Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de - PPG

Transcrição

Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de - PPG
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE
Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e
Sustentabilidade na Amazônia – PG-CASA
Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de
Pescadores Citadinos Profissionais e Ribeirinhos na Pesca
Comercial da Amazônia Central.
LIANE GALVÃO DE LIMA
MANAUS – AM
2003
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE
Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e
Sustentabilidade na Amazônia – PG-CASA
LIANE GALVÃO DE LIMA
Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de
Pescadores Citadinos Profissionais e Ribeirinhos na Pesca
Comercial da Amazônia Central.
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Ciências do
Ambiente
e
Sustentabilidade
na
Amazônia, da Universidade Federal do
Amazonas, como requisito para obtenção
do Titulo de Mestre em Ciências, Área de
concentração: Serviços Ambientais e
Recursos Naturais.
Orientador: Prof. Dr. VANDICK DA SILVA BATISTA.
MANAUS – AM
2003
iii
Ficha Catalográfica
Catalogação pela Biblioteca Central da
Universidade Federal do Amazonas
Galvão-Lima, Liane
Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de
Pescadores Citadinos Profissionais e Ribeirinhos na
Pesca Comercial da Amazônia Central/ Liane Galvão
de Lima – Manaus, UFAM, 2003.
116 f.: il.
1. Etnoecologia 2. Etnoictiologia 3. Pesca Artesanal
4.Pescadores profissionais 5. Pescadores Ribeirinhos
CDU 639.2.05 (811.3) (043.3)
iv
LIANE GALVÃO DE LIMA
Aspectos do Conhecimento Etnoictiológico de
Pescadores Citadinos Profissionais e Ribeirinhos na Pesca
Comercial da Amazônia Central.
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Ciências do
Ambiente
e
Sustentabilidade
na
Amazônia Universidade Federal do
Amazonas, como requisito para obtenção
do Titulo de Mestre em Ciências, Área de
concentração: Serviços Ambientais e
Recursos Naturais.
Aprovado em 19 de agosto de 2003
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr Vandick da Silva Batista - Orientador
Universidade Federal do Amazonas - UFAM
Prof. Dr. Jansen Zuanon
Instituto Nacional de Pesquisa do Amazonas - INPA
Prof. Dra. Maria Inês Higuchi
Instituto Nacional de Pesquisa do Amazonas - INPA
Prof. Dra. Sandra do Nascimento Noda
Universidade Federal do Amazonas- UFAM
MANAUS – AM
2003
v
“Dedico este trabalho aos meus pais, Edilson Lima e Edna Galvão, por
terem me dado o dom da vida e ao apoio e incentivo de nunca desistir de
realizar meus sonhos”.
e
“Aos pescadores profissionais e de subsistência da Amazônia Central,
enfim, a todos os trabalhadores da pesca de todo o Brasil”.
vi
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço ao meu Deus, por ter me dado à chance de
encontrá-lo sempre na dedicação ao trabalho e no ajudar do próximo.
Agradeço de todo o coração, também ao Dr. Vandick Batista, pela orientação,
apoio, estrutura, e principalmente pelo seu voto de confiança na realização do
presente estudo.
À professora e amiga Olívia Ribeiro, por todo o carinho e disponibilidade em
me ajudar, criticar e direcionar o meu trabalho, em todas as vezes que a procurei.
À profa.dra. Nídia Fabré, pela oportunidade de ter participado do Grupo de
Pesquisa PYRÀ, trabalhado durante o estágio de docência, e a todos os seus
ensinamentos valiosos, os quais nem saiba que tenha me passado durante o
desenvolvimento da pesquisa.
Aos pescadores por todo conhecimento com eles aprendido durante o todo o
trabalho.
Ao meu amigo “contrário” Joel, uma peça chave nesta pesquisa, o qual
sempre se disponibilizou em me acompanhar nas entrevistas no porto desembarque
em Manaus.
A todos os meus amigos do laboratório, onde sempre pude contar com o
apoio, atenção, sugestões e também tirar boas gargalhadas, em especial ao Charles
Farias, Cristiano Gonçalves, Guillermo Estupiñán e Tony Porto.
A todos da equipe PYRÁ pela oportunidade de trabalharmos juntos e por todo
o carinho e amizade que obtive durante todo esse tempo de pesquisa.
A todos os colegas da turma: Deolinda Ferreira, Ivano Cordeiro, Lindolpho
Lima e Leandro Parizotto, os quais sem eles, o curso não teria tido a mínima graça.
A toda a minha família, meus pais, irmãos: Nelise e Wesley, minha segunda
mãe Fátima, por sempre acreditarem em mim, e estar continuamente me apoiando
nas horas difíceis.
Agradeço também a todos os meus amigos da “Turma da Toga” por terem
compreendido e apoiado as minhas faltas devido a maior dedicação ao trabalho,
mas sempre que precisei, pude contar com o ombro amigo. Não esquecendo das
“Vamps”, em especial, a Tatianne Araújo, uma amiga verdadeira, a qual não tem
palavras para descrevê-la, mas sei que todos gostariam de tê-la como amiga.
vii
Não podendo esquecer da Luciene e da Rai, pela compreensão e na
disponibilidade de me ajudar sempre que precisei durante o curso.
Ao Laboratório de Manejo e Avaliação de Pesca e ao Programa Integrado de
Recursos Aquático e da Várzea (PYRÁ), pela estrutura e apoio financeiro cedidos ao
estudo.
E a CAPES pela bolsa de mestrado concedida, a qual me auxiliou durante o
desenvolvimento do projeto.
viii
RESUMO
A pesca representa a atividade profissional mais tradicional da região
amazônica, desempenhando papel importante na economia e no processo de
ocupação humana na região. Também é considerado um elemento importante da
cultura regional, a qual se torna depositária de informações da dinâmica dos
recursos e do ambiente aquático. Nesse contexto, o conhecimento do pescador
ribeirinho, comercial e de subsistência, e do pescador citadino profissional a respeito
à biologia e ecologia dos peixes, fornece informações de grande utilidade no
desenvolvimento de pesquisa no campo da ictiologia, e assim, este conhecimento
etnoictiológico pode ser útil para o desenvolvimento do manejo integrado e
participativo dos recursos naturais na região. O presente trabalho tem por objetivo
comparar o conhecimento tradicional ecológico e biológico sobre os peixes, que
possuem os pescadores profissionais citadinos e pescadores ribeirinhos de
subsistência da Amazônia Central, com o conhecimento científico disponível. O
estudo foi conduzido no porto de desembarque de Manaus e na área rural de
Manacapuru. A coleta de dados primários foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, aplicadas individualmente, contendo perguntas objetivas e subjetivas,
abordando aspectos biológicos e ecológicos de seis tipos de peixes: aruanã,
pirarucu, tucunaré, curimatã, jaraqui e tambaqui. Foram entrevistados 57
pescadores, sendo 31 citadinos e 26 ribeirinhos. As maiores congruências entre o
conhecimento tradicional e científico dizem a respeito ao ciclo reprodutivo dos
peixes: os aspectos de tamanho da primeira e completa maturação, épocas e áreas
de desovas, e cuidados parentais, bem como nos aspectos de alimentação,
predação, migração, mortalidade e recrutamento. Idade de primeira e completa
maturação, crescimento, fecundidade e tipo de desova, foram os aspectos que os
pescadores, de um modo geral, demonstraram maior desconhecimento.
PALAVRAS-CHAVE: 1. Etnoecologia 2. Etnoictiologia 3. Pescadores Ribeirinhos 4
Pescadores profissionais 5. Amazonas Central.
ix
ABSTRACT
The fisheries represents the most traditional professional activity of the
Amazonian area, playing important part in the economy and in the process of human
occupation in the area, as well as an important element of the regional culture is
considered, which becomes receiver of information of the dynamics of the resources
and of the aquatic environment. In this context, the knowledge of the riverine
fishermen of subsistence and the professional urban fisherman regarding the
biological and ecological knowledge of the fish, supply information of great
usefulness for ichthyology, and this can be useful for the development of the
integrated and participative in resource management. The present study has the aim
to compare the ecological and biological traditional knowledge on the fish, by the
urban professional and riverine fishermen of the Central Amazonian, with the
available scientific knowledge. The study was driven in the port of Manaus and in the
rural area of Manacapuru. The collection of primary data was accomplished by
means of structured individuals’ interviews, containing objective and subjective
questions about biological and ecological data of six types of fish: aruanã, pirarucu,
tucunaré, curimatã, jaraqui and tambaqui. 57 fishermen, 31 city dwellers and 26
riverine inhabitants were interviewed. The most congruent information with the
scientific data was related to the reproductive cycle: size of the fish at first and
complete maturation, time and area of spawning, and parental care; in the feeding
aspects, predation, migration, mortality and recruitment. Age of first and complete
maturation, growth, fecundity and type of spawning, were the aspects that the
fishermen demonstrated larger ignorance.
KEYS-WORDS: 1. Etnoecology 2.Etnoicthiology. 3. Riverine people. 4
Professional fishermen.. 5. Amazonas Central.
x
LISTA DEFIGURAS
Figura 1 – Mapa esquemático da divisão municipal do estado do Amazonas, com
indicação dos municípios onde ocorreu a coleta de dados, Manaus e
Manacapuru. .............................................................................................. 21
Figura 2 – Quantidade de desovas do aruanã por ano segundo os pescadores
citadinos (n=31) e ribeirinhos (n=26) da região Amazônia Central ............ 33
Figura 3 – Fecundidade aruanã segundo os pescadores citadinos (n=17) e
ribeirinhos (n=31) da Amazônia Central..................................................... 34
Figura 4 – Alimentação do aruanã segundo os pescadores citadinos (cit) e
ribeirinhos (rib) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e
vazante (Vaz.) ............................................................................................ 36
Figura 5 – Mortalidade do aruanã nas fases larval, juvenil e adulta segundo os
pescadores citadinos - Cit (n=31) e Ribeirinhos – Rib (n=26) da Amazônia
Central........................................................................................................ 39
Figura 6 – Tipos de cuidados parentais do pirarucu segundo os pescadores citadinos
(esquerda; n=30) e ribeirinhos (direita; n=26) da Amazônia Central.......... 43
Figura 7 – Alimentação do pirarucu segundo os pescadores citadinos (Cit) e
ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e
vazante (Vaz). ............................................................................................ 46
Figura 8 – Mortalidade do pirarucu nas fases larval, juvenil e adulta segundo os
pescadores citadinos – Cit (n=31) e Ribeirinhos – Rib (n=26) da Amazônia
Central........................................................................................................ 50
Figura 9 – Tipo de cuidados parentais do tucunaré segundo os pescadores citadinos
(direita; (n=31)) e ribeirinhos (esquerda; (n=26)) da Amazônia Central ..... 52
Figura 10 – Fecundidade do tucunaré segundo os pescadores citadinos (n= 20) e
ribeirinhos (n=4) da Amazônia Central....................................................... 54
Figura 11 – Alimentação do tucunaré segundo os pescadores citadinos (Cit.) e
ribeirinhos (Rib.) durante os períodos de enchente (Ench) e vazante (Vaz) da
Amazônia Central....................................................................................... 56
Figura 12 – Predação do tucunaré segundo os pescadores citadinos (Cit) e
ribeirinhos (Rib) durante o período da enchente (Ench) e vazante (Vaz). . 57
xi
Figura 13 – Mortalidade do tucunaré durante as fases larval, juvenil e adulta
segundo os pescadores citadinos-Cit (n=31) e ribeirinhos-Rib (n=26) da
Amazônia Central....................................................................................... 59
Figura 14 – Quantidade de desova do curimatã por ano segundo os pescadores da
região amazônica central ........................................................................... 62
Figura 15 – Alimentação do curimatã segundo os pescadores citadinos (Cit.) e
ribeirinhos (Rib.) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e
vazante (Vaz). ............................................................................................ 64
Figura 16 – Predação do curimatã durante o período de enchente (ench) e vazante
(vaz) segundo os pescadores citadinos (Cit.) e ribeirinhos (Rib.) da Amazônia
Central........................................................................................................ 65
Figura 17 – Comportamento migratório do curimatã durante um ciclo sazonal das
águas segundo os pescadores citadinos (acima) e ribeirinhos (abaixo) da
Amazônia Central....................................................................................... 66
Figura 18 – Mortalidade do curimatã segundo os pescadores citadinos (Cit) e
ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central ....................................................... 68
Figura 19 – Tipos de desova do jaraqui segundo os pescadores da região da
Amazônia Central....................................................................................... 71
Figura 20 – Alimentação do jaraqui durante o período de enchente e vazante
segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central.
................................................................................................................... 73
Figura 21 – Predação do jaraqui segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos
(Rib) durante o período de enchente (ench) e vazante (vaz) na Amazônia
Central........................................................................................................ 74
Figura 22 – Comportamento migratório do jaraqui durante um ciclo sazonal segundo
os pescadores citadinos (Cit) ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central. ....... 75
Figura 23 – Mortalidade do jaraqui durante as fases larval, juvenil e adulta segundo
os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central. .... 78
Figura 24 – Alimentação do tambaqui durante o período de enchente e vazante
segundo os pescadores da Amazônia Central........................................... 82
Figura 25 – predação do tambaqui segundo os pescadores citadinos (Cit) e
ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central durante o período da enchente e vazante.
................................................................................................................... 83
xii
Figura 26 – Comportamento migratório do tambaqui durante um ciclo sazonal
segundo os pescadores citadinos (acima) e ribeirinhos (abaixo) da Amazônia
Central........................................................................................................ 85
Figura 27 – Mortalidade do tambaqui nas fases larval, juvenil e adulta segundo os
pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central ......... 87
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Grau de escolaridade e função na pesca apresentados pelos pescadores
citadinos e ribeirinhos na Amazônia Central. ............................................. 25
Tabela 2 – Principais locais de origem e de onde se criaram dos pescadores
citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central .............................................. 26
Tabela 3 – Tempo em que os pescadores citadinos e ribeirinhos viveram em outras
cidades....................................................................................................... 27
Tabela 4 – Cidades em que viveu os pescadores citadinos e ribeirinhos ......... 27
Tabela 5 – Classes de idade que os pescadores citadinos e ribeirinhos da Amazônia
Central começam a pescar e quando iniciam a pescar com fim de
comercialização. ........................................................................................ 28
Tabela 6 – Perfil sócio econômico dos pescadores profissionais citadinos e
ribeirinhos da Amazônia Central ................................................................ 30
Tabela 7 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e
da literatura sobre o comportamento reprodutivo do aruanã ..................... 35
Tabela 8 – Médias de tamanho (cm) do aruanã conforme a idade (ano) segundo os
pescadores citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central........................... 38
Tabela 9 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e
da literatura sobre o comportamento reprodutivo do pirarucu.................... 45
Tabela 10 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central
e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do tucunaré................ 55
Tabela 11– Crescimento do tucunaré segundo os pescadores da Amazônia Central
comparado com a literatura científica ........................................................ 58
Tabela 12 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central
e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do Curimatã ............... 63
Tabela 13 – Crescimento do curimatã segundo os pescadores da Amazônia Central
comparado com a literatura científica ........................................................ 67
Tabela 14 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central
e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do Jaraqui.................. 72
Tabela 15 – Crescimento do jaraqui segundo os pescadores da Amazônia Central
comparado com a literatura científica ........................................................ 77
Tabela 16 – Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central
e da literatura sobre o comportamento reprodutivo do Tambaqui.............. 81
xiv
Tabela 17 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central
e da literatura sobre Crescimento do Tambaqui. ....................................... 86
xv
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................1
2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................5
2.1. Etnoictiologia – conceitos e definições ......................................................5
2.2. A região: aspectos ecológicos ...................................................................8
2.3. A pesca......................................................................................................9
2.3.1. Histórico ..............................................................................................9
2.3.2. Potencial pesqueiro...........................................................................11
2.3.3. Tipos de Pescadores.........................................................................12
2.3.4. Tipos de pescarias ............................................................................13
2.4. Os recursos pesqueiros amazônicos e sua dinâmica migratória .............16
3. OBJETIVOS ...................................................................................................19
4. METODOLOGIA.............................................................................................21
4.1. Área de estudo ........................................................................................21
4.2. Coleta de dados.......................................................................................21
4.2.1. Dados primários coletados................................................................21
4.2.2. Dados secundários coletados ...........................................................22
4.3. Análise dos dados....................................................................................22
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................24
5.1. Caracterização dos pescadores citadinos profissionais e ribeirinhos
comerciais e de subsistência na Amazônia Central........................................24
5.1.1. Experiências e relações sociais na pesca da Amazônia Central ......27
5.2. Etnoictiologia das espécies de comportamento sedentário segundo os
pescadores da Amazônia Central...................................................................31
5.2.1. Aruanã (Osteoglossum bicirrhosum.) ................................................31
5.2.2. Pirarucu (Arapaima gigas).................................................................40
5.2.3. Tucunaré (Cichla monoculus) ...........................................................51
5.3. Biologia e ecologia das espécies de comportamento migratório .............60
5.3.1. Curimatã (Prochilodus nigricans) ......................................................60
5.3.2. Jaraqui (Semaprochilodus spp.)........................................................69
5.3.3. Tambaqui (Colossoma macropomum.) .............................................79
6. CONCLUSÕES ..............................................................................................89
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................91
1
1. INTRODUÇÃO
Uma das principais preocupações ambientais deste novo século é a perda da
biodiversidade, devido ao índice crescente de degradação ambiental produzida
pelas atividades da população humana. Esta diversidade biológica vem sendo
irreversivelmente diminuída através da extinção, à medida que os habitats são
destruídos.
A manutenção dos recursos naturais é de fundamental importância para o
bem estar do ser humano, em parte, pois as espécies de plantas e animais e outros
organismos oferecem às pessoas produtos importantes, inclusive alimentos,
medicamentos e/ou matéria-prima às indústrias. Sem mencionar os mais diversos
serviços ambientais que estes prestam a toda sociedade como todo.
Com o crescimento dos centros urbanos, nos tornamos desvinculados dos
ambientes naturais e de seus recursos, assim tornamo-nos mais dependentes do
conhecimento daqueles que vivem em áreas naturais. Estes representam a chave
para o entendimento, utilização e proteção da diversidade biológica.
Segundo CORSON (1994), muitos habitantes das áreas naturais enfrentam
uma crise de sobrevivência. Suas culturas, juntamente com suas tradições orais,
desenvolveram-se durante séculos, mas estão desaparecendo a cada década,
devido às políticas utilizadas que seguem a linha dos “biocentristas” ou
“conservacionistas”, ou seja, são a favor da retirada das populações tradicionais,
fundamentando-se na fragilidade dos ecossistemas e exemplos de mau uso deste
patrimônio pelo homem (ADAMS, 2000).
A valorização do conhecimento tradicional caracteriza-se como uma nova
ordem no que se diz respeito a conservação dos recursos naturais, reconhecida pelo
princípio 22 da Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, isso
2
se refere principalmente aos povos indígenas, habitando locais essenciais para o
manejo e desenvolvimento ambiental, observando que tanto a diversidade cultural
quanto a diversidade biológica são recursos naturais que merece a conservação
(ZWAHLEN, 1996 apud COSTA NETO, 2001).
Até então, as discussões sobre sustentabilidade e conservação dos recursos
naturais excluíam as análises socioculturais que complementam a interação
homem/natureza.
De acordo com SACH (1995), a melhor forma de explorar os recursos
naturais é aquela que usa o conhecimento tradicional. Vale ressaltar, que este
conhecimento é passado ao longo das gerações através de experiências e
observações do cotidiano (BEGOSSI, 1998).
