Ode à rainha da malha
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Ode à rainha da malha
escalaparis por stella pelissari correspondente internacional fotos dominique isscman e divulgação Ode à rainha da malha REVISTA VERSATILLE Paris, em festa, comemora os 40 anos da estilista pioneira da moda contemporânea numa exposição única: Sonia Rykiel, “Exhibition” 24 Foi em 1962 que Sonia Rykiel, não encontrando roupas de seu agrado, desenhou e confeccionou seus primeiros vestidos de futura mamãe e criou tricôs ajustados, que revelavam as curvas femininas. Logo seu gosto pessoal passou a ser o estilo da butique Laura e suas criações conheceram um rápido sucesso. Mas foi em 1968 que a história da Maison Sonia Rykiel começou com a abertura da primeira loja no bairro de Saint-Germain des Prés, em Paris. Sonia Rykiel tornou-se a incontornável rainha da malha criando minipulôveres que mudaram completamente as proporções da época. A malha transformava-se, então, na sua matéria-prima predileta, trabalhada com obsessão ao longo de sua carreira. Em 1974, ao vestir um pulôver ao contrário, ela instaurou a moda do não acabado: inventou as roupas com costuras e acabamentos aparentes, nas quais as bainhas foram abolidas, e antecipou em uma dezena de anos os gestos e as atitudes que definiram o passaporte para modernidade dos estilistas. Um marco que acompanha suas coleções até hoje. As criações Sonia Rykiel deixam poucas possibilidades aos historiadores ávidos de datar seus trabalhos. Seu estilo se impõe com instantaneidade de maneira atemporal. Sonia Rykiel foi igualmente pioneira quando utilizou o preto que, como cor fetiche misturada a coloridas listras recém-saídas dos anos pop, sacudiu a elegância burguesa da década de 70 e inverteu os tabus diante de duras opiniões. Tal preto, sombrio, que colocou em destaque os rostos pálidos, que desenhou uma nova arquitetura de vestuário, impôs-se nos anos 80 e dominou a moda nos anos a seguir. Sonia foi uma mulher da moda, mas igualmente de letras: fala assim como escreve – e escreve como fala. Brinca com palavras que viram inscrições sobre os vestuários, slogans poéticos ou livros. No Palais du Louvre, a mostra Sonia Rykiel, “Exhibition” mergulha o vi- sitante no universo misterioso e tão caro da estilista, de roupas que brincam de esconde-esconde e vídeos de desfiles, além de numerosas fotografias. O espaço evoca um apartamento parisiense, onde se descobre a trajetória dela, de um ambiente a outro. Escadas, portas, cantinhos secretos... Sucedem-se num espaço escuro, bordô e preto, que evoca o glamour e a sensualidade tão apreciada por madame Rykiel. Num percurso temático, a exposição revela o universo da Maison Rykiel. Os primeiros pulôveres inventados, o preto, o avesso das peças, as listras, o veludo atoalhado, aos joggings mais elegantes, as rendas, as peles, os anos 30 e o vocabulário fixo e poético da criadora sobre as roupas. Para a estilista, a moda deve vir de dentro para fora. “Desejo roupas que cresçam como os cabelos, os pelos, as peles, as ideias! Como a lã, que cresce nas ovelhas! Uma vez que você encontrar seu estilo, o que é verdadeiramente difícil, existe somente uma coisa a fazer: cultivá-lo. Eu aplico naturalmente esta estratégia a mim mesma, e ao meu trabalho. Sempre fiz as coleções sobre meu corpo, olhando-me no espelho, e seria incapaz de criar um modelo que não pudesse vestir. As roupas que gosto de usar restam as mesmas por muitos anos. São o contrário da moda, que se ‘desmoda’. Certamente as formas evoluem, mas imperceptivelmente, sem movimentos bruscos ou tirania.” Sonia foi ainda inovadora em outras áreas, sendo a primeira a citar, em 1972, em um dos seus catálogos publicitários o nome do fotógrafo. Não é à toa que é respeitada até hoje foi fonte de inspiração de diversos artistas, de Andy Warhol a Robert Altman, que a fez protagonizar sua própria vida no filme Prêt-à-Porter, em 1993. Para quem não pode vir a Paris conferir a exposição, não deixe de ver o vídeo comemorativo dos 40 anos de trabalho da estilista no site da marca: www.soniarykiel.com. Sonia Rykiel, “Exhibition” Até o dia 19 abril, no Musée de Arts Décoratif, no Palais du Louvre, no número 107 da Rue de Rivoli, em Paris, na França 25