A morte na visão de C. G. Jung, e a importância de

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A morte na visão de C. G. Jung, e a importância de
A MORTE NA VISÃO DE C. G. JUNG, E A IMPORTÂNCIA DE SUA
TEORIA PARA A LEITURA SIMBÓLICA DAS DOENÇAS
PSICOSSOMÁTICAS
*Valéria Cristina Fidélis
Em 26 de julho de 1875 nasce na suíça, Carl Gustav Jung, filho de
Paul A. Jung (doutor em Teologia e Filosofia) e de Emilie Preiswerk
(espiritualista e dons literários). Estudioso da mente tornou-se um
pesquisador da medicina; em virtude de suas influências familiares,
vivencia de visões premonitórias e sonho espiritual foi sendo guiado em
sua vida e obra por seu lado espiritual, sendo que sua realidade mais
autêntica foi à curiosidade científica sobre a alma e a transcendência.
Desconfiado da fé dogmática de seu pai, viveu muitas crises e
divergências a respeito, afastando-se da igreja por sentir: ausência de
Deus e de vitalidade nas cerimônias; dizendo que esta não era um lugar
de vida e sim de morte. Na adolescência sofre uma crise filosófica e
passa a buscar leituras aprofundadas nos conteúdos religiosos e no
campo da filosofia. Tornou-se um médico atuando como psiquiatra
preocupado com os males do espírito; para ele afastar-se dessa
natureza humana e espiritual, principalmente na meia idade, seria a
origem das inúmeras neuroses. Contudo sua visão sobre religião difere
do Cristianismo tradicional, sobretudo a questão do Mal e a concepção
de Deus, que não considerava só bom e protetor, mas também tentador
e destruidor.
Não sendo compreendido apesar de considerar-se cristão, foi
acusado pelo Cristianismo Dogmático de ser um outsider, sofrendo
inúmeras perseguições. Em alguns desabafos dizia que na Idade Média
teria sido queimado; embora não tenha conceituado Deus sua
necessidade de compreendê-lo em experiências imediatas era vital.
Como estudante de medicina leu tudo de significativo sobre
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espiritismo, e sobre os primeiros trabalhos de Freud (pai da psicanálise).
Desenvolveu as primeiras teorias psicológicas fundamentadas no
inconsciente e como psiquiatra começou na busca incessante pelo
entendimento dos enigmas misteriosos da loucura; sua atração especial
no início era o tratamento de psicóticos.
Inicialmente foi seguidor de Freud, por discordância de idéias
sobre a espiritualidade e a parapsicologia afasta-se por não querer
desligar-se de seus verdadeiros objetivos. Sofreu imensamente com os
afastamentos de amigos e conhecidos e passa-se por místico,
experimentando uma dolorosa humilhação. Se tivesse reprimido seus
objetivos, fatalmente seria vítima de um desequilíbrio mental, utilizou
desta crise confrontando-se com seu inconsciente e obtendo experiência
científica efetuada sobre si mesmo, esforçando-se por mostrar que os
conteúdos psíquicos são reais de experiências coletivas, não apenas
pessoais. Foram diversos anos elaborando e inscrevendo-se no quadro
de sua obra científica, interessando-se por conteúdos marginalizados e
desprezados pelo meio científico e recusando-se a concordar com a
ideologia de massas e do progresso mecanicista, desconfiando de todas
as teorias grandiosas e de toda busca filosófica por fundamentos em
certezas universais.
CONCEITUAÇÕES MAIS IMPORTANTES DO PAI DA TEORIA
ANALÍTICA
Jung não teve como finalidade a “cura” em si, mas o resgate das
possibilidades criativas do indivíduo, levando a prática da psicoterapia
para fora da psicopatologia, conferindo sentido e propósito aos sintomas
psíquicos. Dentre suas contribuições teóricas, as mais importantes são:
1. Estrutura e dinâmica da psique consciente e inconsciente, bem como,
o inconsciente se manifesta. Com o conceito básico de complexo; 2.