Na Convenção sobre Diversidade Biológica-CDB, foi definido no artigo 8 j
para que as nações-membro, em conformidade com a legislação nacional,
respeitem, preservem e mantenham o conhecimento, inovações e práticas das
comunidades locais e populações indígenas, incentivando sua mais ampla
aplicação, e encorajando a repartição justa e eqüitativa dos benefícios oriundos da
utilização desses mesmos conhecimentos (DIEGUES & ARRUDA, 2001).
Além disso, no Art. 10 c a Convenção determina que cada Parte Contratante
deve:
"...proteger e encorajar a utilização costumeira dos recursos biológicos de
acordo com práticas culturais tradicionais compatíveis com as exigências
de conservação ou utilização sustentável". E também "apoiar populações
locais na elaboração e aplicação de medidas corretivas em áreas
degradadas onde a diversidade biológica tenha sido reduzida". (Art. 10 d).
Em seu Art. 17, a CDB também recomenda às Partes Contratantes que
proporcionem o intercâmbio de informações sobre o conhecimento das comunidades
3
tradicionais, e no art. 18, determina o aperfeiçoamento de métodos de cooperação
para o desenvolvimento de tecnologias, incluindo as tradicionais e as indígenas.
No contexto mundial, já existem mais de 33 centros de Recursos em
conhecimento tradicional em diversos países, como o Estados Unidos, Rússia,
Austrália e Índia (SILLITOE, 1998).
Na América Latina, RIBEIRO (1987), MORAN (1994), MARQUES (1995),
POSEY (1997), ADAMS (2000), DIEGUES & ARRUDA (2001) e BEGOSSI (1998)
chamam atenção para o resgate e valorização dos saberes tradicionais, com
implicações nos mais variados campos da ciência e economias regionais, como
também para a preservação das sociedades locais e populações indígenas.
Na região amazônica, a pesca é uma das atividades mais tradicionais, que
desempenha um papel importante na economia e no processo de ocupação humana
na região (SANTOS & FERREIRA, 1999). Representa também um importante
elemento da cultura regional (FURTADO, 1993), a qual se torna depositária de
informações sobre dinâmica dos recursos e do ambiente aquático, que podem ser
úteis para o desenvolvimento do manejo integrado e participativo na região.
Portanto, a atividade pesqueira artesanal, requer todo um conhecimento
etnoecológico que possibilita a exploração do recurso pesqueiro que garante a sua
sustentabilidade.
Já afirmava MARQUES (1995), que os pescadores detêm o saber e o saber
fazer relacionado com a estrutura e a função do ecossistema a que estão
vinculados.
Nesse contexto, o presente estudo pretende dar uma contribuição a esse
novo paradigma de desenvolvimento: avaliar aspectos etnoictiológicos dos
pescadores profissionais citadinos e ribeirinhos de subsistência da Amazônia
4
Central, verificando se estes podem ser incorporados como informações úteis para
implementação de futuros projetos de gestão participativa local no manejo pesqueiro
da região.
Esta dissertação está estruturada numa análise comparativa entre as
informações dadas pelos pescadores, citadinos e ribeirinhos, colacionadas com uma
compilação das informações científicas sobre a biologia e dinâmica das espécies.
5
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Etnoictiologia – conceitos e definições
A etnociência trata do estudo das percepções culturais do mundo e de como
os indivíduos organizam essas percepções por meio de linguagem. Esta ciência, que
parte da lingüística para estudar o conhecimento das populações humanas sobre os
processos naturais, tentando descobrir a lógica subjacente ao conhecimento
humano do mundo natural, as taxonomias e classificações totalizadoras, está entre
os enfoques que têm contribuído para os estudos das relações entre o homem e o
meio ambiente (MORAN, 1994).
Segundo BEGOSSI (1998), os resultados desses estudos que envolvem o
conhecimento tradicional, podem facilitar a concepção de novos modelos de
sustentabilidade do uso e manejo dos recursos naturais. Internacionalmente o termo
“tradicional” é utilizado como adjetivo, de tipo de manejo, tipo de sociedades, de
forma de utilização de recursos, de território, de modo de vida, de grupos específicos
e de tipo culturais. No Brasil, é empregado como referência a sociedades rústicas
(VIANA, 1996). DIEGUES & ARRUDA (2001) definem conhecimento tradicional
como o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural e
sobrenatural, transmitido oralmente, de geração em geração.
Segundo BERLIN (1973) apud DIEGUES et al. (2000), há três áreas básicas
de estudo na etnociência: a da classificação, que se preocupa em estudar os
princípios de organização de organismos em classes; a de nomenclatura, em que
são estudados os princípios lingüísticos para nomear as classes folk; a da
identificação, que estuda a relação entre os caracteres dos organismos e a sua
classificação.
6
A partir da etnociência originaram-se vários campos de domínios específicos
culturais, entre estes a etnobiologia, recebendo contribuições basicamente da
sociolingüística, da antropologia estrutural e da antropologia cognitiva. É a disciplina
que se ocupa, essencialmente, do estudo do conhecimento e das conceituações
desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da biologia. Segundo POSEY
(1987), etnobiologia é o estudo do papel da natureza no sistema de crença e de
adaptação do homem a determinados ambientes, enfatizando as categorias e
conceitos cognitivos utilizados pelos povos em estudos, que, no caso, o
conhecimento tradicional não
se enquadra,
em
categorias
e
subdivisões
precisamente definidas como as que a biologia tenta, artificialmente, organizar.
Um campo relativamente novo da ciência, a etnobiologia ainda está
construindo seu método e sua teoria. Ela pressupõe que cada povo possua sistema
único de perceber e organizar as coisas, os eventos e os comportamentos. E este
não o percebe de forma idêntica à do pesquisador, pois cada povo tem suas
próprias formas de conhecimento e classificação. Ao primeiro tipo de análise se
convencionou chamar de “ética”, ao segundo, de “êmica”, termos derivados de
fonética e fonema (RIBEIRO, 1987).
Os etnoecólogos consideram que o saber milenar conservado pelas
populações tradicionais permitiu a conservação do equilíbrio ecológico em vastas
regiões do mundo (RIBEIRO, 1987). A etnoecologia parte do pressuposto de que as
informações que as pessoas possuem sobre seu ambiente e a maneira como pela
qual elas categorizam essas informações (sobre zoneamento ecológico, distribuição
dos recursos naturais, diversidade biológica, administração integrada dos reinos
animal e vegetal, por exemplo) vão influenciar seu comportamento em relação ao
mesmo (ADAMS, 2000).
7
Saberes estes, que constitui, hoje, os últimos repositórios vivos de um
conhecimento acumulado durante milênios para sobrevivência humana na floresta
tropical úmida, nos campos e cerrados. Parte deste saber foi herdada pelas
populações rurais, caboclos, sertanejos, caipiras e caiçaras, encontrando-se em
graus diversos codificados nas culturas folk (RIBEIRO, 1987).
Na medida em que vai se desenvolvendo a coleta de dados e classificação
na etnobiologia, vão se construindo a etnobotânica, a etnozoologia, a etnoecologia,
a etnopedologia, a etnomedicina, a etnofarmacologia etc. Nesse tipo de análise vai
se combinar a visão do observador estranho à cultura, refletindo a realidade
percebida pelos membros de uma comunidade. O pesquisador procura inferir as
categorias “êmicas” dos povos em estudo (POSEY, 1987).
De uma forma mais específica, a etnoictologia, é o modo como o
conhecimento, os usos e os significados dos peixes ocorre-nos diferentes grupos
humanos, a qual é definida como estudo científico das relações entre homem com
os peixes. Ela inclui-se na etnozoologia (estudo científico das relações homens e
animais), que por sua vez faz parte de uma disciplina mais abrangente, a
etnobiologia (COSTA NETO, 2001).
Segundo MARQUES (1995), a etnoictiologia pode ser interpretada como a
busca da compreensão do fenômeno da interação entre o Homem e os peixes,
englobando aspectos tanto cognitivos quanto comportamentais.
Vale ressaltar, que RIBEIRO (1987) recomenda para qualquer pessoa que
queira fazer pesquisa etnobiológica, que considere cinco aspectos fundamentais:
1. Investigar as ciências biológicas de outras culturas, levando em conta o
fato de que também nesse caso, elas se esforçam para classificar,
catalogar e explicar o mundo natural;
8
2. Não menosprezar os informantes, já que dominam, em seus mínimos
detalhes, fenômenos poucos conhecidos ou completamente ignorados
para nossa ciência;
3. Deixar que os informantes sejam os guias, tanto na identificação de
categorias culturais significativas, como no desenvolvimento das veredas
para pesquisa de campo.
4. Tratar os informantes, que são tidos como peritos em suas próprias
culturas, da mesma forma que tratamos nossos especialistas.
5. Não eliminar dados que, superficialmente, possam parecer absurdos. Eles
podem conter codificações de relações evolutivas, ou de animais
mitológicos, cuja função é proteger os recursos naturais e preservar o
equilíbrio ecológico.
2.2. A região: aspectos ecológicos
A região Amazônica abrange uma área de 6 milhões de km2 , 1/3 da América
do sul, contém o equivalente a 20% de toda a água doce do planeta devido à
presença da maior bacia hidrográfica do mundo ocupando uma área de inundação
causadas pelos grandes rios e pequenos rios equivalente a 3.940.000 km2 (JUNK,
1983; MILLIAN & MEADE apud ISAAC & BARTHEM, 1995; HIGUCHI, 1999).
Essas inundações marcam as formas de vida das populações ribeirinhas que
vivem nas margens dos rios (DIEGUES, 1992).
Observa-se que a água é um fator preponderante na paisagem amazônica,
tanto para os grandes rios quantos pequenos rios e igarapés que contribuem para os
corpos d’água. Estes corpos d’água não são uniformes. Os lagos existem ao lado
dos grandes rios e são típicos de áreas alagáveis (várzea e igapó), enquanto nas
9
áreas não inundáveis (terra-firme), são mais característicos os igarapés e pequenos
rios (JUNK, 1983).
A Amazônia apresenta um clima quente e úmido, com alta taxa pluviométrica,
de 2000 a 3000 mm/ano (SALATI et al., 1983). As chuvas começam entre
novembro-dezembro na região sul de Equador e uns meses mais tarde ao norte do
Equador e estendem-se por quatro e cinco meses (SALATI & MARQUES, 1984).
Neste período, devido ao alto índice de pluviosidade, aumenta o nível dos rios, na
região da Amazônia Central. De acordo com dados fornecidos da ANEEL (1999), a
enchente costuma ocorrer nos meses de dezembro a maio, e a cheia nos meses de
junho e julho. No verão, com a diminuição das chuvas, ocorre o processo inverso,
ocorrendo nos meses de agosto a outubro o período da vazante, e a seca nos
meses de outubro a novembro (BRAGA, 2001).
Essas oscilações do nível d’água dos rios variam conforme o local, sendo que
o padrão geral é unimodal e a oscilação média anual é de 5 a 10m (MARLIER, 1973;
IBGE 1977; HANECK, 1982 apud ISAAC & BARTHEM 1995).
Além disso, há consideráveis diferenças nos corpos d’água, tanto em relação
à morfologia quanto nas suas propriedades física – químicas, onde SIOLI (1985),
propôs a seguinte tipologia: rios de água branca, água preta e água clara.
Dependendo do tipo de água que inunda essas áreas, SIOLI (1985) as classifica
como várzea, quando inundáveis por rios de águas brancas; e igapó, quando
inundáveis por rios de águas pretas.
2.3. A pesca
2.3.1. Histórico
No século XVII ao XIX, no período de ocupação portuguesa, a pesca era
efetivamente praticada pelos índios por processos como a tapagem de rio, a palheta,
10
a narcotização das águas com timbó, cururutimbó e com assacu; arpões e anzóis
com ponta de osso. O produto desta atividade abastecia os aldeamentos e, mais
tarde, os centros que foram se nucleando, nos quais a pesca, a lavoura e a coleta
eram as bases da economia regional (FURTADO, 1993).
A partir do século XX, novos instrumentos de pesca foram sendo
incorporados, como a malhadeira, arrastadeira e a redinha, e os barcos pesqueiros
foram sendo equipando com caixas e urnas de gelo, o que tornou secundária a
prática de salgar o peixe nos mercados que passaram a manter um abastecimento
regular de pescado conservando em gelo. (VERÍSSIMO, 1895; RIBEIRO &
PETRERE, 1990; MESCHAT, 1958 apud BARTHEM et al., 1997).
No final da década de 60, o Governo Federal programou uma política oficial
voltada para estimular a pesca, a fim de torná-la uma atividade econômica mais
expressiva para a Amazônia. A partir dessa intervenção federal, acelerou-se o
desenvolvimento da pesca industrial na região que, através de subsídios do Estado,
aumentou a sua frota e incorporou novas técnicas pesqueiras (BRITTO et al., 1975
apud BARTHEM et al., 1997).
A pesca tornou-se para muitos uma atividade profissional permanente;
juntamente com outros fatores, como a decadência de outros recursos tradicionais,
tais como a borracha e a juta, e o grande aumento da demanda urbana de pescado,
foram as causas sócio-econômicas desta transformação. Os suportes técnicos para
essa mudança foram dados principalmente pela instalação de empresas frigoríficas,
com a finalidade de beneficiar e estocar o pescado para o comércio nacional e
internacional; e a introdução das fibras de náilon monofilamento e dos motores a
diesel. Surge, desta maneira, a figura do pescador profissional itinerante, que pesca
de forma permanente, em lugares distantes da sua moradia e vende o seu peixe nos
11
frigoríficos e nos mercados dos centros urbanos. (PENNER, 1980 apud BARTHEM
et al., 1997; FURTADO, 1993).
De acordo com BARTHEM et al. (1997), para categorizar a pesca na região,
temos que considerar três aspectos importantes, devido à complexidade do
ecossistema amazônico, que seriam o pescador, o tipo de pesca e os estoques
pesqueiros.
2.3.2. Potencial pesqueiro
A pesca é uma das atividades extrativistas mais tradicionais e importantes da
região (ISAAC & BARTHEM, 1995). O peixe representa a principal fonte de proteína
na alimentação das populações ribeirinhas locais. A média do consumo anual de
pescado na Amazônia foi estimada em cerca de 270.000 toneladas (MERONA,
1993), e o consumo per capita de pescado nas cidades de Manaus e Itacoatiara foi
estimado entre 100 e 200 g/dia (SHRIMPTON & GIUGLIANO, 1979; SMITH, 1979;
AMOROSO, 1981).
Segundo PETRERE et al. (1997) o potencial pesqueiro da Bacia Amazônica
equivale a algo entre 425 e 1500 toneladas/ano, gerando cerca de 70 mil empregos
diretos, além de movimentar anualmente cerca de US$ 200 milhões (BARTHEM et
al., 1992; PETRERE, 1992; PARENTE, 1996; BATISTA, 1998; ALMEIDA et al.,
2001).
Na região Amazônica, o desembarque foi estimado de 198.650 ton. em 1980,
com produtividade média de 11kg/ano e 275.904 ton. em 1985 a 1989,
representando a metade da produção pesqueira comercial das águas interiores do
Brasil (PARENTE, 1996).
As pescarias exploram uma alta diversidade de espécies, de médio e grande
porte, com predominância de espécies migradoras como o tambaqui Colossoma
12
macropomum, o jaraqui Semaprochilodus spp., a curimatã Prochilodus nigricans, a
matrinxã Brycon sp., a piramutaba Brachyplatystoma vaillantii, a dourada B.
flavicans, o surubim Pseudoplatystoma fasciatum e a piraíba B. filamentosum
(FREITAS, 2003).
2.3.3. Tipos de Pescadores
Os pescadores podem ser basicamente classificados em cinco categorias:
1. Citadino: é aquele que vive em cidade e já perdeu sua ligação com a terra;
são incluídos os pescadores que trabalhavam nas frotas pesqueiras de
Manaus, e Belém, da pesca industrial do estuário e de várias outras que
abastecem os principais centros urbanos da região Amazônica (FURTADO,
1993);
2. Interiorano: vive na zona rural e tem alguma relação com a terra; a pesca é
renda parcial de sua atividade, podendo ser principal ou complementar de
outras atividades relacionadas ao campo;
3. Indígena: é semelhante ao pescador interiorano, apresenta fortes laços com a
terra e pesca basicamente para subsistência, podendo comercializar o
excedente: difere do anterior, devido à forma de distribuição dos bens sólidos
pela pesca, que é estabelecida pela cultura da sociedade local;
4. Esportivo: apresenta fortes ligações com a cidade, investe na pesca sem
nenhum interesse com o retorno econômico, e sua presença nas áreas de
pesca depende da infra-estrutura turística da região;
5. Ornamental: também está mais relacionado com a cidade ou, mais
especificamente, com o mercado de exportação de peixes ornamentais.
13
Destes, somente os três primeiros têm importância para a pesca que
abastece a população local, e os demais como atividades econômicas consideradas
ainda subexploradas (PETRERE, 1992; BARTHEM, et al., 1997; BATISTA, 1998).
2.3.4. Tipos de pescarias
A pescaria é classificada de acordo com a combinação dos fatores: dimensão
do barco e tipo de aparelho de pesca. Em relação aos barcos, existem duas
categorias bem distintas que atuam na região amazônica: a frota industrial e a
artesanal (comercial e de subsistência) (PETRERE Jr, 1992; BARTHEM et al.,
1997).
2.3.4.1. Pescaria Industrial
Os barcos possuem cascos de aço, comprimento variado de 17 a 27m,
tonelagem líquida entre 10 e 105 t e potência de motor entre 165 e 565 hp; a
tripulação é composta em média por 7 homens, e a pesca é feita de arrasto de
parelha sem portas, utilizando redes do tipo “portuguesa” ou “norueguesa”
(BHARTEM & PETRERE Jr, 1995). Essas frotas são controladas pelas indústrias
que processam, estocam e exportam o pescado. Esse tipo de pescaria só ocorre na
região de estuário, na pesca da piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii), da dourada
(Brachyplatystoma flavicans), e de camarões (Pennacidae).
2.3.4.2. Pesca Artesanal
É toda aquela que não é classificada como pesca industrial. Apresentam
características bastante diversificadas, tanto em relação aos habitas onde atuam,
quanto aos estoques que exploram. Podem ser de caráter comercial ou de
subsistência.
14
2.3.4.2.1. Pesca Artesanal Comercial
Apresenta características sazonais, necessita dos pescadores a dedicação
quase ou totalmente exclusiva e cuja produção destina-se, em grande parte, à
comercialização nos grandes mercados regionais.
Geralmente, apresenta uma
embarcação principal, conhecida como “geleira” que recebe a produção dos
pescadores embarcados de pequenas canoas. As geleiras possuem urnas com gelo
para a conservação do pescado (ISAAC & BARTHEM, 1995).
Apresenta características da pesca de subsistência: como por exemplo, uso
de vários utensílios de pesca, baixa tecnologia envolvida e a elevada dependência
do
conhecimento
tradicional empírico
para
detecção
dos
cardumes
e/ou
determinação dos pesqueiros (FREITAS, 2003).
Os encarregados destas embarcações podem comprar o pescado dos
pescadores locais ou mesmo conduzir pescadores de outras regiões, que são
contratados e suas canoas rebocadas para as áreas de pescas. Atualmente, os
barcos da frota de Manaus realizam viagens de pesca à distância máxima de até
3700 km para realizar pescarias nos trechos superiores dos rios Juruá, Japurá e
Javari (BARTHEM et al., 1997; ISAAC & BARTHEM, 1995).
Estima-se que no Amazonas existem aproximadamente 40.000 pessoas
vivendo exclusivamente da pesca. (ISAAC & BARTHEM, 1995; FALABELLA, 1994;
BATISTA, 1998).
