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Leandro G. M. Govinda
formou-se em Direito na
Universidade Federal de
Santa Catarina e é especialista
em Direito Tributário pela
Universidade do Sul de Santa
Catarina. Foi pesquisador do
CNPq, escriturário do Banco
do Brasil, Técnico da Receita
Federal, Auditor-Fiscal da
Receita Federal e Procurador
da Fazenda Nacional.
Atualmente, é Promotor de
Justiça do Ministério Público
de Santa Catarina e Professor
da Universidade do Sul de
Santa Catarina e da Escola do
Ministério Público. Escreveu
artigos publicados na Revista
Tributária e de Finanças
Públicas e na Revista Fórum
de Direito Tributário.
CONCURSO PÚBLICO
a experiência de quem já foi aprovado
Leandro G. M. Govinda
Ribeirão Preto, SP
2015
IELD Locação, Edição e Vendas de livros Ltda.
Rua Amadeu Amaral, 340 – cj 42 – Vila Seixas
Ribeirão Preto-SP – CEP: 14020-050
Capa e projeto gráfico:Marcos Roberto Nicoli Jundurian
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Govinda, Leandro G. M.
Concurso público : a experiência de quem já foi aprovado /
Leandro G. M. Govinda. – Ribeirão Preto, SP: IELD, 2015.
ISBN: 978-85-67059-43-3
1. Concursos públicos - Guias de estudo I. Título.
15-01944
CDU-35.082.1(81)(079)
Índice para Catálogo Sistemático:
1. Brasil : Concursos públicos : Preparação :
Administração pública : Direito administrativo 35.082.1(81)(079)
Leandro G.M. Govinda foi aprovado no vestibular para Direito da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul aos 16 anos (1996). No
ano seguinte, foi aprovado no vestibular para Direito da Universidade Federal de Santa Catarina (1997). Durante a faculdade, foi
aprovado nos concursos de Escriturário do Banco do Brasil (1999),
de Técnico da Justiça Federal (2000) e de Técnico da Receita Federal (2002). Já graduado em Direito, foi aprovado no exame da Ordem
dos Advogados do Brasil (2003). Depois, foi aprovado nos concursos de Auditor-Fiscal da Receita Federal (2004), Procurador da Fazenda Nacional (2006) e Promotor de Justiça do Ministério Público
de Santa Catarina (2013).
Ao meu mestre e amigo Alexsandro Luiz dos Santos,
um exemplo de perseverança.
Respeito as pessoas que alcançam os seus objetivos, mas admiro de
verdade aquelas que incansavelmente lutam para chegar até eles.
SUMÁRIO
Introdução.................................................................................... 13
Capítulo 1
Mitos sobre concursos................................................................ 17
Capítulo 2
O perfil de um aprovado em concurso público....................... 23
2.1.Foco................................................................................ 24
2.2.Disciplina...................................................................... 25
2.3.Persistência.................................................................... 29
Capítulo 3
Primeiros passos.......................................................................... 35
3.1. A escolha do cargo....................................................... 35
3.2. Estudando o edital........................................................ 40
3.3. Arsenal de estudo......................................................... 46
Capítulo 4
Planejamento............................................................................... 55
4.1. Cronograma e metas.................................................... 55
4.2. Rotina de estudos......................................................... 61
Capítulo 5
Começando a estudar................................................................. 67
5.1. Organizando a agenda................................................. 67
5.2. Dicas gerais na hora de estudar.................................. 75
5.3.Simulados...................................................................... 79
5.3.1. Provas objetivas.................................................. 81
5.3.2. Provas discursivas.............................................. 82
5.3.3. Provas orais......................................................... 84
Capítulo 6
Dicas de prova.............................................................................. 89
6.1. Prova objetiva............................................................... 91
6.1.1. Atenção, atenção e atenção............................... 91
6.1.2. A arte de chutar.................................................. 93
6.1.3. Preenchimento do gabarito.............................. 99
6.2. Provas discursivas........................................................ 103
6.2.1. Questões teóricas............................................... 108
6.2.2. Questões práticas............................................... 111
6.3. Prova oral...................................................................... 118
6.3.1. Entrevista............................................................ 118
6.3.2. Prova oral............................................................ 121
Capítulo 7
Reta final....................................................................................... 137
7.1. A última semana........................................................... 137
7.2. O grande dia.................................................................. 141
Introdução
INTRODUÇÃO
O plano de escrever um livro nasceu justamente durante a minha preparação para um concurso público. Era uma linda manhã de
outono. Eu estava recluso no sítio dos meus pais, localizado em Ratones, uma zona rural na ilha de Florianópolis. Lá encontrei o sossego necessário para os estudos. Durante o intervalo matinal, quando
aproveitava para comer alguma coisa e descansar um pouco a mente,
pensei que poderia escrever um livro para compartilhar a minha experiência de preparação para concursos públicos, já que havia sido
aprovado em quase uma dezena de provas.
O primeiro concurso que prestei foi o vestibular para Direito
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Na época,
janeiro de 1996, tinha apenas dezesseis anos. No final daquele mesmo
ano, minha família havia se mudado para Florianópolis. Como desejava muito morar na ilha, fiz o vestibular para Direito novamente,
dessa vez da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sendo
também aprovado.
Em 1999, durante a faculdade, passei no concurso para escriturário do Banco do Brasil. No ano seguinte, prestei concurso para
técnico do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Fui aprovado e
poderia ter assumido o cargo em Lages, na serra catarinense, mas
preferi ficar em Florianópolis para terminar a faculdade.
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Leandro G. M. Govinda
No final da faculdade, mais precisamente no último semestre de
2002, fiz o concurso para Técnico da Receita Federal (hoje o cargo é
chamado de Analista-Tributário da Receita Federal do Brasil). Passei
e assumi o cargo, que era de nível superior, na Alfândega de São Francisco do Sul/SC, três dias depois da colação de grau na faculdade, em
março de 2003.
Logo em seguida passei no exame da Ordem dos Advogados
do Brasil de Santa Catarina, na época organizado por cada seccional.
Continuei estudando e, no final do ano de 2003, fui aprovado
no concurso para o cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal. Esse
foi o concurso mais difícil que já prestei, não tanto pelo nível de exigência da prova, mas pela multidisciplinaridade dos conteúdos do
edital, que abrangia matérias na área de direito, contabilidade, relações internacionais, comércio exterior, matemática financeira, estatística, português, língua estrangeira, entre outras. Como fiquei bem
colocado, consegui escolher uma das vagas abertas na Alfândega de
São Francisco do Sul. Assim, meu salário dobrou e não precisei nem
mudar de mesa! Depois de ter sido aprovado nesse concurso, fiquei
mais ou menos um ano longe dos livros.
Passado um tempo, comecei a ficar inquieto e insatisfeito no
cargo que ocupava. No outono de 2005, decidi voltar a estudar.
Em 2006, prestei o concurso para Procurador da Fazenda Nacional. Fui aprovado, mas a nomeação já ocorreu um ano depois, em
maio de 2007.
Em julho de 2012, novamente voltei aos estudos e, em abril de
2013, prestei o concurso para Promotor de Justiça do Ministério Público de Santa Catarina, cargo que atualmente ocupo.
Apesar de alguns amigos já me perguntarem qual será o próximo concurso que vou fazer, isso não está nos meus planos. Porém,
entre os afazeres pessoais e profissionais, reservei algum tempo para
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Introdução
escrever esse livro, a fim de compartilhar essa minha experiência em
concursos públicos com as pessoas que pretendem iniciar uma jornada parecida.
E antes que alguém pense que esse é um livro de autoajuda,
adianto que não! Autoajuda “é tudo aquilo que tem o poder de transformar em fácil tudo aquilo que é extremamente difícil para a maioria
absoluta dos mortais”.1 Caro leitor, esteja certo de que não pretendo
criar a ilusão de que uma jornada de estudos para um concurso público é fácil.
Ao contrário, o que pretendo com esse livro é, talvez, alertá-lo
para o mar de dificuldades que irá encontrar no caminho e mostrar
que a superação depende de muito empenho, vontade e determinação.
Outro propósito da obra é simplesmente compartilhar os acertos e os erros das minhas experiências. Com certeza, o êxito em um
concurso depende dos acertos, mas não se pode perder de vista que
alguns equívocos podem comprometer todo o esforço.
Bons estudos e boa sorte!
1 Max Gheringer apud KIVITZ, Ed René. Vivendo com propósitos. São Paulo:
Mundo Cristão, 2003, p. 26.
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Mitos sobre concursos
Capí t ulo 1
Mitos sobre concursos
Antes de começar a estudar, você precisa desmistificar algumas ideias bastante difundidas popularmente, especialmente entre
aqueles que não estudaram Direito e, por isso, nunca pensaram em
seguir uma carreira pública. É que os estudantes de Direito, desde
o princípio da faculdade, têm muito contato com o serviço público.
Alguns porque os pais já são funcionários do estado; outros porque
fazem estágio em órgãos públicos; e tem aqueles que, desde antes de
ingressar na faculdade, já alimentam o sonho de ocupar um cargo
público.
Um dos mitos mais marcantes é o de que, para passar em um
concurso público, é necessário ter o famoso Q.I. (quem indica). Na
verdade, esse mito tem uma origem verdadeira, porque, antes da
Constituição de 1988, o concurso público não era obrigatório. Então,
muitos cargos públicos eram mesmo preenchidos por simples indicação de políticos influentes.
Porém, desde 1988, a regra é a realização de concurso público para habilitar pessoas ao exercício de cargos públicos efetivos. Só
excepcionalmente alguns cargos podem ser ocupados por pessoas
escolhidas ao belprazer daquele que nomeia. São os famigerados cargos em comissão, que deveriam ser reservados exclusivamente para
atribuições de direção, chefia e assessoramento, conforme previsto no
art. 37, V, da Constituição Federal.
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Leandro G. M. Govinda
Apesar da mudança operada com a nova Constituição, muitas
pessoas continuam achando que o concurso público, na maior parte
dos casos, é apenas um engodo e que, no final das contas, as pessoas
são escolhidas a partir de indicações políticas.
Bem, é verdade que um concurso público, como qualquer outro
procedimento administrativo, pode estar viciado por alguma fraude
que propicie o ingresso de pessoas pela janela. Não é raro a imprensa
denunciar o acesso antecipado a provas e gabaritos de certames públicos. Lembre-se dos escândalos envolvendo as provas do ENEM.
Inclusive, o crescimento dessa prática motivou o legislador a criar
um novo tipo penal para punir aqueles que fraudam concursos ou
processos seletivos (art. 311-A do Código Penal, acrescentado pela
Lei 12.550/2011).
Porém, essas fraudes não devem desanimar aqueles que gostariam de participar de um certame. Primeiro, porque a fraude é excepcional. Quer dizer, a imensa maioria dos concursos é realizada
sem fraudes. Segundo, é possível mesmo que em muitos concursos
algumas pessoas tenham acesso às provas ou gabaritos, mas isso, apesar de extremamente odiável e repugnante, não significa que todas as
vagas do concurso serão preenchidas só por pessoas envolvidas com
a fraude. Quer dizer, quando se realiza um concurso para preencher
dezenas, centenas ou milhares de vagas, pode ser que uma ou outra
vaga seja preenchida por aquele que recebeu informações privilegiadas sobre o concurso. Mas está claro que a imensa maioria das vagas será ocupa por pessoas que não têm qualquer relação com essa
ilegalidade. São pessoas que foram aprovadas simplesmente porque
estudaram o suficiente para isso.
Um amigo meu contou que, quando começou a estudar para
concursos, o sócio dele comentou que era uma perda de tempo, pois
esse negócio de concurso tinha esquemas e só passava quem fazia
parte do grupinho. O meu amigo não deu bola para isso e seguiu
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Mitos sobre concursos
estudando. Resultado: hoje ele é Auditor-Fiscal da Receita Federal.
O sócio dele, percebendo que o amigo foi aprovado, resolveu estudar
também e, hoje, eles são colegas de trabalho.
Então, dizer que os cargos são ocupados só por meio de apadrinhamento político é um mito. Alguns cargos são preenchidos desse
modo, seja por serem cargos de livre nomeação, seja por fraudes no
certame. Mas a quase totalidade dos cargos públicos são ocupados
por pessoas absolutamente idôneas que estudaram e se submeteram
à prova, independentemente de qualquer influência deste ou daquele
político.
Portanto, esse mito não será a sua desculpa para não estudar.
Outro mito é de que o concurseiro precisa estudar 24 horas por
dia e sete dias na semana para passar. Bem, se a pessoa pretende estudar apenas no período compreendido entre a divulgação do edital
e a realização da prova, geralmente dois meses, então talvez isso seja
verdade.
A minha experiência, no entanto, permite concluir que essas
pessoas que estudam às vésperas da prova (ou dizem que estudam)
nunca são aprovadas. Ora, vencer o conteúdo programático da prova nesse curto espaço é praticamente impossível, mesmo estudando
freneticamente.
Um concurso não exige um esforço sobre-humano para aprovação. Estudar até a exaustão só vai contribuir para uma estafa mental,
inviabilizando o aprendizado e a memorização dos conteúdos estudados.
Certamente, algumas pessoas estudam mais do que outras para
passar em uma mesma prova. Isso varia conforme a capacidade e a inteligência de cada um. Mas ninguém precisa abdicar da sua vida pessoal e social para se dedicar aos seus estudos. Aliás, esse é outro mito:
pensar que, enquanto está estudando, não pode sair de casa, divertir
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Leandro G. M. Govinda
-se, fazer atividade física, conviver com familiares e amigos. Muitos
pensam que se ocupar com outras atividades significa perder tempo,
enquanto outros candidatos estariam debruçados sobre os livros.
Nada mais falacioso. A imensa maioria das pessoas aprovadas
em concurso que conheço, eu inclusive, tinham uma rotina normal:
trabalhavam, estudavam, frequentavam a academia, iam ao cinema,
jantavam com amigos, entre outros programas descontraídos. Logicamente, como tudo na vida, essa rotina exige equilíbrio. Não dá para
alguém querer sair todas as noites, embebedar-se e, no dia seguinte,
pretender estudar alguma coisa.
O importante é estabelecer uma agenda semanal, fixando um
tempo para estudar e um tempo para realizar outras atividades. Fazer
exercícios físicos, dar atenção à família e manter um convívio social é
saudável para o corpo e para a mente e até contribui para aumentar o
rendimento dos estudos.
Eventualmente, essas atividades poderão sofrer alguma limitação. Por exemplo, no período do edital do concurso é normal intensificar os estudos, pois o candidato está na reta final e, aí sim, vale um
esforço extra para conseguir vencer o programa de estudos. Porém,
ordinariamente, o concurseiro vai ter uma vida normal.
Finalmente, um último mito consiste em pensar que é preciso
ser muito inteligente para passar em um concurso público. Para os
cargos mais cobiçados, então, teria que ser um gênio. Não é verdade.
Aliás, um gênio certamente pensaria em fazer algo que rendesse muito mais dinheiro e bem menos trabalho do que uma carreira pública.
Eu mesmo conheço diversas pessoas que, apesar de aprovadas em
processos seletivos dessa natureza – algumas em mais de um, diga-se
de passagem – têm, digamos, muitas limitações psíquicas.
A aprovação no concurso exige foco, disciplina e persistência.
Em uma palavra: esforço, na verdade muito esforço. É claro que ser
inteligente ajuda bastante. Mas o fator fundamental que diferencia as
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Mitos sobre concursos
pessoas aprovados dos demais candidatos é, sem sombra de dúvidas,
o empenho e a dedicação aos estudos.
Portanto, se você está disposto a direcionar as suas energias para
esse objetivo, se tiver disciplina e for persistente, então você reúne
todas as condições para ser aprovado em um concurso público.
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O perfil de um aprovado em concurso público
Capí t ulo 2
O perfil de um aprovado
em concurso público
O concurso público é apenas um método de selecionar pessoas
para o exercício de cargos públicos. Isso significa que não necessariamente selecionará as pessoas mais aptas, mais vocacionadas ou
com os melhores currículos para o desempenho de certas funções.
A maior virtude da seleção por meio de um concurso é oferecer condições isonômicas de acesso para qualquer interessado. Esse método
pode ter muitos defeitos, mas, bem ou mal, é a maneira mais democrática e objetiva de seleção, pois permite que o cidadão comum dispute uma vaga em igualdade de condições.
O concurso público se assemelha muito a uma disputa esportista. Há regras pré-estabelecidas; há vários competidores; apenas um
será o primeiro colocado; e a preparação para o jogo ou a disputa
exige treinos antecipados.
O concurso é a mesma coisa: tem regras (o edital), competidores
(os candidatos), a classificação e a preparação (estudos).
Assim como qualquer esportista que pretenda ser um vencedor,
se você quer ser aprovado em um concurso, precisa se preparar para
as provas do certame. E, como disse antes, essa preparação envolve
três aspectos fundamentais: foco, disciplina e persistência.
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Leandro G. M. Govinda
2.1.Foco
Foco significa simplesmente concentrar a sua atenção em algo.
Focar é fazer convergir as suas energias em direção a um objetivo
predefinido. Alguém que pretenda realizar muitas coisas ao mesmo
tempo, via de regra, não faz nada direito e deixa muitos projetos inacabados. A melhor maneira de alcançar diversos objetivos é buscar
um de cada vez.
Então, você precisa definir como objetivo de vida ser aprovado
em um concurso público. A partir disso, a sua mente e o seu corpo
vão trabalhar para alcançar essa meta. Isso quer dizer que tudo o mais
ficará em segundo plano. Agora, ficar em segundo plano não significa
riscar do mapa da vida.
A vida em família, o convívio social, o trabalho, a academia,
as viagens e outros afazeres não precisam ser eliminados da rotina.
Apenas essas atividades devem ser programadas de modo a não inviabilizar o alcance do objetivo primordial estabelecido para aquele
momento da vida. É preciso lembrar que você não vai passar o resto
da vida estudando para um concurso. Trata-se apenas de um período
da sua vida, muitas vezes até curto, se comparado com a expectativa
de vida que pode alcançar 80 anos.
Ao longo da vida, é comum as pessoas estabelecerem prioridades e, a partir delas, moldar a sua rotina. Por exemplo, quando um casal resolve adquirir um imóvel próprio, precisa fazer uma economia,
o que vai exigir certas restrições orçamentárias. Nesse sentido, durante certo período (e não a vida toda), o casal vai evitar viajar, trocar de
carro, sair para jantar todas as noites, renovar o armário, entre outras
despesas supérfluas. Depois de adquirir a casa própria, certamente
esse casal voltará a ter aquelas despesas antes contidas para permitir
a realização do objetivo traçado.
Você vai fazer a mesma coisa: durante o período em que estiver estudando, certas atividades não serão eliminadas da rotina, mas
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O perfil de um aprovado em concurso público
ficarão limitadas. Para quem é casado ou tem filhos, isso não significa abandonar a família. De jeito nenhum. Agora, logicamente vai
brincar menos com o filho e vai sair menos com o companheiro ou a
companheira. Os solteiros também podem continuar saindo com os
amigos, mas certamente não poderão badalar todas as noites ou se
embebedar todos os finais de semana. Aqueles que adoram academia
poderão continuar malhando, mas não podem perder uma tarde inteira puxando ferro.
Particularmente, nunca deixei de fazer as coisas que gostava,
porque estava estudando para um concurso. Em geral, estudava rigorosamente durante a semana e, nos finais de semana, descansava
a mente namorando, surfando, saindo com os amigos. Até durante a
semana reservava momentos para lazer e descontração.
Agora, tudo isso com a devida moderação, porque o meu foco
estava sempre nos estudos. Então, ia para uma festa, mas não bebia
demais, porque sabia que, na segunda-feira, precisava estar descansado para retomar os estudos, e não de ressaca. Duas ou três vezes na
semana me ocupava com alguma atividade física, uma leitura descompromissada ou uma sessão de cinema.
Foco é isso: nunca perder de vista que há um objetivo a ser alcançado e moldar a rotina diária da vida de modo que as atividades
paralelas não impeçam nem prejudiquem a trajetória rumo a meta
estipulada.
2.2.Disciplina
Além do foco, você precisa ter disciplina. A disciplina engloba o
planejamento, a continuidade e o compromisso.
O planejamento serve para duas coisas basicamente. Primeiro,
permite que você organize o seu dia-a-dia e distribua as suas atividades no tempo. Tendo um plano, você poderá estabelecer uma rotina,
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Leandro G. M. Govinda
fixar metas, dividir o estudo em etapas, programar períodos de descanso. Enfim, o plano vai dar a você uma noção clara dos passos que
precisa seguir para alcançar o seu objetivo.
Além disso, o planejamento possibilita medir os seus resultados e, assim, acompanhar a evolução dos estudos. Uma vez traçado
o plano, você pode, de tempos em tempos, aferir se atingiu as metas
estipuladas para certo período, avaliar a necessidade de aumentar ou
diminuir o ritmo dos trabalhos, identificar os pontos que precisam
ser reforçados ou intensificados.
Esse planejamento, cumpri dizer, é de longo prazo, ou seja, no
mínimo um ano. Não adianta fazer um plano só para o mês seguinte.
Conheço muitos concurseiros que começavam estudando dez
horas por dia, inclusive nos finais de semana. Passadas algumas semanas, já estavam cansados e começavam a diminuir o ritmo até interromperem o projeto ao argumento de que estavam esgotados. Há
aqueles que estudam freneticamente durante três ou quatro dias e depois ficam semanas sem abrir os livros. E há também os concurseiros
que só estudam quando sobra um tempinho...
O que há de comum nesses três tipos de pessoas é a certeza do
fracasso. É o que se espera de um amador em uma competição oficial.
Se o seu plano para passar em um concurso é esse, então melhor nem
começar a estudar. O candidato que se organiza desse modo só está
perdendo tempo e dinheiro com a inscrição no concurso.
Aqui, a comparação com o esporte ilustra bem essa ideia: alguém consegue imaginar um esportista vencedor que treine forte durante algumas semanas e fique outras tantas parado? Ou, então, que
treine apenas quando sobre tempo na sua agenda? Lógico que não.
Esse só vai disputar uma prova para competir, nunca para vencer.
Mais importante do que a quantidade é a sequência de estudo.
Esse é o segundo aspecto do planejamento: continuidade ou regularidade.
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O perfil de um aprovado em concurso público
Um exemplo vai ajudar a compreender o que quero dizer. Imagine um candidato que estude dez horas por dia ao longo de três dias
numa determinada semana e, depois, fique o resto do mês parado.
Agora, imagine outro candidato que estude apenas uma hora por dia,
mas estude todos os dias da semana. Ao final do mês (quatro semanas), esse segundo candidato terá tido um tempo total de estudos
de 20 horas, enquanto o primeiro estudou 30 horas. A longo prazo,
quem estará mais bem preparado? Com certeza aquele que estuda
um pouco todos os dias.
A diferença entre os dois candidatos é a continuidade ou a regularidade dos estudos. É óbvio que um candidato que estude regularmente oito horas por dia todos os dias estará preparado para uma
prova bem antes do que outro que estude só uma hora por dia. Mas,
cedo ou tarde, ambos estarão igualmente preparados.
As turmas de aprovados em um mesmo concurso sempre reúnem pessoas com tempo diferentes de estudos. Alguns precisaram
poucos meses de estudo, porque tinham mais tempo disponível para
se debruçar sobre os livros. Outros precisaram alguns anos, porque
o tempo disponível para estudar era menor. Mas o traço comum a
todos é sempre a regularidade. Manter uma sequência de meses ou
anos de estudos foi o que garantiu a cada um deles chegar no nível de
preparação que permitiu ter êxito no certame.
Se você só pode estudar durante uma hora e em três dias da
semana, tudo bem. Mas reserve essa hora e esses três dias para isso,
do mesmo modo que você reserva um tempo para ir à academia, frequentar aulas de inglês ou jogar futebol com os amigos. Isso é continuidade.
Além do planejamento e da continuidade, a disciplina também
reclama compromisso, pois não adianta ter um plano e não cumpri-lo.
É preciso ser disciplinado para respeitar e cumprir a risca o plano que você mesmo definiu. Isso, inclusive, vai contribuir para man
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Leandro G. M. Govinda
tê-lo focado, pois, ao alcançar as metas determinadas, você se enche
de ânimo e disposição para enfrentar a etapa seguinte do seu plano.
Por outro lado, se o plano não é cumprido, a tendência é você perder
o vigor, ficando cada vez mais distante do seu objetivo.
Por isso, é importante ser realista no momento de estabelecer o
planejamento, começando por identificar os seus limites. E aí a questão do tempo é essencial no planejamento. A depender da realidade
de cada um, o tempo reservado aos estudos será maior ou menor.
Um sujeito solteiro e que tem a oportunidade de ainda ser sustentado pelos pais logicamente terá muito mais tempo de estudo do
que uma pessoa casada, com filhos e que precise trabalhar oito horas
por dia para sustentar a família. Isso quer dizer que o primeiro terá
mais chance de sucesso do que o segundo? De modo algum. A chance
dos dois serem aprovados em um concurso é rigorosamente a mesma. Como disse antes, a diferença é que, provavelmente, o candidato
com menos tempo disponível para estudar vai demorar um pouco
mais para alcançar o nível de preparação necessário para ser aprovado. Mas o que importa é que, cedo ou tarde, os dois vão atingir o
objetivo.
E não é só a questão do tempo que influencia no planejamento.
As pessoas têm habilidades cognitivas muito diversas. Por exemplo,
tem pessoas que possuem alto poder de concentração e, por isso, conseguem ler muito rápido e absorver tranquilamente o conteúdo lido.
Outras, porque são mais dispersas, precisam fazer uma leitura mais
lenta para poder compreender o mesmo conteúdo.
Assim, ao fazer o plano, seja realista e estipule metas que possam ser alcançadas. Se você só tem uma ou duas horas para estudar
e ainda lê devagar, não fixe como meta ler cem páginas, porque isso
não será factível e, ao final, você vai ficar frustrado com o seu desempenho. Isso quer dizer que você fracassou? Não. Significa apenas que
a sua meta era alta demais para a sua realidade. Então, reduza-a.
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O perfil de um aprovado em concurso público
Fazer um planejamento pressupõe que você conheça muito bem
a sua realidade, o que inclui conhecer a si próprio. Não trace o seu
plano espelhando-se em outras pessoas, porque as realidades são diferentes. E realidades distintas devem ser tratadas de modo distinto.
Organize o seu plano tendo em mente o seu universo, que é único.
Disciplina, a meu ver, é o aspecto mais difícil da preparação para
o concurso. Fazer o planejamento de longo prazo, dar continuidade
aos estudos e ter compromisso para cumprir esse plano implica renunciar muitos prazeres da vida. Ressalto uma vez mais que isso não
significa abdicar do convívio familiar ou social, mas certamente vai
exigir um esforço para acordar mais cedo do que o costume, perder
alguns capítulos da novela ou episódios do seriado favorito, não ir
à praia num dia de sol e muito calor, recusar muitos convites para
sair, perder uma oportunidade de viajar para a Europa, entre outras
tentações. Você vai poder fazer algumas coisas, enquanto estuda, mas
certamente também vai precisar deixar de fazer outras tantas para
justamente poder estudar. Como diz o ditado, cada escolha, uma renúncia.
Então, prepare a sua mente para isso. Se serve de consolo, garanto a você que a satisfação de ser aprovado em um concurso compensa
esses sacrifícios.
2.3.Persistência
Finalmente, o terceiro aspecto da preparação para o concurso é
a persistência.
Conforme deixei claro, a preparação para o concurso exige um
planejamento de longo prazo. Durante esse período, que varia de
acordo com o nível de dificuldade da prova, a extensão do programa
do edital, o tempo reservado para estudo e a sua disposição, a rotina é
por demais cansativa e, não raro, enfadonha. Qualquer um consegue
acordar e dormir no mesmo horário durante uma ou duas semanas.
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Leandro G. M. Govinda
O difícil é manter essa rotina durante meses ou anos a fio. Enquanto
a prova não chega, você precisa adiar muitos outros planos e isso dá
uma sensação terrível de que a vida está passando em brancas nuvens. Mas essa impressão é errada, porque você está trabalhando todos os dias para conquistar o seu objetivo que é ser aprovado em um
concurso público.
A boa notícia é que o ser humano tem uma alta capacidade para
se adaptar às circunstâncias mais adversas. Então, se conseguir manter o foco e a disciplina nos primeiros meses, logo o candidato se
acostuma e já nem lembra como era a vida antes dessa fase. É o princípio da inércia atuando: depois de começar o movimento, a tendência é continuar nesse ritmo.
O problema não é manter a disciplina e a rotina. O seu drama
verdadeiro será superar as frustrações que certamente serão colhidas
ao longo da preparação.
