Socorro de Fátima P. Barbosa - Associação Internacional de

Transcrição

Socorro de Fátima P. Barbosa - Associação Internacional de
VEREDAS
Revista da Associação Internacional de Lusitanistas
VOLUME 19
SANTIAGO DE COMPOSTELA
2013
A AIL – Associação Internacional de Lusitanistas tem por finalidade o fomento dos
estudos de língua, literatura e cultura dos países de língua portuguesa. Organiza
congressos trienais dos sócios e participantes interessados, bem como co-patrocina
eventos científicos em escala local. Publica a revista Veredas e colabora com instituições nacionais e internacionais vinculadas à lusofonia. A sua sede localiza-se
na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em Portugal, e seus órgãos
directivos são a Assembleia Geral dos sócios, um Conselho Directivo e um Conselho Fiscal, com mandato de três anos. O seu patrimônio é formado pelas quotas
dos associados e subsídios, doações e patrocínios de entidades nacionais ou estrangeiras, públicas, privadas ou cooperativas. Podem ser membros da AIL docentes
universitários, pesquisadores e estudiosos aceitos polo Conselho Directivo e cuja
admissão seja ratificada pela Assembleia Geral.
Conselho Directivo
Presidente: Elias Torres Feijó, Univ. de Santiago de Compostela
[email protected]
1.º Vice-Presidente: Cristina Robalo Cordeiro, Univ. de Coimbra
[email protected]
2.ª Vice-Presidente: Regina Zilberman, UFRGS
[email protected]
Secretário-Geral: Roberto López-Iglésias Samartim, Univ. da Corunha,
[email protected]
Vogais: Benjamin Abdala Junior (Univ. São Paulo); Ettore Finazzi-Agrò (Univ. de
Roma «La Sapienza»); Helena Rebelo (Univ. da Madeira); Laura Cavalcante Padilha (Univ. Fed. Fluminense); Manuel Brito Semedo (Univ. de Cabo Verde); Onésimo Teotónio de Almeida (Univ. Brown); Pál Ferenc (Univ. ELTE de Budapeste);
Petar Petrov (Univ. Algarve); Raquel Bello Vázquez (Univ. Santiago de Compostela); Teresa Cristina Cerdeira da Silva (Univ. Fed. do Rio de Janeiro); Thomas Earle
(Univ. Oxford).
Conselho Fiscal
Carmen Villarino Pardo (Univ. Santiago de Compostela); Isabel Pires de Lima
(Univ. Porto); Roberto Vecchi (Univ. Bolonha).
Associe-se pela homepage da
AIL: www.lusitanistasail.org
Informações pelos e-mails: [email protected]
Veredas
Revista de publicação semestral
Volume 19 – Junho de 2013
Diretor:
Elias J. Torres Feijó
Editora:
Raquel Bello Vázquez
Conselho Redatorial:
Andrés José Pociña Lopez, Anna Maria Kalewska, Axel Schönberger, Clara Rowland,
Cleonice Berardinelli, Helder Macedo, Maria Luísa Malato Borralho, Sebastião Tavares
Pinho, Sérgio Nazar David, Ulisses Infante, Vera Lucia de Oliveira. Por inerência: Benjamin Abdala Junior, Cristina Robalo Cordeiro, Ettore Finazzi-Agrò, Helena Rebelo, Laura
Cavalcante Padilha, Manuel Brito Semedo, Onésimo Teotónio de Almeida, Pál Ferenc, Petar Petrov, Regina Zilberman, Roberto López-Iglésias Samartim, Teresa Cristina Cerdeira
da Silva, Thomas Earle.
Redação:
VEREDAS: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas
Endereços eletrônicos: [email protected]; [email protected]
Desenho da Capa: Atelier Henrique Cayatte – Lisboa, Portugal
Impressão e acabamento:
Campus na nube, Santiago de Compostela, Galiza
ISSN 0874-5102
AS ATIVIDADES DA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE LUSITANISTAS TÊM O
APOIO REGULAR DO INSTITUTO CAMÕES
SUMÁRIO
Nota introdutória.....................................................................................................7
BARBARA GORI
Antero de Quental e o (des)encanto com o naturalismo metafísico alemão...........9
CLAUDETE DAFLON
Uma proposta de reflexão: literatura e ciência entre luso-brasileiros
setecentistas...........................................................................................................25
FILIPA MEDEIROS
«Cantando espalharei por toda a parte» Estratégias de marketing político no
Barroco: os emblemas fúnebres em honra da rainha D. Maria Sofia Isabel.........49
MARIA APARECIDA RIBEIRO
Moema, um episódio romântico no Barroco brasileiro e suas projeções até os
nossos dias............................................................................................................71
MARIA DA GRAÇA GOMES DE PINA
D. Francisco Manuel de Melo, autor e ator da «comédia do tempo»...................93
MARIA TERESA NASCIMENTO
A devoção mariana no diálogo português do Barroco........................................137
REGINA ZILBERMAN
O Resumo de História Literária, de Ferdinand Denis: história da literatura
enquanto campo de investigação........................................................................149
ROLF KEMMLER
Para uma melhor compreensão da história da gramática em Portugal: a gramaticografia portuguesa à luz da gramaticografia latino-portuguesa nos séculos
XV a XIX............................................................................................................173
SARA AUGUSTO
Ut pictura fictio. Ficção romanesca do maneirismo e do barroco......................205
SOCORRO DE FÁTIMA P. BARBOSA
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo e a murmuração da
corte no primeiro reinado....................................................................................229
Nota introdutória
O presente número da revista Veredas é um monográfico dedicado aos estudos devotados a um dos períodos menos atendidos dentro
dos estudos lusófonos, o que decorre entre a morte de Luís de Camões e
o início do Romantismo.
Em 2012, a Associação Internacional de Lusitanistas, ciente da
lacuna que afetava ao referido período, convocou especialistas em diferentes áreas da produção cultural dos séculos XVII e XVIII a participarem num colóquio em Budapeste. Pedia-se a apresentação de trabalhos arriscados, pesquisas em andamento, hipóteses ainda em fase de
comprovação. Após o colóquio, com interessantes e intensos debates.
foi oferecido às pessoas participantes elaborarem as suas comunicações
como artigos e submetê-los a publicação na revista Veredas.
Os textos foram submetidos à revista e avaliados pelo sistema
convencional de duplo cego. Parte deles são agora aqui recolhidos, outros serão publicados em próximos números da revista. Todos eles beneficiaram de um elevado grau de elaboração, e a prova disto é que frente
a um índice de aprovação média que não alcança 50% dos originais
submetidos à Veredas, nesta ocasião a percentagem de aprovação de trabalhos superou 70%. O resultado, é um volume em que aspectos pouco
tratados nos estudos lusófonos são estudados com uma elevada qualidade científica, oferecendo não apenas resultados novos e inovadores, mas
também novos trilhos pelos quais a pesquisa poderá ser desenvolvida
nos próximos anos.
Raquel Bello Vázquez
Editora
VEREDAS 19 (Santiago de Compostela, 2013), pp. 201-236
A introdução às Cartas Chilenas ou
Epístola a Critilo e a murmuração
da corte no primeiro reinado1
SOCORRO DE FÁTIMA P. BARBOSA
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), CNPq
RESUMO
Este trabalho apresenta resultados parciais de pesquisa sobre a escrita epistolar em periódicos brasileiros do século XIX e tem como objetivo restaurar os sentidos da «Introdução às Cartas chilenas» ou «Epístola a Critilo», publicada no Jornal Científico,
Econômico, e Literário, ou Coleção de Várias Peças, Memórias, Relações, Viagens,
Poesias, e Anedota, em 1826. A autoria dessa epístola é tema corrente nos estudos da história da literatura, sempre a considerar a sua íntima relação com a Inconfidência mineira.
Esta análise, ao contrário, se aproxima do objeto a partir de suas condições de produção
de escrita à época, considerando dois aspectos precípuos, comummente esquecidos por
críticos literários e historiadores, a sátira como escrita regrada, cujo assunto é o tempo
presente, e o jornal no início do século XIX, com o uso recorrente da alegoria como
prática de escrita. Assim, considerando a murmuração dos jornais e impressos da época,
esta abordagem retoma os atos discursivos do tempo –o ano de 1826– para demonstrar a
relação que a carta mantém com os desvios de conduta do imperador D. Pedro I.
Palavras-chave: Jornais e Periódicos do Século XIX; Escrita Epistolar; Sátira; D.
Pedro I
1 Este artigo apresenta resultados parciais da pesquisa «A escrita epistolar nos quadros da cultura luso-brasileira: (1808 -1840)», em andamento, financiada com bolsa de produtividade do
CNPq, cuja pesquisa é o desdobramento de uma investigação realizada de 2009 a 2011 sobre
a escrita epistolar nos periódicos.
Socorro de Fátima P. Barbosa
202
ABSTRACT
This paper shows results of a research on the epistolary writing in Brazilian newspapers of nineteenth century and aims to restore the right sense
of the “Introdução às Cartas Chilenas” or “Epístola a Critilo,” published
on Jornal Científico, Econômico, e Literário, ou Coleção de Várias Peças, Memórias, Relações, Viagens, Poesias, e Anedota, in 1826. This
is a frequent topic in the studies on the History of Literature, which
is always considering the aspects of authorship and its intimate relationship with the «Inconfidência Mineira». The present analysis, in contrast, approaches the subject from the conditions of writing production
at that time, considering two relevant aspects, commonly overlooked
by literary critics and historians: satire as a ruled writing mode, whose
subject is the present time, and the newspaper in the beginning of nineteenth century, with the allegory recurrent uses as a writing practice.
Thus, considering the murmuring of both newspapers and printed texts
at that time, this approach drives to the discursive acts of the time –the
year 1826- to demonstrate the relationship that the letter keeps with the
misconduct of the emperor D. Pedro I.
Keywords: 19th Century Newspapers and Periodicals; Epistolary Writing; Satire; D.
