Confira aqui. - Chico Alencar

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Confira aqui. - Chico Alencar
Rio de Janeiro, sexta-feira, 4 de agosto de 2006 - ANO 2 - Nº 195 - FALTAM 5 para o Nº 200!
LADRÕES QUEREM GRATIDÃO
E HONRA POR SEUS CRIMES
Criminosos em geral se escondem, praticam seus atos à sombra da noite e fazem questão de
discrição, de anonimato. Mas certo tipo de criminoso alardeia os seus crimes e, não contente
com isso, ainda exige agradecimento dos lesados. Numa ambulância, certamente superfaturada por um dos sanguessugas é possível ler numa faixa: “Deputado Pedro Henry,
orgulho da região sudoeste, Pontes e Lacerda agradece!”. Veja também lista completa dos
políticos nos quais você não deve votar em hipótese alguma e saiba porque.
FRITZ UTZERI, Pg. 3
Guerra no Oriente Médio
Eduardo Galeano pergunta: Até quando continuaremos aceitando que este
mundo, apaixonado pela morte, é o nosso único mundo possível? Pg. 10
Nahum Sirotsky afirma: Os ventos políticos não parecem soprar em favor de
Israel. Não se trata dos mais de duzentos morteiros lançados sobre o país na quarta, um
numero recorde. Nem se questiona a superioridade militar de Israel, mas se será possível
resistir às crescentes pressões políticas internacionais. Pg. 12
Leonardo Boff reflete: Os massacres absurdos de inocentes a que temos assistido
por parte da máquina de guerra de Israel contra o povo do Líbano, mostrando impiedade
diante de crianças inocentes, nos suscitam a questão do sentido da vida e da História. Pg. 8
VEJA AINDA: RUY PANEIRO, “enquanto houver ódio”. Pg.15
LambeLambe-Lambe : “A Guerra dos Seis Dias”, há quase 40 anos...Pg. 29
VEJA AS CATEGORIAS MAIS CORRUPTAS.
J. R. WHITAKER PENTEADO apresenta a lista para você – Pg. 17
E ainda: Crítica de Cinema - NELSON RODRIGUES DE SOUZA critica “Cidade
Perdida”. Pg. 22 e ANNA MARIA RIBEIRO em mais uma crônica. Pg. 30.
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Nº 195
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FESTA DO MONTBLÄAT
Atenção. A Festa do Montbläat será no próximo dia 26 de setembro,
terça-feira, a partir das 19h 30m, no Rio Scenarium, à Rua do Lavradio, 20. Não
será cobrado ingresso, nem haverá consumação mínima, couvert artístico ou
seja lá o que for. Cada um pagará apenas o que consumir, graças ao generoso
oferecimento de nosso assinante, Plínio Fróes, dono do boteco, quase tão
famoso quanto o “Flor do Lavradio”. É
indispensável confirmar presença. Durante
a festa será apresentada a nova formatação
do Montbläat e haverá um show com uma
cantora californiana, que vive no Rio de
Janeiro, KATHERINE ALLDIS (atenção
nacionalistas, podemos descer o sarrafo nos norteamericanos por quase tudo, menos pela música).
Nossa também assinante, Christina Thedim,
que vem a ser filha do Capitão Sérgio do Parasar, faz a
apresentação de Katherine: “Californiana, nascida em
Santa Cruz, EUA, Katherine Irene Alldis sempre teve
na música e na dança uma forma espontânea de comunicação. Dotada de uma natureza viva e
apaixonada iniciou-se na dança aos quatro anos de idade. Aos sete, começou a estudar flauta.
Participou de várias bandas e, por volta dos vinte anos, começou os estudos de ópera clássica,
jazz, e música pop, aprendendo harmonia e fazendo solo num coral de capela. A dança Flamenca
entrou em sua vida também de maneira natural e, após nove anos de estudo, tornou-se professora.
Nos anos 70 foi para as montanhas com os pais viver numa comunidade de artistas. No fatídico
ano de 1992 morre seu irmão, em trágico acidente, o que a fez afastar-se de tudo por um tempo. O
aprendizado da “Linguagem de sinais americana” foi uma saída que encontrou para amenizar o
trauma que esse acontecimento causou em sua vida, um recomeço. Em 1994 nasce seu filho Cody
e a consciência feminina, da importância da mulher como ser, mais que gerador, criador de novas
consciências, de novos seres, se amplia, unindo-se, mais que nunca, a música, a dança e a
linguagem de sinais como intermediários nessa jornada interativa que abraça como um ideal de
vida e ao qual dedica grande parte de sua energia.
Escutar e observar a atuação dessa artista no palco é um encontro marcante, inesquecível!
Imediatamente, nos vemos envolvidos por uma energia de amor e transportados por sua voz suave
e melodiosa, através de canções que trazem mensagens de auto-conhecimento, auto-estima, amor
universal e incondicional, paz e saúde emocional e espiritual, compostas, em sua maioria, por ela
mesma. Katherine vive e respira o que canta. Há dois anos mudou-se para o Rio de Janeiro com
seu marido brasileiro e seu filho. Agregar é a palavra de ordem para ela que, com a sua música
pretende tocar a alma de um sem número de outras almas, principalmente femininas que, em sua
opinião, serão as fontes diretrizes de uma nova era de seres humanos, mais plenos de compaixão e
amor verdadeiro”.
Montbläat – sexta-feira, 4 de agosto de 2006
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PROPAGANDA E GRATIDÃO
PARA SANGUESSUGAS, ETC.
A
foto dá uma idéia da desfaçatez de nossas “elites” políticas. Veja a
ambulância da prefeitura de Pontes e Lacerda, ambulância quase
certamente superfaturada, já que o nobre deputado Pedro Henry (PPMT) está envolvido nos seguintes crimes: Formação de quadrilha, lavagem de
dinheiro, corrupção passiva e sanguessugas (escândalo das ambulâncias).
Criminosos
em
geral
se
escondem, praticam seus atos à
sombra da noite e fazem questão
da discrição, do anonimato. Mas
certo tipo de criminoso alardeia
os seus crimes e, não contente
com
isso,
ainda
exige
agradecimento
dos
lesados.
Leiam na faixa: “Deputado
Pedro Henry, orgulho da
região sudoeste, Pontes e
Lacerda agradece!”.
Já
aparecem na imprensa fotos de
José Serra numa solenidade de
entrega de ambulâncias com alguns dos sanguessugas, numa tentativa do governo de
jogar a m... para o governo passado, enquanto a oposição já conseguiu envolver um
ministro da Saúde do atual governo, mas tenta trazer a público o Sr. Humberto Costa,
em cuja gestão – acredita-se – a corrupção tenha escalado aos níveis atuais.
Os ministros sabiam? Não sabiam? A pergunta não tem saída. Se sabiam são
criminosos, se não sabiam são incompetentes. Mas essa simples constatação não
parece valer no Brasil. Desde que uma continuada sucessão de escândalos vem se
sucedendo no seio do atual governo, o presidente da República alega que não tinha a
menor idéia do que Dirceu, Palocci, Delubio ou Marcos Valério faziam numa sala
vizinha à sua. “Não sei, não vi, não ouvi”, parecem desculpas bastante boas para
escapar ileso até das más companhias.
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Confesso que estou cheio disso e não agüento mais ficar escrevendo sobre essas
aberrações políticas que nos guiam. O problema é que no bojo da eleição presidencial
(que não vai fazer muita diferença se o eleito for o Molusco ou o Alquimista) se
escondem as demais eleições e é desse desinteresse pelo restante do pleito e da nossa
alienação, que se aproveitam os bandidos que hoje infestam Congresso Nacional,
fazendo do Legislativo a maior concentração de criminosos do país depois das
cadeias.
Não prestamos atenção principalmente nos deputados que elegemos e desse descaso
resulta o aviltamento crescente da instituição. Dê uma olhada rápida na lista de
candidatos a deputado. Não é preciso olhar muito ou analisar em profundidade para
que se revele o verdadeiro grupo de marginais, ignorantes e pessoas de história
duvidosa e propósitos obscuros que se candidatam, seja pensando em dar-se bem ou
até para fugir da justiça, já que nesta república de “iguais perante a lei” qualquer
quadrilheiro deputado tem tratamento diferenciado, mesmo se matar ou roubar
escandalosamente os cofres públicos.
É indispensável anotar os nomes e os partidos desses parlamentares bandidos e cobrar
das autoridades que a proposta do deputado Miro Teixeira (a de não diplomar os
corruptos) seja aprovada. Vejam a lista de parlamentares envolvidos em atividades
criminosas (ambulâncias, mensalões, etc.) e anote nomes para mandá-los para casa em
outubro e – uma vez em casa – exigir que passem a morar na cadeia. (vejam, a seguir,
a lista de políticos em que não devemos votar de jeito algum). São 129 deputados, 14
senadores e 2 ex-ministros, 8 ex-deputados e um
tesoureiro de partido, todos apostando em nossa
tradicional falta de memória e preparando-se para
voltar, como vários – vide ACM e Jader Barbalho –
já o fizeram.
Curioso é o volume de evangélicos presentes nas
mamatas. Um dos sinais pelos quais acho que estou
ficando velho é que sou de um tempo em que os
protestantes eram chamados pelo termo “bíblia”.
Esse termo, um sinal para avalizar a retidão,
honestidade, integridade do qualificado. Mas
“Bíblia” era batista, luterano, presbiteriano, e até
alguns pentecostais. Hoje em dia o antigo “Bíblia”
virou “evangélico” e com a proliferação das igrejas
picaretas, “evangélico” está quase virando sinônimo
de vigarista. M
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Em Quem Não Votar!!!
