Sustentabilidade na produção artesanal com
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Sustentabilidade na produção artesanal com
1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS Escola de Design Programa de Pós-Graduação em Design – PPGD SUSTENTABILIDADE NA PRODUÇÃO ARTESANAL COM RESÍDUOS VEGETAIS: UMA APLICAÇÃO PRÁTICA DE DESIGN SISTÊMICO NO CERRADO MINEIRO NADJA MARIA MOURÃO Belo Horizonte 2011 Rio São Francisco Fonte: MOURÃO, 2011 2 SUSTENTABILIDADE NA PRODUÇÃO ARTESANAL COM RESÍDUOS VEGETAIS: UMA APLICAÇÃO PRÁTICA DE DESIGN SISTÊMICO NO CERRADO MINEIRO NADJA MARIA MOURÃO Belo Horizonte 2011 3 NADJA MARIA MOURÃO SUSTENTABILIDADE NA PRODUÇÃO ARTESANAL COM RESÍDUOS VEGETAIS: UMA APLICAÇÃO PRÁTICA DE DESIGN SISTÊMICO NO CERRADO MINEIRO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade do Estado de Minas Gerais como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Design, na área de concentração em Design, Inovação e Sustentabilidade. Orientadora: Profª. Lia Krucken Perreira, Drª Coorientadora: Profª. Rira de Castro Engler, Drª Belo Horizonte 2011 4 M929s Mourão, Nadja Maria Sustentabilidade na produção artesanal com resíduos vegetais: uma aplicação prática de design sistêmico no Cerrado Mineiro / Nadja Maria Mourão -Belo Horizonte, 2011. 219 p. : il. color. fots. maps. Orientadora: Lia Krucken Pereira Coorientadora: Rita de Castro Engler Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado de Minas Gerais/ Escola de Design / Mestrado em Design, 2011. 1. Desenho (Projetos) – Teses. 2. Desenho Industrial – Desenvolvimento Sustentável. 3. Artesanato – Minas Gerais – Aspectos Ambientais. 4. Desenho Industrial – Recursos Naturais – Conservação. 5. Turismo – Desenvolvimento Econômico – Aspectos Ambientais. I. Krucken, Lia Pereira. II. Engler, Rita de Castro. III. Universidade do Estado de Minas Gerais. IV. Título. CDU: 7.05 5 6 Ofereço: Aos meus filhos – presentes de Deus. Dedico: A todos que amo e que deixaram saudades: meu pai, José Maria Mourão, meus avós, familiares e amigos, em especial Prof. D.Sc. Edir Tenório (que nos deixou, antes da conclusão da 1ª Turma do PPGD). 7 AGRADECIMENTOS Ao Poder Superior, Deus: por mim, por todos e por tudo. À minha mãe, Ieda Mourão: pelo amor ilimitado. Aos meus filhos, irmãos e toda a minha família: pelo amor, participação em todas as minhas empreitadas e infinita paciência com meus defeitos. Aos meus alunos, estagiários e voluntários: pela competência e dedicação. À toda Equipe do PPGD – Coordenação, professores, funcionários, colegas e amigos do mestrado: pelo estímulo, ensinamentos e amizade; pela honra fazer parte da 1ª. Turma do Mestrado em Design, Inovação e Sustentabilidade – UEMG. À minha orientadora Lia Krucken e coorientadora Rita Engler: pelo estímulo, compreensão, apoio, orientação, confiança, amizade e conclusão desta etapa. Ao Instituto Sociedade População e Natureza – ISPN, com recursos da União Europeia: pelo financiamento da pesquisa de campo, através do Edital UNICOM. 2010. Aos funcionários do ISPN, Cristiane e Fabio, pelo estímulo e apoio. Ao prof. Donald R Sawyer, pelo atendimento à pesquisa. À todos da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG: pela minha formação acadêmica, história profissional e amizades sinceras. À Reitoria da UEMG: em especial a todos que sempre se empenharam para o desenvolvimento acadêmico (não cito nomes, pois são tantas pessoas especiais que, mesmo sem o convívio, tenho certeza que apoiam minha formação). À Escola de Design da UEMG - Diretoria, Chefias de Departamentos, Coordenações, Centros e a todos os professores, alunos, funcionários: pessoas especiais que sempre me estimularam. Aos primeiros professores do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Escola de Ciências Naturais e Exatas/UEMG - Ubá: pelo incentivo em abordar a Biologia com o Design, e por me incluírem na equipe dos “Guerreiros pelo ensino superior gratuito e de qualidade!” À Prefeitura de Chapada Gaúcha: pela contribuição e amizade de todos. 8 À todos que colaboram com o trabalho de campo: Associação das Bordadeiras e Artesãos de Serra das Araras, Associação dos Moradores da Comunidade de Ribeirão de Areia, Grupo Mãos que Brilham, Associação dos moradores da Comunidade de Buraquinhos, Associação dos Quilombolas Santa Tereza, amigos do IEF/Parque Serra das Araras, EMATER/Chapada Gaúcha, IBAMA/ ICMBio/Parque Nacional Grande Sertão Veredas, CETEC.MG/Projeto de Implantação de Unidades de Beneficiamento e Comércio de Produtos Oriundos da Base Produtiva Local, FUNATURA, ROSA SERTÃO, COOP VEREDAS, ADISC, Câmara Municipal de Chapada Gaúcha, FM&F Tecnologia e Grupo ARTE NO AR. À todos voluntários da pesquisa de Campo: Equipe Família (Lidja, Haendel, Aline, Ellen, Nicolas, Jeffinho, Pikachu e Cadu); Equipe de Chapada Gaúcha (Bila, Orlando, Dadi, João); Equipe de apoio nas comunidades (Cícero, Rosicley, Tico, Damiana, Zézu, Cida, Tião, Silvânia, Tia Ana, Tia Pretinha, Jerônima, Jurandir, Mundinho e todos da família do Seu Jonas); Equipe alunos da ED (Alice, Antonnione, Cacá, Caio, Elisa, Isadora, Igor Z., Letícia, Daniela Martins, Michelle Machado, Michelle Vieira, Polliana, Raquel, Thábata, Viviane); amigos que corrigiram e contribuíram com a conclusão da dissertação (Cirléia, Cléo, Edu, Efigênia, Juliana, Júnior, Lia, Marcelina, Rita e Sebastiana); aos amigos de sempre (Alicia e Junior, Breno(s), Bruno L., Carla, Carlos e Cláudia Sampaio, Elenice, Eli, Fernando, George H., Heloisa, Jacque, Jarbas, Jorge F., João Ribeiro, João Vitor, Kátia(s), Nilza, Marília, Marta do Pedro, Pe.Paulo, Renato, Regina, Rick, Rodrigo(s), Romeu, Rose, Rovana, Selma, Silvânia, Tânia, Thais, Túlio e Vânia). Aos amigos da CEMIG (Cecília, Luiz Augusto, Mª. Cristina e Ricardo P.); a todos do Programa AmbientAÇÃO e aos colaboradores da ED/UEMG: Núcleo de Educação Ambiental, CEDTec, Centro da Imagem, CEMA, T&C Design, Biblioteca, Secretaria, Áudio Visual, Coordenações de Ensino, Pesquisa e Extensão. Aos autores dos livros, dissertações, teses e artigos consultados. Aos amigos queridos, de vários lugares do mundo, cuja distância ensinou-me: “As perdas fazem parte da vida, mas desistir é opção!” Enfim, à todos aqueles que contribuíram para que este trabalho desse certo. Este é somente um começo. Muitíssimo obrigada! 9 RESUMO MOURÃO, N. M. Sustentabilidade na produção artesanal com resíduos vegetais: Uma aplicação prática de design sistêmico no Cerrado Mineiro. 2011. 205 f. Dissertação (Mestrado) - Escola de Design, Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011. O objeto de estudo desta dissertação consiste em verificar como as comunidades trabalham com resíduos vegetais na produção artesanal e como promover práticas sustentáveis sob a perspectiva do design neste contexto. A abordagem sistêmica do design foi a base para o desenvolvimento da pesquisa, especificamente as ferramentas e as estratégias para o desenvolvimento de soluções aplicadas à sustentabilidade. Devido a natureza do objeto de estudo e ao modo de investigação da pesquisa, adotou-se uma perspectiva multidisciplinar na condução da pesquisa, priorizando-se a perspectiva do design e envolvendo conhecimento de áreas relacionadas a ciências sociais e biológicas. A produção artesanal foi investigada, a partir do uso de insumos e dos resíduos vegetais provenientes do Cerrado Mineiro, no Vale do Urucuia, especificamente no município de Chapada Gaúcha. Este município é território intermediário entre o Parque Nacional Grande Sertão Veredas e o Parque Estadual de Serra das Araras, noroeste de Minas Gerais. Esta região, pertencente a uma das sub-bacias do Rio Francisco, possui características popularizadas pelo escritor João Guimarães Rosa. O método de investigação adotado foi o estudo de caso, a partir de observação-participante. A pesquisa de campo foi realizada junto a artesãos das comunidades de Serra das Araras, Ribeirão do Areia e Buraquinhos. A população local utiliza extensa quantidade dos recursos naturais provenientes dos ecossistemas da região. A condução de atividades práticas com comunidades possibilitou a análise dos materiais para a produção artesanal, das técnicas artesanais e da relação com o habitat, evidenciando o potencial para se promover a sustentabilidade local. Para promover práticas de manejo sustentável para a produção artesanal é necessário considerar o contexto cultural, social e ambiental das áreas protegidas. Os resultados apontaram possibilidades de intervenção do design na produção artesanal, valorizando a riqueza dos resíduos vegetais como matéria prima. Evidenciou-se a importância da condução de oficinas como forma de interação com as comunidades e a necessidade de adotar abordagens didáticas multidisciplinares e adaptadas ao contexto local. Um dos principais resultados alcançados foi a proposta de catálogo das espécies vegetais do Cerrado Mineiro que geram resíduos que podem ser usados para a produção artesanal. Este catálogo teve como objetivo organizar o conhecimento acessado durante a pesquisa, e disponibilizá-lo a sociedade (especialmente produtores, comerciantes, consumidores), adotando-se uma linguagem acessível e incluindo suporte visual (fotos e esquemas) para facilitar a comunicação. Palavras-chave: design sistêmico. sustentabilidade. produção artesanal. resíduos vegetais. Cerrado Mineiro. 10 ABSTRACT MOURÃO, N. M. Sustentabilidade na produção artesanal com resíduos vegetais: Uma aplicação prática de design sistêmico no Cerrado Mineiro. 2011. 205 f. Dissertação (Mestrado) - Escola de Design, Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011. The subject matter of this dissertation is to examine how communities work with plant residues in handicraft production and to promote sustainable practices from the perspective of design in this context. The systems approach to design was the basis for the development of research, specifically the tools and strategies for the development of applied solutions to sustainability. Due to the nature of the object of study and research the way of research, we adopted a multidisciplinary approach in conducting the research, focusing on the perspective of design and involving knowledge of areas related to social and biological sciences. Craft production was investigated from the use of raw materials and vegetable waste from the Cerrado Mineiro, Urucuia Valley, specifically in the municipality of Rio Grande do Sul Chapada. The municipality is the middle ground between the National Park Great Wilderness State Park Footpaths and Serra das Araras, northwest of Minas Gerais. This region, belonging to a sub-basin of the Rio Francisco, has features popularized by the writer João Guimarães Rosa. The research method used was a case study from participant observation. The field research was conducted with the communities of artisans Serra das Araras, Stream of Sand and holes. The local population uses extensive amounts of natural resources from the region's ecosystems. Conducting practical activities with communities allowed the analysis of materials for handicraft production, the crafts and the relationship with habitat, indicating the potential to promote local sustainability. To promote sustainable management practices for the production craft is necessary to consider the cultural, social and environmental protected areas. The results indicated the possibilities of intervention design in handicraft production, valuing the richness of plant residues as feedstock. Revealed the importance of conducting workshops as a way of interacting with the communities and the need to adopt multi-disciplinary teaching approaches and adapted to local context. One of the main achievements was the proposal to catalog plant species of the Cerrado Mineiro that generate waste that can be used for craft production. This catalog aimed to organize the knowledge accessed during the search, and make it available to society (especially producers, traders, consumers), adopting an accessible language and including support visual (photos and diagrams) to facilitate communication. Keywords: Systemic design. sustainability. craftsmanship. crop residues. Cerrado Mineiro 11 LISTA DE FIGURAS Fig. 1 Ações e resultados relacionados com a atividade de design............. 33 Fig. 2 Indicação de passagem output/input................................................. 35 Fig. 3 O modelo de produção...................................................................... 37 Fig. 4 Levantamento de valores associados a palmeira Juçara .................. 39 Fig. 5 Biojoias Brasileiras.............................................................................. 40 Fig. 6 Componentes de uma árvore............................................................. 42 Fig. 7 Resíduos Vegetais para a produção artesanal................................... 44 Fig. 8 Fios produzidos pelo Projeto ―Pólo Veredas‖..................................... 45 Fig. 9 Insumos e resíduos vegetais.............................................................. 48 Fig.10 Flor de folhas pigmentadas da Flor do Cerrado................................. 49 Fig.11 Quadro da relação entre matérias primas e ofícios............................ 55 Fig.12 Sistemas do desenvolvimento da pesquisa........................................ 65 Fig.13 Quadro de dados populacionais de Chapada Gaúcha....................... 71 Fig.14 Reserva Estadual Desenv. Sustentável Veredas do Acari................. 72 Fig.15 Rio Feio em Serra das Araras............................................................ 84 Fig.16 X Encontro dos povos do Grande Sertão Veredas............................. 89 Fig.17 Apresentação da Pesquisa - logomarca............................................. 90 Fig.18 Travessia de balsa do Rio São Francisco.......................................... 92 Fig.19 Trechos da rodovia MG-606............................................................... 92 Fig. 20 Quadro de perguntas e respostas – comerciantes insumos.............. 95 Fig. 21 Gráfico de Renda dos Trabalhadores Rurais..................................... 98 Fig. 22 Reserva Ambiental do Acari............................................................... 99 Fig. 23 Imagens da estrada para Comunidade de Buraquinhos.................... 101 Fig. 24 Chapadão da Comunidade de Buraquinhos....................................... 101 Fig. 25 Imagem do interior de residência da comunidade de Buraquinhos.... 102 Fig. 26 Imagem da fachada de uma das residência em Buraquinhos............ 102 Fig. 27 Artesã apresenta a palha do buriti para produção de esteiras........... 104 Fig. 28 Artesãs e produção de esteiras na comunidade de Buraquinhos...... 104 Fig. 29 Comunidade de Ribeirão do Areia...................................................... 106 Fig. 30 Central de Resfriamento de Leite na C. de Ribeirão do Areia............ 106 Fig. 31 Encontros semanais dos artesãos da C. de Ribeirão de Areia.......... 107 12 Fig. 32 Artesãs dividindo tarefas da comunidade........................................... 107 Fig. 33 Lanche comunitário após as atividades artesanais............................ 107 Fig. 34 Técnica de corte em cabaça e de tranças p/ artesanato.................... 108 Fig. 35 Capela de Nossa Senhora Aparecida em Ribeirão de Areia.............. 108 Fig. 36 Folia de Reis na casa do Mestre Jonas.............................................. 109 Fig. 37 Biojias de artesãs da C. de Ribeirão de Areia.................................... 110 Fig. 38 Rabeca de madeira mata-cachorro.................................................... 111 Fig. 39 Rodovia MG 606 - Chapada Gaúcha e Serra das Araras.................. 112 Fig. 40 Serra das Araras................................................................................. 112 Fig. 41 Imagem do Distrito de Serra das Araras............................................. 113 Fig. 42 Barracas da Festa de Santo Antônio - Serra das Araras................... 114 Fig. 43 Artesãs da Ass. de Bordadeiras e Artesãos de Serra das Araras...... 115 Fig. 44 Quadro bordado da paisagem de Serra das Araras........................... 116 Fig. 45 Produtos da Ass. de Bordadeiras e Artesãos de Serra das Araras.... 116 Fig. 46 Vaso flores desenvolvido projeto Artesol – Ass. das Bordadeiras..... 116 117 Fig. 48 Técnicas para produção das flores de talos de buriti. Associação de Bordadeiras e Artesãos de Serra das Araras................................ Caminhos de mesa de palha de buriti................................................ Fig. 49 Produtos da C. de Buraquinhos após orientação oficina Design....... 120 Fig. 50 Mandala de palha de buriti e bananeira............................................. 121 Fig. 51 Alguns produtos artesanais de Ribeirão de Areia.............................. 121 Fig. 52 Oficina de Resíduos Vegetais com artesãs em Serra das Araras...... 122 Fig. 53 Embalagens e oratórios de buriti - imagens de Santo Antonio........... 123 Fig. 54 Imagens do sistema de produção de biojoias artesãos...................... 125 Fig. 55 Imagens telhado de palha de Buriti.................................................... 126 Fig. 56 Imagens do ciclo de manejo e beneficiamento de mat.vegetais........ 127 Fig. 57 Imagens de raízes e troncos utilizadas no artesanato....................... 128 Fig. 58 Processo da utilização do fruto do Tingui na produção artesanal..... 136 Fig. 59 Beneficiamento da palmeira Buriti ..................................................... 138 Fig. 60 Beneficiamento da árvore de Fava D’anta......................................... 139 Fig. 61 Beneficiamento da árvore de Jatobá-do-Cerrado............................... 140 Fig. 62 Quadro da produção artesanal com resíduos vegetais...................... Fig. 63 Produção artesanal das comunidades – Design Sistêmico................ 142 Fig. 47 119 141 13 LISTA DE MAPAS 01 Localização de Chapada Gaúcha no Brasil................................. 69 02 Localização de Chapada Gaúcha em Minas Gerais.................... 69 03 Localização do Município de Chapada Gaúcha........................... 70 04 Localização do Vale do Urucuia................................................... 70 05 Limites da ecorregião Cerrado..................................................... 79 06 Base MODIS mapa de remanescentes ....................................... 82 07 Base PROBIO.............................................................................. 82 08 Base SPOT p/análise temporal possíveis desmatamentos......... 82 09 Localização das Comunidades selecionadas.............................. 93 10 Localização da Comunidade de Buraquinhos ............................. 100 11 Acesso à comunidade de Ribeirão de Areia................................. 105 12 Mapa da Localização do Distrito de Serra das Araras ................. 111 14 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ACS............................. Área de Coleta de Sementes BH................................ Belo Horizonte BNDES........................ Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CACCER..................... Conselho das Associações de Cafeicultores do Cerrado CG............................... Município de Chapada Gaúcha. Minas Gerais C&T............................. Ciência e Tecnologia CETEC-MG................. Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais EA............................... Educação Ambiental ED .............................. Escola de Design EMBRAPA................... Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EPA............................. Environmental Protection Agency, dos Estados Unidos ETHOS........................ Instituto Ethos de Empresas de Responsabilidade Social FRAGO........................ Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Agronegócio GPS............................. Global Positioning System: Sist. de Posicionamento Global IBAMA......................... Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ICMbio......................... Instituto Chico Mendes de Biodiversidade IEF............................... Instituto Estadual de Florestas ISPN............................ Instituto Sociedade, População e Natureza MCT............................. Ministério da Ciência e Tecnologia MMA............................ Ministério do Meio Ambiente OMT............................. Organização Mundial do Turismo ONG............................ Organização Não Governamental ONU............................ Organização das Nações Unidas OSCIP......................... Organização da Sociedade Civil de Interesse Público OSIP............................ Organização Social de Interesse Privado 15 ONG............................ Organização não governamental PADSA........................ Projeto de Assentamento Dirigido à Serra das Araras Chapada Gaúcha. Minas Gerais PMDBBS..................... Projeto de Monitoramento do Desmatamento dos Biomas Brasileiros por Satélite PPGD.......................... Programa de Pós Graduação Mestrado em Design SBF/MMA.................... Secretaria de Biodiversidade e Floresta SEBRAE...................... Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas SENAC........................ Serviço Nacional do Comércio SENAI......................... Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SISCOM..................... Sistema de Informação dos Serviços de Comunicação de Massa SNSM........................ Sistema Nacional de Sementes e Mudas UNICOM.................... Programa Universidades e Comunidades Cerrado/ISPN UEMG........................ Universidade do Estado de Minas Gerais no 16 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................... 19 CAPÍTULO 1 – CONCEITUAÇÃO..................................................... 22 1.1. Abordagens sistêmicas do design: conceitos relacionados............... 22 1.2. Problematização................................................................................. 24 1.3. Objetivos............................................................................................. 25 1.3.1. Objetivos Específicos ......................................................................... 25 1.4. Justificativa......................................................................................... 25 1.5. Delimitação da pesquisa..................................................................... 27 1.6. Estrutura da dissertação..................................................................... 27 CAPÍTULO 2 – REFERENCIAL TEÓRICO........................................ 30 2.1. Design sistêmico e a sustentabilidade................................................ 32 2.1.1. Design sistêmico - produtos e serviços.............................................. 37 2.1.2. Exemplos de iniciativas no Brasil associadas à abordagem sistêmica do design............................................................................. 38 2.2. Insumos e resíduos vegetais.............................................................. 41 2.3. Espécies vegetais do cerrado na produção artesanal........................ 46 2.3.1. Espécies nativas e exóticas em produção artesanal........................ 2.3.2. Manejo, conservação e comercialização de insumos vegetais.......... 51 2.4. Produção artesanal, inovação e sustentabilidade.............................. 54 2.4.1. Produção artesanal............................................................................. 54 2.4.2. Inovação e sustentabilidade no contexto da produção artesanal..... 2.5. Abordagens sistêmicas relacionadas ao território.............................. 58 50 56 CAPÍTULO 3 - PROCEDIMENTOS E MÉTODOS............................. 61 3.1. Objeto de Estudo................................................................................ 66 3.2. Área de Estudo................................................................................... 66 3.2.1. O município de Chapada Gaúcha...................................................... 68 3.3. Coleta de Dados................................................................................. 73 17 CAPÍTULO 4 – ESTUDO DE CASO.................................................. 77 4.1. Primeira Parte – Análise do Contexto................................................. 77 4.1.1. Cerrado Brasileiro............................................................................... 77 4.1.2. O Vale do Urucuia............................................................................... 83 4.1.3. Povos tradicionais e manejo recursos naturais.................................. 84 4.1.4. Populações existentes e a culturalidade no Vale do Urucuia............. 86 4.2. Segunda Parte – A produção Artesanal e o Design Sustentável....... 90 4.2.1. Atividades iniciais................................................................................ 90 4.2.2. Registros sobre o comercio de resíduos vegetais.............................. 94 4.2.3. Contexto econômico, social, cultural e ambiental............................... 97 4.2.4. Artesanato na comunidade de Buraquinhos....................................... 100 4.2.5. Cultura e Artesanato na comunidade de Ribeirão de Areia............... 105 4.2.6. Serra das Araras: comunidade e artesanato...................................... 111 4.2.7. Oficinas de design, cultura e identidade............................................. 118 a) Oficina de design em Buraquinhos................................................. 119 b) Oficina de design em Ribeirão do Areia......................................... 120 c) Oficina de design em Serra das Araras......................................... 122 4.2.8. Boas práticas: extração, pigmentação e conservação....................... 124 a) Sementes....................................................................................... 124 b) Folhas e fibras................................................................................ 126 c) Galhos, troncos e raízes................................................................. 128 4.2.9. Algumas espécies vegetais especiais para as comunidades............. 129 a) Buriti: A palmeira preciosa.............................................................. 129 a) Fava d’anta: Fonte de sustentabilidade.......................................... 130 b) Jatobá: Símbolo da tradição e nutrição.......................................... 131 CAPÍTULO 5 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS........................... 132 5.1. Espécies vegetais compatíveis à produção artesanal........................ 132 5.2. Análise da produção artesanal - comunidades pesquisas................. 135 5.2.1. Análise de algumas espécies vegetais especiais na região............... 137 5.2.2. Análise da produção artesanal nas comunidades.............................. 141 5.3. Espécies vegetais catalogadas no Vale do Urucuia........................... 143 5.3.1. Espécies vegetais para prod. artesanal em Chapada Gaúcha.......... 145 5.4. Análise das Oficinas de Design, Cultura e Identidade........................ 146 18 CAPITULO 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................... 147 6.1. Quanto ao contexto e a produção local.............................................. 148 6.2. Quanto ao mapeamento e à catalogação das espécies vegetais...... 150 6.3. Quanto às oficinas e contribuições do design.................................... 151 6.4. Sugestões para trabalhos futuros....................................................... 153 REFERÊNCIAS.................................................................................. 154 GLOSSÁRIO...................................................................................... 171 APÊNDICES....................................................................................... 183 A. Dados de sites: Comercialização de Res.Veg. Beneficiados............. 184 B. Formulários – Cadastro do Artesão e Cadastro Espécies Vegetais... 186 C. Modelo Entrevista Semiestruturada.................................................... 187 D. Modelo carta de apresentação e solicitação de apoio........................ 188 E. Modelo autorização para reprodução de foto e vídeos...................... 189 F. Tabela de preções – res.veg. beneficiados - Mercado Central......... 190 G. Dados complementares das espécies vegetais (extra catálogo)....... 192 H. Proposta - Catálogo de Espécies Vegetais p/ Artesanato................ I. Publicação da pesquisa. Jornal ―O Barranqueiro‖ – n° 378................ 218 J. Publicação da pesquisa. Jornal ―O Barranqueiro‖ – n° 390................ 219 196 19 INTRODUÇÃO “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”. Guimarães Rosa Diante das crescentes crises ambientais geradas pelo uso indiscriminado dos recursos naturais em algumas regiões, faz-se imprescindível rever os métodos usados para extrair, produzir, consumir e destinar. O despertar para a conscientização acerca dos problemas ambientais e a necessidade de estabelecer atitudes para minimizá-los tornam-se cada vez mais abrangentes, tanto no setor produtivo, no design1, quanto na sociedade em geral. A abordagem sistêmica do design é a base para o desenvolvimento deste trabalho, utilizando especificamente as estratégias e ferramentas para o desenvolvimento de soluções aplicadas à sustentabilidade. A produção artesanal foi investigada a partir do uso de insumos e dos resíduos vegetais provenientes do Cerrado Mineiro. 1 A definição oficial de Design Industrial, de acordo com o ICSID (Conselho Internacional das Organizações de Design Industrial), é uma atividade criativa cujo objetivo é estabelecer as qualidades multifacetadas de objetos, processos, serviços e seus sistemas em ciclos de vida inteira. Portanto, design é o fator central da humanização inovadora de tecnologias e o fator crucial de intercâmbio cultural e econômico. ( ALLEGRO BUSINESS GROUP, 2011) 20 Superado apenas pela Floresta Amazônica em extensão, o Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, cobrindo quase um quarto do território. Conforme Giulietti et al (2009), o Brasil possui uma das maiores biodiversidades do planeta, abriga 15% de toda a flora mundial. Desta porcentagem, em torno de 1,5% das espécies estão restritas ao Cerrado. Em Minas Gerais, foram detectadas cerca de 550 espécies raras, devido à grande quantidade de endemismos pontuais nos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço. Nas décadas de 1970 e 1980 houve uma expansão da fronteira agrícola do Cerrado, ocasionando queimadas e uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos. Fatos que coincidem com o aumento da utilização dos insumos e do avanço demográfico na região central do país. ―Esta devastação resultou na modificação de 67% de suas áreas em curto prazo. Atualmente, calcula-se que apenas 20% de área original do Cerrado permanecem preservadas‖ (IBAMA /PMDBBS, 2008, p.11). Inúmeros recursos vegetais podem ser retirados da natureza para a produção de artesanato como os galhos, troncos contorcidos e secos, folhas e flores que adquirem coloração ao processo de secagem natural, além de sementes de várias espécies vegetais. São as sementes dos buritis, pequis, fabáceas, dentre outras espécies, após o período de germinação, somam-se à diversidade insumos e de resíduos vegetais. Os resíduos vegetais são partes oriundas de algum tipo de utilização de plantas, como por exemplo: as lascas de tronco, fibras, cascas, favas e sementes provenientes da produção agroextrativista ou in natura. Foelkel (2007) considera a denominação dos elementos vegetais, que aparecem principalmente após queimadas e desmatamentos, como ―resíduos florestais‖. Os resíduos florestais caracterizam uma ação predominante do ser humano. Estes materiais, abordados como resíduos, são também insumos para o artesanato em diversas localidades no Brasil. As fibras naturais sempre estiveram presentes no cotidiano das comunidades, desde os tempos tribais. Algumas perderam a identidade com a inclusão de novos materiais. Finkielsztejn (2006) narra que os interesses comerciais se transformam, as fibras naturais são substituídas por 21 outras, e os mercados, os padrões de identificação, classificação e qualidade são moldados em função de novos critérios. O design pode e deve contribuir efetivamente para a valorização dos recursos naturais, como aponta Bistagnino (2009). Assim, nesta pesquisa foram investigadas quais seriam as possíveis contribuições do design para a sustentabilidade na produção artesanal a partir de resíduos vegetais do Cerrado Mineiro. Além disso, foram estudadas estratégias para promover materiais, técnicas e processos que valorizem o território e que podem ser aplicadas e aperfeiçoadas, como ferramenta para o artesão, o produtor de insumos vegetais, o artesanato e o designer. A motivação para o desenvolvimento dessa proposta surgiu com base no interesse de compreender as relações entre o território 2 e a sociedade. O desejo de desenvolver uma pesquisa que estabelecesse vínculo entre Cerrado e produção artesanal foi acalentado por muitos anos. Oficinas educacionais para públicos diversos, utilizando sementes, folhas, galhos, estimulam a consciência como profissional em design e a responsabilidade em relação à sustentabilidade. Através do conhecimento das riquezas naturais, consideradas como resíduos vegetais, indagou-se ―como o design poderia contribuir com a produção artesanal sem comprometer o meio ambiente?‖ Desta forma, a busca de experiências em design sustentável3 motivou a busca por abordagens sistêmicas do design. 2 O território não se restringe somente às fronteiras entre diferentes países, sendo caracterizado pela ideia de posse, domínio e poder, correspondendo ao espaço geográfico socializado, apropriado para os seus habitantes, independentemente da extensão territorial. (FRANCISCO, 2011) 3 Design sustentável é um conjunto de ferramentas, conceitos e estratégias que visam desenvolver soluções em sistemas, serviços ou produtos, para satisfazer às necessidades do presente, sem comprometer o desenvolvimento das gerações futuras. Este conceito insere-se no termo ―desenvolvimento sustentável‖, sugerido no Relatório de Brundtland – também conhecido como Our Commom Future, apresentado à Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), em 1987, e adotado pelo mundo todo. (TEIXEIRA, 2010) 22 CAPÍTULO 1 CONCEITUAÇÃO “Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.” Guimarães Rosa 1.1. ABORDAGENS SISTÊMICAS DO DESIGN: CONCEITOS RELACIONADOS Os conceitos do pensamento sistêmico, no decorrer dos tempos, passaram a ser utilizados no mundo científico, na mesma proporção das mudanças de paradigmas. O biólogo Ludwig Von Bertalanffy, na década de 20, aliou-se a um grupo de cientistas em Viena, que inovaram os métodos tradicionais da física, expandindo para a visão holística. Os relatos de Bertalanffy foram resgatados e publicados posteriormente. O mesmo observou as evidentes lacunas existentes na pesquisa e na teoria da biologia. Em seus estudos, percebeu que o enfoque mecanicista4, então predominante, parecia desprezar ou negar o essencial nos fenômenos da vida. Este projeto foi desenvolvido a partir deste conceito de sistema aberto, onde nenhuma organização pode ser compreendida de forma isolada. Deve-se considerar que as relações entre diversos atores e variáreis internos e externos são capazes de alterar seu comportamento e consequentemente seus resultados. O movimento 4 Teoria segundo a qual todos os fenômenos que se manifestam nos seres vivos são mecanicamente determinados de natureza físico-química. (DICIONÁRIO, 2011) 23 Neste trabalho são evidenciados, especificamente, os trabalhos de Fritjof Capra, Kurt Koffka, Ludwig Von Bertalanffy e Therese Amelie Telenge. Koffka (1975), um dos expoentes da Gestalt5, chamou de "primórdios" do pensamento sistêmico, as pesquisas poderiam colaborar na criação de modelos e quadros de referências que acentuam não somente nas semelhanças, mas inclusive entre as diferenças estruturais entre tipos de sistemas. Sistema é um composto de conjuntos de estruturas que se interrelacionam entre si. Telenge (1984) relata que pela teoria dos sistemas, todos os elementos ou partes que compõe o todo são importantes. Não são os "objetos" enquanto físicos ou materiais os mais importantes, acima de tudo são as leis, funções, processos, equações que estruturam um sistema. Capra (1996) descreve as mudanças das relações e conceitos, enaltecendo o sistema de redes como chave para os avanços da compreensão científica. Relata o princípio da interdependência onde todos os membros de uma comunidade ecológica estão interligados em ampla e intrincada trama de relações, ―a teia da vida‖. Estabelece um conjunto de princípios de organização ecológica, constituindo um modelo de sustentabilidade para a sociedade – onde os ecossistemas funcionam em redes. Esclarece que análises isoladas de um sistema não demonstram as propriedades das partes. Desta forma, para que a sustentabilidade se estabeleça, todos os fatores são importantes. Desde conhecer como os materiais são extraídos, o processo, até o descarte. Bistagnino (2009) narra que o desafio é tornar sustentável a vida cotidiana. É necessária aprendizagem social, mudança de comportamentos e compartilhar com novos estilos de vida. Repensar e inovar, o que não significa necessariamente novas tecnologias. Inovar é ver sob outros ângulos e perspectivas diferentes. Como esclarecido, é oportuno introduzir o conceito de ―design sistêmico‖. Conforme Allegro (2011) constitui um meio renovável, cíclico e inter-relacionado de 5 É importante citar que o pensamento sistêmico expandiu através da psicologia da gestalt. De acordo com a gestalt, a arte se funda no princípio da forma. O importante é perceber a forma por ela mesma; vê-la como "todos" estruturados, resultados de relações. O movimento gestáltico surgiu no período compreendido entre 1930 e 1940. Ehrenfels, filósofo vienense de fins do séc. XIX foi o precursor da psicologia da gestalt, que teve como expoentes máximos: Max Wertheimer (18801943), Wolfgang Kôhler (1887-1967), Kurt Koffka (1886- 1941) e Kurt Goldstein (1878-1965). 24 atuação do design que visa um resultado adequado em todas as áreas que o compõe. Bistagnino (2009) completa que o design sistêmico tem por finalidade desenvolver produtos e serviços com valor adjunto que colabore com a sustentabilidade econômica, social e ambiental. Podendo estabelecer uma relação em que o descarte (output) de um sistema pode ser o input (matéria prima) de outro sistema. Assim, os resíduos vegetais de uma região podem gerar soluções e contribuir com a sustentabilidade. Por tanto, busca-se um novo modo de afrontar o desafio da inovação: ver o mundo produtivo de maneira sistêmica, distanciando do foco exclusivo do produto ou do seu ciclo de vida, estendendo atenção à cadeia produtiva completa e considerando a problemática inerente dos descartes de trabalho e a própria escassez de matéria prima. Esta pesquisa visa, especificamente, a identificação das contribuições do design para a promoção de inovações sustentáveis. Alguns dos principais autores que abordam esta questão sob a perspectiva do design são Bistagnino (2008), Bonfim (1998), Krucken (2009), Manzini (2008), Santos (2009). 1.2. PROBLEMATIZAÇÃO A pesquisa pressupôs que a grande biodiversidade vegetal do bioma Cerrado possa fornecer resíduos vegetais viáveis ao uso no artesanato. Tal fato ocorre sem comprometer a integridade ecológica desse ecossistema e agregar os valores culturais e ambientais da região ao produto. Assim, esta dissertação se desenvolveu a partir de dois questionamentos, listados a seguir: Quais são os principais resíduos vegetais compatíveis com a produção artesanal no Cerrado Mineiro? Como o design pode contribuir para a valorização destes recursos, de forma sustentável? Com base na delimitação destes dois problemas de pesquisa centrais, foram definidos os objetivos deste trabalho, como apresentados a seguir. 25 1.3. OBJETIVOS 1.3.1. Objetivo geral Investigar possíveis contribuições do design na produção artesanal a partir de resíduos vegetais, identificando materiais, técnicas e processos sustentáveis e promovendo a valorização do território, especificamente o Cerrado Mineiro. 1.3.2. Objetivos Específicos a) Pesquisar espécies vegetais do Cerrado Mineiro, a partir de amostra selecionada no Vale do Urucuia; b) Propor a aplicação dos insumos e resíduos vegetais nos produtos artesanais, visando melhorar as práticas produtivas à sustentabilidade, sob a perspectiva do design; c) Desenvolver proposta de um catálogo de espécies vegetais do Cerrado Mineiro, cujos insumos e resíduos possam ser utilizados na produção artesanal. d) Revisar os conceitos de design, sustentabilidade e produção artesanal, com objetivo de fundamentar as propostas das oficinas. 1.4. JUSTIFICATIVA O artesanato no Brasil em 2010 empregou 8,5 milhões de pessoas e faturou R$ 28 bilhões6. Esta atividade está deixando a informalidade, gerando divisas. Os Bordados do Ceará, as cerâmicas de Minas Gerais e as panelas de barro do Espírito Santo, entre outros produtos artesanais responderam, em 2010, por 2,8% do PIB7. 6 Site Sebrae. Santa Catarina. Crédito - Artesão. Disponível em sc.com.br/credito/default.asp?vcdtexto=2600&^^ >. Acesso em: 27 out. 2010. 