2.3.4.2.2. Pesca Artesanal de Subsistência
Segundo MUTH (1996), o termo subsistência em pesca pode ser empregado
para caracterizar o uso tradicional e cotidiano de recursos pesqueiros por formações
sociais dependentes do recurso, incluindo a sobrevivência física, manutenção de
culturas tradicionais e a própria persistência das estruturas sociais.
15
É considerada uma atividade tradicional, permanente e complementar a
outras atividades econômicas, cuja produção dedica-se quase exclusivamente ao
consumo próprio ou de parentes e amigos, mas às vezes o excedente é vendido na
vila mais próxima ou salgado para posterior utilização. O pescado é utilizado
imediatamente após a capturar, sem sofrer o beneficiamento com gelo (BARTHEM
et al., 1997).
Esta pescaria é executada com uma grande variedade de apetrechos e por
uma substancial multiespecificidade (BATISTA et al, 1998; 2000; FREITAS &
BATISTA, 1999). Ainda que a pesca seja eminentemente masculina, nas
comunidades de ribeirinhos da Amazônia Central a pesca é desenvolvida com
elevada participação de mulheres, além de parte das crianças com idade suficiente
para praticar a atividade (FREITAS & BATISTA, 1999).
Segundo FREITAS et al. (2002), existe uma profunda interação entre os
ribeirinhos, o ambiente e a biota, assegurando um elevado conhecimento empírico
que se traduz no uso de estratégias de pesca adequadas ao ambiente e à espécie
de exploração.
Baseado em extrapolações com consumo médio per capita e da densidade
demográfica na bacia, estima-se que esta pesca é responsável por cerca de 70% da
captura total, correspondendo a 110.130 toneladas, usando dados de 1980
(BAYLEY & PETRERE Jr., 1989).
Este tipo de pesca é de fundamental importância no contexto social da
região, pois se destina ao suprimento alimentar da camada mais carente da
população e quem tem no peixe a única fonte de proteína (SANTOS & FERREIRA,
1999; FALABELLA, 1994; BATISTA, 1998).
16
2.4. Os recursos pesqueiros amazônicos e sua dinâmica migratória
A diversidade da ictiofauna da região acompanha também sua extensão,
ainda é desconhecida, sendo esta responsável pelo grande número de espécies da
região neotropical, que pode alcançar 8.000 espécies (VARI & MALABARBA et al.,
1998).
A fauna de peixes conhecida é formada praticamente por um único grupo
taxonômico: cerca de 85% das espécies pertencem a Superordem Ostariophysi,
sendo que 43% são Characiformes, 39% são Siluriformes (bagres e peixes liso) e
3% Gymnotiformes (peixes elétricos). As demais espécies pertencem a outras 14
famílias (LOWE-McCONNELL, 1999).
Tendo como base a sazonalidade e ecologia das espécies alvo, podem-se
categorizar os peixes conforme os hábitos que estes apresentam sob o ponto de
vista da pesca, no caso, o comportamento migratório das espécies.
Existem as espécies que realizam migrações extensas, percorrendo trechos
da calha do rio e que possuem fortes ligações com o estuário. Como exemplos,
temos as espécies que pertencem à ordem dos Siluriformes, e as mais conhecidas
são do gênero Brachyplatystoma, como a piramutaba e a dourada (BARTHEM &
GOULDING, 1999).
As espécies que realizam migrações moderadas são aquelas que utilizam a
calha do rio para se deslocar rio acima, de uma várzea ou afluente para outra várzea
ou afluente. As espécies que geralmente realizam esse tipo de migração pertencem
à ordem Characiformes, como tambaqui (Colossoma macropomum), o pacu
(Mylossoma spp.), jaraqui (Semaprochilodus spp.), curimatã (Prochilodus nigricans),
entre outras.
17
As espécies que não realizam migrações para completar o seu ciclo biológico
são aquelas tipicamente de ambientes lênticos, como por exemplo, os que
pertencem às famílias Arapaimidae e Osteoglossidadae (pirarucu e aruanã),
Cichlidae (tucunaré e acarás em geral) e Sciaenidae (pescadas em geral), entre
outras.
RUFFINO & ISAAC (2000) observaram que as espécies migradoras são
fortemente influenciadas pelas condições das flutuações do nível das águas.
Segundo ISAAC & BARTHEM (1995), no período da enchente, a maioria das
espécies se deslocam para as regiões de savanas e florestas recentementes
alagadas, onde encontram renovadas fontes de alimento aquático ou acesso a
frutos, sementes, artrópodes e outros itens de origem terrestre, assim como refúgio e
proteção contra predadores. Estes movimentos realizados para a floresta inundada,
principalmente pelos Characiformes logo depois de ter descido de seus afluentes
para desova, também foram observados no Rio Madeira por GOULDING (1979).
As espécies que pertencem aos grupos dos Characiformes, segundo
BATISTA (1998), além de serem o principal grupo da região, são também o que
fornece a maior parte do pescado disponível para o consumo de Manaus, como
também para as comunidades ribeirinhas, como as das famílias Prochilodontidae e
Curimatidae.
As espécies que serão avaliadas nessa dissertação são algumas das mais
importantes nos desembarques em Manaus e em cidades do interior do estado
(BATISTA, 1998), assim como para a alimentação dos ribeirinhos (CERDEIRA,
1997; BATISTA et al., 1998). Foram consideradas espécies de comportamento
migratório, como a curimatã (Prochilodus nigricans Spix & Agassiz, 1829), o jaraqui
(Semaprochilodus insignis Jardine & Schomburgk, 1841, Semaprochilodus taeniurus
18
Valenciennes, 1817) e o tambaqui (Colossoma macropomum Cuvier 1818); bem
como as que não migram para completar o seu ciclo biológico como o pirarucu
(Arapaima gigas Cuvier, 1829), o tucunaré (Cichla monoculus Spix & Agassiz, 1831)
e o aruanã (Osteoglossum bicirrhosum Vandelli 1829.).
19
3. OBJETIVOS
O objetivo geral desta pesquisa é determinar a compatibilidade do
etnoconhecimento de pescadores profissionais e ribeirinhos com o conhecimento
científico já estabelecido para subsidiar ao manejo local de recursos pesqueiros.
Os objetivos específicos são:
1. Compilar a informação publicadas na literatura científica e em literatura
cinza sobre a dinâmica populacional de 3 espécies sedentárias
(tucunaré-comum, Cichla temensis; Aruanã, Osteoglossum bicurhosum
e Pirarucu, Arapaima gigas) e 3 espécies migrantes (Tambaqui,
Colossoma macropomum; Curimatã, Prochilodus nigricans; Jaraqui,
Semaprochilodus spp.) de importância comercial na Amazônia Central;
2. Determinar o conhecimento de pescadores profissionais sobre a
dinâmica populacional de 3 espécies sedentárias e 3 espécies
migrantes de peixes de importância comercial na Amazônia Central;
3. Determinar o conhecimento de pescadores de subsistência sobre a
dinâmica populacional de 3 espécies sedentárias e 3 espécies
migrantes de peixes de importância comercial na Amazônia Central;
4. Avaliar comparativamente o conhecimento etnoecológico de ambos
tipos de pescadores com as informações científicas sobre a dinâmica
de populações das espécies.
Para isto serão testadas as seguintes hipóteses:
i. Pescadores comerciais possuem informações igualmente precisas e
abrangentes em relação aos saberes dos pescadores de subsistência
sobre a dinâmica dos recursos pesqueiros.
20
ii. O saber ictiológico de pescadores citadinos comerciais e de subsistência
apresenta similaridade suficiente com o saber científico já acumulado,
permitindo sua utilização no monitoramento e ordenamento pesqueiro e
viabilizando o manejo participativo da pesca.
21
4. METODOLOGIA
4.1. Área de estudo
As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas na Balsa de desembarque
de pescado em Manaus – AM e nas áreas rurais do município de Manacapuru – AM.
Figura 1 – Mapa esquemático da divisão municipal do estado do Amazonas, com indicação
dos municípios onde ocorreu a coleta de dados, Manaus e Manacapuru.
4.2. Coleta de dados
4.2.1. Dados primários coletados
Foram
realizadas
entrevistas
semi-estruturadas
com
os
pescadores
profissionais citadinos 1 no Porto de Desembarque Pesqueiro (Balsa Manaus
Moderna) em Manaus, e com os pescadores ribeirinhos2 comerciais e de
1
2
Pescador citadino – é aquele que vive em cidades e já perdeu sua ligação com a terra (Furtado 1993).
Pescador ribeirinho – aqui foi chamado o pescador interiorano que vive na zona rural e tem alguma relação com a terra, onde
a pesca é renda parcial de sua atividade, podendo ser principal ou complementar de outras atividades
relacionadas ao campo.
22
subsistência das áreas rurais de Manacapuru, durante o período de julho a
dezembro do ano de 2002.
As entrevistas foram realizadas de modo individual, contendo perguntas
chaves e também de questões abertas, as quais incluíam 45 tópicos, abordando
primeiramente os aspectos pessoais, experiências e relações sociais na pesca do
pescador entrevistado e, posteriormente os aspectos biológicos e ecológicos
(reprodução, alimentação, predação, crescimento, migração, mortalidade, e
recrutamento) de espécies de peixes sedentárias: aruanã, pirarucu e tucunaré; e
migradoras: curimatã, jaraqui e tambaqui.
Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente, dependendo da
disponibilidade e da boa vontade a responder às questões. Por se tratar de um
estudo de etnoconhecimento, as expressões e palavras nativas foram mantidas a fim
de garantir maior confiança entre as partes. As entrevistas tiveram duração de 40
minutos a cerca de 2 horas. Foram todas registradas por escrito, e logo em seguida
inseridas num banco de dados, onde foram posteriormente efetuadas as consultas e
análises.
4.2.2. Dados secundários coletados
Foi efetuado um levantamento de dados científicos sobre biologia e ecologia
das espécies, por meio de revisão bibliográfica que incluiu teses, monografias,
artigos científicos e livros especializados.
4.3. Análise dos dados
Foi realizada uma análise comparativa dos dados científicos com o
conhecimento popular dos pescadores ribeirinhos e dos pescadores citadinos
23
profissionais, e entre estes dois últimos, utilizando estatística descritiva. Os testes de
hipótese foram efetuados após avaliação da normalidade por Kolmogorov-Smirnov e
da homocedasticidade das variâncias por Bartlett (LEVINE et. al.,2000).
Para analisar as diferenças entre as respostas dos pescadores citadinos e
dos ribeirinhos, foram efetuados teste Z (Equação 1), e teste t (Equação 2) que se
baseia na diferença entre as duas proporções de amostras. A hipótese nula indica
sempre que as duas amostras das populações são iguais (LEVINE et. al.,2000).
Equação 1 – Teste Z
Z
( ps1  ps 2 )  ( p1  p2 )
1 1
Pm (1  Pm )(  )
n1 n2
com
Pm 
X1  X 2
n1  n2
Ps 
X
n
Onde:

p = proporção total da amostra (1 e 2)

ps = proporção da amostra obtidas na população (1 e 2)

X = número total da amostra (1 e 2)

n = tamanho da amostra extraída (1 e 2)

Pm = estimativa agrupada da proporção da população (1 e 2)
Equação 2 – Teste t
t
( Xm1  Xm2 )  ( 1   2 )
1 1
2
Sp (  )
n1 n2
(n1 - 1 )S1  (n 2 - 1 ) S2
(n1 - 1)  (n 2 - 1)
2
com
S2 p 
Onde:

S2p = variância combinada

Xm = média aritmética da amostra tirada da população (1 e 2)

S2 = variância da amostra tirada da população (1 e 2)

n = tamanho da amostra extraída da população (1 e 2)

µ = média aritmética da população (1 e 2).
2
24
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. Caracterização dos pescadores citadinos profissionais e ribeirinhos
comerciais e de subsistência na Amazônia Central
O número total de entrevistados foi de 57 pescadores. Todos os
entrevistados são do sexo masculino. Destes, os que foram entrevistados no porto
de desembarque de Manaus, aqui chamados de pescadores citadinos (n= 31), cerca
de 60% têm o Ensino fundamental; e os pescadores entrevistados na região rural de
Manacapuru, aqui chamados de pescadores ribeirinhos (n= 26), cerca de 70%
apresentam o Ensino fundamental (Tabela 1).
Cerca 56% dos pescadores citadinos ocupavam a função de pescador no
barco de pesca, enquanto que o restante ocupava outras funções como
encarregado, dono do barco e outros.
Dos pescadores ribeirinhos, 46% pescavam apenas para subsistência, e 53%
pescavam para subsistência e também comercializavam o seu pescado. Esses
dados confirmam que a atividade pesqueira tem grande importância para as
populações ribeirinhas (ALMEIDA et al, 2001; CERDEIRA et al. 1997).
25
Tabela 1 – Grau de escolaridade e função na pesca apresentados pelos pescadores
citadinos e ribeirinhos na Amazônia Central.
CARACTERÍSTICA ESTUDADA
PESCADOR CITADINO
N
%
PESCADOR RIBEIRINHO
N
%
ESCOLARIDADE
Ens. Fund. Incompleto
19
61,3
19
73,1
Analfabeto
Ens. Fund. Completo
Ens. Médio Completo
Ens. Médio Incompleto
Superior Completo
TOTAL
Função na Pesca
Pescador
4
3
3
1
1
31
12,9
9,7
9,7
3,2
3,2
100
6
1
0
0
0
26
23,1
3,8
0
0
0
100
18
56,3
12
46,2
0
0
12
46,2
8
5
31
25
18,7
100
1
1
26
3,8
3,8
100
Pescador de subsistência
Encarregado
Outros
TOTAL
Dos pescadores citadinos, cerca de 50% são de origem do médio Solimões,
26% do município de Coari, 23% do Purus, e os outros 30% nasceram no Careiro
(alto Amazonas), Manacapuru e Codajás (baixo Solimões). Os principais locais nos
quais passaram a maior parte de suas vidas foram Purus (23%), Coari (20%),
Manacapuru (16%), Manaus (10%) e Codajás (10%).
Dos pescadores ribeirinhos cerca de 50% são originários da região de
Manacapuru e os outros 25% são dos municípios de Coari, Careiro, Manaus e
Manaquiri. Destes últimos, cerca de 50% criaram-se em Manacapuru. E os outros
locais de criação destes pescadores ocorreram com maiores freqüências em
Puraquequara, área rural de Manaus (12%), Coari (8%) e na cidade de Manaus
(8%). (Tabela 2).
26
Tabela 2 – Principais locais de origem e de onde se criaram dos pescadores citadinos e
ribeirinhos da Amazônia Central
ONDE NASCEU ONDE SE CRIOU
Acre
Acre
Careiro
Careiro da Várzea
Careiro
Manacapuru
Manaus
Total
Coari
Manacapuru
Coari
Manaus
Total
Codajás
Codajás
Janauacá
Janauacá
Coari
Puraquequara
Juruá
Tefé
Total
Lábrea
Lábrea
Manacapuru
Manacapuru
Manaquiri
Manaquiri
Manaus
Total
Iranduba
Manaus
Manaus
Puraquequara
Total
Manicoré
Manicoré
Parintins
Parintins
Purus
Purus
Santarém/PA
Manaus
Tefé
Tefé
Uruá
Puraquequara
CITADINOS
(N=31)(%)
0,00
3,23
3,23
0,00
3,23
9,68
16,13
6,45
3,23
25,81
9,68
0,00
3,23
0,00
3,23
6,45
3,23
9,68
0,00
0,00
0,00
0,00
3,23
0,00
3,23
3,23
3,23
22,58
0,00
3,23
0,00
RIBEIRINHOS
(N=26) (%)
3,85
3,85
0,00
3,85
0,00
7,69
7,69
0,00
0,00
7,69
0,00
3,85
0,00
3,85
0,00
3,85
0,00
46,15
3,85
3,85
7,69
3,85
0,00
3,85
7,69
0,00
0,00
3,85
3,85
0,00
3,85
TOTAL GLOBAL
(N=57) (%)
1,75
3,51
1,75
1,75
1,75
8,77
12,28
3,51
1,75
17,54
5,26
1,75
1,75
1,75
1,75
5,26
1,75
26,32
1,75
1,75
3,51
1,75
1,75
1,75
5,26
1,75
1,75
14,04
1,75
1,75
1,75
Entre os pescadores citadinos, destes cerca de 70% pescadores já viveram
em outras cidades urbanas, das quais de 25% já viveram até 5 anos em outras
cidades (Tabela 3).
27
Tabela 3 – Tempo em que os pescadores citadinos e ribeirinhos viveram em outras cidades
CLASSE
DE TEMPO
00-05
05-10
10-15
15-20
20-25
25-30
30-35
35-40
Total
CITADINOS
Nr
5
3
2
3
1
3
2
1
20
%
25
15
10
15
5
15
10
5
100
N
5
2
4
0
0
1
RIBEIRINHOS
%
41,7
16,7
33,3
0
0
8,3
12
100
As cidades mais citadas foram: Manaus (32%), Manacapuru (29%), Coari
(10%) e Tefé (7%) (Tabela 4). Dentre os pescadores ribeirinhos cerca de 40% já
viveram até 5 anos em outras cidades, alguns chegaram a viver, cerca de 33%,
entre 10–15 anos em outras cidades, Manaus (53%) e Manacapuru (35%), foram as
mais citadas por estes pescadores.
Tabela 4 – Cidades em que viveu os pescadores citadinos e ribeirinhos
CIDADES
Manaus
Manacapuru
Coari
Tefé
Outras
Total
N
9
8
3
2
6
28
CITADINOS
%
32,1
28,6
10,7
7,1
21,4
100
N
9
6
RIBEIRINHOS
%
52,9
35,3
2
17
11,8
100
5.1.1. Experiências e relações sociais na pesca da Amazônia Central
Segundo os relatos dos pescadores da Amazônia Central, a maioria começou
a pescar de subsistência e a pescar com finalidade de venda entre a classe de 10 a
15 anos (Tabela 5).
28
Tabela 5 – Classes de idade que os pescadores citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central
começam a pescar e quando iniciam a pescar com fim de comercialização.
CLASSE
CITADINOS
DE TEMPO
N
%
IDADE QUE COMEÇA A PESCAR
5-10
6
24
10-15
10
40
15-20
5
20
20-25
0
0
25-30
3
12
30-35
1
4
Total
25
100
IDADE QUE COMEÇA PESCAR PARA COMERCIALIZAÇÃO
5-10
1
3,6
10-15
15-20
15-20
20-25
25-30
30-35
Total
2
10
5
1
7
2
28
7,1
35,7
17,9
3,6
25
7,1
100
RIBEIRINHOS
N
%
9
12
1
40,9
54,5
4,5
22
100
2
7
5
1
1
12,5
43,8
31,3
6,3
6,3
16
100
Esses dados apresentados demonstram que a atividade pesqueira de forma
geral está sendo exercida homens novos, resultado este, que indica de que o
conhecimento da pesca na região ainda é transmitido aos jovens de maneira a
proporcionar condições para prática da pesca, com uma alternativa de geração de
renda.
Fora do setor pesqueiro, a agricultura foi à atividade mais citadas 36% pelos
pescadores citadinos e cerca de 70% para os pescadores ribeirinhos. Essas
informações ressaltam que os pescadores ribeirinhos desenvolvem atividade da
agricultura para complementar a renda familiar.