Pedro I.
1. Sobre manuscritos, pseudônimos e apócrifos em periódicos do século XIX
Este estudo tem como objetivo considerar o processo de escrita
da «Introdução às cartas chilenas» ou «Epístola a Critilo», publicada no
Jornal Científico, Econômico, e Literário, ou Coleção de Várias Peças,
Memórias, Relações, Viagens, Poesias, e Anedotas, em 1826, e assinada
com as iniciais C. M. C,2 lidas como as letras do nome do mineiro Claudio Manoel da Costa. A epístola, consagrada pela história da literatura
brasileira, foi-lhe primeiramente atribuída por Varnhagen (1850), que
logo depois abandonou esta hipótese em favor de Alvarenga Peixoto,
retificando-a posteriormente. Atualmente, a autoria da «Epístola a Critilo» é atribuída a Tomás Antonio Gonzaga quando foi incorporada às
Cartas chilenas (1957; 1958), um conjunto de epístolas, primeiramente
2 Conferir os Anexos com a publicação da epístola no periódico Jornal Científico, Econômico,
e Literário.
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
203
publicado no periódico Minerva Brasiliense, em 1845.3 A autoria das
cartas e sua íntima relação com a Inconfidência mineira, como libelo e
pasquim libertário, é tema corrente nos estudos da historiografia da literatura brasileira desde o século XIX (Silva, 1865; Lapa, 1957 e 1958;
Oliveira, 1972). Este trabalho, ao contrário, se aproxima desse objeto a
partir das condições de produção de sua escrita à época, considerando
dois aspectos precípuos a esta epístola, comummente esquecidos por
críticos literários e historiadores: a sátira como escrita regrada, que tem
como assunto o tempo histórico de sua enunciação e a cultura escrita
que a carrega, no caso dessa epistola, o jornal do início do século XIX,
que utilizou sobremaneira a alegoria como prática escriturária (Barbosa,
2007).
Ao retomar o estudo desta epístola, a partir de sua primeira publicação no Jornal Científico, Econômico, e Literário, ou Coleção de
Várias Peças, Memórias, Relações, Viagens, Poesias, e Anedotas, em
1826, sem considerar as apropriações, as adaptações e os vários usos
que dela foram feitos pela posteridade, compreendo que a pesquisa dos
objetos literários, em periódicos do século XIX, não deve retirar os
textos escolhidos do seu contexto de produção, mas confrontá-los com
os modos de ler e de escrever do tempo que, geralmente, são diversos
daqueles elaborados pelos historiadores. Para tanto, não basta enunciar
a filiação política dos jornais, tampouco considerar este suporte como
arquivo morto, depositário de relíquias preciosas da literatura brasileira
(Barbosa, 2007), mas analisar os procedimentos de escrita adotados pelo
proprietário ou pelo redator, bem como o diálogo que o periódico estabelece com outros jornais e os discursos do seu tempo dos quais se julga
suficiente apenas extrair os indícios de realidade.4
3 Neste trabalho evito as questões célebres sobre autoria, originalidade, paródia, crítica e,
principalmente, a que estabelece uma relação entre os versos desta Epístola e as Cartas
Chilenas (1845), de Tomás Antonio Gonzaga já editadas (Gonzaga, 1957; Gonzaga, 1958).
Para maiores informações, remeto o leitor para o exaustivo trabalho de Joaci Furtado (1997),
no qual encontrará além de uma bibliografia completa sobre o assunto, uma acalorada
discussão sobre todas as apropriações que as Cartas Chilenas tiveram desde o século XIX. O
trabalho do escritor, contudo, não aborda a versão publicada no Jornal Científico (1826).
4 Foi na construção desta pesquisa metodológica, desenvolvida desde 2009, quando dei
início a uma investigação sobre a escrita epistolar nos periódicos, que passei a questionar
a construção desta epístola, publicada primeiramente em um periódico, com todos os
mecanismos de escrita próprios às práticas de funcionamento dos periódicos do século XIX,
204
Socorro de Fátima P. Barbosa
O Jornal Científico tinha como redatores Felisberto Inácio
Januário Cordeiro, que serviu diversos cargos públicos, e José Vitorino
dos Santos, professor de geometria descritiva da Real Academia Militar,
desde o período joanino teve apenas três números, maio, junho e julho
de 1826, e deixou de circular por ter conseguido apenas 5 assinantes, o
que não dava para pagar as despesas de impressão, como sugere a sua
lacônica despedida: «e está, portanto, paralisada uma empresa, aliás louvável e proveitosa, por isso mesmo que, –sendo ditas despesas bastantemente avultadas, não é possível aos abaixo assinados efetuá-las sem
o auxílio de suficientes subscrições» (Jornal Científico, 1826, 270, V.
III).5 E seria mais um entre as dezenas de periódicos da época, esquecidos pela história da literatura, não fosse a publicação do poema «Vila
Rica» e da «Introdução à Epístola a Critilo», dois textos aos quais se
pode aplicar a categoria segundo a qual, alguns escritos anteriores ao
romantismo são «capturados como prenúncio do Advento, prefigurando
o progresso futuro da Identidade Nacional» (Hansen, 1997: 12).
A história da construção deste monumento tem início quando
Rodrigues Lapa, confiante nas informações recebidas de terceiros, registra haver no Jornal Científico referências que indicam serem as Cartas
Chilenas de autoria de Gonzaga. Ao contrário do que afirma Rodrigues
Lapa, não há nos três números do Jornal Científico qualquer referência
às Cartas Chilenas. O historiador e maior estudioso deste assunto, no
afã de comprovar a sua hipótese de ser o poeta mineiro o autor da epístola, constrói este fato literário sem ter consultado o jornal, tampouco ter
lido Helio Viana, a quem atribui a informação de encontrar-se no Jornal
Científico dados relativos à autoria da carta. Como revela em nota de
rodapé,6 esta informação, reproduzida sempre como fato comprovado,
lhe foi transmitida de segunda mão, por Afonso Pena (Lapa, 1958: 12).
mas romanticamente apropriada por historiadores daquele tempo. Conferir VARNHAGEN
(1850).
5 Para efeito de uniformização, nas citações da «Epístola a Critilo» usarei apenas os dois
primeiros nomes: «Jornal Científico», seguido das iniciais C. M. C.
6 A nota afirma o seguinte: «não podendo haver à mão, no momento em que escrevíamos isto,
livro de Hélio Viana, devemos estas informações ao Dr. Afonso Pena Júnior, que consultou
pessoalmente o referido prospeto»(Lapa, 1958: 12).
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
205
Decerto que os redatores tinham como objetivo a publicação de
manuscritos, como se observa na passagem a seguir extraída do primeiro número de o Jornal Científico (grifos meus):
O de publicar de várias maneiras, vantajosa para o Brasil, onde parece
ter havido omissão em se vulgarizarem pela Imprensa, (por este, ou por
outro algum meio útil) muitas e excelente obras, raros e interessantes
manuscritos que tanto no nosso idioma como nas línguas estrangeiras existem e são dignos de chegar ao conhecimento dos Brasileiros[...].
Lida na perspectiva daquele tempo presente deve-se considerar
que os manuscritos elencados pelos editores estão no rol dos impressos
existentes à época, os quais se constituíam em uma das formas de publicação de escritos, mas representavam um modo de divulgação da cultura
escrita que não se opunha, nem se confrontava aos impressos (Chartier,
2002). Esta tese também é defendida por Lisboa (2011: 19) que estuda
as gazetas manuscritas de Portugal. Para ele, «os mundos do impresso e os mundos do manuscrito relacionavam-se, competiam, completavam-se por toda a Europa, entre o século XV e XVIII». No Brasil, a
circulação de manuscritos não ocorreu, como romanticamente nos foi
transmitido, apenas como um modo de subversão às proibições da coroa
portuguesa de impressão na Colônia. É Lisboa (2011) quem dá notícias
do artigo de Ferlini (1984), que reproduz e analisa um manuscrito do
período colonial com o título de Gazeta de Pernambuco. Ademais, ao
contrário de uma concepção romântica e anacrônica, os manuscritos não
devem ser concebidos apenas como tesouros não publicados dos grandes autores da literatura brasileira, mas devem ser incluídos no rol das
publicações populares, de uma prática de escrita na qual estão inseridos
«outros escritos expostos (anúncios, libelos, pasquins, grafite etc.) [que]
trazem um conteúdo subversivo: difamam os indivíduos, ridicularizam
os poderosos, denunciam os poderes» (Chartier, 2002: 81). Com isso,
refuta-se outra concepção anacrônica e romântica sobre os manuscritos,
atualizada em várias leituras sobre o século XIX, que lhes atribui certo
206
Socorro de Fátima P. Barbosa
caráter subversivo, de objeto escondido, que teria ficado intocado, sem
qualquer circulação ao longo dos anos. Os manuscritos, como demonstram as devassas, os testamentos e a história da leitura e dos impressos,
circulavam entre os leitores do mesmo modo que os livros, sendo a cópia uma das práticas correntes de leitura e de escrita7. Segundo Chartier,
desde o século XVI que a Europa testemunha em inventários a importância e a frequência desses papeis manuscritos, «escritos do cotidiano
e do privado» que assumem formas como «livros de contas, livros de
razão, cartas, bilhetes etc» (Chartier, 2002: 83). No mundo luso tem-se
o caso de O Reino da Estupidez, de Mello Franco, uma sátira à Universidade de Coimbra, que teria circulado em forma manuscrita em 1785,
quando da saída do seu autor da prisão. Ademais, não se deve esquecer o fascínio que os manuscritos perdidos exerceram sobre a história
de várias obras, entre elas Cardenio, de Shakespeare (Chartier, 2012),
«cujo desaparecimento cria uma falta intolerável». No caso português,
trata-se de um topos recorrente desde a Crônica do Imperador Clarimundo, de João de Barros, no século XVI. A abordagem da «Epístola a
Critilo» (Jornal Científico: C. M. C., 1826), no contexto deste artigo, é
uma tentativa de desarticular os princípios de uma «ordem do discurso»,
nascida em começos do século XVIII, que se baseava, segundo Chartier
(2012: 266) «na individualização da escrita, na originalidade das obras
e na canonização do autor». A esta «nascente ordem do discurso» no
caso brasileiro foram acrescidos dois novos ingredientes: a Inconfidência Mineira e o nacionalismo literário que, como afirma Hansen (1997:
12), já citado anteriormente, via em todas as obras o prenúncio de uma
«Identidade Nacional».