7 PIB: Produto Interno Bruto: soma de toda a riqueza produzida pelo país em um ano. (IBGE, 2010) <http://www.sebrae- 26 Ainda, de acordo com o site do SEBRAE, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2008), dos 8,5 milhões de pessoas que vivem do artesanato, 87% são mulheres. Pesquisa realizada pela Organização Mundial de Turismo (OMT), publicada em 2010, apresentou que a indústria automobilística nacional precisa de R$ 170 mil (cento e setenta mil reais) para gerar um emprego, enquanto que com R$ 50 (cinquenta reais) apenas, garante-se matéria prima e trabalho para um artesão. Foi considerado o fato de existirem cerca de 8,5 milhões de artesãos no país e que cada um deles recebe, em média, de dois a três salários mínimos por mês comercializando seus produtos. O design se insere nesta proposta potencializando o território, os materiais e a possibilidade de estabelecer novos paradigmas de vida sustentável, abordagem apropriada ao ―design sistêmico‖. O método sistêmico atua como estruturador analisando partes distintas que interagem. Telenge (1984) considera que estudar sistemas é indagar sobre a sua estrutura, qual o seu contorno, quais as suas partes, como se interrelacionam internamente e com o meio externo. Desta forma, pode-se considerar que os sistemas não podem ser compreendidos por meio da análise individual. ―As propriedades das partes não são necessariamente propriedades extrínsecas, mas precisam ser vistas e entendidas dentro do contexto do todo‖ (CAPRA, 1996, p.51). Ainda citando Capra, o pensamento cartesiano, o pensamento holismo e o pensamento sistêmico, apesar de cada qual possuir uma identidade, método e história diferentes, não são diretamente opostos, apenas tomaram caminhos diferentes, visando chegar a algo comum. O autor destaca a relação dos resultados do ciclo produtivo, antes da extração da matéria prima. Considera que todas as etapas do ciclo de vida se relacionam e interagem, buscando um resultado que atenda a redução de recursos e resíduos. Especificamente sobre a perspectiva do design, Bistagnino (2008) mostra que além da análise sistêmica, serão necessários maiores esforços para a sustentabilidade se estabelecer. O autor usa o termo ―desafio‖ ao citar que as mudanças devem ser processadas em todas as áreas, visando o resultado para todos. 27 O desafio de promover a sustentabilidade também é evidenciado por Manzini (2008), que considera dois critérios importantes que devem ser adotados para o design: buscar uma abordagem estratégica do design e em segundo lugar, levar seriamente em consideração os critérios da sustentabilidade. Além dos limites da pesquisa no design sistêmico, os resultados possibilitaram a elaboração de uma proposta de catálogo, descrevendo algumas espécies vegetais nativas, em especial na região do Vale do Urucuia, que possam fornecer insumos e resíduos à produção artesanal. 1.5. DELIMITAÇÃO DA PESQUISA Devido à amplintude dos temas tratados nesta pesquisa, optou-se por priorizar a relação entre as diversas áreas, e não seu aprofundamento específico. Esta abordagem teve com propósito reforçar o caráter transversal da pesquisa, que envolve a área de Design, Sustentabilidade e Ciências Ambientais. 1.6. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO Esta dissertação se organiza em seis capítulos: Introdução, Referencial Teórico, Procedimentos e Métodos, Estudo de caso e práticas, Discussão dos Resultados e Considerações Finais. Inicialmente, como visto, foi apresentada a introdução, com a contextualização geral da pesquisa, seguida da exposição do problema, objetivos e a justificativa do trabalho. O referencial teórico, apresentado no Capítulo 2, está organizado em quatro sessões. Na primeira, Design Sistêmico e a Sustentabilidade - são traçadas considerações acerca das dimensões do design sistêmico e da sustentabilidade, em relação ao cenário social e cultural. São discutidas brevemente, as relações entre novos métodos sistêmicos e construção de identidades locais e como estas relações se refletem na efetivação do design sustentável. Discorre-se também sobre práticas 28 artesanais que se inserem na economia brasileira, inclusive no que tange à questão do ciclo de vida do produto. Na sequência, as relações entre artesanato e os materiais são abordadas, e como estas se inovam frente ao mundo globalizado. Esta sessão tem como objetivo traçar algumas considerações sobre as práticas na seleção dos materiais, de forma a facilitar a compreensão da importância da produção artesanal no mundo atual. Na terceira sessão das referências teóricas é apresentado o conceito de resíduos vegetais e insumos. Procura-se esclarecer também quais são os principais fatores que podem contribuir com a inclusão destes materiais para produção artesanal. Em seguida, discute-se resumidamente de que forma o design tem atuado em relação aos insumos e a possibilidade de expansão do manejo sustentável em serviços e produtos. Ainda no referencial teórico, na quarta sessão, são feitas algumas reflexões acerca das espécies do Cerrado Mineiro para produção artesanal, bem como da inserção do design no artesanato, principalmente no que tange a identidade dos produtos. No Capítulo 3 são relatados os processos e metodologia aplicada ao estudo de caso. São descritos os passos para execução da pesquisa de campo e como os itens acima foram tratados na prática. A programação da pesquisa é relatada sinteticamente, acrescida das atividades para a produção da proposta de catálogo. O Capítulo 4 apresenta o estudo de caso e práticas realizadas. Está organizado em duas seções. Primeiramente abordam-se o território e os sistemas locais, expondo os aspectos do Cerrado Brasileiro. Faz-se a descrição das comunidades tradicionais e a culturalidade na região, como também do manejo dos recursos naturais. A segunda parte tem como foco a produção artesanal e os ensaios de design sustentável estão descritos nos materiais para o artesanato e as técnicas usadas, nas comunidades de Serra das Araras, Ribeirão do Areia e Buraquinhos. Também são relatadas as espécies compatíveis à produção artesanal através da experimentação em oficinas de design, inovação e sustentabilidade. Os resultados da pesquisa estão descritos no Capítulo 5, constituindo registros das espécies regionais e da produção artesanal em Chapada Gaúcha, sob os aspectos do design sistêmico. Complementarmente, são apresentados alguns tópicos para discussão do assunto. E no Capítulo 6 apresenta as Considerações 29 Finais, destacando os principais resultados alcançados e incluindo propostas para pesquisas futuras. Por fim, a proposta de catálogo elaborada durante a pesquisa, apresentando algumas espécies vegetais compatíveis à produção artesanal, se encontra no ―Apêndice H‖ da pesquisa. 30 CAPÍTULO 2 REFERENCIAL TEÓRICO “O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou.” Guimarães Rosa Mudanças são as certezas na existência humana, que através das ligações e transferências de dados, continuam a se desenvolverem em redes sociais e eventualmente produzirão um ―sistema‖. Este compartilhado de crenças e valores gera a cultura, continuadamente sustentada por conhecimentos adicionais. Capra (2003) considera que os sistemas se tornaram parte de qualquer atividade na vida contemporânea. Relata que, a partir da necessidade de conciliar a ideologia capitalista neoclássica com a crescente constatação dos limites ambientais do planeta, surgiu o conceito de comunidades tradicionais. Descreve que esse termo emergiu nos anos 1980, sendo este consequência do aumento da pobreza e da concentração de renda. O conceito sistema está diretamente ligado à sustentabilidade ambiental, social e econômico. Nesse ponto é oportuno introduzir o conceito de desenvolvimento sustentável. A definição mais aceita é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. Esta definição sistêmica se traduz num modelo desenvolvimento global, abrangendo aspectos de desenvolvimento ambiental. de 31 O termo ―desenvolvimento sustentável‖ foi usado pela primeira vez em 1987 no Relatório Brundtland8. Este relatório foi elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas, para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. O Relatório Brundtland contribui afirmando que o desenvolvimento sustentável surge como alternativa viável, que busca manter os objetivos capitalistas de aumento de riqueza e lucros, incorporando as questões sociais e ambientais ao modelo econômico de desenvolvimento. Na crença da necessidade do conforto máximo em todos os aspectos, a realidade atual do comportamento humano ordena os abusos sociais. Manzini (2008) indaga se podemos realmente considerar sustentável uma sociedade onde as necessidades, mesmo as mais básicas e mais populares, são atendidas através de um custoso e complexo sistema de produtos e serviços. A sustentabilidade é fundamental para a permanência dos humanos e de outras espécies. Conforme Santos (2009), a humanidade necessita de soluções que efetivamente possam mudar estilos de vida. Dessa forma, contribuam para a mudança dos hábitos de consumo e produção, que reduzam o impacto do ser humano sobre o meio ambiente. Capra (2003) cita que está aumentando expressivamente o número de práticas e projetos ecologicamente dirigidos. Esclarece que a importância de efetuar o planejamento ecológico (organização de diferentes indústrias em agrupamentos ecológicos), onde os resíduos de uma organização se tornem recursos para outra empresa: Planejamento, na acepção ampla da palavra, consiste em direcionar os fluxos de energia e da matéria, para a finalidade humana. O ecoplanejamento (ecodesign) constitui um processo pelo qual nossos objetivos humanos são cuidadosamente entrelaçados com os padrões maiores e os fluxos do mundo natural. Os princípios do ecoplanejamento refletem os princípios da organização evolutiva da natureza e que sustentam a teia da vida (CAPRA, 2003, p.9). 8 Documento intitulado Nosso Futuro Comum, relatado pela líder internacional Sra. Gro Harlem Brundtland (política, diplomata e médica norueguesa). (BRUNDTLAND, 1991) 32 Exercer a prática do planejamento industrial, neste aspecto, requer uma mudança fundamental de atitude. Usando as palavras de Capra (2003), despojar-se do conceito ―o que podemos extrair da natureza‖, substituindo por ―o que podemos aprender com ela‖. Manzini e Vezzoli (2002) destacam que um projeto de design deve contemplar os aspectos ambientais em todos os estágios do desenvolvimento de um produto. Deve procurar reduzir o impacto ambiental durante todas as fases do seu ciclo de vida, o que significa reduzir gastos com matérias-primas, energia e lixo, desde sua fabricação até seu descarte. Santos (2009) descreve que atitudes sustentáveis para o consumo e produção, proporcionam a promoção de novos valores culturais, diferentes do paradigma atual. Nesse caso, o papel do designer pode ser desde a liderança até um mero suporte técnico, optando pela exata participação no processo de mudança, dependente do perfil de cada um, seja como profissional ou como cidadão. 2.1. DESIGN SISTÊMICO E A SUSTENTABILIDADE A palavra design, usada em todos os meios de comunicação expressando atributos de qualidade e funcionalidade, principalmente quando se trata de produtos, popularizou-se na ultima década. Bonfim (1998) considerou que estes conceitos incidem sob a expansão do design para outros aspectos, buscando qualificá-lo como processo criativo, inovador e provedor de soluções. Apresentou o design como instrumento qualificado para alcançar a inovação através de vantagens competitivas, buscando outras áreas de produtos e serviços. O design se inova através de planejamento, estratégia, marketing, qualidade e forma de produção. Estes procedimentos, citados acima, reorganizam as relações com os resultados alcançados. Contudo, o objetivo principal desta profissão é servir ao ser humano, sejam nas relações entre os serviços, produtos ou ambos simultaneamente. 33 A contemporaneidade do design na sociedade é descrita por Krucken (2009), expondo como um conjunto de significados, no que tange à mediação das dimensões imateriais (imagens e ideias) com materiais (artefatos físicos). Krucken (2009, p.42) apresenta esquematicamente as ações e resultados relacionados ao design, conforme abaixo: Fig. 1: Ações e resultados relacionados com a atividade de design. Fonte: Krucken (2009, p. 42) No mundo globalizado e competitivo, Oliveira (2004) relata que o design é usado como ferramenta estratégica para agregar valor a produtos e serviços, muitas vezes equivocadamente, sem limitação e conformidade com a definição, imergindo em todas as áreas. Do ponto de vista econômico, ainda é necessário produzir mais e vender mais para crescer mais. Exemplo típico é o da China, que desde os anos 70 adotou reformas visando sua modernização e tornou-se a maior potência econômica mundial, com um crescimento muito superior a media dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Lazzarechi (2007) completa relatando que o sistema capitalista ainda não se envolve o suficiente, com a sustentabilidade mundial, a ponto de frear a velocidade de exploração dos recursos naturais do planeta. Regido por leis macroeconômicas complexas, o sistema financeiro mundial tem como padrão de sobrevivência a relação produção x crescimento. 34 Algumas tendências buscam reverter este cenário. Conforme o Instituto 9 Ethos , o mercado passou a ser mais exigente por questões de normas e leis ambientais, procura-se escolher produtos de companhias que utilizem tecnologias de produção e métodos de gerenciamento que preservem o meio ambiente. Neste sentido, o designer pode desempenhar o papel de facilitador, atuando em rede, atendendo aos propósitos da sustentabilidade. A partir do uso de ferramentas como a Análise do Ciclo de Vida10 do produto, podem-se identificar possibilidades na busca de soluções. O Ciclo de Vida representa a própria história do produto. Desde a fase de extração das matérias primas, passando pela fase de produção, distribuição, consumo, uso e até sua transformação em resíduo ou em nova matéria prima. A Análise do Ciclo de Vida de um produto, processo ou atividade é uma avaliação sistemática que quantifica os fluxos de energia e de materiais no ciclo de vida do produto. A EPA (Environmental Protection Agency, dos Estados Unidos) define a Avaliação de Ciclo de Vida como ―uma ferramenta para avaliar, de forma holística, um produto ou uma atividade durante todo seu ciclo de vida‖ (VIGON et al, 1993). Nas últimas décadas, a busca por soluções sustentáveis se estabeleceu como fator indispensável no projeto. Manzini e Vezzoli (2002) descrevem que o contexto ambiental na prática do design foi estabelecido na redução do impacto ambiental de materiais e processos, evoluindo ao projeto de Ciclo de Vida do Produto e, consequentemente, ao design para atender a sustentabilidade ambiental. Um dos principais desafios para o design na busca de soluções sustentáveis é o fato de que o problema não consiste somente no crescimento, mas sim e, principalmente no crescimento desenfreado e irresponsável, desprovido de ética que não se estabelece como sistema principal para tudo, conforme Oliveira Filho (2004). 9 O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização sem fins lucrativos, caracterizada como Oscip (organização da sociedade civil de interesse público). Sua missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável. (INSTITUTO ETHOS, 2010) 10 Avaliação do Ciclo de Vida - ACV (Life Cycle Assessment - LCA) é um método utilizado para avaliar o impacto ambiental de bens e serviços. (RIBEIRO; GIANNETI; ALMEIDA, 2011) 35 Bistagnino (2009) aponta o design sistêmico como abordagem para analisar o ciclo dos serviços e materiais e todos os recursos envolvidos na produção. O ponto final é o aproveitamento de tudo pela sociedade. Este sistema diminui os gastos com a produção, gerando novos locais de trabalho. Acima de tudo, gera a possibilidade da humanidade ter um futuro e não desaparecer como outras espécies extintas do planeta. Expõe que a utilização do design sistêmico ultrapassa os domínios da produção em massa, na busca de inovações que abrangem aspectos ético, social, cultural e ambiental. Sendo assim, o autor esclarece que é necessário adotar outros fatores imponderáveis, qualitativas e não quantitativas de valor e do ambiente, o grau de instrução e os serviços, isto é, os índices que manifestam o grau de bemestar não material, mas moral das pessoas. O design sistêmico descrito por Bistagnino (2009, p.15), se caracteriza no princípio das inter-relações dos sistemas, onde tudo se completa no ciclo. O que é resíduo num sistema é matéria prima de outro. O que sobra de um ser vivo pode ser alimento de outro. Assim, a visão sistêmica é aplicada para que o método de projeto, além da redução de utilização dos recursos naturais, caminhe para a mudança de paradigma. * A condução de estudo de natureza sistêmica propõe novas conexões, visando o reaproveitar o máximo toda a matéria que poderia resultar em descarte. O esquema acima representa uma relação em que o descarte (output) de um sistema pode ser o input (matéria prima) de outro sistema, apresentado por Bistagnino, op.cit. p.15, figura 2. * Considerando a natureza cíclica dos processos, é oportuno citar o princípio exposto por Lavoisier11: "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Fig.2: Indicação de passagem output/input. Fonte: Bistagnino, p.15. Adaptado para a pesquisa. * Tradução do autor 11 Antoine Laurent Lavoisier: Definiu a lei da conservação da matéria, baseado em reações químicas. 36 Porém, os padrões atuais são baseados no fato de que os resíduos dos processos industriais são de pouco valor ou altamente poluidores. Tanto é assim que, os produtores os veem como um problema a ser resolvido da forma mais rápida e menos dispendiosa possível. No entanto, se a saída do problema é torna-lo como recurso, resultando em valor econômico, o interesse surgiria na consideração do processo ativo. Como tal, deve-se procurar conservar as qualidades principais dos resíduos para preservar suas propriedades. Tornando-os atraentes para não perder a sua troca de valor econômico. Assim, seria obtido ao mesmo tempo um resultado poderoso: a cultura produtiva, que tende a ―Emissões Zero‖, completa Bistagnino (2009, p.17). * A abordagem em Emissão Zero representa uma iniciativa para mudança em nosso conceito de indústria, deixando os modelos lineares nos quais os resíduos são considerados a norma, para sistemas integrados nos quais tudo tem seu uso. Paul (1996) vislumbra que no ano de 2021, o padrão de produção industrial será a Emissão Zero. Este direcionamento ganha novos adeptos que buscam o aperfeiçoamento dos sistemas. Aponta para o início de uma nova revolução industrial, na qual a indústria imita os ciclos sustentáveis da natureza e a humanidade poderá aprender a fazer mais com os recursos que a terra produz. Desta forma, conforme Nascimento et al (2008), os processos produtivos devem se organizar em conjunto. Os resíduos de cada processo necessitam ser destinados como insumos de outros processos e a integração de todos os sistemas não produzam resíduos de nenhum tipo. Segundo Mauri (1996) apud Krucken (2009), a abordagem sistêmica de um produto pode ser considerada como uma unidade global organizada de interrelações entre os elementos, ações e indivíduos: ―um sistema caracterizado por intensas e constantes inter-relações com o contexto ambiental – entendido como o mundo da natureza e o mundo das interconexões globais de caráter político, econômico e social‖ (MAURI, 1996 apud KRUCKEN, 2009, p.47). A abordagem sistêmica do design estimula o desenvolvimento de uma visão ampla e inovadora, de combinações de produtos e serviços, estabelecendo uma intensa rede entre o sistema de produção e o sistema de consumo, que contribui para a sustentabilidade. * Tradução do autor 37 2.1.1. Design Sistêmico - Produtos e Serviços A dinâmica dos sistemas é amplamente utilizada no mundo contemporâneo. Porém, a inovação deste termo no design é ainda expressão da minoria. O método sistêmico, incorporando ciclo de vida do produto e desenvolvimento sustentável, consolida novas formas de empreendimentos sócio ambiental cultural econômico, capazes de promover corporações originais. A construção da identidade de um produto ou serviço sugere envolvimentos resultantes de fatores múltiplos. Para visualizar a extensão de um modelo sistêmico de produção, Bistagnino (2009) apresenta o modelo representado na Figura 3. Fig. 3: O modelo de produção sistêmica prefere os recursos próximos ao invés dos distantes (Design Industrial, Politécnico de Turim). Fonte: Bistagnino (2009, p.21) . Tradução do autor. 38 Na figura 3, Bistagnino (2009) apresenta um sistema de circulação de output, demonstrando a passagem de um e para outro, numa virtuosa colaboração de produção (agrícola e industrial), do sistema dos reinos animais, do contexto local e da comunidade. Apresenta uma rede relacional aberta que busca revitalizar as áreas e caracterizar seus princípios de qualidade. Thackara (2008) descreve que os serviços devem ser projetados para ajudar as pessoas a realizarem atividades diárias de novas maneiras. Muitos destes serviços envolvem novas tecnologia e inovação. O foco está em serviços de design, e não nas coisas. Assim, os produtos e serviços devem compor uma rede para o design sistêmico. O projeto Designers of the Time, de J. Thackara, durante um ano promoveu experimentos na Inglaterra, para testar maneiras sustentáveis nas áreas escolar, do transporte, da energia, da saúde e da alimentação. Um dos exemplos foi aplicado na cidade de Middlesbrough. A partir desta iniciativa verificou-se que a comunidade poderia gerar sua própria alimentação, dentro da cidade, e ao mesmo tempo gerar outros postos de serviços internos, diminuindo os impactos ambientais, conforme Shirai (2008). 2.1.2. Exemplos de iniciativas no Brasil associadas à abordagem sistêmica do design No Brasil, o design sistêmico desponta no contexto socioambiental, em atividades de produção artesanal e pequenas corporações. Incipiente, mas assinala algumas soluções sustentáveis, gerando mudanças na economia local. Krucken (2009) evidencia uma iniciativa interessante de design sustentável, com aplicação do método sistêmico, ao expor o ciclo de uso da palmeira Juçara (Euterpe edulis), nativa da Mata Atlântica, mas cultivada ao longo do litoral brasileiro. A Juçara faz parte do cotidiano de muitas comunidades, protegendo as casas do calor e abrigando diversas espécies de animais. Seu cultivo está relacionado com a proteção ambiental, por meio de conservação do solo e da alimentação da fauna, da produção de água e do controle da poluição. Suas fibras e folhas são usadas para cobrir telhados, fabricar vasouras e várias peças de artesanato. Caibros e ripas da Juçara podem ser aplicados em construções civis. Seus frutos constituem a base para a polpa da Juçara, deliciosa iguaria servida resfriada. As sementes, separadas da polpa, são usadas em biojoias e retornadas para o plantio. Seu caule produz um palmito de excelente qualidade, terno e saboroso, amplamente 39 consumido na alimentação e com alto valor econômico. No entanto a planta é monocaule e seu corte implica a sua morte. Esta espécie também é usada em projetos de paisagismo. Estudos das propriedades terapêuticas de suas raízes e frutos e da aplicação dos pigmentos sinalizam novas possibilidades de uso (KRUCKEN, 2009, p.77). Esta descrição evidencia o uso da palmeira Juçara e suas relações com o ambiente e a sociedade: equilíbrio para sustentabilidade ambiental, social e econômica (Figura 4). Krucken (2009) narra que esta planta é considerada um ícone para promover o manejo sustentável de recursos naturais e a geração de renda aliada à preservação da Mata Atlântica. Organizações e produtores que trabalham com o uso sustentável da Palmeira Juçara nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul se articularam para o desenvolvimento da Rede Juçara. Seu principal foco é o desenvolvimento das cadeias produtivas da polpa dos frutos e das sementes, aliadas à conservação da espécie, tendo como principais protagonistas agricultores familiares e comunidades tradicionais na Mata Atlântica12. Fig. 4: Levantamento de valores associados à palmeira Juçara junto à comunidade. Fonte: Krucken, 2009. 12 Disponível em: < www.redejucara.org.br > Acesso em: 20 jul. 2011. 40 Um dos resultados deste ciclo sistêmico está na produção de biojoias. Faria (2009) define biojoia como um adorno produzido a partir de materiais extraídos da natureza, tais como sementes diversas, fibras naturais, casca do coco, conchas, madrepérola, capim, madeira, ossos, penas, escamas. Uma biojoia é mais do que um adereço exótico, guardando dentro de si um pouco da cultura local. Como das sementes nascem novas árvores, das biojoias brota uma nova economia. Os grupos solidários de artesãos que adotam este tipo de trabalho aprendem que para manter suas famílias é preciso preservar a natureza. Caso contrário, as carências dos frutos e das sementes rompem o processo conforme Metello (2007). No Brasil, as biojoias estão sendo produzidas, principalmente, nos Estados do Pará (Pólo Joalheiro), Amazonas (ofertada em shopping centers e no aeroporto internacional) e Acre, aonde o mercado, nos últimos anos, vem se desenvolvendo rapidamente, conforme Costa et al (2006). Na figura 5, alguns exemplos de anéis biojoias, trabalho artesanal com técnicas profissionais, utilizando sementes das palmeiras dos estados amazonenses. São sementes maduras que não germinaram, catadas na floresta amazônica. Os artesãos utilizam sementes de tucum, tucumã, anajá, caroço de açaí, madeiras, cipós e fibras, que se perdem pelo chão da floresta e após tratamento, passam de resíduos vegetais para matéria prima, compondo a economia na região. Fig. 5: Biojoias Brasileiras – anéis de semente de palmeiras do da Amazônia. Fonte: www.falandoemjoias.com. Acesso em: 20 jun. 2011. 41 Por exemplo, a semente de Jarina (Phytelephas macrocarpa) é considerada o Marfim da Amazônia13. A Semente da Jarina na junção com outras sementes, pedras semipreciosas e até mesmo ao ouro e à prata, passam a agregar novos valores à produção artesanal. Como biojoias, movimentam cerca de U$ 50 milhões por ano com sua exportação. Segundo o Artesão e exportador César Farias o uso das sementes de árvores nativas geram na produção das peças artesanais o caráter de brasilidade, agregando valor aos produtos da região, destacando e instituindo um diferencial do produto no mercado Internacional14. Além dos ciclos sistêmicos de aproveitamento dos insumos e resíduos vegetais, outras iniciativas de processos industriais com aproveitamento de resíduos podem ser apontadas. O exemplo da madeira biosintética desponta como resultado da reciclagem de diversos resíduos industriais (como plástico, fibras vegetais e ou animais) através de um complexo processo de transformação. Assim, no sistema input, como resíduo de outros produtos. Este produto sintético é oferecido no mercado em tábuas, que substituem as de madeiras naturais em diversos aspectos. É também um produto de alta tecnologia, durável, imune a pragas e outras qualidades15. 2.2. INSUMOS E RESÍDUOS VEGETAIS Os resíduos vegetais, para a sociedade humana, são as partes e produtos das vegetações, com possibilidades de serem reutilizadas como adubo natural e como insumo para o artesanato. Destacam-se as flores, folhas, sementes e galhos secos, espalhados ao solo, e troncos danificados por efeito da atuação de insetos e das forças físicas - tempestades e incêndios. Incluem-se os ―insumos‖ – as plantas, 13 As sementes dessa palmeira são consideradas gemas orgânicas raras. Apesar da baixa dureza e baixa densidade, as sementes de Jarina são empregadas na manufatura de biojoias e artefatos. Estas, pelo aspecto de sua cor e brilho, são comparadas ao marfim animal (COSTA et al, 2006). 14 15 Disponível em: < falandoemjoias.com/tag/sementes/>. Acesso em: 20 jun. 2011. Ambiência Produtos Sustentáveis. Madeira Biosintética Ecoblock. Disponível em: <http://www.ambiencia.org/site/construcoes-sustentaveis/ecoprodutos/madeira-biosinteticaecoblock/>. Acesso em: 20 jun. 2011. 42 os frutos, as flores, as fibras e outros produtos do agroextrativismo, conforme Goulart (2004). Clark (1979) apud Brito e Couto (1980), esclarece que devido à necessidade de uma nomenclatura padrão para componentes de árvores e para facilitar a definição do que é resíduo da exploração florestal, é necessário apresentar um modelo de classificação. Destacam os seguintes termos16: árvore completa; touça e raízes; parte aérea da árvore; fuste total; fuste; ponteiro; copa; ramos; folhagem. Relata ainda que o resíduo florestal depende das práticas de exploração florestal. Quando se utiliza apenas do fuste sem casca, o resíduo pode ser a casca, a copa, touça e raízes, conforme figura 6. Fig. 6: Componentes de uma árvore. Fonte: BRITO; COUTO, 1980, p.3. 16 Ver glossário da pesquisa. 43 A típica vegetação do Cerrado possui seus troncos tortuosos, de baixo porte, ramos retorcidos, cascas espessas e folhas grossas. Os estudos efetuados por pesquisadores na região do Cerrado consideram que a vegetação nativa apresenta essa característica, devido aos fatores do solo, como o desequilíbrio no teor de micronutrientes, registro do IBAMA (2005). As folhas e flores estão entre os resíduos vegetais lançadas naturalmente na natureza e os insumos, que possibilitam a utilização destes para produção artesanal. Um dos exemplos interessantes são as flores ―Sempre-viva‖. A Sempre-viva, uma pequena flor nativa do Cerrado de Minas Gerais, não sofre alteração de forma ou cor quando colhida e desidratada, daí seu nome. Mas, além do nome, essa característica vem proporcionando à exploração incorreta e quase levou duas espécies, a ―vargeira‖ e a ―pé-de-ouro‖, próximas da extinção, conforme (PAIM et al, 2001). Em função da coleta extrativista e predatória, diversas espécies ficaram ameaçadas de extinção, como é o caso da Syngonantus elegans, conhecida como ―Sempre-viva pé-de-ouro‖, que comercialmente é a mais procurada. Houve um aumento do número de pessoas que dependem da renda proveniente da coleta de Sempre-vivas e seu artesanato. Este fato ocorreu devido à diminuição da atividade garimpeira na região de Diamantina e a falta de conhecimento no manejo da coleta das flores. Muitas plantas foram arrancadas inteiras, com o intuito de coletar maior quantidade de plantas em menor espaço de tempo e com menor esforço. Em busca de maior valor econômico, as mesmas foram coletadas antes do amadurecimento das sementes, para manter a coloração branca. Estas atitudes levaram a escassez das plantas, fazendo com que os coletores tivessem que percorrer distâncias maiores, a fim de coletarem mais flores (ROCHA et al 2007, p.2). Muitos moradores da Comunidade de Macacos, município de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais, deixaram o lugarejo. O meio de subsistência, o extrativismo de flores Sempre-viva, chegou ao fim com o decreto do Parque Nacional das Sempre-Vivas, em 2002. A mesma situação ocorreu com os extrativistas da comunidade de Capivari - subdistrito do Serro, com a criação do Parque Estadual do Pico do Itambé. Um decreto, desde 1998, viabiliza a recuperação da área e a manutenção do extrativismo sustentável. Assim, a 44 produção de comercialização de Sempre-viva se estabelece aos poucos, garantindo a biodiversidade nas regiões afetadas. Os recursos virão de compensações ambientais e serão aplicados até o ano 2013, prioritariamente na regularização fundiária, conforme relata Reis (2011). Alguns exemplos de flores Sempre-viva pigmentadas e comercializadas em lojas do Mercado Central de Belo Horizonte, entre outros insumos expostos para escolha dos clientes, conforme figura 7. Fig. 7: Sempre-vivas e resíduos vegetais, para comercialização - Mercado Central de BH. Fonte: MOURÃO, 2010. Outros exemplos em desenvolvimento podem contribuir com a inclusão dos resíduos vegetais e outros insumos na produção artesanal. Um deles é o Projeto ―Pólo Veredas‖, que desenvolve a criação de acessórios de algodão tingidos com corantes extraídos de sucatas de ferro, frutas do Cerrado e plantas da região. O projeto tem a participação de 150 artesãs de cinco associações da região, formando uma rede de produção, que inclui o tingimento, a fiação e a tecelagem, conforme Guedes (2011). O processo começa com a coloração dos fios de algodão na cidade de Uruana de Minas, no Vale do Urucuia. O trabalho é feito com folhas de manga, goiaba, serragens de árvores, casca de cebola e outros. Ao todo, são 18 corantes naturais. Em média, as artesãs gastam meio quilo de casca de cebola para tingir um quilo de linha de algodão e obter um tom amarelado. Cinco quilos de folha de manga são necessários para conseguir uma cor esverdeada. A ferrugem também é usada 45 como tonalizante e é produzida pelo contato das sucatas de ferro, água e amônia. Na figura 8, pode-se observar o resultado destas colorações nos fios de algodão 17. Depois de coloridos, os fios são encaminhados para as associações de artesãos dos municípios de Riachinho, Sagarana (Distrito de Arinos – Minas Gerais), Natalândia e Bonfinópolis de Minas para serem transformados em colchas, xales, tapetes e mantas. Fig.8: Fios produzidos pelo Projeto ―Polo Veredas‖ Fonte: Agenciasebraedenoticias. Disponível em: <http://www.agenciasebrae.com.br/noticia/11375223/geral/artesas -mineiras-buscam-novos-materiais-para-conquistar-clientes/>. Acesso em: 12 mar. 2011 Com intuito de centralizar a comercialização e ampliar a produção, foi criado em 2009, a Central de Comercialização e Artesanatos do Vale do Urucuia. A iniciativa busca atender aos artesãos das cidades da região18. Guedes (2011) relata que novos produtos desenvolvidos com matérias-primas naturais, foram demonstrados aos fabricantes de calçados e bolsas, durante o Inspiramais - Salão de Design e Inovação de Componentes, em São Paulo. 17 Agenciasebraedenoticias. Postado em: 28 Jan 2011. Disponível em: <http://www.agenciasebrae.com.br/noticia/11375223/geral/artesas-mineiras-buscam-novosmateriais-para-conquistar-clientes/>. Acesso em: 12 mar. 2011. 18 farolcomunitário.com.br.Triangulo-Minas:Mutirão das Fiandeiras. Disponível em: <http://triangulominas.blogspot.com/2010_05_01_archive.html>. Acesso em: 24 jun. 2011. 46 2.3. ESPÉCIES VEGETAIS DO CERRADO NA PRODUÇÃO ARTESANAL O Cerrado brasileiro possui uma imensa riqueza em espécies vegetais. Atualmente, conforme Ávidos e Ferreira (2003), existem mais de 58 espécies de frutas nativas dos cerrados conhecidas e utilizadas pela população da região e de outros estados. Não se pretende nesta proposta detalhar a opulência deste sistema, embora seja encantador o convívio com este bioma. Foram registradas algumas espécies já utilizadas na produção artesanal, identificado seus nomes científicos e populares, que são brevemente apresentadas a seguir. A espécie buriti se destaca entre as espécies mais utilizadas tanto no Cerrado, com em outros biomas brasileiros. Identificado como Mauritia flexuosa L. f. esta espécie possui íntima relação com a água, que atua na dispersão de seus frutos e auxilia na quebra da dormência das sementes. É uma espécie importante para a economia brasileira, 66,2% do valor da produção nacional são de fibras de buriti, segundo dados (IBGE, 2007). No bioma Cerrado é a espécie que caracteriza as veredas, marcante fitofisionomia da região, ocorrendo também em matas de galeria e ciliares, podendo formar densos buritizais. Para além dos domínios do Cerrado, corre em toda a Amazônia e Pantanal, sobre solos mal drenados, em áreas de baixa altitude até 1000m. É considerada a palmeira mais abundante do país (LORENZI, 2004). Por tanto, o buriti é uma das espécies mais populares no Brasil. As palmeiras de buritis adornam a paisagem do Cerrado, emolduram as veredas e são fontes de inspirações para a literatura, a poesia, a música e as artes visuais. O fruto do buriti é um alimento rico em vitaminas e de sabor peculiar. As folhas geram fibras usadas no artesanato, tais como para fabricação de bolsas, tapetes, toalhas de mesa, brinquedos e bijuterias. Os talos das folhas servem para a fabricação de móveis. Além de serem leves, as mobílias confeccionadas com os talos e troncos dos buritis, são resistentes e agradáveis. As folhas jovens produzem uma fibra fina, a ―seda‖ do 47 buriti, usada na fabricação de peças feitas com o Capim-dourado. Da palmeira do buriti, se aproveita tudo19. Outra espécie popular é o Jacarandá. As cascas das sementes são utilizadas na produção de biojoias e em adornos em geral. Porém, o mesmo nome popular é designado a diversas espécies. Quanto com gênero Jacarandá quanto outros, como Dalbergia miscolobium, chamada popularmente de Jacarandá do Cerrado. São nomes comuns a espécies diversas de duas famílias, Bignoniaceae e Fabaceae. O Cerrado possui várias espécies com denominação de Jacarandá, ocupando fitofisionomias distintas (RIBEIRO E WALTER, 1998 apud RIBEIRO, 2005). Como exemplos no Cerradão são encontrados o Dalbergia miscolobium, ou melhor, ―Jacarandá do cerrado‖ e Machaerium opacum – ―Jacarandá muchiba‖. No Cerrado sentido restrito20, o Machaerium acutifolium – jacarandá e Jacaranda decurrens; e em áreas de transição Mata atlântica/Cerrado (matas) é encontrada a espécie Jacaranda cuspidifolia, que apresenta fruto bem semelhante à espécie exótica J. mimosaefolia, conforme MMA (2007). O Guatambu ou Colher-de-vaqueiro (Aspidosperma parviflorum) é também muito usado em adornos pessoais ou em objetos de decoração. O Guatambu está presente na mata de galeria e na mata ciliar de acordo com Ribeiro e Walter, (1998) apud Ribeiro, (2005); alguns autores ainda citam Cerradão e Cerrado Sentido Restrito. O Bate-caixa (Palicourea rigida kunth) é uma espécie de arbusto, e suas sementes são utilizadas em biojoias. Duas plantas apresentam o nome popular de Bate-caixa; Salvertia convallariaeodora e Palicourea rígida. Para complicar a identificação na produção artesanal, ambas estão presentes no Cerrado; a primeira aparece na literatura como presente em Cerradão21 e Cerrado Sentido Restrito e a 19 ISPN - ispn.org.br. O buriti a palmeira de mil e uma utilidades. Disponível em: <http://www.ispn.org.br/o-buriti-a-palmeira-de-mil-e-uma-utilidades/>. Acesso em: 15 jan. 2010. 20 Cerrado sentido restrito caracteriza-se pela presença de árvores baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares e retorcidas, e geralmente com evidências de queimadas. 21 Cerradão é a uma formação florestal do bioma Cerrado com características esclerofilas (grande ocorrência de órgãos vegetais rijos, principalmente folhas) e xeromórficas (com características como folhas reduzidas, suculência, pilosidade densa ou com cutícula grossa que permitem conservar água e, portanto, suportar condições de seca). 48 segunda, presente em Cerrado Sentido Restrito e Campo Sujo 22, conforme Silva Junior, (2005). A espécie, Palicourea crocea, apresenta fruto semelhante à imagem do resíduo Bate-caixa, porém apresentando cinco pontas, descreve Barbosa (2008). Através dessa semelhança foi deduzido que o Bate-caixa é possivelmente da espécie Palicourea rígida. O fruto do Bate-caixa é um dos produtos para confecção de artesanato, encontrados nas lojas de material para artesanato, no Mercado Central de Belo Horizonte/Minas Gerais. Pau Terra do Campo (Qualea grandiflora), a casca e sementes do Tingui (Magonia pubescens) e sementes de Jatobá (Hymenaea courbaril L.), são comercializados fora do prazo para consumo e comercialização, nas lojas de material para produção artesanal, no Mercado Central de Belo Horizonte. Algumas espécies foram identificadas em diversas áreas do vale do Urucuia, conforme figura 9. Estes materiais foram coletados em 2009, durante o Curso de Manejo e Beneficiamento dos Frutos do Cerrado, em Bonfinópolis de Minas, com a colaboração dos produtores rurais e instituições parceiras (IEF, ICMBio e EMATER). Fig. 9: Insumos e resíduos vegetais coletados no Vale do Urucuia Fonte: MOURÃO, 2010. 22 Tipo de Cerrado formado de vegetação com fisionomia herbácea e arbustiva com arbustos e subarbustos espaçados entre si, geralmente estão sobre solos mais rasos que podem apresentar pequenos trechos de rochas ou solos mais profundos, mas pouco férteis. 49 A Empresa Flor do Cerrado é um dos exemplos de organização para produção artesanal com resíduos e insumos do Cerrado. Localizada na cidade de Samambaia, no Distrito Federal Brasileiro, a empresa utiliza folhas de diversas espécies do Cerrado para a produção artesanal. Com apoio do designer Renato Imbroisi e do SEBRAE, as artesãs que atuaram quando a empresa ainda era um pequeno grupo, aplicaram a técnica de esqueletização das folhas, transformando folhas em flores, arranjos decorativos e vestuário feminino, conforme figura 10. Estas flores são confeccionadas com folhas da árvore moeda (nome popular) após processo de esqueletização23 e pigmentação. A Flor do Cerrado não esclarece qual o nome científico da folha moeda. Apenas declara que a coleta do material é realizada de forma controlada e com consciência ecológica. Fig.10: Flor de folhas pigmentadas da Flor do Cerrado. Fonte: GOUTHIER, M. SEBRAE.notícia. <www.agenciasebrae.com.br/noticia.kmf?canal=40&cod=4354939& indice=20&^^>. Acesso em : 27 out .2010. 