português - Boria Web

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português - Boria Web
Observatório Ibero-Americano
da Ficção Televisiva
Obitel 2013
Memória Social e Ficção Televisiva
em Países Ibero-Americanos
Observatório Ibero-Americano
da Ficção Televisiva
Obitel 2013
Memória Social e Ficção Televisiva
em Países Ibero-Americanos
Maria Immacolata Vassallo de Lopes
Guillermo Orozco Gómez
Coordenadores-Gerais
Morella Alvarado, Gustavo Aprea, Fernando Aranguren, Alexandra
Ayala, Borys Bustamante, Giuliana Cassano, James A. Dettleff, Catarina Duff Burnay, Isabel Ferin Cunha, Valerio Fuenzalida, Francisco
Hernández, César Herrera, Pablo Julio Pohlhammer, Mónica Kirchheimer, Charo Lacalle, Juan Piñón, Guillermo Orozco Gómez, Rosario
Sánchez Vilela e Maria Immacolata Vassallo de Lopes
Coordenadores Nacionais
© Globo Comunicação e Participações S.A., 2013
Capa:
Letícia Lampert
Projeto gráfico e editoração:
Niura Fernanda Souza
Produção, assessoria editorial e jurídica:
Bettina Maciel e Niura Fernanda Souza
Tradutores:
Naila Freitas, Felícia Xavier Volkweis
Revisão, leitura de originais:
Matheus Gazzola Tussi
Revisão gráfica:
Miriam Gress
Editor: Luis Gomes
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Bibliotecária Responsável: Denise Mari de Andrade Souza – CRB 10/960
M533
Memória social e ficção televisiva em países ibero-americanos: anuário Obitel
2013 / Coordenado por Maria Immacolata Vassallo de Lopes e Guillermo
Orozco Gómez . — Porto Alegre: Sulina, 2013.
536 p.; il.
1. Televisão – Programas. 2. Ficção – Televisão. 3. Programas de Televisão–
Ibero-Americano. 4. Comunicação Social. 5. Ibero-América – Televisão. I.
Lopes, Maria Immacolata Vassallo de. II. Gómez, Guillermo Orozco.
ISBN: 978-85-205-0686-8
CDU: 654.19
659.3
CDD: 301.161
791.445
Direitos desta edição adquiridos por Globo Comunicação e Participações S.A.
Editora Meridional Ltda.
Av. Osvaldo Aranha, 440 cj. 101 – Bom Fim Cep:
90035-190 – Porto Alegre/RS
Fone: (0xx51) 3311.4082
Fax: (0xx51) 2364.4194
www.editorasulina.com.br
e-mail: [email protected]
Agosto/2013
Esta publicação é resultado da parceria entre o Globo Universidade e o Observatório Ibero-Americano de Ficção Televisiva (Obitel). Iniciada em 2008, tem como objetivo apresentar e discutir as
análises sobre produção, audiência e repercussão sociocultural da
ficção televisiva na América Latina e na Península Ibérica, por meio
de publicações e seminários.
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Publicações produzidas:
Anuário Obitel 2008: Mercados Globais, Histórias Nacionais
Anuário Obitel 2009: A Ficção Televisiva em Países IberoAmericanos: narrativas, formatos e publicidade
Anuário Obitel 2010: Convergências e Transmidiação da
Ficção Televisiva
Anuário Obitel 2011: Qualidade na Ficção Televisiva e Participação Transmidiática das Audiências
Anuário Obitel 2012: Transnacionalização da Ficção Televisiva nos Países Ibero-Americanos
Anuário Obitel 2013: Memória Social e Ficção Televisiva em
Países Ibero-Americanos
Sobre o Globo Universidade:
Criado em 1999, o Globo Universidade tem como missão
compartilhar experiências para somar conhecimento. Para que isso
aconteça, estabelece uma relação de parceria permanente com o
meio acadêmico. Por meio da realização de debates, seminários, publicações e apoio a pesquisas, o Globo Universidade contribui para
a produção e divulgação científica, além da formação de futuros
profissionais. Desde 2008, o Globo Universidade também está presente na grade de programação da Rede Globo: todos os sábados, às
7h, o programa exibe reportagens sobre as principais universidades
do Brasil e do mundo. Em 2011, a atração passou a integrar a grade
Globo Cidadania, que conta também com os programas Globo Ciência, Globo Educação, Globo Ecologia e Ação.
Equipes Nacionais Obitel
Coordenadores-Gerais do projeto
Maria Immacolata Vassallo de Lopes (Universidade de São Paulo)
Guillermo Orozco Gómez (Universidad de Guadalajara)
ARGENTINA
Gustavo Aprea (Universidad
Nacional de General
Sarmiento e Instituto
Universitario Nacional del
Arte)
e Mónica Kirchheimer
(Universidad de Buenos
Aires e Instituto
Universitario Nacional del
Arte), coordenadores
nacionais;
María Victoria Bourdieu
(Universidad Nacional de
General Sarmiento);
María Belzunces, Victoria
De Michele, Noelia Morales,
Laura Oszust, Ezequiel
Rivero (Universidad de
Buenos Aires),
colaboradores.
BRASIL
Maria Immacolata Vassallo de
Lopes (Universidade de São
Paulo), coordenadora
nacional;
Maria Cristina Palma Mungioli
(Universidade de São Paulo),
pesquisadora adjunta;
Cláudia Freire, Clarice Greco
Alves, Helen Emy Nochi
Suzuki, Issaaf Santos
Karhawi, Ligia Maria Prezia
Lemos, Patricia Bieging,
Rafaela Bernardazzi
Torrens Leite (Universidade
de São Paulo), pesquisadoras
associadas;
Miguel Luiz de Souza, Pedro
Zanotto Bazi, Tomaz
Affonso Penner (Centro
de Estudos de Telenovela
– CETVN da Escola de
Comunicações e Artes da
Universidade de São Paulo),
assistentes de pesquisa.
CHILE
Valerio Fuenzalida e Pablo
Julio Pohlhammer (Pontificia
Universidad Católica
de Chile), coordenadores
nacionais;
Constanza Mujica, Luis
Breull, Alejandro Bruna
(Pontificia Universidad
Católica de Chile), pesquisadores assistentes;
Verónica Silva, pesquisadora
independente.
COLÔMBIA
Borys Bustamante Bohórquez
e Fernando Aranguren
Díaz (Universidad Distrital
Francisco José de Caldas),
coordenadores nacionais;
Hernan Riveros, Alejandra
Rusinque, Diana Mendoza
(Universidad Distrital
Francisco José de Caldas),
pesquisadores associados.
EQUADOR
Alexandra Ayala-Marín e
César Herrera Rivadeneira
(Centro Internacional
de Estudios Superiores
de Comunicación para
América Latina – Ciespal),
coordenadores nacionais;
Pamela Cruz Paéz, José Luis
Bedón, Adriana Garrido,
José Rivera (Centro
Internacional de Estudios
Superiores de Comunicación
para América Latina –
Ciespal), pesquisadores
associados.
ESPANHA
Charo Lacalle (Universitat
Autònoma de Barcelona),
coordenadora nacional;
Mariluz Sánchez, Lucía
Trabajo, Deborah Castro
(Universitat Autònoma de
Barcelona), pesquisadoras
associadas;
Anna Alonso, Paola Cabrera,
Belén Granda, Francisca
Nicolau, Germán Muñoz,
Karina Tiznado, Berta
Trullàs (Universitat
Autònoma de Barcelona),
colaboradores.
ESTADOS UNIDOS
Juan Pinon (New York
University), coordenador
nacional;
Linnete Manrique, Tanya
Cornejo (New York
University), pesquisadoras
associadas;
Diana Kamin (New York
University), colaboradora.
MÉXICO
Guillermo Orozco Gómez e
Francisco Hernández Lomelí
(Universidad de
Guadalajara), coordenadores
nacionais;
Darwin Franco Migues,
Gabriela Gómez,
Adrien Charlois Allende
(Universidad de
Guadalajara), pesquisadores
associados.
PERU
James A. Dettleff e Giuliana
Cassano (Pontificia
Universidad Católica
del Perú), coordenadores
nacionais;
Guillermo Vásquez F.
(Pontificia Universidad
Católica del Perú),
pesquisador associado;
Rogger Vergara, Tatiana
Labarthe, Thalia Dancuart,
Nataly Vergara (Pontificia
Universidad Católica del
Perú), assistentes de
pesquisa.
PORTUGAL
Isabel Ferin Cunha
(Universidade de Coimbra e
Centro de Investigação
Media e Jornalismo) e Catarina Duff Burnay
(Universidade Católica
Portuguesa), coordenadoras
nacionais;
Fernanda Castilho Santana,
Bianca Faciola (Universi
dade de Coimbra), pesquisa doras associadas.
URUGUAI
Rosario Sánchez Vilela
(Universidad Católica del
Uruguay), coordenadora
nacional;
Paula Santos Vizcaíno, Lucía
Allegro, Eugenia Armúa,
Isabel Dighiero (Universidad
Católica del Uruguay),
assistentes de pesquisa.
VENEZUELA
Morella Alvarado Miquilena
(Universidad Central de
Venezuela), coordenadora
nacional;
Luisa Torrealba (Universidad
Central de Venezuela),
pesquisadora;
Mabel Calderín (Universidad
Católica Andrés Bello) e
Carlos Arcila (Universidad
del Norte), pesquisadores
associados;
Nazareth Sojo (Universidad
Central de Venezuela), Pedro
de Mendonca (Universidad
Central de Venezuela),
Andrea Abreu (Universidad
Católica Andrés Bello),
assistentes de pesquisa.
Sumário
NOTA EDITORIAL......................................................................................15
NOTA METODOLÓGICA..........................................................................17
PRIMEIRA PARTE
A FICÇÃO NO ESPAÇO IBERO-AMERICANO EM 2012
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012..........................................23
Maria Immacolata Vassallo de Lopes, Guillermo Orozco Gómez 1. O contexto audiovisual nos países Obitel.........................................24
2. Comparação da ficção televisiva nos países
ibero-americanos em 2012 . .............................................................33
3. As dez ficções mais vistas do ano . ..................................................43
4. O mais destacado do ano nos países Obitel......................................54
5. Ficção televisiva e recepção transmidiática:
interação através das redes................................................................60
6. Tema do ano: ficção televisiva e memória social.............................76
SEGUNDA PARTE
A FICÇÃO NOS PAÍSES OBITEL EM 2012
1. ARGENTINA: crescimento da produção
nacional e seus estilos...........................................................................95
Autores: Gustavo Aprea, Mónica Kirchheimer
Equipe: María Belzunces, María Victoria Bourdieu,
Victoria De Michele, Noelia Morales, Laura Oszust,
Ezequiel Rivero
1. Contexto audiovisual da Argentina. Panorama do
contexto audiovisual em relação à ficção da televisão....................95
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional
e ibero-americana............................................................................103
3. A recepção transmidiática...............................................................112
4. O mais destacado do ano................................................................116
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social...........................119
2. BRASIL: a telenovela como fenômeno midiático...........................129
Autoras: Maria Immacolata Vassallo de Lopes,
Maria Cristina Palma Mungioli
Equipe: Claudia Freire, Clarice Greco, Ligia Maria
Prezia Lemos, Issaaf Karhawi, Helen N. Suzuki 1. O contexto audiovisual do Brasil....................................................129
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana.....138
3. A recepção transmidiática...............................................................151
4. O mais destacado do ano................................................................154
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social...........................158
3. CHILE: mudanças na indústria.......................................................169
Autores: Valerio Fuenzalida, Pablo Julio Pohlhammer
Equipe: Verónica Silva, Constanza Mujica, Luis Breull,
Alejandro Bruna
1. O contexto audiovisual do Chile.....................................................169
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana.....173
3. A recepção transmidiática...............................................................184
4. O mais destacado do ano................................................................186
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social...........................190
4. COLÔMBIA: violência, entretenimento e
espetáculo audiovisual.......................................................................197
Autores: Boris Bustamante, Fernando Aranguren
Equipe: Hernán Javier Riveros, Alejandra Rusinque, Diana Mendoza
1. O contexto audiovisual da Colômbia..............................................197
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana.....207
3. A recepção transmidiática...............................................................216
4. O mais destacado do ano................................................................219
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social...........................223
5. EQUADOR: a ficção e o humor vão para a internet......................233
Autores: Alexandra Ayala Marín, César Herrera
Equipe: Pamela Cruz Páez, José Luis Bedón,
Adriana Garrido, José Rivera
1. O contexto audiovisual do Equador................................................233
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana.....242
3. A recepção transmidiática...............................................................254
4. O mais destacado do ano................................................................258
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social...........................261
6. ESPANHA: a ficção resiste à crise...................................................271
Autora: Charo Lacalle
Equipe: Mariluz Sánchez, Lucía Trabajo, Deborah Castro,
Anna Alonso, Paola Cabrera, Belén Granda, Francisca Nicolau,
Germán Muñoz, Karina Tiznado, Berta Trullàs
1. O contexto audiovisual da Espanha................................................271
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional
e ibero-americana............................................................................279
3. A recepção transmidiática...............................................................293
4. O mais destacado do ano................................................................297
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social ..........................301
7. ESTADOS UNIDOS: em busca de um público
jovem – o “rebranding” da televisão hispânica...............................311
Autor: Juan Piñón
Equipe: Linnete Manrique, Tanya Cornejo
1. O contexto audiovisual nos Estados Unidos...................................311
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional
e ibero-americana . .........................................................................321
3. A recepção transmidiática...............................................................333
4. O mais destacado do ano ...............................................................335
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social ..........................338
8. MÉXICO: o poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências...........................347
Autores: Guillermo Orozco, Francisco Hernández, Darwin Franco
Equipe: Gabriela Gómez, Adrien Charlois
1. O contexto audiovisual do México.................................................347
2. A análise do ano: a ficção de estreia nacional
e ibero-americana . .........................................................................359
3. A recepção transmidiática . ............................................................367
4. O mais destacado do ano................................................................371
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social...........................374
9. PERU: uma ficção de empreendedores............................................379
Autores: James A. Dettleff, Giuliana Cassano, Guillermo Vásquez F.
Equipe: Rogger Vergara, Tatiana Labarthe, Thalia Dancuart,
Nataly Vergara
1. O contexto audiovisual do Peru......................................................379
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional
e ibero-americana............................................................................388
3. A recepção transmidiática...............................................................401
4. O mais destacado do ano................................................................405
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social...........................407
10. PORTUGAL: ficção e audiências em transição..............................415
Autoras: Catarina Duff Burnay, Isabel Ferin Cunha
Equipe: Fernanda Castilho, Bianca Faciola
1. O contexto audiovisual de Portugal................................................415
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional
e ibero-americana............................................................................424
3. A recepção transmidiática...............................................................437
4. O mais destacado do ano................................................................441
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social...........................443
11. URUGUAI: procurando um modelo sustentável............................449
Autora: Rosario Sánchez Vilela
Equipe: Paula Santos, Lucía Allegro, Eugenia Armúa,
Isabel Dighiero
1. O contexto audiovisual no Uruguai................................................449
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional
e ibero-americana............................................................................458
3. A recepção transmidiática...............................................................470
4. O mais destacado do ano................................................................473
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social...........................476
12. VENEZUELA: da ficção em suspenso à ficção estatizada.............485
Autoras: Morella Alvardo, Luisa Torrealba
Equipe: Mabel Calderín, Carlos Arcila
1. O contexto audiovisual da Venezuela.............................................486
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana.....498
3. A recepção transmidiática...............................................................511
4. O mais destacado do ano................................................................514
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social...........................517
APÊNDICE: FICHAS TÉCNICAS DOS TOP TEN
DOS PAÍSES OBITEL...........................................................................521
Nota Editorial
ESTE ANUÁRIO OBITEL 2013 é publicado pela Editora Sulina simultaneamente em três idiomas: em formato impresso em português e espanhol, e em formato digital em inglês. Seus predecessores são: Anuário Obitel 2007, publicado em espanhol pela Editorial
Gedisa, Espanha; Anuário Obitel 2008, publicado em português e
inglês por Globo Universidade, sob o selo da Editora Globo, Brasil; Anuário Obitel 2009, publicado em espanhol pelo Observatório
Europeu de Televisão Infantil (Oeti), Espanha, e em português e inglês pela Editora Globo, Brasil; Anuário Obitel 2010, publicado em
português e espanhol pelo mesmo grupo editorial; Anuário Obitel
2011, publicado por Globo Universidade/Editora Globo em português e espanhol, em formato impresso, e em inglês, em formato de
e-book; e Anuário Obitel 2012, publicado por Editora Sulina/Globo
Universidade em português e espanhol, e em inglês em formato de
e-book.
Em julho de 2008, o Uruguai somou-se como novo membro do
Obitel. Com a posterior incorporação do Equador a partir de 2010
e do Peru em 2012, o Obitel renovou-se e fortaleceu-se como uma
rede internacional focada na pesquisa comparativa da ficção televisiva em 12 países ibero-americanos, os mesmos que agora integram
os capítulos nacionais deste anuário. O aumento dos integrantes do
Obitel e sua consolidação como projeto intercontinental demonstra
sua crescente liderança na análise da ficção televisiva na região.
Os coordenadores-gerais e nacionais deste anuário, desejamos, mais uma vez, tornar explícito nosso agradecimento à Globo
Universidade por seu contínuo apoio e decidida participação nesta
publicação. Da mesma maneira, reiteramos nosso reconhecimento
à colaboração recebida dos institutos: Ibope (Brasil); Time-Ibope
(Chile); Ibope (Argentina, Colômbia, Uruguai); Ibope-Time (Equa-
16 | Obitel 2013
dor); Nielsen-Ibope-AGB (México); Ibope Media Peru (Peru); Media Monitor-Marktest Audimetria (Portugal); Kantar Media and
Barlovento Comunicaciones (Espanha); Nielsen Media Research
(Estados Unidos); AGB Nielsen Media Research (Venezuela); e de
todas as universidades e centros de pesquisa dos países participantes
deste Anuário Obitel 2013.
Nota Metodológica
O OBSERVATÓRIO IBERO-AMERICANO DA FICÇÃO
TELEVISIVA, constituído como Obitel desde seu surgimento em
2005, tem se desenvolvido como um projeto intercontinental da região ibero-americana, incluindo países latino-americanos, ibéricos e
os Estados Unidos de população hispânica. À época, considerou-se
importante falar de um âmbito ibero-americano devido ao crescente
interesse de diferentes Estados nacionais de fazerem aí confluir uma
série de políticas de produção, troca e criação midiática, cultural,
artística e comercial diferenciada, que poderia chegar a se constituir
em uma zona de referência geopolítica e cultural importante.
A observação que tem sido realizada pelo Obitel tenta dar conta
de pelo menos cinco dimensões desse vasto objeto de análise: produção, exibição, consumo, comercialização e propostas temáticas.
A essas dimensões foi acrescentado, a partir do Anuário 2010, o
fenômeno da “transmidiação”, que, embora emergente, traz consigo um alto potencial de entendimento da própria produção e das
expectativas com a ficção, sua distribuição e consumo pelas empresas e canais televisivos. A transmidiação foi incluída nesse anuário
como “tema do ano” e, desde então, está incorporada definitivamente como uma seção permanente do anuário. Com esta análise
pretendemos dar conta das novas formas em que as audiências se
relacionam e se vinculam com a ficção televisiva que agora assistem
e consomem através da internet ou por meio de dispositivos móveis,
como celulares, tablets etc.
No presente Anuário 2013, que é o sétimo consecutivo, continuamos com a mesma linha do anterior, focando agora como tema
do ano a análise da memória social nos modos como permeia as
narrativas de ficção nos países Obitel.
As atividades metodológicas realizadas para este Anuário 2013
foram fundamentalmente as seguintes:
18 | Obitel 2013
1) Seguimento sistemático dos programas de ficção que são
transmitidos pelos canais abertos dos 12 países que participam da
rede; para este Anuário 2013, como dissemos na Nota Editorial, o
Peru incorporou-se como novo país Obitel.
2) Geração de dados quantitativos comparáveis entre esses países: horários, programas de estreia, número de capítulos, índices,
perfil de audiência, temas centrais da ficção.
3) Identificação de fluxos plurais e bilaterais de gêneros e formatos de ficção, o que se traduz nos dez títulos de ficção mais vistos
no ano, seus temas centrais, índice de audiência e share.
4) Análise das tendências nas narrativas e nos conteúdos temáticos de cada país (dados de consumo de outras mídias e de outros
gêneros de programa, investimentos em publicidade, acontecimentos políticos e de políticas do ano), assim como tudo aquilo que cada
equipe de pesquisa nacional considerar como “o mais destacado do
ano”, especialmente no que se refere às mudanças havidas na produção, nas narrativas e nos conteúdos temáticos preferenciais.
5) Análise da recepção transmidiática e das interações das audiências com a ficção em cada país; na seleção do caso a analisar, se ela foi feita tomando como referência algum dos dez títulos
mais assistidos ou outro, que por sua particularidade, apresentou um
comportamento peculiar na internet ou em qualquer rede social.
6) Publicação dos resultados do monitoramento sistemático na
forma de anuário, com atenção especial a um tema particular. O
tema do ano para este Anuário 2013 é Memória Social e Ficção
Televisiva. A observação foi desenvolvida por uma rede de equipes de pesquisa de diferentes universidades em 12 países e da região ibero-americana: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Espanha,
Estados Unidos, México, Peru, Portugal, Venezuela e Uruguai.
As principais fontes de dados da audiência foram fornecidas
pelos institutos que fazem sua medição nesses países: Ibope (Brasil), Time- Ibope (Chile), Ibope (Argentina, Colômbia, Uruguai),
Ibope-Time (Equador), Nielsen-Ibope-México (México), Ibope
Nota metodológica | 19
Media Peru (Peru), Media Monitor-Marktest Audimetria (Portugal),
Kantar Media and Barlovento Comunicaciones (Espanha), Nielsen
Media Research (Estados Unidos), AGB Nielsen Media Research
(Venezuela).
Além disso, trabalhamos, também, com os dados gerados no
interior das equipes de pesquisa a partir de outras fontes, como notas de imprensa, informação da internet, material de áudio e vídeo,
assim como aquelas derivadas de contatos diretos com agências e
profissionais do meio audiovisual de cada país.
O tratamento estatístico dos dados foi efetuado em função de
tipologias produtivas (grades de programação, faixas horárias, tempo de duração de cada ficção, capítulos ou episódios) e tipologias
de medição (índices de audiência, ratings, share), o que permite o
desenvolvimento de quadros comparativos sobre as condições de
oferta e os perfis de produção de ficção televisiva em cada país, os
quais incluem categorias tais como: volume de programação, formatos, produtores, roteiristas, criadores e estratégias de exibição,
entre outras.
A análise geral deste anuário é dividida em três partes.
A primeira parte, “A Ficção no Espaço Ibero-Americano no
Ano”, apresenta uma síntese comparativa da ficção dos países
Obitel. Essa comparação é feita a partir de uma perspectiva quantitativa e qualitativa que permite observar o desenvolvimento da
ficção em cada país, destacando suas principais produções, assim
como o tema do ano, aqui, “Memória Social e Ficção Televisiva”.
A segunda parte, “A Ficção nos Países Obitel”, é formada por
12 capítulos (um por cada país), com uma estrutura interna composta por seções fixas, embora algumas sejam mais específicas que outras. As seções que integram cada um dos capítulos são as seguintes:
1) O contexto audiovisual do país, que apresenta informação
geral do setor audiovisual em relação com a produção de ficção televisiva: história, tendências e fatos mais relevantes.
2) Análise da ficção de estreia do ano: é feita por meio de
diversas tabelas que apresentam dados específicos dos programas
20 | Obitel 2013
nacionais e ibero-americanos que estrearam em cada país. Nessa seção uma ênfase singular é colocada sobre os dez títulos mais vistos
do ano.
3) Recepção transmidiática: é apresentada e exemplificada
a oferta que as redes de televisão propiciam às suas audiências para
que possam consumir suas produções na internet, bem como a descrição do tipo de comportamento que as audiências realizam por si
mesmas para ver, consumir e participar de suas ficções nas páginas
e sites da internet.
4) Produções mais destacadas do ano: as mais importantes,
não apenas quanto à média de audiência (rating), mas também em
termos de impacto sociocultural ou de inovação que tenham gerado
na indústria da televisão e no mercado.
5) Finalmente, o Tema do ano, que nesta publicação é: “Memória Social e Ficção Televisiva”. Aqui, oferece-se uma análise das
maneiras em que as ficções trabalham relatos que ocorrem total ou
parcialmente em um passado (remoto ou próximo) e como fazem alusão a este nas histórias ambientadas na atualidade. Neste anuário
buscou-se fazer uma análise das representações, que combina não
apenas o seguimento das produções nos canais abertos dos diferentes países, mas também a análise do espaço imaginado, recordado,
do qual emerge uma memória particular, uma memória midiática
construída pela ficção televisiva durante décadas de contato diário
com o povo de uma nação.
A terceira parte é um “Apêndice” onde se reúnem as fichas
técnicas dos dez títulos de ficção mais vistos de cada país, com a
informação básica e necessária dessas produções.
Primeira Parte
A Ficção no Espaço Ibero-Americano em 2012
Síntese comparativa
dos países Obitel em 2012
Maria Immacolata Vassallo de Lopes,
Guillermo Orozco Gómez
Esta primeira parte do Anuário Obitel apresenta um panorama comparativo e sintético dos principais dados do monitoramento
realizado no ano de 2012 da produção, circulação e recepção de
programas de ficção televisiva inéditos em países ibero-americanos
nesse ano.
Foram registrados programas ficcionais de 75 canais de televisão aberta, privados e públicos, de alcance nacional, nos 12 países
que constituem o âmbito geocultural do Obitel1.
Tabela 1. Países membros do Obitel e canais analisados – 20122
Países Obitel
Argentina
Brasil
Chile
Canais privados
América 2, Canal 9,
Telefé, El Trece
Globo, Record, SBT,
Band, Rede TV!
UCV TV, Canal 13, Telecanal,
Red, Chilevisión, Mega
Canais públicos
Total de
televisões
Televisión Pública
5
TV Brasil
6
TVN
7
Colômbia
RCN, Caracol, Canal Uno
Equador
Teleamazonas, RTS, Ecuavisa,
Canal Uno
Señal Colombia,
Canal institucional
ECTV, Gama TV,
TC Televisión
Espanha
Antena3, Tele5, Cuatro, LaSexta
La1, La2
1
5
7
62
Em 2012, o Peru passou a integrar o Obitel.
A Espanha possui 30 canais de televisão autônoma, não analisados neste capítulo comparativo, que reúne somente as emissoras de cobertura nacional em cada país. Os dados
mais significativos desses canais regionais ou locais podem ser encontrados no capítulo
da Espanha neste anuário.
2
24 | Obitel 2013
Estados
Unidos
México
Peru
Portugal
Uruguai
Venezuela
Total
Azteca America, Estrella TV,
MundoFox, Telemundo, UniMás,
Univisión, V-me
Televisa, TV Azteca,
Once TV, Conaculta
Cadena Tres
Frecuencia Latina, América Televisión, Panamericana Televisión,
TV Perú
ATV, Global TV
SIC, TVI
RTP1, RTP2
Montecarlo TV, Saeta, Teledoce Televisión Nacional
/ La Tele
(TNU)
Canal I, Globovisión, La Tele,
ANTV, Tves, C.A.
Meridiano, Televen,
Tele Sur, VTV, Vive
TV Familia, Vale TV,
TV
Venevisión
54
21
7
5
6
4
4
13
75
No universo de 75 canais abertos de alcance nacional dos 12
países Obitel, as emissoras de capital privado totalizam 54 (72%),
ou seja, mais que o dobro das públicas, que são 21 (28%). O único
país que possui a mesma quantidade de emissoras privadas e públicas é Portugal. Na Colômbia, Equador e México, o número de
emissoras públicas fica muito próximo ao de emissoras privadas.
Nos outros países, predominam largamente as emissoras privadas.
Os Estados Unidos são o único país em que não existe canal público, no nosso caso, dirigido à população hispânica.
1. O contexto audiovisual nos países Obitel
Alguns fatos chamaram a atenção no panorama das comunicações nos países do âmbito Obitel. O primeiro deles refere-se ao
cenário de transformações que temos observado em relação às novas
formas de consumir conteúdo televisivo. O assunto, que foi registrado como tema do ano no Anuário Obitel 2010, vem se destacando
nas análises efetuadas pelo Observatório desde então, e continua
apresentando-se como um dos grandes desafios para as empresas especializadas em medições da audiência, conforme discutem alguns
países. Buscam-se novas metodologias de aferição de audiência em
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 25
um contexto de ampla e complexa transformação das tecnologias de
produção, circulação e recepção dos meios, dando origem ao assim
chamado ecossistema comunicativo ou midiático.
Essas transformações impactam de maneira flagrante os “modos de fazer” e os “modos de dizer” (De Certeau, 2007) dos meios
tradicionais baseados na verticalidade dos processos de comunicação. Nesse contexto, verificou-se nos países Obitel, em 2012,
o aumento expressivo no uso da internet, da telefonia móvel e a
consolidação dos meios digitais como plataforma de informação e
comunicação. A dinâmica desse movimento tem por base o crescimento do número de usuários de redes sociais e a ampliação da
oferta de conteúdos televisivos para tecnologias móveis.
O desafio que então se coloca, tanto para os pesquisadores acadêmicos como para os pesquisadores das empresas de monitoramento da audiência, reside principalmente na busca de mecanismos para
a compreensão dos novos modos de fazer e de dizer que encontram
seu locus por excelência nas redes sociais e nos dispositivos móveis
de recepção e distribuição de conteúdo televisivo, caracterizando
a mass self communication (Castells, 2009). A preocupação com
essa busca está subjacente nos capítulos dos países que compõem o
presente anuário e no resumo que apresentamos nesta síntese comparativa.
Outro aspecto a ser destacado no cenário ibero-americano de
televisão em 2012 refere-se às políticas de comunicação voltadas
para ampliar a oferta de conteúdos nacionais na televisão, como é o
caso da Argentina, Equador e, principalmente, Brasil.
Panorama da audiência
No cenário das audiências em 2012, observa-se o destaque que
México, Brasil e Portugal dão à utilização de novas técnicas de medição para mapear o movimento das audiências que não mais se circunscrevem ao conteúdo veiculado exclusivamente pela plataforma
televisiva. Esse movimento, acompanhado pelo Obitel desde 2010, é
marcado por possibilidades múltiplas de recepção exigindo metodo-
26 | Obitel 2013
logias diferenciadas para acompanhar, por exemplo, o consumo de
ficção por meio de dispositivos móveis e video on demand (VoD).
No México, destaca-se acordo para veiculação de conteúdo ficcional da Televisa na plataforma de VoD Netflix. Na Argentina,
houve a manutenção da média geral de rating da TV aberta com
a America2 liderando em rating e a Telefé em share. No Brasil, a
Globo continou a liderar com grande vantagem os índices de audiência e share da programação de ficção. Já a Colômbia observou a
ascensão, devido ao sucesso de sua programação de ficção, do canal
Caracol, que superou, pela primeira vez em muito tempo, em rating
e share a RCN. No Equador, a emissora líder de audiência e share
foi a Ecuavisa, enquanto a TV Televisión comandou a audiência
dos programas de ficção. Na Espanha, a Tele5 liderou em termos
de share. Nesse país, o tempo de consumo televisivo diário bateu
recorde, atingindo 46 minutos por telespectador. Além disso, a ficção foi o gênero com maior espaço na grade televisiva espanhola.
A Televisa manteve a liderança no México e, em Portugal, a TVI
comandou os índices de audiência e share, com a SIC ganhando
peso no prime time através da exibição de telenovelas brasileiras.
No Uruguai, a emissora com maior audiência e share foi Teledoce/
La tele, e na Venezuela, a Venevisión manteve a liderança, com
expressivos 80% da audiência. Já nos Estados Unidos a Univision Communications liderou com folga o rating, principalmente
quando se somam as audiências das duas irmãs da rede (Univisión e UniMás), chegando a atingir 70%.
Investimento publicitário
Mesmo em um cenário cada vez mais fortemente marcado pela
concorrência com as mídias digitais, houve crescimento do investimento publicitário em TV aberta na Argentina, Brasil, Colômbia, México e Peru.
Já a crise econômica observada na Espanha e em Portugal foi
apontada como a principal responsável pela diminuição de investimento publicitário nos dois países ibéricos. Na Argentina, apesar
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 27
do aumento no investimento publicitário, o tempo destinado às propagandas na TV aberta diminuiu. Mesmo em um cenário de queda
de investimento publicitário, em Portugal a televisão recebeu 75%
do investimento publicitário. No Peru alcançou a marca de 72%,
enquanto no Brasil, Equador e México, a TV recebeu mais da metade do total de investimento publicitário.
No Brasil, os principais anunciantes foram os setores de varejo, beleza, mercado financeiro e bebidas. Na Venezuela, foram alimentação, saúde e vestuário, e motivo de destaque são os anúncios
de serviços de segurança e seguradoras. Na Espanha, Equador e
Venezuela, entre os anunciantes, destacam-se as instituições públicas. Em relação aos investimentos publicitários em internet e redes
sociais, observa-se um crescimento significativo no Brasil, Espanha, Portugal e Uruguai.
Quanto aos gêneros televisivos, observa-se que na Colômbia as
faixas horárias que exibem ficção receberam o maior investimento
em publicidade, e, no Equador, verificou-se que entre 2007 e 2011
as telenovelas captaram um terço dos investimentos publicitários.
No México, ganham destaque as chamadas “telenovelas de marca”,
produções que utilizam um modelo conhecido como “publicidade
narrativa”, formato que apresenta determinada marca como elemento narrativo.
Merchandising e merchandising social
Os países do âmbito Obitel continuam a exibir o merchandising comercial, também chamado de product placement, inserido
nas tramas de suas ficções. A prática é mais comum em países como
Argentina, Brasil, Colômbia, México e Peru, e concentra-se no
horário nobre. Os produtos mais comumente anunciados são eletrodomésticos, alimentos e cosméticos. Ressalte-se que o product
placement é proibido na Venezuela.
Em muitos países, as narrativas ficcionais apresentam temas
sociais abordados de maneira educativa, o chamado merchandising
social. Em 2012, um dos temas mais presentes foi a discriminação,
28 | Obitel 2013
abordada em ficções na Argentina, nas minisséries El paraíso, Los
pibes del puente e La viuda de Rafael; no Brasil, nas telenovelas
Avenida Brasil e Aquele beijo; no México, na série Kipatla: para
tratarnos igual, e no Peru, na série Solamente milagros (temporadas 1 e 2) e na minissérie Conversando con la luna. Também o
bullying foi tratado na série Graduados, da Argentina, e na soap
opera Malhação e na telenovela Rebelde, no Brasil. Os dois países
também apresentaram em comum o tema da violência contra mulheres, na telenovela Maltratadas, da Argentina, e nas telenovelas
Vidas em jogo e Corações feridos, do Brasil. O alcoolismo foi tema
nas telenovelas Rebelde e Corações feridos, do Brasil, e em episódios da série Tu decides, na Venezuela.
As ficções do Brasil também inseriram em suas tramas assuntos como adoção de crianças, nas telenovelas Salve Jorge e Vidas
em jogo; tráfico de pessoas, na telenovela Salve Jorge; e direitos das
trabalhadoras domésticas, na telenovela Cheias de charme. O México apresentou, ainda, a discussão sobre o combate ao narcotráfico
na série La teniente e as condições de trabalho da Cruz Vermelha na
série Paramédicos.
Um aspecto importante do merchandising social refere-se a
ações socioeducativas que incidem fortemente em campanhas sociais para além das telas. Foi o que ocorreu no Brasil com a participação de atrizes da telenovela Cheias de charme em campanha
sobre os direitos dos trabalhadores domésticos promovida pelas
Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento
das Mulheres (ONU Mulheres) e pela Organização Internacional
do Trabalho (OIT); e dos atores de telenovela na Colômbia que
participaram da “Caminata Solidaridad por Colombia” e do “Carnaval de Barranquilla”, campanhas de causas humanitárias e sociais.
Políticas de comunicação
Dois fatos de políticas de comunicação ganharam relevância
no cenário dos países Obitel: a implantação da Televisão Digital
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 29
Terrestre (TDT) e a adoção de medidas específicas em relação à
produção e à transmissão de conteúdo audiovisual.
Observam-se estágios bastante diferentes entre os países analisados em relação à implantação da TDT. Portugal celebrou o fim
da transmissão analógica em abril de 2012, enquanto o Uruguai
aprovou, em maio do mesmo ano, o regulamento para a instalação
da TV digital no país, o mesmo acontecendo no Equador, que teve
aprovado, em outubro de 2012, o plano de transição para a Televisão Digital Terrestre. Já na Colômbia a implantação da TDT está
em andamento, com cobertura abrangendo apenas as maiores cidades, como Bogotá e Medellin. Tal como no Peru, cuja televisão
digital iniciou transmissões em 2010 e encontra-se em implementação, no Chile, a TDT também está em fase de implementação,
sem uma legislação para subsidiá-la. Nesse país, há debate sobre
a capacidade do mercado publicitário de suportar as demandas de
segmentação dos canais digitais, que abrem competição direta com
a TV por assinatura.
No que tange à produção de conteúdos para televisão, houve de
comum em diversos países do âmbito Obitel a adoção de medidas e
de legislação que buscam não apenas salvaguardar a exibição de produtos nacionais, mas também promover o desenvolvimento ou fortalecimento da indústria nacional. No Brasil, as principais mudanças
decorrentes da Lei 12.485/2012, chamada de “lei do cabo”, devem-se
à obrigatoriedade de exibição de cotas de ficção nacional nos canais
de TV paga. Essa política vem provocando mudanças de grande importância no cenário audiovisual brasileiro, sendo responsável pela
formação de tendências como: aumento no número de produtoras
independentes; migração de profissionais da publicidade e cinema
para a TV; proporcionalidade de canais nacionais e independentes
nos pacotes oferecidos pelas operadoras; e aumento dos recursos disponíveis para a produção televisiva. Essa nova frente de produção
tem ainda propiciado o surgimento de algumas produções marcadas
por experimentações em temas e formatos ficcionais. Na Argentina,
está em trâmite desde 2009 a Lei de Serviços de Comunicação Au-
30 | Obitel 2013
diovisual. Além disso, o Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales prossegue com o desenvolvimento do Banco Audiovisual de
Contenidos Universales Argentino, que vem impulsionando a produção audiovisual nacional a partir de empresas independentes. Algo
parecido acontece no Equador, que pretende dinamizar a produção
nacional de audiovisual para se adaptar ao modelo digital (por meio
do Plan Maestro de Transición a la Televisión Digital Terrestre en
el Ecuador, aprovado em 2012), visto que a programação no país é
fortemente marcada por conteúdos estrangeiros.
No Uruguai, a constituição do Comitê Consultivo pelo direito
das crianças e dos adolescentes, liberdade de expressão e meios de
comunicação impulsionou debates sobre a regulamentação da comunicação. Também no Peru, o Consejo Consultivo de Radio y Televisión (CONCORTV) realizou audiências públicas pelo país que
colocaram em pauta assuntos como infância, gênero e igualdade.
Por outro lado, a Venezuela destaca que as políticas de intervenção do Estado preocupam jornalistas, acadêmicos e defensores
dos direitos humanos, devido ao controle da informação e à censura,
que ocultam a violência no país. No México, o movimento de base
popular #YoSoy132 cresceu nas redes sociais e denunciou o favoritismo que os meios garantiam ao então candidato, hoje presidente,
Peña Nieto. O movimento, composto principalmente por estudantes
universitários, também reivindica direitos relacionados à democratização da comunicação. Em Portugal, o governo apresentou projetos para concessão de canais públicos da RTP a setores privados
com o objetivo de diminuir os gastos públicos. Na Colômbia, foi
estabelecida uma política de redução de custos objetivando atrair a
gravação de filmes estrangeiros no país.
No que diz respeito ao sistema broadcasting, notam-se mudanças especialmente no Chile, Espanha e Estados Unidos. O mercado televisivo no Chile continua apresentando mudanças relativas à
privatização de emissoras, digitalização da TV e aquisição ou fusão entre emissoras. O canal CHV (antigo canal da Universidade
do Chile), adquirido em 2010 pela Turner Broadcasting System, da
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 31
Time Warner, lançou um projeto ambicioso que inclui a criação de
novos estúdios com a intenção de produzir conteúdos para a TV nacional e internacional. A Espanha sofre mudanças principalmente
relacionadas à fragmentação do sistema televisivo e à crise econômica. Em 2012, houve a fusão dos canais Tele5 e Cuatro, enquanto a
Antena3 absorveu a LaSexta. No cenário de crise, também as emissoras autônomas estão em risco de privatização. Os Estados Unidos
passam por um momento de reposicionamento das emissoras, que
buscam a audiência entre públicos mais jovens. A Telefutura passou
a se chamar UniMás, e foi criado o canal MundoFox, com programação da RCN colombiana.
TV pública
De maneira geral, os canais de TV pública dos países Obitel
enfrentam dificuldades para alcançar ou impactar um público maior.
No Brasil, o único canal público, a TV Brasil, apresenta problemas
de sintonização do sinal analógico no país, mas possui um canal
internacional, o TV Brasil-Canal Integración, que transmite via satélite para países da América Latina, Estados Unidos, Portugal e
África. As TVs públicas de Portugal e Espanha sofrem com a crise
econômica e, como foi dito, há perspectivas de passarem para a iniciativa privada. Na Colômbia, apesar do valor educativo e cultural
da programação, os canais públicos apresentaram pouca audiência.
Já a Argentina continua investindo na rede nacional pública, que
também distribui canais abertos de TV digital.
Em relação ao conteúdo das ficções, no México os canais públicos procuraram modificar os estereótipos do indígena apresentado geralmente como submisso e ignorante, ao mesmo tempo em
que ficcionalizaram ações governamentais de combate ao crime organizado. No Equador, o canal público ECTV foi o que apresentou
maior produção nacional, com programas ficcionais em diferentes
formatos, mas também exibiu séries dos Estados Unidos e telenovelas japonesas e coreanas. A Venezuela apresentou conteúdos importados do Japão, Coreia do Sul, China, França, Itália e Reino Unido.
32 | Obitel 2013
A abrangência nacional dos canais públicos foi amplamente
utilizada no Peru e na Venezuela para a veiculação de propagandas
do governo e de atos oficiais. No Peru, observou-se que o último
capítulo da única ficção produzida no ano pela TV Perú foi interrompido para a transmissão do discurso do presidente da República,
sendo que os dez minutos finais desse capítulo acabaram não sendo
transmitidos.
TV paga
Também em relação à TV paga observam-se entre os países
do âmbito Obitel situações diversas, que vão do crescimento e expansão do setor, como ocorreu no Brasil, Colômbia, México e
Uruguai, até a suspensão de alguns serviços e o forte aumento de
impostos, como registrados na Espanha.
Colômbia, Uruguai e Brasil apresentaram crescimento no
número de assinantes. No Brasil enfatiza-se o importante aumento
na base de assinantes de TV paga relacionado diretamente à ascensão da chamada “nova classe C”, fato que vem sendo destacado
nos dois últimos anuários Obitel. Além disso, há um forte estimulo
à produção nacional devido à “nova lei do cabo”, regulamentada
em 2012.
Na Argentina, a TV paga possui grande penetração, atingindo 76% das residências. O Chile e a Venezuela demonstraram a
intenção de futuramente reformular e/ou regulamentar o setor. Nos
Estados Unidos, o setor apresentou pouca movimentação, destacando-se a expansão da Univisión. Já em Portugal foram realizadas
alterações nas metodologias de aferição das audiências, fato que ressaltou o papel da televisão a cabo. É interessante notar que o Peru
registra a presença de empresas informais de TV paga operando em
seu território.
Tecnologias da informação e da comunicação
Observou-se nos países Obitel, em 2012, a tendência ao aumento no uso da internet e da telefonia móvel e a consolidação dos
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 33
meios digitais como plataforma de informação e comunicação. As
emissoras de televisão procuraram ampliar a oferta de conteúdos
para tecnologias móveis. Além disso, os usuários das redes sociais
continuaram crescendo. O Facebook atingiu a liderança entre as redes sociais no Brasil e na Colômbia. Em Portugal, a utilização da
internet ocorreu mais intensamente entre estudantes e nas classes
sociais mais elevadas, enquanto no Brasil o aumento do uso da internet deveu-se ao aumento da classe C, responsável por metade dos
acessos ao Facebook e ao Twitter.
Em relação à tecnologia digital, observa-se que no México,
apesar da transição digital já iniciada, grande parte da população
não possui equipamento para receber o conteúdo digital. O Peru,
através da América Televisión, produziu conteúdo digital via tecnologia sem fio para celulares com sintonizador digital, e o Brasil
ofereceu sua programação de televisão em diversas telas móveis.
Na Argentina destaca-se a produção de webséries para celulares,
enquanto na Espanha chamam a atenção os conteúdos produzidos
para iPhone e Android. No Chile e Venezuela, na área da telefonia,
o número de celulares superou o de habitantes.
No âmbito Obitel, constatou-se no ano de 2012 que a relação
entre televisão e internet se estreita e se combina, confirmada por
processos de convergência e de transmidiação.
2. Comparação da ficção televisiva nos países ibero-americanos
em 2012
Nesta seção do Obitel oferecemos um panorama comparativo, sincronicamente e diacronicamente, dos últimos quatro anos de
observação nos países membros da rede. Recebem destaque, por
razões óbvias, os resultados da análise do ano em questão, mas foi
feito um esforço especial para dimensioná-lo historicamente, visando ter uma perspectiva de tendência no desenvolvimento e na
troca da produção, transmissão e recepção de ficção televisiva na
região.
34 | Obitel 2013
Tabela 2. Oferta de horas de ficção nacional
e ibero-americana – 2009 a 2012
Nacional
38%
IberoAmericana
62%
Nacional
Ibero-Americana
2012
2011
2010
2009
OFERTA
GLONacioNacioNacioNacioIbero
Ibero
Ibero
Ibero
BAL DE
nal
nal
nal
nal
HORAS
10.875 18.915 10.780 20.220 9.510 20.702 9.690 13.769
TOTAL
29.790
31.000
30.212
23.459
TOTAL
114.461
A oferta nacional e ibero-americana global diminuiu, em
2012, com respeito ao ano anterior, embora a oferta total de ficção
nacional tenha aumentado em pouco mais de cem horas, em parte
devido à incorporação do Peru, mas também porque países como
Brasil, Equador, Colômbia e Portugal aumentaram consideravelmente o número de horas de ficção nacional.
Tabela 3. Oferta de horas de ficção nacional e ibero-americana
por país – 2009 a 20123
Oferta de horas de ficção nacional
2500
2000
1500
1000
500
0
Argentina
Brasil
Chile
EUA
México
Peru
Portugal
Nac. 2012
965
1503
631
1252
234
898
836
2020
552
1164
36
783
10.875
Nac. 2011
1094
1462
717
Colômbia Equador Espanha
1065
189
988
847
2134
-
943
Uruguai Venezuela TOTAL
47
641
10.780
Nac. 2010
1035
1288
671
1671
305
657
911
1194
-
1351
47
379
Nac. 2009
1228
1605
644
-
-
1123
833
1582
-
1408
49
1218
9.870
TOTAL
4.322
5.858
2.663
3.988
728
3.666
3.427
6930
552
4.866
179
3.021
41.035
9.510
Em todas as tabelas, um espaço vazio representa a ausência desse país no ano de referência. Quando aparece o número “0”, siginifica que esse país não apresentou o dado de
referência.
3
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 35
As horas de ficção nacional ofertadas são a prova mais confiável do tamanho das indústrias em cada um dos países, isto é, de sua
capacidade produtiva. Como é possível ver na tabela acima, o grupo
de países com maior produção de ficção nacional nos últimos quatro
anos está constituído pelo México, Brasil e Portugal. A seguir está
o grupo formado por Argentina, Colômbia e Espanha. O terceiro
grupo é integrado pelos Estados Unidos, Venezuela e Chile; e o
quarto por Equador, Peru e Uruguai.
No ano de 2012, a oferta anual de horas de ficção nacional aumentou na metade dos países, o que é indicador de mais tempo de
ficção nacional na tela. São eles Brasil, Colômbia, Equador, Portugal e Venezuela. Os outros países, Argentina, Chile, Espanha,
Estados Unidos, México e Uruguai, caíram em comparação com
o ano anterior.
Oferta de horas de ficção ibero-americana
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
Brasil
Chile
EUA
México
Peru
Portugal
Ibe. 2012
677
0
2982
682
2686
284
2329
1556
1820
835
2188
2874
18.910
Ibe. 2011
Argentina
1426
299
2966
Colômbia Equador Espanha
807
3060
284
3249
475
-
926
Uruguai Venezuela TOTAL
3211
2707
20.220
Ibe. 2010
2048
267
2103
951
2288
380
3387
394
-
1032
2629
5222
20.702
Ibe. 2009
2168
32
2787
-
-
272
1649
444
-
961
2662
1794
13.769
TOTAL
6.319
598.000
10.838
2.440
8.034
1.220
11.614
2.869
1.820
3.754
10.690
12.597
73.601
Os países Obitel que mais transmitem ficção ibero-americana
são Chile, Equador, Estados Unidos, Peru, Uruguai e Venezuela. Contudo, a tendência não é a mesma em todos, uma vez que enquanto Equador, Estados Unidos e Uruguai diminuíram o número
de horas de ficção ibero-americana, o Chile e a Venezuela aumentaram em 2012, levemente, a transmissão dessa ficção.
O Peru passa a fazer parte dessa lista de países que importam
ficção ibero-americana, uma vez que o número de horas de ficção
36 | Obitel 2013
nacional é três vezes menor que a quantidade de horas de ficção
ibero-americana. Destaca-se o caso do Brasil, porque em 2012 não
apresentou nenhuma hora de ficção ibero-americana.
Tabela 4. Oferta de títulos de ficção nacional
e ibero-americana 2009-2012
60
50
40
30
20
10
0
Argentina
Brasil
Chile
EUA
México
Peru
Portugal
Nac. 2012
34
35
23
Colômbia Equador Espanha
16
8
33
10
28
13
27
Uruguai Venezuela TOTAL
3
13
243
Nac. 2011
22
41
25
22
4
41
11
23
-
28
2
13
232
Nac. 2010
15
49
24
34
5
48
17
21
-
31
3
9
256
Nac. 2009
24
41
29
-
-
56
7
20
-
28
3
15
223
TOTAL
95
166
101
72
17
178
45
92
13
114
11
50
954
60
50
40
30
20
10
0
Argentina
Brasil
Chile
EUA
México
Peru
Portugal
Ibero 2012
12
0
45
13
45
4
34
17
27
11
44
45
297
Ibero 2011
23
6
46
Colômbia Equador Espanha
15
50
6
47
5
-
12
Uruguai Venezuela TOTAL
44
48
302
Ibero 2010
33
6
30
20
32
6
45
9
-
16
34
58
289
Ibero 2009
30
1
50
48
-
5
30
6
-
12
26
15
223
TOTAL
98
13
171
96
127
21
156
37
27
51
148
166
1111
Com exceção da Argentina, Equador e México, que aumentaram a produção de títulos de ficção nacional, e da Venezuela, que
manteve a mesma quantidade que no ano passado, no resto dos países do Obitel a produção de títulos de ficção nacional diminuiu.
Cabe destacar o caso do Equador, em que o aumento do ano de
2011 para o de 2012 foi de quatro para oito títulos de ficção. A redu-
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 37
ção de títulos de ficção nacional em Portugal e nos Estados Unidos
foi mínima, enquanto no resto dos países chegou a 25%.
Quais seriam as razões dessa redução? De acordo com o que
foi reportado em cada um dos capítulos deste anuário, alguns países,
como Portugal e Espanha, diminuíram sua produção devido aos
problemas econômicos que frearam a produção de ficção nos canais
públicos. No caso de Brasil, Colômbia e Chile, a redução de títulos
responde a fatores empresariais, pois algumas das emissoras que
produziam ficção não estrearam títulos em 2012. Isso, como no caso
do Brasil, não significou uma diminuição nas horas de transmissão
de ficção.
Em relação aos títulos de ficção ibero-americana, com exceção
do Uruguai, que manteve em suas telas o mesmo número de ficções
que no ano anterior, e do México, que aumentou significativamente
os seus títulos, os outros países do Obitel diminuíram a oferta de
títulos de ficção ibero-americanos, o que quer dizer que importaram
menos. Ao mesmo tempo, Chile, Equador, Uruguai e Venezuela
estrearam mais de 40 títulos de ficção ibero-americana em suas programações.
Tabela 5. Formatos de ficção nacional
e número de títulos – 2009 a 2012
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
*
Argentina
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
Espanha
EUA
México
Peru
Portugal
Uruguai
Venezuela
TOTAL
Telenovela
34
60
47
33
3
12
28
59
3
32
0
29
340
Série
18
43
27
10
11
99
1
30
4
45
6
12
306
Minissérie
18
22
5
16
0
40
1
0
6
20
3
4
135
Telefilme
0
8
12
0
0
7
0
0
0
5
0
0
32
Unitário
8
0
0
0
0
0
2
0
0
2
2
1
Docudrama
0
2
1
0
0
0
0
0
0
0
0
1
4
Outros
15
33
12
14
3
22
2
2
0
15
0
4
122
TOTAL
93
168
104
73
17
180
34
91
13
119
11
51
954
O tempo contado exclui os cortes comerciais.
15
38 | Obitel 2013
A Tabela 5 mostra o número de títulos e formatos da ficção no
âmbito do Obitel de 2009 a 2012. Espanha e Brasil são líderes no
quesito produção de títulos, seguidos por Portugal, Chile, Argentina, México e Colômbia.
Em relação aos formatos, em 2012 a telenovela continua reinando na ficção, apesar do crescimento constante do formato Série,
que ameaça acabar com essa hegemonia, pois faltam apenas 40 para
que atinja o mesmo número de títulos. Contudo, é preciso dar o desconto de que 1/3 do total das séries está concentrado em um único
país, a Espanha. A telenovela continua sendo o produto líder em
países como o Brasil e o México, que se destacam na quantidade de
sua produção de ficção, com 60 e 59 títulos nacionais. O Chile tem
47 títulos de telenovela, enquanto Argentina, Colômbia, Portugal,
Estados Unidos e Venezuela estão na faixa dos 30 títulos. O Equador e o Peru produziram apenas três títulos desse formato de ficção.
O formato Série continua sendo o que tem mais títulos na Espanha, com quase cem. Brasil e Portugal vêm a seguir, com 43 e 42
títulos, respectivamente, enquanto o México está em quarto lugar,
com 30. Esses dados indicam, em geral, uma crescente produção do
formato Série na ficção ibero-americana, apesar de haver países do
Obitel, como o Peru e os Estados Unidos, que produziram menos
de cinco, e o Uruguai, que tem seis títulos.
No formato Minissérie também se observa uma situação desigual entre os países. Enquanto a Espanha é o país que produziu
mais títulos, com 40, Brasil, Portugal, Argentina e Colômbia estão na faixa dos 20 títulos em 2012. Os outros países tiveram em
torno de cinco títulos, e o México e o Equador não apresentaram
nenhum.
No formato Telefilme, o Chile e o Brasil, com 12 e oito títulos, respectivamente, seguidos pela Espanha, com sete títulos,
são praticamente os únicos que produzem esse tipo de formato. No
Dramatizado Unitário, destaca-se a Argentina, com oito títulos, seguida pelos Estados Unidos e pelo Uruguai, com dois cada um,
e pela Venezuela, com um título. Os outros países do Obitel não
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 39
produziram esse tipo de formato em 2012. Quanto ao Docudrama,
somente registraram produção o Brasil, com dois títulos, e o Chile
e a Venezuela, com um título cada país.
Tabela 6. Oferta de capítulos/episódios
de ficção nacional 2009-2012
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
Nac. 2012
Argentina
Brasil
Chile
1260
2186
1014
Colômbia Equador Espanha
1533
358
970
EUA
México
Peru
Portugal
906
2136
733
1504
Uruguai Venezuela TOTAL
85
1081
Nac. 2011
1180
2163
1262
1501
259
1104
847
2201
-
1372
54
899
12.842
Nac. 2010
1173
1838
1304
2630
313
793
935
1766
-
1741
43
580
12.916
13.766
Nac. 2009
1279
2307
1233
-
-
1652
910
1995
-
1874
44
1426
12.720
TOTAL 09-12
4.982
8.494
4.813
5.664
930
4.519
3.598
8.098
733
6.491
226
3.786
52.244
Portugal
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
Argentina
Brasil
Chile
EUA
México
Peru
Nac. 2012
1260
2186
1014
1533
358
970
906
2136
733
1504
85
1081
Nac. 2011
1180
2163
1262
Colômbia Equador Espanha
1501
259
1104
847
2201
-
1372
Uruguai Venezuela TOTAL
54
899
12.842
Nac. 2010
1173
1838
1304
2630
313
793
935
1766
-
1741
43
580
12.916
13.766
Nac. 2009
1279
2307
1233
-
-
1652
910
1995
-
1874
44
1426
12.720
TOTAL 09-12
4.982
8.494
4.813
5.664
930
4.519
3.598
8.098
733
6.491
226
3.786
52.244
855
0
3961
927
2203
296
2226
1336
2279
1205
3052
3862
22.202
Ibero 2011
1481
531
4157
1067
3515
368
3249
462
-
1244
3406
3544
23.024
Ibero 2010
2296
447
3138
1128
2497
623
3265
676
-
1322
2691
5429
23.512
Ibero 2009
2204
54
3867
-
-
340
2728
610
-
1166
2543
1794
15.306
TOTAL 09-12
6.836
1.032
19.936
3.122
8.215
1.627
11.468
3.084
2.279
4.937
11.692
14.629
84.044
Ibero 2012
Destacam-se aqui o Brasil e o México, com mais de 2 mil capítulos ou episódios de ficção nacional, seguidos pela Colômbia e
Portugal, com mais de 1.500, tudo isso em 2012. O país que me-
40 | Obitel 2013
nos produção registrou nessa rubrica foi o Uruguai, com apenas
85, seguido por Equador, Peru, e Espanha, que não ultrapassam
os mil. Contudo, é preciso assinalar que tanto o Uruguai quanto o
Equador tiveram um aumento muito significativo em sua produção
de ficção nacional em comparação com o ano anterior, uma vez que
o incremento desses países ficou na casa dos 30%.
Em relação ao histórico 2009 a 2012, o Brasil e o México mantêm uma grande distância com respeito ao resto dos países do Obitel, uma vez que estão acima dos 8 mil capítulos. Seus competidores
mais próximos estão na faixa dos 4 e 3 mil episódios.
Este ano de 2012 foi significativo no que se refere ao aumento
de títulos no âmbito Obitel, já que em 2011 foram cerca de mil capítulos ou episódios.
Resulta muito significativo pensar na tradução da quantidade
de capítulos ou episódios em produção de ficção de longa ou curta serialidade e na valorização cultural e capacidade produtiva demonstrada por um país.
Quanto a capítulos e episódios de ficção ibero-americana, a
maioria dos países do Obitel diminuiu seu registro. O Brasil deixou de transmitir ficção ibero-americana completamente neste ano,
e o México e a Venezuela foram os únicos países que aumentaram
consideravelmente sua transmissão ibero-americana, com mais de
1.300. Apesar do caso desses dois últimos países, o conjunto tem
como resultado a redução de mil capítulos em comparação com
2011.
Da mesma maneira, o gráfico mostra os países que dependem
da importação de ficção, por exemplo, Chile, Equador, Estados
Unidos, Uruguai e Venezuela. Por sua vez, o Peru, em 2012, mostra a mesma tendência, dado que foi um dos países que transmitiu
mais episódios ibero-americanos.
0
1
1
3
5
2011
2010
2009
TOTAL
2009-12
4
0
3
0
1
Argentina Brasil
2012
CO-PRODUÇÕES
2
2
0
0
0
Chile
3
–
0
3
0
Colômbia
6
–
0 6
0
10
6
2
0
2
Equador Espanha
7
0
1 3
3
Estados
Unidos
3
1
1
0
1
México
Tabela 7. Coproduções 2009- 2012
7
–
–
–
7
Peru
3
0
1
0
2
17
4
3
1
9
4
2
0
2
0
71
18
12
16
25
Portugal Uruguai Venezuela TOTAL
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 41
42 | Obitel 2013
No que se refere a coproduções, o Uruguai e o Peru são os que
tiveram o maior número neste ano. O primeiro país se destaca com
nove, e o segundo, com sete. Os Estados Unidos estão a seguir,
com três, a Espanha e Portugal com dois e o Brasil com uma. O
México, que não costuma fazer coproduções ultimamente, teve uma
em 2012. Apesar dos poucos casos de coprodução em 2012, há um
aumento em relação a 2009, o que pode guardar relação com o caso
peruano, uma vez que em 2009 foram registrados 18 casos, e em
2012 foram 25 casos.
Em relação ao histórico 2009-2012, o Uruguai e a Espanha
são os países que mais usam o modelo de coprodução. Destaca-se
o caso dos Estados Unidos, país que cresceu na indústria da ficção
com base nesse tipo de processo. Caso contrário ao da Argentina,
que, apesar de ter realizado cinco coproduções, vem diminuindo
esse número desde 2009, e em 2012 não apresentou nenhuma. Os
outros países tiveram um desempenho irregular no que se refere a
coproduções.
Tabela 8. Época da ficção por título 2009-2012
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
Argentina
Brasil
Chile
EUA
Peru
Presente
84
149
76
61
128
146
192
13
123
97
143
173
de Época
0
10
8
Colômbia Equador Espanha
2
8
59
4
0
México Portugal Uruguai Venezuela TOTAL
1
8
13
10
31
Histórica
5
12
11
6
4
5
5
0
6
9
3
66
123
Outras
7
1
0
3
0
3
0
0
0
0
0
0
14
1385
A Tabela 8 mostra um histórico da época da ficção a partir de
2009, e os números que são apresentados são os totais dessa soma.
Aqui se destaca que a grande maioria da ficção ibero-americana
está ambientada no presente. Isso não significa necessariamente
que não haja reminiscências do passado, exatamente o tema do
ano desta análise 2012, uma vez que a reconstituição da memória
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 43
acontece pela maneira com que se olha para o passado a partir do
presente.
A ficção histórica é a segunda em importância, embora o número de títulos represente menos de 10% dos títulos ambientados no
presente, no âmbito do Obitel, a partir de 2009. A ficção de época
tem apenas 31 títulos, o que pode ocorrer devido aos altos custos de
produção envolvidos na realização dessas ficções.
Quanto aos países, a Espanha é o que mais exibe ficção de
época, seguida por Uruguai, Brasil, Equador e Chile. Em compensação, em ficção histórica a Venezuela é o país que se destaca,
com um alto número de títulos: 66; o Brasil tem 12, e o Chile, 11
títulos desse tipo de ficção. Países como México, Equador, Peru
e Uruguai apresentam-se como indústrias nas quais o presente é a
principal referência temporal em suas ficções, embora isso não signifique que a partir daí se gere consciência sobre as problemáticas
atuais, como ocorre de modo permanente com o Brasil ou, recentemente, com a Argentina e a Colômbia.
3. As dez ficções mais vistas do ano
Como é possível ver no histórico comparativo de todos os top
ten de cada país, continua sendo o Brasil o que mais títulos de ficção coloca nesse ranking a nível ibero-americano, ocupando oito
dos dez primeiros lugares, todos produzidos pela Globo. Os outros
dois títulos correspondem a dois países: o Chile, em oitavo lugar,
com uma telenovela do canal público 13, e o México, em décimo,
com uma telenovela da Televisa.
Se esse parâmetro for estendido para os 20 primeiros títulos, a
supremacia no rating que Brasil e México atingem se combina com
os níveis de audiência que alcançam países como o Chile, que tem
quatro títulos, a Argentina, com um título, e, surpreendentemente,
o Uruguai, que emplacou uma telenovela de origem brasileira no
posto 19. No total, o Brasil tem 11 títulos entre os primeiros 20
lugares, levando-se em consideração que Insensato coração, trans-
44 | Obitel 2013
mitida no Uruguai, é uma telenovela brasileira também transmitida
naquele país.
Tabela 9. Os dez títulos mais vistos: origem,
formato, audiência e share
Título
Aud. Share ForCanal
%
%
mato
Casa
produtora
TV
País de
País de
privada
origem
ou
exibição
roteiro
pública
Fina
Tele42,12 67,30
Globo
Globo
Privada Brasil
Brasil
estampa
novela
Avenida
Tele2
41,51 66,50
Globo
Globo
Privada Brasil
Brasil
Brasil
novela
Cheias de
Tele3
33,92 58,30
Globo
Globo
Privada Brasil
Brasil
charme
novela
Tele4 Salve Jorge 32,80 56,40
Globo
Globo
Privada Brasil
Brasil
novela
Tapas &
5
27,83 48,00 Série Globo
Globo
Privada Brasil
Brasil
beijos
Aquele
Tele6
27,49 50,30
Globo
Globo
Privada Brasil
Brasil
beijo
novela
A grande
7
27,48 48,40 Série Globo
Globo
Privada Brasil
Brasil
família
Soltera
Tele- Canal
ArgenChile
Canal 13 Pública
8
26,80 37,00
otra vez
novela 13
tina
Amor
TeleGlobo
Globo
Privada Brasil
Brasil
9 eterno
26,16 49,60
novela
amor
Abismo de
Tele- Canal
25,83 37,25
Televisa Privada México México
10
pasión
novela
2
Los 80,
EsCanal Canal 13
Pública panha/ Chile
11 más que 25,80 37,50 Série
13
A.Wood
una moda
Chile
Amores
Tele- Canal
Argen25,64 38,96
Televisa Privada
México
12
verdaderos
novela
2
tina
Doce de
Tele13
25,60 47,40
Globo
Globo
Privada Brasil
Brasil
mãe
filme
Guerra dos
Tele14
24,92 48,20
Globo
Globo
Privada Brasil
Brasil
sexos
novela
Porque
Tele- Canal
Colôm15 el amor 24,15 37,02
Televisa Privada
México
novela
2
bia
manda
Undergroud
ConteArgen- Argen16 Graduados 23,60 33,43 Série Telefé
nidos;
Privada
tina
tina
Endemol
Argentina
e Telefé
Por ella
Tele- Canal
Colôm17
23,60 35,46
Televisa Privada
México
soy Eva
novela
2
bia
1
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 45
TeleTVN
TVN
novela
Insensato
Tele- Teled19
20,70 32,00
TV Globo
corazón
novela oce
Tele20 Separados 19,50 27,50
TVN
TVN
novela
LC
Acción
Dulce
Tele21
19,27 29,78
Telefé ProducAmor
novela
ciones /
Telefé
HeredeTeleEl
22 ros de una 19,07 30,17
Pol–ka
novela Trece
venganza
La que no
Tele- Univi23
18,73 29,59
Televisa
podía amar
novela sion
Abismo de
Tele- UniviTelevisa
18,24 28,3
24
pasión
novela sion
Qué bonito
Tele- Canal
25
18,24 30,19
Televisa
amor
novela
2
El hombre
Minis18,16 24,46
Telefé 100 bares
26
de tu vida
série
Amores
Tele- UniviTelevisa
27
18,16 28,27
verdaderos
novela sion
TeleTelefé Telefé
28 La dueña 18,12 25,83
novela
Amor
Tele- Canal
Televisa
29
17,91 29,56
bravío
novela
2
Tele- Canal
30 Peleles 17,30 25,80
TVN
novela 13
Sos mi
Tele- Tele31
17,20 29,00
Pol-ka
hombre
novela doce
Un refugio
Tele- Canal
32 para el 16,94 32,21
Televisa
novela
2
amor
La familia
Canal
33
16,87 27,65 Série
Televisa
peluche
2
Al fondo
Amérihay sitio
Teleca
América
34
16,56 53,82
(4ª temponovela Tele- Televisión
rada)
visión
Reserva de
Tele35
16,30 22,40
TVN
TVN
Famlia
novela
Aquí
Tele36
16,30 30,90
TVN
TVN
mando yo
novela
Por ella
Tele- Univi37
15,82 25,46
Televisa
soy Eva
novela sion
La mujer
Tele- Canal
38 del venda- 15,76 28,99
Televisa
novela
2
val
Amor
Tele- Univi39
15,56 25,56
Televisa
bravío
novela sion
Dama y
TeleTVN e
40
15,50 33,00
TVN
obrero
novela
Alce
18 Pobre rico 20,70 33,70
Pública
Chile
Chile
Privada
Brasil
Uruguai
Pública
Chile
Chile
Privada
Argentina
Argentina
Privada
Argentina
Argentina
Privada México
EUA
Privada México
EUA
ColômMéxico
bia
Argen- ArgenPrivada
tina
tina
Privada
Privada México
EUA
ArgenPrivada
tina
Argentina
Privada México México
Pública
Chile
Chile
ArgenPrivada
Uruguay
tina
Privada
Venezuela
México
Privada México México
Privada
Peru
Peru
Pública
Espanha
Chile
Pública
Chile
Chile
Privada México
Privada
Venezuela
EUA
México
Privada México
EUA
Pública
Chile
Chile
46 | Obitel 2013
AmériDel Barrio
Mi amor el
Minisca
15,42 46,11
Produc- Privada Peru
wachimán
série Teleciones
visión
El rempla42
15,40 22,50 Série TVN
Parox
Pública Chile
zante
Sos mi
TeleEl
Argen43
15,27 21,86
Pol-ka Privada
hombre
novela Trece
tina
41
44
45
Dancin’
days
15,10 30,90
Telenovela
SIC
Cachito de
Tele- Canal
15,05 27,56
cielo
novela
2
Mi prob46 lema con
las mujeres
15,
98
SIC/SP
Televisão/ Privada
TV Globo
Televisa
Peru
Chile
Argentina
Brasil/
Portu- Portugal
gal
Privada México México
13 Mares
Producciones &
MinisTelefé Vincent Privada
26,64
série
Entertainment
Telefé
Peru
Peru
Caracol
Caracol
Colôm- ColômPrivada
Série
bia
bia
Tele- Televisión
visión
Tele- TeleTV Globo Privada Brasil Uruguai
14,80 29,00
novela doce
Tele- Tele14,80 25,00
TV Globo Privada Brasil Uruguai
novela doce
Escobar, el
47 patrón del 14,95 38,15
mal
48
Passione
49
El Astro
Una
Tele- Univi50 familia con 14,78 24,49
novela sion
suerte 1
51
Mi amor,
mi amor
14,59 22,44
Televisa
Privada México
El árbol
TeleEndemol
ArgenTelefé
Privada
novela
Argentina
tina
Telefé
EUA
Argentina
Escrito en
Tele- Telelas
14,50 28,00
TV Globo Privada Brasil Uruguai
novela doce
estrellas
Tele- Tele53 Cuchicheos 14,20 27,50
TV Globo Privada Brasil Uruguai
novela doce
HeredeTele- TeleArgen54 ros de una 14,20 24,00
Pol-ka Privada
Uruguai
novela doce
tina
venganza
AmériLa reina
Del Barrio
Minisca
de las
55
14,11 43,37
Produc- Privada Peru
Peru
série Telecarretillas
ciones
visión
Violeta se
Tele56 fue a los 14,10 19,20
CHV A.Wood Privada Peru
Chile
filme
cielos
Fina
Tele- Tele57
14,10 28,00
TV Globo Privada Brasil Uruguai
estampa
novela doce
52
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 47
58 Águila roja 13,80 29,80
61
62
63
64
65
66
67
68
69
70
71
72
73
74
75
TVE1
GlobomePública
dia
TeleTC
RCN
novela
ComéEl
Los únicos 13,21 19,55
Pol-ka
dia
Trece
Un refugio
Tele- Univipara el 13,07 22,73
Televisa
novela sion
amor
TeleEl
Lobo
13,00 22,32
Pol-ka
novela Trece
El combo
amarillo
Ecu13,00 22,20 Série
Ecuavisa
3D (3ª temavisa
porada)
TVI /
Louco
Plural
Tele13,00 29,20
TVI
amor
Entertainnovela
ment
El combo
amarillo
Ecu12,90 21,30 Série
Ecuavisa
(2ª tempoavisa
rada)
La mariFox Tele12,49 34,78 Série RCN
posa
colombia
L.C.
Acción
Dulce
Tele- MonProduc12,30 20,00
amor
novela tecarlo
ciones y
Telefé
TeleEl Joe
12,20 17,40
TC
RCN
novela
VeCorazón
Telenevisión
apasio- 11,90 17,30
TC
novela
Internanado
cional
AmériMinisca
América
La faraona 11,88 35,13
série Tele- Televisión
visión
Tres milaTeleTeleset /
11,70 16,20
TC
gros
novela
RCN
AmériLa que no
Teleca
11,64 35,10
Televisa
podía amar
novela Televisión
Fox TeleEl capo II 11,63 35,06 Série RCN
colombia
Grupo
Cuéntame
Ganga
11,40 24,80 Série TVE1
cómo pasó
Producciones
MaltrataUni- TeleFlor
11,40 25,00
das
tário doce
Latina
59 El capo 2 13,70 21,50
60
Série
EsEspanha
panha
ColômPrivada
Equador
bia
Argen- ArgenPrivada
tina
tina
Privada México
EUA
Privada
Argentina
Argentina
Privada
Equador
Equador
Privada
PortuPortugal
gal
Privada
Equador
Equador
Privada
Colôm- Colômbia
bia
Privada
ArgenUruguai
tina
Pública
ColômEquador
bia
VenePública zuela – Equador
EUA
Privada
Pública
Peru
ColômEquador
bia
Privada México
Privada
Peru
Peru
Colôm- Colômbia
bia
Pública
Espanha
Privada
ArgenUruguai
tina
Espanha
48 | Obitel 2013
76
Fina
estampa
11,30 16,90
77
Doce
tentação
11,10 28,30
78
Casa de
reinas
11,01 32,36
79
La mariposa
10,90 15,80
80
81
82
83
84
85
86
87
El man es
Germán
Corona de
lágrimas
Corazones
blindados
Rafael
Orozco. El
ídolo
Mi recinto
(13ª temporada)
Dónde
carajos
está
Umaña
Solamente
milagros
(2ª temporada)
La que se
avecina
88 Rosa fogo
89
90
10,90 15,50
10,90 18,53
10,87 32,80
10,76 32,55
O Globo
Privada
Série
TC
TC
Pública
10,35 30,42
Telenovela
Caracol
TV
Caracol
TV
Privada
9,96 35,64
9,60 22,70
9,60 26,60
9,54 30,95
91 Gamarra
9,47 31,38
92
Remédio
santo
9,40 28,60
93
Isabel
9,30 19,70
94
La reina
del sur
8,90 29,28
Brasil
Equador
TVI /
TelePlural
PortuTVI
Privada
Portugal
novela
Entertaingal
ment
MinisRCN
Colôm- ColômRCN
Privada
série
Televisión
bia
bia
Fox TeleTeleColômTC colombia / Pública
Equador
novela
bia
RCN
TeleColômTC
RCN
Pública
Equador
novela
bia
Tele- UniviTelevisa Privada Mexico EUA
novela sion
Colôm- ColômSérie RCN
Teleset Privada
bia
bia
CaraColôm- ColômCaracol
Telecol
Privada
bia
bia
TV
novela
TV
10,60 16,90
Dónde está
9,55 32,36
Elisa
A mano
limpia
Tele- Ecuanovela visa
América
América
Série
Tele- Televisión
visión
Alba
Série Tele5
Adriática
TeleSIC/SP
SIC
novela
Televisão
RCN
TeleRCN
Telenovela
Televisión
visión
RCN
RCN
Série TeleTelevisión
visión
AmériDel Barrio
Minisca
Producsérie Teleciones
visión
TVI /
TelePlural
TVI
novela
Entertainment
DiagoSérie TVE1
nalTV
TeleTelemunATV
novela
do/RTI
Privada
Privada
Privada
Privada
Privada
Privada
Equador
Equador
Colôm- Colômbia
bia
Peru
Peru
EsEspanha
panha
PortuPortugal
gal
Chile
Colômbia
Colôm- Colômbia
bia
Peru
Peru
Privada
PortuPortugal
gal
Pública
Espanha
Espanha
Privada
EUA
Peru
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 49
95 El talismán 8,62 19,79
Tele- Univi- Univisión/
Privada
novela sion Venevisón
Pablo
Escobar:
96
el patrón
del mal
Tele- Telenovela mundo
8,54
97
El laberinto
8,40
98
Doida
por ti
8,40
99 Mi gitana
8,20
Yo no me
100 llamo Natacha 2
7,99
101
7,60
Aída
8,54
107
108
109
Colômbia
EUA
Série
TVI
TVI /
Plural
Privada
Entertainment
PortuPortugal
gal
Série
A3
Notro TV Privada
Espanha
Espanha
Privada
Espanha
Espanha
Privada
PortuPortugal
gal
Privada
Espanha
Pública
PortuPortugal
gal
Privada
Espanha
Espanha
Privada
Espanha
Portugal
Aparte
Producciones
TVI /
TelePlural
Anjo meu 6,90 28,30
TVI
novela
Entertainment
Bambú
Gran Hotel 6,40 14,70 Série
A3
producciones
Os CompaRTP1/
6,40 19,80 Série RTP1
dres
Cinecool
Luna, el
Globomemisterio de 6,30 15,30 Série
A3
dia
Calenda
A família
SIC/SP
6,30 19,10 Série
SIC
Mata
Televisão
104 Fenómenos 7,20 16,60
106
Privada
EUA
Coproducción
Cara- Caracol
Colôm- Colôm24,93 Série
col
TV y
Privada
bia
bia
TV
Sony
Picture
Televisión
TVI /
TelePlural
PortuPrivada
Portugal
TVI
22,00
gal
novela
Entertainment
ProducMinisciones
EsPrivada
Espanha
Tele5
19,40
panha
série
Mandarina
AmériDel Barrio
Minisca
Produc- Privada Peru
Peru
30,92
série Teleciones
visión
EsGlobome16,50 Série Tele5
Privada
Espanha
panha
dia
Morangos com
102 açúcar IX: 7,60 21,90
segue o teu
sonho
Con el culo
103
7,30 17,20
al aire
105
Caracol
Tv
EUA
Série
A3
Espanha
50 | Obitel 2013
Corazón de
Tele6,23 22,52
ATV
fuego
novela
Mi ex me
Tele- Vene111
5,38 40,17
tiene ganas
novela visión
110
112
Flor
salvaje
5,12 38,16
Tele- Telenovela ven
¡Válgame
Tele- Vene4,64 32,38
dios!
novela visión
La casa de
Tele- Tele114
4,64 39,34
al lado
novela ven
113
115
La traicioTele- Vene4,57 40,32
nera
novela visión
Natalia del
Tele- Vene4,44 30,71
mar
novela visión
Abismo de
Tele- Vene4,06 32,49
117
pasión
novela visión
La que no
Tele- Vene3,99 29,54
118
podía amar
novela visión
Tele- Vene119 Emperatriz 3,81 34,52
novela visión
116
120
Retrato de
Tele- Vene3,74 32,94
una mujer
novela visión
Grupo
ATV
Venevisión
Radio
Televisión
Interamericana
Venevisión
Telemundo
FOX
Telecolombia
Venevisión
Privada
Peru
Peru
Privada
Venezuela
Venezuela
Privada
EUA
Venezuela
Privada
Venezuela
Privada
Chile
Privada
Argentina
Venezuela
Privada
Venezuela
Venezuela
Venezuela
Televisa
Privada México
Televisa
Privada
EUA
Privada
Venezuela
Venezuela
Venezuela
Venezuela
Venezuela
Privada
Colômbia
Venezuela
TV
Azteca
FOX
Telecolombia
Se uma coisa se destaca nos 120 títulos que fazem parte da
tabela anterior, é que entre os países do Obitel ocorre uma troca de
produções e/ou roteiros para a criação de séries e telenovelas, principalmente. O que não significa que a transmissão de uma telenovela tenha, em um país, o mesmo sucesso que em outro. Por exemplo,
Amores verdaderos, do canal 2 da Televisa, México, que esteve nos
top ten gerais em seu país de origem, conquistou apenas o lugar 27
quando foi transmitido pela Univisión nos Estados Unidos.
Conforme o que já vinha sendo assinalando no Anuário 2012,
a transnacionalização dos produtos de ficção é o que, em certo sentido, dá dinamismo à indústria de ficção ibero-americana, mas também é o que vai situando cada país em um determinado lugar, seja
porque é produtor e exportador nato, como ocorre com o Brasil e o
México (embora os resultados da tabela confirmem que a presença
deste último país está se tornando cada vez mais fraca); ou porque
são eficientes na criação e exportação de roteiros, como ocorre com
a Argentina, Colômbia e Espanha, que, em coprodução com o
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 51
Chile, conseguiram colocar Los 80, más que una moda no 11º lugar
entre as ficções mais vistas nos países do Obitel; ou também porque
são países que, apesar do crescimento de suas indústrias, ainda dependem da importação de títulos, como ocorre com Peru, Uruguai,
Venezuela e Estados Unidos. Desse setor de países afastou-se um
pouco o Equador, que, baseado no gênero da comédia, teve uma
retomada importante na produção de ficção nacional.
A mesma tabela comprova a relação comercial e quase unilateral entre Brasil e Portugal, na qual, ao que parece, o idioma
e os vínculos históricos condicionam muito da troca, sendo o país
sul-americano o que fornece mais títulos para o europeu. Nos casos do México e dos Estados Unidos, também domina essa espécie
de simbiose, embora a produção latina feita neste país tenha começado a estender mais nexos comerciais com outros países do sul,
como Colômbia, Venezuela e Peru. Isso, contudo, não conseguiu a
emancipação norte-americana da hegemonia que a empresa Televisa tem em sua indústria televisiva.
Outra coisa digna de destaque é o fluxo comercial que tem
acontecido entre os países considerados pequenos, uma vez que Estados Unidos, Chile, Venezuela, Uruguai, Peru e Equador começaram a importar e exportar títulos entre si, o que abre um espaço de
reflexão a mais, porque isso poderia levar a um novo panorama, no
qual o Brasil e o México (com produções) ou a Argentina e a Colômbia (roteiros) não sejam mais os únicos países com que aquele
grupo busca fazer convênios para a importação de ficção.
Tabela 10. Formatos e faixa horária dos dez títulos mais vistos
País
Formatos
Faixa horária
HoráTeleMinis- Tele- Uni- Docu- Ou- Ma- TarSérie
rio
novela
série filme tário drama tros nhã de
nobre
Argentina
5
0
2
0
0
0
3
0
0
10
Brasil
7
2
0
1
0
0
0
0
1
6
Chile
7
2
1
0
0
0
0
0
1
9
Colômbia
3
6
1
0
0
0
0
0
0
10
Equador
7
3
0
0
0
0
0
0
0
10
Espanha
0
9
1
0
0
0
0
0
0
10
Noite
0
3
0
0
0
0
52 | Obitel 2013
Estados
Unidos
México
Peru
Portugal
Uruguai
Venezuela
Total
10
0
0
0
0
0
0
0
0
9
1
9
4
7
9
10
78
1
1
3
0
0
27
0
5
0
0
0
10
0
0
0
0
0
1
0
0
0
1
0
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
3
0
0
0
0
0
0
3
0
1
2
4
12
7
10
9
6
3
99
0
0
0
2
3
9
Em relação ao relatório geral dos top ten 2012 de todos os países do Obitel e em correlação com o formato e a faixa horária de
transmissão, os títulos mais vistos correspondem ao formato Telenovela (78 títulos), sendo transmitidos no horário nobre. A seguir,
posiciona-se o formato Série, com 27 títulos, dos quais 21 foram
transmitidos também no horário nobre. Isso enfatiza a importância
que vem adquirindo a série não apenas em termos de produção, mas
também em termos da aceitação desse formato pela audiência, principalmente em países como a Espanha, onde é incontestável essa
preferência cultural. Além disso, países voltados para o formato de
telenovela, como o México e o Brasil, passaram a incorporar, a partir de 2009, a série em seus top ten. Por outro lado, destacam-se
países como Estados Unidos, Uruguai e Venezuela, nos quais a
telenovela tem uma forte presença.
Outros formatos, como a Minissérie e o Telefilme, tiveram aumento no número de títulos e, inclusive, entraram no top ten de países como Argentina, Brasil, Chile e Espanha; o Peru destaca-se
porque a metade de seus títulos mais vistos são minisséries.
Em relação à faixa horária, confirma-se que a ficção, independentemente do formato, é o gênero que concentra a maior audiência
e, em consequência, é a que fica com o melhor horário televisivo,
o horário nobre. Nesse horário foram transmitidos 99 dos 120 títulos nacionais que foram ao ar em 2012. Os outros títulos foram
transmitidos durante a manhã (12) e no horário noturno (9). Esses
dados confirmam uma importante descoberta feita pelo Obitel já em
seu início, a de que, definitivamente, nos países ibero-americanos o
horário nobre é nacional.
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 53
Tabela 11. Perfil de audiência dos dez títulos mais vistos:
gênero, idade, nível socioeconômico4
País
Gênero
%
MuHolheres mens
4a
12
Faixas de idade
%
13 a 19 a 25 a 35 a
45+
18
24
34
44
Nível socioeconômico %
AB
C
D
Argentina
56,1
43,9
18,3 22,1
21,3
Brasil
63,7
36,3
8,8
8,7
9,1
Chile
64,0
36,0
8,0
7,0
10,0 15,0 24,0 36,0 36,1
Colômbia
Estados
Unidos
Peru
61,5
38,5
12,7 21,1
17,7
61,3
38,7
13,5
8,8
60,7
39,3
15,8 15,7
14,3 18,5 14,7 21,0 20,9 35,1 44,0
Portugal
61,8
38,2
7,8
7,8
11,3 11,3 12,3 49,5 11,5 57,8 30,7
Uruguai
68,5
31,5
5,4
5,8
7,3
Venezuela
63,1
36,9
–
–
–
5,4
– 22,3 16,0 21,5 49,7 28,8
33,7 21,3 18,4 33,1 52,0 14.4
–
7,2
50,7
22,5 26,2 47,5 32,5 20,0
17,7 25,2 29,4
–
–
– 11,2 20,7 40,6 23,1 41,2 35,7
–
–
–
23,1 32,5 44,4
De acordo com a Tabela 11, é possível estabelecer que o perfil
médio da audiência da ficção ibero-americana corresponde ao de
uma mulher maior de 45 anos, pertencente à classe média (estrato
C), embora essa medida possa variar em países como Chile, Peru
e Venezuela, onde aqueles que mais assistem ficção pertencem à
classe baixa (estrato D). Por outro lado, é interessante notar que a
Colômbia, o Chile e o Brasil são os países nos quais há mais audiência de ficção pertencente à classe alta (estratos A e B).
Em relação às idades, em países como a Argentina e o Brasil a
idade média da audiência situa-se entre 34 e 44 anos. A Argentina,
a Colômbia e o Peru também se destacam por apresentar um equilíbrio similar nas idades de suas audiências. A Argentina, inclusive,
é o país que tem o maior número de audiências infantis e juvenis, o
que se explica pelo sucesso de suas ficções dirigidas a essas faixas
etárias. No resto dos países, essas audiências não superam a barreira
dos 10%. Destaca-se que Portugal é o país com maior audiência de
4
Na elaboração dessa tabela, alguns países não puderam ser comparados devido a não ter
sido facilitada essa informação, ou porque a que foi facilitada não corresponde aos indicadores desejados. Os países que ficaram de fora são Equador, Espanha e México. Os espaços com hífen correspondem a dados que não foram informados pelas equipes do Obitel.
54 | Obitel 2013
idade mais elevada, tendo quase 50% dos telespectadores com mais
de 45 anos.
4. O mais destacado do ano nos países Obitel
Ao longo do ano de 2012, as produções ficcionais dos países
Obitel abriram espaço para discussões de problemas da sociedade
que inquietam a população, como veremos a seguir no detalhamento
por país. A aproximação entre ficção e realidade ganha repercussão
e chama atenção para diversas questões sociais.
Nesse sentido, o debate que a televisão fomenta na sociedade
traz à tona assuntos importantes que nem sempre são tratados em
outros programas de televisão ou mesmo em outras mídias. Esse
cenário destaca o papel social da ficção como instância de debate
público e de representações da identidade nacional. Ao mesmo tempo, houve preferência pela forma leve e pelo tom humorístico de
temas do cotidiano. No que se refere ao funcionamento da indústria
televisiva, o destaque foi para as políticas de incentivo à produção
nacional de conteúdos.
Demandas sociais e ficção “à la carte”
Países como Chile, Colômbia, Equador e México apresentaram em sua programação uma forte influência de temas ligados ao
narcotráfico, como a dependência de substâncias ilegais, o combate
ao tráfico ou os jovens no mundo das drogas, abordando, por meio
da ficção, a problemática realidade cotidiana.
A ficção “à la carte”, patrocinada e desenvolvida com intenções políticas, voltou a marcar o ano no México, assim como havia
ocorrido em 2011. Articulado ao marketing político, o narcotráfico foi tema de La teniente, que abordou o combate do exército ao
tráfico, fazendo dos militares os heróis nessa luta. Outro caso de
marketing político explícito foi o reality show Lo que mis ojos ven
y mi corazón siente, protagonizado pela futura primeira-dama, uma
atriz de televisão muito famosa no país. Disponibilizado durante a
campanha eleitoral no YouTube, os 23 episódios do programa tive-
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 55
ram mais de um milhão de visualizações e funcionaram como importante trampolim para a campanha política do atual presidente da
República. O programa apresentou, em forma de narrativa ficcional,
os bastidores da campanha política e a vida privada do candidato à
presidência, misturando realidade e ficção. No México, ainda houve
o fechamento da empresa de pesquisa de audiência Ibope AGB e a
abertura da Nielsen-Ibope.
Em 2012 a televisão aberta do Chile continuou apresentando
queda de audiência, fato que vem ocorrendo desde 2003. Houve
preferência por temas ligados à realidade, entre os quais ganharam
destaque: pedofilia, narcotráfico, crise no sistema de educação,
bullying, precariedade das relações familiares, exclusão social, reabilitação de alcoólatras e dependentes químicos. O melhor exemplo
foi a série Solita camino, sobre abuso sexual de menores, produzida com financiamento público, e que, mesmo sem alcançar altos
índices de audiência, foi um dos destaques do país. Em termos de
linguagem, as séries do ano trouxeram narrativa mais lenta e introspectiva, além de redução do número de personagens.
No Equador, a ficção transmidiática tem ganhado espaço no
país. Como prova, o principal destaque não esteve nos formatos
convencionais, mas na primeira webnovela, Resaka, financiada pela
TC Televisión, que alcançou altos índices de audiência. Destinada
aos jovens, cada vez mais presentes no ambiente virtual, a webnovela aborda temas relacionados ao tráfico de drogas. Mereceram menção também os esquetes criados pelo coletivo equatoriano Enchufe.
tv em seu canal no YouTube, que lidaram com o cotidiano de maneira sarcástica e se converteram nos programas mais vistos do país.
Na Colômbia, em 2012, foram destaque quatro produções que
retrataram problemas sociais. As séries Escobar, el patrón del mal,
com a melhor audiência do ano, La mariposa e El capo II. O narcotráfico, a ilegalidade e a corrupção foram assuntos que causaram
impacto e geraram debate entre a população. A quarta produção foi
a série policial Corazones blindados, que mostrou policiais e agentes combatendo o crime organizado e a violência.
56 | Obitel 2013
Temas polêmicos que buscaram retratar a sociedade também
foram objeto das produções da Argentina: pornografia, problemas
psicológicos, doação de esperma, mundo do boxe, romance entre
pessoas de classes sociais distintas, comédia familiar que foge dos
moldes tradicionais e comédia policial. Através do melodrama,
questionaram os moldes clássicos da sociedade e da família. Os
exemplos foram: Graduados, La Pelu e El donante, esta última sobre um doador de esperma que descobre, anos depois, ter 144 filhos.
A exclusão, o racismo, a violência e as questões socioeconômicas foram alguns dos temas presentes na ficção Conversaciones con
la luna, do Peru. Houve a produção da telenovela La Tyson, um remake do sucesso Muñeca brava. As minisséries, em grande número
(6), tiveram duração curta, poucos episódios e carga melodramática.
Entre os temas, destacaram-se: biografias, conflitos, medos, sonhos
alcançados, histórias de imigrantes.
O destaque do ano do Brasil também envolveu temas cotidianos, especialmente referentes à classe média, em grande crescimento no país. A telenovela Avenida Brasil polarizou as atenções
não apenas dos habituais telespectadores ou comentaristas de telenovelas, mas também de veículos de comunicação internacionais
que buscavam entender o “fenômeno” Avenida Brasil. O enorme
sucesso da telenovela levou a fatos inusitados, como o Operador
Nacional do Sistema Elétrico ter que redimensionar o sistema de
transmissão de energia para atender a um aumento estimado de mais
de 5% no consumo de energia durante a exibição do último capítulo
da trama. Houve mudanças e até mesmo adiamento de eventos públicos planejados para o mesmo horário de exibição da telenovela.
Tamanho sucesso foi creditado, principalmente, à trama centrada
nos hábitos e práticas de vida da chamada “nova classe C”, à hibridização com o formato série realizada pelo autor e à caracterização
de um afortunado elenco de atores. A audiência do último capítulo
da telenovela alcançou 81% de share. Todo o cenário midiático que
foi sendo construído ao longo de sua exibição levou a considerar
Avenida Brasil como um popular media event, ou seja, como um
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 57
“evento midiático popular” que, entre outras coisas, altera a rotina
estabelecida e imprime características de ritual que favorecem a integração das sociedades (Couldry; Hepp, 2010).
As questões mais descontraídas do cotidiano da população
Outro eixo temático das ficções ibero-americanas refere-se ao
tratamento de assuntos mais leves e descontraídos, por vezes voltados para a comédia, característicos das sitcoms. Diferentemente das
temáticas anteriores, outras produções exibidas em 2012 possuem
foco em fantasia, relações amorosas e biografias idealizadas.
A busca da Argentina para atrair o público é demonstrada pelas
estreias de Supertorpe e Violetta, dedicadas à infância e adolescência, exibidas no horário matutino. Também no Chile as produções
mais assistidas trouxeram temáticas leves e descontraídas, como nas
telenovelas Dama y obrero, Pobre rico e Soltera otra vez. Esta última misturou os formatos telenovela, sitcom e unitários, e inspirou
a telenovela argentina Ciega a citas. A comédia romântica Soltera otra vez fala dos desafios da vida moderna de uma profissional
que, ao lado de três amigas, enfrenta problemas de relacionamento
amoroso e infidelidade. A trama foi um dos produtos audiovisuais
mais assistidos do ano na televisão chilena, chegando a obter 90%
de share.
A Colômbia reuniu entre as maiores audiências de 2012 produções leves ligadas à cultura caribenha, como a minissérie Casa de
reinas e as telenovelas Rafael Orozco, el ídolo e Dónde carajos está
Umaña?. A telenovela Dónde está Elisa? e o seriado El laberinto também retratam situações adversas de forma descontraída, nas
quais os valores morais se sobrepõem ao final. O seriado A mano
limpia foge aos estereótipos socioculturais, mostrando a união de
classes sociais, que superam as diferenças econômicas e profissionais.
A comédia é o ponto forte do Equador, onde, pelo segundo
ano consecutivo, as telenovelas não apareceram nos top ten. O humor tem sido a forma mais utilizada nas ficções para alcançar a
58 | Obitel 2013
audiência, com sarcasmo e irreverência nas narrativas, sejam elas
na televisão ou na internet.
Na Espanha e na Venezuela estiveram presentes temas fantasiosos nas ficções de 2012. Na Venezuela, algumas ficções mostraram forte ligação com temas míticos e religiosos, como Traición
y perdón. Na Espanha, a emissora com maior número de títulos
próprios em 2012, a Antena3, apresentou ficções que abordam fenômenos paranormais, lobisomens e aventuras. Outra emissora que
se destaca é a Tele5, com oito produções em 2012. Suas ficções
com maior audiência foram La que se avecina e Aída, que tratam de
temas como amor, família e amizade.
O cenário da produção audiovisual e a audiência
Em alguns países, os destaques do ano não se referem somente ao
conteúdo das ficções, mas também às mudanças no mercado audiovisual, à transnacionalização e ao comportamento da audiência. Foi o
caso da Espanha, onde o mercado de produção de ficção encontra-se
em um processo de transnacionalização, com vendas de programas e
formatos para diversos países. Destaque para Águila roja, que obteve
mais de 6 milhões de espectadores no país e foi comercializada para
mais de 20 países, seguida de Cuéntame como pasó, outra série de
sucesso longevo, com mais de 5 milhões de assistentes.
Nos Estados Unidos, o foco em 2012 não foram as produções,
mas sim o reordenamento da indústria televisiva hispânica no país,
com novas alianças entre emissoras. A produção hispânica frustrou
as previsões para 2012. A telenovela do prime time El talismán,
uma coprodução da Univisión e da venezuelana Venevisión, não
obteve o sucesso esperado. Os mais de 5 milhões de espectadores
na estreia não foram suficientes para evitar a redução no número de
capítulos e a mudança para o horário da tarde. De resto, os assuntos
mais tratados pela mídia hispânica foram as Olimpíadas e a eleição
presidencial.
No Peru, recebeu destaque internacional a ficção Al fondo hay
sitio, telenovela que em sua quarta temporada alcançou 800 capítulos
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 59
e obteve o maior índice de audiência, chegando a 50 pontos, o que é
incomum no país. A ficção já foi comercializada para cinco países.
Um dos destaques de audiência em Portugal foi o remake da
telenovela brasileira Dancin’n days, coproduzida com a Globo.
Chamaram atenção as ações de merchandising (product placement)
que ocorreram dentro da ficção. As telenovelas brasileiras também
obtiveram bons índices de audiência com a reprise de Páginas da
vida e a estreia de Avenida Brasil. Vale ressaltar ainda que o canal
líder de ficção, a TVI, teve como destaque no ano a exibição de 26
telefilmes do projeto Filmes TVI.
No Uruguai, a produção da primeira sitcom nacional e as adaptações literárias foram os destaques de 2012, com o unitário Somos
e a série Bienes gananciales, que misturou ficção e realidade. As
produções com financiamento internacional ou coproduções foram
estratégias utilizadas no país. Na Venezuela, houve financiamento
público para programas de ficção, cuja produção vem diminuindo
desde 2010.
Incentivos públicos e fomento à produção independente
Os programas de incentivo governamental nos países ibero-americanos têm aumentado o número de produções nacionais e
oferecido segurança aos realizadores para trabalharem novos formatos, estilos narrativos e estéticos, além de incentivar a produção
independente ou de pequenas produtoras. As principais formas de
incentivo são assistência à captação de investimento, patrocínio ou
financiamento das ficções.
Em Portugal, a produção de 2012 passou por mudanças, como
a diminuição de títulos por canais, as características das ficções e
a oferta e consumo, abrindo espaço para novos modos de produzir
conteúdo ficcional no país. A produção do canal público RTP se
manteve a mesma do ano anterior, apesar da crise econômica. A
abordagem de temas diversificados ocorreu como estratégia para alcançar públicos diferentes. Unindo informação e ficção, a RTP produziu a série de 12 telefilmes Grandes histórias: toda gente conta.
60 | Obitel 2013
Outro fato destacado na televisão pública portuguesa foi a parceria
com universidades para a produção da série Contos de Natal, ligando mercado e academia. Inovações de formato também ocorreram na Argentina, em ficções com financiamento do governo, que
apresentaram novos formatos, estilos e gêneros, ampliando o espaço
para novas produtoras e aumentando a concorrência por audiência.
Já com o Uruguai, a inovação estética ocorreu por falta de recursos.
O TNU, canal público do país, exibiu REC: una serie casera, marcando seu retorno às produções em televisão aberta. Na série, um
jovem produz seu próprio vídeo com estética e estilo que, refletindo
o título da ficção, remete à falta de condições para uma produção
mais elaborada.
Na Venezuela, os destaques podem ser agrupados em quatro
tipos: 1) a estatização da ficção; 2) a produção ficcional a partir de
espaços comunitários; 3) a ficção seriada vinculada a aspectos míticos e religiosos; e 4) o financiamento público para a produção audiovisual. Fundos públicos financiaram a telenovela Teresa em tres
estaciones, que retrata a vida de mulheres venezuelanas. Também
séries contaram com esse financiamento, entre as quais: Barrio sur;
Hotel de locura; Nos vemos en el espejo; La residencia; El diario
de Bucaramanga.
Já no Chile o destaque foi a série Solita camino, também produzida com investimento público. Mesmo não tendo alcançado uma boa
posição em questões de audiência por disputar o mesmo horário com
um dos top ten, El reemplazante, a ficção foi referência no país por
abordar temas como pedofilia, bullying, medo e poder com base em
uma trama sobre o mundo dos adolescentes e com alta carga emotiva.
5. Ficção televisiva e recepção transmidiática: interação através
das redes5
Desde que em 2009 o Obitel decidiu incorporar em sua análise
a recepção transmidiática, observa-se como o que começou como
5
Agradecemos a colaboração especial de Darwin Franco, do Obitel México, na análise
desta seção.
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 61
uma prática marginal, promovida pelo uso da internet, mas pouco
valorizada por seu potencial justamente transmidiático, transformou-se em um elemento-chave para as interligações que, a partir da
ficção, se estabelecem tanto com outras telas quanto com os novos
hábitos que suas audiências estão gerando. Hábitos que vão do reconhecimento de seu consumo amplificado (Orozco-Gomez, 2011),
até suas cada vez mais constantes ações de interatividade (Lopes,
2009).
Isso reflete uma forte e profunda mudança sociocultural que,
contudo, ainda não se generalizou no tipo de interação mídia-audiências, mas já permite observar um movimento de trânsito de audiências de mídias para usuários/produtores de conteúdos.
Ano a ano, os fãs de ficção televisiva – nos 12 países que agora fazem parte do Obitel – deram sinais que indicam que, pouco a
pouco, a emotividade que os mobiliza nas redes sociais (Facebook,
Twitter, YouTube etc.) para falar de sua ficção favorita os está levando a gerar outros tipos de conteúdo, que começam a superar as
práticas recopilatórias (editar vídeos dos momentos cruciais de sua
telenovela, por exemplo, o romance dos protagonistas) para se situarem na criação de outro tipo de narrativa. Embora ainda estejam
longe das narrativas transmidiáticas (transmedia storytelling), que
atualmente são desenvolvidas com filmes e séries, principalmente
norte-americanas, já é um primeiro passo para que as audiências, a
partir da produção, terminem apropriando-se das telenovelas e séries ibero-americanas.
Da mesma maneira, percebe-se que as indústrias televisivas
dos 12 países do Obitel estão fazendo múltiplos esforços para mudar
para o que Scolari (2008) chama “hipertelevisão”, que envolve a simulação ou emulação das interfaces interativas que atualmente oferece a internet. Em uma espécie de “Tvmorfose” (Orozco-Gomez,
2012), a televisão tem estado a procurar maneiras de interagir mais
com as suas audiências e de gerar, a partir dessa relação, recepções
múltiplas que a tenham como referência principal das novas práticas midiáticas. Por isso, como pontuávamos no início desta seção, a
62 | Obitel 2013
recepção transmidiática transformou-se em um nexo importante da
ficção com suas audiências.
A recepção transmidiática nos países do Obitel
Para o Anuário 2013, a análise da recepção transmidiática sofreu alguns mudanças em sua metodologia, pois, diferentemente dos
anos anteriores, neste ano a análise não foi centrada em dar conta
de toda a oferta transmidiática dos top ten de cada um dos países do
Obitel, mas naquela ficção selecionada entre as ficções preferidas,
seja pela importância do próprio título de ficção ou porque um título
constituiu um caso interessante especificamente pela sua proposta
transmidiática.
Em qualquer um desses casos, a análise foi centrada na maneira
em que interagiram as audiências com sua ficção, seja por meio das
redes sociais ou dos sites oficiais das séries ou telenovelas selecionadas. O centro do olhar foi focalizado na análise dos comentários,
opiniões e práticas que ali deixaram as audiências, mas também nos
modos de apropriação e nas produções que puderam ser geradas.
Figura 1. Os 12 títulos selecionados e sua oferta transmidiática
País
Título
Formato
Top Ten
Argentina
Graduados
Série
1º Lugar
Brasil
Avenida Brasil
Telenovela
2º Lugar
Chile
Soltera otra vez Telenovela
1º Lugar
Colômbia
Escobar, el
patrón del mal
1º Lugar
Telenovela
Oferta transmidiática
Site oficial
Facebook
Twitter
Site oficial
Página de Facebook
BrasilNovela
Twitter oficial
Blog Oioioi
Tienda
Media Out of Home
Site oficial
Página de Facebook
Twitter
Canal no YouTube
Página de Facebook
Página oficial
Página de Twitter
Página de YouTube
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 63
Equador
Enchufe.tv
Webcomédia
Espanha
El barco
Série
Não
Estados
Unidos
El talismán
Telenovela
9º Lugar
México
Te presento a
Valentín
Webnovela
Não
Peru
Al fondo hay
sitio
Telenovela
1º Lugar
Portugal
Dancin’ days
Telenovela
1º Lugar
Uruguai
REC. Una serie
Série
casera
Venezuela
Flor salvaje
Telenovela
Não
Não
2º Lugar
Página oficial
Conta no Facebook
Conta no Twitter
Canal no YouTube
Site oficial
Facebook oficial
Twitter oficial
Página oficial
Página de Facebook
Página de Twitter
Página de YouTube
Página oficial
Página de Facebook
Página de Twitter
Página oficial
Página de Facebook
Página de Twitter
Página de YouTube
Página oficial
Página de Facebook
Site oficial
Página de Facebook
Grupo de Facebook
Site oficial
Página de Facebook
Fonte: Obitel
Um dos primeiros elementos que devem ser destacados na oferta transmidiática dos 12 títulos selecionados pelos países do Obitel
é a força que tomaram as redes sociais como plataformas de base
para os processos de transmidiação da ficção ibero-americana. Em
2011, o site oficial constituía o nó central desse processo; contudo,
passado um ano, essa importância agora é compartilhada com sites
como Facebook, Twitter e, em menor grau, YouTube, que agora são
lugares a partir dos quais as ficções ibero-americanas buscam estender redes para interagir com suas audiências para além da televisão.
Muitos dos títulos da Figura 1 estabeleceram estratégias (baseadas
em promoções e em videochats com os protagonistas) que consistiam em concursos que obrigavam as audiências a transitarem por
suas diversas ofertas transmidiáticas para resolver as perguntas ou
atividades que os levariam a participar no bate-papo com seus personagens/atores favoritos.
64 | Obitel 2013
A esse respeito, Avenida Brasil é um dos melhores exemplos
do que foi colocado, uma vez que esse título da Globo conseguiu
uma inusitada conexão com suas audiências por meio do Twitter, ao
ponto que, em suas últimas transmissões, o hashtag #AvenidaBrasil
posicionou-se como um dos mais replicados a nível mundial, o que
significa que a interação no momento da transmissão da telenovela
ocorria também, de forma paralela, através das redes sociais.
Esse fenômeno, ainda que em menor escala, é algo que começa
a ocorrer em todos os países do Obitel; contudo, o caso do Brasil
foi significativo, porque evidencia a aposta da Globo em gerar não
apenas uma estratégia multiplataforma, mas uma interatividade em
tempo real com os fãs de suas telenovelas por meio de plataformas
como YouTube.
Um elemento a se destacar é que três dos 12 países analisaram
produtos criados na ou exclusivamente para a internet, o que já é
um segundo passo para a ficção ibero-americana, que até 2011 tinha
levado suas produções para a rede, mas havia feito poucos esforços
para produzir ficção pensada para ser transmitida apenas on-line.
O Equador, em um formato similar aos videoblogs, selecionou
a webcomédia Enchufe.tv. Essa proposta produz microficções, de
dois a cinco minutos, que carrega no canal do YouTube da produtora Touché Films. Seu site tem mais de 2 milhões de assinantes e seus
vídeos já foram reproduzidos mais de 250 milhões de vezes. Essa
quantidade de seguidores vai daí para os seus perfis em redes sociais
e constitui uma verdadeira aposta de interatividade, mas ainda não
de transmidiação.
Outro elemento inovador em 2012 foi o surgimento das primeiras webnovelas em países como o México e o já citado Equador, que
lançaram duas telenovelas para transmissão exclusiva na internet. Te
presento a Valentín foi a primeira aposta da Televisa para explorar a
expansão de suas telenovelas na internet; em compensação, Resaka,
auspiciada e financiada pela TC Televisão, foi uma proposta experimental do Instituto Superior de Estudos de Televisão, ITV, com sede
em Guayaquil, que posteriormente foi adotada pelo canal equatoriano.
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 65
Te presento a Valentín, produção criada para ser transmitida
apenas na internet e para ser distribuída por meio de dispositivos
móveis em todo o México e em regiões dos Estados Unidos, tentou
estabelecer uma interatividade nova com as audiências mexicanas;
contudo, sua penetração foi fraca, porque, além dos conselhos de
amor que deu no Twitter, jamais promoveu uma verdadeira participação das audiências. O efeito ficou apenas na visualização. O
mesmo ocorreu com Resaka, que não conseguiu ter uma penetração
forte, como ocorreu com Enchufe.tv no próprio Equador.
A Espanha, com El barco, explorou a transmissão de “twittersódios”, que complementavam os enredos da ficção televisiva por
meio dos tweets que os personagens (não os atores) postavam em
tempo real no Twitter, sem dúvida um modelo inovador no âmbito
do Obitel, em que essas conexões são realizadas pela produção, mas
não diretamente a partir do que possa opinar ou sentir algum personagem de ficção.
A Argentina, por exemplo, realmente teve uma interação
direta com seus fãs no Twitter ou no Facebook, mas fez isso não
através de seus personagens, mas por meio de perguntas que os fãs
podiam responder sobre o que aconteceria ou não com algum dos
personagens de Graduados, ficção selecionada. Contudo, pouco se
sabe do que era feito com essa informação que a série gerou com os
mais de 250 mil tweets postados pelos seus seguidores. Talvez nesse
exemplo, e com o que foi relatado pela Espanha, seria necessário
perguntar-se qual é a utilidade desses comentários para a produção.
Poderiam se transformar em matéria-prima para mudar os enredos,
ou as características dos personagens, ou a própria narrativa?
66 | Obitel 2013
Figura 2. Resumo da oferta transmidiática dos
12 títulos selecionados em 2012
•
•
•
•
Perfil Personagens
Fotografias e vídeos
Making-Offs
Visualização de capítulos
•
•
•
•
Teste
Jogos
Making-Offs
Ficha Técnica
•
•
•
•
Concursos
Comentários
Capítulos
Notícias
Web Oficial
• Conta oficial
• Perfil oficial
• Fan Pages
• Página central
• Conta Personagens
• Perfil Personagens
• Chat oficial
• Conta diretor
• Loja oficial
Twitter
Facebook
Youtube
Wikipedia
• Canal oficial
• Ficha técnica
• Vídeos de fãs
• Canal de fãs
• Sinopse
Instagram
• Conta oficial
• Conta de Fãs
Foros e Blog
• Blog Personagens
• Blog Fãs
Fonte: Obitel
Como já foi dito, nos 12 títulos selecionados, o uso do Facebook, Twitter ou YouTube ajuda a potencializar as interações com
as audiências, uma vez que inicialmente lhes são oferecidos mais
canais para ver e ter notícias sobre sua ficção, mas também mostra
o maior interesse dos produtores ou das emissoras pelas estratégias
multiplataforma, como já vinha se manifestando em 2011.
Contudo, foram as próprias audiências e os fãs que geraram a
expansão das narrativas, criando perfis, contas ou hashtags em que
ampliam seus gostos e interações, mas também foram capazes de
criar – fora desses espaços – foros e blogs onde não apenas falam
do que gostariam ou não de ver, mas também procuram um modo
de desviar os controles que os sites oficiais ou o próprio YouTube,
a pedido das emissoras, foram gerando para proteger os direitos de
propriedade intelectual. Os fãs, em resposta, criaram esses outros
sites nos quais eles mesmos gravam as telenovelas com seus celulares e fazem upload para que outros possam desfrutá-las sem
restrições.
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 67
Em termos gerais, ainda são poucos os casos que convidam as
audiências para criar ou ser parte ativa das produções. O Uruguai,
com a série REC, é um caso peculiar, uma vez que no seu perfil
no Facebook a produção convidou qualquer interessado a participar
como extra, publicando o dia, hora e os locais onde a série seria
gravada.
O ceticismo e a indecisão das emissoras, como expõe a Venezuela, são dois dos principais problemas em torno das ofertas de
trasmidiação que podemos ver no âmbito do Obitel. O título selecionado desse país, Flor salvaje, mostra esse impasse, pois naquilo
que foi oferecido em seu site oficial e em seus perfis de redes sociais
ainda se oscilava entre a ideia de ser verdadeiramente interativos (a
produção usou um jogo para medir quanto a audiência sabia sobre a
telenovela), ou usar esses sites na internet para facilitar a visualização e o acesso a materiais exclusivos, como “por trás das câmeras”.
Também é oferecido, como ocorre em Portugal, a “Hora Facebook”, espaço onde os atores/personagens de Dancin’ days conversavam com os usuários sobre sua vida e sobre o que aconteceria
ou não com o personagem que interpretavam. Nesses casos, e como
também aconteceu na Colômbia com Escobar, patrón del mal, o
que está sendo privilegiado é a visualização acompanhada de algumas ações de interatividade, como o já citado videochat. Em relação
à ficção colombiana que representou a vida do narcotraficante Pablo Escobar, não foi aproveitada a oportunidade de conseguir uma
interação maior, dado que ao se tratar de um “fato histórico de alto
impacto”, a produção não valorizou os sentimentos que isso provocou nos fãs, que nos comentários deixados em redes sociais ficaram divididos entre “as atividades realizadas pelo capo da droga
e o personagem retratado na série”. Talvez aí poderia ter sido feita
uma aposta transmidiática, convidando a audiência a gerar finais
alternativos ao estilo fan fiction.
No Peru, com a telenovela Al fondo hay sitio, a oferta transmidiática padece do mesmo mal, dado que o envolvimento das audiências não é completamente aproveitado, seja porque os próprios
68 | Obitel 2013
sites dificultam a interação ou porque a página oficial não facilita a
interação da ficção com as suas redes sociais.
Esse passo, como já anunciávamos, ainda não se completou
porque, conforme é exposto no capítulo dos Estados Unidos, as
emissoras veem os fãs com um interesse exclusivamente mercantil.
Isso evita ou dificulta reconhecer que através de suas práticas midiáticas e recepções múltiplas os fãs são “os melhores embaixadores de
seus conteúdos”, uma vez que eles compartilham ou fazem retweet
dos seus conteúdos de maneira gratuita. Ou seja, os fãs aumentam a
promoção, e isso é saudável, como ocorreu com El talismán, telenovela que conseguiu um bom tráfego na internet devido à promoção
que os fãs (não a produção) fizeram nas redes sociais, gerando um
impacto constante, porque o tempo todo mantiveram o fenômeno de
talking about this.
Essa capacidade de levar e trazer os conteúdos midiáticos por
meio das redes sociais fez, inclusive, com que as ficções ou alguns
personagens transcendessem os limites do ficcional e se assumissem
como líderes de opinião na realidade. No Chile, a telenovela argentina Soltera otra vez, protagonizada pela personagem de Cristina
Moreno, transformou-se em uma referência midiática e do coração,
pois no seu perfil no Facebook e nas colunas que escreveu, como
personagem, em algumas mídias chilenas, ofereceu à população
conselhos para conseguir “o homem ideal”.
Sem dúvida, o ceticismo e a indecisão das emissoras foi o que
impediu que, de modo geral, a recepção transmidiática ao longo de
2012 tomasse novos caminhos, embora em casos particulares existam esforços de grandes e pequenas emissoras para fazer que suas
ficções não apenas sejam exibidas na internet, mas que a partir delas
seja gerada uma transmidiação verdadeira, sustentada na interação e
na interatividade com suas audiências.
Interação, a abertura da indústria
Já em 2011 o Obitel relatava como, paulatinamente, as audiências ibero-americanas começavam a ter um compromisso maior
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 69
com suas ficções, o que se materializava em processos de interatividade. Contudo, esse emergente fenômeno tem encontrando alguns
limites nas ofertas e possibilidades reais de interação que são oferecidas pelas emissoras, para além dos limites derivados das próprias
competências que as audiências estão desenvolvendo a partir de
suas interações com as chamadas novas tecnologias.
O passo que antecipávamos, que ia da oferta transmidiática
sustentada em estratégias de marketing e divulgação de conteúdos
para a incorporação verdadeira das práticas dos fãs na internet, é
algo que em 2012 ainda não parece ter sido dado. A interatividade
e a interação são duas fases em construção nos países do âmbito do
Obitel.
Na metodologia que utiliza o Obitel para medir justamente essa
interação, foram propostos critérios comuns para realizar uma classificação mais homogênea entre os 12 países que agora compõem
este anuário. A classificação foi orientada pelo protocolo metodológico do Obitel, e está constituída pelas seguintes categorias:
Interativa: é possível interagir com outros sobre os conteúdos
da ficção, mas não é possível assistir aos capítulos.
Interativa em tempo real: interpela as audiências durante a
transmissão da ficção.
Visualização: é possível assistir aos capítulos, mas não é possível deixar comentários.
Visualização interativa: é possível deixar comentários e interagir com outras pessoas que visitem o site.
Visualização interativa em rede: é possível ver a ficção, deixar comentários e veicular todos os conteúdos do site nas redes sociais dos usuários.
Visualização transmidiática: no site são oferecidos produtos
exclusivos para a visualização na rede e dinâmicas de interação com
a ficção.
Entre os 12 títulos selecionados pelos países do Obitel, obtiveram-se 39 itens em relação aos tipos de interação midiática que
foram oferecidos pelos produtores nos títulos selecionados.
70 | Obitel 2013
Gráfico 1. Tipos de interação proposta pelos
produtores nos títulos selecionados
Interativa
5%
26%
18%
Interativa em tempo real
Visualização
13%
20%
18%
Visualização interativa
Visualização interativa em rede
Visualização transmidiático
Fonte: Obitel
Diferentemente de 2011, destacam-se aqui os níveis de interação propostos pela indústria, os quais estão mais próximos de processos de maior dinamismo entre as ficções e suas audiências. Neste
ano, 26% ficaram concentrados na Visualização transmidiática, o
que supõe que na maioria dos sites dos títulos são oferecidos produtos exclusivos para a visualização na web e dinâmicas de interação
com a ficção, coisa que em países como o México e o Equador foi
ainda mais longe, com o estabelecimento das webnovelas, ou na
Espanha, com a criação de “twittersódios”.
A Visualização Interativa em Rede (20%), a Visualização Interativa em Tempo Real (18%) e a Visualização Interativa (18%)
continuam com essa mudança de visão da produção de ficção. O
aumento em relação ao ano passado responde à aposta de usar as
redes sociais como meio para interpelar – em tempo real – as audiências sobre aquilo que elas olham nas telas, e também porque
elas (segundo os dados observados em todos os países do Obitel)
aumentaram o tempo que dedicam às redes sociais. Nesse ponto,
destaca-se que essa interatividade seja mais incisiva em países como
Espanha, Brasil, Argentina, Estados Unidos e México, onde os
níveis de conectividade são maiores.
Atrás ficaram as propostas interativas e de visualização que há
alguns anos dominaram as estratégias de transmidiação oferecidas
pela produção e pelas emissoras, o que supõe que o processo de transmidiação e transmidialidade entre a televisão e a internet na Ibero-América é um fenômeno lento, mas que tem avançado ano após ano.
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 71
A interatividade, o que conseguiram as audiências e o que permitem os produtores
Os resultados em relação à interação pressupõem uma abertura
dos produtores de ficção quanto à maneira como podem se vincular
com suas audiências, mas também dos modos que elas (fora das
propostas oficiais) estão buscando para vincular-se e apropriar-se de
seus produtos culturais.
Esse passo ou migração, contudo, é um processo cultural que
não se desenvolve da mesma maneira em todos os países do Obitel.
Para fazer uma aproximação de como ocorre o processo de interatividade no protocolo metodológico, foram estabelecidas as seguintes
categorias para analisar a interatividade:
Interatividade passiva: quando o usuário consome os conteúdos sem dar feedback. A interação é apenas reativa quanto ao
conteúdo.
Interatividade ativa: o usuário responde a um estímulo dado
apenas dentro das próprias condições oferecidas pelo emissor, por
exemplo, a participação em alguma pesquisa. A interação é propositiva ou crítica quanto ao conteúdo.
Interatividade criativa: o usuário transforma-se em produtor
de conteúdos, criando algo novo a partir daquilo que lhe foi dado.
Estimulado pelo produtor original dos conteúdos a emitir alguma
resposta, o usuário produz, transpondo sua condição de receptor e
atingindo o nível de produtor (Lopes et al., 2009).
Gráfico 2. Níveis de interatividade proposta
pelos produtores nos títulos selecionados
8%
14%
Interatividade Passiva
Interatividade Criativa
78%
Fonte: Obitel
Interatividade Ativa
72 | Obitel 2013
Aqui se destaca o aumento que teve, este ano, a Interatividade
Ativa. Considerando que agora a análise foi feita apenas com 12 títulos e não com todos os listados nos top ten, 78% da interatividade
entre ficções e fãs em 2012 foi ativa, o que implicou a resposta das
audiências aos múltiplos estímulos que este ano ofereceram os produtores. Por exemplo, sondagens, pesquisas, jogos, dinâmicas para
obter prêmios, chats e videochats, além de participar comentando ou
“curtindo” os capítulos.
Contudo, esse é um nível ainda emergente de interatividade a
nível geral, que talvez seja mais intenso ou generalizado em alguns
países. Dado que a passagem para a “criatividade” (8%), instância
em que as audiências se transformam em produtoras de conteúdo,
criando algo novo a partir daquilo que lhes foi dado, é algo praticamente inexistente nos países do Obitel, onde – inclusive – a Interatividade Passiva (14%), de mera reação àquilo que se vê, ainda é
superior. Isso nos permite ver que embora os produtores ofereçam
novos caminhos, a participação e criação de conteúdo (em geral)
não é uma prática midiática desenvolvida entre as audiências/usuários nos 12 países participantes.
Embora seja necessário mencionar a Interatividade Ativa, dominante nas ficções selecionadas, é preciso especificar do que cada
ficção em particular, nos seus sites oficiais ou perfis em redes sociais, permite que suas audiências participem, uma vez que nem
todas as produções estiveram plenamente abertas a participarem diretamente com as audiências. Em cada país do Obitel esses matizes
são percebidos vendo, por um lado, a oferta dos produtores e, por
outro, analisando as práticas dominantes das audiências, que, por
sinal, são ativas, comentando e realizando trocas sobre aquilo que
veem, mas produzindo muito pouco conteúdo próprio e inédito. A
figura a seguir detalha os níveis de interação e interatividade, assim
como as práticas que dominaram entre as audiências em relação a
cada título.
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 73
Figura 3. Os 12 títulos selecionados, oferta transmidiática,
tipos de interação, níveis de interatividade e
práticas dominantes dos usuários
País
Título
Oferta
transmidiádica
Site oficial
Facebook
Argentina
Graduados
Twitter
Brasil
Avenida
Brasil
Site oficial
Página de
Facebook
BrasilNovela
Twitter
oficial
Blog Oioioi
Tipos de
interação
transmidiática
Visualização
transmidiática
Interativa em
tempo real
Níveis de Práticas
interativi- dominantes dos
dade
usuários
Comentário
Interpretação
Remix
Paródia
Recomendação
Imitação
Ativa
Celebração
Crítica
Interativa em
tempo real
Coleção
Armazenamento
Compartilhar
Discussão
Interpretação
Visualização
Compartilhar
Ativa
Ludicidade
interativa em rede
Recomendação
Interpretação
Comentário
Compartilhar
Recomendação
Discussão
Visualização
Criativa Celebração
transmidiática
Ludicidade
Coleção
Crítica
Paródia
Remix
Interpretação
Comentário
Compartilhar
Recomendação
Discussão
Visualização
Criativa Celebração
transmidiática
Ludicidade
Coleção
Crítica
Paródia
Remix
Interpretação
Visualização inComentário
terativa em tempo
Ativa
Compartilhar
real
Discussão
Visualização
Consumo
Ativa
interativa
Recomendação
74 | Obitel 2013
Loja
Mídia Out
of Home
Site oficial
Chile
Colômbia
Soltera
otra vez
Página de
Facebook
Twitter
Canal de
YouTube
Página de
Facebook
Página
oficial
Escobar, el
Página de
patrón del
Twitter
mal
Página de
YouTube
Equador Enchufe.tv
Visualização
Visualização
transmidiática
Visualização interativa em rede
Interativa em
tempo real
Visualização
interativa
Visualização
interativa
Visualização interativa em rede
Visualização
interativa
Comentário
Recomendação
Celebração
Crítica
Armazenamento
Compartilhar
Discussão
Ativa
Ativa
Ativa
Ativa
Ativa
Ativa
Visualização
Passiva
Canal en
YouTube
Visualização interativa em rede
Página de
YouTube
Criativa
Ativa
Visualização
transmidiática
Interativa em
tempo real
Facebook
Espanha El barco
oficial
Twitter
oficial
Página
oficial
Página de
Facebook
Página de
Estados
El talismán Twitter
Unidos
Interpretação
Interativa em
tempo real
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Fonte: Obitel
Em relação às práticas dominantes dos usuários, a atividade que
mais se destacou nas 12 ficções selecionadas foi a de Comentários
seguida de Compartilhar e Discussão. Essas três atividades, facilitadas pela interface dos sites em que foram colocados esses títulos,
expressa que os usuários de fato estão dispostos a interagir com suas
séries e telenovelas, mas a pouca oferta dos produtores ou a falta
76 | Obitel 2013
de capacidades impedem que realizem outras atividades, como o
Remix, a Paródia ou a Imitação. Embora esse tipo de atividade seja
desenvolvido em países como Argentina, Brasil, Equador, Estados Unidos ou México, incluem atividades reativas, mais do que
proativas, uma vez que a maioria dos fãs de ficção que entram nos
sites que as séries ou telenovelas oferecem fazem isso quase que
exclusivamente para assistir a seus capítulos e para, de vez em quando, comentar algo sobre eles, como ocorre, por exemplo, no Chile,
Colômbia, Espanha, Portugal, Peru, Uruguai e Venezuela.
