Tecnologias de camada física e MAC para redes LTE
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Tecnologias de camada física e MAC para redes LTE
Tecnologias de camada física e MAC para redes LTE Fabbryccio A. C. M. Cardoso*, Donato Manzan Júnior, Rafael Mendes Vilela, Fabrício Lira Figueiredo O 3GPP Long Term Evolution (LTE) é um dos passos mais importantes das tecnologias móveis celulares na direção das redes banda larga de quarta geração (4G), devido, principalmente, à sua solução de interface aérea. Há muita informação redundante na literatura, o que pode tornar a busca bastante difícil e improdutiva. A proposta deste artigo é prover uma síntese do estado da arte das tecnologias de camada MAC e PHY que integram essa solução, ao organizá-las e apresentá-las de forma compacta, com foco no que se considera essencial para o entendimento do LTE. Palavras-chave: LTE. OFDMA. SC-FDMA. MIMO. Scheduling. Introdução Mesmo sem alcançar todos os requisitos da ITU (International Telecommunication Union) para ser considerado uma rede celular de quarta geração, o LTE (Long Term Evolution) (3GPP, 2010b) é popularmente chamado de tecnologia 4G (MCQUEEN, 2009). Outros tentam ser mais precisos e o classificam como tecnologia 3.9G. O mais importante, porém, é entender que LTE é uma tecnologia móvel celular IP cuidadosamente projetada para apresentar latência bem menor e eficiência espectral bem maior do que as tecnologias precedentes de terceira geração. No LTE, a tecnologia de acesso sem fio está alicerçada na técnica de multiplexação por divisão em frequências ortogonais (Orthogonal Frequency Division Multiplexing – OFDM) (ZOU; WU, 1995), o que possibilita o alcance de melhorias significativas na alocação de recursos de rádio e na adaptação dos enlaces. Além disso, a partir de uma arquitetura de rede mais simples e de menor custo, o LTE deverá prover não apenas uma conexão mais rápida, mas também uma variedade de novas aplicações antes disponíveis apenas através de acessos banda larga com fio à Internet. Um exemplo de tais aplicações é a navegação em sites com conteúdos de vídeo embutidos em páginas Web e Web 2.0. Mais do que uma tendência, o acesso a essas aplicações de vídeo vem gerando um tráfego de dados cada vez maior em redes de acesso banda larga com fio, e é inevitável que o mesmo ocorra nas redes celulares móveis (MCQUEEN, 2009). Antevendo essa demanda crescente por taxa de dados, Internet móvel e serviços interativos, como, por exemplo, VoIP e jogos on-line, o LTE foi incluído no roadmap do 3GPP (3rd Generation Partnership Project) para garantir a competitividade das operadoras 3G e possibilitar um caminho de atualização de suas redes. A Tabela 1 apresenta as características principais do LTE (3GPP, 2010a). As metas originais de taxa de bits para o sistema foram estabelecidas em 100 Mbit/s no downlink e 50 Mbit/s no uplink, que podem ser alcançadas pelo sistema quando se opera com uma única antena (Single Input Single Output – SISO) e com largura de banda de 20 MHz. Para larguras de banda mais estreitas, as taxas de bits correspondentes podem ser calculadas a partir do escalonamento apropriado da taxa de bits em 20 MHz. Portanto, independentemente da largura de banda, a eficiência espectral em SISO é de 5 bit/s/Hz no downlink e de 2,5 bit/s/Hz no uplink. Quando se opera com multiplexação espacial em múltiplas antenas (Multiple Input Multiple Output – MIMO) no downlink, essa eficiência espectral é multiplicada por 1,5 ou por 3, dependendo do número de antenas 2x2 ou 4x4, respectivamente. Isso corresponde, em 20 MHz, a taxas de 150 e 300 Mbit/s. A especificação da latência na rede de acesso foi dividida nos planos de usuário e de controle para possibilitar sua otimização. No plano de usuário, a latência é definida pelo tempo que se leva para se transmitir um pacote IP do terminal de usuário até o nó de borda da rede de acesso por rádio (Radio Access Network – RAN) ou vice-versa. O requisito de latência nesse plano estabelece que o tempo de ida do pacote não deve exceder 5 ms em uma rede não carregada; o tempo de ida e volta do pacote não deve exceder 10 ms. No plano de controle, o requisito de latência é definido pelo tempo de transição do terminal de usuário entre o estado inativo (idle) e o estado ativo, quando o terminal pode enviar e receber dados. Essa latência na transição de estados do terminal não deve exceder 100 ms para o LTE. A especificação do sistema foi feita de forma a se obter o máximo desempenho para velocidades de usuário de até 15 km/h. Uma pequena degradação de desempenho é *Autor a quem a correspondência deve ser dirigida: [email protected]. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n.1, p. 7-22, jul. 2010/jun. 2011 Tecnologias de Camada Física e MAC para Redes LTE Tabela 1 Características gerais do LTE1 Parâmetro Detalhe Taxa de bit de 100 (SISO), 150 (2x2 MIMO), pico DL 64-QAM 300 (4x4 MIMO) (Mbit/s) Taxa de bit de pico UL (Mbit/s) Tipo de dados 25 (QPSK), 50 (16-QAM), 75 (64-QAM) Somente comutação por pacotes Largura de banda 1,4; 3; 5; 10; 15; e 20 (MHz) Duplexação FDD e TDD Mobilidade 0-15 km/h (otimizado) 15-120 km/h (alto desempenho) Latência Ocioso para ativo <~ 100 ms ~ 10 ms para pacotes de dados Eficiência espectral DL 3 – 4 x Rel 6 HSDPA UL 2 – 3 x Rel 6 HSUPA Múltiplo acesso Tipos de modulação OFDMA (DL) SC-FDMA (UL) QPSK, 16-QAM, 64-QAM (UL e DL) permitida para velocidades superiores. Porém, para velocidades de até 120 km/h o sistema deve prover alto desempenho, sem perda de conexão ao longo da rede. Considerando-se o lado da operadora, além de possuir uma arquitetura de rede simplificada e de baixo custo, um dos méritos do LTE é a flexibilidade no uso de largura de banda e de faixa de operação. Uma rede pode ser implantada para operar com larguras de banda desde 1,4 até 20 MHz. Isso possibilita o aumento de sua capacidade à medida que se aumenta a demanda por serviços de dados. O LTE também foi especificado para atuar em uma grande variedade de faixas de frequência, incluindo a nova faixa de 2,6 GHz, em que há disponibilidade de banda, para se obter o máximo desempenho do sistema nos 2x20 MHz necessários. O sistema também pode ser implantado em faixas do GSM em 900 e 1.800 MHz, desde que haja uma reorganização dessas faixas, assim como nas faixas de TV de 700 MHz, que serão liberadas no mercado americano. 