UEMA X DEPAq/UFRPE - Engenharia de Pesca

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UEMA X DEPAq/UFRPE - Engenharia de Pesca
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
REPESCA
ISSN
1980-587X
Vol. 2, N. 2 - Maio de 2007
Pesca, Aqüicultura, Tecnologia do Pescado e Ecologia Aquática
UEMA X DEPAq/UFRPE
Uma Parceria Que Deu Certo
Biologia:
Alimentação de solha no
complexo de Itamaracá, PE
UEMA
Pesca:
Frota de parelhas no Estado de
São Paulo
Complexo de Paulo Afonso:
DEPAq
Avaliação dos níveis de Cádmio
Pesca Artesanal:
Modelos para gestão e
ordenamento
VEJA TAMBÉM NESTE NÚMERO
Crescimento em tambaqui: uso de ração com NaCl Ì Predação de Notonecta sobre tilápia
Uso múltiplo de represas do S. Francisco: piscicultura Ì Educação cooperativista na pesca artesanal
Impactos ambientais na Ilha de Itamaracá, PE Ì Teste: tanques pré-moldados X viveiros
1
ATENÇÃO: PARA NAVEGAR USE “BOOKMARKS” À ESQUERDA
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA
VOLUME 2, NÚMERO 2, 2007
Eds.: José Milton Barbosa e Haroldo Gomes Barroso
DIRETOR
COMISSÃO EDITORIAL
Haroldo Gomes Barroso - UEMA
Adierson Erasmo de Azevedo - UFRPE, Professor
Catedrático aposentado
EDITORES
José Milton Barbosa - UFRPE
Alex Augusto Gonçalves - GI Pescado
Antônio Diogo Lustosa Neto - Consultor Autônomo
Haroldo Gomes Barroso - UEMA
Athiê Jorge Guerra dos Santos - UFRPE
DIRETOR DE MARKETING
Fernando Porto - UFRPE
Rogério Bellini - Netuno
ASSISTENTES DE EDIÇÃO
Heiko Brunken - Hochschule Bremen, Alemanha
Joachim Carolsfeld - World Fisheries Trust, Canadá
Leonardo Teixeira de Sales - FAEP-BR
Ivo Thadeu Lira Mendonça - UFRPE
Luiz de Souza Viana - Emater/PR
Fábia Gabriela Pflugrath Carraro –
UFRPE
Manlio Ponzi Junior - UFRPE
Pollyanna de Moraes França Ferreira UFRPE
Maria do Carmo Gominho Rosa - Unioeste
Webmaster
Neiva Maria de Almeida - UFPB
Junior Baldez - UEMA
Maria do Carmo Figueredo Soares - UFRPE
Maria Nasaré Bona de Alencar Araripe - UFPI
Paula Maria Gênova de Castro - Instituto de Pesca/SP
Paulo de Paula Mendes - UFRPE
Revisão do texto
Raimundo Nonato de Lima Conceição - UFC
Adierson Erasmo de Avezedo UFRPE, Prof. Titular aposentado
Rogério Souza de Jesus - INPA
José Milton Barbosa - UFRPE
Sérgio Makrakis - Unioeste
Sérgio Macedo Gomes de Mattos - SEAP/PE
Sigrid Neumann Leitão - UFPE
Vanildo Souza de Oliveira - UFRPE
Walter Moreira Maia Junior - UFPB
2
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Revista indexada a base de dados sumarios.org (www.sumarios.org).
 Publicada em maio de 2007
Todos os direitos reservados aos Editores.
Proibida a reprodução, por qualquer meio,
sem autorização dos Editores.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Ficha catalográfica
Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Central – UFRPE
R454
Revista Brasileira de Engenharia de Pesca
Nacional / editores José Milton Barbosa, Haroldo Gomes
Barroso -- São Luís, Ed. UEMA, 2007.
V.2. N.2. : 114p : il.
Quadrimestral
1. Pesca 2. Aqüicultura 3. Ecossistemas Aquáticos,
4. Pescados – Tecnologia I. Barbosa, José Milton II. Barroso
Haroldo Gomes III. Universidade Estadual do Maranhão
CDD 639
________________________________________________________________________________
Apoio
Curso de Engenharia de Pesca
Universidade Estadual do Maranhão
Departamento de Pesca e Aqüicultura
Universidade Federal Rural de Pernambuco
ISSN-1980-587X
3
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA
Volume 2
Maio, 2007
P
Número 2
EDITORIAL
rezados Engenheiros de Pesca, de formação ou por adesão, a frase de
chamada de nossa capa “UEMA/DEPAq uma parceria que deu certo” reflete
uma verdade e como dizia Ernest Hemingway: “quando não estiver
inspirado para escrever, comece com uma frase verdadeira, que o resto sairá
naturalmente”. Na realidade a colocação dos símbolos na capa é uma
homenagem às duas instituições, cuja parceria viabilizou a Revista
Brasileira de Engenharia de Pesca (REPESCA). Os símbolos estão saindo
da parte superior da capa da revista, para dar lugar ao símbolo – provisório da nossa (REPESCA). Isso visa dar personalidade à Revista, e segue
orientação de especialistas. Os símbolos saem, mas a parceria fica.
Outras providências, quanto às instruções da Associação Brasileira de
Editores Científicos (ABEC), visando o QUALIS B, foram implementadas:
a Revista passou a ser quadrimestral (janeiro, maio e setembro) e foram
feitas mudanças na formatação de algumas páginas, para atender às
exigências legais. Outra exigência, além da qualidade dos trabalhos, é a
regularidade e o tempo mínimo de três anos para a avaliação.
Assim, prezados amigos, estamos na luta para que a nossa Revista seja
referência na área de Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca e tenha
perfil internacional. Agora, é uma questão de tempo e de trabalho, muito
trabalho. Precisamos da participação de todos.
José Milton Barbosa
Editor Chefe
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Sumário
I - ARTIGOS CIENTÍFICOS
Biologia alimentar de Citharichthys spilopterus (Paralichthyidae) em um estuário tropical,
Pernambuco, Brasil.
Antônio Lemos VASCONCELOS FILHO; Sigrid NEUMANN-LEITÃO; Marilena
RAMOS-PORTO; Zafira da Silva de ALMEIDA
Frota de parelhas do Estado de São Paulo – caracterização física e operacional, e suas variações
temporais.
Paula Maria Gênova de CASTRO; Sergio Luis dos Santos TUTUI.
Avaliação dos níveis de Cádmio em material aquático do complexo hidrelétrico de Paulo
6
13
30
Afonso
Elvidio Landim do Rego LIMA; José Patrocínio LOPES
Crescimento e tolerância à salinidade em tambaqui Colossoma macropomum: efeito da
utilização de ração suplementada com sal (NaCl).
Fábia Gabriela Pflugrath CARRARO; Ivo Thadeu Lira MENDONÇA; José Milton
BARBOSA Manlio PONZI JÚNIOR.
37
Análise da predação de Notonecta sp. em larvas, pós-larvas e alevinos de Oreochromis niloticus
(Linnaeus, 1758) variedade “QAAT 1” com diferentes comprimentos
José Patrocínio LOPES; Kariny Barbosa de SIQUEIRA; Liza Crysthiane F. de
OLIVEIRA; Jéssica Tatiane Moreira BRITO
46
II - ARTIGOS TÉCNICOS/INFORMATIVOS
Contribuição dos modelos bio-econômicos para a gestão participativa e o ordenamento da pesca
artesanal e de pequena escala
Sérgio Macedo Gomes de MATTOS
52
A piscicultura no submédio São Francisco: é possível conciliar o uso múltiplo dos reservatórios?
Maria do Carmo Figueredo SOARES; José Patrocínio LOPES; Rogério BELLINI;
Débora Queiroz MENEZES
Educação cooperativista para pesca artesanal
Sileno Luís de ALCANTARA e Andréa Teixeira de SIQUEIRA
Teste de resistência hidrostática e comparação econômica entre tanques pré-moldados e viveiros
Pedro Noberto de OLIVEIRA*
69
84
95
Caracterização dos impactos ambientais na Ilha de Itamaracá, Pernambuco
101
Solange da Silva LEITÃO, José Milton BARBOSA, Fábia Gabriela Pflugrath CARRARO
112
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
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I – ARTIGOS CIENTÍFICOS
BIOLOGIA ALIMENTAR DE Citharichthys spilopterus (PARALICHTHYIDAE)
EM UM ESTUÁRIO TROPICAL, PERNAMBUCO, BRASIL
Antônio Lemos VASCONCELOS FILHO1; Sigrid NEUMANN-LEITÃO1*;
Marilena RAMOS-PORTO1; Zafira da Silva de ALMEIDA2
1
Departamento de Oceanografia, Universidade Federal de Pernambuco;
2
Departamento de Biologia - Universidade Estadual do Maranhão
* E-mail: [email protected]
Resumo - Citharichthys spilopterus (Günther 1862) é um dos peixes mais comum no sistema
estuarino de Itamaracá, Pernambuco (Brasil). O objetivo deste estudo foi descrever a biologia
alimentar desta espécie em um estuário tropical. As capturas para análise do conteúdo estomacal
foram realizadas mensalmente no Canal de Santa Cruz, no período de janeiro a dezembro de 1995.
Foram utilizadas embarcação do tipo “baiteira” e rede de arrasto do tipo “mangote”. A análise
morfológica mostrou que a forma da cavidade buco-faringial, o estômago de grande proporção e o
intestino curto, relaciona este linguado a um hábito carnívoro. Foram analisados 195 estômagos,
sendo que 82% estavam com alimento e 18% vazios. A análise do conteúdo estomacal revelou que
esta espécie é um consumidor de segunda ou terceira ordem, alimentando-se de Crustacea (74%,
principalmente Decapoda), seguido por Teleósteos (12%). Foram verificadas diferenças sazonais na
dieta da espécie, relacionadas à disponibilidade de presas, predominando no conteúdo estomacal
Copepoda, no período chuvoso, e Eumalacostraca, no período seco.
PALAVRAS-CHAVE: teleostei, conteúdo estomacal, Citharichthys spilopterus, estuário-Pernambuco
(Brasil).
FEEDING BIOLOGY OF Citharichthys spilopterus (PARALICHTHYIDAE)
IN A TROPICAL ESTUARY, PERNAMBUCO, BRAZIL
Abstract - Citharichthys spilopterus (Günther, 1862) is a common fish in the Itamaracá estuarine
system, Pernambuco (Brazil). The objective of this study was to describe the feeding biology of this
species in a tropical estuary. The catches of this species to study the stomach content were carried
out monthly at Santa Cruz Channel, from January to December 1995. A motor boat and trawl were
used. The morphological analyses showed that the buco-pharyngeal cavity form the large stomach
and short intestine belongs to a carnivorous species. A total of 195 stomachs were analyzed, of
which 82% were full and 18% empty. The stomachs content analyses showed that this species is a
second or a third order consumer, feeding mainly on Crustacea (74%, mainly Decapoda), followed
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by Teleostei (12%). It was observed a seasonal pattern related to preys availability, dominating
Copepoda during the rainy season and Eumalacostraca during the dry season.
KEYWORDS: teleostei, stomach content, Citharichthys spilopterus, estuary-Pernambuco (Brazil).
INTRODUÇÃO
O conhecimento da alimentação natural em peixes é essencial para se compreender melhor
os aspectos holísticos de transferência de energia, tanto no nível dos indivíduos, quanto do
ecossistema (Zavala-Camin, 1996). Assim, o estudo do conteúdo estomacal dos peixes é relevante,
pois além de possibilitar o conhecimento dos hábitos alimentares das espécies, revela aspectos sobre
a sua biologia e das relações tróficas sendo possível, ainda, reconhecer as alterações antrópicas no
ecossistema (Lowe-Mcconnel, 1987).
No litoral do Estado de Pernambuco, um ecossistema que tem despertado o interesse de
pesquisadores é o sistema estuarino de Itamaracá, reconhecido como um local de grande valor
cultural, econômico e ecológico, em virtude da existência de um conjunto de habitats para espécies
pesqueiras de importância comercial, como moluscos, crustáceos e peixes, representando uma
unidade ecológica de grande significado sócio-econômico (Barros & Eskinazi-Leça, 2000).
O sistema estuarino de Itamaracá é usado como berçário por muitas espécies de interesse
comercial e este fato se deve ao grande suprimento de alimentos em comparação com as áreas
marinhas adjacentes (Schwamborn, 1997). É também uma área diversa contendo diferentes tipos de
habitats adequados aos peixes. Neste ecossistema estudos sobre interações tróficas dos peixes em
geral foram feitos por Vasconcelos Filho (2000) e Vasconcelos Filho et al. (2003). Dentre as
espécies que ocorrem em Itamaracá, o presente trabalho enfoca especificamente Citharichthys
spilopterus, conhecida regionalmente como “solha ou linguado”, sendo a espécie mais comum na
área, alcançando uma produção em peso de até 30% nas pescarias artesanais, especialmente no
período chuvoso (Colônia dos Pescadores de Itapissuma, informação verbal).
MATERIAL E MÉTODOS
O sistema estuarino de Itamaracá, PE é composto principalmente pelo Canal de Santa Cruz,
que se apresenta em forma de “U” e contorna a Ilha de Itamaracá no sentido Norte-Oeste-Sul,
separando-a do Continente (07º41’36 “a 07º49’15” S, 34º49’19 “a 34º53’15” W). Este Canal tem
aproximadamente 22 km de comprimento, larguras variáveis de até 1,5 Km e profundidade média
em torno de 4 a 5 m, na maré baixa (Figura 1). Neste Canal desemboca cinco rios, sendo o
Botafogo, Catuama e Igarassu os que despejam maior volume de água (Macedo et al., 1973;
Cavalcanti, 1976).
As capturas da espécie Citharichthys spilopterus para análise do conteúdo estomacal foram
realizadas mensalmente no Canal de Santa Cruz, especificamente nas imediações da cidade de
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Itapissuma, durante o período de janeiro a dezembro de 1995. Foi utilizada uma embarcação do tipo
“baiteira” (Martins et al., 2005), e rede de arrasto do tipo “mangote” (IBAMA, 1998), sendo este
um modelo de armadilha próprio para peixes de fundo, com 50 metros de comprimento e malha de
15 mm. As coletas foram realizadas em turnos sempre diurnos e nas baixa-mares, levando-se em
média 15 minutos para cada arrasto.
Figura 1 – Sistema estuarino de Itamaracá, PE (Brasil) e estação de coleta, em 1995.
Após as coletas, os exemplares foram fixados em formol a 10% e, em laboratório, foram
devidamente eviscerados e os estômagos preservados em formol a 4%. As análises quantoqualitativas dos organismos encontrados em cada estômago/gastrointestinal foram realizadas em
lupas e microscópios binoculares, através do Método Numérico e Freqüência de Ocorrência,
descritos por Rounsefell & Everhart (1953) e Hyslop (1980). O estudo do grau de repleção (com e
sem alimento), e o grau de digestão esteve de acordo com a classificação adotada por Laevastu
(1971) e Santos (1978).
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram coletados 195 exemplares de Citharichthys spilopterus com comprimento total
variando entre 3,0 a 16,0 cm e peso de 0,2 a 33,3 g, tratando-se, a grande maioria, de indivíduos
jovens. A análise morfológica mostrou que aspectos da cavidade buco-faringial, o estômago grande
e o intestino curto deste linguado relacionam-o a um hábito alimentar carnívoro. Este fato foi
também mencionado nos estudos realizados por Castillo-Rivera et al. (2000) em um estuário
mexicano.
Foram analisados 195 estômagos, sendo que 82% estavam com alimento e 18% vazios. A
análise geral do conteúdo estomacal desta espécie de linguado demonstrou uma ocorrência de 27
itens alimentares pertencentes aos seguintes grupos: Copepoda, Eumalocostraca, Pisces, vegetais
superiores, outros organismos e sedimentos (grãos-de-areia), sendo dominante o grupo dos
Crustacea, destacando-se Crustacea Eumalacostraca (40%), seguido de Crustacea Copepoda (34%).
Na análise mensal, observa-se que de abril a julho e em outubro predominam, no bolo alimentar, os
Copepoda, enquanto de janeiro a março, agosto, novembro e dezembro o predomínio foi de
Eumalocostraca (Figura 2).
Figura 2 – Abundância relativa dos principais itens alimentares de Citharichthys spilopterus em
Itamaracá, Pernambuco (Brasil).
Quanto à freqüência de ocorrência dos alimentos (Figura 3), a predominância foi de restos
de Crustacea (91,66%), fibras vegetais superiores (83,33%), restos de peixes digeridos (83,33%)
outros Copepoda semi-digerido (75%), restos de camarões semi-digeridos (66,67%) Paracalanus
sp. (58,33%), desovas de Copepoda, Calanoida (outros) e Calanopia americana cada com 50%. Os
sedimentos (grãos-de-areia) somaram 75% e são ingeridos junto com o alimento de fundo.
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R estos de C rustac ea
R estos de peixes digeridos
Fibras de vegetais
Copepoda s emi-digeridos
G rãos de Areia
R estos de camarões s em-digeridos
Paracalanus sp.
Calanopia americana
Calanoida (outr os)
Desovas de C opepoda
Alphaeus spp.
C aranguejos parciais não identific ados
Larvas de C rustac ea
O vos de C rustac ea
Penaeus spp.
Salmoneus ortmanni
Outros c amarões s emi-digeridos
Gobionellus oceanic us
Oithona sp.
Palaem onidae - Peric limenes longicaudatus
Alphaeidae - Alphaeus estuariens is
Siris parciais não identific ados
Dactyloscopus tridigitatus
Am phipoda - Am pithoidae parciais
Outr os Am phipoda sem i-digeridos não identific ados
Isopoda C irolanidae - C irolana sp.
Ogyrididae - Ogyrides alphaerostris
Outros peixes parciais da família G obiidae
Larvas de peixes
Parvocalanus crassirostris
Nauplius de C opepoda
Am phipoda C orophiidae - Erichthonius hunteri
Hippolytidae - Latreutes parv ulus
Proc essidae - Processa sp.
Família Xanthidae
Portunidae - Calinectes sp.
Gerr eidae - Eucinostomus s pp.
Bathigobius soporato
Outros peixes parciais - Clupeidae
Outros peixes parciais - Engraulidae
Restos de Ins ecta
Ácaros - Alac aridae
0
20
40
60
80
100
%
Figura 3 - Freqüência de ocorrência dos principais itens alimentares do conteúdo estomacal de
Citharichthys spilopterus (Günther,1862), do Canal de Santa Cruz, Pernambuco.
Em geral a elevada participação de Crustacea (Copepoda e Eumalacostraca, onde está
incluída Mysidacea) na dieta de C. spilopterus constatada no presente estudo, coincide com o
encontrado por Toepfer & Fleeger (1995) para zonas costeiras da Lousiana (USA), onde Calanoida
foi o item mais importante e por Castillo-Rivera et al. (2000) no México, onde Copepoda e
Peracarida (superordem que inclui Mysidacea) foram os itens principais para os indivíduos
menores, sendo estes substituídos por peixes nos indivíduos maiores. Para Itamaracá, constatou-se
também, que os peixes dominaram no conteúdo estomacal dos indivíduos maiores.
Guedes et al. (2004) realizaram estudos com Citharichthys spilopterus da Baia de Sepetiba
(RJ) e verificaram que esta espécie utilizou 18 itens alimentares diferentes na dieta com os maiores
índices de importância relativa sendo constituídos de Crustacea das ordens Mysidacea, Amphipoda,
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Decapoda e Brachyura; seguido de Polychaeta, e de peixes, principalmente Micropogonias
furnieri,(Família Sicaenidae) e Gobiidae. O item Polychaeta apresentou maior contribuição em peso
e Mysidacea foi o item mais freqüente e numeroso.
C. spilopterus é uma espécie marinha dependente, classificação que inclui as espécies de
origem marinha que obrigatoriamente utilizam as águas estuarinas, seja para alimentação, e ou para
completar parte de seu ciclo reprodutivo (Vasconcelos Filho, 2001).
CONCLUSÕES
A maioria dos estômagos de Citharichthys spilopterus analisados, pertencia a indivíduos
jovens, sendo que 82% destes estômagos estavam com alimento. Predomina o item alimentar
Copepoda na dieta da espécie no período chuvoso e Eumalacostraca (principalmente Mysidacea),
no período seco. O item alimentar peixe é importante no conteúdo estomacal dos indivíduos
maiores que 12 cm, que tiveram maior representatividade em janeiro. Citharichthys spilopterus
possui hábito alimentar carnívoro, sendo considerado consumidor de segunda ou terceira ordem.
REFERÊNCIAS
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Pleuronectiformes) na Baía de Sepetiba, Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Zool. 21(4):13-7.
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Laevastu, T. (1971). Manual de Métodos de Biologia Pesquera. Zaragoza: Ed. Acribia.
Lowe-Mcconnell, R,H. (1987). Ecological studies in tropical fish communities. Cambridge:
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Itamaracá, PE. Bol. Rec. Naturais, 11(1/2): 55-92.
Martins, A.S., Olavo, G. & Costa, P.A.S. (2005). A pesca de linha de alto mar realizada por frotas
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potenciais de exploração de recursos vivos na região central da Zona Econômica Exclusiva
brasileira, Série Livros n.13 (pp.35-55). Rio de Janeiro: Museu Nacional.
Rounsefell, G.A. & Everharth, H.W. (1953). Fishery Science its methods and applications. London:
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Universidade de São Paulo.
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Zavala-Camin, L. A. (1996). Introdução aos estudos sobre alimentação natural em peixes.
Maringá: EDUEM.D
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FROTA DE PARELHAS DO ESTADO DE SÃO PAULO – CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E
OPERACIONAL, E SUAS VARIAÇÕES TEMPORAIS
Paula Maria Gênova de CASTRO1* e Sergio Luis dos Santos TUTUI2
1
Centro de Pesquisas e Desenvolvimento em Recursos Hídricos, Instituto de Pesca de São Paulo
2
Centro APTA do Pescado Marinho, Instituto de Pesca de São Paulo.
* E-mail: [email protected]
Resumo - A partir de informações obtidas no Terminal Pesqueiro de Santos, indústrias de pesca do
Guarujá, e de dados sobre a frota de parelhas sediada em São Paulo, que opera atualmente entre
Montão de Trigo/SP e Cabo de Santa Marta Grande/SC, foram analisadas as características físicas e
operacionais da frota para os anos de 1975, 1980, 1993 e 1998. Utilizou-se o teste não-paramétrico
de Kruskal-Wallis para testar as diferenças entre os anos analisados e, em seguida, caso fossem
detectadas essas diferenças, empregar-se-ia o método de comparações múltiplas de medianas. Os
principais resultados indicaram que há diferenças nas características da frota que atuou em 1975 em
relação às frotas de 1993 e 1998, enquanto que a frota de 1980 foi muito semelhante à de 1975,
havendo algumas diferenças físicas e operacionais, principalmente no que se refere à potência dos
motores, TBA, boca e pontal. Observou-se uma tendência gradual ao longo dos anos, no emprego
de embarcações maiores e mais potentes e de aumento da participação de embarcações de casco de
aço. Assim, com as mudanças observadas, as comparações de CPUE envolvendo séries muito
extensas podem gerar resultados errôneos, se não for considerada a mudança na eficiência do
esforço da pescaria nas últimas décadas em relação à de setenta, ficando evidente que o
conhecimento das fontes de variação do coeficiente de capturabilidade (q) é necessário para uma
correta estimativa da abundância dos recursos pesqueiros, qualquer que seja a abordagem dada ao
gerenciamento.
PALAVRAS-CHAVE: Características físicas e operacionais, frota de parelha, variação temporal,
Sudeste e Sul do Brasil.
DOUBLE TRAWL NETS OF THE STATE OF SÃO PAULO - PHYSICAL AND
OPERATIONAL CHARACTERIZATION, AND ITS TEMPORAL VARIATIONS
Abstract - Physical and operational features of the paired bottom trawler’s fleet working in the area
between Montão de Trigo (São Paulo State) and Cabo de Santa Marta Grande (Santa Catarina State)
were analyzed for the 1975, 1980, 1993 and 1998 years on the basis of information obtained at the
Santos Fishing Harbor and Industrial plats located at Guarujá, São Paulo. The Kruskal Walis nonparametric test was used for differences among years and, if statistically detected, the multiple
comparison test for medians was employed. The main results show changes in technical and
13
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operational characteristics of the fleet in 1993 and 1998 as compared with 1975, while 1980 and
1975 fleets were similar, regarding engine power, gross tonnage, beam width and depth. A gradual
trend was observed in the last years with the use of bigger and more powerful boats and an increase
in the number of the steel-hulled ones. These changes can produce errors when matching up CPUE
data in long time series if the variation in fishing power over the last two decades when compared
with the 1970 decade is not properly considered. Thus it has been shown that evaluation of the
variation sources of the catchability coefficient is mandatory for a correct estimation of the
abundance of resources, whatever approach had been applied to their management.
KEYWORDS: Physical and operational characteristics, bottom pair trawlers, temporal variations,
Southeastern and Southern Brazil.
INTRODUÇÃO
A atividade pesqueira nacional coloca-se entre as quatro maiores fontes de fornecimento de
proteína animal para o consumo humano (Dias-Neto & Dornelles, 1996), sendo este setor
responsável pela geração de 800 mil empregos diretos e um parque industrial composto por cerca de
300 empresas (Dias-Neto, 2003). Nas regiões sudeste e sul do Brasil a pesca vem contribuindo com
uma parcela importante em termos sócio-econômicos, gerando empregos diretos e indiretos a uma
representativa parcela da população litorânea dessas regiões. De acordo com Castro (2000), o
volume anual médio de pescado desembarcado no sudeste-sul, no período de 1986 a 1995, foi da
ordem de 244.251 t, sendo que 61,5%, desse total, correspondia à produção de peixes pelágicos e
38,5% à produção de peixes demersais. No estado de São Paulo destaca-se a pesca de espécies
demersais, praticada por meio de diversas artes de pesca, tais como covos, rede de emalhe, espinhel
de fundo, linha-de-mão e arrasteiros de portas, simples e com tangones, e parelha, sendo essa última
direcionada, especificamente, à captura de peixes demersais costeiros (Valentini et al., 1991;
IBAMA, 1995; Castro, 2000).
Diversas espécies são capturadas pela frota de parelha na região Sudeste, sendo as mais
importantes Micropogonias furnieri (corvina), Macrodon ancylodon (pescada-foguete ou
pescadinha real), Cynoscion jamaicensis (goete) e Balistes capriscus (peixe-porco). Além dessas,
são capturadas, em menores proporções Cynoscion guatucupa (pescada-olhuda ou maria-mole),
Cynoscion leiarchus (pescada-branca), Cynoscion virescens (pescada-cambucu) e diversas espécies
de bagres e linguados, além de cações e raias, dentre outros (Valentini et al., 1991; IBAMA, 1995,
Castro, 1998 e 2000; Castro et al. 2003).
Historicamente, é uma das principais frotas pesqueiras da região, representando parcela
importante para o setor produtivo estadual. A contribuição nos desembarques de Santos e Guarujá,
São Paulo, de pescarias provenientes da costa Sudeste/Sul, entre 1983-1987, corresponde a 70% das
14
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
capturas totais da corvina, 75% das capturas da pescada-foguete (=pescadinha-real) e 72% das
capturas do goete, no que se destacam as embarcações que atuaram entre Montão de Trigo, São
Paulo (24ºS) e Cabo de Santa Marta Grande, Santa Catarina (29ºS). Apesar disso, nos últimos anos
o número de embarcações que se utilizam dessa arte de pesca vem diminuindo drasticamente,
devido principalmente à queda de produtividade das principais espécies alvo. Além disso, essa
pescaria é protagonista de grande conflito com os arrasteiros de tangone, tanto industrial quanto
artesanal, por utilizarem a mesma área de pesca e competirem pelo acesso aos mesmos recursos
pesqueiros, o que, secundariamente, contribuiu para a redução dessa frota.
Porém, para o entendimento das relações de causa e efeito que levaram à redução da frota, é
primordial o conhecimento de sua dinâmica, tanto em relação à ocupação das áreas de pesca, quanto
ao acesso e explotação dos recursos pesqueiros. Para isso é necessário, previamente, ter-se o
entendimento de suas características físicas e tecnológicas, e como esses fatores se alteraram no
tempo.
A pesca de arrasto, na modalidade parelha, funciona com dois barcos trabalhando em
conjunto e arrastando uma única rede que atua em contato com o fundo, em profundidades que
pouco ultrapassam os 40 m. Pesos de chumbo na parte inferior e bóias na parte superior da rede
mantêm a abertura vertical da boca, enquanto que a distância entre as embarcações determina a
abertura horizontal da rede para capturar o produto da pescaria (Valentini et al., 1991; Castro 2000,
Castro et al., 2003).
Na caracterização de uma frota pesqueira, além da análise descritiva das principais
características físicas e operacionais, é recomendável que se faça um diagnóstico das relações
existentes entre as diversas variáveis físicas, tratando das dimensões, volumes e medidas de
potência das embarcações (Fonteles-Filho, et al. 1985; Batista, 1998; Batista, 2001), obtendo-se um
perfil da frota em determinada época. Assim, pode-se determinar a existência de diferentes tipos de
embarcações que podem apresentar rendimento operacional distinto na atividade pesqueira, pois tais
características podem afetar o coeficiente de capturabilidade (q), definido como a probabilidade de
captura de uma operação de pesca, que pode ser interpretada como a interação entre a abundância
do recurso e o esforço de pesca.
O presente artigo tem como objetivo básico caracterizar a frota de parelha do Estado de São
Paulo, levando em conta os aspectos físicos e operacionais dessas embarcações, em diferentes
épocas, detectando as possíveis alterações ocorridas, pois estas podem influir na variação da
capturabilidade, e conseqüentemente nas interpretações de séries temporais de captura por unidade
de esforço (CPUE), além das alterações na dinâmica dessa frota.
15
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
MATERIAL E MÉTODOS
A caracterização da frota em termos físicos foi realizada com base no controle das parelhas
que desembarcaram no Terminal Pesqueiro de Santos (TPS) e na Cooperativa Mista de Pesca NipoBrasileira para os anos de 1970 e 1980, enquanto que para os anos de 1993 e 1998, devido a
pulverização dos desembarques, além dos locais citados, a frota controlada desembarcou também
nas empresas Aliança, Lutz e Franceze, no município de Guarujá, SP (Castro, 2000).
As informações usadas para compor o perfil físico e operacional dessa frota foram as
controladas pelo Instituto de Pesca, do Estado de São Paulo, processadas através do Sistema
Gerenciador de Banco de Dados de Controle Estatístico de Produção Pesqueira Marinha –
ProPesq.®, que dispõe de informações cadastrais fornecidas pelo IBAMA, somadas a essas,
utilizou-se também informações obtidas através de entrevistas com mestres e pescadores das
parelhas que descarregam nos locais citados (Castro, 2000).