NOME
CARGO
Deputado
Deputado
Senador
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Senador
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
PARTIDO
PFL-PR
PDT-MG
PL-MG
PPS-PR
PMDB-MA
PTB-RR
PTB-PR
PL-CE
PFL-RJ
PL-SP
PMDB-PR
PMDB-CE
PSDB-MT
PSDB-SP
PSDB-MA
PP-AL
PP-AP
PMDB-PB
PL-SP
PMDB-MG
Sonegação Fiscal
Falsidade Ideológica
Crime de Responsabilidade e Estelionato
Peculato
Apropriação Indébita
Peculato, Formação de Quadrilha, Sanguessugas (Ambu
Peculato
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Improbidade Administrativa
Improbidade Administrativa
Improbidade Administrativa e Formação de Quadrilha
Crime de Responsabilidade
Improbidade Administrativa
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Crime Eleitoral
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Crime Militar, Sanguessugas (Escândalo das Ambulânci
Deputado
Deputado
Deputado
PSDB-GO
PP-SP
PL-PR
Lesão Corporal
Crime Eleitoral, Peculato e Agressão
Crime Eleitoral
CIRO NOGUEIRA
CLEONÂNCIO FONSECA
CLÓVIS FECURY
CORIALANO SALES
DARCÍSIO PERONDI
DAVI ALCOLUMBRE
DILCEU SPERAFICO
DOUTOR HELENO
EDSON ANDRINO
EDUARDO AZEREDO
EDUARDO GOMES
EDUARDO SEABRA
ELIMAR MÁXIMO DAMASCENO
EDIR DE OLIVEIRA
EDNA MACEDO
ELAINE COSTA
ELISEU PADILHA
ENIVALDO RIBEIRO
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Senador
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputada
Deputado
Deputado
PP-PI
PP-SE
PFL-MA
PFL-BA
PMDB-RS
PFL-AP
PP-PR
PSC-RJ
PMDB-SC
PSDB-MG
PSDB-TO
PTB-AP
PRONA-SP
PTB-RS
PTB-SP
PTB-RJ
PMDB-RS
PP-PB
ÉRICO RIBEIRO
FERNANDO ESTIMA
FERNANDO GONÇALVES
GARIBALDI ALVES
GIACOBO
Deputado
Deputado
Deputado
Senador
Deputado
PP-RS
PPS-SP
PTB-RJ
PMDB-RN
PL-PR
Crime Contra a Ordem Tributária e Prevaricação
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Crime Contra a Ordem Tributária
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Improbidade Administrativa
Corrupção Ativa
Apropriação Indébita
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Crime de Responsabilidade
Improbidade Administrativa
Crime Eleitoral, Sanguessugas (Escândalo das Ambulân
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Falsidade Ideológica
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Corrupção Passiva
Crime Contra a Ordem Tributária, Sanguessugas (Escân
Ambulâncias)
Crime Contra a Ordem Tributária e Apropriação In
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Crime Eleitoral
Crime Contra a Ordem Tributária e Seqüestro
Deputado
PSDB-PE
Apropriação Indébita
ABELARDO LUPION
ADEMIR PRATES
AELTON FREITAS
AIRTON ROVEDA
ALBÉRICO FILHO
ALCESTE ALMEIDA
ALEX CANZIANI
ALMEIDA DE JESUS
ALMIR MOURA
AMAURI GASQUES
ANDRÉ ZACHAROW
ANÍBAL GOMES
ANTERO PAES DE BARROS
ANTÔNIO CARLOS PANNUNZIO
ANTÔNIO JOAQUIM
BENEDITO DE LIRA
BENEDITO DIAS
BENJAMIN MARANHÃO
BISPO WANDERVAL
CABO JÚLIO
ACUSAÇÃO OU CRIME A QUE RESPONDE
(JÚLIO CÉSAR GOMES DOS SANTOS)
CARLOS ALBERTO LERÉIA
CELSO RUSSOMANNO
CHICO DA PRINCESA
(FRANCISCO OCTÁVIO BECKERT)
(FERNANDO LUCIO GIACOBO)
GONZAGA PATRIOTA
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GUILHERME MENEZES
INALDO LEITÃO
INOCÊNCIO DE OLIVEIRA
IRAPUAN TEIXEIRA
IRIS SIMÕES
ITAMAR SERPA
ISAÍAS SILVESTRE
JACKSON BARRETO
JADER BARBALHO
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
PT-BA
PL-PB
PMDB-PE
PP-SP
PTB-PR
PSDB-RJ
PSB-MG
PTB-SE
PMDB-PA
JAIME MARTINS
JEFERSON CAMPOS
JOÃO BATISTA
JOÃO CALDAS
JOÃO CORREIA
JOÃO HERRMANN NETO
JOÃO MAGNO
JOÃO MENDES DE JESUS
JOÃO PAULO CUNHA
JOÃO RIBEIRO
JORGE PINHEIRO
JOSÉ DIVINO
JOSÉ JANENE
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Senador
Deputado
Deputado
Deputado
PL-MG
PTB-SP
PP-SP
PL-AL
PMDB-AC
PDT-SP
PT-MG
PSB-RJ
PT-SP
PL-TO
PL-DF
PRB-RJ
PP-PR
JOSÉ LINHARES
JOSÉ MENTOR
JOSÉ MILITÃO
JOSÉ PRIANTE
JOVAIR ARANTES
JOVINO CÂNDIDO
JÚLIO CÉSAR
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
PP-CE
PT-SP
PTB-MG
PMDB-PA
PTB-GO
PV-SP
PFL-PI
JÚLIO LOPES
JÚNIOR BETÃO
JUVÊNCIO DA FONSECA
LAURA CARNEIRO
LEONEL PAVAN
LIDEU ARAÚJO
LINO ROSSI
LÚCIA VÂNIA
LUIZ ANTÔNIO FLEURY
LUPÉRCIO RAMOS
MÃO SANTA
MARCELINO FRAGA
MARCELO CRIVELA
MARCELO TEIXEIRA
MÁRCIO REINALDO MOREIRA
MARCOS ABRAMO
MÁRIO NEGROMONTE
MAURÍCIO RABELO
NÉLIO DIAS
NELSON BORNIER
NEUTON LIMA
NEY SUASSUNA
Deputado
Deputado
Deputado
Deputada
Senador
Deputado
Deputado
Senadora
Deputado
Deputado
Senador
Deputado
Senador
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Senador
PP-RJ
PL-AC
PSDB-MS
PFL-RJ
PSDB-SC
PP-SP
PP-MT
PSDB-GO
PTB-SP
PMDB-AM
PMDB-PI
PMDB-ES
PRB-RJ
PSDB-CE
PP-MG
PP-SP
PP-BA
PL-TO
PP-RN
PMDB-RJ
PTB-SP
PMDB-PB
Nº 195
6
Improbidade Administrativa
Crime Contra o Patrimônio, Declaração Falsa de Imposto de Renda
Crime de Escravidão
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Crime Contra o Consumidor, Sanguessugas (Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Peculato e Improbidade Administrativa
Improbidade Administrativa, Peculato, Crime Contra o Sistema
Financeiro e Lavagem de Dinheiro
Crime Eleitoral
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Falsidade Ideológica, Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Declaração Falsa de Imposto de Renda, Sanguessugas (Ambulâncias)
Apropriação Indébita
Lavagem de Dinheiro
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Corrupção Passiva, Lavagem de Dinheiro e Peculato
Peculato e Crime de Escravidão
Crime Ambiental
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Estelionato, Improbidade Administrativa, Lavagem de Dinheiro,
Corrupção Passiva, Formação de Quadrilha, Apropriação Indébita e
Crime Eleitoral
Improbidade Administrativa
Corrupção Passiva
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Crime Contra o Sistema Financeiro
Improbidade Administrativa
Improbidade Administrativa
Peculato, Formação de Quadrilha, Lavagem de Dinheiro
e Falsidade Ideológica
Falsidade Ideológica
Declaração Falsa de Imposto de Renda, Sanguessugas (Ambulâncias)
Improbidade Administrativa
Improbidade Administrativa e Sanguessugas (Ambulâncias)
Contratação de Serviços Públicos Sem Licitação e Concussão
Crime Eleitoral
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Peculato
Improbidade Administrativa
Crime de Aborto
Improbidade Administrativa
Crime Eleitoral, Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Crime Contra o Sistema Financeiro e Falsidade Ideológica
Sonegação Fiscal
Crime Ambiental
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Improbidade Administrativa
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
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NILTON CAPIXABA
Deputado
PTB – RO
OSMÂNIO PEREIRA
OSVALDO REIS
PASTOR AMARILDO
PAULO AFONSO
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
PTB-MG
PMDB-TO
PSC-TO
PMDB-SC
PAULO BALTAZAR
PAULO FEIJÓ
PAULO JOSÉ GOUVEIA
PAULO LIMA
PAULO MAGALHÃES
PEDRO HENRY
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
PSB-RJ
PSDB-RJ
PL-RS
PMDB-SP
PFL-BA
PP-MT
PROFESSOR IRAPUAN
PROFESSOR LUIZINHO
RAIMUNDO SANTOS
REGINALDO GERMANO
REINALDO BETÃO
REINALDO GRIPP
REMI TRINTA
RIBAMAR ALVES
RICARDO BARROS
RICARTE DE FREITAS
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
Deputado
PP-SP
PT-SP
PL-PA
PP-BA
PL-RJ
PL-RJ
PL-MA
PSB-MA
PP-PR
PTB-MT
RODOLFO TOURINHO
ROMERO JUCÁ
ROMEU QUEIROZ
RONALDO DIMAS
SANDRO MABEL
SUELY CAMPOS
TATICO
(JOSÉ FUSCALDI CESÍLIO)
TETÉ BEZERRA
THELMA DE OLIVEIRA
VADÃO GOMES
VALDIR RAUPP
Senador
Senador
Deputado
Deputado
Deputado
Deputada
Deputado
PFL-BA
PMDB-RR
PTB-MG
PSDB-TO
PL-GO
PP-RR
PTB-DF
Deputado
Deputada
Deputado
Senador
PMDB-MT
PSDB-MT
PP-SP
PMDB-RO
VALMIR AMARAL
VANDERLEI ASSIS
VIEIRA REIS
VITTORIO MEDIOLI
WANDERVAL SANTOS
WELLINGTON FAGUNDES
ZÉ GERARDO
ZELINDA NOVAES
Senador
Deputado
Deputado
Deputado
Deputada
Deputada
Deputado
Deputada
PTB-DF
PP-SP
PRB-RJ
PV-MG
PL-SP
PL-MT
PMDB-CE
PFL-BA
Nº 195
7
Sanguessugas (escândalos das ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Apropriação Indébita
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Peculato, Crime Contra o Sistema Financeiro e Improbidade
Administrativa
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Porte Ilegal de Arma
Extorsão e Sonegação Fiscal
Lesão Corporal
Formação de Quadrilha, Lavagem de Dinheiro e Corrupção Passiva,
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Crime Eleitoral
Lavagem de Dinheiro
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Estelionato e Crime Ambiental
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sonegação Fiscal
Improbidade Administrativa e Formação de Quadrilha, Sanguessugas
(Escândalo das Ambulâncias)
Gestão Fraudulenta de Instituição Financeira
Improbidade Administrativa
Corrupção Ativa, Corrupção Passiva e Lavagem de Dinheiro
Crime Eleitoral
Crime Contra a Ordem Tributária
Crime Eleitoral
Crime Contra a Ordem Tributária, Declaração Falsa de Imposto de
Renda e Sonegação Fiscal
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Improbidade Administrativa e Formação de Quadrilha
Improbidade Administrativa e Crime Contra a Ordem Tributária
Peculato, Uso de Documento Falso, Crime Contra o Sistema
Financeiro, Crime Eleitoral e Gestão Fraudulenta de Instituição
Financeira
Apropriação Indébita
Crime Eleitoral, Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Sonegação Fiscal
Corrupção Passiva
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Crime de Responsabilidade
Sanguessugas (Escândalo das Ambulâncias)
Por precaução, aos nomes acima podem ser acrescentados também os seguintes...
