alguns corinhos novos de louvor ou
um ou dois hinos majestosos para cantar apenas para o seu Senhor? Se você
não consegue nem entoar uma melodia, acrescente ao seu dia algumas
gravações que honrem a Cristo e deixe seu coração cantar!
3. Com o fim de preparar-se para maximizar a adoração conjunta
no domingo, sugiro que obtenha, empregue e aproveite algum livro que
traga sugestões práticas sobre coisas a fazer no domingo como preparação
para o culto.
CAPÍTULO TRÊS
UM INTERESSE GENUÍNO PELOS OUTROS
A estranha placa apareceu sobre a mesa de um oficial do
Pentágono. Com letras destacadas em negrito, ela dizia:
O SIGILO DO MEU TRABALHO NÃO ME PERMITE SABER O QUE ESTOU
FAZENDO.
Isso me faz lembrar de uma placa semelhante que poderia ser
colocada sobre a mesa de muito jovem ministro:
A SANTIDADE DO MEU TRABALHO NÃO ME PERMITE SABER O QUE ESTOU
FAZENDO.
Essa placa não se encontra de fato sobre a mesa do seu ministro,
mas pode crer que está pendurada na mente de muitos deles. Muitos dos que
servem as igrejas locais e organizações cristãs se debatem para saber
exatamente com o que deveriam estar gastando seu tempo. Quando alguém se
forma em um seminário ou instituto bíblico, as coisas parecem
razoavelmente bem definidas, mas dentro de alguns anos surgem muitas
mudanças. As expectativas se intensificam. As exigências aumentam. A
pressão se acumula. Pessoas poderosas exercem influência. A incapacidade
do ministro em suprir cada necessidade e realizar cada desejo amplia a
tensão entre ele e o rebanho. Se a igreja não cresce com rapidez, como a
maioria esperava, a decepção aumenta. Se cresce, as responsabilidades
acumuladas criam novas complexidades que ninguém esperava.
Não demora muito e espera-se que o pastor, cujo dom é o da
pregação e cujo forte é a liderança, desempenhe também muitos outros
papéis: supervisor de construção, diretor de pessoal, gênio
organizacional, entusiasta chefe de torcida, arrecadador de fundos,
visitador interessado, conselheiro sábio, diplomata cheio de tato,
evangelista zeloso, e meia dúzia mais de papéis sobre os quais sequer
tinha de pensar quando as coisas eram simples e pequenas.
Alguns dos envolvidos em ministérios que se tornam muito grandes
fogem para se esconder e vivem virtualmente em segredo. E mais fácil
encontrar alguns senadores do que entrar em contato com alguns pastores
muito poderosos! Como disse certa senhora num momento de exasperação:
"Meu ministro é muito parecido com Deus; não o vejo a semana toda, e não
o compreendo nos domingos!" Acho esse comentário tão curioso quanto
revelador. E interessante descobrir quanta gente realmente acredita que
não se espera que Deus seja compreendido; portanto, aqueles que são seus
porta-vozes representam uma classe com vagas responsabilidades.
Sei que as coisas são assim por ter visto ao longo dos anos as
reações das pessoas, quando descobrem que estou no ministério. Uma
expressão surpresa é geralmente acompanhada por um comentário confuso que
revela total falta de compreensão. Nunca sei ao certo o que retrucar... e
este é o motivo pelo qual me esforço ao máximo para impedir que estranhos
descubram o que faço. As coisas são mais fáceis antes de a palavra "M"
ser usada. Não há tensão, nem constrangimento, nem mesmo o menor
sentimento de desconforto entre nós até surgir o assunto do meu trabalho.
Dali em diante, fica óbvio que a pessoa não sabe.se me trata como um papa
ou um leproso. E esquisito!
Eu poderia encher um livrinho com as histórias incríveis das
coisas que as pessoas fizeram e disseram logo depois de descobrirem que
eu estava no ministério. Um sujeito sentado ao meu lado no avião, durante
a refeição trocou nervosamente o pedido de um drinque para refrigerante,
sussurrando ansioso para mim que sua intenção original fora, na
realidade, a de pedir o refrigerante. Disse-lhe que não se preocupasse...
eu não tinha nada a ver com o que ele bebia, o que ele tomou como uma
insinuação, e, em pânico, pediu um drinque para mim. Quando recusei, ele
resolveu trocar de lugar. Em sua pressa, derramou sua refeição por cima
de mim. As vezes é mais fácil apenas dizer às pessoas que sou um
escritor. Mas então elas querem saber que tipo de livro escrevo, e isso
leva a outro episódio do tipo drinque-refrigerante.
Jamais me esquecerei daquela vez em que eu passava por um longo
corredor, a caminho de uma visita hospitalar. Quando me aproximei do
quarto de minha ovelha, o marido dela estava de saída. Assim que passou
pela porta, ele acendeu um cigarro, depois deu uma olhada pelo corredor e
subitamente me reconheceu à distância. Sorri e acenei. Nervoso, ele
acenou de volta, absolutamente sem saber como esconder o cigarro de mim.
Ainda segurando o cigarro aceso, ele enfiou a mão no bolso da calça!
Resolvi fazer de conta que não tinha visto... e bater um longo papo com
ele. A coisa ficou hilariante. Quanto mais conversávamos, mais curto ia
ficando aquele cigarro em sua mão e mais ele parecia uma chaminé. A
fumaça saía em rolos do bolso da calça e se encaracolava por trás da gola
do casaco dele. Incapaz de me conter por mais tempo, perguntei-lhe por
que não terminava de fumar o cigarro. Dá para acreditar? Ele negou até
mesmo ter um cigarro. Dentro de segundos ele disparou para o elevador e
fugiu, o que provavelmente foi bom. Se tivéssemos conversado um pouco
mais, o pobre homem se teria transformado num sacrifício vivo.
Agora eu pergunto, isso teria acontecido se eu fosse engenheiro?
Ou vendedor de computadores? Piloto comercial? Ou bibliotecário? A
estranha confusão, as ideias nebulosas sobre o ministério em geral, e
sobre os ministros em particular, é estarrecedora.
Se não esclareci isto antes, permita-me fazê-lo agora. Não há
nada secreto com relação àquilo que é sagrado. O ministério pode ser uma
vocação incomum, requerendo um padrão e um compromisso maiores do que as
outras, mas não há motivo para perpetuar a ideia errônea de que não
podemos apreender seu propósito ou compreender precisamente de que se
trata. As pessoas precisam ser informadas para que o mistério seja
substituído pela realidade, o que explica a primeira razão pela qual
resolvi escrever este livro. Não me interprete mal. Respeito pelo
ministério é saudável e necessário, mas permanecer ignorante com relação
a ele e mantê-lo numa bruma de superstição ou misticismo não ajuda
ninguém.
UMA BREVE REVISÃO
Embora mal tenhamos entrado no assunto, talvez seja útil fazer
uma pequena revisão. Algumas destas coisas das quais estamos tratando são
como a soma na matemática. São tão básicas, tão fundamentais, que não
podemos prosseguir enquanto não estiverem firmes no lugar.
O propósito básico da igreja é glorificar a Deus. Essa, em
poucas palavras, é a razão pela qual estamos neste planeta. Não temos
muito tempo para viver. Em nossa curta vida de sessenta ou setenta anos,
Deus graciosamente permite ar em nossos pulmões, um coração que bate mais
de cem mil vezes ao dia, e suficiente força física e mental para viver.
No processo de nossa existência terrena, o propósito básico de Deus para
nossas vidas não é o de fazermos um nome para nós mesmos ou acumularmos
um montão de grana ou manobrarmos as pessoas de cá para lá como poderosos
chefões. Pura e simplesmente, é o de dar glória ao seu nome. Se no
processo Ele nos permite ter algum sucesso ou algumas alegrias e
benefícios em troca do nosso trabalho, sem problema. Mas, devido à
brevidade da vida, precisamos pôr as coisas mais importantes primeiro.
Conta-se a história de um homem que, enquanto caminhava pela
praia, encontrou uma lâmpada mágica usada, que as ondas haviam depositado
ali. Quando o gênio respondeu à sua esfregada, disse-lhe restar apenas um
desejo na lâmpada. O homem ponderou por um momento e depois pediu uma
cópia da página de cotações da bolsa de valores do jornal local, datado
exatamente um ano mais tarde. Num redemoinho de fumaça, o gênio
desapareceu e em seu lugar ficou a página de finanças. Jubilosamente, o
homem sentou-se para dar uma olhada no seu troféu; poderia investir com
certeza, conhecendo os vencedores do ano seguinte. Quando a folha caiu
sobre seu colo, apareceram os obituários que estavam no reverso da
página. O nome que aparecia no topo da lista chamou-lhe a atenção: era o
seu!
Nosso Deus é um Deus zeloso. Ele não reparte a sua glória com
ninguém. Deste dia em diante, não se permita esquecer a importância de
glorificar o nome excelso de Deus, independentemente da sua idade, sua
posição, sua carteira financeira, ou sua esfera de influência. Leia as
advertências seguintes de dois profetas antigos. Elas são palavras de
admoestação para cada geração.
“Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus, e os estendeu, e
formou a terra, e a tudo o que produz, que dá a respiração ao povo que
nela está, e vida aos que andam nela. Eu, o Senhor, te chamei em retidão;
eu te tomarei pela mão. Eu te guardarei, e te darei por aliança do povo,
e para luz dos gentios, para abrir os olhos dos cegos, para tirar da
prisão os presos, e do cárcere os que jazem em trevas”. (Isaías 42:5-7)
“Procuras tu grandezas? Não as busques...” (Jeremias 45:5)
Se você for um professor de Bíblia, pode sublinhar essa
declaração de Jeremias. Se você for um ministro, destaque-a em amarelo.
Você está procurando grandezas? Então o que está fazendo ensinando a
Bíblia? Ela é o Livro de Deus, escrito para a glória de Deus. Não procure
grandezas
para si mesmo, independentemente da
influência que você possa ter no ministério.
Vou ser franco com você, esperando despertá-lo para um perigo
sutil. Se sua motivação for de alguma forma promover grandezas para si
mesmo, você está na vocação errada. Não há Prêmios de Academia conferidos
na terra às pessoas que estão no ministério, nem deveria haver. Nossas
recompensas virão mais tarde. Pela escolha soberana do Rei, elas virão
quando nosso Rei as prover no futuro. E é bom lembrar que assim que as
coroas nos forem colocadas na cabeça, nós as removeremos bem depressa e
as colocaremos aos pés do nosso Rei (onde elas merecem estar). Por quê? E
fácil responder: Digno é o Cordeiro que foi morto, não o que proclama o
Cordeiro.
Não pretendo que estas palavras sejam palavras piedosas, bonitas
e suaves. Estas palavras são verdadeiras, facilmente esquecidas,
especialmente se você se encontrar na liderança de uma igreja crescente,
dinâmica, sobre a qual a bênção de Deus repousa no momento. Quero lembralo que bênção como essa é frágil. Não durará para sempre.
UM EXAME MAIS ATENTO DOS NOSSOS OBJETIVOS
Conforme vimos no capítulo anterior, quatro fios principais
estão entretecidos no pano de Atos 2:41-47. Ao combinar as primeiras
letras de cada termo, os quatro objetivos (Culto, Instrução, Comunhão e
Expressão) formam a sigla C-I-C-E.
Primeiro, a igreja é uma comunidade cultuadora. Se sua igreja
não estiver envolvida no culto, você precisa forçar muito a barra para
dizer que é uma igreja. Pode ser um bom lugar para se reunir. Você pode
usufruir de diversas atividades estimulantes. Pode haver muita instrução
excelente. De fato, essa pode ser a única ênfase. Se for, sugiro que você
a chame pelo nome certo de escola, não igreja.
Contou-me recentemente certo senhor que um dos problemas que ele
e a esposa tiveram na igreja que frequentaram anteriormente por diversos
anos foi que o pastor declarava com frequência: "Aqui nós não nos
preocupamos com muita adoração. A música não é importante, nem a comunhão
(que ele diminuía regularmente). Meu ministério é ensinar... apenas
ensinar. O que recebemos aqui é doutrina."
Então aquele senhor acrescentou: "Sem dúvida, foi exatamente o
que aconteceu. Com franqueza, era o mesmo que frequentar uma faculdade
bíblica ou sentar na classe de algum seminário. Tínhamos até mesinhas
ligadas às nossas cadeiras. Após termos prestado juramento à bandeira e o
ministro ter feito uma breve oração, sentávamo-nos e a aula começava.
Nada de música. Nada de sentimento. Nenhum senso de compaixão. Bum, a
gente abria a Bíblia e saía disparado!"
Sim, a igreja precisa de bons ensinamentos, mas não às custas do
culto. Acho interessante que em mais de três anos de ministério na terra,
Jesus jamais disse aos discípulos que anotassem alguma coisa. Nem uma
vez. Sua instrução não era um exercício acadêmico. Aqueles que se
sentavam aos seus pés, entretanto, geralmente adoravam.
Segundo, lembremo-nos de que a igreja é um lugar onde recebemos
instrução. Aprendemos da Palavra de Deus quando estamos juntos, mas nosso
aprendizado não está limitado à instrução verbal. Aprendemos com os
modelos das vidas uns dos outros. Aprendemos por experiência. Aprendemos
com os fracassos, perdas e provações. Aprendemos com os grandes hinos,
com os cânticos de fé. No processo de aprendizagem aos pés de Deus, Ele
recebe a glória.
Como deve lembrar-se, esses dois elementos são enfatizados na
passagem de Atos 2 que examinamos no capítulo anterior:
Perseveravam na doutrina dos apóstolos (instrução).
Em cada alma havia temor (adoração).
Quando você está numa sala de aula, não sente nenhum temor... a
menos que não saiba a resposta de alguma prova! Esse é um tipo diferente
de temor. Quando adoramos verdadeiramente, fazemo-lo com um temor
maravilhado, um temor de louvor. Há adoração também no silêncio, em ficar
parado, quieto, sabendo que Ele é Deus. Há adoração no lindo cântico
congregacional, num hino, ou na magnífica música que ressoa de um órgão
de tubos.
Uma vez que você tomar conhecimento do culto e da instrução na
igreja primitiva, perceberá que ambas emergem repetidamente por todo o
livro de Atos.
COMUNHÃO ÍNTIMA
Encontramos também neste mesmo segmento de Atos 2 que a igreja
deve ser um lugar de comunhão. Digamos que é um rebanho interessado. A
igreja nunca deveria ser apenas um conjunto de prédios onde você vem,
senta, presta culto, aprende e sai. A igreja é uma comunidade de fiéis
que demonstram interesse genuíno uns pelos outros.
Os cristãos primitivos tinham uma intimidade de comunhão
raramente encontrada hoje. Eles "perseveravam unânimes" nela; não apenas
na doutrina, não apenas na Ceia do Senhor e na oração, mas também na
comunhão. Esta palavra excessivamente usada e mal compreendida vem do
termo grego koinonia, que traz a ideia de algo que se tem em comum com
outros.
Quando koinonia aparece no Novo Testamento, sempre dá a ideia de
união... o compartilhar de algo juntos ou tomar parte em algo juntos. Os
cristãos primitivos tinham coisas em comum uns com os outros. Eles
estavam juntos. Não compareciam aos cultos como uma sacola de bolinhas de
gude que faziam muito barulho quando batiam umas contra as outras, e
depois saíam dali em fila indiana. Não, eles vinham com um cacho de uvas
maduras. A medida que as perseguições os comprimiam uns contra os outros,
eles sangravam uns nos outros. Suas vidas se entremeavam naturalmente.
Como é melhor pensar em nós mesmos como dois punhados de uvas maduras do
que como uma sacola de bolinhas de gude brilhantes. Os momentos em que
nos reunimos tornam-se muito mais preciosos quando nossas vidas se
entrelaçam umas com as outras, aproximando-nos cada vez mais, cada qual
sentindo as tensões e lutas dos outros, interessando-nos profundamente
uns pelos outros.
Uma das palavras de origem para koinonia nos leva a Lucas 5:10,
onde alguns indivíduos são chamados de koinonos, "parceiros de negócios".
Hebreus 10:33 fala sobre sermos participantes e coparticipantes do
evangelho. Essa é a mesma raiz encontrada em koinonia. Hebreus 13:15 se
refere à doação do nosso dinheiro como uma expressão de koinonia. Quando
temos verdadeira comunhão, damos; quando damos para as necessidades de um
grupo reunido, participamos de comunhão.
Gálatas 2:9, e isto pode surpreendê-lo, menciona as destras da
comunhão". O apóstolo Paulo está descrevendo com que disposição cada um
estendeu a mão e envolveu o braço do outro. Eles se incluíram uns nas
vidas dos outros.
Toda esta pesquisa bíblica me levou à minha própria definição de
comunhão. A comunhão ocorre, penso eu, quando há expressões de
cristianismo genuíno livremente compartilhado entre os membros da família
de Deus. Noto no Novo Testamento que a verdadeira koinonia resulta em
duas expressões definidas. Primeiro, compartilhar algo com alguém, algo
tangível. Ajudar essa pessoa a satisfazer uma necessidade. E segundo,
participar de algo com alguém. Quando há pranto, você participa dele com
a pessoa que chora. Você também chora. Quando há júbilo, você participa
da alegria com aquele que se regozija.
Quando foi a última vez que um dos seus colegas foi promovido e
você aplaudiu? Vamos imaginar outro cristão que talvez não tenha vivido
uma vida cristã tão boa quanto você; não obstante, ele foi recentemente
abençoado por Deus. Quero fazer-lhe uma pergunta direta: Seus pensamentos
seriam: "Que Deus o abençoe. Estou vibrando por aquela família. Como
estou feliz por eles poderem desfrutar alguns desses favores de Deus?"
Minha esposa e eu temos notado, falando bem francamente, que é mais fácil
para um número maior de cristãos chorar com aqueles que choram do que se
regozijar com os que se regozijam. De algum modo, a inveja ou o ciúme têm
um papel poderoso demais na mente das pessoas quando elas veem alguém ser
abençoado. A comparação é um jogo sujo. Escolhamos a compaixão.
Marion Jacobsen, num livro intitulado Saints and Snobs (Santos e
Esnobes), escreve palavras fortes, mas verdadeiras:
Se qualquer grupo de cristãos que alegam crer e praticar tudo o
que Deus falou em seu Livro confrontar sua responsabilidade pessoal
dentro da família de Cristo, e as necessidades reais dos cristãos à sua
volta, impressionará a comunidade com a resplandecente bondade do amor de
Deus a eles e entre eles. Essa transformação provavelmente faria mais
para atrair outros a Jesus Cristo do que qualquer trabalho de casa em
casa, campanha evangelística ou novo prédio da igreja. As pessoas estão
famintas por aceitação, amor e amigos, e a menos que os encontrem na
igreja, elas podem não ficar ali o tempo suficiente para relacionar-se
pessoalmente com Jesus Cristo.
As pessoas não são persuadidas, são atraídas. Precisamos ser
capazes de comunicar muito mais pelo que-somos do que pelo que dizemos.11
EXPRESSÃO VERDADEIRA
A quarta e última característica distintiva da igreja é sua
expressão. Ela é um corpo que busca os outros. A igreja é um corpo que
não restringe suas mãos a si mesma.
Lá em Atos 2:43-46 encontramos uma situação crescente. Havia
amor. Havia aceitação. Havia vulnerabilidade, compaixão, interesse,
atração e doação. As necessidades estavam obviamente sendo satisfeitas. A
luz de tudo isso, não deveríamos ficar surpresos ao ler como o Senhor
honrou suas expressões de interesse.
“E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que iam
sendo salvos” (versículo 47).
Será que a mensagem da morte e ressurreição do Senhor ficou
confinada à igreja!1 Os cristãos guardaram para si as boas novas? Será
que elas eram algo desfrutado dentro das paredes do seu lugar de culto?
Não, pelo contrário, eles mal podiam esperar para chegar às ruas e
difundir a Palavra.
Logo no capítulo seguinte, lemos:
“Pedro e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a
nona...” (Atos 3:1).
Observe que eles não estavam no templo, estavam indo ao templo.
E ao se dirigirem para lá, à "hora da oração", se depararam com alguém
Necessitado.
“Ora, era trazido um homem que desde o ventre da mãe era coxo, o
qual todos os dias punham à porta do templo, chamada Formosa, para pedir
esmola aos que entravam. Vendo a Pedro e a João, que iam entrando no
templo, pediu que lhe dessem uma esmola” (versículos 2-3).
Cenas como essas podem ser vistas em muitas áreas de nosso país.
Pessoas em circunstâncias penosas são muito comuns nos grandes
continentes como o nosso, o da África e o da Ásia, bem como em partes do
Oriente Médio. Os mendigos geralmente se colocam perto de algum lugar de
culto. Era ali que esse homem se encontrava.
Lá vinham Pedro e João, a quem ele se dirigiu inquirindo se
podiam dar-lhe algo.
“Pedro, juntamente com João, fitando os olhos nele, disse: Olha
para nós. E olhou para eles, esperando receber alguma coisa. Disse Pedro:
Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho te dou. Em nome de Jesus
Cristo, o nazareno, levanta-te e anda. Tomando-o pela mão direita, o
levantou, e logo os seus pés e artelhos se firmaram. Saltando ele, pôs-se
em pé e começou a andar. Então entrou com eles no templo andando e
saltando, e louvando a Deus” (versículos 4-8).
Você sabe o que aconteceu depois que os dois se dispuseram a
cuidar daquele homem? Foram inquiridos duramente. Por quem? Pelos
religiosos, que recitaram uma cansativa litania de queixas: "Não temos
lugar para isto. E algo fora do comum. Quem são vocês, afinal? Não são um
de nós, são?" Em vez de ficarem desencorajados pelas ameaças daqueles
líderes religiosos, Pedro usou o momento como uma oportunidade de falar a
favor do seu Senhor.
Que ótimo lugar para falar às pessoas a respeito de Cristo!
Poucos lugares há mais destituídos de vitalidade espiritual do que um
círculo religioso composto de pessoas que falam de coisas religiosas mas
jamais mencionam o Salvador. Não percamos essas oportunidades. A qualquer
hora que você tiver oportunidade de ministrar a um "grupo religioso",
faça-o. Muitas vezes eles não conhecem a Cristo. Só sabem de sua religião
formal.
Voltemos à nossa história. Depois que os apóstolos foram
atirados de volta à rua, adivinhe o que aconteceu? Fizeram a mesma coisa
de novo. Eles são como um desses brinquedos de criança, o "João Teimoso",
um boneco de plástico que tem um grande peso no fundo. Você o empurra com
um soco, ele se ergue de novo imediatamente. Derruba-o de novo e lá vem
ele de volta a uma posição vertical. Aqueles cristãos primitivos viviam
voltando.
Veja por si mesmo:
“Estando eles falando ao povo, sobrevieram os sacerdotes, o capitão
do templo e os saduceus. Perturbaram-se muito de que ensinassem o povo, e
anunciassem em Jesus a ressurreição dentre os mortos. Lançaram mão
deles...” (Atos 4:1-3).
Dá para ouvir seus captores?
-- Acho que já lhes dissemos que não fizessem isso! -- Bem,
ouvimos o que disseram, mas não vamos obedecê-los. E por isso eles os
jogaram de volta atrás das grades.
“Lançaram mão deles, e os encerraram na prisão até o dia
seguinte, porque era já tarde. Muitos, porém, dos que ouviram a palavra,
creram, e chegou o número desses a quase cinco mil” (versículos 3-4).
Você se lembra do número lá no capítulo 2? Era "quase três mil".
Agora é "quase cinco mil". A igreja está crescendo numericamente. Ora, é
claro! Quem não desejaria estar com pessoas tão contagiantes e corajosas
quanto essas?
O ritmo continua... outra daquelas cenas de é-melhor-vocês –
pararem-com-isso.
“E tendo-os trazido, os apresentaram ao Sinédrio. E o sumo
sacerdote os interrogou: Não vos admoestamos expressamente que não
ensinásseis nesse nome”?
(Não dá para enxergar aqueles sujeitos falando muito distintamente
através de dentes cerrados: "Já falamos para vocês não fazerem isso"?)
“Contudo, enchestes Jerusalém dessa vossa doutrina, e quereis
lançar sobre nós o sangue desse homem. Respondeu Pedro e os apóstolos:
Mais importa obedecer a Deus do que aos homens”! (5:27-29).
Mais tarde, Pedro pregou para eles, e os resultados foram
previsíveis:
“Ouvindo eles isto, se enfureceram, e deliberaram matá-los”
(versículo 33).
Finalmente, um cavalheiro chamado Gamaliel falou: "Esperem um
minuto. Calma, vocês aí. Precisam perceber que talvez estejam lutando
contra Deus. Se estiverem, não há como possam deter a coisa. E se não
estiverem, a coisa vai parar por conta própria!" (Paráfrase do autor).
Esse foi o raciocínio de Gamaliel. Nada mau, para falar a verdade.
Então eles pensaram: "Bem, está certo. Concordamos com isso. Mas
eles vão entender que não estamos brincando. Vamos tirar-lhes o couro.
Isso fará com que se lembrem" (versículo 40). Será que isso deteve o zelo
dos apóstolos? Nem brincando. Foi como jogar gasolina no fogo. Aqueles
homens que foram surrados e chicoteados saíram com roupas ensanguentadas,
regozijando-se por ter-lhes sido concedido o privilégio de sofrerem por
Cristo.
“Os apóstolos retiraram-se da presença do Sinédrio regozijandose, porque tinham sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de
Jesus. E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar e
anunciar a Jesus, o Cristo” (versículos 41-42).
Amo isso. "Todos os dias" eles falavam abertamente de Cristo.
Seu testemunho não se limitava a um convite evangelístico na igreja. Eles
serviam de modelo vivo do verdadeiro evangelismo, onde a necessidade se
encontra, na rua e não na igreja.
VAMOS ESPALHAR A NOTÍCIA!
Em minha pesquisa, descobri quatro observações a respeito de
evangelismo e missões no Novo Testamento.
Primeiro: Eles nunca se limitaram à reunião da igreja. De fato,
era lá que menos ocorriam as reuniões. Espero que se lembre disso. A
igreja reunida está adorando ou sendo instruída. A igreja dispersa está
ajudando e afirmando, encorajando e evangelizando. Com que frequência
vejo essa ordem invertida! Desafio você a encontrar um lugar no Novo
Testamento no qual a igreja se reunisse estritamente com a finalidade de
evangelizar. Não, as pessoas não iam à igreja para ganhar os perdidos.
Elas se reuniam para adorar, ser instruídas e ter comunhão íntima; depois
elas se dispersavam para evangelizar. Assim que as reuniões terminavam,
elas
pensavam sobre os perdidos, entravam em contato com
eles, ligavam-se a eles e ganhavam-nos para o Salvador. Uma vez
convertidos, os novos crentes eram levados ao lugar onde podiam ser
instruídos, onde podiam cultuar a Deus, e onde podiam encontrar compaixão
genuína, verdadeira comunhão.
A igreja é essencialmente o lugar onde os santos se reúnem para
ser alimentados com o alimento sólido da Palavra e para se impressionarem
com a necessidade de compartilhar o evangelho e sua mensagem de busca ao
perdido. Pense nela como o agrupamento no jogo de futebol americano: Eu e
você sabemos que os times não aparecem simplesmente para se agruparem.
Eles se agrupam ali apenas o tempo suficiente para ficar sabendo as
jogadas. Durante toda a semana, conduzimos as jogadas. Domingo após
domingo retornamos ao agrupamento e aprendemos as jogadas.
Segundo: O evangelismo era sempre iniciado pelo cristão. Temos a
falsa impressão de que, se as pessoas quiserem conhecer a Cristo, nos
perguntarão. Estamos sonhando se achamos que as pessoas vão se aproximar
de nós, dar-nos um tapinha no ombro e perguntar: "Olhe, pode me falar a
respeito de conhecer a Cristo como meu Salvador e Senhor?"
Em todos os meus anos de vida, raramente alguém me disse: Sabe,
tenho estado preocupado com minha alma, Chuck. E você é cristão. Gostaria
que me ajudasse a saber como ir ao céu."
Você está brincando? As pessoas não trazem o assunto à baila...
nós, sim. Iniciamos o contato. Foi o que os cristãos fizeram por todo o
Novo Testamento.
Terceiro: O evangelismo geralmente estava ligado a outro evento
ou experiência desconexo. Estou-me referindo a intensa oposição, uma
cura, uma conversão, uma discussão, um evento sobrenatural, uma
ocorrência cataclísmica. Vir a crer em Cristo muitas vezes derivava de
ocorrências como essas.
Quarto: O evangelismo nunca foi algo que alguém fosse forçado ou
manipulado a fazer. A Escritura não contém nenhum relato de cristãos
manipulando homens e mulheres descrentes com o fim de levá-los à
salvação. Não, quase sem exceção as pessoas eram tratadas com tato e
dignidade, com respeito e inteligência. Ora, certamente havia ousadia no
testemunho, mas os cristãos primitivos pregavam a mensagem e depois
esperavam que o Espírito de Deus se movesse. E Ele jamais deixou de
operar poderosamente.
Não se esqueça do que aprendemos antes: O poder do ministério é
o Espírito Santo. Preocupar-nos com as pessoas, interessando-nos de fato
por seu mundo, sua situação e seus cuidados, ainda é o método mais eficaz
de ganhar os perdidos.
UMA OLHADA REALISTA PARA O FUTURO
Penso com frequência nas duas dimensões do ministério da igreja.
Primeiro, a profundidade da igreja é determinada por sua
qualidade de culto e instrução. Não podemos desistir do culto porque
acreditamos no evangelismo. Não devemos deixar de instruir as pessoas
porque simplesmente amamos o culto. Ter os dois nos dá profundidade. A
profundidade da igreja é determinada pela qualidade da adoração, da
instrução ali presentes. Precisamos sempre manter isso próximo ao mais
alto nível de nossa percepção.
A segunda dimensão, a largura da igreja, é determinada pelo
compromisso dessa igreja com comunhão e evangelismo. Não permaneceremos
largos se deixarmos de evangelizar (na verdade, nos tornaremos um
clubinho exclusivista). Se nos esquecermos do mundo carente, não seremos
um rebanho desvelado, não teremos equilíbrio. Precisamos continuamente
buscar as pessoas que estiverem necessitadas. Afinal, é disso que trata o
amor. E o amor que nos empurra para fora de nossa presunçosa complacência
e nos desperta para buscarmos e tocarmos os outros!
Os trajes do amor têm uma barra Que se arrasta no pó que por aí
jaz; Ela pode chegar aos santos das mas e dos becos... E por poder, é o
que faz.
Não é segredo. O ministério da igreja é um interesse genuíno
pelos outros. Precisamos parar de falar sobre isso e começar a fazer.
A primeira tarefa na lista de Cristo é mudar o mundo pelo qual
morreu. Mas ele não quer transformar as coisas sozinho. Pediu à sua Noiva
que o represente junto aos habitantes deste mundo. Estamos prontos? Ele
certamente está. E à espera.
REFLEXÕES
1. Não importa o tamanho de sua igreja, é fácil descobrir que
sua comunhão íntima está limitada à mesma meia dúzia de pessoas, não é?
Por ser "confortável" estar com o mesmo grupo de conhecidos, você pode
estar-se privando de outras pessoas no Corpo que poderiam fazer uma
contribuição real à sua vida e você à delas! Desafio-o a convidar para
irem à sua casa diversos casais e/ou solteiros da sua igreja que você não
conhece muito bem. Faça com que o tempo passado junto seja descontraído e
informal. Peça que cada pessoa compartilhe um pouco de sua peregrinação
espiritual, de algumas preocupações ou prioridades atuais. Simplesmente
deixe a conversa fluir e busque oportunidades para identificar, afirmar e
encorajar. Você será enriquecido, e também o serão seus novos amigos.
2. Conforme aprendemos neste capítulo, koinonia tem também
algumas implicações financeiras; comungar e dar estão inseparavelmente
ligados. Talvez você e sua família ajudem no sustento financeiro de algum
missionário ou obreiro cristão. E simplesmente uma questão de preencher
um cheque todo mês e enfiá-lo num envelope? O que poderia aproximá-lo
daquele indivíduo de uma forma mais pessoal? Em outras palavras, como
você e sua família poderiam sentir-se mais profundamente ligados ao seu
ministério? Você está a par dos desafios e lutas reais dessa pessoa de
forma que possa orar de uma maneira informada? A comunhão é um dom.
Aproveite-a ao máximo!
3. Analisando bem suas circunstâncias atuais, sua ocupação,
vizinhança, círculo de amigos chegados e assim por diante, o que
significaria para você "tomar a iniciativa" de compartilhar sua fé em
Cristo? Qual seria o primeiro passo lógico? Peça a um amigo íntimo
cristão que cobre de você o planejamento desse primeiro passo... e faça
algo dentro de duas semanas. Lembre-se, apesar de ser útil ter certo
treinamento em evangelismo, é o poder do Espírito Santo desencadeado por
meio de suas fervorosas orações que de fato abrirá as portas.
Capítulo Quatro
UM ESTILO CONTAGIANTE
Não se pode julgar um livro pela capa." É um ditado antigo, mas
ainda é verdadeiro. A aparência exterior do livro nada tem a ver com o
que ele contém. A mesma coisa é verdadeira no caso das pessoas. Quem já
não foi culpado de chegar a uma conclusão errada sobre um indivíduo,
tendo formado sua opinião estritamente com base em coisas exteriores?
O que é verdadeiro no caso de um livro ou de uma pessoa também é
verdadeiro no caso de uma nação. A opinião pública pode vir a mostrar-se
bem fora da realidade quando uma busca séria da verdade for empreendida.
Veja os Estados Unidos, por exemplo. É uma nação considerada
progressista, culturalmente refinada e bem instruída. Em comparação com
algumas das regiões mais primitivas do mundo, talvez seja. Mas fica um
pouco constrangedor quando se olha além das aparências e se faz a
contagem dos fatos.
O Dr. George Gallup, em resposta ao pedido do jornal Dallas
Times Herald, levantou os dados sobre o conhecimento dos alunos em oito
países industrializados. Os que estudam em escolas dos Estados Unidos
foram classificados nos últimos lugares da lista em matemática, ciências
e geografia. Escolhendo essa última categoria, deixe-me dar-lhe alguns
exemplos gritantes:
· Somente um quinto dos estudantes testados conseguiu localizar
os Estados Unidos num mapa.
· Um terço dos adolescentes não sabia que México é o país que
faz fronteira com o Texas, estado no qual moravam.
· Vinte e cinco por cento não sabia que o estado de Nova Jersey
fica no litoral leste e que o estado de Oregon fica no litoral oeste.
· Apenas cerca de 40 por cento conseguiu identificar a
Califórnia como o estado mais populoso.
Gallup descobriu que os formandos do colegial que deveriam logo
mais entrar para o mercado de trabalho ou para a vida universitária,
estavam lamentavelmente ignorantes em três áreas principais: comércio,
viagem e cultura. Suas respostas a três perguntas ilustram o quanto isso
é verdadeiro.
· Que país do mundo tem a maior população? A grande maioria dos
alunos respondeu: "As Nações Unidas".
· Quais foram os dois últimos estados admitidos à União? A
maioria das respostas incluía Flórida, México e Canadá.
· Qual a língua mais falada na América Latina? A resposta comum
foi "latim".
Não apenas é verdade que não se pode conhecer um livro pela capa
ou uma nação por sua reputação, como também se pode ter certeza disto:
Não se pode conhecer uma igreja por seus prédios. Embora saibamos que
isso é verdade, ainda prejulgamos muitas igrejas superficialmente e com
que frequência nos enganamos! Por exemplo...
Se a igreja é grande, composta de múltiplos prédios: "E uma
igreja fria... deve ser difícil nos sentirmos próximos das pessoas...
eles provavelmente não se importam muito com os outros."
Se a igreja é pequena, fora da cidade e localizada no meio de um
arvoredo: "E calorosa, amistosa e convidativa... seus membros devem
preocupar-se muito com os que sofrem."
Se a igreja tiver uma aparência elegante e for composta de
pessoas influentes, ricas, que dirigem carros de luxo: "Ela não pode
estar tão interessada assim em evangelismo ou em uma visão missionária...
sem
dúvida o pastor é mais político do que expositor,
provavelmente nem prega de fato a Palavra."
Se a igreja for simples e despretensiosa: "Tem de ser o tipo de
lugar rígido, intolerante, superlegalista."
Se acontece de ser de uma certa denominação, há um rótulo
extremo que lhe damos.
Se ela está em apuros financeiros, como é fácil imaginar que
houve irresponsabilidade fiscal.
Se ela sofreu algum escândalo, muitos pensariam que lhe faltam
convicções e que ela precisa de padrões mais elevados de santidade.
Quanto engano... quanta injustiça! O que nos leva a crer que
podemos determinar o estilo, as convicções ou as crenças de uma
congregação a partir de uma olhada rápida à arquitetura de seus prédios
ou ao nome do lugar?
Precisamos ultrapassar a pedra de tropeço das aparências. E
muito pouco o que pode ser conhecido sobre a noiva no dia que ela se
coloca diante de um grupo de testemunhas e pessoas que lhe desejam
felicidade. E a avaliação que fazemos nesse momento pode ser tão
superficial e incorreta quanto a maioria dos nossos juízos sobre igrejas.
Que Deus possa nos ajudar a abandonar o hábito de chegar a conclusões
negativas baseadas estritamente no tamanho, nome e localização de uma
igreja, ou nos tipos de carros usados pelas pessoas que a frequentam.
Sugiro que um bom lugar para começar seria uma leitura cuidadosa de
Mateus 16:15-18, onde Jesus faz aquela profecia significativa:
"Edificarei a minha igreja", seguida pela promessa de que "as portas do
inferno não prevalecerão contra ela."
Nosso Senhor não estava pensando em um prédio ou em um nome.
Apenas pessoas. O termo "igreja" vem da palavra grega eklesia, que
significa "chamados para fora". A profecia de Jesus foi de que ele
buscaria nas fileiras da humanidade e "chamaria" para si mesmo um povo
que, por aderir aos seus ensinamentos, glorificaria o seu nome. E a
edificação que ele faria desse corpo de crentes seria invencível. Nem
mesmo Satanás e sua hoste maligna poderiam frustrar esse plano.
Quando as pessoas passaram a pensar nas igrejas em termos de
prédios? Você está pronto para um choque? Os cristãos não construíram
prédios até o segundo século.
VÁRIOS "TIPOS" DE IGREJA
Walter Oetting, em seu excelente livrete The Church of the
Catacombs (A Igreja das Catacumbas), escreve:
Se você tivesse perguntado "Onde está a igreja?" em qualquer
cidade importante do mundo antigo em que o cristianismo houvesse
penetrado no primeiro século, teria sido direcionado a um grupo de
adoradores reunidos numa casa. Não havia prédio especial ou outra riqueza
tangível com a qual associar a "igreja"; apenas pessoas.
Até o final do primeiro século, as congregações evangélicas se
reuniam em casas ou onde quer que conseguissem se reunir. As vezes, era
em cavernas ou algum outro local escondido ou subterrâneo, por medo de
serem condenadas à morte. De fato, elas jamais construíram estruturas
eclesiásticas que abrigassem os adoradores até bem depois do início do
segundo século. E não foi senão no terceiro século que a ênfase sobre
estrutura começou a tomar o lugar da ênfase sobre pessoas.
Portanto, através dos séculos, especialmente nestes dois ou três
últimos séculos, edifícios inanimados passaram a representar as
verdadeiras congregações na mente do público em geral... o que explica
por que as pessoas, quando se lhes perguntam sobre a localização de certa
igreja, invariavelmente se referem a uma localização geográfica ou ao
projeto arquitetônico de seus prédios.
De fato, fala-se hoje de diversos tipos ou estilos de igrejas.
Certa autoridade dividiu as igrejas em quatro grupos.
Primeiro, ele designa a igreja corpo. E uma igreja que não tem
nenhuma propriedade nem precisa de nada disso. Ela programa seus cultos
de acordo com lugares convenientes para a reunião. As vezes, se
necessário, ela aluga algum local, mas nunca o compra. Essa rede de vida
congregacional é na maioria das vezes composta de pequenos grupos,
ligados entre si por reuniões de adoração conjunta em algumas ocasiões,
mas normalmente ela se reúne em pequenos segmentos.
Um segundo tipo de igreja é o que ele chama d ca igreja
catedral. Independente do tamanho, esta é uma igreja que vê o prédio como
igreja. E tudo o que acontece em nome da igreja quase sem exceção
acontece dentro daquele prédio ou em sua propriedade.
