Humor Vítreo - Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e

Transcrição

Humor Vítreo - Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e
Editorial
A Revinter – Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade –
tem missão de divulgar a produção científica da Toxicologia, Meio Ambiente e
Sociedade, estimulando as contribuições criativas e inéditas do trabalho
acadêmico, de pesquisa e do meio empresarial, tanto de autores nacionais como
estrangeiros,
contribuindo
para
a
discussão
e
o
desenvolvimento
do
conhecimento nestas áreas. Trata-se de um periódico científico de acesso aberto,
quadrimestral (meses de fevereiro, junho e outubro), arbitrado, publicado em
São Paulo, SP, Brasil, pela parceria Intertox-Ecoadvisor, e classificado na
Tabela de Áreas do Conhecimento do CNPq em Ciências Biológicas - 2.10.07.004 – Toxicologia. Seu foco está na publicação de contribuições científicas no
campo das Ciências Toxicológicas, com ênfase em todos os aspectos do
gerenciamento dos riscos químico e toxicológico que tenham repercussão sobre o
meio ambiente e a sociedade.
Para o ano de 2015, em que agora lançamos o primeiro número da revista, nosso
planejamento estratégico aprovado determina que continuemos a nos empenhar
cada vez mais para aumentar a penetração da Revinter e para assegurar sua
ascensão no Sistema Qualis da CAPES.
A verdadeira guerra travada entre a humanidade e os riscos químicos e
toxicológicos das substâncias químicas e dos processos produtivos que as
envolvem está mais cruenta do que nunca. A constatação de tal fato é,
infelizmente, muito fácil. Basta que sejam abertos os mais importantes jornais e
semanários do planeta. Dia-a-dia o noticiário destaca casos de acidentes e
derramamentos químicos, intoxicações as mais diversas, uso inadequado de
produtos
químicos
na
agricultura,
poluição
da
atmosfera,
drogadição,
intoxicações por medicamentos, aquecimento global e gases tóxicos, etc. O
inventário não tem fim, para nossa consternação. Mas se isso nos sensibiliza e
aborrece por uma lado, por outro nos magnifica a energia e a determinação de
prosseguirmos nessa batalha em busca do bem comum, contribuindo com a
captação e disseminação do conhecimento químico e toxicológico e sua interface.
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Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 8-130, fev. 2015
Editorial
É assim que surge então o número 1 do volume 7 da Revinter. Artigos de fôlego
e de largo interesse vêm a público, para conversar com o leitor e o pesquisador,
na consolidação de um diálogo que desde seu nascimento se pretende desigual.
Explicamos: de um lado da conversa apostamos numa Toxicologia como
interlocutor forte e seguro, e do outro lado, uma intoxicação cada vez mais rara
e ausente. É nosso sonho. É o ideal de todos nós!
Desejamos a todos uma boa leitura e convidamos a publicar e debater conosco
encaminhando contribuições para [email protected]
Fausto Antonio de Azevedo
Conselho Editorial Científico
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Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 8-130, fev. 2015
ISSN 1984-3577
São Paulo, v. 8, n. 1, fev. 2015
 2015 Intertox
Periódico científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado
meses: (2) fevereiro, (6) junho e (10) outubro.
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte.
As opiniões e informações veiculadas nos artigos são de inteira e exclusiva responsabilidade dos
respectivos autores, não representando posturas oficiais da empresa Intertox Ltda.
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Artigo Original; Artigo de Atualização; Comunicação Breve; Ensaio; Nota de Atualização e
Revisão; Notas
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Português e Inglês
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Disponível em: <http://revinter.intertox.com.br>.
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RevInter
–
Revista
Intertox
de
Toxicologia,
Risco Ambiental e Sociedade. / InterTox uma empresa do
conhecimento. – v. 8, n. 1, (fev. 2015).- São Paulo: Intertox. 2015.
Quadrimestral
ISSN: 1984-3577
1. Ciências Toxicológicas. 2. Risco Químico. 3. Sustentabilidade
Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento.
Biblioteca InterTox II. Título.
Rua Turiassú, 390 - cj. 95 - Perdizes - 05005-000 - São Paulo - SP – Brasil Tel.: 55 11 3872-8970
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1. Ciências Toxicológicas. 2. Risco Químico. 3. Sustentabilidade
Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento.
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Expediente
Editor(a)
Maurea Nicoletti Flynn
Doutora em Oceanografia (USP)
Com Especialização Ecologia
Comitê Científico (2011-2013)
Irene Videira Lima
Doutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal
Toxicologista do IML-SP por 22 anos.
Marcus E. M. da Matta
Doutor em Ciência pela Faculdade de Medicina
USP. Especialista em Gestão Ambiental (USP).
Engenheiro Ambiental e Turismólogo.
Moysés Chasin
Farmacêutico-bioquímico
pela
UNESP-SP
especializado em Laboratório de Análises
Clínicas e Toxicológicas e de Saúde Pública.
Ex-Perito Criminal Toxicologista de classe
especial e Diretor no Serviço Técnico de
Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal
da SSP/São Paulo. Diretor executivo da
InterTox desde 1999.
Ricardo Baroud
Farmacêutico-Bioquímico Toxicólogo, Editor
Científico
da
PLURAIS
Revista
Multidisciplinar da UNEB e da TECBAHIA
Revista Baiana de Tecnologia.
Conselho Editorial Científico (2011-2013)
Alice A. da Matta Chasin
Doutora em Toxicologia (USP)
Eduardo Athayde
Coordenador no Brasil do WWI - World Watch
Institute
Eustáquio Linhares Borges
Mestre em Toxicologia (USP), ex-Presidente da
Sociedade Brasileira de Toxicologia, exProfessor Adjunto de Toxicologia da UFBA.
Fausto Antonio de Azevedo
Mestre em Toxicologia USP, ex-Diretor Geral
do Centro de Recursos Ambientais do CRA-BA,
ex-Presidente do CEPED-BA, ex-Subsecretário
do Planejamento, Ciência e Tecnologia do
Estado da Bahia.
Isarita Martins
Doutora e Mestre em Toxicologia e Análises
Toxicológicas
(USP),
Pós-doutorado
em
Química Analítica (UNICAMP), FarmacêuticaBioquímica Universidade Federal de Alfenas
MG.
João S. Furtado
Doutor em Ciências (USP), Pós-doutorado
(Universidade da Carolina do Norte, Chapel
Hill, NC, EUA).
José Armando-Jr
Doutor em Ciências (Biologia Vegetal) (USP),
Mestre (UNICAMP), Biólogo (USF).
Sylvio de Queiroz Mattoso
Doutor em Engenharia (USP), ex-Presidente do
CEPED-BA.
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Sumário
TOXICOLOGIA
Humor Vítreo: Uma amostra biológica de interesse forense
8
Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas
ornamentais
19
Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson
45
27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon
58
ECOTOXICOLOGIA
Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos
desreguladores endócrinos estriol e estona
82
SOCIEDADE
Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com
estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - BA 100
Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de
um município do Piauí, Brasil
113
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Revisão
Humor Vítreo: Uma amostra biológica de
interesse forense
Vívian Romero Santiago
Perita legista da Perícia
Farmacologia Legal.
Forense
do
Ceará,
Especialista
em
Email: [email protected]
Auriana Serra Vasconcelos
Mestranda em Farmacologia da Universidade Federal do Ceará.
Natália Ferreira de Oliveira
Farmacêutica graduada pela Universidade Federal do Ceará.
Manuela Chaves Loureiro Cândido
Perita criminal da Perícia Forense do Ceará, Mestre em Química.
Bruna Estefânia Carvalho dos Santos
Perita legista da Perícia Forense do Ceará, Mestre em Patologia.
José Nilson Ferreira Gomes Neto
Professor
da
Universidade
de
Fortaleza,
Mestre
em
Ciências
Farmacêuticas.
SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália
Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho
dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse
forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.
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Revisão
RESUMO
A toxicologia forense se define como uma das disciplinas técnico-científica
que constituem as denominadas ciências forenses. Essa envolve de maneira
ampla a pesquisa de drogas em diversas matrizes biológicas. Não é possível
falar de Toxicologia Forense sem falar da toxicologia analítica. A detecção
de drogas de abuso nos casos postmortem pode apresentar dificuldade
quando comparado com espécimes coletadas “in vivo”. A partir dessas
dificuldades que são encontradas nas amostras biológicas esse trabalho
pretende apresentar uma alternativa para ser utilizada em screening
toxicológico, tendo como objetivo principal avaliar a possibilidade da
utilização do humor vítreo como espécime biológico para detecção de
toxicantes no post-mortem. Para isso será realizada uma revisão da
literatura que não somente trará conceitos iniciais da amostra como também
apresentará vantagens e desvantagens dessa amostra quando comparada a
outras atualmente utilizadas. Trata-se de uma revisão da literatura a partir
de artigos científicos encontrados de 2003 a 2013. A pesquisa utilizou as
bases de dados Sciencedirect, Scielo e Lilacs. Pode-se definir humor vítreo
como um gel situado por trás da lente do olho. É um espécime que pode ser
coletada em investigações médico-legais na rotina durante as necropsias. O
uso desse espécime com a finalidade de dosar
dois eletrólitos, glicose e
compostos de azoto, é bem elucidado. Em alguns casos a atividade
microbiana intensa e a fermentação da glicose que acontecem posmortem
podem ser responsáveis por uma produção de álcool. Por essa razão, outras
amostras são insuficientes para concluir um laudo medico legal. Portanto, a
utilização do humor vítreo para dosagem de algumas substâncias tem
grande valor. Dentre as principais funções consideradas essenciais da
medicina legal, incluem-se as investigações forenses, que envolvem em sua
maioria, a causa de morte. A partir desta revisão, foi possível determinar o
humor vítreo como espécime biológico que, apesar de ainda não ter sua
SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália
Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho
dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse
forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.
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Revisão
utilização consolidada, apresenta inúmeras vantagens, podendo ser utilizado
mesmo com a degradação do organismo vivo.
Palavras-chave: Humor Vítreo, Espécimes Biológicos, Detecção de
Toxicantes.
ABSTRACT
Forensic toxicology is defined as one of the technical and scientific discipline
that constitute the so-called forensic sciences. This involves broadly drug
research in various biological matrices. Is not possible to speak about
forensic toxicology without mentioning analytical toxicology. The detection
of drugs of abuse in postmortem cases can present difficulties when
compared with specimens collected "in vivo". From these difficulties, found
in biological samples, this work aims to provide an alternative to
toxicological screening, having as main objective to evaluate the possibility
of using the vitreous humor as a biological specimen for the detection of
toxicants in post-mortem. This literature review will not only introduce the
initial concepts of sample but also present advantages and disadvantages of
this particular sample when compared to others currently in used. A review
of scientific articles from 2003 to 2013 at the bases science direct, lilacs and
scielo, were done. Humor vitreous can be defined as a gel located behind the
lens of the eye. It is a specimen that can be collected in legal investigations
in routine during autopsies. The use of this specimen in place of the
electrolytes, glucose and nitrogen compounds, is elucidated. In some cases,
intense microbial activity and fermentation of glucose occurring posmortem
may be responsible for the production of alcohol. For this reason, other
samples are insufficient in order to complete a medico legal report.
Therefore, the use of vitreous humor has great value. Among the main
functions considered essential, forensic includes forensic investigations,
SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália
Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho
dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse
forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.
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Revisão
involving mostly the cause of death. From this review, we can determine the
vitreous body as a biological specimen; although it has not yet had it use
consolidated, it presents a larger number of advantages, including the
possibility of use even with the deterioration of the living organism.
Keywords: Vitreous Humor, Biological Specimens, Detection of Toxicants.
INTRODUÇÃO
A toxicologia forense é definida como uma das disciplinas técnicocientífica que constituem as denominadas ciências forenses. Essa envolve de
maneira ampla a pesquisa de drogas em diversas matrizes biológicas
(Society of Forensic Toxicologists 2013).
Não é possível falar de toxicologia forense sem falar da toxicologia
analítica. Isso faz com que uso das ferramentas apresentadas para análises
qualitativas, como a
química analítica, possam aumentar a
análise de
quantidade de substâncias de interesse toxicológico que podem se
apresentar em diferentes matrizes biológicas (GARCÍA-RODRÍGUEZ e
GÍMENEZ 2005).
A detecção de drogas de abuso nos casos post-mortem pode apresentar
uma maior dificuldade quando comparado com espécimes coletadas “in
vivo”. Quando se vai determinar a concentração de drogas em matrizes
biológicas é importante se ter conhecimento da estabilidade da substância
em tais tecidos. Esta situação é mais relevante em toxicologia forense, onde
os tecidos são susceptíveis a exposição por períodos prolongados. A extensão
da alteração química no intervalo post-mortem, ou mesmo no metabolismo
que ocorre após a morte, pode afetar a interpretação dos resultados. Como
algumas drogas são conhecidas pela sua natureza instável é mais indicado
utilizar as amostras biológicas que não sofrem essa alteração (ROBERTSON
e DRUMMER 1995; MORIYA e HASHIMOTO 1996).
SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália
Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho
dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse
forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.
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Revisão
Uma vantagem de amostras coletadas do post-mortem quando
comparadas as situações clínicas habituais é a diversidade de amostras que
podem ser coletadas. A escolha da amostra é muitas vezes determinadas
pelo caso que está sendo investigado, no entanto, as espécimes mais comuns
utilizadas para a análise de drogas de abuso em caso de necropsia são o
sangue, no fígado e na urina, ou ainda, músculo, tecido adiposo, pulmão,
cérebro, ossos, e até mesmo, em casos de corpos em estado de putrefação,
pode-se coletar
insetos que estejam alojados ao hospedeiro. No entanto,
espécimes como humor vítreo e cabelo tem usos importantes em casos de
rotina, enquanto cérebro, músculo, gordura, osso e derrames pleurais tem
aplicações mais especializadas (DRUMMER 2004).
A qualidade das perícias depende dos avanços científicos, aspecto
fundamental
da
toxicologia
forense.
É
necessário
que
ocorra
a
implementação correta de metodologias validadas para quantificação de
tóxicos. Aliado a isso, é indispensável realizar posteriormente uma
interpretação adequada baseada na quantificação dessas substancias tóxicas
(GARCÍA-RODRÍGUEZ e GÍMENEZ 2005).
A partir das dificuldades encontradas nas amostras biológicas, esse
trabalho pretende apresentar uma alternativa para ser utilizada em
screening toxicológico, tendo como objetivo principal avaliar a possibilidade
da utilização do humor vítreo como espécime biológico para detecção de
toxicantes no post-mortem. Para isso será realizada uma revisão da
literatura que não somente trará conceitos iniciais da amostra como também
apresentará vantagens e desvantagens dessa amostra quando comparada a
outras atualmente utilizadas.
MÉTODOS
Trata-se de uma revisão da literatura a partir de artigos científicos
encontrados de 2003 a 2013. A pesquisa utilizou as bases de dados
Sciencedirect, Scielo e Lilacs, incluindo estudos publicados em português,
SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália
Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho
dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse
forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.
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Revisão
inglês ou espanhol. Após a leitura dos artigos encontrados nas bases de
dados, foram selecionados todos os relacionados com o tema, correspondendo
a um total de 20 artigos.
REVISÃO DA LITERATURA
Definição do humor vítreo
Pode-se definir humor vítreo como um gel situado por trás da lente do
olho (BOST 1997). Embora seja tecnicamente classificado como gel pode ser
considerado um fluido, que pode ser viscoso dependendo de sua constituição.
Pode ser constituido por colágeno e outras proteinas, responsáveis por sua
viscosidade. É um espécime que pode ser coletado em investigações médicolegais na rotina durante as necropsias. O uso desse espécime com a
finalidade de dosar dois eletrólitos, glicose e compostos de azoto, é bem
elucidado (SUNSHINE 1990). Além disso, alguns autores utilizam essa
amostra na rotina
a testes de etanol (LEVINE 2002).
O humor vítreo
recebeu recentemente interesse como matriz para a detecção de drogas de
abuso e relatos foram publicados descrevendo estudos da detecção de
opiáceos, anfetaminas e cocaína e metabolitos (ZHU et al. 2002; ZHU et al.
2002; ZHU et al. 2005; ZHU et al. 2005; Li et al. 2006).
Vantagens apresentadas pelo humor vítreo em relação a outras
amostras biológicas
Para escolha da amostra biológica mais adequada para utilização nas
análises deve ser examinado tanto o estado do corpo, como também o tempo
entre a morte e a autópsia. Deve-se ressaltar que as condições ambientais
(temperatura e umidade), e a natureza do espécime coletado para análise,
são fatores importantes a considerar.
Em alguns casos a atividade microbiana intensa e a fermentação da
glicose que acontecem post-mortem podem ser responsáveis por uma
produção de álcool (KUGELBERG e JONES 2007). Além disso, pode ocorrer
SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália
Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho
dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse
forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.
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Revisão
uma difusão do álcool contido no estômago para os locais aonde serão
realizadas coletas. Outro fator importante é o tempo entre a ingestão do
álcool e a morte (COOK et al. 2000 apud KUGELBERG e JONES 2007). Por
essa razão, algumas amostras biológicas como o sangue são insuficientes
para concluir um laudo medico legal.
Portanto, a utilização do humor vítreo para dosagem de algumas
substâncias tem grande valor (DRUMMER 2004).
Importância das amostras biológicas para medicina legal
Dentre as principais funções consideradas essenciais da medicina legal se
incluem as investigações forenses, que envolvem em sua maioria a causa de
morte. Para determinar a causa da morte é necessário que seja feita uma
interpretacão dos exames laboratorias usando um amplo espectro de
marcadores
que
envolvem
a
morfologia,
toxicologia,
microbiologia,
bioquímica e biologia molecular. Alem disso, a bioquímica realizada no postSANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália
Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho
dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse
forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.
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Revisão
mortem tornou-se um procedimento auxiliar importante na determinação da
causa e hora da morte (COE 1993; ZHU et al. 2002; ZHU et al. 2002, ZHU
et al. 2005, ZHU et al. 2005; LI et al. 2006, ZHU et al. 2006; ZHU et al.
2006; ZHU et al. 2007; ZHU et al. 2007). A possível utilidade da
investigação de biologia molecular tem sido também descrita (ISHIDA et al.
2002; ZHAO et al. 2006; ZHAO et al. 2006; ZHU et al. 2008).
CONCLUSÃO
Existe um desafio grande para os toxicologistas relacionado as
amostras post-mortem. Dentre as principais variáveis está a seleção de
amostras que sejam apropriadas para englobar análises de variadas drogas.
Para isso é imprescindível que se saiba qual substância será pesquisada e a
partir disso adequar a espécime que será utilizada.
A partir desta revisão, foi possível determinar o humor vítreo como
espécime biológica que, apesar de ainda não ter sua utilização consolidada, é
uma das amostras que apresenta um maior número de vantagens, podendo
ser utilizada mesmo com a degradação do organismo vivo.
Sugere-se, portanto, que estudos posteriores venham a padronizar
e/ou validar metodologias com este espécime.
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SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália
Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho
dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse
forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.
17
Revisão
ZHU, B-L.; TANAKA, S.; ISHIKAWA, T.; ZHAO, D.; LI, D.R.; MICHIUE, T.;
et al. Forensic pathological investigation of myocardial hypoxia-inducible
factor-1 alpha, erythropoietin and vascular endothelial growth factor in
cardiac death. Leg. Med., v. 10, p. 11–19, 2008.
SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália
Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho
dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse
forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.
18
Revisão
Entre a beleza e o perigo: uma
abordagem sobre as plantas tóxicas
ornamentais
Paulo Henrique da Silva
Licenciado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí Campus Senador Helvídio Nunes de Barros.
Ykaro Richard Oliveira
Licenciado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí Campus Senador Helvídio Nunes de Barros.
Ana Patrícia de Jesus Silva
Acadêmica do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas,
Universidade Federal do Piauí - Campus Senador Helvídio Nunes de
Barros.
Victor de Jesus Silva Meireles
Doutorando em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais –
UEM/UFPI. Professor Assistente I, Curso de Ciências Biológicas,
Universidade Federal do Piauí- Campus Senador Helvídio Nunes de
Barros.
Maria Carolina de Abreu
Doutora em Botânica, Professora Adjunto II, Curso de Ciências
Biológicas, Universidade Federal do Piauí- Campus Senador Helvídio
Nunes de Barros.
E-mail: [email protected]
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
19
Revisão
RESUMO
O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica acerca das plantas
tóxicas ornamentais, uma vez que, muitos vegetais, alguns de beleza
singular, representam grandes riscos a nossa integridade vital, seja pelo
simples contato com a pele, ingestão, seja pela inalação, em virtude da
presença de princípios tóxicos. Comumente, tais plantas são cultivadas
dentro dos nossos domicílios, sem o devido conhecimento acerca da sua
toxicidade, o que acaba favorecendo a ocorrência de intoxicações. Embora o
interesse e o conhecimento acerca da toxicidade de plantas datem de tempos
remotos, ainda nos dias de hoje, inúmeros acidentes toxicológicos acontecem
em decorrência da falta de conhecimento da população em geral quanto aos
vegetais tóxicos, onde, na maioria dos casos ocorre com crianças menores de
nove anos de idade, na maior parte, acidentalmente. Assim, torna-se
imprescindível conhecer os vegetais perigosos da região, da residência e do
quintal, conhecendo-os pelo aspecto e pelo nome, bem como acerca dos seus
princípios ativos. O estudo teve por objetivo o levantamento de dados e
informações sobre o tema abordado, desde conceitos até aspectos tóxicos e
preventivos acerca das plantas tóxicas, com a caracterização de algumas
plantas ornamentais de interesse toxicológico. Os materiais foram coletados
por meio de ferramentas virtuais de pesquisa, além de livros-textos e outros
documentos de referência na área, abrangendo um recorte temporal de 1977
a 2013. Assim, medidas e trabalhos educativos junto à população acerca das
plantas tóxicas, sobretudo crianças, torna-se de grande necessidade, posto
que, esta ainda é a melhor maneira de prevenir acontecimentos
indesejáveis.