7 É o que se observa nas palavras de Manuel Ignacio Silva Alvarenga, ao responder à
diligência do Desembargador Antonio Diniz da Cruz: «E logo foi mais perguntado por ele,
Desembargador-chanceler, se, com efeito, se havia feito a dita sátira, se ele, respondente,
fora o autor dela, ou se a vira e a publicara, e contra quem ela se dirigia. [...]. Respondeu
que ele não fora o seu autor, mas que só a vira por lha introduzirem por baixo da porta;
que ela constava de diversos sonetos que demonstravam se feitos por diversos, não só pela
diversidade das letras, mas pela diversidade dos estilos; e que o sujeito contra quem os
mesmo sonetos se dirigiam era um religioso ou dois Santo Antonio, dos quais só lhe parece
chamar- se um Frei Raimundo». Autos da Devassa: prisão dos letrados do Rio de Janeiro,
1794. [Fábio Lucas et al]. 2.ª ed. Rio de Janeiro. Eduerj, 2002, p. 149.
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
207
2. A sátira: fere para corrigir
Ao abordar o Jornal Científico o leitor da atualidade não pode
deixar de observar que, em 1826, os jornais da corte dividiam-se entre
os áulicos, como era o caso de O Spectador Brasileiro, o Diário Fluminense e a Gazeta do Brasil e os de oposição, alguns censurados, como
O Verdadeiro Liberal, «cujo diretor Pierre Chapuis foi expulso do país»
(Sodré, 1997: 99). O Diário do Rio de Janeiro, por sua vez, pregava
isenção política mas se não tinha o caráter áulico, também se prestou a
publicar declarações e editais do Império, e não apenas os anúncios de
manteiga e de outras mercadorias que lhe valeram o epíteto de «Diário
da Manteiga» e «Diário do Vintém». Em dois momentos, observa-se que
o Jornal Científico buscou se diferençar daqueles de oposição, no que
tinham de virulentos e na maneira como abordariam o tema de interesse
central dos periódicos da época: a política. Nesse primeiro momento,
representado pela passagem a seguir, os redatores demonstram o tom do
seu jornal já na sua apresentação. Não se trata de mais um libelo contra
a Coroa, mas de uma obra patriótica, motivo que corrobora o teor de
correção dos costumes, e não de oposição ao governo, observados na
«Introdução às Cartas chilenas ou Epístola a Critilo» (Jornal Científico,1826: 3/4. Grifos meus):
A empresa em que vão entrar os dois Amadores das Ciências, e das
Artes, é entre os testemunhos de Patriotismo um dos que mais acreditam aqueles que se interessam vivamente pela glória, e prosperidade
Nacional. Este Periódico digna produção dos Autores dos Anais
Científicos nos vem vingar da vergonha que tem lançado sobre nós
algumas folhas, em outros tempos apareceram; e que hoje recomeçam a aparecer com o mesmo execrando rito.
O outro aspecto que interessa de perto à leitura que se propõe
neste artigo é o de observar o modo como os redatores pretendem incluir
a política no repertório de assuntos do jornal. A citação é longa, mas fundamental para a compreensão da hipótese que defendo, segundo a qual,
208
Socorro de Fátima P. Barbosa
a «Introdução às Cartas chilenas ou Epístola a Critilo» é uma composição de 1826, que utiliza a sátira para criticar o comportamento obsceno
do Imperador (Jornal Científico,1826: 95/96. Grifos meus):
Temos, porém certeza de que, alguns sujeitos tem condenado no
Jornal a falta de mais um título geral, qual o de = Política =, por
isso mesmo que este ramo é talvez aquele que, bem ou mal entendidamente, mais os interessa […]. As Considerações sobre a Liberdade da
Imprensa = a Memória sobre a divisão e assoreamento dos terrenos, =
e as Providências = que lembramos serem indispensavelmente precisa,
&c. &c., parece-nos que bem demonstram, que o artigo = Política =
será indireta, útil e circunspectamente por nós desenvolvido, independente do maior aparato, que poderia dar-lhe um outro Título
geral reservado para a sua explanação.
Para os leitores da época, era possível ler a epístola a partir de
uma relação indireta estabelecida entre aquilo que estava escrito no jornal e a sua matéria. Outro aspecto fundamental desta epístola retirado de suas versões posteriores foram as notas de rodapé, presentes na
publicação original que, conforme veremos, duplicavam o seu sentido,
favorecendo a sua leitura. O redator refere-se, sobretudo, à linguagem
alegórica, tão presente à época, capaz de abordar de forma segura os
mais variados assuntos. No dizer de Lopes Gama (1846: 146), um homem daquele tempo, «a alegoria é muitas vezes um meio astucioso de
dar lições a homens, a quem a cegueira das paixões ou orgulho do poder
faria cegos, ou rebeldes à verdade. A alegoria torna-se necessariamente
o tropo usual do escravo que quer dar a entender suas queixas legítimas
sem o risco de ofender ao seu senhor». Razão pela qual, justifica-se o
estilo empregado –a sátira, uma forma de linguagem alegórica– para
consertar os vícios do imperador, a partir de uma das maneiras mais eficazes de escrever política de forma «indireta, útil e circunspecta», como
o querem os redatores do Jornal Científico.
Em face de todas essas considerações, lê-se aqui esta epístola
como sendo produzida, como já foi dito anteriormente, a partir de duas
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
209
considerações de ordem teórico-metodológica: trata-se de escrito de um
gênero específico, a sátira, concebido como uma escrita regrada, cuja
referência não deve ser «postulada fora do funcionamento de um tipo
(ou tipos) e de uma convenção literária no discurso poético» (Hansen,
1989: 36). Escrita e compreendida a partir da sua publicação em um periódico do início do século XIX, aplica-se nesta leitura da «Introdução
às Cartas chilenas ou Epístola a Critilo» todas as estratégias de escrita
previstas pelo gênero sátira e pelo suporte jornal, entre as quais estão o
anonimato, o uso de iniciais, a dissimulação e o disfarce como estratégias retóricas de convencimento e de encobrimento, sendo todas compreendidas e decifradas pelos seus leitores contemporâneos (Barbosa,
2011). Dessa forma, passa-se a tratar a «Introdução às Cartas chilenas
ou Epístola a Critilo» a partir dos critérios previstos para a sátira, os
quais compreendem a sua «função social de reconhecimento», supondo
que sua historicidade «de modo algum [é] exterior ou posterior à sua
própria história», por isso, não é conveniente interpretar a sátira, uma
vez que «nada oculta», mas «antes relacioná-la com outras práticas e
eventos contemporâneos dela» (Hansen, 1987: 472). Depois, é preciso considerar que, no que concerne à sátira, desde sempre houve uma
relação muito estreita entre ela e a política no sentido mais amplo. Segundo
Hodgart (2009: 38):
a sátira não é apenas a forma mais comum da literatura política, mas,
na medida em que tenta influenciar o comportamento do público, é a
parte mais política de toda a literatura [...].
Os inimigos da sátira são tirania e provincianismo, que muitas vezes
andam juntos. Tiranos não gostam de qualquer forma de crítica, porque
nunca sabem onde levará e na vida provincial livre crítica é sentida
como subversiva da ordem e da decência [...]. Sátira política precisa de
[...] um pouco de sofisticação: sofisticação política (tanto o humorista
como o seu público devem compreender alguns dos processos de política) e sofisticação estética (o humorista deve ser capaz de contemplar
o cenário político com humor e desprendimento, bem como com paixão, ou ele vai produzir apenas polêmica bruta).
210
Socorro de Fátima P. Barbosa
A sátira é, portanto, uma escrita do tempo presente e como forma mista «implica apropriação, interpolação, alteração, falsa atribuição
etc. Nela, o plágio é estrutural» (Hansen, 1989: 44). Por isso, pode-se
compreender ao mesmo tempo como arranjo da sátira e da escrita jornalística a publicação da «Introdução às Cartas chilenas ou Epístola a
Critilo» antecedendo o canto do poema Vila Rica, que é publicado sob
o nome completo de Claudio Manuel da Costa e do seu pseudônimo,
enquanto que à epístola é apenas associado o conjunto de iniciais C.
M. da Costa. O efeito é programático e visa sustentar o verossímil da
persona satírica e, ao contrário do que supõe Furtado (1997: 40), as
iniciais não estabelecem «uma clara associação entre o nome de Cláudio
Manuel da Costa e essa parte da sátira». Dessa forma, se atentamos para
as relações de autoria da época (Foucault, 1992), podemos ler os versos de Vila Rica como uma interpolação, uma vez que as inicias C. M.
da Costa obrigatoriamente não remetem à pessoa do poeta. Dizendo de
outro modo, observa-se na estratégia de criação desta epístola um modo
verossímil com o que se concebia e se conhecia sobre os manuscritos à
época (Chartier, 2002: 96):
O manuscrito moderno herda essa estrutura livresca que associa em
um mesmo objeto textos de autores e, às vezes, gêneros diferentes. A
consequência é o desaparecimento da «função-autor» (para retomar a
expressão de Foucault), isto é, a atribuição da obra ou das obras presentes em um mesmo livro a um nome próprio identificável em sua
singularidade.
