caderno de resumos - RODRIGO SATURNINO
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caderno de resumos - RODRIGO SATURNINO
LIVRO DE RESUMOS 1 PROGRAMA 30 Junho 2016 9h00 | RECEPÇÃO DOS PARTICIPANTES 9h20 | SESSÃO DE ABERTURA Jorge Veríssimo (Presidente da ESCS-IPL) Paulo Seixas (Presidente do CAPP/ISCSP-ULisboa) Paula Espírito Santo (Coordenadora do GT de Comunicação Política) Filipa Subtil (Vice-Coordenadora do GT de Comunicação Política) 9h30 - 11h30 | CONFERÊNCIAS INAUGURAIS (sala Madeira Correia - 2P9) Oscar Luengo (Universidade de Granada, Espanha) Political Communication and Research Challenges João Carlos Correia (Labcom. IFP, UBI) Comunicação digital e deliberação política: o impacto da revolução ‘neoliberal’ nos processos comunicativos e nos estudos de comunicação MODERAÇÃO: Paula Espirito Santo (CAPP/ISCSP-ULisboa) Pausa para café 11H45 - 13H00 | APRESENTAÇÃO DE COMUNICAÇÕES Sessão 1 (sala 2p7) André Melo Mendes (UFMG, Brasil), Graziela Mello Vianna (UFMG, Brasil) Retratos do Brasil: a representação dos principais atores da crise política nas capas de revistas brasileiras Koffi Robert Badou (UPorto), Vania Baldi (UAveiro) A participação do cidadão brasileiro e o poder decisório no processo de impeachment Hélder Prior (LabCom. IFP/UBI) Escândalo político e narratologia: uma análise aos casos Face Oculta e Lava Jato Ana Rosa Vidigal Dolabella (Centro Universitário de Belo Horizonte, Brasil) Educomunicação: palavra-ponte para a participação social e cidadã na consolidação da democracia brasileira MODERAÇÃO: Filipa Subtil (ESCS-IPLisboa) 2 14H00 – 16H30 | WORKSHOP JOVENS INVESTIGADORES Mesa 1 (sala 2p7) Joana Reis (FCH-UCP) A campanha de Humberto Delgado nas eleições presidenciais de 1958. O exemplo de Viseu Pedro Marques Gomes (IHC-UNL) A política no jornal Tempo na fase final da Revolução Portuguesa: a defesa da legalidade democrática COMENTADORA: Júlia Leitão de Barros (ESCS-IPLisboa) Ester Minga (FCSH-UNL) A acção dos algoritmos da Internet à luz do pensamento de Gabriel Tarde e John Dewey José Carlos Alexandre (UBI) A espiral do silêncio e as praxes académicas COMENTADOR: Samuel Mateus (UMadeira) Mesa 2 (sala 2p8) João Simão (ESCS-IPLisboa) Regulamentação do lobbying em Portugal – uma perspectiva da comunicação estratégica Filipe Resende (CECC-UCP) Rui Moreira e as eleições autárquicas de 2013: o percruso mediático de um candidato independente COMENTADOR: Nuno da Silva Jorge (ESCS-IPLisboa) Susana Nina (ISCTE-IUL) A construção da mensagem política nas eleições legislativas de 2015: os debates entre António Costa e Pedro Passos Coelho Ricardo Morais (UBI) Os meios de comunicação, as redes sociais e a qualidade da deliberação no processo de formação do XXI Governo COMENTADOR: Filipe Montargil (ESCS-IPLisboa) Pausa para Café 3 16H45 - 18H00 | APRESENTAÇÃO DE COMUNICAÇÕES Sessão 2 (sala 2p7) Rodrigo Saturnino (ICS-ULisboa) Redes, identidades políticas e subjetividades tecnológicas Filipa Subtil (ESCS-IPLisboa) Política, epistemologia e linguagem em Charles Wright Mills Gil Baptista Ferreira (ESEC – IPCoimbra e Labcom. IFP, UBI) Novos media e interatividade: novos poderes, mais participação? MODERAÇÃO: Gil Baptista Ferreira (ESEC – IPCoimbra e Labcom. IFP, UBI) 1 Julho 2016 9.30 - 12H00 | WORKSHOP JOVENS INVESTIGADORES Mesa 3 (sala 2p7) Rafael Magana (UBI) A representação dos media na chegada dos refugiados à Europa Nísia Rizzo (UBI) Netativismo feminista nas redes sociais digitais: enquadramentos da violência de género em novos dispositivos COMENTADORA: Carla Martins (ULHT) Bruno Araújo (Universidade de Brasília, Brasil) O judiciário na berlinda mediática: tensões entre os media e a justiça no escândalo do Mensalão André Bradford (FCH - UCP) A mediatização da responsabilidade política: a Comissão de Inquérito ao BES COMENTADOR: Hélder Prior (Labcom.IFP, UBI) 4 Mesa 4 (sala 2p8) João Vasconcelos e Sousa (ESCS-IPLisboa) e Filipa Subtil (ESCS-IPLisboa) Canção de protesto e resistência na revista Mundo da Canção (1969-1976) Filipe Pardal (ESCS-IPLisboa) O programa televisivo Governo Sombra e a sombra da sátira à política COMENTADORA: Graziela Mello Vianna (UFMG, Brasil) Raquel Trindade (FCH-UCP) O Parlamento nas notícias: a cobertura jornalística da actividade parlamentar nos canais de televisão generalistas Leidyanne Nogueira (UFC, Brasil) e Edgard Patrício (UFC, Brasil) Pluralismo e jornalismo público – a Agência Câmara Notícias e o projecto de terceirização trabalhista COMENTADOR: Marco Gomes (CEis20 e ESE-IPLeiria) 14.00 - 16H00 | APRESENTAÇÃO DE COMUNICAÇÕES Sessão 3 (sala 2p7) Marco Gomes (CEis20 e ESE-IPLeiria) Comunicação política na Revolução de Abril. Criação sígnica e diversidade de plataformas expressivas (1974-1976) Felisbela Lopes (CECS/UMinho), Paula Espírito Santo (CAPP/ISCSP/ULisboa) 100 dias em S. Bento e em Belém: retratos que a imprensa portuguesa construiu Rita Figueiras (FCH-UCP) O comentário na televisão: entre a lógica dos media e a lógica da política Carla Martins (CIEG, ULHT) Mediação jornalística e estratégias de comunicação das candidatas às Presidenciais de 2016 MODERAÇÃO: Paula Espírito Santo (CAPP/ISCSP/ULisboa) 5 Sessão 4 (sala 2p8) Alexandra Dias Santos (UEuropeia) Resistir ao jogo do outro: tradição e oralidade na Angola contemporânea Samuel Mateus (UMadeira) A double standard thesis na produção portuguesa contemporânea de cartunes políticos José Santana Pereira (ICS -ULisboa) Media online e política na Europa: Uma perspectiva comparativa Evandro Oliveira (UMinho), Maria José Canel (Universidad Complutense de Madrid, Espanha), Vilma Luoma-aho (University of Jyväskylä, Finlândia) Introducing a four-type legitimacy in public policies: A cross-country comparison MODERAÇÃO: Rita Figueiras (FCH-UCP) 6 RESUMOS SESSÃO 1 RETRATOS DO BRASIL : A REPRESENTAÇÃO DOS PRINCIPAIS ATORES DA CRISE POLÍTICA NAS CAPAS DE REVISTAS BRASILEIRAS André Melo Mendes (UFMG - Brasil) Graziela Mello Vianna (UFMG - Brasil) Resumo: O paper que propomos busca compreender como as principais revistas impressas brasileiras têm representado a atual crise política brasileira. Mesmo que as mídias digitais venham conquistando um espaço considerável no mercado da informação, jornais e revistas impressas ainda exercem grande influência na sociedade, recebendo investimentos significativos e afetando a produção dos consensos e identidades de inúmeros de leitores. No Brasil, as revistas semanais apresentam elevada tiragem e circulam conteúdos jornalísticos, publicitários e propagandísticos entre milhões de leitores. A revista Veja, por exemplo, é lida toda semana por mais de seis milhões de leitores, sendo considerada a terceira maior publicação semanal de informação do mundo. Desde o início do seu segundo mandato, quando venceu as eleições com uma pequena margem de diferença em relação ao seu concorrente, a Presidente da República Dilma Roussef tem enfrentado uma forte oposição de vários setores da sociedade brasileira e dos meios de comunicação de massa tradicionais (televisão, rádio e impresso) que, historicamente têm se colocado contra os governos alinhados à esquerda. Motivadas por uma situação econômica desfavorável e por diversas denúncias de corrupção (a partir da operação conhecida como Lava a Jato), no início desse ano surgiram grandes manifestações populares a favor do impeachment da Presidente da República. Em reação a essas manifestações, houve outras, na mesma medida, de apoio. Nesse processo, a figura do ex-Presidente Luís Inácio Lula da Silva tem sido fundamental, uma vez que foi ele o principal responsável pelas mudanças sociais e econômicas no Brasil nos últimos dez anos, além de ter sido o principal responsável pela eleição de Dilma Roussef. Lula, o primeiro Presidente da República de esquerda eleito democrati- camente, promoveu uma série de mudanças estruturais que, ao mesmo tempo que agradaram a maioria da população, também causaram a insatisfação de diversos grupos, especialmente, das classes médias conservadoras. Em meados do mês de março, a condução coercitiva do Ex -presidente para depor na Polícia Federal causou comoção nacional e contribuiu para que as ruas fossem tomadas, alternadamente, por manifestantes contra e a favor do governo. Considerando tal comoção, dentre a sucessão de acontecimentos que constituem a atual crise política brasileira, escolhemos como recorte inicial a cobertura midiática da condução coercitiva do ex-Presidente Lula na Polícia Federal no dia 04 de março de 2016. Pretendemos compreender como se deu a representação dos principais envolvidos a partir dos estereótipos, clichês e lugares comuns utilizados nas imagens (e nos textos) das capas de quatro revistas brasileiras publicadas na primeira semana de março, logo após tal acontecimento. Por meio de análises utilizando um método de base semiótica e teóricos da Sociologia, da Comunicação e da Ciência Política tais como Michel Foucault, Louis Quéré e Vera França, buscaremos desvelar os diversos enquadramentos midiáticos do acontecimento supracitado, assim como melhor compreender o papel dos media nesse processo. ANDRÉ MELO MENDES: Professor Adjunto do De- partamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil). Doutor em Estudos Literários pela UFMG. Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Imagem e Sociabilidade (GRIS ) (email: [email protected]) GRAZIELA MELLO VIANNA: Professora adjunta do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil). Doutora em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Imagem e Sociabilidade (GRIS ) (email: [email protected]) 7 A PARTICIPAÇÃO DO CIDADÃO BRASILEIRO E O PODER DECISÓRIO NO PROCESSO DE IMPEACHMENT ESCÂNDALO POLÍTICO E NARRATOLOGIA: UMA ANÁLISE AOS CASOS FACE OCULTA E LAVA JATO Koffi Robert Badou (UPorto) Vania Baldi (UAveiro) Hélder Prior (LabCom. IFP, UBI) Resumo: A globalização cruza, sobrepõe, destrói fronteiras, constrói novas comunidades transfronteiriças e gera outras mais enraizadas com uma atitude etnocêntrica. No meio dessa complexidade evidenciase também a incapacidade dos poderes políticos instituídos em gerir o fluxo maciço de migrações e informações e, sobretudo, a dificuldade em recriar uma esfera pública capaz de angariar e alimentar novas cosmovisões e empenhos político. A web 2.0 e os media sociais tornaram-se as principais ferramentas para, aparentemente, contornar o enfraquecimento da esfera pública candidatando-se em reorganiza-la através da expressão, participação cívica e política. Nesse sentido, se insere também a atual crise sociopolítica e econômica pela qual passa o Brasil. Debates acirrados, posts nos media sociais carregando e misturando emoções e razões, preconceitos e pressões contra e/ou a favor do governo. Este cenário sociomedial demonstra que o ciberespaço se tornou também num lugar de batalha, onde se organizam e desafiam as lutas pelo reconhecimento cultural e político, e como meio essencial para a organização dos protestos e das mobilizações que acompanharam o processo de impeachment no país. Este artigo tem como intuito compreender as formas de participação “minimalista” ou “maximalista” como as define Nico Carpentier, a articulação das mensagens e linguagens entre vários meios, e o seu eco no debate político clássico. KOFFI ROBERT BADOU: Doutorando em Informação e Comunicação em Plataforma Digital da Universidade do Porto (email: robertbadou@outlook. com). VANIA BALDI: Professor do departamento de Comu- nicação e Arte da Universidade de Aveiro. (email: [email protected]). Resumo: As sociedades hodiernas parecem, definitivamente, caracterizadas pela proliferação de escândalos políticos, sendo possível, com efeito, falar de uma certa cultura do escândalo na esfera pública contemporânea. De facto, os escândalos políticos têm assumido particular destaque na agenda mediática nas últimas décadas, algo que, em parte, se deve à forte mediatização de denúncias relacionadas com transgressões dos dirigentes políticos, bem como ao próprio modus operandi dos meios de comunicação na cobertura dos assuntos que dizem respeito à esfera política. Porém, apesar da proliferação de escândalos políticos, não é possível dizer que este seja um fenómeno que se possa definir a priori. Se, muitas vezes, os escândalos políticos revelam casos de perversão do poder público, publicitando e dando visibilidade a episódios de corrupção e desvio das normas de comportamento que pautam o exercício do poder político nas democracias liberais, em outros casos aquilo que sobressai é o papel dos meios de comunicação na revelação, publicitação e reconfiguração de um acontecimento que se desenvolve como uma complexa narrativa mediática que alimenta o imaginário do leitor ou espectador de produtos informativos. Após as denúncias públicas de que ocorreu algum tipo de transgressão que envolve uma qualquer figura pública, erige-se um certo discurso acusatório acerca das hipotéticas transgressões que, por outro lado, tendem a ser desmentidas pelos indivíduos que se encontram no epicentro do escândalo. De outro modo, em muitos casos as investigações policiais, jornalísticas ou jurídicas sobre as transgressões que estão na origem de um escândalo particular, desvelam novos tipos de transgressões, que Thompson apelida de “transgressões de segunda ordem”, que não raras vezes têm uma relação tangencial com os acontecimentos que estiveram na base do fenómeno. Nestes casos, a complexidade, a cobertura mediática e o impacto social do escândalo aumentam consideravelmente e o acontecimento converte-se numa “narrativa com 8 tramas e sub-tramas” (Thompson, 2001:46) que se pode desdobrar em sub-escândalos ou, inclusivamente, em escândalos de maior envergadura que eclipsam, pelo menos do ponto de vista mediático, as chamadas “transgressões de primeira ordem”. Deste modo, podemos asseverar que o escândalo apresenta uma dinâmica comunicativa que acaba por favorecer a mediatização e a dramatização do acontecimento. Com efeito, este trabalho é uma tentativa de compreender os escândalos mediáticos à luz dos pressupostos da narratologia. Assim, num primeiro momento procuraremos definir o conceito “escândalo” e identificar as suas características