Mais uma vez a comparação com o esporte é construtiva: os atletas olímpicos preparam-se ao longo de quatro anos para participar
das Olimpíadas. Em muitos esportes, como a ginástica, por exemplo,
o esportista faz toda essa preparação para uma apresentação que não
dura cinco minutos. Às vezes, nos primeiros segundos, um simples
erro elimina o competidor. O que ele faz quando é eliminado? Ele
desiste, abandona o esporte e vai vender côco na praia? Não. Ele volta
para casa e no dia seguinte já começa a treinar de novo pensando na
próxima Olimpíada e no sonho de conquistar uma medalha.
Isso é persistência.
Você também vai se preparar durante anos para fazer uma prova e, do mesmo modo que o esportista olímpico, pode sofrer muitos
reveses antes de alcançar o seu objetivo. Raramente alguém consegue
ser aprovado no primeiro concurso que realiza. O normal é prestar
duas, três, várias provas até passar. Não a toa se diz que não se estuda
para passar em um concurso público; estuda-se até passar em um
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O perfil de um aprovado em concurso público
concurso. É verdade. O concurso é uma maratona e, para cruzar a
linha de chegada, é preciso ser um pouco teimoso.
Aliás, realizar uma prova de concurso faz parte da preparação,
pois é a única maneira de saber como você reage a esse teste. A experiência de fazer uma prova real permite avaliar o nível de nervosismo,
a tensão e a ansiedade nos dias que antecedem a prova. No dia da
prova, os batimentos cardíacos disparam e vem aquela sensação de
que o coração vai saltar pela boca. Todas essas emoções não podem
ser transmitidas por palavras. Por mais que outras pessoas tentem
descrevê-las, só mesmo vivendo para saber como é.
Portanto, ao iniciar essa caminhada, prepare-se para enfrentar
muitas frustrações. Às vezes, erros estúpidos colocam você fora da
disputa antes mesmo de fazer a prova e sem você nem saber. Conheço
uma pessoa que queria prestar o vestibular para Direito. O formulário de inscrição tinha uma tabela com a relação de todos os cursos e
os respectivos códigos. Ela colocou o dedo sobre a linha do curso “ciências jurídicas” e correu o dedo até o final da linha para identificar o
código. Ocorre que, no meio desse percurso, o dedo ‘escorregou’ ligeiramente para baixo. Resultado: ela copiou o código do curso de ciências
sociais, que estava na linha seguinte. Sem perceber o equívoco, ela
prestou o vestibular normalmente. Quando foi divulgado o resultado, ela procurou o seu nome na relação de aprovados em Direito e,
naturalmente, não encontrou. Porém, alguns amigos ligaram para ela
para cumprimentá-la, pois tinham visto que ela havia sido aprovada.
Surpresa com essa notícia, ela foi pesquisar e só então descobriu que
havia preenchido o campo do curso com o código errado, logrando
êxito na aprovação do vestibular, mas para o curso de ciências sociais.
Ela desistiu de Direito? Não. Ela chorou uma semana, mas superou essa frustração e retomou os estudos. No ano seguinte, foi aprovada novamente no vestibular, dessa vez para o curso certo (Direito).
Um dos erros mais comuns em concursos é copiar o gabarito
errado. Esse erro pode ser fatal, porque não raro a diferença entre
31
Leandro G. M. Govinda
o último aprovado e o primeiro reprovado é justamente uma única
questão. E conheço muitas pessoas que não passaram por conta desse
tipo de erro.
Para além desses equívocos banais, o que reprova mesmo é a
preparação insuficiente. Só que essa insuficiência não significa pouco
tempo de estudo. O candidato pode estar estudando há alguns anos
e, mesmo assim, ainda não ter atingido o nível de conhecimento necessário para ser aprovado. Os cargos mais cobiçados, normalmente
aqueles cujos vencimentos chegam perto do teto da Administração
Pública, exigem uma preparação de mais de cinco anos. Imagine o
número de reprovações acumuladas nesse período?
Durante a preparação para a prova oral do Ministério Público
conheci outros candidatos que já estavam estudando há vários anos.
As histórias me impressionavam pela persistência desses concorrentes. Um deles havia sido reprovado na prova discursiva do concurso
anterior por apenas 0,01 ponto. Quando alguém é reprovado porque
passou longe da meta, é mais fácil aceitar. Mas ser reprovado por faltar míseros 0,01? Essa pontuação equivale a uma vírgula errada na
redação. É muito frustrante.
Outro candidato também havia sido reprovado no concurso anterior, mas na prova oral, quando já se está com um pé lá dentro da
instituição. Ele mesmo admitiu que havia ficado muito nervoso e isso
prejudicou o seu desempenho.
Um amigo estudou mais de cinco anos para a magistratura estadual. Foi reprovado diversas vezes e, toda vez que recebia um resultado adverso, pensava em desistir. Mas persistiu e, hoje, é juiz de
direito.
O maior exemplo de persistência que conheço é de um amigo da
faculdade. Ele começou a estudar junto comigo em 2005. Além de estudar, ele sempre trabalhou, no início como advogado e, algum tempo depois, como analista do judiciário. Sujeito batalhador. Estudava
32
O perfil de um aprovado em concurso público
muito mesmo. Já tinha lido quase uma biblioteca jurídica. Deu-me lições de algumas disciplinas, especialmente direito penal. Apesar desse empenho todo, ele acumulou muitos fracassos. Prestou concurso
para vários cargos, mas não conseguia se sair bem nas provas. Talvez isso o tenha prejudicado um pouco: estudar para concursos em
áreas diversas. Apesar disso, ele nunca desistiu. Ao longo do tempo,
amadureceu a sua vocação e começou a concentrar a sua atenção no
Ministério Público Estadual. Finalmente, em 2014, passados quase
dez anos desde que havia começado a estudar, ele tomou posse como
Promotor de Justiça no Paraná. Esse é o cara!
Exemplos como esses são mais comuns do que se imagina. Arrisco dizer que cada pessoa aprovada em um concurso passou por
essa experiência de acumular frustrações. O que há de comum entre todos eles? Nunca desistiram. Essas pessoas foram persistentes e,
cedo ou tarde, conquistaram a sua medalha: a aprovação no concurso
tão desejado. Hoje, todos eles são felizes e nenhum se arrepende da
caminhada que fez. E mais: tenho certeza que fariam tudo de novo!
Por conta dessas histórias, hoje em dia respeito muito as pessoas
que alcançam os seus objetivos, mas admiro de verdade aquelas que
incansavelmente lutam para chegar até eles.
Portanto, caro leitor, se você é capaz de focar o seu objetivo, ter
disciplina e ser persistente, então você tem todas as condições indispensáveis para ser aprovado em um concurso público. Só precisa,
agora, sentar a bunda na cadeira e começar a estudar!
33
Primeiros passos
Capí t ulo 3
Primeiros passos
3.1. A escolha do cargo
Depois que você decidir que vai fazer concurso público, o primeiro passo para atingir o seu objetivo, antes de tudo, é escolher o
cargo que deseja ocupar.
Muitas pessoas são indecisas e, até por não terem intimidade
com as carreiras públicas, não sabem desde o início qual cargo desejam ocupar. Tem gente que acha que concurso é tudo igual e, baseados nessa impressão, preferem começar a estudar logo, enquanto
esperam amadurecer a decisão sobre o cargo pretendido.
Ledo engano.
Os concursos não são iguais. Logicamente, em geral, o concurso
público resume-se, em última análise, a um teste de conhecimento.
Mas não é só o conteúdo programático dos editais que muda: as provas também variam. Forma, conteúdo e estilo de prova mudam muito
dependendo do cargo que se pretende preencher.
Assim, tem concursos só de prova objetiva (geralmente nível
técnico) ou provas objetiva e discursiva (carreiras de analista, auditoria e fiscalização). Há também os concursos com provas objetivas, discursivas, orais e exame de títulos (magistratura, promotoria,
advocacia e defensoria públicas). Alguns cargos, além da prova de
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Leandro G. M. Govinda
conhecimento, também submete o candidato a exames físicos (área
policial principalmente). Muitos concursos têm exames psicológicos
– os famosos psicotécnicos – e até uma fase de entrevista individual
do candidato.
Além da forma, o conteúdo também varia e muito de um concurso para o outro. Há, é claro, matérias comuns a diversos certames.
Direito constitucional e administrativo, por exemplo, são cobrados
em praticamente todos os concursos. Por outro lado, muitas carreiras
exigem conhecimentos bastante específicos, como a legislação local
nos concursos estaduais e municipais.
Finalmente, o estilo de prova também difere de um concurso
para outro. Na área jurídica, especialmente, algumas bancas focam
muito na legislação pura e simples, enquanto outras preferem explorar mais conteúdos doutrinários e jurisprudenciais.
Até os concursos para um mesmo cargo têm variações de um
certame para outro, conforme mudam os integrantes das bancas examinadoras. No nível estadual e municipal, as provas de concurso para
cargos da mesma natureza também são muito diferentes, a depender
do estado ou do município da federação que organiza o concurso.
Lembro-me bem quando já era Auditor-Fiscal da Receita Federal e comecei a me preparar para os concursos na área jurídica. A
prova de Auditor-Fiscal exige conhecimentos em áreas bastante diferentes, como contabilidade, auditoria, economia, relações internacionais, comércio exterior, matemática, estatística, raciocínio lógico,
português, língua estrangeira, além, é claro, de disciplinas jurídicas.
Como não tinha muita experiência em concursos para cargos
privativos de bacharéis em Direito, conversei com o meu irmão para
colher dele algumas dicas, já que ele havia sido recém aprovado no
concurso para o cargo de Procurador Federal. Eu perguntei se bastaria estudar os livros de doutrina e ler a legislação. Ele disse que, além
desse material, era imprescindível ler os informativos semanais de
36
Primeiros passos
jurisprudência dos tribunais superiores. Lembro-me de ele comentar
em tom irônico que devorar os livros iria me permitir escrever um
belo tratado sobre o Direito, mas que isso não seria suficiente para
responder bem uma prova de concurso.
Isso ilustra a importância da escolha do cargo para poder direcionar os estudos. Fazer essa escolha tem relação direta com o foco na
preparação. Quem não sabe ao certo qual concurso fazer, geralmente
estuda de tudo um pouco. O problema é que saber um pouco de cada
coisa é saber quase nada de tudo. E para passar em um concurso é
preciso saber muito de muitas coisas.
Outra consequência grave para quem não se decide é mudar o
foco dos seus estudos a medida que surge um novo edital de concurso. E todo dia tem um novo edital na praça... Então, sai um concurso
para técnico de algum Ministério, e o candidato se desespera para
tentar absorver o conteúdo do edital nos dois meses que antecedem a
prova. Faz a prova no domingo e, na segunda, já começa a se preparar
para o concurso que abriu para analista de uma secretaria do município. Quer dizer, o concurseiro não foca a sua atenção, tornando
improdutivo o seu estudo e, por conseguinte, jamais vai alcançar o
resultado desejado.
Ao escolher um cargo determinado, você saberá as matérias a
serem estudadas, assim como conhecer o tipo de prova a que será
submetido. A sua preparação e o seu estudo serão dirigidos para esse
único fim. Isso não o impede de prestar outros concursos, enquanto
o edital para o cargo almejado não é publicado. Fazer outras provas
é muito positivo, porque permite acumular uma experiência importante, na medida em que cria uma certa intimidade com a rotina de
aplicação da prova. Assim, você vai aprender, por exemplo, a controlar o seu nervosismo, administrar o tempo para resolver a prova
e preencher o gabarito e prever as suas necessidades, inclusive fisiológicas, no momento da prova. E o mais importante: ao corrigir a
prova, você aprende muito com os seus erros. Agora, ao se inscrever
37
Leandro G. M. Govinda
em outros concursos, você não deve perder o foco dos seus estudos,
porque aí o prejuízo é maior do que o benefício. Faça outras provas
sem compromisso e sem maiores pretensões, apenas por experiência.
Pois bem. Escolher o cargo é importante, mas não é tarefa fácil,
pois há uma infinidade deles considerando-se os poderes da República (Executivo, Legislativo, Judiciário, além do Ministério Público
e dos Tribunais de Contas) e as esferas da federação (União, Estados,
Distrito Federal e Municípios).
Claro que a escolha depende muito do perfil da pessoa, suas
aspirações pessoais e profissionais e até das suas pretensões de consumo, já que a variação de remuneração de um cargo para outro é
abismal.
O serviço público, qualquer que seja o poder e a esfera da federação, guarda certa homogeneidade, em especial no que diz respeito
às mazelas. A falta de estrutura e de pessoal, a remuneração engessada, a rotina maçante, a burocracia infernal, o desprestígio da criatividade e da inovação, o distanciamento entre a cúpula da instituição e
os agentes da ponta são males comuns em qualquer instituição pública. Por outro lado, a estabilidade funcional e financeira são aspectos
positivos comuns também a todos os cargos de provimento efetivo.
Então, não são esses os fatores decisivos para se escolher uma
carreira. Penso que, para fazer essa escolha, você deve estar atento ao
nível de responsabilidade da função, ao prestígio social da instituição
e, é óbvio, à remuneração do cargo.
A responsabilidade tem relação direta com a independência e
as prerrogativas conferidas para o exercício da função, assim como o
nível de pressão. Se você não gosta de cobranças e prefere ser invisível,
fique longe de cargos com alta exposição social.
O prestígio social da instituição pública também é importante, pois a tendência é você se sentir bem quando o seu trabalho tem
reconhecida relevância para comunidade. Ao contrário, se o órgão é
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Primeiros passos
desacreditado pela sociedade e pelos próprios servidores que o integram, fica difícil encontrar motivação para trabalhar.
A remuneração dispensa maiores comentários. Apenas cumpre
destacar que salário alto não é garantia de realização profissional. Assim, cuide para não escolher a carreira baseado somente ou preponderantemente nesse aspecto.
Naturalmente, quanto mais elevados forem esses fatores (responsabilidade, prestígio e remuneração), mais difícil é ser aprovado
no concurso. Bem por isso, muitas pessoas sobem uma escadinha,
começando pelos cargos menos concorridos até alcançar aquele que
é mais cobiçado. Isso não é à toa, já que a maioria das pessoas precisa
trabalhar enquanto se prepara para o concurso público. Comparativamente com a iniciativa privada, o serviço público oferece estabilidade, exige menos do servidor e, quase sempre, é flexível relativamente ao horário de trabalho (alguns órgãos, por exemplo, só têm
expediente em um turno, geralmente à tarde). Isso dá ao servidor público, em termos de tempo e tranquilidade, uma larga vantagem para
estudar. Então, garantir essas condições através de um cargo menos
concorrido é um excelente caminho, especialmente para aqueles que
não têm condições de ficar em casa só estudando.
Em conclusão, você vai ter tempo suficiente para se preparar
para a prova. Portanto, se ainda não sabe qual o concurso pretende fazer, melhor consumir algum tempo para meditar a respeito. Se
preciso for, pesquise sobre os órgãos e os cargos da Administração
Pública, converse com servidores públicos para conhecer a rotina e as
vantagens e as desvantagens da função, informe-se sobre as perspectivas futuras das carreiras, enfim colete o máximo de elementos para
tomar uma decisão consciente.
Se, mesmo assim, ainda não estiver em condições de escolher
o cargo, tente pelo menos focar em uma carreira (magistratura, promotoria, procuradorias, polícia, auditoria-fiscal, analista, etc.). Como
39
Leandro G. M. Govinda
ressaltei, os concursos para carreiras do mesmo gênero não são iguais,
mas guardam muitas semelhanças. O concurso para o Ministério Público de Santa Catarina é diferente do concurso para o Ministério
Público do Paraná, mas certamente haverá mais semelhanças entre
essas provas do que entre elas e o concurso para delegado de polícia,
por exemplo. Então, focar em uma carreira já é um bom começo.
3.2. Estudando o edital
Uma vez escolhido o cargo, o próximo passo é... ler o edital do
concurso. Pode parecer uma recomendação óbvia, mas não é. Conheço muitas pessoas que começam a estudar freneticamente sem nem
conhecer o conteúdo programático do concurso. Ler o edital não é
importante só para conhecer o programa do concurso, mas também
para saber o formato do certame, especialmente o tipo de prova. O
edital ainda traz detalhes fundamentais sobre regras de correção e
de aplicação das provas, recursos, títulos admitidos, entre outros. O
edital é a lei do concurso, portanto, ler o edital é obrigatório. E isso
vai lhe tomar poucas horas.
Agora, qual edital ler? O do concurso que você vai fazer? Não!
O edital que você tem que ler é o do concurso anterior para o mesmo
cargo. Por que? Ora, o seu planejamento de estudo será feito baseado
nas regras do edital. Então, se você deixar para planejar o seu estudo
quando lançarem um novo edital, você terá aproximadamente dois
meses para estudar, pois esse é o intervalo comum entre a publicação
do edital e a primeira prova do certame. Em dois meses, você saberá
no máximo a introdução de cada matéria do concurso.
Portanto, não espere o edital do seu concurso para fazer o planejamento. Procure na internet o edital do concurso anterior para o
cargo que você almeja. As regras do edital não mudam muito de um
concurso para outro. O conteúdo das disciplinas, o número de questões, os tipos de prova, tudo isso permanece quase sempre inalterado.
40
Primeiros passos
Podem ocorrer mudanças pontuais que não comprometem o estudo
feito com base no edital anterior. Se houver uma mudança significativa, não se preocupe, pois será novidade para todos os candidatos.
No concurso que fiz para o Ministério Público de Santa Catarina, por exemplo, o edital mudou o formato da prova e o critério
de correção. Antes, eram questões do tipo “a,b,c,d,e”. A prova que fiz
eram assertivas para assinalar “V” ou “F”, sendo que dois erros descontavam um acerto. Eu estava me preparando para uma prova do
tipo “a,b,c,d,e”. Como houve mudança, só precisei adaptar as provas
anteriores para fazer alguns simulados e treinar a resolução da prova
com o novo formato. Se tivesse esperado o edital sair para começar a
estudar, com certeza estaria estudando até hoje...
As duas informações mais importantes do edital são o conteúdo programático e o número de questões que serão formuladas para
cada matéria.
O conteúdo programático delimita a prova, pois destaca os tópicos que poderão ser explorados na prova sobre uma determinada
matéria. Então, você não precisa estudar nada além daquilo que está
escrito nesse edital. Se a prova trouxer uma questão cujo conteúdo
não está no programa do edital, essa questão certamente será anulada, mediante recurso. Portanto, sabendo o programa das disciplinas,
você já tem um norte para os seus estudos.
Isso significa que é preciso estudar todo o conteúdo do edital
para se sair bem nas provas? Não, claro que não, afinal a prova do
concurso tem um número máximo de questões, de modo que só uma
parte desse conteúdo será explorado.
O drama está em saber o que será explorado. Como você não
tem uma bola de cristal, é preciso se valer da experiência e fazer um
exercício simples de matemática.
Como disse, o edital, além do conteúdo das disciplinas, geralmente fixa o número de questões reservadas para cada uma dessas
41
Leandro G. M. Govinda
matérias. Ocorre que esse número de questões não necessariamente
tem relação direta com o conteúdo da disciplina, ou seja, um grande
conteúdo não implica sempre um número maior de questões.
Desse modo, você pode fazer um levantamento do número de
questões de cada disciplina e relacionar esse número com a extensão do conteúdo da disciplina respectiva. A partir dessas variáveis
(número de questões e extensão do conteúdo), você pode estabelecer
prioridades na sua agenda de estudos, considerando a relevância de
determinado conteúdo para aquele concurso.
Por exemplo, a prova que fiz do concurso do Ministério Público
tinha 400 questões. Dentre elas, havia várias disciplinas com mais de
20 questões, como direito constitucional, civil, penal, processual, ambiental, consumidor, entre outras. Língua portuguesa tinha 45 questões! Por outro lado, algumas disciplinas tinham no máximo 6 questões (criminologia e execução penal). Outras, só 4 questões (noções
gerais de direito e falências).
O que eu fiz? Comparei esses números com o conteúdo de cada
disciplina e elegi prioridades. O conteúdo de criminologia e noções
gerais de direito, por exemplo, era quase igual ou maior de que outras
disciplinas como direito do consumidor e língua portuguesa. Então,
é claro que criminologia e noções gerais tiveram bem menos atenção
nos meus estudos.
Por outro lado, execução penal e falências, apesar de serem poucas questões, o conteúdo delas também era bastante diminuto, ou
seja, valia a pena estudar, pois despenderia pouco tempo para dominar essas disciplinas.
Então, considerando o número de questões e o conteúdo, avalia-se o que é mais importante ou relevante para o concurso e concentra-se a atenção nesses conteúdos.
Essa avaliação deve ser feita, inclusive, em relação aos tópicos
de cada disciplina. Como disse, a prova abordará só uma parte do
42
Primeiros passos
conteúdo programático das disciplinas. Isso pode ser feito a partir da
análise das provas anteriores. Independentemente dos integrantes da
banca, é comum as provas explorarem sempre os mesmos conteúdos.
Até as questões são semelhantes e, não raro, idênticas. Isso porque, se
uma determinada instituição pretende selecionar novos integrantes
para os seus quadros, é natural que elabore uma prova considerando
o que é mais importante para o exercício futuro do cargo. Assim, por
exemplo, a prova para o cargo de Procurador da Fazenda Nacional
abrangia diversos tópicos de direito civil, mas o foco da prova sempre
era a parte geral e contratos, pois esses conteúdos são mais importantes para a carreira do que direitos reais.
Examinando-se as provas anteriores dá para fazer uma média
do número de questões reservadas para cada tópico e focar os estudos
nessa parte que é mais explorada.
Quando estava me preparando para o vestibular da UFRGS,
lembro que tinha pouco tempo para estudar, pois fazia o terceiro
ano regular de manhã e o cursinho pré-vestibular à noite. No meio
do ano, já comecei a ficar desesperado, porque percebi que não seria
possível estudar todo o conteúdo de todas as matérias do edital. Então, analisei as notas do último colocado nos vestibulares anteriores e
estipulei uma nota média que precisaria alcançar em cada disciplina.
Para biologia e química, por exemplo, precisava acertar pelo menos
20 questões de um total de 35 de cada prova. Em matemática, seriam
32, enquanto física, 30 (apesar de ter me formado em direito, eu gosto
de matemática e física e sempre estudei muito essas disciplinas). Para
cada disciplina tinha um mínimo de acertos.
Com esses números, procurei os professores daquelas disciplinas cujo conteúdo estava mais atrasado e perguntei quantas questões
caíam de cada tópico. Em biologia, os tópicos de ecologia, genética e
citologia eram explorados em 15 ou 20 questões. Química orgânica,
reações químicas e estrutura atômica seriam pelo menos 15 questões
43
Leandro G. M. Govinda
da prova. Então, estudei só essas matérias e bem estudado. Deu certo:
consegui atingir a meta de acertos nessas provas. Fui aprovado sem
ter esgotado todos os tópicos de todas as matérias.
Outro aspecto a ser considerado no momento de se fixar essas
prioridades é o nível de dificuldade e a familiaridade com determinadas disciplinas.
Há matérias que, naturalmente, a pessoa tem mais facilidade
para estudar, enquanto outras se revelam altamente tormentosas. A
tendência natural é estudar mais as matérias com as quais se tem mais
afinidade ou que são mais fáceis. Mas não se engane: a prova não irá
abordar apenas as matérias que você domina. Portanto, mesmo contrariado, você precisa estudar as matérias que não gosta ou que não
domina. Aliás, essas matérias merecem uma atenção especial, pois a
chance de ser reprovado justamente por causa delas é grande.
Agora, de nada adianta perder uma vida inteira estudando sem
aprender. Dar murro em ponta de faca também não resolve o problema. É preciso estudar e aprender aquilo que se está estudando. Se,
apesar dos seus esforços, você continua com dificuldades para absorver
determinadas conteúdos, das duas uma: ou ignora o tópico ou procura ajuda.
No meu caso, procurei ajuda. Quando estudava para o concurso da Receita Federal, minha maior dificuldade era compreender a
lógica da contabilidade. E essa era uma disciplina crucial para ser
aprovado. Como não gostava de estudá-la, deixei de lado e fiz a prova para Técnico da Receita Federal (hoje o cargo chama-se Analista-Tributário) apostando na sorte. Resultado: acertei só 2 questões na
prova, quando precisava no mínimo 4 acertos (eram 10 questões no
total). Daquela vez tive mais sorte do que juízo, pois a banca anulou
duas questões e, por isso, fui aprovado no concurso.
Quando comecei a estudar para Auditor-Fiscal da Receita Federal, cuja prova de contabilidade era ainda mais relevante, resolvi con44
Primeiros passos
centrar minhas atenções nessa disciplina, porque não queria depender da sorte. Novamente, enfrentei dificuldades e pensei em relegar
essa matéria a segundo plano. Foi aí que ouvi um conselho precioso
da minha chefe na época, que já era Auditora-Fiscal. Ela fazia questão
de lembrar que uma questão podia ser a diferença entre o candidato
que escolheria Itajaí e aquele que precisaria ficar em Foz do Iguaçu, já
que a classificação era muito apertada.2
Bem, devidamente advertido e considerando que um raio não
cai duas vezes no mesmo lugar, decidi procurar ajuda e concentrar
muitos esforços para aprender contabilidade. Um colega recém aprovado no concurso anterior de Auditor-Fiscal me deu algumas aulas
dessa disciplina, quando, então, eu finalmente aprendi a fazer essas
contas.
Em matemática financeira e estatística aconteceu o mesmo.
Tendo dificuldades para entender alguns exercícios, pedi ajuda para
outro colega, que prontamente me atendeu.
Auxiliado pelos colegas e sem depender apenas da sorte, fui
aprovado em sétimo lugar no concurso para Auditor-Fiscal. Com essa
classificação, escolhi a vaga aberta para a Alfândega de São Francisco
do Sul, local em que já trabalhava como técnico. Dobrei o meu salário
e não precisei nem mudar de mesa para assumir a nova função!
Portanto, estudar bem todas as matérias, inclusive as mais enfadonhas, é decisivo não só para a aprovação no concurso, mas também
para obter uma boa classificação. Antes da prova, é natural que você
pense apenas em ser aprovado. Mas acredite: depois de aprovado, todas as suas atenções estarão voltadas para a escolha de vagas. E aí será
2 Foz do Iguaçu é uma cidade maravilhosa! Porém, o trabalho na Receita Federal,
por conta do intenso comércio ilegal entre Brasil e Paraguai e de algumas máfias
perigosas que existem naquela região, é um dos mais estressantes da 9ª Região
Fiscal (PR e SC). Por isso, na hora de escolher, a Delegacia da Receita Federal de
Foz era sempre uma das últimas opções.
45
Leandro G. M. Govinda
tarde para você se arrepender de não ter estudado um pouquinho
mais para poder escolher uma cidade melhor ou mais próxima das
suas raízes...
Enfim, o edital é a primeira leitura que o candidato deve fazer.
Antes de comprar uma apostila e sair devorando as páginas desse calhamaço, leia o edital do concurso para saber o que você deve estudar
e onde deve concentrar as suas energias.
3.3. Arsenal de estudo
Depois de ler o edital e conhecer profundamente o concurso
que irá prestar, o seu próximo passo é pesquisar e reunir as fontes e
o material de estudo. Nesse momento, você vai fazer o levantamento
do arsenal que lhe será útil na preparação para o concurso, ou seja,
aulas de cursinhos, bibliografia, apostilas, resumos, entre tantas outras fontes.
Uma má escolha nesse momento significa uma perda inestimável de tempo no futuro, além de um desperdício de dinheiro. No
início, essa perda não é bem sentida, pois, na falta de uma referência
melhor, o estudante acaba não medindo a utilidade do material estudado. Porém, a longo prazo, muitas aulas e muitos livros revelam-se
de pouco proveito para a prova do concurso, quiçá um verdadeiro
desserviço ao concurseiro.
Então, para evitar isso, faça um levantamento sobre as editoras e
os autores mais confiáveis e com boa reputação nesse mercado. Nesse sentido, vale a pena procurar uma pessoa que tenha sido recém
aprovada no concurso que você pretende fazer. Essa pessoa já estudou bastante e pode fazer indicações de boas fontes de estudo e, mais
importante, informar as fontes ruins. Além das fontes, os aprovados
em concursos sabem bem quais as matérias mais importantes e mais
exploradas na prova. Isso vai auxiliar você a estabelecer as prioridades no seu planejamento.
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Primeiros passos
Uma das principais fontes de estudo são os cursinhos preparatórios para concursos públicos. Particularmente, por ser bastante
autodidata, só estudei em cursinho pré-vestibular. Apesar disso, reconheço os méritos dos cursinhos preparatórios para concursos públicos em geral.
