sistematizados mecânica tratamento ortodôntico

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sistematizados mecânica tratamento ortodôntico
Mecânica Ortodôntica
Individualização da angulação dos
molares superiores
Reginaldo César Zanelato*, Danilo Furquim Siqueira**, Liliana Ávila Maltagliati**,
Marco Antonio Scanavini****
Resumo
O presente artigo tem o objetivo de
demonstrar, por meio de casos clínicos, as
diferenças de angulação dos molares superiores quando relacionados em Classe I e em
Classe II, salientando a importância da individualização da angulação desses dentes
que deve ser considerada nos tratamentos
ortodônticos, em razão da grande variedade
de más oclusões existentes e das diferen-
ças individuais no posicionamento dentário.
Recomenda-se planejar a instalação dos
acessórios ortodônticos de acordo com as
características iniciais da má oclusão e, na
fase de detalhes de acabamento, verificar
se a escolha do acessório ou a resposta do
dente à prescrição foi precisa. Caso necessário, reposições deverão ser realizadas para
a obtenção dos resultados esperados.
Palavras-chave: Ortodontia. Aparelho fixo. Angulação.
*Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Área de Concentração Ortodontia da UMESP e Professor do Curso de Especialização de Ortodontia da APCD (Presidente Prudente).
**Professores do Programa de Pós-Graduação em Odontologia (Mestrado) – área de concentração em Ortodontia da UMESP.
***Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Odontologia (Mestrado) – área de concentração em Ortodontia da UMESP.
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Reginaldo César Zanelato, Danilo Furquim Siqueira, Liliana Ávila Maltagliati, Marco Antonio Scanavini
INTRODUÇÃO
A individualização do posicionamento dentário deve ser uma
prática freqüentemente considerada nos tratamentos ortodônticos, levando-se em conta as características individuais dos
pacientes. No planejamento do tratamento, em alguns casos,
optamos por terminar com os primeiros molares relacionados
em Classe II, fazendo-se necessário ajustar a posição dentária
de acordo com a relação interarcos pois, conforme descrito por
Andrews, na primeira chave de oclusão, a angulação dos primeiros molares para mesial é maior, de forma que a crista marginal
distal do primeiro molar superior contate a crista marginal mesial do segundo molar inferior, estabelecendo assim um assentamento do primeiro molar superior no segundo inferior. Ao finalizar com o primeiro molar em Classe II, uma maior angulação
desses dentes resultará em interferência oclusal, pois a cúspide
distopalatina estará ocluindo na fossa central do primeiro molar
inferior e não na ameia entre as cristas marginais de primeiro e
segundo molares inferiores. Assim, a angulação positiva média
de 5 graus2 para os molares superiores quando em Classe I, não é
apropriada para a relação de Classe II, tornando-se necessária a
individualização do posicionamento dentário. O perfeito posicionamento dos molares superiores quando em Classe II evitará interferências oclusais durante os movimentos mandibulares, em
razão da verticalização do longo eixo das coroas, que deixa as
cúspides distovestibulares mais intruídas. O objetivo deste artigo
é mostrar, por meio de casos clínicos, quando se faz necessário
modificar a angulação dos molares superiores, de acordo com a
relação interarcos.
REVISÃO De LITERATURA
Andrews1, em 1972, relatou que, tão importante quanto o
novo sistema de braquetes, foi a observação de seis características
presentes nos 120 modelos de oclusão normal, que serviram como
base para os seus estudos. Essas características presentes de maneira consistente foram denominadas “Seis chaves para a oclusão
normal” e serviram como base para o desenvolvimento do aparelho
Straight-Wire. São elas: relação interarcos; angulação da coroa; inclinação da coroa; ausência de rotação; contatos justos e ausência
de Curva de Spee. A angulação das coroas dentárias foi classificada
como uma das seis chaves para a oclusão normal. Definiu-se como
angulação da coroa dentária o ângulo formado pelo eixo vestibular
da coroa clínica (EVCC) e uma linha perpendicular ao plano oclusal.
A angulação era considerada positiva quando a porção incisal ou
oclusal do eixo vestibular estava à mesial da porção gengival e negativa quando por distal.
Vigorito7, em 1977, escreveu que os acessórios são posiciona-
dos no terço médio da coroa dentária, centralizados nos sentidos
mesiodistal e ocluso/incisocervical. Essa distância da borda incisal
ou oclusal dos dentes até a ranhura do braquete foi denominada
“X”. Definiu também que, para os molares superiores, a angulação
dos acessórios seria 0º, ou seja, os tubos deveriam ser soldados
paralelos à borda oclusal.
