REVISTA N.º 19 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · NOVEMBRO 2014

Transcrição

REVISTA N.º 19 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · NOVEMBRO 2014
REVISTA N.º 19 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · NOVEMBRO 2014
O DESEMBAR UE
índice
ficha técnica
Editorial
Abraço Amigo
3
Contos & Narrativas
Operação Cuango – Grande Maca
4
4 Instantes de uma Comissão - Parte I – “Mas eu sou assim Sr. Comandante...”
6
Estórias por Contar
7
A Guerra, os Homens e os Animais – Estórias de Afectos
9
Cultura & Memória
Comissão SAR (Search & Rescue) – Açores 1985/1986
12
Eventos
A AFZ no Dia do Combatente/2014 – “Batalha de La Lys”
14
Opinião
Pois bem Camarada: Chegou a tua vez!
15
Dez de Junho
Publicação Periódica da
Associação de Fuzileiros
Revista n.º 19 • Novembro 2014
Propriedade
Associação de Fuzileiros
Rua Miguel Pais, n.º 25, 1.º Esq.
2830-356 Barreiro
Tel.: 212 060 079 • Telem.: 927 979 461
email: [email protected]
www.associacaofuzileiros.pt
“O 10 Junho” de 2014 – Dia de Portugal na Cidade da Guarda
16
Homenagem aos Combatentes em Belém – XXI Encontro Nacional
17
Palavras do Presidente da Comissão Executiva Tenente-General Sousa Rodrigues
18
Discurso do Professor Doutor Henrique Leitão
19
Edição e Redacção
Direcção da Associação de Fuzileiros
21
Director
José Ruivo
Crónicas
A Marinha… – Navegando em Terra!...
Dia do Fuzileiro
Dia do Fuzileiro – 5 de Julho de 2014
24
Directores Adjuntos
Marques Pinto, Leão Seabra e
Benjamim Correia
Editor Principal
Marques Pinto
Convívios
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 10 – Moçambique 1974/75 - 40.º Aniversário
29
20.º CFORN FZ – … 42 anos depois!
30
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 4 – Guiné 1973/74
30
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 13 – Guiné 1968/70
31
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 6 – Angola 1973/75 - Os Tubarões
32
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 2 – Angola 1965/67 - 49.º Aniversário
33
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 10 – Guiné 1964/66 - 50.º Aniversário
34
25.º Aniversário do 1.º CFORN FZ 1989/90
35
Classe de fuzileiros do 18.º CFORN – Encontro Anual (Serra da Arrábida – Km 5 da N 379)
36
Cadetes do Mar
Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros
40
Notícias
CEMA, DGAM, Presidente da CM do Barreiro e CCFZ – Apresentação de Cumprimentos
42
Almoço com os Presidentes da Câmara e das Juntas de Freguesia do Barreiro
42
Iniciativa da CMB “Dia B, uma Cidade Limpa”
43
Delegações
Delegação do Algarve
44
Delegação do Juromenha/Elvas
46
Delegação de Vila Nova de Gaia
49
Obituário
50
Diversos
51
Colaborações
Delegações da AFZ, MP, CM, JR, LS, BC,
Ribeiro Ramos, Miranda Neto, José Horta e
Paulo Gomes da Silva
Fotografia: Ribeiro, Afonso Brandão, Pedro
Gonçalves, Mário Manso e Lema Santos
Capa (Fotos): Mário Manso/Manuel Lema Santos
Coordenação gráfica
e paginação electrónica
Manuel Lema Santos
[email protected]
Impressão e acabamento
GMT – A. Gráficos, Lda.
Rua Sebastião e Silva, n.º 79, Piso O
Massamá – 2745-838 Queluz
Tel.: 214 382 960
Email: [email protected]
Tiragem
2.000 exemplares
Depósito legal n.º 376343/14
ISSN 2183-2889
Não reconhecemos qualquer nova forma de ortografia da
língua portuguesa mas, no respeito por diferente opção,
manteremos os textos de terceiros aqui publicados que
configurem outra forma de escrita.
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
editorial
José Ruivo
U
m dia, já lá vão uns largos meses, e sem esperar,
recebo o telefonema de um amigo e camarada do
curso de Fuzileiro a quem eu já não via há algum
tempo. Quando respondo identificando-me, ouvi do outro
lado a seguinte frase: “olha, estou a ligar-te apenas para
saber de ti e mandar-te um abraço”. Fiquei agradavelmente surpreendido e trocámos então algumas palavras
de circunstância, procurando saber novidades um do outro, da família, e de como a vida ia correndo.
Abraço Amigo
Fiquei a matutar na razão daquele telefonema e surgiu-me
então a ideia de como seria bom para tantos dos nossos
camaradas se esta atitude fosse multiplicada por muitos.
Foi assim que, nas minhas primeiras palavras proferidas
logo após a eleição dos novos Corpos Sociais para o biénio
2014/15, em Março deste ano, apresentei esta mesma
ideia que gostaria agora de desenvolver, aproveitando o
facto de a nossa Revista “O Desembarque” chegar a todos
os sócios e ser lida por muitos outros fuzileiros; termos
a simpatia de fazer um telefonema para simplesmente
darmos um abraço a um amigo.
É então esta a ideia que agora vos proponho: pelo menos
uma vez por semana percorremos a nossa lista telefónica
e ligamos para um amigo ou camarada com quem já não
falamos há algum tempo apenas para lhe dar um abraço.
Quando fizeram isso comigo senti-me muito bem e hoje
em dia nem fica muito caro e, muitas das vezes, com os
actuais tarifários, até nem representa um custo adicional.
Podemos imaginar a agradável surpresa e satisfação de
quem está do outro lado da linha, o quão bem se sentirá porque alguém se preocupou com ele. Sabe-se lá há
quanto tempo esse camarada ou amigo não recebia a
atenção de ninguém. Toda a gente gosta de um pouco
de atenção, especialmente vinda de alguém que é nosso
amigo ou com quem vivemos e partilhámos momentos
significativos da nossa vida.
Uma boa parte dos nossos camaradas fuzileiros
encontram-se já numa faixa etária que acarreta algumas
limitações quer físicas quer intelectuais ou psicológicas
e o facto de receber um abraço, ainda que apenas por
telefone, trar-lhe-á certamente uma grande satisfação.
Esta nossa atitude trar-nos-á também de volta algum
benefício. Para além de sabermos novidades acerca dos
nossos amigos, muito provavelmente, de quando em vez,
receberemos também o telefonema de um camarada.
Penso tratar-se de uma ideia simples e como todas as
coisas simples, é bem capaz de resultar. É para isto que
serve também a nossa Associação.
José Ruivo
Presidente da Direcção
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
3
contos&narrativas
Operação Cuango
Grande Maca (*)
Guilhermino Ângelo
J
á se avistava aquele clarão do Sol nascente e as aves começavam a animar o arvoredo com os seus gorjeios, quando se
dá início ao tão desejado regresso do Destacamento à cidade. Um regresso que se previa difícil e cansativo, como difíceis
e cansativas tinham sido aquelas duas semanas de operações
conjuntas com unidades do Exército e patrulhas diurnas e noturnas em botes pneumáticos, nas águas do fronteiriço rio Cuango.
Depois de um pequeno palmeiral e da savana de capim adulto estendiam-se agora à nossa frente quilómetros de uma tão
bela como traiçoeira floresta tropical. Os Destacamentos de Fuzileiros Especiais eram formados por homens bem preparados,
aguerridos e combativos, resultado da sua longa e dura formação,
constituindo assim um núcleo muito capacitado e adestrado para
operar nas mais difíceis condições. Mas, no interior destas matas, onde o adversário muitas vezes se acoita e aguarda a melhor
ocasião para atacar, aproveitando a nossa vulnerabilidade, até o
mais teso fica com o estômago encolhido só de ouvir um daqueles
gritos roucos que divertidos arborícolas macacos soltam, receosos de perderem aquela liberdade selvagem.
Desta vez os Deuses estiveram com o Destacamento. Terminou
aquele caminho de terra (mal) batida, sem se avistar vivalma, e
entrou-se na estrada pavimentada que ligava vilas e cidades já
com alguma densidade populacional e actividade comercial e industrial. Descurou-se um pouco a segurança e todos puderam
enxugar o suor que pingava das sobrancelhas e desabotoar o camuflado à procura de alguma frescura daquele dia tórrido. Muitos
praguejavam, outros olhavam para o relógio com impaciência.
Havia em todos um desejo irresistível de chegar.
Percorridos quilómetros e quilómetros naquelas desconfortáveis
viaturas e sob um calor abominável avista-se, finalmente, Luanda
e lá longe, no horizonte, um vermelho-fogo, laranja e lilás pôr-do-sol africano, fenómeno de uma beleza arrebatadora.
Chegados às Instalações Navais da Ilha do Cabo (INIC) e arrumado
todo o material, é hora da minha “equipa” tirar do corpo o sujo
camuflado, tratar da higiene pessoal, esquecer o cansaço e seguir
rapidamente para a cidade. Ali, bebem-se umas Cucas no Rialto,
umas imperiais na Versalhes, mais umas canecas no Baleizão e
para esquecer aquela alimentação, escassa e de fraca qualidade,
fornecida pelo Exército e as famigeradas Rações de Combate Tipo
E, nada melhor que jantar um bife à floresta no restaurante que
lhe emprestou o nome.
Satisfeito o estômago era preciso saciar outros desejos. Impunha-se dar uma olhadela pela “pequename”. O périplo começou no
Rex. Seguiu-se outro... e outro. Em todos eles muitas caras já
nossas conhecidas, mas também se viam algumas “dactilógrafas” acabadas de chegar da Metrópole. Terminada esta etapa e
dado o adiantado da hora, só nos restava tomar um táxi e rumar à
Casa Portuguesa, local de passagem obrigatória.
Situada no extremo Sul da Ilha do Cabo, a Casa Portuguesa trabalhava praticamente 24/24 horas, servia um farto e saboroso
cozido à portuguesa e muitos e variados petiscos, sempre acompanhados de bons vinhos e rematados com cafés e aguardente.
Servia mas tinha deixado de servir. A então casa típica de porta
sempre aberta, encontrava-se agora com ela semifechada e um
corpulento indivíduo, dos seus trinta e cinco/quarenta anos a impedir o acesso sem o prévio pagamento de uma certa importância. A surpresa foi geral e alguém mais indignado deu um “chega
para lá” ao sujeito que, em desequilíbrio, cai arrastando consigo
o vistoso reposteiro. Chega o gerente que, numa calma aparente,
explicou o actual funcionamento daquele espaço e que o dinheiro
pago pela entrada nunca estaria perdido. Seria convertido numa
despesa a efectuar no interior. Era a chamada despesa mínima
obrigatória.
De facto aquelas duas semanas tinham sido fatais para a Casa
Portuguesa. Manteve o nome, mas a transformação foi tão profunda que àquela hora, em vez de servir o tradicional caldo verde
e outras iguarias com a presença de bons fadistas, oferecia espetáculos virados para uma plateia totalmente masculina (outros
tempos). Entre nós já havia quem lamentasse ter deixado as “casas” do centro da cidade mas, mesmo sem ter havido unanimidade (valeu aqui a voz do mais antigo) avançámos a pagar as
senhas de entrada e fomos ao encontro de um ambiente onde, em
vez dos nossos conhecidos intérpretes da triste e fatalista canção
nacional, predominava agora a beleza feminina.
Foto de José Ruivo
(*) Maca, em Angola, quer dizer conversa acesa/discussão.
4
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
contos&narrativas
Em palco actuavam graciosas bailarinas de corpos semidesnudados que, com simpatia, elegância e muito talento, davam uma
extraordinária animação à casa, sendo por isso merecedoras de
grandes aplausos. Por fim, para encerramento do show da noite,
entrou em cena outra bela mulher. Loira, pele branca e de corpo
delgado, esta profissional de strip enquanto dançava ao som da
música Pássaro de Fogo do compositor Igor Strawinsky, ia despindo, muito lentamente como quem tem todo o tempo do mundo,
a pouca roupa que trazia, começando por aquele vestido de cetim
negro e decote perturbador.Os aplausos na plateia aumentavam
na razão inversa às peças de vestuário no seu corpo. E foi, aquando da sua nudez total e se dirigia ao público para agradecer aquela ovação final, que me iludiu com a oferta da sua última peça de
roupa e um provocante movimento de lábios e olhos, logo seguido
de um sorriso.
Perplexo, interroguei-me: mas estes gestos para mim porquê?
Alto, tisnado e seco como múmia de faraó, não são certamente
pela minha formosura. A verdade é que fiquei louco e julguei-me
amado, por isso a loucura levou-me a dirigir-lhe um “convite”
e a resposta foi um olhar enviesado e um estrondoso fechar de
porta do camarim onde se refugiou. Fraquejaram-me as pernas,
o sangue gelou nas minhas veias e a pele ficou da cor do marfim.
Fui imprudente, confundi trabalho com incentivo.
Para despedida estava reservado mais um conflito. Queríamos
forçosamente levar em carteiras de fósforos o valor das entradas. Seriam umas centenas. O taranta do empregado, incapaz
de satisfazer o nosso pedido, pede a colaboração do gerente que
logo nos apelida de conflituosos e “convida-nos” a sair. Depois de
um grande desaguisado, foi-nos proposto sair sem fósforos mas
com a devolução do dinheiro das entradas e a oferta dos whiskies
consumidos. Aceitámos e abandonámos a casa.
No exterior pudémos então respirar em grandes arfadas aquele
ar fresco vindo do Atlântico, limpando assim os pulmões do fumo
dos muitos cigarros queimados naquele espaço fechado. E quando tudo apontava que o regresso seria por nossa conta, ou seja,
a pé, passa por nós uma viatura da PSP com dois agentes que se
oferecem para nos levar às INIC, onde a nossa entrada coincidiu
com a alvorada daquele dia. Era domingo, o terceiro do mês de
Outubro de 1964. Tínhamos então vinte e poucos anos de idade e
dezanove meses de comissão.
Guilhermino Augusto Ângelo
Sóc. Orig. n.º 1527
Nota do autor: Á memória dos Camaradas Eduardo e Mário, também protagonistas desta estória e vítimas de doença assassina.
INFORMAÇÃO aos Sócios
Salão Polivalente e de Refeições
Informamos os nossos Associados que o Salão
Polivalente e de Refeições da AFZ, na nossa Sede
Naciona, está em pleno funcionamento consolidadas que estão as obras de conservação/manutenção, cujas instalações e equipamentos foram
totalmente remodelados, incluindo o mobiliário .
Daqui exortamos todos os Sócios a que frequentem a nossa/Vossa Sede, o Bar e o Salão Polivalente e de Refeições e a que, os Camaradas
organizadores dos habituais Almoços/Convívios,
consultem sempre a AFZ e/ou o respectivo Concessionário do espaço, porque encontrarão, por
certo, condições de relação qualidade/preço
muito favoráveis, para além de um ambiente
agradável e de muito nível, propício à realização
de eventos de qualquer natureza, em que as nostálgicas saudades, as alegrias, a amizade, a solidariedade, as nossas histórias e o espírito do fuzileiro se podem revelar em toda a sua plenitude.
Sugerimos que as marcações de eventos ou os
almoços/convívios sejam feitos com a intervenção do Secretariado Nacional da AFZ (telefone:
212 060 079; ­telemóvel: 927 979 461, email:
[email protected]) por razões que têm a
ver com a programação dos eventos da iniciativa
da Direcção.
O Concessionário do espaço, cujo contacto telefónico é o 210 853 030, deve dar conhecimento à
Direcção de todos os eventos e/ou convívios que
venham a ocorrer na Sede Nacional, antes de se
comprometer na sua realização.
Saudações a todos os Sócios e suas Famílias.
A Direcção Nacional da AFZ
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
5
contos&narrativas
4 Instantes de uma Comissão - Parte I
“Mas eu sou assim Sr. Comandante...”
Elísio Carmona
Foto de Carlos Souto
N
ão. Nem todos têm cara para poderem ocupar um Posto de Sentinela
e nem a sentinela, o próprio, nem o
Cabo da Escala, que o escalou, nem os camaradas e nem o Comando da Unidade o
podiam saber. Que uma coisa destas não
se adivinha…
Porém aconteceu. Onde? No Posto de Sentinela instalado à entrada do edifício do
CDMG - Comando da Defesa Marinha da
Guiné, em Bissau.
A Companhia de Fuzileiros tinha chegado
a 10 de Janeiro de 1971. Meia dúzia de
dias bastaram para receber o serviço da
Unidade rendida, as papeladas, as “burocratices”, digo eu, Marinheiro E, que
o mergulho nas tarefas que preenchiam
o dia-a-dia na época de Serviço Interno,
esse, foi imediato. E foi assim até ao fim
do mês. Que serviu, para lá do mais, para
ambientação ao “CLIMA” de todos aqueles
que se viam em tais andanças pela primeira vez na vida.
O período de Serviço Externo, iniciado em
Fevereiro, decorreu por 4 meses até ao fim
de Maio. Com toda a unidade ocupada em
Comboios, escoltas a batelões em trajectos
menos susceptíveis e mais curtos, pelotão
de apoio em Ganturé e uma secção, com
um Sargento, na ilha de Caió.
Em Junho regressou-se às rotinas do Serviço Interno. E foi neste período, que iria
durar até ao fim de Setembro, que todos
ficámos a saber que nem todos têm “CARA
PARA SENTINELA”. Pelo menos para guarnição de alguns dos Postos, direi mesmo
de um dos Postos. Concretamente o Posto
instalado no Edifício do Comando da Defesa Marítima da Guiné, já citado atrás.
Mas vamos à estória.
E esta Estória começa com o Picapau. Não
com um Picapau qualquer, desses com um
bico duro, adunco, a escavar troncos secos, toc, toc, toc, bem retratado no animado Woody Woodpecker da nossa infância,
mas no nosso, no Picapau humano de carne e osso, Praça da Companhia de Fuzileiros em Serviço na Guiné. Estória que tem
como segundo protagonista Sexa Cabeça
Silenciosa, o segundo na hierarquia de comando do Comando da Defesa Marítima da
Guiné.
Bem, o que teria então de tão singular o
Picapau para ser o Picapau, que nem o
Marinheiro E, nem o Comando da Unidade,
6
provavelmente o Cabo da Escala, muitos
dos camaradas, se preocuparam em saber
o seu nome próprio? Era tão fácil o “ó pá,
chama aí o Picapau”, “diz aí ao Picapau
que vá ao Comandante”, ou simplesmente
“Picapau, viste por acaso o Picapau?…”.
É que realmente o Picapau tinha um rosto
– um fácies, assim é que é – que não lembrava a um Picapau, quanto mais a um humano, ainda por cima grumete na Marinha
de Guerra Portuguesa. Onde havia a mania
de abreviar tudo o que tivesse que ver com
nomes, ou origens, ou ares de qualquer
coisa: ele era o “Cascais”, o “Palhais”, o
“Baleizão”, o “Vinagre”, o “Xixas”, o “Sarilhos”, por aí fora… e o “Picapau”.
O “Picapau” só podia ser mesmo o “Picapau”, dono que era de um nariz enorme,
bem aguçado e com inclinação descendente, e uma boca em forma de Lua Nova,
ou Lua Cheia, naquela fase que levava os
anciãos de outros tempos a espiolhá-la e
a dizer “vamos ter chuva, a lua vai de barco…”, e que a nós nos trazia à lembrança
o sorridente Woody. O curioso é que quem
o olhasse ficava com a sensação de que
o Picapau sorria, sorria sempre, e, se quisesse pôr-se sério, o esforço agravava o
quadro e o riso do Picapau passava a “AR
DE GOZO”. Era assim. Fora sempre assim.
E por ter sido sempre assim é que aconteceu o acontecido.
No dia em que o Cabo da Escala, na sua
boa-fé e no estrito cumprimento das suas
funções, sem suspeitar de nada, escalou
o bom do “Picapau” para o Edifício do
Comando, pois aconteceu o que ninguém
seria capaz de imaginar quando Sexa Cabeça Silenciosa, recebido garbosamente
na posição de sentido, como mandam as
regras, numa postura digna de Picapau,
depois da normalíssima saudação, com
um breve acenar da cabeça, voltou atrás,
fixou o “Picapau”, piscou os olhos, esperou
ainda uns breves instantes, testa franzida,
e entre uma exclamação carregada de interrogações, disparou: – Estás a gozaaaree
ou quê!?!?..
O “Picapau” aprumou-se ainda mais na
posição de sentido, estremeceu de cima
abaixo, e com todo o respeito e num esforço inaudito que agravava o seu ar avícola,
todo repuxado, atreveu-se a um : – Mas eu
sou assim, Senhor Comandante!…
E o Comandante, furibundo: – És assimmm!?
E continuas a riiirrr??!!!...
Já ao cimo das escadas de acesso ao gabinete no andar superior, a remoer a solução para tamanho despropósito, na dobra
da escadaria para a direita Sexa Cabeça
Silenciosa olhou para baixo e deu com o
Picapau, agora na posição de descansar
mas na sua natural postura do “eu sou
assim, Senhor Comandante…”, parou e
voltou a disparar: – Ai continuas no goooozooo!?!?!...
E já nem ouviu o tímido “mas eu sou assim…”, do “Picapau”.
O telefone, na secretaria da Companhia,
não tardou nem um segundo em retinir
nervosamente. Sexa Cabeça Silenciosa
ordenava ao Comandante da Companhia
“um castigo exemplar para a Praça sentinela que passara o tempo que demorou a
entrada no edifício e a subida das escadas
a rir dele, a troçar dele, a gozar com ele e
ainda por cima a dizer ”que era assim…”.
E rematou com um enérgico: “quero-o fora
daqui imediatamente, quero-o castigado
severamente e quero ter conhecimento do
castigo aplicado!”. – Sim senhor, Senhor
Comandante, vamos tomar já as devidas
providências…
Perplexo, sem saber o que teria acontecido, o Comandante da Unidade perguntou
quem é que estava de sentinela e ordenou imediatamente a sua troca por outro
camarada. Todo o comando da unidade e
todo o pessoal da secretaria se juntou para
saber e perceber o que teria acontecido. O
“Picapau” chegou e contou. E no primeiro instante toda a gente riu. Riu a bom rir,
pois claro. Riram todos. Riram todos, não,
que o “Picapau” não riu.
Após uma breve pausa o comandante decidiu: – O “Picapau” troca com o Posto de
acesso à Messe e alojamentos dos oficiais
das unidades, que é mais resguardado. E
tu, Cabo da Escala, regista que o “Picapau”
nunca mais seja escalado para o CDMG”.
E a estória do “Picapau” podia bem ter terminado aqui. Mas não foi o que aconteceu.
Que nenhuma estória acaba assim.
Que nos dias seguintes, por semanas, logo
pela manhã, o telefone da Companhia de
Fuzileiros anunciava Sexa Cabeça Silenciosa a querer saber, não do “Picapau”,
mas do castigo aplicado ao “Picapau”.
Para exemplo, como é óbvio. E todos os
dias o comandante da unidade tentava
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
contos&narrativas
convencer Sexa Cabeça Silenciosa de que
o “Picapau” “era assim…”, que não tinha
havido a mais pequena intenção, falta de
respeito, gozo, de sua parte e que era uma
profunda injustiça castigar o “Picapau”,
que, claro, já estava “a ferros”, a “trabalhos forçados”, sei lá…
O certo é que o caso, a poder de desgaste, talvez, foi morrinhando até que entrou
como que no Limbo, como que à espera
de uma próxima oportunidade. E até se
estranhou quando os telefonemas de Sexa
Cabeça Silenciosa começaram a rarear.
Então o comandante da Unidade entrava e
cumprimentava com um: – Já telefonou?
– ainda não, senhor comandante – talvez
telefone mais tarde…?!
O certo é que ao Serviço Interno seguiu-se o Serviço Externo e o assunto, face às
circunstâncias, caiu de todo no esquecimento. E o “Picapau” foi escapando. Até
ao próximo e definitivo período de Serviço
Interno e respectiva passagem às rotinas
Bissauescas: guardas, sobretudo guardas
nos postos de sentinela.
E como não há “Bela sem senão”… Ora
era nos períodos de Serviço Interno que
a toda a gente era permitido gozar uns
merecidos dias de férias. Aproveitados,
normalmente, para um salto até à metrópole, – nesse tempo era assim, Metrópole
e Ultramar.
E foi o que fez o Cabo da Escala. Que se
esqueceu, depois de tanto tempo passado,
da limitação do “Picapau” e de recordar, ao
substituto na tarefa de escalar o pessoal,
que o posto no CDMG estava interdito ao
herói desta estória. E como “não era de esperar” não tardou o dia em que o “Picapau”
se viu de novo, farda e G3 a luzirem garbosamente, de plantão à entrada do CDMG.
Ninguém sabe, ou soube, se o “Picapau”
também se terá esquecido, ou apenas se,
disciplinadamente, com toda a naturalidade, aceitou ocupar a guarda no Posto do
Comando da Defesa Marítima da Guiné. O
que se sabe é que a cena se repetiu ponto
por ponto, vírgula por vírgula, apenas com
uma nuance da parte de Sexa Cabeça Silenciosa que demorou mais tempo a entrar:
incrédulo, parou, olhou, mediu o “Picapau”
de cima abaixo, coçou o frontal, voltou a
tirar a medida, franziu a testa 3 vezes, piscou e repiscou os olhos, e disparou:
– Já cá estáááss outra veeezzzz!!!???...
Marinheiro E*
*O Marinheiro “E” é o Sócio Originário N.º 1542, e membro da
actual Direcção da AFZ, antigo Oficial FZ RN que integrou os
efectivos da CFFZ 1 e que cumpriu uma comissão de serviço
na Guiné nos anos 1971/1972.
Estórias por Contar
José Horta
Trago-vos hoje duas breves estórias, uma de que fomos testemunhas e protagonistas, a outra por relato do próprio, na ocasião.
Com o cessar das hostilidades na Guiné, facto que não se verificou logo no dia 26 de Abril (recordo, precisamente, que a última
escaramuça ocorrida com o DFE 5 se deu no dia 9 de Maio desse
mesmo ano, no rio, ainda estávamos no “mato” e, para estar…),
instalou-se por todo o território, da Província, um clima de euforia
e “camaradagem”, que a todos afectou de forma mais ou menos
contida. As visitas e o convívio com os guerrilheiros do PAIGC
tornaram-se “fundamentais”.
Tabanca da secção alfa - Cafine
T
orna-se inevitável, em cada uma destas crónicas e dado que
nem todos os leitores que se dão à maçada de me ler, o
fizeram nas anteriores, salvaguardar um aspeto fundamental
que o passar dos anos acentuou.
Ao fim de 40 anos em que estes factos aconteceram, a precisão
das coisas esbate-se e corremos o risco de relatar, descurando
ou omitindo, pormenores importantes. Procurarei ser o mais possível fidedigno, tanto quanto a memória mo consentir!
Também tenho a consciência que o conteúdo destes meus escritos, não têm a qualidade nem o interesse da minha primeira
crónica, valem, isso sim, pela veracidade e pela autenticidade,
dos seus protagonistas. Todos estes relatos se referem a um período relativamente curto (9 de fev-74 a 21 de out-74), período
esse em que tivemos a honra de servir Portugal, em África, como
oficial e combatente.
Foi assim que numa manhã, dum impreciso dia no pós 25 de Abril,
chegou ao nosso aquartelamento, em Cafine, uma delegação de
ex-INs, que vieram confraternizar e convidar-nos a visitá-los, no
seu território, algures no mato, a poucos quilómetros do nosso
aquartelamento… Lá tivemos de aceitar, eu, para ser franco, a
contra gosto, e lá fomos, lado a lado com os nossos anfitriões.
Fui eu, o Albano e chefe da comitiva, o Antas de Barros, mais 3
ou 4 praças. Recordo o gozo que foi, pelo caminho, o Mancanha
de mão dada com um guerrilheiro, em fraterna e “íntima” camaradagem… O Mancanha era um marinheiro, que não deslocava
mais de 50 Kg, no seu 1,60 m de altura, magro, bem-disposto e
danado para a MG-42… pesada, quase maior que ele, mas que
este tratava com uma familiaridade e destreza, impressionantes!
Onde ele metia o olho, era ali que a rajada estragava!
Bom, lá chegámos ao chão IN. À nossa frente uma ligeira elevação que a vegetação arbórea, embora pouco densa e dispersa
aqui e ali, não permitia visualizar junto ao solo. Antes, havia que
vencer um pequeno obstáculo, imposto por um pequeno curso de
água, quase que só uma linha de água. Obstáculo transposto a
vau, lá começámos a subir a elevação. Não visualizámos nenhuma construção ou barraca, mas o que é facto é que começaram a
aparecer pessoas, não necessariamente guerrilheiros, mas pessoas, gente indiferenciada.
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
7
contos&narrativas
Entrada no foz do rio Cacheu