A maior utilidade de um cursinho é dar ao candidato um ritmo
de estudos. Como as aulas, via de regra, são diárias, o concurseiro
acaba firmando um compromisso com os estudos para acompanhar
as aulas. Além disso, uma boa aula de cursinho pode ensinar em poucos minutos o que se levaria horas para aprender sozinho. No campo
das ciências exatas, isso é bastante evidente. Tentar entender a resolução de uma equação matemática ou um problema de estatística
ou um lançamento de contabilidade lendo um livro, por melhor que
seja, pode se revelar uma tarefa hercúlea. Agora, uma simples explicação de um bom professor pode ser suficiente para alcançar esse
aprendizado. Além disso, os professores de cursinhos, quase sempre
possuem larga experiência em provas, de modo que podem oferecer
muitas dicas importantes de estudos e, ainda, os festejados “macetes”
para decorar muitos pontos das matérias.
Os cursinhos sempre foram para muitos a porta de entrada no
mundo dos concursos. O crescimento do nível de dificuldade das
provas e do prestígio das carreiras públicas fez crescer no Brasil, na
mesma medida, o número de cursos preparatórios para esse tipo de
exame. Hoje existe uma indústria de cursinhos com os mais variados
tipos, desde as tradicionais aulas presenciais até aulas via internet,
passando pelas cada vez mais populares aulas telepresenciais. Como
em todo mercado, há os bons e os maus prestadores de serviço, por
isso é muito importante conhecer alguns dados do cursinho antes de
se matricular.
O quadro de professores é um ótimo indicativo da qualidade
do curso. Quem já fez o curso também pode dar uma boa (ou má)
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Leandro G. M. Govinda
referência do curso. Novamente, uma conversa com alguém recém
aprovado pode lançar luz sobre muitas das suas dúvidas.
Um dado objetivo que também espelha a qualidade do cursinho
é o número de aprovados. Mas atenção: em termos absolutos, um
número elevado de aprovados não necessariamente reflete bons resultados do curso. Explico.
Muitos cursinhos divulgam suas estatísticas considerando o número de aprovados em relação ao total de vagas oferecidas em determinado concurso. Na verdade, a estatística seria mais honesta se informasse o número de aprovados em relação ao número de alunos matriculados. Se um curso com mil alunos matriculados aprovar cem pessoas num concurso, seu percentual de aprovação é de 10%. Já um curso
com apenas 300 alunos, se aprovar 60 alunos nesse mesmo concurso,
terá um percentual de 20%. Apesar disso, o número absoluto de aprovados egressos do primeiro curso é maior, dando a impressão de que
obteve um resultado melhor, quando o resultado do segundo foi mais
produtivo. Portanto, atente para isso na hora de fazer essa avaliação.
Outro aspecto importante diz respeito ao endereço do curso e a
distância em relação ao local habitual das suas atividades. Especialmente nas grandes cidades, não adianta frequentar um curso excelente, mas cuja sede fica distante do seu trabalho ou da sua residência,
obrigando-o a longos e cansativos deslocamentos para assistir às aulas. É mais conveniente escolher um curso que seja próximo, evitando, assim, o estresse do trânsito e os costumeiros atrasos de quem
fica preso nos congestionamentos diários nas ruas e nas avenidas das
metrópoles.
Os cursinhos com aulas presenciais ainda são muito procurados, pois a interação direta entre o professor e o aluno proporciona
um aprendizado mais profícuo. A oralidade e imediatismo das intervenções durante a aula para sanar dúvidas ainda é o meio mais
eficiente para aprender.
48
Primeiros passos
Porém, os cursinhos telepresenciais caíram no gosto do público
concurseiro. Além do custo mais baixo, já que possibilita reunir um
grupo mais numeroso de estudantes, esses cursinhos permitem que o
aluno distante dos grandes centros do país aprenda com os melhores
professores de cada disciplina. As aulas são ao vivo, de modo que há
uma certa interação entre professor e aluno, ainda que essa interação,
às vezes, seja limitada ao meio virtual, especialmente por mensagens
eletrônicas ou fax.
Finalmente, há também os cursinhos com aulas on-line via internet. Esses cursos são uma ótima opção para quem prefere fazer seu
próprio calendário de estudo, pois as aulas podem ser assistidas em
qualquer lugar e horário. Essa flexibilidade, no entanto, representa
justamente o risco de não se manter a necessária regularidade para
acompanhar as aulas. Então, se você fizer essa opção, vai precisar ter
muita disciplina e força de vontade para frequentar as aulas sem solução de continuidade.
A par dos cursinhos pagos, atualmente há cursos e aulas gratuitas veiculadas na internet e em canais de televisão. Às vezes vale
a pena conferir. Eu tive uma ótima experiência com os cursos preparados pela TV Justiça e disponibilizados no site Saber Direito. Os
professores convidados para dar as aulas são especialistas no assunto,
de modo que a qualidade dos cursos está acima da média. As aulas
estão organizadas de acordo com a área do direito (constitucional, civil, penal, processo, administrativo, etc.), sendo totalmente intuitiva a
pesquisa por um determinado tema. Cada tema é explorado em cinco
aulas de aproximadamente uma hora. Para o concurso do Ministério
Público de Santa Catarina, estudei e aprendi muitas disciplinas acompanhando essas aulas. E tudo de graça, disponível a qualquer hora e
em qualquer dia! Por isso, recomendo!
Agora, os cursinhos, seja qual for o tipo, nunca vão substituir os
estudos em casa. A propósito, engana-se quem pensa que só assistir
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Leandro G. M. Govinda
às aulas é suficiente para ser aprovado em um concurso. As aulas ajudam a compreender muitas matérias, mas a fixação desses conteúdos
se dá com os estudos complementares feitos por conta própria.
Por isso, os livros e as apostilas continuam sendo a principal
fonte de estudos dos candidatos a um cargo público. Por isso, antes de
começar a estudar, você precisa fazer um levantamento bibliográfico
e reunir as obras que serão estudadas.
Novamente, o contato com uma pessoa que foi aprovada no concurso que você almeja ajuda muito no momento de escolher os livros
e autores. Logicamente, essa pessoa vai lhe passar a impressão dela
sobre determinadas obras. Daí porque o ideal é consultar mais de uma
pessoa aprovada, a fim de colher o maior número de indicações. Alguns aspectos importantes devem ser questionados, como a prolixidade ou o requinte exagerado da redação de certos autores, a atualização
do conteúdo em relação às doutrinas mais modernas ou às decisões
dos tribunais, a abrangência do livro em relação ao conteúdo programático do edital, a presença de esquemas ilustrativos ou resumos ao
final dos capítulos, a existência de exercícios comentados, etc.
Feito esse levantamento preliminar, você deve ir até uma livraria
e consultar os livros indicados. Reserve um dia para fazer isso com
calma. Aliás, o livreiro geralmente é uma boa fonte de indicações, já
que ele sabe mais do que ninguém os livros mais comprados pelos
concurseiros.
Na livraria, separe os livros que interessam a você e, aleatoriamente, faça a leitura de alguns tópicos do livro. Para uma comparação mais
fidedigna, tente ler o mesmo tópico de determinada disciplina escrito
pelos diferentes autores indicados. Observe, então, em cada autor, a
clareza da redação, a objetividade na abordagem dos temas, a exposição de casos práticos, a citação de outros autores ou jurisprudências.
Lembre-se: por mais indicado que seja um livro, é importante que você tenha uma boa impressão da obra. Não adianta adquirir
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Primeiros passos
um volume de um autor renomado, mas que você não goste do estilo
dele. Você vai estudar esse livro com muito mais dificuldade e, o que
é pior, a tendência é você desenvolver certa resistência em relação a
essa matéria.
Então, sinta como flui a leitura de cada texto, a fim de identificar
a obra que lhe parece mais agradável. Preste atenção, inclusive, na
diagramação do texto, no tamanho da fonte e na qualidade do papel.
Algumas obras são editadas com letras muito pequenas, fato que torna a leitura mais cansativa. Outras são impressas em folhas tão finas
que é possível enxergar a marca da impressão nos dois lados da folha.
Eu mesmo desisti de comprar um livro de direito constitucional de
um excelente autor, muito indicado, mas cuja impressão era terrível:
papel finíssimo com uma impressão muito forte, de modo que as letras impressas em uma folha se embaralhavam com a sombra projetada pelas letras impressas no verso. Inviável a leitura.
O tamanho do livro pode influir no seu ânimo, naturalmente.
Mas esse não é um elemento decisivo. Ou seja, não escolha as obras
apenas levando em consideração o número de páginas. Primeiro,
porque quanto menor a obra, menos abrangente, de modo que, provavelmente, muitos conteúdos da prova não serão estudados. Segundo, nem sempre um livro mais curto será lido em menos tempo. Um
livro extenso, mas bem escrito, com uma redação clara e objetiva,
poderá ser lido mais rapidamente do que um livro de poucas páginas,
cuja redação seja truncada ou de difícil compreensão.
Logicamente, há livros que se parecem com bíblias e que servem
muito mais para consultas pontuais do que uma leitura corrida. Por
isso, busque sempre uma solução equilibrada: nem tanto o céu, nem
tanto a terra.
Relativamente às apostilas, cuidado redobrado, uma vez que há
uma infinidade de material ruim nesse mercado. Desconfie daquelas
apostilas que, num único volume, prometem reunir todo o conteúdo
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Leandro G. M. Govinda
do edital de um concurso. Geralmente, esse material é barato, e o candidato se sente tentado a adquiri-lo na vã ilusão de que será suficiente
para a preparação. Dependendo do material vale como um estudo
complementar, em especial se houver questões de provas resolvidas.
Na área jurídica, proliferam os livros do tipo resumo. Igualmente, tome muito cuidado. Não se deixe seduzir pela “finura” do livro e
pelas cores do texto (em geral, esses livros são muito bem diagramados e recheados de ilustrações coloridas, com destaques de textos,
referências em caixas de diálogos, entre outros recursos didáticos).
Esses resumos normalmente abordam quase toda a matéria, mas de
um modo muito superficial, breve. Os resumos praticamente reproduzem o que diz o texto da lei e, quando muito, citam uma decisão judicial ou uma súmula de um tribunal superior. Nem poderia
ser diferente, pois essa é a proposta da obra: destacar só os pontos
fundamentais. Então, se você tiver uma memória de elefante e conseguir gravar o conteúdo do resumo, talvez isso seja suficiente para
ser aprovado na primeira etapa dos concursos, quando a prova é do
tipo objetiva, já que, nesse tipo de prova, comumente só é explorado
o texto da lei mesmo.
Só que essa não é a realidade da maioria das pessoas. Em geral, é
mais fácil gravar na memória um conteúdo extensamente explicado.
Essa é a vantagem de um livro do tipo manual: o autor aborda determinado tópico ao longo de várias páginas, cita outros autores que
contestam ou corroboram a sua tese, aponta as questões mais controvertidas sobre aquele tema, transcreve decisões judiciais, dá exemplos
para ilustrar o ponto, repisa os fundamentos do seu entendimento.
Essa abordagem mais detalhada acaba contribuindo para a fixação
do conteúdo.
E tem mais: ao estudar um livro para a prova objetiva, você já
estará se preparando para a prova subjetiva. Lembre-se que o intervalo entre as etapas do concurso são breves, e as provas subjetivas
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Primeiros passos
demandam um conhecimento que vai muito além do simples texto
da lei. Aliás, via de regra, os editais de concurso admitem a consulta
à legislação na prova discursiva, justamente porque as respostas às
questões reclamam mais do que a simples indicação do texto de lei
como fundamento. Nesse contexto, é indispensável estudar os livros
de doutrina para escrever respostas bem fundamentadas.
Então, não adianta se preparar só para a prova objetiva lendo
um resumo e, depois, não ter tempo para ler um bom livro para enfrentar a prova discursiva. O seu planejamento deve levar em conta
todas as etapas do concurso, e não só a primeira.
De qualquer maneira, os resumos tem sua utilidade, até para a
prova subjetiva, desde que você já tenha uma boa base de estudo. Aí
os resumos podem servir para revisar a matéria, mas não como única
fonte de estudo.
Por falar em memória, uma boa dica é procurar um profissional
da área da psicologia para fazer alguns testes e verificar o seu tipo de
memória. Como é cediço, algumas pessoas têm uma memória visual
mais apurada; outras têm a memória auditiva mais desenvolvida. Uns
gravam as coisas lendo; outros, escrevendo. Sabendo o seu tipo de
memória o método de estudo terá que ser adequado para propiciar a
apreensão dos conteúdos através dessa memória. Isso naturalmente
vai otimizar os seus resultados.
Um professor da escola do Ministério Público comentou que
estava estudando há vários anos, mas sem sucesso nos concursos que
prestava. Foi quando resolveu consultar um profissional para tentar
identificar a sua dificuldade. Para sua surpresa, o seu tipo de memória não estava sendo bem explorado nos seus estudos. A partir daí, ele
organizou a sua rotina de estudos privilegiando o seu tipo de memória. No concurso seguinte, foi aprovado e hoje é Promotor de Justiça.
Finalmente e em especial para os concursos jurídicos, você vai
precisar de um excelente vade mecum, ou seja, a coletânea de códigos
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Leandro G. M. Govinda
e leis extravagantes. Mesmo sabendo que todos os códigos e leis estão
disponíveis em sites oficiais, a consulta ao vade mecum é sempre mais
rápida e há remissões muito úteis a outros dispositivos legais correlatos. O vade mecum também servirá como apoio para as provas subjetivas, nas quais, como disse antes, é permitido consultar a legislação.
Então, já que será preciso adquirir um para essa prova, é bom ter em
mãos esse livro desde o início dos seus estudos.
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Planejamento
Capí t ulo 4
Planejamento
O planejamento é um dos aspectos da disciplina, que engloba
também a continuidade e o compromisso com o estudo. Planejar significar basicamente estabelecer um cronograma, fixar metas e organizar uma rotina de estudos.
4.1. Cronograma e metas
O seu maior objetivo é logicamente ser aprovado em um concurso público. Essa é a linha de chegada, só que é uma meta muito
abstrata e, quase sempre, distante. Então, é preciso estabelecer objetivos intermediários, a fim de permitir avaliações periódicas do seu
desempenho. Isso, além de reforçar a continuidade e o compromisso
com os estudos, mantém você animado, pois, cada vez que alcança
um objetivo, ganha novo fôlego e reforça a confiança para continuar
a caminhada.
A melhor maneira de tornar palpável as suas metas é estabelecer
um cronograma de atividades e estudos. Depois de conhecer o conteúdo programático do edital e reunir o material a ser estudado, você
terá uma ideia de quanto tempo precisará dedicar aos estudos para
estar preparado para o concurso. Considerando a sua capacidade de
aprendizado e o seu tempo disponível, você pode calcular os meses
ou os anos que serão necessários para aprender tudo o que precisa
para a prova.
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Leandro G. M. Govinda
Conhecendo essas variáveis, dá para estimar uma data para concluir os estudos ou, pelo menos, vencer grande parte da matéria. A
conta é bem simples, bastando dividir o total de páginas dos livros
pelo número de páginas lidas por dia de estudo. O resultado será o
tempo de estudo em número de dias.
Digamos que você tenha selecionado 10 livros que representam o
conteúdo do edital e cada livro tenha 600 páginas. Portanto, o número
de páginas que você vai precisar ler soma 6000 (10x600). Digamos,
ainda, que você estude duas horas por dia e que, nesse período, você
consegue ler 50 páginas em média (25 páginas por hora). Dividindo a
soma do número de páginas dos livros (6000) pelo número de páginas
lidas por dia (50), o resultado será o número de dias que você vai precisar para ler todo o seu material de estudo. No caso, 120 dias (6000 dividido por 50). Então, se você estudar de segunda a sexta apenas duas
horas por dia, dentro de seis meses você terá lidos todos os 10 livros.
Perceba como a sua meta fica palpável. Olhando os dez volumes sobre a mesa, a primeira impressão é que será impossível estudar
aquele monte de bíblias. A tendência é já desistir antes de começar.
Mas feita a conta vê-se que você precisa de somente seis meses para
concluir os seus estudos.
Claro que, dependendo do concurso e do tempo dedicado aos
estudos, serão necessários alguns anos para conseguir estudar tudo
ou vencer todas as etapas programadas. De qualquer modo, o cronograma vai dar uma ideia de início e fim, delimitando os seus estudos
em determinado período de tempo.
Outra variável importante é a periodicidade da realização do
concurso e a previsão do próximo edital. Se o conteúdo do edital é
vasto, o cronograma será estabelecido baseado na expectativa de ser
aprovado após dois ou três anos de estudos.
Um erro muito comum é o candidato, diante de um edital, se desesperar e pretender estudar de modo atabalhoado todo o conteúdo
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Planejamento
da prova, na vã esperança de já ser aprovado no primeiro concurso
que surgir, logo no início dos estudos. Naturalmente, você pode fazer a primeira prova que aparecer, mesmo sem ter estudado todo o
conteúdo do edital, mas sem a pretensão de ser aprovado. E mais importante: sem atropelar o cronograma estabelecido. Lembre-se: o seu
planejamento é de longo prazo. Por isso, faça as provas que surgirem
no caminho, mas não desanime com eventual insucesso. Isso é natural. Esses primeiros concursos devem ser encarados mais como uma
experiência prática, já que o concurso no qual você será aprovado
ainda está por vir!
Além de fixar o início e o fim, é preciso dividir o cronograma em etapas. Cada etapa desse cronograma corresponderá a uma
certa quantidade de matéria que deverá ser estudada. Essa será a
sua meta. À medida que for avançando, você pode medir quanto
falta para atingir a meta, de modo a acelerar ou reduzir o ritmo de
estudos.
Sugiro que essas etapas sejam divididas em um semestre do ano
civil. Períodos inferiores e superiores a esse não são tão produtivos.
Em menos de seis meses, dificilmente você vai vencer uma parte significativa do conteúdo de qualquer edital, a menos que se dedique
exclusivamente aos estudos, ou seja, não trabalhe e não tenha família
próxima para dividir as suas atenções. Mais de seis meses já torna os
objetivos distantes, o que também não é bom.
A divisão em semestre também coincide com o período ordinário de férias e festas. No Brasil, o calendário escolar e universitário é
dividido em dois semestres, intervalados por períodos de descanso
no meio e no final do ano. Quer dizer, o estudante brasileiro já está
acostumado a estudar em períodos semestrais.
Definida cada etapa em um semestre, você deve encaixar nesse
período de tempo o conteúdo que será estudado. Para isso, é importante conhecer o conteúdo do edital, o material e o tempo que você
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Leandro G. M. Govinda
poderá dedicar aos estudos. Usando a fórmula, você consegue calcular o tanto que deverá estudar em cada etapa do seu cronograma.
Assim, por exemplo, se você só pode estudar uma hora em três
dias da semana e, nessa uma hora, você consegue ler em torno de 20
páginas, a sua meta no semestre será ler aproximadamente 1440 páginas (72 dias no semestre x 20 páginas por dia). Agora, se você pode
estudar duas horas todos os dias de segunda à sexta, num ritmo de
20 páginas por hora, daí a sua meta semestral será em torno de 4800
páginas (120 dias no semestre x 40 páginas por dia).
Estimando o número de páginas a ser lido no período, você
também pode definir essas metas em número de capítulos ou tópicos
de cada livro. Consulte o sumário dos livros que você vai ler e verifique o número de páginas de cada capítulo. Depois, considerando o
tempo reservado para estudar as disciplinas, faça a conta de quantos
capítulos de cada obra você precisa ler até o final de cada etapa (um
semestre).
Essas metas podem ser definidas em intervalos mais curtos de
tempo como um trimestre ou um mês ou até uma semana. Assim,
você pode acompanhar mais de perto a andamento do seu cronograma e a evolução dos seus estudos.
Se você perceber que a meta não será batida, você pode aumentar o tempo de estudo durante a semana ou incluir alguns finais
de semana no seu cronograma para dar conta das matérias atrasadas. Por outro lado, nada impede você aumentar ou reduzir a própria meta, se tiver sido superestimada ou, ao contrário, subestimada. Esses ajustes são absolutamente normais em um planejamento
de longo prazo.
Esse método serve não somente para leituras, mas para qualquer tipo de estudo. Se o seu estudo consiste em fazer exercícios ou
assistir aulas, defina previamente quantos exercícios ou quantas aulas você poderá fazer ou assistir por dia, de modo a fixar a meta de
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Planejamento
exercícios ou aulas a serem estudados ao final da semana, do mês ou
outro intervalo de tempo.
Além do aspecto quantitativo, o cronograma também deve ser
organizado por grupo de matérias, porque você não vai conseguir
estudar tudo ao mesmo tempo.
De modo geral, os editais dos concursos, especialmente, na área
jurídica, reúnem um grupo de matérias comuns, que se pode chamar
de matérias básicas. Assim, disciplinas como direito constitucional,
administrativo, civil, penal, processo civil e processo penal são exploradas em todos os concursos jurídicos de nível superior e, inclusive,
em alguns concursos de nível médio. Direito constitucional e administrativo, então, são matérias cobradas em quase todos os concursos
públicos.
Concursos para área fiscal também têm matérias comuns, como
auditoria, contabilidade, constitucional, administrativo e tributário.
Portanto, identifique no edital do concurso que você vai prestar
as matérias mais básicas. Essas serão as matérias a serem estudadas
logo na primeira etapa (e muito bem estudadas).
Na área jurídica, você deve começar estudando as seis mais: direito constitucional, administrativo, civil, penal, processo civil e processo penal. Constitucional, administrativo e processo penal, geralmente, são matérias abordadas em obras de volume único. Já civil,
penal e processo civil são as disciplinas mais extensas, portanto será
preciso desmembrá-las em parte geral e especial. Na primeira etapa,
devem ser estudados os conteúdos da parte geral dessas disciplinas,
deixando para as etapas seguintes a parte especial.
Na segunda etapa, serão estudadas, então, a parte especial daquelas disciplinas básicas e mais algumas outras disciplinas do programa do edital que sejam importantes, considerando-se o número
de questões exploradas na prova.
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Leandro G. M. Govinda
Vencida a primeira e a segunda etapas, você provavelmente já
deve ter estudado mais da metade do edital. Na terceira etapa, deverão ser estudadas as matérias mais específicas e menos exploradas no
edital.
Um detalhe importante é revisar permanentemente os conteúdos já estudados. Assim, a partir da segunda etapa, reserve um período da semana para essa revisão. Agora, revisar não é estudar tudo
novamente. Revisar significa ler novamente os pontos que foram
grifados no seu material de estudo ou repassar os resumos e anotações feitos.
Igualmente, quando você já souber a data da prova, reserve as
duas semanas que antecedem a prova para unicamente revisar os
principais conteúdos.
Além do tempo de estudo, inclua no seu cronograma períodos
programados de descanso. Assim como o corpo físico, a mente também precisa de repouso para se recuperar da fadiga. Mas, diferentemente do cansaço físico, o cérebro precisa de muito mais do que
uma boa noite de sono para se restabelecer. Então, ao final de cada
etapa (um semestre), programe dez ou quinze dias para descansar
a mente. Aproveite esse tempo para fazer qualquer coisa, menos estudar. E não fique com a consciência pesada, pensando que deveria
estar estudando. Ficar parado pensando que devia estar estudando é
o pior dos mundos, porque você nem estuda e nem descansa. Então,
relaxe e aproveite esse merecido e curto intervalo de repouso, pois a
sua mente precisa desse descanso, a fim de recuperar as energias para
prosseguir os estudos com a mesma disposição.
Estabelecer um cronograma e fixar metas de estudo é importante para lhe dar um horizonte. Esse plano torna palpável o seu objetivo
maior que é ser aprovado no concurso público. À medida que for superando cada etapa e atingindo cada meta seu ânimo se renova para
bater a próxima marca.
60
Planejamento
Agora, de nada adianta ter esse plano e não segui-lo à risca.
Lembre-se que disciplina envolve também continuidade e compromisso com os estudos.
Também não adianta traçar um plano mirabolante e irreal, que
certamente não será cumprido, como estudar mais de oito horas por
dia e ler 50 páginas por hora. Isso pode ser feito durante uma ou
duas semanas, mas a longo prazo é praticamente impossível manter
esse ritmo alucinante. Portanto, faça o seu cronograma e fixe as suas
metas de acordo com a sua realidade e a sua capacidade. Seja honesto
consigo mesmo, a fim de evitar frustrações no futuro.
4.2. Rotina de estudos
Além do cronograma e das metas, você deve organizar uma rotina de estudos. Isso é fundamental para aproveitar bem o tempo e
otimizar o aprendizado.
O cérebro é um órgão esquisito, difícil de entender o seu funcionamento. Não sou neurologista, mas empiricamente observo que o
aprendizado é potencializado quando a mente está previamente preparada ou programada para isso. O que quero dizer é que, ao longo de
todos esses anos de estudo, percebi que o rendimento de um estudo
feito fora do horário programado é sempre menor do que aquele realizado durante o período previamente reservado. Até a variação do
local rotineiro de estudo influi nesse rendimento.
Via de regra, reservava os períodos da manhã para estudar, por
acreditar que, nesse período, a mente está mais descansada, já que
recém havia acordado de uma boa noite de sono. Então, de segunda a
sexta, acordava sempre no mesmo horário, tomava meu café e começava a estudar na hora programada e no mesmo local (normalmente,
em casa). Esse estudo rotineiro rendia aquilo que esperava, ou seja,
conseguia ler o número de páginas que a minha capacidade ordinária
permitia (de 25 a 30 páginas por hora).
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Leandro G. M. Govinda
Diferentemente, quando resolvia, por qualquer motivo, estudar
fora desse horário previamente programado, o rendimento era bem
menor. A concentração era reduzida, facilmente dispersava, perdia
o foco, desviava a atenção até com o canto de um pássaro. Às vezes,
ao longo do dia, havia momentos de folga inesperados, quando, por
exemplo, um professor faltava à aula na universidade ou concluía antecipadamente os meus afazeres no trabalho. Nesse tempo de folga
extraordinária, procurava estudar qualquer coisa. Quanto desperdício! Melhor teria sido aproveitar esse tempo simplesmente para descansar, já que o aproveitamento do estudo era insignificante. Igualmente, quando estudava em local diferente do usual (por exemplo,
em uma biblioteca ou na casa dos meus pais), o rendimento também
era inferior.
A partir dessas observações, conclui que o cérebro trabalha melhor quando se obedece a uma rotina, uma programação. Não à toa,
no trabalho ou na escola, a rotina é fundamental para a otimização
dos resultados da empresa ou do aluno. As pessoas começam e terminam o expediente no mesmo horário, têm um calendário de ações
programadas, a mesa de trabalho está sempre no mesmo lugar, etc.
Do mesmo modo, na escola, os alunos entram e saem nos mesmos
horários, estudam na mesma mesa e cadeira, têm a mesma grade de
horários durante o ano inteiro.
Essa programação diária ajuda o cérebro a organizar as tarefas
e obter resultados mais positivos no dia a dia. Por isso, é importante
você estabelecer uma rotina bem definida, ter uma agenda diária e
semanal de atividades. Esse calendário vai depender muito da realidade de cada pessoa e dos seus outros compromissos, como família,
trabalho e lazer. Agora, não espere sobrar um tempo na sua agenda
para estudar, porque esse tempo, se não for previamente reservado,
não vai surgir nunca.
Novamente, o mais importante é pensar em uma agenda factível, ou seja, que você consiga respeitar. Não adianta programar uma
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Planejamento
extensa lista de atividades, se você não tiver tempo para fazer tudo.
Seja realista.
Ter uma rotina não significa ter que estudar todos os dias. Mais
do que a quantidade de horas estudadas, o que importa mesmo é a
regularidade dos estudos. Então, se você não pode estudar todos os
dias, programe dois ou três da semana para isso, exatamente como
você faz com outras atividades, como academia, aula de inglês ou futebol com os amigos.
Particularmente, sempre preferi estudar de manhã. Mas reserve o horário da sua preferência e considerando a sua realidade. Se o
seu dia a dia permite estudar uma ou duas horas depois do almoço,
ótimo. Reserve esse tempo diário após o almoço para estudar. Se o
intervalo do meio dia é muito corrido, sendo mais fácil estudar no
final do expediente, tudo bem. Programe-se para estudar no final do
dia. Se não for possível estudar todos os dias, porque duas vezes na
semana você se ocupa com outras atividades, então eleja os três dias
restantes para estudar.
Não importa se você vai estudar todos os dias e o dia inteiro ou
só segundas, quartas e sextas no intervalo do almoço. O importante
é estabelecer essa rotina e respeitar esse compromisso. Essa é a disciplina que se exige de quem almeja ser aprovado em um concurso.
Logicamente, quanto maior o tempo reservado para o estudo, mais
rapidamente você vai alcançar o seu objetivo.
Além do tempo de estudo, reserve um tempo para atividades de
lazer e descontração. Isso também é importante. Realizar atividades
físicas, além dos benefícios para a saúde do corpo, também ajuda a
descansar a mente. Diversos estudos científicos apontam que os exercícios físicos regulares melhoram o desempenho das atividades intelectuais. Então, pratique esportes, mesmo que seja uma caminhada
leve alguns dias da semana. Longe de prejudicar o estudo, isso vai
melhorar o seu rendimento.