Palavras chaves: Intoxicação por vegetais, princípios tóxicos, medidas
preventivas.
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
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Revisão
ABSTRACT
This study deals with a literature review about the ornamental toxic plants,
since many vegetables, some of singular beauty, pose great risks to our vital
integrity, either by skin contact, ingestion or by inhalation, in due to the
presence of toxic principles. These plants are grown within our homes,
without proper knowledge about their toxicity, which ends up favoring the
occurrence of poisoning. Although interest and knowledge on the toxicity of
plants date from ancient times, even today, many toxicological accidents
happens due to the lack of public knowledge in general about toxic plants,
where, in most cases occurs with children less than nine years old, mostly
accidentally. Thus, it is essential to know the dangerous plants in the
region, in the house and the yard, getting to know them by aspects, by name
and about their active principles. The study aimed to data collection and
information about the topic, from concepts until toxic and preventive aspects
about toxic plants, with the characterization of some ornamental plants of
toxicological interest. The materials were collected through virtual research
tools in addition to textbooks and others reference documents in the area,
covering a time frame among 1977 to 2013. Thus, measures and educational
works with the population about toxic plants, especially children, are of
great need, since this is still the best way to prevent undesirable events.
Keywords: Preventive measures, poisoning with plants, toxic principles.
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
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Revisão
INTRODUÇÃO
A cada ano, são registrados vários casos de intoxicações por plantas
tóxicas ornamentais, que envolvem principalmente crianças e pequenos
animais de estimação. Os Centros de Informações Toxicológicas no Brasil
anunciam um expressivo número de intoxicações e de óbito de crianças que
ingeriram de forma acidental plantas ornamentais tóxicas (DIP et al., 2004).
Muitas plantas, algumas de incrível beleza, são potencialmente
perigosas a nossa saúde, tanto caso sejam ingeridas quanto pelo simples
contato com a pele, mucosas ou os olhos, em decorrência da presença de
toxinas. E não é raro tais plantas serem cultivadas dentro das residências,
como plantas ornamentais (SOARES et al., 2007)
Vasconcelos et al. (2009) expõem que as plantas tóxicas podem ser
encontradas em todos os lugares, seja como ornamentais dentro das
residências ou nos jardins e praças. Além disso, é bastante comum a
ocorrência de plantas tóxicas nas áreas rurais, as quais não são conhecidas
pelas populações locais, o que acaba favorecendo o acontecimento de
intoxicações.
Oliveira e Akisue (1997) destacam que toda planta é potencialmente
tóxica e, conforme Rodrigues e Copatti (2009), as plantas tóxicas
apresentam substâncias que, por suas propriedades naturais, físicas ou
químicas, modificam o conjunto funcional-orgânico em vista de sua
incompatibilidade vital, levando o organismo vivo a diversas reações
biológicas.
A carência de conhecimentos a respeito da toxicidade de espécies
utilizadas habitualmente pode conduzir a sérias consequências, já que as
plantas tóxicas possuem algum tipo de efeito lesivo ou substâncias
prejudiciais (SILVA et al., 2010). E, para um reconhecimento preciso dos
problemas com plantas tóxicas é imprescindível ter familiaridade com as
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
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Revisão
plantas da região, compreendendo as de jardins e ornamentais presentes no
interior dos lares, e do conhecimento das variações sazonais na concentração
de substâncias tóxicas (OSWEILER, 1998).
Deste
modo,
em
decorrência
do
perigo
que
muitas
plantas
ornamentais representam diante dos seus princípios tóxicos, bem como pela
proximidade em que as pessoas e/ou animais tem com estas plantas, haja
vista o amplo uso e/ou cultivo destas para finalidades estéticas dos
ambientes, este estudo tem por objetivo a realização de uma abordagem de
caráter bibliográfico acerca das plantas tóxicas ornamentais, abrangendo
desde a esfera conceitual, tóxica até meios profiláticos acerca destas plantas,
com a caracterização tóxica de alguns vegetais que são amplamente
utilizados pelo seu caráter ornamental, para assim alertar à população em
geral sobre o perigo que se abriga por trás da beleza de muitas plantas.
MÉTODOLOGIA
O referido estudo foi conduzido através de uma pesquisa bibliográfica,
considerando a relevância do tema abordado. E, para que a mesmo fosse
desenvolvido de forma completa, elucidativa e confiável, os dados e
informações pesquisados foram obtidos por meio do SciELO (Scientific
Eletronic Library Online), PubMed, BDTD (Banco Digital Brasileiro de
Teses e Dissertações) e Google Acadêmico, selecionando-se estudos em
português e em inglês, além de livros-textos e outros documentos de
referência na área, abrangendo um recorte temporal de 1977 a 2013.
Os termos chaves empregados para a busca foram: plantas tóxicas,
plantas venenosas, plantas ornamentais, plantas ornamentais tóxicas,
toxicidade de plantas, intoxicação por plantas, princípios ativos de vegetais,
princípios tóxicos das plantas, plantas ornamentais de importância
toxicológica, plantas tóxicas do Brasil, Allamanda cathartica, Dieffenbachia
picta, Dieffenbachia ssp., Zantedeschia aethiopica, Datura suaveolens,
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
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Revisão
Euphorbia milii, Euphorbia tirucalli, Caladium bicolor, Nerium oleander,
Thevetia peruviana, prevenção contra intoxicação com plantas, medidas
preventivas.
DESENVOLVIMENTO
Considerações gerais acerca das plantas tóxicas e ornamentais
Consoante Schvartsman (1992), o interesse e o conhecimento sobre a
toxicidade das plantas datam de tempos remotos e, sua relevância é
compreendida
ora
como
instrumento
de
caça,
através
de
flechas
envenenadas, ora como um meio adverso intencional de envenenamento
para finalidades políticas, militares e pessoais como os sucedidos na Idade
Média. Deste modo, o interesse mais eminente sobre as plantas tóxicas está
atrelado com o potencial de causar intoxicações em seres humanos ou em
animais (SCHENKEL et al., 2002).
Andrade Filho et al. (2013) enfatizam que as plantas consideradas
tóxicas são aquelas cujas pela inalação, ingestão e/ou contato tem a
capacidade de causarem efeitos lesivos ou distúrbios em organismos
humanos e de animais.
Diante da sua complexidade, os vegetais apresentam um metabolismo
extraordinário, que leva a síntese de um grande número de substâncias
químicas, dentre elas, substâncias que podem ser tóxicas e irritantes para
determinados
organismos.
Entretanto,
a
simples
presença
dessas
substâncias em uma determinada planta não é suficiente para qualificá-la
como tóxica (OLIVEIRA et al., 2003). De acordo com Souza et al. (2010), é
essencial o conhecimento acerca dos componentes químicos das plantas para
a elucidação dos inúmeros aspectos relacionados aos casos de intoxicação,
bem como para a identificação de potenciais substâncias químicas de ação
tóxica.
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
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Revisão
Saliente-se que vários conceitos equivocados vêm sendo propagados
sobre as plantas tóxicas. Um deles faz referência à alegada existência de
instinto nos animais, o que os protegeria da ingestão de plantas tóxicas.
Porém, o consumo de vegetais pelos animais é condicionado pela satisfação
que o animal tem ao ingerir o alimento. Também está bem difundido o
conceito de que a toxicidade dos vegetais estaria relacionada à presença de
lactescência, o que não é verdadeiro, uma vez que a maioria das plantas
tóxicas não possuem esta característica, além do que, nem toda as plantas
lactescentes são tóxicas. Além disto, muitos consideram que certas plantas
sejam capazes de causar intoxicação com poucas folhas e que os efeitos
surjam imediatamente. Todavia, nenhuma das plantas conhecidas é tão
tóxica a ponto de a morte sobrevir poucos minutos após a ingestão de poucas
folhas (TOKARNIA et al., 2000).
Plantas ornamentais são aquelas cultivadas por seu caráter de beleza
– se bem que o conceito sobre tais plantas é bastante relativo e particular ao
observador, uma vez que se relaciona a sentimentos estéticos particulares –
sendo bastante utilizadas na arquitetura de interiores e no paisagismo de
ambientes externos (BARROSO et al., 2007). Assim, muitas destas plantas
apresentam potenciais tóxicos e quando seu princípio ativo entra em contato
com o organismo humano ou animal, ocasionam agravos que se refletem na
saúde e na vitalidade destes seres (HARAGUCHI, 2003).
Nos dias de hoje, as plantas ornamentais estão cada vez mais
ocupando espaços livres em jardins, praças, interiores de residências e de
ambientes de trabalho, haja vista que muitas delas se adaptam a condições
ambientais diferentes. Deste modo, são facilmente acessíveis a crianças e
adultos, podendo constituir meios de intoxicações. A grande parte das
espécies vegetais tóxicas são comuns e cultivadas em jardins como
ornamentais, porém, existem poucas informações disponíveis e agrupadas de
maneira que atinja a toda a população (LOPES et al., 2009).
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
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Revisão
Convém colocar em relevo que muitos populares e, sobretudo,
profissionais que manejam plantas ornamentais, na grande parte das vezes,
não possuem informações a respeito da composição química de tais plantas e
acabam utilizando-as como adorno, apenas por sua bela capacidade
ornamental e facilidade de manejo, não levando em conta os aspectos
prejudiciais que alguns vegetais podem ocasionar quando são manipulados
incorretamente. (OLIVEIRA et al., 2003)
Intoxicação por plantas
Conceituando intoxicação, Lomba (2007) caracteriza como sendo a
introdução voluntária ou involuntária de substância danosa ao organismo,
capaz de produzir consequências de alterações significativas das funções
vitais e que pode advir por inalação, ingestão e por contato direto com o
tegumento.
Segundo Lima et al., (1995), o processo de intoxicação vegetal pode
ser: fulminante, quando leva a morte do indivíduo; aguda, quando o
organismo apresenta defesa orgânica e crônica quando o indivíduo
apresenta equilíbrio funcional orgânico que bloqueia a atividade tóxica.
Destaque-se que quanto à diversidade de ação tóxica em espécies
diferentes, há certa relação entre o desenvolvimento cerebral dos animais e
a sua susceptibilidade para as substâncias tóxicas distintas. Aquelas que
agem sobre os centros nervosos são bem mais lesivas para o homem do que
para outros animais, ainda que diferenças digestivas também desempenhem
efeitos relacionados com a ação de uma mesma substância tóxica sobre
diversas espécies (LIMA et al, 1995).
Para que ocorra a intoxicação, seja por ingestão de uma dose tóxica,
seja pelo contato por meio da pele, os mecanismos próprios de defesa da cada
organismo devem ser vencidos. Assim sendo, uma espécie vegetal pode ser
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
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Revisão
potencialmente tóxica e, apesar disso, não causar a intoxicação, gerando
neste caso, a ideia equivocada de falta de toxicidade (SIMÕES et al., 1999).
Ademais, o nível de toxicidade de uma planta vai depender de alguns
fatores, tais como, a saber: parte da planta ingerida, posto que diferentes
regiões de uma planta possuem diferentes substâncias químicas e/ou
distintas concentrações da mesma; a idade da planta e a situação de
amadurecimento do fruto; a taxa de sensibilização do indivíduo aos
compostos da espécie vegetal ingerida, bem como a quantidade ingerida e a
forma da ingestão (OLIVEIRA; AKISUE, 1997).
Lima et al. (1995) defendem que a relação entre a parte tóxica e ação
de toxidez pode estar ligada aos processos endógenos na planta como a
síntese de hormônios, a influência do ambiente onde a temperatura e a
umidade produzem o aumento ou a diminuição na quantidade dos princípios
tóxicos na planta ou produtos do metabolismo secundário como fator de
proteção contra herbivoria, predação ou patógenos.
Nos dias atuais, os saberes sobre plantas tóxicas não alcançam a
população nem mesmo os especialistas do campo de saúde o suficiente de
maneira a evitar acidentes causados pelas intoxicações por plantas
ornamentais, o que proporciona um risco ainda maior na ingestão de certos
tipos de plantas, caso não tenha um atendimento rápido e eficiente.
(OLIVEIRA et al., 2003).
Pinillos et al. (2003) também comentam que a desinformação dos
indivíduos junto a sua cultura e a quantidade ingerida pelo paciente, são
alguns dos fatores que dificultam num diagnóstico, assim como o seu
tratamento. Ainda segundo este autor, as intoxicações por plantas são
comuns tanto pelo consumo de espécies tóxicas por erro de identificação,
como pela quantidade ingerida em excesso, sem contar no consumo
negligente das crianças quando ingerem, durante as brincadeiras, partes de
plantas coloridas e atrativas.
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
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Revisão
Silva e Takemura (2006) discorrem que também é muito comum
atendimentos de urgência sem a associação dos sinais e sintomas com o
produto ingerido, o que dificulta o diagnóstico etiológico. Várias plantas
ornamentais são tóxicas e podem oferecer risco à população e, comumente,
as principais vítimas destas plantas são animais e crianças, haja vista não
reconhecerem o perigo que estes vegetais proporcionam.
Aqui no Brasil, a cada dez casos de intoxicação por plantas, seis
acontecem em crianças menores de nove anos de idade, devido à presença de
plantas tóxicas em espaços públicos, inclusive nas escolas. Também são
frequentes as intoxicações entre os adultos, sendo sobretudo causadas, pelo
uso
impróprio
de
plantas
medicinais,
alucinógenas
e
abortivas
(VASCONCELOS et al. 2009).
Semelhantemente, dados do Fiocruz através do sítio eletrônico do
Sistema
Nacional
de
Informação
Tóxico-Farmacológicas
(SINITOX) mostram que 60% dos casos de intoxicação por plantas tóxicas no
Brasil ocorrem com crianças menores de nove anos, dos quais 80% deles são
acidentais.
O envenenamento causado por plantas tóxicas ornamentais também é
um
problema
encontrado
na
Medicina
Veterinária,
comprometendo
pequenos e grandes animais, incidindo em todas as épocas do ano e em todo
o território nacional (MELO, 2000). A intoxicação por plantas ornamentais,
no caso de pequenos animais, ocorre geralmente por curiosidade, tédio,
idade do animal e alteração e/ou mudança de ambiente (ANDRADE et al.,
2001).
Convém também citar que, na pecuária, a ingestão de plantas tóxicas
representa uma expressiva causa de prejuízos econômicos posto que
influenciam diretamente na produção animal (BARBOSA et al., 2007).
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
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Revisão
Portanto, as intoxicações estão presentes no dia-a-dia de cada
indivíduo, e por causa disso, numerosos acidentes domésticos toxicológicos
acontecem em virtude da deficiência de conhecimento da população,
especialmente ao se analisar os hábitos e os costumes dos moradores. A
intoxicação pode ser marcada como uma manifestação por meio de sinais e
sintomas, que acontecem no organismo vivo, posteriormente a exposição a
um certo tipo de produto ou substância, induzindo ao surgimento de
modificações bioquímicas, funcionais e/ou sinais clínicos que são compatíveis
com o quadro de intoxicação (PINILLOS et al., 2003).
Princípios ativos
As plantas são organismos complexos e, para tanto, seus processos
levam à síntese de uma variabilidade de substâncias químicas, substâncias
estas como por exemplo, proteínas, lipídios, carboidratos e ácidos nucléicos,
originárias do metabolismo primário, as quais são comuns a todos os seres
vivos, sendo utilizadas no crescimento, na reprodução e na manutenção do
vegetal (SILVA, 2009).
Contudo, um conjunto de compostos químicos produzidos pelas
plantas se direcionam a outros propósitos: os pigmentos (flavonóides,
antocianinas
e
betalaínas)
e
os
óleos
essenciais
(monoterpenos,
sesquiterpenos e fenilpropanóides) atraem polinizadores, enquanto algumas
outras substâncias como os taninos, as lactonas sesquiterpênicas, os
alcalóides e os iridóides, além de possuírem sabores desagradáveis, podem
ser tóxicas e irritantes para outros organismos. Tais substâncias, oriundas
de rotas biosintética diversas, são produtos do metabolismo secundário
(VICKERY; VICKERY, 1981).
Ocorrem, em todas as partes do planeta, plantas que contêm venenos
ou princípios tóxicos, os quais apresentam a capacidade de perturbar ou
destruir as funções vitais essenciais de organismos animais e do próprio
homem. A ação desses venenos ou princípios tóxicos pode variar muito. Pode
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
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Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
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Revisão
ser através da ingestão de suas partes, pelo mero contato ou ingestão das
substâncias que de certa maneira comprometeram a água, por exemplo
(BARSA, 1994). Em consonância com Franco (1996) e Korbes (1995), a
concentração de princípios ativos alcança os maiores valores no período de
floração, em decorrência, possivelmente, ao elevado acúmulo de massa seca
na planta.
Conforme
destaca
Cheeke
(1998),
as
classes
químicas
mais
importantes de compostos tóxicos presentes nos vegetais são os alcaloides,
glicosídeos, lecitinas e ácidos orgânicos. Existe também os minerais
absorvidos do solo e acumulados na planta, como o selênio, bário, nitratos e
oxalatos.
Deste modo, a ação de toxicidade de um vegetal se deve a presença de
componentes químicos, ou princípios ativos tóxicos. Dentre os principais
metabólitos que causam intoxicações estão: as toxalbuminas (ricina e
curcina), provenientes do metabolismo primário das plantas; alcaloides,
terpenos e compostos fenólicos diversos, do metabolismo secundário. Deve-se
ainda mais uma vez frisar, que a intoxicação vai depender da quantidade de
substância tóxica absorvida, da natureza dessa substância e do meio de
introdução (HARAGUCHI, 2003).
Andrade Filho et al. (2001) também afirmam que variadas espécies de
vegetais sintetizam substâncias que têm a capacidade de desempenhar ação
extremamente tóxica em um organismo vivo. Exemplos dessas substâncias
são
os
alcalóides
beladonados,
alcalóides
cumarínicos,
alcalóides
pirrolizidínicos, glicosídeos cianogênicos (HCN), glicosídeos cardiotóxicos,
oxalato de cálcio, proteínas tóxicas (toxicoalbuminas), resinas (alcoóis,
ácidos e fenóis), saponinas, dentre outros.
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
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Revisão
Algumas plantas ornamentais de importância toxicológica
Allamanda cathartica L. (Apocynaceae)
Allamanda cathartica conhecida como alamanda, alamanda-amarela,
carolina ou dedal-de-dama (LORENZI; SOUZA, 1999), é uma planta
arbustiva ornamental, latescente e avaliada tóxica. Sua ingestão ocasiona
distúrbios gastrointestinais em humanos (OLIVEIRA et. al., 2003).
Espécies de Allamanda são conhecidas pela síntese de princípios
ativos, dentre os quais se destacam os iridóides (ANDERSON et al., 1988).
Lorenzi e Matos (2002) acrescem que espécies do gênero Allamanda
apresentam
metabólitos
secundários
com
expressiva
atividade
farmacológica, como: os irinóides, flavonóides, cumarinas e terpenoides. As
flores de Allamanda cathartica possuem flavonóides como metabólitos
secundários principais.
Toda a planta é considerada tóxica, sobretudo o látex, o qual pode
acarretar distúrbios gastrointestinais severos, tais como náuseas, vômitos,
cólicas e diarréia (LORENZI; MATOS, 2002; SCHENKEL et al., 2003a).
Além disso, alterações hidroeletrolíticas são complicações frequentes
(SCHVARTSMAN, 1992). Em bovinos, a planta causa cólica, edema do
rúmen e congestão da mucosa do trato digestivo (LORENZI; MATOS, 2002).
Em casos de intoxicação com esta planta, pode ser feita lavagem
gástrica, todavia deve-se ter cautela ao realizar esse processo, em
decorrência
das
propriedades
cáusticas
desse
vegetal.
É
também
recomendado o tratamento sintomático das alterações gastrointestinais e
dos possíveis distúrbios eletrolíticos (SCHVARTSMAN, 1992).
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
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Dieffenbachia picta Schott (Araceae)
Conhecida como comigo-ninguém-pode, também é popular no Brasil
como aningá-do-pará (FERREIRA et al., 2006), bananeira-d’água (Ceará),
cana-de-imbé dentre outras denominações regionais (BARG, 2004).
Sua ação tóxica é conhecida há muito tempo. Documentos do
julgamento do Tribunal de Nurenberg indicam que os nazistas usavam o
extrato aquoso da planta em indivíduos presos nos campos de concentração,
com a finalidade de esterilizá-los, e, que os escravos jamaicanos eram
castigados pelos "senhores", tendo partes da planta esfregadas em suas
bocas (GARDNER, 1994).