Em 1989, Andrews2 publicou o livro “Straight-Wire - O conceito
e aparelho”, onde comentou o desenvolvimento do aparelho préajustado. Nessa obra estão divulgados os resultados das medidas dos
120 modelos de oclusão normal. Esses modelos foram os melhores,
selecionados de um universo de 1988, que apresentavam as seguintes características: nunca foram submetidos a tratamento ortodôntico; os dentes estavam bem alinhados e com boa aparência anatômica; apresentavam ter excelente oclusão; e os pacientes não se
beneficiariam com o tratamento ortodôntico. No capítulo apêndice,
o autor mostrou os dados individuais da angulação e da inclinação
das coroas dentárias. Para os molares superiores, foi recomendada
a angulação de 5º. Ao verificar os resultados das medições nos 120
modelos, observa-se que no primeiro molar superior foi encontrada
a angulação média das coroas de 5,73º, com valor máximo de 16º e
mínimo de -7º e para o segundo molar superior a angulação média
foi de 0,39º, com valor máximo de 9º e mínimo de -23º.
Objetivando o posicionamento ideal dos molares superiores,
Bennett e McLaughlin3, em 1998, comentaram que o primeiro
molar superior possui um sulco vestibular que representa o longo eixo da coroa clínica. Várias pesquisas com oclusões naturais mostraram que este sulco encontra-se entre 4,9º e 5,7º em
relação ao plano oclusal. A especificação original do aparelho
Straight-Wire para a angulação dos molares superiores foi de 5º.
Segundo os autores, para se conseguir a angulação de 5º para
os molares, quando em Classe I, deve-se utilizar tubos com 0º de
angulação, posicionando-se a banda paralela ao plano das cúspides vestibulares do dente, em função da angulação do sulco préexistente. Portanto, se utilizado um tubo com 5º e a banda estiver
cimentada paralela às cúspides vestibulares, resultará em 10º de
angulação efetiva no primeiro molar que, segundo os autores,
parece ser excessivo.
Revendo os conceitos da técnica Straight-Wire, que utiliza
braquetes programados ou construídos individualmente para
cada dente, Capelozza Filho4, em 1999, sugeriu a individualização
dos braquetes de acordo com a relação intermaxilar, pensando
no posicionamento dentário a ser obtido ao final do tratamento
em casos compensatórios. Para o melhor entendimento, salientou importante considerar que se um único fator tivesse que
ser formulado para indicar a compensação, ele deveria se concentrar no componente esquelético comprometido e executá-la
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sempre de modo conservador. O tratamento compensatório é
opcional e deveria, quando executado, permitir que o paciente
a ele submetido pudesse, em caso de mudança de opinião, receber o tratamento corretivo absoluto, sem perda de qualidade. A prescrição de braquetes padrão, sugerida pelo autor, foi
baseada na prescrição padrão de Andrews1 para o tratamento
da má oclusão de Classe I, padrão I, com algumas modificações.
Porém, para os molares superiores, foram recomendados acessórios ausentes de angulação, sendo livre a colagem dos segundos
molares superiores.
Em 2001, Watanabe e Koga8 mediram as angulações e inclinações das coroas dentárias de indivíduos japoneses, com idade
média de 15 anos e 3 meses, que procuraram tratamento ortodôntico. O objetivo do estudo foi obter dados para o desenvolvimento de braquetes específicos para pacientes asiáticos,
baseados nos parâmetros do trabalho de Andrews1. Um técnico
de laboratório experiente montou os modelos em articuladores
semi-ajustáveis com os pacientes em relação de oclusão cêntrica.
Foram obtidas medidas da angulação e inclinação da coroa dentária, do contorno vertical e horizontal da coroa e o off-set dos
molares superiores. Para os primeiros molares superiores foram
encontradas angulação média das coroas de 4,57º e inclinação
média de -9,72º.
Segundo McLaughlin, Bennett e Trevisi6, em 2002, o sistema
de braquetes MBTTM mantém todas as características do desenho
original do aparelho Straight-Wire, mas, ao mesmo tempo, incorpora inovações e alterações nas especificações de braquetes. Em
relação à angulação, foi sugerida a utilização de tubos com 0º de
angulação para os molares superiores, de forma que, quando esses
forem posicionados paralelamente ao plano das cúspides vestibulares, ocorrerá uma angulação de 5º. Comentaram ainda que a precisão no posicionamento dos braquetes é fundamental para que as
características incorporadas no sistema de braquetes possam ser
total e eficientemente expressas, ajudando, assim, na mecânica de
tratamento e na consistência dos resultados.