Ângela Guadagnin
Deputada
PT-SP
Antônio Palocci
Carlos Rodrigues
Delúbio Soares
José Dirceu
Ex-Ministro
PT-SP
PL-RJ
PT-GO
PT-SP
Ex-Deputado
Tesoureiro
Ex-Deputado
Dançarina do Plenário da Câmara, comemorando absolvição de
corrupto
Quebra de Sigilo Bancário
Bispo Rodrigues
Ex Tesoureiro do PT
Mensalão
Montbläat – sexta-feira, 4 de agosto de 2006
José Genoíno
Ex-deputado
PT-SP
José Nobre Guimarães
Deputado
Est.
PT-CE
Josias Gomes
Luiz Gushiken
Paulo Salim Maluf
Deputado
PT-BA
PT-SP
PPB-SP
Paulo Pimenta
Pedro Corrêa
Roberto Brant
Roberto Jefferson
Severino Cavalcanti
Valdemar Costa Neto
Ex-Ministro
Ex Deputado,
governador
Deputado
Ex-Deputado
Deputado
Ex-Deputado
Ex-Deputado
Exc-Deputado
PT-RS
PP-PE
PFL-MG
PTB-RJ
PP-PE
PL-SP
Nº 195
8
Mensalão, Dólares na cueca
Dólares na Cueca (Agora Candidato a Dep. Federal)
Mensalão, CPI dos Correios
CPI dos Correios
Corrupção, Falcatruas, Improbidade Administrativa, Desvio de
Dinheiro Público, Lavagem de dinheiro
Compra de Votos, Mensalão, CPI Correios
Cassado em associação ao Escândalo do Mensalão, Compra de Votos
Crime Eleitoral, Mensalão, CPI Correios
Mensalão
Escândalo do Mensalinho (Renuncio para evitar a cassação)
Mensalão (renunciou para evitar a cassação)
CRER APESAR DOS
MASSACRES NO LÍBANO?
O
s massacres absurdos de inocentes a que temos assistido por parte da
máquina de guerra de Israel contra o povo do Líbano, mostrando
impiedade diante de crianças inocentes, nos suscitam a questão do
sentido da vida e da História. Esta questão não pode ser banida de nossa consciência
por mais que fiquemos perplexos face à crueldade. Ela pertence à metafísica do
cotidiano como reconheceu Kant em seu "Prolegómenos a toda metafísica futura":
"Que o espírito humano abandone definitivamente as questões metafísicas é tão
inverossímil quanto esperar que nós, para não inspirarmos ar poluído, deixássemos,
uma vez por todas, de respirar".
Não são poucos os pensadores que confrontados com os absurdos da realidade
afirmam o sem sentido da História. Jacques Monod em seu conhecido "O acaso e a
necessidade" diz taxativamente: "É supérfluo buscar um sentido objetivo da
existência. Ele simplesmente não existe. O homem é produto do mais cego e absoluto
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acaso que imaginar se possa. Os deuses estão mortos e o homem está só no mundo".
Claude Levy-Strauss, tão ligado ao Brasil, escreveu em seu admirável "Tristes
Trópicos" estas desencorajantes palavras: "O mundo começou sem o homem e
terminará sem ele. As instituições e os costumes que eu passei a vida inteira e
inventariar e a compreender são uma eflorescência passageira em relação com a qual
elas não têm sentido, senão talvez aquele que permite à humanidade desempenhar seu
papel".
Há muito de verdade nestas afirmações porque os absurdos são inegáveis. Mas será
que é toda a verdade? Não se anunciam também sinais intrigantes que nos falam de
um sentido latente nas coisas? Por mais que venhamos do caos originário do big-bang
não podemos negar que na evolução se manifestou uma linha ascendente que nos
levou da cosmogênese, à biogênese, à antropogênese e hoje à noogênese. Não se pode
negar que há aí um sentido manifesto.
Vamos ao cotidiano. Cada manhã levantamos, vamos ao trabalho, lutamos pela
família e ansiamos por um mundo onde seja menos difícil amar. Há até situações em
que chegamos a dar vida para salvar outras vidas. Que se esconde atrás destes gestos
cotidianos? Esconde-se a confiança fundamental na bondade da vida. Ela vale a pena
ser vivida.
O conhecido sociólogo austríaco-norte-americano Peter Berger escreveu em seu livro
"Um rumor de anjos: a sociedade moderna e a redescoberta do sobrenatural" que o ser
humano tem uma tendência inata para a ordem. Ele só vive e sobrevive se conseguir
organizar um arranjo existencial que lhe faça sentido. Essa tendência à ordem se
mostra em cenas bem familiares como a da mãe que acalenta o filhinho. Dentro da
noite ele acorda sobressaltado. Grita por sua mãe porque o estrondo das bombas lhe
suscitaram terríveis pesadelos. A mãe se levanta, toma o filhinho no colo e no gesto
primordial da "magna mater" lhe sussurra palavras doces:"Não tenhas medo meu
filhinho, tudo vai acabar e vai estar em ordem". A criança soluça, reconquista a
confiança e um pouco mais e mais um pouco adormece. Nem tudo está bem e em
ordem. Mas sentimos que a mãe não está enganando o filhinho. No fundo ela
testemunha: mesmo na desordem há uma ordem subjacente que a tudo preside. Ter
confiança na bondade fundamental da vida e dizer-lhe Sim e Amém é o sentido
primordial da fé que não nos deixa desesperar face ao horror da guerra. M
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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO
ATÉ QUANDO?
Eduardo Galeano (*)
E
m Canaã, onde Jesus converteu água em vinho para celebrar o amor
humano, o ódio humano despedaça mais de 30 crianças num grande
bombardeio. A guerra segue indiferente. Como de costume, dizem que foi
um erro. Até quando os horrores continuarão sendo chamados de erros? (em espanhol
errores, o que dá um sentido mais poético à frase).
Esta guerra, esta carnificina de civis, desencadeou-se a partir do seqüestro de um
soldado israelita. Até quando o seqüestro de um soldado israelita poderá justificar o
seqüestro da soberania palestina?
Até quando o seqüestro de dois soldados israelenses poderá justificar o seqüestro de
todo o Líbano?
A caça aos judeus foi durante séculos o “esporte” favorito dos europeus. Em
Auschwitz desembocou um antigo rio de espantos que havia atravessado toda a
Europa. Até quando os palestinos e outros árabes seguirão pagando por crimes que
não cometeram?
O Hezbollah não existia quando Israel arrasou o Líbano em suas invasões anteriores.
Até quando continuaremos acreditando no conto do agressor agredido, que pratica o
terrorismo porque tem direito de defender-se do terrorismo?
Iraque, Afeganistão, Palestina, Líbano, até quando poderemos seguir exterminando
países impunemente?
As torturas de Abu Ghraib, que despertaram certo mal-estar universal, não têm nada
de novo para nós, latino-americanos. Nossos militares aprenderam essas técnicas de
interrogatório na Escola das Américas, que agora perdeu seu nome, mas não as suas
manhas..
Até quando seguiremos aceitando que a tortura continue sendo legitimada, como o fez
a Corte Suprema de Israel, em nome da legítima defesa da pátria?
Montbläat – sexta-feira, 4 de agosto de 2006
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Israel não deu ouvidos a 46 resoluções da Assembléia Geral da ONU e de vários
outros organismos da ONU. Até quando o governo de Israel continuará exercendo o
privilégio da surdez?