A favor deste argumento dois dados históricos: o primeiro é proveniente do corpo do próprio jornal quando informa em nota de rodapé
sob o título de Poesia e Belas Letras: «todos os versos, de qualquer
natureza que sejam, que debaixo deste título geral foram incluídos nos
diferentes números deste Jornal sem declaração de nome de autor, são
feitos por um dos Redatores». (n. II: 147). O pseudônimo à época não
era considerado «declaração do nome de autor»; o segundo, considera a
informação do Dicionário de Pseudônimos e Iniciais de Escritores Por-
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
211
tugueses no qual se observa que um dos redatores do jornal, Felisberto
Inácio Januário Cordeiro, escrevia com as seguintes iniciais: D. J. A. C.;
T. J. J. C. e as que representavam o seu nome, F. I. J. C.; além dos pseudônimos Falmeno e Um Lisbonense. Como se observa, apenas uma das
indicações de suposta autoria com letras corresponde às iniciais do seu
nome, revelando-se, portanto, que sua presença na assinatura de textos
da época não mantinha uma relação de obviedade ou de transparência
com o nome do autor. Este último dado deve ser considerado como norma para a leitura de textos poéticos, retóricos e políticos publicados nos
periódicos pelo menos até meados do século XIX.
Em linhas gerais, a poesia nos periódicos da época, na qual está
incluída a epístola satírica objeto deste estudo, deve ser compreendida à
luz de alguns pressupostos: o primeiro deles diz respeito à presença das
regras da retórica e da poética, partilhadas pelos leitores, que previam
aquela escrita como didática ou de convencimento; segundo compreende que a linguagem alegórica garantiu aos jornalistas a chave para uma
escrita livre e insolente, ao mesmo tempo em que deu aos leitores a possibilidade de ler nos textos ali publicados sempre o sentido figurado que
carregavam (Barbosa, 2011). Seguindo o percurso investigativo levado
a cabo por João Adolfo Hansen (1989) no estudo da sátira atribuída a
Gregório de Matos, no qual propõe recuperar os atos discursivos contemporâneos a partir das «Atas da Câmara e das Cartas do Senado»,
esta abordagem retoma os atos discursivos do tempo –o ano de 1826–
através dos periódicos da época, do relato de estrangeiros, das cartas de
Leopoldina e das de D. Pedro para Domitila. Considerando que estes
contêm os atos discursivos da parcela letrada da população, traduzidos
em opiniões, murmurações, narrações, críticas, elogios sobre a figura do
Imperador. Assim, os periódicos e estes relatos, tal qual as atas e cartas
da Bahia do Dezessete, utilizadas por Hansen, «permitem estabelecer
uma cartografia móvel de eventos e posições que, na circunstância de
sua representação discursiva, relacionam-se ora de modo conflitivo, ora
de modo adesivo, entre si e com seus objetos de intervenção segundo a
hierarquia» (Hansen, 1989: 72).
Dito isto, ratifica-se a hipótese de que a «Introdução às Cartas
chilenas ou Epístola a Critilo» não é uma crítica à Monarquia ou um
212
Socorro de Fátima P. Barbosa
libelo contra o Imperador, mas a encenação do que seria uma prática
decorosa e virtuosa para o Rei. Tampouco, refere-se aos desmandos do
Governador Luís da Cunha Menezes, ou mesmo à corrupção, como a
considerou a crítica romântica do século XIX, endossada pelos historiadores do século XX (Furtado, 1997). Observe-se, nos versos abaixo o
melhor argumento retórico para corroborar com a hipótese aqui defendida. A persona satírica não revela qualquer discordância com relação ao
regime monárquico, mas apenas exige do seu herdeiro a prudência e o
bom senso, prerrogativas de um soberano justo, segundo os argumentos
de Critilo, personagem da obra de Baltazar Gracian (C. M. da C., 1826:
235):
De uma estéril mortal genealogia,
Que o mérito produz de seus Maiores,
Eles, Amigo, argumentar não devem
Propalados talentos. A virtude
Nem sempre aos netos, por herança, desce.
Pode o pai ser piedoso, sábio e justo,
Manso, afável, pacífico e prudente:
Não se segue daí que um ímpio filho
Perverso, infame, díscolo e malvado,
Não desordene de seus pais a glória.
Foi Afonso Arinos de Melo (1940) quem primeiro estabeleceu
a relação do nome Critilo como sendo a referência a um personagem
célebre de Baltazar Gracian, da sua obra máxima El Criticon (1946).
Contudo, como estava preocupado com a questão da autoria, não levou
adiante o processo de imitação, citação e paráfrase como algo próprio da
escrita do tempo. Aliás, sua alusão à obra do jesuíta deve-se tão somente ao fato de seus livros terem sido encontrados no acervo de Claudio
Manuel da Costa, argumento tomado por aqueles que queriam transformá-lo em autor das Cartas Chilenas.8 El Criticon é um tratado sobre a
8 É interessante observar como são criados os fatos literários. No caso das Cartas Chilenas,
este é construído pelo nome mais autorizado a falar deste assunto: Rodrigues Lapa. Assim,
quando faz referência a Critilo também o associa ao livro de Gracian encontrado na biblioteca
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
213
moral e a condição humana, escrito de forma alegórica. Tem início com
a viagem de Critilo, um filósofo que naufragou e foi salvo em uma
ilha por um habitante, a quem o náufrago deu, não apenas o nome de
Andrenio, mas o introduziu, através do aprendizado da língua, no universo do humano, através da união de dogmas da igreja católica, como
os pecados capitais, com a filosofia greco-romana. A viagem no livro
de Gracian está dividida em três partes ou idades, também presentes na
«Introdução às Cartas chilenas ou Epístola a Critilo» nos versos «Critilo amado, Que teus escritos, de uma idade a outra Passarão, sempre
de esplendor cingidos», sendo que a primeira ocorre «Na primavera da
infância e no verão da juventude», a segunda, «Na sábia filosofia cortesã
(o outono da idade viril)» e, por fim, «No inverno da velhice» , onde se
encontra a sabedoria. Vivendo esta idade, «Critilo é o sábio, o prudente,
o culto, o varão» que foi perseguido. Alegoria da alegoria, a persona
Critilo da epístola remete a este de Gracian, um sábio, que conhece e
prega ao seu parceiro de viagem, Andrenio, as virtudes e as verdades do
reino humano, ao confrontá-lo com todos os vícios e enganos, ou o «anfiteatro de monstruosidades». Ao dirigir-se a Critilo, aquele que escreve
a carta está apresentando-lhe o seu soberano, ao mesmo tempo em que
lhe pede observância sobre a postura de seu rei. Segundo Gracian, um
príncipe de grande autoridade deve possuir grande modéstia (1943: 63). Das
potências da alma –memória, entendimento e vontade–, o entendimento
ocupa o mais puro e sublime lugar entre elas pois «é a rainha e senhora
das ações e da vida penetra, sutileza, corre, atende e entende: ele estabeleceu
o seu trono em uma libré própria cândido ileso, da alma, tudo oscuridade faltando
no conceito e toda a mancha nos afetos, massa macia e flexível, apoiando as hade Cláudio Manuel da Nóbrega, contudo, como seu trabalho visa a autoria das cartas,
estabelece rapidamente uma hierarquia entre os nomes Critilo e Doroteu sem considerar, por
exemplo, que não há qualquer menção ao último na «Epístola a Critilo», tampouco o autor
da epístola que ora analisamos tem um autor nomeado: «O autor a si mesmo se dá o nome
de Critilo, personagem conhecida do Criticon, obra do jesuíta espanhol Baltasar Grácian,
existente na livraria de Claudio Manuel da Costa. É um nome sem significação especial.
O mesmo não sucede já com o seu correspondente, Doroteu, em que parece haver, quanto
a nós, um propósito mistificador. Doroteu seria, em rigor, o namorado de Dorotéia, e este,
como se sabe, era um dos nomes de Marilia. Por isso se poderia pensar, a levarmos a sério,
que o noivo de Marília não seria o autor mas o destinatário das famosas Cartas. É hoje
opinião unanime que esse criptônimo esconde a figura do dileto amigo de Gonzaga, o Dr.
Claudio Manuel da Costa (Lapa, 1958: 151. Grifos meus).
214
Socorro de Fátima P. Barbosa
bilidades de docilidade, temperança e prudência (1943: 83). Critilo é o censor
facundo a quem o autor da epístola em análise se dirige para, através
dos versos, enfeiar os delitos com o intuito de buscar a Cândida Virtude
e a Sã doutrina (Jornal Científico, C. M. da C., 1826: 239). Na epístola,
seus ensinamentos são traduzidos pela persona satírica em versos, com
observações morais: «Vejo, ó Critilo, do chileno chefe, Tão bem pintada
a história nos teus versos. Que não sei decidir qual seja a cópia, Qual
seja o original».
Etimologicamente, o termo persona significa máscara. Na sátira,
a persona é uma convenção, ou seja, uma máscara aplicada pelo poeta
para figurar as duas espécies aristotélicas do cômico, «o ridículo e a maledicência, ou o vício não nocivo, que causa riso, e o vício nocivo, que
causa horror» (Hansen, 2004: 459). É possível observar na epístola em
análise que a persona, em princípio, se divide entre ambas as espécies,
na tentativa de encontrar o estilo que melhor se adapte ao que pretende
narrar (Jornal Científico, C. M. de C., 1826: 233):
Vejo ó Critilo, do Chileno Chefe
Tão bem pintada a historia nos teus versos,
Que não sei decidi qual seja a copia,
Qual seja o original. Dentro em minha alma
Que diversas paixões, que afetos vários
A um tempo se sujeitam! Gelo e tremo,
Umas vezes de horror, de mágoa e susto;
Outras vezes do riso apenas posso
Resistir aos impulsos. Igualmente
Me sinto vacilar entre os combates
Da raiva e do prazer. Mas ah! que disse!
