- Vectra Construtora
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editorial Latitude e atitude Não é raro ouvirmos em Londrina boas referências e elogios à cidade de São Paulo, sua gente e seus diferenciais. Nada contra Curitiba, mas a capital paulista é também um pouco a londrinense. Compartilhamos os mesmos 23 graus de latitude sul e valores muito próximos de trabalho, cultura e hospitalidade, típicos de cidades que cresceram rapidamente no século XX, a partir de movimentos migratórios. Parecidas na atitude, Londrina e São Paulo distanciam-se, na proporção de seus tamanhos, quando o assunto é diversidade. Aí, não tem jeito: é preciso enfrentar uma hora de voo. A Living Vectra desembarca em Sampa para reportar sua inovadora gastronomia, a arquitetura sustentável, o design socialmente engajado e muita cultura. Claro, encontramos vários londrinenses por lá. Esse vai-e-vem de pessoas e conhecimento semeia igual prosperidade em terras roxas, como provam os quarenta anos de história do IAPAR, outro destaque dessa terceira edição. Motivos de orgulho, as instituições de pesquisa e ensino de Londrina desenvolvem projetos de relevância nacional. É o caso do Grupo de Teatro para Pessoas Especiais (GTPAÊ), citado na matéria sobre inclusão profissional de portadores de deficiência intelectual. No trabalho ou em casa, em Londrina ou São Paulo, buscamos a sensação de bem-estar e satisfação que se convencionou chamar de qualidade de vida. Esse anseio individual, evidentemente, reflete-se na arquitetura e nos imóveis. Ciente disso, a Vectra desenvolveu empreendimentos exclusivos que primam pelo conforto: um complexo comercial na Gleba Palhano e o edifício residencial Casa Batlló. Projetos que a Living Vectra explica em detalhes. Detalhes que fazem a diferença, como as empresas que apoiam esta publicação institucional, associando suas marcas à informação de qualidade. Não se trata apenas de divulgar produtos e serviços para um público selecionado. Na prática, essa atitude contribui para a valorização de nossa gente – e por isso esses anunciantes devem ser prestigiados. Para você, leitor, fica o desafio de crescer conosco. Participe! Fábio Mansano Coordenador de comunicação Vectra Construtora Na capa, detalhe de um prato vintage da Feira de Antiguidades do Masp, um dos destaques desta edição Este selo indica que o papel utilizado nesta publicação foi produzido com madeiras de florestas certificadas FSCR® (Forest Stewardship Council)® e de outras fontes controladas. expediente Edição 03 - 2º semestre | 2012 Living Vectra é uma publicação semestral da Vectra Construtora Ltda. Tiragem: 4000 exemplares Impressão: Midiograf Para anunciar: 43 3376-4444 A revista LIVING VECTRA é uma publicação de distribuição gratuita e dirigida e seus exemplares não podem ser comercializados. www.livingvectra.com.br mag Av. Harry Prochet, 1200 Jardim São Jorge - 43 3324-1200 CEP 86047-040 - - Londrina - PR Pauta, texto e edição: Karla Matida, Rosângela Vale Fotografia: Fábio Pitrez Diagramação: Alessandro Camargo e Vitor Hugo Gouvea Colaboração: Paulo Briguet Rua Dr. Elias César, 55 - 14º andar Jardim Caiçaras - 43 3376-4444 CEP 86015-640 - Londrina - PR Diretor-presidente: Manoel Luiz Alves Nunes Diretora-administrativa: Roberta Nunes Mansano Coordenador de comunicação: Fábio Mansano Assistentes de comunicação: Ana Luisa Sversutti, Bruno Borghesi, Mariangela Aguilar e Rafael Urbano É proibida a reprodução parcial ou completa do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da Editora 1200th. Somente as pessoas que constam neste expediente são autorizadas a falar em nome da revista. cartas [email protected] Cartas, críticas e sugestões Este espaço na Living Vectra está aberto a vocês, leitores, para sugestões e críticas, que podem ser enviadas para [email protected] Caso queira receber a publicação em casa, envie-nos um e-mail com seus dados para cadastro. O mundo não para, gira em um movimento contínuo. Nossa inspiração para mover 1 bilhão de pessoas todos os dias. A vida moderna segue em um movimento rápido e contínuo. O mundo não para. E nossos elevadores, escadas e esteiras rolantes acompanham essa acelerada rotina, transportando diariamente 1 bilhão de pessoas. A responsabilidade de mover em uma semana a população inteira do planeta só pode ser assumida por quem tem mais de 130 anos de experiência, está presente em mais de 100 países em 5 continentes e possui uma equipe de mais de 44 mil colaboradores no mundo todo. Nossa essência se inspira no movimento do planeta. Conduzir cada pessoa ao seu destino, de forma constante e eficiente. www.atlas.schindler.com • 0800 055 1918 ÍNDICE 22 Jardim 10 Ao completar quatro décadas, Iapar projeta reinvenção Garagem 16 Ciclistas se reúnem à noite para percorrer trilhas rurais na região de Londrina Alicerce 28 Deck Green Building Council atua no Brasil e no mundo para incentivar imóveis sustentáveis O caso de amor entre o professor Luiz Carlos Preto e sua chácara no Porto das Águas O verão em preto e branco do fotógrafo Roberto Custódio Porta-retrato 32 Bagagem 40 Um delicioso passeio pelas feiras de antiguidades da capital paulista Moldura 56 Casa Batlló consolida a sofisticação da linha de edifícios da Vectra inspirados na obra de Gaudí Álbum 60 As aulas do chef Alexandre Gimenes, o burburinho no show de Mariana Aydar e a festa de lançamento do Edifício Aruak Residencial 64 Quintal Como o ortopedista Nereu Genta remodelou a horta comunitária do Edifício Palazzo Veronesi Lounge 68 O talento sem rótulos de Mariana Aydar, estrela de recente edição do Vectra ConstruSom Office 72 Palhano Premium e Palhano Square Garden inovam o conceito de edifícios comerciais Área de serviço 76 Dicas de expert para manter os vidros sempre limpos Espelho 82 Para especialista, é preciso fazer a reconstrução social da deficiência intelectual Mobília 86 A democratização do design por Marcelo Rosenbaum Janela 90 Sobrinho-neto de Harry Prochet narra a incrível história da família Área comum 94 Separação e destinação corretas do lixo são responsabilidades de todos 34 Home theater Um bate-papo com o crítico musical Jotabê Medeiros, do jornal O Estado de S. Paulo Objeto de desejo 98 Em tempos de iPaixões, o BeoSound 8, da Bang & Olufsen, é um must-have Bagagem 26 78 46 City tour Cores, sabores e muitas histórias no Mercado Shangri-Lá Em plena forma, Brasília atrai as atenções dos turistas e das grifes internacionais Cozinha Sabores do Brasil e do mundo se encontram no grandioso cenário gastronômico de São Paulo jardim Sede do Iapar em Londrina no traço a bico de pena de Félix Aramis Rumo aos O Iapar – Instituto Agronômico do Paraná – acaba de completar 40 anos e já projeta a próxima década. “Como todo órgão de pesquisa, a gente tem que pensar à frente do seu tempo”, define o diretor-presidente Florindo Dalberto, que vê muitas semelhanças entre hoje e quatro décadas atrás. No final dos anos 1960, produtores e lideranças de Londrina estavam preocupados com o fato de a região ser dependente da monocultura cafeeira. “Perceberam que a monocultura estava com os dias contados”, lembra Dalberto. Foi quando começou toda uma mobilização em torno da criação de um centro de pesquisas. Do grupo faziam parte o pecuarista Celso Garcia Cid e o jornalista João Milanez, entre outros nomes significativos como Omar Mazzei Guimarães, Horácio Coimbra e Francisco Sciarra. “Foi o momento da grande transformação da agricultura no Estado, especialmente na região de Londrina”, conta Dalberto. Como engenheiro agrônomo do extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC), ele fez parte primeiro da comissão que escolheu o terreno onde foi instalado o Iapar, depois da comissão paritária entre governo estadual e o IBC, que elaborou o plano diretor do órgão, até ser nomeado secretário geral da primeira diretoria do Instituto. “Na época aqui era pujança, a riqueza cafeeira, o centro da agricultura do Paraná. O oeste, Cascavel, era mato ainda, o centro era realmente aqui. Tanto é que o projeto original era o Instituto Agronômico do Norte do Paraná”, recorda Dalberto. Foi durante a Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina de 1970 que o então Ministro da Indústria e Comércio Pratini de Moraes aprovou o recurso que deu origem ao Iapar. “Ele ficou sabendo antes que seria feito o pedido e surpreendeu a todos antecipando o anúncio”, lembra o diretor-presidente. A verba para a compra do terreno veio do Instituto Brasileiro do Café (IBC), “que era poderosíssimo e tinha os recursos para colocar nas regiões cafeeiras”, explica. “O dinheiro que sobrou, o doutor Dalton Paranaguá (então prefeito) foi até o Rio de Janeiro devolver. Era assim que funcionava na época ”, orgulha-se. 50 Referência em todo o país, o Iapar acaba de completar 40 anos, mas já projeta a próxima década. O ritmo é de reinvenção Por Karla Matida Fotos Fábio Pitrez “Na década de 70, o Iapar foi um projeto de grande sucesso, pelo modelo de gestão, pelas pessoas que trouxemos para cá. Foi premiado pelo OIC, Organização Internacional do Living Vectra | 11 O diretor-presidente Florindo Dalberto: participação na escolha do terreno e na elaboração do novo plano diretor Café”, conta o presidente. “Nesses 40 anos, o Iapar respondeu às necessidades que a agricultura tinha, como as tecnologias e variedades adequadas às condições paranaenses”, completa. Órgão estadual com sede em Londrina, o Iapar hoje tem cerca de 700 funcionários, sendo 111 pesquisadores. São cinco unidades regionais de pesquisa instaladas em Curitiba, Ponta Grossa, Paranavaí, Pato Branco e Santa Tereza do Oeste, e ainda 19 estações experimentais, quatro unidades de beneficiamento de sementes, 25 laboratórios de diferentes áreas de especialidade e 23 estações agrometeorológicas. Uma das ações para celebrar o aniversário de 40 anos do Iapar foi a implantação de uma cápsula do tempo. Dentro dela, jornais, revistas e mensagens dos funcionários montaram um panorama de 2012. A cápsula será aberta em 2022, no cinquentenário do Instituto. Pós-graduação Outro presente para celebrar a data foi o anúncio do projeto de instalação do curso de pós-graduação. A princípio, grade curricular e linhas de pesquisas privilegiarão temas ligados à agricultura conservacionista para o mestrado. Na segunda etapa, será instalado o doutorado. A primeira turma deve ser aberta no início de 2013. “Depois de 40 anos, o Iapar precisa se reinventar, se reestruturar com base nas novas demandas, nos novos desafios da agricultura paranaense do século XXI”, define. “O Iapar foi vencedor até agora, mas é quase uma etapa que se venceu, que foi a etapa da modernização da agricultura do Estado. Hoje os desafios são outros, tem o mercado, o ambiente, a qualidade dos produtos, a sustentabilidade. O Iapar não consegue ser hoje um faz-tudo. A nova concepção é o Iapar formar redes de pesquisas e inovação com as universidades, com órgãos de pesquisas do Brasil e do exterior. Tudo está globalizado, inclusive a ciência”, define. Para Dalberto, o modelo novo de gestão para fazer frente aos desafios inclui o intercâmbio dos profissionais com as universidades e com as empresas. “É o Iapar se colocando como um grande gestor de um processo de inovação tecnológica e não apenas como um cumpridor de tarefas.” “Estamos elaborando um novo plano diretor de pesquisa para o Paraná, um plano quinquenal para reestruturar e um plano de investimentos para reforçar as unidades regionais e os novos tipos de laboratórios requeridos pelas pesquisas”, adianta o diretor-presidente. Cápsula do tempo: abertura acontecerá em 2022 Nos laboratórios do Instituto, mais de 100 pesquisadores, entre mestres e doutores Living Vectra | 13 História em bico de pena Artista autodidata, Félix Aramis (1944 - 2006) ingressou no Iapar em 1976 como desenhista e ilustrador de publicações técnico-científicas. Mas foi além das suas funções e passou a retratar o Instituto – a sede em Londrina e as unidades regionais – com caneta bico de pena. As obras selecionadas são destaque na galeria de prêmios ao lado da diretoria. Ao longo da carreira, Aramis fez desenhos topográficos de engenharia, planimetria e altimetria para a construção de diversas estradas do Paraná. Legado de quatro décadas Manejo do solo e da água O Iapar ainda estava em processo de instalação quando os pesquisadores começaram a estudar formas para acabar com o problema da erosão. Também foram implantados os primeiros estudos sobre rotação de cultura e adubação verde e tiveram início os experimentos em plantio direto, que, segundo estimativas, atualmente é adotado em 25 milhões de hectares no Brasil. No Paraná, são aproximadamente cinco milhões de hectares – cerca de 90% da área cultivada para produção de grãos no Estado. Café O café está na pauta de pesquisas desde a fundação do Iapar. Após a grande geada de 1975, foram aceleradas as pesquisas que já vinham sendo desenvolvidas, principalmente com o adensamento de plantio. A proposta foi denominada de Modelo Tecnológico de Café Adensado do Paraná e trazia pontos como qualidade ao invés de quantidade, adensamento de plantio para acabar com a monocultura, desenvolvimento de variedades de pequeno porte, zoneamento agroclimático (para recomendar o plantio com segurança em áreas de menor risco potencial), acompanhamento das frentes frias, alertas para riscos de geadas e mais de 75 tecnologias para serem aplicadas de formas integradas. Na área da biotecnologia, o Iapar participou do sequenciamento do genoma do café. Citricultura No início dos anos 1980, o cancro cítrico inviabilizava a citricultura no Estado. Os novos plantios eram proibidos por lei. O Iapar aceitou o desafio de encontrar uma solução para o problema e tornar viável a retomada do plantio no Paraná. A proposta foi ousada – em vez de erradicar, desenvolver tecnologias para conviver com a doença. Atualmente o Estado tem cerca de 30 mil hectares cultivados com cítricos e dispõe de três indústrias processadoras. Ambiente e agricultura orgânica Também na década de 1970, o Iapar deu início aos estudos sobre populações de insetos que viabilizaram o manejo integrado de pragas em culturas como o trigo, algodão e café. Melhoramento genético vegetal e animal O Instituto já criou mais de 150 novas cultivares de várias espécies, de algodão a plantas para pastagens. Na área de genética animal, destaque para o desenvolvimento do bovino composto Purunã, em processo de registro no Ministério de Agricultura e Abastecimento (Mapa): primeira raça para corte produzida no Estado e também a primeira criada por uma instituição de pesquisa estadual. Zoneamento agrícola Responsabilidade do Iapar, o Zoneamento Agrícola do Paraná delimita as regiões climaticamente homogêneas. Pesquisa na propriedade As Redes de Referências para a Agricultura Familiar foram criadas com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de sistemas de produção sustentávies e envolve pesquisadores do Iapar e extensionistas do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Estufas: espaço e condições climáticas