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Leandro G. M. Govinda
Se você já estuda um tempo razoável durante a semana, evite
estudar nos finais de semana. Aproveite esse tempo para estar com a
família e os amigos. No máximo, reserve uma manhã ou uma tarde
de sábado ou domingo para eventualmente avançar em alguma matéria que esteja atrasada ou que necessite de reforço. Por outro lado, se o
seu tempo de estudo de segunda a sexta é curto, daí você pode pensar
em reservar um sábado ou um domingo para estudar. Mas igualmente faça disso uma rotina e respeite essa agenda. Se programou estudar
no sábado, não estude no domingo e vice-versa. E nunca, jamais estude o final de semana inteiro. Se fizer isso ordinariamente, em poucas
semanas seu cérebro estará estafado e todo o seu esforço terá sido em
vão. Além disso, se você for casado, pode também acabar divorciado... Como diz o ditado, siga devagar e sempre.
Muitas pessoas reclamam que não têm tempo para estudar. Na
verdade, normalmente o que falta não é tempo, mas organização, boa
vontade e, às vezes, uma dose de sacrifício. Mesmo aqueles que têm
uma vida muito compromissada em função da família e do trabalho
podem organizar uma rotina e reservar um tempo para estudar.
Para ilustrar, cito o meu próprio exemplo. Houve um tempo
durante a minha preparação para o concurso de Auditor-Fiscal da
Receita Federal em que a minha jornada de trabalho começava às
9h da manhã e seguia até o final da tarde. Era uma rotina pesada,
passava a manhã toda examinando pilhas de documentos (procurações, contratos sociais, etc.) e, à tarde, cuidava do atendimento ao
público. Ou seja, só me sobrava o período da noite para estudar. Tem
pessoas que conseguem estudar melhor à noite, porque é um período
de maior silêncio e com menos interferências externas. Como disse, nunca consegui ter um bom rendimento nesse período, por estar
com a mente cansada. Por isso, sempre preferi estudar de manhã. Porém, nessa época precisava sair de casa às 8h30min para bater o ponto
no trabalho. Nesse contexto, não tive alternativa e precisei organizei
a minha rotina para despertar de madrugada e estudar até o horário
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Planejamento
de ir para o trabalho. Assim, ia dormir antes das 22h e acordava às
4h para estudar até às 8h. Desse modo, conseguia dormir pelo menos
6h e estudar as mesmas três ou quatro horas a que estava habituado,
apenas mudando o horário.
Igualmente, durante a preparação para as provas discursiva e
oral do concurso do Ministério Público de Santa Catarina, ainda precisava estudar muitas matérias e tinha pouco tempo para isso, pois
continuava trabalhando. Nessa época, acordava todos os dias religiosamente às 5h para estudar. Era inverno, frio, escuro, mas não tinha
alternativa. Ou fazia isso ou não teria tempo suficiente para estudar
todo o conteúdo do edital. Até o meu vizinho estranhou eu acordar
tão cedo. Ele levantava às 6h e já me via na sala debruçado sobre os
livros. Um dia ele me perguntou porque eu acordava tão cedo. Quando respondi que era para estudar para um concurso, ele disse que não
tinha dúvidas de que eu seria aprovado. Dito e feito!
Isso pode parecer sacrificante demais para alguns. De fato, acordar diariamente de madrugada não é a coisa mais interessante que já
fiz na vida... Mas, no meu ponto de vista, esse era o sacrifício necessário para poder alcançar o meu objetivo. Enquanto muitas pessoas
dormiam o sono dos justos, eu estava estudando porque queria um
emprego legal e desfrutar de uma vida mais confortável em um futuro
não muito distante. Tem muita gente que acorda todos os dias nesse
mesmo horário para trabalhar e, no final do mês, garantir um salário-mínimo, desempenhando uma função não muito interessante. Eu fiz
isso durante alguns meses para garantir uma renda bem maior para o
resto da vida e realizar um trabalho mais gratificante. Considerando
os resultados que obtive, o sacrifício foi até pequeno.
Então, não importa o quão atribulada seja a sua vida. Se deseja passar em um concurso, você precisa se adaptar para lograr êxito
nessa empreitada. Não espere por circunstâncias favoráveis, porque
essas circunstâncias não caem do céu. Essas circunstâncias você cria.
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Começando a estudar
Capí t ulo 5
Começando a estudar
5.1. Organizando a agenda
Tão importante quanto o foco, a disciplina e a persistência é saber como estudar. Aqueles são requisitos; este é meio para alcançar a
aprovação. De nada adianta o candidato estar focado, ter disciplina e
ser persistente, se não tem um bom método de estudo. Sem método
ou, o que é pior, com um método ruim a pessoa acaba se perdendo
em meio ao gigantesco volume de informações que precisa apreender
e memorizar.
Conheço muitos concurseiros que, apesar da inteligência e da
capacidade, tinham enorme dificuldade de aprender. Deduzo que o
método utilizado não era bom.
Logicamente, a maneira de estudar é muito pessoal. Ou seja,
um método considerado bom para uns pode não ser tão bom para
outros. Um fator que influencia muito é o tipo de memória. Daí
porque a consulta a um psicólogo é interessante. Sabendo o seu tipo
de memória, você poderá eleger um método mais apropriado de
estudo.
Tem gente, por exemplo, que tem memória auditiva. Essas
pessoas poderão aprender mais assistindo aulas ou lendo em voz
alta. Outros têm memória visual, de modo que, ao estudar, pre
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Leandro G. M. Govinda
cisam fazer anotações com mais frequência e desenhar esquemas
com representações gráficas do conteúdo estudado. Diversas obras
utilizam recursos visuais para auxiliar na memorização de alguns
tópicos.
De qualquer forma, o estudo para concursos envolverá, basicamente, leituras. Alguns concursos exigirão uma preparação diferenciada, como no caso das carreiras policiais, que normalmente
preveem provas físicas. Neste caso, obviamente o candidato deverá
se preocupar em fazer uma preparação física específica para passar
nesse tipo de exame. As provas de ciências exatas exigem um estudo
baseado praticamente em resolução de exercícios, como matemática,
estatística e contabilidade. Essas ciências se aprende muito mais exercitando do que lendo.
Mas, de modo geral, para enfrentar as provas de conhecimento
teórico, não há outro caminho senão ler, ler e ler. A questão fundamental é como organizar essas leituras, já que o programa dos concursos abrange diversas matérias e quase todas muito extensas. Bem,
nesse ponto você já deverá ter elaborado o seu cronograma, estipulado a sua rotina e fixado o tempo reservado para os seus estudos. A
partir desse planejamento, você poderá, agora, definir o calendário
semanal de estudos.
Esse calendário nada mais é do que uma grade de horários, na
qual se distribui as matérias que serão objeto de estudo durante cada
etapa do cronograma, exatamente como é feito na escola ou na faculdade. Cada dia da semana, naquele horário previamente definido,
estuda-se determinada matéria.
Não ignoro que algumas pessoas preferem estudar uma matéria
de cada vez. Ou seja, começam a ler um livro e estudam esse livro
todos os dias até terminar. Só depois começam a ler um segundo livro
e ficam só nesse até terminar também. Particularmente, nunca gostei
desse método de estudo por dois motivos: primeiro, porque, depois
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Começando a estudar
de algumas semanas, o estudo focado em apenas um objeto torna-se enfadonho. Diferentemente, quando se estuda diversas matérias
ao mesmo tempo, a diversificação dos objetos torna a rotina menos
cansativa. Em segundo lugar, ao estudar uma disciplina de cada vez,
é necessário fazer revisões permanentes dessa matéria, sob pena de
esquecê-la ao longo da preparação. Imagine estudar só direito constitucional, depois só direito civil, só penal, só administrativo e assim por diante. No final, se não tiver feito revisões constantes das
matérias estudadas lá no começo, esse conhecimento vai acabar ser
perdendo no caminho. Quer dizer, vai chegar um momento em que,
já tendo concluído o estudo de diversas matérias, necessariamente
você precisará reservar alguns dias da semana para revisar cada uma
delas. Ou seja, nesse ponto você terá que estudar e revisar diversas
disciplinas ao mesmo tempo. Então, melhor já adotar esse método
desde o início.
Além disso, se fosse mais proveitoso estudar uma área por vez,
então na escola os estudantes aprenderiam em um ano só português,
no ano seguinte só matemática, depois só história... Igualmente, na
faculdade não se cursaria diversas cadeiras em um mesmo semestre,
mas apenas uma de cada vez. Porém, não é assim que as grades curriculares são organizadas. Ao longo de cada semestre ou ano, estuda-se
semanalmente um pouco de várias disciplinas.
Especificamente na área jurídica, considerando-se que o sistema legal forma um conjunto harmônico de princípios e normas,
é de todo recomendável estudar os vários ramos do Direito ao
mesmo tempo, propiciando uma visão mais abrangente da ciência
jurídica. Muitas vezes, por exemplo, a compreensão de um tópico
de direito penal se dá a partir de uma leitura de direito constitucional.
Outra dica para organizar esse calendário semanal é distribuir
as matérias de modo a evitar que, em um mesmo dia, concentre-se
69
Leandro G. M. Govinda
matérias correlatas. Por exemplo, se for estudar processo civil, evite estudar a seguir processo penal, pois ambas disciplinas tratam de
institutos assemelhados, como prazos, partes, recursos, competência,
provas, etc. Então, a leitura em sequência pode causar confusão na
sua mente.
Se for reservado mais de um dia da semana para estudar uma
mesma matéria, evite também que essa matéria seja estudada em
dias seguidos. Intercale pelo menos um dia para estudar novamente
a mesma disciplina (segunda, quarta e sexta ou terça e quinta, por
exemplo).
Observe também quais os dias e horários em que o seu rendimento é maior, a fim de reservar esses períodos para as matérias
mais importantes. No meu caso, o rendimento das primeiras horas
de estudo sempre era maior. Sendo assim, procurava encaixar nesse
período uma disciplina diferente a cada dia. Ao invés de estudar só
direito constitucional na primeira hora de cada dia, estudava em um
dia direito constitucional, no outro, administrativo, no outro, civil,
etc. Com isso, todas as matérias mais relevantes eram estudadas com
a mesma qualidade.
Se houver disponibilidade para estudar mais de duas horas seguidas, reserve um intervalo breve para descansar a mente, tomar um
copo de água ou se alimentar. Pesquisas demonstram que não se consegue manter a atenção em qualquer coisa por muito tempo. Então,
nunca passe horas a fio estudando sem alguns instantes de distração.
Sem perceber, em um dado momento a sua mente já não estará apreendendo nada do que você lê. Mas cuidado: não faça intervalos muito
extensos para não perder o ritmo. Uma pausa de 10 ou 15 minutos é
suficiente. A cada meia hora você também pode levantar para tomar
um copo de água ou ir ao banheiro, numa pausa de 1 ou 2 minutos.
Isso também ajuda a recuperar a concentração e alivia a tensão nas
costas por ficar sentado muito tempo.
70
Começando a estudar
A título de ilustração, seguem alguns quadros com uma sugestão de grade de estudos e outras atividades, considerando a variável
do tempo disponível para estudo (vide páginas 73 e 74).
O quadro 1 serve para aqueles que podem se dedicar exclusivamente aos estudos. O quadro 2 leva em consideração um tempo de
meio período dedicado ao trabalho ou outra atividade. Já o quadro 3
é uma sugestão para as pessoas que trabalham o dia inteiro.
Os quadros foram elaborados para uma primeira etapa de preparação para um concurso da área jurídica. Por isso, englobam as
disciplinas básicas (“seis mais”) e, dependendo do tempo disponível,
algumas outras matérias importantes. Não há espaços reservados
para os intervalos, pois isso varia muito conforme a capacidade de
concentração de cada um. O importante é observar o momento que
a sua atenção começa a diminuir. Nesse instante, é hora de parar para
descansar.
Nessa primeira etapa, não é necessária se preocupar em fazer revisões sistemáticas do conteúdo estudado. Porém, a partir da segunda
etapa, é fundamental reservar um tempo de estudo só para revisar
completamente as matérias já estudadas. Então, ao organizar o calendário semanal de estudos a partir da segunda etapa do cronograma,
tenha em mente a necessidade de separar um dia ou um período para
essas revisões abrangentes, quando você vai reler os conteúdos destacados nos livros e apostilas. Considerando-se que o seu planejamento
para aprovação em um concurso levará um ou dois anos, essa revisão
é crucial para manter fresco na memória os conhecimentos adquiridos ao longo da jornada.
Observe-se que, no quadro 1, foi programado um tempo de seis
horas diárias de estudos, o que é bastante e suficiente para, em até seis
meses, vencer essa primeira etapa do cronograma de estudos. Nada
impede, porém, que o concurseiro reserve mais tempo ainda, a fim
71
Leandro G. M. Govinda
de concluir mais cedo essa etapa. Isso vai depender da capacidade de
concentração e do limite de esforço de cada um. Nesse caso, ao invés
de estudar apenas uma disciplina por turno (manhã e tarde), pode-se
dividir cada turno em dois períodos de duas horas, como foi sugerido
no quadro 2.
O quadro 2 repete basicamente a programação do quadro 1. A
diferença é que o tempo de estudo é um pouco menor. Note-se que,
mesmo trabalhando meio período, há tempo disponível para praticar
exercícios físicos durante a semana e conviver com a família e os amigos nos finais de semana.
Examinando-se os quadros, percebe-se que ninguém precisa
estudar 24horas por dia e sete dias por semana para passar em um
concurso. Isso, de fato, é um mito. Sendo organizado e disciplinado,
o concurseiro não precisa abdicar de sua vida social ou de prazeres
mundanos para se dedicar aos estudos.
Claro que a situação é um pouco dramática para quem precisa
trabalhar o dia inteiro (quadro 3). Nesse caso, é certo que a preparação para o concurso exigirá uma dose adicional de sacrifício. Para
conseguir estudar, o concurseiro precisará acordar mais cedo, talvez
dormir um pouco mais tarde e reservar um tempo do seu final de
semana para acelerar os seus estudos. Ainda assim o tempo de estudo
será menor, de modo que naturalmente o candidato demorará um
pouco mais para chegar no mesmo nível de preparação daquele que
estuda o dia inteiro. Ou seja, o seu sacrifício também perdurará por
mais tempo. Lembre-se, todavia, que, para além da quantidade de
horas estudadas, o fundamental é manter essa disciplina: se o concurseiro estudar todos os dias, mesmo que sejam algumas poucas horas,
cedo ou tarde, estará preparado para enfrentar uma prova de concurso e conquistar a sua aprovação.
72
Consti tucional
Adminis trativo
9-12h
14-17h
Informativos de
Jurisprudência
Disciplina
específica¹
Penal (geral)
Quinta
Processo
Civil
Outras atividades de lazer e entretenimento²
Civil (geral)
Quarta
Penal (geral)
Terça
Quadro 2
Sexta
Processo
Penal
Sexta
Processo
Penal
Civil
(obrigações)
Civil (obrigações)
Noite
Administrativo
10-12h
Penal
(geral)
Quinta
Processo
Civil
Trabalho
Constitucional
8-10h
Quarta
Civil
(geral)
Informativos de
Jurisprudência
Outras atividades de lazer e entretenimento²
Disciplina
específica¹
Terça
Penal
(geral)
Tarde
Segunda
Horário/Dia
Noite
Segunda
Horário/Dia
Quadro 1
Domingo
Lazer
Domingo
Lazer
Sábado
Sábado
Começando a estudar
73
74
Informativos
de
Jurisprudência
Trabalho
Civil (geral)
Quarta
Lazer e
entretenimento²
Quinta
Sexta
Processo Processo
Civil
Penal
Lazer
Administrativo
Sábado³
Lazer
Domingo
3 Considerando-se a manhã inteira livre do sábado, esse turno pode dividido em dois períodos, a fim de que o segundo tempo funcione
como coringa para reposição de matérias atrasadas ou que precisem de reforço
2. Havendo disposição e recursos pode-se reservar a noite para assistir aulas de cursinhos preparatórios ou de sites especializados ou
mesmo fazer estudos e pesquisas complementares.
1. Nesse período, pode ser inserida outra disciplina igualmente importante para determinado concurso, como direito internacional,
tributário, empresarial, ambiental, consumidor, moralidade administrativa, infância, eleitoral, processo coletivo, etc. Alternativamente, pode-se reservar esse período como coringa para a eventualidade de alguma outra matéria precisar de um reforço ou uma
reposição de tempo de estudo.
Noite
Penal (geral)
Terça
Lazer e entretenimento²
Constitucional
6-8h
9-18h
Segunda
Horário/Dia
Quadro 3
Leandro G. M. Govinda
Começando a estudar
De qualquer forma, mesmo aqueles que trabalham o dia inteiro
podem se organizar para reservar um tempo para atividade de lazer,
entretenimento e convívio com a família e os amigos, em especial nos
finais de semana, mas também durante a semana. Logicamente, esse
tempo será reduzido, mas está muito longe de ser eliminado da rotina. Aliás, esse tempo é necessário para descansar a mente e, depois,
prosseguir os estudos com qualidade.
5.2. Dicas gerais na hora de estudar
Na hora de estudar, algumas dicas podem ser muito úteis.
Marcatexto. Ao ler um livro ou apostila adote o costume de destacar as partes mais importantes com canetas marcatexto (desde que
o material seja seu, é claro). Eu usava canetas de várias cores, cada
qual relacionada a um aspecto do estudo. A minha convenção era a
seguinte: a caneta amarela destacava o conteúdo comum (geralmente
um conceito, uma definição, uma exceção ou as conclusões do autor
sobre o tópico). A verde servia para identificar citações de posicionamentos dos tribunais (ementas, súmulas ou trechos de votos de julgadores). A laranja era usada para sublinhar as citações doutrinárias
de outros autores, seja para corroborar, seja para contrariar a opinião
do autor do livro. Com a azul assinalava qualquer prazo (prescrição,
decadência, recurso, conclusão de procedimento ou fase processual,
etc.). Finalmente, usava a cor rosa quando se tratava de competência
ou atribuições (dos Tribunais, de juízes, membros do Ministério Público, autoridades administrativas, etc.).
Essas marcações, além de ajudarem a fixar o conteúdo, em especial para aqueles que têm uma memória visual mais acurada, poupam um tempo enorme no momento da revisão, porque, nessa hora,
lê-se apenas aquilo que foi destacado. Esses destaques também ajudam muito quando se quer rememorar uma informação ou tirar uma
dúvida sobre um conteúdo já lido. Uma rápida folheada no livro é
75
Leandro G. M. Govinda
o suficiente para encontrar a informação procurada. Logicamente, é
necessário ser um pouco criterioso no momento da marcação. Não
adianta sublinhar tudo o que está escrito no livro. Destaca-se unicamente aquilo que é mais importante, como os conceitos, as fórmulas,
as conclusões, enfim o conteúdo mais relevante do capítulo ou tópico.
Esse recurso também pode ser utilizado nos códigos. Comumente, admite-se o uso de códigos nas provas discursivas e, via de
regra, não há restrições aos destaques com caneta marca-texto. Confirme essa autorização no edital e, sendo assim, sublinhe os artigos
de lei mais importantes. Esse destaque facilita demais a busca pelo
dispositivo no momento da prova.
Revisões. Por falar em revisão, recomendo sempre rememorar
brevemente o conteúdo estudado imediatamente antes para só depois
retomar o curso da leitura. Funciona assim: num dia você marca a
página do início da leitura e estuda normalmente. Na próxima vez
que for ler esse mesmo material, você lê novamente aquilo que foi
destacado na leitura anterior (desde aquela página marcada com o
início até o começo da próxima leitura). Isso não leva mais do que
dez minutos e, além de permitir reforçar o conteúdo já estudado, auxilia na retomada da linha de raciocínio desenvolvida pelo autor, em
especial quando a leitura anterior terminou no meio de um tópico ou
capítulo.
Resumos e post-it. Uma ótima maneira de estudar é redigindo
resumos logo após cada leitura efetuada. Nos resumos, você escreve, com as suas próprias palavras, aquilo que entendeu da matéria
e reputou mais relevante. Ou seja, os resumos servem para traduzir
as ideias do autor em palavras mais simples e diretas. Isso ajuda a
memorizar os conteúdos e também serve para subsidiar as revisões.
Mas para isso você vai precisar de tempo, muito tempo. Na verdade,
escrever o resumo leva praticamente o mesmo tempo que a leitura.
Portanto, é um recurso quase de luxo, só podendo ser adotado por
quem tem bastante tempo disponível.
76
Começando a estudar
Particularmente, nunca adotei esse recurso, justamente porque
não tinha tempo, já que trabalhava o dia inteiro. Mas utilizei um recurso semelhante que se revelou muito útil: fazer anotações naqueles
papéis coloridos e autocolantes do tipo post-it.
Assim, se uma determinada explicação do autor sobre um certo
tópico era muito confusa, procurava entender o conteúdo e, depois,
anotava as minhas próprias conclusões no post-it e colava o papel
na própria folha do livro ao qual se referia. Também utilizava esses
papéis para escrever quadros e esquemas que facilitassem a visualização da matéria. Quando lia uma decisão judicial ou a opinião de
um autor renomado sobre algum assunto importante, também fazia
uma remissão em post-it e fixava o papel na página que tratava desse
assunto, mesmo que ainda não tivesse chegado nesse ponto do livro.
Desse modo, quando chegasse nesse ponto, estaria ali a anotação
sobre aquela importante decisão ou opinião de outro autor sobre a
mesma questão.
Igualmente, utilizava uma convenção de cores como aquela das
canetas marcatexto. Em papel amarelo, anotava observações gerais,
quadros e esquemas; em verde, fazia remissões a jurisprudências; em
laranja destacava citações de outros autores; o azul era usado para
indicar prazos; e em rosa resumia regras de competência.
Esse recurso também pode ser utilizado nos códigos em substituição às anotações a lápis. Os editais permitem o uso dos códigos,
mas desde que não tenham quaisquer anotações. Então, ao invés rabiscar a lápis no próprio código, use o papel autocolante, porque é
muito mais fácil remover esse papel do que apagar o rabisco.
Com o uso de canetas marcatexto e papéis coloridos, é claro
que, ao final da leitura, o livro parecia um bloco de carnaval... E até
hoje, quando observo uma marcação com essas cores, lembro desses
tempos de estudo...
Dúvidas. No curso de uma leitura, evite interromper o estudo
para sanear dúvidas surgidas. É normal que muitas incertezas surjam
77
Leandro G. M. Govinda
enquanto se está lendo, em razão de ambiguidades ou contradições
do texto. Às vezes, essa dúvida será esclarecida um pouco mais adiante no capítulo ou no tópico lido. De qualquer forma, a menos que
seja uma dúvida realmente crucial, anote-a em separado e, após o
estudo, faça as pesquisas e consultas complementares para resolver
essas questões que ficaram em aberto. Do contrário, o estudo não vai
render.
Nas aulas de cursinhos preparatórios, ao contrário, não deixe
para sanear uma dúvida no final da aula ou na aula seguinte. Pela
dinâmica de uma aula expositiva, é mais difícil para o professor
retomar um raciocínio anterior quando já está em um ponto mais
avançado da matéria. Então, se for possível, aproveite as vantagens
que a oralidade oferece e participe ativamente da aula, fazendo intervenções e suscitando as dúvidas sempre que alguma explicação não
estiver clara.
Lembro-me da época em que fazia cursinho pré-vestibular e
era um dos únicos alunos da turma a interromper o professor para
esclarecer dúvidas. Depois de um tempo, muitos colegas já nem levantavam o braço, porque sabiam que eu logo faria isso para suscitar
a mesma dúvida.
Logicamente, você não vai estancar a aula insistindo em uma
dúvida que eventualmente não tenha sido suficientemente esclarecida. Se, mesmo com uma nova explicação, não for possível compreender a questão, aí sim anote a dúvida para conversar com o professor
ao final da aula ou fazer uma pesquisa por conta própria.
Informativos. Os informativos de jurisprudência são leituras
obrigatórias. Como bem disse meu irmão, ler apenas doutrinas servirá para escrever um belo tratado de Direito, mas isso não basta para
passar em um concurso público, em especial na área jurídica.
Os informativos de jurisprudência são publicações, via de regra semanais, dos Tribunais que reúnem os casos julgados mais im78
Começando a estudar
portantes ou destacados. Eles são escritos na forma de uma resenha
jornalística, com um resumo da situação de fato julgada e dos fundamentos que embasaram a decisão. Assim, cada leitura é uma verdadeira aula de aplicação prática dos conteúdos teóricos estudados nos
livros e nas apostilas.
Cada dia mais as bancas de concurso exploram nas provas os
entendimentos sedimentados na jurisprudência, em especial após as
reformas processuais que criaram os institutos da repercussão geral
(no STF) e do recurso repetitivo (no STJ). As decisões emanadas em
sede de repercussão geral e recurso repetitivo, conquanto não sejam
vinculantes, costumam ter uma força persuasiva bastante elevada, de
modo que a imensa maioria dos juízes acaba seguindo esse entendimento como se lei fosse. Daí a importância de conhecer esses precedentes.
Esses informativos, além de permitir acompanhar a evolução do
entendimento dos Tribunais, são uma boa fonte de revisão da matéria, já que exploram situações concretas que envolvem todas as searas
do direito. Servem também para esclarecer pontos controvertidos da
matéria.
Exercícios. Finalmente, faça exercícios com questões de provas anteriores e simulados. Depois de fazer algumas provas, você vai
observar que muitas questões e assuntos se repetem ano após ano.
Mudam algumas palavras, mas a abordagem é, no final das contas, a
mesma. Nem poderia ser diferente, já que o conteúdo do edital geralmente não muda. Assim, fazer as questões de provas anteriores é uma
ferramenta muito útil para a preparação do candidato. O próximo
tópico irá tratar disso com mais detalhes.
5.3.Simulados
A ideia de um simulado, como o próprio nome sugere, consiste
em simular uma situação de prova. Se resolver questões serve como
79
Leandro G. M. Govinda
uma espécie de treino livre, os simulados devem ser feitos observando-se, tanto quanto possível, a situação real de prova. Isso significa que você deve utilizar uma prova anterior e se programar para
resolvê-la no mesmo dia da semana e horário da prova real e dentro
do mesmo tempo estipulado no edital.
Quando eu realizava simulados, até no dia anterior adotava uma
rotina imaginando a véspera da prova: procurava relaxar, cuidava da
alimentação e dormia cedo. Também iniciava a prova lendo as instruções da folha de rosto e, ao final, preenchia uma folha de resposta
para o gabarito. Advertia a família e os amigos de que faria um simulado naquele dia e, por isso, não poderia ser interrompido. Separava
uma garrafa de água e um lanche para consumo durante o simulado.
Finalmente, programava as saídas para ir ao banheiro. Tudo exatamente como seria feito no dia da prova real.
Aliás, antes mesmo de começar a estudar, sugiro que seja feito
um simulado utilizando-se a prova aplicada imediatamente antes. É
muito provável que o resultado desse simulado não seja animador,
mas a nota não é importante, afinal você ainda nem começou a estudar. O propósito desse primeiro simulado é justamente situar o seu
grau de conhecimento sobre as matérias do edital. Assim, você saberá
o quanto precisa estudar para atingir o seu objetivo. Além disso, esse
primeiro simulado serve para conhecer os conteúdos mais explorados na prova, aos quais você dedicará mais tempo de estudo. Ainda,
conhecendo o estilo de prova, você poderá estabelecer uma estratégia
mais apropriada para os seus estudos.
Planeje realizar mais alguns simulados ao longo da sua preparação, a fim de aferir a evolução dos seus estudos. Deixe para fazer pelo
menos duas provas simuladas um pouco antes da prova de verdade.
Assim, você já entra no clima do concurso e diminui a sua ansiedade.
No dia da prova, será como fazer mais um simulado, só que dessa vez
para valer!
80
Começando a estudar
5.3.1. Provas objetivas
O primeiro simulado que você deve realizar é, naturalmente, o
de uma prova objetiva, já que essa é a primeira prova de qualquer
concurso público. E aqui não tem muito mistério, pois as provas de
concursos e os respectivos gabaritos estão disponíveis em diversos
sites na internet. Além das provas dos concursos para o cargo almejado, você também pode fazer provas de outros concursos organizados
pela mesma instituição que usualmente realiza a prova do concurso
que pretendes prestar (na esfera federal, as mais comuns são Fundação Carlos Chagas, ESAF e CESPE). Igualmente, são válidas as provas
elaboradas por bancas diferentes, mas para o mesmo cargo em diversos estados da federação, já que o conteúdo programático é bastante
semelhante.