Observando em conjunto o que é oferecido e o que fazem as audiências nos 12 títulos selecionados, fica claro que a recepção transmidiática será uma realidade mais do que emergente, pelo menos no
âmbito do Obitel, não apenas quando os produtores de ficção atribuam um peso específico aos comentários que recebem diariamente de
suas audiências, mas também quando reconheçam sua capacidade
de agência e comecem a explorar novas maneiras de interagir com
suas ficções e, por que não, quando tomem consciência de sua capacidade como criadores de conteúdos e possam, como ocorreu no
Equador, gerar seus próprios canais para produzir ficção.
6. Tema do ano: ficção televisiva e memória social
A escolha da inter-relação ficção televisiva e memória social
como tema do Anuário Obitel 2013 teve como objetivos buscar
revelar novos aspectos da importância da ficção televisiva para os
países do Observatório, bem como lançar luz em como as ficções
televisivas participam na construção de memórias sociais e de identidades culturais dessas nações.
A trajetória dessa inter-relação em cada um dos países revela
em grande medida as práticas sociais, os discursos e os usos que
se produzem em torno da ficção televisiva. Essa tarefa se mostrou
complexa não apenas pela importância social da ficção televisiva
nos países ibero-americanos, mas também pelas diferentes perspectivas abertas pelos estudos sobre a memória social relacionada aos
meios de comunicação.
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 77
O ponto de partida foi tomar a ficção televisiva como lugar de
memória (lieu de mémoire, Nora, 1989) e documento de época e
compreendê-la como narrativa de construção, manutenção e discussão de memória social, ou seja, como recurso comunicativo (Lopes,
2009) de construção de identidade.
A inter-relação memória social e ficção televisiva foi observada nos países Obitel de diversos modos: (1) pelo gênero da ficção
histórica que busca retratar o passado de forma ficcionalizada; (2)
como arquivo histórico em que as ficções se transformam; (3) pelo
interior das tramas onde, por meio do discurso autorreferencial, rememoram a si mesmas; (4) seja ainda por meio de recursos como
remakes e reprises. Essas modalidades de (re)construção de um discurso sobre o passado serviram para revelar aspectos e usos relacionados ao gênero ficcional e, em especial, ao melodrama como
matriz cultural (Martín-Barbero, 2001)
A memória televisiva foi também tomada como parte da memória midiática (media memory) (Neiger et al., 2011). No uso permanente da memória coletiva em formas públicas de rituais e cerimônias, a televisão opera como agente dessa memória ao recuperar,
por meio de narrativas, a lembrança dos acontecimentos. Isso leva a
buscar compreender como a ficção televisiva e, em especial, a telenovela, considerada como uma narrativa da nação (Lopes, 2004),
produzem sentidos e sentimentos de pertencimento e identidade que
ancoram a memória social.
É nesse diálogo entre passado e presente que o gênero ficcional atua como mediação cultural que permite à memória atuar seletivamente trazendo o passado para o presente, ressignificando-o,
mostrando novas facetas e esquecendo outras. Esse movimento de
atualização do passado é destacado por Ricoeur (2004). Para ele,
enquanto a memória trabalha trazendo o passado ao presente, a história faz o movimento inverso. Mesmo que a história seja uma instância crítica frente ao passado, e a memória apresente a tendência
a interpretá-lo a partir de categorias e pontos de vista do presente,
há uma interdependência entre ambas. A memória é, pois, além de
78 | Obitel 2013
fonte fundamental, a própria matriz da história, fazendo circular
suas interpretações. Nesse sentido, trata-se de uma relação complexa e conflitiva entre duas formas de representação e interpretação
do passado.
A reconstrução do passado, segundo Meyers (2007), apresenta
três aspectos principais: (1) o processo de selecionar alguns eventos
e não outros, que são omitidos, (2) a questão da autoridade de quem
apresenta a narrativa e (3) a consideração do julgamento moral implícito para a recuperação da memória a institucionalização do processo do que vai entrar ou não para a memória social. Referindo-se
mais diretamente à televisão, Edgerton (2001) argumenta que é um
meio pelo qual as pessoas podem aprender história. Dessa forma,
podemos considerar a “televisão como historiador”.
A televisão é um poderoso instrumento de narrar o passado e
influenciar o modo de pensar do público, principalmente por meio
da telenovela, que é considerada um fenômeno cultural na América
Latina. A telenovela, como gênero popular, cria um espaço público
para compartilhar experiências e discussões da nação (Lopes, 2009).
Segundo Porto (2011), as representações nas telenovelas tendem a
traçar um paralelo entre as realidades políticas e sociais. Dessa forma, os temas adquirem importância e passam a influenciar os telespectadores, pois, como observa Lopez (1995), viver a nação através
da novela é uma possibilidade concreta.
As análises das ficções televisivas feitas pelos países neste
anuário mostram as narrativas das telenovelas como agentes da reconstituição do passado que constrói memórias coletivas. Segundo
Jelin (2002, p. 22), “o coletivo de memórias é o entrelaçamento de
tradições e memórias individuais, em diálogo com os outros, em um
estado de fluxo constante”. Sturken (1997) aponta que, diferentemente das imagens fotográficas ou cinematográficas, as memórias
não permanecem estáticas com o tempo – elas são reformuladas e
reconfiguradas, desaparecem ou são reescritas.
Falamos, então, de memória televisiva como parte da memória
midiática (media memory) e da televisão como historiador. Segundo
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 79
Edgerton (2001), a televisão atua como historiador e deve ser vista
como meio pelo qual grandes audiências podem conhecer histórias
e figuras do passado e por elas ser cativadas. As lembranças fazem
parte de um arquivo ao mesmo tempo pessoal e coletivo, e, como
tal, são retratadas e reproduzidas pela mídia a fim de eternizá-las.
Assim, os meios geram novos modos de modelagem da memória
e formam parte inevitável da vida cotidiana. Mesclam-se, aqui, os
“lugares da memória” (Nora, 1989), a “memória coletiva” (Halbwachs, 2006) trabalhada pelas instituições, e a memória individual do
recordador/narrador (Benjamin, 1986).
A seguir, procuramos mostrar, com base no princípio da interculturalidade, que rege o Obitel, alguns caminhos trilhados pelos
países do Observatório, e cabe ressaltar que o detalhamento de cada
uma das análises aqui resumidas encontra-se no capítulo de cada um
dos países.
Ficções televisivas e temas da memória
O grande destaque do tema do ano do Anuário Obitel 2012 esteve na própria ficção televisiva histórica como forma de arquivo
da nacionalidade e/ou questionamento da história oficial, como fizeram Chile, Colômbia, Equador, Portugal, México e Uruguai.
No entanto, em muitos países, a construção da memória social e
do conhecimento compartilhado do passado permanece através da
visão hegemônica da história. As ficções que seguem essa tendência
foram destacadas por Espanha, Peru e Portugal. A construção de
uma memória histórica, que exalta acontecimentos, reconstrói personagens e localiza referências para explicar fenômenos atuais é a
forma com que as ficções de Chile, Peru, México e Venezuela buscam para alcançar um verdadeiro retrato da memória social recente.
Trata-se de formas de narrar, compreender, construir e reconstruir
a identidade nacional, seja pela evocação de fatos históricos cirscunscritos a um determinado período histórico, seja pela evocação
e contraposição de fatos de um passado longínquo com os de um
passado mais recente. Essas formas estão relacionadas diretamente
80 | Obitel 2013
à produção de sentidos de nostagia de uma época considerada, muitas vezes, mais organizada e feliz.
A Argentina aborda a construção da memória social por meio
da televisão, destacando a capacidade da ficção de elucidar eventos
do passado, discutindo as memórias produzidas pelas ficções televisivas e sua participação na construção desse passado. Entra ainda
no debate a distinção entre a memória gerada pelos meios de comunicação e aquelas memórias que dependem de um discurso estético,
político ou histórico e que vão além da mídia propriamente dita. Nas
memórias geradas pelas televisões argentinas são apresentadas três
vertentes. A primeira delas refere-se à reiteração dos moldes genéricos de cultura popular em que se recuperam personagens e situações
de esquetes teatrais com atmosfera mítica, sem preocupação com a
temporalidade, caso da série Yosoyportenõ (1962 a 1966 e 1976 a
1982). A segunda é composta pelos casos memoráveis da mídia em
que os noticiários policiais ou de suspense oferecem o pano de fundo para o enredo das ficções. É o caso da telenovela Vidas robadas
(Telefé, 2008), que trata do tráfico e desaparecimento de pessoas. E
a terceira vertente são os casos da mídia lembrando-se dela mesma,
com a utilização de dados biográficos de pessoas conhecidas que
ganham centralidade no tema da ficção. É o caso da telenovela La
dueña (Telefé, 2012), em que a vida privada da atriz Mirtha Legrand
apresenta alguns pontos em comum com a vida da personagem que
representa; assim, a realidade e a ficção se imbricam.
Já a reconstrução do período político mais recente da Argentina está ligada, em geral, às iniciativas governamentais. A maneira
como os eventos históricos são demonstrados nas ficções permite
explicitar diferentes formas pelas quais Estado e sociedade constroem a identidade coletiva. As reconstruções históricas ligadas ao
período traumático da ditadura mostram o desaparecimento forçado
de pessoas comuns, como em Televisión por la identidad (Telefé,
2007). Nessa reconstrução, surgem dois pontos de vista: o dos defensores da ditadura e o de suas vítimas, caso da minissérie Volver
a nacer (Televisión Pública, 2012). Essa questão adquire importân-
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 81
cia não somente pelo impacto do ponto de vista social, mas também porque está diretamente relacionada à perda e à recuperação
da identidade nacional. Dessa forma, o passado não mais pode ser
pensado como um mundo fechado.
O Brasil tomou como data inicial para o recorte temporal de
sua análise as ficções exibidas de 2006, início das atividades do
Obitel, a 2012. Em termos metodológicos, ao analisar a relação entre ficção televisiva e memória, esse país destaca a capacidade e
autoridade da televisão de operar como agente da memória coletiva
considerando três aspectos. Dois deles são relacionados ao próprio
meio como sistema de produção: a TV relembra a ficção em reprises
e remakes; a TV relembra o passado em narrativas históricas e de
época; e o terceiro relacionado à produção de sentidos de memória
que se ancora na reapropriação de telenovelas por uma escola de
samba no desfile de carnaval no Rio de Janeiro.
As reprises, remakes, minisséries e telenovelas funcionam
como dispositivos de memória da ficção televisiva. Desde 1980, a
Globo exibe o programa Vale a pena ver de novo, que reprisa as
telenovelas da emissora. Em 2010, a Globo lançou, na TV paga, o
Canal Viva, cuja programação é constituída por reprises de ficções
e de shows antigos, considerados clássicos da TV e que vem alcançando sucesso, figurando entre os canais mais vistos. Essa audiência traduz muito dos processos de lembrança, memória e história
na vida dos telespectadores. Outros canais, como SBT e Record,
também reprisam telenovelas e minisséries em sua programação.
Os remakes possibilitam aos telesppectadores a produção de novos
sentidos para as histórias já vistas e que estão sendo recontadas.
Também funcionam como resgate da “memória midiática” constituída de sensações já vivenciadas por pessoas que conhecem a história
original e a comparam com o remake, que debatem nas redes sociais
com pessoas que não viram o original e veem o remake como se o
fosse. Trata-se não apenas da recuperação de emoções, sensações da
primeira exibição, mas também da construção de novos significados que se processa pela constante inter-relação presente e passado.
82 | Obitel 2013
Em 2012, a Globo produziu remakes de duas telenovelas: Gabriela,
grande sucesso de 1975, e Guerra dos Sexos, de 1984.
Também ganham destaque as narrativas que rememoram aspectos históricos da sociedade brasileira, mostrando que a relação
da mídia com a história é construída a partir do papel central que a
televisão desempenha nos dias atuais. Percebemos a memória dos
fatos da história em minisséries que abordaram temas históricos,
sociais e políticos do país. Por exemplo, o regime militar, com JK
(Globo, 2006) e Amor e revolução (SBT, 2011), a época histórica
bíblica, com A história de Ester, Rei Davi e Sansão e Dalila (Record, 2011), e as biografias de época, com Maysa – Quando fala o
coração (Globo, 2009) e Dalva e Herivelto (Globo 2010). As telenovelas também oferecem temáticas históricas, sejam elas fictícias ou reais, como, por exemplo, Cordel encantado (Globo, 2011),
ambientada no início do século XX numa cidade fictícia, e Lado a
lado (Globo 2012), com uma reconstituição detalhada da cidade do
Rio de Janeiro do início do século XX. Dessa forma, a memória do
passado é trazida para a percepção do presente por meio do registro
da ficção televisiva.
O Brasil notou ainda que a recuperação do passado da telenovela ultrapassou as mídias convencionais (outras telas, revistas,
livros etc.) e foi tema do carnaval de 2013, no Rio de Janeiro. O
Grêmio Recreativo Escola de Samba São Clemente desfilou no
Sambódromo a sua versão da história da telenovela no Brasil. Em
termos simbólicos, houve a conjunção de duas das principais matrizes da cultura brasileira, o carnaval e a telenovela. Desfilaram
temas, cenas, personagens e histórias que marcaram a memória dos
telespectadores em 54 telenovelas, todas da Globo, escolhidas por
meio de enquetes realizadas na internet pela própria escola. Foram
recontadas, a partir da estética do carnaval, histórias de cinco décadas (1960-2012), com ênfase nos anos 1970 e 1980, através de
samba-enredo, música, dança, coreografia e alegorias. Pode-se dizer
que dois media events – a telenovela e o carnaval – juntos narraram uma “história popular da televisão”, ativando mecanismos de
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 83
lembrança e de reconhecimento em milhões de telespectadores que
assistiram ao desfile.
O Chile destacou as produções de ficção históricas do país especialmente através de telefilmes e documentários. Os temas explorados foram: a biografia de personalidades chilenas dos primeiros
cem anos da nação; o cotidiano e a vida militar e política desses
sujeitos; a Guerra do Pacífico; e a história do Chile desde o descobrimento. O país classifica em três tipos sua produção ficcional relacionada à memória nos últimos cinco anos: (1) as ficções históricas
que relatam os fatos do passado distante do país; (2) as ficções de
época que narram o passado ditatorial; e (3) as ficções que retratam
a memória social mais recente.
O passado mais distante do Chile é retratado por meio dos
acontecimentos marcantes para a nação, do ponto de vista da história monumental (representação de fatos históricos fundadores da
nação), recuperando episódios de crises e conflitos. Entram nessa
categoria as ficções Heroes, Epopeya, Paz e Algo habrán hecho.
A memória recente do período ditatorial é apresentada por ficções
de época, sem a existência de personagens ou fatos reais, como em
Los 80 e Los archivos del cardenal. Ambas as séries abordam a
violação dos direitos humanos, defendendo a importância do testemunho como denúncia dessa época. Por fim, a memória contemporânea é representada pela ficção El reemplazante, exibida em 2012.
Ambientada em uma escola de bairro popular, a série sugere novos
modos de se relacionar com o passado a partir de uma memória, que
ainda não é história, envolvendo o movimento estudantil. Todas as
ficções citadas foram financiadas pelo Consejo Nacional de Televisión.
Também a Colômbia enfatiza o fato de que a televisão, ao
longo dos anos, retratou períodos de descobrimento, conquista e
independência, com realismo estético e mescla de ficção e realidade. Essas ficções convidavam os telespectadores a questionar suas
crenças sobre a história do país. O país ressalta ainda a relação entre
memória social e história a partir de um breve histórico de como o
84 | Obitel 2013
passado foi recriado pela televisão e quais foram suas razões ideológicas e políticas.
Na Colômbia, as ficções históricas mostravam a história a partir de processos e confrontos sociais, da igreja, do governo ou do
povo. No entanto, algumas retratavam os fatos históricos de forma
diversa daquela contada nos livros de história, como La independencia; La vida y obra de Bolívar; Los pecados de Inés de Hinojosa
e La Pola. Ressalta, ainda, uma controvérsia referente à maneira
com que o realizador dos programas interpreta os fatos históricos,
uma vez que este pode privilegiar visões sobre os acontecimentos de
acordo com o ponto de vista dos patrocinadores. Debate-se, então, o
compromisso social e político que a televisão deve ter por meio do
debate sobre a democracia, a inclusão social e a diversidade cultural.
São citados exemplos como as ficções La saga, Negocio de familia,
La historia de Tita, Amar y temer.
Na década de 1990 a telenovela na Colômbia adquire notável
relevância pela representação regional e nacional, ampliando sua influência a nível mundial e promovendo a imagem do país. Com isso,
a telenovela intensificou o debate sobre o significado do nacional e
o papel da cultura conforme o passado e o presente históricos. Um
grande desafio para a produção de ficção televisiva está no tratamento do conflito político e social, que marca e determina o desenvolvimento histórico e atual de cada país. A ficção torna-se símbolo
de construção da realidade, de representações compartilhadas e de
desenvolvimento da memória social.
Os Estados Unidos destacam a realidade do México, transformada pelo narcotráfico em desesperança e ansiedade para os cidadãos
mexicanos. Enfatiza como o desânimo social se instaurou pela situação de violência e brutalidade que a presença do tráfico de drogas
trouxe ao país, influenciando a cultura e modificando valores e tradições dos velhos tempos por um novo tipo de crime organizado, em
que o dinheiro substituiu os valores antigos. Esse ponto de vista é utilizado para discutir as temáticas das telenovelas que mostram a vida
dos traficantes num subgênero denominado “narconovelas”, que vem
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 85
obtendo grande sucesso na televisão hispânica, como foi o caso da ficção La reina del sur, exibida durante o ano anterior pela Telemundo.
Os Estados Unidos também lembram a relação intrínseca entre
telenovela e realidade social, uma vez que a ficção se torna reflexo
dramatizado da realidade social e esta última influencia as temáticas das tramas que são veiculadas na televisão hispânica. Nesse
contexto, discute-se como a reconstrução do passado da cultura
popular é influenciada pelos valores apresentados nas ficções, e a
televisão como o mais popular e poderoso instrumento de narrar o
passado cria um espaço público em que a experiência de uma nação
é tomada pela temática do narcotráfico, impondo um novo sistema
que descaracteriza o melodrama tradicional e abre caminho para a
representação da realidade crua da América Latina e dos Estados
Unidos. É feita a crítica às temáticas apresentadas pela Telemundo,
principalmente considerando o grande sucesso de La reina del sur
e o contínuo emprego da temática em produções futuras, que, por
considerar somente o imenso sucesso do tema do narcotráfico, recobre de glamour a vida dos traficantes de drogas e, de certa maneira,
inocenta essas atividades ilegais. Em sua defesa, a emissora afirma
que apenas oferece aos telespectadores o que eles querem.
A Espanha assistiu nos últimos anos a um aumento de produções de época, numa clara recuperação da memória histórica. Em
2012, a crise econômica afetou o ritmo de produção, especialmente
nas emissoras públicas. Porém, a própria crise introduziu inovações
importantes no sentido de construir e reconstruir imagens da história cultural e seus períodos emblemáticos, tais como a Alta Idade
Média e o reinado dos reis católicos. Suas quatro ficções classificadas como históricas (Toledo, Isabel, Concepción Arenal e La conspiracion) mesclam “passado” e “passatempo” (Silverstone, 1999, p.
132), ou seja, levantam a questão de Buonanno (2012, p. 200), que,
seguindo Ricoeur, afirma ser preciso pensar na própria distinção entre o passado e a história.
Em termos de produção de ficção de época, a Espanha inaugurou com Cuéntame cómo pasó (2001) o “grau zero” de uma reflexão
86 | Obitel 2013
que divide as obras ambientadas no passado a um ‘antes’ e um ‘depois’ da transição democrática. A ficção do país transita por períodos e fases históricas que, retratadas, transformam-se em ferramentas de compreensão, construção e reconstrução de sua identidade.
Assim, vê-se a conquista romana em Hispania, la leyenda (2010)
e em Imperium (2012), enquanto Toledo (2012) e Isabel (2012)
abordam a construção do Reino de Espanha misturando realidade
e ficção. A Espanha barroca é retratada em Águila roja, série em
exibição há quatro anos, ambientada no século XVII. Os anos 1920
são retratados em La memoria del agua e, principalmente, em Gran
hotel, uma recriação visual cuidadosa da aristocracia espanhola da
época. A notavelmente custosa e longeva Cuéntame cómo pasó é
ambientada no período de transição do final dos anos 1970 e já está
na 13ª temporada, refletindo uma política iluminista.
A memória social na ficção espanhola teve como notável exemplo Amar en tiempos revueltos, exibida de 2005 a 2012 e que, em
2013, retornará em nova fase com o título Amar es para siempre.
Produção de época, esse é um exemplo do caráter didático a que
pode chegar a ficção, abordando questões sociais ocorridas entre
1936 e 1956, com grande número de imagens de arquivo. Amar en
tiempos revueltos também gerou spin-offs em forma de telefilmes e
três novelas, além de ser vendido para diversos países da América
Latina e Estados Unidos.
O Equador ressalta a relação entre memória e audiovisual por
duas vias: a ficção fornece elementos para recordar e serve como
fonte de arquivos de memória. Apesar de ser escassa a produção
de ficção televisiva que trata de elementos e histórias do passado,
o país destaca três momentos da ficção relacionados à memória
social. O primeiro refere-se às primeiras experiências, nas décadas de 1960 a 1980, com as séries Narcisa de Jesús (1961) e El
Cristo de nuestras angustias (1967) e a telenovela La casa de los
Lirios (1974). Essas ficções trabalharam a memória de maneira
mais conservadora, com intuito de recuperar tradições equatorianas
e costumes religiosos. O segundo momento ocorre na década de
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 87
1990, com encontros entre literatura e ficção televisiva. A época
foi o auge das ficções relacionadas a elementos de memória social,
buscando recuperar a memória a partir de obras literárias de autores do país. Sete títulos expressam essa função, todos da Ecuavisa:
Cumandá; Los sangurimas; A la Costa; El Chulla Romero y Flores;
7 lunas, 7 serpientes; El cojo Navarrete e Polvo y ceniza. O terceiro
e último momento marcante nas ficções é o século XXI, que pode
ser chamado de momento da não memória, pois há pouca ficção
que recupere a memória social. Dois títulos podem ser mencionados: Sé que vienen a matarme (2007) e Olmedo, el castigo de la
grandeza (2009).
O Equador destaca a importância da televisão pública como
oportunidade para a memória social, já que não sofre as mesmas
pressões de mercado que a televisão privada. O canal público se
concentra em programas jornalísticos e documentários, mas em
2012 foram convocados produtores nacionais para promover a ficção, talvez se configurando a chance de realização de ficção com
foco na memória social.
No caso do Peru, as ficções sobre o passado são resultado de
adaptações de obras literárias com elementos populares. Entre as
ficções destacadas até a década de 1980 estão: Tradiciones peruanas (1959), teleteatro que apresenta um conjunto de tradições que
repassam o passado histórico desde a colônia até a jovem república,
considerada peça central na construção da nacionalidade; Matalaché
(1964), sobre um amor inter-racial na época da escravidão; Nuestros héroes de la guerra del Pacífico (1979), no centenário da guerra
contra o Chile e do governo militar no Peru. Os anos 1980 retratam
uma tensão na ficção entre olhar um passado recente e interpretar um
passado remoto. Essa tensão entre os dois passados se encontra nas
ficções Gamboa (1983), que conta casos reais dos arquivos da polícia investigativa do Peru; Bajo tu piel (1986) e Malahierba (1987),
com temáticas sociais como negligência médica e narcotráfico.
No entanto, são as minisséries que se constituem como o melhor vínculo entre ficção televisiva e memória no Peru, especial-
88 | Obitel 2013
mente no final da década de 1980 e início de 1990. As minisséries da
época imaginam um passado com personagens históricos e relatos
e experiências emblemáticas, como guerra entre índios e espanhóis,
conflitos de classe e narrativas com base em personagens reais da
história do país. Em 1994, um marco para a identidade do país na
ficção foi a telenovela Los de arriba y los de abajo, que mostrou
o Peru como um país culturalmente diversificado, ao contrário do
país retratado hegemonicamente em ficções anteriores.
Portugal destacou as produções que relembram momentos importantes da história político-social do país. Temas como a queda
da monarquia, a primeira república, a vida familiar e social do Estado Novo foram ficcionalizados. A produção portuguesa considerada histórica, com tramas desenvolvidas em um tempo passado e/
ou sobre temas e personalidades reais, totaliza 35 títulos, dos quais
40% situam-se em um passado recente (entre 1930 e 1970), 26% são
adaptações de obras de autores canônicos do século XIX e 20% se
passam nas duas primeiras décadas do século XX (Primeira República e consequente instabilidade governamental). Em 2012, foram
identificados dois títulos considerados históricos – Perdidamente
Florbela e Barcelona, cidade neutral (RTP1) – e um de época –
Anjo meu (TVI). Comparando os canais, percebe-se que o canal público faz uma aposta continuada nesse tipo de conteúdo (27 títulos),
enquanto os canais privados fazem-no de forma irregular.
Em uma constante negociação entre passado e presente, a ficção
televisiva do México reconstrói o passado a partir de dois eixos narrativos: a vida rural e os anos dourados do cinema mexicano. As emissoras, em parte com o apoio dos governos locais, enfatizaram o cenário rural onde se passaram dramas familiares típicos da construção da
identidade nacional do país dos anos 1940. A ficção mostra claramente a transição entre o rural – fonte inesgotável de cenários, temáticas e
histórias típicas, como em Amor bravío e Abismo de pasión, da Televisa, e Los Rey e La mujer de Judas, da TV Azteca – e o urbano atual,
com temas relacionados ao narcotráfico, aborto e homossexualidade,
enfatizando o drama da identidade nacional. Com grande visibilida-
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 89
de para as músicas rancheiras e nos figurinos, a ficção trouxe para o
presente um ambiente de época para ressignificar as vivências atuais
do país. O resgate do patrimônio rural, do rancheiro, foi quase onipresente nas telenovelas de 2012. A visualidade e sonoridade constantes
mostram o regresso desse elemento, como a vestimenta rancheira e a
música de mariachi. Ambos os elementos foram centrais no cinema
mexicano por todo o século XX, sendo constantemente ressignificados pela indústria cultural (em especial a televisiva).
Poderíamos dizer que as telenovelas habitam uma espécie de
“outros tempos”, relacionados ao México pré-revolucionário. Toussaint (2013) distingue um passado em que a riqueza estava firmemente ancorada às terras de cultivo, e estende esse movimento da
telenovela até 2013, com exemplos como Corazón indomable, Amores verdaderos e La mujer del vendaval, todas da Televisa.
O Uruguai aborda o tema do ano discutindo a memória social
e a ficção televisiva com base na relação entre ficção e realidade,
incorporando a complexa relação entre memória e história. São selecionadas algumas ficções televisivas importadas de cunho histórico,
como Pablo Escobar, el patrón del mal, Cuéntame, Graduados e
Contámela em colores. Tais ficções são discutidas considerando o
pressuposto aristotélico do limiar entre verdade e plausibilidade na
formação da memória social, e assim aceitando que o elemento relevante na ficção é a verossimilhança, ou seja, ela não é a verdade,
mas a sua aparência. Dessa forma, a ficção, por meio da plausibilidade, permite ao telespectador vivenciar outras subjetividades
através dos personagens, e assim aumentar seu repertório simbólico
e moldar as memórias coletivas. É nesse sentido que a ficção televisiva pode ser considerada como parte integrante do processo de
construção das memórias coletivas da sociedade.
A memória social, ou narração do passado, apresenta uma dupla vertente quando se observa a ficção televisiva da Venezuela.
Por um lado, há a memória recente, vinculada à situação sociopolítica do país, representada pelas telenovelas Barrio Sur e Teresa
em tres estaciones; por outro, a memória histórica com o papel de
90 | Obitel 2013
enaltecer e exaltar acontecimentos e personagens do passado com o
fim de compreender os fenômenos atuais. Esses conteúdos se originaram na chamada telenovela cultural, e são exemplos: Por estas
calles (1992), Amores de fin de siglo (1995), Ciudad bendita (2006)
e Amores de barrio adentro (2004). Outros conteúdos relacionados à memória social são os baseados em acontecimentos políticos, como Estefanía (1979), Gómez I (1980), Gómez II (1981) e La
dueña (1984), e/ou os baseados em épocas históricas importantes,
como Pobre negro (1976), Sangre azul (1979) e Guerreras y centauros (2012-2013). Também é possível observar uma espécie de
memória cultural que surge em conteúdos ficcionais relacionados a
épocas importantes da história do país e que lida com temas como
heroísmo, questões étnicas e movimentos pela independência. No
ano de 2012, a ficção televisiva venezuelana lançou um olhar romântico para o passado com narrativas grandiloquentes de batalhas
e lutas pelo poder.
Ao modo de conclusão
Dentro do novo cenário cultural e comunicativo contemporâneo, o tema do ano do Anuário Obitel proporcionou a constatação
de que vivemos um “boom” de memória, uma volta ao passado em
parte marcada pelo fenômeno do arquivamento. A ficção é criadora
de um repertório compartilhado e por isso foi entendida pelos 12
países como um lugar onde a memória pode ser exercitada, como
um lugar onde representações e imaginários sobre o modo de vida
de uma época são depositados, podendo depois ser reapropriados.
Ela é, portanto, ao mesmo tempo, memória, arquivo e identidade,
um locus complexo de construção e reconstrução identitárias, lugar
onde assoma a capacidade da narrativa ficcional televisiva de conectar dimensões temporais de presente, passado e futuro, de (re)
criar a memória coletiva dentro da nação.
Síntese comparativa dos países Obitel em 2012 | 91
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TOUSSAINT, Florence. Amores rancheros. Proceso, n. 189, 02/03/2013.
Segunda Parte
A Ficção nos Países Obitel em 2012
1
Argentina: crescimento da produção
nacional e seus estilos
Autores:
Gustavo Aprea, Mónica Kirchheimer
Equipe:
María Belzunces, María Victoria Bourdieu, Victoria De Michele,
Noelia Morales, Laura Oszust, Ezequiel Rivero
1. Contexto audiovisual da Argentina. Panorama do contexto audiovisual em relação à ficção da televisão
1.1. A televisão aberta na Argentina
O sistema de televisão aberta na Argentina está formado, desde
1990, por cerca de cinco emissoras de alcance nacional, quatro delas de administração privada e uma pública. Desde 2010 está sendo
desenvolvida a Televisão Digital Terrestre (TDT), que, ao final de
2012, cobria 80,6% do país, com 16 emissoras (cinco públicas e 11
privadas).
Gráfico 1. Emissoras de televisão aberta no país
Emissoras privadas (4)
Emissoras públicas (1)
América 2
Canal 9
Telefé
El Trece
Televisão Pública
TOTAL de Emissoras = 5
Fonte: Obitel Argentina
96 | Obitel 2013
Três das emissoras têm uma cobertura nacional que ocorre através de seus respectivos sistemas de distribuição: Televisão Pública,
Telefé e El Trece. O sinal estatal é o que chega à maior parte do
território nacional (99,5%), embora seus níveis de audiência nos
grandes centros urbanos não sejam comparáveis com os das emissoras comerciais. A emissora El Trece e a Telefé cobrem todas as
províncias também em associação com as principais emissoras locais. A Televisão Pública, Telefé, Canal 9 e América 2 emitem sua
programação a todo o país através da Televisão Digital Aberta, que
é o sistema de televisão digital terrestre criado e mantido pelo Estado nacional. Nenhuma das emissoras que estão situadas fora da
cidade de Buenos Aires consegue fazer com que sua programação
transcenda o âmbito local.
Durante 2012, formou-se o Diretório de Rádio e Televisão Argentina Sociedade do Estado (Rtase), segundo os requerimentos da
Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual, de 2010, com representantes do Poder Executivo nacional (1), do Conselho de Comunicação Audiovisual (2) e das três primeiras minorias parlamentares
(3). Esse organismo administra os meios de comunicação que dependem do Estado.
A América 2 faz parte do grupo América Medios, que pertence
ao empresário Daniel Vila, do grupo Uno. O Canal 9 pertence ao
grupo internacional Albavisión, do mexicano Ángel Gonzalez, que
administra dez canais de televisão na América Central e América
do Sul. A Albavisión, na Argentina, também utiliza a emissora de
rádio La Red, a partir do sinal emitido pela TDT Suri TV, dedicada a
retransmitir programas de países sul-americanos. A Telefé pertence
à empresa Telefônica, da Argentina, subsidiária da empresa espanhola com o mesmo nome. Nesse mesmo país, o grupo desenvolve
atividades de telefonia fixa, móvel e também de internet, e está associado a vários proprietários de canais de televisão no interior do
país. O canal El Trece é utilizado pelo holding Clarín, proprietário
de jornais, canais abertos e redes de televisão a cabo em todo o país,
uma empresa de TV digital, sites e provedores de serviços de inter-
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 97
net, coproprietário de uma agência de notícias e da única fábrica de
papel para jornal, juntamente com uma importante quantidade de
empresas à margem dos meios de comunicação massiva.
Durante o ano de 2012, as emissoras de televisão de alcance nacional mantiveram um posicionamento similar ao do ano anterior e
conferiram um espaço parecido à ficção. A Telefé e o canal El Trece
foram as emissoras que conseguiram os níveis mais altos de audiência e, na esfera de uma proposta com variados tipos de gêneros,
situaram a ficção como sendo uma parte fundamental da sua programação. A Telefé armou sua programação ficcional com base em
coproduções com empresas locais, considerando sua venda internacional, enquanto o canal El Trece centralizou a sua oferta na sua
produtora própria, priorizando o mercado local1. Já o canal América
2 organizou sua oferta entre o entretenimento e a informação, e o
Canal 9 se especializou no campo do entretenimento e da ficção.
Dentro do âmbito ficcional, o Canal 9 trabalhou com produções
ibero-americanas – várias delas reposições – para cobrir os horários
vespertinos e presenças esporádicas de programas locais produzidos
com financiamento estatal no horário nobre. Já a Televisão Pública
outorgou um lugar central às ficções argentinas produzidas com financiamento estatal, compartilhando seu lugar na programação com
a informação política e as transmissões esportivas.
1.2. Tendências da audiência no ano de 2012
Pela primeira vez em muitos anos, a audiência da televisão
aberta não caiu em relação ao ano anterior. Em 2012 a média anual
de audiência para toda a televisão aberta foi de 31,2 pontos de rating
em oposição aos 30,8 de 2011.
1
Enquanto a Telefé Contenidos vendeu no mercado internacional sete dos programas ou
conteúdos produzidos durante 2012, o canal El Trece não exportou nenhum.
98 | Obitel 2013
Gráfico 2. Audiência de TV por canal
13,3%
29,4%
8,3%
14,6%
América 2
TV Pública
Canal 9
Telefé
El Trece
34.4%
Total de audiência (TLE)*
América 2
TV Pública
Canal 9
Telefé
El Trece
%
13,3
8,3
14,6
34,4
29,4
Fonte: Ibope Argentina – Obitel Argentina
Gráfico 3. Share por canal
Total
Telefé
13%
35%
8%
Telefé
20,9
35%
Canal 9
El Trece
17,7
29%
Canal 9
8,8
15%
TV Pública
4,9
8%
8
13%
Canal 2
29%
%
El Trece
TV Pública
15%
Share Individual
Canal 2
Fonte: Ibope Argentina – Obitel Argentina
Pelo segundo ano consecutivo, o canal Telefé foi o mais assistido. Não somente obteve uma média anual de audiência mais alta,
mas também a manteve ao longo de todo o ano e colocou no ar o
programa com a maior média no rating, a comédia de transmissão
diária Graduados.
Gráfico 4. Oferta de gêneros na programação da TV
11,4
35,6
Ficção
Informativo
Entretenimento
31,7
Religioso
Esportivo
2,5
5,7
2
1,3
Cultural
10
Humorístico
Outros
Fonte: Ibope Argentina – Obitel Argentina
Gêneros
transmitidos
Ficção
Informativo
Entretenimento
Religioso
Esportivo
Cultural
Humorístico
Outros
Total
Horas de
exibição
4.451:30
12.375:55
3.917:00
493:30
2.227:20
762:45
962:00
13.903:25
39.093:30
%
11,4
31,7
10,0
1,3
5,7
2,0
2,5
35,6
100
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 99
O tempo de duração dos programas de ficção na televisão que
estrearam durante o ano de 2012 diminuiu em 4% com relação ao
ano de 2011, mesmo tendo aumentado o número de programas. A
tendência de apresentar ciclos breves e o surgimento de programas
de menor duração durante 2011 se acentuou em 2012.
1.3. Investimentos publicitários do ano na TV
Durante 2012, o total de investimentos publicitários na televisão aberta foi de $ 39.212.744.551. Desse total, 75% ficaram concentrados na área metropolitana de Buenos Aires, que compreende
apenas 35% da população2. Segundo os dados da Cámara Argentina
de Agências e Medios Publicitarios, o valor do investimento publicitário em televisão cresceu com relação a 2011, porém no que se
refere a volume físico – quantidade de segundos utilizados na televisão – decresceu 4,6%3. Mesmo assim, confirma-se uma diminuição
maior do investimento em publicidade na televisão aberta – em especial, na do interior – do que na televisão a cabo, internet e cinema.
1.4. Merchandising e merchandising social
Nos programas de ficção, o merchandising se concentrou no
horário nobre, especialmente em Graduados, o sucesso do ano. Durante as emissões, o product placement resultou em uma presença
constante, devido ao fato de que um dos principais patrocinadores
foi uma casa de venda de eletrodomésticos. Os produtos foram promovidos tanto em cenas da história ficcional como em separadores
de sequências que não faziam parte das propagandas, mas que estavam incluídas dentro do segmento da ficção. Também outras formas
de propaganda são somadas a essas, como, por exemplo, o aparecimento de cartazes em vias públicas, veículos e vitrinas que fazem
parte da paisagem urbana. Ao mesmo tempo, a partir do sucesso
Segundo dados do Informe global de inversiones 2012, do Monitor Medios Publicitarios
S.A.
3
Segundo o Informe de la actividad publicitaria argentina del año 2012, disponível em
http://www.agenciasdemedios.com.ar/inversiones-publicitarias/.
2
100 | Obitel 2013
alcançado, Graduados gerou uma série de produtos comerciais que
resgataram consumos típicos da década de 1980, que é a época em
que acontece parte da trama: CD de música, shows de artistas da
época e uma megafesta típica dos anos 1980. Dentro do campo do
merchandising habitual, em 2012 diminuiu a presença dos produtos destinados ao público infantil – revistas, álbuns, CDs –, já que
apenas um programa desse tipo foi estreado nessa faixa de horário.
Em relação ao merchandising social, durante 2012 não foi registrada a presença de problemáticas sociais incluídas dentro de
uma proposta pedagógica ou de difusão como nos anos anteriores.
Entretanto, a inserção intencional de questões sociais nas tramas
de ficção foi um dos critérios determinantes na seleção de projetos apresentados nos sistemas de promoção e fomento patrocinados
pelo Instituto Nacional de Artes Audiovisuales (Incaa). A problemática da violência de gênero é o eixo em torno do qual giram as
tramas de Maltratadas; os problemas de discriminação ocupam um
lugar central em El paraíso, em Los pibes del puente e em La viuda
de Rafael; o bullying e a obesidade são incorporados na trama de
Graduados.
1.5. Políticas de comunicação
A aplicação da Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual
vigente a partir de 2009 ainda não foi plenamente efetuada, sobretudo no que se refere à vigência do artigo que regula a quantidade de
sinais que um permissionário pode dispor em nível local e nacional.
No dia 31 de outubro de 2009, o Grupo Clarín impugnou esse aspecto de lei e conseguiu uma medida cautelar que atrasa sua aplicação
até hoje. No dia 22 de maio de 2012, a Corte Suprema da Justiça
emitiu uma resolução que obriga o juizado correspondente a definir
uma sentença sobre a questão, colocando como data limite o dia 7
de dezembro. Sobre essa base, a Administração Federal de Serviços
de Comunicação Audiovisual solicitou aos 20 grupos empresários
que não cumprem com o regulamento da legislação que apresentem
um plano de adequação às condições exigidas pela lei. Dezenove
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 101
grupos responderam ao pedido, e somente o grupo Clarín impugnou
a medida, retardando uma vez mais sua aplicação plena.
Outros aspectos das políticas públicas tiveram um nível maior
de aplicação. O Incaa continuou com o desenvolvimento do Banco
Audiovisual de Contenidos Universales Argentino (Bacua) devido
ao fato de que as novas produtoras de diferentes lugares do país
conseguiram financiamento para produzir programas na Televisão
Digital Argentina (TDA). Muitos deles foram transmitidos no horário nobre pela Televisão Pública. Dessa forma, pela primeira vez
foram vistos programas de produtoras do interior do país em nível
nacional. Além disso, a convocação a produtoras independentes foi
repetida para o concurso de minisséries e unitários para serem exibidos pelas emissoras privadas.
1.6. TV pública
No campo das políticas públicas definidas pela Lei de Serviços
de Comunicação Audiovisual, o sistema de televisão estatal adquire
um papel ativo que deve cobrir 33% do setor audiovisual disponível
através de sinais nacionais, estaduais, municipais ou universitários.
Desde 2008, as emissoras dependentes do Estado nacional e as estaduais estão reunidas no Conselho Federal de Televisão Pública,
que conta com a presença de 12 emissoras locais e uma de alcance
nacional. De forma autônoma, desde 2006, a Rede Nacional Audiovisual Universitária se formou reunindo centros de produção das
universidades nacionais que participam de diversas maneiras no desenvolvimento de projetos audiovisuais. Dentro desse conjunto de
iniciativas, a parte central é a que ocupa a Rtase, com cobertura em
todo o âmbito nacional. Junto com o sinal da Televisão Pública se
desenvolvem canais de Televisão Digital Aberta, em alguns casos
disponíveis na televisão paga: Encuentro (educativo), Paka-Paka
(infantil), Incaa TV (difusão de cinema), Tecnópolis (difusão científica) e Deportv (Transmissões esportivas).
No terreno da produção ficcional, o sistema público apoia o
Bacua quando oferecidos programas financiados pelo Incaa através
102 | Obitel 2013
de várias vias de fomento. Dez desses programas foram estreados
pela Televisão Pública em 2012.
1.7. TV a cabo
Segundo dados do Latin American Multichannel Advertising
Council4, a televisão a cabo em 2012 cobriu 76% dos lares argentinos, sendo 61% dessa cobertura realizada com tecnologia digital,
e 39%, analógica. O mercado se encontra altamente concentrado.
Somente um operador, Cablevisión, do grupo Clarín, controla 45%
do mercado5 e dispõe de 237 licenças em todo o país. Essa situação
contradiz o regulamento vigente, que admite somente 24 licenças
por permissionário e uma participação em 35% da oferta. Em torno
dessa questão, é produzido um dos principais motivos da disputa
entre o governo nacional e o grupo empresário. Com relação à produção ficcional, os canais nacionais a cabo não costumam incluir
estreias dentro da sua grade de programação. Em 2012 foi produzida
somente uma ficção para a televisão a cabo: a Cosmopolitan TV
transmitiu entre setembro e dezembro a minissérie 30 días juntos,
uma comédia romântica protagonizada por Nicolás Pauls e María
Eugenia Suárez para a Produtora Geral, de Diego Villa.
1.8. Tendências das Tecnologias da Informação e Comunicação
(TICs – internet, celular, TV digital, VoD…)
Em 2012 a Argentina superou os 30 milhões de usuários de
internet de diferentes modalidades de conexão. Segundo dados do
Internet Word Stats6, em junho de 2012, 68% da população argentina teve acesso às tecnologias da informação e comunicação. A partir
de estimativas oficiais, considera-se que essa proporção alcançou,
no final do ano, 75%. Existem 40,1 milhões de linhas telefônicas,
No informe disponível em: http://www.lamac.org/argentina/publicaciones/investigaciones/informe-de-tv-paga-argentina-2013
5
Conforme a Administração Federal dos Serviços de Comunicação Audiovisual, considerando a densidade populacional, os canais de TV a cabo do Grupo Clarín cobrem
58,1% do mercado de televisão paga.
6
Disponível em http://www.internetworldstats.com/stats2.htm#americas
4
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 103
das quais 12% correspondem aos aparelhos com conexão à internet.
Calcula-se que a base de computadores em uso é de 15,5 milhões.
Mesmo com a ampliação notável do mercado, ainda não se consolidou uma produção de ficções para esse tipo de produto. Durante 2012, as principais novidades nesse sentido se concentraram na
possibilidade de conexão de sinais TDA à telefonia e à produção de
uma websérie de 15 capítulos: Vera Blum. Telefé e Terra Network
lançaram essa ficção com episódios de sete minutos, narrando a história de uma banda de rock argentina da década de 1980.
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana
Tabela 1. Ficções exibidas em 2012 (nacionais e importadas;
estreias, reprises e coproduções)
TÍTULOS NACIONAIS INÉDITOS
– 34
TÍTULOS IMPORTADOS INÉDITOS
– 12
Telefé – 9 títulos nacionais
1. Dulce Amor (telenovela)
2. El donante (minissérie)
3. El hombre de tu vida (minissérie)
4. Graduados (comédia)
5. La dueña (telenovela)
6. La pelu* (comédia)
7. Mi amor, mi amor (comédia)
8. Mi problema con las mujeres (minissérie)
9. Supertorpe (comédia)
Telefé – 2 títulos importados
1. El fantasma de Elena (telenovela –
EUA)
El Trece – 7 títulos nacionais
10. Condicionados (série)
11. Herederos de una venganza (telenovela)
12. Lobo (telenovela)
13. Los únicos (comédia)
14. Sos mi hombre (telenovela)
15. Tiempos compulsivos (série)
16. Violetta (comédia)
Canal 9 – 7 títulos nacionais
17. 23 pares (minissérie)
18. Babylon (minissérie)
Canal 9 – 8 títulos importados
2. Amorcito corazón (telenovela – México)
3. Dónde está Elisa (telenovela – EUA)
4. Dos hogares (telenovela – México)
5. Eva Luna (telenovela – EUA, Venezuela)
6. Los herederos del monte (telenovela –
Colômbia)
7. Un refugio para el amor (telenovela –
México)
8. La que no podía amar (telenovela –
México)
9. Mañana es para siempre (telenovela –
México)
Televisão Pública – 3 títulos importados
10. Los misterios de Laura (série – Espanha)
11. Los hombres de paco (série – Espanha)
104 | Obitel 2013
19. Decisiones de vida (unitário)
20. Los sónicos (minissérie)
21. Amores de historia (unitário)
22. TV x la inclusión (unitário)
23. Proyecto aluvión (unitário)
Televisão Pública – 11 títulos nacionais
24. Perfidia (minissérie)
25. El paraíso (minissérie)
26. En terapia (série)
27. Entre horas (minissérie)
28. Los pibes del puente (minissérie)
29. Volver a nacer (minissérie)
30. La defensora (minissérie)
31. Muñecos Del destino (minissérie)
32. Memorias de una muchacha peronista
(minissérie)
33. La viuda de Rafael (minissérie)
34. Rutas misteriosas (minissérie)
12. Amar en tiempos revueltos (telenovela
– Espanha)
TÍTULOS DE REPRISES – 12
Telefé
1. Alma pirata (telenovela)
2. Casados con hijos (comédia)
3. Floricienta (comédia)
4. Los simuladores (série)
Canal 9
5. María la del barrio (telenovela –
México)
6. María Mercedes (telenovela – México)
7. Marimar (telenovela – México)
8. Rosalinda (telenovela – México)
9. Yo soy Betty, la fea (comédia – Colômbia)
América 2
10. Mitos crónicas del amor descartable
(série)
11. Maltratadas (unitário)
12. Todas a mí (comédia)
TOTAL GERAL DE TÍTULOS
EXIBIDOS: 58
Fonte: Obitel Argentina
*La pelu é uma ficção ao vivo que inclui comentários sobre as noticias do dia.
Em comparação com 2011, a ficção de estreia nacional aumentou em 50% (passou de 22 para 34 títulos). Entretanto, a qualidade
de horas na tela resultou menor que a do ano anterior. Contrariamente ao que ocorre com a ficção nacional, a ficção ibero-americana foi
reduzida em cerca de 50% (cai de 23 títulos para 12).
Tabela 2. A ficção de estreia em 2012: países de origem
País
NACIONAL (total)
TítuCap./
%
%
los
Epis.
34 72,3 1.260 59,5
Horas
%
965:30
58,8
IBERO-AMERICANA (total)
12
27,7
ARGENTINA
34
72,3 1.260 59,5
965:30
58,8
Brasil
0
0,0
00:00
0,0
855* 40,5 677:25*
0
0,0
41,2
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 105
Chile
0
0,0
0
0,0
00:00
0,0
Colômbia
1
2,1
42
2,0
23:00
1,4
Equador
0
0,0
0
0,0
00:00
0,0
Espanha
3
6,4
122
5,8
99:05
6,0
EUA (produção espanhola)
3
6,4
125
6,0
99:00
6,0
México
5
10,6
500
23,6
404:10
24,6
Peru
0
0,0
0
0,0
00:00
0,0
Portugal
0
0,0
0
0,0
00:00
0,0
Uruguai
0
0,0
0
0,0
00:00
0,0
Venezuela
1
2,1
66
3,1
52:05
3,2
Latino-americana (âmbito Obitel)
46
100
Latino-americana (âmbito não Obitel)
Outras (produções e co-produções de
outros países latino-americanos/ibero-americanos)
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
46
100
TOTAL
2.115 100 1.642:55 100,0
2.115 100 1.642:55
100
Fonte: Ibope Argentina – Obitel Argentina
*Considera-se somente o número total de títulos, capítulos/episódios e horas de ficção
ibero-americana, contabilizando uma vez por título nos totais, enquanto nos parciais são
contabilizados, de forma repetida, de acordo com a decisão metodológica de considerar
cada registro, um por um.
Mesmo com o total de títulos ofertados superando as estreias de
2011, o total de horas destinadas à ficção continua decaindo. Pode-se pensar em duas razões para isso. Por um lado a rápida absorção
do formato de minissérie – estimulado a partir das políticas de fomento à produção estatal –, que supõe menor quantidade de emissões para um mesmo título, pois as ficções estreadas ocorrem com
mais frequência e consequentemente saem mais títulos, mas mesmo
assim não compensam a programação de ficções em formatos como
a comédia ou a telenovela, que supõem uma duração maior. Por outro lado, aparecem emissões com capítulos mais curtos, que implementam novamente as transmissões de meia hora. Dessa forma, o
que se observa é uma redução geral dos espaços destinados à ficção
nas programações, concentrando-se no horário nobre, prime time.
100
1.260
6
3
16
0
4
0
0
34
Comédia
Série
Minissérie
Telefilme
Unitário
Docudrama
Outros (soap opera etc)
TOTAL
Fonte: Ibope Argentina – Obitel Argentina
5
Títulos
Telenovela
Formatos
0,8
10
79,8
0
19,4
965:30
07:40
773:30
0
184:20
Nacionais
%
H
100
0,8
80,1
0
19,1
%
855
0
28
785
42
C/E
100
0
3,3
91,8
4,9
677:25
0
29:55
624:30
23:00
Ibero-Americanas
%
H
100
0
4,4
92,2
3,4
%
17,6
8,8
47,1
0
11,8
0
0
100
14,7
%
529
86
176
0
37
0
0
1261
433
Horas
42,0 421:50
6,8 61:15
14,0 99:40
0
0
2,9 29:25
0
0
0
0
100 965:30
34,3 353:20
Nacionais
Cap./Ep.
%
43,7
6,3
10,3
0
3,0
0
0
100
36,6
%
0
2
0
0
0 0
0
12
10
Títulos
0
16,7
0
0
0
0
0
100
83,3
%
Tabela 4. Formatos da ficção nacional e ibero-americana
Fonte: Ibope Argentina – Obitel Argentina
TOTAL
Noturno (00:00-6:00)
1.005
0
Tarde (13:00-21:00)
Horário nobre (21:00-24:00)
245
C/E
Manhã (06:00-13:00)*
Grade horária
2.115
10
1.033
785
287
C/E
100
0,5
48,8
37,1
13,6
%
1.642:55
07:40
803:25
624:30
207:20
Total
H
0
28
0
0
0
0
0
855
827
%
%
100
0,5
48,9
38
12,6
0
3,3
0
0
0
0
0
100
0
30:00
0
0
0
0
0
677:25
0
4,4
0
0
0
0
0
100
96,7 647:25 95,6
Ibero-Americanas
Cap./Ep.
% Horas
Tabela 3. Capítulos/Episódios e horas emitidos por faixa horária
106 | Obitel 2013
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 107
Tabela 5. Formatos da ficção nacional pela faixa horária
Formatos
Manhã
Horário
% Noturno %
nobre
Telenovela
0
0
0
0
5
16,7
0
Comédia
2
100
0
0
4
13,3
Série
0
0
0
0
3
10,0
Minissérie
0
0
0
0
16
Telefilme
0
0
0
0
0
Unitário
0
0
0
0
% Tarde %
Total
%
0
5
14,7
0
0
6
17,6
0
0
3
8,8
53,3
0
0
16
47,1
0,0
0
0
0
0,0
2
6,7
2
100
4
11,8
Docudrama
0
0
0
0
0
0,0
0
0
‘0
0,0
Outros (soap
opera etc)
0
0
0
0
0
0,0
0
0
0
0,0
TOTAL
2
0
0
0
30
2
100
34
100
Fonte: Ibope Argentina – Obitel Argentina
Tabela 6. Época da Ficção
Época
Títulos
%
Presente
27
79,4
de Época
0
0,0
Histórica
3
8,8
Outra
4
11,8
TOTAL
34
100
Fonte: Obitel Argentina
Em 2012 cresce o número de ficções que se situam em mais
de um lugar no tempo. Assim, aparecem relatos que conjugam o
presente com o passado recente a partir de aspectos da vida cotidiana – a história de jovens na década de 1980 e 1990, músicos de
rock ou a vida íntima de personagens nas décadas de 1960 e 1970,
combinando o tempo presente em ligações com esse passado recente. A narração “em dois tempos” faz com que seja mais complexa a
estrutura e habilita um questionamento do passado recente. Por outro lado, são mantidos alguns títulos que abordam fatos históricos,
como os vinculados com o peronismo ou casos de relevância social
que têm sido notícia.
108 | Obitel 2013
Tabela 7. Os dez títulos mais vistos: origem, rating, share
Título
País de
origem
Casa
da ideia
produtora
original
ou roteiro
1
2
Dulce
amor
3
Herederos
Argentina Pol-ka
de una
venganza
5
6
7
Share
IO: Sebastián
Ortega
G: Ernesto KoroTelefé
23,60 33,43
vsky, SilivinaFrejkes e Alejandro
Quesada
IO: Quique EsteLC Acción
vanez
Argentina Producciones / Telefé G: Quique Esteva- 19,27 29,78
Telefé
nez, Marcelo Nacci
e Laura Barneix
Underground
Contenidos;
GraduaArgentina Endemol
dos
Argentina e
Telefé
4
Nome do roteirista
RaCanal ou autor da ideia
ting
original
El
Trece
IO: Adrián Suar
G:Leandro Calderone
IO: Juan José Campanella e Marcela
Guerty
El hom100 bares
G: Juan José Cambre de tu Argentina
Telefé
Telefé
panella, Marcela
vida
Guerty
e Pamela Rementeria
IO: Martín Kweller
e Nacho Viale
La dueña Argentina Telefé
Telefé
G: Marcelo Caamaño
IO: Frank Pérez
13 Mares
Garland, Paul
Mi
Producciones &
Vega e Christian
problema
Peru
Vincent Enter- Telefé Bucckey
con las
tainment
G: Sebastián Rotsmujeres
Telefé
tein e AlbertoRojas Aspel
IO:Adrián Suar
Sos mi
El
Argentina Pol-ka
G. Leonardo Calhombre
Trece
derone
19,07 30,17
18,16 24,46
18,12 25,83
15,98 26,64
15,27 21,86
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 109
8
El árbol
Mi amor
Endemol ArArgentina
mi amor
gentina
Telefé
9
Los
únicos
IO: Pablo Echarri e
Telefé Martín Seefeld
14,59 22,44
G: Max Holdo
Total de produções: 10
IO:AdriánSuar
G: Leonardo Cal13,21 19,55
derone e Mariano
Vera
IO:LilyAnn Martin,
Cecilia Guerty e
El
Pablo Junovic
13,00 22,32
Trece
G: LilyAnn Martin,
Cecilia Guerty
Roteiros estrangeiros:
90%
10%
10 Lobo
Argentina Pol-ka
Argentina Pol-ka
El
Trece
Fonte: Ibope Argentina – Obitel Argentina
Tabela 8. Os dez títulos mais vistos: formato,
duração, faixa horária
Título
1
2
3
4
5
6
7
8
Graduados
Dulce
amor
Herederos
de una
venganza
El hombre de tu
vida
La dueña
Mi
problema
con las
mujeres
Sos mi
hombre
Mi amor
mi amor
Formato
Gênero
Nº de
Cap./ep.
(em 2012)
Datas da
primeira e
última
transmissão
(em 2012) (*)
Faixa
horária
Horário
nobre
Horário
nobre
Comédia
Comédia
178
12/3 a 19/12
Telenovela
Melodrama
235
23/1 Continua
Telenovela
Melodrama
24
9/1 a 13/2
Iniciou em 2011
Horário
nobre
Minissérie
Comédia
romântica
11
22/4 a 5/7
Segunda temporada
Horário
nobre
Telenovela
Melodrama /
32
Policial
18/4 a 21/11
Horário
nobre
Minissérie
Comédia
romântica
13
10/9 a 27/11
Horário
nobre
Telenovela
Melodrama
89
Comédia
Comédia
romântica
18
21/8
Continua
28/11 a 28/12
Continua
Horário
nobre
Horário
nobre
110 | Obitel 2013
9
Los
únicos
Comédia
Telenovela
Fonte: Obitel Argentina
10
Lobo
Policial
/
Ficção cien- 53
tífica
15/2 a 11/5
Segunda temporada
Horário
nobre
Fantástico
6/2 a 16/5
Horário
nobre
53
Todas as ficções do top ten foram programadas para serem
transmitidas no horário nobre, que no caso argentino tem uma amplitude horária que vai das 21 horas à meia noite, posterior à finalização dos noticiários centrais. Nesse espaço, concentra-se um maior
número de audiência e as ficções competem entre si dentro dessa
faixa horária. Assim como em anos anteriores, os canais que lideram a audiência são Telefé e El Trece. Diferente da rede El Trece, que somente
produz ficção com sua produtora Pol-Ka, o canal Telefé apresenta
uma forte associação com múltiplas produtoras e espaços de geração de conteúdos. Dessa forma, a variedade temática e estilística
está mais representada pela Telefé.
Tabela 9. Temáticas nos dez títulos mais vistos
Títulos
1
2
3
4
5
Graduados
TEMÁTICAS DOMINANTES (Cinco temas
mais importantes)
Problemas com identidade, relações familiares e
amizade.
Amor passional, vida em
família, ambição e disputas pelo poder.
Traições, conflitos hierárHerederos de una
quicos, mentiras, mistério
venganza
e diferenças pessoais.
Encontros amorosos deEl hombre de tu sastrosos, falsos romances
vida
e o homem ideal de toda
mulher.
Ambição, disputas famiLa dueña
liares, adultério e vingança.
Dulce Amor
TEMÁTICAS SOCIAIS
(Cinco temas mais
importantes)
Novas formações familiares,
relações entre diferentes gerações, imaturidade dos adultos,
saudade do passado.
Disputas por interesses comerciais, mulheres empresárias e
empresa familiar.
Sociedades secretas, concentração de poder, corrupção econômica e política.
Solidão na meia-idade e problemas de paternidade.
Empresa familiar, procura pela
eterna juventude, corrupção
econômica e política.
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 111
6
7
Procura pelo verdadeiro
Mi problema con
amor e sucesso profissiolas mujeres
nal.
Amor passional, sacrifício
Sos mi hombre
pelos outros, luta pela sobrevivência.
8
Mi amor, mi amor
9
Los únicos
10
Lobo
Imaturidade afetiva, tratamento
psicológico e amizade.
Mundo da luta de box, ajuda
aos necessitados e disputa pelos
filhos.
Bigamia, traições, indeci- Novos gêneros, diferenças sosão amorosa.
ciais.
Enfrentamento bem e
mal, amores cruzados, superpoderes.
Licantropia, problemas
de identidade, ambição e
amor passional.
Luta por justiça.
Conflitos laborais, sequestros
extorsivos e experiências genéticas.
Fonte: Obitel Argentina
Tabela 10. Perfil de Audiência dos dez títulos mais vistos:
gênero, idade, nível socioeconômico
1
Gênero %
Canal MuHo- 4- 13- 19- 35AB
lhe45+
C2 C3 D
mens 12 18 24 44
C1
res
Graduados Telefé 55,4 44,6 17,4 23,7 22,2 21,9 14,8 24,4 24,7 25,8 25,2
Títulos
Dulce amor Telefé 55,2 44,8 19,1
El
3 Herederos
55,2 44,8 17,8
Trece
El hombre
4
Telefé 51,5 48,5 14,5
de tu vida
5 La dueña Telefé 58,7 41,3 18,6
Mi proble6 ma con las Telefé 57,5 42,5 17,8
mujeres
Sos mi
El
7
54 46
16,8
hombre
Trece
Mi amor mi
8
Telefé 56,8 43,2 19,3
amor
El
9 Los únicos
52,6 47,4 23,1
Trece
El
10 Lobo
56,1 43,9 19,3
Trece
Fonte: Ibope Argentina – Obitel Argentina
2
Nível
socioeconômico %
Faixa etária %
23,3 22,1 20,6 15
26,4 23,2 23,7 26,7
17,7 21,6 22,9 20,1 12,7 22,3 31,2 33,8
25,9 25,3 19,7 14,6 19,6 27,6 25,4 27,4
23,1 21,6 20,9 15,8 24,9 24
26,1 25
23,1 23,7 22,2 13,2 27,1 23,3 23,7 25,9
19,5 16,9 25,7 21,1 19,7 21,9 27,7 30,8
24,5 22
21
13,1 21,1 22
22,5 18,9 22,7 12,9 16
17,7 19
23
27,1 29,7
28,2 32,8
24,6 19,4 23,4 24,5 23
29,1
A audiência feminina é a que mais predomina nas propostas
de ficção. Os títulos mais vinculados com gêneros tradicionalmente
112 | Obitel 2013
construídos foram os mais escolhidos pelas audiências de menores
recursos econômicos (Herederos e Lobo, no espaço da telenovela,
e Los únicos, no espaço da comédia com porções de ficção científica e história em quadrinhos). Já a audiência infantojuvenil perde
protagonismo em geral e encontra em Los únicos um espaço para
refugiar-se por tratar-se de gêneros fortes e conteúdos esquemáticos
aptos para o público em geral. Pode-se pensar que o estabelecimento desses segmentos obedece a novas modalidades de consumo em
outras telas transmidiáticas que não obedecem a uma lógica do broadcasting, mas sim a um menu audiovisual à la carte.
A ficção mais assistida em 2012, Graduados, por sua temática
e tom, gera uma audiência equilibrada entre o segmento de idade
que vai de 13 a 44 anos.
3. A recepção transmidiática
Em continuidade com o que a Telefé produziu como espaços
institucionais para suas ficções anteriores, Graduados contou com
uma forte presença e alta participação nas redes sociais de maior
índice de utilização. A comédia tem uma página própria no site oficial institucional, colocando à disposição todos os capítulos que a
emissão televisiva tem em um canal do YouTube e habilitando contas do Twitter e Facebook que continuaram funcionando depois da
finalização do programa.
Twitter de Graduados
A atividade de Graduados no Twitter foi extremamente alta
durante 2012, mas iniciou sua atividade em 2011. Serviu para promover a série, compartilhar entrevistas do elenco e produtores, bem
como promover os personagens. Atualmente segue em atividade e
brinda um forte apoio à programação ficcional da Telefé. Conta com
mais de 17 mil seguidores.
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 113
Graduados alcançou, em 21 de agosto, 251.319 tweets, segundo o informe da #SocialTV de Tribatics7. Segundo o estudo de @
realtimeratingGraduados, foi o programa mais “twittado” de setembro de 2012, com 244.459 tweets, superando Showmatch e La
voz. A atividade de Graduados no Twitter permanece depois da sua
finalização.
A transmissão do último capítulo foi bastante comentada no
Twitter (e seu conteúdo foi copiado no Facebook), tanto nos dias
prévios como durante a transmissão do mesmo.
Facebook de Graduados
A comédia antecipou sua estreia através das redes sociais. O
perfil no Facebook foi aberto em janeiro de 2012, tendo sido publicadas fotografias, making of da gravação e concursos interativos
para os fãs. O site chegou a ter mais de 700 mil seguidores. Está ativo inclusive depois de ter sido finalizada a série, como um vínculo
entre a Telefé e seus espectadores, para dessa forma se realizarem
novas ficções.
Com relação ao perfil de Graduados no Facebook, cabe destacar que ele atualmente conta com 610.438 seguidores, superando os
599.852 do ano de 2012 (cifra obtida através do estudo http://www.
socialbakers.com).
Entre as várias interações presentes no Facebook, foram priorizadas modalidades de vinculação que atravessam os registros de
ficção e de não ficção. Por um lado, estão disponíveis perfis de
personagens da ficção e por outro lado os atores interagem com os
comentários dos espectadores. Acompanhando essas aparições desdobradas de personagens e atores, o espaço da ficção é completado
com fotografias do making of, entrevistas com os atores, testemunhos etc.
http://blog.tribatics.com/2012/09/06/tribatics-presenta-la-edicion-agosto-de-su-estudio-de-socialtv-para-la-tv-argentina/
7
114 | Obitel 2013
Figura 1. O número de “curtir”, comentários
e “compartilhar” no Facebook
13/12/2012
Quantidade de
comentários
723
Quantidade
de curtir
3600
Quantidade de
compartilhamentos
168
14/12/2012
938
9004
618
16/12/2012
419
3994
213
17/12/2012
903
7305
493
18/12/2012
3604
29010
2303
19/12/2012
66748
119526
9503
Total semana
73.335
172.439
13.298
Dia
Fonte: Obitel Argentina
O intercâmbio que a série propõe vincula-se com uma interação
direta e pessoal com os seguidores: “O que significou Graduados
para você? Responda e faça parte do programa especial de Graduados” ou “Gastón da piscina! Te manda um oizinho, veja”. O vínculo
está direcionado ao espaço da recepção, colocando ênfase em uma
função conativa. A essas características é somado o fato de que a
maior quantidade de comentários e material compartilhado por parte dos seguidores se vincula estritamente com os temas narrativos.
Mesmo aparecendo comentários que excedem o espaço da ficção,
estes geram menor interesse nos seguidores. A partir da recepção, a
centralidade está na trama e não em si mesma, como propõe o site. Foi observado na última semana de transmissão que o número
de posts do programa aumentou, chegando a mais de 30 no último
dia. Desse modo aumenta a quantidade de comentários, de “curtir” e
de material compartilhado. Um dado curioso é que muitos dos posts
do último dia são compartilhados no Twitter e se realizam durante
a transmissão final e prévia na sala teatral junto com o elenco. Esses posts geraram muita atividade on-line em um curto período de
tempo.
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 115
Tabela 11. A ficção transmidiática: tipos de
interação e de práticas dominantes
Ficção
escolhida
Televisão
Páginas da
internet
Página oficial
Página do
Facebook
Graduados
Telefé
Página do
Twitter
Página do
YouTube
Tipos de
Práticas
Níveis de
interação
Dominantes
interação
Transmidiática
dos Usuários
Visionado
Comentário
transmidiático
Interpretação
Remix
Interação em
Paródia
tempo real
Recomendação,
Imitação
Ativa
Celebração
Crítica
Interação em
Coleção
tempo real
Armazenamento
Compartimento
Discussão
Fonte: Obitel Argentina
Entre os comentários, destacam-se os que se referem a opiniões
sobre as atividades dos protagonistas. Assim são aprovadas ou desaprovadas as decisões que tomam. Um dos posts afirma: “não acho
que esteja apaixonada pelo Pablo, só que por ser tão insegura, como
foi toda sua vida, custa a ela o desprendimento dessa etapa da sua
vida e admitir como o Andy é bom”.
Quando chegou ao final da comédia, os posts de Graduados se
vincularam muito mais com uma interação direta dos telespectadores. Um dos que se reiteram é: “O que significou Graduados para
você? Responda e faça parte do programa especial de Graduados”.
Aqui encontramos respostas das biografias dos espectadores: “me
senti muito representada por reviver o tempo de colégio, e esses assuntos mexem muito comigo”; “voltei aos anos 80, minha infância,
que lindo, vocês são unos gênios, vou sentir saudade”.
Outros usuários deixaram comentários de agradecimento à
comédia: “Valeu Faggiano, obrigada Viki, quero ser psiquiatra”,
“muito boooooom... pena que já termina”; “louco, chorei! Por que
termina?”; “vou sentir saudade de vocês… o melhor é o rock nacional!!! Obrigado pela linda mensagem que deixaram sobre discriminação na escola!!!”
116 | Obitel 2013
Por outro lado, ao ter uma política de ampla difusão dos capítulos para sua visualização on-line, os atrasos na disponibilização
desses capítulos geraram reclamações por parte dos seguidores que
encontraram em diferentes lugares uma possibilidade de recuperar
episódios não assistidos ou seguir a comédia somente on-line. Isso
se vincula com a diminuição do público jovem, que provavelmente
emigrou para novas formas de montar sua própria programação.
4. O mais destacado do ano
A ampliação da oferta ficcional de 2012 reforça as tendências
iniciadas em 2011 a partir do fato de colocar em prática os sistemas
de promoção gerados pelo Estado nacional. Nesse contexto podem
ser consolidadas três estratégias.
Sem dúvida a mais exitosa foi a da Telefé. Não somente situou
o programa de ficção de maior audiência do ano, Graduados, mas
também gerou uma oferta baseada em estreias nacionais apelando
a formatos e gêneros diversificados. Centralizada em uma proposta
de “televisão familiar”, a Telefé trabalha dentro de limites bastante
amplos. Alguns de seus programas mantêm, sem exageros, propostas que apelam a formas de matriz melodramática. Dulce amor e La
dueña mantêm seu sucesso com base nessa estética. Dulce amor é
transmitida no horário nobre, com o formato da telenovela da tarde,
a sua história é a de um amor passional entre uma empresária e seu
chofer. La dueña marca a volta à ficção de Mirtha Legrand, uma
ex-estrela cinematográfica que entre 1968 e 2011 protagonizou na
televisão Almoçando com Mirtha Legrand, um programa de entrevistas centralizado na sua personalidade de diva. Na narração de La
dueña se misturam uma obsessão pela elegância e a eterna juventude, as brigas familiares e outros paralelos entre o personagem da
protagonista e a atriz que o faz. Nesse programa, a tendência de trabalhar com a aparição de figuras de um mundo intra e extraficcional
televisivo alcança sua cota máxima e termina articulando a história.
Por outro lado, a Telefé propõe uma política de continuidade
de fórmulas já provadas. Transmite uma segunda temporada de su-
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 117
cesso do ano anterior El hombre de tu vida, compra um formato
peruano para a minissérie Mi problema com las mujeres e adapta
um sucesso dos anos 1990 com Mi amor, mi amor. Esse aspecto da
programação é o que atinge menor sucesso. El hombre de tu vida
não obteve os níveis de audiência de 2011, e Mi amor, mi amor não
alcança as expectativas geradas. Com Graduados, El donante ou
La Pelu, a Telefé procura renovar os modelos clássicos. Graduados
recupera o gênero da comédia familiar, mas através de famílias que
não respondem a um modelo tradicional: os papéis de seus membros resultam confusos, os pais não sabem aconselhar seus filhos e
sempre há problema para justificar os valores tradicionais. Com esse
programa, a Underground Contenidos consolida um estilo de ficção
que combina a hibridação de gêneros tradicionais lidos de forma
paródica com certo nível de complexidade narrativa. El donante é
um dos programas financiados pelo Incaa. Narra a história de um
homem que na sua juventude se dedicava a doar esperma e na sua
maturidade descobre que tem 144 filhos. Com pouca publicidade e
em uma emissora bastante disputada, esse é um projeto que apresenta muitas inovações temáticas e de formatos, como a introdução
de animações, por exemplo. Alcança níveis de audiência que quase
triplicam os obtidos através de outras vias de exibição. Finalmente,
La Pelu é uma ficção transmitida ao vivo no horário não habitual
do meio dia. Protagonizada pela travesti Flor de La V, narra uma
história cômica na qual são introduzidos comentários e personagens
ligados à atualidade da mídia.
O Canal 9 aproveita o espaço deixado livre e mantém sua programação da tarde com base em produções da Televisa, nas quais
se misturam reposições de programas de mais de dez anos de antiguidade com estreias que repetem fórmulas desses velhos e únicos
sucessos da telenovela. Porém, em 2012 há um deslocamento dos
programas dedicados à infância e adolescência, Supertorpe (Telefé)
e Violetta (El Trece), para o horário da manhã. Essa mudança implica uma transformação de perfil de audiência, que passa a focar-se
no público infantil.
118 | Obitel 2013
O canal El Trece e sua produtora Pol-Ka repetem durante
2012 uma proposta de sucesso que combina a utilização de gêneros clássicos com uma estética de costumes tradicionais da sociedade. Entretanto, os novos produtos estão longe de cumprir com
as expectativas geradas tanto no plano estético como nos níveis
de audiência esperados. Isso levou à interrupção de alguns programas antes do previsto inicialmente. As telenovelas do horário
nobre procuraram a novidade explorando, por exemplo, o mundo
do boxe, Sos mi hombre, ou ensaiando relações com o universo do
fantástico, Lobo. Não obstante, a adoção de um estilo tradicional
diminui o atrativo das ofertas. O mesmo acontece com a segunda
temporada das aventuras de Los únicos e as séries Condicionados,
sobre o mundo da pornografia, e Tiempos compulsivos, que aborda
o universo dos problemas psiquiátricos. Os dois casos que implicaram um risco maior, Lobo e Condicionados, foram os retirados
da programação.
Dentro do contexto das ficções televisivas argentinas de 2012,
o espaço no qual se registraram mais inovações em relação a formatos – variedade de duração e quantidade de episódios –, estilos
e gêneros conta com financiamento estatal e se mantém através de
chamadas para concursos. Na segunda edição do concurso para o
horário nobre, o Incaa apoia produtoras estabelecidas e são transmitidos programas através do Canal 9 e da Telefé. Por causa da constituição de um fundo destinado à TDA, a Televisão Pública colocou
no ar programas de produtoras novas, várias delas radicadas no interior do país. Assim, foram geradas inovações nos níveis técnico
e formal, junto com uma maior amplitude temática8 (de Tucumán,
as produções Muñecos del destino, Perfídia, ¿Cuál es tu límite?,
Ruta misteriosa e La viuda de Rafael). Consolidam-se estilos como
o definido por Gastón Portal em Los sônicos, continuado durante
As novas propostas adotam certa didática, o que caracterizou em 2011 a seleção de programas, especialmente no que se refere a certa ideia do “politicamente correto”. Em 2012,
o unitário Televisión por la inclusión, o melhor realizado e um dos de maior repercussão
no público, foi um dos ganhadores do concurso, levando dois Emmy pelas atuações de
Cristina Banegas e Darío Grandinetti.
8
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 119
2012 por Babylon, um relato que combina uma estética de história
em quadrinhos com uma história policial apresentada em tom de
comédia.
A promoção estatal sustenta uma renovação das ficções em um
contexto em que uma das principais emissoras, El Trece, fecha o
espaço tanto às novidades quanto às novas produtoras. Já a Telefé
introduz inovações exitosas mediante parceria com empresas estabelecidas, como Underground, Endemol ou LC. Como consequência, o Estado não somente amplia o espaço para novas produtoras
– financiou 15 delas –, mas também abre uma via para a inovação,
mais dificultosa para as emissoras que disputam a audiência.
5. Tema do ano: ficção televisão e memória social
Ao longo de mais de 60 anos, a televisão argentina registra uma
presença descontínua de programas narrativos que recuperam o passado, tanto no que se refere à reconstrução de acontecimentos históricos de diferentes tipos quanto à ambientação de relatos de ficção
em períodos históricos distantes. Nos últimos tempos, foi produzida
uma expansão desse tipo de trabalho que participa na construção
da memória social; ao mesmo tempo, observam-se transformações
qualitativas no modo em que a televisão invoca os acontecimentos
do passado.
Com o objetivo de descrever as formas em que as memórias
sociais se manifestam na televisão argentina, pode-se adotar como
critério organizador o mecanismo utilizado para invocar algum aspecto do passado nos programas de ficção da televisão. Nesse sentido, pode-se realizar uma primeira distinção entre aqueles que se
baseiam na memória gerada por meios de comunicação e os que se
apoiam em uma ideia do passado que excede o marco midiático e
encontra base nos discursos estéticos, políticos e históricos. Dentro do primeiro grupo são distinguidos tipos de abordagem.
A primeira maneira com que as ficções argentinas se conectaram
a essa forma da memória midiática foi apelando à reiteração de
modelos de gêneros provenientes da cultura popular. Como exem-
120 | Obitel 2013
plos dessa estratégia, pode-se citar Yo soy porteño (Canal 13, 1962
a 1966 e 1976 a 1982), que recupera personagens e situações dos
sainetes teatrais situados em um ambiente mítico, o cortiço, sem
preocupações demasiadas com a precisão temporal. Telenovelas
como Memorias del tiempo lindo (Canal 9, 1966) recorrem a uma
operação similar: ambientada no início do século XX em Buenos
Aires, reconstrói o período através das convenções difundidas pelos melodramas tangueiros do cinema industrial argentino. Outra
modalidade da memória social se expressa através da recuperação
de coisas memoráveis dos meios informativos. Dentro dessa perspectiva se encontra uma série de unitários: Casa juzgada (Canal 11,
1969 a 1971), Sin condena (Canal 9, 1995 a 1996), Botines (Pol-Ka,
2005) ou a primeira temporada de Mujeres asesinas (Pol-Ka, 2005).
As histórias contadas se situam em um passado recente em que episódios policiais servem de base para o desenvolvimento de relatos
que aparecem filtrados por diversas convenções de gênero, como
policial e suspense. Dentro dessa linha, mas com uma mudança no
formato, a telenovela Vidas robadas (Telefé Contenidos, 2008) reconstrói um caso de tráfico e desaparecimento de pessoas de ampla
repercussão nacional.
Ainda dentro do tema das memórias midiáticas, ocupa um lugar de destaque, especialmente nos últimos anos, o tipo de programação em que a televisão se recorda a si mesma9. Nesse âmbito,
podem ser destacados programas como a minissérie Mitos, crônicas de amor descartável (Rosstoc, 2009), nos quais o protagonista,
a partir de um fracasso amoroso, se torna obsessivo por suas fantasias sexuais adolescentes e entra em contato com algumas das
figuras femininas mais famosas da televisão da década de 1980.
Com dados que dão conta da relevância da construção de uma memória da televisão
sobre si mesma, vale a pena considerar a importância que tem a metatelevisão (Carlón,
2004) dentro do contexto televisivo contemporâneo, bem como as invocações constantes
das trajetórias de seus personagens mais destacados e também a importância atribuída à
manutenção e à circulação da programação já transmitida em canais como Volver – na
TV a cabo desde 1994 –, que se organizam de um modo que excede a simples reposição
de sucessos do pretérito (Kirchheimer, 2003).
9
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 121
Nas duas temporadas da minissérie Todos contra Juan (Rosstoc
e Farfan Producciones, 2008 e 2009), o relato gira em torno das
desventuras de Juan Peruggia, o ator que protagoniza uma história
em quadrinhos infantojuvenil dos anos 1990, interpretada e produzida por Gastón Pauls (que, por sua vez, é um ex-protagonista
de um programa do mesmo tipo e época). A utilização de traços
biográficos conhecidos do intérprete protagonista, como chave –
facilmente reconhecível – se constitui também em um dos assuntos
centrais da telenovela. No caso de La dueña (Endemol Argentina
e Telefé Contenidos, 2012), a protagonista é Mirtha Legrand, uma
estrela do cinema e da televisão argentinos. Assim, a biografia de
Sofia Ponte, interpretada por Legrand, tem muitos pontos de coincidência com os da atriz, que são destacados quando a personagem
de ficção utiliza muitas frases populares durante a carreira de apresentadora da protagonista.
Nos últimos anos, além da remissão intertextual evidenciada, pode-se destacar outro traço característico no estabelecimento de vinculações entre o passado e o presente. Encontra-se certa consolidação de um tipo de relato no qual – contrariando uma
forte tendência da narrativa – a história se desenvolve em dois
momentos temporais paralelamente. Esse é o caso de programas
de gêneros e estilos diferentes, como as comédias Um año para
recordar (Underground Contenidos e Telefé Contenidos, 2011) e
Graduados (Underground Contenidos, Endemol Argentina e Telefé Contenidos, 2012); as minisséries que apelam a um tom de
comédia, como Los sônicos (GP producciones, 2011 e 2012) e Babylon (GP producciones, 2012); ou as que se encaixam dentro do
gênero de suspense, como Perfidia ¿Cuál es el límite? (Cisne films
– Bacua, 2012) ou realizam uma reconstrução histórica, como El
pacto (Tostaki Oruga Films, 2012). Nesses casos, além da ruptura
da linearidade cronológica do relato, também é manifestada a valorização do passado recente como fonte de identificação pessoal
ou grupal, e a tendência – compartilhada por outras manifestações
das linguagens audiovisuais – a fazer visível o desenvolvimento
122 | Obitel 2013
do relato, tanto do ato da recordação quanto dos acontecimentos
recordados10.
Além da validade que outorga a memória midiática à reconstrução do passado, a televisão argentina mantém versões que buscam sua verossimilhança seguindo as pautas de séries discursivas
que excedem o campo dos meios de comunicação em massa. Nesse
âmbito, é possível identificar dois tipos de propostas: as ficções que
são ambientadas em uma época diferente da produção e as que têm
um cenário temporal preciso relacionado com acontecimentos históricos identificáveis.
Os programas de época apresentam uma origem dupla. Por
um lado, trata-se de uma tendência que se manifesta durante as primeiras décadas da televisão argentina, que consiste na adaptação
de obras literárias célebres – em especial as novelas românticas e
realistas –, cujas dramatizações se ambientam no período em que
foram publicadas. O melhor e mais valorizado exemplo é o ciclo
Las grandes novelas (Canal 7, 1969 a 1971), dirigido por Sérgio Renán. Por outro lado, a tendência que finalmente prevalece vincula-se
com a utilização das reconstruções de época que outorgam a cota de
exotismo necessária na narrativa da telenovela, que segue assim um
traço da tradição melodramática. Dentro dessa linha se destacam
marcos históricos como La extraña dama (Canal 9 Libertad, 1989),
ambientada a começos do século XX na Argentina e Itália, ou Más
allá del horizonte (Canal 9 Libertad, 1994), que ocorre durante a
segunda metade do século XX em ambos os lados da fronteira entre
as comunidades aborígenes e o Estado nacional. Coincidindo com
um novo período de auge da programação ficcional, na primeira
década do século XXI aparecem as grandes produções de época:
Hombres de honor (Pol-Ka, 2005), ambientada na cidade de Buenos
Aires, em um clima de máfia durante a década de 1940, e Padre
O desenvolvimento de relatos que trabalham em paralelo com o presente e o passado
não é exclusivo dos programas evocativos. Na quarta temporada de Casi ángeles (Cris
Morena Group, 2007 a 2010), a ação ocorre entre o presente e um futuro próximo (Aprea
e Kirchheimer, 2001).
10
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 123
Coraje (Pol-Ka, 2004), que se passa em uma cidade fictícia de La
Cruz durante os primeiros anos da década de 1950. Além do manejo
das convenções de gênero que aceitam heróis com dupla personalidade, sociedades secretas, pragas quase bíblicas e curas milagrosas,
apresentam-se personalidades históricas, como Juan e Eva Perón,
Ernesto Guevara – antes de ser “El Che” – e o ex-boxeador José
María Gatica. A presença de personagens públicos participando ativamente de um relato de aventuras que se aproxima do fantástico
expressa uma mudança de perspectiva na representação das figuras
históricas, mais que um novo modo de construção das ficções de
época.
Nos últimos anos, aparece um novo tipo de reconstrução de
época ligada a um passado mais próximo no tempo. Com um antecedente – a reconstrução da década de 1980 em Costumbres argentinas (Ideas del Sur, 2003 a 2004) –, o passado próximo aparece em
torno da comédia. Dessa maneira, Los sônicos relata uma origem
mítica para o rock and roll argentino, e Babylon, descrita em forma
de história em quadrinhos, invoca a década de 1970. O êxito mais
importante do ano 2012, Graduados, propõe a raiz da sua trama em
um grupo de adolescentes de fins da década de 1980. A reconstrução do passado recente tem a ver com aspectos ligados à cotidianidade, mais que com a evocação de um período, personagem ou
feito histórico. De um passado recente convulsionado se retomam a
moda, costumes cotidianos e música, especialmente o rock and roll.
Em Graduados, esse tipo de evocação ocupa um lugar central em
alguns episódios nos quais estrelas do rock argentino se interpretam
a si mesmos. Assim, observa-se um deslocamento que vai desde um
passado exótico e distante do momento da produção até outro mais
próximo, compartilhado pelos produtores e pela maioria do público.
A reconstrução histórica na ficção da TV argentina, ainda que
se encontre presente quase desde os momentos iniciais, acontece
mais esporadicamente e, em geral, vincula-se com iniciativas governamentais. Um olhar retrospectivo sobre os modos em que a
televisão abordou os acontecimentos históricos permite dar conta
124 | Obitel 2013
das diferentes maneiras em que o Estado e a sociedade implementaram a construção de uma identidade coletiva. A partir dessa perspectiva se observam transformações na construção de uma época.
Para compreender a lógica dessas mudanças, podem ser destacadas
as diferenças entre Bouchard. Um Héroe del mar (Canal 7, 1964),
centralizada na figura de um herói da independência, e Los gringos
(Canal 7, 1984), no qual o relato se concentra na vida de três famílias imigrantes no início do século XX. Observa-se a passagem de
uma visão, ligada a uma época regida pelo sistema escolar, a outra,
em que o protagonismo e o heroísmo estão apontados às pessoas comuns. Assim, passa-se de um relato a outro sobre aqueles que constroem a história política em uma narração na qual os acontecimentos
históricos marcam a vida dos protagonistas; ou seja, uma passagem
dos protagonistas às testemunhas.
A partir do Bicentenário da República Argentina, em 2010, há
um impulso, novamente, das ficções históricas, nas quais os relatos são centrados na influência dos acontecimentos históricos na
vida das pessoas comuns. Entre os programas produzidos com o
apoio estatal, essa perspectiva aparece em ficções como a minissérie Memorias de una muchacha peronista (Alejandro Robino, Omar
Quiroga e Proyecto Web, 2012), em que através da vida de um jornalista de rádio são narradas as transformações sociais e políticas
produzidas durante os primeiros governos peronistas. Em Proyecto
Aluvión (MC Producciones, 2001 a 2012) contam-se episódios em
que se inverte o sentido de alguns dos tópicos relacionados com o
peronismo, fazendo passar os cidadãos peronistas de vilões a vítimas. No unitário Amores com historia (Tostaki Oruga Films, 2012)
são revividos momentos fundamentais da história argentina recente
através de histórias de amor que afetam personagens fictícios ou que
tiveram uma participação secundária dentro de eventos políticos.
Nessa mesma etapa, as ficções que rememoram aspectos da
vida de personagens com forte incidência na vida pública se concentram em aspectos relacionados mais com sua intimidade que
com sua atividade reconhecida. Em El pacto narra-se a apropriação
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 125
da empresa Papel Prensa através da história pessoal da viúva que
perde a propriedade e da juíza que investiga o caso. Nos seis capítulos do unitário Lo que el tiempo nos dejó (Underground Contenidos, Endemol Argentina e Telefé Contenidos, 2010) são mostrados
momentos da vida em que personagens políticos, como Eva Perón,
são vistos pela perspectiva de pessoas comuns, e as celebridades,
como a cantora Ada Falcón, são apresentadas na intimidade, além
de serem vistos episódios históricos do que acontece a pessoas sem
uma trajetória pública. No unitário Histórias clínicas (Underground
Contenidos e Grupo Crónica, 2013) são abordados problemas de
saúde de personagens célebres como Eva Perón, a cantora e atriz
Tita Merello, o presidente Domingo Faustino Sarmiento ou o escritor Horacio Quiroga. A aproximação dos problemas pessoais dos
personagens públicos faz com que se apaguem os limites entre as
celebridades e as pessoas comuns. Todos parecem ser memoráveis.
No campo das reconstruções históricas, ocupam um lugar especial aquelas que recuperam o passado traumático ligado à última
ditadura cívico-militar. O assunto do desaparecimento forçado de
pessoas se destaca dentro da cinematografia nacional. No entanto, no
âmbito da televisão – além de contar com um antecedente de 1984,
Dar el alma (Canal 9) – esse assunto aparece com força recente, em
2004, com a novela de sucesso Montecristo (Telefé Contenidos). A
telenovela é uma adaptação livre da novela de Alexandre Dumas
e incorpora o tema sequestro de crianças durante o período ditatorial. A questão é retomada pelo unitário, premiado com um Emmy
em 2008, Televisión por la identidad (Telefé Contenidos e Abuelas
de Plaza de Mayo, 2007). Esse programa se baseia no impacto alcançado por Montecristo no processo de recuperação de identidades
de crianças sequestradas, integrando-se dentro de um projeto mais
amplo que inclui atividades em outros espaços, como Teatro por la
identidad ou Rock por la identidad. Volver a nacer (Astro Films e
Atuel Producciones, 2012) se inclui dentro das produções financiadas pelo Estado e exibidas pela Televisão Pública. Narra a história
de duas irmãs gêmeas, uma que fica nas mãos de sequestradores e
126 | Obitel 2013
outra que é dada para adoção a uma família. Assim, mostra-se a história traumática a partir dos pontos de vista opostos, os defensores da
ditadura e suas vítimas. Em termos gerais, a abordagem dessa temática adquire peso não somente pelo impacto que pode ter o assunto
a partir de um ponto de vista social, mas também porque, entre as
questões dramáticas que caracterizam o passado recente argentino, o
sequestro de crianças se relaciona diretamente com um dos motivos
fundamentais da telenovela: a perda e recuperação da identidade.
Depois de considerar as principais variantes que ao longo do
tempo formaram a reconstrução do passado na televisão argentina,
é válido sublinhar diferenças significativas que permitem descrever
as grandes tendências nas modalidades de construção das memórias sociais. Dentro do contexto de um processo complexo, vale a
pena caracterizar os traços de duas grandes maneiras de reconstruir
o passado. Em um primeiro momento, as diferentes etapas são apresentadas através de um olhar distante que tende a separar o momento da evocação do período recordado. A partir dessa perspectiva, a
reconstrução pode atuar como um potencializador das convenções
de certos gêneros, ou então poderá constituir um pano de fundo para
o desenvolvimento de uma trama em que o ambiente de época se
mantém especialmente pelo atrativo, o que lhe atribui um exotismo,
que por sua vez se distancia da cotidianidade. Ao mesmo tempo,
apresenta-se uma diferença marcada entre as ficções que apelam à
reconstrução de época como parte da lógica do espetáculo e as que,
baseando-se em acontecimentos históricos, procuram estabelecer
um modelo de identidade coletiva a partir de uma perspectiva que
está inclinada para uma postura didática.
Nos últimos anos, consolida-se uma tendência diferente. De
uma perspectiva global e distante passa-se a uma acercada e próxima no tempo. O passado representado já não pode ser pensado
como um mundo fechado. Trata-se agora de uma construção que
reúne olhares fragmentados e se concentra em casos individuais. A
proximidade se constrói mediante dois mecanismos: por um lado,
o enfoque sobre os personagens que participam da evocação põe
Argentina – Crescimento da produção nacional e seus estilos | 127
ênfase em aspectos do cotidiano, e, por outro, em muitos casos essa
ênfase é dada em aspectos de sua intimidade. Isso implica na existência de um tipo de personagem cuja dimensão psicológica adquire
mais relevância que sua condição de modo social. Nesse sentido se
sustenta um mesmo ponto de vista para a apresentação de personagens cuja ação se desenvolve no âmbito público, a “celebridade” e
aqueles que aparecem como “gente comum”; homologam-se assim
diferentes personagens históricos com outros criados para a ficção.
Referências
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nos países ibero-americanos: anuário Obitel 2012. Porto Alegre: Sulina: 2012.
APREA, G.; KIRCHHEIMER, M. Argentina: A ficção perde espaço e um
estilo domina. In: OROZCO GÓMEZ, Guillermo; VASSALLO DE LOPES,
Maria Immacolata (coord.). Calidad de la ficción televisiva y participación
transmediática de las audiencias: anuário Obitel 2011. São Paulo: Editora Globo/Globo Universidade, 2011.
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LAMAC (2013). Informe de TV paga – Argentina 2013. Disponível em: http://
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TRAVERSO, E. Le passé, modes d’ emploi: histoire, mémoire, politique.
Paris: La fabrique, 2005.
2
Brasil: a telenovela como
fenômeno midiático
Autoras:
Maria Immacolata Vassallo de Lopes,
Maria Cristina Palma Mungioli
Equipe:
Claudia Freire, Clarice Greco, Ligia Maria Prezia Lemos,
Issaaf Karhawi, Helen N. Suzuki
1. O contexto audiovisual do Brasil
Dentro do cenário de mais um ano televisivo, 2012 reservou
dois acontecimentos de enorme importância e que prometem ter
efeitos marcantes na indústria televisiva e no público brasileiro. Na
televisão aberta foi o estrepitoso fenômeno nacional em que se tornou a telenovela Avenida Brasil, fenômeno midiático (media event),
marco de teledramaturgia, enfim, uma “narrativa da nação”. Na televisão fechada, vimos o crescimento de uma produção televisiva
nacional num espaço internacionalizado como é o da TV por assinatura. Induzida pela “nova lei do cabo”, essa produção tem diante de
si uma oportunidade histórica para criar um novo padrão de ficção
televisiva no Brasil. Certamente, esses são os grandes destaques do
Brasil no ano de 2012.
1.1. A televisão aberta no Brasil
No Brasil, temos seis redes nacionais de televisão aberta, sendo
cinco privadas – Globo, SBT, Record, Band e Rede TV! – e uma pública, TV Brasil. Em 2012, com exceção de duas (TV Brasil e Rede
TV!), as demais produziram e exibiram ficção televisiva.
130 | Obitel 2013
Gráfico 1. Emissoras nacionais de televisão aberta no Brasil
EMISSORAS PRIVADAS (5)
EMISSORAS PÚBLICAS (1)
Rede Globo
TV Brasil
Record
SBT
Band
Rede TV!
TOTAL EMISSORAS = 6
Fonte: Obitel Brasil
A audiência de televisão aberta em 2012
O ano de 2012 foi marcado pela experimentação de novas técnicas de medição frente a um cenário que registrou grande mobilidade e segmentação da audiência televisiva, especialmente da TV
móvel em mídias como celular e internet1.
Gráfico 2. Audiência individual de TV por emissora (TL)2
Emissora
TV Brasil
1%
Rede TV
2%
Outros
Band 9%
5%
Globo
41%
Record
14%
OCN
14%
SBT
14%
Globo
SBT
OCN
Record
Band
Rede TV!
TV Brasil
Outros3
TOTAL
Audiência
individual
6,03
2,10
2,09
2,06
0,77
0,24
0,15
1,37
14,81
%
40,7
14,2
14,1
13,9
5,2
1,6
1,0
9,3
100,0
Fonte: IBOPE
Quanto à audiência individual, a Globo permanece na liderança
com 40,7% da TV aberta. O SBT, em segundo lugar, aparece com
1
O Ibope realiza medições de TV móvel em parceria com a Video Research, do Japão, e
a Nielsen, por meio de métodos dos Estados Unidos.
2
TL (Total Ligados): totaliza a audiência de todas as emissoras de TV. Dados do Painel
Nacional de Televisão (PNT), das 7h às 24h.
3
“Outros” inclui dados da MTV, Record News, outros aparelhos, sintonias não identificadas e/ou não cadastradas.
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 131
14,2%, seguido pela Record, com 13,9%. A concorrência acirrada
entre os 2º e 3º lugares mostra, pela primeira vez desde 2008, o
SBT à frente da Record. Observamos também, nos últimos anos,
o aumento no índice de audiência de OCN (outros canais), que inclui a TV paga. O segmento cresceu 16% em relação a 2011 e 60%
em relação a 2009, fragmentando a audiência e refletindo-se na TV
aberta, que já não obtém os altos índices de dez anos atrás.
Gráfico 3. Share individual de TV por emissora em 201245
TV Brasil
1%
Rede TV
2%
Outros
9%
Band
5%
SBT
15%
OCN
15%
Globo
45%
Record
15%
Globo
Record
OCN
SBT
Band
Rede TV
TV Brasil
Outros5
Share
Individual %
44,6
15,4
14,8
14,7
5,6
1,7
1,2
2,0
TOTAL
100,0
Total Ligados Especial (TLE)4
Fonte: IBOPE
Entre os televisores sintonizados exclusivamente em canais de
televisão (TLE), a Globo tem 44,7% de share, com leve decréscimo
em relação a 2011. Em segundo lugar está a Record, com 15,4%,
também com pequena queda. Em terceiro lugar surge o SBT, com
14,4%, porcentagem mais ou menos estável desde 2010. A Band ficou em quarto lugar e, em quinto, a Rede TV, que registrou a maior
queda, 32% em relação a 2011. A TV Brasil está na sexta posição,
com 1,2%. A Globo também confirma sua hegemonia na programação, sendo que os 47 programas mais vistos em 2012 são da emissoTLE (Total Ligados Especial): totaliza a audiência de todas as emissoras de TV e exclui
os índices de VCR (videocassete), pay-per-view, videogame, DVD, internet, circuito interno, canais de áudio (programação de rádios AM e FM) e como monitor de computador.
O TLE possibilita calcular o share das emissoras com base na audiência “pura” de televisão. Dados do Painel Nacional de Televisão (PNT), das 7h às 24h. Universo individual
em 2012: 57.936.745.
5
“Outros” inclui dados referentes a MTV, Record News, outros aparelhos, sintonias não
identificadas e/ou não cadastradas.
4
132 | Obitel 2013
ra. O primeiro programa de outro canal, em 48o lugar, é a minissérie
Rei Davi, da Record6.
Em relação à audiência por meios, a TV aberta continua com a
maior penetração (96%) no país, seguida pela mídia extensiva e pelo
rádio. A internet é a quarta (56%), ultrapassando a TV paga (40%)
e as revistas (36%)7. Sem dúvida, o poder de consumo da “nova
classe média” é um fator determinante para a penetração dos meios.
A TV aberta continua a liderar nesse grupo (98%), mesmo com um
aumento do uso de TV paga, games e DVDs. Os meios que tiveram
maior aumento de penetração nesse grupo socioeconômico foram o
digital out-of-home8, a TV paga e as revistas impressas.
Gráfico 4. Gêneros e horas transmitidos pela TV9
Político
0%
Outros
23%
Informação
25%
Esporte
Educativo
5%
1%
Religioso
9% Entretenimento
18%
Ficção
19%
Gêneros
Transmitidos
Informação
Ficção
Entretenimento
Religioso
Esporte
Educativo
Político
Outros
TOTAL
Horas de
exibição
12.917:00
10.083:55
9296:45
4800:45
2672:05
312:45
107:55
12.271:35
52.462:45
%
25
19
18
9
5
1
0
23
100
Fonte: IBOPE
Os gêneros informação e ficção ocuparam, juntos, 44% da programação. As ficções responderam por mais de 19% da grade, com
queda em relação a 2010, quando tinham 21%.
Com (muita) folga, a Globo tem os 47 programas mais vistos de 2012. Portal UOL.
06/11/2012.
7
Dados da pesquisa Target Group Index, realizada pelo Ibope.
8
Monitores estrategicamente instalados que transmitem programação segmentada em
locais como redes de supermercados, shopping centers, elevadores, ônibus, metrô, trens.
9
Gêneros: Entretenimento: auditório, game show, humorístico, musical, reality show,
show, premiação, feminino, moda e making of; Esporte: esporte e futebol; Ficção: telenovela, série, minissérie, filme, desenho adulto, infantil; Informação: documentário, entrevista, jornalismo, reportagem; Outros: televendas, rural, turismo, saúde, sorteio, espaço
empresarial.
6
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 133
1.2. Investimentos publicitários: na TV e na ficção
O total do investimento publicitário nas mídias em 2012 alcançou 94,9 bilhões de reais, 7% a mais que em 2011. Desse total, 54%
foram para a TV aberta, aumento de 10% em relação a 2011. Em
seguida vieram jornais, com 18% do total, TV paga, com 8%, e revistas, com 7,2%. O meio com maior crescimento foi a internet, que
obteve 7% do total do investimento publicitário (21% a mais que em
2011)10, refletindo novos hábitos como o e-commerce e o crescente
engajamento do usuário nas redes sociais.
Gráfico 5 . Investimento publicitário por meios em 2012
0%
1%
7%
0%
TV
4%
Jornal
TV paga
8%
Revista
8%
54%
18%
Internet
Rádio
Mob. urbano
Cinema
Outdoor
Meio
Investimento
%
TV
Jornal
TV paga
Revista
Internet
Rádio
Mob. urbano
Cinema
Outdoor
TOTAL
51,3
16,8
8
7,2
6,5
4,2
0,5
0,3
0,1
94,9
54
18
8
8
7
4
1
0
0
100
Fonte: IBOPE
Os setores que mais receberam investimento publicitário na televisão foram o comércio e o varejo, responsáveis por 25% do total
investido, seguidos pelos setores de higiene pessoal e beleza, mercado financeiro e seguros, bebidas (cervejas) e serviços11.
1.3. Merchandising e merchandising social na ficção
As ações de merchandising inseridas na trama (product placement) continuaram presentes nas ficções. Em 2012, como nos anos
anteriores, os principais segmentos anunciantes foram cosméticos,
varejo, veículos, alimentos e mercado financeiro.
Dados do Monitor Evolution, do Ibope. Os valores consideram a tabela de preços dos
veículos.
11
Fonte: Ibope Media – Monitor Evolution.
10
134 | Obitel 2013
Sabemos que a inserção de cenas que, de modo explícito e pedagógico, expõem problemas sociais do país é marca distintiva da
telenovela brasileira. Por isso, em 2012, o chamado merchandising
social12, ou ações socioeducativas, novamente esteve na TV do país.
As abordagens sociais nas telenovelas da Globo foram: abandono
de crianças e trabalho infantil, em Avenida Brasil; diversidade cultural, adoção ilegal de crianças e tráfico de pessoas, em Salve Jorge; condições de trabalho e direitos das trabalhadoras domésticas,
em Cheias de charme; eventos históricos do início do século XX
e tradições da população negra, em Lado a lado; desaparecimento
de crianças, em Amor eterno amor; direitos da infância e preconceito por orientação sexual, em Aquele beijo; inclusão e direitos
de pessoas com deficiência, bullying e engajamento de jovens em
questões sociais, em Malhação. A Record apresentou inserções sobre violência doméstica, síndrome de Down, prevenção da AIDS e
adoção, em Vidas em jogo; bullying e alcoolismo, em Rebelde. No
SBT, Corações feridos abordou alcoolismo, violência doméstica e
uso de drogas.
Um exemplo de ação social que repercutiu para além da ficção ocorreu com as personagens Penha (Taís Araújo) e Lygia (Malu
Galli), que eram, respectivamente, empregada e patroa na telenovela Cheias de charme. As atrizes participaram da campanha sobre os
direitos dos trabalhadores domésticos promovida pelas Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres
e pela Organização Internacional do Trabalho. Outro exemplo é o
tema do tráfico humano, em Salve Jorge, que chegou a mobilizar as
mídias e as redes sociais com debates sobre o assunto e repercussão
na imprensa internacional.
1.4. Políticas de comunicação
Como já antecipamos, “nova lei da TV paga” ou “nova lei do
cabo” marcou as discussões sobre o Serviço de Acesso Condiciona-
12
Atualmente chamado de “temas de responsabilidade social” pela Globo.
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 135
do (SeAC)13 no plano das políticas de radiodifusão e de telecomunicações. Tais regras já estão marcando profundamente o mercado
audiovisual no país com a entrada das empresas de telecomunicações como operadoras e com a obrigatoriedade de cotas de conteúdo
nacional nos canais pagos.
Testemunhamos o início de uma notável mutação no mercado
audiovisual brasileiro, pois, com a nova lei, até 2015 os canais de
TV paga deverão exibir, semanalmente, 3h e 30min de conteúdo
nacional no horário nobre (metade deverá ser de produtoras brasileiras independentes). Essa implantação progressiva14 já redundou em
mudanças importantes no cenário audiovisual, tais como: aumento
no número de produtoras independentes15; migração de profissionais
da publicidade e cinema para a TV; proporcionalidade de canais nacionais e independentes nos pacotes oferecidos pelas operadoras16 e
aumento dos recursos disponíveis para a produção televisiva. Ainda
em 2012, começaram os debates sobre o marco civil da internet17,
que pretende estabelecer direitos e deveres de provedores e usuários, além de discutir a questão da neutralidade da rede.
1.5. TV pública
Em 2012, a programação de ficção da TV Brasil, única rede nacional pública, foi inteiramente voltada para o público infantojuvenil, com estreias de ficções importadas de países de fora do âmbito
Obitel. O canal continua com dificuldades técnicas de sintonização
do sinal analógico, mas em seu site, via WebTV, disponibiliza 24
horas de programação, além de estar nas redes sociais. Já o TV Brasil-Canal Integración, único canal público internacional do Brasil,
A lei 12.485 foi sancionada em setembro de 2011.
Exibição obrigatória de 1h e 10min de conteúdo nacional por semana em horário nobre
no primeiro ano de implantação da lei (de 09/2012 a 09/2013) e de 2h e 20min no segundo
ano (de 09/2013 a 09/2014).
15
Em 2011 eram 170 produtoras independentes associadas; em 2012, eram 265. Dados
da ABPITV.
16
A cada três canais ofertados nos pacotes, ao menos um deve ser canal brasileiro de
espaço qualificado.
17
Regulação da internet, que já existe em diversos países do mundo.
13
14
136 | Obitel 2013
transmite via satélite para América Latina, Estados Unidos, Portugal
e África.
1.6. TV paga
Sistema de canais fechados, a TV paga está passando por grandes mudanças por conta da “nova lei do cabo”, que foi aprovada
para estimular a produção nacional nesse sistema majoritariamente
ocupado por canais internacionais. Se somarmos a esse fato o acesso dos consumidores da “nova classe C”, interessados em TV paga
e internet, veremos que o ano de 2012 foi especialmente fértil. A
TV paga no país alcançou 16,2 milhões de assinantes, o que corresponde ao acesso de 53 milhões de brasileiros18, um crescimento
de 28,3% frente a 2011. Do total de assinantes, mais de 40% são da
classe C, e vale lembrar que, em 2008, esse número era de apenas
22%19. Apesar disso e da forte expectativa de ampliação, dados do
Ibope mostram que a penetração da TV paga brasileira ainda é acanhada, com 30% do total de residências, se comparada a outros países da América Latina, como Argentina ou Colômbia, ambos com
aproximadamente 81% do total de residências.
Ficções na TV paga
Frente a esse cenário em mudança, é interessante mostrar alguns dados sobre as produções nacionais na TV paga. Os canais
nacionais que produziram ficção para TV paga em 2012 foram:
Multishow, GNT, Futura e TBS Brasil20; já os internacionais Fox e
HBO apresentaram coproduções.
Dados Anatel. O IBGE considera a média de 3,3 pessoas por domicílio.
Dados Obitel, Anuário 2009.
20
Canal brasileiro de TV paga, parceiro da TV Bandeirantes, que apresenta comédia,
filmes e séries.
18
19
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 137
TÍTULOS NACIONAIS INÉDITOS –
18 FICÇÕES
Multishow – 10 ficções nacionais
1. Adorável psicose (3ª temp.)
2. Do amor (1ª temp.)
3. Meu passado me condena
(1ª temp.)
4. Malícia (2ª temp.)
5. Morando sozinho (3ª temp.)
6. Open bar (1ª temp.)
7. Os buchas (1ª temp.)
8. Quero ser solteira (1ª temp.)
9. Oscar Freire, 279 (1ª temp.)
10.Ed Mort (1ª temp.)
GNT – 1 ficção nacional
11.Sessão de terapia (1ª temp.)
Canal Futura - 1 ficção nacional
12.Família imperial (1ª temp.)
FOX – 1 ficção nacional
14.A vida de Rafinha Bastos
(1ª temp.)
HBO – 4 ficções nacionais
15.Destino: São Paulo (1ª temp.)
16.Mandrake (3ª temp.)
17.FDP (1ª temp.)
18.Preamar (1ª temp.)
TÍTULOS LATINO-AMERICANOS
(Âmbito Obitel) – 2 FICÇÕES
HBO Latino – 2 ficções
1. Capadócia – México (3ª temp.)
2. Prófugos – Chile (1ª temp.)
TOTAL FICÇÕES NACIONAIS: 18
TOTAL FICÇÕES LATINO-AMERICANAS: 2
TBS – 1 ficção nacional
13.Elmiro Miranda Show (1ª temp.)
Fonte: Obitel Brasil
Em relação ao conteúdo, houve predomínio do gênero comédia para o público jovem/adulto, com experimentações de formato
nas produções como derivações de blogs e webséries e um telefilme
colaborativo. Destacaram-se também séries dramáticas, como Sessão de terapia, versão brasileira da israelense Be Tipul, muito bem
recebida pela crítica; Destino: São Paulo, que apresentou o cotidiano de comunidades de origem estrangeira na metrópole; e Família
imperial, série infantojuvenil que revisitou a história do Brasil. Em
termos de alcance de audiência21, as lideranças foram, pela ordem,
A vida de Rafinha Bastos; Oscar Freire, 279; Adorável psicose; Meu
passado me condena e Ed Mort.
21
Fonte: Ibope Media – Media Workstation – Paytv. Dados do Universo domiciliar 2012:
5.226.185.
138 | Obitel 2013
1.7. TICs (internet, celular, TV Digital, VoD)
O Brasil registrou em 2012 mais de 90 milhões de usuários de
internet22. O Facebook atingiu 35 milhões de pessoas23 e tornou-se
a rede social mais acessada do país. Já no Twitter, os brasileiros representam o segundo maior número de usuários do mundo, com 33
milhões24. A classe C respondeu por 56% dos acessos no Facebook e
55% no Twitter. Percebemos o uso cada vez mais intenso das redes
para conversações sobre ficções televisivas, em especial as telenovelas. O último capítulo de Avenida Brasil ocupou, no Twitter, sete
das dez primeiras posições nos Trending Topics Brasil25, entrando
também nos TTs mundiais. Dados apontam que 73% dos espectadores acessam redes sociais enquanto assistem a programas de TV26.
Assim, a tendência do mercado audiovisual é oferecer programação
em diversas telas: tablet, smartphone, smartTV, ou mesmo TV convencional ligada a console de videogame.
Nesse caminho estão a Globosat, com o Muu, e a Net Serviços,
com o Now, buscando atender ao público com conteúdo sob demanda (VoD), do mesmo modo que o americano Netflix, que tem o Brasil como principal mercado na América Latina. A oferta de menus
com filmes e séries on-line para assinantes confirma tendência mundial, antecipando a produção específica para o segmento. Globo,
Bandeirantes e RedeTV também já disponibilizam sua programação
de TV e de rádio em celulares e tablets. Portanto, nesse cenário de
convergência midiática e de transmidiação, vemos empresas de televisão atuando com tecnologias da internet e, ao mesmo tempo,
empresas de internet produzindo e distribuindo conteúdo de TV.
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana
As emissoras de televisão brasileiras investiram em formatos
tradicionais, mantendo a telenovela como seu principal represenBrasil atinge 94,2 milhões de usuários de internet. INFO Online. 14/12/2012.
Facebook lidera a publicação de anúncios. Meio e Mensagem. 08/02/2012.
24
Brasil é o segundo com mais usuários no Twitter. Exame. 02/02/2012.
25
Último capítulo de Avenida Brasil domina redes sociais. A Tarde. 20/10/2012.
26
No mundo, 62% das pessoas usam redes sociais ao assistir TV. Teletime. 28/08/2012.
22
23
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 139
tante. Outros formatos, como série e soap opera (Louco por elas
e Malhação), apresentaram renovação de temporadas, confirmando
a escolha por títulos já conhecidos do grande público. A renovação de temporada também ocorreu com a telenovela Rebelde (duas
temporadas), configurando um fato raro em termos de Brasil. Duas
emissoras (Band e TV Brasil) não apresentaram ficções inéditas, e
a ausência de títulos inéditos importados confirma a predominância
da produção 100% nacional.
Tabela 1. Ficções exibidas em 2012
(nacionais e importadas; estreias e reprises; coproduções)
TÍTULOS NACIONAIS INÉDITOS – 35
TÍTULOS IMPORTADOS INÉDITOS – 0
Globo – 23 títulos nacionais
1. A grande família – 12ª temp. (série)
2. A vida da gente (telenovela)
3. Amor eterno amor (telenovela)
4. Aquele beijo (telenovela)
5. As brasileiras (série)
6. Avenida Brasil (telenovela)
7. Cheias de charme (telenovela)
8. Como aproveitar o fim do mundo (minissérie)
9. Dercy de verdade (minissérie)
10. Doce de mãe (telefilme)
11. Fina estampa (telenovela)
12. Gabriela (telenovela)
13. Guerra dos sexos (telenovela)
14. Lado a lado (telenovela)
15. Louco por elas –1ª temp. (série)
16. Louco por elas – 2ª temp. (série)
17. Malhação – 19ª temp. (soap opera)
18. Malhação – 20ª temp. (soap opera)
19. O brado retumbante (série)
20. Salve Jorge (telenovela)
21. Suburbia (minissérie)
22. Tapas & beijos – 2ª temp. (série)
23. Xingu (minissérie)
TÍTULOS DE REPRISES – 20
Record – 9 títulos nacionais
24. Balacobaco (telenovela)
25. Fora de controle (série)
26. Máscaras (telenovela)
SBT
1. A usurpadora (telenovela – México)
2. Amigas e rivais (telenovela)
3. Canavial de paixões (telenovela)
4. Fascinação (telenovela)
5. Gotinha de amor (telenovela – México)
6. Maria do bairro (telenovela – México)
7. Maria Mercedes (telenovela – México)
8. Marimar (telenovela – México)
9. Marisol (telenovela)
10. Pequena travessa (telenovela)
11. Pícara sonhadora (telenovela)
Globo
12. Da cor do pecado (telenovela)
13. Mulheres de areia (telenovela)
14. Chocolate com pimenta (telenovela)
Record
15. A história de Ester (minissérie)
16. Rei Davi (minissérie)
17. Vidas opostas (telenovela)
TV Brasil
18. Brilhante F. C. (minissérie)
140 | Obitel 2013
27. Milagre dos pássaros (telefilme)
28. Rebelde – 1ª temp. (telenovela)
29. Rebelde – 2ª temp. (telenovela)
30. Rei Davi (minissérie)
31. Tragédia da rua das flores (telefilme)
32. Vidas em jogo (telenovela)
SBT – 3 títulos nacionais
33. Amor e revolução (telenovela)
34. Carrossel (telenovela)
35. Corações feridos (telenovela)
19. Vida de estagiário (série)
Band
20. Julie e os fantasmas (série)
TOTAL GERAL DE TÍTULOS EXIBIDOS: 55
Fonte: Obitel Brasil
O que de mais interessante ocorreu no cenário da ficção televisiva no país, em 2012, talvez seja o fato de que 100% dos títulos de
estreia terem sido produções nacionais e que não tenha havido nenhuma produção importada. No geral, as emissoras de televisão brasileiras investiram em formatos ficcionais tradicionais, mantendo a
telenovela como seu principal representante. Outros formatos, como
série (A grande família, Louco por elas, Tapas & beijos, Globo)
e soap opera (Malhação, Globo), apresentaram novas temporadas.
Um fato raro ocorreu com a exibição de uma segunda temporada de
uma telenovela (Rebelde, Record). Band e TV Brasil não exibiram
ficções inéditas.
Ao todo (títulos inéditos e reprises) foram 55 ficções televisivas em 2012 frente a 67 exibidas no ano anterior, com uma queda de
17,9%. Quanto às ficções de estreia, a Globo continua na liderança,
com a produção de 65,7% dos títulos, seguida com larga distância
pela Record, com 25,7%, e pelo SBT, em terceiro lugar com 8,5%
do total de inéditos. Em relação aos 20 títulos reprisados, observa-se que o número permaneceu constante em relação a 2011, sendo
que 15 são nacionais e cinco estrangeiros. Todas as reprises importadas (cinco da mexicana Televisa) foram exibidas pelo SBT. Essa
emissora foi responsável por 55% das reprises, seguida por Globo
e Record, ambas com 15%, TV Brasil, com 10%, e Band, com 5%.
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 141
Tabela 2. A ficção de estreia em 2012: países de origem
País
NACIONAL
(total)
IBERO-AMERICANA
(total)
Títulos
%
Cap./
Epis.
%
Horas
%
35
100%
2.186
100%
1.503:40
100%
0
–
0
–
0
–
Argentina
–
–
–
–
–
–
BRASIL
35
100%
2.186
100%
1.503:40
100%
Chile
–
–
–
–
–
–
Colômbia
–
–
–
–
–
–
Equador
–
–
–
–
–
–
Espanha
EEUU (produção
hispânica)
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
México
–
–
–
–
–
–
Peru
–
–
–
–
–
–
Portugal
–
–
–
–
–
–
Uruguai
–
–
–
–
–
–
Venezuela
Latino-Americana
(âmbito Obitel)
Latino-Americana
(âmbito não Obitel)
Otras (produções e coproduc. de outros países
ibero-am./iberoam.)
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
TOTAL
35
100%
2.186
100% 1.503:40
100%
Fonte: Obitel Brasil Com a totalidade de produções nacionais, em 2012, o país
teve 35 estreias contra 41 em 2011, representando uma queda de
14,6%. Duas emissoras, Band e TV Brasil, não exibiram títulos de
estreia, e a Globo diminuiu sua produção. Apesar da queda no número de títulos, houve pequeno aumento de 2,7% no número de
horas.
1.081
532
2.186
Prime Time (19:00-22:00)
Noite (22:00-6:00)
TOTAL
0
0
5
3
0
0
2
35
Minissérie
Telefilme
Unitário
Docudrama
Outros (soap opera etc.)
TOTAL
Fonte: Obitel Brasil
51,4
7
5,7
100
8,6
14,3
20,0
18
%
Telenovela
Títulos
Série
Formatos
100
24,3
49,5
26,2
0
%
0
1.503:40
364:35
826:45
312:20
H
Nacionais
100
24,2
55,0
20,8
0
%
0
–
–
–
–
C/E
0
–
–
–
–
%
0
–
–
–
–
H
Ibero-Americanas
0
–
–
–
–
%
261
2.186
0
0
3
52
131
1.739
Cap./Ep.
11,9
100
0
0
0,1
2,4
6,0
79,6
%
Nacionais
103:15
1.503:40
0
0
10:40
39:15
74:35
1.275:55
Horas
6,9
100
0
0
0,7
2,6
4,9
84,9
%
–
0
–
–
–
–
–
–
Títulos
–
0
–
–
–
–
–
–
%
2.186
532
1.081
573
0
C/E
100
24,3
49,5
26,2
0
%
–
0
–
–
–
–
–
–
Cap./Ep.
–
–
–
–
–
–
–
%
–
0
–
–
–
–
–
–
Horas
1.503:40
364:35
826:45
312:20
0
H
Total
Ibero-Americanas
Tabela 4. Formatos da ficção nacional e ibero-americana
573
Tarde (12:00-19:00)
Fonte: Obitel Brasil 0
C/E
Manhã (6:00-12:00)
Faixas horárias
Tabela 3. Capítulos/Episódios e horas emitidos por faixa horária
–
–
–
–
–
–
–
%
100
24,2
55,0
20,8
0
%
142 | Obitel 2013
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 143
O prime time nacional liderou em relação às demais faixas horárias, concentrando 49,5% dos capítulos/episódios e 55% das horas produzidas em 2012. Na faixa da tarde, houve estabilidade no
total de horas de ficção em comparação a 2011. A faixa da noite
diminuiu quase 10% de horas pela queda no número de séries usualmente exibidas no horário. Em 2012, não houve exibição de títulos
ibero-americanos.
Novamente, o formato mais exibido foi telenovela, com 18 títulos, quatro a mais que em 2011. O aumento se deve ao fato de
SBT e Record terem produzido duas telenovelas a mais. A Globo
manteve as dez telenovelas exibidas em 2011, mais de 55% do total
de títulos no formato. O aumento de títulos pouco influenciou o total
de horas (acréscimo de apenas 50 horas). Isso se explica por duas
temporadas de Rebelde, que altera o número de títulos, mas não o
de horas, e pela menor duração dos capítulos e das telenovelas de
SBT e Record.
A quantidade de séries teve considerável queda de cinco títulos
frente aos 13 do ano anterior. Em 2011, a Globo produziu 11 séries,
enquanto em 2012 foram seis. As minisséries, ao contrário, mantêm
um número relativamente estável de títulos: cinco, em 2012, e sete,
em 2011. Os formatos telefilme e outros permaneceram com três e
dois títulos, respectivamente. Não houve exibição de unitários nem
de docudramas.
Tabela 5. Formatos da ficção nacional por faixa horária
Telenovela
Manhã
–
–
3
Série
Minissérie
Telefilme
Unitário
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
7
5
3
–
35,0
14,3
15,0
–
6
6
3
–
17,1
17,1
8,6
–
Docudrama
Outros (soap
opera etc.)
TOTAL
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
2
40,0
–
–
–
–
2
5,7
0
0
5
100
10
100
20
100
35
100
Formatos
Fonte: Obitel Brasil
% Tarde
Prime
% Noite % Total %
Time
60,0
10
100
5
25,0 18
51,5
%
144 | Obitel 2013
As telenovelas dominaram o prime time, reafirmando-se como
o formato nobre da TV brasileira. A diversificação de formatos
ocorreu novamente na faixa da noite, com telenovelas, séries, minisséries e telefilmes. O prime time exibiu dez telenovelas, seis delas da Globo (Aquele beijo, Cheias de charme, Guerra dos sexos,
Fina estampa, Avenida Brasil e Salve Jorge). A Record exibiu duas
temporadas de Rebelde, e o SBT, que não produziu ficção em 2011,
apresentou duas telenovelas nessa faixa (Corações feridos e Carrossel).
O horário noturno concentrou o maior número de ficções nacionais, consolidando a tendência, desde 2010, de deslizamento do
horário nobre para o noturno. A faixa apresenta maior concentração
de séries e minisséries. Em 2012 foram exibidas sete séries, seis da
Globo (A grande família, As brasileiras, Tapas & beijos, O brado
retumbante e duas temporadas de Louco por elas) e uma da Record
(Fora de controle), e cinco minisséries, quatro da Globo (Como
aproveitar o fim do mundo, Dercy de verdade, Suburbia e Xingu)
e uma da Record (Rei Davi). Ainda na faixa noturna, dos 20 títulos
exibidos, cinco foram telenovelas – uma da Globo (Gabriela), uma
do SBT (Amor e revolução) e três da Record (Vidas em jogo, Máscaras e Balacobaco) – e três telefilmes, dois da Record (Milagre
dos pássaros e Tragédia da rua das flores) e um da Globo (Doce
de mãe).
A faixa da tarde, antes do prime time, foi ocupada pela Globo,
com três telenovelas (A vida da gente, Amor eterno amor e Lado a
lado) e duas temporadas da soap opera juvenil Malhação. O horário
da manhã continuou sem exibir ficção.
Tabela 6. Época da ficção
Títulos
%
Presente
Época
29
83,0
de Época
5
14,0
Histórica
1
3,0
Outra
–
–
TOTAL
35
100,0
Fonte: Obitel Brasil
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 145
Desde o início do monitoramento Obitel, em 2006, há predomínio de ficções ambientadas no presente. Em 2012, a tendência se
manteve em 83% das narrativas. Ao contrário dos números significativos de títulos históricos no ano anterior (seis), em 2012 houve
apenas um, a minissérie Xingu. Predominaram ficções ambientadas
no presente e de época, essa última representada pelas minisséries
Dercy de verdade, O brado retumbante e Suburbia e pelas telenovelas Gabriela e Lado a lado, todas da Globo.