As medidas básicas que determinam a estrutura do casco de uma embarcação são o
comprimento, a boca, o pontal e o calado. Com tais medidas, determina-se a existência de diferentes
tipos de casco, que podem apresentar rendimento operacional distinto na atividade pesqueira
(Batista 1998). Além das medidas referidas, também foram coletadas informações a respeito da
potência do motor (HP), tonelagem de arqueação bruta (TAB), idade e material de construção do
casco (madeira ou aço).
Braga (1961) apresenta um critério para a classificação dos barcos em categorias, levando em
conta o tamanho das embarcações, sendo considerada categoria pequena os barcos menores e iguais
a 13 m de comprimento; a categoria média os barcos maiores do que 13 e menores e iguais a 21 m e
a categoria grande maiores que 21 m de comprimento da embarcação. Dessa forma, foram
analisadas as variáveis coletadas em função dos anos (1975, 1985, 1993 e 1998) e das categorias
apresentadas.
Sabe-se que possíveis comparações das características da frota entre anos não obedece a
premissa de independência dos dados, porém com o intuito de ilustrar tais comparações, utilizou-se
o teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis para testar as diferenças entre os anos analisados,
seguido do método de comparações múltiplas de medianas – método de Dunn – para P <0,05 (Sokal
& Rohlf, 1995).
As comparações entre os tipos de casco por ano foram realizadas através do método loglikelihood, enquanto àquelas entre as duas categorias de casco (madeira e aço) foram efetuadas
através do teste Mann-Whitney (Sokal & Rohlf, 1995).
16
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
RESULTADOS
CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E OPERACIONAL
A frota de arrasto de parelha controlada pelo Sistema Estatístico Pesqueiro do Instituto de
Pesca registrou 169 diferentes embarcações no período estudado. Essa frota possuiu mediana de
20,20 m, com valores mínimo e máximo de 8,30 m e 29,75 m, respectivamente, e potência de motor
com mediana de 275 HP e valores extremos de 22 HP e 406 HP (Tabela 1).
Tabela 1 - Número de observações e valores de mediana, mínimo, máximo e percentís (25% e 75%)
das embarcações controladas no período de estudo, para: comprimento (m); tonelagem de
arqueação bruta (t métrica); boca (m); pontal (m); calado (metro) e potência do motor (HP).
número de registros
valor mínimo
25% percentil
mediana
75 % percentil
valor máximo
Comprimento
TAB
Boca
Pontal
Calado
HP
255
8,30
18,70
20,20
21,94
29,75
259
5,63
49,67
61,79
81,19
115,00
246
2,68
4,90
5,40
5,80
6,73
248
1,00
2,10
2,40
2,65
3,60
180
1,39
2,00
2,20
2,33
3,30
253
22,00
230,00
275,00
320,00
406,00
Os barcos que operaram no ano de 1975 na pesca de arrasto com parelha variaram de 8,3 a
29,8 m de comprimento, com mediana em 20,0 m. No ano de 1980, a frota variou de 14,5 a 29,8 m
de comprimento da embarcação, e mediana de 20,5 m. Em 1993 os valores mínimo e máximo de
comprimento das embarcações foram de 17,3 e 24,6 m, respectivamente, com mediana de 21,0 m,
enquanto que para 1998 os valores foram de 17,3; 20,2 e 24,0 m, respectivamente. Observa-se uma
grande sobreposição dos valores de comprimento entre os anos, levando-se a considerar que não há
diferenças entre estes, apesar do teste de comparação demonstrar haver diferença significativa a 5 %
entre os anos 1975 e 1993 (Tabela 2).
Seguindo o mesmo comportamento observado para o comprimento da embarcação, houve
uma tendência de aumento da tonelagem de arqueação bruta ao longo do tempo (Tabela 2), sendo
que, apesar de haver ainda uma sobreposição entre os anos, essa não é tão acentuada quanto a
observada na variável anterior, podendo-se considerar que o resultado do teste de comparação seja
mais realístico, apontando haver diferenças entre o ano de 1975 e os anos de 1993 e 1998.
As variáveis boca e pontal apresentaram tendências semelhantes à tonelagem de arqueação
bruta, sugerindo haver diferença entre o ano de 1975 e os da década de 90; enquanto que a variável
“calado” foi a que apresentou a maior homogeneidade entre os anos (Tabela 2).
Para as distribuições de potência de motor, medidas em HP, o teste mostrou diferenças
significativas entre os quatro períodos e o método de Dunn apontou diferenças significativas entre
as medianas de HP de 1975 e 1993 e 1998. Apesar da premissa da independência das amostras não
17
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
poder ser satisfeita (teste Kruskal Wallis), e conseqüentemente os resultados não poderem ser
aceitos em sua íntegra, a análise da Tabela 2 corrobora os resultados do teste, apresentando
coerência ao demonstrar que a frota mais antiga difere das mais novas e a intermediária, em
transição.
Tabela 2 - Número de observações, mediana, valores mínimos, máximos e percentís (25 % a 75 %)
para: comprimento total; tonelagem de arqueação bruta; boca; pontal; calado; potência do motor e
potência do
motor
calado
pontal
boca
tonelagem de
arqueação
bruta
comprimento
idade, por ano.
número
mínimo
25% percentil
mediana
75% percentil
máximo
número
mínimo
25% percentil
mediana
75% percentil
máximo
número
mínimo
25% percentil
mediana
75% percentil
máximo
número
mínimo
25% percentil
mediana
75% percentil
máximo
número
mínimo
25% percentil
mediana
75% percentil
máximo
número
mínimo
25% percentil
mediana
75% percentil
máximo
1975
105
8,30
16,67
20,00
21,00
29,75
107
5,63
19,94
56,22
67,99
111,00
100
2,68
4,18
5,30
5,50
6,30
101
1,00
1,80
2,30
2,40
3,15
72
1,39
1,95
2,20
2,36
2,87
105
22,00
165,00
240,00
320,00
406,00
1980
66
14,50
18,60
20,50
22,00
29,75
68
13,47
44,97
61,79
81,19
115,00
64
3,72
4,83
5,40
5,53
6,60
65
1,50
2,10
2,40
2,60
3,40
53
1,40
1,94
2,06
2,30
3,30
64
135,00
225,00
250,00
320,00
406,00
1993
52
17,25
20,00
21,00
23,00
24,62
52
19,58
55,65
67,98
87,00
115,00
50
4,20
5,26
5,80
6,10
6,73
50
1,82
2,40
2,63
2,90
3,60
35
1,60
2,00
2,20
2,30
2,80
52
188,00
250,00
309,00
325,00
406,00
1998
32
17,25
20,00
20,20
21,94
24,00
32
19,58
55,65
65,53
91,53
115,00
32
4,20
5,26
5,70
6,10
6,50
32
1,82
2,40
2,60
3,05
3,38
20
1,97
2,00
2,30
2,50
2,80
32
188,00
258,50
309,00
332,50
365,00
A Figura 1 apresenta a variação das principais características físicas e/ou operacionais em
função do comprimento total. Optou-se por não correlacionar as variáveis, pois esses
18
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
relacionamentos são baseados em conceitos e modelagens próprias da engenharia naval (Castro,
2000), não sendo tal abordagem o intuito deste trabalho.
A
140
7
120
6
boca (m)
100
TAB
B
8
80
60
40
5
4
3
2
20
1
0
0
0
5
10
15
20
25
30
35
0
5
10
comprimento total (m)
C
4
20
25
30
35
D
3,5
3,5
3
3
2,5
calado (m)
pontal (m)
15
comprimento total (m)
2,5
2
1,5
2
1,5
1
1
0,5
0,5
0
0
0
5
10
15
20
25
30
0
35
5
10
20
25
30
E
450
potência do motor (HP)
15
comprimento total (m)
comprimento total (m)
400
350
300
250
200
150
100
50
0
0
5
10
15
20
25
30
35
comprimento total (m)
Figura 1 - Diagrama de dispersão das características físicas em função do comprimento total, onde:
A – tonelagem de arqueação bruta; B – boca; C – Pontal; D – Calado; E – potência do motor.
Sendo: U – embarcações especiais 1 e 2; | – embarcações japonesas arrendadas; ± – demais
embarcações.
A análise da figura 1 mostra uma tendência homogênea de variação, em função do
comprimento total, há exceção das variáveis: calado e potência do motor, mas algumas
embarcações apresentam relações diferenciadas. Para todas as relações, as embarcações japonesas
arrendadas se destacam das demais, enquanto que para as relações utilizando tonelagem de
arqueação bruta, boca e pontal, uma parelha (embarcações especiais 1 e 2) apresenta diferenciação
entre as demais.
19
35
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Por ser uma variável passível de alteração, através da substituição do motor e, considerando
que a mesma não apresentou uma tendência clara de variação em função do comprimento,
investigou-se a variação da proporção entre a potência do motor e o comprimento total, em função
dos anos analisados. Com valores de medianas de 11,7; 12,9; 13,6; 13,5 HP/m para os anos de
1975, 1980, 1993 e 1998, respectivamente, e com a análise da Figura 2, que apresenta os valores
mínimos, máximos e a amplitude de variação entre os percentís 25% e 75%, observa-se que essa
proporção pouco variou entre os anos, apesar de se observar que a variabilidade dentro de cada ano
foi maior na década de 70, tornando-se mais homogênea com o passar do tempo, com o resultado
do teste não apresentando diferenças.
25
20
15
10
5
0
1975
1980
1993
1998
ano
Figura 2 - Valores mínimo, máximo e intervalo entre os percentís 25% e 75% para valores de
proporção entre potência do motor e comprimento total, por ano.
O tipo de casco foi analisado através do método log-likelihood, para proporção marginal,
nesse caso, utilizando-se a proporção entre cascos de 1975, a fim de observar se há diferenças
significativas na “modernização” da frota. A Figura 3 apresenta a variação da freqüência relativa de
embarcações com os distintos tipos de casco. Observa-se claramente uma tendência de aumento da
participação de embarcações de casco de aço ao longo do tempo, mas o resultado do teste indica
não haver diferença significativa (P > 0,05) entre os anos.
100%
80%
60%
40%
20%
0%
1975
1980
aço
1993
1998
madeira
Figura 3 - Freqüência relativa de embarcações com casco de madeira e de aço, por ano.
20
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Por outro lado, ao se comparar o tamanho da embarcação, em função do tipo de casco
(Figura 4), observa-se claramente que as embarcações maiores são majoritariamente de aço
(mediana de 28 m), enquanto que as embarcações menores são de casco de madeira (mediana de
20m), observação apresentada também no resultado do teste Mann-Whitney, de comparação entre
as duas categorias de casco.
35
30
25
20
15
10
5
0
aço
madeira
Figura 4 - Valores mínimo, máximo e intervalo entre os percentís 25% e 75% para valores de
comprimento total, por material de construção dos cascos.
Quanto à comparação do tipo de material de construção do casco e ano de fabricação, a
Tabela 3 apresenta a freqüência absoluta de embarcações por classe anual e material de construção
do casco, freqüência relativa de embarcações por classe anual de construção e freqüência relativa de
embarcações por material do casco. Observa-se que houve um grande impulso na construção de
embarcações a partir da segunda metade da década de 1960, atingindo o maior número de
embarcações construídas entre 1970 e 1975, com 62% da frota construída nesse período. Após essa
fase, a construção de embarcações se estabilizou em torno de 10 unidades por ano, até a segunda
metade da década de 1980, após a qual não houve a entrada de nenhum novo barco na frota.
Tabela 3 - Freqüência absoluta de embarcações por classe anual e material de construção do casco,
freqüência relativa de embarcações por classe anual de construção e freqüência relativa de
embarcações por material do casco.
freqüência absoluta
1945/)50
1950/)55
1955/)60
1960/)65
1965/)70
1970/)75
1975/)80
1980/)85
1985/)90
total
aço
1
0
4
3
2
1
0
2
6
19
madeira
4
8
10
6
30
52
10
9
4
133
total
5
8
14
9
32
53
10
11
10
152
freqüência relativa
por categoria
aço
madeira
5%
3%
0%
6%
21%
8%
16%
5%
11%
23%
5%
39%
0%
8%
11%
7%
32%
3%
100%
100%
21
freqüência relativa por
anual
aço
madeira
20%
80%
0%
100%
29%
71%
33%
67%
6%
94%
2%
98%
0%
100%
18%
82%
60%
40%
13%
88%
classe
total
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Por outro lado, ao analisar a Tabela 4, observa-se que a partir da segunda metade da década
de 60, houve uma tendência na construção de embarcações entre 15 e 25 m.
Tabela 4 - Freqüência absoluta de embarcações por classe anual e classe de comprimento, e
freqüência relativa de embarcações por classe anual de construção.
freqüência absoluta
10/)15 15/)20 20/)25 25/)30
1945/)50
4
7
1
1950/)55
4
3
1
1955/)60
4
5
1960/)65
1
7
3
4
1965/)70
7
8
25
1970/)75
1
3
37
1975/)80
4
7
1980/)85
2
4
1985/)90
10
total
17
38
87
10
total
12
8
9
15
40
41
11
6
10
152
freqüência relativa,
10/)15
15/)20
33,3%
58,3%
50,0%
37,5%
44,4%
6,7%
46,7%
17,5%
20,0%
2,4%
7,3%
36,4%
33,3%
11,2%
25,0%
por classe anual
20/)25
25/)30
8,3%
12,5%
55,6%
20,0%
26,7%
62,5%
90,2%
63,6%
66,7%
100,0%
57,2%
6,6%
Em relação à idade da frota, observa-se uma variabilidade muito grande, com uma tendência
de aumento (Figura 5), com valores de medianas de 8,5; 12; 20 e 27 anos de idade, para os anos de
1975, 1980, 1993 e 1998, respectivamente, o mesmo sendo observado para as idades mínimas e
máximas, com o ano de 1975 tendo valores de 1 e 29 anos; 1980, 1 e 34 anos; 1993, 7 e 37 anos;
1998, 11 e 42 anos de idade. A figura 5 apresenta, para os valores mínimos e máximos, uma
tendência de aumento da idade constante a partir de 1980, enquanto que a amplitude entre os
percentís 25% e 75% se manteve proporcional, entre os anos, indicando, além de uma grande
variabilidade, um envelhecimento constante da frota.
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
1975
1985
1993
1998
Figura 5 - Valores mínimo, máximo e intervalo entre os percentís 25% e 75% para valores de idade
da frota, por ano.
Analisando ainda a figura 5, não parece haver diferenciação temporal na idade das
embarcações devido à grande sobreposição de valores; apesar disso, os resultados dos testes de
comparação sugerem diferenças significativas dos anos da década de 90 em relação aos anos
anteriores. Apesar da tendência marcante de construção de embarcações até 1975 (classe de ano de
1970-1975), que pode ser observada na Tabela 3, a proporção entre barcos de casco de madeira e de
22
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
aço não apresentou constância, variando entre 70% e 100% das embarcações construídas com casco
de madeira. Essa proporção é somente alterada na segunda metade da década de 1980, quando as
embarcações de aço representaram 60% das embarcações construídas.
CATEGORIAS DE CLASSIFICAÇÃO
Braga (1961) apresenta um critério para a classificação das embarcações, levando em conta
o tamanho das embarcações, sendo a categoria pequena composta por barcos de comprimento igual
ou inferior a 13 m; a categoria média por embarcações entre 13 m e 21 m; e a categoria grande
composta por barcos maiores de 21 m de comprimento. Baseado nesse critério de classificação, a
frota controlada que operou durante o ano de 1975 e desembarcou no Estado de São Paulo, era
constituída de 105 parelhas, sendo composta por 25 de porte grande (23,8 %), 71 de porte médio
(67,6 %), e 9 de porte pequeno (8,6%), sendo a categoria pequena só observada nesse ano. Para
1980, a frota controlada era composta de 66 parelhas, sendo que deste total, 22 (33,3 %) pertenciam
à categoria grande, e 44 a categoria média (66,7%). No ano de 1993 havia 52 embarcações, destas,
21 (40,4 %) eram barcos grandes e 31 de porte médio (59,6 %). Para 1998, a frota era composta por
32 embarcações, sendo 11 (34,4%) de tamanho grande e 21 (65,6 %) de porte médio (Figura 6).
100%
80%
60%
40%
20%
0%
1975
1980
pequena
1993
média
1998
grande
Figura 6 - Freqüência relativa de embarcações por categoria de comprimento, por ano, onde:
categoria pequena <=13 m; categoria média > 13 e <=21 m; categoria grande > 21 m.
Para as categorias pequena e média, 100% e 97,5% das embarcações possuíam casco de
madeira, respectivamente; para a categoria grande, essa proporção foi alterada significativamente,
segundo comparação através do método log-likelihood, para 63% (Figura 7).
A Figura 8 apresenta os valores mínimos, máximos e percentís (25% e 75%) para: tonelagem
de arqueação bruta, boca, pontal, calado, potência do motor e idade, por categoria de embarcação.
Observa-se que, com exceção da variável tonelagem de arqueação bruta, para a categoria pequena,
as variáveis mostram uma tendência de aumento dos seus valores, apesar da grande superposição
destes entre categorias de tamanho, com exceção da variável idade, nesse caso, com os barcos
pequenos sendo mais velhos do que os de médio e grande portes.
23
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
100%
80%
60%
40%
20%
0%
P
M
aço
G
madeira
Figura 7 - Freqüência relativa de embarcações por tipo de material de construção do casco, onde:
categoria pequena <=13 m; categoria média > 13 e <=21 m; categoria grande > 21 m.
A
120
7
100
6
80
60
4
3
2
20
1
0
pequeno
médio
gande
pequeno
C
4,0
3,5
3,0
3,0
2,5
2,5
2,0
1,5
médio
gande
D
3,5
calado (m)
pontal (m)
5
40
0
2,0
1,5
1,0
1,0
0,5
0,5
0,0
0,0
pequeno
médio
gande
pequeno
E
450
400
40
350
35
300
30
250
25
200
gande
F
20
150
15
100
10
50
5
0
médio
45
idade
potência do motor (HP)
B
8
boca (m)
TAB
140
0
pequeno
médio
gande
pequeno
médio
gande
Figura 8 - Valores mínimos, máximos e percentís (25% e 75%) para: A - tonelagem de arqueação
bruta; B - boca; C - pontal; D - calado; E - potência do motor e F - idade, por categoria de
embarcação.
24
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
A Tabela 5 apresenta o número de observações, mediana, valores mínimos, máximos e
percentís (25 % a 75 %) para a tonelagem de arqueação bruta, boca, pontal, calado, potência do
motor e idade, por ano e para as categorias parelhas grandes e médias.
Analisando a evolução da tonelagem de arqueação bruta das parelhas grandes ao longo do
tempo, observa-se que houve um ligeiro aumento temporalmente; tal tendência é ainda observada
na variável pontal, mas não para a boca, calado e potência do motor. A tendência observada em
algumas variáveis das parelhas grandes não se repete para a categoria de parelhas compostas por
barcos médios, cujas variáveis se apresentam mais constantes. Por outro lado, o envelhecimento da
frota também é aqui observado, mas este é mais evidente para a categoria média do que para a
grande, passando de uma defasagem de quatro anos, em 1975, para 15 anos, em 1998.
Tabela 5 - Número de observações, mediana, valores mínimos, máximos e percentís (25 % a 75 %)
para: tonelagem de arqueação bruta; boca; pontal; calado; potência do motor e idade, por ano e para
as categorias grandes e médias.
1998
1993
1980
1975
Parelhas Grandes
número
mínimo
25% percentil
mediana
75% percentil
máximo
número
mínimo
25% percentil
mediana
75% percentil
máximo
número
mínimo
25% percentil
mediana
75% percentil
máximo
número
mínimo
25% percentil
mediana
75% percentil
máximo
Tonelagem de
Arqueação
Bruta
15,00
62,68
62,84
81,19
86,16
105,00
14,00
62,68
67,31
84,06
91,94
114,97
21,00
66,65
73,15
89,89
96,97
114,97
11,00
61,00
91,53
96,97
96,97
114,97
Parelhas Médias
Boca
Pontal
Calado
Potência
do Motor
Idade
11,00
5,50
5,50
6,00
6,24
6,30
14,00
5,50
5,60
6,00
6,30
6,60
21,00
5,90
5,90
6,10
6,50
6,73
11,00
5,90
6,10
6,10
6,23
6,50
11,00
2,30
2,30
2,60
2,90
3,15
14,00
2,30
2,38
2,85
2,90
3,40
21,00
2,90
2,90
2,90
3,20
3,60
11,00
2,90
2,95
3,10
3,20
3,20
11,00
1,80
1,80
2,20
2,40
2,87
14,00
1,80
1,80
2,20
2,75
3,30
18,00
1,80
2,00
2,10
2,37
2,80
8,00
2,00
2,00
2,00
2,80
2,80
14,00
240,00
305,00
322,50
336,25
406,00
14,00
300,00
320,00
322,50
336,25
406,00
21,00
267,00
291,00
325,00
325,00
406,00
11,00
291,00
291,00
325,00
327,50
335,00
10
1
4
4
7
21
14
1
4
9
9
12
21
7
7
12
16
21
11
11
12
12
19
21
25
Tonelagem de
Arqueação
Bruta
71,00
10,38
19,94
52,70
61,79
70,90
44,00
13,47
31,34
53,02
62,22
72,10
29,00
19,58
52,76
57,35
67,08
72,10
19,00
19,58
53,89
57,35
65,53
72,10
Boca
Pontal
Calado
Potência
do Motor
Idade
71,00
3,40
4,27
5,20
5,45
5,80
43,00
3,72
4,65
5,10
5,48
5,60
27,00
4,20
5,08
5,30
5,55
5,80
19,00
4,20
5,18
5,30
5,55
5,80
71,00
1,38
1,83
2,18
2,40
2,65
44,00
1,50
1,85
2,35
2,40
2,65
27,00
1,82
2,18
2,40
2,50
2,65
19,00
1,82
2,13
2,40
2,53
2,65
51,00
1,39
1,95
2,17
2,30
2,80
32,00
1,40
1,91
2,03
2,20
2,70
17,00
1,60
2,00
2,30
2,30
2,70
12,00
1,97
2,00
2,30
2,30
2,70
70,00
65,00
165,00
240,00
309,00
400,00
41,00
135,00
188,00
240,00
250,00
400,00
29,00
188,00
240,00
267,00
320,00
365,00
19,00
188,00
243,00
267,00
320,00
365,00
70
3
5
8
13
29
44
2
9
13
18
34
27
18
22
23
26
37
19
25
28
28
34
42
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
DISCUSSÃO
Ao se analisarem as diferentes características da frota de parelhas do Estado de São Paulo,
constataram-se claramente que há diferenças entre a frota que atuou em 1975 em relação à frota de
1993 e 1998. A frota de 1980 foi muito semelhante à de 1975, havendo, entretanto, algumas
diferenças em certas características físicas e operacionais que serão aqui discutidas.
Tomando-se como característica básica de uma embarcação o seu comprimento, não se
observa variação nas medianas para as parelhas, entre anos. Apesar disso, observou-se que as
parelhas de porte pequeno (abaixo de 15 m) e as de porte grande (acima de 27 m), que eram comuns
nas décadas de 70 e 80, transferiram suas bases de operação para portos do Rio Grande e/ou
mudaram de modalidade de pesca, desaparecendo dos desembarques de São Paulo, a partir de 1983
(Castro, 2000).
As parelhas pequenas, por terem menor autonomia que as parelhas médias e grandes, atuavam
com maior intensidade na costa de São Paulo, saindo ao amanhecer e retornando ao por do sol
(possivelmente daí a denominação “parelhas de sol-a-sol”). Atualmente, esses barcos operam na
costa de São Paulo, no arrasto dirigido ao camarão-sete-barbas (Castro, 2000; Castro et al., 2003).
As parelhas grandes são, na maioria, barcos de fabricação japonesa, com maior autonomia
que os demais, saiam para pescar na costa sul do Brasil, preferencialmente entre Cabo de Santa
Marta, SC (28º S-52º W) a Albardão, RS (33°S-52°W) e vindo a desembarcar em São Paulo devido
à proximidade dos principais centros de comercialização (Valentini et al., 1991). Atualmente, as
parelhas grandes de fabricação japonesa transferiram suas bases de operação para cidades do sul e
operam com outras modalidades de pesca ou foram desativadas (Castro, 2000; Castro et al., 2004).
Apesar de não se observar diferenças na variável comprimento, ao longo dos anos, nota-se um
progressivo aumento de potência do motor, o que pode levar à hipótese de que as embarcações
incrementaram seu poder de pesca. Porém, a comparação das proporções entre potência e
comprimento não indicou diferenças que sugerisse alteração na proporcionalidade no incremento de
potência do motor em relação ao comprimento das embarcações. Tal constatação apesar de
inicialmente ser contraditória, pode ser explicada pelo fato anteriormente citado de saída das
embarcações grandes e pequenas que, aparentemente, não altera as medianas de distribuição de
comprimento, mas sim as de potência do motor e como a relação entre essas variáveis não é linear,
a proporção HP/Lt se manteve constante.
Em síntese, observou-se uma tendência gradual ao longo dos anos, no emprego de
embarcações maiores e mais potentes na pesca de parelhas do Estado de São Paulo que atua nas
regiões sudeste e sul. Este fato é facilmente explicável e está diretamente relacionado aos interesses
26
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
econômicos dos armadores em obterem, de forma mais eficiente e em maior quantidade, o produto
da pescaria, às vezes em detrimento da sustentabilidade do estoque.
A frota do período 93-98 é mais potente do que há 30 anos atrás (Castro, 2000), porém menor
em unidades produtivas, sendo comum encontrar equipamentos como GPS (Global Position
System), rádio, ecossondas digitais, radar e outros auxiliares de navegação, e assim melhor
equipadas do que em épocas passadas, quando os barcos possuíam apenas bússola magnética, rádios
e radiogoniômetros.
Assim, com as mudanças físicas e operacionais observadas ao longo do tempo (incluam-se o
uso de equipamentos eletrônicos de navegação), as comparações de CPUE envolvendo séries muito
extensas podem gerar resultados errôneos, se não for considerada a mudança na eficiência do
esforço da pescaria de parelhas nas últimas décadas em relação à década de 70.
Partindo-se da premissa de que as capturas constituem a mortalidade por pesca e são
dependentes do coeficiente de capturabilidade (q), fica evidente que o conhecimento de suas fontes
de variação (eficiência do aparelho de pesca, estratégia de utilização desses aparelhos,
vulnerabilidade do recurso às pescarias, acessibilidade do aparelho aos ambientes ocupados pelo
recurso e condições biológicas e ambientais que regulam a abundância do recurso), são necessárias
para uma correta estimativa da abundância dos recursos pesqueiros, qualquer que seja a abordagem
dada ao gerenciamento (Richards & Schnute 1986; Arreguín-Sánchez 1999).
Com isso, apesar da categorização de frotas pesqueiras ser um instrumento valioso na
padronização do coeficiente de capturabilidade (q), deve ser utilizada com muita cautela, pois além
de possibilitar somente a padronização das variáveis tecnológicas que influem em q, outras
variáveis importantes para a capturabilidade não seguem a padronização, como a tonelagem de
arqueação bruta e a potência do motor, havendo muita sobreposição entre categorias, o que também
pode influir em análises de séries históricas de produção e esforço.
Dessa forma, de acordo com exposto, conclui-se não ser recomendável a classificação de
embarcações quando se toma como base apenas o tamanho dos barcos, já que há muita
sobreposição das outras variáveis que os caracterizam, entre categorias, como foi constatado para os
barcos que compõem a frota de parelha.
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em São Paulo, de 1968 a 1987. Atlântica 13 (1): 87-95.D
29
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE CÁDMIO EM MATERIAL AQUÁTICO DO
COMPLEXO HIDRELÉTRICO DE PAULO AFONSO
Elvidio Landim do Rego LIMA1; José Patrocínio LOPES2
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco: 1Divisão de Meio Ambiente de Geração, DEMG
2
Estação de Piscicultura de Paulo Afonso, EPPA
Email: [email protected]
Resumo - O cádmio, proveniente de efluentes industriais, contamina a água doce podendo ser
rapidamente adsorvido ao material particulado e desta forma constituir um significante depósito
deste metal no meio aquático. Os peixes bioacumulam os metais pesados devido à habilidade que
apresentam de captá-los e acumulá-los principalmente nas guelras, no fígado, nos rins e nas paredes
intestinais, onde as concentrações encontradas freqüentemente suplantam às do próprio meio. O
cádmio é captado e retido por plantas aquáticas e concentram-se no fígado e rins dos animais que se
alimentam destas plantas. O presente estudo teve o objetivo de determinar a presença de cádmio em
material aquático do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso, administrado pela Companhia Hidro
Elétrica do São Francisco (CHESF) em Paulo Afonso – Bahia. Segundo os Relatórios de Ensaios
LABESP 518/06-3 (sedimento), 518/06-4 (água), 518/06-2 (macrófitas) e 518/06-1 (peixes), não
foram detectados valores de cádmio em nenhuma amostra do material aquático investigado, mesmo
tendo sido realizado o levantamento em 10 pontos de amostragem distribuídos nos reservatórios do
Complexo de Paulo Afonso. Como os resultados atuais cobriram uma área bem maior com a
distribuição de vários pontos de amostragem e com a investigação de um número maior de material
aquático, com relação aos estudos anteriores, fica esclarecido que não há presença de cádmio nas
matrizes analisadas, bem como inexiste sua distribuição ao longo do Complexo.
PALAVRAS-CHAVE: Impacto ambiental, Metais pesados, Macrófitas aquáticas, Peixe
AN ASSESSMENT OF CADMIUM LEVELS IN SAMPLES FROM PAULO AFONSO
HYDROELECTRIC PLANT COMPLEX
Abstract: The cadmium originated from industrial effluents that contaminate fresh water can be
quickly adsorbed by a specific material and by this way to constitute a significant deposit for the
cadmium emitted to the aquatic way. The fishes biologically absorb the metals in view of their
ability that present of capturing heavy metals and to accumulate them mainly in the grill, liver,
kidneys and intestinal walls, where their concentrations frequently found supplant the one of the
own middle. The cadmium is captured and bound by aquatic plants and then is concentrated on the
liver and kidneys of the animals that feed directly from these plants. The present study has the
objective of determining the presence of cadmium in aquatic die of Paulo Afonso's Hydroelectric
Compound, administered by the São Francisco Hydroelectric Company in Paulo Afonso-Bahia.
30
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
According to the Reports of Rehearsals LABESP 518/06-3 (silt), 518/06-4 (water), 518/06-2
(macrophytes) and 518/06-1 (fish), values of cadmium were not detected in any sample of the
investigated aquatic die, the same has been accomplished the rising in 10 sampling points
distributed in the Compound of Paulo Afonso. As the current results covered a very larger area with
the distribution of several sampling points and with the investigation of a larger number of aquatic
die, regarding the previous studies, of course there is no presence of cadmium in the analyzed die,
as well as distribution inexists along the Compound.
Key-words: Environmental impact, heavy metals, aquatic macrophytes, fish.
INTRODUÇÃO
Uma pequena porcentagem da água doce do mundo, considerada própria para consumo está
nos rios e lagos desempenhando papel fundamental no desenvolvimento das civilizações,
fornecendo suprimento necessário de água potável, meio de transporte, geração de energia elétrica,
produção de alimentos dentre outros. O crescimento das populações gera impacto e os impactos
causados muitas vezes impossibilitam o uso múltiplo dessas coleções de água, devido ao fato de
apresentarem riscos a saúde (Salbu & Stainnnes, 1995).