Cerca de 60% dos pescadores citadinos e dos pescadores ribeirinhos
informaram que aprenderam a pescar com o pai e outros responderam que
aprenderam o ofício da pesca com outros parentes (irmão, tios, primos), amigos ou
sozinho (observando outros pescadores). Quanto à relação de trabalho em barco de
pesca, tanto os pescadores citadinos quanto os ribeirinhos, a maioria exerce esta
29
atividade em parceria. Os pescadores que comercializam seu pescado escolheram
tal atividade da pesca, porque não tinha alternativa a não ser pescar: “é o que sabe
fazer”. Já os pescadores ribeirinhos, a maior parte citou que a pesca é mais uma
fonte de renda “dá dinheiro”. A rede foi considerada o instrumento de pesca
preferido entre os pescadores citadinos, correspondendo cerca de 80%. Entre os
pescadores ribeirinhos, 35% indicaram pescar melhor com a rede e 23% indicaram a
malhadeira (Tabela 6).
Cerca de 40% dos pescadores citadinos são donos de algum utensílio de
pesca, incluindo o barco de pesca que corresponde cerca de 50%. Entre os
pescadores ribeirinhos 85% são proprietários de algum instrumento de pesca,
entrem eles: a rede, canoas, malhadeira e de barcos de pesca.
A maioria dos pescadores entrevistados (95%) sabe fazer algum tipo de
utensílios de pesca, destes cerca de 80% dos citadinos sabem confeccionar todo
tipo de utensílios de pesca como arpão, arrastadeira, caniço, espinhel, flecha, linha
de mão, malhadeira, currico, redinha, tarrafa, zagaia entre outros. Cerca de 78% dos
pescadores ribeirinhos confeccionam todo tipo de instrumento, e 22% sabem fazer
até cinco instrumentos utilizados na pesca. Os pescadores citadinos que sabem
fazer algum tipo de utensílio de pesca, 55% relataram que aprenderam observando
outros pescadores trabalhando. Entre os pescadores ribeirinhos cerca de 41%
responderam que também aprenderam “vendo os outros fazer”.
30
Tabela 6 – Perfil sócio econômico dos pescadores profissionais citadinos e ribeirinhos da
Amazônia Central
PESCADOR CITADINO
CARACTERÍSTICA
ESTUDADA
N
%
EXPERIÊNCIA EM OUTRAS ATIVIDADES
Agricultura
10
35,7
Extrativismo vegetal
4
14,3
Pedreiro
3
10,7
Industriário
3
10,7
Funcionário público
2
7,1
Comerciante
2
7,1
Outros
4
14,3
TOTAL
28
100
QUEM ENSINOU A PESCAR
19
61,3
Pai
6
19,4
Outros parentes
5
16,1
Amigos
1
3,2
Outros
31
100
TOTAL
RELAÇÃO DE TRABALHO
22
71
Parceria
5
16,1
Familiar
3
9,7
Contrato
1
3,2
Proprietário
31
100
TOTAL
MOTIVO QUE TRABALHA NA PESCA
15
39,5
É o que sabe fazer
11
28,9
Dá dinheiro
9
23,7
Gosta
3
7,9
Outros
38
100
TOTAL
PREFERÊNCIA DE UTENSÍLIOS
24
82,8
Rede
2
6,9
Malhadeira
1
3,4
Arrastão
2
6,9
Outros
0
0
Sem preferência
29
100
TOTAL
PESCADOR RIBEIRINHO
N
%
18
72
3
12
1
4
3
25
12
100
17
7
3
3
30
56,7
23,3
10
10
100
12
1
1
14
56,7
23,3
10
10
100
10
8
4
45,5
36,4
18,2
22
100
9
6
4
5
2
26
34,6
23,1
15,4
19,2
7,7
100
31
5.2. Etnoictiologia das espécies de comportamento sedentário segundo os
pescadores da Amazônia Central
5.2.1. Aruanã (Osteoglossum bicirrhosum.)
Pertence
à
família
Osteoglossidae,
são
conhecidas
duas
espécies
Osteoglossum bicirrhosum, distribuída na Bacia Amazônica e na savana do
Rupunny. E O. ferrarai, que só foi registrada para região de Orinoco e Rio Negro
(ARAGÃO, 1981). É caracterizada por apresentar escamas grandes, grossas e
fortemente imbricadas em forma de mosaico, apresenta uma região ventral quilhada,
boca oblíqua, profundamente fendida. É vulgarmente conhecido como baiano,
sulamba, macaco-d’água.
O aruanã não está classificado como peixe de primeira qualidade, vai
aparecer entre as principais espécies comercializadas na região para classe de
baixo poder aquisitivo. Tem um grande potencial como peixe ornamental
principalmente nos primeiros estágios de desenvolvimento pelos aquariofilistas
(SHWARTZ, 1968).
BATISTA (1998) registrou a produção pesqueira do aruanã executada pelos
ribeirinhos no período 1994-1996 na Amazônia Central, caracterizando-se ser
exclusivamente para a alimentação, participando cerca de 5% nos seus resultados,
sendo efetuada principalmente com tarrafa. E na pesca profissional, o aruanã esteve
entre os itens mais importante em 1 ano (1996 com 401 ton.), embora ocorresse nos
outros anos, sua produção pesqueira não foi de total importância.
5.2.1.1. Conhecimentos relacionados com o comportamento reprodutivo
Não foi verificada diferença significativa (p > 0,01) entre as respostas dos
pescadores citadinos e ribeirinhos.
32
Os pescadores informaram que o peixe começa a reproduzir com 58 ± 5,1 cm
de tamanho de comprimento e 2,2 anos ± 1,5 ano de idade. E atinge a maturação
completa com a média de 89 cm (± 17 cm) de tamanho e 4,5 anos (± 2,7 anos) de
idade. Afirmaram ainda que a espécie:
1. reproduz no período da enchente,
2. tem preferência de desovar na boca do outro peixe,
3. apresenta comportamento de cuidados parentais com sua prole. Como por
exemplo, o hábito de guardar os filhotes na boca quando ameaçados.
Quando comparamos essas informações com o conhecimento cientifico
verificamos
equivalências
relacionais
com
o
conhecimento
tradicional dos
pescadores, pois segundo SHWARTZ (1968) GOULDING (1980) ARAGÃO (1981)
FERREIRA et al. (1998), QUEIROZ (no prelo) e BARTHEM & FABRÉ (2004)
registraram que a desova do aruanã ocorre no período da enchente, com
fecundação externa em lagos poucos profundos, sem turbulência com plantas
aquáticas e com alta temperatura (LULINg, 1964 apud ARAGÃO, 1981). Segundo as
observações dos pesquisadores SCHWARTS (1968), ARAGÃO (1981), GOULDING
(1980), VAZZOLER (1996) logo após a desova, o macho pega os ovos fertilizados e
põe na boca, onde eles são abrigados e guardados com condições necessárias para
o seu desenvolvimento. Antes de alcançar 10 cm de comprimento, o filhote de
aruanã é incapaz de nadar, devido à presença do saco de vitelo que puxam eles
para o fundo. Quando estão mais independentes, o aruanã pai abre sua boca,
permitindo que eles saiam e nadem ao redor dele caçando larvas de mosquito e
comida microscópicas, quando percebem algum perigo, nadam rapidamente para a
boca do pai (SCHWARTZ, 1968). Foi verificado por FERREIRA et al. (1998) e
QUEIROZ (no prelo) que o aruanã pode alcançar até 1 m de comprimento e 3 quilos
33
em peso. E GOULDING (1980) sugerem que o aruanã começa a reproduzir com 2
anos.
Em relação às respostas entre os pescadores sobre o tipo de desova do
aruanã, foi observada diferença significativa (p < 0,01) entre as proporções
indicadas, onde cerca de 80% dos citadinos registraram que o aruanã desova uma
vez por ano. Cerca de 50% dos pescadores ribeirinhos afirmaram que o aruanã
desova uma vez por ano, e cerca de 7% registraram que aruanã desova até duas
vezes por ano. E o restante (46%) não sabia informar (Figura 2).
100
80
60
%
Citadino
Ribeirinho
40
20
0
1
2
não sabe
desova/ano
Figura 2 – Quantidade de desovas do aruanã por ano segundo os pescadores citadinos
(n=31) e ribeirinhos (n=26) da região Amazônia Central
Nos dados científicos também foi visto que há uma contradição em relação ao
tipo de desova do aruanã, GOULDING (1980) e BARTHEM & FABRÉ (2004)
registraram que apresenta uma desova do tipo parcelada. Enquanto ARAGÃO
(1981) e QUEIROZ (no prelo) afirmaram que o aruanã apresenta a desova do tipo
total, desovando uma vez dentro de cada período, sendo que nem todos os
indivíduos expelem ovócitos simultaneamente, estabelecendo um período mais
amplo.
34
Quanto à fecundidade do aruanã, também foi observada diferença
significativa (p< 0,01) entre as proporções indicadas com maior freqüência entre os
pescadores, onde 88% dos pescadores citadinos e 60% dos pescadores ribeirinhos
registraram que aruanã apresenta uma fecundidade de até 500 ovos. E cerca de
80% não sabiam de quantos ovos o peixe poderia produzir a cada desova (Figura 3).
Vale destacar, que os pescadores de forma geral não se preocupa em conhecer o
número exato de quantos ovos a espécie produz, e sim afirma que o peixe produz
muitos ovos.
Frequência%
100
80
60
Citadino
40
Ribeirinhos
20
050 500
0
-1
10 00
00 0
-1
15 50
00 0
-2
20 00
00 0
-2
25 50
00 0
-3
30 00
00 0
-3
35 50
00 0
-4
40 00
00 0
-4
45 50
00 0
-5
00
0
0
Quantidade de ovos
Figura 3 – Fecundidade aruanã segundo os pescadores citadinos (n=17) e
ribeirinhos (n=31) da Amazônia Central.
Quando
comparamos
essas
informações
citadas
pelos
pescadores,
verificamos que há congruências com os dados de QUEIROZ (no prelo), o qual
aponta que a espécie apresenta uma fecundidade relativamente baixa.. Outros
autores registraram em torno de 182-210 ovócitos (GOULDING, 1980). SHWARTZ
(1968) citou a fecundidade do aruanã entre 200-300 ovócitos e ARAGÃO (1981) deu
a média absoluta de 156 ovos maduros por ano.
35
Em síntese, a Tabela 8 mostra uma comparação do ciclo reprodutivo do
Aruanã entre os dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os
encontrados na literatura científica.
Tabela 7 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da
literatura sobre o comportamento reprodutivo do aruanã
CITAÇÕES
DAS
ENTREVISTAS
COM
OS
PESCADORES
"O peixe começa produzir com 60 cm com 2 anos
de idade"
CITAÇÕES DAS LITERATURAS
L50 idade: 2 anos (Goulding, 1980).
“A Sulamba pode atingir 90 cm de comprimento L100: Tamanho 100 cm (Ferreira et al., 1998;
com idade de 6 anos"
Queiroz, no prelo).
Enchente (Barthem & Fabré, 2004. Goulding,
“A Sulamba produz filhotes na enchente"
1980;
Aragão,
1981;
Ferreira
et
al.,
1998;Queiroz, no prelo)
“Desova mais de uma vez"
Parcelada (Goulding, 1980; Barthem & Fabré,
2004 ); Total (Aragão, 1981; Queiroz, no prelo)
Fecundação externa, lagos, (Aragão, 1981);
“A fêmea desova na boca do outro peixe"
Guardam a prole na boca (Schwartz, 1968;
Aragão, 1981; Vazoller, 1996. Ferreira et al.,
1998.).
209 ovócitos (Queiroz, no prelo); 182-210 /
“Desova muitos ovos, a ova é grande"
200-300 / 156 ovócitos (Goulding, 1980;
Shwartz, 1968; Aragão, 1981)
5.2.1.2 Conhecimentos relacionados com ecologia trófica
Os pescadores da Amazônia Central possuem um conhecimento peculiar
sobre os hábitos alimentares do aruanã. Relataram que a espécie tem uma
alimentação diversificada registrando como sua preferência alimentar o peixe,
indicaram o lago como o principal ambiente utilizado na alimentação durante a
época de enchente e vazante. Enunciaram que não há mudanças nos itens da dieta
alimentar durante a sazonalidade das águas, sendo que alguns pescadores
enfatizaram que diminui a oferta de alimentos durante o período da seca (Figura 4).
36
100
80
Cit/Ench (n=56)
60
%
Cit/Vaz(n=55)
Rib/Ench (n=54)
40
Rib/Vaz (n=53)
20
0
peixe
rã
inseto
calango
Outros
Itens alimentícios
Figura 4 – Alimentação do aruanã segundo os pescadores citadinos (cit) e
ribeirinhos (rib) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e vazante (Vaz.)
Quando comparado esses dados com as literaturas, observamos certa
equivalência, onde GOULDING (1989) indicou a espécie como onívora, não
apresenta ter exigências alimentares restritas, com preferência por insetos,
principalmente besouros grandes, na captura chegam a saltar fora d’água, sendo por
isso conhecida como macaco-d’água (FERREIRA et al. 1998). Às vezes, alimenta-se
de pássaros e pequenos morcegos (ARAGÃO, 1984; 1986). Na fase inicial de
desenvolvimento seu principal alimento é fitoplâncton e zooplâncton. Na fase adulta,
ARAGÃO (1981), distinguiu 66 itens alimentícios, como insetos, vegetais, moluscos,
crustáceos aracnídeos e peixes. No período da enchente, registrou o grupo dos
insetos como alimento principal, incluindo 7 ordens predominando os Coleópteras,
Hemípteros, Orthópteros, e os menos freqüentes Odonata, Dípteros e Hymnópteros.
No grupo do aracnídeo, destacou a ordem de Araneida. Nos moluscos a classe só
ocorreu dos gastrópodes. E dentre os peixes, foi registrado a ocorrência das ordens
Clupeiformes, Siluriformes, e Perciformes. No período da vazante, devido da
presença do “matupá” foi registrada 8 ordens de insetos, destacando-se os
37
Hemípteros e Coleópteras. Entre os crustáceos, destacou-se o camarão
Paleomídeos.
Quanto às informações relacionadas com os principais predadores do aruanã
os pescadores apontaram outros tipos de peixes e o jacaré, tendo como principal
ambiente o lago, durante toda sazonalidade das águas não observada diferença
significa (p > 0,01) entre os pescadores citadinos (42%) e ribeirinhos (32%).
Exemplos dos principais espécies de peixes que predam o aruanã citado pelos
pescadores: a piranha e o pirarucu. Não foram encontradas informações específicas
nas literaturas científicas sobre a predação desta espécie.
5.4.1.4. Conhecimento relacionado com o comportamento migratório
Em relação ao comportamento migratório do aruanã foi registrado pela
maioria dos pescadores entrevistados que esta espécie de peixe não migra durante
as sazonalidades das águas, não havendo diferenças significativas (p > 0,01) entre
os dados de pescadores citadinos e ribeirinhos. Essa informação corresponde com
da literatura, onde LOWE-MCCONNEL (1964), GOULDING (1980) e BARTHEM &
FABRÉ, (2004) registraram que o peixe não apresenta comportamento migratório.
5.4.1.5. Conhecimento relacionado com o crescimento
Quanto ao crescimento, segundo o saber tradicional dos pescadores da
Amazônia Central a média de tamanho do aruanã com a idade de 1 ano é 30 cm,
não havendo diferenças significativas entre os pescadores (p > 0,01). Com a idade
de 2 anos, foi verificado diferenças significativas (p < 0,01) entre os de tamanhos
indicados pelos pescadores, onde os citadinos citam que a espécie atinge a média
de tamanho de 76 cm contra os 53 cm dos ribeirinhos. Com 3 anos não foi verificado
diferenças significativas entre os pescadores (p > 0,01), sendo que o peixe pode
38
chegar até a média de tamanho de 76 cm de comprimento (Tabela 8). Não foram
encontradas informações específicas nas literaturas científicas sobre o crescimento
desta espécie.
Tabela 8 – Médias de tamanho (cm) do aruanã conforme a idade (ano) segundo os
pescadores citadinos e ribeirinhos da Amazônia Central.
Pescador
Citadino
Ribeirinho
Idade
1
2
3
4
1
2
3
4
N
16
16
5
8
14
11
8
1
Média
30
76
76
300
34
53
71
80
MIN
10
20
50
300
10
25
50
80
MAX
60
150
120
300
100
100
100
80
DESV
19
3
60
23
20
20
5.4.1.6. Conhecimento relacionado com a mortalidade e recrutamento
pesqueiro
Quanta a mortalidade larval do aruanã 65% dos pescadores citadinos
apontaram o que mais mata este peixe nesta fase é a mortalidade natural 26% não
sabiam responder quais as causas de mortalidade desta espécie contra os 96% dos
pescadores ribeirinhos indicando mortalidade natural, revelando uma diferença
significativa (p < 0,01), entre os dados destes pescadores. Entre as quais se
destacam a predação e a friagem como morte natural. Na fase jovem os pescadores
indicaram a morte natural, não registrando diferenças significativas (p > 0,01) entre
seus dados e na fase adulta os pescadores registram a pesca como principal motivo
da mortalidade deste peixe nesta fase, não verificadas diferenças significativas (p >
0,01) entre suas respostas (Figura 5). Não foram encontradas informações
específicas nas literaturas científicas sobre a mortandade desta espécie.
Em relação ao tamanho de captura do aruanã, os pescadores registraram um
tamanho médio de 50 ± 21 cm não havendo diferenças significativas (p > 0,01) entre
39
as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos. O recrutamento pesqueiro do
aruanã permitido pela Portaria 01/2001 IBAMA é a partir de 44 cm.
100
%
80
Natural
60
Pesca
40
N sabe
20
/a
du
lto
R
ib
ad
ul
to
Ci
t/
/jo
ve
m
Ri
b
jo
ve
m
Ci
t/
/la
rv
al
Ri
b
Ci
t/
la
rv
al
0
Pescadores/Fase de vida
Figura 5 – Mortalidade do aruanã nas fases larval, juvenil e adulta segundo os pescadores
citadinos - Cit (n=31) e Ribeirinhos – Rib (n=26) da Amazônia Central.
40
5.2.2. Pirarucu (Arapaima gigas)
O Arapaima gigas distribui-se no Amazonas desde o Orinoco, Guianas, até
Ucayali-Peru, não atingindo o sistema do Madalena nem o do Pará (LULING, 1969
apud NEVES, 2000). Porém BARD & IMBIRIBA (1986) dizem não haver registro na
bacia Orinoco, sendo encontrado na parte inferior do rio Amazonas.
Na Amazônia peruana a espécie é chamada de paiche, provavelmente pelo
vocabulário indígena original payshi, e pirarucu no Brasil, o mais correto segundo
EIGNMANN & ALLEN (1942) apud NEVES (2000). E na Guiana, de Arapaima,
provavelmente pelo nome guiano original waraima (ROMERO, 1960). De acordo
com FONTENELE (1948), a palavra pirarucu é de origem indígena, constituída pela
união de pira = peixe e urucu= vermelha, devida à intensa coloração na sua orla
posterior.
Pertence a família Arapaimidae, caracterizada pela língua óssea e áspera,
escamas grandes, grossas e fortemente imbricadas em forma de mosaico; corpo
roliço; região ventral arredondada, boca terminal. Espécie de grande porte é o maior
peixe de escama da Amazônia, chegando a atingir mais de 2 metros de
comprimento e 100 quilos de peso. Tem respiração aérea obrigatória, isto é, precisa
subir regularmente à superfície para tomar o oxigênio do ar. Este hábito é conhecido
pelos pescadores e usado para capturá-lo com arpões. Outra peculiaridade,
segundo NEVES (2000), é que esse peixe pode sobreviver durante várias horas fora
d’água (resiste 24 horas), desde que suas escamas não fiquem ressecadas.
FONTENELE & VASCONCELOS (1982), IMBIRIBA et al. (1985) destacaram
que o pirarucu é considerado o “bacalhau brasileiro”, devido ao excelente sabor de
sua carne, particularmente quando beneficiada a seca e salga. O que determina o
seu alto valor que reside no seu grande porte, tornado-se então, um alimento rico em
41
proteína, superando a carne do salmão, sardinha e carne bovina, submetidas o igual
tratamento (SOLAR, 1949 apud NEVES, 2000).