Tabela 7. Os dez títulos mais vistos: origem, rating, share
Título
País de origem da ideia
original ou
roteiro
Produtora
Nome do roteiCanal rista ou autor da
ideia original
RaShare
ting
1
Fina
estampa
Brasil
Globo
Globo
Aguinaldo Silva
42,12
67,3
2
Avenida
Brasil
Brasil
Globo
Globo
João Emanuel
Carneiro
41,51
66,5
3
Cheias de
charme
Brasil
Globo
Globo
Filipe Miguez e
33,92
Izabel de Oliveira
58,3
4
Salve
Jorge
Brasil
Globo
Globo
Gloria Perez
32,80
56,4
5
Tapas &
beijos
Brasil
Globo
Globo
Claudio Paiva
27,83
48,0
6
Aquele
beijo
Brasil
Globo
Globo
Miguel Falabella 27,49
50,3
Brasil
Globo
Globo
Oduvaldo Vianna
27,48
Filho
48,4
Brasil
Globo
Globo
Elizabeth Jhin
26,16
49,6
7
8
A grande
família
Amor
eterno
amor
9
Doce de
mãe
Brasil
Globo
Globo
Jorge Furtado
e Ana Luiza
Azevedo
25,60
47,4
10
Guerra
dos sexos
Brasil
Globo
Globo
Silvio de Abreu
24,92
48,2
Total de produções: 10
Roteiros estrangeiros: 0
100%
0%
Fonte: Obitel Brasil
146 | Obitel 2013
Pelo sexto ano consecutivo, os títulos da Globo ocupam integralmente o quadro das dez ficções mais vistas, com produções nacionais e roteiros originais. Nos dois primeiros lugares estão telenovelas do horário das 21h, Fina estampa e Avenida Brasil. Destaca-se,
no sétimo lugar, a longevidade da série A grande família, no ar desde 2001, que esteve entre os Top Ten em todos os anos monitorados
pelo Obitel. Registra-se em 2012 a presença de novos autores, como
Filipe Miguez e Izabel de Oliveira (Cheias de charme), ao lado de
já consagrados, como Aguinaldo Silva e João Emanuel Carneiro.
Destaca-se a média de rating das dez ficções mais assistidas, com
aumento de 5,4% em relação ao ano passado. O share, que indica a
fidelização da audiência, manteve a média anteriormente registrada.
Tabela 8. Os dez títulos mais vistos: formato,
duração, faixa horária
Título
1
2
3
Formato
Fina estampa Telenovela
Avenida
Brasil
Cheias de
charme
Drama
Telenovela
Drama
Telenovela
Comédia
Romântica
4
Salve Jorge
5
Tapas &
beijos
Série
6
Aquele beijo
Telenovela
Telenovela
A grande
Série
família
Amor eterno
Telenovela
8
amor
9 Doce de mãe Telefilme
Guerra dos
Telenovela
10
sexos
Fonte: Obitel Brasil
7
Gênero
Drama
Comédia
Romântica
Comédia
Romântica
Nº de
Data da pricap./ep. meira e última Faixa
(em
emissão (em horária
2012)
2012) (*)
Horário
72
02/01 a 24/03
nobre
Horário
179
26/03 a 20/10
nobre
Horário
143
16/04 a 29/09
nobre
Horário
62
22/10 ( cont.)
nobre
37
03/04 a 18/12
Noturno
74
02/01 a 14/04
Horário
nobre
Comédia
37
05/04 a 20/12
Noturno
Romance
161
05/03 a 08/09
Tarde
Comédia
Comédia
Romântica
1
27/12
80
01/10 (cont.)
Noturno
Horário
nobre
A Tabela 8 mostra sete telenovelas entre os dez títulos mais
vistos de 2012, reiterando a preferência do brasileiro pela longa se-
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 147
rialidade; dois são séries, e um é telefilme, Doce de mãe, formato
que surge pela primeira vez entre os dez mais.
Em relação ao gênero, observa-se a primazia da comédia romântica, seguido de perto pelo drama. Entre as comédias românticas
estão três telenovelas e uma série; já as três telenovelas das 21h
enquadram-se no gênero drama. As comédias são representadas por
uma série e um telefilme. O romance é representado por uma telenovela da faixa das 18h.
Seis das telenovelas do Top Ten são do horário nobre, sendo
os dois primeiros e o quarto lugares ocupados por telenovelas das
21h. O horário noturno exibiu duas séries e um telefilme, e a faixa
da tarde apresentou também uma telenovela. Configura-se, quanto
ao gênero, uma espécie de tradição da telenovela brasileira: novela
das seis, romance; novela das sete, comédia romântica; novela das
nove, drama. Entre os Top Ten registrou-se uma queda expressiva
no número médio de capítulos/episódios: foram 64,6 contra 92,1
em 2011.
Tabela 9. Temáticas nos dez títulos mais vistos (*)
Títulos
1
2
TEMÁTICAS DOMINANTES
(ATÉ CINCO TEMAS MAIS
IMPORTANTES)
Fina
estampa
– Honestidade e trabalho como
valores sociais
– Desigualdade e confronto entre
classes sociais
– Segredos do passado
– Disputa pela guarda de menores
– Percepção extrassensorial
Avenida
Brasil
– Casamento por interesse e infidelidade
– Vingança, segredos do passado e
troca de identidade
– Cotidiano da classe C
– Universo do futebol
– Primeiro amor
TEMÁTICAS SOCIAIS
(ATÉ CINCO TEMAS MAIS
IMPORTANTES)
– Violência doméstica
– Direitos da infância e adolescência
– Incentivo à leitura e à escrita
– Fertilização in vitro e reprodução assistida
– Preconceito e discriminação
sexual
– Identidade da nova classe C
– Incentivo ao hábito da leitura
– Abandono de crianças
148 | Obitel 2013
Cheias de
charme
– Show Business popular
– Cotidiano das empregadas
domésticas
– Relação patroa e empregada
– Trabalho e família da mulher
contemporânea
– Usos da internet
– Direitos das empregadas
domésticas
– Cultura do grafite
– Responsabilidade paterna na
educação dos filhos
4
Salve
Jorge
– Interculturalidade
– Crime organizado
– Busca da origem familiar
– Adoção ilegal
– Relacionamentos familiares
– Tráfico de pessoas
– Exploração sexual
– Pacificação Morro do Alemão
– Alienação parental
– Oneomania (vício em compras)
5
– Amizade
– Relacionamento amoroso e extraTapas &
conjugal
beijos
– Amizade de mulheres acima de
30 anos
6
– Revelação de identidades
– Transexualidade
– Preconceito social e racial
– Corrupção e crime organizado
– Abandono e maltrato de menores
3
Aquele
beijo
– Relações familiares
A grande – Relações entre vizinhos
7
família
– Cotidiano das famílias das classes
populares
– Vidas passadas, espíritos,
regressão
Amor
– Amor de infância
8 eterno
– Busca de alma gêmea
amor
– Sequestro de criança
– Ambição e dinheiro
Doce de – Terceira idade
9
mãe
– Família, amizade e camaradagem
– Disputas e relações entre gêneros
– Divisão de herança
Guerra
10
– Desigualdade e confronto entre
dos sexos
classes sociais
– Ambição
Fonte: Obitel Brasil
– Cultura suburbana
– Direitos da infância e
adolescência
– Divulgação da cultura e das
artes
– Educação formal /
alfabetização
– Assédio sexual
– Atividades ilegais e corrupção
– Protagonismo feminino
– Cultura suburbana
– Crianças desaparecidas
– Espiritualidade
– Problemáticas da terceira
idade
– Relações de gênero
– Antitabagismo
A maior parte das temáticas dominantes nas ficções do Top Ten
de 2012 refere-se à matriz do gênero melodramático como relações
familiares, vingança, ambições, adultério, revelações de identidade,
disputas entre classes sociais, preconceitos raciais, de classe e de gê-
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 149
nero, abandono de menores, corrupção. No entanto, mais uma vez,
constata-se que é no desdobramento desses temas, a partir de sua
apropriação no universo social brasileiro, que surgem abordagens,
se não inovadoras, pelo menos questionadoras em relação ao status
quo, como ocorre com o enfoque de temas que colocam em debate
questões sociais e morais de impacto na sociedade, como: homossexualidade e transexualidade, direitos das crianças ou corrupção.
Ou ainda, o reconhecimento de novos atores sociais com a ascensão
de boa parte da população brasileira à chamada “nova classe C”. O
refinamento dessas discussões e suas implicações sociais ganha força por meio da abordagem dos temas sociais nas tramas ficcionais,
principalmente nas telenovelas, fato que as caracteriza como recurso comunicativo (Lopes, 2009). Assim, ganham corpo não apenas
questões como direitos das empregadas domésticas, das mulheres,
das crianças, mas também se discutem novos hábitos de consumo e
práticas sociais de camadas da população alijadas do cenário econômico nacional. Essa aproximação realizada pelas telenovelas (como
Fina estampa, Cheias de charme, Avenida Brasil, Salve Jorge), e
também por séries (A grande família, Tapas & beijos), propicia o
debate de temas que caracterizam as transformações da sociedade
brasileira atual. Elemento definidor da narrativa da telenovela brasileira, as temáticas sociais se desenvolvem ao longo da trama em
diferentes núcleos, possibilitando o tratamento do assunto a partir de
diversas perspectivas, complementares e antagônicas, o que confere
à telenovela a condição de “narrativa televisiva complexa” (Mittell,
2012) desde a década de 1970.
150 | Obitel 2013
Tabela 10. Perfil de audiência dos dez títulos mais vistos:
gênero, idade, nível socioeconômico
Títulos Canal
Fina
1
Globo
estampa
Avenida
2
Globo
Brasil
Cheias
3 de
Globo
charme
4
Salve
Jorge
Tapas &
beijos
Aquele
6
beijo
A grande
7
família
Amor
8 eterno
amor
5
9
Faixas de idade %
Mu- Ho- 4- 12- 18- 25lheres mens 11 17 24 34
3549
Nível socioeconômico %
50+ AB
C
DE
62,95 37,05 8,9 8,5
9,7 17,1 23,5 32,1 32,0 52,7 15,3
62,23 37,77 8,9 8,5
9,7 17,7 24,0 31,2 33,6 52,3 14,1
65,66 34,34 9,6 8,8
9,7 16,3 22, 9 32,7 31,5 52,7 15,8
Globo
62,20 37,80 8,6 8,8
9,6 17,2 23,9 31,9 33,4 51,7 14,9
Globo
62,40 37,60 9,3 9,5 11,4 19,1 24,4 26,2 35,4 51,3 13,2
Globo
65,89 34,11 8,1 7,6
Globo
61,91 38,09 9,5 9,6 10,5 19,0 24,3 27,1 35,5 51,8 12,6
Globo
67,11 32,89 7,6 8,2
Doce de
Globo
mãe
Guerra
10 dos
sexos
Gênero %
Globo
9,2 15,6 23,4 36,1 31,0 52,6 16,4
9,7 14,7 22,6 37,2 31,3 52,0 16,7
62,93 37,07 8,6 9,2 11,2 16,2 23,7 31,2 36,4 52,2 11,4
64,49 35,51 9,1 8,8
9,4 15,6 22,8 34,3 31,8 51,6 16,6
Fonte: Obitel Brasill
A amostra de perfil de audiência dos dez títulos mais vistos
demonstra que o público feminino continua predominando na audiência da ficção televisiva, e, apesar de as telenovelas exibidas às
18h e às 19h chamarem mais sua atenção, observa-se que há um
aumento na porcentagem de público masculino na composição da
audiência após as 21h (nas telenovelas Avenida Brasil e Salve Jorge
e nas séries A grande família e Tapas & beijos). Os dados de A grande família continuam a subir na audiência do público masculino há
mais de três anos.
Quanto à faixa etária, Cheias de charme, telenovela das 19
horas, atingiu a mesma audiência da telenovela das 21 horas – com
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 151
mais de 70% do público acima de 25 anos. As séries A grande família e Tapas & beijos, apesar de exibidas no horário noturno, atraem
faixas etárias distintas, destacando-se o público mais jovem. Pessoas acima de 50 anos preferiram as tramas das telenovelas Amor
eterno amor e Aquele beijo.
Quanto ao nível socioeconômico, a classe C foi audiência predominante em todas as ficções Top Ten. Destaca-se o telefilme Doce
de mãe, exibido no final de dezembro, que chamou a atenção da
classe AB, seguido pelas séries A grande família e Tapas & beijos.
3. A recepção transmidiática
A telenovela Avenida Brasil marcou a história da televisão brasileira no que se refere a índices de engajamento da audiência com
a trama ficcional do horário nobre, repercutindo de maneira surpreendente diante do atual contexto de espalhamento das audiências e
consumo de conteúdos em multiplataformas. Um dos reflexos desse êxito foi o volume de conteúdos gerados por produtores e usuários sobre a ficção, propagado nas redes sociais, fato que chamou a
atenção da imprensa internacional27. As hashtags #avenidabrasil e
#oioioi (+ nº do capítulo) foram, ao longo da última semana da telenovela, Tops no Twitter Worldwide Trends. As alterações na agenda
da presidente da República e o transbordamento da temática da telenovela para a inteira programação da Globo, criando um reforço das
expectativas por contágio dos programas, às vésperas da exibição do
último capítulo na TV, também são indicativos do fenômeno. Nas
redes, dois fatores contribuíram para o engajamento e a transmidiação do conteúdo ficcional de Avenida Brasil: o hábito dos brasileiros
de assistir TV ao mesmo tempo em que buscam e geram conteúdos
sobre a grade horária nas redes sociais28, e o volume de conteúdos
27
Fonte: Groundbreaking soap opera grips Brazil. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/
news/world-latin-america-20001198. Acesso em: 19/10/2012.
28
De acordo com a pesquisa “Social TV”, do Ibope, dentre os internautas brasileiros,
43% têm o hábito de assistir TV enquanto navegam na internet. Jovens entre 20 e 24
anos são os mais adeptos desse comportamento, já os adolescentes de 15 a 19 anos são os
que mais geram conteúdo sobre TV na internet. As telenovelas são as que mais recebem
comentários dos internautas.
152 | Obitel 2013
gerados pelo produtor na fanpage da Rede Globo29 e na página oficial da telenovela no Facebook30, que reuniu aproximadamente meio
milhão de fãs.
Tabela 11. A ficção transmidiática: tipos de interação
e práticas dominantes
Ficção Emisescolhida sora
Avenida
Brasil
Globo
Páginas de internet
Site oficial
tvg.globo.com/
novelas/avenida-brasil/
Tipos de
interação
transmidiática
Níveis de
interatividade
Visualização interativa em rede
Ativa
Página de Facebook
Visualização
http://www.face- transmidiátibook.com/Avenica
daBrasilNovela
Criativa
Visualização
Twitter Oficial
transmidiáti@Globo_AvBrasil
ca
Criativa
Blog Oioioi
Visualização
interativa em
tempo real
Ativa
Loja
Visualização
interativa
Ativa
Mídia Out of Home Visualização
Passiva
Práticas
dominantes dos
usuários
Interpretação
Compartilhamento
Ludicidade
Recomendação
Interpretação
Comentário
Compartilhamento
Recomendação
Discussão
Celebração
Ludicidade
Coleção
Crítica
Paródia
Remix
Interpretação
Comentário
Compartilhamento
Recomendação
Discussão
Celebração
Crítica
Paródia
Remix
Interpretação
Comentário
Compartilhamento
Discussão
Consumo
Recomendação
Interpretação em
ônibus e metrô
Fonte Obitel Brasil
Disponível em: http://www.facebook.com/RedeGlobo. Acesso em: 12/03/2012.
Disponível em: www.facebook.com/AvenidaBrasilNovela. Acesso em: 15/12/2012.
Mais de 2.700 posts e 4 mil fotos foram disponibilizadas pelos produtores na fanpage
durante o período de exibição de Avenida Brasil.
29
30
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 153
Virais31 no formato fotomensagem divulgados no Facebook foram apropriados e disseminados pelos usuários nas redes sociais.
Outro destaque foram os aplicativos desenvolvidos pelos produtores, que geraram grande volume de apropriação: o mais famoso foi “Congele seu Avatar”32, que permitia aos fãs congelar fotos no
perfil.
O site oficial da telenovela disponibilizou a trilha sonora nacional e internacional, e o blog Oioioi trouxe os pontos quentes da
trama em formato de imagens em GIF animado, permitindo o acesso
a cenas e comentários. Games e receitas da personagem Nina foram passadas para o público por meio do site oficial. Avenida Brasil
foi transformada na websérie Novela Brasil, com quase 2 milhões
de visualizações no YouTube, e, posteriormente, em peça de teatro
com o mesmo nome33. A telenovela também foi tema do enredo da
escola de samba carioca São Clemente no Carnaval do Rio de Janeiro de 2013. Destaquem-se as diversas operações transmídia da
telenovela, que engajaram produtores, fãs, atores, agentes culturais.
A pesquisa empírica realizada no YouTube durante a última
semana de exibição da telenovela (15/10/12 a 20/10/12) apontou
37 vídeos publicados por 23 usuários. Esses vídeos apresentaram
1.254.011 visualizações, 5.927 curtir e 441 usuários que clicaram em
“Não Gostei”. Ao todo, 2.082 comentários foram postados. Destaca-se como o vídeo mais visto na semana Último capítulo da telenovela
[Avenida Brasil]34, retirado do ar em razão de direitos autorais. Contudo, apropriações criativas no YouTube se deram através do trabalho
dos fãs em transpor a história dos personagens para o funk carioca.
Novela na Internet: relembre alguns “virais” de Avenida Brasil. Portal Terra.
09/10/2012. Disponível em: http://diversao.terra.com.br/tv/novelas/avenida-brasil/novela-na-internet-relembre-alguns-virais-de-avenida-brasil,ab09c1851366a310VgnCLD200
000bbcceb0aRCRD.html?vgnextfmt=fmtExpandedPics
32
Fonte: http://tvg.globo.com/novelas/avenida-brasil/Fique-por-dentro/noticia/2012/08/
me-congela-transforme-suas-fotos-com-o-efeito-do-final-de-avenida-brasil.html. Acesso
em: 22/08/2012.
33
Fonte: http://televisao.uol.com.br/noticias/redacao/2012/09/14/aprovada-pelo-elenco-de-avenida-brasil-parodia-da-novela-vira-peca-de-teatro.htm. Acesso em: 14/09/2012.
34
http://youtu.be/kHZvj4KFAPQ
31
154 | Obitel 2013
Segundo Laignier (2012), o funk carioca caracteriza-se como
apropriação musical de caráter popular que inclui elementos para o
entendimento de certos contextos sociais urbanos contemporâneos.
Apesar disso, essas apropriações são muitas vezes observadas de
longe e discriminadas como superficiais. A apropriação da história dos personagens de Avenida Brasil para o funk trouxe à tona
discussões sobre traição, poligamia, padrões de beleza da mulher
brasileira e a condição das empregadas domésticas em a Dança do
Amendoim35 – protagonizada pela personagem Zezé, que trabalhava
na casa de Tufão e Carminha. As personagens Nina e Carminha
também ganharam o funk Me serve vadia, e o Funk da Carminha36,
que remetiam à vingança entre as protagonistas. Outros personagens
foram homenageados por meio do funk, entre eles, Tufão, Suélen,
Ágata e Cadinho.
4. O mais destacado do ano
“Nunca houve uma novela como Avenida Brasil.”37
Desde a estreia, a telenovela Avenida Brasil (Globo, 2012) –
escrita por João Emanuel Carneiro e dirigida por Ricardo Waddington, Amora Mautner e José Luiz Villamarim – foi destaque em todos os meios de comunicação (rádio, TV, internet, redes sociais38),
que repercutiam o impacto da trama das 21h. Impacto que ganhou
força ao longo dos 179 capítulos, culminando com a polarização
das atenções não apenas dos habituais telespectadores ou comentaristas de telenovelas, mas também de veículos de comunicação
internacionais (Forbes, The Guardian, Le Figaro), que procuravam
entender o “fenômeno” Avenida Brasil. Entre os muitos fatos que
https://www.youtube.com/watch?v=ZSYUc_8P4b8
http://youtu.be/6Z1uhIgmkBY
37
A novela que mudou o espectador, Época, 18/10/2012. Disponível em: http://revistaepoca.globo.com/cultura/luis-antonio-giron/noticia/2012/10/novela-que-mudou-o-espectador2.html
38
Fenômeno das redes sociais ao longo de sua exibição, a telenovela congestionou as
redes sociais em seu último capítulo (19/10/2012). A repercussão da telenovela nas redes
sociais é analisada no tópico 3 deste capítulo.
35
36
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 155
permitem dimensionar a comoção social (Mulgan, 1990) causada
pela telenovela, citamos dois: (1) as ações do Operador Nacional do
Sistema Elétrico para atender a um aumento estimado de mais de
5% no consumo de energia durante a exibição do último capítulo da
trama; (2) as mudanças e até mesmo adiamento de eventos públicos
planejados para o mesmo horário de exibição da telenovela. Destaca-se aqui o cancelamento, em pleno período de campanha para
as eleições municipais, de um importante comício político do qual
participaria a presidente da República. Esse cenário leva-nos a considerar o fenômeno Avenida Brasil como popular media event, ou
seja, como um evento que, entre outras coisas, “quebra o dia a dia,
mas de uma maneira mais rotineira”, com características de ritual e
que possui um papel na integração das sociedades (Couldry; Hepp,
2010, p. 8). Observamos nessa relação com a telenovela a criação
de comunidades de sentimentos (ou sentimentos coletivos) através
dos meios de comunicação na constituição de “condições de leitura,
crítica e prazer coletivos” (Appadurai, 2004, p. 20).
Cabe ainda destacar o protagonismo da chamada “nova classe C” brasileira no roteiro – elemento de construção ficcional ou
espelho de uma realidade que aflora no país e que redimensiona
a economia e a sociedade brasileiras? Esse foi o tema principal e
motor de inúmeros artigos sobre costumes e hábitos de consumo
dos personagens em cadernos de economia de jornais e revistas39. O
crescimento constante do engajamento da audiência ao longo da trama acarretou a preparação de campanhas publicitárias com até seis
meses de antecedência para aproveitar a audiência recorde esperada para o capítulo final, que arrebanhou mais de 500 anunciantes
nacionais, regionais e locais, que tiveram suas peças publicitárias
veiculadas entre as 122 exibidoras da emissora40. Em termos de au39
Nos Anuários 2011 e 2012, a questão da ascensão da “ nova classe C” foi destaque em
nossas análises. Entre os inúmeros artigos, Avenida Brasil: um retrato do Brasil emergente, Exame.com, 10/10/2012. Disponível em: http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/
entretenimento/noticias/avenida-brasil-um-retrato-do-brasil-emergente
40
Avenida Brasil: Quem matou o Max? Só depois de longos comerciais. O Estado de S.
Paulo, 19/10/2012.
156 | Obitel 2013
diência domiciliar, o último capítulo da telenovela obteve 56% de
rating e 81% de share, dados que evidenciam per se a importância
da trama no cenário televisivo brasileiro de 2012. Cifras, porcentagens, dados de investimento e audiência que à sua maneira traduzem o engajamento de milhões de brasileiros em torno da trama de
Avenida Brasil, mas que, ainda assim, precisam ser analisados em
termos discursivos e simbólicos para que possamos dimensionar o
impacto dessa telenovela.
Avenida Brasil é o suburbano Divino
Entendemos a telenovela e seus desdobramentos a partir da qualidade do ambiente produtivo baseando-nos em Buonanno (2004),
Lopes e Mungioli (2011) e no papel da produção televisiva na sociedade contemporânea (Mulgan, 1990) e mais especificamente da
telenovela na sociedade brasileira e sua constituição como narrativa
da nação (Lopes, 2009).
O roteiro de Avenida Brasil tem como arco principal a vingança de Rita/Nina (Mel Maia/Débora Falabella) contra sua madrasta,
Carminha (Adriana Esteves). Sob o clássico enredo da vingança e da
busca de reparação, a trama de Avenida Brasil apresentou um tratamento narrativo e estético que chamou a atenção de telespectadores
e críticos desde o primeiro capítulo. Porém, o sucesso e o impacto
de Avenida Brasil decorrem de um conjunto de fatores que, em nosso entender, elevou o grau de exigência do público e da crítica a um
novo patamar. Esse patamar se caracteriza pela adoção de recursos
narrativos e estéticos que colocam Avenida Brasil como uma espécie de divisor de águas em termos de telenovela. Como ocorreu com
Beto Rockfeller (Tupi, 1968) – telenovela considerada responsável
pela criação de um novo paradigma de telenovela pela adoção de um
modo de narrar (Lopes, 2009) e de representar os brasileiros (em teledramaturgia) na TV –, Avenida Brasil abordou temas e problemas
já vistos em outras telenovelas, mas o fez incorporando e traduzindo
de maneira magistral o esprit du temps de um país no qual ocorrem
grandes mudanças sociais que criam espaços simbólicos nos quais
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 157
reverberam os discursos de novos protagonistas. Entre as mudanças
sociais está a ascensão de milhões de brasileiros à “nova classe C”.
A ascensão foi representada na telenovela, embora ainda com
traços de estereotipia, a partir das enunciações de personagens do
subúrbio: o fictício Divino. Nesse local vivia quase a totalidade dos
personagens, e no qual pulsava a grande paixão de seus moradores,
o Divino Futebol Clube. Um subúrbio que não funcionava como
pano de fundo para o desenrolar das ações, mas que assumia, ele
próprio, a condição de protagonista, e que, aliado aos discursos das
personagens, constituía um sistema retórico estruturado com um estilo de uso, maneira de ser e maneira de fazer (Certeau, 2007). Nesse
cenário, surge a enunciação do subúrbio idealizado: as conversas de
bar sobre futebol e mulheres, as cadeiras na calçada, a solidariedade
entre a vizinhança, o pagode, a intensidade dos dramas familiares,
mas também o subúrbio da violência e da pobreza representadas
pelo lixão – local de partida e de chegada dos protagonistas.
Em Avenida Brasil, e no Divino, o time de futebol, as reuniões
da diretoria do clube, o lixão, as lojas populares, os alto-falantes
anunciando promoções e tocando música popular e a linguagem popular das conversas atualizam o espaço imaginado e o confrontam
com o espaço praticado, possibilitando observar as camadas do palimpsesto cultural que compõem os grandes centros urbanos do país.
A complexidade da tessitura desse subúrbio imaginado/praticado
permite-nos analisá-lo como espaço matricial (Martin-Barbero, s/d),
que se ancora em uma complexa rede intertextual e interdiscursiva.
É nesse espaço que ganha corpo o plano de vingança de Nina/
Rita (Débora Falabella) contra Carminha (Adriana Esteves), que,
embora tenha como arco narrativo principal um dos motivos mais
comuns e exitosos dos folhetins e melodramas, incorpora a ambivalência como característica-chave das protagonistas, imprimindo-lhes matizes que não se resumem à simples dicotomia bem x mal.
Destaca-se ainda no desfecho da trama a condenação de Carminha
à prisão e, após o cumprimento da pena, ao ostracismo no lixão –
lugar de seus sofrimentos e tormentos quando menina. Exílio a que
158 | Obitel 2013
ela própria se condena como forma de expiar seus pecados. O final
melancólico da mulher ambiciosa e criminosa reveste-se de simbolismo e aponta para um acerto de contas não apenas entre Nina
e Carminha, mas entre a sociedade e a vilã. Cabe ainda mencionar
a estrutura do roteiro caracterizado pelo ritmo acelerado das ações
e pela agilidade dos diálogos. Além disso, registra-se a utilização
de ganchos dramáticos fortes ao final de cada capítulo (recuperando e atualizando essa técnica comum às telenovelas das décadas de
1970-1980), que conferiram à trama um caráter único em termos de
impacto.
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social
Hoje os processos de digitalização nos permitem achar artefatos
e narrativas de nossa herança cultural em, até então, inimagináveis
mídias e plataformas. A acessibilidade a recursos escritos, visuais,
sonoros e audiovisuais aumentaram incrivelmente. Queremos falar
neste tópico do Anuário Obitel sobre a memória televisiva como
parte da memória midiática (media memory) (Neiger et al., 2011).
Estas são, de partida, um fenômeno complexo, multidimensional e
interdisciplinar integrando campos maiores dos estudos da memória
e dos estudos da mídia.
Segundo a história das mentalidades, a memória oral e as histórias de vida intervêm na historiografia oficial, pois fazem emergir
pontos de vista ocultos e contraditórios. Nos “lugares da memória”
(Nora, 1989), a “memória coletiva” (Halbwachs, 2006) trabalhada
pelas instituições, e a memória individual do recordador/narrador
(Benjamin, 1986), se mesclam e fazem com que a descrição da narrativa seja diferenciada e viva, mostrando a complexidade do acontecimento lembrado. O afloramento do passado se combina com o
processo presente da percepção, pois é do presente que parte o chamado ao qual a lembrança responde. São os “trabalhos da memória”
(Bergson, 2000).
Memórias coletivas não existem em abstrato. Sua presença e
influência somente podem ser percebidas através de seu uso perma-
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 159
nente, tal como formas públicas de rituais, cerimoniais, comemorações e meios de comunicação.
Estão aí colocadas as questões da capacidade e autoridade de a
televisão operar como agente da memória coletiva e o fato de que as
fronteiras das coletividades se tornaram inseparáveis do uso dessa
mídia. Nos gêneros (notícia, documentário, docudrama, ficção), nos
processos de produção-recepção (culturas e classes sociais) e nos
diferentes meios (televisão, imprensa, rádio, novas mídias) estão os
espaços e lugares de narrar a memória de uma nação.
Narrativas televisivas e memória social
O papel da memória na ficção televisiva brasileira pode ser explicado a partir do signo do reavivamento das memórias sociais e
afetivas. Buscamos compreender como a ficção televisiva e a telenovela, em particular, instauram por meio dos rastros e das marcas deixadas pelas narrativas – mas também pelos personagens,
pelo tempo social (Elias, 1983) e suas representações – produções
de sentido que redimensionam sentimentos de pertencimento, de
identidade que ancoram a construção da memória social. Barbosa
(2007, p. 25) considera “que os rastros são signos de representação.
Seguir um rastro significa percorrer um caminho já trilhado pelos
homens do passado”. O rastro que seguimos conduz a caminhos que
se confundem, que se cruzam em diversos momentos, mas cujas
características permitem observar as camadas do palimpsesto que
os compõem, como local privilegiado para se dimensionar como
as narrativas das telenovelas brasileiras desempenham o papel de
narrativa da nação (Lopes, 2004).
Ao longo dos últimos 50 anos, a ficção televisiva destacou-se, entre outros aspectos, como “forma de memória que registra,
no curso do tempo, o processo de transformação da sociedade brasileira” (Motter, 2000-2001, p. 76). Essa memória se elabora por
meio do jogo constante entre presente e passado e se enuncia por
discursos, mas também pelos espaços e temporalidades ficcionais
que remetem de maneira indelével a um momento histórico e social.
160 | Obitel 2013
Esse jogo permite a criação de “uma complexa estratégia retórica
de referência social”. (Bhabha, 2003, p. 206). É sobre esse aspecto de construção processual da memória coletiva e do sentido de
pertencimento que Lopes enfatiza que “a capacidade da televisão
de conectar dimensões temporais de presente, passado e futuro por
meio da comemoração e da construção de uma memória coletiva
[...] provoca, mesmo que de forma elementar, um sentido de pertencimento” (Lopes 2004, p. 135).
As lembranças fazem parte de um arquivo ao mesmo tempo
pessoal e coletivo, e como tal são retratadas e reproduzidas pela
mídia a fim de eternizá-las. Assim, além dos fatos históricos, documentais e das práticas culturais cotidianas, a memória pode surgir
ou ser reativada pela televisão, que, por participar ativamente do
processo de construção e resgate de um momento específico, gera
uma relação emocional e afetiva muito mais intensa. Essa afetividade, no caso da televisão, adquire proporções coletivas. Nos dias
de hoje, a influência das mediações das novas tecnologias de mídia
funcionam “como veículo para todas as formas de memória” (Huyssen, 2000, p. 20-21).
A TV relembra a ficção: reprises e remakes
Um dos mais tradicionais dispositivos de memória da ficção
televisiva é a reprise. A Globo apresenta toda tarde, desde 1980,
o programa Vale a pena ver de novo, que retransmite telenovelas
da própria emissora que tiveram destaque em épocas passadas. De
2006 a 201241, foram 17 telenovelas. Também entre as iniciativas da
Globo para preservação da memória da emissora está o Projeto Memória das Organizações Globo, que tem o portal Memória Globo42
como seu arquivo on-line. Por meio dele é possível acessar cenas,
fatos marcantes, curiosidades e informações sobre os programas
Para o desenvolvimento deste Tema do Ano, tomamos como tempo de análise os anos
de 2006 a 2012, que é o tempo do monitoramento feito pelo Obitel, o qual consta dos sete
anuários publicados até hoje.
42
http://memoriaglobo.globo.com/
41
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 161
exibidos desde 1965. O projeto também publicou cinco livros com
registros de programas, relatos de autores e uma biografia.
A Globo lançou em 2010 o Canal Viva, na TV paga, cuja programação reprisa minisséries, seriados, filmes, novelas e variedades
produzidos pela própria emissora, sendo a maioria ícones de uma
época. O canal já transmitiu 12 telenovelas das décadas de 1980 e
1990. Pensado para atender a um público composto por donas de
casa e à demanda da classe C, que, cada vez mais, adere à TV paga,
o canal tem tido entre os adolescentes um considerável público que
comenta e repercute a programação nas redes sociais. Atualmente, o
Canal Viva está acima da média de crescimento do mercado de TV
por assinatura e do aumento da base de assinantes, figurando entre
os dez canais mais vistos43.
O SBT e a Record também apresentam em sua programação
reprises de telenovelas e minisséries, inclusive no horário nobre,
por vezes no mesmo ano de sua estreia. Vale destacar que o SBT
reprisou telenovelas memoráveis da extinta TV Manchete: em 2008
reapresentou Pantanal (1990); em 2009-2010, Dona Beija (1986);
e em 2010-2011, A história de Ana Raio e Zé Trovão (1990-1991).
Através da produção de remakes, os telespectadores são levados a produzir novas significações das histórias contadas e também
a resgatar uma “memória midiática” feita de sensações anteriormente experienciadas. Em 2006, a Globo produziu dois remakes de telenovelas, O Profeta (1977) e Sinhá moça (1986), e a Record exibiu
a telenovela Bicho do mato (1972). Em 2008, a Globo regravou as
telenovelas Ciranda de pedra (1981); em 2009, Paraíso (1982); e
em 2010, Ti-ti-ti (1985). Ainda em 2010 a Record adaptou a minissérie A história de Ester (1998), e o SBT, a telenovela Uma rosa
com amor (Globo, 1973). Em 2011, a Globo exibiu o remake da
telenovela O Astro, escrita por Janete Clair em 1977.
Em 2012, a Globo produziu os remakes das telenovelas Gabriela, baseada em romance de Jorge Amado, exibida com grande
43
Canal Viva cresce em cobertura e audiência e entra no TOP 10 da TV por assinatura.
UOL. 18/04/2012.
162 | Obitel 2013
sucesso em 1975, e Guerra dos sexos, original de 1984. Em 2013,
dois grandes sucessos da década de 1970 devem seguir a tendência
das releituras: pela Globo, Saramandaia (Globo, 1976), e pela Record, Dona Xepa (Globo, 1977).
A TV relembra o passado: história e época
Uma vez que o sistema midiático passou a ter um papel decisivo nos processos de construção da sociedade (sua onipresença no
cotidiano, sua predominância na memória coletiva atual), é possível
ponderar sobre a relação da mídia com a história, como faz Edgerton
(2000, p. 1) em seu artigo “A televisão como historiador”:
A televisão é o principal meio pelo qual a maioria
das pessoas aprende história hoje. Como a televisão
afetou profundamente e alterou todos os aspectos da
vida contemporânea – da família à educação, governo, negócios e religião – os retratos não ficcionais e
ficcionais desse veículo transformaram igualmente
os modos de dezenas de milhões de espectadores de
pensar sobre os personagens históricos.
A narração de fatos da história brasileira aparece com mais frequência no formato minissérie exibido pela Globo, as chamadas minisséries brasileiras, embora esse formato não seja exclusivamente
dedicado às narrativas históricas ou de época. Com tratamento estético diferenciado – desde sua primeira produção, Lampião e Maria
Bonita (1982) –, as minisséries da Globo abordam, em produções
com roteiros originais ou adaptados de obras literárias, fatos sociais
e políticos que marcaram a história do país.
Passemos aos dados do período de 2006 a 2012. Em 2006, a
Globo exibiu a minissérie JK, que retratou a vida do ex-presidente
Juscelino Kubitschek, nos anos 1902 a 1976. Em 2008, outra minissérie da Globo, Queridos amigos, ambientada em 1989, relembrava
as lutas do final da década de 1960 contra o regime militar no Bra-
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 163
sil. O SBT exibiu, em 2011, a telenovela Amor e revolução, sobre
o período da ditadura militar no Brasil. A ambientação no passado
com base em época histórica é encontrada em ficções de temas bíblicos, como nas minisséries A história de Ester, Rei Davi e Sansão
e Dalila, exibidas pela Record em 2011. Outros exemplos são as
minisséries biográficas de cantores, reconstruindo épocas da música
brasileira. A Globo produziu Maysa – Quando fala o coração, em
2009, baseada na vida da cantora Maysa, retratando as décadas de
1950 a 1970; Dalva e Herivelto, exibida em 2010, mostrava, além
da vida amorosa dos protagonistas, a “Era do Rádio” no Brasil entre
as décadas de 1930 e 1960. Também da Globo são a minissérie
Chico Xavier, sobre o médium mineiro divulgador da doutrina espírita no Brasil, e a série de docudramas Por toda minha vida, que,
desde 2006, exibiu biografias de 15 personalidades da música popular brasileira.
A ficção também relembra o passado quando conta histórias
ambientadas em outras épocas e retrata seus costumes. Em 2006,
foi exibida a telenovela Alma gêmea (Globo), situada na década de
1920, e Bang bang (Globo), que remetia ao tempo do faroeste americano. Outras telenovelas foram Os ricos também choram (SBT),
retratando a década de 1930; Paixões proibidas (Band), com cenário
do início do século XIX; e Cidadão brasileiro (Record), que retratou
a vida do protagonista ao longo da segunda metade do século XX.
Em 2007, a Globo apresentou as minisséries Amazônia, que
retratou a formação da região e os problemas ambientais ao longo
século XX, e A pedra do reino, ambientada entre os séculos XIV
e XIX. A emissora exibiu ainda as telenovelas Desejo proibido,
mostrando a crise cafeeira dos anos 1930, e Eterna magia, que se
passava em meados do século XX. Em 2008, a Globo apresentou a
minissérie Capitu, adaptação do romance de Machado de Assis, ambientada no século XIX, e a telenovela Ciranda de pedra, que retratava os anos 1950. Entre os especiais, a Record exibiu Os óculos de
Pedro Antão e Sertão: Veredas, adaptações de clássicos da literatura,
e a Globo, O natal do menino Imperador, retratando a chegada, em
164 | Obitel 2013
1808, da família Real ao Brasil. Em 2009, foram exibidos a minissérie e o especial Decamerão – A Comédia do sexo (Globo), baseados
nos contos de Boccaccio, e o telefilme Uns braços (Record), adaptado de conto de Machado de Assis ambientado em 1875.
Em 2011, a Globo exibiu a telenovela Cordel encantado, ambientada no início do século XX, e a minissérie O bem-amado, um
remake da história passada nos anos 1970. A Record exibiu o unitário As mãos de meu filho, adaptação do conto de Érico Veríssimo
retratando os anos 1920, e o telefilme Menino Grapiúna, do romance de Jorge Amado ambientado nos anos 1920. Em 2012, através
de reconstituição detalhada da cidade do Rio de Janeiro do início
do século XX, a telenovela Lado a lado (Globo) abordou os conflitos sociais decorrentes do fim da escravidão e da emancipação
da mulher. A boa audiência obtida certamente deveu-se também à
memória do passado vista em sua confluência com a percepção do
presente (Bergson, 2010). Finalmente, a minissérie Suburbia (Globo) mostrou o cotidiano na década de 1990 de uma comunidade
negra na periferia do Rio de Janeiro.
O desfile da memória: o carnaval relembra a telenovela
Além da presença nas diversas mídias móveis, nas exteriores,
na internet, em revistas, livros, TV paga, a telenovela teve destaque no carnaval, numa convergência, se assim podemos dizer, de
dois verdadeiros media events da cultura do país. A escola de samba Grêmio Recreativo Escola de Samba São Clemente tornou-se
lugar de memória da telenovela quando usou memórias sociais e
afetivas em seu desfile no Sambódromo. Bem antes, produziu um
site e uma revista eletrônica44 revelando todo o processo que foi
a recuperação de sua memória das telenovelas com detalhes sobre
os critérios de seleção dessa memória. A escola de samba fez uma
Endereço eletrônico: http://www.saoclemente.com.br. Acessado em 06 de abril de
2013. Revista eletrônica G.R.E.S. São Clemente: http://www.eupensomais.com.br/revista/saoclemente/?pg=auth&evento=revista&id
ConviteDestino=saoclemente#/SAO%20CLEMENTE/14. Acessado em 06/04/2013.
44
Brasil – A telenovela como fenômeno midiático | 165
pesquisa sobre as telenovelas mais lembradas (porque queridas) do
público perguntando a cerca de 200 pessoas nas ruas, no Facebook e
no seu site “Que novela marcou sua vida?”. Com base nas respostas,
as lembranças foram reelaboradas, ressemantizadas, reapropriadas
na criação de um enredo: afinal, “pela memória, o passado não só
vem à tona das águas presentes, misturando-se com as percepções
imediatas, como também empurra, ‘desloca’ estas últimas” (Bosi,
1987, p. 9). Retratando personagens e situações do universo das
telenovelas, o enredo falou dos telespectadores, dos produtores e
artistas e, também, dos títulos, capítulos, cenas e personagens de 54
telenovelas. Todas as lembradas foram da Globo, sendo 28 produzidas nas décadas de 1970 (Selva de pedra, O bem amado, Roque
Santeiro, Dancin’ days) e de 1980 (Ti-ti-ti, Sinhá moça, O salvador
da pátria). Esse fato por si só reitera a importância desse período
para a teledramaturgia nacional.
Uma história da telenovela foi recordada e televisionada e se
apresentou mediante uma narrativa cantada, dançada, coreografada
e desfilada por uma escola de samba. Caberia falar de uma “história
popular televisiva”, configurada mediante a intersecção de exercícios de dramatização, condensação argumentativa, simplificação,
tratamento dúctil do passado e de compartilhamento, como espaço
de mediação, de uma “comunidade imaginada”, de uma certa memória comum. Essa memoria é naturalmente nutrida por referentes
existenciais, o que permite práticas de identificação guiadas por mecanismos de lembrança e de reconhecimento.
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3
Chile: mudanças na indústria1
Autores:
Valerio Fuenzalida, Pablo Julio Pohlhammer
Equipe:
Verónica Silva, Constanza Mujica,
Luis Breull, Alejandro Bruna*
1. O contexto audiovisual do Chile
1.1. A TV aberta no Chile
Gráfico 1. Emissoras nacionais da televisão aberta no Chile
Públicos
TVN
Universitários
UCV TV
Privados-Universitários
Canal 13
Privados
Telecanal
Red
Chilevisión
Mega
Total de emissoras: 7
Gráfico 2. Audiência da TV por canal (residências)
2%
3%
Canal 13
TVN
8%
26%
CHV
Mega
19%
22%
22%
La Red
UCV
Telecanal
Rating
Share
residências residências
(%)
(%)
Canal 13
7,4
25,7
TVN
6,3
22,0
CHV
5,9
20,6
Mega
5,6
19,4
La Red
2,3
7,8
UCV
0,8
2,7
Telecanal
0,5
1,8
Canal
* Com a colaboração do Time Ibope
Fonte: Time Ibope
Este Informe contou com o apoio econômico do Concurso Criação e Cultura, patrocinado pela Direção de Arte e Cultura (DAC) da Vice-Reitoria de Investigação (VRI) da
Pontifícia Universidade Católica do Chile.
1
170 | Obitel 2013
Gráfico 3. Audiência de TV por canal (indivíduos)
Rating
indivíduos
(%)
2,7
2,4
Share
indivíduos
(%)
25,3
22,5
CHV
2,1
20,1
Mega
La Red
UCV
2,1
0,8
0,3
19,8
7,7
2,7
Telecanal
0,2
1,8
Canal
2%
3%
Canal 13
TVN
8%
25%
CHV
Mega
20%
20%
22%
La Red
UCV
Telecanal
Canal 13
TVN
Fonte: Time Ibope
Gráfico 4. Oferta de gêneros na programação da TV
2%
Ficção
10%
11%
36%
Informação
Espetáculos
Serviço
Esportes
21%
20%
Outros
Gênero
Horas
(%)
Ficção
Informação
Espetáculos
Serviço
Esportes
Outros
Total geral
19.653
11.120
11.418
5.822
1.111
5.396
54.519
36%
20%
21%
11%
2%
10%
100%
Fonte: Time Ibope e Obitel Chile
1.2. Tendências
A TV aberta chilena mudou radicalmente nas últimas décadas.
Primeiro houve uma evolução à privatização, quase tendo desaparecido a TV universitária aberta e massiva – Canal 13, da Universidade Católica do Chile, e Canal 11, da Universidade do Chile. Ambos
os canais foram privatizados: o Canal 11 passou a ser o CHV, da
Turner, e o Canal 13 foi privatizado em 67%, e essa porcentagem
poderia ser aumentada. Os sete canais abertos se dividem em um
canal totalmente universitário (UCV TV), um canal público (TVN)
e cinco canais privados, três dos quais são grandes concorrentes entre si e do canal público TVN. Os outros dois canais privados são
menores (La Red e Telecanal). Há, então, um grupo de quatro canais
altamente concorrentes: três privados e o canal público.
Chile – Mudanças na indústria | 171
Em segundo lugar, acerca-se a mudança com relação à digitalização, em que a única definição é o padrão nipo-brasileiro; a
legislação ainda está em processo de discussão, e os planos dos canais para este novo cenário tecnológico não são conhecidos. Se são
implementados novos canais digitais abertos segmentados tematicamente, será aberto um novo cenário na concorrência com a TV paga,
já que haveria duas ofertas tecnologicamente concorrentes com as
emissoras segmentadas. É proposta a seguinte pergunta: o mercado
publicitário chileno é capaz de sustentar mais canais na TV aberta?
Em terceiro lugar, no cenário industrial do audiovisual chileno
ocorreu uma grande mudança. O CVH (ex-canal da U. de Chile)
foi adquirido no ano de 2010 pela Turner Broadcasting System, da
Time Warner. Nos próximos meses, o CVH se trasladará a seus novos estúdios no antigo local da indústria Machasa. O investimento considerado no novo local foi resultado de uma avaliação que
indica que o CHV se tornará uma empresa produtora/exportadora
com horizontes internacionais, primeiramente direcionada ao mercado hispânico. Ou seja, o CHV é o primeiro projeto no Chile em
audiovisuais que aspira superar a produção e transmissão no âmbito nacional para inserir-se em um mercado audiovisual global. O
projeto busca superar o financiamento meramente publicitário nacional da televisão aberta. O Maga, canal privado, está buscando
uma estratégia de ingressar na telefonia paga; o Canal 13, do grupo
Luksic+UC, propõe aderir à bolsa de valores como estratégia para
reunir capital e enfrentar as novas formas de concorrência: também
esse grupo abarcou um conjunto de emissoras de rádio. Este novo
cenário econômico-industrial propõe ao canal público TVN desafios e interrogações para seu financiamento e capitalização.
172 | Obitel 2013
1.3. Inversão publicitária na mídia
Tabela A. Distribuição da inversão publicitária – 2011
Participação
1985 1990 1995 2000 2005 2007 2008 2009 2010 2011
percentual (%)
Televisão
46,3
44,2
46,3
42,8
47,4
48,2
48,4
51,5
48,2
44,9
Diários
35,0
34,5
35,3
34,5
29,4
28,6
287
25,9
27,0
26,6
Rádios
10,5
10,9
7,9
10,5
8,2
6,9
7,2
7,5
6,8
6,8
Revistas
5,8
7,3
3,5
5,0
3,2
3,1
2,9
2,3
2,2
1,9
Espaços públicos
2,2
2,9
6,7
6,7
8,4
9,5
8,7
7,6
7,5
8,6
Cinema
0,3
0,2
0,2
0,4
0,3
0,3
0,2
0,3
0,3
0,3
1,7
1,9
1,7
2,0
3,9
4,6
1,4
1,6
2,3
2,8
4,1
6,2
TV a cabo
Mídia on-line
Fonte: Associação Chilena de Agências de Publicidade (Achap)
Os dados da ACHAP para o ano de 2012 não estão ainda disponíveis, por isso são apresentadas as informação de 2011. Entre
os anos 2005 e 2011, a TV a cabo e a mídia on-line aumentam sua
participação na publicidade até alcançar em conjunto 10,8%; esse
crescimento é sustentado e com menos flutuações anuais, que são
exibidas pela participação percentual de outras mídias.
1.4. Tendências nas TICs (Tecnologia da Informação e Comunicação)
Segundo a informação da Subtel (Subsecretaria de Telecomunicações), em maio de 2012, a telefonia celular teve um importante
desenvolvimento, a ponto de haver hoje uma penetração de 130%
de aparelhos telefônicos em relação à população chilena. Correlativamente, a telefonia fixa mantém um lento, mas constante descenso,
alcançando somente 19,4% de penetração para cada cem habitantes.
A banda larga fixa e móvel, em conjunto, chega a 50% das residências; a banda larga móvel 3G já superou as conexões fixas, e está
sendo introduzida a banda 4G. O aceso à internet, segundo a Subtel,
alcançou 40,7% da população chilena no ano de 2012.
Chile – Mudanças na indústria | 173
A importação das equipes computacionais se adapta à mobilidade; os computadores desktop baixaram para o segundo lugar entre
as máquinas importadas, e passaram ao primeiro lugar os notebooks
(64% das máquinas importadas). Mas os tablets vêm apresentando
um aumento percentual enorme, que os coloca no terceiro lugar de
máquinas importadas, superando os notebooks (Câmera do Comércio de Santiago).
Segundo o II Censo de Informática Educativa do Ministério de
Educação2, o acesso à internet em colégios municipais subiu 66%
no ano de 2012, diminuindo a diferença em relação aos colégios privados. Também aumentou o maquinário computacional nas escolas
públicas, de modo que agora existe um computador para cada seis
alunos.
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana
Tabela 1. Ficções de estreia exibidas durante 2012
TÍTULOS NACIONAIS COM
ESTREIAS - 23
Canal 13 - 4 títulos nacionais com
estreias
Los 80 más que una moda (série)
Peleles (telenovela)
Soltera otra vez (telenovela)
Vida por vida (série)
CHV - 4 títulos nacionais com
estreias
Gordis, la gorda más rica del mundo (telenovela)
La Doña (telenovela)
La Sexóloga (telenovela)
Violeta se fue a los cielos (tv movie)
2
TÍTULOS IMPORTADOS COM ESTREIAS - 45
Canal 13 - 4 títulos importados com estreias
Insensato corazon (telenovela – Brasil)
Mujeres apasionadas (telenovela – Brasil)
Passione (telenovela – Brasil)
Tititi, la pasarela del amor (telenovela – Brasil)
CHV - 6 títulos importados com estreias
Amar de nuevo (telenovela – México)
Aurora (telenovela – EUA hispânico)
Corazón apasionado (telenovela – Venezuela)
El fantasma de Elena (telenovela – EUA
hispânico)
Mega - 5 títulos nacionais com
estreias
El talismán (telenovela – EUA hispânico)
Bkn el campamento (série)
Una maid en Manhattan (telenovela – EUA hispânico)
www.enlaces/mineduc
174 | Obitel 2013
Cobre poder y pasión (minissérie)
Decibel 110 el amor suena fuerte
(telenovela)
Maldita (telenovela)
Solita Camino (série)
TVN - 10 títulos nacionais com
estreias
Aquí mando yo (telenovela)
Dama y obrero (telenovela)
El diario secreto de una profesional
(série)
El reemplazante (série)
Escena del crimen (docudrama)
Esperanza (telenovela)
Pobre rico (telenovela)
Reserva de familia (telenovela)
Separados (telenovela)
Su nombre es Joaquín (telenovela)
La Red - 14 títulos importados com estreias
Amorcito Corazón (telenovela – México)
Como dice el dicho (série – México)
Cuando me enamoro (telenovela – México)
El secretario (telenovela – Colômbia)
Hasta que el dinero nos separe (telenovela –
México)
La rosa de Guadalupe (docudrama – México)
Las muñecas de la mafia (telenovela – México)
Mar de amor (telenovela – México)
Mi pecado (telenovela – México)
Mujer casos de la vida real (docudrama –
México)
Operación jaque (minissérie – coprodução
Colômbia/Espanha)
Rafaela (telenovela – México)
Soy tu dueña (telenovela – México)
Triunfo del amor (telenovela – México)
Mega - 10 títulos importados com estreias
Abismo de pasión (telenovela – México)
Amor bravío (telenovela – México)
Amores verdaderos (telenovela – México)
Dos hogares (telenovela – México)
La diosa coronada (telenovela – Colômbia)
La fuerza del destino (telenovela – México)
La que no podía amar (telenovela – México)
Mi corazón insiste (telenovela – EUA hispânico)
Por ella soy Eva (telenovela – México)
Relaciones peligrosas (telenovela – EUA hispânico)
Telecanal - 5 títulos importados com estreias
El último matrimonio feliz (telenovela – Colômbia)
La vida es una canción (série – México)
Pasión morena (telenovela – México)
Pecados ajenos (telenovela – EUA hispânico)
Sortilegio (telenovela – México)
TVN - 5 títulos importados com estreias
Contra viento y marea (telenovela – México)
Heridas de amor (telenovela – México)
La esclava Isaura (telenovela – Brasil)
Chile – Mudanças na indústria | 175
Los plateados (telenovela – EUA hispânico)
Niñas mal (telenovela – Colômbia)
TOTAL DE TÍTULOS COM ESTREIAS:
68
Fonte: Obitel Chile
Tabela 2. Ficções de estreia durante 2012 –
conforme país de origem
País
NACIONAL (total)
IBERO-AMERICANA (total)
Títulos
%
Capítulos /
Episódios
%
Horas
%
23
34
1.014
20
631:05
17
45
66
3.961
80
2.982:30
83
Argentina
0
0
0
0
0:00
0
Brasil
5
7
386
8
407:35
11
CHILE
23
34
1.014
20
631:05
17
Colômbia
4
6
281
6
190:40
5
Equador
0
0
0
0
0:00
0
Espanha
1
1
121
2
14:00
0
EUA hispânico
8
12
485
10
368:50
10
México
25
37
2.608
52
1.950:00
54
Peru
0
0
0
0
0:00
0
Portugal
0
0
0
0
0:00
0
Uruguai
0
0
0
0
0:00
0
Venezuela
1
1
79
2
49:20
1
Coprodução
1
1
1
0
2:05
0
68
100
4.975
0
0
0
68
100
4.975
Latino-Americana (âmbito
Obitel)
Latino-Americana (âmbito não
Obitel)
Total
100 3.613:35 100
0
0:00
0
100 3.613:35 100
Fonte: Obitel Chile
Considerando a quantidade de títulos estreados, a ficção chilena mostrou uma tendência à redução: 29 títulos no ano de 2006,
31 no ano de 2008, 29 no ano de 2009, 24 no ano de 2010, 25 em
176 | Obitel 2013
2011 e 23 no ano de 2012. No que se refere ao tempo em horas, a
produção ficcional nacional de estreia também sofreu instabilidade:
667 horas no ano de 2008, 664 horas no ano de 2009, 707 horas no
ano de 2010, 717 horas no ano de 2011 e 631 horas no ano de 2012.
Embora a ficção nacional represente 34% dos títulos estreados, em
quantidade de horas representa apenas 17% (631 horas). Segundo a
Tabela 4, na produção de estreia ibero-americana, 39 dos 45 títulos
são telenovelas, o que totaliza 2.416:30 horas. No total de 23 títulos
ficcionais chilenos, somente 14 são telenovelas; ou seja, a produção
nacional alcança nove títulos em outros gêneros ficcionais (seis séries e três outros gêneros).
A TVN é o canal que mais títulos chilenos estreou no ano de
2012: dez dos 23 títulos, duplicando em quantidade em relação ao
canal seguinte (Mega, com cinco títulos). O México permanece
como o mais importante provedor externo de ficção: 25 títulos contra 21 no ano de 2011. Logo aparece a produção EUA hispânico,
com oito títulos. Os canais que mais exibem títulos ficcionais importados são La Red, com 14 títulos, e Mega, com dez títulos.
100
66
1.014
0
100
1
0
Docudrama
Outros
Total
23
Fonte: Time Ibope e Obitel Chile
4
4
0
1
0
Telefilme
4
Unitário
6
1
Série
26
%
61
T
14
Minissérie
Telenovela
Faixas horárias
74
631:05
46:50
447:00
122:50
14:25
100
7
71
19
2
%
3.961
11
541
3.343
66
C/E
100
0
14
84
2
%
2.982:25
7:05
373:05
2.595:45
6:30
H
Ibero-Americanas
100
0
13
87
0
%
4.975
77
1.290
3.518
90
C/E
1.014
0
5
0
2
10
87
910
C/E
100
0
0
0
0
1
9
90
%
Nacionais
H
631:05
0:00
3:50
0:00
2:40
6:35
66:00
552:05
%
100
0
1
0
0
1
10
87
T
45
0
2
0
0
1
3
39
%
100
0
4
0
0
2
7
87
100
2
26
71
2
%
3.961
0
503
0
0
1
341
3.116
C/E
100
0
13
0
0
0
9
79
%
Ibero-Americanas
Tabela 4. Formatos da ficção nacional e ibero-americana de estreia
Fonte: Time Ibope e Obitel Chile
Total
7
749
Prime Time (20:00-24:00)
Noturno (24:00-6:00)
17
175
Tarde (12:00- 20:00)
2
H
Nacionais
%
24
C/E
Manhã (6:00-12:00)
Faixa horária
Tabela 3. Capítulos/Episódios e horas transmitidos por faixa horária
2.982:25
0:00
407:15
0:00
0:00
2:05
156:40
2.416:30
H
3.613:30
53:55
820:05
2.718:35
20:55
H
Total
100
0
14
0
0
0
5
81
%
100
1
23
75
1
%
Chile – Mudanças na indústria | 177
178 | Obitel 2013
Os horários da tarde (12h-20h) e o prime (20h-24h) em conjunto
concentram cada vez mais a exibição de estreia: 98% das horas de
exibição. Mas, de forma igual a anos anteriores, a ficção chilena é
transmitida prioritariamente no prime time (447:00 horas); 71%
das horas de exibição de ficção de estreia chilena ocorre no prime
time. A ficção ibero-americana mantém a tendência de ocupar a tarde
televisiva. Com 2.595:45 horas transmitidas nesse horário, concentra-se ali 87% da exibição importada; conforme a Tabela 4, exibe-se
mais o gênero de telenovela, com 39 dos 45 títulos que vêm de fora.
A telenovela é o gênero importado que se faz mais presente
na tela: dos 45 títulos importados, 39 são telenovelas. No ano anterior, dos 46 títulos importados, 36 eram telenovelas. As horas de
exibição de telenovelas importadas subiram de 1.924:57 horas no
ano de 2011 para 2.416:30 horas no ano de 2012.
Previamente, no ano de 2009, foram 40 novelas dos 50 títulos
importados; no ano de 2010, 22 novelas dos 30 títulos importados;
36 no ano de 2011 e 39 em 2012. Isso indica o sucesso do gênero novela na circulação internacional, mas também a dificuldade
de criar outros gêneros ficcionais de aceitação e circulação ibero-americana. Essa dificuldade pode constituir um obstáculo para a
exportação da atual produção chilena em outros gêneros ficcionais;
se não há circulação internacional, é difícil a sustentação econômica
unicamente com a audiência interna do Chile.
Tabela 5. Formatos da ficção nacional de estreia por faixa horária
Formatos
Manhã
%
Tarde
%
Prime
Time
%
Noturno
%
Total
%
Telenovela
1
100
2
67
10
59
1
50
14
61
Série
Minissérie
Telefilme
Unitário
Docudrama
Outros
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
0
0
0
0
0
33
0
0
0
0
0
4
1
1
0
1
0
24
6
6
0
6
0
1
0
0
0
0
0
50
0
0
0
0
0
6
1
1
0
1
0
26
4
4
0
4
0
Total
1
100
3
100
17
100
2
100
23
100
Fonte: Time Ibope e Obitel Chile
Chile – Mudanças na indústria | 179
Situando cada título nacional no horário predominante em que
é exibido, observa-se que o horário dominante para a exibição da
ficção televisiva nacional de estreia é o prime time: 14 a 23 títulos
são exibidos. Esse horário é dominado pelas telenovelas: 11 dos 14
títulos exibidos nessa faixa são telenovelas; mas também o prime
time é o espaço das séries, minisséries e telefilmes; pelas tardes
eram transmitidas as telenovelas nacionais de estreia (segundo a Tabela 8, uma delas entre os top ten) em um horário antes colonizado
exitosamente pela telenovela latino-americana3.
Tabela 6. Época da ficção
Época
Títulos
%
Presente
19
83
Passado
2
9
Histórica
2
9
Outro
0
0
Total
23
100
Fonte: Time Ibope e Obitel Chile
Foram consideradas como históricas aquelas ambientadas em
épocas de mais de 50 anos.
Em geral se mantém a tendência predominante a situar as ficções no presente. Mas duas séries importantes em audiência, uma
das quais já dura cinco temporadas (Los 80 más que una moda),
foram relacionadas aos anos da ditadura militar (1973-1990). Nas
seções seguintes deste capítulo chileno são analisados esses casos.
A produção nacional de telenovelas para esse horário contou com aportes do Conselho
Nacional de Televisão – CNTV, destinado especificamente a potenciar esse horário.
3
180 | Obitel 2013
Tabela 7. Os dez títulos mais vistos: origem, rating e share
Título
País da
ideia original ou
roteiro
Soltera otra vez
Argentina
Los 80 más que
una moda
Espanha/
Chile
Pobre rico
Chile
Separados
Chile
Peleles
Chile
Reserva de
familia
Espanha
Aqui mando yo
Chile
Dama y obrero
Chile
El reemplazante
Chile
Violeta se fue a
los cielos
Chile
Nome do
roteirista
Rating Share
Canal
ou autor da
(%)
(%)
ideia original
Marcelo
Canal 13 Canal 13
26,8
37,0
Castañon
Canal 13 e
Rodrigo
Canal 13
25,8
37,5
A.Wood
Cuevas
Alejandro
TVN
TVN
20,7
33,7
Cabrera
Daniela
TVN
TVN
19,5
27,5
Castagno
Rodrigo
Canal 13
17,3
25,8
Cuevas
Pablo Illanes,
TVN
TVN
Larissa
16,3
22,4
Contreras
Daniela
16,3
30,9
TVN
TVN
Castagno
José Ignacio
TVN y
15,5
33,0
TVN
Alce
Valenzuela
Hernán
Parox
TVN
15,4
22,5
Rodríguez
Casa
produtora
A.Wood
CHV
Andrés Wood
14,1
19,2
Total de produções: 10
Roteiros ou ideias estrangeiras:
100%
30%
Fonte: Time Ibope e Obitel Chile
Três das ficções top ten tiveram formatos ou ideias originais da
Espanha e Argentina. Quatro delas foram produzidas entre canais
de TV e produtoras independentes, entre as quais se destacam dois
trabalhos do produtor audiovisual Andrés Wood. A TVN se mantém
como o canal mais exitoso, exibindo seis dos top ten, e o Canal 13
continua com três títulos.
Chile – Mudanças na indústria | 181
Tabela 8. Os dez títulos mais vistos: formato, duração,
faixa horária
Título
Soltera otra vez
Los 80 más que una
moda
Formato
Gênero
Telenovela Comédia
C/E
em
2012
44
Série
Drama
12
Pobre rico
Telenovela
Drama
178
Separados
Telenovela Comédia
39
Peleles
Telenovela Comédia
9
Reserva de familia
Telenovela
Aqui mando yo
Telenovela Comédia
80
Dama y obrero
Telenovela
Drama
141
El reemplazante
Série
Drama
12
Drama
2
Violeta se fue a los
TV Movie
cielos
Fonte: Time Ibope e Obitel Chile
Drama
123
Primeira e última
transmissão
27/05/12 –
05/09/12
23/09/12 –
16/12/12
23/04/12 –
continua em 2013
22/10/12 –
continua em 2013
Faixa
horária
Prime time
Prime time
Prime time
Prime time
De 2011 a 15/01/12 Prime time
19/03/12 –
22/10/12
Prime time
De 2011 a 23/04/12 Prime time
11/06/12 – continua em 2013
01/10/12 –
17/12/12
03/04/12 –
04/04/12
Tarde
Prime time
Prime time
Por outro lado, as telenovelas continuam sendo o gênero da
ficção nacional com maiores índices de audiência: oito dos top ten
pertencem a esse gênero.
Tabela 9. Temáticas nos dez títulos mais vistos
Título
Temáticas dominantes
Amor, etapas ciclo vital,
Soltera otra vez relações de amizade, relações familiares.
Ditadura militar, direitos
Los 80 más que
humanos, amor, relações
una moda
familiares, amizade.
Relações consanguíneas,
origem familiar, amor, dePobre rico
sigualdade social, relações
familiares.
Temáticas sociais
Concepção de família e de matrimônio, normas sociais com respeito aos
ciclos vitais, problemas econômicos.
Ditadura militar no Chile, direitos
humanos, movimentos políticos, economia, papel social da mulher.
Desigualdade social, concepção de
paternidade, poder econômico, negligência médica.
182 | Obitel 2013
Separados
Peleles
Reserva de
familia
Amor, divórcio, amizade,
masculinidade.
Identidade masculina,
amor, trabalho, delinquência.
Relações familiares,
produção vitivinícola,
amor, resolução de crimes,
vingança.
Divórcio, pensão alimentícia, homossexualidade, papel social de gênero,
identidade.
Identidade masculina, conflitos laborais, delinquência, desigualdade social.
Produção e cultura vitivinícola, transtorno de memória, tradições familiares
e heranças.
Papel social de gêneros no âmbito
Amor, relações familiadoméstico e laboral, desenvolvimenres, desenvolvimento de
Aqui mando yo
to profissional e inserção laboral,
práticas profissionais (RH),
divórcio, papel das assessoras do lar no
papel social de gênero.
interior das famílias.
Amor, desigualdade social,
Desigualdade social, construção como
desenvolvimento de prátiDama y obrero
ofício, convenções sociais sobre o
cas profissionais e ofícios
matrimônio, doenças, incesto.
(construção).
Deficiências acadêmicas e sociais,
Educação pública, identidade juvenil, marginalida- educação pública, marginalidade social
El reemplade social, desenvolvimen- juvenil, crise do papel dos docentes,
zante
to profissional (docência), movimento estudantil, relações professores e alunos.
amor.
Biografia da cantora
chilena Violeta Parra,
Cultura do folclore e canto popular,
Violeta se fue a desenvolvimento de prática mundo rural chileno, posicionamento
los cielos
profissional (canto popular da artista no contexto político internae folclore), desilusões
cional, depressão e suicídio.
amorosas.
Fonte: Obitel Chile
A análise das temáticas mostra que a telenovela está introduzindo aspectos sociais atuais do debate nacional, como desigualdade social e educação, identidade e crise familiar; a série Los 80
permitiu por vários anos abordar ficcionalmente o período histórico
da ditadura. Em todas as ficções, as temáticas são representadas na
matriz do melodrama, ou seja, a partir de várias vivências cotidianas
e privadas de uma família.
Chile – Mudanças na indústria | 183
Tabela 10. Perfil de audiência dos dez títulos mais vistos: sexo,
idade, nível socioeconômico
Título
Soltera
otra vez
Los 80
más que
una moda
Pobre
rico
Separados
Peleles
04- 1312 17
Idade
GSE
18- 25- 35- 50ABC1 C2 C3 D
24 34 49 64 65-+
Canal
69 31
13
7
10
16
21
24
14
8
11
29 29 31
Canal
65 35
13
6
6
13
18
28
18
11
11
27 31 32
TVN 64 36 16
8
8
15
22
17
15
6
17 29 48
TVN 63 37
8
5
9
15
21
20
22
8
21 28 43
Canal
59 41
13
9
10
10
22
25
16
8
6
24 34 36
4
6
10
23
26
26
7
19 24 50
7
9
14
22
22
18
6
17 29 48
4
8
12
23
21
24
5
18 27 50
6
14
13
24
18
17
8
21 27 44
5
10
13
26
25
17
11
15 33 41
Canal
Sexo
M
H
Reserva de
TVN 64 36 6
familia
Aqui
mando
TVN 67 33 9
yo
Dama y
TVN 69 31 8
obrero
El reemTVN 59 41 7
plazante
Violeta se
fue a los CHV 59 41 5
cielos
Fonte: Time Ibope e Obitel Chile
Em 2012, a proporção geral de audiência de telenovela foi de
56,9% para mulheres e de 43,1% para homens. A proporção de mulheres no caso dos top ten nacionais supera a média geral, a qual
indica a atração da produção nacional. Três ficções nos top ten quebram a proporção de mais de 60% de perfil feminino na audiência
e atraem uma porcentagem de mais de 40% de público masculino
(Peleles, El reemplazante e Violeta se fue a los cielos). Em geral,
confirma-se que as ficções massivas atraem a todos os segmentos
sociais e etários de audiência.
184 | Obitel 2013
3. A recepção transmidiática4
No Chile, um dos fenômenos do ano de 2012 foi a adaptação
e transmissão através do Canal 13 da exitosa telenovela argentina
Soltera otra vez. A história de Cristina Moreno é a de uma mulher
que busca o homem ideal, mas que descobre que seu companheiro
“Monito” a trai com outra mulher. Essa foi a ficção mais assistida,
com um rating de 26,8 pontos no horário prime time e um share de
37 pontos, entre maio de 2012 e setembro de 2012.
No entanto, não somente foi um “boom” na mídia: com apenas
44 capítulos, mas foi também uma das novelas mais comentadas do
ano, ganhando capas de jornais e revistas. A personagem principal,
Cristina Moreno, chegou a escrever uma coluna sobre encontros e
também tinha seu próprio perfil no Facebook, com mais de 120 mil
seguidores. Soltera otra vez foi um verdadeiro fenômeno nas diversas redes sociais. Ao analisar o tipo de narração transmidiática oferecida pelos
sites produtores, há que se ter um fator em mente: diferente das telenovelas das dez da noite do canal TVN, que são transmitidas de
segunda a quinta, Soltera otra vez, do Canal 13, será transmitida de
domingo a quarta-feira. Será analisada sua última semana de transmissão, que se contará como a semana em que foi transmitido o último capítulo e os preparativos on-line para a denominada reta final.
O espaço de tempo analisado abarca, portanto, de quinta-feira, 30
de agosto, até quarta-feira, 5 de setembro, data em que a telenovela
terminou de ser transmitida. Por isso, há três dias sem transmissão e
quatro dias com transmissão de telenovela. Soltera otra vez tem uma página oficial dentro da página web
do canal emissor, Canal 13, uma página oficial no Facebook, uma
página no Twitter e no YouTube. Também há páginas dos fãs, mas
isso não foi considerado para esta análise. O página oficial do Facebook da telenovela tinha 357.986 seguidores ou fãs da página, e 621
pessoas falando ou comentando sobre a página. A seguinte tabela
4
Colaboração do jornalista e roteirista Alejandro Bruna.
Chile – Mudanças na indústria | 185
demonstra o total de comentários feitos na semana, o número de
“curtir” total, o número de comentários e o número de share (compartilhamento) dos posts. No total, de quinta-feira, 30 de agosto, a
quarta-feira, 5 de setembro, houve 8.127 shares, 187.331 “curtir”,
35.679 comentários e 126 compartilhamentos.
Tabela 11. Atividade na página do Facebook de Soltera otra vez
Datas
30-ago-12
Posts
Comentários
Curtir
Compartilhar
14
4.995
23.976
1.432
31-ago-12
14
1.303
8.420
590
01-set-12
15
213
2.961
0
02-set-12
15
3.517
871
0
03-set-12
24
5.498
24.353
0
04-set-12
18
3.630
29.867
599
05-set-12
26
16.523
96.883
5.506
Total
126
35.679
187.331
8.127
Fonte: Página da série no Facebook
A página oficial no Facebook de Soltera otra vez funciona
como programa interativo na rede, com um nível de interatividade
ativa. Os posts são, em geral, difusão de conteúdo da página oficial
ou tweets vinculados da página do Twitter, ou seja, o que se posta no
Twitter em tempo real também, na grande parte dos casos, reflete-se
no perfil oficial no Facebook.
O caso específico de Soltera otra vez é que pela primeira vez
seu conteúdo em sua página oficial tem uma parte criada pelo telespectador: há uma seção fixa chamada “Sube tu historia” e outra
catalogada como “Tu historia”, em que o público pode escrever suas
histórias de relações amorosas, ou coisas que estejam acontecendo
em seu relacionamento atual, relacionadas com a novela, e que, se
forem aprovadas, podem ser lidas em seguida no espaço “Tu historia”, publicadas com o nome do seu autor. Isso faz com que a página oficial seja um programa transmidiático (permite o download
de imagens e há mais que meros programas com possibilidade de
186 | Obitel 2013
comentar), com um nível de interação criativo, pois o usuário se
converte em produtor de conteúdos, criando algo novo a partir daquilo que foi dado (o produto-mãe, ou seja, a novela).
A Tabela 12 expõe as práticas dominantes dos usuários, em que
o que mais se viu foram, nos diversos espaços, os comentários sobre as situações da Cristina “Cristi” Moreno, recomendações sobre
como encontrar o amor da sua vida, críticas, celebrações e às vezes
discussões (entre os mesmos espectadores). O personagem, tão querido pelos espectadores, nunca suscitou uma paródia ou hostilidade,
embora os comentários pudessem ser negativos pelos seus reiterados questionamentos sobre suas relações e emoções, denominadas
como “torpes” e “básicas”.
Tabela 12. Práticas on-line sobre Soltera otra vez, do Canal 13
Sites da
internet
Tipos de
interação
transmidiática
Níveis de
interatividade
Site oficial
Programa
transmidiático
Criativa
Página do
Facebook
Programa interativo em rede
Ativa
Twitter
Interação em
tempo real
Ativa
Site do
YouTube
Programa
interativo
Ativa
Práticas dominantes dos usuários
Comentário, recomendação, celebração, crítica, armazenamento,
discussão.
Comentário, recomendação,
celebração, crítica, discussão.
Comentário, interpretação, paródia,
recomendação, celebração, crítica,
armazenamento, discussão.
Comentário, recomendação,
celebração, crítica, discussão.
Fonte: Obitel Chile
4. O mais destacado do ano
4.1. Inovação de retratos híbridos e polivalentes5
Observar em perspectiva as ficções chilenas na TV do ano de
2012 é carregado de sensações de prazer e desprazer. Umas por serem inquietantes e possuírem uma dor atrativa pela dureza de suas
temáticas (em especial as séries); outras como hilariantes e disten5
Contribuição do professor Luis Breull.
Chile – Mudanças na indústria | 187
didos retratos de estereótipos sociais, coabitando de novelas leves
em torno da comédia até melodramas do mais puro estilo latino-americano clássico das décadas de 1960 e 1970.
Enquanto a TV de livre recepção viveu um novo ano de queda
geral em seus índices de audiência (29 pontos de média de rating em
2012, em baixa constante desde 2003, quando obteve 37,3 pontos),
a ficção teve um impacto médio ambivalente.
Alguns dos projetos se situaram entre os mais vistos da indústria; outros, em absoluta invisibilidade, como ofertas de canais
não propícios para esses conteúdos. Séries e telesséries se transformaram em um “lugar” – sob a conceitualização do antropólogo da
sobremodernidade Marc Augé6 –, como espaço de reconhecimento
comum dos públicos sobre formas de vida e temáticas identitárias
transversais. “Lugares” como antítese de “não lugares” ou zonas
públicas de trânsito anônimo, vazio, sem importar o outro nem a
alteridade como fundamento de socialização integrada e proativa. 4.2. A obscura face da educação escolar
A irrupção da série El reemplazante nas segundas, às 23h, na
TVN (11 capítulos de 60 minutos de duração, transmitidos de 08/10
a 17/12), da produtora Parox, permitiu que nos conectássemos com
um espaço simbólico carregado de urgente sentido-país. Os protestos de cidadãos por melhora na qualidade da educação foi parte importante da hegemonia das demandas sociais da última década, em
especial nos anos 2011 e 2012. Uma realidade dramática e angustiante, centrada em um liceu subvencionado de uma comuna popular
do sul de Santiago, em que o sistema formativo nos revela sua cara
mais violenta, excludente, impudica, miserável e antagônica. A trama é sobre um modelo educacional de conquistas disfarçadas de um
negócio de equívocos e autoequívocos, de induvidosa precariedade,
em que o papel do protagonista recai em um exitoso engenheiro dedicado a grandes inversões especulativas que fracassa como fruto da
AUGÉ, Marc. La vida en doble: etnología, viaje, escritura. Buenos Aires: Editora Paidós, 2012.
6
188 | Obitel 2013
sua ambição e que – depois da sua passagem pela prisão – redime-se
trabalhando como professor substituto de matemática.
Essa ficção envolve pelo seu absoluto desprazer. Formato de
visualização escura, caráter realista, mistura um elenco de atores
profissionais com outros não atores, como estudantes, por exemplo.
Prima pelo uso de câmaras subjetivas ou em movimento e um arco
dramático que se afirma em conflitos permanentes, como: marginalidade, exclusão, narcotráfico, crise do modelo educativo como
negócio, precariedade de relações familiares em lares em risco social, equívoco ou desengano. Pouco espaço fica para a construção
de relações de amor ou afetos positivos; não obstante, a série mostra
caminhos de saída, como a autossuperação dos alunos em um vertiginoso ambiente em que – pouco a pouco – revela-se a esperança,
fruto do esforço pessoal e coletivo.
4.3. Pedofilia, bullying, medo e poder
Solita camino foi outro dos expoentes destacados do ano por
causa da escassa audiência obtida em suas transmissões, nas segundas-feiras, às 23h15, na Mega, coincidindo o horário com El reemplazante. Série de 12 capítulos de 60 minutos, transmitidos de
01/10 a 17/12, realizada pela produtora Circo e dirigida por Cristián
Mamani. Ganhadora de fundos públicos da Corporação de Fomento
à Produção – Corfo e do Conselho Nacional de Televisão – CNTV,
narra a história de uma adolescente de família de classe alta que é
abusada pelo seu padastro – exitoso advogado e docente universitário –, que resulta ser o pai biológico e emprega todo o seu poder
para calar-lhe. Trama de alta carga emotiva sobre o mundo dos adolescentes em situações de vida extremas, que precisou de uma investigação de seis meses, incluindo entrevistas com psicólogos e psiquiatras, para construir a vida da Manuela Izquierdo, a protagonista.
O formato expressou também um modelo de trabalho que começou a assentar-se no campo das séries nacionais dos últimos anos:
um elenco formado por não mais de 20 personagens, em que a metade deles é estável. Não obstante, isso resultou funcional ao caráter
Chile – Mudanças na indústria | 189
dessa série, com uma narração lenta e introspectiva e uma forte presença de música incidental, reforçando o olhar íntimo e angustiante
das experiências das vítimas de pedofilia ou de abuso infantojuvenil
(tema sensível na agenda pública dos últimos anos, com denúncias
de alto impacto). Ainda assim, não ficou na melancolia vitimizada,
mas soube instalar a história com clímaces verossímeis.
Chamou a atenção ter sido programada para o mesmo dia e hora
que El reemplaz ante – ambas cofinanciadas com recursos públicos
– e a escassa audiência obtida (um terço sobre sua concorrência).
Um fator adicional que pôde contribuir para não ser assistida foi o
canal que a transmitiu, especializado em conteúdos de corte massivo, sobretudo de humor popular ou de ação, muito distante do caráter dessa ficção. Por sua dureza, lembrou Volver a mi, série de 2010
do Canal 13 – no horário da meia-noite, aos domingos, depois de
Los 80, sobre doentes em um centro de reabilitação de alcoólicos e
drogados (houve uma temporada, mas a história não foi finalizada).
4.4. Amor, compromisso, solteirice e liberdade
No campo das telesséries, houve três expoentes massivos de
caráter distinto: o melodrama pós-meridiano Dama y obrero e a comédia vespertina Pobre rico, na TVN, e a ganhadora em audiências
e inovação Soltera otra vez, no Canal 13, um dos programas mais
vistos do ano em toda a indústria de TV local (transmitido aos domingos, às 23 horas nos seus cinco primeiros capítulos, e logo de
segunda a quinta, com 44 episódios do dia 27/05 a 05/09). Essa
publicação inovou a comédia romântica, misturando os formatos telessérie, série e sitcom com capítulos autoconclusivos, unitários ou
casos resolvidos em dois episódios, sendo mais uma trama transversal que dava coerência à história.
Soltera otra vez foi um produto de alto impacto em audiência
geral, mas muito focado em mulheres jovens de segmentos socioeconômicos altos, em que se chegou a alcançar quase 90% de share.
Disso se denota a eficácia e foco da sua trama sobre uma profissional pós-moderna, de vida assentada em códigos existenciais verti-
190 | Obitel 2013
ginosos e muito atuais: dificuldade para ter alguém, infidelidade,
desejo de pertencimento versus utilitarismo solitário e permanente
incerteza. Outros aspectos do personagem o fazem humano e querido, como anti-heroína, torpe, distraída e aguda ao mesmo tempo,
acostumada a resolver a sua vida com o conselho de três amigas da
sua mesma idade e perfis, ou opções de vida absolutamente justapostas. A história foi inspirada em Ciegas a citas, telenovela da TV
pública argentina baseada no blog da escritora Carolina Aguirre, e
terá um segundo ciclo em 2013, reafirmando sua inovação: telenovela com tratamento de série e evolução por temporadas.
4.5. Uma síntese
A ficção chilena de 2012 – além de Los 80, um blockbuster
do gênero série que cumpriu sua quinta e exitosa temporada – teve
inovação com impacto em agenda, mais capacidade para assentar-se no humor em assuntos sensíveis e também fortes. Representou
os modos de vida atuais e permeou também com seus códigos a
telerrealidade. Fazer séries ou telesséries não foi e nem será barato.
Tampouco está isento de riscos, mas demonstrou ser uma massiva, potente e fiel janela para a realidade.
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social7
5.1. As imagens da memória8
O espaço principal em que a cultura ocidental relata e vive sua
memória comunitária é o reino das imagens. Nosso modo de nos relacionarmos com a cotidianidade e seu porvir é visual, está mediado
por imagens: a imagem deixou de ser somente uma parte da vida
diária, converteu-se em seu centro.
Contribuição da professora dra. Constanza Mujica.
Esta seção é baseada na tese de doutorado apresentada para a obtenção de grau de
doutora em literatura hispano-americana de Constanza Mujica, intitulada “Paisajes de la
memoria chilena en telenovelas de época (1995-2005)”.
7
8
Chile – Mudanças na indústria | 191
A imagem fotográfica e cinética se constitui como um dos espaços mais recorrentes de tensão interpretativa e de designação de
significados do passado. O relato do passado em imagens visuais e
discursos fílmicos é estudado com entusiasmo e interesse a partir
da emergência dos Estudos Culturais. No entanto, esse assalto das
imagens foi compreendido como um discurso que prolongava os
interesses hegemônicos.
A imagem parece substituir a recordação. “Diferente das imagens fotográficas ou do cinema, as memórias não permanecem estáticas no tempo – elas são reformadas e reconfiguradas, elas se
desvanecem ou são restritas” (Sturken, 1997, p. 21). A partir disso,
Sturken descreve as imagens como espaços de transmissão, mas
também de substituição, deformação e bloqueio de recordações incômodas que funcionarão como as falsas memórias que relatavam
os pacientes de Freud e que ocultavam traumas.
Esse poder de substituição designado à representação visual
fotográfica e audiovisual foi vinculado à ilusão de transparência da
representação “naturalizadora” de seu caráter conotativo.
As imagens e a cinematografia constroem tramas e argumentos
(no sentido que entende White) que se chocam entre si e se deslocam. Esses conteúdos (articulados desse modo) podem ser reexperimentados como mensagens sociais que apreendem a experiência
como um relato aceitável ou como uma elaboração ativa dos conteúdos ‘difíceis’ da memória cultural. Nesse contexto, Sturken estabelece que um dos elementos centrais da relação da linguagem televisiva com o passado é a reinstalação (“re-enactment”): a criação de narrações do passado que entreguem um sentido aos episódios traumáticos como um modo de
promover a cura de feridas psíquicas (Sturken, 1997, p. 24). Essa
nova experiência converte as imagens em um espaço de catarse, o
que faz possível sua inserção dentro do relato da memória cultural
concebida ao modo de Halbwachs.
A ficção televisiva chilena dos últimos cinco anos produziu
três tipos de narrações memoriais: ficções históricas que relatam a
192 | Obitel 2013
história distante do Chile, ficções de época que narram o passado
ditatorial e ficções que elaboram a memória social recente. Os dois
primeiros tipos já haviam sido discutidos em informes anteriores
do Obitel (2009 e 2012), e o último trata-se apenas de uma semente
recém-detectada este ano.
5.2. A memória do passado distante
As ficções históricas são aquelas que retratam acontecimentos
históricos “transcendentes” para a nação (Rodríguez Cadena, 2002,
p. 6). Incluem personagens históricos reais e os colocam em relação
com outros personagens totalmente fictícios.
Nessas ficções, os momentos fundacionais da nação são vistos
a partir da perspectiva da história monumental, como a entendeu
Nietzsche, ou seja, uma representação do passado desde a grandeza
que se acredita que existiu. Essa modalidade de representação recupera episódios de crises e conflito, pelo que tende a enfocar as ações
de uma figura heroica que encarna esse momento fundacional. Esse
personagem é retratado como um modelo que se deve emular de um
modo similar ao de utilizar os livros escolares de história, a história
oral (Cfr. Rowe e Schelling, 1991, p. 50-111) e a imaginação social
popular sobre esses episódios (Cfr. Rodríguez Cadena, 2004, p. 49).
No caso do Chile, e como havia sido comentado no informe
Obitel 2009, já em 2007, motivados pela cercania do Bicentenário
da Primeira Junta do Governo, os principais canais lançaram projetos ambientados em episódios históricos do país.
Nos anos de 2007 e 2008, o Canal 13 transmitiu as TV movies
Héroes, com unitários de longa duração que relatavam a vida de seis
personagens dos primeiros cem anos da nação chilena, em um duplo
código: as grandes gestas militares e políticas, misturadas com a
vida cotidiana e doméstica marcada por códigos melodramáticos. A
TVN transmitiu o documentário Epopeya (2008) e a minissérie Paz
(2009), sobre a Guerra do Pacífico, e produziu o formato argentino
Algo habrán hecho (2010), que narrou a história do Chile desde o
descobrimento espanhol até a celebração dos primeiros cem anos da
República.
Chile – Mudanças na indústria | 193
Esse último programa, igual ao argentino, misturava recriações
de episódios, com atores reais e caricaturas, com intervenções de
narradores contemporâneos que transitavam por espaços passados.
Desse modo, alinhavava a descrição dos eventos passados com as
percepções dos cidadãos do presente. Sua preocupação, então, não
era a reprodução dos fatos históricos, mas sim colocar-se em diálogo com a memória atual.
Neste último ano, a Mega também transmitiu uma série histórica, Cobre (2012), ambientada em princípios do século XX. A
ficção, que não teve sucesso de rating, narrou o início e consolidação da indústria do cobre a partir da ótica pessoal dos primeiros
trabalhadores e empresários. 5.3. A memória recente
Nos últimos anos também foram transmitidas ficções de época,
ou seja, ambientadas no passado, mas sem a intervenção de personagens históricos reais, ambientadas na ditadura militar. Novamente é
o Canal 13, com sua série Los 80, que já prepara sua sexta temporada, e a TVN, que produz a segunda temporada da série Los archivos
de Cardenal.
Como já enunciávamos no informe de 2012, nessas séries se
manifesta uma mudança nos mecanismos de representação do passado. Nelas pareciam estar manifestando-se o trânsito desde uma
memória temerosa, que expressava o trauma da ditadura através do
melodrama até uma memória que descrevíamos como sendo sem rodeios. Se nas primeiras temporadas de Los 80 o melodrama se constituía como “uma estratégia de mediação que permitia a narração
de momentos traumáticos cuja violência ainda não estava integrada
à cotidianidade chilena”, hoje essa mediação perde vigência e são
mostradas de forma explícita cenas de sequestro, tortura e enfrentamentos.
Como dizíamos, no ano de 2012, ambas as séries são pluralistas
à medida em que recorrem muitas das posições subjetivas frente às
violações aos direitos humanos – a vítima, o que não sabe, o que
194 | Obitel 2013
busca, o que tortura –, mas sugerem uma posição ética clara: a necessidade de dar testemunho. Um espectador que pode ver a dor dos
torturados, a preocupação de uma família pela filha exilada ou desaparecida, o sofrimento de uma mulher, cujo amor foi assassinado,
não pode manter-se neutro. Esse conhecimento o obriga a fazer-se
responsável pelo terror alheio, a converter-se em testemunha.
Essa testemunha se fez mais potente pela inserção desses personagens na cotidianidade do espectador própria da recepção televisiva. As cenas de dor, então, implicam na contemplação do terror
de alguém a quem se estima. Por isso, negar-se a ser testemunha é
impossível. 5.4. A memória contemporânea
A transmissão durante 2012 da série El reemplazante (TVN),
ambientada em uma escola subvencionada9 em um bairro popular,
sugere a semente de um modo novo de relacionar-se com o passado,
de responsabilizar-se por uma memória que ainda não é história, a
do movimento estudantil.
A série, que também terá segunda temporada durante 2013,
narra a história de um operador da bolsa de valores que depois de
ser acusado por estafa se vê obrigado a fazer aulas em uma escola.
Seus alunos, como ele, estão desencantados, estão ali porque não há
outra opção. O colégio é um espaço em que se marca o passo, em
que se evita que os alunos estejam em contato com a delinquência.
Mas a escola nem sequer é isso, porque na saída os alunos traficam,
juntam-se aos bandidos.
O colégio é propriedade de um empresário imobiliário que desvia os fundos do colégio para seu próprio benefício. Enquanto a
infraestrutura do colégio é cada vez mais precária, ele enche seus
bolsos com fundos públicos. Esse modo de lucro é uma das principais críticas do movimento estudantil chileno, muito atrativo desde
2011. São escolas privadas, mas que são mantidas com fundos do Estado e com o pagamento
da mensalidade das famílias dos estudantes.
9
Chile – Mudanças na indústria | 195
O novo professor e seus alunos vencem as desconfianças mútuas e visualizam uma possibilidade de mudança. Entendem que
podem sonhar com coisas diferentes, em ser profissionais ou, pelo
menos, ter um colégio que ofereça oportunidades. A solução: comprar o colégio através de uma cooperativa formada por alunos apoderados e professores.
As exigências do movimento estudantil são encarnadas através da luta desses estudantes contra os abusos do proprietário do
colégio, contra a desídia de alguns professores. Resgatam-se algumas imagens mais emblemáticas desse movimento: os alunos fazem
marchas e um flash mob.
5.5. Para concluir…
Nesta seção nos centramos nas ficções que narram explicitamente fenômenos da memória cultural chilena. Essa análise evidencia que esses tipos de narrações se converteram em um fenômeno
estendido e longevo.
Todas as produções foram financiadas pelo Estado chileno através do seu Conselho Nacional de Televisão (CNTV). Fica pendente
a discussão sobre as condições de possibilidade dessas histórias se
não existisse apoio, ao que deve postular-se projeto a projeto, ano a
ano. Mesmo com o êxito em audiências dessas realizações, os canais
ainda não apostaram com seus próprios fundos.
Referências
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historia en el cine y televisión chilenos de los 90. Santiago: Consejo Nacional
de la Cultura y las Artes – Facultad de Comunicaciones UC, 2009.
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Lewis (ed.). On collective memory. Chicago: The University of Chicago Press,
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Santiago, 2010.
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196 | Obitel 2013
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RODRÍGUEZ CADENA, M. de los A. Histories of Mexico: personification of the past in historical novels and historical soap operas. Tese de Doutorado. University of Michigan, 2002.
ROWE, W.; SCHELLING V. Memory and modernity: popular culture in
Latin America. Londres: Verso. Impreso, 1991.
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and the politics of rememberin. Los Angeles: University of California Press,
1997.
OROZCO GÓMEZ, Guillermo; VASSALLO DE LOPES, Maria
Immacolata (coord.). Transnacionalização da ficção televisiva nos países ibero-americanos: anuário Obitel 2012. Porto Alegre: Sulina: 2012.
4
Colômbia: violência, entretenimento e
espetáculo audiovisual1
Autores:
Boris Bustamante, Fernando Aranguren
Equipe:
Hernán Javier Riveros, Alejandra Rusinque, Diana Mendoza
1. O contexto audiovisual da Colômbia
O ano de 2012 representou para o país a consolidação problemática de um exercício de governo encabeçado pelo presidente Juan
Manuel Santos, que vacila em se desvincular das posturas características da extrema direita (da forma como “herdou” o mandato de
seu antecessor, Álvaro Uribe Vélez) e avançar em direção a uma
política de centro-direita, com capacidade de diálogo e interlocução,
tanto em nível interno quanto em nível internacional, com aqueles
setores identificados como seus principais inimigos e/ou opositores.
Referimo-nos, por exemplo, ao início dos diálogos de paz com as
FARC e, também, à reconsideração das relações com o já falecido
presidente Hugo Chávez e, em geral, com os governos de esquerda
da região. Nesse contexto sociopolítico, registram-se, por sua vez, indicadores macroeconômicos muito positivos, os quais melhoram a imagem do país no contexto internacional, passando a ser um dos lugares de investimento mais rentáveis para os capitais internacionais,
além das cifras de crescimento econômico e das garantias de segurança financeira. Contudo, junto com esses indicadores “de vitrine”,
Para desenvolver esta pesquisa acadêmica, contamos com a valiosa contribuição do
Ibope Colômbia, empresa que gentilmente nos proporcionou os dados e estatísticas consolidadas nos quais se baseia este estudo.
1
198 | Obitel 2013
também vêm registros negativos que assinalam o aprofundamento
da brecha entre ricos e pobres (a Colômbia é um dos países com
os maiores índices de desigualdade do continente), a “formalização
estatística” do emprego e do subemprego, a intensificação dos casos
de corrupção burocrática e política, bem como a já repisada informação sobre a chamada “parapolítica” (relações de políticos com os
paramilitares) no país.
Esse paradoxo, que marca o presente e o futuro imediato da
Colômbia, inscreve-se e tem continuidade no processo histórico e
político das últimas décadas, no qual a violência em suas diferentes
manifestações e impactos se constituiu como um componente essencial do contexto nacional. Nem o crescimento econômico, nem a
virada política do atual governo conseguem reduzir os índices e as
manifestações de violência (conflito com a guerrilha, paramilitarismo, narcotráfico, quadrilhas criminosas, delinquência comum etc.).
E é esse o contexto que alberga e determina a dinâmica da produção audiovisual colombiana, conforme será demonstrado neste
capítulo. No caso da televisão, que continua sendo o meio de entretenimento com maior demanda e impacto, a recriação da violência
em seus seriados transformou-se em um dos temas cuja programação oferece melhores resultados em matéria de audiência e lucratividade econômica, dominando, junto com a produção informativa e
os reality shows, os espaços de mais sucesso da telinha. No entanto,
por efeito da convergência tecnológica impulsionada pela acelerada
digitalização dos processos midiáticos, os conteúdos televisivos ampliam sua circulação e amplificam sua ressonância nas plataformas
virtuais (internet, telefonia celular, televisão digital, redes sociais
etc.), nas quais é representada cada vez com maior peso cultural a
cotidianidade nacional. 1.1. A televisão aberta na Colômbia
O panorama da televisão aberta na Colômbia, que envolve cinco redes nacionais, oferece a seguinte composição:
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 199
Gráfico 1. Redes nacionais de televisão aberta na Colômbia
REDES PRIVADAS (3)
RCN
Caracol
Canal Uno
REDES PÚBLICAS (2)
Señal Colombia
Canal institucional
TOTAL DE REDES = 5
Funcionalmente, a existência dessas cinco redes, distribuídas
em três privadas e duas públicas, está muito longe de alcançar um
equilíbrio representativo, uma vez que, pela quantidade de conteúdos emitidos e a consolidação dos índices de audiência, as privadas
monopolizam de modo quase absoluto a atenção do público.
Gráfico 2. Audiência de TV por canal
2%
1%
0%
Caracol
RCN
Canal Uno
46%
51%
Señal Colombia
Canal Institucional
Total Ligados Especial
(TLE)*
Caracol
RCN
Canal Uno
Señal Colombia
Canal Institucional
Como se mostra nesse gráfico, os índices da audiência televisiva no país estão distribuídos de maneira muito pouco equitativa
entre os canais privados e os públicos, ao ponto destes últimos mal
registrarem indicadores na faixa entre 1 e 2%. Por sua vez, isso vai
incidir de modo direto tanto na quantidade quanto na qualidade da
produção televisiva gerada em ambas as esferas, com a respectiva
redução da capacidade da televisão pública para competir com a
privada (mesmo que se reconheçam os esforços de Señal Colombia
para melhorar a qualidade, a originalidade e a autenticidade dos programas que produz e emite).
200 | Obitel 2013
Gráfico 3. Share por canal
0%
2%
0%
Caracol
RCN
Canal Uno
46%
52%
Señal Colombia
Canal Institucional
Total
Ligados Especial (TLE)*
Caracol
RCN
Canal UNO
Señal Colombia
Canal
Institucional
Share individual
%
73,54
65,39
2,38
0,66
51,7
46
1,7
0,4
0,18
0,2
O registro, nesse caso, confirma a apreciação mencionada anteriormente sobre o papel predominante da televisão privada frente à
pública. As duas grandes redes que dominam o mercado televisivo
no país, Caracol e RCN, disputam todos os tipos de preferências do
público, incentivando com isso a concorrência aberta entre esses
dois canais, o que também representa a concorrência por inovação
em formatos, qualidade e quantidade de programas, a busca de fórmulas de associação com redes internacionais etc. Com relação às
preferências do ano, deve-se sublinhar que, pela primeira vez em
muito tempo, a Caracol conseguiu desbancar a RCN, graças à programação de ficção emitida no período.
Gráfico 4. Oferta de gêneros na programação de TV
Informação
Ficção
11%
24%
%
9%
34%
5%
4%
Entretenimento
Religioso
Esporte
Educativo
Político
0%
Outros
Gêneros transmitidos
Informação
Ficção
Entretenimento
Religioso
Esporte
Educativo
Político
Outros
Total
Horas de
exibição
4.029:15:37
4.957:55:10
12.622:03:34
88:47:52
1.379:58:26
1.895:17:57
2.281:28:26
9.121:09:59
37.462:17:48
%
10,8
13,2
33,7
0,2
3,7
5,1
9,0
24,3
100
Como se pode ver no gráfico, os grandes gêneros da programação televisiva – entretenimento, ficção e informação – dominam os
maiores índices na oferta dessa mídia, o que corresponde aos maiores níveis de demanda por parte do público.
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 201
1.2. Tendências da audiência em 2012
A estrutura da programação da televisão colombiana tem muitos aspectos em comum com a de outros países da região, o que acaba por ser um ponto forte e, ao mesmo tempo, um motivo para promover aquilo que é específico da produção nacional. Nessa ordem
de ideias, também em matéria de tendências de audiência é possível
constatar semelhanças e diferenças, o que contribui para ressaltar a
importância da mídia televisiva em sua dimensão social e cultural.
A audiência televisiva colombiana em 2012 concentrou-se
prioritariamente em blocos, como informativos (redes privadas), entretenimento e ficção (redes privadas), esportes e outros programas
de variedades (canais privados e públicos). No que diz respeito a
entretenimento e ficção, destaca-se o predomínio visível dos reality
shows (não menos do que dez programas de grande impacto, nove
deles emitidos pelas duas grandes redes e o outro pelo canal City
T.V.), junto com os programas de ficção: seriados, telenovelas e
dramatizados. Aqui, vale a pena ressaltar que, este ano, as séries
superaram as telenovelas em termos de audiência – uma alteração
que merece monitoramento e análise. O outro grande bloco de conteúdos televisivos relevante para a audiência são as transmissões
esportivas, tanto nacionais quanto internacionais.
O que isso nos revela em matéria de tendências de audiência?
Em nossa visão, o primeiro aspecto que se pode destacar é a estreita
sintonia entre a capacidade da televisão para interpretar os gostos
e expectativas do público e oferecer e realimentar, de acordo com
isso, uma programação que se ajuste a essas demandas e permita
consolidar a fidelidade dos telespectadores. Isso se reflete claramente no confronto aberto entre as duas grandes redes para oferecer
programas que garantam os maiores índices de audiência possíveis,
assim como na realimentação das práticas de transmidiação, que
cada vez mais crescem nesse meio. O segundo aspecto estaria relacionado com a acomodação e, de certa forma, com a satisfação dos
grandes públicos com os conteúdos oferecidos e com o tratamento
cada vez mais tecnicamente refinado que é dado a esses conteúdos,
202 | Obitel 2013
com o que a experiência comunicativa e cultural com essa mídia
seria, pelo visto, suficientemente gratificante.
1.3. Investimentos publicitários do ano: na TV e na ficção2
A informação relacionada com o manejo do chamado “bolo
publicitário” (investimento em publicidade por mídia) confirma claramente a tendência a concentrar as maiores porcentagens de investimento na televisão (nacional, 48%, regional, 2,9%), que é seguida
pelo rádio e pelos jornais, cada um com 21%, e pelas revistas, com
5,1%. Isso coincide com o alto grau de posicionamento e impacto
que se atribui à mídia televisiva nesse aspecto. Se a isso se acrescenta que, na Colômbia, em 2012, o investimento publicitário em
mídias cresceu 1,3% em relação ao ano anterior, é óbvio que esse
crescimento, em razão do volume de investimento – que foi de 0,7%
na televisão – supera em muito os registros de participação de 4,9%
do rádio e de 3% dos jornais.
Por sua vez, os dados relativos ao investimento publicitário
concentrado nas faixas, programas e formatos da ficção televisiva
permitem inferir, pelo volume de audiência e variedade de programas oferecidos, cifras altamente significativas, já que os formatos
de ficção abrangem 30% do total dos investimentos publicitários
em televisão, muito acima dos 21% com os quais se trabalha para
os noticiários e a média inferior aos 10% de outros formatos. Isso
supõe reconhecer que, por estar a ficção principal em horários nobres, no qual se enfrentam os principais canais de emissão, tanto o
investimento publicitário quanto seu rendimento atingem as mais altas posições e benefícios em função desses espaços da programação. 1.4. Merchandising e merchandising social
Na Colômbia, as mídias audiovisuais desenvolveram uma relação orgânica com o merchandising e com o posicionamento de
Os dados usados para desenvolver esta parte provêm da Asociación Nacional de Medios
de Comunicación, Asomedios, e da Asociación Colombiana de Editores de Diarios y Medios Informativos, Andiarios, “Consolidado de inversión publicitaria en medios 2012”.
2
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 203
suas produções para além das telas. Desse modo, os programas televisivos fazem parte da gama de produtos apresentados, negociados e promovidos dentro das dinâmicas de consumo da sociedade.
Isso, somado à espetacularização de seus discursos e às agressivas
campanhas realizadas em seus próprios espaços comerciais, envolve
outros tipos de suportes, como o uso do transporte público, outdoors
e lançamentos multitudinários para promover suas produções audiovisuais.Recentemente, o espaço da promoção e da visibilização
dos produtos midiáticos vem sendo ampliado de modo considerável,
junto com o impacto e o benefício comercial pelo uso sistemático
das redes virtuais usadas pela mídia. Isso é especialmente visível
no caso da ficção televisiva, em que as produções são lançadas não
apenas como parte da programação do canal, mas também se transformam em um grande espetáculo que domina os espaços informativos, integra diferentes segmentos comerciais na emissora e na rede
de mídias, bem como em espaços virtuais associados a ela.
Dito isso, com relação ao merchandising social, em suas duas
dimensões – tanto aquela voltada a responder aos contextos sociais
quanto a que se desenvolve por meio das redes –, a televisão implementou uma série de campanhas que buscam o apoio e a conscientização em torno de diversos fenômenos e problemáticas de interesse
social, tanto em nível nacional quanto local. É o caso da participação das celebridades da telinha em eventos de importância, como a
Caminata Solidaridad por Colombia, o Carnaval de Barranquilla e
festividades semelhantes, nas quais marcam presença com carros
alegóricos e blocos alusivos às produções televisivas. O mesmo
fazem na realização de programas de alto impacto social, como o
Teletón, e em campanhas voltadas a despertar a sensibilidade e a
solidariedade cidadã em torno de causas humanitárias e sociais.
1.5. Políticas de comunicação (leis, reformas, incentivos, TV digital…)
A legislação colombiana para 2012 abriu espaço definitivo para
a digitalização como um dos grandes objetivos a cumprir em nível
204 | Obitel 2013
sociocultural. Nesse quadro, é de vital importância o desenvolvimento do Plan Vive Digital, que se transforma na principal iniciativa
promovida pelo Ministério das Tecnologias de Informação e Comunicação, Mintic, cujo objetivo é não apenas obter maior presença da
internet no país, mas também estabelecer as bases essenciais de uma
cultura digital. Por outro lado, no caso do circuito audiovisual, destaca-se o incentivo dado à produção cinematográfica em termos de
custos e impostos. Desse modo, por meio da Lei 1.556, o território
nacional é promovido como cenário para a realização de obras cinematográficas, e para isso está prevista uma contrapartida de 40% das
despesas por serviços de gravação e de 20% em despesas logísticas,
com o objetivo de reduzir custos e promover o país como espaço
para a produção de cinema.
No que se refere a políticas específicas para a televisão, em
2012 se decretou a nulidade do processo de concessão do terceiro
canal, postergando a possibilidade de uma nova licitação até 2013,
decisão tomada a partir da apresentação de um único candidato e da
conclusão de que seria necessário promover novamente a questão
da concessão desde o início. Por outro lado, a televisão digital terrestre encontra-se em pleno desenvolvimento e com uma cobertura
que abrange apenas as capitais mais importantes do país e que, em
termos de canais, conta apenas com a oferta em nível nacional dos
privados, enquanto os públicos limitam seu espectro a Bogotá e Medellín.
1.6. TV pública
O panorama da televisão pública no país não varia muito nos
últimos anos, o que incide em sua escassa presença e na influência
muito relativa em termos de capacidade de atingir e impactar grandes públicos. É verdade que, nos últimos anos, a política pública de
comunicação declarou a importância de fortalecer essa mídia, aumentar sua cobertura, dotá-la de uma tecnologia de ponta e garantir
os recursos que permitam promover uma ambiciosa programação
que a torne competitiva. Contudo, entre vontade, palavras e a re-
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 205
alidade concreta do mercado e do meio ergue-se uma barreira até
o momento insuperável. Isto faz com que a nossa televisão pública, com exceção de alguns conteúdos e programas comprometidos
com as identidades culturais regionais e com a sensibilização do
telespectador em torno de valores e costumes da grande tradição
nacional, acabe sendo mínima diante da avalanche de oferta de entretenimento e espetacularização dos canais privados. É preciso, não
obstante, reconhecer o valor educativo e a aposta cultural que mostra a programação de Señal Colombia.
1.7. TV por assinatura
Durante o ano de 2012, destaca-se a forma com que a Colômbia mostrou um amplo crescimento na cobertura e na quantidade de
assinantes da TV paga. Os grandes conglomerados desse sistema,
dominados fundamentalmente pelas empresas Claro e Direct TV,
registraram um aumento considerável em suas instalações e abriram-se para um mercado no qual já se tornou evidente a importância
de contar com esse tipo de sistema. Da mesma maneira, dentro de
seus serviços, a oferta de canais por assinatura, como é o caso de
HBO e Moviecity, também registrou um considerável aumento no
número de assinantes, o que demonstra um interesse do público pelos conteúdos oferecidos por esses canais, os quais abrangem uma
ampla gama de gêneros e formatos. Na verdade, dentro do formato
atual do sistema de televisão na Colômbia, a TV paga aparece como
o mais forte concorrente dos grandes canais privados na briga pelo
controle da audiência de massas.
1.8. Tendências das TICs (internet, celular, TV digital, VoD…)
Em matéria de inovação e desenvolvimento tecnológico digital,
é pertinente destacar a contínua e acelerada expansão das plataformas virtuais e, com isso, a concomitância operacional das principais
tecnologias de informação e comunicação que povoam o horizonte
midiático nacional. Sendo assim, vale mencionar que a telefonia celular cobriu praticamente todo o território, com um registro próximo
206 | Obitel 2013
dos 50 milhões de assinantes, junto com o crescimento altamente dinâmico da aquisição de telefones inteligentes (smartphones) e
outros dispositivos móveis de última geração. O crescimento e a
expansão da internet de banda larga, fixa e móvel, mantêm-se na
ordem de 18,2% anuais, abarcando mais de 7 milhões de assinantes
(segundo dados do Ministério das Tecnologias de Informação e Comunicação, Mintic). Também é pertinente ressaltar que a principal
expectativa nesse setor reside na iminente chegada da tecnologia
4G, a qual se supõe que provocará uma importante reconfiguração
no mercado, por ter sido restringido o nível de participação da operadora dominante, a Claro. Como mostram as cifras mencionadas,
a expansão da internet no país, embora centrada nas principais cidades, é indício de profundas mudanças e transformações nos modos de interação e participação social. Os principais usos da internet
(segundo o Mintic) mostram a seguinte composição: acesso a redes
sociais, 96%; pesquisas, 94%; conteúdos multimídia, 78%; correio
eletrônico, 72%; informação, 70%; participação em grupos e comunidades, 68%. No que se refere a redes sociais, segundo a mesma
fonte, o Facebook lidera, com 90% do mercado e uma média de
492,5 usuários por minuto, seguido pelo Windows Live, com 26%,
e pelo Twitter, com 21%. Essas cifras situam o país no 14º lugar e
Bogotá no 9º lugar em nível mundial no uso do Facebook. Finalmente, no caso do uso de Video On Demand (VoD), é visível a
expansão que teve o setor da TV paga nos canais privados de sinal
aberto, nos quais, como ocorre com a Caracol, são oferecidos conteúdos por esse sistema.
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 207
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana
Tabela 1. Ficções exibidas em 2012 (nacionais e importadas;
estreia e reprises; coproduções)
TÍTULOS NACIONAIS INÉDITOS – 16
CARACOL – 7 Títulos nacionais
1. El laberinto (dramatizado)
2. Escobar, el patrón del mal
(dramatizado)
3. Rafael Orozco, el ídolo (dramatizado)
4. Amor de Carnaval (telenovela)
5. Dónde carajos está Umaña
(telenovela)
6. Mujeres al límite (dramatizado)
7. Tu voz estéreo (dramatizado)
RCN – Títulos nacionais – 9 Títulos
nacionais
8. Historias clasificadas (dramatizado)
9. Casa de reinas (dramatizado)
10. Corazones blindados (dramatizado)
11. Dónde está Elisa (dramatizado)
12. El Capo 2 (dramatizado)
13. La mariposa (dramatizado)
14. Pobres Rico (telenovela)
15. A mano limpia II temporada (série)
16. Infieles anónimos (dramatizado)
TÍTULOS IMPORTADOS INÉDITOS 13
Caracol – 8 Títulos importados
1. Los simuladores (série – México)
2. Familia moderna (série – EUA)
3. Corazón apasionado (telenovela –
Venezuela/EUA).
4. El cuerpo del deseo (telenovela –
EUA)
5. Emperatriz (telenovela – México)
6. Relaciones peligrosas (telenovela –
EUA)
7. Blanco humano (série – EUA)
8. Engáñame si puedes (série – EUA)
RCN – 7 Títulos importados
9. Abismo de pasión (telenovela –
México)
Fonte: Ibope Colômbia
10. Abrázame muy fuerte (telenovela –
México)
11. Por ella soy Eva (telenovela –
México Televisa)
12. Un refugio para el amor (telenovela
– México Televisa)
13. Triunfo del amor (telenovela –
México – Televisa)
TÍTULOS DE REPRISES – 20
CARACOL – 5 Títulos
1. Los caballeros las prefieren brutas
II (série)
2. Casados con hijos (dramatizado)
3. Nuevo rico, nuevo pobre (telenovela)
4. Nadie es eterno en el mundo
(telenovela)
5. Niní (telenovela).
RCN– 14 Títulos
6. Alicia en el país mercancías
(dramatizado)
7. Así es la vida (dramatizado)
8. Enigmas del más allá (dramatizado)
9. Carolina Barrantes (telenovela)
10. Me llaman Lolita (telenovela)
11. Milagros de amor (telenovela)
12. El ultimo matrimonio feliz (telenovela)
13. Las trampas del amor (série)
14. Como dice el dicho (série)
15. La rosa de Guadalupe (série)
16. María la del barrio (telenovela)
17. Aquí no hay quien viva (telenovela)
18. Las noches de Luciana (telenovela)
19. Tan cerca y tan lejos (telenovela)
CANAL UNO – 1 Título
20. Hombres de honor (dramatizado)
TOTAL GERAL DE TÍTULOS
EXIBIDOS: 49
208 | Obitel 2013
Deve-se ressaltar, como ilustra a Tabela 1, que a ficção exibida durante o ano esteve baseada, de maneira fundamental, tanto
na produção nacional quanto na importada, nos formatos de séries
e minisséries (chamados de “dramatizados”), o que constitui uma
variação interessante em relação à predominância que a telenovela
sempre teve nesse setor.
Tabela 2. A ficção de estreia em 2012: países de origem
País
Tít.
% Cap./Epis. %
Horas
%
NACIONAL 16
55,2
1.533
62,3 1.252:20 64,7
IBERO-AMERICANA 13
44,8
927
37,7
682:40
35,3
Argentina
Brasil
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
Chile
COLÔMBIA
–
16
–
55,2
–
1.533
Equador
–
–
–
–
–
–
62,3 1.252:20 64,7
–
–
–
Espanha
–
–
–
–
–
–
EUA (produção hispânica)
5
17,2
240
9,7
177:40
9,2
México
7
24,1
593
24,1
448:00
23,2
Peru
–
–
–
–
–
–
Portugal
–
–
–
–
–
–
Uruguai
–
–
–
–
–
–
Venezuela
1
3,5
94
3,9
57;00
2,9
Latino-Americana (âmbito Obitel)
29
100
2.460
Latino-Americana (âmbito não Obitel)
Outras (produções e coproduções de
outros países latino-am./ibero-am.)
–
–
–
100 1.935:00 100
–
–
–
–
–
–
–
–
–
TOTAL
29
100
2.460
100 1.935:00 100
Fonte: Ibope Colômbia
No que tange às estreias de ficção no país, deve-se ressaltar
que a produção nacional é quase similar quantitativamente à ibero-americana (âmbito Obitel), o que se pode traduzir em uma complementaridade de apostas em matéria de tratamento e realização das
temáticas, bem como em relação às preferências por conteúdos e
formatos pelos quais as audiências nacionais têm muita predileção.
37,0
Fonte: Ibope Colômbia
TOTAL
Telenovela
Série
Minissérie
Filme para televisão
Unitário
Docudrama
Outros (Dramatizado)
Formatos
1533
TOTAL
Fonte: Ibope Colômbia
100
16,3
1252:20
141:50
566:10
510:20
34:00
H
%
100
11,3
45,2
40,8
2,7
927
226
1
450
250
C/E
100
24,4
0,1
48,5
27,0
%
682:40
141:15
1:15
304:10
236:00
H
Ibero-Americanas
%
100
20,7
0,2
44,6
34,6
%
18,8
6,3
–
–
–
–
75,0
100
Títulos
3
1
–
–
–
–
12
16
1.533
100
Nacionais
Cap.
%
363
23,7
14
0,9
–
–
–
–
–
–
–
–
1156 75,4
1.252:20
Horas
255:25
16:00
–
–
–
–
980:55
100
%
20,4
1,3
–
–
–
–
78,3
13
Títulos
9
4
–
–
–
–
–
100
%
69,2
30,8
–
–
–
–
–
Tabela 4. Formatos da ficção nacional e ibero-americana
250
(22:00-6:00)
Noite
44,2
567
678
(12:00-19:00)
Horário nobre (19:00-22:00)
Tarde
38
Manhã (6:00-12:00)
%
2,5
C/E
Faixas de horário
Nacionais
100
19,3
27,6
41,3
11,7
%
Total
H
1935:00
283:05
567:25
814:30
270:00
927
100
682:40
Ibero-Americanas
Cap.
%
Horas
808 87,2 608:50
119 12,8
73:50
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
2460
476
679
1017
288
C/E
Tabela 3. Capítulos/Episódios e horas emitidos por faixa de horário
%
100
%
89,2
10,8
–
–
–
–
–
100
14,6
29,3
42,1
14,0
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 209
210 | Obitel 2013
É importante apontar que o horário nobre está totalmente ocupado pela exibição de produções nacionais, o que, em relação à
tabela anterior, rompe, do ponto de vista quantitativo, a tendência
mencionada e obriga a pensar na recomposição da programação de
ficção de acordo com as preferências de sintonia, que, neste caso,
estão claramente inclinadas para a produção nacional.
Insistimos na observação de que o formato mais usado na ficção nacional este ano foi o de séries e/ou minisséries (catalogado
pelos canais como “dramatizados”), com a consequente mudança
na ordem de importância e na aceitação desse formato diante do
predomínio tradicional da telenovela.
Tabela 5. Formatos da ficção nacional por faixa de horário
Formatos
Telenovela
Manhã
%
Tarde
%
Horário
nobre
%
Noite
%
Total
%
–
–
–
–
2
10
1
50
3
18,7
Série
–
–
–
–
1
10
–
–
1
6,3
Minissérie
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
Filme para
televisão
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
Unitário
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
Docudrama
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
Outros
(Dramatizado)
–
–
4
100
7
70
1
50
12
75,0
TOTAL
0
–
4
100
10
100
2
100
16
100
Fonte: Ibope Colômbia
Segundo o que se observou antes, o horário nobre na Colômbia, em 2012, foi dominado pelo formato de ficção série/minissérie
(catalogado como “dramatizado” pelas próprias redes de televisão).
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 211
Tabela 6. Época da ficção
Época
Títulos
%
Presente
13
81
de Época
0
0
Histórica
2
13
Outra
TOTAL
1
16
6
100
Fonte: Ibope Colômbia
A tendência das produções emitidas se mantém, em termos de
um claro predomínio de temáticas, âmbitos e situações recriados na
ficção, sempre em torno do tempo presente, com o tratamento do
passado transformando-se em algo praticamente excepcional, neste
caso.
Tabela 7. Os dez títulos mais vistos: origem, nível de audiência, share
Título
1
2
Escobar,
el patrón
del mal
La mariposa
País de
origem
da ideia Produtora
original
ou roteiro
Colômbia
Colômbia
Caracol
Televisión
Fox Telecolombia
Fox Telecolombia
Canal
Juan Camilo
Ferrand
14,95
38,15
RCN
Gerardo Reyes
12,49
34,78
RCN
Gustavo Bolívar 11,63
35,06
El capo II Colômbia
4
Casa de
reinas
5
Corazones
Colômbia
blindados
Teleset
RCN
6
Rafael
Orozco,
el ídolo
Caracol TV
Caracol
TV
Colômbia
AudiShare
ência
Caracol
Televisión
3
Colômbia
Nome do
roteirista ou
autor da ideia
original
RCN TeleRCN
visión
Miguel Angel
Baquero e Eloí- 11,01
sa Infante
Rafael Noguera,
Ana María
10,87
Londoño e Juan
Andrés Rendón
Andrés
Marroquín
10,76
32,36
32,8
32,55
212 | Obitel 2013
7
Dónde
carajos
está
Umaña
8
9
Caracol TV
Caracol
TV
Johnny Ortiz.
10,35
30,42
Dónde
Chile
está Elisa
RCN
Televisión
RCN
Televisión
Pablo Illanes
9,55
32,36
A mano
limpia
RCN
Televisión
RCN
Televisión
Diego Vivanco,
Andrés Guevara
9,54
e Julio Contreras.
30,95
Caracol
TV
Mauricio
Miranda
24,93
Colômbia
Colômbia
Coprodução
El labeCaracol
10
Colômbia
rinto
TV e Sony
Picture
Televisión
Total de produções: 10
8,40
Roteiros estrangeiros: 1
100%
% 10
Fonte: Ibope Colômbia
Ao revisar os dez títulos mais vistos na Colômbia, é interessante constatar que a Caracol tirou o primeiro lugar da RCN em
termos de produções de ficção televisiva, com o seriado Escobar, el
patrón del mal. Isso é interessante na medida em que seis desses dez
principais programas provêm da RCN, rede que tradicionalmente
manteve o domínio nesse terreno.
Tabela 8. Os dez títulos mais vistos:
formato, duração, faixa de horário
Título
1
Escobar el patrón del mal
2 La mariposa
Datas da
primeira e da
última
emissões
(em 2012) (*)
Faixa
de horário
Formato
Gênero
Nº de
cap./ep.
(em 2012)
Série
Ação-Drama
72 Capítulos
28/05/12 a
19/11/12
Nobre
Série
Ação-Drama
48 Capítulos
16/01/12 a
22/03/12
Nobre
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 213
Série
Ação-Drama
76 Capítulos
17/09/12 a
31/12/12 (cont.)
Nobre
4 Casa de reinas
Minissérie
Comédia
43 Capítulos
19/11/12 a
31/12/12 (cont.)
Nobre
5
Corazones
blindados
Série
Ação-Drama
100 Capítu03/09/12 a
los (cont.) 31/12/12 (cont.)
Nobre
6
Rafael Orozco,
el ídolo
Telenovela
Drama
81 capítulos
20/11/2012 a
31/12/12 (cont.)
Nobre
7
Dónde carajos
está Umaña
Telenovela
Comédia
178 Capítulos
07/05/2012 a
31/12/12 (cont.)
Nobre
8
Dónde está
Elisa
Telenovela
Mistério-Drama
115 Capítulos
12/03/2012 a
02/09/2012
Nobre
9 A mano limpia
Série
Drama
10 El laberinto
Série
Suspense
3 El capo II
27 Capítulos
10/12/12 a
(cont.)
31/12/12 (cont.)
76 Capítulos
10/01/2012 a
03/05/2012
Nobre
Nobre
Fonte: Ibope Colômbia
Entre os dez títulos mais assistidos, confirma-se o crescimento
dos seriados (dramatizados) dentro da produção de ficção televisiva na Colômbia em 2012. Isso, como já se apontou, faz pensar
na maneira como esses formatos se relacionam entre si – seriado
e telenovela –, a tal ponto que, às vezes, a diferença pareça pouco
relevante e dependa fundamentalmente de critérios estabelecidos e
determinados somente pelas produtoras de acordo com seus próprios parâmetros. Vale destacar, dentro de algumas das produções
dessa lista, uma espécie de combinação de recursos entre ação e
drama, que se transforma em um fator fundamental para avaliar as
particularidades das ficções mais assistidas. Também cabe destacar
a forma como a ficção se situa no campo do entretenimento como
motor fundamental das produções desse meio de comunicação de
massas. No que tange à duração, oito dos programas estão situados
no segmento de longa duração (50 minutos a 1 hora), e dois têm for-
214 | Obitel 2013
mato de 30 minutos; e todos, sem exceção, fazem parte do horário
nobre (18h a 21h).
Tabela 9. Temáticas nos dez títulos mais vistos
Títulos
TEMÁTICAS
DOMINANTES
(ATÉ CINCO TEMAS
MAIS IMPORTANTES)
Morte, fraude, drogas, violência e enriquecimento ilícito.
1
Escobar, el
patrón del mal
2
La mariposa
3
El capo II
4
Casa de reinas
5
Corazones
blindados
6
Rafael Orozco,
el ídolo.
Amor, intriga, violência,
vingança, fama, poder.
7
Dónde carajos
está Umaña
Amor, fraude, fuga, intriga.
8
Dónde está
Elisa
Dinheiro, poder, desaparição
forçada,
9
A mano limpia
10 El laberinto
Amor, vergonha, dinheiro
fácil, fraude, traição.
Violência, amor, morte, vingança e ruptura familiar.
Amor, vingança, intriga,
ciúmes, fraude.
TEMÁTICAS SOCIAIS
(ATÉ CINCO TEMAS
MAIS IMPORTANTES)
Narcotráfico, delinquência,
contrabando, surgimento dos
cartéis e justiça colombiana.
Lavagem de dinheiro,
justiça, perseguição policial
e família.
Narcotráfico, funcionamento
da justiça, subcultura dos
matadores de aluguel e vida
mafiosa.
Ascensão socioeconômica,
justiça, mães solteiras, contrabando, corrupção.
Amor, crime, fraude, vingança Vida policial, sequestro, prose morte.
tituição e justiça.
Tradição cultural, superação
pessoal, infidelidade.
União familiar, sobrevivência, fracasso, obstáculos
burocráticos.
Paranoia, revelação de histórias do passado, recriminações.
Violência, intriga, fraude.
Tentativa de homicídio, desespero, investigação judicial. Amor, sexo, infidelidade,
vingança, morte.