Tipos Psicológicos (introvertido/extrovertido); 3. Estudo sobre a
psicologia do desenvolvimento da personalidade, articulado no conceito
de individuação; 4. Descrição aprofundada dos conceitos de Arquétipos,
derivados da psique do inconsciente coletivo, entre eles: Self, a Anima,
o Animus, o Ego etc.
Concebeu o aparelho psíquico como um sistema energético
dinâmico e esta energia geral designou de libido que flui em dois
opostos. A resultante dialética entre o consciente e o inconsciente
denominou de
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processo de individuação, juntamente com o processo do Self que
constitui seu ponto de apoio teórico.
Ao contrário das críticas acirradas que recebeu, colocou a
psicologia no campo da ciência, sua obra é a expressão de uma
abordagem empírica e experimental, deixa uma das maiores
contribuições ao pensamento moderno através do estudo da física
nuclear que é o reconhecimento da realidade da mente e a redescoberta
da idéia da psique como um cosmo. Sua teoria é muito importante para
o entendimento e leitura dos pressupostos da psicossomática que
também é uma ciência contemporânea, separei alguns conceitos para
que possamos realizar a leitura através da psicologia analítica:
Inconsciente: na psique uma parte dos conteúdos reprimidos que já
foram conscientes, sem energia psíquica suficiente para atingir a
consciência.
Inconsciente coletivo: camada do inconsciente pessoal, que já não
tem origem em experiências ou aquisições pessoais e nunca foram
conscientes, são inatos e hereditários.
Amplificação: técnica para aprofundar e aumentar as imagens do
inconsciente.
Arquétipo: imagens e temas ou padrões universais presentes no tempo
e lugar comum a humanidade, existem na psique como energia
potencial na vida psicológica inconsciente.
Complexos: conjunto de idéias, imagens, temas, capazes de nos
afetar, muitas vezes reprimido e capaz de provocar distúrbios
psicológicos.
Anima e Animus: Personificação arquetípica da natureza feminina no
inconsciente do homem e da natureza masculina no inconsciente da
mulher.
Coniunctio: Conjunção, casamento sagrado; integração com a ajuda da
consciência de aspectos inconscientes da personalidade.
Ego: sujeito da ação consciente, sendo o primeiro complexo a se
formar, centro da consciência, estrutura-se com base no inconsciente.
Self: centro organizador do aparelho psíquico abrange o consciente e o
inconsciente como se fosse uma imagem de Deus em nós. Arquétipo da
totalidade impossível de ser alcançada.
Individuação: processo de realização do self; confronto entre o
consciente e o inconsciente na busca de um ser individual em ação e em
unidade singular.
Função transcendente: aspecto da auto-regulação da Psique
manifesta-se simbolicamente e é experimentada como uma nova atitude
em face do si
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mesmo e da vida.
Numinoso: o inexprimível, experiência imediata do divino, inspira
temor reverencial fora do alcance racional.
Sombra: sentimentos e comportamentos proibidos surgem na parte
mais escura e negada de nós mesmos, não conscientes; reconhecê-la é
um passo para o processo de individuação.
Símbolo: imagem simbólica, expressão da situação psíquica, que inclui
elementos tanto da consciência como do inconsciente, viabiliza e pode
canalizar a energia psíquica inconsciente para a consciência se
reconhecida e apreendida pelo Ego.
Sincronicidade: Coincidência entre um evento da psique pessoal com
uma situação objetiva do mundo exterior; conexão acausal.
Mito: configura representações da consciência coletiva, ditas e reditas
em cada geração.
VISÃO DE JUNG SOBRE A MORTE
Para Jung os sonhos que antecediam a morte tinham a função de
elaboração e tomada de consciência do indivíduo em lidar com a morte
ou com uma fase de difícil transição na vida; como um modo menos
tenso de encarar a morte, a pessoa que estivesse atenta aos sonhos,
ficaria preparada muitos anos antes para a morte. A vida ou a morte
estabelecia o desenvolver-se ou o definhar-se; e só permanece vivo
quem morre com a vida; esta visão só foi admitida após um enfarte
cardíaco que quase o levará a morte em 19441, onde acamado teve
vários sonhos e visões, que contribuíram para mais transformações em
sua vida; admitindo que a morte seja desapego total.