A construção de barragens, transformando rios em grandes reservatórios, associada ao
carreamento de nutrientes para o leito dos rios através do aporte de despejos domésticos e
industriais, tem levado a uma condição de desequilíbrio no sistema hídrico, caracterizado pela
grande disponibilidade de nutrientes (Valente et al., 1997; Velini, 2000).
Esse processo
denominado eutrofisação acarreta aumento da produtividade biológica e ocasiona problemas que
vão desde a estética até o comprometimento da possível utilização da água para recreação e/ou o
abastecimento, devido à grande concentração de algas e vegetação aquática (Pinto & Cavalcanti,
apud Martins & Lopes, 2004).
Os ecossistemas aquáticos têm sido alterados, de maneira significativa, devido a múltiplos
impactos ambientais resultantes de atividades mineradoras, construção de barragens e represas;
retificação e desvio do curso natural de rios; lançamento de efluentes domésticos e industriais não
tratados, desmatamento e uso inadequado do solo em regiões ripárias e planícies de inundação de
espécies exóticas (Callisto et al., 2004).
O Projeto “Estudo do ecossistema dos reservatórios das barragens do sistema hidroelétrico
de Paulo Afonso e Itaparica”, realizado de 1996 a 2003, em suas atividades detectou valores
consideráveis de cádmio em material aquático, tendo sido analisadas as macrófitas aquáticas;
Eichornia crassipes (baronesa), Salvinia minima (salvinia) e Egeria densa (elódea) e um ciclídeo
carnívoro; Cichla monoculus (tucunaré). Os valores identificados foram: em E. crassipes (1,03
31
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
mg/kg), em S. minima (1,54 mg/kg), em E. densa (0,80 mg/kg) e em C. monoculus (1,20 mg/kg)
(Pereira et.al., 2003).
O cádmio pode adentrar sistemas aquáticos devido ao itemperismo, erosão do solo e da
camada de rocha viva, descargas atmosféricas diretas devido a operações industriais, vazamentos de
aterro, locais contaminados e pelo uso de lodos de esgoto e fertilizantes na agricultura.
O cádmio proveniente de efluentes industriais que contaminam água doce pode ser
rapidamente adsorvido ao material particulado e desta forma constituir um significante depósito
para o cádmio emitido ao meio aquático (Who, 1992).
Os peixes bioacumulam os metais devido à habilidade que apresentam de captar metais
pesados e acumulá-los principalmente nas guelras, fígado, rins e paredes intestinais, onde as
concentrações encontradas freqüentemente suplantam às do próprio meio. Este metal é captado e
retido em plantas aquáticas e concentram-se no fígado e rins dos animais que se alimentam
diretamente destas plantas (Cardoso & Chasin, 2001).
O presente estudo teve o objetivo de determinar a presença de cádmio em material aquático
do Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso (CHPA), administrado pela Companhia Hidro Elétrica
do São Francisco (CHESF) em Paulo Afonso – Bahia.
MATERIAL E MÉTODOS
O material aquático utilizado para análise, neste trabalho, foram: as macrófitas; E. crassipes
e E. densa, os peixes; C. monoculus, Oreochromis niloticus (tilápia) e Prochilodus costatus
(curimatã-piau), sedimento e água. Amostras de cada matriz foram coletadas em diferentes pontos
dos reservatórios; Moxotó, Paulo Afonso IV e Delmiro Gouveia do CHPA (Figura 1). O total de
pontos e locais de coleta para E. crassipes foram: seis pontos no reservatório Moxotó, dois em
Paulo Afonso IV e dois no Delmiro Gouveia. Nos mesmos pontos e locais também foram realizadas
coletas para E. densa, água e sedimento. A espécie C. monoculus foi coletada em seis pontos do
reservatório Moxotó e dois de Paulo Afonso IV. Quanto à espécie O. niloticus teve sua coleta em
dois pontos do Moxotó e dois do Delmiro Gouveia. P. costatus por sua vez foi coletada apenas em
um ponto do reservatório Moxotó.
O laboratório responsável pelas análises foi o laboratório do Senai-Cetind. O tempo de envio
do material após coleta foi de 24 horas. Foram coletadas dez amostras de sedimento por meio de
Draga de Elkman. Cada amostra pesando em média 1,0 kg foi acondicionada em sacos plásticos,
mantida sob refrigeração e enviada ao Laboratório. A técnica utilizada para todas matrizes foi por
espectrofotometria de absorção atômica. O método utilizado pelo laboratório, para esta matriz, foi o
MESP 110 (ASTM D5258/02), cujo limite de detecção é 1,0 mg/kg.
32
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Figura 1 - Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso com respectivos pontos de coleta do material
aquático (Fonte: CHESF, 2006).
Foram coletadas dez amostras de água, próxima ao fundo, por meio de garrafa de Nansen.
Cada amostra, medindo 1,0 L, foi acondicionada em vidro escuro, contendo ácido nítrico (pH < 2),
mantida sob refrigeração e enviada ao Laboratório. O método utilizado pelo laboratório, para esta
matriz, foi o MESP 030 (ASTM D3557/02), cujo limite de detecção é 0,010 mg/L.
Foram coletadas vinte amostras de macrófitas aquáticas, sendo dez amostras de E. crassipes
e dez amostras de E. densa, por meio de Draga de Elkman. Cada amostra pesando em média 0,2 kg
foi acondicionada em sacos plásticos, mantida sob refrigeração e enviadas para análise. O método
utilizado pelo laboratório, para esta matriz, foi o MESP 134, cujo limite de detecção é 0,1 µg/g.
Foram coletados 17 peixes, sendo nove C. monoculus, três O. niloticus e cinco P. costatus
por meio de coleta local junto a pescadores, em cada reservatório do Complexo. Cada peixe,
33
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
pesando em média 0,5 kg, foi acondicionado em sacos plásticos, mantidos sob refrigeração e
enviados também ao laboratório do Senai-Cetind para análises. O método utilizado pelo laboratório,
para esta matriz, foi o MESP 1124, cujo limite de detecção é 0,17 µg/g.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo os Relatórios de Ensaios LABESP 518/06-3 (sedimento), 518/06-4 (água), 518/062 (macrófitas) e 518/06-1 (peixes), não foram detectados valores de cádmio em nenhuma amostra
do material aquático investigado. Mesmo tendo sido realizado o levantamento em 10 pontos de
amostragem distribuídos nos reservatórios do Complexo de Paulo Afonso.
Lopes et al. (2005), analisando o metal pesado cádmio no bivalve Corbicula fluminea
proveniente do reservatório Moxotó e Estação de Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA),
encontraram concentrações deste metal inferior a 0,07 mg/kg, sendo estes resultados inferiores ao
que recomenda o Nacional Research Council (NRC) para metais pesados.
Pereira et al. (2002), pesquisaram caprinos da raça “saanen” alimentados por 56 dias com
ração constituída por feno de tifton, feno de E. densa, milho e farelo de soja, para avaliar o efeito da
inclusão de Egeria na ração sobre o desempenho destes animais. Os caprinos alimentados com
17,5% do feno de Egeria inclusa na ração resultaram em aumento da ingestão de macro e micro
minerais essenciais ao desenvolvimento normal do animal, o que aumentou o ganho de peso. No
entanto, os animais alimentados com inclusão de 52,5 e 70% do vegetal na ração tiveram redução
no ganho de peso. Segundo os autores, o aumento dos níveis de inclusão desta macrófita na dieta
pode ter resultado em ingestão de cádmio, manganês, ferro e alumínio acima dos níveis máximos
tolerados dos caprinos (NRC, 1992). Por outro lado, a absorção do cádmio é baixa e o aumento de
sua concentração nos rins de ovinos está diretamente relacionado com o tempo de exposição do
animal a esse elemento (Lee et al., 1996 apud Pereira et. al., 2002).
Segundo Machado (2002) apud Lopes & Martins (2004), a bioacumulação de metais
pesados em peixes é evidente, mesmo quando estes contaminantes se encontram na água em
concentrações quase não detectáveis. Lopes & Martins (2004), analisando vísceras de Tilapia
rendalli quando alimentada exclusivamente com a macrófita aquática E. densa proveniente do
reservatório Delmiro Gouveia do Complexo Hidro Elétrico de Paulo Afonso (CHPA), encontraram
valores de cádmio inferiores a 0,067 mg/kg. Segundo a ANVISA (1998), no seu o regulamento
técnico (Portaria no 685 de 27 de gosto de 1998) o níveis de contaminante de cádmio para peixe e
produto da pesca é 1,0 mg/kg.
34
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
CONCLUSÕES
Há presença de cádmio no material analisado, bem como inexiste no momento sua
distribuição uniforme ao longo do Complexo de Paulo Afonso, embora os níveis detectados estejam
abaixo dos limites estabelecidos na legislação.
O monitoramento da presença deste metal nos reservatórios do Complexo de Paulo Afonso
deve ter periodicidade anual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Etapa). Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco.
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das Plantas Daninhas. Foz do Iguaçu: Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas.D
36
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
CRESCIMENTO E TOLERÂNCIA À SALINIDADE EM TAMBAQUI: EFEITO DA
UTILIZAÇÃO DE RAÇÃO SUPLEMENTADA COM SAL (NaCl)
Fábia Gabriela P. CARRARO1; Ivo Thadeu Lira MENDONÇA1*;
José Milton BARBOSA2 e Manlio PONZI JÚNIOR2
Universidade Federal Rural de Pernambuco:
1
Programa de Pós graduação em Recursos pesqueiros e Aqüicultura;
2
Departamento de Pesca e Aqüicultura,
*E-mail: [email protected]
Resumo - Em peixes, a salinidade pode reduzir a sobrevivência e o crescimento, mas a escolha de
ambientes adequados pode melhorar as condições de cultivo. O objetivo do trabalho é testar o efeito
da suplementação de 8% de sal (NaCl) na ração sobre a variabilidade de crescimento (CHet) e
tolerância à salinidade em alevinos de tambaqui Colossoma macropomum, um caracídeo da bacia
amazônica. Foram utilizados 72 alevinos (1,2±0,4g) distribuídos em blocos casualizados, em 18
unidades experimentais alimentados sob duas condições de ração: dieta A em nove unidades (dieta
comercial 36% PB) e dieta B em nove unidades (dieta comercial 36% PB suplementada com 8% de
sal NaCl), administradas diariamente em 8% da biomassa, divididas por duas porções iguais. No
início e no final do período experimental foram realizadas pesagens de todos os alevinos. Em
seguida, os alevinos foram submetidos à mudança brusca de água à salinidade zero para salinidades
15, 20 e 25, com três réplicas cada. Foram calculados o crescimento e sua variabilidade (CHet),
determinados a tolerância à mudança brusca salinidade (LS50) e do tempo de sobrevivência à
salinidade (LT50). A condição B apresentou melhor crescimento em relação à condição A, embora o
Chet não tenha apresentado diferenças significativas (p>0,05). O valor estimado de LS50 em 12
horas foi 11,0 na condição A, enquanto, na condição B, foi 18,0. A estimativa de LT50 na condição
A foi 17h 30min, enquanto, na condição B, a LT50 foi 21h 20min. Análises de coincidência
indicaram as tendências da condição A e condição B semelhantes (p>0,05). O CHet não foi afetado,
possivelmente pelo curto espaço de tempo. Os valores estimados de LS50 e LT50 enquadram na
espécie como estenoalina.
PALAVRAS-CHAVE: Crescimento heterogêneo, LS50, LT50, Colossoma macropomum
GROWTH AND TOLERANCE TO THE SALINITY IN TAMBAQUI:
EFFECT OF THE SALT (NACL) IN THE RATION.
Abstract - The water’s salinity can reduce survival and growth of fiches, but the choice of a
suitable Environment can improve culture’s conditions. The objective of this paper is aimed to the
effect of 8% of salt (NaCl) in the ration on the growth variability (HetG) and tolerance to salinity in
37
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
fingerlings of tambaqui Colossoma macropomum, a characin fish from Amazonian basin. Sevent
two fingerlings (1,2±0,4g) were distributed in casual blocks, in 18 experimental units, and fed under
two ration’s conditions: diet A in nine units (commercial diet 36% CP) and diet B in nine units
(commercial diet 36% CP with supplement of 8% of salt NaCl), administered daily at a proportion
of 8% of the biomass, in two equal meals. In the beginning and end at the experiment all the
fingerlings were weighed. After that the fingerlings were submitted to abrupt change from fresh
water to brackish water 15, 20 and 25, with three replicates each. The growth and its variability
(HetG) were calculated and the tolerance to the change abrupt salinity (LS50) and the time of
survival to the salinity (LT50). The condition B presented better growth in relation to condition A,
however HetG have not presented significant differences (p>0,05). The estimated values of LS50 in
12 hours were 11,0 in the condition A, and in the condition B was 18,0. The estimate value of LT50
in the condition A was 16h 6mim, while in the condition B the LS50 was 30h 18mim. Analyses of
coincidence consider the graphics of the condition A and condition B similar (p>0,05). The HetG
was not affected, possibly for the short time. The estimated values of LS50 and LT50 allow us to
classify the species as stenohaline.
Key words: Heterogeneous growth, LS50, LT50, Ration, Colossoma macropomum
INTRODUÇÃO
O tambaqui Colossoma macropomum é um caracídeo natural da bacia amazônica
(neotropical), de grande porte e crescimento rápido, dulciaqüícola, reofílico, que habita
preferencialmente os grandes rios, embora seja suscetível a migrar para áreas de várzeas e florestas
submersas (Araújo-Lima & Goulding, 1997), introduzido na piscicultura brasileira pelo
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas-DNOCS é criado principalmente no Nordeste.
A região Nordeste possui um grande potencial para piscicultura, propiciado pelo clima, solo
e topografia da região, ainda pouco aproveitado. Embora existam áreas de grandes recursos de água,
muitos deles são salinizados (Souza et al., 2004), causando dificuldade na escolha de espécies ideais
para o cultivo, aptas a suportarem meios salinizados.
Em muitas espécies de peixes, a concentração iônica da água pode reduzir a sobrevivência e
o crescimento, todavia, a escolha de águas com concentrações iônicas adequadas pode melhorar as
condições de cultivo (Baldisserotto, 2002).
Os peixes captam os íons essenciais que consomem do meio aquático e do alimento (NRC,
1993). Entretanto, em água doce ou de salinidade reduzida, os peixes são hiperosmóticos em
relação ao meio, sofrendo uma perda passiva de íons (difusão), a qual deve ser compensada pela
entrada ativa de íons do meio (Na+, K+-ATPase), sob gasto energético (Marshall, 1988). Em
teleósteos, existem mecanismos responsáveis pela homeostase, através da osmorregulação, que
38
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
consiste em evitar ao máximo a perda de íons (ou ter mecanismos eficientes para captar íons do
meio) e eliminar todo o excesso de água (ou evitar sua entrada no corpo) (Baldisserotto, 2002).
Alterações na salinidade da água podem se configurar num fator de estresse, com efeito sobre o
crescimento dos animais.
A variabilidade de crescimento, reportado na literatura pelo termo crescimento heterogêneo
CHet), retrata diferença na taxa de crescimento de cada indivíduo, podendo ser influenciado por
fatores genéticos e populacionais (Volpato et al., 1987; Hulata et al., 1976) ou mesmo fatores
estressores impostos pelo meio (Pickering et al., 1991).
Estudos sobre crescimento e tolerância de peixes em ambiente salino são insipientes,
principalmente no que tange às espécies neotropicais, mesmo quando estes estudos baseiam a
implantação de cultivos em ambientes salinizados. Neste foco, o objetivo deste trabalho é testar o
efeito da suplementação de sal (NaCl) na ração sobre a variabilidade de crescimento (CHet) e
tolerância à salinidade em alevinos de tambaqui Colossoma macropomum.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi desenvolvido no Laboratório de Avaliação Ponderal de Animais
Aquáticos (LaAqua) do Departamento de Pesca e Aqüicultura (DEPAq) da Universidade Federal
Rural de Pernambuco (UFRPE). Os alevinos utilizados foram provenientes da Aqüicultura Mar
Doce - Recife/PE.
Foram utilizados 72 alevinos (1,2±0,4g; média±desvio padrão) distribuídos em
delineamento inteiramente casualizado, em 18 unidades experimentais (tanques 12 L, contendo 4
alevinos cada).
Foram alimentados com duas dietas (nove réplicas cada uma): A, ração comercial 36% PB e
B ração comercial 36% PB suplementada com 8% de sal NaCl, administradas diariamente, 8% da
biomassa, divididas por duas porções iguais. A suplementação de NaCl na ração foi feita com a
inclusão de 8% em peso da matéria seca total da ração, sendo homogeneizadas, umidificadas e
novamente peletizadas.
O experimento foi conduzido em duas etapas: na primeira, os alevinos foram pesados no
início e no final: 22 dias e mantidos em sistema fechado com vazão média suficiente para recircular
a água 10 vezes por dia. As variáveis físico-químicas foram tomadas semanalmente (26,2±0,9 ºC;
OD 5,4±0,7 mg/L; pH 7,7±0,2), mantendo-se nas condições adequadas ao bem estar dos animais.
Na segunda etapa, os alevinos foram submetidos à mudança brusca, instantânea, de água de
salinidade zero para salinidade 15, 20 e 25, com três réplicas cada (Tabela 1), sem renovação de
água. A água mesoalina utilizada no experimento foi proveniente da diluição da água do mar, com
auxílio de refratômetro ocular.
39
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
O crescimento foi avaliado pela taxa de crescimento específico (SGR % g/dia):
 ln (W f ) − ln (Wi ) 
SGR = 100 × 
 ; onde, SGR = taxa de crescimento específico (% g/dia); ln =
t


logaritmo natural; W f = peso final (g); Wi = peso inicial (g); e t = tempo de cultivo (dias).
Tabela 1 – Delineamento experimental do efeito da adição de sal na ração sobre variabilidade do
peso e tolerância à salinidade para alevinos do tambaqui Colossoma macropomum.
Delineamento experimental
Ração comercial
(36% PB)
A
(Sem adição de NaCl)
B
(Com adição de 8% NaCl)
Rréplicas
Segunda etapa
Primeira etapa
(engorda de 22 dias)
(mudança de salinidade)
Salinidade
Réplicas
15
3
20
3
25
3
15
3
20
3
25
3
9
Água à salinidade zero,
alimentados com duas
dietas
9
A variabilidade de crescimento em peso (CHet) foi dada pela dedução estatística do
coeficiente de variação do peso (CV%), a seguir (Volpato et al., 1987):
CHet =
σ
x
× 100 ; onde, σ = desvio padrão do peso; x = média do peso da população.
Para determinação da tolerância à mudança de salinidade (LS50), que é o limite de salinidade
que leva 50% da população ao óbito; e do tempo de sobrevivência à salinidade (LT50), que é o
tempo que 50% da população é levada ao óbito; foram tomados dados de mortalidade dos
indivíduos, computados a cada 12 horas, de momento zero até 36 horas.
Os dados de SGR e CHet foram comparados por ANOVA complementados pelo teste de
Tukey e os resultados obtidos para tolerância à mudança de salinidade e tempo de sobrevivência a
salinidade foram plotados em gráficos e analisados por coincidências de retas. Ambas as análises
foram calculadas com auxílio do programa ESTAT v. 2.0 UNESP Jaboticabal, com índice de
significância de 5%.
RESULTADOS
Os resultados encontrados sobre o ganho em peso e CHet, após os 22 dias experimentais,
não apresentaram diferenças significativas entre as duas condições testadas (p>0,05) (Tabela 2). A
SGR (% g/dia) foi 2,64A na Condição A, enquanto, na Condição B foi 2,56A.
40
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
As taxas de mortalidade (%) registradas na segunda etapa do período experimental de
mudança brusca de salinidade são apresentadas na tabela 3.
Tabela 2 – Resultados do desempenho do tambaqui Colossoma macropomum durante período
experimental, alimentados com ração comercial (36%PB) com e sem suplementação de
8% de sal (NaCl) (média±desv. padrão).
Condição A
Condição B
(Dieta sem adição de NaCl) (Dieta com adição de 8% NaCl)
Peso inicial
1,1±0,1Xx
1,2±0,1Xx
CHet inicial
9,15%Aa
10,60%Aa
Peso final
2,0±0,3Xx
2,1±0,2Xy
CHet final
13,80%Aa
10,93%Aa
Letras iguais (maiúsculas – em linhas; minúsculas – em colunas) são semelhantes entre si, p>0,05
Tabela 3 – Taxas de mortalidade (%) em relação ao tempo de exposição (horas) para alevinos de
tambaqui Colossoma macropomum submetidos a mudanças de salinidade após período
alimentar com e sem suplementação de 8% de sal (NaCl) em ração comercial (36%PB).
Salinidade
Condição A
(Dieta sem adição de NaCl)
Condição B
(Dieta com adição de 8% NaCl)
Tempo de exposição (horas)
0
12
24
36
15
0
66,67
25
8,33
20
0
100
-
-
25
0
100
-
-
15
0
0
20
0
100
-
-
25
0
100
-
-
91,67 8,33
O valor estimado de LS50 em 12 horas foi 11,0 na condição A, enquanto, na condição B, foi
18,0 (Figura 1). A estimativa de LT50 na condição A foi 17h 30min, enquanto, na condição B, a
LT50 foi 21h 20min (Figura 2).
41
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Mortalidade %
100
75
A = 67,642Ln(x) - 112,29
R2 = 0,8102
50
25
B = 202,93Ln(x) - 536,88
R2 = 0,8102
0
0
5
10
15
20
25
Salinidade
Figura 1 – Taxa de mortalidade (%) para alevinos de tambaqui Colossoma macropomum em função
da salinidade, 12 horas após a mudança.
LS50 na condição A (+) = 11,0 e LS50 na condição B (×) = 18,0.
% Mortalidade
100
A = -0,1447x2 + 5,0694x + 6,6667
R2 = 0,6632
B = -0,1447x2 + 6,1806x - 13,333
75
R2 = 0,4047
50
25
0
0
10
20
30
40
50
Tempo de exposição (Horas)
Figura 2 – Taxa de mortalidade (%) para alevinos do tambaqui Colossoma macropomum em função
do tempo de exposição (horas), expostos à salinidade 15.
LT50 na condição A (+) = 17h 30min e LT50 na condição B (×) = 21h 20min.
As análises de coincidência entre retas indicam tendências semelhantes entre a condição A e
condição B nos casos acima (Mortalidade × Salinidade; Mortalidade × Tempo de exposição;
p>0,05).
42
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
DISCUSSÃO
O crescimento do tambaqui durante o período experimental, quando alimentado com ração
de grandes proporções de sal na composição, foi superior tendo em vista o menor gasto energético
com a osmorregulação, o que aumenta a energia disponível para o crescimento. Estudos anteriores
feitos em outras espécies por Suresh & Lin (1992), com Oreochromis aureus, O. niloticus e O.
mossambicus e por Swanson (1992), com Chanos chanos, corroboram com esta preposição.
Segundo Fauconneau et al. (1997), com Oncorhynchus mykiss, e Jonassen et al. (1997), com
Oreocrhomis spilurus, as taxas de crescimento das espécies dulciaqüícolas adaptadas à água salgada
são mais elevadas do que em ambiente natural, o que não aconteceu no presente trabalho, pois as
taxas de crescimento em ambos os tratamentos foram semelhantes.
O aumento da salinidade do meio ocasiona uma maior concentração de íons cloro (Cl-) no
epitélio branquial (Fontaínhas-Fernandes et al., 2003). Garcia (2005) complementa esta afirmação,
que em água doce a suplementação de sal na dieta não altera a concentração interna de sais, mas
quando em água salinizada, existe a modificação desta, e, por conseguinte, há o aumento da
atividade Na+, K+-ATPase no epitélio branquial, o que é marcado no crescimento (FontaínhasFernandes et al., 2003). Esta afirmação não foi verificada no presente estudo, logo, cabe verificar se
a inclusão de sal na dieta interfere na concentração interna de sais e osmorregulação do tambaqui.
O CHet, durante o período experimental, não foi afetado, possivelmente pelo curto período
de tempo, pois Gomes et al. (2004) apenas encontra diferenças entre o CHet no cultivo de tambaqui
em 60 dias, testando este fenômeno na variação de volume do ambiente de cultivo. A organização
social, delimitação do espaço e distribuição alimentar possuem função antagônica ao crescimento
(Volpato et al., 1987). O aumento brusco de salinidade causa alterações comportamentais que
corroboram na redução da influência da organização social sobre o crescimento (Mendonça, 2006).
Neste trabalho, o tambaqui mostrou-se pouco resistente à mudança brusca de salinidade,
embora Wu & Woo (1983) comentam que este tipo de teste pode ser subestimado, já que os
indivíduos do experimento não passam por uma aclimatação prévia. Em contrapartida, Kefford et
al. (2004) afirmam que a estimação de tolerância aguda de salinidade pode refletir a salinidade
máxima suportada para peixes e macroinvertebrados. Lemarié et al. (2004) discutem a utilização
deste teste como um critério de seleção genética para crescimento e tolerância à salinidade.
Os valores estimados de LS50 e LT50 enquadram a espécie como estenoalina. Em estudos
semelhantes com espécies dulciaqüícolas, Villegas (1990) afirma que LS50 e LT50 aumentam de
acordo com a idade em Oreochromis niloticus, O. mossambicus e o seu híbrido, e Mendonça (2006)
afirma que, em Parachromis managuensis, a suplementação por sal na dieta interfere positivamente
na LS50, sendo esta proposição dispa aos presentes resultados, podendo dever-se à fisiologia
osmótica do tambaqui.
43
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
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45
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
ANÁLISE DA PREDAÇÃO DE Notonecta sp. SOBRE JUVENIS
DE TILÁPIA, VARIEDADE “QAAT 1”
José Patrocínio LOPES*; Kariny Barbosa de SIQUEIRA;
Liza Crysthiane F. de OLIVEIRA; Jéssica Tatiane Moreira BRITO
Departamento de Educação, Universidade do Estado da Bahia, Campus VIII
*E-mail: [email protected]
Resumo – Com o represamento do rio São Francisco, pela Companhia Hidro Elétrica do São
Francisco (CHESF), para o aproveitamento do seu potencial hidroelétrico, houve a formação de
lagos artificiais, o que possibilitou o desenvolvimento da aqüicultura na região de Paulo Afonso,
Bahia. A piscicultura com o cultivo de tilápia é o ramo da aqüicultura que mais se difundiu no
sertão baiano. Entretanto, vários problemas relacionados a doenças e a predadores vêm acarretando
uma série de prejuízos econômicos aos piscicultores, levando até à inviabilização de alguns
empreendimentos. Dentre esses problemas, destaca-se a predação das larvas, pós-larvas e alevinos
de peixes por ninfas de insetos, o que tem constituído um grande problema, comum não só no
Brasil, mas também em outros países. O presente trabalho tem como objetivo verificar a predação
da noctonecta (Noctonecta sp.) em larvas, pós-larvas e alevinos de Oreochomis niloticus variedade
“QAAT 1”, durante os primeiros 30 dias de cultivo. O experimento foi realizado na Estação de
Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA), pertencente à CHESF, no período de 19 de outubro a 18 de
novembro de 2005. As larvas de tilápias foram estocadas em incubadoras, em três tratamentos e
quatro repetições, cada um. Logo após, foram introduzidas as notonectas, visando observar a
predação deste inseto sobre as tilápias e a influência do comprimento deste peixe na predação.
Diante dos resultados obtidos, pode-se afirmar que este inseto aquático é capaz de infligir perdas
significativas no cultivo de tilápias nas fases de larvas, pós-larvas e pequenos alevinos até o
comprimento médio de 11 a 12 mm. A maior incidência de predação do inseto em larvas de tilápias
ocorre quando o predador e a presa apresentam comprimentos equivalentes.
PALAVRAS-CHAVE: Mortalidade, Oreochromis niloticus, Larvas, Pós-Larvas, Alevinos
PREDATOR ANALYSIS OF THE Notonecta sp. ABOUT TILAPIA
JUVENILES VARIETY "QAAT 1"
Abstract - The São Francisco River was dammed by the São Francisco Hydroelectric Company
(CHESF) for the use of its hydroelectric potential, promoting artificial formation of lakes, which
made possible large development of the aquaculture in the region of Paulo Afonso town – Bahia
state. The fish farming is Tilapia, the branch of the aquaculture that more spread out in the
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
hinterland of Bahia. However, several problems related to diseases and to predators are sources of
risk for fish farmers as economical damages, leading to the inviabilization of the enterprise. Among
those problems stands out the predaction of larvaes, post-larvaes and alevines for nymphs of several
insects, what has been constituting a great problem not only in Brazil, but also in other countries.
The present work intents to verify the predaction by Noctonecta in Oreochromis niloticus of the
Variety “QAAT 1” larvaes and powder-larvaes, for 30 days of cultivation. The experiment was
accomplished in the Station of Fish Farming of Paulo Afonso (EPPA) which belongs to CHESF,
during the period of October 19 to November 18, 2005, and tilapia larvaes were stocked in
incubators accomplishing three treatments, with four repetitions. After that they were introduced the
Notonectas, seeking to observe the tilapia predaction of this insect and the influence of the length of
this fish and predaction. Results from shows that this aquatic insect is capable to inflict significant
losses in the tilapia’s cultivation while larvae, post-larvae and small alevine phases until the
medium length from 11 to 12 mm, being supposed that the largest incidence of Notonecta
predaction in tilapia larvae happens in equivalent sizes between the predator and the prey.
KEYWORDS - Mortality, Oreochromis niloticus, Larvaes, Post-Larvaes, Alevines
INTRODUÇÃO
O cultivo de tilápias começou no Quênia em 1924, e no Congo, em 1937. As primeiras
informações sobre a tilápia como espécie promissora para a aqüicultura surgiram no início da
década de 50, com citações sobre a tilapicultura como um dos melhores negócios para piscicultores
e uma nova fonte para obtenção de proteínas (Lima, 2001).
Segundo Borghetti et. al. (2003), a aqüicultura brasileira apresentou um aumento de
produção de 925% durante o período de 1990 a 2001, correspondente a um ganho de 190 mil
toneladas, sendo Cyprinus carpio (carpa comum), Oreochromis niloticus (tilápia) e Litopenaeus
vannamei (camarão branco do pacífico) os organismos mais cultivados. Enquanto a aqüicultura
mundial teve um crescimento de 187% durante o mesmo período.
O Nordeste brasileiro enquadra-se nas condições hídricas e climáticas ideais para o cultivo
de peixes tropicais, a exemplo da tilápia (Santiago et al., 1999; Saldanha et al. 1999). Neste sentido,
segundo Cavalheiro et al. (1999), muitas pesquisas vem sendo realizadas no Brasil, com o objetivo
de desenvolver tecnologia própria, adequada as diversificadas condições climáticas do país,
promovendo um maior desenvolvimento da piscicultura nacional.