A Dieffenbachia spp. tem sido caracterizada como uma das plantas
que mais ocasionam intoxicações, consoante dados dos Centros de
Informações e Controle de Intoxicações (SILVA; USHIROBIRA, 2010).
A Dieffenbachia ssp. apresenta numerosas ráfides de oxalato de cálcio
em formato de agulhas nas suas folhas e haste, as quais são as principais
responsáveis pelos ferimentos causados por essa planta. A ingestão por via
oral de alguma parte da Dieffenbachia ssp. pode acarretar dor imediata,
edema da língua, salivação, úlcera, vômitos, diarréia, e disfagia. Além disto,
a toxicidade ocular causa severa dor, inchaço, fotofobia, blefarospasmo,
lacrimejamento, lesão da córnea e conjuntivites (CUMPSTON et al., 2003).
Existem controvérsias a respeito da intoxicação trazida por D. picta.
Certos autores avaliam que ocorre apenas irritação mecânica pela ação das
ráfides, e outros que acontece irritação mecânica seguida da penetração de
componentes químicos contidos nas fendas e farpas das ráfides, os quais são
capazes de provocar inflamações (SAKAI et al., 1972).
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
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Zantedeschia aethiopica (L.) Spreng. (Araceae)
Conhecida como arum, calla lily, lírio-do-nilo ou copo-de-leite, tal
espécie é uma monocotiledônea ornamental que pertence à família Araceae e
nativa do continente africano. (KRITZINGER et al., 1998).
Esta espécie, assim como outras da família Araceae, tem como
característica anatômica marcante a presença de um amplo número de
idioblastos contendo cristais de oxalato de cálcio, em formato de agulhas,
nomeadas de ráfides. Esses idioblastos encontram-se me todas as partes do
vegetal e são ejetores. Ademais, nos tecidos vegetais encontram-se também
quantidades apreciáveis de ácido oxálico e seus sais solúveis, onde de acordo
com alguns autores, podem gerar um quadro de intoxicação por oxalato
(SCHENKEL et al., 2003a).
No que tange aos aspectos sintomatológicos, Barg (2004) explicita que
a seiva ocasiona inflamações na garganta e boca; a planta provoca irritação
das mucosas, edema de lábio, língua e palato; cólicas abdominais, náuseas e
vômitos; além disso, o contato com os olhos origina edema, fotofobia e
lacrimejamento.
Datura suaveolens Humb. & Bonpl. ex Willd. (Solanaceae)
Nativa da América do Sul e hoje em dia conhecida apenas como
planta cultivada, a D. suaveolens vem acompanhando o ser humano durante
os vários estágios da civilização. Dentre os indígenas americanos é,
possivelmente, a espécie que há mais tempo tem sido usada por causa de
suas propriedades psicotrópicas (SCHENKEL et al., 2003b).
Matos (2012) relata alguns nomes populares os quais tal espécie pode
ser reconhecida, dependendo da regionalidade, como: trombeta, trombeta-deanjo, trombeteira, cartucheira, zabumba, saia-branca, além disto, aponta
que todas as partes da planta são tóxicas apresentando como princípios
ativos, os alcaloides beladonados (atropina, escopolamina e hioscina).
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
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Concernente à sintomatologia, de acordo com o sítio eletrônico do
SINITOX, a ingestão pode provocar boca seca, pele seca, taquicardia,
dilatação das pupilas, rubor da face, estado de agitação, alucinação,
hipertermia e, nos casos mais graves pode levar a óbito.
Euphorbia milii Des Moul. (Euphorbiaceae)
Originária da Ilha de Madagascar, a coroa-de-cristo é uma arbusto
perene, muito ramificado, com látex, com ramos angulosos, armados de
numerosos espinhos de até 2,5 cm de comprimento. Das partes aéreas do
vegetal foram isolados princípios tóxicos, os diterpenos denominados
miliaminas, responsáveis pela ação irritante (UEMURA; HIRATA, 2001).
Conforme o site do SINITOX, o látex provoca lesão na pele e
mucosas, edema de lábios, boca e língua, dor em queimação e coceira; o
contato com os olhos gera irritação, lacrimejamento, edema das pálpebras e
dificuldade de visão e, caso ingerido pode provocar náuseas, vômitos e
diarreia.
Euphorbia tirucalli L. (Euphorbiaceae)
Oriunda da África e trazida para o Brasil com fins ornamentais, ficou
aqui popularmente conhecida como graveto-do-cão, árvore lápis ou mais
comumente como aveloz (FURSTENBERGER; HECKER, 1985), sendo
também muito cultivada para a formação de cercas vivas de maneira a
separar as lavouras agrícolas ou propriedades, principalmente na região
Nordeste do Brasil (LORENZI; MATOS, 2002).
O látex desta planta é considerado tóxico, principalmente se em
contato com a pele e mucosas, desempenhando sobre estas uma ação
irritante e cáustica (MATOS, 2000). Caso aconteça contato com os olhos
pode determinar o desenvolvimento de conjuntivites, queratites e uveítes ou
até mesmo levar à cegueira. Exposto a pele ou mucosa, dependendo da
intensidade da exposição, gera inflamação sobre a pele, gerando reações
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
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Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
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como vermelhidão, inchaço, dor e necrose dos tecidos (BESSA, 2010).
Também já foram documentados acidentes toxicológicos marcados por
distúrbios gastrintestinais como, náuseas, vômito e diarreia (MATOS, 2000).
No entanto, é importante ressaltar que todas as partes desta planta
são consideradas tóxicas (MATOS, 2000) e, Silva e Santos (2002) realçam
que os constituintes fitoquímicos majoritários desta espécie são os compostos
terpênicos.
Caladium bicolor (Aiton) Vent. (Araceae)
Conhecida como tinhorão ou tajá, taiá, caládio (MATOS, 2012), as
espécies do gênero Caladium são nativas da América do Sul e encontradas
nas regiões neotropicais do sul da América Central, norte da Argentina e
Brasil (HORSFALL et al., 2006).
Para Albuquerque (1980), a toxicidade desta espécie é procedente da
grande quantidade de oxalato de cálcio presente em toda a planta, que em
contato com a pele leva a sintomas como dermatite, provocado pela ação dos
cristais de oxalato de cálcio encontrado nas células vegetais. Por outro lado,
conforme HORSFALL et al., (2006), a literatura descreve sua utilização
como bioadsorvente de metais pesados como chumbo e cádmio de águas
residuais.
No que concerne aos sintomas, Barg (2004) elucida que a seiva
provoca inflamação da garganta e da boca; a planta causa irritação das
mucosas, edema de lábios, língua e palato; sialorréia, cólicas abdominais,
náuseas e vômitos; caso haja o contato com a região ocular, gera edema,
fotofobia e lacrimejamento.
Nerium oleander L. (Apocynaceae)
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
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De acordo com Oliveira et al. (2003), tal espécie, conhecida
popularmente como espirradeira, é muito apreciada como ornamento,
contudo, em alguns países da África são usualmente utilizadas em suicídio.
Simões et al. (2002) consideram a espirradeira de grande relevância
toxicológica em virtude da presença de metabólitos secundários (glicosídeos
cardioativos), sendo que, por esta razão, todas as suas partes são
consideradas tóxicas e, quando ingeridas provocam náuseas, vômitos,
diarreia, sintomas neurológicos como desorientação e dor de cabeça e ainda
arritmia cardíaca.
Thevetia peruviana K. Schum. (Apocynaceae)
A Thevetia peruviana K. Schum é popularmente conhecida como
chapéu-de-napoleão, sendo originária da América Central, porém é bem
distribuída em todas as regiões tropicais haja vista o seu aspecto
ornamental (SCHVARTSMAN, 1979).
Ainda conforme autor supracitado, a similaridade entre as sementes
da T. peruviana e castanhas comestíveis e o fácil acesso à planta, atraem e
levam a ingestão destas sementes pela população, principalmente as
crianças, tornando-a uma determinante potencial de surtos de intoxicação.
Ainda que as seivas, frutos, folhas e sementes sejam considerados tóxicos, a
grande parcela dos casos de toxicidade ocorridos e relatados estão
relacionados com a frequência de ingestão dos frutos. É válido destacar que
o látex possui intensa ação emética e purgativa, além de ser altamente
cáustico. Simões et al. (2002) reportam que o látex era popularmente, usado
como veneno em flechas.
Barg (2004) ratifica que os princípios ativos responsáveis pela
toxicidade desta planta são os glicosídeos cardioativos ou cardiotônicos,
denominados de glicosídeos esteroidais. Entretanto, é uma planta que
também é usada como fitoterápico.
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
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Quanto à sintomatologia, o látex produz queimação na boca, náuseas,
vômitos, cólicas e diarreia; na pele, produz irritações; nos olhos,
lacrimejamento, fotofobia e a ingestão de elevadas quantidades da planta,
pode ocasionar distúrbios cardíacos (BARG, 2004).
Prevenir ainda é o melhor remédio
Schavartsman (1992) enfoca os principais meios preventivos para
diminuir o risco de intoxicação com plantas, a saber: propagar o máximo que
possível e através de todos os meios de comunicação, as espécies de plantas
tóxicas mais comuns; recomendar a necessidade de orientação médica ao
fazer uso de determinado preparado vegetal para finalidades medicinais, e
por fim promover meios de educar a população acerca da inconveniência de
ingerir
ou
manusear
qualquer
espécie
de
planta
não
conhecida.
Consequentemente, é indispensável conhecer os vegetais perigosos da
região, da residência e do quintal, conhecê-las pelo aspecto e pelo nome.
Conforme Martins et al. (2005), um aspecto relevante a ser avaliado
no controle das intoxicações por vegetais, é o desenvolvimento de
apropriados sistemas de informações acerca da ocorrência das enfermidades,
incluindo as intoxicações por plantas nos animais domésticos.
Cheeke (1998) também salienta que os nomes populares ajudam na
identificação dessas plantas e, o conhecimento acerca do princípio ativo de
um vegetal permite o desenvolvimento apropriado de procedimentos
terapêuticos subsidiando no desenvolvimento de técnicas profiláticas. O
conhecimento da concentração do princípio ativo no vegetal proporciona
prever se este possui potencial de intoxicar distintas espécies animais.
Algumas medidas preventivas também estão disponíveis na página
eletrônica do Sistema Nacional de Informação Tóxico-Farmacológicas
(SINITOX) da Fiocruz, em que se destacam: manter as plantas venenosas
fora do alcance das crianças; conhecer as plantas venenosas que existem em
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
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seu domicílio e adjacências pelo nome e características; ensinar as crianças a
não colocar plantas na boca e não usá-las como brinquedos; não preparar
remédios ou chás caseiros com vegetais sem ser sob orientação médica; não
ingerir folhas e raízes desconhecidas; tomar cuidado ao podar as plantas que
liberam látex causando irritação na pele, sobretudo nos olhos e evitar deixar
os galhos em qualquer parte onde possam vir a ser manuseados pelas
crianças; aos lidar com plantas venenosas utilizar luvas e lavar bem as mãos
após tal atividade e, em caso de acidentes, procurar logo após orientação
médica, guardando a planta para identificação.
Por fim, ainda de acordo com informações da página do SINITOX,
ressalte-se que não ocorrem leis que regulamentem o tratamento de
indivíduos vítimas de intoxicações por vegetais. Por outro lado, no ano de
2005, pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 19 da ANVISA, fora
criada a Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica
(RENACIAT), sob coordenação da Agência de Vigilância Sanitária
(ANVISA),
cuja
congrega
centros
de
informação
e
de
assistência
toxicológicas em vários estados do Brasil. Essa rede apresente como função
prover informações e orientação a respeito do diagnóstico, prognóstico,
tratamento e prevenção das intoxicações e envenenamentos, bem como
acerca da toxicidade das substâncias químicas e biológicas e os riscos que
elas acarretam à saúde, atendendo tanto o público em geral quanto os
profissionais de saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pelo exposto, há de se considerar a importância de conhecer e
selecionar as plantas ornamentais as quais são utilizadas e/ou cultivadas
dentro das residências e adjacências dos lares, pois, a beleza e o encanto de
muitos vegetais que trazem ornato aos ambientes podem também
representar perigos e riscos à integridade vital quer de indivíduos humanos
quer de animais.
SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus;
MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo:
uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de
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O conhecimento acerca das plantas e das suas propriedades tóxicas,
principalmente daquelas que ladeiam o cotidiano das pessoas, é o principal
caminho contra acidentes indesejáveis, acidentes estes que muitas vezes
podem levar a situações delicadas, quiçá a morte. Assim, pela relevância do
tema que ora abordou-se, estudos como estes representam enormes
contribuição à população em geral, especialmente no que se refere à
divulgação de informações sobre plantas tóxicas que, ainda nos dias de hoje,
são
deficitárias.
Ademais,
torna-se
imperioso
medidas
e
trabalhos
educativos junto à população, principalmente as crianças, acerca do perigo
de certos vegetais de grande beleza e popularidade.
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Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.
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Artigo Original
Neurotoxicidade do ferro na
fisiopatologia da doença de Parkinson
Iana Bantim Felício Calou
Doutora em farmacologia; Professora adjunto I da Universidade
Federal do Piauí. Rua Cícero Eduardo, S/N - Bairro Junco - Picos/PI.
Email: [email protected]
Gilberto dos Santos Cerqueira
Pós-doutorando em ciências morfológicas: professor adjunto A da
Universidade Federal do Piauí, Laboratório de Anatomia. Picos- Pi.
Rafaelly Maria Pinheiro Siqueira
Doutoranda em
Fortaleza-Ce.
Farmacologia;
Universidade
Federal
do
Ceará,
CALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly
Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson.
Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n.
1, p. 45-57, fev. 2015.
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Artigo Original
RESUMO
O ferro consiste em um metal de extrema importância para homeostasia
cerebral. Não obstante, alterações em seu equilíbrio estão sendo apontadas
como cruciais para o processo neurodegenerativo envolvido na doença de
Parkinson. A substancia negra, alvo da degeneração no Parkinson, é a
região cerebral com maior concentração de ferro e este, aliado aos produtos
do metabolismo oxidativo da dopamina, desencadeia uma séries de reações
que culminam com a morte celular como: o aumento do estresse oxidativo
local, a neuroinflamação, a agregação de proteínas formando corpúsculos
citoplasmáticos tóxicos além da perda da capacidade de quelação que a
neuromelanina apresenta em condições fisiológicas diminuindo o dano
oxidativo causado pelo ferro. Modelos experimentais confirmam o
envolvimento do metal no processo neurodegenerativo e estratégias
terapêuticas inovadoras estão sendo experimentalmente testadas, tendo
como alvo principal a quelação do ferro para refinar a terapia farmacológica
da doença e impedir ou diminuir a progressão, até então inexorável, da
doença.
Palavras-chave: Doença de Parkinson, Ferro, Neurodegeneração.
ABSTRACT
Iron is an important metal in brain homeostasis. However, changes in
equilibrium identified as being crucial for the neurodegenerative process
involved in Parkinson's disease. The Substancia
Nigra, target of
degeneration in Parkinson's, is the brain region with the highest
concentration of iron and this, combined with the products of oxidative
metabolism of dopamine, triggers a series of reactions that culminate in cell
death as: increased local oxidative stress, neuroinflammation, protein
aggregation forming toxic cytoplasmic corpuscles and the loss of chelation
capacity that neuromelanin shows under physiological conditions by
reducing oxidative damage caused by iron. Experimental models confirm the
involvement of the metal in the neurodegenerative process and innovative
therapeutic strategies are being tested experimentally, with the main target
iron chelation to refine the pharmacological therapy of the disease and
prevent or slow down the disease progression, hitherto inexorable.
Key words: Parkinson’s disease, Iron, Neurodegeneration
CALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly
Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson.
Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n.
1, p. 45-57, fev. 2015.
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Artigo Original
INTRODUÇÃO
Os estados de transição de valência, mais comumente entre +2 e +3,
que ocorrem com mais frequência no Ferro que em outros metais, fazem
desse um dos metais mais úteis na biologia oxidativa. No ambiente celular,
mais da metade das enzimas são metaloproteínas, e uma parte delas
estabelece complexos com Fe2+ ou Fe3+ (WALDRON et al. 2009). No contexto
do metabolismo aeróbico, o ferro continuamente está alterando o seu estado
de valência para produzir espécies reativas de oxigênio (EROs). Enquanto
este metal estiver ligado à proteínas, tudo estará seguro, não obstante,
quando desprotegido, o ferro produz muitas espécies reativas e danosas de
radicais do O2, além de H2O2 através da reação de Fenton (WONG e DUCE
2014). As espécies reativas do metabolismo oxidativo lesionam o DNA, os
lipídios e as proteínas e estão envolvidos na fisiopatologia da doença de
Parkinson (CRICHTON e WAR 2014).
A despeito
da
origem
da
doença
de Parkinson permanecer
desconhecida, pesquisas têm voltado o interesse para o papel do Ferro na
morte dos neurônios dopaminérgicos da substância negra (SN), ainda que o
mecanismo pelo qual este processo neurodegenerativo se inicie ainda não
esteja definido (MOCHIZUKI e YASUDA 2012).
O cérebro apresenta várias demandas para o ferro, pois o mesmo está
envolvido
na
respiração
mitocondrial,
na
síntese
de
DNA
e
de
neurotransmissores e mielina (CRICHTON 2009). O comprometimento da
homeostasia celular de metais pode iniciar o processo de neurodegeneração
por vários mecanismos, onde o estresse oxidativo figura como o mais
compreendido até o momento (DUSEK et al. 2014). Não obstante, outros
mecanismos estão relacionados como a diminuição da produção de
metaloproteínas (MORELLO et al. 2007), a ativação microglial, levando a
neuroinflamação (ZANG et al. 2011) além da agregação e formação de
emaranhados neurofibrilares de alpha-sinucleína (UVERSKY et al. 2001).
CALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly
Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson.
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Artigo Original
Estresse oxidativo (EO)
Os neurônios e as células da glia contêm uma rede de mitocôndrias
espalhadas ao longo dos axônios neurais com uma densidade máxima na
área perinuclear. A função das células eucariontes é inteiramente
dependente de um suprimento de ATP abundante proveniente de
mitocôndrias profícuas. Os neurônios são particularmente dependentes da
fosforilação oxidativa devido ao seu processo dinâmico de remodelação
sináptica. Defeitos mitocondriais provenientes de alterações no DNA
mitocondrial, mutações de suas proteínas ou mesmo de insultos de agentes
externos podem alterar o potencial de sua membrana e, se não controlados,
levar à neurodegeneração (GORMAN e DOYLE 2008; MULLIN e
SCHAPIRA 2013).
O ferro pode facilitar a formação de radicais hidroxila citotóxicos,
ânions superóxidos e de peróxido de hidrogênio e o acúmulo deste metal na
substancia negra de pacientes com Parkinson pode estar envolvido na morte
neuronal observada. Tendo o estresse oxidativo como um dos mecanismos de
ação, a toxicidade do ferro não se restringe aos neurônios dopaminérgicos,
mas estes são seus alvos preferencias devido exatamente ao conteúdo
dopaminérgico. Quando oxidada pela monoamino oxidase (MAO), a
dopamina libera peróxido de hidrogênio que, pela reação de Fenton (Figura
1), mediada pelo ferro, pode produzir mais radicais hidroxila tóxicos
(HALLIWELL 1989).
Figura 1. Reação de Fenton. Formação de radicais hidroxila
Outro importante fator contribuinte para o EO consiste na disfunção
do Complexo I da cadeia transportadora de elétrons da mitocôndria em
cérebros de humanos com Doença de Parkinson - DP (observação postCALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly
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Artigo Original
mortem) (SCHAPIRA et al. 1989). Modelos experimentais in vitro e in vivo
da doença foram desenvolvidos com a utilização de inibidores do complexo I
como o MPTP, a rotenona e a 6-OHDA, que provocam uma diminuição de
até 40% da atividade do complexo mitocondrial I (BETARBET et al. 2002).
O complexo I consiste em 8 grupamentos Ferro-Enxofre necessários
para o transporte de elétrons. Na DP as anormalidades nas ações
enzimáticas são encontradas apenas na parte compacta da substância negra
(REICHMANN & JANETZKY; 2000). O estudo da atividade de enzimas que
contém ferro é importante na DP devido à sobrecarga de ferro encontrada na
substancia negra dos pacientes (post mortem), particularmente de Fe3+
enquanto que o cérebro e a cadeia respiratória enzimática apresentam
grandes quantidades da isoforma reduzida, Fe2+ (GRIFFITHS et al. 1999;
SIAN-HÜLSMANN et al. 2011).
Neuromelanina
A neuromelanina (NM), responsável pela coloração característica da
substância negra, consiste no maior reservatório de ferro dos neurônios
dopaminérgicos (ZECCA et al. 2004 a, b) atuando como neuroprotetor por
quelar o ferro e impossibilitar a formação de radicais livres a partir da
reação de Fenton. Com o aumento do acúmulo de ferro na SN observada na
DP, a capacidade quelante da neuromelanina é saturada e o processo de
formação de grandes quantidades de radias livres é iniciado (GERLACH et
al. 2003).