Sedução, justiça ineficiente,
perda da liberdade.
Fonte: Ibope Colômbia
Nessa lista, identifica-se a continuidade, com relação a anos
recentes, dos temas e conteúdos de maior sucesso, com maior acei-
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 215
tação e sintonia. Entre eles, a violência relacionada com o narcotráfico predomina em não menos do que quatro ou cinco desses programas. Como se comenta em detalhe em outra seção deste relatório, o
passado recente colombiano está muito influenciado pela marca do
narcotráfico e sua capacidade de influir negativamente em diversos
aspectos da vida social. Também é possível identificar conteúdos
relacionados com outras formas de violência, provenientes do mundo da ilegalidade, da delinquência comum, do tráfico de pessoas e
suas respectivas variações, que a mídia vai elaborando e transformando em uma espécie de espelho sem mediação, diante do qual
o público assiste a uma certa espetacularização e dramatização do
problema. Outras temáticas estão relacionadas com a exaltação um
tanto romântica e melodramática do papel dos agentes da lei e suas
vidas privadas, transformadas em motivo de comentários públicos
por meio da ficção, a recriação da convivência social entre indivíduos provenientes de classes ou setores sociais contrapostos e, finalmente, a retomada de elementos do folclore regional ligados à
idiossincrasia local ou à ambientação da vida de uma figura popular
consagrada pelo sucesso como intérprete musical, caso de Rafael
Orozco, o cantor de vallenato (gênero musical do litoral caribenho
da Colômbia), ainda tão acolhido e lembrado entre as multidões.
Tabela 10. Perfil de audiência dos dez títulos mais assistidos:
gênero, idade, nível socioeconômico
Gênero %
Títulos
Canal
Escobar, el
Caracol
patrón del mal
TV
2 La mariposa
RCN
1
3 El capo II
RCN
4 Casa de reinas RCN
Corazones
5
RCN
blindados
Rafael Orozco, Caracol
6
el ídolo
TV
Nível socioeconômico %
Faixas etárias %
Mu- Ho- Infan- 12- 18- 2540+ AB C DE
lheres mens til
17 24 39
49
51
14
16
15
21
34
50 30 20
58
42
12
18
20
22
28
45 35 20
56
44
13
23
19
21
24
50 30 20
59
41
20
24
16
20
21
60 25 15
59
41
11
25
23
21
20
40 40 20
58
42
16
20
14
20
30
60 25 20
216 | Obitel 2013
Dónde carajos Caracol
está Umaña
TV
Dónde está
8
RCN
Elisa
7
9 A mano limpia
RCN
53
47
17
17
15
19
32
55 25 20
63
37
12
17
20
24
28
40 50 10
56
44
20
27
16
17
20
40 35 25
Caracol
10 El laberinto
48
52
12
24 19 20 25 35 35 30
TV
Fonte: Ibope Colômbia (os dados apresentados são os mais aproximados aos registros
disponíveis)
A Tabela 10 faz referência aos tipos de públicos que predominam em relação aos dez programas de ficção televisiva mais assistidos em 2012, e o primeiro aspecto que podemos examinar a
esse respeito está relacionado com a composição desses públicos
por gênero, do que se destaca que a audiência feminina é majoritária
em oito dos dez programas selecionados, em alguns casos com uma
porcentagem bastante elevada em relação à masculina, como acontece com ¿Dónde está Elisa?, com uma diferença de 26 pontos. É
no programa dedicado a Escobar que a audiência masculina supera
a feminina em escassos dois pontos, o que levanta a dúvida sobre
a relevância dessa diferença pontual. Com relação a faixas etárias,
vale ressaltar que o grupo correspondente aos maiores de 25 anos
e o de 40 para cima constituem sempre metade ou mais do púbico
total dos programas que integram essa lista, o que é coerente com o
fato de ser uma programação direcionada principalmente aos adultos. No extremo oposto está o público infantil que assiste a esses
programas, com uma média entre 14 e 16% do total da audiência,
também com uma tendência válida para todos os programas. E, por
fim, o público entre 12 e 24 anos, que representa entre 25 e 35% da
audiência desses espaços.
3. A recepção transmidiática
Com o panorama atual da digitalização como elemento essencial e central dos processos comunicativos na Colômbia e no mundo,
os fenômenos da transmidiação se transformam em cenários fundamentais para redimensionar o papel cultural das ficções televisivas.
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 217
Desse modo, a televisão é fortalecida e promovida, e sua potencialidade discursiva é reafirmada. Redes sociais, como Facebook,
Twitter e YouTube, redefinem e alteram o papel do público, abrem
canais para a interatividade, a retroalimentação e a participação do
público, permitindo que as pessoas que o compõem se manifestem
abertamente diante de seus programas e temas favoritos. Com isso,
ganham não apenas o público, mas também, e principalmente, ganham os produtores, que usam essa informação para multiplicar os
rendimentos do marketing transmidiático. Em nosso caso, e para 2012, neste tópico a peça de ficção escolhida foi a mais assistida e, também, a mais representativa em
termos de sua aposta e oferta transmidiática. Essa produção foi Escobar, el patrón del mal, sobre a qual foi feita uma busca de informações em diferentes plataformas digitais da internet. A busca foi
realizada com o propósito de identificar os tipos e níveis de interatividade predominantes, ativos ou passivos, as interações com outros
suportes e mídias – tanto audiovisuais quanto impressas –, os públicos característicos do programa nessas plataformas e as implicações
que o fenômeno, relativamente inovador, tem entre esses públicos
em função de sua conexão com o tema da violência, bem como a
recriação de um dos momentos mais dramáticos da nossa história.
Para o acompanhamento, foi escolhida a rede social Facebook, pois
ela oferece aos seus membros a oportunidade de participar de forma ativa. Não há interação em tempo real, embora seus serviços
só possam ser classificados como público interativo, com algumas
características e/ou elementos de visualização interativa em rede e
da visualização transmidiática. Quanto aos níveis dominantes de
interatividade, podemos afirmar que acontece interatividade ativa,
uma vez que os usuários podem participar por meio da elaboração
de comentários e por meio de respostas nas sequências de conversação, bem como na discussão dos conteúdos da série.
Contudo, além dos elementos que foram sendo listados sobre
a ficção televisiva e sua transmidiação, são apresentadas a seguir as
práticas dominantes dos usuários nesse processo de interação com
218 | Obitel 2013
todas as plataformas digitais, a partir das quais é possível vislumbrar
essas ações, como se registra na Tabela 11.
Tabela 11. A ficção transmidiática: tipos de interação
e de práticas dominantes
Ficção
Escolhida
Emissora
Páginas de
internet
Escobar, el Caracol Página do
patrón del Televisi- Facebook
Página oficial
mal
ón
Página do
Twitter
Página do
YouTube
Tipos de
interação
transmidiática
Visualização
interativa
Visualização
interativa em
rede
Visualização
interativa
Interativa em
tempo real
Níveis de
Práticas
interativi- dominantes dos
dade
usuários
Ativa
Ativa
Ativa
Ativa
Comentário
Interpretação
Recomendação
Celebração
Crítica
Coleção
Compartilhamento
Ampliação
Debate
Interpelação
Durante a semana de acompanhamento, o monitoramento na
rede social Facebook correspondente aos últimos dias de transmissão do programa escolhido, de 14 a 19 de novembro, permitiu observar o seguinte movimento quantitativo: com relação ao número de
fãs, 86.471 pessoas curtem a página e 465 estão falando dela. Acerca dos dados sobre as postagens publicadas durante a semana de
novembro, os dias de maior atividade foram o dia 16 de novembro,
com nove postagens, e o dia 19, com 11; os demais não superam
as três postagens por dia. O total de postagens publicadas é de 27
nos seis dias da reta final da série. Diante dos resultados do número
de vezes que os usuários compartilharam, curtiram e comentaram
cada post durante cada um dos quatro dias, obtêm-se as seguintes
cifras: 14 de novembro – curtir: 1.108; compartilhar: 205; comentar:
245. 15 de novembro – curtir: 155; compartilhar: 13; comentar: 35.
16 de novembro – curtir: 1.793; compartilhar: 132; comentar: 289.
17 de novembro – curtir: 246; compartilhar: 35; comentar: 70. 19
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 219
de novembro – curtir: 5.022; compartilhar: 509; comentar: 1.290.
Total de cada uma das opções de interação – curtir: 8.324; compartilhar: 894; comentar: 1.929.Passando para a análise qualitativa, foram compilados todos os comentários publicados durante a semana,
escolheram-se os tipos mais frequentes e foi feito um trabalho de
análise do discurso dos usuários para identificar os comportamentos
individuais, sociais, virtuais e públicos que se apresentam na página.
Por se tratar de uma série baseada em um fato histórico de alto
impacto para os colombianos, os fãs mostraram sentimentos contraditórios diante das ações do narcotraficante, alimentando o debate sobre o significado do fato e do protagonista para o país. A
discussão também se alimentou de fontes jornalísticas da época, de
comentários provenientes de páginas na internet e de materiais que
circulam pelas redes (YouTube, Discovery e El Espectador). A ficção se manteve fiel aos relatórios oficiais da época sobre fatos conjunturais, como o final do chefão do narcotráfico. Não
obstante, evidencia-se uma atitude de crítica e suspeita manifestada
abertamente pelos participantes diante da informação proveniente
das notícias transmitidas pelos meios de comunicação e acerca das
diversas formas em que é possível tergiversar essa informação. A
temática também propiciou duros enfrentamentos entre posições
políticas antagônicas em relação com o que a figura desse capo e a
destruição causada por ele representam para o colombiano médio. É
importante dizer aqui que o acompanhamento evidenciou uma certa
transnacionalização, com algumas mensagens publicadas a partir de
outros países, como Argentina, México, Peru e Chile – onde a série
chegou em DVD, pela TV a cabo ou vai estrear na TV aberta –, e
que destacam a qualidade da série e dos atores.
4. O mais destacado do ano
Como se indica na respectiva tabela, Escobar, el patrón del mal
foi a produção de ficção televisiva mais bem-sucedida na Colômbia
em 2012, não apenas pela audiência alcançada, mas também pelo
impacto social e cultural que a série teve para o país. A encenação
220 | Obitel 2013
da vida e da ação letal do chefão dos chefões também contou com
uma destacada produção técnica e um considerável vigor narrativo,
ágil e convincente, com uso constante de filmagens externas e as
condições próprias do tratamento cinematográfico. Esse conjunto de
fatores, somado à nefasta marca cultural do narcotráfico e, particularmente, de Pablo Escobar, com a sequela de dor, desagregação e
tragédia que isso conota para os colombianos, funcionou como fator
de destaque para capturar o interesse do público. Por sua vez, geraram-se alguns debates e polêmicas, muitos deles com profundo caráter emocional, em torno de uma possível apologia do personagem
e sua influência negativa sobre as novas gerações. É indispensável
assinalar aqui que o debate profundo sobre o problema do narcotráfico e seu impacto na sociedade e na cultura colombianas continua
sendo uma tarefa pendente. La mariposa, série que ocupou o segundo lugar entre os programas mais assistidos do ano, inscreve-se dentro das produções televisivas que envolvem de maneira ágil
e funcional os diversos componentes de uma narrativa audiovisual
ambientada sobre o eixo de violências que inclui o narcotráfico, a
corrupção, a lavagem de dinheiro e a penetração indiscriminada de
valores e ideais associados a essa subcultura entre grupos populacionais vulneráveis. É importante ressaltar que o programa insiste
em mostrar as conexões internacionais da ilegalidade das redes do
narcotráfico e de todas as práticas associadas a essa atividade, imersas em uma estrutura funcional da qual participam funcionários,
burocratas, agentes da lei e delinquentes de todo tipo, que acabam
sendo impregnados pelo mesmo espírito do corpo.
El capo II ocupou o terceiro lugar e praticamente constitui um
bloco com os dois programas anteriores, no qual a temática dominante na ficção televisiva colombiana se condensa em torno da violência do narcotráfico. Essa recriação resume e redimensiona o que
na primeira parte foi dito em torno da figura do chefão do narcotráfico da ficção como o protótipo do mafioso, não apenas colombiano, mas também latino-americano, com interesses transnacionais e
com um conflito declarado com as autoridades norte-americanas.
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 221
A série, apoiada na livre recriação que a ficção permite, é capaz de
envolver elementos e referências de uma realidade manchada pelo
fantasma da ilegalidade constante que a subcultura do narcotráfico
desperta entre diferentes setores da população, bem como instituições e autoridades oficiais. De alguma maneira, nota-se, com o desenvolvimento da obra, que a mancha do narcotráfico se estendeu
e incrustou no cotidiano de amplos setores da sociedade. A partir
disso, dedica constantes espaços a recriar questões da vida íntima,
afetiva e emocional dos personagens, fazendo com que o ambiente
se sature e demonstrando, de alguma maneira, que a fronteira entre
o proibido e o permitido, o ilegal e o legal, é tão frágil como podem
ser, em certos momentos e circunstâncias, os valores que fundamentam a moral e a ética dos indivíduos.
Avançando na ordem dos mais vistos, no quinto lugar está
Corazones blindados, seriado de relativo sucesso, aceitação e
impacto – apesar de sua posição destacada dentro da programação de
ficção – no qual se ambientam e recriam os papéis cumpridos pelos
agentes de polícia e segurança encarregados de combater as diferentes
formas de ilegalidade e delinquência presentes no âmbito urbano. Policiais bonitas e agentes oficiais ou infiltrados, todos muito dedicados,
encarnam a figura heroica do servidor público abnegado, disposto a
superar todos os obstáculos, infâmias e injustiças que são capazes de
provocar seus antagonistas, que são maus, feios e perversos ou, também, em muitas ocasiões, seus próprios superiores ou subalternos,
com diferentes tipos de intrigas, invejas e delações. Por fim, em uma
mistura de final feliz, tensão e melodrama, os bons e, com eles, o bem,
a ordem e a justiça impõem-se para o benefício da sociedade. Esse
bloco, além das semelhanças temáticas e da boa aceitação por parte
do público, mostra claramente como a ficção televisiva com maior
demanda e reconhecimento do público se identifica com os conteúdos
expostos, com os tipos de ambientes e personagens construídos e com
as tramas e soluções dadas pelo meio televisivo para as problemáticas
sociais e culturais que, de uma ou de outra maneira, esses programas
tocam em seu desenvolvimento e seu tratamento audiovisual.
222 | Obitel 2013
Um segundo bloco entre os programas mais vistos remete aos
quarto, sexto e sétimo lugares, correspondentes a uma minissérie,
Casa de reinas, e duas telenovelas, Rafael Orozco, el ídolo e ¿Dónde carajos está Umaña?. Trata-se da ambientação das particularidades da cultura regional do Caribe colombiano, usando, entre outros pretextos, a exegese da vida do ídolo, o intérprete de vallenato
Rafael Orozco, ou as peripécias, andanças, agruras e satisfações de
um indivíduo de sobrenome Umaña, em torno do qual giram e se
reconfiguram os acontecimentos de uma população típica da região.
Uma narrativa pela qual o telespectador acaba se conectando com
os pormenores dessa cotidianidade social exposta. No caso de Casa
de reinas, aproveita-se o recurso do humor gratuito, saturando-o e
o levando a um cenário de deformação cultural, que suscitou um
debate central em torno da exibição que se realizava da cultura litorânea através dos personagens, sua apresentação, suas expressões
e sua maneira de dar conta da vida em um entorno completamente
disparatado, exagerado e sobrecarregado. Em um terceiro bloco (oitavo, nono e décimo lugares), ¿Dónde
está Elisa?, A mano limpia e El laberinto, telenovela e seriados,
remetem ao uso recorrente da intriga, por um lado, e à recriação
da dinâmica social entre diferentes setores provenientes de estratos
opostos, por outro. A intriga, no caso de El laberinto e ¿Dónde está
Elisa?, permite costurar histórias dedicadas a ambientar a presença
conflituosa do destino, o acaso, o infortúnio e, ocasionalmente, a
fortuna, a boa sorte, para que os protagonistas, geralmente vítimas
de assédio, insegurança, inveja e das próprias fraquezas, tenham que
passar por toda uma série de situações e circunstâncias adversas e
dolorosas, que são uma espécie de prova de fogo para, finalmente,
sobrepor-se e chegar ao outro extremo, no final do programa, quando se restaura o sentido do bem e da ordem e se recupera moralmente o compromisso com a honestidade e a verdade.
O caso de A mano limpia, segunda temporada, mostra – em
uma versão bem-sucedida, narrativamente ágil e bem-apresentada,
distante dos estereótipos ou caricaturas socioculturais – os porme-
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 223
nores da interação social que pode e costuma acontecer, por diferentes razões e motivações, entre indivíduos e grupos provenientes de
diferentes classes socioeconômicas, papéis profissionais diferenciados e atribuições identitárias claramente estabelecidas. Por sua vez,
o que os une realmente, mostrando em parte sua vulnerabilidade e o
rosto humano dos extremos, é o papel que se atribui à emocionalidade e à afetividade dos personagens, ao ponto de que, nessa esfera, as
diferenças sociais e econômicas e as exclusões profissionais sejam
superadas – é claro que sempre no âmbito da ficção televisiva. Com essa caracterização dos programas de ficção televisiva mais
assistidos, podemos concluir que, definitivamente, o vínculo entre
a mídia e o telespectador resulta funcional e operacional, embora
social e culturalmente careça da importância, da ressonância que a
mensagem televisiva poderia ter em outras condições de apropriação, de uso, de debate e de crítica coletiva ao conjunto da sociedade.
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social
Na configuração histórica do acontecer da vida social, o tempo,
como propõe Paul Ricoeur, é o fator determinante para estabelecer o
sentido desse próprio acontecer. É no tempo e, claro, em um espaço
concreto, que se desenvolve a experiência humana como experiência de vida, como ato de produção da existência de sujeitos reunidos
em torno a uma idêntica finalidade: a ativação da consciência como
fundamento da subjetividade, da finitude e da significação da práxis
do homem.
Passado e presente são dimensões constitutivas do ser histórico
do homem no mundo, como também o são a memória e o esquecimento como operadores de sentido, inseparáveis do desenvolvimento sociopolítico no qual se inscreve o fazer humano. Se a experiência
se alimenta e se estrutura de fatos e conhecimentos compartilhados,
isto – o que é compartilhado – é mediado ou construído em função
do poder existente em uma sociedade ou comunidade. E a forma de
distribuição e controle desse conhecimento é modelada pelo próprio
poder, se não de modo absoluto, de forma hegemonizante e imposi-
224 | Obitel 2013
tiva, frente à qual se desenvolvem estratégias de sublevação e resistência que alimentam outras formas de evocar, recordar e fazer memória. É o que menciona Halbwachs em termos de memória coletiva
e individual e de fatos e representações verdadeiras ou imaginadas,
com base nas quais se tece a trama da memória histórica e social na
forma de conhecimento compartilhado e os mecanismos de seleção
da lembrança ou do esquecimento, do que é essencial, significativo
e importante ou daquilo que é meramente circunstancial e marginal.
Em países como o nosso, a construção da memória social, do
conhecimento compartilhado do passado, resulta inseparável das lutas e enfrentamentos históricos em torno do manejo e do exercício
do poder. Concentrado em estreitos círculos dominantes, esse poder
sempre se caracterizou pela pretensão de oficializar versões, sistemas de relatos integrados a suas visões de mundo e apresentados
como “a história”, a “versão a ser lembrada”, do que aconteceu e
graças à qual se sustentam e reproduzem as condições existentes.
Contudo, essa tendência se revela cada vez mais limitada em sua
capacidade de hegemonizar e controlar o olhar e a interpretação do
passado, dado o processo de empoderamento e ressignificação que
realizam em relação a esse mesmo passado os movimentos sociais
emergentes, os diversos coletivos sociais e culturais que, através de
suas movimentações políticas, reivindicam outros olhares, leituras
e reinterpretações do passado, do acontecer histórico nacional ou
regional no qual foram sujeitadas a opressão, a exclusão ou a marginalização por parte dos círculos do poder estabelecido.
Contudo, a difusão e a massificação dessas versões ou leituras
dominantes do passado encontraram, pelo menos até décadas recentes, um importante suporte na escola e nos textos de ensino de
história, bem como no trabalho de academias e círculos fechados de
observadores abertamente conservadores. Mas a agitação social e a
revolta política dos setores populares, sua mobilização de protesto e
denúncia da injustiça reinante, a modernização econômica e tecnológica e o crescimento entre anárquico e descontrolado das grandes
cidades, com as mudanças e transformações socioculturais resultan-
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 225
tes que trouxeram consigo, incluindo a presença maciça dos meios e
tecnologias de informação e comunicação; tudo isso contribuiu para
engendrar a atual crise de relatos, que afeta as identidades nacionais,
convulsiona as versões estereotipadas do passado e contribui para
a abertura de olhares e interpretações conflitantes sobre nosso passado e nosso presente históricos.Sendo assim, no caso colombiano,
ocupar-se da relação entre memória social e ficção televisiva passaria, de acordo com os orçamentos antes mencionados, por um breve
percurso histórico através do qual se pudessem ilustrar os modos
em que o passado foi tematizado e recriado pela televisão, concretamente pela ficção televisiva, e a partir daí estabelecer e analisar criticamente o tipo ou tipos de memória social adotada por essa mídia
e as razões ideológico-políticas implicadas nessa aposta ou exegese
midiática com as respectivas implicações que isso acarreta para o
conjunto da sociedade, para a avaliação objetiva das funções e da
responsabilidade social e cultural da tela da TV.
De um passado heroico idealizado a um passado de conflito recorrente e heróis humanos
Como nos relembra Martín Serrano, nas sociedades contemporâneas, os meios de comunicação e, particularmente, a televisão
são os principais provedores de mitos e rituais em torno dos quais
se edifica a cognição social e são compartilhadas as representações
sociais e culturais fundamentais. Acontece que, para o nosso caso
como nação – e para o bem ou para o mal –, a televisão tem sido
nas últimas décadas a principal fornecedora de conhecimento social compartilhado sobre o passado, longínquo e recente, pela via da
complementaridade da versão oficial predominante ou, em alguns
momentos, por sua contradição e desmistificação, sem que isso implique uma abertura interpretativa total ou a inclusão e a reivindicação total dos olhares e leituras do passado sistematicamente ignorados e silenciados. Mas, em nome de um balanço crítico, é pertinente
ressaltar o importante papel da televisão na democratização e na
modernização de nossa percepção do passado nacional.
226 | Obitel 2013
Em aliança produtiva com diversos setores das artes, da literatura e da academia, tanto em nível nacional quanto internacional,
voltaram a desfilar pela televisão os períodos do descobrimento,
da conquista e da independência, recriados com realismo estético e
uma adequada mistura de ficção e realidade, inerente ao tratamento
narrativo da história na ficção televisiva e na recriação audiovisual da mesma. São versões ficcionalizadas de uma história nacional
que, ao revisar a si mesma, convidava o telespectador, os grandes
públicos, a revisar e a questionar seus sistemas de crenças sobre o
passado, seus julgamentos e apreciações dos fatos e personagens
centrais na formação de nossa herança histórica e cultural. Poder-se-ia afirmar, parodiando Martín-Barbero, que, para a Colômbia, a
modernidade cultural passa, em grau elevado, pela televisão, assim
como para o México e a Argentina ela chegou com o cinema.
Nas novas produções televisivas dedicadas ao passado nacional e regional, os “conquistadores” também são, de algum modo,
conquistados; seus atos e realizações positivas se misturam a erros e
abusos de diversas ordens e, mesmo que os rostos e as vozes ancestrais dessas terras não surjam com a potência suficiente, tampouco
são ignorados ou relevados arbitrariamente. Documentários de estilo cinematográfico e ficções televisivas de época estão carregados
dessa dose de realismo estético para ampliar o horizonte histórico e
patrocinar o debate construtivo em torno da consciência histórica,
da celebração da memória social em suas diferentes manifestações
e vertentes, inseparáveis, como já foi dito, do surgimento, no país,
do debate sobre a natureza e a configuração problemática de nossas
origens e nossa evolução como nação. A saga de La Independencia, da Produções Eduardo Lemaitre, e La vida y obra de Bolívar
e demais próceres, incluindo Santander, mostram ao telespectador
aspectos humanos e sociais dos pais fundadores que estão muito
distantes daquelas visões plastificadas e idealizadas, próprias da historiografia tradicional. Los pecados de Inés de Hinojosa não apenas
despiu os corpos e as paixões mais secretas dos personagens e protagonistas, como também nos fez voltar no tempo até esses séculos
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 227
estremecedores do altiplano “cundiboyacense” (localizado entre os
departamentos de Cundinamarca e Boyacá), carregado do confronto
mudo, mas violento, entre clero e laicos, realistas e patriotas, entre
os abusos de soldados e governantes e o repúdio e a agitação social.
La Pola, ficção de época retomada em função da comemoração do
Bicentenário, por sua excelente produção audiovisual, muito próxima do cinema, teve inicialmente um impacto considerável sobre
o telespectador, graças ao qual foi possível penetrar na atmosfera
insurrecional que emoldura a vida da protagonista, apesar do peso
excessivo que em alguns momentos foi dado aos assuntos afetivos
e passionais.
A “violência clássica” e a explosão de “outras” leituras e interpretações do período
O século XX foi, para o país, um cenário de agudização dos
conflitos estruturais que acompanharam nossa conformação como
nação. A violência se instala como um vetor transversal em todo
o período e se transforma em causa e consequência da multiplicidade de confrontações e ações bélicas que ainda não cessaram e
afundam o país em um grave e incessante paradoxo: esvair-se em
sangue em uma guerra sem quartel, com múltiplos atores em combate, em meio ao progresso material e à modernização tecnoinstrumental. Esse paradoxo permeia a consciência histórica, instala-se
como um fantasma latente na opinião pública, é motivo de diversos
tipos de discursos e explicações, ao mesmo tempo em que é objeto
de variadas iniciativas de governo, soluções frustradas, debates sem
conclusão nem continuidade, incluindo os atuais diálogos de paz
que se realizam em Havana entre o governo e as FARC.Disso tratou, direta ou indiretamente, a ficção televisiva que se ocupou dessa
época, embora seja preciso assinalar que, nesse caso, o tratamento
narrativo dos fatos e dos protagonistas, sua ficcionalização audiovisual, mostra o desequilíbrio entre o ponto de vista que preside a
realização da mídia televisiva e as expectativas sociais que se mobilizam a partir do programa ou produção divulgada. A controvérsia
228 | Obitel 2013
reside em grande medida na decisão dessa mídia, ou do produtor e
realizador – à qual não costumam ficar alheios os patrocinadores –,
de privilegiar determinadas vozes e figuras, determinadas visões do
acontecer em detrimento de outras, de minimizar posturas ou posições não coincidentes com a assumida pela mídia e, inclusive, de
ignorar ou invisibilizar atores e ações que entrem em conflito com a
versão apresentada pelo programa. E é nessa etapa, em consequência, que mais se debate o realismo e o compromisso social e político
da mídia com a geração de um clima propício para a deliberação democrática, a inclusão social e a diversidade cultural. Entre as produções que se podem mencionar nesse sentido aparecem, entre outras,
as recriações do Bogotazo: La Saga, Negocio de familia, La historia
de Tita, Amar y temer etc. Telenovela, memória regional e identidade nacional
Na década de 1990, a telenovela na Colômbia atinge um auge
e uma ressonância notáveis, ao propiciar o encontro e o reconhecimento do regional e do nacional por meio da ficção televisiva, na
qual se recriou praticamente toda a diversidade cultural do país.
Com isso, a telenovela não apenas se posicionou como principal
gênero recreativo da TV, ao ponto de estender sua influência em
nível continental e mundial, transformando-se em produto obrigatório de exportação e promoção da nossa imagem no mundo, como
também, como assinalam Martín Barbero e outros autores, produziu-se com isso uma dinamização dos processos socioculturais internos, acompanhada de pesquisa acadêmica, análise e debate sobre
o significado do nacional e o papel da cultura na configuração do
passado e do presente históricos. A televisão, por meio do formato
da telenovela, propiciou uma espécie de redescobrimento das particularidades locais e regionais, promovendo-as de forma amável e
divertida, para todos e por todo o país, de modo que, segundo a ficção do momento, o ser nacional, a moda, o ambiente predominante
no espírito coletivo derivavam, ancoravam-se na idiossincrasia do
ser regional recriado.
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 229
A diversidade social e cultural do país surgiu com força inegável com a abertura política corporificada na Constituição de 1991,
e alimentou a nova plataforma da pluriculturalidade colombiana
como fundamento de suas origens, de seu ser e seu fazer contemporâneos. Foi como se o país inteiro despertasse de um sonho prolongado e se abrisse ao reconhecimento das diferenças constitutivas
de suas comunidades ancestrais. Pela telinha desfilaram, com ar de
perenidade sustentada, a magia do Caribe, formada, por sua vez,
de múltiplas raízes étnicas e migrantes, em Caballo viejo, Gallito
Ramírez, Escalona e outras produções semelhantes. Apareceram o
vigor e a pujança produtivos das zonas de cultura cafeeira, entre
elevadas montanhas e ladeiras reverdecidas com os cultivos do café
e o raizame paisa (cultura rural de parte do noroeste da Colômbia)
do tropeiro – La casa de las dos palmas, Café con aroma de mujer. O vale, a força das plantações de cana-de-açúcar, o aroma suave dos
povos e caminhos onde se imortalizou María ressurgiram em Azúcar, Cóndores no entierran todos los días. O campo e a selva, os climas escaldantes e os rios descomunais, a doma do gado e os entardeceres intermináveis, com a harpa e a lua em um diálogo contínuo,
foram imortalizados em La Potra Zaina e La Vorágine.O surgimento
de uma pluralidade sociocultural como signo indiscutível dos novos
tempos no país se impôs com profundas repercussões em todos os
aspectos do acontecer nacional. A memória social, impregnada da
diversidade cultural representada de forma eficaz pela ficção televisiva bem-sucedida, transformou-se em uma variedade de memórias,
todas complementares em sua diferença social, sintetizando um amplo e vistoso espectro da identidade do colombiano, de uma colombianidade que, em sua riqueza pluriétnica e cultural, ainda tem que
lutar pela consecução de uma paz real, permanente e duradoura. E,
sem dúvida, um aspecto substancial de uma aspiração coletiva passa
e passará pelo reconhecimento e a legitimação dessa diversidade,
dessas diferentes expressões sociais, culturais e políticas das quais
são feitas a colombianidade e as memórias sociais que a integram.
230 | Obitel 2013
Passado recente e memória social, sentido da atual ficção televisiva
Um objetivo de primeira ordem para a atual produção de televisão e, especificamente, para o desenvolvimento de novas linhas de
ficção televisiva está relacionado com o tratamento que for dado ao
conflito social e político que marca e determina o desenvolvimento histórico e atual do país. Em atenção à função social dos meios
de comunicação – como é o caso da televisão e seu papel central
nos processos de socialização na vida contemporânea –, estes, através de suas mensagens, transformam-se em peças essenciais para
a construção social da realidade, para a assimilação de representações sociais compartilhadas individual e coletivamente, para a elaboração da memória social que se inscreve como marco e condição
da possibilidade de conviver, agir, sentir e participar como nação.
Nesse sentido, é claro que nessa memória social devem coexistir as
diversas memórias existentes, étnicas, de minorias sociais e culturais, raizales (cultura do arquipélago de San Andrés), diversas em
razão de sexo, ofício ou credo, porque sem isso o projeto de nação
como tal não será coformado como recurso adequado para a plena
integração da colombianidade.
Referências
RICOEUR, P. La memoria, la historia y el olvido. Buenos Aires: FCE,
2004.
HALBWACHS, M. Memoria colectiva. Zaragoza: Prensas Universitarias
de Zaragoza, 2004.
GUERRA G., F. Las luchas por la memoria. Bogotá: Universidad Distrital, 2009.
JIMÉNEZ B. A. Las luchas por la memoria. Bogotá: Universidad Distrital, 2009.
MARTIN SERRANO, M. La mediación de los medios. In: DE MORAGAS, M. Sociología de la comunicación de masas. Barcelona: Gustavo Gili,
1985.
Colômbia – Violência, entretenimento e espetáculo audiovisual | 231
MARTÍN-BARBERO, J. De los medios a las mediaciones. Bogotá: Norma, 2000.
MARTÍN- BARBERO, J.; MUÑOZ, S. Televisión y melodrama. Bogotá:
Tercer Mundo, 1992.
5
Equador: a ficção e o humor
vão para a internet
Autores:
Alexandra Ayala Marín, César Herrera
Equipe:
Pamela Cruz Páez, José Luis Bedón,
Adriana Garrido, José Rivera
1. O contexto audiovisual do Equador
Em 2012, o número de usuários de internet aumentou em 20%
com relação ao ano anterior, e hoje ultrapassa os 9 milhões de equatorianos, ou seja, 58% da população do país. Esse fato influenciou, sem
dúvida, a criação de ficção, mas não para a televisão, senão para a
internet. Com efeito, a primeira webnovela equatoriana, Resak1, apareceu no ciberespaço ao mesmo tempo em que, também nesse âmbito, reforçava-se outra experiência ficcional de realização nacional, a
Enchufe.tv, transformada em fenômeno de audiência, com um canal
do YouTube no qual há vídeos com mais de 7 milhões de visitas.
O crescimento de usuários da rede poderia ser explicado pelas
políticas públicas orientadas a isso, mas também pelo aumento de
uma classe média que cresceu 35% entre 2003 e 2012 e dispõe de
recursos para adquirir os novos dispositivos que incluem acesso à
internet, principalmente smartphones e tablets, transformados em
estímulo para o salto transmidiático da oferta de ficção, da televisão
aberta aos suportes digitais, como evidencia a citada webnovela e,
especialmente, a Enchufe.tv. A inclinação pelo consumo audiovisu1
Seus produtores dizem que é a primeira da América Latina. Ver https://www.facebook.
com/Resaktv, http://www.quebakan.com/2012/08/30/noticias/fotos-resak-tv-la-primera-web-novela-producida-en-ecuador-el-itv-y-tc-mi-canal-siempre-a-la-vanguardia-de-la-evolucion.html
234 | Obitel 2013
al se confirma na TV por assinatura, que, segundo a Superintendência de Telecomunicações do Equador (Supertel), registrou mais de
500 mil assinantes em 2012. 1.1. A televisão aberta no país
O Equador continua contando com sete emissoras de TV aberta
em VHF: as privadas Televisora Nacional Ecuavisa, Teleamazonas,
Red Telesistema (RTS) e Canal Uno, e a emissora pública ECTV,
assim como dois canais desapropriados2, que são administrados pelo
Estado equatoriano, TC Televisión e Gama TV. Algumas ações desses canais pertencem aos seus trabalhadores, mas sua programação
não corresponde ao que caracteriza um meio de comunicação público.
Gráfico 1. Emissoras nacionais de televisão aberta
Emissoras privadas (4)
Teleamazonas
Red Telesistema (RTS)
Televisora Nacional
(Ecuavisa)
Canal Uno
Emissoras públicas (1)
Ecuador Tv (ECTV)
Emissoras desapropriadas (2)
TC Televisión
Televisión del Pacífico
(Gama TV)
Total 7
Fonte: Supertel. Elaboração: Obitel Equador
1.2. Tendências da audiência em 2012
Este ano, o consumo de oferta televisiva de ficção representou
49,3%. A telenovela colombiana El capo 2 superou El combo amarillo, que se impõe com força como sitcom nacional, enquanto a
TC Televisión se posiciona como líder de audiência em ficção, com
sete produções nos dez primeiros lugares. O reality show da Teleamazonas Pequeños gigantes ocupa o terceiro lugar na lista geral de
preferências, depois do futebol, mas as séries de humor continuam
sendo o prato principal da produção televisiva equatoriana.
Essa classificação é exclusiva do Equador, e corresponde àqueles canais de televisão
(Gama TV e TC Televisión) que, como se explicou nos Anuários Obitel 2011 e 2012,
foram desapropriados pelo Estado, em 2008, de seus antigos proprietários. Estéfano e
Henry Isaías Dassum, como ex-acionistas do Filanbanco, não quitaram as dívidas que
mantêm com o Estado depois da crise financeira de 1999, conhecida como “feriado bancário”, que concluiu com o fechamento de várias entidades bancárias.
2
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 235
Entre as sitcoms, apenas duas estão entre as dez mais assistidas: El combo amarillo (3ª e 2ª temporadas), da Ecuavisa, ocupa o
segundo e o terceiro lugares, respectivamente, e elimina da lista La
pareja feliz (Teleamazonas), enquanto desloca para o último lugar
Mi recinto (13ª temporada). A Canal Uno estreou a segunda temporada de Los compadritos, a Teleamazonas, Aída, com roteiro espanhol adaptado, e a TC, sua sitcom semanal Los Tostadams. A Gama
TV continuou com os esquetes semanais de Puro teatro e exibiu em
horário nobre a telenovela Escobar, el patrón del mal (Caracol TV),
sobre a biografia de um dos mais influentes narcotraficantes colombianos, competindo com a TC, que apresentou El capo 2.
A Ecuavisa continua sendo o canal mais sintonizado e melhorou sua posição entre os dez primeiros de ficção ao obter a segunda
e a terceira posições para El combo amarillo, e a sétima para a telenovela brasileira Fina estampa, ao mesmo tempo em que confirmou
sua importância no gênero informativo e teve espaços políticos que
atingiram elevada audiência em função da conjuntura eleitoral do
país.3 A TC Televisão também situou seu informativo, que privilegia a crônica policial violenta, entre os dez primeiros.
Gráfico 2. Audiência individual de TV por emissora
ECUAVISA
Teleamazonas
14,0
2,1
6,1
Gama TV
7,0
6,4
6,3
TC Televisión
3,6
Canal Uno
RTS
Cabo, outros dispositivos e emissoras
Canal
ECUAVISA
Teleamazonas
Gama TV
%
7,0
6,3
3,6
TC Televisión
RTS
Canal Uno
Cabo, outros dispositivos e emissoras
6,4
6,1
2,1
14,0
Fonte: Ibope Media. Elaboração: Obitel Equador
3
No último trimestre de 2012, o Equador viveu a campanha eleitoral para a renovação
de autoridades nacionais e parlamentares na eleição ocorrida em 17 de fevereiro de 2013.
Por esse motivo, os gastos de propaganda governamental aumentaram. Em uma nota do
jornal Hoy (novembro de 2011), o parlamentar Rafael Dávila (do Movimiento Conciencia Ciudadana) garantiu que o governo projetou US$ 295,3 milhões em gastos de publicidade e propaganda no Orçamento Geral do Estado para 2012. 236 | Obitel 2013
Em 28 de agosto de 2012, estreou a primeira webnovela equatoriana, Resak, produção do ITV (Instituto Superior de Estudios de
Televisión) e da TC. A proposta abrange 40 capítulos de poucos
minutos de duração4 e apostou em um público de entre 14 e 22 anos
de idade, tentando ser uma oferta nova na tela à qual os jovens dedicam mais horas. Também foi difundida em espaços no Facebook
e no Twitter.
Contudo, a estreia no cenário internético ocorreu em dezembro
de 2011, com a transmissão de curtas ficcionais produzidos pelo coletivo equatoriano Enchufe.tv, cujos esquetes se transformaram nos
mais vistos do país. Os curtas parodiam, com irreverência e sarcasmo, diversas temáticas cotidianas que o cineasta Camilo Luzuriaga
(Chasqui, 2012, p. 53) aponta como um fenômeno de antropofagia
cultural.
Gráfico 3. Share individual de TV por emissora em 2012
Canal
Ecuavisa
Ecuavisa
30,6
4,6
13,5
15,5
14,0
8,0
15,5
Teleamazonas
13,8
Gama TV
Gama TV
8,0
TC Televisión
TC Televisión
14,0
RTS
Canal Uno
Cabo, outros
dispositivos e
emissoras
13,5
4,6
Teleamazonas
13,8
Share
%
RTS
Canal Uno
Cabo, outros dispositivos e emissoras
30,6
Fonte: Ibope Media. Elaboração: Obitel Equador.
Os escassos minutos (de 8 a 12) dedicados a cada capítulo da webnovela Resak.tv estariam relacionados, assim como outras produções, ao fato de que a internet no Equador
“ainda não é suficientemente veloz para permitir postar vídeos de longa duração”. Detalhes em: http://www.elcomercio.com/entretenimiento/television-crea-programas-Web-jovenes_0_775722609.html, acessado em 16 de abril de 2013.
4
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 237
Gráfico 4. Gêneros de programas oferecidos pela TV
Gêneros transmitidos
Informação
Ficção
Entretenimento
Religioso
Esportes
Educativo
Político
Outros
Total
Horas de exibição
%
19.840:40
44.936:05
12.528:25
2.041:30
6.042:10
3.010:15
889:05
10.821:25
100.108:35
19,5
44,7
12,3
2,0
6,0
2,9
0,8
10,7
98,95
Fonte: Ibope Media. Elaboração: Obitel Equador.
1.3. Investimentos publicitários do ano: na TV e na ficção
Segundo estimativas da Infomedia, empresa de estatísticas publicitárias, a televisão captou 60% do investimento em publicidade de 2012, a imprensa escrita, 23,0%, e o rádio, apenas 5,0% de
um total estimado em US$ 213 milhões. Destes, 13,2%, segundo
montante mais alto de gastos, foram usados para promover serviços
públicos e sociais; no maior nível de investimento por categorias
aparecem as instituições públicas, com 11% e, com o gasto mais elevado por anunciantes, o governo nacional, com 7,2%, porcentagem
superior à registrada em 2011 (6,9%)5.
O Grupo de Conteúdos do Comitê Interinstitucional Técnico
para a Introdução da Televisão Digital Terrestre no Equador (CITDT), ao estudar os investimentos publicitários entre 2007 e 2011,
concluiu que as telenovelas captaram, em média, 33% dos recursos,
o que se explicaria por que o gênero ficção apresenta a maior porcentagem de horas de exibição (Gráfico 4); 20% foi para o gênero
informativo, seguido por programas esportivos (não se determina a
É importante considerar que, em 2012, ano de eleições, o principal investidor em publicidade e propaganda foi o governo, junto com outras instâncias do Estado. No primeiro
trimestre, o governo gastou US$ 12 milhões em publicidade, segundo relatório da ONG
de monitoramento Participación Ciudadana (PC) http://www.participacionciudadana.
org/pc10/index.php?searchword=monitoreo+de+gastos&ordering=&searchphrase=all&
Itemid=1&option=com_search. 5
238 | Obitel 2013
cifra)6, séries, longas-metragens e concursos. Os programas de humor receberam apenas 4%7.
As ficções nacionais não contaram com estratégias de merchandising por meio de produtos ou serviços que os divulguem, além das
técnicas tradicionais8.
1.4. Políticas de comunicação
Em 2012, a quarta versão da Lei de Comunicação deixou de
ser aprovada devido a discrepâncias entre diversos atores políticos
e à persistente polarização entre setores midiáticos e o titular do
Executivo. A principal política pública, ainda com pouca difusão, é
a conversão para a televisão digital terrestre (TDT). Em outubro de
2012, foi aprovado o Plano de Transição para a Televisão Digital
Terrestre no Equador9, e foi estabelecido o já citado CITDT10. O
Ciespal dá apoio a esse processo a partir do Comitê Consultivo de
Investigação, Desenvolvimento e Inovação, e impulsiona a capacitação para a realização de projetos audiovisuais para a TDT, antes
do apagão analógico previsto para 2016. Um aspecto da passagem da televisão analógica para a digital,
segundo o CITDT, é a produção de conteúdos audiovisuais. Para
isso, conta com o Grupo de Conteúdos, que, mediante amostragem
realizada em março de 2012, considerou que a programação das
operadoras de TV com cobertura nacional privilegia as produções
6
O governo, bem como importantes empresas nacionais, costuma fazer publicidade durante a transmissão televisiva das partidas de futebol: em 2012, o governo investiu importantes somas na transmissão da Copa Libertadores da América e da Copa Sul-Americana.
7
Ver Gráfico 1, Inversión en publicidad año 2011, no INFORME CITDT-GAC-2012-001,
Estado actual de la producción de contenidos en Ecuador, 19 de abril de 2012.
8
Destaca-se, contudo, que os protagonistas da sitcom La pareja feliz, da Teleamazonas,
participam, como pessoas ou no papel de outros personagens criados por eles, da publicidade comercial de uma rede de lojas de eletrodomésticos transmitida por quase todos
os canais de sinal aberto.
9
RESOLUÇÃO RTV-681-24-CONATEL 2012, do Conselho Nacional de Telecomunicações. http://www.conatel.gob.ec/site_conatel/index.php?view=category&id=619%3Ar
esoluciones-2012&option=com_content&Itemid=610
10
O CITDT é a instância técnica de coordenação de todo o processo de implementação da
TDT no Equador até o apagão analógico, marcado para 2016.
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 239
estrangeiras, e a tendência começa a ser ratificada pela televisão regional11. No processo de adoção da TDT, o canal público ECTV e o
privado regional Oromar (província de Manabí) foram os primeiros
a operar com tecnologia digital em 2012.
1.5. TV pública
O único canal público, a ECTV, completou cinco anos no ar
em 2012. Este ano, a adoção da norma ISDB-T12 para a transmissão de televisão digital possibilitou que o canal se transformasse no
primeiro do país a transmitir sinais experimentais de alta definição
(HD) na capital. Nesse sentido, cabe destacar o processo de transição impulsionado pelo governo por meio da formação do mencionado CITDT; contudo, tanto a informação oficial quanto a dos meios
de comunicação com relação ao chamado apagão analógico esteve
orientada ao plano técnico do lançamento do serviço, mais do que a
informar aos cidadãos sobre as implicações dessa mudança.
A programação ficcional do canal público foi composta por três
séries dos Estados Unidos e do Canadá, assim como duas telenovelas de procedência coreana e japonesa13. Com relação à produção
nacional, a ECTV contou com 23 programas em diferentes formatos, que a transformaram no canal com maior programação equatoriana. Neste sentido, a emissora fez uma licitação para produzir
audiovisuais de ficção e documentários no marco da Conferência
Mundial INPUT 2012 “Rumo a uma televisão inteligente”14.
A programação de canais regionais é direcionada principalmente a notícias, musicais,
esportes e variedades, mas o canal Manavisión (província de Manabí, região Costa) negociou a primeira transmissão de uma telenovela colombiana; em 2011, outro canal regional
transmitiu um programa desse país (Anuário Obitel 2012). O Grupo de Conteúdos do CITDT destaca que essa província apresenta um auge de produções audiovisuais, inclusive
longas-metragens ficcionais, que não entram na mídia nem nos circuitos convencionais
de exibição e comercialização. INFORME CITDT-GAC-2012.
12
ISDB (Integrated Services Digital Broadcasting), ou Radiodifusión Digital de Servicios Integrados, é um conjunto de normas criado pelo Japão para as transmissões de rádio
digital e televisão digital.
13
Lamentavelmente, o Ibope não inclui a ECTV entre suas clientes para medição de
audiência.
14
O International Public Television (Input) reúne as melhores produções audiovisuais do
11
240 | Obitel 2013
A TC e a Gama TV, canais administrados pelo Estado, mas
não inseridos no conceito de televisão pública, não apresentaram
mudanças na tendência de sua programação, com exceção do caso
da Educa TV15; ambos os canais enfatizam as telenovelas, principalmente venezuelanas e colombianas (TC), e mexicanas (Gama TV).
Reitera-se que a TC concentra sete das dez ficções mais assistidas deste ano, e continua produzindo e transmitindo Mi Recinto,
série de costumes que já está em sua 12ª temporada com alto nível
de audiência para ficção nacional, e é a pioneira das webnovelas
(Resak). A Gama TV também produziu a segunda temporada de
Puro teatro – esquetes de ficção transmitidos os sábados, às 22h.
1.6. TV por assinatura
Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Inec),
1.906.670 equatorianos tiveram acesso à TV paga16 em 2012. O serviço foi prestado por 265 empresas para todo o país. Essa proliferação empresarial fez com que a Supertel promulgasse uma resolução
destinada a eliminar as chamadas empresas piratas17, fazendo com
que as grandes companhias de TV paga implementassem estratégias para captar o público deixado pelo serviço ilegal. Do total de
empresas, 20% do mercado estiveram dominados pela DirectTV18
(Ecuadorinmediato.com, 2013).
mundo e está presente no Equador desde 2008.
15
Educa TV é produzido pelo Ministério da Educação e transmitido por 12 canais nacionais. Faz parte, também, do portal da Red NCI, entidade de cooperação ibero-americana
no campo da educação, da ciência e da cultura, que facilita a difusão dos canais nacionais
com propósitos educativos. Ver http://www.nci.tv//index.phphttp://educacion.gob.ec/
educa-television-para-aprender-iniciara-en-octubre/
16
A quantidade de assinantes da TV paga durante o ano anterior foi de 453.969, dos quais
10,5% usaram televisão terrestre, 20%, televisão codificada por satélite, enquanto 69,5%
fizeram uso da televisão a cabo (Ecuadorinmediato.com, 2013).
17
A denominação de piratas corresponde a empresas cujo funcionamento não é legal e
que não pagam os impostos correspondentes. O uso desse serviço foi penalizado no Artigo 325 da Lei de Propriedade Intelectual, com penas de prisão de um mês a um ano, e
sanções econômicas entre 657 e 6.570 dólares (Ecuadorinmediato.com).
18
Empresa de televisão por satélite, faz parte da multinacional The DirectTV Group Inc.
(DirecTV.com.ec).
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 241
Este ano, destacou-se a oferta pública da TV paga, que, por
meio do contrato realizado pela Corporação Nacional de Telecomunicações (CNT), no final de 2011, operou na modalidade de televisão codificada por satélite (CNT TV, 2013). A oferta inclui canais
de televisão nacional e internacional a preços mais baixos do que
os oferecidos pelas empresas privadas e com cobertura para todo o
território continental equatoriano.
1.7. Tendências das TICs
Em dezembro de 2012, os usuários de internet no país somavam 9.011.105 (Supertel, 2013); o número de domicílios com acesso sem fio passou de 8,4%, em 2011, para 20%, em 2012, enquanto
a conexão por cabo diminuía em termos de usuários por domicílio
(de 46,8% para 24,5%), segundo o Inec (2012). Nessa perspectiva, o
Mintel situou o país como sendo o de “maior crescimento na usabilidade da Internet entre 2005 e 2012”, e destacou o aumento de 10%
na penetração da banda larga durante o ano. Isso é consequência
da aplicação do Programa de Acesso Universal às TICs e do Plano
Nacional de Banda Larga, do Mintel, cujo objetivo é chegar a 75%
da população até 2017.
Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Inec,
2012), ver televisão é a segunda atividade à qual os equatorianos
mais tempo dedicam, com 12,75 horas semanais. Não obstante, a
instalação de televisão em cores em domicílios durante 2012 diminuiu com relação a 2011, o que sugere uma tendência à mudança,
em favor da internet19, presente em 73,6% dos domicílios20. Segundo o próprio Inec, 36% da população que tem acesso à rede a utiliza
para obter informações, 28,2%, para comunicação em geral, 27,5%,
para educação e aprendizagem, 4,4%, por outras razões, e apenas
19
A esse respeito, destaca-se a produção do Instituto Superior de Estudios de Televisión
(ITV), de Guaiaquil, na primeira webnovela equatoriana, que estreou em agosto de 2012
no canal TC Televisión.
20
Segundo Richard Cruz, da empresa de marketing In Touch, o aumento no uso da internet no Equador fez com que 31% dos equatorianos assistissem menos televisão (DoctorTecno.com).
242 | Obitel 2013
3,8% acessam a rede por trabalho. Sendo assim, os usuários das
redes sociais situaram o país em 37º lugar no mundo em uso do Facebook, com mais de 4 milhões de pessoas (ElDiario.ec, 2012), mais
de 700 mil no Twitter e 284 mil no Google+ (DoctorTecno.com).
A pesquisa nacional sobre as TICs (Inec, 2012) mostrou que
6,8 milhões de equatorianos contaram com, pelo menos, um telefone celular ativado no ano, ou seja, um aumento de 10% sobre 2011.
O uso de smartphones cresceu para 839.795 pessoas, o que significa
60% em um ano; dessas pessoas, 641.914 os utilizam para acessar
as redes sociais, mas também para rever conteúdos de caráter audiovisual.
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana
Durante o ano de 2012, 106 produções de ficção foram exibidas
em seis dos sete canais de sinal aberto em VHF, incluindo quatro
séries nacionais, sete internacionais, uma telenovela nacional e 44
importadas, as quais foram reprises; houve a estreia de sete sitcoms
nacionais, uma série nacional e cinco internacionais, além de 40 telenovelas estrangeiras.
Ao comparar as produções inéditas do ano anterior com as de
2011, a ficção apresenta um título a menos. Nas nacionais, continuaram as séries de humor: La pareja feliz, Mi recinto, El combo
amarillo e Los compadritos, com novas temporadas; apareceram
Aída, Míster Juramento e Los Tostadams, mas La tremebunda corte
saiu do ar.
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 243
Tabela 1. Ficções exibidas em 2012 (nacionais
e importadas; estreias e reprises)
TÍTULOS NACIONAIS INÉDITOS – 8
TC Televisión – 3 títulos nacionais
1. Mi recinto – 12ª temporada (sitcom)
2. Míster Juramento (série)
3. Los Tostadams (sitcom)
Teleamazonas – 2 títulos nacionais
4. La pareja feliz – 3ª temporada (sitcom)
5. Aída (sitcom)
Canal Uno – 1 título nacional
6. Los compadritos – 2ª temporada (sitcom)
Ecuavisa – 2 títulos nacionais (duas temporadas)
7. El combo amarillo – 2ª temporada (sitcom)
8. El combo amarillo 3D – 3ª temporada
(sitcom)
TÍTULOS IMPORTADOS INÉDITOS
– 45
TC Televisión – 17 títulos importados
1. La viuda joven (telenovela – Venezuela)
2. El Joe, la leyenda (telenovela – Colômbia)
3. Natalia del mar (telenovela – Venezuela)
4. Retrato de una mujer (telenovela –
Colômbia)
5. Corazón apasionado (telenovela – Venezuela, EUA)
6. El man es Germán – segunda temporada
(telenovela – Colômbia)
7. El árbol de Gabriel (telenovela – Venezuela)
8. A mano limpia (telenovela – Colômbia)
9. ¿Vieja yo? (telenovela – Venezuela)
10. El capo 2 (telenovela – Colômbia)
11. Tres milagros (telenovela – Colômbia)
12. La Mariposa (telenovela – Colômbia)
13. La promesa (telenovela – Colômbia)
14. Dónde carajos está Umaña (telenovela
– Colômbia)
15. La traicionera (telenovela – Colômbia)
16. Historias clasificadas (série – Colômbia)
17. Las profesionales a su servicio (série –
Colômbia)
TÍTULOS DE REPRISES – 52
Gama TV
1. La rosa de Guadalupe – 1ª temporada
(série – México)
2. Marimar (telenovela – México)
3. Tu voz estéreo – 4ª temporada (série –
Colômbia)
4. Un gancho al corazón (telenovela –
México)
5. Mañana es para siempre (telenovela –
México)
6. La Lola (telenovela – Peru)
7. María Belén (telenovela – México)
8. Un cuento de navidad en Ecuador (série
– Equador)
9. Escalona (telenovela – Colômbia)
10. Rosa salvaje (telenovela – México)
11. Soy tu dueña (telenovela – México)
12. La ex (telenovela – Colômbia)
13. María Mercedes (telenovela – México)
14. María la del barrio (telenovela –
México)
15. Mundo de fieras (telenovela – México)
16. Mujeres al límite (série – Colômbia)
17. Teresa (telenovela – México)
18. Tu voz estéreo II (série – Colômbia)
Teleamazonas
19. Rosario tijeras (telenovela – Colômbia)
20. Oye bonita (telenovela – Colômbia)
RTS
21. A cada quien su santo (série – México)
22. Lo que callamos las mujeres (série –
México)
TC Televisión
23. Mi recinto – 3ª temporada (série –
Equador)
24. Alma indomable (telenovela – Venezuela)
25. La mujer de mi vida (telenovela – Venezuela, EUA)
26. La dama de rosa (telenovela – Venezuela)
27. Valeria (telenovela – Venezuela, EUA)
28. Me enamoré de una pelucona (série –
Equador)
29. Fanatikda (telenovela – Equador)
30. A mano limpia (telenovela – Colômbia)
244 | Obitel 2013
Teleamazonas – 4 títulos importados
18. Flor salvaje (telenovela – Venezuela,
Colômbia, EUA)
19. Por ella, soy Eva (telenovela – México)
20. La teniente (telenovela – México)
21. Amar y temer (telenovela – Colômbia)
Ecuavisa – 11 títulos importados
22. Rebelde (telenovela – México)
23. La casa de al lado (telenovela – EUA)
24. Cuchicheos (telenovela – Brasil)
25. Fina estampa (telenovela – Brasil)
26. Relaciones peligrosas (telenovela –
EUA)
27. El rostro de la venganza (telenovela
– EUA)
28. El astro (telenovela – Brasil)
29. Una maid en Manhattan (telenovela
– EUA)
30. Maysa (série – Brasil)
31. Los victorinos* (telenovela – EUA)
Gama TV – 13 títulos importados
32. La fuerza del destino (telenovela –
México)
33. La que no podía amar (telenovela –
México)
34. Dos hogares (telenovela – México)
35. Los canarios (telenovela – Colômbia)
36. Mariana y Scarlett (telenovela – Colômbia)
37. Tu voz estéreo (série – Colômbia)
38.Esperanza del corazón (telenovela –
México)
39. Escobar, el patrón del mal (telenovela
– Colômbia)
40. Abismo de pasión (telenovela – México)
41. Amor bravío (telenovela – México,
Chile)
42. Primera dama* (telenovela – Chile)
43. Como dice el dicho* (série – México)
44. Un refugio para el amor (telenovela –
México)
RTS – 1 título importado
45. Secretos del alma (telenovela – México)
31. Doña Bella (telenovela – Colômbia,
EUA)
32. Kassandra (telenovela – Venezuela)
33. Rebeca (telenovela – Venezuela)
34. La traicionera (telenovela – Colômbia)
35. Natalia del mar (telenovela – Venezuela)
36. El secretario (telenovela – Colômbia)
37. Historias clasificadas (série – Colômbia)
38. Válgame Dios (telenovela – Venezuela)
39. Las santísimas (telenovela – Colômbia)
40. El talismán (telenovela – Venezuela)
41. Sacrificio de mujer (telenovela – Venezuela)
42. Corazones blindados (telenovela –
Colômbia)
43. La intrusa (telenovela – Venezuela)
44. Entre tú y yo (telenovela – Venezuela)
45. Mi ex me tiene ganas (telenovela –
Venezuela)
Canal Uno
46. Estrambótica Anastasia (telenovela –
Venezuela)
47. Trapos íntimos (telenovela – Venezuela)
48. Los compadritos (série – Equador)
49. Juana la virgen (telenovela – Venezuela)
50. Padre coraje (telenovela – Argentina)
Ecuavisa
51. Sin senos no hay paraíso (telenovela –
Colômbia, México, EUA)
52. Oye bonita (telenovela – Colômbia)
Total de gêneros exibidos: 105
* Casos especiais: produções anteriores a 2012, mas estreadas durante o ano anterior.
Fonte: Ibope Media. Elaboração: Obitel Equador.
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 245
No que tange a retransmissões, a TC Televisión levou a dianteira, com 23 reprises. A Canal Uno inaugurou o espaço Mujeres
al control, por meio do qual difundiu telenovelas produzidas em
1988, 2003 e 2004. Em ficção inédita, também a TC teve mais produções de estreia: três séries nacionais e 17 telenovelas importadas.
No outro extremo esteve a RTS, com apenas uma telenovela inédita.
A Teleamazonas reduziu a ficção de estreia em sua programação:
três títulos a menos do que em 2011, mas adaptou Aída, uma série
espanhola.
Tabela 2. A ficção de estreia em 2012: países de origem
País
Títulos
8
45
0
4
2
17
8
0
%
Capítulos/
episódios
358
2.206
0
219
110
1.124
348
0
NACIONAL
15,0
IBERO-AMERICANA
85,0
Argentina
0
Brasil
7,5
Chile
3,8
Colômbia
32,1
EQUADOR
15,0
Espanha
0
EUA (produção hispâ7
13,2
264
nica)
México
11
20,9
389
Peru
0
0
0
Portugal
0
0
0
Uruguai
0
0
0
Venezuela
4
7,5
110
Latino-americana (âmbi40
72,7
1.917
to Obitel)
Latino-americana (âmbi0
0
0
to não Obitel)
Outras produções e
coproduções de outros
0
0
0
países latino-americanos
Total
53
100,0
2.564
Fonte: Ibope Media. Elaboração: Obitel Equador.
%
Horas
%
13,9
86,1
0
8,6
4,2
43,9
13,6
0
234:00
2.686:45
0
237:00
112:55
1.083:10
234:00
0
8,0
92,0
0
8,1
3,9
37,0
8,0
0
10,2
266:05
9,2
15,2
0
0
0
4,2
883:50
0
0
0
103:00
30,2
0
0
0
3,6
74,8
1.962:45
67,2
0
0
0
0
0
0
100,0
2.920:45
100,0
Em termos de tempo de transmissão, como registra a Tabela 2,
a ficção nacional de estreia somou 234 horas, ou seja, teve um au-
246 | Obitel 2013
mento de mais de 40 horas sobre 2011. Em relação ao total de horas
da ficção inédita, as oito séries representam 8%.
Em 92% do total de horas de ficção importada, foram contabilizadas 2.686 horas e 45 minutos de exibição de produções ibero-americanas. O total de 2.920:45 inclui a publicidade, que das 6h às
21h deve ser apta para todos os públicos.
Embora não haja normativa que aponte a porcentagem de publicidade por programa de televisão, o já citado CITDT (2012, p.
9) estabeleceu que as telenovelas concentram 33% do investimento
publicitário diante de outros gêneros e formatos, como noticiários,
humorísticos, variedades, esportivos, revistas informativas, séries
infantis, longas-metragens e concursos.
Em termos de origem, a Colômbia ocupou o primeiro lugar,
com 17 produções (1.083:10) exibidas por TC (13), Gama TV (4)
e Teleamazonas (1). A seguir, vieram México, com 11 produções
(883:50) transmitidas por Gama TV (8), Teleamazonas (2), Ecuavisa e RTS, uma produção em cada uma; Brasil, com 4 (237:00),
pela Ecuavisa; Venezuela, quatro (103:00) exibidas pela TC; Estados Unidos, em coprodução com Venezuela e Colômbia, quatro
(152:40), por Teleamazonas e TC; EUA em espanhol, com três
(161:00), por TC e Ecuavisa.
Títulos
%
0
0
100
0
100
C/E
55
299
1.685
167
2.206
Ibero-Americanas
%
H
2,4
48:10
13,7
313:15
76,3
2.216:45
7,6
108:35
100
2.686:45
%
1,7
11,6
82,7
4,0
100
%
Cap./Ep.
Nacionais
0
100
0
0
0
0
0
100
%
0
234:00
0
0
0
0
0
234:00
Horas
0
100
0
0
0
0
0
100
%
43
4
0
0
0
0
0
47
Títulos
91,4
8,6
0
0
0
0
0
100
%
C/E
55
299
2.043
167
2.564
%
2,1
11,7
79,7
6,5
100
1.988
218
0
0
0
0
0
2.206
90,2
9,8
0
0
0
0
0
100
Ibero-Americanas
Cap./Ep.
%
Tabela 4. Formatos da ficção nacional e ibero-americana
Telenovela
0
0
0
Série
8
100
358
Minissérie
0
0
0
Telefilme
0
0
0
Unitário
0
0
0
Docudrama
0
0
0
Outros
0
0
0
Total
8
100
358
Fonte: Ibope Media. Elaboração: Obitel Equador.
Formatos
Faixas horárias
Nacionais
C/E
%
H
Manhã (06:00 – 12:59)
0
0
0
Tarde (13:00 – 18:59)
0
0
0
Horário nobre (19:00 – 22:59)
358
100
234:00
Noturno (23:00 – 02:00)
0
0
0
Total
358
100
234:00
Fonte: Ibope Media. Elaboração: Obitel Equador.
Tabela 3. Capítulos/ Episódios e horas transmitidos por faixa horária
2.510:00
176:45
0
0
0
0
0
2.686:45
Horas
H
48:10
313:15
2.450:45
108:35
2.920:45
Total
93,5
6,5
0
0
0
0
0
100,0
%
%
1,7
10,7
83,9
3,7
100
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 247
248 | Obitel 2013
O horário nobre (19:00-22:59) voltou a superar as outras faixas horárias em termos de horas exibidas (2.450:45’) e de capítulos
(2.043). Nesse horário foi transmitida toda a ficção nacional de humor, a qual ocupou três lugares entre os dez primeiros. Nas manhãs,
faixa com menor concentração de capítulos e horas, foram transmitidas duas telenovelas (¿Vieja yo? e Secretos del alma), com 55
capítulos e 48:10’ de transmissão. No horário noturno, houve quatro
produções (Los Victorinos, Maysa, Las profesionales a su servicio
e Tu voz estéreo), com 299 capítulos e 313:10’ de transmissão. Nas
séries nacionais, a média de duração do capítulo foi de 40 minutos;
nas telenovelas importadas, de 61 minutos.
Como em 2011, este ano não houve diversidade de formatos
na produção nacional de ficção, pois TC Televisão, Teleamazonas,
Ecuavisa e Canal Uno limitaram-se às séries. A produção internacional apresentou 43 títulos de telenovelas e quatro de séries.
Embora a telenovela tenha reafirmado sua supremacia, o Equador se afastou dessas produções de ficção, ao contrário de países
próximos21. Em 2011, foram exibidas 49 telenovelas importadas,
diante de apenas uma série importada, três séries nacionais e uma
ficção nacional de humor. Nenhuma das produções equatorianas
teve circulação internacional.
Tabela 5. Formatos da ficção nacional por faixa horária
MaTarHorário
%
%
%
nobre
nhã
de
Telenovela
2
100 11 100
29
100
Série
0
0
1
0
8
100
Minissérie
0
0
0
0
0
0
Telefilme
0
0
0
0
0
0
Unitário
0
0
0
0
0
0
Docudrama
0
0
0
0
0
0
Outros
0
0
0
0
0
0
Total
2
100 12 100
37
100
Fonte: Ibope Media. Elaboração: Obitel Equador.
Formatos
Noturno
1
3
0
0
0
0
0
4
Total
100 41
100 12
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
53
–
%
%
77,3
22,7
0
0
0
0
0
100
De acordo com os dados do Anuário Obitel 2012, a Colômbia produziu dez telenovelas,
enquanto a Venezuela realizou seis.
21
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 249
No que diz respeito à época da ficção, o presente concentra
87,2% das produções. A ambientação no passado acontece nas telenovelas colombianas Amar y temer, Escobar, el patrón del mal e El
Joe, la leyenda. Também na série brasileira Maysa e nas produções
nacionais Míster Juramento e Los Tostadams. Por sua vez, La Pola,
da Colômbia, é uma série histórica.
Tabela 6. Época da ficção
Época
Títulos
46
Presente
6
De época
1
Histórica
0
Outra
TOTAL
53
Fonte: Ibope Media. Elaboração: Obitel Equador.
%
86,8
11,3
1,9
0,0
100,0
As produções colombianas, e a RCN como produtora, continuam liderando entre as dez primeiras posições, com seis das dez
telenovelas mais assistidas no Equador. As produções nacionais
ocuparam três posições e subiram com relação a 2011: na segunda
e na terceira posições está El combo amarillo (Ecuavisa), que tirou
da lista La pareja feliz (Teleamazonas) e levou Mi recinto (TC) ao
último lugar.
Tabela 7. Os dez títulos mais vistos: origem, rating, share
Título
País de
origem
Nome do roteida ideia
Produtora Canal rista ou autor da
original ou
ideia original
roteiro
1
El capo 2
Colômbia
RCN
TC
Gustavo Bolívar
2
El combo
amarillo
3D
(3ª temporada)
Equador
Ecuavisa
Ecuavisa
Christian Cortés,
Miguel Calero,
Cecil Estacio
Ra- Shating
re
13,7 21,5
13
22,2
250 | Obitel 2013
3
4
5
El combo
amarillo
(2ª temporada)
El Joe, la
leyenda
Corazón
apasionado
Equador
Ecuavisa
Ecuavisa
Christian Cortés,
Miguel Calero,
Cecil Estacio
12,9 21,3
Colômbia
RCN
TC
Andrés Salgado e
Natalia Ospina
12,2 17,4
TC
Alberto Gómez
11,9 17,3
Venevisión
VenezuelaInternacio-EUA
nal
Colômbia
Teleset /
RCN
TC
Carlos Duplat
Luz Mariela
Santofimio
11,7 16,2
Fina
estampa
Brasil
O Globo
Ecuavisa
Aguinaldo Silva
11,3 16,9
8
La mariposa
Colômbia
Fox Telecolombia /
RCN
TC
Augusto Ramírez
10,9 15,8
9
El man es
Germán
Colômbia
RCN
TC
Juan Manuel
Cáceres Niño,
Héctor Alejandro
Moncada
10,9 15,5
TC
Fernando
Villarroel
10,6 16,9
6
Tres milagros
7
Mi recinto
10 (13ª temEquador
TC
porada)
Total de produções: 10
Roteiros estrangeiros: 7
100%
70 %
Fonte: Ibope Media. Elaboração: Obitel Equador.
O formato sitcom nas produções nacionais e o de telenovela nas
internacionais têm supremacia entre os dez títulos mais assistidos.
As dez produções foram difundidas no horário de maior audiência,
de 19:00 a 22:59.
Tabela 8. Os dez títulos mais vistos: formato,
duração, faixa horária
Nº de
Gênero Cap./Ep.
(em 2012)
Título
Formato
1
El capo 2
Telenovela
Drama
34
2
El combo
amarillo (3ª
temporada)
Série
Comédia
87
Data da primeira e última
Faixa
transmissão
horária
(2012)
07/08 a
Horário
31/12 (cont.)
nobre
01/09 a 31/12
Horário
(cont.).
nobre
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 251
3
4
El combo
amarillo (2ª
temporada)
El Joe, la
leyenda
Série
Comédia
76
02/01 a31/08
Horário
nobre
Telenovela
Drama
6
01/01 a 09/01
Horário
nobre
09/01 a 25/06
Horário
nobre
5
Corazón apasionado
Telenovela
Drama
romântico
114
6
Tres milagros
Telenovela
Drama
54
7
Fina estampa
Telenovela
Drama
63
8
La mariposa
Telenovela
Drama
59
9
El man es
Germán (2ª
temporada)
Telenovela
Mi recinto (13ª
10
temporada)
Série
Drama
Comédia
38
37
06/02 a 05/06
1/10 a
31/12 (cont.)
23/04 a 16/07
Horário
nobre
Horário
nobre
Horário
nobre
01/01 a 24/02
Horário
nobre
22/04 a 31/12
Horário
nobre
(domingos)
Fonte: Ibope Media. Elaboração: Obitel Equador.
Em termos de temáticas predominantes, o amor, a amizade,
os desenganos, as intrigas e o ódio estão presentes em cinco das
sete produções importadas mais assistidas. São temas transversais a
classes sociais, grupos etários ou étnicos. Mas os públicos também
se deixam conquistar pelas situações risíveis que apresentam as sitcoms nacionais situadas nos dez primeiros lugares.
Diferentemente de 2011, quando a violência, a falta de comunicação familiar e o machismo foram as temáticas sociais predominantes, as que captaram a atenção em 2012 foram o narcotráfico e
sua influência na vida política de um país. Essa problemática social
foi abordada nas produções colombianas El capo e La mariposa. Já
El Joe, la leyenda apresentou um redirecionamento: biografia que
faz pensar nas questões da fama e do poder econômico das gravadoras.
252 | Obitel 2013
Tabela 9. Temáticas nos dez títulos mais vistos
Títulos
1
2
3
El capo 2
El combo
amarillo 3D
(3ª temporada)
El combo
amarillo
(2ª temporada)
Temáticas dominantes
Temáticas sociais
A vida de um narcotraficante,
perseguição policial, relações
pessoais e afetivas, violência.
Narcotráfico e seus efeitos,
influência na vida política da
Colômbia, violência social.
Situações e histórias risíveis do
cotidiano e do trabalho na cidade, convivência entre jovens,
relações entre amigos.
Situações e histórias risíveis do
cotidiano e do trabalho na cidade, convivência entre jovens,
relações entre amigos.
Relações de trabalho, formas
de vida em setores populares,
diferenças regionais e de
linguagem.
Relações de trabalho, formas
de vida em setores populares,
diferenças.
Competição por abrir caminho na música, questões
4
do sucesso e da fama, poder
econômico de gravadoras,
diferenças sociais.
Desenganos amorosos, rivaliVida rural, relações famiCorazón
5
dades por amores, diferenças de
liares, influência de uma
apasionado
classes sociais.
educação rígida na psique.
Representação de classes
Amores e ódios, superstições,
6 Tres milagros
sociais e seus conflitos,
intrigas, paixão.
importância da família.
Mobilidade e ascensão social,
Vida cotidiana, amores, ódios,
ruptura de estereótipos pro7 Fina estampa relações familiares e de trabalho,
fissionais por gênero, luta por
diferenças entre mulheres.
sobrevivência, ética de vida.
Narcotráfico e lavagem de
Amor inesperado, paixão,
dinheiro, internacionaliza8 La mariposa
dinheiro, poder, perseguição
ção do negócio que também
policial.
atravessa classes sociais.
El man es
Cultura popular e de bairro,
Germán
Amizade, amor, intriga,
atravessada por expressões
9
(2ª tempoaventuras.
machistas, relação entre pai
rada)
e filho.
Costumes dos camponeses
Humor, aventuras, modo de vida
Mi recinto
da Costa (montubios), conhena zona rural da Costa, relações
10 (13ª tempocimento do país, abordagem
interpessoais e entre homens e
rada)
de problemáticas nacionais,
mulheres.
machismo.
Fonte: Ibope Media. Elaboração: Obitel Equador.
El Joe, la
leyenda
Biografia de cantor famoso,
êxito da salsa como gênero
musical, amores, desenganos,
rivalidades.
No perfil das audiências por gênero, El capo captou mais homens (5,8 pontos) do que mulheres (4,7 pontos), as quais se mos-
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 253
tram as principais consumidoras de telenovelas: sua atenção majoritária foi para Tres milagros.
Em termos de idade, houve diferenças entre pessoas de 3 a 11
e de 12 a 17 anos, e de mais de 18. As primeiras, de classe alta e
média alta, preferiram a produção nacional El combo amarillo. Os
maiores de idade optaram pelas telenovelas estrangeiras: as mulheres de classe alta (A) e média alta (B) preferiram a telenovela brasileira Fina estampa, enquanto os homens preferiram a colombiana El
capo, que foi exceção, pois no resto das produções dos dez primeiros lugares prevaleceram os públicos femininos.
Tabela 10. Perfil de audiência dos dez títulos mais vistos:
gênero, idade, nível socioeconômico
Títulos
El capo 2
El combo
amarillo 3D
El combo
amarillo (2ª
temporada)
El Joe, la
leyenda
Corazón
apasionado
Canal
TC
Gênero por faixas etárias
MuHoHeM HeM
lheres mens
3-11
12-17
18 e + 18 e +
Total Total
Total Total
4,3
4,8
4,7
5,8
Níveis socioeconômicos
M
H
AB
AB
AB AB
123-11
18
18
17
e+ e+
2,7 3,2 3,3 4,2
Ecuavisa
6,3
5,5
5,4
3,1
5,6
4,5
5,2
3,2
Ecuavisa
6,3
6
5,3
2,8
6
5,4
5,3
2,9
TC
4,7
3,6
5,9
4,4
2,1
2,9
4,4
2,7
4,7
4,4
5,9
4,2
2,5
1,8
3,5
1,7
3,8
5,4
6,5
3,9
2,7
3,2
4,9
2,1
TC
Tres milagros
TC
Fina estampa
Ecuavisa
2,5
2,2
6,1
3,3
2,2
2,6
7,6
La mariposa
TC
2,8
3,3
5,8
4,6
1,9
1,4
4,3
2,3
4,2
3,2
3
3,7
2,1
4
3,7
2,3
1,9
2,4
El man es
Germán
TC
4,3
4,2
5,2
(2ª temporada)
Mi Recinto
(13ª
TC
3,8
4,1
3,7
temporada)
Fonte: Ibope Media. Elaboração: Obitel Equador.
4,1
254 | Obitel 2013
3. A recepção transmidiática
Em 2012, surgiu um fenômeno de captação de público fora do
meio audiovisual formal. É a tendência mais inovadora que se apresenta no Equador. Trata-se de ficção e também de humor, realizados
e produzidos para internet e seus novos públicos, ou seja, é uma
proposta de ficção na internet que se serve das novas TICs e das
novas mídias.
Transformados em fenômenos de recepção que ultrapassam
fronteiras e obtêm comentários de fãs de diversos países de fala hispânica, os esquetes da produtora Touché Films, realizados pela Enchufe.tv, são renovados duas vezes por semana: todos os domingos
e terças-feiras é feito o upload de uma nova ficção, e, às quintas-feiras, um anúncio promocional daquilo que virá. Suas ficções duram
entre dois e cinco minutos, além das de menos de um minuto, chamadas “microyapas”22, e chegam a ter quase 2 milhões de assinantes
no canal do YouTube, além de visitantes, que fizeram cerca de 250
milhões de reproduções dos diferentes vídeos23. Esses números fazem da Enchufe.tv o canal mais popular do Equador e também da
América Latina entre os que estão na nuvem.
Seus integrantes – um grupo com formação cinematográfica
– têm menos de 30 anos e, em pouco tempo, consolidaram uma
proposta inovadora na ficção humorística não apenas no país: é sarcasmo crítico de costumes e pensamentos. Esse novo rumo seguido pela produção e a difusão para a ficção
equatoriana se deve, em grande medida, às possibilidades da web
2.0, que permite publicar vídeos nas plataformas gratuitas disponíveis, os quais, além disso, são objeto de transmidiação para outros
meios digitais, de reproduções ou por meio de links.
“Yapa”, termo de origem quíchua, significa aumento ou ajuda; usa-se no Equador para
designar a quantidade adicional de um produto entregada por quem vende, seja por vontade própria, seja por demanda de quem compra, e sem custo. Em outros países latino-americanos, é conhecida como “ñapa” ou “inhapa”, no Brasil.
23
Em 22 de abril de 2013, data da conclusão desta observação, o canal no YouTube
registrava 1.795.270 assinantes e 246.674.862 reproduções. Estima-se que tenha 500 mil
visitas diárias.
22
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 255
Os criadores da Enchufe.tv são formados no Instituto Superior
Tecnológico de Cinema e Atuação, o Incine, com sede em Quito.
Martín Domínguez, Cristian Moya, Jorge Ulloa, Leonardo Robalino
e Andrés Centeno dizem que, com suas produções, buscam “levar
o cinema até a Internet”, acabar com “o humor tradicional” e nos
lembrar que “as piores situações da vida são as mais engraçadas”24.
Além disso, garantem que é difícil abrir caminho com novas ideias
nos meios tradicionais. Com efeito, tentaram entrar na televisão,
mas sua proposta acabou sendo atrevida demais para alguns canais.
A primeira publicação em seu canal do YouTube aconteceu em
13 de novembro de 2011, sob o título “El peor casting”. Até o momento25, já contam com 138 vídeos, divididos entre:
• Promos: Breves avanços dos esquetes que serão publicados nos
próximos dias. Têm duração de até 45 segundos.
• Esquetes: As produções de ficção que têm entre 3 minutos e 7
minutos e 30 segundos.
• Microyapas: Esquetes curtos, com duração entre 20 e 60 segundos. O grupo também tem uma página na internet (www.enchufe.
tv), conta no Facebook com 745.724 “curtidas” e no Twitter com
148.153 seguidores, com os quais há muita interação. Contudo, não
é possível falar de transmidiação propriamente dita: o que faz a produtora é estabelecer um link entre uma rede e outra, sem adaptar
suas ficções às particularidades de cada uma.
“La TV les dijo no, pero 78 millones de vistas dicen sí”. Revista Expresiones, Diario
Expreso. 22 de outubro de 2012. http://www.expresiones.ec/ediciones/2012/10/23/gente/nacional/la-tv-les-dijo-no-pero-78-milhões-de-vistas-les-dicen-si/
25
O último dia de observação foi sábado, 20 de abril de 2013. A semana observada começou no domingo, dia 14.
24
256 | Obitel 2013
Tabela 11. A ficção transmidiática, tipos de interação
e de práticas dominantes
EmisFicção
sora
esco(produlhida
tora)
Páginas na internet
Tipos de
Níveis de
interação
interatitransmidividade
ática
Práticas dominantes dos
usuários
Passiva Comentário
Interpretação
Remix
Ativa
Paródia
Recomendação
Imitação
Interativa em
Celebração
Crítica
tempo real
Interati- Coleção
Visualização vidade Armazenamento
interativa em criativa Compartilhamento
rede
Discussão
Fonte: Internet. Elaboração: Obitel Equador.
Página oficial
www.enchufe.tv
Conta no Facebook
www.facebook.com/
enchufetv
Enchu- Touché
Conta no Twitter
fe.tv
Films
https://twitter.com/
enchufetv
Canal no YouTube
https://www.youtube.
com/user/enchufetv
Visualização
Visualização
transmidiática
Os resultados da semana de observação foram os seguintes:
Vídeo “Antes y ahora”. Média: 126.802 visualizações diárias. “Curtir”: 3.345 de média diária. “Não curti”: 62 de média diária. Comentários na semana: 1.938. (https://www.youtube.com/
watch?v=YzWR3mGMzS0)
Vídeo “El ahorcado” (microyapa). Média de 47.237 visualizações diárias. “Curtir”: 807 de média diária. “Não curti”: 48 de
média diária. Comentários na semana: 602. (https://www.youtube.
com/watch?v=QFNKvgTFGqk).
3.1. Comentários selecionados, interpretação e análise qualitativa
Há comentários com felicitações e críticas. Majoritariamente,
fazem referência à parte do esquete que lhes pareceu mais engraçada; também elogiam ou questionam a qualidade do conteúdo. Dos
1.938 comentários do vídeo “Antes y ahora”, que compara as mudanças registradas nos costumes e relações de casal – tema preferido
pelos realizadores e abordado de forma crua –, destacam-se alguns
referentes ao machismo.
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 257
Registram-se comentários de outros países, principalmente do
Peru, do México e da Colômbia. O relevante da interação é que
ela não se limita a comentários ou a risos expressados em texto
(“hahaha”), havendo diálogos que atingem níveis distintos daqueles
que geralmente aparecem nas redes sociais. Vejamos estes dois, de
SuperYapita e Zeroz45.
“Nada disso de que mulheres vão para a cama
com os homens, aqui nós, HOMENS E MULHERES, nos precipitamos sem levar em conta que
mutuamente podemos até ter doenças venéreas...
e não só vocês aproveitam, nós, as mulheres também somos seres humanos com orgasmos e desejos e também aproveitamos... evitemos os comentários machistas.”
“Toda a mudança aconteceu desde que a mulher
obteve maior poder... maior liberação... assim,
não importa a vocês o que opina a sociedade e
trepam e trepam, sem parar hahaha... problema?
Nenhuuuum, melhor para nós, homens.”
No vídeo promocional, contam-se 602 comentários que, em sua
maioria, expressam risos ou expectativas sobre a ficção que vai ser
publicada. Neste caso, destacam-se aqueles que se referem aos erros
de ortografia de outro comentário. Uma breve amostra:
Desculpa, mas eu acho que você cometeu alguns
erros ao escrever em espanhol: Bilíngue tem trema,
Hablas [falas] tem H antes da A, te Ves é com V
não com B e, claro, inglês tem acento. Não acho
que você deva insultar as pessoas dessa maneira
como se fosse superior... ah, a propósito, garoto
“Bilíngue,” Loser tem só um O. Atenciosamente:
um verdadeiro Bilingue. William Sánchez Coronel
258 | Obitel 2013
EU ACHO QUE NÃO ESTAVA TÃO LEGAL
O VÍDEO, PORQUE AS PESSOAS SE ENTRETÊM MAIS BRIGANDO NOS COMENTÁRIOS... SERES HUMANOS, É POR ISSO QUE
EXISTEM GUERRAS SEM SENTIDO. davidcadenazavaleta8
4. O mais destacado do ano
O gênero de ficção na televisão equatoriana reforçou a sitcom,
e, pelo segundo ano consecutivo, a produção de telenovelas esteve ausente dos canais de sinal aberto. Duas novas séries de humor
somaram-se às registradas em 2011 e 2012 – Aída (Teleamazonas) e
Los Tostadams (TC) –, mas, em níveis de preferência, não conseguiram ocupar posições de destaque, ao contrário de El combo amarillo
(Ecuavisa), que desde sua segunda temporada está em duas das três
primeiras posições do top ten.
O destaque do ano, então, não está em um novo formato de
ficção televisiva, que vai fazendo da sitcom o lugar comum da produção para o meio audiovisual equatoriano, nem em novos conteúdos ou recursos, pois o humor se transformou, evidentemente, no
mais usado para concentrar audiências. Pelo exposto, seria possível
deduzir que o mais destacado de 2012 está no que chamaremos de
ficção transmidiada, ou o aproveitamento de outras mídias – as plataformas de difusão criadas pelas novas tecnologias na internet –,
como é o caso, já citado, de Enchufe.tv e seu canal no YouTube, que
apresenta, em esquetes, paródias irreverentes e sarcásticas de comportamentos sociais, fundamentalmente sobre as relações de casal,
mas que, em geral, tratam de aspectos do cotidiano.
Mas, principalmente, há a primeira webnovela equatoriana,
também promovida como a primeira da América Latina26, intitulada
26
Talvez seja a primeira da América Latina com produção especializada, destinada à televisão formal. Porém, na internet há notícias da webnovela Amalia y Poncho, da Univisión
(Los Angeles e Miami), estreada em junho, enquanto a equatoriana apareceu em agosto
do mesmo ano de 2012.
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 259
Resak, e patrocinada e financiada pela TC Televisión, que a incluiu
em sua página na internet. A ideia, o roteiro e todos os momentos
necessários para a realização se deram no Instituto Superior de Estudios de Televisión, o ITV, com sede em Guaiaquil27. Embora o
projeto date de 2008 e tenha sido concebido originalmente como
uma minissérie para a TV aberta, diversos problemas foram postergando seu lançamento, até que se tornou realidade para a internet
com a publicação do primeiro capítulo na página criada para isso:
http://www.resak.tv.
Atualmente, encontram-se ali os 40 capítulos que integram a
webnovela e cuja duração flutua entre 8 e 12 minutos e meio. Seu
upload foi feito três vezes por semana e já foi anunciada uma segunda temporada.
De acordo com o relatório “Prestação de Contas do ITV
2012”28, para a realização foi feita uma pesquisa entre mais de 300
jovens de até 25 anos, a qual mostrou que a tendência dos grupos
jovens “é ver cada vez menos televisão e dedicar mais tempo ao uso
da internet, suas páginas e suas redes sociais”.
Esse fato, base da arrancada do projeto, complementou-se com
a evidência de que os canais televisivos de sinal aberto não produziram telenovelas em 2012. Para sua realização, o ITV investiu
uma grande quantia na compra prévia de uma unidade móvel de alta
definição, enquanto o orçamento geral (US$ 85 mil) veio da TC Televisión, que lhe deu a primazia da estreia em sua página na internet,
segundo o mesmo relatório.
ITV e TC Televisión mantêm, há alguns anos, estreita relação
de trabalho, razão pela qual não surpreende que o orçamento para
a webnovela tenha vindo das verbas desse canal administrado pelo
Estado desde 2008, que registra altos níveis de audiência, concentra
O ITV é um instituto de formação em produção e direção de TV, criado em 1993, que
ganhou prestígio, além disso, porque entrega prêmios anuais às melhores realizações para
TV em diversas categorias. Está associado à TC Televisión. Disponível em http://www.
itv.edu.ec/index.html.
28
Disponível em: http://www.itv.edu.ec/documentos/rendicioncuentas/rendicion2012.
pdf.
27
260 | Obitel 2013
em sua programação o maior número de telenovelas com ratings
destacados, realiza uma série de humor nacional, Mi recinto, entre
as dez mais assistidas há vários anos, e que, junto com a Ecuavisa, é
o canal que marcou a pauta no Equador no que se refere a produções
de ficção – os dois inclusive competem entre si tanto nesse terreno29
quanto nos níveis de preferência, embora tenham públicos-alvo diferentes30.
A vinculação entre ITV e TC e o compromisso adquirido pelo
financiamento também fizeram com que a realização da webnovela
fosse pensada como uma espécie de experimento, inclusive no que
se refere ao público. Segundo as palavras de Alfredo Adum, produtor-executivo de Resak e diretor do ITV, no dia da apresentação (28
de agosto de 2012), “a ideia é que se transforme, num futuro não
muito distante, em uma novela para televisão”, e explica: “Quisemos apostar ao contrário e garantir seu sucesso na telinha através
das preferências juvenis por meio da Internet.” Destacou, também,
que não existe “jovem no mundo que não esteja vinculado ao espaço
cibernético” (El Popular, 2012).
Com efeito, basear-se e, sobretudo, dirigir-se a públicos juvenis é o que também explicaria o sucesso de Enchufe.tv, analisado
anteriormente. Porque, embora o humor siga sendo o manancial
fundamental para a ficção equatoriana, o uso dessas novas plataformas congrega mais a atenção de jovens, que, pelo visto, expressam
outras exigências.
Enchufe.tv, como já foi dito, é parodia de cotidianidades na
qual predominam o sarcasmo e a irreverência. “Queríamos fazer
pornô, mas as nossas mães não nos deixaram”, dizem, com ironia,
na apresentação de sua conta no Facebook (https://www.facebook.
Por exemplo, duas produções dramatizadas de ficção, sobre fatos da crônica policial
violenta ou eventos de criminalidade, transmitidas quase que simultaneamente, foram
Pasado y confeso, da Ecuavisa, e Archivos del destino, da TC, às quais se faz referência
mais adiante, na parte correspondente ao tema do ano.
30
Ambos os canais têm sede em Guaiaquil, mas a Ecuavisa conta com preferências principalmente de um público de classe média e alta urbana, enquanto a TC atrai setores
urbano-marginais e também de cidades pequenas e localidades rurais, o que explicaria a
permanência de Mi recinto entre os dez mais assistidos.
29
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 261
com/enchufetv). Em consequência, há um olhar ácido, de humor
negro, às vezes, em torno a realidades vivenciadas particularmente
pelos jovens de setores socioeconômicos médios de Quito, e sobre
como se dão as relações entre homens e mulheres, embora também
não falte uma visão que, às vezes, pode até ser considerada sexista.
Contudo, o resultado dessas ficções pensadas para as facilidades de difusão que a internet oferece – os jovens realizadores de
Enchufe.tv dizem ter criado sua própria produtora porque os canais
de televisão fecharam as portas para eles – é que, além disso, eles
estão na nuvem tecnológica, ou seja, não são de consumo exclusivo
do público nacional. Mas, ao contrário dos esquetes da produtora de
Quito Touché Films, os capítulos de Resak, da ITV, instituição educativa associada a um canal de televisão, não chegaram aos níveis
milionários de audiência que registram os primeiros.
Talvez a razão disso seja o fato de que a proposta de conteúdo de Resak é mais tradicional, embora se afirme que aborda uma
problemática com a qual a juventude atual se depara, assediada por
máfias de pequenos ou grandes traficantes de drogas. Em resumo, é uma aposta em outra mídia, e não em conteúdos
diferentes que contribuam para romper parâmetros dominantes na
televisão. Isso pode ser notado nos números de acompanhamento e
reproduções: a webnovela conta, para sua difusão, com sua própria
página na internet e com uma fan page do Facebook, com 810 “Curtir”; um canal do YouTube com 16 vídeos – que não são os dos 40
capítulos –, cem assinantes e apenas 7.300 reproduções até 26 abril
de 2013 (https://www.youtube.com/user/RESAK2012?feature).
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social
Até a invenção da escrita, a oralidade era o suporte privilegiado da memória social. A chegada da escrita permitiu registrar as
marcas dessa memória coletiva de maneira mais sistemática e relativamente precisa. A fotografia, o registro fílmico e a televisão,
posteriormente, possibilitaram alimentar a memória social também
com elementos audiovisuais, que abriram novas formas de cons-
262 | Obitel 2013
trução dessa memória: as pessoas apropriam-se dos acontecimentos
públicos que consideram importantes, lembram-se de fatos que não
vivenciaram diretamente e uma notícia ou uma ficção pode se transformar em parte da vida de alguém apenas por ter sido transmitida
pela televisão.
Assim, esses discursos adquirem uma validade pública que permite que sejam lembrados. Portanto, certos acontecimentos podem
vir a fazer parte da memória social, porque os meios audiovisuais
para a construção da memória histórica contemporânea diversificam os fins das fontes de informação participantes e, dessa maneira,
possibilitam uma espécie de democratização na difusão de relatos
históricos.
O surgimento de meios audiovisuais, como o cinema, a televisão, o vídeo e, hoje, os digitais, gera “novos modos de formação
da memória; embora alguns o sejam de maneira efêmera, outros, a
partir de uma existência virtual, fazem parte ineludível da vida cotidiana do mundo global” (Guarini, 2002). Desse modo, o audiovisual incide duplamente na memória, já que, por um lado, o entorno
midiático se transforma em fonte ilimitada de elementos a rememorar, e, por outro, os arquivos audiovisuais constituem um suporte
significativo para a conservação social de elementos que dão conta
do transcurso da história. Ou seja, o audiovisual assume uma dupla
função: é processo e suporte. A televisão equatoriana já é um suporte da memória social ao contar com uma infinidade de gravações
realizadas para os noticiários sobre a realidade social, econômica e
política. Depois de 50 anos, cada canal tem seus próprios materiais audiovisuais, que representam uma riqueza bruta para reconstruir a
memória social do país. Mas, da perspectiva da ficção televisiva, a
situação é diferente; e se entendemos a memória social como relatos
que ocorrem total ou parcialmente no passado, próximo ou distante,
a produção equatoriana é escassa. Isso, em parte, porque a televisão
equatoriana carece de uma produção de ficção própria sustentada e
tampouco desenvolveu as capacidades necessárias para fazê-lo, seja
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 263
por motivos técnicos, seja por financiamento ou perspectivas (Anuário Obitel 2011). Contudo, apesar desse déficit, é possível assinalar
algumas realizações no que se refere à memória social. Para isso,
analisamos três momentos:
1. As primeiras experiências, 1960-1980: Nascida em 1960,
a televisão equatoriana tenta encontrar sua própria personalidade
nas duas primeiras décadas. Assim, começam também as primeiras
ficções nacionais, algumas delas a partir de uma perspectiva de memória social. É o caso da primeira produção de ficção da atual Red
Telesistema (RTS)31, com a série Narcisa de Jesús (1961); da emissora Ecuavisa, com a série El Cristo de nuestras angustias (1967);
e da Teleamazonas, com a telenovela La casa de los Lirios (1974). Nessas ficções televisivas, baseadas em memória social, há
uma busca por recuperar as tradições equatorianas de tipo religioso e costumbrista, em oposição ao “modernismo” que o país vinha
experimentando e que poderia ser considerado por alguns como perigoso, por levar à perda de tradições próprias. Na primeira das ficções mencionadas, identifica-se com clareza uma telenovela sobre
a biografia de Narcisa de Jesús Martillo Morán, guaiaquilenha do
século XIX transformada em modelo de laica catequista32.
Essas primeiras produções dão resposta à sociedade equatoriana
religiosa e tradicionalista da época da realização. Poder-se-ia dizer,
então, que o tratamento dessas ficções enfatiza o desenvolvimento
de uma memória social “conservadora”, sustentada em personagens
e histórias que procuravam refletir e aprofundar a religiosidade popular, geradoras de um discurso único ao apresentarem modelos de
vida a serem seguidos, pois quase toda a ficção busca ressaltar, e até
idolatrar, os valores religiosos do protagonista principal.
Na década de 1980, apesar de alguns esforços para elevar a
É o primeiro canal criado em Guaiaquil e que ainda subsiste, com diferentes proprietários e nome diferente, já que em seu início se chamava Canal 4.
32
Foi beatificada por João Paulo II em 1992 e canonizada por Bento XVI em 2008.
É considerada muito milagrosa. Há uma grande afluência de devotos em um santuário,
próximo a Guaiaquil. 31
264 | Obitel 2013
qualidade da ficção, nenhuma produção desses anos é baseada em
memória social.
2. Anos 90, encontro entre literatura e ficção televisiva: É
na década de 1990 que a televisão equatoriana registra o auge de
produção de ficção com perspectiva de memória social, embora baseada em obras de escritores nacionais. Pode-se dizer, assim, que há
memória social em dois sentidos: 1) na tentativa de recuperar essa
memória ao resgatar autores que constituem grande acervo literário
para o país; e 2) na reconstrução da memória social ao realizar as
ficções de época tendo como base essas obras.
São sete as realizações de um único canal, como se pode ver
abaixo, que, mesmo sem ter atingido altos níveis de audiência, foram construindo a experiência necessária para fazer ficção com novas histórias.
Tabela 12. Séries televisivas baseadas em livros
de autores equatorianos
Livros de autores
Emissora
equatorianos
Cumandá.
Cumandá
Ecuavisa
Juan León Mera, 1877
Los Sangurimas.
Los Sangurimas
Ecuavisa
José de la Cuadra, 1934
A la Costa.
A la Costa
Ecuavisa
Luis A. Martínez, 1904
El Chulla Romero y Flores.
El Chulla Romero y Flores
Ecuavisa
Jorge Icaza, 1958
Siete lunas, siete serpientes.
7 lunas, 7 serpientes
Ecuavisa
Demetrio Aguilera Malta, 1970
El cojo navarrete.
El cojo navarrete
Ecuavisa
Enrique Terán, 1941
Polvo y ceniza. Eliécer Cárde- TeleamaPolvo y ceniza
nas, 1979
zonas
Fonte: Entrevistas com realizadores e produtores. Elaboração: Obitel Equador.
Série/Telenovela
Ano
1993
1993
1995
1995
1996
1996
1997
O encontro da televisão e da literatura equatorianas é um dos
grandes momentos da produção nacional de ficção e memória social. Foi possível recuperar, assim, para as novas gerações, fatos
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 265
ocorridos em épocas libertárias, as primeiras migrações internas da
Serra para a Costa, a Revolução Liberal e personagens populares
que fazem parte da identidade de uma cidade como Quito ou de uma
região como a Costa.
Portanto, através da televisão, novas gerações aproximaram-se
da história e da literatura equatorianas para construir memória social. Algumas dessas ficções foram retransmitidas, e outras, doadas
à Cinemateca Nacional da Casa de la Cultura Ecuatoriana, passando
a fazer parte da memória audiovisual do país.
Além disso, essas ficções geraram um olhar crítico sobre fatos históricos, resultado pouco comum nas propostas narrativas da
época. Eram produzidas em séries de quatro ou cinco capítulos, e
muitas foram adaptadas posteriormente a formatos de filme.
Com essas produções, reativa-se a memória histórica, mas não
em versão oficial, e sim de pessoas físicas, escritores equatorianos
que incorporaram um olhar mais cotidiano ou crítico a certos fatos,
que foram recriados em ambientes onde confluíam, dramaturgicamente, amores, ódios, sonhos, lutas de personagens muitas vezes
críticos do poder e opostos a formas conservadoras de vida dos anos
ou épocas refletidas.
Às produções baseadas na literatura somam-se outras ficções
televisivas, também de memória social: La Baronesa de Galápagos
(1992, Ecuavisa); Sucre (1992, Teleamazonas), JJ, el ruiseñor de
América (1996, Teleamazonas), Pasado y confeso (1994, Ecuavisa). Dessa lista, que inclui vidas históricas e lendárias33, destaca-se a
série Pasado y confeso, que durou uma década (até 2005), com mais
de 700 episódios de histórias diferentes. Teve grande sucesso de audiência e transformou-se na série de ficção nacional não humorística
com maior rating desses anos. Abordava fatos de memória social recente, baseados em acontecimentos policiais diversos, que passaram
Segundo os títulos, trata-se de Antonio José de Sucre, general dos exércitos de Bolívar;
Julio Jaramillo, guaiaquilenho, o mais popular dos cantores equatorianos, ainda 30 anos
depois de sua morte; e uma alemã que residiu nas ilhas Galápagos (anos 30), criando-se
uma lenda em torno de sua vida.
33
266 | Obitel 2013
a ser uma proposta da memória social da crônica policial. Contudo,
essa série promove uma memória social limitada, baseada no fato
em si, ou seja, em eventos que se apresentam, em geral, isolados do
contexto social e histórico em que ocorreram.
3. O século XXI, sem memória social: De 2000 até o presente,
observa-se um aumento da produção nacional para TV, mas não
necessariamente em ficção, e muito menos em ficção de memória
social. Nesse tema, encontram-se apenas duas produções: Sé que
vienen a matarme (Ecuavisa, 2007) e Olmedo, el castigo de la grandeza (Teleamazonas, 2009).
A proposta de produção de ficção televisiva do país aponta,
reiteramos, para um esquema que gere rating e que seja de baixo
custo, razão pela qual quase todas as realizações se limitaram à telecomédia, substituindo a telenovela e outros formatos de ficção.
Das duas produções assinaladas, cabe ressaltar Sé que vienen
a matarme, seriado da Ecuavisa baseado na novela da escritora
equatoriana Alicia Yánez Cossío sobre a vida do controvertido presidente equatoriano do século XIX, o conservador Gabriel García
Moreno, que foi assassinado por opositores. Essa série reflete o caminho percorrido na ficção equatoriana, pois não só reconstrói mais
tecnicamente os cenários de uma época como também conta com
melhores atuações e melhor produção em geral.
A série é uma tentativa da Ecuavisa de recuperar sua época de
ouro, a década de 1990, na produção de ficções de memória social
vinculadas a obras literárias de escritores equatorianos. Lamentavelmente, a intenção parou aí, uma vez que os esforços seguintes foram
dirigidos à produção de programas do tipo reality shows, séries e
telenovelas de humor, concursos, entretenimento em geral.
Por questões financeiras, os canais de televisão equatorianos
estão limitados, muitas vezes, em sua tentativa de realizar produções de ficção, segundo Marcelo Aguilar, produtor da Ecuavisa34,
34
Em entrevista com esse produtor, obtiveram-se dados das realizações em ficção de
memória social, pois não existe uma fonte escrita. O mesmo ocorreu com o diretor de
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 267
que acredita na importância de gerar um processo de educação no
público, motivando-o para que assista mais produção nacional de
qualidade. Para isso, sugere a necessidade de determinar uma faixa
horária na qual todos os canais de televisão transmitam produção
nacional de ficção e de memória social.
Em outras palavras, os anos deste século são, até agora, os da
não memória social na ficção da televisão equatoriana.
5.1. A televisão pública, oportunidade para a memória social
Por fim, vale assinalar o que se poderia considerar como alternativa para coletar e recriar a memória social na ficção televisiva, o
canal público do Equador, ECTV. Com cinco anos de existência e
uma oferta programática que o está transformando em espaço alternativo de produção e difusão, seria o canal para promover propostas
ficcionais sobre memória social, uma vez que, principalmente por
razões de mercado, a televisão privada não tem conseguido sustentar no tempo a intenção de reconstruir essa memória, necessária para
assegurar identidades próprias e para o conhecimento da história,
também no plural. Acima de tudo porque, como dizia Halbwachs,
“junto a uma história escrita, encontra-se uma história viva que se
perpetua ou se reencontra através do tempo e na qual é possível
encontrar um grande número dessas correntes antigas que só aparentemente haviam desaparecido” (La memoire collective, 1968).
Em outras palavras, coletar a memória coletiva ou a memória social
também é transmitir conhecimento.
A televisão pública ainda não penetrou muito na produção de
ficção a partir da memória social. As poucas produções que difundiu
a esse respeito são filmes de produção nacional35. Por ocasião do
bicentenário da independência (2009), realizaram Patriota, série de
“docuficção” em cinco capítulos, com fins didáticos, sobre os principais personagens do processo independentista equatoriano.
programação da ECTV, Marcelo del Pozo.
35
Por exemplo, 1809, La Tigra, Entre Marx y una mujer desnuda, filmes dirigidos pelo
cineasta equatoriano Camilo Luzuriaga, e também outras de produção mais recente.
268 | Obitel 2013
Não obstante esses passos positivos para motivar a memória
social, o canal público ainda se concentra mais em outro tipo de
programas. Mas, em 2012, destaca-se a primeira licitação dirigida a
produtores nacionais para promover as ficções. Assim, vão-se ampliando portas para a realização de ficção e, em particular, de memória social.
Referências
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Informe CITDT-GAC-2012-00, 19 de abril de 2012. CNTTV. Corporación Nacional de Telecomunicaciones suscribió contrato para operar televisión privada. 2013. Disponível em: www.micnttv.com/
index.php?option=com_content&view=article&id=37:serie-o-pelicula-destaca
da&catid=3:noticias&Itemid=33.
CONATEL. Plan Maestro de transición a la televisión digital terrestre en el Ecuador. Resolución RTV-681-24-CONATEL 2012, del Consejo
Nacional de Telecomunicaciones. 2012. Disponível em: http://www.conatel.
gob.ec/site_conatel/index.php?view=category&id=619%3Aresoluciones-2012&option=com_content&Itemid=610
MINTEL realiza taller técnico para potenciar el Internet Banda Ancha
en Ecuador. El Telégrafo, 2012. Disponível em: http://www.telegrafo.com.ec/
economia/item/mintel-realiza-taller-tecnico-para-potenciar-el-internet-banda-ancha-en-ecuador.html
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com.ec/. Acesso em: 17/04/13.
SUSCRIPCIÓN a televisión pagada en Ecuador aumenta, tras control a
servicio pirata. Ecuadorinmediato.com, 2013. Disponível em: http://www.ecuadorinmediato.com/index.php?module=Noticias&func=news_user_view&id
=188821&umt=suscripcion_a_television_pagada_en_ecuador_aumenta_tras_
control_a_servicio_pirata.
Ni fecha ni oferta para vender Gama TV y TC. El Comercio, 30/04/12.
Disponível em: http://www.elcomercio.com/politica/fecha-oferta-vender-Gamatv-TC_0_691130944.html.
GUARINI, Carmen. Memoria social e imagen. Universidad de Buenos
Aires. Programa de Antropología Visual, 2002
HALBWACHS, Maurice. La memoire collective. Paris: PUF, 1968.
Equador – A ficção e o humor vão para a internet | 269
INFOMEDIA. Estadísticas diversas, 2013. Disponível em: http://www.
infomedia.com.ec/sistema/
LUZURIAGA, Camilo. Antropofagia cinematográfica en el ciberespacio:
el caso ecuatoriano de Enchufetv. Revista Chasqui, n. 120, p. 51-56. Quito,
Ciespal, dezembro de 2012.
MINISTERIO DE EDUCACIÓN. Educa, televisión para aprender. Disponível em: http://www.educacion.gob.ec/educa-television-para-aprender-iniciara-en-octubre.html. Acesso em: 11/10/12.
MINISTERIO DE TELECOMUNICACIONES Y SOCIEDAD DE LA
INFORMACIÓN. La penetración de internet banda ancha aumentó en el Ecuador y se consolida como política pública. Plan de acceso universal y alistamiento digital, 2013. Televisión Digital Terrestre en el Ecuador, 2013. Disponível em: http://www.telecomunicaciones.gob.ec/comunicamos. Acesso em:
17/04/2013.
‘RESAKA’ una novela en red. El Popular, 29/08/12. Disponível em:
http://www.elpopular.com.ec/63492-%E2%80%98resaka%E2%80%99-una-novela-en-red.html. 6
Espanha: a ficção resiste à crise
Autora:
Charo Lacalle1
Equipe:
Mariluz Sánchez, Lucía Trabajo, Deborah Castro, Anna Alonso,
Paola Cabrera, Belén Granda, Francisca Nicolau, Germán Muñoz,
Karina Tiznado, Berta Trullàs
1. O contexto audiovisual da Espanha
A crescente fragmentação do sistema televisivo espanhol,
como consequência da TDT (Televisão Digital Terrestre) e da crise
econômica, deixou sua marca em 2012. Tele5 e Cuatro consolidam
sua fusão e lideram o mercado publicitário, enquanto a Antena3
confirma a absorção da LaSexta e o audímetro completa 25 anos.
A queda no investimento publicitário e o sinal verde para a possível
privatização das emissoras pertencentes às comunidades autônomas
também aparecem entre os eventos mais destacados de um ano em
que a ficção se mostra, mais uma vez, em alta.
Gráfico 1. Redes nacionais de televisão aberta na Espanha:
privadas e públicas
Propriedade
Públicas
Primeiro canal
La1
Estatais
7RM
ATV
C9
Autonômicas
Canal Sur
CMT
ETB1
Segundo canal
La2
Privadas
Antena3, Tele5, Cuatro, LaSexta
Charo Lacalle coordena a equipe espanhola do Obitel, integrada pelas pesquisadoras associadas Mariluz Sánchez, Lucía Trabaj e Deborah Castro. Junto com a equipe do Obitel
Espanha, colaboraram com este relatório os membros do Ofent (Observatorio de Ficción
Española y Nuevas Tecnologías) Anna Alonso, Paola Cabrera, Belén Granda, Francisca
Nicolau, Germán Muñoz, Karina Tiznado e Berta Trullàs.
1
272 | Obitel 2013
IB3
Telemadrid
TPA
TV3
TVCanarias
TVG
Autonômicas
Canal Sur 2
ETB2
La Otra
NOUDOS
TPA2
TVCanarias2
TVG2
Super3/33
Terceiros canais autonômicos
Canais autonômicos internacionais
8Madrid
8TV
A3Canarias
CYLTV
Estil9
La8
NueveTV
Rac105
VTelevisión
C. Extrem. TV
Fonte: Obitel
O consumo bate um novo recorde em 2012, com 246 minutos
por espectador e dia – sete a mais que no ano passado. O consumo
de TDT também teve um aumento considerável, que o situava, em
dezembro, em 81,4%, em comparação com 14,3% da audiência da
TV por assinatura e 4,3% da TV por satélite.
Em março, a Tele5 recuperava a liderança perdida em 2009, e
consolidava-a em junho, depois dos extraordinários resultados de
audiência da Eurocopa, embora a emissora da Mediaset viesse a
terminar o ano com seu mínimo histórico (13,9%), da mesma forma que a La1 (12,2%), que foi deslocada para o terceiro lugar pela
Antena3 (12,5%). Por sua vez, o grupo de Temáticos de Concessão
em TDT continua subindo, com 3,9 pontos a mais do que no ano
passado (28,5%).
Gráfico 2a. Share por canal estatal
Share
La1
TemáTemáCua- LaForticas
La2 T5 A3
ticas
tro
Sexta ta
TV
TDT
Paga
2,6 14,2 11,5 6,1
5,7
10,4 24,6
6,8
2,5 13,9 12,5 6,0
4,9
9,8 28,5
6,2
2011
14,5
2012
12,2
Dife-2,3 -0,1 -0,3 1,0 -0,1 -0,8 -0,6 3,9
rença
Fonte: Kantar Media/Barlovento Comunicación
-0,6
Autonômicas
Privadas
0,8
0,9
0,1
Resto
3,6
3,5
-0,1
A queda dos canais autonômicos (9,8%) se distribui de maneira
desigual, e transforma a TV3 na rede generalista no maior share da
Espanha (14,3%).
Espanha – A ficção resiste à crise | 273
Gráfico 2b. Share por canal estatal autonômico
TeleC.
TVETB2
TPA IB3 ma- CMT C9 7RM ETB1
Sur
CAN
drid
2011 14,1 12,3 10,7 10,7 8,2
7,9 7,7 5,2 6,4
6,4
6 4
2
2012 14,3 11,5 11,3 10,1 9,9
7,6 6,9 6,3 5,3
5,1
5 2,5 2,1
Dife0,2 -0,8 0,6 -0,6 1,7
-0,3 -0,8 1,1 -1,1 -1,3 -1 -1,5 0,1
rença
Fonte: Kantar Media/Barlovento Comunicación
Share TV3 TVG ATV
Todos os grupos televisivos ganharam audiência, exceto a CRTVE, que perdeu 3,4%. O grupo Telecinco lidera a classificação,
com 28,5% do total. O grupo Antena3 ocupa a segunda posição
(25,8%), incluindo os 7,5% do grupo LaSexta, e seguido pela CRTVE (18,9%), Vocento (4,4%) e Unidad Editorial (3,2%).
Gráfico 3. Grupos televisivos
3,2 4,4
Unidad Editorial
Vocento
28,5
18,9
CRTVE
Antena3
Telecinco
25,8
Fonte: Kantar Media/Barlovento Comunicación
Este ano, a ficção é o gênero com maior espaço nas grades
de programação espanholas (21,8%), seguida pelo entretenimento
(21%), que continua em sua tendência decrescente das últimas temporadas, e pela informação (20,2%).
Gráfico 4. Gêneros e horas transmitidos pela TV
2,7
0,8
7,6
21,8
7,9
Outros
Informação
Esportes
Entretenimento
Música
Ficção
Concursos
18,6
21
Culturais
19,5
Fonte: Kantar Media/Barlovento Comunicación
274 | Obitel 2013
1.1. Tendências da audiência no ano de 2012
A Antena3 continua sendo a rede preferida pelos jovens entre
13 e 24 anos, ao passo que, na Tele5, destacam-se os grupos de
25 a 44 anos e os de 45 a 64. Na La1, por sua vez, sobressaem os
maiores de 65 anos, embora seu público já não seja tão feminino
como em anos anteriores. Assistir individualmente (43,8%) é, mais
uma vez, a opção preferida pelos espectadores espanhóis, particularmente pelos da Tele5, seguida pelo consumo em casais (39,8%),
mais frequente nas redes públicas. O consumo em grupo (16,5%) se
destaca na Antena3, rede que conta com a maior audiência familiar2.
Águila roja foi a ficção mais vista pelo quarto ano consecutivo,
e é a única cujos três únicos episódios transmitidos em 2012 estão
entre os 50 programas de maior audiência do ano (40o, 41o e 47o
lugares do ranking). O resto da classificação é formada pelo futebol, com exceção de três transmissões do campeonato de Fórmula
1, uma do concurso musical La voz e dois programas dedicados ao
Eurovisión. Os pênaltis da partida da Eurocopa entre Espanha e Portugal, em 27 de junho, foram o espaço mais visto, com 18.141.000
espectadores (83,3%).
O cinema continua retrocedendo na televisão, uma vez que o
filme com mais audiência em 2012 (Amanecer, parte I), transmitido
pela Antena3, ficou no 99o lugar do ranking anual (4.546.000 espectadores e 22,8% de share). Não obstante, a La1 continua obtendo
bons resultados nesse setor, considerando-se que 15 dos 20 filmes
com mais audiência em 2012 foram transmitidos em seu bloco do
horário nobre de domingo.
1.2. Investimentos publicitários do ano
A televisão continua como líder do investimento publicitário na
mídia, apesar da queda (16,5%) em 2012, com um total de 2.372,5
milhões de euros (43,0%)3. A queda foi muito mais acentuada nos
http://www.barloventocomunicacion.es/.
Dados de Infoadex e IAB Spain, relativos ao primeiro semestre do ano (http://www.iabspain.net/wp-content/uploads/downloads/2012/10/Estudio-Inversi%C3%B3n-S1-2012.
2
3
Espanha – A ficção resiste à crise | 275
canais públicos, que perderam 27,2%, diante de 15,1% dos privados. A redução do investimento publicitário se traduziu, por sua vez,
em uma diminuição de 10,1% no tempo dedicado aos comerciais e
de 13,5% no patrocínio. Por outro lado, a ocupação com televendas
se manteve estável e a autopromoção cresceu 11,5%4.
Os excelentes resultados da Eurocopa na Tele5 fizeram do
anúncio da cerveja Cruzcampo transmitido na partida entre Espanha e Croácia, em 18 de junho, o mais visto da história da televisão
(16.399.000 espectadores e 42,5%). O Prêmio Eficácia 2012, concedido pela AEA, foi para um comercial da Campofrío que homenageava o grande comediante espanhol Miguel Gila, e que permitiu
à conhecida marca de embutidos aumentar suas vendas em 11% e
superar os 33% de notoriedade publicitária5.
1.3. Merchandising e merchandising social
Como era de se esperar, a crise reabriu o debate sobre o possível retorno da publicidade à TVE, estimulado pelas críticas da
União de Televisoras Comerciais Associadas (Uteca) e da Associação Espanhola de Anunciantes (AEA) ao patrocínio dado a programas esportivos e culturais na televisão pública estatal. A inclusão de
logomarcas comerciais em alguns programas da TVE também foi
denunciada pela Uteca6.
Em abril, o governo anunciava que investiria 35,5 milhões de
euros em publicidade institucional em 2012, 56,0% a menos que
no ano anterior7. A televisão perdeu 8,8% em relação a 2011, enquanto o orçamento da internet crescia em 5,0%. No final do ano,
a entidade rede.es, ligada ao Ministério da Indústria, abriu uma licitação extraordinária com orçamento de 2,6 milhões de euros para
pdf).
4
Dados da CMT, relativos ao segundo trimestre (http://www.europapress.es/tv/noticia-ingresos-publicitarios-televisiones-cayeron-163-segundo-trimestre-20120920175622.
html).
5
http://anunciantes.com/ecos/efi12/Expansion_121031_48_84.pdf.
6
http://www.elmundo.es/elmundo/2010/04/19/comunicacion/1271680703.html.
7
http://www.elmundo.es/elmundo/2012/05/04/espana/1336092115.html.
276 | Obitel 2013
a campanha publicitária (em televisão, jornais e outdoors) do novo
“apagão” da TDT.
A redução do investimento publicitário e a redução das receitas
procedentes de SMS e das Call TV, como resultado dos smartphones, também propiciaram o interesse nas modalidades de promoção
mais econômicas, como, por exemplo, o patrocínio. Nessa linha, a
Chello Multicanal, maior produtora independente de canais temáticos para Espanha e Portugal, apostava, em outubro, na publicidade
não convencional ao adquirir a Diferencia-T Media, destinada a ampliar seu âmbito de atuação para a colocação de produto (product
placement), entretenimento e programas esportivos.
1.4. Políticas de comunicação
O ano iniciou com a aprovação da fusão entre Antena3 e LaSexta. Em agosto, o governo eliminava a obrigatoriedade de comercializar a publicidade de ambas em separado, imposta anteriormente, e aumentava para 22% a limitação da audiência semestral
média conjunta das ofertas de publicidade televisiva. Em primeiro
de outubro, a Atres Advertising, agência do grupo Antena3, assumia
também a publicidade da LaSexta.
A redução e a reordenação dos canais de TDT constituíram outro dos grandes temas do ano. No outono, o governo desencadeava
um novo processo de realocação de frequências para abrir caminho
para a telefonia móvel 4G, o qual repassava para os usuários o custo
do chamado “Dividendo Digital”: 1,4 milhão de antenas necessárias
para implementar a transformação. Por fim, após o acordo para a
concessão, por parte da Uteca, de um dos seis multiplex e da manutenção dos 24 canais de televisão, o custo do Dividendo Digital
foi reduzido de 800 para 300 milhões (em torno de 20 euros por
domicílio).
1.5. TV pública
No final do ano passado, o governo anunciava um recorte
de 200 milhões de euros (de 1,2 para 1 bilhão) no orçamento da
Espanha – A ficção resiste à crise | 277
RTVE, que o situava em um nível parecido ao de 20098. Em maio,
aprovava-se a reforma da lei da RTVE, que, entre outras mudanças
importantes, permitia escolher seu presidente por maioria absoluta. Nesse ano, os canais públicos autonômicos enfrentavam a crise
com uma diminuição significativa de suas receitas publicitárias e
um déficit crescente, embora a situação financeira variasse muito
de uma Comunidade Autônoma para outra, bem como os resultados
de audiência.
Em janeiro, o Executivo dava sinal verde à privatização dos canais autonômicos, por meio da elaboração de um decreto, aprovado
em abril, que permitia às Autonomias fechar, vender ou privatizar
uma parte ou todos os seus canais. Após as emendas da oposição, a
modificação da Lei 7/2000, de 31 de março, era aprovada definitivamente, em julho. A televisão da Comunidade de Múrcia, a 7RM,
a primeira a recorrer à privatização, começou a funcionar sob condições mínimas a partir de 1o de agosto (até acontecer o leilão, depois
de sete meses). Em setembro, a RTVA fechava a programação do
Canal Sul 2.
1.6. TV paga
O último relatório da Comissão do Mercado de Telecomunicações (CMT) indicava que, no final de 2011, a Espanha tinha cerca de
4,5 milhões de assinantes de TV paga, divididos da seguinte maneira: 1.756.200 (38,9%) na televisão por satélite; 1.464.000 (32,4%)
na televisão por cabo; 913.000 (20,2%) na TV-IP; e 383.700 (8,5%)
na TDT por assinatura9. Contudo, diante do crescimento experimentado esse ano pelas plataformas de televisão IP e pela TDT paga
(6,7% e 10,4%, respectivamente)10, o número de assinantes dimi-
Ver http://www.elmundo.es/elmundo/2011/12/30/comunicacion/1325261545.html.
Ver http://informecmt.cmt.es/docs/Informe%20economico%20sectorial/Servicios%20
audiovisuales%20CMT%202011.pdf.
10
As TVs por satélite e por assinatura se contraíram 0,9% e 2,9% em 2011, respectivamente. Ver http://informecmt.cmt.es/docs/Informe%20economico%20sectorial/Servicios%20audiovisuales%20CMT%202011.pdf
8
9
278 | Obitel 2013
nuiu em 100 mil entre junho e setembro11. Como se não bastasse,
o governo anunciava, em julho, as novas tarifas do imposto sobre
valor agregado (IVA), que, no caso dos serviços de TV por assinatura, perderiam a alíquota reduzida e passariam de 8% para 21%
a partir de 1o de janeiro de 2013, assim como o cinema, o teatro e
outros espetáculos.
Em maio, a Antena3 lançava um novo serviço de televisão paga
pela internet (“Modo Salón Premium”), que permite assistir ficção
com alta qualidade e sem publicidade por meio de micropagamentos
(assinatura de pré-estreias, conteúdos mensais ou acesso a conteúdos pontuais).
A delicada situação financeira do Grupo Prisa12 induziu, em
agosto, o Canal+, titular exclusivo para a Espanha dos direitos audiovisuais da Uefa, a dar à Telefônica Espanha a possibilidade de
oferecer aos seus clientes um novo canal (Canal+ Liga de Campeones) por meio de leilão.
No final de dezembro, a Vodafone Espanha decidia suspender todos os serviços de televisão para seus assinantes de ADSL e
de telefone celular (Vodafone TV e Internet TV, Canal+ e Canal+
Liga móvel), assim como os downloads de vídeo. Tentava-se evitar,
assim, o imposto instituído sobre as operadoras de telefonia móvel
em 2009 para financiar a RTVE após a eliminação da publicidade
(cerca de seis vezes mais do que a Vodafone recebia por seus serviços audiovisuais)13.
Ver http://www.europapress.es/tv/noticia-ingresos-publicitarios-televisiones-cayeron-163-segundo-trimestre-20120920175622.html.
12
O Grupo Prisa registrou perdas líquidas de 31,45 milhões de euros durante os nove
primeiros meses do ano, para um lucro de 17,93 milhões de euros no mesmo período
de 2011. Ver http://www.europapress.es/economia/noticia-economia-ampl-prisa-pierde-3145-millones-septiembre-frente-beneficio-179-millones-2011-20121029185328.
html.
13
Ver http://economia.elpais.com/economia/2012/12/21/actualidad/1356093018_696455.
html.
11
Espanha – A ficção resiste à crise | 279
1.7. Tendências das TICs
O fato de maior destaque na relação entre televisão e internet é,
este ano, o avanço da televisão móvel. Em fevereiro, a Antena3 se
adiantava, mais uma vez, ao resto das emissoras, com o lançamento
do ANT3.0, um aplicativo pioneiro na Espanha para conectar a televisão aos smartphones e aos tablets, visando à transmissão direta
e em tempo real.
A TVE também inaugurava o ano acrescentando ao seu extenso
arquivo audiovisual na internet os aplicativos para iPad e Android.
Paralelamente, lançava o novo aplicativo para tablets e smartphones, que permite acessar os mais de 75 mil vídeos de seu serviço
TV3alacarta, bem como assistir às transmissões diretas dos canais
TV3cat e 3/24. Em setembro, a Mediaset Espanha anunciava o lançamento do aplicativo Mitele, um app que concentra a maior oferta
on-line dos grupos audiovisuais espanhóis, com o qual a Antena3 já
contava desde novembro de 2011.
No momento em que estas linhas são escritas, a implantação
da TV de alta definição (High Definition, HD) continua avançando,
não isenta de polêmica, pois, embora as grandes redes teoricamente
ofereçam suas emissões em HD, a realidade é que boa parte das
mesmas não atinge o padrão europeu predeterminado (H264) que a
lei estabelece14.
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana
Neste ano foram exibidos na Espanha 32 títulos ficcionais de
produção nacional, 28 na TV aberta e dois na paga. A Antena3 é a
rede com mais estreias de ficção (13) e também a que menos emite
reprises (três). Por sua vez, A La1 é a terceira rede em número de
estreias, mas emitiu muito mais reprises que o resto (15).
Ver http://tecnologia.elpais.com/tecnologia/2012/04/22/actualidad/1335090218_87
6658.html.