O “S. Gabriel” de regresso à Metrópole
Lembro-me de um “velho”, alto e ossudo que, mal nos viu, desatou a gritar, em urros espaçados, mas convictos. Lembro-me
de se aproximar e vir na minha direção, ao mesmo tempo que
atirava os braços (um a um) para o ar, para o lado e depois as
pernas em descoordenada alternância, ao compasso da gritaria
e… na minha direção, depois de me ter fixado. À medida que
se aproximava e se tornava cada vez maior, a minha dúvida e
contenção, também, aumentavam… Não sabia qual a ideia ou,
eventual, ressabiamento do indivíduo… Dou por mim a pensar:
­– “Queres ver que…!”
No período da “descolonização” e após o abandono ou retirada,
de várias unidades militares dos respectivos aquartelamentos,
foi necessário prestar algum apoio aos novos ocupantes que, em
muitos casos, não sabiam como lidar com os equipamentos legados.
Mas não, felizmente, o homem chega junto de mim e dá-me um
forte abraço, sentido e pleno de felicidade. Correspondi, o melhor
que pude, mas do susto não me livrei!
Esclarecemos que o imediato era o Albano e lá convivemos um
pouco, amenamente. À despedida, quase uma hora depois,
vieram as prendas, todas para o chefe. Eram galinhas, frangas
(umas 2 ou 3), eram cocos e mais outros frutos, um apetrecho
qualquer (tipo estatueta), eu sei lá!...
Na hora de passarmos o curso d´água, não nos demos conta
que a maré tinha subido, de repente e que tínhamos que nadar.
Fizemo-nos à água, com as prendas distribuídas por todos mas,
qual quê, a corrente obrigou-nos a usar os dois braços e as duas
pernas… e então era ver na água, à tona e a boiar, além de nós,
uma galinha, duas frangas, vários cocos… enfim, foi uma manhã
muito bem passada e proveitosa! Depois, rimo-nos todos, muito.
A Marinha deixou algumas unidades aquáticas, instalações e outros meios, para o PAIGC. Posteriormente, alguns oficiais de Marinha e dos Fuzileiros, visitaram algumas dessas unidades, “para
ver como as coisas estavam a correr”.
Num desses locais, não me recordo se no Cacheu, se mais para o
sul, uns responsáveis que tomaram conta do material, queixaram–
-se ao Capela de sabotagem de alguns equipamentos, ao que ele
justificou e/ou resolveu, como pôde.
Uma dessas dificuldades dizia respeito ao funcionamento dos
motores dos botes; que estavam sabotados e que não trabalhavam, e apontavam “coisas”, uma delas era um buraco que deitava água do motor, anomalia que eles resolveram, tapando com
uma rolha…
O Capela mostrava-se compreensivo e solidário e, às tantas,
questionou quanto ao combustível, o que utilizavam e como
faziam a mistura… Responderam-lhe que não havia problema,
punham petróleo e para mistura, juntavam 1 litro de água (sic).
Impotente e devastado, o Capela terá respondido: – “Pois, assim
não sei onde possa estar a causa da avaria!”.
José Horta
A segunda estória que vos quero deixar, nesta crónica, não se
passou comigo. Passou-se com o Ten Capela, 4.º oficial do DFE 4.
Sóc. Orig. n.º 485
2TEN FZE/RN
Um mundo de soluções para o seu lar...
Sócio da AFZ
Participa,
colabora
e mantém
as tuas quotas em dia.
Estrada das Palmeiras, 55 | Queluz de Baixo 1004 | 2734-504 Barcarena | Portugal | T.(+351) 214 349 700 | F. (+351) 214 349 754 | www.mjm.pt
8
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
contos&narrativas
A Guerra, os Homens e os Animais
Estórias de Afectos
Serafim Lobato
até a um pequeno posto avançado do Exército, não longe de Farim, chamado Binta.
A estória começa, exactamente, com um cachorro.
Um belo dia, chegou a Ganturé uma novo destacamento de fuzileiros, cujo comandante zarpara de Lisboa, com a unidade, estando a sua esposa na fase final de gravidez.
Não assistiu, portanto, ao nascimento do seu primeiro filho.
Quando chegou a Ganturé, recebeu uma mensagem a dizer que
era pai de um rapaz. Naturalmente, ficou contente.
Já não me recordo, como, mas o oficial decidiu “adoptar” um
pequeno cachorro, nascido de uma cadela que vagueava pelo
aquartelamento.
A
guerra é sempre um acto de violência tremendo que leva a
situações extremas de sobrevivência, de humanidade e do
seu contrário, a desumanidade.
Os jovens portugueses sentiram no corpo tudo isso: heroicidade, camaradagem, contradições e desconfortos desde 1961 até
1974, com a guerra colonial.
Um quartel no meio do mato é uma concentração permanente de
homens, distantes dos seus entes queridos e conhecidos, mas
não só. É um local onde podem conviver homens e até animais e,
entre eles, surgirem afectos e até o que poderíamos apelidar de
“companheirismo”.
A estória – no fundo são várias as estórias – que vou descrever é
verdadeira e sucedeu, inicialmente, na base de Ganturé da Marinha de Guerra portuguesa, na então colónia da Guiné, nos anos
1970 e 1971 do século passado, em plena guerra colonial.
Naturalmente, o tempo, mais de quarenta anos, e a minha idade
fizeram com que me esqueça de pormenores e até me façam obscurecer certos aspectos da realidade.
É sempre uma visão já antiga e vista de determinado ângulo.
Em Ganturé, estiveram aquartelados em permanência, entre a segunda metade de 1969 e o ano de 1974/75, vários destacamentos de fuzileiros especiais e pelotões de fuzileiros navais.
Ficaram alojados num antigo entreposto comercial da Casa Gouveia, do então grupo CUF, para a safra do amendoim, que depois
foi adaptada, para comportar unidades militares, com “abrigos-bunkers”, que serviam de dormitórios e
casamatas de defesa
aos ataques de armas
pesadas.
Dali partiram destacamentos daquele corpo
de tropas para acções
castrenses em terra e
ao longo rio Cacheu,
desde a foz de um
afluente, o Rio Armada,
Nos primeiros tempos andava com o cachorro ao colo, como se
de um filho se tratasse. Apaparicava-o. Chegava a levá-lo até
à messe (que era conjunta para oficiais e sargentos, mas com
locais de refeição separados).
O animal cresceu e, em meses, tornou-se, na prática, uma mascote para o pessoal de Ganturé.
Acompanhava, mesmo, as praças nas suas idas entre Ganturé e
Bigene, onde se situava a sede do comando operacional da região
e onde havia uns edifícios comerciais. Ali se bebiam umas cervejas e apreciavam as belezas locais.
Em determinada altura, verifiquei que alguns dos “meus homens”, que me acompanhavam numa missão de patrulhamento
no rio, com uma surtida em terra, a uma zona onde poderiam
passar – ou estar – uma unidade de guerrilha, acção esta que demoraria apenas umas horas, transportavam, cada um, dois cantis
de água.
Estranhei, perguntei, e a resposta foi: “está muito calor e a missão
pode demorar mais, fizemos questão de nos precaver”.
Encolhi os ombros e segui. Estavam no seu direito.
Qual não é o meu espanto, quando ponho o pé em terra, vejo o
cachorro, já agora um cão quase adulto, que esperou, pacientemente, o desembarque do último homem.Os botes, entretanto, já
se tinham afastado para a outra margem.
Chateei-me. Disse-lhes para “não repetirem a graça”. E eles
contra-argumentaram: “chefe – era, assim, que me chamavam
– o cão não ladra, que nós já o treinámos”.
Realmente, assim sucedeu, durante a hora que estivemos em terra, o cão “comportou-se” exemplarmente.
Quando começamos a andar, colocou-se junto do primeiro homem, mas assim que ouvia um ruido mais estranho – de um coco
a cair, de um bando de macacos a saltar nas árvores à nossa
frente, o bicho entrava numa correria ao longo da “bicha de pirilau” dos fuzileiros e estacionava junto do último. Sem emitir
qualquer latido.
Repetiu a “façanha” noutras ocasiões.
Era um *valentão”. Bebia água que se fartava. E aí eu percebi a
razão dos dois cantis.
Habituei-me, também eu, ao animal, que começou a fazer-nos
companhia nos patrulhamentos.
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
9
contos&narrativas
Mas um dia, aconteceu um imprevisto. Regressávamos de Lancha de Desembarque Pequena (LDM) e ao aportarmos a Ganturé,
quando o patrão abatia a porta de entrada e saída, era a altura de
abandonar a embarcação.
E o animal era uma gazela recém-nascida.
Por acaso, dessa lembro-me do nome.
Chamámos-lhe “bambi”, como a história de
crianças.
O cão quis ser o primeiro, e ainda a porta ia no ar, ele encavalitou-se e lançou-se para a ponte-cais, que era constituída por toros
de madeira, com intervalos entre eles.
Meteu uma das patas dianteiras num deles e partiu-a.
Foi a desolação entre os homens. Apressadamente, uma praça
retirou-a do buraco, agarrou-o ao colo e levou-o para a enfermaria. Sofria imenso. Gania.
Pediram-me, insistentemente, para não abater o animal.
“Chefe, peça ao senhor enfermeiro, para lhe fazer uma tala, que
nos cuidamos dele”, pediram-me.
Contrariado, lá fui falar com enfermeiro, um sargento dos seus 35
anos – era o homem mais velho da nossa unidade –, e expus-lhe
a situação.
Ele era céptico que pudesse resolver o imbróglio, mas prontificou-se, quando viu a consternação de dezenas de homens à entrada
da enfermaria.
Com um bocado de gesso e uma tala, que envolveu em gaze, lá
se tratou do cachorro, que ficou depois no corredor da messe de
oficiais. Ali era alimentado e tratado.
Não sei – já não me recordo – se o levaram para os “abrigos”.
Também já não me recordo quantos dias, nem como, ele se manteve entrapado.
Nunca acreditei que o osso partido se endireitasse.
O que é certo é que, quando lhe retiraram a gaze, a tala e o gesso,
ele começou a andar.
Nunca mais foi para o mato, mas sobreviveu, pelo menos, quando
a nossa unidade, meses depois abandonou Ganturé.
A outra estória também a mesma ternura e afecto.
Estávamos debaixo de
um beiral à entrada
da messe, o imediato
e eu, quando chegou
junto a nós um grupo
de praças (marinheiros e grumetes), que regressavam de um turno de patrulha no rio Cacheu, trazendo embrulhado num dos abafos de rede, que se utilizava contra as investidas dos mosquitos,
algo que não sabíamos o que era.
Desembrulharam e apareceu uma gazela, que acabara de nascer
há horas.
O pessoal que fazia o turno de madrugada e regressava pouco
depois do nascer do sol, normalmente, se via aqueles animais a
pastar, caçava um, que servia de alimento de carne fresca para a
unidade ou parte da unidade.
(Com a guerra, as gazelas somente saiam do seu esconderijo para
pastar, ao nascer e ao pôr-do-sol).
Assim aconteceu naquele dia, viram um animal adulto meio escondido, numa clareia no tarrafo, que não fugiu e atiraram.
Conforme me contaram, verificaram, depois, que o abatido era
uma fêmea, que estava a dar à luz.Trouxeram o recém-nascido e
vieram, junto a nós, para perguntar se o podiam criar.
No quartel, um campo de arame farpado, aí com a área de três
campos de futebol, havia de tudo, vaca, cabra, galinhas, porco,
gansos, macacos, papagaios, camaleões e até crocodilos-bebés,
entre outros. Uns para servir de alimento, outros eram apenas
animais de companhia.
A VOSSA ASSOCIAÇÃO VIVE DAS VOSSAS QUOTAS
Prezados Camaradas:
Pela estima que temos por todos os Sócios, Fuzileiros ou não, aqui estamos de novo, a dizer-vos quanto é importante, a Vossa participação.
Todos somos herdeiros de um património de que nos orgulhamos. Mas, para que tenhamos condições de levar em frente a tarefa a que nos
propusemos, é determinante podermos contar com a quotização de todos nós, desta grande Família que, à volta da sua Associação, se vai
juntando.
Temos a consciência de que o atraso no pagamento de quotas podem ter várias leituras, quiçá “razões” diversas, algumas das quais
evidentemente ponderosas. Porém, para todas elas haverá uma solução desde que, em conjunto, nos dispusermos a resolver o problema.
Esperamos pela vontade e disponibilidade desta família de Fuzileiros, no sentido de ultrapassarmos esta dificuldade já que as portas da
Associação e a dos membros da sua Direcção estão permanentemente franqueadas.
Pensamos que uma das razões, de menor importância, porque alguns sócios têm as suas quotas em atraso será por puro esquecimento. Para
obstar a que o quantitativo das quotas se acumule aconselhamos e incentivamos a que optem pelo débito, em conta bancária, de 6 em 6 ou
de 12 em 12 meses.
Já pensaram que o valor de um ano de quotas representa apenas cerca de quatro cafés por mês?
Por razões de custos – e desta vez será em definitivo – vamos suspender o envio da revista “O Desembarque”, que custa muito dinheiro à
Associação, para os camaradas sócios com quotas em atraso por período superior a um ano.
Solicitamos a todos os Sócios que preencham o impresso para autorização de pagamentos das quotas por débito bancário, sistema
que é muito mais cómodo e evita o pagamento de quotas acumuladas.
NIB da AFZ
0035 0676 0000 8115 8306 9 (CGD)
Informem-se junto do Secretariado Nacional (tel.: 212 060 079, telem.: 927 979 461, email: [email protected])
Consideramos ser este um acto de justiça, uma vez que os que assiduamente pagam não devem suportar as despesas dos que não pagam.
Cordiais e amigas saudações associativas.
A Direcção Nacional
10
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
contos&narrativas
A cabra tinha parido há pouco tempo e alimentava duas crias.
Foi “requisitada” para “amamentadora” da gazelita.
Um trabalhão dos diabos. Eram precisos quatro homens para a
manter quieta e permitir que a “bambi” sugasse o leite.
Como a operação se tornou custosa com o andar dos dias, pois
exigia sempre quatro homens para as várias refeições, decidimos
fazer um biberão e alimentá-la com leite de vaca.
Desse modo, o animal cresceu e começou a comer erva. Sobreviveu, passeando-se, graciosamente, pelo aquartelamento.
Já adulta vimo-la que dar um salto por cima do arame farpado e
desaparecer no mato. Emancipara-se.
A estória do porco é mais “apimentada”, pois levou a que quase
houvesse um enfrentamento armado entre os fuzileiros e os comandos. Foi preciso negociar até.
Vamos iniciar o guião.
O animal foi “vítima” de uma captura de guerra.
A minha unidade fez uma operação na margem sul do rio Cacheu
e teve um contacto de fogo muito perto de uma aldeia.
Findos os tiros, dirigimo-nos para a localidade, com o objectivo
de verificar se os guerrilheiros ali se tinham refugiado ou se escondiam armas.
A aldeia estava deserta de humanos, mas os animais eram visíveis.
Uma porca fugia à nossa frente com umas crias, que deveriam ter
horas de nascimento.
Um dos meus homens apanhou um, num abrir e fechar de olhos,
que meteu-o no camuflado junto ao cinto que apertava as calças.
Quando desembarcamos em Ganturé, mostrou o troféu. Levou-o para o seu abrigo e foi “amamentado” pela secção. Dormia à
entrada, enroscado com um pequeno macaco e um cachorro…
em perfeita harmonia.
Em breve, estava um lindo leitão, que serpenteava pelo aquartelamento. Acompanhava-o um pequeno macaco, seu companheiro
inseparável. E, curiosidade das curiosidades, também utilizava,
muitas vezes, a boleia do porquinho, instalando-se no seu dorso.
Passados uns dois meses, o porco crescera e transformara- se
num bácoro apetitoso, mas, nem sequer se podia ouvir em matá-lo para comer. Era uma “joia de família” daquela secção.
Recebemos, entretanto, ordem de marcha para seguir para
Teixeira Pinto, hoje Canchungo, região, onde há pouco tempo,
tinham sido mortos os principais oficiais superiores do Estado-Maior do Comando Operacional, que andavam em negociações
com o PAIGC.
Claro que com a unidade, seguiram os mascotes pertença dos
homens, excepto os crocodilos, que entretanto tinham crescido e
uma simples rabanada era o suficiente para abrir feridas profundas, como, aliás, sucedeu.
O porco, esse, tinha bilhete de ida.
O meu Destacamento, que já substituía um outro que findava a
comissão, entrou num frenesim de acção castrense diária, em
rotação com uma Companhia de Comandos.
Assim, estávamos 24 horas seguidas no mato, sendo substituídos, a meio caminho, pelos comandos.
A “desgraça” sucedeu um dia. O porco ficava “estacionado” na
caserna das praças, que nos fora destinada. Ficava paredes-meias com a dos soldados comandos.
No regresso de uma operação, um dia, como atrás referia, os
homens chegaram ao aquartelamento e o porco desaparecera.
Procura aqui, procura ali. Falaram com os comandos e ninguém
se descosia.
Mas, houve alguém que resolveu falar e disse que alguns
dos comandos apanharam o porco, mataram-no e come
ram-no. Foi o fim da macacada. Estiveram para chegar a vias de
facto.
Já me esqueci de como foi ultrapassado do diferendo. Houve o
bom senso para o fazer.
Parece-me que os “comandos” se comprometeram a pagar “uma
multa”. Não sei bem.
Foi também em Teixeira Pinto que ao fim da tarde de um dia
quente, vimos seis gansos, que apanháramos, meses atrás a sul
do Cacheu, numa aldeia do Tiligi, perto do rio Ierã, afluente daquele, levantarem voo e *zarparam* para uma nova vida, lá para
os lado do rio Baboque, um afluente do rio Mansoa. Quando os
apanhamos, ainda estavam no ovo.
Um sargento, que os meteu no camuflado, viu, com espanto, já na
fase de andamento para o regresso a Ganturé, que seis gansinhos
estavam a nascer.
Foram criados na sua secção e andavam pelo aquartelamento em
coluna, atrás do homem que os tratou. Isto durante meses.
Serafim Lobato
Sóc. Orig. n.º 1792
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
11
cultura & memória
Comissão SAR (Search & Rescue)
Açores 1985/1986
A
pós ter concluído o meu CFORN FZ
(Curso de Formação de Oficiais da
Reserva Naval, da Classe de Fuzileiros) com um sucesso que trazia a montante um cocktail de “Sangue, Suor & Lágrimas”..., no «glorioso» dia 4 de Abril de
1986, em que passei a ser Oficial Fuzileiro
(não seria antes Fuzileiro Oficial, visto que
ganhei a Boina primeiro, e só depois os Galões?) fui destacado da Escola de Fuzileiros
(EF) para a Força de Fuzileiros do Continente (FFC), para cumprir, com orgulho, a tão
ambicionada missão de Comandante de
Pelotão, até ao fim do meu Serviço Militar
Obrigatório.
Assim, ao “desembarcar” no Alfeite, integrei a Companhia de Fuzileiros 33 do Batalhão de Fuzileiros 3, onde me foi atribuído
para Comando, o Pelotão “Bravo”daquela
Unidade de Combate. Acontece que, à
data, dos 2 Batalhões Operacionais de Caçadores/Atiradores (sendo o BF1 de Polícia
Naval) o BF2 encontrava-se em “Estado de
Segurança”, às instalações NATO e não só
e o BF3 estava em “Estado de Intervenção”
mantendo, este, a par com o DAE (Destacamento de Acções Especiais) um elevado
Grau de Prontidão Operacional; e responsável por, entre outras Missões, tais como
participação em Manobras/Exercícios com
outras Forças (Nacionais e estrangeiras),
Tatoos, etc., disponibilizar também uma
Secção de 10 Fuzileiros, composta por 1
Oficial (Comandante da Força), 1 Sargento
e 8 Praças, constituindo uma Task-Force
Anfíbia de Desembarque, Abordagem &
Assalto que integra(ava) a Guarnição da
Corveta/Fragata em missão no Arquipélago
dos Açores, sendo “rendidos” após cada
período de 4 meses, mantendo assim uma
presença constante e permanente naquele
território Nacional, assegurando a Soberania.
Ora, sendo o 3.º Oficial da Companhia (o
mais “antigo” Comandante de Pelotão) não
me competia a mim comandar a referida
12
Equipa mas, “puxando pelos Galões” de
imediato prontifiquei-me para tal, solicitando-o ao meu Comandante de Companhia
que, em boa hora deferiu o meu pedido.
Claro está, o “Filho-da-Escola” e meu Camarada de Curso, que era suposto “bater
com os costados” no Navio, durante aquele
tempo exultava de satisfação por o ter livrado daquele “pincel”.
A bordo da Corveta NRP Baptista de Andrade, a vida decorria “normalmente” e
sem quaisquer ocorrências dignas de registo, quiçá, algo monótona com os meus
Homens a participarem activamente nas
diversas actividades de “Faina”, conjuntamente com os Marinheiros do Navio.
Recordo que costumava devanear horas a
fio no “Parque-do-Heli”, o meu spot preferido em todo o Navio, onde se encontrava
a um canto, a minha Asa Delta que havia
adquirido na Ilha de Santa Maria, a um colega Piloto-Aviador de Vôo Livre e onde, ao
observar as linhas amarelas de marcação
na plataforma para ajudar à aterragem dos
Alouette III da Força Aérea Portuguesa. (Parabéns pelo 50.º Aniversário!) revivia saudosamente a adrenalina dos “Heli-Assaltos”, em Tróia e Pinheiro da Cruz, e outras
operações Heli-transportadas tais como
“Search and Destroy” (Operações “Libelinhas”, como lhes chamavam os Camaradas Pilotos de Helicópteros) e pensava cá
com os meus botões: agora ia um “saltinho
em Queda Livre!...”
Se a memória não me falha, navegávamos
duas semanas por entre todas as Ilhas do
Arquipélago e estávamos atracados a semana seguinte, em frente ao Comando
Naval dos Açores, em Ponta Delgada; obviamente sempre prontos para zarpar a
qualquer momento. Isto em plena “Guerra
das Bandeiras”... em que inclusivamente
tive que desembarcar com a minha Força
de Combate, completamente armada com
equipamentos Anti-Motim, Smith & Wesson
e de Contra-Guerrilha Urbana e ficando em
terra firme um bom par de semanas, trocando a navegação pelo acolhedor ambiente da muito agradável Messe de Oficiais
do Loreto, e pavoneando-me à noite pelas
típicas ruas de Ponta Delgada; de Camuflado, Sabre-Baioneta e Pistola Walther 9
mm ao cinturão de combate, qual marialva
“montado”, ufano, no Jeep Land-Rover do
Comando Naval... mas enfim, essa é outra
história...
Uma noite de Lua Nova, enquanto em fiscalização a navegar em pleno Inverno e
com “malagueiro”, a Oeste do Grupo Ocidental, estando eu de Serviço (Adjunto do
Oficial de Quarto à Ponte) deparámo-nos
com uma embarcação desconhecida em
actividade aparentemente suspeita. O navio foi interpelado via Rádio, para que se
identificasse e parasse, mas não obtivemos
qualquer resposta, a não ser o facto de que
desligaram todas as luzes a bordo e prontamente aceleraram a marcha, tentando fugir
com rumo a sair fora do Limite das nossas
Águas Territoriais. Durante a perseguição
foram tentadas várias outras Línguas, tais
como Espanhol, Inglês e Francês, mas sem
resultado, pelo que o Oficial de Quarto decidiu mandar acordar o Imediato para que
viesse à Ponte, que por sua vez também
não os conseguiu parar. Dadas as sucessivas e infrutíferas tentativas, e num derradeiro esforço, o Imediato decidiu então
mandar chamar o Comandante à Ponte.
Ora o Comandante, Capitão-Tenente bastante antigo, a avaliar pelo visível “uso” dos
seus Galões, homem não dado a futilidades
supérfluas, e Oficial Superior sóbrio e de
carácter lhano e distinto, vendo a embarcação a aproximar-se rapidamente de Águas
Internacionais, sem mais perda de tempo
transmitiu a mensagem de que: ou parariam imediatamente, ou ver-se-ia obrigado
a tomar medidas (mais) drásticas, e teriam
de enfrentar as consequências!...
Como o Silêncio-Rádio se manteve como
resposta, e sem quaisquer sinais de abrandamento, o Comandante determinou então
que se fizesse fogo com granada iluminante, às duas peças Anti-Aéreas “Bofford” de
40 mm; apenas como primeiro aviso.
E eis que se fez luz! Num repente a noite
fez-se dia e, de imediato, a embarcação
não só parou as máquinas, como também
acendeu todas as luzes. Prontamente o Comandante se me dirigiu e, com um sorriso
discreto, me ordenou que procedesse com
a minha Equipa à abordagem da embarcação, para assumir o Comando da mesma.
“FUZOS... PRONTO” pensei para mim próprio enquanto, em passo acelerado, descia
aos Camarotes onde se encontravam a
descansar os meus homens, a fim de lhes
dar as “boas novas”.
Após ter mudado do uniforme azul de “serviço interno” para o camuflado, estava já
pronto, junto dos meus homens que, tam-
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
cultura & memória
bém de camuflado, se encontravam a ultimar os preparativos para a Operação, vulgo
armar de G3 e Sabre-Baioneta, enquanto
eu procedia ao “Briefing”, determinando
que se introduzisse munição na Câmara,
apesar de ter dado intrucções para abrir
fogo apenas em última instância, mas...
No Facilitatis! Não me recordo se lhes falei alto, ou se apenas pensei para mim:
«A Pátria honrai que a Pátria vos contempla», mas nisto o Comandante chega para
nos desejar Boa-Sorte para a Operação e
entrega-me uma garrafa de Aguardente,
em nome da briosa Marinha, para todos os
“Fuzos”, após missão cumprida; até porque estava efectivamente uma noite fria:
a intempérie fazia-se sentir em pleno mar
alto com “malagueiro”, vento e chuva civil
que não molha Militar...
Apesar dos sobressaltos, dado o estado
do mar, lestamente os 70 cavalos-vapor
de potência do Semi-Rígido cobriram a
distância à embarcação, que prontamente
abordei, seguido dos meus homens, tendo
estes de imediato cumprido integralmente
as suas funções e assumido as suas
posições tácticas conforme planeado,
consolidando a segurança. Dirigi-me então
para a Ponte para assumir o Comando.
Ali, entre uma Coluna sem Roda-doLeme, apenas com um botão vermelho
(Bombordo) e outro verde (Estibordo), RádioGoniómetros para sinalização/indicação
de onde se encontravam os cardumes do
nosso atum, “posters” de Misses Playboy,
frascos contendo “aperitivos” autóctones:
baratas, escaravelhos e vários outros
insectos afins, assim como copiosos
volumes de tabaco “Rothmans”; constatei
tratar-se de um atuneiro da República da
Formosa (Taiwan). Contactei via Rádio o
meu Comandante, a quem informei que o
navio se encontrava seguro e sob o meu
Comando, pelo que solicitei ordens para
execução. O Comandante felicitou-me
pelo sucesso da Operação e comunicoume para aguardar a chegada de um outro
Oficial que me renderia no Comando.
Não sendo fumador, confesso no entanto
que “confisquei” alguns maços de tabaco,
para distribuir pelos meus homens, assim
que tivesse oportunidade de um “Debriefing”. Assim que o outro Oficial se apresentou na Ponte para me render eu, agradado
pelo facto de não ter sido disparado um
único tiro, “bati-lhe a pala” e entreguei-lhe formalmente o Comando do navio,
disponibilizando-me para o assistir no que
entendesse necessário.
Fazendo jus à expressão “depois da tempestade vem a bonança”, depois das inclementes condições meteorológicas da noite
passada, um brilhante alvorecer começou a
despontar e, a partir daí, tendo o Sol Nascente como azimute, rumámos a Oriente
em direcção ao Porto da Horta, na Ilha do
Faial, onde a embarcação e respectiva tripulação ficaram retidos, assim como o pescado apreendido (várias toneladas de atum
“nacional”) e a contas com uma avultada
multa já naquela altura, de milhares de
“contos-de-reis” (estávamos em 1986...)
ficando a aguardar o desenrolar da Justiça.
Recordo o aspecto “mediático” desta história, pois o facto foi devidamente noticiado
na RTP Açores.
Uns 20 anos mais tarde, enquanto Técnico
Superior de Reinserção Social do Ministério
da Justiça, a viver nos Açores e responsável
pela missão de avaliação Psicossocial para
implementação de medidas de vigilância
electrónica (vulgo “pulseiras electrónicas”)
Nota do autor: Este singelo texto, sem quaisquer pretensões, é dedicado a dois Homens que muito prezo: ao meu saudoso