Com a morte dos neurônios nigrais dopaminérgicos, a neuromelanina
é lançada para o ambiente extra celular ativando uma cascata de
neuroinflamação, via ativação de microglia, que culminará em aumento da
degeneração neuronal (ZHANG et al. 2011).
A neuromelanina insolúvel contém quantidades elevadas de ferro
reativo, que será liberado para o espaço extracelular onde iniciará o seu
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Artigo Original
processo oxidativo neurotóxico. Um estudo mostrou que a adição de NM em
cultura de micróglia humana ativa a quimiotaxia e estimula a liberação de
TNF-α, IL-5 e óxido Nítrico (NO). Esta reação envolve a ativação do fator de
transcrição NF-κB pela neuromelanina através da fosforilação/degradação
do iκB e ativação da via de transcrição do mitógeno p38 (WILMS et al.
2003). Também foi demonstrado que a injeção de NM humana em ratos
induz a ativação microglial e degeneração de neurônios dopaminérgicos
(ZECCA et al. 2008).
α-sinucleína
A homeostase do ferro depende de proteínas envolvidas no seu
controle, fluxo e armazenamento. Atualmente já está bem delimitado o
papel das proteínas nas doenças neurodegenerativas (WONG e DUCE
2014). O marcador patognomônico da doença de Parkinson consiste nos
corpúsculos de Lewy, que são inclusões citoplasmáticas neuronais cujo
componente principal é a proteína α-sinucleina (α-sin). Já foi demonstrado
que geradores de radicais livres, como a dopamina e o próprio ferro,
estimulam a formação de agregados intracelulares que contem α-sinucleína
e ubiquitina facilitando a formação dos corpúsculos de Lewy e a morte de
células (OSTREROVA-GOLTS et al. 2000).
Os primeiros estudos sobre o papel fisiológico da α-sin mostraram que
ela interage com os terminais pré-sinápticos controlando a fusão das
vesículas às membranas pré-sinápticas e, por conseguinte, a reciclagem de
neurotransmissores. De forma mais direta, ela inibe a exocitose das
vesículas além de evitar a reutilização das mesmas, diminuindo o conteúdo
de neurotransmissores disponível para liberação na fenda sináptica
(LARSEN et al. 2006) e responsabilizando-se por diminuir a transmissão em
períodos em que a atividade neuronal está muito elevada (SULZER 2010).
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Artigo Original
Não
está
completamente
compreendido
como
uma
proteína,
inicialmente envolvida na homeostasia cerebral, após a sua agregação
apresenta toxicidade mais direcionada à substancia negra. Uma das teorias
para esta maior vulnerabilidade é a maior concentração de ferro nesta
região, o que aumenta a agregação de proteínas. O ferro se liga a região Cterminal da α-sinucleína e, sob condições de oxidação, desnatura a proteína
que posteriormente sofrerá agregação (BHARATHI et al. 2007).
Estudos in vitro mostraram que as moléculas “Mutantes” de αsinucleína interagem como moléculas de ferro aumentando sua toxicidade.
Os corpos de Lewy apresentam pois uma união da forma reativa do ferro
com proteínas e material lipídicos oxidados agregados (CASTELLANI et al.
2000).
Neuroinflamação
A neuroinflamação apresenta ações antagônicas podendo ser benéfica,
uma vez que efetivamente permite a remoção de detritos patogênicos e
facilita a liberação de moléculas imunomoduladoras como citocinas e
quimiocinas que podem fornecer suporte para as células vizinhas após um
insulto tóxico, ou apresentando potencial nocivo por meio de uma resposta
descontrolada que pode ser elicitada após a ativação microglial (ZHANG et
al. 2005 e 2007; KIM et al. 2007).
Várias evidências apontam para o envolvimento do processo
neuroinflamatório
no
Parkinson.
fatores
Os
desenvolvimento
imunogênicos
e
progressão
liberados
da
pelos
Doença
de
neurônios
dopaminérgicos lesionados tem potencial para desencadear respostas
imunológicas nocivas, tanto inatas quanto adaptativas, além de conseguirem
amplificar o processo patológico. Estes mecanismos não apenas sugerem
uma complexa comunicação entre o sistema nervoso e o sistema imunológico
periférico, mas a interação entre as células imune residentes do cérebro (isto
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Artigo Original
é, as micróglias) e outras células do parênquima cerebral como as células
endoteliais, os astrócitos e os próprios neurônios (HIRSCH et al. 2013).
A perda de neurônios dopaminérgicos está associada a altos níveis de
citocinas, espécies reativas de oxigênio e óxido nítrico. As citocinas proinflamatórias expressas nos cérebros de pacientes com Parkinson altera de
forma sensível a homeostase dos astrócitos e microglia, como o aumento da
retenção do metal provocado pelo TNF-α (RATHORE et al. 2012).
O ferro apresenta um papel importante no processo inflamatório. O ferro
ativa o NK-κB e aumenta a expressão de citocinas nos macrófagos hepáticos
de
ratos
e
causa
inflamação.
Estudos
mostraram
que
a
injeção
cerebroventricular de amônio ferroso induz a fosfolipase A2. A geração de
eicosanoides e do Fator de Ativação Plaquetária (PAF) intensifica o processo
inflamatório na progressão da doença de Parkinson (ONG et al. 2005).
Modelos Animais
Estudos experimentais envolvendo modelos animais são úteis na
compreensão dos mecanismos fisiopatológicos das doenças. Algumas
evidências experimentais autenticam a hipótese da neurotoxicidade do ferro.
A infusão intranigral de ferro em ratos saudáveis provoca uma perda
seletiva de neurônios dopaminérgicos (WESEMANN et al. 1994). A
administração intraperitoneal de 10 mg de ferro dextrano três vezes por
semana, durante três semanas em ratos Wistar jovens, produz o mesmo
efeito (JIANG et al. 2007).
O modelo do 1-metil-4-fenil-1,2,3,6-tetrahidropiridina (MPTP) mostra
que o tratamento unilateral com a neurotoxina pode induzir um aumento de
até 100% do conteúdo de ferro da substância negra de ratos e primatas
dentro de três a seis meses (MOCHIZUKI et al. 1994; TEMLETT et al.
1994).
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Artigo Original
Tais dados autenticam a estreita relação do ferro com a Doença de
Parkinson e abrem uma janela a ser explorada para a pesquisa de novos
fármacos para a doença que visem este metal como alvo afim de diminuir a
progressão da doença através da quebra da cascata de eventos que levam à
morte neuronal.
Perspectivas de tratamento
A importância do ferro no processo neurodegenerativo, não só na doença
de Parkison, abre perspectivas para estratégias terapêuticas que visem a
quelação como coadjuvante na lentificação do processo neurodegeneratico.
Esse alvo já foi testado na Doença de Alzheimer (DA) através do fármaco
desferrioxamina. A administração intramuscular diária deste quelante
durante vinte e quatro meses levaram a uma redução significativa
(aproximadamente metade) da taxa
de declínio de habilidades da vida
diária em pacientes com DA (MCLACHLAN et al. 1991). Não obstante, a
Desferrioxamina não atravessa a barreira hemato encefálica facilmente, e
pode
exercer
o
seu
efeito
através
da
redução
geral
dos níveis de ferro.
A propriedade de atravessar a barreira hemato encefálica é importantes
em quelantes candidatos ao tratamento de desordens do sistema nervoso
central, neste ínterim, vários quelantes lipossolúveis tem sido desenvolvidos
e testados em modelos animais de neurodegeneração. Pode-se citar o VK-28
que protege contra a lesão estriatal dopaminérgica provocada pela 6hidroxidopamina
quando
administrado
diariamente
aos
animais
(SHACHAR et al. 2004).
Considerando que a neuroinflamação facilita o transporte de ferro para o
cérebro, uma abordagem de diminuir a disponibilidade cerebral de ferro é
diminuir o processo inflamatório seja pelo consumo de antiinflamatórios não
esteroidais ou mesmo pelo controle da hipercolesterolemia e por uma dieta
com restrição calórica, afim de diminuir a síntese de mediadores
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Artigo Original
inflamatórios. Estratégias naturais tem sido consideradas como a curcumina
e as catequinas (HALLIWELL et al. 2005). Uma sugestão é que estes
flavonoides possam exercer parte de seu efeito benéfico quelando metais no
intestino e impedindo sua absorção ou uma vez absorvidos exerçam seu
papel antiinflamatório (MANDEL et al. 2005).
CONCLUSÃO
Várias descobertas indicam o potencial envolvimento do acúmulo de ferro na
morte neuronal observada na Substância negra – pars compacta que ocorre
na Doença de Parkinson. No entanto, permanece controverso se este
acúmulo consiste no evento primário ou se representa apenas mudanças
secundárias à degeneração neuronal. Independente da origem, a pesquisa
por fármacos que visem a diminuição da disponibilidade de ferro livre no
cérebro é promissora uma vez que o mesmo está envolvido na maioria dos
mecanismos fisiopatológicos da doença.
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1, p. 45-57, fev. 2015.
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27 de janeiro: Toxicologia e História, um
triste uso da toxicidade – o zyklon
Fausto Antonio de Azevedo
Analista de risco químico da Intertox.
Camilla Colasso
Analista de risco químico da Intertox.
Carlos E. Matos dos Santos
Analista de risco químico da Intertox.
AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de
janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev.
2015.
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RESUMO
Este artigo relata aspectos da história do uso de cianeto no Holocausto,
assim como descreve a toxicidade deste agente. O emprego de compostos
químicos por conta de suas propriedades tóxicas tem acontecido em guerras
desde tempos remotos. Corrobora-se aqui, como o conhecimento físicoquímico e toxicológico do cianeto foi utilizado com a bárbara finalidade de
provocar sofrimento e morte a milhares de civis, e até mesmo militares, nas
câmaras de gás em campos de concentração durante a Segunda Guerra
Mundial.
Palavras-chave: Holocausto. Auschwitz. Toxicologia. Cianeto. Zyklon B.
ABSTRACT
This article reports on aspects of cyanide historical use in the Holocaust, as
well as describes the toxicity of this agent. The use of toxic chemicals in
wars is frequent since ancient times. In this article, it is discussed how
physical-chemical knowledge and cyanide toxicology were used with the
barbaric purpose of causing suffering and bring death to thousands of
civilians, and even military, in gas chambers of concentration camps during
World War II.
Keywords: Holocaust. Auschwitz. Toxicology. Cyanide. Zyklon B.
AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de
janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev.
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HISTÓRIA
Dia 27 de janeiro foi instituído, em 2005, pela Assembléia Geral da
ONU, como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto1.
Neste 2015, em especial, lembra-se o setuagésimo aniversário de libertação
do campo de concentração nazista Auschwitz Birkenau2. Foi em 27 de
janeiro de 1945, um sábado, pela tarde, que as tropas soviéticas chegaram
ao complexo, libertando-o, muito embora ainda na noite anterior os fornos
crematórios tivessem trabalhado incessantemente! Os soldados alemães
resistiram muito, o que provocou a morte de 231 soviéticos. Oito mil
prisioneiros foram libertados, quase todos em situação deplorável devido ao
martírio que sofreram3. O Dia Internacional objetiva incentivar a sociedade
civil a promover a memória do Holocausto a fim de que as gerações futuras
não repitam os erros do passado.
E os graves erros ocorridos puderam ser perpetrados porque, ao lado
de questões de cunho político, econômico, sociológico e psicológico
determinantes, as propriedades físico-químico-toxicológicas de algumas
substâncias ocasionaram o uso criminoso e altamente condenável de suas
toxicidades.
Assim é que as palavras cianeto (cianídrico), cloro e nitrogênio podem
ter muito mais em comum do que serem apenas nomes de elemento e
substâncias químicas. Qual misterioso e, no caso, triste elo poderia reunilas? Para auxiliar o leitor interessado vamos já dar a melhor pista, outra
palavra: zyklon.
Ajudaremos mais: diremos que zyklon é um vocábulo da língua
germânica e que se consultarmos dicionários de alemão-português
AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de
janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev.
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encontraremos, em vários deles4, como equivalente em nosso idioma, o
verbete ciclone.
Será isso o suficiente? Para os leitores que não se cansaram e que
possuem espírito investigativo, acrescentaremos um momento e um fato
histórico: 1942, Segunda Guerra mundial. Mais? Pois bem: fazendo jus ao
título, listemos: cianeto, cloro, nitrogênio; zyklon; 1942, Segunda Guerra;
Toxicologia, toxicidade. Quem arrisca?
Parabéns, acertou quem percebeu que zyklon era a designação de um
artefato químico que continha cianetos, cloro, nitrogênio e que foi
intencionalmente empregado,
por conta
das características de sua
toxicidade, para produzir extermínio humano.
Assim, vejamos um pouco de sua toxicologia e de sua história.
Zyklon foi o nome de um produto praguicida, composto de cianetos,
cloro e nitrogênio, cujos substantivos em língua alemã são, respectivamente:
zyanid, chlor e nitrogen, e de cujas iniciais pode ter sido formado. Já Zyklon
B, marca registrada, indica o produto em uma de suas diferentes
concentrações.
Em 1924, a Deutsche Gesellschaft für Schädlingsbekämpfung mbH (Degesch),
corporação alemã para o controle de pragas, hoje Detia-Degesch GmbH5, criou o
Zyklon B como um inseticida6. O produto, baseado na ação tóxica do ácido (“gás”)
cianídrico, trazia o cianeto aplicado a um veículo poroso (terra diatomácea) e era
hermeticamente acondicionado em recipientes metálicos (houve também, dentre
outros, um Zyklon A, em que o ácido cianídrico era veiculado em um líquido e numa
dada concentração. Havia um leque de concentrações do produto7). Por ser inodoro,
para fins de segurança de comercialização adicionava-se um alerta de odorização, um
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janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev.
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éster do ácido bromo acético. O uso da palavra zyklon (na acepção de ciclone)
continua a provocar reações negativas de grupos judeus. Assim, a Bosch Siemens
Hausgeräte e a Umbro viram-se obrigadas, em 2002, a desistir das tentativas para usar
ou registrar a marca para produtos seus.
Figura 1. Detalhe das embalagens de Zyklon B e uma máscara de gás encontradas no campo de
concentração nazista Majdanek (Polônia) Fonte: http://www.historyplace.com/worldwar2/holocaust/hzyklon.htm
Mas a história começa antes de 1924. A Degesch, por ação, dentre
outras, da BASF e da Degussa, foi fundada após a Primeira Guerra
Mundial, em 1919, para desenvolver o uso de cianeto de hidrogênio para fins
civis. A Degesch conseguiu a patente de um derivado químico não-volátil,
especialmente odorizado, para uso na agricultura. Em 1922, a Degussa AG
assumiu a Degesch. O capital da Degesch foi aumentado em 1930 e a
Degussa AG e a IG Farben Industrie AG passaram a deter, cada uma, 42,5
por cento das ações da empresa, enquanto a Theo Goldschmidt AG Essen
ficou com os restantes 15 por cento. A I.G. Farben indicou três dos sete
membros do Conselho de Administração. As vendas de Zyklon B
aumentaram expressivamente na Segunda Guerra Mundial, constituindo
um negócio muito lucrativo. Em território francês, a antiga usina química
Ugine
Kuhlmann (fundada em 1880) também produziu o Zyklon B, na
fábrica de Villers-Saint-Sépulcre (Oise), em 1942.
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O principal cliente comprador do produto foi a Wehrmacht8, embora a
polícia, as administrações de hospitais, e a SS tenham também utilizado
Zyklon B para fins diversos, como, desinfestação de quartéis, navios, vagões
de carga, galpões de armazenamento, fábricas e para fumigar roupas em
câmaras especialmente desenvolvidas (instalações de “despiolhar”).
O Zyklon B inicialmente chegou aos campos de concentração nazistas
para fins de desinfestação de piolhos e combate ao tifo. Todavia, o salto para
um uso triste, criminoso e condenável da toxicidade do produto foi
vertiginoso e intenso: já emsetembro de 1941, a SS9 experimentou-o em
Auschwitz I (campo principal) para o extermínio em massa de seres
humanos. As primeiras vítimas foram 600 prisioneiros de guerra soviéticos e
250 prisioneiros doentes. A primeira câmara de gás foi implantada numa
sala que era parte do crematório. Antes do uso do Zyklon B outros agentes
tóxicos foram pensados ou ensaiados para fins de extermínio humano em
massa, como o monóxido de carbono. Porém, a operacionalidade do uso desse
gás era bem mais complicada. Um oficial nazista, todavia, Otto Adolf
Eichmann, tenente coronel da SS Obersturmbannführer, percebeu a
compatibilidade do Zyklon B com os propósitos de extermínio que então era
buscado pelas forças nazistas e foi um implementador importante de seu
uso. Eichmann foi o homem da logística (identificando as pessoas e
organizando seu transporte) do extermínio dos milhões de pessoas que
tiveram esse fim durante a Segunda Grande Guerra, a chamada “solução
final” (Endlösung em alemão).
A ligação entre Eichmann e a adoção do Zyklon B como o gás de
extermínio ficou mais uma vez bem documentada durante as audiências do
julgamento de Nuremberg. Na página Crime Library da internet pode-se
ler:
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janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev.
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Later, when he actually visited the camps, Eichmann saw the results of
his planning for the first time. "I did visit Auschwitz repeatedly. It had
an unpleasant smell," he wrote of his experiences there. Eichmann took
notice of the inefficiency of the methods used to kill the prisoners. It
required too much effort and the production of the carbon monoxide gas
needed for the job was not cost effective. During the Nuremberg trial
years later, the former commandant of Auschwitz said, "We did not come
to a decision on the matter. Eichmann was going to inquire about a gas
that would be easy to use and would not require any special installations
and then report back to me." Eichmann eventually implemented the use
of a poison gas called Zyklon B. This action later became the basis for
the first of 15 criminal charges against him at his trial.
The Hunt for Adolf Eichmann
Mark Gado. The Problems of Mass Murder
http://www.crimelibrary.com/gangsters_outlaws/cops_others/eichmann/6.html
O julgamento de Adolf Eichmann foi em Israel, iniciado 11 de abril de
1961, baseado em quinze ofensas criminosas, incluindo a decrimes contra a
Humanidade, crimes contra o povo judeu, e de pertencer a uma organização
criminosa. Ele foi considerado culpado de todas as acusações, condenado à
morte em 15 de dezembro de 1961 e enforcado nos primeiros minutos do dia
1º.de junho de 1962. Fato de destaque é que enquanto acompanhava o
julgamento, a filósofa Hannah Arendtescreveu uma série de cinco artigos
para a revista The New Yorker, os quais originaram posteriormente o
clássico Eichmann em Jerusalém - Um relato sobre a banalidade do mal. O
caso mereceu também uma versão cinematográfica: A solução final (título no
Brasil), 2007, Reino Unido e Hungria, dirigido por Robert Young, com
Thomas Kretschmann no papel de Eichmann10.
Em Auschwitz-Birkenau, em janeiro e junho de 1942, dois barracões
agrícolas foram convertidos (denominados Bunkers 1 e 2) e utilizados
primeiramente para “gaseamento” dos prisioneiros.
AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de
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Em março e junho de 1943, com a participação da empresa Erfurt
Topf & Söhne11, quatro grandes crematórios tornaram-se operacionais em
Birkenau. Eles foram equipados, ao menos parcialmente, com salas
subterrâneas para as pessoas se despirem e câmaras de gás disfarçadas em
salas de banho, para as quais a SS chegava a forçar perto de 2 mil
prisioneiros por vez.
Na página da Topf & Söhne (http://www.topfundsoehne.de/cmswww/index.php?id=94&l=1) pode-se ler:
1939
Ludwig and Ernst Wolfgang Topf, owners and
managing directors of the family business in the third
generation, begin supplying the SS and its
concentration camps with corpse incineration ovens
specially developed by furnace construction engineer
Kurt Prüfer to meet the needs of these camps.
1942
With full knowledge of the practises of mass murder
being carried out with gas at Auschwitz, the company
– on the initiative of engineer Fritz Sander – applies
for a patent for a “continuous-operation corpse
incineration oven for mass use”.
1943
The large-scale crematoria in the Auschwitz-Birkenau
extermination camp are equipped as “death factories”
with ovens and gas chamber ventilation systems from
Erfurt.
A fim de manter as vítimas sob engano e poder realizar o morticínio
com “máxima eficiência”, a SS instruiu os fornecedores do Zyklon B a
removerem o agente odorizante de alerta.
Mas toda essa lamentável história está assentada numa propriedade
tóxica do íon cianeto, que do ponto de vista bioquímico e toxicológico é em si,
como toxicodinâmica, ironicamente muito elegante.
AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de
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O agente químico é considerado clássico, primeiro, pelo fato de que é
considerado um dos precursores dos ácidos nucleicos na teoria da origem da
vida; segundo, pela sua ampla ocorrência no uso industrial, em incidentes,
ou para fins bélicos, incluindo o uso em ações terroristas, pois há quem
prefira segmentá-lo do uso bélico; e terceiro, pela sua natureza tóxica
amplamente estudada em Toxicologia.
O primeiro isolamento relatado de ácido cianídrico (Azul da Prússia)
foi realizado pelo químico sueco Scheele, em 1782. Em 1786, Sheele
acidentalmente quebrou um frasco contendo o ácido cianídrico no laboratório
e morreu devido à inalação do vapor (BHATTACHARYA e FLORA, 2009).