Utilizando uma amostra de oclusão normal natural, Zanelato9, em 2003, estudou as angulações e as inclinações das coroas
dentárias de brasileiros e comparou com os valores médios encontrados por Andrews2, utilizados para o desenvolvimento do
aparelho pré-ajustado. De acordo com a metodologia empregada, encontrou valores médios da angulação e da inclinação das
coroas dentárias. Os primeiros molares superiores apresentaram
angulação média de 5,55º, com angulação máxima de 13º e mínima de 1º. Para os segundos molares superiores foi encontrada
angulação média das coroas de -0,24º, com angulação máxima de
9º e mínima de -12,5º.
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Tabela 1 - Resultados das pesquisas sobre a angulação dos primeiros molares superiores e a prescrição do aparelho Straight-Wire original.
Angulação do primeiro molar superior
Andrews1
5,7º
Watanabe; Koga
Zanelato9
8
4,5º
5,5º
SWA original
2
5,0º
ANGULAÇÕES DOS MOLARES SUPERIORES EM CLASSE I
A relação interarcos é a primeira das seis características encontradas por Andrews1 nos 120 modelos de oclusão normal natural.
Em relação ao primeiro molar superior, a cúspide mesiovestibular
deve ocluir no sulco entre a cúspide mesial e a mediana do primeiro molar inferior; a crista marginal distal, da cúspide distovestibular do primeiro molar superior, oclui na crista marginal mesial,
da cúspide mesiovestibular do segundo molar inferior (Fig. 1); e a
cúspide mesiolingual oclui na fossa central do primeiro molar inferior. O aparelho ortodôntico deve transmitir com certa fidelidade
estas características de normalidade aos dentes, assim, no final do
tratamento, os resultados obtidos assemelhar-se-iam às oclusões
normais naturais (Fig. 2, 3).
Em alguns casos, verifica-se a relação de Classe I de Angle nos
molares, porém, com falta da relação cúspide-ameia na região dos
pré-molares. Essa situação é freqüente quando ocorre angulação
incorreta (negativa) dos molares superiores, com falta de contato
entre a crista marginal distal do primeiro molar superior com a
crista marginal mesial do segundo molar inferior (Fig. 4, 5).
A angulação negativa também é notada em alguns primeiros
molares, antes da erupção dos segundos molares. Hilgers5, comentou que os molares superiores irrompem seguindo padrão
em forma de “leque”, com as coroas anguladas distalmente. À
medida que os dentes do arco inferior entram em contato oclusal com cada molar superior irrompido, juntamente com o crescimento anterior da mandíbula, a inclinação dos dentes inferiores e a musculatura, ocorre um ajuste nos molares superiores,
permitindo um assentamento em uma posição mais funcional
possível (Fig. 6, 7).
A relação das cristas marginais dos molares e a correta inclinação dos incisivos são importantes para a manutenção do correto
comprimento do arco dentário, pois, quando as raízes dos primeiros molares encontram-se anguladas para mesial e os incisivos inclinados para lingual, ocorre diminuição no comprimento do arco
dentário, alterando a relação interarcos.
Na prescrição do aparelho Straight-Wire original2, foi recomen-
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Figura 1 - Angulação do primeiro molar superior em Classe I, com contato da crista marginal
distal da cúspide distovestibular, com a crista
marginal mesial da cúspide mesiovestibular do
segundo molar inferior.
Figura 2, 3 - Oclusão normal tratada, onde se observa a angulação normal dos primeiros molares
superiores para a relação interarcos de Classe I.
Figura 4, 5 - Modelos de estudos, onde observa-se a relação de Classe I de Angle nos molares, mas com ausência da relação cúspide-ameia nos pré-molares.
Observa-se também a angulação negativa das coroas dos primeiros molares superiores.
Figura 6, 7 - Desenvolvimento da oclusão normal natural: nota-se a angulação dos primeiros molares
superiores, buscando um assentamento em uma posição mais funcional possível.
Figura 8 - Posição da banda do primeiro molar
superior, quando em Classe I.
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dado que os acessórios dos molares superiores tivessem 5º de angulação. Nem mesmo o próprio autor tinha idéia de como se comportaria clinicamente o primeiro aparelho pré-ajustado, em razão
de ter sido concebido em laboratório. Em muitos casos clínicos, essa
recomendação de angulação se mostrava excessiva, devido à extrusão da cúspide distovestibular dos primeiros molares superiores.