As Nações Unidas recomendam, mas não decidem. Quando decidem, a Casa Branca
impede que decidam, porque tem direito de veto. A Casa Branca tem vetado no
Conselho de Segurança quarenta resoluções que condenavam Israel. Até quando as
Nações Unidas continuarão atuando como se fossem outro nome dos Estados Unidos?
Desde que os palestinos foram desalojados de suas casas e despojados de suas terras,
correu muito sangue. Até quando o sangue continuará correndo para que a força
justifique o que o direito nega?
A história se repete, dia após dia, ano após ano e para cada 10 árabes mortos, morre
um israelense. Até quando a vida de cada israelense continuará valendo dez vezes
mais?
Em proporção à população, os 50 mil civis, em sua maioria mulheres e crianças,
mortos no Iraque, equivalem a oitocentos mil estadunidenses. Até quando
continuaremos aceitando, como se fosse normal, a matança de iraquianos numa guerra
cega que esqueceu os seus pretextos? Até quando continuará sendo normal que os
vivos e os mortos sejam de primeira, segunda, terceira ou quarta categoria?
O Irã está desenvolvendo a energia nuclear. Até quando continuaremos acreditando
que isso baste para provar que um país é um perigo para a humanidade? À chamada
comunidade internacional, não causa angústia o fato de que Israel tenha 250 bombas
atômicas, mesmo sendo um país que vive à beira de um ataque de nervos. Quem guia
o perigosímetro universal? Teria sido o Irã o país que jogou as bombas atômicas em
Hiroshima e Nagasaki?
Na era da globalização o direito de pressão pode mais que o direito de expressão. Para
justificar a ocupação ilegal de terras palestinas, a guerra se chama paz. Os israelenses
são patriotas e os palestinos são terroristas e os terroristas acionam o alarme universal.
Até quando os meios de comunicação continuarão sendo medos de comunicação?
A matança atual, que não é a primeira e – temo – não será a última, ocorre em meio ao
silêncio. O mundo estará mudo? Até quando continuarão soando em vão as vozes da
indignação? Estes bombardeios matam crianças, mais de um terço das vítimas e
às vezes mais do que isso, como em Canaã. Quem se atreve a denunciar isso é acusado
de anti-semita. Até quando continuaremos sendo anti-semitas ao denunciar os crimes
do terrorismo de Estado? Até quando aceitaremos essa extorsão? São anti-semitas os
judeus horrorizados pelo que é feito em seu nome? São anti-semitas os árabes, tão
semitas como os judeus? Por acaso não há vozes palestinas que defendem a pátria
palestina e repudiam o hospício fundamentalista?
Montbläat – sexta-feira, 4 de agosto de 2006
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Os terroristas se parecem entre si: os terroristas de Estado, respeitáveis homens de
governo, e os terroristas privados, que são loucos à solta ou loucos organizados desde
os tempos da Guerra Fria contra o totalitarismo comunista. E todos atuam em nome de
Deus, chame-se esse Deus Jeová ou Alá. Até quando seguiremos ignorando que todos
os terrorismos desprezam a vida humana e que todos se alimentam mutuamente? Não
é evidente que nesta guerra entre Israel e o Hezbollah, são os civis, libaneses,
palestinos, israelenses, que entram com os mortos? Não é evidente que as guerras do
Afeganistão e do Iraque e as invasões de Gaza e do Líbano são incubadoras do ódio,
que fabricam fanáticos em série?
SOMOS A ÚNICA ESPÉCIE ANIMAL ESPECIALIZADA NO EXTERMÍNIO
MÚTUO. Destinamos 2,5 milhões de dólares, por dia a gastos militares. A miséria e a
guerra são filhas do mesmo pai: como alguns deuses cruéis, devora os vivos e os
mortos. Até quando continuaremos aceitando que este mundo, apaixonado pela morte,
é o nosso único mundo possível? m
(*) Escritor e jornalista uruguaio, autor de As Veias Abertas da América Latina
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VENTOS POLÍTICOS
EM FASE DE DEFINIÇÃO
Nahum Sirotsky
I
srael - Os ventos políticos não parecem soprar em favor de Israel. Não se
trata dos mais de duzentos morteiros lançados sobre o país na quarta, um
numero recorde. Nem se questiona a superioridade militar de Israel, mas se
será possível resistir às crescentes pressões políticas internacionais, numa direção não
compatível com aquela que a atual liderança israelense considera essencial para uma
solução favorável de sua guerra com o Hezbollah.
Desde os primeiros momentos do choque destacou-se o óbvio. O começo foi a notícia
que devo lembrar: O Hezbollah entrou em território israelense e seqüestrou dois
soldados. As forças israelenses da fronteira entram em território libanês em
perseguição para libertar os seus recrutas. Não tiveram sucesso. E a perseguição
escalou na atual guerra entre Israel e o Hezbollah, com as conseqüências sobre o
Líbano.
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O Hezbollah força guerrilheira libanesa, da seita muçulmana xiita, a mesma do Irã
criada por veteranos da guerra dos muçulmanos contra tropa soviética no Afeganistão,
tropa que sustentava um governo comunista que, para os muçulmanos, sendo ateu é
inimigo e ofende ao Deus único, Alá, e às suas mensagens divinas transmitidas ao
mundo por Maomé, o seu profeta e mensageiro. Os soviéticos acabaram derrotados.
E a tropa ao voltar para a União Soviética, desmoralizada, contribuiu para a derrocada
do sistema comunista russo. E o Talibã subiu ao poder no Afeganistão e impôs um
sistema teocrático, um governo de sacerdotes. No país assentou-se Bin Laden, exilado,
um dos heróis da guerra, que passou a inimigo público numero um dos Estados
Unidos e países não muçulmanos. Inspirou um dos maiores atos de terrorismo da
História, a destruição da Torres Gêmeas de Nova Iorque. O governo Bush declarou
guerra ao terrorismo, invadiu o Afeganistão e, posteriormente, o Iraque de Saddam
Hussein, ditador que derrubou. A invasão do Iraque resultou na guerra que ainda não
terminou.
O Hezbollah, com apoio do Irã e da Síria, transformou-se num poder militar que
ignora as leis do seu país cujo governo optou por não se arriscar a enfrentá-lo.
Assumiu o controle do sul do Líbano, fronteira norte de Israel. Os choques entre o
Hezbollah e a tropa israelense na fronteira passaram a ser freqüentes. O Hezbollah
rejeita o direito à existência do Estado Judeu. Alega que ocupa terras sagradas, pois
por tradição, foi da Colina do Templo que Maomé ascendeu a Alá, Deus, que lhe
revelou o Corão, o Livro Sagrado do Islã. Foi classificado de organização terrorista
pelo seu programa e qualificado de instrumento estratégico do Irã cujos líderes, os
aiatolás, declaram ser seu objetivo a extinção do Estado Judeu e são inimigos mortais
dos americanos..Ou eram...
O estado de Israel tem antigo conflito com os árabes palestinos, seus vizinhos na
Região Sul, Faixa de Gaza e Cisjordânia, o Braço Ocidental do Rio Jordão. Mas
haviam chegado a um reconhecimento do direito a coexistirem. A discussão chegara à
questão da fronteiras entre os dois tendo o “roteiro de paz”, aprovado pelos Estados
Unidos, Rússia, Europa e Nações Unidas, como orientação..
O governo Bush, promovendo a tese da transformação dos estados árabes em
democracias, pressionou os palestinos a realizarem eleições livres depois da morte do
então maior líder palestino, Yasser Arafat. O Hamas, Partido de Resistência Palestino,
ganhou as eleições, com um programa de criar um estado palestino islâmico e destruir
o estado judeu, programa semelhante ao do Hezbollah, já caracterizado como
organização terrorista devido sua tática de combater Israel com o emprego de
homens-bomba, os suicidas, o Hamas foi isolado da Comunidade Internacional. E
num ato audacioso seqüestrou um soldado israelense e declarou que o trocaria pela
liberação de um número de prisioneiros palestinos. Israel rejeitou a proposta. E estava
em choque com o Hamas, quando o Hezbollah cometeu o seu seqüestro.
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É óbvio que Israel, baseando-se em sua vivência das tradições do Oriente Médio, está
convencido de que ao ceder às imposições do Hamas e do Hezbollah daria sinais de
fraqueza aos seus inimigos na região. Sem o poder de dissuasão-deterrente da imagem
de seu poderio, corre o risco de ser desafiado e ter de enfrentar mais uma guerra de
âmbito regional e, certamente, as inúmeras organizações islâmicas com táticas
terroristas.
Os Estados Unidos com todo o seu imenso poder não conseguiram derrotar a
insurgência no Iraque ou obter o respeito do Irã. É provável que Israel tenha
imaginado poder enfraquecer decisivamente o Hezbollah com as mesmas táticas que
vêm aplicando contra o Hamas. Em algum ponto de sua reação houve algum lapso.
A sua superioridade militar é notória, mas não tem impedido que continuem chovendo
mísseis e morteiros sobre a sua região Norte, na qual dois milhões de civis vivem e
sofrem. Nem continuem caindo Qassams, morteiros de fabricação caseira palestina,
em centros urbanos de sua região sul. Talvez sejam questões que só se podem resolver
por meios políticos. Os meios militares extremos, de guerra total, são inaplicáveis no
atual contexto mundial.
No caso do Hezbollah o governo israelense anuncia que cessará suas operações
militares no momento e que se concretize a hipótese de ser criada uma força
internacional com poderes de atirar e que seria assentada ao longo das linhas de suas
fronteiras com o Líbano. Mas existem pressões para que primeiro se decrete um cessar
fogo que, sem dúvida alguma, considerando-se o passado da região, pode ser
proclamado pelo Hezbollah como vitória sua e vir a ser modelo de ação para grupos
afins agirem por todo o Oriente Médio para implantar governos de sistemas islâmicos
como o Irã. E existe tal possibilidade se o cessar-fogo não for base para um acordo de
longo prazo com o Líbano, retomada de negociações para a solução do conflito com
os palestinos , talvez, uma aceitação por todo o mundo árabe da existência do estado
judeu como um fato consumado..Tudo é possível mesmo que não muito provável .