A sátira permite a inconsistência da persona em duas vertentes: a
peripatética e a estoica. Na primeira, a persona interpreta «o homem honesto, civil, o cidadão, que se indigna contra os viciosos e os vícios que
corrompem sua Cidade». Na vertente estoica, a indignação da persona
é indigna, porque «irracional ou excessiva como qualquer outro vício»
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
215
(Hansen, 2004: 461/462). Muito embora tentado e vacilante, a persona
opta pela vertente peripatética e assume o caráter de cidadão exemplar,
de «censor fecundo» que, com o castigado metro, afeia os delitos, em
busca «Da cândida virtude a sã doutrina!» (Jornal Científico, C.M. de
C., 1826: 233-234):
Vejo que um Calígula se empenha
Em fazer que de Roma ao Consulado,9
Se jure o seu cavalo por Colega.
Vejo que os cidadãos, e as tropas arma
O filho de Agripina, que os transporta
Em grossos vasos sobre o Tibre, e logo
Por inimigos lhes assina os matos,
Que atacar manda com guerreiro estrondo:
Direi que me recreia esta loucura?
Que devo rir-me e sufocar o pranto
Que pula dos meus olhos? Não, Critilo,
Não é esta a moção que n’alma provo;
Por entre estes delírios, insensível,
Me conduz a razão, brilhante e sábia,
A gemer igualmente na desgraça
Dos míseros vassalos, que honrar devem,
De um Tirano o poder, o Trono, o Cetro.
Dizendo de outro modo, compreende-se que a sátira, quando trata de homens célebres e ilustres, se obriga a representar seus personagens
com exemplos conhecidos da história. Como afirma Hansen, «a sátira não
está, de modo algum, contra a moral. Ocorre nela, é certo, alguma desproporção entre a racionalidade que prescreve e o desenvolvimento dos
temas» (1987: 35, grifos do autor). No caso em apreço, a imagem da
desproporção é representada pelo imperador Calígula e sua estultice:
«Eu vejo que um Calígula se empenha Em fazer que de Roma ao Consulado, Se jure o seu cavalo por colega». Esta estratégia concede ao autor a
liberdade de «o leitor poder aplicar esses exemplos para a cena contemporânea»,
9 Ver nota no Anexo 3.
Socorro de Fátima P. Barbosa
216
ao mesmo tempo em que o inocenta de qualquer intenção subversiva (Hodgart,
2009: 38).
Em 1826, concebia-se a epístola satírica, conforme o Dicionário
da Língua Portuguesa, de António Morais Silva, como um «poema censório dos costumes, e defeitos, públicos, ou de algum particular»; o que
significa que a epístola propõe a partir de exemplos consagrados tanto
de virtude, como de falta de decoro restituir, através do grotesco e do
monstruoso, a justa medida de um reino fundado na prudência (Jornal
Científico, C. M. de C., 1826: 233):
Trata-se aqui da humanidade aflita;
Exige a natureza os seus deveres:
Nem da mofa, ou do riso pode a ideia
Jamais nutrir-se, enquanto aos olhos nossos
Se propõem do teu Chefe a infame história.
Quem me dirá, que da estultice as obras
Infestas à virtude, e dirigidas
A despertar o escândalo, conseguem,
No prudente varão, mover o riso?
A «Introdução às Cartas chilenas ou Epístola a Critilo» é, portanto, uma sátira ao Imperador D. Pedro I, cujo comportamento não
condizia com sua posição, como revelam as suas várias biografias e os
testemunhos dos estrangeiros que por aqui passaram. Em 1826, sua conduta assumiu proporções obscenas ao misturar o público com o privado. Sobre este ano, antigos e novos biógrafos do imperador (Graham,10
2010; Monteiro, 1982; Sousa, 1988; Macaulay, 1986 e Lustosa, 2007)
ressaltam-no, como aquele em que a relação dele com Domitila se torna
pública. Contudo, ainda de acordo com esses biógrafos, não era apenas
a vida amorosa e adúltera do monarca motivo para sátira, pois todos são
10Graham (2010: 81) cita vários exemplos da falta de decoro do imperador, entre os quais:
«durante o tempo em que as fragatas estavam se preparando, a atividade do Imperador era
antes a de um jovem oficial recentemente nomeado do que um soberano que iria nomear os
outros chefes».
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
217
unânimes em ressaltar a sua natureza intempestiva, a sua brutalidade e
a falta de temperança, sendo essas características de caráter psicológico
ressaltadas por uma postura muito pouco condizente com o lugar que
ocupava. No que tange à sua vida amorosa, «seu apetite sexual foi sempre excessivo e não conhecia limites nem diante da honra da família ou
do marido da mulher desejada. Não havia mulher a quem ele não lançasse um olhar avaliador!» (Lustosa, 2007: 93). É possível, através desses
dados e da analogia com Calígula que, assim como D. Pedro, mantinha
uma vida sexual promíscua (Suetônio, 2002: 262-263) e escandalosa11
compreender, como muito provavelmente o fizeram os leitores da época,
o efeito programático dos seguintes versos (Jornal Científico, C.M. de
C., 1826: 237):
Outro vai que, lascivo, e desenvolto
Só da carne as paixões adora e segue.
Honras, decoros, vós sereis despojos
Do seu bruto apetite. Em vão, cansados
Pais de família, zelareis vós outros
Da vossa casa o pundonor herdado.
Aos vis ataques do atrevido orgulho
Hão de ceder as prevenções mais fortes.
Vítimas da voraz sensualidade
Vossas filhas serão vossas mulheres.
Que direi do soberbo, do vaidoso,
Do colérico, e de outros vários monstros,
Que freio algum não conhecendo, passam
A sustentar no autorizado Cargo
Tudo quanto a paixão lhes dita e manda!
Os desmandos e a falta de freio do imperador no que concerne a
sua vida amorosa levam-no a fazer uso dos jornais e periódicos da épo11Segundo Suêtonio (2002: 262-263), Calígula «entreteve com todas as suas irmãs um comércio sexual vergonhoso. [...] Acreditava-se que tenha desvirginado Drúsila, quando ainda
envergava a toga pretexta, pois fora surpreendido com ela por sua avó, Antonia, na casa em
que ambos se criaram» [...] «Não dedicou às suas outras irmãs um amor impetuoso, nem lhes
dispensou consideração: ele as prostituía, muitas vezes, com os seus próprios favoritos».
218
Socorro de Fátima P. Barbosa
ca, conforme se verá mais adiante, bem como dos homens públicos, para
desempenhar a sua função de amante ardoroso e apaixonado, quebrando todas as regras do decoro. Na sátira, segundo Hansen (1987: 338),
«construído como irracional, o tipo vicioso não é livre, pois em todas as
ocasiões só obedece à vontade, que o escraviza: não deseja, é desejado
do seu desejo, como um ladrão levado a furto que leva». Ao trazer a
tópica do sexo como crime contra naturam, a persona demonstra que
este «corrompe a harmonia do bem comum» e, por isso, a figuração
do medo que a persona inculca nos pais faz parte daquilo que Hansen
–no contexto da sátira atribuída a Gregório de Matos, mas perfeitamente
aplicado à sátira em questão– chama de «teatro do medo» (1989: 338).
Considerando-se D. Pedro I como a cabeça do Império, sua corrupção é
espelho para todos os súbditos, propondo-o culpado, «propõe ao público
culpado de desejos a representação caricata e monstruosa deles guiada
pela pastoral da sua prudência para a cena sacrificial do remorso e da
catarse» (Hansen, 1989: 338), como revelam os versos a seguir: «Que
pula dos meus olhos? Não, Critilo, –Não é esta a moção que n’alma
provo. Por entre estes delírios, insensível, Me conduz a razão, brilhante e sábia, A gemer igualmente na desgraça Dos míseros vassalos, que
honrar devem, –De um tirano o poder, o trono, o cetro». Do sexo ilícito,
nasce Isabel Maria em 1824, filha de Domitila, a quem o imperador, em
20 de maio de 1826, através de Decreto, reconhece como filha legítima
e no mês seguinte apresenta oficialmente à imperatriz, quando passou
a frequentar o palácio a fim de partilhar a educação com suas irmãs12
(Lustosa, 2007: 231).
Desde 1823 que Domitila de Castro fazia parte da vida de D. Pedro I na condição de sua amante. Em princípios desse ano, o Imperador
trouxe toda a sua família para o Rio. Em junho, quando cavalgava desacompanhado pela região do subúrbio de Mata Porcos, local da residência
da paulista, D. Pedro sofreu um grave acidente. Nesta época o romance
dele com Domitila ainda não se tornara público e a queda do cavalo
suscitou a curiosidade da corte sobre o que fazia naquela região sem a
companhia de sua guarda. Maria Graham reporta o momento quando,
convalescendo do acidente, o imperador recebera uma carta acusando
12Para Maria Graham (2010), esta teria sido a maior das humilhações sofrida pela imperatriz.
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
219
os Andrada: «uma senhora, cujo nome havia sido até então sussurrado
no tom mais suave do mexerico, havia ultimamente se mudado de São
Paulo» (Graham, 2010: 92). Embora soubesse das pequenas traições do
marido, murmuradas pelas ruas e pelos empregados, a imperatriz afirmava em carta de 10 de setembro de 1824, dirigida à irmã Maria Luisa,
que não podia confiar nele, mas não demonstrava ter conhecimento ou
se importar com os seus casos.13 A partir de 1825, alguns incidentes não
só deram publicidade ao caso, como o transformaram em assunto de
fuxicos internacionais. Do caso com Domitila conhecido internacionalmente, que será adiante tratado mais amiúde, à postura cotidiana, D.
Pedro I desobedecia as mais rudimentares das posturas que lhe exigiam
o cargo, faltando-lhe, portanto, decoro. Maria Graham (2010: 102) narra
o momento do seu encontro com ele, «estava como se tivesse levantado
da sesta, de chinelos sem meias, calças e casaco leve de algodão listado,
e um chapéu de palha forrado e amarrado de verde». Sousa (1998: 174)
afirma que a «Quinta da Boa Vista mais parecia uma típica propriedade
rural de brasileiro rico do que um paço imperial. Como fazendeiro zeloso de seus bens e aprazendo-se no papel de simples feitor, o monarca
cuidava atentamente de tudo».