Com o passar dos anos e os resultados de novas pesquisas,
fortaleceu-se a idéia da angulação natural média de 5º dos primeiros molares superiores, quando em Classe I. Assim, os acessórios
ortodônticos devem transmitir aos dentes, de maneira precisa, a
angulação e a inclinação dentária nas oclusões tratadas, pois isso
interfere diretamente no resultado final do tratamento.
Para se obter a correta angulação dos molares, recomenda-se
utilizar tubos 0º posicionados paralelamente ao das cúspides vestibulares3 (Fig. 8), assim, a angulação natural da coroa do primeiro
molar superior é mantida, pois o sulco mesiovestibular já apresenta esta angulação. Quando se utiliza um tubo angulado com 5º,
portanto, deve-se posicionar a porção mesial do tubo mais para
gengival, para anular a angulação contida no acessório, evitando
o excesso de angulação, que pode causar a extrusão da cúspide
distovestibular do primeiro molar superior e provável interferência
oclusal. Em virtude da grande discrepância entre os valores máximos e mínimos da angulação dentárias encontradas nas pesquisas, recomenda-se, em alguns casos, realizar reposições na fase de
acabamento do tratamento, quando a resposta dentária não for
suficiente e precisa ou quando ocorrerem interferências oclusais.
5º
ANGULAÇÃO DOS MOLARES SUPERIORES EM CLASSE II
A relação interarcos de Classe II pode ser obtida nos casos
onde se indica extrações de pré-molares apenas superiores ou
quando ocorrer agenesias de pré-molares superiores ou de incisivos laterais superiores e o plano de tratamento conduz ao
fechamento dos espaços. Nessas situações, torna-se necessário
individualizar o posicionamento dos molares superiores, pois os
5º de angulação recomendados para a Classe I não são apropriados para a Classe II (Fig. 9, 10).
Nessas situações, recomenda-se a verticalização dos molares
superiores (Fig. 11). Bennett e McLaughlin3 comentaram que para
se obter uma oclusão melhor com os molares inferiores, deve-se
posicionar os molares superiores com 0º de angulação, ou seja,
o longo eixo da coroa clínica deve estar perpendicular ao plano
oclusal. Para se obter a oclusão desejada, dobras de angulação
deverão ser feitas nos arcos de finalização, ou variar levemente
a posição das bandas dos molares superiores, assentado-as mais
para a gengival na área mesial, o que colocará a coroa em uma
posição mais verticalizada.
A individualização da angulação dos molares superiores em
relação de Classe II também foi sugerida por Capelozza Filho4, que
recomendou utilizar acessórios desprovidos de angulação mesial
de 5º e da rotação de 10º, úteis para posicionar molares em relação de Classe I, mas inadequados para a finalização em relação de
Classe II. Nesta posição, recomenda-se que os molares superiores
estejam verticalizados e rotacionados no sentido mesiolingual,
0º
Figura 9, 10 - Individualização da angulação dos molares superiores, quando relacionados em Classe I e Classe II, respectivamente.
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Figura 11 - Relação interarcos de Classe II, nota-se a verticalização do
primeiro molar superior.
Figura 12 - Fase de acabamento do tratamento, observa-se a colagem
individualizada do tubo do primeiro molar superior, objetivando-se o posicionamento dentário adequado para a relação de Classe II.
ocluindo, a cúspide mesiopalatina, onde deveria ocluir a cúspide
do segundo pré-molar superior e a distopalatina na fossa central,
no lugar da mesiopalatina e, portanto, não podendo estar em posição mais inferior.
A fase de finalização nos casos de Classe II é um dos pontos críticos do tratamento. Para se obter a angulação desejada dos molares, em alguns casos, é vantajoso inclusive substituir as bandas por
tubos colados, com o acessório posicionado com -5º de angulação
(Fig. 12), de forma a anular os 5º de angulação natural, deixando a
coroa verticalizada em relação ao plano oclusal. Após a substituição das bandas, arcos de finalização deverão ser utilizados para o
reposicionamento, movimentando a raiz medialmente.
RELATO DE CASOS CLÍNICOS
Caso clínico 1
Neste caso clínico, observa-se que os molares apresentam a relação de Classe I de Angle, mas os pré-molares encontram-se em
Classe II, de aproximadamente 2,5mm (Fig. 13, 14). Ao analisar o
caso, verificou-se que os molares não se encontravam com a angulação desejada e os incisivos estavam levemente lingualizados.
Houve a necessidade de ajustar o comprimento do arco dentário superior, atuando na região anterior, com a melhora da inclinação dos
incisivos e na região posterior, com a mudança da angulação dos
molares, possibilitando a perfeita intercuspidação dos pré-molares.