tendo em conta o contributo dos principais autores que trabalharam o fenómeno. Posteriormente, iremos tecer algumas considerações sobre as relações entre o escândalo mediático e a narratologia, estabelecendo um quadro teórico que nos possibilitará, no terceiro ponto deste ensaio, realizar uma análise pragmática dos escândalos Face Oculta (Portugal) e Lava Jato (Brasil). Para a refiguração narrativa do caso Face Oculta, foram analisadas as edições publicadas no Semanário Sol de 6 de Novembro de 2009 a 12 de Fevereiro de 2010. No que se refere ao escândalo Lava Jato, o período analisado reporta-se às primeiras denúncias publicadas na edição de 19 de Março da revista Veja e estende-se até à edição de 29 de Outubro, publicada na véspera do segundo turno das eleições presidenciais. Pretendemos concluir que os escândalos podem ser interpretados como narrativas que têm um enredo, episódios principais e secundários, personagens que realizam papéis ou funções na trama e efeitos poéticos ou estéticos inerentes às estratégias enunciativas do jornalista no momento de reconfigurar e costurar o acontecimento numa experiência mediática. HÉLDER PRIOR é Pós-Doutor pela Faculdade de Co- municação da Universidade de Brasília, onde realizou estágio pós-doutoral entre Junho de 2014 e Dezembro de 2015 integrado no Plano Nacional de Pós-Doutorado da Capes/Ministério da Educação do Governo Brasileiro. É Doutor Europeu em Ciências da Comunicação pela Faculdade de Artes e Letras da Universidade da Beira Interior (UBI) com uma tese de doutoramento sobre escândalo político, aprovada com Excelente por unanimidade (2013). Licenciou-se em Ciências da Comunicação, especialidade em Jornalismo, na mesma instituição, em 2007. É membro integrado do LabCom.IFP da UBI e investigador colaborador do Observatorio Iberoamericano de la Comunicación da Universidade Autónoma de Barcelona, instituição onde desenvolveu parte do trabalho doutoral. Actualmente, é investigador de Pós-Doutoramento na Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). É autor de Esfera Pública e Escândalo Político (2016) editado pela Media XXI. Nasceu na Covilhã a 16 de Fevereiro de 1985. EDUCOMUNICAÇÃO: PALAVRA-PONTE PARA A PARTICIPAÇÃO SOCIAL E CIDADÃ NA CONSOLIDAÇÃO DA DEMOCRACIA BRASILEIRA Ana Rosa Vidigal Dolabella (Centro Universitário de Belo Horizonte – Brasil) Resumo: Se pensarmos a possibilidade de interdisciplinaridade de duas áreas do conhecimento, de maneira relevante na nossa contemporaneidade, temos a convergência dos campos da Comunicação e da Educação em um terceiro, a Educomunicação. Trata-se de um espaço de interfaceamento muito profícuo. Se considerarmos a importância da mídia na consolidação de uma sociedade democrática, a formação de (futuros) cidadãos deve se basear também na participação ativa, no protagonismo do sujeito envolvido em espaços de debate público e de ação social. A Educomunicação é uma manifestação da gestão de relações em rede. É processo de co-criação participativa e colaborativa. Mais do que um olhar da Comunicação sobre espaços educativos, e do envolvimento da Educação em interação com processos comunicativos de referência na atualidade, trata-se de inclusão, ética e mudança, sobretudo no domínio da política, em todas as suas manifestações. A Educomunicação é uma construção de um novo campo do conhecimento, aplicado a processos sociais de empoderamento. Trata-se de processos de decisão para uma coletividade educativa, por meio de ações de debate e reflexão com vistas a 9 transformações sociais significativas. Concerne à formação permanente de sujeitos no manejo de informações, sua aplicabilidade e uso de conhecimentos. Diz respeito à “aprendizagem dialógica”, proposta por Paulo Freire, e significativa, na perspectiva de um ecossistema comunicativo e interdisciplinar, que pode se manifestar em diferentes ações de educação formal, como no âmbito universitário de Pesquisa, Ensino e Extensão. São produtos de processualidade comunicativa com viés de um “trabalho crítico” (BRAGA, 2006) de confronto entre diferentes pontos de vista. Conjuga ações de valor e impacto, que partem de propósitos, e que têm, em sua origem, a gênese do movimento de mudança e de trans-formação, como formação que transcende a política. E envolve, nesse sentido, todos os atores sociais: governo, organizações, comunidades. Consiste, assim, na promoção de oportunidades de consumo e produção de mídia, em todos os seus formatos e na importância de se repensar nosso processo interacional de referência, que é hoje a midiatização. Como consumimos informação? Como participamos socialmente de ‘arenas de debate’, que a mídia brasileira nos proporciona ou deve proporcionar? Como é possível articular cidadania, exercício e formação, e ainda midiatização, na contemporaneidade? Apontamos, desse modo, uma reflexão sobre uma experiência de ação da pesquisa e da extensão universitárias, em complementaridade, no campo da Educomunicação, para a formação sólida do sujeito/cidadão: o Educomuni – grupo de pesquisa interdisciplinar do UniBH – e o Educomunidade – projeto de extensão vinculado aos cursos de Comunicação do UniBH. Percebemos que a realização do trabalho crítico inerente à pesquisa científica e acadêmica, e que pode incluir também a extensão universitária, sobre mídia, seu discurso, seus produtos, sua circulação e consumo, constitui-se de três questões principais, relacionadas entre si, sobre o desenvolvimento de competências usuárias para interagir com a mídia, e que são foco das ações educativas do Educomuni e do Educomunidade: “como as pessoas selecionam (em dado meio) os produtos de que serão usuários; a questão das competências interpretativas; e o que é necessário para que os usuários desenvolvam autonomia interpretativa” (BRAGA, 2006, p. 62). Acredita-se que o grupo de pesquisas interdisciplinares em Educomunicação, e a ação do projeto de extensão na mesma direção, favoreçam, nesse sentido, a construção de um campo efetivo de ‘debate sobre o debate’, ou seja, a possibilidade do diálogo profícuo no âmbito do próprio diálogo interdisciplinar e do engendramento de novas redes de interação de estudo e de intervenção social da/na processualidade midiática de uma sociedade, que se constitui, na atualidade, o processo de referência interacional por excelência, em suas diferentes manifestações na esfera social brasileira. ANA ROSA VIDIGAL DOLABELLA: Doutorado em Letras/ Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), em que foi desenvolvida perspectiva interdisciplinar entre Educação, Comunicação e Estudos da Linguagem. Mestrado em Letras/ Linguística pela Universidade Federal de Minas Gerais. Graduação em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais e especialização em Psicopedagogia pelo UniBH. Desenvolve projetos de extensão universitária e de pesquisa acadêmica no Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), onde é professora nos cursos de Jornalismo, Publicidade, Direito, Pedagogia e História. O foco das ações, nesses âmbitos, é a formação de professores, formação de profissionais do texto e jovens pesquisadores. Nesse contexto, privilegia-se a interface da formação de profissionais no domínio de convergência entre as áreas de Mídias e de Educação. Líder do grupo de pesquisa universitário interdisciplinar EDUCOMUNI – mídia, educação e organizações. Coordenadora do Projeto de Extensão universitária EDUCOMUNIDADE (email: [email protected]). 10 RESUMOS SESSÃO 2 REDES, IDENTIDADES POLÍTICAS E SUBJETIVIDADES TECNOLÓGICAS POLÍTICA, EPISTEMOLOGIA E LINGUAGEM EM CHARLES WRIGHT MILLS Rodrigo Saturnino (ICS - ULisboa) Filipa Subtil (ESCS-IPLisboa) Resumo: Resumo: Baseada na minha tese de doutoramento, nesta comunicação analiso os novos ativismos digitais e as identidades políticas que têm vindo a instituir-se ao redor do mundo através de uma reflexividade fundamentada em valores éticos e morais procedentes de utopias tecnológicas antecessoras à sua existência. Ao lançar mão do conceito de retiologia de Pierre Musso, discuto como a ambivalência do imaginário reticular auxiliou a redefinir as regras da economia mundial, da produção da cultura e das formas de consumo, bem como serviu de suporte mobilizador de novos conflitos sociais e novas subjetividades empenhadas na luta contra a privatização da informação e na reorganização da geopolítica e da morfologia da internet. Metodologicamente, utilizo uma abordagem qualitativa baseada no material recolhido através de entrevistas com membros de Partidos Piratas da Europa e da América Latina durante o trabalho de campo realizado entre Setembro de 2009 e Dezembro de 2014. Charles Wright Mills é um teórico sobretudo conhecido pela sua crítica às perspectivas que dominavam a teoria social sobre a desigualdade da estrutura social e os mecanismos de poder nos EUA nas décadas de 1950 e 1960. Nesta comunicação apresenta-se uma faceta de Mills a que tem sido prestada menor atenção: a de teórico da comunicação e dos media, enquanto crítico social e político. Em 1939, ainda antes de integrar a universidade como professor e investigador, Mills publicou “Language, Logic, and Culture”, no qual valoriza a sociologia do conhecimento e apresenta uma reflexão que incorpora elementos valiosos de compreensão dos fenómenos culturais e comunicacionais. Em diálogo com George H. Mead, define o pensamento como conversacional e dinâmico e analisa a linguagem na sua relação como comportamento social. Nos anos de 1950 e 1960, quando a pesquisa sociológica americana era largamente dominada pela pesquisa administrativa, cuja preocupação central eram os efeitos, as funções e os usos dos media, Mills propõe uma reflexão sobre o significado social e o poder dos meios de comunicação situada na história que conjuga uma análise minuciosa das transformações da opinião pública nos EUA. Algo pouco notado é que a discussão de Mills sobre a opinião pública antecipa nalguns tópicos várias das ideias que Jürgen Habermas irá desenvolver em Mudança Estrutural da Esfera Pública. O objectivo desta comunicação é apresentar o pensamento de Mills sobre comunicação, media e opinião pública. RODRIGO SATURNINO é Doutor em Sociologia pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e atualmente bolseiro de investigação no Projeto de Pequisa “Envelhecimento e Mass Media: representações sobre o envelhecimento e a velhice nos conteúdos informativos na televisão e imprensa escrita”, coordenado pelo Dr. Pedro Alcântara da Silva no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS- ULisboa). É colaborador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e do Centro de Estudos das Migrações e Relações Interculturais da Universidade Aberta (CEMRI-UAB) (email: [email protected]). FILIPA SUBTIL é Doutorada em Ciências Sociais pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e docente na Escola Superior de Comunicação Social, Instituto Politécnico de Lisboa; foi visiting scholar no Departamento de Communication Studies da Universidade do Iowa, Iowa 11 City (2010) e no Mulhenberg Collegue (2008), Allentown, nos EUA. É, desde 2014, coordenadora editorial da Revista Comunicação Pública. Os seus interesses de investigação têm-se centrado na sociologia da Comunicação, na teoria social dos media nos EUA e Canadá e nas problemáticas que relacionam os media com as questões de género, áreas onde tem publicado artigos e capítulos de livros. Publicou, em 2006, o livro Compreender os Media. As Extensões de McLuhan (MinervaCoimbra) (e-mail: [email protected]). NOVOS MEDIA E INTERATIVIDADE: NOVOS PODERES, MAIS PARTICIPAÇÃO? dição do indivíduo. GIL BAPTISTA FERREIRA é Licenciado e Mestre em Co- municação Social pela Universidade da Beira Interior e Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa. Professor Coordenador na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra, onde lecciona na área do jornalismo e da sociologia dos media, é autor dos livros Linguagem e Modernidade (2003), Comunicação, Media e Identidade (2009) e Novos Media e Vida Cívica (2012). Pertence, como membro integrado, ao centro de investigação LabCom-IFP (UBI). Atualmente, os seus domínios de interesse são a sociologia dos novos media e a relação entre comunicação e vida cívica (email: gbatista@esec. pt). Gil Baptista Ferreira (ESEC - IPCoimbra; Labcom. IFP, UBI) Resumo: O objetivo desta comunicação é submeter o conceito de interatividade a um trabalho de análise crítica, sob a perspetiva da participação cívica. Pretende questionar se os modos de interatividade prometidos pelos novos media, nas suas diversas formas (que vão de uma votação aos comentários nas redes sociais) de facto se traduzem num incremento da qualidade da interação social, cultural e política, entre os indivíduos e entre eles e os conteúdos com que interagem. Num primeiro momento, olha criticamente algumas visões entusiastas que, ancoradas na vertente tecnológica, promovem uma ideologia da interatividade que supõe os media como libertadores do indivíduo dos limites que o constrangem (físicos, espaciais ou outros). Questiona em que medida e de que modos são interativos tanto os media como os indivíduos que os utilizam. A partir daqui procura identificar que funcionalidades interativas dos media capacitam as diversas modalidades de interação. É esta avaliação que permitirá aplicar o conceito de interatividade às ideias clássicas de participação, cidadania e emancipação, e verificar se ao entusiasmo tecnológico correspondem avanços interativos com densidade política. Conclui com a identificação de paradoxos e interpelações que estas formas de interatividade colocam à con- 12 RESUMOS SESSÃO 3 COMUNICAÇÃO POLÍTICA NA REVOLUÇÃO DE ABRIL. CRIAÇÃO SÍGNICA E DIVERSIDADE DE PLATAFORMAS EXPRESSIVAS (1974-1976) Marco Gomes (CEis20 e IPLeiria) Resumo: A partir de 25 de Abril de 1974, a comunicação deixou de se fazer em sentido único. Passou, também, a operar-se de governados para governantes. É verdade que nem sempre a novidade democrática implicou o trilho da racionalidade, da ética e da reflexão. Mas criou, pelo menos, condições para que grande parte da população portuguesa pudesse respirar política. O voto