Camarada-de-Armas e de Curso, “Filho-da-Escola”, Sr. 2TEN Rosa que, infelizmente, já não se encontra connosco, e a quem
«competia» esta Comissão de Serviço, e ao Comandante do Vaso de Guerra em questão (meu Lar durante uns meses), à data,
Sr. CTEN Sargento, a quem desde já saúdo mui respeitosamente.
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
tive várias oportunidades de contemplar de
novo, apreciando maravilhado, as fantásticas pinturas executadas por Navegadores
Solitários, membros de tripulações civis e
Militares dos 4 cantos do Mundo, embelezando sobremaneira toda aquela Marina
da Horta, onde se respira uma atmosfera
única e especial de tão Cosmopolita, deixando-me inebriar pelo irresistível encanto
e nostalgia dos gloriosos tempos passados,
vividos, com “garra”, intensidade e “Espírito-de-Corpo”, da salutar Camaradagem
que não volta mais e da nobilíssima e gratificante sensação de dever cumprido, com
abnegação e brio.
Detendo o meu olhar por sobre “o Canal”
em frente, e devaneando com Vitorino Nemésio (“Mau tempo no Canal”), Herman
Melville (“Moby Dick”), Platão (referências
à Atlântida), António Tabucchi (“Mulher de
Porto Pim”) e Hugo Pratt (aventuras de Corto Maltese) entre muitos outros meus preferidos que não param de me ocorrer em
catadupa, resolutamente decido que é tempo de “abrigar”, pelo que, determinado, enceto pela calçada a minha curta caminhada
até ao “Peters” para aclarar as idéias com
um bom par de Gin tónicos (o 2.º costumava ser oferta da casa...), em memória dos
“Bons Velhos Tempos”.
É que afinal, “Serviço é Serviço! Conhaque
é Conhaque...”
Fernando Almeida
Sóc. Orig. n.º 739
STen FZ RN
ALMOÇO/CONVÍVIO
DE NATAL 2014
13 de Dezembro de 2014
Como habitualmente, a Direcção da AFZ
organizará o nosso Almoço/Convívio de
Natal de 2014.
A data prevista é o 13 de Dezembro, dia
que para a AFZ é de sorte, de francos e
saudáveis encontros, de calor humano, de
matar saudades de, com estas, espraiar
nostalgias, enfim, de transmitir emoções e
amizades vivas.
A Direcção solicita a todos os Sócios e
Amigos que registem desde já nas vossas
agendas este bom impedimento e que,
logo que Vos pareça oportuno marquem as
Vossas presenças.
O Secretariado Nacional receberá as Vossas
marcações, as quais, efectuadas, o mais
brevemente possível, permitirá ao Grupo
de Acção responsável pela organização,
programar o respectivo espaço e as
melhores ementas.
Contactos para:
Associação Nacional de Fuzileiros
Rua Miguel Paes n.º 25 – 2830-356 Barreiro
email: [email protected]
tel.: 212 060 079
telem.: 927 979 461
13
eventos
A AFZ no Dia do Combatente/2014
“Batalha de La Lys”
A
exemplo de anos anteriores realizaram-se no passado dia
4 de Abril as cerimónias evocativas da Batalha de La Lys,
no Mosteiro da Batalha, nas quais foram homenageados os
mortos ao serviço da Pátria nos diversos conflitos em que Portugal tomou parte. As cerimónias foram organizadas pela Liga dos
Combatentes e contaram com a presença da Secretária de Estado
da Defesa Nacional, que presidiu.
A Associação de Fuzileiros, como vem sendo habitual, foi
convidada a participar, tendo-se feito representar ao mais alto
nível.
A deputação da Associação de Fuzileiros foi composta pelo seu
Presidente da Direcção, José Ruivo, pelo Porta Guião Francisco
Fazeres sócio n.º 247 e pelos sócios nº 91 Ramires Bonito, n.º 38
José Alves, n.º 1932 José Gonçalves e n.º 1995 Francisco Grácio.
As cerimónias iniciaram-se com uma missa na Igreja do Mosteito,
de sufrágio pelos combatentes falecidos. Terminada a missa, as
entidades convidadas deslocaram-se para o local da cerimónia
militar onde se encontrava formada uma força militar de escalão
companhia, a três pelotões, constituída por militares dos três
ramos das Forças Armadas.
Após alocuções proferidas pelo Presidente da Lida dos
Combatentes e pela Alta Entidade, procedeu-se ao desfile das
forças em parada.
De seguida, as entidades dirigiram-se para a sala do Capítulo
onde teve lugar uma alocução por um orador convidado,
seguindo-se a deposição de coroas de flores no Túmulo do
Soldado Desconhecido, em que a Associação de Fuzileiros
também participou.
Por fim foram prestadas Honras Militares aos Mortos caídos em
defesa da Pátria.
José Ruivo
Sóc. Orig. n.º 836
Presidente da Direcção da AFZ e CMG (Ref)
14
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
opinião
Pois bem Camarada:
Chegou a tua vez!
Manuel Leão de Seabra
Q
uando comecei a ouvir falar da Associação de Fuzileiros
(AFZ), era eu um jovem Oficial com toda uma carreira militar pela frente. Nada nem ninguém poderia interferir nesta trajetória, mais que sonhada, cujo princípio conquistei como
qualquer Fuzileiro, ou seja, a pulso e com sangue, suor e muitas
lágrimas. Os meus Chefes de então, alguns deles carismáticos e
referências que tentei e tento copiar ainda hoje, tinham dúvidas
dos fundamentos da AFZ receando que viessem a resvalar para
um patamar inadequado e a adotar uma conotação política sempre prejudicial a todos os associados, principalmente aos militares que se encontravam no Ativo.
Segui os mesmos trilhos, comunguei dos mesmos receios e muitos, muitos anos depois, sem nunca procurar saber e sem nunca
ser assediado para o fazer, cheguei à situação de Reserva, fora da
efetividade de serviço e fora da AFZ.
Há cerca de um ano, casualmente (ou talvez não?!), fui abordado por um camarada Fuzileiro na Reforma, o Comt. Benjamim
Correia, que me falou da AFZ, da sua importância, do seu estatuto, dos seus projetos futuros, dos seus associados e, principalmente, daqueles que, com muita vontade, esforço e persistência, levavam por diante os desígnios dessa Organização. A seu
convite fui visitar esta outra “nossa casa” sendo, nesse mesmo
dia, convidado pelo então Presidente da Direção, o Comt. Lhano
Preto a assistir e participar na reunião periódica que se realizava
nessa tarde. Os temas abordados, principalmente os relativos a
apoios diversos a prestar a associados e/ou seus familiares que
se encontravam em situações precárias (saúde, desemprego,
abandono, …) foram tratados com a preocupação extrema de
todos os membros da direção presentes, alguns deles afastados
das fileiras há já algumas décadas, mas continuando a exibir o
mesmo sentido de camaradagem, o mesmo espírito e o mesmo
orgulho na Boina Azul-Ferrete. Fiquei apático, pasmado e mais
convencido ainda que o nosso lema “Fuzileiro uma vez, Fuzileiro
para sempre” é bem verdade mas que tem outro sentido e outra
profundidade neste cenário e nesta fase da vida. Envergonhado
por ter seguido um princípio nunca justificado, “matriculei-me”
de imediato, tornei-me sócio com a jura que será para toda a vida
e senti a obrigação de dar à AFZ tudo o que ela precisasse de
mim, ou seja, a minha colaboração inquestionável, pagando uma
dívida de décadas.
Presentemente, desempenho por eleição da Assembleia-Geral
um dos cargos de Vice-Presidente da Direcção. Faço-o com muito
gosto mas, acima de tudo, com um profundo sentido de obrigação. Os que, até hoje, deram o seu tempo, a sua disponibilidade,
o seu empenho e o seu saber a esta Organização merecem de
mim toda a estima, consideração e respeito. Foi o seu empenho
e a sua persistência que permitiu que hoje, fora da efetividade
de serviço, envolto em momentos de alguma nostalgia, sinta que
estou em casa e que pertenço, de corpo e alma, à família que
me acolheu, que me ensinou a dar os primeiros passos, que me
aconselhou e orientou e me recheou deste orgulho e deste inexplicável sentimento de pertença.
Quando assumi este cargo, alguns camaradas mais próximos de
mim, afirmaram ser a altura de se tornarem sócios da AFZ. Pois
bem camarada: chegou a tua vez.
Este meu testemunho público pretende isso mesmo. Com conhecimento de causa, afirmo hoje, agora e aqui que a Associação de
Fuzileiros é, tão-somente, a outra nossa/vossa Casa, aquela Casa
que me garantiu e vos vai garantir a continuação da minha/vossa
trajetória, no mesmo ambiente familiar a que nos habituamos. A
revista periódica “O DESEMBARQUE”, os vários encontros anuais
entre os quais se destacam o “DIA DO FUZILEIRO” e o “ALMOÇO
DE NATAL”, a informação (quase) diária enviada a todos os sócios que possuam e-mail, os vários eventos programados para o
Salão Polivalente da nossa Sede Nacional, as atividades culturais
e desportivas levadas a efeito não só pela Associação Nacional,
mas também pelas suas Delegações do Algarve, de Juromenha/
Elvas e de Vila Nova de Gaia são o garante de que os Fuzileiros
estão vivos e estão PRONTOS… SEMPRE.
Vem ter connosco, preenche o impresso e faz-te sócio. Ganharás
tu e ganhará a nossa Associação. Divulga por todos os Fuzileiros
este apelo de adesão. Se te encontrares no Ativo e desempenhares cargo/função de comando, direção ou chefia, informa os teus
subordinados… fala-lhes da nossa Associação que lhes pertence
também, por direito próprio. Para os que não conhecem os Estatutos, informo que os nossos familiares e amigos, também podem
associar-se.
E, porque “um trabalho só é obra quando aposta no futuro”,
mentaliza-te que a Associação de Fuzileiros precisa de ti hoje e
sempre e que um dia conta contigo e com a tua disponibilidade
para integrares os seus órgão de gestão, ajudando a garantir a
sua continuidade.
Manuel Leão de Seabra
Sóc. Orig. n.º 2279
INFORMAÇÕES/PEDIDOS
RECOMENDAÇÕES DA DIRECÇÃO
Endereços Electrónicos
A Direcção Nacional da AFZ solicita a todos os Sócios que
possuam endereços electrónicos (email) o favor de os remeterem
ao Secretariado Nacional ([email protected]) para facilitar
as comunicações/informações que se pretende assumam a
natureza de constantes e permanentes.
Assim, estarão os Sócios sempre informados, em tempo quase
real, de todas as regalias de que poderão usufruir, bem como
das datas e locais dos convívios e eventos, da iniciativa da
Associação ou dos Associados.
Documentos de despesa com saúde
A Associação de Fuzileiros, através do seu Secretariado
Nacional, disponibiliza aos seus associados o serviço de
recepção e encaminhamento, para os serviços competentes,
dos documentos de despesas com saúde.
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
15
dez de junho
“O 10 Junho” de 2014
Dia de Portugal na Cidade da Guarda
A
s comemorações Nacionais do Dia
de Portugal, no dia 10 de Junho
tiveram lugar, este ano, na cidade da
Guarda.
Cidade Fortaleza e bastião da Fronteira,
a Guarda desempenhou, nos alvores da
nacionalidade, um papel fundamental
para a consolidação do Reino de Portugal.
Ao conceder-lhe Carta de Foral em 1199,
D. Sancho I atribuía à Guarda objectivos
defensivos.
Os tempos, no entanto, mudaram e a
Guarda, terra hospitaleira e de gente franca, a Guarda dos 5 “F” – Forte, Farta, Fria,
Fiel e Formosa – é hoje, principalmente,
uma Guarda do Futuro.
Desfile dos Veteranos Combatentes
Força Operacional dos Fuzileiros
À semelhança dos anos anteriores, o desfile militar integrou um
conjunto de combatentes de várias Associações, em representação de todos os que se bateram por Portugal no Ultramar.
A Associação de Fuzileiros foi uma das nove organizações convidadas pela Liga dos Combatentes para participarem nesse desfile. Cada Associação podia fazer-se representar por 10 elementos.
No dia 9 de Junho, pelas 10h30, no Jardim José de Lemos,
decorreu uma cerimónia de homenagem aos combatentes da
Grande Guerra, com a deposição de uma coroa de flores.
Fotos de Luís Filipe Catarino/Presidência da Republica
Os Fuzileiros em desfile
A cerimónia militar teve lugar no dia 10 de Junho, pelas 10h15
no Parque Urbano do Rio Diz. A deputação da Associação de Fuzileiros foi constituída pelo Presidente da Direcção, José Ruivo, e
por elementos das Delegações de Vila Nova de Gaia e Juromenha/
Elvas, chefiadas pelos respectivos Presidentes, Mendes e Licínio
a que se juntaram fuzileiros da região da Guarda, sob orientação
do camarada Monteiro.
Os Fuzileiros, integrados num bloco com os combatentes das outras Associações, desfilaram garbosamente, como é sempre seu
apanágio, à frente das forças em parada, tendo a nossa Associação recebido os agradecimentos do Sr. General Chefe da Casa
Militar de S. Ex.ª o Presidente da República.
José Ruivo
Sóc. Orig. n.º 836
Elementos das Delegações Jeromenha/Elvas, de Vila Nova de Gaia e gente da Guarda
16
Presidente da Direccção da AFZ
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
dez de junho
Homenagem aos Combatentes em Belém
XXI Encontro Nacional
C
omo é sabido e é por nós noticiado,
as comemorações oficiais do “Dia de
Portugal e do Combatente” ocorreram
este ano na Guarda, sob a presidência de
S. Ex.ª o Presidente da República e em
Lisboa-Belém, sob a Presidência do Sr.
Tenente-General Sousa Rodrigues.
Em Lisboa, onde marcaram presença milhares de pessoas, as comemorações do
“Dia do Combatente” tiveram lugar, como
já é tradição, junto ao Monumento dos
Combatentes e na Igreja dos Jerónimos,
com a celebração de Missa “por intenção
de Portugal e de sufrágio pelos que tombaram pela Pátria” sendo que as cerimónias
foram “marcadas pelo espírito de fraternidade lusófona e pela elevação e dignidade” tendo “como único propósito celebrar
a Pátria e honrar os seus combatentes”.
O Presidente da Comissão Executiva do XXI
Encontro Nacional, Tenente-General Sousa
Rodrigues abriu os discursos, tendo tomado como exemplo “os portugueses que,
mais por armas que por letras, criaram e
expandiram Portugal, nós, mais de um milhão de jovens, demos o melhor da nossa
juventude, combatendo em terras inóspitas, longínquas, em defesa de Portugal e
dos seus valores”.
Seguidamente, representantes da Igreja
Católica e Muçulmana realizaram, em conjunto, pequena cerimónia inter-religiosa,
simbolizando o ecumenismo.
Em homenagem aos Combatentes proferiu discurso o Prof. Doutor Henrique
Leitão, professor universitário dedicado à
história da ciência que começou por afirmar que “a oportunidade de me dirigir a
esta assistência e ao que ela representa é
seguramente uma das maiores distinções
que recebi na minha vida”.
Foi então que representantes de várias
entidades depositaram coroas de flores
no Monumento, homenageando os mortos
em combate, designadamente, a Liga e as
Associações de Combatentes e, também, a
Associação dos Deficientes das Forças Armadas, a Associação de Comandos, a Federação de Paraquedistas, a Associação de
Oficiais da Reserva Naval e a Associação
de Fuzileiros, esta representada por mim
próprio, Vice-Presidente da Direcção, que
tive o privilégio de integrar a tribuna dos
convidados de honra, e por um conjunto de
18 Sócios, impecavelmente trajados, antigos fuzileiros combatentes, irrepreensivelmente comandados pelo SARG e membro
do Conselho de Veteranos da AFZ, José
Talhadas. Este grupo desfilou com particular postura e aprumo, precedido dos dois
Porta-Guiões. Na sua passagem pelo Monumento, onde se depositaram as coroas
de flores, ouviu-se o “Grito do Fuzileiro”.
A locução do evento foi feita pela voz do
nosso Sócio de Mérito n.º 1421, José Campos e Sousa, coautor da letra e música do
Hino do Fuzileiro.
José Campos e Sousa
A passagem pelas lápides de todos quantos o quiseram fazer constituí momentos
de profunda emoção.
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
O ponto de venda de artigos da nossa
“Loja” deu também, visibilidade à Associação e aos Fuzileiros de Portugal.
De notar que, no final do cerimonial, recebi
particulares referências dirigidas à AFZ de
vários Oficiais Generais, de dois antigos
CEMA e também do antigo CEMA, nosso
Sócio Honorário e Mandatário dos actuais
Órgãos Sociais da AFZ, Almirante Vieira
Matias e do Presidente da Associação de
Comandos, em sinal de solidariedade que,
obviamente retribuí.
No fechar da cerimónia ouviu-se o Hino
Nacional executado por Banda Militar,
a salva protocolar por navio da Marinha,
fundeado no Tejo, e apreciou-se a passagem de aeronaves da Força Aérea e o
salto de paraquedistas militares.
Sem dúvida, sucesso para a AFZ, mérito
de todos nós mas, muito especialmente, de todos quantos integraram o nosso
grupo, desde aqueles que, por detrás da
cortina, asseguraram o ponto de vendas
da AFZ até ao conjunto dos fuzileiros veteranos que desfilou, os nossos melhores
protagonistas do XXI Encontro Nacional de
Combatentes.
Marques Pinto
Sóc. Orig. n.º 221
Vice-Presidente da Direccção da AFZ
17
dez de junho
Palavras do
Presidente da Comissão Executiva
Tenente-General Sousa Rodrigues
Combatentes, Senhores convidados, minhas Senhoras e meus Senhores:
Manda-nos o dever de memória que, no dia de Portugal, a sociedade civil se reúna aqui, frente ao Monumento dos Combatentes, para
prestar homenagem aos que em armas contribuíram de forma sublime para honrar o nome de Portugal.
Combatentes:
Convoquei-vos para virem a Belém para que celebremos Portugal.
E celebrá-lo recordando o ambiente de vida que nos tornou mais fortes e mais conscientes do valor da entrega por amor à Pátria e
do sentir profundo da solidariedade que acompanha todos os actos de combate, em particular os que se travam em terras de fogo.
Tomando o exemplo dos portugueses que, mais por armas que por letras, criaram e expandiram Portugal, nós, mais de um milhão de
jovens, demos o melhor da nossa juventude, combatendo em terras inóspitas, longínquas, em defesa de Portugal e dos seus valores.
Éramos tão jovens, e fomos… deixando para trás o que mais gostávamos: mães, esposas, namoradas, amigos, diversões, … muitos
de nós, como eu, deixando filhos bebés, outros a caminho de nascer… E combatemos… lutámos.
E será que os jovens de hoje comparecem perante os novos combates por Portugal? Perante sérias dúvidas, esta comissão executiva
elegeu um tema de reflexão que urge tomar em mãos: colocar a juventude como elemento nuclear na definição dos desígnios de
Portugal e pôr os jovens a pensar sobre os seus próprios desafios e motivá-los a responder às várias ameaças que por aí andam. E a
vencê-las. E elegemos «O MAR» como um desses desafios. Por isso levámos este assunto a debate em colóquio universitário, mostrando as potencialidades do Mar que é nosso, que aumenta imenso o nosso território e património, cuja exploração económica exige
um aval científico que está nas fronteiras do conhecimento, plataforma que precisamos de defender para assegurar uma via essencial
ao nosso desenvolvimento.
E muitos outros combates nos esperam, a salvaguarda da independência, a defesa da língua e da cultura, a erradicação da pobreza,
tantos outros. A nossa geração de jovens dos anos sessenta e setenta enfrentou muitos desafios, antes, durante e depois da guerra.
Combatemos por Portugal porque nos impunha o dever moral de defender os valores nacionais.
Foi por sentir a necessidade de transferir a responsabilidade de prosseguir os combates por Portugal para as novas gerações que vos
pedi que trouxessem os vossos filhos e os vossos netos, para que, daqui, do ponto de onde todos partimos, cujo património histórico nos
faz recordar os nossos heróis de aventura, eles possam meditar sobre os seus compromissos para com o nosso País. Por último queria
pedir-vos um pequeno momento de meditação… Voltem-se para as paredes brancas desta fortaleza e recordem os vossos amigos…
Com este gesto, gostaria que focássemos a atenção no essencial: a homenagem que aqui prestamos aos combatentes que morreram
por Portugal. E louvar os de hoje que combatem noutras terras, noutros conflitos. E recordar as centenas de milhares de combatentes
do Ultramar que não puderam vir. É inequívoco o seu amor por Portugal, o Portugal que jurámos defender, mesmo com o sacrifício da
própria vida.
Obrigado Combatentes. VIVA PORTUGAL.
18
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
dez de junho
Discurso do
Professor Doutor Henrique Leitão
Portugueses, Combatentes de Portugal:
Entendeu a Comissão Executiva para a Homenagem Nacional aos Combatentes convidar este ano, como orador, para proferir umas
breves palavras, um professor universitário, que se dedica à história da ciência, que não foi combatente, e que certamente não passou
pelas durezas por que muitos de vós passaram.
A oportunidade de me dirigir a esta assistência e ao que ela representa é seguramente uma das maiores distinções que recebi na minha
vida.
Estou aqui, pois, antes de mais nada, para prestar o meu respeito e a minha homenagem a todos os combatentes, e para, com todos
eles, lembrar muito em especial os que tombaram.
De certa maneira estou aqui para dar voz a tantos da minha geração que, tendo vivido em circunstâncias muito diferentes das vossas,
olham com curiosidade, com admiração e, sobretudo, com imenso respeito, para todos vós.
Ao começar estas breves palavras vale sempre a pena relembrar algo que é para todos nós uma evidência: não viemos aqui para celebrar nem uma ideologia nem uma política. Não viemos nem para comemorar vitórias nem para lamentar derrotas. Não viemos para
julgar. Também não viemos apenas para relembrar o passado, como algo frio e distante que se examina com interesse vago ou apenas
com saudade.
Estamos aqui neste Dia de Portugal para relembrar e homenagear, talvez com comoção, mas também e sobretudo com alegria, a grandeza dos que lutaram por Portugal, e para comemorar, com esperança, este amor pela nossa terra e pelas suas gentes.
A passagem dos anos torna este Encontro Nacional cada vez mais importante e mais significativo. O tempo pode esbater as circunstâncias concretas dos feitos que recordamos, mas realça e torna mais nítidos o esforço e a entrega dos combatentes.
Pobre de um país que não olhe com respeito e admiração para aqueles que o serviram nas situações mais duras e mais extremas. Pobre
de um país que não lembre aqueles que por ele deram tudo. Pobre de um país que não recorde os seus mortos.
A História de uma nação não é só feita de conquistas materiais – sejam elas de que tipo forem. A história é feita também de memória
e de exemplos. Exemplos que o passado projecta no presente e nos esclarecem sobre quem somos. È por isso que o vosso esforço e o
vosso exemplo nunca serão esquecidos.
Não fui combatente, mas por razões familiares e de amizade, conheci e privei ao longo dos anos com muitos que o foram. Gostava de
dizer o que aprendi com eles, ou seja, o que aprendi convosco.
Aprendi convosco que os verdadeiros soldados lutam não porque odeiam o que têm diante, mas porque amam o que deixaram em casa.
Aprendi que das missões em terras distantes nasce o encanto por essas terras e pelos seus habitantes.
Aprendi que o amor ao próprio país não é um sentimento que fecha, mas um abraço que se alarga a outros povos.
Aprendi que nas provações mais duras se forjam amizades que não distinguem nem raças, nem credos, nem origens sociais, nem
níveis de instrução.
Aprendi o que é o respeito e a admiração pelos que foram adversários e antigos inimigos.
Aprendi que quem mais preza e deseja a paz é quem já teve que combater.
Estas são lições que têm de ser recordadas às novas gerações – mas são lições que ninguém pode dar melhor do que vós.
O vosso exemplo e a vossa presença são hoje tão importantes como no dia em que fostes chamados.
Olhar para esta assistência é também, de certa maneira, olhar para a história de Portugal. Os combatentes do Ultramar são os mais
recentes representantes da história singular que o nosso país teve.
A história do nosso país enche de surpresa e admiração a quem a estuda: Uma nação pequena, de escassa população e recursos limitados, veio a desempenhar um papel singular na história da Europa e do Mundo.
Não foi uma história perfeita de gente irrepreensível (histórias assim não existem), mas só um olhar de imenso cinismo ficaria indiferente perante a grandeza do que foi feito.
Desde muito cedo os habitantes deste pequeno território continental reclamaram independência e afirmaram a sua diferença. Depois,
os portugueses foram o primeiro povo europeu a navegar em longa distância nos oceanos de forma estável e habitual, fazendo o que
antes deles nenhum outro povo da Europa se atrevera a fazer. Foram o povo que transformou o oceano, que era uma barreira, nos
mares que passaram a ser estradas. Aquilo que durante séculos marcava o fim, o términus, passou a ser porta de passagem.
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
19
dez de junho
Pedro Nunes, o matemático, o maior cientista da nossa história, sempre parco em palavras e nada dado a devaneios retóricos, disse-o
sem timidez: “Os portugueses ousaram cometer o grande mar Oceano. Entraram por ele sem nenhum receio. Descobriram novas
ilhas, novas terras, novos mares, novos povos: e o que mais é: novo céu e novas estrelas. E perderam-lhe tanto o medo que nem
a grande quentura da torrada zona, nem o descompassado frio da extrema parte do sul [...] lhes pode estorvar. [...] Descobrindo
e passando o temeroso cabo de Boa esperança: o mar de Ethiópia, de Arabia, de Pérsia, puderam chegar à India. Passaram o rio
Ganges [...] a grande Taprobana, e as ilhas mais orientais. Tiraram-nos muitas ignorâncias [...] E fezeram o mar tão chão que não
há quem hoje ouse dizer que achasse novamente alguma pequena ilha, alguns baixos, ou se quer algum penedo, que por nossas
navegações não seja já descoberto.” (Pedro Nunes, 1537).
Estes acontecimentos colocaram os portugueses em contacto com povos de todo o mundo, misturaram-nos com gente de todas as
cores, levaram a fé de Cristo aos mais recônditos cantos da Terra. E espalharam a nossa língua por todos os continentes, a nossa língua
que, como diz o poeta, é também a nossa pátria.
Os historiadores discutem há décadas como explicar estes factos surpreendentes. Razões económicas, políticas, sociais, religiosas
têm sido avançadas como explicação, e todas elas são certamente necessárias. Mas talvez a resposta esteja em olharmos para nós
próprios: Arrojados, às vezes imprudentes, sempre prontos para partir, voluntariosos e um pouco desorganizados, fascinados com o
novo, com o diferente, sonhadores, assim foram portugueses de todos os tempos.
Foi este movimento irreprimível de ir para fora das fronteiras do país que, com o passar dos séculos, nos levou a África e depois nos
trouxe até aqui: nos combatentes do Ultramar estão séculos de história. E foi por causa dessa história que agora, no presente, contamos
no mundo com várias nações que, com todo o respeito, tratamos como irmãs.
Portugal atravessa de novo momentos difíceis – mas, apesar de tudo, são dificuldades muito mais benignas do que aquelas por que
muitos de vós passaram.
É nestes momentos que o exemplo de tantos combatentes – tantos que estão aqui e outros tantos que já não se encontram entre nós
– se torna mais necessário.
As circunstâncias específicas do momento actual são muito diferentes das que se colocaram diante dos combatentes do Ultramar,
mas os desafios não são menores. Também hoje aquilo de que é mais preciso são homens e mulheres que amem a sua terra, e que