Para quem estuda em cursinhos preparatórios, é comum a direção do curso organizar provas simuladas com questões elaboradas
pelos professores. Esses simulados são interessantes também, pois as
questões via de regra se assemelham muito à prova real. Apenas cuide para não se deixar impressionar pelo resultado desses simulados,
especialmente quando é publicada a classificação dos alunos. Se você
foi mal, não se desespere. A nota do simulado serve justamente como
alerta para permitir uma correção de rumos nos seus estudos. Se, ao
contrário, você se saiu bem, não se iluda pensando que a sua vaga já
está garantida. Simulado é simulado. Continue estudando focado em
seu objetivo para evitar surpresas desagradáveis no futuro.
Tão importante quanto realizar a prova simulada é conferir os
acertos e os erros. Essa conferência não é simplesmente contar o número de acertos e erros. A conferência é um verdadeiro estudo sobre
a prova. Para facilitar essa conferência, durante o simulado anote ao
lado das questões um código para saber quais geraram dúvida. Depois, examine cada uma dessas questões, inclusive as que acertares, a
fim de certificar se o acerto foi consciente ou um simples chute. Es
81
Leandro G. M. Govinda
tude nos livros o conteúdo das questões que geraram dúvidas ou que
foram respondidas erroneamente. As dúvidas e erros esclarecidos ficarão gravados em sua memória e dificilmente se repetirão no futuro.
Diante de uma questão semelhante na prova real, você vai lembrar
do simulado e, dessa vez, acertará a questão. Ao final da conferência,
elabore um balanço global com algumas estatísticas, relacionando os
acertos e erros ao conteúdo do edital. Separe as questões cujo conteúdo já foram estudados e calcule o percentual de acerto só em relação
a esse grupo de questões. Isso dá uma boa visão sobre a evolução dos
estudos e os pontos que precisam de mais atenção.
Os simulados são importantes para quaisquer tipos de prova.
Naturalmente, a sua utilidade para as provas objetivas é mais evidente, já que, como disse, muitas questões se repetem.
5.3.2. Provas discursivas
Em relação às provas discursivas, apesar de as questões não se
repetirem com a mesma frequência, os simulados servem para você
treinar a sua redação e o formato da sua resposta. Na hora da correção, você pode ter alguma dificuldade para saber se a sua resposta
está certa, pois muitas bancas de concurso ainda não publicam um
gabarito oficial para esse tipo de prova, fato esse lamentável. No entanto, ainda que não seja possível aferir a exatidão da resposta, o mais
importante será conhecer o tipo de pergunta, aprender a controlar o
tempo e fazer uso de códigos para consulta.
Os simulados das provas discursivas servem até mesmo para
treinar a caligrafia. Sim, a caligrafia é um fator importante na avaliação do candidato. A propósito, há sempre nos editais a previsão
de que a resposta, se for manuscrita, deverá ser escrita em letra legível. Não conheço um candidato cuja prova deixou de ser corrigida
porque a letra era ilegível. Mas coloque-se no lugar do examinador
e imagine a reação dele diante de uma prova escrita com uma letra
82
Começando a estudar
bem desenhada, bonita, sem borrões. Agora, imagine esse mesmo
examinador ter que corrigir uma prova na sequência, cujas letras sejam verdadeiros garranchos, quase hieróglifos. Calcule a irritação do
examinador forçado a tentar adivinhar nove em cada dez palavras...
É claro que não se exige uma letra perfeita. Há, sem dúvida, uma
certa tolerância em relação à escrita disforme, pois os corretores sabem do nervosismo natural dos candidatos e do pouco tempo para
responder às questões. Esses fatores prejudicam a caligrafia de qualquer pessoa. Daí porque é importante treinar esse elemento através
de simulados. Quanto mais clara e compreensível a letra da sua escrita, mais boa vontade terá o examinador para corrigir a sua resposta.
Agora, o aspecto mais importante dos simulados de provas subjetivas é mesmo treinar a redação das respostas. Muitas vezes você
até sabe um determinado conceito, mas na hora da prova pode ter
dificuldade para expressar essa ideia no papel. Ao escrever repetidas
vezes, você aprende a organizar os elementos básicos de qualquer redação: introdução, desenvolvimento e conclusão. Aliás, elaborar um
texto com essa estrutura básica não pode ser um problema no momento da prova. Você precisa saber organizar as ideias de modo concatenado, a fim de garantir que a sua resposta será clara, bem construída e plenamente compreensível.
Uma dica para escrever bem é ler bastante, especialmente os
editoriais de jornais e revistas. Nesses editoriais você encontra todos
os elementos da dissertação: o jornalista introduz o assunto que será
abordado. Depois, explora os aspectos mais importantes ou polêmicos desse tema, expondo o ponto e o contraponto. Ao final, o editorialista conclui emitindo a sua opinião acerca da temática tratada.
Além dos simulados, treine elaborando redações sobre qualquer assunto. Escolha um tema que seja atual e que você tenha um
relativo conhecimento acerca dele e escreva uma redação como se
fosse uma prova de vestibular. Ao final, peça para um amigo ler e
83
Leandro G. M. Govinda
avaliar a sua composição. Faça também exercícios pontuais durante
os seus estudos. Ao final de uma leitura, por exemplo, feche o livro
e tente lembrar dos conceitos aprendidos naquela leitura. Formule
esses conceitos por escrito e depois confira essa resposta com a descrição do autor. Além de treinar a escrita, isso também ajuda a fixar o
conteúdo estudado. Outro exercício interessante é escrever algumas
perguntas sobre assuntos pontuais. Quando já tiver escrito algumas
dezenas de questões, coloque-as em uma urna. De vez em quando,
sorteie três ou quatro dessas perguntas e tente responde-las em 10
ou 15 linhas e dentro de um prazo predeterminado de 15 a 20 minutos para cada pergunta. Depois, verifique se as suas respostas estão
corretas. Ao mesmo tempo que você relembra aquele conteúdo, você
treina a redação.
5.3.3. Provas orais
As provas orais também podem ser simuladas. Via de regra,
ninguém se prepara para uma prova oral antes de chegar nessa fase.
Em geral, a prova oral é antecedida por uma fase de inscrição definitiva, na qual é feito uma pesquisa da vida pregressa do candidato
e avaliação psicológica. Em vista disso, o intervalo de tempo entre a
divulgação do resultado da prova discursiva e a data da prova oral é
relativamente extenso. De qualquer modo, não espere a divulgação
do resultado da prova discursiva para só então iniciar a preparação
para a prova oral. Especialmente quando a banca divulga um gabarito
oficial da prova discursiva, você já tem condições de avaliar as suas
chances de aprovação. Se essas chances forem boas, então não perca
tempo e já comece a se preparar para a prova oral.
Os simulados das provas orais necessariamente devem ser feitos
em grupo. O ideal é reunir um grupo pequeno de pessoas (4 ou 5 no
máximo). Nessa fase do concurso, o número de candidatos já é bem
menor e geralmente poucos são reprovados. É comum também muitos candidatos já se conhecerem, porque estudaram juntos em algum
84
Começando a estudar
cursinho ou porque fizeram provas anteriores de outros concursos.
Por isso, na fase da prova oral, há uma certa solidariedade entre os
candidatos, de modo que é relativamente fácil formar esses grupos
para preparação para a prova oral.
Uma vez formado o grupo, é preciso organizar um calendário de
encontros periódicos, considerando a disponibilidade dos integrantes e a data estimada da prova oral, bem como definir o que será objeto de estudo. Se houver tempo suficiente, o grupo pode tentar revisar
todo o conteúdo do edital, a fim de evitar qualquer surpresa no dia
da prova. Se o tempo for curto, então é necessário eleger os principais temas que serão objeto de estudo. Esses temas serão divididos
em pontos, que serão estudados durante os intervalos dos encontros
definidos pelo grupo.
Cada integrante do grupo deve ficar responsável por elaborar
perguntas e respostas para o ponto do encontro seguinte. Se todos
fizerem perguntas sobre todas as matérias, haverá certamente um
desperdício de tempo, porque muitas perguntas serão repetidas. Então, o ideal é que cada um prepare o simulado de algumas matérias
e, depois, compartilhe esse material com os demais integrantes do
grupo antes do encontro.
O grupo de estudos que integrei durante a preparação para a
prova oral do Ministério Público de Santa Catarina se organizou da
seguinte forma. Dividimos as matérias do edital em oito partes, já que
teríamos oito encontros até a prova oral. Marcamos os encontros para
todos os sábados e, durante a semana, cada um preparava as perguntas e respostas do ponto que lhe foi atribuído naquela semana. Até
meados da semana, as perguntas deveriam estar prontas para serem
encaminhadas aos demais membros do grupo. Assim, cada um teria
alguns dias para estudar as questões elaboradas pelos demais.
As perguntas devem ser elaboradas considerando o perfil da
banca do concurso. Na área jurídica, há bancas que exploram mais
85
Leandro G. M. Govinda
discussões doutrinárias, enquanto outras preferem abordar simplesmente os dispositivos de lei. Por isso, é fundamental conhecer os
examinadores, em especial aqueles que já integraram bancas de concursos anteriores. As provas objetiva e discursiva também dão pistas
sobre o perfil da banca, principalmente para saber os assuntos considerados mais relevantes.
Outro aspecto fundamental do simulado é criar uma atmosfera
semelhante àquela da prova oral. Ou seja, tanto quanto possível, os
integrantes do grupo devem tentar reproduzir o perfil dos examinadores da banca, fazer provocações e confrontar o candidato, definir
tempo certo para cada arguição. Enfim, trata-se de um simulado sério e não de um descontraído encontro entre amigos. Chamo a atenção para esse aspecto porque é natural que, ao longo dos encontros,
os membros do grupo adquiram maior intimidade e, nesse momento,
a seriedade dos trabalhos pode ficar comprometida. Um tempo reservado para descontração é importante porque alivia o cansaço e a
tensão dos estudos. Mas essas ocasiões devem ser episódicas e não
uma regra de convivência.
Se um dos integrantes do grupo conhecer alguém que tenha
sido recentemente aprovado no mesmo concurso, convidem-no para
participar de alguns encontros. Essa pessoa pode auxiliar muito os
candidatos avaliando a postura de cada um durante o simulado.
Aliás, por falar em postura, preste muita atenção no seu comportamento durante o simulado. O comportamento adotado durante
o simulado será reproduzido no momento da prova. Isso significa
que os cacoetes, os vícios de linguagem, a gaguez, a direção do olhar,
os gestos com as mãos, braços e pernas, isso tudo que você espontaneamente pratica será exibido da mesma maneira durante a sua
arguição oral. Por isso, aproveite os simulados para melhorar esses
aspectos da sua apresentação e mudar alguns hábitos inconvenientes,
como gesticular demais, olhar para baixo, repetir sílabas ou ruídos
86
Começando a estudar
(do tipo “hummm”, “éééé”, “hããã”). Repita os atos de uma postura
adequada até que se torne natural e, na hora da prova, você não precise
se preocupar com isso.
O nosso grupo era bastante atento a esse aspecto e sempre alertávamos os colegas quando algo chamava a atenção negativamente.
As mudanças de postura eram visíveis desde os primeiros encontros
até o último.
Enfim, a realização de exercícios e provas simuladas é bastante
cansativo e, às vezes, desanimador em vista dos resultados obtidos. O
mais importante é não desistir. Especialmente na fase da prova oral,
quando o candidato já percorreu um longo caminho, é natural que o
cansaço, às vezes, impere. Também o medo nessa fase é maior, afinal,
se você chegar até a prova oral, já está com um pé lá dentro. E quando
se está tão próximo do objetivo, é natural que o medo de perder tudo
o que foi conquistado aumente.
Mas é nesses momentos que você mostra o seu valor, resgatando
energias de onde menos se espera para seguir a sua caminhada. É o
que se chama superação!
Recordo-me de uma das colegas do grupo de estudos da prova
oral que, por mais de uma vez, teve crise de choro em razão do esgotamento mental. A gente parava os estudos, conversava para reanimá-la e seguia adiante. Apesar dos seus temores, no dia da prova, ela
estava muito preparada e foi aprovada no concurso.
Então, não desanime nunca!
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Dicas de prova
Capí t ulo 6
Dicas de prova
Bem, só estudar muito não é suficiente fazer uma boa prova e
ser aprovado em um concurso público. Óbvio que estudar deve ser
a sua maior preocupação ao longo da preparação. Porém, o estado
emocional, a atenção, a racionalidade, a intuição, todos esses elementos também influenciam no resultado da prova.
Até a sorte é um fator decisivo. Para comprovar isso, basta lembrar que a diferença entre o último aprovado e o primeiro reprovado, às vezes, é de apenas uma mísera questão. Como ninguém sabe a
resposta de todas as questões, pode estar certo de que essa questão a
mais foi produto de um chute certeiro. E acertar um “chute” depende
muito dessa sorte.
Pensando nas provas discursivas, o fator sorte é mais evidente, afinal, mesmo havendo um gabarito oficial, a correção da prova
é muito subjetiva. O responsável pela correção da sua prova pode
ser mais ou menos rigoroso; a sua prova pode ser corrigida em um
dia em que o corretor, por qualquer motivo, está de mal com a vida
ou muito feliz; a sua prova pode ser corrigida logo no início do dia,
quando o corretor tem mais atenção aos detalhes, ou ao final de um
dia de trabalho, quando o corretor estará mais propenso a relevar
alguns erros. Não raro a reprovação se dá por décimos. Um dos meus
colegas Promotores de Justiça havia sido reprovado na segunda fase
do concurso anterior do Ministério Público por 0,01 ponto. Sabe o
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Leandro G. M. Govinda
que isso representa? Uma vírgula. Uma simples vírgula colocada no
lugar errado foi o suficiente para descontar do candidato essa pontuação e resultar na sua reprovação no concurso. Nada mais. Alguém
duvida que a correção de uma vírgula varia de um examinador para
outro?
Então, está claro que a sorte ajuda. Agora, não se engane achando que alguém passou em um concurso porque é sortudo. Passou
porque estudou. Aquele 0,01 representa o fator sorte. Mas ninguém
é aprovado somando só 0,01 ponto. Todo o restante da pontuação
necessária é fruto de anos de estudo. Então, não conte só com a sorte
para ser aprovado. Até porque a boa ou má sorte não depende de
você. Faça a sua parte, que é estudar, e deixe a sorte com o divino,
afinal “Deus ajuda, quem cedo madruga”. Se tiver estudado bastante,
a sorte o acompanhará!
Outro fator relevante é controlar as suas emoções e, principalmente, os seus pensamentos. É comum o candidato fazer a prova
pensando, por exemplo, no resultado. E isso é muito ruim, porque
desvia o seu foco. Preocupe-se unicamente em fazer a prova. O resultado vem depois. Projetar sonhos, medos, fantasias, tudo isso pode
ser um ótimo combustível para estudar, mas, se você ficar pensando
nessas coisas durante a prova, o seu resultado será desastroso. Esqueça o mundo lá fora, enquanto estiver respondendo às questões.
Para isso, quando você já estiver na sala de prova, ao invés de ficar conversando fiado com os outros candidatos, reserve os momentos antes da prova para fazer um exercício de concentração. Mantinha
uma postura relaxada, cruze os braços sobre a mesa e deite a cabeça
sobre os braços. Feche os olhos e inicie um processo de esvaziamento da sua mente de todo o lixo mental ali presente: compromissos
rotineiros, família, trabalho, problemas, finanças, notícias, tudo isso
deve ficar de fora da sua mente naqueles instantes. Tente não pensar
em nada.
90
Dicas de prova
Esse exercício ajuda a diminuir a ansiedade, na medida em que
você se esforça apenas para não pensar, e permite que a sua mente se
concentre na única coisa que interessa naquele momento, que é a prova. Todo o seu foco e a sua energia são direcionados para um único
fim: resolver as questões que serão enfrentadas a seguir.
Esse exercício vale para qualquer prova.
Além do estudo, da sorte e dessa concentração, observar algumas técnicas no momento da prova podem ajudar e muito na obtenção de um bom resultado. É o que será abordado nos próximos
tópicos.
6.1. Prova objetiva
6.1.1. Atenção, atenção e atenção
A prova objetiva - aquela do tipo “a,b,c,d,e” - representa o primeiro obstáculo na corrida por uma vaga no serviço público. Em
muitos concursos, é o único obstáculo. Obter um bom resultado nessa prova, além de garantir a sua aprovação para a próxima etapa do
concurso, ainda contribuiu para inflar a sua confiança e renovar as
suas energias para continuar estudando.
Para realizar uma boa prova objetiva, a dica fundamental é seguir uma instrução elementar presente em todos os cadernos de prova: “Leia com atenção todas as questões”. Alguns candidatos insistem
em não levar a sério essa instrução. Por incrível que pareça, o erro
mais comum dos concurseiros é justamente não ler atentamente a
questão antes de assinalar a sua resposta. Via de regra, a desatenção
decorre, no início da prova, do nervosismo e da ansiedade e, no final,
do cansaço do candidato. Daí a importância daquele momento inicial
de concentração.
Ler a questão inteira significa ler o enunciado E as alternativas.
Todas! É impressionante, mas muitos candidatos são tão ansiosos que
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Leandro G. M. Govinda
leem só o começo do enunciado e já pulam para as alternativas. Não
faça isso. Leia o enunciado da questão até o final sempre.
Os enunciados mais comuns pedem para o candidato assinalar
a alternativa correta. Porém, algumas questões pedem para apontar
a alternativa INcorreta. O que acontece? O candidato mais afoito
não presta atenção no enunciado e já assinala direto a primeira alternativa, que normalmente é uma afirmação facilmente identificada como certa justamente para induzir o desatento a marcá-la (é o
famoso “pega ratão”). Alguns candidatos não percebem o equívoco
nem mesmo na hora de conferir o gabarito e ficam indignados com
a banca. Chegam até a recorrer para alterar o gabarito ou anular a
questão. O que faltou nesse caso? Ler o enunciado com atenção. Só
isso.
Outro tipo de enunciado que pega muito ratão diz que todas
as alternativas estão certas (ou erradas) EXCETO... Novamente, o
candidato lê apenas o começo do enunciado e já parte para as alternativas, a fim de identificar a certa (ou errada). Porém, a palavra
EXCETO indica que a resposta correta é exatamente o oposto do que
sugere o enunciado: se fala “alternativas certas”, busca-se a errada; se
fala “alternativas erradas”, busca-se a certa.
Depois de ler o enunciado, comece a ler as alternativas. Se o
enunciado manda marcar a alternativa correta, por mais que você esteja convencido do acerto da alternativa “a”, leia todas as demais. Isso
porque, às vezes, não se atenta para algum detalhe na primeira leitura
que torna a assertiva incorreta. Ao ler as demais, você vai identificar
outra igualmente correta a seu ver. Nesse instante, surge a dúvida e
você volta para a letra “a” e lê de novo, buscando identificar o erro
da afirmativa. Aí você observa aquele detalhe e percebe o erro. Esse
detalhe geralmente é a palavra “não” ou “sempre” ou “nunca”. Numa
primeira leitura, pode não se enxergar essas expressões, que mudam
completamente o sentido da assertiva.
92
Dicas de prova
Aliás, tome muito cuidado com os advérbios nunca, sempre, jamais e expressões como “é impossível”. Lembre-se que toda a regra
tem exceção, especialmente quando se trata de regra jurídica. Essas
palavras ou expressões sugerem uma regra infalível, o que é extremamente raro. Por isso, desconfie do acerto de uma alternativa que
afirma que algo nunca pode, ou sempre é assim, ou jamais ocorre, ou
é impossível tal coisa.
Fique atento também para as questões que apresentam várias assertivas (três a cinco) numeradas com números romanos (I, II, III, IV,
V). Quando o enunciado pede para assinalar a alternativa que identifica as afirmações corretas ou incorretas, é simples: basta procurar
a alternativa que reúne as assertivas certas ou erradas, conforme o
enunciado. Porém, às vezes, o enunciado só pede para marcar a alternativa correta. Nesse caso, você precisa ler com a atenção as alternativas oferecidas, porque pode estar correta tanto a alternativa que
identifica as assertivas certas (I e III são verdadeiras) quanto aquela
que aponta as erradas (II e IV são falsas).
Portanto, leia sempre com muita atenção os enunciados e as alternativas, destacando com um sublinhado ou um círculo as palavras
chaves que orientarão a sua resposta, como, por exemplo, CORRETA,
INCORRETA, NÃO, JAMAIS, NUNCA, ÚNICA, SOMENTE, VERDADEIRO, FALSO, EXCETO, SEMPRE, entre outras.
6.1.2. A arte de chutar
Em uma prova objetiva, resolver as primeiras questões geralmente é a tarefa mais difícil por conta do nervosismo e da ansiedade.
Por essa razão, comece a prova respondendo às questões das matérias
que você mais domina. Mesmo assim, não pretenda resolver todas
as questões na exata ordem que aparecem na prova. Se surgir uma
questão aparentemente difícil ou que suscite uma dúvida razoável,
pule para a seguinte. Apenas faça uma marcação para lembra-lo de
reexaminar aquela questão mais tarde.
93
Leandro G. M. Govinda
Ao resolver todas as questões mais fáceis, você ganhará confiança para enfrentar novamente as que geraram dúvidas. E não raro
a resposta de uma questão difícil pode estar em uma alternativa de
outra questão fácil. Veja bem: quando você tem certeza sobre uma
alternativa correta em uma determinada questão, isso significa que
as demais alternativas dessa questão estarão erradas. As alternativas
erradas e, às vezes, até a certa mesmo podem dar uma pista ou fazer
você lembrar qual a resposta correta daquela outra questão que ficou
em dúvida.
Agora, sempre haverá um certo número de questões que, por
mais que você pense, medite, leia, não saberá ou não lembrará a resposta. Partindo do pressuposto de que você não vai deixar questões
em branco, só há um caminho: chutar a reposta!
Estatisticamente, havendo cinco alternativas possíveis, você tem
pelo menos 20% de chances de acertar. Em geral, porém, a dúvida fica
entre duas ou três alternativas apenas, porque as demais você consegue eliminar a partir dos seus conhecimentos. Isso significa que as
suas chances de acertar sobem para 30% ou 50%.
Chutar uma questão não é responder de olhos fechados ou
escolher uma alternativa aleatoriamente. Chutar é a uma arte! Por
meio do chute, você elimina possibilidades a partir de técnicas simples! Sim, porque mesmo quando você ignora completamente o tema
abordado na questão, é possível, por meio de uma certa lógica, da sua
experiência de vida e do exame da própria prova, eliminar algumas
alternativas, seja pelo absurdo, seja pela incompatibilidade com outras respostas. Vejamos essas técnicas.
Primeiro, elimine as assertivas que contenham as regras infalíveis, as quais, como disse antes, normalmente são descritas com os
advérbios nunca, sempre, jamais e expressões do tipo “é impossível”.
Como toda regra tem exceção, as alternativas com trazem essas expressões quase sempre estão erradas. Pelo menos uma alternativa
será eliminada.
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Dicas de prova
As questões que reúnem assertivas identificadas por números
romanos também permitem eliminar facilmente algumas alternativas, desde que você tenha certeza sobre a correção ou incorreção de
pelo menos uma das assertivas. Aliás, nesse tipo de questão, examine
primeiro as alternativas, porque, às vezes, algumas assertivas aparecem em todas as respostas possíveis. Nesse caso, você não precisa
perder tempo pensando se essa assertiva é certa ou errada.
A partir das assertivas que você tem certeza serem certas ou erradas, você elimina as alternativas que apontam a assertivas erradas
como certas, assim como aquelas alternativas que não incluem a assertiva correta entre as certas.
O mesmo pode ser feito com as questões de assertivas, cujas
alternativas trazem uma sequência de “V” e “F” (V, V, F, V, F, por
exemplo).
Outro exame a ser feito é sobre eventuais alternativas incompatíveis entre si. Em muitas situações, você percebe que duas respostas
conduzem a uma mesma conclusão ou têm o mesmo sentido, apesar
de escritas de modo diferente (por exemplos: “não bata na porta” e
“entre sem bater”). As duas afirmações, apesar de escritas de modo
diferente, têm o mesmo sentido, de modo que ou ambas são verdadeiras ou ambas são falsas. Ou seja, elas se eliminam mutuamente.
Se o enunciado pede para marcar a única alternativa “correta”, então
aquelas duas alternativas só podem estar erradas, porque, se ambas
forem corretas, a questão fatalmente será anulada. E vice-versa.
Verifique também as questões com assuntos correlatos que você
assinalou a resposta correta sem dúvida, especialmente aquelas com
assertivas (os números romanos ou V e F). A alternativa certa, assim
como as demais erradas pode dar pistas que ajudam a eliminar alternativas daquela questão que você tem dúvida.
Se você não lembra exatamente da teoria, ao examinar uma
questão tente associar as alternativas a sua experiência de vida. O co
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Leandro G. M. Govinda
tidiano traz situações de vida que envolvem a aplicação prática do direito. Diuturnamente, você trava relações no trabalho, na família, no
supermercado, na empresa, nos negócios que têm respaldo em dispositivos das leis trabalhistas, civis, consumeristas, comerciais, ambientais, etc. Assim, é possível eliminar algumas alternativas porque, em
razão de um conhecimento prático, você sabe que aquela afirmação é
correta ou errada. Essas experiências particulares são uma fonte muito rica para ser aproveitada em uma prova.
Por exemplo, você pode não ter estudado o tópico de inadimplemento contratual, mas sabe o que significa uma arras, porque já
celebrou um contrato de compra e venda. Igualmente, pode não ter
estudado direito ambiental, mas sabe que as dunas são áreas de preservação permanente, porque quando vai à praia observa uma placa
com esses dizeres sobre a areia. Pode nunca ter estudado direito do
trabalho, mas sabe que as horas extras são remuneradas, no mínimo,
50% acima do normal, porque já fez várias horas extras para o seu
patrão. E pode não ter assistido uma única aula de direito de família,
mas, se for separado ou divorciado, sabe que, mesmo assim, a sua
sogra continua sendo a sua sogra, porque o vínculo familiar por afinidade na linha reta não se dissolve com a dissolução do casamento.
Finalmente, reflita sobre as afirmativas propostas. Entre duas
respostas possíveis, prefira sempre a mais plausível. Ou seja, elimine
aquela que conduza a um absurdo ou uma ilogicidade.
Agora, se mesmo após empregar essas técnicas, você continuar
em dúvida entre duas ou mais alternativas, seu último recurso será
fazer uma conta matemática: some o número de respostas que você
assinalou para cada alternativa. Ao chutar, escolha a alternativa que
tenha o menor número de respostas. Como geralmente as repostas
corretas são distribuídas de modo equânime entre as alternativas
possíveis (a,b,c,d ou e), a tendência é que você acerte mais se assinalar
as respostas com menor número de ocorrências na sua prova.
96
Dicas de prova
Veja que, a partir do emprego dessas técnicas, ainda que não
saiba a resposta, você pode aumentar as suas chances de acerto. Obviamente, essas técnicas não são infalíveis. Às vezes, a alternativa aparentemente mais absurda – e que por isso mesmo foi a primeira a
ser eliminada – é justamente a resposta correta. De qualquer forma,
aplicando as técnicas acima, a probabilidade de você acertar ainda é
maior do que errar.
Outro detalhe: essas técnicas são mais úteis para aquelas provas
objetivas do tipo “a,b,c,d,e”. Atualmente, é bastante comum provas de
“verdadeiro” ou “falso”. Nesse tipo de prova, as questões são simples
afirmativas e você tem que identificar cada uma delas como verdadeira ou falsa. O lado positivo dessas questões é que você tem sempre
50% de chance de acertar. O lado negativo é que você tem igualmente
50% de chance de errar...
Como não é possível eliminar alternativas, as provas de “V” ou
“F” são mais difíceis de chutar. Ou você sabe ou você não sabe a resposta. Mesmo assim, algumas técnicas podem ser utilizadas, como
observar as afirmativas que conduzem à mesma conclusão (ou ambas
são verdadeiras, ou ambas são falsas) e associar a sua experiência de
vida para tentar desvendar a resposta.
Agora, em qualquer tipo de prova, tenha muito cuidado com
o chute, quando o edital prevê o desconto de pontos por erros. Normalmente, a regra define que uma certa quantidade de respostas erradas eliminam uma resposta certa. Alguns concursos, no entanto, são
mais radicais e estipulam que um erro elimina um acerto.
Essa regra visa inibir o chute. De fato, se chutar muitas questões,
a tendência é errar mais e, por conseguinte, ter um desconto maior
na nota final. Por outro lado, se você só assinalar as respostas que
tiver 100% de certeza, provavelmente também não vai alcançar uma
boa nota. Primeiro, porque poucas são as questões que você terá total
convicção sobre a resposta correta. Segundo, porque, apesar da confiança, é possível que a sua resposta esteja errada.