para a pesquisa de novas cultivares Living Vectra | 15 garagem 16| Living Vectra Ciclistas se reúnem em grupos para percorrer trilhas rurais na região de Londrina, guiados apenas pela luz das estrelas e de seus potentes faróis Por Rosângela Vale Fotos Fábio Pitrez O gerente comercial Marcos Pezzutti, ao centro, com parte do grupo que frequenta: relaxamento mental Seja por conta do apelo ecologicamente correto ou pela crescente busca por qualidade de vida, as bicicletas estão cada vez mais presentes no trânsito caótico das grandes cidades. Ainda que não esteja entre as metrópoles, Londrina também vem ganhando uma legião de apaixonados pela “magrela”. Para muitos deles, entretanto, a cidade é apenas ponto de encontro para percursos bem distantes da agitação urbana. Adeptos do crosscountry, modalidade do ciclismo para trilhas rurais, eles pedalam pela região curtindo o cheiro do mato e o barulho de riachos, guiados apenas pela luz das estrelas e de seus potentes faróis. “Os grupos cresceram muito; a comunicação ficou mais fácil por causa do Facebook. Você posta lá 'pedal saindo tal hora' e a pessoa vem. Se conseguir acompanhar, ela fica; caso contrário, a gente indica outros grupos”, conta o representante comercial Rodolfo de Godoy, 40 anos, mais conhecido no circuito das mountain bikes como Shrek. De acordo com ele, a formação dos grupos é determinada principalmente pelo ritmo das pedaladas. O grupo de Rodolfo reúne de 10 a 15 pessoas e é o mais veloz: percorre cerca de 50 quilômetros em menos de três horas, fazendo uma média de 22 quilômetros por hora. Os integrantes têm entre 25 e 40 anos e se encontram todas as terças e quintas à noite e nos fins de semana durante o dia. O trajeto, feito ao redor de Londrina, é sempre variado e escolhido minutos antes da partida, principalmente por 18| Living Vectra questões de segurança. “Já teve muito assalto de bicicleta aqui em Londrina”, revela. Há 12 anos pedalando, Rodolfo competiu nas provas regionais de mountain bike entre 2000 e 2003. Mas o currículo de atleta não é pré-requisito para fazer parte do grupo. O técnico em informática André Berzoti, 39 anos, é a maior prova disso. Até janeiro do ano passado, nunca havia pedalado. “Eu levava uma vida completamente sedentária. Ia de carro à padaria da esquina”, conta. Quando resolveu mudar seu estilo de vida, André pesava 95 quilos. Com a cara e a coragem, chegou e foi ficando. “Sofri uns dois meses para acompanhar, mas o pessoal me deu força. A gente vai fazendo amizade, melhorando na bicicleta e animando”, diz. Além das pedaladas três vezes por semana, ele também corre e faz caminhadas. Em seis meses, perdeu 30 quilos. “Passei do GG para o P”, orgulha-se. “Hoje ele é um dos que mais pedalam”, elogia Rodolfo. É claro que conquistar e manter a forma e a saúde é apenas um dos inúmeros benefícios do esporte, considerado um dos mais seguros para quem precisa fugir das modalidades de alto impacto. “Muitos dos que estão aqui jogavam bola; chegaram com as costas detonadas e com lesões nos joelhos”, informa Rodolfo. “No futebol, você precisa reunir no mínimo uns 14 para jogar. Aqui, se juntar uns três, quatro, já dá para sair”, observa o empresário Élcio Ruiz, 48 anos, que participa de compe- Mulheres são minoria Nos grupos de pedal consultados pela reportagem, uma característica é especialmente marcante: a ausência quase absoluta de mulheres. O representante comercial Rodolfo de Godoy estima que elas representem, no máximo, 10% dos ciclistas em Londrina. Entre essa minoria está a empresária Priscila Matushita, 33 anos, acostumada a ser a única mulher da turma. Ela descobriu o esporte despretensiosamente há quatro anos. “Meu marido comprou uma bike para ele; aí pedi uma para mim. Começamos a pedalar na rua com alguns amigos e a turma foi aumentando”, lembra. O casal frequenta vários grupos de pedal moderado, que fazem uma média de 18 quilômetros por hora em percursos de até 60 quilômetros, tanto nas noites de terça e quinta como sábado durante o dia. “Não é um passeio nem um campeonato”, define. Os grupos saem sempre de locais diferentes para evitar assaltos. “Já fomos assaltados à mão armada a caminho da trilha; estávamos em seis pessoas, levaram duas bicicletas. Depois disso, fizemos seguro das bikes”, conta. Para acompanhar o ritmo masculino, Priscila precisa reforçar o treino na academia e investir em suplementos antes, durante e depois das pedaladas, necessários para todos os praticantes. Para ela, esses cuidados acabam afastando as mulheres. “Várias amigas começaram e pararam. Nas confraternizações dos grupos, quando as esposas se encontram, elas se animam a começar, mas fica sempre só na empolgação”, relata a empresária, que atribui a esse comportamento uma explicação simples: “As mulheres não são tão unidas como os homens”. Living Vectra | 19 tições nacionais reunindo amadores em percursos de até 90 quilômetros. Há oito anos, ele trocou o Speed, modalidade de asfalto, pela mountain bike, principalmente por razões de segurança. “Nos últimos 10 anos, o volume de carros nas rodovias aumentou muito. Agora é só equipe profissional que anda na estrada. Então mudei o foco. Em percursos de terra é mais tranquilo”, justifica. Iluminação dianteira e traseira, luvas, óculos e roupas refletivas são itens básicos para a prática da modalidade feita à noite. A necessidade maior de atenção por conta do escuro possibilita concentração total no treino. “É só o céu estrelado e a vegetação em volta. Ali você se encontra com você, coloca as ideias em ordem. É um relaxamento mental. Durante boa parte do percurso você nem tem o companheiro do seu lado, porque se cair pode derrubá-lo”, observa o gerente comercial Marcos Pezzutti, integrante de um grupo que chega a reunir 40 pessoas para pedalar em trilhas rurais. O ritmo das pedaladas da turma varia de 16 a 19 quilômetros por hora em percursos de 30 a 50 quilômetros. “Saímos às 19h30 e não deixamos passar de 23 horas para chegar em casa. Se acontece algum imprevisto, tipo furar o pneu de alguém, a gente encurta o trajeto”, explica Pezzutti. A turma é bem eclética. “Não tem hierarquia profissional nem de idade”, garante. Para o empresário Marcos Marques de Souza, 59 anos, o clima ameno da noite ajuda a turbinar a performance no pedal. “Sem o calor você tem mais disposição e consegue desenvolver mais”, diz ele, que descobriu o ciclismo há três anos e, se depender de seu cardiologista, nunca mais vai parar. “Eu jogava bola uma vez por semana e o joelho doía muito. Fui fazer o check-up anual e os exames estavam todos alterados. O médico disse que eu precisava fazer outra atividade física. Co- 20| Living Vectra mecei a pedalar e seis meses depois refiz os exames. Estava tudo normal e ficou assim desde então: colesterol, pressão, tudo zerado”, relata. A proporção de adeptos do pedal noturno – com grupos saindo de vários pontos da cidade – vem inspirando muita gente a dar as primeiras pedaladas . Foi o caso de Guilherme Nemer, 36 anos. Ele compareceu pela primeira vez na noite em que a reportagem conversava com o grupo que sai às terças e quintas da Point 700, na Avenida Maringá. “Moro aqui perto e sempre via o pessoal reunido quando eu passava com meus cachorros. Isso me incentivou; tomei coragem e vim”, relata, revelando o desejo de retomar um prazer da infância. Para atender o número cada vez maior de iniciantes foi criado recentemente um grupo que sai nas noites de segunda-feira, também da Point 700. O percurso é de 18 a 25 quilômetros, pedalando de 10 a 12 quilômetros por hora, com várias paradas. “Quando a gente vê que a pessoa está chegando num ritmo mais acelerado, convidamos para testar a dinâmica do pedal mais puxado em outro grupo”, explica Marcos Pezzutti. Mas se a adesão ao ciclismo vem aumentando, o mesmo não se pode dizer das ciclovias em Londrina. Ainda que não pedalem na cidade, os mountain bikers percorrem alguns quilômetros no asfalto até chegarem às trilhas. “Pelo menos nas principais avenidas seria legal ter ciclovias”, diz Rodolfo. “Para quem faz cicloturismo, que é o pedal na cidade, as ciclovias realmente fazem falta. Só tem a do Lago e o acesso é ruim. Muita gente vai de carro até lá para pedalar”, diz Pezzutti. Para Rodolfo, vai depender da vontade do próximo prefeito de encarar essa ideia, mas ele reconhece que a configuração urbana de Londrina dificulta a construção de ciclovias. deck Apaixonado por esportes aquáticos, Luiz Carlos Preto tem seu paraíso particular a 85 quilômetros de Londrina Por Karla Matida Fotos Fábio Pitrez 22| Living Vectra Qualidade da água da represa Capivara é um dos destaques do Porto das Águas Vista geral das chácaras de lazer do Porto das Águas. Abaixo, a portaria do empreendimento Depois de passar pela paquera e pelo namoro, o relacionamento do professor Luiz Carlos Preto com o loteamento de chácaras de lazer Porto das Águas está entrando na fase do casamento, no melhor estilo quem casa quer casa. Apaixonado por esportes aquáticos, Preto conheceu o empreendimento em Porecatu (85 quilômetros de Londrina) por meio de amigos que já eram proprietários. 24| Living Vectra Depois de algumas visitas, acabou comprando o próprio terreno e logo estava com o projeto arquitetônico nas mãos. Eis que uma residência já pronta surgiu e o professor aproveitou a oportunidade para fazer negócio. Mas após quatro anos, Preto resolveu que era hora de a casa ser personalizada para atender seu gosto e necessidades. Casado e com um filho, a família do professor é pequena, mas os amigos são muitos. E para receber toda a turma com mais conforto, foram feitas ampliações e melhorias nas instalações existentes. “Antes eram quatro quartos e uma suíte, agora são quatro quartos e três suítes com ar-condicionado e mais a garagem para embarcações”, explica. “A churrasqueira também é outra”, completa. Xodós da casa, a lancha, os dois jet-skis e o quadriciclo para transporte também precisavam de um espaço. A garagem ganhou dois portões estratégicos. “Entro com a caminhonete e a lancha por um portão e saio pelo outro sem precisar manobrar”, explica Preto. O salão de festas é um dos itens da área comum do loteamento de chácaras de lazer 26| Living Vectra Para o professor, “um fator muito positivo é que o esporte aquático é família. Você pode levar todo mundo e agrega os vizinhos também”. Entre os moradores do Porto das Águas, Preto enumera uma vizinhança de vários cantos da região, de Arapongas a Presidente Prudente e Maringá. O empreendimento, às margens da Represa Capivara, vira ponto de encontro dos amigos principalmente nos finais de semana. A turma do professor tem cerca de 10 embarcações, ou seja, 10 animadas famílias. “Aqui é água e churrasco”, avisa Preto. A rampa para embarcações do Porto das Águas é considerada uma das melhores da região Com a lancha ou o jet, o professor já passeou por todos os cantos da represa, que é das mais generosas em tamanho. “Conheço todos os braços dela. Saímos de manhã e o almoço é sempre no restaurante Roda D´Água. À noite, fazemos churrasco em casa.” Com a turma e a família, Preto também costuma fazer um turismo aquático. “Ribeirão Claro, Porto Rico, Ilhabela e Xavantes”, elenca. “São lugares lindos, mas o Porto das Águas tem uma vantagem, é muito perto de Londrina. Em 50 minutos estou aqui.” O professor Luiz Carlos Preto no deck da sua casa: vista para a represa alicerce Fomentar a indústria da construção sustentável no Brasil é a missão do Green Building Council. País já é o quarto colocado no ranking mundial de empreendimentos registrados O Brasil vem mostrando desde 2007 que quer fazer jus ao verde da sua bandeira. Com a chegada o Green Building Council ao país, o setor da construção civil ganhou uma diretriz para ser mais sustentável. Criado em 1999 nos Estados Unidos, o GBC instituiu o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), um sistema de certificação e orientação ambiental de edificações. Com quase 600 empreendimentos em processo de certificação, o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking mundial, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Emirados Árabes. “Hoje temos praticamente um registro por dia no Brasil”, contabiliza o engenheiro e gerente técnico do Green Building Council Marcos Casado. Reconhecido internacionalmente, o LEED é utilizado em 136 países que fazem parte do World Green Building Council. Cinco anos atrás, o Brasil tinha apenas oito edifícios registrados. Hoje já são 63 certificados, isto é, passaram por um rigoroso processo e conquistaram o chamado selo verde. O Paraná tem dois empreendimentos com o LEED – uma fábrica da Coca-Cola e o prédio comercial Curitiba Office Park, ambos em Curitiba – e está em terceiro lugar no país, com 37 registros. Em Londrina, a Vectra é pioneira no registro de edifícios, com os comerciais Palhano Premium e Palhano Square Garden. Organização sem fins lucrativos, o GBC Brasil tem como missão “fomentar o desenvolvimento da indústria da construção civil com foco na sustentabilidade sócio-ambiental”. De acordo com Marcos Casado, são quatro os pilares da organização: educação, informação, relacionamento e fomento e certificação. A educação, segundo o gerente técnico, é o foco principal da organização, que promove cursos de capacitação dos vários profissionais do setor da construção, disseminando o conceito de construção sustentável. Em 2008, o GBC criou o programa nacional de educação com cursos, palestras, seminários, pós-graduação e MBA, que hoje é o carro-chefe da organização. Desde então, mais de 33 mil profissionais já participaram do programa, também com opções de cursos on-line. “Outro pilar que a gente trabalha é o da informação, através de boas práticas para replicar o conceito com palestras e a feira anual”, explica Casado. Na edição deste ano, a Conferência Internacional & Expo, promovida pelo GBC, triplicou de tamanho e precisou de uma área de 6.500 metros quadrados (Transamérica Expo Center) para comportar os 100 expositores e os cerca de cinco mil visitantes. Na questão do relacionamento e fomento, a ligação é com empresas privadas e com o governo. “O objetivo é criar incentivos para construção por meio de políticas públicas e leis de incentivos fiscais”. Exemplos são a Copa do Mundo e as Olimpíadas com o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento), em uma linha de financiamento específico para construção sustentável. “No Rio de Janeiro, acabamos de lançar com a Prefeitura o Qualiverde, que tanto dá redução de ISS para as construtoras como reduz o IPTU para quem for morar ou trabalhar nesses empreendimentos sustentáveis”, explica Casado. Quarto pilar, “a certificação é uma ferramenta para promover essa transformação do setor. É a certificação que dá o norte, a diretriz, de como construir sustentável”, define o gerente técnico. Para Marcos Casado, é totalmente viável conquistar o certificado LEED no Brasil. “Não falta material, não falta No Centro Administrativo Rio Negro, em Barueri, dois edifícios são certificados com LEED Cartilhaverde Por Karla Matida Fotos Fábio Pitrez Living Vectra | 29 Marcos Casado, gerente técnico LEED Irrigação com água captada de chuvas tecnologia, nem profissional”, garante. Uma das grandes novidades da Conferência Internacional & Expo 2012 é o lançamento do referencial para casas, que deve mudar ainda mais o panorama da construção sustentável no país. Durante um ano, cinco residências farão parte da fase piloto. Após esse período será aberta a certificação para casas. “Isso vem de uma demanda das nossas empresas-membros que querem certificar seus empreendimentos horizontais”, constata. Quarenta e cinco por cento dos registros que chegam ao GBC são para o setor comercial. “Mas há um aumento nas outras áreas também, como shoppings centers e hospitais, que estão percebendo a redução do custo operacional”, identifica Casado. “O público do comercial faz a conta do custo operacional. Ele não se importa de pagar mais aluguel num imóvel valorizado, se paga menos condomínio. E é essa conta que a construção sustentável geralmente fecha.” 