Algo deve ter convencido os Estados Unidos a aceitarem tal hipótese. Não se sabe o
que, talvez cansaço físico e econômico de guerras... Mas, seja o que vier a acontecer,
o seqüestro de dois soldados tende a mudar as relações internacionais no Oriente
Médio, só ainda não se sabe se para melhor ou pior. m
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ENQUANTO HOUVER ÓDIO...
Ruy Paneiro
F
ritz: Entendo bem o estado de espírito a que você chegou, depois de
receber bateladas de críticas, observações, acusações, opróbrios e
vitupérios a respeito do embate no Oriente Médio. Embora não tenha lido
os textos dirigidos a você (e ao Mont), posso imaginar a exacerbação do pessoal.
É muito difícil, torno a dizer, “analisar o conflito entre Israel, Palestina e Líbano sem
que se sinta na boca o repugnante gosto de sangue. É preciso o máximo de bom-senso,
de racionalidade, de isenção para escapar ao ódio”.
E volto a frisar, sublinhando para destacar o sentido que procurei dar: “Ódio tão
intenso, que até conduz ao desejo insano de ver exterminados, de uma vez por todas,
os autores do novo holocausto. Exatamente aqueles que há mais de 60 anos
representam o papel de maiores vítimas do nazismo”.
Insano. Desejo insano. Ao qual muita gente chega (não é o meu caso) diante da
desproporcionalidade da reação israelense, em face do apoio, acobertamento e
sustentação dos americanos e por conta da omissão dos demais países. Não significa,
em absoluto, que eu pregue a pulverização de Israel e sua gente.
Faço, sim, sérias restrições à direita israelense, à amálgama capitalista formada com
os Estados Unidos e a política externa de ambos – muito semelhantes, por sinal, na
prepotência, na arrogância e no sistemático desrespeito tanto à ONU quanto à
soberania dos outros países. Mas aplaudo a democracia, a liberdade de imprensa, que
permite a um Gideon Levy dizer o que pensa no principal jornal israelense. Por sinal,
brilhante e muito peitudo, esse ex-assessor de imprensa do Shimon Peres.
Da mesma forma, fico horrorizado com as barbaridades praticadas por muçulmanos e
islamitas. Autoflagelação, fanatismo religioso, sectarismo, imposições sociais, até
mesmo leis e punições absurdas, para dizer pouco. Mas a merda é que eles já estavam
lá quando Israel foi criado e de forma impositiva. Como disse o Dines terça à noite na
TVE, “essa guerra já tem 52 anos e pode durar 100”. E vai durar mesmo, se o ódio for
adubado como vem sendo.
Então meu amigo, a partir do próprio título (Enquanto houver ódio), o que eu procurei
demonstrar e afirmei é que “Apesar de difícil, é imprescindível repelir o ódio”. Ódio
que se espalha em processo de realimentação: “Tudo porque, um dia, as vítimas
resolveram seguir o exemplo de seus algozes. E passaram a despejar, uns contra
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outros, o ódio que aprenderam a cultivar”. “Ou a serenidade vence já a bestialidade,
ou as crianças que sobreviverem à carnificina atual vão lastimar terem vivido para
presenciar o inferno que o mundo será”.
Tratados podem ser assinados, forças de paz instaladas, fronteiras estabelecidas.
Enquanto houver ódio, falarão mais alto as diferenças culturais manipuladas e
incrementadas pelo interesse maior do capital. E os cristãos maronitas, judeus e
muçulmanos acabam embarcando nessa. Fazendo o jogo, matando e morrendo. Nada
a ver (ou a comparar) a ação israelense com os métodos nazistas e mengelianos.
Falta racionalidade às pessoas, como diz você. De fato, há milhares de anos ocorrem
atrocidades na Terra e sacrificam inocentes. Só que algumas pessoas, aí eu me incluo,
ainda se chocam. Aconteçam elas no Laos, na Coréia, no Vietnã, na Manchúria, no
Japão, na China, na Rússia, na Alemanha, nos Bálcãs, no Afeganistão, no Iraque, em
Ruanda, Angola, Biafra, Quênia, Moçambique, Etiópia, Argélia, Sudão, Costa do
Marfim, Nigéria, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Chile. No Carandiru, na
Candelária, em Vigário Geral ou Carajás do Sul.
Não importa o lugar: o ódio é que mata. E enquanto houver ódio…
Ri muito quando há anos a turma do Casseta & Planeta defendeu a tese de que “para
acabar com a violência, só dando muita porrada”. Parece até que a brincadeira foi
levada a sério por Israel, na Palestina e no Líbano. Mas o ódio é uma coisa terrível e
não dá para rir agora, quando se sabe que muita gente sofrerá no futuro as
conseqüências do ódio que se desenvolve hoje. M
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O CRIME REALMENTE ORGANIZADO
“O crime não compensa... tanto quanto a política”.
- Alfred E. Newman
O
s acontecimentos desses últimos meses - além de escandalizar a todos –
comprovaram que existe ainda mais crime na esfera pública do que se
suspeitava. Os números referentes ao mensalão e aos desmandos do
Executivo, a quadrilha das sanguessugas e outras atividades nefastas sugerem que
pelo menos 1/3 do nosso Congresso, se não mais, é composto por criminosos. Uma
outra informação - esta do Monitor das Fraudes, um site que merece ser conhecido e
divulgado, criado por um advogado de São Paulo, Lorenzo Parodi,
(www.fraudes.org/indexjvs.asp) - lança mais luz sobre essa área escura, ao divulgar
pesquisas que revelaram que os agentes públicos mais sujeitos a corrupção são, pela
ordem, (1) policiais, (2) fiscais tributários, (3) funcionários ligados a licenças, (4)
parlamentares, (5) funcionários ligados a licitações, (6) agentes alfandegários, (7)
fiscais técnicos, (8) primeiro escalão do executivo, (9) funcionários de bancos oficiais
e (10) juizes.
Como não me convenceram as recentes invectivas da imprensa (e dos comunicadores)
sobre as ações do “crime organizado” no Brasil e menos ainda, ao contemplar o
primarismo dos indivíduos exibidos pelas nossas autoridades como seus líderes Marcola, por exemplo – tudo isso levou-me a uma pesquisa na internet, atrás de outra
hipótese – que acredito mais próxima da verdadeira realidade - cujos resultados quero
compartilhar com os leitores.
Consultando sites diversos, descobri que há, no Brasil, além dos 513 deputados e 80
senadores, 5.560 prefeitos, 20.000 secretários municipais, 65.000 vereadores, 27
governadores, 300 secretários estaduais, 40.000 deputados estaduais, pelo menos 100
pessoas do primeiro escalão do Executivo Federal (os que foram afastados eram os
chefes) e uns 1.000 juizes e altos funcionários do Judiciário. Somando-se a eles os
cerca de 500.000 policiais civis e militares (dados da revista Veja), arredondando,
chegamos a um total de 632.600 pessoas.
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Lidar com os números do funcionalismo público é mais complexo, pois não há uma
fonte de referência única. A Secretaria de RH do Ministério do Planejamento indica
cerca de 2 milhões, na área federal. O Banco do Brasil declara pagar os salários a 4,3
milhões – o que permite estimar que devem ser mais de 4 milhões, considerando os
três níveis da administração pública.
É claro que não há estatísticas disponíveis sobre os criminosos, uma vez que estão
fora da lei. Mas, de acordo com a Human Rights Watch, a população carcerária do
país é de 170 mil detentos; 95% são do sexo masculino e pobres; dois terços não
completaram o primeiro grau e 12% são analfabetos. Digamos que os que estão presos
representem 10% do total de criminosos de tempo integral do país, que seria, então, de
1,7 milhão.
Estamos chegando. Pelas características descritas, é lícito supor que só uns 10 por
cento dessa criminalidade pobre e inculta, de fato, teria condições de se organizar, o
que poderia levar ao total de uns 170 mil.
Agora o outro lado: o de dentro da lei. Mesmo aplicando hipóteses generosas, de que
90% dos funcionários públicos sejam honestos – e de que não passe de ¼ o percentual
dos delinqüentes nos cargos eletivos, no judiciário e nas forças policiais, tudo parece
indicar que o número dos criminosos “legais” ultrapasse o meio milhão.
Além disso, embora haja escassa informação publicada sobre o assunto, parece certo
existir uma área cinzenta – que é a da conivência e cumplicidade entre as duas facções
criminosas, a que está fora da lei e a que age dentro dela. Nesse segmento – em que
chega a ser arriscado e perigoso investigar (e a imprensa, geralmente, passa ao largo)
– estão as atividades milionárias da contravenção e do jogo ilegal, das concessões de
serviços públicos municipais e do multinacional tráfico de drogas, para citar as mais
conspícuas. E isso para não entreabrir a caixa de Pandora, que é a discreta indústria da
Segurança no país.
Mesmo assim, descartando esses setores sinistros, restam cerca de 500 mil pessoas a
roubar e delinqüir, no Brasil, sob a proteção de mandatos e uniformes, imunidades,
cargos vitalícios e “de confiança”. Pior, usando os equipamentos, as armas e as
facilidades adquiridas com o dinheiro dos nossos impostos para apropriar-se, todos os
anos, de bilhões de reais deste dinheiro, que – repito – é nosso e devia ser destinado ao
investimento e aos serviços públicos, mas não é.
Essa gente, literalmente, ri-se e zomba da nossa indignação (às vezes, até dançam).