23 Processo de cozimento das folhas que resulta na extração de elementos da epiderme da mesma, descobrindo os tecidos vasculares (xilema e floema). 50 2.3.1. Espécies nativas e exóticas em produção artesanal A empresa Flor do Cerrado realizou um mapeamento de doze espécies do Cerrado de maior uso no artesanato na região do Distrito Federal e no entorno. Este mapeamento ocorreu com a colaboração das 20 famílias que atuam no empreendimento. Conforme Mamede (2010), o estudo identificou espécies como Pata-de-vaca, Cedro do cerrado, Agave Palito e Agave Estrela (nomes populares). Foi descrito a importância do planejamento da produção para poupar espécies mais raras, como a folha moeda, que apresenta textura delicada semelhante à renda. No entanto, a árvore da Pata-de-vaca, Casco-de-vaca ou Unha-de-vaca (Bauhinia variegata L.) não é uma espécie natural do Cerrado. Esta espécie exótica veio da China, Índia ou Birmânia e se adaptou ao solo do sudeste brasileiro, conforme Lorenzi; Abreu Matos (2002). A mesma, além da grande utilização no paisagismo, é muito usada e estudada em relação a suas possíveis propriedades medicinais contra a diabetes e outras doenças. Conforme Carvalho (1994), O Cedro do Cerrado (Cedrela fissilis Vell) é natural das Américas, encontrado deste o Panamá e Costa Rica até a Argentina; no Brasil está presente na maioria dos estados e sua madeira é considerada de alta qualidade. Atualmente, algumas regiões brasileiras perderam consideráveis quantidades exemplares. A aparência do Agave-palito é peculiar, originária do México, suas folhas estreitas e compridas têm borda branca desfiada com aspecto ―cabeludo‖, podendo atingir até 50 cm de altura. Souza (2004) relata que os primeiros pés de Agave palito (Agave x hybrid) foram trazidos pelo Agrônomo português J. Viana Junior. Aqui, no Brasil, chegaram às espécies que ele cultivava, tais como, a Agave Sisalana e a Agave Fourcroydes, no ano de 1911. O agave foi introduzido no Brasil para produção de cordas, cabos, correias de transmissão de forças, chapéus, espanadores, tapetes, esteirinhas, mantas para selas, colchões e redes de malha. O Cerrado e outros biomas do Brasil apresentam espécies de algodão, a exemplo o Gossypium mustelinium, mas espécies exóticas representam 98% da produção mundial (Gossypium hirsutum e G. barbadense). Essas espécies exóticas também são muito cultivadas em solo brasileiro, conforme Pizzela (2010). 51 A ―Taboa‖ (Thypha sp) é uma planta originária da América do Sul, encontrada em margens de ambientes lênticos24, como lagoas. É encontrado em restingas e a espécie Typha dominguensis em áreas alagadas do Cerrado, chamadas brejos (SEMATEC, 1999). O trabalho artesanal com a Taboa é antigo. Bitencourtt (2009) relata que as populações interioranas tradicionalmente utilizam esta planta para a produção de paina para travesseiros e colchões. Sua fibra vegetal é usada na criação de uma grande variedade de cestos, bolsas, chapéus, chinelos, balaios, peneiras e outros objetos. Os mesmos são destinados aos mais diversos fins, como utensílios domésticos, enfeites e arranjos, uso e adorno pessoal e utensílios para a agricultura e criação de animais. No processo de produção artesanal com a Taboa está a identificação e seleção da matéria prima, técnica de retirada das folhas, processo de secagem, utilização e preparação das fibras da Taboa, técnica de trançados, etc., conforme Bitencourtt (2009). Sua extração muitas vezes acontece de forma incorreta, alimentando o desmatamento. Atualmente, existem algumas iniciativas de resgate e reestruturação dos moldes de extração e produção artesanal. Um deles acontece desde 2008, em parceria com o SEBRAE, no Distrito de Maracangalha, Município de São Sebastião do Passé - Bahia. Neste município, foi implantado o Núcleo Produtivo de Artesanato em Taboa, iniciado na capacitação técnica dos artesãos, com várias parcerias. Na questão ambiental, algumas diretrizes de projeto podem orientar os artesãos para as boas práticas e manejo sustentável. 2.3.2. Manejo, conservação e comercialização de insumos vegetais Com o objetivo de garantir a identidade e a qualidade sementes, estacas ou demais propágulos25 que são produzidos, comercializados e utilizados em todo o território nacional, foi estabelecido o Sistema Nacional de Sementes e Mudas 24 25 Ambientes com pouca movimentação da fauna e flora. Propágulos são estruturas constituídas basicamente por células meristemáticas que se desprendem de uma planta adulta para dar origem a uma nova planta, geneticamente idêntica à planta de origem. 52 (SNSM) 26 . Este sistema prevê várias categorias de Área de Coleta de Sementes (ACS), cuja valorização das sementes produzidas em áreas específicas são aumentas à medida que se intensifica o controle genético da população vegetal (natural ou plantada), formada por espécies nativas ou exóticas, conforme ScreminDias et al, (2006). Entre as dificuldades de utilização de insumos vegetais são evidentes as questões de manejo de sementes. Um dos exemplos é citado por Menezes & Muxfeldt (2005), que observaram a coleta de sementes em Rio Branco – Acre. Apesar do alto percentual de utilização de Jarina (Phytelephas macrocarpa), ―Mulungu‖ (Ormosia coccínea) e ―Sororoca‖ (Heliconia metallica) no artesanato, estas espécies se apresentaram como de difíceis obtenções, pois a escolha de sementes se faz uma a uma. As espécies arbóreas como Jatobá, Sibipiruna, Olhode-boi, Mulungu e outras, são coletadas no solo ou diretamente da árvore. Outro fator importante está no armazenamento de sementes. Nogueira (2008) alerta que fungos, bactérias e insetos são problemas que podem comprometer as peças artesanais. Por isso o artesão deve buscar informações sobre o tipo de tratamento das sementes. O tratamento quando realizado reduz o tempo de deterioração das sementes. O armazenamento inadequado pode causar a ação de insetos, resultando na deterioração das sementes. Conforme Felix (2007), a coleta de sementes para biojoias é realizada geralmente, por pessoas que também executam a conservação das mesmas ou que confeccionam as peças artesanais. Não há uma uniformidade no processo de coleta, que pode ocorrer tanto por meio de catação manual no solo da vegetação após a queda natural, quanto com equipamentos para coleta nas árvores. De acordo com o autor, sementes coletadas maduras, apresentam maior viabilidade do que as sementes coletadas verdes. As verdes, não demonstram resistência ao armazenamento, além de apresentar baixa viabilidade ocasionada por vários fatores, entre eles a formação insuficiente das substâncias de reserva, ressalta o autor. 26 A elaboração foi coordenada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) amparado pela Lei nº 10.711, de 05 de agosto de 2003. 53 Quanto mais seca a semente estiver, melhor para as atividades artesanais, contrario as características para germinação. Ao coletar as sementes, folhas e galhos, o extrativista deve respeitar os limites da coleta do material. O ideal é deixar sempre um pouco das sementes entorno da espécie para germinação, adubo da terra e alimentação de espécies da fauna. Valle (2008) realizou um levantamento de comercialização de artesanato com sementes em alguns pontos comerciais do Rio de Janeiro, descrevendo o resultado: Durante as visitas, foi observado que em 100% dos pontos de venda as espécies foram identificadas somente com o nome vulgar, não incluindo o nome científico. Os maiores obstáculos para a classificação foram os erros grosseiros referentes à confusão e trocas de nomes devido à falta de conhecimento a respeito dos produtos a venda e similaridades com outras espécies. Não há critério de identificação que possa ser adotado, as sementes são revendidas com outros nomes, principalmente no caso da leucena que quase sempre foi tratada como semente de melancia e o TentoCarolina, tratado como Pau-Brasil e/ou Sibipiruna. A variedade de nomes também criou alguns conflitos para o resultado final, a Jarina apareceu como Marfim-Vegetal e/ou Tágua, o Jequitiri como Olhode-Pombo e o Aguaí como Chapéu-de-Napoleão. Outro aspecto importante foi que as sementes para fins artesanais vêm geralmente modificadas, perdendo suas características morfológicas naturais, como por exemplo, o buriti quando polido fica bastante semelhante à jarina, dificultando mais ainda a identificação. Soma-se a isso a falta de livros específicos como manuais de classificação de sementes (VALLE, 2008, p.12). Valle (2008) descreve que conforme a legislação vigente sobre recursos genéticos, a exportação de material reprodutivo é sujeito a controle rigoroso e as peças artesanais com sementes. As sementes podem ser comercializadas para a produção artesanal, somente quando não apresentam mais capacidade de germinar. Os insumos artesanais devem ser coletos na época certa, respeitando o período de germinação. A conservação deve ser em vidros transparentes, com tampas que impeçam a penetração de fungos e insetos. Em busca de manter as qualidades das sementes para a produção artesanal e comercialização, os extrativistas devem conhecer algumas práticas de conservação. Para a produção de biojoias, soluções contendo óleos essenciais são utilizadas como proteção e longevidade das sementes da Amazônia, conforme Silveira (2009). 54 Menezes (2005) ver relata que o abastecimento do mercado com sementes muitas vezes não segue uma normatização. Expõe que a maioria das espécies fornecidas aos beneficiadores ou artesãos não tem origem conhecida. A falta de conhecimento sobre as espécies não garante a identidade do artesanato. Este fato descaracteriza o produto artesanal que, com todos os atributos, não representa o território. Portanto, é possível estabelecer métodos sustentáveis entre os sistemas de manejo e beneficiamento, como de produção e comercialização destes insumos. 2.4. PRODUÇÃO ARTESANAL, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE 2.4.1. Produção Artesanal O artesanato é toda atividade que resulte em objetos e artefatos acabados, feitos manualmente ou com a utilização de meios tradicionais ou rudimentares, com habilidade, destreza, qualidade e criatividade, segundo Conselho Mundial de Artesanato apud (Emater. MG, 2010). Entretanto, não distingue o artesão do artista. Está relacionado aos recursos naturais existentes de uma determinada região e decorre da relação entre o homem e o meio, como atividade social e econômica. A arte do trabalho artesanal é transferida pelas gerações: do trançado da palha de carnaúba aos bordados, das esculturas em cerâmica às bonecas de palha, dos objetos de madeira aos doces e geleias, e tantos outros com referência à cultura e tradições sociais, conforme Lima (2005). O artesanato representa uma das atividades econômicas sistema de vida dos moradores da região, manifestado em múltiplos padrões e variedades técnicas culturais. A Constituição brasileira promulgada em 1988 refere-se à cultura no artigo 216 nos seguintes termos: - "Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira‖. De acordo com designer Barroso Neto (2001, p.3), a definição de artesanato torna-se necessária para ajustar os limites de intervenção nas ações propostas por 55 programas ou projetos com o foco no artesanato. O autor define artesanato como ―toda atividade produtiva de objetos e artefatos realizados manualmente, ou com a utilização de meios tradicionais ou rudimentares, com habilidade, destreza, apuro técnico, engenho e arte‖. No artesanato as matérias primas podem definir os diferentes ofícios, pois delas derivam práticas profissionais distintas, com suas respectivas técnicas, ferramentas, produtos e destinações. Conforme Barroso Neto as principais matérias primas utilizadas no Brasil são: barro, couro, fibras, fios, madeira, metais, pedras, vidro e alguns outros. Do quadro apresentado por Barroso Neto, figura 11, alguns materiais são descritos pela relação com a pesquisa. Como por exemplo, o trabalho de trançar fibras vegetais é um legado do povo indígena brasileiro, resultando em produtos com fins utilitários, lúdicos e decorativos. As principais fibras vegetais utilizadas no Brasil são fibras da taboa, do buriti, do coco, da carnaúba, do babaçu, o sisal, a juta, o junco, o apuí, os cipós ou trepadeiras, o bambu, o vime, a cana-da-índia, cascas e entrecascas, palha de milho, folha de bananeiras, etc. Fig.11: Quadro Relação entre matérias prima e ofícios. Fonte: BARROSO NETO, E. - Apostila ―O que é o artesanato1‖p.11. 56 As fibras vegetais comumente são utilizadas na confecção de cestarias e chapéus, tapetes e esteiras, móveis e objetos de decoração. Entre os principais processos produtivos estão à extração das fibras, seleção, às vezes cozimento, secagem, trama/entrelaçamento e acabamento. Quanto aos fios, estes podem ser de origem animal ou vegetal. Os de origem vegetal, temos o algodão, linho, juta e pita. Dentre os produtos feitos com fios encontramos a tecelagem (redes, mantas, etc.), rendas e crochês feitos a partir do fio, bordados sobre tecido, adornos, bonecas e brinquedos. A madeira está entre as matérias primas com mais ampla utilização para fabricação artesanal, seja de forma isolada ou combinando com outros materiais. É muito comum à utilização de madeiras locais, como acontece com o Buriti no Cerrado. Dele se produz brinquedos, utensílios, móveis leves, e uma infinidade de outros produtos. Na produção artesanal em madeira estão as esculturas e santerias, movelaria e objetos de decoração (incluindo brinquedos, pequenos objetos de madeira e marchetaria), luteria, construções e carpintaria naval. A classificação ―outros‖, do quadro ―Matérias primas e ofícios‖ de Barroso Neto (2001), indicam os produtos de material único ou mesclados, de borrachas, ceras e parafinas, materiais reciclados, materiais de procedência animal (penas, chifres, etc.), etc. São artefatos produzidos com os mais diferentes materiais, normalmente originados como resposta às necessidades e carências do homem. Comumente apresentam um alto grau de inovação e surpresa, que conferem aos produtos um alto grau diferencial. 2.4.2. Inovação e sustentabilidade no contexto da produção artesanal A ênfase do design, dentre outros atributos, se manifesta através da funcionalidade e estilo. Ambas, associadas ao bom gosto e a qualidade, estabeleceram a evolução dos materiais e processos, através das fases de um serviço ou produto. Krucken (2009) descreve que os valores que representam as dimensões para avaliação de produtos e serviços são funcionais ou utilitários, emocional, ambiental, simbólico e cultural, social e econômico. Para tanto, é importante considerar 57 aspectos qualitativos, elementos históricos, ambientais, culturais e sociais incorporados desde o processo de produção ao consumidor. Inovar os métodos de identificar os valores inclusos na identidade, buscando a transparência que: represente a origem, conte a história, informe sobre o uso, satisfaça a necessidade real e colabore com o desenvolvimento socioeconômico global. Contextualiza-se inovação como principal fator de competitividade. Engler (2009) esclarece que esta característica deve manter-se constante. Ocorre por meio da sistematização de iniciativas, visando à vinculação entre estratégias de negócio e oportunidades. A inovação é a invenção que deu certo, quer dizer, aquela que foi produzida e aceita no mercado, vendeu, e, portanto, fez diferença influenciou ou facilitou a vida de alguém e gerou riqueza. Mas, hoje em dia, para gerar riqueza é necessário que ela seja sustentável, que seja capaz de reproduzir de forma social, ecológica e financeiramente correta (ENGLER, 2009, p.66). A inovação surge também através das economias solidárias. O sistema agroextrativista, o trabalho compartilhado em cestarias e rendas artesanais, a produção e comercialização de biscoitos, doces e tantas outras atividades, são modelos inseridos ao contexto associativo. Tem como perspectiva a construção de um ambiente ético, socialmente justo e sustentável, excluindo o assistencialismo. Para promover a sustentabilidade os fatores sociais, ambientais e econômicos são importantes. Averiguar como os materiais são extraídos e o processo até o descarte envolve os sistemas amplamente. Bistagnino (2009) relata que o desafio é tornar sustentável a vida cotidiana. É necessária aprendizagem social, mudança de comportamentos e compartilhar com novos estilos de vida. Repensar e inovar, o que não significa necessariamente novas tecnologias. Inovar é ver sob outros ângulos, perspectivas diferentes. O design sistêmico tem por finalidade desenvolver produtos e serviços com valor adjunto que contribua para a sustentabilidade econômica socioambiental. Das referências citadas, não houve o objetivo de realizar uma revisão bibliográfica extensa, mas abordar priorizando atender ao tema proposto. somente alguns autores selecionados, 58 2.5. ABORDAGENS E CONCEITOS RELACIONADOS AO TERRITÓRIO O território, muito mais que as dimensões de latitude e longitude, é constituído da tradição do pensamento geográfico. Valverde (2004) relata que há muitos anos os conceitos se modificaram. Descreve que, desde as proposições de Ratzel, inspiradas na ecologia, no romantismo alemão e no imperialismo do final do século XIX, esse conceito tem sido utilizado para conferir uma dimensão política de mobilidade e de competição ao contexto de um todo, em tempo e espaço. Nas duas últimas décadas, o conceito de território se ampliou, adquirindo um sentido diferente, para abordar uma infinidade de questões pertinentes ao controle físico ou simbólico de determinada área. Valverde (2004) esclarece que o olhar geográfico atualmente, sobre as fronteiras que separam os homens do século XXI, poderá revelar a pluralidade das suas diferenças e a diversidade de suas formas de associação entre pessoas e espaços. O fato é estas mudanças não foram ao acaso, o estudo dos territórios voltou a ser valorizado a partir dos anos 90, por diversas razões. Entre elas, o fim do mundo bipolarizado dos pontos de vista militar e econômico, que geraram novos acordos federativos. O território tem que ser entendido como o ―território usado‖, não o território em si. O território usado é o chão mais a identidade27 local. O termo identidade pode ser considerado como ―algo formado, ao longo do tempo, através de processos inconscientes, e não algo inato, existente na consciência no momento do nascimento. Existe sempre algo 'imaginário' ou fantasiado sobre sua unidade. Ela permanece sempre incompleta, está sempre em 'processo', sempre 'sendo formada (HALL, 2005. p.38). 27 Hall (2005. p.08) ressalta a dificuldade de conceituar identidade, uma vez que se trata de um termo "demasiadamente complexo, muito pouco desenvolvido e muito pouco compreendido na ciência social contemporânea para ser definitivamente posto à prova"Para Canclini (1997, p. 149), "ao se tornar um relato que reconstruímos incessantemente, que construímos com os outros, a identidade se torna também uma coprodução". O reconhecimento do caráter multicultural de grande parte das sociedades leva à constatação da pluralidade de identidades culturais que tomam parte na constituição histórico-social da cidadania, nas mais diversas localidades. Nesse sentido, autores como Hall (1997), Featherstone (1997), Canen (1995; 1997b), Candau (1997), Coutinho (1996) e Grant (1997) alertam para a necessidade do reconhecimento da fragmentação de uma noção de identidade fixa e bem localizada, enfatizando a pulverização das identidades culturais de classe, gênero, etnia, raça, padrões culturais e nacionalidade a serem levadas em consideração em práticas pedagógico-curriculares, voltadas à construção de uma sociedade democrática e ao desenvolvimento da cidadania crítica e participativa (CANEN, 2000). 59 A identidade é o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho, o lugar da residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida, de todos os seres humanos. Santos et al, (1994) esclarece: O território em si não é uma categoria de análise em disciplinas históricas, como a Geografia. É o território usado que é uma categoria de análise. Aliás, a própria ideia de nação, e depois a ideia de Estado Nacional, decorrem dessa relação tornada profunda, porque um faz o outro, à maneira daquela célebre frase de Winston Churchill: ―primeiro fazemos nossas casas, depois nossas casas nos fazem‖. Assim é o território que ajuda a fabricar a nação, para que a nação depois o afeiçoe (SANTOS et al, 1994.p.26). Eduardo (2008) descreve que a primeira impressão que o território nos fornece é que ele é estático e imutável. Entretanto, suas intrínsecas contradições é que nutrem de possibilidades seu devir. O conceito de território não pode ser pensado de modo estanque, mas como produto inacabável, oriundo das contradições sociais da vida cotidiana. Conforme Krucken (2009, p.32), o conceito de Território aproxima-se da expressão francesa terroir, que é traduzida para o português com ―produto da sociobiodiversidade‖. Esta definição abrange a importância de incluir o produto com parte de uma cadeia de valor, destinada à promoção da qualidade de vida da comunidade que o desenvolve e o meio ambiente que o mesmo está inserido. Este processo envolve subtrair de produtos e serviços, aspectos qualitativos, elementos históricos, ambientais, culturais e sociais, incorporados desde o processo de produção ao consumidor. As linhas de apoio do design para valorização dos produtos locais são consideradas a promoção da qualidade dos produtos, a comunicação entre consumidores e produtores e o desenvolvimento de arranjos produtivos e cadeias de valor sustentáveis. Os produtos locais são manifestações culturais fortemente relacionadas com o território e a comunidade que os gerou. Esses produtos são os resultados de uma rede, tecida ao longo do tempo, que envolve recursos da biodiversidade, modos tradicionais de produção, costumes e também hábitos de consumo. A condição de produto ligado ao território e à sociedade nos quais surgiu é representada no conceito de terroir, que aprofundaremos adiante (KRUCKEN, 2009 p.17). Um bom exemplo nacional é o Café do Cerrado. Em 2005 foi registrado pelo INPI 075/2000 – Instituto Nacional da Propriedade Industrial (que estabelece as 60 condições de para registro das indicações geográficas), aos principais municípios produtores de café da região de Araguari, Indianópolis, Monte Carmelo, Patrocínio, São Gotardo, Coromandel, Araxá e Patos de Minas. Aliás, oficialmente, foi à primeira região demarcada de café do Brasil e a primeira identificação de café do mundo, conforme informação do Conselho das Associações de Cafeicultores do Cerrado, conforme Krucken (2009). O certificado de procedência atesta apenas o local geográfico da produção. Em 2011, 150 mil de dois milhões de sacas comercializadas no sistema, contam com esta certificação28. Os aspectos da globalização, possibilitando que produtos de diversas áreas do planeta transitarem e se estabeleçam em áreas longínquas de suas origens, desconfiguram os valores culturais originais. A produção em rede, favorecendo as potencialidades da comunidade, poderá fortalecer a economia local e manter as características na região no produto. ―O desenvolvimento de alianças e redes, bem como a interação de ações do território, são essenciais para fortalecer a competitividade local e a valorização de produtos e serviços, equilibrando tradição e inovação‖ (KRUCKEN, 2009, p.37). A questão do território também é citada por Salgado. A identidade da população com o seu território é peça fundamental na definição e estruturação do desenvolvimento territorial destinado a este. Em tal grau, a indefinição nesta pode provocar a indefinição na própria ideia de território, levando a uma proposta equivocada de desenvolvimento. Consequentemente, as inovações técnico-científicas provenientes deste, realizadas em descompasso com o adensamento teórico-cultural local, não teria eficácia na mudança junto aos repertórios de habilidades e, tão pouco, junto às organizações e instituições sociais presentes no território. Portanto, a proposta de desenvolvimento territorial se volta a um ideal teoricamente embasado, mas sem uma aplicação prática das melhorias idealizadas (SALGADO, 2010, p.86). Desterritorialização e desterritorialidade são conceitos que contribuem no sentido de abordar o conteúdo dinâmico e histórico (político, econômico e cultural) das atividades artesanais. Assim, os esforços na identificação dos fatores de sua produção integram a concepção do território, na historicidade dos condicionantes sociais. Um território tem seu suporte no passado, tem um presente, mas também está sempre por acontecer. 28 Portal do agronegócio.com.br. Disponível em: <http://www.portaldoagronegocio.com.br/conteudo.php?id=4312>. Acesso em: 20 mai. 2011. 61 CAPÍTULO 3 PROCEDIMENTOS E MÉTODOS ―Sertão, - se diz -, o senhor querendo procurar, nunca não encontra. De repente, por si, quando a gente não espera, o sertão vem.” Guimarães Rosa Parte-se do pressuposto que a grande biodiversidade vegetal do bioma Cerrado possa fornecer resíduos vegetais viáveis ao uso no artesanato, sem comprometer a integridade ecológica desse ecossistema e agregar os valores culturais e ambientais da região ao produto. As perguntas estabelecidas e respondidas durante o processo de investigação foram: a) Quais são os resíduos vegetais compatíveis com a produção artesanal no Cerrado Mineiro? b) Em que modo o design pode contribuir para a valorização destes recursos, de forma sustentável? Visando responder a estas questões foi elaborado um planejamento para o desenvolvimento da pesquisa, visando responder a essas questões acima, seguindo alguns critérios de classificação: 62 a) Quanto à natureza, a pesquisa se estabelece como aplicada, que ―objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática e dirigidos à solução de problemas específicos.‖ (SILVA e MENEZES, 2005, p.20). b) Do ponto de vista da abordagem do problema, esta pesquisa é qualitativa, fundamentada no design sistêmico, havendo interpretação de fenômenos e atribuição de significados, elementos básicos desse tipo de abordagem. c) O método de investigação adotado foi o estudo de caso, fundamentado em considerações metodológicas apresentadas por Ludcke e André (1986) e Yin (1988). Conforme destaca Yin (2005, p.140): ―explicar um fenômeno significa estipular um conjunto de elos causais em relação a ele‖. Sob esta perspectiva, o autor destaca a natureza interativa da construção de explanações no estudo de caso: a explanação final é resultado de uma série de interações e representa o refinamento de um conjunto de idéias. O estudo de caso pode ser compreendido como: Uma pesquisa científica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos; enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados e, como resultado, baseia-se em várias fontes de evidência (...) e beneficia-se do desenvolvimento prévio de proposições teóricas para conduzir a coleta e análise dos dados (YIN, 2005, p.32-33). Para se estruturar um estudo de caso, segundo Ludke e André (1986), são necessárias algumas características: a) visão descoberta, na medida em que podem surgir, em qualquer altura, novos elementos e aspectos importantes para a investigação, além dos pressupostos do enquadramento teórico inicial; b) enfatizam a interpretação em contexto, pois todo o estudo desta natureza tem que ter em conta as características da organização, o meio social em que estão inseridos, os recursos materiais e humanos, entre outros aspectos; c) retratam a realidade de forma completa e profunda; d) usam de uma variedade de fontes de informação; 63 e) permitem generalizações naturalistas; f) procuram representar as diferentes perspectivas presentes numa situação social; g) utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível do que os outros métodos de investigação. O estudo de caso foi conduzido a partir de observação participante. Conforme Yin (2005, p. 121), ―a observação participante é uma modalidade especial de observação na qual o pesquisador não é apenas um observador passivo. Em vez disso, o pesquisador assume uma variedade de funções dentro de um estudo de caso e pode, de fato, participar dos eventos que estão sendo estudados‖. O observador participante, como destaca Becker (1994:47), ―...coleta dados através de sua participação na vida cotidiana do grupo ou organização que estuda. Ele observa as pessoas que está estudando para ver as situações com que se deparam normalmente e como se comportam diante delas. Entabula conversação com alguns ou com todos os participantes desta situação e descobre as interpretações que eles têm sobre os acontecimentos que observou‖. Segundo Lüdke & André (1986, p.26) a ―observação ocupa um lugar privilegiado nas novas abordagens de pesquisa e possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado‖. As mesmas autoras salientam que as técnicas de observação são extremamente úteis para descobrir aspectos novos de um problema. Nas observações das atividades artesanais adotase a observação participante, que segundo (MONTENEGRO, 2008) apud (LÜDKE & ANDRÉ, 1986. p.183), é uma ―estratégia de campo que combina simultaneamente a análise documental, a entrevista de respondentes e informantes, a participação e a observação direta e a introspecção‖. No sentido de delimitar a análise, além do recorte no território mineiro, será realizado um estudo específico para o Vale do Urucuia, próximo ao Parque Nacional Grande Sertão Veredas - Município de Chapada Gaúcha. Para execução da proposta de catálogo, serão utilizadas técnicas e baseadas em Krucken (2009). A pesquisa buscará abstrair de produtos e serviços aspectos qualitativos, elementos históricos, ambientais, culturais e sociais incorporados desde o processo de produção às possibilidades de consumo. Krucken, op.cit., descreve 64 que para os consumidores identificarem a origem do produto é necessário que estas qualidades estejam evidenciadas por meio dos marcadores de identidade. ―Esta tarefa de ―tradução‖ ou ―mediação‖ consiste no desenvolvimento de uma interface de entendimento comum para produtores e consumidores.‖ Em síntese, as linhas de apoio do design para valorização dos produtos locais são consideradas a promoção da qualidade dos produtos, a comunicação entre consumidores e produtores e o desenvolvimento de arranjos produtivos e cadeias de valor sustentáveis. Devido à natureza do objeto de estudo e ao modo de investigação da pesquisa, adotou-se uma perspectiva multidisciplinar na condução da pesquisa, priorizando-se a perspectiva do design e envolvendo conhecimento de áreas relacionadas a Ciências Sociais e Biológicas. A estrutura da pesquisa foi estabelecida, sinteticamente, em três etapas: a primeira busca atender aos conteúdos da revisão bibliográfica; a segunda executa o estudo de caso e práticas junto às comunidades e a terceira realiza a dissertação e a proposta de catálogo de espécies vegetais para a produção artesanal. Na primeira etapa, a pesquisa buscou as análises e resultados de investigações de outros profissionais, além da bibliografia impressa e digital. O projeto executou o levantamento das perspectivas de utilização dos resíduos e insumos, das espécies vegetais da região escolhida; além da seleção e a observação das técnicas artesanais desenvolvidas. Em seguida, foi documentado o ambiente, considerando a percepção e sensibilização ambiental, para estimular aos produtores a conhecerem melhor o território no qual estão inseridos. Registraram-se outras espécies florísticas que possam ser utilizadas no projeto e na proposta de catálogo. Os períodos programados para as investigações de campo sofreram adiamentos, devido às intempéries (condições climáticas) que impossibilitaram acesso às regiões impactadas. O esquema apresenta as etapas da pesquisa, conforme figura 12. Várias atividades ocorrem simultaneamente, facilitando o desenvolvimento do cronograma nas etapas da pesquisa. Foi compreendido que existem tópicos que se interligavam, porém o objetivo da pesquisa deveria ser mantido. 65 Fig.12: Sistemas do desenvolvimento da pesquisa - Relatório Parcial da Pesquisa. Fonte MOURÃO, 2010. Realizou-se um levantamento do contexto social e ambiental, em Janeiro/2010, em parceria com o ―Projeto de Implantação de Unidades de Beneficiamento e Comércio de Produtos Oriundos da Base Produtiva Local‖ – CETEC/MG. Em Janeiro/2011, foram cadastrados os produtores/artesãos, suas famílias e suas residências. Em abril/2011, simultaneamente às atividades relacionadas, documentaram-se e analisaram-se as técnicas artesanais em cada comunidade cadastrada. Ainda, sob análise das técnicas e materiais, em Julho/2011, documentou-se a abordagem do design, nos diferentes níveis da produção artesanal. Outros deslocamentos ocorram, em parceria com outras 66 equipes de atuação na região (CETEC/MG e FM&F Tecnologia), para resgatar e comprovar alguns dados já registrados na pesquisa – Julho/2010 e Maio/201129. A cidade de Chapada Gaúcha está distante de Belo Horizonte por 730 km30. Para utilizar o trajeto via cidade de Montes Claros utiliza-se a travessia de balsa na cidade de São Francisco, e depois, mais 115 km de estrada sem pavimentação até Chapada Gaúcha. Outro percurso pode ser executado via cidade de Arinos, com estradas que recebem asfaltamento. Este percurso aumenta aproximadamente, mais 110 km. No entanto, restavam 40 km para serem asfaltados (em jul. 2011). 3.1. OBJETO DE ESTUDO O objeto de estudo consiste em verificar como as comunidades trabalham com resíduos vegetais do Cerrado na produção artesanal e como promover praticas sustentáveis sob a perspectiva do design, em Chapada Gaúcha. 3.2. ÁREA DE ESTUDO Em Minas Gerais o cerrado abrange 308.000 Km², ocupando área de 53% do território do estado e a 17% do cerrado do brasileiro. Está presente principalmente nas regiões do Alto Jequitinhonha, Norte, Noroeste, Alto Paranaíba, Triângulo e Alto São Francisco (RIBEIRO, 2000). Especialmente no Vale do Urucuia, preocupa-se com os resultados da perda dos cerrados. A região do semiárido mineiro é formada por contradições no que 29 Etapas previstas para atender inclusive aos relatórios de acompanhamento para o Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN, com financiamento da União Europeia. O ISPN é uma organização não governamental, com objetivo de preservar e promover a biodiversidade dos biomas: Cerrado e Caatinga, financiamento inclusive, projetos de pesquisas na região. 30 Distancia calculada no percurso executado pela pesquisa. Porém, por desvios e condições da pavimentação, percorreu-se 850 km em média, em cada trajetória. 67 concerne às diferentes realidades, que são construídas regionalmente. Existe distanciamento entre os aspectos sociais, culturais, econômicos e ambientais desta região com as outras regiões mineiras. O Instituto Estadual de Florestas - IEF constata que esta região possui características naturais únicas, que apresentam um grande potencial turístico e que justificaram sua conservação dentro de três Unidades de Conservação. As estações de seca e chuvosa são bem definidas e a vegetação compõe-se de gramíneas, arbustos e árvores. Abriga importantes espécies da fauna: tamanduá, tatu, anta, jiboia, cascavel e o cachorro-do-mato, entre outras. Algumas delas estão ameaçadas de extinção, como é o caso do lobo-guará, do veado-campeiro e do pato-mergulhão. A vegetação do Cerrado Mineiro foi e continua sendo degradada em função de vários fatores, em algumas áreas do Norte de Minas, Triângulo Mineiro e Sul de Minas, segundo Calado e Soares (2003, p. 4). No Noroeste de Minas, incluindo a bacia do rio Urucuia, o clima é quente. A temperatura média é superior a 18ºC, durante todo o ano. O inverno é ameno e o verão é sempre quente e muito longo (Setembro a Março). Na bacia hidrográfica do Rio Urucuia, estão os municípios de: Arinos, Bonfinópolis de Minas, Brasilândia de Minas, Buritis, Chapada Gaúcha, Dom Bosco, Formoso, Icaraí de Minas, Natalândia, Pintópolis, Ponto Chique, Riachinho, Santa Fé de Minas, São Francisco, São Romão, Ubaí, Uruana de Minas e Urucuia. No período colonial deu início a utilização das terras dos cerrados, servindo como áreas de pastagens. Segundo Silva e Pereira (2010), após a Segunda Guerra Mundial, com a instalação de indústrias siderúrgicas em Minas Gerais, os cerrados entraram numa nova etapa de uso. A siderurgia necessitava da transformação do cerrado em carvão vegetal, iniciando a devastação sem controle. Em seguida, com a mobilidade demográfica aumentou o processo de perda dos cerrados. O desenvolvimento econômico atraiu pessoas de todas as regiões do país em busca de um local próspero para se viver, e ainda hoje permanece a luta para preservação do bioma em Minas. Conforme Rodrigues (2004), a coleta de produtos do Cerrado pela população do Norte de Minas é uma prática antiga e que vem se perpetuando ao longo dos anos. Contudo, este tipo de prática sem uma orientação técnica adequada tem como 68 resultado a queda na oferta destes produtos pela natureza. Árvores são derrubadas para a coleta de frutos, outras para a produção de carvão, entre outros problemas como contaminação por pragas. Estas pressões exercidas pela população no bioma Cerrado contribuem para a extinção de algumas espécies, como também para a queda na qualidade de vida destes produtores que dependem diretamente do Cerrado para sua sobrevivência. Diagnósticos recentes demonstram que os municípios do semiárido têm um bom potencial para o aproveitamento integral de frutos e plantas medicinais do Cerrado, para a alimentação humana e animal e aproveitamento da flora para busca no tratamento de doenças. Desde 2001, o ―Projeto Manejo Sustentável da Fava D’anta nas Gerais‖ é desenvolvido no Vale do Urucuia e mantêm o respeito dos produtores rurais. Em continuidade a este projeto, sob a mesma coordenação, o CETEC-MG também desenvolve o ―Projeto de Implantação de Unidades de Beneficiamento e Comércio de Produtos Oriundos da Base Produtiva Local‖. Estes projetos são premiados por instituições reconhecidas. Assim, estabelecendo parceria e acompanhando os ―diagnósticos socioambientais e culturais‖ dos projetos acima citados, foram realizadas visitas à região. Os municípios selecionados e consultados para execução do projeto foram: Bonfinópolis de Minas, Pintópolis e Chapada Gaúcha. A prefeitura de Chapada Gaúcha apresentou interesse e a riqueza do bioma na região contribuiu para a seleção como foco da pesquisa. 3.1.1. O Município de Chapada Gaúcha A antiga Vila dos Gaúchos, hoje município de Chapada Gaúcha, teve seu início de povoamento no ano de 1976. Os gaúchos vieram pelo PADSA – Projeto de Assentamento Dirigido a Serra das Araras, que agregou os municípios de Formoso, Arinos, Januária, São Francisco ao povoado da Vila dos Gaúchos, conforme IBGE (2010). 69 ESTADO DE MINAS GERAIS Mapa 1: Estados e vegetação do Brasil. GEOMAPAS Disponível em: <http://www.geomapas.net.br/mapa-brasildidatico.html>. Acesso em: 25 jul. 2010 MUNICIPIO DE CHAPADA GAÚCHA Mapa 2: Municípios em Minas Gerais. Geopolítico. Disponível em: <http://www.turismo.mg.gov.br/images/stories/mapas/mapa_politico_g.jpg>. Acesso em: 25 jul. 2011. 70 MUNICÍPIO DE CHAPADA GAÚCHA Mapa 3: Localização do Município de Chapada Gaúcha. Disponível em: <http://www.ana.go2v.br/cobrancauso/_pdfs/Mapa_da_Bacia_Rio_Sao_F rancisco_SubBacias.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2010. Mapa 4 – Localização do Vale do Urucuia – Região da Pesquisa. Fonte: Elaboração Própria. Consulta:< http://www.turismo.mg.gov.br/minasgerais/mapas>. Acesso em: 27 jul. 2011. 71 No dia 28 de Janeiro de 1995, foi instalado o Distrito de Chapada Gaúcha, na antiga Vila dos Gaúchos; neste mesmo ano, começou o processo de emancipação do novo distrito. Chapada Gaúcha encontra-se no semiárido do Norte de Minas Gerais, em uma região carente de projetos socioambientais. Possui uma população de 10.792 habitantes, em uma área territorial de 3.215 Km2, com a densidade de 3,36 hab./km², conforme figura 13. As atividades econômicas desenvolvidas na região, de acordo com levantamento do IBGE, estão concentradas em três áreas: serviços, agropecuária e indústria. DADOS DO IBGE – 2010 POPULAÇÃO NO MUNICÍPIO DE CHAPADA GAÚCHA População de Homens 5.624 População de Mulheres 5.168 População Urbana 5.751 População Rural 5.041 População Total 10.792 Fig. 13: Quadro de dados populacionais de Chapada Gaúcha. Fonte: IBGE/2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1766&id_pa gina=1>. Acesso em: 10 dez. 2010. Os indicadores são de IDH (Índice Desenvolvimento Humano) de 0,683 (PNUD, 2007), com PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 50.769,693 mil, e PIB per capita R$ 5.446,08, conforme IBGE. O município de Chapada Gaúcha possui excelente localização geopolítica e mercadológica. É uma cidade nova, planejada e plana. Conforme Madeira e Cézar (2008), dentre a produção agrícola podemos citar a extração de amêndoas do pequi, a exploração do urucum, o manejo da fava d’anta para laboratórios de medicamentos e a produção de carvão vegetal. No entorno do município estão localizadas duas Unidades de Conservação Estaduais – Parque Estadual Serra das Araras e Reserva Estadual de Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari. Situado na divisa dos estados de Minas Gerais e Bahia, o Parque Grande Sertão Veredas - Unidade de Conservação Nacional é uma das atrações turísticas na região. 