30| Living Vectra Para o gerente técnico, uma das principais vantagens da construção sustentável é a valorização do imóvel. “Temos inúmeras pesquisas que mostram que o público brasileiro até paga mais por um imóvel de diferencial sustentável, desde que ele tenha mesmo esse diferencial.” A diversidade dos setores alcançados pela certificação verde inclui ainda estádios de futebol. De acordo com Casado, todos os estádios para a Copa do Mundo do Brasil já foram registrados e inspiraram outros dois – Palmeiras (SP) e Grêmio (RS) – a seguir o exemplo. Foi a convite do Comitê Olímpico Brasileiro que o GBC fez um trabalho para o plano diretor da Rio 2016, destacando a questão da sustentabilidade como um ponto positivo para a escolha da cidade. “Conseguimos incluir a obrigatoriedade de certificar todas as instalações que serão construídas para as Olimpíadas”, revela. Vivace, a realidade superou o desejo www.siemens.com.br/vivace A linha de tomadas e interruptores Vivace veio para inaugurar uma nova tendência: unir tecnologia e desempenho a design e inovação. A tendência fica por conta do elegante perfil assimétrico das placas, combinado com a suavidade e beleza das teclas de acionamento. Muita inovação também para as novas funcionalidades aplicadas a linha Vivace. Entre elas, o dispositivo para conexão USB especialmente desenvolvido para recarregar smartphones, mp4, entre outros. Além disso, uma grande oferta de dispositivos eletrônicos permitirá a linha Vivace atender a inúmeras necessidades em instalações elétricas, promovendo alto desempenho e conforto com a qualidade Siemens. Vivace, uma prova concreta que realidade supera o desejo. porta-retrato A vida é bela Foto Roberto Custódio Em sua ronda pela cidade em busca de cenas para ilustrar uma matéria sobre as altas temperaturas, o fotógrafo Roberto Custódio optou por mostrar a brincadeira dos meninos no Lago Norte de uma forma diferente. Tirou as cores do verão e captou uma imagem memorável. “Foi inspirada no trabalho do Pedro Martinelli, que admiro muito”, conta o fotógrafo londrinense. 32| Living Vectra Living Vectra | 33 home-theater o décimo João, primeiro Nascido na Paraíba e criado no Paraná, Jotabê Medeiros se formou profissionalmente em São Paulo, onde se tornou um dos críticos musicais mais influentes do país. Atualmente escreve para o jornal O Estado de S. Paulo, mas já passou pela Folha de S. Paulo, CNT/Gazeta e pela Folha de Londrina, publicação que marcou o início da sua carreira. Um dos críticos musicais mais influentes do país, Jotabê Medeiros lembra a passagem por Londrina e a vez em que mentiu para Bob Dylan Por Karla Matida Fotos Fábio Pitrez “Londrina foi meio um acidente”, lembra o jornalista, que ganhou na cidade o apelido com o qual assina suas matérias há 27 anos. Décimo primeiro de uma família de 15 filhos, João Batista Medeiros começou no jornalismo por acaso. “Saí de casa – em Cianorte – com 15 anos. Na nossa família era outra lógica. Você falava para o pai ‘vou estudar em Curitiba’, ele respondia ‘vai com Deus’”, diverte-se. Para se manter na capital paranaense, ele trabalhava durante o dia no departamento comercial de uma construtora e estudava à noite. Quando chegou a época de escolher a faculdade, prestou vestibular para Direito na Universidade Federal do Paraná. “Tive uma nota boa, mas não passei. Daí fiquei pensando se ia ficar um ano esperando o outro vestibular. Foi quando vi que Londrina tinha vestibular no meio do ano. Sem muita convicção, escolhi jornalismo. E quando passei tive que decidir se largava o emprego e mudava de cidade. Então peguei uma recisãozinha, que devia dar para uns três meses, e fui para Londrina.” Depois de uma temporada numa pensão, ele descobriu que havia duas vagas para a Casa do Estudante da Universidade Estadual de Londrina. “Era preciso provar que não tinha dinheiro. Eu poderia ter levado as certidões de nascimento dos meus 14 irmãos”, brinca Jotabê. Na Casa, o jornalista fez amizades que duram até hoje. “Alguns ainda me chamam de Paraíba”, brinca. Ainda estudante, foi atrás de uma vaga que a Folha de Londrina estava oferecendo. Competiu com vários colegas e chegou à final ao lado do melhor amigo. “Um dia perdi a hora e quando cheguei à Folha, o Jersey (Gogel) já tinha saído com uma pauta ótima. O grupo de teatro Delta tinha sido selecionado para participar de um festival em Nova York”, conta Jotabê. “Não tinha mais pauta para mim, então me mandaram para a Biblioteca Infantil. Pensei: perdi.” Living Vectra | 35 Mas o editor que iria anunciar o novo contratado estava voltando das férias e com isso deixou os dois amigos por mais uma semana na redação. “Ele pediu uma capa especial para domingo, falou que o jornal de domingo era importante. Ninguém disse nada. Eu disse que tinha uma pauta, porque naquele domingo, curiosamente, seriam os 10 anos da morte do Pasolini.” A matéria sobre o cineasta italiano virou capa do caderno de cultura e rendeu um pedido do editor Nilson Monteiro para o chefe de redação Walmor Macarini: “contrate os dois”. E assim foi feito. “A Folha era o melhor jornal do interior do Brasil. Londrina tinha uma mentalidade que não era provinciana. Os primeiros beatniks que li foi na Folha, na página de literatura em que o Rodrigo Garcia Lopes fazia traduções”, explica. Pouco antes da entrada na Folha de Londrina, Jotabê já escrevia para a revista SomTrês, do Rio de Janeiro. “Na época, o editor era o Maurício Kubrusly. Era uma revista bacana, todo mundo que virou crítico musical depois escrevia nela. Peguei um disco que já tinha um ano ou dois de existência, o The Wall, do Pink Floyd, e escrevi um texto sobre ele. Era um ensaio, não era uma crítica, do que ele representava e o impacto que aquilo trouxe para a minha geração. E mandei para o Kubrusly. Um dia ele me ligou dizendo que tinha gostado muito do texto. O problema, falei para ele, é que eu não tenho discos, não tenho sobre o que escrever. Ele falou que não era problema, que me mandaria os lançamentos. Todas as semanas chegava uma caixa e era uma festa na Casa”, lembra. “Quando tive que assinar pela primeira vez na SomTrês usei o Jotabê que os amigos da UEL me apelidaram. Nome composto é mais difícil. Marcos Roberto, João Batista, ninguém fala”. Já o jeito de escrever por extenso veio, segundo o jornalista, dos parnasianos da literatura. “Antiquado, meio obsoleto, meio esquecido, mas gostei de recuperar e adotei.” Retrato de Bob Dylan: destaque na parede da sala do jornalista “Talvez tenha ficado no inconsciente, é que tinha um cara que traduzia quadrinhos e que eu gostava muito, que era o Jotapê Martins. Ele traduzia o Demolidor. Eu lia muito quadrinhos, desde muito pequeno. Em Cianorte, bem moleque, uns 10 anos, a gente fazia trocas de gibis. Eu andava quilômetros para fazer essas trocas.” Para o jornalista, a bagagem dos quadrinhos lhe deu uma vantagem sobre a maioria dos colegas. “Eu conseguia decupar a linguagem visual com mais facilidade”, afirma Jotabê. “Lia muito Ken Parker.” Mas é de Art Spiegelman que o jornalista guarda um tesouro. Um livro autografado pelo cartunista. “Esse eu não dou, não vendo, nada”. Outros incontáveis livros, discos, CDs e afins que Jotabê recebeu como material de divulgação nas quase três décadas de profissão não tiveram a mesma sorte. Ou melhor, tiveram um outro tipo de sorte. Foram parar no sebo do irmão mais novo em Cianorte. “Nem era para ganhar dinheiro, era mesmo para compartilhar aquilo com outras pessoas.” 36| Living Vectra No final de 1986, com pouco mais de um ano na Folha de Londrina, Jotabê recebeu uma ligação telefônica de São Paulo. “Era o editor do recém-nascido Caderno 2 do Estado de S. Paulo, Luiz Fernando Emediato, que passou por Londrina e leu uma matéria minha. Eles estavam procurando jovens jornalistas pelo país e me chamou para trabalhar. Minha namorada estava grávida, então tive que pensar duas vezes. Mas quando ele me falou quanto pagavam, só perguntei ‘quando você precisa que comece?’”. Entre a primeira passagem pelo Estadão e a atual, Jotabê ainda tem no currículo passagens pela revista Veja e pela televisão. Trabalhou no canal CNT em Curitiba, mas logo foi transferido de volta para São Paulo depois da fusão com a TV Gazeta. “Foi uma das melhores experiências em jornalismo que eu tive em muito tempo. Tínhamos só duas equipes, era precário, mas inventamos uma fórmula de jornal que foi muito elogiada”, lembra. Depois de quase dois anos na televisão, recebeu um convite para voltar para o Estadão. “E estou lá há 18 anos”, contabiliza. Nesse tempo, o jornalista já foi correspondente do jornal em Nova York, entrevistou Rolling Stones, viu cerca de 300 shows por ano e se transformou em um dos maiores especialistas em Roberto Carlos do país. “Eu ainda estava na Folha quando o entrevistei pela primeira vez. Ele mesmo abriu a porta. Desde então tenho o entrevistado sempre. Fui até cobrir o show em Israel. É um dos nomes mais importantes da música brasileira.” Na carreira eclética, Jotabê participou do funeral de Michael Jackson em um local reservado apenas para os amigos (num lance de sorte aliada ao faro fino jornalístico) e ainda mentiu para Bob Dylan. “Fui escalado para cobrir o show dele no Rio de Janeiro. De manhã no hotel falei para minha mulher: Nana, vamos atrás do Bob Dylan”. Recluso, o músico norte-americano não é de entrevistas ou badalações, mas costuma passear incógnito pelas cidades da turnê. “Fomos para o hotel Fasano e ficamos no bar, depois de um tempo, percebi que ele não estava lá. Fomos então para o Copacabana Palace, onde eu já tinha dado vários plantões”, lembra. Na pausa para o almoço, na vizinhança do hotel, uma figura estranha chamou a atenção da mulher do jornalista. “Ela disse: ‘nossa, parece o Bob Dylan’, mas sem acreditar. Quando olhei, vi que era ele”. Nana fez algumas fotos e levou uma bronca do cantor, que disse algo como “seus malditos papparazzi” (numa tradução suave). Foi quando Jotabê se aproximou e disse que era para o Facebook. “Daí ele até se deixou fotografar ao lado da Nana”, lembra Jotabê, que fez a matéria contando a saga em busca do músico. O título não poderia ser outro: “O dia que menti para Bob Dylan”. 38| Living Vectra bagagem Bricabraque-se Para matar as saudades ou para turbinar a coleção, feiras de antiguidades de São Paulo são uma fantástica viagem no tempo PorPor Karla Matida Karla MatidaFotos Fábio Pitrez Fotos Fábio Pitrez 40| Living Vectra Praça Benedito Calixto O charme e encantamento das feirinhas de bricabraque fazem delas ponto de visitação obrigatório não só para saudosistas e colecionadores, mas também para turistas. Que o digam os frequentadores da feira de San Telmo, em Buenos Aires, ou da cinematográfica Portobello Road, em Londres. As duas opções são figurinhas fáceis nos mais diversos guias turísticos. Em São Paulo, passear entre barraquinhas recheadas de antiguidades valiosas – seja no preço ou no sentimento – também tem endereço certo. Mais de um na verdade. E assim, movimentam o final de semana. Aos sábados, a Praça Benedito Calixto, em Pinheiros, ganha novas cores, sons e sabores das 9 às 19 horas. Há 25 anos, a Feira de Artes, Cultura e Lazer é ponto de encontro dos mais variados grupos. Apesar das barracas de louças, brinquedos, móveis e artesanatos tomarem conta do lugar, ainda há espaço para o vaivém de curiosos, famílias e amigos. Há ainda quem vá a trabalho. Para o povo da moda, a viagem no tempo que as coleções antigas proporcionam vira referência e inspiração. Para os figurinistas, as barracas têm tesouros para quem está recriando cenários para novelas, filmes ou minisséries de época. O empresário Franz Ambrósio sabe bem o que é isso. Há tempos fornecedor de roupas e acessórios para produções globais – a mais recente foi Gabriela – ele é proprietário do brechó Minha Avó Tinha (com três endereços em São Paulo) e também participante da Feira de Antiguidades da Paulista, que acontece aos domingos, no vão livre do Masp. Bixiga Living Vectra | 43 “Fiz parte da feira de 90 a 94 e há um ano e meio voltei. A loja me afastava do grupo, aqui vejo o que o mercado está querendo, o que está acontecendo”, diz. No vão do Masp, o empresário vende apenas objetos de decoração produzidos antes dos anos 1960. “A exigência do estatuto é que 90% sejam peças antigas.” Engenheiro metalúrgico, Ambrósio se viu sem emprego em 1990. Foi quando decidiu vender itens antigos, muitos de sua coleção particular. “A necessidade é a mãe da sobrevivência”, ensina. “Mas também é preciso estudar e se dedicar para saber o que estou vendendo.” Para os compradores, a dica do expert é pechinchar. “Dá para conseguir de 10 a 15% de desconto e, se tiver lábia, consegue mais”, garante. Comandada pela Associação de Antiquários do Estado de São Paulo, a feira do Masp chega a atrair cinco mil pessoas a cada domingo, das 10 às 17 horas. Apesar da padronização das barracas – todas azuis – o conteúdo de cada uma é dos mais diversificados. De uma caixa registradora de R$ 10 mil a broches com letras de R$ 10. “Não dá para prever como vai ser a venda. Pode sair em cinco minutos ou ficar aqui dois meses”, diz Marcos Coelho, não só vendedor como também restaurador da caixa registradora. Há 33 anos no ramo de antiguidades, Coelho viaja pelo Brasil e América Latina atrás de peças similares que depois de restauradas viram, principalmente, decoração em lojas e bares. Mas muitas das compras são mesmo sentimentais. Reencontrar o brinquedo que marcou a infância ou o disco que embalou as primeiras festinhas é algo recorrente no passeio pelas feiras. Gilberto Campos tem mais de 10 mil brinquedos em três lojas que só atendem com hora marcada. Mas Masp pode ser encontrado facilmente na feira da Benedito Calixto. Entre seus tesouros, um tanque de lata de 1930. O material, aliás, é um dos destaques do espaço. Coloridos e movidos à corda, os mais conservados ficam em estantes de acrílico e custam em média R$ 150. “A maioria é da Espanha”, explica o vendedor, que atende a clientela também em inglês e