estejam prontos para trabalhar e lutar por Portugal. Aquilo que os combatentes têm o dever de recordar é que o amor à própria terra é
a primeira condição para todo o desenvolvimento e todo o progresso. Aquilo que têm a ensinar é que não há muito a esperar de quem
não ama o seu país.
Este Dia de Portugal e esta homenagem aos combatentes relembram o que passou, mas sobretudo olham para o futuro. Estamos aqui
como quem, para dar um passo em frente, tem de começar por fincar um pé atrás. Relembramos hoje os que combateram por Portugal
porque é o futuro do nosso país que nos interessa. Os nomes que estão nas lápides deste monumento não evocam só saudade e perda;
eles comprometem-nos: recordam-nos a todos, de maneira muito severa e muito exigente, que quaisquer que sejam as dificuldades,
não se desiste de Portugal.
Viva Portugal!
20
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
crónicas
A Marinha…
Navegando em Terra!...
João A. Pires Carmona
uma entrada em casa para dois dedos de
conversa ao casal que nos seus 80 anos
vive as vicissitudes de maleitas do corpo
que não do espírito, porque esse continua
saudável e ávido de viver. E foi assim que
ao mesmo tempo que “botávamos” uma
olhadela pelos canais de TV’s espanholas
que nestas terras da raia se vêem às
vezes melhor que as TV’s nacionais – e
o dinheiro das reformas é escasso para o
luxo da TV por cabo – fomos conversando
e ao mesmo tempo dando uma mirada por
um dos jornais regionais com mais anos
de história.
P
ara mim, o nóvel estado de reformado
significou também o regresso às
origens, à terra ou às terras onde dei
os primeiros passos, Retaxo onde nasci e
Cebolais de Cima onde passei a primeira
infância, onde estudei as primeiras letras
na velha Escola Primária - que já faz parte
do passado pois foi demolida e em seu
lugar construído um arquitectonicamente
esquisito edifício sede da Junta de
Freguesia – antes de com 10 anos partir
para Lisboa para frequentar o liceu, na
altura um luxo reservado a um nicho bem
reduzido da população, nicho onde os
meus progenitores fizeram questão de me
incluir, bem como a meu irmão, à custa
de canseiras e sacrifícos de muitos anos.
A vida não era nada fácil nessas décadas
de 50 e 60!
Nesta nova qualidade de cidadão, apesar
de por enquanto o tempo escassear para
fazer o que há para fazer, o que é certo é
que passou a haver tempo para ter tempo.
Foi assim que a 18 ou 19 de Setembro,
pela manhã, me bate à porta o compadre
Afonso, ávido de um dedo de conversa
de recordações – não se esqueçam que
recordar é viver de novo! – mas também
de um café fresquinho acompanhado de
uma broa de açúcar e principalmente de
um whiskysito ou de um bagacito. E no
decorrer da conversa:
Ao folhear o semanário “RECONQUISTA”
cheio de notícias das terras Beirãs, eis que
uma, referente a BENQUERENÇA, de Penamacor, me desperta natural curiosidade. Porque sendo terra de velhos amigos
que comigo serviram Portugal na Marinha
constava da minha agenda de visitas a
programar, mas também porque a notícia
divulgava a inauguração para o domingo
seguinte, 22 de Setembro de 2013, de um
monumento “Homenagem à Marinha dos
Benqueridos”.
– Oh João, tens de passar lá por casa porque tenho lá uvas para trazeres!
Ainda por cima a notícia referia os velhos
amigos Luís e José Gil como grandes
obreiros da cerimónia, onde marcaria presença o Almirante Chefe do Estado-Maior
da Armada (CEMA), Almirante José Carlos
T. Saldanha Lopes, velho companheiro de
turma no Liceu Dom João de Castro, em
Lisboa, pelo que ao regressar a casa foi
com aquele calor diferente que “informei
a patroa”:
E foi assim que ainda nesse dia ao fim da
tarde rumei a casa dos compadres Afonso
e Ana Rosa. Postas as uvas a recato,
– Domingo vamos passear a Benquerença,
lá para os lados de Penamacor, porque a
Marinha “vai navegar em terra” (ouviu e
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
21
crónicas
nada questionou porque para “laurear a
pevide” todas as horas são boas!).
E no domingo lá fomos!
À chegada, à medida que percorríamos as
até aí desconhecidas ruas da povoação,
depois da sacra pergunta “onde é que é
o monumento que vai ser inaugurado?”,
logo os indícios da presença da Marinha
em terra se fizeram notados, pela vista de
caras já conhecidas e pelas fardas brancas
envergadas pelos ajudantes das Chefias
que, como é da praxe e porque “cuidados
e caldos de galinha nunca fizeram mal a
ninguém”, atempadamente cuidavam de
confirmar e testar todos pormenores relativos ao evento que iria ocorrer, atitude
antagónica da experimentação quotidiana
bem patente das decisões daquela classe
que nos desgoverna pondo em causa a
qualidade de vida e a dignidade deste bom
mas incauto povo português.
Carmona na sua terra a acompanhá-los
naquele momento de tanto significado
para eles. E logo ali o recado: – No fim
não se vai embora, vai connosco para o
almoço!
Além das gentes de Benquerença e dos forasteiros visitantes, as gentes da Marinha,
“O hélice movimenta navios
a Marinha impulsionou a vida
dos marinheiros de Benquerença
Homenagem à Marinha dos Benqueridos”
Até que chegámos ao monumento que iria
ser inaugurado – com a placa que iria ser
descerrada tapada a rigor com a bandeira
da freguesia – e mais à frente, num entroncamento, ao outro monumento inaugurado em 29 de Setembro de 2012 pelo
CEMA, Almirante José Carlos T. Saldanha
Lopes, que constitui homenagem da Marinha aos marinheiros de Benquerença.
no activo, na reserva ou na reforma, uniformizados ou à civil, marcavam presença
em grande número, exteriorizando a alma
marinheira que, quais gaivotas em terra,
fazem a “Marinha navegar em terra”!
acto rubricado pelo Presidente da Câmara de Penamacor, Presidente da Junta de
Freguesia de Benquerença e Almirante
CEMA, a que se seguiu a bênção do monumento pelo Reverendo Padre Jerónimo.
Oficiais, Sargentos, Praças, todos eles
marinheiros das mais diferentes classes,
marinha, administração naval, engenheiros navais, fuzileiros, enfermeiros, taifa,
comunicações, artilheiros, condutores de
máquinas, etc., encheram Benquerença
de Marinha, conviveram, encontraram velhos amigos e companheiros de viagens,
de guerras, das missões mais diversas,
daquelas vicissitudes que só os marinheiros conhecem. Talvez por isso tudo também ali marcaram presença os anteriores
Chefe do Estado-Maior da Armada e Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Melo Gomes e Vice-Almirante Conde
Baguinho, além de outros Oficiais Generais
que na Marinha desempenharam cargos e
funções relevantes, prova do apreço com
que a Marinha vê a sua ligação ao povo
e às gentes. Como é diferente a Marinha!
Para encerramento das cerimónias usaram da palavra o Almirante CEMA, o
Presidente da Junta de Freguesia e o
Presidente da Câmara que em uníssono
exteriorizaram os sentimentos recíprocos
pelo papel que as gentes do Concelho e a
Marinha procuram desempenhar em prol
do país, deixando ali as suas juras quanto
à manutenção da ligação que se quer longa e profícua.
Reza a placa evocativa: “Por tantos e valorosos filhos desta terra de Benquerença que têm honrado a Pátria ao serviço
da Marinha Portuguesa”.
Voltando atrás, regressando ao centro da
povoação, chegámos ao largo da igreja,
onde nessa altura desaguavam os cidadãos de Benquerença no seus fatos para
as festas, os marinheiros da Marinha nos
seus uniformes brancos e os visitantes forasteiros que tinham tido conhecimento da
“festa” e a ela queriam assistir, dela fazer
parte. E logo aí, entre outros, a surpresa e
o abraço de um dos irmãos Gil, o José, que
esperava tudo menos ver o Comandante
22
Após a missa as gentes começaram a
dirigir-se para o local onde teria lugar este
novo evento que fortalecia ainda mais
a ligação de Benquerença à Marinha, as
gentes foram-se reunindo e todos estavam a postos quando, como é da praxe,
por último chegaram as Altas Entidades
das quais salientamos o Presidente da
Assembleia Municipal de Penamacor, o
Presidente da Câmara Municipal de Penamacor, o Presidente da Junta de Freguesia
de Benquerença e o Almirante Chefe do
Estado-Maior da Armada.
A cerimónia iniciou-se com uma alocução
do Comandante Luís Gil, ilustre filho de
Benquerença e grande obreiro das obras
que para todo o sempre ligarão Benquerença e a Marinha Portuguesa, que falou
dos 260 filhos de Benquerença que já serviram Portugal na Marinha, número que
por si só justifica os esforços desenvolvidos para perdurar essa gesta para todo o
sempre, o que não teria sido possível sem
as boas vontades, espírito de cooperação
e de colaboração que nas suas diligências
encontrou na autarquia de Penamacor e
no Comando da Marinha Portuguesa.
Seguiu-se o descerramento da placa que
no monumento homenageia a Marinha
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
crónicas
ir saborear o ambiente, o contacto com a
natureza e com as águas da ribeira que
são um bálsamo excelente em dias de canícula.
Entre encontros e reencontros e pela minha parte, não posso deixar de referir a
surpresa do outro irmão Gil, do Luís, talvez o principal obreiro dos eventos que
imortalizam Benquerença e a Marinha de
Guerra Portuguesa na história pátria, ao
ver o seu amigo Carmona a aparecer sem
ser esperado. Foi uma festa!
E como não há festa sem convívio, nada
melhor que sentar os convivas ao redor de
acepipes que aguçam o apetite e fortalecem as amizades. Foi isso que os filhos de
Benquerença, com a colaboração da Marinha, organizaram, à laia de “pick-nic”,
porque os tempos não estão de feição a
grandes gastos, num local paradisíaco de
que Benquerença dispõe, junto ao açude
da antiga azenha (moinho) e em redor do
qual a Junta de Freguesia edificou infraestruturas disponíveis para quem ali quiser
Tão grande como a do reencontro com um
companheiro da comissão em Angola, em
1973 e 1974, na Companhia de Fuzileiros
n.º 6, integrante do 1.º pelotão que eu comandei, do 127166, Cabo FZE Machado e
respectiva esposa, ela também uma filha
de Benquerença que já conhecíamos precisamente desde o ano de 1973 na comissão comum em Angola.
Talvez porque de entre os velhos
conhecidos éramos aqueles que há mais
anos nos não encontrávamos – mais de
30 anos, talvez – talvez porque o bichinho
fuzileiros ataca ao menor descuido, não
nos largámos até ao final do dia, até à
hora em que havia que regressar ao lar,
doce lar.
Não nos largámos nós nem se largaram as
mulheres, também elas ávidas de contarem as histórias da comissão! Quem pensa
que só nós é que temos a nostalgia de perigos e guerra esforçados, desengane-se!
A distância a percorrer não era muita mas
mesmo assim ainda era necessário percorrer cerca de 100 quilómetros, os quais
serviram para, com a cara metade, ambos
recordarmos aquela comissão que ambos,
logo, logo no início de uma vida a dois que
ainda perdura, ambos cumprimos na longínqua Angola, nos idos de 73 e 74.
Culpa da Marinha e dos Fuzileiros que
um dia decidi abraçar para fazer parte da
maior parte da minha vida. Por isso também eu, com esta crónica, presto a minha
homenagem à Marinha e nesta mais especialmente aos Fuzileiros, que ao longo
de 40 anos fizeram parte do meu dia a dia.
Tenho saudades daqueles… dia a dia!
J. Pires Carmona
Sóc. Orig. n.º 1544
CMG (Ref)
PROTOCOLOS SUBSCRITOS PELA AFZ
(Com vantagens para os Sócios)
KéroCuidados
Open Smile
Presta Serviços a idosos e Famílias
Clínica Médica – Presta Serviços Médicos, inclui Méd. Dentista
Associação Recreativa e Desportiva Bons Amigos
(ARDBA)
Convívio Social e desenvolvimento de diversas Modalidades Desportivas
Grupo Desportivo e Recreativo Unidos da Recosta
(GDRUR)
Convívio Social e desenvolvimento de diversas Modalidades Desportivas
Editora Náutica Nacional, Lda.
(ENN)
Editora de Capitais privados – Edita a Revista de Marinha e também livros
Manuel J. Monteiro & Cª, Lda
(MJM)
Especializada na Comercialização de Electrodomésticos, representa as Marcas: Junex,
Vaillant, Gorenje, Dito Sama, Gisowatt e Stiebel Eltron
Funerária Central Vila Chã
Associação Nacional de Agentes de Segurança Privada
ANASP
30% desconto em todos os serviços
Formação e Credenciação
Ariston Thermo Group
ARISTON
Painéis solares e Bombas de calor, Termoacumuladores eléctricos, a gás e Esquentadores,
Caldeiras a gás
Casa de Repouso São João de Deus
Acolhimento em regime interno, possui dois estabelecimentos: Lagoa da Palha, Pinhal Novo
e Cabeço Verde, Barreiro
Casa de Repouso Quinta da Relva
Acolhimento de idosos, lar e cuidados continuados
MH Wellness Club
Motricidade Humana
Prestação de Serviços na área do desporto, saúde e lazer – Santo André, Barreiro
Kangaroo Health Clube
Prestação de Serviços na área do desporto, saúde e lazer – Quimiparque, Barreiro
GAMMA
Grupo de Amigos do Museu de Marinha
Universidade Lusófona
COFAC – Cooperativa de Formação e Animação Cultural – Lisboa e Porto 10% desconto
nas propinas
Universidade Lusófona
ISES – Instituto Superior de Segurança - Conferências
Funerária São Marçal
20% – Canha Montijo
SITAVA
Parque Campismo – Brejo da Zimbreira, Vila Nova Mil Fontes
Para mais pormenores, podem consultar o Site da AFZ, o Secretariado Nacional (Tel.: 212 060 079 –Telm.: 927 979 461) ou as nossas Delegações
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
23
dia do fuzileiro
Dia do Fuzileiro
5 de Julho de 2014
M
ais um ano passado e outro “Dia
Grande” mais no seu significado e
nas saudades e nostalgias que se
matam do que na amplitude do seu modelo (opinamos nós) que já se instalou, com
mérito de sobra do Corpo de Fuzileiros e,
sobretudo, do seu anterior Comandante,
Contra-Almirante Cortes Picciochi.
Pela recente perda que os Fuzileiros tiveram que era, com certeza, a sua mais alta
e prestigiada referência viva – partiu “O
COMANDANTE”, Guilherme Almor Alpoim
Calvão – não fará mal que nos citemos
em palavras escritas em data congénere:
«mais um ano se passou sobre o desfolhar
dos dias das nossas vidas, no decurso do
qual alguns infelizmente se ficaram pelo
caminho e por estes me inclino prestando-lhes as minhas homenagens. Um dia
destes lá nos encontraremos juntos protegendo-nos mutuamente como os Fuzileiros sabem fazer, onde e como a Providência quiser».
As “formaturas” para as cerimónias “para-militares” e militares e para as filas das
irrevogáveis sardinhas e febras decorreram
com irrepreensível disciplina e respeito,
mesmo por parte das mães com crianças
ao colo, princípios que os Fuzileiros aprenderam e souberam transmitir. Uma maravilha esta Gente que teima em se reunir:
menos velhos, mais velhos, menos novos
e mais novos, Senhoras e jovens bonitas!
A receber toda esta Gente – e já lá iremos
aos números – lá estavam, como vai sendo
hábito, os carolas da AFZ e elementos do
Corpo e da Escola de Fuzileiros que este
ano mais que primaram em bem receber.
Na tenda da AFZ, cedida pela EFZ lá “pousavam” quase os mesmos de sempre: o
Mário Gonçalves “comandando” a venda,
o inestimável Pinto e a Ana, acolitados por
mais uns voluntários que vão salvando a
“honra do Convento”, minimizando despesas.
Os participantes foram chegando nos seus
transportes e em autocarros, de todo o
País, do Norte ao Sul e do Mar às Raias,
muitas vezes acartando consigo as suas
Mulheres, os Filhos e já os Netos.
A Associação de Fuzileiros que, como
sempre, somente usufruiu de uma dúzia
de bilhetes para o almoço distribuídos
religiosamente apenas aos elementos da
AFZ que colaboraram na recepção e encaminhamento dos participantes, vendeu
459 bilhetes para adultos e 18 para crianças, somando um total de 4.680 Euros que
foram entregues, na íntegra à Escola de
Fuzileiros.
A “Família” juntou-se, uma vez mais, nesta inexorável inevitabilidade tão “Nossa”
para esmagar saudades, curtir nostalgias,
recontar estórias, queimadas e requeimadas de se contarem mas que um dia, porventura, farão história se não mesmo outra
História.
É esta, a grande colaboração que a Associação Nacional de Fuzileiros empresta,
e muito bem, ao Corpo de Fuzileiros na
sua organização do “Dia do Fuzileiro”. As
nossas estruturas ao nível do Secretariado Nacional e das diversas Delegações
colocam-se ao serviço dos Fuzileiros e,
A partir da 8h30 horas começou a concentração naquela que é conhecida como
a “Casa Mãe”, a Escola de Fuzileiros, em
Vale do Zebro.
24
todos nós colaboramos – “sem cuidar recompensa” – «para que o “Dia do Fuzileiro” seja, de facto, o dia de todos “NÓS”. A
AFZ vem, ano após ano, oferecendo o seu
prestígio, empenhando os seus “antigos
combatentes”, emprestando o seu saber,
garantindo o seu apoio incondicional... e a
participação significativa dos seus sócios,
familiares e amigos!»
O programa do “Dia do Fuzileiro” cumpriu
na sua informalidade – muitos antigos fuzileiros e até algumas jovens descendentes trataram a pista de lodo do rio Coina
por tu e passearam-se em anfíbio LARC
pelo rio – e no formalismo da Missa recordando, também, os que já partiram e os
que estão e suas famílias, e da Cerimónia
Militar, junto ao Monumento ao Fuzileiro,
onde se homenagearam, também, os mortos em defesa da Pátria com deposição de
coroas de flores. As honras foram prestadas por actuais e antigos Fuzileiros estes
“comandados” pelo SARG José Talhadas,
nas suas irrepreensíveis posturas, a que
não faltaram os porta-guiões da Associação Nacional, com o imprescindível SARG
José Coisinhas e os das Delegações, ostentados pelos respectivos Presidentes.
Foi então oportunidade para os discursos
do Comandante do Corpo de Fuzileiros e do
Presidente da Associação Nacional de Fuzileiros que adiante tentaremos reproduzir.
Após a abertura de exposição fotográfica
e a inauguração do núcleo museológico
“Anfíbio”, correu-se – e já não era sem
tempo – para o almoço. Como já se disse,
as velhas sardinhas a pingar no pão e as
febras e o entrecosto a saltar das grelhas,
tudo muito saboroso e irrepreensivelmente
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
dia do fuzileiro
servido pelos fuzileiros de serviço fizeram
parte da ementa basta e franca em quantidade e qualidade, a que não faltaram os
doces e as frutas, tudo regado por branco,
tinto, sangria, sumos e, também muita
água, que as Senhoras e as crianças também eram filhas de Deus.
Cumpre aqui referenciar, como sempre se
tem feito, “os esforços dos Comandos do
Corpo, da Base e da Escola de Fuzileiros”
que colocam neste dia o melhor do seu saber de organização e do espírito fuzileiro.
Sim porque, de facto, para o bem e para o
mal, a organização há cinco anos a esta
parte tem sido, exclusivamente, do Corpo
de Fuzileiros sendo que a AFZ vem ficando
apenas com a sua melhor colaboração e
o velho “Encontro Nacional” quase se esvaiu da memória do tempo.
Cabe pois agradecer, em nome dos mais
de dois mil Sócios da Associação Nacional de Fuzileiros, o dia que, uma vez por
ano, no primeiro Sábado de Julho, o Corpo de Fuzileiros nos proporciona, e render
homenagens ao seu antigo Comandante
que, com persistência e determinação
conseguiu transformar o velho “Encontro
Nacional dos Fuzileiros”, da iniciativa e
organização da AFZ, no “Dia do Fuzileiro”
cuja liderança assumiu, quase sem roturas. Agradecimentos, também a todos
os militares ao serviço deste “Dia” que,
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
sendo um Sábado, perderam uma licença
e o convívio das famílias mas ganharam,
seguramente, um laivo de cultura “azul-ferrete” que, os homens que fizeram a
guerra e tiveram de dar tiros “de verdade”,
e que ainda vão restando, com toda a certeza lhes transmitiram.
No final deste belo e agradável convívio,
cortou-se o “Bolo do Aniversário” um bolo
feito com os ingredientes de todos nós e
ao qual o pessoal da taifa – cuja dedicação
aqui se ressalta – conseguiu transmitir um
cheiro e um sabor a Fuzileiro.
Marques Pinto
Sóc. Orig. n.º 221
2TEN FZ RN e Vice-Presidente da AFZ
25
dia do fuzileiro
Discurso do Comandante do
Corpo de Fuzileiros,
CALM Cortes Picciochi
Fuzileiros!
Mantenho …esta evocação sem olhar a regras protocolares. Entendo que aqui só estão
fuzileiros, familiares e amigos, e é a eles que me dirijo… São os fuzileiros o motivo da
festa, e não encontro razão para diferenciar as minhas palavras de qualquer outra distinção. A nobreza aqui é a mesma, é a boina conquistada com o direito ao seu uso.
Comemoramos, pelo quinto ano consecutivo, o Dia do Fuzileiro. Este ano, sob o lema de
“O fuzileiro do Futuro”. Olhámos para o passado, para o presente e agora tentamos preparar-nos para o que poderá vir a acontecer. Só o
facto de pensarmos nisso, de conversarmos sobre o tema, permite-nos estarmos atentos, de sermos pró-ativos. Os fuzileiros nunca se
deixaram surpreender por falta de visão, nunca se acomodaram, e só desta forma têm respondido, antes de todos, a qualquer desafio.
.../...
O facto de tratarmos de forma separada o antigo, o novo e o futuro, não significa que este processo se dê aos saltos, de forma descontínua. Se é certo que os 4 séculos de história tenham decorrido com alguns lapsos de tempo na existência dos fuzileiros, no último meio
século, por si só, observámos alterações profundas aos níveis dos equipamentos, das técnicas, táticas e procedimentos, do armamento
e também do próprio combatente como pessoa, mais bem formado, mais preparado para missões que cobrem um espetro mais amplo
de atuação, mais consciente de si próprio. Se num primeiro momento, a ameaça, chamada de assimétrica, veio obrigar a um novo olhar
para a forma de a combatermos, num mais recente, as evoluções tecnológicas provocam, quase diariamente, uma rápida obsolescência do que tínhamos como bom e moderno. Hoje temos obrigação de tudo prever e a própria vida humana ganhou outro significado
ao não se tolerarem baixas como efeitos colaterais. Toda esta dialética, obriga os Comandantes a deitarem mão a tudo o que têm ao
seu dispor, respondendo por qualquer coisa que não tenha sido devidamente acautelada, não sendo aceitáveis argumentos como “foi
assim, porque entendi que assim devia ser”, ou mais simples “mandei, porque sim”. No conflito moderno, qualquer militar, mesmo ao
mais baixo nível, pode vir a tomar um papel que se virá a revelar como decisivo no desfecho da missão.
.../...
E … aproveitámos este dia para lhe juntarmos outros eventos à festa dos fuzileiros:
– Mantivemos a acessibilidade à pista de lodo, onde muitos clamavam por matar saudades deste emblemático tratamento dermatológico.
– Temos connosco o núcleo de radioamadores da Marinha que, da sua iniciativa, se quiseram juntar ao que mais moderno detemos
ao nível dos sistemas de comunicações no Corpo de Fuzileiros. É um feliz encontro das antigas e novas tecnologias onde nenhuma
substitui a outra. A evolução conduz a equipamentos mais fiáveis, mais precisos, mais leves, mas também mais dependentes de
outra tecnologia apenas disponível dos mais poderosos e passível de vir a ser manipulada, facto que os militares terão sempre de
ter em conta.
– Integrámos, formalmente, o Guião do Batalhão Ligeiro de Desembarque. Foi necessário ultrapassar uma série de obstáculos que
nos atrasaram uma série de anos. Processo encerrado! Não poderei deixar de fazer uma referência aos comandantes Semedo de
Matos e Manuel Gonçalves pelo papel preponderante e determinante que tiveram neste processo. O capitão-de-fragata fuzileiro
Semedo de Matos, é bom que se saiba, tem a sua marca no Monumento ao instrutor, na placa toponímica desta parada e no Guião
do BLD. Eu vou ganhando créditos à sua custa…
– Vamos inaugurar uma exposição fotográfica no edifício do Batalhão de Instrução e o núcleo museológico anfíbio, que aqui ficará a
embelezar esta parada.
Como se vê, é sempre possível fazer algo de novo. Sendo oportuno dar conta àqueles que vêm de fora do que aqui se vai fazendo,
procurarei, ainda que de forma não exaustiva, referir os aspetos mais relevantes do último ano:
– Concluímos uma brilhante participação no Afeganistão onde, durante 18 meses, controlámos um dos acessos ao aeroporto de
Cabul, em situação de elevadíssima exposição à ameaça externa, sob condições climáticas extremas, dos 40.º aos 20.º negativos;
– Estivemos embarcados nos mares da Somália garantindo o trânsito dos navios do World Food Program;
– Participámos, com uma Força de Fuzileiros escalão Companhia, no sul de Espanha, num exercício com os Marines e a Infantaria de
Mariña;
– Aprontámos a nossa Companhia cedida à EUABG (European Union Amphibious Battle Group) num outro exercício com espanhóis,
tirando partido de meios de projeção que Portugal não dispõe;
– A par do Afeganistão, passámos a marcar presença no Mali;
– Estamos prestes a entrar na European Amphibious Initiative.
– Colaboramos com a Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC) na prevenção de fogos florestais;
– Contribuímos decisivamente para a salvaguarda da vida humana no mar.
E o resto, bem o resto é um dia a dia atarefado com missões aparentemente de rotina mas onde se esgotam os meios que temos.
26
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
dia do fuzileiro
De uma há muito anunciada reestruturação do Corpo de Fuzileiros, adaptada aos quantitativos e missões que superiormente foram
determinados, espera-se uma centralização da estrutura em Vale de Zebro, facto que salvaguardará a nossa presença nesta região que
tanto diz aos fuzileiros.
E o ato formal da entrega do Guião do Batalhão Ligeiro de Desembarque constitui, por si só, um passo em frente no caminho deste
futuro que se quer construir, salvaguardando aquilo que mais ninguém faz. Onde o mar acaba e a terra começa será sempre o lugar de
excelência de atuação dos fuzileiros. “O licorne é um animal mítico, impossível de capturar vivo, devido à sua força, poder e ferocidade.
Símbolo de poder e de força que apenas pode ser controlada e conduzida pela pureza dos espíritos benignos na defesa das mais nobres
causas.” Acrescenta a nota explicativa que ao mesmo foi acrescentada uma cauda de peixe que lhe confere a dimensão anfíbia do
BLD, evocando a sua temeridade e poder, a par da nobreza de caráter que lhe é própria. Penso que toda esta carga simbólica traduz na
perfeição o que é o Batalhão Ligeiro de Desembarque.
No meu derradeiro Dia do Fuzileiro, não poderei deixar de olhar para trás e avaliar o que entretanto se passou. Criado para unir a
família dos fuzileiros, este encontro sempre teve o convívio entre gerações como aquilo que moverá esta romaria anual até à Escola
de Fuzileiros. E foi neste sentido que se chamou a Associação de Fuzileiros a tomar parte integrante da festa. É, na minha opinião, na
base deste relacionamento que se conseguirá unir a tal geração mais antiga, do tempo do Ultramar, aos que, desde então, continuam
a honrar a mesma boina aqui conquistada. Aqui aproveito para felicitar o Senhor Comandante Ruivo, recentemente empossado como