14
280 | Obitel 2013
Tabela 1a. Ficções estatais exibidas em 2012
TÍTULOS ESTATAIS INÉDITOS
– 32
TÍTULOS IMPORTADOS INÉDITOS – 1
La1 - 6 títulos estatais
1. Águila roja (série)
2. Amar en tiempos revueltos (seriado)
3. Cuéntame cómo pasó (série)
4. Isabel (série)
5. Stamos okupa2 (série)
6. La memoria del agua (minissérie)
Antena3 - 13 títulos estatais
7. Bandolera (seriado)
8. Con el culo al aire (série)
9. El barco (série)
10. El secreto de Puente Viejo (seriado)
11. Fenómenos (série)
12. Gran Hotel (série)
13. Hispania, la leyenda (série)
14. Imperium (série)
15. Los protegidos (série)
16. Luna, el misterio de Calenda (série)
17. Toledo (série)
18. Marco (minissérie)
19. Historias robadas (minissérie)
Tele5 - 7 títulos nacionais
20. Aída (série)
21. Frágiles (série)
22. Hospital Central (série)
23. La fuga (série)
24. La que se avecina (série)
25. Mi gitana (minissérie)
26. Carmina (minissérie)
LaSexta - 1 título nacional
27. Crematorio (série)
Canal+ - 1 título nacional
28. Falcón (série)
Disney Channel - 1 título nacional
29. La gira (sketch)
Neox - 1 título nacional
30. Señoras que (sketch)
Nitro - 1 título nacional
31. Psicodriving (sketch)
TNT - 1 título nacional
32. Malviviendo (sketch)
Tele5 - 1 título importado
33. Cheers (série)
TÍTULOS DE REPRISE – 29
La1 - 15 títulos de reprise
1. Abuela de verano (série)
2. Al filo de la ley (série)
3. Ana y los siete (série)
4. Arroz y tartana (minissérie)
5. Celia (série)
6. Cuéntame cómo pasó (série)
7. El secreto de la porcelana (minissérie)
8. Entre naranjos (telefilme)
9. Guante blanco (série)
10. La señora (série)
11. La verdad de Laura (seriado)
12. Las cerezas del cementerio (telefilme)
13. Pelotas (série)
14. Severo Ochoa: la conquista de un
Nobel (telefilme)
15. Ramón y Cajal: historia de una voluntad (minissérie)
La 2 - 7 títulos de reprise
16. Celia (série)
17. Ciudad K (sketch)
18. Curro Jiménez (série)
19. Teresa de Jesús (minissérie)
20. La forja de un rebelde (minissérie)
21. La huella del crimen (telefilme)
22. Lorca, muerte de un poeta (minissérie)
Antena3 - 3 títulos de reprise
23. Con el culo al aire (série)
24. Gran Hotel (série)
25. Polseres vermelles (série)
Tele5 - 4 títulos de reprise
26. Aída (série)
27. Frágiles (série)
28. La que se avecina (série)
29. Parejología 3x2 (sketch)
TOTAL GERAL DE TÍTULOS
EXIBIDOS: 62
Fonte: Obitel Espanha
Espanha – A ficção resiste à crise | 281
As emissoras autonômicas exibiram 30 estreias e 42 reprises.
A TV3 é a rede com o maior número de títulos que incluem estreias
de ficção (13), ainda que a maior parte seja de filmes para TV (9).
O primeiro canal catalão teve 15 reprises, entre os quais aparecem
nove telefilmes, embora, em geral, as autonômicas façam muito
mais reprises de sua ficção própria que das nacionais.
Tabela 1b. Ficções autonômicas exibidas em 2012
TÍTULOS AUTONÔMICOS INÉDITOS-30
Canal9 - 1 título autonômico
1. L’alqueria blanca (série)
CanalSur -1 título autonômico
2. Arrayán (seriado)
ETB1 - 3 títulos autonômicos
3. Bi eta bat (série)
4. DBH (sketch)
5. Goenkale (seriado)
ETB2 - 1 título autonômico
6. La conspiración (telefilme)
IB3 - 1 título autonômico
7. L’anell (serial)
Telemadrid - 2 títulos autonômicos
8. Lo que yo te diga (sketch)
9. Todo es posible en el bajo (série)
TV3 - 13 títulos autonômicos
10. Gran nord (série)
11. KMM (série)
12. La Riera (seriado)
13. Germanes (telefilme)
14. Tornarem (minissérie)
15. Concepció Arenal (telefilme)
16. Atrapats (telefilme)
17. Codi 60 (telefilme)
18. Lluna plena (telefilme)
19. Mar de plàstic (telefilme)
20. Tocant el mar (telefilme)
21. Violetes (telefilme)
22. La síndrome de cacareco (telefilme)
TVCanarias - 1 título autonômico
23. La revoltosa (série)
TVG - 7 títulos autonômicos
24. Era visto (sketch)
25. Escoba (série)
26. Libro de familia (série)
27. Matalobos (série)
Nou2 - 4 títulos de reprise
6. Negocis de familia (série)
7. Altra oportunitat (série)
ETB1 -7 títulos de reprise
8. Arregitamak (série)
9. Balbemendi (série)
10. Bietabat (série)
11. DBH (sketch)
12. Goenkale (seriado)
13. Martin (série)
14. Mugaldekoak (série)
ETB2 -1 título de reprise
15. Euskolegas (série)
IB3 - 2 títulos de reprise
16. Llàgrima de sang (serial)
17. Mossén capellà (série)
TV3 - 15 títulos de reprise
18. El criminal (telefilme)
19. La memoria dels cargols (série)
20. Majoria absoluta (série)
21. Plats bruts (série)
22. Polseres vermelles (série)
23. Porca miseria (série)
24. Ventdelplà (serial)
25. El cas Reiner (telefilme)
26. La balada de l’estret (telefilme)
27. L’edèn (telefilme)
28. Connexió (telefilme)
29. Menjar per a gats (telefilme)
30. Perduts (telefilme)
31. Psiquiatres, psicòlegs i alters malalts (telefilme)
32. Tornar a casa (telefilme)
33 -1 título de reprise
33. La Riera (seriado)
TVCanarias - 2 títulos de reprise
34. La revoltosa (série)
35. Mañana es para siempre (seriado)
282 | Obitel 2013
TVCanarias2 - 1 título de reprise
36. Profesor en La Habana (série)
TVG - 4 títulos de reprise
37. Era visto (sketch)
38. Libro de familia (série)
39. Padre Casares (série)
40. Valderrei (série)
TVG2 - 2 títulos de reprise
41. Terra de Miranda (série)
42. Matalobos (série)
28. Padre Casares (série)
29. Vacas, porcos e zapatos de tacón
(telefilme)
30. Outro mais (telefilme)
TÍTULOS DE REPRISE – 43
CMT - 2 títulos de reprise
1. Arrayán (seriado)
2. Padre Casares (série)
Canal9 - 3 títulos de reprise
3. Géminis (seriado)
4. Senyor retor (série)
5. Socarrats (sketch)
TOTAL GERAL TÍTULOS EXIBIDOS: 73
Fonte: Obitel Espanha
As estreias de ficção nacionais abrangem 33 programas de
produção espanhola, quatro ibero-americanos e uma coprodução
entre Espanha e Estados Unidos, a adaptação da comédia Cheers
(NBC, 1982-1983)15. Em 2012, foram transmitidos 1.322 episódios/
capítulos ao longo de 1.237 horas e 55 minutos. Um dos programas
ibero-americanos também é uma coprodução, embora, nesse caso, a
Espanha não participe. Trata-se da telenovela Corazón apasionado
(Estados Unidos e Venezuela).
Tabela 2a. As estreias de ficção nacional em 2012: países de origem
País
NACIONAL (total)
IBERO-AMERICANA (total)
Argentina
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
Espanha
EUA (produção hispânica)
México
Títulos
33
4
–
–
–
–
–
33
3
2
%
89,2
10,8
–
–
–
–
–
84,6
7,7
5,1
Cap./
Epis.
970
296
–
–
–
–
–
970
142
156
%
Horas
%
76,6
23,4
–
–
–
–
–
73,4
10,7
11,8
898:25
284:30
–
–
–
–
–
898:25
123:40
161:50
75,9
24,1
–
–
–
–
–
72,6
10,0
13,1
15
A segunda coprodução espanhola de 2012 é a série Falcón, realizada com Alemanha e
Grã-Bretanha e transmitida pela emissora de TV por assinatura Canal+.
Espanha – A ficção resiste à crise | 283
Peru
Portugal
Uruguai
Venezuela
Latino-americana (âmbito Obitel)
–
–
–
1
6
–
–
–
2,6
–
–
–
–
54
–
–
–
–
4,1
–
–
–
–
54:00
–
–
–
–
4,4
–
Latino-americana (âmbito
não Obitel)
–
–
–
–
–
–
2
5,1
56
4,2
55:00
4,4
Outras (produções e coproduções) de outros países latino-am./
ibero-am.)
TOTAL
39
100,0 1.322 100,0 1.237:55
100,0
Fonte: Obitel Espanha
O número total de estreias de ficção nacionais e autonômicas é
70, o que inclui as 37 nacionais mencionadas acima e as 33 autonômicas. Estas últimas incluem 30 programas espanhóis e três ibero-americanos.
Tabela 2b. As estreias de ficção nacionais e
autonômicas em 2012: países de origem
Títulos
NACIONAL E AUTONÔMICA (total) 63
IBERO-AMERICANA (total)
7
Argentina
–
Brasil
–
Chile
–
Colômbia
1
Equador
–
Espanha
63
EUA (produção hispânica)
3
México
2
Peru
–
Portugal
–
Uruguai
–
Venezuela
3
Latino-americana (âmbito Obitel)
9
%
Horas
%
90,0
10,0
–
–
–
1,4
–
87,5
4,2
2,8
–
–
–
4,2
12,5
Cap./
Epis.
1.778
655
–
–
–
60
–
1.778
142
156
–
–
–
353
711
73,1
26,9
– – – 2,4
– 71,4
5,7
6,3
– – – 14,2
28,6
1.519:00
531:40
–
–
–
40:00
–
1.519:00
123:40
161:50
–
–
–
261:10
586:40
74,1
25,9
– – – 1,9
– 72,1
5,9
7,7
– – – 12,4
27,9
–
–
–
– –
– 2
2,8
56
2,2
55:00
2,6 País
Latino-americana (âmbito não Obitel)
Outras (produções e coproduções) de
outros países latino-am./ibero-am.)
IBERO-AMERICANA (total)
Fonte: Obitel Espanha
72
%
100,0 2.489 100,0 2.105:40 100,0
284 | Obitel 2013
Os três seriados de produção própria, que vão ao ar de segunda
a sexta-feira à tarde, determinam o elevado número de episódios/
capítulos (708) no horário nobre (219), consequência, também, do
menor número de estreias e da drástica redução de produções por
temporada. As telenovelas também vão ao ar sempre à tarde.
A pauta de duas transmissões semanais dos seriados autonômicos (à exceção de A Riera, da TV3) explica, por sua vez, o equilíbrio entre as emissões da tarde (916) e as do horário nobre (817) do
conjunto estatal e autonômico. Diferentemente, as telenovelas das
redes autonômicas quase duplicam a quantidade de horas da tarde
em relação às do horário nobre.
A diminuição do número de títulos nacionais (11 a menos que
em 2011) é mais intensa nos formatos nobres do que nas séries, o
que minimiza a diferença no número de horas dedicadas às estreias
de ficção em relação ao ano passado (898 horas e 25 minutos, em
comparação com 1.012 horas e 35 minutos de 2011).
A mesma pauta se repete em relação ao total de ficção própria,
estatal e autonômica, pois os sete títulos menos emitidos este ano
representam apenas uma redução de 83 horas e 30 minutos com relação a 2011.
C/E
–
708
219
43
970
Estatais
%
H
%
–
–
–
73,0 614:10 68,4
22,6 255:10 28,4
4,4
29:05
3,2
100,0 898:25 100,0
C/E
–
296
–
–
296
Ibero-Americanas
%
H
%
–
–
–
100,0 284:30 100,0
–
–
–
–
–
–
100,0 284:30 100,0
Total
C/E
%
–
–
1.004 79,3
219
17,3
43
3,4
1.266 100,0
H
–
898:40
255:10
29:05
1.182:55
Fonte: Obitel Espanha
Manhã (6:00-15:00)
Tarde
(15:00- 21:00)
Horário nobre (21:00-23:00)
Noite (23:00-6:00)
TOTAL
Faixas horárias
Estatais e Autonômicas
Ibero-Americanas
C/E
%
H
%
C/E
%
H
%
–
–
–
–
–
–
–
–
916
51,5
774:35
51,0 655 100,0 531:40 100,0
817
46,0
712:30
46,9
–
–
–
–
45
2,5
32:55
2,1
–
–
–
–
1.778 100,0 1.519:00 100,0 655 100,0 531:40 100,0
Total
C/E
%
–
–
1.571
64,6
817
33,6
45
1,8
2.433 100,0
H
–
1.306:15
712:30
32:55
2.050:40
Tabela 3b. Capítulos/Episódios e horas transmitidos por faixa horária nacional e autonômica
Fonte: Obitel Espanha
Manhã (6:00-15:00)
Tarde
(15:00- 21:00)
Horário nobre (21:00-23:00)
Noite (23:00-6:00)
TOTAL
Faixas horárias
Tabela 3a. Capítulos/Episódios e horas emitidos por faixa horária estatal
%
–
63,7
34,7
1,6
100,0
%
–
76,0
21,6
2,5
100,0
Espanha – A ficção resiste à crise | 285
Fonte: Obitel Espanha
Novela
Série
Minissérie
Telefilme
Outros (Sketchs)
TOTAL
Formatos
Fonte: Obitel Espanha
Telenovela
Série
Minissérie
Telefilme
Outros (Sketchs)
TOTAL
Formatos
%
9,1
63,6
15,2
–
12,1
100,0
Estatais
Cap./Ep.
%
Horas
% Títulos
681
70,2 609:40 67,9
4
222
22,9 258:20 28,8
–
10
1,0
12:30
1,4
–
–
–
–
–
–
57
5,9
17:55
2,0
–
970
100,0 898:25 100,0
4
%
100,0
–
–
–
–
100,0
Ibero-Americanas
Cap./Ep.
%
296
100,0
–
–
–
–
–
–
–
–
296
100,0
Títulos
7
31
6
12
7
63
%
11,1
49,2
9,5
19,0
11,1
100,0
Nacionais e Autonômicas
Cap./Ep.
%
Horas
1.152
64,8
956:40
444
25,0
470:20
12
0,7
15:20
12
0,7
17:30
158
8,9
59:10
1.778
100,0 1.519:00
%
63,0
31,0
1,0
1,2
3,9
100,0
Horas
%
284:30 100,0
–
–
–
–
–
–
–
–
284:30 100,0
Ibero-Americanas
Títulos
%
Cap./Ep.
%
Horas
%
7
100,0
655
100,0 531:40 100,0
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
7
100,0
655
100,0 531:40 100,0
Tabela 4b. Formatos da ficção nacional, autonômica e ibero-americana
Títulos
3
21
5
–
4
33
Tabela 4a. Formatos da ficção nacional e ibero-americana
286 | Obitel 2013
Espanha – A ficção resiste à crise | 287
As séries, as minisséries e os filmes para TV são sempre programados em horário nobre, exceto algumas minisséries de dois capítulos exibidos em sequência ou algumas séries deslocadas para o
horário noturno em função dos resultados insatisfatórios em termos
de audiência dos episódios apresentados no horário nobre.
Tabela 5a. Formatos da ficção estatal por faixa horária
Formatos
Novela
Série
Minissérie
Telefilme
Outros
(sketch)
TOTAL
MaTar%
nhã
de
%
PT
%
Noite
%
Total
%
–
–
–
–
3
–
–
–
60,0
–
–
–
–
19
5
–
–
76,0
20,0
–
–
2
–
–
66,7
–
3
21
5
–
9,1
63,6
15,2
–
–
2
40,0
1
4,0
1
33,3
4
12,1
5
100,0
25
100,0
3
100,0
33
100,0
Fonte: Obitel Espanha
Tabela 5b. Formatos da ficção nacional e
autonômica por faixa horária
Formatos
Telenovela
Série
Minissérie
MaTar%
%
nhã
de
–
–
4
33,3
–
–
–
–
–
–
–
–
PT
Noi%
% Total
Time
te
3
6,5
–
–
7
29
63,0
2
40,0
31
6
13,0
–
–
6
%
11,1
49,2
9,5
Filme para TV
–
–
6
50,0
4
8,7
2
40,0
12
19,0
Outros (sketch)
–
–
2
16,7
4
8,7
1
20,0
7
11,1
TOTAL
–
–
12
100,0
46
100,0
5
100,0
63
100,0
Os efeitos da crise e o menor número de minisséries e filmes
para TV repercutem no número de produções nacionais ambientadas no passado, que, este ano, reduziram-se à metade, assim como
ocorre com a ficção autonômica. Por sua vez, a ficção nacional dobra, este ano, a oferta de ficção histórica, que passa de um único
título para dois, o mesmo número das emissoras autonômicas.
288 | Obitel 2013
Tabela 6a. Época da ficção nacional
Época
Presente
Passado
Histórica
Outra
TOTAL
Títulos
20
10
2
1
33
%
60,6
30,3
6,1
3,0
100,0
Fonte: Obitel Espanha
Tabela 6b. Época da ficção nacional e autonômica
Época
Presente
Passado
Histórica
Outra
TOTAL
Títulos
45
13
4
1
63
%
71,4
20,6
6,3
1,6
100,0
Fonte: Obitel Espanha
Águila roja lidera pela quarta vez consecutiva o ranking anual,
integrado também pelas longevas séries Cuéntame cómo paso, La
que se avecina e Aída. Gran Hotel também situa sua segunda temporada entre os dez programas mais vistos do ano, e são acrescentados cinco títulos novos.
Tabela 7a. Os dez títulos nacionais mais vistos:
origem, rating, share
Título
Origem
da ideia
original/
roteiro
Águila
roja
Espanha
Cuénta2 me cómo
pasó
Espanha
La que se
avecina
Espanha
1
3
ProduCanal
tora
GloboTVE1
media
Grupo
Ganga
TVE1
Producciones
Alba
Adriá- Tele5
tica
Roteirista
ou autor da
ideia original
Audiência
RaShare
ting
D. Écija, J.C.
6.074.333 13,8
Cueto
M. Á. Bernardeu
A. Caballero
29,8
5.017.750 11,4
24,8
4.215.222
22,7
9,6
Espanha – A ficção resiste à crise | 289
DiagoTVE1 Isla de Babel 4.079.916
nalTV
ProducA. Hernández
ciones
Tele5 Centeno y C. 3.590.666
MandaPombero
rina
GloboN. García
Tele5
3.353.891
media
Velilla
4 Isabel
Espanha
5 Mi gitana
Espanha
6 Aída
Espanha
Con el
7 culo al
aire
Espanha
Notro
TV
Fenóme8
nos
Gran
Hotel
9
9,3
19,7
8,2
19,4
7,6
16,5
A3
D. Fernández
3.210.923
y D. Abajo
7,3
17,2
Espanha
Aparte
Producciones
A3
N.G. Velilla,
O. Capel, A.
3.160.750
Sánchez, D.S.
Olivas
7,2
16,6
Espanha
Bambú
producciones
A3
R. Campos,
G.R. Neira
2.805.750
6,4
14,7
A3
L. Belloso, 2.790.000
D. Bermejo
6,3
15,3
Luna, el
misteGloboEspanha
rio de
media
Calenda
Total de produções: 10
100%
Fonte: Obitel Espanha
10
Roteiros estrangeiros: 0
0%
Seis dos programas autonômicos mais vistos do ano são da
TV3, três dos quais lideram a classificação anual, tanto em termos
absolutos quanto relativos (Tabela 7b).
Tabela 7b. Os dez títulos autonômicos mais vistos:
origem, rating, share
1
2
3
4
Título
Ideia/
roteiro
Produtora
Canal
La Riera
Espanha
TVC
TV3
D. Plana
500.000
7,2
24,9
TV3
C. Gené
481.000
6,9
16,1
TV3
P. Garsaball, M.
Grau
474.000
6,8
17,3
CanalSur
E. Galdo
424.000
5,4
11,8
Veranda.
Gran Nord Espanha tv, Portocabo
Brutal Media, ICIC,
Tornarem Espanha
ICAA,
TVC
Arrayán
Espanha
Linze TV
Roteirista Milhaou autor res
Ra- Shating re
290 | Obitel 2013
5
Kubala,
Moreno i
Manchón
Espanha
DiagonalTV
TV3
J. Olivares,
418.000
A. Schaaff
6,0
13,8
6
Germanes
Espanha
TVC,
Focus,
Ovídeo
TV, ICIC
TV3
C. López y
412.000
À. Mañas
5,9
14,5
7
L'alquería
blanca
Espanha
RTVV
Canal9
8
Concepción Arenal
Espanha
Diagonal
TV y TVC
TV3
9
Padre
Casares
Espanha
Voz audiovisual
TVG
Libro de
Ed. ComEspanha
familia
postela
Total de produções: 10
100%
Fonte: Obitel Espanha
10
TVG
J. Prats, D.
Bra400.773 8,4 17,2
guinsky, O.
Martí
R. Russo y
263.000 3,8 9,4
L. Mañá
R. Campos,
E. Mon188.000 7,1 16,8
tero, G.
Neira
J. M. Bes176.000 6,6 16,2
teiro
Roteiros estrangeiros: 0
0%
Nove dos dez programas mais vistos em 2012 são séries apresentadas no horário nobre, embora com um número variável de episódios (que oscila entre os 38 de Aída e os três de Águila roja). Por
outro lado, o leque de gêneros é mais amplo, com quatro comédias,
três dramas, uma tragicomédia, uma “fantasia” e uma série de aventuras.
Tabela 8a. Os dez títulos estatais mais vistos:
formato, duração, faixa horária
Título
Formato
Gênero
Cap./Ep. Primeira e última
(2012) apresentação (2012)
1
Águila roja
Série
Aventuras
3
09/01 a 23/01
2
Cuéntame
cómo pasó
Série
Tragicomédia
4
12/01 a 02/02
3
La que se
avecina
Série
Comédia
10
01/10 a 26/11 (cont.)
4
Isabel
Série
Drama
13
10/09 a 03/12
Faixa
horária
Horário
nobre
Horário
nobre
Horário
nobre
Horário
nobre
Espanha – A ficção resiste à crise | 291
5
Mi gitana
Minissérie
Drama
3
05/03 a 19/03
6
Aída
Série
Comédia
38
08/01 a 23/12
7
Con el culo
al aire
Série
Comédia
13
01/02 a 16/05
8
Fenômenos
Série
Comédia
4
27/11 a 18/12 (cont.)
9
Gran Hotel
Série
Drama
8
03/10 a 21/11
Fantasia
12
10/04 a 20/06
Luna, el
misterio de
Série
Calenda
Fonte: Obitel Espanha
10
Horário
nobre
Horário
nobre
Horário
nobre
Horário
nobre
Horário
nobre
Horário
nobre
Por outro lado, os top ten autonômicos incluem uma variedade
de formatos maior que os nacionais, enquanto o espectro de gêneros
se reduz a sete dramas, duas comédias e um policial. Curiosamente,
o seriado de TV3 A Riera, o único programa que não é apresentado
em horário nobre, lidera o ranking anual.
Tabela 8b. Os dez títulos autonômicos mais vistos:
formato, duração, faixa horária
Título
Formato
Gênero
1
2
3
4
La Riera
Seriado
Drama
Gran Nord
Série
Comédia
Tornarem Minissérie Drama
Arrayán
Seriado
Drama
Kubala,
5 Moreno i
Série
Policial
Manchón
6 Germanes Telefilme Drama
L'alquería
7
Série
Drama
blanca
Cap./
Ep.
(2012)
Primeira e última
apresentação
(2012)
Faixa horária
202
13
2
147
09/01 a 21/12 (cont.)
Tarde
07/05 a 30/07
Horário nobre
16/04 a 23/04
Horário nobre
02/01 27/12 (cont.) Horário nobre
23
09/01 a 05/12 (cont.) Horário nobre
1
08/01
Horário nobre
22
01/01 a 10/06
Horário nobre
Drama
1
19/12
Horário nobre
8
ConcepTelefilme
ción Arenal
9
Padre
Casares
Série
Comédia
31
02/01 a 24/12 (cont.) Horário nobre
10
Libro de
familia
Série
Drama
30
01/01 a 30/12 (cont.) Horário nobre
Fonte: Obitel Espanha
292 | Obitel 2013
O amor é o ingrediente essencial de todos os programas nacionais, que também dão muito espaço à amizade e aos conflitos. As
questões sociais combinam temáticas atemporais da ficção espanhola, como a discriminação da mulher ou a homossexualidade, com
outras de atualidade candente, como, por exemplo, a precariedade
do trabalho, a crise imobiliária ou a eutanásia.
Tabela 9a. Temáticas nos dez títulos nacionais mais vistos
Títulos
1
Águila roja
2
Cuéntame
cómo pasó
3
La que se
avecina
4
Isabel
5
Mi gitana
6
Aída
7
Con el culo al
aire
8
Fenómenos
9
Gran Hotel
Luna, el
10 misterio de
Calenda
Fonte: Obitel Espanha
TEMÁTICAS
PREDOMINANTES
Poder, intrigas políticas,
amor, heroísmo, traição.
TEMÁTICAS SOCIAIS
Classismo, corrupção política, conflitos de geração, eutanásia.
Democracia, igualdade de gênero,
Família, trabalho, amor,
direitos dos trabalhadores, conflitos
ascensão social, amizade.
de geração, vício em jogos.
Relações entre vizinhos,
Precariedade do trabalho, crise
amor, inveja, amizade, imobiliária, famílias desestruturadas,
convivência.
crise econômica, fraudes.
Amor, vinganças, comp- Política, monarquia, religião, gênero,
lôs, ambição, poder.
casamentos de conveniência.
Amor, fama, ódio, vinCorrupção política, assédio midiágança, cobiça, traição.
tico.
Amor, família, amizade,
Precariedade do trabalho, margiconvivência, relações
nalidade, delinquência, xenofobia,
entre vizinhos.
homossexualidade.
Relações entre vizinhos,
Precariedade do trabalho, crise
amor, inveja, amizade,
imobiliária, homossexualidade, crise
convivência.
econômica, solidariedade.
Relações profissionais,
Crise econômica, crise imobiliária,
amor, amizade, paranor- precariedade do trabalho, homossemalidade, convivência.
xualidade, discriminação da mulher.
Amor, intriga, poder,
Desigualdade, luta de classes,
infidelidade, relações de
precariedade do trabalho, gravidez
trabalho.
indesejada, conflitos de geração.
Amor, amizade, intriga,
Justiça, deficiência, mãe solteira,
investigação, infideliadolescência, delinquência.
dade.
A crise e a eutanásia também aparecem na ficção autonômica,
junto a questões mais inovadoras, como os despejos.
Espanha – A ficção resiste à crise | 293
Tabela 9b. Temáticas nos dez títulos autonômicos mais vistos
Títulos
TEMÁTICAS
PREDOMINANTES
Amor, infidelidade,
conflitos familiares, corrupção, delinquência.
Relações profissionais,
relações entre vizinhos,
2 Gran Nord
diferenças rurais e
urbanas.
Amor, ódio, guerra,
3 Tornarem
violência, infidelidade.
Amor, infidelidade,
4 Arrayán
relações de trabalho,
manipulação, traição.
Relações de trabalho,
Kubala, More5
investigação, família,
no i Manchón
depressão, crimes.
Família, segredos, amor,
6 Germanes
morte, solidão.
L'alquería
Família, trabalho, amor,
7
blanca
infidelidade, vingança.
Inocência, culpabilidade,
Concepción
8
delinquência, poder,
Arenal,
subornos.
Dupla moral, religião,
rumores infundados,
9 Padre Casares
amor, conflito entre tradição e modernidade.
Libro de
Família, trabalho, amor,
10
familia
infidelidade, dívidas.
1
La Riera
TEMÁTICAS SOCIAIS
Homossexualidade, barriga de aluguel, despejos, velhice, doença.
Justiça, forças da lei, democracia.
Vencidos, memória histórica, exílio,
ditadura, solidariedade.
Dificuldades de trabalho, velhice,
conciliar vida profissional e pessoal,
corrupção, gravidez indesejada.
Crise, delinquência, imigração,
velhice, doença.
Doença, vícios, velhice, homossexualidade, adoção. Desigualdade, emigração, velhice,
doença, movimentos políticos.
Pena de morte, direitos de mulher,
ativismo social, agressões sexuais,
maternidade na prisão.
Conflitos políticos, dificuldades econômicas, maternidade, adoção, crise.
Desigualdade, luta de classes, problemas econômicos, imigração, velhice.
Fonte: Obitel Espanha
3. A recepção transmidiática
Desde sua estreia em 2011, a série El barco (Antena3) vem
apostando na transmidialidade, no desenvolvimento de uma estratégia de promoção de plataformas múltiplas que inclui, entre outras extensões à web 2.0, os “twittersódios”16. Esta parte, dedicada à
análise dos recursos mobilizados por El barco na internet, examina
o tipo de interação que é proposta, os níveis de interatividade e as
Emitidos em temporadas anteriores, tratava-se de episódios de uma hora de duração,
oferecidos no Twitter, que complementavam as tramas da ficção televisiva através dos
tweets dos personagens (não dos intérpretes) nessa rede social.
16
294 | Obitel 2013
práticas dominantes dos usuários nas páginas oficiais17. A segunda
parte da análise está centrada nos discursos dos fãs na rede social
Facebook18.
Tabela 11. A ficção transmidiática: tipos de interação e de práticas
predominantes
Ficção
El
barco
Rede
Antena3
Tipo de interação
transmidiática
Níveis de
interatividade
Site oficial
Visualização
transmidiática
Ativa
Facebook
oficial
Interativa
Ativa
Interativa em
tempo real
Ativa
Páginas da
internet
Twitter oficial
Práticas predominantes dos
usuários
História
Intérpretes
Críticas
Humor
Atualidade
Audiências
Os dados listados na Tabela 11 sugerem que o “formato da página” (site, Facebook, Twitter) influencia o tipo de interação transmidiática da ficção televisiva. As características do meio web, mais
flexível com relação à diversidade de conteúdos que pode oferecer, transformam esse tipo de página no mais adequado para oferecer uma visualização transmidiática. No caso de El barco, o site
oficial permite que os usuários assistam a episódios e publiquem
comentários, ao mesmo tempo em que facilita o acesso às redes sociais. Além disso, oferece produtos exclusivos, como as figurinhas
digitais da série, os videoencontros com os intérpretes ou vídeos
do making of. Também inclui concursos e promoções de diferentes
artigos de merchandising (livros, DVD).
Observa-se uma diferença entre Facebook e Twitter, com relação ao tipo de interação transmidiática. Os dados apresentados
destacam a especialização das redes sociais, que adotam papéis
complementares de uma mesma estratégia de promoção da ficção.
Enquanto no Facebook os usuários tendem a comentar antes e de17
Lista de 150 comentários (50 por página), coincidindo com a transmissão do último
episódio do ano (21 de dezembro de 2012).
18
Lista de 375 comentários de usuários durante a semana anterior à transmissão do último
episódio do ano (de 13 a 20 de dezembro de 2012).
Espanha – A ficção resiste à crise | 295
pois da apresentação do episódio, no Twitter se observa um processo de multitasking. No Facebook, os administradores tentam
gerar expectativa antes do episódio, por exemplo, pedindo que os
seguidores compartilhem uma imagem que afirme que essa noite
assistirão à ficção. Depois da apresentação, proporcionam acesso,
entre outras coisas, a alguns vídeos sobre os “melhores momentos”,
o que facilita um debate relacionado com o enredo. No Twitter, os
usuários comentam a série enquanto assistem, usando a hashtag recomendada pela rede (#elbarco ou essa hashtag com o número do
episódio). Além disso, as mensagens dessa rede social são muito
mais curtas que as do Facebook, devido à limitação de caracteres.
Independentemente do “formato web” e do tipo de interação
transmidiática oferecida nas páginas, constata-se que a interatividade dos seguidores de El barco pode ser qualificada de “ativa”. Mas,
embora reajam aos estímulos apresentados (sobretudo no Facebook,
onde respondem, com frequência, aos comentários publicados pelos
administradores), não se encontram níveis de atividade criativa, ou
seja, não se transformam em produtores de novos conteúdos.
Os discursos dos internautas seguem as mesmas tendências detectadas na análise do ano anterior. Os temas mais recorrentes se
referem à história, aos seus enredos e protagonistas, e se lamenta,
acima de tudo, a morte de algum personagem. Os fãs também falam
de seus atores preferidos e manifestam sua preocupação pela paulatina redução da audiência, que poderia colocar em risco a continuidade da série (como de fato ocorreu). As críticas são de vários tipos,
mas a maioria gira em torno de dois temas: o rumo que tomam as
tramas e a falta de verossimilhança de alguns ingredientes dos relatos. Assim, critica-se a colocação de produto de marca de refrigerantes, bem como a construção de cenários pouco críveis dentro de um
barco, como um ringue de boxe. A emissão do último episódio do
ano, no qual os tripulantes e os passageiros do barco chegavam finalmente a terra firme depois de mais de duas temporadas, também
coincidiu com o suposto fim do mundo “previsto” pela civilização
Maia. Isso deu lugar a comentários humorísticos de “atualidade” no
296 | Obitel 2013
Twitter, que relacionavam ambas as situações. Por exemplo: “Esse
pessoal do #ElBarco encontra terra quando, para nós, o mundo acaba. Vai ser sacana assim na... #ElBarco36 #ConfesionesFinDelMundo” (vicmuz_).
3.1. Os discursos de El barco no Facebook
A página oficial no Facebook de El barco tem 587.314 seguidores, 16.714 dos quais “falam” sobre a série19. Durante a semana
analisada, os administradores publicaram 15 comentários oficiais,
que geraram 546 respostas dos internautas, 9.336 “curtir”, e foram
compartilhados em 350 ocasiões. O post oficial que teve mais “curtir” (1.764) e que foi mais compartilhado (132) é uma fotografia da
atriz Blanca Suárez na capa de uma revista. Por outro lado, o post
com maior número de comentários (130) fazia alusão à morte de um
dos personagens no episódio desse dia e sugeria que as pessoas assistissem novamente aos “melhores momentos” no site da Antena3.
A função poética estrutura a maioria dos comentários dos usuários de Facebook, que falam com frequência dos enredos e dos
personagens da história. Esse tipo de mensagem também inclui,
com frequência, elementos que criticam ou elogiam a ficção (função
emotiva). Entre as críticas mais habituais, os internautas destacam
a “pior qualidade” da temporada que está sendo apresentada com
relação às anteriores, bem como a “pena” que sentem quando um
dos personagens é assassinado e sua história de amor é interrompida. A colocação de produto mencionada anteriormente gera queixas
relacionadas com o realismo do programa (função metalinguística).
Os internautas questionam, sobretudo, o estoque de refrigerantes e
comida do barco, que parece ser ilimitado. Os espectadores, por sua
vez, raramente usam o Facebook para refletir sobre si mesmos, e a
função conativa se traduz, com frequência, em mensagens nas quais
se manifesta a intenção de continuar assistindo à ficção ou não. As
perguntas mais recorrentes costumam estar relacionadas à função
19
Dados coletados em 17 de fevereiro de 2013.
Espanha – A ficção resiste à crise | 297
fática, já que pedem informações sobre como assistir à série em outros países ou sobre qual canal a transmite. Por último, a função referencial na amostra analisada está intimamente relacionada com as
estratégias de promoção da ficção. Assim, por exemplo, 33 pessoas
respondem a uma solicitação dos administradores para que votem
em El barco no ranking anual da Antena3, e, como já apontamos, o
que obteve mais “curtir” foi a foto de uma das protagonistas.
4. O mais destacado do ano
A La1 lidera a ficção própria por mais um ano, apesar de cair
para o terceiro lugar no ranking e do exíguo número de programas
levados ao ar em 2012 (seis), que lhe dão uma média de 3.446.119
espectadores (18,8%). Além disso, seus dois grandes ativos, Águila roja (6.074.333 e 29,8%) e Cuéntame cómo pasó (5.017.750 e
24,8%) lideram a classificação, distanciando-se do resto ao terem
superado os 5 milhões de espectadores.
A emissora pública também acerta com a estreia mais espetacular do ano, uma série sobre Isabel, a Católica (Isabel), cuja audiência
(4.079.916 espectadores e 19,7%) e excelentes críticas lhe valeram
a renovação para mais uma temporada. Os resultados da minissérie
La memoria del agua (2.271.000 e 13,5%) também são positivos,
levando-se em conta que os dois capítulos que a integram foram
transmitidos em sequência, com a conseguinte queda no número de
espectadores do segundo no horário noturno. Finalmente, cabe lembrar que o longevo seriado Amar en tiempos revueltos se despedia
da grade da La1, em dezembro, com resultados de audiência espetaculares (2.729.668 e 21,1%) após sete anos no ar20.
As comédias La que se avecina (4.215.222 e 22,7%) e Aída
(3.353.891 e 16,5%) sustentaram, mais uma vez, as ficções da Tele5,
cujos oito programas de 2012 registram uma média de 2.473.000
espectadores (14,8%). Os filmes biográficos (biopics) sobre Isabel
Pantoja, Mi gitana (3.560.666 espectadores e 19,4%) e Carmina OrAmar en tiempos revueltos será transmitida na Antena3, a partir de 14 de janeiro de
2013, com o título Amar es para siempre.
20
298 | Obitel 2013
dóñez, Carmina (2.787.500 espectadores e 16,6%) dão continuidade ao bom momento desse subgênero, ao contrário da acolhida morna das séries Frágiles (1.683.500 espectadores e 13,2%), um drama
sobre a complexidade da psique humana, e La fuga (1.948.333 e
11,2%), um thriller futurista de impecável realização. Ainda assim,
esta última foi incluída na Wit List do MIPTV21 de Cannes, celebrado em abril, e foi trending topic no Twitter com alguns de seus
episódios.
A Antena3 é a rede com maior número de ficções de produção
própria em 2012 (13). Sua audiência média (2.379.000 e 13,8%)
situa-se apenas um ponto abaixo da média da Tele5, e é a que oferece um leque mais amplo de formatos e gêneros. Mas, diferentemente da rede da Mediaset, duas das estreias do ano são as que lhe
proporcionam melhores resultados, as comédias Con el culo al aire
(3.210.923 e 17,2%), sobre o dia a dia de um grupo de pessoas que
sobrevivem como podem, e Fenómenos (3.160.750 espectadores e
16,5%), ambientada em torno de um programa radiofônico sobre
fenômenos paranormais. O terceiro acerto da emissora da Planeta
nesta temporada foi a incursão no gênero fantasia, com Luna, el
misterio de Calenda (2.790.000 espectadores e 15,3%), uma história
de homens-lobo com reminiscências da saga Crepúsculo e grande
abundância de cenários externos. A segunda temporada de Gran
Hotel (2.805.750 espectadores e 14,7%), a alternativa espanhola à
britânica Downton Abbey (que a Antena3 também transmite), e a terceira e última temporada do drama de aventuras El barco (2.788.333
espectadores e 15,2%) também obtêm bons resultados de audiência.
Em conjunto, houve apenas duas estreias que não se conectaram em absoluto com o público. Cheers (268.500 espectadores e
6,9%), a adaptação espanhola da comédia norte-americana homônima, ocupa o último lugar no ranking das transmissões estatais na
TV aberta, por mais que a Tele5 tenha se apressado em retirá-la
da programação depois de seus dois primeiros episódios. Imperium
21
Marché International des Programmes de Télévision.
Espanha – A ficção resiste à crise | 299
(1.469.833 espectadores e 9,1%), o spin off (derivado) de Hispania
(2.284.666 espectadores e 13,3%), ambientado na conquista romana, não convenceu desta vez, com sua versão de baixo orçamento do
passado, razão pela qual a Antena3 liquidou sua primeira e última
temporada depois dos seis únicos episódios.
As emissoras abertas de TDT também programaram ficção de
produção própria. Os canais do grupo Antena3 apostaram nos sketchs com Psicodriving (Nitro), protagonizada pelo psicólogo Gustavo Gandini (Goyo Jiménez), que oferece terapias aos seus pacientes
enquanto passeia com eles de carro pela cidade, e Señoras que…
(Neox), uma série inspirada nos singulares grupos de seguidores do
Facebook sobre atitudes ou atividades cotidianas realizadas por algumas mulheres tão peculiares como comuns. O Disney Channel
transmitiu a segunda temporada de La Gira, a primeira produção
100% espanhola do canal, que narra os enfrentamentos de duas bandas de música juvenis.
No que diz respeito aos canais de TDT por assinatura, o TNT
comprou os direitos de retransmissão da websérie Malviviendo, que
relata as peripécias de um grupo de amigos de bairro que são consumidores de entorpecentes, na esteira de Zombies, Galactic Gym e
Basauri Vice. Finalmente, o Canal+ transmitiu Falcón, um thriller
policial baseado em duas novelas de Robert Wilson.
Assim como ocorre com os programas de ficção dos primeiros canais, algumas produções próprias da TDT obtiveram dados
de audiência superiores ao share médio alcançado por suas redes,
como Señoras que… (2,7% frente aos 2,6% de Neox) e Malviviendo
(0,9% frente ao 0,4% de TNT). Outras, pelo contrário, obtiveram
share inferior, como Psicodriving (0,4%, diante do 1,6% de Nitro).
No âmbito autonômico, a sincronia da TV3 com seus espectadores fica evidente nos excelentes resultados de audiência de seus
programas. O seriado La Riera (550.000 espectadores e 24,9%) melhora seus resultados de audiência no quarto ano de vida. A rede
catalã também acerta com as grandes estreias do ano, o policial Kubala, Moreno y Manchón (418.000 espectadores e 13,8%), a comé-
300 | Obitel 2013
dia policial Gran Nord (481.000 e 16,1%) e a minissérie ambientada
no passado Tornarem (474.000 e 17,3%). A TV3 também é a rede
autonômica com maior número de títulos (13) em 2012, seguida
pela galega TVG (9).
A rede andaluza Canal Sur, por sua vez, perde 3,2 pontos na
reta final de seu seriado Arrayán (424.000 espectadores e 11,8%),
que se despedia após 13 anos no ar, enquanto os telespectadores
valencianos e galegos continuam apostando em suas longevas séries
ambientadas na Espanha rural dos anos 60, L’Alquería blanca, do
Canal9 (400.773 espectadores e 17,2%) e Libro de família, da TVG
(176.000 espectadores e 16,2%), respectivamente.
Apesar de ter reduzido o número de títulos e o de horas, a ficção espanhola continua em bom ritmo em seu processo de transnacionalização, com a abertura de novos mercados, tanto na venda de
formatos quanto na de programas. As adaptações de Gran reserva
(Chile), Los misterios de Laura (Portugal e Rússia), Con el culo al
aire (América do Norte22), Aída (Equador), ou os mais de 20 países
aos quais foi exportada Águila roja (aos que se uniram este ano Tailândia e Coreia), ilustram a expansão.
A produção doméstica também continua acumulando prêmios
no exterior e no país. Para mencionar apenas alguns exemplos, basta recordar que Águila roja somou este ano, aos seus mais de 30
prêmios, a medalha de prata do World Media Festival, de Hamburgo, o prêmio ao melhor diretor do FyMT23, de Buenos Aires,
o TP de Oro24 à melhor série e ao melhor ator (David Janer) e o
Fotograma de Plata à melhor atriz (Inma Cuesta). O Fotograma de
Plata ao melhor ator foi, por sua vez, para Jon González, de Gran
Hotel, eleita também a melhor série do ano no Zoom Festival Europeo, de Igualada, e pelo sindicato de roteiristas Alma25, bem como
o prêmio Pasión de los Críticos no IV Festival de Cine de Vitoria.
Serenity Fiction realizará a adaptação junto com Fremantle Media.
Festival y Mercado de TV – Ficción Internacional.
24
Prêmio concedido pela revista de televisão Teleprograma.
25
http://www.sindicatoalma.es/.
22
23
Espanha – A ficção resiste à crise | 301
Cuéntame cómo pasó recebeu novamente o TP de Oro para melhor
atriz (Ana Duato) e o prêmio Iris, da Academia de Televisão, de
melhor série.
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social
A tendência a repensar o passado que caracteriza a ficção televisiva do terceiro milênio se observa também na Espanha, onde
o aumento dos programas de época coincide, entre 2008 e 2011,
com um período de impulso à recuperação da memória histórica.
Assim, os seis títulos nacionais estreados em 2008 subiram para 13
em 2009 e 2010 e atingiram seu auge em 2011, com um total de
21 produções. A aposta autonômica nos programas ambientados no
passado compreende sete ficções em 2008, seis em 2009, outras sete
em 2010 e nove em 2011.
Em 2012, diminuem as ficções de época, de acordo com a diminuição do número total de títulos em relação a 2011. Sem dúvida,
o impacto da crise econômica, particularmente nas emissoras públicas, é a primeira causa da contração, ao que cabe acrescentar o
desinteresse da nova direção da TVE pela reflexão sobre a Guerra
Civil e o pós-guerra, levada a cabo em programas como Amar en
tiempos revueltos ou 14 de abril. La República. Não obstante, é preciso destacar a paulatina elevação nos padrões de qualidade, que se
destacam nas duas séries históricas de 2011, Toledo e Isabel.
O “return to de past” (Buonanno, 2012, p. 199) da ficção espanhola em 2012 introduz inovações importantes na (re)construção,
em imagens, da “história cultural” (Burke, 2004), que se faz por
meio do olhar, não necessariamente cheio de nostalgia, a alguns de
seus períodos mais emblemáticos, como a Alta Idade Média ou o
reinado dos Reis Católicos. Ainda assim, considerando-se que inclusive os quatro programas qualificados como históricos (Toledo,
Isabel, Concepción Arenal e La conspiração) misturam o “passado”
e o “passatempo” (Silverstone, 1999:132) de maneira inextricável,
convém deixar claro que a própria distinção entre passado e história
(mais heurística do que teórica) só nos serve para qualificar o “re-
302 | Obitel 2013
-enactment of the past” da ficção televisiva, ao que alude Buonanno
acompanhando Ricoeur (Buonanno, 2012, p. 200).
Tabela 12a. Ficções nacionais históricas e ambientadas no passado
TransTítulo
missões
3 Águila roja
Emissora
Horário Formato
Época
TVE1
22:30 Série
Passado
Amar en tiempos
175
revueltos
TVE1
16:15 Seriado
Passado
253 Bandolera
Antena3
16:00 Seriado
Passado
TVE1
22.30 Série
Passado
Antena3
17:30 Seriado
Passado
8 Gran Hotel
Antena3
22:30 Série
Passado
3 Hispania
Antena3
22:30 Série
Passado
6 Imperium
4 Cuéntame cómo pasó
El secreto del puente
253
viejo
Antena3
22:30 Série
Passado
13 Isabel
TVE1
22:30 Série
Histórica
13 Toledo
Antena3
22:30 Série
Histórica
2 Carmina
Tele5
22:30 Minissérie
Passado
2 La memoria del agua
TVE1
22:30 Minissérie
Passado
Fonte: Obitel Espanha
Tabela 12b. Ficções autonômicas históricas
e ambientadas no passado
Transmissões Título
22 L'alquería blanca
30 Libro de familia
1 La conspiración
2 Tornarem
1 Concepción Arenal
Fonte: Obitel Espanha
Rede
Hora Formato
Canal9 22:00 Série
TVG
22:30 Série
ETB2 22:40 Telefilme
TV3
22:30 Minissérie
TV3
22:30 Telefilme
Época
Passado
Passado
Histórica
Passado
Histórica
Diferentemente de outros países do nosso entorno, como Grã-Bretanha ou Itália, com longa tradição em produção de ficção de
época, o caso espanhol inaugurava, com Cuéntame cómo pasó, uma
espécie de “marco zero”, que transforma a reflexão cultural das
histórias ambientadas no passado em um “antes” e um “depois” da
Espanha – A ficção resiste à crise | 303
transição democrática, o período onde está ambientada a série do
Grupo Ganga. Não surpreende, portanto, que grande parte do resgate da memória social realizado pela ficção espanhola tenha sido
feita durante os quase oito anos do governo de José Luis Rodríguez
Zapatero, como corolário do resgate da memória histórica que ocorre nesse mesmo período.
A resistência aos vaivéns da audiência de Cuéntame cómo pasó
e o sucesso da aclamada Águila roja, paradigma da euforia que contagiou a ficção (cinematográfica e televisiva) espanhola antes que a
crise econômica adquirisse status oficial, incentivou as redes privadas a explorarem um território que está contribuindo para elevar os
padrões de qualidade dos programas espanhóis.
5.1. A conquista romana
Hispania, la leyenda, a primeira inclusão na Antiguidade Clássica de uma emissora de televisão espanhola, debutava no horário
nobre da rede privada em 25 de outubro de 2010, em resposta ao
sucesso Águila roja, da La1. Trata-se de uma aposta audaz, com um
orçamento visivelmente inferior à série da La1, mas com uma grande vontade de transformar suas limitações em virtudes.
Hispania começa com o brutal assalto das tropas comandadas
pelo general Galba à aldeia do caudilho lusitano Viriato, que polariza as relações entre a população autóctone e os invasores em torno
ao feroz enfrentamento dos concorrentes. Amigos, amantes, familiares, vizinhos e companheiros de armas dos dois protagonistas integram uma emaranhada constelação de relações, construídas sobre
o pano de fundo das aventuras do caudilho hispânico. Apesar das
numerosas imprecisões que contém, ressaltadas sem remorsos por
alguns blogueiros (como os patronímicos cristãos de alguns hispânicos, o desajuste de datas entre o período em que Galba governou
a província hispânica Tarraconense ou a própria biografia de Viriato26), a verdade é que a curiosidade suscitada em muitos espectado26
Ver, por exemplo, http://blogs.periodistadigital.com/politicamenteacorrecto.php/2010/
10/29/p282058.
304 | Obitel 2013
res pelo período representado reavivou o interesse por esse episódio
da história popular, uma das funções que Gary Edgerton atribui às
ficções ambientadas no passado:
“Television as historian” should never be feared as
the “last word” on any given subject, but viewed as
a means by which unprecedentedly large audiences
can become increasingly aware of and captivated by
the stories and figures of the past (Edgerton, 2001,
p. 9).
A paulatina queda de audiência da segunda temporada de Hispania induziu a Antena3 a reservar a apresentação de seus três últimos episódios para 2012, como prelúdio do spin off que estava
preparando (Imperium). Assim, a série da Bambú Producciones
concluía, em 23 de junho, com a morte de Aníbal e o regresso de
Galba a Roma, ao mesmo tempo em que introduzia um novo personagem (o pretor da Hispania Citator, Quinto Servilio Cepión), que,
posteriormente, teria um papel relevante no spin off.
Imperium retoma a história de Galba em Roma, antes que ele
regresse para a Hispania como governador e fixe como objetivo recuperar o bom nome que sua família acabara de perder. Embora o
parentesco com Hispania seja evidente, Imperium articula melhor
o protagonismo coletivo (livre da centralidade atribuída a Viriato)
e alterna as partes rodadas na Cinecittà (nos mesmos cenários da
Roma da HBO) com as paisagens da comarca de La Vera, na Extremadura, ao mesmo tempo em que realiza um maior esforço de
documentação que o de sua predecessora, mas sem nada perder de
seu costumbrismo.
5.2. O Reino de Espanha
Toledo (Antena3) e Isabel (La1) constituem duas das estreias
mais interessantes do ano e são as duas únicas séries históricas do
conjunto estatal. Curiosamente, encarnam períodos consecutivos da
Espanha – A ficção resiste à crise | 305
construção do Reino de Espanha, como se fossem programas complementares e não concorrentes, cuja mistura de realidade e ficção
ilustra as inegáveis semelhanças entre “The familiar, solid world of
history on the page and the equally familiar but more ephemeral
world history on the screen” (Rosenstone, 2006, p. 2).
Ambientada no século XIII, Toledo tenta recuperar o espírito
de concórdia que congregou cristãos, judeus e muçulmanos em torno da corte de Alfonso X, o Sábio, um rei empenhado em obter a
convivência pacífica entre as três religiões. Como Hispania, a série
começa com o ataque (neste caso, dos muçulmanos) a uma aldeia
local, e testemunha o valor dos relatos do passado para dotar de
sentido o presente, sem necessidade de recapturar qualquer tipo de
verdade objetiva sobre a história:
White and others [postmodernist historians] have
argued that historiography is much more about
telling histories inspired by contemporary perspectives than recapturing and conveying any kind of
objective truth about the past (Edgerton, 2001, p. 3).
Toledo é uma ficção ambiciosa, com um amplo leque de recursos mobilizados em favor da verossimilhança dos eventos narrados,
recheados das histórias dos personagens, sobre as quais se sustenta
esse drama histórico de ação e paixão. Por exemplo, as várias cenas exteriores gravadas em Castilla La Mancha se alternam com
os impressionantes cenários reconstruídos em Fuenlabrada (Madri),
parte dos quais, importados da Itália, haviam sido utilizados em El
nombre de la rosa.
A preocupação com a complexidade de estilo de Toledo, patente nos adereços (ladrilhos pintados à mão, espadas forjadas por um
armeiro de Toledo etc.) e nos mais de 1.200 figurinos usados, chega
quase ao paroxismo em Isabel, uma superprodução de aparência e
ritmo quase cinematográficos sobre os anos que precederam à coroação de Isabel, a Católica, como rainha de Castilla. A série, que
306 | Obitel 2013
leva a assinatura da Diagonal TV, faz uso de uma boa documentação
histórica, a qual não deixa de combinar com algumas cenas mais
picantes.
Programada inicialmente para janeiro, mas retida durante vários meses enquanto a nova direção de TVE fazia suas contas, a
Diagonal TV optou pela pré-estreia cinematográfica do primeiro
episódio, que também foi exibido nos festivais de cinema de San
Sebastián e de Vitoria. Por fim, Isabel estreava na La1 em setembro e transformava-se, em sua conclusão, em novembro, no quarto
programa mais visto do ano, mesmo que as escassas perspectivas
iniciais de renovação tenham induzido a produtora catalã a desmantelar seus caros cenários. Finalmente, a direção da empresa pública
confirmava, em dezembro, a continuidade de suas grandes séries
(Isabel, Águila roja, Cuéntame cómo pasó, Gran reserva e Los misterios de Laura), mantendo a incógnita sobre o futuro de outro programa da Diagonal TV, 14 de abril. A República.
5.3. A Espanha barroca
Os rumores sobre o final de Águila roja, desencadeados pela
transmissão de três únicos episódios em 2012 (que contam com a
participação do Duque de Alba), reabriram a polêmica gerada em
2011 pelos elevados custos da série da Globomedia27. Ainda assim,
os espetaculares índices de audiência obtidos em seus quatro anos
no ar induziram a Antena3 e a Tele5 a manifestarem interesse pela
série ambientada no século XVII, o período de máximo esplendor
das artes e das letras espanholas, mas também o início de uma decadência política e econômica que, três séculos mais tarde, desembocaria na Guerra Civil28.
Uma média de 913 mil euros por episódio de cerca de 85 minutos (em torno de 11.424
euros por minuto), segundo a auditoria pública da CRTVE, realizada em 2010 (http://
www.elconfidencial.com/comunicacion/2012/02/10/tve-paga-12000-euros-por-cada-minuto-de-cuentame-aguila-roja-y-la-hora-de-jose-mota-92367/).
28
A confirmação da quinta temporada por parte de RTVE veio acompanhada pelo anúncio da redução do preço acertado inicialmente em 16%.
27
Espanha – A ficção resiste à crise | 307
5.4. Os alegres anos 20
A segunda temporada de Gran Hotel retomava, em outubro, as
incógnitas estabelecidas na primeira, articuladas em torno da misteriosa morte de Don Carlos e da relação de sua filha Alicia com
Julio. Amor, paixão, suspense e vingança, os ingredientes básicos
em voga no drama atual, encontram-se nessa série da Bambú, outra
das produtoras especializadas em ficção de época. A série realiza
uma minuciosa recriação visual da alta burguesia espanhola dos
anos 20, complementada com um seleto vestuário e uma encenação impecável. Junto com a rodagem no Palacio de la Magdalena
(Santander), a frequente participação de atores que se afirmaram
em papéis secundários reforça a verossimilhança do retrato social
apresentado.
Ambientada no mesmo período de Gran Hotel, a minissérie da
La1, La memoria del agua, está baseada na novela homônima de
Teresa Viejo e, embora cruze a intriga com as histórias pessoais dos
donos, os criados e os hóspedes do balneário onde se situa a história,
as diferenças com a série da Antena3 são visíveis – principalmente
no que se refere à maior vocação didática que vem caracterizando as
ficções da rede pública nos últimos anos, e que, nesta ocasião, intercala entre as cenas costumbristas numerosas referências às questões
políticas e sociais mais candentes da ditadura de Primo de Rivera
(1926-1929), o período retratado.
5.5. A transição
Os cortes orçamentários da TVE também afetaram muito a
onerosa Cuéntame cómo pasó29, cuja décima terceira temporada
(transmitida entre janeiro e fevereiro) tem apenas quatro episódios.
O câncer de mama de Merche, a quem se extirpa um seio, e o tratamento de quimioterapia a que é submetida depois disso configuram
29
O custo aproximado de Cuéntame cómo pasó é de 853.039 euros por episódio, cerca
de 12.186 euros por minuto, segundo a auditoria pública de CRTVE realizada em 2010
(http://www.elconfidencial.com/comunicacion/2012/02/10/tve-paga-12000-euros-por-cada-minuto-de-cuentame-aguila-roja-y-la-hora- de-jose-mota-92367/).
308 | Obitel 2013
a linha de argumento central da temporada mais dramática da série
do Grupo Ganga, ambientada no início da década de 1980.
Cuéntame cómo pasó, a série mais costumbrista da La1, mas
também a mais testemunhal, transformou-se, depois de 11 anos no
ar, em uma espécie de enciclopédia audiovisual das novas gerações,
um manual simplificado de política ilustrada que nos permite interpretar a história “in the light of contemporary sensibilities and
problems” (Buonanno, 2012, p. 213).
5.6. A memória social do cotidiano
O primeiro seriado espanhol de época com periodicidade diária, Amar en tiempos revueltos, transmitido pela La1 entre setembro
de 2005 e dezembro de 2012, inaugurou uma nova etapa na Antena3 em 14 de janeiro de 2013, com o título Amar es para siempre.
A decisão da TVE de concluir o programa se ampara nos cortes
orçamentários, por mais que, neste caso, o valor fosse baixo demais
para uma produção ambientada no passado30 e que deu à emissora
pública extraordinários resultados de audiência e excelentes críticas.
Na linha das outras produções de época da Diagonal TV (La
senhora e 14 de abril. A República), Amar en tiempos revueltos
constitui um exemplo paradigmático do caráter didático que a ficção
pode chegar a veicular. A violência de gênero, os vícios, a homossexualidade (masculina e feminina), a velhice ou as migrações são
algumas das questões sociais abordadas no programa, ambientado
entre 1936 e 1956, que também incorpora imagens abundantes do
arquivo documental da TVE.
A renovação da maior parte das tramas e dos personagens em
cada temporada explica o elevado número de atores, consolidados e
iniciantes, que passaram pelo seriado ao longo de suas sete temporadas no ar (cerca de 1.200). Amar en tiempos revueltos também gerou
Apesar de que os 68.210 euros por capítulo (1.364 euros por minuto) que custava a
quinta temporada já tivessem sido reduzidos a 51.661 euros por capítulo (1.033 euros por
minuto) na sexta, segundo a auditoria pública de CRTVE realizada em 2010 (http://www.
elconfidencial.com/comunicacion/2012/02/10/tve-paga-12000-euros-por-cada-minuto-de-cuentame-aguila-roja-y-la-hora-de-jose-mota-92367/).
30
Espanha – A ficção resiste à crise | 309
diferentes spin offs (telefilmes para o horário nobre) e três novelas,
e foi transmitido por Telemundo (Estados Unidos e México), Ecuavisa (Equador), Canal 7 (Argentina), Canal 6 (Honduras) e Televen
(Venezuela).
O sucesso de Amar en tiempos revueltos induziu a Antena3 a
confiar na Diagonal TV para remontar suas tardes televisivas, situadas entre o seriado da La1 e os reality shows sobre celebridades
da Tele5, com duas produções diárias ambientadas no passado. A
primeira, Bandolera, uma história protagonizada por uma jovem inglesa que se instala na Andaluzia de 1882 e acaba liderando uma
quadrilha de bandidos como aquela que, de maneira tão brilhante,
liderou o mítico Curro Jiménez entre 1976 e 197831, cedeu seu lugar
a Amar es para siempre no início de 2013. A segunda, El secreto de
Puente Viejo, trata de uma jovem parteira que se estabelece na pequena localidade de Puente Viejo, em 1902, e cujo destino se cruza
com o irmão do homem que a havia abandonado32.
Sem prejuízo das temáticas prototípicas do seriado, o fio condutor de Bandolera (a quadrilha de ladrões que rouba dos ricos para
dar aos pobres) propicia a reflexão sobre questões como, por exemplo, a pobreza ou as injustiças sociais. Por sua vez, o papel da parteira em El secreto de Puente Viejo valeu à sua personagem, Pepa
Balmes, o título de “parteira honorária” da Associação das Parteiras
de Espanha.
5.7. Passado e história na ficção autonômica
A Guerra Civil espanhola volta às telas autonômicas com a minissérie Tornarem (TV3) e o telefilme La conspiración (ETB2). A
primeira, ambientada na Segunda Guerra Mundial, está inspirada
na história de um catalão que fez parte da companhia encarregada
de liberar Paris em 1944 (“La nueve”), integrada majoritariamente
Na série homônima da La1.
Na conclusão de Bandolera, El secreto de Puente Viejo experimenta um salto temporal de 16 anos, com a conseguinte renovação de personagens, vestuário e attrezzo que
implica.
31
32
310 | Obitel 2013
por republicanos catalães e espanhóis veteranos da Guerra Civil. La
conspiración remonta, por sua vez, às vésperas da sublevação militar de 1936 e tenta elucidar o papel do general Mola na sublevação
que a provocou.
Concepción Arenal, la visitadora de pressons (TV3) faz uma
homenagem à primeira mulher encarregada de visitar as prisões femininas do século XIX com o objetivo de tentar melhorar a vida
das presas. Trata-se de um filme biográfico que sobrepõe a história
profissional e pessoal de uma mulher extraordinária à história social
e, em certo modo, complementa essa história.
A proximidade da ficção autonômica com seus espectadores e
sua capacidade para transformar o costumbrismo em uma marca de
identidade ficam evidentes em Libro de familia (TVG) e L’alqueria
blanca (Canal9). Construídas sobre o pano de fundo da luta pela
terra e por melhorias sociais, as histórias familiares que narram vêm
cativando os telespectadores desde 2005 e 2007, respectivamente.
Referências
BUONANNO, M. Italian TV drama & beyond: stories from the soil, stories from the seja. Bristol, Chicago: Intellect, 2012.
BURKE, P. What is a cultural history? Cambridge: Polity Press, 2004.
EDGERTON, G. Television as historian. In: EDGERTON, G.; ROLLINS, P. (Eds.). Television stories. Lesintong: The University Press of Kentucky, 2001.
SILVERSTONE, R. Why study the meia-média? London: Sage, 1999.
7
Estados Unidos: em busca de um público jovem – o “rebranding” da televisão hispânica
Autor: Juan Piñón
Equipe: Linnete Manrique, Tanya Cornejo1
1. O contexto audiovisual nos Estados Unidos
Pela primeira vez na história, os hispânicos foram um fator decisivo na eleição do presidente dos Estados Unidos. Em novembro
de 2012, 71% do chamado voto latino foram para o Partido Democrata. Embora os temas da economia, da educação e da saúde sejam
centrais para os eleitores hispânicos, foi o discurso anti-imigrantes
do Partido Republicano que custou a presidência ao seu candidato.
Um analista sugere que, se Mitt Romney tivesse obtido apenas 43%
dos votos dos hispânicos em vez dos 29% que conquistou, teria vencido as eleições (Lapan, 2013). Considerando-se que as tendências
demográficas do crescimento da população hispânica indicam que
ela constituirá 26% da população total em 2030 (Taylor e Cohn,
2013), os partidos políticos mostrarão um interesse renovado nessa
minoria social, pois já não conseguirão ganhar nenhuma eleição sem
contar com o voto latino.
A importância comercial dos latinos já era evidente quando
eles se transformaram, a partir de 2003, no grupo minoritário mais
numeroso dos Estados Unidos e, desde 2007, na minoria com maior
poder de compra. Mas o interesse político e comercial na população
hispânica também se transformou em um interesse pelas mídias de
Em nome do Obitel, queremos expressar nosso profundo agradecimento a Cecilia Masola, do setor de Solução para Clientes da Nielsen Media Research, por sua colaboração
para a realização deste estudo e por sua contribuição valiosa ao campo da pesquisa sobre
televisão hispânica. O capítulo sobre os Estados Unidos também foi possível graças à colaboração de Diana Kamin, estudante de doutorado do Departamento de Meios, Cultura e
Comunicação da Universidade de Nova York.
1
312 | Obitel 2013
massa e pelo idioma no qual ela é alcançada. Um relatório do Pew
Hispanic Center (PHC) descreve que, para 38% dos latinos, o idioma principal é o espanhol, enquanto uma quantidade igual (38%)
é bilíngue e o idioma principal de 24% deles é o inglês. Contudo,
levando-se em conta exclusivamente os hispânicos nascidos no país,
51% têm o inglês como idioma principal (Taylor et al., 2012). Sua
importância política e comercial, somada às competências linguísticas dessa população, reflete-se no entusiasmo mostrado no meio jornalístico, no qual, a partir do final de 2011 e durante 2012, os principais veículos contrataram pessoal e criaram portais especialmente
dirigidos aos hispânicos anglófonos, como FoxLatino, Huffington-Post Voces, NBC Latino, ao que se soma o anúncio feito pela Univisión e pela ABC, no início de 2013, da criação da Fusión, uma
rede de notícias de TV a cabo em inglês para latinos. Considerando-se que, desde 2000, os hispânicos nascidos nos Estados Unidos são
o principal fator de crescimento da população latina, e não mais a
imigração (Census, 2010), ficou claro para os executivos dos meios
de comunicação hispânicos que seu futuro sucesso ou fracasso estará ligado à segunda e à terceira geração, bilíngue e anglófona.
1.1. Televisão aberta
A televisão hispânica continua crescendo. Em 2012, é lançado
MundoFox, uma nova rede de televisão aberta, que já no início atingiu 80% dos hispânicos e que se une a Azteca América, Estrella TV,
Telemundo, UniMás (Telefutura), Univisión e V-me.
Gráfico 1. Emissoras nacionais de televisão aberta nos EUA
REDES PRIVADAS
Azteca América
Estrella TV
MundoFox
Telemundo
UniMás
Univisión
V-me
TOTAL DE REDES (7)
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 313
A Univisión continuará dominando o mercado, com 55% da
audiência, em conjunto com os 15% da UniMás, do mesmo grupo.
Assim, a matriz Univisión Communications dominará 70% da audiência da televisão aberta, enquanto a Telemundo está na segunda
posição, com 22%. A Estrella TV consolida-se como a quarta rede,
com 3% da audiência, e a Azteca América passa para o quinto lugar,
com 2,4%. Gráfico 2. Share por canal
2.43
3.21 1.43
Azteca América
Estrella TV
22.03
MundoFox
Telemundo
55.57
15.30
UniMás
Univisión
Total Ligados
Especial
%
Univisión
Telemundo
UniMás (Telefutura)
Estrella TV
Azteca América
MundoFox
55,6
22,0
15,3
3,2
2,4
1,4
Fonte: Obitel EUA – Nielsen
O entretenimento, os programas de entrevistas (talk shows), as
notícias e os esportes são os gêneros televisivos com mais presença
na tela. Em particular, destaca-se a ficção, com uma presença importante, de 43,7% da oferta, da qual telenovelas, séries, minisséries
e unitários representam 27,5%, e os restantes 16,1% são do cinema,
que, como entidade separada, só perde para o entretenimento, que
tem 18,2% da oferta.
Gráfico 3. Oferta de gêneros na programação de TV
Gêneros transmitidos
Ficção
Entretenimento
Talk Shows
Notícias e Informação
Esportes
Infantil
Concurso
Sitcoms (comédias de situação)
Reality Shows
Horas de exibição
14.906:37
6.220:39
3.750:06
3.698:31
2.328:12
754:40
727:43
680:21
654:46
%
43,7
18,2
11,0
10,8
6,8
2,2
2,1
2,0
1,9
314 | Obitel 2013
Educação
Outros
Total
2,2 2,1
85:15
326:09
34.133:02
0,2
1,9 1
Ficção
2
Talk Shows
0,2
1,0
100
Entretenimento
6,8
Notícias e Informação
43,7
10,8
Esportes
Infantil
11
Concurso
18,2
Sitcoms (comédias de situação)
Reality Shows
Educação
Outros
Fonte: Obitel EUA – Nielsen
Com penetração em, pelo menos, 85% dos domicílios de hispânicos que têm algum sistema de televisão por assinatura, cabo ou
satélite, desde 1990 as grandes corporações vêm lançando canais
em espanhol dirigidos aos latinos nos Estados Unidos, somando
atualmente mais de 70 emissoras nacionais de televisão a cabo. As
emissoras latinas desse tipo variam das que são apenas emissoras
norte-americanas dubladas em espanhol às que têm uma produção original cada vez maior, entre as quais se destacam Galavisión
(propriedade de Univisión), que foi líder do mercado hispânico por
décadas, seguida por Fox Deportes, ESPN Deportes, Discovery en
Español, Mun2 (propriedade de NBC-Telemundo), Gol TV, Tr3s,
Nat Geo Mundo e Utilísima.
A necessidade de poder atrair as audiências mais jovens, reforçada pela nova demografia da população hispânica, provocou uma
mudança de imagem e um processo de rebranding (reposicionamento de marca) das emissoras, no qual o objetivo é atrair de maneira
mais agressiva os jovens latinos. A Telemundo anunciou em maio
sua estratégia de renovação, ao trocar a logomarca do T azul por
um T vermelho estilizado, com a frase “o poder de T”, que permite
o jogo de palavras T-informa, T-conecta, T-inspira, T-emociona. A
Univisión também trocou sua logomarca por uma tridimensional,
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 315
que evoca um coração com a frase “a batida do coração hispânico
nos Estados Unidos”, a qual conota a transformação da companhia
(Vega, 2012b). Mas a transformação mais radical foi apresentada
pelo rebranding da Telefutura para se transformar em UniMás, no
qual a emissora muda de nome, de logomarca e de perfil de público.
A UniMás será dirigida a um telespectador jovem e masculino, com
uma programação que é produto de suas alianças com a Caracol TV
e a RTI-Colombia (Thielman, 2012). A transformação da emissora,
além de ser uma resposta à recém-surgida MundoFox, transforma-se em um desafio para a Telemundo, que ocupa a segunda posição
nas preferências do público e que tinha se beneficiado de sua relação
com seus aliados colombianos. No final do ano, a Azteca América
também divulgará sua nova programação visual, “na qual as cores
e o design evocam a diversidade de seu público e de sua programação”, embora conserve seu lema, “a tua casa” (AzA Gazette, 2012).
Essa onda de transformações encontra seu momento de pico quando, no início de 2013, a Univisión e a ABC anunciam a criação do
Fusión, um canal de notícias em inglês para hispânicos, para o final
de 2013.
O ano de 2012 foi o nono consecutivo em que a Univisión se
estabeleceu na classificação como a quinta maior rede de televisão
dos Estados Unidos, atrás apenas das quatro grandes redes nacionais
(ABC, CBS, NBC e Fox), com uma média de 3,5 milhões de espectadores no horário nobre. E, pelo sexto ano consecutivo, a Univisión
ficou em primeiro lugar nas noites das sextas-feiras entre o segmento demográfico de 18 a 34 anos, 31% à frente de sua concorrente
mais próxima, a NBC. Mais do que isso, a Univisión superou uma
ou mais das quatro grandes redes em 245 noites do ano entre os espectadores de 18 a 34 anos.
O sucesso da Univisión pode ser atribuído, em grande medida,
às telenovelas produzidas pela Televisa, as quais são “à prova de
DVR”2 e “uma razão pela qual incríveis 93% do horário nobre da
2
Gravadora de Vídeo Digital (DVR, na sigla em inglês).
316 | Obitel 2013
Univisión são assistidos ao vivo”, de acordo com Marisa Guthrie.
Por exemplo, os episódios finais de Abismo de pasión e de La que
no podía amar atingiram 7,7 e 8 milhões de espectadores, respectivamente, posicionando a Univisión como a rede número dois no
segmento de 18 a 34 anos, superando a ABC, a CBS e a Fox. Além
disso, a estreia de Amores verdaderos atingiu mais de 5 milhões de
espectadores e colocou a Univisión em quarto lugar no segmento
de 18 a 34 anos, acima da CBS. Em geral, as telenovelas foram a
programação não relacionada com as Olimpíadas com os índices de
audiência mais altos em todas as noites dos dias de semana, entre os
adultos de 18 a 49 e de 18 a 34 anos de idade. O futebol também deu
os mais altos ratings à Univisión. A transmissão ao vivo da partida
entre México e Brasil, em junho, posicionou a Univisión em primeiro lugar em tráfego e participação nas redes sociais. A partida amistosa entre México e Estados Unidos, em agosto, também atingiu 8,1
milhões de espectadores, o que colocou a Univisión em primeiro
lugar no prime time entre os adultos de 18 a 34 anos e os homens
de 18 a 34 e 18 a 49, à frente de NBC, CBS, ABC e Fox, bem como
de todas as emissoras de TV a cabo, independentemente do idioma. Além da maioria da programação do horário nobre da Univisión ser vista ao vivo, os comerciais têm um impacto maior porque
não são evitados com o controle remoto – o que faz da Univisión
uma força poderosa a ser levada em conta por seu público jovem, bilíngue e não duplicável. Univisión e UniMás são as emissoras com
públicos mais jovens, sem importar o idioma, com uma média de
idade de 36 anos no horário nobre. Desse público de horário nobre,
68% não se duplicam, ou seja, esses espectadores não estão assistindo a nenhuma das outras grandes emissoras em inglês. Segundo os
dados da Nielsen, a Univisión apresentou 47 dos 50 programas de
entretenimento mais populares entre os hispânicos bilíngues.
A UniMás concluiu a pesquisa de cobertura nacional em maio
(sweeps) com um crescimento anual em todos os horários de programação, incluindo o horário nobre. Além disso, a emissora se posicionou como a número dois em espanhol, no final das pesquisas
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 317
de novembro, nos horários de início da manhã, noturno e diurno
durante a semana, entre o segmento de 18 a 34 anos, superando a
Telemundo. A Galavisión, por sua vez, continuou em primeiro lugar
no segmento de TV a cabo em espanhol, graças a uma programação diversificada, que inclui comédias como Los héroes del norte,
o terceiro programa mais visto aos domingos, entre hispânicos de
18 a 49 anos de idade, na televisão a cabo, sem importar o idioma,
e em função do aumento de dois dígitos na audiência do noticiário
Primero noticias. A Azteca América, emissora de propriedade da TV Azteca,
mexicana, concluiu as pesquisas de novembro com um crescimento
anual de dois dígitos em grupos demográficos fundamentais no horário nobre dos dias de semana. A emissora teve 35% de aumento
entre os adultos de 18 a 34 anos de idade e 37% entre o grupo demográfico de 2 a 17 anos no período que vai das 20h às 21h, devido
ao sucesso de seu reality show La isla (uma versão de Survivor). O
mais impressionante é que as quartas de final do futebol de La liga
mexicana levaram a Azteca América a ocupar o segundo lugar entre
as redes hispânicas nos grupos demográficos de homens de 18 a 49
anos e no segmento de 25 a 54 anos no horário nobre, em novembro. O aumento da visibilidade do futebol – um esporte tradicionalmente ignorado nos Estados Unidos – confirma que a cara da televisão do país está mudando e se adaptando para poder atrair a jovem
e crescente população hispânica. Os analistas também sugerem que
os esportes dirigidos aos hispânicos são um dos poucos segmentos
da televisão destinados a crescer (Crupo, 2012), e as outras emissoras estão dando atenção a isso. Por exemplo, a NBC desembolsou a
impressionante quantia de 600 milhões de dólares pelos direitos de
transmissão, na Telemundo, das Copas do Mundo de 2018 e 2022,
comparados com os 325 milhões que gastou em 2005, a última vez
em que negociaram um contrato para a Copa do Mundo (Thielman,
2012). A Univisión, por sua vez, lançou uma rede dedicada aos esportes, criativamente chamada Univisión Deportes, que está pronta
para transmitir todos os eventos da FIFA em 2014 e apresentará
318 | Obitel 2013
mais partidas de futebol mexicanas do que qualquer outra rede de
televisão nos Estados Unidos. Nas palavras do presidente da Univisión Deportes, Juan Carlos Rodríguez, “o verdadeiro negócio [da
Univisión] é o futebol”. A rede Telemundo, propriedade da NBC-Comcast, depois de
celebrar seu 25º aniversário em dezembro de 2012, lançou seu novo
logo. Abandonou o “T” azul e agora é representada por um “T”
vermelho e com o texto “Brave New Telemundo” (Vega, 2012b). A
Telemundo cresceu em seu bloco do horário nobre, especificamente
com a transmissão de Pablo Escobar: el patrón del mal, baseada na
história de vida do narcotraficante conhecido como czar da cocaína na Colômbia. A Telemundo consolidou-se no segundo lugar do
setor, com um crescimento de audiência nos últimos três anos, que
passou de 1,01 milhão em 2010 para 1,19 milhão em 2012, enquanto a UniMás decresceu, no mesmo período, de 847 mil para 634 mil
telespectadores, em média. Contudo, em 2012, nenhuma das produções originais da Telemundo conseguiu impacto de audiência e
todas ficaram muito longe dos ratings obtidos por La reina del sur
em 2011; por isso, a emissora se envolveu em uma nova aliança com
a Argos para a produção de El señor de los cielos. Este ano, a Telemundo se aventurou na produção de um programa de concursos, Yo
me llamo, mas o programa teve resultados muito ruins em termos
de ratings. Em sua apresentação da programação para este ano (up
front), incluiu várias séries de televisão do tipo reality, como La voz
kids, um derivado (spin-off) do The Voice, da NBC, e Todos somos
héroes, uma programação especial que contará as histórias de pessoas comuns sendo heróis dentro de suas comunidades.
A Estrella TV, emissora de propriedade da Liberman Broadcasting, continua oferecendo programação que visa tirar espectadores
de outras (counter programming), colocando no horário nobre programas de concurso, Reality TV, comédias, shows musicais, seguindo a filosofia de que alguns hispânicos preferem essa programação
às habituais telenovelas românticas. Quase todos os programas da
Estrella TV são produzidos no Burbank Studios, na Califórnia, que
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 319
tem cerca de 500 trabalhadores, tanto em jornada integral quanto
parcial. A Estrella TV está crescendo em termos de lucros: em 2012,
teve receitas líquidas de publicidade em torno de 21,8 milhões de
dólares, muito acima dos 17,1 milhões que entraram em 2011. Com
59 estações afiliadas, em dois anos a emissora conseguiu ultrapassar a rede Azteca América, consolidando-se na quarta posição, com
uma audiência média de 200 mil espectadores no horário nobre
(Strauss, 2012).
A V-me abandonou o serviço de medição de ratings da Nielsen, razão pela qual não aparecerá na seção de análise do ano em
nosso capítulo. O grupo espanhol Prisa, sócio majoritário, golpeado
pela longa crise econômica espanhola, congelou os planos de investimento e crescimento da emissora. A V-me não tem produção
original e a maior parte de sua programação vem do exterior, especificamente da Espanha. A programação da emissora inclui programas de jogos, minisséries e reprises de séries de sucesso, como Los
Kennedy, transmitida originalmente no ReelzChannel. Embora seja
um canal privado, a V-me é distribuída por estações de propriedade pública da PBS (Public Broadcast System). Por isso, seguindo
uma filosofia de serviço público, a emissora tem que cumprir certas
regras e regulamentações, ou seja, não pode aceitar determinados
anunciantes/clientes.
Em janeiro de 2012, a News Corporation anunciou que lançaria a MundoFox, uma nova emissora de televisão, em associação de 50% com o grupo televisivo Radio Cadena Nacional (RCN)
da Colômbia. A RCN tinha sido a fornecedora de conteúdos para
a Univisión e a UniMás, emissora do mesmo grupo, mas, quando
os acordos expirarem no futuro próximo, a programação da RCN
aparecerá de maneira exclusiva na MundoFox. Usando o lema corporativo “Entretenimento latino, atitude americana” e promovendo
o slogan “Americano como você”, a MundoFox estabeleceu sua
marca em contraste com as outras redes, ao promover uma programação “inovadora e audaz”, dirigida a um público mais jovem e
masculino. Para se diferenciar das outras emissoras televisivas, a
320 | Obitel 2013
MundoFox enfatiza a importância do formato das telesséries dentro de sua estratégia de programação. Em contraste com o formato
mais tradicional das telenovelas, séries como El Capo 2 têm menos
capítulos, melhores padrões de produção e tramas de ação, sendo
elaboradas para atrair públicos masculinos. As séries da RCN, com
altos valores de produção e centradas na lógica das séries de ação e
crime, reforçam a marca da MundoFox como “atitude americana”.
No momento de seu lançamento, em agosto, a emissora tinha
50 afiliadas, que lhe permitiam alcançar aproximadamente 80% dos
lares hispânicos, com presença em 24 dos 25 mercados hispânicos
mais importantes dos Estados Unidos. Em comparação com a cobertura de 80% da MundoFox, a Univisión alcança 96% do mercado,
enquanto a Telemundo chega a 94%, o que ainda limita a possibilidade de atingir altos números de rating. A partir de agosto, a
emissora passou a ter uma média de 70 mil espectadores no horário
nobre, ocupando o sexto lugar depois da Azteca América, que tem
uma média de 120 mil espectadores nessa faixa horária.
1.2. Televisão e meios de comunicação digitais
Levando em consideração o índice de uso de tecnologias móveis por hispânicos – 45% dos hispânicos com telefones móveis têm
smartphones, comparados com 34% do mercado em geral (Guthire, 2012) –, a Univisión continua avançando em sua expansão no
mundo digital. Em outubro, lançou a UVideos, uma emissora digital
por assinatura, que apresenta o conteúdo da Univisión (incluindo a
programação da Televisa) em espanhol e com legendas em inglês.
A emissora está disponível em diferentes dispositivos, os quais incluem tablets, consoles de videogame (como Xbox), smartphones
e aparelhos de TV habilitados com conexão à internet. A webnovela Te presento a Valentín, primeira coprodução entre Univisión
e Televisa, teve sua estreia exclusiva na UVideos. Há outras duas
webnovelas em processo de produção, que serão dirigidas pela popular atriz mexicana Kate del Castillo. Os projetos digitais da Univisión também incluem uma associação com Facebook e YouTube
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 321
para fornecer informação exclusiva e interessante sobre as eleições,
e com YaSabe.com para oferecer conteúdo original bilíngue para
consumidores que queiram fazer negócios pela internet, como a
mencionada associação com a ABC. Os esforços da Univisión para
expandir seus serviços digitais foram reconhecidos no final do ano,
quando a revista especializada Broadcasting & Cable a nomeou
“Transmissor Multiplataforma do Ano”. Em setembro, a Telemundo também lançou a webnovela Secreteando, protagonizada por Sonya Smith. A novela pode ser vista
no YouTube, e os fãs podem participar da evolução da trama por
Facebook, Twitter, Google+, Pinterest e Instagram. Em outubro, a
Telemundo organizou um hang out3 para os fãs da telenovela através do Google+, para seu capítulo final. A emissora também tem
usado ativamente seus convênios de telefonia celular para diferentes
processos de votação em programas como Yo me llamo e o concurso
de Miss Universo.
A MundoFox oferece episódios completos de vários de seus
principais programas, postos à disposição por meio do site MundoFox.com, no canal da MundoFox no YouTube e na página da
MundoFox no Facebook. Em agosto, a Verizon acrescentou a MundoFox à sua programação de FiOS. A emissora aproveita as oportunidades de marketing possibilitadas pelas redes sociais ao pedir que
os usuários “curtam” a MundoFox no Facebook para poder acessar
o conteúdo oferecido sob demanda.
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana
Este ano, houve uma redução dos títulos novos que foram ao ar,
tanto nacionais quanto ibero-americanos, passando de um total de
58 estreias em 2011 para apenas 44 em 2012. A produção nacional
caiu de 11 para 10 títulos novos, e a ibero-americana diminuiu de 47
estreias para apenas 34. A Telemundo consolida-se como principal
produtora hispânica dos Estados Unidos, com nove títulos novos
Hang out é uma expressão em inglês que quer dizer passar o tempo, sair e estar com
os amigos.
3
322 | Obitel 2013
este ano, em um esquema de coprodução que incluiu Sony Picture Internacional, RTI, Argos e US. Imagina-Promofilm. O segundo
produtor importante no cenário da produção original é a Venevisión,
a qual, em coprodução com a Univisión, traz o décimo título da lista
da produção nacional. Enquanto a soma de estreias nacionais e ibero-americanas foi
de 44 títulos, registrou-se um maior número de repetições, com a
apresentação de 54 reprises. A UniMás foi a emissora que mais recorreu às reprises como estratégia na programação de ficção, com
24 títulos, seguida pela Univisión, com 13, Telemundo, com nove,
Azteca América, com cinco, e Estrella TV, com dois. As reprises
de títulos de ficção na UniMás e na Univisión constituíram quase
70% dessa estratégia de programação na televisão hispânica nacional. Essas reprises incluíam 37 títulos mexicanos, 11 hispânicos dos
Estados Unidos, cinco colombianos e um brasileiro. Tabela 1. Ficções exibidas em 2012
TÍTULOS NACIONAIS INÉDITOS
– 10
Telemundo
1. La casa de al lado (telenovela)
2. Corazón valiente (telenovela)
3. Decisiones extremas (unitário)
4. Flor salvaje (telenovela)
5. Historia de la virgen morena (unitário)
6. Relaciones peligrosas (telenovela)
7. Rosa diamante (telenovela)
8. El rostro venganza (telenovela)
9. Una maid en Manhattan (telenovela)
Univisión
10. El talismán (telenovela)
TÍTULOS IMPORTADOS INÉDITOS
– 34
TÍTULOS DE REPRISES – 54
Azteca América
1. Cambio de vida (série – México)
2. El milagro de los santos (unitário –
México)
3. Lo que la gente cuenta (série – México)
4. La vida es una canción (série –
México)
5. Ni una vez más (unitário – México)
Estrella TV
6. Historias delirantes (série – México)
7. El shaka (série – México)
Telemundo
8. Amarte así (telenovela)
9. ¡Anita, no te rajes! (telenovela)
10. Decisiones juveniles (unitário)
11. La diosa coronada (telenovela)
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 323
Azteca América
1. Cielo rojo (telenovela – México)
2. Emperatriz (telenovela – México)
3. Lo que callamos las mujeres (unitário
– México)
4. Los rey (telenovela – México)
5. La verdad de mi vida (série – México)
Estrella TV
6. Milagros (unitário – México)
Telemundo
7. Amor cautivo (telenovela – México)
8. Bella Ceci y el imprudente (telenovela
– Colômbia)
9. El secretario (telenovela – Colômbia)
10. Pablo Escobar: el patrón del mal
(telenovela – Colômbia)
UniMás
11. ¡Qué clase de amor! (telenovela –
Venezuela)
12. Reto de mujer (telenovela – Colômbia)
13. Se solicita príncipe azul (telenovela –
Colômbia)
14. Tres milagros (telenovela – Colômbia)
12. Doña Bárbara (telenovela)
13. ¿Dónde está Elisa? (telenovela –
Chile)
14. La esclava Isaura (telenovela –
Brasil)
15. Más sabe el diablo (telenovela)
16. Sin senos no hay paraíso (telenovela)
17. Victorinos (telenovela)
UniMás
18. Acorralada (telenovela)
19. Alma rebelde (telenovela – México)
20. Bajo de las riendas de amor (telenovela)
21. El capo (telenovela – Colômbia)
22. Carita de ángel (telenovela – México)
23. Correo de inocentes (telenovela –
Colômbia)
24. El derecho de nacer (telenovela –
México)
25. El juego de la vida (telenovela –
México)
26. Gotita de amor (telenovela – México)
27. Hasta que la plata nos separe (telenovela – Colômbia)
28. La hija del mariachi (telenovela –
Colômbia)
29. La mentira (telenovela – México)
30. La usurpadora (telenovela – México)
31. Las tontas no van al cielo (telenovela
– México)
15. El último matrimonio feliz (telenovela
32. Locura de amor (telenovela – México)
– Colômbia)
33. María Isabel (telenovela – México)
34. María Mercedes (telenovela –
Univisión
México)
16. Abismo de pasión (telenovela –
35. Marimar (telenovela – México)
México)
36. Misión S.O.S. aventura y amor (tele17. Amor bravío (telenovela – México)
novela – México)
18. Amorcito corazón (telenovela – Méxi- 37. Mujer, casos de la vida real (unitário
co)
– México)
324 | Obitel 2013
19. Amores verdaderos (telenovela – 38. Muñecas de la mafia (telenovela –
México)
Colômbia)
39. Nunca te olvidaré (telenovela –
20. Como dice el dicho (unitário – México)
México)
21. Corazón apasionado (telenovela –
40. Soñadoras (telenovela – México)
Venezuela)
22. Corona de lágrimas (telenovela –
41. Tres mujeres (telenovela – México)
México)
23. Dos hogares (telenovela – México)
24. El encanto del águila (série – México) Univisión
25. Esperanza del corazón (telenovela –
42. 13 miedos (série – México)
México)
26. La mujer perfecta (telenovela – Ven- 43. Al diablo con guapos (telenovela –
ezuela)
México)
27. La rosa de Guadalupe (unitário –
44. Alma de hierro (telenovela – México)
México)
45. Central de abasto (telenovela –
28. Locas de amor (série – México)
México)
29. Ni contigo ni sin ti (telenovela –
46. Cuando me enamoro (telenovela –
México)
México)
30. Por ella soy Eva (telenovela –
47. Cuidado con el ángel (telenovela –
México)
México)
31. La que no podía amar (telenovela –
48. Hasta que el dinero nos separe (teleMéxico)
novela – México)
32. Te presento a Valentín (telenovela –
49. La fuerza del destino (telenovela –
México)
México)
33. Un refugio para el amor (telenovela
50. Mañana es para siempre (telenovela
– México)
– México)
34. Una familia con suerte (telenovela –
51. Mar de amor (telenovela – México)
México)
52. Muchachitas como tú (telenovela –
México)
53. Para volver a amar (telenovela –
México)
54. Sortilegio de amor (telenovela –
México)
Foram dez títulos de produção nacional e 34 ibero-americanos.
O número de títulos nacionais de estreia cresceu de 19% em 2011
para 23% em 2012, enquanto os ibero-americanos caíram de 81%
em 2011 para 73% em 2012. Em termos de porcentagem de horas, a
produção nacional também cresceu, de 19% para 26%, enquanto, no
sentido inverso, a ibero-americana caiu de 81% para 74%, de 2011
a 2012. A redução do número de títulos ibero-americanos se deu em
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 325
função de uma queda no número de ficções importadas dos países
da região em geral. Em particular, o caso do México como provedor
de ficção apresentou uma drástica redução, passando de 34 títulos
em 2011 para 24 em 2012; mas, igualmente, no mesmo período, a
Colômbia baixou de oito para sete títulos, a Venezuela de quatro
para três e o Brasil foi a zero.
Tabela 2. A ficção de estreia em 2012: países de origem
País
Títulos
%
10
22,7
34
Argentina
Capítulos/
%
Horas
%
906
28,9
836:30
26,4
77,3
2.226
71,1
2.329:45
73,6
0
0
0
0
0
0
Brasil
0
0
0
0
0
0
Chile
0
0
0
0
0
0
Colômbia
7
15,9
466
14,9
434:45
13,7
Equador
0
0
0
0
0
0
Espanha
0
0
0
0
0
0
EUA (produção
hispânica)
10
22,7
906
28,9
836:30
26,4
México
24
54,6
1.621
51,8
1.774:05
56
Peru
0
0
0
0
0
0
Portugal
0
0
0
0
0
0
Uruguai
0
0
0
0
0
0
Venezuela
3
6,8
139
4,4
121:00
3,8
34
77,3
2.226
71,1
2.329:45
73,6
0
0
0
0
0
0
NACIONAL
(total)
IBERO-AMERICANA (total)
Latino-Americana
(âmbito Obitel)
Latino-Americana
(âmbito não Obitel)
Outras (produções e
coproduções
de outros países
latino-am./ibero-am.)
TOTAL
Fonte: Obitel EUA – Nielsen
(3)
Episódios
(262.00)
44
100
3.132.4
(255:00)
100
3.166:15
100
326 | Obitel 2013
No que se refere a faixas horárias, diferentemente do ano anterior, no qual não houve nenhuma produção nacional fora do horário
nobre, este ano teve 14% da produção nacional programada para a
tarde, enquanto os 86% restantes ficaram no horário nobre. A inclusão de programação de estreia no horário da tarde foi resultado
da inserção de dois títulos nesse horário: a produção da Imagina
US para a Telemundo Historias de la virgen morena e a telenovela
El talismán, coproduzida por Univisión e Venevisión, que mudou
para o horário da tarde. Na produção ibero-americana, há estreias
em todas as faixas horárias, mas também estão mais concentradas
no horário nobre, com 47%, e na tarde, com 38%. Dos 17 títulos
de estreia ibero-americanos programados para o horário nobre, 14
foram originários do México e três, da Colômbia. 777
0
906
Horário nobre (19:00-22:00)
Noturno (22:00-6:00)
TOTAL
0
0
0
2
0
0
10
Série
Minissérie
Telefilme
Unitário
Docudrama
Outros (soap opera etc.)
TOTAL
Fonte: Obitel EUA – Nielsen
8
Títulos
Telenovela
Formatos
100
0
85,8
0
836:30
0.00
706:30
130:00
H
Nacionais
14,2
0
%
100
0
84,5
15,5
0
%
2.226
96
1.053
853
224
C/E
100
4,3
47,3
38,3
10
%
2.329:45
102:30
1.159:40
830:45
236:50
H
Ibero-Americanas
100
4,4
49,8
35,7
10,2
%
100
0
0
20
0
0
0
80
%
906
0
0
68
0
0
0
838
Cap./Ep.
100
0
0
7,5
0
0
0
92,5
%
Nacionais
836:30
0
0
67:30
0
0
0
769:00
Horas
100
0
0
8,1
0
0
0
91,9
%
34
0
0
4
0
1
2
27
Títulos
100
0
0
11,8
0
2,9
5,9
79,4
%
3.132
96
%
7,2
100
3,1
58,4
31,3
Total
1.830
982
224
C/E
2.226
0
0
137
0
7
32
2.050
Cap./Ep.
100
0
0
6,2
0
0,3
1,4
92,1
%
H
Horas
3.166.25
102:30
1.866:10
960:45
236:50
2.329:45
0
0
138:40
0
3:30
31:55
2.155:40
Ibero-Americanas
Tabela 4. Formatos da ficção nacional e ibero-americana
129
Tarde (12:00-19:00)
Fonte: Obitel EUA – Nielsen
0
C/E
Manhã (6:00-12:00)*
Faixas horárias
Tabela 3. Capítulos/Episódios e horas emitidos por faixa horária
%
100
0
0
5,9
0
0,2
1,4
92,5
%
100
3,2
58,9
30,4
7,5
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 327
328 | Obitel 2013
As telenovelas continuam sendo o gênero preferido na produção de ficção, sendo 36 estreias do total de 44, seguidas por seis
unitários e três séries. Do total de dez produções nacionais, houve
oito telenovelas, dois unitários, Decisiones extremas e Historias de
la virgen morena, mas nenhuma série. Dos 34 títulos da produção
ibero-americana, 28 foram telenovelas, quatro unitários, Lo que
callamos las mujeres, Milagros, Como dice el dicho e La rosa de
Guadalupe, duas séries, La verdad de mi vida e Locas de amor, e
uma minissérie, Encanto del águila. Tabela 5. Formatos da ficção nacional por faixa horária
Manhã
%
Tarde
%
Horário
nobre
%
Noturno
%
Total
%
Telenovela
0
0
0
0
8*
88,9
0
0
8
80
Série
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Minissérie
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Telefilme
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Unitário
0
0
1
100
1
11,1
0
0
2
20
Docudrama
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Outros (soap
opera etc.)
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
TOTAL
0
0
1
100
1
100
0
0
10
100
Formatos
*Uma telenovela estreou no horário nobre, mas depois foi mudada para o horário da tarde
devido aos baixos números de ratings. Porém, nós a classificamos como programa em
horário nobre para os propósitos desta tabela.
Fonte: Obitel EUA – Nielsen
A grande maioria das telenovelas foi situada no tempo presente. Houve apenas duas que poderiam ser consideradas históricas:
Pablo Escobar: el patrón del mal e El encanto del águila. A primeira era sobre a vida do narcotraficante Pablo Escobar, e a segunda,
sobre a Revolução Mexicana.
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 329
Tabela 6. Época da ficção
Títulos
%
Presente
Época
42
95,5
de Época
0
0
Histórica
2
4,5
Outra
0
0
TOTAL
44
100
Fonte: Obitel EUA – Nielsen
A lista das dez produções mais assistidas mostra claramente o
domínio hegemônico da Televisa, com suas produções transmitidas
através da Univisión, mas também mostra, mesmo que timidamente,
a entrada na lista das realizações hispânicas nos Estados Unidos.
Por sua vez, seja através da produção ou da coprodução, a Colômbia
vai se consolidando como uma importante fonte de produção bem-sucedida para o mercado do país. Em 2012, a Univisión transmitiu
nove das dez produções mais vistas, e a Telemundo transmitiu a
telenovela que ocupou o décimo lugar, enquanto a Televisa gerou
oito das nove produções de maior sucesso transmitidas pela Univisión, sendo que a nona telenovela foi uma coprodução da Univisión
com a Venevisión-Miami. A novidade do ano é que a telenovela que
ocupou o décimo lugar e foi transmitida pela Telemundo não foi
produzida pelo canal hispânico, mas pela colombiana Caracol TV.
Tabela 7. Os dez títulos mais vistos: origem, rating, share
Título
1
2
La que no
podía amar
Abismo de
pasión
País de
origem
da ideia
original ou
roteiro
Produtora
Canal
Nome do
roteirista
ou autor da
ideia original
México
Televisa
Delia Fiallo –
ideia original
Univisión
Ximena Suarez – roteiro
México
Televisa
Univisión
Juan Carlos
Acalá
Rating
Share
18,73 29,59
18,24
28,3
330 | Obitel 2013
Enrique
Estébanez
Univisión Marcela
Citterio
Kary Fajer
Pedro Rodríguez AlejanUnivisión dra Romero
Humberto
Robles
María Zarattini
Martha CaUnivisión
rrillo
Cristina
García
3
Amores
verdaderos
México
Televisa
4
Por ella soy
Eva
México
Televisa
5
Amor bravío México
Televisa
6
Una familia
con suerte
México
Televisa
Univisión Jorge Fons
7
Un refugio
México
para el amor
Televisa
Univisión
Ignacio Sada
Madero
13,07 22,73
8
Corona de
lágrimas
México
Televisa
Univisión
Manuel Canseco Noriega
Jesús Calzada
Janely E. Lee
10,9 18,53
EUA
Univisión/
Venevisión
Univisión
Verónica
Suárez
8,62 19,79
Colômbia
Caracol
TV
Telemun- Juan Camilo
do
Ferrand
9
El talismán
Pablo
Escobar: el
10
patrón del
mal
18,16 28,27
15,82 25,46
15,56 25,56
14,78 24,49
8,54
Total de produções: 10
Roteiros estrangeiros:
100%
90%
8,54
Fonte: Obitel EUA – Nielsen
As dez ficções mais vistas foram telenovelas, e todas foram
ao ar no horário nobre. Una familia con suerte foi uma telenovela
que começou no ano anterior, em outubro de 2011, mas continuou
durante 2012, até maio, enquanto Amores verdaderos, Corona de
lágrimas e Pablo Escobar: el patrón del mal começaram a ser transmitidas em 2012, mas continuaram seus episódios em 2013. Na lista
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 331
das dez produções mais vistas, a Televisa ocupou oito lugares em
2008, dez em 2009, nove em 2010, oito em 2011 e, agora, oito em
2012.
Tabela 8. Os dez títulos mais vistos: formato,
duração, faixa horária
Título
1
2
3
4
5
6
7
8
9
La que no
podía amar
Abismo de
pasión
Amores
verdaderos
Por ella soy
Eva
Amor bravío
Una familia
con suerte
Un refugio
para el amor
Corona de
lágrimas
El talismán
Formato
Nº de Datas da primeira
cap./ep.
e da última
Gênero
(em
transmissão
2012) (em 2012) (*)
telenovela
drama
157
02/01 a 10/08
telenovela
drama
161
12/03 a 02/11
telenovela
drama
36
07/11 a 26/12
telenovela
drama
114
16/07 a 22/11
telenovela
drama
90
13/08 a 22/11
telenovela
drama
76
06/02 a 23/05
telenovela
drama
164
24/05 a 22/11
telenovela
drama
20
03/12 a 28/12
telenovela
drama
98
12/03 a 15/06
drama
114
09/07 a 28/12
Pablo Esco10 bar: el patrón telenovela
del mal
Fonte: Obitel EUA – Nielsen
Faixa
horária
Horário
nobre
Horário
nobre
Horário
nobre
Horário
nobre
Horário
nobre
Horário
nobre
Horário
nobre
Horário
nobre
Tarde/
Horário
nobre
Horário
nobre
Tabela 9. Temáticas nos dez títulos mais vistos
Títulos
1
La que no podía
amar
2
Abismo de
pasión
TEMÁTICAS
DOMINANTES
(ATÉ CINCO TEMAS
MAIS IMPORTANTES)
TEMÁTICAS SOCIAIS
(ATÉ CINCO TEMAS MAIS
IMPORTANTES)
Egoísmo, relações de classe,
romance.
Adoção, deficiência.
Adultério, vingança.
Violência, abandono, sequestro.
332 | Obitel 2013
Adultério, amor, família e
disfunção.
3
Amores verdaderos
4
Por ella soy Eva Amor, decepção e redenção.
5
Amor bravío
6
Transtornos de alimentação,
falência.
Política de gênero, mães
solteiras.
Conspiração e vingança.
Eutanásia, depressão
e violência.
Una familia con
suerte
Relações de classe,
romance.
Mobilidade social.
7
Un refugio para
el amor
Fraude, romance e relações
de classe.
Abandono, deficiência,
adaptação à vida urbana.
8
Corona de
lágrimas
Valores familiares, relações
de classe.
Mobilidade social, mães
solteiras.
9
El talismán
Rivalidade, vingança,
romance.
Orfandade, imigração ilegal,
câncer, jogo de azar.
Pablo Escobar:
10 el patrón del
Narcotráfico e contrabando.
mal
Fonte: Obitel EUA – Nielsen
Corrupção e violência.
Em termos do gênero dos espectadores, em geral a audiência foi
majoritariamente feminina, com uma porcentagem acima dos 60%.
Contudo, a telenovela Pablo Escobar: el patrón del mal, produzida
na Colômbia pela Caracol TV, foi assistida por um número igual
de homens e mulheres, enquanto El talismán, uma coprodução da
Univisión e da Venevisión, foi a telenovela que apresentou o mais
alto contraste de público, com 65% de mulheres para apenas 35%
de homens. A idade dos públicos na lista das telenovelas mais vistas
está majoritariamente concentrada no público de mais de 25 anos
de idade. Especificamente, o público de 35 a 49 anos representou o
grupo com maior porcentagem de audiência, enquanto outro grupo
com um alto número de espectadores foi o de mais de 55 anos.
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 333
Tabela 10. Perfil de audiência dos dez títulos mais vistos:
gênero e idade
Títulos
Canal
Univisión
Univisión
Univisión
Univisión
Uni5 Amor bravío
visión
Una familia Uni6
con suerte visión
Un refugio
Uni7 para el
visión
amor
Corona de Uni8
lágrimas
visión
Uni9 El talismán
visión
Pablo
Escobar: el Tele10
patrón del mundo
mal
La que no
podía amar
Abismo de
2
pasión
Amores
3
verdaderos
Por ella soy
4
Eva
1
Gênero %
Faixas etárias %
MulHo12- 18- 25- 35- 502-11
55+
heres mens
17 24
34
49 54
61,6
38,4
13,8
5
10
18,6 23,7 7,1 21,7
62,9
37,1
13
5,7
9,7
17,2
24
7
23,5
61
39
15
7
8,7
18
26
6
19,4
63,2
36,8
14
6
8,7
18,2 26,9 5,8 20,4
63,4
36,6
12
5
8,3
17,2 26.1 6,7 24,6
58,6
41,4
17,3 5,6 10,4 20,2 22,7 5,4 18,3
64,6
35,4
13,1 5,8
7,9
16,3 23,6 6,7 26,6
62,8
37,2
14,9 5,4
6,5
16,4 24,9 6,2 25,7
65
35
50,2
49,8
14,9 4.2 10,1 16,7 20,7 6,6 26,8
7,8
4,3
7,9
18,6 33,6 8,3 19,5
Fonte: Obitel EUA – Nielsen
3. A recepção transmidiática
O fenômeno das redes sociais continua sendo um lugar para
divulgar informação e promover as ficções e, à medida que a tecnologia vai avançando, também melhoram os formatos para atingir
os públicos. Há três elementos centrais que destacam o papel que
as redes sociais cumpriram na produção de televisão em 2012. O
primeiro foi que as redes sociais não apenas conectam os fãs com a
programação, mas que agora eles também se conectam entre si para
participarem de discussões e compartilhar o que curtem no Facebook, Twitter, Instagram, etc. O segundo, TV Everywhere4, é que,
TV Everywhere, ou TV em toda parte, é uma tentativa da indústria da televisão de
responder à demanda do público por mais conteúdo em outras telas, como tablets, computadores e telefones celulares.
4
334 | Obitel 2013
agora, as grandes corporações conseguirão medir a audiência por
meio das diferentes plataformas. O terceiro, que os fãs se transformaram em embaixadores da informação que ajudam as emissoras
a divulgar e promover suas ficções como nunca havia acontecido
antes. As redes sociais transformaram-se na principal fonte de notícias. As pessoas têm mais probabilidades de receber notícias mundiais através dos seus amigos no Facebook que do Huffington Post.
Páginas
Tipos de
Níveis de
Ficção
Emissora de inter- interação trans- interaescolhida
net
midiática
tividade
Página
oficial
El talismán
Visualização
Visualização
Univisión Facebook transmidiática
Twitter
YouTube
Passiva
Ativa
Interativa em
tempo real
Ativa
Visualização
transmidiática
Ativa
Práticas
dominantes dos
usuários
Comentário
Interpretação
Remix
Paródia
Recomendação
Imitação
Celebração
Crítica
Coleção
Compartilhamento
Discussão
A ficção escolhida para o capítulo dos Estados Unidos é El talismán. A equipe estadunidense queria que essa seção refletisse uma
produção criada no país, levando em conta que muitos dos títulos
no top ten são produções da Televisa no México. El talismán teve
seu grande final na semana de 11 de junho a 15 de junho. A página
de internet escolhida para a análise desta seção se baseou no tráfico
acumulado durante o final. O Facebook foi o local que teve mais
interação nessa última semana de programação. O perfil foi criado em 28 de outubro de 2011 e a telenovela foi lançada em 30 de
janeiro de 2012. A página obteve um total de 12.382 “curtir” e 32
comentários. Aproximadamente 25 comentários foram publicados
antes da estreia de El talismán, junto com alguns comentários de
promoção sobre outras telenovelas da Univisión. Na última semana
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 335
de El talismán, de 11 de junho a 15 de junho, houve um total de 20
comentários postados pelo representante da Univisión. A interação
do público aumentou à medida que se aproximava o episódio final.
De segunda a quarta-feira, entre 15 e 30 pessoas “curtiram”, e na
sexta-feira, dia 15, mais de cem “curtiram” dois dos comentários.
Durante toda a semana, houve um total de 766 “curtidas”, 112 comentários do público e 14 compartilhamentos.
O Twitter não teve tanta interação quanto o Facebook, nem por
parte da Univisión nem por parte do público, e sobre a página oficial
não há comentários de usuários. A pesquisa mostra que os hispânicos têm mais acesso à tecnologia móvel, com os smartphones, do
que qualquer outra minoria (Guthrie, 2012), mas, em comparação
com o mercado geral, ainda estão abaixo. Como também foi mencionado anteriormente, a Univisión, sem dúvida, continua ampliando sua presença na mídia por meio da internet, não apenas através de
Facebook, Twitter, Instagram etc., mas também através da criação
de webnovelas – mais recentemente com atrizes e atores conhecidos
em todo o hemisfério, como Kate del Castillo.
4. O mais destacado do ano
Dois grandes eventos preencheram a cobertura e as grades de
programação de 2012: as Olimpíadas de Londres e as eleições presidenciais dos Estados Unidos. A NBC, empresa proprietária da
Telemundo, obteve os direitos de transmissão das Olimpíadas de
Londres, o que deu a oportunidade à rede hispânica de mobilizar
uma cobertura de 173 horas durante as competições. A emissora autointitulada “A Casa dos Jogos Olímpicos em Espanhol nos Estados
Unidos” formulou uma estratégia ampla de cobertura que incluía
transmissões, tanto na emissora de televisão aberta quanto na Mun2,
sua emissora de TV a cabo, em diferentes plataformas digitais e
móveis e em suas plataformas dentro das redes sociais. A cobertura teve a participação de mais de 20 apresentadores, anfitriões e
comentaristas (NBC-U, 2012). A Telemundo dobrou a audiência
em comparação com a que teve nas Olimpíadas de Pequim entre
336 | Obitel 2013
espectadores de 18 a 49 anos. A cobertura da emissora deu a ela
uma audiência de 19,3 milhões de espectadores, 29% a mais do que
em Pequim. O jogo do Brasil contra o México trouxe um total de
3,6 milhões de espectadores, transformando-se na partida de futebol
transmitida em um dia de fim de semana mais assistida na história
da emissora (NBC-U Sports, 2012).
A eleição para presidente dos Estados Unidos ofereceu uma
oportunidade única para que as emissoras em espanhol se posicionassem como fonte original de informação, tanto para seus públicos
hispânicos quanto para o grande público anglófono do país. Sabendo da posição estratégica que ocupa a população hispânica na
escolha do novo presidente, Univisión e Telemundo conseguiram
fazer várias entrevistas e programas especiais com os dois candidatos presidenciais. A estratégia de se fazer presente no panorama
eleitoral também era crucial para atrair investimentos publicitários
para as emissoras dentro dos 3 bilhões de dólares que se calcula ter
sido o investimento em campanhas publicitárias na mídia. Em 2008,
as emissoras de televisão hispânicas teriam conseguido apenas 100
milhões de dólares dos 2 bilhões investidos (James, 2012). Contudo,
estudos sobre o investimento publicitário nas emissoras hispânicas
em dez dos Estados mais importantes (Arizona, Califórnia, Colorado, Flórida, Illinois, Nova York, Novo México, Texas, Nevada
e Virginia) demonstraram que o investimento constituiu apenas
6,2% do total investido nas campanhas de 2012, em contraste com
os 10% que representou a votação dos latinos para a presidência
(Vega, 2012a).
Naquele ano, havia uma grande expectativa acerca do potencial
da indústria da ficção hispânica nos Estados Unidos, depois do sucesso das produções La reina del sur e Eva Luna em 2011. Contudo,
não houve essa continuidade em 2012. Esperava-se que El talismán,
uma coprodução da Univisión e da Venevisión, na qual, de alguma
maneira, repetia-se a fórmula usada em Eva Luna, gerasse altos índices de audiência. El talismán não apenas era uma coprodução das
duas produtoras de Eva Luna, mas também repetia a mesma equipe
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 337
de produtores-executivos da Venevisión, Peter Tinoco, e da Univisión, Carlos Sotomayor, com direção-executiva de Arquímides Rivero e Blanca Soto como atriz principal. El talismán estreou no horário
das 20h (segundo o fuso horário do leste dos Estados Unidos) e foi
vista por mais de 5 milhões de espectadores, transformando-se no
lançamento mais assistido da história para uma produção hispânica
nos Estados Unidos (Univisión Corporativo, 2012). No entanto, a
telenovela logo começaria a perder audiência e pontos de rating,
obrigando a Univisión a alterar seu horário para as 13h. A mudança
acabaria baixando de maneira ainda mais drástica o rating, e o número projetado de capítulos da novela foi reduzido de 120 para apenas 98. Enquanto a telenovela alcançava em torno de 14 pontos de
rating no horário nobre, ao mudá-la de horário a pontuação baixou
para apenas seis pontos de rating. Foi assim que El talismán ocupou
o nono lugar na tabela dos mais vistos, com uma média de apenas
8,62 pontos de rating.
Por sua vez, as produções originais da Telemundo saíram da
lista das mais assistidas. Uma produção da Caracol TV colocará a
Telemundo na lista, não como produtora, mas como canal emissor.
A telenovela Pablo Escobar: el patrón del mal, da Caracol TV, obteve 8,54, apenas um décimo a menos que El talismán. A telenovela colombiana é um exemplo da continuada relevância do tema
do narcotráfico na ficção, como foi La reina del sur em 2011. Uma
prova do quanto a temática e a conexão com a Colômbia como país
produtor são estratégicas é a produção da narconovela El señor de
los cielos, com a Caracol TV e Argos. Porém, também revela a importância do revés sofrido pela Telemundo quando sua produtora independente RTI-Colômbia e a Caracol TV anunciaram suas alianças
com Televisa e Univisión durante o ano.
O mais importante do ano não é uma produção em particular,
mas o reordenamento de forças no interior da indústria hispânica
dos Estados Unidos. A RCN deixará a Univisión e a UniMás para se
associar com a NewsCorp/Fox em sua nova emissora, MundoFox.
A RTI-Colômbia e a Caracol TV abandonarão a Telemundo, por
338 | Obitel 2013
acordos de produção e programação com Televisa e Univisión. A
Telemundo buscará novas alianças de produção com Cadena Tres
(México) e Televen (Venezuela), enquanto reforça sua relação com
a Argos Comunicación, do México.
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social
O ataque direto lançado pelo ex-presidente Felipe Calderón
contra o narcotráfico e as disputas territoriais entre os cartéis abriu
caminho para uma incomparável onda de violência e assassinatos
brutais, incluindo decapitações, no México, há mais de seis anos.
Estima-se que tenha havido aproximadamente 50 mil mortos desde
2006, e os assassinatos ainda não diminuíram (Malkin, 2012). Uma
certa impotência pelo fato de que aqueles que estão no poder não
têm a habilidade ou a disposição de lutar contra o narcotráfico e a
corrupção que o mantém caracteriza o estado de ânimo da nação.
Ter que testemunhar como o México se transforma na Colômbia dos
anos 80 contribui para a desesperança e a ansiedade dos cidadãos
mexicanos. A Colômbia está localizada em uma das melhores regiões geográficas para produção e distribuição de drogas (Cadena, 2010). O
aumento da demanda pela maconha, particularmente nos Estados
Unidos, no fim da década de 1970, foi responsável pela proliferação
do cultivo e permitiu que a Colômbia se transformasse no principal
produtor dessa droga no mundo. Na verdade, o mais infame narcotraficante, Pablo Escobar, chegou a ser um dos homens mais ricos
em 1980, com uma fortuna de 25 bilhões de dólares, tendo até se
oferecido para pagar a dívida externa da Colômbia. Escobar também
foi responsável pela morte de 4 mil pessoas, incluindo três candidatos presidenciais, e por introduzir táticas terroristas, como o uso de
explosivos em lugares públicos (Cadena, 2010, p. 47). O reinado
dos cartéis colombianos terminou quando as autoridades dos Estados Unidos restringiram as rotas do narcotráfico no Caribe e no sul
da Flórida, permitindo, assim, que os cartéis mexicanos se apoderassem do negócio da distribuição (Archibold, 2009). A proximidade
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 339
do México com os Estados Unidos, seu consumo desenfreado de
drogas e suas permissivas leis de armas fortaleceram os cartéis.
José Luis Cadena (2010) argumenta que o narcotráfico representou para a Colômbia um novo tipo de crime organizado e uma
mudança cultural, na qual o dinheiro substituiu os antigos valores e
tradições do país. O termo “traquetos” apareceu para designar quem
está envolvido com o tráfico de drogas, que vivia uma vida intensa
e só acreditava no poder do dinheiro (2010, p. 50). As atividades ilícitas e a cultura do narcotráfico em países como Colômbia e México
(os termos “sicários” e “buchones”, semelhantes a “traquetos” em
termos de sua filosofia, agora são bastante comuns) são tão ubíquas
que capturaram o imaginário nacional, e suas representações na
cultura popular são proeminentes, tanto na música (narcocorridos)
quanto em romances e telenovelas. A dificuldade de reconstruir o
passado na cultura popular é um reflexo do conflito ao se tentar
compreender e esclarecer o presente. A reconstrução do passado envolve três aspectos principais: o processo de seletividade, no qual
alguns eventos são ressaltados e outros, omitidos, a questão da autoridade e a inclusão de um juízo moral, seja implícito ou explícito
(Meyers, 2007). A televisão, sendo a mídia mais popular e com mais alcance entre os hispânicos, tem sido especialista em narrar o passado e, assim,
influenciar a maneira em que o público pensa a história por meio
de suas telenovelas, as quais são um fenômeno cultural na América
Latina, onde mais de 50% da população se considera espectador
fiel (Miller, 2010). A telenovela é um gênero populista que cria um
espaço público e unido para que espectadores de diversos status socioeconômicos compartilhem uma experiência comum e participem
das discussões da nação. Mauro Porto (2011) comenta que o público
tende a estabelecer um paralelo entre as representações das telenovelas e as realidades políticas e sociais da nação. O melodrama que
caracteriza as telenovelas redefine a relação entre o que é político e
o que é pessoal por meio da adaptação dos problemas políticos em
termos pessoais e familiares, que são significativos na vida cotidia-
340 | Obitel 2013
na (Hamburger, 2000). Como observa Ana López (1995), “viver” a
nação por meio das telenovelas é uma possibilidade tangível para os
espectadores.
A moda atual na televisão hispânica é o subgênero da telenovela conhecido como “narconovela”, que se baseia no mundo sinistro
do narcotráfico. O escritor colombiano Gustavo Bolívar, autor do
livro Sin tetas no hay paraíso, que foi adaptado na bem-sucedida telenovela de mesmo nome, declara que “estamos assistindo ao sepultamento do esquema da Cinderela, ao menos por um bom tempo”.
Ou seja, os paradigmas do melodrama tradicional, no qual a bela
e pobre protagonista casa com um homem honesto e rico, estão se
dissolvendo para abrir caminho à representação da realidade crua da
América Latina e dos Estados Unidos.
A crítica contrária às narconovelas é que elas pintam uma imagem atraente da vida dos traficantes e servem como apologia às suas
atividades. O escritor Mario Fernando Prado, do jornal El Espectador, contra-argumenta que uma análise do desenvolvimento dessas
telenovelas indica que o resultado do narcotráfico sempre é prisão,
morte ou destruição. “O resultado é uma sequência tão grande de desastres e misérias que ninguém vai querer seguir esse caminho.” O
psicólogo José Antonio Garciandía concorda, observando, na revista colombiana Semana, que “as telenovelas não estão legitimando
nada, simplesmente mostram algo que já está informalmente legitimado na cultural nacional”.
Em meio ao panorama atual, no qual as narconovelas são rainhas da telinha e o descontentamento real com a chamada “guerra
contra as drogas” continua crescendo, chega a nova produção original da Telemundo, El señor de los cielos. Essa telenovela enfoca o
mito de Amado Carrillo, considerado um dos narcotraficantes mexicanos mais poderosos e infames da década de 1990. As notas à imprensa que precederam a estreia da telenovela alardeiam que ela é a
produção mais ambiciosa do ano na televisão hispânica, com efeitos
especiais de alto nível – em suas tantas explosões de carros e tiroteios –, e prometem uma história cheia de “ação, emoções, paixões
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 341
desenfreadas, luxo, miséria, intriga e suspense”. Tanta publicidade
valeu a pena. El señor de los cielos foi a segunda estreia com mais
rating, sem levar em conta a faixa horária, na história da Telemundo, atrás apenas de La reina del sur, atraindo aproximadamente 3
milhões de espectadores.
Levando-se em conta o sucesso incomparável de La reina del
sur, não surpreende que a Telemundo continue explorando o mundo
do tráfico de drogas em sua mais recente produção. El señor de los
cielos utiliza todos os termos disponíveis da narcocultura em um
período de meia hora. A abertura da telenovela apresenta o protagonista com sua vestimenta nortista (botas bicudas, chapéu, joias
de ouro em excesso), intercalando com imagens de drogas, armas
e dinheiro, enquanto a canção, no estilo de um corrido mexicano,
descreve-o como “tão abusado e perverso como o diabo/tão amado
quanto desonesto…”. Aurelio Casillas (conhecido como señor de
los cielos) é, por um lado, um macho com uma fraqueza pelo álcool
e pelas mulheres, e, por outro lado, um homem de família que vai à
igreja. O niilismo que caracteriza o mundo do narcotráfico, por sua
proximidade com a morte, é demonstrado na última cena do primeiro episódio, na qual Casillas comenta com seu empregado fiel: “Foi
pra morrer que a gente nasceu” – antes de balear seus inimigos.
A fórmula da narconovela demonstrou ser bastante bem-sucedida, e produzir esse tipo de programa é uma decisão sensata em
termos econômicos por parte da Telemundo. Por exemplo, La reina
del sur atraiu uma grande parcela do cobiçado grupo demográfico
masculino de 18 a 34 anos e elevou acima de 40% os ratings da
emissora em 2011. Além disso, as narconovelas dão à Telemundo
uma vantagem sobre sua rival Univisión e suas novelas, a maioria
produzida pela Televisa, que continua se baseando no esquema da
Cinderela. Uma grande parte da estratégia de marketing da Telemundo é se apresentar como voz autorizada dos latinos e afirmar
que dá ao público o que ele quer. Jacqueline Hernández, executiva
da empresa, comenta que “nossa audiência reflete a população hispânica dos Estados Unidos… o que todos os nossos espectadores
342 | Obitel 2013
têm em comum é uma paixão por sua cultura, e eles recorrem à
Telemundo para estabelecer uma conexão com conteúdos que são
exclusivamente hispano-americanos” – criticando a programação
da Univisión, que tende a ser feita para os imigrantes mexicanos de
primeira geração. Hernández comenta que La reina é um exemplo
da programação original da Telemundo, que é incomparável na televisão de hoje em dia. “[La reina] é um programa inteligente e provocador, mas, ao mesmo tempo, é tradicional pelo fato de que a personagem principal luta com seus valores pessoais” (Brock, 2011). Uma vez estabelecida sua autoridade, a Telemundo pode afirmar o direito de representar o passado e a realidade dos hispânicos
por meio de suas telenovelas, as quais enfatizam as atribulações pessoais de seus personagens. O público da Telemundo se identifica
até certo ponto com a história de Teresa Mendoza ou de Aurelio
Casillas, hispânicos de segunda ou terceira geração cujos pais emigraram para os Estados Unidos com o objetivo de alcançar o “sonho
americano” – de obter uma ascensão socioeconômica e o sucesso,
e, portanto, a felicidade (conforme a lógica do capitalismo). Como
esses personagens de telenovelas, os imigrantes são muitas vezes
considerados como rebeldes e párias que devem se manter à margem da sociedade. O juízo moral dessas telenovelas é paradoxal,
porque, enquanto os personagens são ameaçados com prisão e morte
em consequência de suas atividades ilícitas, passa-se uma imagem
atraente de suas vidas intensas e de seu consumo conspícuo de álcool, mulheres e armas (o que possuem é desejável). Mais do que isso,
ao enfatizar os efeitos especiais de alta qualidade e prometer uma
história cheia de cenas de ação, como fazem as notas à imprensa da
Telemundo, e o fato de que as explosões de carros e enfrentamentos
a bala são esterilizados a ponto de não haver sangue, fazem com que
a violência que rodeia o narcotráfico seja sedutora, para cativar o
público e manter os ratings.
Estados Unidos – Em busca de um público jovem –
o “rebranding” da televisão hispânica | 343
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2013.
8
México: o poder da TV na mira. A ficção
televisiva entre eleições presidenciais
e a ativação das audiências
Autores:
Guillermo Orozco, Francisco Hernández, Darwin Franco
Equipe:
Gabriela Gómez, Adrien Charlois1
1. O contexto audiovisual do México
O ano de 2012 deve ser lembrado como aquele em que uma boa
parte dos mexicanos, especificamente os jovens, uniu-se no Movimento #Yosoy132, tendo colocado pela primeira vez na agenda pública o papel que têm os meios de comunicação na sociedade. O
centro de suas demandas se concentrou em evidenciar “a imposição
midiática”, que, a partir das emissoras Televisa e TV Azteca, se
construiu para levar Enrique Peña Nieto, representante do hegemônico Partido Revolucionário Institucional (PRI)2, à presidência do
México.