em liberdade é a conquista e expressão maior desta participação coletiva, que eclodiu de um determinado contexto: o restabelecimento das liberdades de associação, expressão e reunião, secundadas pela instauração de um sistema político legitimado pela vontade popular. O fator comunicacional desempenhou um papel fundamental na obtenção de políticas e anseios comuns. Ou quanto muito de os cidadãos se fazerem ouvir e contribuírem para um debate mais ressonante por oposição à atmosfera vivida aquando da vigência do Estado Novo. Redescoberto por uns, verdadeiramente descoberto por outros, o uso público do discurso passou a evoluir na esfera pública. É como se Portugal acordasse para a diversidade linguística na esfera da comunicação política. Mas não só. O ritmo de produção de mensagens veiculadas pelos atores implicou um vasto conjunto de signos e uma variedade de canais de transmissão. Essa criação sígnica é representada por diversas plataformas expressivas, verbal, iconográfica, cinésica, proxémica e objectal (Camilo, 2004). Através desses suportes, emergiu uma inequívoca e, muitas vezes, espontânea vontade de participar no mundo político e social. É interessante perceber o carácter público de uma linguagem colectiva, até então amordaçada, que emite e recebe na esfera pública. Não obstante os discursos orais amplamente utilizados pela sociedade civil e pelos homens políticos, a disseminação de signos gráficos e iconográ- ficos comportou uma função nuclear nesta época revolucionária. Resultado de uma mescla de cariz individual e colectivo, a produção de signos de natureza visual – bastante heterogénea – apenas encontra no período de implantação da República o seu parente mais próximo. Esse “visualismo político”, para utilizar a expressão de Ernesto de Melo e Castro (1977), tanto impressiona pela explosão da cor verificada nos cartazes políticos, murais ou na imprensa, como inclui outro tipo de elementos representativos da atmosfera vivida: folhas volantes, bandeiras, autocolantes e crachás usados nas manifestações e comícios; selos, medalhas, trabalhos artesanais, porta-chaves, bonecos de enfeite, postais, calendários, bilhetes de transporte, blocos de papel de carta, jogos político-pedagógicos ou unidades monetárias personalizadas com as motivações políticas deste período de transição para a democracia. Devido ao seu grau de intimidade, muitos desses canais traduzem uma sensibilidade impossível de reproduzir no domínio dos meios direcionados para as massas. Interessava potenciar a comunicação por forma a transmitir eficazmente as singularidades ideológicas e os programas de ação. Todos os suportes eram válidos para difundir as mais variadas mensagens políticas, estradas, paredes, monumentos e mobiliário urbano. Na verdade, foram inúmeros os canais através dos quais os atores da comunicação política veiculam as motivações. Abundam trabalhos no domínio da pintura mural, dos cartazes políticos, da banda desenhada, música, literatura, das caricaturas, dos cartoons ou das fotomontagens. Esta proposta de comunicação procura perceber como evoluiu a comunicação política e quais os suportes utilizados durante o período de transição para a democracia em Portugal, entre 25 de Abril de 1974 e 2 de Abril de 1976, o dia que assinala a aprovação da nova Constituição da República. Pretende-se focar a atenção na vasta panóplia de instrumentos que serviram as mais diversas motivações, políticas, sociais e culturais. Numa época em que a influência digital e tecnológica era consideravelmente menor, ou mesmo inexistente, comparativamente à atmosfera vigente no novo milénio, a componente oral e visual das mensagens políticas adquiriu uma importância nuclear no que respeita aos enunciados disseminados. 13 MARCO GOMES é investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra e doutor em Letras, na área de Ciências da Comunicação, pela mesma universidade. As suas áreas de investigação direcionam-se para a Revolução e Democracia, no contexto da comunicação política e da análise do discurso e das narrativas mediáticas. Interessa-se, ainda, por sociologia da criminalidade organizada. Possui formação em jornalismo e história e é atualmente professor adjunto convidado na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria. Publicações: Gomes, Marco (2009) Comunicação Política na Revolução de Abril (1974-1976). Coimbra: MinervaCoimbra; Gomes, Marco (2014), “As repercussões do ‘caso República’ em Itália: da apropriação política à ética jornalística”. In A Revolução de 1974-75: repercussão na imprensa internacional e memória(s), ed. Rita Luís, Carla Luciana Silva, Luciana Soutelo. Lisboa: Grupo de estudos do Trabalho e dos Conflitos Sociais do IHC, FCSH, UNL.; Gomes, Marco (2014), “A imprensa na Revolução de Abril: refundar o quotidiano, estimular a crença e renovar o visualismo político”. In A Revolução nos Media, coord. Maria Inácia Rezola e Pedro Marques (coord.). Lisboa: Tinta da China, pp. 161-194. ISBN: 978-989-671-219-8; Gomes, Marco (2011), “Il lato femminile della rivoluzione dei garofani”, Storia e Futuro- Rivista di Storia e Storiografia on line, nº 25, Febbraio. Bologna: Università di Bologna - Università di Siena (email: [email protected]). 100 DIAS EM S. BENTO E EM BELÉM: RETRATOS QUE A IMPRENSA PORTUGUESA CONSTRUIU Felisbela Lopes (CECS/UMinho) Paula Espírito Santo (CAPP/ ISCSP, ULisboa) Resumo: Centrando o discurso político na abertura de um novo ciclo político, o primeiro-ministro António Costa e o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa iniciam os respetivos mandatos quase em simultâneo (com uma diferença de cerca de quatro meses). António Costa quer abrir uma governação desprendida da hegemonia das finanças, Marcelo Rebelo de Sousa propõe-se instaurar uma presidência dos afetos. Acompanhámos os 100 primeiros dias de cada um dos mandatos através dos jornais diários portugueses (DN, JN, Público e Correio da Manhã), analisando todos os textos noticiosos que elegem como ângulo principal os membros do Governo e o Presidente da República. Pretende-se com este estudo perceber quais os temas prioritários na agenda mediática, qual o registo escolhido para noticiar o trabalho realizado e quais os interlocutores mais ouvidos pelos jornalistas. Os 100 primeiros dias em qualquer cargo político de relevo correspondem a um período de tempo vital na construção de uma marca. É assim no Governo e na Presidência da República de Portugal. Neste contexto, os media assumem-se como guias de referência de uma opinião pública que vai sendo estruturada em grande parte por influência daquilo que os jornalistas escrevem. Nesta comunicação, analisámos os 100 primeiros dias do Governo de António Costa e de Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República (PR) através da imprensa diária que tem um forte poder de agendamento sobre os restantes media. São os jornais diários que, em cada manhã, condicionam os alinhamentos dos noticiários da rádio e das televisões. São os jornais que vão impondo frames que ditam percepções sociais. No caso do Governo, a análise compreende o período entre os dias 27 de novembro de 2015 e 4 de março de 2016, totalizando 961 textos e 2165 citações de fontes de informação. No caso da Presidência da República, o estudo começa a 10 de março de 2016 e termina a 17 de junho de 2016, estando a análise ainda em curso. O universo recolhido foi sujeito a uma análise quantitativa dos textos, feita através do programa de análise estatística de dados Statistics Package for Social Sciences (SPSS). Da mediatização na imprensa generalista diária dos 100 primeiros dias de governação do executivo socialista liderado por António Costa, sobressai uma cobertura noticiosa intensa (publicam-se em média 2,4 textos por dia), desenvolvida em textos de tamanho médio ou extenso, declinada maioritariamente pelo ângulo positivo, feita em forma de notícia, refletindo mais de metade dos textos 14 acontecimentos previamente agendados pelos atores políticos. Apesar do esforço deste Governo em proclamar um novo ciclo político afastado do tópico da austeridade que havia dominado o discurso político dos anos precedentes, os jornalistas privilegiaram a tematização financeira e, quando o fizeram, houve um desvio de um certo padrão que a cobertura jornalística desse tempo instalou. Ano e meio depois do fim oficial do Programa de Assistência Económica e Financeira a Portugal, a imprensa portuguesa continuou a encontrar nas finanças um frame persistente. Tal aconteceu, porque o calendário a isso o obrigou, mas porque também os jornalistas não quiseram fazer desvios de rota. Em relação à Presidência da República, cuja análise está a decorrer, poderemos dizer que sobressai um noticiário intenso, centrada no Presidente da República e declinado por um registo emotivo. Falando enquadrado em eventos, o PR desdobra-se por uma enorme diversidade de acontecimentos, de geografias e de atores que sobressaem no centro de uma noticiabilidade que vai iluminando zonas habitualmente nas margens. E eis como um Presidente vai moldando um lugar, tendo consigo uma visível cumplicidade dos jornalistas que o acompanham. FELISBELA LOPES: Professora Associada com Agre- gação da Universidade do Minho onde trabalha desde 1994; Áreas de investigação: informação televisiva; jornalismo da saúde; fontes de informação; Autora de 9 capítulos de livros de comunicação; tem publicados cerca de 60 artigos em revistas científicas e proferiu mais de 100 comunicações em congressos e conferencias no campo da comunicação. É ainda autora dos seguintes livros: Lopes, F. (2015). Jornalista: uma profissão ameaçada. Alêtheia; Lopes, F. (2012) Vinte Anos de TV Privada em Portugal. Editora Guerra e Paz; Lopes, F. (ed.) (2011) A TV dos Jornalistas. E-book. Ed. Universidade do Minho (ISBN: 978-989-97244-64), (http://www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/ tv_jornalistas); Lopes, F. (2008) A TV do Real. Coimbra: Editora Minerva; Lopes, F. (2007) A TV das Elites. Campo das Letras; Lopes, F. (1999) O Telejornal e o Serviço Público. Coimbra: Editora Minerva. É comentadora residente da RTP e colunista do Jornal de Notícias (email: felisbela@ics. uminho.pt). PAULA ESPIRITO SANTO é Professora Auxiliar com Agregação do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), da Universidade de Lisboa (UL); colabora como docente na Universidade Católica Portuguesa e em outras Universidades nacionais e no estrangeiro. Paula Espírito Santo é investigadora do Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP), tendo produzido investigação e publicado nas áreas da comunicação política, sociologia política e metodologia das ciências sociais, incluindo o estudo da cultura política e o perfil dos membros partidários (email: [email protected]). O COMENTÁRIO NA TELEVISÃO: ENTRE A LÓGICA DOS MEDIA E A LÓGICA DA POLÍTICA Rita Figueiras (FCH - UCP) Resumo: A contratação de Marcelo Rebelo de Sousa pela TVI, em 2000, colocou a figura do comentador na sociedade portuguesa num patamar totalmente novo. A entrada do comentário nos noticiários televisivos dirigidos ao grande público democratizou o acesso à opinião esclarecida e massificou o consumo de um produto que era tradicionalmente dirigido ao público mais esclarecido – a opinião pública dirigente – e consumidor da imprensa de referência. Desde então, o debate sobre os comentadores e o comentário político nos media portugueses tem sido uma constante, tendo ganho ainda maior destaque com a eleição do novo Presidente da República. A intensidade do debate não tem, no entanto, dado lugar a um aumento de investigações científicas sobre o tema do comentário e dos comentadores em Portugal. Esta comunicação pretende contribuir para colmatar esta falha e fornecer novos dados para o aprofundamento dos estudos sobre o espaço de opinião e os comentadores políticos em Portugal através da análise da opinião na televisão generalista e por cabo em Portugal entre 2000 e 2015. Neste âmbito, o estudo que aqui se 15 apresenta tem três grandes objetivos: (1) conhecer o perfil dos comentadores da televisão generalista e por cabo, (2) identificar a evolução da presença dos comentadores provenientes da política e (3) comparar o perfil dos comentadores na imprensa e na televisão portuguesas. Estes objetivos decorrem da assunção de que o espaço de opinião é um elemento constitutivo do processo comunicativo democrático. Em linha com o cascading activation model de Robert Entman, podemos considerar que os comentadores desempenham um papel relevante na ativação da atenção e na formação da opinião pública, num processo que combina mecanismos de agenda-setting (definição da agenda pública), priming (grau de destaque dado aos temas), framing (enquadramento dado aos temas) e feedback (reação aos temas pela sociedade). Os comentadores fazem parte do conjunto de atores que, numa hierarquia de influências e relações distintas, condicionam o desenrolar dos temas no espaço público e contribuem para moldar a percepção que os cidadãos têm sobre variados temas na sociedade. Fruto de estudos anteriormente desenvolvidos, os objetivos referidos têm ainda por base a assunção de que o comentário tem uma relação forte com a esfera da política. Por um lado, porque a maioria dos comentadores provém dessa mesma esfera e, por outro, porque esse campo de poder, e os seus protagonistas, são os temas mais debatidos pelos comentadores políticos. O espaço de opinião é, portanto, um interface do e de poder ao permitir a uma certa elite ganhar visibilidade e influência acrescidas na sociedade portuguesa através dos media. Resultados preliminares permitem-nos afirmar que é notória a crescente divisão do espaço de opinião entre os partidos de governo (nos canais de televisão generalistas) e dos partidos com assento parlamentar (nos canais de notícias por cabo) na televisão portuguesa, verificando-se um processo de lottizzazione partidária do espaço público, à imagem da relação entre a televisão e os partidos políticos em Itália, teorizada por Paolo Mancini. Esta compartimentação do comentário é uma manifestação de redes clientelares ou de uma partidocracia, mais