A vida seria um intervalo consciente numa existência
transdimensional; um jogo que representa em sua história um antes,
um aqui agora (vida física/consciência) e um depois (um segundo
nascimento). Já a Psique seria uma forma independente do Tempo e do
Espaço e esta afirmação ele fez após a pesquisa sobre a sincronicidade;
a resposta à vida humana não fica dentro das fronteiras da vida. A
tristeza não voltavas-se para o morto, mas para os que tinham que
suportar e elaborar o sofrimento da perda.
O sentido da vida era a ampliação da consciência na busca do
processo de individuação pessoal; e a morte só ocorreria quanto do
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JUNG, C. G. - Memória Sonhos e Reflexões, PG. 259.
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atingimento da meta deste processo. Acreditava que o suicídio era uma
tendência inconsciente, e achava criminoso impedi-lo, mas ajudar a
resgatar a vida era imprescindível, não criou regras rígidas para esta
análise.
Jung em seus últimos dias teve um sonho que anunciava a
conclusão de sua obra e a proximidade de sua morte, via uma grande
pedra redonda colocada sobre um pedestal elevado, com a seguinte
inscrição: “como sinal da tua totalidade e da tua unidade”. Em 6 de
junho de 1961, com quase 86 anos morreu tranquilamente em sua casa.
EXPERIÊNCIAS DE PESSOAS CONSIDERADAS CLINICAMENTE
MORTAS
Vários estudos foram feitos sobre o medo da morte através dos
pressupostos teóricos de Jung; Rohn, (1979) estudou a sincronicidade
do momento através de pessoas consideradas clinicamente morta, para
ele o medo evidencia a perda de conexão do homem com seus poderes
numinosos e compartilha através da vivência e estudo destas pessoas
que sobreviveram, interessantes sentimentos e percepções da quase
morte, trazendo relatos de sonhos que antecederam a morte. Este
momento segundo os estudos, só podem ser comprovados através da
experiência de alguém que está morrendo ou morreu e que nos afetam
de uma forma ou de outra através dos arquétipos ou do inconsciente
coletivo que são compartilhados após o evento. Dá exemplo de um
jovem que morre em viagem de negócios e morre em um acidente de
avião; após sua morte foi encontrada um carta em sua pasta no deserto
Árabe com a descrição de um sonho onde o diabo o perseguia e dizia
que em breve iria haver-se com ele. Em geral os sonhos apontam para o
mistério da mudança numa outra dimensão.
Em mais de 300 casos relatados as pessoas em profunda
inconsciência e/ou em coma vivenciaram instantes de consciência onde
percebem e tem a sensação de outro Eu continuar a existir; viam-se
fora de seu próprio corpo e conseguiam olhar para si, sentindo e
percebendo o corpo como outro corpo, sensação de difícil descrição
havendo uma sensação de liberação, redenção ou elevação; após estes
instantes apaga-se a capacidade de recordar os fatos, ficando a saudade
do além, não se descobrindo nada sobre a própria realidade da morte,
mas voltando-se com uma total transformação do modo de ser e existir.
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Algumas pessoas ao escutarem os médicos anunciarem sua morte
percebiam um ruído desagradável e tinham a sensação de mover-se
num túnel longo e escuro.
O mundo material e corporal já não lhes impunha restrições e o
movimento acontecia como a rapidez de um raio, chamando a esta
percepção de corpo espiritual, pura consciência, ou ainda nuvem, vapor
sem peso fora do tempo; superando os sentidos normais, a luz intensa e
clara não era rara de se condensar num corpo nas descrições.
Dependendo da crença havia o relato de ter sido ajudado por
alguém a partir do além: um anjo, Cristo, entre outros; e/ou a visão da
retrospectiva da vida. Experiências sentidas como algo leve, o regresso
ao corpo/temporal era inconsciente (espécie de sucção), algo agressivo
e difícil, pois não se queria voltar, há a impressão de absoluta realidade
e objetividade, o medo e a dor cessam na alma e os sentimentos são
positivos de libertação/liberdade, ausência de imagens negativas.