espanhol. E se o garimpo é internacional, a família Nakatani, de Mogi das Cruzes (cerca de 1h30 de São Paulo), produz delicados objetos com técnicas vindas do Japão. Os microvasinhos são um dos charminhos da banca da “Casa da Cerâmica”, há 11 anos na feira da Benedito Calixto. Tudo ali é artesanal e nenhuma peça é igual à outra. O passeio pela feira de Pinheiros ainda pode ser saboroso. No meio da praça, um espaço destinado à alimentação aposta na cozinha étnica com salgados e doces. Os restaurantes nas ruas que circundam a praça também são boas opções para quem quer se reabastecer. Bairro tradicionalmente gastronômico pela forte presença da colônia italiana, o Bixiga também tem sua feirinha de antiguidades aos domingos. E uma das suas atrações é justamente a vizinhança repleta de cantinas. Não estranhe a sensação de déjà vu. Muitos vendedores são os mesmos da Benedito Calixto. A feira do Bixiga acontece na Praça Dom Orione. Deixe para fazer um almoço mais tarde, já que a partir das 15 horas algumas bancas começam a ser desmontadas. Living Vectra | 45 Boa mesa à cozinha paulista Por Karla Matida Fotos Fábio Pitrez O novíssimo Attimo, do chef Jefferson Rueda Living Vectra | 47 Cenário gastronômico de São Paulo é grandioso, à altura da maior cidade da América Latina Danilo Nakamura, crítico gastronômico e nosso guia pelos sabores de São Paulo Rodrigo Oliveira, jovem talento repaginando as delícias do sertão nortestino Engenho Mocotó: local das experimentações do chef Rodrigo Oliveira Chás com variadas misturas no The Gourmet Tea Cosmopolita como era de se esperar da maior cidade da América Latina, São Paulo traz uma infinidade de opções nas mais diversas áreas. Mas é na gastronomia que as variadas culturas e etnias se mostram mais. Não só os sabores e temperos dos quatro cantos do mundo, mas também de todos os cantos do país. The Gourmet Tea Epice: apenas 38 lugares para saborear as criações do chef paranaense Alberto Landgraf Londrinense radicado em São Paulo há quatro anos, o crítico gastronômico Danilo Nakamura conhece bem a diversidade da culinária paulistana. Transforma as descobertas em resenhas para a revista DiVino Sabores e este ano tam- Living Vectra | 49 bém foi jurado do prêmio Comer e Beber 2012 da Veja SP, na escolha dos melhores da cidade 2012. “São Paulo é o primeiro lugar onde as coisas acontecem no Brasil”. Formado em gastronomia, o crítico diz ter feito o curso “como meio de informação. Cozinho mais quando vou a Londrina”, conta. Com faro fino para as novidades que pipocam pela cidade, o crítico também tem seu lado cicerone gastronômico. Com o chef inglês James Lowe, um dos nomes estrelados da nova culinária britânica, Nakamura foi visitar, entre outros lugares, o restaurante Mocotó, na Vila Medeiros. Por lá encontraram o também jovem chef Rodrigo Oliveira, que deu uma repaginada no restaurante da família e vem conquistando prêmios importantes nos últimos anos. Em 2012, a revista Prazeres da Mesa o elegeu o melhor chef e o Mocotó, a melhor cozinha brasileira. Em obras, o restaurante vai ganhar um café para fazer companhia ao Engenho Mocotó, espaço de eventos e também para a criação de novas receitas. “A cena de gastronomia dos chefs é nova”, define o crítico.“Alex Atala é uma referência e o DOM foi eleito pela Restaurant Magazine o quarto melhor restaurante do mundo”, lembra Nakamura, que ainda cita Helena Rizzo e Bel Coelho. Mas há novos nomes surgindo. O paranaense Alberto Landgraf, nascido em Nova Fátima, é uma das estrelas em ascensão, assim como Rodrigo Oliveira. Oásis de tranquilidade em Pinheiros, a Julice Boulangère é destaque na nova cena de padarias em São Paulo No comando do Epice, Landgraf chama a atenção para a sua culinária, que foi moldada em Londres. E de lá o chef trouxe o colega James Lowe, da dupla Young Turks, para cozinhar em seu restaurante como convidado. Uma iniciativa que só aumenta seu prestígio. Coffee Lab foi eleito pelo crítico Danilo Nakamura o melhor café de São Paulo na atualidade A sommelière Daniela Bravin Bar à vin no subsolo do Bravin Do interior de São Paulo, Jefferson Rueda nasceu e cresceu em São José do Rio Pardo e acaba de inaugurar o Attimo, que ele próprio define como restaurante ítalo-caipira. O sobrenome espanhol é só um detalhe, já que foi criado com a culinária italiana da família materna. A mistura das cozinhas caipira e italiana é a mais nova sensação da cidade. E, não por acaso, tem caderno de reservas bem recheado. No cardápio de doces, quem cuida da pâtisserie é Saiko Yoneda. A esposa de Rueda, Janaína, também é chef e comanda o Bar da Dona Onça, no lendário edifício Copan, projeto de Oscar Niemeyer na Avenida Ipiranga. “Estar no centro da cidade hoje é ser vanguardista”, explica Danilo Nakamura. O chef Jefferson Rueda Já quando o assunto é tradição, a pizza de São Paulo, segundo o crítico, segue na briga com Nova York para ser a melhor fora de Nápoles, berço da pizza na Itália. “A cena de padarias cresceu muito de um ano para cá”, conta. A recente chegada da belga Le Pain Quotidien, com três lojas na cidade, ajuda a movimentar ainda mais. Mais autoral, a Julice Boulangère é um oásis de tranquilidade na divisa de Pinheiros com a Vila Madalena. Resultado de uma mistura que envolve ascendência portuguesa, espanhola, italiana e japonesa, Nakamura conta que a cozinha étnica ainda deixa a desejar na capital. “Mas a cozinha japonesa daqui é espetacular”, garante. E é no Kidoaeraku que o crítico busca refúgio quando quer comer tranquilo. Sim, isso é possível em plena São Paulo. No Attimo são duas adegas, a de vinhos e a de cachaças Living Vectra | 51 Mercado de sabores Famoso pelo sanduíche de mortadela e pelo pastel de bacalhau, o Mercado Municipal de São Paulo vai muito além da icônica dupla de quitutes. São mais de 12 mil metros quadrados recheados por uma variedade de sabores. O prédio, construído em 1933, se divide em setores de quitanda, açougue, avícola, peixaria, laticínios, gourmet, empório, mercearia e mezanino com restaurantes. Frutas fresquinhas, caranguejos ainda vivos, temperos exóticos abrem o apetite e os desejos de bancar o chef por um dia. Ou por vários. Chegar cedo – o Mercado abre às 6 horas todos os dias – é sempre uma boa opção para quem não quer enfrentar filas. A expressão comer com os olhos ali se encaixa perfeitamente. Rua da Cantareira, 306 - Tel. (11) 3313-3365 52| Living Vectra Living Vectra | 53 Dicas de expert A pedido da Living Vectra, o crítico gastronômico Danilo Nakamura criou uma lista com os endereços mais bacanas do momento em São Paulo. As dicas vêm acompanhadas de justificativas saborosas. Delicie-se com a fartura de temperos, da cozinha contemporânea ao hambúrguer caprichadinho, passando pela culinária japonesa. Epice: restaurante do chef Alberto Landgraf (nascido em Nova Fátima e com família em Londrina). Chef mais promissor do cenário nacional, cozinha moderna com leve acento da nova cozinha britânica (Landgraf estudou e trabalhou em Londres). Entre os pratos mais pedidos, está o “polvo com pinole e vinagrete de Jerez” e a “barriga de porco com grão de bico”. Rua Haddock Lobo, 1002 - Tel. (11) 3062-0866. DOM: Alex Atala dispensa apresentação. Atual 4º melhor restaurante do mundo segundo a Restaurant Magazine. Cozinha brasileira de vanguarda e excelente serviço de vinhos por Gabriela Monteleone. Melhor reservar com bastante antecedência. Rua Barão de Capanema, 549 - Tel . (11) 3088-0761. Maní: restaurante do casal de chefs Helena Rizzo e Daniel Redondo em sociedade com Fernanda Lima e Pedro Paulo Diniz. Eleito 51º melhor do mundo pela Restaurant Magazine. Também de cozinha brasileira moderna, mas com sotaque mais pop. Ambiente despojado e sempre lotado. Rua Joaquim Antunes, 210 - Tel. (11) 3085-4148. Attimo: novo restaurante do chef Jefferson Rueda (ex-Pomodori) em parceria com o restaurateur Marcelo Fernandes (Kinoshita e Clos de Tapas). Comida ítalo-caipira feita por um dos (senão o) melhores chefs do gênero, em São Paulo. Pratos bem consistentes, sem sabores tímidos – com destaque para carne de porco e massas. Rua Diogo Jácome, 341 - Tel. (11) 5054-9999. Mocotó: na distante Vila Medeiros, o Mocotó virou um centro de peregrinação gourmet. Rodrigo Oliveira renovou a cozinha sertaneja do nordeste, respeitando a tradição da casa aberta por seu avô em 1968. Os pratos passeiam entre clássicos nordestinos e modernidades, como os dadinhos de tapioca com melaço de cana e a mocofava (caldo de mocotó com favas e defumados) que fazem valer a viagem. Avenida Nossa Senhora do Loreto, 1100 - Tel. (11) 2951-3056. Com a maior colônia nipônica do mundo (fora do Japão), a cozinha japonesa é muito vasta em São Paulo, variando entre balcões de sushi modernos e supertradicionais. Para sushis mais modernos, Jun Sakamoto é um dos mais conceituados – com excelente sushi de lula com sal do Himalaia, vieira com sal trufado e robalo com yuzu, além de pratos como o tempurá de shissô e as ostras com ovas de salmão. Entre os mais tradicionais, o balcão do Shin Zushi é um espetáculo de produtos e técnica. Jun Sakamoto Rua Lisboa, 55 Tel 11 3088-6019. Shin Zushi Rua Afonso Freitas, 169 - Tel. (11) 3889-8700. Kidoairaku: numa esquina escondida da Liberdade, o Kidoairaku é um choque de culturas. É como um micro Japão do hemisfério sul. Ambiente super simples (é a própria casa do chef Kakuzui Matsui) e cozinha japonesa caseira (não tem sushi!). Os pratos são espetaculares – especialmente o teishoku de peixe prego, o tonkatsu (lombo de porco empanado), a berinjela com missô e o sazonal butano kakuni – cubos de barriga de porco cozida que o chef prepara em dias mais frios. Rua São Joaquim, 394 - Tel. (11) 3207-8569. Coffee Lab: Da barista Isabela Raposeiras, é o atual melhor café de São Paulo. Lugar descolado, com mesas comunitárias, varanda para fumantes e diversos tipos de extração – espresso, prensa francesa, filtro, aeropress... Rua Fradique Coutinho, 1340 - Tel. (11) 3375-7400. A cena de padarias gourmets explodiu nos últimos anos, em São Paulo. A Julice Boulangère faz pães deliciosos e tem um ótimo espaço para aproveitar os produtos in loco. Ali pertinho, na Vila Madalena, a rede belga Le Pain Quotidien acabou 54| Living Vectra de abrir uma loja. O espaço é bem grande, com enorme mesa comunitária e, além de pães e cafés, também serve almoço. Julice Boulangère Rua Deputado Lacerda Franco, 536 - Tel . (11) 3097-9144. Le Pain Quotidien Rua Wisard, 138 - Tel. (11) 30316977. Chez MIS: dentro do Museu da Imagem e do Som, do grupo que também é dono das casas Chez Lorena, Chez Burger e Bar Secreto. A comida é ok, mas o espaço é ótimo. É o atual restaurante favorito dos fashionistas e modernosos, num ambiente bem bonito (e escuro, diga-se). Mensalmente, tem festas anexas no museu – como a Green Sunset. Rua Europa, 158 - Tel. (11) 3467-3411. Bar da Dona Onça: da chef Janaína Rueda (mulher de Jefferson, do Attimo), o Dona Onça é mais restaurante do que bar. O ar descolado, no térreo do Edifício Copan, atrai gente de todas as sortes para servir deliciosa comida brasileira clássica. Aliás, comida paulista clássica. Se está no cardápio, é porque faz parte da dieta paulistana – de picadinho, arroz de rabada com agrião e frango com quiabo a panelinha de moelas e dobradinha. Avenida Ipiranda, 200 lojas 27 e 29 - Tel. (11) 3257-2016. Speranza: pizzaria tradicional, uma das poucas de São Paulo com certificado de “pizza verace” do governo de Nápoles. Também é queridinha dos foodies pela tradição. Há duas unidades: Bixiga e Moema, mas a primeira é que mantém o melhor forno e um padrão superior de pizza. Rua 13 Maio, 1004 - Tel. (11) 3288-8502. Sub-Astor: bar estilo speak-easy, como nos tempos da lei seca, no porão do Bar Astor (o slogan é“embaixo do astor”). Alta coquetelaria, música alta e gente bonita. Serve boas comidinhas, como o Vesper Burger, as empadinhas e o hot-dog. Rua Delfina, 163 - Tel. (11) 3815-1364. Butcher’s Marketing: hamburgueria moderna, com um ambiente meio Williamsburg/Brooklyn-NYC, no Itaim Bibi. Sempre cheio, hambúrgueres ótimos e bons drinks. Recentemente, abriram o Barn, espaço anexo, num estilo mais bar/clube inglês, no segundo andar. Rua Bandeira Paulista, 164 - Tel. (11) 2367-1043. The Gourmet Tea: excelente casa de chás, no bairro de Pinheiros. Serve chás clássicos e modernos, com ampla carta e um cuidado muito especial para os tempos de infusão, com cronômetro embutido nas bandejas de serviço. Rua Mateus Grou, 89 - Tel. (11) 2936-4814. Z-Deli Sanduíches: minúscula lanchonete de comida judaica, menos kosher, mais novaiorquina. O projeto é do chef e proprietário Julio Raw, neto e sobrinho-neto das fundadoras da Z Deli – tradicional deli judaica da cidade. Os sanduíches são excelentes – de pastrami, língua, salmão defumado no bagel, bresaola e rosbife – e a casa ainda serve ótimos hambúrgueres. Os pães são feitos por Rogério Shimura, ex-padeiro do DOM. Rua Haddock Lobo, 1386 - Tel. (11) 3083-0021. Ici Bistrô: restaurante francês do chef Benny Novak, que ainda possui mais duas casas: a Tappo Trattoria e o 210 Diner – de comida italiana e americana, respectivamente. No Ici, Benny serve pratos como o magret de pato com figo assado e molho de foie gras, fraldinha com molho béarnaise, cassoulet e sopa vichyssoise com ostras. Rua Pará, 36 - Tel. (11) 3259-6896. Bravin: casa da sommelière Daniela Bravin (ex-Ici Bistro e Tappo Trattoria), funciona como restaurante no piso superior e bar à vin no andar de baixo. A seleção de vinhos é imensa e o serviço de Daniela impecável, sempre com uma novidade surpreendente na manga. Rua Mato Grosso, 154 - Tel. (11) 2659-2525. moldura Obra de arte A homenagem da Vectra ao gênio catalão Antoni Gaudí ganha mais um capítulo com o lançamento do Edifício Casa Batlló. O projeto consolida o conceito de sofisticação da linha inspirada nas obras do arquiteto, composta pelo Casa Milá, no centro de Londrina, e pelo Parc Güell, em construção na Gleba Palhano. “Das obras de Gaudí, a Casa Batlló é a mais sofisticada em detalhes e acabamentos; da mesma forma, vem a ser a obra mais sofisticada da Vectra”, diz o coordenador de vendas e planejamento Cléber Maurício de Souza. O detalhismo do projeto é notável em vários aspectos; um deles é a presença de artesãos que trabalharão para reproduzir os mosaicos característicos de Gaudí. De acordo com o diretor-presidente da construtora, Manoel Luiz Alves Nunes, o planejamento vem sendo feito há mais de um ano. “É um edifício com poucos pilares e grandes vãos para permitir uma arquitetura realmente marcante. Por todos os cuidados, pela estrutura, pelo tamanho e pelos acabamentos, é realmente uma obra de arte”, ressalta. A grandiosidade do projeto começa na dimensão do terreno. “No centro de Londrina, todas as quadras projetadas pela Companhia de Terras têm 10 mil metros quadrados. A quadra total onde será construído o Batlló tem aproximadamente 50 mil metros quadrados. O edifício vai ocupar uma área de 6.300 metros, quase 70% de uma quadra central”, compara Manoel. Edifício Casa Batlló, da Vectra, consolida o conceito de sofisticação da linha inspirada no trabalho do arquiteto catalão Antoni Gaudí Por Rosângela Vale Fotos Fábio Pitrez Porz O Casa Batlló terá duas torres independentes, com dois apartamentos por andar, área privativa de 245 metros quadrados e planta de três ou quatro suítes. A inovação – considerada a “joia” do empreendimento – são as duas coberturas horizontais com 496 metros quadrados exclusivos, com opções de quatro ou cinco suítes, amplo terraço e piscina embutida no piso. “Uma verdadeira casa nas alturas”, define Cléber. Living Vectra | 57 Para a arquiteta Márcia Ivale, responsável pelo projeto arquitetônico junto com Eliza Koyama, a arquitetura de Gaudí é absolutamente inspiradora e um verdadeiro divisor de águas em termos de estilo. “Com ele, a liberdade começou a aparecer e os arquitetos conseguiram, através de linhas retas e orgânicas, libertar-se do classicismo anterior”. De acordo com Márcia, um dos marcos do Casa Batlló em Barcelona também terá sua versão no edifício construído pela Vectra. “O terreno e a distância de 12 metros entre as torres possibilitaram a criação de um grande átrio com teto de vidro, que contempla toda a entrada de luz. A arquitetura de interiores, com certeza, vai explorar isso muito bem”, prevê Márcia, que ressalta o uso de metais para criar escamas nas fachadas das torres. O coordenador de vendas e planejamento Cléber de Souza e o diretorpresidente da Vectra Manoel Luiz Alves Nunes: projeto grandioso Segundo o arquiteto Marcelo Melhado, materiais de primeira linha garantem a nobreza dos acabamentos “Todo trabalho de pesquisa e adequação dos conceitos espaciais, decorativos e sensitivos do edifício estão fundamentados nos elementos usados por Gaudí”, salienta Marize Cecato, arquiteta responsável pelo projeto paisagístico. Ela destaca a área do parque aquático, composto por três conjuntos de piscinas, onde se desenvolvem vários conceitos do arquiteto catalão. Concebido para ser um convite a quem entra no edifício, “o acesso principal tem tanto a opção por rampas como pela escada ladeada por um espelho d’água, fazendo a ponte entre o espaço externo e o interno”, revela. As boas surpresas continuam dentro do apartamento.