presidente da Associação, de quem não precisava de ler o seu editorial no último “Desembarque” para saber que o Corpo continuará
a contar com a total colaboração deste importante órgão associativo.
Sempre me recusei a aceitar o muito usado termo “no meu tempo”. Primeiro, porque tal é sintoma de senilidade, e recuso-me a ter-me
como velho. Depois, porque o “meu tempo” será sempre aquele que por aqui andar, independentemente da idade. E o afastamento
da vida ativa não tem de implicar um alheamento daquilo que tanto nos diz. Foi com este sentimento que aqui servi nestes 6 anos,
com o sentimento consciente de que muito por aqui havia a preservar, e por tanto lutei. “Enquanto Comandante do Corpo não perderei
um dia no procura do que poderá diferenciar um de outro fuzileiro”, referi no dia 27 de junho de 2009, e com esta festa procuramos
precisamente que possam deixar lá fora o que eventualmente vos distinga, porque, não duvido, será sempre mais aquilo que vos une.
Também o referi, o Dia do Fuzileiro terá o tamanho da dignidade que merece. Não termos umas centenas de militares formados, com
viaturas, demonstração de capacidades, etc. não retirará dignidade ao que fazemos.
Aquando da minha tomada de posse, referi que iria garantir que não ficariam de fora aqueles que, tendo despido a farda, nunca deixaram de usar a boina de fuzileiro. Tentei, ao longo da comissão, cumprir a promessa tendo, para tanto, sempre procurado manter uma
ligação de proximidade com os fuzileiros, onde quer que se encontrassem. Hoje, garantidamente faria melhor, mas hoje sei mais do
que há uns anos atrás, o que torna a comparação despropositada.
Por isso, se se vier a comemorar o 6.º Dia do Fuzileiro, ficarei com a garantia de que tive sucesso nesta missão.
Aos poucos vou partindo, ontem assisti pela última vez aos fuzileiros a desfilar, por hoje, calo-me, abandonando este local e indo à
procura do convívio que se segue, na esperança que me faça esquecer do que se avizinha, que me leve para longe uma nostalgia
imensa que já me vai assolando.
Disse.
NOTA DA REDACÇÃO: Dada a extensão deste documento, vimo-nos na contigência de o encurtar, omitindo alguns parágrafos.
Discurso do Presidente da Direcção
da Associação Nacional de Fuzileiros
José António Ruivo
Fuzileiros!
Mais uma vez, desde 2009, e pelo 5.º ano consecutivo, esta grande família que são os
Fuzileiros se juntam aqui, na sua “Casa Mãe”, para uma jornada de confraternização,
convívio e memória, retomando e reforçando laços de sâ camaradagem e espírito de corpo. Em boa altura o Comando do Corpo de Fuzileiros tomou a iniciativa de aqui nos juntar.
É nesta Escola, a nossa Casa, onde todos nós recebemos, após árduo trabalho e muitos
sacrifícios, mas também com muito orgulho a boina azul ferrete, que faz todo o sentido celebrarmos o “DIA DO FUZILEIRO”. É nas provações mais duras que se forjam as grandes amizades, que não distinguem origens sociais, nem níveis de instrução e estas são lições
que têm de ser recordadas às novas gerações, daí a impotância da vossa presença e do vosso exemplo.
Neste dia, que é também de memória, estamos aqui igualmente para prestarmos o nosso respeito e a nossa homenagem a todos os
fuzileiros, nossos camaradas, que já partiram deste mundo, seja porque deram a sua vida em defesa da Pátria nos diversos teatros de
operações em que os fuzileiros participaram – e cujos nomes estão indelevelmente inscritos no monumento ao Fuzileiro – seja porque
a lei da vida, na sua inexorabilidade assim o determinou.
Um país que não olhe com respeito e admiração para aqueles que o serviram nas situações mais duras e mais extremas e que não
lembre aqueles que por ele deram tudo, incluindo o seu bem mais precioso que é a própria vida, não deverá ter grande futuro.
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
27
dia do fuzileiro
Mas não viemos aqui apenas para relembrar o passado, com um misto de interesse e de saudade, estamos aqui, neste dia, também
e sobretudo para o vivermos com alegria na companhia dos nossos camaradas, que connosco compartilharam experiências únicas e
inesquecíveis.
A passagem dos anos tem levado a que este DIA DO FUZILEIRO se revista cada vez de maior significado e importância. O tempo pode
desvanecer algumas das circunstâncias concretas dos episódios que tentamos recordar, mas acaba por realçar e tornar mais nítidos o
esforço e a entrega dos que neles participaram.
Uma lembrança muito especial para o comandante Alpoim Calvão desejando muito sinceramente que possa ultrapassar as dificuldades
que presentemente atravessa.
FUZILEIROS, permitam-me que vos fale agora um pouco sobre a nossa Associação:
A Associação de Fuzileiros, organização que aqui represento desde finais do passado mês de Março não se pretende apenas uma associação de saudosistas, mas sim uma associação dinâmica e dinamizadora, capaz de atrair os mais jovens, que tragam sangue novo de
modo a permitir uma saudável troca de experiências entre gerações. Tenhamos em mente que a Associação de Fuzileiros é a entidade
que permite dar continuidade à ligação dos fuzileiros entre si e destes com a nossa Marinha.
Num mundo em mutação contínua, quem fica parado, no seu canto, deixa de contar. As estruturas que não têm impacto, ou que têm
apenas uma justificação burocrática, estão condenadas a desaparecer. Ou, então, ficam apenas a fazer parte de um cerimonial protocolar sem substância.
A Associação de Fuzileiros será aquilo que os seus membros quiserem que seja. À Direcção compete traçar o rumo, no respeito e cumprimento dos objectivos estatutários. Aos associados compete remar, todos em sintonia e no mesmo sentido para, todos em conjunto,
levarmos a barca a bom porto. Como todos nós sabemos a união faz a força e quantos mais formos e mais unidos estivermos, mais
força teremos.
A Associação de Fuzileiros está estruturada num conjunto de Divisões, cada uma delas responsável por uma área com interesses afins.
Hoje irei focar-me apenas em três:
A Divisão dos Associados destina-se essencialmente a promover o apoio aos que hoje precisam de nós, mesmo que seja apenas de um
abraço ou uma palavra amiga, para além de desenvolver estratégias de captação de novos sócios e retenção dos existentes.
A Divisão do Mar e das Actividades Lúdicas e Desportivas, sendo uma das divisões mais activas, muito pelo esforço e dedicação do seu
responsável Espada Pereira, tem como principal objectivo divulgar o Mar e o gosto pelas actividades a ele ligadas e outras actividades
desportivas, procurando assim atrair os mais jovens ao nosso convívio.
A Divisão Cultural e da Memória, para além de lhe competir a organização de eventos de âmbito cultural, está a iniciar um projecto, que
consideramos muito interessante, de pesquisa, recolha, organização e apresentação pública de estórias de vida, narradas por fuzileiros
e marinheiros, projecto a que resolvemos chamar “CONTADORES DE ESTÓRIAS”, e que gostaríamos que posteriormente se traduzisse
numa obra literária, para que essas nossas memórias não se percam.
Vou agora referir-me às Delegações da Associação Nacional de Fuzileiros, estruturas descentralizadas de implantação regional, cuja
criação tem como objectivo obtermos uma cobertura a nível nacional, de modo a que todos os fuzileiros espalhados pelo país se possam
sentir, de forma participativa, mais próximos da sua associação.
Foram já criadas as Delegações de Vila Nova de Gaia, Juromenha/Elvas e do Algarve, que, sob a direcção do Mendes, do Licínio e do
Medeiros, tão bem representam a Associação nas respectivas áreas de implantação, dignificando os Fuzileiros e a Marinha.
Mas temos como objectivo prioritário conseguir efectivamente uma cobertura a nível nacional e assim, estamos a trabalhar para que a
breve prazo tenhamos Delegações em Tomar e na Guarda. E com este espírito continuaremos, até termos atingido o nosso objectivo.
Termino deixando uma palavra muito especial de agradecimento ao Corpo de Fuzileiros, na pessoa do seu comandante: CALM Picciochi
e à Escola de Fuzileiros, igualmente na pessoa do seu comandante: CMG Teixeira Moreira, assim como às equipas da Escola de
Fuzileiros e da Associação de Fuzileiros que tornaram possível a concretização deste grande evento.
FUZILEIRO UMA VEZ FUZILEIRO PARA SEMPRE!
28
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
convívios
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 10
Moçambique 1974/75 – 40.º Aniversário
10 de Maio de 2014
N
o dia 10 de Maio de 2014, na Escola
de Fuzileiros, compareceram os elementos que fizeram parte do DFE 10
– Moçambique 74/75 acompanhados dos
seus familiares e amigos para, neste local
mítico e místico para todos os Fuzileiros,
comemorarem o 40.º aniversário da constituição desta Unidade e da sua partida
para a última comissão de serviço no, assim então designado, Ultramar Português.
Tão importante acontecimento merecia um
programa a condizer e assim se fez; missa
de acção de graças, homenagem aos já
desaparecidos, visita guiada ao renovado
Museu do Fuzileiro e almoço “condigno”
nas instalações da Associação de Fuzileiros.
Um dia pleno de abraços, emoções e recordações!
Passados 40 anos, nos rostos dos homens, nos seus olhares vislumbro ainda
reflexos esbatidos das águas barrentas
do rio Zambeze, dos verdes das matas da
Mucanha para lá do rio, das poeirentas
avenidas da cidade de Tete, sensações
depois nostalgicamente caldeadas com as
tépidas águas do Índico.
O estilo de vida descontraído das gentes de
Lourenço Marques, agora Maputo, surpreendeu-nos então face a uma modernidade
a que a maioria não estava habituada e os
meses que por lá passamos constituíram
experiências que ficaram para uma vida
que correu célere e agora se encosta, interrogativa, às aposentações e reformas
severamente amputadas pela crise económica que se abateu sobre parte da Europa
e a que Portugal não soube ficar imune e
agora com dificuldade, resiste.
Voltando ao tema, o nosso convívio continuou durante a tarde que se iniciou com
um excelente almoço servido na Associação de Fuzileiros, a espaços animado pelo
grupo de concertinas do nosso camarada
Augusto Paulino, entre nós o Zé Grande, e
seus amigos a quem aqui deixamos, desde já, um sincero obrigado pela sua alegria e disponibilidade e um desafio para
que continuem a estar presentes nos nossos próximos encontros. Numa actuação
muito apreciada por todos foi uma alegria vê-los actuar e acompanhar o nosso
querido amigo Vidinha que teve assim a
oportunidade de fazer uso da sua excelente voz, tão bem calhada para os cantares
minhotos e não só.
Para alimentar o espírito nada melhor que
as sempre reconfortantes palavras do senhor comandante, o Almirante Vargas de
Matos e a confraternização saudável com
o pessoal de outro DFE 10, Guiné 67/69,
que por coincidência também fazia o seu
almoço de convívio no mesmo local.
E pronto, mais dois dedos de conversa,
cortou-se o bolo, distribuiu-se o champanhe para um brinde especial e, após as
despedidas, cada qual voltou à sua terra
com promessas de um “até para o ano”.
Esperemos que sim, que possamos estar
lá todos e se possível com saúde.
Um agradecimento especial às entidades
que autorizaram e apoiaram a parte do
programa que decorreu na Escola de Fuzileiros, ao padre Licínio, um grande amigo
e ao senhor Cabo Pinto, responsável pela
visita ao Museu do Fuzileiro que fez uma
apresentação simples e agradável muito
apreciada por todos.
A todos o nosso muito obrigado!
Benjamim Correia
Sóc. Orig. n.º 1351
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
29
convívios
20.º CFORN FZ
… 42 anos depois!
O
último reencontro fora
aquando dos
Cadetes FZ RN ALBERTO (João Alberto, Alberto José e Antó40 anos depois –
nio Alberto) - Companhia de Fuzileiros n.º 6 ANGOLA 73/75
decorria o ano de
2012 – e aconteceu na casa-mãe, na Escola de Fuzileiros. Este ano e mais uma
vez sob a égide do Chefe de Turma Vasconcelos Raposo, o almoço
convívio decorreu num restaurante na Fogueira, nos arrabaldes de
Sangalhos, local escolhido pelo Corte Real para ali todos podermos
degustar um genuíno leitão – acompanhado com batata cozida
com a pele – ao mesmo tempo que púnhamos as recordações
em dia.
novo, pelo menos alguns, foram as mesmas de sempre, com a
nostalgia a vir sempre ao de cima como atesta o reconhecimento
unânime na excelência dos CONSELHOS que, durante o curso,
o Comandante Pedrosa e o Imediato Rezende inúmeras vezes
prodigalizaram, ensinamentos básicos mas importantes porque
no seu âmago si­gnificavam tão só como da lei da morte nos
libertarmos… pelo que o nosso reconhecimento continuará para
além das nossas vidas!
E mais uma vez foi com o até SEMPRE e o até AO PRÓXIMO que
cada um de nós “recolheu a quartéis”!
J. A. Pires Carmona
Sóc. Orig. n.º 1544
CMG FZ REF/ex-Cadete FZ RN
Dos 26 que terminámos o 29.º Curso de Fuzileiros Especiais (CFE),
comparecemos à chamada 16 “cadetes”, os quais gozámos o
privilégio da presença e companhia de 1 dos 4 oficiais dos Quadros
Permanentes da Marinha de Guerra Portuguesa que conjuntamente
viveram os ensinamentos e as agruras do curso (CALM Gonçalves
Cardoso), dos Comandante (CMG Gomes Pedrosa) e Imediato
(CMG Vidal de Rezende) da 3.ª Companhia, unidade responsável
pela condução do 29.º CFE, do cadete TE RN Pires da Rosa (20.º
CFORN TE), do grumete José Caneira (28.º CFE), já companheiros
habituais de outros anos, e ainda e pela primeira vez do cadete
João Lemos Mexia do 12.º CFORN M hoje ligado à tertúlia “Granel
das Beiras”.
Apesar de mais usados e mais gastos, com alguns de nós mais
marcados pelos anos vividos, a boa disposição e a vontade de
recordar aqueles tempos, quiçá com vontade de vivê-los de
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 4
Guiné 1973/74
17 de Maio de 2014
N
o passado dia 17 de Maio, realizou-se de novo o nosso
encontro anual, que desta vez ocorreu na Bairrada, em
Anadia.
Iniciou-se com uma missa celebrada em memória dos camaradas que já partiram, na igreja paroquial de Anadia, a que se
seguiu um bem servido almoço em que, como era de esperar,
não faltou o espumante, a cabidela e o leitão assado à moda
da região.
Para além de muitos familiares, estiveram também presentes
o Comandante Cortes Simões e o Alferes Porto, respectivamente ex-comandantes do navio patrulha Argus e do pelotão
de obuses do Chugué, pessoas com quem o DFE 4 teve, durante a sua comissão, um excelente relacionamento.
A festa prolongou-se pela tarde fora, terminando com os abraços e a emoção das despedidas e o coração já apontado para o
próximo encontro, a realizar em 2015.
José Pedro Côrte-Real
Sóc. Orig. n.º 1339
30
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
convívios
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 13
Guiné 1968/70
24 de Maio de 2014
O almoço/convívio teve lugar na Associação de Fuzileiros, em ambiente de
muita alegria e amizade.
O Comandante do DFE, na sua alocução, referiu o exigente esforço por todos
prestado, representado no sacrifício dos
Mortos homenageados, mas também o
excelente desempenho operacional, a
disciplina e espírito de unidade evidenciados.
O DFE 13 teve intensa actividade operacional, premiada na operação “Grande
Colheita” que proporcionou uma das
maiores capturas de material de guerra ao inimigo, efectuada numa única
operação durante a guerra no Ultramar
Português (por nós apelidada o “ronco”
do Sambuiá!).
O DFE13 fez jus à apreciação das
Entidades Superiores, nomeadamente
O
s Fuzileiros do DFE 13 e seus familiares realizaram o
seu encontro anual no passado dia 24 de Maio. Sob o
Comando do Almirante Vieira Matias desembarcaram na
Escola de Fuzileiros, tendo sido recebidos pelos Comandantes
do Corpo de Fuzileiros, CALM Picciochi, e da Escola de
Fuzileiros, CMG FZ Teixeira Moreira.
Junto do respectivo Monumento, e com Guarda de Honra, foi
prestada homenagem aos FZ´s Mortos em Combate, pelos
quais, seguidamente, foi celebrada Missa na Capela da Escola
de Fuzileiros pelo Capelão Licínio Silva, do CCF.
Foi também efectuada visita ao Museu do Fuzileiro, competentemente guiada pelo Cabo FZ Pinto.
o Comandante-Chefe, sendo referido
como “verdadeira Unidade de elite que
de forma tão brilhante soube prestigiar
na Guiné as notáveis tradições da
Marinha e das Forças Armadas Portu­
guesas”.
Aos Comandos do Corpo de Fuzileiros
e da Escola de Fuzileiros e à Direcção
da Associação de Fuzileiros, o DFE 13
muito agradece os excelentes apoios
prestados.
Vasco Brazão
Sóc. Orig. n.º 277
CMG FZE (Ref)
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
31
convívios
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 6
Angola 1973/75 - Os Tubarões
7 de Junho de 2014
S
ábado, 7 de Junho de 2014, pelas 11 horas da manhã, teve início na Escola de Fuzileiros a concentração dos elementos que fizeram
parte do Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 6, que prestou serviço em Angola entre 1973 e 1975, para a realização do seu
encontro anual. Vieram de diversos pontos do país, acompanhados de familiares e alguns amigos.
Matadas as primeiras saudades, e estando presentes todos os
que se haviam inscrito, num total de 40 pessoas, procedeu-se
à deposição de uma coroa de flores no monumento ao fuzileiro,
em homenagem aos camaradas já falecidos. A coroa de flores foi
transportada pelo Diamantino e pelo Frieza “Gago”, na qualidade
de sargento mais antigo e praça mais moderna, tendo sido feita a
deposição pelo imediato, Sérgio Almeida.
Após esta singela cerimónia, os participantes deslocaram-se para
o restaurante da Sede da Associação de Fuzileiros (Delegação
­Marítima do Barreiro), onde decorreu o almoço convívio que teve
início pelas 13 horas.
O almoço foi de
excelente qualidade, proporcionando
momentos de grande convívio e animação a que não faltou, como habitualmente, o cante
alentejano, já que grande parte dos elementos do Destacamento eram provenientes
dessa região do país.
Pelas 17 horas foi servido o bolo comemorativo e o espumante, terminando mais este
encontro de camaradas.
Para o próximo ano, o imediato Sérgio Almeida, prontificou-se a organizar as comemorações na Zona Norte do País, em Sever do Vouga, próximo da cidade do Aveiro.
José Ruivo
Sóc. Orig. n.º 836
32
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
convívios
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 2
Angola 1965/67 - 49.º Aniversário
14 de Junho de 2014
N
o passado dia 14 de Junho, os antigos membros da guarnição
do Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 2, juntaram-se
na (Casa Mãe) Escola de Fuzileiros, para comemorar o 49.º
aniversário da partida para Angola, em missão de soberania da
antiga ex-colónia portuguesa em África.
Seguiu-se uma homilia efectuada na Capela da E.F. em que assistiram os camaradas e seus Familiares.
A comemoração iniciou-se de manhã, com uma deposição de
uma coroa de Flores no monumento ao Fuzileiro.
Depois, todos os participantes dirigiram-se para o Restaurante
da Associação de Fuzileiros, no Barreiro, onde se deu início à
segunda parte do programa de convívio e confraternização.
Antes do almoço foram tecidas palavras de boas vindas pelo
organizador e, em seguida, foi guardado um minuto de silêncio
em memória dos camaradas que já partiram.
Recebeu a antiga Unidade o Senhor Comandante da Escola de
Fuzileiros, CMG Teixeira Moreira, dando as boas vindas e tecendo palavras de reconhecimento por tão importante cerimónia de
homenagem.
O evento continuou com a visita ao Museu do Fuzileiro, local de
passagem obrigatória, onde foi descrita a História dos Fuzileiros.
Durante o almoço de confraternização foram passados alguns
vídeos dos Fuzileiros sobre o passado e presente de este
importante Corpo de Tropas Especiais.
No final do almoço, o Comandante António Rodrigues Ponte,
no uso da palavra realçou o espirito de camaradagem que ao
longo de 49 anos, continua a manter-se forte, acrescido de uma
amizade sólida e indivisível, espelho da nossa divisa do DFE 2
“Disciplina, Victória Caerit”.
No final, partiu-se o bolo de aniversário, falou-se sobre os velhos
tempos, com a esperança de voltar ver-nos no próximo ano.
Até Junho de 2015.
José Talhadas
Sóc. Orig. n.º 95
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
33
convívios
Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 10
Guiné 1964/66 - 50.º Aniversário
21 de Junho de 2014
N
o passado dia 21 de Junho de
2014 teve lugar a comemoração do
50º aniversário da criação do Destacamento de Fuzileiros especiais n.º 10 e
do início da comissão na Guiné (1964/66)
A cerimónia decorreu na Escola de Fuzileiros, tendo os elementos do destacamento
sido recebidos pelo comandante daquela
unidade, o Capitão de Mar e Guerra FZ
Teixeira Moreira que lhes desejou as boas
vindas e manifestou o seu agrado por os
receber na unidade que os formou e a cuja
história pertencem.
Em resposta o Almirante Castanho Paes,
último comandante do DFE 10 durante
a comissão, agradeceu a presença do
comandante Teixeira Moreira e as amáveis
palavras de boas vindas referindo ainda
que não faria sentido a escolha de outro
qualquer local para a celebração, não só
por ter sido aquele onde efectivamente todos foram formados,
mas ainda por ser a unidade onde o destacamento foi organizado,
preparado e apetrechado para partir para a comissão.
Seguidamente foi prestada homenagem aos fuzileiros que perderam a vida no cumprimento do dever, sendo depositada uma
coroa de flores no Monumento aos Fuzileiros.
Para assinalar a efeméride foi descerrada uma placa evocativa
do aniversário, seguindo-se a celebração da missa, pelo capelão-chefe da Marinha, padre José Ilídio da Costa, em memória dos
elementos do destacamento já falecidos. Terminada a missa foi
efectuada uma visita ao Museu do Fuzileiro encerrando-se assim
a comemoração, na Escola de Fuzileiros.
O pessoal deslocou-se então para a Associação de Fuzileiros
onde foi servido o almoço.
Conjuntamente com os elementos do DFE 10 encontravam-se 3
elementos da guarnição da LDM 304 (os únicos sobreviventes a
viver em Portugal) que a maioria do pessoal do destacamento fez
questão em convidar para participarem na cerimónia, dada a sua
interligação com a actividade do destacamento.
Foi então possível, num ambiente mais informal, recordar muitos
dos episódios ocorridos no decurso da estadia na Guiné, com especial ênfase, como é natural, quer os mais agradáveis quer os
mais desagradáveis, sendo que, talvez por ser o mais marcante,
fosse frequente a referência à primeira operação efectuada pelo
destacamento, no decurso da qual o destacamento sofreu, por infeliz lapso operacional, o ataque de um avião da FAP, ataque esse
de que resultaram os únicos mortos em combate do destacamento (2) bem como a quase totalidade dos feridos sofridos (18).
Enquanto decorria o almoço foram sendo projectadas fotografias
relativas à comissão enquanto se mantinha disponível, para consulta, um relato de todas as operações efectuadas, relato esse
acompanhado de excertos das cartas geográficas com os locais
de desembarque, os trajectos e os objectivos assinalados. Foi
34
igualmente projectada uma súmula da actividade do destacamento de que se destacam: 38 operações (11 ataques, 16 golpes
de mão, 2 assaltos, 5 batidas e 4 emboscadas em terra); 2.958
horas de patrulha em lanchas e em botes, nos rios Geba, Corubal,
Grande de Buba e Tombali; 135 horas de emboscadas em botes;
46 contactos de fogo em operações. No período da comissão o
destacamento sofreu as seguintes baixas: Mortos – 2 (1 sargento
e 1 praça) na 1.ª operação; Feridos – 21 (2 oficiais, 2 sargentos
e 17 praças) 18 dos quais também na 1.ª operação; Evacuações
por ferimentos em combate e doença – 13 (1 oficial, 2 sargentos
e 10 praças).
A comemoração terminou com uma alocução efectuada pelo Almirante Castanho Paes, na qual mostrou a sua satisfação pela
forma digna e animada como decorreu o evento, tal se ficando
a dever quer ao elevado número de presenças verificado, quer
ao empenhamento e colaboração de todos quanto para isso contribuiram. Referiu-se naturalmente às facilidades proporcionadas pelo comando da Escola de Fuzileiros e pela Associação de
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
convívios
Fuzileiros, bem como à excelente qualidade do almoço servido.
Agradeceu a todos os camaradas que cederam as fotografias
recordativas da comissão, que compuseram a interessante exposição fotográfica apresentada durante o almoço, a companhia
dos familiares presentes e a especial presença dos três representantes das LDM´s, com quem tanto convivemos durante as
patrulhas nos rios da Guiné. Fêez ainda uma elogiosa referência
ao imediato do destacamento, comandante Encarnação Gomes,
pelo laborioso trabalho de pesquisa e recolha de elementos sobre
as operações realizadas pelo destacamento, bem como ao incansável Jaime Ferro pelo seu empenho e eficácia na organização do
programa das comemorações, a que já nos habituou e a quem
por isso muito devemos. Terminou a alocução com a leitura de
um pequeno excerto do livro de que foi co-autor, “Olhares sobre
a Guiné e Cabo Verde” (da colecção “Fim do Império”), na parte
que incluía um resumido retrato do Alm. Ferrer Caeiro, o então
nosso carismático Comandante da Defesa Marítima da Guiné, que
nos deu a honra da sua companhia durante uma operação e cuja
respeitável memória considerou oportuno lembrar nas presentes
comemorações.
Comissão Organizadora da Comemoração
25.º Aniversário do 1.º CFORN FZ 1989/90
31 de Agosto de 2014
O
1.º CFORN FZ de 1989/90 comemorou, no passado dia 31 de Agosto, o
25.º aniversário de incorporação.
As celebrações tiveram início na Escola de
Fuzileiros, onde o grupo de ex-Cadetes –
após um breve e sentido discurso de boas
vindas do Comandante da unidade CMG
FZ Carlos Moreira – fez questão de prestar
homenagem ao camarada Bravo, já falecido, depositando uma coroa de flores no
monumento ao Fuzileiro.
Em seguida, foi descerrada uma placa
alusiva à efeméride e que ficará para
sempre como memória da passagem
destes homens pela Escola de Fuzileiros.
A celebração deste
aniversário continuou
com uma prova de
orientação, em que
participaram ex-Cadetes do curso e respetivas famílias.
Por fim e após visita à Sala Museu do
Fuzileiro decorreu, no restaurante da
Associação de Fuzileiros, um excelente
almoço convívio com a boa disposição e
a camaradagem que se esperava.
Que venham mais 25. É o que desejamos.
“Fuzileiro uma vez, Fuzileiro para sempre”
Mário Filipe
Sóc. n.º 1956
2TEN FZ RN
A pista de lodo não
poderia ficar excluída das celebrações
e nela participaram
todos os ex-Cadetes,
filhos e esposas, que
fizeram, assim, questão de partilhar uma
das mais emblemáticas experiencias desta Escola.
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
35
convívios
Classe de Fuzileiros do 18.º CFORN
Encontro Anual (Serra da Arrábida – Km 5 da N 379)
V