Não dão a mínima. Muitos estão certos de que se vão reeleger em outubro para
continuar na bandidagem.
Isso sim é que é crime organizado. E o pior é que, deste, parece ser impossível nos
livrarmos. M
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ANISTIA
Peter Wilm Rosenfeld
O
Art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da
Constituição de 1988 estabeleceu que todos aqueles que se julgarem
prejudicados por atos do governo motivados por razões políticas, a
partir de 18/9/1946 até a data da promulgação da Constituição, podem requerer
anistia, pedido que será julgado por uma Comissão de Anistia criada no Ministério da
Justiça, cujos componentes serão nomeados por ato do Ministro.
A declaração de anistiado, ainda de acordo com o já mencionado Ato, somente gerará
efeitos financeiros a partir da data da promulgação da
Constituição, ou do
requerimento do punido, vedada a remuneração de qualquer espécie em caráter
retroativo.
A Lei 10.559, de 13/11/2002, regulamentou o citado Art. 8º. Note-se que essa Lei é
decorrência da Medida Provisória 65, de 2002, e foi promulgada pelo então
Presidente do Congresso Nacional, Senador Ramez Tebet.
Com base nessa Lei, têm sido concedidas indenizações totalmente absurdas e
despropositadas a muitas pessoas; em nenhuma dessas indenizações foi levado em
conta o fato de que os beneficiados continuaram, depois de penalizados, exercendo as
mais diversas funções, algumas sem vínculo, outras como empregados; muito poucos
passaram dificuldades ou privações, exceto talvez nas primeiras semanas ou meses
após a punição.
O caso mais badalado foi o do escritor Carlos Heitor Cony, agraciado com uma
remuneração mensal de cerca de R$ 19 mil, além do pagamento de uma parcela de
mais de um milhão de reais.
O Sr. Luiz Ignácio Lula da Silva foi premiado com uma remuneração mensal que
hoje está em cerca de R$ 4,5 mil, apesar de ter ficado preso por apenas 20 dias, com
todas as regalias possíveis, nunca tendo deixado de exercer sua atividade de líder
sindical.
Montbläat – sexta-feira, 4 de agosto de 2006
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Os valores pagos aos anistiados são isentos do pagamento de qualquer imposto ou
taxas, contribuições, etc. Imposto de Renda nem falar!
Em agosto de 2005 foi declarado anistiado o Sr. Hermano de Deus Nobre Alves, que
havia sido cassado quando era Deputado Federal, tendo-lhe sido concedido um
pagamento único de R$ 90.000,00, correspondentes a 300 salários mínimos (25
meses de salário mínimo!) mais pagamentos mensais de R$ 14.777,50 pela perda do
emprego de jornalista; como já recebia R$ 2.095,54 do INSS, como aposentado (que
aposentado marajá, com quase sete salários mínimos!), teve direito a R$ 12.681,96,
perfazendo um valor de R$ 2.160.794,62, retroativo a 07.02.1992) .
O que desejo comentar no presente texto diz respeito a:
- A forma de calcular a indenização – A Comissão de Anistia analisa, a partir da
situação do anistiado (posto, cargo no emprego, função se funcionário) ao ser punido,
com a situação que teria se tivesse continuado na ativa, sempre supondo que teria tido
direito a toda e qualquer promoção. Então, no caso do jornalista, é de se perguntar
quantos empregados de jornais ganham hoje R$ 14.780,00? Quantos oficiais das
forças armadas teriam sido promovidos aos postos mais elevados no período?
Quantos empregados teriam sido promovidos a diretores das empresas em que
trabalhavam? Sim, pois esse é o critério da Comissão.
- Por que isenção de impostos? Se tivessem tido todas as promoções referidas no item
anterior, pagariam impostos sobre suas remunerações como todos os demais
cidadãos.
- Por que remuneração vitalícia? Todas as pessoas empregadas, exceto militares e
funcionários públicos) ao se aposentarem, passam a receber pelo INSS (se forem
participantes de uma entidade privada, recebem uma complementação), em geral
inferior à remuneração percebida quando em atividade.
- Por que o ministro da Justiça acata, integralmente, a decisão da Comissão de
Anistia? Não deveria se preocupar se a indenização lhe parecesse descabida?
A Lei 10.559 estabelece que a reparação econômica o será em prestação única ou em
prestação mensal (Art. 1º, inciso II). Não é o que tem sido adjudicado, pois tem sido
única e prestação mensal.
Enfim, entre tantos desmazelos existentes no Brasil, soma-se esse que é um saco sem
fundos. Já foram adjudicadas algumas centenas de reparações e, ao que se sabe, há
alguns milhares na fila. Não se sabe quando isso terminará.
Montbläat – sexta-feira, 4 de agosto de 2006
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O cidadão comum, cumpridor de suas obrigações sociais e fiscais, só pode se revoltar
com isso.
Note-se que a quase totalidade, se não a totalidade, dessas indenizações foram
adjudicadas no atual governo, já que a Lei 10.559 só foi publicada em 14.11.2002,
portanto, no apagar das luzes do governo anterior. M
_______________________________________________________________
COTAS NAS UNIVERSIDADES:
EXCELENTE INSTRUMENTO PARA
PROMOVER A SEGREGAÇÃO RACIAL
Rodolfo Paranhos
E
ste debate sobre cotas está chegando ao limite da sandice e o pior desta
excrescência é ser uma lei já aprovada (conforme afirmado dia 03/08 na
discussão em Brasília). Pelo menos na mesma sessão (do Congresso acho) houve a
fala de um representante de grupos “minoritários” veementemente contra as cotas.
Ele defendia que qualquer recurso para cotas fosse investido em fazer uma escola
pública de base tão boa quanto as melhores particulares.
Esta é a única solução possível: educar bem desde o início. Estes alunos jamais vão
precisar das cotas, vão por seus próprios méritos. Qualquer real investido na escola de
base vai render zilhões de vezes mais do que o investido nas cotas. Nada contra,
muito pelo contrário, a propiciar que alunos “carentes”, mas talentosos possam galgar
os mais altos níveis educacionais, este tipo de oportunidade deve ser estimulada. Mas
daí a oferecer cotas e encher a universidade de gente que não vai chegar nem à
metade do curso... francamente, que lei mais míope.
Sou professor universitário e vejo, a cada ano, alunos cada vez piores e menos
interessados, e olha que trabalho com a “elite” do ensino superior (i.e. uma
universidade pública em uma grande cidade, repleta de alunos oriundos das melhores
escolas particulares - mas também temos muitos alunos bem humildes). Uma parte
não desprezível destes, mesmo vindo de “boas” escolas, não tem a menor condição de
cursar um curso de graduação. Imagina quem for jogado pela janela em uma
universidade! Tenho escutado casos de uma crescente discriminação dos alunos que
fazem vestibular contra os alunos cotistas. Este sistema só vai fomentar a discórdia, e
em minha opinião é injusto, humilhante, racista e ineficaz.
Montbläat – sexta-feira, 4 de agosto de 2006
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O mais surrealista nesta questão é a grande mistura racial existente no Brasil. Fora o
Magu, quem aqui não tem um bom percentual de sangue negro e índio nas veias? Há
alguém branco no Brasil? Arrisco afirmar que esta é uma discussão sem propósito.
Enquanto a lei magna do país for a lei de Gérson... m
CINEMA – Nelson Rodrigues de Souza
“A CIDADE PERDIDA”
de Andy Garcia
“Sonho de ator cubano-americano redunda em
“macumba para turista”
A
ndy Garcia (um dos policiais incorruptíveis de “Os Intocáveis” de Brian
de Palma, dono de cassinos em “Doze Homens e Um Segredo” de
Steven Soderbergh, junto com Dustin Hoffman, os protagonistas de
“Herói por Acidente” de Stephen Frears, dentre outros trabalhos) nasceu em Havana
em 1956. Neste ano Guillermo Cabrera Infante já era um jovem crítico de cinema.
Com a revolução cubana, a família de Andy que era de classe média alta, fugiu em
1961de Cuba para Miami, com o menino tendo apenas cinco anos. Em entrevista o
ator relata que isto ficou impresso em seu inconsciente. Daí sua vontade
inquebrantável de 16 anos tentando realizar “A Cidade Perdida” (EUA-2005), com
roteiro de Cabrera Infante, agora já escritor exilado em Londres e consagrado,
principalmente pelo romance “Três Tristes Tigres”. Cabrera tornou-se um dos mais
ferozes e irônicos críticos dos descaminhos da revolução cubana e da eternização de
Fidel Castro no poder.
Um filme que retratasse a transição entre dois mundos, a velha Cuba do ditador
Fulgêncio Batista, com muitas casas noturnas, rum, mambos, rumbas, boleros e o
impacto da revolução sobre os membros de uma família em 1958, um pouco antes e
depois da tomada do poder por Fidel Castro e sua ditadura do proletariado, com
toques de “Casablanca” (um dos filmes mais esmiuçados por Cabrera) e “O Poderoso
Chefão II”, estaria em boas mãos, com a gana deste ator e o talento deste escritor. Tal
não aconteceu. O roteiro original tinha 360 páginas. O que foi efetivamente
trabalhado ao final, 120. Esta e outras simplificações que veremos adiante fazem de
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“A Cidade Perdida”, rodado na Republica Dominicana, um dos grandes desperdícios
de recursos e talentos nos últimos anos do cinema americano. Não fosse pelas
inegáveis belas músicas que se ouve na trilha sonora, pesquisada exaustivamente por
Andy Garcia, a obra poderia ser considerada um fiasco total.