“Toda parte social é integrada com a área da cozinha e há a possibilidade de abrir tudo com painéis de vidro; aí haveria integração total, não apenas visual”, diz a engenheira civil Eliza Koyama. Varandas tanto na parte da frente como na de trás garantem ventilação cruzada. O espaço generoso vai ganhar a nobreza dos acabamentos de primeira linha. “A madeira da parte íntima, o porcelanato na área social, o mármore travertino romano no banheiro do casal, as esquadrias altas, os rodapés de 15 centímetros; tudo isso vai fazer a diferença; o comprador só vai precisar colocar os móveis”, garante o arquiteto Marcelo Melhado, autor do projeto de interiores. Para ele, além de qualidade, a palavra perfeita para definir o empreendimento é interação. “Um dos destaques do Casa Batlló é o átrio, que vai ser ponto de encontro para as pessoas”, revela. O lazer ocupa praticamente todos os 6 mil m² do terreno e será entregue equipado e decorado, com itens como salões de festa, salas de jogos, espaço fitness, piscinas, praças, brinquedoteca, lounges, quadras de tênis e de squash, quadra poliesportiva, entre outros. Também são diferenciais do edifício os oito elevadores, sendo quatro em cada torre, e os boxes despensas nos dois níveis de subsolo. “É um verdadeiro quarto privativo de cada morador, com quase 6 m²”, informa Cléber. Segundo ele, antes mesmo da abertura do apartamento decorado, o empreendimento já vinha registrando grande procura. A previsão de entrega do empreendimento é junho de 2016. Perspectiva ilustrativa Amplo terreno onde será construído o Edifício Casa Batlló, entre a Avenida Ayrton Senna e Rua João Wyclif, ao lado do Edifício Evolution Home Ayrton Senna Hall de entrada do Casa Batlló álbum Fotos Ana Flávia Negro Localização poderosa Próximo ao Centro Cívico de Londrina, o Edifício Aruak Residencial tem a tranquilidade do Jardim Petrópolis com a ampla oferta de serviços da Avenida Duque de Caxias. A festa de lançamento na Vectra Store contou com show da banda curitibana Os Milagrosos Decompositores e visita ao apartamento decorado pela arquiteta Simone Ito. Fábio Mansano e Manoel Alves Nunes Eduardo e Helena Sitta Cassiano Ferraz e Mariana Lozano Meire Tsuda, Arlete Fuganti e Jussimeire Akasaki Denílson e Marinês Mechia com a filha Carolina Thalita e Guilherme Arruda Paula Piccinin Medeiros 60| Living Vectra Elói Müller e Terezinha de Oliveira Living Vectra | 61 álbum Fotos Ana Flávia Negro Mãos à massa Em parceria com a Massaria Artigianale, surgiu uma série de cursos com o chef Alexandre Gimenes, batizada saborosamente de Massaria Gourmet Vectra Store. As aulas atraem mensalmente os gourmets de plantão, que são brindados com degustação de vinhos. Os cursos contam com apoio da Villa Casa, Decanter e Ample Comunicação e Eventos. O chef Alexandre Gimenes rodeado pelos participantes Patrícia Bertin e Silvana Bordin Susana Lacerda Fabiane Teni e Heloísa Mercer Neuza Penteado, Rosana Martins e Rose Petrus 62| Living Vectra Carolina e Luciene Cardoso Maria Emília Skowronek e Patrícia Cappellari Bruna Berti e Ana Carolina Rapcham Fotos Gabriel Teixeira Ao som de Mariana Serelepe no palco e dona de uma bela voz, Mariana Aydar encantou o público que compareceu em peso a mais uma edição do projeto Vectra ConstruSom. No Teatro Marista, as canções do CD Cavaleiro Selvagem Aqui Te Sigo se revezaram com outros hits da cantora. Rebeka César, Rosa Scicchitano e Dulce Blaia Fábio e Fabiana Feijó Patrícia e Adirlei Oliveira Thayza Oliveira e César Falavigna Débora, Teresinha e Natália Sorgi Gesielene Carvalho Renan Paiano e Iana Tomazetti João Rodrigo e Andressa Milanez Living Vectra | 63 quintal 64| Living Vectra Horta comunitária do Edifício Palazzo Veronesi Cultivar legumes e verduras é bem mais que um hobby para o ortopedista Nereu Genta Por Karla Matida Fotos Fábio Pitrez Uma das primeiras lembranças que o ortopedista Nereu Genta tem da mãe é na horta, colhendo batatas para preparar um prato muito especial. “Ela só fazia aquele nhoque uma vez por ano, que era mesmo para ser valorizado”, conta o médico. Aos cinco anos, ele participava do trabalho na horta da família. Com a mesma idade, a netinha mais nova do ortopedista também já banca a assistente do avô na horta do edifício Palazzo Veronesi. “Eu me mudei para cá há uns seis meses, porque soube dessa horta. Minha casa ficou grande demais para mim e minha mulher e, quando comecei a procurar um apartamento, descobri esse aqui.” A horta, inicialmente lançada como espaço gardening, havia sido projetada no edifício a pedido da diretoria da Vectra e foi inspirada em espaços comunitários desse tipo visitados na Alemanha. Após alguns anos de produção reduzida, a ideia inicial recuperou fôlego com os cuidados de Genta. Desde que se mudou, ele assumiu informalmente a horta comunitário do prédio. Com a experiência em olericultura adquirida nas últimas três décadas, o ortopedista deu outra cara ao espaço. Criou novos canteiros, plantou mais variedades de legumes e ervas e está incrementando a salada dos vizinhos. “Minha casa tinha três mil metros quadrados. Lá eu tinha uma horta e um pomar, e desse eu ainda cuido”, conta o médico. Todas as noites, depois do expediente na clínica, Genta passa pela horta do Palazzo Veronesi para regar os canteiros. Nos finais de semana, faz a manutenção. Plantando e colhendo, tem atraído a atenção não só dos três netos, como também de outras crianças do condomínio. Após o expediente na clínica, o ortopedista vai para a horta “Elas se interessam e eu ensino o que aprendi, principalmente com os japoneses. Quando comecei a horta, plantava, cuidava, mas os legumes não cresciam como deveriam. Então fui estudar. Os japoneses da Cooperativa Cotia ficaram meio desconfiados no início, não achavam que meu interesse era sério, mas, depois que acreditaram em mim, me ensinaram tudo”, lembra o médico, que guarda até hoje uma cartilha da cooperativa datada do final dos anos 1970. Entre pés de hortelã, manjericão, beterraba, repolho e outras verduras, um dos destaques da horta do Palazzo Veronesi é tão italiano Compostagem feita pelo médico utiliza as folhas caídas nos jardins do edifício quanto o nome que batiza o edifício: a plantação de sálvia. “Minha nonna (avó) trouxe a muda na mala quando veio da Itália em 1914.” Os cuidados com a horta 100% orgânica vão além de plantar, regar e colher na hora certa. A pedido do ortopedista, as folhas recolhidas dos jardins do edifício são levadas para a horta e incluídas na compostagem preparada por ele. Um minhocário também ajuda no enriquecimento da terra. De olho na sazonalidade das verduras e ervas, Genta já comprou todas as sementes para a plantação de verão. “A hora de preparar é agora”, explica. O próximo passo é trazer do pomar da sua antiga casa para os jardins do prédio uma jabuticabeira adulta. “As crianças não podem esperar 15 anos para ver uma jabuticaba do pé”, justifica. Com a chegada de Nereu Genta, a horta ganhou mais canteiros Foto : Gabriel Teixeira lounge Destaque da nova geração da música brasileira, Mariana Aydar foi a estrela do mais recente Vectra ConstruSom A paulistana Mariana Aydar cresceu cercada por música. Filha da produtora musical Bia Aydar e de Mário Manga, do grupo Premeditando o Breque, ela começou a carreira como backing vocal do violeiro Miltinho Edilberto, cujo repertório era basicamente forró. Também dividiu o palco com grandes nomes da MPB, como Dominguinhos e Elba Ramalho, e integrou a banda do compositor paulistano Dante Ozzetti. O ritmo nordestino com quem flertou desde o início da carreira daria o tom à sua primeira banda, a Caruá, mas a sua musicalidade em expansão não suportava rótulos. Em busca de novas referências, mudou-se para Paris e só voltou de lá com o projeto do primeiro disco solo. Desde então, já gravou três álbuns, com ótima repercussão de público e crítica. O último deles, Cavaleiro Selvagem Aqui Te Sigo, revela ritmos afro-brasileiros sem perder a essência contemporânea da artista. E é exatamente disso – essência – que trata o título do disco. Para ela, o Cavaleiro em questão é a força criativa, aquele sopro celestial que vem e vai sem hora marcada. Estrela da primeira edição da série Vectra ConstruSom em 2012, Mariana Aydar encantou a plateia do Teatro Marista no início de junho. Doce e ao mesmo tempo intensa, ela deu a seguinte entrevista à Living Vectra pouco antes do show em Londrina: Como é para você o processo de compor? Você tem algum método ou é caótico? É bem caótico (risos). A música vem para mim como um sopro no ouvido. Acho que é muito parecido com aquela música do João Nogueira e do Paulo César Pinheiro, do poder da criação, que fala: “Não, ninguém faz samba só porque prefere/ força nenhuma do mundo interfere/ no poder da criação, não, não/ Não precisa se estar infeliz nem aflito/nem se refugiar em lugar mais bonito/em busca da inspiração, não/Ela é uma luz que chega de repente/feito uma estrela cadente...”. Então é assim, ela chega. E eu acredito muito nessa força. Pra mim, é essa força que não sou eu. Eu acredito nela, eu ouço, mas aí não consigo acabar. Porque eu fico achando que tem que vir outra força para terminar. É aí que entra o meu processo, que estou aprendendo. Converso com algumas amigas compositoras que me dizem: tem que treinar, faz alguma coisa com isso, mas sempre acho que vai ficar menor... Penso: era tão lindo e agora eu vou estragar... É aquela história de 1% de inspiração e 99% de transpiração? Pois é, eu ainda estou no 1%; está faltando 99% (risos). Você tem uma formação bem eclética. Como você analisa isso em termos de identidade musical? Acho que tudo influencia no jeito de traduzir, de concretizar a música. Às vezes vou compor e falo: “nossa, isso é estranho, um sotaque nordestino e eu sou de São Paulo.” Mas eu ouvi muita música nordestina, comecei cantando forró. Então eu acho que as influências vão ficando em você e, com o tempo, você vai colocando para fora de uma maneira bem natural, espontânea. Nãogosto de rótulos Foto : Renan Christofoletti Por Rosângela Vale Living Vectra | 69 Quando você se descobriu cantora? aquela relação entre público e artista. Geralmente são jovens, mas é legal porque eles também levam os pais aos shows. E eu adoro. Esses jovens estão muito ligados nesse pessoal que está vindo. Vou a shows de outros cantores e acabo encontrando meu público lá. São jovens entre 20 e 30 anos que trocam impressões, mandam cartas, textos. Outro dia uma menina me escreveu um texto lindo; acho isso muito legal, quando a pessoa pega a essência do que eu quero dizer, porque eu me preocupo muito com o que eu digo; sou muito focada nas minhas letras. Sempre cantei, desde pequenininha. Meu pai é músico, eu convivia muito com ele nos shows e, no final, ele sempre chamava as crianças para cantar. Eu ficava esperando aquela hora ansiosamente. Quando resolvi estudar um instrumento, escolhi o violoncelo, estudei dos 11 aos 16 anos; depois estudei violão, e aí tudo era mais ou menos pretexto para cantar. Você tem três discos gravados. Já está pensando no quarto? O que te inspira? Hoje eu me dei conta, aqui no hotel, em Londrina, que eu estou no processo do quarto disco porque eu cheguei toda pilhada e comecei a escrever coisas para ver se eu pegava no sono e dormia um pouco, então, percebi que o quarto disco está nascendo, e com composições minhas, por isso, estou feliz. É muito cedo para falar, mas acho que tem uma sementinha sim. Eu falo muito da questão do ser humano, de como a gente vive nesse mundo tão louco, de como viver bem, em paz, de questionar realmente os nossos limites, os nossos sofrimentos e a nossa felicidade. Acho que a música é transformadora; faço música para isso; ouço música desse jeito. A música sempre foi um refúgio para mim, um lugar de amor, de paz, de transformação. Mais do que para ser uma grande cantora, afinada e tecnicamente perfeita, entrei na música para trazer um pouco de alento para as pessoas. E para mim também. O que levou você a morar em Paris? Eu tinha uma banda de forró e sabe quando chega a uma encruzilhada, em que cada um vai fazer uma coisa? A gente não queria gravar um disco de forró para justamente não ficar rotulado. Eu não gosto de rótulos. E não queria ter um rótulo logo no início da carreira. Aí a gente resolveu acabar a banda; cada um foi para um lado. Foi quando pensei que era hora de morar fora, o que sempre foi um sonho. Escolhi Paris por ser muito efervescente culturalmente. Lá eu fui curadora de um programa de TV que se chamava Novos Boêmios, sobre a nova geração dos músicos brasileiros. Como eu recebia muito disco, comecei a ver que realmente tinha muita gente boa e passei a me interessar por esse movimento. Hoje é uma coisa mais concreta; naquela época ainda era bem abstrato: Luisa Maita, Romulo Fróes, Céu, Ana Cañas, o pessoal da Orquestra Imperial, Fabio