Desde os tempos da Roma antiga, o cianeto e seus derivados foram
utilizados em armas. Nero empregou o loureiro-cereja, que continha cianeto
como principal componente tóxico. Napoleão III propôs o uso de baionetas
impregnadas com cianeto durante a guerra Franco-Prussiana. Na Primeira
Guerra Mundial o uso do ácido cianídrico não foi bem sucedido, porque o
composto não era persistente. Contudo, o exército francês empregou
projéteis de artilharia com o nome de Vicennite (50% HCN, 30% tricloreto de
arsênio, 15% de cloreto de estanho e 5% de clorofórmio), mas devido à alta
volatilidade do HCN, essas armas não foram eficazes. Além do que, os
soldados alemães, estavam com máscaras respiratórias para se protegerem
dos vapores de HCN (BASKIN et al., 2008; BHATTACHARYA e FLORA,
2009).
Em 1916, o exército francês tentou empregar o cloreto de cianogênio,
uma vez que este era mais pesado e menos volátil do que o HCN. O efeito do
cloreto de cianogênio foi semelhante ao do HCN, entretanto, o composto
provocou também acentuado lacrimejamento, rinorréia e secreção brônquica
AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de
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semelhante à provocada pelo fosgênio. Tais efeitos foram considerados de
pouca importância militar (BASKIN et al., 2008; BHATTACHARYA e
FLORA, 2009).
Após a Segunda Guerra há relatos do uso de cianeto contra os
habitantes da cidade síria de Hama; contra a população curda de Halabja,
no Iraque; e no Shahabad, no Irã, durante a Guerra Irã-Iraque no final de
1980. Em 1995, em Tóquio, quando ocorreu o atentado com sarin no metrô,
foram encontrados compostos precursores de cianeto nos banheiros da
estação. Cianeto também foi adicionado nos explosivos utilizados no
primeiro ataque no World Trade Center em Nova Iorque, em 2001
(BHATTACHARYA e FLORA, 2009).
No cenário atual, o cianeto é considerado um importante agente de
guerra química para fins suicidas ou homicidas. A possível ameaça de seu
emprego em atos terroristas não deve ser negligenciada.
TOXICIDADE DO ÍON CIANETO CNO ânion cianeto (CN-), também chamado grupo ciano [do grego κυανός
(kyanós) com o significado de cor azul-esverdeada], é uma espécie química
de elevada toxicidade, composta por um átomo de carbono e um átomo de
nitrogênio em ligação tripla e estável, constituindo uma molécula ionizada
com carga negativa. O cianeto pode formar vários compostos: orgânicos (que
serão normalmente chamados de nitrilas, em que o cianeto se liga
covalentemente a um carbono de outro grupo molecular) e inorgânicos,
sobretudo sais (todos estes sempre de elevado potencial tóxico).
Dentre os compostos de cianeto, o ácido cianídrico (HCN, também
ácido hidrociânico, cianeto de hidrogênio), um líquido altamente volátil,
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incolor e com o famoso odor característico de amêndoas amargas, é
considerado muito perigoso, sobretudo do ponto de vista ocupacional
(ZACARIAS, 2009), por poder estar presente no ar implicando, assim, no
risco de inalação. O ácido cianídrico, por ser um ácido fraco, forma-se
quando uma solução contendo um cianeto lábil é acidificada. Soluções
alcalinas são mais seguras de se usar, porque elas não permitem a evolução
do “gás” cianídrico.
A toxicidade do íon cianeto pode se mostrar tanto a curto quanto a
longo prazo, em função do tipo de exposição dos seres vivos. O ânion cianeto
é um potente inibidor de uma enzima essencial ao metabolismo animal.
Trata-se da citocromo c oxidase, do quarto complexo da cadeia de transporte
ou transferência de elétrons (ou cadeia respiratória celular), na membrana
das mitocôndrias de células eucarióticas (Figura 2).
Figura 2. Estrutura tridimensional da citocromo c oxidase. O átomo de ferro (destacado
em laranja) ligado ao grupo heme (em azul) (obtido de ALBERTS et al., 1994).
O CN- se liga ao átomo de ferro (Fe3+) presente no grupo heme da proteína
citocromo c oxidase (ou citocromo a-a3). A consequência de tal ligação é o
impedimento do transporte de elétrons do citocromo a3 para a molécula de
oxigênio aceptora final da via bioquímica. Como resultado, a cadeia de
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transporte eletrônico é interrompida, o que significa que a célula já não
poderá produzir aerobicamenteo ATP (adenosina trifosfato), composto que
guarda energia em suas ligações químicas e a libera para a realização de
trabalho celular. A produção de energia sob a forma de ATP é o propósito da
cadeia respiratória. Os tecidos que dependem em muito da respiração
aeróbica, mais vascularizados, tais como o sistema nervoso central e o
coração, serão particular e rapidamente afetados por essa ação tóxica,
caracterizando-se logo um quadro de hipóxia e/ou anóxia histotóxica que
pode ser prontamente fatal.
Assim, apesar do oxigênio disponível no sangue, não pode ser gerado
ATP por meio da cadeia respiratória, acontecendo interrupção do
metabolismo aeróbico nas células. Inicialmente, ocorre um mecanismo de
compensação com a formação de ATP pela via glicolítica, entretanto, tal
mecanismo compensatório é insuficiente para a demanda biológica,
principalmente para o metabolismo cardíaco e o do sistema nervoso central,
que dependem da via aeróbica e possuem metabolismo anaeróbico limitado.
O cianeto se liga também à anidrase carbônica, o que provoca acidose
metabólica clinicamente relevante nas intoxicações (uma complicação
secundária), ao passo que o metabolismo anaeróbico também promove a
formação de ácido lático.
A morte se segue ao dano dos neurônios do SNC que controlam a
respiração, uma vez que são muito sensíveis à hipóxia, acarretando
incapacidade de respirar.
O esquema para essa vital via bioquímica do organismo é apresentado
na Figura 3.
Ciclo de Krebs:
Piruvato→NADH→FMN→Coenz.Q→cit.b→citc1→cit.a→cit.a3→
1/2O2→H2O
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Revisão
Figura 3. Ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs. Destaque para o alvo molecular do cianeto
(Fe3+), que provoca o impedimento do transporte de elétrons do citocromo aa3 para a
molécula de oxigênio aceptora final da via bioquímica
A enzima citocromo c oxidase, ou complexo IV, é um complexo proteico
transmembranar
presente
nas
mitocôndrias
das
células
e
atua
cataliticamente como último elo na cadeia de transferência de elétrons,
recebendo um elétron de cada uma das moléculas de citocromo c, oxidandoos. Transporta, então, os elétrons para uma molécula de oxigênio (O2), vinda
da respiração pulmonar, transformando este oxigênio molecular em duas
moléculas de água, processo que ao mesmo tempo produz a translocação,
através da membrana, de quatro prótons que auxiliam na produção de um
potencial
quimiosmótico
(gradiente
protônico,
bomba
de
prótons,
YOSHIKAWA et al., 2006) que, por usa vez, é aproveitado pela presença de
outra enzima, a ATP sintase, para a formação de moléculas de ATP.
AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de
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A ligação do cianeto à citocromo c oxidase é complexa e depende do
estado redox da enzima. O centro binuclear pode existir nos estados
reduzido, oxidado e parcialmente oxidado, e, embora o oxigênio só possa se
ligar ao centro binuclear totalmente reduzido, o cianeto pode interagir com o
centro em todos três estados (maior afinidade com o centro no estado
parcialmente reduzido, alta afinidade para o estado totalmente oxidado e
menor afinidade para o estado totalmente reduzido) (LEAVESLEY, et al.,
2007).
O fato do oxigênio competir com o cianeto pelo centro nuclear
totalmente reduzido explica a indicação clínica de oxigênio hiperbárico na
intoxicação por cianetos, porque este agente altera a cinética de inibição do
cianeto.
TOXICOCINÉTICA DO ÍON CIANETO
Absorção
O cianeto (ácido cianídrico – HCN) é rapidamente absorvido,
independentemente
da
via,
devido
o
seu
baixo
peso
molecular
(BHATTACHARYA e FLORA, 2009). Trata-se de uma molécula pequena,
com boa solubilidade em água e lipídeos, o que favorece sua absorção.
A absorção oral do cianeto é rápida e os efeitos tóxicos podem ocorrer
dentro de minutos. Quando sais de cianeto são ingeridos, o ácido clorídrico
presente no estômago provoca a liberação de HCN, que é prontamente
absorvido como íons cianeto (CN). O cianeto é absorvido principalmente pela
mucosa respiratória, gastrointestinal, pele, e através dos olhos se o contato
for prolongado (BALLANTYNE, 1974; ELLENHORN et al., 1997; RYAN,
1998).
AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de
janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev.
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Revisão
Em estudos conduzidos com coelhos, o cianeto é rapidamente
absorvido pelos sacos conjuntivais em quantidades significativas para
produzir uma toxicidade sistêmica. A exposição cutânea é rara, porém, se for
exposta uma área grande para o contato, a absorção pode ser facilitada e a
toxicidade se manifestará (BHATTACHARYA e FLORA, 2009).
Distribuição
Após absorção, o cianeto é distribuído para o volume correspondente a
cerca de 40% do peso corporal total. A distribuição, após uma única dose
intravenosa, é rápida e completa dentro de 5 minutos. O cianeto é
rapidamente transportado no corpo através da corrente sanguínea e cerca de
60% estarão ligados às proteínas plasmáticas, uma pequena quantidade
ficará presente nos glóbulos vermelhos (RBC), e o restante estará como
cianeto livre. A concentração de cianeto de RBC é estimada em uma
proporção de RBC/plasma de 100:1. Após a exposição aguda, a meia-vida de
eliminação plasmática de cianeto é em torno de 14,1 minutos. Depois da
intoxicação oral, uma quantidade significativa de cianeto pode ser detectada
no cérebro, no sangue, rins, parede do estômago, fígado e urina. Isso indica
que depois da absorção o agente é amplamente distribuído em todos os
tecidos (BHATTACHARYA e FLORA, 2009).
Eliminação
Ao contrário de outros agentes químicos de guerra, o cianeto aparece
no sangue, urina e ar expirado (BHATTACHARYA e FLORA, 2009). Ele é
eliminado do corpo por vários mecanismos. Após 3 horas, cerca de 90% do
cianeto injetado são eliminados (modelo de estudo mamífero – cão). Uma
pequena quantidade de cianeto é eliminada pela urina e através dos
pulmões após ser incorporada a cianocobalamina (vitamina B12), oxidado a
formiato e dióxido de carbono, e conjugado à cistina (BHATTACHARYA e
AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de
janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev.
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Revisão
FLORA, 2009). Vias adicionais de eliminação incluem as enzimas
sulfotransferases, mercaptopiruvato, riossulfato redutase entre outras
(BHATTACHARYA e FLORA, 2009).
RELAÇÃO DOSE/CONCENTRAÇÃO-RESPOSTA DO CIANETO
Não é simples determinar as doses letais para cianeto no ser humano.
A morbidade ou a mortalidade dependem da magnitude da intoxicação, que
varia de acordo com a dose, a forma do cianeto e a via de exposição. A
concentração máxima admissível para o HCN em humanos é 11mg/m³ por
via inalatória; a dose letal de HCN para adultos é estimada entre 50 a
100mg, e para KCN em torno de 150 a 250mg (BHATTACHARYA e FLORA,
2009).
Os números estimados em termos de peso corporal para HCN variam
entre 0,7 a 3,5mg/kg. No entanto, existem relatos de pessoas que ingeriram
3,0g de KCN e sobreviveram após rápida intervenção terapêutica
(BHATTACHARYA e FLORA, 2009).
A Tabela 1 mostra os níveis de toxicidade do cianeto por inalação em
humanos. A ingestão oral de cianeto pode produzir sintomas rapidamente.
Estudos experimentais em animais demonstram que a absorção de cianeto é
diminuída caso o estômago esteja alcalino (BHATTACHARYA e FLORA,
2009).
Tabela 1. Toxicidade do cianeto de hidrogênio por inalação em humanos
Concentração
mg/m³
ppm
20 – 40
18 – 36
Efeitos
Leves sintomas após várias horas
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Revisão
50 – 60
45 – 54
Suportável por 20 – 60 minutos
sem efeitos
120 – 150
110 – 135
Muito perigoso (fatal) após 30 – 60
minutos de exposição
150
135
Letal após 30 minutos de exposição
200
181
Letal após 10 minutos de exposição
300
270
Imediatamente letal
Fonte: BHATTACHARYA e FLORA, 2009.
A toxicidade letal do HCN e de seus sais alcalinos variam a depender
das diferentes vias de exposição, diferentes espécies avaliadas e a depender
do sexo (BHATTACHARYA e FLORA, 2009).
Estudo realizado em coelhos evidenciou a seguinte ordem decrescente
de toxicidade de cianeto de potássio (KCN) administrado por diferentes vias:
Intravenosa > intramuscular > intraperitonial > via oral > instilação no saco
conjuntival > percutânea. O comparativo para os valores de DL50 oral de
KCN em diferentes espécies de animais está apontado na Tabela 2. Dentre
os animais estudados, o coelho se mostrou mais suscetível do que os ratos e
camundongos (BHATTACHARYA e FLORA, 2009).
Tabela 2. Toxicidade aguda letal para KCN em diferentes espécies
Espécie
Camundongo
Rato
Sexo
DL50 (mg/kg)
Referência
Macho
8,50
Macho
12,5
BHATTACHARYA et al.,
2002
Macho
10,0
HAYES, 1967
Fêmea
7,49
BALLANTYNE, 1984
Fêmea
14,1
BHATTACHARYA e
SHEEHY e WAY, 1968
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janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev.
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Revisão
VIJAYARAGHAVAN, 2002
Coelho
Fêmea
5,82
BALLANTYNE, 1984
Fontes: BHATTACHARYA e FLORA, 2009.
Por se tratar de um mecanismo de ação que envolve tolerância de
sistemas fisiológicos e mecanismos de compensação, alguns modelos de doseresposta para o cianeto são caracterizados de maneira tempo-dependente. A
CLt50 (concentração*tempo letal para 50% da população exposta) do cianeto
é da faixa de 2500-5000 mg*min/m3 (Tabela 3).
Tabela 3. Estimativas da toxicidade aguda do cianeto em função do tempo
Tempo de
exposição
(min.)
CLt (mg min m-3)
CL50 aproximada
(mg/m3)
CLt1
CLt50
CLt90
0,5
1117
2032
3480
4064
1
1930
3404
5705
3404
3
2546
4440
7526
1466
10
3888
6072
11491
607
30
11992
20632
35443
688
Fonte: SALEM e KATZ, 2006.
Nota: Os autores consideram que para cálculo da CLt, há fatores como depuração e
mecanismos de compensação que demandam maiores concentrações para a resposta tóxica.
MECANISMOS DE DETOXIFICAÇÃO E ANTÍDOTOS
Existem vários processos naturais de detoxificação do cianeto no
organismo,
pelos
quais
são
responsáveis
as
enzimas
rodanase,
mercaptupiruvado sulfotransferase, tiossulfato redutase e cistationase. Em
geral, as enzimas atuam fornecendo enxofre de distintas formas (direta ou
indiretamente) para a complexação com o cianeto e formação de tiocianato.
Os modelos modernos sugerem que a ligação do cianeto à albumina é
também um dos mecanismos naturais de detoxificação.
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janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev.
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Revisão
Quando os mecanismos de compensação e de detoxificação são
insuficientes, ou seja, com a intoxicação estabelecida, existem antídotos
disponíveis,
os
quais
podem
ser
divididos
em
três
grupos:
(i)
metemoglobinizantes, (ii) doadores de enxofre e (iii) agentes complexantes.
Considera-se o fornecimento oxigênio hiperbárico um tratamento de suporte
importante.
Os agentes metemoglobinizantes (como nitrito de sódio e nitrito de
amila) oxidam o Fe++ da hemoglobina a Fe+++, possibilitando a
complexação
do
cianeto
à
metemoglobina,
formando-se
a
cianometemoglobina. A enzima rodanase cataliza a reação de complexação
entre o cianeto e tiossufalto formando o tiocianato que é eliminado pela
urina.
Os doadores de enxofre (exemplo, tiossulfato de sódio) atuam
fornecendo o substrato para a rodanase e outras sulfotransferases,
resultando na formação do tiocianato. A baixa capacidade destes doadores
de penetrar na célula e na membrana mitocôndria é um fator limitante para
esta rota de detoxificação.
Devido
às
limitações
de
outros
antídotos
(metemoglobinemia
excessiva e outros efeitos adversos vs. grau de eficácia), o uso da
hidroxocobalamina tem sido uma das opções mais consideradas nas
intervenções clínicas atuais. A hidroxocobalamina se complexa com o cianeto
formando cianocobalamina, atóxica, a qual é eliminada na urina.
O uso de outros complexantes, como sais de cobalto, é também
estudado e sua aplicação tem sido considerado em alguns países.
AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de
janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev.
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Revisão
Outros estudos têm sido realizados para avaliar os benefícios de
nitritos e de outros agentes capazes de aumentar as concentrações
intracelulares de óxido nítrico (NO), já que há evidências que a citocromo
oxidase inibida foi parcialmente restaurada na presença de NO micromolar
(LEAVESLEY et al., 2007).
CONCLUSÃO
O toxicólogo é alguém que se dedica por inteiro a tentar entender
como substâncias químicas podem atuar – e atuam – sobre organismos vivos
produzindo-lhes um mal. Qual é a natureza dessa interação: suas
especificidades moleculares, suas características físico-químicas e biológicas,
suas dinâmicas bioquímicas, suas repercussões fisiológicas, os níveis de
tolerância, as zonas de perigo e risco, etc. E ele não faz isso, por certo,
apenas pelo próprio interesse científico, epistêmico, senão que também está
preocupado em poder auxiliar a toda a população humana e outras formas
de vida no como se defender, se curar, se proteger de exposições indevidas.
Tem uma finalidade seu saber. Tem uma finalidade humana seu saber. Tem
uma finalidade nobre e ética seu saber. Assim que é para ele, talvez mais do
que para qualquer outro, um sofrimento indizível e uma tristeza paralisante
constatar que a toxicidade de determinados agentes químicos possa ser
tantas vezes intencionalmente utilizada para produzir o dano, o castigo, a
morte, o crime. A Toxicologia é um apostolado de vida, é a crença no
conhecimento para realçar e valorizar a vida. Desvendar o conhecimento
toxicológico é um procedimento de fé e de afirmação do bem que nos
qualifique como verdadeiramente superiores e sapientes. Se o Homo sapiens
sapiens for sábio, ele jamais empregará, ou permitirá que se o faça, a
toxicidade como ferramenta da morte e da dor.
AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de
janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev.
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Revisão
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1
Ver http://en.wikipedia.org/wiki/Auschwitz_concentration_camp. Acessado
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2
Ver http://www.dw.de/1945-liberta%C3%A7%C3%A3o-de-auschwitzbirkenau/a-1465691. Acessado em 12/1/2105.
3
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4
5
Ver http://www.detia-degesch.de/. Acessado em 12/1/2105.
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Memorial: http://www.wollheim-memorial.de/en/zyklon_b_en_2. Acessado
em 13/1/2105.
6
Ver: Green, Richard J. The chemistry of Auschwitz.
http://www.holocaust-history.org/auschwitz/chemistry/.
13/1/2105.
7
Acessado
em
AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de
janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev.
2015.
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Revisão
Wehrmacht (palavra alemã equivalendo a Força de Defesa) era a
designação, no período do Terceiro Reich, 1935-1945, para o conjunto das
forças armadas alemãs. Veio no lugar do Reichswehr, criado em 1921. Em
1955, as novas forças armadas alemãs foram reorganizadas sob o nome de
Bundeswehr.
8
Schutzstaffel (algo próximo a Tropa de Proteção), abreviada como SS (
em alfabeto rúnico), foi uma organização paramilitar ligada ao partido
nazista e a Hitler. "Meine Ehre heißt Treue" era sua divisa, ou seja, "Minha
honra chama-se lealdade". Surgindo como pequena unidade paramilitar,
chegou a quase um milhão de homens e teve influência política notável no
Terceiro Reich. De ideologia nazista, foi responsável, sob o comando de
Himmler, por muitos dos crimes contra a humanidade praticados pelos
nazistas na Segunda Grande Guerra.
9
10
Ver: http://www.imdb.com/title/tt0901481/. Acessado em 13/1/2105.
Empresa fundada em 1878, por J. A. Topf, para a produção de
equipamentos
e
sistemas
de
combustão.
Ver:
http://www.topfundsoehne.de/cms-www/index.php?id=94&l=1. Acessado em
13/1/2105.
11
AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de
janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev.
2015.
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Artigo Original
Avaliação da função hepática de peixes
Rhamdia quelen expostos aos
desreguladores endócrinos estriol e
estrona
Bárbara Harzer
Graduanda concluinte do curso de Biomedicina - Universidade Positivo,
Curitiba, Paraná – Brasil.
E-mail: [email protected].