evidente nas democracias do sul da Europa, revelando uma certa forma de divisão do poder no espaço público. Deste modo, como interface do e de poder, o espaço de comentário apresenta-se como um lugar privilegiado de análi- se de uma das instâncias que é, simultaneamente, central na formação da opinião pública e na representação das esferas de poder em Portugal. RITA FIGUEIRAS: doutorada em Ciências da Comu- nicação pela Universidade Católica Portuguesa (UCP), onde é docente da Faculdade de Ciências Humanas. Coordenadora do Doutoramento em Ciências da Comunicação da UCP e Membro da Direcção do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (CECC) (email: [email protected]. ucp.pt). MEDIAÇÃO JORNALÍSTICA E ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DAS CANDIDATAS ÀS PRESIDENCIAIS DE 2016 Carla Martins (CIEG, ULHT) Resumo: A primeira candidatura feminina a eleições presidenciais em Portugal foi protagonizada, em 1985/86, por Maria de Lourdes Pintasilgo. Três décadas mais tarde, de modo inédito, quatro mulheres anunciam a sua candidatura às presidenciais de 2016 (apenas duas as concretizaram), pressupondo-se que esse facto, por si mesmo, conduziu a uma valorização, nos discursos públicos, da “gender politics” (Norris, 1997). Preconiza-se que o mundo político é inseparável do espaço de mediação jornalística, para onde confluem os poderes e onde se constrói (e destrói) a visibilidade pública. Neste quadro, a apresentação tem como objetivo analisar e discutir criticamente a mediação simbólica do “corte de género” das candidaturas femininas às eleições presidenciais, procurando perceber, naquele âmbito, que enquadramentos e atributos sobressaíram no discurso jornalístico. Indaga-se sobre como são estas candidaturas representadas e contextualizados pela narrativa jornalística? Que debates e troca de argumentos estimulam no espaço público? Complementarmente, analisam-se as estratégias de comunicação das 16 candidatas e as opções linguísticas a que recorrem para fazer a apresentação de si e identificar prioridades da sua campanha relacionadas com a agenda da igualdade. O objetivo desta análise visa descobrir a preponderância de elementos ou mesmo estereotipozações de género na definição das referidas campanhas de comunicação, na linha das investigações realizadas por Kim Fridrik Kahn. CARLA MARTINS é assessora do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social e especialista em análise de media. Foi anteriormente assessora da Presidente da Assembleia da República. Licenciada e mestre em Filosofia e doutorada em Ciências da Comunicação, Especialidade em Media e Jornalismo. Professora de Comunicação e Jornalismo na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Investigadora na cruzamento interdisciplinar entre género, política e media. Autora de Mulheres, Liderança Política e Media (2015, Alêtheia Editores) e O Espaço Público em Hannah Arendt: O Político como Relação e Ação Comunicativa (2005, Minerva Coimbra). Desempenhou funções como jornalista em diversos meios de comunicação, mantendo atualmente colaborações esporádicas (email: [email protected]). 17 RESUMOS SESSÃO 4 RESISTIR AO JOGO DO OUTRO: TRADIÇÃO E ORALIDADE NA ANGOLA CONTEMPORÂNEA Alexandra Dias Santos (UEuropeia) Resumo: Em Angola, a literatura desempenhou um importante papel na luta política pela independência, sendo amplamente reconhecida a sua importância para a afirmação da identidade nacional. Ao mesmo tempo, essa mesma literatura é veículo de noções de progresso e de modernidade moldadas no ocidente, promovidas pelas elites angolanas em busca de legitimação. Pretende-se nesta comunicação reflectir sobre o processo ainda em curso em Angola de imposição dos valores ocidentais, e sobre a resistência ao mesmo, a partir da análise de dois contos de autores angolanos que partilham um enredo comum sobre a ocupação de terras no Sul dos pastores cuvale: As águas do Campembáua de Ruy Duarte de Carvalho (RDC) e parte do romance Predadores, de Pepetela. A forma como nas duas narrativas é solucionado o conflito apresenta-se muito diferente, apontando para duas formas distintas de entender a tradição, a nação e o destino das formações que RDC apelida de identidades colectivas parcelares. Ruy Duarte de Carvalho foi uma das vozes mais consistentes, no contexto Angolano, na defesa dos modos de vida tradicionais, nomeadamente das populações nómadas. Na tradição, ancorada na oralidade e nas práticas quotidianas e rituais, percebeu uma forma de resistência e adaptação aos desafios do mundo contemporâneo. Pretendese nesta apresentação explorar o pensamento de RDC a respeito de dominações e resistências, contextualizando-as numa discussão em curso sobre a nação angolana e a modernidade. ALEXANDRA DIAS SANTOS é Doutorada em Sociologia pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS-UL), sendo actualmente Professora de Ciências da Comunicação na Universidade Europeia. A sua investigação incide sobre as relações entre a ideologia, os media, o nacionalismo e a história. Na dissertação de doutoramento focou a obra do escritor angolano Pepetela, que procura compreender nas facetas mais políticas e ideológicas, a partir de contribuições da sociologia, da história, da antropologia e da ciência política. Entre os seus interesses de investigação estão a relação entre media e Império Português e os estudos culturais (email: alexandra. [email protected]). A DOUBLE STANDARD THESIS NA PRODUÇÃO PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA DE CARTUNES POLÍTICOS Samuel Mateus (UMadeira) Resumo: Apesar de frequentemente assumirem um papel secundário, os cartunes (cartoons) políticos podem ser elementos fundamentais da comunicação política pelo modo como influenciam a percepção pública acerca dos tópicos socialmente relevantes. Por um lado, ecoando e reforçando a visibilidade da agenda mediática; por outro lado, pela maneira como enquadram (framing) esse assunto recorrendo a dispositivos irónicos, mordazes ou satíricos. Uma das mais importantes abordagens teóricas aos cartunes políticos é a chamada “Double Standard Thesis” de Raymond Morris que postula a tendência de representação dual entre, por exemplo, ordem e caos, sensatez e irresponsabilidade, seriedade e leviandade. Com efeito, de acordo com essa tese, regista-se a tendência dos líderes políticos serem retratados de forma insensata e ridícula enquanto os líderes económicos e empresariais são representados de forma positiva e responsável. Prestando atenção aos dispositivos retóricos verbais e visuais utilizados, esta comunicação propõe analisar uma selecção aleatória de cartunes políticos publicados entre 2003 e 2014 no suplemento humorístico “Inimigo Público” do Jornal Público, da autoria de António Jorge Gonçalves, com vista à confirmação, ou não da “Double Standard Thesis”. Embora a amostra possa não ser representativa 18 da produção portuguesa de cartunes políticos, a sua análise poderá fornecer-nos pistas relevantes não apenas em relação à construção humorística do cartune político em Portugal, como também em relação à corroboração ou rejeição dessa tese revelando, ou não, um dos enquadramentos preferenciais na leitura crítica que os cartunes fazem da realidade política e social. Por outro lado, e de forma indirecta, esta análise procura compreender se a “Double Standard Thesis” é uma abordagem teórica circunscrita ou se pode ser aplicada de modo trans-nacional na leitura que os cartunistas fazem da realidade social. A sua identificação em Portugal permitiria, por exemplo, concorrer para perspectivar a “Double Standard Thesis” não apenas como um enquadramento, entre outros possíveis, da representação política, mas também como um dos mais omnipresentes enquadramentos, um capaz de funcionar como um lugar-comum retórico permitindo uma fácil assimilação dramática dos representados. Este assunto é tanto mais importante quanto, na contemporaneidade, se espera dos cartunistas que se equiparem aos jornalistas na sua função de watchdog “exigindo” uma prestação de contas (accountability) aos actores políticos. De facto, os cartunes integram o sistema comunicação política, tal como confirmado pelo seu papel incontestável, por exemplo, durante os regimes totalitários e autoritários. Espera-se que esta comunicação possa contribuir para discutir o papel dos cartunes políticos dentro da comunicação política das sociedades democráticas e, em particular, em Portugal. SAMUEL MATEUS é Professor de Teoria da Comuni- cação na Universidade da Madeira e investigador no Labcom.IFP e CECL (Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens). Autor de “Publicidade e Consumação nas Sociedades Contemporâneas” (Livros Labcom, 2011) e “Tele-Realidade- o princípio de publicidade mediatizado” (Labcom, 2013). Co-organizador com Eduardo Cintra Torres de “From Multitude to Crowds: Collective Action and the Media” (Peter Lang, 2015) (email: [email protected]). MEDIA ONLINE E POLÍTICA NA EUROPA: UMA PERSPECTIVA COMPARATIVA José Santana Pereira (ICS, ULisboa) Resumo: Hoje em dia, um dos principais debates na literatura sobre comunicação política é relativo ao papel da internet nos processos de comunicação e informação sobre assuntos políticos. Em concreto, um dos aspectos mais discutidos é a capacidade que os media online têm de contribuir para o debate na esfera pública, nomeadamente colocando novos assuntos na agenda dos actores políticos, alargando o espectro de actores que podem influenciar a opinião pública e tornando o jornalismo mais responsivo vis-à-vis o público em geral. Os dados recolhidos pelo inquérito a especialistas European Media Systems Survey (Popescu, Gosselin e Santana Pereira 2010) permitem verificar que o contributo dos media online para o debate na esfera pública varia consideravelmente entre os países da União Europeia. Neste artigo, faz-se um panorama do papel desempenhado pelos media online na Europa, tentando identificar os factores que explicam a sua maior ou menor predominância no debate político, nomeadamente dimensões estruturais (desenvolvimento dos mercados de imprensa e televisão e acesso da população à internet) e substantivas (polarização política do mercado mediático, profissionalização dos jornalistas). Os resultados desta análise permitem testar as hipóteses de dependência vs. complementariedade dos media online em relação aos seus congéneres tradicionais e ao sistema mediático mais alargado. JOSÉ SANTANA PEREIRA é doutorado em Ciências Po- líticas e Sociais pelo Instituto Universitário Europeu (Florença, Itália). É actualmente investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e Professor Auxiliar Convidado no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa. A sua investigação incide sobre temáticas como o comportamento eleitoral dos portugueses, atitudes políticas, campanhas eleitorais, efeitos dos meios de comunicação social na opinião pública e sistemas mediáticos nacionais. Nos últimos anos, publicou 19 em revistas peer-reviewed como Electoral Studies e South European Society and Politics. Uma das suas últimas publicações é o livro Política e Entretenimento (FFMS, 2016) (email: jose.pereira@isc. ulisboa.pt). INTRODUCING A FOUR-TYPE LEGITIMACY IN PUBLIC POLICIES: A CROSS-COUNTRY COMPARISON Evandro Oliveira (UMinho) Maria José Canel (Universidad Complutense de Madrid, Espanha) Vilma Luoma-aho (University of Jyväskylä, Finlândia) Resumo: Present economic and financial crisis is associated with a decrease in trust in public institutions. Along with the economic crisis, resources are coming under threat and citizens’ expectations are being less satisfied than before, being thus public sector organizations impelled to legitimize their activities in order to preserve their existence (Cinca, Molinero & Queiroz, 2003; Tyler, 2006; Luoma-aho & Makikangas, 2013). People’s assessments are vital for public sector organizations as they contribute to organizational legitimacy. Institutional theory stands that organizations need to gain and maintaing legitimacy to survive; and organizations have legitimacy when they conform to social expectations (DiMaggio y Powell, 1991; Deephouse & Suchman, 2008). There is literature that considers legitimacy as an intangible asset conferred on or granted to organizations by organizational stakeholders (Hamilton, 2006, 332); and in building legitimacy Public Relations might play to the extent that legitimacy is related with collective accounts and rationale explanations about what an organization is doing and why. But actually how do citizens judge the legitimacy and which are their main expectations? (RQ1) The aim of this research is to introduce a four-type legitimacy (consequential, structural, procedural and personal) and explore whether it applies to young citizens on the example of the migrant crisis, related to both National and European level; more specifically, this research looks at what leads young citizens to confer legitimacy on governments’ migration public policies. In Europe, there is a crisis and more than a million migrants and refugees crossed into Europe in 20151. This crisis is creating division and pressure in the EU, but also on international and national governments and public institutions. 