Góes, Mallu Magalhães, Filipe Catto... É muito legal viver numa época em que você influencia e é influenciada por gente assim. Sou muito ligada e gosto muito dos compositores da minha geração. Eu faço música brasileira. Isso não quer dizer que eu nunca vá fazer outra coisa, mas hoje eu não me vejo cantando outra coisa que não seja música brasileira; foi o que sempre me tocou no coração. Então, isso pode ser um rótulo. Mas, hoje, dentro da música brasileira, acho que nem existe mais o termo MPB; isso também está muito ligado a um rótulo, a uma época. Dentro da música brasileira há muitas possibilidades e influências, inclusive de músicas que não são brasileiras. Esse é o campo que se abre sem rótulos. Acho importante ter essa liberdade de não ser uma coisa só. Eu canto como eu vejo a música brasileira, como ela toca, com todas as influências que eu tive, reverberando em português. Como é a receptividade do seu trabalho? Quem é o seu público? Você tem contato com ele? Tenho contato sim. Acho que, com a Internet, voltou 70| Living Vectra Foto : Gabriel Teixeira Essa coisa de não ter rótulos também é bem característica dessa geração. Você acha que essa é uma questão que marca seu trabalho, fazer algo que não se pode nomear? Perspectiva ilustrativa office 72| Living Vectra Edifícios Palhano Premium e Palhano Square Garden apresentam a Londrina um novo conceito de empreendimento voltado ao trabalho Horizonte profissional Por Rosângela Vale Living Vectra | 73 Na principal rotatória da Gleba Palhano, entre as Avenidas Madre Leonia Milito e Ayrton Senna, o complexo empresarial em construção pela Vectra está sendo projetado para atender o LEED (Leadership in Energy & Environmental Design), sistema de orientação e certificação ambiental de edificações reconhecido internacionalmente. O selo verde, como é conhecido, garante construções que geram o menor impacto possível nos recursos naturais durante o seu ciclo de vida. E, com isso, proporcionam economia de água, de energia e, consequentemente, de custo do condomínio. “Para obter a certificação, buscamos em todo processo construtivo materiais com selo de procedência. As madeiras são de reflorestamento; o aço tem, na sua composição, sucata que seria descartada na natureza. As esquadrias das fachadas são compostas por vidros com baixo fator de absorção térmica, diminuindo o consumo As obras do Palhano Premium estão a todo vapor: entrega prevista para julho de 2014 de ar-condicionado nos ambientes internos. Os telhados terão uma cobertura verde (bandejas com grama); metais e vasos sanitários terão controle de fluxo de água e os jardins serão regados com água da chuva”, enumera o coordenador de engenharia da Vectra, Márcio Giocondo. Mas a economia não para por aí. O piso elevado – com fiação e parte hidráulica adequáveis a todo tipo de inquilino sem necessidade de reformas – vai garantir custos reduzidos aos investidores. E o lucro obtido com a administração das vagas rotativas do estacionamento será revertido para abater custos do próprio condomínio. “São três pisos de garagens para os condôminos e dois para os clientes em ambas as torres, totalizando mais de 700 vagas”, contabiliza Cléber Maurício de Souza, um dos responsáveis pelo desenvolvimento e vendas do projeto. No Palhano Premium haverá ainda um heliponto. Nos primeiros pisos estão previstas 60 lojas com pé direito duplo. Segundo Cléber, o projeto vem tendo ampla aceitação do mercado. “Em 90 dias, as vendas do Palhano Premium foram 100% fechadas. E as do Square Garden já estão 70% concluídas”, informa. Não é para menos. Localizado em uma região que vive uma fase acelerada de verticalização, com grande concentração de edifícios residenciais de alto padrão, o novo complexo empresarial representa uma opção mais do que interessante aos moradores da Gleba Palhano. Afinal, quem não quer (e precisa) diminuir o tempo que percorre entre casa e escritório? Foto : Fábio PItrez O que vem a sua cabeça quando você pensa em edifícios comerciais? Centro da cidade, trânsito caótico, dificuldade de estacionar, elevadores congestionados e salas com pouca luz natural? Apague esses conceitos. Agora imagine um complexo empresarial sustentável, localizado em um dos pontos mais nobres de Londrina, com 700 vagas de estacionamento, salas com direito a varandas e uma vasta rede de serviços nos primeiros pisos. Estes são apenas alguns diferenciais do Palhano Premium e do Palhano Square Garden, que apresentam à cidade um novo conceito de empreendimento voltado ao trabalho. Outro ponto alto do projeto é a presença de sacadas em todas as salas. As grandes esquadrias proporcionam amplitude ao ambiente e integração com a área externa, que pode se transformar em local de convivência e contemplação: a excepcional vista da cidade ajuda a suavizar o stress, adicionando bem estar à rotina profissional. Perspectivas ilustrativas Fachada do Palhano Square Garden: proposta ousada e inovadora Hall de acesso e área de convivência do Palhano Square Garden De acordo com Cléber, o perfil de ocupação dos empreendimentos tende para a área corporativa e de profissionais liberais (médicos, dentistas, advogados). “Em ambas as torres, temos vários andares que serão ocupados por uma só escritório e também grandes empresas que compram um terço ou meio andar. Há diferenciais projetados para profissionais da área de saúde, até porque ao lado do Square Garden será a sede administrativa da Unimed”, observa. A psicóloga Leda Meda Caetano vai trocar o consultório que mantém há 15 anos no centro por uma sala no Palhano Square Garden. Gostou tanto da proposta que deu a dica para várias amigas, que também fecharam negócio. “É uma proposta inovadora e ousada, que oferece uma perspectiva diferente de trabalho, salas mais amplas, com muito acesso ao verde e localização privilegiada; literalmente é o ponto alto de Londrina”, diz. Para a psicóloga, o conforto e o bem estar proporcionado pelo espaço físico faz toda a diferença na dinâmica de seu trabalho. “Fazer com que o cliente se sinta bem acolhido é fundamental para obter bons resultados.” Living Vectra | 75 área de serviço já Transparência Produtos e equipamentos de limpeza especiais evitam o aspecto embaçado, previnem manchas e garantem vidros sempre limpos Por Rosângela Vale Foto Fábio Pitrez A luz natural é um dos elementos mais valorizados nos projetos atuais. Grandes paredes de vidro estão cada vez mais presentes em residências, fachadas e escritórios, proporcionando maior contato com o exterior e aumentando a sensação de bem-estar. O lado b da história todo mundo sabe: muitos vidros significam trabalho extra, já que mantê-los limpos não é tarefa das mais fáceis, certo? Não se forem usados equipamentos e produtos adequados, especialmente desenvolvidos para este fim. “Já soube de pessoas que limpam com querosene, álcool, vinagre, jornal. Não são formas corretas de se manter um vidro limpo”, avisa Roberto Fernandes, proprietário da Leal Master, empresa especializada em serviços de limpeza. “Os microgrãos, provenientes dos materiais utilizados nas obras, são os maiores inimigos do vidro, que riscam quando a pessoa esfrega panos ou jornal sem a limpeza prévia”, alerta. Depois de reformas e pinturas, o ideal é remover os resíduos que ficam nos vidros com o raspador de segurança, uma lâmina especial que não danifica o material. Já para a manutenção do dia-a-dia, esqueça os produtos da linha doméstica, como detergentes para louças, limpa-vidros, sabão em pó e fibras abrasivas. “Muitas vezes, as pessoas estão lavando a calçada e aproveitam os mesmos produtos para limpar os vidros. Depois, fazem o enxágue e deixam secar. Para que tenha durabilidade e beleza, o vidro deve ser lavado corretamente e enxugado por inteiro. Para isso, existem kits específicos de limpeza”, informa Fernandes. Um dos itens fundamentais desse kit é o rolo combinado, que possui dois lados diferentes: um deles tem uma luva sintética (que pode ser removida e lavada depois do uso) e o outro vem com uma borracha de silicone para raspar a água. A esse rolo é adicionado um extensor disponível em vários tamanhos. Um frasco pulverizador e um limpa-vidros completam o kit. Detalhe importante: o produto deve conter silicone na fórmula e não é vendido em supermercados, apenas em casas especializadas em limpeza. Fernandes explica que o silicone vai formar uma fina camada de proteção; assim, água e demais produtos que respingarem no vidro vão escorrer, evitando manchas. Depois de raspar a água do 76| Living Vectra enxágue, o serviço está completo e dispensa o uso de panos, que são necessários somente para tirar o excesso de água que fica na esquadria. Para saber se o serviço foi bem feito, basta passar a mão no vidro. “Tem que estar lisinho, sem asperezas”, ensina. As manchas e o aspecto embaçado do vidro ocorrem principalmente porque a água que fica ali, seja da torneira ou da chuva, vai formando uma calcificação. Esse processo é bem nítido nos boxes de banheiros. “Lá, além do cloro da água, tem a oleosidade do corpo, o creme, o xampu, o sabonete que, fatalmente, respingam no vidro. O correto seria enxugá-lo depois do banho, mas claro que ninguém faz isso”, observa Fernandes. Para ter um box transparente, anote a dica: “Uma vez limpo e não tendo manchas de calcificação, o ideal é passar uma cera de carro ou até um bom lustra-móveis e depois fazer o polimento. Isso forma uma película de proteção que impede que a água e os outros produtos fiquem impregnados ali”. O procedimento deve ser feito, em média, uma vez ao mês. Ainda que existam manchas, Fernandes afirma ser possível recuperar a beleza do vidro graças à tecnologia dos novos produtos removedores, eficazes até mesmo em vidros manchados há muito tempo. Nesse caso, são necessárias várias aplicações. “É um processo mais longo, mas resolve”, garante. city tour Um pedacinho do paraíso Por Paulo Briguet | Fotos Fábio Pitrez Shangri-Lá quer dizer “o paraíso na terra”. No romance Horizonte Perdido, publicado pelo inglês James Hilton em 1925, Shangri-Lá é o nome de um mosteiro situado nas montanhas do Himalaia, lugar paradisíaco e acolhedor onde convivem harmoniosamente pessoas vindas das mais diferentes procedências do planeta. Em Londrina, Shangri-Lá é também o nome de uma antiga fazenda de café pertencente ao pioneiro Bertholdo Durães, criada quase na mesma época em que apareceu o livro de James Hilton, e depois transformada em bairro na divisa entre a área central e a zona oeste da cidade. Ali, em 1954, um grupo de feirantes e produtores rurais criou o Mercado Municipal Shangri-Lá, que caminha para os 60 anos como um dos recantos mais queridos da paisagem urbana londrinense. Quem passeia entre as lojas do Mercado Shangri-Lá tem ali uma reprodução em miniatura do que foi Londrina em sua colonização: um lugar em que pessoas das mais diversas origens encontram paz e alegria para conviver. É, ao mesmo tempo, um espaço de lazer e trabalho. Lazer daqueles que fazem compras e procuram os amigos; trabalho daqueles que acordam bem cedinho, antes do Sol, para oferecer nas bancas uma variedade colorida de frutas, verduras, legumes, peixes, carnes, defumados, doces e outros produtos alimentícios da melhor qualidade. Além de peças de artesanato, vinhos, flores, jornais, revistas, livros – sem esquecer o pastel e a cervejinha gelada, é claro. Desde 1984, o empresário Ariel de Oliveira Rosa frequenta o Shangri-Lá aos sábados e domingos. “Venho para me distrair e para fazer compras”, diz o filho de pioneiros que chegou ao Norte do Paraná há 75 anos,“contrariado, chorando, carregado no colo”, aos 10 meses de idade. Seu pai, José de Oliveira Rosa, era dono do segundo rancho construído na cidade de Apucarana, e hoje dá nome ao centro cívico da cidade norte-paranaense. Ariel mudou-se de Apucarana para Londrina 28 anos atrás, para acompanhar o tratamento fisioterápico de seu filho, e certo dia, por sugestão de um amigo, resolveu conhecer o Shangri-Lá. Logo nos primeiros minutos ele entendeu por que o mercadinho municipal é 78| Living Vectra Aberto em 1954, o Mercado Municipal Shangri-Lá é um dos lugares mais simpáticos da paisagem urbana londrinense. Todo mundo se sente bem ali... tão querido pelos londrinenses. “Olhe para estas pessoas”, diz Ariel, numa movimentada manhã de domingo. “Você viu alguém de cara fechada, triste, emburrado? Não! Todo mundo se sente bem aqui no Shangri-Lá.” Na entrada do mercado, encontramos um senhor com a camisa do Flamengo. É o carioca João Medeiros, que chegou a Londrina há 30 anos e nunca mais quis voltar. Era representante de vendas da Editora Bloch e da revista Manchete. A Manchete não existe mais, a Bloch fechou as portas depois da morte do velho Adolpho, mas Medeiros continua firme com a Banca Flamengo, às portas do Shangri-Lá. O comerciante é uma espécie de embaixador do rubro-negro da Gávea em Londrina. E tornou-se o maior vendedor de jornais e revistas da cidade. “Aqui eu trabalho com todos os tipos de público e faço muitos amigos”, diz Medeiros, antes de conversar com o são-paulino Ariel sobre o Campeonato Brasileiro. Enquanto os dois amigos trocam ideias, o filho de Medeiros vende mais alguns exemplares do jornal de domingo. O segredo do Mercado Shangri-Lá, na opinião de Ariel, está nas famílias: as que visitam e as que trabalham no mercado. “Olhe o nome destas bancas de frutas e verduras: Shiroma, Furuta, Onishi... São pessoas que acordam cedo, trabalham muito, gostam do que fazem e o fazem bem. São famílias que se criaram trabalhando aqui, atendendo às nossas famílias.” Ariel não vem sozinho ao mercado: traz a esposa, as filhas e a netinha Rafaela, de 6 anos.“Quando você se sente bem em um lugar, quer compartilhar com todo mundo.” “Todo mundo se sente bem aqui no ShangriLá”, diz o empresário Ariel de Oliveira Rosa Ariel observa que o Shangri-Lá reúne pessoas de todos os níveis culturais e sociais – até visitantes estrangeiros. Depois de elogiar o colorido das bancas de frutas e legumes, Ariel encontra amigos nas rodinhas de conversa na pastelaria: um empresário, um médico e um advogado trocam ideias sobre a política municipal. Empresário do ramo hoteleiro, Ariel diz que a arte de conviver foi uma das heranças deixadas pelos colonizadores de nossa região. “Parece portaria de hotel em cidade turística”, compara. Entre as mesas da pastelaria, um dos pontos mais concorridos do Shangri-Lá, dona Mieko Asada sorri enquanto serve os clientes. “Trabalho aqui há 43 anos”, revela. Criou a família vendendo pastéis para várias gerações de londrinenses. O Mercado Shangri-Lá pode não ser o “paraíso na terra” imaginado por James Hilton, mas sem dúvida é um lugar bem agradável para quem vive neste antigo Eldorado do café. Mas... o que o senhor vai levar hoje, seu Ariel? “Ainda não sei... O Shangri-Lá não é só para fazer compras. É um lugar para a gente se sentir bem. Há 28 anos estou fazendo isso.” Serviço: Mercado Municipal Shangri-Lá – Entre a Avenida Pandiá Calógeras e a Rua Visconde de Mauá, no Jardim Shangri-Lá, em Londrina. Funcionamento: de segunda a sábado, das 7 às 18 horas; aos domingos, das 8 às 13 horas. 