Em terceiro lugar, ele menciona a igreja tabernáculo. Essa é uma
congregação de pessoas que se reúnem num prédio, mas seu prédio é
estritamente secundário ou funcional. A estrutura nunca é considerada um
lugar santo em qualquer sentido inerente da palavra. É o lugar que abriga
as pessoas das intempéries do clima, dá-lhes um teto sobre suas cabeças e
provê certo conforto e identidade. Para elas, as instalações servem a
propósitos práticos que ajudam no funcionamento da igreja. Muitas coisas
acontecem na vida daquela igreja fora do prédio, por vezes a muitos
quilômetros de sua estrutura básica.
A quarta que ele menciona é a igreja fantasma. Essa congregação
se orgulha de não ter nenhum prédio de qualquer tipo... nunca. O problema
é que ela tem muito pouca organização de qualquer tipo. Não difere muito
do teste Rorschach da mancha de tinta; cada pessoa consegue ver nela o
que desejar.
Outros "peritos em igreja" têm aventado outras possibilidades.
Um desses indivíduos é Lyle Schaller, inquestionavelmente uma das mais
respeitadas autoridades em análise de igrejas. Em seu livro, Looking in
the Mirror (Olhando no Espelho), ele divide a igreja segundo o tamanho.
Sugere ele que a menor igreja (com menos de 35 membros) é uma "igreja
gato". A igreja de 35 a 100 membros ele chama de "igreja collie". Uma
igreja de 100 a 175 membros é uma "igreja-jardim"; a igreja de 175 a 225
é uma "igreja-casa"; e a igreja de 225 a 450 membros é uma "mansão". Se a
igreja tiver uma congregação de 450 a 700 membros, é um "casarão". Além
de 700 membros, ele considera a igreja uma "nação"... na realidade, uma
mini denominação.
Meu bom amigo e antigo pastor assistente da Primeira Igreja
Evangélica Livre, Paul Sailhamer, apresentou certa vez outra série de
grupos que fez toda a nossa equipe pastoral sorrir (ele é bom nisso).
Achei que sua sugestão era tão acertada quanto qualquer coisa que já li
ou ouvi.
Em primeiro lugar, temos a igreja-burro de carga. Essa igreja é
a igreja padrão, nada incomum, independente do tamanho. Ela faz fiel e
implacavelmente o trabalho. Não há nenhum arranco incrível no
crescimento, apenas alguns novos membros a cada ano, nada mais. Ela trata
os fardos do ministério como um burro de carga. Fica firme e consegue dar
conta do serviço.
E então vem o que Paul chama de igreja-cavalo de corrida. Essa
igreja é a congregação construída em torno de apenas uma pessoa. Ela é
claramente aquela em quem se deve apostar! Em breves períodos de tempo,
há arrancos de crescimento como meteoros na noite. Zum e o crescimento
deste ano está diferente do gráfico do ano passado. O problema é que
quando o Reverendo Cachorro Quente se vai, a igreja cai de novo onde se
encontrava antes. Esse é o preço que o rebanho paga por depender dele
como o cavalo de corrida.
Paul sugere então que o que realmente precisamos fazer é cruzar
uma igreja-cavalo de corrida com uma igreja-burro de carga... e ficar com
uma igreja-mula. Esse é realmente o tipo de igreja que você quer. Como
uma mula, ela tem estabilidade e persistência, mas não sendo toda burro
de carga, tem também um grande dinamismo que de alguma forma faz lembrar
um bom cavalo. Tem as marcas de ser uma igreja-cavalo de corrida por
conter indivíduos da assembleia que provêm direção, carisma, atração,
entusiasmo e liderança. Mas, como um burro de carga, ela se mantém fiel
ao trabalho.
Mas não podemos nos esquecer da principal deficiência... levando
um pouco mais adiante a analogia. A mula é estéril. Não pode se
reproduzir. Talvez isso explique um fenômeno frequentemente frustrante.
Quando você percebe ser uma "igreja-mula" com incrível crescimento,
energia, entusiasmo e visão, gostaria de começar outra igreja igualzinha
a ela. Mas não parece conseguir esse mesmo crescimento em outra
localidade nem mesmo se alguns dos indivíduos-chave estiverem dispostos a
sair e começar outra igreja.
A pergunta então é: Por quê? Por que alguém continuaria indo a
uma igreja-mula? Por que ela teria tal magnetismo, tal crescimento sólido
e contínuo? Por que permaneceria tão saudável e seu povo aguentaria todo
tipo de dificuldade? O que a torna tão eficaz? Não pode ser o tamanho.
Não é a prosperidade financeira. Não é alguma visão sobrenatural
diferente da de qualquer outra igreja. E com certeza não está limitada a
uma personalidade particular, porque há sempre diversos líderes com
personalidades persuasivas. Posso assegurar-lhe, não é a conveniência! Só
o Senhor sabe quanto pode ser inconveniente permanecer envolvido com uma
"igreja-mula".
Estamos de volta ao centro da questão: O que faz com que ela
funcione? Por falta de um termo melhor, acho que é o que eu chamaria de
estilo contagiante. Embora essas palavras talvez pareçam um tanto
superficiais, creio que essa expressão é a que melhor exprime o que quero
dizer. Parte do seu sucesso é um tanto misterioso. Há uma combinação
intangível que é definitivamente elétrica. Pelo poder e permissão do
Espírito Santo, as qualidades de grandeza estão presentes. E como se esse
estilo fosse um lindo raio de luar. Você o segura de leve, desfruta a sua
beleza... mas não o pode controlar. Você o aprecia, mas sabe que ele é
maior do que qualquer pessoa ou grupinho, não importa quão influente. Ele
não pode ser manipulado ou fabricado. Não é transferível, nem facilmente
definido. Mas quando você experimenta o gozo da unção de Deus, é como se
retivesse o fôlego e deixasse o milagre inundá-lo.
O QUE SE QUER DIZER COM ESTILO CONTAGIANTE?
Não quero deixar ninguém com apenas uma ideia vaga, nebulosa do
que estou descrevendo. Por isso, tomemos um exemplo do primeiro século, a
assembleia de crentes em Tessalônica. Estou considerando a descrição
feita no segundo capítulo de 1 Tessalonicenses.
Visto a igreja ser uma "família", pensemos nela como um bebê
para começar. Ela tem um arranco seguro de crescimento em seu primeiro
ano. A igreja do primeiro século, em seu arranco de crescimento, cresceu
como jamais crescerá de novo. Perto do final daquele século, a igreja era
composta das pessoas que estavam revirando o mundo de cabeça para baixo.
Quem sabe? Talvez essa tenha sido a última vez que isso foi dito a
respeito da igreja de Jesus Cristo. Há algo maravilhoso com relação
àquela Era nova, inocente, quando havia uma ausência de ênfase em
estrutura e virtualmente nenhuma política eclesiástica. Havia pureza e
depuração, mas através de tudo isso, havia simplicidade. A igreja
primitiva tinha um estilo que depressa se tornou tão contagiante que não
era incomum encontrar até mesmo cristãos jovens dispostos a morrer por
sua fé.
Alguns desses crentes contagiantes se reuniam em Tessalônica.
No segundo capítulo da primeira carta aos tessalonicenses,
Paulo, o apóstolo, reflete sobre as seis a oito semanas que passou entre
eles. Quando se fica sabendo que esse foi todo o tempo que ele pôde
investir nos santos daquele local, a igreja parece mais incrível ainda.
Enquanto reflete sobre seu ministério de dois meses entre eles, Paulo
escreve:
“Vós mesmos sabeis, irmãos, que a nossa entrada entre vós não
foi vã” (versículo 1).
Que grandiosa lembrança para Paulo, embora raramente
reivindicada por aqueles que estão no ministério hoje. Se envolvêssemos
os pastores hoje em diálogo, pedindo-lhes que refletissem a respeito de
igrejas anteriores que serviram, acho que muitos deles expressariam a
sensação de que seu ministério anterior foi em vão. Esta é talvez a
lembrança mais comum que o pastor tem após servir uma igreja: "Muito do
que fiz foi em vão."
A palavra vão significa "vazio, improdutivo, oco, sem
propósito". Quando Paulo voltava o olhar para os dias grandiosos que
passara entre os tessalonicenses, lembrava-se de tanto dinamismo e
alegria que todos os sentimentos de vazio eram removidos. "'Nossa entrada
entre vós não foi vã." Incrível!
Podemos ser compelidos a achar que ele estava sugerindo ter sido
fácil. Pelo contrário, a segunda coisa de que ele se lembra é de ter sido
uma época extremamente difícil:
“Havendo primeiro padecido, e sido ultrajados em Filipos, como
sabeis, tornamo-nos ousados em nosso Deus, para vos falar o evangelho de
Deus, no meio de grande combate” (versículo 2).
Tempos difíceis.
De novo, isso não é incomum. Qualquer pessoa que tome
conhecimento dos detalhes de ministérios anteriores descobre que parte
das igrejas mais fortes da história suportou triunfantemente muita
oposição. Paulo saiu de Filipos como um coelho ferido. A despeito dos
maus tratos e oposição, ele conseguiu chegar a Tessalônica. Antes de seus
dois meses de ministério lá, havia sido lançado na prisão com Silas. A
meia-noite, enquanto os dois homens cantavam hinos a Deus, houve um
terremoto, e eles foram libertos. Por fim, puderam prosseguir a viagem.
Contudo, algumas dessas mesmas pessoas que maltrataram Paulo em Filipos
acompanharam-nos, atormentando-o na esperança de silenciar sua mensagem
no próximo destino. Para elas, Paulo era um homem odiado.
Portanto, quando veio a Tessalônica, ele chegou ferido e
sangrando. E quando ministrou ali, ministrou "no meio de grande combate".
A igreja de Tessalônica era uma nova congregação alimentada no meio de
oposição. Não obstante, cresceu... sobreviveu... na realidade, floresceu!
CARACTERÍSTICAS DE UM ESTILO CONTAGIANTE
Quando se lê um pouco mais, descobre-se algumas das razões pelas
quais o apóstolo considerava a igreja de Tessalônica um grupo de cristãos
com estilo contagiante. Deixe-me destacar algumas frases. Tendo em mente
o versículo 2:
... tornamo-nos ousados em nosso Deus, para vos falar o
evangelho de Deus...
Lembre-se da referência que ele faz ao conteúdo do evangelho de
Deus.
Versículo 4:
Pelo contrário, como fomos aprovados por Deus para que o
evangelho nos fosse confiado, assim falamos, não como para agradar aos
homens, mas a Deus, que prova os nossos corações.
Versículo 8:
Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade quiséramos
comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus, mas também as nossas
próprias almas, porque nos éreis muito queridos.
Versículo 9:
Certamente vos lembrais, irmãos, do nosso trabalho e fadiga;
trabalhamos noite e dia para não sermos pesados a nenhum de vós, enquanto
vos pregamos o evangelho de Deus.
E mais uma vez. Versículo 13:
Pelo que também damos sem cessar graças a Deus, porque, havendo
recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como
palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a
qual também opera em vós, os que credes.
Vez após vez, quando reflete sobre a igreja de Tessalônica, ele
relembra a substância de sua mensagem ao rebanho.
Isto nos traz à primeira das quatro características de um estilo
contagiante. Ele é bíblico no conteúdo. Se você tivesse feito uma visita
à congregação na antiga Tessalônica, teria certamente ouvido a clara e
contínua declaração da Palavra de Deus.
Poucas coisas há mais insatisfatórias do que ouvir as divagações
ociosas de um pregador, semana após semana. Mesmo que seja eloquente,
perspicaz e inteligente, o ministro que tem uma mensagem baseada em
opinião fracassa quando comparado ao ensinamento cuidadoso e à aplicação
fiel da verdade de Deus.
Você notou como ela era purificante? A exortação de Paulo não
vinha do erro. Francamente, a exortação não será baseada no erro se a
Bíblia estiver verdadeiramente sendo ensinada. "Nossa exortação não
procede de impureza" (a Palavra de Deus purifica motivos e palavras).
Tampouco procedia "de engano". A Palavra de Deus tira o coração da
hipocrisia. Ela não pode ser enganosa e, ao mesmo tempo, verdadeiramente
bíblica.
"Pelo contrário, como fomos aprovados por Deus para que o
evangelho nos fosse confiado, assim falamos, não como para agradar aos
homens, mas a Deus, que prova os nossos corações" (versículo 4).
Amo este tipo de audácia confiante. Quanto mais você usa as
Escrituras, menos se preocupa em agradar o rebanho. Quanto mais se
preocupa em apresentar o que Deus disse em sua Palavra, menos se
interessa pelas opiniões humanas. O ministro que depende de lisonja
desviou-se da ênfase apropriada sobre as Escrituras. Mostre-me um pastor
que diz à congregação o que ela deseja ouvir e lhe mostrarei um homem que
deixou de fazer a exposição do Livro. Quando você, como pastor ou
professor, se comprometer com a Bíblia, prestará menos atenção tanto a
agrados quanto a ataques da parte dos outros.
Poucas pessoas exemplificam tudo isso mais continuamente do que
o ministro britânico John R.W Stott. Em seu poderoso livrete The
Preacher's Portrait (Retrato do Pregador), ele trata da importância de se
manter um sólido conteúdo bíblico em nosso ministério.
"Não basta ao pregador conhecer a Palavra de Deus: ele precisa
conhecer as pessoas a quem a proclama. Ele não deve, naturalmente,
falsificar a Palavra de Deus a fim de torná-la mais atraente. Não pode
diluir o forte medicamento da Escritura a fim de torná-lo mais doce ao
paladar. Mas pode buscar apresentá-la às pessoas de maneira que a
recomende a elas. Antes de mais nada, ele tornará simples a mensagem... O
pregador expositor é um construtor de pontes, que busca fazer a ligação
do abismo entre a Palavra de Deus e a mente do ser humano. Ele precisa
fazer o máximo para interpretar a Escritura tão correta e simplesmente, e
aplicá-la tão vigorosamente, que a verdade atravesse a ponte".
Um pouco adiante ele diz que a autoridade do pregador não
repousa sobre si mesmo, mas sobre o Livro que ele proclama. Quantas vezes
temos ouvido Billy Graham dizer: "A Bíblia diz..., a Bíblia diz..., a
Bíblia diz." Por todo o mundo, ele tem estado a anunciar: "A Bíblia diz."
E é aí que se encontra a autoridade do evangelista.
Como diz Stott: "No sermão ideal, é a própria Palavra que fala,
ou antes, Deus, em e através de sua Palavra. Quanto menos o pregador se
interpuser entre a Palavra e seus ouvintes, melhor."
Quando você sai após um culto que incluiu momentos
significativos de instrução espiritual, deve partir impressionado,
primeiro e acima de tudo, com o que Deus lhe falou da sua Palavra e, logo
depois disso, com o que você precisa fazer a respeito. As opiniões
variadas e os interesses vacilantes do pregador são secundários ao texto
bíblico. A igreja que tem um estilo contagiante é bíblica no conteúdo.
É também autêntica em natureza.
"Como bem sabeis, nunca usamos de palavras lisonjeiras, nem de
intuitos gananciosos; Deus é testemunha. Não buscamos glória dos homens,
nem de vós, nem de outros, ainda que podíamos, como apóstolos de Cristo,
ser-vos pesados" (versículos 5-6).
Olhe de novo esses dois versículos com muito cuidado. Leia-os
mais uma vez. Fica claro que a ênfase passa da mensagem (versículos 1-4)
ao mensageiro (versículos 5-6). Ele diz, na realidade: "Minha
apresentação foi autêntica. Não vim agradando todo mundo com lisonjas.
Não ministrei com um programa secreto de cobiça. E certo que não busquei
glorificar-me na congregação à qual servi. Tampouco me aproveitei da
posição privilegiada de apóstolo de Cristo." Eram palavras de pura
autenticidade do coração de um verdadeiro servo. E esse tipo de
autenticidade é contagiante.
Não havia mais alta autoridade na igreja primitiva do que a
autoridade apostólica. Os apóstolos tinham dons milagrosos. Eles fundaram
igrejas. Falavam com frequência como o próprio oráculo de Deus. O Novo
Testamento não estava completo nem sendo compilado quando Paulo ministrou
em Tessalônica. As únicas Escrituras escritas eram os rolos do Antigo
Testamento. Para um apóstolo apresentar a verdade atual e relevante de
Deus, ele era inspirado de maneira singular, de modo que pudesse falar ex
cathedra, declarando sem erro a mensagem exata de Deus. Tal posição
privilegiada era rara, e portanto grandemente respeitada. O comentário de
Paulo é mais significativo ainda à luz do que foi dito. Ele se recusou a
tirar proveito de outros ou a esperar tratamento privilegiado porque
exercia um papel de tal autoridade na igreja primitiva.
Enquanto estamos falando de autenticidade, não nos atrevemos a
ignorar algo que ele escreveu mais tarde aos coríntios. Diz respeito a
ser autêntico!
"Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o
testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria,
Pois nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este
crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande
tremor. A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras
persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de
poder, para que a vossa fé não se apoiasse na sabedoria dos homens, mas
no poder de Deus" (1 Coríntios 2:1-5).
A autenticidade ocorre quando pessoas reais dizem coisas reais
acerca de questões reais com sentimentos reais. Não há nenhuma tapeação
ocorrendo, nenhuma conversa de duplo sentido, nenhum palavrório religioso
que soa piedoso, mas não tem prova. Quando você é autêntico, você vive o
que é. Você fala a verdade. Admite fracasso e fraqueza quando é
apropriado. Posso garantir que, quando as pessoas descobrem uma igreja
que promove esse tipo de autenticidade... quando seus líderes são modelos
contínuos de autenticidade, elas não conseguem ficar de fora. A
autenticidade é como um ímã invisível que as atrai para dentro.
Vi uma placa pequena, mas eloquente, que tinha sido emoldurada e
estava pendurada na parede do gabinete do presidente de uma faculdade.
Ela continha somente algumas palavras, mas, oh, tão impressionantes!
AQUI FALA-SE DE BONDADE
Gostaria de sugerir outra placa para os vestíbulos das igrejas e
gabinetes pastorais:
AQUI APRENDE-SE A SER AUTÊNTICOS
A igreja que permanece continuamente bíblica em conteúdo será
diferente. Só isso já chamará a atenção. Mas não demorará muito e as
pessoas que vêm ali começarão a questionar se todo esse bom ensinamento é
apenas conversa sem substância. Elas começarão a procurar autenticidade.
Será que essa é uma igreja que realmente acredita naquilo em que diz
acreditar? Realmente executamos o que concordamos quando nos agrupamos...
ou mais parecemos dois times: um fazendo o agrupamento e outro fazendo as
jogadas?
A terceira característica de uma igreja com estilo contagiante:
ela é um lugar que é gracioso em atitude. Como amo esta passagem de 1
Tessalonicenses 2! Ela transborda de graciosidade:
"Antes fomos brandos entre vós, como a mãe que acaricia seus
próprios filhos. Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade
quiséramos comunicar-vos, não somente o evangelho de Deus, mas também as
nossas próprias almas, porque nos éreis muito queridos. Certamente vos
lembrais, irmãos, do nosso trabalho e fadiga; trabalhamos noite e dia
para não sermos pesados a nenhum de vós, enquanto vos pregamos o
evangelho de Deus. Vós e Deus sois testemunhas de quão santa, e justa, e
irrepreensivelmente procedemos para convosco, os que credes. Assim como
bem sabeis de que modo vos exortávamos e consolávamos, a cada um de vós,
como o pai a seus filhos" (versículos 7-11).
Interessante, não é mesmo? O pensamento inicial refere-se à
delicadeza de uma mãe e a referência final fala da liderança de um pai.
Anote isso.
Essa simples observação me diz que a igreja é uma família, não
um negócio. Os negócios não têm pais e mães; as famílias, sim. O rebanho
de Deus não é uma corporação que se tornou pública. Está aberta ao
público, naturalmente, mas a família em si é uma unidade composta de
pessoas que
concordam a respeito das mesmas coisas
básicas e sentem muita alegria em aprender, crescer e compartilhar essas
coisas. Contudo, não é incomum algumas pessoas dessa família sentirem-se
inquietas e se debaterem com um bom número de coisas. Talvez não tenham
paz íntima. Surge a pergunta: Como lidamos com as pessoas que estão
lutando? Como são elas tratadas? Que tipo de espírito se difunde? Lembrase do que acabamos de ver? Eu li graça em tudo aquilo. Também li terno
afeto. Li sobre delicadeza, encorajamento e compreensão no estilo de
liderança de Paulo.
Em vez de ser duro e exigente, ele foi delicado e tolerante. Em
vez de dar uma de oficial militar, ele agia como uma mãe que amamentava
ternamente seu bebê. Em vez de berrar fortes comandos e exigir que todos
acertassem o passo, havia terno afeto. De fato, Paulo deu não apenas o
evangelho, mas deu a si mesmo. Em vez de ver a congregação como boquinhas
abertas que precisavam de leite e carne, ele disse: "Vocês se nos
tornaram muito queridos." Em vez de se aproveitar deles, disse: "Não quis
ser um fardo para vocês." Em vez de se envolver num estilo de vida
egoísta recoberto por um verniz de falsa espiritualidade, ele disse:
"Quão santa, e justa, e irrepreensivelmente procedemos para convosco,
como um pai diante da família a quem ama."
Que tesouro é encontrar na mesma pessoa um equilíbrio de força e
graça. Carl Sandberg, descrevendo Abraham Lincoln, chamou-o de "homem de
aço e veludo". Sandberg escreveu essas palavras descritivas num discurso
que fez em 12 de fevereiro de 1959.
"Não é com frequência na história da humanidade que chega à
terra um homem que tanto é aço quanto veludo, que é duro como pedra e
suave como a neblina que se esvai, que traz no coração e na mente o
paradoxo de terrível tempestade e paz inexprimível e perfeita...
Enquanto os ventos da guerra uivavam, ele insistiu que o
Mississipi era um único rio feito para pertencer a um único país, que
ligações ferroviárias de costa a costa deviam ser implementadas...
Enquanto a guerra oscilava, quebrava e ressurgia, enquanto generais
fracassavam e campanhas eram perdidas, ele manteve juntas forças
suficientes do Norte para levantar novos exércitos e supri-los, até que
fossem encontrados generais que fizessem guerra como as guerras
vitoriosas sempre foram feitas, com terror, pavor, destruição... valor e
sacrifício além do que as palavras humanas podem contar...
Na mistura de vergonha e culpa dos imensos erros do embate de
duas civilizações, em geral sem nada a dizer, ele nada disse, não dormiu,
e por vezes foi visto chorando de uma forma que tornou o pranto
apropriado, decente, sublime".
Aço e veludo. Uma combinação irresistivelmente contagiante.
Haverá ocasiões em que a igreja deve ser de aço, e outras
ocasiões em que precisará ser de veludo. A igreja que é toda aço é fria,
calculista e dura. Aço demais e sua mensagem é um punho fechado. A igreja
que é toda veludo torna-se mole demais, tolerante demais, aceitando tudo,
tendo falta de convicção. Precisamos tanto de aço quanto de veludo para
que haja autenticidade, juntamente com graça, verdade e amor. Como é
importante a igreja permanecer equilibrada!
Em quarto e último lugar, a igreja que tem um estilo contagiante
é relevante em seu enfoque.
... "Para que andásseis de um modo digno de Deus, que vos chama
para o seu reino e glória. Pelo que também damos sem cessar graças a
Deus, porque, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a
recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como
palavra de Deus, a qual também opera em vós, os que credes" (versículos
12-13).
Essa é uma descrição da relevância em ação. Muitas igrejas
suprem o que costumo chamar de boas novas para pessoas do primeiro
século. Contudo, precisamos de boas novas para pessoas modernas.
Precisamos de uma mensagem que diga respeito às questões de hoje.
Precisamos de aplicação voltada para hoje, não para a década de trinta,
cinquenta ou até mesmo de setenta. As pessoas da igreja precisam da
segurança de saber que a Bíblia chega ao cerne das necessidades de hoje,
tratando de assuntos com os quais estamos convivendo neste momento.
Nós não tornamos as Escrituras relevantes, elas são relevantes.
Nossa função como cristãos é a de ressaltar quão relevante a Palavra de
Deus realmente é.
E, por falar nisso, quando abraçamos uma relevância atualizada,
percebemos como é incorreto dividir as coisas em sacras e seculares. O
domingo não é sagrado, deixando de segunda-feira a sábado na categoria do
secular. A maneira pela qual você conduz seu negócio não é menos sacra do
que a maneira pela qual você conduz o seu culto. Cristo e seu padrão de
justiça penetram todas as áreas da vida. Cada dia é igualmente relevante.
Deus não está desatualizado.
QUANDO ESSE ESTILO OCORRE...
Quando alguém perguntar: "Olhe, que tipo de igreja é a sua?", em
vez de responder "batista", "presbiteriana", ou "carismática", eis aqui
uma resposta excelente: "Somos uma igreja que é bíblica no conteúdo,
autêntica na natureza, graciosa na atitude e relevante no enfoque. Esse é
o nosso estilo. Na verdade, você descobrirá que somos contagiantes."
Quando esse estilo ocorre, o que podemos esperar?
Primeiro, podemos esperar da parte de Deus que ele honre os
nossos esforços a despeito das nossas fraquezas. Segundo, de nossa parte,
podemos esperar exemplificar a semelhança com Cristo, como a do primeiro
século, num estilo do século vinte. Da parte dos outros? Acho que podemos
esperar que eles façam parte da comunhão, a despeito das dificuldades.
Um dos mais importantes segredos de um estilo contagiante é
manter a perspectiva certa. O que isso quer dizer? Diversos contrastes me
vêm à cabeça.
· Mais ênfase em conteúdo, menos em cosméticos
· Mais importância dada à profundidade, menos ao tamanho
· Mais interesse em exaltar a Cristo, menos a nós mesmos
· Mais lembretes de que a igreja é um povo com almas eternas,
não estruturas de aço temperado
· Mais envolvimento com os perdidos fora dessas paredes, não
apenas em trazê-los para ouvirem falar de Cristo
· Mais alegria, menos lembrança de obrigações
· Mais autenticidade, menos hipocrisia
· Mais relacionamentos significativos, menos longas reuniões
Opa! Acho que de repente parei de escrever e comecei a me
intrometer!
REFLEXÕES
1. Imagine que você, como Paulo com os tessalonicenses, tivesse
apenas seis a oito semanas para tocar as vidas das pessoas em sua
comunidade local. Sabendo que seu tempo estava severamente limitado,
quais seriam as três ou cinco primeiras ações específicas que você
empreenderia para fazer uma diferença para Cristo dentro do rebanho?
Sabendo que sua
influência é realmente limitada pelo
tempo (Tiago 4:13-17), quais dessas ações você executará no poder do
Senhor dentro do próximo mês?
2. Transcreva 1 Coríntios 2:1-5 num cartão e coloque-o num lugar
em que não terá como não vê-lo na próxima vez que for chamado para
qualquer tipo no corpo de Cristo. Deixe que essas palavras o relembrem de
ser autêntico em seu serviço, sem mascarar suas fraquezas e lutas,
obscurecer as verdades bíblicas com clichês de tom religioso ou
outopromoção
3. Reveja mais uma vez as palavras de Paulo em 1 Tessalonicenses
2:7-11. De que maneira ele era como uma mãe para a igreja? De que maneira
era como um pai? De que maneiras você pode aplicar esta terna verdade ao
seu próprio ministério dentro da família de Deus? Seja específico.
Capítulo Cinco
A DIFERENÇA ENTRE A MENTALIDADE METROPOLITANA E A COMUNITÁRIA
A igreja grande tem sido alvo de má fama. Especialmente nesta
geração, o tamanho em si torna suspeitos os grandes locais de culto. Acho
esse fato um tanto curioso, visto que não parece ser verdadeiro nas
outras áreas da vida. Na esfera doméstica, por exemplo, as grandes
famílias não são vistas com desconfiança. Pelo contrário, é geralmente a
família grande e feliz que faz a inveja da vizinhança. Talvez você tenha
uma grande família e certa noite os membros decidem sair para jantarem
todos juntos. Lá estão vocês, usufruindo a ocasião juntos à volta da mesa
e o garçom ou alguém sentado perto vem à sua mesa para cumprimentá-los.
Pode ser até que mencione quanto os admira. Em lugar de serem criticadas,
as grandes famílias em geral são invejadas.
Tamanho certamente não é considerado ruim no mundo comercial.
Para falar a verdade, todo Natal noto que as maiores lojas e os maiores
shopping centers são os lugares mais populares para se fazer compras. E
ali que conseguimos encontrar os presentes que procuramos. A maioria das
pessoas parece pensar que as maiores lojas e os shopping centers têm uma
variedade maior, são mais eficientes, e provavelmente oferecem preços
mais em conta do que as lojas menores, particulares.
O mesmo se dá com as grandes companhias. São elas que parecem
ter o dinheiro, o interesse, e o pessoal para fazer o tipo de pesquisa e
estabelecer o padrão ideal que passamos a esperai" de organizações de
melhor qualidade.
Deixe-me ir mais adiante. Se você precisar de cuidados
hospitalares e puder escolher entre receber socorro num centro médico
grande, bem estabelecido, moderno, e um hospital muito menor logo adiante
na mesma rua, é mais provável que você vá ao lugar maior, por achai" que
receberá melhor tratamento.
E aqui está mais uma. Quando há necessidade de um carro, a
maioria das pessoas não começa com uma marca quase desconhecida. A
maioria das pessoas compra de um dos "três grandes" fabricantes de carros
no Brasil ou um carro estrangeiro fabricado por uma das companhias
maiores, mais conhecidas.
O mesmo ocorre com as viagens aéreas. Diga-me, qual foi a última
vez que você planejou um voo de avião monomotor para Juiz de Fora? A
menos que você tenha seu próprio avião ou tenha algum destino especial,
fora das rotas comerciais normais, viajará, assim como eu, com uma grande
companhia aérea. Quando está fazendo planos para o voo, você, assim como
eu, provavelmente pergunta qual vai ser o equipamento. Não apenas
preferimos aviões maiores, sentimo-nos mais seguros viajando com uma
companhia grande e respeitada.
Enquanto estamos tratando do assunto, que dizer dos esforços A
Diferença Entre Mentalidade Metropolitana e a Comunitária '' acadêmicos?
Acho que se nos dessem a opção de obter um diploma superior,
provavelmente não escolheríamos uma escola que tivesse vinte e três
alunos e três docentes, dois deles em tempo parcial. Não, escolheríamos
uma das maiores e mais respeitadas universidades, cujo diploma fosse
admirado, cujos membros do corpo docente fossem frequentemente autores de
livros de texto, cuja fama estivesse firmemente estabelecida.
Por algum motivo, esta lógica não funciona nas mentes de muitas
pessoas quando se trata de igrejas. Cresça, e antes de saber o que está
acontecendo, você é visto com desconfiança, até mesmo pelos irmãos de
outras igrejas. Espero não dar a impressão de estar sendo severo ou
defensivo. Em mais de uma ocasião, quando eu era pastor de uma igreja de
bairro, costumava suspirar quando alguns dos meus amigos cristãos ou
colegas de ministério criticavam a grande igreja central. Alguns deles
achavam que ela era pouco mais do que uma massagem no ego de um ocupante
do púlpito. Eu não. Com grande frequência, achava que a igreja era outra
testemunha singular usada grandemente por Deus. Tenho um montão de
defeitos, mas por algum motivo nunca me debati com a inveja. Jamais (e
repito jamais) o fato de outro ministério ser grande e o lugar que eu
pastoreava ser pequeno me fez menosprezai" a igreja grande.
Mas percebo que não é o que acontece com muitos cristãos. Nem
mesmo com muitos ministros. Francamente, pode nem acontecer com você.
O que me faz realmente sorrir com relação ao tamanho da igreja é
que o primeiro retrato de igreja encontrado na Bíblia, o primeiro
registro, veja você, não é o da típica "igrejinha no vale". Pelo que
entendo, para que a primeira das igrejas pudesse existir, tiveram de
reparti-la em grupos menores porque simplesmente não havia prédios nos
quais se reunir. Não havia nada parecido com uma equipe para cuidar da
igreja. Eles não tinham normas e constituição eclesiásticas. Mas o que me
faz sorrir com relação a esse retrato primitivo é o enorme tamanho da
igreja. Imediatamente após Pedro pregar uma mensagem dinâmica no poder do
Espírito Santo, Deus veio sobre um grupo de pessoas que eram como uma
turba no meio de Jerusalém. Segundo Atos 2:41, ele foi o evangelista que
Deus usou a fim de apresentar àquelas pessoas as boas novas de Cristo.
Lemos que aqueles que
"receberam a sua palavra foram batizados".
Este é claramente o primeiro exemplo de um grupo de pecadores
convertidos na era do Novo Testamento.
"E naquele dia agregaram-se [acredite se quiser] quase três mil
almas".
Três mil pecadores novinhos em folha subitamente entraram para a
família de Deus. Tente imaginar isso. Crescimento instantâneo ... uma
igreja de três mil membros. E suficiente para fazer os peritos em
crescimento de igreja babarem!
Mas esse não é o fim, apenas o começo. O último versículo de
Atos 2 diz que aquelas pessoas não apenas se relacionavam
harmoniosamente, como seu número aumentava.
"[Eles estavam] caindo na graça de todo o povo. E todos os dias
acrescentava o Senhor a igreja aqueles que iam sendo salvos".
Não houve um momento em que Deus disse: "Opa, grande o
suficiente. De fato, grande demais. Eles não podem ser eficazes se
crescerem tão
depressa. Nenhuma igreja deveria ser grande
assim!" Não mesmo. Disse Deus: "Multiplicarei o seu número."
Pouco tempo depois, ainda na mesma localização geográfica, este
mesmo corpo de crentes encontra-se sem prédio, sem o que poderíamos
chamar de pessoal suficiente, enquanto os apóstolos ministram entre eles.
"Muitos, porém, dos que ouviram a palavra, creram, e chegou o
número desses a [que susto!] quase cinco mil" (Atos 4:4).
Talvez você pense que por ser o primeiro século e por Deus estar
supervisionando aquela obra com sua grandiosa presença, eles não tinham
pessoas problemáticas como as que as igrejas têm hoje. Errado. Leia a
seguir Atos 6:1-4. Você se pergunta se eles tinham os nossos tipos de
problemas? Você duvida que houvesse queixas como as que existem hoje?
Enquanto a igreja crescia, enquanto os números aumentavam, enquanto Deus
abençoava e supervisionava tudo aquilo, problemas ocorriam
"Naqueles dias, crescendo o número dos discípulos, houve
murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram
desprezadas na distribuição diária de alimento" (6:1).
Sorrio quando leio estas palavras, não por me alegrar pelo fato
de algumas pessoas estarem sendo desprezadas, mas porque entendo queixas
congregacionais. Algumas pessoas da congregação provavelmente diziam:
"Simplesmente não é justo. E obvio que o pessoal da liderança não está
preocupado. Há falta de compaixão. Precisamos fazer algo a respeito. Por
que não botam a mão na massa e servem a essas senhoras as refeições de
que elas precisam? Elas estão famintas!"
A necessidade que eles apontavam era legítima, o que a liderança
reconheceu. Veja a reação:
"Então os doze [os apóstolos] convocando os discípulos...
(6:2a).
Não sei se eles convocaram algum tipo de assembleia geral ou o
quê. (Se fizeram isso, provavelmente apenas algumas centenas
compareceram. Nem mesmo sei onde eles se reuniram!) Mas convocaram um
grupo e explicaram:
"Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus, e sirvamos
às mesas" (versículo 2b).
Que audácia! Conheço pastores que teriam sido demitidos por
dizerem esse tipo de coisa. Leia adiante, se for ousado:
"Escolhei, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação,
cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais [nós, os doze]
constituamos sobre este importante negócio" (versículo 3).
Sabe o que suas palavras sugerem? "Queremos satisfazer às
necessidades daqueles que não estão sendo alimentados." E naqueles dias,
não ser alimentado era uma questão de sobrevivência diária, não apenas
perder o lanchinho do fim da noite. A igreja ajudava a alimentar aqueles
que estavam verdadeiramente famintos. A necessidade era genuína. Mas os
apóstolos disseram, com efeito: "Nós não podemos abandonar nossas mais
altas prioridades para encontrar receitas, preparar refeições, lavar os
pratos e servir os famintos. Não, vocês precisam cuidar disso. E enquanto
estiverem fazendo isso, ficaremos com as coisas que são nossas
responsabilidades explícitas."
"Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra"
(6:4).
Lembra-se da lista que lhe dei no capítulo 2? Você consegue
lembrar-se da afirmação número sete da lista? As ferramentas do
ministério são oração e a Palavra de Deus. Aqui está ela de novo.
Agora deixe-me fazer uma pergunta muito direta. Quanto você
estaria aberto à tal solução apresentada pela equipe pastoral de sua
igreja... e digamos que fosse sua mãe ou irmã viúva que estivesse
passando fome? Posso até imaginar os sentimentos que alguns teriam hoje.
Eles questionariam a disponibilidade, a compaixão, e mesmo o nível de
interesse dos líderes que continuassem a permanecer enclausurados em seus
aposentos a fim de buscar a face de Deus e procurar nas Escrituras as
respostas e a orientação.
A questão é clara: A prioridade mais alta dos apóstolos foi
mantida. Não se deixe enganar, eles arranjaram uma solução para que os
necessitados fossem atendidos. Mas eles mesmos permaneceram firmes na
tarefa essencial: fornecer nutrição espiritual a fim de que os santos
pudessem assumir a obra do ministério.
Permita-me instar com você a não ser tão desconfiado com o
tamanho do ministério, nem laborar no erro de que a igreja grande é um
fenômeno recente gerado pela mídia eletrônica. Admito que pode haver
algumas exceções nas quais igrejas grandes pouco mais são do que estudos
de burocracia religiosa ou que se revolvem em torno do ego frágil de um
pastor inseguro. Sim, esses Ligares existem. Mas através dos anos Deus
tem separado e usado muitos locais grandes de culto eficazmente.
MINISTÉRIOS METROPOLITANOS: NEM NOVOS NEM INÉDITOS
Façamos uma breve revisão histórica. Por causa do espaço e do
tempo, voltarei apenas uns dois séculos e limitarei minhas observações à
Inglaterra, depois atravessarei o Atlântico rumo aos Estados Unidos.
Espero que esta breve jornada dentro do túnel do tempo nos relembre da
realidade de que Deus tem abençoado e usado os ministérios metropolitanos
há décadas. Conforme veremos, as grandes igrejas não deveriam
necessariamente estar sob a suspeita de ficarem de alguma forma separadas
de Cristo, de sua Noiva, e do plano de redenção.
A Capela Carr's Lane era pastoreada por um homem famoso em
Birmingham, na Inglaterra. O lugar não tinha muitos atrativos, era
poluído, um ministério urbano, muito parecido com o que teríamos no
centro de Nova Iorque, ou Tóquio ou São Paulo hoje. O nome daquele homem
era R.W Dale. Ele pastoreou a igreja por trinta e seis anos. Ela tornouse grande e imponente. Depois veio John Henry Jowett, que mais tarde
atravessou o Atlântico, e foi para os Estados Unidos e continuou a
estabelecer um novo ritmo de vigorosa pregação expositiva.
Saint Paul foi outra grande igreja de renome. Ela foi
pastoreada pelo igualmente famoso Henry Liddon, tão abençoado por Deus
quanto Dale e Jowett haviam sido. Em Manchester, Alexander Maclaren
passou quarenta e cinco anos na grande igreja Union Chapel. Alexander
Whyte serviu durante quarenta e sete anos na Igreja Free St. George's
Church, em Edinburgo, na Escócia... outra grandiosa obra de Deus.
Não nos atrevemos a omitir Joseph Parker, cujo grande City
Temple era conhecido em Londres como o lugar público para cultos, segundo
apenas em tamanho ao famoso Tabernáculo Metropolitano, pastoreado pelo
pitoresco, eloquente e, eu poderia acrescentar, controvertido Charles
Haddon Spurgeon, que com uma idade admiravelmente reduzida enchia a casa
de cultos de seis mil lugares. Um dos seus biógrafos declara que as
pessoas
esperavam na neve que as portas do Tabernáculo se
abrissem, tão ansiosas estavam por ouvi-lo pregar. Hoje, claro, ele foi
imortalizado. Mas naqueles dias, enorme quantidade de críticas lhe foi
lançada. Muitos perceberam posteriormente que profeta prolífico ele fora.