2 Governments are making policies twards Legitimacy is a generalized perception or assumption that the actions of an entity are desirable, proper, or appropriate within some socially constructed system of norms, values, beliefs, and definitions (Suchman, 1995, 574). Citizens’ judgments of legitimacy of public institutions reveal certain logic between social values, norms and expectations with the actions, performance and outcomes of organizations (DiMaggio y Powell, 1991; Suchman, 1995; Deephouse, 1999; Johnson, Dowd & Ridgeway, 2006; Bitektine, 2011). For the purpose of this research, which looks at legitimacy of public policies, four types of legitimacy will be considered. ‘Procedural legitimacy’ is based on favourable evaluations of the soundness of the organizational’s procedures and process; it refers to process followed in public management; ‘Consequential legitimacy’ regards outcomes, results and achievements; ‘Structural legitimacy’ refers to buildings, working policies, budgets, resources, etc.; and ‘Personal legitimacy’ regards leadership. Three focus groups were conducted in Spain, Germany and Finland to identify their judgments and expectations, as well as their prioritization on the above four types of legitimacy. Through an existentialist content-analysis, the main constructs were identified. On a second step, reduction into categories after a semantic clustering was conducted. Based on findings, this paper discusses how different types of legitimacy demand different approaches to communication of public policies and sets the basis for hypothesis for further research on how governments should build legitimacy as an intangible asset of public organizations. EVANDRO OLIVEIRA Dipl-Journ, M.A, MSc Strate- gic Communication and Drs. in Philosophy and Strategic Communication Management, is a Researcher at the University of Leipzig and at the 20 Communication and Society Research Centre – from the Minho University in Portugal. Evandro Oliveira has been a gest speaker and lecturer at various Universities and Institutions in Europe and South America, produced more than 30 scientific articles and presentations. His main research interests are: Strategic Commmunication management, NGO Communication Management, Social Media and Communication and Political Communication. Since 2014 he is Chair of the German Young Reseachers of Communication, Public Relations and Political Communication network (naprok) (email: [email protected]). MARÍA-JOSÉ CANEL has a PhD in Journalism, Uni- versity of Navarre. Professor in Public Relations, Political and Public Sector Communication at the Universidad Complutense de Madrid and Visiting Professor at the London School of Economics (1992). At present, she is Chair of the Department of Comunicación Audiovisual y Publicidad II, University Complutense of Madrid. Co-Chair of the Political Communication Section of the International Association for Media and Communication Research (IAMCR) (from July 2012), Chair of the European Communication Research and Education Association (ECREA) (2012-2014) and Vicechair (2010-2012 and since 2014) and Founding President of ACOP Asociación de Comunicación Política. VILMA LUOMA-AHO has a PhD in Organizational Communication and PR, University of Jyväskylä, Finland (JYU) 2005 and is Full Professor of Organizational Communication & PR, JYU. 21 RESUMOS WORKSHOP 1 A CAMPANHA DE HUMBERTO DELGADO NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 1958. O EXEMPLO DE VISEU Joana Reis (FCH - UCP) Resumo: A investigação que se pretende desenvolver incidirá na campanha eleitoral de Humberto Delgado à Presidência da República em 1958, com enfoque na forma como esta foi construída. Nas largas décadas em que Portugal viveu sob o signo do Estado Novo, entre 1933 e 1974, o regime nunca deixou de realizar eleições - mesmo com os resultados controlados, de modo a garantir sempre a vitória do candidato apoiado pelo regime ou a lista apresentada pelo partido único, a União Nacional. Realizar eleições constituía, a nível interno, uma forma de legitimar o poder do Governo e, a nível externo, servia igualmente o propósito de uma falsa aparência de liberdade, dando a ilusão de que os cidadãos podiam escolher livremente. Todavia, os actos eleitorais em si mesmos e toda a sua envolvente ficaram marcados por fortes contingências em matéria de liberdades e de exercício dos direitos cívicos e políticos dos cidadãos, a par das múltiplas restrições impostas pela censura aos meios de comunicação social. Uma realidade especialmente evidenciada na campanha para as eleições presidenciais de 1958 em Portugal, protagonizada por Humberto Delgado, que acabou por alcançar honras de fenómeno, que fez tremer o regime e teve repercussões que acabaram por se estender por vários anos. Influenciado por uma estadia de vários anos nos Estados Unidos, o General Delgado inaugurou um novo estilo de aproximação às pessoas e de afronta ao regime, que se revelou um sucesso em termos de adesão popular. A campanha de Humberto Delgado constituiu a maior ameaça ao Estado Novo nos mais de quarenta anos em que o regime vigorou em Portugal. Nesse sentido, assume especial pertinência no âmbito da comunicação política, um estudo aprofundado sobre como é que a influência americana, por um lado, se repercutiu na campanha de Humberto Delgado e, por outro, foi condicionada pelas contingências políticas do país. O presente trabalho incide no arquivo particular de Álvaro Monteiro, destacado republicano, responsável pela campanha de Humberto Delgado no distrito de Viseu. O seu espólio, entregue recentemente pela família aos Arquivos da Torre do Tombo, engloba um vasto período temporal, entre os anos 30 e 80, mas para efeitos da investigação em curso, apenas foram consultados os documentos referentes às eleições presidenciais de 1958. Viseu servirá como ponto de referência para a reconstituição dos passos da campanha, a forma como esta foi construída, os protagonistas, os bastidores, as grandes questões que se levantavam. O que se comunicava, como se comunicava, quais os suportes utilizados, como se comportaram os media e em que tipo de comunicação se baseou esta campanha de moldes democráticos, dentro de um regime não democrático, são algumas das questões a que se pretende dar resposta com a investigação. JOANA REIS: Doutoranda em Ciências da Comuni- cação na Universidade Católica Portuguesa. Investigadora júnior no Centro de Estudos de Comunicação e Cultura. Licenciada em Comunicação Social e Cultural pela Universidade Católica Portuguesa e mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pela mesma instituição. Jornalista da editoria de política, na TVI, desde 2004. É autora de “A transição impossível: a ruptura de Francisco Sá Carneiro com Marcello Caetano” (2010) e “Melo e Castro, o Provedor que dizia sim à democracia” (2013) (e-mail: [email protected]) A POLÍTICA NO JORNAL TEMPO NA FASE FINAL DA REVOLUÇÃO PORTUGUESA: A DEFESA DA LEGALIDADE DEMOCRÁTICA Pedro Marques Gomes (IHC-FCSH, UNL) Resumo: Um ano após o 25 de Abril de 1974, vivia-se o período de maior radicalização do Processo Re- 22 volucionário em Curso (PREC). Os acontecimentos multiplicavam-se a um ritmo vertiginoso, as vendas dos jornais subiam consideravelmente e a luta pelo controlo do seu conteúdo intensificava-se. De acordo com o relatório do Conselho de Imprensa relativo ao período, após o 11 de Março verifica-se, nos jornais, um “tom monolítico e, em alguns casos, propagandístico” (1979, p. 43). Assim, a partir de Abril desse ano, surgem novos periódicos, que, pertencendo a várias áreas políticas, parecem modificar o panorama da imprensa da época, alcançando tiragens expressivas. Esta comunicação, inserida no âmbito da minha investigação de doutoramento (SFRH/ BD/109127/2015), refere-se concretamente a um desses jornais: o semanário Tempo, surgido a 29 de Maio de 1975. Analisam-se os contextos político e mediático em que o jornal surge para, assim, melhor compreendermos as suas particularidades e objectivos enquanto actor político. É dado especial enfoque à análise dos textos, publicados no Tempo, sobre questões políticas e/ou que destaquem figuras políticas. PEDRO MARQUES GOMES é Investigador do Insti- tuto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Doutorando em História Contemporânea pela FCSH-UNL, sendo bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (SFRH/ BD/109127/2015). Mestre em Jornalismo pela Escola Superior de Comunicação Social do IPL. Autor da obra Os Saneamentos Políticos no Diário de Notícias no Verão Quente de 1975 (Alêtheia, 2014). (e-mail: [email protected]) A AÇÃO DOS ALGORITMOS DA INTERNET À LUZ DO PENSAMENTO DE GABRIEL TARDE E JOHN DEWEY Ester Minga (FCSH-UNL) Resumo: Entre as décadas de 1980 e 1990, vários acadêmicos americanos, com James Carey à frente, retomaram o debate ocorrido entre Walter Lippmann e John Dewey nos anos 20, sobre qual modelo de democracia deveria prevalecer e qual seria o papel do público neste (SCHUDSON, 2008). No momento em que este diálogo ocorreu, a sociedade de massas já estava plenamente estabelecida nos Estados Unidos e os jornais eram vistos por eles com desconfiança pela predisposição a serem veículos de propaganda para diferentes fins. Na retomada do debate nas décadas seguintes, a resposta de Dewey para este cenário encontrou maior aceitação entre os intelectuais, servindo de inspiração para a reflexão sobre o momento que se vivia no país (administração Reagan). Em sua análise sobre as possibilidades de efetiva democracia na modernidade, Dewey defende uma teoria do conhecimento de cariz social, em que, por meio da associação e comunicação entre os indivíduos, estes adquiririam o conhecimento necessário para se imiscuírem nos assuntos de interesse geral e assim participarem da democracia. Carey, em sua releitura do autor, defendeu que essa teoria do conhecimento fosse promovida, também por meio de um jornalismo que deveria não apenas limitar sua atuação à mera transmissão de informação, mas que agisse no sentido de conduzir o debate público. Retomámos este momento histórico para, num contexto já quase generalizado de digitalização, enfatizarmos a necessidade de se discutir, assim como se fez nas décadas passadas nos Estados Unidos, o que entendemos por democracia e participação pública. Ethan Zuckerman (2016) pontua que esta discussão evidencia-se mais uma vez fundamental visto que hoje enfrentamos o desafio de compreender qual é a real influência dos algoritmos da internet na esfera pública. Com a promessa de auxiliar os usuários a lidarem com o fluxo incessante de informação que circula na rede por meio da personalização da oferta de conteúdo, os algoritmos, apesar do seu caráter pervasivo, não possuem uma atuação clara e, muitas vezes, nem são identificáveis pelos usuários. Esse aspeto mostra-se ainda mais evidente na maior rede social da atualidade, o Facebook, que possui 1,59 bilhão de usuários - dos quais 65% o acessa diariamente - e, de acordo com o Reuters Institute News Digital Report 2015, é o meio pelo qual 41% dos mais de 20 mil consumidores de notícias de 12 países as acessam todas as semanas. O Facebook defende que o seu algoritmo atua de acordo com o comportamento do usuário que, 23 em última estância, é o responsável por escolher o conteúdo que consome, no entanto, é espantoso notar que, apesar de a morte de Michael Brown, em Ferguson, ter recebido tantas menções na rede social quanto o Ice Bucket Challenge, este foi oito vezes mais promovido pelo algoritmo (Zuckerman, 2014). A função de gatekeeping não surgiu com os algoritmos, tampouco a filter bubble (Pariser, 2012) promovida por estes está desconectada dos meios ideológicos e culturais em que vivem os usuários fora da rede, no entanto, como o caso Ferguson/ Ice Bucket demonstra, não há como negar seu impacto na conversação entre os usuários. Por isso o interesse em analisar suas consequências à luz da teoria de cariz comunicacional de Dewey e daquele que inspirou este, Tarde. Em razão do período em que os autores desenvolveram sua teoria, estes se referem à comunicação face a face, no entanto, sabemos que atualmente grande parte das conversas ocorre nas redes sociais e/ou são pautadas por essas, por isso o interesse em compreender a ação dos algoritmos a partir do seu impacto na comunicação, utilizando como perspetiva teórica os dois autores. ESTER MINGA é doutoranda em Ciências da Comu- nicação na Universidade Nova de Lisboa e pesquisadora associada do CIC.Digital. (e.mail: ester. [email protected]) A ESPIRAL DO SILÊNCIO E AS PRAXES ACADÉMICAS José Carlos Alexandre (IPG e UBI) Resumo: sas quando pressentem que estão, e estarão, do lado de uma minoria. A perceção do clima de opinião e o medo do isolamento são as duas variáveis chave para explicar a disposição dos indivíduos em expressar-se publicamente sobre assuntos controversos ou, ao invés, para se remeterem ao silêncio. Os princípios básicos da TES aparentam uma “verdade intuitiva” e uma certa lógica. Nos seus mais de 40 anos de vida, a espiral do silêncio gerou uma investigação considerável. Os resultados são contraditórios e inconsistentes. A evidência empírica é ambígua. Entre 1 de março e 27 de abril de 2016, aplicámos dois inquéritos online a 701 estudantes da Universidade da Beira Interior (339) e do Instituto Politécnico da Guarda (362). O objetivo principal era verificar o potencial efeito silenciador das praxes académicas sobre os estudantes. A evidência empírica sugere que a espiral do silêncio se manifesta parcialmente, nomeadamente através das variáveis independentes medo do isolamento e perceção sobre a opinião maioritária. A variável dependente da teoria da espiral do silêncio, expressão da opinião, parece ser também influenciada por outras variáveis explicativas retiradas de duas teorias: “Teoria do comportamento planeado” (theory of planned behavior) e “Comunicação e apreensão” (communication apprehension). JOSÉ CARLOS ALEXANDRE é licenciado em Economia, pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (1994). Mestre em Comércio Internacional, pela Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho (2001).Diploma de Estudios Avanzados em História Contemporânea, pela Facultad de Geografia y Historia da Universidad de Salamanca, em 2008. Doutorando em Ciência da Comunicação na Universidade da Beira Interior desde 2013. (e-mail: [email protected]) Em 1974, Elizabeth Noelle-Neumann apresentou a teoria da espiral do silêncio. Segundo esta teoria, a disposição do indivíduo para assumir em público o seu ponto de vista depende da apreciação que faz acerca da distribuição atual das opiniões e da sua evolução futura. As pessoas estão mais predispostas a exprimir publicamente as suas opiniões quando pressentem que a maioria está, e estará, do seu lado. Por outro lado, tendem a silenciar-se e a ser cautelo- 24 RESUMOS WORKSHOP 2 REGULAMENTAÇÃO DO LOBBYING EM PORTUGAL - UMA PERSPECTIVA DE COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA João Simão (ESCS-IPLisboa) Resumo: O objectivo desta análise