erdade seja dita! O 18.º CFORN, no seu todo, tem sido, ao longo dos tempos, uma verdadeira extensão do espírito da Marinha na
dita sociedade civil. Sem embargo de, há muitos anos, afastados da vida militar, os cadetes do 18.º CFORN reúnem-se teimosamente, ano após ano, revivenciando memórias e visitando lugares que constarão indelevelmente dos arquivos da vida de cada
um deles.
Neste âmbito, os cadetes da classe de fuzileiros do 18.º CFORN vêm fazendo o mesmo. Igualmente ano após ano. Praticamente todos.
Exceptuados os três que partiram – um deles, cobardemente abatido em combate, a cuja homenagem nos referiremos em próximo
número da revista – o grupo vem dizendo sempre PRESENTE às diversas iniciativas que anualmente vão sendo tomadas.
Assim, no decurso dos nossos encontros anuais, resolvemos - e bem - revisitar os locais que nos transportaram às agruras dos tempos
da recruta. E concentramo-nos no célebre km5 da Serra da Arrábida, sobejamente conhecido de todos nós. Ali, em cerimónia simples,
mas cheia de significado para os presentes, demos as mãos e agradecemos o facto de ali estarmos e de nos termos conhecido. A este
propósito, o autor destas linhas fez uma intervenção, inspirada em Nemésio, que rememorou os tempos da nossa recruta, uns obviamente difíceis, mas outros cheios de boa disposição e camaradagem que ajudaram a atenuar aquelas dificuldades.
Seguiu-se uma bela caldeirada à setubalense num restaurante do Portinho da Arrábida. Tal como tinha ficado decidido no anterior
Encontro, a Comissão, na pessoa do camarada Gomes Lima, exibiu uma lápide a ser depositada no mural situado no lado direito do
portão de entrada da Escola de Fuzileiros, com os seguintes dizeres: “Homenagem do 18.º CFORN a todos os que tombaram. 2 de
Junho de 2013”.
Bela iniciativa a culminar uma fornada bem preenchida e prenhe de significância que ajudou a cimentar a camaradagem, união e amizade entre todos, fruto do inspirador espírito da Marinha. Um belo final de tarde, como é apanágio daquele local idílico, foi a cereja no
topo do bolo. Cada um partiu para suas casas, eivado de felicidade e alma cheia, que o próximo ano é já ali.
Se bem me lembro…
(Texto lido no encontro de fuzileiros do 18.º CFORN)
(Serra da Arrábida – km 5 da N 379)
Caros camaradas, companheiros e amigos:
A Serra da Arrábida – e a sua reserva natural – estão enquadradas numa das zonas mais avassaladoramente belas do País, comumente
conhecida por Península de Setúbal. O célebre km 5 da Nacional n.º 379, em plena Serra, não pode deixar nenhum de nós indiferente.
Vindos da Escola de Fuzileiros para exercícios na Serra da Arrábida, muita da logística da operação era feita precisamente aqui, incluindo a nossa recolha nas Unimogues. O km 5 ficou-nos na memória como um lugar simbólico, mítico até. Em múltiplas conversas que
fomos mantendo ao longo dos nossos sucessivos encontros, a Serra da Arrábida e, consequentemente, o km 5 foi obrigatoriamente
tema de oratória, sendo revivenciado com emoção por cada um de nós.
Daí que, hoje, mais de quarenta e dois anos depois, estejamos aqui em fraterna confraternização. A respirar o ar puro da serra e a
cheirar a urze do mato que nos oxigenam os pulmões. E as emoções de outrora regressam. Mais contidas porventura, mas aí estão.
De recordações de tempos difíceis, mesmo agrestes. De uma juventude adiada e com futuro incerto. Da sujeição a uma guerra injusta.
Mas, pese tudo isto, julgo que interpreto o ideário colectivo: VALEU A PENA SERVIR A MARINHA! Porque nos ajudou a crescer. Porque
nos transmitiu disciplina, rigor e sentido de responsabilidade. Mas, acima de tudo, porque nos permitiu conhecermo-nos e tornamo-nos
amigos. Nalguns casos, cúmplices mesmo. Por isso estamos aqui. De corpo enxuto e alma quente. A rebobinar os tempos passados,
particularmente os da recruta.
Assim, nada mais ajustado que este local icónico para, tendo-vos como testemunhas vivas, trazer à tona das nossas memórias alguns
episódios que nos foram marcando.
Uma palavra de eterna saudade para os nossos camaradas que partiram demasiado cedo: Santos, Piteirinha e Calheiros. Como gostaríamos de os ter aqui! Mas lá do Alto eles observam-nos e, seguramente, estarão felizes pelas bonitas iniciativas que vamos mantendo.
Amigos, descansai em paz!
36
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
convívios
Vamos então a isto!
Vivendo eu nos Açores há mais de trinta
e cinco anos, é legítimo que possa fazer
uso de uma expressão, muito conhecida
do povo português no início da década
de setenta, e que servia de mote para o
grande Vitorino Nemésio, em programa
televisivo (RTP 1969 a 1975), dar largas
à sua sabedoria, cultura e modo muito
“sui generis” de comunicar sobre os mais
diversos temas. Ficávamos agarrados à
televisão a vê-lo conversar sobre factos,
histórias e casos das nossas vidas, em
tom coloquial, pausado, muitas vezes
monocórdico, mas tão maravilhosamente
sedutor. O passado era traduzido de forma
sublime por palavras, gestos e sinais que
nos transportavam a esses tempos, parecendo que estávamos a vivê-los. Grandes
tempos, onde com escassos recursos, se
faziam programas culturais de elevado nível, escutados pelo País inteiro.
Obviamente sem o talento de Nemésio vou tentar percorrer alguns momentos que a minha memória, já algo beliscada, ainda
preserva dos tempos de Marinha, onde, com grande honra, integrei o 18.º CFORN, entre 18 de Fevereiro de 1971 e 30 de Outubro
de 1973.
Se bem me lembro dos tempos iniciais passados na Escola Naval. As noitadas inesquecíveis vividas nas camaratas, acompanhadas
de anedotas picantes, muitas delas com pronúncia do Norte. Os pequenos-almoços, com especial destaque para os ovos mexidos e
os iogurtes. Que bem nos sabiam? Pudera! Submetidos a forte carga física e psicológica, quem ousaria deixar de degustar com voraz
apetite a primeira refeição matinal? As aulas de Marinharia e Cálculos Náuticos, entre outras, onde aprendíamos os primeiros passos
da arte de bem navegar, sob a pedagógica batuta dos então Comandantes Homem de Gouveia e Fuzeta da Ponte, este posteriormente
CEMGFA (de 21.02.1994 a 8.08.1998). As aulas de ordem militar, onde o Silva Dores, o grande Albufeira, era craque devido ao passo
sempre… incerto.
E por falar em Albufeira solto um desabafo: se dúvidas houvera sobre a descendência humana, ei-las desfeitas: do seu avantajado
peito, qual Pithecanthropus Erectus, saía uma “amazónia” de pêlos pretos que subindo em direcção ao pescoço, se espraiavam para
fora da camisa. Ele bem tentava apará-los, mas debalde. Parecia que no seu corpo havia uma espécie de contínua formação de húmus
com libertação de nutrientes.
E as corridas prolongadas das aulas de ginástica? Todos vestidinhos de branco, em calções, lá íamos nós percorrendo metros e metros
em busca da necessária e imprescindível resistência física. O Carlinhos, sempre traquinas, como que querendo exclamar que os homens não se medem aos palmos, gostava de tomar a cabeça do pelotão e imprimir um ritmo forte. E lá se soltavam umas bocas para
que o andamento abrandasse, as quais mereciam um sorriso “pepsodent” do Carlinhos, imagem que se veio a tornar de marca. Enquanto uns faziam este exercício com uma perna às costas, outros sofriam a bom sofrer! Lembro-me bem do Cunha Dias, cujas coxas,
devido à sua generosa dimensão, se esfregavam uma na outra, enquanto corria. Num esgar de esforço e sofrimento, lá ia balbuciando,
apontando para as mesmas: “tenho as minhas coxinhas todas assadinhas”…
Se bem me lembro do valor que se dava aos fins-de-semana passados em família nos tempos da recruta! Bem valiam os esforços indómitos que durante a semana se faziam para que a saída semanal não fosse cortada. Foi numa dessas deslocações que o cansado (de
trabalho e prazer) Vauxall Viva do Lucas da Silva, “Botas” para os amigos, resolveu avariar, algures perto do Carregado. Teimosamente
parou e por mais esforços de reanimação que se fizessem, o silêncio impávido do motor era a resposta. A tarde ia caindo e o aconchego
da família parecia uma miragem. Eis senão quando se descobre uma pequena oficina e se desespera pelo diagnóstico. A reanimação
seria possível? Claro que foi. E sabem como? O dono da oficina fabricou (é o termo) artesanalmente uma pequena peça que se havia
partido. E o milagre aconteceu: o ruído do motor tornava-se a ouvir. A noite parece que se fez dia e o evento foi celebrado com umas
“bejecas”. Que grandes incógnitos profissionais este Portugal tem! Ou melhor, tinha. Agora emigram a conselho das “majestades” que
(des)governam este pobre País.
Que bem me lembro dos tempos de formação passados na Escola de Fuzileiros (EF). Criada com visão estratégica em 3 de Junho de
1961, a EF foi implantada nas instalações navais situadas na confluência da Ribeira do Zebro com o Rio Coina e na vizinhança da Mata
Nacional da Machada. Dos exercícios mais exigentes ressalta a travessia dos terrenos lodosos do rio que propiciava a aprendizagem da
progressão táctica e o desenvolvimento das nossas capacidades psico-físicas. Falava-se, na altura, das enormes dificuldades por que
passaram os renomados “marines” americanos na travessia da célebre pista de lodo. Recordo uma travessia complicada, onde, com
a G3 em punho, íamos penetrando na pista, estrategicamente colocados a pequenas distâncias uns dos outros. De quando em vez, um
de nós ficava literalmente preso no lodo, incapaz de avançar. Nestas situações, quanto mais, em desespero, nos movíamos em busca
da libertação, mais nos enterrávamos no lodo. Aqui valia a estratégia do grupo, com o camarada melhor posicionado a estender a sua
G3 que, uma vez bem agarrada pelo “prisioneiro”, lhe permitia sair daquele suplício. Eu sei bem do que escrevo. O desgaste físico e
psíquico era enorme, suavemente amenizado com um banho retemperador e, no que a mim me toca, pelo inigualável Aramis do Sajara.
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
37
convívios
Que bem me lembro dos incríveis exercícios de orientação nocturna! Certa noite, fomos transportados numa Unimog e despejados algures, bem longe da Escola. Cada cadete, munido de mapa e bússola, comandava um grupo de grumetes. O objectivo do exercício era
fazer um percurso não identificado em busca de uma caixa que, uma vez encontrada, nos reenviava para outra e assim sucessivamente
até à Escola de Fuzileiros. É fácil lobrigar que, não encontrada a dita caixa, era o cabo dos trabalhos… Foi o que me aconteceu e ao
meu grupo. Perdemo-nos! Após grande caminhada e alguns trambolhões, enxergamos uma luz que nos parecia de moradia. Abriram-nos a porta, talvez habituados a situações similares, (hoje, tal não seria possível) e à minha pergunta sobre onde estávamos, foi-me
respondido “Quinta do Peru”. Não conhecia o lugarejo e, no meio do nervosismo, só entendi “Peru”. Fiquei deveras apavorado. Após as
imprescindíveis explicações, lá chegamos à Escola de Fuzileiros. Já quase raiava o sol…
Se bem me lembro do voo do Tarzan! O exercício consistia em lançarmo-nos para uma rede de corda, situada ainda a boa distância
em plano inferior ao que estávamos. É bom de ver que se o exercício não fosse feito, o fim-de-semana estaria em perigo. O Fuso
não hesita… e aí vou eu. Consequência: um enorme ferimento na mão devido à fricção na corda, uma vez que não consegui suster o
peso do corpo na dita. Consequência bem mais aprazível: “baixa” por uns dias, com manifesto gozo ao ver os camaradas cadetes em
exercícios e eu, no “dolce fare niente”...
Que bem me lembro da passagem aérea em corda de aço sobre a rua asfaltada junto à messe de oficiais. Antevia grossa dificuldade
em cumprir este exercício, consabida que era a minha irreprimível antipatia pelas alturas. Nos momentos imediatamente antecedentes,
ainda no chão, as minhas pernas já não tinham a consistência normal e isso já não era um bom presságio. Apelei ao espírito indomável
dos fuzos e aventurei-me corda adiante. Praticamente a meio do percurso, as pernas começaram a tremer como varas verdes. O Comandante Anaia (também instruendo), grande oficial e excelente pessoa, de cá de baixo e ao ver o meu esgar de terror, incentivava-me
com palavras de encorajamento que me levaram ao êxito. Nunca me agarrei a uma árvore com tanto enlevo como no final da travessia.
Mas, definitivamente não fui feito para andar nas alturas…
Se bem me lembro do labirinto subterrâneo. Tínhamos que percorrer um trajecto
labiríntico a rastejar, onde nos defrontávamos com cruzamentos para que optássemos por uma das vias. Em caso de falsa
saída, a única solução era fazer marcha à
ré. Depreende-se com prontidão a dificuldade deste exercício. Era mister ter uma
grande resistência física e psicológica e
nós tínhamo-la. Pragmaticamente preparados para tal, cada um de nós tinha,
porém, os seus constrangimentos psicológicos. Quanto a mim cito logo dois: a altitude e a claustrofobia. Passados anos, dou
comigo a pensar como fui capaz de fazer
determinados exercícios. E ainda hoje me
arrepio ao lembrar-me desses momentos
inesquecíveis, mas dramáticos.
Que bem me lembro dos exercícios na
Serra da Arrábida. Numa das jornadas subimos o Formozinho e pernoitamos no cimo. Estava um frio de rachar e agasalhos nada. Alternativa polémica: procurar dormir agarrados uns aos outros. Estávamos nós ledos e quedos, eis senão quando o Lucas da Silva, num acto de exuberância viril, investe o másculo
membro inchado contra o Sanina, vítima indefesa. O acto sexual impróprio estava prestes a consumar-se. O Lucas espumava de volúpia
e temeu-se um inapelável desfloramento em plena serra. Urgia agir sem demora. Uma forte coronhada com a G3, para além de adjectivos que o dicionário do Torrinha, por pudor, não contém, foi a solução emergente. Após esta acção mecânica e um bom ralhete, o dito
cujo amainou e, assim, pudemos dormir um pouco mais sossegadamente. Porém, consta que o Sanina, por precaução, dormitou com
as mãos atrás das costas, com receio que o “fogo” se reacendesse, não estivéssemos nós em pleno mato…
Continuando a falar da Arrábida, outro dos exercícios de elevada dificuldade consistia na descida em corda pela escarpa praticamente
a pique da montanha. Enfiada a dita corda por entre as pernas, lembro-me perfeitamente que usávamos o boné para proteger os ditos.
Embora usando técnicas apropriadas, o exercício era manifestamente perigoso, até pelo enquadramento natural (deveras medonho)
onde era realizado. Lembro-me que o instrutor, licenciado pelo ISEF, cujo nome não recordava (mas que agora sei tratar-se de Rogério
de Jesus, graças a uma dica do Comandante Teixeira da Silva), se magoou ao explicar o exercício. Qualquer lapso significava um mergulho nas águas azuis do Atlântico. Estrategicamente, fui-me deixando ficar para o fim, na perspectiva de que, antes de mim, haveria
alguém que, em defesa da vida, se baldasse ao dito, dando azo a que não fosse o primeiro. Mas não é que ninguém se baldou! Ah,
grandes fuzos! Nesta conjuntura, obviamente tive que encher o peito de ar e lançar-me à corda com pleno sucesso, resultado fácil de
intuir, pois, caso contrário, eventualmente não estaria aqui nesta narração meia lingrinhas.
Se bem me lembro do exercício nocturno de zebro com início junto à ponte velha de Alcácer do Sal, onde fomos depositados cerca da
meia-noite. Cada bote transportava um cadete e alguns grumetes e o objectivo era alcançar o estuário do Sado em Setúbal, ancorando no
cais dos fuzileiros, perto de Tróia. O percurso ao longo do Sado deveria ser feito bem longe das margens, pois caso tal não acontecesse
- como algumas vezes sucedeu – éramos pura e simplesmente corridos a “very lights” pelos instrutores. A marcha lenta pelo negro
silencioso da noite era ritmada pelo som cadenciado do “um, dois, um, dois, um, dois”… A cadência era tanta que, de supetão, um
grumete caiu à água, supostamente por cansaço e sonolência. É fácil calcular a confusão que se gerou! Procurando manter a indispensável
38
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
convívios
calma e com boa dose de esforço lá o
conseguimos içar para o bote. O resto do
percurso foi sofrido e com vontade que o
exercício chegasse ao fim quanto antes.
A resistência física ia escasseando e a
psicológica não era das melhores…
Que bem me lembro dos exercícios finais
em S. Pedro de Moel, mais concretamente no célebre pinhal de Leiria. Tratava-se
da semana final de exercícios antes do
juramento de bandeira. Estávamos em
pleno Verão e a zona era muito frequentada por veraneantes que aproveitavam,
em simultâneo, os prazeres da praia e os
ares refrescantes dos pinhais. Basicamente, os exercícios consistiam na simulação
de um teatro de guerra entre as nossas
tropas (NT) e o inimigo (IN). Havia cadetes distribuídos por ambas as tropas e eu
integrava as do IN. A nossa tarefa – muito
ingrata e difícil, por sinal – era fugir às NT
e, obviamente, não ser capturado. Tínhamos que “sobreviver” com as rações de combate disponíveis e a escassez de água. Daí que
procurássemos nascentes para nos abastecermos, as quais, estrategicamente, estavam bem defendidas pelas NT que nos rechaçavam
para bem longe. Vida bem difícil levava o IN. Pudera! Toda a filosofia estratégica dos exercícios radicava no aniquilamento do IN e na
retumbante vitória das NT…
E que dizer da longa e penosa caminhada entre S. Pedro de Moel e Nazaré. Mais de 20 km pelo alcatrão fora, carregados com o equipamento que pesava que nem burro e a G3 em punho. E pesava ainda mais após duas semanas brutais em termos de carga física
e psicológica. O Sol raiava a pique o que, para além do esforço inerente ao percurso, fazia-nos transpirar por todos os poros. O suor
caía-nos pelo rosto e os esgares de sofrimento eram captados pelas gentes que connosco se cruzavam. Eis senão quando uma velha,
cansada da vida e revoltada com o destino, solta, junto a mim, esta frase terrível: “Para que é que uma mãe cria um filho!” Aquela
expressão, dita desta forma simples mas cruel, correu pelo meu corpo e alojou-se-me no coração. Passados mais de quarenta anos,
ainda lá está! Bem como o rosto daquela idosa. O rosto cansado da labuta, rasgado por rugas profundas feitas nas jornas contínuas do
campo, bem como a negritude das vestes, deixavam adivinhar a dor dos tempos idos que vinha ali à flor da pele, trazida pela visão das
fardas monocromáticas e daqueles passos que, embora cadenciados, se mostravam tristes e dolorosos.
Se bem me lembro da nossa viagem de curso a bordo da corveta António Enes, com paragem em Ponta Delgada, onde tinha à minha
espera a então minha namorada e hoje minha mulher, companheira indefectível há trinta e oito anos. Só o amigo Lucas da Silva sabia do
namorico e para amenizar o seu desconsolo, a minha mulher, a meu pedido, fez-se acompanhar da prima Maria Júlia. Mantenho bem
fresco na memória, os olhares curiosos e meio incrédulos, acompanhados de dichotes próprios da marinhagem, de alguns cadetes,
nomeadamente os mais próximos de mim, sobre o surgimento das meninas no cais de desembarque. Os quatro tivemos oportunidade
de percorrer alguns dos locais idílicos da ilha de S. Miguel, ficando desde logo na retina as Furnas com as suas fumarolas e o miradouro do Pico do Ferro, onde, já ao anoitecer, nos cruzamos com coelhos bravos, estáticos no meio da estrada esguia, absolutamente
encandeados pelas luzes dos faróis da viatura. “In illo tempore”, estava longe de perspectivar que aquelas paisagens, absolutamente
divinais, matizadas por uma miríade de colorações de verde e azul, iam fazer parte da minha vida e com elas iria conviver no dia-a-dia.
Que bela forma de acabar esta narrativa!
Que bem me lembro…
Adelino Couto
2TEN FZ RN
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
39
cadetes do mar
Unidade do Corpo de Cadetes do Mar Fuzileiros
A
Unidade dos Cadetes do Mar Fuzileiros, apoiada financeiramente pela nossa Associação e com pessoal voluntário, da AFZ, vem
desenvolvendo importantes acções que o Comandante e o Mestre da Unidade nos têm sistematicamente relatado, respectivamente,
José Talhadas, sócio originário n.º 95 da AFZ e Afonso Brandão, sócio originário n.º 1833, em textos e por imagens.
A edição n.º18 da nossa revista “O Desembarque”, de Junho de 2014, publicou 6 páginas dessas actividades e grande número de
imagens.
Os jovens são habitualmente transportados do Barreiro para (e de) a Escola de Fuzileiros na viatura da nossa Associação.
Cabe qui uma referência ao Grupo de Amigos do Museu de Marinha (GAMMA) com o qual subscrevemos protocolo, instituição que teve
a iniciativa da constituição dos Cadetes do Mar e aos Corpo e Escola de Fuzileiros, sem a colaboração empenhada dos quais não seria
possível dar execução ao projecto.
Publica-se hoje, um texto do Comte Bellem Ribeiro, Director de Instrução das Escolas de Cadetes do Mar de Portugal.
MP
Os Cadetes do Mar comemoraram o seu Dia Nacional
na Escola De Fuzileiros
N
o dia 10 de Maio de 2014, na Escola de Fuzileiros, realizou-se o Dia Nacional dos jovens Cadetes das Escolas, juntando todas as Unidades de Cadetes do Mar e do Exército, em
actividade em Portugal.
Teve esta cerimónia Patriótica, como intenção agregadora, uma
sentida homenagem dos nossos jovens Cadetes, a todos os Portugueses que defenderam a nossa Pátria no Século XX, pelas
armas, com a sua inteligência ou pelo seu trabalho quotidiano,
empenhado e competente.
Portugal precisa de continuar a ser defendido, por isso os Cadetes de Portugal se comprometeram em público nesta jornada:
– a combaterem o esquecimento deliberado a que remeteram as
causas por que Portugal se bateu em todas as épocas da sua
História heróica e cosmopolita; – a desmascararem no dia a dia
os inimigos de Portugal e o relativismo apátrida veiculado na
escola e nos media; – a assumirem com orgulho a herança de
defensores do nosso Portugal de sempre; – a cumprirem o dever
patriótico de recordar os heróis de Portugal, para que sirvam a
todos de exemplo.
Com efeito, comemoram-se ao longo do ano escolar de 2013 e
2014, o Centenário da participação de Portugal na 1.ª Grande
Guerra e simultaneamente os 150 anos da criação da Medalha
Militar em Portugal.
A Comissão Nacional para a Evocação do Centenário da Grande
Guerra, decidiu comemorar em 2014, nas Unidades herdeiras da
tradição das Unidades Portuguesas que intervieram neste conflito, os feitos heróicos e os esforços desses militares de então,
na defesa do seu solo pátrio em Angola e Moçambique, e das
fronteiras dos nossos interesses, bem como dos países nossos
aliados de então, em Terra e no Mar.
Ora, em 1914, o maior esforço de guerra que Portugal protagonizou, incidiu na defesa das fronteiras do nosso império de então,
no Norte de Moçambique e no Sul de Angola. Aliás, nos anos que
precederam o início das hostilidades, já Portugal desenvolvia intensas campanhas militares de pacificação dessas mesmas re­
giões, onde se verificavam actos de rebeldia e sublevação, instigados pelos nossos inimigos.
40
Em todas estas campanhas de pacificação e de combate, mesmo antes da declaração de guerra de 1916, a Marinha esteve
significativamente envolvida, através dos Batahões de Marinha,
actuando em terra e movimentando-se através dos rios. Ora, a
Unidade que hoje herda a tradição destes Batalhões, é a Escola
de Tecnologias Navais, ostentando no seu Estandarte as respectivas condecorações. Assim, o Comandante da ETNA autorizou que
este Estandarte estivesse presente e fosse homenageado, neste
Dia Nacional dos Cadetes.
Por outro lado o Corpo de Fuzileiros da Armada tem colaborado
intensamente na formação dos Cadetes do Mar Fuzileiros, decorrendo a sua instrução periodicamente na Escola de Fuzileiros.
A melhor forma de agradecer este significativo empenhamento
foi a escolha desta Escola para local de realização do Dia Nacional dos Cadetes de Portugal. Visitaram a Escola de Fuzileiros
no evento, 300 civis, oriundos das comunidades onde estão em
funcionamento Unidades de Cadetes. Eis assim justificada a oportunidade da escolha desta unidade para palco da presente homenagem dos jovens aos seus antecessores na defesa da Pátria.
Contando também com a colaboração entusiasta e sempre disponível da Associação de Fuzileiros, que orienta a instrução destes
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
cadetes do mar
novos, o compromisso de lhes seguirmos o exemplo, afirmando
também a sua vontade de estarem sempre do lado da defesa dos
interesses e das causas da nossa Pátria.
Cadetes, foi possível reunir nesta data, um número significativo
de associados, Fuzileiros no activo e nas reservas, ostentando
ao peito nesta cerimónia as insígnias completas das Medalhas
Militares do tempo das Campanhas do Ultramar.
Ainda muitos militares e civis presentes ostentavam merecidamente as medalhas dessas campanhas e das novas missões de
paz, em ambos os casos arriscando a vida a defender os interesses de Portugal.
Trata-se dos símbolos que os Portugueses orgulhosamente usam ao
peito, reveladores do heroísmo de alguns na defesa da Pátria, e do
esforço, dedicação e competência profissional de outros, no cumprimento de missões de soberania e ao longo das suas carreiras.
Estas duas efemérides associadas evocam o dever de memoria
para com aqueles a quem hoje cabe a defesa dos interesses de
Portugal e da dignidade dos Portugueses. E exortam os cidadãos
que cumpriram já o dever de defender a sua Pátria, em todas
as épocas, em todos os regimes, a convocarem agora as jovens
gerações, a aprenderem nas Escolas a honrarem este dever
irrecusável, e deste modo lhes passarem o legado inalienável
do orgulho de ser Português. Foi assim em todos os tempos, e
hoje de igual modo, através do esforço da defesa da nossa terra,
por todos os meios, que se ganha verdadeiramente o estatuto de
Cidadão de Portugal, de pleno direito.
A todos esses os jovens Cadetes quiseram homenagear,
lembrando aos Portugueses com esse gesto, que os condecorados
serão sempre os nossos guias, não necessariamente por serem
melhores que os demais, mas sem dúvida por serem merecedores
de gratidão e respeito, porque no tempo que lhes coube fazê-lo,
defenderam Portugal, com armas na mão, pela inteligência ou
pelo esforço e trabalho exemplares.
A melhor forma de homenagearmos os Portugueses que lutaram
antes de nós pela nossa Pátria, será assumirem hoje os mais
Perante a Bandeira Nacional, os Cadetes de Portugal, perfilados
em formatura, assumiram pela primeira vez nas suas vidas, que
lhes caberá a eles em futuro próximo, manter bem alto o nome de
Portugal entre as nações, assumindo o legado daqueles condecorados, igualmente perfilados à sua frente, que já cumpriram o
dever patriótico de defender Portugal por todos os meios. Em simultâneo, estas duas gerações de cidadãos, os jovens bem como