Os represamentos do rio São Francisco, para produção de energia, propiciou condições
favoráveis para a piscicultura, especialmente em tanques-rede na região de Paulo Afonso, onde a
atividade é uma referência nacional, Entretanto, problemas relacionados a predadores vêm
acarretando prejuízos econômicos aos piscicultores, levando a inviabilização de alguns
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
empreendimentos. Destes problemas, destaca-se a predação de larvas, pós-larvas e alevinos por
ninfas de insetos, um problema, comum no Brasil e em outros países.
A produção de alevinos é parte fundamental no processo de produção (Lindenberg, 1997).
Vários fatores influenciam para o sucesso ou não dessa atividade, sendo de grande relevância, o
efeito predatório dos insetos notonectídeos sobre larvas e pós-larvas, nas fases iniciais do
desenvolvimento dos peixes, pois os notonectídeos são insetos aquáticos predadores capazes de
proporcionar perdas significativas à criação quando não controlados de forma eficiente (Rezende,
et al., 2004), o que sugere a necessidade de se avaliar esta acertiva.
O objetivo do presente trabalho foi verificar a predação de Notonecta sp. sobre larvas, póslarvas e alevinos de Oreochomis niloticus, variedade QAAT 1, durante 30 dias de cultivo.
A Notonecta (Figura 1) é um carnívoro
voraz e ataca tudo o que estiver ao seu alcance.
No ataque se joga para frente e agarra a presa
com as patas dianteiras, injetando-lhe um
líquido que a mata e dissolve sua carne.
Guarda uma bolha de ar em dois sulcos
ventrais providos de pêlos impermeáveis, para
renovar esta bolha faz aflorar a ponta do
abdômen, quando está em repouso abaixo da
superfície da água.
Figura 1. Adulto de Notonecta sp.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na Estação de Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA) pertencente
a CHESF, no período de 19 de outubro a 18 de novembro de 2005, onde os exemplares de
Notonecta sp. Foram coletados.
As larvas e pós-larvas de tilápia-do-nilo, variedade QAAT1 foram provenientes do Centro
de Produção de Alevinos - CPA da empresa AAT International Ltda, localizada na cidade de Paulo
Afonso, Bahia, foram separadas em bandejas de plástico e em seguida colocadas em sacos plásticos
com 1/3 de oxigênio e transportadas para a Estação de Piscicultura da CHESF.
O experimento constou de três tratamentos, em função do comprimento dos animais: T1, T2
e T3 (quatro repetições, cada um) utilizando-se 12 calhas com capacidade de 50 L de água. Em
seguida foram estocadas 200 larvas de tilápia por calha (4 larvas/L), assim descritos: T1: 5-7 mm
(ainda com saco vitelínico); T2: 8-10 mm e T3: 11-13 mm. A escolha dos comprimentos foi
48
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
baseada no tamanho do inseto (10 mm), visto que a predação pode estar relacionada ao tamanho da
presa e do predador.
Após a distribuição das larvas de tilápia nas calhas, cada tratamento T1, T2 e T3 teve em
suas calhas a introdução de 10 notonectas, o equivalente a 1 inseto para cada 20 tilápias, visando
observar a predação deste inseto sobre este peixe e a influência do comprimento deste peixe na
predação. As calhas tiveram sistema de renovação constante visando primar pela qualidade da água.
As larvas e pós-larvas de tilápia foram alimentadas diariamente com ração para alevinagem inicial
contendo 55% de proteína bruta.
Para análise estatística dos dados, aplicou-se o teste “t”-Student para comparação das médias
de predação de Notonecta sp. sobre as larvas, pós-larvas e alevinos de tilápias entre os tratamentos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A maior predação ocorreu no tratamento (T2), fase em que as pós-larvas apresentavam
comprimento entre 8 a 10 mm, onde a predação foi de 88% sobre as tilápias. Sendo seguida por
ordem de predação o tratamento (T3) e (T1) respectivamente com 76 e 75% (Figura 4).
88
Predação %
90
85
80
75
76
75
70
65
9,2
12,9
18,7
Comprimento (mm)
Figura 4. Predação de notonectas Notonecta sp. em larvas de tilápias (Relação comprimento médio
final da tilápia x predação).
Submetidos ao teste “t”-Student, obteve-se resultados mostrando que os tratamentos T1 e T2
são diferentes significativamente ao nível de 5%, com a probabilidade de predação superior no
tratamento T2 em relação ao tratamento T1. Os tratamentos T1 e T3 não apresentaram diferença
significativa entre si, indicando que o grau de predação de Notonecta sp. sobre a tilápia, nestes
comprimentos foi o mesmo. Os tratamentos T2 e T3 são diferentes significativamente entre si ao
nível de 5%, com a probabilidade de predação superior de Notonecta sp. no tratamento T2 em
relação ao tratamento T3. Insetos de fase larval aquática como odonatas (Libelulidae) e notonectas
49
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
(Notonectidae), requerem uma série de condições ecológicas sem as quais não há possibilidade de
sua permanência. Além disso, sua complexa relação com o habitat em aspectos comportamentais
termoreguladores de defesa de território e reprodutivos, demonstra seu potencial de uso em estudos
de correlação com os fatores abióticos.
Segundo Teixeira et al. (2003) apud Rezende et al., (2004) a predação dos notonectideos
sobre girinos de Rana catesbeiana (rã-touro) foi de 0,472 girinos ao dia. Referido resultado para
este animal foi inferior aos obtidos para larvas, pós-larvas e alevinos de tilápia (5,86; 5,06 e 5/dia
respectivamente). Rezende et al. (2004), mostraram em seus estudos que a predação de notonectas
sobre larvas e pós-larvas de Hoplias lacerdae (trairão) foi 1,584 pós-larvas/dia. Neste trabalho,
verificou-se que a predação de notonectas também foi significativa sobre alevinos de tilápias nos
comprimentos de 11 a 12 mm com um percentual de 76% de predação. Contudo, justifica-se tal
resultado tendo em vista o tempo do experimento deste trabalho que foi de 30 dias superior a 4 dias
do trabalho referenciado.
CONCLUSÃO
A incidência maior de predação de Notonecta em larvas de tilápia ocorre em comprimentos
equivalentes entre o predador e a presa. Podendo-se afirmar que este inseto aquático é capaz de
proporcionar perdas significativas no cultivo de tilápias nas fases de larvas, pós-larvas e pequenos
alevinos até o comprimento médio de 11 a 12 mm.
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51
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
II - ARTIGOS TÉCNICO/INFORMATIVOS
CONTRIBUIÇÃO DOS MODELOS BIO-ECONÔMICOS PARA A GESTÃO PARTICIPATIVA
E O ORDENAMENTO DA PESCA ARTESANAL E DE PEQUENA ESCALA
Sérgio Macedo Gomes de MATTOS*
Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da Republica – SEAP/PR
Escritório no Estado de Pernambuco
*[email protected]
Resumo - A pesca artesanal e de pequena escala não vem sendo devidamente administrada. A
atividade não acompanhou o desenvolvimento tecnológico nem, tampouco, as forças que regem o
mercado. A ciência pesqueira tem, por muito tempo, se dedicado à avaliação de estoques com
restrito enfoque geográfico e disciplinar, desconsiderando as necessidades sócio-econômicas de
comunidades pesqueiras e os benefícios potenciais de formas mais participativas de administração.
Só recentemente, estudos interdisciplinares que consideram a administração pesqueira em seus
aspectos naturais e sociais têm permitido desenvolver formas mais participativas de gestão, ou cogestão. Este artigo apresenta a gestão participativa como alternativa ao ordenamento e à
sustentabilidade dos recursos pesqueiros explorados pelas frotas artesanais e de pequena escala,
especialmente no Nordeste do Brasil, tendo como espelho as nações pesqueiras tradicionais e as
experiências e peculiaridades locais, fundamentada nos conceitos teóricos dos modelos bioeconômicos. A gestão pesqueira pode ser definida como a governabilidade do comportamento
humano, mas não do comportamento do estoque pesqueiro, o qual é estudado pelas ciências
pesqueiras, porque a aplicação de medidas para a gestão de um estoque pesqueiro somente pode ser
possível através de comunidades pesqueiras bem administradas. A gestão baseada na comunidade e
a co-gestão devem ser fundamentadas em conceitos e conhecimentos desenvolvidos conjuntamente
pelos usuários dos recursos, pesquisadores e administradores, mas não existe um conjunto de itens
que definem as regras a seguir, porque é irreal esperar pelo estabelecimento de um sistema de
gestão perfeito. Cada caso é único e deve ser analisado pelas características sociais, econômicas e
culturais das comunidades envolvidas. Para bem administrar não se deve apenas conhecer o estoque
pesqueiro, mas também o pescador e o sistema de pesca. Assim, foi contextualizada a importância
de definir um sistema de gestão fundamentado nos possíveis resultados extraídos dos modelos bioeconômicos conjuntamente desenvolvidos por pescadores, pesquisadores e administradores para a
gestão participativa.
PALAVRAS-CHAVE: gestão participativa, bio-economia, sustentabilidade, pesca artesanal.
52
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
CONTRIBUTION OF BIO-ECONOMIC MODELS FOR CO-MANAGEMENT AND
MANAGEMENT OF SMALL-SCALE AND ARTISANAL FISHERIES.
Abstract - Most of the artisanal fisheries and small-scale fisheries have not been well managed, if
they have been managed at all. They didn’t follow the technological development or the driving
forces of economics, population growth, demand for food, and poverty. Fishery science has largely
been devoted to stock assessment with restrict geographical and disciplinary focus. Specially, it
neither addressed the socio-economic needs of fishing communities nor the potential benefits of
more collaborative forms of governance, and only recently interdisciplinary natural and social
studies of fisheries management for developing regions have been considered, including
community-based management and co-management. This article aims to present co-management as
alternative for the management and sustainability of fishing resources exploited by the artisanal
fleets in Brazil, through the management system of developed fishing nations, especially Spain, and
on local experiences and peculiarities, based on the theoretical concepts of bio-economics models
for fisheries management. Fishery management can be defined as a governance of human
behaviour, not fish behaviour, which is studied by fishery biological science, because the
application of measures for the management of a fish stock can only be possible through wellmanaged fishing communities. We believe that community-based management and co-management
must be based in concepts and knowledge’s developed by the resources` users, researchers and
administration, but there isn’t a set of items that defines the rules to be followed, because it is
unrealistic to expect a perfect management system. Each case is unique and must be analysed by the
social, economic and cultural characteristics of the involved communities. Any single method must
be conduct in a practical way and should place a strong emphasis on ecosystem management and
participatory decision-making. To manage well one need not only to know the fish, but also the
fishermen and the fishery’s system, and it were contextualised the importance to define a
management system based on the possible outputs of bio-economical models jointly developed by
fishermen, researchers and administrators for fisheries co-management.
KEY-WORDS: co-management, bio-economics, governance, artisanal fishery.
INTRODUÇÃO
De uma maneira generalizada, os modelos criados para o desenvolvimento da pesca foram
elaborados na busca de tecnologias de aumento incessante da produção e de ganho de capital crescente.
Para o tratamento de aspectos tão diferenciados, como os existentes nas atividades relacionadas às
pescarias artesanais e de pequena escala, entende-se como fundamental a mobilização efetiva de
recursos locais de modo que, ao longo do tempo, seja possível diminuir a dependência de agentes
externos. Mattos et al. (2001) destacaram a urgente necessidade de introdução de novos modelos de
53
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
gestão para garantir a sustentabilidade dessas pescarias, no sentido de minimizar impactos sociais,
econômicos e ambientais, para melhor garantir a gestão dos recursos pesqueiros.
Uma questão relevante do desenvolvimento auto-sustentado da pequena produção pesqueira
se refere ao fato desta atividade econômica se basear na exploração de recursos de propriedade
comum ou livre acesso. A visão, errônea, da inesgotabilidade dos recursos pesqueiros gerou
modelos baseados no saber-fazer, que explicitou, de acordo com Marrul Filho (2001), a separação
entre o homem e a natureza (recursos pesqueiros) e permitiu desenvolver uma racionalidade
utilitarista e produtivista na apropriação dos recursos pesqueiros.
Considerando que existe uma deficiência nas estratégias de gestão pesqueira para o
desenvolvimento local e regional, há necessidade de progressivamente estabelecer estratégias e
planos de manejo das pescarias. Assim, é imperativo demonstrar a importância da análise conjunta
dos aspectos biológicos, econômicos e dos sistemas de pesca existentes, pois, como enfatizado por
Seijo et al. (1998), gestão pesqueira é um processo complexo que requer a integração biológica e
ecológica, com fatores sócio-econômicos e institucionais que afetam o comportamento de
pescadores e dos tomadores de decisão.
O objetivo do presente artigo é contribuir em torno da importância de implementar modelos
de gestão participativa para o desenvolvimento da atividade pesqueira artesanal e de pequena escala,
tendo como fundamento as bases teóricas dos modelos bio-econômicos pesqueiros, uma vez que a
atividade sempre foi considerada ineficiente e insustentável do ponto de vista econômico, pois, de
acordo com Freire (2000), a gestão da exploração dos recursos pesqueiros deve compatibilizar
objetivos biológicos – sustentabilidade dos estoques e ecossistema – e econômicos e sociais –
maximização da rentabilidade econômica, distribuição de benefícios e coesão e perseverança social.
Dessa forma, o artigo aborda o histórico das políticas de desenvolvimento e gestão para a
pesca, contextualizando a pesca artesanal e de pequena escala dentro da intervenção governamental,
até uma proposta de gestão participativa fundamentada nas teorias bio-econômicas pesqueiras. Para
respaldar a argumentação de que essa proposta pode ser construída, abordaram-se questões que
julgamos imprescindíveis para o entendimento de que a sustentabilidade dessa atividade somente
ocorrerá através da gestão participativa, os quais dizem respeito aos objetivos e sistemas da gestão e
sua aplicabilidade, as inter-relações existentes entre sistemas de gestão e ordenamento da atividade
pesqueira e os conflitos existentes entre sustentabilidade e sobrexplotação, fatores inerentes a
qualquer pescaria e objetivos evolutivos dos modelos bio-econômicos, fortemente marcados na
pesca artesanal e de pequena escala, pelas conseqüências sociais e econômicas diretas e imediatas.
54
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO E GESTÃO NO BRASIL
As políticas de desenvolvimento, de uma maneira geral, contribuíram para gerar níveis de
desigualdades na sociedade brasileira, fortemente marcadas no setor pesqueiro, em que a pesca
artesanal e de pequena escala distanciou-se dos padrões aceitáveis de desenvolvimento social e
econômico. De acordo com o CONDRAF1 (2006), essas “origens são históricas, mas sua
permanência leva grande parte da sociedade a encará-las como natural e não como um fato
socialmente construído, o que poderá resultar em um pacto social excludente, em que não se
reconhece mais a cidadania como um valor universal e um direito de toda a população. Ou seja, a
cidadania de uns é diferente da dos outros, tendo-se como conseqüência que os direitos, as
oportunidades e os horizontes também sejam distintos”.
Não se pode negar que as políticas governamentais de décadas passadas trouxeram
modificações importantes no setor pesqueiro nacional, mas a modernização pretendida se tornou
uma “falácia”, gerando estruturas produtivas bastante heterogêneas. Para Timm (1978), o artesanato
pesqueiro, embora preterido e praticamente desassistido pelo poder público, ainda constituía o
principal elemento produtivo da pesca nacional. Essa modernização, de acordo com Diegues
(1983), nada mais fez que apressar a exploração irracional dos recursos pesqueiros, com o
empobrecimento gradativo de milhares de pequenos pescadores. De fato, a SUDEPE2 (1988)
alertava que o baixo nível de tecnologia existente à época e a não adoção de uma política de
incentivo à pesquisa que propiciasse a sua melhoria, criação e/ou adaptação, resultou como um dos
fatores limitantes ao processo de desenvolvimento. Por outro lado, pelo fato de não ter atingido os
objetivos pretendidos de modernização, ou rápida industrialização, pôde ter-se evitado um desastre
ecológico de graves conseqüências, em face da potencialidade dos recursos naturais. Berkes et al
(2001) expõe que a pesca artesanal e de pequena escala emprega 50 dos 51 milhões de pescadores
em todo o mundo, sendo a grande maioria em países em desenvolvimento, produzem mais da
metade da produção extrativa mundial e abastece a maioria do pescado consumido no mundo em
desenvolvimento.
A pesca artesanal é tema de interesse para pesquisadores e instituições de planejamento por
representar um dos últimos exemplos da atividade humana de subsistência baseada na caça, captura
e coleta de recursos naturais (Buzeta, 1987). Recentemente este interesse tem aumentado pela sua
importância na produção de alimentos frescos para o consumo humano e pela sobrexplotação dos
recursos costeiros (Buzeta, 1987; Mattos et al., 2001). De acordo com Freire (2000), é importante
destacar que a pesca artesanal se desenvolve com um maior respeito ao ecossistema, devido a sua
1
2
Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável.
Superintendência do Desenvolvimento da Pesca
55
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
maior seletividade, e como as capturas são mais reduzidas, mas o elevado valor unitário, determina
um elevado rendimento econômico com relação ao escasso custo de produção.
Muito já se enfatizou da necessidade de assistência técnica das comunidades pesqueiras, para
possibilitar uma maior compreensão dos sistemas de pesca e sua inserção na discussão das políticas
de desenvolvimento. Não foi o que ocorreu, entretanto, com a implantação dos serviços de
assistência técnica idealizados pela extinta SUDEPE3, que sequer materializou-se, reduzindo-se ao
assistencialismo e clientelismo, pois não levaram em consideração os reais interesses do artesanato
pesqueiro. A própria SUDEPE (1988) reconheceu a necessidade de uma redefinição da postura
governamental, na medida em que o pescador artesanal participe na gestão de políticas voltadas
para o desenvolvimento do setor pesqueiro. Timm (1978) alertou para o fato de que, mesmo
parecendo ingênuo preconizar soluções diante da realidade nacional, o desenvolvimento da pesca
somente poderá ser satisfatoriamente alcançado quando o pescador se constituir em agente atuante e
dignificado no processo de desenvolvimento pesqueiro. Diegues (1985)4, comenta que existem
muitos mitos em relação aos pescadores artesanais que precisam ser derrubados, pois impediram a
sua integração no processo de gestão e no desenvolvimento local. Nesse processo de gestão, esses
mitos devem ser identificados para sua superação, pois podem ter sido causas que atuaram em um
processo que fragilizou a atividade.
Pelas fragilidades apresentadas nos dias de hoje e pela falta de uma política de ordenamento
efetiva da atividade, o arcabouço institucional criado para organizar o setor pesqueiro sempre
relegou substancialmente a pesca artesanal, tanto do ponto de vista social, considerando os
pescadores como contingentes de aproveitamentos em defesa da soberania nacional e sem garantir
sua inserção na sociedade, como do ponto de vista de segmento econômico e produtivo, estando à
margem das políticas de desenvolvimento para a pesca industrial, pois o status da atividade
artesanal nunca foi devidamente respeitado, sendo por muito tempo considerada como
complementar ao segmento industrial.
Essa institucionalização, estabelecida desde o século XIX para o ordenamento da atividade
pesqueira, deixou lacunas e fragmentos que prejudicou a consolidação do segmento artesanal e de
pequena escala e de suas comunidades como atividade econômica, agentes de produção e base da
economia familiar. Houve uma alternância de responsabilidades e competências institucionais que
se revezou entre a Marinha do Brasil, o Ministério da Agricultura e o IBAMA, estando desde 2003
sob os auspícios da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República –
SEAP/PR. Ocorreu a geração de programas e projetos que, indiscutivelmente, trouxeram aspectos
3
A Superintendência do Desenvolvimento da Pesca – SUDEPE foi criada pela Lei Delegada nº 10, de 11 de outubro de
1962, e extinta pela Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, que cria o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Renováveis – IBAMA.
56
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
positivos, mas ao se observar a situação em que se encontra o setor, ainda perduram aspectos
negativos que urgem soluções, principalmente relacionados à adequada gestão dos recursos.
OBJETIVOS E FERRAMENTAS PARA A GESTÃO PARTICIPATIVA
Os conceitos sobre gestão participativa não são recentes, mesmo em um país como o Brasil,
em que a política governamental de desenvolvimento para o setor pesqueiro não possibilitou a
participação do setor produtivo, especialmente o artesanal. É necessário ressaltar que a
característica principal da gestão participativa, além de envolver a comunidade para a toma de
decisões conjuntas para o desenvolvimento, é sua capacidade de modificar-se constantemente,
buscando a superação de suas lacunas, experimentar e inovar, desfazer-se da tendência de
acomodar-se à rotina, uma vez que todos podem expressar suas demandas e prioridades.
Para a elaboração de qualquer plano de desenvolvimento devem ser respeitados os
fundamentos da gestão participativa, onde participam a administração, através da instituição
competente, de técnicos e pesquisadores e, principalmente, do pescador. Nos países desenvolvidos,
com reconhecida tradição pesqueira, o desenvolvimento do setor pesqueiro ocorreu quando houve
uma integração entre os diversos elos que o compõem, com massiva e imprescindível participação
dos pescadores e, principalmente, se valorizou e reconheceu a pesca artesanal e de pequena escala
como geradora de emprego, renda e excedentes. Esse processo permitiu observar a importância
desses segmentos para o equilíbrio do setor. Assim, gestão pesqueira pode ser definida, segundo
Jentoft (1997), pelo gerenciamento do comportamento humano, mas não do comportamento do
peixe, o qual é estudado pela biologia pesqueira, porque a aplicação de medidas de gestão de
estoques pesqueiros somente é possível através de comunidades pesqueiras bem administradas.
Kula (1992) enfatizou que a ênfase na determinação de políticas de gestão pode variar dependendo
das aspirações e inclinações políticas dos membros que constituem o poder de decisão. Em alguns,
a eficiência econômica da atividade pode ser considerada o alvo a ser atingido, enquanto que em
outros os aspectos sociais, que enfatizam uma maior distribuição de renda, o que pode ocasionar
uma menor eficiência produtiva.
À primeira vista os objetivos de uma política pesqueira com responsabilidade para o
estabelecimento de uma agenda de prioridades em gestão participativa, com visão de longo prazo,
de forma racional e sustentável, nos planos local, regional e nacional, parecem claros e evidentes.
Entretanto, quando se analisa o assunto com mais atenção, de acordo com Comunidades Européias
(2001), se observa que essa classe de política deve nadar, freqüentemente, entre duas águas e tentar
responder às exigências que são muitas vezes contraditórias, tais como:
•
4
Como modernizar as embarcações limitando, ao mesmo tempo, o esforço de pesca?
Diegues, A. C. S. (1985) Documento apresentado no Seminário de Pesca Artesanal promovido pela Confederação
57
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
•
Como proteger o emprego reduzindo, ao mesmo tempo, a capacidade da frota?
•
Como garantir uma remuneração adequada aos pescadores se as tendências das capturas são
decrescentes?
•
Como conseguir direitos de pesca sem ameaçar a sustentabilidade dos recursos?
Portanto, os objetivos da gestão são diversos e geralmente contraditórios. Pode ser maximizar a
produção e lucratividade da pesca; minimizar as flutuações nas capturas; evitar os riscos de colapso dos
recursos; manter emprego; etc. Existem duas ferramentas disponíveis: a técnica (limitação do esforço,
seletividade da arte de pesca, tamanho mínimo de captura, etc.), e econômica (subsídios, taxas,
penalidades, etc.). Em um sistema complexo, tal como o da pesca, não é sempre que se tem com
clareza qual será a resposta do sistema a certa medida de gestão (Lleonart et al, 1999a). A necessidade
de regulamentar a atividade pesqueira possibilitou, por parte da administração, buscar nos modelos
bio-econômicos pesqueiros as respostas para os impactos causados na dinâmica ambiental pelas
ações antropogênicas. Assim, Anonimous (2001) sugere que os objetivos da gestão pesqueira são:
•
Estabelecer uma atividade pesqueira sustentável, com adequado acompanhamento e
investigação;
•
Garantir um grau mínimo de sustentabilidade dos recursos e das comunidades pesqueiras,
salvaguardando os interesses locais e regionais;
•
Proteger os recursos pesqueiros e seu habitat e conservar o meio ambiente;
•
Preservar as peculiaridades sociais e culturais das comunidades dependentes da pesca;
•
Assegurar a viabilidade econômica da atividade; e
•
Promover uma administração local dinâmica, onde possível, de acordo com os princípios de
direito de acesso aos recursos pesqueiros.
É imperativo, portanto, que um sistema de gestão seja o mais flexível possível para absorver
mudanças que resultem de novas informações provenientes da comunidade, suas considerações
sócio-econômicas, e uma melhor compreensão e conhecimento sobre o comportamento do estoque,
para que se possam atingir níveis de captura que maximize os benefícios para todos enquanto
garanta uma pesca sustentável, e um esforço ótimo, minimizando custos operacionais e de
implementação de regulamentos.
SISTEMAS DE GESTÃO PESQUEIRA PARA A REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
Entende-se por sistema de gestão o conjunto estruturado que regula uma pescaria. Este se
compõe da instituição que o regula e pelos instrumentos que emprega. Pode-se distinguir três
instituições de regulação: o mercado, a administração e a auto-regulação da comunidade pesqueira,
ou dos pescadores. De acordo com Franquesa (1997) e Marrul Filho (2001), a regulamentação da
Nacional dos Pescadores, realizado no Auditório Nereu Ramos – Câmara dos Deputados.
58
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
atividade pesqueira encontra fundamento em varias vertentes, cada uma delas com determinadas
possibilidades e limitações:
•
A regulamentação se dá devido às necessidades e externalidades do mercado. Permite uma
regulação anônima e automática, evita a arbitrariedade administrativa e não tem custos
operativos. Entretanto, pode não conduzir a atividade a um ótimo social, caso ocorra uma
rápida concentração de empresas e/ou redução de emprego, além de poder gerar
desequilíbrios sobre o recurso em determinadas condições (problema de sobrepesca);
•
A regulamentação se dá devido à administração. É o proprietário dos recursos de domínio
público e pode garantir o emprego adequado desses recursos, mas deve levar em
consideração as características das relações sociais e econômicas e a forma pela qual é
exercida. Considerando o dinamismo da atividade, necessita da ação reguladora às normas
de uso do recurso. Nesse processo surgem as falhas do Estado pela insuficiência de
participação democrática no processo de formação de medidas de regulamentação; pelas
disfunções de interesses políticos; e pela incapacidade de prestar contas à sociedade.
Geralmente os custos de controle são elevados e desproporcionais aos lucros gerados pelas
pescarias; e
•
A regulamentação se dá devido à comunidade. A comunidade pesqueira também pode se
auto-regular. Este sistema de gestão tem uma rápida capacidade de adaptação, pode se
dispor de uma informação imediata do estado do recurso e supõe um custo de controle
praticamente nulo, mas somente pode funcionar se existir um forte grau de associação da
comunidade pesqueira. Entretanto, o Estado, ao construir e implementar a regulamentação
de uso dos recursos, o faz estabelecendo sistemas de gestão que alocam direitos individuais
distribuídos de forma assimétrica entre os pescadores. Ao não observar os valores e regras
de competição socialmente aceitos, provocam-se posturas e práticas individualistas com
origem extra-local, que tendem a destruir os sistemas comunitários de gestão e apropriação
dos recursos pesqueiros.
Tendo esses fundamentos como essenciais à regulamentação e ao estabelecimento de
medidas de gestão, há que se distinguir claramente dois aspectos diferenciados: (1) qual é a
estrutura administrativa que regulamenta a atividade pesqueira; e (2) quais são os mecanismos
possíveis para passar de uma situação de sobrexplotação e de prejuízo, a uma de equilíbrio. O
estudo das medidas de transição implica uma análise específica muito mais ampla. O objetivo final
é manter um esforço que mantenha em níveis ótimos a biomassa do recurso, gerando estabilidade.
A dificuldade está em estabelecer com precisão a quantidade (em número de licenças ou volume
das capturas) e o preço desse direito, de forma que nem seja tão grande, que acabe com a
explotação, nem tão pequena que não desestimule a entrada de novo esforço.
59
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Nos países historicamente pesqueiros, os sistemas de gestão são temas correntes para a
regulação das pescarias. Dos conflitos e acordos surgiram instrumentos de controle como as
capturas totais permissíveis (TAC - do inglês Total Allowable Catch) e as cotas individuais
transferíveis (ITQ - do inglês Individual Transferable Quotas). Os TAC’s limitam a produção
através de um processo administrativo, enquanto as ITQ’s através do mercado. As conseqüências da
implantação de um ou outro instrumento, entretanto, estão diretamente relacionadas ao sistema de
pesca em nível nacional, regional ou local. Nem nos paises mais desenvolvidos e de tradição
pesqueira a sua aplicação resulta sempre fácil. Podem existir problemas com elevado custo de
controle (ex: se pesca e não se declara) ou quando há uma grande quantidade de espécies objetivo
que se capturam de maneira associada.
Assim, as medidas de regulação em um sistema de gestão devem, para seu efetivo êxito,
alcançar os seguintes objetivos, de acordo com Freire (2000): (1) congregarem um consenso
generalizado entre os pescadores; (2) serem facilmente vigiáveis; (3) serem robustas ante as
incertezas do conhecimento científico; e (4) permitirem, no caso específico de criação de reservas
extrativistas, a combinação da gestão pesqueira com a conservação de habitats chaves nos
ecossistemas costeiros.
MODELOS BIO-ECONÔMICOS E GESTÃO PARTICIPATIVA PARA A PESCA ARTESANAL
E DE PEQUENA ESCALA: SUSTENTABILIDADE X SOBREXPLOTAÇÃO
Em uma pescaria ordenada, o fator homem (pescador) deve ser considerado como um
elemento a mais do ecossistema e em qualquer caso perturbador na mesma medida que pode uma
alteração do meio ambiente ou, com mais freqüência, como a competição – interação – equilibrada
entre os diversos componentes da biocenose. Considerando, como assim é na realidade, que a ação
humana está regida pelas leis distintas das biológicas, mas pelas leis econômicas e, talvez ainda
mais, pelas leis sócio-econômicas, este fato não se opõe a que ambas as estratégias sejam
perfeitamente compatíveis nem tampouco à possibilidade de conseguir um modelo único para a
compreensão do processo pesqueiro que englobe as duas facetas do mesmo: a biológica e a
econômica (Bas, 1987). Assim, o tamanho e a abundância de uma população de peixe estão
tradicionalmente relacionados com os processos econômicos da pesca e o ponto de referência dessa
correlação analítica é denominada bio-economia.
Tal conceito permitiu o desenvolvimento de ferramentas para determinar a Captura Máxima
Sustentável (CMS), que têm como base o fato de que a biomassa de uma população tende a crescer
até que seja alcançada a capacidade de suporte limite do ambiente em que vive, e a Captura Máxima
Econômica (CME), que têm como fundamento básico a busca de uma pescaria eficiente do ponto de
vista econômico. Apesar de as primeiras considerações bio-econômicas datarem da década de 1950,
60
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
foi somente a partir dos anos 1970 que os modelos bio-econômicos pesqueiros foram desenvolvidos
como instrumentos de gestão pesqueira. Modelos bio-econômicos desenvolvidos com esse
propósito incluem, além das variáveis biológicas e econômicas usuais, tais como espécies, estoques,
frota, distribuição geográfica da frota, grau de integração entre pescarias, etc., alguns importantes
instrumentos e ferramentas de gestão. Ademais dessas características gerais, cada modelo é
desenhado em respeito a cada específica situação biológica e econômica e os instrumentos locais
disponíveis.