Hampe, (1979) chamou esta dualidade de intensificação do
consciente que se divide em duas partes: havendo uma cisão do Eu com
o Corpo, uma parte fica no corpo e a outra é ampliada e desprovida do
corpo e independente do cérebro, chamou este processo de supra
consciência, para o paciente: corpo espiritual ou corpo astral.
A morte teria uma dimensão supra pessoal que nos libertaria de
nossas limitações; Deus é o todo e o espírito é e faz parte desta
unidade. Neste contexto não se descarta a falta de capacidade de
observação pela deficiência corporal, falta de oxigênio, envenenamento
e a insuficiência do fluxo sanguíneo; seria prematuro considerar a
vivência
como
realidade,
pelas
fantasias
exarcebadas
ou
desprendimento das dores; experiências estas também vivenciadas por
alpinistas em grandes altitudes e com afogados.
Jung após seu infarto passou por uma experiência parecida, e
conferia a certeza de que o espírito permanece após a morte, o que
consistia na mais profunda paz, beleza e plenitude, assemelhando-se a
transcendência. Esta vivência pode ser considerada resultado de
fantasias inconscientes ou técnica de desvelamento de emoções
importantes; não deixa de ser uma forma de oferecer as pessoas que
sofrem de falta de perspectiva de vida um fundamento capaz de torná-la
suportável; pode ser validado com a existência de individualidades
transcendentais.
Através do conhecimento científico do Estado de Coma, Jung
afirmava que mesmo em inconsciência profunda, a pessoa é capaz de
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acompanhar o que ocorre, as aparições ocorridas não é fora do comum.
O cérebro aprende a pensar e o Sistema Nervoso Simpático é um
estimulante físico em casos leves de desmaios; a consciência pode estar
localizada nos chakras do Yoga Kundalini (vesícula, estômago,
diafragma e no coração), os estudos sobre os sonhos esclarecem a
relação entre o corpo e a psique.
A doença é uma expressão da psique, e as células possuem
consciência, constata-se que a perda da consciência costuma acontecer
ao mesmo tempo em que alguma parte da psique alcança outra
realidade; sendo paralelos os acontecimentos entre a psique e corpo da
pessoa que está morrendo, o Corpo fica paralisado e apático e a Psique
livre no espaço e no tempo fora do si mesmo. Seriam paralelos não
causais, imbuídos de sentido entre corpo e psique, que abrem novas
possibilidades de compreensão e nesta nasce à psicossomática.
ARQUÉTIPOS: NATUREZA CRIATIVA E AUTÔNOMA NO
INCONSCIENTE
“... o medo profundo busca um recurso para a elaboração da
proximidade da morte...”
Jung, 1944
É relevante a conceituação teórica Jungiana e a sua visão sobre a
morte, a sincronicidade dos eventos que ocorrem nas visões de morte
pode ser traduzida pelo ato criativo acionado pela fatalidade da morte;
neste sentido o ser humano através da espontaneidade busca suportar a
dor da morte que está próxima ou renascer para a vida. Estes
acontecimentos sincrônicos vão buscar no inconsciente coletivo os
arquétipos de natureza humana generalizados de irracionalidade e de
espontaneidade2.
A psicóide pode atuar trazendo uma noção de arquétipo da
existência no inconsciente coletivo, sendo esquecido e desprovido de
consciência após o retorno à vida. Não raro se menciona a percepção de
uma voz, porém, o que resta é a lembrança de um nome e nenhuma
palavra ou conversação; fica sempre a insistente referência a
transparência e à indescritível claridade de luz nas visões de morte,
expressando o eterno,
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Moreno, J. L. - Psicodrama. Editora Cultrix. São Paulo. SP: 1993. págs. 80 a 205
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o encontro com a bondade e de ajuda. Tempo e espaço são relativos às
coincidências de sentidos não causais andam de mãos dadas, os
acontecimentos futuros sendo vivenciados como presente indica que em
determinadas circunstâncias espaço e tempo seja reduzido á zero.