72 O Parque Estadual da Serra das Araras se destaca pelos paredões na paisagem. Seus diversos ecossistemas, considerados como de preservação permanente, e seus sítios geomorfológicos que funcionam como habitat e criadouro natural de espécies de arara-vermelha e arara Canindé, que dão nome a serra, conforme descrição do IEF. Para conservação da riqueza ambiental na região, o IEF acompanha e orienta a extração dos insumos extrativistas. Como exemplo, os buritizais para a produção artesanal no Distrito de Serra das Araras. Porém, conforme relata Sr. Cícero (IEF), ―as queimadas ainda causam grandes danos à natureza e a comunidade local‖. O buritizal da Reserva Ambiental, figura 14, sofreu grande perda em Junho de 2010. Após muita luta contra as chamas, a natureza descansa para recompor-se novamente com cicatrizes. Fig.14: Reserva Estadual de Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari/CG. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. O Parque Nacional Grande Sertão Veredas tem em seu nome uma homenagem explícita ao escritor João Guimarães Rosa. Sua passagem na região, no início da década de 50, resultou em uma das mais importantes obras literárias brasileiras, o romance Grande Sertão: Veredas, repleto de passagens que descrevem os locais, a relação do homem com a natureza e as características culturais, ainda hoje encontradas (IBAMA, 2003). 73 (…) Urucuia acima, o Urucuia… Tanta serra, o Urucuia esconde a lua. A serra ali corre torta. O Carinhanha é preto, o Paracatu moreno; meu, belo é o Urucuia — paz das águas… É vida! (…) Dali para cá, o senhor vem, começos do Carinhanha e do Piratinga filho do Urucuia… Saem dos mesmos brejos — buritizais enormes.‖ (ROSA, 1986. p.46, 47 e 416) Em junho, no Distrito de Serra das Araras é realizada a Festa de Santo Antônio de Serra das Araras. Em julho, é também famoso o evento Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas. Estes eventos atraem numerosos turistas, em procura de cultura, artesanato, conhecimento, integração e religiosidade. Também é muito respeitada a festa de ―Reis‖, em janeiro, que reuni várias comunidades do município (IBGE, 2007). 3.3. COLETA DE DADOS As etapas da pesquisa constituíram o estudo de caso, empregando as metodologias qualitativas, observação participante e entrevistas semiestruturada. A primeira etapa foi instituída por levantamento de dados auxiliares e reconhecendo a área a ser pesquisada. A segunda etapa, registro de dados dos indivíduos vegetais e das atividades artesanais executadas nas comunidades objeto da pesquisa. Na terceira etapa, inserção de dados para observação registro e analise das atividades artesanais com a inclusão do design e da identidade territorial. Deve-se considerar que até a coleta de dados, pesquisa bibliográfica, seleção do município para amostra e das comunidades, além de parceiros externos e financiamento para realização da pesquisa in loco, foram atividades executadas previamente. A etapa do levantamento do contexto social e ambiental do município foi realizada em janeiro/2010. A pesquisa cadastrou os produtores/artesãos, suas famílias e suas residências, como também o desenvolvimento das atividades artesanais e inserção do design e percepção da culturalidade nos produtos. Para acompanhamento de dados a pesquisa efetuou três deslocamentos de Belo Horizonte à Chapada Gaúcha: O primeiro deslocamento no período 17 a 23 de janeiro/2011 e segundo de 18 a 25 abril/2011 e o terceiro em 07 a 12 Julho /2011. 74 Outros deslocamentos ocorram, em parceria com outras equipes de instituições que atuam na região, para resgatar e comprovar alguns dados já registrados na pesquisa – de 08 a 15 julho/2010 e 24 maio a 01 junho/2011. Em seguida, as etapas relacionadas compreenderam a execução. ETAPA 1 – CADASTROS E PARCERIA: A primeira coleta de dados refere-se ao cadastro das associações e grupos de atividades artesanais, produtores rurais que executam atividades artesanais e parceiros na região. Este cadastro teve como objetivo verificar o número real de pessoas participantes da pesquisa (36 pessoas pré-selecionadas) de instituições locais parceiras (8 instituições). Esta etapa incluiu: a) desenvolver diagnóstico socioambiental com os produtores e suas famílias; b) caracterizar física, ambiental e econômica da propriedade. ETAPA 2 – REGISTRO DE ESPÉCIES VEGETAIS E ATIVIDADES ARTESANAIS Nesta etapa, foi realizada uma demonstração de levantamento florístico 31, para exemplificar os procedimentos de levantamento de espécies vegetais em uma determinada área. Foram coletados dados das espécies ao entorno das comunidades selecionadas para a pesquisa, pela equipe de biólogos/Geólogos. Em 31 A demonstração de um levantamento florístico foi realizada através do Método de Ponto Quadrante (―Point Centered Quarter‖ – Cottam e Curtis 1956, Müller-Dombois e Elemberg 1974 apud Silva, 2008). Este método consiste na abertura de um transecto e o estabelecimento de pontos de amostragem regularmente distribuídos. Em cada ponto são amostrados quatro indivíduos vegetais, um em cada quadrante e mais próximo do ponto de amostragem. Esta metodologia é utilizada para identificar árvores potenciais, em uma determinada região, para utilização neste em projeto Esta atividade foi uma contribuição voluntária de biólogos, para compreender como as espécies vegetais, neste caso, teve como exemplo o buriti, são catalogadas em números quantitativos, em uma determinada área. Esta atividade foi realizada pela Equipe de Biólogos/Geólogos, nas proximidades do Parque Estadual de Serra das Araras - Distrito de Serra das Araras – Chapada Gaucha. MG. Esta pesquisa não realizou efetivamente um levantamento florístico, pois todos os dados da região, foram fornecidos pelo IEF/MG – Parque Serra das Araras e pelo ICMbio/IBAMA – Parque Grande Sertão Veredas. 75 visita às comunidades, foram registradas as atividades artesanais realizadas pelos artesãos, somente com utilização de resíduos e insumos vegetais, como biojoias, adornos, objetos utilitários e mobiliários. Esta etapa inclui: a) realizar levantamento demonstrativo de espécies vegetais; b) registro das atividades artesanais com insumos e resíduos vegetais nas comunidades da pesquisa, com perspectiva de conhecer o potencial de produção artesanal local. ETAPA 3 - OFICINAS Aplicam-se nesta etapa as atividades de desenvolvimento de oficinas para observação registro e analise das atividades artesanais com a inclusão do design e da identidade territorial; documentação dos eventos e elaboração de relatório. As oficinas têm como objetivos integrar o grupo sensibilizá-lo, mobilizá-lo e nivelar as informações entre os integrantes e a equipe do projeto. São executadas as atividades de percepção e sensibilização ambiental, que ajudam aos produtores a conhecerem melhor o meio ambiente no qual estão inseridos. A percepção ambiental é a interação do indivíduo com o meio, apresentam aspectos da cultura, condições socioeconômicas entre outras. É um método que propicia estímulos ao profissional (artesão), para perceber o meio em que está inserido, princípios de identidade e território. São utilizados métodos de PesquisaAção e Diagnóstico Participativo, por serem consideradas técnicas reflexivas na qual o público constrói a sua realidade com praticamente nenhuma interferência do coordenador da atividade. Durante o desenvolvimento das atividades foram realizados registros fotográficos e relatório. Esta etapa incluiu: a) Desenvolvimento de oficinas para os artesãos: a.1) Levantamento prévio do nível de conhecimento das técnicas, condições econômicas, culturais e socioambientais do publico alvo, através de visitas técnicas às residências, locais de trabalho, comercialização dos produtos e de eventos na comunidade; 76 a.2) Montagem do quadro de atividades (definição do cronograma, materiais, recursos, parcerias e avaliação) que visam atender às áreas incipientes detectadas no item anterior, consultando as lideranças locais; a.3) Mobilização comunitária local, esclarecendo as etapas anteriores e realizando as adaptações sugeridas pelo grupo; a.4) Aplicação e registro das atividades programadas para as oficinas; b) Registros e documentação dos eventos; c) Análise da metodologia e registro dos resultados. O desenvolvimento da Pesquisa de Campo contou com a colaboração de profissionais voluntários. Os mesmos, orientados e coordenados pela autora e pesquisadora, formaram a ―Equipe da Pesquisa‖. São eles: Haendel Mourão Lataro Hoehne (desenvolvedor web e ambientalista) e Lidja Mourão Lataro Hoehne (bióloga, pós-graduada em Educação Ambiental). Estes atuaram, na companhia da pesquisadora, nos registros fotográficos, registros das espécies vegetais através de GPS, cadastramento de artesãos e outras atividades de apoio técnico. Estas atividades foram executadas, nas etapas da pesquisa, no município de Chapada Gaúcha. Outros voluntários atuaram como apoio da pesquisa, sob a coordenação da autora e pesquisadora. São eles: Maria de Jesus Ribeiro Gomes (nutricionista, funcionária da Prefeitura de Chapada Gaúcha) e Orlando Nunes (extensionista rural, funcionário da EMATER) – apoio a logística da pesquisa e contatos com instituições e comunidades locais; Igor Zaidan (estudante de Cinema e de Artes Visuais) – na produção fotográfica, entrevistas e filmagens do Evento ―X Encontro dos Povos‖; e Michelle Helène Machado de Souza (estagiária de design e bióloga) – cadastro de dados das espécies vegetais, no Mercado Central de Belo Horizonte. 77 CAPÍTULO 4 ESTUDO DE CASO ―E era lá que o senhor podia estudar o juízo dos bandos de papagaios. O quanto em toda vereda em que se baixava, a gente saudava o buritizal e se bebia água estável.” Guimarães Rosa Neste capítulo, os tópicos do desenvolvimento da pesquisa dividem-se em duas partes: a primeira parte trata das características relacionadas ao território e ao contexto local; a segunda parte aborda os aspectos relacionados à produção artesanal e design. 4.1. PRIMEIRA PARTE: ANÁLISE DO CONTEXTO 4.1.1. Cerrado Brasileiro Do interior do Brasil aos limites dos demais biomas, a área do Cerrado compreende 2.036.448 km² (IBGE, 2004), abrangendo os estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás, Tocantins, Piauí, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Rondônia e o Distrito Federal. Esta extensão representa 22% do território brasileiro. Percorre a distância do norte ao sudeste, entre os biomas da Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica e Pantanal. 32 32 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Biomas. 2010. Disponível em: <www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=72&idMenu=2351>. Acesso em: 30 out. 2010. 78 O Cerrado é responsável por 5% da biodiversidade do planeta e é uma das savanas mais ricas do mundo, mas é também um dos biomas mais ameaçados. Possui apenas 7,5% de sua área protegida por unidades de conservação. O total acumulado de desmatamento no Cerrado em 2002 era aproximadamente de 80 milhões de hectares. Conforme Barbosa (2008), 54 milhões de hectares são ocupados por pastagens cultivadas e 21,56 milhões de hectares por culturas agrícolas. Apresenta duas estações bem marcadas: inverno seco e verão chuvoso. Possui solo de savana tropical - deficiente em nutrientes, mas rico em ferro e alumínio. O que favorece a coloração vermelha amarelada, arenoso, permeável e com baixa fertilidade natural. A superfície tem pouca capacidade de absorver água, mas abrigam grandes bacias hidrográficas, as três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins-Araguaia, São Francisco e Prata), conforme OIKOS Pesquisas Aplicadas (2010). O uso sustentável da biodiversidade do Cerrado é realidade para comunidades tradicionais, servindo como geração de renda, segurança alimentar e qualidade de vida à população regional. Sua aplicação está na utilização de plantas medicinais, frutas nativas, criação de abelhas, manejo de animais silvestres, ecoturismo, condimentos, artesanato e etc. Fonte de remédios, nutrientes e renda familiar, representa para algumas comunidades das Veredas a herança cultural. As veredas são áreas de vegetação com palmeiras, como a Mauritia flexuosa (buriti), que emergem em áreas alagadas, conforme Embrapa (2009). Resguarda uma vegetação normalmente baixa, com plantas esparsas de aparência seca, entre arbustos esparsos e gramíneos, e o cerradão, um tipo mais denso de vegetação, de formação florestal. O bioma guarda outras surpresas, a beleza dos chapadões, relevo característico da região central do Brasil. Esta amplitude é visualizada na limitação da ecorregião, apresentado no mapa 5, conforme Ferreira et. al.(2007). 79 Mapa 5: Limites da ecorregião Cerrado/Mapa desmatamentos no bioma Cerrado. Disponível em: <http://marte.dpi.inpe.br/col/dpi.inpe.br/sbsr@80/2006/11.15.2 1.21/doc/3877-3883.pdf >. Acesso em: 20 mai. 2010. Alguns autores divergem na classificação dos tipos fitofisionômicos (característica da vegetação) do Cerrado. Uma das mais representativas no meio acadêmico é apresentada por Ribeiro e Walter (1998), que relatam onze tipos fitofisionômicos gerais no bioma. Estes, enquadrados em formações florestais (Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca e Cerradão), savânicas (Cerrado sentido restrito, Parque Cerrado, Palmeiral e Vereda) e campestres (Campo Sujo, Campo Rupestre e Campo Limpo). Muitas destas áreas apresentam inclusive outros subtipos. As formações savânicas se caracterizam por árvores e arbustos espalhados por um extrato graminoso, sem formação de dossel contínuo. O termo campestre refere-se às formações com predomínio de espécies herbáceas e algumas arbustivas, sem formação de árvores. ―As formações florestais compreenderiam áreas com predominância de espécies arbóreas, com formação de dossel, contínuo e descontínuo. Os fatores responsáveis pela ocorrência dessas formações são distintos‖ (RIBEIRO e WALTER, 1998.b apud RIBEIRO, 2005, p.23). 80 Ribeiro (2005) relata dos fatores temporais e espaciais são responsáveis pela ocorrência das formações florestais no Cerrado. Referindo-se ao primeiro fator, alterações climáticas e geomorfológica33, ao longo do tempo geológico, levaram às expansões e retrações das florestas úmidas e secas. As florestas úmidas se expandiram nas interglaciações (temperaturas mais altas e úmidas) e retraíram-se nas glaciações (frio e seco) do Quaternário34, ocorrendo o inverso com as florestas secas. Sítios úmidos, como os cursos de rios, permitiram a permanência de alguns remanescentes de florestas úmidas entre as florestas secas. Quanto ao segundo fator, em escala espacial as formações florestais são influenciadas por variações locais hidrográficas, topográficas, de profundidade do lençol freático e fertilidade e profundidade dos solos. O Cerrado é, portanto, um mosaico vegetacional com características distintas, que se conecta com quase todos os outros biomas do Brasil, constituindo área de transição entre eles e representando um ponto de equilíbrio entre as paisagens brasileiras. Fatores abióticos (químicos e físicos) como o clima, frequência de queimadas, profundidade do lençol freático e outros, proporcionam uma vegetação diferenciada dos outros biomas, que possibilita essa heterogeneidade fisionômica e riqueza de espécies. De acordo com Ribeiro(2005), estima-se que o Cerrado seja composto por 935 aves, 298 mamíferos e 268 répteis. Calcula-se que sua flora possa alcançar de 4 a 10 mil espécies de plantas vasculares. Como possui importantes recursos hídricos, sua relevância aumenta. Embora tenha sido excluído da Constituição Federal de 1988 como patrimônio nacional, no capítulo sobre o meio ambiente (Art. 24, Título VIII, Capítulo VI, § 4º), pela sua relevância ecológica, esse ecossistema é considerado como ―hotspot‖ para a conservação da biodiversidade mundial (CARVALHO, 2007; KLINK e MACHADO, 2005; BRANDON et al, 2005 apud SARAIVA & SAWYER, 2007). Hotspot é um termo usado para designar toda área prioritária para conservação, isto é, de alta biodiversidade e ameaçada no mais alto grau. 33 34 Formas da superfície terrestre. Período do planeta de grande extensão de ―eras de gelo‖ durante o último máximo glacial cerca de 20.000 a 12.000 anos atrás - Pleistoceno e Holoceno. Dando início a atual época em que vivemos atualmente, e extinguindo os animais que se adaptaram a viver com essas eras do gelo. 81 Essa heterogeneidade fisionômica e alta biodiversidade são evidenciadas na rica quantidade de uso e manejo do Cerrado pelas populações humanas que o habitaram historicamente. De acordo com Ribeiro (2005), os recursos utilizados incluem caça, pesca, madeira, óleos, fibras, plantas medicinais, frutos nativos, formando um complexo cultural cujas origens remontam há mais de doze mil anos e chegam até a atualidade. Inúmeras populações vivem no Cerrado hoje e sobrevivem dos seus recursos naturais, utilizando-os de forma sustentável. Os insumos do Cerrado são utilizados como geração de renda, segurança alimentar e qualidade de vida para as comunidades. ―Essas comunidades fazem parte do patrimônio histórico e cultural brasileiro e detêm um amplo conhecimento tradicional da biodiversidade‖ (CARVALHO, 2005 apud SARAIVA & SAWYER, 2007, p.2). A devastação do Cerrado também ameaça a oferta de recursos hídricos do país. Considerado ―a caixa dá água do Brasil‖, o bioma concentra as nascentes das bacias hidrográficas do São Francisco Araguaia - Tocantins e do Paraná - Paraguai (RIBEIRO, 2005). O desmatamento recente no Cerrado está concentrado no oeste da Bahia, na divisa com Goiás e com Tocantins, e no norte de Mato Grosso e de Minas Gerais. As áreas coincidem com as regiões produtoras de grãos e de carvão. Os principais fatores do desmatamento, em todo o bioma, estão na expansão das lavouras de cana de açúcar e de soja, além da produção de carvão e das queimadas (naturais ou provocadas). Carvalho (2005), completa que a pecuária também tem contribuído para a destruição do Cerrado, principalmente por causa do modelo de produção extensivo, que chega a destinar mais de um hectare para cada boi. Mapas-base utilizados para a análise temporal dos possíveis desmatamentos, configurados nos mapas 6, 7 e 8, representam em cores a perda do Cerrado. A cor verde indica os remanescentes de Cerrado; a cor vermelha indica áreas de agricultura, pastagem e outras formas de uso (FERREIRA et al., 2007, p.3880). 82 Mapa 06: Base MODIS mapa de remanescentes e uso da terra para o Cerrado. A cor verde indica os remanescentes de Cerrado; a cor vermelha indica áreas de agricultura, pastagem e outras formas de uso. (s/escala). Fonte: FERREIRA et al., 2007, p.3880. Mapa 07: Base PROBIO. A cor verde indica os remanescentes de Cerrado; a cor vermelha indica áreas de agricultura, pastagem e outras formas de uso. (s/ escala). Fonte: FERREIRA et al., 2007, p.3880. Mapa 08: Base SPOT utilizado para análise temporal dos possíveis desmatamentos. A cor verde indica os remanescentes de Cerrado; a cor vermelha indica áreas de agricultura, pastagem e outras formas de uso. (s/ escala). Fonte: FERREIRA et al., 2007, p.3880. Os desmatamentos ocorridos no bioma Cerrado, no período de 2001 a 2005, empregando imagens do sensor MODIS – Produto MOD13Q1 (250 metros) e técnicas de detecção automática de mudanças na paisagem (metodologia do SIAD1). Este estudo compara três mapas-base que retratam o atual estágio de conservação do bioma Cerrado35. 35 FERREIRA et al. (2007).Desmatamentos no bioma Cerrado: uma análise temporal (2001-2005) com base nos dados MODIS - MOD13Q1. Disponível em: <http://marte.dpi.inpe.br/col/dpi. inpe.br/sbsr@80/2006/11.15.21.21/doc/3877-3883.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2011. 83 4.1.2. O Vale do Urucuia A Bacia hidrográfica do rio Urucuia nasce na Serra Geral de Goiás, fronteira desse Estado com Minas Gerais. Suas águas vão deslizando entre morros e chapadões, no sentido oeste-leste até chegar ao rio São Francisco (Velho Chico). Os córregos que formam suas nascentes estão nos municípios de Formosa e Cabeceiras, em Goiás, e Buritis – MG. Geologicamente, a maioria dos tipos de solo dessa bacia é parte da Formação Urucuia, que apresenta idade variável entre 80 e 50 milhões de anos (MENDES, 2011). Mendes (2011) relata que são onze os municípios pertencentes à Bacia do Urucuia: além de Buritis e Cabeceiras, Formoso, Arinos, Chapada Gaúcha, Pintópolis, Uruana de Minas, Urucuia, Riachinho, Bonfinópolis de Minas e São Romão. Localizada na margem esquerda do rio São Francisco – o rio dos currais, da integração nacional e do encontro e desencontro entre mineradores e pecuaristas – a bacia hidrográfica em questão também é integrante do ―Aquífero Urucuia‖. Tratase de um grande reservatório de águas subterrâneas que ainda dispõe de pouquíssimos estudos hidrogeológicos e por isto é pouco conhecido inclusive entre os próprios municípios que ele abrange. Este aquífero ocupa uma extensão de 500 km. Sua área de abrangência começa no Alto Urucuia onde estão os rios formadores desta bacia como o Piratinga e o São Domingos. Sua história é descrita por Mendes (2011): A história do URUCUIA – este grande vale afluente da margem esquerda do rio São Francisco – está diretamente vinculada à colonização do Centro-oeste do Brasil e do Norte de Minas. Com a descoberta de ouro em Minas Gerais em 1694, cresceu progressivamente a penetração de garimpeiros, tropeiros, pecuaristas e aventureiros de toda espécie para o Sertão, sobretudo após a descoberta também do ouro em Goiás e Mato Grosso nas décadas de 1720/1730. Esse fluxo de pessoas e mercadorias transformou o Vale do Urucuia em trevo de contatos entre as regiões mineradoras do Centro-oeste e os Currais do São Francisco, zona de criação de gado que ia do norte de Minas à região Nordeste. Essas relações comerciais, políticas, culturais e até familiares se intensificaram com a oficialização, em 1736, por D. João V, da Estrada Real Picada da Bahia (MENDES, 2002, p.139-144). 84 O Romance de João Guimarães Rosa foi editado pela primeira vez em maio de 1956. Mendes (2011) descreve que, nesta época, o Urucuia era ―povoado‖ por sertanejos vaqueiros, cavaleiros e tropeiros, tocadores de grandes boiadas porque a pecuária era a principal atividade econômica da região. Após a inauguração de Brasília, Distrito Federal, em 1960 a pecuária foi substituída pelo agronegócio, pois os municípios da região são parte da fronteira agrícola que se alarga a partir do Centro-oeste destruindo o sertão (Cerrado), descrito por Guimarães Rosa. Na figura 15, ―braços‖ dos buritis caídos e sombra sob a água fresca, no leito arenoso do Rio ―Feio‖, na entrada do distrito de Serra das Araras. Fig. 15: Rio ―Feio‖, distrito de Serra das Araras - Chapada Gaúcha /MG. Fonte: MOURÃO, 2011.- Equipe da pesquisa. 4.1.3. Povos tradicionais e manejo de recursos naturais As populações tradicionais variam de acordo com cada região do Brasil, apresentando traços culturais que a diferenciam da população em seu entorno; são comunidades tradicionais os "povos indígenas", as comunidades "remanescentes de quilombos", os "caboclos ribeirinhos", as "comunidades tradicionais urbanas", as "populações tradicionais marítimas", que se subdividem em "pescadores artesanais" e os "caiçaras", entre outras, conforme Santana e Oliveira (2005). 85 As populações tradicionais do Cerrado além das comunidades indígenas, incluem também os povos negros ou miscigenados que, por muito tempo, ficaram em relativo isolamento nas áreas deste bioma. Estes aprenderam a retirar do Cerrado recursos para alimentação, utensílios e artesanato. São os quilombolas, geraizeiros, vazanteiros, sertanejos, ribeirinhos. O Ministério do Meio Ambiente reconhece que estas comunidades aproveitam os recursos do bioma geralmente de forma racional, equilibrada e sem prejudicar significativamente os ecossistemas (MMA, 2004). A questão das populações tradicionais merece uma introdução, a fim de precisar a acepção que se deseja dar ao termo, pois sem um acordo comum sobre o conceito, o sentido das palavras, será quase impossível examinar a situação e a importância de tais populações. O novo conceito de populações tradicionais é resultante da preocupação que a humanidade passou a ter como o meio ambiente, nos últimos trinta anos. Conforme Silva (2010), a análise da destruição e da conservação dos recursos naturais, permitiu perceber a existência de populações capazes de utilizar e ao mesmo tempo conservar tais recursos, estes grupos humanos passaram a ser chamados de "Populações Tradicionais". A inserção dos povos tradicionais no contexto do meio ambiente passou a existir a partir da discussão sobre a presença de seres humanos nas ―Unidades de Conservação‖. Os países pioneiros na criação de Unidades de Conservação estabeleceram uma tradição de que dentro das mesmas não poderia haver a presença dos humanos. Porém, conforme Silva (2010), a situação encontrada em países em desenvolvimento, como o Brasil, que apenas há poucos anos criaram suas áreas de preservação e conservação, obrigou a examinar com maior profundidade a relação entre o homem e o meio ambiente. Foi observado que realmente existem populações cuja ação é altamente benéfica para a conservação do meio ambiente. As populações tradicionais também devem tomar consciência de que o meio onde moram deve ser fiscalizado por eles próprios, uma vez que eles vivem de tais recursos naturais, Olmos (2009) relata: 86 Os povos tradicionais têm um histórico impressionante de domesticação de plantas e animais que gerou o que são, efetivamente, novas espécies. Nas Américas, povos pré-colombianos criaram a abóbora, o milho, a batata, a mandioca, o feijão, a pupunha sem espinho, a quinua, a alpaca, a lhama, a cobaia e o cão pelado peruano. Todos são resultado de seleção artificial feita ao longo de milhares de anos, e tremendamente diferentes de seus ancestrais selvagens, as populações alijadas dos núcleos dinâmicos da economia nacional. Ao longo de toda a história do Brasil, adotaram o modelo da cultura rústica, refugiando-se nos espaços menos povoados, onde a terra e os recursos naturais ainda eram abundantes. Foi possibilitada sua sobrevivência e a reprodução desse modelo sociocultural de ocupação do espaço e exploração dos recursos naturais, com inúmeros variantes locais determinados pela especificidade ambiental e histórica das comunidades que neles persistem (OLMOS, 2009, p.1). O grande problema são os vestígios que o ser humano deixa no meio ambiente, como também, algumas espécies que não toleram as atividades humanas e desaparecem. Portanto, é prudente que sejam efetivados investimentos, pesquisas e projetos, que contribuam na capacitação de comunidades tradicionais e moradores agroextrativistas, em regiões próximas a reservas e unidades de conservação. 4.1.4. Populações existentes e a culturalidade no Vale do Urucuia A região do Vale do Urucuia foi cenário de conflito entre os grandes fazendeiros, entre os séculos XIX e XX. Os fazendeiros (coronéis) comandavam grupos de jagunços, entre agregados e vaqueiros, para a guarda de seus patrimônios e disputas territoriais. Os jagunços tornaram-se bandos que guerreavam no sertão em nome de seu chefe, uns aliados outros contra o governo, e se tornaram personagens históricos característicos da região. Pela cultura, até hoje, os personagens dos jagunços permanecem como mito popular, onde vaqueiros e descendentes desta época guardam em seus traços e em sua memória as características herdadas desta cultura. Assim, ainda se observa nas comunidades, características expressas no vestuário, no jeito de falar e de se relacionar, na alimentação, nas rodas de música e de conversa, ou seja, na vida cotidiana do sertanejo (IBAMA/FUNATURA, 2003 apud SOUZA, 2006). Com a ocupação do sertão noroeste mineiro, em meados do século XX, ocorreu um novo fluxo migratório. As mudanças políticas e econômicas do país 87 ocorridas na década de 20 refletiram no modo de vida sertanejo, mudando suas organizações sociais e acabando com o coronelismo. Assim, adveio a migração para a região, principalmente, de outras regiões de Minas Gerais. Este território passou a receber pessoas que buscavam fixar-se em terras pouco povoadas, o que resultou e originou na população mineira hoje existente no local (IBAMA/FUNATURA apud SOUZA). Mas, novas mudanças vieram com o Projeto de Assentamento Dirigido a Serra das Araras - PADSA: Dentro da implementação de políticas agropecuárias para a região de cerrados, a região do noroeste mineiro foi foco de um programa de ocupação territorial chamado Projeto de Assentamento Dirigido a Serra das Araras - PADSA, realizado pela Fundação Rural Mineira – RURALMINAS, um órgão estadual da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Após estudos topográficos específicos e loteamento feito pela RURALMINAS, cerca de dez famílias oriundas do sul do país iniciaram a ocupação ainda no ano de 1976. Este foi o início do cenário que resultou especialmente na Vila dos Gaúchos, atualmente município de Chapada Gaúcha (IBAMA/FUNATURA, 2003; IBGE, 2008, p.2). Muitos foram os desentendimentos ocorridos entre mineiros e gaúchos, e consequentes perdas materiais e culturais. Agricultores gaúchos perderam seus investimentos na agricultura. O plantio de arroz no início do povoamento fracassou em sua grande maioria. A falta de apoio financeiro e de assistência técnica combinou-se com a criação extensiva de gados que circulavam e se alimentavam nas áreas de plantio. O gado, que era criado solto, por fazendeiros e posseiros mineiros residentes nos arredores, teve que ser recuado, Salgado (2010, p.56) apud (ZATZ, 2004). Dentre os principais produtos destacam-se a fava D’anta, a lenha e o carvão, obtidos principalmente por exploração predatória do Cerrado. A população extrativista é basicamente de zona rural e mantêm fortes tradições sertanejas, como os geraiseiros, veredeiros e chapadeiros, além de agricultores familiares, assentados da reforma agrária e comunidades quilombolas (FUNATURA, 2002 apud SOUZA, 2006). O extrativismo vegetal sustentável para o aproveitamento integral dos frutos do Cerrado é ainda incipiente, sendo os produtos coletados geralmente por 88 comunidades tradicionais e destinados ao autoconsumo (SALGADO, 2010) apud (FUNATURA, 2008; MOSAICO, 2009). Na cidade de Chapada Gaúcha, o abastecimento de água ainda é precário. Atualmente, 16 anos de existência como município, há muito para se executar em infraestrutura. Com todos os esforços administrativos, 60% das residências não possuem água encanada e metade do município não há rede de coleta e tratamento do esgoto, ficando a cargo das fossas a destinação do mesmo, conforme Salgado (2010) apud (MOSAICO, 2009). A população do campo reside em habitações sem acabamento a base dos recursos naturais disponíveis no cerrado, apresentando construções que utilizam barros como o adobe e pau-a-pique, e com cobertura de palhas e folhas de buriti, frequentes no meio rural (IBAMA/FUNATURA, 2003). Esta mistura de gaúchos e sertanejos sucedeu em aspecto diferenciado aos hábitos da cidade. A cultura gaúcha está em cada detalhe: nas casas de carnes, churrasco, muita erva-mate, cuia e chimarrão em todos os lugares. Aliás, o chimarrão é comum nas casas e nos ambientes de trabalho. Os times de futebol favoritos são os do Rio Grande do Sul, com o mesmo favoritismo dos times mineiros. Até há pouco tempo os gaúchos somavam 80% da população, atualmente o número já está proporcionalmente menor, em torno de 55%. Hábitos gaúchos foram adotados e se misturam aos mineiros. Os gaúchos carregaram as festas e as danças do sul para os sertões. O tradicionalismo gaúcho é muito forte, mantido pelo Centro de Tradições Gaúchas. A convivência entre os povos está ainda desordenada. Alguns choques entre os hábitos do sul com os dos sertanejos. No livro Grandes Sertões: Veredas, Guimarães Rosa narra os conflitos íntimos do personagem Riboaldo. A luta entre a tradição e o novo. Do mesmo modo, torna-se perceptível no cotidiano deste povo a afirmação do personagem: ―o sertão é dentro da gente‖. Desde 2002, a Prefeitura Municipal de Chapada Gaúcha, juntamente com o apoio de instituições parceiras do município, realizam o projeto ―Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas‖. Este evento idealizado pela Fundação Pró-Natura (Funatura), com o objetivo de sensibilizar os participantes para a preservação 89 ambiental e cultural, promove a valorização e difusão dos conhecimentos tradicionais e as manifestações culturais das comunidades existentes nas proximidades do Parque Nacional Grande Sertão Veredas e outras. O Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas reúne pessoas de outros municípios, estados e países. Em meio aos festejos, encontram-se visitantes, pesquisadores e turistas, conforme imagens da figura 18. Durante todos os dias do evento, o artesanato das comunidades do Vale do Urucuia são destaques, além das diversas atividades culturais, educacionais, ambientais e a variedade de produtos da região. Enquanto ocorrem seminários e debates, apresentações folclóricas e danças de varias origens acontecem no palco, no pátio e entre as barracas de artesanato e de comidas tradicionais. Fig.18: ―X Encontro dos Povos‖ em Chapada Gaúcha (07 a 10/07/2011). Fonte: MOURÃO, 2011. Equipe da pesquisa. 90 4.2. SEGUNDA PARTE - ANÁLISE DA PRODUÇÃO ARTESANAL E DESIGN 4.2.1. Atividades iniciais Na cidade de Belo Horizonte, foi executado o primeiro ciclo de atividades da pesquisa. Efetuaram-se parcerias e contatos para desenvolvimento da pesquisa. Foram contatados profissionais da Fundação Centro Tecnológicos de Minas Gerais, Fundação Botânica de Belo Horizonte, Fundação Helena Antipoff, Instituto Florestal de Minas Gerais, Universidade Estadual de Minas Gerais, Projeto Comunidades Criativas. UEMG, Centro de Imagem e Núcleo de Educação Ambiental da Escola de Design/Universidade do Estado de Minas Gerais, Universidade Federal de Minas Gerais, FM&F Tecnologia e Grupo Arte no Ar. A pesquisa, durante estes procedimentos ganhou identidade, a logomarca que foi utilizada em todo material de divulgação e formulários, conforme figura 17. Durante as etapas de revisão da bibliografia e do estudo de caso, a pesquisa foi denomina ―Design Sistêmico: Sustentabilidade na produção artesanal com Resíduos Vegetais do Cerrado Mineiro‖. A substituição do nome por ―Sustentabilidade na Produção Artesanal com Resíduos Vegetais: Uma aplicação prática de Design Sistêmico no Cerrado Mineiro‖ ocorreu somente após a elaboração da dissertação. Fig.17: Apresentação da Pesquisa – Logomarca criada por Diego Abreu, 2010. 91 Foram realizadas as primeiras consultas bibliográficas, incidindo em sites sobre Cerrado e participando da seleção de apoio a pesquisas sobre o Cerrado e Caatinga - Edital UNICOM. 2010, do ISPN - Instituto Sociedade, População Natureza. A seleção do Município ocorreu após contatos com as prefeituras de Bonfinópolis de Minas, Pintópolis e Chapada Gaúcha, que receberam positivamente a proposta. No entanto, a beleza natural dos distritos e povoados de Chapada Gaúcha, a receptividade e o potencial apresentado para desenvolvimento do artesanato no município, combinaram na seleção. Foram cadastradas as associações e grupos de atividades artesanais, produtores rurais que executam atividades artesanais e parceiros na região. Em cada município, foram contatos as principais associações de produtos rurais e de artesanato. As instituições locais parceiras são: Prefeitura de Chapada Gaúcha, Agência de Desenvolvimento Local, Parque Nacional Grande Sertão Veredas/Fundação Chico Mendes, Parque Estadual da Serra das Araras/IEF, Associação das Bordadeiras e Artesãos de Serra das Araras, Associação dos moradores de Ribeirão de Areia – Grupos Mãos que Brilham, Associação dos moradores de Buraquinhos, Associação dos Quilombolas Santa Tereza, Coop Sertão Veredas, Emater e Instituto Rosa Sertão. Quanto às comunidades que seriam visitadas, foram escolhidas por indicação de moradores. Nestas comunidades, verificou-se que o conhecimento do artesanato é vinculado à agricultura familiar, com incidência de identidade nos produtos. Estas comunidades estão localizadas no setor centro-sul do município, fator favorável para deslocamento entre as mesmas. São elas: Distrito de Serra das Araras, Comunidade Ribeirão de Areia e Comunidade de Buraquinhos. Para contato in loco, utiliza-se o acesso principal, através da rodovia MG-606. Esta rodovia coliga as cidades de Chapada Gaúcha a São Francisco, por travessia de balsa, figura 18. O município está situado a aproximadamente 130 km de distância do município de São Francisco, a 90 km de Arinos, 165 km de Januária, 125 km de Formoso e a 85 km do município de Pintópolis; ressaltando que as vias de acesso não são providas de asfalto. 92 Fig.18: Travessia de balsa do Rio São Francisco – Cidade de São Francisco/MG Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. No percurso, a paisagem é mista entre as plantações de soja e capim ao entorno da cidade de Chapada Gaúcha e os campos de Cerrado que apresentam ao fundo os Chapadões do Parque Estadual de Serra das Araras, próximo ao distrito de Serra das Araras, figura 19. Fig. 19: Trechos da rodovia MG-606, Percurso de São Francisco à Chapada Gaúcha/MG. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. 93 No mapa 9 destacam-se a localização das comunidades no Município de Chapada Gaúcha. Comunidade de Buraquinhos Distrito de Serra das Araras Comunidade de Ribeirão de Areia Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Acari. Mapa 9: Localização das comunidades Selecionadas. Mapa oficial do Municipal de Chapada Gaúcha. 2007 Fonte: Instituto Geociências Aplicadas. Secretaria do Estado de Ciência Tecnologia e Ensino Superior. Estado de Minas Gerais, 2007. 94 4.2.2. Registros sobre o comércio de resíduos vegetais Nos últimos anos, para produção artesanal, tem aumentado a comercialização de novas sementes e folhas com colorações diferenciadas no Mercado Central de BH. Observou-se que os artesãos das cidades próximas à Capital Mineira adquirem resíduos vegetais beneficiados para o artesanato, do Mercado Central de Belo Horizonte. A Feira de Arte e Artesanato de Belo Horizonte36 acontece sempre aos domingos, com aproximadamente 2.500 expositores. Nesta feira, objetos de todos os setores artesanais são comercializados, inclusive peças decorativas e utilitárias com resíduos vegetais. Sementes, flores e folhas desidratadas e pigmentas são insumos para o artesanato. São retirados da natureza sem identificação da espécie vegetal, da área de procedência e do manejo no extrativismo. Artesãos das regiões metropolitanas adquirem a matéria prima para confecção de seus produtos do Mercado Central de BH (Mercado Municipal de Belo Horizonte), lojas de produtos para artesanato e sites especializados. Para selecionar insumos comercializados, quais espécies são oriundas do Cerrado, foi elaborada uma tabela com resíduos vegetais mais populares no comércio em Belo Horizonte. A Tabela completa com os nomes populares, imagens e valores de comercialização encontra-se no ―Apêndice F‖ desta pesquisa. Foi verificado que mesmo com a montagem de uma tabela, não resolve a questão da identificação da espécie vegetal. Muitas vezes o nome da semente no comércio de artefatos para artesanato, não corresponde ao nome popular da planta. Um dos exemplos é a planta ―Ginkgo biloba‖, é uma planta chinesa, com semente muito diferente da encontrada no Mercado Central de BH. Outras vezes, não se encontra na literatura nomes de espécies que se assemelham com o nome encontrado no comércio de resíduos vegetais. 36 A "Feira de Arte e Artesanato de Belo Horizonte" ou ―Feira Hippie‖ acontece sempre aos domingos, na Avenida Afonso Pena, entre os quarteirões de cruzamento da Rua da Bahia até a Rua Guajajaras, em frente ao ―Parque Municipal Américo Renné Giannetti‖, centro de Belo Horizonte – MG. Esta feira é tradicional desde os anos 70, considerada patrimônio turístico da Capital, atendendo hoje a mais de 2.500 expositores. Site <www.feiradearteseartesanato.com>. Acesso em: 20 jun. 2011. 95 Considera-se importante acompanhar as coletas dessas matérias primas, bem como folhas, flores e frutos, e destiná-las à identificação de botânicos. O resíduo vegetal pode ser familiar aos olhos dos pesquisadores, mas é necessário conhecimento técnico na área, para identificação correta da origem da planta. Utilizando o registro dos insumos vegetais para produção artesanal, foram identificados três estabelecimentos que comercializam produtos, insumos e resíduos vegetais do Mercado Central de Belo Horizonte. Nestas lojas são comercializadas palhas, sementes e outros materiais para artesanato. Os consumidores são artesãos que residem na região metropolitana de Belo Horizonte e da Feira Livre de Belo Horizonte. Os responsáveis dos estabelecimentos foram entrevistados e apresentam-se identificados como A – B e C. Conforme figura 20, as perguntas da pesquisa e respostas dos comerciantes foram: Perguntas sobre os insumos 1. Conhece os nomes das espécies vegetais (resíduos vegetais) que são comercializadas? 2. Estes insumos são adquiridos de pessoas físicas ou de empresas, associações e cooperativas? 3. Qual a região de procedência? 4. Sabe como são coletados? 