1 Processamento em banda base Neste artigo são descritas as principais tecnologias empregadas nas camadas física (PHY) e de controle (L2/L3) da interface aérea do LTE. A camada física utiliza tecnologias, como, por exemplo, OFDMA (ZOU; WU, 1995; CIOCHINA, SARI, 2010), SC-FDMA (MYUNG; LIM; GOODMAN, 2006), MIMO (PAULRAJ et al., 2004) e codificação turbo (WOODARD; HANZO, 2000). As camadas L2/L3, por sua vez, empregam tecnologias, como, por exemplo, enlace adaptativo, scheduling e HARQ2 (PEDERSEN et al., 2009; STERNAD, 2007). A Figura 1 ilustra o sistema de malha fechada para o enlace de descida. O esquema para o enlace de subida é semelhante ao apresentado, porém, não há múltiplas antenas de transmissão e a informação de canal é estimada diretamente pela eNodeB, sem a necessidade de realimentação. O processo de codificação e de transmissão é disponibilizado pela camada física para a camada MAC na forma de serviços, através de blocos de transporte. A cada intervalo de transmissão (Transmission Time Interval – TTI, sendo 1 TTI = 1 subframe = 1 ms), até dois blocos de transporte são codificados, modulados e mapeados para os recursos de rádio do OFDMA. O processo de detecção de erro e retransmissão de blocos de transporte é inerente a esse processo e controlado pela MAC a partir de algoritmos de HARQ. Durante o processo de retransmissão do HARQ, é necessário que a MAC informe ao rate matching qual versão da redundância deverá ser empregada: RV0, RV1, RV2 ou RV3. A camada L2/L3 é responsável pelo acesso e pelo controle dos recursos de rádio. Com base em informações de status do canal (RI, PMI e CQI), é possível configurar o nível de modulação, a taxa de codificação e o esquema de codificação MIMO. Algoritmos de scheduling e de controle do enlace adaptativo operam em conjunto nessa camada para otimizar a vazão total da célula e do enlace de usuário. Nesse processo de operação são consideradas as condições do canal e os parâmetros predefinidos de priorização e de QoS. Os parâmetros de status do canal, essenciais para os algoritmos de enlace adaptativo e scheduling, não são descritos explicitamente pela relação sinal por interferência mais ruído (Signal to Interference plus Noise Ratio – SINR), que é estimada pelos sinais de referência do OFDMA. Essa informação tem de ser previamente processada no UE (terminal de usuário). O que é de fato informado pelo UE é um conjunto de índices que apontam para o melhor conjunto e _____________________________________________________________ 1 2 8 Siglas da Tabela 1: DL (downlink), UL (uplink), QAM (Quadrature Amplitude Modulation), QPSK (Quadrature Phase-Shift Keying), FDD (Frequency Division Duplex), TDD (Time Division Duplex), HSDPA (3GPP Release 6 – High Speed Downlink Packet Access), HSUPA (3GPP Release 6 – High Speed Uplink Packet Access) e SC-FDMA (Single Carrier – Frequency Division Multiple Access). Mais detalhes sobre o HARQ serão apresentados na Seção 3.3. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n.1, p. 7-22, jul. 2010/jun. 2011 Tecnologias de camada física e MAC para redes LTE eNodeB Camadas L2/L3: Enlace Adaptativo e Scheduling Versão da Redundância (RV) MAC: HARQ Bloco de Transporte Bloco de Transporte L2/L3 CRC CRC PHY Cod. Turbo Cod. Turbo RM + HARQ RM + HARQ Modulação Modulação Taxa cod. Mapeamento para Antenas ……… Até quatro antenas Mapeamento Blocos de Recursos ……… ……… OFDMA OFDMA Status do canal: RI, PMI e CQI ACK / NACK Mapeamento Blocos de Recursos OFDMA OFDMA ……… ……… Demapeamento Blocos de Recursos Demapeamento Blocos de Recursos Demap das Antenas MAC: HARQ Demodulação Demodulação Decodificação Decodificação CRC CRC PHY Bloco de Transporte Bloco de Transporte L2/L3 Indicador de Erro Terminal de usuário (UE) Figura 1 Ilustração simplificada dos processamentos das camadas L1 (PHY), L2 e L3 para o enlace de descida parâmetros do transmissor, tal que seja obtido o melhor desempenho do enlace em termos de taxa de bits e robustez. Os indicadores informados pelo UE são os seguintes: a) RI (Rank Indicator), que informa o modo de multiplexação espacial suportado pelo UE; b) PMI (Precoder Matrix Indicator), que informa o esquema de codificação espacial a ser utilizado para o modo MIMO de malha fechada (beamforming). Nesse caso, o esquema de pré-codificação é obtido a partir de uma tabela; c) CQI (Channel Quality Indicator), que informa os parâmetros preferíveis de modulação e de taxa de codificação de canal que podem ser utilizados pelo transmissor como referência de melhor desempenho para o enlace. Nas Seções 2 e 3 são apresentadas as tecnologias utilizadas nas camadas física (PHY) e de controle (L2/L3) da interface aérea, respectivamente. 2 Camada física A camada física do LTE é construída sobre o Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n.1, p. 7-22, jul. 2010/jun. 2011 9 Tecnologias de Camada Física e MAC para Redes LTE OFDM e agrega técnicas avançadas de processamento que possibilitam que o sistema alcance alta eficiência espectral, alta capacidade e baixa latência. Exemplos de tais técnicas são: múltiplo acesso OFDMA/SC-FDMA (BERARDINELLI et al., 2008), codificação MIMO (BÖLCSKEI, 2006), codificação turbo (SKLAR, 1997), entre outras. 