Como nunca antes, foi posta em questionamento a aparente
neutralidade e objetividade dos meios de comunicação, e denunciou-se de múltiplas maneiras a ingerência que estes tinham nas
decisões político-econômicas do país. A sociedade organizada e o
#Yosoy132 apresentaram diversas iniciativas de lei, para dar fim
aos grandes monopólios midiáticos na radiodifusão e nas telecomunicações do país, e tratar de conseguir o que chamaram de: “A democratização de meios”.
Agradecemos à Nielsen Ibope México por proporcionar a informação de audiências e
programação para este capítulo. As opiniões sobre as mesmas são de responsabilidade do
Obitel. Agradecemos a Sofía Padilla por sua colaboração editorial.
2
Esse partido é, exceto por um período de 12 anos (2000-2012), o que ocupou a presidência do México por 71 anos.
1
348 | Obitel 2013
Os meios, ou pelo menos boa parte deles, tiveram que incorporar a suas agendas essas temáticas, e, inclusive, pela primeira vez,
foi realizado um debate presidencial organizado pela sociedade, e
não pelas emissoras ou autoridades eleitorais – um fato histórico
memorável.
Porém, a iniciativa cidadã não foi capaz de reverter a tendência,
e o candidato Peña Nieto, do histórico PRI, ganhou as eleições imerso na polêmica, acompanhado de Angélica Rivera, sua atual esposa
e ícone das novelas mexicanas, mais conhecida como a “Gaivota”,
pelo seu papel em Destilando amor, versão mexicana da atual novela colombiana Café com aroma de mulher.
Este também foi o ano em que mais se acirrou a disputa pelo
controle das telecomunicações. Sem fiscalização governamental e
com aberto apoio do governo do presidente Felipe Calderón, membro do Partido Acción Nacional (panista), à Televisa, o resto dos
competidores (liderados por Carlos Slim, o homem mais rico do
mundo, segundo a revista Forbes) representou uma defesa legal sem
precedentes, conseguindo reter a voracidade da Televisa em tomar
conta do mercado da convergência tecnológica. Ao final do ano, a
disputa parecia não acabar, ainda que, para surpresa de todos, esse
debate tenha facilitado uma reforma de telecomunicações (a desenvolver-se em 2013).
A ficção foi coadjuvante de ambos os processos políticos: as
eleições e a luta pelo Triple play (oferta de televisão digital, telefonia e internet pelo mesmo provedor), que serviu como palco para
potencializar mensagens político-eleitorais e evidenciar, ao menos
simbolicamente, a fusão dos interesses comerciais das emissoras.
Nessa mesma estrutura, a “ficção à la carte” (televisão via internet)
se consolidou como uma estratégia de marketing política e ajudou o
novo governo a manter, pelo menos na tela, a esperança de que suas
forças armadas estavam ganhando a guerra contra o crime organizado do qual o México padece desde 2006 e que custou a vida de mais
de 80 mil pessoas e o desaparecimento de outras 25 mil.
México – O poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências | 349
1.1. A televisão aberta no México
Gráfico 1. Redes nacionais de televisão aberta no México
REDES PRIVADAS (3)
REDES PÚBLICAS (2)
Televisa (Canais 2, 5 e 9)
Once TV (Canal 11)
TV Azteca (Canais 7 e 13)
Conaculta (Canal 22)
Cadenas Tres (Canal 28)
TOTAL REDES = 5
Fonte: Obitel México.
Gráfico 2. Audiência TV por canal3
3%
Canal 11
Canal 7
Canal 5
Canal 22
Cadena 3
Canal 13
Canal 9
Canal 22
Total ligados especial
%
Canal 2 (Televisa)
24,6
Canal 9 Galavision (Televisa) 10,6
19%
25%
Canal 13 (TV Azteca)
18,0
Cadena 3 (Canal 28)
1,9
10%
22%
Canal 22 (Conaculta)
1,0
18%
Canal 5 (Televisa)
22,4
Canal 7 (TV Azteca)
18,6
1%
Canal 11(Once TV)
2,9
2%
Fonte: Ibope AGB México, de segunda a domingo, das 2h às 0h, de 01 de janeiro a 31
de dezembro de 2012. Base de dados ratings TV 5 Domínios, Hogares nacional, Media
Smart Station. Elaboração Obitel México.
Gráfico 3. Share por canal
Share Indi%
vidual
Canal
2
16,32
26,6
27%
16%
Canal 9 Galavisión
6,75
11,0
Canal 13
10,78
17,6
22%
11%
Cadena 3
1,38
2,2
Canal 22
0,83
1,3
18%
Canal 5
13,43
21,9
1%
Canal 7
9,92
16,2
2%
Canal 11
1,96
3,2
Fonte: Ibope AGB México, de segunda a domingo, das 2h às 0h, de 01 de janeiro a 31
de dezembro de 2012. Base de dados ratings TV 5 Domínios, Hogares nacional, Media
Smart Station. Elaboração Obitel México4.
3%
Canal 2
Canal 9
Galavisión
Canal 13
Canal 3
Cadena 22
Canal 5
Canal 7
Canal 11
Total Ligados Especial
3
DIREITOS RESERVADOS IBOPE AGB MÉXICO, S.A DE C.V. Bruno Traven 60,
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foram postos à disposição do Obitel para fins de investigação e análises próprias deste
projeto, pelo que se proíbe sua reprodução por terceiros permanente ou temporária, total
ou parcial, sem nenhuma permissão escrita desta empresa. A violação estará sancionada
como dispõem as leis da matéria.
4
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350 | Obitel 2013
Gráfico 4. Oferta de gêneros na programação televisiva
2%
8%
12%
6%
20%
34%
18%
Educativo
Esportes
Informação
Ficção
Entretenimento
Político
Outros
Gêneros
transmitidos Educativo
Esportes
Informação
Ficção
Horas de
exibição
16.104
8.281
26.357
24.871
11,9
6,2
19,4
18,3
Entretenimento
46.336
34,2
%
Político
2.696
2,0
Outros
10.803
8,0
Total
135.448
100
Fonte: Ibope AGB México, de segunda a domingo, das 2h às 0h, de 01 de janeiro a 31
de dezembro de 2012. Base de dados ratings TV 5 Domínios, Hogares nacional, Media
Smart Station. Elaboração Obitel México5.
1.2. Tendências da audiência no ano de 2012
O crescimento na aquisição de novas TVs nos lares mexicanos
e a maior conectividade destes à internet estão começando a gerar
processos de recepção múltipla que mudam as dinâmicas das audiências mexicanas. Apesar dos dispositivos serem cada vez mais
pessoais, as audiências não estão se separando ou individualizando; pelo contrário, os conteúdos – independentemente do suporte –
continuam confluindo.
A recepção da televisão em dispositivos móveis para 2012
cresceu em 58% na sua conexão à internet através dos smartphones,
e de acordo com o Estudo de consumos digitais entre internautas
mexicanos (IAB México et al., 2012), cerca de 50% dos internautas
General Pedro Ma. Anaya, 03340, México, D.F., 2013. A presente página contém materiais de propriedade industrial e intelectual de Ibope AGB México, S.A de C.V., que
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como dispõem as leis da matéria.
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projeto, pelo que se proíbe sua reprodução por terceiros permanente ou temporária, total
ou parcial, sem nenhuma permissão escrita desta empresa. A violação estará sancionada
como dispõem as leis da matéria.
México – O poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências | 351
nacionais assistem televisão on-line enquanto navegam. Os vídeos
musicais são os conteúdos audiovisuais que mais consomem (44%),
seguido de notícias (29%), seriados de televisão (28%) e filmes
(29%). Cerca de 18% seguem a transmissão de algum canal de televisão pela internet.
A indústria do Vídeo on Demand (VoD) no México está em
pleno desenvolvimento, e, sem dúvida, o crescimento da banda larga e os dispositivos conectados à internet estão modificando os hábitos de consumo audiovisual. Portanto, filmes e outros conteúdos
audiovisuais já não somente se consomem nas salas de cinema, senão no próprio lar ou através de plataformas como Netflix, Totalmovie e Vudu. Um em cada quatro internautas mexicanos se conecta
à Netflix (El economista, 29/01/20136), que atualmente ocupa o 16º
lugar entre os sites mais visitados do México (segundo o site www.
alexa.com), tendo iniciado operações no país somente em 2011. No
final de 2012 surgiram outras plataformas que competem com as
anteriores: Claro Vídeo e Cinépolis Klic, as quais oferecem cotas
mensais mais econômicas.
De acordo com o Informe Anual 2012 da Televisa (p. 38), sob
um contrato de licença realizado com a Netflix, a partir de 12 de
Julho de 2011, a Televisa pôs à disposição dos assinantes Netflix,
de maneira não exclusiva, cerca de 3 mil horas de novelas e séries
ao ano, assim como diversos programas de entretenimento geral de
sua grade de escolhas para os territórios do México, América Latina
e Caribe. Esse acordo aumenta a disponibilidade de programação
da companhia na América Latina e no Caribe, zonas onde a Netflix
lançou diversas assinaturas ao final de 2011, constituindo uma estratégia para capitalizar sua grade de opções de aproximadamente
50 mil horas de conteúdo via distribuição digital. As expectativas de
consumo estão crescendo e as ofertas também.
Recuperado de http://eleconomista.com.mx/tecnociencia/2013/01/29/cada-cuatro-internautas-mexico-usa-netflix
6
352 | Obitel 2013
1.3. Investimentos publicitários do ano: na TV e na ficção
De acordo com a revista Merca 2.0 (abril, 2013), o investimento publicitário na América Latina segue com uma tendência de
alta. Para este 2012, a região teve um incremento de 8% em relação
ao ano anterior. No México investiu-se 5,296 milhões de dólares,
o que representa 5% de um investimento referente ao ano de 2011.
A televisão aberta continua com a média de comunicação favorita
dos publicitários, já que ocupa 52% do investimento total, enquanto
a televisão fechada (a cabo) recebeu somente 7,3% de investimento publicitário. O investimento em meios digitais chegou a 6,8%,
superando os jornais, que, apesar de uma leve melhoria, somente
alcançaram 6,6%.
Entre os investimentos no âmbito da ficção, está o estabelecimento das chamadas “novelas de marca”, produções feitas através
do modelo reconhecido como “publicidade narrativa”, o que significa fazer da marca um elemento narrativo a mais na trama, isto é,
uma personagem. Esse modelo vem operando nas novelas da Televisa desde 2009 dentro de um horário específico (20h) e através
de um formato reconhecido como “Novelas populares ou cômicas”.
Hasta que el dinero nos separe (Televisa, 2009) se desenvolveu
em uma agência de carros Ford. Em 2011, Una família con suerte
foi gravada na fábrica de cosméticos Avon, nas mesmas instalações
que foram utilizadas para realizar em 2012 Porque el amor manda.
Conforme os dados da própria empresa Avon, sua participação
nas novelas com a publicidade integrada permitiu-lhes alcançar o
máximo de intenção de compra com o público exposto às integrações, com 89% antes de ver o anúncio e 100% depois de vê-lo. Em
entrevista para a revista de negócios Expansión, a mesma diretora
executiva da Avon, Andrea Jung, reconheceu a criatividade de sua
equipe de marketing no México, presumindo os resultados que o seu
presidente fictício “Pancho López” (personagem principal de Una
família con suerte) lhes deu. Foram tão bons os resultados desse
modelo que, como referimos anteriormente, não somente patrocinaram a novela Porque el amor manda como também fizeram nela o
México – O poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências | 353
primeiro crossover nas novelas mexicanas ao trazer de novo à tela o
personagem de “Pancho López”, que, muito além de um argumento de transmidialidade narrativa, é um esquema mercadológico que
nós denominamos: “Ator/Personagem/Franquia”.
1.4. Merchandising e Merchandising social
O merchandising está se naturalizando cada vez mais, fazendo
parte das histórias e vidas cotidianas dos personagens. Como exemplo, na novela Amores verdaderos, a protagonista é dona de uma
agência de publicidade líder, pelo que assim se justifica que em determinado momento apareçam dentro da trama anúncios de alguns
produtos (fraldas ou iogurte), mencionando suas qualidades.
Outro exemplo constitui Te presento a Valentin, na qual seus
patrocinadores (de sucos, produtos para o cabelo, purificadores de
água, cremes para o corpo e um banco) não somente se anunciaram
dentro da história, fazendo parte da mesma, mas, inclusive, abriram
contas no Facebook e no Twitter com o nome dos produtos, a fim de
interagir através dessas redes sociais com as audiências, incentivando o consumo das mesmas.
O resultado dessa tendência de naturalizar produtos na mesma
narrativa da ficção constitui uma maior garantia de que a audiência
“veja” e se conecte com os produtos e marcas comerciais, já que não
deixam a alternativa de trocar para outro canal enquanto permanecem os anúncios, que, além disso, podem seduzi-los “sutilmente”
ao consumo.
Porém, nem todo o merchandising é de caráter comercial. Também existe aquele que se refere a programas ou iniciativas sociais
que buscam a conscientização sobre diversos problemas. Esse tipo
de “publicidade social” esteve presente em diversas ficções mexicanas durante todo o ano de 2012.
Contudo, como apontaremos, mais que um fim social, o que
se perseguiu foi um objetivo político, como na série La teniente7, a
7
Em 2011, a Televisa produziu a série El equipo a pedidos da Secretaria de Segurança
Pública do governo federal. Nela se mostrava a luta que empreendeu essa corporação
354 | Obitel 2013
qual foi utilizada para a dramatização das ações empreendidas contra o narcotráfico. Na série, obviamente se mostrou a cara positiva e
triunfalista da guerra.
Outras produções, na mesma estrutura, focalizaram na difusão dos programas sociais de determinados governos; por exemplo,
destaca-se a novela Mucho corazón, produzida pelo Sistema Chiapaneco de Rádio, Televisão e Cinematografia. Essa ficção já é um
ícone ao ser a primeira novela que se produz em um canal público
municipal. Nela se promoveram diversas políticas sociais derivadas
do governo deste Estado durante o período 2006/2012. No mesmo âmbito da televisão pública, porém a nível social,
o Canal Once coproduziu duas séries: Paramédicos e Kipatla. A
primeira delas foi baseada em depoimentos reais do pessoal da Cruz
Vermelha mexicana; a segunda é uma série que o canal realizou com
o Conselho Nacional para Prevenir a Discriminação (Conapred).
Paramédicos procurou gerar consciência sobre o trabalho do
pessoal da Cruz Vermelha, evidenciando as carências com que trabalham. Ao final de cada emissão, enfatizava-se a importância de
que as pessoas contribuíssem com suas colaborações à coleta econômica que anualmente organiza essa instituição.
Por outro lado, na série de contos infantis Kipatla: para tratarnos igual, editada pelo Conapred, propôs-se como objetivo apelar
para a realidade das crianças e a partir daí convidá-las a refletir sobre sua própria atuação. Sua premissa inicial foi promover a igualdade, a tolerância e a rejeição à discriminação.
À diferença dos outros modelos de merchandising social, o que
se promoveu na televisão pública do México foi uma aposta interessante sobre como se pode pôr a ficção a serviço de programas ou
ações sociais sem que estes desmereçam ou comprometam a qualidade narrativa ou visual da ficção televisiva.
contra o crime organizado. Em La teniente, o papel principal não é dos policiais, senão
da milícia.
México – O poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências | 355
1.5. Políticas de comunicação (leis, reformas, incentivos, TV digital)
“Democratizar o sistema de meios e impedir a imposição midiática” foram as alternativas do Movimento #Yosoy132, que surgiu
em 11 de maio, depois da visita que o então candidato do PRI e atual
presidente do México, Enrique Peña Nieto, fez nas instalações da
Universidade Ibero-Americana da capital do país. Os jovens então
o interrogaram sobre sua atuação na repressão que sofreram os habitantes da comunidade de San Salvador Atenco8, quando ele foi o
governador do Estado do México. As respostas parcas e evasivas do
candidato presidencial causaram contrariedade nos jovens universitários, dando origem ao Movimento #YoSoy1329.
Esse emergente movimento se espalhou nas redes sociais, como
Twitter e Facebook, gerando assim um movimento de nível nacional, o qual considerou relevante, frente às eleições presidenciais, denunciar o aberto favoritismo que as emissoras faziam a Peña Nieto
e, como consequência, exigir do governo que legislasse a favor de
um sistema de meios mais democráticos.
Este ressurgir cidadão e o despertar de alguns jovens – alheios
até então à política – marcaram o cenário das eleições presidenciais
de 2012, em meio à suspeita de uma imposição midiática e da compra massiva de votos, ação que se constatou em milhares de provas
que os cidadãos arrecadaram e deram a conhecer através da internet
no dia das eleições.
O ímpeto cidadão não desistiu e seguiu denunciando as irregularidades e a falta de informação dos meios a respeito. Não obstante, Peña Nieto foi declarado ganhador das eleições, e no dia 1º de
dezembro, nas imediações do Congresso da União, lugar onde foi
eleito presidente, milhares de pessoas foram reprimidas, agredidas
Nessa localidade as pessoas protestaram contra a construção de um novo aeroporto, cuja
resposta por parte do então governador do Estado do México, Enrique Peña Nieto, foi o
envio de forças policiais para reprimir os manifestantes.
9
Número de estudantes que baixaram no YouTube seu vídeo para desmentir a opinião da
equipe de campanha do candidato Peña Nieto.
8
356 | Obitel 2013
e presas; entre eles, afiliados ao #Yosoy132. Apesar da repressão,
esse movimento apresentou ao Congresso iniciativas de leis nas matérias de telecomunicações e radiodifusão.
1.5.1. A guerra midiática e o “Pacto pelo México”
Essa disputa cidadã se deu em um cenário midiático igualmente
violento, já que as grandes corporações disputaram com todo o seu
poder para se inserir no grupo que comandaria o negócio da convergência tecnológica digital.
A Televisa parecia estar à frente, ainda que a princípios de 2012
a Comissão Federal de Competência (CFC) rejeitasse a fusão que
esta pretendia realizar com a companhia de telefonia celular Iusacell, propriedade de seu concorrente, a TV Azteca. A compra desta
garantiria à emissora sua introdução no mercado da telefonia, dominado pelas empresas de Carlos Slim.
Ao não fecharem tal negociação, a Televisa pressionou o governo para obter as garantias necessárias e entrar no mercado das
telecomunicações. Em resposta a isso, as autoridades decidiram iniciar um processo de reorganização e resgate da sintonia 2.5 GHz,
que possuía o grupo multimídia MVS Comunicações; a justificativa
foi a substituição do espectro por parte da empresa. A MVS demandou ao governo a restituição de seu espectro. No entanto, este não
desistiu, e meses mais tarde anunciou que o mesmo seria licitado e
que a Televisa era a empresa que encabeçava o processo.
Diante da incapacidade do governo em matéria de regulamentação de meios, 2012 foi um ano em que as grandes corporações
impuseram sua lei. O que mostra isso é que a Televisa e a TV Azteca
ofereceram ao governo a possibilidade de se abrir a concorrência
e permitir um terceira cadeia nacional de televisão aberta se fosse
permitido a elas entrar no mercado das telecomunicações. Telmex
e Telcel, por sua parte, foram inflexíveis em relação às tarifas de
interconexão que estas cobram para as outras companhias para permitir que elas se conectem não somente a sua rede, mas também a
milhões de usuários. As autoridades não conseguiram que as tarifas
México – O poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências | 357
baixassem, tampouco impediu que Televisa e TV Azteca cobrassem nos sistemas de TV a cabo e satélite um custo pelos sinais que
ambas possuem de maneira aberta no país. Muitos desses sistemas,
especificamente a Dish (empresa vinculada à Telmex), tiveram que
encerrar os canais de sinal aberto que, em restrito cumprimento ao
direito, deveriam ser gratuitos.
Confirmado o triunfo de Peña Nieto, a guerra entre os consórcios se deteve, e de maneira surpreendente os três magnatas das
telecomunicações, Emílio Azcárraga (Televisa), Carlos Slim (Telmex/Telcel) e Ricardo Salinas (TV Azteca/Iusacell) apareceram
sentados juntos no dia em que se apresentou a iniciativa conhecida
como “Pacto pelo México”, convênio que reúne as principais forças
políticas, econômicas, empresariais e midiáticas para estabelecer e
aprovar medidas que levariam o país a um melhor desenvolvimento.
1.6. TV aberta
À diferença dos anos anteriores, a produção de ficção em canais
abertos não se concentrou na capital do país, mas também se diversificou em outras localidades. Prova disso foi a mencionada novela
Mucho corazón, que além do merchandising social que manifestava
seu conteúdo, também apresentou um novo plano de representação,
pois foi produzida com atores e cenários locais, e buscou erradicar o
estereótipo do personagem indígena submisso e ignorante, comum
na ficção comercial e que tanto contribuiu para a sua discriminação.
Por sua parte, o Canal Once continuou, apesar da redução do
seu orçamento, com a produção de séries. Durante o ano de 2012,
apresentou três: Tiro de gracia, Paramédicos e Kipatla, sendo a primeira uma aposta arriscada por ser uma ficção que se referia de
maneira crítica às ações que o governo realizava para combater o
crime organizado.
1.7. TV paga
O que realmente constituiu um fenômeno em crescimento foram as produções de ficção realizadas para a TV paga. Continua
358 | Obitel 2013
notável o caso da Cadena Tres (que é transmitida em sinal aberto só
em Valle de México), que produziu e coproduziu cinco ficções em
2012: Infames (novela), La ruta blanca (novela), El albergue (seriado), Dulce amargo (novela) e La clinica (seriado). Essas produções
não conseguiram decolar em questão de audiência, pois a que teve
mais êxito delas, Infames, somente alcançou um ponto no rating. As
hipóteses, em relação às ficções da Cadena Tres, é que estas se direcionam a um espectador que precisa estar em dia com a informação
política e social, o que não é do gosto dos espectadores acostumados
a novelas que não supõem uma informação prévia.
Outro ator novo na produção de ficções em 2012 foi a 52mx
(MVS), canal de televisão fechada que realizou as séries Los súper Pérez e Roomies, ficções produzidas com narrativa cômica, que
busca simular o estilo dos seriados norte-americanos, mas com um
toque muito local. Los súper Pérez são um grupo de super-heróis
mexicanos que combatem o crime organizado; Roomies, ao contrário, retrata a vida dos jovens em um estilo da famosa série Friends.
Um canal a cabo que, pelo segundo ano consecutivo, apresentou uma ficção é o Telehit (Televisa), que produziu a série Hoy soy
nadie, thriller onde se convida o espectador a reconhecer quem poderia ser o serial killer que gosta de selecionar suas vítimas através
das redes sociais. Essa série resultou num produto gratificante, pois
é a primeira em seu estilo que utiliza as narrativas e formas de comunicação que são preponderantes nas redes sociais.
1.8. Tendências das TICs (internet, celular, TV digital, VoD)
Segundo a AMIPCI (2012), no México há 40,6 milhões de usuários de internet, o que representa, em relação aos dados de 2011,
5,7 milhões a mais de internautas. Os contratos de telefones celulares para 2011 somavam 94,565 milhões, dos quais 45% se concentravam nas 12 principais cidades do país, sendo a capital a região
onde estava uma quarta parte desse percentual (Cofetel, 2011).
O apagão analógico se iniciou, e espera-se concluí-lo ao final
de 2015. A cidade de Tijuana, no norte do país, foi a escolhida para
México – O poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências | 359
começar os trabalhos de transição para a Televisão Digital Terrestre
(TDT). No entanto, a meta é muito grande, já que mais de 70% da
população mexicana carece de equipes para receber transmissões
com qualidade digital (El Financiero, 15/02/2013)10.
2. A análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana
Tabela 1. Ficções exibidas em 2012 (nacionais e importadas;
estreia e reprises; coproduções).
TÍTULOS NACIONAIS INÉDITOS:
28
TITULOS IMPORTADOS INÉDITOS: 18
Televisa: 16 títulos nacionais
1. Abismo de pasión (telenovela)
2. Un refugio para el amor (telenovela)
3. Por ella soy Eva (telenovela)
4. Amor bravío (telenovela)
5. Cachito de cielo (telenovela)
6. Mis XV (telenovela)
7. Amores verdaderos (telenovela)
8. Corona de lágrimas (telenovela)
9. La mujer del vendaval (telenovela)
10. Qué bonito amor (telenovela)
11. Porque el amor manda (telenovela)
12. La familia peluche (serie cômica)
13. Cloroformo (série)
14. El diez (série)
15. Los héroes del norte 2 (série)
Televisa: 11 títulos importados
29. Marina (telenovela-EUA)
30. Amor sincero (telenovela-Colômbia)
31. Chepe fortuna (telenovela-Colômbia)
32. Rosa diamante (telenovela- EUA)
33. Una maid en Manhattan (telenovela-EUA)
34. Corazón valiente (telenovela- EUA)
35. El alma herida (telenovela- EUA)
36. El fantasma de Elena (telenovela-EUA)
37. Los herederos del monte (telenovela-Colômbia)
38. Rosario Tijeras (série-Colômbia)
39. Héroes (minissérie-Chile)
TV Azteca: 6 títulos nacionais
16. La mujer de Judas (telenovela)
17. Quererte así (telenovela)
18. Amor cautivo (telenovela)
19. Los Rey (telenovela)
20. La otra cara del alma (telenovela)
21. La teniente (série)
22. Pinche Pancho (série)
OnceTV México: 3 títulos nacionais
TV Azteca: 4 títulos importados
40. Acorralada (telenovela-Venezuela)
41. Corazón apasionado (telenovela-Venezuela)
42. Ángel rebelde (telenovela-Venezuela)
43. Estoy en la banda (série-EUA)
Cadena Tres: 2 títulos importados
44. La ruta blanca (telenovela-Colômbia/México)
45. La Pola (telenovela-Colômbia)
http://www.elfinanciero.com.mx/component/content/article/53-nuestras-historias/4953
-los-retos-de-la-digitalizacion-de-tv-en-mexico.html. Data de consulta: 16 de março de
2013.
10
360 | Obitel 2013
23. Paramédicos (série)
24. Estado de gracia (série)
25. Kipatla (série)
Cadena Tres: 3 títulos nacionais
26. Infames (telenovela)
27. El albergue (série)
28. La clínica (série)
Canal 22: 1 título
46. Los archivos del cardenal (série-Chile)
TITULOS REPRISES: 6
Televisa: 6 títulos
47. María la del barrio (telenovela)
48. María Mercedes (telenovela)
49. El clon (telenovela-EUA)
50. Una familia de diez (série cômica)
51. Vecinos (série cômica)
52. Que madre tan padre (série cômica)
TOTAL DE TÍTULOS EXIBIDOS: 52
Fonte: Ibope AGB México, de segunda a domingo, das 2h às 0h, de 01 de janeiro a 31
de dezembro de 2012. Base de dados ratings TV 5 Domínios, Hogares nacional, Media
Smart Station. Elaboração Obitel México11.
O primeiro elemento a se destacar é o aumento na produção
de ficção nacional, já que passou de 23 a 28 títulos em relação ao
ano de 2011. A Televisa continua sendo a empresa líder, ainda que
sejam de destaque os canais Once TV e Cadena Tres, que conseguiram consolidar um stock de produção; no entanto, sua nova estética
visual e narrativa não tem conseguido penetrar nas audiências, e
suas produções não conseguem obter mais de dois pontos de rating.
Isso contrasta amplamente com os ratings que alcançaram as reprises (retransmissões), como as clássicas María la del barrio e María
Mercedes (ambas dos anos 1990), as quais obtiveram mais de dez
pontos, número que nenhuma das telenovelas da TV Azteca (a segunda produtora mais importante) conseguiu alcançar.
DIREITOS RESERVADOS IBOPE AGB MÉXICO, S.A DE C.V. Bruno Traven 60,
General Pedro Ma. Anaya, 03340, México, D.F., 2013. A presente página contém materiais de propriedade industrial e intelectual de Ibope AGB México, S.A de C.V., que
foram postos à disposição do Obitel para fins de investigação e análises próprias deste
projeto, pelo que se proíbe sua reprodução por terceiros permanente ou temporária, total
ou parcial, sem nenhuma permissão escrita desta empresa. A violação estará sancionada
como dispõem as leis da matéria.
11
México – O poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências | 361
Tabela 2. A ficção de estreia em 2012: países de origem Títulos
%
Capítulos/
Episódios
%
Horas
%
NACIONAL 28
61
2.136
62
2.020
56
IBERO-AMERICANA 17
37
1.336
38
1.556
44
Argentina
–
–
–
–
–
–
Brasil
–
–
–
–
–
–
Chile
2
4
88
3
126:35
4
Colômbia
5
11
477
14
554:00
15
Equador
–
–
–
–
–
–
Espanha
–
–
–
–
–
–
EUA (produção hispânica)
7
15
462
13
585:40
16
MÉXICO
28
61
2.136
62
2.020
56
Peru
–
–
–
–
–
–
Portugal
–
–
–
–
–
–
Uruguai
–
–
–
–
–
–
Venezuela
3
7
219
6
205:35
6
Coprodução Nacional (*)
1
2
90
2
85:50
3
OUTRAS (produções e
coproduções de outros países
latino-americanos – âmbito
não Obitel
–
–
–
–
–
–
TOTAL
46
100%
3.472
100
3.576
100%
País
Fonte: Ibope AGB México, de segunda a domingo, das 2h às 0h, de 01 de janeiro a 31
de dezembro de 2012. Base de dados ratings TV 5 Domínios, Hogares nacional, Media
Smart Station. Elaboração Obitel México.
Um dado importante é que em 2012 se diversificaram os países dos quais se importaram títulos, sendo a presença do Chile e o
retorno da Venezuela elementos a serem destacados. A produção de
ficção dos Estados Unidos e as novelas da Colômbia mantiveram
sua presença no México, ainda que, diferente de 2011, nenhum de
seus títulos tenha se colocado entre os mais vistos do ano.
Tabela 4. Formatos da ficção nacional e ibero-americana
12
DIREITOS RESERVADOS IBOPE AGB MÉXICO, S.A DE C.V. Bruno Traven 60, General Pedro Ma. Anaya, 03340, México, D.F., 2013. A presente
página contém materiais de propriedade industrial e intelectual de Ibope AGB México, S.A de C.V., que foram postos à disposição do Obitel para fins de
investigação e análises próprias deste projeto, pelo que se proíbe sua reprodução por terceiros permanente ou temporária, total ou parcial, sem nenhuma
permissão escrita desta empresa. A violação estará sancionada como dispõem as leis da matéria.
Formatos
Nacionais
Ibero-Americanas
Títulos
%
Cap./Ep.
%
Horas
%
Título
%
Cap./Ep.
%
Horas
%
Novela
17
61
1.703
80
1.627
81
14
78
1.215
91
1.390
89
Série
11
39
433
20
393:20
19
3
17
63
5
71:20
5
Minissérie
–
–
–
–
–
–
1
5
58
4
94:40
6
Telefilme
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
Unitário
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
Docudrama
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
Outros (soap opera etc.)
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
TOTAL
28
100
2.136
100
2.020
100
18
100
1.336
100
1.556
100
Fonte: Ibope AGB México, de segunda a domingo, das 2h às 0h, de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2012. Base de dados ratings TV 5 Domínios, Hogares
nacional, Media Smart Station. Elaboração Obitel México.
Franjas horarias
Nacionais
Ibero-Americanas
Total
C/E
%
H
%
C/E
%
H
%
C/E
%
H
%
Manhã (6:00-12:00) –
–
–
–
313
23
322:30
20
313
9
322:30
8
Tarde (12:00-19:00) 510
24
389:05
19
648
49
867:30
56
1.158 33
1.256
31
Prime Time (19:00-22:00)
1.563
73
1.568
78
30
2
32:15
3
1.593 46
1.600
41
Noite (22:00-6:00) 63
3
63:30
3
345
26
334:10
21
408
12
397:40
10
TOTAL
2.136 100
2.020
100
1.336
100
1.556
100 3.472 100
3.576
100
Fonte: Ibope AGB México, de segunda a domingo, das 2h às 0h, de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2012. Base de dados ratings TV 5 Domínios, Hogares
nacional, Media Smart Station. Elaboração Obitel México12.
Tabela 3. Capítulos/Episódios e horas emitidos por horário
362 | Obitel 2013
México – O poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências | 363
Tabela 5. Formatos da ficção nacional por horário
Formatos
%
Prime
Time
15
83
11
61
3
2
1
–
–
–
11
6
–
–
–
7
–
–
–
–
39
–
–
–
–
5
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
100
18
100
18
100
8
Manhã
%
Tarde
Novela
2
100
Série
Minissérie
Telefilme
Unitário
Docudrama
Outros (soap
opera etc.)
TOTAL
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
2
%
Noite %
Total
%
38
31
67
62
–
–
–
–
14
1
–
–
–
30
3
–
–
–
–
–
–
100
46
100
Fonte: Ibope AGB México, de segunda a domingo, das 2h às 0h, de 01 de janeiro a 31
de dezembro de 2012. Base de dados ratings TV 5 Domínios, Hogares nacional, Media
Smart Station. Elaboração Obitel México13.
O prime time segue sendo o horário predileto para a transmissão das ficções (Tabela 3). O formato mais programado nesse horário foi a novela, com 17 títulos, seguido de 11 séries e uma minissérie (Tabela 4). No total se transmitiram 31 telenovelas, 14 séries e
uma minissérie (Tabela 5), o que aumentou a produção de ficções,
passando de 28 para 46 títulos.
Tabela 6. Época da ficção
Época
Presente
Títulos
43
%
93
de Época
–
–
Histórica
3
7
Outra
–
–
TOTAL
46
100
Fonte: Ibope AGB México, de segunda a domingo, das 2h às 0h, de 01 de janeiro a 31
de dezembro de 2012. Base de dados ratings TV 5 Domínios, Hogares nacional, Media
Smart Station. Elaboração Obitel México.
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ou parcial, sem nenhuma permissão escrita desta empresa. A violação estará sancionada
como dispõem as leis da matéria.
13
364 | Obitel 2013
O que antigamente era uma marca da indústria mexicana ficou
no esquecimento, pois nenhum dos 28 títulos nacionais foram produções históricas ou de época. Títulos importados, como Héroes e
La Pola (Colômbia), assim como Los archivos del Cardenal (Chile)
são as únicas produções que trouxeram a memória histórica às telas mexicanas. Os demais títulos, como apontamos, colocam-se em
um presente que se descontextualiza a propósito ou se tergiversa de
acordo a intenção política, como aconteceu com a série La Teniente,
que contou o lado positivo da guerra contra o narcotráfico no México. Outras produções, como Infames ou La ruta blanca (Cadena
Tres), que realmente oferecem uma perspectiva crítica, não chegam
a gerar maior interesse nas audiências mexicanas.
Tabela 7. Os dez títulos mais vistos: origem, rating, share
Título
País de origem da ideia
original ou
roteiro
Casa
produtora
Canal
1
Abismo de pasión
México
Televisa
2
2
Amores verdaderos
Argentina
Televisa
2
Colômbia
Televisa
2
Nome do roteiRa- Sharista ou autor
ting
re
da ideia original
Caridad Bravo
Adams
25,83 37,25
Marcela Citterio 25,64 38,96
4
Porque el amor
manda
Por ella soy Eva
Colômbia
Televisa
2
5
Qué bonito amor
Colômbia
Televisa
2
Mónica Agudelo 18,24 30,19
6
Amor bravío
México
Televisa
2
María Zarattini 17,91 29,56
7
Un refugio para el
amor
Venezuela
Televisa
2
8
La familia peluche
México
Televisa
2
Eugenio Derbez 16,87 27,65
9
La mujer del
vendaval
Venezuela
Televisa
2
Ángel del Cerro 15,76 28,99
10
Cachito de cielo
México
Televisa
2
3
Jörg Hiller
24,15 37,02
Elkim Ospina
23,60 35,46
Delia Fiallo
Mario Schajris
16,94 32,21
15,05 27,56
Total de produções: 10
Roteiros estrangeiros: 6
100%
60%
Fonte: Ibope AGB México, de segunda a domingo, das 2h às 0h, de 01 de janeiro a 31
de dezembro de 2012. Base de dados ratings TV 5 Domínios, Hogares nacional, Media
Smart Station. Elaboração Obitel México14.
14
DIREITOS RESERVADOS IBOPE AGB MÉXICO, S.A DE C.V. Bruno Traven 60,
México – O poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências | 365
A melhoria no número de títulos de ficção no México parece
não andar junto com a regeneração da criatividade, pois, para 2012,
seis dos dez títulos mais vistos possuem temas estrangeiros; dois a
mais que em 2011.
Em relação aos países de origem dos roteiros, é de se destacar o impulso que este ano teve a Colômbia, que conseguiu superar
a Argentina como o país que mais provê roteiros ao México, que
neste ano somente teve um entre o top ten. A Venezuela, com dois
roteiros e com três produções transmitidas este ano, parece que quer
recuperar o terreno perdido no México.
Algo que é vital destacar é a escalada do rating no top ten, pois
o título com maior audiência em 2011 alcançou 20,61 pontos; para
este ano, Abismo de pasión obteve 25,83. Essa tendência também é
visível no resto das posições, já que, do segundo ao quarto lugar, os
títulos conseguiram mais do que 20 pontos. Em média, o rating no
top ten 2012 se produziu em volta de 3,5 pontos por título.
Tabela 8. Os dez títulos mais vistos: formato, duração e horário
Título
Formato Gênero
Datas da
Nº de
primeira e
cap./ep.
última
em 2012
emissão
23/01/12
161
02/09/12
Horário
1
Abismo de pasión
Novela
Ficção
2
Amores verdaderos
Novela
Ficção
86
03/09/12
Prime
3
Porque el amor manda
Novela
Ficção
62
08/10/12
Prime
Prime
Prime
4
Por ella soy Eva
Novela
Ficção
167
20/02/12
07/10/12
5
Qué bonito amor
Novela
Ficção
51
22/10/12
Prime
166
05/03/12
21/10/12
Prime
6
Amor bravío
Novela
Ficção
General Pedro Ma. Anaya, 03340, México, D.F., 2013. A presente página contém materiais de propriedade industrial e intelectual de Ibope AGB México, S.A de C.V., que
foram postos à disposição do Obitel para fins de investigação e análises próprias deste
projeto, pelo que se proíbe sua reprodução por terceiros permanente ou temporária, total
ou parcial, sem nenhuma permissão escrita desta empresa. A violação estará sancionada
como dispõem as leis da matéria.
366 | Obitel 2013
7
Un refugio para el amor
Novela
Ficção
165
8
La familia Peluche
Série
Ficção
26
9
La mujer del vendaval
Novela
Ficção
36
06/02/12
23/09/12
07/08/12
23/12/12
12/11/12
Tarde
Prime
Tarde
11/06/12
Cachito de cielo
10
Novela
Ficção
110
Tarde
09/11/12
Fonte: Ibope AGB México, de segunda a domingo, das 2h às 0h, de 01 de janeiro a 31
de dezembro de 2012. Base de dados ratings TV 5 Domínios, Hogares nacional, Media
Smart Station. Elaboração Obitel México15.
Em relação à Tabela 8, o fator determinante para a sequência do
rating é o prime time, especificamente aquele que ocupa o horário
das 20h às 22h, pois novelas como Amores verdaderos, Porque el
amor manda, La mujer del vendaval e Qué bonito amor (Televisa),
com a metade de títulos que outras produções, conseguiram obter
ratings mais altos devido a ocuparem o lugar de um título com êxito. Um exemplo disso é Amores verdaderos, que tomou o lugar de
Abismo de pasión.
Tabela 9. Temáticas nos dez títulos mais vistos
Títulos
1
Abismo de
pasión
2
Amores
verdaderos
3
Porque el
amor manda
TEMÁTICAS DOMINANTES
(ATÉ CINCO TEMAS MAIS
IMPORTANTES)
-Amor
-Conflitos familiares
-Revelação de paternidade
-Ascensão social
-Infidelidade
-Amor
-Conflitos familiares
-Reivindicação masculina
-Amor e desamor
-Conflitos laborais
TEMÁTICAS SOCIAIS
(ATÉ CINCO TEMAS
MAIS IMPORTANTES)
-Problemas agrários
-Conflitos ecológicos
-Orfandade
-Insegurança
-Violência intrafamiliar
-Crime organizado
-Discriminação
-Violência de gênero
-Crime organizado
DIREITOS RESERVADOS IBOPE AGB MÉXICO, S.A DE C.V. Bruno Traven 60,
General Pedro Ma. Anaya, 03340, México, D.F., 2013. A presente página contém materiais de propriedade industrial e intelectual de Ibope AGB México, S.A de C.V., que
foram postos à disposição do Obitel para fins de investigação e análises próprias deste
projeto, pelo que se proíbe sua reprodução por terceiros permanente ou temporária, total
ou parcial, sem nenhuma permissão escrita desta empresa. A violação estará sancionada
como dispõem as leis da matéria.
15
México – O poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências | 367
4
Por ella soy
Eva
5
Qué bonito
amor
6
Amor bravío
7
Un refugio
para el amor
8
La familia
peluche
9
La mujer del
vendaval
10
Cachito de
cielo
-Identidade
-Amor
-Conflitos familiares
-Folclore mexicano
-Amor e desamor
-Rivalidade familiar
-Conflitos familiares
-Vingança
-Restituição da identidade
-Conflitos familiares
-Amor
-Ascensão social
-Problemas familiares
-Aceitação e identidade
-Comédia e sátira
-Romance
-Conflitos Familiares
-Ascensão social
-Amor e romance
-Comédia
-Valores familiares
-Diversidade sexual
-Violência de gênero
-Discriminação
-Alcoolismo
-Violência intrafamiliar
-Crime organizado
-Conflitos sobre a posse
da terra
-Violência intrafamiliar
-Discriminação
-Chefias
-Violência de gênero
-Julgamentos
-Corrupção
-Violência intrafamiliar
-Corrupção política
-Posse da terra
-Insegurança social
-Identidade religiosa
-Violência intrafamiliar
-Insegurança social
Fonte: Ibope AGB México, de segunda a domingo, das 2h às 0h, de 01 de janeiro a 31
de dezembro de 2012. Base de dados ratings TV 5 Domínios, Hogares nacional, Media
Smart Station. Elaboração Obitel México.
Como especificávamos na Tabela 6, o fato de a maioria das
novelas ou séries do top ten se enquadrar no presente não significa
que façam alusão a temáticas sociais conjunturais; pelo contrário,
na Tabela 9 as temáticas sociais que se apresentam seguem sendo questões gerais que talvez não ajudem a pensar na realidade a
partir da ficção, ou se o fazem, é de maneira descontextualizada e
desterritorializada. A violência, como tema recorrente na Tabela 9,
se apresenta sem enfatizar a problemática da insegurança nacional
vivida em função da guerra que o governo ainda mantém com o
narcotráfico.
3. A recepção transmidiática
Como se vem antecipando em anuários anteriores do Obitel,
as emissoras têm começado a se renovar frente aos novos cenários
transmidiáticos e diante do risco que implicaria não fazê-lo, pois po-
368 | Obitel 2013
deriam perder audiências. Ao final de 2012, a Televisa difundiu sua
primeira webnovela Te presento a Valentín, produto para ser visto
através de diversos dispositivos (PC, laptop, celulares, smartphone
etc.) e para ser acompanhado nas diversas redes sociais, para assim
interagir com o público, que é o que implica uma narrativa transmidiática.
Na sua primeira webnovela, a Televisa decidiu contar uma história de amor, tema que tem sido protagonista no resto de suas produções ao longo de mais de 60 anos. Um argumento romântico, com
certa dose de comédia e, poderíamos dizer, breguice. A trama conta
as aventuras de Valentín em busca de sua mulher ideal; ele a encontra, não sem antes atravessar diversos obstáculos. Com um total de
cinco personagens principais, as cenas acontecem principalmente
nas instalações da editora onde ele trabalha como repórter de uma
revista (na realidade é o edifício da Editora Televisa). A webnovela
começou a ser transmitida no dia 29 de outubro de 2012, contou
com 15 capítulos de sete minutos de duração aproximada cada um e
foi concluída no dia 30 de novembro do mesmo ano. Foi transmitida
três vezes por semana (segunda, quarta e sexta) ao meio-dia, através
de seu site oficial. 3.1. Em busca da audiência jovem
Dados do INEGI (Instituto Nacional de Estatística, Geografia e
Informática) indicam que no México 49,5% dos usuários de internet
são jovens16. Portanto, a aposta dos empresários midiáticos é precisamente captá-los como público. Além disso, o produtor Eugenio
Cobo afirma que os escritores de Te presento a Valentín são menores
de 30 anos, conhecem como manejar a web e sabem contar histórias
em poucos minutos.
Para interagir e conhecer a opinião das audiências em ditas novelas, criou-se uma página oficial, assim como contas no Facebook,
YouTube e Twitter. Nessas plataformas, a audiência teve um tipo de
16
Consultar dados em http://www.inegi.org.mx/
México – O poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências | 369
participação diferenciada. Dessa forma, a empresa pôde conhecer (e
provar) não só a opinião e tipo de informação da audiência sobre o
conteúdo, senão também promover os produtos que patrocinaram
a webnovela. Cremes, xampus, sprays, água, sucos e um banco foram os patrocinadores e protagonistas também, pois fizeram parte
da trama.
Cada uma das redes permitiu e provocou um tipo de interação
diferente (que vai desde a visualização até a visualização transmidiática) e uma interatividade passiva ou ativa (ver Tabela 11). Na
sequência se apresentará uma breve descrição da participação da
audiência nos sites mencionados.
3.2. A ficção no YouTube
Nesse portal encontramos um tipo de interação “visualização interativa na rede” e um tipo de participação da audiência “passiva”.
Os produtores abriram um canal chamado Te presento a Valentín, o
qual conta com 62 pessoas inscritas, 69 vídeos e um total de 11.851
reproduções. Nesse site, além dos 15 capítulos da webnovela, estão
entrevistas de todos os atores, além dos maquiadores e da equipe de
produção. O vídeo mais visto foi o do capítulo 1, (4.496 reproduções)
tendo uma drástica baixa depois, já que o segundo vídeo somente teve
438 reproduções. Quanto à participação da audiência fora do canal
oficial, encontramos uma participação mais ativa, pois alguns usuários postaram a webnovela no YouTube (que eles mesmos gravaram),
tendo sido esses capítulos mais “vistos” que os do canal oficial.
3.3. Facebook
Nessa rede social a webnovela contou com 7.200 “curtir”, e
um tipo de interação “visualização interativa na rede”. A grande
maioria das mensagens postadas nessa rede social proveio da própria empresa, a fim de promover os capítulos do dia (663 “curtir”).
A categoria em que a audiência participou com mais “curtir” foi nas
imagens do elenco/atores que se baixaram (491), sendo seu tipo de
participação “ativa”.
370 | Obitel 2013
3.4. Twitter e os conselhos do amor…
Apesar de a webnovela já ter terminado, a conta @TepresentoaV continuou ativa até dezembro de 2012, e quem a administrava
continuou demandando a participação a seus seguidores (17.659),
com um total de 589 tweets. O que mais se destaca do tipo de participação é que a conta @TepresentoaV assumiu o papel de um
“conselheiro do amor”, dando assim sugestões a seus seguidores
para encontrar pares, ou definindo as práticas do que significa estar
apaixonado. Como aqueles famosos baralhos de El Amor es…, que
circularam nos anos 1980.
Tabela 1117. A ficção transmidiática: tipos de interação
e práticas dominantes
Tipos de
Níveis de Práticas
interação
interati- dominantes dos
transmidiática vidade usuários
Comentário
Página oficial
Celebração
http://televisa.
Coleção
esmas.com/entreten- Visualização Passiva
Armazenamento
imiento/telenovelas/
te-presento-a-valentin/
Armazenamento
Crítica
Ativa
Visualização
Página do Facebook interativa em
https://www.facerede
Comentário
book.com/TePreTelevi- sentoaValentin
Visualização
sa
Comentário
transmidiática
Ativa Discussão
Página do Twitter
Recomendação
@TepresentoaV
Imitação
Ficção EmisPáginas de internet
Escolhida sora
Te presento a
Valentín
Página do YouTube Visualização
http://www.youtube. interativa em
rede
com/user/tepresentoavalentin
Passiva/ CompartilhaAtiva mento
Armazenamento
Comentário
Fonte: Obitel México
Este capítulo México não inclui a Tabela 10 devido a que não se contou com a informação para elaborar dita tabela.
17
México – O poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências | 371
Nessa fase exploratória, a Televisa incursionou nas webnovelas
obtendo pouca resposta transmidiática por parte das audiências. Se
compararmos os seguidores e a participação que têm outras novelas
que contam com sites nas redes sociais, como Amores verdaderos
(184.880 seguidores no Facebook e 72.300 no Twitter) ou La mujer
del vendaval (50.128 no Facebook e 21.036 no Twitter), Te presento a Valentín teve pouca aceitação e seguidores. Deve apontar-se
que em algumas plataformas não foi permitida e/ou promovida uma
participação por parte dos seguidores além de um “curtir” nos conteúdos ou onde respondessem algumas enquetes. Quando a participação foi mais ativa, isso ocorreu devido ao convite para encontrar
conselhos associados ao amor.
4. O mais destacado do ano
4.1. A “ficção à la carte” como tendência
O vínculo crescente entre a ficção e o marketing político aumentou em 2012. Continua o fenômeno da “ficção à la carte”, denominação daquelas novelas ou séries que se realizam com o patrocínio do governo e que são utilizados para fins de propaganda. Isso
se apresentou em 2011 com El equipo (Televisa), que destacou o
trabalho da Polícia Federal na sua luta contra o narcotráfico.
Em 2012 foi produzida uma nova “ficção à la carte” denominada La teniente (TV Azteca), com o fim de destacar as ações do
exército. No entanto, conforme a declaração do produtor Roberto
González, La teniente não foi um produto televisivo “por encomenda”, como é o caso de El equipo18. Pelo contrário, La teniente, longe
de interesses políticos, nunca procurou “limpar” a imagem da marinha, já que “o essencial não foi a instituição, senão a história dos
homens que a compõem” (Notimex, 2012).
Sob essa postura, La teniente, e a utilidade política que teve, supõe um risco importante para um gênero televisivo que começa a se
Nessa série, a Secretaria de Segurança Pública pagou à Televisa 118 milhões
de pesos para sua produção e transmissão.
18
372 | Obitel 2013
politizar pela falta de uma legislação que regule ou proíba a inserção
e/ou naturalização da propaganda política, governamental e eleitoral
dentro de séries e novelas.
La teniente é um caso a mais desse vazio legislativo, já que seus
24 capítulos serviram para marcar uma agenda e um priming (um
enfoque) específico que colocou a milícia como os únicos agentes
de segurança que são confiáveis e verossímeis, pois eles, ao contrário dos policiais federais (seus antagônicos dentro e fora da ficção),
são os verdadeiros heróis da guerra contra o narcotráfico.
4.2. A ficção e a publicidade eleitoral do coração
Como já foi colocado, o candidato que ganhou as eleições presidenciais no México, Enrique Peña Nieto, casou-se com uma das
atrizes-ícone das telenovelas mexicanas, Angélica Rivera, melhor
conhecida como “Gaivota”. Essa relação sentimental, questionada
por muitos como uma estratégia eleitoral, permitiu que ambos estivessem presentes no mundo do espetáculo; no entanto, isso nunca
foi considerado como uma falta, por ser de um âmbito mais privado
que político. O “casal feliz” se promoveu em diversos programas,
mas se destacou mais no reality show que Angélica Rivera protagonizou no YouTube durante toda a campanha eleitoral.
Lo que mis ojos ven y mi corazón siente foi uma “produção caseira” em que a chamada “Gaivota” aproveitou seus dotes teatrais e
a conexão que como atriz tem com os mexicanos para relatar “o por
detrás das câmeras” da campanha de seu marido e expor assim o ser
humano que se escondia atrás do candidato.
Essa série de vídeos buscou aproximar Enrique Peña Nieto
aos cidadãos, não através de suas propostas de campanha, senão
em função de sua história pública de amor, e, como se fosse uma
novela, essa história trasladou a narrativa dos atos públicos de
campanha nos diversos Estados do país a um espaço mais íntimo e privado, onde se expôs de “forma natural” e casual como o
candidato interagia com sua família para relatar a vivência em sua
campanha.
México – O poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências | 373
Lo que mis ojos ven… foi a inauguração de um reality show
político em que as propostas de campanha foram trocadas pelo amor
e pela promessa que a atriz fazia no final dos vídeos, quando assegurava que “seu marido cumpriria cada um de seus compromissos
porque é um homem de palavra”. Isso significou em termos políticos e fictícios a ida e volta da atriz ao personagem, já que nesses
atos políticos as pessoas se referiam a ela como “A Gaivota”, nome
de sua personagem de ficção mais conhecida. A ficção então foi
usada como trampolim em ambos os sentidos. No total se postaram
no YouTube 23 vídeos, os quais tiveram mais de 1 milhão de visualizações; em média, cada vídeo foi visualizado por 45 mil usuários
por emissão.
4.3. A disputa pelo rating e a mudança de sua medição
O ano de 2012 é um divisor de águas nacional e internacional
na medição e seguimento das audiências. Os parâmetros tradicionais para avaliar o poder da televisão em casa requerem inovações
para capturar o fenômeno contemporâneo. Onde está agora a audiência de ficção? Para onde vão? Como você compartilha sua visão
com outros interesses na internet e redes sociais? Como é “preso”
em diálogos com sites? E, acima de tudo, o que mais consome além
de televisão e filmes? São muitas perguntas, expressões das recentes
preocupações em seguir adequadamente públicos cujas rotas, estadias e cenários de conectividade de mídia mudaram e se multiplicaram como nunca antes.
Nessa tentativa de encontrar novas metodologias e ferramentas
de monitoramento televisivo da audiência e fornecer novas informações ao mercado, no México a clássica empresa Ibope AGB encerrou suas operações em 31 de dezembro, após 20 anos de produção
de informações sobre os rating no país. Foi inaugurada uma nova
empresa, Ibope Nielsen, que, ademais de situações específicas mexicanas, deve integrar-se nessa corrente mundial em que as empresas
internacionais de medição de audiências foram fundidas: Nielsen,
a mais antiga delas, vinculou-se primeiro com a europeia Sofres,
374 | Obitel 2013
e em 2012 com o Ibope latino-americano. O Ibope, por sua vez,
juntou-se à GSK, empresa alemã. E, na Inglaterra, Nielsen e Sofres
fizeram o mesmo (entrevista com Ruben Jara em Zocalo Magazine,
2013). Essa fusão ou concentração mundial ensaia novas maneiras
de exploração do público como consumidores, relacionando (o que
já é tecnicamente possível) os consumos televisivos e de mídia com
os consumos reais em um shopping center, onde o público costuma
comprar. Sem dúvida, essa é uma nova fase na produção de conhecimento sobre o público, o que terá grande impacto no Obitel como
um projeto.
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social
Ao longo de 2012, a ficção mexicana manteve uma relação
com o passado, que foi constituindo-se como um elemento central
no curso da história da telenovela mexicana: o passado como tradição, o passado como um lugar onde os valores fundamentais são
evidentes e visíveis. Nesse sentido, apesar das mudanças na indústria da ficção televisiva mexicana, como a compra de roteiros de
sucesso comprovado em vez de sua própria geração, a televisão vem
mantendo a ordem das estruturas do passado já mapeada por Nora
Mazziotti (1996) na década de 1990. O passado é moldado como
uma fonte constante de narrativa e matrizes temáticas.
Visto dessa perspectiva, as novelas mexicanas de 2012 continuaram construindo um passado que tem, basicamente, dois eixos
narrativos principais: a vida das fazendas/povos e uma mistura etérea de referências à idade de ouro do cinema mexicano. Na base dessas impressões, a ficção (e sua base melodramática onipresente) se
constitui como o drama da transição entre os mundos rural e urbano.
Fazendo uma seleção das novelas mais vistas neste ano, tanto
da Rede Televisa quando da TV Azteca, é possível ver a persistência desses temas construídos, tanto visualmente quanto na narrativa.
Esta seção irá levantar alguns desses elementos que denotam a negociação constante entre passado e presente.
México – O poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências | 375
5.1. A fazenda como núcleo da vida rural
Diferentes novelas das mais vistas em cada uma das redes de
transmissão de TV aberta colocaram sua atenção para a fazenda
como tema central para o desenvolvimento de tramas tradicionais.
Enquanto a televisão mexicana foi abrindo a filmagem ao ar livre
(ao contrário da natureza funcionalista de seus cenários), as emissoras têm encontrado na vida rural uma inesgotável fonte de temas e
cenários que são mesclados com as histórias típicas do melodrama
nacional.
Juntamente com um movimento de resgate do patrimônio rural,
as emissoras nacionais, em parte apoiados pelos próprios governos
locais, têm atraído visualidade rural com típicos dramas familiares
de construção da identidade nacional do México, apresentada pelo
cinema da “idade de ouro” dos anos 1940.
Nesse sentido, a vida rural, centrada na família e na aldeia/cenário, é o protagonista vital nas novelas. Isso é demonstrado em
Amor bravío e Abismo de pasión, da Televisa, ou Los Rey e La mujer de Judas, da TV Azteca. Em diferentes graus, nessas novelas
(entre as melhores posicionadas em ambas as emissoras) a fazenda
sempre implica retornar à origem rural das famílias ricas. Essa vida
no campo, seja como fonte de riqueza ou fonte simbólica de prestígio, está presente na memória social.
5.2. A música rancheira, do início ao fim
No mesmo sentido de resgate do patrimônio rural, o fazendeiro
tornou-se praticamente onipresente nas novelas do ano de 2012. A
constante visualização e sonoridade nos permite ver o retorno deste elemento: vestimenta rancheira e música de mariachi. Ambos os
elementos têm sido fundamentais para o cinema mexicano ao longo
do século XX e constantemente ressignificados pela indústria cultural (especialmente a televisiva).
As novelas a que nos referimos não são imunes a esses movimentos. Em primeiro lugar, isso pode contribuir para uma musicalidade que retorna aos antigos elementos do star system mexicano,
376 | Obitel 2013
como Vicente Fernández, com o tema “Cuando manda el corazón”,
da telenovela Amor bravío. Da mesma empresa, Abismo de pasión
dispara com o tema musical central “Solo um suspiro”, interpretado com o acompanhamento clássico de mariachis. Por outro lado,
temos o exemplo da TV Azteca com duas de suas telenovelas, La
mujer de Judas e Los Rey, que utilizam, como trilha sonora, misturas
de música rancheira e corridos nortenhos (“Amor de leyenda” e “El
imperio de Los Rey”, respectivamente).
Com esses exemplos das duas empresas hegemônicas na produção de ficção mexicana, temos uma ideia clara da importância
que, em conjunto com o elemento rural representado pelas fazendas
como o espaço central da trama, tem a temática rancheira. Os eixos
mencionados até agora mostram um passado construído sobre um
México ficcional, ou, o que é melhor, uma ficção que gera a própria
memória.
Ambos os elementos temáticos são acompanhados por uma
visualização básica representada com a vestimenta rancheira, que
surge e padroniza a indústria cinematográfica emergente nos anos
1940 e 1950 no México: o clássico traje de gala do Charro. Agora incorporados em um diário ficcional, esse vestido normalmente
reservado para festas tradicionais é incorporado para contrastar os
mundos urbano e rural em que as personagens vivem na novela.
Sob essa perspectiva, não pode haver exemplo mais claro do
que a telenovela Amor bravio. Aproveitando um ambiente que tem
a ver com o tema “touradas” (com referências visuais claras do toureio espanhol), as personagens vestem os trajes de Charro usados ​​
em ocasiões especiais.
Sobre esse movimento orientado ao fazendeiro, Florence Toussaint (2013) resalta um passado em que a riqueza estava firmemente ancorada nas terras de cultivo. Poderíamos dizer que as novelas
habitam uma espécie de “outros tempos” cautelosamente similares
ao México pré-revolucionário. A própria autora estende esse movimento das novelas até 2013, com Corazón indomable, Amores
verdaderos ou La mujer del vendaval (as três da Televisa).
México – O poder da TV na mira. A ficção televisiva entre
eleições presidenciais e a ativação das audiências | 377
Dentro desse ambiente “de terra natal”, as histórias clássicas do
melodrama mexicano, amplamente recorrentes no tema da unidade
familiar ampliada, movem-se muito bem. Os dramas que enfrenta
a família rural em face da vida moderna do país (drogas, aborto,
homossexualidade etc.) levam ao ápice o drama da identidade nacional, representada na família. Nesse sentido, o passado e a memória construída em relação aos produtos da própria indústria cultural
nacional são um elemento central da ficção em 2012, não marcada
por ficções de estilo histórico, mas sim trazendo para o presente um
ambiente “de época” que redefine as experiências do México atual.
6. Referências
AMIPCI. Hábitos de los usuarios de internet en México 2012. Disponível
em: http://www.amipci.org.mx/?P=esthabitos. Acesso em: 10 de abril de 2012.
COFETEL. Suscripciones a teléfonos móviles. Série Anual, 2011. Disponível em: http://siemt.cft.gob.mx/SIEM/#!prettyPhoto/45/. Acesso em: 15 de
abril de 2013.
IAB México et al. Estudio de consumo de medios entre internautas mexicanos. 2012. Disponível em: http://www.iabmexico.com/Estudio_Consumo_
Internautas_2013_Mexico. Acesso em: 10 de abril de 2013.
MAZZIOTTI, Nora. La industria de la telenovela: la producción de ficción en América Latina. Buenos Aires: Paidós, 1996.
MERCA 2.0 (2013, abril). Inversión en medios, 134.
NOTIMEX. Se inspira La Teniente en hechos reales, 2012. Disponível
em: http://www.veracruzanos.info/se-inspira-la-teniente-en-casos-reales-de-mexico/. Acesso em: 20 de setembro de 2012.
REVISTA ZÓCALO (2013, Fevereiro). Cambios en medición de rating,
no en contenidos. entrevista de Guillermo Orozco a Rubén Jara.
TELEVISA (2013). Informe Anual 2012. Televisa. México.
TOUSSAINT, Florence (2013, 2 de março). Amores rancheros. Proceso,
1896.
9
Peru: uma ficção de empreendedores1
Autores:
James A. Dettleff, Giuliana Cassano,
Guillermo Vásquez F.
Equipe:
Rogger Vergara, Tatiana Labarthe,
Thalia Dancuart, Nataly Vergara
1. O contexto audiovisual do Peru
Introdução
Depois da campanha eleitoral presidencial de 20112, a televisão
peruana retomou em 2012 uma linha de produção mais ativa, que se
traduziu em programas de ficção, de concurso e reality shows que
eram emitidos em quatro dos seis canais de alcance nacional.
A ficção via nas minisséries e telenovelas os formatos mais
utilizados, com produções realizadas principalmente por empresas
independentes. Isso consolidou um grupo de empresas realizadoras
de programas tanto de ficção como de realities, que permitem falar
de uma pequena indústria audiovisual, além dos próprios canais de
televisão. Das 13 ficções nacionais que estrearam no Peru em 2012,
sete delas foram realizadas por empresas produtoras independentes,
sendo a Del Barrio Producciones a mais ativa, com quatro ficções.
As temáticas continuavam apontando uma população que até
uma década atrás era praticamente inexistente nas telas nacionais:
Para a elaboração deste capítulo contamos com o apoio de Ibope Media Peru, que gentilmente nos proporcionou a informação de audiência utilizada neste estudo.
2
Essa campanha gerou uma polarização de propostas, criando uma incerteza nos diferentes setores políticos e econômicos que levou a uma diminuição de investimento em
diferentes âmbitos, inclusive na televisão.
1
380 | Obitel 2013
a classe emergente. Dessa forma, 46% das produções tinham como
personagens centrais peruanos de escassos recursos que, tendo por
base o trabalho, o esforço, a dedicação, a constância e bastante sofrimento em seu caminho, conseguiam triunfar e surgir no final da
história. Isso era intrínseco à imagem do peruano trabalhador e empreendedor que se foi construindo no país na ultima década, quando surgiu de maneira formal uma classe de pequenos empresários
que passaram a movimentar a economia nacional3. Dessa maneira,
a presença de temas e ficções que refletem ou mostram essa empreendedora classe emergente também se relaciona com a valorização
do poder aquisitivo e hábitos de consumo que esse público possui.
Mas, ao mesmo tempo, se relaciona com as empresas independentes
de realização televisiva que começaram a surgir na última década,
com base no esforço e empreendedorismo de seus donos e trabalhadores audiovisuais.
Breve história da televisão peruana
A televisão nasceu no Peru em 1958, quando a estatal Canal
7 iniciou suas transmissões. A partir desse ano criaram-se diversos
canais privados 4, cujos donos eram na sua maioria empresários de
emissoras de rádio. Dessa maneira, foram fundados a América Televisión, a Panamericana Televisión, o Canal 9, o Canal 2 e, em 1967,
o Canal 115. Em 1968 ocorre o golpe militar, encabeçado pelo general Juan Velasxo, que em 1971 expropria os canais, fazendo com
que a produção de ficção se reduza notoriamente sem desaparecer
totalmente.
Em 1980 retorna a democracia, e nesse momento havia apenas
três dos canais pioneiros: Canal 7, América e Panamericana. Nos
O Peru conseguiu o terceiro lugar na taxa de atividade empreendedora mundial em
2011, com 22,9%. Fonte: http://latierraesflat.wordpress.com/2012/06/01/emprendimiento-en-el-peru/. Consultado em: 20/2/2013.
4
Os dados foram extraídos principalmente do livro de Fernando Vivas, indicado na bibliografia.
5
Deve-se indicar que todos esses canais foram fundados em Lima. Entretanto, em 1959
fundou-se também, ao sul, na cidade de Arequipa, o canal Televisora Sur Peruana.
3
Peru – Uma ficção de empreendedores | 381
anos seguintes são fundadas Frecuencia Latina, ATV, RBC e Global
Televisión, iniciando a produção de ficções, ainda que afetada pela
grande crise econômica que atravessou o país no final da década.
Nos anos 90, durante o governo de Alberto Fujimori, ocorre um
ressurgimento das produções, mas no início do século XXI, com a
queda do governo e com a comprovação de que os donos dos canais
haviam recebido dinheiro e vendido suas linhas editoriais ao regime
fujimorista, gera-se uma crise que desemboca em batalhas legais,
prisão ou fuga do país de vários dos donos, e a transferência de
propriedade ou administração dos canais de televisão.
A televisão aberta no Peru
Atualmente existem seis canais de televisão aberta na frequência VHF que têm alcance em boa parte do Peru. Todos eles são
emitidos via satélite da capital – Lima – através de repetidoras nas
principais cidades do país. Destes, cinco são privados: Frecuencia
Latina, América Televisión, Panamericana Televisión, Andina de
Televisión (ATV) e Global TV (que pertence também ao consórcio ATV, propriedade do empresário mexicano Ángel Gonzáles). O
sexto canal, TV Peru, é de propriedade do Estado peruano.
Gráfico 1. Cadeias nacionais de televisão aberta
Canais privados (5)
Frecuencia Latina
América Televisión
Panamericana Televisión
ATV
Global TV
Total de canais nacionais = 6
Fonte: Obitel Peru
Canais públicos (1)
TV Peru
382 | Obitel 2013
Tendências da audiência
Gráfico 2. Audiência TV por canal (por residência)
0
0,62
Rating Residência
2,11
5,61
5,77
1,65
Frecuencia Latina
América Televisión
Panamericana Televisión
8,45
ATV
Global TV
Outros
Total Ligados
Especial (TLE)
Frecuencia Latina
América Televisión
Panamericana Televisión
ATV
Global TV
Outros
%
5,61
8,45
1,65
5,77
2,11
0,62
Fonte: Ibope Media Peru
Gráfico 3. Share por canal
0
1,70
Share Residência
5,50
14,70
15,10
4,30
Frecuencia Latina
América Televisión
Panamericana Televisión
22,10
ATV
Global TV
Outros
Total Ligados
Especial
(TLE)
Frecuencia
Latina
América Televisión
Panamericana
Televisión
ATV
Global TV
Share
individual
%
14,70 23,8
22,10 35,8
4,30
7,0
15,10 24,5
5,50
8,9
Fonte: Ibope Media Peru
Os Gráficos 2 e 3 mostram a grande aceitação obtida pela América Televisión, que possui as ficções de maior audiência, como veremos mais adiante. O domínio desse canal é tal que nem sequer
somando os canais ATV e Global TV – ambos do mesmo consórcio
– eles conseguem obter a mesma audiência da América Televisión.
A Frecuencia Latina ocupa o terceiro lugar geral de sintonia, enquanto a Panamericana – canal cuja programação em grande parte
está ocupada com séries dos anos 70 – encontra-se num lugar muito
abaixo. Deve-se considerar também que já há vários anos a TV Peru
solicitou que não fosse considerada nas medições de sintonia, e por
isso não constam dados de sua audiência.
Peru – Uma ficção de empreendedores | 383
Gráfico 4. Gêneros de programas oferecidos pela TV
Horas de Exibição
0,3%
3,0%
4,7%
0,4%
24,5%
29,9%
Informação
Ficção
Entretenimento
37,2%
Religioso
Esporte
Outros
Gêneros
transmitidos
Informação
Ficção
Entretenimento
Religioso
Esporte
Educativo
Outros
Total
Horas de
%
exibição
11.904:00 24,5
18.097:35 37,2
14.509:50 29,9
163:55
2.269:30
1.453:45
200:00
48.598:35
0,3
4,7
3,0
0,4
100
Fonte: Obitel Peru
Observando o Gráfico 4, vemos que a ficção obteve em 2012
uma grande presença na televisão peruana, seguida pelos programas
de entretenimento e os de informação. Dos programas de entretenimento, 24% são conhecidos em geral como reality shows, tendo se
tornado muito populares nos últimos quatro anos6.
O tema informativo ocupa quase 25% da grade, onde abundam
noticiários e magazines jornalísticos. Tem-se mostrado um interesse marcado por notícias do showbiz e imprensa sensacionalista,
enquanto que temas políticos e de interesse nacional cederam presença.
A ficção ocupa 37,2% das horas de emissão7, e essa importante
presença é intrínseca aos resultados de audiência e conseguinte investimento da publicidade, tal como veremos posteriormente.
Investimentos publicitários do ano
Segundo dados do Ibope Media Peru, o investimento publicitário no Peru foi de 4.321 milhões de dólares8 em 2012, mas se obser-
Deve-se ressaltar que, para a televisão peruana, diferente do que ocorria no passado, os
formatos dos realities foram comprados dos donos das franquias.
7
Deve-se indicar que para a contagem não se consideraram as horas repetidas de emissão,
que são comuns nas madrugadas. Se tivessem sido consideradas, a porcentagem de ficção
seria ainda maior.
8
A partir dos montantes de tarifa impressa bruta que possuem os meios.
6
384 | Obitel 2013
vou uma diminuição percentual na maioria dos meios com relação a
2011. A televisão e os diários foram os únicos que aumentaram sua
participação – para 6,88%, sendo que em 2011 essa participação foi
de 5,3%. A TV a cabo foi o segundo meio com maior participação
publicitária em 2012, obtendo 14,37% dos ingressos publicitários
(1,3% menos que em 2011). O rádio obteve uma participação publicitária de 5,12%, enquanto que as revistas e suplementos tiveram
1,6%. Essas porcentagens se referem aos montantes de investimentos e não à quantidade de publicidade que cada meio obteve. Neste
sentido, não se pode esquecer que os custos de emissão de um spot
publicitário na televisão são muito mais altos que no rádio, ou mais
que um aviso num jornal, o que deve ser considerado ao ver a diferença tão marcada a favor da televisão.
Merchandising e merchandising social
As produções televisivas no Peru viram no merchandising e
no product placement (colocação de produtos) formas de conseguir
maiores recursos para os canais e para as empresas produtoras independentes. Dessa maneira, vários programas geram produtos com
imagens de seus personagens, os quais são vendidos no mercado
local: cadernos, bonecos, álbum de figurinhas, lancheiras, produtos
alimentícios etc. Além disso, é comum que se organizem shows e
apresentações do grupo de atores em diferentes partes do país, ou
que, durante a época de festas nacionais, haja circos – data em que
é tradicional sua chegada à capital – com o nome dos programas,
nos quais se apresentam os atores. Igualmente, durante os diferentes
capítulos mostram-se nas telas cartazes, relógios, calendários nas
casas dos personagens levando de forma muito visível o nome dos
produtos das empresas que patrocinam os programas, e também
aparecem personagens consumindo ou recomendando os diferentes
produtos e serviços que patrocinam o programa.
O merchandising social se deu através de menções de serviços
em alguns programas que tratam de problemas sociais, tais como
violência contra a mulher, discriminação, pedofilia ou alguma defi-
Peru – Uma ficção de empreendedores | 385
ciência. Isso esteve presente principalmente nas ficções Solamente
milagros (temporada 1 e 2) e em Conversando con la luna, que possuíam uma clara temática social.
Políticas de comunicação
Em abril de 2009 o Peru optou pelo sistema brasileiro de televisão digital, e em 31 de março de 2010 iniciaram-se as emissões de
televisão em alta definição. A escolha desse sistema (e da transição
à TDT em geral) se fez sob a premissa de que os canais digitais e a
maior quantidade de frequências disponíveis permitiriam uma democratização da televisão e uma concessão de maneira mais plural
nas diferentes regiões do país: “A TV digital é uma grande oportunidade para democratizar o sistema de mídia peruano, dando-lhe
maior diversidade e pluralismo e, dessa forma, colocá-lo em plena
sintonia com as principais recomendações internacionais em matéria de liberdade de expressão” (Gómez, 2012)9.
Atualmente trabalham-se os mecanismos para o processo de
concessão das licenças digitais, mas os grandes canais de Lima já
conseguiram contar com várias frequências para transmitir simultaneamente em alta definição e em sinal digital padrão, mesmo que
nem todos se utilizem das vantagens possibilitadas por isso. Através da Lei de Telecomunicações do ano de 2004, criou-se
o Conselho Consultivo de Rádio e Televisão (CONCORTV), que
impulsiona atividades cidadãs, monitoramentos, enquetes sobre a
televisão etc., mesmo que suas opiniões e recomendações não sejam vinculantes. Em seus anos de funcionamento, o CONCORTV
realizou diversas audiências públicas em diferentes partes do Peru,
colocando em agenda temas como infância, gênero, igualdade etc.,
apesar de não se ter necessariamente conseguido políticas específicas com respeito a esses temas.
http://www.concortv.gob.pe/index.php/noticias/992-como-fortalecer-la-pluralidad-en-la-transicion-a-la-tv-digital-en-el-peru.html
9
386 | Obitel 2013
Televisão pública
“TV Peru” é o nome com que atualmente se conhece o canal do
Estado10, que apesar de ter de comportar-se como um canal público,
tem sido operado como um canal ao serviço dos diferentes governos
de turno11, como meio de propaganda, com frequentes interrupções
de sua programação para emitir algum ato oficial dos membros do
Poder Executivo. O caso que mais sobressaiu – no que se refere a
essa observação – foi a interrupção do capítulo final da única ficção
produzida em 2012 pela TV Peru (Conversando con la luna) para
emitir uma intervenção ao vivo por parte do presidente Humala. Depois de finalizada essa interrupção, a programação retornou com o
noticiário, sendo omitidos os dez minutos finais do capítulo.
Sua programação é eminentemente de não ficções, mas em
2012 apostou na ficção Conversando con la luna. Abordando temas
sociais como a discriminação ou a inclusão social, o projeto contou
com quatro ficções de cinco capítulos cada uma, que eram emitidos
de segunda a sexta. Depois do mês de estreia, foram repetidas por
mais três vezes. Anunciou-se então que se realizará um segundo
grupo de histórias, com estreia em 2013.
TV paga
Existe um grande número de empresas que oferecem sistema
de televisão paga no Peru, mesmo que muitas delas funcionem
de maneira informal ou em localidades menores. As três principais empresas que oferecem televisão paga em grande parte do
território peruano são MovistarTV, DirecTV e ClaroTV. Nelas se
podem encontrar (além de uma oferta de canais internacionais) os
canais peruanos de sinal aberto em VHF, alguns que se transmitem em UHF e canais exclusivos de TV a cabo. Destes últimos,
a MovistarTV conta com sete canais peruanos12 exclusivamente
Existem também canais públicos locais em mãos de municipalidades. Entretanto, esse
é o único canal público de alcance nacional.
11
O Conselho Consultivo de Rádio e Televisão (CONCORTV) iniciou uma campanha
para promover a necessidade de contar com um canal realmente público no Peru.
12
CMD, Plus TV, Canal N, RPP TV, Willax, Canal JCP e Tele Juan. Este último é um
10
Peru – Uma ficção de empreendedores | 387
para TV a cabo, enquanto que a ClaroTV emite um exclusivamente seu e também conta com um dos emitidos pela MovistarTV. A
programação principal da metade desses oito canais é informativa,
enquanto que dois são canais de esportes, um é de entretenimento
e outro é religioso.
Quanto à audiência dos canais emitidos por cabo, depois dos
canais peruanos de alcance nacional, que também são oferecidos
por esse meio, o TL Novelas é o que possui maior audiência, com
um share de 3,7, que é apenas 0,6 menor do que o obtido pela Panamericana Televisión. Atrás do TL Novelas encontram-se Cartoon
Network, Discovery Kids e Disney XD.
Momento atual da TDT e internet
Os principais canais de Lima conseguiram que o governo lhes
concedesse sinais digitais, mesmo que nem sempre eles sejam utilizados para transmitir programação diferente à do seu sinal padrão.
Dessa maneira, a Frecuencia Latina (que possui um canal digital),
a América e a Panamericana (que possuem dois cada uma) emitem
a mesma programação que em suas transmissões regulares analógicas. A TV Peru, ao contrário, utiliza três canais digitais, onde emite
programação diferenciada, enquanto que o grupo ATV possui quatro canais, nos quais emite a programação da ATV num deles e o
seu canal informativo ATV+ em outro, sendo que no seu terceiro
emite a programação da GlobalTV e no quarto a de seu canal de
UHF, La Tele.
A tecnologia da TDT permite também receber o sinal em telefonia móvel. Nesse sentido foi a América Televisión quem esteve
na frente, pois transmite sua programação digital num formato que
pode ser recebido pelos telefones móveis que tenham sintonizador
digital incorporado.
Todos os canais que aqui trabalhamos contam com páginas
web, onde postam capítulos de seus diferentes programas, e em alcanal religioso que emite sinal aberto via UHF, mas o canal a cabo mistura seu sinal com
outros sinais religiosos a cabo.
388 | Obitel 2013
guns casos há transmissões ao vivo de sua programação. A ATV
possui uma plataforma que dá acesso aos quatro canais limenhos
do grupo, oferecendo informação, possibilidade de ver qualquer um
dos seus programas – tanto no momento que estão sendo emitidos
como posteriormente –, fóruns, comentários e links para sua página
do Facebook e do Twitter. As páginas da América Televisión e da
Frecuencia Latina oferecem as mesmas possibilidades que as antes
descritas, incorporando, além disso, chats com os atores de suas produções, a possibilidade que os usuários da página carreguem suas
fotos com as diferentes figuras do canal e a opção de baixar wallpapers do canal e suas produções. Entretanto, a organização das
páginas não facilita o acesso e é difícil chegar às diferentes opções,
pois não são aproveitadas todas as possibilidades que elas possuem.
No caso da Panamericana Televisión e da TV Peru, predomina a
parte informativa nas suas páginas web, onde se podem encontrar
os diferentes segmentos de seus programas jornalísticos junto com a
emissão ao vivo de sua programação.
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana
Apesar da aparição em massa dos realities na televisão peruana, foi a ficção – especialmente a peruana – que obteve uma grande
presença e aceitação de sintonia por parte do público. Exceto por
alguns eventos esportivos, ela ocupou os primeiros lugares de sintonia. Durante o ano de 2012, estrearam 13 ficções peruanas (emitidas
em quatro dos seis canais de cobertura nacional) e foram emitidas
novamente 11 ficções peruanas realizadas nos anos anteriores.
Peru – Uma ficção de empreendedores | 389
Tabela 1. Ficções exibidas em 2012
TÍTULOS NACIONAIS INÉDITOS
– 13
América Televisión – 9 títulos nacionais
1. Al fondo hay sitio (novela)
2. Gamarra (minissérie)
3. La AKdemia (série)
4. La faraona (minissérie)
5. La reina de las carretillas (minissérie)
6. Mi amor el wachimán (minissérie)
7. Solamente milagros (série)
8. Solamente milagros 2ª temporada
(série)
9. Yo no me llamo Natacha 2
(minissérie)
TÍTULOS DE REPRISES – 61
Frecuencia Latina
1. Clave uno (série)
2. Demasiada belleza (novela)
3. El encantador (novela – Colômbia)
4. Grafitti (novela)
5. La paisana Jacinta (série)
6. Los Barriga (novela)
7. Pataclaun (série)
8. Tiempo final (novela – Colômbia)
9. Vírgenes de la cumbia (minissérie)
América Televisión
10. Amar otra vez (novela – México)
11. Apuesta por un amor (novela –
México)
Frecuencia Latina – 2 títulos nacio12.Así es la vida (novela)
nais
13. Blancanieves y los churi churin
10. La bodeguita (série)
chunflais (telefilme – México)
11. La Tayson (novela)
14. Chespirito (série – México)
15. Contra viento y marea (novela –
TV Peru – 1 título nacional
México)
12. Conversando con la luna (minis16. Destilando amor (novela – México)
série)
17. El chapulín colorado (série –
México)
ATV – 1 título nacional
18. El chavo del ocho (série – México)
13. Corazón de fuego (novela)
19. Fuego en la sangre (novela – México)
20. Hasta que el dinero nos separe
TÍTULOS IMPORTADOS INÉDI(novela – México)
TOS – 27
21. María la del barrio (novela –
México)
América Televisión – 11 títulos
22. María Mercedes (novela – México)
importados
23. Marimar (novela – México)
1. Abismo de pasión (novela – México) 24. Mi destino eres tú (novela – México)
2. Amor bravío (novela – México)
25. Mujer casos de la vida real (série –
3. Amorcito corazón (novela – México) México)
4. Amores verdaderos (novela – México) 26. Nacida para triunfar (minissérie)
5. Cachito de cielo (novela – México) 27. Rosalinda (novela – México)
6. Como dice el dicho (série – México) 28. Sueña conmigo (novela – Argentina)
7. Dos hogares (novela – México) 8. Esperanza del corazón (novela –
Panamericana Televisión
México) 29. 1000 oficios (novela)
9. La que no podía amar (novela –
30. Augusto Ferrando de pura sangre
México) (minissérie)
10. La Rosa de Guadalupe (série –
31. Doña Bella (novela – Brasil)
México)
32. Esposos pero tramposos (série)
11. Rafaela (novela – México) 33. Gata salvaje (novela – Venezuela/
EUA) 390 | Obitel 2013
ATV – 10 títulos importados
12. Corazón valiente (novela – EUA)
13. Decisiones extremas (série – EUA)
14. El secretario (novela – Colômbia)
15. Grachi (novela – EUA)
16. Herederos del monte (novela –
Colômbia)
17. Insensato corazón (novela – Brasil)
18. La reina del sur (novela – EUA)
19. Oye bonita (novela – Colômbia)
20. Pasiones (novela – Brasil)
21. Una maid en Manhattan (novela
– EUA)
Frecuencia Latina – 3 títulos importados
22. Calle luna calle sol (novela – Venezuela)
23. Los caballeros las prefieren brutas
(série – Colômbia)
24. Pasión morena (novela – México)
Panamericana Televisión – 2 títulos
importados
25. La viuda joven (novela – Venezuela)
26. Luna roja (novela – Portugal)
Global TV – 1 título importados
27. Génesis (série – Espanha)
34. Los exitosos Pérez (novela –
México)
35. Pantanal (novela – Brasil)
36. Salvador de mujeres (novela –
Venezuela/Colômbia)
37. Taxista ra ra (série)
38. Xica da Silva (novela – Brasil)
ATV
39. Cada quien su santo (série – México)
40. Decisiones de mujeres (série – EUA)
41. Desastres de la guerra (série –
España)
42. Hay alguien ahí (série – España)
43. Historias de sexo, gente común
(série – Argentina)
44. La hija del mariachi (novela –
Colômbia)
45. La mujer en el espejo (novela –
Colômbia)
46. La vida es así (novela – Colômbia)
47. Lo que callamos las mujeres (série
– México)
48. Lo que la gente cuenta (série –
México)
49. Mujeres asesinas (série – México)
50. Pasión de gavilanes (novela –
Colômbia)
51. Sangre fría (miniserie – Argentina)
52. Séptima puerta (série – Colômbia)
Global TV
53. A cada quien su santo (série –
México)
54. Casado con hijos (série – Argentina)
55. Decisiones (série – EUA)
56. En los tacones de Eva (novela –
Colômbia)
57. La bella Ceci y el imprudente (novela – Colômbia)
58. La hija del jardinero (novela –
México)
59. La niñera (série – Argentina)
60. Lo que la gente cuenta (série –
México)
61. Toda una dama (novela – Venezuela)
TOTAL GERAL DE TÍTULOS
EXIBIDOS – 101
Fonte: Obitel Peru
Peru – Uma ficção de empreendedores | 391
Esta produção de ficção nacional significa um aumento de 44%
com respeito a 2011, quando estrearam nove ficções peruanas. No
caso das ficções estrangeiras inéditas, em 2012 estreou mais um título referente ao ano anterior.
Tabela 2. A ficção de estreia em 2012: países de origem
País
NACIONAL (total)
IBERO-AMERICANA (total)
Argentina
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
Espanha
EUA (produção
hispânica)
México
PERU
Portugal
Uruguai
Venezuela
Latino-Americana
(âmbito Obitel)
Latino-Americana
(âmbito não Obitel)
Outras (produções e
coproduc. de outros
países latino-am./
ibero-am.)
TOTAL
Títulos
Capítulos/
Episódios
%
%
24,3
Horas
%
13
32,5
733
552:25 23,3
27
67,5
2.279
0
2
0
4
0
1
0,0
5,0
0,0
10,0
0,0
2,5
0
247
0
153
0
17
0,0
8,2
0,0
5,1
0,0
0,6
5
12,5
482
16,0
381:55 16,1
12
13
1
0
2
30,0
32,5
2,5
0,0
5,0
1.152
733
22
0
206
38,3
24,3
0,7
0,0
6,9
916:35 38,6
552:25 23,3
17:50 0,8
00:00 0,0
172:05 7,3
33
82,5
2.492
82,7 1.958:10 82,5
0
0,0
0
0,0
7
17,5
520
17,3
40
100
3.012
75,7 1.820:00 76,7
00:00
189:55
00:00
127:10
00:00
14:20
00:00
0,0
8,0
0,0
5,4
0,0
0,6
0,0
414:05 17,5
100 2.372:15
100
Fonte: Obitel Peru
As ficções nacionais são as que encabeçam o número de estreias durante 2012, ocupando quase a terceira parte da ficção de estreia emitida durante esse ano, seguidas pelas provenientes do México, sobretudo pela grande quantidade de ficções desse país emitidas
392 | Obitel 2013
pela América Televisión13. Seguem também a produção em língua
espanhola dos EUA e a ficção colombiana, graças à presença que
tiveram na ATV. Devemos esclarecer que a presença de uma ficção
portuguesa na listagem se deve à emissão da novela Luna Roja na
Panamericana Televisión. Entretanto, a programação desse canal
foi muito instável, modificando-se constantemente. Dessa novela
foram emitidos apenas 22 capítulos, tendo sido logo retirada do ar
sem explicação.
Dos seis canais observados, a América Televisión é o único em que as horas de ficção
emitidas ao ano superam às de não ficção, com uma diferença de mais de dois pontos
percentuais.
13
695
0
733
Prime (18h-23h)
Noturno (23h-6h)
Total
Fonte: Obitel Peru
3
4
6
0
0
0
0
13
Série
Minissérie
Telefilme
Unitário
Docudrama
Outros
Total
Fonte: Obitel Peru
Títulos
Novela
Formatos
39
Tarde (12h-18h)
100
0,0
94,7
5,3
0,0
%
551:50
00:00
521:00
30:50
00:00
H
Nacionais
100
0,0
94,4
5,6
0,0
%
2.279
421
763
1.021
73
C/E
100
18,5
33,5
44,8
3,2
%
1.819:55
442:55
527:20
791:10
58:30
H
Ibero-Americanas
100
24,3
29,0
43,5
3,2
%
100
0,0
0,0
0,0
0,0
46,15
30,77
23,08
%
733
0
0
0
0
159
93
482
Cap./Ep.
%
100
0,0
0,0
0,0
0,0
21,69
12,64
65,67
Nacionais
552:30
00:00
00:00
00:00
00:00
118:20
73:20
360:50
Horas
100
0,0
0,0
0,0
0,0
21,42
13,27
65,31
%
27
0
0
0
0
0
5
22
Títulos
100
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
18,52
81,48
%
3.012
421
1.458
1.060
73
C/E
100
14,0
48,4
35,2
2,4
%
2.279
0
0
0
0
0
361
1.918
Cap./Ep.
100
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
15,85
84,15
%
58:30
H
1.820:20
00:00
00:00
00:00
00:00
00:00
269:10
1.551:10
Horas
2.371:45
442:55
1.048:15
822:05
Total
Ibero-Americanas
Tabela 4. Formatos da ficção nacional e ibero-americana
0
C/E
Manhã (6h-12h)
Faixas horárias
Tabela 3. Capítulos/Episódios e horas emitidos por faixa horária
100
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
14,78
85,22
%
100
18,7
44,2
34,7
2,5
%
Peru – Uma ficção de empreendedores | 393
394 | Obitel 2013
Quanto à ficção Obitel, o formato mais frequente ainda é a
novela (62,5% do total de títulos), seguido pela série (22,5%) e a
minissérie (15%). Em particular no Peru, a minissérie é o tipo de
formato mais comum, por seus custos de produção e duração, que
reduzem os riscos de investimento. Quase a metade das ficções nacionais optou por esse formato. Ocorreu que, durante a emissão de
uma minissérie que tinha bons resultados de audiência, decidiu-se
modificar o final para que se pudesse realizar uma nova temporada.
Desta forma se anunciou que três das seis minisséries transmitidas
em 2012 teriam uma segunda temporada, enquanto que outras das
minisséries transmitidas naquele ano eram já a segunda temporada
de uma minissérie emitida em 2011.
Tabela 5. Formatos da ficção nacional por faixa horária
FORMATOS
MANHÃ
%
TARDE
Novela
0
0,0
Série
0
0,0
Minissérie
0
Telefilme
NOTUR- %
NO
%
PRIME
TIME
%
TOTAL
%
0
0,0
3
25
0
1
100
3
25
0
0,0
3
23,1
0,0
4
30,8
0,0
0
0,0
6
50
0
0,0
6
46,2
0
0,0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
Unitário
0
0,0
0
0,0
Docudrama
0
0,0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
Outros
0
0,0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
0
0,0
Total
0
0,0
1
7,7
12
92,3
0
0,0
13
100
Fonte: Obitel Peru
A ficção nacional no Peru é apresentada principalmente em prime time, competindo com programas de maior audiência da televisão. Durante 2012, as ficções dessa faixa horária competiram contra
realities de concurso, programas de espetáculo e de entretenimento,
conseguindo finalmente liderar a audiência, sendo que no ano anterior apenas uma ficção havia alcançado esse feito. Das ficções nacionais com estreia em 2012, 12 foram transmitidas em prime time,
demonstrando a confiança que se obteve em aceitação de audiência.
Peru – Uma ficção de empreendedores | 395
Já a ficção ibero-americana está presente nas tardes e em prime
time. Entretanto, é interessante observar que alguns canais se interessaram em estrear ficções em horário noturno, inclusive depois
da meia-noite, sendo uma porcentagem bem maior que as estreias
durante as manhãs, que é um horário mais dedicado à notícia e a
alguns programas de espetáculos.
Tabela 6. Época da ficção
Tempo
Nacional
Ibero-Americana
TOTAL
Títulos
%
Títulos
%
Títulos
%
13
100,0
27
100,0
40
100,0
Presente
de Época
0
0,0
0
0,0
0
0,0
Histórico
0
0,0
0
0,0
0
0,0
Outro
0
0,0
0
0,0
0
0,0
Total
13
100
27
100
40
100
Fonte: Obitel Peru
A época da ficção mostrada durante 2012 no Peru é totalmente
contemporânea. As histórias se desenvolvem na época atual ou num
passado muito recente. Algumas ficções podem conter cenas que
comecem com a história dos personagens no passado, mas logo o
resto da história se desenvolve contemporaneamente.
Tabela 7. Os dez títulos mais vistos: origem, rating, share
Título
País de
origem
Casa
da ideia
produtora
original
ou roteiro
Canal
Nome do
roteirista
autor
da ideia
original
Rating
Share
1
Al fondo
hay sitio (4ª
temporada)
PERU
América
Televisión
América
Gigio
Televisión Aranda
16,56 53,82
2
Mi amor el
wachimán
PERU
Del Barrio
América
Víctor
ProduccioTelevisión Falcón
nes
15,42 46,11
396 | Obitel 2013
Del Barrio
América
Víctor
ProduccioTelevisión Falcón
nes
14,11 43,37
América
Televisión
América
Rosa GutiTelevisión érrez
11,88 35,13
México
Televisa
Delia
América
Fiallo/
Televisión Ximena
Suárez
11,64 35,10
PERU
América
Televisión
América
Rosa GutiTelevisión érrez
9,96
3
La reina de
PERU
las carretillas
4
La faraona
5
La que no
podía amar
6
Solamente
milagros
(2ª temporada)
PERU
Victor
Del Barrio
América
Falcón/
9,47
7 Gamarra
PERU
ProduccioTelevisión Eduardo
nes
Adrianzén
Adaptação
Telemundo romance
La reina del
8
EUA
do/
ATV
de Arturo
8,90
sur
RTI
Pérez-Reverte
Del Barrio
Yo no me llaAmérica
Victor
7,99
9
PERU
Producciomo Natacha 2
Televisión Falcón
nes
Kathy Cárdenas/Mariana Silva/
Corazón de
Grupo
10
PERU
ATV
Bruno
6,23
fuego
ATV
Ascenzo/
Natalia
Parodi
Total de produções: 10
Roteiros estrangeiros: 2
100 %
Fonte: Obitel Peru/Ibope Media Peru
20 %
35,64
31,38
29,28
30,92
22,52
Peru – Uma ficção de empreendedores | 397
Tabela 8. Os dez títulos mais vistos:
formato, duração, faixa horária
Título
1
2
Al fondo
hay sitio (4ª
temporada)
Mi amor el
wachimán
Formato
Gênero
Nº de
cap./ep.
(em
2012)
Data da
primeira
e última
emissão
(em 2012)
(*)
Faixa
horária
Novela
Comédia
211
27/02-14/12
Prime
Minissérie
Comédia
43
01/10-09/11
Prime
3
La reina de
las carretillas
Minissérie
Drama
22
12/11-(cont.)
Prime
4
La faraona
Minissérie
Drama
22
27/08-28/09
Prime
Novela
Drama
166
11/01-24/08
Prime
Série
Drama
11
17/12-(cont.)
Prime
Minissérie
Drama
9 (iniciou em
2011)
02/01-10/01
Prime
82
02/01-10/04
Prime
22
02/01-27/01
Prime
146
02/01-17/07
Prime
5
6
7
La que no
podía amar
Solamente
milagros (2ª
temporada)
Gamarra
La reina del
Novela
Drama-ação
sur
Yo no me lla9
Minissérie Comédia
mo Natacha 2
Corazón de
10
Novela
Drama
fuego
Fonte: Obitel Peru/Ibope Media Peru
8
O predomínio das produções emitidas pela América Televisión
em 2012 pode ser observado na Tabela 7, onde as sete ficções de
maior audiência pertencem a esse canal, que possui , além disso,
oito dos dez títulos de programas mais vistos. Somente duas produções emitidas pela ATV conseguiram estar entre os dez títulos mais
vistos, que são em sua maioria nacionais. Unicamente as novelas La
que no podía amar (América) e La reina del sur (ATV) são ficções
estrangeiras que conseguiram estar entre as ficções mais vistas no
Peru.
398 | Obitel 2013
A programação da América Televisión no prime time, entre 20h
e 22h, foi principalmente de ficções nacionais, que obtiveram grande resposta do público. Enquanto que o horário das 20h está dedicado à bem-sucedida Al fondo hay sitio, para as 21h está programada
uma outra ficção, obtendo uma boa resposta por parte do público.
Tabela 9. Temáticas nos dez títulos mais vistos
Títulos
Al fondo hay sitio
1
(4ª temporada)
Mi amor el wachi2
mán
3
La reina de las
carretillas
4 La faraona
5
La que no podía
amar
Solamente mila6
gros (2ª temporada)
TEMÁTICAS
DOMINANTES
(ATÉ CINCO TEMAS
MAIS IMPORTANTES)
– Segredos do passado
– Ascensão social
– Infidelidade
– Relações familiares
– Romance
– Homenagem a vigilantes
particulares
– Diferenças sociais
– Lealdade
– Romance
– Cozinha peruana
– Lealdade
– Maternidade
– Infidelidade
– Música popular
– Minissérie biográfica
– Traição
– Romance
– Desintegração familiar
– Sacrifício
– Lar
– Família
– Religiosidade
– Relações familiares
– Traição
– Vingança
– Morte
8 La reina del sur
– Traição
– Amizade
– Romance
Yo no me llamo
9
– Lealdade
Natacha 2
– Cozinha peruana
– Segredo do passado
10 Corazón de fuego
– Infidelidade
– Traição
Fonte: Obitel Peru/Ibope Media Peru
7 Gamarra
TEMÁTICAS SOCIAIS
(ATÉ CINCO TEMAS
MAIS IMPORTANTES)
– Inclusão social
– Racismo
– Migração
– Superação
– Empreendimento
– Valores familiares
– Valores familiares
– Empreendimento
– Superação
– Violência contra a mulher
– Solidariedade
– Empreendimento
– Superação
– Valores familiares
– Violência de gênero
– Deficiência
– Valores familiares
– Corrupção
– Pedofilia
– Drogas
– Empreendimento
– Superação
– Solidariedade
– Narcotráfico
– Identidade cultural
– Empreendimento
– Superação
– Solidariedade
– Pisco peruano
Peru – Uma ficção de empreendedores | 399
A superação dos personagens através do trabalho honrado, o
sucesso graças à perseverança apesar das frustrações constantes, a
lealdade e solidariedade frente às traições e situações adversas foram temáticas recorrentes em várias das ficções nacionais. Como
foi mencionado algumas linhas acima, apostou-se na imagem do
empreendedor, aquele que, a partir de um início muito humilde, vai
surgindo e superando obstáculos, desgraças, maldades, até conseguir uma ascensão, o sucesso e a realização, tanto profissional quanto pessoal. Esses personagens tiveram sempre uma qualidade que
os relaciona a atividades identificadas como peruanas: serem bons
cozinheiros de pratos peruanos, serem confeccionistas e negociantes
de roupa, cultivar vinhedos e elaborar pisco, ou serem cantores de
música popular. Nessas atividades é que deverão se envolver, competir e triunfar os personagens, uma vez que resolvam seus problemas familiares e amorosos.
O romance entre personagens de classes diferentes esteve também presente, e, longe de representar as relações amorosas como
formas de ascensão social14, estabelecem-se como formas de afirmação de identidades, em que o amor supera as barreiras e preconceitos
da sociedade peruana, e finalmente faz com que os casais principais
se aceitem em suas condições e características próprias.
Dessa forma, as ficções nacionais nos falam de um imaginário
peruano e um desejo de sociedade que ainda não é real, que às vezes
parece que está se configurando na televisão. Esse imaginário mostra uma possibilidade na qual as diferenças possam ser superadas,
assim como podem fazer os próprios indivíduos que não desistem
da sua luta diária. É importante indicar que duas das ficções presentes nessas tabelas (Gamarra e La faraona) estão baseadas em fatos
reais; assim, as histórias de sucesso não ficam apenas nas ficções
prováveis, mas também se concretizam em realidades existentes, o
que reafirma um otimismo de uma sociedade possível.
Isso no caso dos protagonistas. Essa opção pode estar presente para os antagonistas e
vilões das ficções nacionais.
14
400 | Obitel 2013
Tabela 10. Perfil de audiência dos dez títulos mais vistos:
gênero, idade, nível socioeconômico
Gênero
Títulos Canal MuHolhemens
res
Al fonAmédo hay
rica
sitio (4ª
59,18 40,82
Teletempovisión
rada)
Mi
Améamor el rica
56,71 43,29
wachi- Telemán
visión
La
Améreina
rica
de las
60,86 39,14
Telecarrevisión
tillas
AméLa fa- rica
60,44 39,56
raona Televisión
La
Améque no rica
65,11 34,89
podía Teleamar visión
Solamente Amémila- rica
63,00 37,00
gros (2ª Teletempo- visión
rada)
AméGamar- rica
57,45 42,55
ra
Televisión
La
reina ATV 62,35 37,65
del sur
Yo no
Améme
rica
llamo
59,11 40,89
TeleNatavisión
cha 2
Corazón de ATV 63,72 36,28
fuego
Fonte: Ibope Media Peru
Nível socioeconômico
Faixa etária
3-10
113818-25 26-37
17
49
5999
AB
C
DE
13,63 16,54 16,86 17,99 14,49 20,49 21,35 37,13 41,52
18,47 16,38 15,67 17,63 13,62 18,24 13,63 34,59 51,78
17,04 18,85 14,45 19,60 14,85 15,22 10,69 35,63 53,68
16,96 17,25 12,12 18,57 15,12 19,99
9,27 33,98 56,75
14,17 15,16 14,89 17,30 18,28 20,21 12,92 31,44 55,64
18,10 21,43 14,22 15,29 13,56 17,39
9,51 33,77 56,72
13,66 16,10 12,00 20,88 13,58 23,79 14,65 31,90 53,45
10,83 8,63 17,87 22,08 17,66 22,94 14,49 40,50 45,01
19,89 15,00 12,16 19,65 12,62 20,67 15,41 34,28 50,32
15,85 12,68 14,09 16,86 14,07 26,45
9,14 38,38 52,49
Peru – Uma ficção de empreendedores | 401
A Tabela 10 mostra que a ficção segue sendo mais vista pelas
mulheres do que pelos homens, pois, em todos os títulos, a porcentagem de mulheres é maior que a dos homens, apesar de chegarem
a um importante 40%, sendo a diferença mais visível na novela La
que no podía amar, em que quase se duplica a audiência feminina
em relação à masculina.
A maior audiência em todos os casos pertence ao nível socioeconômico DE, sendo La faraona e Solamente milagros onde a sua
presença é mais notória. Também é interessante ver que a maior
presença de audiência do setor AB encontra-se na composição de
Al fondo hay sitio, setor que na série é parodiado e mostrado de
maneira estereotipada.
3. A recepção transmidiática
É inegável a relação que a televisão e a internet vêm desenvolvendo nestes últimos anos. Trata-se de dois meios que se alimentam
mutuamente e cuja vinculação pode ser muito proveitosa: “[…] as
tecnologias da Internet produzem um impacto tanto nos processos
de produção como nos de distribuição de conteúdos e sua influência
nos modelos empresariais de corte tradicional baseados no broadcast se desenvolve de diversas maneiras” (Igarza, 2008, p. 128).
Para observar as características de transmidiação nas ficções
nacionais de estreia durante o ano de 2012 no Peru, escolheu-se a
novela Al fondo hay sitio (AFHS), por ser a produção local que obteve os maiores índices de audiência entre as ficções de estreia nesse
período15, e porque vem fazendo isso durante quatro anos consecutivos.
15
Ver Tabelas 7 e 8 do presente relatório.
402 | Obitel 2013
Tabela 11. A ficção transmidiática:
tipos de interação e de práticas dominantes
Ficção
Al fondo
hay sitio
Emissora
América
Televisión
Tipos de
Níveis de
interação
interatitransmidiática vidade
Visualização
Página Oficial
Ativa
transmidiática
Visualização
Página de
interativa em
Ativa
Facebook
rede
Página de
Ativa
Interativa
Twitter
Visualização
Página de
interativa em
Ativa
YouTube
rede
Páginas na
internet
Práticas
dominantes
de usuários
Comentar
Interpretar
Recomendar
Parodiar
Criticar
Discutir
Fonte: Obitel Peru
Para a leitura desses resultados, levaram-se em conta somente
as páginas oficiais. O período de observação escolhido é a semana
final de transmissão da quarta temporada, compreendida entre a segunda-feira do dia 10 e o domingo do dia 16 de dezembro de 2012.
AFHS fez-se presente na internet na forma de uma página web, uma
página no Facebook, uma conta no Twitter e um canal no YouTube. Apesar das características que a Tabela 11 apresenta quanto aos
tipos de interação e níveis de interatividade, a oferta transmidiática
da AFHS revela algumas limitações. Em primeira instância, a página web oficial da AFHS funciona como uma extensão pertencente
à página web oficial da América Televisión, canal que a transmite. Tal canal segue a mesma lógica com o resto de suas produções
próprias, as quais se moldam às características que sua página web
possui. Podem-se encontrar capítulos, sinopses, galeria de imagens,
conteúdo das séries, entre outros, mas não há uma forma clara de
conectar essa página ao Facebook, Twitter ou YouTube oficiais de
suas próprias produções. Eis aí uma opção que se deve trabalhar.
Por outro lado, há um design que congestiona a leitura das seções
oferecidas na página desse canal de televisão, não permitindo a fácil
localização de cada um dos links que podem nos levar àquilo que
nos interessa acessar como usuários.
Peru – Uma ficção de empreendedores | 403
Centramo-nos no Facebook por ser a rede social preferida entre
os internautas peruanos16. Em seu Facebook, AFHS mostra 12.794
pessoas que curtem a página, com 1.729 pessoas falando sobre essa
produção. Essas discretas cifras, que não refletem os níveis de sintonia de AFHS, podem ser explicadas, por exemplo, pela pouca
facilidade em conectar a página web da América Televisión com
o espaço oficial no Facebook dessa novela. Isso é aproveitado por
poucas contas não oficiais dessa rede social que aparecem como
uma opção atrativa para os seguidores de AFHS. Como veremos
mais adiante, suas cifras globais superam as da conta oficial por
uma considerável margem.
Deve-se ressaltar a distribuição geral dos posts, “curtir”, “comentários” e “compartilhar” durante a semana de observação escolhida:
Posts
Curtir
Comentários
Compartilhar
Seg
10
0
0
0
0
Ter
11
1
7
13
0
Qua
12
1
52
4
13
Qui
13
4
113
25
16
Sex
14
3
398
206
4
Sáb
15
2
252
97
34
Dom
16
1
40
10
0
TOTAL
12
862
355
67
Nas postagens, a tendência foi crescente à medida que se aproximava o capítulo final da temporada 2012, emitido na sexta-feira,
14 de dezembro. Na quinta-feira, 13, obteve-se um maior número
de postagens para gerar a expectativa do capítulo final do dia seguinte. Deve-se destacar, ainda que não favorecesse a AFHS, a falta
de atividade que se registrou na segunda-feira, 10, apesar de ser o
início da última semana de transmissão. Caso similar ocorreu com
o número de “curtir”: a sexta-feira foi o dia com maior atividade
nesse sentido, e a cifra produzida chegou a 41 pontos de rating nes-
Segundo dados da empresa de investigação de mercado Ipsos APOYO Opinión y Mercado, 98% dos usuários de internet em Lima que pertencem a uma rede social preferem o
Facebook. O mesmo ocorreu com os usuários de internet no interior do país, onde a cifra
chegou a 95%.
16
404 | Obitel 2013
sa data17. Os resultados dos “comentários” confirmam tal número.
Quanto à quantidade de “compartilhamentos” durante essa semana,
foram resultado do impacto do episódio final, com um pico no sábado depois da sua transmissão.
Quanto à dúzia de posts publicados na semana de observação, a
maioria era em relação à possibilidade de rever o episódio do dia ou
com a proximidade do final da temporada. Ressalta-se, neste caso, um
dos posts publicados no sábado, 15 de dezembro, pois se promoveu
o breve retorno de AFHS, com a nova temporada logo no dia seguinte de ter sido transmitido o episódio final da quarta temporada. Essa
promessa foi combinada com imagens que remetem a tramas que não
foram resolvidas no último episódio, para aumentar assim o interesse
dos seguidores dessa novela observada; a maioria dos 64 “comentários” que anuncia o dito post são positivos em relação à AFHS. Os
seguidores inclusive redigem seus textos apropriando-se das frases
típicas de alguns personagens. Os outros “comentários” podem ser
considerados como negativos, na medida em que se relacionam mais
com a duração dessa produção (quatro anos seguidos), ou com a antipatia em relação a algum dos personagens ou tramas, embora este
último revele uma audiência pelo menos regular dessa novela.
Finalmente, não podemos deixar de mencionar a oferta transmidiática que aparece de maneira não oficial. Em dezembro de 2012,
havia no Facebook 343 resultados relacionados à AFHS, enquanto
que sites com conteúdo crítico sobre essa novela não chegavam a 20.
O site mais popular e a favor dessa ficção contava com 1.504.574
seguidores, enquanto o site contrário à AFHS mais popular tinha
7.152 seguidores. Deve-se considerar também que as contas não oficiais nessa rede social permitem os posts, “comentários” e “compartilhamentos” de temas não necessariamente relacionados à AFHS,
coisa que não acontece na conta oficial. Essa produção televisiva
poderia aproveitar esse espaço não oficial a seu favor para a sua
promoção ou para medir as opiniões de seus seguidores e detratores.
17
Fonte: elcomercio.pe. Em: http://elcomercio.pe/espectaculos/1511035/noticia-final-al-fondo-hay-sitio-llego-41-puntos-rating
Peru – Uma ficção de empreendedores | 405
Entretanto, seria melhor que explorasse e fortalecesse seus espaços
oficiais na internet: conteúdo exclusivo, promoções, concursos, espaço para criações dos fãs – fanfiction e seus derivados – podem
ajudar na aproximação dos seguidores da AFHS com as instâncias
que o transmidiático contempla.
4. O mais destacado do ano
A primeira coisa a se destacar em 2012 é a alta porcentagem
que ocupa a ficção do total de horas transmitidas pelos diferentes
canais. A ficção geral alcança 37,2% de toda a programação nas
telas peruanas, o que é pouco. É importante também salientar que,
dessa ficção geral, 44,3% corresponde a ficções do âmbito Obitel,
sendo as produções mexicanas as que encabeçam a lista de títulos
ibero-americanos.
Quatro dos seis canais observados em 2012 programaram a estreia de ficção local: a Frecuencia Latina programou dois títulos, La
Tyson – nova versão de Muñeca brava – e La bodeguita; a TV Peru
– numa aventura em que parecia que o Estado reconhecia o elemento essencial que há no meio televisivo em geral e na ficção em particular para a reflexão – realizou Conversaciones con la luna, projeto
que buscou propor quatro problemáticas sociais para a reflexão: o
racismo, a exclusão, a deficiência e a violência. A ATV apostou em
Corazón de fuego, relato com atores estrangeiros que mostrava as
paisagens do deserto costeiro e a denominação do pisco como licor
nacional. Finalmente, a América Televisión resultou ser o canal que
mais horas de ficção programou ao longo do ano, estreando nove
produções nacionais, todas elas com grande aceitação da audiência.
Neste sentido, um aspecto que se destaca é que a ficção peruana
está sendo propagada no prime time com 94,7%, ocupando espaço
de grande importância, e fazendo da ficção um produto central na
grade de programação.
As minisséries durante 2012 foram os relatos de ficção que
mais se consolidaram nas telas e no gosto do público no Peru. As
minisséries em que a televisão peruana apostou e suas diferentes
406 | Obitel 2013
audiências têm características bem estabelecidas: relato curto (entre
20 e 40 capítulos), aspecto melodramático muito presente, narrativa biográfica do(a) protagonista, uso de linguagem com forte sotaque local, práticas e gostos dos personagens, conflitos, intrigas,
medos, conquistas e sonhos alcançados, final feliz ou pelo menos
esperançoso. O eixo central que articula a narrativa é a luta de um(a)
empreendedor(a), que corre atrás de seus sonhos com honestidade
e esforço numa realidade que lhe é adversa. Esse eixo é o que faz
da minissérie uma narrativa em que simbolicamente se reconhecem
e visibilizam as histórias dos imigrantes na capital – um relato ficcional efetivo para entender as dimensões complexas da sociedade
peruana, onde as diferenças e as brechas socioeconômicas se mantêm vigentes no tempo.
A minissérie se torna um eixo central na pequena indústria audiovisual peruana, dinamizando-a, não apenas devido ao fato que a
produção contínua gera treinamento e emprego, mas porque criaram-se diferentes dinâmicas ao redor do audiovisual propriamente
dito. As empresas realizadoras há alguns anos18 se converteram em
empresas maiores, que organizam até três equipes de filmagem simultaneamente. A Del Barrio Producciones, por exemplo, realizou
neste ano quatro dos seis projetos de minissérie da televisão peruana,
além de organizar outros projetos documentais. Nesse impulso da
produção de ficção também organizaram-se empresas de casting e
preparação de atores, aluguel de equipamentos (luz, gruas, cenografia), equipe técnica, gerando especializações em todos essas áreas.
Tudo isso significa, também, uma mudança no processo da realização em si. Até o ano de 2005, eram principalmente os canais
de televisão que produziam e realizavam seus próprios projetos de
ficção. Hoje são as produtoras independentes que realizam indistintamente e para diferentes canais. Em vez de deixar as realizações a
18
Até o ano de 2005, essas casas realizadoras independentes que preparavam projetos
para os canais de televisão eram muito poucas e utilizavam um mínimo de equipamentos
de rodagem. No mercado peruano não chegavam a uma dezena, e muitas delas não mantinham uma produção contínua.
Peru – Uma ficção de empreendedores | 407
produtoras independentes, a América Televisión mantém uma divisão dedicada à realização de ficções, que se encarrega de seus
próprios projetos televisivos: Al fondo hay sitio, Solamente milagros
1, Solamente milagros 2 e La faraona, enquanto o grupo ATV também tem apostado nos últimos dois anos numa novela anual. Destaca-se também neste ano a continuidade e a consolidação
de Al fondo hay sitio, a ficção com maior sintonia, cujos finais de
temporada acertaram os 50 pontos de audiência. Desde seu início,
em 2009, ela ocupou um lugar de sintonia de ficção. Sua presença
está assegurada nas telas até 2014, pelo menos, e ao final de sua
quarta temporada, em 2012, estava perto de alcançar os 800 episódios, algo pouco comum no Peru. O sucesso dessa ficção fez com
que, até a data, se vendesse direitos de transmissão em mais cinco
países da América Latina.
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social19
“A memória ativa o passado no presente.” Paul Ricoeur
Pensar a memória social a partir da nossa ficção televisiva significa buscar as reconstruções de nossa história, identidades e manifestações culturais nos relatos televisivos peruanos em seus mais de 50
anos, já que “abordar memórias envolve referir-se a lembranças e esquecimentos, narrativas e atos, silêncios e gestos” (Jelin, 2012, p. 51).
Para Halbwachs (2004), a memória não se reduz ao âmbito
individual, mas há uma dimensão da memória que é a coletiva, a
que construímos e compartilhamos com outros; esta é sustentada
por diferentes marcos sociais: “estes marcos são, precisamente, os
instrumentos que a memória coletiva se utiliza para reconstruir uma
imagem do passado de acordo a uma época e em sintonia com os
pensamentos dominantes da sociedade” (Halbwachs, 2004, p. 10).
Os dados históricos dos últimos anos do século XX e do início do século XXI foram
tomados, em partes, do texto de Giuliana Cassano: “Las miniseries biográficas como
posibilidad de reconocimiento en la diversidad”.
19
408 | Obitel 2013
No entanto, é necessário observar que numa sociedade existem múltiplas memórias sociais cuja convivência gera tensões e diálogos,
convergência e conflito. Essas memórias sociais são as que permitem construir narrativas sobre a existência dos diferentes grupos,
dando-lhes coerência e continuidade.
No caso peruano, a evocação do passado esteve em função de
obras literárias, personagens e fatos da história oficial e popular, todas estas adaptadas a teleteatros, unitários, séries e minisséries. Nos
anos iniciais da televisão peruana, as adaptações de obras literárias,
presentes no imaginário nacional, são a aposta dos produtores limenhos. Em 1959 ocorre a estreia de Tradiciones peruanas, teleteatro
de meia hora adaptado da obra de Ricardo Palma. Em seu formato
original, essa obra reúne um conjunto de tradições que dão conta do
passado histórico dos anos da colônia, a independência e a jovem
república peruana. Se pensamos em termos de relatos fundacionais,
a obra de Palma é central na construção da idiossincrasia nacional;
incorporada ao currículo escolar, essa que forma cidadãos e cidadãs,
esses relatos construíram durante grande parte do século XX um
olhar ficcional hegemônico do nosso passado. Em 1964 é levada às
telas a obra de Enrique López Albújar, Matalaché, relato que conta
um amor inter-racial, evocando o Peru da escravidão, uma sociedade estruturada em função das diferenças de raça e classe social.
Nessas produções há um olhar ao passado mais longínquo, e o
interessante é o contexto de onde se olha: no Peru, os anos 50 são
tempos de mudança, as maiores migrações do campo à cidade ocorrem nessa época, e nas cidades se aposta na modernidade. Nesses
relatos aparecem conflitos e contradições que nos ajudam a entender
processos e práticas sociais que chegam até nossos dias.
Posteriormente, no contexto do centenário da guerra com o
Chile, a televisão peruana aposta em Nuestros héroes de la guerra
del Pacífico (1979), série que estreia num cenário político e social
que experimentou transformações estruturais levadas a cabo por políticas de Estado da Junta Militar que governou o Peru desde outu-
Peru – Uma ficção de empreendedores | 409
bro de 1968 até julho de 198020. Nessa série o olhar ao passado traz
ao presente os personagens de nossa história que encarnam valores
de honra, lealdade, sacrifício, cavalheirismo e integridade. Diante
do fato concreto da derrota no campo de batalha, a história oficial
peruana construiu uma narrativa ancorada nesses valores. A ficção
não escapa da história, acentuando nacionalismo e glória para nossos heróis no marco social e político de um governo militar que se
autodenominava revolucionário.
Nos anos 80, com o retorno da democracia ao Peru e a devolução dos canais aos anteriores donos, busca-se retomar a continuidade
da produção de ficção. Nessa década, podemos observar que o exercício da memória social na ficção televisiva está marcado pela tensão
entre olhar um passado recente e interpretar um passado remoto.
Em 1983, a Panamericana estreia Gamboa, série policial que
retratava – de forma dramática – alguns casos extraídos dos próprios
arquivos da Polícia de Investigações do Peru. No final de 1985, a
produtora PROA e a ATV apostam na incorporação de suas novelas
iniciais – Bajo tu piel (1986) e Malahierba (1987) –, com temáticas
sociais como a negligência médica, responsabilidades jornalísticas
e o narcotráfico, que se encontra em seu auge.
Nesses relatos encontramos indicadores das preocupações sociais da época que foram incorporadas de maneira ainda tímida à
ficção peruana, retratando alguns personagens marginais – prostitutas, homossexuais, delinquentes –, sendo as temáticas mais cotidianas e próximas à experiência dos limenhos – drogas, tráfico de influências, corrupção e violência. Mas é nas minisséries que melhor
podemos estabelecer o vínculo entre memória e ficção televisiva.
Entre 1987 e 1991, realiza-se praticamente uma minissérie por ano,
pondo em evidência essa vocação por imaginar o passado ancorado
Nesses anos, a reforma agrária é levada a cabo, assim como a reforma da educação.
Nacionalizam-se os recursos naturais e a sua exploração – petróleo, mineração, mar.
Acaba-se com o sistema latifundiário e a terra passa às mãos dos que ali trabalham. Expropriam-se os meios de comunicação. Outorga-se cidadania aos indígenas, a população
analfabeta tem acesso ao voto para eleger autoridades, o quechua e o aymaná são reconhecidos como idiomas oficiais junto ao castelhano.
20
410 | Obitel 2013
nos personagens históricos, relatos míticos e experiências emblemáticas. Em 1992 a dupla Gómez-Adrianzén realiza La Perricholi,
uma produção que traz ao presente Micaela Villegas, famosa atriz
do século XVIII que foi amante do vice-rei Amat. Nesse relato se
apresentam personagens, situações e conflitos que retratam bem o
enfrentamento de índios e espanhóis, os sonhos de independência
dos crioulos, a hipocrisia da capital do Vice-Reino do Peru. E especialmente a frivolidade e a dupla moral das altas classes sociais.
Em 1993 Luis Llosa realiza El ángel vengador, história centrada
num criminoso limenho cujo assassinato ainda segue sem resolução.
O ano de 1994 foi bastante produtivo: a dupla Gómez-Adrianzén
nos traz Tatán, relato centrado em Luis D’unian Dulanto, ladrão dos
anos 50 convertido em Robin Hood nacional pela imprensa local;
a Panamericana realiza El espajo de la vida, em que relata a vida
de Felipe Pinglo Alva, importante compositor de música folclórica; e a América trouxe La captura del siglo, minissérie que recria
para a ficção o processo de investigação e captura do líder terrorista
Abimael Guzmán por parte do Grupo Especial de Inteligência, reproduzindo a explosão de um carro-bomba em pleno centro urbano
de classe média limenha, fato que simbolizou a presença da guerra
terrorista no coração da capital do Peru.
Essas produções conservam a tensão entre rememorar o passado próximo frente ao passado mais distante. Fantasia-se a violência urbana no caso de El ángel vengador e Tatán, se observa com
nostalgia um passado do crioulo de um tempo distante na série de
Pinglo, e com La captura del sigro se recria um cerco ao terrorismo, no início do fim de uma etapa dolorosa na história recente do
Peru. Esse produto trazia um texto ao final de seus créditos iniciais
em que fazia alusão à necessidade de não esquecer-se desses feitos. Mais que uma reflexão sobre o ocorrido, é uma homenagem e
reconhecimento para o grupo policial que com esforço e sacrifício
conseguiu capturar o terrorista21.
A captura do chefe terrorista se dá durante o governo de Alberto Fujimori. Quando isso
ocorre, muitos buscaram ser reconhecidos como membros desse grupo de elite.
21
Peru – Uma ficção de empreendedores | 411
No mesmo 1994 se dá um fato importante na televisão peruana,
pois o país retratado hegemonicamente nas ficções muda de rosto,
de classe social e de origem. A novela Los de arriba y los de abajo
nos mostra outro Peru, um país cultural e socialmente diferente do
construído em relatos anteriores, relatos que manteriam a estrutura
social e econômica dos setores dominantes. Por isso é necessário
nos determos nesse produto, que, mesmo não evocando um passado,
fala de marcos sociais diferentes. Los de arriba y los de abajo, da
dupla Gómez-Adrianzén:
[…] oferece-nos um retrato de uma cidade mais completa e menos idílica, uma Lima onde convive a tradição com a modernidade, uma Lima de imigrantes
que teceram suas próprias redes para sobreviver, mas
também uma Lima onde se mantém uma ordem de
hierarquização econômica, política e social que impede ver as mudanças sofridas pela sociedade [...] os
personagens da história buscam alcançar seus sonhos
numa realidade que lhes é hostil. Imigrantes e filhos
de imigrantes que chegam à cidade em busca de um
lugar para morar (Cassano, 2012, p. 23).
Essa novela nos traz um retrato da pobreza e da exclusão, mas
também da força e do temperamento desses novos limenhos. O Peru
dos anos 90 sintetiza os diferentes processos de mudança vividos
nos últimos 40 anos, impulsionados pelas reformas do Estado, migrações, crises econômicas e conflitos sociais que ocorreram no
país. No final dos anos 80 e início dos 90, no Peru se experimenta o
que Appadurai (2001) denomina de “diásporas do terror”: populações rurais e urbanas das províncias da serra e da selva peruana que
transladam em direção à costa fugindo do terrorismo do Sendero
Luminoso e do MRTA22. Nos anos 90, Lima se converte numa cidaOs ataques terroristas no Peru começaram no dia 18 de maio de 1980. A guerra interna
durou pouco mais de 20 anos no país. Segundo cifras da Comisión de la Verdad y la Re-
22
412 | Obitel 2013
de que supera os 6 milhões de habitantes 23. Esses processos mudam
ao longo das décadas o rosto da capital. Em Lima ocorrem transformações culturais importantes em relação à música, à comida, à
vestimenta, às festas e às formas arquitetônicas de urbanização.
Embora Los de arriba y los de abajo nos proponha mudanças
importantes na representação, trazendo-nos uma cidade imersa em
muitas contradições, esse não será o caminho que seguem os últimos projetos de ficção do século XX. Provavelmente as mudanças
sejam muito intensas para a própria televisão de ficção, e esta volta
a se refugiar no passado longínquo.
A América Producciones (sendo nesse momento a casa realizadora de conteúdos da América Televisión) estreia duas novelas:
Luz María (1998) e Isabella, mujer enamorada (1999). Em ambos
os casos, evoca-se o tempo passado em apogeu e institucionalmente
ordenado. É apenas com o novo século que as mudanças anunciadas
irão se consolidar.
5.1. O novo boom das minisséries e a memória recente
No caso peruano, as minisséries produzidas no século XXI
são, mais que um fenômeno televisivo, manifestações culturais que
conformam campos onde as experiências coincidem, as histórias
se reconhecem, os personagens parecem próximos. O folhetim é,
em termos de Jesús Martín Barbero (1993), o primeiro texto escrito
em formato popular. Com as minisséries peruanas do século XXI,
encontramo-nos diante de um fenômeno similar. Com uma produção contínua, a indústria de ficção se mobilizou, mantendo uma
audiência cativa e altos índices de audiência, demonstrando que a
televisão peruana soube observar transformações sociais, culturais e
econômicas do país, frente às quais a própria televisão mudou suas
dinâmicas de produção, buscou atualizar suas formas de posicionaconciliación Nacional, o número de mortos e desaparecidos supera as 70 mil pessoas. A
maioria das vítimas era da população indígena.