5. Os fornecimentos destes insumos variam por estações do ano? 6. O fornecimento de algum tem diminuído ou deixou de ser comercializado? 7. Um catálogo com os nomes das espécies vegetais para o artesanato ajudaria as atividades comerciais? Comerciante A Comerciante B Comerciante C Somente nome popular. Somente nome popular. Alguns nomes científicos. Cooperativas, pequenas empresas. Empresas e distribuidor da Amazônia (Açaí). Cooperativas, pequenas empresas e sítio próprio. Sete Lagoas, Diamantina e Barbacena. Sim, períodos de seca. Cidades próximas à Capital. Sim, períodos de seca. Não tem certeza. - Sim, controle extrativista. Sim, controle extrativista. Não Sim, as sempre-vivas. Sim, as Sempre-vivas. Não. Sim, seria muito bom. Sim, ajudaria também a informar os clientes. Sim, com certeza. Fig. 20: Quadro de perguntas e respostas dos comerciantes de insumos e resíduos vegetais para produção artesanal do Mercado Central de Belo Horizonte. Jun/ 2010. Fonte: MOURÃO, 2011. 96 Análise das perguntas e respostas dos comerciantes de resíduos vegetais: a) Os comerciantes entrevistados, A e B, de lojas do Mercado Central de BH, coincidiram com as respostas sobre o não conhecimento dos nomes das espécies. Relataram que a maior parte dos insumos é proveniente de pequenas empresas e coorporativas. Os mesmos também produzem materiais para comercialização. b) As regiões dos fornecedores são o Cerrado Mineiro, como Município de Sete Lagoas e distritos do município de Diamantina. As plantações são para o extrativismo destes insumos, sendo que a coleta de sementes e folhas depende das estações. Não existem dificuldades com o fornecimento de insumos, mas as flores Sempre-vivas diminuíram e estão mais caras. c) Os três comerciantes são a favor de ter um catálogo, com nomes científicos e fotos das espécies e dos resíduos vegetais. Um dos problemas na comercialização é que as pessoas não sabem os nomes ou o nome popular é diferente em cada região. Muitos consumidores compram escolhendo as sementes e folhas in loco ou descrevem as características do produto para a compra. d) O comerciante C, respondeu quase tudo ao contrário dos demais, coincidindo apenas que as aquisições são por empresas e cooperativas, e que seria bom um catálogo geral. Foram consultadas duas empresas que realizam a comercialização de resíduos vegetais e insumos por site. Faz-se necessário esclarecer que foram contatos oito sites, mas que somente duas responderam. A consulta foi realizada diretamente no ―fale conosco‖ dos sites. Foi perguntado se as mesmas conhecem o nome das espécies vegetais que fornecem os resíduos vegetais e insumos comercializados e a procedência dos mesmos. Responderam que aproximadamente 2/3 dos materiais provêm da Amazônia, como o caso da semente de Açaí. Mas que também recebem materiais do Cerrado e da Mata Atlântica. As duas empresas são especializadas em produtos para o artesanato com resíduos vegetais e conhecem alguns nomes científicos. 97 Alguns materiais, como o ―Tingui‖, recebem nomes variados em cada empresa. Os registros dos materiais cadastrados nos sites consultados no ―Apêndice A‖. 4.2.3. Contexto econômico, sócio, cultural e ambiental Previamente, foi realizado um levantamento de dados por questionários estruturados, conforme modelo utilizado pelo ―Projeto de Implantação de Unidades de Beneficiamento e Comércio de Produtos Oriundos da Base Produtiva Local‖. Este levantamento se constituiu em ―Diagnóstico socioambiental com os produtores e suas famílias‖ e ―Caracterização física, ambiental e econômica da propriedade‖. Efetuou-se análise do diagnóstico geral do perfil dos produtores e da situação física da região, em parceria um dos projetos37 do CETEC/MG. Desenvolveram-se duas planilhas, sendo uma com as informações sociais, econômicas e ambientais dos trabalhadores rurais que também executam atividades artesanais, e outra com informações ambientais das propriedades nas comunidades. A partir das planilhas elaboradas, criaram-se os gráficos representativos das informações coletadas - período de 2010 a início de 2011. Estes dados são parte do ―Projeto de Implantação de Unidades de Beneficiamento e Comércio de Produtos Oriundos da Base Produtiva Local‖, com concessão dos resultados à pesquisa. A pesquisadora atuou neste projeto. Elaborou-se um banco de dados a partir do levantamento das informações obtidas pelos questionários do diagnóstico e inseridos em planilha com os dados participantes do curso. Os participantes executam funções de trabalhadores rurais, agroextrativistas e artesãos. Os dados deste levantamento, executado em Janeiro/2010, serviram de suporte à estrutura da pesquisa. Foram cadastrados e entrevistados 35 moradores e pessoas que atuam com o público local (voluntários). As entrevistas foram realizadas com os participantes dos cursos de Manejo e beneficiamento dos frutos do Cerrado, que residem em áreas diversas do município. Foi realizada uma visita à 37 Projeto de Implantação de Unidades de Beneficiamento e Comércio de Produtos oriundos da Base Produtiva Local – Convênio nº. 411/2007, parceria CETEC/MG. 98 comunidade de Serra das Araras, e à comunidade do Rio Catarina para verificação de dados registrados. No quadro da figura 21, apresentam-se os resultados do diagnóstico em Chapada Gaúcha, coletados em Janeiro de 2010, analisando a renda familiar dos trabalhadores rurais: Das 35 (trinta e cinco) famílias cadastradas, 24 pessoas (70 %) responderam que a renda familiar não passa de um salário mínimo. Que conseguem mensalmente rendimentos até dois salários mínimo foram 6 (seis) entrevistados (17%). E somente 5 (cinco) pessoas (12%) possuíam rendimentos superiores a dois salários mínimos. A renda com artesanato não foi contabilizado, pois os trabalhos artesanais não influenciam na manutenção da comunidade rural. Fig.21: Gráfico de Renda dos Trabalhadores Rurais cadastrados em CG – MG, em Janeiro 2010. Fonte: CETEC/Equipe do projeto, 2010. Quanto às condições sociais das famílias cadastradas, foi verificado que as condições de moradia são de precária a simples (casas de cobertura de palhas, sem energia elétrica, baixas condições de saneamento e pouco conforto em mobiliário), conforme o nível salarial. Entre os entrevistados com filhos, 31 pessoas declararam que os filhos (de 6 a 18 anos) frequentam a escola. Quatro pessoas responderam que as crianças não frequentam a escola por problemas particulares. Quanto à saúde, 28 pessoas dependem do posto no município, as outras sete utilizam os serviços médicos de outro município ou recurso próprio. Mas, todos já 99 utilizaram algum medicamento caseiro e confiam nos chás ensinados por antepassados. Quanto ao meio ambiente, os 35 entrevistados conhecem todos os rios que passam próximo às residências. Destes, 19 pessoas se preocupam com as condições dos rios, 11 pessoas sabem dizer se houve mudança no meio ambiente (a quantidade de água tem diminuído) e 5 pessoas declararam que não perceberam mudanças. Os 35 entrevistados conhecem os eventos religiosos e culturais que acontecem no município, já participaram de algum deles ou participam. São os eventos da Festa das Folias de Reis nas comunidades, a Festa de Santo Antônio de Serra das Araras, e o evento anual do Encontro dos Povos. Outras datas da Igreja Católica foram citadas como Semana Santa, Dia de Nossa Senhora Aparecida, Corpus Christi e o Natal. A Reserva Ambiental do Acari, figura 22 garante a subsistência e vegetação utilizada nas comunidades próximas à região. O gerente da Reserva Estadual Veredas do Acari e do Parque Estadual Serra das Araras, Cícero de Sá Barros, declara que é necessário orientar sempre a comunidade sobre a forma adequada para a extração de materiais e evitar incêndios. Fig.22: Imagens das espécies vegetais, no Distrito de Serra das Araras. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. 100 Os agentes do IEF monitoram a região. A associação de bordadeiras de Serra das Araras solicita a coleta dos resíduos vegetais aos agentes do IEF na reserva do Acari – que mantêm o controle recursos naturais. 4.2.4. Artesanato na Comunidade de Buraquinhos Localizada na zona rural do município de Chapada Gaúcha, a comunidade de Buraquinho é reconhecida e citada regionalmente por sua beleza paisagística e pela riqueza cultural de seus moradores. Constituída por uma população familiar de origem quilombola, Buraquinho situa-se no Corredor Ecológico Vão dos Buracos, área de ligação entre o PNGSV e o PESA, apresentando fatores extremamente relevantes para a riqueza socioambiental da região (IBAMA/FUNATURA, 2003). A estrada da Comunidade de Buraquinhos é bastante sinuosa e íngreme até a rodovia MG-606, conforme mapa 10. Esta comunidade está localizada a 25 km de distancia da cidade de Chapada Gaúcha. Mapa 10: Localização da Comunidade de Buraquinhos. Fonte: Centro de Geociências do Estado. MG, 2007 101 Pela complexidade de acesso à comunidade de Buraquinhos, para cadastrar e acompanhar o trabalho de artesanato na comunidade esperou-se o período sem chuvas, conforme figura 23. Leva-se em média, uma hora do Centro de Chapada Gaúcha a Buraquinhos, com veículo apropriado para o terreno. O tempo da trajetória é relativo. Algumas vezes, deve-se esperar a passagem de uma boiada ou carroças. Fig.23: Imagens da estrada para Comunidade de Buraquinhos. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. Em Buraquinhos, figura 24, a comunidade encontra-se geograficamente dispersa. As casas ficam dispostas ao longo do rio Pardo, guardando a devida distância de segurança contra cheias. São, na maioria, casas de adobe e cobertura de palha de buriti. Fig.24: Chapadão da Comunidade de Buraquinhos. Fonte: MOURÃO, 2011.- Equipe da pesquisa. 102 As casas não possuem água encanada, tratamento de água e instalações sanitárias adequadas, figura 25 e 26. Devido ao programa ―Luz para Todos‖, algumas casas possuem energia elétrica. (O programa chegou à região a partir de 2010). Mas, algumas ainda não têm energia elétrica, ocasionando o desconforto do trabalhador rural, como por exemplo a falta de geladeira para melhor conservação dos alimento. Para limpeza, higiene pessoal ou para lavagem de louça e de roupa a água é transportada pelos moradores, diretamente nas águas do Rio Pardo, próximo da comunidade. Fig.25 : Imagem do interior de residência - comunidadede Buraquinhos. Fonte: MOURÃO,2011 – Equipe da pesquisa. Fig. 26: Imagem da fachada de uma das residência em Buraquinhos. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. 103 A comunidade vive do plantio de mandioca, milho, feijão, arroz, entre outras hortaliças. Executam atividades manuais e principalmente produtos artesanais, pois a região é bastante acidentada geograficamente e rica em buritis. Assim, para os artesãos produzirem esteiras e outros objetos, basta que saiam de dentro de casa. Os buritis estão logo ali, no entorno das residências. Por se tratar de uma comunidade dispersa com casas distando em média 200 a 300 metros, avisou-se antecipadamente que haveria encontros entre o grupo de pesquisa e o grupo de artesãs, que se reúnem na sede da associação. Foram cadastrados 9 (nove) artesãos, oito mulheres e um homem, presidente da Associação de moradores e artesãos de Buraquinhos e da Associação dos Quilombolas de Santa Tereza. As oito senhoras que foram cadastradas são donas de casa, produtoras rurais e artesãs. A abordagem para a entrevista foi em grupo, apresentando o tema e a proposta da pesquisa. Cada artesã entrevistada apresentava seu trabalho e suas técnicas para todos os presentes. Registros de foto-vídeo foram realizados com autorização das participantes. Jovens, crianças e outras pessoas da comunidade se reuniram para assistir. No final, algumas dúvidas sobre técnicas artesanais foram prestadas ao público presente. Em outra oportunidade, três residências foram visitadas com intuito de verificar o processo de extração de matérias e como são os mobiliários do buriti confeccionados para uso próprio. Na comunidade de Buraquinhos, a produção de esteiras de buriti é um ritual passado de gerações a gerações. Ninguém sabe ao certo quem começou a fazer as esteiras de buriti, mas como comunidade tradicional, eles mantêm a cultura artesanal. Uma artesã mostra como deve ser o corte da palha, sem perda de material, conforme figuras 27. Foram encontradas as espécies de Pau Santo, Pau Doce e Urucum durante as visitas. A técnica de produção artesanal de esteiras, figura 28, é utilizada para quase todos os produtos executados: Caminhos de mesa, suporte para panelas, revestimento de pisos, paredes e forro de telhados, divisórias, e outros, com a palha do buriti. Também usam a técnica de corte, encaixe e pegos com os talos (pecíolo) 104 da folha do buriti, para confecção de bancos grandes e pequenos, camas, prateleiras, e outros objetos utilitários de residências. Fig. 27: Artesã apresenta a palha do buriti para produção de esteiras na comunidadede buraquinhos. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. . Fig. 28: Artesãs e produção de esteiras - comunidadede Buraquinhos. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. A comercialização do artesanato é precária, não há um local devido para estocagem dos produtos. Assim, geralmente só fazem o artesanato por encomenda. Valorizam mais o trabalho na lavoura e aproveitam os resíduos para alimentação de animais ou como adubo. Um fator interessante em Buraquinhos é a frequência destas senhoras à escola. Elas estão no Curso de Alfabetização para Jovens e adultos e se orgulham de assinarem a ficha de cadastro. 105 4.2.5. Cultura e artesanato na Comunidade de Ribeirão de Areia São percorridos 21 km, do centro da cidade de Chapada Gaúcha até a comunidade de Ribeirão de Areia. Esta comunidade situa-se no lado oposto da rodovia MG-606 em relação à comunidade de Buraquinhos, conforme mapa 11. A estrada é arenosa com travessia do córrego do Sucuri, em alguns trechos. Mapa 11: Acesso à Ribeirão de Areia. Fonte: Instituto de Geociências do Estado. MG , 2007. A comunidade de Ribeirão do Areia é composta por famílias numerosas e muito unidas, que trabalham na lavoura e pecuária. Produz milho, feijão, hortaliças, e varias frutas do Cerrado, como: pequi, buriti, gagaita e outros. Possuem gado leiteiro e cabras. Na produção artesanal executam trabalhos com tecidos, palhas, madeiras diversas e da palmeira do buriti. Realizam encontros para desenvolverem as atividades na Associação dos Moradores de Ribeirão de Areia, figura 29. 106 Fig.29: Comunidade de Ribeirão do Areia. Fonte: MOURÃO, 2011.- Equipe da pesquisa. Por ser uma região de gado leiteiro, foi construída uma Central Comunitária de resfriamento de leite que atende à produção da comunidade, figura 30. Fig. 30: Central de Resfriamento de Leite na Comunidade de Ribeirão do Areia. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. O grupo de artesãos realiza encontros semanalmente na sede da associação comunitária de Ribeirão de Areia. Os artesãos preferem trabalhar juntos, trocando conhecimentos, experimentando novas técnicas e contando casos, figura 31. 107 Fig.31: Encontros semanais dos artesãos da comunidade de Ribeirão de Areia. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. Nos encontros, os artesãos tratam também das atividades culturais da comunidade, com distribuição de tarefas, figura 32. Depois das atividades, sempre tem um lanche comunitário com a colaboração de todos, figura 33. O estabelecimento de contato prévio com a presidente da ―Associação Comunitária de Ribeirão de Areia‖ favoreceu a presença e participação de todos. Foram cadastrados 22 (vinte e dois) artesãos. Fig. 32: Artesãs dividindo tarefas da comunidade. Fig. 33: Lanche comunitário após as atividades artesanais. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. 108 A abordagem aos artesãos para as entrevistas deu-se especialmente no galpão aberto da associação. Neste encontro, artesãos e seus produtos e técnicas foram apresentados à pesquisa. Na associação comunitária também foi criado o Grupo ―Mãos que brilham‖ que realiza artesanato com materiais diversos. Na figura 34, demonstração da técnica de tranças para produção artesanal de vários objetos. Fig. 34: Técnica de corte em cabaça e de tranças para produção artesanal. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. A característica mais marcante de Ribeirão do Areia é a religiosidade. A construção de uma nova ―Capela de Nossa Senhora Aparecida‖ foi uma das ações da comunidade, em parceria com outras instituições e prefeitura municipal de Chapada Gaúcha, conforme figura 35. Fig. 35: Capela de Nossa Senhora Aparecida em Ribeirão de Areia. Fonte: MOURÃO, 2011.- Equipe da pesquisa. 109 A Folia de Santo Reis é uma das mais tradicionais festas típicas na região, na qual os foliões se deslocam de fazenda em fazenda por um período de seis dias, de 01 a 06 de janeiro, celebrando os Três Reis Magos e seu simbolismo religioso. Todos os eventos religiosos são comemorados com muita tradição; a participação da comunidade é um destaque, pois geralmente, nestas festas, muitas turistas e amigos visitam a cidade. Em todas as festas a reverência ao sagrado é observada, sendo fonte riquíssima da cultura tradicional, que consideram a prática religiosa desta data um de seus costumes mais sagrados. Enquanto o evento acontece, os moradores e visitantes se confraternizam, proporcionando o reencontro entre parentes e amigos. A população, ao dançar, beber, comer com fartura, cantar e se divertir, não se afasta do motivo sacro mesmo estando relacionada com o profano. A dança e a música tradicionais praticadas na Folia de Reis são a curraleira e o lundu, manifestações artísticas locais que têm sua origem na cultura afro-brasileira (IBAMA/FUNATURA, 2003). A Folia de Reis é uma das tradições que mais atrai visitantes em Janeiro, conforme figura 36. As famílias da comunidade se organizam durante o ano para este evento. Muitos instrumentos musicais foram confeccionados em função da cultura local de tocar viola. Fig. 36: Folia de Reis na casa do Mestre Jonas. Fonte: GOMES, 2010. - arquivos da família Ribeiro Gomes. 110 Constatou-se nas visitas, que também existem espécies vegetais para produção artesanal. Além do buriti, foram encontrados: Pau-doce, Pau-santo, Baru, Falso Pau Brasil, Guatambu, Chapéu de Napoleão, Tingui, Jatobá e Jacarandá do campo. Algumas sementes são utilizadas para a produção de biojias. Uma das artesãs experimenta as sementes que encontra para a produção de biojoias, conforme figura 37. Ela diz que vê as sementes em outros colares fabricados fora da comunidade e observa que pode aproveitar as sementes, cascas e raízes que estão próximas a sua residência. Não conhece o nome científico de nenhuma delas, mas conhece vários ―apelidos‖ que a planta tem. Declara que não aprende sozinha, nos experimentos que ela mesma cria - ―se ficar bonito a gente vende aqui e em São Paulo também‖. Esta sempre atenta às oportunidades de feiras, festas e exposições que pode levar seus produtos para vender. Fig. 37: Biojias de artesãs da Comunidade de Ribeirão de Areia. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. Um dos membros da comunidade, Sebastião Gomes, se destaca pela produção de rabecas, figura 38, com madeiras da região, ultimamente ele tem usado uma madeira conhecida como ―Mata-cachorro‖. Além do conhecimento herdado de gerações e desenvolvido ao longo dos anos, Tião (como é conhecido) é violeiro e ensina aos mais jovens a experiência adquirida. Todo este saber se justifica pela Folia de Reis, aos quais os membros da família conservam por muitas gerações. 111 Fig. 38: Rabeca de madeira mata-cachorro, confecção de Sebastião Gomes. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. 4.2.6. Serra das Araras: comunidade e artesanato No caminho da cidade de São Francisco à Chapada Gaúcha, atravessa-se o Distrito de Serra das Araras, que se distancia 40 km de Chapada Gaúcha, mapa 12. A rodovia MG-606 é sinuosa e com trechos de muito cascalho, figura 39. Mapa 12: Mapa da Localização do Distrito de Serra das Araras. Fonte: Instituto Geociências do Estado – MG, 2007. 112 Fig. 39: Rodovia MG 606, percurso Chapada Gaucha a Serra das Araras. Fonte: MOURÃO, 2011. - Equipe da pesquisa. Próximo ao distrito, figura 40, avista-se ao fundo as chapadas do Parque Estadual Serra das Araras. Fig. 40: Serra das Araras Fonte: MOURÃO, 2011.- Equipe da pesquisa. O distrito é plano e está sendo pavimentado. Alguns registros fotográficos, figura 41, foram realizados no distrito de Serra das Araras, as residências são de tijolo, possuem rede elétrica e equipamentos, como geladeira e televisão. Uma antena atende a uma rede de telefonia celular. 113 Fig. 41: Imagem do Distrito de Serra das Araras Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. A Vila de Serra das Araras, reconhecida por seu povo pacato, é uma das principais localidades do município, constituindo um importante elemento histórico, cultural e ambiental para o mesmo. Com cerca de 1.000 habitantes, o distrito é ponto de passagem para viajantes que cruzam a chapada em direção ao norte de Minas Gerais e os que a ela retornam. Ainda com forte ligação com o município de São Francisco, do qual era distrito até o ano de 1996, sua demanda de apoio de comércio e serviços se dá especialmente com a região norte mineira, com destaque para a cidade de Januária (SALGADO, 2010 apud ZATZ, 2004). Sua origem, fortemente marcada na memória popular, é vinculada a Santo Antônio, o padroeiro da comunidade. Segundo consta, há cerca de 100 anos (com relatos de até 150), um vaqueiro encontrou a imagem do santo no alto da Serra. Emocionado ele a levou para sua casa, mas na manhã seguinte a imagem havia desaparecido. Este fato se repetiu várias vezes até que a comunidade construiu uma capela e um padre a benzeu, fazendo com que a imagem permanecesse no local, angariando desde então procissões e homenagens ao santo padroeiro (IBAMA/FUNATURA, 2003). As romarias ao santo padroeiro impulsionaram o agrupamento humano inicial ocorrido na localidade. Em adição ao papel religioso em seu processo de formação, o distrito de Serra das Araras também foi povoado com o advento de novas culturas e lavouras para a região, que atraíram inúmeros trabalhadores locais, incentivando- 114 os a saírem da zona rural para morarem no distrito. Nesse período o distrito cresceu e progrediu com a implantação de empresas e o aquecimento de sua economia. Esta nova forma de cultivo provocou o crescimento especialmente em Serra das Araras, local onde muitos trabalhadores mineiros se instalaram e firmaram residência. A Vila foi ampliada e a estrada que liga Januária à Chapada foi refeita e ampliada (SALGADO, 2010, p.64 apud ZATZ, 2004). A festa é motivada por três tipos diferentes de público: os devotos que participam das celebrações religiosas; os visitantes que são atraídos pela movimentação e pelas festas noturnas e os comerciantes que trazem artigos e produtos de centros urbanos para vender à comunidade local. Estes públicos formam um grande contingente de pessoas agitando a vida cotidiana local, durante os dias festivos. O encontro dos diferentes públicos tem gerado certo desconforto, especialmente nos religiosos, precursores da festa, prejudicados pela música alta em todos os momentos (IBAMA/FUNATURA, 2003). Todos os eventos religiosos são comemorados com muita tradição; a participação da comunidade é um destaque, pois geralmente, nestas festas, muitas turistas e amigos visitam a cidade, conforme figura 42. Fig. 42: Barracas da Festa de Santo Antônio - Serra das Araras. Fonte: Portalchapadagaucha.com. Disponível em: http://www.chapadagaucha.com/index.php?option=com_morfeoshow& task=view&gallery=10&Itemid=69.> . Acesso em: 10 out. 2010. 115 A comunidade produz alimentos para manutenção e comercialização. Os produtores vivem do calendário do plantio e da coleta, fato que deixa lacunas para falta de ocupação. É comum, nestes períodos, encontrar muitos homens na praça da igreja de Santo Antonio, em diversas horas do dia. A associação de bordadeiras, formadas por donas de casa artesãos e com a participação de poucos homens artesãos na comunidade, trabalham sob encomenda, além da confecção de produtos para a loja da associação. Bolsas, blusas, quadros e outros produtos de tecido e bordado, podem ser encontrados para venda ou encomendados. A associação também produz ótimos trabalhos com o buriti. No Distrito de Serra das Araras, foram cadastrados 9 (nove) artesãos, membros atuantes da Associação de Bordadeiras e artesãos de Serra das Araras, figura 43. A associação informou-nos que existem muitos membros que realizam a filiação, mas que não atuam. Fig. 43: Artesãs da Associação de Bordadeiras e Artesãos de Serra das Araras. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. A ―Associação das Bordadeiras e Artesões de Serra das Araras‖ desenvolve produtos que valorizam a cultura e os saberes tradicionais. Alguns bordados são confeccionados a partir de desenhos criados por alunos das escolas municipais do distrito, figura 44, retratando as paisagens e as araras locais. A moldura é feita das ripas de buriti. Em relação aos produtos com resíduos vegetais dos buritis, são popularmente conhecidos os terços, as flores, os cestos, as esteiras e os bancos, comercializados pela associação. 116 Fig.44: Quadro bordado da paisagem de Serra das Araras, com moldura de buriti, da Associação de Bordadeiras e Artesãos de Serra das Araras. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. Os produtos da Associação de Bordadeiras e Artesãs de Serra das Araras já receberam orientações do SEBRAE, através do Projeto Artesol, realizado com artesãos da região na montagem da associação, figura 45 e 46. O grupo produz: esteiras, cestos, caixas, terços, flores, araras, brinquedos e outros. Para a produção destes objetos, o IEF acompanha a extração dos ―talos‖ secos de buritis, que estão localizados na Reserva do Araci para o Desenvolvimento Sustentável. As soluções para a extração e produção são geradas no próprio grupo. Fig. 45: Produtos da Associação de Bordadeiras e Artesãos de Serra das Araras Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe Pesquisa. Fig.46: Vaso e flores desenvolvidos pelo Projeto Artesol. Associação das Bordadeiras e Artesões de Serra das Araras. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe pesquisa. 117 Para produção artesanal o grupo realiza encontros diários na associação, que possui uma loja para comercialização dos produtos. O galpão e a loja são mantidos pela prefeitura municipal de Chapada Gaúcha, que aguarda o desenvolvimento da instituição para assumir seus compromissos financeiros. A presidente da associação relata que as encomendas e vendas ainda não são suficientes para o grupo. Mas, com as máquinas de costura que conseguiram através de um projeto do IEF, algumas encomendas de bordados em sacolas, camisetas, almofadas, entre outros, já podem ser atendidas. O grupo é respeitado na região, recebendo indicações por instituições parceiras e pelo grupo de Urucuia. Nas imagens, figura 47, artesãos na Associação de Bordadeiras e Artesãos de Serra das Araras, em atividade para produção artesanal de objetos diversos. Fig. 47: Técnicas para produção das flores de talos de buriti. Associação de Bordadeiras e Artesãos de Serra das Araras. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da Pesquisa. Das técnicas e materiais empregados, utilizam tecidos e linhas para confecção dos bordados, em bolsas, camisetas de malha e outros adornos. Aproveitam a palha e os talos de buriti para os demais objetos e molduras dos bordados em quadros. Estão experimentando outras sementes e folhas na produção artesanal, como Falso-Pau-Brasil, Pau Santo e Pau Terra. Mas, ainda não sabem como coletá-los ou adquiri-los. 118 4.2.7. Oficinas de Design, Cultura e Identidade O termo ―oficinas‖ refere-se à aplicação de atividades que promovam o conhecimento, em curto tempo38; aprendizado e prática são executados no ambiente sugerido. Neste caso, desenvolveu-se uma proposta sintética com conteúdos básicos de design, cultura e identidade, especificamente para o público das comunidades da pesquisa. A proposta didática foi elaborada, visando promover para o protagonismo da comunidade, com base na experiência dos métodos praticados pela pesquisadora designer e professora arte educadora. A programação das oficinas se divide em duas etapas: Primeira etapa: são desenvolvidas atividades para sensibilização e observação do contexto socioambiental, através de elementos para percepção das cores, texturas, formas, ambiente e da cultura. Segunda etapa: aplicam-se atividades práticas, utilizando resíduos vegetais coletados pelos participantes. Nesta prática, são observadas as técnicas, a percepção espacial e criatividades na utilização dos materiais empregados pelos artesãos. Estas atividades visam estimular a participação ativa da comunidade, como intervenção no contexto social, para possibilitar a solução de dificuldades provenientes da realidade da região. As oficinas possibilitam ao pesquisador observar o grupo no desenvolvimento das atividades artesanais (materiais e técnicas), na apropriação dos conteúdos e da identidade. Têm como objetivo a integração dos participantes, incentivando-os para troca de informações com a equipe do projeto. São registrados os resultados da percepção ambiental, que contribuem aos artesãos, a conhecerem melhor o meio ambiente no qual estão inseridos. 38 O tempo de uma oficina depende da relação entre o conteúdo e público alvo. Fatores como número de participantes, material e recursos também alteram o tempo de duração. Uma oficina arte educação para auxiliar no desenvolvimento das técnicas artesanais para adultos analfabetos na área rural, por exemplo, necessita de 3 ou 4 encontros de 4 horas seguidas. A mesma oficina para adulto alfabetizados, no perímetro urbano,necessita de apenas uma tarde. 119 Para cada comunidade foi identificado, através das visitas técnicas, alguns costumes relacionados com as tradições e atividades culturais. Observou-se quais os conhecimentos de produção artesanal e conceitos sociais, culturais e ambientais, estabelecendo vínculo com os produtos artesanais. O material didático foi preparado com a participação das lideranças. Verificouse a compatibilidade com a realidade local, oferecendo conteúdos que pudessem auxiliar no desenvolvimento dos produtos artesanais. a) Oficina de Design em Buraquinhos Na comunidade de Buraquinhos, a oficina do design ajudou aos artesãos a identificarem novas possibilidades para estamparem as esteiras, utilizando pigmentação natural. Foi verificado que existe a possibilidade de utilização dos materiais locais para coloração da fibra do buriti. Eles possuem habilidades executarem um acabamento de qualidade nos produtos, dependem apenas de orientação. Na figura 48 estão os ―caminhos de mesa‖ de palha de buriti, confeccionados pela comunidade. Fig. 48: ―Caminhos de mesa‖ de palha de buriti. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. 120 O artesão, conhecido como ―Tico‖, experimentou criar novos produtos como cofre de buriti e pássaros da região. Relatou que o cofre é uma necessidade própria e os pássaros são os bens da natureza que ele admira muito, figura 49. Fig. 49: Produtos da comunidade de Buraquinhos - Cofre e Arara de buriti. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. b) Oficina de Design em Ribeirão de Areia Em Ribeirão do Areia, o destaque é a Folia de Reis. Todos os anos, muitas pessoas se deslocam para acompanhar o evento na comunidade, que segue a tradição de várias gerações. Assim, a Oficina de Design, para comunidade e membros da ―Associação dos Artesãos de Ribeirão do Areia‖, buscou as características dos foliões da folia de Reis. A Mandela, figura 50, pode ser uma representação simbólica do altar ou da luz. Os produtos artesanais devem receber detalhes que identifiquem a comunidade local e sua cultura, conforme a figura 51. A presidente da associação relata que os artesãos precisam de mais orientação. Pois, eles executam o que vêm em feiras de artesanato em outras regiões ou através dos programas de televisão. É preciso valorizar suas origens, identidade e riqueza do território. O conhecimento de técnicas adequadas e da cultura local poderá contribuir para o desenvolvimento dos produtos artesanais com identidade. 121 Fig.50: Mandala de palha de buriti e bananeira. Foto: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. Fig. 51: Alguns produtos artesanais de Ribeirão de Areia Fotos: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. 122 c) Oficina de Design em Serra das Araras Em Serra das Araras, o componente de destaque na cultura local é a Romaria e Festa de Santo Antônio. Além dos rituais religiosos, o evento promove encontro de várias comunidades e feiras para venda de produtos, inclusive imagens de Santo Antônio. É importante destacar que as imagens de Santo Antônio são esculpidas de vários tamanhos, dos braços de buriti. A Oficina de design realizada na ―Associação das Bordadeiras e artesões de Serra das Araras‖, figura 52, estimulou o desenvolvimento de oratórios para compor e adequar às imagens de Santo Antônio. As artesãs verificaram que as imagens necessitavam de adequação na apresentação e embalagem. Após as orientações fornecidas durante as Oficinas de design, as artesãs optaram pela criação de oratório para as imagens de Santo Antonio, com o mesmo material (talos de buriti). Esta alternativa, apresentada com os critérios de segurança e leveza do produto no transporte, foi definida pelas artesãs como solução imediata. Fig. 52: Oficina de design para as artesãs em Serra das Araras. Fonte: MOURÃO, 2011.– Equipe da pesquisa. As artesãs, no período de acompanhamento da pesquisa, declararam que o projeto estimulou técnicas e aproveitamento de materiais. Acreditam que aos poucos a comercialização aumentará, pois a associação é ainda recente. Compreendem que é preciso investir no desenvolvimento das técnicas de produção e da utilização de materiais. 123 Na sequência das fotos, figura 53, é verificada a experimentação de novas soluções para a comercialização das imagens de Santo Antônio. No detalhe, evidenciam-se galhos secos e flores de resíduos da confecção utilizados em sacos de papel pardo. O formato das flores e as cores, utilizadas no desenvolvimento do oratório, foram definidos a partir dos conteúdos das Oficinas de design. Estes elementos, identificados durante as atividades, são símbolos da cultura local. Fig.53: Embalagens confeccionadas de papel pardo e oratórios de buriti, para expor e transportar as imagens de Santo Antonio. Fonte: MOURÃO, 2011. – Equipe da pesquisa. 124 4.2.7. Boas práticas: extração, pigmentação e conservação a) Sementes A utilização de sementes no artesanato ainda é incipiente nas comunidades visitadas. Apenas algumas artesãs se dedicam ao processo de produção de biojoias. Muitas peças de adorno carecem de melhor adequação dos materiais. Uma das artesãs cadastrada na pesquisa, por exemplo, apanha as sementes do chão em período de seca, lava-as e coloca para secar, por tempo indefinido. Monitora a secagem e quando vê que as sementes estão duras o suficiente, seleciona-as para furar e montar as biojoias e outras peças artesanais. Utiliza, quase sempre, as sementes in natura, sem nenhum tratamento. Outras vezes, faz uso de anilinas comestíveis, pigmentos naturais (como casca de legumes e urucum), cola branca, esmalte de unha e verniz, a fim de mudar o aspecto visual e impermeabilizar as sementes. Nestes procedimentos, busca garantir a sua conservação por mais tempo, figura 54. O pré-beneficiamento de sementes para produção de biojoias é antigo, muito comum nas tribos indígenas. As sementes da Janira (semelhante a tantas outras palmeiras) para serem beneficiadas, passam pelo processo de secagem ao sol (por três meses) ou em estufa. As sementes secas são selecionadas por tamanho, qualidade e formato, eliminando as defeituosas e degradadas. Após a verificação, remove-se de forma manual, a casca que cobre a semente, utilizando facas ou canivetes, deixa-as secar ao sol mais uma semana. Depois destes procedimentos, as sementes são furadas. São utilizadas para o artesanato: inteiras, cortadas ao meio (em banda), em fatias, em forma de cascalho e todas essas formas tingidas. Em Chapada Gaúcha, as sementes para produção artesanal são conservadas adequadamente: em potes de vidro limpos e bem tampados. Para que o manejo seja sustentável, necessita-se de alguns cuidados, como não coletar antes do período de frutificação e deixar uma quantidade suficiente para manutenção do ecossistema. Estas orientações são fornecidas aos artesãos pelos órgãos e instituições locais, como por exemplo, as secretarias de Agricultura e do Meio Ambiente, EMATER, IEF e ICMbio. 125 Fig.54: Imagens do sistema de produção de biojoias em Chapada Gaúcha. Fonte MOURÃO, 2011. Equipe da pesquisa. Visando o melhor aproveitamento da matéria prima, alguns procedimentos se fazem imprescindíveis: As sementes, como por exemplo, a Jarina, Buriti, Açaí e Tento Carolina, devem ser lavadas e submetidas em estufa (aproximadamente 60ºC/1 h). Conforme Nogueira (2008), este procedimento elimina os insetos que normalmente, reduzem a durabilidade do produto. Esclarece que após o processo de aquecimento em estufa, as sementes devem receber óleos essenciais com propriedade repelente, buscando recuperar o brilho e aumentar a durabilidade. Deve-se utilizar uma mistura de três tipos de óleos essenciais, sendo canela, citronela e eucalipto. Utiliza-se 3 gotas da mistura para cada 300 gramas de semente. A mistura deve ser passada nas sementes com auxílio de uma flanela (NOGUEIRA, 2008, p.6). As sementes não utilizadas na produção artesanal devem voltar ao ciclo natural do ecossistema, como componente da manutenção do solo ou nutriente de animais, aves e insetos. 126 b) Folhas e fibras As folhas para produção artesanal em Chapada Gaúcha são priorizadas pelas fibras, principalmente as folhas da palmeira do Buriti. Outras folhas também são coletadas para adornos, como as folhas do Pau Doce, Pau Santo, Chapéu de Couro, Jacarandá, Bate Caixa e Jatobá. Para execução de produtos artesanais, as folhas são lavadas e colocadas para secar. Não é usual lavar as folhas para o revestimento de telhados e forros de residências rurais, às vezes, somente um pano úmido para limpar, figura 55. Fig.55: Imagens telhado de palha de Buriti. Fonte: MOURÃO, 2011. As fibras do buritizeiro, do milharal e da bananeira são tratadas conforme a finalidade. Geralmente, são colocadas de molho em água limpa. Após este procedimento, adiciona-se uma boa quantidade de chá de raiz da urtiga branca ou . folhas de vinagreira durante duas horas. Este método elimina insetos e o ―leite da planta‖, evitando alergias no artesão durante o manuseio. Ao serem retiradas do molho, as fibras são colocadas para secar a ―meia sombra‖, bem estendidas, para evitar que se quebrem. Depois de secas, as fibras adquirem cores naturais, podendo ser tingidas com pigmentos naturais. Para produção de biojoias e objetos decorativos, as folhas passam pelos procedimentos de retirada da clorofila, pigmentação com corantes naturais ou anilina de alimentos e secagem. Em alguns casos, as folhas são envernizadas para maior durabilidade, sendo mais comum enverniza-las após a conclusão do produto, conforme figura 56. As artesãs da Comunidade de Ribeirão de Areia testam estes procedimentos, mas não possuem ainda o domínio das técnicas. 127 RESÍDUOS VEGETAIS Resíduos vegetais lavados e selecionados para produção artesanal. Palhas secas: resíduos vegetais. . Carobinha do campo (Asa de barata) preparada. Palha de milho lavada e cortada. Procedimentos de limpeza de folhas secas. . MATERIA PRIMA PARA PRODUÇÃO ARTESANAL Carobinha do campo (Asa de barata) pigmentada anilina. Palha de milho pigmentada com açafrão. . Fig.56: Imagens do ciclo de manejo e beneficiamento de materiais vegetais. Fonte: MOURÃO, 2011. Alguns procedimentos de seleção de espécies e tingimento de materiais estão mudando no Vale do Urucuia, em relação às fibras e linhas (como por exemplo, o algodão). Além do valor agregado à diferenciação do produto, o uso de fibras naturalmente coloridas reduz os custos de obtenção de tecidos39. 39 Esta economia se dá pela dispensa dos produtos químicos, pela redução da quantidade de água necessária para a obtenção do tecido corado, pelo menor gasto de energia e pela redução da quantidade de efluentes a serem tratados (BARROSO et al., 2005, p.3) . 128 c) Galhos, troncos e raízes É ampla a extração de madeiras do Cerrado para construção, desde as estruturas básicas residenciais até embarcações. As arvores encontradas na região: Açoita cavalo, Baru, Buriti, Cagaita, Carvoeiro, Fava d’anta, Garapea, Ipê, Jatobá, Jacarandá, Pau mata cachorro, Pequi, Pereiro, Sucupira e Tamburiú; oferecem madeiras que podem ser utilizadas. No entanto, não foi declarada a exploração por madeireiras. Algumas artesãs de Serra das Araras e Ribeirão de Areia utilizam galhos, troncos e raízes (encontradas após as queimadas ou de espécies mortas), para confeccionar objetos decorativos. Uma das artesãs ficou conhecida no município, pela habilidade de confeccionar pequenos arranjos com raízes, conhecidos com ―formiguinhas‖. Esta denominação foi recebida no Evento Encontro dos Povos, onde o arranjo de formiguinhas foi utilizado como souvenir para visitantes, conforme exemplo da figura 57. RAIZES E TRONCOS IN NATURA PRODUTOS ARTESANAIS O adorno ―Formiguinha‖ é uma criação da Artesã Delzuita e da Professora Cláudia, para presentear visitantes durante o Encontro dos Povos. Hoje, tornou-se peça do artesanato local, confeccionado por várias artesãs. Galhos contorcidos, troncos e raízes mortas, podem ser aproveitados como objetos de adorno. Porém, dependem do ―olhar‖ do artesão, identificando o material disponível na natureza. Fig. 57: Imagens de raízes e troncos utilizadas no artesanato Fonte: MOURÁO, 2011. 