Maria Carolina Stipp
Graduanda concluinte do curso de Biomedicina - Universidade Positivo,
Curitiba, Paraná – Brasil.
E-mail: [email protected].
Tatiana Herrerias
Farmácia – Universidade Federal do Paraná. Doutora em Bioquímica.
Professora universitária do curso de Biomedicina, Universidade Positivo,
Curitiba, Paraná - Brasil.
E-mail: [email protected].
HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função
hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e
estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.
82
Artigo Original
RESUMO
Os desreguladores endócrinos (DE) são substâncias exógenas capazes
de alterar uma ou mais funções do sistema endócrino, podendo provocar
efeitos adversos sobre a integridade do organismo intacto, sua descendência
e/ou populações (COM, 1999). Os lançamentos de efluentes industriais e
esgoto doméstico em corpos d’água são as principais formas de contaminação
pelos DEs, já que estes são excretados pela urina e fezes (MOREIRA, 2008).
Uma das maiores preocupações com esses micropoluentes, é que os
processos convencionais de tratamento de água não os removem totalmente,
podendo provocar efeitos adversos no sistema reprodutivo e causar falhas no
desenvolvimento de variadas espécies animais (GUIMARÃES, 2008;
MACHADO 2010; MOREIRA, 2008). Neste trabalho, os DEs pesquisados
são os hormônios sexuais femininos, dentre eles os estrógenos naturais
Estriol e Estrona, que por serem muito utilizados para uso médico em
terapias de reposição hormonal e métodos contraceptivos, podem ser
encontrados em abundância no ambiente, pois são excretados
continuamente (MOREIRA, 2008). O objetivo deste projeto é avaliar os
efeitos desses hormônios, sobre a função hepática dos peixes Rhamdia
quelen após um tratamento sub-crônico de 30 dias. Para isso, foram
avaliadas as atividades das enzimas que avaliam o dano hepático, como a
alanina-aminotransferase (ALT), aspartato-aminotransferase (AST) e a
fosfatase alcalina. Cada um dos testes analisou de forma completa o sistema
hepático onde, por meio da fosfatase alcalina (ALP), foi avaliada a agressão
ao trato biliar, e através das enzimas AST e ALT foram indicados os níveis
de lesão celular. Os resultados obtidos demonstraram alterações
importantes na função dos peixes tratados quando comparados com o
controle, indicando que a exposição desses animais aos hormônios estriol e
estrona é capaz de promover danos hepáticos.
Palavras – chave: Desreguladores endócrinos. Enzimas hepáticas. Estriol.
Estrona.
ABSTRACT
Endocrine disrupters (DE) are exogenous substances able to change
one or more functions of the endocrine system, causing adverse effects on
the integrity of the whole body, its descent and/or populations (COM, 1999).
The releases of industrial effluents and domestic sewage in water bodies are
the main forms of contamination by DEs, since these are excreted through
urine and feces (MAY, 2008). One of the biggest concerns with these organic
micropollutants, is that conventional water treatment processes do not
remove DE completely, causing adverse effects on the reproductive system
HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função
hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e
estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.
83
Artigo Original
and failures in the regular development of various animal species
(GUIMARÃES, 2008; MACHADO, 2010; MOREIRA, 2008). The DEs
surveyed here are female sex hormones, including estrogens Estrona and
Estriol natural, which are widely used for medical purpose in hormone
replacement therapies and birth control, and can be found in abundance in
the environment because they are excreted continually (MAY, 2008). The
goal of this project is to evaluate the effects of these hormones on liver
function of Rhamdia quelen fish after a sub-crônico treatment of 30 days.
For this, we evaluated the activities of the enzymes that evaluate the liver
damage,
as
the
alanine-aminotransferase
(ALT),
aspartateaminotransferase (AST) and alkaline phosphatase. Each of the tests
analyzed the hepatic system where, by means of alkaline phosphatase
(ALP), the aggression to biliary tract was evaluated. Through the enzymes
AST and ALT levels of cellular injury were indicated. The results obtained
showed important changes in the function of the treated fish when
compared with the control, indicating that exposure of these animals to the
hormones estriol and estrona is able to promote liver damage.
Key-words: Endocrine disrupters. Hepatic enzymes. Estriol. Estrona.
INTRODUÇÃO
O sistema endócrino é um conjunto de órgãos que têm como principal
característica a produção e secreção direta na corrente sanguínea de
hormônios, os quais por sua vez vão atuar em outros órgãos, promovendo ou
auxiliando no controle da função deste órgão. Apesar de serem capazes de
controlar a maioria das funções metabólicas e endócrinas, as concentrações
de hormônios necessárias para promover sua ação de regulação e controle
são incrivelmente pequenas, podendo variar no sangue de não mais que um
picograma. Portanto, a secreção desses hormônios é extremamente pequena
e estritamente controlada pelo organismo (HALL et al., 2011).
Por este motivo, a exposição, voluntária ou acidental, a substâncias
naturais e/ou sintéticas que simulam a ação fisiológica desses hormônios,
pode promover alterações importantes na saúde de seres humanos e
animais. Essas substâncias são chamadas de desreguladores endócrinos
(BILA, 2007).
Os desreguladores endócrinos são por definição do Programa
Internacional de Segurança Química (IPCS) juntamente com a Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), “substâncias ou
compostos exógenos que alteram uma ou várias funções do sistema
endócrino e geram, consequentemente, efeitos adversos sobre a saúde no
HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função
hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e
estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.
84
Artigo Original
organismo intacto, sua descendência, ou (sub) populações” (COM, 1999).
Consequentemente, essas substâncias químicas são de grande interesse
científico.
Segundo Damstra et al. 2002, um receptor hormonal apresenta alta
sensibilidade e afinidade por determinado hormônio sintetizado pelo
organismo. Contudo, os receptores hormonais podem se ligar a outras
substâncias químicas, o que justifica o fato dos desreguladores endócrinos,
mesmo em baixas concentrações, serem capazes de promover uma resposta
similar à natural daquele determinado receptor, ou então bloquear o efeito
que normalmente seria produzido pelo receptor (GHISELLI, 2006).
Assim sendo, os desreguladores endócrinos são capazes de originar
alterações no sistema endócrino, que pode ocorrer de três mecanismos
diferentes: 1) atuando como antagonistas, de forma que reduza a atividade
hormonal; 2) atuação como agonistas nos receptores endócrinos, levando a
um aumento da atividade hormonal dos hormônios endógenos como o
estrógeno e a testosterona; 3) por fim, quando afetam a síntese, o transporte,
o metabolismo e a excreção dos hormônios naturais, alterando dessa forma
as concentrações dos hormônios naturais no corpo (GHISELLI et al., 2007).
A chegada dos DEs no meio ambiente ocorre por diferentes rotas, sendo
que uma importante fonte de contaminação é o lançamento de efluentes
industriais e esgoto doméstico, tratado ou in natura, em corpos d’água
(MOREIRA, 2008). Dentre os DEs encontrados em sistemas aquáticos
destacam-se os hormônios sexuais femininos, que são encontrados nas águas
de superfícies, as quais são na maior parte das vezes utilizadas como
suprimento de água potável. Esses compostos são o objeto de estudo desse
trabalho.
Dentre os hormônios sexuais, os estrógenos se destacam por serem
compostos extremamente ativos biologicamente e estarem relacionados à
etiologia de vários tipos de cânceres (FILHO et al., 2006).
Os estrógenos naturais 17 -Estradiol (E2), Estriol, Estrona e o
sintético 17 α –Etinilestradiol (EE2), desenvolvido para uso médico em
terapias de reposição hormonal e métodos contraceptivos, são os que
HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função
hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e
estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.
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Artigo Original
despertam maior preocupação, tanto pela potência como pela quantidade
contínua introduzida no ambiente (FILHO et al., 2006).
Em geral, esses hormônios, tanto naturais quanto sintéticos, são
rapidamente absorvidos pelo organismo, e então metabolizados pelo fígado.
A sua excreção ocorre principalmente pela urina, como conjugados solúveis
em água, e em menor proporção pelas fezes, demonstrando variações
relacionadas com a solubilidade em água, taxa de excreção e catabolismo
biológico. Quando em condições ambientais, os conjugados passam
rapidamente por um processo de hidrólise, fazendo com que sejam liberados
os hormônios livres e seus metabólitos (GHISELLI et al., 2007).
Consequentemente,
os
estrógenos
atingem
o
meio
ambiente
diretamente, ou então após passarem por uma Estação de Tratamento de
Esgoto (ETE), onde os processos utilizados não são eficientes para retirá-los
da água. Dessa forma, estão presentes nos ecossistemas, podendo chegar ao
manancial de águas superficiais, a seus sedimentos, à matéria em
suspensão e aos organismos aquáticos. A partir dessas afirmações é possível
concluir que esses estrógenos, naturais ou sintéticos, em especial aqueles
que fazem parte do grupo dos contraceptivos orais, podem ser considerados
poluentes ambientais (GUIMARÃES, 2008).
Diversas pesquisas já demonstraram que esses hormônios possuem
efeitos danosos quando em contato com diferentes espécies animais, sendo
capazes de provocar lesões cancerígenas, assim como alterações importantes
no sistema reprodutivo das espécies (BROWN et al., 2008; DELCLOS et al.,
2009; NASH et al., 2004).
As alterações no metabolismo hepático e em processos celulares no
organismo devido aos efeitos de diversos poluentes podem gerar mudanças
nos testes do perfil bioquímico, possibilitando o estudo dos mecanismos
destas substâncias (BEGUM, 2004; BORGES, 2005; GALEB, 2010).
O fígado é um órgão de fundamental importância nos processos de
metabolização de xenobióticos, promovendo a biotransformação dessas
HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função
hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e
estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.
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Artigo Original
substâncias, tendo como consequência a eliminação das mesmas do
organismo (RODRIGUES, 2003; SOUZA, 2006 apud MONTANHA et al.,
2012). Dentre as diversas funções hepáticas estão incluídas, o metabolismo
de carboidratos, de lipídeos e de proteínas, sendo responsável pela
desintoxicação e excreção de catabólitos e de outras substâncias, atuando
também na síntese de vários fatores de coagulação (GALEB, 2010).
As determinações da atividade de enzimas hepáticas são utilizadas
como marcadores de lesão hepática e o aumento da sua atividade sérica pode
ser decorrente da ruptura dos hepatócitos, que ocorre como resultado de
processos como necrose celular (alanina-aminotransferase - ALT, ASTaspartato aminotransferase e LDH - lactato desidrogenase) ou do processo
de agressão por agentes tóxicos (fosfatase alcalina - ALP e gama
glutamiltransferase - GGT) (KANEKO,1989).
A enzima ALT é responsável por catalisar de forma específica a
transferência do grupo amina da alanina para o cetoglutarato, com formação
de glutamato e piruvato, sendo que este último é reduzindo à lactato por
ação da lactato desidrogenase (LDH), enquanto que a coenzima NADH é
oxidada a NAD (ALT/GPT, 2013; GALANTE, 2012). Já a enzima AST
catalisa especificamente a transferência do grupo amina do acido aspártico
para o cetoglutarato com formação de glutamato e oxalacetato, o qual seria
reduzido a malato por ação da malato desidrogenase (MDH), enquanto a
coenzima NADH era oxidada à NAD (AST/ GOT, 2013; GALANTE, 2012).
A Fosfatase alcalina promove a hidrolise da timolftaleína monofosfato
liberando timolftaleína, que em meio alcalino apresenta a coloração azul
(FOSFATASE ALCALINA, 2013).
Os peixes são modelos animais excelentes para estudos de impacto
toxicológico e tem sido muito utilizados para este fim. O peixe selecionado
para esse estudo foi o Rhamdia quelen (Jundiá) que é um peixe teleósteo
nativo da América do Sul.
HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função
hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e
estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.
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Artigo Original
Desta forma, o objetivo desse trabalho foi avaliar o papel da exposição
crônica dos desreguladores endócrinos estriol e estrona sobre a função
hepática de peixes Rhamdia quelen.
MÉTODOS
Animais
Os organismos utilizados foram peixes da espécie Rhamdia quelen
(Jundiá), obtidos através de pisciculturas que não possuíam histórico de
contaminação ou fontes próximas que pudessem fazê-lo.
Os animais foram aclimatados durante aproximadamente 15 dias em
tanques de 100 litros, e então separados para os bioensaios em aquários
contendo no máximo 1 exemplar para cada 5 litros de água. A temperatura
da água foi mantida em torno de 28-29ºC, e a aeração controlada.
Tratamento
Foram utilizados 15 peixes Rhamdia quelen (Jundiá), os quais
permaneceram em água contaminada com 50 µg.L-1 dos hormônios estriol e
estrona e foram alimentados com ração especifica a cada 48 horas, por um
período de 30 dias para avaliação da toxicidade crônica desses compostos.
Após esse período os animais foram anestesiados até a morte com
benzocaína diluída em etanol a 20%. O procedimento de coleta ocorreu após
a morte dos animais, onde foi realizada uma punção caudal com auxílio de
seringa sem a utilização de anticoagulante, sendo obtidas, portanto,
amostras de soro dos animais.
Determinação das atividades enzimáticas
Para determinação da atividade das enzimas hepáticas foram
utilizadas amostras sanguíneas dos peixes, as quais foram centrifugadas à
HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função
hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e
estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.
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Artigo Original
2.500 rpm, para obtenção do soro, necessário para as determinações
espectrofotométricas. Em todos os testes foram utilizados kits da marca
LabTest®.
Determinação
da
atividade
aminotransferase (ALT)
A
atividade
enzimática
foi
enzimática
avaliada
através
da
Alanina-
de
metodologia
colorimétrica, como indicado na bula do kit LabTest. A redução da
absorbância em 340 nm, consequente à oxidação da coenzima NADH, é
monitorada espectrofotometricamente, sendo diretamente proporcional à
atividade enzimática.
Determinação
da
atividade
aminotransferase (AST)
enzimática
da
Aspartato-
O sistema para a determinação da Aspartato-aminotransferase (AST)
utiliza metodologia colorimétrica, como indicado na bula do kit LabTest. A
redução da absorbância em 340 nm, consequente à oxidação da coenzima
NADH, foi monitorada espectrofotometricamente, sendo diretamente
proporcional à atividade enzimática.
Determinação da atividade enzimática da Fosfatase Alcalina (ALP)
Para determinar a atividade enzimática da Fosfatase alcalina (ALP)
foram utilizados reagentes colorimétricos por método cinético de tempo fixo
e medição de ponto final. O produto final da reação foi formado pela
coloração azul (produzida pela timolftaleína) misturado com a cor própria do
substrato que foi medida em 590 nm.
HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função
hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e
estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.
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Artigo Original
DISCUSSÃO E DISCUSSÕES
Os resultados obtidos a partir das determinações das atividades
enzimáticas da ALT, AST e ALP para o grupo de peixes tratados com o
hormônio estriol (tabela 1) e com o hormônio estrona (tabela 2), podem ser
observados abaixo:
Tabela 1 – Valores obtidos através das dosagens enzimáticas dos peixes Ramdhia quelen
expostos ao hormônio estriol.
Tabela 2 – Valores obtidos através das dosagens enzimáticas dos peixes Ramdhia quelen
expostos ao hormônio estrona.
As transaminases hepáticas alanina aminotransferase (ALT) e
aspartato aminotransferase (AST) são enzimas que possuem um papel chave
nas reações de transaminação hepáticas, e podem ser utilizadas como
biomarcadores de hepatotoxicidade, possuindo como principal objetivo
monitorar danos hepáticos, que por sua vez, podem ocorrer por meio da
exposição a agentes potencialmente tóxicos únicos ou em misturas
complexas (SILINS et al., 2011).
Enquanto
os
danos histopatológicos
necessitam
geralmente
de
exposições de longo prazo para serem detectados, as análises bioquímicas
das atividades enzimáticas das enzimas AST e ALT são mais rapidamente
detectadas e indicam tanto um efeito agudo, quanto crônico da exposição aos
agentes tóxicos (VUTUKURU et al., 2007), pois suas atividades plasmáticas
podem se elevar em doença hepatocelular grave em algumas espécies de
peixe (GALEB, 2010; MARTINS, 2004). Estudos recentes com peixes
HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função
hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e
estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.
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Artigo Original
demonstraram
que
as
mudanças
nas
atividades
enzimáticas
são
provenientes de alterações bioquímicas induzidas por poluentes (HEATH,
1995).
No
presente
trabalho
avaliou-se
a
atividade
enzimática
das
transaminases hepáticas e da fosfatase alcalina, buscando monitorar os
prováveis danos hepáticos nos peixes Rhamdia quelen, provocados pelos
desreguladores endócrinos.
A alanina aminotransferase (ALT) é uma enzima de extravasamento
que está livre em grande concentração no citoplasma de hepatócitos. Quando
os hepatócitos passam por um processo de alteração importante, como ocorre
nos casos de lesão, ou até mesmo necrose da célula, pode ocorrer um
aumento da atividade sérica de ALT (MONTANHA et al., 2012). Em caso de
lesões agudas, é provável que a atividade sérica de ALT seja proporcional à
quantidade de células lesadas. Contudo, a magnitude da atividade de ALT
não indica a causa ou o tipo da lesão que acomete os hepatócitos (THRALL
et al., 2007).
A atividade de ALT nos peixes tratados com hormônio estriol
apresentou uma atividade três vezes superior aos valores encontrados nos
organismos utilizados como controle, que eram os peixes que não foram
submetidos a contaminação com hormônios (Tabela 1 e Gráfico 1). Nos
animais tratados com estrona, foi verificado um aumento de cerca de 20% da
atividade sérica de ALT, quando comparado com o controle negativo (Tabela
2 e Gráfico 1).
Em peixes a atividade plasmática de ALT se eleva aproximadamente
12 horas após a lesão hepática, podendo se elevar também durante a fase de
recuperação da lesão hepática, quando os hepatócitos estão promovendo
regeneração ativa (THRALL et al., 2007).
Vutukuru 2007 observou um significativo aumento das transaminases
hepáticas em peixes Labeo rohita, expostos ao metal arsénio e chegou a
conclusão que essas elevações ocorrem devido a um possível vazamento de
HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função
hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e
estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.
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Artigo Original
enzimas através das membranas plasmáticas danificadas, refletindo uma
situação de dano tecidual. Outro estudo realizado por Yang 2003, em peixes
Cyprinus carpio, também demonstrou um aumento da atividade de AST,
ALT e ALP após a exposição de gálio, que segundo o autor, é decorrente de
uma situação de danos teciduais e estresse.
A enzima aspartato aminotransferase (AST) encontra-se presente em
maior concentração na mitocôndria de hepatócitos, células musculares
esqueléticas e cardíacas de todas as espécies (MONTANHA et al., 2012).
A determinação da atividade enzimática da AST nos peixes tratados
com estrona indicou uma redução em 50% na sua atividade quando
comparado com o controle (Tabela 2, Gráfico 1). Contudo, não é normal o
aparecimento destas enzimas no soro de seres humanos e/ou animais,
portanto, níveis reduzidos das mesmas não podem ser tratados como
alterações
fisiológicas,
e
sim,
como
uma
determinação
dentro
da
normalidade. Por meio desta observação, as reduções encontradas para o
grupo estrona, não representam significado clínico.
É importante observar que não foi possível realizar a determinação da
AST nos peixes submetidos à exposição com o estriol, devido à interferência
dos níveis de hemoglobina na amostra, pois a técnica utilizada recomendava
que o valor máximo de hemoglobina permitido deveria ser de até 45 mg/dL,
e a amostra de soro utilizada encontrou-se em 61 mg/dL de hemoglobina.
Isso ocorreu como resultado de coletas extremamente difíceis, nas quais os
eritrócitos apresentaram um elevado índice de hemólise, dando origem a
liberação de uma concentração de hemoglobina no soro superior à permitida.
Salienta-se que esse interferente não afetou a dosagem de ALT (máximo 180
mg/dL de hemoglobina).
A fosfatase alcalina é uma enzima de indução sintetizada no fígado, nos
osteoblastos, nos epitélios intestinal e renal, sendo que grande parte da
atividade plasmática encontrada para esta enzima corresponde às formas
HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função
hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e
estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade,
v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.
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Artigo Original
hepáticas e ósseas. Entretanto os hepatócitos respondem pela maior parte
da atividade sérica normal de ALP (MONTANHA et al. 2012).
Após o tratamento sub-crônico de 30 dias com os hormônios estriol e
estrona houve um aumento na atividade enzimática da ALP em cerca de 2 e
3 vezes respectivamente (Tabela 1 e 2; Gráfico 1). O aumento das
concentrações séricas de ALP pode estar diretamente relacionado aos casos
de maior atividade osteoblástica, colestase, indução por drogas e várias
doenças crônicas (THRALL et al., 2007). Neste caso, o aumento observado
da atividade enzimática sérica da ALP pode ser relacionado à indução pelos
desreguladores endócrinos pesquisados.
No entanto, em alguns casos, pode-se observar uma redução na
concentração sérica de ALP, como por exemplo, no estudo realizado por
Montanha et al., 2014, em peixes jundiá (Rhamdia quelen) expostos a
concentrações de cipermetrina 1,5 e 2,5 mg / L, onde o autor observou uma
diminuição da atividade enzimática desta, quando comparado com o grupo
controle. Este é um caso similar ao da enzima AST no presente trabalho, e
por se tratar de uma redução da atividade enzimática, esses resultados não
representam significado clínico.