Em entrevista à Folha de S. Paulo de 28 de julho de 2006 para o jornalista Eduardo
Simões, o diretor que fez seu primeiro longa metragem de ficção declarou:
"A real motivação para o filme foi fazer um tributo à música e à cultura de Cuba,
voltando o olhar para este momento específico em que houve uma mudança
dramática na ideologia do país, algo que separou muitas famílias"; "Sou um produto
desta história, sempre tive uma nostalgia profunda da cultura deste país que deixei
quando ainda era uma criança. Daí o objetivo do filme ser contar essa história usando
a música como seu protagonista".
O equívoco já começa na proposta. Um filme, pelo que se vê no resultado nas telas,
que pretende ser uma visão crítica tanto da era ditatorial de Fulgêncio Batista como
dos desencantos com uma revolução que traiu seus ideais e não foi democrática, não
pode ter a música como protagonista. Assim, o que resulta é um festival de
seqüências onde paira a sombra incômoda da inautenticidade. Quando o filme se vale
de cenas de arquivo da época retratada e até insere digitalmente Fico (Andy Garcia) e
Aurora (Inés Sastre) entre homens do povo (seres cuja aura, o filme não consegue
capciosa e tendenciosamente captar) a falsidade do que estamos assistindo se torna
mais patente, quando não estamos no alívio dos números musicais.
A Família de classe média alta Fellove é composta pelo pai, um professor
universitário, Federico (Tomás Milián), a mãe Cecilia (Millie Perkins), o filho mais
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velho Fico que administra um prestigiado clube noturno, “El Trópico” (baseado numa
casa noturna real, A Tropicana), Ricardo (Enrique Murciano), Luis (Nestor
Carbonell), sendo estes dois mais novos, francamente favoráveis à queda de
Fulgêncio Batista. Luis chega a liderar um atentado ao palácio onde se instala o
ditador. A resistência à revolução, a vitória de Fidel Castro, Che Guevara, os
comandados e o encaminhamento desta ditarão o destino destes personagens.
Como a música cubana é a menina dos olhos de Andy Garcia neste painel de
contradições, esperanças e decepções que tenta montar, até mesmo a invasão do
palácio tem como trilha sonora uma música dançante e vibrante, o que esvazia e de
certo modo ridiculariza o potencial dramático destas cenas. Os personagens de modo
geral são mal delineados. A história de amor entre Fico e Aurora, sua cunhada viúva,
é muito frágil. Bill Murray faz um escritor que acompanha tudo à distância, emite
suas boutades e platitudes, se escondendo às vezes atrás de um leque, acabando aqui
por dar razão aos seus detratores habituais: como seu personagem é sub-aproveitado e
construído temos realmente a impressão de que ele está simplesmente sendo ele
mesmo, o que não acontece em “Flores Partidas” de Jim Jamursch, por exemplo,
onde trabalha com uma sutil e aparente calma que camufla seu desespero, desamparo
e solidão. Dustin Hoffman que está em destaque no cartaz do filme faz uma irrisória
ponta como o mafioso Meyer Lansky, o que sugere muito mais a necessidade de dar
uma força ao seu amigo ator, do que se constituir num personagem
dramaturgicamente relevante. Batista (Juan Fernandez) nos é mostrado como
completa caricatura.
Se o filme não caminhava bem, quando a revolução se torna vitoriosa, desanda ainda
mais. A visão que o filme apresenta dos revolucionários e principalmente de Che
Guevara (Jsu Garcia) mostrando-os extremamante ridículos, torna-se também
ridícula. Pode ter sido uma boa vingança do roteirista exilado Cabrera Infante, mas
Che na visão de Andy Garcia só falta comer criancinhas. Não tem nuances. Não se
pretende aqui que o filme apresente uma aura de santidade para este mito, mas o que
se vê é uma caricatura grosseira. Para fazer o serviço completo do anti-castrismo
feroz e inconseqüente faltou coragem para mostrar Fidel escovando a barba espessa
enquanto um camarada fuzila alguém no paredón... Luis, agora vencedor, vai às
terras do tio Don Donoso e lhe dá arrogantemente a notícia de que seu latifúndio
agora é do Estado. O velho cai no chão de imediato acometido por um infarto ou um
mal súbito. No afã de criticar a nova ordem, Andy Garcia faz, no seu épico musical
malogrado, o que deveria ser trágico, tornar-se patético e um tanto cômico. Uma
revolucionária vai ao El Tropico e proíbe o uso de saxofone, como uma vilã de
novela da Globo, porque o instrumento é originário da Bélgica e este estava sendo um
país colonialista... Cabreira Infante pode até ter presenciado cenas como essa
enquanto ainda estava em Cuba, mas a forma como Garcia encenou é por demais
(mais uma vez a palavra se torna imperativa) caricata. Um problema adicional se
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junta aos já referidos: como há cubanos falando inglês neste filme! Será que é porque
as pessoas comuns do povo estão ausentes?
“Havana Blues” de Benito Zambrano (Espanha/ Cuba/2005), filme pouco visto,
consegue ser ao mesmo tempo um crítico panorama dos impasses atuais de Cuba
como também um belo painel da música cubana contemporânea. O clássico
“Memórias do Subdesenvolvimento” (Cuba/1968) de Tomás Gutiérrez Alea se centra
nas angústias e contradições de um intelectual burguês que se vê sozinho em Havana
após a partida de sua esposa e de seus pais, na Cuba recém-revolucionada. “Soy
Cuba” (Cuba/1964) de Mikhail Kalatozov nos mostra acontecimentos e os
movimentos que antecederam a revolução com extraordinária beleza plástica. Já um
grande filme que seja abrangente e que capture no tempo a Cuba de Batista e sua
euforia, seu clima paradisíaco para os que têm dinheiro, os movimentos para a
revolução propriamente dita, as ilusões perdidas com o regime autoritário recéminstalado, pelo que conheço, ainda está para ser feito. Andy Garcia sonhou com este
filme. Sua inabilidade, ao dar ênfase constante à música cantada e dançada em
detrimento de uma sólida estrutura dramática que deveria apresentar personagens
sólidos (o professor é uma das raras exceções) o fez cair na cilada de fazer “macumba
para turista”. Ou melhor, santeria para turista. Uma mulher em transe se aproxima de
Fico e Aurora e sopra-lhes aos ouvidos o quanto estão inadaptados para os novos
tempos. O mesmo se pode dizer em relação a este filme maniqueísta, sem alma e sem
substância.
O mérito do filme nos vem por via transversa: ele é útil para compreendermos como
se forma o imaginário sobre Cuba, que até mesmo para americanos (ou cubanoamericanos) com cultura acima da média daqueles que confundem Brasília com
Buenos Aires, é deformado segundo fantasmas narcísicos da eterna desconfiança em
relação a esta ilha que ousou desafinar o coro dos contentes do consumismo
desvairado, há mais de quarenta anos ainda intriga e cria suspense para muita gente,
principalmente agora em que a saúde de Fidel requer muitos cuidados e um irmão
mais novo deve governar.
O título do filme, “A Cidade Perdida” tem conotações comprometedoras. Será que a
cidade de Havana, com suas casas noturnas e bordéis de luxo (o que Garcia omite)
para os ricos, com todos sob o tacão de Fulgêncio Batista, teve uma perda que se
deve lamentar profundamente? Perdida para quem, cara pálida? m
Ps1. O ator e diretor Mel Gibson, que se declarou em luta íntima com o alcoolismo,
recentemente pagou 5000 dólares de fiança para não ser preso por dirigir embriagado a
160 Km/hora e assim esperar em liberdade o seu julgamento, o que já aconteceu outras
vezes. Na terra de Tio Sam como aqui no Brasil, a lei favorece os ricos. O pobre,
quando bêbado negligente e perigoso, já fica mofando direto no xilindró. Enquanto
fatos como este ocorrerem, por mais defeitos que se possa encontrar na biografia de
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Ernesto Che Guevara, por mais que seus pés mostrem o barro de que são feitos, muitos
de seus ideais ainda serão eternos e prementes.
Ps2 Se Andy Garcia conversasse com seu profícuo e versátil diretor na franquia “12
Homens e Outro Segredo”, Steven Soderbergh, que está realizando também um filme
sobre os últimos meses de Che, mostrando o que aconteceu anos depois àquele menino
sonhador de “Diários de Motocicleta” de Walter Salles, entenderia que Che é um ser
muito mais complexo do que a raposa insensível que nos mostra em seu “A Cidade
Perdida”.
GUERRA LÍBANO X ISRAEL
Meu caro Fritz. Por mais uma vez você dá vazão à sua indignação no texto em que
questiona “Cadê a racionalidade do animal homem?” e o conclui se desculpando pelo
desabafo. Desculpas plenamente dispensáveis, pois expressastes o que muitos
sentimos.
É atribuído a Martin Luther King o dito de que “Os homens aprenderam a nadar como
os peixes, aprenderam a voar como os pássaros, mas não aprenderam a viver como
irmãos”. Creio que isso responde parcialmente ao seu título indagativo.
Em sua coluna desta semana em NoMínimo, Villas-Bôas Corrêa conclui afirmando
com uma expressão muito feliz que “a raiva, bem utilizada, é um santo remédio. Cura
até sem-vergonhice.”
Antonio C. Sarkis Issa
Não precisava se desculpar nem pelo word nem pelo desabafo.
Não foi um problema ler em word e foi emocionante ler seu desabafo. Um abraço,
Érima
Caro Fritz: Parabéns pelo seu desabafo. Ele estava entalado na minha garganta
também. Grande abraço.
Walter Fontoura
Querido Fritz - obrigada pelo maravilhoso "desabafo" que você acaba de fazer no
Mont 194. Magnífica aula de História. Apesar de ser de ascendência judaica, é
exatamente como penso e vejo o horror desta guerra.O que me entristece é o teu
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desalento, em grande medida também meu. Mas a vida continua e o jeito é continuar
lutando e indignando-se. Com certeza, estarei na festa dos 200, para te dar um abraço.