As primeiras considerações sobre modelos bio-econômicos basearam-se nos estudos
conduzidos por Gordon (1954) e Schaefer (1954), denominado Modelo de Gordon-Schaefer, o qual
considerou a relação entre a produção obtida e o esforço de pesca empregado e a proporcionalidade
entre a receita e o custo totais. Outro importante mecanismo que ajudou no desenvolvimento dos
modelos bio-econômicos foi a importante percepção do monitoramento e dos estudos sobre a
dinâmica da frota pesqueira, conhecido como Modelo de Smith (Smith, 1969), o qual considerou
que a durabilidade de uma pescaria seria proporcional à receita obtida e incorpora, evidentemente,
conceitos dos modelos biológicos pesqueiros. Quirk & Smith (1970) destacaram que modelos bioeconômicos para análise de pescarias devem tratar da dinâmica dos estoques, as externalidades na
produção, a relação entre homem (pescador) e seu ambiente natural, controle social da
regulamentação, investimentos públicos e a importância econômica dos direitos de propriedade.
Modelos bio-econômicos são atualmente considerados como uma ferramenta teórica para
o estabelecimento de medidas de gestão para o uso sustentável dos estoques pesqueiros, em virtude
das peculiaridades existentes na atividade pesqueira. Esses modelos são estruturados de acordo com
distintas realidades, mas racionalmente estes devem consistir na adoção de medidas para a
modelagem pesqueira e para usá-los como ferramentas importantes na análise bio-econômica de
pescarias diversas. O propósito dessas ferramentas é facilitar a avaliação das conseqüências e riscos
da aplicação de diferentes medidas de gestão em um determinado estoque.
Apesar da reconhecida importância da modelagem que auxiliem na avaliação de recursos
pesqueiros, existem falhas que não permitem incorporar variáveis que compõem a dinâmica das
atividades artesanal e de pequena escala, por desconhecimento ou imperfeição dos modelos. Todos
os aspectos anteriormente levantados podem permitir se estimar e avaliar os impactos positivos e
negativos de qualquer política de gestão aplicada a um determinado estoque, determinada frota
pesqueira ou a uma determinada parte ou etapa da atividade pesqueira, todos em termos de captura
e receita. Essas interações, entretanto, são muitas vezes, ou quase sempre, pouco entendidas,
especialmente nas pescarias artesanais e de pequena escala, onde informações qualitativas muitas
vezes podem ser obtidas, mas dados quantitativos são escassos para realizar uma análise acurada da
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
interação entre espécies explotadas e as operações de pesca, porque há uma total dependência de
realizar precisas descrições e delineações preliminares sobre as atividades pesqueiras.
Como enfatizado por Lleonart et al. (1999b), a exploração de um recurso natural não permitirá
um crescimento indefinido. Esses limites de crescimento na explotação de recursos pesqueiros parecem
estar em contradição com o que alguns economistas recomendam, o qual é precisamente crescimento. A
sustentabilidade dos recursos pesqueiros é, assim, um problema econômico e não biológico. Do ponto
de vista biológico, uma explotação sustentável é uma meta que se pode assumir, mas o problema está
em se é economicamente aceitável planejar um nível de crescimento zero na produção pesqueira.
Histórias e experiências recentes demonstram que não tem sido possível obter pescarias sustentáveis. As
causas podem ser atribuídas às limitações e incertezas das técnicas de avaliação e às pressões
econômicas da pesca em nível mundial.
Por exemplo, uma questão básica no presente contexto que um modelo bio-econômicos deve
responder é que qualquer pescaria tem repercussão, positiva ou negativa, no contexto social e
econômico das comunidades pesqueiras, o qual deve conduzir à gestão e à avaliação local dessa
pescaria. Considerando que a introdução de uma atividade pesqueira é um fator de perturbação na
dinâmica do ecossistema, um modelo deve incorporar o interesse econômico em explorar essa atividade,
limitado por fatores ecológicos, objetivando evitar a sobrexplotação (Facó, 1988).
Entretanto, poucos são aqueles modelos bio-econômicos que consideram a multiespecificidade da pesca de pequena escala, destacando-se aqueles desenvolvidos para o mar
Mediterrâneo. Considerando que a pesca de pequena escala costeira realizada no Mediterrâneo
possui similaridades com aquela desenvolvida no Brasil, principalmente no que se refere à
necessidade de estabelecer um sistema de gestão dinâmico e adaptativo às condições locais, os
modelos ali desenvolvidos podem ser adaptados às características da pesca artesanal e de pequena
escala aqui desenvolvidas para estabelecer um processo de gestão participativa. Em geral as áreas
costeiras do Mediterrâneo e do Brasil têm baixa produtividade e uma grande pressão demográfica, o
que intensifica a pressão sobre os estoques pesqueiros, em virtude da grande demanda por pescado.
Se observarmos a descrição da atividade pesqueira do Mediterrâneo Norte-ocidental realizada por
Martín (1991), Lleonart et al. (1999b) e Bas (2002), pode-se verificar que existem similaridades
com aquelas, por exemplo, em Pernambuco, que se caracterizam por uma grande diversidade de
espécies e petrechos de pesca empregados, assim como pela variação sazonal das capturas.
O modelo bio-econômico MEFISTO – Ferramenta de Simulação Pesqueira para o
Mediterrâneo (MEditerranean FIsheries Simulation TOols), foi desenvolvido para a pesca de
pequena escala do Mediterrâneo Norte-ocidental (Franquesa & Lleonart, 2001) e tem como
característica a possibilidade de simular diversas estratégias de gestão. MEFISTO tem como
fundamento, de acordo com Lleonart et al. (1999a), Franquesa & Lleonart (2001) e Lleonart et al.
62
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
(2003), reproduzir as condições características da pesca de pequena escala do Mediterrâneo,
incluindo vários aspectos que a diferenciam dos modelos elaborados para as pescarias do Oceano
Atlântico, podendo ser adaptado a outras pescarias especificas, desde que essas sejam multiespécies, multi-artes e multi-frotas. O modelo requer o estabelecimento de parâmetros biológicos
dos estoques em análise (crescimento, comprimento e peso), parâmetros econômicos (custos das
operações de pesca) e o estabelecimento da situação inicial do estoque (vetores de mortalidades
natural e por pesca e o número de indivíduos por classe de idade). Foi construído de forma modular
em um sistema de três caixas: a caixa do estoque, a caixa do mercado e a caixa do pescador:
ESTOQUE
PESCADOR
MERCADO
A caixa do estoque simula sua dinâmica, usando um modelo analítico especificado para a
estrutura da população por idade, referente a uma ou mais espécies principais, ou alvo das capturas,
com dinâmica explícita. A entrada é o esforço de pesca e a capturabilidade (que vem da caixa do
pescador) e o produto se constitui na mortalidade por pesca – a captura – que vai para a caixa do
mercado. A caixa do mercado converte a captura em dinheiro com algumas funções de preço.
MEFISTO suporta a consideração do preço de referência, como a importância do tamanho
individual do pescado e a importância do tamanho da oferta. A caixa do pescador simula o seu
comportamento econômico. A entrada é o dinheiro que vem da caixa do mercado. Seus rendimentos
são o esforço de pesca que se aplicará pela arte na unidade seguinte de tempo, a capturabilidade, e o
fator de seletividade, que o pescador tem certo controle por via da função de seu capital.
O modelo bio-econômico como MEFISTO permite avaliar o efeito teórico de medidas de
gestão alternativas, principalmente importantes naquelas pescarias em estado de sobrexplotação que
necessitam um processo de transição para se recuperarem. Permite estimar o custo de sua aplicação
e a probabilidade e o êxito com que as medidas de gestão serão aplicadas, com ênfase na avaliação
econômica, desde uma simples inter-relação entre o recurso e esforço de pesca, a uma inter-relação
complexa entre o recurso, o esforço de pesca e o sistema de gestão.
Os beneficiários do produto do modelo são três: os pescadores, os pesquisadores e os
tomadores de decisão, ou a administração; transformando-se, assim, em um importante e viável
instrumento de gestão participativa. Segundo Franquesa & Lleonart (2001) e Lleonart et al. (2003),
o modelo permite aos pescadores terem uma nova perspectiva do comportamento do ecossistema,
63
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
ampliando a compreensão da utilidade ou inutilidade de certas medidas de gestão e das diferenças
em curto e médio prazos de perdas e ganhos. Para os pesquisadores esse modelo constitui uma
ferramenta de pesquisa que pode permitir aumentar a compreensão dos mecanismos pelos quais o
sistema de pesca opera. Pode também ser uma ferramenta de assessoramento e análise dos riscos de
aplicação de diferentes opções de gestão. Para a administração e tomadores de decisão, o modelo
oferece a possibilidade de avaliar os efeitos biológicos e econômicos das medidas de gestão
(técnica, econômica, ou ambas), importante no estabelecimento de políticas em curto e médio
prazos, além de demonstrar que a durabilidade da atividade pesqueira depende da dinâmica do
recurso biológico e não apenas em decisões econômicas.
CONSIDERAÇOES FINAIS
Para a adequada gestão dos recursos pesqueiros e proteção do meio ambiente deve-se ter
claro que a sobrexplotação e a insustentabilidade são causas principais de uma crise que ameaça, em
um futuro próximo, o equilíbrio dos ecossistemas e a própria sobrevivência do setor pesqueiro.
Como apresentado por Marrul Filho (2001), a sustentabilidade no uso dos recursos pesqueiros
ganha sentidos e práticas diferentes, apresentando possibilidades de ser alcançada ou não, a
depender da visão que preside o modelo de regulação adotado. É importante ter em mente, de
acordo com Freire (2000), que a pesca não é mais que um dos serviços que nos presta os
ecossistemas marinhos.
Dentre as diversas medidas5 que se conhecem para evitar ou diminuir a pressão sobre os
estoques populacionais, é importante destacar que uma análise e acompanhamento das mesmas
devem ter um enfoque plurianual e multi-específico, que poderia reduzir as incertezas relacionadas
com as variações anuais do estoque disponível à pesca e permitiria um planejamento da atividade
em mais longo prazo. Não existe nenhuma solução mágica para os problemas de conservação dos
recursos pesqueiros, devendo ser absorvidas o maior número possível de medidas, opiniões e
experiências, sejam elas teóricas ou empíricas.
Assim, por quê a mudança do modelo de gestão pode permitir uma exploração sustentável?
Quando um grupo de usuários, os pescadores neste caso, participa do processo decisório, existe
sempre a possibilidade de concretização das mudanças, pois o envolvimento da comunidade se
reveste de importante processo para a construção de um sistema fundamentado nas experiências
locais. De acordo com Freire (2000), quando os pescadores obtêm um direito exclusivo e efetivo de
exploração dos recursos, sua estratégia muda radicalmente, dado que seus objetivos individuais
5
Algumas das medidas adotadas na atualidade são: captura total permissível (TAC); cotas de captura (ITQ); reservas
extrativistas de pesca; proibição de descarte, criação da eco-etiquetagem; criação de conselhos consultivos; definição
de responsabilidades e competências; e, principalmente, redução da capacidade e do esforço pesqueiro.
64
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
passam a coincidir com os do coletivo. Em esses momentos se estabelecem sistemas de controle e
gestão efetivos e pouco custosos.
Para os interesses da gestão da atividade pesqueira artesanal e de pequena escala, os
modelos desenvolvidos geralmente não levam em consideração a percepção e o comportamento dos
pescadores diante dos estoques e ambientes que explotam. Falar em modelagem para a gestão
participativa da pesca artesanal necessariamente tem-se que abordar as questões de conflitos entre
sobrexplotação e sustentabilidade que tanto interferem no estabelecimento e implementação de um
sistema de gestão adequado a realidade e peculiaridades desse segmento pesqueiro e dificulta o seu
ordenamento. De acordo com Marrul Filho (2001), esses modelos podem falsear quando
confrontados com a necessidade de serem estabelecidos níveis de apropriação dos recursos
pesqueiros que sejam socialmente sustentáveis, não podendo ser percebido como sustentável do
ponto de vista político-institucional e prescinde da participação democrática dos atores e de
formação de coesão social para a definição do que é sustentabilidade.
Assim, tendo em consideração os pressupostos básicos inerentes à alocação ótima dos
recursos naturais e às características da atividade pesqueira que determina, sob acesso irrestrito, a
falha na alocação dos recursos, a ineficiência econômica e a sobrepesca, a condução de estudos
sobre bio-economia pesqueira são de grande interesse para Estados costeiros em desenvolvimento.
(Seijo et al., 1998). O desenvolvimento dos modelos de gestão atualmente desenvolvidos na
península ibérica, ainda que longe de serem ótimos do ponto de vista biológico, permitiu o controle
da atividade pesqueira fundamentado em três pilares: prevenir, sancionar e responsabilizar. Sem
dúvida, um adequado sistema de gestão da atividade deve estar em harmonia com seus ambiciosos
objetivos, o qual exige um custo inegável entre os envolvidos para harmonizar ações e resultados,
permitir uma cooperação ativa entre todas as partes afetadas e, acima de tudo, um apoio real do
setor produtivo, o maior interessado na sustentabilidade da atividade.
Uma questão é central na relação entre ciência e regulação do uso dos recursos pesqueiros,
seja ela inadequada ou insuficiente: o estado dos estoques explotados, principalmente quando tais
conclusões apontam ou constatam sobrepesca, nem sempre consegue ser entendido pelos
pescadores ou mesmo chegar a convencê-los da necessidade de serem tomadas fortes medidas de
restrição a suas atividades. Desse modo, proteger os estoques passa a ser ponto de conflito entre
produtores e tomadores de decisão no âmbito das agências reguladoras, esses quase sempre
alinhados com as conclusões da ciência. O problema na pesca é que, em determinadas condições
tecnológicas, gera benefícios extraordinários que atraem novos investidores.
Assim, no processo de implementação da gestão participativa as respostas dos modelos bioeconômicos podem transformar-se em importantes instrumentos para se conscientizar o setor
produtivo da necessidade de tornar sustentável a atividade, pois em se conhecendo o estado do
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
recurso biológico e a estrutura econômica usual, incorporam-se discussões fundamentais sobre
espécies, estoques, frota pesqueira, distribuição geográfica da frota, o grau de integração entre a
pesca artesanal e a pesca industrial e alguns importantes instrumentos e ferramentas de gestão.
Essas variáveis permitem compreender as características gerais da pescaria em análise e contribuem
para a construção de um modelo adequado a cada específica situação biológica e econômica, de
acordo com os instrumentos locais disponíveis.
O principal passo a se adotar para o estabelecimento de um sistema de gestão deve ser
aquele que permita a efetiva aplicação (e não apenas legal) das regulamentações e só depois
devemos iniciar os debates sobre medidas técnicas, pois não tem sentido discutir sobre medidas de
gestão concretas quando é evidente que o controle de seu cumprimento é muito difícil, para não
dizer impossível (Freire, 2000). Sem a participação do agente produtor, não há possibilidade alguma
de acompanhar e aplicar medidas de regulamentação pesqueira. É impossível acompanhar e
fiscalizar mais de 60.000 embarcações, de todos os tipos e tamanhos, existentes ao longo da costa
brasileira. Por outro lado, ao processo de co-gestão não implicaria uma diminuição das funções das
autoridades públicas, pois na formação do coletivo se fortalece o todo. A co-gestão também é
defendida por Marrul Filho (2001) como um processo viável para o estabelecimento de um sistema
cujo paradigma é o fortalecimento social e comunitário e para gerar sustentabilidade no uso dos
recursos pesqueiros.
A utilização das ferramentas bio-econômicas aqui apresentadas esta longe de estabelecerem
um sistema de gestão ótimo para a pesca artesanal e de pequena escala, mas podem se transformar
em um instrumento poderoso para uma melhor compreensão da existência ou não de equilíbrios
biológicos e econômicos nos sistemas de pesca atualmente em vigor. Pode-se, igualmente, melhor
entender a susceptibilidade dos estoques aos processos antropogênicos e, ainda mais, as fragilidades
e estágio crítico dos sistemas institucionais e produtivos para evitar o excessivo esforço de pesca e a
sobrexplotação a que estão submetidos os principais estoques de importância econômica, levando a
uma ineficiência econômica, pois são resultados da falta de planejamento e gestão. Esses fatos são
corroborados pelos argumentos levantados por Freire & García-Allut (2000), que defendem que os
paradigmas biológicos e sócio-econômicos aos quais as políticas de gestão estão fundamentadas não
são adequados aos contextos existentes na pesca artesanal, e por Ludwig et al. (1993), para quem os
problemas com os recursos pesqueiros não são realmente problemas ambientais, mas problemas
antropogênicos que criamos no tempo e no espaço, dentro de uma variedade de sistemas políticos,
sociais e econômicos.
Os resultados obtidos com a aplicação de modelos bio-econômicos podem permitir o
usufruto conjunto de conhecimentos para a toma de decisões. A administração pode obter melhores
informações sobre o equilíbrio biológico dos estoques pesqueiros e econômica das frotas pesqueiras
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dos trabalhos realizados pela comunidade cientifica e uma maior compreensão das estratégias de
pesca através do conhecimento empírico dos pescadores, para a definição e implementação de
medidas de gestão para o desenvolvimento da atividade. Equilíbrios biológicos e econômicos são
objetivos a serem perseguidos e mantidos, na busca da sustentabilidade da atividade, através da
análise conjunta da implementação de medidas de conservação que encoraje a redução do atual
nível do esforço de pesca, juntamente com medidas que atendam às demandas dos pescadores, ou
seja, a implementação conjunta de medidas de gestão biológica, econômica e técnica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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68
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
A PISCICULTURA NO RIO SÃO FRANCISCO: É POSSÍVEL CONCILIAR O USO
MÚLTIPLO DOS RESERVATÓRIOS?
Maria do Carmo Figueredo SOARES1*; José Patrocínio LOPES2; Rogério BELLINI3;
Débora Queiroz MENEZES4
1
Departamento de Pesca e Aqüicultura da UFRPE
2
Companhia Hidro Elética do São Francisco-CHESF
3
Netuno Pescados Ltda.
4
Piscicultura Necton
*[email protected]
RESUMO
Resumo - Os dados, que são apresentados, resultam de uma visita técnica realizada pelo grupo do
Programa de Educação Tutorial (PET) do Curso de Engenharia de Pesca da Universidade Federal
Rural de Pernambuco, que realizou observações in loco dos empreendimentos aqüícolas da região
do submédio São Francisco. Foram descritas as principais atividades executadas, visitadas com
auxílio dos técnicos que atuam na região, bem como refletir sobre a tilapicultura e o uso múltiplo
dos reservatórios, no contexto da implementação do desenvolvimento da aqüicultura, com
aproveitamento das potencialidades econômicas e sociais endógenas, numa perspectiva sustentável
e participativa.
PALAVRAS-CHAVE: Tilapicultura, Reservatórios, Associações, Cooperativas e Tanques-rede.
THE PISCICULTURE IN THE SÃO FRANCISCO RIVER: IS IT POSSIBLE TO CONCILIATE
THE WATER TANKS` MULTIPLE UTILIZATION?
Abstract - The datums that are exposed in this work proceed from a technical inspection made by
the group of the Program of Tutorial Education (PTE) of the Federal Rural University of
Pernambuco`s Fishery Engineering Course, which made in loco observations of the aquicolous
enterprises located in the São Francisco River´s submedium path. The mentioned group made a
description of the principal spots surveyed with the help of all experts that word in the region, and
alto made a reflection about the tilapiaculture and the multiple use of the water tanks comprised in
the context of the implementation of the aquiculture´s development, including the good use of the
endogenous economic and social potentialities, under a sustainable and participant perspective.
Keywords: Tilapiculture, Reservoir, Associations, Cooperatives, Ponds-nets
INTRODUÇÃO
Na região nordeste do Brasil, nas fronteiras dos Estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e
Bahia, que apresentam temperaturas elevadas e uniformes durante todo o ano, tornando possível à
piscicultura com espécies tropicais, resultando em altos índices de produtividade vem se
69
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
desenvolvendo especificamente a tilapicultura, ou seja, a criação da tilápia-do-nilo Oreochromis
niloticus, linhagem Chitralada.
Considerando a pesca continental, a região Nordeste é a segunda maior produtora de
pescado de água doce do país, cujo desempenho se deve principalmente aos mais de 70 mil açudes
com área superior a mil m2, existente na região (Lazzaro et al., 1999). Durante várias décadas, o
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), desenvolveu programas de
peixamento (trata-se de uma piscicultura de povoamento e re-povoamento) nos reservatórios.
Estima-se que mais de 100 milhões de alevinos, procedentes de diversas regiões do Brasil e muitas
espécies exóticas tenham sido transferidos para esses reservatórios (Lazzaro et al., 1999). Existem
registros de que os primeiros peixamentos dos açudes do DNOCS com a tilápia-do-nilo foram
realizadas em 1973.
Tanto que, nos açudes públicos do Nordeste, os recursos pesqueiros mais importantes são a
tilápia nilótica, Oreochromis niloticus, espécie introduzida da África, que representa segundo Paiva
et al. (1994), 26% do total das capturas; os camarões de água doce, Macrobrachium spp., com 11%;
o tucunaré comum, Cichla monoculatus, 10,9%; a curimatã-comum, Prochilodus brevis (= P.
cearensis), 6,4% e a pescada-do-piauí, Plagiosion squamosissimus, 2% .
Neste contexto, a bacia do rio São Francisco é uma referência obrigatória de pesca, onde se
pratica tanto a pesca de subsistência quanto a comercial. O rio São Francisco apresenta 2.780 km de
extensão, passando por sete Estados, onde ocorrem onze represamentos, com área alagada que
corresponde à cerca de 23,3% da área represada no país (PLANVASF, 1989). Estima-se em
600.000 ha a superfície do espelho d’água do curso principal, dos afluentes, dos reservatórios das
hidrelétricas e das barragens públicas e privadas, sendo grande o potencial para o desenvolvimento
da aqüicultura na região6.
Nos trechos livres da bacia, as espécies mais valorizadas nas pescarias são as migradoras de
grande porte, como o surubim, Pseudoplatystoma corruscans, o curimatã, Prochilodus argenteus, e
o dourado, Salminus brasiliensis.
Os reservatórios que alimentam as hidrelétricas da Companhia Hidro Elétrica do São
Francisco (CHESF), armazenam mais de 50 bilhões de metros cúbicos nas barragens das usinas de
Sobradinho, Luiz Gonzaga (antiga Itaparica), complexo de Paulo Afonso (I, I, III e IV), Moxotó,
Xingó e Boa esperança. O submédio São Francisco, região fisiográfica que se estende de Remanso
até a cidade de Paulo Afonso (BA), inclui os reservatórios de Itaparica (atual Luiz Gonzaga, em
homenagem ao rei do baião), Moxotó, Paulo Afonso I, II, III e Paulo Afonso IV, o que representa,
um enorme potencial aquático considerando ainda que a região estar situada no semi-árido
nordestino, daí a expressão: “o sertão vai virar mar” do cancioneiro popular.
70
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Entretanto, os estoques dos rios e reservatórios estão em declínio por muitas razões: várias
espécies nativas são migratórias e, a maioria das barragens no Brasil alterou o habitat destas
espécies, interferindo no seu ciclo de vida. A agricultura, a poluição doméstica e industrial com
fechamento das ligações entre lagoas e rio pelos fazendeiros, também contribuíram para a
destruição e poluição destes locais. Os peixamentos de rios e reservatórios, com espécies nativas
são feitos legalmente por companhias hidrelétricas e governo. Mas às vezes, também foram feitos
ilegalmente (embora bem intencionado), com espécies introduzidas por pescadores, amadores e
grupos da comunidade.
A piscicultura em tanques-rede surgiu como uma resposta para o aumento da produção
aqüícola, principalmente nas regiões do submédio e baixo São Francisco, onde se localizam
projetos nos Reservatórios de Xingó, Itaparica e Paulo Afonso, nos municípios de Paulo Afonso,
Delmiro Gouveia e Canindé de São Francisco, nas fronteiras dos estados de Pernambuco, Bahia,
Alagoas e Sergipe. Além disto, um empreendimento de grande porte (AAT Internacional, para
engorda de tilápias em Paulo Afonso-BA, em sistema raceways, utilizando a tilápia, da linhagem
chitralada) tem contribuído para a implementação da produção. Apesar de ter sido implantado
visando, sobretudo a exportação, atualmente o grande mercado é o interno, com uma produção
destinando-se ao Estado do Ceará.
Entretanto, co-existem na região a forma mais artesanal, para engorda desta espécie,
realizada por associações de produtores e cooperativas, alguns dos quais pescadores e/ou pessoas
que viviam da pesca na região, e foram se transformando em produtores de peixes, utilizando-se de
tanques-rede, gerenciados pela própria comunidade de forma participativa e os grandes grupos
empresariais que implantaram o projeto Tilápia São Francisco.
Considerando a experiência e a diversidade das formas de piscicultura presentes na região há
que se pensar numa cadeia produtiva com espaço para as espécies nativas, principalmente oriundas
da bacia do São Francisco6 e, da espécie exótica que foi introduzida, a exemplo da tilápia, já
considerada uma espécie naturalizada, sendo criada tanto em larga, como pequena escala. A tilápia
tem mantido o sustento de várias comunidades do interior desta região, onde muitas vezes é o único
peixe produzido tendo uma importância social imensa, pois permite que o alimento de origem
animal chegue ao prato de uma população mais carente e, ultimamente se tornou um importante
recurso da pauta de exportação do país.
Assim, o foco deste artigo técnico será a caracterização da atual situação da piscicultura
nesta região do São Francisco, destacando-se o que vem sendo observado por pesquisadores e
técnicos que vivenciam atividades no local, além de observações, oriundas de visita técnica
6
Conheça a Bacia do São Francisco: Disponível em: http:// <www.franave.com.br/site/modules
71
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
realizada pelo grupo do Programa de Educação Tutorial do Curso de Engenharia de Pesca
(PET/Pesca) da UFRPE, no período de 16 a 18 de abril de 2007.
PROJETO TILÁPIA SÃO FRANCISCO
Uma primeira e, única etapa de implantação do Projeto Tilápia do São Francisco da AAT
Internacional Ltda, empresa do grupo MPE (Valença da Bahia Maricultura S.A. e a Maricultura da
Bahia S.A) e a empresa americana Arraina, Inc., aconteceu com a sua inauguração em 22 de março
de 2002, localizada a jusante da barragem de Moxotó, no Município de Paulo Afonso na Bahia. O
principal objetivo era explorar o grande potencial aqüícola das barragens do São Francisco, em
especial as de Paulo Afonso, para criação, industrialização e comercialização da tilápia para os
mercados externo e interno7.
Esta empresa contou com o suporte técnico, científico e biotecnólogico de especialistas
norte-americanos para garantir tecnologia de ponta e a renovação e aprimoramento das técnicas a
serem utilizadas na produção da tilápia. Outro investimento do grupo MPE em Paulo Afonso, em
parceria com empresários equatorianos foi a empresa Centermar, uma fábrica de ração para peixes e
camarões.
O projeto Tilápia do São Francisco foi concebido para abranger todas as fases do processo
produtivo, que incluía desde a produção de alevinos, a engorda de tilápias revertidas sexualmente
em sistemas de raceways e o processamento, a industrialização e a comercialização dos produtos
nos mercados internacional e nacional.
Na unidade implantada em Moxotó, numa área de 33,47 hectares localizada a jusante da
barragem, estão o Centro Integrado de Genética e Produção de alevinos, uma bateria de raceways
com 104 tanques de cada lado, totalizando 208 unidades, o Centro de Tecnologia Aplicada e uma
área de administração. Foi também instalada a Unidade de Processamento e Industrialização do
Pescado, numa área de 16,41 hectares, localizada a jusante da barragem de Paulo Afonso IV.
Atualmente, a empresa vem trabalhando com o sistema de criação intensivo em raceway,
tendo sido implantado apenas 1/3 da capacidade prevista no projeto inicial. Nos 208 tanques
submetidos a uma vazão de 30 m3 de água / segundo é feita a engorda de tilápias. Os tanques foram
construídos em série. A partir do primeiro tanque, onde ocorre a entrada da água existindo mais três
tanques abaixo, sendo o primeiro povoado numa taxa de densidade de 6.000 tilápias/tanque, o
segundo com 5.000, no terceiro 4.000 e o último com 3.000 peixes/tanque. Esses tanques têm o
formato retangular e aproximadamente 30m3, havendo renovação total do volume d’água de cada
um, durante 8 minutos.
7
Panorama da AQÚICULTURA, março/abril, 2002.
72
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
A diferença na taxa de estocagem é uma forma de manejo necessária devido à quantidade de
oxigênio dissolvido, que tende a diminuir à medida do distanciamento da entrada de água e da
própria qualidade da água ao longo do circuito. Os peixes estão levando em média, 6 a 7 meses,
para atingirem o peso de 700g, com uma taxa de mortalidade média de 10%. (Comunicação pessoal
dos técnicos tratadores durante a visita).
O sistema de alimentação é livre, utilizando comedouros automáticos, tipo carboy, com
capacidade para 50 litros de ração cada um, havendo dois comedouros por tanque. Estava sendo
ofertada ração com 30% de proteína bruta nesta fase. Os peixes condicionaram-se a bater numa
vareta (haste de metal, responsável pela abertura e fechamento da passagem da ração nestes
compartimentos), quando necessitam de alimento, entretanto foi verificado in loco pelo grupo, que
o sistema não estava funcionando muito bem, pois apresentava defeitos, estando entupidos, o que,
não permitia as tilápias, o arraçoamento necessário, promovendo um certo estresse.
A empresa dispõe de laboratório de reprodução, tendo os reprodutores sidos importados de
uma linhagem melhorada, a variedade QAAT, desenvolvida no Arizona-EUA (Ainda conservam
um lote destes reprodutores, aproximadamente 300 exemplares, que são alimentados com ração
contendo 40% de PB). Todo o ciclo de produção de alevinos é realizado no interior deste
laboratório, sob a forma de um grande galpão, onde estão instalados o escritório, os tanques de fibra
(circulares e retangulares), as incubadoras e aquecedores de água. Estão sendo produzidos 800 mil
alevinos de tilápia/mês, com peso médio de até 1,5g. Estes alevinos são utilizados pela própria
empresa e o excedente comercializado entre os produtores da região (Comunicação pessoal).
A reprodução das tilápias é feita em hapas, onde se colocam os machos e fêmeas, sendo os
ovos coletados da boca da fêmea a cada nove dias. O manejo da reprodução compreende a reversão
sexual das tilápias com o hormônio masculinizante (17 alfa-metil testosterona) adicionado à ração,
sendo também acrescentados a vitamina C e o aminoácido metionina visando fortalecer o sistema
imunológico dos alevinos e dar uma melhor performance de crescimento.