Foram instalados aparelhos fixos pré-ajustados, prescrição
MBTTM. A fase de alinhamento e nivelamento foi realizada com arcos 0,016” nitinol e 0,018” e 0,020” de aço. O arco retangular 0,019”
x 0,025” de aço também foi utilizado para o controle de inclinação
dentária e, após essa fase, os aparelhos fixos foram removidos, iniciando a fase de contenção (Fig. 15, 16).
Figura 13, 14 - Modelos de estudo iniciais.
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Figura 15, 16 - Aparelhos fixos instalados, prescrição MBTTM , para o ajuste do comprimento dos arcos dentários.
Figura 17, 18 - Oclusão normal tratada, obtida após a utilização de aparelhos fixos.
Visualizando a oclusão após a remoção dos aparelhos (Fig. 17,
18), nota-se boa intercuspidação dentária, perfazendo todos os
critérios da relação interarcos de Classe I de Andrews. Os primeiros molares superiores assumiram angulação positiva, com contato desejado com o segundo molar inferior. Ocorreu também a
mudança na inclinação dos incisivos, necessária para o ajuste dos
trespasses vertical e horizontal.
Caso clínico 2
A relação molar de Classe II pode ser o objetivo final do tratamento para pacientes que apresentam agenesias de incisivos laterais e o plano de tratamento recomenda o fechamento de espaços.
Neste segundo caso clínico, a paciente apresentava relação interarcos de Classe II do lado direito de 4mm, com agenesia do incisivo
lateral superior direito. Do lado esquerdo, a relação dos molares era
de Classe I de Angle, porém, os pré-molares apresentavam-se em
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Classe II de 3mm (Fig. 19, 20).
O plano de tratamento consistiu em fechamento de espaços,
com a obtenção da relação molar total de Classe II do lado direito.
Para isso, os dentes posteriores do lado direito foram mesializados
com elásticos intermaxilares de Classe III e o canino foi posicionado
na região anterior do arco dentário, em substituição ao incisivo
lateral ausente.
Realizou-se também, a individualização da angulação dos molares superiores do lado direito. Utilizaram-se tubos, que foram posicionados mais para gengival na região mesial, para se obter 0º de
angulação. Assim, o longo eixo da coroa dentária foi verticalizado,
dando um aspecto perpendicular com o plano oclusal, posicionamento este desejado para os molares em Classe II (Fig. 21, 22).
Observa-se, nas fotos da oclusão final, a diferença angular entre os primeiros molares superiores, onde o primeiro molar superior
direito encontra-se mais verticalizado (Fig. 23, 24).
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Figura 19, 20 - Modelos de estudos iniciais.
Figura 21, 22 - Aparelhos fixos pré-ajustados autoligados “SmartClip”, prescrição MBTTM.
Figura 23, 24 - Oclusão final: nota-se a diferença de angulação dos primeiros molares superiores, quando relacionados em Classe II e Classe I.
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CONCLUSÃO
A individualização da angulação dos molares superiores deve
ser considerada nos tratamentos ortodônticos. Em razão da grande
variedade de más oclusões e diferenças individuais no posicionamento dentário, recomenda-se planejar a instalação dos acessórios
ortodônticos de acordo com as características iniciais da má oclusão e com os objetivos do tratamento definidos no planejamento.
Na fase de detalhes de acabamento, deve-se verificar se a escolha
do acessório ou a resposta do dente à prescrição foi precisa, caso
contrário, reposições necessárias serão realizadas. A individualização da angulação dos molares superiores de acordo com a relação
interarcos permite um melhor acabamento do tratamento ortodôntico, perfazendo as recomendações estéticas e funcionais, que
são os objetivos a serem alcançados pelo tratamento ortodôntico.
Individualization of the angulation of upper molars
Abstract
This current study aims at demonstrating by clinical cases
the angular differences of upper molars, proposing an
individualized angulation for upper molars, when related
in Class I and in Class II. The individualization of the
angulation for the upper molars should be considered
in orthodontic treatment due to the great variability
of malocclusions and the individual differences in the
dental positioning. It is recommended to plan the
set-up of orthodontic accessories according to the
characteristics of the malocclusion and, in the detailing
and finishing stages of treatment, checking if the choice
of the accessory or the acceptance of the tooth to the
prescription was precise. If necessary, repositions will
be carried out in order to achieve a suitable result.
key words: Individualization. Angulation. Upper molars.
Referências
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2003.
Endereço para correspondência
Danilo Furquim Siqueira
Rua do Livramento, 230 Edifício Lambda, sala 241
CEP: 09.640-000 – São Bernardo do Campo / SP
E-mail: [email protected]
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