12 subportadoras = 180 kHz freq 14 símbolos OFDM = 1 ms Usuário 1 Usuário 2 Usuário 3 2.1 Múltiplo acesso O OFDM é o núcleo da tecnologia de camada física do LTE e foi escolhido devido aos vários benefícios que oferece enquanto técnica de multiplexação. O uso de múltiplas portadoras, por exemplo, possibilita organizar e configurar os recursos de rádio a partir de um grid tempo-frequência, conforme Figura 2, provendo maior flexibilidade aos algoritmos de controle do enlace e de alocação de recursos. Por utilizar portadoras ortogonais, essa técnica permite que haja sobreposição entre portadoras vizinhas sem interferência mútua. Isso torna o uso do espectro de frequências por múltiplas portadoras bem mais eficiente. Outro benefício do OFDM é a possibilidade de gerar um sinal banda larga de alta taxa de dados a partir de múltiplos sinais banda estreita de baixa taxa. Como o efeito do canal de transmissão é plano em um sinal de banda estreita, tal efeito pode ser compensado em cada subportadora através de um ganho de amplitude e uma rotação de fase. Essa abordagem do OFDM provê grande robustez aos múltiplos percursos do canal de transmissão e reduz a complexidade da estimação e da equalização de canal. Finalmente, o OFDM tem a vantagem de poder ser implementado no domínio digital a partir do algoritmo FFT (Fast Fourier Transform), que é um algoritmo rápido, de baixa complexidade e largamente difundido. O termo OFDMA advém da possibilidade que oferece de se realizar múltiplo acesso a partir das portadoras no domínio da frequência. No LTE, o termo é empregado para indicar o múltiplo acesso de usuários a recursos não apenas na frequência, mas também ao longo do tempo (símbolos OFDM). Esse mecanismo do ODA é bastante flexível e permite configurar a taxa de codificação e o esquema de modulação por usuário, bem como por recurso de rádio. A Figura 3 ilustra o diagrama de blocos do OFDMA e do SC-FDMA para comunicações com uma única antena (SISO). O OFDMA é o esquema de modulação utilizado no enlace de descida, enquanto o SC-FDMA é o utilizado no enlace de subida. O SC-FDMA pode ser visto como uma versão pré-codificada do OFDMA, em que cada símbolo é inicialmente espalhado na frequência por meio de uma FFT antes de ser enviado para o modulador OFDM. Trata-se de uma solução híbrida que tenta conciliar os benefícios do OFDM com a boa relação entre a 10 tempo Figura 2 Grid de recursos de rádio para múltiplo acesso potência de pico e a potência média do sinal (Peak-to-Average Power Ratio – PAPR) dos sistemas de portadora única. Essa característica é importante para se flexibilizar os requisitos de faixa linear do amplificador de potência e de nível de quantização dos conversores AD e DA. Uma comparação de desempenho entre o OFDMA e o SC-FDMA, assim como uma revisão dessas técnicas, pode ser encontrada em Berardinelli e outros. (2008). Os componentes funcionais do OFDMA/SC-FDMA para o transmissor são apresentados na Figura 3 e consistem nos seguintes módulos: a) módulo de pré-codificação FFT, empregado apenas no SC-FDMA: utilizado para espalhar na frequência as informações dos símbolos modulados em portadora única; b) módulo de conversão serial para paralelo (Serial to Parallel – S/P): utilizado para demultiplexar um fluxo de dados de alta taxa em n fluxos de baixa taxa; c) módulo de mapeamento para subportadoras: realiza o mapeamento dos bits de dados para os recursos de rádio. Os fluxos de baixa taxa de dados, provenientes do conversor S/P, são mapeados para subportadoras e símbolos OFDM, de acordo com a regra de múltiplo acesso. Nesse ponto, também são adicionadas portadoras de referência que são utilizadas pelos algoritmos de estimação de canal, codificação MIMO e equalização; d) módulos IFFT (Inverse Fast Fourier Transform), P/S (Parallel to Serial) e PC (Prefixo Cíclico): responsáveis pela geração dos símbolos OFDM no tempo. Os sinais das múltiplas portadoras são convertidos para o domínio do tempo para transmissão. Por último, é adicionado um intervalo de guarda baseado na extensão cíclica do sinal no tempo (PC), com o objetivo de evitar interferência intersimbólica. Na recepção, ocorre a inversão das operações realizadas durante a transmissão. Além disso, Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n.1, p. 7-22, jul. 2010/jun. 2011 N Pontos FFT Mapeamento para Subportadoras M Pontos IFFT P/S S/P Tecnologias de camada física e MAC para redes LTE PC DAC/ RF Canal N Pontos IFFT Extrai Subportadoras de dados / Equalização M Pontos FFT SC-FDMA S/P Detec P/S N<M Remove PC ADC/ RF + OFDMA Figura 3 Diagrama de blocos do OFDMA e do SC-FDMA módulos adicionais são necessários para compensar as degradações geradas pelo canal de transmissão, como, por exemplo, o módulo de equalização no domínio da frequência. Esses módulos são tipicamente assistidos por portadoras de referência que possibilitam estimar o canal de transmissão nas portadoras OFDMA ao longo do tempo. Como qualquer outro sistema baseado em OFDM, o OFDMA e o SC-FDMA também perdem desempenho quando há desvios de frequência nas subportadoras, gerados tipicamente por instabilidades do oscilador local ou por efeito Doppler (MORELLI, 2004). Esses efeitos destroem a ortogonalidade do OFDM, gerando interferências entre portadoras e interferências de múltiplo acesso. No enlace de subida, o problema é agravado porque essas interferências ocorrem diferentemente para cada usuário, dificultando a sincronização (VAN DE BEEK et al., 1999). Não há uma solução padronizada para esse problema, sendo que se trata de um campo em que as soluções de compensação das degradações do canal podem se diferenciar. Em Zhang e Ryu (2010), faz-se uma revisão das técnicas de supressão de interferências tipicamente utilizadas e propõe-se uma solução para lidar com os múltiplos desvios de frequência de usuários no uplink. 2.2 MIMO Ao se utilizar MIMO (PAULRAJ et al., 2004; BÖLCSKEI, 2006), ambas as cadeias de transmissão e de recepção do OFDM podem ser paralelizadas em mais de uma camada, conforme mostrado na Figura 4 (transmissão) e na Figura 5 (recepção), para o caso MIMO 2x2. Com essa paralelização, uma possibilidade é aumentar a vazão de dados por meio da transmissão simultânea de diferentes fluxos. Outra possibilidade é codificar tais fluxos de forma a se obter uma transmissão mais robusta, porém, sem aumentar a vazão de dados. O OFDM é essencial nesse processo, porque para cada subportadora o canal é plano. Isso facilita a estimação dos canais de propagação MIMO e sua subsequente decodificação para os métodos de codificação por diversidade. Outro benefício da codificação MIMO, aplicado ao OFDM, é a possibilidade de se obter diferentes formas de codificação, como, por exemplo: espacial, que leva em conta apenas as antenas; espaço-temporal, que leva em conta as antenas e os diferentes símbolos OFDM; e espaçofrequência, que leva em conta as antenas e as diferentes portadoras. Em linhas gerais, as formas de processamento MIMO suportadas pelo LTE podem ser classificadas em: a) pré-codificação ou formatação de feixe (beamforming), que envolve apenas processamento espacial; b) codificação por diversidade, que envolve codificação espaço-frequência sobre um único fluxo de dados para se aumentar a robustez da transmissão; e c) multiplexação espacial, que envolve a transmissão simultânea de fluxos distintos em antenas distintas, de forma a se aumentar a vazão do sistema. Os métodos de pré-codificação e de diversidade propiciam um aumento na robustez da transmissão, enquanto os métodos de multiplexação espacial possibilitam o aumento, de fato, da eficiência espectral da transmissão. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n.1, p. 7-22, jul. 2010/jun. 2011 11 Mapeamento para Subportadoras M Pontos IFFT P/S M Pontos IFFT PC DAC/ RF P/S Mapeamento para Subportadoras PC DAC/ RF S/P Codificação MIMO S/P Tecnologias de Camada Física e MAC para Redes LTE Demap M Pontos FFT S/P M Pontos FFT Remove PC ADC/ RF S/P Demap Remove PC ADC/ RF Equalização P/S Detec MIMO Detec P/S Figura 4 Esquema de transmissão OFDMA para MIMO 2x2 Figura 5 Esquema de recepção OFDMA para MIMO 2x2 Entre os trabalhos sobre esquemas de codificação por diversidade, os principais são os de Alamouti (1998), Tarokh, Seshadri e Calderbank (1998) e Tarokh, Jafarkhani e Calderbank (1999). O método de codificação de Alamouti foi originalmente desenvolvido para apenas duas antenas. Em virtude de sua simplicidade e eficiência, essa talvez seja uma das técnicas de codificação por diversidade mais difundidas. A contribuição de Tarokh, Jafarkhani e Calderbank (1999) foi a de generalizar a técnica de Alamouti para um número arbitrário de antenas, criando o conceito de códigos de bloco espaço-tempo (Space-Time Block Code – STBC) (TAROKH; SESHADRI; CALDERBANK, 1998). Com a aplicação de MIMO em OFDM, surgiu também a possibilidade de se derivar códigos de bloco espaço-frequência (Space-Frequency Block Code – SFBC) de forma semelhante ao STBC (LI et al., 2002). Em geral, para que a ortogonalidade dos códigos seja mantida, o canal tem que ser invariante ao longo da palavracódigo. Isso implica um canal plano nas subportadoras das palavras-código do SFBC e em um canal invariante no tempo ao longo dos símbolos das palavras-código do STBC. É importante destacar que o LTE emprega o 12 esquema de codificação SFBC para possibilitar maior robustez em cenários com alta mobilidade. Por não envolverem um esquema de codificação prévia, transmissões simultâneas por multiplexação espacial sofrem com problemas de interferência entre os sinais multiplexados (KETONEN; JUNTTI; CAVALLARO, 2010). Esses problemas podem ser minimizados se, em vez da detecção conjunta dos sinais, for utilizada uma arquitetura de recepção em que os sinais sejam detectados de forma sequencial, iniciando-se pelo mais forte. Os trabalhos de Foschini (1996), Wolniansky e outros. (1998) e Foschini e Gans (1998) são pioneiros nessa área em decorrência da utilização da arquitetura V-BLAST. O princípio do V-BLAST consiste primeiramente na detecção e regeneração do sinal mais forte. O sinal regenerado é então subtraído do sinal recebido, gerando-se um novo sinal que será utilizado para a detecção do segundo sinal mais forte. O processo é repetido até que todos os sinais transmitidos sejam detectados. Outra linha de trabalho combina as abordagens de diversidade e de multiplexação espacial seguindo a lógica de que cada fluxo de transmissão tenha um esquema de codificação Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n.1, p. 7-22, jul. 2010/jun. 2011 Tecnologias de camada física e MAC para redes LTE Identificador de Grupo: SS1 SS 2 Cell ID: (SSm, PSn) 504 IDs SS 168 …… Identificador de Célula: PS1 PS2 PS3 PS1 PS 2 PS3 PS1 PS2 PS3 Figura 6 Estrutura de sinal para identificação de células 1 frame = 10ms SS PS 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 slot = 0,5 ms 1 subframe = 1 ms Figura 7 Localização dos sinais primários (PS) e secundários (SS) na estrutura de quadro do LTE, considerando-se prefixo cíclico de tamanho normal por diversidade para protegê-lo (LEI; HARADA, 2006). Nesse caso, em vez de uma antena, cada fluxo possui um grupo de antenas de transmissão. Os sinais são então detectados iterativamente, por cancelamento de interferência a partir do grupo mais forte. Uma vez detectados os grupos de sinal, pode-se aplicar a decodificação por diversidade. Há, ainda, trabalhos na linha do TURBO-BLAST (SELLATHURAI; HAYKIN, 2002), que utilizam esquemas de decodificação de canal no loop de cancelamento de interferência para melhorar o desempenho da separação dos sinais (KETONEN; JUNTTI; CAVALLARO, 2010). Embora não haja multiplexação espacial, nem mesmo codificação MIMO por diversidade no enlace de subida, o SC-FDMA pode ser potencializado a partir de técnicas de MIMO multiusuário (MU-MIMO) (SPENCER et al., 2004), que permitem o agendamento de mais de um usuário para o mesmo recurso tempo-frequência. Essa técnica pode ser vista como uma técnica de múltiplo acesso por divisão espacial, em que antenas adaptativas na eNodeB são capazes de rastrear os usuários na célula.3 primário (PS) e um secundário (SS) (3GPP, 2009a; KIM; HAN; CHUNG, 2010). Conforme a Figura 6, cada célula pode ser identificada a partir de 504 identificadores, obtidos da combinação de 168 sinais secundários e 3 sinais primários. A partir da detecção dos sinais primários e secundários, é possível não apenas realizar as sincronizações de tempo de símbolo e de frequência da portadora, mas também prover a identificação física da célula, o comprimento do prefixo cíclico e o modo de duplexação FDD ou TDD utilizado na célula. A sincronização inicial por meio da detecção do sinal primário possibilita, ainda, decodificar o canal físico de broadcast (Physical Broadcast Channel – PBCH). Esse canal transmite o MIB (Master Information Block), que contém informações essenciais para o acesso inicial da célula, como, por exemplo, largura de banda do downlink, configuração do canal do indicador do HARQ (Physical HARQ Indicator Channel – PHICH) e número sistêmico do quadro atual. Os três sinais primários são gerados a partir de sequências de Zadoff-Chu de comprimento 63 e M = 25, 29 e 34, conforme a equação: 2.3 Sincronização Os procedimentos de sincronização são realizados a partir da definição de uma estrutura de identificação com dois tipos de sinal: um 63 PS M n=exp− j M n n1 63 para n = 0, 1, 2, ..., 62. _________________________________________________ 3 Para saber mais, há trabalhos, como o de Prasad, Wang e Wang (2009), que propõem algoritmos mais eficientes no receptor para lidar com MU-MIMO com o uso de pré-filtros e demodulação soft. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n.1, p. 7-22, jul. 2010/jun. 2011 13 Tecnologias de Camada Física e MAC para Redes LTE freq 1 frame = 10ms … 1.08 MHz = 6 RB tempo … 1 subframe = 1ms = 2 RB SS PS Figura 8 Localização dos sinais de sincronismo SS e PS no grid tempo x frequência4 Essas sequências apresentam uma propriedade muito interessante: a função de autocorrelação rkk(δ) é exatamente zero para δ ≠ 0, o que não ocorre com as sequências pseudoaleatórias (PN). A posição do PS na estrutura de quadro do LTE é mostrada na Figura 7. Na frequência, conforme Figura 8, o PS é transmitido nos 6 blocos de recursos (Resource Block – RB) centrais, de modo que esse mapeamento na frequência seja sempre o mesmo, independentemente da largura de banda utilizada, que pode variar de 6 RBs (1,08 MHz) até 110 RBs (19,8 MHz). O PBCH é transmitido da mesma forma, utilizando-se 6 RBs centrais, porém, 4 slots em vez de 1 e com menor Bloco de Transporte Bloco de Transporte CRC CRC Segmentação Segmentação periodicidade de atualização (40 ms). Cada sequência secundária é gerada pela intercalação de duas sequências de comprimento 31, moduladas em BPSK (Binary Phase Shift Keying). Essas duas sequências, SSC1 e SSC2, são versões deslocadas de uma sequência básica de comprimento 31, e o deslocamento de cada sequência é uma função do índice do grupo. Cada sequência é então aleatorizada a partir de um código de scrambling, que depende do índice do PS e do índice do grupo. Há ainda uma alternância entre essas sequências SSC1 e SSC2 no quadro do LTE. Essa alternância é realizada para que os instantes de quadro do LTE possam ser identificados por meio de uma Bloco de Transporte CRC Segmentação Cod. Turbo Cod. Turbo Cod. Turbo RM + HARQ RM + HARQ Scrambling Scrambling Modulação Modulação RM + HARQ Scrambling Modulação Mapeamento para Antenas ……………… Mapeamento Blocos de Recursos Mapeamento Blocos de Recursos Até quatro antenas ……… Mapeamento Blocos de Recursos ……… ……… OFDMA OFDMA ……… SC-FDMA Figura 9 Cadeias de processamento de blocos de transporte para o enlace de descida Figura 10 Cadeia de processamento de blocos de transporte para o enlace de subida _______________________________________ 4 Foi considerado o prefixo cíclico de tamanho normal e cada divisão do grid equivale a um conjunto de 6x2 blocos de recursos (RBs) de rádio. 14 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n.1, p. 7-22, jul. 2010/jun. 2011 Tecnologias de camada física e MAC para redes LTE Bits Sistemáticos Convolucional 1 Bits de Paridade P1 Bloco de Código D Entrelaçador QPP do Turbo D D Convolucional 2 D Bits de Paridade P2 D D Figura 11 Codificador turbo simples observação das sequências secundárias. O posicionamento das sequências secundárias no tempo e na frequência é semelhante ao posicionamento das primárias, conforme Figuras 7 e 8. 2.4 Codificação de canal No enlace de descida, mostrado na Figura 9, pode haver até duas cadeias de processamento para se realizar a codificação de canal dos blocos de transporte provenientes da camada MAC (L2). Cada bloco de transporte é mapeado para um bloco de recurso de rádio em um subquadro, que é transmitido a cada 1 TTI (1 ms). O tamanho do bloco de transporte depende da configuração do enlace que, por ser adaptativo, irá definir a relação de compromisso entre robustez e vazão. No caso de transmissões com apenas uma antena, haverá um único bloco de transporte de tamanho variável para cada quadro do LTE. No entanto, no caso de transmissões com múltiplas antenas, a segunda cadeia é utilizada apenas quando há multiplexação espacial. Além disso, mesmo que se empreguem quatro antenas na multiplexação, apenas duas cadeias de processamento serão utilizadas. Isso não implica limitação de vazão, uma vez que o tamanho do bloco de transporte é variável. No enlace de subida, entretanto, não se utiliza multiplexação espacial ou mesmo transmissão por diversidade. Por esse motivo, há apenas uma cadeia de processamento com bloco de transporte de tamanho variável, conforme Figura 10. O primeiro passo na cadeia de processamento de canal é a inserção de um código de 24 bits em cada bloco de transporte, para detecção de erros por meio de verificação de redundância cíclica (Cyclic Redundancy Check – CRC). Essa informação é utilizada pelo algoritmo de HARQ que pode requisitar a retransmissão do bloco de transporte, caso seja detectado algum erro na recepção. O passo seguinte consiste em segmentar o bloco de transporte em blocos menores que casem com os tamanhos predefinidos de blocos suportados pelo interleaver do codificador turbo. Nesse processo, pode ser necessário inserir bits de preenchimento para se alcançar os tamanhos de blocos predefinidos. Além disso, também é necessário adicionar um CRC por bloco de código. Esse recurso é utilizado para se detectar com antecedência a existência de erros no bloco de transporte, reduzindo-se, assim, o esforço computacional e o consumo de potência do receptor. É importante destacar que a segmentação não é um modo de operação típico, e é realizada apenas quando o bloco de transporte supera o tamanho máximo do bloco de código suportado pelo interleaver, que é de 6.144 bits. No LTE, a codificação de canal dos blocos de transporte é realizada apenas por codificação turbo de taxa 1/3 (3GPP, 2009b). A estrutura do codificador turbo empregada no LTE é mostrada na Figura 11. Essa estrutura utiliza os mesmos dois codificadores convolucionais de taxa 1/2 e 8 estados, que constituíam o codificador turbo do WCDMA e do HSPA. Porém, o entrelaçador utilizado no WCDMA e HSPA foi substituído no LTE pelo entrelaçador QPP (Quadrature Permutation Polynomial). A função de mapeamento do