E impressionante o que a morte faz por um pregador eficaz, poderoso!
Francamente, às vezes me sinto como um dissidente no ministério
dos dias de hoje. Acho que sou um tanto inovador, criativo ou
"diferente"... depois estudo alguns desses grandes homens e vejo que, em
comparação, sou meio insípido!
G. Campbell Morgan foi criticado por ter gosto fino. Foi Morgan,
a propósito, que ministrou por doze anos na grande Westminster Chapei, em
Londres... e foi sucedido por D. Martyn Lloyd-Jones, mais outro famoso
expositor. Mas foi Morgan quem salvou a capela do declínio e da
negligência. Ele foi aplaudido por suas exposições perceptivas, mas
criticado por ser "extravagante". Disse ele a alguém: "Não sou
extravagante, sou apenas dispendioso."
O Dr. Morgan vivia bem. Ele gostava de coisas boas, viajava nas
carruagens mais finas, morava em lugares elegantes. E quando falava fora
de seu próprio púlpito, recebia vultosos honorários, algo que era
criticado naqueles dias. Campbell, a propósito, não estabelecia a
quantia. Um assistente no ministério a estabelecia para ele (talvez tenha
sido um dos primeiros agentes, não sei).
Nos Estados Unidos, precisamos com certeza falar em George W.
Truett, famoso por seu trabalho na enorme Primeira Igreja Batista no
centro de Dallas, no Texas. Ele foi sucedido por W A. Criswell, em cujo
pastorado aquele lugar cresceu ainda mais. Deveria também mencionar
Dwight L. Moody, que pregou para seis mil pessoas em um tabernáculo (que
eles chamavam de "capela") em Boston.
A Igreja Park Street de Boston foi colocada no mapa, em minha
opinião, pelo falecido Harold J. Ockenga, que pregou lá por mais de
trinta e dois anos. Em certo período de seu ministério, ele serviu como
presidente do Seminário Teológico Fuller em Pasadena, Califórnia,
enquanto pastoreava a igreja de Park Street em Boston, no outro lado dos
Estados Unidos. Indivíduo incrível.
Não podemos omitir a famosa igreja Moody Memorial em Chicago,
onde H. A. Ironside pregou. Ou a igreja presbiteriana Fourth Memorial,
que Dick Halverson pastoreou até tornar-se capelão do Senado dos Estados
Unidos. E por falar em capelão do Senado, a igreja National Presbyterian
Church foi um ministério metropolitano abençoado por Deus sob a liderança
do falecido Peter Marshall, cujo nome e estilo até hoje são lendários. E
não nos esqueçamos da igreja Tenth Presbyterian Church em Filadélfia,
onde o grande Donald Barnhouse, hoje falecido, ministrou com tanta
eficácia por trinta e três anos... e agora, James Montgomery Boice.
A Church of the Open Door (Igreja da Porta Aberta) no centro de
Los Angeles, outra grande igreja, já teve diversos pastores. Talvez os
mais conhecidos tenham sido R. A. Torrey, Louis T. Talbot e J. Vernon
McGee. Que impacto esse lugar tem tido pela causa de Cristo!
Muitos dos meus mentores espirituais entraram em nova fase de
crescimento na Igreja da Porta Aberta, enquanto ela estava localizada no
centro de Los Angeles, perto da praça Pershing. Devo mencionar também a
igreja Hollywood Presbyterian Church. Há também tantas outras por todo o
sul e o meio-oeste que minha lista é lamentavelmente incompleta. Não
tenho tempo para incluir uma sequer das maiores igrejas carismáticas que
têm sido usadas por Deus de forma magnífica nesta geração e nas
anteriores, ou muitos dos fortes ministérios batistas, presbiterianos,
metodistas ou independentes por todos os Estados Unidos.
Mas demonstrei o que queria: As igrejas metropolitanas têm
estado por aí há décadas (e continuarão a estar), e a maioria delas tem
tido inquestionavelmente um impacto para o bem. Não obstante, a despeito
de sua contribuição positiva no estabelecimento de tendências novas e
inovadoras, e de atrair muitas pessoas para se filiarem a outras igrejas
da mesma denominação, as grandes igrejas continuarão a ser vistas
negativamente, de modo especial nesta geração.
Não é apenas o tamanho que suscita desconfiança; com frequência
é o crescimento rápido. Quando o crescimento é sólido, lento e constante,
ninguém fica nervoso. Quando é súbito e inesperado, todos os tipos de
sentimentos desconfortáveis ocorrem.
Tudo isto me faz pensar em uma analogia que poderíamos imaginar
a partir de uma cena doméstica. Suponhamos que um casal tenha estado
casado por seis ou sete anos, e que durante esse tempo não tenha tido
filhos. Então certo dia eles descobrem, felizes, que vão ter um nenê, um
menino. E, veja só, um ano depois eles têm uma garotinha. Deu para
perceber? Por anos, os dois viveram juntos em relativa calma e existência
pacífica. E então, em poucos meses, eles são pais de dois bebês ativos.
As coisas se embalam (não querendo fazer piada) por quatro meses e então
certa noite, quando estão sentados ao lado da lareira, a mãe exausta diz
ao cansado papai: "Sabe de uma coisa? Estou grávida. E, meu bem... o
médico disse que ouve dois corações." Alguns meses mais tarde, gêmeos! E
como se isso não fosse o bastante, dentro de alguns meses após o
nascimento dos gêmeos, eles descobrem que vão ter trigêmeos.
Barbaridade! Sete filhos num espaço incrivelmente pequeno de
tempo. Pode crer, a vida não será a mesma naquele pequeno apartamento com
sete crianças (a maioria deles ainda de fraldas) e toda aquela paz e
calma desaparecidas! Que diferença de quando eram apenas mamãe e papai e
o aparelho de som tocava suavemente "Bendita Hora de Oração".
É o que acontece quando uma igreja experimenta um crescimento
monumental por orientação de Deus, não pelas manipulações de um
egomaníaco. Pergunta: O que você faz? Como trata isso? Quais são os
princípios necessários para manter a igreja eficaz? Tornemo-nos práticos.
PRINCÍPIOS ETERNOS PARA A PRESERVAÇÃO DA EFICÁCIA
Lá no Antigo Testamento, temos o maravilhoso retrato de um homem
que chamarei de pastor efetivo da Igreja Bíblica do Deserto. Seu nome era
Moisés. Que ministro fora de série! Você jamais o teria escolhido se
fizesse parte do comitê que estuda os candidatos a pastor dessa "igreja"
incomum. Para começo de história, o lugar onde ele ministrará é uma
igreja incomum pelo tamanho- cerca de dois milhões de membros. Ademais,
seus antecedentes são questionáveis. Ele matou um homem. Tampouco esse
cavalheiro estabeleceu muitos recordes impressionantes nos quarenta
últimos anos de sua vida, o que nos traz à sua idade. Ele está agora com
oitenta anos, não é a idade ideal para um homem que precisa pastoreai'
tantas pessoas sem nenhuma equipe. E sem nenhum prédio!
Durante seus quarenta últimos anos ele trabalhou para o sogro,
Jetro, cuidando de rebanhos, que é praticamente a única coisa que
poderíamos apontar como tendo muito de longe preparado o homem para esta
vasta congregação. E mencionei que ele tem um problema de dicção?
Juntamente com a velhice e um curriculum vitae que nada faz por ele, o
homem gagueja. Caro Moisés... que desafio!
Inesperadamente, um arbusto explode em chamas e se recusa a
deixar de arder. O pastor de oitenta anos fita-o sem acreditai' até ouvir
seu nome ser chamado. Entenda, ele não tinha a mínima ideia de que jamais
seria chamado de volta ao plano de ação de Deus. Ele foi esmagado até
tornar-se um nada. Portanto, nada tinha a oferecer, exceto caráter. Ainda
não acho
que teríamos ficado tão impressionados assim com ele.
Ao contrário da opinião popular do século vinte, ele não se parecia com
Charlton Heston nem tinha o físico do Rambo. Moisés, sem exagero, era um
octogenário alquebrado que não queria o emprego. Relutantemente, após
extensa discussão, ele finalmente o aceita. Virtualmente da noite para o
dia, ele se torna o "pastor" de dois milhões de almas rabugentas
recentemente libertas da escravidão.
A história que tenho em mente começa com uma visita. Para
continuai" com a minha analogia, este pastor envelhecido passa algum
tempo com um consultor chamado Jetro, que por acaso era seu sogro. E um
encontro agradável, cheio de cálida hospitalidade. Êxodo 18 registra a
cena:
"Contou Moisés a seu sogro todas as coisas que o Senhor tinha
feito a Faraó e aos egípcios por amor de Israel, e todo o trabalho que
passaram no caminho, e como o Senhor os livrara" (versículo 8).
Dá para perceber o entusiasmo? "Deixe-me contar o que Deus fez.
Ouça, Jetro, você não acreditaria naquele negócio todo do mar Vermelho.
Espantoso! Ainda mal posso acreditar. Eu disse apenas: "Estai quietos e
vede o livramento do Senhor" e bumba! as águas se dividiram, e o fundo do
mar secou, e caminhamos por ele. De repente, enquanto todos nós olhávamos
para trás, os egípcios foram destruídos!"
Jetro coça a barba, dizendo: "Puxa! Eu acredito! E incrível."
"Alegrou-se Jetro de todo o bem que o Senhor tinha feito a
Israel, livrando-o das mãos dos egípcios, e disse: Bendito seja o Senhor,
que vos livrou das mãos dos egípcios e das mãos de Faraó. Agora sei que o
Senhor é maior que todos os deuses, pois fez isto aos que trataram a
Israel com arrogância. Então tomou Jetro, sogro de Moisés, holocausto e
sacrifícios para Deus; e veio Arão, e todos os anciãos de Israel, para
comerem pão com o sogro de Moisés diante de Deus" (versículos 9-12).
Enquanto o dia terminava, eles gozaram uma comunhão íntima. A
noite trouxe a ambos o descanso de que tanto precisavam. No dia seguinte,
entretanto, as coisas mudaram.
"No dia seguinte assentou-se Moisés para julgar o povo, e
em pé diante de Moisés desde a manhã até a tarde. Vendo o sogro de
tudo o que ele fazia ao povo, disse: Que é isto que fazes ao povo?
que te assentas só, e todo o povo está em pé diante de ti, desde a
até a tarde?" (versículos 13-14).
o povo
Moisés
Por
manhã
Como bom consultor, Jetro não dá respostas imediatamente. Ele
faz perguntas: "O que está acontecendo? Por que você está fazendo tudo
isto sozinho?" Espero que você tenha a palavra sozinho sublinhada em sua
Bíblia. É importante.
Agora olhe a resposta humilde e sincera de Moisés:
"Respondeu Moisés a seu sogro: É porque o povo vem a mim para
consultar a Deus" (versículo 15).
"Esse é o meu trabalho, homem. Isto é, como posso ter o direito
de comungar com meu Senhor no fim do dia e dizer: "Ministrei em teu
nome", se não ajudar todo o povo com todas as suas necessidades?"
Não critique Moisés. Ele apenas não sabe o que mais fazer. Está
apenas fazendo o que sempre fez. E um estilo de liderança de organização
"comunitária", ainda comum na maioria dos ministérios hoje, mesmo nas
grandes igrejas. Jamais ocorreu a Moisés fazer alguma coisa com relação à
carga de trabalho. Delegar não era uma palavra em seu vocabulário.
"O sogro de Moisés, porém, lhe disse: Não é bom o que fazes".
(A sentença em hebraico é mais forte ainda. Começa com "Nada
boa!" Literalmente, "Nada boa é esta coisa que você está fazendo!")
"Certamente desfalecerás, assim tu, como este povo que está
contigo. O trabalho te é pesado demais; tu só não o podes fazer"
(versículo 17-18).
Os termos hebraicos traduzidos para "certamente desfalecerás"
transmitem a ideia de envelhecimento e exaustão. Hoje diríamos: "Sabe,
filho, se você continuar nessa, vai acabar morrendo cedo. Você tem apenas
oitenta anos (!). Ainda tem muitos anos bons à sua frente."
Não perca outra coisa na admoestação franca de Jetro; isso é
exaustivo também para o povo. As pessoas ficarão exaustas esperando pela
ajuda de Moisés.
Quantos pastores, quantos administradores, quantos presidentes
de escolas, quantos ótimos cristãos e cristãs, chefes de organizações
religiosas, e líderes das igrejas, estão tentando fazer tudo sozinhos?
Mais do que jamais acreditaríamos! E para piorar as coisas, as
congregações e equipes a eles relacionados lhes estão permitindo isso! A
propósito, muito disto se aplica tão diretamente a uma igreja de duzentos
membros quanto a uma de dois mil.
Gosto da maneira como Jetro assume o comando. "Agora, escute
aqui." Esse é o versículo seguinte (parece mesmo um sogro, não parece?).
Jetro não atira pedras em Moisés para vê-lo sangrar. Ele oferece conselho
sábio, viável.
"Ouve agora a minha voz, e te aconselharei, e Deus seja contigo.
Representa o povo diante de Deus, e leva as suas causas a Deus"
(versículo 19).
Amo isso. Não estou sugerindo que você relaxe, folgue quatro
dias por semana, deixe tudo de molho, e se esconda até tarde da noite de
sábado. A esperança para o ministro efetivo não é ele se tornar tão
distante que não saiba o que está ocorrendo. Não, o que ele precisa
resolver é a questão das prioridades.
Jetro diz: "Represente as necessidades do povo diante do Deus
vivo." Entretanto, ele não para aí.
"Ensina-lhes os estatutos e as leis, e faze-lhes saber o caminho
em que devem andar, e a obra que devem fazer" (versículo 20).
"Diga-lhes, Moisés. Ensine-os. Faça com que saibam a verdade. E
quando tiver feito isso, ensine-lhes mais e mais." De fato, o último
Livro da Lei, que Moisés escreveu, nada é além de ensinamento... sermão
após sermão. E chamado de Deuteronômio (que quer dizer "uma repetição da
Lei"). Ele repassa as mesmas coisas vez após vez. Ele está ensinando ao
povo, conforme Jetro insistiu que fizesse.
Quando um líder (inclusive um pastor) envolve-se demais com as
minúcias da organização, deixa de se comunicar. Você pode ser um ministro
e encontrar-se nessa categoria agora mesmo. Você está envolvido. Conhece
todos os detalhes, detalhes demais, para falar a verdade. Você conhece
bem a queixa de todo mundo. Repassa mentalmente todas as expectativas dos
membros. O resultado é trágico! Sua liderança está agora reduzida à
operação de todos os botões, engrenagens e polias. Você é o homem das
respostas, o menino de recados, o escravo da congregação. Mas o problema
é que você não está de fato liderando. Para falar a verdade, você não
teve uma ideia criativa em meses. Até já deixou de sonhar. Seu mundo se
resume a apagar incêndios. Você se tornou um administrador de detalhes,
mas não grande coisa como líder.
Segundo um artigo em recente edição do jornal Wall Street
Journal, quando assumiu a presidência da Universidade Yale, Beno Schmidt
Jr. expressou certo temor com relação à movimentação do cargo. Disse ele:
"Se eu não puder colocar os pés sobre a escrivaninha e olhar pela janela
e pensar sem uma pauta de trabalho, poderei estar administrando Yale, mas
não a estarei liderando."
Esse é um comentário perspicaz (e condenatório, eu poderia
acrescentar) que cada ministro deveria se lembrar. Uma coisa é
administrar, outra é liderar. As igrejas precisam de líderes!
"Moisés, você tem de apegar-se a Deus. Tem de ouvir a voz de
Deus e comunicar sua verdade. Mesmo que alguns implorem por tempo com
você, apenas diga "Não!" Diga-o até que eles compreendam que isso vai ser
delegado a pessoas tão qualificadas quanto você, que casualmente têm dons
semelhantes, mais tempo e habilidades suficientes e até mais do que você.
Diga "Não" mais e mais, Moisés! Líderes que não sabem dizer "Não" perdem
sua eficácia."
O plano "A" é comunicação. Está escrito nas entrelinhas:
"Instrua o povo na verdade de Deus. Isso é essencial. Não seja relutante
quanto a isso. Faça-o, Moisés. Faça-o de todo o coração."
Mas isso não foi tudo.
"Mas procura dentre todo o povo homens capazes, tementes a Deus,
homens de verdade, que aborreçam a avareza; põe-nos sobre eles por chefes
de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez" (versículo
21).
O plano "B" é delegação. Reparta a carga de trabalho, mas não
apenas com qualquer João, Zé ou Dito. Encontre gente de qualidade que
possa tratar com mil e dê a essas pessoas os grupos maiores. Encontre
aqueles que possam liderar cem e dê-lhes um grupo menor. Encontre aqueles
que podem liderar grupos de cinquenta e dê-lhes esse tanto de gente.
Encontre aqueles que podem lidar com dez e dê-lhes o grupo de menor
tamanho. Deixe que eles invistam seus dons, tempo, energia e sabedoria
nesses grupos. Deixe que eles façam isso... não interfira, fazendo isso
por eles!
"Julguem a este povo em todo o tempo, Que a ti tragam toda causa
grave..." (versículo 22).
Até mesmo enquanto escrevo esta sentença sei que isto é algo
subjetivo. Não temos uma lista detalhada aqui (ou em qualquer outra parte
das Escrituras) sobre o que constitui uma disputa "grave" ou "menor".
Essa questão tem de ser elaborada. Chegar a uma conclusão sobre essas
diferenças requer sabedoria, tempo e debate. Também requer experiências
do tipo tentativa e erro. E por isso que a Bíblia nos adverte contra ter
um neófito pastoreando a igreja. Uma das atribuições do homem amadurecido
é a capacidade de determinar a diferença entre o sério e o menos
importante, de saber quando é melhor dizer "sim" e quando deve dizer
"não", mesmo que isso seja pouco popular. Os conselhos precisam ajudar o
pastor a analisar esses detalhes.
Está pronto para uma coisa chocante? Leia isto bem devagar:
"Julguem a este povo em todo o tempo. Que a ti tragam toda causa
grave, mas toda causa pequena eles mesmos a julguem. Assim, a ti mesmo te
aliviarás da carga, e eles a levarão contigo" (versículo 22).
Você viu isso? "A ti mesmo te aliviarás..." Nunca vi esse
conceito enfatizado suficientemente em conferência para pastores. Nenhum
seminário jamais é intitulado: "Como Tornar Mais Fácil o Ministério", ou
"Como Se Divertir A Valer". Não, nesses ambientes altamente
intensificados você deve ajudar os pastores a saberem como fazer mais e
mais até eles arriarem sob um fardo cada vez maior de culpa.
Você já viu um pastor humilde, sobrecarregado, mal pago, não
viu? E patético! Parece que alguém deu uma bordoada na nuca do sujeito.
Ele fica meio arqueado para frente, olhando para baixo, e parece triste e
sorumbático, raramente sorrindo... nunca rindo. Caso não tenha ouvido
falar, é essa a aparência que supostamente você deve ter se for realmente
dedicado ao ministério. Tenho uma ótima palavra para isso: Besteira!
Segundo Êxodo 18:22, se comunicamos e delegamos, as coisas devem
ficar mais fáceis para nós, porque outros estarão envolvidos em levar a
carga conosco. Sim, mais fáceis.
Sempre me preocupou o fato de não ser considerado muito
espiritual você estar no ministério, mas divertindo-se a valer. Tenho uma
pergunta para todos os que acreditam nisso: Desde quando exaustão é prova
de eficiência? Aqui vai outra, não tão bonitinha assim: Quem disse que ir
parar numa clínica psiquiátrica, emocionalmente desgastado e fisicamente
exausto, é prova de que o pastor realmente deu o melhor de si? Tenho
séria pendência a resolver com aqueles que tiraram o divertimento do
ministério e transformaram o serviço em escravidão. Quem roubou o riso do
lar do pastor ou tirou o gozo do seu gabinete? Quem roubou à esposa do
pastor a liberdade de gostar do seu papel e de ser ela mesma? Maldito
ladrão!
Há suficiente tensão em potencial na maioria das igrejas para
exaurir dez pastores, se o permitirmos. Mas o desejo de Deus é que
encontremos maneiras de tornar a tarefa "mais fácil".
"Se isto fizeres, e Deus assim ordenar, poderás então suportar a
tensão, e também todo este povo irá em paz para o seu lugar" (versículo
23).
Que sábio conselho! Obrigado, Jetro. E a boa notícia é que
Moisés seguiu o conselho de seu sogro... e funcionou às mil maravilhas. O
pastor Moisés viveu até os 120 anos de idade. E quando morreu, a
Escritura diz que foi o homem mais humilde sobre a face da terra. Não
acho que tivesse um pingo de amargura em todo seu ser. Ele aprendeu a
viver livre de fardos inúteis. E você também pode, meu amigo. Em resumo:
.Seu ministério se tornará mais fácil para você.
.Outros se sentirão uma parte significativa do trabalho.
.Você viverá mais e mais feliz.
.Funcionará!
COMO TUDO ISTO SE APLICA A UM MINISTÉRIO METROPOLITANO?
Você deve estar pensando qual a aplicação pessoal de tudo isto - ao seu ministério ou ao ministério da sua igreja. Vejamos se consigo
esclarecer a aplicação enumerando três conceitos que frequentemente
reviso. Eles me ajudam a manter a perspectiva.
1. Muitas pessoas, mais altas expectativas, multiplicado por
numerosas necessidades, igual a responsabilidades sem fim.
2. A medida que o trabalho aumenta, a carga precisa ser
repartida. (A eficiência às vezes é revelada não pelo que a pessoa
realiza, mas por aquilo de que ela desiste.)
3. Os servos pessoais de Deus não estão isentos das penalidades
de quebrarem as leis naturais de Deus. Sono insuficiente significa
doença. Descontração insuficiente significa ansiedade. Pode crer, não há
nada espiritual a respeito de uma úlcera sangrando. Não serve para nada a
pessoa que está de cama, alquebrada e se debatendo com a amargura. Os
pastores podem se arrebentar. E esposas de pastores também. Os pastores
podem perder suas famílias, esposas e filhos. Os pastores podem morrer
cedo.
Todo ministério que espera continuar liderando deve fazer uma
avaliação de onde está indo e o que espera realizar. A carga está sendo
repartida suficientemente? Se não, vamos continuar a reparti-la ou
perderemos nosso melhor pessoal, tanto leigos quanto pastores.
Efésios 4 dá ótimo encorajamento para repartir a carga com
pessoas dotadas do corpo. Ele inclui os títulos de diversos dons
espirituais. Esses dons, à medida que operam na igreja, permitem que a
obra seja feita suave e eficientemente.
"E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e
outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores..." (Efésios
4:11).
Esta lista é uma representação limitada de todos os dons do
corpo. Outros dons dignos de sua atenção são enumerados em Romanos 12, 1
Coríntios 12 e 1 Pedro 4. Estude essas listas. Há assistentes. Há pessoas
que organizam. Há pessoas com dom de misericórdia e aconselhamento. Há
pessoas com dons de sabedoria e expressão (geralmente nos referimos a
elas como professores). Nem todos os professores são pastores, mas todos
os pastores devem ser professores. Isto não é um trocadilho. Pode-se
lecionar uma aula, mas não ter o dom de pastorear. Mas se a pessoa
aceitar o papel de pastor, deve ter o dom do ensino também. Há outros
dons: evangelismo, exortação e muitas outras capacidades. Sábio é o
ministro que ensina suas ovelhas a respeito dos dons espirituais,
explicando o valor de cada um deles, depois as encoraja a agirem de modo
que o ministro em si possa manter sua ênfase sobre a oração e o
ministério da Palavra.
Vejo pelo menos três princípios na passagem de Efésios 4.
Primeiro, há dons suficientes para sustentar uma igreja de qualquer
tamanho. Deus deu dons à sua família.
"tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para o desempenho
do ministério, para a edificação do corpo de Cristo" (versículo 12).
Permita-me falar aos que são ministros. Se você estiver numa
igreja que, a despeito dos seus esforços em delegar a carga de trabalho,
não estiver se sustentando com os dons que possui, ouso sugerir que você
deliberadamente ensine a respeito dos dons espirituais. Disponha-se a
delegar a carga de trabalho. Se você descobrir que o conselho e o rebanho
não estão dispostos a compartilhar as responsabilidades do ministério,
talvez deva considerar mudar para um ministério que permita que esses
dons operem. Sou da opinião, embora isto possa parecer heresia, que
algumas igrejas menores que lutam constantemente pela sobrevivência
deveriam ser fechadas ou anexadas, para que possam sobreviver, florescer
e fazer um trabalho bem feito. Um homem exausto pela luta de impedir que
tudo afunde não é uma igreja, é um quadro trágico de futilidade nãobíblica.
Tudo isto me traz ao segundo princípio: Quando os dons são
exercidos, as congregações crescem.
"Até que todos cheguemos ã unidade da fé e do pleno conhecimento
do Filho de Deus, ã perfeita varonilidade, a medida da estatura da
plenitude de Cristo, para que não sejamos mais meninos, inconstantes,
levados ao redor por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que
com astúcia induzem ao erro" (versículos 13-14).
Os crentes precisam estar servindo ao Senhor porque todos nós
estamos engajados no ministério. Cada cristão deve envolver-se no
exercício de seu dom espiritual. A obra da igreja é um ministério mútuo.
Ao exercermos nosso(s) dom(dons), amadurecemos. E, repito, o gozo retorna
à medida que o ministério se torna mais fácil.
O terceiro princípio é: O envolvimento máximo leva ao
crescimento sadio.
"Para que não sejamos mais meninos, inconstantes, levados ao
redor por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia
induzem ao erro. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo
naquele que é o cabeça, Cristo, do qual todo o corpo bem ajustado, e
ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada
parte, faz o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor"
(versículos 14-16).
Servir ao Senhor causa crescimento espiritual saudável. Quando
isto ocorre, poucas coisas são mais emocionantes ou mais impressionantes.
Alguns anos atrás, inventei um quadro a partir dos muitos anos
de experiência no ministério. Coloquei-o na página que se segue. Ele
declara, bem simplesmente, duas filosofias contrastantes, a mentalidade
"comunitária" e a mentalidade "metropolitana". Enquanto não acordarmos e
aceitarmos as diferenças entre esses dois conceitos, não entenderemos
muitas das frustrações que atormentam a maioria das igrejas. A esquerda,
você verá uma lista daquilo que caracteriza a mentalidade da igreja
pequena. E, a propósito, já vi grandes igrejas operando ainda pelo
conceito "comunitário". No lado direito você verá o conceito
"metropolitano", que penso ser o que torna possível a vida numa grande
igreja. Detenha-se alguns momentos e estude o quadro.
MENTALIDADE COMUNITÁRIA
Embora grande parte do quadro seja autoexplicativo, talvez
alguns comentários ajudem. No conceito "comunitário", há elos estreitos
entre o pastor e as pessoas e a igreja é como uma grande família. Todos
se identificam com o pastor. Quando ele está presente, "o espetáculo tem
início". Quando ele não está ali, as luzes se apagam. Por quê? Porque o
pastor é o centro do que for que estiver acontecendo.
Existe também a escala menor que todos precisam aceitar. Tudo é
menor equipe, visão, organização e instalações. O orçamento é reduzido e
simples. A obra externa também é pequena. As provisões são pequenas, e a
variedade é pequena.
O CONCEITO "COMUNITÁRIO"
1. Elos estreitos entre o pastor e as pessoas "uma grande
família... se identifica com o pastor"
2. Escala menor: equipe... visão... organização...
instalações... orçamento... trabalhos externos...provisão... variedade
3. A congregação é atraída principalmente de curta distância
4. Tendência de ser "voltada para si mesma"... pouca rotação
entre a liderança leiga... maior reticência à mudança
5. É fácil conhecer todo mundo
6. Carga de trabalho carregada por voluntários
7. Relativamente simples de administrar e manter
8. Operação centralizada no pastor... controle mais rígido
9. Lealdade forte, centralizada "à igreja"... mais fácil
implementar o envolvimento
10. Atmosfera naturalmente cálida e amistosa
CONCEITO METROPOLITANO
1. Elos estreitos entre grupos de identificação "numerosas
famílias... se identificam umas com as outras"
2. Escala grande: equipe... visão... organização...
instalações... orçamento... trabalhos externos... provisão... variedade
3. A congregação é atraída de uma vasta distância
4. Menos "voltada para si mesma"... mais ampla rotação entre a
liderança leiga... menos reticente à mudança
5. É impossível conhecer todo mundo
6. Parte do trabalho delegado a especialistas
7. Complexa de administrar e manter
8. Equipe múltipla... ênfase de equipe em todos na liderança...
base de controle mais ampla
9. Lealdade descentralizada para vários ministérios... mais
difícil implementar o envolvimento
10. Atmosfera ainda pode ser cálida e amistosa... constante mas
é um desafio
Quando se trata da geografia, a congregação é tirada
principalmente de um raio curto. Quando a nossa igreja começou, imaginei
que atrairíamos gente num círculo de apenas alguns quilômetros. Duvidei
que alguém viesse de carro de Pasadena, Long Beach ou Newport Beach como
alguns fazem hoje. Conheci semana passada um casal que vem de San
Bernardino todo domingo. Eles viajam mais ou menos uma hora para adorar
conosco (desencorajei-os a fazer isso, mas eles me disseram ser essa a
opção deles).
Imagino que algumas pessoas nos dias de Spurgeon atravessavam
Londres inteira a fim de comparecer ao Tabernáculo. Sei que eu
atravessaria. Alguns de vocês também.
Há uma tendência a ser "inato," na igreja menor. Há uma rotação
apertada, estreita, entre a liderança leiga. O mesmo grupo de oficiais
volta a ser eleito com regularidade. Há também maior resistência a
mudança do que num ministério metropolitano. O tradicionalismo é
profundo.
Pode ser fácil conhecer todo mundo. Você sabe quando alguém é
hospitalizado. Você sabe quando a mãe teve o bebê... sabe até qual o nome
que deram ao bebê. Um casamento é igualmente significativo. Nos
ministérios metropolitanos, entretanto, pode haver de dois a três
casamentos num fim-de-semana, e somente aqueles no círculo de amizade de
cada casal ficam sabendo.
O conceito comunitário é relativamente simples de administrar e
manter. E a operação de um único faz-tudo. Leve isso ao pé da letra. O
pastor tem a chave da igreja. E ele quem geralmente prepara a água para o
batismo. Ele tem a chave do salão social e está envolvido nos jantares da
igreja.
Assim funcionam as coisas na igrejinha comunitária. Faz lembrar
algumas histórias de lugarejos antigos, não é mesmo? Se essa é a sua
preferência, maravilhoso. E o estilo ou filosofia que se encaixa numa
igreja comunitária. E funciona num ministério pequeno, comunitário. Mas
numa igreja de mil membros ou mais você não consegue carregar chaves
suficientes. Ou salada suficiente. Você não consegue acompanhar.
Num ministério menor onde todos se conhecem, é mais fácil
implementar o envolvimento. A atmosfera é naturalmente cálida e amistosa.
MENTALIDADE METROPOLITANA
Passando ao outro lado do quadro, vemos imediatamente uma série
de realidades contrastantes. Há elos estreitos mas são entre grupos de
identificação. Você encontra seus elos estreitos no grupo de comunhão de
adultos que frequenta. Talvez você cante no coro, por isso esse grupo se
torna o seu rebanho. Talvez você esteja no conselho e esse seja o seu
grupo de identificação. Talvez você esteja na equipe pastoral e esse seja
o seu grupo. Ou talvez você seja o pastor de um grupo menor que se reúne
para um estudo bíblico nas noites de quinta-feira. Esse grupo se torna o
seu ponto de referência, seu lugar de identidade.
Tudo é feito numa escala maior: equipe maior, visão mais ampla,
organização maior, instalações maiores, orçamento maior e provisões
maiores.
Num ministério metropolitano como o que descrevi antes, o rebanho
é tirado de um vasto raio. Ali serão encontradas pessoas vindas de todos
os cantos. Vocês atrairão visitantes de todo o país. Tudo isto se encaixa
no plano das coisas. Você não pode lutar contra ele. E o que vai
acontecer.
Além disso, ele é menos voltado para si mesmo. A rotação entre a
liderança leiga significa que você conhecerá pessoalmente um número menor
desses oficiais. Num ministério maior, há menos tradicionalismo, menos
reticência a mudança. (Note que eu não disse que não há "nenhuma"
reticência a mudança, mas, sim, "menos".)
É impossível conhecer todo mundo. Muito do trabalho prático tem
de ser delegado a especialistas. Diversos desses são pagos. E complexo
administrar e manter esse ministério. Não é um solo; existe uma equipe. A
lealdade é descentralizada para vários ministérios. E deixe-me
tranquilizá-lo... a atmosfera pode ser cálida e amistosa, mas isso é um
desafio constante.
Lembro-me claramente de quando vim para a Primeira Igreja
Evangélica Livre em 1971 e queria abraçar todas as pessoas que
frequentavam aos domingos, mais ou menos oitocentas ou novecentas. Eu
tinha vindo de uma igreja no Texas quase do mesmo tamanho e que havia
começado como um ministério comunitário. E a igreja que pastoreei antes
disso no estado de Massachusetts era também um ministério comunitário.
Naturalmente, eu queria estender os braços e abraçar todo mundo.
Eu ficava tentando lembrar-me dos nomes de todos, e não
conseguia. Ainda me lembro de ter pensado: "Estou tentando, mas não
consigo comer este elefante. Estou-me saindo bem apenas tentando manterme pendurado na cauda desta coisa." Logo percebi que precisava tanto de
uma equipe qualificada quanto de uma congregação envolvida para ajudar a
assumir o trabalho do ministério. Lembro-me de ter dito muitas vezes:
"Essa é a única maneira de sobrevivermos."
Por que permaneci na mesma igreja bem mais de vinte anos? Por que
o rebanho se dispôs a deixar todos aqueles quiméricos ideais
"comunitários" e viver com a realidade de que éramos inquestionavelmente
um ministério metropolitano. Quando surgiam queixas, vinham daquelas
ovelhas que ainda se agarravam às suas expectativas "comunitárias".
Admito que numa igreja grande as responsabilidades são numerosas
e as expectativas podem ser tremendas. Mas é exatamente onde queria
estar. E para onde fui chamado. Eu amava a equipe, a harmonia e a direção
na qual estávamos indo. De vez em quando eu tinha de respirar fundo e
dizer a mim mesmo que tudo estava bem, mesmo que eu não estivesse tocando
todas as bases. Eu nem mesmo conseguiria encontrar algumas delas! Alguém,
contudo, podia. Foi duro ser uma pessoa voltada para pessoas e não poder
me lembrar do nome daquele marido ou saber quantos filhos outro casal
tinha. Eu amava estar pessoalmente envolvido, mas já não era possível
após certo ponto.
Deixe-me repetir uma coisa para dar mais ênfase ao que quero
ensinar. Aqueles que ficaram frustrados na igreja de Fullerton geralmente
eram os que abraçavam a mentalidade comunitária. Meu conselho para essas
pessoas de tempos em tempos era: "Encontre uma igreja comunitária... para
o seu bem, para o bem da sua família e para o nosso bem!" Elas geralmente
aceitavam meu conselho, e todos ficavam aliviados!
Todo o pessoal "comunitário" precisa encontrar um lugar do
tamanho que consiga abraçar para poder sentir-se realizado. Escrevo isto
com sinceridade. Já que o disse do púlpito, posso escrever num livro. A
igreja metropolitana apenas frustrará aqueles que anseiam por um
ministério comunitário. Francamente, quanto mais cedo eles mudarem, mais
felizes todos serão. Esta não é uma ameaça sutil, é uma promessa sincera.
TENHA ESTAS COISAS EM MENTE
Este quinto capítulo tornou-se muito maior do que eu havia
planejado originalmente. Cobrimos uma porção de coisas, entretanto, e
cada passo do caminho tem sido valioso.
Deixe-me sugerir três coisas práticas para você ter em mente
quando acordar para a diferença entre a mentalidade "comunitária" c a
mentalidade "metropolitana". Espero que este sumário inculque em nossas
cabeças o que descobrimos. Se você estiver no processo de delegar,
precisa apegar-se a estes três lembretes.
Primeiro, se você tiver expectativas comunitárias ficará
frustrado numa igreja metropolitana, O inverso é igualmente verdadeiro.
Coisas como laços regulares e íntimos com o pastor efetivo, ou atenção
imediata da parte dele quando você precisa de alguém com quem falar ou
ser conhecido pelo nome entre aqueles que estão sentados ao seu lado
durante o culto são todas expectativas irrealizáveis nos ministérios
metropolitanos.
Segundo, flexibilidade e participação em pequenos grupos são os
principais segredos de sobrevivência para uma igreja metropolitana
saudável. Não espere um lugar especial no estacionamento ou o mesmo lugar
na nave todos os domingos. Fique grato por achar um 1 ligai", qualquer
lugar! Esteja aberto para uma variedade de seleções e estilos musicais.
Envolva-se com um pequeno grupo. Pense em si mesmo como um ministro,
tocando as vidas de outros.
Terceiro, mudar o método não significa mudar a mensagem. Não há
necessidade de ampliar isso mais ainda neste capítulo... é o assunto do
próximo. Não desligue.
REFLEXÕES
1. Embora você talvez não esteja na equipe pastoral de sua igreja,
ainda pode ser chamado para ser um "ministro". Pondere a lista de dons em
Efésios 4, Romanos 12, 1 Coríntios 12 e 1 Pedro 4. (Talvez seja útil
reler essas passagens numa paráfrase, como A Bíblia Viva ou A Bíblia na
Linguagem de Hoje). Você enxerga a si mesmo, seus talentos e inclinações
dados por Deus em alguma dessas passagens? Se estiver esperando que seu
dom seja revelado num resplendor de luz celestial, já esperou demais! Se
um nicho particular de serviço não se tornou óbvio para você, mergulhe no
trabalho em que vê necessidade. As vezes, a única maneira de descobrirmos
nossos dons é tentando fazer coisas diferentes. Lembre-se, Deus não
espera perfeição, apenas coração e mãos dispostos.
2. Você se encontra numa área na qual a igreja "comunitária" é a
única opção viável? Que princípios positivos tirados do ministério
"metropolitano" podem ser implementados no trabalho feito em escala
menor?
3. Você está numa igreja "metropolitana," sentindo-se frustrado e
de certa forma perdido pelo tamanho da coisa toda? Não permita que essa
frustração o mantenha mal-humorado, sem crescimento por semanas, meses e
anos preciosos. Tire tempo para considerar onde você poderia se encaixar
como membro de um grupo menor dentro do corpo. Sim, será preciso tomar a
iniciativa, e por vezes é difícil "entrar" num grupo de pessoas que você
não conhece bem. Mas os outros membros do corpo precisam de você, da
mesma forma que você precisa deles, a fim de viverem uma vida cristã
realizada e produtiva. Peça a ajuda de Deus, crie coragem e dê aquele
primeiro passo! Esteja aberto para o fato de que Deus pode o estar
levando a outra igreja... uma cuja filosofia o fará sentir-se muito mais
confortável.
O QUE MUDA E O QUE NÃO MUDA
Os bons e velhos tempos..." Virtualmente todas as semanas da
minha vida me deparo com pessoas que anelam por essa época. Com
frequência me pergunto o que elas têm em mente.
Acho que estão falando de quando um corte de cabelo custava "dois
mil réis" e uma entrada de circo custava "quatro mil réis". Elas
visualizam algum tipo de existência dourada, idílica: sem crise de
energia, com ar puro, rios e córregos limpos, famílias unidas, diversão
na escola... enfim, a vida simples. Hoje, se você abre um jornal, vira
para a seção de escândalos ou a página policial, e lê sobre um estilo de
vida frenético, violência nas ruas e corrupção política, a tendência é
suspirar e sonhar com dias passados.
Eis aqui um exemplo de um periódico nacional:
O mundo é grande demais para nós. Coisas demais acontecendo,
crimes demais, violência e alvoroço demais. Por mais que tentemos,
ficamos para trás na corrida, a despeito de nós mesmos. Há uma tensão
incessante para manter o ritmo... e ainda assim, ficamos para trás. A
ciência esvazia suas descobertas sobre nós tão depressa que cambaleamos
debaixo delas em desesperançada perplexidade. O mundo político é um
noticiário visto tão depressa que perdemos o fôlego, tentando acompanhar
quem está dentro e quem está fora. Tudo é alta tensão. A natureza humana
não pode suportar muito mais!
