Notas Musicais show 12/08/2015 Ler a materia

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Notas Musicais show 12/08/2015 Ler a materia
Notas Musicais
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
Sob direção de Elias, Cozza se depura em cena em seu melhor show, 'Partir'
Resenha de show
Título: Partir
Artista: Fabiana Cozza (em foto de Rodrigo Goffredo)
Local: Teatro do Sesc Ginástico (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 11 de agosto de 2015
Cotação: * * * * *
♪ Partir é o melhor show de Fabiana Cozza. Desde que surgiu no mercado fonográfico,
há dez anos, a cantora paulistana sempre se portou como senhora da cena, apresentando
shows excelentes, calcados na força natural de sua voz. Mas Partir é o ápice da
trajetória de Cozza nos palcos. Sob a direção do ator paranaense Elias Andreato, a
intérprete se depura em cena, com equilíbrio preciso de canto, gestos, expressões,
coreografias, sonoridade e repertório. Até o figurino e o cenário - uma projeção virtual
do portão exposto na capa do recém-lançado álbum Partir (Agô Produções, 2015), mote
do show - contribuem para manter a atmosfera de elegância e encantamento que rege
esse espetáculo que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na noite de ontem, 11 de agosto de
2015, em apresentação no teatro do Sesc Ginástico. A aura de beleza se instaurou em
cena logo no primeiro número, Velhos de coroa (Sérgio Pererê, 2012), grande música
lançada pela cantora mineira Titane há três anos que encontrou em Cozza sua melhor
intérprete. Além do samba, Cozza tem o dom de garimpar repertório, colhendo ouros de
alto quilate para moldar suas joias fonográficas. Metade do repertório do álbum Partir é
composto por regravações de músicas já lançadas em discos alheios. Mas, no todo, esse
repertório traça - no disco e no show - roteiro consistente, que leva Cozza à Bahia em
rota intercontinental que inclui escalas na África, na Argentina, em Cuba (evocada no
bis com Borzeguita, tema de Leandro Medina que cai no suingue da América Central) e
no Rio de Janeiro - porto do samba Fim da dança (Moyseis Marques e Vidal Assis,
2015), único número menos arrebatador, mas ainda assim coerente com a rota do
roteiro. Calcada na interação de cordas e percussões, a sonoridade do disco é transposta
para o palco sem perda do viço. A opção por dispor os percussionistas (Douglas Alonso
e Felipe Roseno) de um lado do palco e os músicos das cordas - os violonistas Leo
Mendes e Swami Jr. (produtor do disco) e o baixista Marcelo Mariano - do lado oposto
acaba por realçar a fina mistura que pauta o álbum e o show. Estrategicamente
posicionada ao centro do palco, entre as cordas e as percussões, a própria Cozza toca
eventualmente algum instrumento, como o ukelele que adorna Entre o mangue e o mar
(Alzira E e Arruda) e o pandeiro com que redivide O samba é meu dom (Paulo César
Pinheiro e Wilson das Neves, 1996), passeando à vontade na rítmica desse samba que já
nasceu clássico. É nessa levada que Cozza lapida joias como Le Mali chez la carte
invisible (2014) - canção em francês no qual o compositor baiano Tiganá Santana versa
poeticamente sobre a invisibilidade da África aos olhos do mundo - e Chicala (João
Cavalcanti, 2015), tema que estiliza acentos africanos. Passada pelo filtro da Bahia, a
África se faz presente em números como Orixá (Roberto Mendes sobre poema de Jorge
Portugal, 2007), Roda de capoeira (Vicente Barreto e Paulo César Pinheiro, 2015) tema que remete à pulsação dos afro-sambas dos anos 1960 - e Mama Kalunga (Tiganá
Santana, 2015), saudação às águas que intitulou o quinto álbum da cantora baiana
Virgínia Rodrigues, lançado em abril deste ano de 2015, dois meses antes de Cozza
apresentar Partir, também seu quinto álbum. Música lançada pela cantora baiana
Jurema no álbum Mestiça (Saravá Discos, 2014), um dos melhores discos do ano
passado, o samba Não pedi (Roberto Mendes e Nizaldo Costa) põe, na rota de Cozza, a
batida do Recôncavo Baiano em cena, no toque do violão de Léo Mendes, músico
natural de Santo Amaro da Purificação (BA), destino final do show, antes do arremate
cubano do bis. Filho de Roberto Mendes, Léo Mendes toca também o violão que
conduz Voz guia (Roberto Mendes e Jorge Portugal, 1996). Há músicas do disco Partir
que crescem (ainda mais) no show. Canção romântica de Roberto Mendes e Nizaldo
Costa, Teus olhos em mim (2015) é uma delas. É momento sublime que prepara o clima
romântico e tristonho do bolero argentino Vete de mi (Virgílio Expósito e Homero
Expósito, 1946), grande surpresa do roteiro. Nesse número, Cozza canta acompanhada
somente do violão de Swami Jr. Da Argentina, Cozza segue direto para a Bahia,
fazendo saudações aos orixás e cantando duas obras-primas da parceria dos
compositores baianos Gerônimo e Vevé Calazans (1947 - 2012), Agradecer e abraçar
(1986) e É d'Oxum (1985), com direito à citação de Ê menina (João Donato e
Guarabyra, 1975) entre uma e outra joia. Dona do dom, Fabiana Cozza segue roteiro
sem erro na viagem musical de Partir, lindo show da artista.
Mauro Ferreira às 16:32

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