23
Fonte: Perfil Sociodemográfico do Peru. Em: http://www.inei.gob.pe/biblioineipub/
bancopub/Est/Lib0007/caP0105.htm
Peru – Uma ficção de empreendedores | 413
mento e atualizou a pesquisa de histórias para oferecer aos seus telespectadores. Os personagens resgatados para a ficção são homens
e mulheres imigrantes – na maioria dos casos –, sujeitos subalternos
que lutaram honradamente para sobreviver na cidade. Muitos deles
vinculados à indústria cultural da música folclórica, da festa, da gastronomia peruana e da celebração em espaços populares.
Entre 2005 e 2012 são produzidos até quatro títulos por ano,
muitos dos quais evidenciam tensões entre a existência e o reconhecimento dos personagens subalternos envolvidos, manifestando
uma forte necessidade em reafirmar subjetividades diferentes que
compartilham emoções, saberes e relações particulares na sociedade peruana. Essas produções de ficção parecem encarnar a ideia de
Eliza Bachega (2010) de que “as sociedades que experimentam mudanças bruscas tendem a sentir a obrigação de recordar” (Bachega,
2010, p. 153), além de evidenciar reformas interessantes em função
de quem se recorda e como se evoca o passado. Os relatos locais
peruanos atuais estão falando de diferentes experiências de peruanos e peruanas empreendedores, reconhecendo o pertencimento e
uma diversidade que, vinda do passado, é essencial para nossa vida
presente e futura.
Referências
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BACHEGA, Eliza. Maurice Halbwachs e Marc Bloch em torno do conceito de memória coletiva. Revista Espaco Académico, n° 108, Maio, 2010.
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VIVAS, Fernando. En vivo y en directo: una historia de la televisión en
el Peru. Lima: Fondo de desarrollo editorial de la Universidad de Lima, 2001.
10
Portugal: ficção e audiências
em transição
Autoras:
Catarina Duff Burnay, Isabel Ferin Cunha
Equipe:
Fernanda Castilho, Bianca Faciola
1. O contexto audiovisual de Portugal
A situação de resgate financeiro que Portugal vive, com a intervenção de três instituições internacionais, designadas popularmente
por Troika – Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central
Europeu (BCE) e União Europeia (UE) –, condicionou, no ano de
2012, não só a sociedade como o campo midiático.
Esse contexto de restrições financeiras, pautado por medidas de
austeridade econômica, envolveu no campo dos media seis temáticas dominantes: as discussões em torno do destino do Grupo RTP,
pertencente ao Estado; a intensidade e opacidade da entrada do capital angolano nos Media portugueses; a passagem para a TDT; a
medição de audiências; o colapso da publicidade; e as utilizações
do digital.
A diminuição dos gastos públicos com a empresa pública de
Rádio e Televisão (RTP) faz parte quer dos compromissos assumidos pelo Estado português quando da assinatura do resgate financeiro, quer do programa do maior partido do governo, o Partido Social
Democrata (PSD). Ao longo do ano de 2012, o governo discutiu os
cenários, ou modelos de atuação da RTP, tendo em apreciação quatro modelos. O primeiro modelo previa uma concessão da RTP1 a
privados por 20 a 25 anos, com a obrigatoriedade de “serviço público”, mas podendo emitir metade da publicidade dos outros privados
416 | Obitel 2013
– isto é, cerca de 6 minutos/hora e não 12 minutos/hora – e recebendo em troca uma indenização de 140 milhões de euros referentes à
taxa de audiovisual paga pelos portugueses na fatura de eletricidade.
O segundo modelo sugeria a privatização da RTP1 e a subsequente
distribuição pelos três canais de acesso aberto da função de “serviço público” acompanhada da permissão de emissão de 12 minutos/
hora de publicidade. O terceiro cenário propunha a privatização da
RTP1, que ficaria obrigada a prestar “serviço público”, receberia
a taxa de audiovisual e autorização de emitir 12 minutos/hora de
publicidade. Na quarta proposta – a única que previa a continuação
da RTP2 na posse do Estado, sem publicidade e dirigida às minorias
–, a RTP1 seria privatizada e concorreria com os outros operadores
privados. No final do ano voltou-se a privilegiar a hipótese de implementar o Plano de Saneamento Econômico e Financeiro, sugerido pela administração anterior, que previa o fechamento da RTP2,
a passagem da RTP Madeira e Açores para a tutela das respectivas
regiões e a manutenção de pelo menos um canal internacional, não
estando determinado o futuro da RTP Notícias.
Ao longo do ano de 2012 aumentou a polêmica em torno da
entrada de capitais angolanos nos grupos portugueses dos media. No
ano de 2011 tínhamos já assinalado essa tendência, que se acentuou,
tornando-se um tema central do campo midiático. As especulações
políticas e econômicas que estão associadas a essa situação devem-se ao fato de os capitais pertencerem, direta ou indiretamente, à
família do presidente de Angola – e aos seus correligionários – e
estarem associados a escândalos de corrupção sob investigação judicial em Portugal. Por outro lado, a incapacidade de identificar os
acionistas de empresas que manifestam interesse na candidatura às
privatizações, nomeadamente da RTP, tem gerado algum desconforto no campo do Media. Entre esses grupos, salientamos a Newshold,
que detém 96% do semanário “Sol”, 2% da Impresa, dona da SIC,
e é o principal acionista do grupo Cofina, proprietário dos jornais
Correio da Manhã, Sábado, Jornal de Negócios e Record. Em dezembro de 2012, a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, na
Portugal – Ficção e audiências em transição | 417
sequência da divulgação do interesse da Newshold em avançar para
uma eventual privatização da RTP, solicitou ao grupo que divulgasse os seus acionistas diretos e indiretos. Álvaro Sobrinho, presidente
da Newshold, também presidente do Banco Espírito Santo de Angola e acionista da Akoya Asset Management S.A. (acusada de lavagem de dinheiro no processo judicial designado “Monte Branco”),
confirmou que esse grupo é da propriedade da Pineview Overseas,
com sede no Panamá, e revelou os nomes dos seus acionistas, todos
da sua família. No início de dezembro, o presidente da RTP, Alberto
da Ponte visitou Luanda, onde se encontrou com Domingos Vunge,
um dos acionistas da empresa Score Media, com ligações ao grupo
Ongoing e Newshold. Esse empresário já manifestou abertamente
interesses na compra dos diários portugueses Diário de Notícias
(DN) e Jornal de Notícias (JN), bem como na RTP, através da participação na Cofina.
O terceiro tema que, no campo dos media, perpassou o ano de
2012 foi a passagem para a Televisão Digital Terrestre (TDT).
O título atribuído a este capítulo, em 2012, “Ficção e audiências em transição”, decorre das alterações no campo da ficção
seriada televisiva nos canais abertos. Salientamos que este ano foi
marcado pelo regresso das audiências às produções da Rede Globo
na SIC (Fina estampa, Gabriela e Avenida Brasil), que fizeram essa
estação conquistar o prime time, ultrapassando a posição conquistada pela ficção portuguesa da TVI. Assinalamos ainda que essas
mudanças refletiram-se, também, no aumento de audiências em todas as televisões de sinal aberto em seriados internacionais. O título
justifica-se, ainda, pelo fim da série juvenil da TVI Morangos com
açúcar, que durante mais de uma década cativou os jovens no período de acesso ao prime time, na TVI.
418 | Obitel 2013
1.1. A televisão aberta em Portugal
Gráfico 1. Emissoras nacionais de televisão aberta em Portugal
Emissoras públicas (2) Emissoras privadas (2)
RTP1
SIC
RTP2
TVI
Total de emissoras = 4
Gráfico 2. Audiência média (rating) de TV por emissora em 2012
Emissora
RTP1
28%
RTP2
4%
RTP2
SIC
SIC
TVI
25%
TVI
27%
Cabo/outros
Cabo/outros
Total
Fonte: Obitel Portugal, MediaMonitor/Audimetria/KantarMedia
RTP1
16%
000 indv.
258.07
62.57
404.32
451.64
469.93
%
16
4
25
27
28
100
Gráfico 3. Share por emissora em 2012
Emissora
RTP1
RTP2
RTP2
28.7%
SIC
SIC
24.6%
TVI
TVI
Cabo/outros
27.4%
Cabo/outros
Total
Fonte: Obitel Portugal, MediaMonitor/Audimetria/KantarMedia
15.6%
RTP1
3.7%
%
15.6
3.7
24.6
27.4
28.7
100
Gráfico 4. Gêneros transmitidos em 2012
Emissora
Cultura/Conhecimento
Desporto
16%
Desporto
Divertimento
9%
Divertimento
9%
Ficção
5%
Ficção
Informação
17%
18%
Informação
Juventude
Juventude
22%
Publicidade
Publicidade
Outros
Outros
Total
Fonte: Obitel Portugal, MediaMonitor/Audimetria/KantarMedia
4%
Cultura/Conhecimento
%
9
5
18
22
17
9
16
4
100
Portugal – Ficção e audiências em transição | 419
Os grupos detentores de televisão aberta, em 2012, continuam
sendo: o grupo Rádio e Televisão de Portugal (RTP, do Estado), que
possui os dois canais públicos abertos, a RTP1 e a RTP2; o grupo
IMPRESA, Sociedade Gestora de Participações Sociais, detentora
da SIC, e o Grupo Media Capital SGPS, que incorpora a TVI. Todos esses grupos operam também no cabo, mantendo canais pagos
temáticos, nomeadamente dedicados à informação.
1.2. Tendências da audiência no ano de 2012
Um concurso público efetivado em 2011 – pela Comissão de
Análise de Estudos dos Meios a pedido das televisões, agências de
meios e anunciantes – selecionou para a medição das audiências de
televisão a empresa alemã GfK (Growth from Knowledge). Essa
empresa iniciou em março as suas atividades experimentais e, desde o início da divulgação dos dados, mereceu críticas de todos os
agentes interessados. Na base da contestação estão os resultados
divulgados que correspondem a mudanças de metodologia de captação das audiências, nomeadamente os procedimentos tecnológicos
de captação e análise de dados, bem como a constituição do painel
audimétrico.
No site da GfK encontra-se descrita a tecnologia de medição
de audiências fundada no processo de audio-matching, que permite
medir todas as plataformas (analógica e digital, cabo, satélite, terrestre e IPTV), bem como o conteúdo video-on-demand e conteúdos
“time-shift” até sete dias após a transmissão. A tecnologia audio-matching reconhece o canal visionado a partir da informação de
áudio em qualquer plataforma, sendo que os programas com várias
faixas de áudio podem ser divididos e medidos, assim como os espaços publicitários podem ser reportados separadamente. A informação gravada no audímetro é posteriormente enviada para uma
central que compara as amostras de som recolhidas no lar com as
amostras de som gravadas na central de gravação da empresa. As
televisões, principalmente os canais que viram negativamente alteradas as audiências e subsequentemente a diminuição dos valores
420 | Obitel 2013
publicitários, exigiram uma auditoria dos procedimentos, tendo a
empresa assumido o compromisso de rever os painéis em função do
último censo geral à população portuguesa realizado em 2011. Contudo, em função da limitada qualidade das transmissões via satélite
da Televisão Digital Terrestre, são possíveis lapsos e falhas nessas
captações, como foram relatados pela GfK quando da auditoria realizada pela Pricewaterhouse. As alterações nas metodologias de aferição das audiências vieram ressaltar o papel da televisão a cabo e aproximaram os shares
e os rates das televisões privadas SIC e TVI, de acesso aberto. Salientamos que a SIC ganhou peso no prime time, com a sequência
das telenovelas Dancing’ days, Gabriela e Avenida Brasil, enquanto
a TVI aumentou as suas audiências no day time. A RTP1, pública,
foi aquela que com base no novo painel audimétrico registrou uma
maior queda nas audiências (cerca de 5%), enquanto a RTP2 manteve, aproximadamente, os seus valores habituais.
1.3. Intervenções publicitárias do ano: na TV e na ficção
Num ano em que o PIB encolheu cerca de 3,3%, somando-se
ao 1,7% contabilizado em 2011, a publicidade nas televisões sofreu
um decréscimo em torno dos 15%, independentemente de os portugueses terem despendido em casa, em média, cerca de 4 horas e 40
minutos vendo televisão. A análise realizada em relação à duração
ou percentagem da emissão dos canais de sinal aberto (RTP, SIC e
TVI) dedicados à publicidade (saturação publicitária) – que exclui
autopromoções, autopromoções da estação e telecompras – face ao
tempo de emissão total apresentou uma queda próxima dos 9%. Essa
queda do tempo dedicado à publicidade não se deve à utilização de
spots mais curtos, que continuam nos 18”, mas sim à redução do
número de inserções em cerca de 10%. No segundo semestre, essa
queda acentuou-se de -3,8% para -14.1%, acompanhando o processo de contração do PIB e do investimento em Portugal, bem como
o seu impacto no consumo privado e no índice de confiança dos
consumidores. Destacamos que esse índice tem diminuído desde o
Portugal – Ficção e audiências em transição | 421
ano de 2011, atingindo em dezembro de 2012 o valor mais baixo já
registrado (-59,8%), o que acompanha o indicador de clima econômico aferido junto às empresas. Contudo, comparada com o valor
das inserções no cinema, na rádio, na imprensa, nos outdoors, a televisão mantém uma liderança indiscutível, com cerca de 75% da
repartição do investimento publicitário. Entre os 20 maiores investidores publicitários encontram-se seis da grande distribuição, cinco
empresas de telecomunicações, quatro de grande consumo e cinco
de outros setores. Ainda no domínio do investimento publicitário,
que caiu para níveis de 2002, a publicidade na internet aumentou
em contraciclo. Segundo os analistas, esse crescimento está associado à crescente utilização dos meios digitais, bem como aos ainda
pequenos investimentos realizados pelas empresas nesses meios. A
crise financeira e as limitações das empresas a financiamentos têm,
igualmente, potencializado essa tendência de crescimento que se situa nos dois dígitos.
1.4. Merchandising e merchandising social
No que respeita às ações publicitárias, Dancin’ days é um caso
paradigmático. Iniciadas com Laços de sangue, foram ampliadas
nesse novo título com o product placement – colocação de produtos
de grande consumo em locais de visível destaque – ou soft sponsoring. Essas ações aliam os produtos/locais à narrativa, tornando-os
parte integrante da história, pelo que as marcas aderentes têm de
aceitar a inserção das suas insígnias e das mensagens de atributo
num contexto artístico, respeitando os tempos e o curso evolutivo
dos títulos e das personagens. Para além da diversificação de formatos e de temáticas com
o objetivo de alcançar audiências de forma transversal, a RTP desenvolveu dois projetos que se destacaram face à oferta geral de
conteúdos de ficção – o ciclo de 12 telefilmes intitulado Grandes
histórias: toda a gente conta e a série Contos de Natal. O primeiro projeto assentou numa ação integrada entre ficção e informação
através da exploração de um tema social, como a toxicodependên-
422 | Obitel 2013
cia, o bullying ou o abandono de idosos. Ao longo de 12 meses,
durante uma semana, programas de informação exploraram esses temas sob diferentes perspectivas em articulação com a apresentação
de um telefilme. O segundo projeto, Contos de Natal, resultou de
uma parceria entre o canal estatal e universidades portuguesas para a
produção de contos subordinados a um conceito de final feliz. Essas
iniciativas potenciaram a relação entre gêneros televisivos, entre a
televisão e o público, assim como entre a academia e o mercado.
1.5. Políticas de comunicação (leis, reformas, incentivos, TV digital...)
Em 2012 fez-se a passagem definitiva para a Televisão Digital
Terrestre (TDT), sendo que as últimas transmissões analógicas tiveram lugar em 26 de abril. Essa realização, que teve início em maio de
2011, culminou um processo que se atrasou cerca de dez anos e cujo
modelo suscitou muitas críticas, não só dos especialistas como da
sociedade civil. Entre os primeiros salientamos o presidente da Vodafone Portugal, que considerou a introdução da TDT no mercado
português “um modelo falhado” por ter facilitado a “penetração da
televisão por subscrição” e não alargado o número de canais de sinal
aberto, tal como aconteceu em todos os países europeus. Na mesma
linha vai o trabalho realizado pelo pesquisador da universidade do
Minho, que garante ter existido indícios de corrupção no processo
de implementação, no qual a Portugal Telecom (PT) foi a principal
beneficiada, tendo conseguido 715 mil novos clientes para o pacote
MEO. Segundo o investigador, isso ocorreu porque não convinha à
PT, com participação do Estado e com interesses políticos envolvidos, que a oferta gratuita de canais abertos aumentasse, bem como a
sua qualidade de recepção. Assim, Portugal perdeu a oportunidade
de aumentar a oferta e introduzir maior qualidade tecnológica na visualização. A Associação Nacional de Municípios Portugueses tem
uma opinião idêntica que expressa publicamente ao considerar “escandaloso e vergonhoso” o fim da televisão analógica e o processo
de implantação da TDT, que privou muitos cidadãos, sobretudo dos
Portugal – Ficção e audiências em transição | 423
municípios do interior do país, de “acesso à informação” numa altura em que muitos “não têm condições para comprar um aparelho”.
A mesma associação denuncia os interesses envolvidos com vistas
a privilegiar uma empresa. Num balanço realizado em fins do mês
de outubro, a Autoridade para a Comunicação (Anacom) fez publicamente um balanço positivo do processo, apesar de salientar que
foram registradas 8 mil queixas, na maioria de pessoas e famílias
que, não tendo subscrição paga, mas tendo comprado aparelhos, não
conseguem ter acesso à programação dos canais abertos por falta de
qualidade do sinal.
1.6. TV paga
Assinalamos que neste ano de 2012 foi inaugurado, em outubro, um canal de ficção televisiva pela TVI (TVI Ficção, posição
11), em parceria com a empresa de telecomunicações MEO, com
o objetivo de reemitir telenovelas apresentadas por aquela estação.
1.7. Tendências das TICs
Em Portugal, a internet é utilizada por 62,8% dos indivíduos com mais de 15 anos, sendo que a percentagem mais elevada
pertence aos homens e aos jovens entre os 18 e 24 anos residentes
na Grande Lisboa, pertencentes à classe alta, a quadros médios e
superiores. Os grupos que apresentam um consumo mais reduzido
são as mulheres e os idosos residentes no Interior Norte, bem como
as classes baixas e as domésticas1. Como refere a Marktest2 – num
estudo longitudinal que realizou sobre o número de utilizadores da
internet nos últimos dezesseis anos –, os internautas não têm parado
de subir, aumentando nesse período cerca de 10% (de 6,3% em 1997
para 62,3% em 2012). Salientamos que os mais jovens, os pertencentes às classes sociais mais elevadas e os estudantes constituem
1
Cf.: Marktest lança Bareme Internet 2012. Marktest/Bareme Internet, 28 de outubro de
2012. Disponível em: http://www.marktest.com/wap/a/n/id~1a6a.aspx. 2
Cf.: Internet aumenta dez vezes em 16 anos. Marktest/Bareme Internet, 30 de outubro de
2012. Disponível em: (http://www.marktest.com/wap/a/n/id~1a70.aspx).
424 | Obitel 2013
os grupos sociodemográficos com taxas de utilização mais elevadas.
Em média os utilizadores de redes sociais dedicam a esses sites 88
minutos por dia, oscilando entre os 62 minutos junto dos indivíduos
entre os 35 e os 44 anos e os 116 minutos junto dos jovens entre
15 e 24 anos. A maior atividade situa-se nos horários pós-laboral e
escolar (54,7%), principalmente no Facebook. 2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana
Tabela 1. A ficção exibida em 2012 (nacionais e importadas;
estreia e reprise; coproduções)
TÍTULOS NACIONAIS INÉDITOS
– 26
TÍTULOS IMPORTADOS INÉDITOS – 9
RTP1 – 13 títulos nacionais
1. 4-Portugal hoje (unitário)
2. A rapariga da máquina de filmar
(minissérie)
3. A sagrada família (sitcom)
4. Barcelona, cidade neutral (minissérie)
5. Contos de Natal (série)
6. Grandes histórias: toda a gente conta
(telefilme)
7. Liberdade 21 (série)
8. Maternidade (série)
9. Os compadres (sitcom)
10. Pai à força (série)
11. Perdidamente Florbela (minissérie)
12. Sangue do meu sangue (minissérie)
13. Velhos amigos (sitcom)
RTP1 – 2 títulos importados
1. O direito de nascer (telenovela-Brasil)
2. Vidas em jogo (telenovela-Brasil)
SIC – 4 títulos nacionais
14. A família Mata (sitcom)
15. Cenas de um casamento (sitcom)
16. Lua vermelha (série)
17. Rosa fogo (telenovela)
TVI – 9 títulos nacionais
18. Anjo meu (telenovela)
19. Casos da vida (unitário)
20. Doce tentação (telenovela)
21. Doida por ti (telenovela)
22. Filmes TVI (telefilme)
23. Louco amor (telenovela)
SIC – 7 títulos importados
3. Avenida Brasil (telenovela-Brasil)
4. Dance! (série-Uruguai)
5. Fina estampa (telenovela-Brasil)
6. Gabriela (telenovela-Brasil)
7. Insensato coração (telenovela-Brasil)
8. Morde e assopra (telenovela-Brasil)
9. O Astro (telenovela-Brasil)
TÍTULOS EM REPRISE – 20
RTP1
1. Poder paralelo (telenovela-Brasil)
2. Revelação (telenovela-Brasil)
3. Ribeirão do tempo (telenovela-Brasil)
4. Cidade despida (série)
SIC
5. Perfeito coração (telenovela)
6. Podia acabar o mundo (telenovela)
7. Rebelde way (série)
8. Floribella (série)
9. Páginas da vida (telenovela-Brasil)
TVI
10. Campeões e detectives (série)
Portugal – Ficção e audiências em transição | 425
24. Morangos com açúcar IX: segue o
teu sonho (série)
25. Morangos com açúcar IX: férias de
verão (série)
26. Remédio santo (telenovela)
11. O bando dos 4 (série)
12. Detective maravilhas (série)
13. Clube das chaves (série)
14. Ilha dos amores (telenovela)
15. Inspector Max (série)
16. Jardins proibidos (telenovela)
17. Olhos de água (telenovela)
18. Filha do mar (telenovela)
19. Tempo de viver (telenovela)
20. Sonhos traídos (telenovela)
COPRODUÇÕES – 2
RTP1 – 1 título em coprodução
1. Barcelona, cidade neutral (Portugal/
Espanha)
SIC – 1 título em coprodução
2. Dancin’ days (Portugal/Brasil)
TOTAL GERAL DE TÍTULOS
EXIBIDOS: 57
Fonte: Obitel Portugal
Tabela 2. A ficção de estreia em 2012: países de origem
Títulos
%
Capítulos/
Episódios
NACIONAL (total)
27
71
1.504
55,5 1.164:15
58
IBERO-AMERICANA
(total)
11
29
1.205
44,5
835:50
42
Argentina
–
–
–
–
–
–
Brasil
9
23,7
1.191
44
814:35
40,7
Chile
–
–
–
–
–
–
Colômbia
–
–
–
–
–
–
Equador
–
–
–
–
–
–
Espanha
1
2,6
4
0,1
03:00
0,2
EUA (produção hispânica)
–
–
–
–
–
–
México
–
–
–
–
–
–
–
–
–
País
%
Horas
%
Peru
–
–
–
PORTUGAL
27
71,1
1.504
Uruguai
1
2,6
10
0,4
18:15
0,9
Venezuela
–
–
–
–
–
–
55,5 1.164:15 58,2
426 | Obitel 2013
Latino-Americana (âmbito
Obitel)
Latino-Americana (âmbito
não Obitel)
Otras (produções e
coproduc. de outros países
latino-am./ibero-am.)
TOTAL
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
2
–
14
–
21:15
–
38
100
2.709
100 2.000:05 100
Fonte: Obitel Portugal, MediaMonitor/Marktest Audimetria e GfK
Em 2012 observa-se a diminuição da oferta de ficção nacional
e ibero-americana em apenas um título, embora o número de capítulos/episódios e o número de horas de transmissão tenha aumentado
ligeiramente. Numa divisão por canais, constata-se a permanência
de um padrão de oferta por parte do canal de serviço público (RTP1)
e do canal comercial SIC, mas uma diminuição em 30% da oferta da
TVI face a 2011. Apesar dessa situação, esse canal comercial continua liderando o mercado da ficção televisiva nacional, em número
total de horas e capítulos/episódios, fruto da produção continuada
do formato telenovela para o horário nobre. Os conteúdos ibero-americanos são de origem brasileira em 73% (8 títulos), e os restantes 27% distribuem-se por três títulos: Dance! (SIC), uma série
uruguaia destinada ao público juvenil, e duas coproduções – a telenovela Dancin’ days (SIC/SP Televisão/TV Globo) e a minissérie
Barcelona, cidade neutral (Stopline Films, RTP/Prodigius Cinema,
TV3). Os conteúdos transmitidos no canal de serviço público são
produzidos pela Record e pelo SBT, enquanto que os conteúdos
transmitidos na SIC são, exclusivamente, da TV Globo. À semelhança dos anos passados, não se verifica a transmissão de produtos
de origem ibero-americana no canal comercial TVI.
As reprises e as repetições são estratégias de programação recorrentes, permitindo o preenchimento de slots horários marginais,
como a manhã, a tarde e o late night. Em 2012 contabilizaram-se 20
títulos em reprise, com a TVI liderando a tabela (11 títulos), seguida
pela SIC, com cinco, e pela RTP1, com quatro. Os títulos reexibi-
Portugal – Ficção e audiências em transição | 427
dos pela TVI, de origem nacional, são séries para um público infantojuvenil e telenovelas marcantes da estação, como Filha do mar
(2001/2002), que teve um final escolhido pelo público, ou Tempo de
viver (2006/2007), na qual a revelação da identidade do criminoso
“Tubarão” deixou o público em suspenso até o último capítulo, à
semelhança dos enredos desenvolvidos no Brasil, como a telenovela
A próxima vítima (1995/TV Globo).
O horário nobre continua sendo o slot horário mais preenchido
com ficção nacional, verificando-se um aumento de 37,5% no número de capítulos/episódios e de horas face a 2011. Nos restantes
momentos do dia, permanece a taxa de incidência, com a tarde ocupando o segundo lugar, a manhã, o terceiro e o noturno ficando em
último. Dentro da faixa horária tarde situa-se o “pré-horário nobre”,
período compreendido entre as 19h e as 20h, usado em programação
para a transmissão de produtos fortes que permitam um efeito de
arrastamento de audiências para o horário nobre.
Não obstante a manutenção de um padrão, é de se realçar a
queda em 81,4% na transmissão de títulos em estreia para o público mais novo no período da manhã, com o aproveitamento e a
rentabilização de produtos em stock e a sua transmissão em reprise. Os conteúdos ibero-americanos continuam ocupando de forma
mais expressiva o período tarde, seguindo-se o horário nobre, com
a transmissão das telenovelas mais recentes da TV Globo pela SIC,
como O Astro, Gabriela ou Avenida Brasil. Embora esses conteúdos
se iniciem dentro do principal slot do dia, a transmissão da maior
parte do capítulo ocorre já no período noturno.
1.504
7
1.245
1,2
100
0,4
82,8
15,6
1.164:15
2:35
975:00
172:25
14:15
H
Nacionais
%
27
Títulos
7
7
4
2
2
–
5
100
%
25,9
25,9
14,8
7,4
7,4
–
18,6
1.504
100
Nacionais
Cap./Ep.
%
1.071
71,2
260
17,3
12
0,8
20
1,3
6
0,4
–
–
135
9
Fonte: Obitel Portugal, MediaMonitor/Marktest Audimetria e GfK
TOTAL
Telenovela
Série
Minissérie
Telefilme
Unitário
Docudrama
Outros (sitcom)
Formatos
100
0,2
83,8
14,8
1,2
%
1.205
–
559
636
10
C/E
100
0
46,4
52,8
0,8
%
835:50
–
289:45
527:50
18:15
H
Ibero-Americanas
100
0
1.164:15
Horas
853:10
192:35
10:40
26:30
4:45
–
76:35
100
6,6
%
73,3
16,5
0,9
2,3
0,4
11
Títulos
9
1
1
–
–
–
–
100
%
81,8
9,1
9,1
–
–
–
–
2.709
7
1.804
880
28
C/E
1.205
700:15
32:30
H
100
0,1
100 835:50
Horas
814:35
18:15
03:00
–
–
–
–
2.000:05
2:35
66,5 1.264:45
32,4
1
%
Total
Ibero-Americanas
Cap./Ep.
%
1.191
98,9
10
0,8
4
0,3
–
–
–
–
–
–
–
–
34,6
63,2
2,2
%
Tabela 4. Formatos da ficção nacional e ibero-americana
Fonte: Obitel Portugal, MediaMonitor/Marktest Audimetria e GfK
TOTAL
Noturno (24:00-06:00)
Prime Time (20:00-24:00)
18
234
Manhã (6:00-13:00) C/E
Tarde (13:00-20:00)
Faixas horárias
Tabela 3. Capítulos/Episódios e horas emitidos por faixa horária
100
%
97,4
2,3
0,3
–
–
–
–
100
0,1
63,3
35
1,6
%
428 | Obitel 2013
Portugal – Ficção e audiências em transição | 429
Em 2010 e em 2011 a série foi o formato mais explorado pelos
canais generalistas nacionais, seguido pela telenovela. Em 2012, observa-se um equilíbrio entre a série e a telenovela, com sete títulos
para cada formato. A telenovela é um formato adotado apenas pelos
canais comerciais, com a TVI produzindo cinco títulos e a SIC, dois,
enquanto o formato série é, majoritariamente, produzido pela RTP1
(quatro títulos), seguido pela TVI (dois títulos) e pela SIC (um título). As séries produzidas pelo canal de serviço público são orientadas para um público adulto, ao versarem sobre temáticas profissionais (por ex. Liberdade 21 e Maternidade) e ao serem transmitidas
em horário mais tardio (pré-horário nobre, horário nobre e noturno),
enquanto as séries produzidas pelos canais privados abordam questões mais próximas do público infantojuvenil e são transmitidas nos
períodos manhã e tarde (Lua vermelha, SIC; Morangos com açúcar,
TVI). A sitcom continua sendo um formato adotado tanto pelo canal
público como pelos canais privados, totalizando cinco títulos em
2012. A sua duração curta face a outros formatos ficcionais, assim
como as suas características-base – enredos domésticos de caráter
humorístico, elenco diminuto, decors fixos, entre outras –, permitem uma produção a baixo custo e a criação de uma bolsa de ativos
disponível para o preenchimento de slots.
O formato minissérie foi explorado pela RTP1, mantendo a tendência verificada em anos anteriores. As características desse formato em articulação com a natureza pública da estação permitiram
a apresentação de quatro títulos – Barcelona, Cidade Neutral, uma
coprodução Portugal/Espanha com a duração de quatro capítulos, e
três longas-metragens transformados em minissérie com uma duração oscilante entre dois e quatro capítulos (A rapariga da máquina
de filmar, Sangue do meu sangue e Perdidamente). A passagem de
longas-metragens para minisséries é feita por adaptação, incluindo,
por vezes, cenas não passadas no cinema, o que permite a circulação
do cinema português no pequeno écran e, como tal, o aumento do
número de espectadores.
430 | Obitel 2013
O formato telefilme assumiu um papel de destaque em 2012,
fruto das iniciativas distintas da RTP1 (Grandes histórias: toda a
gente conta) e da TVI (Filmes TVI), levando ao grande público, durante todo o ano e de forma regular, histórias inspiradas na realidade. Tabela 5. Formatos da ficção nacional por faixa horária
Formatos
Telenovela
Manhã
%
Tarde
%
Prime
Time
%
Noturno
%
Total
%
–
–
–
–
7
41,2
–
–
7
25,9
Série
1
100
4
50,0
1
5,9
1
100
7
25,9
Minissérie
–
–
1
12,5
3
17,6
–
–
4
14,8
Telefilme
–
–
–
–
2
11,8
–
–
2
7,4
Unitário
–
–
1
12,5
1
5,9
–
–
2
7,4
Docudrama
–
–
–
–
–
–
–
–
–
–
Outros (sitcom)
–
–
2
25,0
3
17,6
–
–
5
18,6
TOTAL
1
100
8
100
17
100
1
100
27
100
Fonte: Obitel Portugal, MediaMonitor/Marktest Audimetria e GfK
Todos os formatos explorados pelos canais generalistas portugueses estão presentes no horário nobre, com um claro predomínio
da telenovela, seguindo-se o período tarde e, ex aequo, com um título, o período manhã e o período noite. O período manhã é ocupado
com um conteúdo destinado a um público juvenil (Dance!, SIC), e o
período noite por uma série (Contos de Natal, RTP1).
Tabela 6. Época da ficção
Época
Títulos
%
Presente
24
88,9
de Época
1
3,7
Histórica
2
7,4
Outra
–
–
TOTAL
27
100
Fonte: Obitel Portugal
Portugal – Ficção e audiências em transição | 431
A época predominante é o presente, com a exploração de temáticas ancoradas na contemporaneidade (24 títulos). Em 2012 encontramos, ainda, dois títulos históricos – Barcelona, Cidade Neutral
(RTP1), que conta a história de Barcelona como cidade neutral durante a Primeira Guerra Mundial, e Perdidamente Florbela (RTP1),
a história íntima da poetisa portuguesa Florbela Espanca (século
XIX). Por fim, consideramos a telenovela Anjo meu (TVI) um conteúdo de época, ao ser ambientado em Portugal na década de 70 do
século XX.
Tabela 7. Os dez títulos mais vistos: origem, rating, share3
Título
País de
origem
da ideia
original
ou roteiro
1
Dancin’days
Brasil/
Portugal
2
Louco amor
Portugal
3
Doce tentação
Portugal
4
Rosa fogo
Portugal
5
Remédio
santo
Portugal
6
Doida por ti
Portugal
Produtora
SIC/SP
Televisão/
TV Globo
TVI / Plural
Entertainment
TVI / Plural
Entertainment
SIC/SP
Televisão
TVI / Plural
Entertainment
TVI / Plural
Entertainment
Canal
Nome do
roteirista ou
autor da ideia
original
SIC
Pedro Lopes
(adaptado
de Gilberto
Braga)
Ra- Shating
re
15,1
30,9
TVI
Tozé Martinho 13,0
29,2
TVI
Sandra Santos
11,1
28,3
SIC
Patrícia Müller
9,6
26,6
TVI
Antonio Barreira
9,4
28,6
TVI
Maria João
Mira
8,4
22,0
3
Como acontece em anos anteriores, nota-se a repetição de títulos na tabela devido ao
fato de as estreias ocorrerem quase sempre no meio do ano e após o verão europeu, o
que implica uma repartição dos dados das audiências (a monitorização Obitel refere-se
ao ano de 2011).
432 | Obitel 2013
7
Morangos
com açúcar
IX: segue o
teu sonho
Portugal
TVI / Plural
Entertainment
TVI
Casa da Criação (Cláudia
Sampaio,
Irina Gomes,
Mafalda Ferreira, Marina
Ribeiro, Pedro
Cavaleiro)
8
Anjo meu
Portugal
TVI / Plural
Entertainment
TVI
Maria João
Mira
6,9
28,3
9
Os compadres
Portugal
RTP1/ Cinecool
RTP1
Nicolau
Breyner
6,4
19,8
10
A família
Mata
Espanha
SIC/SP
Televisão
SIC
David Bermejo
6,3
19,1
7,6
21,9
Total de Produções: 10
Roteiros Estrangeiros: 2
80%
20%
Fonte: Obitel Portugal
O retorno das ficções brasileiras, em especial as produções da
Rede Globo, foi um dos principais destaques do ano de 2012 em termos de audiências televisivas dos canais de sinal aberto em Portugal.
Ao longo do ano, a presença intercalada de títulos nacionais e estrangeiros, nomeadamente do Brasil, gerou comportamentos diferentes
das audiências. Os títulos portugueses com maior destaque noticioso foram, respectivamente, Dancin’days (SIC), Louco amor (TVI),
Doce tentação (TVI) e Doida por ti (TVI). Entre as brasileiras, três
ficções da Rede Globo estiveram disputando os índices de audiências
com as nacionais, a saber: Gabriela, Avenida Brasil e Fina estampa.
Apesar de terminar o ano liderando as audiências gerais (relativamente a todos os programas), a TVI, em anos anteriores, ocupava
confortavelmente os primeiros lugares do ranking desse gênero. No
entanto, em 2012, a TVI perdeu espaço para as produções ficcionais
da SIC e da Globo no horário nobre. Aliás, como se referiu e como
podemos observar na Tabela 7, a SIC conseguiu desalojar a TVI do
primeiro lugar do top ten. Esses dados, por outro lado, revelam que,
apesar de saltar algumas posições, a TVI continua marcando forte
presença, ocupando 60% da tabela do top ten. A SIC termina o ano
com 30%, e a RTP1 apenas com 10% de presença nessa lista.
Portugal – Ficção e audiências em transição | 433
As notícias sobre possíveis demissões nas produtoras nacionais
SP Televisão e Plural deixaram claro que, em tempos de crise e
cumprimento de medidas de austeridade, a produção de ficção também se viu afetada.
Tabela 8. Os dez títulos mais vistos:
formato, duração, faixa horária
Formato
Título
1 Dancin’ days
2 Louco amor
Telenovela
5
Remédio
santo
6 Doida por ti
Telenovela
Série
A família
Mata
Fonte: Obitel Portugal
Comédia, drama,
romance
Juvenil, romance,
drama, comédia,
musical
Faixa
horária
146
04/06 a 31/12
(cont.)
Horário
nobre
189
06/05 a 31/12
(cont.)
Horário
nobre
284
08/01 a 31/12
(cont.)
Horário
nobre
143
02/01 a 30/06
Horário
nobre
192
02/01 a 15/09
Horário
nobre
44
24/10 a 31/12
(cont.)
Horário
nobre
02/01 a 15/09
Tarde,
acesso
ao
horário
nobre
02/01 a 05/05
Horário
nobre
123
Histórica, drama,
romance
94
Série
Comédia
8
07/01 a 31/12
(cont.)
Horário
nobre
Série
Comédia
21
11/07 a 31/11
Horário
nobre
Telenovela
9 Os compadres
10
Comédia, drama,
romance
Drama, suspense,
Telenotragédia, comédia
vela
Comédia, drama,
Telenosuspense, rovela
mance
Morangos
com açúcar
7
IX: segue o
teu sonho
8 Anjo meu
Drama, suspense,
comédia
Drama, suspense,
Telenotragédia, comédia
vela
3 Doce tentação Telenovela
4 Rosa fogo
Gênero
Data da
primeira e
última
emissão
(em 2012)
Nº de
cap./ep.
(em
2012)
434 | Obitel 2013
Em termos de audiências e repercussão noticiosa, os principais
destaques do ano foram Dancin’days (SIC) e Louco amor (TVI). A
primeira, para além da liderança no top ten de ficção nacional, esteve entre os programas televisivos mais vistos de 2012. É importante
referir que essa telenovela é um remake ou adaptação do roteiro
originalmente brasileiro e segue o modelo de coprodução, que se
tem observado também em anos anteriores entre as duas empresas,
Rede Globo e SIC. Algumas semelhanças aproximam as duas narrativas. Grande parte dos enredos ambienta-se em espaços de diversão
noturna. Em ambas, as duas personagens principais estiveram na
prisão durantes muitos anos e procuram, por um lado, a reinserção
social e, por outro, a reconciliação familiar. Já Doce tentação (TVI),
tanto em termos de trama como de estética, revela elementos inspirados em fábulas ou contos de fadas. Ao clássico contraste entre as
personagens principais – a menina doce e feminina e o rapaz artesão
e selvagem – somam-se as imagens exteriores, como as paisagens
bucólicas e misteriosas da serra e o palácio da vila de Sintra. Rosa
fogo, Remédio santo, Anjo meu e Morangos com açúcar (temporada
IX: segue o teu sonho), todas da TVI, migraram do ranking 2012
para 2013, permanecendo em destaque. Doida por ti (TVI) também
não inova, mas conquista o público com a temática amorosa e uma
trama urbana.
Por último, Os compadres (RTP1) e a A família Mata (SIC),
sitcoms4, alcançaram protagonismo apostando no ambiente familiar
e nas peripécias do quotidiano.
4
Comédia de situação.
Portugal – Ficção e audiências em transição | 435
Tabela 9. Temáticas nos dez títulos mais vistos (*)
TEMÁTICAS DOMINANTES
(ATÉ CINCO TEMAS
MAIS IMPORTANTES)
– Relações familiares
Dancin’days
– Vingança e ambição
– Revelação de identidade
– Resolução de crimes
Louco amor
– Relações amorosas
– Relações familiares
– Mistérios
– Relações amorosas
Doce tentação
– Assassinatos
– Bastardia
– Relações amorosas
Rosa fogo
– Resolução de crimes
– Bastardia
– Misticismo
Remédio santo
– Vingança
– Bastardia
– Relações amorosas
– Infidelidade
Doida por ti
– Revelações de segredos
e de identidades
– Juventude
Morangos com
– Conflitos e rivalidades
açúcar IX: segue
– Mundo da moda
o teu sonho
– Inveja
– Resolução de crimes
– Triângulo amoroso
Anjo meu
– Vingança e ambição
Títulos
1
2
3
4
5
6
7
8
9
Os compadres
10 A família Mata
– Relações familiares
– Relações entre vizinhos
– Amizade
– Relações familiares
– Adultério e traições
– Conflito de gerações
TEMÁTICAS SOCIAIS
(ATÉ CINCO TEMAS MAIS
IMPORTANTES)
– Reinserção social
– Alcoolismo
– Homossexualidade
– Velhice
– Amor na terceira idade
– Reinserção social
– Orfandade
– Religiosidade
– Infertilidade
– Câncer de mama
– Prática de lutas ilegais
– Religiosidade
– Deficiência auditiva
– Crítica social
– Desemprego
– Crise econômica
– Reciclagem
– Protagonismo feminino
– Terceira idade no ensino
superior
– Movimentos sociais e históricos
– Conflitos políticos
– Crise financeira
– Nostalgia
– Preceitos morais
– Crise financeira
– Pequenos furtos
– Preceitos morais
Fonte: Obitel Portugal
Em termos de temáticas sociais, o principal destaque do ano
foi a tendência da produção nacional para o investimento em tramas
(em especial séries) com histórias protagonizadas e vocacionadas
para a terceira idade. Desenvolvido de diferentes formas, o tema
esteve presente em Louco amor (TVI), com o amor a acontecer na
436 | Obitel 2013
terceira idade, Os compadres (RTP1) e em Velhos amigos5 (RTP1),
com incidentes e peripécias familiares e entre vizinhos. A presença
de personagens desempregados e diversos diálogos sobre as dificuldades financeiras revelaram outra tendência – a preocupação da
ficção nacional em abordar, mesmo que suavemente, as questões da
crise econômica.
Tabela 10. Perfil de Audiência dos dez títulos mais vistos:
gênero, idade6, nível socioeconômico7
Títulos Canal
Dan
1
cin’days
Louco
2
amor
3
Doce
tentação
Rosa
fogo
Remédio
5
santo
4
6
Doida
por ti
Gênero %
Mu- Ho- 4lheres mens 14
Faixa etária %
Nível socioeconômico %
15- 25- 35- 45- 5565+ A/B C
24 34 44 54 64
D
E
SIC
62,0 38,0 8,0 16,6 17,4 16,7 15,6 10,4 15,2 18,0 19,9 35,9 26,2
TVI
63,6 36,4 6,2 7,3 8,1 9,6 13,0 19,6 36,3 9,4 13,2 44,8 32,6
TVI
64,1 35,9 8,0 9,4 9,3 10,8 13,7 18,0 30,8 7,4 17,8 39,8 35,0
SIC
61,7 38,3 7,8 12,2 18,5 16,9 15,8 12,7 16,1 13,8 22,2 37,5 26,5
TVI
64,4 35,6 6,5 9,1 9,2 9,5 13,7 18,5 33,5 6,9 18,6 38,0 36,5
TVI
64,2 35,8 11,8 12,8 8,7 10,8 11,1 15,7 29,2 11,2 10,3 44,1 34,4
Esse título ficou fora do ranking, mas obteve algum sucesso junto ao público, com 5,1%
rating e 14,8% de share.
6
Em virtude da alteração do sistema de medição de audiências televisivas, em vigor a
partir de março de 2012, a equipe do Obitel Portugal necessitou adaptar as tabelas e as
metodologias de análise ao novo sistema adotado pela atual empresa responsável pela
medição das audiências, a GfK (Growth from Knowledge). Nos anos anteriores e até
fevereiro de 2012, a Marktest estabelecia a divisão de 64 ou mais anos, enquanto a GfK
estabelece 65 ou mais. 7
O mesmo ocorre relativamente ao nível socioeconômico. A Marktest estabelece a seguinte divisão: Classe A/B, Classe C1, Classe C2, Classe D. Já a GfK: Status A/B, Status
C, Status D, Status E. A equipe Obitel Portugal optou por ajustar os dados ao modelo
GfK, tendo em vista que os dados fornecidos pela GfK são quantitativamente superiores
(correspondem a dez meses de medição, contra dois da Marktest).
5
Portugal – Ficção e audiências em transição | 437
Morangos com
açúcar
7
TVI
IX: segue
o teu
sonho
63,3 36,7 17,6 17,2 10,0 12,4 12,8 9,8 20,2 8,9 17,7 40,5 32,9
8 Anjo meu TVI
62,4 37,6 5,5 8,6 9,5 10,5 13,6 18,2 34,1 8,5 21,5 36,7 33,4
9
Os comRTP1 58,0 42,0 0,9 6,3 3,9 6,9 13,1 18,8 50,1 17,4 14,8 41,3 26,6
padres
10
A família
SIC
Mata
54,7 45,3 13,9 13,7 19,1 19,3 14,6 9,1 10,2 13,5 19,2 45,1 22,3
Fonte: Obitel Portugal MediaMonitor/Marktest Audimetria e GfK
Como em anos anteriores, o perfil das audiências das ficções
da SIC e da RTP1 permaneceu mais equilibrado relativamente aos
telespectadores da TVI, com algumas diferenças condicionadas aos
títulos. Em Dancin’days (SIC), por exemplo, essa divisão mais uniforme observa-se na faixa etária e no nível socioeconômico. O perfil
das audiências de Os compadres (RTP1) e a A família Mata (SIC)
permaneceu mais equilibrado em termos de gênero. No entanto, a
faixa etária dos públicos da RTP1 é bastante superior aos da SIC,
com 50,1% dos telespectadores de Os compadres com mais de 65
anos. De modo geral, as mulheres continuam sendo o grande público das ficções, bem como as pessoas mais velhas (exceto as produções emitidas na SIC, vistas por pessoas de todas as idades) e as
classes menos favorecidas, como D e E. Esses dados apontam para
a ideia de que as novelas da SIC/Globo conseguem atingir públicos
mais diversificados.
3. A recepção transmidiática
O universo de circulação das ficções televisivas vem sendo ampliado de modo significante nos últimos anos. Através de diferentes
plataformas, as produções ficcionais e os seus públicos relacionamse de forma mais participativa, estabelecendo novas dinâmicas
transmidiáticas.
Nesta seção, pretende-se realizar uma análise da oferta transmidiática dos produtores e das práticas dos usuários da telenovela Dan-
438 | Obitel 2013
cin’ days (SIC), primeiro lugar entre o top ten de maior audiência do
último ano em Portugal. Como plataforma de análise, selecionou-se
o Facebook, tendo em conta que essa rede social proporciona uma
maior interatividade entre os produtores e fãs do título em questão.
No entanto, é preciso salientar a existência de uma ação concertada
entre a página oficial da telenovela no website da SIC e o seu Facebook oficial.
A observação englobou a semana de 8 a 14 de abril de 2013,
correspondente aos episódios 212 a 217. Normalmente exibida de
segunda a sexta-feira em horário nobre, nesse período houve um
capítulo especial no domingo, 14, no mesmo horário em que a emissora concorrente TVI estreava a sua nova telenovela, Mundo ao
contrário.
A respeito da monitorização da rede social Facebook, a contabilização dos dados foi feita diariamente, obtendo-se ao final da
semana da amostra o número total em cada categoria observada.
Assim, o número de fãs, ou seja, os que “curtem/gostam” da página,
equivale ao montante de 48.004. Já o volume dos falantes da página
contabiliza 3.145 usuários. Acerca do número de posts inseridos no
mural pelos produtores da ficção, a soma resulta em 28 publicações,
as quais receberam 2.885 “curtidas” por parte dos fãs. Verificou-se
ainda que os usuários publicaram 619 comentários e compartilharam o conteúdo do Facebook oficial 119 vezes.
3.1. Oferta transmidiática de uma ficção do top ten
No que tange ao tipo de interação transmidiática ofertada pelos
produtores da telenovela, destaca-se a visualização transmidiática.
Nesse sentido, essa plataforma permite a visualização de vídeos da
ficção, o download de fotos, a interação dos usuários em tempo real,
o compartilhamento dos conteúdos postados e, inclusive, a interação
direta com os atores e atrizes da telenovela por meio de chat. Tal
dinâmica, de periodicidade semanal, é intitulada “Hora Facebook”,
em que um ator ou atriz conversa com os usuários da rede diretamente, respondendo às suas perguntas e comentários. Após o chat,
Portugal – Ficção e audiências em transição | 439
os administradores da rede social disponibilizam um vídeo gravado
pelo ator/atriz, dando o seu depoimento a respeito da experiência de
interagir com os fãs.
Uma média de quatro a seis posts são publicados diariamente. Normalmente, os moderadores da rede social referem cenas que
irão ao ar nos próximos capítulos, lançam inquéritos sobre a trama
e disponibilizam links para o website oficial da telenovela, onde o
participante tem acesso a resumos, episódios anteriores inteiros e
vídeos com visão prévia de algumas cenas. O último post do dia é
publicado poucos minutos antes do início da transmissão de Dancin’
days. Os administradores procuram atrair a atenção dos fãs e produzir expectativa quanto ao capítulo que será exibido a seguir. Porém,
não se pronunciam durante a emissão propriamente dita, deixando
a cargo dos usuários os comentários que decorrem ao longo da exibição da ficção, o que pode indicar uma estratégia para possibilitar
uma interação mais livre e espontânea entre os participantes.
3.2. Interatividade e práticas dos usuários
Verifica-se que em relação à interatividade (Tabela 11), o nível
predominante é a interação ativa dos usuários, e não a criativa. A
carência de conteúdo criado pelo próprio fã da ficção talvez possa
apontar para a ausência de propostas dos produtores do Facebook e
do website oficial, no intuito de disponibilizarem estratégias nessas
plataformas que possibilitem uma apropriação mais criativa da ficção. Nesse sentido, é válido referir a iniciativa transmidiática da página oficial da série televisiva A família Mata, exibida pela SIC em
2012 e décimo lugar no top ten, que organizou uma ação denominada “Uma família portuguesa, com certeza”. Tal estratégia solicitava
que os telespectadores enviassem um pequeno vídeo de 30 segundos
com imagens, testemunhos e cenas caricatas de suas famílias. Os
vídeos mais cômicos eram selecionados para exibição em antena
ao final dos episódios da série, além de serem disponibilizados no
Facebook e no website dessa produção.
440 | Obitel 2013
Assim, tendo como base a ficção portuguesa Dancin’ days,
entende-se que a recepção transmidiática se encontra parcialmente
desenvolvida, já que a participação se dá mais em termos de resposta e interação com o conteúdo proposto – através de práticas de
recomendação, discussão, crítica e compartilhamento – do que propriamente na transformação do consumidor em produtor de novos
conteúdos postos em circulação. Além disso, nota-se a moderada
produção de material de narrativa ficcional destinado exclusivamente a essas outras plataformas, de forma independente do que é
veiculado através da televisão.
Tabela 11. Tipos de interação e de práticas dominantes
Ficção
escolhida
Dancin’
days
Emissora
SIC
Páginas
da internet
Página do
Facebook
Tipos de
interação
transmidiática
Visualização
transmidiática
Níveis de
interatividade
Ativa
Práticas dominantes
dos usuários
Comentário
Celebração
Recomendação
Compartilhamento Interpretação
Crítica
Coleção
Armazenamento
Discussão
Sobre o conteúdo dos comentários, os usuários tendem a utilizar a rede para expressar a sua opinião acerca do comportamento
das personagens e enredo, bem como para celebrar a qualidade da
ficção e o bom desempenho de atores e atrizes. É comum comentarem os enunciados uns dos outros, expressarem expectativa pelo
início da telenovela e relatarem, em tempo real, que estão prontos
para assistir ao episódio.
Cabe mencionar a ocorrência de uma crítica ao conteúdo on-line ofertado pelos produtores de Dancin’ days. Desse modo, um
certo post em que os administradores da rede social revelam antecipadamente o desfecho de uma determinada situação causou desagrado a alguns fãs. Tal fato é passível de indiciar uma problemática
Portugal – Ficção e audiências em transição | 441
que se coloca aos produtores entre a estratégia de disponibilizar o
máximo de conteúdo na rede social e o desejo de alguns usuários de
não saberem de tudo o que se irá passar de antemão por priorizarem,
nesse caso, o suspense e uma experiência inédita na televisão.
Com base nessa semana de análise, identifica-se a participação
majoritária de um público jovem, apesar de os índices estatísticos
revelarem que a audiência de Dancin’ days perpassa várias faixas
etárias. Os comentários de usuários femininos mostraram-se mais
frequentes, numa razão de aproximadamente 2/3 em relação aos
masculinos, o que aponta para um maior consumo dessa ficção por
parte do público feminino, porém, ainda assim, com considerável
contingente de fãs do sexo masculino. 4. O mais destacado do ano
O ano de 2012 foi um ano de transição. O número de títulos por
canal, o perfil da ficção oferecida e as audiências sofreram alterações, levando ao estabelecimento de um novo estágio de produção,
oferta e consumo face a anos anteriores. O canal de serviço público,
não obstante a incerteza do seu futuro, fruto da crise econômica,
transmitiu o mesmo número de títulos do ano anterior (12). O canal comercial SIC destacou-se no panorama nacional com a relação
com a TV Globo. A adaptação da telenovela Dancin’ days à realidade portuguesa contemporânea foi uma aposta de coprodução na
senda do sucesso de 2011, Laços de sangue, permitindo ao título
e ao canal situar-se em primeiro lugar do top ten. À semelhança
do título vencedor do Emmy para melhor telenovela 2011, Dancin’
days conseguiu cativar audiências oriundas de todas as classes etárias e sociais, contrariando a tipologia do espectador de telenovela
(mulheres, de classe baixa e com mais de 64 anos de idade). Essa
conquista pode estar relacionada com o perfil do espectador-tipo do
canal (indivíduos mais novos e com um nível de interatividade superior), mas também com o roteiro, com as condições de produção,
nomeadamente a formação dos atores (coaching), o que permite o
desenvolvimento de personagens consistentes, assim como com as
442 | Obitel 2013
estratégias de construção/transmissão do conteúdo e com as ações
publicitárias. Essas estratégias diferenciam-se da forma de fazer ficção dos outros canais, em especial da TVI, o concorrente diário.
Das estratégias de construção/transmissão salientamos a apresentação diária em horário fixo, a duração preestabelecida e não
flexível, assim como a utilização dos ganchos no final de cada capítulo. Esses elementos permitem o estabelecimento de uma ligação entre o conteúdo e o público, criando, por um lado, uma rotina
de visionamento e, por outro lado, momentos de expectativa e de
“necessidade” de assistir ao capítulo seguinte. Nos últimos anos,
a crescente competitividade levou ao alinhamento dos tempos de
transmissão dos conteúdos ficcionais com os imperativos comerciais, pelo que passou a ser regular a apresentação de capítulos com
durações diferentes, finais de capítulos abruptos ou mesmo a não
transmissão diária dos mesmos.
O outro destaque desse canal foi o regresso das audiências das
telenovelas brasileiras, tendo contribuído, para tal, a transmissão
dos remakes de Gabriela e de O Astro, telenovelas transmitidas em
Portugal na década de 70 e que permanecem no imaginário do público português. De forma a dar mais destaque a esses títulos, as
estreias foram em pré-horário nobre e foram transmitidos capítulos
especiais com as designações “primeira semana”, “apresentação” ou
“momentos finais”. Esse regresso das telenovelas brasileiras também se fez com a reprise do sucesso de audiências Páginas da vida,
em horário noturno, assim como a estreia de Avenida Brasil quando estava terminando no Brasil. O impacto dessa história chegou a
Portugal através das revistas de sociedade e de programas de televisão que acompanham a vida dos famosos e os bastidores do mundo
da ficção portuguesa e brasileira, contribuindo para o aumento da
curiosidade por parte do público nacional.
A TVI, canal que tem liderado a oferta de ficção nos últimos
anos, assim como o mercado televisivo, manteve a produção continuada de telenovelas para o horário nobre e a transmissão do título
Morangos com açúcar em pré-horário nobre para o público juvenil.
Portugal – Ficção e audiências em transição | 443
Esse último título manteve-se no ar durante nove anos consecutivos
e já foi anunciado que estava na última temporada. Para fechar a
série, foi produzido um filme para o grande ecrã com personagens
de todas as temporadas, tendo sido o filme português mais visto
de todos os tempos. O maior destaque da estação foi, no entanto, o
projeto Filmes TVI, uma série de 26 telefilmes produzidos e realizados por equipes diferentes. Durante 26 semanas foram transmitidas
histórias baseadas em temas ancorados na realidade sob gêneros diferenciados, como a comédia, o thriller ou o drama.
As especificidades identificadas em 2012 introduzem rupturas
na tipologia de oferta e consumo, pelo que as Velhas estratégias para
novos tempos (2011) deram lugar a um ano de transição e abriram
espaço para novos desenvolvimentos da ficção televisiva nacional.
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social
Produzir e consumir conteúdos televisivos no século XXI é um
desafio. Os ecrãs multiplicam-se, as tecnologias de suporte desenvolvem-se, a possibilidade de interação aumenta e as práticas de
consumo tornam-se mais plásticas e adaptadas aos quotidianos (Ganito et al., 2012). Dentro dessa realidade, o segmento mais dinâmico
é, sem dúvida, a ficção, pois, decorrente da sua natureza serial e da
sua estrutura narrativa, tem a capacidade de agendar temas da sociedade na sociedade, de alinhar os tempos sociais e de criar um tempo
coletivo. Recorrendo a formatos variados (telenovela, série, telefilme) e a múltiplos gêneros (comédia, thriller, romance), as histórias
apresentadas no pequeno ecrã funcionam, em simultâneo, como espelho que reflete e que projeta, ou seja, como forma de apresentar,
produzir e reproduzir identidade(s).
As sociedades vivem sob a égide da atualidade, sob o imperativo da urgência e da emergência de valores alternativos que competem com as instituições e com o instituído. Nessa encruzilhada,
os indivíduos sentem, ciclicamente, a vontade e a necessidade de
criar, reforçar ou romper os laços identitários que construíram ou
que assumiram. Perante esse cenário, os intelectuais são chamados
444 | Obitel 2013
a definir cada momento, numa tentativa de catalogar as realidades
e de oferecer um porto seguro a quem vagueia pela modernidade
líquida (Bauman, 2001), a quem se cruza diariamente com os lugares, com os não lugares (Augé, 1994) e com os novos lugares
(Monteiro, 2003).
A vigência desse padrão de vida, em que se diluem fronteiras,
faz com que se encontre o “outro” com mais facilidade. Se esse fator
pode ser entendido como um passo para uma convivência de largo
espectro, também pode ser uma fonte de promoção de um afastamento do eixo e da desvalorização do “eu” e do “nós” enquanto
coordenadas orientadoras. Assim, há que se atentar às duas faces de
Jano: conhecer quem somos e conhecer o que nos diferencia do “outro” (Bhabha, 2006). Para além disso, é necessário não cair na amnésia nem no excesso de memória (Martins, 2007, p. 13), de modo a
evitar ressentimentos e de modo a fomentar a aprendizagem através
da experiência.
O trabalho da memória (Martins, 2007, p. 14) é essencial para
o (auto)conhecimento e para o reconhecimento, ao funcionar como
um dos elementos ativos da identidade, especialmente numa altura
em que se exploram os conceitos de globalização e de europeização,
para além dos conceitos de nacionalização e de regionalização.
Direta ou indiretamente, todos os indivíduos praticam esse
exercício através dos ritos socialmente instituídos, assumindo uma
dimensão quase totêmica. Através da festa, há uma (re)construção
das múltiplas camadas de tempo e de espaço que compreendem
o “eu” e o “nós” (Feldman-Bianco, 1995, p. 76), apresentando-se
como símbolos por excelência da dramatização da saudade. Com o
desenvolvimento dos media, a “festa” passa a ocorrer diariamente e
no espaço privado, assistindo-se a um adensar da mediação, e mesmo da mediatização da memória, levando a que os aparatos, como
a televisão, passem a ser encarados como dispositivos mnemônicos ou memoriais por excelência (Sobral, 2006, p. 6). Para cumprir
essa missão, a televisão olha o(s) passado(s), funcionando como
uma made-for-TV history (Edgerton, 2010), um fenômeno global
Portugal – Ficção e audiências em transição | 445
que começa a ganhar corpo na década de 90 do século XX, com
o aparecimento de canais especializados no(s) passado(s), como o
Canal História, assim como com o desenvolvimento de narrativas
ficcionais. A (re)construção da História em histórias tem de acontecer de forma honesta e documentada, uma vez que, para muitos
telespectadores, essa é a única ligação entre a memória individual e
a coletiva, funcionando como a representação simbólica por excelência (Yeste, 2009).
Esses exercícios de proximidade cultural (Rueda, 2011) ganham dimensão diversa de acordo com o tema abordado, assim
como com o espaço de produção e transmissão. Nesse sentido, se
os canais internacionais exploram, acima de tudo, revisitações de
momentos épicos da história geral da humanidade, como por exemplo nas séries Roma (2005) ou Os Borgias (2011), os canais nacionais têm de procurar no seu passado acontecimentos, momentos ou
personalidades que dão espessura ao imaginário local. Dentro dessa linha de pensamento, e olhando para a experiência portuguesa,
tem sido recorrente, nos últimos anos, a revisitação de momentos
importantes da história político-social com títulos como O dia do
regicídio (2007), que trata da queda da Monarquia, Noite sangrenta
(2010), que apresenta a Primeira República, A vida privada de Salazar (2008), que explora a vida íntima de Oliveira Salazar, Conta-me
como foi (2007-2012), que trata da vivência familiar e social durante
o período do Estado Novo ou, mais recentemente, como Depois do
adeus (2012/2013), que retrata o regresso dos portugueses das ex-colônias. Este último título representa um corte na tendência de
produção ficcional histórica em Portugal, dado que desenvolve um
tema ocorrido há menos tempo, permitindo, por um lado, desafiar a
necessidade de distância do passado para refletir (Sobchack, 1996)
e, por outro lado, reforçar o papel da televisão como historiador
autorizado (Dayan & Katz, 1992).
Se olharmos para a produção ficcional televisiva portuguesa
considerada histórica nas últimas duas décadas (1990-2012) – títulos desenrolados num tempo passado e/ou sobre temas e personali-
446 | Obitel 2013
dades reais –, encontramos 35 títulos. Desses títulos, 40% situam-se, de fato, num passado recente (entre 1930 e 1970), seguindo-se,
com uma taxa de incidência de 26%, a adaptação de obras de autores
canônicos do século XIX e, com 20%, as duas primeiras décadas do
século XX (Primeira República e consequente instabilidade governamental). Os restantes 14% dos títulos estão espalhados por épocas
indiferenciadas (Torres & Burnay, 2013).
Numa divisão por canais, percebe-se que o serviço público faz
uma aposta continuada nesse tipo de conteúdo (27 títulos), enquanto
que os canais privados fazem-no de forma irregular e no cumprimento de outros objetivos, como a criação de momentos fantásticos
no ecrã (Equador, TVI) ou a exploração da vida privada de personalidades (A vida privada de Salazar, SIC) (Burnay & Lopes, 2013).
Em 2012, foram identificados dois títulos considerados históricos – Perdidamente Florbela e Barcelona, cidade neutral (RTP1) –
e um de época – Anjo Meu (TVI). Perdidamente Florbela apresenta
a vida da poetisa portuguesa Florbela Espanca durante o princípio
do século XX. Realizada por Vicente Alves do Ó, o longa-metragem, que passou a uma minissérie de três episódios, percorreu salas de cinema e festivais nacionais e internacionais (Rio de Janeiro,
Bissau, Espanha, Estados Unidos), acumulando nomeações e prêmios. Barcelona, cidade neutral, também minissérie, mas, nesse
caso, produzida diretamente para a televisão, retrata a vivência em
Barcelona durante a Primeira Guerra Mundial, como cidade neutral.
Mais uma vez, o canal de serviço público participou na produção
mediante investimento financeiro, permitindo não só a presença de
atores portugueses, mas também a possibilidade de transmissão na
televisão. O último título evocado é uma telenovela. A trama de
Anjo meu aproveitou a década de 70 do século XX como pano de
fundo e temático para o desenvolvimento da história, não se verificando a presença de enredos reais situados historicamente.
A instabilidade do futuro do canal de serviço público, principal
impulsionador de conteúdos dessa natureza, deixa também em aberto o futuro desse gênero de ficção.
Portugal – Ficção e audiências em transição | 447
Referências
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YESTE, E. Los medios revisitanto el pasado: los límites dela memoria.
Análise, 38, pp. 71-84, 2009.
11
Uruguai: procurando um
modelo sustentável
Autora:
Rosario Sánchez Vilela
Equipe:
Paula Santos, Lucía Allegro,
Eugenia Armúa, Isabel Dighiero
1. O contexto audiovisual no Uruguai
Introdução
A produção audiovisual no Uruguai sempre teve que enfrentar o problema dos altos custos em relação a um mercado pequeno.
As exigências de políticas de estímulo e fomento e de tempo de
televisão para a produção nacional têm sido recorrentes ao longo
do tempo, enquanto os empresários costumam insistir nas dificuldades para recuperar o investimento. Assim sendo, a sustentabilidade
da produção é um dos determinantes para os diversos atores, e seu
peso é ainda maior quando se trata de ficção televisiva. Ao mesmo
tempo, iniciativas para legislar sobre os serviços audiovisuais e a
chegada da televisão digital terrestre desencadeiam posições diversas e geram expectativas a respeito da transformação da televisão.
Contudo, a caminhada tem sido em zigue-zague, isso quando a ação
não foi deixada em suspenso. Enquanto isso e apesar de tudo, a produção audiovisual mostra alguns sinais de vitalidade e persistência:
o cinema nacional estreou 15 títulos em 2012, com uma bilheteria
correspondente a 72.2741 entradas vendidas; em torno de 150 produtoras de audiovisuais ativas diversificam suas linhas de trabalho;
1
Fonte: dados proporcionados por Icau (Instituto del Cine y del Audiovisual).
450 | Obitel 2013
a televisão aberta volta a oferecer três produções de ficção televisiva, embora nenhuma delas tenha chegado a integrar o top ten.
As alianças estratégicas dirigidas à exportação das produções
nacionais são uma constante entre diversos atores vinculados tanto
a produtoras independentes quanto às áreas de produção dos canais.
Nesse sentido, a Saeta Canal 10, emissora que mais tem se dedicado
à produção de ficção nos últimos anos, desenvolve diversas associações com recursos estrangeiros (produtoras, roteiristas, diretores),
ao mesmo tempo em que vem criando instâncias de pitching dentro
do canal para detectar novos produtos e que comercializa suas produções por meio de acordos com a Telemundo Internacional ou a
Flor Latina. Outro sinal desse olhar dirigido à internacionalização
da produção nacional é o fato de que a OZ Media, ao festejar seus
dez anos, tenha organizado um evento, o MonTV, cujo eixo temático foram os novos modelos de negócios televisivos, a criação de
novos formatos e sua comercialização e distribuição nos mercados
internacionais. Além da OZ Media, nos últimos anos, várias produtoras independentes (Microtime, Nepal Films, Contenidos TV, entre
outras) se apresentam em feiras internacionais e festivais com a finalidade de vender seus formatos2.
1.1. A televisão aberta
O sistema de televisão aberta no Uruguai é composto por 28
emissoras privadas e 33 públicas, concedidas à Televisión Nacional
Uruguay (TNU, Canal 5)3. A televisão aberta privada está composta por três frequências localizadas em Montevidéu e ligadas a três
grupos econômicos: De Feo-Fontaina, proprietário do Canal 10,
Romay-Salvo/Romay-Eccher, proprietário do Canal 4, e Cardoso-Pombo-Scheck, proprietário do Canal 12. Das outras 25 emissoras
2
http://elobservador.com.uy/noticia/237518/productoras-van-tras-las-ideas-con-audiencia-global/
3
Fonte: Unidad Reguladora de Servicios Comunicacionales (Ursec). Lista de emissoras
disponível em: http://www.ursec.gub.uy/scripts/templates/portada.asp?nota=Contenidos/
Operadores/Radiodifusion/AM%20%20FM/DATOS%20TECNICOS%20
EMISORAS&Despliegue=DATOS_big.asp
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 451
privadas, sete são de propriedade de algum desses grupos ou de sua
associação na Rutsa4. Por meio dessa empresa, fornecem conteúdos
para outros dez canais do interior do país5.
Apesar de não serem redes nacionais, a programação dos canais
metropolitanos privados, assim como a da televisão pública (também sediada em Montevidéu), expandem-se para outras regiões do
país. Por outro lado, os canais locais do interior produzem alguns
programas, principalmente noticiários, mas não fazem ficção. O estudo da equipe Obitel Uruguai tem seu foco nos quatro canais que
estão registrados no Gráfico 1. Além das razões que se identificam
na descrição exposta, é relevante o fato de que Montevidéu e a área
metropolitana concentrem metade da população do país. Por sua
vez, as medições de audiência do Ibope também são realizadas com
essa população6.
Gráfico 1. Emissoras nacionais de televisão aberta no Uruguai
EMISSORAS PRIVADAS (3)
EMISSORAS PÚBLICAS (1)
Montecarlo TV (Canal 4)
Televisión Nacional (TNU, Canal 5)
Saeta (Canal 10)
Teledoce/La Tele (Canal 12)
TOTAL DE EMISSORAS = 4
Red Uruguaya de Televisión S. A., também chamada “La Red”.
Os detalhes sobre a concentração de propriedade e controle sobre o sistema geral de
televisão podem ser consultados em: LANZA, Edison; BUQUET, Gustavo. La televisión
privada comercial en Uruguay: caracterización de la concentración de la propiedad, las
audiencias y la programación. Montevidéu: Fesur, 2011. Ver gráficos nas páginas 14 a 21.
6
O Ibope realiza suas medições sobre um universo constituído por domicílios particulares
de Montevidéu com, pelo menos, um televisor, abarcando indivíduos maiores de 4 anos
que vivem nesses domicílios. Em 2012, o universo de domicílios foi de 438.822. Um
ponto de rating equivale a 1% do universo de referência.
4
5
452 | Obitel 2013
Gráfico 2. Audiência e share por canal
5,5%
Teledoce/La Tele
(Canal 12)
Montecarlo TV
24,6%
(Canal 4)
43,2%
26,6%
Saeta (Canal 10)
Televisión Nacional
(TNU, Canal 5)
Rating
Total Canais
Teledoce/La Tele
(Canal 12)
Montecarlo TV
(Canal 4)
Saeta (Canal 10)
Televisión Nacional
(TNU, Canal 5)
Total
Share
8,6 43,2%
5,3 26,6%
4,9 24,6%
1,1
5,5%
19,9
100
Fonte: Obitel Uruguai, a partir de dados do Ibope
Gráfico 3. Oferta de gêneros na programação da TV
Entretenimento
2,2 2,0 0,9
2,8
3,9
4,5
0,5
25,2
9,5
Fição
Informação
Outros
Documentário
Esportes
23,0
24,5
Educativo
Religioso
Agropecuário
Infoentretenimento
Especiais
Saúde
Gêneros
transmitidos
Entretenimento
Ficção
Informação
Outros
Documentário
Esportes
Educativo
Religioso
Agropecuário
Infoentretenimento
Especiais
Saúde
Totais
Horas de
exibição
6.243:25
6.050:20
5.700:20
2.352:30
1.106:20
963:30
702:35
541:40
485:25
250:00
221:20
113:30
24.730:55
Fonte: Obitel Uruguai, a partir de dados do Ibope
Gráfico 4. Oferta de produção nacional por gênero
Informação
1,6% 1,3%1,3%
0,8%
1,6%
3,3%
38,4%
4,3%
4,3%
Entretenimento
Outros
Esportes
Educativo
Documental
Agropecuário
15,9%
23,3%
Religioso
Infoentretenimento
Ficção
Especiais
Saúde
Fonte: Obitel Uruguai, a partir de dados do Ibope
%
25,2
24,5
23,0
9,5
4,5
3,9
2,8
2,2
2,0
1,0
0,9
0,5
100
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 453
A oferta de programação da televisão aberta revela que Entretenimento, Ficção e Informação concentram as maiores porcentagens
do tempo de emissão: 72,7% do total. A programação de origem
nacional ocupou 14.810:15 horas, ou seja, representa quase 60% do
total do tempo de emissão. Ao analisar sua composição, observa-se
que 38% da produção nacional foi dedicada a gêneros informativos,
e 23,3%, a entretenimento, enquanto a ficção nacional representou
1,3% do total de horas.
1.2. Investimentos publicitários do ano: na TV e na ficção
Estabelecer com exatidão qual foi o investimento publicitário
na ficção televisiva em 2012 não é uma tarefa fácil. A informação
disponível é parcial e dispersa. Contudo, procuramos diferentes fontes, visando a uma aproximação ao tema.
O investimento publicitário global no Uruguai, em 2012, está
estimado em 263 milhões de dólares, segundo um relatório do Cinve7. No documento, assinala-se que: “Em 2012, manter-se-iam estáveis as participações da TV aberta (56%) e do rádio (14%), enquanto haveria uma queda na participação do investimento na imprensa
escrita (9%). No entanto, observa-se um leve aumento da participação pública (14%). Por fim, destaca-se que, embora ainda represente porcentagens muito baixas, a participação do investimento em
internet (5%) continua crescendo sistematicamente.” Segundo esses
dados, então, o investimento publicitário em televisão estaria próximo dos 147 milhões de dólares.
Quanto desse investimento esteve concentrado na ficção televisiva? Pode-se ter uma ideia aproximada a partir dos dados de segundos de propaganda. Em 2012, o total de segundos destinados à
propaganda em televisão foi de 13.324.2088, e o total da ficção foi
7
Relatório do Cinve (Centro de Investigaciones Económicas) para a Audap (Asociación
Uruguaya de Agencias de Publicidad), de dezembro de 2012, http://comunicacionpublicitaria.com.uy/la-industria-publicitaria-y-su-impacto-en-la-economia-uruguaya/.
8
Fonte: dados proporcionados pelo Ibope Uruguai, a partir de Monitor Evolution, de
janeiro a dezembro de 2012, incluindo todo o tipo de comerciais transmitidos em sequência.
454 | Obitel 2013
de 2.557.177 segundos. Na ficção ibero-americana de estreia, foram
emitidos 1.546.056 segundos de propaganda. Já no que se refere às
ficções nacionais, as três tiveram uma distribuição desigual de espaços publicitários: Bienes gananciales teve 31.542 segundos, Somos
teve 6.241 e REC, 859. Não é possível transformar esses dados em
investimento econômico preciso com a informação que está disponível. É possível usar como referência as tarifas dos canais9, mas o
custo final por segundo de propaganda é fruto de uma negociação
com cada cliente. Realizadas diversas consultas a agências de publicidade e de mídias, os agentes assinalam que ao fim o preço do
minuto de televisão oscila ente os 600 e os 2.500 dólares.
1.3. Políticas de comunicação
Em 11 de maio de 2012, o Poder Executivo aprovou o decreto
referente ao marco regulatório da televisão digital10, que estabelece
que, para Montevidéu e área metropolitana, existirão seis canais públicos (um deles fica reservado para a TNU, um para a Intendência
Municipal de Montevidéu, outro para difundir canais públicos da região) e sete privados (deles, um será “espelho” dos canais privados
4, 10 e 12, e outros três poderão ser concedidos a cada um desses
sinais, para que ampliem seus serviços no formato digital). Existirão
também outros sete canais comunitários, sem fins lucrativos, que
serão concedidos após licitação pública. Para o resto do país, serão
concedidos três canais públicos (dos quais um será para a TNU),
três privados e três comunitários.
O decreto estabelece a obrigação de destinar 15 minutos para
campanhas de interesse público, sejam estatais ou não, e a exigência
de promover produtos nacionais. Além disso, os serviços digitais
devem oferecer, progressivamente, acessibilidade para pessoas com
deficiências visuais e auditivas.
9
O segundo em horário central custa $3.429; em horário noturno, $1.649, e $ 1.008 à
tarde, segundo a lista de preços da Saeta Canal 10, de 1/01/2013, à qual tivemos acesso.
10
Decreto original: http://archivo.presidencia.gub.uy/sci/decretos/2012/05/miem_585.
pdf
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 455
Também se estabelece uma série de condições para a concessão
dos sinais àqueles que se apresentem à licitação pública. Entre as
exigências mais relevantes, cabe mencionar a demonstração de capacidade econômica e solvência moral, além da apresentação de um
plano de comunicação e de negócios que será submetido à avaliação
de uma Comissão Honorária Assessora e Independente, não vinculante, criada pelo mesmo decreto. As autorizações serão concedidas
por 15 anos, com opção de renová-las a cada dez, “sempre que não
haja uma avaliação negativa do plano de comunicação e sempre que
não existam novos interessados pré-qualificados para os quais não
restem canais disponíveis dentro dos reservados”11.Contudo, em 31
de dezembro de 2012, o governo modificou esse decreto e isentou
as emissoras privadas do cumprimento dos requisitos descritos,
uma vez que “se entende que é conveniente propiciar a continuidade dos atuais serviços de radiodifusão de televisão comercial no
novo meio digital, em atenção ao cumprimento de objetivos de interesse geral e cultural que ofereceram até agora e, para isso, serão
levados em consideração os seus antecedentes nos procedimentos
que forem estabelecidos”12. Dessa maneira, os canais privados de
televisão aberta do país (4, 10 e 12) obtêm de modo automático um
sinal digital por um período de 15 anos, sem apresentar nenhum dos
documentos que são solicitados aos novos interessados. Essa modificação e a data em que foi realizada causaram mal-estar, principalmente na Comissão Honorária Assessora Independente, responsável
por avaliar os projetos.
O decreto assinado em 31 de dezembro expressava que a data
limite para a apresentação de propostas para a TV digital perante a
Unidade Reguladora de Serviços de Comunicações (Ursec) era 25
O artigo 8º, “e”, expõe em detalhes o conteúdo que o plano deve ter: programação,
quantidade e tipo de gêneros a oferecer, política de pauta publicitária, quantidade e tipo
de produção nacional e própria, acessibilidade a pessoas com deficiências visuais e auditivas, emprego que gera, são alguns dos aspectos exigidos.
12
http://www.presidencia.gub.uy/wps/wcm/connect/presidencia/portalpresidencia/
comunicacion/comunicacionnoticias/ejecutivo-aprobo-pliego-para-llamado-tv-digital-abierta
11
456 | Obitel 2013
de fevereiro de 2013, mas, dois dias antes dessa data, o presidente
José Mujica suspendeu “temporariamente” a convocação a interessados, alegando “razões de oportunidade e conveniência”13. A retomada da convocação é esperada para abril de 2013.
O acompanhamento desse tema nos dois últimos anuários do
Obitel tem evidenciado avanços e retrocessos, mudanças de rumo
que continuaram ao longo de 2012. No momento do fechamento
deste capítulo, já avançado o ano de 2013, ainda está pendente a
realização da nova convocação, mas alguns passos concretos foram
dados. Em agosto de 2012, começaram as emissões-piloto do canal
público TNU para Montevidéu. Os canais privados também já fizeram testes, mas não estão transmitindo em seus sinais digitais14. A
data para o “apagão analógico” aparentemente está mantida: 21 de
novembro de 2015.
No que se refere à Lei de Serviços Audiovisuais, o projeto está
sendo analisado pelo Poder Executivo. Seus conteúdos têm sido revelados parcialmente em notas à imprensa, a partir de diversas fontes do governo, mas seu texto completo ainda não foi publicado nem
chegou ao Parlamento15.
Em agosto de 2012, somou-se a esses debates em torno da mídia a convocatória, pelo Poder Executivo, de um Comitê Técnico
Consultivo sobre direitos de meninos, meninas e adolescentes, liberdade de expressão e meios de comunicação, com a tarefa de elaborar
uma série de recomendações a partir de uma agenda de discussão16.
Fontes: http://www.180.com.uy/articulo/26133_Asi-sera-la-TV-digital-uruguaya;
http://www.elobservador.com.uy/noticia/242125/mujica-freno-llamado-sobre-tv-digital-tras-pedido-de-los-canales/;
http://www.presidencia.gub.uy/wps/wcm/connect/presidencia/portalpresidencia/comunicacion/comunicacionnoticias/ejecutivo-aprobo-pliego-para-llamado-tv-digital-abierta;
http://180.com.uy/articulo/32687_TV-digital-La-antiguedad-da-prioridad-a-canales-privados; http://historico.elpais.com.uy/130124/ultmo-690824/ultimomomento/posterganllamado-para-operar-la-television-digital/
14
http://www.180.com.uy/articulo/28114_La-television-digital-llego-a-medias
15
http://brecha.com.uy/index.php/politica-uruguaya/1111-el-modelo-uruguayo; http://
www.montevideo.com.uy/notnoticias_174665_1.html
16
As atas de cada sessão foram divulgadas e, junto com o relatório e as recomendações
finais, estão em: http://www.presidencia.gub.uy/wps/wcm/connect/presidencia/portal13
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 457
O trabalho da comissão gerou alguns debates na imprensa referentes
à articulação entre autorregulação e regulação, a conveniência de
haver uma regulação sobre conteúdos e propaganda durante os horários de proteção à infância e na programação infantil, entre outros
temas. 1.4. TV por assinatura
O número de serviços de televisão por assinatura teve um crescimento constante de um ano para outro: em dezembro de 2012,
o número de assinantes chegou a 592.699, representando 55.887
a mais que no ano anterior17. Quanto à programação, nos canais
a cabo nacionais continuam as tendências de anos anteriores: são
transmitidos programas produzidos para os canais de TV aberta e,
entre aqueles gerados especificamente por essas emissoras, predominam os jornalísticos, com diversas temáticas. Porém, a novidade
em 2012 foi que, no canal público a cabo, foram oferecidos dois
títulos de ficção nacional: Laboratorio en casa e Contámela en colores. Este último título se refere a diferentes momentos da história
nacional e, portanto, está vinculado ao tema do ano, que será aprofundado na sessão correspondente. Quanto a Laboratorio en casa,
trata-se de um programa destinado ao público infantil e com caráter
educativo. É uma ficção produzida pela OZ Media que, de certa
maneira, reconhece como fonte de inspiração El mundo de Beakman18, mas que, diferentemente deste, tem maior desenvolvimento
ficcional: variedade de personagens, situações humorísticas, espaço
doméstico no qual está inscrita a ação dos personagens, entre outros.
Os componentes ficcionais são usados, assim, como marco no qual
é desenvolvido o conteúdo educativo.
presidencia/comunicacion/informes/comite-consultivo-sobre-ninez-y-medios
17
http://www.ursec.gub.uy/scripts/locallib/imagenes/Informetelecomunicacionesdic2012.pdf
18
Entrevista com o produtor-geral Pablo Arriola, publicada no El País, 8/09/2012.
458 | Obitel 2013
1.5. Tendências das TICs
No mercado de telecomunicações, existem 580.669 usuários de
banda larga fixa em todo o Uruguai (97% operados pela companhia
estatal Antel) e 1.084.500 de banda larga móvel. A telefonia móvel
continua crescendo e chegou a um total de 4.995.459 de usuários
em dezembro de 2012, o que representa uma teledensidade móvel
de 151,5 linhas para cada cem habitantes19.
O estudo sobre o Perfil do Internauta Uruguaio apresentado
anualmente pelo Grupo Radar20 mostrou que, em 2012, o país alcança praticamente 2 milhões de usuários de internet (17% dispõem de
conexão em seus telefones celulares e a usam principalmente para
acessar as redes sociais), havendo um total de 1,2 milhão de usuários do Facebook, dos quais mais da metade acessa a rede todos os
dias, e cerca de 140 mil usuários de Twitter (43% acessam todos
os dias ou a cada dois ou três dias). Além disso, existem aproximadamente 150 mil blogs uruguaios que são desenvolvidos, em sua
maioria (56%), por jovens de menos de 20 anos.
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana
Tabela 1. Ficções exibidas em 2013
TÍTULOS NACIONAIS INÉDITOS: 3
SAETA, Canal 10
1. Bienes gananciales (série)
2. Somos (unitário)
TNU, Canal 5
(Televisión Nacional del Uruguay)
3. REC. Una serie casera (minissérie)
TÍTULOS IMPORTADOS INÉDITOS: 44
SAETA, Canal 10
1. Amor real (telenovela, México)
2. Búsqueda desesperada (minissérie,
Espanha/Colômbia)
3. En terapia (série, Argentina)
4. La promesa (minissérie, Colômbia)
http://www.ursec.gub.uy/scripts/locallib/imagenes/Informetelecomunicacionesdic20
12.pdf;
http://www.180.com.uy/articulo/29534_El-42-de-los-uruguayos-tiene-banda-ancha;
http://www.180.com.uy/articulo/31678_Uruguay-tiene-la-mejor-banda-ancha-de-la-region
20
http://www.gruporadar.com.uy/01/wp-content/uploads/2012/08/El-Perfil-del-Internauta-Uruguayo-Resumen-ejecutivo.pdf
19
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 459
5. Los Sánchez (telenovela, México)
6. Mentes en shock (série, Colômbia/
Estados Unidos)
7. Reparaciones (unitário, Argentina)
8. Super Pa (serie, Colômbia)
9. Una maid en Manhattan (telenovela,
Estados Unidos)
TELEDOCE, Canal 12
10.
Condicionados (minissérie, Argentina)
11. Cuchicheos (telenovela, Brasil)
12. Cuento encantado (telenovela, Brasil)
13. Daños colaterales (unitário, Argentina)
14. El astro (telenovela, Brasil)
15. Escrito en las estrellas (telenovela,
Brasil)
16. Fina estampa (telenovela,Brasil)
17. Herederos de una venganza (telenovela, Argentina)
18. Insensato corazón (telenovela, Brasil)
19. Maltratadas (unitário, Argentina)
20. Passione (telenovela, Brasil)
21. Sos mi hombre (telenovela, Argentina)
22. Violetta (telenovela, ArgentinaEstados Unidos)
MONTECARLO, Canal 4
23. 40 y tantos (telenovela, Chile)
24. Abismo de pasión (telenovela,
México)
25. Al fondo hay sitio (telenovela, Perú)
26. Amar y temer (telenovela, Colombia)
27. Amor bravío (telenovela, México)
28. Aquí mando yo (telenovela, Chile)
29. Dos hogares (telenovela, México/
Estados Unidos)
30. Dulce amor (telenovela, Argentina)
31. El hombre de tu vida (serie, Argentina)
32. Graduados (telenovela, Argentina)
Fonte: Obitel Uruguai
33. Herederos del monte (telenovela,
Colômbia/Estados Unidos)
34. La dueña (telenovela, Argentina)
35. La fuerza del destino (telenovela,
México)
36. Los caballeros las prefieren brutas
(série, Colômbia/Estados Unidos)
37. Pablo Escobar: el patrón del mal
(telenovela, Colômbia)
38. Pasión de gavilanes (telenovela,
Colômbia/Estados Unidos)
39. Triunfo del amor (telenovela,
México)
40. Vecinos (Telenovela, Colômbia)
TNU, Canal 5 (Televisión Nacional del
Uruguay
41. Amar en tiempos revueltos (série,
Espanha)
42. Cuéntame (série, Espanha)
43. El show de Alejandro Molina (série,
Argentina)
44. Vientos de agua (minissérie, Argentina/Espanha)
TÍTULOS IBERO-AMERICANOS
REPETIDOS: 9
SAETA, Canal 10
1. Ana y los 7 (série, Espanha)
2. Trillizos (telenovela, Argentina)
3. La niñera (série, Argentina)
TELEDOCE, Canal 12
4. El chapulín colorado (série, México)
5. El Chavo (serie, México)
MONTECARLO, Canal 4
6. Casados con hijos (serie, Argentina)
7. Floricienta (telenovela, Argentina)
8. Supertorpe (serie, Argentina)
TNU, Canal 5
9. Ciega a Citas (telenovela, Argentina)
REPETICIONES TÍTULOS NACIONALES: 1
1. SAETA, Canal 10
460 | Obitel 2013
Na programação da televisão aberta, a ficção, em seu conjunto,
representou 24,5% do total, e a ficção ibero-americana de estreia
representou 8,9%, ocupando 2.224:35 do total de 24.730:55 horas.
Os títulos de estreia são, em sua maioria, produções importadas: de
um total de 47, apenas 3 são de produção nacional (Tabela 1). Ao
observar a distribuição dos títulos em relação aos canais que os exibem, ficam claras algumas tendências persistentes: a Montecarlo é a
emissora que oferece a maior quantidade de títulos (17) de diversas
origens; a seguir, vem a Teledoce, com 12 títulos exclusivamente de
origem argentina ou brasileira; a Saeta estreia dez títulos, entre os
quais inclui duas produções nacionais; a TNU aumenta a oferta de
títulos de ficção ibero-americanos em relação a outros anos: cinco
títulos, um deles de produção nacional.
Tabela 2. A ficção de estreia em 2012: países de origem
País
Títulos
%
Capítulos/
Episódios
%
Horas
%
NACIONAL (total)
3
6,4
82
2,6
36:35
1,6
IBERO-AMERICANA (total)
44
93,6
3.052
97,4
2.188:00
98,4
Argentina
Brasil
Chile
Colômbia
Equador
Espanha
EUA (produção hispânica)
12
7
2
4
0
2
1
25,5
14,9
4,3
8,5
0
4,3
2,1
658
668
137
235
0
557
61
21,0
514:00
23,1
21,3
490:30
22,1
4,4
65:00
2,9
7,5 165:12:00 7,4
0
0
0
17,8
405:20
18,2
1,9
46:05
2,1
México
Peru
Portugal
URUGUAI
Venezuela
6
1
0
3
0
12,8
2,1
0
6,4
0
372
28
0
82
0
11,9
0,9
Latino-americana (âmbito não Obitel)
0
0
9
47
Outras (produções e coproduc.
de outros países latino-am./ibero-am.)
TOTAL
2,6
0
252:10
16:40
0
36:35
0
11,3
0,7
0
1,6
0
0
0
0
0
19,1
336
10,7
232:30
10,5
100
3.134
100
2.224:35
100
Fonte: Obitel-Uruguai, a partir de dados do Ibope
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 461
A oferta de estreias manteve a tendência ao crescimento que
se manifestou em 201121. A composição dos 47 títulos segundo sua
origem evidencia que as maiores porcentagens correspondem a ficções de origem argentina e brasileira, embora se tenha registrado
um aumento das coproduções, que triplicaram com relação aos dois
anos anteriores. Diminuiu a presença do México, e, por outro lado,
apresenta-se a novidade da ficção de origem peruana, pouco habitual na tela nacional. A presença de ficção nacional se mantém nos
mesmos termos dos últimos três anos: três títulos, 1,6% do total de
tempo de emissão da ficção de estreia.
21
Ver Anuários 2011 e 2012: a oferta de estreias foi de 37 títulos em 2010 e passou a 46
em 2011.
36:35
4:50
31:45
0
0
H
100
13,3
86,7
0
0
%
3052
713
1082
1147
110
Cap./Ep.
100
23,4
35,5
37,6
3,6
%
2.187:30
434:30
868:50
816:20
67:50
H
Ibero-Americanas
%
100
19,9
39,7
37,3
3,1
TOTAL
3
Fonte: Obitel Uruguai, a partir de dados do Ibope
0
0
0
Docudrama
Outros (soap opera etc.)
100
0
0
33,3
0
1
Telefilme
Unitário
0
33,3
33,3
%
0
1
1
Títulos
82
0
0
6
0
0
67
9
Cap./Ep.
Nacionais
100
0
0
7,3
0
0
81,7
11,0
%
36:35
0
0
04:50
0
0
28:30
03:15
Horas
100
0
0
13,1
0
0
78,0
8,9
%
44
0
0
3
0
29
8
4
Títulos
100
0
0
6,6
0
65,9
18,4
9,1
%
3134
719
1158
1147
110
Cap./Ep.
Total
%
100
22,9
37,0
36,6
3,5
3.052
0
0
15
0
2.266
677
94
Cap./Ep.
100,0
0
0
0,5
0
74,2
22,2
3,1
%
Ibero-Americanas
Tabela 4. Formatos da ficção nacional e ibero-americana
Telenovela
Série
Minissérie
Formatos
7,3
100
Fonte: Obitel Uruguai, a partir de dados do Ibope
6
82
Noturno (22:00-6:00) TOTAL
92,7
0
0
76
Tarde (12:00- 19:00) 0
%
Nacionais
0
Cap./Ep.
Horário nobre (19:00-22:00) Manhã (6:00-12:00)* Faixas horárias
Tabela 3. Capítulos/Episódios e horas emitidos por faixa horária
H
2.187:30
0
0
10:25
0
1.641:20
471:25
64:20
Horas
2.224:00
439:20
900:30
816:20
67:50
%
100
0
0
0,5
0
75,0
21,6
2,9
%
100
19,8
40,5
36,6
3,1
462 | Obitel 2013
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 463
Tabela 5. Formatos da ficção nacional por faixa horária
ManTarHorário
%
%
hã
de
nobre
Formatos
Telenovela
0
0
0
0
0
NoTo%
turno
tal
%
0
0
0
%
0
0
Série
0
0
0
0
1
50,0
0
0
1
33,3
Minissérie
0
0
0
0
1
50,0
0
0
1
33,3
Telefilme
0
0
0
0
0
0
0
0
Unitário
0
0
0
0
0
0
1
0
1
33,3
Docudrama
Outros (soap opera
etc.)
TOTAL
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
2
100
1
0
3
100
Fonte: Obitel Uruguai, a partir de dados do Ibope
Tabela 6. Época da ficção
Época
Títulos
%
Presente
41
87,2
de Época
5
10,6
Histórica
1
2,2
Outra
0
0
TOTAL
47
100
Fonte: Obitel Uruguai, a partir de dados do Ibope
Mais de 70% dos capítulos de estreia estão distribuídos entre a
tarde e o horário nobre, com uma escassa diferença a favor deste último. As ficções nacionais foram ao ar em horário central, três vezes
por semana, no caso de Bienes gananciales, e aos sábados, no caso
de REC; por sua vez, Somos foi ao ar no horário noturno. Com relação aos formatos, a telenovela continua sendo dominante, com 29
títulos e 75% do tempo de transmissão. Em segundo lugar, embora
muito abaixo, estão as séries, com oito títulos e 21,6% de tempo de
tela. Nas ficções nacionais, a série e o unitário são os formatos adotados pelas produções do Canal 10, e, apesar de REC se apresentar
como série, optamos por classificá-la como minissérie, uma vez que
a quantidade de capítulos se ajusta mais a esse formato. As histó-
464 | Obitel 2013
rias das ficções situaram-se predominantemente no presente, cinco
títulos desenvolveram ambientação de época, com maior ou menor
precisão temporal, e apenas uma ficção, Pablo Escobar: el patrón
del mal, pode ser situada na categoria de histórica.
2.1. Os dez títulos mais vistos
Tabela 7. Os dez títulos mais vistos:
origem, rating, share
Título
País de
origem
Produda ideia
tora
original
ou roteiro
Canal
Nome do roteirista
ou autor da ideia
original
Ra- Shating re
Brasil
TV
Globo
Teledoce
Gilberto Braga,
Ricardo Linhares
20,7 32,0
Sos mi
hombre
Argentina
Polka
Teledoce
Leandro Calderone
17,2 29,0
Passione
Brasil
TV
Globo
Teledoce
Silvio de Abreu
14,8 29,0
1
Insensato
corazón
2
3
4
El Astro
Brasil
TV
Globo
Baseada na
telenovela (1977)
homônima de Janete
Clair, foi escrita por
Alcides Nogueira e
Teledoce Geraldo Carneiro, 14,8 25,0
com colaboração de
Tarcisio Lara Puiati
e Vitor de Oliveira.
Produção: Mauro
Mendonça Filho
5
Escrito en
las estrellas
Brasil
TV
Globo
Teledoce
Elizabeth Jhin
14,5 28,0
6
Cuchicheos
Brasil
TV
Globo
Teledoce
Roteiro de Maria
Adelaide Amaral.
Baseada na novela
Ti-ti-ti, de Cassiano
Gabus Mendes
14,2 27,5
7
Herederos de una
venganza
Argentina
Polka
Teledoce
Leandro Calderone
14,2 24,0
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 465
8
Fina
estampa
Brasil
TV
Globo
9
Dulce
amor
L.C.
Acción
ProArgentina
ducciones e
Telefé
10
Maltratadas
Argentina
Teledoce
Aguinaldo Silva
14,1 28,0
Montecarlo
Quique Estevanez,
Marcelo Nacci,
Laura Barneix
12,3 20,0
Esther Feldaman,
Alejandro Maci
11,4 25,0
Flor
Teledoce
Latina Total de produções: 10
Roteiros estrangeiros: 10
100%
100%
Fonte: Obitel Uruguai, a partir de dados do Ibope
A liderança na audiência é disputada entre ficções brasileiras e
argentinas. Pelo segundo ano consecutivo, uma produção brasileira
ocupa o primeiro lugar, mas, além disso, cresce a presença de ficções com origem nesse país: seis entre as dez mais vistas, o dobro de
2011. Repetem-se dois títulos do ranking de 2011: Passione e Herederos de una venganza, que começaram a ser transmitidos naquele
ano e voltam a captar a atenção das audiências.
Os dez títulos estão situados no horário nobre e no pré-horário
nobre, além do horário noturno, como é o caso de Maltratadas ou
Herederos de... Um aspecto interessante a destacar é que o primeiro
lugar é ocupado por Insensato corazón, que recupera para a telenovela brasileira um horário que lhe era tradicional, depois do noticiário principal.
Ao contrário dos últimos três anos, em 2012 nenhuma das produções nacionais conseguiu ficar entre os dez títulos mais vistos.
Das três ficções uruguaias, a que ficou mais próxima foi Bienes gananciales, com 10 pontos de rating e 15 de share (a pouco mais de
um ponto de Maltratadas, mas com uma diferença de dez pontos
no share); Somos obteve 8,7% de rating e 16% de share, enquanto
REC. Una série casera teve 1% de rating e 2% de share – porcentagens que estão entre as posições mais elevadas que os programas do
canal público costumam obter.
466 | Obitel 2013
A liderança da Teledoce foi quase absoluta: apenas um título
não é emitido pela emissora, com o que confirma sua posição de
2011, enquanto, em 2010, a Saeta havia conseguido situar cinco de
seus títulos nos dez primeiros lugares. O Canal 12 é o que menos
ficção nacional produziu: depois de La oveja negra, em 2007, e Las
novias de Travolta, em 2009, transmitiu Adicciones, em 2011, que
obteve o segundo lugar nos dez primeiros desse ano, embora não se
tratasse de uma produção do canal, e sim da Contenidos TV, produtora que gera vários de seus programas. Deve-se assinalar que
Maltratadas surgiu originalmente como uma coprodução argentino-uruguaia com participação da Teledoce. A investigação sobre casos
de violência doméstica, temática abordada por essa ficção, realizou-se na Teledoce, e o piloto (que depois foi o primeiro capítulo) foi
rodado no Uruguai. Finalmente, o projeto foi financiado com fundos
do Instituto del Cine de Argentina e foi desvinculado da participação da Teledoce, razão pela qual o projeto de ficção nacional desse
canal, do qual se vinha falando há anos, não pôde ser concretizado
como tal.
Tabela 8. Os dez títulos mais vistos:
formato, duração, faixa horária
Formato
Gênero
Nº de
Cap./
Ep.
(em
2012)
1 Insensato corazón
Telenovela
Drama
Romance
146
10/04/2012 a
25/12/2012
Horário
nobre
2 Sos mi hombre
Telenovela
Melodrama
55
24/09/2012 a
27/12/2012
Noturno
3 Passione
Telenovela
Drama
Romance
117
02/01/2012 a
12/06/2012
Horário
nobre
4 El Astro
Telenovela
Drama
50
23/07/2012 a
31/12/2012
(cont.)
Horário
nobre
Título
Datas da
primeira e
Faixa
da última
horária
emissões
(em 2012) (*)
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 467
Telenovela
Drama
Romance
105
13/06/2012 a
06/11/2012
Tarde
Telenovela
Romance
Comedia
107
02/01/2012 a
20/07/2012
Tarde
Telenovela
Melodrama
48
02/01/2012 a
22/03/2012
Horário
nobre
8 Fina estampa
Telenovela
Melodrama
66
9 Dulce amor
Telenovela
Melodrama
231
10 Maltratadas
Unitário
Drama
13
5
Escrito en las estrellas
6 Cuchicheos
7
Herederos de una
venganza
01/10/2012 a
31/12/2012
(cont.)
13/02/2012 a
31/12/2012
(cont.)
02/09/2102 a
25/11/2012
Horário
nobre
Horário
nobre
Noturno
Fonte: Obitel Uruguai
Tabela 9. Temáticas nos dez títulos mais vistos
Títulos
TEMÁTICAS DOMINANTES
TEMÁTICAS SOCIAIS
Gravidez indesejada, homossexualidade, discriminação,
corrupção.
1
Insensato Rivalidade entre irmãos, amor e
corazón vingança.
2
Sos mi
hombre
Amor/triângulo amoroso, relaJustiça e impunidade, homossexuções familiares e de bairro, o box alidade, combate à homofobia,
e seu mundo.
igualdade de gênero e esporte.
3
Passione
Disputa pelo poder no mundo
empresarial, amor e vingança,
adultério, troca de identidade,
bastardia.
4
El Astro
Ilusionismo, amor, crime, mundo Violência doméstica, delinquência,
empresarial.
discriminação.
5
Escrito
en las
estrellas
Morte e vida após a morte,
ambição, identidade secreta,
diferenças de classe.
6
Cuchicheos
Mundo da moda, ambição, inveja Homossexualidade, prevenção/
e vingança, amnésia, identidade tratamentos de doenças, diversioculta e revelação.
dade cultural.
Trabalho
infantil,
abandono,
adoção, gravidez na adolescência,
aborto, drogadição, pedofilia, inclusão social de cegos.
Inseminação artificial, relações
intergeracionais, inclusão social,
diversidade cultural.
468 | Obitel 2013
Alcoolismo, homossexualidade,
ordem baseada em princípios
de justiça versus justiça pelas
próprias mãos, corrupção, justiça e
impunidade.
Fecundação in vitro, disputa pela
Maternidade, relações, identiguarda de filhos, novas condade secreta, diferenças de classe
figurações da família, violência
e confronto.
doméstica.
7
Herederos de
una venganza
8
Fina
estampa
9
Dulce
amor
10
Maltrata- Amor, relações de trabalho e
das
familiares.
Sociedades secretas, salvadores
e malditos, profecias e castigos,
amor e vingança, incesto.
Amor, triângulos amorosos,
bastardia, segredo, relações
familiares, diferenças sociais.
Transtornos obsessivo-compulsivos.
Violência doméstica, assédio
sexual, proxenetismo.
Fonte: Obitel Uruguai
Tabela 10. Perfil de audiência dos dez títulos mais vistos:
gênero, idade, nível socioeconômico
Gênero %
Títulos
Nível socioeconômico %
Faixas etárias %
Canal Mul- Ho- 4- 12- 18- 25- 35- 50A+
B+
60+
M+ M Mheres mens 11 17 24 34 49 59
AB-
1
Insensato Telecorazón doce
63
37
5
5
5
2
Sos mi
hombre
Teledoce
62
38
6
8
10 15 24 12 24 22 15 19 16 27
3 Passione
Teledoce
70
30
4
5
6
11 19 13 42 10 20 21 20 29
4 El astro
Teledoce
72
28
6
6
7
10 20 16 35 10 18 28 18 27
Escrito
Tele5 en las
doce
estrellas
73
27
6
5
7
12 16 14 38
9
22 16 38 16 20 22 17 25
9
15 28 20 27
Fonte: Obitel-Uruguai a partir de dados do IBOPE.
El Baño del Papa teve 156 mil espectadores, seguido por La Sociedad de la Nieve, com
141 mil e Pepita la Pistolera, com 133.500. São dados do IBOPE publicados na nota de
“Nunca se vio tanto cine nacional como en 2011”. Portal 180, 28/12/2011, www.180.
com uy
26
Ver Lucía Ibiñete, Producción de ficción nacional en televisión, Memoria de Grado,
Universidad Católica del Uruguay, Montevideo, 2007.
24
25
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 469
Teledoce
71
29
6
7
6
10 18 14 40
Herederos
Tele7
de una
doce
venganza
67
33
6
8
9
14 20 13 29 15 14 17 25 29
73
27
5
5
6
10 20 13 41 13 15 23 22 27
73
27
7
4
9
14 21 16 30 18 15 22 16 29
61
39
3
5
8
17 27 13 27 21 15 19 16 28
6
Cuchicheos
Fina
Teleestampa doce
MonDulce
9
tecaramor
lo Maltrata- Tele10
das
doce
8
7
19 22 21 32
Fonte: Obitel Uruguai, a partir de dados do Ibope
A composição da audiência mostra uma alta porcentagem feminina: entre 61% e 73% do público dos dez títulos mais vistos são
mulheres. O público masculino nunca supera 39%, e sua maior presença é registrada em títulos que vão ao ar entre o horário nobre e o
noturno. O perfil etário volta a constatar o predomínio da população
de mais de 60 anos: entre 38% e 42% da audiência desses títulos
corresponde a essa faixa etária. Outra faixa na qual se registram
porcentagens altas é entre 35 e 49 anos. Crianças, adolescentes e
jovens compõem a menor porção da audiência. Não obstante, pode-se observar que, em uma faixa que vai de um mínimo de 3% até 7%
da audiência, encontram-se espectadores que têm entre 4 e 11 anos;
também entre 4% e 9% da audiência corresponde à faixa etária de
12 a 17 anos, e nenhum desses títulos está especificamente destinado a essa população.
Com relação ao nível socioeconômico, a maior porção da audiência está situada nos três segmentos correspondentes ao nível médio. Os setores baixo e muito baixo compõem entre 25% e 32% da
audiência, mas, em todos os casos, a soma dos três segmentos médios supera essas porcentagens. Entre os setores altos, os títulos que
concentraram maior atenção foram Sos mi hombre e Maltratadas,
com 22% e 21%, respectivamente.
470 | Obitel 2013
3. A recepção transmidiática
Diferentemente de 2011, quando o Uruguai contou com uma
ficção televisiva dirigida ao público adolescente22, o que implicou
uma grande mobilização de recursos transmidiáticos, a oferta de
programas com extensões na internet em 2012 é escassa. Por outro
lado, em 2012, nenhuma das ficções nacionais conseguiu ficar entre
os dez títulos mais assistidos. Das três produções nacionais do ano,
escolheu-se estudar o caso de REC. Una serie casera, por se tratar
de uma produção nacional que, por suas personagens, sua temática
e o perfil de seus realizadores, parecia destinada a um público jovem
e, portanto, mais inclinado a participar e usar a internet. A série foi emitida pela primeira vez no canal público (TNU)
no mês de outubro de 2012, e, enquanto esteve no ar (um total de
nove episódios de frequência semanal), contou com um espaço definido dentro da página da TNU na internet. Ali era possível encontrar
uma breve descrição do argumento da ficção, os nomes de criadores
e protagonistas e o horário em que a série ia ao ar. Os capítulos de
REC podiam ser vistos em www.tnu.com.uy no mesmo horário em
que eram transmitidos pelo canal, mas os episódios não eram postados para serem assistidos posteriormente, nem estão agora dentro
do material de arquivo. A página do canal não ofereceu um espaço
determinado para fazer comentários nem um local onde a audiência
pudesse trocar ideias e opiniões. Contudo, a série contou com uma
página oficial no Facebook23, que teve um total de 1.450 “Curtir”.
Além da página oficial, há um grupo no Facebook chamado “serie rec!”24, que é aberto e onde se convida qualquer interessado a
participar como extra, fala-se sobre as locações nas quais a série é
filmada, os castings e são respondidas perguntas técnicas. O grupo
conta com 87 membros.
Dance! La fuerza del corazón, emitida pela Saeta Canal 10.
http://www.facebook.com/serieREC?fref=ts
24
http://www.facebook.com/#!/groups/390347437649601/?fref=ts
22
23
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 471
Tabela 11. A ficção transmidiática: tipos de
interação e de práticas dominantes
Ficção
escolhida
REC
Emissora
TNUCanal
5
Páginas na
internet
Tipos de interação
transmidiática
Níveis de
interatividade
Práticas
dominantes
dos usuários
Visualização no
Página oficial
momento da transda emissora
missão
Passiva
Nenhuma
Página no
Facebook
Interativa
Ativa
Comentário
Celebração
Grupo do
Facebook
Visualização
interativa
Ativa
Comentário
Fonte: Obitel Uruguai
Como mostra a Tabela 11, há atividade tanto na página quanto
no grupo do Facebook, e a prática dominante consiste na realização
de comentários. A página oficial da emissora só permite uma interatividade passiva e limitada no tempo, de modo que não há possibilidade de identificar práticas dos usuários.
O Facebook foi a rede social escolhida para a observação, que
abrangeu todos os comentários realizados desde que foi criada a página na rede social. Com um número de 1.450 amigos, o Facebook
registra cinco pessoas que falaram da página, enquanto os posts publicados foram 113. O número de “curtidas” dos posts foi de 1.361,
os comentários feitos sobre esses posts foram 122, e o número de
“compartilhamentos” chegou a 1.011. A maioria dos comentários
realizados é de pedidos de esclarecimento sobre onde é possível encontrar os episódios já transmitidos, o que demonstra o interesse
pela série e a crescente demanda por disponibilidade do produto em
outros formatos. Em resposta a isso, os administradores da página
(que provavelmente são os mesmos criadores ou produtores) explicam que os capítulos não podem ser postados em função de um
problema de direitos sobre a música. Também há perguntas sobre a
repetição de determinados episódios, mas a resposta, mais uma vez,
é negativa. Isso pode estar relacionado com a possibilidade de que a
472 | Obitel 2013
série seja novamente transmitida em sua totalidade pelo canal a cabo
Tevé Ciudad, embora, até o momento, não haja notícias nem data
estipulada para transmissão.
Os demais comentários que podem ser encontrados na página
são felicitações aos criadores da série. Os comentários expressam
entusiasmo e referências ao fato de que é possível fazer produtos de
qualidade sem repetir fórmulas usadas anteriormente nem recorrer a
personagens reconhecidos do meio:
“Uma prova de que podem ser feitas coisas muito boas neste
país, sem copiar e sem entrar na masturbação da fofoca e sem que
apareça o Negro Rada. Um abraço a toda a equipe da REC!” (Post
1 – publicado em 23 de agosto de 2012)
Outros comentários, como o que ilustra o post 2, transcrito
abaixo, estabelecem conexões com temas em debate vinculados aos
jovens. Assim, ao festejar uma produção nacional desenvolvida por
jovens, vinculam os conteúdos da ficção ao lema “ser jovem não é
crime”, associado à oposição frente à campanha levada adiante para
promover a redução da maioridade penal:
“É como ver a minha adolescência na TV, esses garotos são demais, viva as produções nacionais! – ou melhor, penharois! [jogo de
palavras aos dois principais times de futebol do Uruguai, Nacional e
Peñarol] P.S. Para todos os que acham que ser jovem não é crime, eu
convido a sentarem para pensar por 5 minutos e verem se reduzir a
maioridade penal é a forma de combater os problemas de segurança
dos cidadãos. Evidentemente, é outra forma de continuar estigmatizando minorias políticas, neste caso, os jovens” (Post 2 – publicado
em 8 de novembro de 2012).
Em toda a página, há cerca de 30 posts, e o único material disponível para assistir são os trailers do capítulo seguinte. Também é
possível encontrar na página muitas fotos: das ações promocionais,
de pontos de ônibus onde está a publicidade da série e outras do
making of.
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 473
4. O mais destacado do ano
O mais destacado de 2012 poderia ser resumido em três acontecimentos: a presença de ficção televisiva na televisão pública, o surgimento da primeira sitcom uruguaia e a aposta na convergência entre
literatura nacional e ficção televisiva em uma produção ambiciosa.
A televisão pública ofereceu uma ficção em TV aberta e duas
no canal a cabo25, o que constituiu uma novidade em relação aos
anos anteriores. Depois de quase duas décadas sem presença de ficção televisiva nacional, a TNU transmitiu REC. Essa ficção se apresenta, em seu subtítulo, como Una serie casera. A expressão aponta
para vários significados: dá conta da estratégia narrativa escolhida,
assinala o tipo de histórias que contém, mas também remete à escassez de recursos de que dispõe. Em nove capítulos, o personagem
Sebastián registra, com a câmara na mão, o que acontece dentro de
sua casa, com sua família, as saídas com seus amigos, o cotidiano.
Cada capítulo alterna histórias que se desenvolvem nesses dois âmbitos de relação: família e amigos. A estética dessa ficção simula a
de um vídeo caseiro, com seus movimentos e imperfeições, além
da aparente irrelevância de quase todas as circunstâncias gravadas.
Como diz um de seus realizadores, é uma opção estética e narrativa,
ao mesmo tempo em que surge por razões econômicas: “A série
parte da ideia de que queremos fazer algo e sabemos que quase não
temos dinheiro. O que podemos fazer com pouco dinheiro? Um vídeo caseiro.” Ao mesmo tempo, identifica-se a influência de séries
de televisão como The Office: “Dali roubamos o formato semidocumentário, no qual a câmara participa da história, e o tom naturalista
das atuações, que exploram a tensão gerada pelos momentos incômodos. Queremos levar a vida cotidiana para a televisão da maneira
mais fiel possível.”26
Um aspecto a se destacar é que se trata de uma produção de
realizadores muito jovens, entre 25 e 26 anos, e um dos raros exemContámela en colores e Laboratorio en casa. Ver partes 1 e 5 deste capítulo.
Declarações de um dos autores, Matías Ganz, transcritas na nota de Mariángel Solomita. “La tv quiere ficción. Otro cuento.” El País, 8/09/2012.
25
26
474 | Obitel 2013
plos de ficção televisiva a partir de apoios de fundos de fomento:
a série é premiada na segunda convocatória do Fundo de Fomento
Cinematográfico e Audiovisual 2009-2010 do Instituto del Cine y el
Audiovisual (Icau), na linha “Desenvolvimento de Roteiro, Série de
TV”; em 2011, obtém o prêmio na primeira convocatória do Fundo
de Fomento Cinematográfico 2011 do Icau, na categoria “Produção
de Série de TV Ficção” e, finalmente, em 2012, o apoio do programa “MVD Socio Audiovisual”, segunda convocatória, na linha
“Finalização Telessérie”27.
Não obstante, a produção ficcional mais ambiciosa de 2012 foi
a empreendida com Somos28. Nela, conjugaram-se autores prestigiosos da literatura uruguaia com uma produção audiovisual cuidadosa e de corte cinematográfico. O ciclo consistiu na adaptação de
uma novela e três contos, em um total de seis capítulos: “Cadáver
se necesita”, de Milton Fornaro, “El vigilante”, de Henry Trujillo,
“Terribles ojos verdes”, de Mario Delgado Aparaín, “Elogio de la
nieve”, de Hugo Burel29. Somos foi um dos projetos de produção
mais relevantes da Saeta Canal 10, em coprodução com a Agadu
(Asociación General de Autores del Uruguay), com participação de
profissionais vinculados ao cinema e atores que tiveram experiência
cinematográfica e televisiva. A ambientação dos espaços nos quais
REC. Una serie casera. Estreia em 13 de outubro de 2012. Transmitida aos sábados, às
21h30, pela TNU. Consistiu em nove capítulos de 25 minutos. Elenco: César Troncoso,
María Elena Pérez, Agustín Pérez, Sol Regules, Mateo Altez e Alan Ortiz protagonizam
a série como pais, irmãos e amigos de Sebastián, que aparece representado por Luis Sanguinetti. Escrita e dirigida por Matias Ganz (25 anos) e Rodrigo Lappado (26 anos). Nos
créditos, aparece a assessoria de roteiro de Carlos Tanco. Coprodução de Negro Jefe e
Buen Cine. As verbas destinadas foram de cerca de 120 mil dólares.
28
Direção de Arte: Inés Olmedo. Vestuário: Ana Domínguez. Direção de fotografia: Milton Dujó. Coordenação, produção: Mirtha Molina, María Noel García. Produção: Virginia Altlelri, Rossana Carrasco. Autora: Beatriz Carbajales. Assistente de Direção: Diego
Soto. Produção Geral: Anabela Pinilla. Direção: Eduardo Rípari. Edição e musicalização:
Martín Etchebehere, Katerina Gorbarán.
29
Embora tenha sido apresentada como uma série de unitários, e assim tenha sido classificada aqui, não se ajusta totalmente às suas regras: tanto em “Cadáver se necesita” quanto
em “El vigilante”, a ficção desenvolve-se em dois capítulos; por sua vez, “Terribles ojos
verdes” e “Elogio de la nieve” são resolvidas em um capítulo cada uma e respondem,
assim, cabalmente ao formato unitário.
27
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 475
se desenvolve a ação, a fotografia e a musicalização são alguns dos
aspectos que revelam uma cuidadosa elaboração.
Bienes gananciales é a primeira ficção nacional na qual se
aplicam as regras do gênero sitcom. Foi transmitida três vezes por
semana, depois do noticiário principal do canal, e representou uma
variedade de oferta transmidiática na internet, sendo apresentada no
teatro durante as férias de inverno.
A ficção conta a história de Gaspar e Karina, dois comunicadores que compartilham um programa de televisão. Têm duas filhas,
uma das quais nasce no primeiro capítulo e, desde aquele momento,
apresenta-se como a responsável por contar a história. Os pais do
casal, vizinhos e amigos, mais intervenções de convidados famosos, completam o espectro de personagens. O produto joga com as
relações entre realidade e ficção de tal forma que chega quase na
fronteira do reality show: os nomes dos personagens protagonistas
são os mesmos dos atores, que são, também eles, um casal midiático que já realizou vários programas de televisão e acaba de ter sua
segunda filha. Das emissoras privadas de televisão aberta, o Canal 10 é a que
nos últimos anos realizou apostas mais intensas em ficção. Entre as
ações empreendidas nessa direção, destaca-se o investimento nas
instalações do Palacio Sudamérica como espaço para o desenvolvimento dos projetos de ficção. Ali foi realizada uma atividade incomum para o contexto audiovisual uruguaio: faziam-se as gravações
de Bienes gananciales, dava-se continuidade ao projeto de Somos
e também eram gravados os capítulos de outra ficção, Historias de
diván, que acabou não indo ao ar em 2012. O conjunto dos empreendimentos mostra estratégias diferenciadas em busca de um modelo
de produção baseado em alianças com recursos estrangeiros, algumas vezes na modalidade de coprodução (como no caso de Dance,
em 2011), outras vezes contratando roteiristas e diretores argentinos, como é o caso de Eduardo Rípari30, que dirigiu Somos e Bienes
30
Foi diretor de produções argentinas como Los exitosos Pells ou Los Roldán e, no âmbito
nacional, dirigiu as duas temporadas de Porque te quiero así.
476 | Obitel 2013
gananciales em 2012, mas que já vinha cumprindo esse papel nas
produções do canal em anos anteriores.
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social
O tema do ano, ficção televisiva e memória social, está inscrito em um problema que o engloba: o das relações entre ficção e
realidade. A isso soma-se a complexidade das relações entre memória e história, e de ambas com a verdade. Carlo Ginzburg recorre a
uma metáfora muito expressiva dessas relações: “A contiguidade
entre ficção e história faz pensar nesses quadros de Magritte em
que se representa, um junto ao outro, uma paisagem e seu reflexo em um espelho quebrado”31. Não é possível, aqui, dar conta das
diversas abordagens teóricas nem da rede de discussões que essa
temática já teve. Não obstante, consideramos relevante levar em
conta a distinção aristotélica entre verdade e verossimilhança, da
qual se concluem os limites do papel da ficção na configuração da
memória social. Aristóteles diz que “não é ofício do poeta contar
as coisas como aconteceram, e sim como deveriam ou poderiam
ter acontecido, provável ou necessariamente; porque o historiador e
o poeta não são diferentes por falar em verso ou em prosa […] e a
diferença consiste em que aquele conta as coisas como aconteceram
e este como era natural que acontecessem”32. Dessa perspectiva, o
relevante para a ficção é a verossimilhança, e ela não se refere à
verdade, e sim à aparência: “contar fábulas com ares de verdade”,
nas palavras de Aristóteles. O problema fica mais complexo com
as ficções das quais tratamos porque muitas delas trabalham com
o passado histórico, razão pela qual se desdobram em um duplo registro: o do verossímil, mas também o da relação com a verdade, ao
menos no que se refere à ocorrência dos fatos.
A ficção, com sua exigência de verossimilhança, permite uma
vivificação do passado, oferecendo ao receptor a possibilidade de
GINZBURG, Carlo. El hilo y las huellas: lo verdadero, lo falso, lo ficticio. Argentina:
Fondo de Cultura Económica, 2010. p. 20.
32
ARISTÓTELES. Poética. Buenos Aires: Espasa Calpe, 1948. cap. IV, p. 43.
31
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 477
se colocar nas diferentes subjetividades dos personagens, inclusive
aqueles que nos resultam condenáveis. Tudo isso integra o repertório simbólico pelo qual se configuram as memórias coletivas, em
interação com outros relatos, como os da historiografia, do jornalismo, das memórias pessoais, dos testemunhos. Nesse sentido é que
se pode considerar a ficção televisiva como parte de um processo de
construção das memórias coletivas, já que elas não são fixas nem
inamovíveis, e sim, como assinala E. Jelin, “o coletivo das memórias é o entretecido de tradições e memórias individuais, em diálogo
com outros, em estado de fluxo constante”33.
Entre as ficções exibidas em 2012 no Uruguai, quatro propuseram maneiras diferentes de relação com o passado: Pablo Escobar:
el patrón del mal, Cuéntame, Graduados e Contámela en colores.
De todas elas, só a última é uma produção nacional, transmitida pelo
canal a cabo de televisão pública.
As duas primeiras desenvolvem suas histórias no passado e poderiam corresponder ao que a literatura sobre “a virada memorialista” designa como “a memória do trauma”, para se referir a todos
aqueles relatos, ficcionais ou não, vinculados à vivência do extermínio (com o Holocausto como referência paradigmática), à guerra,
às ditaduras, entre outros. Contudo, cada uma delas faz um trabalho
distinto sobre o passado e propõe um diferente apelo à memória.
Pablo Escobar: el patrón del mal34 recria a história do narcotraficante colombiano Pablo Emilio Escobar Gaviria em 113 capítulos.
Nessa ficção, o apelo à memória se repete explicitamente no começo
de cada capítulo: “Quem não conhece sua história está condenado a
repeti-la” é a frase que se lê sobre fundo negro. A afirmação revela
aspectos centrais da relação com os fatos traumáticos do passado:
JELIN, Elizabeth. Los trabajos de la memoria. Madrid: Siglo XXI, 2002. p. 22.
Pablo Escobar: el patrón del mal. Produção: Caracol Televisión. Direção: Carlos Moreno. Roteiristas: Juan Camilo Ferrand. Elenco: Andrés Parra, Angie Cepeda, Nicolás
Montero, Cecilia Navia, Aldemar Correa, Germán Quintero, Helena Mallarino, Christian
Tappan, Alejandro Martinez, Ernesto Benjumea, Carlos Marino, Marcela Gallego, Juancho Arango, Diana Hoyos, Vicky Hernández, Diana Neira. Transmitida por Montecarlo,
canal 4, entre julho de 2012 e abril de 2013. Alcançou um rating de 7,1 e um share de 12.
33
34
478 | Obitel 2013
por um lado, “o pânico ao esquecimento” experimentado no presente, no qual talvez se observem sintomas de desmemória, e, por outro
lado, a preocupação com o futuro, algo assim como uma espécie de
“colonização do futuro”35 a partir da lembrança, que permita não
voltar a viver o trauma. A canção que integra a abertura se desenvolve na mesma linha semântica da tensão passado-presente-futuro
que se já assinalamos: “Contarei esta história um milhão de vezes.
Nunca mais. Que não se apague da tua mente, em homenagem aos
nossos mortos que caíram vilmente.”36
As ficções como Pablo Escobar: el patrón del mal ou
Cuéntame,37 em que se representam acontecimentos históricos específicos de um país, mas que são exibidas em muitos outros, fazem
parte de um repertório simbólico e interpretativo com o qual são
formadas memórias coletivas que transcendem as fronteiras do país
de origem. Imagens ficcionais, fragmentos documentais, vivência
privada do acontecimento público, como a morte do diretor do jornal El Espectador, na primeira, ou o atentado a Carrero Blanco, ou
a morte de Franco, na segunda, circulam nas ficções e ultrapassam
fronteiras, no que Jean-Marc Ferry38 define como “o espaço público
ampliado”: um espaço fundamentalmente definido pelo marco midiático no qual os espaços públicos dos diferentes países se interpenetram, mas também seus passados e os debates que eles provocam.