Gráfico 1 – Porcentagem da atividade enzimática em relação ao controle negativo.
HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função
hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e
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v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.
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Artigo Original
Os hormônios pesquisados são capazes de provocar um desequilíbrio
entre a geração de espécies reativas de oxigênio e os mecanismos de defesa
antioxidante (JÚNIOR, CRISTÓVÃO & HERRERIAS, 2014) que é
conhecido como estresse oxidativo, que por sua vez pode gerar lesões
cancerígenas, além de outras doenças (ZHOU et al., 1991).
O metabolismo dos peixes é amplamente oxidativo (BASER et al., 2003;
OSTI et al., 2007; POLAT et al., 2002; VIRAN et al., 2003; VELISEK et al.,
2007), possibilitando, portanto, a geração de espécies reativas de oxigênio, e
tendo como resultado o estresse oxidativo.
Desse modo, é possível sugerir que as alterações observadas nas
enzimas hepáticas pesquisadas podem ser o resultado de um aumento no
estresse oxidativo no hepatócito, que é um dos mecanismos comprovados
para promover danos celulares (BERTOLAMI, 2005). Entretanto, novos
estudos são necessários, utilizando-se outros desreguladores e em outras
doses para melhor compreensão do papel desses compostos na alteração da
função hepática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através dos resultados obtidos foi possível verificar que a exposição
crônica aos hormônios estriol e estrona deu origem a alterações nas
dosagens das enzimas hepáticas dos peixes Rhamdia quelen, indicando um
quadro de lesão no hepatócito. Estes resultados motivam novos
experimentos utilizando outros desreguladores endócrinos e em dosagens
diferentes.
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v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.
99
Artigo Original
Auto-exame das mamas como fator de
prevenção ao câncer: uma abordagem
com estudantes de uma escola pública da
cidade de São Francisco do Conde Bahia
Michele Santana Pacheco de Almeida
Estudante de Pós-Graduação em Especialização em Gestão de Saúde.
Programa Nacional de Administração Pública, Universidade Aberta do
Brasil. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira. Campus de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.
Vânia de Santana Silva
Estudante de Pós-Graduação em Especialização em Gestão de Saúde.
Programa Nacional de Administração Pública, Universidade Aberta do
Brasil. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira. Campus de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.
Itaciara de Oliveira do Carmo da Silva
Estudante de Pós-Graduação em Especialização em Gestão de Saúde.
Programa Nacional de Administração Pública, Universidade Aberta do
Brasil. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira. Campus de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.
Deivid Silva de Araújo Esquivel
Estudante de Pós-Graduação em Especialização em Gestão de Saúde.
Programa Nacional de Administração Pública, Universidade Aberta do
Brasil. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira. Campus de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.
ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de
Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do
Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard
Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem
com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia.
Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n.
1, p. 100-112, fev. 2015.
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Artigo Original
Ana Paula do Carmo Santos
Estudante de Pós-Graduação em Especialização em Gestão de Saúde.
Programa Nacional de Administração Pública, Universidade Aberta do
Brasil. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira. Campus de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.
Helson Freitas da Silveira
Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfofuncionais. Universidade
Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil.
Ana Paula Fragoso de Freitas
Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas. Universidade Federal
do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil.
Howard Lopes Ribeiro Júnior
Professor-Pesquisador II da Especialização em Gestão de Saúde.
Programa
Nacional
Universidade
Aberta
de
Formação
do
Brasil.
em
Administração
Universidade
da
Pública,
Integração
Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Campus de São Francisco do
Conde, Bahia, Brasil.
E-mail: [email protected]
ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de
Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do
Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard
Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem
com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia.
Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n.
1, p. 100-112, fev. 2015.
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Artigo Original
RESUMO
O presente trabalho buscou avaliar o conhecimento que as estudantes da
Educação de Jovens e Adultos no Ensino Médio, de uma escola pública do
município de São Francisco do Conde, na Bahia, apresentam sobre conceitos
e importância do exame das mamas como fator preventivo ao câncer de
mama precoce. A pesquisa se desenvolveu mediante um estudo exploratório
do tipo descritivo, quantitativo com base em um questionário avaliativo,
aplicado a uma população constituída por mulheres com a faixa etária entre
18 e 70 anos. A coleta de dados foi realizada com 124 estudantes que se
disponibilizaram em responder um questionário com perguntas abertas e
fechadas sobre a realização do exame das mamas e o seu impacto na
prevenção do câncer de mama. Os principais resultados indicaram que:
houve uma predominância de estudantes na faixa de idade de 20 a 49 anos,
autodenominadas negras, com estado civil solteiro e sem filhos.
Adicionalmente, avaliamos que predominou mulheres que conhecem o
exame das mamas, mas não o realiza, e que frequentam o médico
ginecologista ou clinico geral de 2 a 3 vezes ao ano, porém o profissional de
saúde não realiza o exame das mamas na maioria dos casos. A partir do
presente estudo foi possível ser constatado que as informações e orientações
quanto às ações de prevenção ao câncer de mama na saúde pública do
referido munícipio tem sido pouco efetivas, necessitando, portanto, de uma
intensificação das atividades desenvolvidas pelos profissionais de saúde que
atuam nas atividades relacionadas à saúde da mulher, promovendo um
aumento na conscientização da importância da realização do exame das
mamas periodicamente.
Palavras – chave: Câncer de mama; Conhecimento sobre câncer de mama;
Saúde da Mulher.
ABSTRACT
This study aimed to evaluate the knowledge that the students of the Youth
and Adult Education in High School, a public school in São Francisco do
Conde, Bahia, present on concepts and importance of breast examination as
a preventive factor for cancer early breast. The research was developed
through an exploratory study of descriptive, quantitative type based on an
evaluation questionnaire administered to a population made up of women
aged between 18 and 70 years. Data collection was performed with 124
students who agreed to answer a questionnaire with open and closed
questions on the examination of the breasts and their impact on the
ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de
Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do
Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard
Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem
com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia.
Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n.
1, p. 100-112, fev. 2015.
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Artigo Original
prevention of breast cancer. The main results showed that: there was a
predominance of students in the age group 20-49 years old, self-styled black,
with unmarried and childless. Additionally, we evaluated that prevailed
women who know the breast exam, but do not realize it, and attending the
gynecologist or general practitioner doctor 2-3 times a year, but the provider
does not perform breast examination in most cases. From the present study
it was possible to be seen that the information and guidance on the actions
to prevent breast cancer in public health of this municipality has been
ineffective, requiring therefore an intensification of the activities developed
by health professionals working in activities related to women's health,
promoting an increase in awareness of the importance of the examination of
the breasts regularly.
Keywords: Breast cancer; Knowledge about breast cancer; Women's Health
INTRODUÇÃO
O Câncer de Mama consiste em uma neoplasia maligna, hereditária
ou não, desenvolvida no tecido mamária e correspondendo a principal
neoplasia no mundo que leva ao óbito mulheres com idade superior a 50
anos (MARTINS 2009; BORGES, 2010; BIZERRA, 2013). O Instituto
Nacional do Câncer (INCA) estima que o quantitativo de novos casos de
câncer de mama no Brasil, em 2014, será de 57.120 (SILVA; FRANCO;
MARQUESINCA, 2005; INCA, 2014) com um risco estimado de 56,09 casos
a cada 100 mil mulheres. Já no estado da Bahia, de acordo com o INCA,
foram previstos 2.560 casos novos de câncer de mama no estado da Bahia
até o final de 2014, sendo 980 destes em Salvador (SILVA; FRANCO;
MARQUESINCA, 2005; CUNHA, 2009, p. 3; INCA, 2014).
Em relação aos fatores de risco que podem favorecer a minimização
dos casos de câncer de mama, podem ser destacados os relacionados à idade,
especialmente em mulheres acima dos 40 anos, a terapia de reposição
hormonal e o histórico de câncer na família. Fatores comportamentais
ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de
Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do
Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard
Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem
com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia.
Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n.
1, p. 100-112, fev. 2015.
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Artigo Original
também no acometimento do câncer de mama, tais como a obesidade, o
tabagismo e o uso do álcool (INCA, 2014).
Segundo Silva et al (2009), o exame da mama consiste em um exame
físico simples, podendo ser realizado pela própria mulher (autoexame) ou
por profissional da saúde especializado, sem causas de dor, gratuito e
essencial
para a detecção precoce do câncer de mama, prolongando a
sobrevida da paciente (SILVA et al, 2009; INCA, 2014). É fundamental,
também para o conhecimento mais aprofundado pela mulher das próprias
mamas de forma a familiarizar-se com a forma, tamanho, aspecto da pele e
do mamilo, o que vai facilitar precocemente, a detecção de anormalidades
possibilitando um bom prognóstico, podendo evitar a mutilação da mama.
Baseado neste contexto, o presente trabalho é resultado de uma
pesquisa pioneira desenvolvida no município de São Francisco do Conde –
BA, buscando avaliar o conhecimento de mulheres estudantes do Ensino
Médio de um colégio da rede pública de ensino sobre o câncer de mama e a
realização do autoexame, seja pela própria mulher ou pelo médico
assistencialista da rede pública de saúde, frente à conscientização e
minimização da ocorrência desta neoplasia no referido município.
MÉTODOS
A presente pesquisa trata-se de um estudo exploratório do tipo
descritivo, quantitativo, utilizando-se de dados primários obtidos a partir de
questionários avaliativos aplicados a estudantes matriculadas no curso de
Educação de Jovens e Adultos do Ensino Médio em um colégio público
estadual localizado no município de São Francisco do Conde – Bahia,
buscando a obtenção de informações sobre o conhecimento e a realização do
autoexame como fator de proteção ao câncer de mama precoce.
ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de
Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do
Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard
Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem
com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia.
Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n.
1, p. 100-112, fev. 2015.
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Artigo Original
Os dados foram coletados a partir das respostas de 124 mulheres
estudantes, de um total de 368 alunos matriculados na referida unidade de
ensino. A análise dos dados possibilitou obter descrições sobre aspectos sócio
demográficos das estudantes, com as variáveis: faixa etária, naturalidade,
etnia, estado civil e número de filhos, seguida da descrição das variáveis
associadas a realização do autoexame como fator de prevenção ao
acometimento do câncer de mama tais como frequência de ida ao clínico
geral e ao ginecologista e sobre o conhecimento e a realização do autoexame
das mama tanto pela estudante quanto pelo médico.
O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos da Universidade da Integração Internacional
da Lusofonia Afro-Brasileira sob número de protocolo: 566.468. Os dados
obtidos a partir das análises das variáveis contidas nos questionários foram
tabulados e analisados através da estatística analítico-descritiva, com
auxílio do software Microsoft Office Excel 2010.
RESULTADOS
Do
total
de
124
estudantes
avaliadas,
observamos
uma
predominância de estudantes na faixa etária entre 20 a 49 anos de idade
(68,0%), seguida de estudantes na faixa etária de 18 a 19 anos (29,4%);
54,5%
e
37,4%
das
mulheres
considerando-se
negras
e
pardas,
respectivamente; 78,0% das mulheres apresentando estado civil de solteiras
e 65,3% das entrevistadas declarando-se não possuírem filhos (Tabela 1).
Com relação as variáveis associadas ao autoexame da mama como
fator preventivo ao câncer de mama, avaliamos que 57,8% (70/121) das
estudantes afirmam que conhecem o autoexame das mamas, mas não o
realiza em 67,2% (80/119) dos casos (Tabela 2). Adicionalmente, observamos
ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de
Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do
Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard
Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem
com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia.
Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n.
1, p. 100-112, fev. 2015.
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Artigo Original
que
47,9%
(57/119)
e
47,0%
(55/117)
das
mulheres
frequentam,
respectivamente, o clínico geral e o ginecologista entre 2 a 3 vezes ao ano
(Tabela 2). Ainda referente à ida da estudante ao ginecologista, observamos
que 58,3% (70/120) das mulheres informaram que o ginecologista não
examina
suas
mamas
no
momento
da
consulta.
Tabela 1: Descrição dos aspectos sócio demográficos.
Variáveis
Faixa Etária*, **
18 a 19 anos
20 a 49 anos
50 anos ou mais
Naturalidade
São Francisco do Conde
Outras localidades
Etnia*
Branca
Parda
Negra
Amarela
Indígena
Estado Civil*
Solteira
Casada
Separada/Divorciada/Desquitada
Viúva
Possui Filhos*
Sim
Não
Nº de Pacientes (N=124)
%
35
81
3
29,4
68,0
2,5
38
86
30,6
69,4
4
46
67
2
4
3,3
37,4
54,5
1,6
3,3
96
21
3
3
78,0
17,1
2,4
2,4
43
81
34,7
65,3
* 1 (um) ou mais participantes não responderam ao
questionamento.
** Média de 18,2 (26,0 – 13,0) anos de idade.
ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de
Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do
Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard
Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem
com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia.
Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n.
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Artigo Original
Tabela 2: Descrição das variáveis associadas ao autoexame da mama como
fator preventivo ao câncer de mama.
Variáveis
Frequência de ida ao clínico geral*
0-1 vez por ano
2-3 vezes por ano
4 ou mais vezes por ano
Frequência de ida ao ginecologista*
0-1 vez por ano
2-3 vezes por ano
4 ou mais vezes por ano
Conhece o autoexame das mamas*
Sim
Não
Realiza o autoexame das mamas*
Diariamente
Ocasionalmente
Raramente
Não realiza
Realização do exame da mama pelo ginecologista*
Sim
Não
Nº de Pacientes (N=124)
%
33
57
29
27,7
47,9
24,4
47
55
15
40,2
47,0
12,8
70
51
57,8
42,2
13
14
12
80
10,9
11,8
10,1
67,2
50
70
41,7
58,3
* 1 (um) ou mais participantes não responderam ao questionamento.
Quanto à caracterização das variáveis relacionadas às campanhas
municipais de saúde da cidade de São Francisco do Conde frente à promoção
da prevenção ao câncer de mama, identificamos que as estudantes
reconhecem (84,4%, 103/122) e veem como importante (98,4%, 122/124) a
realização das campanhas de saúde promovidas pelo município em questão
(Tabela 3). No entanto, 59,1% (55/93) das estudantes informam que
raramente participam das campanhas. Adicionalmente, 59,1% (100/124) das
mulheres avaliadas informam que falta orientação nos postos de saúde
frente à prevenção ao câncer de mama (Tabela 3).
Tabela 3: Descrição das variáveis relacionadas às campanhas municipais de prevenção ao
Câncer de Mama.
ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de
Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do
Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard
Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem
com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia.
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Artigo Original
DISCUSSÃO
Nesse estudo, em relação às variáveis sociodemográficas (faixa etária,
etnia, estado civil), constatamos que a maioria das estudantes é de cor negra
e solteira. Em relação à variável faixa etária, 40,3% das estudantes
apresentou predominância de 20 a 29 anos, faixa de idade em que não é
frequente a ocorrência do câncer de mama em mulheres, pois estudos
comprovam que mulheres com menos de 30 anos não apresentam altas
incidências da doença (TESSARO, 1999). No entanto, é sempre relevante
considerar a importância da realização de exames clínicos na mama como
prática de prevenção e detecção precoce ao câncer de mama.
Em relação à cor da pele, 54,5% das alunas classificaram-se negras.
Em relação a essa variável, a prevalência de surgimento de neoplasias de
mama são maiores nas mulheres de pele branca, porém o diagnóstico tardio
é realizado mais frequentemente na população feminina afrodescendente
(BAIRROS; MENEGHEL; OLINTO, 2008). Segundo estudos, mulheres
ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de
Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do
Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard
Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem
com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia.
Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n.
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108
Artigo Original
negras fazem menos os exames essenciais para detecção precoce do câncer
de mama (BERGMAN, 2000).
Com efeito, tal fato nos alerta para a
necessidade de implantar políticas para melhorar o acesso aos serviços de
saúde focados na população mais vulnerável no referido município.
Quanto
ao
estado
civil
das
entrevistadas,
observamos
uma
predominância de mulheres com estado civil solteiro (78,0%). Estudos
confirmam que o diagnóstico de câncer em mulheres solteiras traz grandes
desafios, pois essas se encontram em fase reprodutiva, constituindo família e
iniciando carreira profissional (GRIPPA et al., 2003). Sobretudo, observa-se
que as mulheres casadas apresentam maior incidência da doença quando
comparadas com as solteiras (BERGMANN, 2000). Das entrevistadas, cerca
de 65,3% responderam que não possuem filhos, e, sobre esse ponto,
pesquisas indicam que o maior número de filhos e a maternidade podem ser
fatores protetores ao câncer de mama (TESSARO, 1999).
Com relação aos fatores preventivos ao câncer de mama, 40,2% das
mulheres pesquisadas apresentaram uma baixa frequência na consulta ao
ginecologista, apenas 0 -1 vez ao ano. A consulta ao médico é de
fundamental importância na prevenção e detecção precoce do câncer
mamário, conforme o INCA (2014). Sobre o uso de pílula anticoncepcional
23,7% afirmaram usá-la, isso se constitui como fator de risco ao câncer de
mama, segundo o INCA (2014).
Sobre o exame das mamas realizado pelo médico ginecologista, 58,3%
responderam que o médico em questão não realiza tal procedimento.
Contudo, 57,8% das entrevistadas afirmaram conhecerem o autoexame das
mamas, enquanto que 67,2% desse total não realizam o autoexame das
mamas com periodicidade. Segundo o INCA (2014), o exame das mamas
realizado por profissionais de saúde (médicos e enfermeiros, por exemplo) é
ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de
Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do
Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard
Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem
com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia.
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109
Artigo Original
de extrema importância para detecção precoce do câncer de mama. Martins
(2009, p. 22) considera que o exame clínico das mamas e a mamografia são
de extrema relevância para a detecção precoce da doença, pois a redução da
mortalidade está associada tanto pelo rastreamento quanto pelo tratamento
adequado. Quando há um retardamento no diagnóstico as chances de
sobrevida são reduzidas (INCA, 2014).
Em relação às campanhas municipais de prevenção ao câncer de
mama, 98,4% responderam que consideram importante a realização das
campanhas, 84,4% afirmaram que a Secretaria de Saúde realiza campanhas
de prevenção, entretanto, 59,1% raramente participam de tais campanhas
de prevenção ao câncer de mama. Sobre a orientação para prevenção ao
câncer de mama nos postos de saúde, 80,6% consideraram que falta
orientação nos postos de saúde. Tais aspectos indicam que os postos de
saúde do município precisam intensificar as atividades de prevenção ao
câncer de mama para que as mulheres possam conhecer o próprio corpo,
buscando cuidar da saúde, se atentando para a prevenção ao câncer de
mama através de hábitos de vida saudáveis, a necessidade de frequentar o
ginecologista com regularidade e da realização periódica do autoexame das
mamas, como também o exame clínico nos hospitais pelo profissional
médico.
CONCLUSÕES
A partir do presente estudo, estima-se que as estudantes do município
de São Francisco do Conde necessitam de mais informações sobre prevenção
ao câncer de mama, especialmente nos postos de atenção básica em saúde. A
partir dessas informações, as mulheres sanfranciscanas poderão obter o
conhecimento necessário para se prevenirem contra o câncer de mama que é
uma das doenças que mais matam as mulheres no Brasil e no mundo,
ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de
Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do
Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard
Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem
com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia.
Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n.
1, p. 100-112, fev. 2015.
110
Artigo Original
segundo as pesquisas da OMS e do INCA. Estudos posteriores poderão
ampliar a amostra de mulheres entrevistadas, buscando abranger um maior
número de informações sobre o conhecimento das mulheres sanfranciscanas
sobre o câncer de mama, possibilitando mais dados que visem melhorar as
políticas públicas de saúde do município em questão.
Agradecimentos
Agradecemos o apoio da Sra. Valdinéia Ferreira Lima, diretora
responsável pelo Colégio Estadual Matinho Salles Brasil, por permitir e
disponibilizar o acesso da equipe executora da presente pesquisa para
aplicar os questionários às estudantes foco desta pesquisa.
Este estudo foi apoiado e suportado pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, juntamente com a
Universidade Aberta do Brasil – UAB.
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Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do
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Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem
com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia.
Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n.
1, p. 100-112, fev. 2015.
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Artigo Original
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Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do
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Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem
com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia.
Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n.
1, p. 100-112, fev. 2015.
112
Artigo Original
Investigação dos riscos ambientais e
ergonômicos em restaurantes privados
de um município do Piauí – Brasil
Sabrina Almondes Teixeira
Nutricionista, Especialista em Nutrição e Controle de Qualidade de
Alimentos. Docente vinculada ao curso de Nutrição da Universidade
Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos PI.
Email: [email protected]
Natália Santos Luz
Nutricionista, Especialista em Saúde Pública. Docente vinculada ao
curso de Nutrição da Universidade Federal do Piauí, Campus Senador
Helvídio Nunes de Barros, Picos - PI.
Ellaine Santana de Oliveira
Nutricionista, Especialista em Saúde Pública. Chefe do Setor de Nutrição
e Dietética da Universidade Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio
Nunes de Barros, Picos - PI.
Rinna Santos de Almondes
Graduanda em Nutrição. Universidade Federal do Piauí, Campus
Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos - PI.