A temperatura da água é mantida em torno de 30 a 31°C para a eclosão das larvas,
utilizando-se aquecedores para controle da temperatura ideal. É feita uma contagem das larvas
eclodidas através da estimativa volumétrica, onde em cada 10mL, há um número médio de 1000
larvas. Após eclodirem, as larvas são levadas para uma bandeja por 2 a 3 dias até o consumo do
saco vitelínico, sendo posteriormente transferidas para calhas, onde tem inicio o processo de
reversão sexual, permanecendo nas mesmas por 10 dias e, depois seguindo para tanques de 10.000L
onde passam mais 20 dias, concluindo-se a reversão sexual em 30 dias.
73
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS
ASSOCIAÇÕES
Existem vários problemas que atingem o setor produtivo da aqüicultura no país com
distintas origens. Entretanto, a grande incapacidade para resolver esses problemas tem uma base
comum: as dificuldades históricas e culturais que o setor demonstra para se organizar. Grande parte
das associações de aqüicultores só existe no papel. Há casos de associações que contam com vários
sócios, que nunca compareceram as reuniões. Em outras, existe a inadimplência em relação à
mensalidade ou anuidade.
As associações costumam ser formada em um momento de grande euforia em relação à
atividade, mas, à medida que o tempo passa, o interesse vai diminuindo e falta continuidade das
atividades. Isso ocorre até mesmo nos casos em que os associados poderiam gozar de algum tipo de
benefício pessoal, como a compra de rações sem o pagamento do ICMS. Ainda existe um acentuado
individualismo no setor produtivo.
Entretanto, na região do submédio São Francisco, algumas associações estão prosperando, a
exemplo da Associação Jovens Criadores de Tilápias, no Município de Jatobá –PE, com orientação
do Padre Antônio, através da Diocese de Floresta (PE), que fez um empréstimo inicial de R$
200.000,00 (duzentos mil reais), com aproximadamente 12 associados e, vem se dedicando a
criação de tilápias em tanques–rede. Os associados trabalham diretamente no empreendimento,
revezando-se em turnos, e tem tido uma renda mensal de aproximadamente dois salários mínimos,
sendo uma parte da verba recolhida com a venda dos peixes, reservada para o pagamento do
empréstimo que estará sendo quitado neste mês de maio/2007.
Com o pagamento do empréstimo pelos associados, há a possibilidade de implementação de
outros financiamentos, não se concretizando em empréstimo a fundo perdido, mas estimulando o
retorno do capital investido para beneficiar outros produtores. Assim, outras cinco associações estão
surgindo com a mesma dinâmica de produção, tendo como modelo esta primeira associação bem
sucedida.
Todo o trabalho da piscicultura nesta associação é realizado indiscriminadamente por seus
associados, sejam eles mulheres ou homens. Está composta atualmente por 12 associados, mas esse
número pode variar de 10 a 15. Não há associados que pertença à mesma família para evitar maior
beneficiamento a uma determinada família. São feitas reuniões diárias para repasse de informações
entre as pessoas que estão trocando de turno para o bom andamento das atividades e serviços a
serem desempenhados. São ainda, realizadas reuniões semanais mais longas, onde após discussão as
decisões são tomadas em grupo, numa forma de gerenciamento participativo envolvendo todos os
participantes.
74
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Os associados se revezam entre as posições administrativas, não permanecendo mais de um
mês em cada função. Não é admitido o trabalho de pessoas não associadas na piscicultura, para
evitar problemas com questões trabalhistas. Na propriedade a produção pertence a todos, não há
divisões. A associação já tem as outorgas da Agência Nacional das Águas (ANA), licença ambiental
da Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH), licença da marinha, CHESF e
Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP), apenas estar faltando à concessão de uso da
água pública da união (Comunicação pessoal).
A estrutura atual desta associação possui 65 tanques-rede circulares de 12 ou 14 m3, não
havendo interesse de ampliação, pois o projeto foi projetado para essa quantidade. Alimentam as
tilápias com ração contendo 32% de proteína bruta, ofertada ad libitum, ao longo de todo o dia, não
havendo horários fixos para alimentação, que é feita de acordo com o consumo dos peixes. Têm-se
obtido taxas de conversão alimentar variando entre 1,4 a 1,45. É feita inclusão de vitamina C na
ração, principalmente, antes de períodos de liberação de água da barragem, a fim de fortalecer o
sistema imunológico dos peixes acrescentando-se PREMIX vitamínico e mineral, após a liberação
da água para reabilitação.
Os alevinos para engorda nos tanques-rede são adquiridos com aproximadamente 1g de peso
total, sendo repicados em tanques telados, até atingem 10, 50 e 100g respectivamente. Ao
alcançarem 100g são classificados visando otimizar a produção, povoando-se os tanques-rede numa
densidade de 2.000 alevinos/tanque. Num período de 6 meses os alevinos maiores atingem 1kg e os
menores necessitam de 7 a 7,5 meses para alcançarem o mesmo peso. Estimam que os peixes mais
desenvolvidos dobrem de peso a cada semana.
Comercializam o peixe vivo, ou eviscerado, enterrando as vísceras. Estão estudando a
possibilidade de iniciar uma criação de dourado, de forma a utilizar as vísceras da tilápia na
alimentação dos mesmos e, também desejam fazer compostagem com essas vísceras.
Com a liberação de água das barragens costumam ter problemas relacionados às correntezas,
fazendo uma modificação da posição dos tanques-rede para evitar problemas em relação ao
soerguimento das telas, levando os peixes à superfície. Estes associados vêm adquirindo uma forma
prática de manejo a partir da convivência com o ambiente e a sua administração, gerenciando e
cuidando do recurso pesqueiro.
COOPERATIVA
Uma figura jurídica que também viabiliza as pequenas propriedades é a cooperativa. O
problema é que um grande número de cooperativas brasileiras, historicamente gerenciadas em
moldes muito centralizados, pouco voltados para o interesse dos cooperados, passa por momentos
de séria crise financeira. Isso acaba naturalmente tendo um efeito adverso sobre o setor produtivo.
75
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Assim, existe um projeto de cooperativas na área de piscicultura implantada pela Bahia
Pesca, em parceria com a Prefeitura Municipal de Paulo Afonso e associações de pequenos
produtores rurais para instalação de tanques-rede visando à produção de tilápia. Existem registros
de 1,5 mil tanques já instalados, encontrando-se em fase de legalização, sendo um projeto de
referência nacional, aonde vem se destacando o desempenho alcançado, o aprimoramento das
técnicas de manejo e a profissionalização de pequenos produtores que chegam a obter
produtividades variando de 240 kg/tanque-rede/ciclo até 800 kg/tanque-rede/ciclo. Indiretamente a
piscicultura em tanques-rede na região beneficia aproximadamente 100 famílias8.
Um exemplo de cooperativa visitada foi a Associação dos Pequenos Produtores e dos
Piscicultores de Malha Grande, localizada em Paulo Afonso na Bahia. Trata-se uma cooperativa
iniciada recentemente, que possui 400 tanques redes de 4 m³ cada, distribuídos em um canyon com
profundidade oscilando entre 80 e 100m. Devido a recente abertura das comportas e conseqüentes
alterações das variáveis físicas e químicas da água, ocorreu uma perda total da produção com
mortalidade dos peixes, encontrando-se a atividade em fase de re-estruturação. A mortalidade
iniciada no mês de fevereiro de 2007 foi ocasionada por mudanças na qualidade da água,
comentando-se sobre a possibilidade de hipersaturação gasosa.
MORTALIDADE DE PEIXES NO SUBMÉDIO SÃO FRANCISCO
É preciso considerar que a atividade de piscicultura em tanques-rede nos grandes
reservatórios envolve riscos e necessita de melhor regularização, afinal trata-se da utilização de
águas públicas continentais de domínio da União.
Apesar de toda uma argumentação de que a criação dos peixes em tanques–rede nos
reservatórios é sustentável e agride menos o ambiente, sendo um enorme potencial para produção
aqüícola, faltam definições da capacidade suporte de cada reservatório e necessidade de
desenvolvimento de técnicas de manejo que garantam o uso múltiplo deste ambiente, contribui para
formação de verdadeiros parques aquáticos, bem administrados e operacionalizados em termos de
controle de vazão e sistemas de prevenção.
Algumas manchetes já saíram publicadas, noticiando: Chuvas e Verão causaram Prejuízos a
Piscicultores9, destacando: “na primeira semana de janeiro de 2002, os piscicultores de Paulo
Afonso foram surpreendidos por uma forte chuva que causou grandes prejuízos. Vários associados
perderam toda sua produção de tilápias, assim como suas estruturas de tanques-rede, embora a
Prefeitura até tentasse remediar a situação através de auxílio financeiro, mas acontecimentos deste
tipo têm desestruturado a atividade”.
8
Dados extraídos do Relatório da Mortandade de peixes em 2007 nos cultivos em tanques redes no reservatório de
Xingo, Município de Paulo Afonso-BA.
9
Panorama da AQUICULTURA, janeiro/fevereiro, 2002
76
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Há também registros do tipo: “com a abertura dos vertedouros das usinas Paulo Afonso IV,
Moxotó e da Cachoeira de Paulo Afonso, em janeiro de 2004, que provocou um aumento de vazão
da ordem de 400%, atingiram-se várias unidades de criação em tanques–rede, causando a morte dos
peixes e novo prejuízo para os piscicultores”. Novamente com a abertura dos vertedouros das
mesmas usinas, em janeiro de 2007, novas mortalidades de peixes foram registradas, não somente
dos tanques-rede, mas a própria ictiofauna do São Francisco é afetada.
Portanto, esses problemas de mortalidade de peixes no submédio São Francisco estão
ocorrendo e, aparentemente, até de forma cíclica. É necessário que os mesmos, sejam mais
estudados e melhor documentados em laudos oficiais para que providências oficiais possam ser
tomadas, com a participação das instituições que atuam no setor, buscando estratégias para
equacionar a problemática. Nesta última mortalidade de 2007, segundo dados do relatório de
mortandade, op cit, contabilizou-se aproximadamente 297 toneladas de peixes mortos,
representando um prejuízo de R$ 980 mil, o que causa sérias conseqüências aos grupos de pequenos
produtores (associados e/ou cooperados) que têm na piscicultura a única alternativa de geração de
ocupação e renda na região.
ESTAÇÃO DE PISCICULTURA DA CHESF
A Estação de Piscicultura da CHESF em Paulo Afonso tem uma área de 160.000m²,
possuindo 42 tanques para alevinagem, 15 viveiros de larvicultura, 10 incubadoras para ovos livres
e 20 incubadoras para ovos adesivos. Dispõe de laboratório e pavilhão de hipofisação, além de
aquários e equipamentos necessários ao manejo dos peixes.
Em função do represamento de águas do rio São Francisco, as espécies de peixes reofílicos
sofreram grande impacto, isto porque foram impedidas de subir as águas para realizar a migração
reprodutiva. Visando contornar este impacto, a piscicultura da CHESF realizou a reprodução
artificial de várias espécies do rio São Francisco, como: a curimatã-piau, Prochilodus costatus;
piau-verdadeiro,
Leporinus
obtusiden;
piau-lavrado,
Schizodon
fasciatus;
surubim,
Pseudoplatystoma corruscans; pacamã, Lophiosilurus alexandri, dourado, Salminus brasiliensis;
dentre outras.
Também utilizaram técnicas para repovoamento dos lagos utilizando: tilápia-do-nilo,
surubim, dourado, pacamã, apaiari (Astronotus ocellatus) e, tambaqui (Colossoma macropomum).
Existe um pequeno museu com espécimes de diferentes filos, animais marinhos fixados, que
podem ser observados pela comunidade local, distante do mar, como um atrativo e serviço da
companhia.
Atualmente o objetivo principal desta estação é a reprodução e repovoamento de espécies
nativas do rio São Francisco, como curimatãs, piaus, dourado, pacamã e surubim.
77
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
EMPREENDIMENTOS PARTICULARES: O EXEMPLO DA PISCICULTURA NECTON
O empreendimento fica localizado no município de Jatobá no Estado de Pernambuco,
atualmente administrado pela Engenheira de Pesca Débora Queiroz, ex-integrante do PET/Pesca da
UFRPE. É produzida a tilápia em tanques-rede, numa área do Reservatório de Moxotó. Há 6
funcionários fixos, além de outros temporários. Existem 44 tanques rede, com volumes de 14 m³, 25
m3 e 50m3, com formatos circulares, quadrangulares e retangulares, respectivamente, colocados a
uma profundidade média de 8m, fixados através de cabos long line e passarelas flutuantes. O
projeto visa à implantação de 300 tanques-rede, entretanto ainda não se obteve o licenciamento para
a expansão.
O acesso aos tanques-rede é feito através de pequenos barcos. O arraçoamento é realizado 6
vezes ao dia para a engorda e, 8 vezes nos tanques com alevinos, que são adquiridos já na fase II,
possuindo peso médio de 30g a um produtor de Paulo Afonso
Os alevinos são mantidos em tanques-rede berçários até atingirem 100g, sendo alimentados
durante este período com uma ração contendo 36% de proteína bruta. Uma vez atingido o peso de
100g, há uma repicagem, com sua transferência para os tanques-rede definitivos, onde ocorrerá a
engorda utilizando ração com 32% de PB. Após sete meses, os peixes atingem o peso final para
comercialização variando de 850 a 900g.
Durante a despesca, os tanques-rede são deslocados até às proximidades da margem, sendo
as tilápias comercializadas vivas. Os peixes são colocados em caminhão que possuem cinco caixas
isotérmicas d’água, supridas com oxigênio (transfish), cuja capacidade de cada caixa é de 2.400 L,
sendo transportadas para a fábrica de beneficiamento da Netuno Pescados Ltda.
Uma pequena casa funciona como escritório e local para armazenamento da ração e
utensílios. A quantidade de ração administrada é calculada segundo recomendação do fabricante.
Durante a primeira semana, após o povoamento com os alevinos (30g), estes são alimentados com
ração enriquecida com vitamina C, na proporção de 4g/kg, onde é utilizado óleo vegetal (óleo de
cozinha) como aglutinante. A ração enriquecida com vitamina C, também é fornecida aos peixes
após a realização das repicagens para fortalecimento do sistema imunológico.
CENTRO DE APOIO AO PRODUTOR (CAP) DA NETUNO
Está sendo implantado em Petrolândia-PE o Centro de Apoio ao Produtor (CAP) onde foi
possível observar viveiros escavados para a produção de alevinos de tilápia I e II, num total de 11
viveiros de 250 m2 e 22 viveiros de 750 m2. Estavam também, em processo de construção, um
grande reservatório em cota mais elevada para abastecer os viveiros por gravidade e uma bacia de
decantação. O projeto prevê ainda a instalação de 3.000 tanques, em três áreas com 1.000 tanques
cada.
78
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
O objetivo deste empreendimento é fornecer alevinos e juvenis de tilápia na região (do tipo
alevino I e II) incentivando, assim a criação da espécie em tanques-rede. Há uma perspectiva de
produção em torno de meio milhão/alevinos de tilápia/mês, após a entrada em funcionamento deste
centro. Os alevinos serão destinados para atendimento da engorda do próprio Centro e
comercialização com os produtores locais.
FÁBRICA DE BENEFICIAMENTO DA NETUNO PESCADOS
O projeto Tilápia São Francisco inicialmente previa fechar toda a cadeia produtiva da tilápia
e construiu a Unidade de Processamento e Industrialização do Pescado, com grande capacidade de
beneficiamento, com uma planta processadora dotada de modernos equipamentos para
beneficiamento, conservação e embalagem de peixes. Essa unidade ficou superdimensionada se for
levado em consideração, que a fazenda produtora teve sua capacidade implantada reduzida para um
terço da capacidade inicialmente planejada. Assim, começou a haver ociosidade do setor e esta
unidade foi vendida para Netuno Pescados Ltda.
Atualmente a unidade transformou-se numa fábrica de beneficiamento da Netuno Pescados
Ltda, a Alimentos SA, sendo um centro de processamento do pescado pertencente ao grupo Netuno,
beneficiando aproximadamente 9 a 10 toneladas de tilápia por dia, utilizando para isto, as normas
internacionais estabelecidas pela Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC).
Assim, a Netuno tem adquirido quase toda a produção de tilápia dos produtores da região do
submédio São Francisco e processado, ainda um volume aquém de sua capacidade, que pode chegar
a 30 toneladas/dia, trabalhando-se em três turnos.
Toda a linha de processamento e beneficiamento ocorre de forma retilínea para evitar a
contaminação cruzada. O processo tem início com a recepção das tilápias que são colocados em
tanques e, transferidas para o interior da fábrica, onde os peixes são sangrados para o
branqueamento da carne e, depois colocados numa esteira que conduz a máquina descamadora,
retirando-se as escamas e excesso de sangue, permanecendo neste circuito por cerca de 10 minutos.
Posteriormente ocorre a classificação de acordo com o peso do animal, feita em uma máquina
que pesa automaticamente e seleciona-os por peso desejado, o que varia, mediante o produto a ser
ofertado (peixe inteiro congelado com ou sem cabeça; posteados, filetados, etc).
No setor de filetagem é retirada a pele do peixe, numa máquina processadora, sendo filetado
manualmente, com rendimento de 31- 32%, produzindo filés de 120 a 150g. O rendimento do filé
utilizando a máquina de filetagem é menor, ficando em torno de 26%, daí a opção pela forma
manual. O filé pode ser vendido fresco, congelado e congelado temperado com pimenta do reino
sem uso de sal. Foi comunicado pessoalmente que as tilápias procedentes da AAT estavam
produzindo um filé de menor rendimento (28%) quando comparadas as tilápias produzidas pelos
associados e produtores da região em tanques-rede (31-32%).
79
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
A carcaça do peixe resultante da filetagem é aproveitada passando-se numa máquina
despolpadeira, sendo as polpas retiradas, acondicionadas em embalagens de 2kg, podendo ser
utilizada para fazer carne de hambúrguer, salames e almôndegas, ou seja, agregando valor ao
produto.
Os demais dejetos atualmente são descartados, mas a Netuno está fazendo um convênio com
a fábrica da Purina, que fica ao lado, para que esses dejetos sejam aproveitados como fonte protéica
na fabricação de ração. Também estar construindo uma estrutura no parque industrial, que deverá
transformar todo o rejeito em farinha de peixe e óleo para ser utilizado como biodísel.
A indústria dispõe de duas fábricas de gelo e de uma estrutura para a pré-embalagem e
embalagem dos produtos oferecidos, sendo o carro chefe do processamento nesta unidade, a tilápia.
Atualmente os maiores fornecedores de tilápia para a empresa são produtores de Itacuruba (PE),
(uma fazenda do grupo Netuno) e de Nova Glória (BA).
Aparentemente, todos os subprodutos de descarte do processamento das tilápias podem ser
utilizados: a cabeça já vem sendo usada como isca para a pesca da lagosta; as vísceras podem ser
empregadas em ração de suínos; a pele em indústria de beneficiamento de couro e as escamas para
o artesanato; embora, esse aproveitamento integral ainda não esteja ocorrendo.
A ENGENHARIA DE PESCA NA UNEB EM PAULO AFONSO
A Universidade Estadual da Bahia (UNEB), está presente geograficamente em todos as
regiões do Estado da Bahia, estruturada no sistema multicampi.
Atualmente encontra-se em
funcionamento, no campus VIII da UNEB (Paulo Afonso), cinco curso de graduação: Licenciatura
em Pedagogia (o mais antigo); Licenciatura em Matemática; Licenciatura em Biologias e os
bacharelados em Engenharia de Pesca e Direito.
O curso de Engenharia de Pesca foi implantado em 1998, tendo iniciado a primeira turma
em 08/03/1999 . A carga horária mínima é de 3.180h, num regime letivo semestral com 40 vagas. A
primeira turma, com 21 alunos, concluiu em outubro de 2003, colando grau de uma forma criativa,
durante o Congresso Nacional de Engenharia de Pesca (CONBEP), realizado em Porto Seguro(BA).
O curso tem uma temática voltada para os ecossistemas dulciaqüícolas, haja vista o entorno
ser o rio São Francisco. Encontra-se em construção, no interior deste campus, o Centro Tecnológico
em Aqüicultura, o que virá estruturar melhor as atividades de ensino e pesquisa nesta área. Há
também um anseio da academia para implantação de um curso em nível de pós-graduação. Quem se
encontra respondendo pela Direção desse campus da UNEB é a Engenheira de Pesca Fátima Lúcia
de Brito, responsável pela gestão 2006/2008.
Foi interessante observar jovens engenheiros de pesca formados neste curso da UNEB,
exercendo sua profissão localmente, a exemplo de profissionais que estão trabalhando na AAT
80
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Internacional. É claro que a pesquisa, o ensino e a extensão na área da Engenharia de Pesca
precisam ser fortalecidos e priorizados, numa região de tão grande potencial. Ciência, tecnologia e
setor produtivo precisam caminhar juntos na busca de um desenvolvimento sustentável para o setor.
Um dos aspectos positivos para a consolidação deste curso em Paulo Afonso é a própria
necessidade local para a formação de um contingente de técnico com conhecimentos específicos,
em condições de contribuir para que essa região torne-se um dos principais pólos produtores de
tilápia do país.
Durante a visita técnica do grupo PET/Pesca à região foi possível conhecer as instalações do
campus VIII da UNEB e, realizar uma reunião envolvendo a direção e os coordenadores de cursos
com o intuito de apresentar as atividades do Programa de Educação Tutorial, existente em vários
cursos e universidades brasileiras, destacando sua filosofia e princípios e sua possibilidade de
ampliação junto a outros cursos de graduação.
Essa reunião visou estimular o corpo docente da UNEB para apresentarem propostas de
criação de grupos PET, no âmbito dos cursos, com ênfase para o fortalecimento do Curso de
Engenharia de Pesca daquela IES. Depoimentos de dois bolsistas e exposição da tutora do grupo
esclareceram diversas dúvidas dos professores, informando sobre o PET e o edital específico que
será lançado pelo MEC/SESu, para criação de novos grupos, visando a expansão do programa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A região do submédio São Francisco desponta no cenário nacional como o grande potencial
para implementação de um grande parque aqüícola, com espaço para que vários tipos de
empreendimentos possam se desenvolver. Há, entretanto a necessidade de se observar à inclusão e
os saberes que estão sendo adquiridos no manejo dos tanques-rede e a capacidade de organização
dos produtores, que devem atuar como gestores, numa forma de ação participativa.
Os vários elos da cadeia de produção da tilapicultura nesta região encontram-se em
consolidação, com boa estrutura, desde a produção dos alevinos e sua ampliação, em termos de
escala de produção, fábrica de ração instalada e uma grande empresa de processamento e
beneficiamento do pescado, além do curso de graduação de Engenharia de Pesca que precisa ser
valorizado e fortalecido.
Entendendo esse potencial da região do submédio São Francisco para o desenvolvimento
da piscicultura, o que se soma com sua região vizinha, o baixo São Francisco, onde estar se
desenvolvendo arranjos produtivos locais, com destaque para o APL Piscicultura no Vale do São
Francisco, que tem garantido recursos e investimentos públicos e privados de diversas instituições,
a exemplo do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), da Companhia de Desenvolvimento
do Vale do Rio São Francisco e do Rio Parnaíba (CODEVASF), além de interesse de empresários e
membros do governo de Israel, ao visitarem as regiões, num roteiro que incluiu os municípios de
81
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Coruripe, Delmiro Gouveia e Piranhas, em Alagoas; Própria, em Sergipe e Paulo Afonso, na
Bahia10
É interessante destacar a implantação nas proximidades da região do Centro de Referência
em Aqüicultura do São Francisco, o CERAQUA/SF, numa parceria da CODEVASF com a
SEAP/PR. Portanto, várias articulações, entre as regiões e as instituições que operam na bacia do
São Francisco são imprescindíveis para o desenvolvimento sustentável da aqüicultura.
Observa-se que a aqüicultura tem sido promovida ao longo da bacia do São Francisco como
atividade alternativa para pescadores e para mitigar a redução do pescado em função dos efeitos da
construção das barragens. Em particular, a tilapicultura em tanques-rede tanto no submédio como
no baixo Rio São Francisco, principalmente nos reservatórios de Paulo Afonso e Xingó é uma
realidade de produção em pequena escala realizada por membros da comunidade, através das
associações, legalizando-se paulatinamente essa atividade. Concomitantemente tem se desenvolvido
a criação em larga escala, cuja finalidade era exportação, promovida pela municipalidade de Paulo
Afonso, através da AAT com tanques tipo raceways, co-existindo as duas formas de produção.
A tilápia esta sendo considerada a melhor espécie para aumentar a produtividade em virtude
de toda uma tecnologia, embora existam algumas inquietações não resolvidas, como qual a
capacidade suporte de cada reservatório, problemas de segurança e qual a responsabilidade das
companhias elétricas no uso dos reservatórios. A gestão de recursos de água para múltiplos usos é
um desafio nestas regiões, mas isto já estar sendo cada vez mais perseguido em escala mundial.
A lei da água revisada em 1997 e, uma política para diversificar fontes de energia de
maneira sustentável esta colocando o país, à frente da necessidade das políticas de gestão da água.
O Brasil esta tentando implementar tais políticas por meio dos Comitês de Bacias, os quais incluem
representação dos vários usuários de água, sendo o processo normatizado pela Secretaria de
Recursos hídricos e, implementado pela agência Nacional da Águas, sendo fundamental se trabalhar
com modelos de gestão que considerem os usuários múltiplos.
A Estação de Piscicultura da CHESF em Paulo Afonso desempenha um trabalho de
relevância com a produção de alevinos das diversas espécies autóctones do rio São Francisco
visando mitigar, parte dos impactos ambientais causados, principalmente, por causa dos grandes
barramentos para geração de energia elétrica. Um dos pontos positivos do empreendimento de
geração elétrica nesta região é observado no entorno, com a dotação de infra-estrutura (estradas
asfaltadas, hospitais, escolas, irrigações etc.), numa cidade localizada em pleno sertão nordestino.
Recentemente, com a expansão da piscicultura no nordeste brasileiro e, em especial no
sistema de criação em tanques-rede, a CHESF, vem liberando áreas dos seus reservatórios para esta
10
Piscicultura desenvolvida pela CODEVASF desperta interesse de Israel 09/03/2007. Disponível em http://
www.coepbrasil.org.br/noticias.asp?id_noticia=1773.
82
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
finalidade. Além disto, a Estação de Piscicultura em Paulo Afonso tem servido como ponto de
apoio a pesquisas, procurando desenvolver tecnologias de reprodução induzida.
Considerando a potencialidade da região para produção e comercialização de peixes
carnívoros de grande porte como o dourado, Salminus brasiliensis, o surubim, Pseudoplatystoma
corruscans, e o pacamã, Lophiosilurus alexandri, nativos da bacia do São Brancisco, a CHESF
efetuou convênio com o Projeto Pacu (Mato Grosso do Sul) para desenvolver tecnologia de
reprodução destas espécies, visando o repovoamento e o incremento da piscicultura intensiva
também com espécies nativas diversificando a produção a partir dos reservatórios.
Neste contexto, conclui-se que grandes são as possibilidades de aqüicultura que ocorrem
nestas regiões e grande deverá ser o somatório dos esforços para garantir o desenvolvimento com
sustentabilidade, aproveitando o que já existe implementado e buscando-se solucionar os problemas
que vão ocorrendo à medida que a atividade se expande, envolvendo um gerenciamento
participativo.
AGRADECIMENTOS
Á CHESF, na pessoa de Gilberto de Barros Pedrosa Júnior, pelo apoio logístico
disponibilizado. Aos bolsistas do PET/Pesca, pelo auxílio nas anotações e pelo registro fotográfico.
Aos engenheiros de pesca Débora Queiroz Meneses, José Patrocínio Lopes e Rogério Bellini que
gentilmente nos auxiliaram durante toda a visita.
REFERÊNCIAS
Bahia Pesca (2007). Relatório da mortandande de peixes em 2007 nos cultivos em tanques-rede no
reservatório de Xingo, Município de Paulo Afonso-BA. Paulo Afonso : Bahia Pesca.
Lazzaro, X. V. et al. (1999). Biologie, Écologie et Abondance dês Communautés Piscicoles des
Réservoirs du Pernambuc Semi-Aride. Workshop Projeto Açudes, Recife: UFRPE/IRD/CNPq, 2224 de noviembre.
Paiva, M. P. et al. (1994). Relationship Between the Number of Predatory Fish Species and Fish
Yild in Large North-Easstern Brazilian Reservois. In: Gowx, I. G. (Ed). Rehabilitation of
freshwarter fisheries (pp.120-129). Bodman (U. K): Fishing News Books.
Paulo Afonso-BA (2002). Chuvas de verão causam prejuízos a piscicultores. Panorama da
Aqüicultura, janeiro/fevereiro, 12(69):.55.
PLANVASF (1989) Programa para o Desenvolvimento da Pesca e Aqüicultura. Plano Diretor
para o Desenvolvimento do Vale do São Francisco, Brasília.
Projeto Tilápia São Francisco (2002). Panorama da Aqüicultura, março/abril 12(70): 41-47.D
83
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
EDUCAÇÃO COOPERATIVISTA PARA PESCA ARTESANAL
Sileno Luís de ALCANTARA1*; Andréa Teixeira de SIQUEIRA2
1
Prorural-PE; 2TS Alimentos Ltda.
*[email protected]
Resumo - Os objetivos deste trabalho foram analisar as razões que levaram ao insucesso da
Cooperativa Mista dos Armadores e Pescadores Autônomos de Pernambuco - COOPESCAPE, e
chamar a atenção, nos dias atuais, para a importância da educação cooperativista, antes de qualquer
formalização deste tipo de empresa. Este trabalho apresenta ainda uma análise das opiniões dos
sócios e líderes da Cooperativa, tomando como base a educação cooperativista, enfocando, no
primeiro momento, as razões e a forma de organização da associação, além dos aspectos que
motivaram a saída da maioria dos seus sócios. No segundo momento, apontamos as principais
razões do encerramento das atividades da COOPESCAPE dez anos após sua constituição. As
referidas análises fornecem instrumentos teóricos específicos, para cooperados e dirigentes, bem
como para os que se interessam pela educação na formação de uma cooperativa.
PALAVRAS-CHAVE: Cooperativismo; Associativismo; Educação.
COOPERATIVE EDUCATION FOR ARTISANAL FISHES
Abstract - This work presents an analysis of associates opinions and leaders’ of the “Cooperativa
Mista dos Armadores e Pescadores Autônomos de Pernambuco – COOPESCAPE”, tanking as base
the cooperative education focusing, in the first moment, the reasons and the cooperative form of the
association, besides the aspects that motivated the exit of most of the COOPECAPE. In the second
moment, we pointed the main reasons of the closing of its activities ten years after the formation.
The mentioned analyses furnish specific theoretical instruments to the members and direction of the
cooperative system, as well as to those who are interested about the education importance in the
cooperative society formation.
KEY WORDS: Cooperative; Associativism; Education.
