Fauna de aracnídeos e quilópodes do município de Jaicós

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Fauna de aracnídeos e quilópodes do município de Jaicós
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Potencialidade Regional e Tecnologias Sociais: o sertão Piauiense em evidência
Fauna de aracnídeos e quilópodes do município de Jaicós, Piauí
José Nilton de Araújo Gonçalves
IFPI campus Picos - [email protected]
Marta Hilary Marreiros da Silva
IFPI campus Picos - [email protected]
Érika Ravena da Silva Alves
IFPI campus Picos - [email protected]
Marciel Leal Moura
IFPI campus Picos – [email protected]
Wilton do Amaral Alves
IFPI campus Picos – [email protected]
Francisca Elta da Silva
UFPI campus CSHNB - [email protected]
Edson Lourenço da Silva
IFPI campus Picos - [email protected]
Tamaris Gimenez Pinheiro
UFPI campus CSHNB - [email protected]
Resumo: As classes Arachnida e Chilopoda são bastante diversas mas pouco estudadas em áreas de Caatinga. Com
isso, este trabalho teve como objetivo realizar um levantamento dos animais desses grupos em áreas com diferentes
fitofisionomias da Caatinga, no município de Jaicós, Piauí. A coleta ocorreu em fevereiro de 2014 em áreas de mata
nativa, pasto e cultivo de caju do referido município. Em cada área estudada foram montados 15 pitfalls, distribuídos
em três transectos paralelos distanciados 20 m entre si, com cinco pontos de coleta também a 20 m de distância um
do outro e permaneceram no campo por sete dias. Um total de 362 indivíduos foram coletados, 343 Arachnida e 19
Chilopoda. Dentre Arachnida, Aranae se destacou com 307 indivíduos, seguida de 26 Opiliones, sete
Pseudoescorpiones e três Scorpiones. Para Chilopoda, houve predomínio de Scolopendromorpha, com 19
indivíduos. A área de cultivo apresentou a maior abundância, com 174 animais, seguida da mata com 124, e pasto
com 66, o que pode ser explicado pelo fato da primeira área apresentar uma maior disponibilidade de matéria
orgânica que as demais áreas, favorecendo a ocorrência de maior número de animais invertebrados decompositores,
presas dos animais dos grupos amostrados.
Palavras chave: Arthropoda, Caatinga, Semi-árido.
1. Introdução
O Filo Arthropoda é o maior grupo animal de que se tem conhecimento e compreende
cerca de três quartos de todas as espécies conhecidas, incluindo os trilobitas fósseis, aracnídeos,
crustáceos, miriápodes, insetos (BUZZI, 2013).
Os aracnídeos são muito diversificados e ocupam diferentes nichos de ambientes
terrestres em todas as regiões, com execeção dos polos (COSTA; ROCHA, 2002). Com relação à
diversidade da classe, as aranhas abrangem uma porção representativa no mundo com cerca de
38.663 espécies descritas, distribuídas em 110 famílias (PLATNICK, 2004). Sua importância
ambiental está relacionada a manutenção do equilíbrio ecológico, devido ao fato de serem
carnívoras alimentam-se de insetos que prendem nas teias ou que caçam (AQUINO et al., 2005).
Os quilópodes estão representados por 2.800 espécies descritas, as quais estão
distribuidas por todo o mundo, das regiões temperadas e tropicais desde o nível do mar até altas
elevações no solo e húmus; embaixo de pedras, cascas e troncos de árvores, em cavernas e
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musgos. Estes são predadores providos de uma garra com veneno; as espécies maiores podem
causar acidentes ao homem e animais domésticos (BUZZI, 2013).
A Caatinga é um dos maiores biomas do Brasil (FERRI, 1980). Ela compreende uma área
aproximada de 800.000 Km2, representando 70% da região nordeste e 11% do território nacional
(BUCHER, 1982). De modo geral, a biota da Caatinga tem sido descrita na literatura como
pobre, abrigando poucas espécies endêmicas e, portanto, de baixa prioridade para conservação.
No entanto, estudos recentes mostram que isto está longe de ser verdade.
Devido à grande diversidade dos grupos abordados e a escassez de informações sobre os
mesmos na Caatinga, este trabalho teve como objetivo realizar um levantamento dos grupos de
Arachnida e Chilopoda de áreas com diferentes fitofisionomias da Caatinga do município de
Jaicós, Piauí.
2. Procedimentos Metodológicos
A coleta foi realizada no mês de fevereiro de 2014 em três áreas do município de Jaicós,
estado do Piauí. Estas três áreas corresponderam a fitofisionomias distintas: uma região de mata
típica da Caatinga, uma área de pasto com gramíneas destinada a criação de gado e outra uma
área de cultivo com plantação de caju.
Em cada uma das áreas estudadas foram estabelecidos três transectos paralelos
distanciados 20 m entre si, nos quais foram instalados cinco pontos de coleta também a cada 20
m de distância um do outro. Em cada ponto foi montada uma armadilha de solo do tipo pitfall,
totalizando 15 armadilhas por área. O pitfall utilizado consistia em um reservatório descartável
de 20 cm de altura e abertura de raio de 7 cm, contendo formalina a 4% e detergente, as quais
foram enterradas ao nível do solo. Essas armadilhas permaneceram no campo por sete dias.