os Condecorados, cumprem o seu dever de memória, ao prestarem homenagem aos combatentes que defenderam Portugal na
1.ª Grande Guerra, dando início público às comemorações centenárias de 2014. Assim se cumprirá Portugal. Na ocasião a Banda
da Armada executou os toques de homenagem aos mortos em
combate e o hino nacional. Dois Cadetes Fuzileiros depositaram
em nome de todos aqueles jovens perfilados, uma coroa de flores
junto do Monumento ao Fuzileiro na parada da Escola.
Fiéis a este compromisso, os jovens Cadetes de Portugal, convidaram em seguida todos os presentes a inaugurarem nas salas
da Escola de Fuzileiros a Exposição dos seus trabalhos do ano
escolar, sob o lema “O Dever da Memória para com os Heróis que
defenderam Portugal”.
Juntaram-se a estas homenagens o Senhor Almirante Cortes
Picciochi, em representação do Almirante CEMA, Comandante em
Chefe Honorário do Corpo de Cadetes do Mar que, por coincidência
de agenda não pôde presidir, o Senhor General Santos de Carvalho
em representação do Exército, o Senhor Almirante Silva Carreira,
os Directores dos Museus de Marinha e Militar e os Comandantes
das Escolas da Armada e dos Navios que apoiaram ao longo ano
a formação dos nossos jovens Cadetes.
Depois, seguiu-se o prazer supremo, quando os jovens cadetes
experimentaram a velocidade de um motor fora de borda de 50
cavalos, primeiramente agarrados a tudo que lhe parecia uma
“pega” do bote com receio de serem jogados pela borda fora.
Depois, já mais confiantes, saboreando o prazer sublime da velocidade e finalmente, a sensação suprema de conduzirem um
bote Zebro III. Pareciam velhos Fuzileiros a sulcar as águas do rio
Cacheu, Zaire, ou do Lago Niassa.
No final, aprenderam a desmontar e a arrumar os botes nos
seus hangares. Uma tarde inesquecível, que proporcionou mais
conhecimentos na sua formação de Cadete do Mar e que faz jus
ao seu lema – “Valor, Lealdade e Mérito”.
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
Bellem Ribeiro
CFR
Director de Instrução dos Cadetes do Mar
41
notícias
CEMA, DGAM, Presidente da CM do Barreiro
e CCFZ
Apresentação de Cumprimentos da AFZ
A
nova Direcção da Associação de
Fuzileiros, eleita a 29 de Março de
2014 para o mandato de 2014/2015
decidiu apresentar cumprimentos às principais Entidades que vêm apoiando a nossa Instituição.
Foi assim que o Presidente, José Ruivo,
os Vice-Presidentes Marques Pinto e Leão
Seabra e o Secretário Nacional, Benjamim
Correia foram recebidos:
– Dia 15 de Abril, pelo Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) Almirante
Macieira Fragoso.
– Dia 23 de Abril, pelo Presidente da
Câmara Municipal do Barreiro, Carlos
Palácios de Carvalho.
– Dia 16 de Maio pelo Comandante do Corpo de Fuzileiros,
Contra-Almirante Cortes Picciochi.
– Dia 27 de Maio pelo Director-Geral da Autoridade Marítima,
Vice-Almirante Cunha Lopes.
Estes encontros, todos muito agradáveis foram, também,
de trabalho e de cortesia e tiveram, outrossim, por objectivo
apresentar os novos dirigentes da AFZ disponibilizando a nossa
Instituição para prestar toda a colaboração ao CEMA, ao Município
do Barreiro, à Direcção-Geral da Autoridade Marítima e ao Corpo
de Fuzileiros e solicitar, também, os apoios das suas instituições,
aliás, nunca negados.
Textos de Marques Pinto
Publicam-se as imagens possíveis, com a qualidade possível,
das reuniões com o CEMA e com o Comandante do Corpo de
Fuzileiros, sendo que esta última precedeu o almoço/convívio que
o Contra-Almirante Picciochi teve a amabilidade de nos oferecer.
Foram momentos de clara camaradagem e amizade que se
registam e dão folgo para o mandato. Sobretudo, para aqueles
que teimam em “reincidir” nestas lides do associativismo.
Almoço com os Presidentes da Câmara e das
Juntas de Freguesia do Barreiro
A
Direcção Nacional da AFZ organizou, no passado dia 13 de
Junho, um almoço/convívio de cortesia, boa vizinhança e
colaboração, aproveitando-se também para apresentar os
novos Corpos Sociais aos autarcas do Município do Barreiro onde
a nossa sede nacional está inserida.
nossa Instituição, não só pela cedência da Praça dos Fuzileiros,
importante centralidade da cidade do Barreiro, onde a AFZ instalou o seu Monumento ao Fuzileiro, como pelos apoios pontuais
que sempre estão dispostos a prestar-nos.
Sendo o Presidente da Câmara, Carlos Palácios de Carvalho, nosso Sócio Honorário e grande amigo da Associação, a Direcção
decidiu juntar todo o poder autárquico no nosso Salão Polivalente,
obsequiando os seus titulares pela grande ajuda que têm dado à
Este encontro representou, também, a expressão do nosso reconhecimento. Estiveram presentes para além dos principais membros da Direcção e do Presidente Carlos Palácios de Carvalho, os
seguintes autarcas:
42
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
notícias
– Presidente Ana Isabel Miranda Porfírio, da União das
Freguesias do Barreiro e Lavradio.
– Presidente, Naciolinda Miranda Botas Neves Silvestre, da
União das Freguesias de Palhais e Coina.
– Presidente, Vicente de Jesus Figueira, da Junta de Freguesia
de St.º António da Charneca.
– Vogal Jaime Valente Matias, da União das Freguesias do Alto
do Seixalinho, Santo André e Verderena, por delegação do seu
Presidente, Carlos Alberto Fernandes Moreira.
A Redacção de “O Desembarque” e A Associação de Fuzileiros
desejaM aos ilustres autarcas grandes sucessos na sua acção,
em prol do Concelho do Barreiro.
Textos de Marques Pinto
Iniciativa da CMB
“Dia B, uma Cidade Limpa”
N
o âmbito da iniciativa da Câmara
Municipal do Barreiro, “Dia B, uma
Cidade Limpa” que integra a colaboração de todas as colectividades e
associações, a AFZ participou, também,
com a ajuda da Câmara, na limpeza do
seu espaço envolvente, este ano com
uma equipa mais reduzida mas de boa
qualidade.
Os testemunhos que publicamos revelam
e relevam a boa vontade e o espírito de
colaboração de quase sempre os mesmos, dos quais se destaca o nosso Sócio
de Mérito José Pinto que, nem por o ser,
deixa de pegar na enxada e na gadanha.
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
43
delegações
Delegação do Algarve
IX Campeonato de Portugal Juvenil em Vela
P
or ocasião do “IX Campeonato de Portugal Juvenil em
Vela”, a Delegação da Associação Nacional de Fuzileiros do
Algarve (DFZA) apoiou o Clube Naval de Portimão entre os
dias 9 e 12 de Abril 2014.
Dentro das funções que nos foram atribuídas, salientam-se a coordenação dos atletas nos embarques e desembarques, na rampa
do Clube Naval de Portimão, proporcionando segurança, evitando
o granel e ajudando os mais pequenos na recolha das embarcações, depois de um longo dia de provas no mar.
Textos de António Medeiros, Sóc. Orig. n.º 1235, Presidente da DFZA
Durante o decorrer da competição, a DFZA marcou presença diariamente com 4 elementos em terra e com uma embarcação de
2 elementos na água, tendo sido uma mais-valia, em conjunto
com os elementos do Clube Naval de Portimão e da Federação
Portuguesa de Vela. Todos apoiaram de forma digna e eficiente
na logística e na segurança dos atletas, contribuindo assim para
o sucesso geral da prova.
No rescaldo deste evento, a DFZA foi bastante elogiada pelo Clube Naval de Portimão e pela Federação Portuguesa de Vela pelo excelente trabalho realizado e pelo profissionalismo demonstrado no decorrer da prova, tendo sido oportunidade para recordar do papel que
a Marinha e o Corpo de Fuzileiros desempenham de forma exemplar, apoiando esta iniciativa e as instituições que a promovem, até a
um passado muito recente quando a crise não se fazia sentir por essas paragens.
FATACIL
A
Delegação da Associação Nacional de Fuzileiros do Algarve
(DFZA) marcou novamente presença na 35.ª FATACIL,
naquela que é considerada a maior Feira de Artesanato,
Turismo, Agricultura, Comércio e Indústria de Lagoa que decorreu
entre os dias 15 e 24 de Agosto 2014
Com o objetivo focado na divulgação, o Pavilhão da DFZA esteve
sempre fiel aos valores da MARINHA e dos FUZILEIROS e não
passou despercebido aos milhares de visitantes que por lá
passaram, tornando-se num ponto importante de reencontro de
diversas gerações de Marinheiros e Filhos da Escola fomentando
o interesse e a curiosidade dos mais jovens pela aventura de uma
vida ao serviço da Pátria.
IV Descida do Rio Arade
R
ealizou-se no passado dia 14 Setembro a “IV Descida do Rio Arade
em Botes Zebro”, evento organizado
pela Delegação da Associação Nacinal de
Fuzileiros do Algarve (DFZA) no intuito de
juntar várias vertentes da vida de Marinheiro tais como o espírito de camaradagem, o esforço e a determinação, o trabalho em equipa e… muita água.
Este evento contou com o apoio da Marinha de Guerra Portuguesa, da Câmara
44
Municipal de Portimão, do Corpo de Fuzileiros e da Unidade de Meios de Desembarque, do Comando da Zona Marítima
do Sul, da Capitania do Porto de Portimão, do Instituto de Socorro a Náufragos de Ferragudo, da nossa Associação
Nacional de Fuzileiros, da Associação de
Paraquedistas do Algarve, do Clube Naval
de Portimão e do Clube Náutico de Silves,
e teve o patrocínio de algumas empresas
locais.
A prova contou – e isto é que foi a sua
maior importância – sobretudo com a
participação de 133 elementos, divididos
pelas várias faixas etárias e cheios de vontade em “mostrar serviço” nas primeiras
horas da madrugada Algarvia, sob o olhar
atento do imponente Castelo de Silves.
Aproveitando cada minuto da maré, os participantes começaram a descarregar os 18
botes TIII, fornecidos pela Marinha – Corpo de Fuzileiros. Com uma coordenação
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
delegações
exemplar começaram a encher os mesmos e a colocá-los no rio. De seguida os
participantes foram distribuídos por cada
bote e acompanhados pelas embarcações
de apoio e segurança, iniciou-se mais um
descida em direcção a Portimão disfrutando-se de uma paisagem soberba e digna
de ser preservada.
As primeiras remadas foram apenas para
coordenação de movimentos, mas rapidamente veio ao de cima o instinto de quem
passou muitos dias sentado nos flutuadores dos Zebro III em Angola, Moçambique,
Guiné, Timor, no rio Coina ou mesmo no
Rio Sado, onde são efectuadas as míticas
provas de remo em botes, características
dos cursos de Fuzileiros e que se realizam
entre Alcácer do Sal e Tróia.
Foram estas provas de exercícios militares
que estiveram na ideia original da criação
deste evento e para que, entre outros propósitos, permitisse aos demais camaradas
recordar os bons tempos, rever “ os filhos
da escola” e partilhar os valores da vida
militar entre familiares, amigos e as novas
gerações, tentando transmitir a estas os
valores de quem se fez homem na Escola
de Fuzileiros
Durante o trajecto foi recordado variadíssimas histórias em cada embarcação e o
convívio prosseguiu “de mão dada” com
o esforço físico e o trabalho em equipa.
Foram efectuadas algumas paragens de
reabastecimento pelo percurso mas rapidamente o objectivo passava por avistar
Portimão.
Uma vez transposta a ponte da N-125,
iniciou-se a entrada triunfante na cidade
pelo seu rio e que encheu de novas forças
a centena de participantes para mais uma
hora de esforço colectivo visando a chegada ao cais do Ponto de Apoio Naval de
Portimão (PAN).
Como tudo na Vida e sobretudo na Marinha,
“depois da tempestade, vem o bom tempo”, ou melhor, depois do esforço e do trabalho, chegou o Almoço que se realizou-se
no PAN, com a participação do Presidente
da Associação de Fuzileiros, Comandante
José Ruivo e dos convidados, encontro que
continuou ao longo da tarde num ambiente
de grande festa entre filhos da escola, camaradas, familiares e amigos.
II Prova de BTT/DFZA
A
Delegação da Associação Nacional
de Fuzileiros do Algarve (DFZA)
realizou-se no passado Domingo
dia 5 Outubro 2014 o “II BTT DFZA” uma
prova/convívio com os camaradas Paraquedistas da Associação Paraquedista de
Estômbar que contou com 16 elementos,
percorrendo juntos cerca de 45 Km.
O ponto de encontro foi na sede da
Associação Paraquedista, em Mexilhoeira
da Carregação, logo pela fresquinha de
onde partiu o “pelotão” em direcção a
Estômbar. Depois rumamos a Silves e
aí tivemos o nosso primeiro ponto de
reabastecimento, no Falacho, onde se
aproveitaram as derradeiras forças para
manter um pequeno convívio no Clube
Náutico de Silves.
Após tomarem a “poção mágica”, os
nossos atletas voltaram a rolar para
o desejado regresso à Mexilhoeira da
Carregação onde os esperava um singelo
mas digno almoço/convívio entre Paraquedistas e Fuzileiros.
Esta aventura acabou como manda a
tradição, numa visita à Quinta dos Vales
para uma última “prova”, esta sim, dos
melhores vinhos da região.
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
45
delegações
Delegação de Juromenha/Elvas
Fim-de-Semana Radical
A
Delegação de Fuzileiros Juromenha/Elvas, em colaboração
com a Associação Nacional de Fuzileiros organizou no fim-de-semana de 3 e 4 de Maio p.p., uma nova actividade a
que chamámos Fim-de-Semana Radical.
Neste evento interagimos com três agrupamentos de escuteiros
da região, nomeadamente, de Vila Viçosa, Terrugem e Elvas e
com a Associação de Marinheiros de Estremoz.
Contámos também com a presença de alguns amigos que a nós
se quiseram juntar, entre eles o Comandante Ruivo, nosso actual
Presidente da Direcção Nacional e também do Comandante
Lhano Preto e esposa Sr.ª D. Isabel Preto. Superámos neste
evento as 150 presenças.
Pereira organizou um rapel nas muralhas da Fortaleza de Jerumenha com a bacia do Alqueva em pano de fundo. A adesão a
esta actividade foi enorme prolongando-se pela noite dentro.
O segundo dia teve inicio com uma caminhada pelos arredores
de Jerumenha, com um percurso de nível baixo mas bastante
agradável onde se puderam apreciar algumas espécies selvagens que habitam a região e também durante o qual se pode
observar em pormenor a enorme bacia do Alqueva na sua quota
mais elevada.
O fim-de-semana teve início com um passeio em botes Zebros
na bacia do Alqueva no qual contámos com o apoio de uma equipa da UMD – Unidade de Meios de Desembarque do Corpo de Fuzileiros à qual agradecemos o seu profissionalismo e empenho.
Refira-se, ainda, que a Rádio Campanário fez uma extensa reportagem, com grande nível, sobre o nosso evento, dando a conhecer a Delegação da Associação de Fuzileiros, de Juromenha/
Elvas, a Associação Nacional, os Fuzileiros e mesmo a Marinha
de Guerra Portuguesa, às gentes desta zona do Alentejo, às das
raias e mesmo aos portugueses e espanhóis que vivem do lado
de lá da fronteira ou transitam nos seus automóveis por estas
paragens.
Foram constituídas equipas de bote e iniciamos a prova com a
montagem dos botes.
Foi um fim-de-semana de enorme sucesso e que certamente se
irá repetir no futuro.
Depois de tudo pronto foi hora de zarpar remando até terras de
Espanha, sendo o ponto de encontro a margem oposta no embarcadouro de Vila Real. Depois de um pequeno descanso e de tiradas algumas fotos, rumámos novamente para a nossa margem
para dar inicio a desmontagem e arrumação do equipamento.
Ainda houve tempo para efectuar uns passeios, desta vez a motor, pela bacia do Alqueva o que causou enorme furor entre os
mais novos, a quem o pessoal da UMD brindou com algumas
manobras um pouco mais radicais.
Seguiu-se um almoço campestre, organizado pelos agrupamentos de escuteiros presentes. Durante a tarde o pessoal da Divisão
de Mar, e das Actividades Lúdicas e Desportivas da Associação
de Fuzileiros, cujo Chefe de Divisão é o nosso Camarada Espada
46
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
delegações
4.º Aniversário da Delegação de Juromenha/Elvas
2014
A
Delegação de Fuzileiros Juromenha/
Elvas comemorou no passado dia 31
de Maio o seu 3º Aniversário. As cerimónias iniciaram-se com uma recepção
na nossa sede na Vila de Juromenha, onde
marcaram presença cerca de 120 pessoas
que a nós se juntaram, solidariamente, no
nosso 4.º Aniversário.
Destacamos de entre várias individualidades: o Comandante do Corpo de Fuzileiros,
Contra-Almirante Cortes Picciochi, o actual Presidente da Direcção da Associação
Nacional de Fuzileiros, Comandante José
Ruivo, assim como o Presidente cessante
Comandante Lhano Preto, o Comandante
da Base de Fuzileiros, Comandante Alberto, o Major Rogério Copeto, também ele
Entoando o Hino do Fuzileiro
Filho da Escola e o comandante da GNR de
Évora, Presidente da Câmara Municipal do
Alandroal, Dra. Mariana Chirla, o Presidente da Câmara Municipal de Elvas, Dr. Nuno
Mocinha, o Coronel Varandas, Director do
Museu Militar de Elvas e a Presidente da
Junta de Freguesia, D. Ana Coelho.
Finda a recepção seguiram-se visitas ao
Castelo do Alandroal e ao Fórum Cultural
Transfronteiriço. Para terminar o nosso dia
foi servido um almoço no Restaurante “Zé
do Alto” sendo, no final, partido o bolo de
Aniversário.
O Dia foi longo mas muito bonito e a solidariedade, a amizade e a camaradagem
marcaram a sua incondicional presença.
Discurso do Comandante da Base de Fuzileiros
Feira de S. Mateus
A
Delegação da Associação Nacional de Fuzileiros de Jerumenha/Elvas marcou a sua 4.ª presença numa das maiores
romarias na margem a Sul do Tejo, corporizada pela Expo/
Feira de São Mateus, em Elvas, no passado mês de Setembro.
Como vai sendo habitual, fomos amavelmente convidados a estar presentes na Exposição pelo Município de Elvas através da
pessoa do seu Presidente, Dr. Nuno Mocinha.
Pedida a colaboração à Direcção Nacional da nossa AFZ,
conseguimos do Corpo de Fuzileiros/Escola de Fuzileiros/Unidade
de Meios de Desembarque, um Bote Zebro, com motor, um dos
nossos “ex-libris”.
O ponto alto deste evento foi a procissão dos pendões, no dia
20 de Setembro de 2014, com a presença de inúmeros
Camaradas Fuzileiros a que não faltou uma representação da
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
47
delegações
Direcção Nacional, constituída pelo
Tesoureiro Nacional e Secretário-Geral,
Mário Gonçalves, Vogais da Direcção,
António Couto e Jaime Ferro e o sempre
presente, Camarada Fazeres.
A Delegação foi particularmente
felicitada, pelas autoridades locais pela
forma como se fez representar na festa
do Município de Elvas, nomeadamente,
pelo seu magnífico stande e pela postura
dos seus associados, no representativo
e emblemático desfile, na Procissão dos
Pendões.
A adesão de visitantes foi massiva, nos
quais se incluíram muitos “nuestros
hermanos” que paravam, observavam,
comentavam e tiravam fotografias.
Apetece dizer que estamos todos de
parabéns.
Textos de Licínio Morgado
Sóc. Orig. n.º 958
Presidente da DJE
48
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
delegações
Delegação de Vila Nova de Gaia
Dia Mundial da Criança
1 de Junho de 2014
A
Delegação da Associação Nacional
de Fuzileiros de Vila Nova de Gaia
participou activamente no evento
do 25.º aniversário da assinatura do tratado dos direitos da criança, dia em que
esta cidade recebeu a maior Caminhada
do Pijama do Mundo, num claro apoio a
“Mundos de Vida”.
Textos de Henrique Mendes, Sóc. Orig. n.º 1089, Presidente da DVNG
O mega evento que foi organizado, intitulado “Special One Sou Eu”, evento esse
de cariz solidário, inserido no projeto solidário denominado “Pedaladas Solidárias”,
pôde entre outras entidades contar com a
participação da Marinha Portuguesa, com
a presença do Corpo de Fuzileiros que
proporcionando-se o batismo de botes militares no Rio Ave.
A Delegação de Gaia, convidada pelo organizador do evento, Agente Nuno, na
perspectiva de dar o se apoio logístico
rapidamente se mobilizou, marcando
presença notória o que dignificou, claramente, a Marinha, os Fuzileiros e a nossa
Associação.
Para o ano, provavelmente, lá estaremos
de novo.
Sardinhada à Fuzileiro
F
oi este o título o título de mais uma atividade organizada
nas instalações da Delegação da Associação Nacional de
Fuzileiros de V. N. de Gaia, no passado dia 21 de Junho,
contando com a presença dos Sócios, Filhos da Escola, Familiares
e Amigos.
A tradicional Sardinhada de de São João foi alegrada pela
presença especial do grupo musical RBA, assim como abençoada
pela chuva que impediu a concretização dos previstos jogos
tradicionais e do jogo de futebol.
Fica, porém, a memória de um dia muito feliz com o doce amargo
de boca de não ter sido possível concretizar-se nas nossas tão
desejadas novas instalações…
Dia do Fuzileiro
O
grande dia de festa de partilha de recordações e de representação foram
os motivos que levaram a Delegação de Gaia da Associação de Fuzileiros
a organizar, no passado dia 5 de Julho,
uma viagem de desembarque das gentes
destas terras nortenhas, no cais da nossa
“Casa Mãe” com o objectivo de ajudar a
promover o “Grande Convívio Fuzileiro”.
Não demos particular importância ao número de pessoas que nos acompanhou e
foram muitas mas, sobretudo à qualidade
dos que representaram e dignificaram o
Norte de Portugal. “Poucos mas bons”! É
um dos muitos lemas que nos caracterizam e foi dessa forma que a Delegação
de Gaia representou com muito orgulho a
Associação Nacional de Fuzileiros, no desfile militar.
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
49
obituário
Capitão-de-Mar-e-Guerra
Guilherme Almor de Alpoim Calvão
(1937 – 2014)
F
aleceu no dia 30 de Setembro, após doença prolongada,
o Capitão-de-Mar-e-Guerra Guilherme Almor de Alpoim
Calvão, aos 77 anos, no Hospital de Cascais.
Era o militar da Marinha mais condecorado em combate e
ostentava, entre outras, a Ordem Militar da Torre e Espada, do
Valor Lealdade e Mérito, com Palma (Grau Oficial); a Medalha
Militar de Ouro de Valor Militar, com Palma; duas Medalhas
Militares da Cruz de Guerra de 1.ª Classe; Medalha Militar da
Cruz de Guerra Colectiva de 1.ª Classe e guardava, também, uma
promoção por distinção.
Mais do que um homem de armas, foi um dos protagonistas da
História de Portugal contemporânea.
Foi Comandante brilhante à frente do DFE 8, na Guiné, unidade
que trouxe uma condecoração colectiva e 36 individuais,
voltando poucos anos depois àquela província onde deixou uma
marca profunda ao executar, com inegável êxito, uma série
de operações emblemáticas. Foi neste período que planeou e
comandou, aos 33, anos a operação “Mar Verde”, em que foram
resgatados 26 prisioneiros militares portugueses, acção militar
que hoje em dia ainda é estudada em escolas militares por todo
o mundo.
Mas o seu amor a África revela-se quando volta mais tarde à
Guiné, onde se tinha notabilizado como combatente, sendo
recebido de braços abertos e tornando-se num dos maiores
empregadores através de uma fábrica de transformação de
caju, que ergue em Bolama. Em Bissau dando mostras de uma
generosidade e de um reconhecimento fora do vulgar, cria uma
Liga de Combatentes destinada a apoiar os naturais da Guiné que
combateram ao nosso lado.
Mas, para além da faceta de estratega militar, revelou-se no seu talento e intelectualidade, como cantor de lírico e profundo conhecedor
de arte.
Foi também um homem generoso como se comprova ao ter sido mecenas da Fragata D. Fernando e Glória, e pela oferta ao Museu de
Marinha, entre outras peças de valor, do altar portátil que viajou na esquadra de Vasco da Gama.
Uma semana antes de nos deixar cumpriu a sua última missão assinando, já com muita dificuldade, a declaração da entrega do seu
espólio documental à Marinha, para memória futura.
Foi e será sempre uma referência para todos os fuzileiros, e para sua Associação Nacional, de que era Presidente do Conselho de
Veteranos e seu Sócio Honorário, um herói e um orgulho para a boina azul ferrete.
Natural de Chaves, casado com Maria Alda, deixa três filhos e sete netos.
Abel Melo e Sousa
Sóc. Orig. n.º 1154
CFR FZE (R)
Os Fuzileiros perderam
a sua maior referência viva
e a Marinha um dos seus heróis
50
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
obituário
Aqui se presta homenagem aos que nos deixaram
A Associação Nacional de Fuzileiros e a
nossa Revista “O Desembarque” apresentam sentidas condolências às Suas
Famílias, publicando-se as respectivas
fotografias que correspondem às que encontrámos, com menor ou razoável qualidade, nos nossos ficheiros.
Estes nossos Camaradas e amigos
conservar-se-ão sempre entre nós neste
Planeta e quando nos encontrarmos
noutros Mundos.
João Carneiro Marques
Sócio n.º 316
1/02/1937 a 12/2013 (*)
(*)
Celestino Jorge Martinho
Sócio n.º 1811
1/05/1943 a 6/07/14
João Cordeiro dos Santos
Sócio n.º 135
110/12/1939 a 14/07/2014
Guilherme Almor de Alpoim
Calvão
Sócio n.º 70
6/01/1937 a 30/09/2014
Esta informação foi-nos facultada pelo Dr. Sequeira, n.º 158, com informação do Sr. Cmdt. Metelo de Nápoles
diversos
Donativos à AF
Nome do sócio
N.º Donativo
249,79 €
20,00 €
50,00 €
10,00 €
20,00 €
372,85 €
Cmdt. José Cardoso Moniz
Maria Proença Pais
Arlindo Teixeira Bernardo
José Pinto Antunes
João Lopes Leal
Cmdt. Antº Manuel Mateus
36
1333
2042
2129
1943
279
António Dores Pereira
Quadros
1603 Decorativos
ARISTON Thermo Portugal
Ld.ª
Sóc. Efectivo n.º 1744
Pedro Marques da Luz
1706
Nome do sócio
N.º
Paulo Jorge Tavares Reis
2361
Eduardo Augusto Pinheiro
2339
Mª Isolina M. C. Cardoso Bela
2362
José de Campos Luís
2340
Rita Alexandra Carvalho Viçoso
2363
Laurentino Ferreira Rodrigues
2341
Marco Luís de Morais M. de Sousa Ferreira
2364
Francisco Valente Pires
2342
Valter Tavares Raposeira
2365
Joaquim Maria Feijóo
2343
Armindo Mendes de Magalhães
2366
João Luís Rodrigues Dores Aresta
2344
Rui Manuel Serrano Moleiro
2367
José Francisco Carvalho Dias
2345
João Pedro Lopes Rollin Duarte
2368
Carlos Alberto Branco Dias
2346
Abel J. Rodrigues
2369
Nuno Ricardo Mendes Rebelo
2347
Ilídio Bonifácio Magueja
2370
Mário Jorge Gomes Ribeiro
2348
Alfredo Silva Nunes dos Santos
2371
António Gonçalves Dias
2349
João Miguel da Cunha Malheiro
2372
António Maria Seco
2350
Jorge Filipe Martins Ferreira
2373
Amílcar Pacheco da Câmara
2351
António Teixeira Pinto
2374
10,00 €
Rafael Gomes Sarel Whitfield
2352
José Carlos Fernandes Costa
2375
2353
João Jorge Rodrigues Santos
2376
da Revista
Vitor Porto
N.º
2338
5 Aparelhos
de
2195 Ar Condicionado
N.º
Nome do sócio
Novos Sócios
Luís Carlos Pinheiro de Vaz
Assinatura Anual
Nome do sócio
Novos Sócios
2014
Martinho Alves
1837
15,00 €
António Reinaldo Mesquita Amaro
Diamantino Rodrigues
1887
10.00 €
Mário Rua
2354
Fernando Jorge Correia Alves
2377
545
10.00 €
Luís Rafael Simões
2355
Agostinho Barbosa Pinto
2378
2356
Adão António Moreira de Bessa
2379
João Santana
Manuel Teixeira
218
10.00 €
Jorge Alberto dos Santos Gomes
Mário Manso
161
10.00 €
Manuel Baltazar
2357
Carlos Alberto Assunção Barraqueiro
2380
1772
10.00 €
Manuel Joaquim Ribeiro Lopes
2358
Manuel Miranda Garizo
2381
621
10.00 €
Samuel José Campôa Santana
2359
Adelino Couto Rodrigues da Silva
2382
1225
10.00 €
José Francisco dos Santos Guerreiro
2360
Fernando Costa
José Inácio Roma
José Monteiro
O DESEMBARQUE • n.º 19 • Novembro de 2014 • www.associacaodefuzileiros.pt
51