Parece uma notícia do jornal de hoje, certo? Errado. Isso
apareceu mais de 150 anos atrás, no dia 16 de junho de 1833, para ser
exato no jornal Atlantic Journal. Nos "bons tempos antigos".
Você tem alguma ideia de quais eram as manchetes no jornal Boston
Globe em meados de novembro de 1857? Se não consegue se lembrar dessa
época, permita-me reavivar sua lembrança:
AUMENTA A CRISE DE ENERGIA
O subtítulo sugeria que o mundo poderia ficar às escuras, devido
a uma apavorante escassez de gordura de baleia!
Quem diz que os "bons tempos antigos" eram tão bons assim? Na
década de quarenta, lembro-me distintamente de nossos soldados,
marinheiros e fuzileiros navais morrendo aos milhares, enquanto uma
guerra mundial assolava dos dois lados do globo. Lembro-me de suportar o
calor de Houston sem ar-condicionado. Alguns dos meus amigos de infância
ficaram aleijados pelo resto da vida por causa da poliomielite.
Mais atrás ainda, na década de trinta, a década em que nasci, a
sombra da Grande Depressão trazia escassez e desespero a cada estado da
União. Que bons tempos, hein?
Os "bons tempos antigos" de meu pai foram piores ainda. Era
quando você tinha de dar partida no carro com uma manivela... quando as
casas não tinham encanamento interno... quando todos na família tomavam
banho em tinas número 2... quando viajar ao exterior compreendia dias
longos e perigosos de travessia marítima a bordo de um navio... quando
cavalos morriam às dezenas em Nova Iorque devido a uma epidemia de
cólera... quando a chuva transformava as ruas num brejo. Eu poderia
continuar. Agora lhe pergunto, será que aqueles dias eram tão bons assim?
Sabe, tudo depende de nossa perspectiva. A famosa frase de
Charles Dickens ainda se aplica: "Era o melhor dos tempos. Era o pior dos
tempos."20 Alguns olham para trás e se lembram apenas dos melhores
tempos, um ritmo mais calmo, laços mais estreitos e relacionamentos mais
honestos. Outros veem as inconveniências, a obsolescência, os
preconceitos e a ineficiência. Quando a gente se detém o tempo suficiente
para pensar com objetividade, percebe que nenhum tempo é ideal, tornando
inevitável a importância de ser flexível aos tempos.
COMO OS TEMPOS MUDAM!
Por falar em "tempos", você se lembra da declaração registrada no
livro do profeta Daniel?
"Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque dele é a
sabedoria e a força; é ele quem muda os tempos e as horas, remove reis e
estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos
entendidos" (Daniel 2:20-21).
Que segurança! Não é o mero acaso ou o destino cego que determina
as mudanças abrangentes que causam impacto em cada geração. Nosso Deus
soberano assume plena responsabilidade. Ele nos diz ser Ele quem efetua
as mudanças. E as boas novas são estas: Quando as mudanças ocorrem, nunca
estão fora do controle dele!
"Os meus dias estão nas tuas mãos..." (Salmo 31:15).
Se verdadeiramente acreditássemos nisso, as mudanças não seriam
tão difíceis de aceitar. Tampouco nos causariam tanta ansiedade. Tudo,
desde as invenções modernas às alterações globais, poderiam ser
enfrentadas com calma por que o nosso Deus fiel ainda está no controle.
Nada o surpreende ou ameaça. Nada! Ele controla todas as estações e eras.
Nenhum presidente é empossado no cargo sem que Deus acene afirmativamente
e diga: "Essa é a minha vontade." Nenhum rei governa sem que Deus diga:
CCE esse que eu permito reinar." Nenhum progresso na tecnologia ou
ciência o apanha desprevenido. Se você acredita que Deus é soberano, não
pode acreditar jamais que ele esteja desatualizado. Ele vive e governa em
intemporalidade.
Francamente, isso me entusiasma. A explosão populacional continua
precisamente como Deus planejou. Você sabia que não foi até 1850 que o
nosso mundo atingiu a marca de um bilhão? Até 1930, chegamos a dois
bilhões. Levou apenas trinta anos mais para que a população mundial
chegasse aos três bilhões. Chegamos agora a cinco bilhões. Os
estatísticos nos dizem que até o final do século vinte teremos sete
bilhões. Mas deixe-me relembrar-lhe, o nosso crescimento populacional,
não importa quão rápido, ainda está nas mãos de Deus.
Você está pronto para outra mudança estarrecedora? Tomemos o
número crescente de livros publicados. Se voltarmos a 1500, retornamos ao
início dos materiais impressos. Não foi feita muita coisa em termos de
livros publicados até 1900... naquela época havia apenas 35.000
disponíveis. E hoje? Mais de 400.000 livros são publicados apenas nos
Estados Unidos...por ano. Isso dá uma média de mais de mil novos livros
publicados por dia, apenas nos Estados Unidos.
E considere a ampliação do conhecimento. Se pudéssemos medir
conhecimento por espaço, todo o conhecimento humano desde o início dos
tempos até 1845 poderia ser medido em cerca de 2,5 centímetros. De 1845 a
1945 ele se expandiria para 7,5 centímetros. De 1945 até hoje o
crescimento do conhecimento é fenomenal. Ele poderia atingir a altura do
Monumento a Washington. Mesmo assim, nossos tempos estão nas mãos de
Deus. Ao contrário da opinião popular, Deus entende de energia nuclear,
de circuitos integrados e de ciência aeroespacial.
Devo mencionar também a velocidade. Até 1800, a mais alta
velocidade era trinta e dois quilômetros por hora quando as pessoas
viajavam a cavalo. Havia já naquela época profetas pessimistas quando
alguém mencionava viajar depressa. Li em algum lugar que um desses
primeiros críticos da velocidade estava convencido de que, se você
viajasse a cento e sessenta quilômetros por hora, gaguejaria pelo resto
da vida. Sua mente o deixaria, suas emoções sofreriam colapso. O corpo
humano não pode tolerar uma velocidade dessas. Não obstante, com a
chegada das ferrovias, saltamos quase da noite para o dia para os cento e
sessenta quilômetros por hora. Incrível! Ninguém ficou gago.
Até 1952, o avião a jato de passageiros podia viajar a quase
seiscentos quilômetros por hora. Até 1979, as aeronaves mais avançadas
alcançavam quase mil quilômetros por hora. Mas o voo espacial tripulado
tinha muito tempo antes estabelecido um recorde maior ainda. Em 1961, os
astronautas
estavam viajando em órbita a não menos de dois mil e quinhentos
quilômetros por hora.
Ocorreu-me há não muito tempo que meu pai viu todo o panorama da
era do transporte durante a sua vida. Entre 1892 e 1980, ele viu um dos
primeiros carros e viveu para testemunhar pela televisão o lançamento de
foguetes e o pouso na lua.
Enquanto estamos pensando sobre velocidade, um autor progressista
escreve:
No ano 2020, os automóveis provavelmente obterão sua energia de um
conjunto avançado de baterias para as corridas curtas ao escritório e de
volta à casa, e para as compras. Nas viagens mais longas, os carros serão
movidos por motores de hidrogênio líquido. O escapamento dos nossos
futuros veículos nas estradas será puro oxigênio e vapor, que são os
derivados da queima do hidrogênio líquido. Com efeito, haverá dezenas de
milhões de aspiradores a vácuo sugando a poluição de nossas cidades e
substituindo-a por ar mais puro do que o encontrado sobre as Montanhas
Rochosas do Colorado. Um grande caminhão rugirá pela rodovia, expelindo
nuvens de puro oxigênio de suas chaminés. Haverá um adesivo atrás do
caminhão com um novo lema: "Caminhoneiros Pró Ar Limpo!"
O mesmo autor descreve um baile de formatura do futuro:
No século vinte e um, será comum os bailes de formatura ocorrerem
em países estrangeiros como a Austrália, que será uma escolha popular. A
Austrália será uma viagem de ponte aérea de vinte e nove minutos, com um
carregamento de viajantes espaciais em trajes a rigor usufruindo a vista
panorâmica espetacular, embora breve. Eles irão à Austrália para o baile
de formatura, mas provavelmente darão uma fugidinha até Hong Kong depois
do baile, dizendo que estiveram na Austrália com as damas de companhia a
noite toda. Algumas coisas jamais mudam através das gerações!
Eu poderia incluir diversas outras mudanças. Se você é médico ou
dentista, conhece muitas delas. Para enumerar algumas: a capacidade de
selecionar o sexo do recém-nascido; criação da vida no tubo de ensaio;
gestação de fetos em úteros artificiais; o desenvolvimento de bancos de
óvulos e de espermatozoides; eliminação de cáries soldando esmalte no
dente com raio laser; soldagem da retina do olho; o extenso uso de
bisturi que não causa sangramento na cirurgia; aumento no uso de órgãos
artificiais, como córneas plásticas para olhos, ossos metálicos, artérias
de Dacron, corações artificiais e músculos eletrônicos computadorizados;
desenvolvimento de alimentos sintéticos e até fazendas submarinas (sem
nem falai' na probabilidade de cidades submarinas); imunização geral do
mundo contra as moléstias comuns, experimentos em hibernação humana e
desenvolvimento de programas eficazes para controle do apetite e do peso.
Posso perguntar sem cerimônia: A luz dessas notáveis mudanças
(todas elas nas mãos de Deus), por que a igreja permanece presa a ontem?
Repito meu tema: A igreja já tropeçou por aí o tempo suficiente. Temos
sido reticentes para mudar durante um tempo mais que suficiente. Em vez
de hesitar ainda mais, precisamos acertar o passo. Como aqueles que se
postam ao lado do Criador e Fonte de todo o conhecimento e invenção,
precisamos ver as mudanças como amigas em vez de resistir-lhes como se
fossem inimigas.
Um dos meus mestres gosta de falar sobre sua igreja lá no MeioOeste, onde ele foi criado. Alguém introduziu o flanelógrafo em uma
classe de escola dominical pai*a adultos, um dos auxílios visuais da moda
comumente usados no mundo dos negócios naquela época. O pobre sujeito foi
crucificado verbalmente! Foi chamado ao conselho e severamente
advertido: "Como você se atreve a contaminar nossa igreja com este método
mundano?!" Dá para acreditar? Tudo o que ele fez foi introduzir um
flanelógrafo e usá-lo para ajudar o aprendizado. Podia-se pensai' que ele
havia aberto um baú cheio de serpentes!
Deixe-me compartilhar um ou dois pensamentos com relação aos
nossos tempos. As possibilidades que essas mudanças trazem são
emocionantes. Pense na emoção que resulta de colocar uma linguagem não
escrita nas mãos das pessoas. Posso me lembrar dos dias em que
depositávamos um casal nas selvas e esperávamos que dentro de uma década
ou mais eles pudessem fornecer um livro do Novo Testamento para aquela
tribo... escrito à mão numa tábua. Com a ajuda de computadores, essa
tarefa pode agora ser realizada em questão de meses, seguida por uma
Bíblia inteira em apenas alguns anos.
Pense nas possibilidades da viagem rápida. Anos atrás você não
podia ir dos Estados Unidos à Europa em menos de doze ou quatorze longos
dias pelo Atlântico. Agora podemos fazê-lo em horas. Algum dia, em
minutos. Pense no que isso fará pela evangelização mundial. Graças à
mídia eletrônica, um evangelista agora pode ficar em pé diante de uma
câmera e, com a ajuda de um satélite no espaço, ser visto por todo o
mundo em frações de segundo. Ao vivo. Nos dias chamados de "bons tempos
antigos" isso era estritamente coisa de Flash Gordon e Buck Rogers.
Aqui está um segundo pensamento. Essas mudanças, se não tomarmos
cuidado, serão ameaçadoras para muitos. Se você for um tradicionalista
que segue tudo à risca e tem um modo de pensar rígido, as mudanças lhe
parecerão ameaçadoras, e você se sentirá tentado a resistir-lhes. Por
algum motivo, é o que ocorre especialmente com os evangélicos. Podemos
ser os piores quando se trata de abrir os olhos e enxergar as
oportunidades que nos encaram. Mesmo com Jesus Cristo, o maior inovador
religioso que o mundo já conheceu, bem ao nosso lado.
Como igreja do século vinte, a apenas alguns anos do século vinte
e um, não sejamos ameaçados pelas mudanças em nossos tempos. Precisamos
continuamente monitorar e avaliar nossos métodos. Para mim, ajuda lembrar
que nenhum dos métodos que empregamos é sacro. A menos que um método
particular seja apresentado nas Escrituras como o método imutável que
Deus nos manda usar, ele é temporário. Isso significa que pode ser
alterado ou descartado, substituído por outro método melhor e mais
eficiente.
Serei franco com você. Uma das maiores preocupações que tenho com
o ministro jovem e promissor é que ele ou ela possa ser tradicionalista
em relação a métodos. Temo que muitos dos que se formam com uma teologia
sólida, biblicamente fundamentada, fiquem imobilizados pelo tempo em que
são treinados.
Os seminários precisam permanecer na linha de frente. Tenho uma
preocupação pessoal com aqueles que ensinam comunicação nos seminários
hoje. E tão fácil pensar como tradicionalista e ensinar estilos
desatualizados! O estilo de comunicação da década de 50 é totalmente
diferente da comunicação nos anos 90. Você não alcança e ganha uma
audiência hoje usando uma abordagem dogmática, popular quarenta ou
cinquenta anos atrás. A audiência de hoje requer um estilo diferente.
Comunicadores eficazes e ouvintes interessados estão aprendendo juntos. O
jovem estudante de hoje já testemunhou o melhor que há em matéria de
comunicação muito antes de chegar ao curso de pós-graduação. Entre outras
coisas, ele observou aqueles métodos na televisão e em filmes. Neste
nosso mundo encarniçadamente competitivo, impulsionado pelo mercado,
incontáveis vozes buscam captar uma audiência. Os métodos precisam ser
continuamente avaliados e, quando necessário, mudados. Sim, mesmo nas
igrejas.
Amo a forma como Edith Wharton expressa o segredo de permanecer
vivo em sua autobiografia A Bachmrd Glance (Uma Olhada Retrospectiva):
“A despeito de enfermidade, a despeito até mesmo daquela
arquiinimiga, a tristeza, podemos permanecer vivos muito depois da data
normal de desintegração, se não tivermos medo de mudança, se formos
insaciáveis em curiosidade intelectual, interessados em grandes projetos,
e felizes por pequenas coisas”.
Não perca o primeiro desses quatro: sem medo de mudança.
MAS ALGUMAS COISAS JAMAIS MUDARÃO
Neste momento, posso sentir as vibrações. Alguns de vocês estão
começando a pensar que estou sugerindo que mudemos tudo. Não! Há algumas
coisas, muito francamente, das quais devemos manter afastadas as nossas
mãos, não importa quão moderna seja a época.
Para ilustrar isto, considere algo que o salmista escreveu no
Salmo 11. Davi, sem dúvida, sente-se ameaçado. Saul está em seu encalço.
Davi encontrou um refúgio na fenda de alguma rocha, talvez uma caverna,
onde escreveu o salmo. Talvez estivesse chovendo naquele dia. Talvez
fosse um daqueles dias cinzentos, quando tudo parece triste e sem
propósito. Podemos sentir as emoções nos dois primeiros versículos:
No Senhor me refugio. "Como, pois, dizeis a minha alma: Fugi para a
vossa montanha como pássaro? Pois olha, os ímpios armam o arco; Põem as
flechas na corda, para com elas atirarem, As ocultas, aos retos de
coração" (11:1-2).
Diz ele ao seu Senhor: "Em ti me refugio. A palavra hebraica
sugere um esconderijo. Davi encontrou conforto escondendo-se no
relacionamento que tem com seu Deus.
Sem dúvida, ele percebe o Senhor dizendo: "Confie em mim. Estou
protegendo você." E por isso, amedrontado, ele responde:
"Como, pois, dizeis à minha alma: Fugi para a vossa montanha como
pássaro"?
"Olhe, Saul está atrás de mim, Senhor. Posso ouvir meu nome usado
como maldição fora da minha caverna. Não posso correr para nenhuma
montanha."
"Pois olha, os ímpios armam o arco; Põem as flechas na corda, para
com elas atirarem, Às ocultas, aos retos de coração."
Naqueles dias, as lutas noturnas estavam entre os mais traiçoeiros
dos ataques. Davi sabe que não está seguro, mesmo depois que a noite cai.
Finalmente, quase em pânico, ele pergunta ao Senhor:
"Na verdade que já os fundamentos se transtornam, O que pode fazer
o justo?" (versículo 3).
Ora, esse é um ponto realista e relevante. "Senhor, em ti me
refugio. Mas cercado pelos ímpios, sem nenhum alívio à vista, temo o
tremor dos fundamentos."
Aqueles de nós que vivemos na Califórnia podemos nos identificar
com essa afirmação. Já fui testemunha de inúmeros furacões no sul do
Texas.
Já dirigi no meio de tempestades de neve na Nova
Inglaterra e suportei tempestades de quatro dias no meio do oceano. Já
passei por uma ameaça de bomba incendiária num avião comercial e outras
circunstâncias igualmente ameaçadoras. Também já sofri ameaças contra a
minha vida e a de meus familiares da parte de indivíduos dementes. Nenhum
desses temores, contudo, chegou perto do medo de sentir as fundações da
terra tremendo sob meus pés. Quando se trata de medo, os terremotos são a
causa número um!
Mas Davi não está escrevendo aqui a respeito de um terremoto
físico. Não, ele está dizendo: "Senhor, o que podem os justos fazer se
tudo está solto no ar? O que fazer se tudo muda tanto que até mesmo tu
começas a mudar? O que podem os justos fazer então?" Você já pensou isso
alguma vez? Eu já, com certeza.
É maravilhoso descobrir posteriormente nas Escrituras a resposta
a uma pergunta feita antes nas Escrituras. Eis aqui um exemplo. A
resposta à pergunta de Davi é encontrada na segunda carta que Paulo
escreveu a Timóteo.
Um dos amigos de longa data para Paulo era um homem mais moço
chamado Timóteo. Ele provavelmente tinha quarenta e poucos anos quando
esta carta foi escrita. Os dois homens haviam viajado juntos, crescido
juntos, aprendido juntos, sofrido juntos. Agora que Paulo está num
calabouço, prestes a dizer adeus à vida, e Timóteo está apanhando a tocha
para continuar a tarefa como pastor de Éfeso, o mais velho escreve ao
mais jovem uma carta, na realidade, duas. Este é o canto do cisne de
Paulo, sua última vontade e testamento. Se as últimas palavras de alguém
são as mais significativas, temos aqui as de Paulo. Ele disse a Timóteo
que, à luz da inconstância dos tempos:
"Lembra-lhes estas coisas, ordenando-lhes diante do Senhor que não
tenham contendas de palavras, que para nada aproveitam, exceto para a
subversão dos ouvintes" (2 Timóteo 2:14).
Timóteo deve relembrar à congregação as verdades eternas de Deus.
Algumas dessas verdades foram mencionadas por Paulo nos parágrafos
anteriores de sua carta. Aqui, ele insta com o amigo a se formar nas
coisas mais importantes, não nas menores... a não se deixar apanhar em
batalhas verbais e em argumentos verbais, mas permanecer nas questões
essenciais que merecem seu tempo e esforço. Ele insta então com Timóteo:
"Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de
que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (versículo 15).
Verdade. A palavra da verdade... claramente uma referência à santa
Palavra de Deus, a Bíblia. Ele diz, com efeito: "Timóteo, você não
recebeu apenas um Livro de sermões mas, o que é mais importante, um Livro
de verdade. As verdades de Deus são amplas e magníficas. Elas
literalmente transformarão vidas. Portanto, meu amigo, permaneça no
Livro. Dê ao seu rebanho as verdades eternas das Escrituras."
"Mas evita os falatórios imiteis, porque produzirão maior
impiedade. E a palavra desses corrói como câncer."
(Hoje, diríamos que "a conversa deles se espalhará como uma
epidemia".)
"Entre os quais estão Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da
verdade, dizendo que a ressurreição é já passada, e perverteram a fé que
tinham alguns" (versículos 16-18).
Esses homens se desviaram da verdade da Escritura e, como
resultado, influenciaram outros que seguiram seu exemplo ímpio. Agora o
clímax:
"Todavia, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O
Senhor conhece os que são seus, e: Qualquer que profere o nome do Senhor
aparte-se da injustiça" (versículo 19).
Amo isso! O fundamento de Deus permanece firme. Ele é inabalável e
imutável. Ken Taylor parafraseia este mesmo versículo em A Bíblia Viva:
Entretanto, a verdade de Deus continua firme como uma grande rocha e nada
a poderá abalar.
Pode contar com isto: Haverá mais terremotos, mas a verdade
jamais sofrerá abalos. Jamais haverá um dia em que Deus voltará à cena e
dirá: "Sabem, estive repensando meu Livro. Algumas dessas verdades que
escrevi sobre Jesus, bem, preciso reescrever tudo isso. Também alguns dos
atributos do meu caráter e algumas daquelas doutrinas do meu Livro
precisam ser atualizadas." Ele nunca fará isso. Sua verdade é mais sólida
do que um monte de mil toneladas de granito.
Para falar a verdade, Deus disse neste versículo que há dois
selos, um invisível e um visível. Juntos, eles provam que sua verdade
jamais será abalada.
Sabemos que o fundamento de Deus permanece firme e imutável por
ser o selo invisível de sua promessa. O que foi escrito 110 Livro
permanecerá imutável no Livro. Seguramente selado e absolutamente seguro.
A outra garantia é visível. E só olhar ao seu redor e observar
"os que são seus". O estilo de vida dos justos é prova de que o
fundamento de Deus permanece imutável. Eles podem ser apenas um
remanescente, mas os retos estão presentes em cada geração.
Aonde estou tentando chegar? E simples. Nosso desafio é
permanecer atualizados, para servir à nossa geração, sem contudo alterar
de forma alguma a Palavra de Deus. Estilos e métodos mudam e precisam ser
atualizados. Mas, e a verdade? Essa é eterna. Não está sujeita a
mudanças. A questão chave deste capítulo pode ser expressa em uma única
sentença. Devemos estar dispostos a deixar o familiar sem perturbar o
essencial. Para ministrar eficazmente, a igreja precisa despertar para
aquilo que muda... e o que não muda.
Charles Wesley compreendeu isto mesmo em 1762, quando escreveu:
Um mandado para guardar
Um Deus para glorificar tenho eu,
Uma alma imortal para salvar,
E prepará-la para o céu.
Para servir à era presente,
E minha vocação cumprir;
Que fazer a vontade do Mestre
Possa todas as minhas forças reunir.
Não perca essa declaração relevante: "Para servir à era
presente." Mesmo nos distantes meados do século dezoito, Wesley viu o
valor de permanecer atualizado. Servir à era presente não exclui nosso
serviço a Deus.
Muitas igrejas evangélicas desta geração estão cometendo um grave
engano. Temerosas de mudanças, elas ligaram, de alguma forma, a
metodologia de uma era passada à verdade eterna das Escrituras. Existe
uma ideia estranha de que se reiteramos que a Escritura é verdadeira,
precisamos resistir a qualquer alteração de método como se a integridade
da posição bíblica exigisse rigidez de estilo. Não é verdade. Se há
invenções modernas que nos ajudarão a transmitir a verdade mais poderosa,
mais rápida e mais eficazmente, por que hesitar em usá-las? Se elas
funcionarem, se não comprometerem nossa teologia nem contaminarem a nossa
mensagem, por que não empregá-las?
Ao mesmo tempo, há perigos em abraçar algo simplesmente por ser
novidade. Podemos nos queimar pensando que aquilo que é moderno e
futurista é seguro por estar nas mãos de pessoas modernas, futuristas,
seguras. Não necessariamente.
Duas coisas me vêm à mente. Primeiro, precisamos continuar a
ouvir o que Deus diz enquanto adaptamos nossas vidas aos tempos em que
vivemos. Segundo, precisamos continuar a crer no que Deus diz mais do que
em qualquer outra voz no futuro. Fazendo essas duas coisas, permanecemos
flexíveis e eficazes em nossa abordagem, enquanto retemos um estilo de
vida santo e puro.
Deixe-me mostrar porque essa distinção é vital. Considere o tipo
de pessoas no horizonte de hoje e de amanhã. Segunda Timóteo 3 não mede
palavras:
"Sabe, porém isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis;
pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos,
soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem
afeição natural, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio de si,
cruéis, sem amor para com os bons, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais
amigos dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade,
mas negando-lhe o poder. Afasta-te também destes" (versículos 1-5).
Como é fácil pensar que se algo for futurista e inovador, rápido
e moderno, será melhor. Não é bem assim. O futuro incluirá tempos
difíceis. (Desenvolverei esse fato com muito mais detalhes no capítulo
7.) Construiremos armas suficientes para nos matar mais depressa.
Inventaremos veículos com velocidade suficiente para atropelar quem nos
aprouver, porque as pessoas ímpias do futuro odiarão aquilo que é bom. E
por isso que a mensagem imutável de Deus, de amor e perdão, é importante
e não pode ser alterada. A avançada humanidade futurista sofrerá os
efeitos da mesma moléstia, a depravação total.
Quem pode dominar o futuro!1 Apenas aqueles que tiverem corações
retos. Os outros o voltarão contra si mesmos e contra nós. Isso explica
porque acho que ninguém está melhor equipado para enfrentar as
responsabilidades do futuro do que os cristãos informados, alertas. Temos
em nós todo o autocontrole necessário. Venho dizendo com frequência que
Deus não está nos céus fazendo de tudo para se segurar, pensando: "O que
vou fazer com esse mundo que está passando por mim tão depressa?" Pode
acreditar, nada desse negócio futurista, não importa quão sofisticado, o
perturba. Ele compreende e permanece em pleno controle. Quando ele der o
sinal, então cairá a cortina... as luzes se apagarão. Enquanto Ele não
mudar as coisas no planeta Terra, os tempos presentes e futuros
permanecerão pessoalmente difíceis e moralmente degenerados.
Heresias que soam atraentes, mesmo convidativas, estarão mais e
mais em voga. Haverá cada vez mais gente que seguirá a estrela de cinema
que solucionou suas lutas entrando para o movimento da Nova Era. Haverá
um grande número de inquiridores seguindo a ela e a outros gurus. Cegos
continuarão guiando cegos. Não foi apenas Jesus que falou disto (favor
ler Mateus 15:1-14), mas Paulo tratou da questão algumas vezes. Por
exemplo:
"Mas os homens maus e enganadores irão da mal a pior, enganando e
sendo enganados" (2 Timóteo 3:13).
Pode contar com isto: O futuro, com todas as suas descobertas e
invenções emocionantes, incluirá um número cada vez maior de enganadores.
O PRINCIPAL INGREDIENTE PARA A SOBREVIVÊNCIA
Você quer saber o que será necessário para ter o equilíbrio
apropriado entre manter-se atualizado e permanecer firme na verdade de
Deus? Discernimento. Sem discernimento será fácil ser sugado para dentro
do sistema. Discernimento fará o papel de cão de guarda para nos impedir
de perder o rumo no lamaçal de depravação e engano do amanhã. O
dicionário define discernimento como "o poder de ver o que não é evidente
à mente comum... exatidão, especialmente em perceber caráter ou motivo."
O discernimento, em minha opinião, será ainda mais valioso na medida em
que nos mantivermos em contato com os nossos tempos.
O que funciona para nós como cristãos individuais funcionará para
a igreja. A igreja que fica sentada de cara fechada ao futuro, pouco
fazendo além de lustrar os louros de ontem, se tornará uma igreja à qual
falta relevância e entusiasmo. Ao mesmo tempo, a igreja que amolecer sua
posição teológica e alterar a Escritura para combinar com o estilo do
futuro, perderá seu poder. Lembre-se disto: Precisamos estar dispostos a
deixar o familiar sem perturbar o essencial. O segredo, repito, é
discernimento.
DUAS SUGESTÕES PARA MANTER O EQUILÍBRIO
Talvez precisemos de umas sugestões sobre como nos manter na
verdade sem sermos derrubados pelos fortes ventos da heresia que com
certeza virão.
Primeiro, tempos de mudança requerem a disposição de retrabalhar
as ferramentas e ser flexível onde necessário. Você pode ter um certo
estilo de culto que funcionou bem no passado. Talvez o tenha usado por
anos. Pode acreditar, você precisa continuar repensando todo esse
negócio. Ainda é a melhor abordagem para usar à luz dos tempos em que
estamos vivendo? Alterar seu estilo comprometerá a Escritura?
Provavelmente não. Quanto você está disposto a ser flexível? Quanto está
aberto à mudança?
Lembro-me de um incidente que ocorreu na igreja que pastoreei por
quase vinte e três anos. Diversas pessoas da velha guarda me advertiram:
"Permita cultos múltiplos e você irá destruir a unidade da igreja." Elas
falaram com preocupação sincera. Haviam desfrutado uma intimidade de
comunhão desde que a igreja começara. Por mais de quinze anos, a igreja
sempre tivera um culto de manhã e um culto à noite. Aqueles que se haviam
entrincheirado nesse estilo sentiam-se ameaçados pelo risco de uma
mudança: "Não podemos ter mais de um, ou perderemos o que temos."
O que queriam dizer era que perderíamos aquela "intimidade
comunitária que sempre havíamos tido". Eles se mostravam hesitantes em
enfrentar o fato de que estávamos passando a ser um ministério
metropolitano. O crescimento requeria pensamento inovador. Tínhamos de
fazer algo. As condições de superlotação não podiam ser ignoradas. A
propósito, fundamos mais de meia dúzia de igrejas em nossa história, por
isso ninguém podia dizer que não tentamos flexibilizar as coisas. Mas
ainda estávamos fazendo gente voltar da porta. Partir para cultos
múltiplos tornou-se a nossa melhor opção. As igrejas têm de retrabalhar
suas ferramentas e se tornar flexíveis. Fico feliz em dizer que a
congregação "tolerou" um número maior de cultos... e mais tarde concordou
que foi a melhor solução para nós. Hoje não podemos imaginar como seria
ter um único culto de manhã.
Segundo, as verdades imutáveis requerem disciplina para resistir
e lutar quando necessário. Nenhuma quantidade de tecnologia futurista ou
progresso modernista nos dá o direito de negar o Livro de Deus ou alterar
suas verdades. As Escrituras nos apresentam o nosso padrão. Isso é um
pressuposto. As verdades de Deus são o nosso alicerce seguro.
Não havia mais segurança ou esperança nos "bons tempos antigos"
do que haverá nos "maus tempos modernos". Mas pela graça e misericórdia
de Deus, enquanto permanecermos abertos à necessidade de mudar e
flexibilizar, sobreviveremos.
Corrija isso. Não apenas sobreviveremos. Triunfaremos!
REFLEXÕES
1. Manchetes apavorantes dos jornais e noticiários sombrios na
televisão podem fazer com que às vezes meneemos nossas cabeças
descrentes. Alguns de nós permitiremos que essas histórias tristes e
chocantes de todo o mundo embrulhem nossos estômagos, roubando-nos a paz
e o gozo que nos pertencem em Cristo. Se estou escrevendo para alguém
"viciado em noticiários" que não consegue deixar de lado essas manchetes,
deixe-me fazer uma observação e uma sugestão. Primeiro, Deus jamais
tencionou que carregássemos o peso deste mundo quebrado sobre nossos
ombros. Somente seus ombros são largos o bastante para essa tarefa e ele
de fato controla tudo! Devolva-lhe o peso e a ansiedade. Deixe-me sugerir
que você dê "tempo igual" aos grandiosos e gloriosos salmos que nos
relembram o poder, eternidade e amor de Deus. Se você assistir a meia
hora de notícias, passe o mesmo período de tempo com os Salmos. Dê a Deus
a última palavra!
2. Se você esteve envolvido em um ministério especial por longo
tempo, talvez se encontre preso numa metodologia confortável, mas
desgastada. Você está aberto a aprender novas maneiras e expressões sem
comprometer a verdade eterna? Examine alguns recursos para ver que
inovações podem ter-se desenvolvido no nicho do seu ministério. Você
poderia começar falando com indivíduos que ministram em sua área de
interesse em uma grande igreja metropolitana. Poderia também obter ajuda
em alguns novos livros e periódicos de sua livraria cristã local ou da
livraria de algum instituto bíblico.
3. Desenhe uma linha no centro de uma folha de papel, de alto a
baixo. Agora analise todas as atividades de ministério de sua igreja em
dada semana. No lado esquerdo do papel, enumere as atividades que são
bíblicas e permanecem prioridades permanentes. No lado direito, tente
enumerar alguns dos métodos tradicionais que sua igreja emprega e que
podem ser revistos e/ou atualizados nos meses e anos vindouros. Discuta a
lista com seu cônjuge ou um amigo cristão, estudando a estratégia de como
você poderia tornar-se uma força positiva de mudança em uma ou mais
dessas áreas.
Capítulo Sete
MINISTRANDO NOS ÚLTIMOS DIAS
Que tal um teste rápido? Tratamos estas questões com certa
intensidade, por isso J talvez seja hora de recapitular por onde temos
andado e ^^^^^ao mesmo tempo nos divertir um pouco. E nosso alvo lembrar
quem é a igreja diante de Deus e de Jesus Cristo. E um pequeno teste pode
ajudar a determinar se você realmente esteve lendo ou se esteve dormindo
sob o livro que tem nas mãos. Prometo que ficarei com as perguntas mais
gerais. Para facilitar, limitarei o teste a perguntas de múltipla
escolha. Marque sua resposta a cada uma das seguintes perguntas.
1. Aprendemos no primeiro capítulo que o propósito básico da
igreja é:
a. Ser um farol de esperança na comunidade
b. Glorificar a Deus
c. Ajudar os famintos e sofredores
d. Dar aos adolescentes um lugar onde ir nas noites de sábado.
2. No segundo capítulo, sugeri a sigla "CICE" para nos ajudar a
lembrar dos objetivos básicos da igreja. O primeiro "C" representa culto.
O segundo "C" representa comunhão. "E" representa expressão. O que "I"
representa?
a. Imagem b.
Implicação
c. Instrução
d. Iniciação
3. Comecei então a tratar do estilo da igreja. Ao escrever sobre a
importância de um estilo "contagiante", sugeri quatro características: A
igreja precisa ser B___ NO CONTEÚDO, AUTÊNTICA NA NATUREZA, GRACIOSA NA
ATITUDE, E RELEVANTE NO ENFOQUE. Que palavra preenche a lacuna?
a. Boa
b. Básica
c. Bíblica
d. Benéfica 4.
No capítulo 5, escrevi sobre a diferença entre uma igreja
"comunitária" e uma igreja "metropolitana". Para ilustrar o valor de
delegar, voltamos ao Antigo Testamento e encontramos o exemplo clássico
de uma pessoa que confrontou outra sobre a necessidade de delegar as
responsabilidades absorventes de seu cargo. Quais eram os dois
indivíduos?
a. Sansão e Dalila
b. Jonatas e Davi
c. Sara e Abraão
d. Jetro e Moisés
5. Terminamos há pouco o capítulo que trata de mudança.
Consideramos o valor de permanecer flexíveis e abertos em algumas áreas,
mas permanecer firmes e seguros em outras. Ofereci uma afirmação central,
da qual talvez você se lembre. Precisamos estar dispostos a deixar o
familiar sem perturbar o essencial. Procuramos tanto no Antigo quanto no
Novo Testamento e encontramos a resposta a uma pergunta. O salmista
escreveu: "Se os_______se transtornam, o que pode fazer o justo?" Paulo
declarou que os_______ permanecem firmes. O que permanecerá firme para
sempre?
a. A doxologia no início do culto
b. Os métodos de evangelismo que adotamos como igreja
c. Os fundamentos de Deus
d. Os anúncios durante as reuniões da igreja.
Muito bem, está na hora de verificar as respostas do teste.
Olhando as questões, as respostas corretas são: 1-B, 2-C, 3-C, 4-D, 5-C.
Como você se saiu? Se acertou as cinco, dou-lhe os parabéns. Você está
apreendendo quem é a igreja e porque o plano de Deus para a Noiva de
Cristo não mudou em vinte séculos. Se você errou três ou mais, talvez
precise de óculos!
AVALIAÇÃO GERAL: O QUE DEVERÍAMOS ESPERAR
Não importa quantos pontos você tenha obtido no teste, acho que
eu poderia fazer uma pergunta que ninguém deixaria de responder
verdadeiro ou falso: As coisas estão piores hoje do que jamais estiveram.
Sem dúvida, isso é verdadeiro. Penso que você concordaria que espiritual,
moral, ética e domesticamente, as coisas nunca estiveram piores. Somente
o otimista cego diria o contrário. Não creio que tenha falado com alguém
durante os últimos vinte e cinco anos que de fato acredite que as coisas
estão melhorando cada vez mais. A realidade é que estão ficando cada vez
piores.
O próprio Jesus ensinou que isto ocorreria. Enquanto dialogava
com os discípulos, ele respondia às perguntas que eles faziam
frequentemente
dando respostas que eles não esperavam. Mateus 24 registra um dos
discursos finais do nosso Salvador a seus seguidores, antes de sua morte
e ressurreição. Nessa conversa em particular, os discípulos estavam
preocupados com o final dos tempos, os últimos dias na terra.
"Estando ele assentado no monte das Oliveiras, aproximaram-se dele
os discípulos, em particular, e lhe pediram: Dize-nos quando acontecerão
estas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim dos tempos.
Respondeu-lhes Jesus: Acautelai-vos, que ninguém vos engane. Pois muitos
virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos.
Ouvireis de guerras e rumores de guerras, mas cuidado para não vos
alarmardes. Tais coisas devem acontecer, mas ainda não é o fim. Levantarse-á nação contra nação, reino contra remo, e haverá fomes, pestes e
terremotos em vários lugares. Todas estas coisas, porém, são o princípio
das dores. Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e vos
matarão. Sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome. Nesse
tempo, muitos se escandalizarão, trair-se-ão mutuamente e se odiarão uns
aos outros. Surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por
se multiplicara iniquidade, o amor de quase todos esfriará" (versículos
3-12).
Deixe-me perguntar de novo: Nosso tempo melhorará ou piorará? A
resposta é dolorosamente óbvia. Neste velho planeta haverá um aumento
gradual e dramático da maldade. Se me pedissem que fizesse uma análise
franca do que devemos esperar, com base no ensino de Jesus eu diria:
Primeiro, as condições piorarão; segundo, os lares se enfraquecerão;
terceiro, a moral se desvanecerá.
AS Condições Piorarão
Os conflitos internacionais não apenas crescerão e proliferarão,
como aumentarão de tal maneira que algumas nações já não tolerarão outras
nações. Conforme leremos um pouco adiante no capítulo, as pessoas não
apenas terão conflitos, elas se tornarão irreconciliáveis. Recusar-se-ão
a negociar de maneira civilizada. Estamos falando de hostilidade
irredutível.
Quando Dean Rusk era ministro da justiça sob o Presidente John
Kennedy durante a crise dos mísseis com Cuba, comentou: "Estamos nos
encarando olho-no-olho, e acho que o outro sujeito acabou de piscar." A
medida que o tempo passa, haverá mais inimizade e menos compreensão...
mais entrincheiramento teimoso e menor frequência de argumentação.
Sorrio por dentro toda vez que vejo impresso no selo do correio
"Ore pela paz". Jamais haverá paz internacional até que Cristo reine
supremo. Com todas as boas intenções, nossos diplomatas envidam esforços
para promover a paz, mas, ai de nós, é uma busca fútil. Quanto mais
vivermos nesta velha terra, mais ela se parecerá com a agitação inquieta
do mar.
O conhecimento técnico pode proliferar e atingir novas alturas.
Desenvolveremos formas de ajudar as pessoas a viverem mais tempo, mas a
pergunta mais profunda é: Será que elas vão querer viver mais ? Um número
cada vez maior está votando: "Não, quero cair fora." Examine o índice
crescente de suicídios mesmo entre adolescentes. É apavorante.
Os Lares se Enfraquecerão
As famílias continuarão a se desintegrar. Não há necessidade de
declarar outra vez o óbvio. Não há uma única pessoa que esteja lendo
estas linhas que possa dizer: "Não conheço ninguém divorciado." Cada um
de nós conhece alguém que passou por essa câmara de horrores.