INTRODUÇÃO
Considerando a importância que as atividades de pesca vêm assumindo no país, a partir de
2003, com a criação da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República
(SEAP/PR) e visando discutir e refletir temáticas ligadas à pesca artesanal, principalmente no que
diz respeito às formas de organizações dos pescadores elegeu-se o cooperativismo como tema deste
trabalho, mais especificamente, o cooperativismo pesqueiro.
84
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Os incentivos governamentais ao desenvolvimento do cooperativismo são visíveis no Plano
Político-Estrutural da SEAP/PR. Entretanto, essa instituição parece não considerar as dificuldades
históricas de mobilização dos pescadores no campo do cooperativismo, ignorando que a
formalização de uma empresa cooperativa depende muito mais de fatores organizacionais internos
do que externos, como captação de recursos, elaboração de projetos e outros.
Dentro dos princípios e valores que norteiam o cooperativismo, especificamente quanto aos
fatores organizacionais internos, entendemos a educação cooperativista como instrumento
fundamental no bom funcionamento da empresa cooperativa na medida em que essa educação vise
ampliar a participação direta dos associados nas decisões da organização, para isso é necessário que
os associados e sua família participem de cursos além de debates e conferências visando torná-los
aptos para o exercício cooperativista. Este exercício educativo se dá a partir de metodologias
apropriadas com o objetivo da busca moral e social dos seus associados e do estímulo à ação de
forma crítica na gestão da instituição, criando o hábito de ver, pensar e julgar de acordo com os
princípios e o ideal do cooperativismo. Segundo (Braga et al., 2002) “essa educação busca a
formação e conscientização do indivíduo no âmbito da cidadania trabalhando esses aspectos de
acordo com os objetivos de cada cooperativa e com o relacionamento dessas com a sociedade”.
Assim, destacamos a educação cooperativista na pesca artesanal como aspecto central desta
análise. Escolhemos a extinta Cooperativa Mista dos Armadores e Pescadores Autônomos de
Pernambuco COOPESCAPE, de Brasília Teimosa, Recife como estudo de caso. A organização,
fundada em 1976, se desenvolveu com uma expectativa de que os problemas do setor pesqueiro em
Pernambuco pudessem ser minimizados por meio do cooperativismo. Idéia que sobreviveu até o seu
fechamento em 1986.
Em estudo desenvolvido no início da década de 80, verificamos que os pescadores da
COOPESCAPE não participavam efetivamente da vida da cooperativa. Um dos fatores
identificados para explicar essa fragilidade organizacional foi a ausência da educação cooperativista
antes da criação da empresa (Alcantara, 1980).
Diante da euforia com que as políticas públicas na área da pesca visualizam o
desenvolvimento do setor pesqueiro pela via do associativismo e do cooperativismo, parece
importante trazer de volta e atualizar as análises desenvolvidas há 26 anos sobre a COOPESCAPE.
Para compreender melhor a experiência da COOPESCAPE, transpusemos para este trabalho dados
relacionados à forma como a cooperativa foi organizada, a partir do estudo de (Alcantara, 1980).
Em janeiro de 2007, foram coletadas declarações de ex-sócios e dirigentes de gestões distintas da
organização mediante entrevistas com roteiro semi-estruturado. Tais entrevistas foram realizadas na
Associação dos Pescadores Profissionais e Artesanais de Brasília Teimosa e Colônia de Pescadores
Z-1 do Pina, em Recife.
85
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Chamamos à atenção para o fato de que a COOPESCAPE agregou duas categorias distintas
- armadores e pescadores - em seu quadro de sócios. Esse aspecto é considerado problemático na
empresa cooperativa na medida em que poderá suscitar conflitos de interesses, como assinala (Rios,
2006). Diz ele: não adianta, por exemplo, congregar armadores com pescadores, grandes produtores
rurais com pequenos produtores, produtores e comerciantes e assim por diante. Quando situações
desse tipo ocorrem, o que vai resultar ao invés de cooperação é antes o conflito de interesses, aberto
ou camuflado, na forma de acomodação, uma acomodação que em geral implica, gerando apatia e
descrença na exploração dos menos situados sócio-economicamente pelos que estão nas posições
sócio-culturais dominantes.
Acreditamos que uma reflexão sobre a experiência desenvolvida há 26 anos pela
COOPESCAPE poderá contribuir para a discussão da educação cooperativista como estratégia
fundamental à implementação das políticas de desenvolvimento da pesca pela via do
cooperativismo. Aspecto que se torna relevante quando sabemos que fatores de ordem sociocultural
determinaram que a categoria de pescadores artesanais seja observada de forma distinta em relação
a outras categorias sociais, principalmente quando o tema é cooperação e associativismo. Em texto
recente, (Cuallou et al., 2006) abordam a forma vertical como foram implantadas e desenvolvidas as
colônias de pescadores no Brasil e suas repercussões nefastas sobre o cooperativismo pesqueiro.
ORIGEM DO COOPERATIVISMO: BREVE HISTÓRICO
Foi com o aparecimento, no século passado, da cooperativa dos tecelões de Rochdale na
Inglaterra que teve origem o cooperativismo.
A indústria de tecelagem, criada em 1843, se desenvolvia com bastante prosperidade
deixando assim, uma grande margem de lucros aos seus proprietários. Por outro lado, os tecelões de
Rochdale desejavam obter um aumento nos seus salários, porém não foram atendidos. (Holyoake,
1972).
Na época existia um grupo de defensores da “Carta do Povo” denominados cartistas, que
pleiteava reformas políticas profundas, e se interessou pela causa dos tecelões (Holyoake, 1972).
Preocupados com a lenta viabilização do programa político contido na “Carta do Povo” os
socialistas propuseram que os tecelões se unissem numa ação conjunta e lançassem mão dos meios
que estavam ao seu alcance para melhorar a sua situação imediata sem, no entanto, deixar de lutar
pelo programa da carta. A proposta mais viável sugerida foi a criação de uma sociedade de mútuo
auxílio (cooperativa), como forma de melhorar a situação dos tecelões dentro do sistema de
salariado. Fica claro então, que a proposta não surgiu como uma solução definitiva.
O fato da primeira Cooperativa, bem como dos primeiros sindicatos terem nascido na
Inglaterra deve-se ao surgimento nesse país dos primeiros manufaturados, dando origem ao
86
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
capitalismo. Ou seja, tanto os sindicatos como as cooperativas são oriundas do capitalismo,
portanto, precisam ser estudados levando em consideração a dinâmica e as mutações desse sistema
de produção social.
A alternativa cooperativista tinha (e de certa forma ainda tem para alguns estudiosos) um
conteúdo fortemente utopista, tanto é que foram chamados de socialistas utópicos os pré-marxistas
como Fourier e Saint-Simon que foram alguns dos seus principais precursores (Molina, 2007). O
objetivo da doutrina cooperativista era diminuir os efeitos negativos tanto no campo social como no
econômico originado pela revolução industrial que destruiu as antigas bases de sustentação do
regime feudal, criando novas relações de trabalho, modificando totalmente o modo de vida anterior.
Quando se fala de um forte conteúdo utopista na doutrina cooperativista deixa-se claro que a
maioria dos princípios preconizados pela doutrina, até hoje não se verificam: a) nos países
capitalistas desenvolvidos, entre outros motivos, pela monopolização da economia; b) nos países
subdesenvolvidos em parte pela monopolização (neste caso precoce) e em parte, como
conseqüência do próprio subdesenvolvimento econômico. Além do mais, as razões da não
materialização dos princípios práticos cooperativistas vão desde a inviabilidade de alguns, tais
como eliminar o lucro capitalista, o salariado, realizar a república cooperativa e desenvolver a
neutralidade política, etc. até a resistência do governo e dos empresários na constituição e
desenvolvimento do capitalismo. É evidente que em uma sociedade onde o objetivo maior é o lucro
privado, esses princípios tendem a se transformar em “letra morta”.
É preciso ter clareza no que se refere à natureza do capitalismo e entender que os
empresários nunca estarão dispostos a renunciar a seus lucros, no máximo poderão diminuí-los.
Outra questão a se discutir é quando se fala em desenvolver a neutralidade política e ao mesmo
tempo preconizar reformas. Ora, é uma contradição na própria base da doutrina, pois para efetuar
tais reformas é necessário utilizar instrumentos políticos. Sabe-se que as próprias cooperativas
quando utilizadas, o são na qualidade de instrumentos dessa natureza. Contudo, não se pretende
com isso, negar a importância do cooperativismo. Criticam-se apenas as concepções que são vistas
nessa doutrina lhes dando objetivos que são impossíveis de se conseguir sem transformações sociais
de maior amplitude. Isto quer significar que o cooperativismo por si só não constitui uma forma
eficaz de corrigir as desigualdades sócio-econômicas e criar uma sociedade igualitária.
Se referindo ao cooperativismo (Lênin Apud Pinho, 1973) já afirmava que a cooperativa é o
“único organismo bom do regime capitalista e como tal deve ser mantido na fase de transição para o
regime socialista”. Outro aspecto a ser considerado no cooperativismo refere-se à problemática
educacional do sistema que se apresenta como de fundamental importância.
Quando o Estado resolve fomentar e difundir o cooperativismo o faz sob uma ótica
distorcida ou como diria (Pinho, 1973), falando das cooperativas criadas pelo Estado “Surge, assim,
87
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
um cooperativismo de cima para baixo, ao contrário das cooperativas européias do século passado,
que nasceram das entranhas do povo”.
COOPESCAPE E EDUCAÇÃO COOPERATIVISTA
RAZÕES E FORMA DE ORGANIZAÇÃO
No estudo sobre as Cooperativas de Consumo Brasileiro (Máurer Jr., 1973) diz que “desde
Rochdale, toda boa cooperativa baseia-se na educação, nenhuma escola melhor de cooperativismo
do que o longo período de mais de um ano (...) para discutir o seu programa e os seus métodos
comerciais, bem como as dificuldades de sua execução, é a melhor maneira de vencê-los”.
Considera ainda esse autor que “só a educação pode formar o homem para a solidariedade
esclarecida, dispondo-o a sacrificar as vantagens do presente em prol de um futuro melhor” (Máurer
Jr., 1973).
Com base nessas colocações, ao analisar a Tabela 1, constatamos a inexistência de uma
preparação educativa sobre cooperativismo, uma vez que 50% dos interrogados alegam que foram
“convidados às reuniões pelo então presidente, para se tornarem sócios da cooperativa.”
Tabela 1 – Início da associatividade para a formação da COOPESCAPE.
Especificação
Quantidade
%
Fui convidado às reuniões pelo atual presidente
8
50,0
Através de informações da cooperativa nipo-brasileira
4
25,0
Por intermédio de colegas já sócios
2
12,5
Desconheço o início
1
6,2
Sem respostas
1
6,2
Total
16
100,0
O que evidencia quando, observa-se a Tabela 2, em que 22,2% dos associados interrogados
responderam que “o convite do então presidente” foi a razão de se associarem à COOPESCAPE e
também por ser este órgão protetor (22,2%).
Outro aspecto a ser considerado sobre a associatividade é a definição do que seja uma
cooperativa pelos associados da COOPESCAPE. 30% deles (ver Tabela 3) afirmam que se trata de
uma “sociedade muito importante que serve de proteção ao pescador”.
ASPECTOS QUE MOTIVARAM O AFASTAMENTO DA MAIORIA DOS ASSOCIADOS
Segundo (Máurer Jr., 1973) “a educação deve ser o alicerce sobre o qual se construirá todo
edifício da sociedade cooperativa. É dela que virá a participação efetiva dos associados, a
88
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
inteligência indispensável para solução de seus problemas, a cooperação decidida em todas as suas
formas e em todas as circunstâncias”.
Tabela 2 – Razões que justificam a associatividade
Especificação
Quantidade
%
Convite do atual presidente
4
22,2
Por ser um órgão protetor
4
22,2
Único meio para desenvolver meu trabalho
3
16,6
Importante para o pescador
3
16,6
Por ser um órgão de união
2
11,1
Visando lucros
1
5,5
Através de parentes
1
5,5
Total
18
100,0
Tabela 3 – Definição de uma cooperativa pelos cooperados
Especificação
Quantidade
%
Sociedade muito importante que serve de proteção ao pescador
6
30,0
Uma associação para ajudar tanto o pescador como o consumidor
3
15,0
É uma entidade representativa dependendo de quem a dirige
3
15,0
Uma união de classe
3
15,0
É uma boa idéia, porém falta incentivo (material, financiamento, etc.).
2
10
Uma guerra contra o intermediário em benefício da comunidade
1
5,0
Um órgão que representa a SUDEPE no governo
1
5,0
Não sei definir
1
5,0
20,0
100,0
Total
De um modo geral, diz ainda (Máurer Jr., 1973) que a inexistência de uma ação educativa
tem levado os associados de nossas cooperativas à passividade: “Aceitam o que elas podem lhe dar
de vantagens, querem a cooperação dos outros, mas raro estão dispostos a fazer a sua parte em prol
da sua sociedade”.
Nessa perspectiva, ao analisar as tabelas 4, 5 e 6 observa-se que o afastamento dos
associados se deu devido ao despreparo da cooperativa no que concerne à educação dos mesmos.
Isto fica evidente quando eles citam os motivos pelos quais se afastaram: “não recebia incentivo,
89
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
material (apetrechos de pesca), financiamento, etc.” 50%; “falta de verbas, material etc.” 42,8%; “se
a cooperativa oferecesse mais vantagens para nossa melhora,”40%.
Tabela 4 – Razões que justifique o afastamento da cooperativa.
Quantidade
%
Não recebia incentivo: material, financiamento, etc.
3
50,0
Mais vantagem de comercializar por outros meios
2
33,3
Por não comparecer as reuniões (fui afastado)
1
16,6
Total
6
100,0
Especificação
Tabela 5 – Atribuições, segundo os associados sobre o afastamento dos sócios.
Especificação
Faltam de verbas, materiais (apetrechos de pesca), etc.
Quantidade
3
%
42,8
Mais lucro trabalhando para particular
2
28,5
Barco próprio, mais lucro
1
14,2
Desconto do material usado
1
14,2
Total
7
100,0
Tabela 6 – Motivos que trariam os sócios afastados da COOPESCAPE.
Especificação
Se a cooperativa oferecesse mais vantagens para nós
Quantidade
4
%
40,0
Uma reorganização na cooperativa
3
30,0
Se desse mais garantia e proteção
2
20,0
Seria menos explorado
1
10,0
Total
10
100,0
Outro aspecto a ser destacado é a não participação efetiva da maioria dos associados nas
assembléias gerais (ver tabela 7), nas quais se elegem os diretores, aprovam-se as contas e decidemse sobre os negócios da cooperativa.
Tabela 7 – Participação das assembléias gerais.
Especificação
Quantidade
%
Não
17
94,4
Sim
1
5,5
TOTAL
18
100,0
90
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
A omissão da tarefa educativa na COOPESCAPE parece indicar que em lugar de uma
cooperativa eficiente, os associados se reduziram a um rebanho passivo, sem iniciativa e sem
capacidade de qualquer ação.
EXTINÇÃO DA COOPESCAPE: 20 ANOS DEPOIS
Este item foi desenvolvido a partir de entrevistas realizadas com ex-sócios e ex-dirigentes da
COOPESCAPE, na comunidade de Brasília Teimosa, Recife. Na oportunidade, os entrevistados
fizeram um breve relato dessa cooperativa, desde a sua fundação em 1976 até o encerramento das
suas atividades em 1986, abordando temas como: sócios, diretoria, gestão, intervenção e
encerramento.
Os entrevistados relataram que a presença dos sócios nas assembléias da COOPESCAPE era
pequena. Esse número só aumentava nas reuniões quando se tinha notícia de que a cooperativa iria
oferecer algum benefício, material como apetrechos de pesca, óleo, gelo ou financiamento
subsidiado. Assim se expressa um dos ex-dirigentes: “Os sócios só queriam vir para as assembléias
se fosse para receber algum benefício”. Com efeito, na pesquisa desenvolvida por (Alcantara,
1980), como vimos na tabela 07, apenas 5,5% dos sócios participavam efetivamente das
assembléias da COOPESCAPE. Tal aspecto leva-nos a pensar que, de fato, a educação para a
cooperação não foi levada a termo como sugere os teóricos do cooperativismo.
Além da falta de interesse dos sócios em participar das reuniões, alguns alegavam
dificuldades para se deslocarem até a sede da COOPESCAPE, tendo em vista que muitos deles
residiam em outros municípios.
Ainda segundo relato dos ex-sócios, no período de 1976 a 1986 houve três mandatos. No
segundo mandato, os sócios solicitaram uma intervenção municipal, principalmente devido aos
débitos da COOPESCAPE com a Companhia de Eletricidade de Pernambuco - CELPE, entre outros
fornecedores de serviços. A intervenção durou aproximadamente um ano e foi exercida por um
funcionário da Prefeitura da Cidade do Recife (Empresa de Urbanização-URB). Houve um acordo
entre a diretoria da COOPESCAPE e a Prefeitura para que esta cedesse, sem ônus, para cooperativa
10 funcionários. Devido ao não cumprimento do acordo, a COOPESCAPE assumiu o pagamento de
alguns funcionários, o que deveria ter sido feito pela URB. Como conseqüência do não pagamento,
foram ajuizadas causas trabalhistas contra a cooperativa que ainda continuam pendentes.
Um dos ex-dirigentes da COOPESCAPE entrevistado informou que não tinha conhecimento
de detalhes desse acordo trabalhista, nem de muitas outras coisas que aconteciam, pois o presidente
não convocava a diretoria para reuniões.
No início de 1980, o Banco Nacional de Crédito Cooperativo-BNCC, através do Programa
da Pesca Artesanal-PROPESCA financiou uma série de benfeitorias para a COOPESCAPE tais
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
como fábrica de gelo, câmara frigorífica, sala para beneficiamento do pescado, além de capital de
giro e embarcações. Segundo informaram os ex-sócios dirigentes, o financiamento foi dividido em
duas etapas. A primeira parcela prevista foi cumprida conforme planejado. No entanto, a segunda
parcela que seria utilizada para a aquisição de embarcações só financiou 36 das 80 previstas
inicialmente e do capital de giro apenas uma parte foi disponibilizada. Por outro lado, o apoio em
assistência técnica e gerenciamento previsto também para a segunda etapa, foram considerados,
pelos entrevistados, como incompletos.
Os entrevistados também relataram que o empreendimento financiado para a cooperativa
através do PROPESCA foi superdimensionado no que se refere principalmente a fábrica de gelo e a
unidade de beneficiamento do pescado. A receita era menor que os custos, contando ainda que não
havia controle financeiro e nem da produção (pescado e gelo). Em depoimento um dos ex-sócios da
COOPESCAPE afirmou: “na segunda gestão havia desvio de pescado e gelo, embora isso agente
não possa provar”. Esses relatos demonstram a falta de discussão dos dirigentes com os associados,
ficando claro que os sócios desconheciam os problemas administrativos da cooperativa.
No que dizem respeito às razões que determinaram o fechamento da COOPESCAPE, os exsócios entrevistados apontaram a falta de participação nas atividades da cooperativa e
principalmente a frágil gestão administrativa e financeira por parte da direção. Os indícios desse
fechamento já ficaram sinalizados nas tabelas 04, 05, e 06 da pesquisa de (Alcantara, 1980), quando
os associados citam aspectos relacionados ao despreparo da cooperativa no que concerne à
educação, tais como: “não recebia incentivo: material (apetrechos de pesca), financiamento, etc.”
50%; “falta de verbas, material etc.” 42,8%; “se a cooperativa oferecesse mais vantagens para nossa
melhora,”40%. Outro ponto que comprometeu o desenvolvimento da Cooperativa segundo os
entrevistados, foi a insuficiência de recursos destinados através do PROPESCA para a cooperativa,
já que foram disponibilizados apenas parte dos recursos prometidos.
Em seu livro sobre cooperativismo, (Rios, 1989) ao correlacionar o cooperativismo e a
ideologia conservadora, chamou a essa correlação de “cooperativismo elitista”. Diz ele: “É comum
nessas cooperativas a figura do “dono”, isto é, a pessoa física que é identificada como se fosse
proprietária da sociedade cooperativa, única a definir a política da mesma, manter contatos com
bancos e órgãos de assistência técnica, enfim a clássica figura insubstituível”. Essa tese é reforçada
quando os entrevistados por (Alcantara, 1980), conforme tabela 2, sobre as razões que justificam a
associatividade, dos entrevistados 22% afirmaram terem sido convidados pelo então presidente para
se associarem.
Ainda com relação à “figura insubstituível” nas cooperativas, em nossa vivência profissional
trabalhando com comunidades pesqueiras, observamos que essa prática, “dono da cooperativa”, se
verifica também na maioria das colônias de pescadores.
92
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Dentro desse contexto, tanto os depoimentos dos associados da COOPESCAPE
entrevistados por (Alcantara, 1980), quanto os dos ex-sócios e ex-dirigentes dessa cooperativa,
colhidos para o presente trabalho, convergem para um mesmo ponto: o da concentração do poder
por parte dos presidentes da COOPESCAPE e a falta de preparação no campo da educação
cooperativista da diretoria e de seus associados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados colhidos e suas respectivas análises no decorrer deste trabalho evidenciaram que a
formação da cooperativa, por não ter como ponto de partida a educação cooperativista, tão
necessária para o êxito desse empreendimento, contribuiu acentuadamente para o afastamento da
maioria dos associados da COOPESCAPE. Anos mais tarde, tal dimensão do cooperativismo,
aliada a outros aspectos de gestão, acabaram por encerrar as atividades da organização no âmbito da
pesca.
A conseqüência, talvez mais drástica desse processo, foi ter impedido (mais uma vez na
história do desenvolvimento da pesca) os pescadores de exporem seus problemas, exercitarem sua
capacidade de decisão, participar das assembléias, enfim, de serem cooperados e cooperadores.
Diante disso, parece urgente a necessidade de se refletir sobre as questões abordadas, no
sentido de que a educação cooperativista assuma o lugar de destaque, como previram os
idealizadores do cooperativismo. social e econômica. No âmbito da pesca, há décadas que se impõe
esse tipo de destaque frente às condições sociais adversas vivenciadas pelos pescadores em termos
de organização.
Por outro lado, baseado no que foi analisado neste trabalho, seria necessário estudarmos a
possibilidade de apoio primeiramente no associativismo na pesca artesanal e só depois pensar se a
melhor saída é o cooperativismo, já que este, além de ser mais complexo tem um caráter
empresarial, e para isso é fundamental seguir os princípios e valores que norteiam o cooperativismo,
o desenvolvimento de parcerias e envolvimento das instituições que cuidam dessa questão.
REFERÊNCIAS
Alcantara, S.L. (1980). Coopescape: Aspectos da educação cooperativista [trabalho de conclusão
de Curso]. Recife: UFRPE.
Braga, G.M., Deboçã, L. P., Andrade, J.M.F. & Gonçalves, R.M.L. (2002). As implicações do
trabalho em cooperativas de trabalhadores rurais. Scripta nova – revista eletrónica de geografia y
ciências sociales. Universidade de Barcelona. VI:(119). www.ub.es/geocrit/sn.
Callou, A.B.F., M.C., Intyre, J.P., Santos, M.S.T. & Bergonsi, S.S.S. (2006). O cooperativismo
pesqueiro no Brasil e as linhas de financiamento: uma estratégia de desenvolvimento local? In:
93
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Santos, M.S.T & Callou, A. B. F.(2007) (Org.) Associativismo e Desenvolvimento Local. Recife:
Editora Bagaço.
Holyoake, G. J. (1972). Origem e fins da sociedade. Os 28 Tecelões de Rochdale. (História dos
probos pioneiros de Rochdale). Rio de Janeiro: Editora Fon-Fon e Seleta.
Máurer Jr, T.H. (1973). As cooperativas de consumo brasileiras: crise, recuperação e necessidade na
conjuntura nacional. A problemática cooperativista no desenvolvimento econômico. São Paulo:
Fundação Friedrich Naumann. 204(5):214-216.
Molina, H. (2007). Idéias socialistas francesas e a comuna de Paris: suas relações com o
pensamento de Marx. Curso de extensão sindical, atualidade do pensamento Marxista, Rio de
Janeiro, abril de www.sindpdrj.org.br.
Pinho, D.B. (1973). A doutrina cooperativa e a problemática do desenvolvimento econômico. São
Paulo: Fundação Friedrich Naumann.
Rios, G.S.L. (2006). Cooperação e tipos de cooperativismo no Brasil. 1º Encontro da Rede de
Estudos Rurais, Niterói.
Rios, G.S.L. (1989). O que é cooperativismo, 2ª ed. São Paulo: Brasiliense.D
94
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
TESTE DE RESISTÊNCIA HIDROSTÁTICA E COMPARAÇÃO ECONÔMICA
ENTRE TANQUES PRÉ-MOLDADOS E VIVEIROS
Pedro Noberto de OLIVEIRA*
Departamento de Educação, Campus VIII, Paulo Afonso, Bahia
Universidade do Estado da Bahia, UNEB
*E-mail: [email protected]
Resumo - Este trabalho foi realizado a jusante da barragem PA-IV, que compõe o complexo de
barragens-usina da CHESF (Companhia Hidroelétrica do São Francisco), em local de terreno
rochoso e com declividade ligeiramente acentuada (± 6%), tendo o objetivo de verificar a
capacidade de retenção d’água pela parede de um tanque circular de 20m³, construído com
argamassa-armada, a resistência a uma pressão hidrostática de 1,10m e um comparativo econômico
de custo de construção entre este tanque pré-moldado e um viveiro de terra com as dimensões de
50m x 30m. O tanque e o viveiro foram projetados para as mesmas capacidades de estocagens:
1500 alevinos para 1500m2 de viveiro e 75 alevinos/m³ de volume d’água do tanque. O tanque foi
projetado com as seguintes dimensões: diâmetro 4,0m, altura 1,2m, espessura da parede 0,07m e
lâmina d’água regulada a uma altura de 1,10m. Foi edificado com placas pré-moldadas em
argamassa-armada (cimento + areia + arame “12” galvanizado). A parede recebeu revestimento,
interno e externo, com argamassa misturada a um impermeabilizante. Depois de um longo tempo de
abastecimento, pôde-se verificar que nenhum problema de rachadura e vazamento foi constatado na
estrutura de elevação do tanque, proveniente da pressão hidrostática da lâmina d’água. O estudo
comparativo de custo entre o tanque (R$ 773,33) e o viveiro (R$ 5.045,00), demonstrou uma
diferença econômica significativa.
PALAVRAS-CHAVE: tanques pré-moldados; argamassa-armada; viveiro de terra.
HIDROSTATIC RESISTANCE AND ECONOMIC COMPARISON
BETWEEN TANKS AND PONDS
Abstract - This work was carried out through the ebb tide the dam PA-IV, which composes the
complex of barrage-plant of the CHESF (Hidroelétrica Company of the San Francisco), in rocky
land place and with declivity slightly accented (± 6%). Had the objetive to verify the water retention
capacity for the wall of a circular tank, with 20m³, with mortar-armed; the resistance to the one
hydrostatic pressure of 1,10m and a economic comparative degree of cost of construction between
this daily pay-molded tank and a land fishery with the dimensions of 50m x 30m. The tank and the
fishery had been projected for the same capacities of estocagens: 1500 alevinos for 1500m2 of
fishery and 75 alevinos/m³ of water of the tank. The tank was projected with the following
95
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
dimensions: diameter 4,0m, height 1,2m, thickness of the wall 0,07m and blade water d'água
regulated to a height of 1,10m. was built with plates daily pay-molded in mortar-armed (cement +
sand + galvanized wire "12"). The wall had received covering, external intern and, with mortar
mixed to a waterproof one. After a long time of supplying, d'água can be verified that no problem of
crack and emptying was verified in the structure of rise of the tank, proceeding from the hydrostatic
pressure of the blade. The comparative study of cost between the tank (R$ 773,33) and the fishery
(R$ 5.045,00), it demonstrated significant a economic difference.
WORD-KEY: daily pay-molded tanks; mortar-armed; land fishery
INTRODUÇÃO
Tanques tipo raceway são estruturas de alvenaria construídas com diversos materiais
(concreto armado, alvenaria de tijolo, argamassa-armada, etc) usados, principalmente, no cultivo de
peixes, podendo ser usados num sistema de cultivo aberto ou fechado. Hoje, raceway, são usados
em terrenos planos e acidentados em diversas partes do mundo.
Na Advence Aquiculture Tecnology (AAT) fazenda localizada no município de Paulo
Afonso, Bahia, Brasil, utiliza o sistema de cultivo em raceway, produzindo 240 toneladas/mês,
abastecidos com água do São Francisco (SÁ, 2003).
Novas tecnologias de engenharia são usadas no campo da Aqüicultura diversificando os
ambientes para os empreendimentos aquáticos. Nas universidades e outras instituições de pesquisas
existem grupos de reflexão acerca da experimentação de idéias que, evidenciem mudanças positivas
para que os criadores possam produzir mais e melhor e a baixo custo.
A construção de cisterna de placas (Bernat et al., 1993), permite uma adequação tecnológica
à construção de tanques pré-moldados com argamassa-armada vislumbrando melhorar o aspecto
sócio-econômico das pessoas diretamente interessadas na Aqüicultura. Podem se adaptar bem ao
sistema de cultivo em raceway (Oliveira, 2006). Este sistema que é semicerrado, a água passa
apenas uma vez através dele. A maior vantagem desse sistema semicerrado é que se tem uma
melhor administração em comparação com o sistema aberto; ademais que o controle pode ser
exercido sobre as variáveis, tais como a temperatura da água, a velocidade e o volume da mesma,
predadores e enfermidades. O controle de entrada de predadores, enfermidades e contaminações é
difícil devido ao fato de que as águas naturais são utilizadas como a fonte de abastecimento
(Wheaton, 1982).
Tanques pré-moldados com argamassa-armada apresentam exigência mínima de estrutura de
engenharia e de hidráulica. Devido às características simplificadas de engenharia e sistema de
drenagem. A construção desses tanques apresenta vantagens sobre viveiros convencionais de terra,
por serem mais produtivos quando se considera a densidade de população e o sistema de cultivo
96
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
utilizado. Esses tanques, diferentemente dos viveiros de terra, podem ser utilizados em topografia
de até 100% de declividade, em solos arenosos e rochosos (Oliveira, 2006). Silva (2004) recomenda
que tanques pré-moldados devem ser testados com relação a sua capacidade de impermeabilização e
pressão hidrostática; fazer estudo sobre a densidade de populacional; testar o desenvolvimento de
espécies aquáticas; e estudar o uso dos tanques no sistema de cultivo raceway.
De acordo com suas características de espaço, ambiência e outros fatores, podem se adaptar
bem a outros cultivos aquático, tais como: criação e cultivo de peixes ornamentais, reprodução e
cultivo de rãs, criação de jacarés e outros (Bahia Pesca, 2003).
TANQUES PRÉ-MOLDADOS
DESCRIÇÃO DOS TANQUES
Para estudar o aspecto de resistência hidrostática, estanqueidade da água e avaliação
econômica de um tanque pré-moldado versos viveiro de terra, foi construído um tanque, com
capacidade de 20m3 d’água, a jusante da barragem PA IV - Paulo Afonso - Brasil, pertencente ao
complexo de barragens desse município.