Embora os gêneros informativos e documentais sejam os que mais
intensamente geram essa expansão do espaço público, as ficções
não cumprem um papel menor nesse sentido. Assim, a teledramaturgia e o cinema sobre o Holocausto, a Segunda Guerra Mundial ou os
atentados às Torres Gêmeas, entre outros fatos importantes da história, passam a integrar um universo de recursos compartilhados da
memória. Essa circulação de representações do passado, com seus
GUIDDENS, A. Modernidad e identidad del yo. Barcelona: Ed. Península, 1997.
A canção é “La última bala”, de Yuri Buenaventura.
37
Cuéntame, série da Televisión Española. Criada por Miguel Ángel Bernardeu. Produção: Grupo Ganga. Elenco: Imanol Arias, Ana Duato, María Galiana, Juan Echanove.
Transmitida por TNU. Rating: 1,9%. Share: 3%.
38
FERRY, Jean-Marc. El nuevo espacio público. Barcelona: Gedisa, 1998.
35
36
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 479
correspondentes exercícios de memória (lembrança e esquecimento,
seleção e omissão) permite a construção imaginária dos “outros”
que se mostram na ficção, e, ao mesmo tempo, o reconhecimento de
um “nós” com proximidades e distâncias com relação àqueles. Nessa direção, Ferry diz que “o espaço público pode ser entendido como
um meio privilegiado para a formação de uma identidade coletiva
por meio da apropriação da história […] uma sociedade encontra um
acesso significativo para si mesma ou para outras na […] memória
dos povos. Atualiza seu passado, familiariza-se com o das outras e,
portanto, pode aprender a reconhecer as identidades que parecem
afastadas da sua. Disso resulta certa profundidade da comunicação
social, profundidade que mal se poderia conceber sem esse espaço
público historicamente ampliado e culturalmente enriquecido”.39
Nas duas ficções de que estamos falando, propõe-se uma relação diferente com o passado histórico. Em Pablo Escobar…, a
ficção se inicia com o personagem Escobar momentos antes de seu
fim. A concretização de sua morte será vista apenas no último capítulo, mas nos primeiros trechos do primeiro capítulo se percorrem
eventos de violência do cartel de Medellín, através de imagens documentais alternadas com a recriação ficcional: um compacto que
concentra a história, para depois retomar o relato em um ponto inicial, 1959, com um Pablo Emilio criança. Aqui, o centro da narração é um personagem com existência histórica. No caso de Cuéntame, os eventos da história espanhola ocorridos durante os últimos
anos da ditadura franquista e a transição para a democracia estão
presentes nos diálogos, nas imagens que aparecem nos televisores
da série, em fragmentos documentais, mas é a família Alcántara,
seu bairro, os personagens que a ela se vinculam que constituem o
centro do desenvolvimento narrativo. A ênfase está posta nos personagens de ficção e é no transcorrer de seu cotidiano que se encarna
a recriação do passado. Há aqui um apelo a memórias conectadas: a
que se refere ao drama nacional espanhol e a que se refere a algumas
39
Idem, p. 20.
480 | Obitel 2013
transformações das sociedades contemporâneas, como a chegada da
televisão aos lares, a instalação do primeiro supermercado em um
bairro e as mudanças que isso produz em práticas de consumo e relações sociais. Trata-se de evocações que atravessam distintos planos da vida cotidiana: tanto a escuta do rádio e seu lugar na rotina
doméstica quanto o significado que tem a comida para quem viveu
a guerra e o pós-guerra, bem como o sentido de autoridade do pai de
família e o lugar das mulheres e filhos em transformação e conflito.
A ficção funciona, então, como uma “vivificação” do passado: é vivenciada por seres comuns e normais, como provavelmente é o caso
do espectador. É aí onde se conectam as diversas memórias, públicas e privadas: por exemplo, a memória constituída por uma série
de imagens que evocam o anúncio da morte e do velório de Franco
(componente de documentário) e a de como se viveu esse fato nos
distintos lares e gerações (componente ficcional).
A memória é, além disso, o enquadramento narrativo de toda
a série: a voz de um dos personagens, o Carlos adulto, evoca diferentes momentos da história que atravessa sua infância e sua adolescência. Porém, essa série tem a particularidade de colocar em jogo
memórias que transcendem o local e que se conectam com as de
outros povos, principalmente se eles tiveram forte presença de emigração espanhola, como é o caso do Uruguai. É aí que personagens
como Herminia dialogam com a memória de nossos antepassados
imigrantes, com suas histórias e seus costumes. Mas, ao mesmo
tempo, também se estabelecem conexões com a lembrança do que
era viver em ditadura, mas outras ditaduras: os medos, as práticas de
resistência, a paróquia, espaço de refúgio para organizar um grupo
para ir ao cinema e debater, ou um grupo de teatro.
No caso de Graduados40, por sua vez, a ficção aponta mais a
uma memória coletiva referente a um momento da trajetória pessoal
40
Graduados. Produção: Underground Contenidos e Endemol. Direção: Miguel Colom,
Pablo Ambrosini, Javier Pérez. Roteiristas: Ernesto Korovsky, Silvina Frejdkes, Alejandro Quesada. Elenco: Nancy Dupláa, Daniel Hendler, Luciano Cáceres, Julieta Ortega,
Isabel Macedo. Transmitida por Montecarlo. Rating: 11,1%. Share: 17%.
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 481
do que aos acontecimentos ou personagens históricos: através do
grupo central de oito personagens (os graduados), evoca-se a adolescência, em permanente conexão com o presente dos personagens,
porque ali se gestaram as relações amorosas que constituem o motor
narrativo da ficção, assim como os laços de amizade e desencontro
que se desenvolvem no presente.
A década de 1980 é o passado no qual se situam essas evocações, mas, diferentemente das outras duas ficções das quais nos
ocupamos antes, nesses casos o contexto histórico só é apresentado
com referências musicais e com a participação, em alguns capítulos, de Charly García, Fabiana Cantilo ou Fito Páez. Produz-se uma
intervenção sobre o passado despolitizando-o. Os acontecimentos
históricos dos anos 1980 são omitidos: não há nenhuma referência à
ditadura, à política argentina nem aos processos de transição para a
democracia. Os 80 são uma desculpa para situar a ficção em relação
à idade dos personagens (e dos atores que os encarnam) no presente, mais do que um tempo em si mesmo, relevante para a narração.
Não obstante, produz-se um apelo à memória do público no sentido
de que conta com o reconhecimento, por parte do espectador, de
algumas práticas adolescentes, um conjunto de tópicos consensuais
e de referências musicais que ele pode identificar como parte de
sua biografia. Os personagens evocam momentos compartilhados
de sua adolescência: cenas da viagem a Bariloche, as aulas de coral,
a festa de formatura, por exemplo, inserem-se na trama através do
flashback.
Contámela en colores. El Bicentenario visto desde Montevi41
déu é uma produção nacional em dez capítulos, que foi gerada a
partir da comemoração do Bicentenário e que pretende fazer uma
É uma produção de dez capítulos, uma iniciativa conjunta de Tevé Ciudad e da Divisão
de Informação e Comunicação da Prefeitura de Montevidéu, com apoio da Comissão de
Patrimônio do Ministério da Educação e Cultura e a Comissão do Bicentenário do Ministério de Educação e Cultura. Foi transmitida pelo canal público de TV a cabo em 2012.
Roteiro: Pablo Vierci. Direção: Nico Soto. Produção: Tevé Ciudad. Elenco: Protagonista:
Pablo Tate. Participação: Rafael Soliwoda, Graciela Gelós, Juan Saraví, César Troncoso,
Nelson Lence, Rosa Simonelli, Santiago Sanguinetti, Nicolás Ballestrino, Ileana López
e Darío Campalanz.
41
482 | Obitel 2013
recriação ficcional de alguns marcos da história da emancipação, de
1806 a 1830.
Embora se enquadre no caráter de celebração e, portanto, de
evocação que tiveram os eventos do Bicentenário, a relação com o
passado não é tanto a da memória; seu vínculo é com a história. A
série percorre as Invasões Inglesas, a Revolução de Maio e a Junta
de Montevidéu, o Grito de Asencio, a Batalha das Pedras, os dois
cercos a Montevidéu, o Êxodo e a Cisplatina, o Desembarque dos
33 Orientais e a Promulgação da Constituição de 1830 como acontecimentos centrais. Contudo, não se propõe a ser uma recriação
desses momentos do passado nem trabalha com a memória do público, como nos casos de Pablo Escobar ou Cuéntame. Em todo caso,
Contámela en colores provoca a evocação do relato histórico: a voz
do narrador em cada capítulo, com frequência encarnada por algum
dos personagens ou mais de um, reproduz um tipo de narração histórica que se costuma encontrar em um manual escolar clássico, enumerando acontecimentos, nomes e datas.
Por exemplo: o terceiro capítulo se desenvolve totalmente dentro do cenário de um armazém e o relato recai sobre o personagem
do pregoeiro que, embora em diálogo com o dono do armazém,
cumpre o papel de ir contando o Grito de Asencio ou a Batalha das
Pedras, e o faz dizendo: “passo a lhes contar que, em 11 de janeiro
de 1811, Francisco Javier de Elio chegou a Montevidéu substituindo Buenos Aires como capital do Vice-reino e jurou fidelidade a
Fernando VII como único rei da Espanha”. Mais adiante, continua a
sequência de acontecimentos e diz: “em 28 de fevereiro, inicia-se a
revolução oriental com o Grito de Asencio”. A linguagem e a forma
de designar os eventos são as convencionais dos textos escolares,
mesmo que a cada tanto sejam introduzidas algumas rupturas com
intenção humorística. As vozes narrativas mudam a cada episódio,
mas a retórica é a mesma, reforçada por letreiros com datas, nomes
e ilustrações com aparência de antigas.
A ficção é o marco para a narração do acontecimento histórico,
mas este, em si, não é recriado de maneira ficcional. Os componen-
Uruguai – Procurando um modelo sustentável | 483
tes ficcionais são os personagens42 e as situações nas quais se desenvolve o diálogo que permite a alusão ao passado histórico. Os fatos
históricos transcorrem através da palavra, com alguma alusão visual
geralmente constituída pela caracterização de algum personagem,
o percurso pelos vestígios que restam na cidade dos lugares onde
ocorreram os fatos, o uso de locações de época (como o Cabildo de
Montevidéu) ou a recriação de algum ambiente (como o armazém).
Narram-se levantes, batalhas e invasões a partir de personagens que
falam, muitas vezes em espaços fechados. Assim, a trajetória do
Êxodo se resolve mediante o diálogo de um neto que lê para a avó
as cartas da família que vai acompanhando Artigas, e toda a ficção
transcorre entre as paredes do quarto dessa avó.
O humor é proposto como uma das características dessa produção, e é através dele que se rompe a uniformidade discursiva à qual
nos referimos. Os recursos humorísticos se sustentam basicamente
sobre o uso de anacronismos, seja a utilização de expressões ou modismos que não correspondem ao século XIX, sejam referências ao
presente postas na boca de personagens daquele século ou o contraste entre personagens do passado e do presente dialogando no cenário
de uma Montevidéu atual. O anacronismo é, ao mesmo tempo, um
recurso ficcional e humorístico no qual essa produção aposta. Esse
traço se instala como chave de leitura desde o primeiro capítulo, no
qual um personagem britânico do século XIX se encontra em meio
à Montevidéu atual e é guiado por um taxista que lhe relata o que
aconteceu com os ingleses no Rio da Prata. Para isso, o recurso que
utiliza é um rádio: o evento é contado como se fosse uma partida
de futebol e rompe a solenidade da retórica de um discurso histórico. Os anacronismos se apresentam sob distintas modalidades, com
maior ou menor justificação narrativa: assim, em um capítulo, uma
professora dialoga com um personagem que sai do quadro de Juan
Manuel de Blanes, sobre o desembarque dos 33 Orientais e, em ouQuase a totalidade dos personagens (exceto a representação de Miguel Barreiro e uma
referência a Lord Ponsomby no último capítulo) são inventados para dar lugar à narração
do fato histórico.
42
484 | Obitel 2013
tros capítulos, personagens caracterizados como do passado usam
uma Ceibalita (como são chamados os computadores do Plano Ceibal, concebido para entregar um computador para cada criança) para
pesquisar informações43. Aqui, os recursos da ficção não se apegam a critérios de verossimilhança nem de veracidade. Aposta-se em produzir empatia com
o espectador fazendo alusões ao presente. Sem a escolarização do
público, o relato do acontecimento histórico que se pretende recriar
não seria compreensível.
Referências
ARISTÓTELES. Poética. Buenos Aires: Espasa Calpe, 1948.
FERRY, Jean-Marc. El nuevo espacio público. Barcelona: Gedisa, 1998.
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43
XO, ou Ceibalita, são os computadores do programa Uno a Uno, aplicado no Uruguai
desde 2007: Plano Ceibal.
12
Venezuela: da ficção em suspenso
à ficção estatizada
Autoras:
Morella Alvarado, Luisa Torrealba
Equipe:
Mabel Calderín, Carlos Arcila1
Introdução
A ficção de estreia na Venezuela teve dois elementos cruciais:
por um lado, os mais altos índices de audiência couberam ao canal
público, que apresentou conteúdos nos quais o suspense e o mistério
eram o componente estilístico principal. Junto com esse panorama,
destaca-se a difusão do primeiro produto seriado que responde aos
requisitos da “telenovela socialista” sugerida pelo presidente Hugo
Rafael Chávez Frías (HRCF), em 2010. Este último caso permite
que falemos da estatização da ficção. Por outro lado, o final do ano
de 2012 esteve marcado pela incerteza política gerada pela doença do presidente. No dia 8 de dezembro, foi transmitida sua última
fala em rede nacional, com uma duração de apenas 35 minutos e
54 segundos, na qual manifestou sua necessidade de submeter-se a
uma intervenção cirúrgica. Na mesma fala, deu instruções ao povo
venezuelano para que, em caso de ser ele inabilitado politicamente,
elegesse o vice-presidente Nicolás Maduro como presidente. Esse
1
Agradecimento especial aos estudantes da disciplina “Cultura e Mídias Massivas”,
ministrada na Escola de Artes, Menção Cinematografia, da Universidade Central da
Venezuela (2012-I), pela informação compilada. Da mesma maneira, à empresa AGB
Nielsen Media Research por sua colaboração desinteressada, particularmente à senhorita
Alejandra Cuttone. Participaram nesta pesquisa como assistentes: Nazareth Soto (UCV),
Andrea Abreu (UCAB) e Pedro de Mendonca (UCV). Especial agradecimento a Mabel
Calderín e Carlos Arcila, que realizaram as análises das Tabelas 1 a 4 e da recepção
transmidiática.
486 | Obitel 2013
ato foi denominado por alguns como “a sucessão”. HRCF ganhou o
pleito eleitoral de 7 de outubro, em uma campanha marcada por abuso, vantagem e iniquidade, expressados principalmente na desproporcional utilização de fundos públicos em seu favor. No final do
ano, as informações vinculadas à saúde do presidente foram inexatas e contraditórias, o que provocou um longo período de opacidade
informativa. Destaca-se, neste contexto, a quantidade de conteúdos
audiovisuais que foram gerados com a finalidade de ressaltar episódios de vida e conquistas do comandante da revolução bolivariana2.
Conteúdos associados a uma estratégia de comunicação que, por um
lado, buscava manter a conexão emotiva dos telespectadores com
a figura do “líder” e, por outro, reforçar o compromisso político de
seus seguidores. O Sistema Bolivariano de Mídias Públicas foi o
encarregado de executar essa estratégia.
1. O contexto audiovisual da Venezuela
Gráfico 1. Redes nacionais de televisão aberta na Venezuela
REDES PRIVADAS
(8)
Canal I
Globovisión
La Tele
Meridiano Televisión
Televen
TV Familia
Vale TV
Venevisión
REDES PÚBLICAS (5)
Fundación Televisora de la Asamblea Nacional de Venezuela. ANTV
Fundación Televisora Venezolana Social. Tves
La Nueva Televisión del Sur C.A. Tele Sur
Compañía Anónima Venezolana de Televisión. VTV
COVETEL S.A. – Vive TV
TOTAL DE REDES = 13
Fonte: Dados próprios da pesquisa – Equipe Obitel Venezuela – 2013.
2
No mês de dezembro, Vive TV estreou a série-documentário Comandante Chávez,
realizada por essa rede, que foi transmitida de maneira simultânea por Venezolana de
Televisión. Em sua primeira temporada foram transmitidos três capítulos: El arañero de
Sabaneta; La forja del soldado e La toma del cielo por assalto. A série aborda de maneira
cronológica diversos aspectos vinculados à vida do presidente Hugo Rafael Chávez Frías
(1955-2013).
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 487
Um avanço que pode ser constatado na produção de ficção na
Venezuela foi a incorporação da alta definição (HD, por sua sigla em
inglês). Assim, Televen produziu a telenovela Nacer contigo, escrita e dirigida por José Simón Escalona. Essa foi a primeira produção
dramática a usar essa tecnologia no país. Enquanto isso, Venevisión
anunciou a produção da telenovela Los secretos de Lucía, em HD,
em parceria com BE-TV e Univisión, e, contando com recursos públicos, foram produzidos os primeiros capítulos de La precursora.
Outro fato destacado foi que Germán Pérez Nahím passou a integrar
o staff do canal La Tele. Com isso, a grade de programação tornou-se mais leve e fresca, incorporando algumas telenovelas brasileiras
e colombianas. El color del pecado (2004, Brasil), Chocolate con
pimienta (2003, Brasil) e Vecinos (2008, Colômbia), conseguiram
melhorar a audiência desse canal. A elas somam-se as produções da
Coreia do Sul, apresentadas como estreias: Mi adorable Sam Soom
(2005) e Un deseo en las estrellas (2007); e as reprises: Otoño en mi
corazón (2000); Sonata de invierno (2003); Todo sobre Eva (2000)
e Una joya en el palacio (2003).
Gráfico 2. Audiência de TV por canal3
3,0%
6,0%
11,0%
39,0%
6,0%
8,0%
27,0%
Venevisión
Rede
Televen
Venevisión
39,0
VTV
Televen
27,0
Meridiano
VTV
8,0
Globovisión
Meridiano
6,0
TVES
Globovisión
6,0
Outros
%
TVES
3,0
Outros
11,0
Esses dados correspondem a aparelhos ligados, para o mês de novembro de 2012. Fonte: AGB, citada pelo site Mercadeo Interativo, disponível em: http://www.slideshare.net/
ImanComunicaciones/audiencias-noviembre
3
488 | Obitel 2013
Gráfico 3. Share por canal4
Rede
2,67% 9,54%
8,06%
43,48%
4,62%
Venevisión
43,48
Televen
Televen
31,64
Meridiano
Meridiano
4,62
Globovisión
8,06
TVES
2,67
VTV
9,54
Globovisión
TVES
31,64%
%
Venevisión
VTV
Gráfico 4. Oferta de gêneros na programação de TV
5,0%
3,0%
3,0%
8,0%
9,0%
Informativos
27,0%
Ficção seriada
Entretenimento
13,0%
14,0%
Religioso
Esportivo
15,0%
Cultural e Educativo
3,0%
Miscelâneas
Cinema
Animação
Documentário
Gêneros
Emistransmitidos
sões
Informativos
2.176
Ficção seriada
4.076
Entretenimento 2.252
Religioso
509
Esportivo
506
Cultural e
1.984
Educativo
Miscelâneas
487
Cinema
1.222
Animação
1.427
Documentário
689
15.489
Total
%
14,0
27,0
15,0
3,0
3,0
13,0
3,0
8,0
9,0
5,0
100
As estimativas do último gráfico foram feitas a partir da análise
da programação dos quatro canais que transmitiram ficção seriada.
Foi observado um aumento na quantidade de programas de ficção
difundidos, mas não do rating. Isso pode guardar relação direta com
as preferências do público pela programação ofertada pela televisão
por assinatura. Assim, enquanto o rating médio nos programas de
ficção que compuseram o top ten em 2011 foi de 5,9%, em 2012
esse indicador ficou em 4,4%. Ao mesmo tempo, a emissão de espaços informativos aumentou, principalmente porque no ano 2012
ocorreram dois processos eleitorais: as eleições presidenciais, realiOs dados aqui citados correspondem à medição de segunda a sexta-feira, para o mês
de novembro de 2012. Fonte: AGB, citada pelo site Mercadeo Interativo, disponível em:
http://www.slideshare.net/ImanComunicaciones/audiencias-noviembre
4
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 489
zadas no dia 7 de outubro de 2012, e as eleições regionais, em 16 de
dezembro de 2012. Ambos os processos, assim como o contexto de
incerteza que havia no país devido à condição de saúde do mandatário, geraram muito interesse nacional e internacional.
Tendências da audiência no ano de 2012
Assim como em anos anteriores, os índices de audiência apresentam um comportamento similar, isto é, a preferência se manteve
entre o gênero feminino, as faixas etárias são as de mais de 35 anos
e os níveis socioeconômicos são aqueles que compõem as classes D
e E. Confirmou-se que, no caso venezuelano, a telenovela tem uma
grande importância entre os hábitos de consumo das mulheres; mas,
apesar disso, não se pode afirmar que esse é um gênero exclusivo
para elas, o que fica confirmado ao revisar os espaços de interação
que são mostrados na internet – nos quais muitos dos comentários
são feitos por homens – e pela observação direta dos telespectadores
em espaços públicos, tais como cafés, bares, centros de recreação e
outros (como guaritas de vigilância).
¡Válgame Dios! tem as porcentagens mais altas de audiência
por gênero, apesar de não ter ficado com o primeiro lugar do rating.
Uma provável explicação está associada à presença de uma certa
dose de humor na trama. Dos quatro canais que transmitiram ficção
seriada em 2012, a Venevisión mantém o protagonismo, ao captar
80% da audiência. As produções nacionais só conseguiram ocupar
o 1º, o 3º e o 6º lugares no top ten. Preferem telenovelas no horário
noturno 40% dos telespectadores, e é justamente nesse horário que
são registrados os mais altos índices de audiência, dado coerente
com o share mais alto (40,3%), que foi nessa faixa de horário.
490 | Obitel 2013
Investimentos publicitários do ano: na TV e na ficção
Nº
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
Investimento publicitário na televisão durante o top ten em 2012
Quantidade de
Valor total em
Categoria
Valor em US$
anunBsF
ciantes
Alimentos e serviços de
69
1.787.007.924,00
415.583.238,14
alimentação
Vestuário e calçado
82
1.477.552.406,00
343.616.838,60
Produtos de beleza e
23
1.135.942.008,00
264.172.560,00
cosméticos
Medicamentos e serviços
49
891.744.181,00
207.382.367,67
de saúde
Governo bolivariano e
20
610.006.592,00
141.861.998,14
atividades associadas
Eletrodomésticos e lar
44
584.736.797,00
135.985.301,63
Seguros
10
473.236.435,00
110.054.984,88
Brinquedos
6
463.840.048,00
107.869.778,60
Mídias, telefonia, comuni28
432.825.619,00
100.657.120,70
cação e internet
Outros
41
331.073.463,00
76.993.828,60
Serviços financeiros
11
286.860.969,00
66.711.853,26
Redes comerciais
8
248.279.566,00
57.739.433,95
Bebidas
5
243.310.388,00
56.583.811,16
Artigos de limpeza
7
218.752.752,00
50.872.733,02
Partidos políticos
10
198.349.094,00
46.127.696,28
Indivíduos
17
126.175.449,00
29.343.127,67
Governos locais
18
109.194.918,00
25.394.166,98
Espetáculos ao vivo
24
101.897.285,00
23.697.043,02
Poder eleitoral
1
95.032.045,00
22.100.475,58
Veículos e meios de
11
94.940.957,00
22.079.292,33
transporte
Apostas e jogos
2
77.072.358,00
17.923.804,19
ONGs
13
46.552.823,00
10.826.237,91
Religiosos
2
5.480.262,00
1.274.479,53
Indústria cinematográfica
4
4.194.826,00
975.540,93
e ativ. associadas
TOTAL
505
10.044.059.165,00 2.335.827.712,79
Fonte: Dados próprios da pesquisa – Equipe Obitel Venezuela – 2013.
Como já foi registrado em oportunidades anteriores, a publicidade transmitida pelas televisões privadas (oito) mantém o mesmo
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 491
esquema: a promoção de produtos e serviços destinados a cobrir três
das principais necessidades básicas: alimentação, vestuário e saúde. Os meios de comunicação estatais continuam não transmitindo
publicidade paga e, em vez disso, transmitem conteúdos propagandísticos gratuitos, promoções dos programas dos próprios canais ou
colocam alguns spots com mensagens culturais, educativas, informativas e preventivas, sob a forma de serviço público. Em alguns
casos, estes últimos têm uma clara orientação favorável ao projeto
político do governo.
As práticas corporais de beleza através da cosmética ocupam
a terceira linha. Na Venezuela, são recorrentes as promoções de artigos e tratamentos de beleza, assim como de centros estéticos que
realizam cirurgias plásticas. Isso sem que exista um rigoroso controle sobre as condições sanitárias dos serviços que são prestados
por esses estabelecimentos. As más práticas têm resultado em danos
corporais e, inclusive, em mortes5. No início do ano, permanecia
como tema de discussão o caso de mais de 60 mil mulheres afetadas
pelo uso de próteses mamárias defeituosas, provenientes da França
e da China. Junto com o já exposto, destaca-se como elemento significativo o investimento publicitário que o governo bolivariano destina à sua autopromoção. Comparativamente, o montante destinado
para a propaganda institucional equivale a 35,1% do orçamento do
Ministério do Poder Popular para a Cultura no ano de 2012. Por
outro lado, a proliferação de serviços de segurança e de seguradoras
na publicidade reflete o impacto dos altos índices de criminalidade
e violência que vive o país. A morte violenta é um tema de saúde
pública não atendido de forma efetiva.
Um caso emblemático aconteceu em outubro de 2012, quando ocorreu o falecimento
da magistrada e presidenta da Sala de Cassação Penal do Tribunal Supremo de Justiça
(TSJ), máxima corte do país, Ninoska Queipo, devido a uma complicação derivada de
uma cirurgia estética. Somente a partir desse fato foi promulgada a norma jurídica que
proíbe o uso e aplicação de substâncias de preenchimento em tratamentos com finalidades
estéticas (Gaceta Oficial, Nº 40.065, de 05 de dezembro de 2012).
5
492 | Obitel 2013
Merchandising e Merchandising social
Cabe destacar que, segundo o art. 8 da Lei de Responsabilidade
Social em Rádio, Televisão e Mídias Eletrônicas (2010), a inserção
de publicidade está limitada “à difusão ao vivo de programas recreativos sobre eventos esportivos ou espetáculos, sempre que não perturbe a visualização dos mesmos e não ocupe mais do que uma sexta
parte da tela”6. Essa é a razão de não se encontrar merchandising ou
colocação de produto (product placement) na produção nacional de
ficção seriada. Vemos que, nos espetáculos esportivos, os principais
anunciantes são: bebidas, serviços financeiros e telecomunicações.
O merchandising social é realizado por duas vias. A primeira é por
meio das campanhas de responsabilidade social que promovem as
emissoras; a outra é por meio da inserção de conteúdos nas tramas.
No que se refere às campanhas de responsabilidade social, estas somente são realizadas de maneira explícita por Televen, Venevisión
e TV Familia. Lo bueno se pega, ponte a valer é a denominação da
campanha de valores da Televen.
No mês de maio do ano 2011, a Venevisión iniciou sua campanha de responsabilidade social denominada Somos lo que queremos.
Concebida sob diferentes formatos, destacam-se as microrreportagens, a dramatização de situações cotidianas e os videoclipes. No
caso da TV Familia, a campanha é realizada através de “microinformativos” denominados Tú decides (pequenas dramatizações sobre o
consumo de álcool e sobre o tabagismo), Cápsulas de salud e Noticias verdes (pequenos informativos). A Vale TV assume que toda a
sua programação se inscreve dentro da responsabilidade social, e o
resto das redes não menciona nada a esse respeito.
Políticas de comunicação
Ao longo do ano não foram aprovadas leis específicas que se
aplicassem ao setor da televisão. As regulamentações que continuaram vigentes para o setor são as contidas na Lei de Responsabilida-
6
Segundo a Gaceta Oficial, Nº 39.610, de 07 de fevereiro de 2011. Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 493
de Social em Rádio, Televisão e Mídias Eletrônicas (LRSRTVME,
2010), que contém disposições que poderiam gerar censura prévia,
e na Lei Orgânica de Telecomunicações (2000). O Ministério do
Poder Popular para Relações Interiores e Justiça gerou a “Missão
Segurança”, uma iniciativa para enfrentar os altos índices de criminalidade e violência que afetam a Venezuela. Em seu terceiro item,
a proposta era regular os conteúdos emitidos nas televisões, por considerar que os meios de comunicação social são responsáveis pela
violência que está sendo registrada no país. Isso gerou preocupação
entre jornalistas, acadêmicos e defensores dos direitos humanos,
que consideraram que a proposta derivaria, mais uma vez, em censura e controle da informação. Apesar de não ter se concretizado
uma regulamentação específica que estabelecesse censura sobre os
meios de comunicação, foram registradas ações judiciais e administrativas que estabeleceram censura a conteúdos vinculados à cobertura de fatos violentos ou de outros assuntos de interesse público
que evidenciavam a ineficiência da ação estatal e prejuízo à saúde e
à integridade dos cidadãos7.
Da mesma maneira, o canal Globovisión, dedicado à difusão de
informação 24 horas por dia, teve que pagar uma multa superior a
2 milhões de dólares devido à cobertura que realizou de um enfrentamento violento ocorrido em julho de 2011, no presídio El Rodeo,
localizado na periferia de Caracas8. Essa ação representou um prejuízo econômico para o canal afetado. Por exemplo, no dia 22 de março de 2012, o Tribunal 25 de Controle da Área Metropolitana de Caracas proibiu os meios de comunicação de emitirem informações vinculadas
com contaminação de fonte de fornecimento de água potável, a menos que contassem
com um relatório técnico. A Fiscal Geral da República advertiu que as míadias que não
cumprissem essa decisão do tribunal poderiam ser sancionadas, e lembrou que o Código
Penal estabelece sanções pela difusão de informação falsa, como prisão de dois a cinco
anos. Essa medida surgiu depois de os principais meios de comunicação do país terem
informado sobre um vazamento de petróleo ocorrido no rio Guarapiche (Oriente do país),
que abastece de água potável as populações próximas, e depois que organizações civis do
Estado de Carabobo (Centro do país) denunciassem a contaminação dos rios que abastecem de água as cidades dessa província.
8
Instituto Prensa y Sociedad de Venezuela, 2012b, s/n.
7
494 | Obitel 2013
Outra medida de censura relevante foi registrada durante a
campanha eleitoral. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), máximo
órgão eleitoral do país, censurou a difusão de uma propaganda de
um partido político de oposição cujo mote era “A segurança é o caminho”, que se referia ao tema da insegurança no país9. Essas restrições foram seguidas por um discurso, vindo de altos funcionários do
governo nacional, de crítica aos conteúdos de programas televisivos
que exibiam fatos violentos.
TV pública
No que se refere à ficção transmitida por sinal aberto na TV pública, destaca-se o interesse por incluir conteúdos de ficção seriada
provenientes de contextos diversos. Assim, a Televisora Venezolana Social (TVES) transmitiu as estreias Desaparición misteriosa
(1994, Japão) e Otoño en mi corazón (2000, Coreia do Sul) e as
reprises: Adolescente por naturaleza (2005, EUA, Canadá); El príncipe del café (2006, Coreia do Sul); Perfume de verano (2006; Coreia do Sul); Sonata de invierno (2003, Coreia do Sul); Vals de primavera (2006, Coreia do Sul); Trópico Amargo (2007, França) e El
último emperador (1987, China, França, Itália e Reino Unido). Este
último é um longa-metragem fracionado para a TV. A isso se soma
a transmissão da única telenovela produzida nos últimos três anos
com financiamento público. Através de uma empresa privada, Alter
Producciones10, foi realizada Teresa en tres estaciones (2012), fato
que nos permite falar neste relatório de uma estatização da ficção,
mesmo tratando-se de uma porcentagem mínima. Por outro lado,
os meios de comunicação públicos na Venezuela não mudaram sua
condição de mídias do governo, uma vez que são utilizados como
mecanismo aberto de propaganda.
Embora, do ponto de vista quantitativo, os meios de comunicação privados se destaquem em relação aos públicos, vemos que
Instituto Prensa y Sociedad de Venezuela, 2012c, s/n.
Essa empresa produziu, nesse mesmo esquema, Caramelo e´chocolate (2008), para a
TVES.
9
10
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 495
do ponto de vista do alcance territorial essa relação se modifica. A
isso se soma a quantidade e a variedade de televisões comunitárias
(43 no total) que, apesar de estarem fora do escopo deste estudo,
fazem parte do universo audiovisual venezuelano. Embora algumas
contem com uma trajetória de mais de duas décadas, muitas se consolidaram nos últimos anos, a partir da promulgação da Lei Orgânica de Telecomunicações (2000) e do Regulamento de Radiodifusão
Sonora e Televisão Aberta Comunitárias de Serviço Público, sem
fins lucrativos (2002). As características do movimento de mídias
comunitárias e alternativas na Venezuela contam com poucas referências no contexto latino-americano. Seu impacto sociopolítico e
cultural é inegável, principalmente por três razões: 1. a formação de
comunicadores populares; 2. os trabalhos de alfabetização midiática
e empoderamento de indivíduos e coletivos; e 3. a infraestrutura e
o equipamento que manejam. Além disso, há as denúncias que, a
partir de diversos espaços, têm sido feitas por sua explícita adesão
ao projeto político de HRCF e sua utilização como janela propagandística. As televisões comunitárias oferecem hoje um saldo organizativo, formativo e criativo que é necessário estudar e compreender.
TV por assinatura
A televisão por assinatura atingiu em 2012 uma penetração de
47,1%, equivalente a 7.209.370 lares. Esse serviço, prestado por um
total de 181 empresas (Conatel, 2013c), representou um crescimento do setor de 7,6% em relação ao ano de 2011 (39,5%). Esse setor
consolidou-se no país devido à ausência de uma oferta plural na televisão aberta, capaz de garantir conteúdos variados, especialmente
os relacionados com a produção de ficção seriada. Em outubro de
2012, a direção da Comissão Permanente do Poder Popular e Meios
de Comunicação da Assembleia Nacional (Poder Legislativo) anunciou sua intenção de regular os conteúdos, o funcionamento e os
custos do serviço (tarifas). Da mesma maneira, a comissão regula
a inclusão de programação nacional e, em particular, de Produções
Nacionais Independentes (PNI), por meio do Projeto de Lei para a
496 | Obitel 2013
Prestação de Serviço de Televisão por Assinatura, que foi incluído
em sua agenda. Poucos dias depois, os próprios parlamentares desmentiram a elaboração da lei e explicaram que a responsabilidade
de abordar a matéria das televisões por assinatura era da Comissão
Nacional de Telecomunicações (Conatel), vinculada à Vice-Presidência Executiva da República.
Durante o período, o governo nacional continuou oferecendo o
serviço de televisão paga, por meio da empresa CANTV. O serviço
da CANTV Televisión Satelital é oferecido por um custo inferior ao
de outras empresas do setor. Contudo, sua oferta de canais é menor e
não inclui, por exemplo, a Globovisión, que mantém uma linha editorial crítica em relação à gestão governamental. Os canais de sinal
aberto também estão incluídos na oferta de televisão por assinatura,
sendo essa a razão pela qual os conteúdos de ficção nacional de estreia são transmitidos por essa via. É possível afirmar que a janela da
ficção seriada produzida na Venezuela, com alcance internacional,
corresponde a Venevisión plus +, que durante o ano de 2012 transmitiu Ciudad bendita (2006).
Tendências das TICs
A penetração da internet no fechamento do ano de 2012 atingiu a cifra de 42,1%11, de acordo com os dados preliminares da
governamental Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel). Isso implica um aumento de 1,7% em relação ao ano anterior,
quando teve uma penetração de 40,4%. O crescimento do período
foi inferior ao registrado entre os anos 2010 e 2011, quando foi de
2,8%12. O próprio presidente da estatal Companhia Anônima Nacional de Telefones da Venezuela (CANTV), Manuel Fernández,
Esse dado corresponde às cifras preliminares para o fechamento de 2012 da Comissão
Nacional de Telecomunicações, que se baseia na Pesquisa Trimestral Agregada dos Principais Indicadores do Setor.
12
Essa desaceleração no crescimento pode estar vinculada com as falhas do fornecimento
do serviço no país, vinculadas à largura de banda. De acordo com o Next Index (http://netindex.com/download/allcountries/), a Venezuela está localizada na antepenúltima posição na América Latina devido à lentidão de sua conexão, abaixo do Haiti e acima apenas
de Suriname, Nicarágua e Bolívia.
11
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 497
admitiu em maio de 2012 que o padrão de velocidade da internet
no país é de 0,71 megabytes (MB)13. A penetração da internet chegou a uns 12.555.010 usuários (Conatel, 2013a) e não chegou a beneficiar sequer a metade da população venezuelana, que, segundo o
Instituto Nacional de Estatísticas (INE), era de 29.718.357 pessoas
em 2012 (INE, 2013). Em compensação, foi registrado um aumento
no número de empresas que oferecem serviço de internet, as quais
chegaram a ser 43 em 2012 (Conatel, 2013a). Do total de assinantes
do serviço de internet, 54,9% (2.020.623) foram residenciais, 6,5%
(239.499) foram não residenciais e 38,5% (1.419.754) conectam-se
na modalidade de internet móvel (Conatel, 2013b). O maior número
de usuários foi de residenciais, seguidos pelos que optaram pela conexão na modalidade de internet móvel, que vem crescendo no país.
Essa tendência é aproveitada pelas emissoras de TV venezuelanas, que incorporam conteúdos vinculados à ficção seriada de produção nacional em seus sites na internet. Assim, por exemplo, a
telenovela Mi ex me tiene ganas conta, em seu portal14, com um espaço chamado “Exclusivo web”, no qual o público pode ter acesso,
ao vivo e em transmissão gravada, à Twittcam com os protagonistas.
Da mesma maneira, são ofertados: um “por trás da câmara” da estreia para a imprensa; um programa especial exclusivo transmitido antes do primeiro capítulo da telenovela; entrevistas exclusivas
com os atores; “por trás das câmaras” das gravações e um espaço
denominado “Fique em dia”, que apresenta resumos dos últimos capítulos transmitidos. Além disso, o canal incorporou os três finais
alternativos que foram desenvolvidos para essa telenovela, com a
finalidade de gerar maior intriga e atração pelo desenlace. Além disso, essa última constitui uma estratégia que permitiria comercializar
a telenovela em diferentes países, oferecendo o valor agregado de
que cada um pudesse escolher a identidade do assassino em série
que constituía o fio central da trama, de acordo com a aceitação dos
personagens e as preferências dos públicos locais. 13
14
Fernández, 2012, s/n.
http://www.venevision.net/programa/mi-ex-me-tiene-ganas/exclusivo-web
498 | Obitel 2013
Em relação ao desempenho da telefonia celular, em 2012 esse
segmento teve uma penetração de 106%. Isso indica que, na Venezuela, o número de linhas celulares (31.732.781, no total) é maior
que o número de habitantes. Em novembro de 2012 foi contabilizada uma penetração de 32% de telefones inteligentes (mais de 6
milhões de aparelhos)15, o que deixa a Venezuela em primeiro lugar
na América Latina.
2. Análise do ano: a ficção de estreia nacional e ibero-americana
Tabela 1. Ficções exibidas em 2012
3.
ESTREIAS: 48
VENEVISIÓN: 4 Títulos
Nacionais
El árbol de Gabriel (Telenovela)
Mi ex me tiene ganas (Telenovela)
Natalia del mar (Telenovela)
4.
¡Válgame Dios! (Telenovela)
1.
2.
1.
2.
3
5
6
7
8
9
10
11
12
13
15
VENEVISIÓN: 13 Títulos
Importados
Abismo de pasión (Telenovela)
México
Amor bravío (Telenovela)
México
Amores verdaderos (Telenovela)
México
Carita de ángel (Telenovela)
México
¿Dónde diablos está Umaña?
(Minissérie) Colômbia
El laberinto (Série) Colômbia
El secretario (Telenovela)
Colômbia
Emperatriz (Telenovela) México
La teacher de inglés (Série)
Colômbia
Herrera, citado por Lozano, 2012, s/n.
4
5
6
7
8
9
REPRISES: 38
VENEVISIÓN: 2 Títulos Nacionais
Corazones extremos (Série)
Mujeres con historia (Série de
Unitários)
VENEVISIÓN: 7 Títulos Importados
A corazón abierto (Telenovela)
Colômbia
A mano limpia (Telenovela) Colômbia
El Chapulín Colorado (Série)
México
El Chavo (Série) México
La Rosa de Guadalupe (Série de
Unitários) México
Mujeres al límite (Série de unitários) Colômbia
Pequeños gigantes (Sketchs) México
TVES: 5 Títulos Nacionais
10
Aprendiendo con la música (Série
11
Caramelo e´chocolate (Telenovela)
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 499
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
La traicionera (Telenovela) Colômbia
La que no podía amar (Telenovela) México
Los exitosos Pérez (Minissérie)
México
Retrato de una mujer (Telenovela) Colômbia
TVES: 3 Títulos Nacionais
Hotel de locura (Minissérie)
Nos vemos en el espejo (Série)
Teresa en tres estaciones (Telenovela)
TVES: 1 Título Importado
India, una historia de amor
(Telenovela) Brasil
15
TVES: 1 Título Importado
La oveja negra (Série) Uruguai
TELEVEN: 3 Títulos Nacionais
16
Mi gorda bella (Telenovela)
17
18
Rosas y espinas (Telenovela)
Toda una dama (Telenovela)
Nacer contigo (Telenovela)
20
21
22
Amar de nuevo (Telenovela) México
23
Amor, mentiras y videos (Série)
Colômbia
24
Cielo rojo (Telenovela) México
25
Lo que callamos las mujeres (Série
de unitários) Méx.
26
Padres e hijos (Série) Colômbia
27
Tu voz estéreo (Série de unitários)
Colômbia
TELEVEN: 12 Títulos Importados
Corazón Valiente (Telenovela)
EUA
Deseos de mujer (Telenovela)
Colômbia
Dos hogares (Telenovela)
México
El encantador (Telenovela)
México
La casa de al lado (Telenovela)
EUA
Luna roja (Telenovela) Portugal
Mi corazón insiste en Lola Volcán
(Telenovela) EUA
Por ella… soy Eva (Telenovela)
México
Relaciones peligrosas (Telenovela) EUA
Tres milagros (Telenovela)
Colômbia
33
La única opción (Minissérie)
19
Los canarios (Série) Colômbia
32
14
TELEVEN: 1 Título Nacional
29
31
13
Crónicas extraordinarias (Série de
unitários)
Historias del más acá (Série de
unitários)
TELEVEN: 9 Títulos Importados
A cada quien su santo (Série de
unitários) México
Agua en la boca (Telenovela) Brasil
Alguien te mira (Telenovela) EUA
28
30
12
LA TELE: 4 Títulos Nacionais
28
Emperatriz (Telenovela)
29
La llaman Mariamor (Telenovela)
30
La traidora (Telenovela)
31
Sirena (Telenovela)
500 | Obitel 2013
34
Un sueño llamado salsa (Série)
Colômbia
LA TELE: 2 Títulos Importados
35
36
37
38
39
LA TELE: 5 Títulos Importados
Chocolate con pimienta (Telenovela) Brasil
El color del pecado (Telenovela)
Brasil
Historias de hombres sólo para
mujeres (Série) Col.
Las profesionales (Série) Colômbia
Vecinos (Série) México
32
Frecuencia 04 (Série) Argentina
33
Lalola (Telenovela) Peru
34
Los Roldán (Telenovela) Argentina
COPRODUÇÕES – Reprises
35
40
41
42
43
44
45
46
47
48
COPRODUÇÕES – Estreias
VENEVISIÓN: 9 Títulos
Corazón apasionado (Telenovela) Venezuela-EUA
El talismán (Telenovela)
Venezuela-EUA
Los años dorados (Série)
Venezuela-EUA
Los caballeros las prefieren
brutas (Telenov) EUA-Col
Si me miran tus ojos (Telenovela)
Venezuela-EUA
TELEVEN: 4 Títulos
Amor sin barreras (Telenovela)
EUA-México
Dulce amargo, así es el amor
(Telenovela) Venezuela-EUA-México
36
VENEVISIÓN: 1 Título
Mentes en shock (Série) EUA-Colômbia
TELEVEN: 3 Títulos
Decisiones (Série de Unitários)
EUA-Colômbia
-México-Porto Rico
37
ISA TK+ (Série juvenil) Venezuela-EUA-Colômbia
38
Los Barriga (Série) Equador-Peru
TOTAL GERAL DE TÍTULOS
EXIBIDOS: 86
Flor salvaje (Telenovela) EUA-Colômbia
Rosa Diamante (Telenovela)
EUA-México
Fonte: Dados próprios da pesquisa – Equipe Obitel Venezuela – 2013.
A exibição de ficção televisiva na Venezuela ao longo do ano
de 2012 limitou-se a um total de 86 títulos. Isso representou uma
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 501
diferença de 16 títulos, para menos, em relação ao ano anterior (102
títulos). Dos 86 títulos exibidos no país, 38 (41,1%) foram reprises
e 48 (55,8%), estreias. Somente 22 títulos, ou 25,5% da ficção total
exibida, foram produzidos na Venezuela. Desse número, apenas oito
títulos correspondem a estreias. Os dados registrados na Tabela 1 dão
conta de uma diminuição progressiva do investimento nacional destinado à produção de ficção. Venevisión e Televen, com 32 títulos
cada, destacam-se como principais divulgadores da ficção seriada.
No caso da Venevisión, somente quatro títulos (12,5% do total exibido no canal) correspondem à ficção de estreia nacional, enquanto
a Televen exibiu apenas 1 (3,1%). A Televisora Venezolana Social
(TVES) estreou somente três dos dez títulos de ficção que exibiu. E
apesar de a La Tele ter exibido 12 títulos, nenhum foi estreia. Tampouco o número de produtos importados que foram exibidos em
2012 é muito significativo, embora supere a produção nacional de
ficção. Assim, foram importados 31 títulos de estreia (36,0%) e 20
reprises (23,0%). Por outro lado, somente Televen e Venevisión exibiram coproduções, das quais nove foram estreias e quatro reprises.
A TVES, um canal de serviço público que anuncia que 48% de sua
programação vem de contribuições dos Produtores Nacionais Independentes (PNI), exibiu cinco títulos de ficção localizados no âmbito
Obitel. Deles, quatro correspondem a estreias (um importado) e um
a reprise, também importado. O tempo de transmissão de ficção seriada nacional da TVES foi de 17 horas e 30 minutos. Isso representa
2,1% do total de horas da produção nacional (783 horas).
Tabela 2. A ficção de estreia em 2012: países de origem
País
Títulos
%
Capítulos/
Episódios
%
Horas
%
783:00
21,5
NACIONAL (total)
13
22,4
1.081
16,5
IBERO-AMERICANA
(total)
45
77,5
3.862
83,5
Argentina
0
0
0
0
0
0
Brasil
3
5,2
260
5,9
145:00
3,9
Chile
0
0
0
0
0
0
2.874:10 78,5
502 | Obitel 2013
Colômbia
15
26,3
1.349
30,8
1.039:00
28,4
Equador
0
0
0
0
0
0
Espanha
0
0
0
0
0
0
EUA (produção hispânica)
13
22,8
1.162
24,2
821:10
22,4
México
13
21,0
1.069
21,8
855:00
23,3
Peru
0
0
0
0
0
0
Portugal
1
1,7
22
0,5
18:00
0,3
Uruguai
0
0
0
0
0
0
VENEZUELA
13
22,8
1.081
16,5
783:00
21,4
58
100
4.943
100,0
4.572:00
100
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
58
100
4.943
100
3.657:00
100
Latino-americana (âmbito
Obitel)
Latino-americana (âmbito
não Obitel)
Outras (produções e coproduções
de outros países latino-am./
ibero-am.)
TOTAL
Fonte: Dados próprios da pesquisa – Equipe Obitel Venezuela – 2013.
A ficção que se exibe na Venezuela segue o mesmo padrão de
anos anteriores quanto a país de origem. Segundo é possível observar na Tabela 2, há clara preferência pela produção latino-americana, dado que 58 dos títulos (100%) vêm da parte dessa região
circunscrita ao âmbito Obitel. Com respeito aos países nos quais
se origina a ficção que se transmite na Venezuela, destaca-se, em
primeiro lugar, a Colômbia, país vizinho, com 15 títulos. A seguir,
aparecem o México, os EUA (produção hispânica) e a Venezuela,
com 13 títulos cada país. Depois, há três produções brasileiras e uma
de Portugal.
O número de coproduções em 2012 manteve-se em 13, igual
a 2011. Delas, nove produções foram estreias. A Venezuela participou em cinco coproduções de estreia, quatro com os EUA e uma
com os EUA e o México. Outras coproduções transmitidas na Venezuela vêm de EUA-Colômbia (duas estreias e uma reprise), EUA-México (uma estreia), EUA-Colômbia-México-Porto Rico (uma
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 503
reprise) e Equador-Peru (uma reprise). Aqui, torna-se evidente que
o fluxo da transnacionalização dos mercados continua sendo liderado pelas indústrias norte-americana e colombiana. Países do âmbito
Obitel, como Argentina, Chile, Equador e Espanha, não conseguiram introduzir suas produções no mercado venezuelano em 2012. Já
no relatório anterior, foram indicadas algumas razões que poderiam
justificar a preferência pelas produções colombianas. Outros dois
títulos, coproduzidos por Colômbia-EUA, fazem com que o número
de produções de origem colombiana exibidas no país chegue a 17.
1.081
TOTAL
100,0
30,1
783:00
272:00
216:00
295:00
0
H
3.862
928
1.078
1.854
2
C/E
H
694:00
876:00
1.136:00
77:00
100,0 2.783:00
24,0
28,0
48,0
0,05
%
Ibero-Americanas
%
100,0
24,9
31,4
40,9
2,8
13
Títulos
9
2
2
0
0
0
0
100,0
69,4
15,3
15,3
0
0
0
0
%
1.081
100,0
Nacionais
Cap./
%
Ep.
1.045
96,8
9
0,8
27
2,4
0
0
0
0
0
0
0
0
664,6
641
4,1
27
0
0
0
0
Horas
100,0
97,1
0,6
2,3
0
0
0
0
%
45
Títulos
36
5
2
0
1
0
1
100,0
80,1
11,1
4,5
0
2,2
0
2,2
%
4.943
1.254
1.513,1
2.173,5
2
C/E
%
25,4
30,7
43,9
0,04
100,0
Total
3.862:20
100,0
Ibero-Americanas
Cap./
%
Ep.
3.268
84,8
263:20
6,8
27
0,6
0
0
195
5,0
0
0
109
2,8
Tabela 4. Formatos da ficção nacional e ibero-americana
Fonte: Dados próprios da pesquisa – Equipe Obitel Venezuela – 2013.
TOTAL
Telenovela
Série
Minissérie
Telefilme
Unitário
Docudrama
Outros (soap opera etc.)
Formatos
34,7
27,6
37,7
0
%
100,0
Fonte: Dados próprios da pesquisa – Equipe Obitel Venezuela – 2013.
326
Noturno (22:00 – 06:00)
40,3
29,6
319,5
435,1
Tarde (12:00 – 19:00)
0
%
Nacionais
0
C/E
Horário nobre (19:00 – 22:00)
Manhã (06:00 – 12:00) Faixas de horário
Tabela 3. Capítulos/Episódios e horas emitidos por faixa de horário
H
2.874:10
2.438:10
205:00
19:00
0
125:00
0
88:00
Horas
3.566:00
966
1.092:00
1.431:00
77:00
%
100,0
85,0
7,1
0,6
0
4,3
0
3,0
%
100,0
27,1
30,7
40,1
2,1
504 | Obitel 2013
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 505
Tradicionalmente, na Venezuela, a ficção de estreia nacional
ocupa os horários nobre e noturno. Contudo, de acordo com a Tabela 4, em 2012 manteve-se uma alta porcentagem nesses horários,
mas o horário da tarde superou em 3% o número de horas do noturno
e em 10% o horário nobre. A mesma coisa ocorreu com a ficção de
origem ibero-americana, segmento em que a diferença aumentou:
19% mais horas à tarde que no horário noturno e 9% mais que no
horário nobre. Se a análise for feita sobre o número de capítulos/episódios, a tendência é bastante similar: note-se que somente no caso
das produções nacionais o horário nobre supera em 11% o número
de capítulos emitidos no horário da tarde, mas, no total, a porcentagem maior fica com o horário da tarde, com 44% frente aos 56% dos
capítulos/episódios emitidos nos outros dois horários juntos.
Na Venezuela, a telenovela continua sendo o formato de ficção
mais destacado. Seja de produção nacional ou ibero-americana, a
verdade é que – segundo se observa na Tabela 4 – esse tipo de programação ocupa o primeiro lugar tanto no que se refere a horas de
transmissão (97,1% destinados a programação nacional e 84,8% a
programação ibero-americana) quanto ao número de títulos (69,2%
são nacionais e 81,8% são ibero-americanos) e capítulos/episódios
exibidos (96,7% nacionais e 84,6% ibero-americanos). A série é o
formato que se mantém no segundo lugar no país, mas sua exibição
resulta pouco significativa em comparação com a telenovela.
Tabela 5. Formatos da ficção nacional por faixa de horário
Formatos
Telenovela
Série
Minissérie
Telefilme
Unitário
Docudrama
Outros (soap
opera etc.)
TOTAL
MaTar%
nhã
de
%
Horário
nobre
%
Noturno
%
Total
%
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
3
0
0
0
0
0
23,0
0
0
0
0
0
4
2
0
0
0
0
30,8
15,4
0
0
0
0
2
0
2
0
0
0
15,4
0
15,4
0
0
0
9
2
2
0
0
0
69,2
15,4
15,4
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
3
100,0
6
46,2
4
30,8
13
100,0
Fonte: Dados próprios da pesquisa – Equipe Obitel Venezuela – 2013.
506 | Obitel 2013
Assim como no ano anterior, na Venezuela prevaleceram as
produções de ficção no formato de telenovela. As histórias de longo
alcance, a construção narrativa das tramas, a evolução dos personagens e a busca de um desenlace não apenas resultam interessantes para as redes de televisão, que podem garantir durante meses
a audiência de um público cativo, mas também para esse público,
que espera, dia após dia, seguir a evolução das histórias e construir
suas próprias hipóteses, alternativas ou soluções para os dramas dos
personagens.
Tabela 6. Época da ficção
Títulos
%
Presente
Época
47
97,9
de Época
1
2,1
Histórica
0
0
Outra
0
0
TOTAL
48
100,0
Fonte: Dados próprios da pesquisa – Equipe Obitel Venezuela – 2013.
Mais uma vez, a época da ficção concentra-se no presente, e
apenas uma porcentagem muito reduzida está contextualizada em
outras épocas. A ficção histórica continua sem aparecer nas telinhas
venezuelanas, apesar de a produção nacional ter vários projetos realizados com um importante investimento econômico e que serão
transmitidos ao longo de 2013.
Tabela 7. Os dez títulos mais vistos: origem, rating, share
Título
País de origem da ideia
original ou
roteiro
Produtora
Canal
1
Mi ex me
Venezuela
tiene ganas
Venevisión
2
Flor salvaje
Radio
Televisión
Televen
Interamericana
EUA
Venevisión
Nome do
roteirista
ou autor da
ideia original
Rating
Martín Hahn
5,38 40,17
Laura Restrepo
5,12 38,16
Share
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 507
3
¡Válgame
Dios!
Venezuela
Venevisión
Venevisión
4
La casa de
al lado
Chile
Telemundo
Televen
5
La traicionera
Argentina
FOX
TeleColombia
Venevisión
6
Natalia del
Venezuela
Mar
Venevisión
Venevisión
Alberto
Gómez
7
Abismo de
pasión
Televisa
Venevisión
Caridad Bravo
4,06 32,49
Adams
8
La que no
EUA
podía amar
Televisa
Venevisión
Delia Fiallo
3,99 29,54
9
Emperatriz Venezuela
TV
Azteca
Venevisión
José Ignacio
Cabrujas
3,81 34,52
10
Retrato de
una mujer
Venevisión
Mónica Agudelo
3,74 32,94
México
FOX
TeleColombia
Total de produções: 10
Colômbia
100%
Mónica Montañéz
José Ignacio
Valenzuela
Guiraldes
Adrián Suar,
Faber Soto,
Aura Niño
e Rodrigo
Holguín
4,67 32,38
4,64 39,34
4,57 40,32
4,44 30,71
Roteiros estrangeiros: 6
60%
Fonte: Dados próprios da pesquisa – Equipe Obitel Venezuela – 2013.
O apelo feito pelos escritores ao público foi especialmente importante este ano, quando foram oferecidas histórias inovadoras, que
romperam com os padrões tradicionais da protagonista doce, casta e
estilizada. Assim, Mi ex me tiene ganas foi protagonizada por uma
jovem atriz cuja aparência se afasta da figura esbelta das modelos
ou participantes de concursos de beleza. Isso conseguiu provocar
uma ligação com o público, por ela ser mais parecida ao fenótipo
curvilíneo da mulher latina e por sua extraordinária qualidade como
atriz. Além disso, a história apresentada convidava o telespectador
a seguir as pistas e os indícios para tentar adivinhar a identidade do
assassino em série. Por outro lado, a telenovela que ocupou o segundo lugar no top ten, Flor salvaje, apresentou uma protagonista que
evoluiu e passou de uma jovem doce, casta e com porte de modelo
a uma mulher que entrou para o mundo da prostituição para ganhar
o sustento diário e cuidar de suas irmãs, pelas quais era responsável.
508 | Obitel 2013
Tabela 8. Os dez títulos mais vistos: formato,
duração, faixa de horário
Nº de
Datas da
cap./ep. primeira e da
(em
última emissão
2012)
(em 2012)
Mi ex me tieDrama/mis16/05/2012
1
Telenovela
170
ne ganas
tério
05/12/2012
Drama/ro19/10/2011
2 Flor salvaje Telenovela
101
mance
16/04/2012
¡Válgame
Comédia
13/03/2012
3
Telenovela
179
Dios!
romântica
03/10/2012
La casa de
Drama/ro26/10/2011
4
Telenovela
113
al lado
mance
14/05/2012
La traicioDrama/ro27/02/2012
5
Telenovela
190
nera
mance
21/12/2012
Comédia/
Natalia del
28/06/2011
6
Telenovela drama/ro61
Mar
12/03/2012
mance
Abismo de
Drama/ro15/05/2012
157
7
Telenovela
pasión
mance
19/11/2012
La que no
25/10/2011
Drama/roTelenovela
115
8
podía amar
14/05/2012
mance
07/08/2012
9 Emperatriz Telenovela
Drama
121
(cont.)
Retrato de
01/10/2012
Drama/roTelenovela
67
10
una mujer
(cont.)
mance
Fonte: Dados próprios da pesquisa – Equipe Obitel Venezuela – 2013.
Título
Formato
Gênero
Faixa de
horário
21:00 –
22:00 pm
21:00 –
22:00 pm
2:00 –
3:00 pm
22:00 –
23:00 pm
21:00 –
22:00 pm
02:00 –
03:00 pm
01:00 –
02:00 pm
01:00 –
2:00 pm
03:00 –
04:00 pm
01:00 –
02:00 pm
O gosto pelo humor é uma qualidade que caracteriza o venezuelano típico. Assim, do conhecido trocadilho a eventos da vida
pública nacional – como um erro no uso da linguagem cometido
por um funcionário público, por exemplo –, tudo é motivo de piadas
que circulam pela internet, pelos telefones e estão no discurso boca
a boca. A telenovela ¡Válgame Dios! recorreu ao uso de uma frase
cotidiana utilizada para expressar surpresa ou resignação e apresentou uma história fresca e divertida. Os personagens mais populares
foram Gamboa e Marbelis. O primeiro caracterizava-se por ser galante, atraente e pícaro, alguém capaz de manter três relacionamentos amorosos de maneira paralela. E Marbelis (conhecida como Santa Marbelis), que aparentava ser uma mulher amorosa, abnegada e
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 509
muito religiosa, mas na verdade era uma mulher vingativa, perversa,
capaz de assassinar seus inimigos. Da mesma maneira, a telenovela
que ocupou o quarto lugar, La casa de al lado, reuniu elementos de
suspense e mortes que capturaram a atenção do público.
Tabela 9. Temáticas nos dez títulos mais vistos
Títulos
TEMÁTICAS DOMINANTES
(ATÉ CINCO TEMAS MAIS
IMPORTANTES)
Resolução de crimes, desenvolvimento de práticas profissionais
jurídicas, revelação de identidade, vingança.
TEMÁTICAS SOCIAIS
(ATÉ CINCO TEMAS MAIS
IMPORTANTES)
Prostituição, adições, gravidez
não desejada.
Velhice, gravidez não desejada, doenças mentais, adições,
insegurança cidadã.
1
Mi ex me
tiene ganas
2
Flor salvaje
Amor, discórdia, relações familiares em conflito, bastardia.
3
¡Válgame
Dios!
Bastardia, relações familiares em
Gravidez indesejada, doenças.
conflito, amor, humor, vingança.
4
La casa de
al lado
5
La traicionera
6
Natalia del
Mar
7
Abismo de
pasión
8
La que no
podía amar
9
Emperatriz
10
Retrato de
una mujer
Resolução de crimes, práticas
profissionais jurídicas, revelação
de identidade, relações familiares
em conflito.
Resolução de crimes, práticas
profissionais jurídicas, vingança,
bastardia.
Amores contrariados, infidelidade, vingança, revelação de
identidade, bastardia.
Vingança, assassinatos, práticas
profissionais jurídicas, relações
familiares.
Vingança, amores contrariados,
desenvolvimento de práticas
profissionais jurídicas.
Bastardia, vingança, amor,
resolução de crimes, práticas
profissionais jurídicas, revelação
de identidade.
Amor, relações familiares.
Insegurança cidadã, doença,
adições, desvalorização das
relações familiares.
Doenças mentais, perda de
valores morais, destruição de
relações familiares.
Adições, gravidez indesejada,
diferenças entre classes sociais,
superação pessoal, paisagens
naturais.
Perda de valores morais,
gravidez indesejada, vícios,
imigração, doenças.
Bigamia, vícios, imigração
Adições, doenças mentais,
gravidez não desejada, relações
familiares em conflito.
Relações familiares em conflito, perda de identidade pessoal.
Fonte: Dados próprios da pesquisa – Equipe Obitel Venezuela – 2013.
510 | Obitel 2013
No que se refere à inserção de conteúdos nas tramas, vemos as
seguintes constantes presentes nas três produções nacionais de estreia que chegaram ao top ten: gravidez indesejada, vícios e doenças
mentais. No ano de 2012, a Venezuela ocupou o primeiro lugar na
América do Sul16 em gravidez não planejada e teve um alto índice
em gravidez precoce. Esse tema é tratado, de maneira indireta, em
Natalia del Mar, ¡Válgame Dios! e Mi ex me tiene ganas. Por outro
lado, observa-se um incipiente interesse por mostrar as paisagens
naturais do país e, com isso, promover de maneira indireta o turismo. Playa Esperanza e Mar Encantado são dois povoados fictícios
que, lamentavelmente, ao não serem referenciados de maneira direta
na geografia venezuelana, perdem sua possibilidade de promoção,
com o que a estratégia se debilita.
Tabela 10. Perfil de audiência dos dez títulos mais assistidos:
gênero, idade, nível socioeconômico
Títulos
Canal
Gênero
%
M
H
Faixas etárias %
4-7 8-11
Venevi- 6,41 4,33 3,08
sión
Tele6,80 3,94 2,33
ven
Ve¡Válganevi- 7,36 4,26 4,03
me Dios!
sión
La casa
Telede al
6,05 3,39 1,94
ven
lado
VeLa trainevi- 5,44 3,72 2,73
cionera
sión
VeNatalia
nevi- 6,94 4.67 4,68
del Mar
sión
AbisVemo de
nevi- 6,34 3,70 2,93
pasión
sión
Mi ex
me tiene
ganas
Flor
salvaje
Nível socioeconômico %
12- 18- 25- 35- 4555+ AB
17 24 34 44 54
C
D
E
3,61 4,80 4,99 4,11 5,90 6,92 7,63 1,47 2,96 4,46 8,19
3,83 3,36 4,49 3,61 6,88 8,08 8,00 4,06 3,55 5,15 6,70
3,63 4,73 5,58 4,16 6,09 8,35 8,29 2,89 3,69 5,13 8,10
2,93 3,11 4,16 3,47 6,49 7,19 6,26 3,19 3,59 4,28 6,10
2,60 3,93 4,49 3,67 4,70 5,75 6,88 1,79 2,37 3,92 6,82
3,54 4,10 5,51 4,20 6,09 7,63 9,07 3,04 3,66 5,49 7,50
2,88 3,72 4,56 3,27 5,48 7,54 7,86 1,58 3,34 4,18 7,37
Os dados demográficos e as estatísticas vitais do censo 2011 indicam que, de 615.132
nascimentos vivos, 141.499 (23%) correspondem a mães com idades que não superam
os 19 anos.
16
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 511
La que Veno podía nevi- 6,68 4,21 3,82 2,86 3,72 5,22 3,72 5,81 7,66 8,76 3,01 3,55 4,91 7,37
amar
sión
VeEmperanevi- 5,61 3,25 2,80 2,85 3,80 4,31 2,98 4,45 7,00 6,10 1,00 2,49 3,41 7,23
triz
sión
Retrato Vede una
nevi- 5,81 3,30 2,71 3,07 3,46 4,24 2,79 4,88 7,15 6,80 1,10 3,34 3,49 7,10
mujer
sión
Fonte: Dados próprios da pesquisa – Equipe Obitel Venezuela – 2013.
3. A recepção transmidiática
A programação de ficção que ocupa o top ten dos títulos mais
vistos em 2012 na Venezuela está concentrada em dois canais privados (Venevisión, com oito títulos, e Televen, com apenas dois),
e ambos incorporaram algumas iniciativas de difusão apoiadas nas
redes sociais como estratégia para se aproximar mais do público. A
seguir, será utilizada a ficção Flor Salvaje para exemplificar como
funciona isso.
Tabela 11. A ficção transmidiática: tipos de
interação e de práticas dominantes
Tipo de
Níveis
interação
de
Tipos de práticas
transmidi- interatidominantes
ática
vidade
Comentários
Site oficial
Visualização
Notícias
http://msnlatino.telemundo. transmidiAtiva Anúncios especiais
com/novelas/Flor_Salvaje/
ática
sobre a telenovela
Pesquisas
Facebook
Flor
Comentários
Telehttps://www.facebook.com/
SalVisualização
Críticas
ven
FlorSalvajeTV?ref=
vaje
Ativa
interativa
Pesquisas
ts&fref=ts
Recomendação
Tí- Emistulo sora
Proposta de
transmidiação
Twitter
Comentários
Visualização
https://twitter.com/FlorSalAtiva
Críticas
interativa
vajeTV
Pesquisas
YouTube
Visualização
http://www.youtube.com/
Ativa
Comentários
interativa
user/TVTelemundo
Facebook
Visualização
Comentários
https://www.facebook.com/
Ativa
interativa
Críticas
FlorSalvajeTelemundo
Fonte: Dados próprios da pesquisa – Equipe Obitel Venezuela – 2013.
512 | Obitel 2013
Ao revisar a proposta transmidiática a partir das iniciativas das
mencionadas televisões, parece que o ceticismo e a indecisão das
empresas manifestados em anos anteriores sobre o reconhecimento
das potencialidades da internet mudou. Todos os títulos possuem
sua página oficial, assim como espaços de interação na rede social
Facebook. Em alguns casos, integraram outras ferramentas, como
Twitter, Instagram e YouTube, que, por razões de espaço, não estão
incluídas neste relatório. Cada um dos dez títulos incluídos no top
ten possui um site oficial e uma fan page no Facebook. O nível de
interatividade que predomina é o ativo. O usuário está interessado
em comentar e criticar, é receptivo ao estímulo de responder pesquisas, opinar, e inclusive propõe sua versão da história, embora caiba
destacar que o nível de interatividade criativa ainda não é suficiente
para se falar em “prossumidores”. É provável que os meios de comunicação observem com maior cuidado o crescimento acelerado
do número de usuários de internet no país e as vantagens que traz a
mídia digital – por exemplo, no que se refere às comunicações ajustadas ao estilo da audiência, à expansão da marca e seus produtos,
a recolher informação para conhecer melhor a audiência, composta
por um público que se transformou em prossumidor, e para segmentar a entrega de valor de acordo com as necessidades de grupos
específicos (Jiménez, 2011).
Para a análise particular de uma ficção foi escolhida Flor salvaje, a segunda telenovela mais vista do top ten, com um rating de
5,1% e um share de 38,1%. Essa escolha se baseia em qual das ofertas transmidiáticas é a mais representativa. A produção foi exibida
de 9 de outubro de 2011 a 16 de abril de 2012, no horário das 21:00
às 22:00 horas, pela Televen. Conta com um site oficial criado pela
empresa Telemundo para interagir com seu público. O site oferece fotos, vídeos, histórias e personagens, perfil no Facebook e no
Twitter. No site oficial há uma seleção detalhada de fotos e vídeos
exclusivos e classificados da seguinte maneira: episódios, o melhor
da novela, por trás das câmaras e outros. Além disso, apresenta a seleção do vídeo mais visto, inclui um jogo que pretende medir quanto
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 513
o público sabe sobre a telenovela e tem seções que mostram o que
foi mais compartilhado, mais comentado, um widget com a lista de
tweets que é atualizada constantemente, resumo de capítulos, entre
outras opções. É uma página com muitas opções e que convida à
interatividade a partir de opções como: curtir, compartilhar, enviar
para o Facebook, para o Twitter ou por correio eletrônico. O perfil
no Facebook, que tem link com a página oficial, foi criado em 17 de
maio de 201117, e nesse perfil 45.548 pessoas já “curtiram” a página
e outras 81 estão falando desse site. Durante o mês de abril de 2012,
período no qual foi ao ar o final da telenovela, o perfil do Facebook
mostra 2.935 pessoas que curtiram e 3.123 que estão falando disso.
Para a análise da ficção foi escolhido o segundo perfil, criado
em 25 de julho de 2011 pelo canal venezuelano Televen18. Nesse
caso, foram 32.307 as pessoas que curtiram o perfil e 97 que estão
falando sobre ele. Foi escolhido o intervalo de 12 a 17 de abril,
período em que houve maior interatividade e menções aos últimos
quatro capítulos da telenovela. O perfil não indica o número de visitantes/usuários por dia, mas o número global atualizado. Por isso,
o número calculado foi obtido da soma dos dois tipos de feedback
(“Curtir” e “Comentários”). Há uma interatividade marcada pelos
comentários dos usuários que aumenta de maneira considerável no
dia 16 de abril (2.018 visitantes), data da exibição do capítulo final.
Poder-se-ia inferir que esse momento, o desenlace final da trama,
amplifica a participação e a necessidade de expressar emoções, sentimentos, elogios, críticas e comentários em torno da história que
culmina.
Em relação aos tipos de comentários postados, pode-se observar que predominam a descrição de personagens, observações sobre
eles e previsões sobre a temática ou o desenvolvimento da história.
Também são feitas críticas que revelam a postura – de concordância
ou discordância – com respeito ao final da história, além de proposNo endereço: https://www.facebook.com/FlorSalvajeTelemundo
http://www.televen.com/Televen/Programas/--Dramáticos/Flor-Salvaje. O endereço
do perfil é: https://www.facebook.com/FlorSalvajeTV?ref=ts&fref=ts.
17
18
514 | Obitel 2013
tas de um final desejado; por exemplo, “Não há outra novela que se
compare!! com este sucesso de televen!”, postado em 13 de abril por
Lizcary Chirinos (2012). Alguns usuários interagem entre si ao discutir o comentário de outro, responder perguntas ou, simplesmente,
expressar o impacto emotivo que teve sobre si determinada situação
apresentada na trama.
As funções que predominam nos comentários postados são:
emotiva, referencial, conativa e fática. Cabe assinalar que o canal
também postou comentários com função fática – por exemplo, em
13 de abril, publicou “Escolha seu final” e deu cinco alternativas:
a) Você ressuscitaria Pablo para que ele se casasse com Amanda;
b) Amanda e Rafael são felizes para sempre; c) Abel vence Rafael e fica com Amanda; d) Amanda fica sozinha; e) Amanda reata
com Sacramento. Pode-se inferir que, nesse caso, a intenção é gerar
debate e estimular a interatividade do público. Foram obtidos 372
comentários e 244 “Curtir”, mas apenas um usuário compartilhou.
Na mesma linha, o canal incorporou duas pesquisas no dia 16, provavelmente com a intenção de elevar as expectativas e estimular
a interatividade dos usuários para a exibição do episódio final. A
primeira perguntou “Prontos para ver o grande final de Flor Salvaje?”, e a resposta positiva foi a mais votada, com 97 pessoas. A
segunda pesquisa perguntou “Quem tentou impedir o casamento de
Flor e Rafael?”. Nesse caso, o interesse está dirigido a identificar o
conhecimento do público sobre a trama. A opção mais votada foi
escolhida por 319 pessoas. Finalmente, também foi identificado um
comentário com função conativa. Nesse caso, o canal postou o seguinte convite: “Clique em Curtir se você está assistindo Flor Salvaje na Televen”. Presumivelmente, aqui a intenção poderia estar
relacionada com a medição do rating.
4. O mais destacado do ano
Em relação à ficção, os aspectos que se destacam no ano 2012
foram agrupados em quatro itens: 1. Estatização da ficção; 2. Produção da ficção a partir de espaços comunitários; 3. Ficção seriada
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 515
vinculada com aspectos místicos e religiosos; e 4. Financiamento
público para a produção audiovisual de ficção.
A partir de 2010, a produção da ficção seriada nacional diminuiu consideravelmente. Junto com isso, no ano de 2010 o presidente Hugo Rafael Chávez Frías sugeriu a necessidade de criar a
“telenovela socialista”. Como resposta a esse apelo, no ano de 2012
é produzida e transmitida Teresa en tres estaciones. Essa novela foi
produzida com financiamento do Fundo de Responsabilidade Social, tendo um orçamento de 17.000.000,00 BsF, que equivalem a
3.953.488,37 dólares no câmbio oficial de 4,30 BsF por dólar. Com
40 capítulos de 24 minutos de duração, tenta reivindicar o papel da
mulher venezuelana a partir de estereótipos diferentes dos propostos
pela telenovela romântica tradicional. Em Teresa en tres estaciones
são mostradas as vidas de uma mãe solteira, uma estudante de artes
e uma maquinista do trem que faz o percurso Caracas-Valles del
Tuy. Essa produção foi transmitida pela TVES, que, é importante
dizer, mantém-se como o único canal de sinal aberto com cobertura
nacional que transmite cinema venezuelano, latino-americano e de
outros países, com a premissa de incluir produções de alta qualidade
estética. Com isso, busca oferecer ao público opções diferentes das
de outros canais. Contudo, os baixos índices de audiência que, ano
após ano, mostra o canal evidenciam que, para além dos conteúdos,
é necessário criar uma política de impacto nos telespectadores. Um
elemento que explica essa realidade é o fato de o início das transmissões da TVES ter sido marcado pela não renovação da licença da
Radio Caracas Televisión, com suas correspondentes implicações
políticas, econômicas e de fidelidade por parte da audiência.
No espaço comunitário denominado Parque Cultural Tiuna El
Fuerte19, concretamente no Laboratório de Artes Urbanas (LAU),
Denominação dada por estar localizada na frente das instalações militares que albergam, entre outras, a sede do Ministério do Poder Popular para a Defesa, El Fuerte Tiuna,
localizada na paróquia El Valle, em Caracas. Descrevem-se da seguinte maneira: “Somos
um coletivo político-cultural de jovens ativistas da arte pública. Nascemos em 2005, tomando as artes urbanas como armas de luta e transformação radical da sociedade em
que vivemos. Somos sensibilidade humanista que cotidianamente constrói um espaço
19
516 | Obitel 2013
sob os auspícios do Fundo de Responsabilidade Social da Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel) e da figura da Produção Nacional Independente (PNI), foi produzida a série Barrio Sur.
Com uma duração de 13 capítulos, o primeiro deles denominado El
desafío, foi exibido em público no dia 25 de setembro, no Teatro
Principal de Caracas, mas ainda não foi transmitido por sinal aberto.
A trama gira em torno da vida de um grupo de jovens habitantes de
um bairro popular da cidade de Caracas. Muitos dos personagens
são interpretados por jovens do coletivo Tiuna El Fuerte, os quais
não têm experiência no campo da atuação e habitam nas zonas de
El Valle e Coche, principalmente. Dirigida por Michael Labarca,
contou também com o apoio da Fundação Infocentro, por meio do
Plano Nacional de Brigadas Comunicacionais20.
O terceiro elemento está vinculado com a ficção seriada relacionada à religião. Traición y perdón (2012) é a terceira das minisséries televisivas produzidas no país com talento venezuelano, apesar
de nenhuma delas ter sido transmitida no país. A Enlace TV é uma
rede internacional de comunicação por satélite cristã, em espanhol,
e foi ela que produziu essa série. Os conteúdos da Enlace TV são
gerados em diversos países da América, da Europa e da Ásia, e o
canal transmite nos EUA, na Argentina, na Colômbia, no Chile, na
Espanha, no México e na Venezuela. Em anos anteriores, produziu
Pecado de soberbia (2011) e Redención de amor (2010). Todas foram escritas por Carlos Roa Viana e dirigidas por Henry Casares. O
que foi dito anteriormente dá conta, por um lado, da segmentação
público alternativo para o encontro, expressão, formação, recreação e inclusão de jovens
de classes populares”. Tiuna El Fuerte. Em: http://laboratoriodeartesurbanas.blogspot.
com/ (Captura: 13/04/2013).
20
“As brigadas estão integradas por organizações sociais, membros de comunidades organizadas, facilitadores e facilitadoras da Infocentro, que promovem a criação coletiva
de mensagens revolucionárias operando a partir do território de sua comunidade. Os e
as brigadistas fazem de sua prática um processo endógeno de formação emancipadora.
Nelas é promovida a ação coletiva no terreno midiático e comunicacional, onde cada
sujeito ou organização que se incorpora à proposta contribui a partir de seus referenciais
e com as suas capacidades ao processo de produção e distribuição de conteúdos.” ¿Que
son las brigadas comunicacionales? Em: http://www.infocentro.gob.ve/sitios_index.php
(Captura: 13/04/2013).
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 517
do público em função da fé e, por outro, dos fluxos transnacionais
desse tipo de ficção, o que abre um nicho para as pesquisas de audiência.
O quarto elemento está vinculado com as ações de financiamento para a produção audiovisual que são criadas pelo Estado. O
Fundo de Responsabilidade Social em Rádio e TV (FRS) fornece
recursos para estimular a denominada Produção Nacional Independente (PNI), assim como outras produções que não necessariamente
se inscrevem nesse segmento. O FRS alimenta-se de 4% dos ingressos brutos anuais que geram as operadoras do setor de telecomunicações, assim como das multas21. Durante o ano de 2012, foram produzidas sob essa modalidade as ficções seriadas Barrio Sur (Parque
Cultural Tiuna El Fuerte); Hotel de Locura (Quimera Visión); Teresa en tres estaciones (Alter Producciones, Villa del Cine e TVES);
Nos vemos en el espejo (PNI); La residencia (Linterna Roja Films);
El Diario de Bucaramanga. El retrato de un héroe (SPM Producciones e Montesacro Films); Guerreras y Centauros (TVES – La
Villa del Cine) e La precursora. Essas três últimas ainda estão em
processo de produção22.
5. Tema do ano: ficção televisiva e memória social
O tratamento da memória social ou narração do passado na ficção televisiva venezuelana é apresentado em uma dupla vertente.
21
Segundo declarações de Jorge Ropero: “Nos últimos dois anos, o Fundo de Responsabilidade Social financiou 98 produções para a TV, por um montante de 173 milhões de bolívares; 22 produções de rádio que receberam 10 milhões e 700 mil bolívares; três projetos
de infraestrutura que receberam 7 milhões e 600 mil bolívares; dois projetos de pesquisa
na comunicação que receberam um milhão e 674 mil bolívares; um projeto de percepção
crítica por 262 mil bolívares e um projeto de capacitação que recebeu um milhão e 92 mil
bolívares”. Esse investimento compõe um total de 186.735.600,00 BsF, equivalentes a
43.426.883,70 dólares, tomando como referência o câmbio oficial de 4,30 BsF por dólar.
22
A estes soma-se um projeto argentino-venezuelano identificado como Unitarios de
Televisión Digital Abierta, uma série de ficção que consta de sete capítulos de 50 minutos. A série apresentará a história de uma família disfuncional ou triângulo desfeito, que
estrutura as relações entre seus membros a partir do amor, da tolerância, da inclusão e do
respeito. O orçamento total destinado a esse projeto é de 9.131.120,00 BsF, o que equivale a 2.123.516,28 dólares, no câmbio oficial de 4,30 BsF por dólar.
518 | Obitel 2013
Por um lado, a memória recente, vinculada ao entorno sociopolítico do país. Por outro, a memória histórica, na qual são exaltados
determinados acontecimentos, reconstroem-se olhares em torno de
determinados personagens e/ou são localizadas as referências que
permitem explicar alguns fenômenos que ocorrem hoje. No que diz
respeito à memória recente, Barrio Sur e Teresa en tres estaciones
integram elementos que resgatam alguns aspectos definidores das
identidades do venezuelano de hoje: os jovens que habitam comunidades urbanas deprimidas e que lutam por seus sonhos e ideais,
ou os novos papéis que a mulher venezuelana desempenha – uma
maquinista de trem, uma mãe solteira que trabalha como cabeleireira e cantora e uma estudante de artes – e cujas vidas se transformam a partir da presença do recém-inaugurado sistema de transporte ferroviário. Os antecedentes desse tipo de conteúdo podem ser
encontrados naquilo que na Venezuela foi denominado telenovela
cultural, e que depois foi ampliado para outras, como, por exemplo, Por estas calles (1992), Amores de fin de siglo (1995), Ciudad
bendita (2006) e Amores de barrio adentro (2004). Outros tipos de
conteúdo associados à memória social são aqueles gerados a partir de acontecimentos políticos e/ou que refletem épocas históricas
determinantes para o país. Estefanía (1979) encenou os tempos da
ditadura de Marcos Pérez Jiménez (1953-1958); Gómez I (1980),
Gómez II (1981) e La dueña (1984), ambientadas na época da ditadura de Juan Vicente Gómez (1908-1935), apelidado de “El Bagre”,
são exemplos disso.
No que poderíamos chamar de “memória cultural”, encontramos conteúdos que, tendo como marco épocas determinantes da
história da Venezuela, aludem, diretamente ou não, a temas como a
etnicidade, o heroísmo ou os movimentos independentistas. Nesse
contexto estão incluídas, por exemplo, Pobre Negro (1976), Sangre
azul (1979) e Guerreras y centauros (2012-2013). Na primeira, é
historizada “a memória popular coletiva, formulando a fábula identitária da mestiçagem com a ênfase populista que implicou a construção de sujeitos híbridos ‘branqueados’ e a domesticação imaginá-
Venezuela – Da ficção em suspenso à ficção estatizada | 519
ria do quilombola”23. Na segunda, são rememorados os episódios da
Guerra Federal, que transcorre a meados do século XIX. Guerreras
y centauros, por sua vez, abrange o lapso de tempo que vai de 1821
até o início do século XX, no marco da ditadura de “El Bagre”.
Os temas giram em torno do latifúndio e da exploração da pluma de garça, e nesse grupo inscrevem-se dois dos títulos que foram
produzidos no país no ano de 2012 e que ainda não estrearam e/ou
foram transmitidos por sinal aberto. El diario de Bucaramanga. El
retrato de un héroe (2012-2013) e La precursora (2012-2013) são
exemplos disso. El diario de Bucaramanga. El retrato de un héroe
transcorre em torno da vida de Simón Bolívar e dos acontecimentos
vinculados à Grande Colômbia (1828). La precursora, por sua vez,
transcorre entre 1799 e 1811 e reflete a época independentista. No
ano de 2012, a memória que se promove a partir da ficção seriada
está vinculada com o olhar romântico colocado sobre o passado, em
busca de uma heroicidade perdida que se instala em novos heróis:
as mulheres com virtudes que geralmente são atribuídas à masculinidade hegemônica (força, valentia, coragem) nas guerras e nas
ações precursoras da gesta independentista – narrativas nas quais a
grandiloquência é utilizada como fórmula, assim como as batalhas e
as lutas pelo poder. Tem-se a impressão de que, em nosso contexto,
por enquanto, não é possível gerar outro tipo de memória histórica,
memória na qual histórias, com minúscula, sejam tão importantes
quanto a História, com maiúscula, aquela que se escreve a partir da
visão oficial e que termina por ser oficializante; memória na qual as
histórias da vida cotidiana tenham força suficiente para serem levadas em conta; memória na qual sejam abordados aspectos como o
impulso econômico e cultural, as inovações tecnológicas e científicas ou a formação das instituições, para mencionar apenas algumas.
As explicações são claras: por um lado, o raizame militarista que
deu forma às nossas nações ainda condiciona nossas maneiras de
expressar o mundo. E, por outro, a necessidade de manter vivo um
23
Raquel Rivas Rojas. Cimarronaje, exclusión, mestizaje y blanqueamiento en
Pobre Negro de Rómulo Gallegos. Caracas: Estudios, USB, 2002. p. 105.
520 | Obitel 2013
personagem: Simón Bolívar, que sempre dará lucros entre aqueles
que querem emulá-lo.
Referências
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anual/telefonia_movil13.pdf. Acesso em: 25 de março de 2013.
CONATEL (2013a). Servicio de Internet. Indicadores. Años 19982012. Disponível em: http://www.conatel.gob.ve/files/Indicadores/indicadores_2012_anual/internet_13.pdf. Acesso em: 25 de março de 2013.
CONATEL (2013b). Servicio de internet. Suscriptores residenciales y no
residenciales. Años 2001 – 12. Disponível em: http://www.conatel.gob.ve/files/
Indicadores/indicadores_2011_anual/internet_residencial_no_residencial13.
pdf. Acesso em: 25 de março de 2013.
CONATEL (2013c). Difusión por suscripción. Indicadores. Años 2000
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INE (2013). SDD Cuadro de Estadística de Proyecciones de Población.
Disponível em: http://www.ine.gob.ve/documentos/Demografia/SituacionDinamica/Proyecciones/html/PoblacionSexo.html. Acesso em: 25 de março de
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JIMÉNEZ, C. et al. Internet y los negocios: manual para aprovechar las
ventajas de internet en su empresa. Caracas: Ediciones IESA, 2011.
LOZANO, D. (2012). Se sacude el mercado de teléfonos inteligentes por
la competencia. Disponível em: http://www.elmundo.com.ve/noticias/tecnologia/internet/se-sacude-el-mercado-de-telefonos-inteligentes-por.aspx. Acesso
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NET INDEX (2013). All countries. Disponível em: http://netindex.com/
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RIVAS R., R. Cimarronaje, exclusión, mestizaje y blanqueamiento en Pobre Negro de Rómulo Gallegos. Caracas: Estudios, USB, 2002.
Fichas técnicas dos top ten
dos países Obitel
ARGENTINA
1. Graduados
Produção: Undergound Contenidos, Endemol Argentina e Telefé
Contenidos
Direção: Sebastián Ortega
Roteiro: Ernesto Korovosky, Silvina Fredjkes e Alejandro Quesada
Elenco: Nancy Dupláa, Daniel
Hendler, Luciano Cáceres, Julieta
Ortega e Isabel Maceo
2. Dulce amor
Produção: LC Producciones e Telefé Contenidos
Direção: Hugo Alejandro Moser e
Mauro Scandolari
Roteiro: Enrique Estevanez, Marcelo Nacci e Laura Barneix
Elenco: Sebastián Estevanez, Juan
Darthés, Carina Ampini, Laura
Novoa e Pedro Cernnadas
3. Herederos de una venganza
Produção: Pol-ka
Direção: Jorge Montero e Jorge
Bechara
Roteiro: Leandro Calderone
Elenco: Luciano Castro, Romina
Gaetani, Marcela Kloosterboer, Fedrico Amador e Leonor Benedetto
4. El hombre de tu vida
Produção: 100 bares e Telefé
Contenidos
Direção: Juan José Campanella
Roteiro: Cecilia Monti e Juan José
Campanella
Elenco: Guillermo Francella,
Mercedes Morán, Luis Brandoni e
Tupac Larriera
5. La dueña
Produção: Telefé Contenidos
Direção: Martín Kweller
Roteiro: Marcelo Caamaño
Elenco: Mirtha Legrand, Florencia
Bertotti, Benjamín Vicuña, Fabian
Vena e Raúl Taibo
6. Mi problema con las mujeres
Produção: 13 Mares Producciones e
Vincent Entertainment
Direção: Daniel Defelippo
Roteiro: Sebastián Roststein e Alberto Rojas Apel (adaptadores)
Elenco: Mariano Martínez, Ana
María Orozco, Mónica Gonzaga e
Yayo Guridi
7. Sos mi hombre
Produção: Pol-ka
Direção: Sebastián Pivotto e Martín
Saban
Roteiro: Leandro Calderone
Elenco: Luciano Castro, Celeste
Cid, Gabriel Goity, Gonzalo Valenzuela e Federico Di Santo
522 | Obitel 2013
8. Mi amor, mi amor
Produção: El árbol, Endemol Argentina e Telefé Contenidos
Direção: Mariano Ardanz e Juan
Pablo Laplace
Roteiro: Gustavo Belatti e Leonel
D´Agostino
Elenco: Juan Gil Navarro, Jazmín
Stuart, Brenda Gandini, Martín
Seefeld e Federico D´Elía
9. Los únicos
Produção: Pol-ka
Direção: Sebastián Pivotto, Lucas
Gil, Rodolfo Antunez e Vícto Stella
Roteiro: Leandro Calderone e
Mariano Vera
Elenco: Nicolás Cabré, Nicolas
Vázquez, Emilia Attías, Marco
Antonio Caponi e María Eugenia
Suárez
10. Lobo
Produção: Pol-ka
Direção: Lucas Ruiz Barrea e Alejandro Ibáñez
Roteiro: Lily Ann Martin, Cecilia
Guerty e Pablo Junovich
Elenco: Gonzalo Heredia, Vanesa
González, Osvaldo Laport, Viviana
Saccone e Luisana Lopilato
BRASIL
1. Fina estampa
Produção: Globo/92
Direção: Wolf Maya
Roteirista: Aguinaldo Silva
Elenco: Lilia Cabral, Christiane
Torloni, Dalton Vigh, Marcelo
Serrado, Paulo Rocha
2. Avenida Brasil
Produção: Globo
Direção: Ricardo Waddington,
Amora Mautner, José Luiz Villamarim
Roteirista: João Emanuel Carneiro
Elenco: Débora Falabella, Adriana
Esteves, Murilo Benício, Cauã Reymond, Marcello Novaes
3. Cheias de charme
Produção: Globo
Direção: Carlos Araujo, Denise
Saraceni
Roteiristas: Filipe Miguez e Izabel
de Oliveira
Elenco: Taís Araújo, Leandra Leal,
Isabelle Drummond, Cláudia Abreu,
Ricardo Tozzi
4. Salve Jorge
Produção: Globo
Direção: Marcos Schechtman, Fred
Mayrink
Roteirista: Glória Perez
Elenco: Nanda Costa, Rodrigo
Lombardi, Giovanna Antonelli,
Claudia Raia, Totia Meirelles
5. Tapas e beijos (2ª temporada)
Produção: Globo
Direção: Maurício Farias, Daniela
Braga, Clara Kutner
Roteiristas: Claudio Paiva, Péricles
Barros, Claudio Lisboa, Nilton
Braga, Regina Valladares
Elenco: Fernanda Torres, Andrea
Beltrão, Fábio Assunção, Vladimir
Brichta, Otavio Muller
Fichas técnicas dos top ten dos países Obitel | 523
6. Aquele beijo
Produção: Globo
Direção: Cininha de Paula, Roberto
Talma
Roteirista: Miguel Falabella
Elenco: Giovanna Antonelli, Marília
Pêra, Herson Capri, Grazi Massafera, Ricardo Pereira
7. A grande família (12ª temporada)
Produção: Globo
Direção: Luis Felipe Sá, Guel
Arraes
Roteiristas: Bernardo Guilherme,
Marcelo Gonçalves, Olívia Guimarães
Elenco: Marco Nanini, Marieta Severo, Pedro Cardoso, Lúcio Mauro
Filho, Guta Stresser
8. Amor eterno amor
Produção: Globo
Direção: Pedro Vasconcelos, Rogério Gomes
Roteirista: Elizabeth Jin
Elenco: Gabriel Braga Nunes, Letícia Persiles, Carlos Dalla Vecchia,
Andréia Horta, Giulia Gam
9. Doce de mãe
Produção: Globo
Direção: Ana Luiza Azevedo, Jorge
Furtado, Guel Arraes
Roteiristas: Ana Luiza Azevedo,
Jorge Furtado, Miguel da Costa
Franco
Elenco: Fernanda Montenegro,
Marco Ricca, Louise Cardoso, Mirna Spritzer, Elisa Volpato
10. Guerra dos sexos
Produção: Globo
Direção: Jorge Fernando
Roteirista: Silvio de Abreu
Elenco: Tony Ramos, Irene Ravache, Glória Pires, Edson Celulari,
Mariana Ximenes
CHILE
1. Soltera otra vez
Produção: Canal 13 (próprio canal)-Herval Abreu
Direção: Herval Abreu
Roteiro: Marcelo Castañon
Elenco: Paz Bascuñán, Cristián
Arriagada, Josefina Montané, Pablo
Macaya
2. Los 80 más que una moda
Produção: Canal 13 (Patricio Pereira) e Andrés Wood Producciones
S.A.
Direção: Boris Quercia
Roteiro: Rodrigo Cuevas
Elenco: Támara Acosta, Daniel Muñoz, Lucas Escobar, Loreto Aravena, Tomás Verdejo
3. Pobre rico
Produção: TVN (próprio canal)-Patricio López, Cecilia Aguirre
Direção: Rodrigo Velásquez,
Nicolás Alemparte, María Eugenia
Renconret
Roteiro: Alejandro Cabrera
Elenco: Simón Pesutic, Alonso
Quintero, Carolina Arregui, Franciso
Reyes
524 | Obitel 2013
4. Separados
Produção: TVN (próprio canal)-Daniela Demicheli, Claudia Cazenave
Direção: María Eugenia Rencoret,
Italo Galleani
Roteiro: Daniela Castagno
Elenco: Jorge Zabaleta, Álvaro
Rudolphy, Sigrid Alegría, Luz
Valdivieso
5. Peleles
Produção: Alberto Gesswein
Direção: Roberto Rebolledo
Roteiro: Rodrigo Cuevas
Elenco: Cristián Campos, Claudio
Arredondo, Mario Horton, Daniel
Alcaíno, Nestor Cantillana
6. Reserva de familia
Produção: TVN (próprio canal)Patricio López
Direção: María Eugenia Rencoret
Roteiro: Pablo Illanes, Larissa
Contreras
Elenco: Nelson Villagra, Gloria
Münchmeyer, Francisco Melo, Paola
Volpato, Marcelo Alonso
7. Aquí mando yo
Produção: TVN (próprio canal)Vania Portilla
Direção: María Eugenia Rencoret,
Italo Galleani
Roteiro: Daniela Castagno
Elenco: Jorge Zabelata, María
Eugenia Swett, Cristian Riquelme,
Carolina Varleta, Coca Guazzini
8. Dama y obrero
Produção: TVN (próprio canal) e
Alce Producciones
Direção: María Eugenia Rencoret,
Claudio López de Lérida
Roteiro: José Ignacio Valenzuela
Elenco: María Gracia Omegna,
Francisco Pérez Bannen, César
Sepúlveda, Elisa Zulueta
9. El reemplazante
Produção: Parox S.A./Pablo Pinto
Direção: Nicolás Acuña, Cristián
Jiménez
Roteiro: Hernán Rodríguez
Elenco: Iván Alvárez, Blanca
Lewin, Ignacio Allamand, Roberto
Farías, Karla Melo
10. Violeta se fue a los cielos
Produção: Wood Producciones,
Maíz
Producciones, Bossa Nova Films
Direção: Andrés Wood
Roteiro: Andrés Wood, Eliseo Altunaga, Guillermo Calderón, Rodrigo
Bazaes
Elenco: Francisca Gavilán, Thomas
Durand, Patricio Ossa, Jorge López,
Stephania Barbageleta
COLÔMBIA
1. Escobar, el patrón del mal
Produção: Caracol Televisión
Direção: Carlos Moreno
Roteirista: Juan Camilo Ferrand
Elenco: Andrés Parra, Angie Cepeda, Nicolás Montero, Cecilia Navia,
Aldemar Correa
2. La mariposa
Produção: Canal RCN em coprodução com FoxTelecolombia
Direção: Ricardo Gabrielli, Lilo
Vilaplana
Fichas técnicas dos top ten dos países Obitel | 525
Roteirista: Gerardo Reyes
Elenco: María Adelaida Puerta, Michelle Brown, Lincoln Palomeque,
Ana Wills, César Mora
3. El capo II
Produção: Canal RCN em coprodução com FoxTelecolombia
Direção: Lilo Vilaplana, Ricardo
Gabrielli, Klych López
Roteirista: Gustavo Bolívar
Elenco: Marlon Moreno, Cristina
Umaña, Carolina Ramírez, Oscar
Borda 4. Casa de reinas
Produção: RCN Televisión
Direção: Mario Ribero
Roteiristas: Miguel Ángel Baquero
e Eloísa Infante
Elenco: Rodrigo Candamil, Catalina
Londoño, Lorna Cepeda, Mauricio
Mejía, Omeris Arrieta
5. Corazones blindados
Produção: Teleset para Canal RCN
Direção: Israel Sánchez, Juan Felipe
Cano Roteiristas: Rafael Noguera, Ana
María Londoño e Juan Andrés
Rendón
Elenco: Andrés Sandoval, Majida
Issa, Oscar Borda, Julián Román
6. Rafael Orozco. El ídolo
Produção: Caracol Televisión
Direção: Andrés Marroquín
Roteirista: Arleth Castillo
Elenco: Alejandro Palacio, Taliana
Vargas, Maritza Rodríguez, Mario
Espitia, Rafael Santos
7. Dónde carajos está Umaña
Produção: Caracol TV
Direção: Anselmo ‘Chemo’ Calvo e
Luis Orjuela
Roteirista: Johnny Ortiz
Elenco: Diego Trujillo, Carlos
Muñoz, Marcela Carvajal, Carolina
López, Ana María Kamper
8. Dónde está Elisa
Produção: RCN Televisión
Direção: Rodrigo Triana, Daniel
Moure
Roteirista: Pablo Illanes
Elenco: Cristina Umaña, Juan Pablo
Gamboa, Jorge Enrique Abello,
Anabell Rivero
9. A mano limpia II
Produção: RCN Televisión
Direção: Rocío Cruz, Mónica
Cifuentes
Roteiristas: Diego Vivanco, Andrés
Guevara e Julio Contreras
Elenco: Mario Duarte, Valentina
Acosta, Variel Sánchez, Mónica
Chávez, Manuel Sarmiento
10. El laberinto
Produção: coprodução Caracol TV
e Sony Picture Television
Direção: Jaime Osorio, Juan Carlos
Beltrán Roteirista: Mauricio Miranda
Elenco: Robinson Díaz, Sandra
Reyes, Jorge Cao, Claudia Moreno,
Adelaida López
EQUADOR
1. El capo 2
Produção: Fox Telecolombia
526 | Obitel 2013
Direção: Lilo Vilaplana, Ricardo
Gabrielli
Roteiro: Andrea Basabe, Marisol
Galindo
Elenco: Marlon Moreno, Cristina
Umaña, Carolina Ramírez, Oscar
Borda, Alex Betancourt
2. El combo amarillo
Produção: Ecuavisa
Direção: Cristian Cortez, Miguel
Calero
Roteiro: Miguel Calero, Cecil
Estacio
Elenco: José Northia, María Mercedes Pacheco, María Fernanda Ríos,
Jonathan Estrada, Ricardo González
3. El combo 3D
Produção: Ecuavisa
Direção: Cristian Cortez, Miguel
Calero
Roteiro: Miguel Calero, Cecil
Estacio
Elenco: Mercedes Payne, María
Fernanda Ríos, Jonathan Estrada,
José Northia, María Mercedes
Pacheco
4. El Joe, la leyenda
Produção: RCN Televisión
Direção: Herney Luna
Roteiro: Andrés Salgado, Natalia
Ospina
Elenco: Jair Romero, Estefanía Borge, Andrés Suárez, Diego Vásquez,
Isabel Cristina Estrada
5. Corazón apasionado
Produção: Venevisión Internacional
Direção: Carlos Pérez Santos
Roteiro: Alberto Gómez
Elenco: Marlene Favela, Guy Ecker,
Susana Dosamantes, Lorena Meritano, Luis José Santander
6. Tres milagros
Produção: Teleset e RCN
Direção: Rodrigo Lalinde, Israel
Sánchez
Roteiro: Carlos Duplat, Luz Mariela
Santofimio
Elenco: Johanna Bahamón, Angélica Blandón, Farina Franco, Andrés
Sandoval, Juan Diego Sánchez
7. Fina estampa
Produção: Rede Globo
Direção: Wolf Maya
Roteiro: Aguinaldo Silva
Elenco: Lilia Cabral, Christiane
Torloni, Dalton Vigh, Carolina
Dieckmann, José Meyer
8. La mariposa
Produção: Fox Telecolombia para
RCN Televisión
Direção: Lilo Vilaplana
Roteiro: Diego Mejía Montes
(codirección)
Elenco: María Adelaida Puerta,
Michel Brown, Lincoln Palomeque,
Ana Wills, Rafael Lahera
9. El man es Germán (2ª temporada)
Produção: Canal RCN
Direção: Consuelo González
Cuellar
Roteiro: Juan Manuel Cáceres
Elenco: Marcela Gallego, Santiago
Alarcón, Heidy Bermúdez, Santiago
Reyes, Jesús David Forero
Fichas técnicas dos top ten dos países Obitel | 527
10. Mi recinto
Produção: TC Televisión
Direção: Fernando Villarruel
Roteiro: Fernando Villarruel
Elenco: Fernando Villarruel, Tatiana Macías, Paola Olaya, Alex Plúas,
Miguel Santana
ESPANHA
1. Águila roja
Produção: Globomedia
Direção: José Ramón Ayerra, Arantxa Écija, Marco A. Castillo, Marc
Vigil, Miguel Alcantud
Roteirista: Pilar Nadal
Elenco: David Janer, Javier Gutiérrez, Francis Lorenzo, Miryam
Gallego, Inma Cuesta
2. Cuéntame cómo pasó
Produção: Grupo Ganga Producciones
Direção: Agustín Crespi, Antonio
Cano, Azucena Rodríguez, Moisés
Ramos, Manuel Palacios
Roteiristas: M.Á. Bernardeau, Eduardo Ladrón de Guevara, Alberto
Macías, Jacobo Delgado
Elenco: Imanol Arias, Ana Duato,
Ricardo Gómez, María Galiana,
Pablo Rivero
3. La que se avecina
Produção: Alba Adriática
Direção: Laura Caballero
Roteiristas: Alberto Caballero,
Laura Caballero, Daniel Deorador,
Sergio Mitjans
Elenco: José Luis Gil, Jordi
Sánchez, Eduardo García, Pablo
Chiapella, Nathalie Seseña
4. Isabel
Produção: Diagonal TV
Direção: Jordi Frades
Roteiristas: Javier Olivares, Joan
Barbero, Jordi Calafi, Pablo Olivares, Salvador Perpiñá, Anaïs Schaaff
Elenco: Michelle Jenner, Rodolfo
Sancho, Pablo Derqui, Bárbara
Lennie, Pedro Casablanc
5. Mi gitana
Produção: Producciones Mandarina
Direção: Alejandro Bazzano
Roteiristas: Antonio Hernández
Centeno, Carmen Pombero
Elenco: Blanca Apilánez, Aníbal
Soto, Eva Marciel, Carmen Gutiérrez, Lulú Palomares
6. Aída
Produção: Globomedia
Direção: Mar Olid, Jesús Rodrigo,
Raúl Díaz, Mario Montero, Antonio
Sánchez
Roteiristas: Fernando Abad, Rodrigo Martín, Tatiana Chisleanschi
Elenco: Paco León, Miren Ibarguren, Mariano Peña, Pepe Viyuela,
Melanie Olivares
7. Con el culo al aire
Produção: Notro TV
Direção: David Fernández, David
Abajo
Roteiristas: David Fernández,
David Abajo
Elenco: Paco Tous, María León,
Toni Acosta, Iñaki Miramón, Raúl
Fernández
528 | Obitel 2013
8. Fenómenos
Produção: Aparte Producciones
Direção: Nacho García Velilla
Roteiristas: Oriol Capel, David S.
Olivas, Antonio Sánchez, Nacho G.
Velilla
Elenco: Alejo Sauras, Kira Miró,
Julián López, Miguel Rellán, Javier
Mora
9. Gran hotel
Produção: Bambú Producciones
Direção: Carlos Sedes, Silvia Quer,
Jorge Sánchez-Cabezudo
Roteiristas: Ramón Campos, Gema.
R. Neira
Elenco: Adriana Ozores, Amaia
Salamanca, Yon González, Concha
Velasco, Eloy Azorín
10. Luna, el misterio de Calenda
Produção: Globomedia
Direção: Laura Belloso, David
Bermejo, Jesús Rodrigo
Roteiristas: Laura Belloso, David
Bermejo
Elenco: Belén Rueda, Daniel Grao,
Fran Perea, Lucía Guerrero, Álvaro
Cervantes
ESTADOS UNIDOS
1. La que no podía amar
Produção: Televisa
Direção: Salvador Garcini e Alejandro Gamboa
Roteirista: Ximena Suarez
Elenco: Ana Brenda Contreras,
Jorge Salinas, José Ron, Susana
González, Julián Gil
Ano de produção: 2011-2012
2. Abismo de pasión
Produção: Televisa
Direção: Sergio Cataño e Claudio
Reyes
Roteiristas: Juan Carlos Acalá,
writer, MX
Elenco: Angelique Boyer, David
Zepeda, Blanca Guerra, Sabine
Moussier, Salvador Zerboni
Ano de produção: 2011-2012
3. Amores verdaderos
Produção: Televisa
Direção: Salvador Garcini e Ricardo de la Parra
Roteiristas: Enrique Estevanez,
Marcela Citterio, Kary Fajer
Elenco: Erika Buenfil, Eduardo
Yáñez, Eiza Gonzalez, Sebastian
Rulli
Ano de produção: 2012
4. Por ella soy Eva
Produção: Televisa
Direção: Benjamín Cann
Roteiristas: Pedro Armando
Rodríguez, Alejandra Romero M.,
Humberto Robles
Elenco: Jaime Camil, Lucero,
Patricia Navidad, Mariana Seoane,
Marcelo Córdoba
Ano de produção: 2012
5. Amor bravío
Produção: Televisa
Direção: Lily Garza, Fernando
Nesme
Roteiristas: Martha Carrillo, Cristina Garcia
Elenco: Silvia Navarro, Cristián de
la Fuente, Leticia Calderón, Cesar
Fichas técnicas dos top ten dos países Obitel | 529
Evora, Flavio Medina
Ano de produção: 2012
6. Una familia con suerte (repete na
lista, 5° lugar en 2011)
Produção: Televisa
Direção: Aurelio Ávila Arriaga
Roteirista: Marcia del Río
Elenco: Luz Elena González, Arath
De La Torre, Mayrín Villanueva,
Daniela Castro, MX
Ano de produção: 2011-2012
7. Un refugio para el amor
Produção: Televisa
Direção: Eduardo Said, Ana Lorena
Perez
Roteiristas: Nora Alemán, Georgina Tinoco
Elenco: Zuria Vega, Gabriel Soto,
Jessica Coch, Laura Flores
Ano de produção: 2012
8. Corona de lágrimas
Produção: Televisa
Direção: Pedro Torres, Alejandro
Gamboa, Juan Carlos Muñoz
Roteiristas: Manuel Canseco Noriega, original idea, MX
Elenco: Victoria Ruffo, Maribel
Guardia, Ernesto Laguardia, Africa
Zavala, Mané de la Parra
Ano de produção: 2012
9. El talismán
Produção: Univisión-Venevisión
Direção: Pedro Torres, Bernando
Najera, Narciso Colunga, Juan Carlos Munoz, Alejandro Gamboa
Roteirista: Verónica Suárez, writer,
USA
Elenco: Blanca Soto, Rafael Novoa,
Aarón Díaz, Lola Ponce, Marcela
Mar
Ano de produção: 2012
10. Pablo Escobar: el patrón del
mal
Produção: Caracol TV
Direção: Carlos Moreno, Laura
Mora
Roteirista: Camilo Cano
Elenco: Andrés Parra, Angie Cepeda, Vicky Hernández, Cecilia Navia,
Nicolás Montero
Ano de produção: 2012
MÉXICO
1. Abismo de pasión
Direção: Angeli Nesma
Roteirista: Caridad Bravo
Elenco: Angelique Boyer, David
Zepeda, Mark Tacher, Alexis Ayala,
Alejandro Camacho, Ludwika Paleta, Sabine Moissier, Blanca Guerra,
Alejandro Gattorno, César Évora
2. Amores Verdaderos
Direção: Nicandro Díaz
Roteirista: Marcela Citterio
Elenco: Erika Buenfil, Eduardo
Yañez, Eiza González, Sebastián
Rulli, Guillermo Capetillo, Lilia
Aragón, Sherlyn, Ana Martín, Enrique Rocha, Natalia Esperón
3. Porque el amor manda
Direção: Juan Osorio
Roteirista: Jorg Hiller
Elenco: Fernando Colunga, Blanca
Soto, Erick Elías, Maria Elisa Camargo, Claudia Álvarez, Jorge Aravena
530 | Obitel 2013
4. Por ella soy Eva
Direção: Rosy Ocampo
Roteirista: Elkim Ospina
Elenco: Lucero, Jaime Camil,
Mariana Seoane, Marcelo Córdoba,
Jesús Ochoa, Leticia Perdigón
5. Qué bonito amor
Direção: Salvador Mejía
Roteirista: Mónica Agudelo
Elenco: Jorge Salinas, Danna
García, Pablo Montero, Malillany
Marín, Karla Álvarez, Arturo Peniche, Angélica María
6. Amor Bravío
Direção: Carlos Moreno
Roteirista: María Zarattini
Elenco: Silvia Navarro, Christian de
la Fuente, Lisset, Fernando Zarrillo,
Leticia Calderón, Yolanda Ventura,
José Elías Moreno
7. Un refugio para el amor
Direção: Nacho Zada
Roteirista: Delia Fiallo
Elenco: Zuria Vega, Gabriel Soto,
Aleida Nuñez, Roberto Blandón,
Laura Flores
8. La Familia Peluche
Direção: Eugenio Derbez
Roteirista: Eugenio Derbez
Elenco: Eugenio Derbez, Consuelo
Duval, Regina Blandón, Miguel
Pérez, Luis Manuel Ávila, Bárbara
Torres, Brayan Gibran Mateo, Pierre
Angelo
9. La mujer del vendaval
Direção: Mapat
Roteirista: Ángel del Cerro
Elenco: Ariadne Díaz, José Ron,
Chantal Andere, Alfredo Adame,
María Marcela, Manuel “Flaco”
Ibáñezy Agustín Arana
10. Cachito de cielo
Direção: Roberto Gómez Fernández
Roteirista: Mario Schajris
Elenco: Maite Perroni, Pedro Fernández, Jorge Poza, Rafael Inclán,
Azela Robinson
PERU
1. Al fondo hay sitio (4ª temporada)
Produção: América Televisión-Efraín Aguilar
Direção: Jorge Tapia e Toño Vega
Roteirista: Gigio Aranda
Elenco: Irma Maury, Yvonne
Frayssinet, Sergio Galliani, Mónica
Sánchez, Adolfo Chuiman
2. Mi amor el wachimán
Produção: Del Barrio Producciones-Michelle Alexander
Direção: Francisco Álvarez
Roteirista: Víctor Falcón
Elenco: Christian Domínguez, Maria Grazia Gamarra, Nikko Ponce,
André Silva, Karla Medina
3. La reina de las carretillas
Produção: Del Barrio Producciones-Michelle Alexander
Direção: Francisco Álvarez
Roteirista: Víctor Falcón
Elenco: Pierina Carcelén, Fiorella
Díaz, Diego Lombardi, Óscar López
Arias, Teddy Guzmán
Fichas técnicas dos top ten dos países Obitel | 531
4. La faraona
Produção: América TelevisiónEfraín Aguilar
Direção: José Mercado
Roteirista: Rosa Gutiérrez e Óscar
Aybar
Elenco: Alejandra Pascucci, Gerardo Zamora, Natalia Salas, Sandro
Monzante, Mayra Goñi
8. La reina del sur
Produção: Telemundo/RTI-Patricio
Wills
Direção: Walter Doehner
Roteiristas: uan Marcos Blanco,
Valentina Párraga, Roberto Stopello
Elenco: Kate del Castillo, Humberto
Zurita, Rafael Amaya, Iván Sánchez,
Cristina Urgel
5. La que no podía amar
Produção: Televisa-José Alberto
Castro
Direção: Salvador Garcini e Alejandro Gamboa
Roteirista: Ximena Suárez
Elenco: Ana Brenda Contreras,
Jorge Salinas, José Ron, Julián Gil,
Susana González
9. Yo no me llamo Natacha (2ª
temporada)
Produção: Del Barrio Producciones-Michelle Alexander
Direção: Francisco Álvarez
Roteirista: Víctor Falcón
Elenco: Maricarmen Marín, Pierina
Carcelén, Oscar López-Arias, Christian Domínguez, Pold Gastelo
6. Solamente milagros (2ª temporada)
Produção: América TelevisiónCésar Arana Díaz
Direção: Jorge Tapia e Santiago
Vitteri
Roteirista: Rosa Gutiérrez
Elenco: Jesús Aranda, Maricarmen
Pinedo, Julia Ruiz, Liliana Alegría,
Sandro Calderón (Série de capítulos
independentes; o elenco é modificado a cada capítulo.)
10. Corazón de fuego
Produção: Grupo ATV-Rodolfo
Hoppe
Direção: Aldo Salvini
Roteiristas: Kathy Cárdenas, Mariana Silva, Bruno Ascenzo, Natalia
Parodi
Elenco: Natasha Klauss, Tiberio
Cruz, Sonia Oquendo, Alessandra
Denegri, Joaquín de Orbegoso
Fonte: Obitel Peru
7. Gamarra
Produção: Del Barrio Producciones-Michelle Alexander
Direção: Francisco Álvarez
Roteiristas: Víctor Falcón e Eduardo Adrianzén
Elenco: Mario Ballón, Leslie
Guillén, Nikko Ponce, Fiorella Díaz, Lucho Cáceres
PORTUGAL
1. Dancin’ days
Direção: Manuel Amaro da Costa
Roteirista: Pedro Lopes (adaptado
de Gilberto Braga)
Elenco: Joana Santos, Soraia Chaves, Joana Ribeiro, Alexandre Sousa,
Júlio César, Cristina Homem de
Melo, Albano Jerónimo, Sisley Dias
532 | Obitel 2013
2. Louco amor
Direção: António Correia
Roteirista: Tozé Martinho
Elenco: Fernanda Serrano, Nicolau
Breyner, Luís Esparteiro, Mafalda
Luís de Castro, José Carlos Pereira
3. Doce tentação
Direção: António Borges Correia
Roteirista: Sandra Santos
Elenco: Diogo Amaral, Mariana
Monteiro, Pedro Lima, Cristovão
Campos, Jessica Athayde
4. Rosa fogo
Direção: Hugo Xavier
Roteirista: Patrícia Müller
Elenco: Cláudia Vieira, Rogério
Samora, José Fidalgo, Ângelo Rodrigues, Irene Cruz
5. Remédio santo
Direção: Hugo de Sousa
Roteirista: Antonio Barreira
Elenco: Margarida Marinho,
Adriano Luz, Rita Pereira, Almeno
Gonçalves, Sílvia Rizzo
6. Doida por ti
Direção: Hugo de Sousa
Roteirista: Maria João Mira
Elenco: Sara Matos, Afonso Pimentel, Vera Kolodzig e João Catarré
7. Morangos com açúcar IX: segue
o teu sonho
Direção: Hugo de Sousa
Roteirista: Casa da Criação – Cláudia Sampaio, Irina Gomes, Mafalda
Ferreira, Marina Ribeiro, Pedro
Cavaleiro
Elenco: Luís Garcia, Filipa Areosa,
Tiago Costa, Ana Bustorff, João
Cabral
8. Anjo meu
Direção: Artur Ribeiro
Roteirista: Maria João Mira
Elenco: Alexandra Lencastre, João
Reis, Paulo Pires, Manuela Couto,
Jose Wallenstein
9. Os compadres
Direção: Ana Costa
Roteirista: Nicolau Breyner
Elenco: Nicolau Breyner, Ana
Zanatti, Fernando Mendes, Rosa do
Canto
10. A família Mata
Direção: Jorge Duarte Marecos
Roteirista: SP Televisão – Ana
Lúcia Carvalho, Ana Morgado, João
Pupo, José Pinto Cameiro (adaptado
de David Bermejo)
Elenco: André Nunes, Maya Booth,
José Pedro Gomes, Rita Blanco,
Marco Horácio
URUGUAI
1. Insensato corazón
Produção: Rede Globo
Direção: Dennis Carvalho e Vinícius Coimbra
Roteiristas: Gilberto Braga e Ricardo Linhares
Elenco: Glória Pires, Gabriel Braga
Nunes, Paola Oliveira, Eriberto
Leao, Deborah Secco, Camila
Pitanga
Ano de produção: 2010
Fichas técnicas dos top ten dos países Obitel | 533
2. Sos mi hombre
Produção: Pol-ka
Direção: Martín Saban e Sebastián
Pivotto
Roteirista: Leandro Calderone
Elenco: Luciano Castro, Celeste
Cid, Gabriel Goity, Gonzalo Valenzuela, Ludovico Di Santo, Eugenia
Tobal, Jimena Barón, Gimena
Accardi, Lito Cruz
Ano de produção: 2011/12
3. Passione
Produção: Rede Globo
Direção: Denise Saraceni
Roteirista: Sílvio de Abreu
Elenco: Fernanda Montenegro,
Tony Ramos, Mariana Ximenes,
Reynaldo Gianecchini
Ano de produção: 2010
4. El astro
Produção: Rede Globo
Direção: Mauro Mendonça Filho
Roteiristas: Alcides Nogueira e
Geraldo Carneiro
Elenco: Rodrigo Lombardi, Carolina Ferraz, Alinne Moraes, Thiago
Fragoso, Regina Duarte, Daniel
Filho, Humberto Martins, Juliana
Paes, Fernanda Rodrigues, Marco
Ricca, Henri Castelli, Tato Gabus
Mendes, Carolina Kasting, Guilhermina Guinle, Vera Zimmermann
Ano de produção: 2010
5. Escrito en las estrellas
Produção: Rede Globo
Direção: Ricardo Waddington e
Amora Mautner
Roteirista: Elizabeth Jhin
Elenco: Nathalia Dill, Jayme Matarazzo, Humberto Martins, Débora
Falabella, Zezé Polessa, Cássia Kis,
Carlos Vereza, André Gonçalves,
Gisele Fróes, Antonio Calloni, Carol
Castro, Carolina Kasting, Giovanna
Ewbank, Manuela do Monte, Jandira
Martini
Ano de produção: 2009/10
6. Fina Estampa
Produção: Rede Globo
Direção: Wolf Maya
Roteirista: Aguinaldo Silva
Elenco: Lilia Cabral, Christiane
Torloni, Dalton Vigh, Carolina
Dieckmann, Paulo Rocha, Malvino
Salvador, Júlia Lemmertz, Dan Stulbach, Marcelo Serrado, José Mayer,
Caio Castro, Adriana Birolli, Sophie
Charlotte, Eva Wilma, Monique
Alfradique
Ano de produção: 2011
7. Cuchicheos
Título original: Ti-ti-ti
Produção: Rede Globo
Direção: Jorge Fernando
Roteirista: Maria Adelaide Amaral
Elenco: Murilo Benício, Alexandre
Borges, Cláudia Raia, Christiane
Torloni, Ísis Valverde, Giulia Gam
Ano de produção: 2010
8. Herederos de una venganza
Produção: Pol-ka
Direção: Jorge Montero e Jorge
Bechara
Roteirista: Leandro Calderone
Elenco: Luciano Castro, Romina
Gaetani, Marcela Kloosterboer, Fe-
534 | Obitel 2013
derico Amador, Benjamín Vicuña
Ano de produção: 2011-2012
9. Dulce amor
Produção: L.C. Acción Producciones
Direção: Mauro Scandolari e Hugo
Alejandro Moser
Roteiristas: Quique Estevanez,
Marcelo Nacci, Laura Barneix
Elenco: Sebastián Estevanez, Juan
Darthés, Carina Zampini, Segundo
Cernadas, Laura Novoa, Georgina
Barbarossa, Arturo Bonín, María
Valenzuela, Calu Rivero, Mercedes
Oviedo
Ano de produção: 2011/12
10. Maltratadas
Produção: Torneos y Competencias, fondos del INCAA “Ficción
para todos”
Primeiro capítulo rodado no Uruguai, coproduzido por Flor Latina e
Teledoce
Direção: Alberto Lechi
Roteiristas: Esther Feldman e Alejandro Maci
Elenco: Valentina Bassi, Soledad
Fandiño, Gonzalo Valenzuela, Facundo Espinosa, Carlos Santamaría,
María Ibarreta, Mirella Pascual, Augusto Mazzarelli, Diego Delgrossi
Ano de produção: 2010-2011
VENEZUELA
1. Mi ex me tiene ganas
Direção: Yuri Delgado
Roteiro: Martin Hahn
Elenco: Daniela Alvarado, Luciano D’ Alessandro, Norkys Batista,
Guillermo García, Winston Vallenilla, Lilibeth Morillo, Jonathan
Montenegro e Eileen Abad
2. Flor salvaje
Direção: Agustín Restrepo e Mario
Mitrotti
Roteiro: Laura Restrepo, adaptação:
Perla Farías
Elenco: Mónica Spear, Tony Dalton, José Luis Resendez, Roberto
Manrique e Norkys Batista
3. Válgame dios
Direção: José Alcalde
Roteiro: Mónica Montañez
Elenco: Sabrina Seara, Eduardo
Orozco, Ricardo Álamo, Carlota
Sosa, Flavia Gleske e Raquel Yánez
4. La casa de al lado
Direção: Luis Manzo e Ramiro
Schwarz
Roteiro: José Ignacio Valenzuela
Guiraldes
Elenco: Maritza Rodríguez, Gabriel
Porras, Catherine Siachoque, Miguel
Varoni e Jorge Luis Pila
5. La traicionera
Direção: Lilo Vilaplana e Cecilia
Vásquez
Roteiro: Adrián Suar, Faber Soto,
Aura Niño e Rodrigo Holguín
Elenco: Marianela González, Juan
Manuel Mendoza, Víctor Mallarino, Ana Lucía Domínguez, Jorge
Cárdenas
Fichas técnicas dos top ten dos países Obitel | 535
6. Natalia del mar
Direção: Carlos Izquierdo
Roteiro: Alberto Gómez
Elenco: Sabrina Salvador, Manuel
Sosa, Adrián Delgado, Juliet Lima e
Fedra López
7. Abismo de pasión
Direção: Armando Zafra e Manuel
Barajas
Roteiro: Caridad Bravo Adams,
adaptação: Juan Carlos Alcalá
Elenco: Angelique Boyer, David
Zepeda, Mark Tacher, Blanca Guerra, Sabine Moussier
8. La que no podía amar
Direção: Salvador Garcini, Alejandro Gamboa
Roteiro: Delia Fiallo, adaptação:
Ximena Suárez
Elenco: Ana Brenda Contreras,
Jorge Salinas, José Ron, Julián Gil e
Susana González
9. Emperatriz
Direção: Javier Patrón Fox e Carlos
Ángel Guerra
Roteiro: José Ignacio Cabrujas
Elenco: Gabriela Spanic, Bernie
Paz, Adriana Louvier, Marimar
Vega e Omar Fierro
10. Retrato de una mujer
Direção: Pepe Sánchez e Julio
César Romero
Roteiro: Mónica Agudelo
Elenco: Katherine Vélez, Patrick
Delmas, Vicky Hernández, Juan
Pablo Franco e Alejandro López
Fone: 51 3779.6492
Este livro foi confeccionado especialmente para a
Editora Meridional Ltda,
em Times, 10,5/14,5 e
impresso na Gráfica Pallotti

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