97
Leandro G. M. Govinda
O que fazer então? A saída é fazer algumas estatísticas. Veja a
minha experiência. Primeiro, fazia um levantamento da nota de corte
dos últimos anos do concurso a ser prestado. Com base nessa média,
definia uma nota mínima que precisaria tirar para garantir que estaria classificado. Depois, fazia alguns simulados de provas anteriores e
observava os resultados obtidos respondendo todas as questões.
Se, na média, o número de acertos era suficiente para atingir a
nota mínima, mesmo com os descontos, então ia para a prova decidido a assinalar todas. Eu até fazia um ou dois simulados sem responder todas as questões, mas os resultados eram desastrosos. O desempenho era muito pior do que assinalando todas.
Outro número que observava nos simulados era o de acertos e
erros só das questões chutadas. Como os meus chutes eram conscientes, porque aplicava as técnicas antes referidas, o número de erros não
era significativo. Quer dizer, eu acertava mais do que errava chutando. Assim, os chutes me rendiam mais pontos do que descontos. Por
isso, no meu caso, era preferível chutar uma questão do que deixá-la
em branco.
O desempenho dos simulados espelha com alguma fidelidade
o resultado que você vai obter na prova. Geralmente, o resultado da
prova é um pouco abaixo do esperado, já que a ansiedade e o nervosismo (ausentes em um simulado) acabam prejudicando um pouco
o desempenho. Porém, não foge muito do resultado do simulado, de
modo que você pode confiar nesses números para orientar sua decisão sobre assinalar ou não todas as questões.
Portanto, se os resultados dos seus simulados apontam que invariavelmente o seu número de acertos, descontados os erros, não é
suficiente para atingir a nota mínima estimada, então tenha muito
cuidado ao chutar. Ao final, você pode ficar “devendo” pontos para
a banca.
Alguns candidatos fazem cálculos antes da prova para estimar
quantas questões responder no mínimo e quantas deixar em branco.
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Dicas de prova
Um amigo fez uma estatística e concluiu que, numa determinada prova, só poderia deixar em branco 2 ou 5 questões (ou seja, não poderia
deixar em branco 1, 3 ou 6 questões: ou deixava 2 ou deixava 5). Não
sei como ele chegou nesse resultado, mas ele levou em consideração
o número de questões da prova e a proporção do desconto. Nunca
entendi esse cálculo, por isso não me foi muito útil. Um matemático
talvez possa explicar essa fórmula.
De todo modo, na hora da prova, seja criterioso para avaliar se
responde ou não determinada questão. Não é qualquer dúvida que
irá inibi-lo de responder. Deixe em branco somente aquelas questões
sobre as quais você realmente não tem qualquer conhecimento para
embasar uma resposta. Se você estudou a matéria abordada na questão e tem noção do que está sendo tratado, então responda, ainda que
remanesça alguma dúvida na sua cabeça.
Não tenha medo de errar. Você não vai acertar todas mesmo,
então não fique tentando adivinhar quais vai acertar e quais vai errar,
porque isso é uma loteria. Na hora de conferir o gabarito, você sempre vai se surpreender com questões sobre as quais você tinha certeza
e errou e outras que você tinha muitas dúvidas e acabou acertando.
Então, fazer esse exercício de adivinhação durante a prova não é produtivo. Muitas vezes, você deixa de assinalar uma questão cuja resposta estaria correta. E, às vezes, a questão que você tinha convicção
da resposta está errada. Então, na hora da prova, não fique tentando
imaginar qual será o gabarito. Concentre-se na questão. E responda-a
se estiver razoavelmente convencido da resposta correta. Deixe em
branco quando realmente não tiver a menor ideia da resposta correta.
6.1.3. Preenchimento do gabarito
O preenchimento do gabarito é uma tarefa aparentemente simples, mas não há um concurseiro que não tenha enfrentado problemas nesse momento. Falta de tempo, rasuras, dobras, rasgos, aciden
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Leandro G. M. Govinda
tes com água, tudo isso pode acontecer... E, é claro, assinalar uma
resposta errada.
A folha de resposta, normalmente, é entregue logo no início da
prova. Confira se os seus dados estão certos e se a folha está íntegra,
sem rasuras, borrões ou qualquer outro dano. Observe também se
possui todas as questões e alternativas. Depois, preencha com os dados necessários (nome, número de inscrição e assinatura, na maioria
dos casos). Em resumo: siga as instruções que estão no caderno de
provas.
Feito isso, guarde essa folha em um local seguro, porque você só
vai usá-la ao final. Se houver uma prateleira debaixo da mesa, esse é
o local mais adequado para depositar a folha de respostas, longe de
líquidos, comidas e canetas. Cuide para não dobrar ou amassar as
pontas dessa folha. Qualquer dano pode prejudicar a sua correção.
A dica mais importante para preencher o gabarito é reservar um
tempo ao final da prova para fazer somente essa tarefa. Evite preencher o gabarito, enquanto ainda está fazendo a prova. Se você ficar
fazendo a prova e preenchendo o gabarito em seguida, você divide
a sua atenção entre a prova e o gabarito. Resultado: suas chances de
errar são maiores, tanto na análise da questão, quanto no preenchimento da resposta. Portanto, ao marcar o gabarito, concentre-se apenas nisso.
O tempo varia conforme o número de questões a serem respondidas. Durante os simulados que você fizer, observe o tempo necessário para preencher essa folha (lembre-se: o simulado deve ser fiel
à prova real, inclusive com folha de resposta). De modo geral, até 10
segundos para cada resposta é suficiente. Portanto, em um prova com
100 questões, será necessário reservar pelo menos 15 minutos para
preencher o gabarito. É o tempo de olhar o número de cada questão
e a resposta escolhida, procurar o número da questão na folha de
resposta e assinalar com a caneta a alternativa correspondente. Siga
100
Dicas de prova
sempre esse mesmo roteiro: olhe o número da questão da prova e a
resposta escolhida, depois procure o número da questão no gabarito
e, por fim, marque a resposta. Não confie que, por estar preenchendo
o gabarito na sequência, não é necessário olhar o número de cada
questão. Olhe e grave o número correspondente a cada questão.
Como você faz isso no final da prova, é natural que esteja cansado e ansioso para se livrar logo daquilo. Nesse momento, é comum
começar a pensar no resultado da prova, no seu desempenho, nas
chances de passar. Mas não deixe que essas aflições tirem a sua atenção. Tenha paciência e faça um último esforço de concentração. Se
for possível, antes de iniciar o preenchimento do gabarito, faça uma
pausa de cinco minutos, vá até o banheiro, lave o rosto e as mãos.
Esse breve descanso vai permitir que cumpra a sua última tarefa mais
relaxado.
De qualquer maneira, não se surpreenda se, apesar de toda a
atenção, você ainda errar ao assinalar alguma resposta. Não conheço
um só aprovado que não tenha perdido pelo menos uma questão em
decorrência do preenchimento incorreto do gabarito.
Às vezes, assinala-se uma letra diferente da alternativa escolhida. Não se desespere. Nem volte na questão para conferir qual era a
sua escolha. Uma vez assinalado o gabarito com caneta, não há como
retificar a resposta, então não adianta perder tempo se penitenciando
pelo erro. Até porque o seu erro de preenchimento pode se revelar
um acerto. Já aconteceu comigo de escolher uma resposta e, ao preencher ao gabarito, marcar outra por erro, mas ser esta justamente a
resposta correta da questão. Então, respire fundo, concentre-se novamente e siga preenchendo o gabarito com redobrada atenção.
Também é comum anotar a letra de uma questão no campo reservado para outra, uma vez que as linhas reservadas para cada questão são muito próximas e as fontes utilizadas, pequenas. Conheço
uma pessoa que começou a preencher o gabarito e, quando já tinha
101
Leandro G. M. Govinda
assinalado mais da metade, ela percebeu que havia pulado uma questão no início do preenchimento. Ou seja, marcou a 10 no campo da
11, a 11 no campo da 12 e assim por diante. Como percebeu o erro
tardiamente, ficou irritadíssima e só de raiva continuou preenchendo
do mesmo modo. Nesse caso, ela teve mais sorte que juízo e, para
surpresa dela (e de muitas pessoas até hoje, inclusive eu mesmo), foi
aprovada naquele concurso.
Não é possível saber se isso aconteceu de verdade, mas, de qualquer modo, não recomendo fazer o mesmo, pois é improvável que
outro candidato tenha a mesma sorte... Se acontecer de pular uma
questão, corrija imediatamente e retome as respostas a partir da última questão assinalada no gabarito.
Outro erro bastante corriqueiro é assinalar duas alternativas na
mesma questão. Sem perceber, você assinala uma resposta e, na sequência, assinala a resposta da questão seguinte no mesmo campo da
questão anterior. Por isso, cada vez que for preencher uma resposta,
siga aquele roteiro: olhar o número da questão e a resposta, procurar
o número da questão no gabarito e assinalar a resposta.
Para evitar esses erros, à medida que for preenchendo o gabarito, confira as respostas anteriores. Recomendo que essas verificações
sejam feitas a cada dez marcações.
Depois de preenchido o gabarito, faça uma última verificação
para conferir se cada questão está assinalada. Eventualmente, você
pode ter deixado uma em branco. Nesse caso, volte para a prova para
identificar a resposta escolhida e assinale no gabarito.
Se a prova for daquele tipo que desconta os erros de resposta,
observe qual é a instrução para deixar uma questão sem resposta. O
mais comum é ter que assinalar uma opção identificada como “em
branco” ou “sem resposta”. Porém, pode o edital prever que, nesse
caso, o candidato deve simplesmente não fazer qualquer anotação na
folha de resposta. Essa orientação não é comum porque permite que
102
Dicas de prova
a folha de resposta seja preenchida fraudulentamente por terceiros.
Enfim, leia o edital e as instruções da prova para fazer a anotação
conforme ordenado pela banca.
Finalmente, não se impressione com uma sequência de respostas com a mesma alternativa. Normalmente, durante a prova, você
não observa isso. No entanto, ao preencher o gabarito, chama a atenção quando há três ou mais questões em sequência assinaladas com a
mesma alternativa. Isso gera uma certa desconfiança de que alguma
daquelas respostas está errada. E provavelmente está errada mesmo.
Ocorre que você não sabe qual está errada, então não mude a sua
resposta só porque há uma sequência de letras iguais. Também não
tente forçar uma resposta diferente, procurando pelo em ovo só para
justificar a escolha de uma alternativa diferente.
Em Santa Catarina, houve um exame da OAB cujas respostas
de um determinado grupo de provas eram todas correspondentes à
letra “a”. Isso ocorreu porque a banca encaminhou as questões para
a empresa que iria aplicar a prova e combinou que as respostas de
todas as questões estariam na alternativa “a”. Caberia à empresa embaralhar essas alternativas para que, ao final, o número de respostas
corretas tivesse mais ou menos o mesmo número de alternativas. Só
que a empresa, por erro, não fez isso em um grupo de provas. Alguns
candidatos ficaram desconfiados e, inseguros, começaram a assinalar
respostas diferentes para várias questões. Outros, todavia, ignoraram
esse aspecto e seguiram firmes com a sua convicção. Naquela época,
contava-se que alguns candidatos logo perceberam o erro da banca e
nem chegaram a ler toda a prova: simplesmente assinalaram todas as
respostas como letra “a” e gabaritaram o exame. Lendas de concursos...
6.2. Provas discursivas
As provas discursivas são as grandes peneiras do concurso público. Depois de algum tempo se preparando, você vai perceber que a
103
Leandro G. M. Govinda
dificuldade não é passar na prova objetiva. O grande desafio é escrever. Para escrever bem é necessário ler muito e exercitar essa habilidade. E aí está o problema: no Brasil, as pessoas leem pouco e escrevem
menos ainda. Portanto, se você tem dificuldades para se expressar
através da escrita, trate de se aprimorar nessa área, pois, nas provas
discursivas, além do seu conhecimento teórico, será avaliada a sua
capacidade de exprimir ideias por meio da caneta e do papel.
Nas provas discursivas, novamente é fundamental o candidato ler
as instruções gerais para saber como devem ser respondidas as questões. Aliás, leia antes as regras expostas no edital sobre essa etapa do
concurso, que geralmente são bem diferentes da primeira (prova objetiva). As regras fazem referência ao tipo de letra, o número mínimo e
máximo de linhas e páginas para resposta, margens mínimas, campos
reservados ao examinador, cor da tinta da caneta, utilização de equipamentos (computador ou máquinas de escrever), entre outras.
O que pode gerar algum receio no candidato é o tipo de letra, já
que, em geral, é exigida a letra de forma. Isso porque esse tipo de letra
é comumente o mais legível. Porém, não tente mudar a sua letra para
a prova, pois isso é muito difícil e vai acabar dificultando mais do que
ajudando a sua caligrafia. Ademais, não se preocupe se a sua letra é
feia. Eu tinha essa preocupação até ver a prova de um candidato aprovado no concurso do Ministério Público de Santa Catarina. A letra do
candidato era medonha, mas era legível. Então, não importa muito a
forma ou a beleza da letra, mas se a sua caligrafia é legível. Se o for,
nenhum examinador deixará de corrigir a sua prova porque a letra é
cursiva e não de forma, porque é um garrancho e não um desenho.3
Além das instruções sobre o formato da prova, verifique também o regramento sobre o material que pode ser consultado, já que,
na maioria dos concursos, a banca admite que a consulta a legislação
3 Leia mais sobre caligrafia no capítulo 5 (tópico 5.3.2).
104
Dicas de prova
nessa etapa do concurso (vade mecum, códigos, leis impressas de sites
oficiais, etc.).
O ideal é utilizar na prova os códigos que você usualmente consultava durante os seus estudos. Por isso, evite fazer anotações nesses
códigos que não sejam permitidas segundo o edital. Se precisar fazer
anotações, utilize papel autocolante, que pode ser facilmente removido antes de fazer a prova.
Via de regra, os editais permitem destaques com canetas marcatexto, assim como marcações de folhas com adesivos coloridos.
Use canetas coloridas para assinalar os dispositivos de lei conforme o
tipo: regras gerais, remissões a jurisprudências, prazos, competência,
exceções, requerimentos, etc. Convencione uma cor para cada grupo
sublinhado.4
Esses destaques e marcações são muito úteis no momento da
prova, pois ajudam a encontrar facilmente as leis e os dispositivos
mais importantes. Faça esses destaques inclusive no índice cronológico da legislação. Isso tudo representa uma economia enorme de
tempo no momento da prova.
Por falar em tempo, estipule um tempo para responder cada
questão. Como definir esse tempo? Não há teoria para isso. Daí a
importância dos simulados com provas anteriores, pois permitem
avaliar esse aspecto. Depois de definir o tempo reservado para cada
questão, tente respeitar isso no momento da prova. Se você perder
o controle sobre o tempo, certamente não vai conseguir responder
todas as questões. Então, vencido o tempo para uma questão, passe
para a próxima. Se sobrar alguns minutos ao final, você pode retomar
aquela questão não terminada para concluir a resposta.
Ainda sobre o tempo, ao responder às questões, já o faça de
modo definitivo, porque não dá tempo de escrever um rascunho e
4 Leia mais sobre essas marcações no capítulo 5 (tópico 5.2).
105
Leandro G. M. Govinda
depois passar a limpo. Se cometer algum erro de redação, evite rasurar a sua prova, porque essas rasuras deixam a prova com um aspecto
visual horrível. A rasura não será objeto de avaliação propriamente,
mas está claro que isso influencia o ânimo do examinador. Portanto,
se errar, coloque uma vírgula, escreva “digo” e corrija o erro na sequência. Se não houver vedação no edital ou nas instruções de prova, deixe também uma margem de uns cinco centímetros em cada
folha de resposta (à esquerda, de preferência). Caso você se lembre
de um detalhe importante, poderá acrescentá-lo no ponto respectivo
da resposta, bastando puxar uma flecha desse ponto até a margem
reservada ao lado.
Ao escrever, prefira sempre ser impessoal, conjugando os verbos
na terceira pessoa do singular. Assim, a sua redação será mais técnica
e profissional. Escrever usando a primeira pessoa do singular ou do
plural pode parecer um pouco arrogante, especialmente se o examinador não concordar com a sua resposta.
Ainda, seja simples ao escrever. Evite utilizar palavras ou expressões rebuscadas. Mais uma vez vale a lembrança: você não está
escrevendo uma tese de doutorado. Ademais, o examinador pode não
ser tão culto e pensar que você está se exibindo. A correção da prova
é subjetiva e o pior que pode lhe acontecer é melindrar o corretor
obrigando-o a consultar o dicionário para saber o significado de alguma palavra. E o oposto também é ruim: se o examinador for muito
culto e você, por acaso, escrever uma palavra ou expressão de modo
inadequado, isso será motivo para escárnio. Se usar uma grafia errada, então, será uma tragédia. Portanto, escreva de modo ordinário,
comum, sem sofisticação ou requinte.
Evite também desenvolver frases muito longas para não perder
a linha de raciocínio. Quanto mais longa a frase, mais difícil de compreender a ideia exposta e maiores serão as chances de cometer erros,
especialmente de pontuação. Por isso, prefira sempre períodos curtos,
106
Dicas de prova
no máximo duas ou três linhas. Igualmente, seja criterioso na divisão
de parágrafos, evitando separar cada período (frase) em um parágrafo. Um parágrafo deve reunir um conjunto de ideias que formam um
todo completo e relativamente independente. Assim, procure agrupar as frases para formar os parágrafos com cinco ou seis linhas pelo
menos. Não vá ao extremo oposto de escrever parágrafos intermináveis. A sua resposta não pode parecer uma ata de condomínio.
Finalmente, se você não souber a resposta de uma questão discursiva, deixe-a por último, afinal, se faltar tempo, não fará muita
diferença. Mas jamais deixe uma questão em branco, a menos que
realmente não tenha nem um minuto para responde-la. Por menos
que você saiba, escreva alguma coisa no tempo que resta de prova.
Tente recordar da teoria geral associada ao tema abordado na questão
e explore-a. Sem fugir do tema proposto, fale de princípios e regras
gerais, tentando sempre vincular essas ideais à questão.
Não sabendo a resposta, procure escrever só o suficiente para
demonstrar o seu empenho e esforço em, pelo menos, revelar algum
conhecimento sobre o assunto. Pode ser que o examinador seja rigoroso e atribua nota zero para essa resposta. Porém, é mais provável
que o examinador valorize minimamente a sua resposta. Especialmente se a resposta for bem escrita, com um bom raciocínio, um português correto e uma boa caligrafia. Às vezes, um mesmo examinador da banca é responsável por corrigir mais de uma questão. Nesse
caso, o seu acerto relativo às outras questões induz o examinador a
ter boa vontade para avaliar aquela resposta mais evasiva. E isso pode
fazer muita diferença.
Na prova discursiva de direito penal do Ministério Público de
Santa Catarina do concurso que prestei, lembro que uma das questões era bastante longa e confusa. Naturalmente, deixei essa questão
para o final. Terminei as demais questões faltando uns 15 minutos
para entregar o caderno. Eu já estava estafado e por alguns instantes
107
Leandro G. M. Govinda
pensei em entregar a prova com essa questão em branco. Mas reuni
as energias que ainda restavam e, naqueles últimos minutos, comecei
a responder à última questão de modo meio atabalhoado, escrevendo
rapidamente o que me vinha à mente. A letra era quase ilegível, e as
ideias foram lançadas meio que a esmo no papel.
Se tivesse deixado aquela questão sem resposta, a nota seria inevitavelmente “zero”. A minha resposta nem de longe era regular (quiçá boa ou ótima), mas o importante foi ter respondido. O examinador
leu e reconheceu alguns acertos, atribuindo nota igual a 0,48 (menos
de 1/3 da pontuação total da questão, que valia 1,5 ponto). No entanto, esses décimos a mais foram suficientes para garantir a minha classificação para a prova oral, pois a diferença entre a minha pontuação
e a do último classificado nessa etapa foi de apenas 0,46. Ou seja, se
eu tivesse deixada a questão em branco, estaria fora do certame. Portanto, acredite até o último segundo e responda a todas as questões.
Nas provas discursivas há basicamente dois tipos de questões:
teóricas e práticas. Para respondê-las, observe as seguintes orientações.
6.2.1. Questões teóricas
As questões teóricas são aquelas que abordam temas específicos e geralmente não há uma única resposta correta. O ideal para
esse tipo de questão é o candidato apontar pelo menos duas posições
divergentes e, ao final, dizer a qual corrente se filia, indicando os dispositivos de lei, da doutrina e da jurisprudência que alicerçam o seu
convencimento.
As questões teóricas podem ser pontuais ou dissertativas. Ou
seja, a resposta poderá ser breve ou exigir que o candidato escreva
uma redação a respeito do tema.
As respostas às questões teóricas pontuais normalmente devem
observar um limite mínimo e máximo de linhas. Se escrever menos,
o candidato leva “zero”. Se responder mais, o excesso é desprezado.
108
Dicas de prova
São questões que indagam sobre conceitos, classificações, diferenças
e semelhanças entre certos institutos, envolvendo perguntas do tipo:
“o que é tal coisa”, “qual o significado disso”, “quais as espécies disso?”,
“diferencie isso daquilo”, etc. As respostas, portanto, devem ser breves, concisas, claras e objetivas. Não há aqui espaço para divagações.
Preocupe-se primeiro em responder à questão. Isso pode parecer óbvio, mas não é. Tem candidato que, pretendendo demonstrar conhecimento sobre o tema questionado, começa a sua resposta
abordando pontos periféricos do tema e só nas últimas linhas responde à pergunta. Se, no princípio, você escrever informações que
não são propriamente a resposta, isso dá a impressão de que você não
sabe a resposta e está tentando enrolar ou “encher linguiça”, como
se costuma dizer. Até o examinador começar a ler o que realmente
interessa, ele já terá perdido a paciência e estará de má vontade com
a sua prova.
Portanto, se você sabe a resposta, vá direto ao assunto, pois é
isso que o examinador quer de você. Se, por acaso, sobrar algumas
linhas e tempo, aí você pode se dar ao luxo de complementar a resposta com informações que possam impressionar o examinador. Perceba que, nesse caso, você primeiro respondeu à pergunta e só depois
escreveu algum complemento. O examinador já está satisfeito com a
sua resposta, quando começa a ler as informações complementares
que demonstram apenas o seu domínio do assunto abordado. Agora,
tenha muito cuidado, porque quanto mais se escreve, mais chances de
errar. Portanto, só escreva sobre o que tiver certeza. A empolgação,
às vezes, pode levá-lo a escrever alguma bobagem, o que pode influir
na avaliação final.
Por outro lado, não seja econômico demais. Uma resposta muito “seca” pode dar a impressão de que você tem um conhecimento
muito superficial da matéria. Se você tiver domínio do assunto objeto
da questão, demonstre isso na resposta citando, por exemplo, as di
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Leandro G. M. Govinda
versas correntes de pensamento, mas sem desenvolver a ideia de cada
uma. Apenas cite as principais, inclusive as minoritárias e, depois,
detenha-se naquela que é majoritária ou mais importante.
Enfim, seja objetivo, mas explore os pontos fundamentais do
tema perguntado. E principalmente: escreva o número mínimo de
linhas exigido pelo edital!
As questões dissertativas são mais dilatadas no sentido de envolver uma resposta trabalhada, organizada e com ideias concatenadas.
O candidato precisa discorrer sobre o tema com base na velha fórmula das provas de redação do vestibular: introdução, desenvolvimento
e conclusão.
Antes de começar a escrever a resposta, elabore um esquema
com a estrutura dessa resposta (esqueleto), pontuando o que será tratado em cada parte (introdução, desenvolvimento e conclusão). Isso
ajuda a organizar as ideias e, principalmente, evita que você deixe um
ponto fundamental de fora. Mas seja objetivo ao fazer esse esquema,
lançando apenas palavras-chave, afinal esse é só um esboço da sua
resposta. Feito isso, aí sim comece a escrever a resposta.
Para esse tipo de questão, algumas bancas não estabelecem limites mínimo e máximo para resposta, mas cuide para não escrever
um tratado sobre o tema questionado. Primeiro, porque você está respondendo a uma questão de concurso, e não elaborando uma tese de
doutorado. Segundo, porque você precisa responder às outras questões da prova e, via de regra, o tempo disponível nunca é suficiente.
Terceiro, lembre-se que o examinador não vai corrigir apenas a sua
prova. Portanto, tenha em mente que ele vai analisar centenas de provas e imagine a cara dele ao se deparar com as dezenas de laudas da
sua resposta. Ele provavelmente corrigirá a sua prova xingando a sua
pessoa. E isso não é bom.
É difícil dizer qual o tamanho certo da sua resposta para as questões dissertativas. Depende muito do tema explorado e da dimensão
110
Dicas de prova
do seu conhecimento sobre o assunto. Se o tema é vasto e você tem
domínio do assunto, você poderá se alongar na resposta porque muito provavelmente o conteúdo será rico e interessante. Ao contrário, se
o tema é árido ou você tem pouco conhecimento, quanto mais longa
a resposta, mais enfadonha, já que você estará só “enchendo linguiça”.
Aqui, o bom senso ajuda. O problema é que, como diria um colega dos tempos de Receita Federal, “bom senso, cada um tem o seu”.
Seguem, então, as dicas baseadas no meu bom senso!
Elabore a sua dissertação abordando os pontos fundamentais
do tema proposto. Na introdução (primeiro parágrafo), fale genericamente sobre o tema e já antecipe os pontos específicos que serão
tratados no desenvolvimento (um ou dois pontos). Ao tratar dos
pontos específicos, ressalte os aspectos mais importantes, citando as
opiniões de alguns autores ou o posicionamento da jurisprudência,
caso você lembre. Indique os dispositivos legais que fundamentam
essas correntes doutrinárias e jurisprudenciais. Isso pode ser feito em
um parágrafo (o segundo do texto) ou, caso haja muitos argumentos, em dois parágrafos. No terceiro parágrafo (ou quarto), expresse
a sua opinião e indique os motivos do seu convencimento (mesmo
escrevendo o seu ponto de vista, não conjugue os verbos na primeira
pessoa: “eu acho...”, eu penso...”. Prefira sempre a terceira pessoa do
singular: “A melhor interpretação é...”, “A razão está com...” ). Ao final,
conclua repisando o principal argumento trabalhado e apontando
para a melhor interpretação ou solução para o tema.
Se você seguir esses passos, a sua dissertação sobre qualquer
tema será escrita em uma ou duas páginas. Está ótimo assim.
6.2.2. Questões práticas
Além das questões teóricas, é muito comum questões discursivas de ordem prática. O que é isso? São aquelas questões que envolvem a redação de uma peça técnica. Em concursos jurídicos, essas
111
Leandro G. M. Govinda
peças variam muito conforme o cargo disputado: petições iniciais,
denúncias, alegações finais, sentenças, recursos, relatórios de indiciamento. Na área fiscal, é comum se exigir a lavratura de um auto de
infração ou a elaboração de um acórdão de julgamento de recurso
administrativo.
As questões práticas são as que valem a maior nota da prova.
Portanto, você tem que estar muito bem preparado para enfrentá-las.
Ademais, essas são as questões de forma mais livre, de modo que você
tem maior liberdade para escrever e demonstrar todo o seu conhecimento. Nas questões práticas, seu único limite mesmo é o tempo, já
que precisa terminar a peça.
O conhecimento necessário para fazer uma boa peça não é somente aquele teórico oriundo das leituras de livros técnicos. Aqui,
vale muito a experiência profissional adquirida nos estágios durante
a faculdade ou no mercado de trabalho depois de formado.
A elaboração de uma peça não impõe a observância de uma
forma exata, uma diretriz única de abordagem ou apenas um estilo
determinado. Porém, você pode observar algumas dicas para não cometer erros elementares.
O mais importante é ler atentamente a questão para compreender exatamente o que está sendo perguntado. Ao delimitar o objeto
da sua resposta, você não perde tempo com questões periféricas, permitindo que a sua peça seja clara, direta e objetiva. E o mais importante: identifique o tipo de peça que você precisa escrever, pois essa
definição faz parte da interpretação da prova. Então, não espere que
a banca diga qual peça você tem que apresentar. A questão vai descrever os fatos e, ao final, dizer para elaborar a peça respectiva para
enfrentar ou solucionar o problema proposto.
Excetuando-se o concurso para magistrados, cuja peça invariavelmente é uma sentença, os demais concursos na área jurídica
exigem a elaboração de uma petição, via de regra uma petição inicial
112
Dicas de prova
(se for cível) ou uma denúncia (se for criminal). Recursos também
aparecem com alguma frequência.
No caso da petição inicial e da denúncia, lembre-se da estrutura
básica de qualquer petição dirigida ao Poder Público, seja a um administrador, seja a um juiz: endereçamento, preâmbulo, descrição dos
fatos, fundamentação e requerimentos finais.