é perceber de que forma se pode articular a comunicação entre diferentes actores políticos, sobretudo entre governantes e cidadãos – ou seja, que tipo de comunicação se estabelece num contexto político. Primeiramente, é importante balizar conceptualmente o que se entende por Comunicação Política e Marketing Político, as suas semelhanças, diferenças e intersecções. Através de revisão bibliográfica pretende-se perceber como é feito o envolvimento dos diferentes stakeholders nos centros de decisão, como se veicula e se adequa a informação, ou seja, de que forma se estabelece todo o circuito comunicacional entre diferentes actores políticos. Assim, o mapeamento dos padrões comunicacionais e de interacção entre diferentes actores políticos será um dos principais focos da Comunicação Política – só assim poderemos percepcionar de que forma diferentes actores políticos interagem entre si, ou seja, quais as suas reais competências comunicacionais. Desta forma, para que melhor se consiga incorporar a pluralidade de interesses em jogo em qualquer relação social, importa referir que a própria actividade de Lobbying pode ser encarada como a expressão de um interesse. Será possível então perceber que uma estratégia de comunicação junto dos decisores políticos é fulcral na influência de políticas públicas, pois o seu principal objectivo é exactamente influenciar proactivamente os agentes políticos. Pretende-se portanto perceber se a utilização de canais de Lobbying por parte de grupos de interesses organizados e novos movimentos sociais pode influenciar as decisões das instâncias políticas. JOÃO SIMÃO é assistente convidado na ESCS-IPL desde Setembro de 2012. Co-responsável pelos projectos extracurriculares PRLab, desde 2014- 2015, e Mentoring RPCE, desde 2015-2016. Investigador na área das Relações Públicas e da Comunicação Política, com publicações em congressos e revistas nacionais e internacionais. Licenciado em Relações Públicas e Comunicação Empresarial pela ESCS-IPL e Mestre em Gestão Estratégica das Relações Públicas pela ESCS-IPL. A concluir o Doutoramento em Ciências da Comunicação no ISCTE-IUL. (e-mail: [email protected]) RUI MOREIRA E AS ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS DE 2013: O PERCURSO MEDIÁTICO DE UM CANDIDATO INDEPENDENTE Filipe Resende (CECC-UCP) Resumo: A vitória do candidato Rui Moreira nas Eleições Autárquicas de 2013 no Porto surpreendeu a sociedade portuguesa. Este inesperado triunfo levou muitos analistas a abordarem este resultado, enquanto uma clara descredibilização partidária nas sociedades democráticas. Apesar deste descrédito, a vitória deste independente deve-se também a uma construção político-mediática. Assim a presente investigação tem como objetivo analisar a visibilidade de Rui Moreira nas Eleições Autárquicas de 2013. Neste contexto, a componente teórica centra-se nos conceitos de celebridade política e nas campanhas eleitorais. A primeira noção é possível devido à aproximação entre media e política. Esta união fomentou uma popularização do discurso público, com uma mensagem orientada para o espetáculo. Assim várias personalidades com carreira nos meios de comunicação têm-se candidatado a diferentes eleições. O seu sucesso é influenciado pela reputação alcançada nos órgãos de informação através de eficientes campanhas eleitorais. Esta segunda noção teórica é uma forma eficaz junto do eleitor, resultado da profissionalização da comunicação política. A investigação foca-se numa abordagem quantitativa, suportada numa análise de conteúdo. Assim os objetivos passam por analisar o media- 25 tismo de Rui Moreira, tendo em conta as suas atividades na comunicação social e a sua cobertura jornalística na campanha eleitoral. Como principal resultado, a investigação sugere que este candidato independente é uma celebridade política, beneficiando de uma popularização. O estatuto alcançado por Rui Moreira teve um efeito benéfico na campanha informativa eleitoral, podendo ter influenciado a perceção do eleitor. FILIPE RESENDE é licenciado em Comunicação So- cial e Cultural, mestre em Comunicação Política e atualmente é doutorando em Ciências da Comunicação na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa. É também Investigador Júnior do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura e foi bolseiro da FCT (Junho de 2014 – Dezembro de 2015). As suas principais áreas de interesse são os estudos de jornalismo, a comunicação política e as relações públicas. (e-mail: [email protected]) A CONSTRUÇÃO DA MENSAGEM POLÍTICA NAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS DE 2015: OS DEBATES ENTRE ANTÓNIO COSTA E PEDRO PASSOS COELHO Susana Rogeiro Nina (ISCTE-IUL) Resumo: Na sociedade contemporânea os media e os novos media configuram-se como fundamentais nas estratégias de campanha eleitoral dos partidos políticos, assumindo-se a televisão, em particular, como o meio privilegiado de acesso a informação política e formação de opinião política dos cidadãos. Em Outubro de 2015, após quatro anos de governação da coligação PSD-CDS, realizaram-se as eleições legislativas, marcadas por uma série de debates televisivos entre os líderes dos principais partidos portugueses. Num contexto de instabilidade económica, o argumento da dicotomia entre campanhas de clarificação e de insurgência proposto por Vavreck (2009) não se configura como válido para distinguir o discurso entre o incum- bente e o candidato do principal partido, o challenger. Na verdade, a mensagem política de Pedro Passos Coelho e António Costa foi marcada pela campanha negativa e alusões ao passado, na procura do ónus da culpa da política de austeridade, em detrimento da discussão sobre o futuro do país. Este artigo tem como ponto de partida a construção da mensagem política de Pedro Passos Coelho e António Costa nos dois debates pré-eleitorais, o televisivo e o radiofónico para as legislativas de 2015. Procura, assim, sistematizar, o conteúdo dos debates, com o objetivo de demonstrar que a mensagem política foi determinante para o resultado eleitoral: a estratégia parece ter recompensado a coligação e prejudicado o principal partido da oposição, o Partido Socialista, cuja intenção de voto decresceu todas as semanas durante o mês de Setembro. Através da análise de conteúdo das temáticas abordadas por António Costa e Pedro Passos Coelho no debate televisivo e no debate radiofónico, o artigo pretende, de modo comparado, inferir sobre o modo como os candidatos utilizaram os debates para vincularem a sua mensagem política, que assuntos dominaram a discussão e as dissemelhanças das estratégias de comunicação dos candidatos. Procura, igualmente, demonstrar, de que modo estas diferenças se manifestaram nos dois debates e se a alteração da mensagem política de um debate para o outro teve influência nas sondagens pré-eleitorais sobre a intenção de voto. SUSANA ROGEIRO NINA é licenciada em Ciência Po- lítica e Relações Internacionais, vertente Ciência Política pela Universidade da Beira Interior. Atualmente frequenta o mestrado em Ciência Política no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, com uma dissertação sobre o impacto da televisão no comportamento político, As eleições Presidenciais de 1986. Os debates Mário Soares vs Freitas do Amaral: Qual o poder da televisão? Os seus interesses de investigação incidem, sobretudo, em temáticas sobre o comportamento político, os efeitos dos meios de comunicação social na opinião pública, campanhas eleitorais e comunicação política. Tem colaborado em diversos projetos de investigação, tendo em fase de preparação e publicação artigos científicos e capítulos de livros. (e-mail: [email protected]) 26 OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO, AS REDES SOCIAIS E A QUALIDADE DA DELIBERAÇÃO NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO XXI GOVERNO Ricardo Morais (UBI) Resumo: A relação entre a democracia e os meios de comunicação ganha hoje novos argumentos para ser discutida. Apesar de o debate sobre o papel dos meios de comunicação nas sociedades democráticas não ser novo, os desafios impostos pelas novas tecnologias da informação e da comunicação convidam a desenvolver uma nova reflexão crítica sobre a função dos media na sociedade, em particular tendo em conta a emergência de novos meios, o papel das redes sociais e as diferentes possibilidades de participação, seguindo aquelas que são as ideias defendidas pelas teorias deliberativas. Assim, ao mesmo ritmo que se registou o crescimento das novas tecnologias de comunicação, e particularmente da Internet, cresceram também as expectativas sobre o impacto e o potencial da Internet na criação de um novo ambiente de deliberação. Com base na ideia que disponibilizaria uma grande quantidade de informação, sem qualquer constrangimento de tempo e espaço, e permitiria às pessoas participar livremente nos debates sobre questões de interesse público, a Internet começa a ser encarada como detentora de um enorme potencial para melhorar os processos deliberativos, uma vez que proporciona oportunidades relevantes para discussão e interação entre os cidadãos. É neste contexto, e no âmbito dos debates mais gerais que têm sido levados a cabo sobre participação, meios de comunicação e Internet, que este trabalho procura avaliar em particular a qualidade da deliberação pública online, nomeadamente através de uma análise dos comentários às notícias publicadas nos sites dos principais jornais online e nas suas páginas nas redes sociais. Considera-se para efeitos de análise o caso particular das eleições legislativas de 2015 e especificamente a mudança política que se seguiu e que acabaria por conduzir à formação do XXI Governo Constitu- cional. Procura-se, através deste caso, e com esta análise, perceber, numa primeira fase, se os meios de comunicação funcionaram como plataforma deliberativa durante este processo, mas também quais os argumentos apresentados nas notícias publicadas e que atores ganharam visibilidade. Considerando ainda a forma como foram enquadrados os diferentes discursos (framing), indagamos sobre se a esfera de formação da opinião pode de alguma forma ter influenciado a esfera de tomada de decisão. RICARDO MORAIS é licenciado em Ciências da Comunicação e Mestre em Jornalismo: Imprensa, Rádio e Televisão, pela Universidade da Beira Interior. Atualmente é professor assistente convidado da Faculdade de Artes e Letras da UBI, onde leciona Jornalismo Radiofónico e Televisivo. Estudante de doutoramento em Ciências da Comunicação nesta instituição de ensino, desenvolve uma investigação que pretende analisar as diferentes dimensões das oportunidades de participação oferecidas aos cidadãos pelos novos media. Foi bolseiro de investigação dos projetos “Public and Private in Mobile Communications” e “Agenda dos Cidadãos: jornalismo e participação cívica nos media Portugueses”, ambos desenvolvidos no Laboratório de Comunicação Online. (e-mail: [email protected]) 27 RESUMOS WORKSHOP 3 A REPRESENTAÇÃO DOS MEDIA NA CHEGADA DE REFUGIADOS À EUROPA Rafael Mangana (UBI) Resumo: Tradicionalmente um país emigrante, Portugal enfrenta, no início do século XXI, um crescimento relativamente ao número de indivíduos que chegam de outros países. Esta tendência acentuou-se no último ano, com a chegada à Europa de refugiados provenientes, sobretudo, do Médio Oriente e Norte de África, fugindo do clima de insegurança potenciado pela proliferação do fenómeno do terrorismo, nomeadamente, associado ao denominado Daesh. Estes refugiados têm-se espalhado um pouco por toda a Europa, não sendo, no entanto, a sua chegada aceite de ânimo leve e de igual forma em todos os países. De resto, esta animosidade tem sido, em alguns casos, potenciada por atos terroristas, perpetrados em cidades paradigmáticas do poder político-económico europeu, como Paris ou, mais recentemente, Bruxelas. Deste modo, refugiados e terroristas têm sido, muitas vezes, (con)fundidos, pelo que não admira que estes grupos se constituam como temas de especial interesse para os media portugueses, no que ao tratamento jornalístico diz respeito. Torna-se, assim, de especial relevância e interesse, saber até que ponto, os media (re)produzem ideias socialmente aceites e que, por vezes, não correspondem a outras realidades, a outros contextos díspares. Ora, o reconhecimento de uma dimensão conflitual e fragmentadora da realidade social, nomeadamente dos refugiados, não dispensa, conforme estudos recentes o comprovam, uma análise do paradigma de investigação que constitui o fenómeno da globalização nos meios de comunicação social. No nosso país, “a diferença” está agora a chegar à esfera sócio-cultural e, consequentemente, os agentes sociais – sendo que os media não são exceção – estão ainda a “aprender” a viver num contexto social cada vez mais globalizado, o que, por vezes se torna intrincado, pelas dificuldades inerentes à convivência com diferentes realidades, culturas e formas distintas de encarar o mundo. Neste sentido, autores como Alfred Schutz, Robert Entman, Erving Goffman, Gaye Tuchman, Peter Berger, Thomas Luckmann, Walter Lippmann, Niklas Luhmann, Pierre Bourdieu ou Stuart Hall, desenvolvendo conceitos como, «realidades múltiplas», «enquadramento», «frame», «tipificacão» ou «representacões culturais», afiguram-se como essenciais para o desenvolvimento deste estudo. É neste contexto que tentaremos refletir e encontrar respostas a algumas questões, que giram em torno da forma como os media constroem, ou não, a realidade, enquadram ou recriam contextos, apresentando ideias associadas a preconceitos, numa realidade que poderá ser, eventualmente, estereotipada. A teoria das realidades múltiplas, ao chamar a atenção para uma pluralidade de estilos cognitivos, descobre a possibilidade de estudar formas de racionalidade diversas. Cada mundo da vida integra os que dele fazem parte e exclui, naturalmente, os restantes. Partindo das teorias construtivistas – que defendem as notícias como construção –, teremos de abordar autores como Stuart Hall ou John B. Thompson, que, através de conceitos como as «representações culturais» ou «mapas de significado» nos remetem para o sentido mais pragmático do que representa a criação de mecanismos sociais de defesa e de descodificação de realidades que, muitas vezes, estão tão próximas e, ao mesmo tempo, tão longe da sociedade, tomada como um todo, e, consequentemente, dos seus valores e coordenadas culturais. Ora, deparamo-nos muitas vezes com a ideia de que o enquadramento noticioso, no fundo, os frames - tomados como parte de uma realidade – dão sentido, ainda que simbólico, à própria realidade. Esta é, pois, uma temática de crescente interesse no seio académico no que à área das Ciências da Comunicação diz respeito. Com efeito, este estudo não trará respostas para todas as questões levantadas ao longo de décadas. Pretende-se, no entanto, deixar algum contributo no que concerne à definição das questões relacionadas com o framing, estabelecendo uma relação com a sua aplicabilidade aos estudos dos media, nomeadamente, à comunicação jornalística. 