entrelaçador QPP é dada por: 2 c i= f 1 i f 2 i mod K onde i é o índice do bit na saída do entrelaçador, c(i) é o índice do mesmo bit na entrada e K é o tamanho do bloco de codificação. O padrão que especifica o LTE define uma lista de tamanhos de blocos de código, que variam de 40 a Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n.1, p. 7-22, jul. 2010/jun. 2011 15 Tecnologias de Camada Física e MAC para Redes LTE Bits Sistemáticos s1 s 2 … sK p1( 1) p2(1) … pK( 1) Entrelaçador Sub-Bloco p1( 2) p2(2) … pK( 2) Escreve no Buffer pK(2) s1 s2 … Entrelaçador Sub-Bloco RV3 pK( 1) Leitura do Buffer sK … Bits Paridade P2 Entrelaçador Sub-Bloco … Bits Paridade P1 RVi RV0 p2(1) p1(2) p1( 1) Saída RV1 RV2 Figura 12 Rate matching (RM) para ajustar a taxa de codificação e gerar retransmissão, de acordo com a técnica de combinação do HARQ 6.144 bits, e de valores dos parâmetros f1 e f2. A etapa seguinte ao processo de codificação turbo consiste em ajustar a taxa de codificação. Trata-se de um processo de puncionamento realizado pelo rate matching (casador de taxa). A função principal do rate matching é possibilitar o descarte automático dos bits de paridade, de forma que se obtenha a quantidade de bits exata para se preencher um bloco de recurso de rádio em um TTI. Esse processo pode ser controlado a partir de um buffer circular (CHENG et al., 2008). Conforme Figura 12, as saídas Bits Sistemáticos, Bits de Paridade P1 e Bits de Paridade P2 são, em um primeiro momento, entrelaçadas separadamente. Em seguida, os bits são escritos em um buffer circular a partir dos bits sistemáticos, seguidos pelos bits de paridade P1 e P2 de forma alternada. A leitura do buffer é, então, realizada de acordo com a versão de redundância RV até que se preencha o recurso de rádio. Supondo-se, por exemplo, que para preencher um bloco de recurso de rádio seja necessária uma codificação turbo de taxa 2/3, e sabendo-se que a codificação turbo é de taxa 1/3 a , será necessária a leitura de apenas 50% dos bits escritos do buffer para se obter a taxa de codificação desejada de 2/3. O buffer circular possibilita, ainda, retransmissões com versões de redundância diferentes (RV0, RV1, RV2 e RV3). As versões de redundância se diferem simplesmente pelo ponto de leitura inicial do buffer. Essa estratégia possibilita o suporte das funcionalidades de retransmissão requeridas pelo HARQ. Se, por exemplo, for utilizado o esquema HARQ de chase combining (CC), a retransmissão será feita com a mesma versão de redundância RV0 da transmissão original. Nesse caso, os blocos são combinados no receptor utilizando o MRC (Maximal Ratio Combining), aumentando-se a relação sinal-ruído do sinal a ser decodificado. Por outro lado, se for utilizado o esquema HARQ de redundância incremental (IR), as retransmissões serão feitas com versões de redundância diferentes. Essa estratégia 16 permite que novos bits de paridade possam ser adicionados ao bloco a ser decodificado pelo receptor. O resultado é um bloco de bits com taxa de codificação menor que a do bloco original e, por conseguinte, com maior capacidade de correção de erros. É importante destacar que embora o rate matching do HARQ possa ser utilizado com ambos os esquemas CC e IR, o LTE emprega apenas o esquema IR. O último bloco de processamento da cadeia de codificação de canal é um scrambler (aleatorizador) (3GPP, 2009b), que é aplicado em cada bloco de bits gerado pelo processo de transmissão/retransmissão HARQ. Esse processamento consiste em aleatorizar o bloco de bits de entrada pela multiplicação (ou exclusivo) bit a bit entre esse bloco de bits e uma sequência de scrambling. Células vizinhas utilizam sequências de aleatorização distintas, possibilitando que o receptor garanta o ganho de processamento da codificação de canal, minimizando a interferência de sinais provenientes de células adjacentes. 3 Camadas L2 e L3 3.1 Enlace adaptativo A evolução das redes de terceira geração do 3GPP culminou no LTE com rede de tráfego inteiramente por pacotes. Em versões anteriores do sistema, baseadas na tecnologia WCDMA, era necessário um controle rápido de potência em malha fechada com taxa de atualização aproximadamente constante para se suportar serviços de comutação por circuito. No entanto, na interface aérea do LTE, a otimização do tráfego para pacotes reflete a capacidade de canal de cada usuário. O processo de otimização ajusta dinamicamente os esquemas de modulação e de codificação de canal, de forma a se obter a maior taxa de bit possível para cada usuário, de acordo com as condições preditas de canal. A Figura 13 ilustra esse processo. O indicador de qualidade de canal (CQI) é uma Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n.1, p. 7-22, jul. 2010/jun. 2011 Tecnologias de camada física e MAC para redes LTE Dados Codificador CRC Codificador Turbo PUCCH: ACK/NACK Dados Check CRC Decodificador Turbo Modulação OFDMA CQI Adaptação do Enlace Demodulação DAC/ RF Estima Canal OFDMA Canal DAC/ RF Figura 13 Realimentação de informações para enlace adaptativo (CQI) e HARQ (ACK/NACK) entrada importante e é informado pelo UE no enlace de subida. O CQI é um indicador de taxa de dados que pode ser suportado pelo canal, levando-se em conta a relação do nível de sinal por interferência mais ruído (SINR) e as características do receptor do UE. A partir de sinais de referência do downlink, o UE pode estimar o canal e informar os parâmetros de modulação e de codificação mais altos que podem ser decodificados com probabilidade de erro inferior a 10%. Na adaptação do enlace de subida, não é necessário informar a eNodeB sobre a condição de canal, uma vez que é possível estimá-la diretamente através de sinais de referência do uplink. O trabalho de Kolehmainen e outros (2008) apresentou um estudo sobre o compromisso entre o overhead na transmissão do CQI e o ganho de desempenho do sistema por haver mais informações sobre o canal obtidas a partir dos domínios do tempo e da frequência. De acordo com os autores, o emprego conjunto de enlace adaptativo e scheduling FDPS (Frequency Domain Packet Scheduling) pode prover ganhos de vazão e de cobertura no downlink da ordem de 40%, sob o custo de se aumentar