Alguns de vocês têm suportado isso contra a própria vontade. Posso ouvilos suspirar: "Eu nunca quis o divórcio, mas sou vítima dele. Minha
família enfraqueceu, o relacionamento se rompeu, e a coisa que jurei
jamais aconteceria no meu lar aconteceu. E meus filhos é que estão
pagando por isso." A delinquência é tão terrível agora que professores
experientes estão abandonando essa carreira. Não é exagero declarar que a
família desfeita é agora uma epidemia nacional.
A Moral Desvanecerá
O que já nos fez corar", assistimos agora tranquilamente na
televisão. Em 1939, um simples palavrão enunciado em um filme ganhou as
manchetes dos jornais. Aquela palavra, e outras muito piores, são agora
ouvidas comumente na mídia.
Seria fácil para aqueles de nós que ainda coramos pensar que é o
fim do mundo e que as coisas ultrapassaram os limites. Talvez estejamos
pensando: "Deus deve estar torcendo as mãos, pensando: "O que vou fazer
com este mundo?" Mas conforme vimos no capítulo anterior, não é o que
ocorre. Para falar a verdade, "o firme fundamento de Deus permanece" (2
Timóteo 2:19). Conquanto nada disto escape ao controle de nosso Senhor,
ele se entristece em dizer que o amolda maioria das pessoas esfriará.
“Todavia, [amo a maneira como este versículo começa]... o firme
fundamento de Deus permanece”.
A verdade vencerá. Embora pareça que, como escreveu James Russell
Lowell, vejamos "a verdade sempre no cadafalso e o erro sempre no
trono"23. O caminho de Deus vencerá!
"Todavia, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O
Senhor conhece os que são seus, e: Qualquer que profere o nome do Senhor
aparte-se da injustiça".
A pergunta não é: As coisas vão piorar? (Irão.) Nem: Deus está no
controle? (Está.) A pergunta maior é: Como viver e ministrar num mundo
que perdeu o rumo? O que a igreja faz para deixar a sua marca? O que será
preciso para nos fazer lembrar de quem somos e quem está ao nosso lado,
para que possamos causar um impacto no mundo que corre cada vez mais
depressa na direção errada?
Qual é a resposta? E construir nossos muros mais espessos e mais
altos? Devemos trancar a porta da igreja e distribuir as chaves
exclusivamente ao nosso povo a fim de garantir proteção ao nosso pequeno
foco de pureza? E óbvio que não. Então, o que fazer? Como fazer uma
diferença nestes dias finais?
Na mesma passagem que examinamos no capítulo 6, encontramos uma
resposta a essa pergunta. De fato, encontraremos respostas que não apenas
são corretas, mas relevantes e sagazes. Em 2 Timóteo 3, lemos uma das
mais vívidas narrativas da maldade do final dos tempos encontradas em
toda a Bíblia. Em minha opinião, ela só fica atrás de Romanos 1 quando se
trata de uma descrição nua e crua da depravação. A dimensão útil de 2
Timóteo 3 é a instrução prática que ela inclui sobre como reagir quando
enfrentamos tempos como esses.
INSTRUÇÃO BÍBLICA: COMO DEVEMOS REAGIR
Não passemos depressa por estas palavras de instrução. Paulo
começa mui realisticamente ao informar ao amigo de longa data, Timóteo:
"Sabe, porém, isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis" (2
Timóteo 3:1).
Não se sabe porque o idoso apóstolo começaria afirmando o que
parece redundante. Claro que Timóteo notava que os dias eram difíceis! Os
mártires estavam morrendo às centenas. Naquela época era mais do que
impopular ser conhecido como cristão. Era potencialmente fatal. Naquela
época, quando você tornava conhecida a sua fé, o governo notava. Os
vizinhos também. As pessoas pagavam um preço terrível por sua fé. Por
que, então, o apóstolo Paulo diz: "Sabe isto?"
Eis porquê: Ele conhecia Timóteo. Timóteo tinha o tipo de
temperamento que precisava ser despertado. Em mais de uma ocasião Paulo
aconselhou o amigo a "despertar o dom" que Deus lhe havia dado. Penso que
ele era um pouco mais passivo do que seu mentor, o que levava o sábio e
idoso mestre a dizer ao mais jovem: "Vamos, mexa-se! Fique alerta!"
Timóteo poderia ter sido do tipo que pensa que, embora os tempos
fossem maus naquele momento, provavelmente melhorariam. "Não vai ser
permanentemente difícil. A tempestade passará se eu me mantiver
quietinho." A fim de corrigir esse conceito, Paulo adverte: "Saiba isto,
Timóteo. Não vai melhorar. Esse estilo de vida dos últimos dias veio para
ficar."
BREVE REVELAÇÃO DA DEPRAVAÇÃO DOS ÚLTIMOS DIAS
Olhe de novo as palavras "sobrevirão tempos difíceis". O termo é
traduzido de uma palavra grega raramente usada nas Escrituras, que
significa mais do que difícil; talvez "sombrios" seja melhor, ou
"difíceis de enfrentar". Uma das versões mais antigas traduz por
aflitivos, uma tradução excelente. Achei útil notar que o mesmo termo
grego é usado em Mateus 8:28 para descrever a aparência e as ações de
dois homens endemoninhados. Naquele versículo, a palavra é traduzida por
"violentos". Como mencionei antes, não é excesso traduzir a palavra por
"selvagens". Façamos isso:
"Sabe, porém, isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos selvagens."
Por que alongar-nos tanto tempo em uma única palavra? Por causa
de outra palavra: Realidade. Nenhuma quantidade de reflexão sobre as
glórias das bodas do Cordeiro pode desfazer o fato de que vivemos numa
era de violência que continuará até o momento em que Cristo levar sua
Noiva para casa. E, para piorar ainda mais as coisas, vivemos numa época
na qual estamos cercados por uma mentalidade de cantar para espantar os
males, de pensamento positivo. Embora eu creia firmemente na importância
de pensar positivamente, acho que isso pode ser levado a um extremo
quando deixamos de pensar de forma realista.
Se realmente cremos que estes são "tempos selvagens...
excessivamente violentos", não ficaremos chocados por qualquer evento ou
manchete de jornal. Ele pode nos afligir ou envergonhar, mas nunca
deveria nos surpreender, pois Deus nos adverte que nos últimos dias
haverá horas difíceis de enfrentar, sombrias e marcadas pela violência.
Um artigo de meia página que li em um jornal poderia facilmente
ter-me deixado atônito. Foi a narrativa de um homem que assassinou cada
membro de sua família. Ele deixou alguns deles mortos na casa ou no
porta-malas do carro por mais de um dia. Os homicídios se estenderam além
da família. A lista incluía diversos amigos chegados e empregados.
Quantos, ao todo? Quatorze. Tempos selvagens nos sobrevieram.
Outro artigo que li contava de um homem que pulverizou de balas o
pátio de uma escola com um fuzil de ataque militar, matando e ferindo
diversas crianças pequenas. Não podemos imaginar nada mais violento do
que assassinar crianças inocentes. Enquanto eu escrevia este livro,
ocorreram diversos julgamentos escandalosos no município onde moro. Cada
um deles envolveu um réu sendo julgado por homicídios múltiplos. Os
longos julgamentos incluíam relatos vívidos e vergonhosos de estupro,
facadas, desmembramento, sodomia, homossexualidade, abuso de drogas,
molestamento de crianças e meia dúzia de outros crimes sociopáticos que
abrangiam atos tão imorais que quase faziam gelar o sangue. E cada homem
sendo julgado ficava sentado ali, absolutamente plácido, tendo por vezes
um risinho sinistro no rosto. Não havia senso de remorso ou vergonha
aparente. Em tempos excessivamente violentos, haverá maior ausência de
culpa, mais forte racionalização e menos ênfase em castigo dos
malfeitores.
Mesmo as nossas rodovias se tornaram pistas expressas de terror,
nas quais motoristas portadores de armas não hesitam em atirar em outro
motorista simplesmente por lhe ter cortado a frente na sua faixa de
trânsito. Nem o tempo nem o espaço me permitem incluir os detalhes
sórdidos de outros crimes, tão hediondos que precisamos fazer força para
crer que foram cometidos por outros seres humanos. Encare a coisa,
vivemos numa época enlouquecida.
Note isto, cristão. Tome consciência disto, igreja.
Em épocas selvagens como esta relativamente poucas pessoas
andarão com Deus o tempo todo. Um número decrescente de cônjuges
permanecerá fiel a seus votos e comprometido com o casamento. Será mais e
mais difícil criar uma família que leva Deus a sério. Conscientize-se
disto! Tal conscientização requererá um senso mais agudo de intensidade e
mais profunda determinação entre o povo de Deus. Visto que haverá
homicídios em massa, guerras de gangues, um aumento nas perversões
sexuais, um número cada vez maior de práticas antiéticas, e violência
doméstica como o mundo nunca viu, nossa caminhada com Deus precisa
intensificar-se.
Paulo se torna dolorosamente específico:
"Pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos,
presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos,
profanos, sem afeição natural, irreconciliáveis..." (versículos 2-3).
Você pode se perguntar porque seu vizinho ofendido não fez as
pazes consigo por causa daquela pequena ofensa. Você ficou sem saber
porque ele ou ela moveu uma ação contra sua pessoa, em vez de
simplesmente aparecer na sua casa, bater na porta e exigir que vocês dois
conversassem sobre o assunto? Você quer saber por que o sujeito que
escorregou e caiu na sua loja não estava disposto a falar consigo em vez
de falar com o advogado? Ou quando você bateu no carro à sua frente, não
quis saber por que o fulano não estava disposto a considerá-lo um
acidente sem importância e negociar a diferença? Quando você percebeu,
estava recebendo uma convocação da justiça. Por quê? ""Os homens serão...
irreconciliáveis"! Conscientize-se disto.
Vamos segurar a respiração e ler adiante.
"... caluniadores, sem domínio de si, cruéis, sem amor para com os
bons, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos prazeres do que
amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder.
Afasta-te também destes. Porque deste número são os que se introduzem
pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados,
levadas de várias concupiscências; que aprendem sempre, mas nunca podem
chegar ao conhecimento da verdade. E, como Janes e jambres resistiram a
Moisés...
(Esses dois homens eram mágicos na corte de Faraó que tentaram
imitar o Deus vivo e copiar seu poder na presença de Faraó. Enquanto
Moisés fazia seus milagres pelo poder de Deus, Janes e Jambres faziam os
seus pelo poder do adversário.)
"E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes
resistem à verdade..." (versículos 3-8).
Nos últimos dias, eles não ignorarão passivamente a verdade, se
oporão agressivamente a ela. Conscientize-se disto.
Paulo nos está sacudindo pelos ombros, dizendo: "Cristão!
Cristão! Embora você realmente ame a Deus como também o fazem aqueles que
estão ao seu lado, deixe de viver num mundo fictício, pensando que tudo
será bonito e arrumadinho se você tão somente se mudar para um lugar mais
tranquilo, ou para um lugar onde as pessoas chegam até a falar de
religião. A impiedade ainda estará lá. A Ilha da Fantasia não existe."
Onde quer que você se estabelecer, ali estarão
"homens corruptos de entendimento e réprobos quanto a fé"
(versículo 8).
Examine atentamente. No que diz respeito à mente, haverá
depravação, corrupção. Quanto à fé, rejeição. Eles serão falsos. Provados
e achados em falta. Neste momento, a situação está começando a parecer
desesperançadora. Sinto a necessidade de um pouco de alívio, e você?
Encontramo-lo no versículo 9. Paulo, sabendo que Timóteo levaria suas
palavras a sério, deu-lhe um pouquinho de espaço para respirar,
dirigindo-se ao rapaz pessoalmente.
"Não irão, porém, avante; porque a todos será manifesta a sua
insensatez, como também aconteceu com a daqueles [Janes e Jambres]"
(versículo 9).
Ele está dizendo algo como: "Timóteo, conscientize-se disto,
ainda haverá pessoas que perceberão tudo. Ainda haverá pessoas na família
de Deus que diferenciarão a verdade do erro. Nem todos ficarão presos no
sistema."
John R.W Stott menciona um fato facilmente esquecido:
"Às vezes nos aborrecemos em nossos dias certa e compreensivelmente
com os falsos mestres que se opõem à verdade e perturbam a igreja, de
modo todo especial com os métodos astuciosos e ardilosos dos comerciantes
religiosos dissimulados. Mas não devemos temer, mesmo que algumas pessoas
fracas possam ser convencidas, mesmo que a falsidade vire moda. Pois há
algo patentemente espúrio na heresia, e algo autoevidentemente verdadeiro
na verdade. O engano pode se difundir e ser popular por algum tempo. Mas
não irá muito longe. No fim, com certeza será exposto, e a verdade com
certeza será provada. Esta é uma lição clara da história da igreja.
Numerosas heresias têm surgido, e algumas aparentando probabilidade de
triunfar. Mas hoje são em grande parte de interesse de antiquários. Deus
tem preservado sua verdade na igreja."
Não é um conforto maravilhoso relembrar que os livros de Deus de
justiça não são fechados todas as noites? Dá-me um crescente senso de paz
interior lembrar-me de que os capítulos de Deus ainda estão sendo
escritos. Ele ainda não disse: "Fim." Admito que o vagalhão cada vez
maior de heresias, combinado à impureza moral e violência física, quase
me dá arrepios. As vezes me pergunto se ele vai nos sufocar. Então,
quando descubro estes lembretes serenos no livro de Deus, é
extraordinário como me sinto tranquilizado. E um novo lembrete de que a
verdade prevalecerá e, no final, triunfará.
RESPOSTAS SÁBIAS PARA TODOS OS QUE MINISTRAM
Com esse delicado raio de esperança, o apóstolo volta sua atenção
diretamente para o homem que receberia a carta e indiretamente a todos
nós que vivemos nos últimos dias. A ele e a nós, Paulo escreve: "Eis aqui
algumas respostas sábias sobre como sobreviver na era em que você vive.
Em um sentido mais lato, eis como ter abundância."
Ele apresenta quatro respostas específicas. Mencionarei as duas
primeiras ao concluir este capítulo e guardarei as outras duas para o
próximo capítulo.
Primeiro, siga o modelo dos fiéis.
"Tu, porém, tens seguido de perto o meu ensino, procedimento,
intenção, fé, longanimidade, amor, perseverança, perseguições e aflições,
quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra; quantas perseguições
sofri, e o Senhor de todas me livrou. E na verdade todos os que desejam
viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições" (versículos 1012).
Os tempos são difíceis, os tempos são sombrios, os tempos são
duros de enfrentar. Tudo isto é verdade. "Mas, você, Timóteo..." Esta
palavra "mas" é uma poderosa conjunção. Ela introduz um contraste
marcante. "Há muitos (na realidade, Jesus disse "a maioria") que
esfriarão. Mas você, Timóteo, será diferente. Você não deve ser como "a
maioria". Nem mesmo se atreva a ser como "muitos". Siga o meu modelo."
Você tem alguns modelos para seguir? Não estou me referindo a
santos de pedra esculpida que colocamos em pedestais e consideramos
perfeitos. Não. Os modelos que mexem com a nossa vida são muito humanos
e, portanto, imperfeitos. Não obstante, eles são exemplos extraordinários
para nós. Eles nos motivam a viver vidas melhores. Alguns deles podem já
ter morrido.
Seu modelo pode ser um autor cujo livro fez sua vida dar uma
reviravolta. Como resultado, você entrou numa maior profundidade de vida.
Num verdadeiro sentido, aquele autor (a quem você jamais viu) é seu
modelo.
Outros de vocês podem seguir modelos que morem por perto. Vocês
estudaram aquela vida de perto e desejam ter virtudes semelhantes. Quanto
mais você estuda o seu modelo, mais descobre que ele ou ela não é
estranho (a) à dor. Portanto, quando você encontra dor parecida, lembrase das perseguições que seu modelo suportou, o que o encoraja a suportar.
E isso que Paulo está dizendo aqui. De fato, a dor e a santidade estão
frequentemente interligadas.
Você percebeu a previsão séria de Paulo?
"E na verdade todos os que desejam viver piamente em Cristo Jesus
padecerão perseguições" (versículo 12).
Falando em modelos, não é interessante que em nossa era decadente
todos os esforços estão sendo envidados na tentativa de destruir aqueles
que admirávamos? Os vultos políticos que você admirava na história da
nossa nação estão sendo sistematicamente derribados para que nenhum deles
pareça de forma alguma admirável - se certos críticos conseguirem o que
querem. Permita-me encorajá-lo a não deixar que isso aconteça. Esse modo
de pensar cínico leva a um solitário beco sem saída.
Falei com um homem que espera chegar ao Senado ou Congresso. Como
objetivo final, se Deus abrir a porta, ele gostaria seriamente de tentar
tornar-se presidente dos Estados Unidos. No momento, ele é virtualmente
desconhecido. Mas trancados em sua mente existem modelos, indivíduos que
fincam os pés contra o mal, pessoas da verdade... pessoas que ele
respeita e de quem diz: "E assim que desejo ser." Isso é combustível para
a sua fogueira. Como ele me disse: "Estou observando meus modelos e
seguindo suas pegadas." Encorajo-o a continuar lendo biografias de
grandes homens e mulheres.
Diz o apóstolo a Timóteo: "Siga meu exemplo; se o fizer,
alcançará o alvo."
Se um testemunho pessoal ajudar, considere a minha história.
Quando eu estava no Corpo de Fuzileiros Navais, a caminho do Oriente,
deparei-me com um livro maravilhoso, Through Gates of Splendor (Através
dos Portais de Esplendor), sobre cinco missionários que foram
martirizados. Jamais conheci aqueles jovens ou suas famílias, mas a
partir do testemunho de cinco homens desconhecidos que literalmente deram
a vida para alcançar os Aucas no Equador, a vida deste jovem fuzileiro
deu uma reviravolta. Eles se tornaram modelos para mim durante uma época
solitária e difícil de minha vida. De muitas formas, sua fidelidade me
fazia continuar em frente. Eles se tornaram minhas vozes silenciosas de
encorajamento. Os cinco se destacaram em minha mente como pessoas dignas
de serem seguidas, dignas de serem lidas, de serem estudadas. Sou agora
muito mais velho do que eles eram quando morreram. Embora mortos, eles
têm falado comigo por mais de três décadas. Ainda penso neles e sigo o
seu exemplo, embora tenham deixado este mundo em 1956.
Ao fazer uma pesquisa linguística sobre a palavra seguir, fiquei
intrigado ao descobrir que é o mesmo termo que o Dr. Lucas usa quando
investigou todos os fatos antes de escrever o Evangelho que leva seu
nome. Após ter examinado todos os fatos, ele pôde escrever a história da
vida de Cristo. Esse termo em particular que Lucas usou para investigar
ou averiguar cuidadosamente alguma coisa é a palavra traduzida em 2
Timóteo 3:10 como "seguido". Portanto, não significa que apenas olhamos à
distância e admiramos superficialmente as realizações de alguém.
Significa que chegamos o mais perto possível e fazemos uma investigação
cuidadosa a fim de descobrir as coisas que tornaram extraordinária aquela
vida.
Estou gastando mais tempo nisto porque acho que faz parte do
treinamento de sobrevivência dos últimos dias. Se você apenas ler e
assistir à mídia, rejeitará todos os modelos. Você desconfiará de todo
líder. Não vamos permitir que isso aconteça conosco! Só porque alguns
falharam não significa que as fileiras estejam cheias apenas de
charlatães, enganadores e fracassados. Ainda há pessoas da verdade...
modelos de fé dignos de serem seguidos. Siga-os!
Segundo, volte á verdade do passado.
"Mas os homens maus e enganadores irão de mal a pior, enganando e
sendo enganados" (versículo 13).
Pode haver muitos impostores, mas resolvamos não ser um deles.
Sejamos diferentes, como era Timóteo. O que tornava Timóteo diferente?
"Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste
inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a infância sabes
as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que
há em Cristo Jesus" (versículos 14-15).
Um viva para as raízes de Timóteo! Se você voltar ao versículo 5
do primeiro capítulo desta carta, verá que a fé sincera que em última
instância marcou a vida de Timóteo primeiro residiu em sua avó Lóide e
sua mãe Eunice. (Nada é dito sobre o pai, que provavelmente era grego e
talvez não fosse cristão.) Foram a mãe e a avó materna de Timóteo
que moldaram o início de seu crescimento espiritual. A fé do rapaz se
tornou sincera à medida que ele aprendia de Cristo nos joelhos delas, sob
sua tutela. Consciente do valor do treinamento da avó e da mãe, Paulo
exorta Timóteo a permanecer firme.
Numa retrospectiva ao longo de sua vida, minha esposa poderia
facilmente se identificar com Timóteo. Cynthia diria: "Foram minha mãe e
minha avó que me moldaram." Eu diria: "Foi meu avô materno." L. O. Lundy
de El Campo, no Texas, era seu nome - um homem da verdade, um exemplo de
integridade e santidade.
Minha filha caçula, Colleen, e eu viajávamos pelo Texas no outono
de 1987. Resolvemos pegar algumas rodovias áridas e passar por minha
cidade natal. Eu não voltara lá em mais de trinta anos. Chegamos a El
Campo e por fim localizamos o lar de meus avós. Quase imediatamente após
estacionai" em frente daquele lugar onde meus avós viveram tantos anos
antes, minhas lágrimas começaram a correr. As de Colleen também. Ela me
ouviu falar frequentemente da influência que Vovô teve em minha vida e
leu meus pensamentos. Contemplei uma casa antiga, imponente, onde certa
vez residira um nobre cavalheiro. O que mais me vem à lembrança é o amor
que ele demonstrava ao tomar o netinho sobre os joelhos e falar-lhe
bondosamente, e servir de modelo de retidão e moldar seu pensamento.
Claro que nem ele nem eu tínhamos a menor ideia de onde o futuro me
levaria. Sentado ali em frente com minha filha, olhando as janelas, a
porta da frente, a varanda e a entradinha, fui dominado pela gratidão.
Lembrei-me da verdade, e lembrei-me de quem aprendi a verdade.
Quem foi essa pessoa para você? Quem você indicaria? Você foi
abençoado com pais que amavam a Deus? E abençoado com avós assim? Foi
essa pessoa um santo e fiel pastor? Não deixe que a velocidade de hoje o
leve a tratar com pouco caso a profundidade do seu passado. Volte à
verdade do seu passado. Reveja aquelas vidas e aqueles eventos. Lembre-se
deles, renove-os, dependa deles, depois passe a verdade adiante aos seus
filhos. Isso o manterá firme através das perturbações do futuro. Quando
personalidades superficiais vierem e se forem, e você for tentado a
deixar-se levar por elas, quando vierem os maus tempos e quase arrasarem
com você, volte às suas raízes e descubra solidez espiritual nelas.
Se o seu passado, como o de Timóteo, incluir uma herança piedosa,
você foi maravilhosamente abençoado. A severidade e depravação destes
últimos dias não o dominarão. Você encontrará força e estabilidade no
meio da tempestade. E você estará melhor equipado para ministrar nos
últimos dias.
REFLEXÕES
1. Como podemos nós da igreja, a representante de Cristo sobre a
terra, seguir a orientação de Paulo de enfrentar realisticamente os
tempos selvagens nos quais vivemos e ainda permanecer positivos em nossa
atitude e visão? Tire um momento para escrever dois ou três princípios
eternos, bíblicos, que podem ajudar você e sua família a manter o
equilíbrio e a perspectiva nesta era frequentemente enlouquecida na qual
vivemos. Discuta-os com sua família, seu grupo de estudo bíblico ou um
amigo cristão chegado.
2. Quem são seus modelos na vida cristã? Pode citar um ou dois,
talvez visualizando seus rostos? Você pode ouvir suas vozes encorajadoras
vindas das arquibancadas, animando-o a continuar (Hebreus 12:1-2),
insistindo que você resista e permaneça fiel? Se você tem modelos assim,
reserve tempo para considerá-los com mais frequência. Pergunte-se como
eles reagiriam em algumas das circunstâncias nas quais talvez você se
encontre. Qual poderia ser o seu conselho? Peça ao Senhor que o ajude a
imitar esses exemplos -- e não relute em falar deles à sua família e
amigos. Como costumava dizer um dos meus mentores: "Se todos falássemos
dos nossos heróis, teríamos mais heróis de quem falar."
3. Falando de modelos dignos, quanto tempo se passou desde que
você leu a biografia de um cristão ou uma cristã exemplar? Separe tempo
esta semana e examine a estante de biografias da sua livraria evangélica
local e faça uma compra que poderia mudar a sua vida.
CAPÍTULO OITO
"PERMANECENDO PRONTOS ATÉ A HORA DA LARGADA"
Após ter-me formado no colegial, trabalhei numa oficina mecânica
no distrito industrial de Houston por quatro anos e meio. Eu não apenas
estava aprendendo a profissão de mecânico na prática, mas também estava
fazendo o curso noturno da Universidade de Houston. Meu pai era da antiga
linha de pensamento. Achava que eu deveria não apenas obter uma boa
educação como também aprender uma ocupação técnica, de forma que tivesse
algo em que me apoiar se alguma carreira que eu seguisse algum dia me
deixasse na mão. Segui seu conselho e jamais me arrependi.
Tenho ótimas lembranças daqueles anos na oficina. Aprendi muitas
lições valiosas enquanto trabalhava com as mãos -- uma delas foi a
verdadeira apreciação pelo mundo dos trabalhadores. Não tenho problema em
compreender como é a vida deles, suas pressões e frustrações, bem como os
benefícios e sentimentos de realização.
Lembro-me com frequência de diversos tipos inesquecíveis que
conheci naqueles dias. Como nos divertíamos juntos! Um deles era um
sujeito que chamarei de Tex. Ele e eu trabalhamos lado a lado no segundo
turno por diversos meses.
Tex passara a maior parte de sua vida adulta operando um torno na
mesma oficina. Ele era o mecânico típico. Usava um bonezinho de listras
cinzas e brancas --· sempre engordurado -- e um macacão que precisava de
uma troca de óleo. E, naturalmente, ele mascava fumo, o que significava
que cuspia bastante. Ele mantinha a bolsinha de fumo aberta no bolso de
trás do lado direito e, enquanto operava a serra, ele enfiava a mão no
bolso, agarrava um punhado daquele negócio fibroso, entupia com ele a
boca, depois mascava por uma hora ou mais. O procedimento todo ocorria
sem que seus olhos jamais deixassem o trabalho com a serra. Tex consumia
facilmente diversos saquinhos de fumo por semana.
Numa noite quente, abafada, quando eu trabalhava atrás de Tex
numa serra semelhante, notei que um grilo tamanho gigante saltou
despretenciosamente da porta para o piso da nossa oficina. Enquanto eu
estudava a criaturinha, notei que a cor do grilo era quase idêntica à cor
do fumo que Tex usava. Assim, sem que o homem percebesse, caminhei até o
bichinho e pisei-o, dando um fim rápido à sua miséria. Arranquei então a
cabeça do bicho, estendi a mão e coloquei-o muito suavemente em cima do
saquinho aberto de fumo que se projetava para fora do bolso de Tex. Em
seguida, voltei depressa à minha serra e esperei... e fiquei de olho. Não
demorou muito e ele precisou reabastecer sua mascação, por isso esticou a
mão para trás e agarrou um novo punhado. Lá se foi o grilo junto com o
fumo. Até hoje Tex não tem ideia do que mascou naquela noite. Ainda me
lembro de vê-lo cuspindo asas e pernas e partes do corpo durante a
próxima hora mais ou menos. Foi hilariante!
Quando você trabalha numa oficina mecânica, sua vida revolve em
torno de um apito. Após você bater o cartão ao chegar, seu trabalho
começa com
um apito. Chega a hora do almoço, e é anunciada pelo mesmo som
estridente. Quando seu turno termina, há ainda outro apito.
Frase de oficina para aquele apito final é: "hora de largar".
Tex havia trabalhado tanto tempo numa oficina mecânica que tinha
um tipo de sensor invisível lá dentro. Raramente tinha de olhar o
relógio. De alguma forma, ele sempre sabia quando estava chegando perto
daquele último apito. Não me lembro de ele alguma vez ter sido apanhado
desprevenido. Sem falta, Tex estava todo lavado e pronto para bater ponto
uns dois minutos antes que o apito tocasse.
Em certa ocasião, eu disse a ele:
-- Bem, Tex, já está quase na hora de começar a se aprontar para
a hora de largar.
Jamais me esquecerei de sua resposta. Naquele sotaque texano
arrastado, ele falou:
-- Escute, rapaz... fico pronto para evitar de ter de me aprontar
para a hora de largar.
Era sua maneira de dizer: "Aquele último apito jamais me pegará
desprevenido."
Muitos longos anos se passaram desde que trabalhei com Tex, mas
sua resposta ficou na minha cabeça quando penso naquele último som antes
da volta de nosso Senhor. Não será o de um apito numa oficina mecânica,
mas com outros sons bem mais ensurdecedores, De fato, a Escritura diz:
"Pois o mesmo Senhor descerá do céu com grande brado..." (1
Tessalonicenses 4:16).
A palavra significa "clamor". Não sei se será do próprio Senhor
ou de alguém perto dele, mas haverá um alto clamor do céu. E isso não é
tudo. Também haverá
"... a voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus..." (versículo
16).
E então:
"... os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro. Depois nós, os
que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens,
para o encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o
Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras" (1
Tessalonicenses 4:16-18).
Você está "permanecendo pronto até a hora de largar"? Há horas em
que fico pensando em quantas pessoas serão pegas desprevenidas. Enquanto
você está ocupado em suas lidas diárias, vêm à sua mente pensamentos
como: "Nossa, isso pode acontecer hoje. Poderia ser logo depois do
jantar."? Ou: "Ele pode voltar antes de nos deitarmos esta noite." Deixeme dizer quando a maioria de nós tem esses pensamentos: quando temos de
pagar nossos impostos! E nessa hora que todos nós desejamos que ele
viesse depressa. Mas, falando sério, será que lhe passa alguma vez pela
mente: "Hoje pode ser meu último dia na terra. Ele pode rasgar os céus
hoje e bradar: É hora de largar!"?
Algumas pessoas teriam de admitir que o pensamento nunca lhes
passa pela cabeça. Estou falando de nunca, embora enquanto nosso Senhor
ainda estava na terra tivesse dado numerosas predições sobre o seu
retorno.
JESUS PREDISSE ALGUMAS VEZES O SEU RETORNO
Examinemos diversas. Escolhi uma de cada um dos quatro evangelhos.
Periodicamente, durante o ministério de Cristo, ele falou sobre
isso. Cada vez que mencionava seu retorno certo, suas palavras faziam
lembrar um toque de despertar nas primeiras horas do dia.
"Portanto vigiai, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso
Senhor. Mas considerai isto: Se o pai de família soubesse a que hora
viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que sua casa fosse arrombada"
(Mateus 24:42-43).
Que prático! Se você já teve de passar uma noite fora e encontrou
sua casa arrombada por um ladrão, ou se seu lugar de negócio já foi algum
dia assaltado no meio da noite, você sabe que o ladrão foi bem-sucedido
porque sua entrada não era esperada e sua saída não foi detectada. E isso
que Jesus está mostrando aqui. "Minha vinda será como um ladrão na noite.
Quando você menos esperar, virei." Em seguida ele aplica isso à sua
volta.
"Por isso estai vós também apercebidos, porque o Filho do homem há
de vir a hora em que não penseis" (versículo 44).
Li certa vez que um carro forte foi deixado sem ninguém cuidando
dele por menos de cinco minutos. Ele continha mais de cinco milhões de
dólares. Durante aqueles minutos em que ficou sem ninguém, vieram ladrões
e o assaltaram. Eles sabiam exatamente quando vir e como partir de modo
que ninguém tivesse a menor ideia de quem eram -- até ser tarde demais.
Encontramos palavras parecidas acerca do mesmo evento no
evangelho de Marcos. Mais uma vez, é Jesus falando:
"Estai de sobreaviso! Vigiai [e orai]! Não sabeis quando será o
tempo. E como se um homem que, partindo para longe, deixasse a sua casa,
desse autoridade aos seus servos, a cada um a sua obra, e mandasse ao
porteiro que vigiasse. Portanto, vigiai porque não sabeis quando virá o
senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se
pela manhã. Se ele vier inesperadamente, não vos encontre dormindo. O que
vos digo, digo a todos: Vigiai!" (13:33-37).
Ficamos perplexos com a referência de Jesus ao "cantar do galo",
não é mesmo? Isso requer uma explicação. Nossas noites não são divididas
como eram nos tempos de Jesus. As noites do primeiro século eram
divididas em vigílias -- quatro vigílias de três horas. A primeira
vigília começava no pôr-do-sol, em torno das seis da tarde, e terminava
às nove. A segunda vigília continuava das nove até a meia-noite. E a
terceira vigília ocorria da meia-noite às três da manhã.
Havia uma palavra latina conhecida para descrever o final da
terceira vigília: gallicinium. Significava "cantar do galo". Suponho que
o nome foi derivado de algum galo madrugador que estirava o pescoço e
soava seu primeiro chamado em torno das três da madrugada. Cristo poderia
vir nessa hora! Ou, diz nosso Senhor, poderá vir na aurora, na hora
brumosa da manhã quando nasce o sol. A questão é: a qualquer hora.
O Dr. Lucas registra palavras semelhantes. Quanto mais lemos
estas palavras repetidas de Jesus, mais certos nos tornamos: Não apenas
Jesus está voltando... precisamos estar prontos.
"Acautelai-vos por vos mesmos, para que não aconteça que os vossos
corações se sobrecarreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados
da vida, e aquele dia vos pegue de surpresa, como uma armadilha" (Lucas
21:34).
Que diferença! Mateus usou a analogia de um ladrão, mas agora
Lucas menciona uma armadilha. Se você estiver preso em um cenário
embaraçoso, cheio de preocupações, ou em estado de embriaguez ou num
estilo de vida de dissipações -- como algumas pessoas vão estar - você
não estará pronto para a hora de largar. A advertência de Jesus é clara:
Não vá ser pego desprevenido para não ficar preso na armadilha, quando
ele vier.
"Pois cairá sobre todos os que habitam na face de toda a terra.
Vigiai em todo o tempo, e orai para que sejais havidos por dignos de
escapar de todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé
diante do Filho do homem" (versículos 35-36).
Muitos anos mais tarde, no final do primeiro século, João
registrou suas observações e pensamentos. Entre as contribuições mais
significativas de João estão seus registros do discurso no cenáculo.
Jesus está com os Doze na véspera de ser preso e levado à cruz. Enquanto
estão reunidos ali, ele revela abruptamente a verdade sobre sua morte
iminente. Isso apanha os discípulos desprevenidos. Eles ficam
visivelmente abalados, o que é compreensível. Se nós tivéssemos estado
entre os discípulos também teríamos esperado que ele vivesse para sempre,
estabelecesse seu trono e nos levasse consigo quando se tornasse Rei dos
reis e Senhor dos senhores, governando toda a terra.
Mas de repente ele introduz uma mudança nas regras do jogo - a
Cruz. Cheios de perturbação, dúvida e temor, os discípulos o encararam
com espanto, enquanto ele falava de sua morte iminente. Isso explica
porque ele lhes disse com relação ao seu retorno:
"Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também cm mim.
Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu vo-lo teria
dito. Vou preparar-vos lugar. E se eu for e vos preparar lugar, virei
outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estou estejais
vós também" (João 14:1-3).
Àqueles discípulos ansiosos, Jesus deu uma promessa incondicional.
Ele não disse: "Se vocês estiverem à minha espera, voltarei." Nem mesmo
diz: "Se vocês estiverem caminhando comigo, voltarei." Não, sua promessa
é absolutamente incondicional. "Vou preparar um lugar... virei outra
vez... levarei vocês para mim mesmo... vocês estarão comigo." Sua volta
não era uma conjetura... ocorreria de fato!
Sem dúvida, os discípulos queriam saber o que esperar nesse
intervalo de tempo. Dentro de minutos ele cobriu essa base.
"Disse-vos estas coisas para que em mim tenhais paz. No mundo
tereis aflições. Mas tende bom ânimo! Eu venci o mundo" (João 16:33).
"Deixei o céu. Comecei meu ministério aqui na
sustentado pelo poder de Deus. Logo completarei minha
para a cruz a fim de pagar a pena dos pecados. Sairei
sepulcro. Subirei ao Pai. E virei de novo na hora que
terra. Tenho sido
missão. Preciso ir
vitorioso do
Ele determinar."
Enquanto isso, Jesus os desafiou a estarem alertas. "Permaneçam prontos
até a hora de largar." Enquanto esperavam a sua volta, eles com certeza
iriam enfrentar aflições e tribulações.
Temos desenvolvido este assunto desde que começamos juntos o
livro, não é verdade? Temos pensado sobre a igreja - seu propósito,
objetivos, estilo e as mudanças que ocorrerão durante os últimos dias. No
capítulo anterior tratamos de algumas diretrizes que deveríamos seguir à
luz dos dias difíceis que precisamos suportar. Talvez fosse útil pensar
nelas como "técnicas de sobrevivência". Como conseguimos vencer? Já que o
mundo
vai tornar as coisas difíceis para nós, como podemos viver
corajosamente, sabendo que Jesus venceu o mundo? O que nós, da igreja,
devemos fazer?
Claramente, Cristo vai voltar. Nossa pergunta é esta: Qual é a
melhor maneira de "permanecermos prontos até a hora da largada"?
PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DOS ESCRITOS DE PAULO
Volte de novo àquelas últimas palavras que Paulo escreveu na
segunda carta a Timóteo. Ele escreveu essas palavras pouco depois de 60
A.D. O apóstolo chegara ao fim de sua vida, o que o instiga a descrever a
vida no fim dos tempos. Como vimos no capítulo anterior, os tempos apenas
piorarão. Paulo não mede as palavras quando escreve ao amigo Timóteo e
diz: "Vamos enfrentar tempos difíceis... selvagens, para falar a
verdade." Como podemos permanecer prontos para o fim? Como podemos ter
certeza de que o fechar da cortina não nos apanhará de surpresa ou nos
encontrará terminando mal? O que podemos fazer?
Conforme mencionei antes, há quatro princípios a seguir, que são
apresentados no terceiro e quarto capítulos de 2 Timóteo. Talvez você se
lembre do primeiro: Siga o modelo dos fiéis.
"Tu, porém, tens seguido depeno o meu ensino, procedimento,
intenção, fé, longanimidade, amor, perseverança, perseguições e aflições,
quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra; quantas perseguições
sofri, e o Senhor de todas me livrou. E na verdade todos os que desejam
viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições" (2 Timóteo 3:1012).
Não há nada mais encorajador ou mais motivador do que um modelo
para nos manter avançando.
Não sei se você já leu a respeito da corrida de trenó puxado por
cães sobre uma parte do estado de Minnesota. Você tem acompanhado as
corridas? A mesma mulher que ganhou em 1987 ganhou também em 1988.
Estamos falando de uma pioneira! Ela avançou através do frio terrível, os
ventos ululantes de uma nevasca, noites escuras e dias exaustivos,
enquanto seus cães especiais puxavam o trenó por aquelas centenas de
quilômetros, do início até o final da corrida. Os cães vestiam pequenas
meias nas patas, pois o gelo parece uma lixa depois de tantos
quilômetros, podendo literalmente arrancar as plantas de seus pés. Embora
fortes e em ótimas condições, os animais vencedores com aquelas
meiazinhas nos pés ladravam, puxavam e iam em frente apesar das
dificuldades.
Após a corrida, aquela senhora foi entrevistada e lhe
perguntaram:
-- Como a senhora conseguiu?
-- Bem -- respondeu ela, -- apenas me lembrei de que outros já
conseguiram antes de mim, por isso também posso fazê-lo.
Como se isso não fosse suficiente, quando contei essa história
recentemente, veio um sujeito e me disse: "Você sabia que há uma corrida
de quase mil e oitocentos quilômetros de Anchorage a Nome no Alasca?"
Então ele me informou que aquela mesma mulher, Susan Butcher, vencera
essa corrida três vezes seguidas! Não é incrível? Dez a doze dias no meio
de nada. Monotonia enlouquecedora. Esforço inacreditável. Como ela
consegue? Posso contar-lhe parte da resposta... ela se lembra de que
alguém já o fez antes. Isso lhe dá a segurança de que ela também pode
fazê-lo.
A mesma coisa funciona hoje. Seguindo o modelo daqueles que nos
antecederam, podemos fazer mais do que sobreviver. Podemos vencer! E
assim que os compositores permanecem na tarefa de compor música. E assim
que as pessoas vivem através de condições torturantes como prisioneiros
de guerra. E assim que os cirurgiões continuam em frente durante horas em
cirurgia de emergência. E assim que atletas batem novos recordes. Houve
modelos que fizeram isso antes.