Fanny Tabak
Fritz. Acabo de ler o número 194. A respeito dos judeus, atualmente, parece-me que
o que há tempos estão fazendo, compara-se ao que os nazistas fizeram. E, ainda por
cima, ao invés de serem combatidos, com o beneplácito, aliás, não só beneplácito,
mas apoio explícito da dupla B & B. Nostradamus não disse que o fim do mundo
viria do oriente médio? Está começando...
Ruy Barros. Cuiabá
Prezado Fritz: Estava lendo os jornais de 5ª feira quando vi aquelas imagens de
crianças mortas por foguetes de alto alcance, sem rumo e sem atingir o destino que
deveria ter:o Hezbollah. Não deveria comparar o fato ao que os nazistas fizeram
durante a guerra contra, principalmente, os judeus, incluindo experiências com
crianças. Mas saber que hoje,Israel está atacando, não seus inimigos do Hezbollah,
mas civis em seus refúgios... Hitler era um monstro, um cruel, um sangüinário... Dele
tudo, por pior que fosse, pedia se esperar, mas dos judeus, que foram as principais
vítimas dos nazistas, jamais se esperaria a perversidade de atacar campos de
refugiados onde a maioria era formada por crianças, cujos pais para ali as levaram,
julgando que estariam seguras. Com as mesmas armas que os americanos estão
usando para acabar com o Iraque, como já o fizeram com o Afeganistão, Israel está
acabando com o Líbano, sem por fim ao Hezbollah.
Desculpe-me, afinal você foi vítima dos nazistas que impediram o casamento de seus
pais. Mas, tendo D. Elsa como uma heroína, que defendeu o fruto de seu amor,
você está vivo e em um país que, por pior que seja, não tem guerra feroz, nem
terremoto, nem vulcão, nem furacão...e onde judeus, palestinos e árabes vivem em
harmonia, principalmente em um lugar chamado Saara (sem ser deserto).
Desculpe-me, mais uma vez, escrevi sob a emoção daquelas fotos. Analisando-as
hoje, elas são menos cruéis que as daquelas crianças mortas, friamente, pelos
americanos no Iraque, com tiros à queima-roupa, na cabeça; fato ocorrido
recentemente.
Você já sabe que sou fanática (?) NÃO! admiradora de Carlos Galhardo. Vou ouvi-lo
agora para lavar minha alma e esquecer as mazelas de nosso país e do mundo.
Há, também, bonitas coisas acontecendo por aqui. Você leu ontem, em "O Globo",
que uma cientista escocesa chegou à conclusão que o Azul de nosso céu é o mais
bonito do mundo? Já Alcir Pires Vermelho e David Nasser, pela voz de Francisco
Alves, diziam: "aqui se encontra o meu país, o meu Brasil grande e tão feliz,onde o
céu azul é mais azul..." Beijos,
Norma Hauer
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J.R. TEIXEIRA LEITE
Caro Fritz: Dona Leneide tem toda razão ao elogiar o José Roberto Teixeira Leite. Foi
puro prazer ler o artigo "Reformas Ortográficas".Quero mais! Já a questão da
interminável guerra entre judeus e árabes foi magistralmente destrinchada por você no
editorial "Cadê a racionalidade...". Infelizmente, para todos nós (porque nada impede
que esta guerra acabe por nos atingir, como já fez com tantos civis inocentes em Nova
York, Londres, Madri e tantos outros lugares - que Deus nos livre), não há solução à
vista, apenas mais explosões e cadáveres.
Marcílio Abritta
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A GUERRA
QUE NÃO ACABA
Há quase 40 anos, no dia 5 de
junho de 1967, estourou a
chamada “Guerra dos seis dias”,
que na verdade terminou em
cinco, com a vitória esmagadora
de Israel. Os israelitas resolveram
atacar devido a uma aliança
contra o Estado Judeu, formada
pelo Egito, Síria e Jordânia,
liderada pelo dirigente egípcio
Gamal Abdel Nasser.
Israel ocupou a Península do
Sinai, a Faixa de Gaza, as Colinas
de Golan e a Cisjordânia. O herói
da guerra foi o general Moshe
Dayan, com seu tapa-olho
característico.
Nasser começou a declinar como
líder do mundo árabe e morreu
três anos depois. Nas fotos vemos
um judeu ortodoxo e um retornado
do front, em trajes civis, mas com
um “colar” sugestivo, ambos
orando ante o Muro das
lamentações. Na segunda foto
vemos um soldado israelense
observando uma refinaria egípcia
em chamas. Na terceira, refugiados
palestinos atravessam uma ponte
sobre o Rio Jordão demolida na
tentativa – inútil – de impedir a
investida israelense. O conflito
continua até hoje, mas naquela
época o fundamentalismo islâmico
ainda não existia.
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VERÃO DE 45 RESULTA
NO INVERNO DE 2006
E
m uma de minhas últimas crônicas a figura da velha tonta era – confesso –
uma licença poética. Pensava eu! Mas diante do acontecido há poucas
horas, vejo que não é. Parada à espera da abertura do sinal na Macedo Sobrinho com
a rua Humaitá, ao lado de um jovem rapaz negro que fazia o mesmo, estava eu às
voltas com a solução de um sério problema: ir primeiro à loja de ferragens e depois à
padaria ou vice-versa. Podem imaginar vocês que isto não exigisse uma séria
reflexão, mas ela – a reflexão - era, sim, necessária. Na padaria eu teria que, feitas as
compras, pedir que entregassem em casa e não havia ninguém para recebê-las,
portanto eu deveria sair correndo antes que o eficiente entregador as trouxesse. E
correr ladeira acima hoje em dia é uma impossibilidade. Tudo parecia recomendar
deixar a padaria para o segundo lugar. Mas ocorre que na loja de ferragens dar-se-ia a
mesma situação. È óbvio que eu poderia pedir a ambos que retardassem a entrega.
Melhor seria fazer este pedido na loja de ferragens porque na padaria eu compraria
congelados e.... o sinal abriu, fechou de novo e eu nem me apercebi, perdida que
estava em meus pensamentos. E eis que sinto a mão do jovem negro pousar em meu
braço com delicadeza. Volto-me surpresa para ele:
“A senhora está confusa, não está”?
Sem me dar conta do que estava acontecendo respondo surpresa, ainda no tom de
minha dúvida.
“Estou mesmo. Não sei se vou à padaria ou à loja de ferragens”.
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A voz mansa veio carinhosa junto com o apoderar-se firme de meu braço:
“Não é melhor ir para casa? Eu levo a senhora...”.
Só então me dei conta do que estava sucedendo. Minha gargalhada desconcertou o
rapaz que desfeito o mal-entendido tentou desculpar-se, envergonhado. Tratei logo de
deixá-lo à vontade, descartando as desculpas.
“Não fica assim. Você foi muito legal, juro. Espero que esteja ao meu lado quando e
se de fato acontecer o que você pensou que estivesse acontecendo. Eu estou muito
agradecida, acredite. E olha, aceito seu braço para atravessar a rua”.
Do outro lado, nos despedimos e ele se foi para esquerda e eu para direita. Mandei
para longe a torrente de pensamentos que de mim tomou conta. Não posso me
arriscar a uma segunda vez no mesmo dia, pensei. Melhor deixar pra pensar em casa.
Guardadas as compras (primeiro as da padaria depois as da loja de ferragens) o
telefone soa. Uma amiga, a quem relato o divertido incidente. Pasmei diante da
reação. Ela ficou indignada: que desaforo! Pensar que você está gagá. Não houve
jeito de convencê-la de que tudo levara a crer ao jovem que de fato eu estava
completamente desorientada e que ele havia sido mais que gentil. E se tivesse sido
verdade o que ele intuíra? Não seria incrível o preocupar-se em devolver à segurança
da casa aquela confusa senhora? Mas não teve jeito. Ela não se rendia aos meus
argumentos. E às tantas declara: você está ótima! Esta afirmativa entusiasmada
evidenciou que isto era um feito memorável e que eu estava, contra todas as
probabilidades, “ótima”. Mas o mais absurdo veio depois: “você fica achando graça
neste rapaz détraqué!”. Sem se dar conta, com esta palavra, ela estava denunciando a
idade. Ninguém mais diz isto! Détraqué?! Aquele simpático rapaz? Desisti de
convencê-la e voltei às minhas elucubrações: eu havia perdido uma oportunidade
única que provavelmente é oferecida a poucas pessoas. E se eu tivesse assumido o
papel e fingisse que realmente estava totalmente desorientada? Poderia viver um
episódio que se um dia de fato ocorrer, dele não vou ter consciência. Como é que
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aquele rapaz conseguiria descobrir minha casa, minha família? Como é que reagiriam
as pessoas a quem pedisse ajuda ou informações? Eu havia mencionado a padaria.
Será que ele iria até lá me levando a reboque, buscando uma identificação? E como é
que se comportaria aquela simpática moça que sempre me atende? Ela sabe meu
endereço. Viria com ele até aqui? O dois me amparando ladeira acima? Não tendo
ninguém em casa o que faria o novo porteiro que não é mais o Zé de tantos anos e
mal que me conhece? Como é que durante todo este processo se relacionariam
comigo? Seria como o ensaio geral de um futuro possível. E eu que perdi isto! Esta
encenação seria, é claro, uma maldade e do maior mau-caratismo com aquelas boas
almas que, tenho certeza, me ajudariam. Teria sido mau fazer isto. Mas para mim
poderia ser uma experiência incrível e tenho certeza vivida por poucos. Volto a
telefonar para a amiga para contar o que estava maquinando e eis que ouço dela numa
voz indignada: “sabe de uma coisa? Você mereceu o desaforo. Está mesmo gagá!” m