a taxa de sinalização no uplink. O trabalho de Kolehmainen investiga a melhor relação de compromisso entre o desempenho do downlink e a sinalização no uplink. Foram utilizados os seguintes esquemas de informação do CQI, empregando enlace adaptativo e FDPS: a) Full Feedback CQI, que relata o CQI para todos os blocos de recursos (RBs); b) Wideband CQI, que relata o CQI médio dos RBs; c) Best-M Individual, que relata os M valores individuais de CQI mais altos (3GPP, 2007); d) Best-M Average, que relata os M maiores valores em média (3GPP, 2007); e) Threshold Based CQI (3GPP, 2007; KOLDING; FREDRIKSEN; POKHARIYAL, 2006); f) Discrete Cosine Transform Based CQI (3GPP, 2006). Não foram considerados esquemas de scheduling e de enlace adaptativo para cenários com MIMO. Estudos semelhantes também foram conduzidos em Svedman e outros (2004), Kolding, Fredriksen e Pokhariyal (2006), e Sun e outros (2006) para sistemas OFDMA, em geral. No estudo realizado por Kolehmainen e outros (2008), concluiu-se que medidas de CQI tomadas a cada 2 ms e com resolução de 2 RBs são suficientes para capturar os comportamentos de seletividade, na frequência, e de variação, no tempo. Além disso, entre as técnicas testadas, o Best-M Average e o Threshold Based CQI apresentaram a melhor relação de desempenho (vazão e cobertura) por taxa de sinalização no uplink. A especificação do LTE define a sinalização disponível entre a eNodeB e o UE para a adaptação do enlace (modulação e codificação de canal) pela eNodeB. Os métodos de otimização não são padronizados, o que provê grande flexibilidade na forma de se explorar a informação disponível para se realizar a adaptação do enlace. É importante destacar, porém, que a escolha dos parâmetros de modulação e de taxa de codificação não depende apenas das condições do canal. Essa escolha depende, também, de uma série de outros fatores, que inclui a qualidade de serviço requerida e a vazão da célula. Ademais, os métodos de adaptação de enlace devem operar em conjunto com os métodos de scheduling, para que os blocos de recurso de rádio possam ser compartilhados eficientemente entre os usuários à medida que a capacidade de canal individual varie. 3.2 Scheduling Em linhas gerais, a principal tarefa do scheduling no OFDMA é alocar pares de blocos de recursos Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n.1, p. 7-22, jul. 2010/jun. 2011 17 Tecnologias de Camada Física e MAC para Redes LTE de rádio (1 ms e 12 subportadoras) inteligentemente para diferentes usuários, de modo a alcançar a maior vazão possível na célula (LUO et al., 2010). É importante lembrar que pares de blocos de recurso no LTE são a menor unidade de recurso de rádio alocável de um grid símbolo-subportadora (tempo-frequência), e correspondem a 12 subportadoras para cada 14 símbolos OFDMA (1 ms), conforme Figura 2. Esses blocos podem ser independentemente modulados por fluxos de mais baixa taxa de bits provenientes de diferentes usuários. Entre os algoritmos de scheduling, os mais conhecidos são: o Maximum Carrier-toInterference (C/I), o Round-Robin e o Proportional Fairness (PF). O Maximum C/I basicamente classifica os usuários de acordo com a relação instantânea de C/I, provendo mais recursos de rádio para aqueles que possuem melhor qualidade instantânea de canal. Esse algoritmo possibilita, dessa forma, maximizar a vazão total, mas limita a capacidade de usuários no sistema. O Round-Robin torna o scheduling mais justo, no sentido que será atendido o usuário que estiver esperando há mais tempo. Porém, essa técnica não leva em conta a qualidade do canal e, devido ao enlace adaptativo do sistema, pode-se levar muito tempo para atender um usuário com indicador ruim de canal, podendo degradar significativamente a vazão total de dados. O Proportional Fairness (KIM; HAN, 2005), scheduling mais comumente utilizado (JUNGNICKEL et al., 2009), procura atender à relação de compromisso entre maximizar a vazão de dados do sistema e permitir um nível mínimo de serviço para todos os usuários. Isso geralmente é realizado por meio da adição de alguma forma de priorização inversamente proporcional à quantidade de recursos de rádio estimada para um dado usuário. Entretanto, o problema do Proportional Fairness está em não garantir uma latência fixa para os usuários, o que limita as aplicações baseadas em serviços multimídia de tempo real. Quando o problema é garantir uma latência fixa, pode ser mais interessante utilizar alguma técnica que explore a equidade instantânea (Instantaneous Fairness), em vez da proporcional. Melhorias no scheduling também têm sido propostas para o LTE. Em Luo e outros (2010), tendo por base os resultados de alocação de recursos de rádio e a qualidade instantânea de canal (CQI), é proposta uma otimização ao longo de várias camadas (cross-layer). Esse esquema possibilita determinar dinamicamente os parâmetros de modulação, de codificação e do codec, de forma a maximizar a taxa de bit dos usuários e melhorar perceptivelmente a qualidade para aplicações de vídeo. Kwan, Leung e Zhang (2008) propõem maximizar de forma 18 conjunta as taxas de bits de todos os usuários, a partir de uma solução subótima obtida do particionamento do modelo de otimização em modelos single-user menores e paralelos. Em Xu e outros (2006), a proposta de scheduling é baseada em uma otimização por gradiente, com restrições de taxas de bit mínima e máxima sobre o canal de dados compartilhados do downlink (Shared Data Channel – SDCH). Em Bonald (2004) e Lei e outros (2007), são propostas formas de priorização que exploram a equidade instantânea e tornam o desempenho do scheduler semelhante ao do PF para cenários ideais, sem os problemas de perda de desempenho que existem no PF para cenários com desvanecimento muito rápido. Em Jungnickel e outros (2009), o scheduling utiliza realimentações do terminal de usuário para possibilitar a caracterização do canal MIMO, mesmo que de forma superficial. Nesse caso, o CQI é utilizado para que a estação-radiobase possa selecionar o melhor modo de transmissão e, ao mesmo tempo, prover equidade instantânea. De forma semelhante, o trabalho em Wei e outros (2008) utiliza a informação de seletividade em frequência baseada no CQI para realizar o scheduling no domínio do tempo, da frequência e do espaço. 