129 4.2.9. Algumas espécies vegetais especiais para as comunidades a) Buriti: A palmeira preciosa (Mauritia flexuosa, Arecaceae) O buriti é uma das espécies mais comuns e de maior aproveitamento na produção artesanal. O termo ―buriti‖ é a designação comum a plantas dos gêneros Mauritia, Mauritiella, Trithrinax e Astrocaryum, da família das arecáceas (antigas palmáceas).Também conhecida como coqueiro-buriti, buritizeiro, miriti, muriti, muritim, muruti, palmeira dos brejos, carandá guaçu, carandaí guaçu. Encontrado em diversos biomas brasileiros e muito comuns nas veredas. Seu fruto de polpa amarelada é rico em vitaminas, cálcio, ferro e proteínas. Serve para doces, geleias, licores, sucos e para alimentação de animais (RIBEIRO, 1998). Existem buritis machos e buritis fêmeas. Enquanto os machos produzem cachos que dão flores, as fêmeas produzem os cachos com flores que se tornarão frutos. Os cachos dos buritis fêmeas se desenvolvem por mais de um ano até os frutos ficarem maduro. Os frutos de Buriti amadurecem entre dezembro e fevereiro. Os Buritis produzem frutos todos os anos, mas se em um ano a produção for muito grande, no ano seguinte a produção será menor. O fruto de Buriti é coberto por uma casca formada por pequenas escamas marrom-avermelhadas, que protegem a polpa do ataque de animais. (SAMPAIO, 2010). Seu caule fornece palmito delicioso, fécula e madeira (muito usado para confecção de mobiliários). O óleo extraído da fruta é rico em caroteno, com valor medicinal. Os povos tradicionais do Cerrado o empregam como cicatrizante, energético natural e para eliminar vermes. Seu aroma e qualidades são utilizados para diversos produtos de beleza. As folhas são usadas no artesanato para confecção de bolsas, tapetes, brinquedos, bijuterias, redes, revestimentos e outros. Os talos das folhas ou ―braços‖ servem para a fabricação de móveis e outros objetos utilitários. Os móveis confeccionados com buritis são leves e resistentes. As folhas jovens também produzem uma fibra muito fina, conhecida como ―seda‖ do Buriti, usada na fabricação de peças mais delicadas. Além da riqueza do seu fruto e de toda palmeira, é importante acrescentar sua grande importância na manutenção da água em olhos d’ água natural. É uma das suas características manterem os locais alagadiços e contribuindo para a pureza das águas (RIBEIRO, 1998). 130 b) Fava d’anta: Fonte de sustentabilidade (Dimorphandra mollis Benth). Planta de origem brasileira, encontrada com frequência no Cerrado Mineiro e de Goiás ao Ceará. Conhecida como favela, faveira, falso-barbatimão, cinzeiro, farinheiro. Árvore pequena e mediana de porte tortuoso, podendo atingir entre 8-14m de altura. Flores são pequenas de cor creme-amarelada, em espigas. O fruto é um legume achatado, de cor variando de marrom-escuro a quase negro; opaco, com superfície irregular, rugoso, de ápice e base arredondados, bordo irregular e lenhoso (seco). O comprimento varia de 10 a 15 cm, com 3 a 4 cm de largura. As vagens produzem de 10 a 21 sementes alongadas e avermelhadas. As sementes de fava d’anta são obtidas pela a coleta da vagem diretamente das plantas no campo, quando está madura e com boa formação das sementes. O período de maturação das vagens e formação das sementes é de julho a agosto, podendo estender-se, em algumas áreas, até setembro, (SANTOS, 2006). O interesse comercial na fava d’anta se concentra nos compostos medicinais presentes em seus frutos. A rutina é extraída da fava d anta, que possui alto teor da substância. O rendimento médio é de 8 g de rutina para 100 g de pericarpo. A rutina é uma substância química que atua no processo de envelhecimento, melhora a circulação sanguínea e alivia as dores de varizes e hemorroidas. Possui propriedades vasoprotetoras, atuando sobre a resistência e permeabilidade capilar semelhantemente à vitamina P. Outra propriedade atribuída a esta substância é sua ação anti-inflamatória. A rutina pode também ser usada como agente terapêutico no tratamento de doenças que envolvem radicais livres. As vagens são processadas, por trituração, para a extração de princípios ativos. Os subprodutos obtidos após a extração da rutina têm sido utilizados como alimento, principalmente para animais silvestres, pois não há formulação disponível para animais domesticados, conforme (MADEIRA E CÉZAR, 2008). Além da rutina, a madeira da fava d’anta é empregada na produção de objetos utilitários. É uma planta ornamental, considerada excelente para paisagismo e recuperação de áreas degradadas, de solos pobres. A casca é rica em tanino, bastante utilizado no curtimento de couro. 131 c) Jatobá: Símbolo da tradição e nutrição (Hymenaea courbaril) O Jatobá é também conhecido como: jitaí, jutaí, jutaí açú, jatobeiro, jatobá mirim, jataí, jataí peba, jataí amarelo, jataí vermelho, jataíba, burandã, farinheira, burandã imbiúva, jatobá miúdo, jatobá da catinga. É encontrado do Piauí até o norte do Paraná. Espécie semidecídua, com 15 a 20 m de altura, e tronco com até 1 m de diâmetro, retilíneo com casca castanho-acinzentada e lisa (LORENZI, 2002). O fruto é consumido "in natura" e sua polpa é aproveitada para fazer farinha. Apresenta uso medicinal, sua resina e entrecasca são usadas para problemas respiratórios. A madeira pode ser usada na confecção de móveis, peças torneadas, engenhos, tonéis, carrocerias e vagões; na construção civil como vigas, caibros, assoalhos e esquadrias. Pelo ferimento de seu tronco fornece uma resina conhecida como "jutaicica" ou "copal" empregada na indústria de vernizes. Sua casca fornece corante amarelo. Sua resina, folhas e sementes são utilizadas na medicina caseira. A polpa das sementes é rica em cálcio e magnésio e além de fornecer alimento à fauna, é ótima para alimentação humana. Seus frutos são comercializados em feiras regionais de todas as regiões onde ocorre esta planta, conforme Lorenzi e Abreu Matos (2002). O Jatobá foi muito importante como fornecedor de madeira para a construção naval. Assim, a exploração do Jatobá foi restringida por decreto imperial de 1799. Até o início do século 19, todas as embarcações eram de madeira, portanto a madeira do Jatobá foi bastante explorada, conforme Lorenzi (2002). A farinha do jatobá é utilizada em receitas de biscoitos, bolos pães, doces e sorvetes. Alguns benefícios da farinha de jatobá na alimentação foram analisados em trabalho de formulação de biscoitos sem açúcar e fonte de fibras alimentares, para diabéticos ou pessoa sob restrição alimentar (TATAGIBA, 2011). 132 CAPÍTULO 5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ―Sertão sempre. Sertão é isto: o senhor empurra para trás, mas de repente ele volta a rodear o senhor dos lados. Sertão é quando menos se espera: digo.” Guimarães Rosa 5.1. ESPÉCIES VEGETAIS COMPATÍVEIS À PRODUÇÃO ARTESANAL O resíduo vegetal é de fundamental importância na ciclagem de nutrientes. Como adubo das plantas, enriquece o solo de minerais que novamente geram o ciclo biológico. Especial importância deve ser conferida a extração de frutos e sementes. Cada espécie possui na natureza um número mínimo de sementes indispensáveis à sua manutenção. Esta quantidade imprescindível é resguardada pela produção da espécie, de sementes, folhas e frutos, superior a mesma. Foi verificada a necessidade de conhecimento prévio sobre uma planta para saber como preservá-la. A extração incorreta desse recurso pode levar a extinção local da espécie. Houve considerável dificuldade na identificação de qual vegetal advém o resíduo. Muitas vezes, o nome popular faz referência a amplas espécies. Neste caso, há um fator importante: a falta de conhecimento da espécie pode implicar em uma superexploração da matéria prima, causando um prejuízo ecológico mais sério. Este fato foi observado em relação ao estudo de extração das Sempre-vivas na região da Cidade de Diamantina. 133 Portanto, é necessário estimular, tanto aos artesãos quanto aos comerciantes, para o entendimento da estrutura e funcionamento do ecossistema a ser explorado. Deve-se enfatizar o ciclo biológico de cada espécie, a fim de promover um manejo adequado e manter a taxa de produtividade necessária à preservação. Esta é uma das funções dos órgãos municipais e estaduais, mas é também de todos que estão inseridos no sistema. A produção artesanal, com recursos dos insumos e resídua vegetais dos biomas brasileiros, é um assunto amplo e multidisciplinar, que possibilita diversos tipos de análises conforme o ponto de vista do pesquisador. Trata-se neste trabalho apenas de alguns dados comparativos, considerando o aproveitamento dos materiais citados. Estruturados no manejo sustentável, foram registrados projetos para o desenvolvimento do artesanato com resíduos e insumos vegetais. Estes, vinculados ou desenvolvidos pelo SEBRAE, serviram de dados comparativos: a Empresa Flor do Cerrado – Distrito Federal/Goiás; o Núcleo Produtivo de Artesanato em Taboa – São Sebastião do Passé / Bahia e a Central de Comercialização e Artesanatos do Vale do Urucuia – Uruana de Minas/ MG. Os empreendimentos citados demonstram que os resíduos vegetais utilizados para a produção artesanal, adotam a coleta de materiais próxima às instituições. A coleta inserida nas ―boas práticas‖ realiza-se sem prejuízo para as espécies, garantindo a manutenção da matéria prima disponível. Em relação à produção artesanal, as comunidades dos estados brasileiros utilizam amplamente os recursos de espécies vegetais. Dos exemplos citados, destaca-se que: a) No Amazonas, os artesãos utilizam sementes de Tucum, Tucumã, Anajá, caroço de Açaí, madeiras, cipós e fibras. As sementes de Jarina (Marfim da Amazônia) estão em ênfase neste bioma. b) No Acre, além da Janira, o ―Mulungu‖ (Ormosia coccínea) e ―Sororoca‖ (Heliconia metallica) são utilizados no artesanato. 134 c) As espécies arbóreas como Jatobá, Sibipiruna, Olho-de-boi, Mulungu e outras semelhantes, são coletadas do solo ou diretamente das árvores (quando secas), em Minas Gerais e nos demais estados do sudeste. d) Ainda no sudeste, destacam-se as sementes de Leucena, Tento Carolina, Pau-brasil, Tágua, Jequitiri, Olho de Pombo, Aguaí, Chapéu de Napoleão, Guatambu, Bate Caixa, Pau Terra do Campo e as flores secas como as Sempre-vivas. e) As sementes da palmeira Juçara atendem a produção de bijoias dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e aos demais produtores da Mata Atlântica. f) Em Goiás e Tocantins, o Capim-dourado, as folhas de Pata-de-vaca, Cedro do cerrado, Agave Palito e Agave Estrela, sustentam a produção artesanal com materiais vegetais. g) As fibras do algodão, da Taboa, do Coqueiro e da Bananeira, são muito usadas no estado da Bahia e também no nordeste e sudeste brasileiro. h) Utilizam-se amplamente todos os tipos de madeiras em todo território brasileiro e como produto de exportação. i) O Buriti está presente na maior parte do território brasileiro, como também as diversas espécies denominadas ―Jacarandá‖ (Mimoso, do Cerrado, entre outras). A ampla diversidade de materiais e possibilidades de uso dos mesmos induz a uma ausência de padronização, quanto às ferramentas e técnicas empregadas nesse tipo de produção artesanal. Está inserido nesse processo, um alto caráter de experimentação e, consequentemente, de inovação. Ainda que haja uma ausência de padronização dos materiais, foram encontras algumas matérias primas que são comercializadas tradicionalmente, como as Sempre-vivas. Desta forma, com a intenção de identificar, quais espécies do Cerrado e respectivas partes vegetais comercializadas, elaborou-se uma tabela de dados do Mercado Central de Belo Horizonte, que se contrata no ―Apêndice F‖. 135 Os dados levantados indicaram uma predominância de comercialização de sementes e folhas, em detrimento de outros resíduos vegetais. Foi possível perceber que muitas espécies do Cerrado já são utilizadas, como: Bate Caixa, Jacarandá, Guatambu e Buriti. Em Chapada Gaúcha, o número de resíduos vegetais provenientes de espécies comumente exploradas na alimentação foi inexpressivo, exceto o Buriti. 5.2. ANÁLISE DA PRODUÇÃO ARTESANAL - COMUNIDADES PESQUISADAS Os insumos e resíduos vegetais gerados em Chapada Gaúcha não atendem e provavelmente não atenderão ao comércio do Mercado Central de Belo Horizonte. Primeiramente, pela acentuada distância da capital e porque o mercado de artesanato do Distrito Federal, mais próximo, se identifica melhor com o produto. Mas, é certo que Chapada Gaúcha e, aliás, os municípios do Vale do Urucuia podem desenvolver o extrativismo de resíduos vegetais através do manejo sustentável. A riqueza de variedades e a qualidade nos materiais podem acelerar o desenvolvimento sustentável das comunidades. Um dos exemplos verificados é o Tingui (Magonia pubescens). O fruto não é comestível, sua casca é grossa, e tanto a casca quanto as sementes são vastamente utilizadas em produtos artesanais. No ciclo apresentado a seguir, figura 58, tanto a casca do Tingui quanto as sementes, são aproveitadas para a produção artesanal de formas diversas. Parte das cascas servem para confecção de adornos como os ―ninhos de pássaros de buchinha‖, as cascas das sementes servem para revestimento de caixas em estilos e técnicas diferentes. As cascas das sementes também são usadas para confecção de flores e podem ser aromatizadas para decoração de ambientes. Estes são alguns exemplos, apresentados no esquema da figura 58. 136 Coleta de Tingui: frutos e sementes. Adorno ninho de pássaro: casca do fruto de Tingui. Casca do fruto de Tingui. Caixa decorada: partes revestimento sementes. Sementes T de Tingui. Flores: casca das sementes de Tingui. ingui Borboletas ímãs: revestimento de semente. Sementes aromatizadas e comercializadas através de site,com a denominação de MAR MOTA. Finalidade: decoração de ambientes. Tingui e flores para comercialização na Feira em Brasília. Caixa decorada: revestimento de sementes. Fig.58: Quadro da utilização do fruto do Tingui na produção artesanal. Fonte: MOURÃO, 2011. As sementes e frutos das espécies do Cerrado: Bate Caixa, Caroba, Chapéu de Napoleão, Guatambu, Jacarandá do Cerrado, Mutambo, Pau Doce, Pau Terra do Campo, Pente de Macaco e Saboneteira, são usadas pelos artesãos do centro-oeste e do sudeste. Portanto, estas espécies possuem mercado garantido para comercialização e não servem como alimento. Existe um mercado próprio para os frutos do Cerrado, como o Baru, a Mangaba, o Pequi e o Jatobá. Suas propriedades nas folhas, sementes e cascas dos frutos podem ser vinculadas ao extrativismo sustentável. Para tanto, são necessários investimentos visando o desenvolvimento da produção de insumos. 137 5.2.1. Análise de algumas espécies vegetais especiais na região Em Chapada Gaúcha, destaca-se a palmeira Buriti (Mauritia flexuosa L.) como a espécie vegetal mais importante para a população e sua produção de utensílios. O Buriti apresenta quase a totalidade de aproveitamento pelas comunidades pesquisas. É cultivada para a extração dos frutos, mas também atende à população pelo valor medicinal, uso de suas palhas, talos, fibra, caule e raiz. Utilizam seus insumos nas construções residenciais, produção de mobília, artesanato, objetos utilitários como vassouras e peneiras. A palmeira do Buriti é considerada a árvore mais representativa da região, devido aos valores mencionados e à beleza cênica que caracteriza a imagem das veredas, dos sertões e mais além, dos parques e reservas do município. Para a produção artesanal, o Buriti fornece principalmente talos e palhas. A palha para a fabricação de esteiras e redes, além das peneiras e vassouras. As esteiras são feitas pelo método tradicional do tear em todas as comunidades. Na comunidade de Buraquinhos, percebeu-se uma estreita relação da cultura local com o tear (redes, cestos, divisórias) e outros objetos são trançados manualmente. O caule do Buriti, além de servir para mobiliário, também é utilizado para a fabricação de canoas pequena, seguindo o modelo das canoas do Rio São Francisco. Nem todos os produtos são comercializados. Alguns servem às necessidades da comunidade, produto de troca e como presente para amigos e familiares. Como produto sustentável, devem-se usar apenas as folhas, os talos e as sementes não germinativas. Conforme apresentado no capitulo de estudo de caso, algumas espécies se destacam como geradoras de insumos e resíduos para produção artesanal. As figuras 59, 60, 61 representam uma análise simplificada de possíveis usos e funções relacionadas às plantas. 138 BURITI (Mauritia flexuosa, Arecaceae) FRUTO: Alto valor nutrição, Óleo – uso medicinal, amaciante de couros e em cosméticos. FOLHAS E FIBRAS: Cestos, balaios, redes, bolsas, esteiras, biojoias, divisórias, revestimentos, etc. CAULE: Palmito, móveis, adornos, vinhos, licores, extrato para protetor solar, etc. RAIZ: Mantêm as águas e do ecossistema, extrato para remédios e produção de objetos artesanais. Fig. 59: Quadro beneficiamento palmeira de Buriti Fonte: MOURÃO, 2011. 139 FAVA D’ANTA (Dimorphandra mollis Benth) FOLHAS E SEMENTES: São utilizadas na medicina caseira. Paisagismo e recuperação de áreas degradadas. FRUTO: Compostos medicinais extração da Rutina (reduz processo de envelhecimento, terapêutica no tratamento de doenças que envolvem os radicais livres, melhora a circulação sanguínea e alivia as dores de varizes e hemorroidas). TRONCO/ CASCA: Casca é rica em tanino, bastante utilizado no curtimento de couro. Fig. 60: Quadro beneficiamento da árvore de Fava D’anta Fonte: MOURÃO, 2011. MADEIRA: Empregada para tabuado, confecção de caixas, compensados, forros, painéis, brinquedos, lenha e carvão. 140 O JATOBÁ (Hymenaea stilbocarpa) FOLHAS/SEMENTES: Paisagismo, ornamentação, plantio para recuperação de áreas degradadas. TRONCO: Fornece uma resina conhecida como "jutaicica" ou "copal" empregada na indústria de vernizes. FRUTO: Alto valor nutricional, in natura ou no uso da polpa farinácea em: bolos, pães, cremes, e outros. A polpa das sementes é rica em cálcio e magnésio. Usada na alimentação humana e de animais. CASCA: Fornece corante amarelo. Sua resina e entrecasca são usadas para problemas respiratórios. MADEIRA: Excelente madeira para construções e mobiliário. Muito usada na construção de embarcações no período imperial. Fig. 61: Quadro Beneficiamento da Arvore de Jatobá do Cerrado. Fonte: MOURÃO, 2011. Foto: PERSON, G . Terradagente. Flora. Disponível em: <http://eptv.globo.com/terradagente/0,0,4,216;7,jatoba-do-cerrado.aspx>, Acesso em 09.Ago.2011/ e fruto: <http://olharnatureza.blogspot.com/2010/08/jatoba-himeneacourbaril.html> Acesso em: 09 ago. 2011. 141 5.2.2. Análise da produção artesanal nas comunidades Através do cadastro, entrevistas e acompanhamento das atividades artesanais, de janeiro a julho de 2011, foram observados os tipos de produção artesanal nas comunidades pesquisadas, conforme figura 62: a) Em Buraquinhos, não há produção de biojoias. Utilizam os materiais vegetais (quase que a totalidade em Buriti), em 60 % nas construções residenciais e 30% na produção de esteiras, redes, bancos, cadeiras, mesas, camas, estantes e peças decorativas. b) Em Ribeirão de Areia, com a contribuição de Ana Gomes e artesãs do Grupo Mãos que brilham, a produção no período de acompanhamento foi de 25% as biojoias (colares, brincos e pulseiras) e 25% de objetos como: estantes, camas, cadeiras, bancos, adornos, mandalas, cestos, peneiras, balaios, instrumentos musicais, entre outros. Produzem com os materiais vegetais (espécies vegetais que fornecem boa madeira e o Buriti), 50% das construções e acabamentos das mesmas. c) Em Serra das Araras, considerando a contribuição da Associação de Bordadeiras e Artesãos de Serra das Araras, quase não utilizam os materiais vegetais para as construções, somente 10%. Os membros da associação residem no centro do distrito, onde as construções são de alvenaria. Mas produzem vários produtos de utensílios e adornos (citados acima), 70% da produção. Mas também executam e comercializam biojoias, cerca de 20%. PRODUÇÃO ARTESANAL - RESIDUOS VEGETAIS. Jan a jul.2011. Adornos e Construções Comunidade Biojoias utilitários Residenciais Buraquinhos 30% 60% Ribeirão de 25% 25% 50% Areia Serra das 20 % 70% 10% Araras Fig. 62: Quadro da produção artesanal com resíduos vegetais - comunidades pesquisas. Fonte: MOURAO, 2011. 142 Produção Artesanal das Comunidades - Design Sistêmico: Fluxo da matéria prima e descarte, conforme produção nas comunidades pesquisada, figura 62. Utensílios e peças decorativas Mobiliário e parte de construções PRODUÇÃO ARTESANAL: COMUNIDADE DE BURAQUINHOS Biojoias e adornos pessoais Resíduos: para adubos Utensílios e peças decorativas PRODUÇÃO ARTESANAL: COMUNIDADE SERRA DAS ARARAS Mudas e Novas Espécies Resíduos: para adubos Mobiliário e parte de construções Biojoias e adornos pessoais Utensílios e peças decorativas PRODUÇÃO ARTESANAL: COMUNIDADE RIBEIRÃO DE AREIA Mobiliário e parte de construções Resíduos: para adubos Fig. 62: Produção artesanal das comunidades – Design Sistêmico. Fonte: MOURÃO, 2011. Comercialização – consumo – Reciclagem. 143 5.3. ESPÉCIES VEGETAIS CATALOGADAS DO VALE DO URUCUIA Foram cadastradas 55 (cinquenta e cinco) espécies vegetais pelo nome popular, nos percursos da pesquisa - trajeto entre os municípios de Bonfinópolis de Minas, Pintópolis e Chapada Gaúcha. Algumas espécies foram encontradas próximo à estrada, outras nas comunidades visitadas e na Reserva do Acari. Verificou-se que a população das comunidades locais, conhecem as espécies pelas características, valor nutricional ou como medicamento. Assim, muitas informações foram fornecidas pela população local e confirmadas por outras pesquisas na região40. Para garantir a identificação das espécies, elaborou-se um documento com as imagens, nomes científicos, resíduos vegetais e produtos artesanais. Este registro, somado ao registro dos insumos de espécies vegetais comercializadas por sites, ―Apêndice A‖, transformou-se na proposta do catálogo, no ―Apêndice H‖, com dados específicos de 30 espécies vegetais. As demais 25 espécies, encontradas no Vale do Urucuia, estão registradas no ―Apêndice G‖, para futuras investigações. RELAÇÃO DAS ESPÉCIES VEGETAIS CATALOGADAS NO VALE DO URUCUIA – MINAS GERAIS 1. Açoita cavalo: Luehea candicans 2. Anjico: Mimosa colubrina Vel., Piptadenia colubrina (Vell.) Benth 3. Araçá: Psidium araçá Raddi 4. Araticum do Cerrado: Annona crassiflora 5. Assa peixe: Plectranthus barbatus 6. Barbatimão: Stryphnodendron pulcherrimum 7. Baru: Dipteryx alata Vog 40 Os nomes populares foram confirmados através do ―Relatório do Projeto de Beneficiamento da Fava D’anta – CETEC/2008‖. Os nomes científicos e suas características foram verificados e conferidos através da pesquisa local ―A cultura tradicional do Sertanejo e seu deslocamento para implantação do Parque Nacional Grande Sertão Veredas‖ de Flávia Aparecida Andrade Souza (2006), vide: quadro 6 – pag. 42-43. ―Utilização da Flora do Cerrado no Parque Nacional Grande Sertão Veredas‖, e completados pelas informações dos sites ―Portal São Francisco‖ e ―Vivaterra.org‖. 144 8. Bate Caixa: Salvertia convallariaeodora 9. Bolsa de Pastor: Zeyheria digitalis (Vell.) Hoehne 10. Buriti: Mauritia flexuosa, Arecaceae 11. Cagaita: Eugenia dysenterica Dc. 12. Caixeta: Tabebuia cassinoides 13. Calunga: Aristolochia trilobata L 14. Caroba: Jacaranda pteroides 15. Carvoeiro: Sclerolobium paniculatum 16. Cinzeiro: Vochysia tucanorum Mart. 17. Chapéu de Napoleão: Thevetia peruviana 18. Douradinha: Palicourea rígida 19. Falso Pau Brasil: Caesalpinia peltophoroides 20. Fava d’anta: Dimorphandra mollis Benth 21. Guatambu: Aspidosperma spp 22. Garapea: Leguminosae-Caesalpiniaceae 23. Grão de galo: Zizyphus undulata Reissek 24. Ipê amarelo: Tabebuia vellosoi 25. Jacarandá: Dalbergia nigra 26. Jacarandá do Cerrado: Dalbergia miscolobium. 27. Japecanga: Smilax japecanga 28. Jatobá: Hymenaea courbaril 29. Lobeira: Solanum lycocarpum 30. Mamacadela: Brosimum gaudichaudii Trécul. 31. Mangaba: Hancornia speciosa 32. Mangabeira: Hancornia speciosa Gomez 33. Marmelo: Cydonia vulgaris 34. Murici: Byrsonima crassifolia (L.) Rich 35. Mutambo: Guazuma ulmidifolia 36. Paineira: Ceiba speciosa (St.-Hill.) Ravenna 37. Pau doce: Vochysia cf. Ferruginea 38. Pau d´óleo: Copaífera langsdorfii Desf. 39. Pau mata cachorro: Simarouba amara 40. Pau santo: Vismia spp. 145 41. Pau terra do Campo: Qualea Grandiflora, Mart. 42. Pente de Macaco: Pithecoctenium crucigerum 43. Pequi: Caryocar brasiliense 44. Pereiro: Aspidosperma pyrifolium. 45. Pimenta de macaco: Xylopia aromática 46. Quina: Strychnos pseudoquina. 47. Saboneteira: Sapindus saponaria 48. Sambaíba: Curatella americana; Dilleniaceae 49. Sucupira amarela: Pterodon emarginatus 50. Sucupira branca: Enterolobium schomburgkii Benth. Mimosaceae 51. Sucupira preta: Bowdichia virgilioides 52. Tamburiú: Enterolobium contortisiliquum 53. Tingui: Magonia pubescens 54. Umbu: Spondias tuberosa, L. 55. Urucum: Bixa orellana 5.3.1. Espécies vegetais para produção artesanal em Chapada Gaúcha Foram cadastradas vinte e uma espécies vegetais utilizadas na produção artesanal, em Chapada Gaúcha. As espécies vegetais coletadas no município foram registradas geograficamente - GPS, pela equipe do projeto e identificada com a colaboração dos agricultores locais e instituições parceiras. São elas: Buriti (Mauritia flexuosa, Arecaceae); Bate Caixa (Salvertia convallariaeodora); Bolsa de Pastor (Zeyheria digitalis (Vell.) Hoehne); Caroba (Jacaranda pteroides); Cinzeiro (Vochysia tucanorum Mart); Chapéu de Napoleão (Thevetia peruviana); Douradinha (Palicourea rígida); Falso Pau brasil (Caesalpinia peltophoroides); Fava d’anta (Dimorphandra mollis Benth); Guatambu (Aspidosperma spp); Jacarandá (Dalbergia nigra); Jacarandá do Cerrado (Dalbergia miscolobium); Jatobá (Hymenaea courbaril); Mutambo (Guazuma ulmidifolia); Pau doce (Vochysia cf. Ferruginea); Pau santo (Vismia spp.); Pau terra do Campo (Qualea Grandiflora, Mart.); Pente de macaco (Pithecoctenium crucigerum); Saboneteira (Sapindus saponaria); Tingui (Magonia pubescens); Urucum (Bixa orellana). 146 5.4. ANÁLISE DAS OFICINAS As oficinas de design, cultura e identidade realizadas principalmente com objetivo de mobilização, obtiveram resultados positivos em cada comunidade. Destaca-se a disponibilidade dos artesãos, que prontamente se reuniram, em dias úteis e horários diversos, na expectativa de adquirirem novos conhecimentos. Foi perceptível a aspiração dos artesãos em aprimorarem suas técnicas e métodos de utilização de materiais. Na comunidade de Buraquinhos observaram-se carências em diversas áreas (condições de moradia, transporte, infraestrutura para a produção artesanal, conhecimento de técnicas, entre outras) que inibem o desenvolvimento da produção artesanal. Mas, na mesma intensidade, observou-se o potencial de conhecimento e tradições quilombolas, durante a realização da oficina de design. Valores relacionados à religiosidade foram observados, na oficina de design na comunidade de Ribeirão de Areia. Em todo o município a Folia de Reis é comemorada, mas nesta comunidade há um número considerável de familiares que participam do evento. A oficina de design em Serra das Araras sensibilizou para observação do ambiente e para adequação de embalagens. As artesãs conhecem a importância de valorizar o produto local. Há, no entanto, dificuldades na comercialização dos mesmos. 147 CAPÍTULO 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS "O Sertão é sem fim; o Sertão está em toda parte; o Sertão tá dentro da gente." Guimarães Rosa Com apoio dos estudos efetuados na investigação podem ser estabelecidas algumas considerações, que incidem com os objetivos do trabalho. A pesquisa possibilitou demonstrar algumas possíveis contribuições do design sustentável na produção artesanal com resíduos vegetais e especificamente no contexto do Cerrado Mineiro. Permitiu também identificar abordagens sistêmicas do design que podem ser aplicadas, para promover práticas sustentáveis na produção artesanal, referente aos materiais, técnicas e processos, contribuindo para a valorização o território. A tarefa de identificar e promover o conhecimento, dos resíduos vegetais para a produção artesanal, se estabelece como ferramenta para os agentes da produção artesanal (extrativistas, artesãos, comerciantes e ao público em geral). Os valores culturais, sociais e ambientais podem ser estimulados com a percepção da identidade territorial, através dos produtos artesanais confeccionados com resíduos e insumos vegetais. 148 Os conteúdos deste trabalho, direcionados ao design sustentável com resíduos vegetais, podem estimular a aplicação de métodos, ferramentas e estratégias; podendo assim contribuir para o desenvolvimento local. Para tanto, a conclusão deste, oferece a proposta de um catálogo das espécies vegetais identificadas pelas denominações científicas e populares, e seus respectivos insumos e resíduos vegetais compatíveis à produção artesanal. Apontam-se alguns resultados em relação a: a) pesquisa de campo, quanto ao contexto e a produção local; b) mapeamento e catalogação das espécies vegetais; c) as oficinas de design e a possíveis contribuições do designer na promoção de práticas sustentáveis na produção artesanal. 6.1. QUANTO AO CONTEXTO E A PRODUÇÃO LOCAL Evidenciam-se algumas considerações específicas, que condicionaram a condução da pesquisa: a) Em Chapada Gaúcha o artesanato não é muito comercializado, provavelmente pelo isolamento das comunidades e o difícil acesso. O material é produzido para uso doméstico (como as esteiras e redes, cestos, balaios, bancos, cadeiras, camas, mesas, adornos e tantos outros objetos de Buriti). b) Usam em grande quantidade os recursos da palmeira do buriti e em menor quantidade as espécies vegetais registradas na região. No entanto, a produção adornos femininos, como biojoias, cintos, roupas, sandálias, bolsas, chapéus e outros, incluem sementes e fibras de espécies vegetais variadas. Fator de potencialidade para o desenvolvimento da produção artesanal nas localidades. c) As associações são suporte para os artesãos das comunidades visitadas. Estas buscam recursos, conhecimento técnico e espaços para a comercialização dos produtos artesanais. Destaca-se a Associação das Bordadeiras e Artesãos de Serra das Araras, que já participou de grandes 149 feiras e exposições; desenvolve projetos para aquisição de equipamentos e materiais, executa atividades com orientação das instituições locais (prefeitura, IEF, ONGs) e mantêm contato com grupos de outros municípios (Central de Comercialização e Artesanatos do Vale do Urucuia, por exemplo). d) O comércio de artesanato se dá pelos visitantes, principalmente do público dos parques e durantes as festas tradicionais. Algumas encomendas de outras localidades ocorrem com apoio de instituições e contatos das associações fora da região. e) Existe carência de incentivos ao desenvolvimento da produção artesanal. Com o crescimento da cidade, a implantação do programa ―Luz para Todos‖ e a pavimentação em asfalto (que está em fase de conclusão), na estrada que liga a Cidade de Arinos e o estado de Goiás, é presumível que haja interesses para incentivo da produção artesanal. Visto que, Chapada Gaúcha será, provavelmente, grande polo turístico nacional, em função das belezas naturais do município e por ser entrada do Parque Nacional Grande Sertão Veredas e do Parque Estadual Serra das Araras. f) Por ser incipiente a produção artesanal, o conhecimento das espécies vegetais que fornecem materiais para o artesanato, poderá contribuir com o manejo sustentável e inserção do design sistêmico na região. Além das análises em Chapada Gaúcha, verificou-se que grande parte dos comerciantes de resíduos e insumos vegetais desconhece a origem, os procedimentos a identificação das espécies vegetais que geram o produto comercializado. Este fato é um agravante para a manutenção das espécies, pois em função de atender ao mercado, muitos extrativistas extinguem o material nas localidades. Recorda-se que as flores Sempre-vivas foi um exemplo da falta de manejo sustentável. Também, outras espécies que forneceram madeira para a construção civil e naval e mobiliário de luxo, foram extintas ou estão na lista de extinção, em tempos anteriores. Como conclusão, na expectativa de contribuir para a preservação das espécies vegetais, elaborou-se de uma proposta de catálogo de espécies vegetais 150 que podem fornecer insumos e resíduos vegetais para a produção artesanal, principalmente em regiões que estão começando o manejo sustentável e para aquelas que ainda o farão. O catálogo poderá ser um instrumento útil também para comerciantes e usuários dos produtos gerados. 6.2. QUANTO AO MAPEAMENTO E À CATALOGAÇÃO DAS ESPÉCIES Foram catalogadas 55 espécies vegetais, entre árvores de grande, médio e pequeno porte, além de arbustos, trepadeiras e forrações, frutíferas ou somente paisagísticas. Estas foram cadastradas nos percursos para o desenvolvimento da pesquisa local, somente no território correspondente ao Vale do Urucuia. Não houve interesse em registrar a diversidade do bioma Cerrado. Somente, as espécies que podem ser ou já são usadas na produção artesanal, pelo aspecto de suas folhas, sementes e flores. Observaram-se as espécies que fornecem resíduos vegetais com mais frequência ou com abundância de sementes e folhas. Das 55 espécies vegetais catalogadas, são extraídas 21 espécies que foram registradas no Município de Chapada Gaúcha, verificando a utilização das mesmas na produção artesanal local. Dados específicos para a produção artesanal, das espécies selecionadas, foram registrados e consultados por pesquisas, instituições e através das informações da comunidade local. Entre eles, podem-se citar nomes científicos e denominações populares, tipo de resíduos vegetal ou insumo compatível à produção artesanal, modelos de produção artesanal com estes resíduos e outras informações complementares sobre a espécie, como uso nutricional, medicinal e outros. Evidenciam-se alguns pontos relacionados a uma possível continuidade da pesquisa. Existe um extenso número de materiais utilizados e não catalogados; por se restringir a uma pequena parcela de produção artesanal, como verificado em Chapada Gaúcha. Além disso, o tema é de importância para todos os demais biomas que sofrem de esgotamento de materiais vegetais, com carência de conhecimento e desenvolvimento do extrativismo sustentável. 151 6.3. QUANTO ÀS CONTRIBUIÇÕES DO DESIGN E AS OFICINAS REALIZADAS Em relação ao design, foi verificado um grande potencial para a contribuição do mesmo em atividades de produção artesanal, principalmente no setor de resíduos e insumos vegetais. Poucos trabalhos foram encontrados em relação ao tema e a localidade, e a maior parte está vinculada ao Sebrae ou a projetos institucionais realizados por ONGs e associações. Dos projetos com inserção do design, destacam-se aqueles que envolvem parcerias, sistemas interligados de conhecimentos e pesquisas no setor, economia solidária e utilização dos materiais em bases sustentáveis. Destacou-se neste trabalho a Empresa Flor do Cerrado – Distrito Federal/Goiás; o Núcleo Produtivo de Artesanato em Taboa – São Sebastião do Passé/Bahia e a Central de Comercialização e Artesanatos do Vale do Urucuia – Uruana de Minas/ MG. Sendo que o último citado encontra-se localizado no Vale do Urucuia, próximo à Chapada Gaúcha, e vem contribuindo na produção e comercialização dos produtos gerados pelas associações de artesãos locais. O design é um facilitador para a transformação e expansão de potenciais. Assim, algumas considerações devem ser destacadas em relação às possíveis contribuições do design: a) Os artesãos das comunidades se posicionaram de forma bastante receptiva na aplicação de oficinas de design. Os participantes demonstraram ávidos para conhecerem princípios sobre as cores, formas, texturas e possibilidades de utilização dos materiais que eles já possuem. b) As oficinas possibilitaram também o ―olhar criativo‖, a vontade de experimentar e inovar. Através das técnicas do design, os participantes das oficinas perceberam a riqueza ao redor de suas residências, o espaço em dimensões maiores do que estavam habituados a ―ver‖. Promover este olhar significa estimular o desenvolvimento de um amplo espectro de possibilidades de inovação, cuja base é observar e utilizar os mais simples recursos de forma que a funcionalidade aprimore. Uma das artesãs relatou que passou a vida plantando sementes, e até aquele momento, não havia ―olhado‖ para as sementes observando a 152 delicadeza da forma e das cores. Fatos semelhantes eram relatados em cada exercício de observação do ambiente. Habituados ao cotidiano, grande parte dos artesãos produzem mecanicamente, como aprenderam com seus pais ou avós. No entanto, há muitas outras possibilidades para utilização dos materiais que podem aplicadas. Estas são algumas das contribuições do design para as comunidades que desenvolvem produção artesanal: ampliar o ângulo de percepção e atuação. c) O design na valorização da cultura e da identidade: As atividades de reconhecimento das riquezas imateriais, desenvolvidas durante as oficinas de design, estimularam a valorização do contexto histórico e das tradições locais. Foram executadas análises em grupo de todas as riquezas que os artesãos contribuem para a cultura e o reconhecimento do legado deixado pelos antepassados, em cada atividade artesanal executada e ensinada entre as gerações. Nos debates ao final das atividades, os artesãos puderam perceber que estes conhecimentos configuram-se na identidade da comunidade. d) O reconhecimento dos potenciais, da capacidade de aprender, criar e inovar, também contribuiu para a elevação da autoestima dos artesãos. Estes, habituados ao ríspido trabalho rural, necessitam de estimulo para desenvolver novas habilidades. Ao valorizar aspectos ambientais, a beleza e a estética, o olhar do design converge ao desejo de buscar o que se considera ―o melhor‖. Em última ordem, deixa-se o registro singular das espécies vegetais para a produção artesanal, do artesanato e identidade das comunidades de Buraquinhos, Ribeirão do Areia e Serra das Araras, certos que este trabalho foi modesto, em relação à realidade acompanhada durante a pesquisa. Acredita-se que o design tem entre as suas atribuições, averiguar e contribuir para um modelo de vida sustentável e que possa utilizar os resíduos no ciclo de vida dos materiais, visando contribuir para reduzir à emissão de carbono nos sistemas de produção. Finalizando, apresentam-se algumas sugestões para trabalhos futuros. 153 6.4. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Como conclusão da pesquisa, algumas sugestões deixam-se registradas para novas investigações ou atuações nesta área: a) As técnicas, o método e os conhecimentos aplicados para o manejo sustentável contribuem na educação ambiental. Alguns conhecimentos desta prática podem ser atrelados ao sistema de ensino fundamental nas comunidades rurais. Assim, este será mais um incentivo, para os estudantes - jovens adultos, permanecerem residindo na comunidade, gerando um novo setor econômico. Certamente, uma pesquisa sobre este aspecto, com enfoque na identidade territorial, seria de grande importância. b) A produção artesanal é uma atividade econômica com potencial para o desenvolvimento sustentável em Chapada Gaúcha, principalmente pelas suas tradições, diversidade cultural e suas riquezas naturais. Para promover estas atividades, fazem-se necessários investimentos em capacitações, projetos e novas pesquisas. c) Investigar estratégias para promover parcerias com instituições de ensino e pesquisa, como também atrair investidores de produtos sustentáveis são ações que poderão ampliar o desenvolvimento da produção artesanal local. Considera-se neste caso, a importância do conhecimento das espécies vegetais na região e o uso de seus recursos (alimentação, medicamentos e no artesanato) no desenvolvimento de estratégias para promover a economia local. 154 REFERÊNCIAS ALLEGRO BUSINESS GROUP. Design sistêmico: renovável, cíclico e praticável. Em 05 abr. 2011. Disponível em: < http://allegrobg.com.br/?p=494>. Acesso em:20 jun. 2011. ACASA. Museu do objeto brasileiro. Disponível <http://www.acasa.org.br/acervo.php>. Acesso em: 20 jun. 2011. em: ______. Projeto Pólo Veredas. Disponível em: <http://www.acasa.org.br/socio_ambiental_acao.php?id=2.>. Acesso em: 27 jan. 2011. ALMEIDA, S. P. 