80| Living Vectra O carioca João Medeiros, da Banca Flamengo: o maior vendedor de jornais e revistas da cidade Gem Collection Kitchens Curitiba Av. Pres. Getúlio Vargas, 2021 (41) 3342.7017 Central Kitchens de Relacionamento 0800 11 41 42 Kitchens Londrina Av. Juscelino Kubitscheck, 2136 (43) 3345.1321 www.kitchens.com.br espelho Deficiência social Por Rosângela Vale Fotos Fábio Pitrez e Eduardo Mello Para a empresária Nenê Cremasco, o bom humor e a facilidade de comunicação fazem com que Gregório Vicentini seja ideal para a função de atendimento 82| Living Vectra A desinformação está no cerne do preconceito contra deficientes intelectuais Hoje não é raro encontrar pessoas com algum tipo de deficiência intelectual no quadro de funcionários de supermercados, grandes redes varejistas, restaurantes e farmácias. A lei estabelece que empresas privadas com 100 ou mais empregados devem ter vagas para portadores de necessidades especiais. Mas se eles ainda são vistos com estranhamento pelos clientes, imagine há uma década, quando a tal inclusão social era apenas uma teoria. A empresária Cleizimar Cremasco não só imaginou como colocou a ideia em prática. No comando da lanchonete Vira Verão, ela mantém entre seus 54 empregados dois funcionários com deficiência intelectual. Atuando na linha de frente do estabelecimento, Gregório Vicentini, portador da Síndrome de Down, foi o primeiro a chegar. Está lá há nove anos. “O pai dele é meu fornecedor. Toda vez que ele vinha fazer entregas, o Gregório vinha junto”, lembra a empresária, mais conhecida como Nenê Cremasco. Depois de um tempo observando o trabalho, Gregório foi direto ao ponto: “Ele me perguntou o que eu achava dele trabalhar comigo. Aceitei, mas não falei nada para ninguém. No primeiro dia de trabalho, meu irmão perguntou se ele tinha vindo trazer a encomenda. Ouviu a seguinte resposta: ‘Hoje a encomenda sou eu’”, diverte-se Nenê. Para a empresária, o bom humor, a educação primorosa, a espontaneidade e a facilidade de comunicação, características da personalidade de Gregório, fazem com que ele seja ideal para a função de atendimento. “Ele recepciona o cliente perfeitamente: começo, meio e fim da venda.” Nenê destaca também a mudança positiva de comportamento dos demais funcionários: “as pessoas melhoram muito ao ver a disposição para o trabalho do colega especial, que não chega atrasado e só falta se realmente estiver doente”. O grupo GTPAÊ em cena Esse jeito especial de ser – no sentido mais amplo da palavra – passou a ser admirado e apreciado pela clientela. Mas nem sempre foi assim. “Uma vez, o Gregório foi tirar o pedido de um casal e a moça pegou o talão da mão dele. Quando ele chegou ao balcão, vi que a letra não era dele. Fizemos o atendimento normalmente e depois fui até a mesa com o Gregório, me apresentei, pedi licença para sentar e disse: ‘esse aqui é meu funcionário, ele é portador da Síndrome de Down, é alfabetizado, está trabalhando e tem capacidade para isso’. O casal pediu mil desculpas e frequenta a casa até hoje”, relata Nenê, que teve uma irmã com a Síndrome e reconhece: conhecer a deficiência de perto foi fundamental para a sua visão sobre o assunto. Informação é justamente o cerne da questão para a docente de psicologia Solange Leme Ferreira, há 33 anos pesquisando e trabalhando na área de deficiência intelectual, com projetos de inclusão social de destaque no Brasil e exterior. Ela explica que em 2010, a associação americana propôs que o termo deficiência mental fosse substituído por deficiência intelectual, para evitar que se confunda com doença mental. O ponto central do trabalho da professora é que todas as nossas ações são determinadas pelas nossas concepções. Partindo dessa premissa, seus projetos de extensão universitária na Universidade Estadual de Londrina transformaram a parcela da sociedade a que se destinavam e continuam a dar frutos. Criado há mais de 20 anos, o primeiro deles forneceu as bases para que os pais atendidos fundassem a APS-Down. Solange atuou ainda nas escolas da rede municipal, estadual e federal, com um programa desenvolvido para pré e primeiro ano, cujo objetivo era interromper a cadeia de formação do preconceito. O trabalho rendeu um livro e aguçou a vontade de continuar nesse caminho, mirando um público mais difícil. “O adulto é mais resistente. Você só desconstrói um preconceito à medida que admite que o tem. Foi quando pensei no teatro”, conta a professora, que tinha conhecido e se apaixonado pelo Grupo Sol, da Apae de Niterói, na época o único do Brasil a trabalhar com atores portadores de deficiência intelectual. Inspirada neles, ela criou, em 1997, o GTPAÊ (Grupo de Teatro para Atores Especiais), formado por 12 atores. “Temos dois grandes objetivos com esse projeto: o primeiro é trabalhar as habilidades sociais, a autoestima, a aparência, o português e as expressões faciais e gestuais dos atores para que as pessoas não se afastem. Porque o afastamento evita que se conheça quem o outro realmente é.” O segundo objetivo é chacoalhar as concepções da sociedade. “Levamos dois anos para construir cada peça; o texto cênico é criado pelos próprios atores. Quando nosso espectador assiste, ele não acredita em tanta habilidade e fica com aquela pulga atrás da orelha: será que todos têm deficiência mesmo? Em seguida, fazemos um debate com plateia e atores e aí o público percebe que eles têm dificuldade até em entender a pergunta que está sendo feita.” Nesse ponto, a atenção dos espectadores está completamente voltada para o paradoxo: como deficientes intelectuais podem ser atores tão maravilhosos? “Nós, sociedade, enxergamos primeiro tudo o que um deficiente não pode. Nosso teatro dá um choque. Depois que a plateia o enxergou como pessoa com habilidades, a gente mostra todas as dificuldades”, diz Solange. A estratégia se mostrou bem-sucedida. “À medida que instrumentalizo a sociedade para saber mais sobre eles, estou fazendo com que ela pense: o que estou fazendo para recebê-los no meu meio? Outra reflexão que sempre sai é: essas pessoas poderiam frequentar os lugares que frequento. Ou: na minha empresa elas poderiam trabalhar.” O GTPAÊ já se apresentou em todo o Brasil e por duas vezes no Filo (Festival Internacional de Teatro de Londrina), não como convidado, mas como grupo inscrito, e com ingressos esgotados no segundo dia de venda. “Porque o teatro deles é bom mesmo”, orgulha-se a professora. Encerrado como projeto de extensão universitária, hoje ele funciona como associação – a Arte e Gente – mantida pela Lei Rouanet, sob a coordenação de Fernanda Ferreira, filha de Solange. Mas a professora segue na luta pela inclusão social com um novo projeto, desta vez focado na mídia. O trabalho vem sendo feito com alunos de Jornalismo, Publicidade, Propaganda e Marketing da Unopar e deve ser tema de uma exposição no fim do ano. Partindo do modelo teórico de que o conceito de deficiência é construído socialmente, ela propõe um desafio: “fazer a reconstrução social da deficiência intelectual”. Mas, como toda “reforma” leva tempo, Solange considera um mal necessário a obrigatoriedade de empregar deficientes. “Deveria fazer parte da consciência cidadã, mas, numa etapa transitória, acho correto o governo fazer essa imposição”, diz, apontando um equívoco comum nessa história: “os empresários acham que têm que contratar qualquer deficiente para cumprir a cota. Na verdade, eles têm que contratar pessoas que tenham o perfil para aquele cargo disponível. Se a gente não vê uma abertura maior das empresas é por conta dessas interpretações imediatistas”, alerta. Atores e equipe do grupo GTPAÊ: um chacoalhão nas concepções da sociedade A docente de psicologia Solange Leme Ferreira: há 33 anos atuando na causa dos deficientes intelectuais, com vários projetos de extensão universitária que vêm fazendo a diferença na vida de muita gente Living Vectra | 85 mobília Agente transformador Marcelo Rosenbaum acredita que o design pode ajudar a redesenhar possibilidades e formas de viver e consumir Por Karla Matida Fotos Divulgação Amplamente conhecido no Brasil por conta da sua participação no quadro Lar Doce Lar, do programa Caldeirão do Huck, o designer Marcelo Rosenbaum leva mesmo a sério a questão da transformação. Se na televisão sua missão é repaginar casas de famílias humildes, fora dela o objetivo dele é bem maior. “A grande história hoje do design é a gente pensar num redesenho. Já que você desenha, pode redesenhar possibilidades, redesenhar a sociedade, as formas de viver e de consumir”, diz Rosenbaum, paulista de Santo André. Para mostrar que não fica só no discurso, o designer lançou em 2010 o projeto A Gente Transforma. A proposta é criar um novo paradigma no mercado brasileiro de decoração. Em dois anos, Rosenbaum esteve em duas comunidades carentes do Brasil. Primeiro no Parque Santo Antonio, em São Paulo, depois em Várzea Queimada, no Piauí, numa das regiões com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. A temporada no Piauí virou tema da última São Paulo Fashion Week, maior evento de moda da América Latina. Convidado pelo diretor Paulo Borges, Rosenbaum idealizou o cenário para a edição Verão 2013 da semana de moda. Exposição de fotos e objetos ganharam os corredores do prédio da Bienal, no Parque do Ibirapuera. Um dos grandes diferenciais do quadro Lar Doce Lar comparado a suas versões estrangeiras – como o norte-americano Extreme Homemakeover – é justamente o traço de Rosenbaum. Enquanto nos Estados Unidos as casas repaginadas se transformam em mansões luxuosas e altamente tecnológicas, nos projetos de Rosenbaum o luxo é a democratização do design. No programa desde 2006, o designer conta que sua participação leva em conta questões fundamentais do seu trabalho. Além da democratização do design, ainda proporciona a elevação da autoestima do brasileiro por meio da sua moradia. Parcerias criativas Muito antes da televisão e da SPFW, Rosenbaum já tinha seu nome aliado a projetos inovadores na arquitetura e no design. Com mais de 20 anos de profissão, o designer sempre teve um 86| Living Vectra Anéis e colares da coleção Toca, do projeto A Gente Transforma, nas fotos expostas na SPFW bom relacionamento com a moda. São dele vários projetos de lojas das mais badaladas grifes. Da moda praia da Cia. Marítima às criações infantis da carioca Fábula. Associar seu nome a grandes marcas também é uma forma de democratizar o design com preços acessíveis. A linha Rosenbaum De Coração, com opções de cama, mesa e banho, foi criada no ano passado em parceria com as Pernambucanas. Antes, ele já havia criado peças exclusivas para a Tok & Stok e Oxford. As parcerias criativas ainda resultaram em latas para Chocottone Bauducco, papéis de parede para a Bobinex, ladrilhos para a Brasil Imperial, tapetes para a J. Serrano, sofás e poltronas para a Mannes, pastilhas para a Jatobá, entre outros produtos. Com a Editora Abril, Marcelo Rosenbaum desenvolveu o projeto do livro Entre Sem Bater, no qual mostra a reforma da própria casa. As obras da residência balzaquiana demoraram quase um ano e são vistas nas 240 páginas do livro. Da temporada em Várzea Queimada (PI) surgiu a coleção Toca, produzida por moradores da comunidade e com téc- Papel de parede para Bobinex, coleção Origem nicas próprias. A novidade foi a inclusão do design, compartilhada pela equipe de Rosenbaum. As peças, que já haviam sido mostradas durante a SPFW, participaram em agosto de duas importantes feiras do setor, a Paralela Gift e a Luxo Para Todos. A movimentação agora é comercial, para gerar renda aos participantes. Entre os produtos estão anéis feitos com borracha de pneus usados e cestos de palha de carnaúba. Usar o design para expor a alma brasileira também é um dos objetivos de Rosenbaum, que aproveita seu talento para traduzir isso em mobiliário. A linha Caruaru foi inspirada no improviso da feira homônima no agreste pernambucano. A logomarca foi encomendada a J. Borges, reconhecido por suas ilustrações em xilogravura na literatura de cordel. A linha, que ficou em primeiro lugar no Salão Design Móvel Sul 2010, tem luminárias, armários, estantes, mesas e cadeiras em madeira pinus cultivada. No currículo internacional, Rosenbaum tem participações na revista britânica Wallpaper – uma das mais importantes referências do design mundial – e na norte-americana Elle Decor. Ladrilhos para Brasil Imperial, coleção São João Luminária Caruaru em madeira pinus certificada Linha Rosenbaum De Coração para Pernambucanas: democratização do design Living Vectra | 89 janela Transporte para ofuturo Por Paulo Briguet Fotos Fábio Pitrez e arquivo pessoal Harry Prochet, o americano que trouxe o jipe, inovação e desenvolvimento ao Norte do Paraná 90| Living Vectra Harry Prochet entre familiares Em sala de aula, o professor universitário Ricardo Prochet costuma citar o seu bisavô Julius como o primeiro caso de globalização conhecido: nasceu na Itália, casou-se em Buenos Aires, teve filhos em Nova York e morreu no Brasil. Funcionário de multinacional e professor de línguas (falava oito idiomas), o patriarca teve vários nomes de acordo com os países em que viveu: Giulio Enrico Ernesto Leo Prochet, depois Julius Ernest Prochet, depois Júlio Ernesto Prochet. Longevo – morreu com 101 anos, lúcido e ativo –, ele era pai de Harry Prochet, figura importante na história de Londrina, que hoje dá nome à avenida na zona sul. Ricardo Prochet, sobrinho-neto de Harry, é o guardião da história da família. Em suas pesquisas genealógicas, ele descobriu que os Prochet migraram da Itália para a França em 1520, fugindo de perseguições religiosas por serem valdenses, isto é, seguidores de Pedro Valdo (1140-1218), um banqueiro que abdicou à fortuna para traduzir a Bíblia e popularizar a leitura dos textos sagrados. Os Prochet escaparam da morte e ganharam a vida com atividades empresariais e artísticas – às vezes combinadas. Em 1865, Michele Prochet inventou a gianduia, deliciosa mistura de 70% de chocolate com 30% de creme de avelã. Os chocolates Caffarel-Prochet são famosos até hoje. Essa ousadia empreendedora foi trazida ao Norte do Paraná pelo americano Harry Prochet em 1947. Nascido em Nova York, Harry viera com a família para o Brasil aos oito anos. Estabelecido no Rio de Janeiro, trabalhava como executivo na American Coffeee Corporation. Ao fazer exportações de café, descobriu as oportunidades oferecidas por Londrina e região. Harry foi para os Estados Unidos e trouxe na bagagem peças do Jeep Willys, veículo que havia sido usado em larga escala durante a Segunda Guerra Mundial. Resolveu criar uma pequena montadora de jipes em Londrina. Era o início da Transparaná, uma das mais importantes empresas do ramo de transporte e maquinaria agrícola no Estado.