3.3 HARQ O HARQ é uma combinação de correção de erros de canal (Forward Error Correction – FEC) e solicitação automática de repetição (Automatic Repeat Request – ARQ) baseada em código CRC de detecção de erros (DAHLMAN, et al., 2008). Conforme Figura 13, após a transmissão de um bloco de transporte, o UE decodifica esse bloco, verifica o CRC e informa a eNodeB por meio de uma mensagem ACK (acknowledgement) ou NACK (negative acknowledgement). Essa mensagem é transmitida no canal físico de controle do uplink (PUCCH). No caso de um acknowledgement negativo (NACK), a eNodeB retransmite o bloco. O receptor (UE) combina, então, a retransmissão com a transmissão original para executar novamente o decodificador turbo. No LTE, esse processo é executado de forma que o rate matching (RM) pare de transmitir até receber uma mensagem ACK do UE. Essa é a forma mais simples de se realizar o HARQ, mas exige que mais de um processo HARQ-RM seja executado em paralelo, para possibilitar o fluxo contínuo de dados. Enquanto um processo HARQ-RM espera pelo ACK, outro processo pode ser disparado pela eNodeB para transmitir dados pelo canal. No LTE, o número máximo de processos simultâneos por usuário é limitado em oito, tanto para o uplink quanto para o downlink. Há dois tipos de HARQ (DAHLMAN, et al., 2008), CC e IR, que se diferenciam pela forma como o Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n.1, p. 7-22, jul. 2010/jun. 2011 Tecnologias de camada física e MAC para redes LTE bloco de transporte é retransmitido e combinado no receptor. Ambos os métodos podem ser considerados soft combining, porque o bloco original não é descartado e, sim, combinado com o bloco retransmitido. Entre os dois métodos de recombinação, o LTE emprega apenas o IR. O método CC retransmite o bloco com a mesma configuração do bloco original, ou seja, com os mesmos dados (bits sistemáticos) e com os mesmos bits de paridade. No receptor, a combinação com o bloco original é então feita por MRC. Esse é um método de combinação por diversidade que melhora a relação sinal-ruído do pacote a ser decodificado cada vez que uma nova retransmissão é realizada. No método de redundância incremental (IR), são transmitidos bits de paridade adicionais a partir da seleção apropriada da versão de redundância do rate matching. No receptor, os bits de paridade são combinados e o bloco resultante passa a ter uma taxa de codificação mais baixa, tornando-se mais robusto para decodificação de canal. Dessa forma, a cada transmissão adicional, mais bits de paridade são adicionados ao receptor para o mesmo bloco de dados, tornando a taxa de codificação cada vez menor. 3.4 Controle de potência O controle de potência tem o objetivo de melhorar a capacidade do sistema, a cobertura e o nível de sinal (maior taxa de dados e melhor qualidade de voz), além de reduzir o consumo de potência (DAHLMAN, et al., 2008). Para alcançar esses objetivos, o mecanismo de controle de potência normalmente tenta maximizar a potência dos sinais recebidos pelo UE, gerando o mínimo de interferência possível nas células adjacentes. Geralmente, quanto mais próximo um UE estiver da borda de uma célula vizinha, maior será a interferência. Conforme a necessidade de se compensar as variações do canal, podem existir dois esquemas de controle de potência: slow e fast. Há, ainda, outros esquemas relacionados ao conteúdo das informações que são enviadas ao UE para configurar sua potência: a) Open Loop Power Control: a potência do UE é configurada com base apenas nas informações provenientes da eNodeB. Nenhum tipo de informação referente à potência é enviada à eNodeB pelo UE; b) Close Loop Power Control: a potência é controlada através das informações da eNodeB, assim como no open loop, porém, neste esquema, o UE realimenta a eNodeB com informações referentes à potência. Além dos esquemas apresentados, existe, ainda, a possibilidade de obtenção de esquemas híbridos através da combinação entre eles. Como exemplo, pode-se citar o Fast Close Loop Power Control, que gera um certo overhead no sistema, mas permite compensar as interferências e as condições do canal com mais precisão. O oposto desse exemplo é o Slow Open Loop Power Control, que não exige muita banda do sistema, pois evita o overhead de informação da eNodeB. Esse método é simples, porém, não é apropriado para compensar variações rápidas de canal que possam ser ocasionadas pela alta mobilidade do usuário. Conclusão Este artigo apresentou as principais tecnologias da interface de rádio do LTE, consideradas estado da arte em comunicações digitais. O emprego de tecnologias como, por exemplo, OFDMA, MIMO, codificação turbo, HARQ, modulação adaptativa, entre outras, possibilita que o LTE alcance taxas de 300 Mbit/s em uma banda de 20 MHz. A importância de tais tecnologias se reflete na sua utilização na especificação de sistemas de quarta geração, como o LTE Advanced. Em tais sistemas, pode-se alcançar taxas de bits superiores a 1 Gbit/s, o que representa um aumento da eficiência espectral da ordem de 1,4 vezes, quando comparado ao LTE. Essas tecnologias são extremamente flexíveis e possibilitam que o sistema de comunicação se autoajuste à capacidade de canal do usuário, provendo mobilidade e alto desempenho para velocidades de até 120 km/h, sem perda de conexão. O grau de sofisticação do sistema possibilita, ainda, que haja balanceamento da carga de forma a obter a maior vazão de dados possível por usuário, considerando-se a qualidade de serviço contratada e os mecanismos de priorização. Agradecimentos Os autores agradecem o apoio dado a este trabalho, desenvolvido no âmbito do projeto “Redes de Acesso Sem Fio Avançadas” que contou com recursos do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações – FUNTTEL, do Ministério das Comunicações, através do Convênio nº 01.09.0631.00 com a Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP. Referências 3rd GENERATION PARTNERSHIP PROJECT. 3GPP TSG RAN WG1: DCT based CQI reporting scheme. Contribution R1-061777. 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