Após este período todas eram retiradas e as amostras mantidas em solução de álcool a
70% para posterior triagem e identificação. Para isso foram levadas para o Laboratório de
Biologia do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), campus Picos,
onde efetuou-se a identificação, contagem e separação dos animais capturados com auxílio de
microscópios estereoscópios.
3. Resultados e discussões
Um total de 362 indivíduos foram coletados destes, 343 indivíduos eram da classe
Arachnida (94,75%) e 19 da classe Chilopoda (5,25%). Dentre as ordens de Arachnida
amostradas, Aranae se destacou com um total de 307 indivíduos (84,81%), seguida de Opiliones
(n = 26; 7,18%). Pseudoescorpiones (n = 7; 1,93%) e Scorpiones (n = 3; 0,83%), foram as ordens
que se apresentaram com menor representatividade. Com relação a classe Chilopoda predominou
Scolopendromorpha (n = 19).
Do total de animais coletados, 172 indivíduos ocorreram na área de cultivo (47,51%), 124
na mata (34,25%) e 66 no pasto (18,23%). No cultivo três ordens de Arachnida foram
amostradas com Aranae sendo a mais representativa (n = 162; 94,19%), seguida de
Pseudoescorpiones (n = 2; 1,16%) e Opiliones (n = 1; 0,58%). Nesta área Scolopendromorpha
foi representada por sete indivíduos (4,07%).
Na mata quatro ordens foram amostradas: Aranae (n = 85; 68,55%), Opiliones (n = 25;
20,16%), Pseudoescorpiones (n = 5; 4,03%) e Scorpiones (n = 1; 0,81%). Para a classe
Chilopoda, Scolopendomorpha ficou representada por oito indivíduos (6,45%).
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O pasto foi representado por apenas duas ordens de Arachnida, com Aranae também
apresentando-se com maior abundância (n = 60; 90,91%), seguida de Scorpiones (n = 2; 3,03%).
Quatro indivíduos de Scolopendromorpha foram amostrados (6,06%).
A ocorrência de maior abundância de Arachnida e Chilopoda na área do cultivo observada na
presente pesquisa pode ser explicada pelo fato da primeira área apresentar uma maior
disponibilidade de matéria orgânica que as demais áreas amostradas, favorecendo a ocorrência
de maior número de animais invertebrados decompositores, presas dos animais dos grupos
amostrados. Além disso, a presença de maior quantidade de matéria orgânica no solo e biomassa,
proporcionada pelas chuvas na região, favorecem o microclima edáfico e, consequentemente, o
desenvolvimento dos animais que nele habitam. Segundo Jacobs et al. (2007) fatores climáticos
são limitantes para crescimento da população de organismos do solo, reforçando as informações
obtidas com o presente trabalho.
4. Considerações finais
Na Caatinga, sabe-se que a estação chuvosa provoca modificações na estrutura vegetal, as
quais influenciam diretamente os animais dos grupos trabalhados. Fatores bióticos e abióticos,
como cobertura vegetal e precipitação podem interferir tanto na abundância, quanto na
diversidade desses animais. O maior número de aracnídeos na área do cultivo pode ter ocorrido
por esta apresentar elevada quantidade de matéria orgânica no solo e biomassa se comparada
com as demais, favorecendo o desenvolvimento de insetos decompositores que servirão de
alimento para os aracnídeos e quilópodes, estritamente predadores. Apesar de ser um grupo
importante, é raro o levantamento da abundância e diversidade desses animais em regiões de
clima semiárido, como a Caatinga, o que indica a necessidade da realização de estudos mais
detalhados sobre os grupos na região.
5. Referências
AQUINO, R.C.T. et al. Escorpiões, Aranhas e Serpentes: aspectos gerais e espécies de interesse médico no Estado
de Alagoas, Macéio: EdUFAL, 2005.
BUCHER, E.H. Chaco and caatinga South American arid savannas, woodlands and thickets. In: HUNTEY, B.J.;
WALTHER, B.H. (Ed.). Ecology of tropical savanas. New York: Springer-Verlag. p. 48-79. 1982.
BUZZI, Z.J. Entomologia didática. 4. ed. Curitiba: Editora UFPR. 2005. 346p.
COSTA, C.S.R; ROCHA, R.S. Invertebrados Manual de aulas práticas. Ribeirão Preto: Holos Editora, 2002.
FERRI, M. G. Vegetação Brasileira. Belo Horizonte. Editora Itatiaia. 1980. 157p.
JACOBS, L. E. et. al. Diversidade da fauna edáfica em campo nativo, cultura de cobertura milho + feijão de porco
sob plantio direto e solo descoberto.In: XXXI CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, Gramado.
Anais... Gramado, SBCS, 2007.
PLATNICK, N.I. The world spider catalog, version 4.5.American Museum of Natural History. 2004.
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