Jalles Dantas de Lucena
Enfermeiro, Mestrando em Neurociências Cognitivas e Comportamento
pela Universidade Federal da Paraíba.
TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de;
ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas
de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em
restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.
113
Artigo Original
Helierton Barbosa de Barros
Licenciado em Ciências Biológicas. Especialista em Gestão ambiental
pela Universidade Candido Mendes, Rio de Janeiro-RJ.
RESUMO
O processo de trabalho dentro de uma Unidade Produtora de Refeições
(UPR) exige que as atividades de preparo de alimentos, na maioria dos
casos, sejam desenvolvidas sob diferentes riscos decorrentes de condições
precárias do próprio ambiente ou do processo operacional utilizado. Tais
riscos são capazes de afetar a saúde, a segurança e o bem-estar do
trabalhador, podendo causar doenças profissionais ou do trabalho e/ou
ocupacionais. Dessa forma o objetivo da pesquisa foi avaliar os riscos à
saúde dos funcionários, relacionados às condições de trabalho, em UPRs
privadas de um município do Piauí. Trata-se de um estudo transversal,
descritivo, de caráter observacional, no qual se trabalhou com variáveis
qualitativas e quantitativas. Analisou-se 6 (seis) estabelecimentos
privados, localizados no perímetro urbano do município, em 2 (duas) etapas
consecutivas. A primeira referiu-se às informações do perfil pessoal e
funcional dos trabalhadores, informações estas disponibilizadas pela
gerencia de cada estabelecimento. A segunda etapa consistiu na
observação, pelos pesquisadores, quantos às atividades realizadas no setor.
De forma geral, observou-se uma incidência considerável para todos os
riscos avaliados, com destaque para duas UPRs, onde em uma houve uma
maior frequência para os riscos biológicos (71,4%) e em outra para os
ergonômicos (66,6%). Fato este que caracteriza essas unidades como um
ambiente de risco para a saúde dos funcionários, caso os pontos observados
não sejam corrigidos e controlados.
Palavras-chave: Alimentos. Meio ambiente. Saúde do Trabalhador.
TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de;
ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas
de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em
restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.
114
Artigo Original
ABSTRACT
The work process within a Meal Producer Unit requires that the activities of
food preparation, in most cases, must be developed under different risks
conditions related to a precarious environment or to the operational process
used. These risks can affect the health, safety and welfare of workers may
cause work and/or occupational diseases. Thus, the aim of the research was
to evaluate the health risks of employees, related to the working conditions
in private UPRs in Piauí. It is a cross-sectional, descriptive study, of an
observational kind, which deals with qualitative and quantitative variables.
We analyzed six (6) private establishments, located in the urban perimeter,
in two (2) consecutive steps. The first step refers to information relates to
the workers personal and functional profile, this information was provided
by the management of each establishment. The second step consists in the
observation, by researchers, of the sector activities. Overall, there was a
considerable incidence of all assessed risks, highlighting two UPRs, where,
in one there was a higher frequency of biological risks (71.4%) and in the
other, of ergonomic one (66, 6%). This fact characterizes these units as a
place of risk to the health of employees, if the observed points are not
corrected and controlled.
Keywords: Food. Environmental. Occupational Health.
INTRODUÇÃO
Nas sociedades modernas, as dificuldades impostas pelos longos
deslocamentos e a extensa jornada de trabalho impedem que um grande
número de pessoas realize suas refeições regulares em família. Nesse
contexto, as Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) e Unidades
Produtoras de Refeições (UPRs) apresentaram-se como alternativas,
favorecendo o elevado crescimento do setor de refeições coletivas
(CARDOSO, SOUZA e SANTOS 2005).
TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de;
ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas
de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em
restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.
115
Artigo Original
No Brasil, atualmente, observa-se o crescimento do número de
refeições realizadas fora do lar, alcançando em 2013, uma produção de 11,7
milhões de refeições ao dia, com estimativa de 12,5 milhões, para 2014.
Este setor emprega atualmente mais de 200 mil funcionários, assim, tal
realidade exige que restaurantes estejam estruturalmente preparados para
garantir a qualidade do alimento e a saúde do trabalhador (ABERC 2014;
ABREU, SPINELLI e PINTO 2007; VILLAROUCO e ANDRETO 2008).
O processo de trabalho dentro de uma UPR exige que as atividades de
preparo de alimentos, na maioria dos casos, sejam desenvolvidas em
intenso ritmo e esforço por meio de movimentos repetitivos e monótonos,
sob condições ambientais de ruído excessivo, temperatura elevada,
iluminação precária, ventilação insatisfatória, além de serem utilizados
equipamentos quebrados ou em condições arriscadas de funcionamento.
Ainda é exigidas a polivalência dos operadores, alocados a um número
elevado de tarefas diferentes, de acordo com as necessidades do momento e
a pressão gerada pelos horários em que as refeições devem ser servidas
(MATOS e PROENÇA 2003; NOVELETTO e PROENÇA 2004; ABREU,
SPINELLI e ARAÚJO 2002).
Dentro deste contexto, o trabalhador destas unidades é exposto a
diferentes riscos operacionais, decorrentes de condições precárias do
próprio ambiente ou do processo operacional utilizado. Tais riscos são
capazes de afetar a saúde, a segurança e o bem-estar do trabalhador,
podendo causar doenças profissionais ou do trabalho, ou ocupacionais
(RODRIGUES e SANTANA 2010).
A partir da criação da portaria do Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE)
nº
3214,
de
junho
de
1978,
foram
criadas
as
normas
regulamentadoras (NRs) relativas à segurança e medicina do trabalho.
Estas NRs obrigam as empresas a observar os aspectos relacionados à
TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de;
ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas
de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em
restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.
116
Artigo Original
segurança e saúde dos seus colaboradores (BRASIL 2014). Portanto, as
empresas devem observar minuciosamente essas regras, a fim de
desenvolver um programa de segurança e saúde dos seus trabalhadores.
Segundo Silva (2012), a implantação de um programa de segurança e
saúde deve ser de grande interesse tanto para as instituições privadas
como públicas, por ser menos oneroso o investimento educativo e
preventivo do que arcar com os afastamentos e aposentadorias precoces.
Estando a qualidade das refeições diretamente relacionada ao
desempenho da mão de obra é perceptível que são essenciais condições de
trabalho satisfatórias, haja vista que um trabalho bem desenvolvido gera
um produto final bem aceito. Logo, o objetivo da pesquisa foi avaliar os
riscos à saúde dos funcionários relacionados às condições de trabalho em
UPRs privadas de um município do Piauí.
MÉTODOS
Trata-se
de
um
estudo
transversal
descritivo,
de
caráter
observacional, o qual trabalhou com variáveis qualitativas e quantitativas.
São objetos da pesquisa, a investigação de aspectos relacionados às
atividades de trabalho em 6 (seis) restaurantes privados, localizados no
perímetro urbano de um município do Piauí. No entanto, como caráter de
inclusão, avaliou-se apenas os manipuladores de alimentos ligados à linha
de produção de refeições (chefe de cozinha, cozinheiros, auxiliares de
cozinha).
O estudo foi realizado em duas etapas consecutivas. A primeira
referiu-se às informações do perfil pessoal e funcional dos trabalhadores
(gênero, idade, setor de trabalho, tempo de serviço na UPR e jornada de
trabalho), informações estas disponibilizadas pela gerencia de cada
estabelecimento.
TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de;
ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas
de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em
restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.
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Artigo Original
A segunda etapa consistiu na observação das atividades realizadas no
setor, por pesquisadores previamente treinados. Estas observações foram
conduzidas por meio de um roteiro elaborado com baseado nas Normas
Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego (NR 9 e NR17),
ocorrendo durante todo o período de produção das refeições, a fim de que
pudessem ser verificados os condicionantes ambientais e pessoais.
Após a coleta, os dados foram tabulados e analisados com auxílio do
software Microsoft Excel® 2007, obtendo-se o percentual dos riscos que
acometiam cada estabelecimento.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A caracterização do grupo observado neste estudo, demonstrada na
Tabela 1, compreendeu as variáveis sexo, idade e escolaridade. No geral, o
estudo foi composto por 84,5% de mulheres e por 15,5% de homens,
demonstrando uma representação bem expressiva de funcionários do sexo
feminino. Este perfil concorda com os achados de Casarotto e Mendes
(2003), que ao realizarem estudo semelhante em quatro restaurantes
universitários e um hospital pediátrico, verificaram que 74% da amostra
era composta por mulheres. Em contrapartida, cenário bastante distinto foi
observado no estudo de Cavalli e Salay (2007), os quais observaram, em
restaurantes comerciais dos municípios de Campinas e Porto Alegre, que
51,5% e 48,5% eram homens e mulheres, respectivamente. Essa presença
maciça de mulheres no setor de alimentação coletiva, observada nesse
estudo, pode ser esclarecida pela cultura nordestina que ainda distingue
algumas profissões como inerentes ao homem ou à mulher.
TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de;
ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas
de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em
restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.
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Artigo Original
Tabela 1. Caracterização da população estudada, por estabelecimento.
VARIÁVEIS
A
B
C
D
E
F
% GERAL
Masculino
1
0
4
1
0
1
18,4%
Feminino
3
7
10
3
2
6
81,6%
TOTAL
4
7
14
4
2
7
100%
Máximo
56
36
59
49
31
43
Mínimo
35
20
22
28
26
23
IDADE MÉDIA
44
29,7
36,4
38,3
28,5
34,4
Fund. Comp.
1
0
4
0
1
0
15,8%
Fund. Incomp.
2
0
4
1
0
0
18,4%
Médio Comp.
1
3
5
1
0
5
39,4%
Médio Incomp.
0
3
0
1
0
2
15,8%
Sup. Comp.
0
0
1
0
1
0
5,3%
Sup. Incomp.
0
1
0
1
0
0
5,3%
SEXO
FAIXA ETÁRIA (anos)
ESCOLARIDADE
A faixa etária do grupo estudado esteve entre a idade mínima de 20 e
máxima de 59 anos, apresentando uma média de 35 anos. Dados que
concordam com resultados do estudo de Scarparo, Amaro e Oliveira (2010),
que avaliaram trabalhadores dos Restaurantes da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, encontrando idade média de 37 anos, o que aponta uma
busca por profissionais de idade mediana, possivelmente, pelo grande
esforço requerido neste tipo de atividade.
TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de;
ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas
de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em
restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.
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Artigo Original
Quanto à escolaridade, 39,4% da amostra cursou ensino médio
completo e quando somado aos empregados que cursaram o ensino médio e
não o concluíram (18,4%) esse valor atingiu 57,8%. Logo, esses resultados
evidenciam que a população avaliada tem buscado uma maior qualificação.
Esses resultados diferem dos observados por Campos e colaboradores
(2009)
que avaliaram 39 funcionários, de ambos os sexos de um
Restaurante da Universidade Federal do Piauí – UFPI onde a maior parte
da população estudada (61,6%) cursou apenas o ensino fundamental,
enquanto apenas 28,2% concluiu o ensino médio. Resultado comparável ao
encontrado por Aguiar, Valente e Fonseca (2010) que verificaram que
25,1% dos trabalhadores do setor de serviços de alimentação dos
restaurantes populares do estado do Rio de Janeiro concluíram o ensino
médio.
Na Tabela 2 estão dispostos dados trabalhistas da população
estudada, dessa forma observa-se que, no geral, o tempo médio de serviço
dos funcionários foi de 37,7 meses ou 3,1 anos, onde em apenas um dos
restaurantes pôde-se observar média superior, 83,5 meses. Resultado
similar incidiu no estudo de Neves (2007) o qual encontrou tempo médio de
serviço de 3 anos em funcionários de restaurantes de Fortaleza - CE.
Tabela 2. Características trabalhistas da população estudada, por estabelecimento.
VARIÁVEIS
TEMPO MÉDIO DE SERVIÇO (meses)
JORNADA DE TRABALHO (horas)
Nº MÉDIO DE
FUNCIONÁRIO
ATIVIDADES
/
A
B
C
D
E
F
MÉDIA
GERAL
83,5
34,3
10,0
31,5
32,0
34,7
37,7
44
44
36
44
44
44
42,7
2,0
1,7
1,3
1,8
2,0
6,4
2,5
TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de;
ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas
de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em
restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.
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Artigo Original
Estudos como os de Cavalli e Salay (2007) e de Collares e Freitas
(2007) revelam que o setor de alimentação coletiva é um setor percebido
como "de passagem", em que os indivíduos permanecem pouco tempo,
apresenta alta rotatividade, elevado absenteísmo e baixa atratividade,
ocasionados pelas limitações quanto à motivação e ao reconhecimento
profissional.
Quando analisamos a variável jornada de trabalho quase a totalidade
dos funcionários envolvidos no estudo estava submetida à carga horária
semanal de 44 horas. Resultados que concordam com os descritos por
Cavalli e Salay (2007), onde a jornada de trabalho média dos funcionários
dos restaurantes analisados foi de 41,5 horas semanais. Estudos apontam
que é comum a carga horária de trabalho ser superior às 40 horas
semanais, o que pode se tornar prejudicial à produção/hora, como ainda
trazer um aumento do absenteísmo, acompanhado de doenças e acidentes,
conforme mostrado por Torres (2003).
O número de atividades exercidas por funcionário foi outra variável
analisada, com isso observou-se que a maioria absoluta exerce mais de uma
atividade, sendo que em um dos restaurantes os funcionários são
submetidos a uma média maior do que 6 atividades. Isso faz com que este
grupo tenha maior possibilidade de sofrer acidentes de trabalho e de
apresentarem problemas de saúde como, por exemplo, a fadiga (ocasionada
pelo trabalho excessivo), conforme apresentado por Metzner e Fischer
(2001).
Dentro do grupo de riscos ambientais, incluem-se os agentes físicos,
biológicos e químicos, existentes nos ambientes de trabalho, capazes de
TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de;
ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas
de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em
restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.
121
Artigo Original
causar danos à saúde do trabalhador em função de sua natureza,
concentração ou intensidade e tempo de exposição (IWAMOTO et al. 2008).
No presente estudo, verificou-se a presença de riscos físicos (Figura 1) em
todos os estabelecimentos visitados, com percentual de prevalência variando
de 35% a 55%, e destacando-se os fatores relacionados ao ruído e à
temperatura do ambiente, os quais apresentaram maior ocorrência.
RF: Riscos Físicos. RB: Riscos Biológicos. RQ: Riscos Químicos. RErg: Riscos ergonômicos
*Riscos intrínsecos aos Riscos Ambientais
Figura 1. Incidência dos riscos ambientais e ergonômicos que acometem manipuladores de
alimentos em UPRs do Piauí, Brasil.
Albuquerque e colaboradores (2012), verificaram em análise de uma
UAN níveis de ruído elevados em todos os ambientes, com exceção da área
de distribuição e recebimento de contêineres. Ruídos entre 70 e 80 db já são
suficientes para prejudicar a saúde e, passando dos 80 db, prejudicam o
aparelho auditivo (SILVA JUNIOR 2005), desta forma, torna-se de
fundamental importância a utilização de equipamentos de proteção
individual (EPI), tais como os protetores auriculares, fato que não foi
verificado em nenhum dos estabelecimentos participantes deste estudo.
A temperatura ideal para operações em serviços de alimentação situase entre 22ºC a 26ºC com unidade relativa do ar entre de 50 a 60%
(MONTEIRO e BRUNA 2004; SILVA JÚNIOR 2008). Segundo Lida (2002),
níveis elevados de temperatura influem diretamente no desempenho do
TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de;
ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas
de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em
restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.
122
Artigo Original
trabalho humano, tanto sobre a produtividade como sobre os riscos de
acidentes. Um trabalho físico muito pesado, associado a condições
extremamente desfavoráveis pode provocar um desequilíbrio térmico, com
o consequente aumento da temperatura corporal. Desta forma, torna-se
essencial a utilização de roupas e calçados adequados, que possibilitem
maior conforto durante o desenvolvimento das atividades, ações estas não
observadas em cinco das seis UPRs estudadas. Adicionalmente, outro fator
que poderia contribuir para a minimização deste risco seria a presença e
funcionamento adequado de sistema de exaustão, característica esta
verificada apenas em dois estabelecimentos avaliados.
No tocante aos riscos biológicos, demonstrado na Figura 1, a
prevalência foi muito variável, de 14,3% a 71,4%, sendo importante
destacar que a UPR que apresentou maior percentual também é a de
menor infraestrutura.
Silva Júnior (2001) cita que, além do perigo de contaminação do
alimento devido à sua manipulação por colaboradores contaminados, existe
também a situação inversa. Esse risco de contaminação é bastante
significativo na manipulação de alimentos in natura que possuem altas
cargas microbianas como carnes cruas e matérias primas contaminadas,
além do contato com utensílios e superfícies contaminados e resíduos
orgânicos.
De acordo com Silva e colaboradores (2007), como os microrganismos
não podem ser vistos a olho nu, gestores e manipuladores sem o devido
treinamento não compreendem a gravidade da exposição a esses riscos,
assim resistindo ao uso de EPIs, o que corrobora com os achados deste
estudo, onde pôde ser observado ausência de EPIs apropriados para as
atividades, especialmente àquelas relacionadas ao manuseio de lixo
orgânico. Adicionalmente, destacaram-se três estabelecimentos os quais
TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de;
ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas
de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em
restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.
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Artigo Original
não continham pessoal específico para as atividades de manipulação de
alimentos e de lixo orgânico, o que intensifica ainda mais o risco biológico.
Os riscos químicos observados nesse estudo (Figura 1) evidenciaram
uma prevalência de 25% a 45%, referentes principalmente à ausência de
capacitação para a utilização de produtos de limpeza, bem como a ausência
de EPIs adequados para estas atividades. Resultado semelhante foi
encontrado por Melo e Carvalho (2012), que observaram o uso de
detergentes, desengordurantes e hipoclorito de sódio em diluições
inadequadas,
aumentando
assim
o
risco
de
contaminação
dos
colaboradores ao manipulá-los. Neste mesmo estudo muitos apresentaram
lesões descamantes na pele das mãos, reforçando a hipótese de agressão
pelo produto químico utilizado sem a utilização de EPIs.
Segundo Sousa e colaboradores (2005), diversas substâncias químicas
quando absorvidas pelo organismo em doses elevadas e ultrapassando os
valores limite de exposição podem provocar uma série de lesões no
organismo do manipulador, dentre elas queimaduras, encefalopatias,
ulcerações cutâneas, dentre outras. Tendo em vista que estes agentes
químicos podem penetrar no organismo pelas vias respiratória, digestiva,
dérmica e ocular, as principais medidas de prevenção a tomar incluem a
utilização de EPISs e um controle no processo produtivo o qual permita a
redução das emissões dos poluentes.
Diante do impacto provocado pelos riscos ambientais, torna-se de
suma importância a implantação do Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais visto este objetivar a preservação da saúde e da integridade
dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e
consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que
venham a existir no ambiente de trabalho (SILVA, AGUIAR e SILVA
2010).
TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de;
ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas
de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em
restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de
Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.
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Diversos estudos que incluem a análise do processo e das relações de
trabalho em UAN concluíram que as ocorrências de doenças e de acidentes
neste local apresentam uma estreita relação com as condições ergonômicas
existentes (ANTUNES, SPINELLI e KOGA 2005; KABKE et al. 2009;
MONTEIRO 2009; PAIVA e DA CRUZ 2009; LOURENÇO e MENEZES
2008; MONTEIRO e SANTANA 1997). Segundo Kabke e colaboradores
(2009), essas condições influenciam diretamente o desempenho das
atividades dos funcionários, podendo levá-los a um melhor ou pior
desenvolvimento na produção.
Através do gráfico apresentado na Figura 1 observa-se que os
percentuais para os riscos ergonômicos variaram de 22,2% à 66,5%,
caracterizados principalmente pelo trabalho com carga de peso excessivo,
além da ausência de descanso no decorrer das atividades, fato justificado
pelo número de funcionários insuficientes para a demanda.
Em situações em que há risco ergonômico devido ao esforço físico,
autores
recomendam
treinamento
periódico
sobre
maneiras
e
procedimentos corretos de levantamento e transporte manual de carga,
além da utilização, caso possível, de dispositivos de ajuda para o transporte
de materiais (LOURENÇO e MENEZES 2008). Essas ações contribuíram
de forma direta para a prevenção de inúmeros problemas de saúde, como
hiperflexão ou hiperextensão da coluna dorso-lombar, pressão sobre os
nervos, plexos nervosos e cartilagem intra-articular dos joelhos, dentre
outros acometimentos (SOUSA et al. 2005).
CONCLUSÃO
Constatou-se
que
em
detrimento
de
terem
sido
observados
significativos riscos ambientais e ergonômicos em todas as UPRs estudadas,
estas se apresentam como um ambiente de risco para a saúde dos
TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de;
ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas
de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em
restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de
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funcionários. Dessa forma verifica-se a necessidade de uma conscientização
por parte dos donos dos estabelecimentos, junto a seus funcionários, a fim de
reduzir ou mesmo extinguir os riscos aos quais estão expostos.
Tal situação observada neste estudo justifica a necessidade de
contínuas adaptações entre o estabelecimento, o trabalhador e o serviço a
ser desenvolvido, de modo que seja possível oferecer um produto final de
qualidade sem gerar danos à saúde dos envolvidos.
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