O mundo da alma é igual à esfera intermediária da imaginação;
embora a intensidade destes aspectos numinosos esteja presa ao
mundo psíquico; os depoimentos ainda são subjetivos (sensações
psicológicas); infelizmente não podemos chegar a nenhuma conclusão a
respeito da existência de um mundo transcendente. O que o agonizante
vê e aquilo que ele acredita, não pode de modo algum valer como prova
para a objetividade ou para uma constatação absoluta dessa realidade;
essas sensações são psicológicas, mas não são metafisicamente
verdadeiras, permanecendo intacto o esclarecimento à cura da pessoa.
Jung em sua obra traz vários estudos sobre a morte de caráter
misterioso, onde há o limite de nosso conhecimento, que não
conseguimos penetrar. Existem fatos que não se encaixam nas “leis”, e
estes possuem uma conexão acausal.
A VISÃO DA PSICOSSOMÁTCIA NO RESGATE DA
ESPONTANEIDADE E NO ATINGIR OS OBJETIVOS: VIDA OU
MORTE
O processo de aquisição e enfrentamento da doença é entendido
como a capacidade de lidar com a relação do stress; um processo
psicofisiológico, que desencadeia respostas gerais e específicas; para
entendermos o processo de adoecimento, precisamos entender a psique
(mente) e a soma (corpo); e a capacidade de adaptação do organismo
aos agentes nocivos a saúde. Mello, Filho e cols. (1992), definem Ego
como o conjunto de elementos orgânicos e psicológicos que uma pessoa
entende como integrantes de sua estrutura. No processo da mitose as
células em constante mutação podem transformar-se ou estar
vulnerável para a instalação das doenças que podem ser reconhecidas
pelo organismo como parte integrante do Ego e permanecer em
desenvolvimento ao invés de ser expelido normalmente; entender a
doença como externa e evasiva pode ser considerado um mito, pois seu
desenvolvimento tem origem e faz parte do Ego, que em seu
desequilíbrio ocorrido pelo estressor emocional não permitiu que o
organismo se adequasse as vicissitudes de sua realidade e não
reconheceu a doença (vírus/bactérias/câncer,etc..) como tal e as
integrou como parte do sistema biológico, representando a expressão de
suas emoções.
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As emoções são percebidas através da comunicação e o seu
conteúdo ideológico, o indivíduo buscará através de sua percepção e
expressão solucionar o estado que foi criado, se o processo for
bloqueado a solução ficará prejudicada e a emoção ficará contida, então
será manifestada indiretamente e de forma simbólica; a doença é o
sintoma de uma emoção contida que não teve solução. Transformar
uma situação stressante ao organismo depende exclusivamente do
indivíduo, e da sua forma em lidar com o estímulo estressor (Ballone, e
outros 2007).
Às alusões vivenciadas pelo doente através dos arquétipos
coletivos sobre a morte pode possibilitar a ampliação da consciência; a
pessoa mediante o vislumbra mento desta visão arquetípica e através
de sua personalidade, sendo uma unidade do todo; através da
consciência encontra-se com o Eu absoluto no UNO, tornando os
acontecimentos sincrônicos de corpo, psique, tempo e espaço
consciente, podendo através deste processo viabilizar as transformações
de suas células e em conseqüência, a sua cura. Jung afirmava que a
doença nos leva a fatos e que a psicoterapia ao bônus da doença que é
o: conheça-te a ti mesmo. É preciso haver consciência da
vulnerabilidade da doença que inconscientemente instalou-se em sua
estrutura psicorgânica, o descobrimento das diversas doenças em seu
início pode sinalizar o nível de consciência de um indivíduo, este
processo não acontece em pessoas em coma.
Através da psicologia analítica entendemos como fatores internos
o inconsciente e o consciente, que pode ou não determinar a ação sobre
o livre arbítrio do doente em querer viver ou morrer ou ainda
transcender através da morte física, como salienta Jung em seus
estudos sobre a morte, acreditando no processo de mutação para o
desenvolvimento de um novo ser. A proposta é olhar o doente e não a
doença, os sintomas são expressões das emoções e podem ser
utilizados para interferir na ampliação do olhar do doente de maneira
que este busque o desbloqueio de suas emoções e conseqüentemente a
estagnação ou eliminação da doença. A vivência do doente com os
arquétipos coletivos sobre a morte possibilita o desenvolvimento do
processo alquímico (transformação das células); e conseqüentemente
pode restabelecê-lo, o irromper com o material coletivo que possui um
significado extraordinário para o processo de cura.