À falta de decoro na vida pessoal, juntam-se os problemas relacionados à virtude política, como se uma estivesse entrelaçada à outra,
características que aliadas à sua pouca educação, ao temperamento, à
vida dupla são atributos pertinentes para o vitupério baseado no lugar-comum da condição (Hansen, 1989). Em 1826, a situação do monarca
era complicada e sua posição não parecia firme nem para os portugueses
nem para brasileiros. Desde 1825 enfrentava a cisão da província da
Cisplatina e sua anexação pelas Províncias Unidas do Rio da Prata, que
culminaria com a guerra, em 1826. Ademais, a execução de Frei Caneca
teria causado grande comoção popular, pelo fato de ele não ter perdoado
a um religioso.14 Outro dado que poderia afastar o Imperador do campo
da virtude política era a sua posição contrária à escravidão que feria no
13«Infelizmente não consigo encontrar ninguém em quem possa depositar minha plena confiança, nem mesmo em meu esposo, porque, para meu grande sofrimento, não me inspira
mais respeito, por mais que me supere e me controle» (Leopoldina, 2006: 429).
14Para o conhecimento dos problemas políticos por que passavam o Brasil e o imperador, consultar: (Monteiro, 1982; Sousa, 1988; Macaulay, 1986 e Lustosa, 2007).
Socorro de Fátima P. Barbosa
220
coração os proprietários rurais do Brasil, todos escravocratas (Macaulay, 1993: 192 e 242).
«Por entre estes delírios, insensível, Me conduz a razão, brilhante e sábia, A gemer igualmente na desgraça Dos míseros vassalos, que
honrar devem, –De um tirano o poder, o trono, o cetro». O que se quer
ressaltar aqui é a desproporção observada nos retratos feitos sobre o
Imperador, que ressaltavam, sobretudo, uma postura ambígua com que
levava a vida pessoal. Segundo Monteiro (1982: 92, V. II),
O grande mal, que pesava sobre o reinado de D. Pedro I, e juntava-se
à dúvida do povo quanto às suas ligações com Portugal para diminuir-lhe a majestade, era o concubinato que afrontava os melindres da
gente honesta, contaminava pelo mau exemplo a gente de moral fraca,
impunha à Imperatriz a humilhação pública do seu repúdio. A desfaçatez com que produzia tamanha imoralidade justificava os excessos
oposicionistas contra ele.
O interessante desta sátira é que o seu autor conjuga o estilo grave e o patético com as imagens e alusões risíveis ao comparar analogamente o Imperador a Calígula e Domitila a seu cavalo. Tomando-se o
episódio do cavalo como aquele mais conhecido e mais jocoso, já que
Calígula também é reconhecido pela crueldade e pela «natureza feroz e
depravada» (Suetonio, 2002: 250), dados que, supostos pouco conhecidos dos leitores da epístola, são arrolados em nota de fim de página no
Jornal.15 Assim, a persona que narra na epístola sugere para D. Pedro I
o oposto da justiça e da temperança, atributos que faltaram ao monarca,
quando da execução sumária do frei Caneca. Esta desproporção é verossímil porque na sátira «as transferências metafóricas incongruentes são
programáticas». Assim, sabendo-se ser verdadeiro o gesto do imperador
romano, o ato do imperador brasileiro também é satirizado, observando-se que «quanto mais é incongruente o efeito, mais ativa é a função
valorativa da enunciação que dramatiza a incongruência adequada para
15 Conferir Anexos 3 e 4.
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
221
o destinatário» (Hansen, 1987: 295). Desde 1823 observa-se o desejo de
D. Pedro I de afrontar a sociedade que murmurava a boca pequena a sua
relação com Domitila. Em carta endereçada à amante, ele informa sobre
a joia –um colar de ametistas– que deveria combinar com o vestido que
ele insistia que ela fizesse na madame Josefine, a mais afamada modista
do reino à época. Para tanto, ele sugeria que ela ali fosse com o Barão
de Sorocaba, Boaventura Delfim Pereira, casado com a irmã de Domitila. Como revelam as palavras do Imperador, na carta, ele não apenas
queria que ela «apareça publicamente», mas que «apareças bem vestida
e decente». Contudo, escreveu o Imperador, quando o fizesse esperava
«que isto faça para se apresentar na Glória enervando todas que lá aparecerem» (Rezzutti, 2011: 92, Carta 2). Contrariando a postura de um rei
probo, sóbrio, decente e de temperança, o Imperador além de infringir
as leis do sexo honesto, o faz com escárnio à população. Na epístola em
análise, o trecho abaixo reforça o lugar-comum da sátira, segundo o qual
«a corrupção do corpo falseia a ordem natural expressa no bem comum
pela irrupção do gozo impuro» (Hansen, 1989: 329). Os versos «Nem
sempre as águias de outras águias nascem, Nem sempre de leões, leões
se geram, Quantas vezes as pombas e os Cordeiros São partos dos leões,
das águias partos!» revelam a monstruosidade do sexo ilícito, a desproporção. Neste caso, é a descendência o tipo satirizado de acordo com o
lugar-comum da origem, numa alegoria perfeita, posto que Germânico,
pai de Calígula, gozava de respeito e de admiração dos seus súditos,
assim como D. João VI (Jornal Científico, C. M. da C., 1826: 235-236):
Pode o pai ser piedoso, sábio e justo,
Manso, afável, pacífico e prudente:
Não se segue daqui, que um ímpio filho,
Perverso, infame, díscolo e malvado,
Não desordene de seus pais a glória.
Nem sempre as águias de outras águias nascem,
Nem sempre de Leões leões se geram16,
16 Neste verso, encontra-se a nota b: «Como se dissera, que nem sempre sucede o que diz
Horacio no liv. 4.º das Odes, O. 4. Fortes creantur fortibus et bonis/ est in iuuencis, est
in equis patrum/ virtus neque inbellem feroces/ progenerant aquilae columbam» (Jornal
Científico, 1826: 239-240).
Socorro de Fátima P. Barbosa
222
Quantas vezes as pombas e os Cordeiros
São partos dos leões, das águias partos!
Com efeito, como já foi mencionado, em maio de 1824 nasce
a filha de Domitila com o Imperador, Isabel, a quem nas cartas tratará
sempre por Belinha, fato que irá promover a desordem «natural» da linhagem dinástica: «perverso, infame, díscolo e malvado», leão que não
gera outro leão, mas a aberração. A partir de 1825, acontece a «institucionalização» do romance entre os dois. Ao Imperador já não interessava apenas incomodar as mulheres com a beleza de Domitila, pois como
afirma em carta «já esta tarde começam os desavergonhados a saber
quem eu sou, e quem é [sic] mecê e quanto eu a estimo»17 (Rezzutti,
2011, Carta 25). Na sátira, esta conduta pode ser associada aos versos
seguintes:
Aqui se acha o lascivo; é o vaidoso!
É o estúpido, enfim é o demente
O que ao vivo aparece nesta empresa.
Tu, severo Catão,18 tu repreendes,
Com teu mudo semblante a pátria Roma;
Nem seus teatros de lascívia cheios
Sofrem teus olhos nobremente irados.19
Isto ocorreu a partir do incidente que assumiu proporções impensáveis no qual Domitila foi destratada pela Baronesa de Goytacaz
ao tentar assistir missa na tribuna reservada às damas do paço, na Ca17 E assim continua: «Mandei por uma fechadura na porta das tribunas para se fechar a porta,
que não será aberta venha quem vier enquanto mecê não vier, e assim ficam todos sem lugar.
Além disso, hei de tratar os maridos de bonito modo, e eu lhe prometo que mais nada hão de
fazer aos amores»(Rezzutti, 2011, Carta 25).
18 Também denominado «o censor», foi um romano considerado exemplo de homem virtuoso
pelos seus pares. Cf. Lima (2007: 33). Disponível em: http://www.hottopos.com/notand15/
aless.pdf. Acesso em 19/12/2012.
19Conferir a última nota, a de letra (d), no Anexo 4.
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
223
pela Imperial. Isto fez com que fosse nomeada, por decreto de «Dona
Leopoldina»,20 como Dama Camarista da Imperatriz, cargo que lhe conferiu em abril de 1825 que, além do direito de usufruir da tal tribuna, a
colocava em primazia sobre as demais damas de honra, «e o direito de
estar presente a todas as reuniões e acompanhar a imperatriz a todas as
excursões; assumir o lugar de honra logo após Sua Majestade em todas
as ocasiões» (Graham, 2010: 218). A petição que conferiu a Domitila
seu lugar de camareira-mor de Leopoldina foi deferida no dia do aniversário da princesa Maria da Glória, ocasião «em que toda a corte, mesmo
grosseira como era, caiu em consternação».21 A fofoca e os murmúrios,
próprios ao conteúdo da sátira, foram registrados por outros estrangeiros a quem muito espantava a sua relação com Domitila, como revela
Schlichthorst, em seu diário: «a primeira Camareira de Sua Majestade
a Imperatriz, a paulista D. Dimitila de Castro e Canto, Viscondessa de
Santos, é a amante declarada do Imperador» ([s/d]: 62).
O ano de 1826 vai ser lembrado pela morte de D. João VI, pela
instalação da Assembléia Geral Legislativa, quando enfim os deputados
e senadores puderam participar do processo legislativo brasileiro, regulamentando os dispositivos constitucionais, mas na vida de Pedro I,
este ano será aquele da viagem que fez à Bahia e causou indignação aos
brasileiros e a estrangeiros. Monteiro (1982: 101) afirma que «dias antes
da partida afixavam-se pasquins nas paredes das ruas e cartas anônimas
choviam em palácio com expressões de espanto acerca de tão escandalosa companhia». Com efeito, esta viagem tornou ostensiva a «mancebia, a princípio discreta» (Monteiro, 1982: 101). Sobre a viagem, Maria
Graham (2010: 226) assim comenta:
20Segundo Macaulay (1993: 213), D. Pedro I «convenceu D. Leopodina a escolher Domitila
como uma das suas damas de companhia; a ingênua imperatriz pensou que se tratasse de
uma recompensa por serviços prestados a seu marido pelo pai da indicada, o coronel João de
Castro».