28 RAFAEL MANGANA é estudante de Doutoramento em Ciências da Comunicação e bolseiro de investigação na Universidade da Beira Interior, sendo investigador integrado do centro de investigação LabCom.IFP. (e-mail: rafael.mangana@labcom. ubi.pt) NETATIVISMO FEMINISTA NAS REDES SOCIAIS DIGITAIS: ENQUADRAMENTOS DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO EM NOVOS DISPOSITIVOS Nísia Rizzo (UBI) Resumo: A presente comunicação tem por objetivo expor a versão preliminar do projeto de investigação homônimo, que busca compreender as motivações das mulheres que compartilham hoje relatos de assédio sexual nas redes sociais digitais (doravante, RSDs). Parte-se da constatação de que o feminismo ocidental contemporâneo tem sido praticado e comunicado, por meio do compartilhamento e reverberação de hashtags (#) nas RSDs. Ou seja, o feminismo atualmente não prescinde da tecnologia e da comunicação, pois os temas de que tratam seus coletivos são comunicados e mediados tecnologicamente. (Rentschler & Trhift, 2015) O netativismo feminista constrói-se, assim, de forma simétrica, a partir da profusão de vozes em posts na internet, em uma espécie de “panóptico digital” (Han, 2014), tornando publicamente visível um processo de conscientização da sociedade a respeito de causas feministas, ao mesmo tempo em que as mulheres e os coletivos que defendem suas causas posicionam-se como “contra-poderes” (Bourdieu, 1997) àqueles predominantes na sociedade, como a dominação dos discursos de valorização do masculino, por exemplo. Tais relatos expostos e compartilhados no Twitter e no Facebook testemunham situações de assédio sexual, rompendo a lógica do silenciamento a respeito do tema, ao mesmo tempo em que posicionam o movimento feminista contemporâneo, nas RSDs, como propositivo em termos de mudanças discursivas (novos suportes para dar visibilidade à vio- lência de gênero, circulação de discursos jornalísticos sobre violência de gênero sem a proteção do anonimato etc) e sociais (aumentos de denúncias anônimas de violência de gênero, reverberação de campanhas nas RSDs etc) A campanha feminista brasileira nas RSDs #MeuPrimeiroAssédio é o objeto em estudo. Trata-se de uma “micromobilização”: “conjunto de processos interativos elaborados e empregados pelas OMS [Organizações de Movimentos Sociais] e por seus representantes para mobilizar ou influenciar outros grupos na busca de interesses coletivos ou comuns’”. (Snow et al, 1986: 465 apud Prudêncio, 2015:1) Ou seja, é um tipo de ativismo digital que, não necessariamente, gera protestos de rua, mas reúne campanhas online com hashtags para difundir informações e mobilizar atores coletivos e individuais, que passam a ofertar e disputar interpretações alternativas a questões enquadradas no cenário midiático. Ao demarcarmos teoricamente uma abordagem às RSDs, propomos uma combinação dos conceitos de “comunicação em redes” (Cardoso, 2009; Castells, 2013) e “dispositivos” (Cascais, 2009; Foucault, 2003; Castro, 2009), para, em seguida, articularmos nossa compreensão teórica a uma categorização preliminar de 600 tweets selecionados da campanha em estudo, demonstrando como se posicionam as vozes femininas em suas narrativas pessoais. As perguntas de partida para a realização da investigação em curso podem ser, assim, sistematizadas: “Que enquadramentos da violência de gênero circulam, no Twitter e no Facebook, por meio de hashtags? No caso específico da campanha #MeuPrimeiroAssédio, como ela reverbera nas RSDs, criando iniciativas similares a partir de coletivos de mulheres localizados em outros países, como México e Colômbia (#MiPrimeroAcoso) e Estados Unidos (#MyFirstHarassment; #FirstTimeIWasCatcalled)? E que propostas de mudanças (discursivas e sociais) trazem os relatos assinados por mulheres nas RSDs?” Ao praticar o feminismo nas RSDs, em que a visibilidade e a exposição são elementos fundamentais, os coletivos feministas estabelecem, assim, novas forças no cenário ainda marcadamente determinado por raízes culturais androcêntricas, patriarcais e midiocêntricas, no sentido de que os enquadramentos do tema Violência de Gênero pela mídia hegemônica ainda são dominantes em relação aos das RSDs. Assim, os discursos feministas nas 29 RSDs podem tensionar os discursos dominantes na esfera pública midiatizada. Para empreender a investigação, as metodologias selecionadas são a Análise de Conteúdo (Bardin, 2010) e a Análise Crítica do Discurso (Wodak & Meyer, 2016; Fairclough, 2001; PEDRO, 1997), associadas a entrevistas individuais semi-estruturadas (BAUER & GASKELL, 2002) com as coordenações dos coletivos feministas responsáveis, em todos os países envolvido, a respeito das hashtags que criaram para discutir assédio sexual nas RSDs. NISIA ALEJANDRA RIZZO DE AZEVEDO é doutoranda em Estudos de Comunicação pelo consórcio FCT, formado pela Universidade da Beira Interior (UBI), Universidade do Minho e Universidade Lusófona. É bolseira da FCT no mesmo programa. Mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas e graduada em Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). É professora assistente, desde 2006, no curso de Comunicação (Rádio & TV) da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) (e-mail: [email protected]). O JUDICIÁRIO NA BERLINDA MEDIÁTICA: TENSÕES ENTRE OS MEDIA E A JUSTIÇA NO ESCÂNDALO DO MENSALÃO Bruno Bernardo de Araújo (Universidade de Brasília, Brasil) Resumo: A atualidade política brasileira foi marcada, nos últimos dez anos, por diversos episódios que envolveram o Mensalão. Com início em 2005, tratou-se de um escândalo de corrupção envolvendo a compra de votos de parlamentares em troca de apoio politico no Congresso Nacional. No centro dos acontecimentos estavam altos escalões da República brasileira, incluindo a cúpula do Partido dos Trabalhadores e de outros partidos políticos que faziam parte da coligação de apoio ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Entre 2005 e 2014, da eclosão do escândalo ao julgamento dos envolvi- dos, os meios de comunicação realizaram intensiva cobertura jornalística em que um dos eixos temáticos principais foi seguramente o destino que a Justiça daria aos agentes públicos que acabaram envolvidos nos acontecimentos investigados. Como se concluiu em estudos anteriores (Araújo, 2013), os media adotaram um discurso de condenação antecipada dos réus, convertendo o espaço público mediático numa espécie de tribunal da opinião pública, que em nada se aproximava dos ritos e práticas de um tribunal de justiça sui generis, a começar pela aparente desconsideração de princípios básicos de estruturação de um estado de direito democrático, como a presunção de inocência, o devido processo legal ou o in dúbio pro reu. Essa tendência é elucidativa das tensões existentes na relação dos media com a justiça quer do ponto de vista das diferenças nos rituais adotados, quer de modelos de entendimento do direito e da própria democracia não necessariamente semelhantes (Bourdieu, 1994; Commaille, 1994; Santos, 2005). Para esta comunicação, ainda sob viés exploratório, propomos discutir a hipótese segundo a qual, por meio de um discurso condenatório, parte dos meios de comunicação brasileiros criou um horizonte de expectativas pela condenação sumária dos acusados, antes que os juízes analisassem o conteúdos dos autos, tendo essa expectativa se transformado na pedra de toque do modo como os media construíram a imagem da justiça no decorrer do processo do mensalão. Argumentamos, portanto, que o anseio mediático pela condenação dos acusados se transformou na base discursiva a partir da qual os media se referiram aos magistrados e à própria justiça brasileira, ora tecendo elogios, ora fazendo duras críticas. Para fins de discussão dessa hipótese de trabalho, recorreremos à Análise Crítica do Discurso, em particular aos estudos de Norman Fairclough (2001), para analisar edições das revistas Veja, Época e IstoÉ publicadas durante o período de julgamento do escândalo do mensalão. Uma análise preliminar, que considera aspectos linguísticos e imagéticos, revela que as publicações construíram discursos de cunho positivo ou negativo em relação aos magistrados e à justiça em função do maior ou menor alinhamento das decisões judiciais à expectativa mediática pelas condenações, vistas como necessárias para por fim a uma cul- 30 tura de impunidade supostamente existente no Brasil. Transformando magistrados em heróis ou em alvos de críticas, consoante o atendimento ou não de suas expectativas, as publicações também abriram mão de debates necessários, por exemplo, sobre a corrupção política, para investir num modelo de cobertura altamente personificado, pois centrado em pessoas, e apolítico, no sentido aristotélico do termo, dada a falta de discussão aprofundada que decorreu daquele tipo de abordagem jornalística. BRUNO BERNARDO DE ARAÚJO é doutorando em Co- municação na Universidade de Brasília, onde integra, como investigador, o Núcleo de Estudos em Mídia e Política (NEMP/UnB). É investigador colaborador do Grupo “Comunicação, Jornalismo e Espaço Público”, do Centro de Estudos Interdisciplinares da Universidade de Coimbra (CEIS20/ UC). Atualmente, realiza estágio de doutoramento no Centro de Investigação Media e Jornalismo, sob a orientação da Prof. Doutora Isabel Ferin Cunha. ([email protected]) A MEDIATIZAÇÃO DA RESPONSABILIDADE POLÍTICA: A COMISSÃO DE INQUÉRITO AO BES André J. D. Bradford (FCH - UCP) Resumo: Nas sociedades ocidentais da contemporaneidade, em que a atividade política é cada vez mais moldada na interação com os media e com a sua lógica simbólica, de produção e de funcionamento, o princípio democrático da responsabilidade dos agentes políticos tem-se vindo a afastar da sua matriz formal e institucional, e a sua efetivação a depender do juízo estabelecido com e através dos media enquanto fórum público de debate e construção de significado (Bovens, 2007; Bonner, 2009; Strömbäck, 2011; Djerf-Pierre et al., 2015). Neste sentido, a atribuição de responsabilidade e a prestação de contas por parte dos detentores de cargos públicos em democracia, continuando a exigir e a depender em primeira instância de mecanismos e procedimentos formais, passou a englobar também, e de forma cada vez mais determinante, uma dimensão externa à sua moldura constitucional, que radica no facto de a política contemporânea pressupor um constante processo de negociação e coconstrução entre o que é próprio da política e o que os media apresentam como política (cf. Mazzoleni e Schulz,1999; Kepplinger, 2002). A democracia representativa contemporânea, de cuja essência a responsabilidade dos agentes políticos é corolário, está, assim, inexoravelmente confrontada com a necessidade de interagir com a lógica do sistema mediático, enquanto ambiente comunicacional transversal marcado por um conjunto específico de imperativos profissionais, comerciais e tecnológicos, num processo de construção conjunta que fixa os termos da atualidade e realidade políticas, ao mesmo tempo que, por retroação, produz também consequências no modo como o próprio sistema democrático evolui e é hoje considerado. Tendo por base a Comissão de Inquérito à Gestão do Banco Espírito Santo e do Grupo Espírito Santo, cuja atividade oficial decorreu entre outubro de 2014 e maio de 2015, a nossa investigação centra-se, assim, no processo de mediatização da responsabilidade política como decorrência da forma como, no presente, a concretização e o significado dos princípios que conformam a estrutura do sistema democrático são, em larga medida, dependentes da relação de indispensabilidade mútua e negociação permanente entre a lógica da política e a lógica dos media. É nosso entendimento que a mediatização da política contemporânea, com o que implica de negociação e coconstrução entre as lógicas e interesses próprios de cada um dos sistemas sociais envolvidos, influenciou o consenso partidário alargado que se veio a gerar e a perceção de eficácia partilhada por agentes políticos e mediáticos, a contrario da tradição da democracia portuguesa. Numa época em que os agentes políticos estão simultaneamente confrontados com a irredutibilidade dos mercados e a crescente desconfiança e desagrado dos cidadãos, a interação com os media em contexto de apuramento de responsabilidades políticas assume, a nosso ver, uma relevância acrescida. Procederemos, assim, a uma análise, assente numa 31 metodologia de design misto, ainda que eminentemente qualitativa, da cobertura televisiva efetuada aos trabalhos da Comissão de Inquérito pelos canais generalistas, complementada por entrevistas em profundidade com os protagonistas políticos e os jornalistas responsáveis pelo acompanhamento da matéria. A nossa comunicação no Encontro centrar-se-á na concretização metodológica dos nossos propósitos de investigação, tendo particularmente em atenção o recorte da amostra e as categorias de análise, de forma ainda exploratória. ANDRÉ BRADFORD é doutorando em Ciências da Co- municação, na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, onde se licenciou em Comunicação Social e Cultural, em 1997, e foi Assistente até 1999. Desde 2000, assumiu diversos cargos eletivos e de nomeação