É de domínio público a diminuição de algumas espécies de peixe nos últimos
anos, principalmente as que têm sofrido um grande esforço pesqueiro, como no caso
do pirarucu (ISAAC et al., 1993). PETRERE Jr. (1985; 1986) já indicava que a
densidade de espécies grandes como esta, próxima a Manaus, está diminuindo
consideravelmente, pela pressão da pesca nos últimos anos.
Além dessa espécie esta correndo o risco de sobrexploração, temos que
considerar que esta situação se agrava pelo hábito gregário dos juvenis, pelo longo
período de proteção à prole dispensado pelos reprodutores e pela necessidade
fisiológica de vir a à superfície para captar o ar, no exercício da respiração aérea, o
que expõem os reprodutores à fácil captura; os filhotes, então, tornam-se sujeitos à
predação por peixes carnívoros e outros animais (BARD & IMBIRIBA, 1986), ou até
mesmo sujeitos à pesca com fim de criá-los em cativeiro.
5.2.2.1. Conhecimentos relacionados com o comportamento reprodutivo
Não foi observada diferença significativa (p > 0,01) entre os dados citados
pelos pescadores citadinos e ribeirinhos em relação ao comportamento reprodutivo
do pirarucu quanto aos aspectos de tamanho e idade de primeira maturação e
tamanho em que o peixe atinge a maturidade completa.
Os pescadores da Amazônia Central relataram que o peixe começa
reproduzir com 159 ± 43 cm de tamanho e 4 ± 2 anos de idade. E atinge a
maturidade completa com a média de 257 ± 72 cm de tamanho. Informaram ainda
que a espécie:
1. reproduz no período da enchente,
42
2. apresenta o costume de desovar em buracos no fundo do lago “faz panela”, e
descreveram os cuidados parentais com suas crias (Figura 6).
3. desova uma vez por ano,
4. tem fecundidade classificada entre 0-500 ovos por desova.
Para a idade de maturação plena que foi verificada diferença significativa (p <
0,01), onde os pescadores citadinos indicaram que o pirarucu atinge a plena
maturação com 8 ± 1,6 anos de idade e os ribeirinhos registraram 6 ± 2,1 anos de
idade para maturação completa do pirarucu.
Esses dados demonstram equivalências com as bibliografias científicas, onde
LÜBLING (1964), ALLSOPP (1958), LOWE-MCCONNEL (1975) registraram 212 cm
para tamanho de primeira maturação do Arapaima gigas. Em Mamirauá segundo
Queiroz (2000) o pirarucu começa a reproduzir com 165-168 cm por volta dos 5
anos. FONTENELLE (1948), IMBIRIBA (1994) estudaram o pirarucu em cativeiro, e
registraram que sua reprodução ocorre com o peso de 40-50 kg, a partir do 5º ano
quando já apresenta mais de 160 cm de comprimento total. LÜLING (1969),
FLORES (1980) apud NEVES (2000) após a análise de estágios de maturidade das
gônadas do pirarucu no rio Pacaya e Samiria no Peru concluíram que esta espécie
começa amadurecer quando atinge o peso de 40-50 kg entre 160 – 185 cm após o
4º e 5º ano de vida determinado através de exames das vértebras e pela curva de
crescimento.
43
outros
3%
não sabem
26%
protege
25%
não sabem
19%
carrega na boca
15%
carrega na boca
23%
agressivo
23%
protege
58%
agressivo
8%
Figura 6 – Tipos de cuidados parentais do pirarucu segundo os pescadores citadinos
(esquerda; n=30) e ribeirinhos (direita; n=26) da Amazônia Central.
Comparando estas informações com o conhecimento científico vimos que
existe coerência, pois segundo LÜLING (1964) apud NEVES (2000), FLORES
(1980), o pirarucu do rio Pacaya e Samiria no Peru desova durante o ano todo com
um período de máxima intensidade de agosto a dezembro, sendo que o pico mais
notável é no mês de novembro e, de mínima intensidade, é entre março e maio.
Sugerem que o pirarucu que apesar de haver várias desovas durante um período de
reprodução, pois os óvulos amadurecem sucessivamente, a desova pode não ser
anual, mas sim ocorrendo a cada dois anos, o que reduz a fecundidade total. Este
resultado assemelha-se com o encontrado por QUEIROZ (2000), onde ele cita que o
pirarucu de Mamirauá apresenta uma reprodução sazonal, relacionada com o
período de enchente, sendo novembro e dezembro os principais períodos de
maturação das gônadas e desova. Seus resultados evidenciam o suporte da idéia
que a fêmea madura não desova todo ano consecutivo, mas uma vez em cada 2
anos, ou a cada 3 anos.
De acordo com FONTENELE (1952; 1948) o pirarucu em cativeiro, quando
vão reproduzir, dão preferência a locais sem vegetação aquática flutuante, embora
depois da desova, os reprodutores conduzissem os alevinos para locais obrigados
44
ou não de vegetação aquática. A profundidade da água varia entre os limites 0.80 a
1,00m. Os ninhos possuem forma de calota esférica, tendo cerca de 20cm de
profundidade e um diâmetro de aproximadamente 50cm, onde a fêmea coloca os
óvulos que recebem o líquido seminal do macho para ocorrência da fertilização, mas
podem pegá-los na boca por curto período de tempo para transportá-los para outro
local escolhido, caso o local inicial se torne inadequado, como muito raso, ou muito
quente. SAWAYA (1946), ALSSOP (1958); BARD & IMBIRIBA (1986), FERREIRA et
al (1998) descreveram que os ninhos são cavados no fundo dos lagos com a
cooperação de ambos os pais em pouca corrente.
A Tabela 11 mostra de forma resumida uma comparação do ciclo reprodutivo
do pirarucu entre as dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os
encontrados na literatura científica.
45
Tabela 9 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da
literatura sobre o comportamento reprodutivo do pirarucu
CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS
PESCADORES
"O peixe começa produzir com 150 cm e 4 anos
de idade"
CITAÇÕES CIENTÍFICAS
L50: 212 cm e 6 anos (Lübling, 1964; Allsopp,
1958; Lowe-MacConnel, 1975); 160 cm e 5
anos (Fontenelle, 1948; Imbiriba, 1964).
“O pirarucu chega a medir 250 cm com 8 anos de
L100: 311,7 cm e 10 anos (Queiroz, 2000)
idade"
“O pirarucu produz filhote na enchente"
"O pirarucu desova no buraco no fundo do lago,
faz panela"
“O macho protege o filhote, fica agressivo"
“O pirarucu reproduz uma vez por ano"
“O peixe tem muitos ovos (0-500 ovos)"
Durante o ano todo - pico em nov-dez
(enchente) (Lüling, 1964; Flores, 1980 apud
Neves, 2000; Queiroz, 2002; Lübling, 1964;
Lowe-McConnel, 1975; Alssopp, 1958)
Florestas inundadas, constroem ninhos no
fundo do lago (Sawaya, 1946; Alssopp, 1958;
Lübling, 1964;Lowe-McConnel, 1975; Bard &
Imbiriba, 1986; Ferreira et al., 1998; Queiroz,
2000.)
Protegem a prole, principalmente os
alevinos recém nascidos (Neves, 2000.);
Cuidado com o ninho, principalmente
executado pelo macho (Queiroz, 2000).
Parcelada (Lübling, 1964; Lowe-McConnel,
1975; Alssopp, 1958; Neves, 2000; Queiroz,
2000)
11000 ovócitos (Bard & Imbiriba, 1986);
20,327 ovócitos (Queiroz, 2000).
5.2.2.2. Conhecimentos relacionados com ecologia trófica
Segundo os pescadores da Amazônia Central, o pirarucu tem uma
alimentação diversificada registrando como sua preferência alimentar, o peixe e o
camarão. Indicaram o lago durante os períodos de enchente e vazante. Vale
ressaltar, que não há mudanças nos itens da dieta alimentar nas épocas de subida e
descida das águas sendo que alguns pescadores enfatizaram que diminui a oferta
de alimentos durante o período da seca, não foi observado diferenças significativas
(p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos (Figura 7).
46
100
80
Cit/Ench (n=36)
Cit/Vaz (n=35)
40
Rib/Ench (n=38)
%
60
Rib/Vaz (n=41)
20
0
peixe
camarão
carangueijo
outros
Itens Alimentícios
Figura 7 – Alimentação do pirarucu segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib)
da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e vazante (Vaz).
Essas informações apresentam-se equivalentes com os encontrados na
literatura científica, onde observamos que QUEIROZ (2000) examinou o conteúdo
estomacal de 232 pirarucus de ambos os sexos de vários tamanhos originados de
uma Coleção de Referêncial de Mamirauá de tratos digestivos do pirarucu
conservados em uma solução de álcool (30-40%) e formol (15%), referentes ao
período de abril de 1993 e junho de 1995, onde nos seus resultados mostraram que
o pirarucu alimenta-se tanto de vertebrados como invertebrados. Dos vertebrados, o
que se destacou foram espécies de outros peixes, exemplos: “tamoatá” (Mecalechy
thoracatam), “bodó” (Hypostomus spp., Loricariichthys spp. e Gyptarichthys
gibbcepes), “mandi” (Pimelodus spp. e Pimelodella cristalta), “traíra” (Hoplias
malabaricus), “acará” (Apistogramma spp., Heros appendiculatus e Mesonauta
insignis),
“rabeca”
(Megalodoras
uranoscafus),
“sarapó”
(Sternopygidae,
Gymnotidae, Rhamphichthyidae, Hypopomidae, Apteronotidae e Eigenmanniidae),
“Chorona” (Curimatella sp.), “peixe-cachorro” (Acestrorhynchus e Rhaphiodon),
“cascudinha” (Psectrogaster rutilordes e P. amazonica), “jeju” (Hoplerythrinus
47
unitaeniatus) e “branquinha”(Potamorhina altamazonica). Eventualmente alimenta-se
de vegetais (pequenos brotos, algumas sementes e flores, fragmentos de macrófitas
aquáticas Eichhornia sp). Em pirarucus jovens, além de peixes, foram encontrados
invertebrados como insetos (Coleoptera, Diptera, Odonata e Hemiptera.), crustáceos
e moluscos. O de maior importância foram os macrocrustáceos décapodes
(Malacostraca), isto é caranguejo (Sylviocarcinus pictus e Dilocarcinus pagei) e
camarão (Macrobrachium amazonicum). Dos microcrustáceos foram encontrados
Ostracoda e Conchostraca (Branchiopoda), presentes somente nos estômagos de
animais muitos jovens (menos que 50 cm CT).
Os principais predadores do pirarucu conhecidos pelos pescadores da
Amazônia Central são outros tipos de peixes, que se alimenta dos filhotes e o jacaré
durante toda sazonalidade das águas não observando diferenças significas (p >
0,01) entre os tipos de pescadores citadinos e ribeirinhos.
Correspondendo com vários pesquisadores, como NEVES (2000), registrou
que o pirarucu quando jovem tem como “predadores principais” as aves (Anhinga
anhinga, Ceryle torquata, Phalacrocorax brasilianus) que, quando têm oportunidade,
atacam para comê-los. Outros predadores importantes do pirarucu jovem são: a
piranha (Serrassamus spp.), e o jeju (Hopterythrinus sp.). Os ocasionais são Cichla
monoculus (tucunaré) e Astronotus ocellatus (Acará açu). MIKDALSKI (1957)
registrou que o jacaré (Caiman yacare) é um outro predador em potencial de
pirarucus jovens de 40-50 cm.
48
5.2.2.3. Conhecimentos relacionados com comportamento migratório
Em relação ao comportamento migratório do pirarucu foi registrado pelos
pescadores entrevistados que durante o período da cheia e enchente esta espécie
estariam se movimentando de um lago para outros lagos com a fim de desovar; e
durante os períodos de vazante e seca o peixe não executaria migração e estariam
mais na procura de abrigo, não havendo diferenças significativas (p > 0,01) entre os
dados de pescadores citadinos e ribeirinhos. Vale ressaltar que em geral, estes
percebem que esta espécie em outros períodos são sedentárias conforme já
descritos nas literaturas especializadas (QUEIROZ, 2000).
5.2.2.4. Conhecimentos relacionados com crescimento
Quanto ao crescimento do pirarucu, os pescadores registraram a média de
tamanho do pirarucu com a idade de 1 ano é 32 +/- 18,6 cm de comprimento. Com a
idade de 2 anos, é 66,6 +/- 33,5 cm de comprimento. Com 3 anos, indicaram que o
peixe pode alcançar a média de tamanho de 73 +/- 24,2 cm e com 4 anos, a média
de tamanho é de 190 +/- 155 cm não havendo diferenças significativas entre os
pescadores (p > 0,01) .
Comparando essas informações com os da literatura científica encontramos
razoável equivalência, o qual QUEIROZ (2000) estimou através do modelo de VonBertalanffy a taxa de crescimento, utilizando dados de capturas no período de 19931998 (Tabela 12).
Tabela 12. Crescimento do pirarucu segundo os pescadores da Amazônia Central
comparado com a literatura científica
IDADE
PESCADORES
LITERATURA
AUTOR
1
2
3
4
32 cm
66,6 cm
73 cm
190 cm
55-56 cm
73-75 cm
91-94 cm
106-107 cm
Queiroz, 2000
49
5.2.2.5. Conhecimento relacionado com a mortalidade e recrutamento
pesqueiro
Para os pescadores da Amazônia Central o que mais mata pirarucu na fase
larval e juvenil é a mortalidade por causas naturais, no caso eles apontaram a
predação. E na fase adulta os pescadores indicaram a pesca como a principal causa
de mortalidade destes peixes, onde não foram registradas diferenças significativas (p
> 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos (Figura 21).
Fato este, que podemos confirmar na literatura sobre o aumento do esforço
pesqueiro os quais esta espécie tem sofrido nos últimos anos. Pois, segundo
VERISSIMO (1895) não existem registros contínuos da captura de pirarucu na Bacia
Amazônica. No século passado, entre 1885 e 1893, somente no porto de Belém
foram comercializadas, em média 1200 ton./ ano. SOUZA & VAL (1991) registraram
que dados da ex-SUDEPE mostraram, que no estado do Amazonas, as capturas
desta espécie caíram de 1140 ton. em 1979 para 364 ton. em 1986. Na Amazônia
Central, BATISTA (1998) registrou a produção pesqueira anual para a espécie 67,13
ton. em 1994, e 15,80 ton. em 1995. De acordo com ISAAC & RUFFINO (1999), foi
desembarcado nos anos de 1992 a 1996 uma média de 18,5 toneladas por ano em
Santarém. NEVES (2000) afirma que a produção deve estar sedo subestimada
devido ao mercado negro e ao desvio do produto nos portos, em vista das proibições
existentes para a comercialização desta espécie.
Em relação ao tamanho de captura do pirarucu foram verificadas diferenças
significativas (p < 0,01) entre os tamanhos apontados pelos pescadores, os citadinos
(n=25) registraram um tamanho médio de 151 ± 67 cm. Os pescadores ribeirinhos
(n=21) afirmaram que o pirarucu começa a ser capturado na média dos 51 ± 55 cm
de comprimento.
50
100
%
80
Natural
60
Pesca
40
N sabe
20
/a
du
lto
Ri
b
ad
ul
to
Ci
t/
/jo
ve
m
R
ib
jo
ve
m
Ci
t/
/la
rv
al
Ri
b
Ci
t/
la
rv
al
0
Pescadores/Fase de vida
Figura 8 – Mortalidade do pirarucu nas fases larval, juvenil e adulta segundo os pescadores
citadinos – Cit (n=31) e Ribeirinhos – Rib (n=26) da Amazônia Central.
Os dados citados pelos pescadores ribeirinhos são equivalentes aos citados
por JUNK & HONDA (1976) em Manaus, na década de 70, grande parte dos animais
desembarcados possuía comprimento total inferior a 100 cm; e com NEVES (2000),
registrando que de 810 pirarucus amostrados em 1996, em Santarém, mais de 80%
estavam abaixo de 150 cm. Já os dados registrados pelos pescadores ribeirinhos
são congruentes ao citados por QUEIROZ (2000) onde este afirma que a captura do
pirarucu em Mamirauá esta sendo efetuado a partir de 149-151 cm comprimento
total.
Para proteger o período de desova e cuidado da prole, a Portaria No. 480-91
do IBAMA proíbe a peca do pirarucu na Amazônia entre 1º de dezembro a 31 de
maio. E durante o período de pesca, o tamanho mínimo do peixe permitido para
captura deve ser de 150 cm e o tamanho mínimo permitido da manta deve ser pelo
menos de 100 cm (Portaria no. 008-96 e no. 1534-89 do IBAMA).
51
5.2.3. Tucunaré (Cichla monoculus)
Pertencente a família Cichlidae, distribuída por toda região do rio SolimõesAmazonas. É considerada uma espécie de grande porte, pode alcançar cerca de 50
cm de comprimento e é muito apreciada pela população da Amazônia, por sua carne
de alta qualidade para preparação de pratos típicos da região.
É prontamente diferenciada das demais espécie do gênero devido á
existência de uma mancha escura longitudinal, contínua ou interrompida, sob as
nadadeiras peitorais, além disso, apresenta três ou quatro faixas verticais escuras
sobre a porção superior dos flancos, nunca se estendendo abaixo da linha mediana
do corpo.
Segundo PETRERE (1986), o tucunaré foi uma das espécies mais pescadas
durante o período de 1976-1978. MERONA & BITTENCOURT (1988), nos seus
estudos de desembarque na Amazônia Central, dos 35 tipos de pescados
registrados, o tucunaré figura entre os oito mais importantes, e apresentou uma
produção estável até 1980-1981, reduzindo até 1986 e mantendo a baixa até a
produção de 1994, onde BATISTA (1998) registrou o desembarque de 160
toneladas. Porém em 1995-1996 saltou ao nível de 800 toneladas, o qual só havia
atingido excepcionalmente em 1979 em Balbina (AM).
5.2.3.1. Conhecimentos relacionados com o comportamento reprodutivo
Não foi verificada diferença significativa (p > 0,01) entre as respostas dos
pescadores citadinos e ribeirinhos
Os pescadores da Amazônia Central apontaram que o peixe começa
reproduzir com a média de 25 (CP) ± 10 cm de tamanho e 1,8 ± 0,8 anos de idade.
E atingem a maturação plena a média total de 45 (CP) ± 12 cm de tamanho e 5,3 ±
5,7 anos de idade. Registraram ainda que o peixe:
52
1. desova na época da enchente;
2. tem preferência desovar nos trocos de árvores, “no pau” em ambientes
de lago;
3. reproduz uma vez por ano.