O tanque pré-moldado, utilizado para o estudo (Figura 1) apresenta forma cilíndrica e possui
os seguintes componentes estruturais: 1) base; 2) parede de elevação; 3) sistema de abastecimento;
4) sistema de drenagem; 5) tela separadora de ambientes.
Figura 1 - Vista lateral de tanque pré-moldado cilíndrico.
Esses componentes estruturais repousando sobre um fundo-base em concreto simples
(cimento + areia + brita). A parede de elevação é formada por placas pré-moldadas com argamassa
de cimento e areia, com traço que lhe confere uma boa resistência as solicitações a qual está
submetida. Segundo Pianca (1955), essa resistência aumentará com o tempo.
97
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
CONSTRUÇÃO DO TANQUE
O tanque, com diâmetro de 4,8m, altura 1,2m, espessura da parede 0,07m. A lâmina d’água
foi regulada a uma altura de 1,10m, foi construído sobre terreno com declividade de cerca de 6%,
compreendeu as etapas: 1) escolha e limpeza do local; 2) locação da obra; 3) escavação do terreno; 4)
nivelamento com compactação do fundo da escavação; 5) recobrimento do fundo escavado com 6cm
de areia grossa, nivelada; 6) construção da laje de fundo com concreto de traço 1:3:4 (cimento, areia e
brita); 7) construção do sistema de drenagem; 8) fabricação de placas (Figura 3)
Para a construção da parede de elevação do tanque foram fabricadas placas pré-moldadas com
uma forma em madeira (Figura 2), com dimensões internas de 60cm x 50cm. A argamassa utilizada
foi de cimento e areia lavada na proporção de 1:4,5, respectivamente. As placas foram moldadas
conforme a figura 3 e, em seguida, colocadas para secar por um período mínimo de 24 horas até
atingirem resistência suficiente à edificação do tanque. Após essa etapa as placas foram limpas para
retirada do excesso de areia de sua parte anterior (Figura 4). Antes da edificação da parede do tanque
foi construído um fundo-base em concreto simples (cimento + areia + brita), na proporção de 1:3:6.
Sobre este fundo-base traçou-se um círculo com raio de 2,4m para servir de orientação ao
assentamento das referidas placas (Figura 5), que receberam um rejunte de argamassa (cimento +
areia) de traço 1:2 (Figura 6). Após o rejuntamento, a parede do tanque foi amarrada com arame 12
galvanizado para maior resistência a pressão hidrostática. No final, o tanque foi rebocado, por dentro e
por fora, com argamassa de traço 1:3.
Figura 2 - Forma para fabricação de placas Figura 3 - Fabricação das placas de parede com
de parede.
argamassa de cimento e areia de traço 1 : 4,5.
Figura 4 - Limpeza das placas de parede.
Figura 5 - Construção da parede usando
escoramento com varas.
98
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Figura 6 - Rejuntamento de placas da parede Figura 7 - Amarração da parede com 9 (nove)
com argamassa de traço 1 : 2,5.
arames “12” galvanizado, devidamente
tensionados.
CUSTO DE CONSTRUCÃO
O estudo de avaliação dos custos à construção do tanque pré-moldados com argamassa-armada e o
viveiro de terra (50m x 30m) com a mesma capacidade de estocagem é explicitado nas tabelas 1 e 2.
Tabela 1 - Orçamento para construção de tanque pré-moldado com argamassa armada para uma
capacidade de 20m³ d’água
ESPECIFICAÇÕES
1. Limpeza da área
2. Escavação
3. Materias
3.1. cimento
3.2. areia
3.3. brita
3.4. forma em madeira
4. Mão-de-obra
4.1. pedreiro
4.2. ajudante
TOTAL
Unidade
Quantidade
CUSTOS (R$)
m²
m³
22
1,3
Unit.
0,5
11,79
Total
11,00
15,33
Sacos/50Kg
m³
m³
unidade
30
3,0
2,0
1
17,00
14,00
20,00
20,00
510,00
42,00
40,00
20,00
diária
diária
03
03
30,00
15,00
90,00
45,00
773,33
Tabela 2 - Orçamento para construção de viveiro com lâmina d’água de 50 x 30m.
ESPECIFICAÇÕES
Unidade
1. Limpeza da área
2. Locação
3. Construção
3.1. mecanizada, com compactação de diques
4. Drenagem
4.1. tubos de 150mm
4.2. joelho de 150mm
TOTAL
*Preços abril/2007
99
CUSTOS (R$)*
Unit.
Total
0,5
1.271,00
100,00
100,00
m²
verba
Quant.
2.542,0
uma
h/maq.
40
80,00
unid.
unid.
03
01
105,00
24,00
3.200,00
450,00
24,00
5.045,00
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
COMENTÁRIOS FINAIS
Os resultados apresentados nas tabelas 1 e 2 sugerem que:
ƒ O tanque, em estudo, submetidos a uma pressão hidrostática de 1,1m apresentou excelente
capacidade de retenção d’água, visto que em nenhum ponto da sua estrutura de elevação foi
detectado qualquer vazamento expressivo;
ƒ Apresentou excelente capacidade de resistência à pressão hidrostática;
ƒ Considerando as condições topografias e geológicas do terreno, o tanque mostrou-se
perfeitamente estável. Essas condições não seriam próprias para viveiros de terra;
ƒ Verificou-se, também, que as dimensões do tanque apresenta facilidade ao manejo da biomassa
durante o período de cultivo;
ƒ De acordo com as tabelas 1 e 2, o estudo econômico demonstrou que o viveiro de terra, com a
mesma capacidade de estocagem mostrou-se mais caro em sua edificação do que o tanque prémoldado.
BIBLIOGRAFIA
Bahia Pesca (2003). Programa de desenvolvimento da aqüicultura e da pesca. Salvador.
Bernat, C.; Courcier, R. & Saborin, E. 1993 .A cisterna de placas: técnicas de construção. 2 Ed.
Recife: SUDENE/DPP, FUNDAJ, Ed. Massangana.
Oliveira, P.N. 2006. Construção de tanques pré-moldado com argamassa armada para
aqüicultura. Paulo Afonso: UNEB. Departamento de Educação – Campus – VIII.
Pianca, J.B. 1955. Materiais de Construção. Manual do Construtor. Porto Alegre: Globo.
Silva, D.C.C. 2004. Projeto de tanques pré-moldados para aqüicultura no laboratório do Curso de
Engenharia de Pesca. Paulo Afonso – Bahia.
Wheaton, F.W. 1982. Acuacultura: diseño y construccion de sistemas. México: A.G.T.D
100
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
CARACTERIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS
NA ILHA DE ITAMARACÁ, PERNAMBUCO
Solange da Silva LEITÃO1*; José Milton BARBOSA2 e Fábia Gabriela Pflugrath CARRARO2
Universidade Federal Rural de Pernambuco
1
Programa de Pós-graduação em Gestão e Política Ambiental
2
3
Departamento de Pesca e Aqüicultura
Programa de Pós-graduação em Recursos Pesqueiros e Aqüicultura
*E-mail: solleitã[email protected]
Resumo: O presente estudo teve por objetivo avaliar os impactos ambientais em cinco áreas da Ilha
de Itamaracá Estado de Pernambuco, região que pode ser considerada uma das áreas estuarinas mais
ricas do país em recursos naturais e beleza, o que a torna apropriada à pesca e ao turismo. Foram
realizadas seis coletas quinzenais de dados, com a aplicação de uma Tabela de Avaliação dos
Impactos Ambientais (TAIA), e foram registradas observações em cinco áreas aleatoriamente
selecionadas na Ilha de Itamaracá, que são: A) Foz do Rio Jaguaribe; B) Sul do Canal de Santa Cruz
(Forte Orange); C) Norte do Canal (Enseada dos Golfinhos); D) Praia do Pilar e E) Adjacências da
Ponte de acesso a Itapissuma. Os resultados denotam a existência de impactos ambientais em todas
as áreas, sendo mais graves os desmatamentos dos manguezais e o descuido com a deposição e
destinação do lixo. A Ilha é relativamente pouco degradada pela ação antrópica, de forma que
políticas públicas e o engajamento comunitário podem gerar ações efetivas para sua organização e
recuperação. A pobreza e o baixo nível educacional da população são os principais entraves ao
exercício da cidadania e o usufruto sustentável dos recursos naturais disponíveis.
PALAVRAS-CHAVE: Meio ambiente, consciência, lixo, ação antrópica.
CHARACTERIZATION OF ENVIRONMENTAL IMPACTS IN ITAMARACÁ ISLAND
Abstract: The present study’s aim was to evaluate the environmental impacts in five areas of the
Island of Itamaracá. This place could be considered the most beautiful estuary area of the country in
natural resources, which makes it appropriated for fishery and the tourism. During six weekly, the
samples had been carried through, with the application of a Table of Evaluation Environment
Impacts (TAIA), and the observations were registered in the following five areas selected in the
Island of Itamaracá: A) Estuary of the River Jaguaribe; B) South of the Canal of Santa Cruz (Strong
Orange); C) North of the Canal (Cove of the Dolphins); D) Beach of Pillar, and E) Itapissuma
adjacencies of bridge’s access. The results led the researchers to identify of environments impacts
in all those areas, being more serious the deforestations of the mangle and the incautiousness with
the deposition and destination of the garbage. The Island is relatively little degraded by the antropic
101
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
action and public politics and the communitarian enrollment can start an effective action for its
organization and recovery. Poverty and the low level of education are the main obstacles to the
exercise of the citizenship and the sustainable enjoyment of the available natural resources.
KEY WORDS: Environment, conscience, garbage, antropic action
INTRODUÇÃO
O Litoral do Estado de Pernambuco apresenta extensão de 87Km e abrange quinze
municípios. Nele estão insertas quatorze áreas estuarinas, formadas pelas desembocaduras de vinte
e setes rios (Braga, 2000), destes estuários destaca-se o complexo estuarino de Itamaracá, o mais
importante do Estado. A Ilha de Itamaracá, localizada neste complexo estuarino, situa-se no litoral
norte do Estado de Pernambuco, entre os paralelos 07º 41’ e 07º 49’ de latitude sul e 034º 49’ e 034º
54’ de longitude oeste do meridiano de Greenwich e dista 50Km da Cidade de Recife. É separada
do continente por um braço de mar de 22Km em forma de “U”, com largura máxima de 1,5Km com
4 a 5m de profundidade, denominado Canal de Santa Cruz (Almeida & Vasconcelos Filho, 1997).
Apresenta como limite Norte a Barra de Catuama (município de Goiana), Sul a Barra de Orange,
Oeste o município de Itapissuma e Leste o Oceano Atlântico.
O complexo estuarino de Itamaracá apresenta ilhas, reentrâncias, baías e manguezais, que
recebem água de uma representativa rede hídrica, da qual dois rios nascem na própria ilha, o Paripe,
que deságua no Canal de Santa Cruz e o Jaguaribe, que deságua no oceano (Fernandes, 1997). Esta
região pode ser considerada uma das áreas estuarinas mais ricas do país em recursos naturais e
beleza paisagística, o que a torna muito apropriada à pesca e ao turismo.
De forma holística, o modelo ecológico da região apresenta inter-relações bióticas e abióticas
entre o Canal de Santa Cruz, áreas estuarinas e plataforma adjacente, o que envolve a dinâmica de
intrusão das águas salobras e marinhas, a exportação de matéria orgânica produzida nos
manguezais, e as interações com a fauna, especialmente a nectônica: camarões e peixes.
A flora, além de representar fonte inesgotável de energia, é vital como substrato e habitat para
uma complexa fauna associada que inclui diversos organismos destacando-se as comunidades de
peixes e crustáceos (Barros et al., 2000). Vale ressaltar ainda a grande diversidade e importância
sócio-econômica dos moluscos, que suportam uma importante atividade pesqueira, sustentada por
valorosas mulheres, cognominadas “marisqueiras”.
No entanto, a expansão das atividades industriais e turísticas na região, além do elevado
crescimento populacional e sobrepesca, colocam em risco o delicado sistema ecológico-social da
região. Os moluscos bivalves, por exemplo, podem sofrer diretamente as conseqüências negativas
da poluição, pois se alimentam por filtração de forma a bioacumular elementos que podem causar
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
danos à saúde do homem, como é o caso do mercúrio. Porém um dos mais sérios problemas da
região é a deposição desordenada de lixo urbano, por turistas e moradores locais.
Nestas condições, é necessário planejar e desenvolver estratégias de conservação ambiental
que sejam adequadas à realidade sócio-econômica e ecológica da região. Desta forma, a realização
de estudos visando determinar os principais impactos ambientais e suas causas na região são de
grande importância, para subsidiar estratégias, comunitárias e/ou governamentais, que possam
garantir o usufruto racional dos recursos aquáticos e sua sustentabilidade e a manutenções de
paisagens tão atraentes, através da implementação de políticas preservacionistas.
Neste contexto, este trabalho visa apresentar uma caracterização dos impactos ambiental em
algumas áreas da Ilha de Itamaracá e suas possíveis causas.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram realizadas seis coletas quinzenais de dados, com a aplicação de uma Tabela de
Avaliação dos Impactos Ambientais (TAIA) (Tabela 1), onde foram registradas as observações in
loco em 5 áreas aleatoriamente selecionadas na Ilha de Itamaracá, que são as seguintes: A) Foz do
Rio Jaguaribe; B) Sul do Canal de Santa Cruz (Forte Orange); C). Norte do Canal (Enseada dos
Golfinhos); D) Praia do Pilar e E) Adjacências da Ponte de acesso a Itapissuma (Figura 1). Utilizouse como base de apoio o Centro de Treinamento e Base de Pesquisa Marinha de Itamaracá, do
Departamento de Pesca e Aqüicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco.
C
Figura 1 - Ilha de Itamaracá A
áreas estudadas: A) Foz do Rio
Jaguaribe; B) Sul do Canal de
Santa Cruz (Forte Orange); C).
D
Norte do Canal (ENSEADA
GOLFINHOS);
PILAR
E
PONTE
E
103
PRAIA
E) ADJACÊNCIAS
DE
ITAPISSUMA.
B
D)
ACESSO
DOS
DO
DA
A
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram selecionadas cinco áreas, escolhidas aleatoriamente, buscando-se abranger regiões
importantes da Ilha e que apresentem diferentes ecossistemas usos e ocupação. Estas áreas podem
ser caracterizadas da seguinte forma:
Área A – Foz do Rio Jaguaribe, que segundo Kempf (1967/69), localiza-se entre os paralelos
geográficos 07º43’08” e 07º45’32” de latitude sul e 034º50’14” e 034º51’05” de longitude oeste, e é
o mais importante curso d’água da ilha. É formado pela junção do riacho Jacaré, que nasce nas
mediações da mata do Amparo, e pelo riacho Poço de Cobre, que nasce no Morro do Giz. O rio, a
partir da nascente, tem direção sudeste, direcionando bruscamente o seu curso d’água para o
nordeste a apenas 100 metros da desembocadura, e deságua no Oceano Atlântico, em uma área
denominada Pontal do Jaguaribe (Andrade, 1955 & Fidem 1986 apud Santos et al., 2000).
Na margem direita do estuário existe um núcleo urbano denominado Jaguaribe, cuja
população, que anteriormente era constituída, principalmente, por pescadores, hoje é composta por
residências, cujas famílias vivem basicamente da prática de aqüicultura, da atividade pesqueira e da
atividade turísticas, especialmente a exploração de bares e o comércio de peixes. Esta é realizada de
maneira bastante artesanal, limitando-se à utilização de pequenas embarcações e de apetrechos
tradicionais, como rede de emalhar, tarrafa e mangote (Fernandes, 1997).
Área B – Sul do Canal de Santa Cruz (Forte Orange) (Figura 2) – área predominantemente turística,
constituída de bares projetados e regularmente organizados, muito freqüentados nos fins de semanas
e feriados. Destacam-se ainda, nesta área o Forte Orange e um Hotel de Luxo. A frente situa-se a
Coroa do Avião. Esta formação arenosa surgiu em passado recente, abriga atualmente uma pequena
base para estudo de aves marinhas, pertencente a UFRPE e vários bares acessados da Ilha por
pequenas embarcações no fim de semana.
A área apresenta um belo visual paisagístico e é
relativamente bem cuidada.
Figura 2 – Vista aérea do Forte Orange, Ilha de Itamaracá, Pernambuco
104
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Área C – Norte do Canal (Enseada dos Golfinhos) (Figura 3) – área turística com menor impacto
antrópico, de freqüência mais restrita em virtude da distância e do acesso por estrada de terra,
apresenta muitas casas de veraneio e bares a beira-mar.
Está área apresenta-se relativamente bem preservada e com ação antrópica organizada, a
afluência de turistas nos fins-de-semana e feriados é mais moderada, no que se diferencia das
demais áreas onde há uma marcada aglomeração humana nestes dias. Outra característica da área é
a ocupação imobiliária melhor planejada do que a média da Ilha, embora em alguns pontos
apareçam focos de lixo, depositados por moradores, turistas e comerciantes.
A enseada é um local é agradável e de baixo nível de poluição visual. Durante a semana é
praticamente deserta, encontrando-se poucas pessoas nas vias públicas e muitas casas fechadas.
Figura 3 – Enseada dos Golfinhos, Ilha de Itamaracá, Pernambuco
Área D – Praia do Pilar (Figura 4) – área predominantemente turística, mas também residencial,
muito freqüentada e de ocupação imobiliária precária.
A maioria das habitações na beira-mar é ocupada por bares, havendo também casas de
veraneio e de pescadores. As construções, especialmente os bares, oferecem freqüentemente uma
legível poluição visual. Destaca-se ainda grande quantidade de lixo, de origem antrópica: gerada
pelas atividades comercial, turística e pesqueira.
No mar, a frente desta área, há atividade pesqueira que envolve muitos trabalhadores do
mar. Além da pesca embarcada, ocorre também pesca desembarcada praticada com redes de arrasto
de praia. Outra modalidade pesqueira é a exploração de currais: armadilha de paus e arame, fincada
no mar, com compartimentos para prendes os peixes, que são retirados pelos pescadores
periodicamente.
105
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Figura 4 – Praia do Pilar, Ilha de Itamaracá, PE, durante a baixa-mar:
observa-se a areia muito branca em alguns trechos.
Área E – cercanias da Ponte de acesso a Itapissuma (Figura 5) – Esta área pode ser analisada bob
duas óticas. No lado de Itamaracá há uma extensa cobertura de mangues, frondosos e bem
preservados, havendo pouca ação antrópica, embora haja nas cercanias o prédio da Penitenciaria
Agrícola de Itamaracá (PAI) e a estação de maricultura da Universidade Federal Rural de
Pernambuco (UFPE), atualmente desativada. Do lado de Itapissuma, a cidade se debruça sobre o
Canal, onde há um extenso cais com ancoradouro para embarcações e acesso para os pescadores. À
esquerda da ponte que dá acesso a Ilha de Itamaracá há uma área turístico-gastronômica, com uma
série de pequenos restaurantes que servem delicatessens a base de frutos do mar. Logo atrás há
residências e a sede da Colônia de Pescadores de Itapissuma. Do lado direito observa-se o centro
histórico da cidade, com destaque para sua igreja secular. Nesta área percebe-se grande acumulo de
lixo em vários locais, depositados por moradores ou gerados por atividades turísticas e pesqueiras.
Figura 5 – Área adjacente a Ponte Getúlio Vargas, do lado de Itapissuma.
106
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Não foram registradas atividades agrícolas significativas nas áreas estudadas, o que sugere a
ausência desta atividade nas áreas litorâneas. Este fato pode ser explicado pela composição
inadequada do solo para este fim e a ocupação da população em outras atividades, como a pesca, a
aqüicultura e a coleta de moluscos e de frutos da terra.
A ação antrópica representada por obras de engenharia ocorre nas áreas A, B, C, D e parte
da área E. Na primeira a ação antrópica é desorganizada, com obras inacabadas, mal construídas e
causadoras de forte poluição visual. Neste aspecto, destaca-se a proteção com pneus, numa
propriedade no lado direito, à margem da foz do Rio Jaguaribe (Figura 6).
Figura 6 – Proteção com pneus velhos numa propriedade adjacente a foz do Rio Jaguaribe
Próximo a esta área está localizada a Centro de Treinamento e Base de Pesquisa Marinha de
Itamaracá,do Departamento de Pesca e Aqüicultura (DEPAq), que serve de base para aulas práticas
deste e de outros departamentos da UFRPE (Figura 7).
Figura 7 – Aula prática com alunos de Pós-graduação do Departamento de Pesca e Aqüicultura
da UFRPE, próximo à foz do Rio Jaguaribe
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
No Forte Orange e na Enseada dos Golfinhos as construções são organizadas e de visual
agradável, no geral. Embora, também penalizadas pela presença de lixo em alguns pontos. Há
indícios de poluição por indústria química apenas na área E, do lado de Itapissuma onde ocorreu,
em passado recente, contaminação de ostras Cassostrea rizophorae.
A atividade predatória ocorre em todas as áreas, destacando-se a redução da cobertura vegetal
nos manguezais das áreas A e B. Na área E há manguezais viçosos, do lado da Ilha de Itamaracá e
degradados por construções imobiliárias no lado de Itapissuma. A extração de madeira nos
manguezais em algumas áreas é um processo irreversível em curto prazo. Esta prática tem efeitos
nocivos ao sistema estuarino como um todo interferindo nos processos físicos, químicos e
biológicos Macedo et al. (2000).
A atividade turística é outra grande fonte de degradação ambiental, especialmente pela
deposição de lixo, comum em toda Ilha. Este fato é agravado pela exigüidade de recipientes de
coleta e pelo descuido dos freqüentadores das praias locais.
A impossibilidade do exercício da consciência ambiental, muitas vezes se contrapõe a sua
ausência. Pois muitos habitantes da Ilha permanecem na linha de pobreza absoluta, convivendo com
o desemprego e o subemprego, o que os leva a opção pelo consumo excessivo de matérias-primas
naturais, à privação de suas necessidades básicas.
Por outro lado, a estrutura institucional de coleta e destinação do lixo é ainda incipiente, o que
contribui para deposição e permanência do lixo em locais impróprios e nas áreas públicas (Figura
8). Infelizmente, este não é um fato isolado: um observador atento pode constatar que o lixo faz
parte da paisagem insular.
Figura 8 – Área de salga de peixes, próxima a Ponte Getúlio Vargas, onde se observa o
descuido com o lixo.
108
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
Nas áreas de salga localizadas próximo ao Canal de Santa Cruz, por exemplo, os peixes
trazidos da faina são lavados na própria água do Canal, salgados com sal reutilizado e os restos, e
peixes que caem dos quarais, permanecem no chão, somando-se ao lixo carreado para o local, numa
constatável falta de cuidado com os princípios básicos de higiene. Por outro lado, não se observa
qualquer preocupação com ações mitigadoras, pois elas poderiam encarecer o custo de produção
dos peixes salgados.
O problema apresenta-se configurado num paradigma fechado: o lixo é jogado nas vias
publicas, terrenos baldios, canais córregos ou simplesmente em qualquer lugar. A ocorrência dessa
prática é imputada à falta de coletores e/ou a coleta sistemática. No entanto, os coletores colocados,
quase sempre, são dilapidados ou roubados e o lixo é jogado na via pública a qualquer momento,
pois não há preocupação com a obediência ao dia de coleta.
O problema é de difícil solução, no entanto o pano de fundo de todo este paradigma é a
pobreza e o baixo nível educacional existente, o que impossibilita o exercício da cidadania e o
usufruto sustentável dos recursos naturais disponíveis.
Os resultados sumarizados da aplicação da Tabela de Avaliação dos Impactos Ambientais TAIA podem ser visualizados na Tabela 1.
COMENTÁRIOS CONCLUSIVOS
A Ilha de Itamaracá é uma região relativamente pouco degradada pela ação antrópica, de
forma que políticas públicas e o engajamento comunitário podem gerar ações efetivas para sua
organização e recuperação.
É notória a falta de preocupação com a convivência com o lixo, e a ausência de culpa que
demonstram as populações locais a esse respeito, de forma que é possível acreditar que este
paradigma não está associado à imoralidade e sim a amoralidade das pessoas.
A pobreza e o baixo nível educacional são os principais entraves ao exercício da cidadania e o
usufruto responsável dos recursos naturais disponíveis. Visto que, certamente, o homem, enquanto
espécie animal, na imperiosidade de escolher entre prover sua subsistência e de sua família e a
preservação ambiental, optará pela primeira em detrimento da segunda.
É possível inferir que a falta de investimentos e a incapacidade gerencial ou descapitalização
institucional precisa de alguma forma ser superada para prover a melhoria dos índices de
desenvolvimento humano na região, com aporte de atividades capazes de gerar renda e manter o
homem nas suas comunidades como, por exemplo, o artesanato, o turismo e a aqüicultura familiar.
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Tabela 1 – Impactos ambientais na Ilha de Itamaracá e suas Possíveis Causas.
IMPACTOS AMBIENTAIS
CAUSAS
LOCAL*
A
B
C
D
E
Desmatamento dos manguezais marginais.
-
-
-
-
+
Processos de erosão.
-
-
-
-
-
Assoreamento e redução da lâmina d’água de rios e
++
Agricultura
lagoas.
+
+
+
+
Poluição Ambiental por produtos e resíduos químicos.
+
-
-
-
-
Aceleração do processo de eutrofisação.
+
-
-
-
-
Alteração física dos Ecossistemas Naturais.
-
-
-
-
-
++
+
-
-
+
+
++
+
+
Redução da cobertura vegetal e lançamento de dejetos
Obras de ++
Engenharia
+
+
++
++
+
Desmatamento de manguezais, com redução da pesca.
++
++
+
+
+
-
-
-
-
+
-
-
-
-
+
Redução na cobertura vegetal das áreas de manguezais.
+
-
-
-
++
Redução no tamanho do pescado: peixes, camarões e
moluscos.
++
++
++
++
++
Sobrepesca sobre o estoque pesqueiro, ultrapassando o Atividades
Antrópicas
limite de sustentação das populações.
Captura de fêmeas ovadas, interferindo no ciclo biológico Predatórias
++
++
++
++
++
++
+
+
+
++
Redução das populações naturais de pescado.
++
++
++
++
+
Consumo excessivo de matérias primas naturais.
++
+
+
+
++
Deposição de lixo (vontade do depositante ou falta de
coletores)
++
+
+
++
++
Destruição dos ecossistemas aquáticos e manguezais.
+
+
-
+
+
Destruição e depredação dos ecossistemas, decorrente de
impactos antrópicos diretos.
+
+
+
++
+
++
-
-
++
+
Redução na cobertura vegetal dos manguezais.
+
+
++
-
-
Deposição de lixo.
++
+
+
++
++
Redução e Alteração do fluxo das águas e assoreamento.
Drásticas Alterações nos Ecossistemas Naturais.
Contaminação água, solo por produtos químicos.
Ocorrência de acidentes com substâncias tóxicas.
Indústria
Química
das espécies.
Construção de bares e ocupação irregular das praias.
Turismo
A) Foz do Rio Jaguaribe; B) Sul do Canal de Santa Cruz (Forte Orange); C). Norte do Canal
(Enseada dos Golfinhos); D) Praia do Pilar e E) Adjacências da Ponte Getulio Vargas, de acesso a
Itapissuma.
110
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
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Aquat. Tropical. 10: 43-69.D
111
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO NA REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE PESCA
OBJETIVO - A Revista Brasileira de Engenharia de Pesca (REPesca) tem por objetivo publicar
artigos científicos e técnicos/informativos, abordando temas de interesse na área de Recursos
Pesqueiros e Engenharia de Pesca.
INFORMAÇÕES GERAIS - Os originais devem ser redigidos em português, inglês ou espanhol, de
forma concisa, com a exatidão e a clareza necessárias à sua fiel compreensão. Devem ser enviados à
Comissão Editorial pelo e-mail: [email protected] ou em CD, rigorosamente de acordo com
estas normas, donde serão enviados aos consultores “ad hoc”, membros da Comissão Editorial ou
indicados pelo Editor. Os pareceres serão transmitidos anonimamente aos autores para
providências. Em caso de recomendação desfavorável, poderá ser pedida a opinião de um outro
assessor. Os trabalhos serão publicados na ordem de aceitação, ou pela sua importância e podem ser
de três tipos: Artigos Científicos, Artigos Técnicos e Resenhas e devem ter os seguintes itens:
Artigos Científicos - Resumo (+ Palavras-chave), Abstract (+ Keywords), Introdução, Material e
Métodos, Resultados e Discussão (estes dois juntos ou separados), Conclusões (opcional),
Agradecimentos (opcional) e Referências.
Artigos Técnicos - Resumo (+ Palavras-chave), Abstract (+ Key words), Introdução, Corpo
(desenvolvimento do assunto) Conclusões (denominados de Comentários Conclusivos ou Finais,
Considerações Finais), Agradecimentos (opcional) e Referências (quando houver citações no texto).
Resenhas (relatos minuciosos de fatos ou casos) - relato (+ Bibliografia, opcional - se houver
citação).
Os nomes dos itens devem ser maiúsculos e centralizados, com um espaço acima e abaixo.
PREPARAÇÃO DE ORIGINAIS
Digitação - Os artigos com no máximo 15 páginas, incluindo tabelas e figuras, devem ser digitado
em letra Times New Roman, tamanho12, papel A4 (retrato) e em espaço 1,5 (entre linhas) com
margens de 2 cm em todos os lados, justificado e sem divisão de palavras no final da linha. Nomes
científicos e palavras estrangeiras devem ser grafados em “itálico”.
Título - O título deve dar uma idéia precisa do conteúdo e ser o mais curto possível escrito em
letras maiúsculas tamanho12, centralizado.
Nomes dos autores - Os nomes dos autores devem constar sempre na sua ordem direta, sem
inversões, com o sobrenome maiúsculo. Segue-se aos autores os endereços institucionais e após o email do autor correspondente.
Ciro Mendes CASTOR1* José Mário BRAGA2; Maria da Penha PIRILO1
1
Departamento de Educação, Universidade Federal de Carolina
2
Instituto de Pesca de Carolina
*Email: [email protected]
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[2]
O Resumo e o Abstract (que é iniciado com o título em inglês) - devem conter as mesmas
informações e sempre sumariar resultados e conclusões. Não devem ultrapassar 300 palavras e
serem seguidos de, no máximo, cinco palavras-chaves e key-words.
REFERÊNCIAS - Baseada no APA Citation Guide (Publication Manual of the American
Psychological Association, 5th ed.).
Livro (um autor)
Bellini, C. T. (2005). Tratado de Zoogeografia do Brasil: aspectos econômicos. Ubá: Editora Nova.
No texto: A espécie ocorre... (Bellini, 2005) ou Segundo Bellini (2005) a espécie...
(Dois autores)
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No texto: (Rocha & Lara, 2004)
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Correções - Os trabalhos que necessitarem de correções serão devolvidos aos autores e deverão
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texto e nunca “recortadas” e “coladas”, devem ser de tamanho compatível, para não perder a nitidez
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