Documentos relacionados

voz dos associados - Associação de Fuzileiros

voz dos associados - Associação de Fuzileiros Com efeito, o prestígio e o carisma que envolvem o comandante PASCOAL RODRIGUES advém-lhe , para além das reconhecidas qualidades humanas, da circunstância de ser o primeiro (o oficial) entre os pr...

Leia mais

N.º 7 MARÇO 2009 2 Boinas - Associação de Fuzileiros

N.º 7 MARÇO 2009 2 Boinas - Associação de Fuzileiros INFORMAÇÃO Circular n.º 1 de 06 de Março de 2009 ...........35 IN PERPETUA MEMORIAM Zé Fuzo ..........................................................36 João Torres Piaçab ............................

Leia mais

REVISTA N.º 22 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · NOVEMBRO 2015

REVISTA N.º 22 · PUBLICAÇÃO PERIÓDICA · NOVEMBRO 2015 Delegação do Algarve Delegação do Douro Litoral Delegação de Juromenha/Elvas

Leia mais

revista n.º 15 · publicação periódica · março 2013

revista n.º 15 · publicação periódica · março 2013 Almirante Saldanha Lopes, almoçou no Snack-Bar da Associação de Fuzileiros, no passado dia 25 de Fevereiro. Participaram também no que foi qualificado como um “almoço de amizade”, o Comandante do C...

Leia mais