4. cuida dos filhotes após a desova, tornando-se mais agressivos,
evitando assim a predação (Figura 9)
acompanha
6%
Guarda na boca
10%
não sabem
6%
não sabem
19%
protege
46%
agressivo
4%
protege
77%
agressivo
32%
Figura 9 – Tipo de cuidados parentais do tucunaré segundo os pescadores citadinos (direita; (n=31))
e ribeirinhos (esquerda; (n=26)) da Amazônia Central
Quando
comparamos
essas
informações
com
a
literatura científica
observamos certa equivalência, onde CÔRREA (1998) registrou o tamanho (CP) de
primeira maturação do tucunaré de 19,75 cm com um ano de idade, considera o
período reprodutivo do tucunaré longo, tornando-se mais intenso durante a
enchente, com pico no mês de fevereiro. A espécie apresenta desova parcelada
(FONTENELLE, 1950; CÔRREA, 1998), reproduzindo várias vezes durante o ano
em cativeiro. CÔRREA (1998), FONTENELLE (1950) registrou que a espécie
começa a reproduzir entre 29-35 cm (CP) com 1 ano de idade, entre o mês de
dezembro a julho (enchente – cheia). ISAAC et al. (2000) no baixo Amazonas
sugerem que a espécie apresenta uma época de reprodução entre os meses de
março e abril; porém considerando a ocorrência de fêmeas em maturação após este
53
período, confirmou a idéia que a espécie tenha um longo período de reprodução, ou
talvez vários períodos reprodutivos de desova ao longo do ano. Vivem nas margens
dos lagos, rios e em pauzadas (FERREIRA et al., 1998). Formam casais durante a
época de reprodução, construindo ninhos, onde depositam os ovos. ZARET (1980)
afirmou que o tucunaré dedica especiais proteções parentais, defendendo com
agressividade a prole, desde os ovos até fase alevina, contra ataque os de
predadores.
Em relação à quantidade de ovos que o tucunaré desova, foi observada
diferença significativa (p < 0,01) entre os dados relatados pelos pescadores citadinos
(60%) e ribeirinhos (50%), onde a maioria afirmou que o peixe apresenta uma
fecundidade classificada entre 0-500 ovos por desova (Figura 10).
Quando comparamos estes dados com as referências científicas, analisamos
coerência em suas resposta, pois estas informações são consideradas como uma
fecundidade baixa em relação às outras espécies de peixe, onde FONTENELLE
(1950) registrou que o tucunaré apresenta uma fecundidade entre 1500-8000 óvulos.
De fato, em termo de quantidade exata de ovos que a espécie possa produzir é um
ponto que os pescadores não sabem de forma concreta, mas sim de suposições,
pois foram poucos pescadores que indicaram tal aspecto.
54
100
Citadinos
%
80
Ribeirinhos
60
40
20
00
50
de
m
ai
s
00
-
35
40
00
30
45
00
00
00
25
00
00
-
15
20
00
10
0-
50
0
0
Quantidade de ovos
Figura 10 – Fecundidade do tucunaré segundo os pescadores citadinos (n= 20) e ribeirinhos (n=4) da
Amazônia Central.
A Tabela 14 mostra de forma resumida uma comparação do ciclo reprodutivo
do tucunaré entre as dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os
encontrados na literatura científica.
55
Tabela 10 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da
literatura sobre o comportamento reprodutivo do tucunaré
CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS
PESCADORES
CITAÇÕES CIENTÍFICAS
"O peixe começa produzir com 25 cm e 1,5 anos
de idade"
L50: 29-35 cm e 1 ano de idade (Fontenele,
1950.); 19 -75 cm e 1 ano de idade (Corrêa,
1998).
" O Tucunaré chega a medir 45 cm com 5 anos de
idade"
L100: 41 cm e 4 anos (Corrêa, 1998).
“O Tucunaré produz filhote na enchente"
Enchente/cheia (Fontenele, 1950); Várias
vezes, mais intenso durante na enchente,
com pico em fevereiro (Côrrea, 1998); Vários
períodos de desova, com pico nos meses de
mar-abril. (Isaac et al., 2000.).
"O tucunaré desova no pau (troncos de árvores)
dentro do lago"
Galhas - Lêntico. (Fontenele, 1950).
“O tucunaré vigia os filhotes, fica agressivo"
Constroem ninhos, defendem com
agressividade a prole e a fêmea. Constroem
ninhos, defendem com agressividade a prole
e a fêmea.(Fontenele, 1950; Zaret, 1980).
“O tucunaré reproduz uma vez por ano,
principalmente quando dá repiquete"
“O peixe tem muitos ovos (0-500 ovos)"
Parcelada (Fontenele, 1950; Côrrea, 1998).
1,500-8,000ovócitos (Fontenele, 1950).
5.2.3.2. Conhecimentos relacionados com a ecologia trófica
Os pescadores da Amazônia Central consideram o tucunaré um peixe
predador registrando como sua preferência alimentar, o peixe e o camarão. Entre as
proporções das respostas dadas pelos pescadores citadinos (79% na enchente e
77% na vazante) e ribeirinhos (52% na enchente e 63% na vazante) para o item
peixe foi observada diferença significativa (p < 0,01), onde os pescadores ribeirinhos
apresentaram maior heterogeneidade, indicando outras preferências alimentares
além peixes. Vale ressaltar, que não há mudanças nos itens da dieta alimentar nas
épocas de subida e descida das águas, sendo que alguns enfatizaram que diminui a
oferta de alimentos durante o período da seca (Figura 11).
56
100
80
Cit/Ench (n=43)
Cit/Vaz (n=43)
40
Rib/Ench (n=39)
%
60
Rib/Vaz (n=38)
20
0
peixe
camarão
rã
outros
Itens Alimentícios
Figura 11 – Alimentação do tucunaré segundo os pescadores citadinos (Cit.) e ribeirinhos
(Rib.) durante os períodos de enchente (Ench) e vazante (Vaz) da Amazônia
Central.
Relacionando estas informações dadas pelos pescadores, observamos
equivalência com o conhecimento cientifico, os quais ZARET & PAINE (1973),
CÔRREA (1998), FERREIRA et al. (1998), RABELO (1999) consideram o tucunaré
como um predador voraz, tem boca larga protrátil que facilita a apreensão da presa;
a espécie é piscívora, embora eventualmente possa consumir também camarões
(SUÁREZ et al., 2001; GAMIERO & BRAGA, 2004;). CALA et al. (1996), além
destes, registrou a presença de restos de macrófitas, e insetos, como odanatas e
dípteros.
Quanto aos principais predadores do tucunaré os pescadores da Amazônia
Central indicaram outros peixes, como a piranha, o pirarucu, aruanã, arraia, bagres,
traíra e outros tucunarés durante toda sazonalidade das águas não observando
diferenças significas (p > 0,01) entre os pescadores citadinos (58%) e ribeirinhos
(44%) (Figura 12). Quando comparamos estas informações com a literatura
57
cientifica, verificamos relacionada equivalência, onde GOMIERO & BRAGA (2004)
registrou ocorrência de canibalismo em alta freqüência analisando tucunarés
introduzidos no reservatório de Volta Grande, Rio Grande (MG/SP).
100
80
Cit/ench (n=45)
60
%
Cit/vaz (n=45)
Rib/ench (n=39)
40
Rib/vaz (n=39)
20
0
peixe
jacaré
outros
Predadores
Figura 12 – Predação do tucunaré segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) durante o
período da enchente (Ench) e vazante (Vaz).
5.2.3.3. Conhecimentos relacionados com o comportamento migratório
Em relação ao comportamento migratório do tucunaré foi registrado pela
maioria dos pescadores entrevistados que esta espécie de peixe não migra durante
as sazonalidades das águas, não havendo diferenças significativas (p > 0,01) entre
os dados de pescadores citadinos e ribeirinhos.
5.2.3.4. Conhecimentos relacionados com o Crescimento
Quanto ao crescimento, segundo os pescadores a média de tamanho (CP) do
tucunaré com a idade 1 ano, é de 15 (CP) ± 7,6 cm. Com a idade de 2 anos, é de
28,25 (CP) ± 7,6 cm de tamanho. Com 3 anos, foi registrado a média de tamanho de
31,7 (CP) ± 11 cm de comprimento, não foi verificada diferenças significativas entre
os pescadores (p > 0,01).
58
Essas informações foram conferidas com as informações científicas, as quais
foram verificadas correspondência, particularmente até a idade de 3 anos (Tabela
11). A diferença observada na idade 4 associada ao elevada dispersão nas
informações prestadas pelos pescadores indica que a percepção etária pelos
pescadores é pior a partir desta idade.
.
Tabela 11– Crescimento do tucunaré segundo os pescadores da Amazônia Central comparado com
a literatura científica
IDADE
1
2
3
PESCADORES LITERATURA
15 cm
20 cm
28,25 cm
27cm
31,7
31 cm
AUTOR
Côrrea, 1998
5.2.3.5. Conhecimentos relacionados com a Mortalidade e Recrutamento
Pesqueiro
Para os pescadores da Amazônia Central o que mais mata tucunaré na fase
larval e juvenil é a mortalidade por causas naturais, no caso eles apontaram a
predação e a friagem. E na fase adulta os pescadores indicaram a pesca como a
principal causa de mortalidade destes peixes, onde não foram registradas diferenças
significativas (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos
(Figura 13).
Estes dados evidenciam que os pescadores conhecem as características
hidrológicas da região, geradas por condições meteorológicas (mudança de
temperatura), correspondendo um aspecto também evidenciado por pescadores
artesanais em outros trabalhos de etnoecologia e etnoictiologia (FURTADO, 1993;
MARQUES, 1995; COSTA-NETO,2001).
59
100
80
Natural
%
60
Pes ca
40
N s abe
20
R
ib
/a
d
ul
to
to
C
it /
a
du
l
ve
m
ib
/jo
ov
e
C
it /
j
la
ib
/
R
R
al
rv
al
ar
v
it /
l
C
m
0
Pescadores/Fase de vida
Figura 13 – Mortalidade do tucunaré durante as fases larval, juvenil e adulta segundo os
pescadores citadinos-Cit (n=31) e ribeirinhos-Rib (n=26) da Amazônia Central.
Em relação ao tamanho de captura do tucunaré, os pescadores registraram
um tamanho médio de 27,36 ± 21,6 cm não havendo diferenças significativas (p >
0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos.
Essas informações estão dentro dos padrões exigidos pelo IBAMA através da
Portaria 01/2001 que indica que o tucunaré é legalmente capturado a partir dos 25
cm de comprimento.
60
5.3. Biologia e ecologia das espécies de comportamento migratório
5.3.1. Curimatã (Prochilodus nigricans)
Pertence à família Prochilodontidae. É conhecido vulgarmente como
curimatã, curimbatâ ou curimatá.
A espécie apresenta corpo alongado, coloração cinza prateada, ligeiramente
azulada no dorso; as nadadeiras caudal, dorsal e anal apresentam numerosas
manchas escuras e claras, alternadamente; escamas ásperas do tato; boca protrátil,
em forma de ventosa, com lábios carnosos sobre os quais são implantados
numerosos dentes diminutos em fileiras; linha lateral com 45 a 50 escamas
(FERREIRA et al., 1998).
O gênero apresenta uma ampla distribuição pelas bacias da América do Sul,
ocorrendo em grandes rios, florestas inundadas e lagos (GOULDING, 1979).
5.3.1.1 Conhecimentos relacionados com comportamento reprodutivo
Não foi observada diferença significativa (p > 0,01) entre os dados citados
pelos pescadores citadinos e ribeirinhos.
Os pescadores da Amazônia Central informaram que o peixe começa a
reproduzir com 28 ± 11 cm de tamanho, informaram ainda que a espécie:
1. desova no período da enchente;
2. tem como ambiente o rio de água branca,
3. não apresenta comportamento de cuidados com a sua prole após a desova,
4. apresenta uma fecundidade mais de 5000 ovos por desova;
Os pescadores, citadinos e ribeirinhos, têm o conhecimento que estes peixes
têm a capacidade de produzir em muitos ovos “milhares” (cit. Pesc.), resultados de
suas observações, principalmente por parte dos pescadores citadinos, da sua
produção pesqueira.
61
Foram poucos entrevistados que quantificaram com exatidão o número de
ovos que estas espécies possam produzir por desova, e seus dados apresentaram
uma quantidade baixa se comparada com os dados registrados na bibliografia
científica.
Para idade de primeira maturação, tamanho e idade de completa maturação
foi verificada diferença significativa (p < 0,01) entre os dados dos pescadores, sendo
que para os dados relacionados à idade de primeira maturação, os citadinos
informaram que o curimatã reproduz a partir de 2,7 ± 0,6 anos de idade e os
pescadores ribeirinhos indicaram que peixe começa a reproduzir a partir de 1,4 ±
0,7 anos de idade. Para o tamanho e idade de completa maturação os pescadores
citadinos registraram a média de 44 ± 12 cm de tamanho com 5,5 ± 2,2 anos de
idade e os pescadores ribeirinhos indicaram a média de 37± 8 cm de tamanho com
2,3 ± 0,6 anos de idade
Quanto a quantidades de desovas por ano do curimatã foi verificada diferença
significativa (p < 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos,
onde 93,5 % dos pescadores citadinos afirmaram que a espécie desova somente
uma vez por ano. Enquanto que os pescadores ribeirinhos, 61% afirmaram que o
peixe desova uma única vez por ano e 35% não souberam responder (Figura 14).
62
100
80
Citadino (N=31)
40
Ribeirinho (N=26)
%
60
20
0
1
2
não sabe
Desovas/ano
Figura 14 – Quantidade de desova do curimatã por ano segundo os pescadores da
região amazônica central
Na literatura encontramos registros equivalentes aos pescadores da
Amazônia Central de que espécie começa a reproduzir (L50) entre as classes 25-30
cm de tamanho e a idade de primeira maturação está entre 1-2 anos
(SCHWASSMANN, 1978; GOULDING, 1979; JUNK, 1985; OLIVEIRA, 1997;
BARTHEM & FABRÉ (2004). OLIVEIRA (1997) afirmou que o tamanho de completa
maturação (L100) do curimatã é de 42 cm, com longevidade ou idade máxima de até
6 anos. No início da enchente, os peixes saem dos seus tributários para desovar na
desembocadura do rio (SCHWASSMANN, 1978; GOULDING, 1979; JUNK, 1985;),
trata-se de ambientes ricos em oxigênio e que garantem uma boa distribuição das
larvas (ISAAC et al. 2000). A espécie apresenta uma desova sincrônica e total
(VAZOLLER et al., 1989; RIBEIRO & PETRERE, 1990; BARTHEM & FABRÉ, 2004).
A espécie não apresenta cuidado parental, pois logo após a desova, os peixes se
dispersam nas florestas inundadas, onde passam o período da cheia se
alimentando, entram nos afluentes e igarapés, ali permanecendo até baixarem dos
mesmos para desovar (GOULDING, 1979; OLIVEIRA, 1997).
63
A Tabela 12 mostra de forma resumida uma comparação do ciclo reprodutivo
do Curimatá entre as dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os
encontrados na literatura científica.
Tabela 12 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da
literatura sobre o comportamento reprodutivo do Curimatã
CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS
CITAÇÕES CIENTÍFICAS
PESCADORES
L50: 25-35 cm e 1,5 ano de idade
"O peixe começa produzir com 28 cm e 2 anos de
(Schwassmann, 1978; Junk, 1985); 26 (CP) cm
idade"
e 1,9 ano de idade (Oliveira, 1997; Batista,
1999; Barthem & Fabré, 2004).
“O Curimatã chega a medir 50 cm com 4 anos de
idade"
L100: 33 cm (Barthem & Fabré, 2004). 44 cm e 6
anos (Oliveira, 1997) 52 cm e 6 anos (Batista,
1999).
Dez - Mar (início da enchente) (Shwassmann,
“O Curimatã produz filhote na enchente"
1978; Goulding, 1979; Junk, 1985; Barthem &
Fabré, 2004.).
Desembocaduras dos rios / Encontro das
"O Curimatã desova no rio de água branca"
águas claras com a preta. (Goulding, 1979 /
Shwassmann, 1978;Junk, 1985;).
“O Curimatã não cuida dos filhotes"
“O Curimatã reproduz uma vez por ano"
“O peixe tem muitos ovos (0-5000 ovos)"
Não apresenta cuidado parental.(Goulding,
1979; Oliveira, 1997; Batista, 1999).
Sincrônica e total (Barthem & Fabré, 2004).
300 000 ovócitos (Shwassmann, 1978;
Goulding, 1979; Junk, 1985).
64
5.3.1.2. Conhecimentos relacionados com a ecologia trófica
Em relação aos hábitos alimentares do Curimatá, os pescadores da
Amazônia Central registraram que a espécie alimenta-se preferencialmente por lodo
ou limo, indicaram o lago como principal ambiente utilizado para sua alimentação,
não há mudanças nos itens da dieta alimentar nas épocas de subida e descida das
águas, sendo que alguns enfatizaram que diminui a oferta de alimentos durante o
período da seca (Figura 15).
100
80
Cit/Ench (N=33)
Cit/Vaz (N=31)
40
Rib/Ench (N=35)
%
60
Rib/Vaz (N=32)
20
0
lodo/ limo
capim
fruto
outros
Itens alimentícios
Figura 15 – Alimentação do curimatã segundo os pescadores citadinos (Cit.) e ribeirinhos
(Rib.) da Amazônia Central durante o período de enchente (Ench) e vazante
(Vaz).
Essas informações quando comparada com as das literaturas científicas
observa-se equivalências, onde SCHWASSMANN (1978), GOULDING (1979),
JUNK, (1985) e OLIVEIRA (1997) registraram que a espécie apresenta hábitos
detritívoros. Alimentando-se principalmente de lodo (BOWEN, 1983 apud BATISTA,
1999). YOSSA & ARAUJO-LIMA (1998), citam algas filamentosas e invertebrados
(Brachionus) espécies como item alimentício do curimatã. Segundo BATISTA (1999),
a espécie utiliza as várzeas para alimentação e criação.
65
De acordo com os pescadores da região, os principais predadores do
curimatã são outros peixes, como por exemplo, os bagres conhecidos como “peixe
fera”:
pirarara
(Phractocephalus
hemioliopterus),
dourada
(Brachyplatystoma
flavicans), pacamum (Paulicea luetkeni) e piraíba (Brachyplatystoma filamentosum);
a piranha, o tucunaré e traíra também são exemplos de outros peixes que
“perseguem” o curimatã durante toda sazonalidade das águas não observando
diferenças significas (p > 0,01) entre os pescadores citadinos e pescadores
ribeirinhos (Figura 16).
100
80
cit/ench (N=50)
cit/vaz (N=50)
40
rib/ench (N=57)
%
60
rib/vaz (N=57)
20
0
peixe
boto
jacaré
aves
outro
Predadores
Figura 16 – Predação do curimatã durante o período de enchente (ench) e vazante (vaz)
segundo os pescadores citadinos (Cit.) e ribeirinhos (Rib.) da Amazônia Central
Há grande equivalência das respostas dos pescadores sobre a predação
quando comparados com o conhecimento científico, onde BARTHEM & GOULDING
(1997) afirmaram que todos os bagres pimelodídeos são altamente piscívoros,
registrando uma ocorrência de curimatã como presas de filhote de piraíba
(Branchyplatistoma filamentosum) através de analise de conteúdo estomacal.
No entanto, isto demonstra que os pescadores apresentam conhecimento
empírico sobre as relações tróficas existentes no ambiente, onde esta constatação é
também compartilhada por outros pesquisadores que trabalharam com etnoecologia/
66
etnoictiologia de diferentes comunidades pesqueiras (JUNK, 1983; FURTADO, 1993;
MARQUES, 1995; COSTA NETO, 2001).
5.3.1.3. Conhecimentos relacionados com comportamento migratório
Em relação ao comportamento migratório do curimatã os pescadores
citadinos e os pescadores ribeirinhos informaram que durante o período de enchente
a espécie costuma está saindo de dentro dos lagos para o rio principal, com a
finalidade de realizar a desova, não verificada diferença significativa (p > 0,01) entre
os dados citados pelos pescadores. (Figura 17).
100
80
Cit/cheia (N=31)
Cit/ench (N=31)
40
Cit/seca (N=31)
%
60
Cit/vaz (N=31)
20
0
lago sobem rio para não
para rio o rio
lago
migra
outros
não
sabem
Circuito de Migração
100
80
Rib/cheia (N=28)
Rib/ench (N=33)
40
Rib/seca (N=26)
%
60
Rib/vaz (N=26)
20
0
lago para sobem o
rio
rio
rio para
lago
outros
não
sabem
Circuito de migração
Figura 17 – Comportamento migratório do curimatã durante um ciclo sazonal das águas
segundo os pescadores citadinos (acima) e ribeirinhos (abaixo) da Amazônia
Central.