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[1] ANÁLISE DO CICLO DE VIDA: A análise é realizada para a ACV (Life Cycle Assessment - LCA) que se constitui no método utilizado para avaliar o impacto ambiental de bens e serviços. Inclui o ciclo de vida completo do produto, processo ou atividade, ou seja, a extração e o processamento de matérias-primas, a fabricação, o transporte e a distribuição; o uso, o reemprego, a manutenção; a reciclagem, a reutilização e a disposição final. [2] ARBUSTO: Planta perene, de caule lenhoso, menor que uma árvore. É um dos três principais grupos de plantas em termos de tamanho e forma. [3] ARTESANATO: Processo de execução de um objeto utilitário através da matéria prima. Muitas vezes, este processo é executado pela tradição familiar e se caracteriza em novos modelos conforme as necessidades. [4] ARTESÃO: Artesão é a pessoa que executa manualmente, objetos de uso frequente na comunidade. Seu aparecimento foi resultado de pressão da necessidade sobre a inteligência aliada ao poder de inovar, possibilitando também ligar o passado ao presente, mediante a linguagem; possibilitou as gerações mais novas receber das mais velhas, suas técnicas e demais experiências acumuladas. [4] ÁRVORE COMPLETA: Planta que possui caule lenhoso, denominado tronco, além das demais partes como: raiz subterrânea, tronco, ramos, folhas, flor e frutos. [5] ASPECTOS QUALITATIVOS: Estes aspectos consistem em qualificar; ver as qualidades do objeto proposto. Representam trocas entre elementos ativos, passivos ou ambos, sem provocar variações. [6] BIODIVERSIDADE: Pode ser definida como a variedade e a variabilidade existente entre os organismos vivos e as complexidades ecológicas nas quais elas ocorrem. Entendida inclusive, como uma associação de vários componentes hierárquicos: ecossistema, comunidade, espécies, populações e genes em uma área definida. [5] BIOJOIA: Termo utilizado às joias (adornos para o ser humano) que tem como diferencial a matéria prima vegetal, como sementes, fibras, conchas, casca de coco, e outros materiais naturais. [23] 41 Os números, entre chaves [ ], a frente da explicação dos termos, referem-se a origem da informação. As referências dos termos encontram-se no final deste glossário. 172 BIOMA: Conjunto de diferentes ecossistemas, que possuem certo nível de homogeneidade. São as comunidades biológicas, ou seja, as populações de organismos da fauna e da flora interagindo entre si e interagindo também com o ambiente físico chamado biótopo. [5] BRAÇOS DE BURITI: As folhas se desenvolvem diretamente do tronco da palmeira de buriti, são chamadas de braços, quando elas se abrem. Ao secarem são ótimas para produção artesanal. [8] CAIÇARAS: Palavra de origem tupi que refere-se aos habitantes das zonas litorâneas. Inicialmente designava apenas a indivíduos que viviam da pesca de subsistência. Mais tarde, o termo caiçara veio designar diversos itens de cunho cultural no litoral brasileiro, mais precisamente no sul e sudeste. [9] CABOCLOS RIBEIRINHOS: Povos que vivem às margens dos rios. Eles construíram um modo de vida integrado pela agricultura e extrativismo vegetal ou animal, vivendo em função de produtos da floresta, dos rios e das terras molhadas da várzea dos rios. [9] CADEIAS PRODUTIVAS: Conjunto de etapas consecutivas, ao longo das quais os diversos insumos sofrem algum tipo de transformação, até a constituição de um produto final (bem ou serviço) e sua colocação no mercado. Trata-se, portanto, de uma sucessão de operações (ou de estágios técnicos de produção e de distribuição) integradas, realizadas por diversas unidades interligadas como uma corrente, desde a extração e manuseio da matéria-prima até a distribuição do produto. [10] CARÁTER DE BRASILIDADE: Conjunto de aspectos que envolvem as origens, formação do povo brasileiro. Formado pelas influencias etnológicas de várias raças, estilos, opções, cores e conteúdos; perfil, humor, qualidades e defeitos que formam o contexto da identidade nacional, suas tradições e atitudes. [11] CATÁLOGO: relação ordenada de coisas ou pessoas com descrições curtas a respeito de cada um dos itens. [3] CERRADÃO: formação florestal do bioma cerrado com características esclerófilas (grande ocorrência de órgãos vegetais rijos, principalmente folhas) e xeromórficas (com características como folhas reduzidas, suculência, pilosidade densa ou com cutícula grossa que permitem conservar água e, portanto, suportar condições de seca). Caracteriza-se pela presença preferencial de espécies que ocorrem no Cerrado sentido restrito e também por espécies de florestas, particularmente as da mata seca semidecídua e da mata de galeria não inundável. Do ponto de vista fisionômico é uma floresta, mas floristicamente se assemelha mais ao cerrado sentido restrito. É um tipo mais denso de vegetação. [12] CERRADO: É o bioma que ocupa a região do Planalto Central brasileiro, sendo que há grandes manchas desta fisionomia na Amazônia e algumas menores na Caatinga e na Mata Atlântica. Seu clima é particularmente marcante, apresentando duas estações bem definidas. O Cerrado apresenta fisionomias variadas, indo desde campos limpos desprovidos de vegetação lenhosa a cerradão, uma formação arbórea densa. Esta região é permeada por matas ciliares e veredas, que acompanham os cursos d'água. [12] 173 CERRADO CAMPO LIMPO: Extensão de terras sem mata, recoberto por plantas herbáceas, principalmente gramíneas, podendo ter árvores esparsas (cerrado). Ocorre em terrenos planos, em vales e colinas. Consiste de uma camada rasteira de gramíneas e ervas, sem árvores ou arbustos que se destaquem no estrato arbustivoherbáceo. No Campo Limpo a presença de arbustos e subarbustos é insignificante. [12] CERRADO CAMPO RUPESTRE: Trechos com estrutura similar ao Campo Sujo ou ao Campo Limpo, diferenciando-se tanto pelo substrato, composto por afloramentos de rocha, quanto pela composição florística, que inclui muitos endemismos (presença de espécies com ocorrência restrita a este ambiente). [12] CERRADO CAMPO SUJO: Tipo de Cerrado formado de vegetação com fisionomia herbácea e arbustiva com arbustos e subarbustos espaçados entre si, geralmente estão sobre solos mais rasos que podem apresentar pequenos trechos de rochas ou solos mais profundos, mas pouco férteis. Caracteriza-se pela presença evidente de arbustos e subarbustos entremeados no estrato arbustivo-herbáceo. [12] CERRADO MINEIRO: Minas Gerais, na maior parte de seu território, é revestida pela tipologia vegetal denominada cerrado, que se caracteriza por vegetação não muito densa com árvores de pequeno e médio porte que, de um modo geral, se apresentam com bastante tortuosidade. São comuns, entretanto, diferentes fisionomias neste tipo de vegetação, variando desde o típico cerrado, como acima se mencionou, até o campo, como o que é encontrado em quase toda extensão. Esta vegetação abriga importantes espécies da flora e da fauna do bioma Cerrado. Algumas delas ameaçadas de extinção, como é o caso do lobo-guará, do veadocampeiro e do pato-mergulhão, dentre outros. [13] CERRADO SENTIDO RESTRITO: Caracteriza-se pela presença de árvores baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares e retorcidas, e geralmente com evidências de queimadas. Os arbustos e subarbustos encontram-se espalhados, com algumas espécies apresentando órgãos subterrâneos perenes (xilopódios), que permitem a rebrota após queima ou corte. Na época chuvosa as camadas subarbustiva e herbácea tornam-se exuberantes, devido ao seu rápido crescimento. [12] CHAPADEIROS: Habitantes das comunidades com relevo entre chapadas, muitas vezes são povos descendentes de bandeirantes, garimpeiros ou mesmos indígenas. [9] CICLO DE VIDA DO PRODUTO: É a história completa do produto através de suas fases de concepção, definição, produção, operação e obsolescência. [2] COMPENSAÇÕES AMBIENTAIS: A Compensação Ambiental é um mecanismo financeiro de compensação pelos efeitos de impactos ambientais não mitigáveis. É imposta pelo ordenamento jurídico aos empreendedores, sob duas modalidades distintas: no licenciamento ou quando do dano efetivo. [14] COMUNIDADE ECOLÓGICA: É a comunidade que pratica a permacultura. O conceito pretende abranger não só a agricultura como todas as formas de interação entre o homem e a natureza que o sustentam. Baseia-se no princípio que um 174 sistema se deve sustentar a si próprio sem degradar os recursos que o suportam, utilizando para isso as suas capacidades de renovação. O design da permacultura baseia-se por isso na observação dos sistemas naturais, e na forma como atingem o equilíbrio dinâmico. [7] COMUNIDADES TRADICIONAIS: Povos e Comunidades Tradicionais são "grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição". [16] COMUNIDADES TRADICIONAIS URBANAS: As comunidades tradicionais urbanas reúnem ainda remanescentes de quilombos urbanos que foram absorvidos com o crescimento das cidades. [14] CONSUMIDOR: pessoa física ou jurídica que adquire algum produto ou serviço para seu consumo. Existem dois tipos de consumidores: O consumidor final é aqueles que compram produtos em sua forma final; e o consumidor intermediário que é aqueles consumidores que compram matérias-primas ou produtos do atacado antes de vendê-las ao consumidor final. Serviços aos consumidores é oferecer aos consumidores o que eles que querem ou necessitam. [14] CONSUMO SUSTENTÁVEL: O conceito de consumo sustentável passou a ser construído a partir do termo desenvolvimento sustentável, divulgado com a Agenda 21, documento produzido durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992. A Agenda 21 relata quais as principais ações que devem ser tomadas pelos governos para aliar a necessidade de crescimento dos países com a manutenção do equilíbrio do meio ambiente. Os temas principais desse documento falam justamente sobre mudanças de padrões de consumo, manejo ambiental dos resíduos sólidos e saneamento e abordam ainda o fortalecimento do papel do comércio e da indústria. [13] COPA DA ÁRVORE: Parte da arvore que compõe as folhagens superiores constituído em ramos. Abriga flores e frutos. A copa da árvore deve ter formato, dimensão e engalhamento adequado a cada espécie, quanto maior a copa maior a raiz. [17] CORANTES NATURAIS: São corantes (pigmentos) obtidos a partir de vegetais ou, eventualmente de animais. [4] DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. [13] 175 ECOSSISTEMAS: conjunto formado por todas as comunidades que vivem e interagem em determinada região e pelos fatores abióticos que atuam sobre essas comunidades. Consideram-se como fatores bióticos os efeitos das diversas populações de animais, plantas e bactérias umas com as outras e abióticos os fatores externos como a água, o sol, o solo, o gelo, o vento. Em um determinado local, seja uma vegetação de cerrado, mata ciliar, caatinga, mata atlântica ou floresta amazônica, por exemplo, a todas as relações dos organismos entre si, e com seu meio ambiente chamamos ecossistema. Ou seja, podemos definir ecossistema como sendo um conjunto de comunidades interagindo entre si e agindo sobre e/ou sofrendo a ação dos fatores abióticos. [18] ELEMENTOS AMBIENTAIS: Elementos que formam as condições do ambiente através de efeitos químicos ou físicos. Neste caso, são os elementos constituídos dos ecossistemas em um ambiente (plantas, animais, pessoas). [19] ELEMENTOS CULTURAIS: São as instituições, as ideias, os valores e as técnicas que formam a cultura. A cultura é o processo de transmissão de geração em geração e não existe independentemente dos indivíduos. A cultura também é simbólica, pois todas as culturas possuem símbolos que são compreendidos de modo semelhante por todas as pessoas que as integram. [19] ELEMENTOS HISTÓRICOS: Os elementos históricos, por sua vez, como o próprio nome indica, compreendem as ideias de interpretação verificando o contexto histórico, as instituições e preceitos de cada época. [19] ELEMENTOS SOCIAIS: São os elementos que atuam na vida do ser humano, no comportamento humano em função do meio e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições. [19] EMISSÃO ZERO: A abordagem em Emissão Zero representa uma mudança em nosso conceito de indústria, abandonando os modelos lineares nos quais os resíduos são considerados a norma, para sistemas integrados nos quais tudo tem seu uso. Prenuncia o inicio de uma nova revolução industrial, na qual a indústria imita os ciclos sustentáveis da natureza e a humanidade, mais que esperar que a terra produza mais, aprende a fazer mais com os recursos que a terra produz. A Emissão Zero vislumbra todos os insumos industriais sendo aproveitados nos produtos finais ou convertidos em insumos de valor agregado para outras indústrias ou processos. Desta maneira os processos produtivos irão se organizar espacialmente em conjuntos, de modo que o resíduo de cada processo seja completamente correspondido pelos insumos de outros processos, e o todo integrado não produz resíduos de nenhum tipo. [20] ESPÉCIES VEGETAIS: As plantas são espécies vegetais, seres pluricelulares e eucariontes. Nesses aspectos elas são semelhantes aos animais e a muitos tipos de fungos; entretanto, têm uma característica que as distingue desses seres - são autotróficas. [21] ESPÉCIE EXÓTICA: É uma espécie que não é nativa na região onde se localiza. [21] 176 EXTRATIVISTAS: São todas as atividades de coleta de produtos naturais, sejam estes produtos de origem animal, vegetal ou mineral. [10] EXTRATIVISMO SUSTENTÁVEL: Sistema de exploração baseado na coleta e extração, de modo sustentável, de recursos naturais renováveis. [10] FATORES ABIÓTICOS: Fatores químicos e físicos. [21] FIBRAS NATURAIS: As fibras retiradas da natureza. Servem de matéria-prima para manufatura, podendo ser fiadas, para a formação de fios, linhas ou cordas ou dispostas em mantas, para a produção papel, feltro ou outros produtos. Lã, algodão, linho, ramos e outros. [8] FITOFISIONOMIAS: Aspectos da vegetação de um lugar, ou de lugares. [21] FITOFISIONÔMICO: Relativo à fitofisionomia, ou seja, aos aspectos da vegetação de um local. [21] FOLHAGEM DA ÁRVORE: Conjunto de ramos e folhas que compõem a copa da arvore. [17] FUSTE DA ÁRVORE: Fuste é a parte principal do tronco de uma árvore, aquela situada entre o solo e as primeiras ramificações. [17] FUSTE TOTAL DA ÁRVORE: É o tronco principal de uma arvore da com todas as ramificações que às compreendem. [17] GEOMORFOLÓGICAS: Estudos das formas da superfície e terrestre. [21] GERAIZEIROS: Habitantes do sertão, são as populações tradicionais que vivem nos Cerrados do Norte de Minas. Este termo deriva do fato de que, no norte do estado de Minas Gerais as regiões de Cerrado são conhecidas como Gerais. [9] IDENTIDADE CULTURAL: Identidade é a igualdade completa. Cultural é um adjetivo de saber. Logo, a junção das duas palavras produz o sentido de saber se reconhecer. Muitas questões contemporâneas sobre cultura se relacionam com questões sobre identidade. A discussão sobre a identidade cultural acaba influenciada por questões sobre: lugar, gênero, raça, história, nacionalidade, orientação sexual, crença religiosa e etnia. [10] IDENTIDADE DO PRODUTO: Fundamentada no conceito da marca e estender-se como um conjunto de características e/ou atributos que configuram sua personalidade. Cabe salientar que a imagem de uma marca será sempre percebida, contraposto da sua identidade que deverá estar bem posicionada e definida na mente do consumidor. [27] INSUMOS: São as matérias primas utilizadas para um processo de produção. Tudo aquilo que entra no processo ('input'), em contraposição ao produto ('output'), que é o que sai. Podem ser consideradas as plantas, os frutos, as flores, as fibras e outros produtos do agroextrativismo. [22] 177 MANEJO SUSTENTÁVEL: Utilização de práticas e manejos que possam executar a sustentabilidade social, econômica e ambiental dos empreendimentos rurais com os recursos florestais. [10] MATA CILIAR: Vegetação que ocorre nas margens de rios e mananciais. O termo refere-se ao fato de que ela pode ser tomada como uma espécie de "cílio" que protege os cursos de água do assoreamento. [21] MATA DE GALERIA: Vegetação mais frondosa. O termo refere-se ao fato de que ela pode ser tomada como uma espécie de "cílio" que protege os cursos de água do assoreamento. [21] MÉTODO MECANICISTA: É o método que os elementos ligados entre si, cujo funcionamento regular e previsível pode ser reduzido a um conjunto limitado de leis, as leis da mecânica. [23] MÉTODO CIENTÍFICO: Conjunto de procedimentos usados pelos cientistas para obter um conhecimento tão certo e seguro quanto possível na sua área de investigação. . [23] MICRONUTRIENTES: Elemento necessário à manutenção de algum organismo, como no caso do cromo para o corpo humano, necessário em quantias extremamente pequenas, e de alguns metais para plantas. [17] PARTE AÉREA DA ÁRVORE: A parte aérea é constituída pelo tronco, também denominado de caule principal, sendo a partir deste eixo central que surgem diversos ramos laterais, servindo estes de suporte para as folhas e para as flores ou para os cones, no caso das coníferas. [17] PESCADORES ARTESANAIS: São aqueles que executam a pesca principalmente pela mão de obra familiar. Utilizam embarcações de porte pequeno, como canoas ou jangadas, ou ainda sem embarcação, como na captura de moluscos perto da costa. Sua área de atuação está nas proximidades da costa e nos rios e lagos. [16] POPULAÇÕES TRADICIONAIS MARÍTIMAS: são os povos tradicionais que se subdividem em ―pescadores artesanais‖ e os ―caiçaras‖, principalmente do litoral Nordestino e pelos caiçaras do litoral do Sul e Sudeste do Brasil. [16] PONTEIRO DA ÁRVORE: Parte da arvore que mantém as caracterizas e evita anormalidade do crescimento. Quando a planta perde o ponteiro ela emite outros restabelecendo o equilíbrio nutricional de novo, para manter-se viva. [17] POVOS TRADICIONAIS: São os povos que aderem a uma tecnologia e a práticas semelhantes às que vigoravam tradicionalmente e que não são lesivas ao meio ambiente. As populações tradicionais variam de acordo com cada região do Brasil, apresentando traços culturais que a diferenciam da população que está em seu entorno; são comunidades tradicionais os "povos indígenas", as comunidades "remanescentes de quilombos", os "caboclos ribeirinhos", as "comunidades tradicionais urbanas" e as "populações tradicionais marítimas". [16] 178 PRODUÇÃO ARTESANAL: Processo de produção em que, embora padronizada, cada peça feita à mão é única, não se confunde com nenhuma outra, nem da mesma espécie, ainda que tenha sido elaborada pela mesma pessoa. [4] PRÁTICAS PRODUTIVAS: Práticas que procuram, através da diversificação da produção, de inovações no processo de comercialização, da agregação de valor ao produto, de formas de organização criativas que procuram superar as dificuldades do cooperativismo e associativismo tradicional. [4] PROCESSO CRIATIVO: É o processo de mudança, de desenvolvimento, de evolução na organização subjetiva. Possui duas características fundamentais, é autônomo e é dirigido para a produção de uma nova forma. [4] PRODUTOR DE INSUMOS VEGETAIS: É aquele que executa a produção de insumos, ou seja, a matérias-primas (fatores direto) e mão de obra, energia, tributos (indiretos), que entram na elaboração de certa quantidade de bens ou serviços. [12] PROPÁGULOS: São estruturas constituídas basicamente por células meristemáticas que se desprendem de uma planta adulta para dar origem a uma nova planta, geneticamente idêntica à planta de origem (clones). [23] QUATERNÁRIO: Período do planeta de grande extensão de ―eras de gelo‖ durante o último máximo glacial cerca de 20.000 anos a 12.000 anos atrás - Pleistoceno e Holoceno. Dando início a atual época em que vivemos atualmente, e extinguindo os animais que se adaptaram a viver com essas eras do gelo. [24] QUILOMBOLAS: A palavra ―Quilombo‖ ou ―Calhambo‖ é de origem Bantu, e significa acampamento ou fortaleza. O povo Bantu se localiza nas regiões sul, sudoeste e sudeste da África. A palavra foi usada pelos portugueses para denominar as povoações construídas por escravos fugidos. O termo também pode ser atribuído a ―casa‖ ou ―refúgio‖. Durante os períodos colonial e imperial, vários quilombos ou comunidades negras se formaram com a fuga de escravos que se rebelara contra a ordem escravista. Havia diferentes formas de quilombos: desde pequenos grupos itinerantes que viviam de assaltos nas estradas e fazendas até complexas estruturas de vilarejos, como o Quilombo de Palmares no nordeste brasileiro e o quilombo do Ambrósio no centro-oeste mineiro. [16] RAMOS DA ÁRVORE: Ramificações da espécie vegetal que, segundo sua função, dividem-se em: ramos lenhosos (vegetativos), mistos e frutíferos. [17] REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA: Regularização fundiária é um programa do Governo do Estado que tem como objetivo eliminar a indefinição dominial, ou seja, estabelecer com precisão de quem é a posse da terra para depois legitimá-la ou regularizá-la, garantindo segurança social e jurídica para pequenos agricultores e moradores de áreas urbanas, e auxiliar os municípios no dimensionamento da arrecadação de impostos e elaboração de planos diretores. [14] RECURSOS NATURAIS: Inclui o meio físico, especialmente, solos e águas (superfície, atmosfera e subterrânea), e o meio biótico especialmente a fauna e flora, que sejam úteis para a produção. Nesta análise, a ênfase recai sobre as funções 179 dos ecossistemas, referentes à água e à biodiversidade e ao carbono, os quais são necessários, ao menos indiretamente, para o desenvolvimento sustentável. , [5] RESÍDUOS FLORESTAIS: São os resíduos vegetais oriundos do extrativismo, agregando valores específicos de matas espessas, florestas ou produção agrícola. Como exemplo os resíduos da extração de eucaliptos e outras madeiras. [17] RIBEIRINHOS: Populações tradicionais que residem nas proximidades dos rios e têm a pesca artesanal como principal atividade de subsistência e cultivam pequenos roçados para consumo próprio. Podem praticar também atividades extrativistas. [16] SAVANA: Região plana cuja vegetação predominante são a gramínea, com árvores esparsas e arbustos isolados ou em pequenos grupos. Normalmente, as savanas são zonas de transição entre bosques e prados. A savana é o bioma típico das regiões de clima tropical com estação seca. [21] SEDA DO BURITI: As folhas jovens também produzem uma fibra muito fina, a “seda‖ do buriti, usada pelos artesãos na fabricação de peça. [8] SEMIÁRIDO: é um tipo de clima caracterizado pela baixa umidade e pouco volume pluviométrico. Na classificação mundial do clima, o clima semiárido é aquele que apresenta precipitação de chuvas média entre 300 mm e 800 mm. [26] SERTANEJOS: Habitantes da região semiárida do nordeste brasileiro, considerando a extensão de 868 mil quilômetros, abrangendo o norte dos estados de: Minas Gerais e Espírito Santo, os sertões da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e uma parte do sudeste do Maranhão. [16] SERVIÇO AMBIENTAL: É a capacidade da natureza de fornecer qualidade de vida e comodidades. A natureza trabalha (presta serviços) para a manutenção da vida e de seus processos e estes serviços realizados pela natureza são conhecidos como serviços ambientais. [14] SISTEMA: É um conjunto integrado de partes íntima e dinamicamente relacionadas, que desenvolve uma atividade ou função e destina em atingir um só objetivo. A organização visualiza como um sistema que é constituído de subsistemas. Sistemas fechados: são sistemas de intercâmbio com ambiente, portanto, inteiramente programado e determinísticos. Na verdade não existem sistemas totalmente fechados, mas sim sistema hermético a qualquer influência ambiental o funcionamento é perfeitamente previsível e programado. Sistemas abertos: são sistemas que apresentam intensas relações de intercâmbio com o ambiente. São inteiramente probabilísticos e totalmente flexíveis, pois não é possível mapear todas as suas entradas e saídas. [6] SISTEMA PRODUTO: Sistema caracterizado por intensas e constantes interrelações com o contexto ambiental (entendido como o mundo da natureza e o mundo das interconexões globais de caráter político, econômico, social e cultural). [6] TERRITÓRIO: Apropriação de uma parcela geográfica por um indivíduo ou uma coletividade. O território não se restringe somente às fronteiras entre diferentes 180 países, sendo caracterizado pela ideia de posse, domínio e poder, correspondendo ao espaço geográfico socializado, apropriado para os seus habitantes, independentemente da extensão territorial. [25] TERRITORIALIDADE: As estratégias espaciais usadas para obter esse controle. Ela seria constituída por 3 aspectos fundamentais: uma forma de classificação de área, uma forma de controle de acesso e ainda um modo de comunicação. . [23] TERRITORIALIZAÇÃO: Formas de organização e reorganização social, modos distintos de percepção, ordenamento, reordenamento em termos de relações com o espaço. . [23] TOUÇA DA ÁRVORE: Parte da árvore cujo caule foi cortado e que fica viva no solo. (Sin.: cepa.) Conjunto dos rebentos de uma planta. [17] UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: São áreas protegidas por lei, de acordo com sua função e utilidade para o equilíbrio do meio e o bem estar do homem. Não são apenas bens públicos: são bens comuns. [14] VAZANTEIROS: pequenos agricultores que ocupam as margens de rios. [16] VEREDAS: Região com maior abundância de água e vegetação na zona das caatingas, caminhos alagados. [21] VEREDEIROS: comunidades que vive do cultivo da terra. [16] VISÃO HOLÍSTICA: Ver sob os aspectos integrados, todos os elementos em um todo. A palavra hólos veio do grego e significa inteiro; composto. Holismo é a tendência a sintetizar unidades em totalidades, que se supõe seja própria do universo. . [23] 181 REFERÊNCIAS DO GLOSSÁRIO: [1] - ACTIONAID.ORG.BR. disponível em: <http://www.actionaid.org.br/tabid/673/Default.aspx>. Acesso em: 18 set. 2011. [2] - RIBEIRO, C. M.; GIANNETI B. 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Consumidores e cidadãos: Conflitos Multiculturais da Globalização. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996. 183 APÊNDICES 184 APÊNDICE A - Dados de sites: Comercialização de Res.Veg. Beneficiados INFORMAÇÕES DE SITES: COMERCIALIZAÇÃO DOS RESÍDUOS VEGETAIS 1. S & R Flores e Folhagens Ltda. <http://www.srflores.com.br/default.aspx>. Acesso em: 12 jul. 2011. ―Fundada no ano de 1997, porém seus fundadores já atuavam no mercado de flores secas desde meados da década de 70. Possui conhecimento tanto na desidratação, branqueamento e tingimento de flores e folhagens, além da diversificada linha de produtos desidratados para decoração e artesanato do Brasil. Comercializa produtos para decoração e artesanato, tendo como forte artigos desidratados ou secos, assim como: flores, capins, folhagens e folhas secas, especiarias e frutas desidratadas para a confecção de velas decorativas e pot pourris aromatizantes, musgos, vimes, frutos secos e sementes decorativas. O meio de comércio é o atacado e o varejo, o qual atua em todo o território brasileiro, seja através dos Correios, ou por transportadora.‖ (Informações do site). Identificação Visual do Material Especificação popular Identificação Visual do Material Especificação popular Abacaxizinho alvejado Abacaxizinho Color Aniz estrelado Asa de Barata Asa de borboleta – Flor de Tingui Aspargo sortido Assa peixe sortido Avenca Bolsa de Castor Boca de Sapo 185 LEVANTAMENTO SITE DE COMERCIALIZAÇÃO DOS RESÍDUOS VEGETAIS - DATA: 07/2011 1. Caldana Flores <http://caldanaflores.com.br/index.php>. Acesso em: 12 jul. 2011 “Fundada em meados da década de 80, tem como prioridade melhor atender seus clientes, e para que isso aconteça vem ao decorrer dos anos aprimorando vários aspectos. A Caldana Flores está sediada na cidade de Artur Nogueira, onde ocorre todo o processo de transformação dos produtos, distribuímos para todo o país através de transportadoras e também através do CEASA Campinas, onde concentra-se nosso maior ponto de vendas. Navegue pelo nosso site e conheça um pouco mais de nossos produtos, desde já a Caldana Flores se dispõe à esclarecer todas e quaisquer dúvidas que por ventura venham surgir. Assim também aproveitamos para agradecer a colaboração de todos que fazem da Caldana Flores uma empresa líder no mercado, obrigado aos clientes, funcionários, fornecedores, amigos, e à todos que direta ou indiretamente contribuem para que o crescimento aconteça.” – (Informações do site) Flores e Buquês Folhagens, Galhos e Diversos Folhas, Cascas e Sementes Musgos Cód: 0080 Cód: 0081 Cód: 0082 Cód: 0084 Cód: 0085 Cód: 0086 Topiaria, Conchas e Estrelas Cód: 0083 Cód: 0087 186 APÊNDICE B - Formulários para cadastro artesãos e cadastro de esp. vegetais 1. Modelo cadastramento de artesões: 2. Modelo cadastramento das espécies vegetais: 187 APÊNDICE C - Modelo entrevista semiestruturada Termo de Esclarecimento Esta pesquisa, “Design Sistêmico: Sustentabilidade na Produção Artesanal com Resíduos Vegetais do Cerrado Mineiro”, enquadra-se numa investigação no âmbito do Mestrado em Design, Inovação e Sustentabilidade, área de concentração Design, Materiais, Tecnologia e Processos. Com esta entrevista busco obter informações sobre a origem, nome cientifico e comercialização de insumos e resíduos vegetais, bem como entender especialmente nas lojas do Mercado Central de Belo Horizonte de existe esgotamento pela extração de espécies vegetais do Cerrado Mineiro. Todas as informações recolhidas são estritamente confidenciais e os dados de identificação servem apenas para efeito de interpretação das outras respostas. Por favor, responda com sinceridade, pois não há respostas corretas ou incorretas. Sua participação é muito importante para o desenvolvimento da pesquisa. Desde já agradeço pela colaboração. Obrigada! Nome do Comércio: Endereço: Data: Identificação Pessoal: 1. Nome: 2. Idade: 3. Formação acadêmica / escolar: 4. Há quanto tempo trabalha na loja? Identificação dos produtos: 1. Conhece os nomes das espécies vegetais (resíduos vegetais) que são comercializadas? 2. Estes insumos são adquiridos de pessoas físicas ou de empresas, associações e cooperativas? 3. Qual a região de procedência? 4. Sabe como são coletados? 5. Os fornecimentos destes insumos variam por estações do ano? 6. O fornecimento de algum tem diminuído ou deixou de ser comercializado? 7. Um Catálogo com os nomes das espécies vegetais para o artesanato ajudaria as atividades comerciais? 188 APÊNDICE D - Modelo carta apresentação e solicitação de apoio APRESENTAÇÃO Pesquisa “Design Sistêmico: Sustentabilidade na Produção Artesanal com Resíduos Vegetais do Cerrado Mineiro” Assunto: Solicitação apoio à pesquisa (voluntária) Ao Sr(a) ______________________________________________________ Instituição: ___________________________________________________ Endereço: ____________________________________________________ Prezado Senhor(a), Solicito apoio ao desenvolvimento da pesquisa acima citada, em desenvolvimento no Município de Chapada Gaúcha. O objetivo principal é investigar possíveis contribuições do design sustentável na produção artesanal com resíduos vegetais do Cerrado Mineiro, referentes aos materiais, técnicas e processos que valorizem o território. Compreendem também os objetivos da proposta: Pesquisar as espécies vegetais do Cerrado Mineiro e seus insumos que possam ser utilizados na produção artesanal, através da sustentabilidade ambiental, social e econômica; Propor a aplicação dos resíduos vegetais utilizados nos produtos artesanais, visando à sensibilização da sociedade quanto à riqueza do bioma Cerrado em Minas Gerais e a necessidade de construção de novas práticas produtivas do design, voltadas à sustentabilidade; Desenvolver proposta de um catálogo de espécies vegetais do Cerrado Mineiro, cujos resíduos possam ser utilizados na produção artesanal, para estimular ao desenvolvimento da sociobiodiversidade neste território. Este projeto é parte das atividades para dissertação do mestrado em “Design, Inovação e Sustentabilidade” - localidade de amostra o Vale do Urucuia, Município de Chapada Gaúcha. O projeto é voluntário, não requerendo quaisquer ônus para as instituições parceiras. Solicita-se: dados da região e da comunidade (necessários para o desenvolvimento da pesquisa), colaboração na mobilização social, identificação de espécies vegetais e transporte para acompanhamento às comunidades distantes, quando possível. Atenciosamente, ______________________________________ Nadja Maria Mourão Localidade:__________________________ Data_________________ DE ACORDO: ______________________________________________ Assinatura e n° documento 189 APÊNDICE E - Modelo autorização para reprodução de foto e vídeos AUTORIZAÇÃO Acordado entre: O(a) Sr.(a)_____________________________________________________, nascido(a) a ___/___/_____, em ______________________________________________, residente____________________________________________________________________ , e a Equipe de foto/filmagem do projeto de pesquisa “Design Sistêmico: Sustentabilidade na Produção Artesanal com Resíduos Vegetais do Cerrado Mineiro”. Pelo presente documento, concedo os direitos para divulgação e reprodução das fotografias e imagens, realizadas em _______________________________________________, no dia _____________, para:_________________________________________________________. As fotografias e filmagens poderão ser reproduzidas parcialmente ou na sua totalidade em qualquer suporte (papel, digital, magnético, tecido, plástico, etc.) e integradas a qualquer outro material (fotografia, desenho, ilustração, pintura, vídeo, animação, etc.) conhecido ou que venha a existir. As fotografias e filmagens poderão ser exploradas em qualquer parte do mundo e em todos os ramos (publicidade, edição, imprensa, packaging, design, etc.) diretamente pelo fotógrafo ou cedidas a terceiros. Está definido que o fotógrafo está expressamente proibido de explorar as fotografias e filmagens de um modo que possa ser considerado como atentado à minha vida e de difundilas sobre qualquer suporte considerado pornográfico, xenófobo, violento ou ilícito. Reconhece que a não existe ligação a nenhum contrato de exclusividade do uso do meu nome ou imagem, ou quaisquer pagamentos. Pois, estas imagens, são exclusividade do Projeto de Pesquisa “Design Sistêmico: Sustentabilidade na Produção Artesanal com Resíduos Vegetais do Cerrado Mineiro”. ___________________________________________________ Assinatura Fotógrafo: _______________________________________________________________, Identidade:_________________________, CPF:_________________________________, Residência:_______________________________________________________________. 190 APÊNDICE F - Levantamento de preços no Mercado Central de BH TABELA DE PREÇOS DOS RESÍDUOS VEGETAIS BENEFICIADOS LOJAS DO MERCADO CENTRAL DE BELO HORIZONTE - DATA: 06/2011 Identificação Visual do Material Especificação popular LOJA A LOJA B LOJA C Folha de Maria Preta Esqueletizada e pigmentada Cor: violeta R$ 35,00k Pacote: R$ 3,50 R$ 37,00k Pacote: R$ 3,70 R$ 35,00k Pacote: R$ 3,50 R$ 25,00 Pacote: R$ 2,50 R$ 20,00 Pacote: R$ 2,00 R$ 30,00 Pacote: R$ 3,00 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 Semente Açaí Rolada e pigmentada. Cor: Violeta R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 Semente Abacaxizinho Pigmentada. Cor: amarelo, verde. R$ 12,00 k * R$ 0,20 R$ 12,00 k * R$ 0,20 R$ 12,00 k * R$ 0,20 Semente Chapéu de Napoleão. Pigmentada. Cor: diversas R$ 15,00 k * R$ 0,50 R$ 13,00 k * R$ 0,30 R$ 15,00 k * R$ 0,50 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 Semente de Framboyan R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 Semente de Anajá R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 13,00 k * R$ 0,20 R$ 13,00 k * R$ 0,20 R$ 13,00 k * R$ 0,20 Folha Moeda Alvejada e pigmentada Cor: amarelo, vermelho, verde. Semente Açaí Semente de feijão branco Semente de fava rosa Semente Cinzeiro 191 LISTA DE PREÇOS DOS INSUMOS E RESÍDUOS VEGETAIS LOJAS DO MERCADO CENTRAL DE BELO HORIZONTE - DATA: 06/2011 Identificação Visual do Material Especificação popular LOJA A LOJA B LOJA C Semente Gingobiloba R$ 12,00 k * R$ 0,20 R$ 12,00 k * R$ 0,20 R$ 12,00 k * R$ 0,20 Semente Batecaixa R$ 15,00 k * R$ 0,50 R$ 13,00 k * R$ 0,30 R$ 15,00 k * R$ 0,50 Semente Mamona Africana R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 Semente Saboneteira (sem casca) R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 R$ 12,00 k * R$ 0,10 Semente vermelhinha R$ 13,00 k * R$ 0,20 R$ 13,00 k * R$ 0,20 R$ 13,00 k * R$ 0,20 Semente Guatambu R$ 12,00 k * R$ 0,20 R$ 12,00 k * R$ 0,20 R$ 12,00 k * R$ 0,20 R$ 15,00 k * R$ 0,40 R$ 13,00 k * R$ 0,30 R$ 15,00 k * R$ 0,40 R$ 12,00 k * R$ 0,50 R$ 12,00 k * R$ 0,50 R$ 12,00 k * R$ 0,50 Semente Pé de coelho Semente Pau doce Semente Pêssego do Cerrado Pigmentado e rolado Chichá (*) preço aproximado da quantidade apresentada na imagem da tabela acima. 192 APÊNDICE G - Dados complementares das espécies vegetais LISTA DE ALGUMAS ESPÉCIES VEGETAIS CADASTRADAS NO VALE DO URUCUIA – POUCO USADAS EM PRODUÇÃO ARTESANAL Nº. Nome Popular e Científico: Outras Denominações: USO DA ESPÉCIE VEGETAL EM: 1. Araticum do Cerrado: Annona crassiflora Araticum, marolo, araticum liso, araticum dos lisos, marolinha, araticum do campo, araticum dos grandes, cabeça de negro. Frutificam durante quase todo o ano. Alto valor nutricional. 2. Barbatimão: Stryphnodendron Uabatimó, paricarana, casca da mocidade. pulcherrimum Muito utilizada no paisagismo. Tem floração escura e discreta, mas não é todo ano que produz frutos. Sua casca é um excelente cicatrizante e um poderoso agente contra bactérias, inflamações e úlceras. 3. Baru: Dipteryx alata Vog Cumbaru; cumaru; coco-feijão. A madeira dessa árvore, que em algumas localidades chega a atingir até 25 metros de altura, é bastante pesada e resistente a fungos e cupins. Seu tronco é muito utilizado na construção civil e naval. Oferece um fruto com amêndoa dura e saborosa. 4. Cagaita: Eugenia dysenterica Dc. Cagaiteira. Fruto globoso e achatado, de coloração amarelo-pálido de sabor acidulado. Fornece madeira para pequenas obras de construção civil, artesanato e carvão. A casca serve para indústria de curtume. Quanto ao uso medicinal, além do efeito purgativo dos frutos, a garrafada das folhas produz efeito contrário, sendo antidiarréico e também utilizado para combater problemas cardíacos. Angelicó, calunga, capa de homem, contraerva, erva de urubu, papo de peru, urubu caá, jarrinha, mil homens. Planta escalante (trepadeira ou cipó), com troncos. 5. Calunga: Aristolochia trilobata L Amarelo, acende candeia, amarelinho, candeia, oiteira, paricazinho, pau amarelo, pau de candeia, 6. Carvoeiro: Sclerolobium paniculatum vinhático branco, vinhático castanho, vinhático da mata, vinhático do campo, vinhático do mato, vinhático-rajado e vinhático testa de boi Árvore de importância econômica, já que a madeira de alta qualidade e usada em marcenaria de luxo, apreciada pela sua beleza, durabilidade e pela facilidade com que é trabalhada. É também útil na recuperação de áreas degradadas. Douradinha do campo, dourada, douradão, gritadeira, erva-gritadeira, batedeira, tangaracá-açú. Árvore de pequeno porte com frutos em cachos e de uso medicinal, comum em varias localizadas do Vale do Urucuia. A espécie vegetal Palicourea rígida é uma árvore típica de regiões de cerrado. Suas partes aéreas tem uso popular no tratamento de desordens urinárias (Bolzani et al., 1992; Vencato et al., 2005). Os frutos atraem a fauna. 7. Douradinha: Palicourea rígida 193 Amarelão, barajuba, cumararana, garapa, grápia, maraúba, miratoá, miraúba, muirajuba, muiraruína, 8. Garapea: Leguminosae –Caesalpiniaceae muirataná, muiratauá, pau cetim, pau mulato, sapocajuba, sapucajuba. A madeira para construções, móveis e artesanato. A árvore quando cresce isoladamente adquire copa frondosa e pode ser usada no paisagismo em geral. 9. Grão de galo: Zizyphus undulata Reissek Grão de galo, Juá mirim. A árvore de médio porte, a polpa do fruto consumida in natura é muito usada para corrigir problemas digestivos. Ipê tabaco, cavatã, ipê cascudo, ipê preto, ipê uma, pau d'arco, ipê amarelo de casca lisa, ipê comum, piúva, quiarapaíba. Árvore que pode chegar a 25 m de altura com floração intensa cor amarela, onde ramos e galhos praticamente desaparecem. Em 1961, Jânio Quadros declarou a flor do ipê-amarelo flor nacional. Suas flores atraem abelhas. A madeira é ótima construção e mobiliário. A casca é adstringente, por isso utilizada no tratamento da sífilis. 10.Ipê amarelo: Tabebuia vellosoi 11.Japecanga: Smilax japecanga Japecanga verdadeira, japicanga, salsa do campo. Trepadeira, para medicamento usa-se a casca, flores, sementes e raízes - combatem o reumatismo, afecções das vias urinárias. 12.Lobeira: Solanum lycocarpum Jurubebão, berinjela do campo ou maçã do cerrado. Árvore de pequeno porte, folhas com espinhos, flor roxa em forma de estrela com miolo amarelo. Fruto redondo, duro, verde mesmo quando maduro, considerado medicinal. O fruto é o principal alimento do Lobo Guará. Pode ser usado na recomposição florestal e floresce em varias estações. 