O mesmo funciona na vida espiritual. E por isso que Paulo diz a
Timóteo que siga o modelo da mãe e da avó fiéis... bem como o exemplo do
próprio Paulo.
Que rica herança! Timóteo tinha profundas raízes a sustê-lo
através de dias secos e áridos.
Lembra-se do segundo princípio? Retorne a verdade do seu passado.
Enquanto você segue o modelo dos fiéis, retorne às coisas que aprendeu
com sua mãe, a verdade que respigou de sua avó, e sua infância aos pés de
um mentor na sala de aula. Retorne a essas verdades que o estabilizaram
quando você plantou na terra as suas raízes espirituais.
Passei algumas horas em Chicago alguns anos atrás, gravando uma
entrevista para a revista Leadership (Liderança). Havia quatro líderes
convidados de diversas áreas do país para esta entrevista. Jamais me
esquecerei do comentário de um dos homens que ocupa uma posição relevante
em uma grande denominação. Ele disse algo assim:
"Descobrimos que aqueles que dão os melhores líderes na igreja,
aqueles que ocupam posições importantes e responsáveis sobre grande
número de pessoas, são quase sem exceção pessoas que têm raízes
profundas, de longa data, na fé. Muito poucos deles foram salvos,
digamos, aos 35 ou 40 anos de idade e estão agora liderando um grande
segmento da família de Deus. Quase sem exceção, aqueles que foram
promovidos a cargos de grande responsabilidade podem voltar os olhos para
pais e mesmo avós piedosos que caminharam com Deus. E com eles essas
pessoas aprenderam, desde a mais tenra infância, o valor da igreja, o
significado das Escrituras.
Não interprete mal o que foi dito aí. Não significa que se você
foi salvo mais tarde na vida jamais ocupará um lugar de grande
responsabilidade. Como cristãos, todos nós temos grandes
responsabilidades. E apenas interessante que a maioria daqueles que estão
em posições de liderança na igreja hoje ouviram a verdade no início da
vida. Eles tiveram sólidas raízes cristãs. Se foi essa a sua experiência,
este é um ótimo momento para dar graças pelo tipo de fé que você tirou
delas.
E note no versículo 15 que o apóstolo tem em mente
"... as sagradas letras, que podem fazer-te sábio..."
Quais são as sagradas letras? O versículo seguinte dá a resposta:
"Toda Escritura é divinamente inspirada..." (versículo 16).
Linda palavra -- inspirada. Theos (Deus), mais pneunia (sopro) -theopneustos é a palavra grega... "soprada por Deus". Toda a Escritura em
sua forma original foi soprada por Deus, de forma que um escritor, sob o
poder controlador do Espírito de Deus, escreveu as Escrituras
precisamente como Deus as teria escrito. Ele fez isso sem erro, até os
próprios termos usados, inclusive a ordem dos termos nos quais elas foram
escritas, com o resultado de que a própria palavra de Deus foi
milagrosamente registrada. "Tudo isso foi "soprado por Deus", Timóteo."
Mas a coisa não termina por aí. Essa palavra tem sido preservada
nas páginas das nossas Bíblias de modo que, como resultado de lermos e
absorvermos a Escritura, descobrimos que ela é
"... proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para
instruir em justiça..." (versículo 16).
Não é um excelente conjunto de benefícios? Embora seja
importante, ter tido ótimos pais não é um pré-requisito para o
crescimento espiritual ou para o envolvimento na liderança da igreja.
Deus deu a cada um de nós a Bíblia em nossa língua, com a promessa de que
ela é proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir e para
instruir na justiça. Cada um de nós tem o potencial de tornar-se, como
Timóteo, uma pessoa adequada, madura, equipada para toda boa obra. A
verdade de Deus foi depositada em nosso reservatório. Tudo isto explica
como Paulo pôde dizer ao amigo Timóteo: "Nos tempos difíceis, tire forças
das Escrituras."
Infelizmente, existe uma mudança de capítulo em nossas Bíblias
entre 2 Timóteo 3:17 e 2 Timóteo 4:1 que interrompe o fluxo do
pensamento. Ignore-a. Simplesmente considere o novo capítulo como uma
continuação do mesmo tema.
"Conjuro-te, pois, diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de
julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino" (versículo 1).
Quando menciona que nosso Senhor julgará os vivos e os mortos,
Paulo está relembrando Timóteo da volta de Cristo. "A hora de largar" é
coisa garantida. “Até que ele volte, Timóteo..."
"prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta,
repreende, exorta, com toda a longanimidade e ensino" (versículo 2).
Essa afirmação nos traz ao terceiro princípio para a
sobrevivência: Proclame a mensagem de Cristo. Timóteo foi chamado para
ser um pregador. Faz sentido que ele proclame a Cristo. Talvez você não
seja um pregador, mas o princípio ainda se aplica. A luz destes dias
difíceis, todos nós precisamos atender à mesma ordem.
Quando penso sobre as instruções de Paulo, encontro três
ingredientes. Primeiro, encontro urgência. Esteja pronto. "Fique pronto
para evitar de ter de se aprontar!" Esteja pronto com a mensagem certa em
todas as ocasiões.
Segundo, encontro continuidade. "Esteja pronto a tempo e fora de
tempo." Façamos uma lista.
. Quando for conveniente. Quando for inconveniente.
. Quando os outros estiverem abertos. Quando os outros estiverem
fechados.
. Quando você estiver se sentindo bem ou passando mal.
. Se você for jovem ou velho. Se for cedo ou tarde.
. Se for frio e ventoso ou quente e úmido.
. Se você estiver num lugar público ou privado, em casa ou num
lugar estranho.
. Quando você for apreciado e quando se indignarem contra você.
Quando lhe perguntarem a respeito e quando não lhe perguntarem.
A tempo e fora de tempo... é essa a maneira de Paulo dizer que o
segredo é a continuidade. Que força eficaz são aqueles que conhecem a
verdade e a vivem, e compartilham continuamente. Quando o fazemos, as
Escrituras são absorvidas em nosso próprio ser.
Spurgeon o disse desta forma:
"É bem-aventurado estudar a ponto de se chegar à própria alma da
Bíblia, até que, enfim, você passa a falar em linguagem escriturística, e
seu espírito é temperado com as palavras do Senhor, de forma que seu
sangue seja biblina e a própria essência da Bíblia flua de você".
Terceiro, encontro simplicidade. Não é lindo? Não há nada
sofisticado a respeito da exortação de Paulo. Nada de teoria, nada de
opinião complexa. "Apenas tome o conjunto de verdades que lhe dei e o
declare. Como você tem as Escrituras, tem todos os alimentos de que
precisa para pessoas que estejam com fome." A Palavra de Deus contém
suficiente conforto, esperança e encorajamento para ajudar Capítulo Sete
181 os solitários e os sofredores. Só precisamos mantê-la simples. Existe
algo tranquilamente motivador a respeito da simplicidade.
Em um dos meus livros anteriores, citei uma nota simples que
surgiu dos dias negros e brutais da Guerra Civil. A comunicação foi de um
Presidente Lincoln exausto das batalhas ao seu general, Ulysses S. Grant.
Somente três linhas, e no entanto foi o projétil escrito que pôs fim à
guerra. A data e a hora apareciam em cima:
7 de abril de 1865
11 horas da manhã
O General Sheridan tinha dito: "Se dificultarmos a situação, acho
que Lee se renderá."
Que a situação seja dificultada.
A. Lincoln
Grant recebeu a mensagem e agiu de acordo. Ele apertou
tremendamente a situação. Dois dias depois, no tribunal de Appomattox,
Robert E. Lee se rendeu. A coisa foi dificultada, e a mais sangrenta
guerra na história dos Estados Unidos terminou. A simplicidade é de fato
poderosa.
Você quer permanecer pronto até a hora da largada?
. Siga o exemplo dos fiéis.
. Retorne à verdade do passado.
. Proclame a mensagem de Cristo.
Existe um último princípio: Mantenha uma vida exemplar.
"Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo
coceira nos ouvidos, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias
cobiças; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando às fábulas. Tu,
porém, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um
evangelista, cumpre bem o teu ministério" (versículos 3-5).
Sempre haverá mestres que atrairão as pessoas, dizendo-lhes o que
elas querem ouvir em vez de o que elas deveriam ouvir. Pode contar com
isto -- quanto mais perto chegarmos da volta do Salvador, mais esses
coçadores de ouvidos proliferarão. Como impedir isso?
A resposta aparece em quatro ordens dadas no versículo 5:
. Seja sóbrio em todas as coisas.
. Sofra as aflições.
. Faça a obra de um evangelista.
. Cumpra o seu ministério.
Porque as pessoas são instáveis e sempre à cata de modismos e
novidades interessantes, temos de nos manter longe de todas essas
bobagens, permanecendo calmos e firmes. Mais uma vez, as palavras de John
Stott merecem ser repetidas:
"Quando homens e mulheres ficam intoxicados com heresias
estonteantes e novidades reluzentes, [nós] precisamos nos manter calmos e
equilibrados.
Quer uma sugestão para encontrar a igreja certa? Procure o
ministério que seja calmo e equilibrado. Afaste-se daqueles que enfatizam
todas as modas passageiras, as coisas engraçadinhas, as brilhantes.
E, quando as coisas ficarem mais difíceis ainda, "sofra as
aflições". Nos termos de hoje, aguente firme. Fique na luta. Mas não
fique azedo e rabugento. Apenas continue apresentando a Cristo.
Consciente de que as falsificações e os falsos estarão aumentando, viva a
verdade, viva o que você diz. Fazendo isso você "cumprirá o seu
ministério".
FATOS NÃO TEMPORAIS QUE MANTÊM NOSSA PRONTIDÃO
"Quanto a mim, já estou sendo derramado como libação, e o tempo da
minha partida está próximo. Combati o bom combate, guardei a fé. Desde
agora, a coroa da justiça me está guardada, o Senhor; justo juiz, me dará
naquele dia; e não somente a mim, os que amarem a sua vinda" (versículos
6-8).
Como pode o cristão permanecer pronto até a hora de largar? Como
podemos evitar sermos apanhados desprevenidos? Como posso garantir que
minha vida não será surpreendida ao ouvir aquele último brado, a voz e o
toque de trombeta vindos do céu? Três sugestões brotam das palavras de
Paulo.
Primeira: Considere sua vida como uma oferta a Deus em vez de uni
monumento aos homens. Paulo escreve sobre ser derramado como libação.
Esse é um quadro verbal vívido que merece ser copiado. Pense em você
mesmo como o sacrifício. Não trabalhe na sua imagem, trabalhe na sua
oferta. Considere sua vida como pouco mais do que uma oferta derramada
diante de Deus, em vez de um monumento reluzente para os homens
admirarem.
Segunda: Lembre-se de que terminar bem é a prova final de que a
verdade funciona. Encontro isso entretecido nas palavras do versículo 7:
"Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé".
Você não admira as pessoas que terminam? Às vezes, apenas
terminar é tão impressionante quanto ganhar. Lembra-se da Olimpíada de
1984? Se se lembrar, jamais se esquecerá da moça que correu aquela
maratona e finalmente conseguiu voltar ao estádio. Lembra-se dela? Estava
lutando para não cair... puxa, eu e minha família estávamos vendo na
televisão e torcendo por ela: "Vamos. Vamos! Não pare!'' Ao tentar
focalizar seus
olhos na fita, ela tropeçou e caiu. E todos
nós gritamos mais forte: "Levante! Levante!" Ela levantou. Finalmente
conseguiu passar pela fita. Ela não ganhou nada. De fato, estava tão
atrasada que já estava tudo resolvido. Para todos os fins práticos, a
corrida havia terminado. Mas ela terminou. Quando finalmente atravessou,
não sei o que a sua família fez, mas a nossa aplaudiu e gritou em
uníssono: "E ISSO AI!" Dava para pensar que era nossa madrinha cruzando
aquela linha! Glória... ela terminou!
Planeje agora terminar o que você começou. Isso ajudará quando a
corrida parecer longa demais.
Paulo conclui:
"Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor,
justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos
os que amarem a sua vinda" (versículo 8).
Terceira: Fixe os olhos nas recompensas do céu em vez de nos
encantos da tetra, Há uma coroa à vista. Tanto da vida depende do foco
dos nossos olhos, não é mesmo? Ocorreu-me recentemente que, por mais
valiosos que meus olhos sejam, eles precisam da minha mente antes que
possam fazer o trabalho que devem fazer. Os globos oculares me capacitam
a ver. Posso ver com os meus olhos. Mas preciso usar a minha mente para
ver através das coisas.
Ilustração: Ló e Abraão. Lá na narrativa de Gênesis, tio Abraão e
Ló, seu sobrinho, estavam morando juntos. Deus fez prosperar seu gado tão
abundantemente que eles não puderam permanecer na mesma fazenda. Então,
Abraão disse graciosamente ao sobrinho: "Olhe, meu filho, resolva onde
você quer morar. Escolha o que quiser. E onde for que você e sua família
preferirem morar, leve seus bens e seu gado e mude-se. Eu ficarei com o
que sobrar."
E LÓ?
"Levantou Ló os olhos, e viu toda a campina do Jordão, e que era
toda bem regada..." (Gênesis 13:10).
Ele viu com os olhos como a região era bela, como era confortável mas deixou de enxergar através dela. Ló não parou para pensar: "Este
lugar ímpio é Sodoma. E Gomorra é igualmente ruim. A perversão prolifera.
Esta área e estas pessoas cobrarão um preço da minha família." Como
muitos, ele viu com os olhos, mas deixou de ver através. Lembre-se disto.
Quando você usar seus olhos para focalizar os galardões eternos, mantenha
sua mente alerta para poder enxergar através dos encantos da terra.
Malcolm Muggeridge tem citado frequentemente o verso de WilHam
Blake:
"As fracas Janelas da Alma desta Vida Distorcem os Céus de Pólo a
Pólo. E o levam a Crer numa Mentira Quando você vê com, e não através do
Olho".
Se você assumiu o compromisso de "permanecer pronto até a hora de
largar", o plano não é nada complicado. Precisaremos seguir o modelo dos
fiéis. Precisaremos retornar à verdade do passado. Como Noiva de Cristo,
devemos proclamar a sua mensagem. E no processo, não ousemos deixar de
manter uma vida exemplar.
Os anéis de ouro trocados nos casamentos simbolizam que os dois
estarão comprometidos um com o outro - eternamente. Ou nas palavras deste
capítulo, até a hora de largar. Cristo se comprometeu com sua Noiva para
sempre. Temos feito o mesmo para com ele? Faremos isso -- eternamente?
REFLEXÕES
1. Talvez hoje. Talvez esta noite. Será que esses pensamentos
alguma vez lhe passam pela mente quando seus pés tocam o chão de manhã ou
quando você cai sobre o travesseiro à noite? Muito tempo talvez se tenha
passado desde que você refletiu seriamente sobre a volta iminente de
nosso Senhor. Tome alguns cartões e anote diversas das passagens bíblicas
que examinamos neste capítulo. Leve-os consigo durante uma ou duas
semanas, ou coloque-os onde você poderá vê-los o dia todo. Deixe que a
verdade dessas palavras sature a sua mente e coração à medida que as lê
vez após vez.
2. Volte à lista das páginas 177 e 178 que aparece sob as
palavras "Esteja pronto a tempo e fora de tempo." Debaixo dessa sentença,
coloquei nove declarações que começam com as palavras "Quando" ou "Se".
Num pedaço de papel, tente ligar cada uma dessas situações a pessoas
reais, lugares reais e circunstâncias reais da sua vida. Deixe que este
exercício comece a pintar um quadro de como um testemunho contínuo por
Cristo seria de fato na sua vida.
3. Você algum dia decorou uma apresentação simples do evangelho uma que você saiba tão bem que poderia usar a qualquer hora e em
quaisquer circunstâncias? Que demonstração de quem é mais importante
nesta vida para você, tão importante que você quer contar aos outros como
chegou a conhecê-lo! Dê uma olhada em diversas possibilidades (que
poderiam incluir "As Quatro Leis Espirituais", da Cruzada Estudantil; "À
Ponte", dos Navegadores; ou "Passos para Ter Paz com Deus", pela
organização de Billy Graham). Firme esta apresentação em sua cabeça, e
depois fique atento a oportunidades de compartilhá-la -- a tempo e fora
de tempo!
CAPÍTULO NOVE
O VALOR DA INTEGRIDADE
A terça-feira amanheceu fria no local de lançamento. Contudo, um
pouco distante de Cabo Canaveral, naquela manhã gelada, o ar se enchia
com o acalorado debate. Sem que o resto da nação soubesse, uma guerra de
palavras grassava por trás das cenas. A batalha verbal se dava entre
engenheiros e técnicos lúcidos que diziam "Não" num lado da discórdia e
executivos influentes e burocratas preocupados com imagem que diziam
"Sim" no outro. A discussão era a respeito de se a nave espacial
Challenger devia ou não ser lançada naquela manhã... 28 de janeiro de
1986.
Contrariando o forte conselho dos peritos que sabiam ter a
temperatura caído demais para o lançamento ser considerado seguro, a
contagem regressiva continuou até o momento da subida.
Setenta segundos depois -- para horror de uma nação - os sete
tripulantes da Challenger pereceram numa explosão gigantesca. Choveu
detrito no mar por uma hora inteira.
Os técnicos determinaram que a causa da explosão foi um selo
defeituoso que permitiu ao combustível volátil vazar e se incendiar.
Essa foi a explicação técnica. A verdadeira razão do
desaparecimento da Challenger foi Mais profunda do que o rompimento de um
anel de vedação defeituoso. Começou com o colapso da integridade, tanto
na construção da nave quando no caráter daqueles que se recusaram a dar
ouvidos às advertências.
UMA CRISE DE INTEGRIDADE
Este não será um capítulo fácil de escrever. Demorei mais de três
anos para prepará-lo em minha mente. Os eventos que me levaram a colocar
estes pensamentos 110 papel tanto foram dolorosos quanto escandalosos.
Eles deixaram um olho preto no rosto do Tio Sam e, o que é pior,
aleijaram a igreja de Jesus Cristo.
O que ocorreu nada mais é do que uma crise de integridade. Ela
não aconteceu da noite para o dia. Como a erosão, sua investida foi lenta
e sinistra.
A crise atingiu nossas rodovias, que se tornaram cenários de
carnificina. A despeito de ingentes esforços de organizações voluntárias,
uma custosa campanha publicitária e punições judiciais mais rigorosas,
motoristas bêbados e/ou drogados continuam a sentar-se atrás do volante e
a assassinar vítimas inocentes. Já é bem documentado que pelo menos a
metade de todas as mortes no trânsito é causada por pessoas culpadas de
abuso de substâncias químicas. A essas pessoas falta a integridade
necessária para deixar de dirigir de maneira irresponsável.
A Síndrome da Imuno-Deficiência Adquirida (AIDS) -- palavras que
nunca tínhamos ouvido quinze anos atrás -- está agora nas primeiras
páginas. As implicações são incomensuráveis. Em uma questão de meses um
atleta de cem quilos pode ser reduzido a um espectador de 40 quilos,
terminando por tornar-se um nome na coluna de óbitos. Se a estimativa do
Ministro da Saúde estiver correta, esta moléstia causada por lapso na
integridade, encherá um dia as páginas dos nossos jornais metropolitanos.
Em julho de 1994, um total de 2,1 milhões de americanos já haviam
contraído AIDS e outros 13 milhões tinham o vírus HIV pré-AIDS. Fiz um
cálculo rápido desse número e descobri que se imprimíssemos dois nomes
por linha, todas essas fatalidades requereriam mais de oitenta páginas de
um jornal tamanho médio... enumerando de alto a baixo, seis colunas na
largura, excluindo todos os cabeçalhos, fotos e anúncios. Isto, meu
amigo, é uma epidemia.
O serviço militar já se gabou de sua integridade. Meu próprio
ramo, o dos Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, erguia bem alto seu
lema: Semper Fidélis. Não mais, na opinião pública. Graças a um escândalo
de sexo-por-espionagem em Moscou, aqueles antes orgulhosos durões agora
têm de enfrentar o constrangimento causado por um caricaturista editorial
cuja legenda "Semper Infidelis disse tudo. Guardas fuzileiros alijaram a
integridade ao escoltarem agentes soviéticos às câmaras mais sensíveis do
consulado em Moscou inclusive o "seguro" centro de comunicações ultra
secreto. Listas inteiras de agentes secretos foram reveladas, deixando-os
ameaçados pela exposição. A transmissão repetida de códigos e documentos
secretos imobilizou futuros planos de defesa.
O que levou os Fuzileiros a fazerem isso? Foram forçados sob
ameaça de revólver? Foi lavagem cerebral ou tortura? Chantagem nuclear?
Não. Foi lascívia sexual... um enfraquecimento da integridade moral.
A arena política, que já desfrutou de muita admiração e alto
nível de confiança, está agora comprometida. Os escândalos se
multiplicam. Tudo, desde plágio até alcoolismo, de logro a corrupção, de
favores sexuais a pagamentos de propinas, continua a emergir. Mais uma
vez, a integridade está conspicuamente ausente.
Não importa o quanto me seja difícil incluir esta última
categoria, não posso omiti-la. Refiro-me à pavorosa atuação de tantos
líderes religiosos, especialmente nesta última década. Sempre tem havido
alguns pregadores hipócritas, eu sei, mas não posso me lembrar de uma
época na história da igreja moderna quando o número de desertores tenha
sido tão elevado ou a extensão de suas atividades questionáveis ou
vergonhosas tenha sido tão impudente. Repassar cada incidente é inútil e
contraproducente, mas lembrar-nos das consequências é essencial.
A opinião pública sobre os líderes religiosos está no ponto mais
baixo de todos os tempos. O pesquisador de opinião George Gallup Jr.
disse recentemente a um grupo de angariadores de fundos cristãos que
"quarenta e dois por cento dos norte-americanos duvidavam da honestidade
de alguns, se não da maioria, dos apelos religiosos por doações." E da
nossa integridade que as pessoas realmente duvidam.
INTEGRIDADE: NÃO HÁ NENHUM SUBSTITUTO
Antes de prosseguir, precisamos definir o termo. Biblicamente,
integridade é uma forma da palavra hebraica que significa "completo,
sólido, intacto". O dicionário declara que integridade significa "uma
condição de inteireza: solidez". Ampliando o significado, ele se estende
e inclui "a aderência a um código de valores morais, artísticos, ou
outros... a qualidade ou condição de ser completo e inteiro." Quando a
pessoa possui integridade, há uma ausência de hipocrisia. Ela é
pessoalmente confiável, financeiramente responsável, e limpa em sua vida
particular... inocente de motivos impuros.
Há uma certa combinação de coragem... caráter, e princípio que
não tem nenhum nome satisfatório tirado do dicionário mas tem sido
chamada de coisas diferentes em épocas diferentes em países diferentes. O
nome que nós, americanos, lhe damos é ter "peito".
Integridade não apenas é a maneira como a pessoa pensa; é mais a
maneira como ela age. Conforme declara Ted Engstrom: "Integridade é fazer
o que você disse que faria." E algo tão básico quanto manter a palavra
dada, cumprir sua promessa. Por exemplo:
. Você disse ao Senhor que lhe daria toda a glória.
. Você prometeu que seria fiel ao seu cônjuge.
. Você declarou que suas despesas chegavam a uma certa quantia.
. Você prometeu ao seu filho que brincaria com ele hoje à tarde.
. Você disse ao seu editor que teria o manuscrito pronto até 20 de
março.
. Você garantiu ao seu companheiro de quarto que assumiria sua
parte dos trabalhos.
. Você prometeu ao ser ordenado que seria fiel à sua vocação.
. Você assinou um contrato no qual assumiu um compromisso com
coisas específicas.
. Você prometeu a seu vizinho que devolveria a ferramenta que tomou
emprestada.
. Você jurou dizer a verdade ao prestar depoimento.
. Você declarou que oraria ou ligaria de volta ou pagaria sua conta
ou apareceria até as 18:30... etc.
Não há razão para complicar as coisas ou arrumar desculpas. Fazer
o que você disse que faria é simplesmente uma questão de integridade. Não
há nenhum substituto para não ter o peito de cumprir a palavra.
A integridade se evidencia em solidez ética, veracidade
intelectual e excelência moral. Ela nos impede de ter medo da luz branca
de um exame atento e de resistir à fiscalização da responsabilidade. E
honestidade a todo custo... caráter férreo que não rachará quando assumir
uma postura impopular, nem ruirá quando a pressão se acumular.
INTEGRIDADE NA ESCRITURA
A integridade aparece não menos do que dezesseis vezes na
Escritura, todas elas no Antigo Testamento. Por exemplo, o salmista,
quando sob ataque, orou: "Julga-me, ó Senhor, conforme... a integridade
que há em mim" (7:8). E mais uma vez, quando tentado: "Guardem-me a
integridade e a retidão" (25:21). Ao buscar um novo rei para substituir
Saul, Deus foi atrás de um jovem que tivesse integridade. Amo a descrição
do processo de escolha registrado no Salmo 78:
"Escolheu a Davi, seu servo, e o tirou dos apriscos das ovelhas; do
cuidado das ovelhas pejadas o trouxe para ser o pastor de Jacó, o seu
povo, e de Israel, a sua herança. E Davi os apascentou segundo a
integridade do seu coração; guiou-os com a perícia das suas mãos"
(versículos 70-72).
O sábio Salomão escreve sobre como a marca da integridade do pai
ficou para sempre com os filhos.
"O justo anda na sua integridade; bem-aventurados são os seus
filhos depois dele" (Provérbios 20:7).
Personagens bíblicos frequentemente demonstram integridade, sem
que a palavra em si seja usada. José, quando era o servo de confiança de
Potifar, foi alvo da sedução da Sra. Potifar. Você deve a si mesmo uma
leitura do relato em Gênesis 39. A Escritura apresenta em vívidas cores
as tentativas frequentes da mulher em levar José para sua cama. A gente
quase sente os braços da tentadora nos abraçando, a fragrância do seu
perfume. Eles estão na penumbra, os lençóis são de cetim, uma música
suave toca no fundo, eles estão sozinhos... e ela o deseja!
Mas a parte mais linda da história é a integridade de José. Por
devoção ao seu Deus e lealdade para com seu senhor (o marido dela), o
homem literalmente foge dos braços dela. Pela maneira como a história é
apresentada, ele se recusou até a flertar com a ideia de ceder. Ele não
deu à mulher nenhuma sinal positivo... nem mesmo sutilmente. O homem
tinha integridade moral, rara em nossos dias de casos amorosos
desenfreados.
Outros exemplos? Considere Elias. Armado com a mensagem de Deus,
ele postou-se frente a frente com Acabe e Jezabel, admoestando-os sobre o
julgamento iminente (1 Reis 17:1). Penso em Natã, o profeta destemido que
teve a integridade de olhar bem nos olhos do Davi adúltero e dizer: "Tu
és esse homem!" (2 Samuel 12:1-12). Ou João Batista, que atraiu uma
multidão ao deserto, contudo jamais usou a oportunidade para arregimentar
seguidores em torno de si mesmo. Foi ele um pregador disposto a perder
sua congregação para Outro, enquanto modelava o tempo todo sua humilde
declaração de integridade: "E necessário que ele cresça, e que eu
diminua" (João 3:30). Lembro-me de Estêvão, cujo testemunho audacioso por
Cristo tanto incitou a hostilidade do sinédrio judeu que eles o mataram a
pedradas. Até o fim, ele falou a verdade sem vacilação (Atos 6:8-7:60)...
o que pode ter sido a primeira vez que Saulo de Tarso ouviu o evangelho
(Atos 7:58).
Acho encorajador o fato de que as notáveis pessoas de integridade
mencionadas na Bíblia podem ser encontradas em cada camada da
sociedade... em qualquer nível financeiro, ocupando qualquer posição ou
lugar concebível, vivendo em lugares de beleza ou pobreza, representando
tanto casados quanto solteiros. Hebreus II apresenta uma lista deles que
inclui um homem ou mulher após outro sob o título: "Pessoas de fé."
Embora tenham vivido vidas exemplares (não perfeitas), seu destino
terreno foi tudo menos agradável e recompensador.
"E que mais direi? Certamente me faltará o tempo para falar de
Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de Davi, de Samuel e dos
profetas, os quais pela fé venceram reinos, praticaram a justiça,
alcançaram promessas, fecharam a boca de leões, apagaram a força do fogo,
escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram forças, tornaram-se
poderosos na batalha, puseram em fuga exércitos de estrangeiros. Mulheres
receberam pela ressurreição os seus mortos. Uns foram torturados, não
aceitando o seu livramento, para alcançar superior ressurreição. Outros
experimentaram escárnios e açoites, e até algemas e prisões. Foram
apedrejados; foram tentados; foram serrados pelo meio; foram mortos ao
fio da espada. Andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras,
necessitados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno),
errantes pelos desertos e montes, e pelas covas e cavernas da terra"
(versículos 32-38).
Por favor, não entenda mal. Ter integridade não é em geral uma
questão altamente visível de entregar sua vida ao martírio. Com mais
frequência, é nas esferas tranquilas, despercebidas, sem aplausos da vida
que a pessoa demonstra integridade... dentro das paredes da própria
casa... nas câmaras secretas do próprio coração.
DANIEL: UM CASO CLÁSSICO A FAVOR DA INTEGRIDADE
Um homem na Bíblia que pode levar o nome de íntegro se destacou
consideravelmente entre seus pares. Seu superior de 62 anos, o rei Dario,
não tinha a menor ideia de quanto os colegas de Daniel eram corruptos.
Ele admirava Daniel, entretanto, e fez planos para promovê-lo sobre todos
os outros. Eis aqui um breve resumo da história, como ela se desenrolou
séculos atrás:
"Pareceu bem a Dario constituir sobre o reino a cento e vinte
sátrapas, que estivessem sobre todo o reino, e sobre eles três
presidentes, dos quais Daniel era um, aos quais estes sátrapas dessem
conta, para que o rei não sofresse dano. Então o mesmo Daniel se
distinguiu destes presidentes e sátrapas, porque nele havia um espírito
excelente, e o rei pensava constitui-lo sobre todo o reino" (Daniel 6:13).
Genericamente falando, há dois tipos de testes na vida: a
adversidade e a prosperidade. Dos dois, o segundo é o mais difícil.
Quando a adversidade ataca, as coisas ficam simples; a meta é sobreviver.
E um teste de manter o básico em questões de alimento, vestuário e
abrigo. Mas quando vem a prosperidade, cuidado! As coisas ficam
complicadas. Todo tipo de tentação sutil chega, implorando satisfação. E
então que a integridade da pessoa é testada.
Era aí que Daniel se encontrava: respeitado, bem-sucedido,
prestes a ser promovido. Mas nenhuma dessas coisas o levou a transigir em
sua integridade, nem mesmo de leve. A despeito de seu caráter imaculado,
a pressão se acumulou. Os colegas, sem dúvida por ciúmes, resolveram
encontrar alguma sujeira na vida dele a fim de relatá-la ao rei.
"Então os presidentes e os sátrapas procuravam achar ocasião contra
Daniel a respeito do reino, mas não podiam achar ocasião ou culpa alguma,
porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum vício nem culpa" (
versículo 4).
Hoje diríamos que eles resolveram mantê-lo sob vigilância. Eles o
espionaram, falaram com outros a seu respeito, vigiaram-no e mexeram nos
seus arquivos. Estavam determinados a encontrar uma acusação contra ele.
Encontraram ZERO. Nenhuma sujeira. Nada de caixa dois. Nada de fraude.
Nada acobertado. Nenhum pagamento de propina. Nenhum traço de corrupção.
O homem tinia de tão limpo. Que exemplo de integridade! Como precisamos
modelá-la, independentemente da mediocridade que nos cerca! Em toda área
da vida! Temos vivido tanto tempo sem ela que já não esperamos encontrala - exceto talvez em poucas esferas isoladas da sociedade. Mas a
integridade se encaixa onde é encontrada.
A sociedade que menospreza a excelência no encanador porque sua
atividade é humilde e tolera a mediocridade na filosofia por ser uma
atividade exaltada não terá bons encanamentos nem boa filosofia. Nem seus
canos nem suas teorias prestarão para coisa alguma.
Nem sempre ter integridade granjeará amigos. Como no caso de
Daniel, os outros com frequência aumentarão a pressão. O sistema do mundo
está tão saturado de acomodação e corrupção que a pessoa que resolver
viver acima de tudo isso será uma censura silenciosa aos que não o fazem.
Uns poucos talvez o admirem por isso, um número maior se ressentirá de
você. Prepare-se para o ataque. Eles não se deterão diante de nada para
tornar sua vida miserável - mesmo que isso signifique torcer a verdade a
fim de encaixá-la em suas maquinações.
É precisamente o que aconteceu com Daniel. De fato, é assim que
ele foi parar na cova dos leões.
"Então estes homens disseram: Nunca acharemos ocasião alguma contra
este Daniel, se não a procurarmos contra ele na lei do seu Deus. Então
estes presidentes e sátrapas foram juntos ao rei, e disseram-lhe: O rei
Dario, vive para sempre! Todos os presidentes do reino, os prefeitos e
sátrapas, conselheiros e governadores, concordaram em que o rei devia
baixar um decreto e fazer firme o interdito, que qualquer que, por espaço
de trinta dias, fizer uma petição a qualquer deus, ou a qualquer homem, e
não a ti, ó rei, seja lançado na cova dos leões. Agora, orei, estabelece
o interdito, e assina a escritura, para que não seja mudada, conforme a
lei dos medos e dos persas, que não se pode revogar. Por esta causa o rei
Dario assinou a escritura e o interdito. Ora, quando Daniel soube que a
escritura estava assinada, entrou- em sua casa, no seu quarto em cima,
onde estavam abertas as janelas para o lado de Jerusalém, e três vezes no
dia se punha de joelhos, orava e dava graças, diante do seu- Deus, como
também antes costumava fazer. Então aqueles homens foram juntos, e
acharam a Daniel orando e suplicando diante do seu Deus. Então se
apresentaram ao rei, e disseram: No tocante ao mandamento real, não
assinaste o interdito, pelo qual todo homem que fizesse uma petição a
qualquer deus, ou a qualquer homem, por espaço de trinta dias, e não a
ti, ó rei, seria lançado na cova dos leões ? Respondeu o rei: Esta
palavra é certa, conforme a lei dos medos e dos persas, que não se pode
revogar. Então responderam diante do rei: Daniel, que é dos transportados
de Judá, não tem feito caso de ti, ó rei, nem do interdito que assinaste,
antes três vezes por dia faz a sua oração. Ouvindo então o rei o negócio,
ficou muito penalizado, e a favor de Daniel propôs no coração livrá-lo, e
até ao pôr-do-sol trabalhou por salvá-lo. Então aqueles homens foram
juntos ao rei, e lhe disseram: Sabe, ó rei, que é uma lei dos medos e dos
persas que nenhum interdito ou decreto, que o rei estabeleça, se pode
mudar.
Então o rei ordenou que trouxessem a Daniel, e o lançassem na
cova dos leões” (versículos 5-16).
Felizmente, a justiça prevaleceu. Deus livrou Daniel dos leões, e
o rei Dario lançou os enganadores na cova em seu lugar... e eles sumiram
da história.
PRINCÍPIOS PERMANENTES DOS QUAIS PRECISAMOS NOS LEMBRAR
Com o que escrevi até aqui servindo de base, desejo cavar um
pouco mais fundo em como tudo isso se aplica hoje. No processo, quero
deixar com você três princípios dos quais espero que jamais se esqueça.
Esses princípios não são populares nem fáceis de aplicar, mas
creio neles de todo o meu coração. Ademais, comprometo-me a pautar minha
vida por eles, independente da reação que eles possam causar. Implorolhe: Antes que você me "desligue" ou se sente para me escrever uma
refutação, pense. Pense claramente. Acima de tudo, pense biblicamente.
Pergunte-se por que se sente tão defensivo. Vá às Escrituras (como eu fiz
e continuarei fazendo) a fim de respaldar sua posição. Você pode ficar
surpreso ao descobrir que sua divergência comigo parece plausível e
lógica, mas não tem justificativa bíblica.
Primeiro: A verdadeira integridade implica em você fazer o que é
certo quando ninguém está olhando ou quando todos estão transigindo.
Você pode precisar admitir que tem diversas coisas que requerem
sua atenção imediata. Não deixe para depois... comece agora. Sua
integridade o exige. Nunca é tarde demais para começar a fazer o que é
certo. Acerte as coisas, ou seja homem ou mulher o suficiente para
admitir sua hipocrisia -- especialmente se estiver no ministério.
O ministério é uma profissão de caráter. Para falar francamente,
você pode dormir por aí e ainda ser um bom neurocirurgião. Você pode
trair seu cônjuge e ter pouca dificuldade em continuar a praticar a
advocacia. Aparentemente, não há problema em continuar na política e
plagiar. Você pode ser um vendedor bem-sucedido e sonegar seu imposto de
renda. Mas você não pode fazer essas coisas como cristão ou como ministro
e continuar a usufruir as bênçãos do Senhor. Você precisa agir certo para
poder ter verdadeira integridade. Se você não consegue chegar a um acordo
quanto ao mal, ou quebrar hábitos que continuam a trazer descrédito ao
nome de Cristo, por favor, faça ao Senhor (e a nós no ministério) um
favor e se demita.
Não sou o único a ter estas fortes convicções. Há outros que se
cansaram da crise de integridade de nossos dias e a têm tratado de uma
forma audaciosa.
Onde as pessoas podem encontrar a verdade? Os filósofos se
lembram do velho Diógenes, que ainda simboliza a busca por ter saído à
procura da verdade com uma luz acesa em pleno dia...
Alguns líderes religiosos de fato servem de modelos... Os tempos
difíceis este ano foram para os personagens religiosos do horário nobre.
Alguns evangelistas da TV foram infiéis a seus cônjuges e outros
alteraram suas autobiografias para encobrir hipocrisias passadas. O
público cínico ignora o ministério em sua vizinhança e diz às
celebridades: "Acerte as coisas e pode ser que prestemos atenção outra
vez..."
... a busca pública da verdade se baseia em definições que
diferem de certa forma da maioria dos conceitos da filosofia moderna e
clássica. Há uma pista moderna para a busca atual tirada da linguagem da
religião que
domina no Ocidente, uma que é baseada em significados bíblicos. Os
antigos hebreus e os autores do Novo Testamento grego falaram pouco sobre
a verdade no abstrato, sobre a verdade no sentido impessoal. Ao
contrário, eles ligavam "verdade" ao caráter de um Deus fiel e depois
queriam ver essa qualidade refletida nos seres humanos.
O conceito bíblico mais rico do que "dizer a verdade" é expresso
como "fazer a verdade". Quando alguém "faz" a verdade, podemos
inspecionar essa pessoa muito mais prontamente do que quando a conversa
sobre verdade é apenas um jogo ou provocação intelectual. "Fazer a
verdade" dependia do conceito hebraico de emeth, tendo a conotação de
fidelidade e fidedignidade... A verdade está "dentro" deles e eles "são"
verdade porque "fazem" a verdade: Nós dizemos que eles têm integridade.
O teste dessa verdade é óbvio. Diga: "Quando ela promete, cumpre"
ou "o aperto de mão dele é melhor do que um contrato!" e você descreve
alguém que encarna o que aqueles que buscam a verdade hoje estão
procurando...
Os mentirosos e enganadores recentemente expostos eram quase
sempre solitários, celebridades que tinham muitos admiradores, mas nenhum
amigo que pudesse ser crítico, que os pudesse manter honestos.
... O caráter requer um ambiente. O romancista francês Stendhal
escreveu: "Pode-se adquirir qualquer coisa na solidão exceto caráter."...
Segundo: A verdadeira integridade permanece firme quer o teste
seja a adversidade, quer seja a prosperidade. Se você realmente tiver
integridade, uma demissão ou uma promoção não o mudará. Seu cerne íntimo
não será deslocado. Mas devo repetir a advertência que já fiz antes: Os
outros não gostarão se você não "seguir" o sistema. Prepare-se para ser
mal interpretado pela turma medíocre. Com certeza você se defrontará com
a hostilidade dela.