Antes de começar a escrever a sua resposta, é importante você
fazer um esboço dessa resposta, listando os tópicos que precisam ser
abordados. Como essas questões práticas são muito extensas e abrangentes, se não fizer esse esqueleto, muito provavelmente você vai esquecer de responder uma parte da questão.
Então, em uma primeira leitura da questão, já sublinhe os fatos
que chamarem a sua atenção desde o princípio (pessoas, idades, datas, locais, fatos propriamente, providências tomadas, etc.). Em uma
segunda leitura, escreva ao lado desses sublinhados o que deve ser
explorado sobre aquele fato (autoria e participação, prescrição, competência, enquadramento legal, testemunhas, perícias e outras provas, etc.).
A partir desses apontamentos, utilize uma folha de rascunho
para escrever o esqueleto da sua resposta, pontuando os fatos na devida ordem e já pensando em como será a sua linha de raciocínio. Faça
isso com calma e não se preocupe com o tempo despendido com essa
tarefa. Na verdade, se o seu esboço for bem elaborado, escrever a resposta será relativamente fácil e rápido, pois a estrutura argumentativa
está desenhada no esboço, e a linha de raciocínio, na sua mente.
No caso de peças práticas criminais, um professor da Escola do
Ministério Público de Santa Catarina deu uma excelente dica: elaborar uma tabela para resumir, na ordem cronológica, os fatos e os
participantes. As provas de penal, sejam petições, sejam sentenças
sempre envolvem dezenas de crimes, autores, locais, datas e circunstâncias. Quando estava me preparando para a prova discursiva de
113
Leandro G. M. Govinda
penal, um colega Promotor de Justiça me disse que a denúncia da
prova do concurso dele foi a peça mais complexa que ele redigiu em
todo o seu tempo de carreira. E olhe que ele já contava com 10 anos
de Ministério Público... Hoje estou convencido de que, de fato, na
vida real, nenhum caso concreto será tão complexo quanto o caso
imaginário posto na prova.
Então, essa tabela ajuda a ter uma visão global dos acontecimentos e dos agentes envolvidos. Dependendo da extensão da questão, a
tabela poderá ficar gigante, mas não se preocupe com isso. Na prova
do Ministério Público, por exemplo, precisei grampear quatro folhas
A4 e formar um tabelão para colocar todas as informações da questão
de modo esquematizado. Na horizontal, relacione as pessoas envolvidas na questão; na vertical, insira a ordem cronológica dos fatos
(data e hora). No meio da tabela, marque um “X” para relacionar as
pessoas envolvidas em cada fato ocorrido. Dentro desse quadrado da
tabela, anote eventuais circunstâncias relevantes daquele fato associadas àquela pessoa (idade, parentesco com outros indivíduos, tipo de
participação, antecedentes, etc.).
Finalizado o esboço, comece a escrever a sua resposta. Nem
pense em escrever um rascunho para depois passar a limpo. Não dá
tempo. Já escreva a resposta definitiva a caneta.
A petição inicia sempre com o endereçamento à autoridade
competente. Utilize o pronome de tratamento adequado e evite expressões como “Doutor”, “Venerável”, “Egrégio” e outros adjetivos
desse gênero. Seja direto e utilize o pronome adequado a depender
da autoridade a que é dirigida a petição (Excelentíssimo, Magnífico,
Ilustríssimo, etc.). Se não souber do pronome correto ou estiver em
dúvida, use “Excelentíssimo” que é o mais reverente.
Depois, vem o preâmbulo, no qual se identifica e qualifica as
partes envolvidas (ativa e passiva ou só ativa, se não houver um conflito). Memorize a qualificação básica: nome, nacionalidade, estado
114
Dicas de prova
civil, profissão, filiação, data e local de nascimento, documento de
identificação e endereço. Registre apenas os dados que são informados na questão. Se a prova não menciona essas informações, não
invente, pois isso poderia se encarado como a tentativa de identificação da sua prova, o que pode resultar na sua eliminação do certame.
Apenas mencione entre parênteses o termo “qualificação”, a fim de
deixar claro ao examinador que você lembrou que é necessário qualificar as partes.
No preâmbulo também deve ser destacado o tipo de ação que
está sendo proposta. Pode ser declaratória, constitutiva, condenatória, mandamental ou executiva, no caso de ações cíveis, ou simplesmente denúncia, no caso criminal. Mencione também a eventual
cumulação com algum tipo de tutela de urgência (antecipação de tutela ou medida cautelar), se for o caso.
Para encerrar essa primeira parte, que é a folha de rosto da petição, date e assine a peça. Aqui, novamente é muito importante conhecer as instruções da prova. Geralmente, a banca já determina que o
candidato coloque uma data e um nome padrão para esse fechamento. Pode ser a data e local da prova mesmo e um nome fictício ou só
a indicação do cargo disputado no concurso. Pode também a banca
determinar que não haja qualquer referência à data ou identificação.
Nesse caso, siga à risca e não coloque qualquer informação. Termine
o preâmbulo e a peça com a expressão clássica: Nestes termos, pede
deferimento.
Se não houver instrução alguma, use expressões genéricas: “Local e data” seguidos de “Nome, assinatura e cargo”. Só isso. Não indique o local e a data, não invente um nome (nem mesmo “Fulano
de tal”), não cite o cargo e jamais faça qualquer rabisco para simular
uma assinatura. Qualquer elemento desses poderá ser interpretado
como tentativa de identificação da prova, motivo suficiente para eliminá-lo do concurso.
115
Leandro G. M. Govinda
A seguir, vem a narração dos fatos. Nesse ponto, seja breve, pois
esses fatos já foram descritos na questão. Aliás, não raro, a banca dispensa o candidato de escrever novamente os fatos. Isso é bastante
comum em provas de sentença, cujos fatos já são descritos na forma
de um relatório, cabendo ao candidato concluir a sentença com a fundamentação e o dispositivo. Porém, em outras provas isso também
pode acontecer. Por isso, leia com atenção o edital do seu concurso e
as instruções da prova.
Agora, mesmo que a descrição dos fatos seja necessária, não
perca muito tempo com isso, pois o que interessa na sua resposta é
a solução que será dada para os fatos expostos. Portanto, limite-se
a copiar resumidamente a descrição que já consta do enunciado da
questão, trocando algumas palavras para não ficar exatamente igual.
Na sequência, vem a fundamentação. Aqui está concentrada a
sua resposta e a sua pontuação. O preâmbulo e os pedidos também
contam pontos, mas indubitavelmente o núcleo da sua resposta está
na fundamentação. Já vi candidatos serem aprovados deixando em
branco os pedidos em uma petição ou o dispositivo em uma sentença por lhes faltar tempo para concluir a prova. Mas jamais vi
alguém ser aprovado sem escrever a fundamentação de uma peça
processual.
Se você fez o esboço da sua resposta, agora é só desenvolver os
tópicos destacados no seu rascunho. Procure ser objetivo nessa redação, porque quanto mais você escrever, maiores as chances de errar.
Lembre-se: você não está escrevendo um tratado sobre direito. Você
está respondendo a uma prova de concurso, e o examinador não quer
saber se você é um gênio, mas simplesmente se você sabe a resposta
correta. Ademais, não adianta você responder com brilhantismo alguns pontos da questão e deixar outros tantos em branco por falta
de tempo. Então, limite-se a lançar os fundamentos suficientes para
embasar o seu convencimento.
116
Dicas de prova
Um aspecto importante é a organização da sua resposta. Como
a prova prática envolve muitos pontos, seja bem didático e subdivida
a sua resposta em itens para cada fato e/ou fundamento, preliminares
e mérito. Evite numerá-los de início, deixando para fazer isso depois
que já tiver terminado a prova. Eventualmente, você pode precisar
atravessar um item no meio, prejudicando a sequência de números.
Concluída a fundamentação, falta finalizar a peça com os pedidos, no caso de petição, ou o dispositivo, no caso de sentença. Em
relação às petições de direito civil, o pedido reúne tanto as providências relativas à ação propriamente (recebimento, citação/intimação, processamento, condenações, produção de prova, tutelas de
urgência, valor da causa, etc.), quanto providências acessórias (por
exemplo, remessa de cópia dos autos para outras autoridades). Já na
denúncia criminal, é praxe em muitas promotorias fazer na denúncia
apenas os pedidos relativos à ação criminal propriamente (citação,
processamento, designação de audiência, intimação de testemunhas,
condenação, etc.). As demais providências são requeridas em petição
avulsa, comumente chamada “cota”. Nessa petição são formulados os
pedido de arquivamento, diligências em geral (exames e perícias, requisições de documentos, compartilhamento de provas), quebra de
sigilo, interceptações, instauração de incidentes, sequestro de bens,
remessa de cópia do inquérito para outras autoridades, expedição de
cartas precatórias, prisão preventiva, entre outras.
Especificamente em relação à “lista” de requerimentos, se você
tiver dificuldade para memorizar todos eles, já que é uma lista extensa
e pode variar conforme o objeto da peça, sugiro fazer no código uma
marcação dos dispositivos legais que fazem referência aos pedidos
que devem ser feitos, pelo menos aqueles pedidos menos comuns.
Por exemplo, o rito da lei de improbidade administrativa exige a notificação prévia do agente público para apresentar uma defesa preliminar (art. 17, § 7ª, da Lei 8.429/1992). Então, é necessário requerer
essa notificação ao final de uma ação civil pública de improbidade.
117
Leandro G. M. Govinda
Para não esquecer, marque esse dispositivo com caneta marca texto
de uma cor específica. Depois, cole uma etiqueta na borda da página
desse dispositivo no seu código, preferencialmente com a mesma cor
da marcação do texto. Fazendo assim, durante a prova, você folheia
todas as páginas do código destacadas com esse adesivo e confere
todos os pedidos que precisam ser feitos.
6.3. Prova oral
A prova oral, em termos de avaliação de conhecimento, é a mais
fácil de todas as fases do concurso. E por uma razão muito óbvia:
se o candidato chegou nessa etapa, é porque já estudou muito para
ser aprovado nas provas objetiva e subjetiva do concurso. Ou seja,
em termos de estudo, o candidato está muito preparado para a prova
oral. Aliás, a essa altura, qualquer candidato já estudou muito mais
do que todos os examinadores da banca. Ademais, geralmente poucos candidatos são reprovados em provas orais. A verdadeira “peneira” ocorreu nas provas anteriores. Então, a prova oral deveria ser a
fase mais tranquila do concurso. O problema da prova oral não é a
prova, mas o componente emocional envolvido.
A avaliação oral geralmente começa antes mesmo da prova propriamente, a partir da entrevista do candidato.
6.3.1.Entrevista
Em alguns concursos, é prevista uma fase anterior à prova oral,
que é a entrevista com o candidato. Essa fase, que pode anteceder
alguns dias ou ser imediatamente antes da prova oral, normalmente
não conta pontos, não é eliminatória e nem classificatória. Serve apenas para os examinadores conhecerem pessoalmente os candidatos,
que até então são identificados por números nas provas anteriores.
Está claro que originariamente o objetivo dessa fase era tentar
identificar alguma característica desabonadora do candidato que, di118
Dicas de prova
gamos, o tornasse uma persona non grata na instituição. Isso justificaria uma postura mais rígida na prova oral para dificultar a aprovação
desse candidato no concurso.
Sem entrar no mérito do caráter pouco republicano desse objetivo, o fato é que a entrevista, para a banca, tem historicamente esse
propósito. Ocorre que, nos dias de hoje, para cada concurso já há pelo
menos uma dúzia de blogueiros dando dicas de como se comportar
em uma entrevista. Por isso, um candidato minimamente preparado
para essa entrevista responde exatamente o que a banca quer ouvir
se comporta do modo que a banca espera, de modo que é difícil, por
exemplo, um candidato ao cargo de Promotor de Justiça dizer que
detesta atender o público e que deixará essa tarefa exclusivamente nas
mãos dos estagiários. Essa postura arrogante seria a senha para a banca dificultar a vida do candidato na prova oral. Igualmente, é difícil
imaginar um candidato ao cargo de juiz reconhecer que é alcoolista
e vive bêbado fazendo escândalos. É lógico que os candidatos vão
pintar de si próprios o melhor quadro possível!
Portanto, para a banca, essa entrevista é cada vez mais uma fase
bastante inútil do certame e tende a ser eliminada justamente por
isso. Até porque o perfil do candidato é muito melhor traçado na avaliação psicológica e na investigação de vida pregressa, que ocorrem
independentemente dessa entrevista.
De qualquer maneira, para o candidato, principalmente aquele
desconhecido da banca, a entrevista é uma ótima oportunidade para
se apresentar e causar uma boa impressão para a prova oral. Portanto,
aproveite essa ocasião.
Em primeiro lugar, a menos que você seja um psicopata, o melhor é ser espontâneo e autêntico durante a entrevista. Se você já
passou pela fase da avaliação psicológica e da investigação da vida
pregressa, os examinadores saberão o seu perfil. Então, não adianta
querer parecer uma pessoa que você não é. Seja você mesmo! Mas
119
Leandro G. M. Govinda
cuida para não parecer muito liberal ou vanguardista, especialmente
quando a maior parte da banca for conservadora, seja pela idade, seja
pelo tempo de carreira.
Esteja preparado para perguntas de cunho bastante pessoal. Conheço a história de um candidato que, durante a entrevista em um
concurso da magistratura, foi perguntado se era homossexual. Diante
da negativa, o examinador insistiu, aduzindo que havia rumores de
que o candidato era homossexual. Ele continuou dizendo que não
era. Ainda assim, o examinador perguntou novamente e fez questão
de frisar que isso não era um problema, que ele poderia assumir essa
condição. O candidato continuou afirmando que não era. Claro que
o examinador não estava interessado na sexualidade do candidato.
Estava apenas testando a reação dele a uma pergunta mais íntima e
quando confrontado.
É normal os examinadores perguntarem sobre a vida pessoal e
até íntima, especialmente das mulheres. Candidatas solteiras, às vezes, são perguntadas sobre como vão administrar o seu desejo sexual
em uma cidade pequena do interior, onde qualquer movimento da
promotora ou da juíza é observado por toda a comunidade.
Crenças e religião também são objeto da curiosidade dos examinadores. Uma amiga, por exemplo, foi perguntada por um examinador para onde iriam as crianças que morrem sem serem batizadas.
Ela pensou em responder que iam para o inferno, mas preferiu confessar a sua ignorância e dizer que não sabia. Sorte dela, porque o
examinador era um católico praticante e certamente condenar crianças inocente ao inferno teria causado uma péssima impressão. A propósito, essas crianças, segundo a fé cristã, vão para o limbo por não
terem culpa da falta dos pais.
Questões polêmicas também são muito corriqueiras, como o
aborto, casamento gay, legalização de drogas, etc. Sobre isso, o ideal
é dar uma resposta política, no sentido de não assumir abertamente
120
Dicas de prova
uma opinião favorável ou contrária. Por serem temas polêmicos, dificilmente os membros da banca compartilharão a mesma opinião,
de modo que, se a sua resposta for num ou noutro sentido, por certo vai desagradar um ou outro examinador. Portanto, seja elegante e
responda que se trata de um tema controvertido, que há bons argumentos a favor e contra, que essa questão precisa ser enfrentada pela
sociedade, que o debate é absolutamente normal em um Estado democrático e blábláblá... Agora, se o examinador confrontá-la e insistir
para que você se posicione, prefira uma resposta mais conservadora
e, principalmente, seja legalista, independentemente da sua opinião
pessoal. Mesmo assim, nunca seja radical. Expresse a sua opinião,
mas ressalte o valor de quem entende de modo contrário, razão pela
qual você defende a necessidade do debate e blábláblá...
No mais, a entrevista de um concurso é muito semelhante a uma
entrevista para emprego. Pergunta-se sobre questões institucionais,
porque escolheu esse cargo, o seu objetivo na carreira, como se comportaria ou reagiria em determinadas situações práticas, opiniões
sobre si próprio, sobre virtudes e defeitos, habilidades, etc. Por isso,
colha o máximo de informações que puder sobre a instituição para a
qual você está prestando o concurso e também sobre os examinadores e as suas carreiras. Eventualmente, você pode expressar o seu conhecimento sobre uma informação do currículo do examinador que
o surpreenderá positivamente. E comporte-se como numa entrevista
de emprego, afinal essa é mesmo uma entrevista para um emprego,
só que público!
Depois dessa apresentação, vem a prova oral.
6.3.2. Prova oral
O formato da prova oral varia consideravelmente de uma banca
para outra. No Ministério Público Federal, por exemplo, a prova é
mais informal, porque não se faz uma arguição individual perante a
121
Leandro G. M. Govinda
banca inteira e o público presente. Os candidatos ficam reunidos em
um auditório, enquanto os membros da banca são distribuídos em
mesas diante desse auditório. A prova é realizada ao mesmo tempo
com vários candidatos, que são chamados a medida que um ou outro examinador termina de fazer a arguição de outro candidato. O
candidato senta diante do examinador e começa a ser perguntado. A
arguição é, portanto, individual e bastante reservada. Ninguém ouve
as perguntas do examinador nem as respostas do candidato, que é
gravada apenas para fins de eventual recurso. Durante a prova, os
candidatos, enquanto aguardam serem chamados no auditório, conversam entre si e comentam as perguntas que foram feitas, as suas
respostas, etc. Isso tudo não torna a prova oral uma moleza. Mas está
claro que esse contexto ajuda a diminuir a ansiedade e a manter os
nervos sob controle.
Nem sempre é assim. No Ministério Público de Santa Catarina,
a prova oral se assemelha ao padrão comumente conhecido de arguição oral e parece até uma final de campeonato de futebol.
Os candidatos que serão examinados no dia (no meu concurso, eram sete) ficam concentrados em uma sala sem contato com o
mundo exterior até chegar a sua hora. A alimentação é providenciada
pela secretaria do concurso. Meia hora antes do horário da sua prova, o candidato é chamado para fazer o sorteio do seu ponto. Depois
de sortear, o candidato permanece isolado em outra sala só com o
material de estudo que trouxe. Esse é o momento mais angustiante
da prova oral. Aí começa a bater um certo desespero, aquele frio na
barriga, uma aflição braba. O candidato tenta naqueles 30 minutos
revisar alguns dos tópicos do ponto sorteado. Mas é muito matéria,
de modo que não sabe nem por onde começar. E o tempo vai passando, e a angústia, aumentando.
Até esse momento da minha prova eu estava relativamente tranquilo. Um pouco ansioso, mas tranquilo. Tanto que até dormi na sala
122
Dicas de prova
onde esperava a hora do meu sorteio! Foi até engraçado, porque os
outros candidatos achavam que eu estava dopado por algum medicamento. Eu estava era com sono e aquela soneca no meio da manhã foi
providencial! Porém, depois do sorteio, confesso que tive um princípio de desespero. Comecei a folhar o vade mecum para procurar
as leis que constavam do meu ponto. Eu começava a ler um artigo,
mas não conseguia terminar. Partia para outro, e outro, e outro, sem
conseguir ler nenhum.
Observando que começava a perder o controle, larguei tudo,
respirei fundo, tomei um gole de água, levantei da cadeira e fui até a
janela. Não, eu não pensei em me jogar dali, mas é verdade que isso
passa pela cabeça de alguns candidatos! Eu fiquei parado, olhando
para o horizonte (o prédio da Procuradoria-Geral de Justiça de Santa
Catarina, fica a uma quadra do mar), tentando não pensar em nada.
Só me concentrando, exatamente como fazia naqueles instantes antes
de iniciar as provas objetiva e subjetiva. Pensava apenas no que eu
precisava fazer durante a prova oral: focar na pergunta, respirar calmamente, pensar na resposta, organizar os pensamentos e responder
ao examinador. Eu mentalizava essa ordem de ideias e, aos poucos,
fui me acalmando até recuperar a serenidade.
Ao fim dessa meia hora, o candidato é conduzido até o salão da
prova oral. Aí parece que o sujeito está entrando em um gramado de
estádio de futebol. No caminho, o candidato passa no corredor do
auditório e pode ver a torcida de familiares, amigos, concurseiros e
curiosos que vão até lá assistir a arguição (só não pode presenciar a
arguição os outros candidatos que ainda não fizeram a sua prova). O
candidato senta em uma cadeira, diante de uma mesa. Atrás ficam os
espectadores, que o candidato já não vê mais. A sua frente, atrás de
uma bancada, ficam os examinadores, todos em linha, esperando o
início da prova, que geralmente começa com as perguntas do Procurador-Geral de Justiça, presidente da comissão de concurso.
123
Leandro G. M. Govinda
A primeira pergunta é o apito inicial da prova, sendo seguida
por uma saraivada de outras tantas, por 45 minutos ou mais. Tem
arguições que levam mais tempo e algumas se estendem até a prorrogação, totalizando quase duas horas de arguição.
Algumas respostas são dadas sem titubear. Aí o candidato ganha
confiança e parte para cima da banca corajosamente. Mas há momentos tensos, quando o candidato não domina muito o assunto e deixa
alguns flancos abertos para o examinador explorar em um contra-ataque. A torcida fica apreensiva. É quando o candidato pensa, reflete e começa a resposta dizendo “Excelência, veja bem...” ou “Excelência, se não estou enganado...”. Por vezes, o tema abordado é completamente desconhecido do candidato, caso em que jamais vai confessar
a ignorância sobre o assunto, mas de modo elegante vai admitir que
“esse ponto não me ocorre no momento, Excelência”. É o gol contra.
Quase se ouve um lamento da torcida. Mas tudo bem, o candidato
lembra que está ganhando de goleada, porque já respondeu acertadamente outras perguntas. Então, é preciso ter tranquilidade para
colocar a bola no centro do gramado e retomar o controle da partida.
E assim vai até o último examinador dizer: “Estou satisfeito”. É
o apito final! Aí o candidato consegue respirar aliviado. Alguns levantam da cadeira e nem esperam chegar no corredor do elevador.
Ali mesmo, de costas para a banca, no corredor do auditório, já se
derramam em lágrimas diante do público que aplaude a apresentação
recém terminada, precisando até de apoio para não cair tamanha a
exaustão após o jogo.
A prova oral em si não é difícil. É verdade que, em qualquer
banca, sempre tem um examinador mais rígido e exigente. E, às vezes, tem examinador que “aterroriza” mesmo. Alguns, inclusive, cultivam essa imagem de “durões” e realmente gostam de esculachar os
candidatos durante a prova. Há histórias que chegam a ser hilárias de
membros de banca que quase xingam os candidatos durante a pro124
Dicas de prova
va, quando ouvem uma resposta errada. Outros apenas ironizam ou
debocham de respostas sem fundamento. Isso faz parte do folclore
das provas orais, mas não é a regra. Em geral, os examinadores são
respeitosos e estão muito mais interessados em avaliar a sua postura
na prova oral do que o seu conhecimento jurídico, que, como falei, já
foi avaliado nas etapas anteriores do concurso.
O difícil mesmo é enfrentar esse clima, essa atmosfera de final
de campeonato, quando você irá jogar a sua última partida sabendo
que pode sair dali com a taça na mão ou só com aplausos da torcida
como um prêmio de participação. Como disse uma amiga Promotora
de Justiça, nessa fase, o candidato sabe que já ultrapassou todos os
obstáculos e falta apenas mais um para cruzar a linha de chegada. Ao
mesmo tempo que ele tem consciência de que está preparado para
esse último desafio, ele sabe que um tropeço significa ter que voltar à
estaca zero. Quer dizer, por ter chegado até aquela etapa, o candidato
tem muito a perder. É o medo desse tropeço que gera uma ansiedade
sem tamanho e que, no final das contas, pode mesmo atrapalhar os
planos do candidato.
Portanto, a par da rotina de estudos, você deve se preparar psicologicamente para enfrentar a prova oral. Se você tiver dificuldade
de administrar a sua ansiedade, recomendo que faça um acompanhamento com um profissional da área (terapeuta, psiquiatra, psicólogo,
etc.).
Além do conhecimento do conteúdo do edital, que a essa altura
você já tem, é muito importante cuidar da sua imagem na prova oral.
Obviamente, isso não conta pontos formalmente. O que você precisa
ter em mente é que a avaliação da prova oral é muito subjetiva. Então,
a sua imagem, que inclui as vestimentas, a postura, o modo de falar,
o modo de reagir a uma dificuldade ou um obstáculo, influencia o
ânimo do examinador na hora de avaliar as suas respostas. Portanto,
vejamos algumas dicas sobre esses aspectos.
125
Leandro G. M. Govinda
Vestuário. Aqui, não tem muito segredo: use o básico. Homens
vestem terno e gravata; mulheres, o equivalente feminino, ou seja,
uma roupa formal. Nada de decotes, minissaias ou qualquer outra
peça que exponha demais o corpo ou que pareça, digamos, provocante.
As mulheres devem verificar se o candidato fica sentado diante
de uma mesa vazada ou coberta. Se for vazada, evite usar saia, a fim
de evitar constrangimentos. Cabelos não precisam ficar presos, mas
faça um penteado básico, que não reclame a atenção das suas mãos o
tempo todo, e não deixe franja ou mexas sobre o rosto, principalmente sobre os olhos. Maquiagem e acessórios sempre discretos (brincos,
pulseiras, colares, etc.).
Evite cores berrantes, tanto homens como mulheres, e procure
combinar mais ou menos as cores para não parecer extravagante. Se
for usar uma roupa nova, experimente antes, especialmente os sapatos, pois eles podem incomodar durante a prova.
Piercing e tatuagens sempre chamam a atenção e, via de regra,
negativamente. Portanto, se puder, retire o piercing e esconda a tatuagem. Do contrário, esteja preparado para ser questionado sobre isso,
tanto na entrevista, quanto na prova oral.
Postura. Saiba que, antes mesmo de você começar a ser arguido,
já estará sendo observado pelos examinadores em sua postura. Sendo
assim, desde o seu ingresso no prédio onde será realizada a prova,
mantenha sempre o corpo ereto (aliás, as pessoas deveriam manter
essa postura sempre...). Não precisa parecer um pavão, com o peito
estufado e o nariz empinado, afinal você não é modelo nem está desfilando em uma passarela de moda. Você é um humilde candidato a
um cargo público. Então, mantenha a coluna, os ombros e a cabeça
em posição neutra. Nem curvado, nem empinado.
Ao ingressar na sala ou no auditório, sem descuidar dos eventuais obstáculos no caminho, como fios, tapetes e degraus, olhe para
126
Dicas de prova
todos os examinadores, cumprimentando-os com um leve aceno de
cabeça. Mantenha esse olhar nos examinadores durante toda a sua arguição, tanto ao ouvir as perguntas, quanto ao respondê-las. Enquanto pensa na resposta, você pode desviar o seu olhar naturalmente.
Esse movimento é comandado pelo cérebro e dirige o seu olhar para
um ponto fixo, enquanto a sua mente está processando a resposta. Então, relaxe nesses instantes. Quando estiver com a resposta na ponta
da língua, volte o seu olhar para o examinador e comece a falar.
Esse olhar deve ser atento e sereno para demonstrar respeito e
confiança. Mas um olhar muito sério pode parecer desafiador e constranger o examinador. Então, na medida do possível, mantenha certa
neutralidade, como se estivesse assistindo a uma novela.
Enquanto estiver sentado, procure manter as mãos e os braços
parados. Para isso, entrelace as mãos sobre a mesa deixando os cotovelos apoiados. Ao falar, é natural gesticular. Porém, seja comedido
nesses gestos, de modo a não parecer escandaloso ou muito expansivo. Evite de qualquer maneira os cacoetes, como balançar as pernas,
ou bater o pé, ou atritar os dedos e as mãos, ou mexer nos cabelos,
ou coçar o nariz ou a orelha, enfim qualquer movimento repetitivo que evidencie o seu nervosismo ou algum transtorno obsessivo
compulsivo (TOC). Roer unhas nem pensar. Tudo isso pode irritar
o examinador.
Novamente, enquanto pensa na resposta, é normal fazer alguns
gestos, como coçar o queixo, levar a mão à boca ou à testa. Não se
preocupe com isso durante esses breves instantes. Enquanto pensa,
concentre-se nisso e não nos seus movimentos. Mas, antes de responder, recupere a sua postura e pare com os cacoetes.
Falar em público. Obviamente, em uma prova oral, você precisa
dominar a arte de falar em público. Não estou dizendo que você tenha que ser um exímio orador. Porém, você precisa se fazer entender
claramente, sob pena de comprometer a sua avaliação. Se o seu grau
127
Leandro G. M. Govinda
de dificuldade for grave, sugiro que procure um especialista nessa
área para ajuda-lo a destravar.