21Segundo Graham (2010: 218), ao nomear Domitila como primeira dama da imperatriz, D.
Pedro infligia «à Imperatriz o mais odiosos dos incômodos, isto é, sua presença –desde o
momento em que saía de seus apartamentos privados. Na primeira explosão de indignação
geral, várias das primeiras damas recusaram visitar a favorita, mas em breve fizeram-lhe
compreender que a teimosia não resultaria em nenhum bem à Imperatriz».
224
Socorro de Fátima P. Barbosa
Ela com o imperador e as Princesinhas, havia embarcado para a Bahia;
concordou, ainda que passasse mal no mar, na esperança de escapar da
vista da Domitila de Castro, então elevada a Viscondessa de Santos.
Qual não teria sido o seu desapontamento ao entrar em seu camarote,
em ver Mme. de Santos já ali estabelecida, além do mais, nas funções
de seu ofício.
Nesta viagem, Domitila se integrou na condição de dama de companhia de D. Leopoldina e dividiu com o imperador aposentos do palácio do governo da Bahia, enquanto a imperatriz hospedou-se no edifício
da Relação. Em carta a seu pai, escrita no dia 28/04/1826, a imperatriz
comenta que a viagem foi «extremamente desagradável em todos os
sentidos», lamento repetido em carta a Maria Graham, de 29/04/1826,
como uma «viagem bem penosa à Bahia e uma permanência de dois
meses eternos» (Leopoldina, 2006: 446).22 Nesta data, dona Leopoldina ainda não havia tomado conhecimento do que se considera o golpe
definitivo nesta oficialização de Domitila: o reconhecimento como filha
legítima de Isabel Maria, em 20 de maio, e em 24 do mesmo mês ela
recebe o título de duquesa de Goiás, com o tratamento de Alteza. Para
Graham (2010: 234), chamou a atenção tanto o fato em si, que submetia
a Imperatriz à humilhação, quanto o fato de fazê-lo «expedindo um ato
governamental para declará-la legítima, e depois publicando essa loucura nas gazetas e jornais do Brasil, seguiu D. Pedro o exemplo de Luiz
XIV, como uma justificação do ato vicioso e violento».
Teatro «das paixões humanas», a epístola representa este espetáculo promovido pelo monarca assinalando ao mesmo tempo o seu efeito trágico e cômico, com a presença de Tália e Melpomene deusas da
comédia e da tragédia respectivamente (Jornal Científico, C. M. da C.,
1826: 234):
Dos míseros vassalos, que honrar devem,
22 Em carta de sete de junho de 1826, escrita à amiga Maria Graham, ela afirma em P. S.: «Perdoai-me a má letra, mas depois de minha viagem por mar apanhei umas dores reumáticas nos
dedos da mão direita, que me dificultam muito a escrita» (Leopoldina, 2006: 446).
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
225
De um Tirano o poder, o Trono, o Cetro.
Se Tália, e Melpomene nos pintam
Nos seus Teatros, paixões humanas,
Ao ridículo gesto, ou ao semblante
Da Cena, que o coturno me apresenta:
Eu me conformo ao interesse, quando
Aborre [sic] o a maldade, e quando rendo
À formosa Virtude os dignos votos.
A despeito do constrangimento e dos mexericos, ao voltar para o
Rio de Janeiro, D. Pedro demanda da população um espetáculo. E como
sempre, utiliza-se dos periódicos áulicos para fazê-lo. O Spectador Brasileiro do dia 31 de março registra a expectativa da população do Rio de
Janeiro com a chegada da família real, «Muitas pessoas se aventuraram
a fazerem apostas sobre o dia por todos esperado». Em O Verdadeiro
Liberal, de 21 de março, observa-se uma nota na qual o redator informa
sobre a apreensão dos moradores para festejar a volta de SS. MM. II e
«segundo todas as aparências as festas hão de ser magníficas». Contudo,
a julgar pelo que afirma o mercenário alemão Schlichthorst, esta expectativa poderia ser de outra natureza e não pelo amor ao imperador. Do
ponto de vista desse estrangeiro, a população ignorou a chegada do navio D. Pedro I, no qual vinham a família real e Domitila (Schlichthorst,
[s/d]:184, Grifos meus):
A cidade pôs luminárias. Plantou-se uma aleia de palmeiras novas, ligadas por festões de flores e grinaldas de lâmpadas, do ponto de desembarque ao arco de triunfo levanta do à esquina do Arsenal. No dia
seguinte, por volta do meio-dia, Sua Majestade desembarcou. Teve recepção muito fria, mal se ouvindo raros vivas. Até as tropas mercenárias alemãs, em espalier espaçadamente do Arsenal até a Ca
pela Imperial, permaneceram impassíveis. D. Pedro parecia muito
descontente.23
23Ainda de acordo com o testemunho de Schlichthorst ([s/d]: 204), «no teatro, também na
plateia dirigiram um discurso ao Imperador. Apesar do orador estar vestido decentemente,
falando com fluência e elegância, toda a gente tinha opinião formada sobre essa efusão es-
Socorro de Fátima P. Barbosa
226
O último aspecto a salientar nesta epístola diz respeito a relação
estabelecida entre a Igreja católica no exercício de seus atos festivos e
o Imperador. A igreja sempre comungou com os atos obscenos, como
pode ser entrevisto acima, estando, portanto, o imperador acima das leis
do mundo e das de Deus. Nisto a persona satírica é quase literal, ainda
mais quando se sabe que ele «era um frequentador assíduo da igreja»
(Macaulay, 1993: 201), principalmente da igreja da Glória para onde ia
a cavalo quase todas as manhãs (Jornal Científico, C. M. da C., 1826:
238):
Aqui vê-se o soberbo, que pensando
Do resto dos mais homens nada serem
Mais que humildes insetos; só de fúrias
Nutre o vil coração, e a seus pés calca
A pobre humanidade. Aqui se encontra
O ímpio, o libertino, que ultrajando
Tudo quanto é sagrado, tem por timbre
Ao público mostrar, que o Santo culto
Que nos intima a religião, somente
Aos pequenos obriga, e que por arte
Os conserva a ilusão no Fanatismo,
Porque da obediência às Leis se dobrem;
Nesta passagem se verifica a crítica não à Igreja Católica, mas ao
descumprimento dos seus princípios pelo imperador. Não bastassem as
aparições públicas com Domitila, a viagem, com o reconhecimento da
filha Isabel Maria, ele assumia publicamente ter sido o seu batizado de
dois anos atrás, um embuste, «onde a menina recebera os santos óleos
como filha de pais incógnitos» (Monteiro, 1982: 102). A sátira era, naquele contexto, o modo seguro de apontar os desmandos do monarca e
da religião católica, tendo em vista o fato de a Constituição de 1824 «espontânea da mais profunda dedicação e do mais ardente patriotismo. O Imperador dá muito
valor a essas demonstrações de amor do povo, apesar de saber muito bem que são regiamente
pagas, embora cada um dos cantores desses coros laudatórios receba pessoalmente muito
pouco. Somente dois tostões! disse chistosamente um desses infelizes».
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
227
tabelecer o catolicismo romano como religião de Estado e ao declarar
«inviolável» a pessoa do imperador, ela impedia, na opinião da maioria
dos políticos e jornalistas brasileiros, os ataques diretos à Igreja e ao
monarca» (Monteiro, 1982: 257).
O problema, no que concerne não apenas a «Epístola a Critilo»,
mas a todos os escritos que são retirados do seu contexto de produção
e aos quais são indiferentemente aplicados critérios alheios ao tempo,
é perder de vista aquilo que Pécora (2011) chama de «legibilidades verossímeis». No caso de a «Epístola a Critilo», um escrito produzido em
1826, em um jornal com três números apenas, o paradigma que ditou
sua leitura nos quadros da história da literatura brasileira foi o de se
valorizar sua autoria, a pretensa relação com outro texto também publicado em jornal vinte anos mais tarde. A obsessão pela autoria desse
texto, o seu papel como libelo revolucionário e o caráter de nacionalidade que se poderia aferir a um escrito anterior ao século XIX inscreveram este escrito na tradição da literatura brasileira, deslocando-o da
sua historicidade. Evidentemente que não se trata de uma prerrogativa
da historiografia literária brasileira, mas de uma ordem de discurso que
se estabeleceu no século XIX, com a «consagração do escritor», a «fetichização do manuscrito autógrafo» e a «garantia de autenticidade da
obra» (Chartier, 2012: 266). Estas noções, lidas pelo avesso, permitem
compreender outras formas de escrita e circulação dos escritos dos periódicos, na primeira metade do século XIX. Elas mostram, sobretudo,
que os periódicos proporcionavam a instabilidade e a mobilidade que os
textos tinham, quando eram extraídos, adaptados, recortados, reescritos,
interpolados e escritos com falsa atribuição.
Este estudo tentou mostrar como ainda sabemos pouco sobre a
literatura no jornal do século XIX (Zilberman, 2004). Seu papel de arquivo já está muito bem posto por estudos clássicos e absolutamente
importantes na história da literatura, mas é preciso concebê-lo como
suporte, pois como bem afirma Mckenzie (2004), os gêneros novos e
as transformações dos antigos nascem da exigência dos novos leitores e
das formas tipográficas que lhe informam.