67
Observa-se que essas informações são parcialmente equivalentes aos
encontrados nas referencias SCHUWASSMANN (1978), GOULDING (1979),
GOULDING (1978), OLIVEIRA (1997), ISAAC et al. (2000), RUFFINO & ISAAC
(2000) informaram que durante a enchente o cardume de curimatã sai dos tributários
para desovar na desembocadura do rio e entram no rio principal. Durante a vazante,
sobem a calha do rio principal.
5.3.1.4. Conhecimentos relacionados com crescimento
Quanto ao crescimento do curimatã, de acordo com o conhecimento
tradicional dos pescadores a média de tamanho do peixe com a idade 1; Com a
idade de 2 anos é 29 +/- 14,6 cm de tamanho. Com 3 anos; o peixe pode alcançar a
média de tamanho de
31,4+/- 10 cm, não foi verificado diferenças significativas
entre os pescadores (p > 0,01).
Esses dados demonstraram equivalentes ao encontrado por OLIVEIRA
(1997) quando descreveu alguns aspectos de dinâmica populacional da espécie na
Amazônia Central, e seus resultados mostraram que o Curimatã entre 6-7 meses
após a desova atinge a média de 12 cm; em um ano o peixe ainda jovem chega a
atingir em média 18cm. Em um ano e meio, o peixe encontra-se com 23 cm de
comprimento, mas somente com 2 anos é que o indivíduo encontra-se sexualmente
maduro, com 26 -28 cm de comprimento.(Tabela 13).
Tabela 13 – Crescimento do curimatã segundo os pescadores da Amazônia Central
comparado com a literatura científica
IDADE
PESCADORES
LITERATURA
AUTOR
1
2
18 cm
29 cm
Oliveira, 1997
3
31cm
18 cm
26-28 cm
42 cm (maior
tamanho)
68
5.3.1.5. Conhecimentos relacionados com a mortalidade e recrutamento
pesqueiro
Para os pescadores da Amazônia Central o que mais mata curimatã na fase
larval e juvenil é a mortalidade por causas naturais, no caso eles apontaram a
predação e a friagem. E na fase adulta os pescadores indicaram a pesca como a
principal causa de mortalidade destes peixes, onde não foram registradas diferenças
significativas (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos
(Figura 18).
100
%
80
Natural
60
Pesca
40
N sabe
20
/a
du
lto
R
ib
ad
ul
to
Ci
t/
/jo
ve
m
Ri
b
jo
ve
m
Ci
t/
/la
rv
al
Ri
b
Ci
t/
la
rv
al
0
Pescadores/Fase de vida
Figura 18 – Mortalidade do curimatã segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos
(Rib) da Amazônia Central
Em relação ao tamanho de captura do curimatã, os pescadores registraram
um tamanho médio de 26,8 ± 13 cm não havendo diferenças significativas (p > 0,01)
entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos.
Os dados dos pescadores da Amazônia Central equivalem aos registrados
por BATISTA (1999), onde afirma que o recrutamento pesqueiro da espécie
encontra-se na faixa de 26-30cm (comprimento total), enfatiza ainda, que está acima
69
do tamanho de primeira maturação sexual, permitindo que os peixes se reproduzam
pelo menos uma vez no seu ciclo de vida.
5.3.2. Jaraqui (Semaprochilodus spp.)
Pertence à família Prochilodontidae, gênero Semaprochilodus e está
constituído de duas espécies na Amazônia Central: o jaraqui de escama fina (S.
taeniurus) e o jaraqui de escama grossa (S. insignis), ambos com grande
importância comercial na região.
O jaraqui de escama fina é uma espécie considerada de médio porte, alcança
cerca de 30 cm de comprimento. Caracteriza-se pelo corpo alongado, coloração
cinza-prateada, mais escura no dorso que no ventre, nadadeira caudal e anal com
faixas transversais, de coloração escura e amarela, alternadamente: linha lateral
com 66 a 76 escamas, 12 a 14 fileiras de escamas acima da linha lateral. O jaraqui
de escama grossa, também é considerada espécie de médio porte, alcança cerca de
30 cm de comprimento: é muito parecida com a anterior, diferindo daquela
basicamente pelo número de escama, tendo esta 38 a 45 escamas na linha lateral, e
7 a 9 fileiras de escamas acima da linha lateral. São comumente capturadas juntas,
formando cardumes de milhares de indivíduos.
5.3.2.1 Conhecimentos relacionados com comportamento reprodutivo
Não foi observada diferença significativa (p > 0,01) entre os dados citados
pelos pescadores citadinos e ribeirinhos.
Os pescadores informaram que às médias de tamanho e idades em que o
peixe começa a reproduzir é de 20 ± 5 cm de tamanho e 1,9 ± 0,6 ano de idade. E
para tamanho de completa maturação, foi registrada a média total 27 ± 5 cm de
tamanho. Citaram ainda que a espécie:
1. costuma desovar no período da enchente;
70
2. utiliza como ambiente de desova o rio de água branca;
3. apresenta uma fecundidade mais de 5000 ovos por desova;
4. não cuida dos filhotes após a desova.
Quanto à idade de completa maturação do jaraqui foi verificada diferença
significativa (p < 0,01), onde os pescadores citadinos indicaram que o peixe atinge a
plena maturação com 2 ± 2 anos de idade e os ribeirinhos registraram 1,7 ± 0,9 anos
de idade.
Informações equipotente ao conhecimento cientifico, onde VAZOLLER et al.
(1989), RIBEIRO & PETRERE (1990) confirmaram que o jaraqui inicia seu período
reprodutivo no período da enchente, descreveram que os cardumes descem os
tributários para desovar no encontro das águas brancas com a preta. VIEIRA et al.
(2002), identificaram como ambientes utilizados para desova do jaraqui: boca de
igarapé (água preta com rios de água branca), boca de rio (água de confluência de
pequenos rios de água preta com rios de água branca), furo de lago (ambiente que
liga a área da água preta de lagos com os rios de água branca). Segundo
VAZZOLER (1986) e RIBEIRO & PETRERE (1990), a espécie não apresenta
cuidado parental após a desova.
Quanto a quantidades de desovas por ano do jaraqui foi verificada diferença
significativa (p < 0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos,
onde 93,5 % dos pescadores citadinos afirmaram que a espécie desova somente
uma vez por ano. Enquanto que os pescadores ribeirinhos, 65% afirmaram que o
peixe desova uma única vez por ano e 31% não souberam responder (Figura 19).
71
100
80
Citadino (N=31)
40
Ribeirinho (N=26)
%
60
20
0
1
2
não sabe
Desovas/ano
Figura 19 – Tipos de desova do jaraqui segundo os pescadores da região da Amazônia
Central.
De modo geral, as informações são congruentes aos dados científicos de
VAZOLLER et al. (1989), RIBEIRO & PETRERE (1990), BARTHEM & FABRÉ (2004)
onde descrevem que o jaraqui tem desova é total, ocorrendo na enchente.
A Tabela 20 mostra de forma resumida uma comparação do ciclo reprodutivo
do Curimatá entre as dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os
encontrados na literatura científica.
72
Tabela 14 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da
literatura sobre o comportamento reprodutivo do Jaraqui
CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM OS
CITAÇÕES CIENTÍFICAS
PESCADORES
Jaraqui escama fina: L50:17-36 cm (Ribeiro,
"O peixe começa produzir com 20 cm e 2 anos de 1983); 24 cm; Jaraqui escama grossa: L50:26
cm (Vazzoler et al., 1989; Ribeiro & Petrere,
idade"
1990; Barthem & Fabré, 2004).
“O Jaraqui chega a medir 27 cm com 2 anos de Jaraqui da escama grossa: L100: 32 cm e
idade"
3
anos (Vieira, 1999).
Dez - Mar / Nov-Mar (início da enchente).
“O Jaraqui produz filhote na enchente"
(Vazoller et al., 1989; Ribeiro & Petrere, 1990 /
Ribeiro, 1983; Vieira, 1999; Barthem & Fabré,
2004).
Vazoller et al., 1989; Ribeiro & Petrere, 1990 /
"O Jaraqui desova no rio de água branca"
Ribeiro, 1983; Vieira, 1999; Barthem & Fabré,
2004. (Vazoller et al., 1989; Ribeiro & Petrere,
1990; Vieira, 1999 / Vieira et al.2002).
“O Jaraqui não cuida dos filhotes"
“O Jaraqui reproduz uma vez por ano"
“O peixe tem muitos ovos (0-5000 ovos)"
Não apresenta cuidado parental.(Vazoller et
al., 1989; Ribeiro & Petrere, 1990).
Total (Vazoller et al., 1989; Ribeiro & Petrere,
1990; Barthem & Fabré, 2004).
Dados não encontrados
5.3.2.2. Conhecimentos relacionados com ecologia trófica
Segundo os pescadores da Amazônia Central, o jaraqui alimenta-se
preferencialmente por lodo ou limo, indicando o lago como ambiente de alimentação
durante os períodos de enchente e vazante, também não há mudanças nos itens da
dieta alimentar nas épocas de subida e descida das águas, sendo que, alguns
enfatizaram que diminui a oferta de alimentos durante o período da seca, não
observada diferença significativa (p > 0,01) entre as respostas dadas pelos
pescadores (Figura 20).
73
100
80
Cit/Ench (N=33)
Cit/Vaz (N=31)
40
Rib/Ench (N=34)
%
60
Rib/Vaz (N=31)
20
0
lodo/limo
Capim
Fruto
outros
Itens alimentícios
Figura 20 – Alimentação do jaraqui durante o período de enchente e vazante segundo os
pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central.
Comparadas com as literaturas cientificas, as informações dadas pelos
pescadores são equivalentes, onde RIBEIRO (1983), VAZZOLER et al. (1989) e;
BARTHEM & FABRÉ (2004) registraram que o jaraqui apresenta hábitos detritívoros.
Mais especifico, RIBEIRO (1983) observou alguns itens incluídos na sua dieta, como
“aufuchs” perifiton das árvores, folhas submersas, diatomáceas, espículas de
esponjas, fungos e bactérias, principalmente no período da cheia, quando os peixes
estão espalhados nas florestas inundadas.
De acordo com os pescadores da região, os principais predadores do jaraqui
são outros peixes, como por exemplo, os bagres conhecidos como “peixe fera”: a
pirarara, a dourada, o pacamum, o surubim; a piranha, a traíra, o tucunaré e o
pirarucu também são exemplos de outros peixes que “perseguem” o jaraqui durante
toda sazonalidade das águas não observando diferenças significas (p > 0,01) entre
os pescadores citadinos e ribeirinhos (Figura 21). Correspondendo com os registros
de RIBEIRO (1993) durante o estudo do comportamento migratório dos jaraquis,
74
onde cita os grandes bagres, como a Piraíba (Brachyplatystoma filamentosum) nos
rio de água branca, como os principais predadores da espécie.
100
80
cit/ench (N=49)
60
%
cit/vaz (N=49)
rib/ench (N=55)
40
rib/vaz (N=57)
20
0
peixe
boto
jacaré
outros
Predadores
Figura 21 – Predação do jaraqui segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib)
durante o período de enchente (ench) e vazante (vaz) na Amazônia Central.
5.3.2.3. Conhecimentos relacionados comportamento migratório
Em relação ao comportamento migratório do jaraqui os pescadores citadinos
e os pescadores ribeirinhos informaram que durante o período de enchente, a
espécie costuma está saindo de dentro dos lagos para o rio principal com a
finalidade de realizar a desova, não verificada diferença significativa (p > 0,01) entre
os dados citados pelos pescadores (Figura 22).
75
100
80
Cit/cheia (N=31)
Cit/ench (N=31)
40
Cit/seca (N=31)
%
60
Cit/vaz (N=31)
20
0
lago sobem rio para não
para rio o rio
lago
migra
outros
não
sabem
Circuito de migração
100
80
Rib/cheia (N=27)
Rib/ench(N=33)
40
Rib/seca (N=26)
%
60
Rib/vaz (N=26)
20
0
lago para sobem o
rio
rio
rio para
lago
outros
Não
sabem
Circuito de migração
Figura 22 – Comportamento migratório do jaraqui durante um ciclo sazonal segundo os
pescadores citadinos (Cit) ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central.
Essas Informações mostram-se congruentes aos das literaturas científicas,
onde observamos os registros de RIBEIRO & PETRERE (1990), os quais indicam
que os jaraquis formam cardumes que realizam migrações longitudinais da ordem de
1000 a 1300 km a cada ano, com um deslocamento máximo a montante de 300 km
em rios de água branca com fins reprodutivos, tróficos e de dispersão.
76
A migração desta espécie é considerada muito complexa, e foi observada e
descrita num modelo geral por GOULDING (1979), e posteriormente por RIBEIRO
(1983), que detalhou as de informações resumidas a seguir.
Após a desova, os peixes sobem o rio e se dispersam rio acima, passando 3
meses nas florestas inundadas para alimentação, utilizando a mesma área que os
juvenis daquele ano utilizaram (BAYLEY, 1983). Nesse mesmo período, não foi
observado nenhum movimento migratório. Em meados da enchente-cheia (de março
a junho) a espécie inicia uma outra migração, período este que os pescadores
conhecem como peixe gordo, esta migração é muito importante para dispersão a
outros afluentes do sistema Solimões-Amazonas, o que ocorre para os cardumes
que alcançarem este eixo migrando pela margem direita, ficando os cardumes
restantes na mesma calha onde estavam. No período da vazante, simultaneamente
com a migração de dispersão citada acima, sendo que ocorre na margem oposta, a
migração é constituída por cardumes vindo do rio principal que saíram recentemente
de rios e lagos a jusante, migram rio acima para lagos fundos e igarapés de terrafirme, onde irão passar o período da seca e pré-desova.
5.3.2.4. Conhecimentos relacionados com o crescimento
Em relação ao crescimento, segundo o saber tradicional dos pescadores a
média de tamanho do jaraqui com a idade 1 ano, é de 15 +/- 7,5 cm de tamanho.
Com a idade de 2 anos, é de 20 +/- 6,7 cm de tamanho. Com 3 anos é de 23+/- 6 cm
de tamanho, não verificada diferenças significativas entre os pescadores (p > 0,01)
citadinos e ribeirinhos
Dados que podem ser comparados equivalentes ao das referências
cientificas, onde VIEIRA (1999), nos seus estudos sobre a determinação de idade e
crescimento do jaraqui de escama grossa, registrou que com 1 ano o peixe atinge
77
19-24 cm de comprimento padrão (CP); com 2 anos a espécie cresce entre 25-31
cm CP e com 3 anos o peixe tem 32 cm CP. Foi estimado em 23 cm CP e 2 anos, o
tamanho e idade da primeira maturação de S. insignis. Vazzoler (1989), Ribeiro &
Petrere (1990), registraram 26 cm a classe de comprimento de primeira maturação
para a mesma espécie (Tabela 15).
Tabela 15 – Crescimento do jaraqui segundo os pescadores da Amazônia Central
comparado com a literatura científica
Idade
Pescadores
Literatura
1
15 cm
19-24 cm
2
20 cm
25-31cm
3
23 cm
32 cm
-
39-41cm
Maior
Tamanho
Autor
Vieira, 1999
5.3.2.5. Conhecimentos relacionados com a mortalidade e recrutamento
pesqueiro
Para os pescadores da Amazônia Central o que mais mata o jaraqui durante
as fases: larval e juvenil é a mortalidade por causas naturais, no caso, eles
indicaram a predação por outros peixes. E na fase adulta os pescadores indicaram a
pesca como a principal causa de mortalidade destes peixes, onde não foram
registradas diferenças significativas (p > 0,01) entre as respostas dos pescadores
citadinos e ribeirinhos (Figura 23).
78
100
%
80
Natural
60
Pesca
40
N sabe
20
/a
du
lto
Ri
b
ad
ul
to
Ci
t/
/jo
ve
m
Ri
b
jo
ve
m
Ci
t/
/la
rv
al
Ri
b
Ci
t/
la
rv
al
0
Pescadores/Fase de vida
Figura 23 – Mortalidade do jaraqui durante as fases larval, juvenil e adulta segundo os
pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central.
Em relação ao tamanho de captura do jaraqui, os pescadores registraram um
tamanho médio de 20 ± 8 cm de tamanho, não verificada diferença significativa (p >
0,01) entre as respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos.
Essas informações são parcialmente equivalentes aos resultados registrados
por BATISTA (1999), o qual cita que a exploração pesqueira na Amazônia Central do
jaraqui de escama grossa está atualmente concentrada sobre indivíduos de 1 ano de
idade, 26 a 30 cm de comprimento, cujos ainda não atingiram o tamanho de primeira
maturação sexual, e apresenta uma taxa de exploração 5% superior à do escama
fina, tendo em vista que a espécie é a preferida, seja por ter maior porte ou por ser
mais resistente à conservação no gelo por períodos longos, segundo os pescadores.
Vale ressaltar que para o jaraqui de escama fina também foi diagnosticada a
sobrepesca de crescimento do estoque.
79
5.3.3. Tambaqui (Colossoma macropomum.)
É uma espécie originária dos rios Amazonas, Orinoco e seus afluentes.
Espécie de grande porte alcança cerca de 90 cm de comprimento. Caracteriza-se
pelo corpo muito alto, romboidal, maxilar superior com duas fileiras de dentes
robustos e molariformes, maxilar inferior com uma fileira de dentes igualmente
robustos, decrescendo de tamanho a partir do par central, atrás do qual ocorre um
par de dentes cônicos; nadadeira adiposa curta, com raios na sua extremidade;
rastros branquiais longos e numerosos.
Atualmente, o tambaqui é considerado uma das espécies mais importantes e
rentáveis para pescaria comercial, com grande preferência no consumo local (ISAAC
& RUFFINO, 1996), e também com um grande potencial para o cultivo em cativeiro
(FREITAS, 2003).
5.3.3.1. Conhecimentos relacionados com o comportamento reprodutivo
Não foi verificada diferença significativa (p > 0,01) entre as respostas dos
pescadores citadinos e ribeirinhos.
Os pescadores informaram que o tambaqui começa a reproduzir com 60 ± 18
cm de comprimento total (CT) e 4 ± 3,1 anos de idade. Atinge a maturação completa
com a média de 94 ± 25 cm CT e 7,4 ± 6,3 anos de idade. Afirmaram ainda que a
espécie:
1. se reproduz na época da enchente;
2. tem preferência de desovar nas pauzadas (acumulo de troncos e galhos)
em rios de água branca;
3. reproduz apenas 1 vez no ano;
80
4. desova mais de 5.000 ovos e
5. não cuida dos filhotes.
Quando
comparamos
estas
informações
com
a
literatura cientifica,
verificamos equivalência entre o conhecimento tradicional e conhecimento científico,
havendo registro científico de que a espécie começar a se reproduzir com
comprimento padrão de 62 cm com 5 anos de idade (VILLACORTA-CORRÊA &
SAINT PAUL, 1999). Já a maturação completa é atingida aos 76-80 cm de
comprimento com 10 anos de idade (PENNA ET al. 2005).
Quanto ao ciclo reprodutivo, VIERA et al. (1999) em estudo no baixo
Amazonas registraram que a espécie apresenta uma desova anual e total na
enchente dos rios. A fecundidade por desova é alta (1.007.349 ovócitos), não
apresenta cuidados parentais, enquadrando-se no grupo de espécies de estratégia
reprodutiva sazonal, segundo a classificação de WINEMILLER (1989).