O mais importante ao se falar para um público é ser compreendido. Para isso, você tem que articular muito bem as palavras, ou seja,
cada sílaba precisa ser pronunciada. Não é para soletrar as palavras,
mas é importante falar pausadamente, pois assim o ouvinte pode
acompanhar o seu raciocínio. Em uma prova oral, o ideal é manter o
seu tom de voz neutro, nem tão elevado, que irrite o seu público, nem
tão baixo, que não seja audível. Evite elevar o tom de voz para destacar alguma parte do seu discurso. Da mesma forma que não convém gesticular demais, também não interessa se expressar de modo
eloquente. Lembre-se: você está respondendo uma prova oral e não
proferindo uma palestra ou dando uma aula.
Evite a todo custo aqueles cacoetes da fala muito comuns na
comunicação informal, como “hummm”, “éééé”, “hãããã”, “bahhhh”.
Também evite aquelas expressões que se costuma colocar no final de
cada afirmação para se certificar se o interlocutor está compreendo o
que se fala, por exemplo “sabe?”, “está me entendendo?”. Isso sugere
certa deficiência intelectual do seu ouvinte, que supostamente não
estaria acompanhado o seu raciocínio. Se você acha que não foi suficientemente claro, diga ao examinador mais ou menos assim: “não
sei se eu consegui expressar o que eu pensava” ou “não sei se respondi
o que V.Exª perguntou”. De qualquer forma, só faça esse tipo de comentário se a questão for muito complexa mesmo ou quando você
observar que teve dificuldade de expressar o seu raciocínio.
Outro aspecto muito importante é o modo de responder. Não
basta você responder corretamente. Você precisa demonstrar convicção em sua resposta. Aparente essa firmeza, ainda que intimamente
você não esteja convencido da resposta. A falta de convicção fica evidente quando o candidato, por exemplo, inicia a resposta com o verbo achar ou pensar: “acho que...” “penso que...” Ou quando termina a
resposta perguntando ao examinador se está certo: “acho que é isso,
128
Dicas de prova
não é?”. Há examinadores que devolvem a pergunta com ironia: “O
senhor está perguntando para mim? Agora, eu sou o candidato?” Não
dê essa oportunidade ao membro da banca.
Agora, cuide para não parecer presunçoso ou arrogante. Tenha
sempre presente que a estrela da prova oral não é você, mas sim os
examinadores. Portanto, seja humilde quando responde às perguntas. Mas também não confunda humildade com subserviência. Você
é candidato a um cargo público e não chegou até a prova oral por
favor de alguém.
Enfim, ser firme e convicto significa ter serenidade e não demonstrar dúvida. Só isso!
Um complicador para falar em público é o uso do microfone.
Quem não está acostumado, pode ter dificuldade de medir o tom de
voz. Uma amiga se atrapalhou ao usar o microfone e isso acabou comprometendo a sua prova oral no concurso do Ministério Público. Ela
dominava o conteúdo, mas ela respondia às perguntas em volume muito baixo. Os examinadores pediram para ela falar mais alto e ela, nervosa, não atinou para o fato de que a sua boca estava longe do microfone.
Ela repetia a resposta, porque achava que a banca não havia entendido.
A banca reiterava que não tinha ouvido. Resultado: as suas respostas
sequer foram avaliadas e ela foi reprovada. Ela continuou estudando
e trabalhou para superar essa dificuldade. Hoje, ela é juíza de direito.
Portanto, se esse for o seu caso, treine antes o uso dessa ferramenta para evitar surpresas.
Ao falar, você também precisa organizar as suas ideias e expô-las de maneira concatenada. Isso é mais difícil quando se fala de improviso, como é o caso da prova oral, já que você não tem tempo para
preparar a sua resposta. Então, antes de responder, pense por alguns
segundos para “desenhar” na sua mente a ordem lógica da resposta.
Só depois de ter uma ideia mais ou menos clara da sua resposta é que
você deve começar a falar.
129
Leandro G. M. Govinda
Respondendo às perguntas. Como já disse, nunca responda
imediatamente. Mesmo que você já saiba a resposta, reserve alguns
segundos (2 ou 3, pelo menos) para mentalizá-la antes de começar
a responder. Além de preparar a resposta, esse tempo serve também para disfarçar quando você não sabe a resposta e está tentando lembrar dela. Se você responde logo quando sabe e demora um
pouco quando não sabe, os examinadores não vão perceber esse seu
padrão de conduta. E aí, sempre que você demorar um pouquinho
para responder, isso será interpretado como ignorância e certamente
esse tema será mais explorado, pois, ainda que você dê uma primeira
resposta certa, o examinador vai desconfiar que você está chutando.
Então, se você sempre aguardar uns segundos antes de responder, o
examinador nunca saberá se esse tempo está sendo usado para você
preparar a resposta ou tentar lembrar dela.
Essa diferença pode ficar evidente quando a pergunta reclama
uma resposta pontual do tipo “sim” ou “não”, “certo” ou “errado”. Esse
tipo de questão ou você sabe, ou você não sabe. Não há espaço para
tergiversação. Então, se você responder imediatamente em alguns casos e demorar um pouco em outros, ficará evidente que, na primeira
hipótese, você sabe e, na segunda, não sabe ou não lembra.
Portanto, se a pergunta for desse tipo pontual e você sabe a
resposta, permaneça em silêncio um breve instante e só depois responda. Se você não souber, igualmente você vai pensar por alguns
segundos e responder de qualquer maneira. Se você disser que não
lembra ou que não sabe, já terá “zerado” nessa questão. Então, melhor responder qualquer coisa para tentar acertar. Isso mesmo, a sua
resposta será um chute, mas ninguém desconfiará! Só não vale dizer
absurdos, como o prazo de recurso de 90 dias, porque isso simplesmente não existe. Se você não lembra do prazo, fale um período que
pareça comum (5, 10, 15 dias, por exemplo).
No caso de perguntas mais abertas, ou seja, quando há espaço
para argumentação mais ampla, se você souber a resposta, use o tempo para organizar as ideias.
130
Dicas de prova
Mas, se você não souber, a sua estratégia é um pouco diferente.
Primeiro, use esse tempo para tentar lembrar. Se, passados esses segundos, você continuar não lembrando a resposta, devolva a pergunta para o examinador, como se você estivesse se certificando de que
entendeu o questionamento. Inicie dizendo: “Excelência, deixe-me
ver se compreendi a sua questão: o senhor deseja saber se blábláblá...”
Cuide para formular a pergunta em outras palavras. Se repetir exatamente o que o examinador perguntou, estará evidente demais que
você só quer ganhar tempo e isso pode irritar a banca.
Se mesmo depois de perguntar novamente, você ainda não lembrar, não tenha vergonha de pedir uma ajuda ao examinador, afinal
pedir não ofende. Cautelosamente, diga que você não está bem lembrado do nome ou expressão referidos na pergunta e indague se haveria um sinônimo. Mais ou menos assim: “Excelência, relativamente
a esse tema, especificamente essa expressão não me vem à mente no
momento. Haveria uma expressão sinônima para isso?”
Com ou sem ajuda, se mesmo assim você continuar com a amnésia, procure explorar algum princípio ou regra geral que está ligada
ao assunto perguntado. Diga o que você sabe. Ainda que não tenha
dado a resposta que o examinador queria, você estará demonstrando que tem algum conhecimento. Diga assim: “Excelência, sobre essa
tema, posso dizer que o princípio norteador ou via de regra blábláblá...” Mas tenha cuidado, porque um examinador impaciente pode
logo cortar a sua resposta e dizer que você não está respondendo o
que ele perguntou. Nesse caso, não insista. E não use esse recurso
outra vez com esse examinador, obviamente.
Agora, se você não tem a menor ideia do que está sendo tratado
na pergunta, você não vai chutar, porque o risco de falar bobagem é
muito grande. Porém, também não vai admitir em hipótese alguma
que não sabe. Então, disfarce, olhe para o teto, coce o queixo, faça
aquela cara de quem já estudou aquilo, mas não lembra direito. E, de
131
Leandro G. M. Govinda
pois, responda sem nenhum constrangimento “Excelência, esse ponto não me ocorre no momento”. Eventualmente, se você realmente
estudou e só não lembra mesmo a resposta, peça para o examinador
retomar a pergunta ao final, pois pode ser que você recorde alguma
coisa.
Seja uma pergunta pontual ou ampla, é muito comum o examinador perguntar se você tem certeza ou se deseja retificar a resposta.
O examinador só está testando a sua convicção. Como você sempre
pensa antes de responder, ele não tem como saber se você chutou ou
conhece mesmo a resposta, a menos que você mude essa resposta,
pois aí você está dando uma pista.
Por isso, se você chutou a resposta, permaneça convicto e não
mude de ideia. Agora, se você deu uma resposta consciente e, eventualmente, percebeu que está errada, peça vênia para retificá-la. Se tiver
oportunidade, dê uma explicação para justificar o engano. Por exemplo, diga: “Excelência, gostaria de retificar a minha resposta, porque
confundi esse instituto com aquele... Na verdade, blábláblá...”
Esses recursos devem ser utilizados com inteligência, claro. Devolver a pergunta, pedir uma ajuda, tangenciar ou chutar uma resposta, dizer que não lembra, tudo isso deve ser empregado com certa
parcimônia e sempre observando a evolução do ânimo do examinador e da banca como um todo.
Na minha prova oral do Ministério Público, o primeiro a arguir
foi o Procurador-Geral e começou com direito administrativo. Eu já
sabia que, em geral, eram feitas de 5 a 7 perguntas de cada matéria. O
Procurador-Geral já tinha feito umas quatro questões, e eu respondi
de modo consciente e tinha convicção do acerto. A quinta ou sexta
pergunta eu não tinha a menor ideia do que se tratava. Ora, ciente de
que já tinha respondido as anteriores com acerto e sabendo que aquela era a última ou penúltima questão, nem tentei enrolar o examinador ou pedir dicas. Pensei um pouco e logo afirmei que não recor132
Dicas de prova
dava a resposta. Pronto. O examinador fez mais uma pergunta, que
respondi consciente de novo, e se deu por satisfeito naquela matéria.
Ora, você não precisa acertar todas as repostas e tirar nota máxima na prova oral. Nessa prova oral que fiz, lembro do Secretário do
Concurso, que gentilmente acompanhava o candidato até o salão da
prova, dizendo que eu só precisava de cinco em cada arguição. De
fato, você precisa passar, isso é o mais importante. Então, seja esperto
e faça uso desses recursos quando realmente precisar.
Já vi candidatos que, não sabendo a resposta, tentavam a todo
custo enrolar a banca. Isso é o pior que pode acontecer em um prova oral, porque vai irritando os examinadores a ponto de deixá-los
furiosos e intolerantes. Conheço um candidato que começava a sua
resposta sempre invocando princípios. Isso foi incomodando a banca
de tal modo que, a certa altura, quando começou a falar de direito
estrangeiro, o examinador interrompeu-o para lembrá-lo de que ele
estava sendo arguido sobre direito brasileiro. Até quem estava no auditório ficou constrangido.
Ora, em uma prova oral, presume-se que você já estudou bastante, de modo que poucas temas serão ignorados. Mas, se por acaso,
tiver azar de enfrentar uma sequência de questões difíceis e que você
não lembra ou não sabe a resposta, não tente enrolar em todas as respostas. Faça isso algumas vezes, mas em outras ocasiões admita que
não lembra e pronto.
Quer dizer, seja prudente e observe a evolução do ânimo da
banca. Se perceber certa animosidade ou impaciência, mude a sua
estratégia. E não fique preocupado por não ter respondido uma ou
outra questão. Não respondeu, paciência, vá adiante. Concentre-se
na próxima pergunta e esqueça o que já passou.
Você precisa saber administrar as dificuldades que certamente surgirão no curso da prova. Como ensinou um amigo meu, que
é Promotor de Justiça, o desafio da prova oral não é responder às
133
Leandro G. M. Govinda
perguntas. O maior desafio é não se deixar abater por uma resposta
errada ou deixada em branco ou, até mesmo, uma grosseria proferida
por algum examinador. É aí que se vê a grandeza do candidato. Se
você tropeçar por qualquer motivo, tem que se recompor logo e com
ânimo renovado seguir corajosamente enfrentando a banca. É assim
que você será aprovado!
Outras dicas. Depois de sentar na cadeira reservada para você
no auditório, abra a garrafa de água e já sirva um pouco no copo. Se
deixar para fazer isso durante a sua arguição, pode acontecer algum
acidente. Tome água quando a sua boca e garanta estiverem secas.
Mas não beba muito, pois você não sabe quanto tempo será arguido
e não vai querer pedir licença no meio da prova para ir ao banheiro.
Apesar de que, se for necessário, não se acanhe de fazer isso. Melhor
assim do que ficar respondendo às perguntas com cara de quem está
apertado. A propósito, não coma chocolate antes da sua prova, pois
isso contribui para secar a boca, aumentando a sede.
Além de falar bem em público, em uma prova oral você precisa
saber ouvir também. Preste muita atenção nas perguntas que serão
feitas e não se precipite, ou seja, aguarde até o examinador terminar
de falar. Muitas vezes, o examinador ainda está introduzindo o assunto e faz uma breve pausa. Nessa hora, tem candidato que já começa a
falar alguma coisa relativa ao que o examinador estava comentando,
que nem era uma pergunta. Então, o examinador interrompe o candidato para dizer que ainda não formulou a sua pergunta. E, às vezes,
ainda comenta que, mesmo não tendo perguntado, o comentário do
candidato estava errado. Portanto, evite esse constrangimento aguardando pacientemente até o final da pergunta do examinador.
Se tiver oportunidade, visite o local onde será realizada a prova oral. Isso é uma espécie de reconhecimento do gramado! Até para
conhecer os obstáculos do percurso, como tapetes, colunas, degraus,
fios, etc., a fim de evitar o desastre de um tombo. Inclusive, tente se
134
Dicas de prova
informar sobre os detalhes do ritual da prova. Isso vai deixá-lo um
pouco menos ansioso. Eu até bati uma foto do auditório e usei como
fundo de tela do meu computador até o dia da prova oral. Todos os
dias eu iniciava o computador e lembrava que logo estaria naquele
local. Isso me deixou familiarizado com aquele ambiente.
Todos esses detalhes da prova oral podem – e devem – ser treinados durante os simulados. Daí a importância de se formar um grupo para a preparação da prova oral.
135
Reta final
Capí t ulo 7
Reta final
7.1. A última semana
Depois de alguns anos estudando, finalmente é chegado o momento de se submeter às provas de um concurso público. A semana
que antecede a prova é muito peculiar, pois a tensão, a ansiedade, o
nervosismo, o medo, todos esses sentimentos só aumentam. Então,
você precisa, mais do que nunca, manter a concentração para não
perder o foco da sua vida naqueles últimos dias de preparação.
A primeira coisa a fazer nessa semana que antecede a prova
é reduzir o ritmo de estudos e de trabalho. Se você planejou bem
a sua preparação, já deve ter agendado as suas férias no trabalho
para coincidir com a época da prova, justamente para não se ocupar
com a rotina do seu emprego. Se não conseguiu fazer isso, trabalhe
no piloto automático, ou seja, não desperdice energia se esmerando
demais nas suas tarefas rotineiras. Como se diz popularmente, faça
só o “feijão com arroz”. Se o seu chefe for um cara legal, converse
com ele e combine de fazer as tarefas não urgentes depois da prova,
mediante uma compensação de horários.
Em relação aos estudos, é comum observar concurseiros estudarem ferozmente na última semana de prova. Isso é um grande
equívoco. Pense bem: você já estudou anos, já leu vários livros, al
137
Leandro G. M. Govinda
guns mais de uma vez, já fez resumos, exercícios, simulados, enfim
você já estudou tudo o que precisava. Não há nada de tão relevante
que você precise estudar no último minuto da prorrogação.
Agora, o momento é de relaxar. Use o tempo dessa última semana para descansar a sua mente. Isso é muito importante para que
você realize uma boa prova. Se chegar no dia da prova com a mente
estressada, você vai errar muitas questões por falta de atenção e concentração. E aí anos de estudos e de preparação vão por água abaixo.
É lógico que durante essa semana você dificilmente vai conseguir ficar parado olhando para as paredes. Os seus nervos estarão à
flor da pele. Você pode continuar estudando, mas procure apenas
revisar os conteúdos mais importantes da prova. Faça leituras descompromissadas. Isso significa que você deve reler pontualmente o
material estudado. Confira o índice dos livros que você leu e revise
um tópico que você acha que tem grande chance de ser explorado na
prova. Em relação à legislação, concentre a sua revisão na Constituição, afinal praticamente todos os assuntos têm algum tratamento na
Lei Maior (direitos fundamentais e sociais, administração pública,
tributação, família, meio ambiente, etc.). Eventualmente, releia também alguns artigos de leis específicas e que sejam relevantes para o
concurso que você vai prestar.
Enfim, ocupe-se com essa revisão para fazer passar o tempo
até o momento da prova. Não tenha a pretensão de, na última hora,
esgotar algum conteúdo não estudado.
Nessa semana, mantenha a sua rotina normal em relação à alimentação e aos exercícios físicos. Não coma nada diferente do que
você está acostumado. Se puder, só evite comidas pesadas e muito
gordurosas, especialmente nos últimos dias, para evitar uma congestão de última hora. Tome cuidado também com atividades esportivas para não se machucar. Seria muito desconfortável fazer uma
prova com um gesso na perna, por exemplo. Isso para não falar do
risco de perder a prova por uma eventual internação hospitalar. Mas
138
Reta final
você deve fazer uma caminhada ou uma corrida leve. Isso ajudar a
aliviar a tensão e a ansiedade.
Em relação ao sono, é importante você dormir muito bem nesses últimos dias, afinal, como todos sabem, uma boa noite de sono
previne a depressão, melhora a concentração, aumenta a percepção
e fortalece a memória, entre outros benefícios. Se você é daqueles
que costuma dormir tarde e acordar tarde, a princípio, não mude
esse hábito. A menos que a sua prova esteja marcada para de manhã.
Aí é bom você adaptar a sua rotina para dormir mais cedo e acordar
mais cedo. Recomendo que faça esse ajuste com alguma antecedência, pelo menos duas ou três semanas antes da prova, a fim de que o
seu organismo assimile bem o novo hábito.
Reserve pelo menos dois dias para não fazer nada. Geralmente, as provas de concurso são aplicadas em domingos. Portanto, na
sexta e no sábado, nem revisão faça. É como no futebol: na véspera
do jogo, nenhum time treina. Os jogadores apenas ficam reunidos na
concentração se preparando emocionalmente para a partida.
Você também deve fazer o mesmo: use a véspera e antevéspera da prova para se concentrar. Assista TV, vá ao cinema ou alugue
filmes para assistir em casa, leia um livro de piadas, escute música,
faça uma caminhada, ocupe-se com atividades de lazer que façam
passar o tempo.
Entre uma atividade e outra, faça exercícios de concentração.
Coloque uma música zen, sente em uma posição confortável, feche
os olhos e tente ficar 15 ou 20 minutos em silêncio, focado na prova, mas sem alimentar expectativas sobre ela. Evoque pensamentos
positivos, como “eu vou passar, eu estou preparado, eu tenho condições”. Durante esse exercício, respire lentamente e de modo profundo. Se a sua mente está muito inquieta, experimente contar até dez.
A cada inspiração e expiração conte um número. Depois conte de
novo e de novo, mas preste atenção na contagem. Isso ajuda a diminuir o ritmo dos seus pensamentos.
139
Leandro G. M. Govinda
Se possível, agende uma sessão de massagem relaxante com um
bom profissional. Se a prova for discursiva, uma massagem especial
nas mãos é uma excelente ideia! Se a prova é oral, uma massagem
direcionada para o rosto também é uma boa para reduzir a tensão
dos músculos da face e dar um aspecto mais sereno para a sua expressão facial.
Finalmente, sobre os aulões de cursinhos, é preciso ponderar o
seguinte. Alguns professores gostam de dizer que, nessas aulas, eles
antecipam questões que vão cair na prova. Isso é um grande mito.
Ora, qual o professor guardaria uma carta na manga para revelar o
seu conteúdo em uma aula na véspera da prova? Só um professor
muito irresponsável faria isso com os seus alunos. Está claro que, durante o aulão, o professor revisa conteúdos que ele já trabalhou em
sala de aula ao longo do ano. E é óbvio que, por estar revisando os temas mais importantes, há uma grande chance de um desses temas ser
explorado na prova. Se você tiver boa memória, vai lembrar de várias
matérias ensinadas ao longo do curso que também caíram na prova.
Quer dizer, todas as dicas que um professor poderia dar ele já contou
durante as suas aulas. No aulão, ele só vai rememorar algumas delas.
Se você foi um bom aluno, essas dicas estão todas anotadas em seus
cadernos e, por isso, você não precisa do aulão para lembrar delas.
O aulão, apesar dos esforços dos professores para descontrair
os alunos, geralmente tem um clima muito tenso, porque todos estão muito ansiosos com a prova. Esse clima pode contaminar a sua
tranquilidade. Por isso, eu não recomendo ir aos aulões.
Agora, se você for uma pessoa muito (mas muito mesmo) ansiosa, do tipo que não consegue ficar em casa tranquila, serena, então
o aulão serve para você ocupar o seu tempo. Quer dizer, se você vai
ficar mais ansioso em casa sozinho do que no meio de outros tantos
colegas igualmente ansiosos, então aí não há prejuízo em participar
dos aulões. Ao contrário, a aula vai servir para fazer passar o tempo.
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Reta final
7.2. O grande dia
O dia do concurso é uma prova de fogo. Dificilmente, você vai
controlar totalmente a sua ansiedade e nervosismo. Mas isso é normal! Quem estudou muito sempre fica apreensivo, sente um frio na
barriga. É um dia para se falar pouco e se concentrar muito. Alguns
detalhes desse dia podem fazer muita diferença no resultado do concurso. Atente para o seguinte.
Despertador. Se a sua prova for de manhã, programe o seu despertador e de todos os seus familiares para o mesmo horário. Afinal,
depois de meses, quiçá anos acordando cedo para estudar, você não
quer perder justamente o dia da sua prova.
O ideal mesmo é que alguém - os seus pais ou o companheiro(a)
– faça o favor de despertar antes de você e o acorde de modo sereno.
De qualquer forma, desperte em um horário que dê tempo suficiente
para você acordar, tomar o café, fazer a sua higiene e todas as demais
atividades que você está acostumado a fazer, mas sem pressa ou correria.
Se tiver oportunidade, dê uma breve caminhada (uns 10 ou 15
minutos) em volta da quadra apenas para ativar a sua circulação sanguínea. Alongamentos também são muito bons para isso.
Se a sua a prova é a tarde, você pode se dar ao luxo de dormir
um pouco mais de manhã, mas não deixe para acordar na hora do
almoço. Levante um pouco mais cedo, tome um café regular, faça
um exercício físico leve e tente almoçar cedo. Normalmente, as provas a tarde começam logo depois do almoço e você ainda precisa
comparecer ao local de prova com meia hora, às vezes uma hora
de antecedência. Nem é preciso dizer para evitar comidas pesadas,
como gorduras e frituras.
Reserve um tempo depois do almoço para descansar. Há vários
estudos, disponíveis na internet, que apontam diversos benefícios
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Leandro G. M. Govinda
para essa soneca vespertina. Mas não durma demais para não ficar
preguiçoso: 15 ou 20 minutos bastam para acelerar a digestão e descansar a mente.
Antes de sair para a prova, tome algo com cafeína (café, chá,
energético), pois isso ajuda a aumentar a atenção.
Para a prova, leve um lanche leve, como uma barra de cereal ou
uma fruta. Evite embalagens de plástico que façam muito barulho
para não atrapalhar os demais candidatos. Leve também uma garrafa de água, mas não beba muita água para evitar saídas frequentes
ao banheiro.
Saia de casa com tempo suficiente para o deslocamento e mais
um tempo de reserva para compensar eventual imprevisto, como um
congestionamento de última hora, um pneu furado ou um desvio de
caminho.
Local de prova. Ao chegar ao local de prova, que você já deve
ter visitado algum dia antes, procure a sua sala e confira o seu nome
na lista. Não é necessário ingressar imediatamente na sala, nem recomendo que o faça. Você já vai ficar várias horas sentado. Então,
aguarde do lado de fora para poder ficar em pé, caminhar, conversar
com um ou outro amigo que encontrar no local de prova. Só não
fique falando sobre pontos do edital nem tente lembrar de algo que
você estudou. Nessa hora, você vai lembrar de pouca coisa e isso só
vai deixá-lo ainda mais nervoso.
Vá uma última vez ao banheiro e, quando faltar em torno de 10
minutos para o fechamento dos portões, aí sim você deve ingressar
na sua sala. Tome assento e use esses breves minutos antes da prova
para se concentrar. Esse é, para mim, um dos momentos mais importantes de toda a preparação.
Nesses dez minutos, você deve serenar a mente e buscar o seu
completo equilíbrio. Feche os olhos, descanse os braços e as mãos
sobre as pernas e respire calmamente. Se ficar mais confortável, deite
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Reta final
a cabeça sobre os braços apoiados na mesa a sua frente. Mantenha a
sua atenção. Você não vai dormir agora. Apenas se concentrar. Nesses instantes, pense em todo o seu tempo de estudo, pense nas pessoas que você ama, pense no seu sucesso e deseje muito alcançá-lo.
Pense nessas coisas todas agora, porque, quando receber o caderno
de prova, você só vai pensar nas questões e mais nada.
Ao terminar esse momento de concentração, erga a cabeça devagar e faça alguns movimentos giratórios leves com a cabeça e o
pescoço só para acordar. Estique os braços. Se possível, levante e faça
um alongamento completo.
A prova. Chegou a hora! Ao receber a prova, leia as instruções
com muita atenção e tire todas as suas dúvidas antes da sirene tocar.
Preencha logo os campos do caderno de prova e da folha de respostas destinados ao seu nome, número de inscrição e assinatura.
Em alguns concursos, os fiscais de prova são orientados a fazer
uma conferência do caderno de provas juntamente com os candidatos antes do início da prova. Se for assim, ótimo. Do contrário, quando tocar o sinal para início da prova, folheie todo o caderno de prova
e, se constatar qualquer defeito nele ou na folha de respostas, reclame imediatamente ao fiscal a substituição. E não espere essa troca
para começar a resolver as questões. Enquanto o fiscal providencia
uma nova prova, já comece a ler e resolver as questões.
Toda a prova de concurso tem questões fáceis, médias e difíceis.
Então, resolva primeiro as fácies e médias, deixando as mais difíceis
para o final. Você pode começar a prova pela matéria da sua predileção. De qualquer modo, não se apavore se não souber responder
ou ficar em dúvida logo nas primeiras questões. Isso é normal, em
razão da sua ansiedade que ainda é grande. Aos poucos você vai reduzindo a tensão e recuperando a memória. Portanto, mantenha a
calma. Se não souber ou não lembrar de uma questão, pule e passe
para a próxima.
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Leandro G. M. Govinda
Faça uma marcação ao lado da questão que você ficou com dúvida ou que não soube responder. Depois de terminar essa primeira
leitura da prova, faça um breve intervalo. Peça para ir ao banheiro,
lave o seu rosto, os pulsos, as orelhas e a nuca. A água fria ajuda a ativar a circulação sanguínea nesses pontos cruciais. Leve uma toalha
própria para enxugar essas partes do corpo. Faça uns alongamentos
para esticar o corpo.
Volte para a sala e retome a prova desde o princípio, mas dessa
vez atente para as questões ficaram de lado na primeira leitura. Terminada a segunda leitura da prova, volte uma terceira vez naquelas
questões que ainda não foram resolvidas definitivamente. A essa altura já não resta muito tempo de prova. Assim, resolva de uma vez
essas últimas questões, nem que seja chutando a resposta.
Se for possível, faça mais uma breve pausa para tomar água,
comer o seu lanche ou ir ao banheiro.
Na volta, comece a preencher o gabarito. Esse é o último momento para refletir sobre alguma questão que ainda esteja muito em
dúvida. Não recomendo deixar campos em branco no gabarito para
as questões duvidosas. Você pode se atrapalhar e acabar preenchendo errado a folha de respostas. Então, preencha uma a uma as questões, na ordem que elas se apresentam na prova.
Enquanto preenche o gabarito, você pode fazer uma revisão de
cada questão, pelo menos para verificar se a resposta escolhida não
tem nenhum detalhe que eventualmente passou despercebido na
primeira leitura.
Feito isso, é só copiar o gabarito para posterior conferência, entregar o material para o fiscal e aguardar o resultado.
Pronto. Sua missão está cumprida. Nem foi tão difícil assim!
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Outras publicações do autor
A polêmica sobre a falsidade ideológica das faturas nas importações. Revista Tributária e de Finanças Públicas – RTFP,
n. 106.
Tributos e penalidades no despacho antecipado de mercadorias a granel. Revista Tributária e de Finanças Públicas –
RTFP, n. 70.
Controle sobre as operações por conta e ordem de terceiros
nos regimes aduaneiros especiais. Revista Tributária e de Finanças Públicas – RTFP, n. 60.
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