13.Mamacadela: Brosimum gaudichaudii Mamica de cadela, algodão do campo, amoreira do Trécul. campo, mururerana, apé, conduru, inhoré. Árvore ou arbusto de pequeno porte, com frutos comestíveis adocicados, com textura da pele da cidra, cor de laranja; utilizados como goma de mascar pelas populações locais, e na forma de sorvete e doces. A planta é também utilizada no tratamento de bronquites, gripes, má circulação do sangue. O nome popular refere-se aos frutos pendurados nos galhos que faz lembrar as tetas caninas. Mangaba, mangabeira, mangabiba, mangaíba, mangaiba uva, mangabeira de minas. A planta produz frutos aromáticos, saborosos e nutritivos, com ampla aceitação de mercado, tanto para o consumo in natura quanto para a indústria de doce, sorvete, suco, licor, vinho e vinagre. 14.Mangaba: Hancornia speciosa Murici amarelo, murici branco, murici vermelho, murici de flor branca, murici de flor vermelha, murici 15.Murici: Byrsonima crassifolia (L.) Rich da chapada, murici da mata, murici da serra, murici das capoeiras, murici do campo, murici do brejo, murici da praia, entre outros. Em suas diferentes variedades, os muricis distinguem-se, também, por suas cores e locais de ocorrência. Árvore de médio porte, tronco cilíndrico, casca escura, áspera e copa estreita, folhas verdes e rígidas. 16.Mutambo: Guazuma ulmidifolia A madeira é leve, pouco compacta, mole, de boa durabilidade quando protegida da chuva e umidade. São empregadas na confecção de tonéis, construções internas, caixotaria e pasta celulósica. Produz 194 carvão que pode ser transformado em pólvora de excelente qualidade. A partir da casca, pode ser extraído material para fabricação de cordas. Sumaúma, barriguda, paina de seda, paineira-branca, paineira-rosa, árvore de paina, árvore de lã, paineirafêmea. É uma árvore grande porte. O tronco tem boa capacidade de sintetizar clorofila (fazer fotossíntese). Podem apresentar um alargamento na base do caule, daí o apelido "barriguda". As folhas são compostas palmadas e caem na época da floração. 17.Paineira: Ceiba speciosa (St.-Hill.) Ravenna 18.Pau d´óleo: Copaífera langsdorfii Desf. Óleo de copaíba, bálsamo, óleo vermelho, copaúva. Coloração castanha avermelhada escura, com veios e manchas irregulares, superfície lustrosa e lisa ao tato, moderadamente pesada, muito durável sob condições naturais. Usada na construção civil, carroças, moveis e artesanato. Pequi, piqui, pequiá, amêndoa de espinho, grão de cavalo. Árvore característica dos cerrados e uma das mais importantes economicamente, além de fazer parte da sua paisagem típica. Com a expansão acelerada da agricultura e da pecuária, corre risco de extinção. O fruto é rico em vitaminas, cálcio, fósforo, ferro e cobre. A massa que envolve as sementes é amarelada, pastosa, farinácea, oleaginosa e rica também em proteínas. Além de fornecer óleo comestível, o pequi é utilizado como condimento no preparo de alimentos. A polpa é ainda empregada na fabricação de licores e sabão caseiro. As amêndoas fornecem óleo para os mais diversos fins, e a madeira é usada para a fabricação de móveis. A entrecasca produz ainda uma tintura castanha escura utilizada na produção de artigos de artesanato. O pequi tem ainda emprego medicinal no tratamento de doenças respiratórias e definhamento orgânico, além de repor energias. 19.Pequi: Caryocar brasiliense Faveiro, fava de Santo Inácio, fava de sucupira, cicupira amarela, sucupira-lisa. Conhecida como sucupira em várias espécies de árvores brasileiras sendo a mais comum a que ocorre no cerrado e sua transição para a floresta semidecídua da Mata Atlântica. É uma árvore de porte médio, o tronco tem casca lisa branca amarelada. A madeira pesada resiste bem a cupins e fungos. Propriedades medicinais: antidiabética, anti-inflamatória, antimutagênica, antirreumática. Indicações: diabete, inibir penetração na pele (humana) da cercaria da esquistossomose, reumatismo. Parte utilizada: casca, sementes, tubérculos da raiz (batata). Cicupira amarela, paricarana, timbaúba, tirnbó da 21.Sucupira branca: Enterolobium mata, timborana, fava de rosca, orelha de negro, schomburgkii Benth. Mimosaceae orelha de macaco, faveira dura, fava orelha de macaco, fava bolota, fava uingue, favela. A madeira é moderadamente difícil de ser trabalhada. A madeira é muito usada na construção civil em geral, carpintaria e marcenaria. Como medicamento é recomendada em maceração com vinho tinto para cura de amidalite. 20.Sucupira amarela: Pterodon emarginatus Sucupira, s. da terra firme, Sapupira, S. da mata, cutiuba, cutiubeira, sapupira do campo, sapupira da 22.Sucupira preta: Bowdichia virgilioides várzea, paricarana, sucupira Açu, s. preta, sapupira preta, sebipira, sicupira. Muito utilizada para o paisagismo, pela arquitetura e bela floração e para a recuperação de áreas degradadas. Sua madeira é de ampla utilização. Propriedades medicinais: adstringente, antidiabética, antirreumática, depurativa, hipoglicêmica, tônica. Parte utilizada: sementes, casca da árvore, casca da raiz, batata da raiz. 195 Amboril, timburi, timbaúva, orelha de macaco, orelha de negro, tambori, timbíba, timbaúba, timboúva, timbó, tambaré, ximbó, orelha de preto, tamburé, pacará, vinhática flor de algodão, araribá, árvore das patacas, cambanambi, chimbó, chimbuva, flor de algodão, orelha de onça, pacará, pau sabão, pau de 23.Tamburiú: Enterolobium contortisiliquum sabão, tamboi, tambor, tamboril do campo, tamboril pardo, tamborim, tamburil, tamburiúva, tambuvé, tambuvi, timbaíba, timbaúva, timbaúva branca, timbaúva preta, timboíba, timborana, timbori, timboril, timboúba, timbuíba, timburil, timbuva, ximbiuva, ximbuva. O tamboril é uma árvore decídua e frondosa, que alcança de 20 a 35 metros de altura e de 80 a 160 de diâmetro de tronco. Suas folhas são alternas, Imbuzeiro, batata do umbu, cafofa e cunca, ambu, imbu, ombu. Pela importância de suas raízes foi chamada "árvore sagrada do Sertão" por Euclides da Cunha. Raiz Batata, túbera de sabor doce, agradável e comestível; sacia a fome do sertanejo na época seca. A água da batata é utilizada em medicina caseira como vermífugo e antidiarreica. Ainda, da raiz seca, extrai-se farinha comestível. As Folhas verdes e frescas são consumidas pelo homem e animais. É consumido ao natural fresco em sucos, doces, geleias, vinho e diversas formas. O fruto fresco ainda é forragem para animais. 24.Umbu: Spondias tuberosa, L. Urucu, achicote, achiote, achote, bija, bixa, colorau, 25.Urucum: Bixa orellana orucú, tintória, urucú, urucu da mata, urucu bravo, urucuuba, uru uva, açafroeira da terra, açafroa. Espécie exuberante, seja pela beleza de suas flores, seja pelos seus vistosos cachos de frutos, que pode atingir 5 m de altura. Madeira de baixa durabilidade natural, cultivada para exploração de sementes e como planta ornamental. As sementes são condimentares e tintoriais, usadas na indústria alimentícia como corante. Também é conhecido pelas suas propriedades fitoterápicas, com ações expectorantes, antibióticas, anti-inflamatórias, entre outras. Referências: Os nomes populares foram confirmados através do “Relatório do Projeto de Beneficiamento da Fava D’anta – CETEC/2008”. Os nomes científicos e suas características foram verificados e conferidos através da pesquisa local “A cultura tradicional do Sertanejo e seu deslocamento para implantação do Parque Nacional Grande Sertão Veredas” de Flávia Aparecida Andrade Souza (2006), vide: quadro 6 – pag. 42-43. “Utilização da Flora do Cerrado no Parque Nacional Grande Sertão Veredas”, e completados pelas informações dos sites “Portal São Francisco” (www.vivaterra.org.br) e “Vivaterra.org” (www.portalsaofrancisco.org.br). 196 APÊNDICE H - Proposta catálogo de espécies vegetais Conforme proposto nos objetivos da pesquisa, apresenta-se a proposta de um catálogo de espécies vegetais para o artesanato entre as páginas 197 à 217. As páginas internas seguem a numeração do catálogo. MATERIAIS PARA PRODUÇÃO ARTESANAL .................................................................. ........... ....................................................... NADJA M. MOURÃO 197 CATÁLOGO DE ESPÉCIES VEGETAIS DO CERRADO MINEIRO: 2011 ...... ....................................................... 198 CATÁLOGO DE ESPÉCIES VEGETAIS DO CERRADO MINEIRO: MATERIAIS PARA PRODUÇÃO ARTESANAL Nadja Maria Mourão Agradecimentos Orientadoras da Pesquisa: Lia Krucken P., PhD. Rita de C. Engler, PhD. Equipe de apoio: Antonionne Franco L. Ribeiro Daniela Martins Diego Abreu Haendel Mourão L. Hoehne Igor Zaidan Lidja Mourão L. Hoehne Michelle Hellene M. de Souza Raquel Canaan Instituições: UEMG ISPN A pesquisa que originou esta proposta foi financiada pelo Instituto Sociedade População, Natureza, com recursos da União Europeia. Este documento é resultado do Projeto “FLORELOS: Elos Ecossociais entre as Florestas Brasileiras: Modos de vida sustentáveis em paisagens produtivas”, desenvolvido pelo Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN e possui o apoio financeiro da União Europeia. Este documento é de responsabilidade do autor não podendo, em caso algum, considerar-se que reflete a posição de seus doadores. ....................................................... 199 CATÁLOGO DE ESPECIES VEGETAIS DO CERRADO MINEIRO: MATERIAIS PARA PRODUÇÃO ARTESANAL Esta é uma proposta para produção de catálogo de espécies vegetais do Cerrado Mineiro compatíveis à produção artesanal, elaborada a partir dos dados da pesquisa para o Mestrado em Design, Inovação e Sustentabilidade – UEMG. Entre os objetivos da pesquisa foram investigados quais os resíduos vegetais, do bioma existente no município de Chapada Gaúcha – Minas Gerais, que são compatíveis para a produção artesanal. Apresentam-se algumas das espécies vegetais do Cerrado Mineiro fornecedoras de matéria prima para o artesanato no Vale do Urucuia. São 30 espécies vegetais entre as 55 cadastradas pelo nome popular, nos percursos da pesquisa - trajeto entre os municípios de Bonfinópolis de Minas, Pintópolis e Chapada Gaúcha. Algumas espécies foram encontradas próximo à estrada, outras nas comunidades visitadas e na Reserva do Acari. As comunidades locais conhecem as plantas pelas características, valor nutricional ou como medicamento. Assim, muitas informações foram fornecidas pela população local e confirmadas por outras pesquisas na região. As espécies foram registradas por GPS durante a pesquisa de campo. Optou-se pelas imagens do Livro “Árvores Brasileiras", vol.1 e 2, pela adequação das imagens. As fotos dos resíduos vegetais para produção artesanal são da autora, equipe da pesquisa e do site srflores.com.br. Os produtos artesanais são registros da autora, equipe da pesquisa e do site acasa. A identificação dos textos e imagens encontram-se especificados nas referências. Nadja Mourão ................................................................ .......... ....................................................... 200 SUMÁRIO Descrição Página Espécies Vegetais Especiais...................................... 1. Buriti............................................................... 2. Fava D’Anta...................................................... 3. Jatobá.............................................................. Espécies Vegetais Selecionadas................................... 4. Açoita-Cavalo.................................................... 5. Bate-Caixa....................................................... 6. Bolsa-de-Pastor................................................. 7. Caixeta............................................................ 8. Caroba............................................................. 9. Carobinha......................................................... 10. Caviúna-do-Cerrado......................................... 11. Chapéu-de-Napoleão........................................ 12. Chichá............................................................ 13. Falso-pau-brasil............................................... 14. Guatambu...................................................... 15. Jacarandá....................................................... 16. Jequitibá......................................................... 17. Orelha-de-macaco........................................... 18. Cinzeiro.......................................................... 19. Pau-ferro........................................................ 20. Pau-mata-cachorro.......................................... 21. Pau-santo....................................................... 22. Pau-terra-do-campo......................................... 23. Pau-terra-da-flor-muidinha............................... 24. Pente-de-macaco............................................. 25. Pereiro........................................................... 26. Pimenta-de-macaco......................................... 27. Saboneteira.................................................... 28. Sapucaia........................................................ 29. Sucupira-do-campo.......................................... 30. Tingui............................................................ Referências......................................................... Referências imagens.............................................. Referências textos................................................. 4 4 5 6 7 7 7 7 8 8 8 9 9 9 10 10 10 11 11 11 12 12 12 13 13 13 14 14 14 15 15 15 16 16 19 ............................................................... .......... ....................................................... - 04 - 201 ESPECIES VEGETAIS ESPECIAL 1. BURITI: Mauritia flexuosa, Arecaceae Coqueiro-Buriti, Buritizeiro, miriti, muriti, muritim, muruti, palmeira dos brejos, carandá guaçu, carandaí guaçu FRUTO: Alto valor nutrição, Óleo – uso medicinal, amaciante de couros e em cosméticos. FOLHAS E FIBRAS: Cestos, balaios, redes, bolsas, esteiras, biojoias, divisórias e revestimentos. Está presente em diversos biomas brasileiro, muito comum nas veredas. Seu fruto é uma fonte de alimento excepcional. Rico em vitaminas, cálcio, ferro e proteínas. Serve para doces, geleias, licores, sucos e para alimentação de animais Seu aroma e qualidades que são aproveitadas para diversos produtos de beleza (cremes, xampus, filtro solar, sabonetes, etc.). As folhas são usadas no artesanato para confecção de bolsas, tapetes, peças decorativas, brinquedos, bijuterias, redes, cobertura de tetos e cordas. Os talos das folhas ou “braços” servem para a fabricação de móveis e outros objetos utilitários. Os móveis confeccionados com a matéria prima desta espécie são leves e resistentes. As folhas jovens também produzem uma fibra muito fina, conhecida como “seda”, usada para confecção de peças mais delicadas. Além da riqueza do seu fruto e de toda palmeira para diversos setores, é importante na manutenção em olhos d’ água natural. Acima: quadro do aproveitamento da espécie Buriti. Ao lado: caixas de talos de buriti, confeccionada pela associação de bordadeiras de Serra das Araras. Fonte: MOURÃO, 2011. CAULE: Palmito, móveis, adornos, vinhos, licores, extrato para protetor solar. RAIZ: Mantêm as águas e do ecossistema, extrato para remédios e produção artesanal. 2. FAVA D`ANTA: Dimorphandra mollis Benth Favela, faveira, falso-barbatimão, cinzeiro, farinheiro. FOLHAS E SEMENTES: São utilizadas na medicina caseira. Paisagismo e recuperação de áreas degradadas. FRUTO: Compostos medicinais extração da rutina (reduz processo de envelhecimento, terapêutica no tratamento de doenças que envolvem os radicais livres, melhora a circulação sanguínea e alivia as dores de varizes). TRONCO/ CASCA: Casca é rica em tanino, bastante utilizado no curtimento de couro. Acima: Quadro Beneficiamento árvore Fava D’anta. Fonte: MOURÃO, 2009. Planta de origem brasileira, encontrada no Cerrado, entre Minas e Goiás. Árvore pequena e mediana de porte tortuoso, podendo atingir entre 8 e 14 m de altura. Flores são pequenas de cor creme-amarelada, em espigas. O fruto é um legume achatado, de cor variando de marrom-escuro a quase negro. O interesse comercial na fava d’anta se concentra nos compostos medicinais presentes em seus frutos. A rutina é extraída da fava d’ anta, que possui alto teor da substância. A rutina é uma substância química que atua no processo de envelhecimento, melhora a circulação sanguínea e alivia as dores de varizes e hemorroidas por meio de mecanismos ainda desconhecidos. Possui propriedades vasoprotetoras, atuando sobre a resistência e permeabilidade capilar semelhantemente à vitamina P. Além da rutina, a madeira da fava d’anta é empregada na produção de objetos utilitários. É uma planta ornamental, considerada excelente para paisagismo e recuperação de áreas degradadas. ............................................................... .......... ....................................................... - 05 - 202 MADEIRA: Empregada para tabuado, confecção de caixas, compensados, forros, painéis, brinquedos e lenha. Acima: quadro confeccionado com resíduos vegetais da Fava D’anta. Fonte: MOURÃO, 2011. 3. JATOBÁ:Hymenaea stilbocarpa ................................................................ .......... ....................................................... - 06 - 203 Jitaí, jutaí , jutaí açú, jatobeiro, jatobá mirim, jataí, jataí peba, jataí amarelo, jataí vermelho, jataíba, burandã, farinheira, burandã imbiúva, jatobá miúdo, jatobá da catinga. FOLHAS/SEMENTES: Paisagismo, ornamentação, plantio para recuperação de áreas degradadas. FRUTO: Alto valor nutricional, in natura ou no uso da polpa farinácea em: bolos, pães, cremes, e outros. A polpa das sementes é rica em cálcio e magnésio. Usada na alimentação humana e de animais. TRONCO: Fornece uma resina conhecida como "jutaicica" ou "copal" empregada na indústria de vernizes. MADEIRA: Excelente madeira para construções e mobiliário. Muito usada na construção de embarcações no período imperial. CASCA: Fornece corante amarelo. Sua resina e entrecasca são usadas para problemas respiratórios. Quadro de Beneficiamento da Arvore de Jatobá do Cerrado. Fonte: PERSON, G . TerradaGente. Flora. Disponível em:<http://eptv.globo.com/terradagente/0,0,4,216;7,jatoba-do-cerrado.aspx>. Acesso em: 09 ago.2011 . Fruto: <http://olharnatureza.blogspot.com/2010/08/jatoba-himenea-courbaril.html>. Acesso em: 09 ago 2011. Bolsa de algodão decorada com sementes de Jatobá, do Vale do Urucuia. Fonte: MOURÃO, 2009 É encontrado do Piauí até o norte do Paraná. Espécie semidecídua, com 15 a 20 m de altura, e tronco com até 1 m de diâmetro, retilíneo com casca castanho-acinzentada e lisa. O fruto é consumido in natura e sua polpa é aproveitada para fazer farinha. Apresenta uso medicinal, sua resina e entrecasca são usadas para problemas respiratórios. A madeira pode ser usada na confecção de móveis, peças torneadas, engenhos, tonéis, carrocerias e vagões; na construção civil como vigas, caibros, assoalhos e esquadrias. Pelo ferimento de seu tronco fornece uma resina conhecida como "jutaicica" ou "copal" empregada na indústria de vernizes. Sua casca fornece corante amarelo. Sua resina, folhas e sementes são utilizadas na medicina caseira. A polpa das sementes é rica em cálcio e magnésio e além de fornecer alimento à fauna, é ótima para alimentação humana. Seus frutos são comercializados em feiras regionais de todas as regiões onde ocorre esta planta. ............................................................... .......... ....................................................... - 07 - 204 ESPECIES VEGETAIS SELECIONADAS 4. AÇOITA CAVALO: Luehea candicans Popular: Açoita-cavalo, açoita-cavalo-miúdo, pau-de-canga, caiboti, mutamba-preta, ubatinga. Madeira branca ou acinzentada, usada para confecção objetos utilitários e mobiliários. Dos galhos fazem-se cestos e açoide para cavalos. A embira presta-se para fabricação de cordas e barbantes. As sementes são usadas em objetos de decoração. O tanino extraído de sua casca é usado para curtir couros. Também é indicada para recuperação de áreas degradadas. 01 5. 03 02 04 0 Salvertia convallariaeodora BATE CAIXA: 1 Popular: Chapéu-de-couro, gritadeira ou douradão. Árvore de casca rugosa, flores brancas, frutos secos. A flor é fecundada por mariposas noturnas, o que justifica sua cor e sua forte fragrância durante as primeiras horas da noite. Uso: O pó da casca é usado para acidez estomacal; o chá das folhas para a má digestão e dores na coluna e o chá da casca para tosse. A casca da semente parece com um tridente. Usada em adornos artesanais. 05 6. 06 07 BOLSA DE PASTOR: Zeyheria digitalis (Vell.) Hoehne 08 Popular: Cinco folhas, Saco de carneiro ou Saco de bode. O fruto tem um aspecto em cuia, que propicia o uso em pequenos objetos decorativos. É também utilizada como medicamento para problemas cutâneos. A madeira apresenta forma regular, própria utilização em mobiliário e para uso na construção civil. A árvore é muito ornamental, indicada para o paisagismo. Pela rapidez no crescimento esta espécie é utilizada em reflorestamento. 09 10 11 12 7. ............................................................... .......... ....................................................... - 08 - 205 CAIXETA: Tabebuia cassinoides Popular: Embaúva, imbaúba, umbaúba, umbaubeira, umbaúba do brejo, ambaíba, árvore da preguiça, caixeta do campo. Madeira leve, mole, superfície lisa, não empena durante a secagem. É indicada para confecção de calçados, brinquedos em geral, violões, gamelas, pranchas, palitos de picolé, lápis e outros. As folhas esqueletizadas são empregadas em adornos. Até os anos 70, a empresa Johan Faber, só usava a caixeta como matéria prima. Já teve o corte proibido e voltou a ser explorada através do manejo sustentável. 8. 15 14 13 CAROBA: Jacaranda pteroides 16 Popular: Carobinha do campo, Caroba, Jacarandá de minas, Jacarandá, caiuá, Jacarandá-branco, carobabranca, pau de colher, carobeira, Jacarandá-preto, mulher-pobre. A caroba é facilmente encontrada em diversos biomas no Brasil. O chá das folhas é diurético e pode combater as afecções cutâneas, as boubas, as escrófulas, o reumatismo e a sífilis. As folhas servem para limpeza de ferimentos e gargarejos. No artesanato, a casca da semente é utilizada em arranjos decorativos e em biojoias. 17 9. 19 18 CAROBINHA: Jacaranda puberola Cham. 20 Popular: Jacarandá-branco, caroba-da-mata, caroba, carobeira, caroba-roxa, caroba-do-campo, carobamiúda,caroba-pequena, caroba-brava, pau-de-colher. A madeira é moderadamente pesada, mole e de pouca resistência quando exposta a umidade. Utilizada na construção civil em obras internas em geral como ripas, rodapés, portas e forros. Também muito usada em para calçados, mobiliário de pequeno porte e caixotaria em geral. A casca da semente é empregada no artesanato em objetos decorativos. Arvore ornamental podendo ser usada em urbanização. 21 22 23 24 10. ............................................................... ......... ....................................................... 206 - 09 - CAVIÚNA-DO-CERRADO: Dalbergia miscolobium. Popular: Jacarandá, sapuvussu. Madeira moderadamente pesada, dura, decorativa e de grande durabilidade natural. É própria para mobiliário e acabamentos internos na construção civil. A árvore apresenta ótimas características para o paisagismo, principalmente pela folhagem verde-azulada clara. Pode ser usada no plantio de áreas degradadas juntamente com outras espécies, visando à preservação permanente. 25 11. 26 27 CHAPÉU DE NAPOLEÃO: Thevetia peruviana 28 Popular: Noz de cobra, acaimirim, cerbera. É uma planta arbustiva, de textura lenhosa, folhagem e floração decorativa, muito comum em diversas comunidades do Cerrado Mineiro e em Goiás. Todas as partes da planta são tóxicas, mas as sementes (semelhante à forma do chapéu de Napoleão) são muito utilizadas para o artesanato, principalmente em biojoias. Como arboreta, presta-se para pequenos espaços como calçadas estreitas e pátios residenciais. 29 12. 30 31 CHICHÁ: Sterculia striata A. St.-Hil. & Nardim. 32 Popular: Pau-rei, chichá-do-cerrado, sapucaia, castanha-de-macaco, amendoim-de-macaco, medubi-guaçu, arachachá, chechá-do-norte, castanheiro-do-mato. A madeira é usada em obras internas, carpintaria e caixotaria. Também usada em palitos de fósforo, lápis, brinquedos e pasta de celulose. A casca da semente é de um formato diferente possibilitando diversos adornos em artesanato. As castanhas são consumidas pelo homem e por espécies da fauna. A árvore proporciona ótima sombra, tornando-se bastante ornamental e muito usada no paisagismo. 33 34 35 36 13. ........ ....................................................... 207 - 10 - FALSO-PAU-BRASIL: Caesalpinia spinosa (Mol.) Kuntze Popular: sobrasil, saguaraji, saguaraji vermelho,sobraji, sobraju, socorujuva, sucurujuva, saguari, guaxambu, jucuruju, sabia-da-mata, caroça, socrujuva. A madeira dura, bastante pesada, bastante resistente. É utilizada em obras externas, mourões, postes, estacas e pontes. Apropriada para construção civil, naval e hidráulica. As sementes ficam vermelhas, impermeabilizadas e resistentes. Ótimas para biojoias e aplicação artesanal. 37 14. 38 39 40 GUATAMBU: Aspidosperma parvifolium Popular: guatambu-oliva, guatambu-branco, guatambu-legítimo, guatambu-amarelo, guatambu-rosa, guatambu-peroba, guatambu-vermelho, guatambu-marfim, peroba-vermelha, pequiá-branco, tambu, amarelão, peroba, pau-de-guatambu-branco, pequiá-marfim. Madeira dura, resistente e lisa, usada na construção civil. Empregada em ripas, tacos, ripas, caibros, peças torneadas, calcados, cabos de ferramentas, obras expostas, dormentes, mourões e cruzetas. A casca da semente é empregada no artesanato com o nome de pereirinha, ou coraçãozinho. 41 15. 42 43 44 JACARANDÁ: Jacaranda brasiliana Popular: boca-de-sapo, jacarandá boca-de-sapo, caroba, castelo de cavalo. Madeira moderadamente pesada, macia, textura fina, pouco resistente. É empregada em objetos pequenos e caixotaria. A casca da semente é empregada em biojoias e outros objetos decorativos. A árvore é extremamente ornamental quando em flor, e ótima para o paisagismo. 45 46 47 48 16. ........ ....................................................... - 11 - 208 JEQUITIBÁ: Cariniana Strellensis Popular: Jequitibá-branco, jequitibá-verde, bingueiro, mussambê, coatinga, coatingua, estopeira, cachimbeiro, rabo-de-macaco. Madeira moderadamente pesada e pouco durável sob condições naturais. A madeira é indicada para estrutura de moveis, molduras, peças torneadas, compensado, calçados, cabo de ferramentas e na construção interna. A casca da semente é usada no artesanato para adornos utilitários. É uma arvore grande, pode ser empregada na ornamentação de parques. É indispensável no reflorestamento heterogêneo. 50 49 17. 51 ORELHA-DE-MACACO: Enterolobium timbouva Mart. Popular: tamburê, chumbo, timbo, timburí, timbaíba. 52 Madeira moderadamente pesada e durável, macia, textura grossa. A madeira é empregada na confecção de canoas e barcos, brinquedos, armação de mobiliário, miolo de portas, painéis, compensados, entalhes, esculturas. A semente seca é utilizada no artesanato e o fruto é consumido por roedores. A árvore oferece boa sombra e pode ser empregada na arborização de pastagem. 53 18. 54 55 CINZEIRO: Vochysia tucanorum Mart. 56 Popular: quina-doce, casca-doce e pau-doce. Madeira pouco pesada, textura grossa, macia e fácil de trabalhar, de boa resistência mecânica e não é resistente à umidade. É empregada localmente para cangas de bois, construções rústicas e lenha. A árvore é bastante ornamental quando em flor, podendo ser empregada no paisagismo. A semente é muito usada em biojoias. 57 58 59 60 ........ ....................................................... -12 - 19. 209 PAU-FERRO: Caesalpinea férrea Mart. Popular: pau-ferro Árvore de madeira pesada, rústica com fibras revessas, durável e resistente de longa durabilidade natural. Empregada na construção civil como vigas, caibros, estacas. No artesanato é valorizada pela diversidade das fibras. Espécie ornamental de sombra, locais abertos e recuperação de áreas degradadas. 61 20. 62 63 64 PAU-MATA-CACHORRO: Simarouba Amara Popular: Cabatã de leite, cajurana, calunga, caraíba, caroba, carrapatinho, caxeta, caxeta branca, caxeta de casca grossa, caxeta peluda, craíba, cupiúba, louro pisco, malacacheta, maraupaúba, marubá, marupá, marupá do campo, marupaí, marupaí do campo, marupaúba, marupá verdadeiro, mata barata, mata cachorro, mata menino, mata vaqueiro, paparaúba, paparaúba branca, papariúba, paraíba, paraparaíba, pararaiba, pararaúba, parariúba, paraúba, pau-paraíba, pau praíba, praíba, simaruba, tamanqueira, tamanqueiro, aruba, marubá, marupá-vervadeiro, simaruba. Madeira leve, fácil de trabalhar, pouca compacta, baixa resistência à umidade. É própria para forro e tabuados em geral, confecção de brinquedos, instrumentos musicais, caixotaria e objetos para guardar documentos. Esta madeira possui propriedades insetífugas. Arvore bastante ornamental, paisagística, usada em reflorestamento e para exploração de celulose. 65 21. 66 67 68 PAU-SANTO: Kyelmeyera variabilis Mart. Popular: Folha-santa, saco-de-boi, pau-de-santo, pau-de-são-josé. Madeira leve, mole de tecido floxo, sem resistência. Empregada em confecção de caixotes, brinquedos. A casca da semente é valorizada no artesanato, usada para adornos e biojoias. Planta rústica, adequada às áreas abertas, compatível para reflorestamento em áreas secas. 69 70 71 72 22. ........ ....................................................... 210 - 13 - PAU-TERRA-DO-CAMPO: Qualea Grandiflora, Mart. Popular: Pau-terra, pau-terra-do-campo, ariauá. Árvore de até 15 metros de altura, tronco de casca lisa que solta um pó amarelado. Árvore que retira alumínio do solo, reduzindo a toxidez para as plantas que crescem ao seu lado. Suas sementes e goma são comidas por macacos, araras e outros animais. É um material muito utilizado em objetos de decoração. A casca do fruto seco, depois de aberto, recebe a denominação de Tridente. É utilizado em arranjo de flores secas e biojoias. 73 23. 74 75 PAU-TERRA-DA-FLOR-MUIDINHA: Qualea parviflora 76 Popular: Estrelinha, pau-terra-mirim, pau-terra, coatá-quiçauá. Madeira leve, mole, fácil de cortar, medianamente resistente, de baixa durabilidade. É empregada na construção de canoas, brinquedos e caixotaria. A casca da semente tem formato de estrela e muito usada em brincos e outros artesanatos. Espécie ornamental e pode ser utilizada para recuperação de áreas degradadas. 77 24. 78 80 79 PENTE-DE-MACACO: Pithecoctenium crucigerum Popular: Pente-de-macaco. Trepadeira lenhosa que chega a formar tronco (cipó) com 5 a 10 cm de diâmetro. As flores tubulosas de cor branco-amarelada, floresce principalmente na primavera e no verão. Os frutos são secos e deiscentes, com a parte externa coberta por espinhos grossos, usada na produção de arranjos e quadros artesanais. 81 82 83 84 25. ................................................................ ........ ....................................................... - 14 - 211 PEREIRO: Aspidosperma pyriforlium Mart. Popular: Pereiro, Pereiro-branco, pau-de-pereiro, pereiro-de-saia, pereiro-preto, peroba-rosa, trevo, pereirovermelho, orelha-de-morcego. É uma planta de madeira de cor amarela clara ou creme, ora com manchas avermelhadas, ora com faixas acastanhadas, moderadamente pesada, macia e fácil de trabalhar, de textura fina e uniforme, resistente e muito durável.A casca da semente é empregada em biojoias e objetos de adorno. A árvore possui copa piramidal, bastante ornamental, empregada no paisagismo geral. 85 26. 87 86 88 PIMENTA-DE-MACACO: Xylopia aromática Popular: Pimenta-de-negro, pachinhos, esfola-bainha. Árvore de até 15 metros de altura, com copa em formato de cone, tronco reto e casca clara, estriada. Sementes secas e duras usadas em biojoias e na cozinha, como tempero apimentado e para amolecer carnes. Indicada para paisagismo e para recuperação de áreas degradadas. 89 27. 90 91 92 SABONETEIRA: Sapindus saponaria Popular: Jequitinhaçu, jequitiguaçu, saboeiro, sabão-de-soldado, salta-martim, jequiri, guiti, fruta-de-sabão, sabão-de-macaco, saboneteiro. Os frutos desta árvore servem para a lavagem de roupas. A saboneteira é também popularmente utilizada para fins medicinais e na arborização urbana. Seus frutos possuem vários glóbulos que se tornam amarelados quando maduros e suas sementes são pretas e duras. Usadas principalmente em biojoias. 93 94 95 96 ....... ....................................................... 212 - 15 - 28. SAPUCAIA: Lecythis pisonis Popular: sapucaia, castanha-sapucaia, castanha-vermelha, cumbuca-de-macaco, marmita-de-macaco, caçamba-de-macaco. Madeira moderadamente pesada, textura média, dura e resistente. Empregada em construção civil, como dormentes, caibros, mastros, ripas, tacos, portas, janelas. Também usada em carrocerias, cabo de ferramentas, e peças torneadas. A castanha é comestível e a casca usada em adornos artesanais. 97 29. 98 100 99 SUCUPIRA-D0-CAMPO: Leucochloron inculiare Popular: Chico-pires, angico-rajado, cortiça, pão-de-cortiça, sucupira-do-campo. Madeira moderadamente pesada, dura, resistente, textura média, decorativa, de boa durabilidade. Própria para mobiliário de luxo, instrumentos musicais, portas, lambris. As sementes são empregadas em objetos ornamentais e biojoias. Planta ornamental com folhagem brilhante e boa para recuperação de áreas degradadas. 101 30. 102 103 104 TINGUI: Magonia pubescens Popular: Cuitê, mata-peixe, pau-de-tingui, timbó, timbó-do-cerrado, timpopeba, tingui-açu, tingui-capeta, tingui-de-cola A madeira é moderadamente pesada, dura, textura média e resistente. Usada na construção civil em caibros, ripas, batentes de portas e janelas. Também usada como lenha. Do fruto do Tingui, sementes e cascas são valorizadas para uso artesanal. Esta espécie é muito comum no noroeste de Minas. Suas sementes, além da utilização no artesanato, são utilizadas para produção de sabão. 105 106 107 108 REFERÊNCIAS DO CATALOGO A) REFERÊNCIAS DAS IMAGENS Nº CONTEÚDO: 01, 02 Árvore e semente Açoite-cavalo 03 Insumo para artesanato Objeto mesa Arvore e semente Bate-caixa 04 05, 06 07 08 09, 10 11 Insumo para artesanato Guirlanda de cipó, palha e bate-caixa Árvore e semente Bolsa-de-pastor 12 13, 14 Insumo para artesanato Expositor de pedras Árvore e folhas de Caixeta 15 Folha Caixeta 16 Bolsa de folhas esqueletizadas 17, 18 Árvore e semente de Caroba 19 20 21, 22 Casca de Caroba Adorno - pássaro Árvore Carobinha 23 Folha Carobinha, Asa-de-barata Cerâmica com flolhas de Carobinha Árvore Chapéu-deNapoleão 24 25, 26 27 Chapéu-deNapoleão colorido FONTE: ........ ....................................................... - 16 - 213 LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002, pag. 353. SRFLORES.COM.BR. Disponível em: <http://www.srflores.com.br/default.aspx>. Acesso em: 12 jul. 2011 MOURÃO, N. M. Registro em: out. 2007. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002, p.366. SRFLORES.COM.BR. Disponível em: <http://www.srflores.com.br/default.aspx>. Acesso em: 12 jul . 2011 MOURÃO, N. M. Registro em: dez.2009. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002, p.73. SRFLORES.COM.BR. Disponível em: <http://www.srflores.com.br/default.aspx>. Acesso em: 12 jul. 2011 MOURÃO, N. M. Registro em Jan.2011. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002, p.63. SRFLORES.COM.BR. Disponível em: <http://www.srflores.com.br/default.aspx>. Acesso em: 12 jul. 2011 FLORDOCERRADO, Disponível em: <http://eptv.globo.com/terradagente/NOT,0,0,299142,Flor+do+Cerrad o.aspx>. Acesso em: 20 jun. 2010 LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002, p.52 MOURÃO, N. M. Registro em abr.2010. MOURÃO, N. M. Registro em Jan.2010. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002. SRFLORES.COM.BR. Disponível em: <http://www.srflores.com.br/default.aspx>. Acesso em: 12 jul. 2011 MOURÃO, N. M. Registro em abr.2010. VIVEROIANNI.COM.AR. Disponível em: <http://www.viveroianni.com.ar/productos.asp?select=Arbustos+y+Tr epadoras&offset=140>. Acesso em: 20 jun. 2011. MOURÃO, N.M. Registro em: abr.2010. 28 29, 30 Brincos. C. Napoleão Árvore e folha de Caviúna-do-cerrado 31 32 Folha de Caviúna Broá de folhas esqueletizadas 33, 34 Árvore e semente de Chichá 35, 36 37, 38 Casca e adorno de Chichá Árvore e semente falso pau-brasil 39, 40 41, 42 Semente e quadro. Falso-pau-brasil Árvore e semente Guatambu 43 Semente guatambu 44 Biojoia de guatambu 45, 46 Árvore e semente Jacarandá-boca-desapo Semente seca e colar de jacarandá Árvore e semente de Jequitibá. rabo-demacaco Rabo-de-macaco 47, 48 49, 50 51 52 57, 58 59 Porta caneta de rabo-de-macaco Árvore, flor e semente orelha de macaco Quadro c/ semente orelha de macaco Árvores e semente de Cinzeiro. Sementes Cinzeiro 60 61, Brinco de Cinzeiro Árvore e madeira 53, 54, 55 56 MOURÃO, N.M. Registro em: jan.2011. ....... ....................................................... - 17 - 214 LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002, p.242 MOURÃO, N.M. Registro em abr.2010. FLORDOCERRADO, Disponível em: <http://eptv.globo.com/terradagente/NOT,0,0,299142,Flor+do+Cerrad o.aspx>. Acesso em: 20 jun. 2010 LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002, p. 346. MOURÃO, N. M. Registro em: jan.2011. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002. MOURÃO, N. M. Registro em: jan.2011. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002, p. 41 SRFLORES.COM.BR. Disponível em:<http://www.srflores.com.br/default.aspx>. Acesso em: 12 jul . 2011. MEGAPOLOMODA.COM.BR - Disponível em: <http://www.megapolomoda.com.br/novidades/detalhe/89/descaract erizacao-de-culturas-%E2%80%93-uma-apropriacao-etnica-da-moda/>. Acesso em: 20 jun. 2011. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002. MOURÃO, N.M. Registro em: jan.2011. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do Brasil, v.2, 4.ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2002. SRFLORES.COM.BR. Disponível em: <http://www.srflores.com.br/default.aspx>. Acesso em: 12 jul. 2011 MOURÃO, N.M. Registro em: jan.2011. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002. MOURÃO, N. M. Registro em: jan.2011. ZANON, Y. Registro em: jul. 2011. SRFLORES.COM.BR. Disponível em: <http://www.srflores.com.br/default.aspx>. Acesso em: 12 jul. 2011 ZANON, Y. Registro em Jul. 2011. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de 62 Pau-Ferro 63, 64 65, 66, 67 68 69, 70 Resíduo e adorno de tronco pau-ferro Árvore e semente e madeira Pau-matacachorro Rabeca de madeira Pau-mata-cachorro Árvore e semente de Pau-Santo 71, 72 73, 74 Casca semente de pau-santo Árvore de Pau-terrado-Campo 75, 76 Semente e arranjo decorativo de Pauterra-do-campo Árvore e semente pau-terra-da-flormiuda. Estrelinha Semente de estrelinha 77, 78 79 80 81, 82 83, 84 85, 86 Brinco estrelinha Planta e fruto Pente-de-macaco Casca fruto e quadro Pente-de-macaco Árvore e semente de Pereiro 87 89, 90 Casca semente de Pereiro Quadro adorno semente Pereiro Árvore e semente Pimenta-de-macaco 91, 92 93, 94 Fruto e Colar com Pimenta-de-macaco Árvore e semente de Saboneteira 95, 96 97, 98 Res. Veg. e biojoia de Saboneteira Árvore e semente de sapucaia 99, Casca semente 88 ....... ....................................................... - 18 - 215 plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002. MOURÃO, N. M. Registro em Abril 2011. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002. MOURÃO, N.M. Registro em: abril 2011. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002, p.133. MOURÃO, N. M. Registro em: abril 2011. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002, p.195. MOURÃO, N. M. Registro em: abril 2011. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002, p.365. SRFLORES.COM.BR. Disponível em: <http://www.srflores.com.br/default.aspx>. Acesso em: 12 jul. 2011 ZANON, Y. Registro em Jul. 2011. CHAUA.ORG.BR. 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Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002. MOURÃO, N.M. Registro em Jan.2011. 100 101, 102 sapucaia e adorno Árvore e semente de sucupira do campo 103, 104 105, 106 Fruto e adorno de sucupira do campo Árvore e semente de Tingui 107, 108 Fruto.adorno.tingui ....... ....................................................... - 19 - 216 LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002, p. 196. MOURÃO, N.M. Registro em: jan.2011. LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002, p.335. MOURÃO, N.M. Registro em Jan.2011. B) REFERÊNCIAS DOS TEXTOS CARVALHO, P. E. R. Espécies florestais brasileiras: recomendações silviculturais potencialidades e uso da madeira. Brasília: EMBRAPA - CNPF/SPI, 1994. FELIX, A.A A. 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Fonte: MOURÃO Disponível 2011. em:<http://www.biologo.com.br/plantas/cerrado/buriti.html >.Acesso em: 20 jun. 2011. VALLE, M. J. L. V. Sementes estais utilizadas em artesanato no Rio de Janeiro. Trabalho de conclusão de curso Monografia. Curso de Engenharia Florestal, UFRRJ. Seropédica, RJ. 2008. Disponível em: <http://www.if.ufrrj.br/riografia/Maria_Joana_Lima_Valente_do_Valle.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2011 218 APÊNDICE I - Publicação da pesquisa – Jornaol ―O Barranqueiro‖ n°378 MOURAO, N. M. Pesquisa de Mestrado em Chapada Gaucha: artesanato com resíduos vegetais. São Francisco: Jornal O Barranqueiro, n°378, Ano IX, p.06, 26 fev. 2011. 219 APÊNDICE J - Publicação da pesquisa – Jornaol ―O Barranqueiro‖ n°390 MOURAO, N. M. Design é incentivo ao artesanato em Chapada Gaucha. São Francisco: Jornal O Barranqueiro, n°390, Ano X, p.06, 21 mai. 2011.