A Tabela 26 mostra de forma resumida uma comparação do ciclo reprodutivo
do Tambaqui entre as dados citados pelos pescadores da Amazônia Central e os
encontrados na literatura científica.
81
Tabela 16 – Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da
literatura sobre o comportamento reprodutivo do Tambaqui
CITAÇÕES DAS ENTREVISTAS COM
OS PESCADORES
"O peixe começa a produzir com 60 cm
com mais ou menos 4 anos de idade".
"O Tambaqui adulto atinge 90 cm de
comprimento, idade de 7 anos".
"O tambaqui produz filhotes na enchente".
"O tambaqui desova nas pauzadas"
"O tambaqui não cuida dos filhotes".
"O tambaqui desova só uma vez por ano".
"O tambaqui desova muitos ovos, mais de
5000"
CITAÇÕES DA LITERATURA
Tamanho L50: 61 cm (Villacorta-Corrêa & Saint Paul,
1999); Idade do peixe L50: 5 anos (Junk, 1985; Goulding
& Carvalho, 1982; Isaac et al., 2000. Araújo-Lima & ,
Goulding, 1998).
Tamanho L100: 76-80 cm (Araújo-Lima & Goulding, 1998;
Penna et al. 2005). Idade do peixe L100: 10 anos (Penna
et al. 2005).
Épocas de desovas: Enchente (Vieira et al., 1999 / Junk,
1985; Goulding & Carvalho, 1982; Isaac et al., 2000,
Villacorta-Corrêa & Saint Paul, 1999).
Local de desova: Lótico (rio principal) (Goulding, 1979;
Junk, 1985; Goulding & Carvalho, 1982; Isaac et al.,
2000;Isaac & Ruffino, 1996)
Sem cuidado com a prole (Goulding, 1979; Junk, 1985;
Goulding & Carvalho, 1982; Isaac et al., 2000;Isaac &
Ruffino, 1996).
Desova Total (Vieira et al. 1999, Villacorta-Corrêa & Saint
Paul, 1999).
Fecundidade: 1,007,349 / 1,000,000 ovócitos (Vieira et
al. 1999).
5.3.3.2. Conhecimento relacionado com a ecologia trófica
Os pescadores afirmaram que a espécie tem uma preferência alimentar por
frutos durante a época de enchente e vazante, havendo diferença significativa (p <
0,01) entre as respostas dadas pelos pescadores citadinos (84% na enchente e 61%
na vazante) e ribeirinhos (76% na enchente e 59% na vazante). Os pescadores
ribeirinhos detalharam que este peixe pode mudar o seu hábito alimentar durante as
épocas secas, comendo capim, lodo ou outros peixes.
82
100
80
Cit/Ench (N=44)
Cit/Vaz (N=44)
40
Rib/Ench (N=62)
%
60
Rib/Vaz (N=63)
20
ou
tro
s
an
di
oc
a
ão
m
ca
m
ar
lo
do
ca
pi
m
xe
pe
i
Fr
ut
os
0
Itens Alimentícios
Figura 24 – Alimentação do tambaqui durante o período de enchente e vazante segundo os
pescadores da Amazônia Central.
Na literatura cientifica foi encontrada equivalência com respostas dadas pelos
pescadores, com ARAÚJO-LIMA & GOUDING (1998) registrando que a alimentação
do tambaqui é do tipo onívora, baseada principalmente, no consumo de frutas,
sementes e organismos aquáticos de pequeno porte. Observam ainda que o ruelo
(tambaqui jovem) tem preferência por sementes, mas também come considerável
quantidade de frutos carnosos, principalmente na enchente.
Sobre a predação da espécie, foi descrito pelos pescadores que o tambaqui
tem como predador natural outro peixes, como por exemplos os bagres, piracatinga,
pirarucu e o tucunaré, durante toda sazonalidade das águas, não foi observado
diferença significativas (p>0,01) entre as respostas dos pescadores ribeirinhos e
citadinos. Além destes peixes, também foi citado o jacaré como um predador
potencial do tambaqui (Figura 25).
83
100
80
cit/ench (N=49)
60
%
cit/vaz (N=49)
rib/ench (N=55)
40
rib/vaz (N=57)
20
0
peixe
boto
jacaré
outros
Predadores
Figura 25 – predação do tambaqui segundo os pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib)
da Amazônia Central durante o período da enchente e vazante.
Há grande equivalência das respostas dos pescadores sobre a predação
quando comparados com o conhecimento científico, onde BARTHEM & GOULDING
(1997) afirmaram que todos os bagres pimelodídeos são altamente piscívoros,
registrando uma ocorrência de tambaqui como presas de filhote de piraíba
(Branchyplatistoma filamentosum) através de analise de conteúdo estomacal.
Segundo ARAÚJO-LIMA & GOULDING (1998), o pirarucu (Arapaima gigas)
no passado pode ter sido um predador importante, pois este se alimenta
principalmente de peixes nas águas abertas como sob vegetação, mas, no entanto a
população de pirarucu tem diminuído devido à sobrepesca e que atualmente
deixaram de ser um predador representativo na várzea. Há uma necessidade de ter
mais estudos sobre predação do tambaqui, pois segundo estes autores a espécie
parece ser relativamente pouco predada em comparação com outras espécies de
Characiformes.
84
5.3.3.3. Conhecimento relacionado com o comportamento migratório
Quanto
ao
comportamento
migratório
do
tambaqui
os
pescadores,
informaram que durante o período de enchente a espécie costuma sair de dentro
dos lagos para o rio principal para desovar, porém destacaram que no período da
cheia, o tambaqui entra nos igapós para comer. Não foi verificada diferença
significativa (p > 0,01) entre os dados citados pelos pescadores citadinos e
ribeirinhos.
GOULDING (1979) informa que usualmente não é possível observação direta
da migração do cardume pelos afluentes, porque esta espécie migra afastada da
superfície, raramente revelando sua presença ao passar pelas desembocaduras dos
rios. Entretanto, ARAÚJO-LIMA & GOULDING (1998) informam que aparentemente
a espécie permanece nos afluentes enquanto existem áreas de florestas inundadas
disponíveis, nas quais frutos e sementes podem ser encontrados. Quando não se
move rio acima, o tambaqui ficaria nas “pauzadas”, ou seja, nas margens do rio onde
existem troncos e galhos submersos. O tambaqui não entraria nos afluentes antes
de desovar, ficando no rio principal, ou em alguma área de floresta inundada perto
das desembocaduras dos afluentes até a desova. No período de pré-desova (2 a 5
semanas), GOULDING (1979) observou a formação de cardumes compactos que se
moviam lentamente rio acima no médio rio Madeira. Para alguns pescadores, este
movimento é conhecido, e sugerem que tais cardumes procuram locais para desovar
ao longo das restingas que estão começando a submergir nesta época do ano. Logo
85
após a desova, entram nos afluentes à procura de frutas e sementes nas florestas
inundadas.
Observa-se que as descrições de pesquisadores estão mais baseadas em
descricões de pescadores do que em observações próprias ou em experimentos de
marcação-recaptura ou atividade afim. Logo é natural que haja equivalência entre o
saber dos pescadores e o saber divulgado em trabalhos científicos no tema.
100
%
80
Cit/cheia (N=31)
60
Cit/ench (N=31)
40
Cit/seca (N=31)
Cit/vaz (N=31)
20
0
lago
para rio
lago
para
igapó
sobem
o rio
igapó
para
lago
outros
Não
sabem
Circuito de migração
100
80
R ib/c he ia (N = 26)
R ib/enc h (N = 26)
40
R ib/s ec a (N = 26)
%
60
R ib/vaz (N = 26)
20
0
lago rio para
não
para rio
la go
m igra
s obem
o rio
o utros
N S
C ircu ito d e m ig ra çã o
Figura 26 – Comportamento migratório do tambaqui durante um ciclo sazonal
segundo os pescadores citadinos (acima) e ribeirinhos (abaixo) da
Amazônia Central.
86
5.3.3.4. Conhecimento relacionado com o crescimento
Segundo o saber tradicional dos pescadores, a média de tamanho do peixe
com a idade 1 ano, é de 23,8 ± 18,7 cm CT. Com a idade de 2 anos, é de 37,6 ±
18,4 cm CT. Com a idade de 3 anos, é de 60 ± 6 cm CT. Com 4 anos, o peixe pode
alcançar a média de 77,8 ± 32,2 cm CT, a maior dispersão encontrada, indicando
dificuldades de inferência a partir desta idade. Não foram registradas diferenças
significativas entre as respostas dos pescadores ribeirinhos e citadinos (p > 0,01) em
nenhuma das idades. Quando confrontamos tais saber com a literatura científica
observamos que existe equivalência, particularmente até a idade de 3 anos (Tabela
17). A diferença observada na idade 4 associada ao elevada dispersão nas
informações prestadas pelos pescadores indica que a percepção etária pelos
pescadores é pior a partir desta idade.
Tabela 17 - Comparação entre as informações dos pescadores da Amazônia central e da
literatura sobre Crescimento do Tambaqui.
IDADE
PESCADORES
1
23,8 cm
2
37,6 cm
3
60 cm
4
77,8 cm
LITERATURA
AUTOR
24 cm
30 cm
43 cm
40 cm
58 cm
50 cm
71 cm
60 cm
Isaac & Ruffino, 2000
Penna et al, 2005
Isaac & Ruffino, 2000
Penna et al, 2005
Isaac & Ruffino, 2000
Penna et al, 2005
Isaac & Ruffino, 2000
Penna et al, 2005
87
5.3.3.5. Conhecimento relacionado com mortalidade e recrutamento pesqueiro
Os pescadores indicaram a predação como o maior fator causal de
mortalidade da espécie durante a fase larval. Nas fases juvenil e adulta, os
pescadores indicaram a pesca como a principal causa de mortalidade destes peixes,
não registrando diferenças significativas (p > 0,01) entre as respostas dos
pescadores profissionais e ribeirinhos. O tamanho médio de primeira captura do
tambaqui foi de 45,4 ± 21,5 cm CT, sem diferença significativa (p > 0,01) entre as
respostas dos pescadores citadinos e ribeirinhos (Figura 27).
100
%
80
Natural
60
Pesca
40
N sabe
20
/a
du
lto
Ri
b
ad
ul
to
Ci
t/
Ri
b/
jo
ve
m
jo
ve
m
Ci
t/
/la
rv
al
Ri
b
Ci
t/
la
rv
al
0
Pescadores/Fase de vida
Figura 27 – Mortalidade do tambaqui nas fases larval, juvenil e adulta segundo os
pescadores citadinos (Cit) e ribeirinhos (Rib) da Amazônia Central
No rio Machado, GOULDING (1979) registrou captura de tambaquis com 44
cm com menos de 3-4 anos de idade, quando a espécie começa a migrar de seus
habitats de criação para as várzeas dos rios barrentos e para o canal dos rios
durante o período da seca. PETRERE JR. (1983) apresentou dados de tambaqui
sendo vendidos no mercado de Manaus na seca de 1978 a partir de 55 cm com 3-4
88
anos de idade, responsável por cerca de 40% de desembarque de Manaus. Desde a
década de 80 já foram observados indícios de sobrepesca desta espécie (MERONA
& BITTENCOURT, 1988), sendo que apenas 41% em 1995 e 11% em 1996 do
tambaqui desembarcado apresentou tamanho superior a 55 cm (BATISTA &
PETRERE, 2003), o que sugeriu a ocorrência de sobrepesca de crescimento.
89
6. CONCLUSÕES
De acordo com os objetivos propostos nesse estudo, pode-se concluir que os
pescadores da Amazônia central, os citadinos e ribeirinhos, têm um conhecimento
extenso sobre os peixes, apresentando elevada concordância com a literatura
cientifica.
O etnoconhecimento influencia diretamente na atividade da pesca e está
sempre no seu cotidiano, onde constamos como uma das principais fontes de renda
para os pescadores da região.
O conhecimento tradicional sobre a ecologia e a biologia do aruanã, pirarucu,
tucunaré, curimatã, jaraqui e tambaqui demonstrado pelos pescadores estudados é
detalhado e compatível com a literatura científica nos respectivos aspectos: tamanho
e idade em que o peixe começa reproduzir, maturação plena, época de desova, local
de desova, tipo de desova e comportamento de cuidados parentais, hábitos
alimentares, predação, crescimento até a idade de 3 anos, mortalidade e tamanho
de captura da espécie.
Constatou-se que os pescadores conhecem as espécies que realizam
migrações, detalhando o circuito executado pelas espécies e ainda apresentam
dúvidas em relação à finalidade das migrações, mas a grande maioria associa tal
processo ao comportamento de reprodução.
Em relação à gestão dos recursos naturais, vale ressaltar que, quando
comparado o saber tradicional com as compilações científicas, identificamos que o
etnoconhecimento pode ser considerado folclórico ou anedóticos por elites, mas em
contrapartida, estes são compreensíveis para os usuários diretas, financeiramente
mais baratas e, no entanto são abstratos, nesse caso, todo este conhecimento
constitui recursos importante, e que é suficiente para ser incorporado tanto no plano
90
de desenvolvimento quanto em estudos de manejo pesqueiro participativo local.
Quanto que as informações científicas, são apoiadas por elite e são aceitas pelos
usuários, mais muitas vezes estas não são compreensíveis as que tornam também
abstratas, nesse sentido este conhecimento constitui um recurso também de grande
valor, pois é suficiente para ser incorporado tanto no plano de desenvolvimento
quanto em estudos de manejo pesqueiro participativo regional.
A verificação da existência de um conhecimento particular dos aspectos ecobiológicos de peixes, feita por esse estudo e por outros autores como CLAUZET
(2005), COSTA-NETO (2001), COSTA-NETO et al. (2002), CUNHA (2003),
JOHANES et al (2000), MARQUES (1995), MOURÃO & NORDI (2002), PINTO &
MARQUEZ (2002), SILVANO (2001) e outros pesquisadores já publicados, nos
mostra que é viável e recomendável à inserção de tais conhecimentos dos
pescadores artesanais, profissionais citadinos e ribeirinhos comerciais e de
subsistência, juntamente com as informações e pesquisa científicas no planejamento
de manejo pesqueiro participativo local.
91
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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APÊNDICE I - Entrevista Estruturada – Pescador
Entrevistador: LIANE / ____________________
Data:
/
/ 2002
Questionário no. :
IDENTIFICAÇÃO
Nome do entrevistado:___________________________________________________________________
Função na pesca:
PESCADOR / ARMADOR / ENCARREGADO / DESPACHANTE
OUTROS: ____________________________________________________________
Onde nasceu:________________________UF:_____
Idade:____
Onde se criou:______________________UF:____
Local onde mora? ______________________ (CIDADE / RURAL) Há quantos anos: ___
Já viveu em que cidades? __________________ Número de anos em que viveu na cidade? ________
Estudou até que série? ___________________ Parou de estudar há quantos anos? _____________________
Religião: NÃO TEM/ CATÓLICO/ PROTESTANTE/ OUTROS: ______________________________
EXPERIÊNCIA E RELAÇÕES SOCIAIS NA PESCA
A partir de que idade começou a pescar ______
Quanto tempo pesca PARA VENDER?___________
E em barco de pesca? ______
Quantas vezes sai em viagem para pescar na cheia: _________ na seca:__________
Que funções já ocupou no setor pesqueiro? PESCADOR / ARMADOR / ENCARREGADO / DESPACHANTE
MAQUINISTA / COZINHEIRO / OUTRA: __________________________________
Que funções já ocupou fora do setor pesqueiro? _________________________________________________
________________________________________________________________________________________
Com quem aprendeu o ofício da pesca? PAI/PARENTES/AMIGOS/OUTROS: _________________________
Nome do(s) barco(s) onde
Município
pesca:
de
origem:
Como é sua relação de trabalho neste barco: PARCERIA / FAMILIAR / CONTRATADO / OUTROS _____
Na pesca comercial, você é o dono do: BARCO / CANOA / UTENSÍLIOS / OUTRO BEM?____________
Porque trabalha no setor pesqueiro?
É O QUE SABE FAZER; GOSTA DE PESCAR;
DÁ DINHEIRO;
INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA, OUTRA RAZÃO:_________________________________________________
Quais utensílios de pesca sabe fazer? ARPÃO, ARRASTADEIRA, CANIÇO, ESPINHEL, FLEXA, LINHA-DE-MÃO
MALHADEIRA,
CORRICO,
REDINHA,
TARRAFA,
ZAGAIA,
OUTRO
UTENSÍLI
(qual):___________________________________________________________________________________
Quem ensinou:_____________________ Qual utensílio você mais gosta de usar ?________________________
Você acha que pesca BEM com qual utensílio: ___________; MAU com:__________MÉDIO com:_________
110
INFORMAÇÕES BIOLÓGICAS
1. Reprodução
1.1. Maturação sexual
Quando começa a
Espécie
reproduzir?
Tamanho
Idade
Tucunaré
Quando todos já estão
maduros?
Tamanho
Idade
Estes tamanhos mudaram de
antigamente para agora?
(MAIOR/MENOR – Por quê?)
Aruanã
Pirarucu
Jaraqui
Curimatã
Tambaqui
1.2. Ciclo reprodutivo
Espécie
Tucunaré
Aruanã
Pirarucu
Jaraqui
Curimatã
Tambaqui
Épocas de
desova
Onde desova
Quantas
Tem cuidados com
desovas tem os filhos?
no ano?
Quais?
Muitos ovos?
Muitos filhotes?
(fecundidade)
111
2. Alimentação
Espécie
O que come e onde?
Enchente
O que
Vazante
Onde
O que
Onde
Tucunaré
Aruanã
Pirarucu
Jaraqui
Curimatã
Tambaqui
INFORMAÇÕES ECOLÓGICAS
1. Como ocorre a predação sobre esta espécie?
Espécie
Quais animais são predadores destas espécies e em que ambiente isto ocorre?
Enchente
Predador
Tucunaré
Aruanã
Pirarucu
Jaraqui
Curimatã
Tambaqui
Vazante
Onde
Predador
Onde
112
2. Quais as principais migrações que a espécie executa?
Espécie
Tucunaré
Aruanã
Pirarucu
Épocas
En / Ch / Vz /
Circuito
( ) comer
Finalidade
( ) desova
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
113
Cont. Quais as principais migrações que a espécie executa?
Jaraqui
Curimatã
Tambaqui
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
( ) outros ____________
En / Ch / Vz /
( ) comer
Se
OBSERVAÇÕES
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
( ) desova
114
3. Crescimento
Espécie
o
1 ano
Quanto mede?
o
o
2 ano 3 ano
4 ano
o
NX
Fatores que afetam
( ) alimentação ( ) pesca
Tucunaré
( ) outros:_______________
( ) alimentação ( ) pesca
Aruanã
( ) outros:_______________
( ) alimentação ( ) pesca
Pirarucu
( ) outros:_______________
( ) alimentação ( ) pesca
Jaraqui
( ) outros:_______________
( ) alimentação ( ) pesca
Curimatã
( ) outros:_______________
( ) alimentação ( ) pesca
Tambaqui
( ) outros:_______________
115
4. Mortalidade – De que morrem (por ordem) na fase:
Espécie
Dos filhos
Produzidos no ano
Ovo-larva
passado, quantos
restaram após um
ano?
Tucunaré
Aruanã
Pirarucu
Jaraqui
Curimatã
Tambaqui
OBSERVAÇÕES:
Juvenil
Adulta
116
. Recrutamento:
Espécie
Dá para saber muitos filhos foram
produzidos no ano? Como?
Tucunaré
Aruanã
Pirarucu
Jaraqui
Curimatã
Tambaqui
OBSERVAÇÕES
A partir de que tamanho ocorre a captura