política, na Região Autónoma dos Açores, de onde é natural. Dedica-se à investigação em Comunicação Política e, particularmente, à mediatização da política contemporânea e às suas consequências para a conformação do próprio sistema democrático. Presentemente, é deputado regional. (e-mail: [email protected]) 32 RESUMOS WORKSHOP 4 CANÇÃO DE PROTESTO E RESISTÊNCIA NA REVISTA MUNDO DA CANÇÃO (1969-1976) João Vasconcelos e Sousa (ESCS -IPLisboa) Filipa Subtil (ESCS - IPLisboa) Resumo: O Mundo da Canção foi uma revista de música fundada no Porto em 1969 e que foi publicada até 1976, coincidindo assim com o período que antecedeu a queda do regime do Estado Novo e a transição para o regime democrático. De periodicidade mensal, a publicação desempenhou um papel importante na divulgação de novas figuras da música portuguesa, que representavam a “música de protesto” desse período, então ainda pouco conhecidas, como José Afonso, José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, Francisco Fanhais, Luís Cília ou Sérgio Godinho. Ao mesmo tempo, representou uma voz crítica do chamado “nacional-cançonetismo”, um estilo de música comercial, tolerado e incentivado pelo regime do Estado Novo, personificado por cantores como António Calvário, Artur Garcia ou Madalena Iglésias. Orientada acima de tudo para os jovens e muitas vezes sujeita ao aparelho da censura, o Mundo da Canção foi uma revista que aliou um cariz político de oposição à ditadura, com clara expressão nos editoriais, com uma disposição estética que privilegiou as correntes musicais de contestação, tanto nacionais como internacionais (Bob Dylan, Joan Baez, Paco Ibanez, por exemplo), certas propostas de música rock e pop anglo-saxónicas que não eram então muito divulgadas em Portugal (Janis Joplin, Simon & Garfunkel, Leonard Cohen, mas também sonoridades mais pesadas como os Led Zeppelin ou os Black Sabbath e ainda o rock progressivo dos Pink Floyd), a promoção de músicos francófonos (como Georges Brassens, Jacques Brel ou Serge Reggiani) e de língua castelhana, especialmente aqueles cujas músicas indiciavam algum tipo de resistência ao regime franquista (Joan Manuel Serrat ou Patxi Andión). A revista deu expressão a letras das canções, publicou sistematicamente críticas a albúns musicais, editou poesia juvenil sujeita a critérios selectivos e destacou eventos musicais estrangeiros, como o Festival de Woodstock, o qual foi uma referência para a realização em Portugal do Festival de Vilar de Mouros, de 1971. Recorrendo a uma abordagem que combina os estudos históricos, sociológicos, culturais e dos media, a comunicação que se apresenta expõe e discute o papel e influência do Mundo da Canção nos processos de resistência ao poder cultural e político do Estado Novo na sua fase final. JOÃO VASCONCELOS E SOUSA: estudante no mestrado de Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social, Instituto Politécnico de Lisboa. Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. (([email protected]) O PROGRAMA TELEVISIVO GOVERNO SOMBRA E A SOMBRA DA SÁTIRA À POLÍTICA Filipe Pardal (ESCS-IPLisboa) Resumo: No contexto televisivo, a sátira e o humor em conteúdos políticos têm tido um crescimento significativo nas últimas décadas. Partindo da hipótese que a sátira é um recurso comunicacional que procura inverter a ordem social e discursiva dominante, foi analisado o programa Governo Sombra, emitido no canal TVI 24. Este conteúdo detém características ímpares quanto ao formato, à independência dos intervenientes e, ainda, quanto à conjugação entre o sério e o cómico, entre a comunicação de temas políticos e a sátira. Esta apresentação procura analisar e compreender os conteúdos dominantes no programa, identificar os protagonistas e os intervenientes e definir o papel que eles possuem na mensagem disseminada. Dentro do universo do Governo Sombra parte-se de uma caracterização do programa, para em seguida, analisar o discurso proferido relativamente a dois casos específicos: a detenção de José 33 Sócrates e o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo. Este exercício permite compreender a forma como o humor subverte a construção social estabelecida, tornando-se num olhar diferente sobre a realidade social e política. FILIPE PARDAL é licenciado em Ciências da Comuni- cação pela Universidade do Algarve e mestre em Jornalismo pela Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa. O estudo da sátira política foi o principal mote da sua tese de mestrado e é a área onde pretende seguir investigação. Como jornalista, estagiou na SIC durante seis meses e chefiou a redação da Localvisão TV durante um ano. Colabora com o site Repórter Sombra e é cronista no P3. Atualmente exerce funções de edição de texto e imagem no departamento de Eletronic Program Guide da NOS. E. (email: filipe.ds.pardal@gmail. com) O PARLAMENTO NAS NOTÍCIAS: A COBERTURA JORNALÍSTICA DA ATIVIDADE PARLAMENTAR NOS CANAIS DE TELEVISÃO GENERALISTAS Raquel Cardeiro Ubach Trindade (FCH - UCP) Resumo: A democracia desenvolveu-se ao compasso da evolução das instituições políticas. O parlamento demarcou-se como núcleo da democracia, sendo o lugar central onde se estabelecem processos de tomada de decisão e onde se espelham as eleições através da representação dos cidadãos. Por esta razão, esta instituição política é um indicador para a saúde da democracia em cada país. O jornalismo político torna-se a lupa para entregar a mensagem política e analisar essa transmissão. Em Portugal, a democracia teve seu difícil começo e implantação. O desenvolvimento de instituições políticas ocorreu, proporcionalmente, mais tarde. A relação entre os cidadãos e as instituições políticas é pautada pelo medo vivido durante os anos de ditadura. Atualmente, esta relação é ameaçada por políticas de restrições financeiras severas. Este contexto pode ajudar a compreender os baixos ní- veis de confiança nas instituições políticas. O estudo do papel democrático do jornalismo centra-se no debate do seu exercício como um quarto poder da democracia, ou como um anti-poder. Pode-se resumir o seu papel como monitorização do poder, funcionando como uma agência de informação e palco do debate (Toril & Curran, 2012). Somando-se a este papel democrático, a audiência de notícias aumentou e expandiu-se socialmente (Norris, 2004). Esta expansão, juntamente com a comercialização da televisão, mudou o exercício do jornalismo, transformando-o num discurso mais interpretativa (Patterson, 1996) e alterando os valores que o guiam. Na televisão portuguesa, espera-se que a emissora pública - RTP - represente um jornalismo mais sério, e as outras duas emissoras televisivas representem um jornalismo com recurso ao infotainment (Serrano, 2005). Por último, a relação entre o público e na televisão é explicada pela teoria do Círculo Virtuoso (Norris, 2004), que explica como cada cidadão aumenta a sua posição relativamente ao interesse a dado assunto, sem nunca mudar radicalmente a sua posição. Esta investigação pretende responder à questão da cobertura dos media das funções parlamentares. Através de análise de conteúdo de notícias, a partir das três emissoras generalistas de televisão em Portugal, podemos tentar encontrar uma resposta. Desenhamos duas questões de investigação, a primeira delas é que a cobertura mediática das funções parlamentares é baixa, e a segunda é que esta tenha características mais graves na emissora pública, e características de infotainment nas outras duas emissoras (SIC e TVI). As variáveis utilizadas são: canal, extensão das notícias, o tempo de fala do jornalista e tempo de fala dos intervenientes da notícia, tema, enquadramento, tom, imagem da Assembleia da República e função parlamentar representada. Os resultados mostram que a presença de funções parlamentares na notícia é baixa, principalmente na cobertura da RTP e TVI. Além disso, o estilo de notícia é frequentemente negativo; podendo questionar-se se a emissora de televisão pública – RTP – atinge as suas metas de objectividade e isenção. Pelo contrário, é uma emissora comercial – SIC – que atinge esses objetivos de serviço público, principalmente devido à iniciativa “Parlamento Global”, um grupo permanente de jorna- 34 listas que trabalham a cobertura dos trabalhos do Parlamento. Podemos concluir que cidadãos informados fazer melhores escolhas, e a cobertura mediática sobre questões políticas é crucial para esse feito. A presença do Parlamento nas notícias é tendencialmente baixa e negativa, o que pode sugerir os baixos níveis de confiança nas instituições políticas. Por outro lado, o jornalismo tem vindo a utilizar métodos de marketing para apelar aos seus consumidores e aumentar o custo da publicidade, o que pode indicar a tendência para uma cobertura mediática baixa e negativa da Assembleia da República. RAQUEL TRINDADE é estudante de doutoramento e investigadora júnior no CECC – Centro de Estudos de Comunicação e Cultura, da Universidade Católica Portuguesa. Membro do Grupo de Trabalho de Jovens Investigadores da SOPCOM, na área de Comunicação Política. Defendeu a dissertação de mestrado sobre a temática da cobertura noticiosa do Parlamento nos jornais televisivos do prime time, em janeiro deste ano. No presente, estuda a comunicação política da campanha e eleição do atual Presidente da República. Irá participar na 5th International Summer School of Political Communication and Electoral Behaviour, em julho de 2016. (e-mail: raquelubachtrindade@ gmail.com) PLURALISMO E JORNALISMO PÚBLICO - A AGÊNCIA CÂMARA NOTÍCIAS E O PROJETO DE TERCEIRIZAÇÃO TRABALHISTA Leidyanne Vianna Nogueira (Universidade Federal do Ceará, Brasil) Edgard Patrício (Universidade Federal do Ceará, Brasil) Resumo: Melo (2008) defende que “o direito de informar e de receber informação constitui o fermento da cidadania”, o que torna o Jornalismo e a democracia “irmãos siameses”. Bucci (2008), por sua vez, sublinha o papel que a imprensa possui de vigiar os atos do poder público. Já Gomes (1994) destaca que “a imprensa livre [...] é fundamental para a consolidação e manutenção da democracia” (p. 2), pois ela atende as duas demandas cognitivas da sociedade: a necessidade de tomar conhecimento das decisões que se processam na esfera pública, e de os indivíduos conhecerem os postulantes aos cargos de representantes dos cidadãos, ou seja, as opções em jogo. Gentilli (2002) aponta que a gradação democrática de uma dada sociedade vai depender da medida em que prevaleça um “consenso” no pluralismo, o qual seria um espaço marcado pela convivência e pela tolerância com a diferença. Desta forma, um aspecto importante a se considerar quando se fala de direito à informação é a questão do pluralismo, ou pluralidade, de modo que, para uma sociedade tornar-se cada vez mais democrática, de acordo com Veca (apud GENTILLI, 2002), deve ser garantido “o igual direito dos cidadãos ao acesso a uma informação pluralística, na sociedade na qual a produção e o consumo de informação tenham uma particular relevância” (p. 41). Neste artigo, são analisadas as notícias publicadas pela Agência Câmara Notícias (ACN) sobre a aprovação do projeto de terceirização trabalhista, ocorrida no dia 22 de abril de 2015. A ACN é um órgão público de comunicação vinculado à Câmara dos Deputados, instituição legislativa federal do Brasil. Foi o último veículo a ser instituído, no ano 2000, completando o quadro de veículos de comunicação da Câmara dos Deputados, os quais são geridos pela Secretaria de Comunicação da Câmara (Secom). De acordo com Bernardes (2010), a Agência foi criada para dar mais visibilidade às atividades legislativas, pois as divulga ostensivamente. Jardim (2007), em análise da expansão das TVs legislativas pelo Brasil, conclui que os veículos legislativos possuem um potencial para promover uma aproximação entre representantes e representados e de estimular um papel mais responsivo dos parlamentares. Todavia, Bernardes (2010) ressalta que coexistiu, na criação do sistema de comunicação da Câmara, a motivação de promover a imagem dessa instituição. Outra questão problemática é o fato de, no fim das contas, os deputados ocuparem o posto de superiores hierárquicos dos jornalistas, uma vez que o presidente da Câmara é responsável por indicar os ocupantes dos cargos de administração da 35 Secom. Essa situação agravou-se em março deste ano, após a aprovação de um projeto que atribui o comando da Secom a deputado escolhido pelo presidente da Câmara, que pode ainda substituí-lo a qualquer tempo. O deputado Cléber Verde (PRB-MA), nomeado por Eduardo Cunha (PMDB -RJ), assumiu o posto de secretário de Comunicação Social da Câmara para o biênio 2015-2016. Aplicou-se a análise do discurso às notícias sobre o projeto de terceirização trabalhista a fim de se obter uma avaliação sobre a presença ou ausência de pluralidade no seu conteúdo. Na parte teórica, explicou-se que a pluralidade é um importante requisito das informações jornalísticas que circulam em sociedades democráticas. Além disso, refletiuse sobre a importância do direito à informação como instrumento para a cidadania. Verificou-se que a pluralidade ainda é quase inexistente nas notícias da ACN e que, quando ocorre, fica limitada a discursos proferidos por agentes políticos, deixando de fora o debate com instituições sociais e com cidadãos. LEIDYANNE VIANNA NOGUEIRA é jornalista. Mestranda em Comunicação pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará. EDGARD PATRÍCIO é jornalista e professor do Curso de Jornalismo e do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará. Membro do grupo de pesquisa Mídia, Política e Cultura. (e-mail: [email protected]) 36 37 COMUNICAÇÃO POLÍTICA. NOVOS PODERES, ATORES, E RESISTÊNCIAS Encontro do GT de Comunicação Política e do GT de Jovens Investigadores da SOPCOM Escola Superior de Comunicação Social, Instituto Politécnico de Lisboa Lisboa, 30 Junho e 1 de Julho de 2016 COMISSÃO ORGANIZADORA Paula Espírito Santo Filipa Subtil APOIO À ORGANIZAÇÃO Ana Andrade Ana Filipa Ribeiro Carolina Neves Catarina Costa Élmano Souza Filipe Pardal Hugo Baeta Ferreira Jaime Lourenço João Pedro Carmo Pedro Gomes Rita Mourão 38