Jung acreditava que o Self precisa de uma consciência para
entender o Ego, alma e o espírito, e é nela que se tem toda a
possibilidade de cura e a possibilidade de atrair outras coisas e a agir no
mundo provocando mudanças em si mesmo. E isto é resultante de
forças da própria consciência, se está fragilizada, possibilita a abertura
para entrar em um padrão simplificado.
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Sendo assim, é preciso estar conectado com o todo, e este todo é
intra e extra psíquico, onde é preciso começar com o micro e aí, você
avança para o macro. Muito embora para manter-se vivo ou curar-se é
preciso ter um propósito de vida, vontade que contra o destino e as
expectativas; viver seria alcançar o maior nível de desenvolvimento
espiritual e de conscientização.
CONCLUSÃO
As doenças remetem as pessoas a refletirem sobre a vida ou
morte, seus paradigmas, sua rotina comum entre outras variáveis;
quando o processo de transformação ocorre, o self consegue atuar de
maneira que o ego recue para dar espaço para o melhor caminho como
objetivo, o aspecto sombrio da doença desaparece, parte da sombra se
faz luz, ampliando a consciência, fortalecendo e possibilitando sua
relação com o self.
Esta reflexão através da leitura psicossomática nos ensina a
interpretar através da consciência simbólica das doenças o processo da
individuação. De maneira singular o lidar com a realidade pode ser para
alguns o auto-engano; para outros um alívio entendendo que a morte
pode ser o melhor objetivo no momento, ou ainda de forma consciente
preparar-se para ela, pois apesar das variações interpessoais quanto à
avaliação da situação stressante, existem aspectos de diagnósticos
concretos que podem determinar o prognóstico.
Se aceitarmos que cada um de nós é potencialmente um
transformador de experiência, os aspectos positivos provocadas no
processo do adoecimento, talvez seja uma possibilidade das mais
singulares e concretas que temos para refletir e entrar em contato com
o nosso inconsciente e poder sugerir mesmo que tardio uma
conceituação do que venha ser a saúde humana; resignificar ou não
uma doença nos remete a reflexão da aceitação enquanto homens e de
nossa finitude; trazendo de forma realista e violenta a nossa impotência
em controlar a vida ou a própria morte.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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Médicas,1989
ANIELA, Jaffé, Rohn Liliane Frey; Franz, Marie Louise Von Franz. A
morte a luz da psicologia. São Paulo. SP: Editora Cultrix, 1980
DAHLKE, Rudiger. A doença como linguagem da alma: Os sintomas
como oportunidade de desenvolvimento. Trad. Pigantari, Dante. São
Paulo: SP. Cultrix, 2005.
JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo - 5 a. Ed.
Tradução, Maria Luiza Appy, Dora Mariana R. Ferreira da Silva.
Petrópolis. RJ: Editora Vozes, 2007
MELLO, Filho de Julio e cols. Psicossomática Hoje.Porto Alegre: RS. Artes
Médicas,1992
MORENO, Jacob Levi. Psicodrama. Editora Cultrix. São Paulo. SP: 1993.
págs. 80 a 205
RAMALHO,Cybele M. Aproximações entre JUNG e MORENO.São
Paulo.SP:Agora, 2002
ESCUDEIRO, Aroldo (Org.) Tanatologia: Conceitos, Relatos, Reflexões.
Fortaleza: LC Gráfica e Editora, 2008
ANIELA, Jaffé, (Org.). JUNG, C. G. Memória Sonhos e Reflexões. Nova
Fronteira. São Paulo. SP: 2000: PG. 259.
BALLONE, Geraldo José; ORTOLANI, Ida Vani; NETO, Eurico Pereira. Da
emoção à lesão: Um guia da Medicina Psicossomática. 2ª. Edição.
Barueri, SP: Manole,2.007
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