Recebi uma carta de uma jovem que descreve como a pressão para
manter a integridade pode se tornar intensa. Incluirei apenas uma parte
do que ela escreveu:
... Sou formada em microbiologia pela faculdade e tenho pósgraduação em biblioteconomia médica. Logo depois de ter completado trinta
anos, ficou claro para mim que eu preferiria uma carreira em medicina,
por isso matriculei-me no curso pré medicina de um ano na faculdade
local... para fazer o curso, preparar-me para os exames padronizados e
tentar ingressar nas escolas de medicina. Não fazia muito tempo que eu
estava no campus quando percebi uma difusa desmoralização entre os
professores e os outros funcionários: o tipo de coisa que só pode
resultar de péssima administração.
Era também abundantemente óbvio que meus colegas eram desonestos
ao extremo: falsificavam registros de laboratório, colavam nas provas, e
pressionavam-me a fazer o mesmo, etc. A pressão não era problema; sei
como resistir. Mas o catedrático responsável pelo programa é um homem que
está lutando contra os demônios gêmeos da crise da meia-idade e um
ambiente de trabalho deplorável. Sob essa intensa pressão, sua frase
favorita se tornou: "Não quero saber!" Não tive coragem de aumentar seus
fardos. Tendo de escolher entre integridade intelectual e compaixão,
escolhi a compaixão. Má escolha. Obviamente tola. Eu estava errada. Fora
de base. No fim, não tive outra escolha senão forçá-lo a enfrentar o que
tinha de saber.
As coisas foram sendo levadas de qualquer jeito até março quando
alguns foram apanhados colando num exame feito em casa no qual havíamos
recebido instruções de trabalhar independentemente. Os culpados -- eu não
estava entre eles - se defenderam na base de que não sabiam que estavam
fazendo nada errado. Como parte do critério para admissão, era esperado
de nós que concordássemos em apoiar uns aos outros em toda e qualquer
circunstância. Isso é projetado para garantir a ausência de competição
excessiva, mas o tiro saiu pela culatra. O catedrático compareceu perante
o conselho disciplinar e endossou o comportamento dos alunos,
comprometendo assim sua própria integridade e a da instituição.
Naquele ponto, senti fortemente que havia estado calada por muito
tempo. Tarde demais, protestei (com tanta delicadeza quanto possível -não adianta golpear o nervo com uma marreta) com base no fato de que
tentar forcar as faculdades de medicina a aceitarem quinze pessoas
altamente inescrupulosas tem implicações devastadoras para a sociedade,
bem como para as pessoas que fazem uma coisa dessas. Não posso considerar
isso um incidente trivial. Estudantes desonestos se tornam profissionais
desonestos. Quando profissionais ligados à química são desonestos,
pessoas morrem! Não há nada trivial a respeito disso.
Minhas palavras caíram em ouvidos moucos. Em todo esse tempo, meu
desempenho acadêmico havia sido inferior; não trabalho bem nessas
condições... por isso me disseram que sou irremediavelmente incompetente
e que não vale a pena me conhecer. A isso retruquei que tenho caráter e
isso é mais importante do que notas. Ou faculdade de medicina. Ou
dinheiro...
A verdadeira integridade permanece no lugar, quer você passe ou
repita. Admiro essa moça. Ela não alega ser perfeita, mas realmente
deseja ser uma mulher de caráter forte.
Meu terceiro princípio será o mais controvertido: Integridade
moral arruinada significa que o líder espiritual renuncia ao direito de
liderar.
Antes de debater comigo sobre isto, pare e pense. Eu o
encorajaria a apoiar sua posição pela Bíblia, não em seus sentimentos ou
opiniões de outros. E enquanto faz isso, eu o desafiaria a encontrar nas
Escrituras pessoas que chegaram a ocupar lugares de alta visibilidade no
ministério e que, após fracasso moral, foram mais tarde reconduzidos ao
mesmo pináculo e experimentaram o mesmo ou maior sucesso em seu
ministério. Tenho procurado há anos e não encontrei sequer UM exemplo
bíblico. Não existe uma única pessoa que se encaixe nesse modelo 110 Novo
Testamento.
No Antigo Testamento, Davi é o único que chega perto. Mas se você
fizer um estudo cuidadoso da vida desse homem, verá que sua liderança se
assemelha a um telhado. Sobe, sobe, sobe... até Bate-Seba. Antes de seu
adultério, Davi estava no auge de sua carreira. Depois, tudo cai, cai,
cai. Derrota no campo de batalha. Encrencas em casa. O filho estupra a
meia-irmã, Tamar. Outro filho lidera uma rebelião contra o pai. Davi
acaba morrendo com o coração partido, a família desbaratada e seu
sucessor (Salomão) aparelhado para uma queda maior ainda. Foi-lhe
permitido permanecer rei (que, a propósito, não é um cargo espiritual),
mas sua autoridade e o respeito do público nunca mais foram os mesmos.
Afirmo que nem Davi se qualifica como modelo de líder caído que foi
restaurado à bênção plena de Deus e ao respeito do povo. Tem sido minha
observação que esse tipo de exemplo simplesmente não pode ser encontrado
na Palavra de Deus.
Alguns de vocês que estão lendo estas palavras presumirão que me
falta um espírito perdoador. Isso simplesmente não é verdade. Sou capaz
de perdoai* e continuarei a perdoar o mais crasso dos pecados, mas neste
caso não é uma questão de perdão, mas, sim o colapso da integridade de um
ministro. Não tenho problema em perdoar qualquer irmão ou irmã que quebre
sua integridade moral. Tenho muita dificuldade, contudo, em nomear de
novo aquele indivíduo ao mesmo lugar de alto nível de autoridade.
Por quê? Por dois motivos: Primeiro, porque não encontro
justificativa bíblica para isso ou exemplos disso ocorrendo; segundo,
porque certas falhas revelam defeitos arraigados de caráter (não mera
pecaminosidade)
que criam desconfiança entre aqueles que estão sendo liderados. Se
você está pensando que Jonas ou Pedro se qualificam como modelos, lembrese de que nenhum dos dois caiu moralmente. A falta deles não foi sexual.
Considero isso uma categoria à parte, e o faço com justificativa bíblica.
Por algum motivo, muito poucos cristãos já estudaram ou levaram a sério a
seguinte passagem:
"O que adultera com uma mulher tem falta de entendimento; o que tal
faz destrói a sua alma. Açoites e ignomínia encontrará, e o seu opróbrio
nunca se apagará" (Provérbios 6:32-33).
Eu diria que é uma passagem clara e direta, mas parece que os
ministros que transigiram sexualmente já não hesitam em voltar às suas
posições de responsabilidades públicas a despeito da declaração de que
"seu opróbrio nunca se apagará". Isso não pode deixar de confundir muitos
nos bancos das igrejas que têm dificuldade em enxergar além das feridas,
desgraça e opróbrio inapagável do ministro.
Há pouco, um amigo meu ficou preocupado com o número de ministros
que estava caindo em pecados sexuais apenas para serem reconduzidos a
postos de liderança semelhantes algum tempo depois. Algo não parecia
certo ao meu amigo com relação a isso, e ele me perguntou como eu via a
questão. Pensei muito por bastante tempo antes de escrever-lhe em
resposta. Por favor, leia os seguintes excertos de minha carta com muita
atenção.
Gostemos ou não, aceitemos ou não, é impossível ignorar que a
Escritura de fato estabelece uma distinção entre os pecados comuns,
cotidianos, demasiadamente conhecidos da vida e a prática deliberada de
pecados sexuais. Isso incluiria especialmente os pecados sexuais
expressos em engano prolongado e deslizes secretos que culminam em casos
escandalosos que desintegram famílias inteiras, prejudicando (e
geralmente destruindo) casamentos até então sólidos. Geralmente, a
imoralidade oculta se prolonga por meses - até mesmo anos -- enquanto a
pessoa que pratica esses atos na vida privada vive uma completa mentira
em público.
A própria sem-vergonhice, insanidade e audácia de tudo isso
revela defeitos arraigados de caráter. Esses defeitos fazem com que a
pessoa imoral envolvida na perversão peque "contra seu próprio corpo" e
assim entre em uma categoria especial de desobediência diferente "de
todos os outros pecados". Minhas observações são baseadas em 1 Coríntios
6:18, que merece estudo cuidadoso:
"Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do
corpo, mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo."
Estou sugerindo que essas ações desavergonhadas e deploráveis não
podem ser perdoadas? Claro que não. Mas estou admitindo que os defeitos
de caráter que levam a esses atos extensos e enganadores de sensualidade
podem muito bem restringir tais indivíduos dos lugares de serviço público
que eles um dia conheceram e desfrutaram... Por terem pecado "contra seu
próprio corpo", eles revelaram fraqueza em seu caráter moral, o que põe
em movimento certas consequências e muitas complicações. Tudo isto pode
escandalizar o corpo de Cristo se eles forem colocados de novo diante do
público para gozar todos os privilégios e direitos que antes lhes
pertenciam. E pedir demais daqueles que foram enganados e ofendidos
esperar que digam "Perdoo", colocando-se depois silenciosamente de lado,
enquanto o recém-perdoado irmão ou irmã volta a um ministério de alta
visibilidade diante do público em geral...
Temos uma analogia interessante em nosso sistema de
jurisprudência. A pessoa culpada de grave delito pode passar algum tempo
atrás das grades, tornar-se modelo como prisioneira, reconhecer o erro de
suas ações, e finalmente ser libertada, perdoada do crime em seu passado.
Mas ele ou
ela perde o direito de votar pelo resto da vida. Seja ou não justo,
seja ou não apropriado, esse privilégio especial de participar no futuro
de nossa nação que ele ou ela já desfrutou é removido para sempre...
A concessão do privilégio de liderança pública e ministério traz
consigo a tênue, embora essencial, presença do poder. No serviço cristão,
esse poder é incrivelmente influente e pode ser usado para fins egoístas
ao mesmo tempo em que aparenta altruísmo. A tentação de enganar é
especialmente forte no uso desse poder. Daí a constante necessidade de
prestação de contas, auto moderação e forte disciplina. A pessoa cuja
vida foi marcada por crassa ausência dessas características revela sua
fraqueza de caráter nessa área, prejudicando assim a confiança e a fé dos
outros.
Não é uma questão de perdão, repito, mas de perder certos
direitos e privilégios. Embora Deus perdoe plenamente, como deve lembrarse, ele não permitiu que Moisés entrasse na Terra Prometida, tirou de
Saul o trono e impediu que Davi construísse o templo. Cada um deles pode
ter sido perdoado, mas mesmo assim foi divinamente impedido de realizar
seus sonhos.
Será, então, que o arrependimento não tem valor? Pelo contrário,
sem arrependimento o relacionamento vertical com Deus permanece
obstruído, e o relacionamento horizontal com os outros permanece
danificado. Ademais, a confissão e o arrependimento permitem ao perdoado
vislumbrar a sabedoria de Deus em suas repreensões e restabelecer certa
medida de harmonia restaurada com aqueles que foram ofendidos na
repercussão do pecado dessa pessoa. O arrependimento não apenas confirma
a confissão do pecador como impele o ofendido a perdoar plenamente...
Devo acrescentar mais uma ideia. Muito pouco é dito hoje em dia
sobre o valor de um coração quebrantado e contrito. O pecador perdoado de
hoje é sempre alguém que espera (atrevo-me a dizer exige?) mais do que
deveria. A Escritura chama isso de "presunção". Um coração quebrantado e
contrito não é presunçoso; não faz exigências, não mantém nenhuma
expectativa. Tenho notado que aqueles que estão se recuperando de um
escândalo sexual às vezes julgam com muita severidade os que relutam em
permitir-lhes toda a liderança que eles exerciam antes. Tenho muitas
vezes ouvido tais pessoas se referirem a isso como "atirai' em nossos
feridos" quando, de fato, os mais feridos são as pessoas que confiaram
quando o líder caído vivia uma mentira.
Minha pergunta é: Quem está atirando em quem? Um espírito
presunçoso geralmente se revela num desejo agressivo de retornar à
plataforma do ministério público. Quando esse desejo não é concedido, os
que estão sendo restringidos podem facilmente se apresentar como vítimas
patéticas e indefesas do julgamento e da condenação dos outros. Acho essa
reação manipuladora e bastante perturbadora...
O que mais me preocupa em todo esse cenário é a ausência de uma
modesta submissão a Deus e total humildade diante dos outros. Fico
ocasionalmente chocado pelas expectativas irreais daqueles que deixaram
numerosas pessoas em seu rasto. Algumas chegam a apontar dedos acusadores
aos membros do corpo que resistem à sua volta ao ministério público.
Muitos ainda estão tentando acreditar que o amigo, cônjuge, parente ou
herói em quem um dia confiaram pudesse ter caído tanto e vivido tamanha
mentira. Quer-me parecer que a alma verdadeiramente arrependida deveria
estar tão arrasada pela humilhação e tão grata pela graça de Deus que não
teria lugar para orgulho interior ou acusação exterior. Davi, após o caso
com Bate-Seba simplesmente orou: "Torna a dar-me a alegria da tua
salvação, e sustém-me com um espírito voluntário" (Salmo 51:12). Para
ele, isso era suficiente.
Como eu já disse antes, o ministério é uma profissão de caráter.
O chamado de Deus o coloca em categoria distinta, com um padrão mais
severo do que todos os outros. Se você questiona isso, leia 1 Timóteo
3:1-7 e tente aplicar isso a qualquer outra vocação além do ministério.
Até Charles Haddon Spurgeon -- um homem que enfatizava a graça -- tinha
convicções severas quanto a esse assunto.
Tenho opiniões muito severas com relação a cristãos que caíram em
pecado crasso; regozijo-me por eles poderem ser realmente convertidos e
poderem ser recebidos na igreja com uma mistura de esperança e cautela;
mas questiono, questiono seriamente se o homem que cometeu pecado crasso
deve ser mui prontamente restaurado ao púlpito.
UMA SOLENE SÉRIE DE ADVERTÊNCIAS
À luz de nossa necessidade de ministros de integridade intacta,
acho que seria útil ponderarmos algumas admoestações apropriadas. Em vez
de compilar eu mesmo uma lista, prefiro citar A. W Tozer que, mesmo
morto, ainda fala.
O ministério é uma das profissões mais perigosas... Satanás sabe
que a queda de um profeta de Deus é uma vitória estratégica para si, por
isso não descansa dia e noite, inventando armadilhas ocultas e fossos
para o ministério. Talvez um exemplo melhor seria o dardo envenenado que
apenas paralisa sua vítima, pois acho que Satanás tem pouco interesse em
matar sem rodeios o pregador. Um ministro ineficaz, meio-vivo, é uma
propaganda melhor para o inferno do que um bom homem morto. Por isso, os
perigos do pregador bem provavelmente serão espirituais, em vez de
físicos...
Há, de fato, alguns perigos muito reais, do tipo mais crasso,
contra os quais o ministro deve guardar-se, tais como o amor ao dinheiro
e às mulheres; mas os perigos mais letais são muito mais sutis do que
esses...
Existe, por exemplo, o perigo de o ministro vir a considerar-se
como pertencente a uma classe privilegiada. Nossa sociedade "cristã"
tende a aumentar esse perigo concedendo ao clero descontos e outras
cortesias, e a própria igreja ajuda a promover esse trabalho mal feito
concedendo a homens de Deus várias honrarias sonoras que são cômicas ou
imponentes, dependendo de como você as vê...
Outro perigo é que ele pode desenvolver um espírito mecânico no
desempenho da obra do Senhor. A familiaridade pode gerar desrespeito,
mesmo no altar de Deus. Que coisa apavorante é quando o pregador se
acostuma com seu trabalho, quando ele perde o senso de deslumbramento,
quando se acostuma com o extraordinário, quando perde seu temor solene na
presença daquele que é Alto e Santo; quando, para falar com toda a
franqueza, ele fica um tanto entediado com Deus e as coisas celestiais.
Se alguém duvida que isso lhe possa acontecer, leia o Antigo
Testamento e veja como os sacerdotes de Jeová às vezes perdiam o senso de
mistério divino e se tornavam profanos, mesmo enquanto desempenhavam seus
sacros deveres. E a história da igreja revela que essa tendência ao
mecanismo não morreu quando passou a ordem do Antigo Testamento. Pastores
e sacerdotes seculares, que guardam as portas da casa de Deus por pão,
ainda se encontram entre nós.
Satanás garantirá que eles se encontrem aí, pois causam mais
prejuízo à causa de Deus do que o faria todo um exército de ateus.
Existe também o pecado de o pregador alienar-se do espírito das
pessoas comuns. Isto brota da natureza do cristianismo
institucionalizado. O ministro encontra exclusivamente pessoas
religiosas. As pessoas ficam prevenidas quando estão com ele. Elas tendem
a falar de coisas que nem
elas mesmas entendem e ser durante esse tempo o tipo de pessoas que
acham que ele deseja que sejam, em vez de ser o tipo de pessoas que de
fato são. Isto cria um mundo de fantasia no qual ninguém é bem ele
próprio, mas o pregador viveu ali tanto tempo que o aceita como real, e
nunca sabe a diferença.
Os resultados de viver nesse mundo artificial são desastrosos...
Outro perigo que confronta o ministro é o de talvez ele
inconscientemente vir a amar ideias religiosas e filosóficas, em vez de
santos e pecadores. E bem possível sentir pelo mundo dos perdidos o mesmo
tipo de afeto indiferente que o naturalista Fabre, por exemplo, sentia
por um enxame de abelhas ou um formigueiro de formigas pretas. Eles são
algo a estudar, com os quais aprender, possivelmente até ajudai', mas
nada pelo que chorar ou morrer...
Outra armadilha na qual o pregador corre o risco de cair é ele
talvez fazer o que lhe é natural, e simplesmente não se esforçar. Sei
como esta questão é espinhosa e, embora o fato de eu escrevei* isto não
me faça ganhar muitos amigos, espero que possa influenciar as pessoas na
direção certa. E fácil o ministro ser transformado num ocioso
privilegiado, um parasita social com a palma estendida e expectativa no
olhar. Ele não tem nenhuma chefe à vista; geralmente não tem obrigação de
manter horas regulares, portanto pode esquematizar um padrão de vida
confortável que lhe permite vadiar, perder tempo com certas coisas,
jogar, cochilar e ficar dando voltas à vontade. E muitos fazem justamente
isso.
Para evitar esse perigo, o ministro deve voluntariamente
trabalhar duro.
O VALOR ESSENCIAL DA PRESTAÇÃO DE CONTAS
As palavras de Tozer são contundentes. Precisamos, contudo, de
mais do que advertências. O conselho que nos admoesta a nos comportar só
chega até certo ponto para nos ajudai' a "subjugar" nossos corpos e
evitar que sejamos reprovados (1 Coríntios 9:27). Para tornar o
treinamento mais eficaz, a prestação de contas pessoal é inestimável.
Como já tratei deste assunto em dois livros anteriores, não há razão para
eu repetir as mesmas coisas em grandes detalhes aqui. Mas permita-me
sublinhar, mais uma vez, o quanto a prestação de contas é essencial para
manter uma vida pura diante dos outros e uma caminhada íntegra com Deus.
A auto-análise é salutar e boa. Tempo a sós diante do Senhor deve
permanecer uma alta prioridade. Mas não podemos parar aí. Sendo criaturas
com pontos cegos e tendências à racionalização, devemos também manter
contato com alguns indivíduos dignos de confiança, com quem nos
encontremos com regularidade. Saber que esse encontro vai acontecer nos
ajuda a segurar as pontas moral e eticamente. Não conheço nada mais
eficaz para a manutenção de um coração puro e da vida equilibrada e firme
no alvo do que fazer parte de um grupo de prestação de contas. É incrível
o que um grupo desses pode fornecer para nos ajudar a restringir nossas
paixões!
Recentemente, fui encorajado a ouvir sobre um ministro que se
encontra uma vez por semana com um grupo de homens. Eles estão
comprometidos com a pureza uns dos outros. Oram uns com os outros e uns
pelos outros. Ele falam franca e honestamente sobre suas lutas,
fraquezas, tentações e tribulações. Além dessas coisas gerais, eles olham
nos olhos uns dos outros enquanto fazem e respondem nada menos do que
sete perguntas específicas:
1. Você esteve com alguma mulher esta semana de uma maneira que
tenha sido imprópria ou que possa ter parecido aos outros que você
tivesse agido com falta de bom senso?
2. Você esteve completamente acima de qualquer censura em todas as
suas transações financeiras esta semana?
3. Você se expôs a qualquer material pornográfico esta semana?
4. Você passou tempo diariamente em oração e nas Escrituras esta
semana? 5. Você cumpriu o mandato da sua vocação esta semana?
6. Você separou tempo para passar com sua família esta semana?
7. Você acabou de mentir para mim?
Eu chamaria isso de prestar contas! Sim, reuniões como essas
talvez sejam rigorosas e até mesmo dolorosas. Mas se puderem ajudar a
controlar a carnalidade e manter a vida. do ministro livre de segredos
que algum dia resultem em escândalo, estou convencido de que valem a
pena. Desafio todos a arriscarem ser vulneráveis a esse ponto com
regularidade.
Está na hora de nossa igreja se lembrar do valor da integridade
em nosso relacionamento com Cristo e em nossa caminhada com ele sobre a
terra. Isso significa uma rededicação de nós mesmos a um ministério
ungido de poder e pureza moral. Façamos uma firme declaração aos
ministros em treinamento nos seminários por todo o país. Relembremos-lhes
de que estão sendo investidos de um santo e elevado privilégio que, se
pervertido, resultará na renúncia da parte deles do direito de liderar o
povo de Deus. Estou convencido de que se eles souberem disso ao entrar,
um número maior caminhará no temor do Senhor após a formatura. Pela graça
de Deus, eles terminarão bem. Coloquemos a dignidade de volta onde
deveria estar: na igreja de Jesus Cristo. Vamos fazer com que as pessoas
se voltem e percebam que nosso tipo de ministério merece seu tempo, sua
confiança e seu tesouro.
Ninguém o disse melhor do que Josiah Holland:
DEUS, NOS DÁ HOMENS! Uma hora como esta exige Mentes fortes,
grandes corações, fé veraz e mãos dispostas; Homens a quem a cobiça de
cargo não mata; Homens a quem os despojos do cargo não podem comprar;
Homens que possuam opiniões e uma vontade; Homens que tenham honra;
homens que não mintam; Homens que possam postar-se frente a um demagogo E
condenar suas bajulações traiçoeiras sem piscar; Homens altos, coroados
de sol, que vivam acima da bruma No dever público e rios pensamentos
íntimos; Pois enquanto a turba, com seus credos desgastados, Suas grandes
confissões e seus atos pequeninos, Se mistura em labuta egoísta, veja!
Chora a Liberdade, O Erro governa a terra e dorme a Justiça tardia}
Como veremos no último capítulo, está na hora de restaurar o
respeito pelo ministério.
REFLEXÕES
1. Que promessas você fez ou compromissos assumiu nas duas
últimas semanas? (Isto deveria incluir as vezes em que você disse
"Estarei orando com você a esse respeito", ou "Cuidarei disso
imediatamente".) Escreva uma lista deles e, capacitado por Deus, faça o
que você disse que faria.
2. Você tem um amigo ou amigos -- de preferência do mesmo sexo -a quem possa prestar contas com regularidade? E fácil concordar
mentalmente com o conceito de prestação de contas, mas é preciso
determinação (será que ouso dizer "peito"?) para dar seguimento e fazer
algo a respeito. Eu o desafio a dar o primeiro passo HOJE, escrevendo os
nomes de amigos cristãos que possam estar dispostos a encontrar-se com
você regularmente a longo prazo para este propósito específico. Deixe-me
encorajá-lo fortemente, à luz dos tempos "selvagens" em que vivemos, a
entrar em contato com um ou mais desses indivíduos esta semana.
3. Volte a ler a "Galeria da Fama" em Hebreus 11. Leia o capítulo
todo diversas vezes, considerando detidamente os exemplos desses heróis.
Peça ao Senhor que lhe eleve a visão e inflame a fé, enquanto você medita
sobre essas palavras.
Capítulo Dez
RESTAURANDO O RESPEITO PELO MINISTÉRIO
Tenho um amigo que conheço e amo há trinta anos. Durante esse
tempo, temos sido inseparáveis. Nossa amizade se aprofundou, enquanto
minha admiração por esse amigo se intensificou.
Em anos recentes, meu amigo tem passado por dificuldades.
Continuamos anos dar muito bem, mas outros começaram a entender mal e a
difamar. Fiquei magoado ao ouvir todas as coisas feias que foram ditas.
Embora meu amigo nada tenha feito de errado e tenha aguentado o impacto
de comentários injustos, exagerados e sarcásticos -- sem falar em todas
as acusações infundadas e cáusticas -- não parece haver trégua. Às vezes
as coisas têm ficado tão ruins que me pergunto se pode haver uma
restauração plena. A despeito de tudo o que tem sido falado contra meu
querido amigo, nosso compromisso tem permanecido firme e verdadeiro por
trinta e cinco anos.
Meu amigo é o ministério.
Fui chamado ao ministério enquanto estava com os Fuzileiros
Navais, em algum momento entre 1957 e 1959. Foi a primeira vez em que
tomei consciência de que a mão de Deus estava inquestionavelmente em
minha vida. Essa conscientização mudou o rumo do meu futuro de uma
carreira conhecida que presumi que deveria seguir para uma vocação
desconhecida que eu jamais havia considerado antes, mesmo como
possibilidade remota. Lenta e deliberadamente, Deus deixou claro para mim
que eu deveria voltar à escola, obter uma sólida educação teológica em um
seminário respeitado, e passar o restante de minha vida no ministério do
evangelho.
A amizade havia começado.
Recusando-me a lutar por mais tempo contra o chamado de Deus,
matriculei-me no Seminário Teológico de Dallas no fim da primavera de
1959. Cynthia e eu nos mudamos no verão para um minúsculo apartamento no
campus, e antes que eu desse pela coisa, estava afundado até o pescoço em
teologia, história da igreja, grego, hebraico, educação cristã, missões,
hermenêutica, homilética e apologética. Que desafio! Ela e eu
simplesmente amamos a coisa. Os estudos exigiam muito, mas eram
incrivelmente recompensadores.
A amizade com o ministério, que havia começado antes, agora se
aprofundava. Mal sabia eu quão satisfatória ela seria. Com exceção do meu
casamento e dos prazeres do lar e da família, até hoje nada chega perto
das alegrias relacionadas a esta amizade cada vez maior. Nem uma vez
olhei para trás e me arrependi. A despeito dos dias difíceis, não posso
imaginar nenhuma amizade mais satisfatória.
Formei-me em 1963, e logo depois fui oficialmente ordenado ao
ministério. Não tínhamos a mais vaga ideia de onde ou como Deus
finalmente nos usaria. Tudo o que sabíamos era que nos amávamos, amávamos
a Deus e estávamos preparados, disponíveis e prontos para servir.
Sorrio quando me lembro daqueles dias simples e inocentes do
início da década de 60. Quão pouco sabíamos, e contudo quanto estávamos
comprometidos pelo resto da vida com essa amizade a algo que tínhamos em
grande estima - o ministério.
Numerosas mudanças têm ocorrido ao longo destes trinta e cinco
anos. Naquela época, o ministério desfrutava de grande respeito. Os
ministros que se mudavam com suas famílias para uma comunidade eram bem
recebidos e
respeitados. Eram considerados um trunfo, pessoas de dignidade,
merecedoras da confiança irrestrita da comunidade. O papel e as
responsabilidades do pastor eram inquestionavelmente estimados. Não havia
nenhuma desconfiança, nenhuma reserva, apenas elevada consideração pelo
homem que se colocava no púlpito e proclamava a mensagem de Deus.
Naqueles dias, "um homem de Deus" era o título descritivo do ministro
local que guiava o rebanho, regozijava-se com as ovelhas em suas
celebrações, confortava-as em suas tristezas e vivia uma vida exemplar
diante delas.
Entenda, não era porque todos os ministros fossem considerados
modelos sobre-humanos de perfeição. Nenhum de nós caminhava sobre a água.
Muitos então, como agora, entravam para essa vocação com antecedentes que
eram tudo menos puros. O apóstolo Paulo é um exemplo disso. Seu
testemunho jamais ocultou o fato de que ele não merecia ter sido chamado
ao ministério:
"Dou graças àquele que me fortaleceu, a Cristo Jesus nosso Senhor,
porque me considerou fiel, pondo-me no seu ministério, a mim que outrora
fui blasfemo e perseguidor e injuriador; mas alcancei misericórdia,
porque o fiz ignorantemente, na incredulidade; e a graça de nosso Senhor
superabundou com a fé e o amor que há em Cristo Jesus. Fiel é esta
palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para
salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas por isso alcancei
misericórdia, para que em mim, o principal, Cristo Jesus mostrasse toda a
sua longanimidade, para exemplo dos que haviam de crer nele e receber a
vida eterna" (1 Timóteo 1:12-16).
Não deixe de notar "a mim que outrora fui blasfemo... perseguidor
... injuriador... mas alcancei misericórdia... a graça de nosso Senhor
superabundou." Não existe nenhum ministro vivo hoje -- nem jamais houve - que não pudesse escrever palavras semelhantes.
O que estou querendo salientar é isto: Naquela época, a despeito
da humanidade e imperfeições do ministro, seu cargo e sua autoridade eram
respeitados. Não mais! Hoje, embora os padrões para o ministério
continuem os mais elevados entre os de qualquer vocação ou profissão,
embora o papel do ministro repouse sobre colunas de pureza, integridade,
humildade, disciplina, compromisso e confiança, a opinião pública sobre o
ministério jamais foi tão baixa. Com certeza jamais esteve mais baixa na
história dos Estados Unidos.
Não estou sugerindo que jamais houve críticas (algumas
justificadas) contra os que estão no ministério. Em cada geração tem
havido alguns que envergonharam sua vocação. Além disso, tem sempre
havido ministros controvertidos e uma hoste de personagens incomuns -- do
tipo indisciplinado -- nas fileiras do ministério. Muitos foram
incompreendidos e de outros simplesmente se discordava, o que por certo é
compreensível. Mas quando os fatos eram conhecidos, quando um exame
atencioso revelava a verdade nua e crua, poucos eram comprovados como
enganadores e positivamente hipócritas. O ministério como um todo não era
prejudicado por esses indivíduos. Já não se pode dizer o mesmo. Nesta
geração, especialmente, o ministério é visto com a mesma desconfiança
votada a outras antes respeitadas posições de responsabilidade. Eu não
poderia mais deixar de concordar com o homem que escreveu:
"Cheguei à conclusão de que a única palavra que melhor descreve a
situação da igreja evangélica hoje é descrédito, e tenho a impressão de
que muitas pessoas concordam comigo. De fato, descrédito é a única
palavra que parece descrever outras áreas da sociedade além da igreja: a
arena de esportes, a embaixada, os átrios acadêmicos, a Casa Branca, o
Pentágono, a Wall Street, o Capitólio, e até mesmo as creches. O
escândalo parece ser a ordem do dia... Não admira a revista Time
perguntar numa [recente] matéria de capa... "O Que Aconteceu Com a
Ética?"...
Nosso problema não é que o público subitamente descobriu
pecadores na igreja, para grande constrangimento dos cristãos. Não, o
público tem sabido a respeito do pecado na igreja por muito tempo, e de
alguma forma a igreja sobreviveu. Os cristãos evangélicos de hoje não são
como um grupo de escolares, parados por aí, corando porque fomos pegos
quebrando as regras. Somos mais como um exército derrotado, nus diante de
nossos inimigos, e incapazes de lutar contra eles porque fizemos uma
descoberta apavorante: a igreja está com falta de integridade...
Por dezenove séculos, a igreja tem dito ao mundo que admita seus
pecados, se arrependa e creia no evangelho. Hoje, no crepúsculo do século
vinte, o mundo está dizendo à igreja que confronte seus pecados, se
arrependa e comece a ser a verdadeira igreja desse evangelho. Nós,
cristãos, nos gabamos de não nos envergonhar do evangelho de Cristo, mas
talvez o evangelho de Cristo esteja envergonhado de nós. Por algum
motivo, nosso ministério não combina com a nossa mensagem...
" CENAS QUE ENVERGONHAM A NOIVA
Estou consciente de que poucas pessoas precisam recapitular os
detalhes dos problemas do ministério que levaram à confusão na qual
estamos metidos. Mas talvez alguns vislumbres realistas nos ajudem a ver
porque o público agora zomba, em vez de aplaudir. Para poupar tempo e
espaço, enumerarei alguns dos exemplos mais notórios.
* No final da década de 60, o ministério tornou-se uma razão para
escapar ao recrutamento do exército. Alguém queria ficar longe do Vietnã?
Fácil: Alegava ter sido chamado para o ministério!
* Na década de 70, as seitas religiosas alcançaram proeminência
nacional. Gurus esquisitos desviaram idealistas inocentes/ignorantes.
Alguns ocuparam terras no estado de Oregon, outros se mudaram de país
como um grupo... levando ao suicídio em massa de "Jonestown", onde mais
de novecentas pessoas beberam veneno.
* Divórcio e adultério invadiram a igreja, enquanto ovelhas e
pastores igualmente demonstravam pouco interesse. Mais e mais ministros
entraram para o sistema, criando uma atmosfera de epidemia na igreja. A
racionalização reinou suprema.
* A década de 80 trouxe uma nova era: a da "igreja eletrônica". O
que antes era limitado a algumas igrejas locais estava agora sendo
televisionado para todos verem, o bom juntamente com o ruim.
Especialmente o ruim. Tudo o de que se precisava era de um pastor que
pudesse atrair uma multidão e levantar dinheiro suficiente para comprar o
horário. Menos ênfase em caráter, mais em carisma.
* Um televangelista subiu numa chamada "torre de oração" e prometeu
nunca mais voltar a menos que muitos milhões de dólares fossem levantados
em contribuições. A imprensa fez um carnaval.
* O escândalo do ministério PTL (abreviação dE Praise The Lord -Louvado Seja o Senhor) seguiu-se pouco depois, o que levou a uma
revelação de eventos tão vergonhosos que até o mundo secular ficou
chocado. Tudo, desde programas de entrevistas até camisetas,
capitalizou sobre a sujeira por meses.
* No ano seguinte outro televangelista confessou estar envolvido em
aberrações sexuais, as quais a revista Penthouse explorou entrevistando a
suposta prostituta e fazendo com que ela descrevesse em detalhes o que
fazia... com fotografias sensacionalistas anexadas. O homem disse que
aceitaria a disciplina que sua denominação achasse apropriada, mas depois
ignorou seu conselho, demitiu-se daquela esfera de prestação de contas e
ainda está na TV.
* Abster-me-ei de incluir uma lista crescente de nomes de pastores
evangélicos, autores, missionários, líderes cristãos, músicos, cantores,
educadores, conselheiros, pessoas que trabalham com jovens, leigos e
leigas de alta visibilidade na igreja que comprometeram seu testemunho e
quebraram a confiança do público através de adultério, homossexualismo,
abuso de substâncias químicas, irresponsabilidade financeira,
irresponsabilidade pessoal, batalhas legais e até mesmo atividade
criminosa. E, lembre-se, essas têm sido pessoas envolvidas com o
ministério.
Eu lhe pergunto: Se não fosse um cristão, você não teria menos
respeito pelo ministério hoje? As sequelas têm sido devastadoras. Mesmo
ministérios íntegros estão agora sendo vistos com desconfiança. Atacar o
irmão ou esmagar a irmã é a moda agora. Todo mundo é um alvo legítimo.
Talvez a dimensão mais triste seja a de todas as vidas inocentes que
cercavam aqueles que caíram e fracassaram tão escandalosamente. Estou
pensando em congregações inteiras que precisam continuar, após
descobrirem que seu ministro vivia enganosamente em imoralidade. Pense
também nos membros do corpo docente e nos alunos deixados para trás por
um presidente ou líder de algum campus que trouxe descrédito ao nome de
Cristo. E o que dizer do cônjuge e filhos que têm de apanhar os cacos por
causa do descuido egoísta de seu marido e pai? E não se esqueça dos
companheiros de equipe na igreja, cujo futuro é incerto, porque seu líder
vivia uma mentira.
O que mais me entristece é que meu amigo de longa data, fiel e
verdadeiro, foi brutalmente vitimado. O ministério foi arrastado ao fundo
de um buraco, chutado, socado, atacado, estuprado e roubado do respeito.
As feridas e cicatrizes já não podem ser ignoradas. Veja, mesmo que a
grande maioria dos que estão no ministério continuem a defender e
sustentar os mais altos padrões, o ministério em si ficou seriamente
aleijado. Massacrar cristãos tornou-se o esporte de salão favorito da
mídia.
Não tenciono que este lamento se pareça com o de Elias: "Só eu
fiquei." Tenho plena consciência de que o orgulho não tem lugar algum em
qualquer de nossas vidas. Aqueles que julgam estar em pé precisam cuidar
continuamente para não cair. Ninguém é imune à tentação. Todos nós somos
capazes de cair. (Eu me lembro desse fato todas as semanas de minha
vida.) Não obstante, creio que está na hora de despertar a igreja para a
necessidade de restaurar o respeito pelo ministério. Já basta de ficarmos
sentados, lambendo nossas feridas, suspirando sobre quantos estão caindo
e passivamente dando de ombros, lamentando o fato de que "devemos estar
vivendo nos últimos dias". Claro que estamos! Mas isso significa que não
faremos nada além de cruzar os braços e aguentar de cara feia os golpes?
De forma alguma!
Poucas pessoas sentem maior peso pela pureza no ministério do que
um homem que todos nós viemos a admirar cada vez mais, o antigo assessor
presidencial Chuck Colson. Deus o tem usado para mexer com a igreja de
Jesus Cristo nestes dias de acomodação. Enquanto estava num
circuito de entrevistas falando sobre seu novo livro Kingdoms in Conflict
(Reinos em Conflito), ele comentou sobre várias coisas que o preocupavam,
especialmente a atitude da mídia secular de malhar os cristãos. Ele
descreve isso vividamente:
A luz vermelha "no ar" piscou, e a septuagésima quinta entrevista
de meu circuito para Kingdoms in Conflict (Reinos em Conflito) começou.
Parecia a septuagésima centésima quinta; durante semanas eu havia estado
dentro e fora de estações de televisão e rádio comerciais por todo o
país, falando sobre a igreja, o estado e o papel do cristianismo na vida
pública.
Pelo menos eu estava obtendo uma vasta exposição à atitude
secular. E bom deixar os nossos casulos evangélicos de tempos em tempos e
descobrir o que as pessoas realmente pensam de nós. Mas o que descobri
foi grave -- para não dizer o pior.
A sessão daquele dia foi típica. "Hoje, estamos entrevistando
Charles Colson", falou meu anfitrião suavemente. "Mas primeiro, vamos
ouvir uma palavrinha dos 'patetas de Deus'.” Dizendo isso, ele ligou um
interruptor, e uma mensagem pré-gravada de Jim e Tammy Bakker encheu o
estúdio. Não estou certo, mas acho que o devocional incluía a receita de
Tammy para um patê de feijão de três camadas. O entrevistador arreganhou
os dentes. E agora, temos outro evangelista conosco hoje. Ouçamos o que
Charles Colson tem a dizer."
A maioria das minhas quase 100 entrevistas começou de maneira
semelhante. Malhar os cristãos está na última moda hoje em dia. O caso
Bakker produziu uma caricatura cômica de todos os cristãos e um escárnio
mais profundo do que a maioria de nós percebe.
A princípio eu fiquei na defensiva. Mas à medida que as
entrevistas continuavam, me zanguei. O que dizer das 350.000 igrejas por
todo o país, onde as necessidades das pessoas estão sendo satisfeitas sem
alarde? perguntei. Os militares de missionários junto aos pobres, o
exército de voluntários cristãos que fielmente vai às prisões cada
semana? Por que em vez deles a mídia focaliza os poucos casos
bombásticos? Não é justo, argumentava eu, estereotipai' toda a igreja;
não somos todos hipócritas buscando rechear nossas carteiras.
Mas meu entrevistador simplesmente sorria. A razão, afinal, não é
páreo para a ridicularização.
Entretanto, não é dessa forma que Cristo vê a sua Noiva. E
podemos ainda fazer as cabeças se voltarem. Meu apelo, conforme declarado
antes, é que terminemos bem. Ao fazermos isso podemos começar a restaurar
muito do respeito que perdemos nas três últimas décadas. Desafio cada um
de nós a começar hoje.
FATOS FACILMENTE ESQUECIDOS
Voltemos a um comentário bíblico familiar sobre os nossos tempos.
Embora o tenhamos visto antes, é necessário dar uma segunda olhada.
"Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos alguns
apost atar cio da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrina
de demônios, pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm
cauterizada a própria consciência, que proíbem o casamento, e ordenam a
abstinência de alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que
conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; porque
tudo o que Deus criou é bom, e não há nada que rejeitar, sendo recebido
com ações de
graças; porque pela palavra de Deus, e pela oração, é santificada.
Propondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus,
alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido" (1
Timóteo 4:1-6).
Se entendo essas últimas palavras corretamente, é
responsabilidade do bom ministro mostrar aos outros que últimos dias
querem dizer tempos difíceis. Tenho estado a comunicar isso por diversos
capítulos. Embora certas coisas nos devam alarmar, absolutamente nada
deve nos dominar. "O Espírito expressamente diz" que devemos esperar o
pior. Quando isso ocorrer, saberemos que entramos nos momentos finais do
plano de Deus para este velho globo. Está chegando perto da hora de
largar!
Visto isso ser verdade, é fácil focalizar somente o óbvio -- a
maldade patente -- e esquecer dos poucos fatos que contrabalançarão a
sensação de estarmos sucumbindo. Três deles me vêm à mente.
Primeiro, a Escritura prediz e nos adverte sobre esses tempos. Se
nada mais aprendemos nos capítulos anteriores, aprendemos que coisas como
as que acabei de enumerar não apenas acontecerão como também piorarão. E
por isso que o termo epidemia é apropriado. Duvido que alguém nos dias de
Spurgeon ou na geração de Moody tivesse descrito o problema do divórcio
na igreja ou a promiscuidade sexual entre os cristãos como sendo
"epidêmicos". Mas isso descreve os nossos dias, sem dúvida alguma. Houve
pessoas no ministério que caíram em seus dias, mas os números não foram
nada comparados com os que temos hoje. Ademais, os escândalos não eram
tão prevalecentes na igreja como são hoje. Claramente, como predizem as
Escrituras, o erro está em elevação, e irá crescendo a um grau maior
quanto mais perto chegarmos da volta de Cristo. Eu poderia enumerar dez a
quinze referências persuasivas na Escritura, mas apenas duas serão
suficientes, uma extraída dos ensinamentos de Jesus, outra de Judas,
quando cita Jesus:
"Respondeu-lhes Jesus: Acautelai-vos, que ninguém vos engane. Pois
muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos.
Ouvireis de guerras e rumores de guerras, mas cuidado para não vos
alarmardes. Tais coisas devem acontecer, mas ainda não é o fim... Nesse
tempo, muitos se escandalizarão, trair-se-ão mutuamente e se odiarão uns
aos outros. Surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por
se multiplicar a iniquidade, o amor de quase todos esfriará... Então, se
alguém vos disser: Olhai, o Cristo está aqui, ou ali, não lhe deis
crédito. Pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão
grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os
escolhidos. Prestai atenção, eu volo tenho predito (Mateus 24:4-6, 10-12,
23-25). Mas, vós, amados, lembrai-vos das palavras que vos foram preditas
pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo, os quais vos diziam: No
último tempo haverá escarnecedores, andando segundo as suas ímpias
concupiscências. São estes os que causam divisões; são sensuais, e não
têm o Espírito. Mas vós, amados, edificando-vos sobre a vossa santíssima
fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos no amor de Deus, esperando a
misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna, E
apiedaivos de alguns que estão na dúvida, salvai-os, arrebatando-os do
fogo; quanto a outros, tende misericórdia em temor, detestando até a
roupa manchada pela carne" (Judas 17-23).
Segundo, a porcentagem real daqueles no ministério que caem é bem
pequena. Será bom eu e você nos lembrarmos que, para cada pessoa cujo
fracasso moral aparece nos noticiários, há milhares de milhares mais que
permanecem mensageiros de Cristo fiéis, diligentes e puros. A vasta
maioria daqueles que prometeram anos atrás servir ao Senhor e seguir a
verdade ainda o está fazendo hoje. Uma perspectiva realista nos
manterá equilibrados em nosso modo de pensar e otimistas em nossa visão.
Quando começamos a acreditar que estamos totalmente sozinhos na batalha,
o adversário se aproveita de nós.
Chamo esse modo de pensar de "a síndrome de Elias". Lembra-se de
quando o profeta caiu em depressão, fugiu para o bosque e orou para que o
Senhor lhe tirasse a vida? A história registrada em 1 Reis 19 merece seu
tempo. Elias não fugiu apenas porque estava intimidado pela bruxa
dominadora Jezabel que governava o trono de Acabe, mas fugiu porque achou
estar numa missão solitária no ministério. Realmente acreditou que
ninguém mais era tão dedicado quanto ele próprio. Isso realmente faz a
gente pensar! Olhe só o "testemunho" de Elias enquanto lambia suas
feridas:
"Respondeu ele: Eu tenho sido em extremo zeloso pelo Senhor Deus
dos exércitos. Os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derrubaram os
teus altares, e mataram os teus profetas a espada. Só eu fiquei, e agora
estão tentado matar-me também" (versículo 14).
Sem hesitação, Deus interrompeu essa festa de autocomiseração e
informou que havia outros sete mil, como Elias, que não se haviam curvado
diante de Baal. Isso fez algo pelo profeta solitário, exausto, ao
perceber que a porcentagem dos infiéis no ministério era de fato de pouca
monta. Ajudar-nos-á manter isso em mente quando alguns dos nossos heróis
no ministério fracassarem e caírem. Alguns podem ser culpados de pecados
crassos, mas a maioria não chegou nem perto de dobrar os joelhos diante
de Baal. Lembre-se disso enquanto continua em frente.
Terceiro, a impei feição humana inclui ministros. Já mencionei
isto antes, mas parece importante o suficiente para ser repetido e
ampliado.
Quando Deus chama indivíduos para a sua vinha, chama somente
pessoas pecaminosas. Nem mesmo um deles pode reivindicar a perfeição.
Cada um é inadequado em si mesmo, fraco e instável por natureza, e
poderia posar para o retrato pintado na letra do hino amado: "inclinado a
vaguear... inclinado a deixar o Deus a quem amo."
Você questiona isso? Uma breve recapitulação de personagens
bíblicos ajudará. Pedro, o porta-voz dos Doze, abertamente e sem
hesitação negou seu Senhor apenas horas após prometer que permaneceria
fiel mesmo que todos os outros se fossem. João Marcos desertou Paulo e
Barnabé em sua primeira viagem missionária, numa hora crucial em que eles
precisavam de toda ajuda que pudessem conseguir. Demas, "amando o
presente século", abandonou Paulo e fugiu para Tessalônica. Diótrefes, um
dos primeiros líderes da igreja, tornou-se um "chefe da igreja"
autonomeado.
A lista seria incompleta se a limitássemos apenas a personagens
do Novo Testamento. Jonas, o profeta amuado, após finalmente ter pregado
em Nínive, demonstrou preconceito, ira e egoísmo. Geazi, servo de Eliseu,
não conseguiu esconder seu materialismo e cobiça. O caso de adultério de
Davi, que levou a homicídio e hipocrisia, é bem conhecido. Isaías admitiu
que era "um homem de lábios impuros". Arão promoveu a escultura de um
bezerro de ouro para os hebreus adorarem. Sansão foi um conquistador
notório.
E quem pode realmente entender Salomão? Se algum homem jamais
teve uma chance de fazer 1.000 gois espiritualmente, esse foi Salomão.
Contudo, no auge de sua carreira, quando sua fama e fortuna eram tópicos
mundiais de discussão, quando sua influência era significativa o bastante
para causar impacto em vastos reinos além do seu, algo arrebentou. Poucos
descreveram a carnalidade de Salomão melhor do que G. Frederick Owen:
"Sabedoria, lealdade, fidelidade e eficiência caracterizaram as
atitudes e atos do brilhante filho de Davi durante os primeiros anos de
seu reinado. Então, como se ele tivesse atingido o domínio do homem e de
Deus, ele se afastou do caminho do Senhor, e agarrando egoisticamente as
rédeas do erro, dirigiu-se às nebulosas planícies da licenciosidade,
orgulho e paganismo. Enlouquecido pelo amor ao exibicionismo, Salomão se
voltou para uma carreira febril de desperdício, impropriedade e opressão.
Não satisfeito com as edificações necessárias e progresso legítimo de
seus últimos anos, ele oprimiu seu povo com impostos, escravizou alguns,
e impiedosamente instigou o assassinato de outros... Seu amor por muitas
mulheres levou-o a casar-se e mimar numerosas esposas estrangeiras e
pagãs, que não apenas lhe roubaram a excelência de caráter, humildade de
espírito e eficiência nos negócios de estado como também o dominaram e
fizeram seu coração voltar-se "para outros deuses"... Salomão, como
muitos outros monarcas absolutos, dirigiu depressa demais e viajou longe
demais... O monarca se tornou devasso; um egoísta e cínico, tão saciado
com as questões sensuais e materiais da vida que se tornou cético de todo
bem -- para ele, tudo vinha a ser "vaidade e aflição de espírito".
Ninguém é imune à imperfeição... nem um dos que foram citados,
nem você, nem eu. Se pode acontecer a eles, pode acontecer a nós.
Se você lembrar destas três coisas, ajudará:
* A Escritura nos adverte que essas coisas acontecerão.
* A porcentagem dos que caem é relativamente pequena.
* A pecaminosidade e a imperfeição caracterizam todos, inclusive os
ministros.
PADRÃO INALTERADO PARA OS MEMBROS DO MINISTÉRIO
Será que isso significa que devemos rebaixar o padrão
ministerial? De forma alguma. Que todos os que estão pensando em entrai"
para o serviço cristão vocacional tomem nota: O chamado que vocês estão
considerando é elevado e santo. As exigências são rigorosas. As
expectativas, quase irreais. Sou da opinião de que nem mesmo o presidente
de nosso país ou a pessoa mais bem paga na profissão mais responsável da
terra é de maior significado do que aqueles chamados ao ministério do
evangelho. Olhe antes de saltar. Pense bastante por bom tempo antes de se
matricular no seminário. Assegure-se de que seu cônjuge esteja com você
cem por cento. Se não, espere.
Se puder realizar-se em qualquer outro trabalho, fique longe do
ministério! Faca um estudo intenso de 1 Timóteo 3:1-7; 4:1216; 2 Timóteo
4:1-5; Tito 1:5-9. Examine seus motivos. Ore. Pense realisticamente. E
enquanto faz isso, passe algum tempo analisando Tiago 3:1, que diz:
"Meus irmãos, não sejais muitos de vos mestres, sabendo que
receberemos um juízo mais severo".
Para tornar essa advertência mais clara ainda, note o que dizem
duas paráfrases do versículo:
"Queridos irmãos, não sejam muito impacientes para falar aos outros
a respeito das faltas deles, pois todos nós cometemos muitos erros; e
quando nós, os mestres, que deveríamos ter melhor conhecimento, fazemos o
mal, nosso castigo é maior do que seria para os outros" (A Bíblia Viva).
"Meus irmãos, muitos de vocês não devem se tomar mestres na Igreja,
porque sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com mais rigor
do que os outros" (A Bíblia na Linguagem de Hoje).
Está na hora de nos conscientizarmos de quem somos, colegas
ministros. Nós, e aqueles que lideramos, somos a igreja, a Noiva que está
ao lado de Cristo. Ele deseja "apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa,
sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível"
(Efésios 5:27). O padrão jamais será abaixado para o ministério.
Sejamos jovens ou mais velhos, a maior parte da responsabilidade
pela restauração do respeito pelo ministério repousa sobre nós, que
lideramos. Isso não significa que você não esteja livre para ser você
mesmo. Tampouco significa que você jamais deva fazer o incomum, tentar
ideias criativas ou "quebrar a forma" como ministro do evangelho. Em
minha opinião, precisamos de mais ministros não intimidados, com ideias
originais, que tenham a coragem de modelar a verdadeira graça de Deus,
sem medo do que os outros possam dizer ou pensar.
Mas isto não sugere "pecar para que a graça possa abundar". Somos
chamados a desempenhar nossas tarefas sob o olho perscrutador, penetrante
e santo de Deus. Ninguém enfrenta uma análise mais rigorosa ou um Juiz
mais exigente do que nós. Precisamos temer o homem menos e temer a Deus
mais! Qualquer pessoa que entre para o seminário precisa aceitar esse
fato. Minha preocupação, falando bem honestamente, é que alguns jovens no
seminário pensem que estão livres para afrouxar seu padrão moral porque
alguns que o fizeram estão de volta ao ministério sem qualquer dano
aparente.
Embora muitos de nós estejamos trabalhando com afinco para sermos
nós mesmos e combater o legalismo, vamos ter a certeza de não
racionalizar a desobediência chamando-a de liberdade. Conforme escreveu
Tiago, "receberemos um juízo mais severo".
PREVENÇÕES CONTRA AS CONSEQUÊNCIAS DO ESCÂNDALO
Quero terminar este capítulo num tom positivo, sugerindo algumas
maneiras práticas de evitar ficar devastado por aqueles no ministério que
caíram. Permita-me dar-lhe algo que recusar, relembrar, renunciar e no
que focalizar.
Primeiro, recuse-se a endeusar qualquer pessoa no ministério.
Muita gente comete o erro de permitir que a admiração cresça a ponto de
tornarse exaltação. Má escolha! Não importa quanto um ministro seja
capaz, quantos dons tenha ou quanto signifique para você, se o exaltar
além da conta, você cairá mais do que qualquer um se ele cair. Mantenha
todos os ministros fora do pedestal! Tronos são feitos para reis e
rainhas. Adoração é para o Deus vivo. Pedestais são feitos para vasos,
flores e esculturas de bustos de homens e mulheres já falecidos. Não
entronize seu pastor -- ou qualquer ministro que seja.
Significa isso que você não o respeita? De forma alguma.
Significa que você não aprecia seus dons e não admira suas habilidades?
Não é bem isso. Respeito por qualquer cargo designado por Deus é
saudável. Sem ele, a igreja não progredirá. O respeito não apenas é nobre
e necessário, é bíblico também. Acho que as pessoas que se submetem a uma
liderança piedosa e apreciam os dons daqueles que estão no ministério são
amadurecidas e têm discernimento. Sábio é você quando reconhece a mão de
Deus na vida de qualquer ministro talentoso, quando segue seu exemplo,
quando aprende com sua instrução. O tempo todo em que estiver aprendendo,
seguindo e respeitando, contudo, tenha em mente que ele é um ser humano
como você. Sei o que estou dizendo: E terrivelmente desconfortável ser
tratado como um rei. (Eu deveria acrescentar que também não é nada
agradável ser tratado como um vagabundo.)
As pessoas da era neotestamentária tentaram venerar Paulo e
Barnabé. Atos 14:8-18 contém uma excelente história. Na realidade, as
pessoas disseram: "Júpiter e Mercúrio desceram do céu! Olhem os milagres
que estes homens podem fazer!" Os dois missionários rasgaram suas vestes
e imploraram ao povo que os deixasse. "Somos homens com a mesma natureza
que vocês." Barnabé e Paulo recusaram a adoração do povo. "Somos apenas
seres humanos. Não nos endeusem! Nada de se ajoelharem!"
Alguns versículos adiante, dá para acreditar? Lemos que
"apedrejaram a Paulo" (14:19). Antes eles adoraram o líder, depois o
surraram e o deixaram como morto. Quando li isso, pensei: "Bom exemplo do
ministério." Você está numa cobertura num minuto e na casinha do cachorro
no próximo. De manhã eles o estão endeusando e antes que escureça o estão
apedrejando. Nenhum extremo é apropriado ou justo.
Enquanto estou falando deste assunto, deixe-me dar um conselho a
você que está no ministério: Fique fora do pedestal! Não se acomode aí em
cima. Mantenha-se sempre engatinhando para baixo. Se você começar a
gostar de ficar lá em cima, conheço uma ótima solução: Tenha uma longa
conversa com sua esposa. Se isso não o deixar bem humilde, converse com
seus filhos adolescentes. Essa é uma coisa que jamais deixa de trazer os
altos e poderosos de volta à terra, e bem depressa.
Segundo, relembre que a carne é fraca e o adversário é forte. Na
próxima vez que duvidar disso, leia Lucas 22:31-32, onde Jesus informa a
Pedro:
"Simão, Simão, Satanás vos pediu para vos peneirar como trigo.
Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça, E tu, quando te
converteres, fortalece teus irmãos".
Essas palavras quase me fazem tremer. E outra maneira de dizer:
"O adversário está atrás de você, Simão. Você vai cair. Mas quando cair,
use isso como exemplo para fortalecer seus irmãos." Pedro foi o que havia
acabado de dizer: "Embora todos te abandonem, eu jamais te abandonarei.
Embora todos os outros se afastem, eu jamais te deixarei, Senhor."
Para cada um de nós no ministério, repito um lembrete: Nossa
carne é fraca e nosso adversário é real. Não existe nenhum ministro
eficaz e talentoso hoje que não seja um alvo do diabo e/ou de seus
demônios. Tampouco existe um ministro forte o suficiente em si mesmo para
resistir à armadilha do adversário. E preciso orar. Oração eficaz. Também
é preciso ser responsável, dócil e aberto. Por quê? Porque o inimigo é
muito sutil. Sabe, ninguém deliberadamente planeja fracassar no
ministério. Nenhum ministro jamais se sentou no lado da cama um dia e
falou: "Vamos ver como posso arruinar minha reputação hoje?" Mas com a
fraqueza da carne, misturada com a força e a realidade do adversário, o
fracasso é uma possibilidade sempre presente. Aquele que pensa estar de
pé, repito, cuidado...
Terceiro, renuncie a todo julgamento, deixando-o por conta de
Deus. Talvez uma palavra melhor seja condenação. Renuncie a toda
condenação, deixando-a por conta de Deus. Deixe que ele cuide de toda
vingança. Não é sua ou minha responsabilidade endireitar cada pessoa.
Algumas pessoas têm o "ministério de escrever críticas". Poderia ser
melhor chamado de "ministério da vingança". Elas escolhem várias pessoas
que desejam atacar, depois saltam sobre elas de caneta na mão (e sempre
assinam "em amor cristão"). Mas escrevem com o propósito de reduzir os
ministros às devidas proporções. Não perca seu tempo lançando mísseis no
território de algum irmão ou irmã. Deixe toda vingança por conta de
Deus... Ele é muito bom em julgar, como sabe. Deus é quem começou o
capítulo sobre a vida da
outra pessoa. Ele é capaz de terminar o capítulo quando preferir.
Não precisa de você para completá-lo. Como seria fácil desenvolver uma
atitude condenatória e julgadora nesta era maligna. Não vamos fazer isso!
Finalmente, focalize sua atenção nos ministérios que ainda estão
no rumo certo. Não importa quantos ministérios pareçam estar fora de
esquadro espiritualmente, muito poucos estão. Dê seu tempo, atenção e
dinheiro àqueles que Deus está usando. A propósito, não tente fazer todo
mundo ficar exatamente como você. Esta é uma boa hora para eu dizer a
todos os membros de igreja: deixem seu ministro ser quem é... real.
Deixem-no em paz! Deem-lhe a latitude que vocês desejam para si mesmos.
Deem-lhe o mesmo espaço que a graça de Deus concede a vocês. Não o forcem
em algum molde tradicionalista, exigindo dele o que vocês tinham em um
antigo pastor nos idos de 1831! Ou o que vocês leram em alguma excelente
biografia. Podem crer, se vocês tivessem conhecido melhor essa alma
notável naquela época, teriam encontrado algo de que não gostariam até
mesmo nele ou nela. Respeito por aqueles que estão no ministério é uma
coisa. Tentar fazer todos os ministros se parecerem e falarem a mesma
coisa e agradarem a vocês de todas as formas não apenas é tolice, mas é
impossível. Por favor... larguem do nosso pé!
Amei o comentário de Barbara Bush quando Barbara Wãlters a
entrevistou na televisão, e perguntou:
- A senhora gosta quando as pessoas lhe escrevem e a comparam com
Nancy Reagan?
A ex-primeira dama replicou com afoita franqueza:
- Detesto.
- Por quê? - perguntou a repórter.
- Porque sou Barbara Bush. Não sou Nancy. Amo os Reagans, mas os
Reagans já não estão na Casa Branca. Tenho de ser quem sou.
Resposta maravilhosa!
Se a Sra. Bush quer servir salsichas e chucrute no jantar, que o
faça! Como diz a canção popular: "tenho de Ser Eu."
Quando se trata de ministérios, procure aqueles que se enquadram
na Escritura. Procure ministros que sejam modelos de autenticidade. Tire
os olhos daqueles que fracassaram e refocalize a atenção nos que ainda
estão no rumo certo... mas (repito) não tente forçá-los a se encaixar na
sua forma particular!
Seja honesto, está bem? Será que todos os escândalos ligados ao
ministério fizeram você voltar-se contra as Escrituras e esfriar para com
Deus? Você começou a sentir-se desconfiado com relação a todas as
igrejas... passando a olhar por cima dos óculos a todos os ministros?
Tenho um conselho para esclarecê-lo. Não seja tão crítico! E tão fácil
tornar-se cínico numa época em que nada além de más notícias chega às
manchetes. Não demora muito e nós começamos a julgar todos os que estão
no ministério. A reação comum é: "Isso mesmo, outro fingido no
ministério." Se você for totalmente honesto, talvez até tenha de admitir:
"E por isso que eu já não tenho nenhum interesse em Jesus Cristo."
Se isso for verdade, devo informá-lo que você está rejeitando o
único ser perfeito que jamais viveu. Não importa quem se sinta tentado a
rejeitar, não rejeite a Cristo, o Senhor! Ele é o único que é
absolutamente perfeito... o único que pode lhe garantir um lar no céu. E
o único que pode perdoar seus pecados. E o único que pode enxergar o
interior de sua vida e separar o motivo da ação. E o único cuja morte
pagou a dívida de seus pecados. E meu privilégio, como tem sido meu
privilégio por trinta anos maravilhosos e aventurosos, contar-lhe que se
você quer ter vida eterna com Deus, Jesus é o único que pode fazer isso
acontecer. Dê-lhe sua vida agora. Não retenha nada. Pela fé, aceite sua
dádiva hoje. Torne-se um daqueles que se postam como a Noiva ao lado de
Cristo. Você jamais se arrependerá. Jamais.
Pai, obrigado pela força que me deste para escrever este livro.
Não foi fácil. Palavras condenatórias foram compartilhadas. Estar no meio
de uma crise de integridade é um lugar difícil para nos encontrar.
Modelos autênticos da semelhança com Cristo parecem muito raros. E
contudo, Senhor, há centenas, milhares até, que te amam e caminham
contigo. Refocaliza nossa atenção nos ministérios que estão dando conta
do recado. Tira os esforços exaustivos que acompanham uma atitude
desconfiada e um espírito que não sabe perdoar. Ajuda-nos a viver com a
tensão de não sermos capazes de corrigir todos os erros ou de responder a
todas as contradições. Relembra-nos da importância de dar mais atenção a
como deveríamos estar conduzindo nossas próprias vidas em vez de nos
consumirmos tanto com a maneira que os outros vivem as suas.
Finalmente, querido Deus, desperta-nos! Dá-nos coragem de voltar
ao que é básico em vez de desperdiçar nosso tempo em coisas não
essenciais de baixa prioridade. E visto que nossos tempos são maus, tão
distantes do rumo, capacita-nos a fazer diferença. Usa-nos para restaurar
o respeito pelo ministério do evangelho. Que possamos terminar este
século fortes.
No nome incomparável de Cristo, eu oro. Amém.
REFLEXÕES
1. Se você tiver muito contato com não-cristãos (ou mesmo com
cristãos!) regularmente, é provável que ouça meia dúzia de comentários
críticos e cínicos sobre o ministério dentro do próximo mês,
aproximadamente. Como você responderá? Mordendo os lábios... dando de
ombros... assentindo passivamente com a cabeça? Que verdades tiradas do
capítulo que acabou de ler poderiam ajudá-lo a formular uma resposta
firme mas não-defensiva às calúnias injustas sobre o ministério cristão?
2. Conforme mencionei, relembro-me a cada semana da minha vida de
que sou tão capaz de cair no pecado e desgraçar o ministério quanto
aqueles cujos nomes aparecem nas manchetes. Não me atrevo a deixai* uma
semana passar pensando: "Isso não poderia acontecer comigo." Você também
não! Que passos práticos você pode dar para relembrar esse fato numa base
semanal (ou diária) ?
3. Em vez de lançar um míssil escrito contra um homem ou mulher
que está se esforçando sob o peso de um ministério de destaque, por que
não escrever um parágrafo de encorajamento? (Verifique primeiro se a
pessoa não tem problema de coração - o choque poderia ser fatal.) Faça
com que aquele seu pastor encurvado saiba de seu cuidado, preocupação e
profunda apreciação por ele aguentar a barra em uma vocação por vezes
ingrata, mas oh, tão recompensadora.
CONCLUSÃO
Minha preocupação em todo este livro tem sido a de que não
adentremos o século vinte e um vagueando sem rumo, torcendo, esperando
que de alguma forma as coisas melhorem. Isso seria tão eficaz quanto
rearranjar as espreguiçadeiras no convés do Titanic. Há um trabalho
enorme para se fazer, excelentes oportunidades para se aproveitar... e o
tempo é curto.
Não procurei tratar de questões sociais, filosofias econômicas ou
formas de governo eclesiástico nestas páginas. Há livros de sobra a
respeito de todos esses assuntos. Minha preocupação foi mais com o
coração das coisas... nosso propósito básico como crentes, nossos
objetivos principais como igreja de Cristo, nosso estilo de ministério,
nossa necessidade de integridade. Sugeri como podemos evitar perder o
caminho 110 labirinto de pressão e perseguição - ou esfriar a nossa
paixão no pântano da afluência e indiferença.
Esta não é a única vez na história em que a igreja e seus membros
se esqueceram que estão de pé ao lado do Cristo Todo-poderoso como sua
Noiva e possuem tudo o que é necessário para transformar o mundo. A mesma
amnésia ocorreu pela primeira vez no distante final do primeiro século.
Retratos escritos de diversas igrejas locais aparecem no segundo e
terceiro capítulos do Livro do Apocalipse. Cada igreja era muito parecida
com a minha e a sua hoje: um farol de esperança, um lugar onde as pessoas
se reuniam, adoravam e partilhavam suas vidas.
Embora estivessem localizadas em um continente diferente do nosso
e falassem outra língua, aquelas pessoas já haviam sido cheias de sonhos,
visão e desejo. Cada igreja tinha suas próprias características,
liderança dada por Deus, oportunidades, lutas e desafios. Sabiam que,
como a Noiva de Cristo, eram suas representantes na Terra. E lá estavam
elas -- fortes refúgios onde a verdade era ensinada e vidas eram
transformadas.
Tragicamente, algo aconteceu a cada igreja que silenciou seu
testemunho. Como na erosão, a derrocada foi sutil e lenta, mas a mesma
conclusão ocorreu com todas. Cada uma delas finalmente tornou-se uma
casca onde ventos uivantes sopravam através de santuários vazios. A voz
forte do pregador se desvaneceu na distância. Era como se a Noiva se
tivesse afastado daquele ao lado de quem estivera e de quem era mais
íntima. E o movimento que havia virado o mundo de cabeça para baixo
estacou bruscamente.
A igreja de Éfeso, conhecida por sua ortodoxia, perdeu seu calor
e finalmente o amor pelo Salvador.
A poderosa igreja de Pérgamo começou a tolerar ensinamentos
errôneos e finalmente ficou crivada de características semelhantes às das
seitas, contaminada por crassa imoralidade.
A igreja de Sardes, tão viva, ativa e zelosa, começou a viver no
passado. Chegou a ponto de o rebanho em Sardes focalizar apenas "o modo
como éramos". Sardes tornou-se um pesado monumento eclesiástico... nada
mais do que um necrotério com um campanário.
A rica e famosa igreja de Laodicéia atraía grandes multidões, sem
dúvida, porque jamais ofendia a quem quer que fosse. Ela tinha tudo, o
que a levou a achar que "de nada tenho falta". Contudo acabou ficando
"miserável, e pobre, e cego e nu". Seu estilo morno revirou o estômago do
Senhor... e ela também desapareceu de cena.
Vez após vez o Senhor apelou à sua Noiva. Logo após cada um dos
sete comentários, a mesma advertência aparece. Sete vezes lemos palavras
idênticas:
"Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz às
igrejas (Apocalipse 2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22).
Há boa razão para Deus repetir o que disse. Ele tem tido de
apelar não apenas àquelas igrejas, mas a toda igreja, a todo crente - à
Noiva - em cada século que se seguiu. Ele ainda está apelando.
No filme musical Violinista no Telhado, Tevye, o personagem
principal, é um pobre leiteiro judeu morando na Rússia com a esposa e
três filhas. O casamento é um ideal ao qual aspiram as três jovens
camponesas, mas devido à sua pobreza, elas nada podem trazer ao
companheiro. Não têm
nenhum dote. Não têm absolutamente nada que possam oferecer àquele
por quem se apaixonarem e com que quiserem se casar.
É isso que acontece com a igreja. Não temos absolutamente nada
para oferecer a Cristo, exceto talvez um histórico de críticas de mau
desempenho.
Contudo, eis o que é estarrecedor, incrível, maravilhoso. Cristo
ainda nos quer. E ele ainda quer nos usar.
Em uma das mais grandiosas declarações do propósito de Deus para
os cristãos encontradas em toda a Bíblia, lemos "a ele seja glória, na
igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre.
Amém" (Efésios 3:21). Cristo e sua igreja devem dar glória a Deus. Parece
deliberado que a igreja seja colocada antes de Cristo aqui. O significado
do versículo é que com ele ao nosso lado, Jesus acredita que podemos
fazê-lo. E não apenas acredita que podemos fazê-lo, mas também está
confiando em nós para fazê-lo.
E o faremos. Bill Hybels, fundador e pastor da igreja Willow
Creek Conimunity Church, escreve:
"Deus pode fazer coisas incríveis através de seu povo. Ele disse
que construiria sua igreja e que as portas do inferno não prevaleceria
contra ela. Portas são defensivas. Nós, seu povo, devemos estar na
ofensiva. Por isso busque primeiro o reino de Deus. Não se deixe
envolver. Não fique sufocado. Não perca seu primeiro amor pelo Senhor.
Não leve uma vida morna.
A questão central que determinará o sucesso da igreja não é
realmente quem se opõe a nós. E quem está ao nosso lado. E ao lado de
quem estamos. Nós, a Noiva, carregamos o estandarte de Cristo. Nós temos
todos os recursos necessários para mudar drasticamente o mundo, enquanto
ele dispara rumo ao século vinte e um!
Notas Bibliográficas
Capítulo 1
1. Gregory Stock, The Book of Questions (O Livro das Perguntas)
(New York: Workman Publishing, Co., 1987), pp. 12, 15, 27, 43, 50.
Reimpresso com a autorização de Workman Publishing, Co. Todos os direitos
reservados.
2. Ibid., pp. 55, 98.
3. ccO Breve Catecismo de Westminster", The Book of Confessions of
the Presbyterian Church, USA (O Livro de Confissões da Igreja
Presbiteriana dos Estados Unidos) (New York: Office of the General
Assembly [Gabinete do Supremo Concílio], 1983), p. 7.007-.010.
4. Andrae Crouch, "My Tribute" (Meu Tributo), ©Lexicon Music, Inc.,
1971. Todos os direitos reservados.
5. Richard H. Bube, To Every Man An Answer: A Textbook of Christian
Doctrine (Para Cada Homem Uma Resposta: Um Compêndio de Doutrina Cristã)
(Chicago: Moody Press, 1955), p. 391.
6. Extraído de Lee, An Abridgement (Lee, Uma Sinopse) por Richard
Harwell, dos quatro volumes R. E. Lee por Douglas Southall Freeman.
Direitos autorais ©1961 Espólio de Douglas Soudiall Freeman. Reimpresso
com autorização de Charles Scribner's Sons, uma marca de Macmillan
Publishing Company.
7. Anne Tyler, Morgan's Passing (O Falecimento de Morgan) (New
York: Alfred A. Knopf, 1980), citado em Working the Angles (Explorando as
Oportunidades), EugeneH. Peterson (GrandRapids: Eerdmans, 1987), pp. 5-6.
Capítulo 2
8. David Wiersbe e Warren W Wiersbe, Making Sense of the Ministry
(Captando o Sentido do Ministério) (Grand Rapids: Raker, 1983),"pp. 3146.
9. Ibid., p.43.
Capítulo 3
10. Robert R. Shank, "Winning Over Uncertainty: Unraveling the
Entanglements of Life" (Vencendo a Incerteza: Desembaraçando os
Emaranhados da Vida), Straight Talk (Falando com Franqueza) (Living to
Win Series [Série Vivendo para Vencer]) (Tustin, Cal.: Priority Living,
Inc., 1987).
11. Marion Jacobsen, Saints and Snobs (Santos e Esnobes) (Wlieaton,
111.: Tyndale House, 1972), p. 67. Usado com Permissão.
12. Fonte desconhecida. Capítulo 4
13. George Gallup, jornal Dallas Times Herald, citado no artigo de
Frederick Tatford, Revelation (Revelação) (Minneapolis: Klock and Klock
Christian Publishing Co., 1985), p. iii-iv.
14. Walter Oetting, The Church of the Catacombs (A Igreja das
Catacumbas), ed. rev. (St. Louis, Mo.: Concordia Publishing House, 1964,
1970), p. 25.
15. Howard A. Snyder, The Problem of Wineskins (O Problema 249 A
Noiva de Cristo dos Odres de Vinho) (Downers Grove, 111.: Inter Varsity
Press, 1975), pp. 75-77. Usado com permissão.
16. Lyle Schaller, ilustrado por Edward Lee Tücker, Looking in the
Mirror (Olhando no Espelho) (Nashville: Abingdon, 1984), pp. 28-30.
17. John R. W Stott, The Preacher's Portrait (O Retrato do
Pregador) (Grand Rapids: Eerdmans, 1961), pp. 28-29.
18. Ibid., p.30.
19. Congresso dos Estados Unidos, Carl Sandburg falando diante da
sessão conjunta do Congresso, 86° Congresso, 1ª sessão, 12 de fevereiro,
1959. Congressional Record (Registro do Congresso), vol. 105, parte 2,
pp. 2265-2266.
Capítulo 6
20. Charles Dickens, A Tale of Two Cities (Um Conto de Duas
Cidades) [1859], Livro 1, Capítulo I.
21. Denis Waitley, Seeds of Greatness (Sementes de Grandeza)
(OldTappan, N.J.: Revell, 1983), pp. 167-68. Usado com permissão.
22. Charles Wesley, "A Charge to Keep Have I" (Um Rebanho para
Cuidar Tenho Eu), [1782].
Capítulo 7
23. James Russell Lowell, "Once to Every Man and Nation" (Uma Vez a
Cada Homem e Nação), em Familiar Quotations (Citações Conhecidas), ed.
John Bartlett, 15a ed. (Boston, Toronto: Little, Brown and Company Inc.,
1980), p. 567.
24. John R. W Stott, The Message of Second Timothy (A Mensagem de
Segunda Timóteo) (Downers Grove, 111.: Inter Varsity Press, 1973), p. 91.
Capítulo 8
25. Comentário não publicado por G. Raymond Carlson durante uma
entrevista com a revista Leadership (Liderança) de 20 de janeiro de 1988.
26. Charles Haddon Spurgeon, citado por Richard Ellsworth Day, The
Shadow of the Broad Brim (A Sombra da Aba Larga) (Philadelphia: The
Judson Press, 1934), p. 131.
27. Carl Sandburg, Abraham Lincoln, The War Tears (Abraão Lincoln,
Os Anos de Guerra), vol. 4 (New York: Harcourt, Brace & Company, hie.,
1939), p. 185.
28. William Blake, "The Everlasting Gospel" (O Evangelho Eterno),
The Poetry and Prose of William Blake (A Poesia e Prosa de William
Blake),
ed. David V Erdman (Garden City, N.Y.: Doubleday & Company, Inc.
Direitos autorais por David V Erdman e Harold Sloan, 1965), p. 512,
1.110-104.
Capítulo 9
29. "An Unholy War in the TV Pulpits" (Uma Guerra Nada Santa nos
Púlpitos da TV), revista U.S. News and World Report, 6 de abril de 1987,
p. 58.
30. John Bartlett's Familiar Quotations (Citações Conhecidas de
John Bartlett), ed. Emily Morison Beck, edições dos 15° e 125°
aniversários (Boston: Little Brown and Company, 1855, 1980), p. 79.
31. Ted W Engstrom com Robert C. Larson, Integrity (Integridade)
(Waco, Tex.: Word, 1987), p. 10.
32. John Gardner, Excellence (Excelência) (New York: Harper & Row,
1971), citado no livro de Tim Hansel, When I Relax I Feel A Noiva de
Cristo 251 Guilty (Quando Me Descontraio Sinto-me Culpado), (Elgin, 111.:
David C. Cook, 1979), p. 145.
33. Martin E Marty, "Truth: Character in Context" (A Verdade:
.Caráter em Contexto), Los Angeles Times, 20 de dezembro, 1987, sec. 5,
p.I, col.l.
34. Usado com permissão do autor.
35. Excertos de uma carta de Charles R. Swindoll a um amigo.
36. Charles Haddon Spurgeon, Lectures to My Students (Palestras aos
Meus Estudantes) (Grand Rapids: Zondervan, 1954, 1958, 1960, 1962), pp.
13-14.
37. A. W Tozer, God Tells the Man Who Cares (Deus Fala ao Homem Que
Se Importa) (Harrisburg, Penn.: Christian Publications, Inc., 1970), pp.
7679).
38. Charles R. Swindoll, Dropping Tour Gimrd (Vivendo Sem Máscaras)
(Waco, Tex.: Word, 1983), pp. 168-85; Living Above the Level of
Mediocrity (Como Viver Acima da Mediocridade) (São Paulo: Editora Vida,
1991), pp. 117-38.
39. Josiah Gilbert Holland, "God, Give Us Men!" (Deus, Nos Dá
Homens), citado em The Best Loved Poems of the American People (Os Mais
Amados Poemas do Povo Americano), selecionados por Hazel Felleman (Garden
City, N.Y.: Garden City Books, 1936), p. 132.
Capítulo 10
40. Warren W. Wiersbe, The Integrity Crisis (A Crise de
Integridade) (São Paulo: Editora Vida, 1989), pp. 9-11. Usado com
permissão.
41. Chuck Colson, "Reflexions on a Book Tour: It's Cold Out There"
(Reflexões Sobre um Circuito do Livro: Está Fazendo Frio Lá Fora), seção
Another Point of View (Outro Ponto de Vista), Jubilee, fevereiro de 1988,
pp. 7, 8. Usado com permissão dos Prison Fellowship Ministries.
42. Robert Robinson, "Come, Thou Fount of Every Blessing" (Vem, Tu
Fonte de Todas as Bênçãos), [1758].
43. G. Frederick Owen, Abraham to the Middle-East Crisis (De Abraão
à Crise do Oriente Médio), (GrandRapids: Eerdmans, 1939, 1957), pp. 5657. Conclusão
44. Bill Hybells, Seven Wonders of the Spiritual World (Sete
Maravilhas do Mundo Espiritual) (Dallas, Tex.: Word, 1988), pp. 150-51.
QUARTA CAPA:
A igreja primitiva teve poder para virar o mundo de cabeça para
baixo Agora é sua vez...
Quando ela entra no templo, todos os olhares se voltam para
contemplá-la. Seu rosto reflete um brilho triunfal. Ela está no seu dia
de glória e de felicidade plena. Ela é a noiva.
Charles Swindoll lembra-nos que Cristo também tem sua noiva. A
amada do seu coração é a Igreja. Contudo, muitos na Igreja de Cristo
parecem ter perdido essa perspectiva. Escaramuças sem importância e
briguinhas internas dentro de nossas próprias fileiras estão drenando
nossa energia.
A gratificação instantânea está substituindo depressa os alvos
eternos. O plano que Deus estabeleceu para a Igreja está sendo eclipsado
por atividades que vão de espúrias a escandalosas.
Este livro nos dá uma boa visão da Noiva de Cristo, e nos ajuda a
compreender o que a Igreja deveria ser. Seu autor oferece idéias para
revitalizar a Igreja dos dias atuais. Tendo permanecido no pastorado por
quase três décadas, Swindoll teve amplas oportunidades de testá-las. Elas
funcionam. Leitura indispensável para quem tem compromisso com o Noivo.
0083-3 ISBN 0-8297-2048-0 Ministério Cristão