228
Socorro de Fátima P. Barbosa
Ao inscrever a «Epístola a Critilo» no contexto de produção dos
periódicos, da década de 20 do século XIX, e associar a sátira à figura
de D. Pedro I, este artigo parte de critérios compatíveis com as condições de produção de escrita nos jornais. Assim, é possível identificar, de
forma verossímil, os mecanismos por ele engendrados, para dar conta
dos assuntos políticos do seu tempo, entre eles, a vida desregrada do Imperador. Outra proposição apresentada por este artigo é o de considerar
a produção cultural anterior ao mito fundador do romantismo, lendo-a
e dela se apropriando sem ignorar, ao mesmo tempo, que as regras de
composição dos gêneros retórico-poéticos prescreviam estes escritos, e
que termos como originalidade e de validade estética eram alheios ao
tempo. Com isto, evita-se a abordagem anacrônica destes escritos que
consiste segundo Hansen (1997: 12), em tomar estes produtos literários
como «expressão psicológica de uma subjetividade que, sendo homogênea com seu tempo, é generalizada como válida para todos os tempos».
Neste estudo, buscou-se sair deste paradigma, principalmente, ao considerar a epístola satírica a partir dos pressupostos poéticos previstos para
o gênero. Assim, compreendida como escrito histórico concernente ao
tempo presente, ou seja, o ano de 1826, a «Epístola a Critilo» pôde ser
relacionada ao comportamento desregrado de D. Pedro I e ser lida como
apologia às regras da monarquia e não como libelo, anticolonialista ou
antimonarquista. Neste sentido, considera-se com Lisboa (1987: 275),
que a imprensa conseguiu «apoderar-se da ficção, da retórica e da poética, adaptando-se e adaptando os seus estilos com bastante facilidade de
reconversão», para «impor uma nova leitura».
REFERÊNCIAS
Periódicos
O Verdadeiro Liberal: Periódico Político Literário. Rio de Janeiro, 1826.
Jornal Científico, Econômico, e Literário, ou Coleção de Várias Peças, Memórias, Relações,
Viagens, Poesias, e Anedotas. Rio de Janeiro, 1826.
O Spectador Brasileiro: Diário Político, Literário e Comercial. Rio de Janeiro, 1824-1827.
O Diário do Rio de Janeiro:Rio de Janeiro. 1821-1826.
Livros, revistas e obras de referência:
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
229
ALMEIDA, Teodoro de. Recreação Filosófica, ou Diálogo sobre a Filosofia Racional, para
Instrução de Pessoas Curiosas, que não Frequentaram as Aulas. Lisboa. Régia Oficina
Tipográfica. 1785, V. VII.
ANDRADE, Adriano da Guerra. Dicionário de Pseudônimos e Iniciais de Escritores Portugueses. Lisboa. Biblioteca Nacional, 1999.
Autos da Devassa: prisão dos letrados do Rio de Janeiro, 1794. [Fábio Lucas et al]. 2.ª ed. Rio
de Janeiro. Eduerj, 2002.
BARBOSA, Socorro de Fátima Pacífico. Jornal e Literatura: a Imprensa Brasileira no Século
XIX. Porto Alegre. Nova Prova, 2007.
BARBOSA, Socorro de Fátima Pacífico. «A escrita epistolar como prosa de ficção: as cartas do
jornalista Miguel Lopes do Sacramento Gama». Revista Desenredo. vol. 7, n.º 2, jul./dez.
2011, pp. 331-344. http://www.upf.br/seer/index.php/rd/article/view/2406/1559
BELLINGHAM, David. Introdução à Mitologia Grega. Lisboa. Editorial Estampa, 2000.
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. Belo Horizonte. Itatiaia, 1982.
CHARTIER, Roger. Os Desafios da Escrita. trad. Fulvia M. L. MORETO. São Paulo. Ed.
Unesp, 2002.
CHARTIER, Roger. Cardenio: entre Cervantes e Shakespeare. História de uma Peça Perdida.
Rio de Janeiro. José Olympio, 2012.
COELHO, Jacinto do Prado. Dicionário de Literatura. 3.ª Ed. Figueirinhas. Porto, 1984.
DARNTON, Robert. O Beijo de Lamourette: Cultura, Mídia e Revolução. São Paulo. Companhia das Letras, 1990.
C. M. da C. «Epístola a Critilo». Jornal Científico, Econômico, e Literário, ou Coleção de
Várias Peças, Memórias, Relações, Viagens, Poesias, e Anedotas. Rio de Janeiro, 1826.
FERLINE, Vera Lúcia Amaral. «Uma gazeta manuscrita no Brasil colonial?» Anais do Museu
Paulista. (separata). São Paulo. USP, 1984, t. XXXIII, pp. 163-207.
FURTADO, Joaci Pereira. Uma República de Leitores: História e Memória na Recepção das
Cartas Chilenas, 1845-1989. São Paulo. Hucitec, 1997.
GAMA, Miguel do Sacramento Lopes. Lições de Eloquência Nacional. Rio de Janeiro. Tipografia de Francisco de Paula Brito, 1846, V.1.
GONZAGA, Tomás Antonio. Poesias e Cartas Chilenas. M. Rodrigues LAPA (org.). Rio de
Janeiro. Instituto Nacional do Livro, 1957.
GONZAGA, Tomás Antonio. As Cartas Chilenas: Um Problema Histórico e Filológico. M.
Rodrigues LAPA (org.). Rio de Janeiro. INL, 1958.
GRACIAN, Baltazar. El Criticón. Buenos Aires. Espasa-Calpe, 1943.
GRAHAM, Maria. Escorço Biográfico de D. Pedro. Rio de Janeiro. Biblioteca Nacional, 2010.
HANSEN, João Adolfo. A Sátira e o Engenho. São Paulo. Secretaria de Estado da Cultura;
Companhia das Letras, 1989.
HANSEN, João Adolfo. A Sátira e o Engenho. 2.ª ed. São Paulo. Ateliê Editorial; Campinas.
Ed. Unicamp, 2004.
HANSEN, João Adolfo. «Prefácio». Joaci Pereira FURTADO. Uma República de Leitores: História e Memória na Recepção das Cartas Chilenas (1845-1989). São Paulo. Hucitec, 1997.
HODGART, Matthew J. Satire: Origins and Principles. Transaction Publishers. New Jersey,
2010.
LAMAS, Maria. Mitologia Geral. 4.ª ed. Lisboa. Estampa, 2000.
230
Socorro de Fátima P. Barbosa
LAPA, M. Rodrigues. As Cartas Chilenas: Um Problema Histórico e Filológico. Rio de Janeiro.
INL, 1958.
LEOPOLDINA. Cartas de uma Imperatriz. Bettina KANN; Patrícia Souza LIMA (org.). São
Paulo. Estação Liberdade, 2006.
LIMA, Alessandra Carbonero. «Vida de Catão, de Plutarco –Apontamentos para o estudo da
educação e cultura romanas». Notandum, n.º 15. Núcleo Humanidades –ESDC/CEMOrOC Feusp/IJI, Universidade do Porto, 2007. http://www.hottopos.com/notand15/aless.pdf.
Acesso em 20/12/2012.
LISBOA, João Luís. Ciência e Política na Leitura em Portugal (1780-1820). Lisboa. Universidade Nova Lisboa, 1987. (Dissertação de Mestrado).
LISBOA, João Luís. «Gazetas feitas à mão». Gazetas Manuscritas da Biblioteca Pública de
Évora (1729 -1731). Lisboa. Colibri, 2002.
LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I. São Paulo. Companhia das Letras, 2011.
MACAULAY, Neill. D. Pedro I. A luta pela Liberdade do Brasil e em Portugal 1798-1834. Rio
de Janeiro. Record, 1993.
MCKENZIE, Donald Francis «Bibliography and the sociology of texts». Bibliography and the
Sociology of Texts. Cambridge. Cambridge University Press, 2004.
MELO, Afonso Arinos. Cartas Chilenas Precedidas de uma Epístola Atribuída a Claudio Manuel da Costa. Rio de Janeiro. Imprensa Nacional, 1940.
MONTEIRO, Tobias. História do Império: o Primeiro Reinado. Belo Horizonte; Itatiaia; São
Paulo. Edusp, 1982.
MORAES, Rubens Borba de. Bibliografia Brasileira do Período Colonial. São Paulo. IEB,
1969.
OLIVEIRA, Tarquínio J. B. de. As Cartas Chilenas: Fontes Textuais. São Paulo. Referência,
1972.
REZZUTTI, Paulo. Titília e o Demonão. Cartas Inéditas de D. Pedro I à Marquesa de Santos.
São Paulo. Geração Editorial, 2011.
ROMERO, Sílvio. História da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro. José Olympio, 1954. vol. 5.
SCHIAVO, José. A Autoria das Cartas Chilenas. Rio de Janeiro. Europa, 1993.
SCHLICHTHORST, C. O Rio de Janeiro como É, 1824-1826: Uma Vez e Nunca Mais: contribuições de um diário para a história atual, os costumes e especialmente a situação da tropa
estrangeira na capital do Brasil. Rio de Janeiro. Getúlio Costa, [s/d].
SILVA, Joaquim Norberto de Souza (Org.) Obras Poéticas de Ignacio José de Alvarenga. Rio
de Janeiro. Garnier, 1865.
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro. Graal, 1997.
SOUSA, Octávio Tarquínio de. A Vida de D. Pedro I. Belo Horizonte. Itatiaia; São Paulo. Edusp,
1988. t. II.
SUETÔNIO, Caio Tranquilo. A Vida dos Doze Cézares. 2.ª ed. São Paulo. Ediouro, 2002.
VARNHAGEN, Francisco Adolfo. Florilégio da Poesia Brasileira. Lisboa: 1850.
ZILBERMAN, Regina. «Literatura de rodapé ou o jornal como suporte literário». Ideias, Jornal
do Brasil, 08/11/2003.
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
231
ANEXO 1
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
ANEXO 2
[...]
233
Socorro de Fátima P. Barbosa
234
ANEXO 3
A introdução às Cartas Chilenas ou Epístola a Critilo ...
ANEXO 4
235

Documentos relacionados