“Eu sempre digo que o tio Harry foi o precursor da indústria automobilística no Brasil”, comenta Ricardo Prochet. “Imagine, abrir uma montadora aqui no Norte do Paraná!” O nome Jeep – abrasileirado como jipe – tem origem na sigla GP, do inglês “general purpose”(uso geral). Ou seja: é um carro que serve para tudo. Na terra vermelha do Norte Paranaense, o jipe da Willys, com tração nas quatro rodas, provou que realmente possuía múltiplas utilidades: foi ambulância, bombeiro, polícia, táxi, trator, carro de trabalho, carro de passeio, carro de todas as horas. “Era o veículo ideal naquele tempo em que se perdia sapato no barro”, diz o sobrinho-neto de Harry. A Transparaná criou filiais em várias cidades. Na sede, em Londrina, Harry empregava 1.500 pessoas. “Ele conhecia todos os funcionários pelo nome e utilizava técnicas modernas de gestão”, afirma Ricardo. “A Transparaná tinha plano de carreiras, plano de incentivos, plano de saúde. Foi a primeira empresa a manter um Living Vectra | 91 coral de funcionários, que era regido pelo maestro Andrea Nuzzi, coautor do Hino a Londrina.” Norman Prochet Empresário de grande sucesso – chegou a comercializar toda a produção nacional de tratores Massey Ferguson –, Harry Prochet também fazia questão de manter um trabalho filantrópico. Muito tempo antes que se falasse em “responsabilidade social”, ele criou a AAMEL (Associação de Amparo ao Menor de Londrina), onde eram atendidas 500 crianças carentes. É um trabalho que dura até hoje: as instalações da Casa do Caminho pertencem à Fundação Harry Prochet. Harry teve um sucessor em ousadia e visionarismo: o filho Norman, que hoje dá nome a uma rua e a uma escola municipal em Londrina. Apaixonado por velocidade, Norman criou nos anos 60 uma equipe de carros de corrida, os Dragões Verdes. A base da equipe eram os modelos Interlagos e Gordinis, comercializados pela Transparaná. “Na época, Norman foi chamado de irresponsável, mas na verdade foi um grande visionário”, diz Ricardo. O sucesso dos Dragões Verdes foi tão grande que os automóveis da Transparaná tiveram um aumento de 28% nas vendas. “Foi uma ideia muito inteligente: Norman investiu na equipe de corrida em vez de aplicar o dinheiro no marketing tradicional.” Morto precocemente ao 33 anos, em 1968, Norman era um personagem marcante. “Ele era brincalhão e adorava crianças. Seu sorriso e sua cara de bebê são lembrados até hoje na cidade”, observa Ricardo. Sua paixão por cavalos da raça manga-larga o fez viajar até uma coudelaria portuguesa, da qual não arredou pé sem levar três garanhões. Um dos cavalos morreu na viagem para o Brasil; outro morreu picado de cobra na fazenda da família, em Querência do Norte; e o terceiro se tornou um grande reprodutor, ancestral de muitos campeões nacionais. A paixão de Norman por cavalos faz lembrar a dedicação do pioneiro Celso Garcia Cid aos bois da raça zebu. Da próxima vez em que você passar pela Avenida Harry Prochet ou na frente da Escola Norman Prochet, lembre-se daqueles dois homens que ajudaram a transportar Londrina para o futuro. O professor universitário Ricardo Prochet, sobrinho neto de Harry Prochet, é o guardião da história da família O patriarca Julius Prochet, pai de Harry, nasceu na Itália, casou-se em Buenos Aires, teve filhos em Nova York e morreu no Brasil área comum Olixo nosso de cadadia 94| Living Vectra A questão do lixo é um dos maiores desafios para as administrações municipais. Grande parte dos resíduos produzidos nas residências ainda vai parar em lixões a céu aberto, resultando em poluição do solo e da água, doenças como a dengue e danos para as cidades, como deslizamentos de terra e enchentes. Sem falar que os resíduos orgânicos em decomposição liberam gases que contribuem para o aquecimento global. A solução do problema depende de iniciativas governamentais e também de mudanças de hábitos pessoais, como consumir menos e melhor (evitando desperdícios e escolhendo produtos que não agridem o meio ambiente), reutilizar o que for possível e descartar corretamente os resíduos, separando os materiais para a reciclagem. De acordo com dados do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), existem hoje no Brasil 400 cooperativas e cerca de 1 milhão de catadores, que fazem da atividade a principal fonte de renda e sustento de suas famílias. Mas ainda há um longo caminho a percorrer. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o país perde R$ 8 bilhões por ano ao aterrar lixo reciclável. A lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada em 2010, pretende mudar esse cenário. Ela considera os resíduos uma responsabilidade do poder público, das empresas e do cidadão, a chamada responsabilidade partilhada. E estabelece que todos os municípios devem oferecer a coleta seletiva à população, destinando aos aterros sanitários apenas os rejeitos e acabando com os lixões. “Com essa lei, todos os moradores e atividades comerciais são obrigados a separar os resíduos”, avisa a coordenadora interina de coleta seletiva em Londrina, Eliene Moraes, tecnóloga em gestão ambiental, especialista em gestão ambiental em municípios e mestre em engenharia urbana. O não cumprimento dessa determinação passa a ser considerado infração ambiental sujeita à multa. De acordo com ela, a coleta seletiva em Londrina vem sendo implementada desde 2001 e é referência para vários municípios. A partir de 2010, foram contratadas cooperativas para realizar a coleta nas residências e condomínios. Pela nova lei, resíduos dos grandes geradores – atividades comerciais e industriais que produzem mais de 600 litros de lixo orgânico e rejeitos por semana – não são responsabilidade da prefeitura. Também fica a cargo dessas empresas dar o destino adequado ao material reciclável. Em condomínios e residências, a coleta seletiva é mapeada por bairros e realizada por duas cooperativas contratadas. Elas também fazem a triagem e a comercialização do material coletado. “Este ano, foi contratada mais uma cooperativa, que só faz a triagem, e uma empresa privada para realizar a coleta”, informa Eliene. “Apesar de estarmos enfrentando certa dificuldade no momento, oriento a população a não deixar de separar o lixo. Estamos tentando equacionar esses problemas para, aí sim, atender a contento todo mundo”, diz. Separar e dar o destino correto ao lixo é uma responsabilidade do poder público, das empresas e do cidadão, segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos Por Rosângela Vale | Fotos Fábio Pitrez Um projeto piloto atualmente realizado pela CMTU no centro de Londrina deverá ser estendido a todo o município quando a Central de Tratamento de Resíduos (CTR) estiver totalmente instalada. “Por enquanto, estamos trabalhando com uma célula emergencial”, explica a coordenadora. Neste projeto piloto, os moradores do centro da cidade separam Living Vectra | 95 material orgânico em sacos pretos, seletivos em sacos verdes e rejeitos em sacos marrons ou nas sacolas de supermercado. O lixo orgânico (restos de alimentos) é encaminhado à compostagem para virar adubo e os rejeitos (lixo do banheiro e bitucas de cigarro) são aterrados na CTR. “Há um dia certo para a coleta de cada tipo de material”. Garrafas vazias, latas, papéis, papelão, plásticos fora de uso e embalagens em geral são os resíduos seletivos mais comuns. E devem estar limpos para não atrair bichos e maus odores. Caso contrário, podem inutilizar o material e prejudicar os catadores, que fazem a triagem manualmente. Eliene atenta também para a questão social. “Com a coleta seletiva, pessoas que estão fora do mercado de trabalho conseguem tirar sua renda, que varia de R$ 600 a R$ 1400. Quando trabalham em cooperativas, elas recolhem INSS e têm acesso a equipamentos de proteção individual. Melhora a qualidade de trabalho e, consequentemente, a qualidade de vida.” Segundo ela, existem cerca de 400 catadores em Londrina. Além de três lixeiras específicas para resíduos orgânicos, recicláveis e rejeitos, o espaço de 20 metros quadrados no Palazzo di Cesare conta com uma área para grandes embalagens De acordo com Eliene, lâmpadas e pilhas são considerados resíduos perigosos, portanto, não é recomendável que fiquem armazenadas no condomínio. Para esses materiais e também para baterias, pneus, óleos lubrificantes e suas embalagens a lei estipula a logística reversa, ou seja, o recolhimento pelo fabricante para que sejam transformados novamente em matéria-prima industrial, compondo novas mercadorias. “Orientamos a população a descartar no lugar que comprou.” Ainda que alguns edifícios não façam a separação dos resíduos corretamente, Eliene elogia a adesão dos londrinenses. “A população participa bastante. O que temos que fazer agora é melhorar a produtividade das cooperativas”, ressalta. A coordenadora faz algumas observações importantes sobre a armazenagem do lixo em condomínios, como a necessidade de projetar lixeiras específicas para coleta regular e seletiva longe da área de fornecimento de gás.“Os projetos dos edifícios já deveriam prever lixeiras adequadas, que facilitem o armazenamento temporário e a coleta”, avisa. Algumas construtoras e condomínios já seguem essas determinações, como o Palazzo di Cesare, da Vectra, que conta com um espaço de cerca de 20 metros quadrados para acomodar o lixo antes da coleta. Além de três grandes lixeiras específicas para resíduos orgânicos, recicláveis e rejeitos, o local tem uma área para grandes embalagens, como as de eletrodomésticos. Também há um recipiente para armazenar óleo de cozinha usado, recolhido a cada 60 dias pelo programa de coleta e reciclagem de óleo vegetal da Big Frango. De acordo com o gerente predial do condomínio, Valdecir Vicente dos Santos, os moradores são orientados a fazer a separação correta, mas ainda falta maior conscientização. Um funcionário é destinado para fazer uma triagem quando o lixo dos apartamentos chega às lixeiras comuns. No Casa Batlló, o mais recente projeto residencial da Vectra, vai haver uma câmara fria para armazenar lixo orgânico e rejeitos. Além de afastar bichos e evitar o mau odor, a refrigeração desses resíduos tem outras vantagens. “É um grande incentivo para os moradores fazerem a separação do lixo. Além disso, imagine se daqui a algum tempo estabeleçam que condomínios residenciais sejam responsáveis pela entrega do próprio lixo. Com a câmara fria, poderíamos fazer o transporte do material apenas uma vez por semana, barateando os custos. Acho importante ter essa alternativa”, observa o diretor-presidente da Vectra, Manoel Luiz Alves Nunes. Nada se perde, tudo se transforma Após a coleta, o lixo reciclável em suas diversas categorias é prensado em fardos e vendido para empresas recicladoras. Lá as máquinas transformam o material em matéria-prima para compor novos produtos. Nada se perde. Tudo volta a ser consumido e novamente descartado, recomeçando todo o ciclo da reciclagem. Lâmpadas – Contêm mercúrio, que é tóxico e causa danos à saúde e ao meio ambiente. Evite quebrá-las. É preciso descartar em coletores específicos. Tanto o mercúrio como o vidro, o alumínio e o plástico são recicláveis. Pneus – Ao fazer a troca nas oficinas e lojas do ramo, deixe os usados lá mesmo. Eles serão recolhidos pelos fabricantes e importadores. O resíduo é combustível na indústria de cimento e serve para fazer tapetes para automóveis, percintas de sofá e pisos de quadra esportiva. Pilhas – Não devem ser misturadas com o lixo. Elas contêm substâncias tóxicas que podem vazar. Leve-as a um posto de coleta em lojas ou supermercados. O resíduo é útil na fabricação de tintas, cerâmicas e produtos químicos. Eletrodomésticos - Alguns fabricantes já recebem os produtos fora de uso. Em breve, todos terão de recebê-los e serão disponibilizados os endereços dos postos de coleta para os consumidores. Sacos de salgadinhos – São 100% recicláveis e, por isso, devemos separá-los para coleta junto com o lixo seco. O material é feito de um plástico fino com uma camada de alumínio e pode virar bolsas, mochilas e novos artigos plásticos. Sacolas plásticas – Dê preferência a embalagens reutilizáveis ou carregue as compras em carrinhos de feira. As sacolas plásticas de supermercados podem ser reutilizadas como saquinhos de lixo. Mas para serem recicladas ou transformadas em novos produtos, não podem estar sujas com restos orgânicos. Tubo de creme dental – A embalagem contém 75% de plástico e 25% de alumínio, que são recicláveis. Após trituração e prensagem, os tubos se transformam em cadeiras, mesas, armários e telhas. Poda de árvore – O lixo do jardim deve ser depositado em containeres de empresas licenciadas pela prefei- tura. Ele pode ser triturado para produção de adubo e aproveitamento da madeira para serragem. Remédios – Com validade vencida, eles não devem ser misturados com o lixo comum. Leve-os para locais específicos de coleta, como farmácias e postos de saúde, para que tenham um destino adequado. Óleo de cozinha – Um litro despejado na pia polui um milhão de litros de água. Recolha o resíduo e entregue em algum posto de coleta. Ele serve para fazer sabão e biodiesel que move ônibus e caminhões. Alimentos – Antes de mais nada, evite o desperdício. Restos de alimentos não podem ser misturados com os outros materiais. O resíduo é usado para fazer adubo. Garrafas PET – Lave e amasse, depositando-as no lixo seco. O material é usado na fabricação de tecidos, cordas, vassouras, carpetes de carro e tintas. Também pode compor novas garrafas de bebida após processos de purificação. Vidros – Se quebrados, devem ser devidamente embalados para evitar acidentes. Com exceção de espelhos e vidros de carros, todo vidro pode ser reciclado e transformado em novos produtos. Latas de aço – Embalagens de alimen- tos como ervilhas, salsichas, patês e de algumas bebidas voltam a se transformar em aço para novas latas, construção civil e automóveis. Longa vida – Abra as caixas de suco e leite vazias, diminuindo o volume para a coleta seletiva. Essas embalagens contêm papel, plástico e alumínio. Juntos podem ser transformados em telhas para construção civil. O papel pode ser separado para voltar a ser papel. O alumínio ligado ao plástico pode ser transformado em réguas, canetas e outros objetos. Fonte: Cadernos de Consumo Sustentável, uma publicação do Ministério do Meio Ambiente Living Vectra | 97 objeto de desejo Em altoebom som Por Karla Matida Foto Divulgação O apelo dos produtos da dinamarquesa Bang & Olufsen sempre vai além da altíssima qualidade de som dos seus aparelhos. Sedutor, o design das criações há tempos é um diferencial da empresa criada por Peter Bang e Svend Olufsen em 1925. Em tempos de iPaixões, o BeoSound 8 surge como um must-have. Dock station para iPhone, iPod e iPad, ele também pode ser colocado na parede e ainda possibilita a troca de cores das caixas de som. 98| Living Vectra Onde encontrar: www.lojabang.com.br GALERIA DO TAPETE AV. ADHEMAR PEREIRA DE BARROS, 872 BELA SUIÇA | LONDRINA 43 3342-1238 [email protected] puntoefilo.com.br Linha Ritz Gris Almada SE ALGUÉM FIZER BAGUNÇA NA SUA CASA, NÃO VAI SER O RAPAZ DO PISO. Durafloor Ritz é bonito, resistente, rápido de instalar, fácil de limpar e combina com casa gostosa e aconchegante. 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